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Educao Patrimonial

Educao Patrimonial

Educao PatrimonialLuiz Antonio Bolcato Custdio

A valorizao do patrimnio cultural brasileiro depende, necessariamente, de seu conhecimento. E sua preservao, do orgulho que possumos de nossa prpria identidade. A srie Educao Patrimonial vem complementar as diversas sries anteriores veiculadas pelo programa Salto para o Futuro/TV Escola, que abordaram com muita riqueza temas correlatos, como as manifestaes da cultura popular e o sentido ampliado do que chamamos de Patrimnio Cultural2. As diversas experincias pedaggicas demonstradas e discutidas nessas sries, nas quais o trabalho de campo visto como o ponto de partida e/ou de chegada para a pesquisa e o aprendizado em sala de aula, vm convergir para um aprofundamento do tema que ser apresentado nessa nova srie. A Educao Patrimonial ser enfocada como uma rea de trabalho e de pesquisa educacional, que pode ampliar e enriquecer o processo de ensino e aprendizagem, extrapolando os muros da escola e tambm dos museus, bibliotecas e arquivos, num processo de descoberta em que alunos, professores, pais, avs e toda uma comunidade podem estar envolvidos. O que iremos descobrir nesse processo? Uma metodologia especfica para a leitura do mundo e das coisas produzidas pelo indivduo em sua vida quotidiana, como prope Paulo Freire, uma alfabetizao cultural que capacite o aprendiz, enquanto cidado, a melhor entender sua identidade cultural e a se apropriar, afetivamente e conscientemente, de seus valores e marcas prprias, de seu patrimnio pessoal e coletivo. Muitos professores e alunos que acompanham como cursistas o Salto para o Futuro percebero que j vm praticando a Educao Patrimonial, em suas aulas e projetos pedaggicos. O que vamos apresentar nessa srie uma proposta de metodologia especialmente estudada para esse trabalho de leitura e re-criao ativa da linguagem das coisas, uma linguagem que usamos desde que nascemos, sem nos darmos conta de que muitas vezes ela mais rica e ampla que a linguagem das palavras. Como descrever, por exemplo, o que um pr-do-sol? Atravs de um trabalho consistente e sistemtico com a Educao Patrimonial, numa proposta transdisciplinar, vamos descobrir porque, para darmos um salto para o futuro, preciso aprender a dar um salto para o passado, ativando e enriquecendo os processos da memria e compreendendo a dinmica cultural como um movimento contnuo de mudana, transformao e permanncia. Um processo que explica, em seu verdadeiro sentido, o que significa o desenvolvimento humano, econmico e social, to discutido hoje em todas as esferas. Temas que sero abordados nos programas da srie: PGM 1 O QUE A EDUCAO PATRIMONIAL O primeiro programa da srie pretende abordar as origens, princpios bsicos da metodologia e primeiras experincias na rea da Educao Patrimonial, apresentando e debatendo o patrimnio vivo: a dinmica cultural. E ainda: patrimnio material e imaterial; o objeto cultural como fonte primria de conhecimento; a necessidade do passado: o uso dos objetos, monumentos e stios histricos na Educao Patrimonial. Como aplicar a metodologia da Educao Patrimonial: etapas, recursos, objetivos. PGM 2 O OBJETO CULTURAL UMA DESCOBERTA No 2o programa da srie, a proposta investigar o objeto cultural em seu contexto histrico-temporal: a observao, as formas de registro, a explorao, a apropriao criativa. Exemplos de anlises de objetos culturais; delimitao de objetivos e metas; habilidades, conceitos e conhecimentos a serem atingidos; preparao do trabalho de campo, desenvolvimento em sala de aula, atividades e projetos de extenso do tema dentro e fora da escola. Fontes primrias e secundrias de pesquisa. PGM 3 OS MONUMENTOS E OS CENTROS HISTRICOS Explorando o meio ambiente histrico; definindo o conceito de meio ambiente histrico; os remanescentes do passado e as referncias da memria; bens consagrados e no-consagrados; o que o processo de tombamento; as instituies de proteo do patrimnio: o Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional/ IPHAN e outros rgos de proteo; as dimenses do meio ambiente histrico as camadas superpostas e o processo de transformao; como explorar o meio ambiente histrico: exerccios de anlise, preparao da visita; formas e estados de preservao dos monumentos e stios histricos. Os Centros Histricos urbanos: explorao interdisciplinar, mtodo de anlise das evidncias disponveis, exerccios propostos para a volta sala de aula, sugestes de atividades. PGM 4 OS STIOS ARQUEOLGICOS E O PATRIMNIO RURAL Escavando o presente para encontrar o passado; o que a pr-histria? O que a Arqueologia: o que um stio arqueolgico? o que faz um arquelogo? As pistas do passado no presente: artefatos, estruturas, ecofatos; camadas superpostas: a estratigrafia; cuidados necessrios na visitao e normas de preservao. Recursos, fontes e contatos para visitas de estudo; sugestes de atividades; o arquelogo do futuro. O patrimnio rural: como descobri-lo; experincias e atividades na rea rural; projetos e programas de trabalho: a experincia da Quarta Colnia de Imigrao Italiana no Rio Grande do Sul; o patrimnio como instrumento de desenvolvimento local; o turismo ecolgico e cultural.

PGM 5 A MULTIPLICAO DO MTODO OFICINAS DE FORMAO DE PROFESSORES Avaliao da experincia As oficinas de Educao Patrimonial: como organiz-las; sugestes de atividades; a aplicao do mtodo atravs da experincia direta; discusso e avaliao; elaborao de projetos transdisciplinares na escola; elaborao de materiais didticos: as folhas didticas, as caixas de descoberta, os bas de memria, os inventrios culturais. Mtodos de avaliao das experincias: para o aluno, para o professor; referncias para o professor: o Patrimnio a conhecer, fontes de pesquisa e informao, o planejamento da visita. SALTO PARA O FUTURO / TV ESCOLAWWW.TVEBRASIL.COM.BR/SALTOPGM 1 O QUE EDUCAO PATRIMONIAL

Maria de Lourdes Parreiras Horta

A proposta de uma metodologia para o desenvolvimento de aes educacionais voltadas para o uso e a apropriao dos bens culturais que compem o nosso patrimnio cultural foi introduzida no Brasil, em termos conceituais e prticos, por ocasio do 1o. Seminrio sobre o Uso Educacional de Museus e Monumentos, realizado em julho de 1983, no Museu Imperial, em Petrpolis, RJ. A partir dessa proposta inicial, inmeras experincias e atividades vm sendo realizadas, em diferentes contextos e locais do pas, que vieram demonstrar resultados surpreendentes na recuperao da memria coletiva, no resgate da auto-estima de comunidades em processo de desestruturao, no desenvolvimento local e no encontro de solues inovadoras de preservao do patrimnio cultural, em reas sob o impacto de mudanas e transformaes radicais em seu meio ambiente. O desenvolvimento de programas de Educao Patrimonial, envolvendo no s a rede escolar, mas tambm as organizaes da comunidade local, as famlias, as empresas e, principalmente, as autoridades responsveis, contribuiu para a ampliao de uma nova viso do Patrimnio Cultural Brasileiro em sua diversidade de manifestaes, tangveis e intangveis, materiais e imateriais, como fonte primria de conhecimento e aprendizado, a ser utilizada e explorada na educao de crianas e adultos, inserida nos currculos e disciplinas do sistema formal de ensino, ou ainda como instrumento de motivao, individual e coletiva, para a prtica da cidadania e o estabelecimento de um dilogo enriquecedor entre as geraes. O princpio bsico da Educao Patrimonial a experincia direta dos bens e fenmenos culturais, para se chegar sua compreenso e valorizao, num processo contnuo de descoberta. A realizao de inmeras oficinas de treinamento de professores na prtica da metodologia proposta promoveu a disseminao do mtodo e das experincias, enriquecida pela contribuio de cada agente educacional em seus diferentes contextos. A demanda por materiais e bibliografia relacionados com o tema fez com que, em 1999, produzssemos, com o apoio do IPHAN e do Ministrio da Cultura, um Guia Bsico da Educao Patrimonial, que pudesse servir de suporte ao trabalho em diferentes circunstncias e experincias. Os textos dessa apostila reproduzem parte deste material, no momento esgotado para distribuio. O interesse despertado pelo assunto j motivou duas teses de mestrado em Educao, apresentadas Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro, e outra apresentada Universidade Federal de Santa Maria, RS. Algumas das propostas e prticas sugeridas foram inspiradas no trabalho educacional sobre o Patrimnio Cultural desenvolvido na Inglaterra, um pas que se destaca pela qualidade de seu sistema educacional e pela riqueza de seus museus e de seus monumentos. Estas referncias constam da bibliografia sugerida, mas so de difcil acesso no Brasil, e publicadas em ingls. Muitos artigos, entretanto, j esto publicados por autores brasileiros em revistas universitrias e cientficas, o que no supre a necessidade de mais estudos e publicaes sobre o tema. preciso, assim, que os professores e agentes educacionais que se envolvam na explorao da Educao Patrimonial, em sua atividade pedaggica, registrem e analisem essas experincias, contribuindo para o aprofundamento de conceitos e do embasamento terico de sua prtica. O que , afinal, a Educao Patrimonial? Trata-se de um processo permanente e sistemtico de trabalho educacional centrado no Patrimnio Cultural como fonte primria de conhecimento e enriquecimento individual e coletivo. Isto significa tomar os objetos e expresses do Patrimnio Cultural como ponto de partida para a atividade pedaggica, observando-os, questionando-os e explorando todos os seus aspectos, que podem ser traduzidos em conceitos e conhecimentos. S aps esta explorao direta dos fenmenos culturais, tomados como pistas ou indcios para a investigao, se recorrer ento s chamadas fontes secundrias, isto , os livros e textos que podero ampliar esse conhecimento e os dados observados e investigados diretamente. A partir da experincia e do contato direto com as evidncias e manifestaes da cultura, em todos os seus mltiplos aspectos, sentidos e significados, o trabalho da Educao Patrimonial busca levar as crianas e adultos a um processo ativo de conhecimento, apropriao e valorizao de sua herana cultural, capacitando-os para um melhor usufruto destes bens, e propiciando a gerao e a produo de novos conhecimentos, num processo contnuo de criao cultural. A observao direta e a anlise das evidncias (aquilo que est vista de nossos olhos) culturais permitem criana ou ao adulto vivenciar a experincia e o mtodo dos cientistas, dos historiadores, dos arquelogos, que partem dos fenmenos encontrados e da anlise de seus elementos materiais, formais e funcionais para chegar a concluses que sustentam suas teorias. O aprendizado desse mtodo investigatrio uma das primeiras capacitaes que se pode estimular nos alunos, no processo educacional., desenvolvendo suas habilidades de observao, de anlise crtica, de comparao e deduo, de formulao de hipteses e de soluo de problemas colocados pelos fatos e fenmenos observados. O conhecimento crtico e a apropriao consciente por parte das comunidades e indivduos do seu patrimnio so fatores indispensveis no processo de preservao sustentvel desses bens, assim como no fortalecimento dos sentimentos de identidade e cidadania. O patrimnio, como o nome diz, algo herdado de nossos pais e antepassados. Essa herana s passa a ser nossa, para ser usufruda, se nos apropriarmos dela, se a conhecermos e reconhecermos como algo que nos foi legado, e que deveremos deixar como herana para nossos filhos, para as geraes que nos sucedero no tempo e na histria. Uma herana que constitui a nossa riqueza cultural, individual e coletiva, a nossa memria, o nosso sentido de identidade, aquilo que nos distingue de outros povos e culturas, que a nossa marca inconfundvel, de pertencermos a uma cultura prpria, e que nos aproxima de nossos irmos e irms, herdeiros dessa mltipla e rica cultura brasileira. O conhecimento dos elementos que compem essa riqueza e diversidade, originrios de diferentes grupos tnicos e culturais que formaram a cultura nacional, contribui igualmente para o respeito diversidade, multiplicidade de expresses e formas com que a cultura se manifesta, nas diferentes regies, a comear pela linguagem, hbitos e costumes. A percepo dessa diversidade contribui para o desenvolvimento do esprito de tolerncia, de valorizao e de respeito das diferenas, e da noo de que no existem povos sem cultura, ou culturas melhores do que outras. O dilogo permanente que est implcito neste processo educacional estimula e facilita a comunicao e a interao entre as comunidades e os agentes responsveis pela preservao e o estudo dos bens culturais, possibilitando a troca de conhecimentos e a formao de parcerias para a proteo e valorizao desses bens. A Educao Patrimonial pode ser assim um instrumento de alfabetizao cultural que possibilita ao indivduo fazer a leitura do mundo que o rodeia, levando-o compreenso do universo sociocultural e da trajetria histrico-temporal em que est inserido. Este processo leva ao desenvolvimento da auto-estima dos indivduos e comunidades, e valorizao de sua cultura, como prope Paulo Freire em sua idia de empowerment , de reforo e capacitao para o exerccio da auto-afirmao. A metodologia especfica da Educao Patrimonial pode ser aplicada a qualquer evidncia material ou manifestao da cultura, seja um objeto ou conjunto de bens, um monumento ou um stio histrico ou arqueolgico, uma paisagem natural, um parque ou uma rea de proteo ambiental, um centro histrico urbano ou uma comunidade da rea rural, uma manifestao popular de carter folclrico ou ritual, um processo de produo industrial ou artesanal, tecnologias e saberes populares, e qualquer outra expresso resultante da relao entre os indivduos e seu meio ambiente.Outro aspecto de fundamental importncia no trabalho da Educao Patrimonial o seu carter transdisciplinar, podendo ser aplicado como mtodo em todas as disciplinas, como veremos mais adiante. O Patrimnio vivo: a dinmica culturalTodas as aes por meio das quais os povos expressam seu modo especfico de ser constituem a sua cultura, que vai ao longo do tempo adquirindo formas e expresses diferentes. A cultura um processo eminentemente dinmico, transmitido de gerao em gerao, que se aprende com os ancestrais e se cria e recria no cotidiano do presente, na soluo dos pequenos e grandes problemas que cada sociedade ou indivduo enfrentam. Neste processo dinmico de socializao, em que se aprende a fazer parte de um grupo social, o indivduo constri a prpria identidade. Reconhecer que todos os povos produzem cultura e que cada um tem uma forma diferente de se expressar aceitar a diversidade cultural. Este conceito nos permite ter uma viso mais ampla do processo histrico, reconhecendo que no existem culturas mais importantes do que outras. O Brasil um pas pluricultural e deve esta caracterstica ao conjunto de etnias que o formaram e extenso do seu territrio. Estas diversidades culturais regionais contribuem para a formao da identidade do cidado brasileiro, incorporando-se ao processo de formao do indivduo, e permitindo-lhe reconhecer o passado, compreender o presente e agir sobre ele. O Patrimnio Cultural Brasileiro no se resume aos objetos histricos e artsticos, aos monumentos representativos da memria nacional ou aos centros histricos j consagrados e protegidos pelas instituies e agentes governamentais responsveis por essa proteo, como o IPHAN, Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional, no mbito federal, e os rgos de patrimnio estaduais e municipais. Existem outras formas de expresso cultural que constituem o patrimnio vivo da sociedade brasileira: artesanatos, maneiras de pescar, caar, plantar, cultivar e colher, de utilizar plantas como alimentos e remdios, de construir moradias e fabricar objetos de uso, a culinria, as danas e msicas, os modos de vestir e falar, os rituais e festas religiosas e populares, as relaes sociais e familiares, as canes, as histrias e lendas contadas de gerao a gerao, tudo isto revela os mltiplos aspectos que pode assumir a cultura viva e presente em uma comunidade. O saber e a experincia da vida na floresta parte fundamental da herana cultural dos ndios da Amaznia, ou de outras regies do pas, nas quais muitas vezes esse patrimnio cultural vem se perdendo na memria dessas comunidades. O maracatu, to popular no Nordeste e no Norte do pas, a expresso de elementos trazidos pela cultura africana, incorporando uma prtica religiosa e uma manifestao popular, sendo assim, da mesma forma, um elemento significativo da cultura brasileira. O Carnaval de Olinda, as vaquejadas do Pantanal, as tcnicas tradicionais da pesca no litoral de Santa Catarina, o trabalho das rendeiras nordestinas, as panelas fabricadas pelas mulheres do Vale do Jequitinhonha, a maneira de plantar, fiar e tecer o linho que ainda sobrevive no interior do Rio Grande do Sul, as rodas de samba cariocas, as festas do Divino em Parati, so exemplos da cultura viva que pode ser trabalhada e conhecida por meio da Educao Patrimonial. A necessidade do passado: o uso do patrimnio cultural no processo educacional.O processo educativo, em qualquer rea de ensino/aprendizagem, tem como objetivo levar os alunos a utilizarem suas capacidades intelectuais para a aquisio de conceitos e habilidades, assim como para o uso desses conceitos e habilidades na prtica, em sua vida diria e no prprio processo educacional. A aquisio reforada pelo uso dos conceitos e habilidades, e o uso leva aquisio de novas habilidades e conceitos. A Educao Patrimonial consiste em provocar situaes de aprendizado sobre o processo cultural e, a partir de suas manifestaes, despertar no aluno o interesse em resolver questes significativas para sua prpria vida, pessoal e coletiva. O patrimnio histrico e o meio ambiente em que est inserido oferecem oportunidades de provocar nos alunos sentimentos de surpresa e curiosidade, levando-os a querer conhecer mais sobre eles. Nesse sentido podemos falar na necessidade do passado , para compreendermos melhor o presente e projetarmos o futuro. O estudo dos remanescentes do passado motiva-nos a compreender e avaliar o modo de vida e os problemas enfrentados pelos que nos antecederam, as solues por eles encontradas para enfrentar esses problemas e desafios, e a compar-las com as solues que encontramos hoje, para os mesmos problemas (moradia, saneamento, abastecimento de gua, iluminao, sade, alimentao, transporte, e tantos outros aspectos). Podemos facilmente comparar essas solues, discutir as causas e origens dos problemas identificados e projetar as solues ideais para o futuro, num exerccio de conscincia crtica e de cidadania. A metodologia da Educao PatrimonialA metodologia proposta para as atividades de Educao Patrimonial se estrutura sobre cinco etapas, caracterizadas por diferentes recursos pedaggicos, visando objetivos definidos para cada uma. Estas etapas seguem uma determinada ordem mas podem, naturalmente, acontecer simultaneamente, dependendo das respostas e iniciativas das crianas. As etapas propostas, os recursos, atividades e objetivos visados podem ser resumidos no quadro abaixo, e podem ser enriquecidas e inovadas pelo professor:

Antes de iniciar o trabalho com qualquer dos temas do Patrimnio Cultural, procure estudar e conhecer o tema a ser tratado. Voc pode conversar com os tcnicos do Museu local, do Instituto do Patrimnio, com membros da comunidade, ir a bibliotecas e arquivos para ampliar seu enfoque e conhecer os recursos a serem explorados. Defina seus objetivos educacionais e os resultados pretendidos. Decida que habilidades, conceitos e conhecimentos voc quer que seus alunos adquiram e de que modo o trabalho se insere no seu currculo. Verifique que outras disciplinas poderiam estar envolvidas na explorao do tema, e converse com outros professores dessas matrias. Converse com a coordenao pedaggica de sua escola para discutir como o trabalho ser avaliado, e como poder ser mostrado na escola, de modo a ser aproveitado pelos demais alunos. Como ser a preparao do trabalho de campo e o desenvolvimento posterior em sala de aula? A maioria das crianas vai sentir que aproveitou mais a experincia se tiver um produto final tangvel. Uma sesso de diapositivos, um vdeo, uma dramatizao ou uma pequena exposio das fotos, textos e trabalhos feitos podem documentar todo o processo, e possibilitar a discusso pedaggica entre os professores e coordenao. Uma apresentao ou entrevista com outras pessoas, como colegas de escola, professores, pais, avs, moradores da vizinhana podem ser recursos para multiplicar e reforar o trabalho realizado, promovendo a integrao das crianas com a comunidade escolar, familiar e da vizinhana. PGM 2 O OBJETO CULTURAL UMA DESCOBERTA

Maria de Lourdes Parreiras Horta O objeto cultural como fonte primria de conhecimento

Nada substitui o objeto real como fonte de informao sobre a rede de relaes sociais e o contexto histrico em que foi produzido, utilizado e dotado de significado pela sociedade que o criou. Todo um complexo sistema de relaes e conexes est contido em um simples objeto de uso cotidiano, uma edificao, um conjunto de habitaes, uma cidade, uma paisagem, uma manifestao popular, festiva ou religiosa, ou at mesmo em um pequeno fragmento de cermica originrio de um stio arqueolgico. Descobrir esta rede de significados, relaes, processos de criao, fabricao, trocas, comercializao e usos diferenciados, que do sentido s evidncias culturais e nos informam sobre o modo de vida das pessoas no passado e no presente, em um ciclo constante de continuidade, transformao e reutilizao, a tarefa especfica da Educao Patrimonial. Neste processo de descobrimento da realidade cultural de um determinado tempo e espao social possvel se aplicar uma metodologia apropriada que facilite a percepo e a compreenso dos fatos e fenmenos culturais. A metodologia da Educao Patrimonial nos leva a formular hipteses sobre os objetos e fenmenos observados, buscando descobrir sua funo original e sua importncia no modo de vida das pessoas que os criaram. Por exemplo, um simples boto, de plstico, de osso ou de madeira, parece no oferecer uma grande margem de explorao de significados. Mas se pensarmos em como era a vida das pessoas antes da inveno do boto, podemos descobrir fatos interessantes... At a Idade Mdia, na Europa, as roupas, em especial os casacos e coletes, eram amarradas com laos e cadaros, de tecido ou de couro. Aps o surgimento do boto, fechando o vesturio, as pessoas passaram a ter uma melhor proteo contra o frio e o vento, em suas atividades dirias. Isto veio contribuir para a diminuio das doenas contradas pela exposio a esses fatores atmosfricos, inclusive umidade, em uma poca em que a medicina ainda estava engatinhando, e em que no se conheciam os antibiticos e outros medicamentos para combater a gripe, a pneumonia, a bronquite. A inveno do boto veio assim aumentar a expectativa de vida dos indivduos, influenciando tambm a moda, e gerando uma sucesso de outros recursos para o fechamento das roupas, em tempos posteriores, como os zperes, os botes de presso em metal, e mais recentemente as fitas velcro. A popularizao do uso do boto levou criao de usos correlatos para este pequeno objeto, que passa a ostentar monogramas, indicativos da profisso do usurio (como nos uniformes do perodo imperial, no Brasil, que ostentam a sigla PI ou PII, em referncia aos dois Imperadores), a ser smbolo de prestgio social, como as abotoaduras de ouro ou madreprola usadas nos punhos das camisas, ou ainda o uso na propaganda, com os conhecidos buttons/ botes com siglas partidrias, de campanhas sociais, de eventos ou clubes. Podemos ainda lembrar do futebol de boto, to popular entre adultos e crianas. Este exemplo pode ser aplicado na explorao de qualquer objeto, equipamento ou expresso cultural, descobrindo-se a sua trajetria no tempo, a partir de sua criao, funo e uso original, e acompanhando-se sua transformao, formal e funcional, ao longo desse trajeto. O famoso paradoxo de Zenon, um filsofo grego da Antigidade, sobre o vo de uma flecha, pode servir de modelo para esta explorao. Zenon props que, ao longo da trajetria de uma flecha em movimento, se poderia distinguir os diferentes pontos no espao ocupados sucessivamente por este objeto, e que em sua sucesso e deslocamento, dariam origem ao movimento real. Todo objeto, em sua trajetria histrico-temporal, percorre um caminho de etapas sucessivas e em contnua transformao, em sua forma e uso. A Educao Patrimonial prope um exerccio de explorao do horizonte do passado de cada objeto e fenmeno observado, buscando a partir do presente descobrir esta trajetria no tempo. Usando a imagem de um grande arco-ris em sua curva no cu, podemos tentar descobrir onde comea o fenmeno, as suas mltiplas cores, ou significados e usos, de que se revestem para as sociedades que os utilizaram, e os sentidos diferenciados que tiveram, as relaes com outros fenmenos e outras invenes, chegando at os nossos dias. comum encontrarmos em uso na decorao das casas de hoje objetos que perderam sua funo e significados originais, como por exemplo os antigos ferros de passar, do tempo da vov, hoje transformados em vasos de flores, ou como objetos de enfeite nas estantes. Esta re-funcionalizao , ou re-significao dos objetos de uso cotidiano oferece um excelente tema de explorao, discusso e pesquisa, dentro ou fora da sala de aula. Os problemas encontrados por uma comunidade no passado levaram a solues que deixaram suas marcas no presente. Por exemplo, a existncia de um aqueduto, ou de uma ponte de ferro, nos indica como uma comunidade resolveu seu problema de abastecimento de gua, ou de travessia de um rio. As evidncias do passado que encontramos hoje nos permitem analisar e identificar os problemas do passado, e as solues encontradas no presente para resolver os mesmos problemas (sistema de encanamento de gua, reservatrios e audes, pontes de concreto, construo de novas estradas, etc.). O avano e a descoberta de novas tecnologias nos ajudam a explicar as novas solues e a projetar hipteses sobre solues futuras para os problemas que vivenciamos hoje, num exerccio das capacidades intelectuais superiores dos alunos em processo de aprendizado, como a deduo, a comparao, a formulao de problemas e de hipteses para a sua soluo. A habilidade de interpretar os objetos e fenmenos culturais amplia nossa capacidade de compreender o mundo. Cada produto da criao humana, utilitrio, artstico ou simblico, portador de sentidos e significados, cuja forma, contedo e expresso devemos aprender a ler, ou seja, a decodificar. Cada poca, circunstncia, ou contexto histrico so marcados por cdigos de comportamento, de valores, de costumes, que regem a vida social e suas formas de expresso. O que vlido e pertinente para uma determinada poca pode j no o ser nos dias de hoje. Compreender os cdigos de uma determinada sociedade nos facilita a compreenso de seu modo de ser e de agir. Para desenvolver este aprendizado, o conhecimento especializado no essencial. Qualquer pessoa pode faz-lo, desde que utilize suas capacidades de observao e de anlise direta do objeto ou fenmeno estudado, e saiba recorrer a fontes complementares para explorar os dados percebidos. A metodologia da Educao Patrimonial pode levar os professores a utilizarem os objetos culturais na sala de aula, ou nos prprios locais onde so encontrados, na casa do aluno, em visitas e passeios a lugares de interesse, como peas chave no desenvolvimento dos currculos, e no simplesmente como mera ilustrao das aulas e dos livros. Aplicando a Metodologia da Educao Patrimonial

A anlise de um objeto ou fenmeno cultural pode ser feita atravs de uma srie de perguntas e reflexes: Investigando um objeto cultural : aspectos principais a observar: Aspectos fsicos/materiais

O que parece ser este objeto? (funo/uso)

Outras perguntas:

Que cor tem?

Que cheiro tem?

Que barulho faz?

De que material feito?

O material natural ou manufaturado?

O objeto est completo?

Foi alterado, adaptado ou consertado?

Est usado? Modo/ processo de construoComo foi feito?

Outras perguntas:

Onde foi feito?

Foi feito mo, ou mquina?

Foi feito em uma pea nica, ou em partes?

Com uso de molde, ou modelado mo?

Como foi montado? (com parafusos, pregos, cola ou encaixes...). Funo/uso

Para que foi feito?

Outras perguntas:Quem o fez?

Para que finalidade?

Como foi ou usado?

O uso inicial foi mudado? Por qu? Desenho/ formaO objeto tem uma boa forma? bem desenhado?

Outras perguntas:Ele bem adequado para o uso pretendido?

De que maneira a forma indica a funo?

O material usado adequado funo?

decorado, ornamentado?

Como a decorao?

O que a forma e a decorao indicam?

Sua aparncia agradvel? Por qu? Valor/significadoQuanto vale este objeto?

Outras perguntas:Para as pessoas que o fabricaram?

Para as pessoas que o usam (ou usaram)?

Para as pessoas que o guardaram?

Para as pessoas que o venderam?

Para voc?

Para um Banco?

Para um Museu? Voc pode dar s crianas uma folha como essa para ajud-las no exerccio de analisar um objeto, sem limitar sua prpria capacidade de propor perguntas e respostas. Ao lado das perguntas e aspectos acima, voc pode criar duas colunas, para anotao:Aspectos descobertos pela observaoAspectos a pesquisar

importante notar que, todo objeto ou evidncia da cultura traz em si uma multiplicidade de aspectos e significados. Neste processo de etapas sucessivas de percepo, anlise e interpretao das expresses culturais necessrio definir e delimitar os objetivos e metas da atividade, de acordo com o que se quer alcanar, e com a natureza e complexidade do objeto estudado. Por exemplo, em um museu, definir o tema abordado, de acordo com as colees existentes; em um monumento ou uma cidade, definir os aspectos a serem investigados (arquitetnico, urbanstico, social, econmico, histrico, etc.). Em um nico monumento podemos analisar os aspectos construtivos e materiais, a rea de entorno, o interior, a decorao, o mobilirio, os habitantes ou usurios, as transformaes ocorridas no tempo. Cada um desses aspectos oferece uma infinidade de enfoques a abordar, que podem ser explorados nas diferentes disciplinas do currculo. A investigao de um objeto cultural se baseia assim em diferentes atividades, num processo que requer: observao > pesquisa/estudo > discusso > concluses levando-nos assim ao conhecimento do objeto. Descobrindo um objetoO objeto mais comum de uso domstico ou cotidiano pode oferecer uma vasta gama de informaes a respeito do seu contexto histrico-temporal, da sociedade que o criou, usou e transformou, dos gostos, valores e preferncias de um grupo social, do seu nvel tecnolgico e artesanal, de seus hbitos, da complexa rede de relaes sociais. A observao direta, a manipulao e o questionamento do objeto, feitos com perguntas apropriadas, podem revelar estas informaes em um primeiro nvel de conhecimento, que dever ser expandido por meio do estudo e da investigao de fontes complementares como livros, fotografias, documentos, arquivos cartoriais e eclesisticos, arquivos de instituies, clubes, associaes, arquivos familiares, pesquisas, entrevistas, etc. Considere a CADEIRA em que voc est sentado. Usando a metodologia da Educao Patrimonial, em sua primeira etapa, a observao, possvel perguntar: de que material feita? Por que foi feita desse material? Qual sua cor, forma e textura? confortvel? diferente de outras cadeiras? O que diz sua ornamentao? Ela tem cheiro? Em que poca foi feita? Ela j foi consertada? Como? Por qu? Ela est limpa? Ela se relaciona com outros objetos na sala? De que maneira? Foi fabricada artesanalmente ou industrialmente? Voc j olhou embaixo da cadeira ou passou o dedo sob ela? Isto altera alguma das respostas acima? Agora voc pode pensar em outras perguntas que poderiam ser feitas com o objetivo de ampliar a sua investigao sobre a cadeira, percebendo a quantidade de informaes que um simples objeto de uso cotidiano pode revelar. A segunda etapa da metodologia leva-nos a registrar as observaes e dedues feitas. Voc poderia, assim, tentar descrever em palavras esta cadeira, desenh-la, fotograf-la em diferentes ngulos, medi-la, pes-la, observar e anotar as formas de encaixe ou construo, ou mesmo reproduzi-la em tamanho pequeno ou natural, em diferentes materiais. Seu conhecimento sobre este objeto ficar, sem dvida, mais consolidado e registrado em sua memria. Numa terceira etapa, a da explorao, voc poder querer descobrir mais informaes e significados relacionados com a cadeira em que voc est sentado. Neste caso, levante-se dela e procure descobrir por meio de perguntas a outras pessoas, consulta a livros, revistas ou documentos, pesquisa em arquivos de fotografias e textos, visitas a instituies especializadas, todo o contexto histrico, social, econmico, tecnolgico e poltico em que esta cadeira est inserida. Voc pode explorar ainda os outros tipos de cadeiras que voc conhece, e os seus diferentes usos, inclusive os simblicos (por exemplo, o Trono Imperial que est no Museu de Petrpolis um tipo de cadeira, que representa a dignidade do governante mximo em sua poca). Finalmente, voc descobriu a cadeira em que est sentado e se apropriou dela intelectual e emocionalmente. Voc capaz de recriar esta cadeira de alguma forma? Potica, plstica, musical, com movimentos ou dramatizao? De escrever a histria dessa cadeira? De dialogar com ela? Neste momento, a sua prpria capacidade de expresso criativa que estar se revelando. Voc pode aplicar este exerccio com qualquer objeto existente na sala de aula, como um modo de preparar seus alunos para a visita a um museu, monumento ou stio histrico. Ou propor que tragam algum objeto de casa, para ser explorado em sala, em grupos de dois ou trs alunos. PGM 3 OS MONUMENTOS E CENTROS HISTRICOS

Maria de Lourdes Parreiras Horta Explorando o meio ambiente histrico

O conceito de meio ambiente histrico Olhar um monumento, uma paisagem, um centro histrico, ou uma rea rural adquire uma dimenso bem mais ampla e profunda quando utilizamos o conceito de meio ambiente histrico como eixo de nossa observao. comum, ao falarmos do meio ambiente em que vivemos, considerar-se unicamente a questo do meio ambiente natural, em seus aspectos fsicos e biolgicos. Mas inevitvel, ao se questionar os efeitos da poluio, do desmatamento, da extino dos mananciais e da contaminao do ar e das guas, chegarmos ao agente responsvel por estes problemas: o ser humano e sua ao sobre o meio ambiente natural. Os aspectos histricos da ao transformadora do homem sobre a natureza, para dela tirar o seu sustento e criar as condies necessrias sua sobrevivncia e vida em sociedade, no podem deixar de ser estudados e analisados criticamente, para uma compreenso mais abrangente e complexa dessa interao, e de suas conseqncias para a vida em sociedade. O que o meio ambiente histrico ?

o espao criado e transformado pela atividade humana, ao longo do tempo e da histria. Pode ser um pequeno ncleo habitacional, uma cidade, uma rea rural, cortada por caminhos, pontes e plantaes. At mesmo uma paisagem natural, rios e florestas, zonas de alagados ou desertos j sofreram, em algum momento no tempo, o impacto da ao humana. Algumas reas foram ocupadas no passado, em tempos pr-histricos, ou sculos atrs, e hoje no apresentam sinais visveis de ocupao, que s poder ser conhecida pelo trabalho dos arquelogos. O meio ambiente histrico est em toda a parte, em torno de ns, acima e abaixo dos nossos ps; o que pode variar a extenso e o modo em que ele pode ser identificado e percebido, no meio ambiente em que vivemos hoje. Voc j pensou alguma vez no que pode ter existido ou ainda estar soterrado debaixo do cho e do solo em que voc pisa agora? Os monumentos e stios que conhecemos hoje so fragmentos do cenrio do passado, elementos de uma paisagem que sofreu modificaes ao longo do tempo, e funcionam como chaves para a reconstituio das sucessivas camadas da ocupao humana e dos remanescentes que chegaram at ns. No por acaso que as fotos antigas dos lugares que nos so hoje familiares podem nos causar tanta surpresa, e muitas descobertas... O meio ambiente histrico dinmico, e continua a mudar no presente. O conceito de mudana e continuidade essencial para a compreenso do Patrimnio Cultural, em todos os seus aspectos, como um dos conceitos bsicos a serem trabalhados no processo da Educao Patrimonial. Um exerccio que pode ajudar a compreenso deste conceito o de pesquisar e documentar as mudanas ocorridas no espao da escola, ou da casa do aluno, ao longo dos ltimos anos, e observar as mudanas ocorridas na sua rua, ou no bairro. Os jornais e revistas so excelentes fontes para esse estudo. As dimenses do meio ambiente histrico A atividade sobre o meio ambiente, resultante das necessidades humanas de vida em grupo e de sobrevivncia, d origem a uma srie de estruturas, com diferentes finalidades: abrigo, defesa, cultos religiosos, agricultura, fabricao de utenslios e ferramentas, comrcio, governo, etc. Normalmente encontramos estruturas apropriadas a todas essas funes no espao de uma mesma rea, quer seja rural ou urbana. Ao longo dos sculos, as necessidades bsicas continuam as mesmas, e o desenvolvimento das tecnologias vai modificar as estruturas, com a introduo de recursos mais sofisticados. Novas necessidades da vida social vo provocar o aparecimento de novas estruturas: shopping centers no lugar de lojas, cinemas no lugar de galpes, igrejas no lugar de cinemas, estdios de futebol no lugar de reas desocupadas. O meio ambiente histrico tem duas dimenses: a dimenso horizontal, que revela o aspecto de toda uma rea em determinado perodo de tempo, no passado ou no presente, e a dimenso vertical, que mostra as sucessivas camadas e modificaes de uma mesma rea ao longo do tempo. A sobrevivncia de cada uma dessas camadas depende de uma srie de fatores, como o tipo de material usado nas estruturas construdas, ou o processo de mudana nas atividades, na agricultura, na indstria e na populao. Algumas estruturas recentes podem esconder uma estrutura mais antiga, por trs das fachadas. A expanso urbana e as atividades agrcolas provocaram, em um passado muito recente, e ainda provocam, a destruio de muitos stios e monumentos histricos. As alteraes do meio ambiente natural vo refletir essas mudanas de uso e ocupao das reas, e vo estar tambm refletidas nas estruturas e nos equipamentos construdos pelo homem para enfrentar as condies climticas de uma determinada regio. Como encontramos o meio ambiente histricoPodemos encontr-lo todo dia, a qualquer momento, em torno de ns. Para as crianas, com um tempo de vida mais recente e menor que o dos adultos, quase tudo que as rodeia produto de um passado distante, do tempo da vov. A prpria casa, a famlia ou a escola, podem ser materiais teis para iniciar a compreenso da mudana e da continuidade. As estruturas remanescentes do passado so encontradas em diferentes estados de preservao:

intactas: escolas, casas, igrejas, prdios pblicos, teatros, museus, parques, etc.

incompletas: no mais usadas por terem sido danificadas pela atividade humana, ou pela ao do tempo, como a chuva, o vento, o mofo, a ferrugem, transformando-se em runas (normalmente correspondem noo mais comum de monumento histrico ou prdio antigo, atraindo o interesse turstico). enterradas: estruturas desaparecidas por abandono de uso e pela prpria decadncia dos materiais (madeira, barro, por exemplo) menos resistentes ao do tempo. A mudana nas atividades da rea provocou o seu desaparecimento sob novas camadas de solo (estes stios so descobertos e estudados pelos arquelogos, a partir de alguns vestgios encontrados no solo). O que um monumento histrico? Um monumento uma edificao ou stio histrico de carter exemplar, por seu significado na trajetria de vida de uma sociedade/comunidade e por suas caractersticas peculiares de forma, estilo e funo. Existem monumentos construdos especialmente para celebrar ou relembrar algum episdio, momento ou personagem de nossa histria, criados por arquitetos, escultores, artistas, como por exemplo: o Monumento s Bandeiras, em So Paulo, ou o Monumento aos Mortos na 2a. Guerra Mundial, no Rio de Janeiro, ou o Memorial JK, em Braslia. Outros so remanescentes do passado, que sobreviveram ao tempo, e que so consagrados pela sociedade como smbolos coletivos, e como referncias da memria de um povo. Em suas estruturas, formas e uso, revelam um momento determinado do passado, e so testemunhas dos modos de vida, das relaes sociais, das tecnologias, das crenas e valores dos grupos sociais que os construram, modificaram e utilizaram. Alguns monumentos continuam a servir mesma funo original, como as igrejas da poca colonial. Outros servem a novas funes, como as Casas de Cmara e Cadeia, transformadas em museus ou reparties pblicas, como aconteceu em Ouro Preto, MG; alguns permanecem vazios, sem uso particular, constituindo freqentemente um plo de atrao turstica, como, por exemplo, os fortes para a defesa da costa ou das fronteiras do pas. Alguns esto bem conservados em seu aspecto original, outros sofreram modificaes ao longo do tempo para servir a novos usos, outros ainda se encontram em runas, como as Misses Jesutico-Guarani, no Rio Grande do Sul. Uma parte do monumento pode estar enterrada sob camadas do solo, como resultado de modos sucessivos de ocupao do espao: as casas dos guaranis, as oficinas e o colgio dos padres, nas Misses de So Miguel, So Nicolau ou So Joo Batista s so conhecidos como resultado de escavaes arqueolgicas. O que um monumento Tombado? Alguns edifcios isolados, stios ou conjuntos de edificaes tm um significado especial para a Histria do Brasil, como marcos na trajetria nacional. Outros tm uma importncia regional ou local. Os tcnicos do Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional (IPHAN), do Patrimnio Estadual ou Municipal, puderam identificar estes edifcios e stios por meio de estudos e pesquisas, como base para o trabalho de conservao e restaurao, e para sua proteo oficial, de acordo com a Constituio Federal e o Decreto-lei n. 25, de novembro de 1937, a chamada Lei do Tombamento. Os monumentos assim identificados so chamados monumentos ou edifcios tombados, quando inscritos nos Livros de Tombo do patrimnio nacional, estadual ou municipal. A origem do termo tombamento muito antiga e se refere Torre do Tombo, em Portugal, onde se guardam at hoje os livros e os documentos da histria daquele pas, e muitos referentes Histria do Brasil. O tombamento assim um registro oficial e legal de um edifcio, um conjunto de edificaes, centros urbanos histricos, ou objetos e colees de significado exemplar para a sociedade. Um monumento antes de tudo uma referncia a um momento na trajetria histrico-cultural de um povo, um instrumento da memria coletiva. Assim, jamais pode ser estudado isoladamente. Um monumento deve ser visto como um elemento do meio ambiente histrico, e como tal deve ser analisado em seu contexto social e histrico, ao longo do tempo. A partir de 2002, o Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional criou um novo Livro de Registro, destinado a referenciar e proteger as manifestaes culturais que so caracterizadas como o patrimnio imaterial brasileiro, ou seja, os saberes e modos de fazer peculiares s diferentes regies do Brasil, as festas e folguedos, as cantigas e lendas, o artesanato, a culinria, a msica, a poesia e a literatura populares. O ofcio das paneleiras do Vale do Jequitinhonha, no Esprito Santo, foi a primeira manifestao registrada no Livro do Patrimnio Imaterial Brasileiro. Qualquer pessoa pode indicar aos rgos do IPHAN, em sua regio, alguma manifestao que seja considerada merecedora de registro neste Livro. O monumento: explorando o meio ambiente histricoAo analisar um monumento ou stio histrico importante que os alunos sejam levados a considerar as dimenses do meio ambiente histrico em que eles se inserem, e a avaliar a influncia da paisagem local sobre esses comportamentos naquela localidade, que contribui para o seu carter especial. As disciplinas da Histria, Geografia, Matemtica, Estatstica e Cincias Sociais so reas que podem ser especialmente desenvolvidas nesta explorao. Da mesma forma a Literatura e a Linguagem. Analisar uma fortaleza na entrada de uma baa, ao longo da costa brasileira, ou em uma regio de fronteira, no Norte ou no Oeste do pas, uma igreja barroca em Minas Gerais ou as runas das Misses Jesutico-Guarani, no Rio Grande do Sul, o mercado do Ver-o-Peso, em Belm do Par, ou a feira de Caruaru, em Pernambuco so exerccios que podem nos fazer compreender a natureza dessa interao entre o homem e o seu meio ambiente fsico e cultural. Ao estudar um local, monumento ou stio histrico, e a interao entre a atividade humana e a paisagem, pode-se usar um conjunto estruturado de perguntas, como ponto de partida para que os alunos proponham suas prprias questes: A questo fundamental: Como este lugar hoje/ Como era este lugar no passado? o ponto de partida para a coleta de dados, o trabalho de campo, as observaes orientadas e as diferentes atividades. A partir dessa pergunta, que j implica um exerccio mental de observao, comparao e deduo, possvel observar, entre outros aspectos: Onde ele est situado? Como ele se insere na paisagem natural? Quantas estruturas existiam ali? De que eram feitas? Para que serviam? Quantas pessoas viviam ali? Perguntas como estas podem ser aplicadas a alunos de todas as idades, com a ajuda dos professores para os mais jovens. Para tanto, importante que o professor prepare a sua visita e estude os elementos perceptveis no local, bem como a histria da evoluo do mesmo, de modo a orientar a observao e as perguntas dos alunos. Apesar de serem colocadas separadamente, as questes se relacionam entre si. Um conjunto de perguntas depende de outras. Entretanto, coloc-las separadamente ajuda a compreender e a estruturar os diferentes passos de uma pesquisa. Na base dessas perguntas est a inteno de compreender a evidncia fsica que observamos, com o intuito de conhecer mais sobre ela, sobre a vida no local e as mudanas que ocorreram, de modo a perceber sua importncia ou significado no presente. As questes bsicas de abordagem podem ser assim estruturadas:

Histria

Funo Estes elementos de anlise podem ser aprofundados em diferentes pontos:

Stioe foi construdo?Como foi usado?

O que aconteceu neste lugar? As atividades resultantes desse questionamento implicam o exerccio de diferentes habilidades, tais como: a observao, o registro verbal, grfico, matemtico, a anlise, a deduo, a comparao, a sntese e a apresentao dos resultados, em diferentes formas. O uso e a compreenso de mapas, plantas, fotografias areas, fotos antigas e recentes, documentos originais, arquivos, bibliografia so outras habilidades envolvidas na explorao orientada de um stio ou monumento histrico. O essencial nesse processo fazer as questes adequadas, levantar problemas, discutir os resultados e verificar as concluses mais apropriadas, isto , as mais sensveis e possveis. Respostas corretas so raramente possveis em stios histricos, pois no podemos captar as idias dos habitantes originais, a no ser por fontes secundrias (documentos, dirios, cartas, etc.). importante que os alunos percebam isto, e que suas respostas sejam avaliadas pela maneira em que se apiam na evidncia disponvel. Neste processo ativo de descoberta da evidncia cultural, importante que os professores no forneam de antemo as informaes disponveis nos livros ou arquivos, mas que levem os alunos a propor as questes pertinentes e a buscar as chaves para o descobrimento daquele local. De volta sala de aula possvel analisar os dados coletados no local, reformulando os resultados a partir de pesquisas e discusses posteriores e apresentando as concluses de forma coletiva, com painis, desenhos, mapas, grficos, cronologias, exposies de objetos e fotos, maquetes, etc. Preparando a visita A visita a um monumento/stio histrico ou arqueolgico requer algumas precaues: Escolha um stio/monumento, de preferncia bem conservado, evitando os que apresentem algum risco de desmoronamento.

Verifique se o stio/monumento tem suficiente documentao histrica e registros anteriores, para facilitar a comparao com seu aspecto atual. A facilidade de acesso ao local fundamental. No processo de estudo possvel que se necessite voltar ao stio para complementar e esclarecer alguns aspectos. Nem todas as perguntas podero ser respondidas no local, ou porque as evidncias no existem mais ou porque ainda no foram encontradas. importante que os alunos percebam as limitaes das evidncias. Isto pode levar formulao de hipteses sobre os elementos disponveis, mas os alunos devem perceber tambm os riscos e problemas da interpretao de evidncias incompletas, levando a concluses inexatas ou distorcidas. PGM 4 OS STIOS ARQUEOLGICOS E O PATRIMNIO RURAL Maria de Lourdes Parreiras Horta O que um stio arqueolgico?

um lugar onde se encontram vestgios da vida e da cultura material dos povos do passado. Estes vestgios podem estar sobre a superfcie do solo uma aldeia indgena abandonada, uma fortaleza do sculo XVIII, as runas de uma igreja, ou enterradas um sambaqui, por exemplo, locais beira do mar onde se acumularam conchas, ossos, restos de alimentos e utenslios utilizados por grupos humanos que ali viveram.Qualquer pessoa pode encontrar, por acaso, vestgios de um stio arqueolgico. Para compreender o que ele contm de informaes sobre a vida humana naquele lugar preciso algumas pistas, e para isso necessria a ajuda de um arquelogo. Se tentarmos escavar ou explorar um stio arqueolgico sem o conhecimento dos mtodos apropriados para essa tarefa, podemos destruir as informaes que ele contm. Os stios arqueolgicos so protegidos por lei a Lei Federal n. 3.924/61; destru-los incorrer em um crime contra o Patrimnio Nacional. O que faz um arquelogo?Para um arquelogo, um montinho de lascas de pedra pode trazer um sem nmero de informaes que para uma pessoa comum pode no ter o menor significado. O trabalho da Educao Patrimonial parecido com o dos arquelogos: aprender a ler as evidncias do passado no presente, para delas tirar concluses e conhecimentos. Para encontrar as informaes que procura, o arquelogo remove cuidadosamente, s vezes com um pincel, as camadas de terra ou entulho que cobrem os artefatos e vestgios da ocupao humana, encontrados em um stio arqueolgico. s vezes, ele encontra camadas superpostas de vestgios diferentes, que correspondem a diferentes perodos de ocupao. Os perodos mais antigos encontram-se nas camadas mais profundas. Esta superposio de camadas no solo, como se fosse um bolo, e o seu estudo, o que se chama, em Arqueologia, a estratigrafia do stio. Ela permite identificar as datas sucessivas de ocupao, umas em relao a outras, levando descoberta de como viviam essas populaes, o que comiam, o que fabricavam, os instrumentos de que dispunham, e a evoluo das tecnologias ao longo do tempo. Por isto to importante preservar e proteger os stios arqueolgicos da destruio eles so fontes preciosas para o conhecimento de nossa histria, de nossa pr-histria, de nossos antepassados e de nossa trajetria cultural. O que a Arqueologia? a cincia que nos permite conhecer o passado do homem, antes dos registros histricos. A palavra vem do grego Archaios, que significa antigo, e o sufixo logia, que significa o estudo de alguma coisa. Um arquelogo como um detetive: ele estuda os vestgios e pistas que indicam como vivia o homem no passado. Para isso ele emprega mtodos e instrumentos especficos. Existem diferentes tipos de trabalho arqueolgico. Os mais praticados no Brasil so: a arqueologia pr-histrica, que se refere ao longo perodo antes de 1500, quando os europeus chegaram aqui; a arqueologia histrica, que estuda o passado do homem que aqui viveu a partir dessa data, com a ajuda de documentos escritos e de relatos orais. O que a Pr-Histria?

A histria brasileira s comeou a ser escrita com a chegada dos portugueses, em 1500. A Histria o estudo do passado baseado em registros escritos ou em histrias contadas por algum, o que chamamos de histria oral. No Brasil, os antigos habitantes, que eram os ndios, no usavam a escrita, mas sua histria foi passada de gerao a gerao por meio da histria oral. Sabemos que h vestgios da presena humana no Brasil que datam de 30 mil anos, aproximadamente. Mas, naqueles tempos, a escrita ainda no havia sido inventada. O longo perodo de tempo que antecede a Histria, perodo em que no se tem registros escritos ou orais, chamado Pr-Histria. Mas se no h registros escritos, ou orais, dos tempos pr-histricos, como podemos estud-los? As pistas do passado, no presente:As principais evidncias que os arquelogos podem encontrar em um stio arqueolgico, como pistas para desvendar o mistrio da vida dos povos que nos antecederam, enterradas ou sobre a superfcie do solo, so:

artefatos: qualquer objeto feito pelo homem, como instrumentos de trabalho, de caa ou de pesca, de msica ou ritual, brinquedos, vasilhas, peas de indumentria, etc.estruturas: as construes de todos os tipos, para atender s suas necessidades e modos de vida, tais como casas, abrigos, depsitos de alimentos e gros, igrejas, cemitrios, colgios, fortificaes, etc.ecofatos: ou as coisas da natureza usadas pelo homem de acordo com suas necessidades, como por exemplo restos de alimentos, ossos e conchas, sementes, carvo, fibras, pedras, etc.O local onde essas pistas so encontradas importante para que se possa compreender ou deduzir como eram usadas isto se chama o contexto dos artefatos, ecofatos, ou estruturas. Algumas coisas juntas, em um mesmo contexto, podem ser associadas pelo arquelogo, para descobrir, como um detetive, informaes sobre o que aconteceu naquele lugar, naquele momento da histria. Por isso no devemos mexer ou tirar as coisas do lugar, ao visitar um stio arqueolgico. Para explorar um stio histrico ou pr-histrico, em uma atividade de Educao Patrimonial, recorra sempre ajuda de um arquelogo, por intermdio dos escritrios e coordenaes regionais do IPHAN em seu estado ou municpio, ou a uma universidade local. Sugestes de atividadesA loua quebrada O objetivo desta atividade iniciar o aluno na compreenso da evidncia cultural e nos diferentes modos de analis-la, levando-o a perceber o processo de reconstituio do passado, por meio dos fragmentos e vestgios observados no presente. A experincia pode ser usada como preparao para o estudo de qualquer evidncia, de objetos de museus a monumentos em runas ou stios histricos e arqueolgicos. Apresente aos alunos um objeto qualquer de cermica ou loua comum (xcara, prato, bule, pote, caneca, etc.), previamente quebrado em pequenos pedaos, dentro de um saco plstico transparente.Pea aos alunos para identificar o que este objeto. A resposta nem sempre ser bvia. Faa perguntas que levem observao do material empregado, vestgios de decorao e a forma dos fragmentos.Escolha um dos fragmentos que permita uma fcil identificao (a ala, por exemplo). Faa perguntas que levem a uma interpretao deste fragmento de evidncia. Nem sempre voc pode ter certeza absoluta de como era o objeto original. A borda de uma caneca, ou de um pote, podem ser semelhantes.Repita o exerccio com os demais fragmentos. Os alunos podem desenh-los para tentar montar o quebra-cabea, ou tentar reconstituir o objeto juntando os prprios fragmentos (desde que no haja risco para os alunos).O arquelogo do futuroOs alunos podem imaginar que so arquelogos do ano 3000. A sala de aula ou o jardim da escola podem ser stios arqueolgicos, que sero explorados pelos alunos para descobrir as pistas sobre a vida no incio do sculo XXI. Cada grupo de alunos deve recolher, em um saco plstico, alguns artefatos ou coisas que foram para o lixo, na sala ou no ptio da escola. Cada aluno, em cada grupo, descreve em uma ficha um objeto encontrado. Quando todos os objetos estiverem descritos, o grupo pode discutir a funo de cada um, discutindo as vrias hipteses de uso, como se no soubessem como era a vida em nossa poca. Cada grupo apresentar aos demais suas hipteses sobre o material encontrado; no final da atividade, possvel fazer um painel, em classe, sobre as informaes obtidas, a partir da anlise do material recolhido, discutindo ainda tudo o que no est representado por esse material o que est faltando, ou o que fica pouco claro, a partir dessas evidncias. Este exerccio, que pode ser bem divertido e ldico, estimulando a criatividade dos alunos, tambm os far perceber as limitaes da Arqueologia, na descoberta dos mundos passados. O PATRIMNIO RURAL: uma herana a descobrir

A idia de que o Patrimnio cultural, os monumentos e stios histricos s so encontrados nas cidades, ou em sua periferia, bastante comum, e, entretanto, equivocada. Nas reas rurais, nas pequenas vilas e cidades que ali se desenvolveram, como ncleos da ocupao humana na regio, h todo um Patrimnio Cultural, vivo e dinmico em suas tradies, que na maioria das vezes no reconhecido como tal pela maioria da populao e pelos que vm de fora. Pelo fato de no existirem museus ou grandes monumentos nessas localidades, ou por no terem sido marcadas e celebradas por episdios da histria nacional, comum se pensar que preciso sair daquele lugar para buscar o conhecimento e a experincia do Patrimnio Histrico, Artstico e Cultural de que tratamos aqui. No primeiro programa desta srie, destacamos a importncia do Patrimnio Vivo das comunidades, da dinmica do processo cultural, e dos elementos que constituem o patrimnio imaterial de uma cultura. A Educao Patrimonial busca a capacitao dos indivduos para a leitura e a compreenso desses processos culturais, mais do que dos produtos deles resultantes, e que constituem a evidncia cultural que procuramos estudar. na rea rural, e nos pequenos ncleos do interior do pas, onde estes processos, esta dinmica e suas manifestaes podem ser encontrados e analisados com mais facilidade, porque na maioria dos casos esto em pleno uso, em frente de nossos olhos, e prontos para serem conhecidos e experimentados. O isolamento dos grandes centros, ao mesmo tempo em que contribui para um processo de estagnao e de xodo dos mais jovens, ao mesmo tempo um fator de proteo das tradies, dos saberes e dos fazeres da cultura local. A proposta da Educao Patrimonial, levando-nos explorao e conhecimento dos objetos e manifestaes da cultura de um modo diferenciado, em busca de seus mltiplos significados e contedos, vem sendo um poderoso instrumento de trabalho para professores e agentes de cultura e educao no meio rural, como recurso para a recuperao da auto-estima das comunidades, do resgate da memria coletiva, e da percepo e reconhecimento dos valores locais. Um exemplo bem sucedido da utilizao da Educao Patrimonial em uma vasta regio, predominantemente rural, no sul do pas, a experincia do Programa Regional de Educao Patrimonial da 4a. Colnia de Imigrao Italiana no Rio Grande do Sul. Este projeto, desenvolvido pela Secretaria de Cultura e Turismo do Municpio de Silveira Martins, RS, a partir de 1993, abrangeu toda a rede educacional dos municpios circunvizinhos, tais como D.Francisca, Faxinal do Soturno, Ivor, Nova Palma, Pinhal Grande e So Joo do Polsine. Durante trs anos, o projeto (PREP) desenvolveu e aplicou uma metodologia especfica para o trabalho da Educao Patrimonial a partir da cultura e da histria locais, marcadas pelos elementos caractersticos do fenmeno da imigrao italiana e alem no sul do pas, a partir do sculo XIX. O projeto envolveu alunos e professores do 1o grau, num processo interdisciplinar e interescolar, incluindo tambm a comunidade e as famlias dos estudantes, cujos resultados se fazem sentir at hoje, no desenvolvimento da regio. No desenvolvimento do PREP Projeto Regional de Educao Patrimonial, escolheram-se ncleos temticos a serem trabalhados a partir desta metodologia: A casa, espaos e mobilirio;Documentos familiares;Instrumentos de trabalho e tcnicas de uso;Cultivos e alimentao;A flora e a fauna nativas. Cada um desses temas foi objeto de estudo e explorao durante todo um semestre letivo, em todas as reas/disciplinas do currculo, por meio de atividades e experincias concretas de observao, coleta, pesquisa e explorao, partindo sempre do enfoque da realidade quotidiana dos alunos. Os aspectos do trabalho, do plantio e da colheita e de outras atividades comuns na regio foram observados no campo, onde os pais dos alunos foram os monitores da atividade, explicando os mtodos e instrumentos de seu fazer. A valorizao dos ofcios rurais e do conhecimento tradicional passado de gerao a gerao foi um resultado altamente positivo das atividades, levando os alunos a reconhecerem e a terem orgulho de sua histria pessoal e coletiva, de seus pais e avs. Por intermdio do manuseio, do registro em diferentes meios, dos jogos, das entrevistas com familiares e integrantes da comunidade, alunos e professores tiveram a possibilidade de entender e reconstituir as tramas sociais, tecnolgicas, econmicas e culturais que compem o tecido de sua trajetria e identidade histricas. Ao mesmo tempo, as crianas fizeram um verdadeiro inventrio dos objetos significativos para sua histria e identidade, atravs da pesquisa e da coleta de campo, elaborando fichas para cada objeto encontrado ou emprestado pelos amigos e familiares. Ao final de cada etapa temtica, organizou-se em cada escola uma exposio dos objetos coletados e dos trabalhos realizados (desenhos, maquetes, fotografias, mapas e relatos, dramatizao, etc.). Ao final do perodo letivo organizaram-se exposies coletivas, apresentando o trabalho desenvolvido em todas as escolas municipais participantes do Projeto Regional de Educao Patrimonial. Os resultados dessa experincia foram to ricos que possibilitaram a elaborao de uma tese de Mestrado em Educao, apresentada Universidade Federal de Santa Maria, RS, pela autora, e uma das coordenadoras do programa, a professora Maria Anglica Villagran. A leitura do poema de Carlos Drummond de Andrade, intitulado A CHAVE pode servir de inspirao, e de metfora, para o trabalho da Educao Patrimonial. A partir de um simples objeto comum, como uma chave (e logo imaginamos uma chave antiga, talvez j enferrujada), o poeta nos abre a porta da imaginao e da evocao de todo um universo do passado, onde transitam paisagens, personagens, sons, animais, e toda a fora da criao humana, cristalizada no gesto do serralheiro... o serralheiro no sabia / o ato de criao como potente/ e na coisa criada se prolonga, ressoante... Ouvir a voz das coisas (Ora, direis, ouvir estrelas... diz um outro poeta brasileiro), perceber o ato de criao que se prolonga nelas, e chega at ns, escutar as histrias que nos contam... Esta a alfabetizao cultural que se prope com o trabalho e a metodologia da Educao Patrimonial. Ouamos assim a voz da chave, que nos transmitida pela palavra do poeta: A CHAVECarlos Drummond de Andrade (O Corpo, 1984)E de repenteo resumo de tudo uma chave. A chave de uma porta que no abrepara o interior desabitadono solo que inexiste, mas a chave existe. Aperto-a duramentepara ela sentir que estou sentindosua fora de chave.O ferro emerge de fazenda submersa.Que valem escrituras de transferncia de domniose tenho nas mos a chave-fazendacom todos os seus bois e os seus cavalose suas guas e aguadas e abantesmas?Se tenho nas mos barbudos proprietrios oitocentistasde que ningum fala mais, e se falasseera para dizer: os Antigos?(Sorrio pensando: somos os Modernosprovisrios, a-histricos...) Os Antigos passeiam nos meus dedos.Eles so os meus dedos substitutosOu os verdadeiros?Posso sentir o cheiro do suor dos guarda-mores,o perfume- Paris das fazendeiras no domingo de missa.Posso, no. Devo.Sou devedor do meu passado,cobrado pela chave.Que sentido tem a gua represadano espao onde as estacas do curralconcentram o aboio do crepsculo? Onde a casa vige?Quem dissolve o existido, eternamenteexistindo na chave? O menor gro de cafderrama nesta chave o cafezal.A porta principal, esta que abresem fechadura e gesto.Abre para o imenso.Vai-me empurrando e revelandoo que no sei de mim e est nos Outros.O serralheiro no sabiao ato de criao como potentee na coisa criada se prolonga,ressoante.Escuto a voz da chave, canavial,uva espremida, berne de bezerro,esperana de chuva, flor de milho,o grilo, o sapo, a madrugada, a carta,a mudez desatada na linguagemque s a terra fala ao fino ouvido.E aperto, aperto-a, e de apert-la, ela se entranha em mim. Corre nas veias. dentro em ns que as coisas so,ferro em brasa o ferro de uma chave. PGM 5 A MULTIPLICAO DO MTODO

Maria de Lourdes Parreiras Horta OFICINAS DE FORMAO DE PROFESSORES

AVALIAO DA EXPERINCIAA metodologia da Educao Patrimonial pode ser um instrumento valioso para o trabalho pedaggico dentro e fora da escola. Para alcanar a multiplicao das idias e conceitos propostos neste campo da Educao baseada no Patrimnio Cultural importante que se faa um treinamento com os agentes que iro desenvolver este trabalho nas escolas, nas associaes de bairros, ou em qualquer espao ou grupo social que se pretenda sensibilizar.Este treinamento pode ser feito atravs de Oficinas de Educao Patrimonial, que levaro os participantes a experimentar diretamente a metodologia de trabalho proposta, podendo assim avaliar a sua eficincia e potencialidade. No primeiro momento do treinamento, os participantes so apresentados ao embasamento terico, e aos conceitos bsicos de cultura, bens culturais, patrimnio material e imaterial, assim como aos princpios que fundamentam a metodologia da Educao Patrimonial. Em seguida, prope-se um exerccio de observao, no qual se evidencia o potencial de significaes contido em qualquer objeto, como fonte de informaes sobre o momento histrico e a sociedade que o criou e utilizou. Num segundo momento, os participantes, a partir do mtodo do aprender fazendo, so levados a desempenhar o papel de alunos, utilizando num trabalho de campo os bens culturais locais, previamente selecionados: edifcios e espaos pblicos, privados, ou religiosos, casas antigas e modernas, museus e colees, manifestaes artsticas, cultos religiosos, saberes e festas populares, produes artesanais, etc., aplicando a metodologia especfica de trabalho. Aps vivenciar a experincia concreta da observao, anlise e registro, os participantes so ento convidados a retornar sua funo de professores e a elaborar os planejamentos pedaggicos interdisciplinares. nesta etapa da Oficina em que eles integram os bens culturais estudados como instrumentos de ensino/aprendizagem, utilizando os resultados das diferentes etapas da metodologia aplicados aos contedos programticos nas diferentes disciplinas. No terceiro momento da Oficina, prope-se novamente aos participantes voltar ao papel de alunos. A partir do material observado, analisado e pesquisado sobre o objeto de estudo, devem ento elaborar uma atividade ou produto final (exposio, vdeo, histria em quadrinhos, dramatizao, relatos, etc.), utilizando a vivncia e o conhecimento adquiridos. Nesta etapa, pede-se aos participantes o exerccio da criatividade. Esta atividade final envolve os professores emocionalmente, permitindo-lhes a experincia marcante de todo o processo de aprendizagem que mais tarde desenvolvero com seus alunos. A partir da avaliao dos trabalhos apresentados, ser possvel perceber o grau de apropriao e envolvimento dos participantes em relao aos bens culturais analisados. Uma avaliao escrita solicitada aos professores permite ajustes e aperfeioamento nos mecanismos de desenvolvimento das Oficinas de Educao Patrimonial. O ENFOQUE INTERDISCIPLINAR: sugestes de abordagem

O trabalho com o Patrimnio cultural e histrico mais facilmente compreendido no mbito das reas/disciplinas que mais comumente abordam o tema, como a Histria ou os Estudos Sociais. Trabalhar este patrimnio, por meio de outras reas/disciplinas, nem sempre imediatamente percebido, pelos professores das demais disciplinas do currculo escolar. Os currculos escolares so comumente sobrecarregados, com disciplinas que competem entre si por limitao do tempo em sala de aula e pelas normas oficiais estabelecidas. Os objetos patrimoniais, os monumentos, stios e centros histricos, ou o patrimnio imaterial e natural, so um recurso educacional importante, pois permitem a ultrapassagem dos limites de cada rea/disciplina, e o aprendizado de habilidades e temas que sero importantes para a vida dos alunos. Desta forma, podem ser usados como detonadores, ou motivadores, para qualquer rea do currculo ou para reunir reas aparentemente distantes no processo de ensino/aprendizagem. Alguns tpicos so ideais para a abordagem de temas do currculo bsico, que atravessam vrias reas/disciplinas: a educao ambiental, a cidadania (pessoal, comunitria, nacional, incluindo os aspectos polticos e legais), as questes econmicas e do desenvolvimento tecnolgico/industrial/social. Algumas sugestes podem dar uma pequena idia das infinitas possibilidades de um trabalho integrado e interdisciplinar, e do que pode ser feito no mbito de cada disciplina: Linguagem: as sugestes para a dramatizao/ representao de papis/ soluo de problemas podem servir como ponto de partida para o trabalho de criao verbal, falada ou escrita. O material coletado pelo aluno, no papel de jornalista ou produtor de rdio/TV/video, pode ser usado de diversas maneiras: para elaborar um artigo de jornal, uma novela ou documentrio de televiso, uma pea de teatro, uma histria infantil, ilustrada ou em quadrinhos, uma exposio, etc. Ou pode ser usado simplesmente como base para discusso em sala de aula. Todas essas criaes demandam o uso imaginativo e competente da linguagem. A poesia e a metfora podem ser usadas como expresso dos sentimentos e percepes provocados pela observao dos objetos ou monumentos. A pesquisa das linguagens e termos de pocas passadas, comparados com os da atualidade, as diferentes expresses e formas de linguagem, ritmo e pronncia, caractersticas das diferentes regies e de diversas origens tnicas, pode contribuir para a compreenso dos processos culturais e histricos em nosso pas, com seus diferentes elementos e aportes. Representar papis e vivenciar experincias de outros contextos culturais no tempo e no espao requer a compreenso da linguagem e expresses de grupos diferenciados, contribuindo para o envolvimento dos alunos com os fenmenos e grupos caractersticos da pluralidade cultural brasileira. A leitura de obras da literatura da poca, ou da regio, pode enriquecer o processo de conhecimento e discusso do tema abordado. Matemtica: o desenho de edifcios, a confeco de mapas e plantas, o exame detalhado de um objeto podem servir para a prtica de habilidades e conceitos matemticos, tais como: pesar e medir, calcular alturas, comprimentos, ngulos, reas e volumes. A utilizao de instrumentos de medio (rguas, fitas mtricas, fios de prumo, etc.) mais uma habilidade desenvolvida por meio destas atividades. possvel utilizar-se medidas e mtodos histricos para os clculos, por exemplo: ps, lguas, palmos, polegadas, etc. Os edifcios podem ser excelentes para o estudo das formas e planos geomtricos. A criao de padres decorativos pode ser desenvolvida a partir de ladrilhos, azulejos, tijolos, rendas de janelas, vitrais e telhas. As fachadas dos edifcios podem ilustrar uma variedade de formas, linhas e curvas, e problemas de ritmo e simetria. Os andaimes fornecem material para a geometria, e os espaos interiores e o mobilirio podem oferecer idias para exerccios de reorganizao e planejamento dos espaos, para atender a funes ou circunstncias diferentes. Os aspectos financeiros e estatsticos dos objetos, edifcios ou conjuntos histricos tambm oferecem oportunidades para exerccios matemticos: custos de fabricao, dos materiais, da mo-de-obra, do tempo de construo, etc. Cincias: os edifcios e monumentos podem ser usados para o estudo dos fenmenos e das leis da Fsica, por exemplo, a fora da gravidade: galpes e sales antigos, com estrutura aparente, podem ajudar a compreenso dos problemas de construo e de distribuio dos pesos do telhado e paredes. Tijolos de brinquedo podem ser usados em sala de aula para reconstruir problemas estruturais e testar a resistncia de diferentes tipos de materiais. O mesmo pode ser feito com maquetes de estruturas e arcos. Durante o trabalho de campo, os alunos podem usar lentes para examinar os diferentes materiais e suas texturas e qualidades. A deteriorao dos materiais em objetos e edifcios histricos um bom pretexto para se produzir hipteses e pesquisas sobre como e porque alguns materiais se deterioram diferentemente de outros. As questes sobre o clima e a umidade so importantes nesta questo. Pode-se fazer experincias com madeiras, metais, ferro, plstico, papel, vidro, etc., submetendo-os a diferentes agentes de deteriorao e a um processo de observao: jogando na gua, enterrando, deixando ao ar livre, sacudindo, submetendo a impacto, manipulando o objeto ou material estudado. Pode-se assim discutir as diferentes maneiras de preservao desses materiais. Tecnologia: sistemas de drenagem de gua e de canalizao de esgotos podem ser objeto de estudos tecnolgicos e de discusso sobre mudanas do passado para o presente e projees para o futuro. Objetos como relgios, mquinas de costura ou de escrever, carruagens e automveis so poderosos motivadores e iniciadores de discusses sobre as tecnologias e a revoluo industrial. Moinhos, mquinas a vapor, locomotivas, serras e outras mquinas podem ser a base de estudo para a questo da tecnologia e sua conseqncia na vida humana. O estudo das tecnologias de informao, a comear pela sinalizao de roteiros e circuitos, a criao de mapas e guias de orientao das visitas, os painis informativos em um stio histrico, so tpicos que desenvolvem habilidades e enfocam contedos, como os sistemas de informatizao de dados e servios e a revoluo provocada pelos computadores. As tecnologias de comunicao, desde o telefone, o telgrafo, o rdio, a televiso, a internet, podem ser analisadas em comparao com pocas em que no se dispunha desses recursos, ou em que os sinos das igrejas anunciavam populao nascimentos, batizados, funerais ou ataque de inimigos. Os sinos ainda tm um papel marcante na vida das pequenas cidades do interior, e seus cdigos so bem conhecidos da populao. Arte: as diferentes maneiras de representar um objeto, um edifcio ou meio ambiente histrico ou natural podem dar margem ao domnio de tcnicas e habilidades de expresso nos mais diversos meios: desde a fotografia, a ampliao ou distoro dos ngulos, o uso de lente, ou filtro, o simples desenho a lpis ou com pigmentos, as tcnicas de gravura e impresso, as colagens, as fragmentaes dos detalhes e texturas, a modelagem, a moldagem e a maquete, o fabrico de papel artesanal, so exemplos de criaes plsticas. O vdeo um instrumento cada vez mais ao alcance de muitas escolas, que permite diferentes recursos de comunicao e expresso. O uso da palavra e do som permitindo a criao de cenas, msicas, representaes corporais, mmica e dana, bem como a utilizao e criao de instrumentos musicais, so outras formas de expresso criativa e de desenvolvimento das capacidades do aluno. Geografia: o estudo de um centro histrico, de um parque botnico ou do meio ambiente natural pode ser o ponto de partida para a abordagem dos temas desta disciplina. A elaborao de mapas e plantas de edificaes, a comparao com mapas antigos, a anlise dos registros populacionais de uma determinada localidade so outros recursos a explorar, tendo como base a evidncia histrico/cultural. A procedncia dos materiais, as tcnicas construtivas, a decorao podem dar informaes interessantes para o conhecimento da Geografia Fsica e Humana. Ao identificar os recursos e caractersticas que do o carter especial de uma localidade ou regio, os alunos podem discutir as alternativas para sua preservao. Histria: os objetos patrimoniais e os edifcios e centros histricos, os stios arqueolgicos e paisagsticos podem refletir a maior parte da Histria do Brasil e do mundo. Os objetos e monumentos do passado so a evidncia concreta da continuidade e da mudana dos processos culturais. A comparao da prpria casa com as casas do passado pode dar aos alunos a compreenso de como os estilos e modos de vida das sociedades mudam ao longo do tempo. Em um automvel moderno podemos encontrar ainda os traos das antigas carruagens puxadas a cavalo. Os detalhes de diferenciao dos objetos do passado e do presente podem ser traados num grfico, ou linha de tempo, que pode ser comparada a uma rvore genealgica, situando os personagens familiares em diferentes pocas. O material de apoio: as Folhas DidticasVrios tipos de materiais podem ser elaborados como apoio ao conhecimento e explorao dos bens culturais, entre eles a folha didtica, que tem como objetivo orientar os alunos nesse processo de descoberta. A folha didtica um roteiro de explorao, com charadas e questes a serem resolvidas atravs da observao. Este material um instrumento instigador da percepo, da anlise, da comparao e da deduo, que permite ao aluno uma melhor compreenso do que est sendo observado. Na sua elaborao, dever ser levado em conta: a definio dos objetivos do que se pretende explorar;a linguagem adequada ao nvel da faixa etria que se pretende trabalhar;as indagaes objetivas de fcil compreenso;a diagramao clara e agradvel, com espao suficiente para o preenchimento.As folhas podero ser confeccionadas tanto para dar suporte a um trabalho em um monumento, um stio ou um centro histrico, como para acompanhar os alunos numa visita a um museu ou auxiliar e orientar numa expedio a um Parque Nacional. Os professores, juntamente com os tcnicos do Patrimnio ou da instituio visitada, podero produzir as folhas didticas ou qualquer outro tipo de material (jogos, quebra-cabeas, palavras cruzadas, etc.), com recursos simples e de pouco custo e com desenhos ou fotografias que podero ser copiadas reprograficamente. Estes materiais podem servir de apoio s atividades durante a visita e ao aprofundamento dos conhecimentos, aps a mesma, em sala de aula. Perguntas e atividades que podem ser utilizadas nas folhas didticas so, por exemplo: Localize um objeto, ou detalhe de um conjunto, e complete o desenho na folha (neste caso, o desenho do objeto, ou detalhe, parcialmente representado na folha, para complementao). Para que serve este objeto? Quem o utilizou?Relacionar o objeto ou elemento caracterstico com um aspecto especfico da cultura e da vida local.Comparar dois objetos encontrados no mesmo local, detectando diferenas e semelhanas (neste caso, os dois objetos devem constar da folha, em desenho ou foto); Perguntas e atividades a serem feitas em casa, ou na escola (perguntar informaes aos pais e avs, aos professores, pesquisar na biblioteca do bairro ou da escola).Elaborar a rvore genealgica de sua famlia, colocando datas e fatos histricos contemporneos a esses antepassados.Avaliando experinciasEm qualquer atividade de Educao Patrimonial, a avaliao da experincia pode trazer subsdios que possibilitem aos educadores enriquecer a aplicao da metodologia utilizada, verificando o nvel de envolvimento e compreenso dos alunos com o tema explorado. Um mtodo possvel para se fazer esta avaliao o uso de questionrios, aplicados aos professores e alunos, a partir da experincia vivenciada. Os questionrios preenchidos aps a visita ou atividade permitem avaliar: Aspectos relativos ao professor: familiaridade com o local visitado, inteno, motivao da visita, nvel de preparao em sala de aula, conhecimento prvio do tema, expectativa em relao visita e aos resultados alcanados.Aspectos relativos ao aluno: motivao, dificuldades, adequao da atividade ao tempo disponvel, nvel de apreenso do tema.Aspectos relativos escola e integrao pedaggica: explorao do tema por vrias disciplinas, envolvimento de diferentes professores, elaborao de trabalhos interdisciplinares, resultado e produtos apresentados, envolvimento de alunos, professores, coordenadores e pais, envolvimento com a comunidade, organizao e recursos disponibilizados para a atividade.BibliografiaBens Mveis e Imveis Inscritos nos Livros do Tombo do Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional (IPHAN) Ministrio da Cultura. 4a. edio revista e atualizada, Rio de Janeiro, IPHAN, 1994.Cincias & Letras, Revista da Faculdade Porto-Alegrense de Educao, Cincias e Letras, FAPA, n.27, jan./jun./2000. Diversos artigos sobre o tema.Educao Patrimonial: Utilizao dos Bens Culturais como Recursos Educacionais. Evelina Grunberg. In: Museologia Social. Porto Alegre, Secretaria Municipal de Cultura, 2000.Educao Patrimonial. Maria de Lourdes Parreiras Horta.In: MUSAE Textos, Disk 1, Rio de Janeiro, 1997 (edio em disquete).Educao Patrimonial, a experincia da Quarta Colnia. Jos Itaqui e Maria Anglica Villagrn. Santa Maria: Pallotti, 1998.Fundamentos da educao patrimonial. Maria de Lourdes Parreiras Horta. In: Cincias & Letras, Porto Alegre, FAPA, n.27, jan./jun.2000.Guia Bsico de Educao Patrimonial. Maria de Lourdes Parreiras Horta, Evelina Grunberg e Adriane Queiroz Monteiro. Braslia, Museu Imperial/IPHAN/MinC, 1999.Guia de Museus Brasileiros. Comisso de Patrimnio Cultural Pr-Reitoria de Cultura e Extenso Universitria Universidade de So Paulo. So Paulo, USP, 1997.O Presente do Passado O que Arqueologia? Edna June Morley. Florianpolis, 1992.Museu Educao: se faz caminho ao andar. Vera Maria Abreu de Alencar. Tese de mestrado apresentada ao Departamento de Educao da PUC. Rio de Janeiro, 1986 (no publicada)Lies das Coisas (ou canteiro de obras) atravs de uma metodologia baseada na Educao Patrimonial. Magaly de Oliveira Cabral Santos. Tese de mestrado apresentada ao Departamento de Educao da PUC, Rio de Janeiro, 1997 (no publicada).Srie Education on Site. Ed. Mike Corbishley, English Heritage, Reino Unido. -Learning from Objects a Teachers Guide to Learning from Objects. Gail Durbin e outros, 1990.-A Teachers Guide to Using Listed Buildings. Crispin Keith, 1991. -A Teachers Guide to Maths and the Historic Environment. Tim Copeland, 1991. -A Teachers Guide to Geography and the Historic Environment. Tim Copeland, 1993. -A Teachers Guide to Using Castles. T

Museloga, Doutora em Museologia pela Universidade de Leicester, UK. Diretora do Museu Imperial, IPHAN, Ministrio da Cultura. Consultora dessa srie

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