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PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO E VALORIZAÇÃO DA CULTURA RIBEIRINHA PARA O PROTAGONISMO LOCAL E A AUTO-GESTÃO DO ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO POLO TAPAJÓS, PARÁ Marcio Halla ¹ [email protected] Resumo O Ecoturismo de Base Comunitária no Pólo Tapajós demanda hoje o empoderamento de atores locais. São aqui discutidos aspectos de auto-gestão da atividade, a partir do planejamento participativo junto às organizações comunitárias e suas representações territoriais. Planejamento participativo; Gestão comunitária; Ecoturismo de Base Comunitária Abstract The Community Based Ecotourism nowadays demands the empowerment of local stakeholders. Here are discussed aspects of local management of the activity, based on the participatory planning close to community organizations and their territory representatives. Participatory planning; Community management; Community Based Ecotourism Resumo El Ecoturismo de Base Comunitaria no Polo Tapajós demanda hoy el fortalecimiento de atores locales. Aquí son discutidos aspectos de auto-gestión de la actividad a partir del planeamiento participativo con organizaciones comunitarias e representaciones territoriales. Planeamiento participativo; Gestión comunitaria; Ecoturismo de Base Comunitaria ¹ - Marcio Halla, agrônomo e diretor da Ecotoré Serviços Ambientais, realizou este trabalho como Coordenador de Economia da Floresta do Projeto Saúde e Alegria, posição que ocupou entre junho de 2004 e fevereiro de 2008.

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PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO E VALORIZAÇÃO DA CULTURA

RIBEIRINHA PARA O PROTAGONISMO LOCAL E A AUTO-GESTÃO DO

ECOTURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO POLO TAPAJÓS, PARÁ

Marcio Halla ¹

[email protected]

Resumo

O Ecoturismo de Base Comunitária no Pólo Tapajós demanda hoje o

empoderamento de atores locais. São aqui discutidos aspectos de auto-gestão

da atividade, a partir do planejamento participativo junto às organizações

comunitárias e suas representações territoriais.

Planejamento participativo; Gestão comunitária; Ecoturismo de Base

Comunitária

Abstract

The Community Based Ecotourism nowadays demands the

empowerment of local stakeholders. Here are discussed aspects of local

management of the activity, based on the participatory planning close to

community organizations and their territory representatives.

Participatory planning; Community management; Community Based

Ecotourism

Resumo

El Ecoturismo de Base Comunitaria no Polo Tapajós demanda hoy el

fortalecimiento de atores locales. Aquí son discutidos aspectos de auto-gestión

de la actividad a partir del planeamiento participativo con organizaciones

comunitarias e representaciones territoriales.

Planeamiento participativo; Gestión comunitaria; Ecoturismo de Base

Comunitaria

¹ - Marcio Halla, agrônomo e diretor da Ecotoré Serviços Ambientais, realizou este trabalho

como Coordenador de Economia da Floresta do Projeto Saúde e Alegria, posição que ocupou

entre junho de 2004 e fevereiro de 2008.

Page 2: ARTIGO ECB.pdf

Introdução

Contexto geral

O Ecoturismo diferenciou-se, entre as diferentes formas de se fazer

turismo, por se apoiar em princípios que reforçam o compromisso com a

conservação ambiental e o benefício comunitário. Hoje as estatísticas

demonstram que Ecoturismo cresce mais que a média do turismo convencional

no mundo todo (WTTC) e especialmente no Brasil (IEB).

Em maior ou menor parte, os princípios e critérios do Ecoturismo

poderiam ser estendidos e aplicados aos diferentes segmentos do turismo.

Seria uma guinada para a amplificação do conceito e o fortalecimento do

propósito do Turismo Sustentável se, inspiradores como são, viessem a ser

definitivamente incorporados pelos empreendimentos turísticos e atores de

todos os segmentos do turismo. A questão que se coloca é sobre o quanto está

acontecendo o contrário. Basta observar os impactos negativos do ecoturismo,

que hoje, em muito, reproduz a lógica convencional dos modos de se fazer

turismo, sem a devida valorização das práticas de responsabilidade social e

ambiental.

Na evolução dos conceitos – Turismo; Ecoturismo; Turismo

responsável; Ecoturismo de Base Comunitária, observamos a tendência que

vem permeando todos os processos de reflexão sobre o desenvolvimento, nas

suas mais variadas vertentes. É fundamental que se reconheça, valorize-se e

amplie-se cada vez mais a difusão, incorporação e integração dos valores e

princípios da ética e da solidariedade.

Neste processo de transição reside o desafio de serem estabelecidas

estratégias e consolidadas práticas que estimulem a valorização cultural, a

organização comunitária e a conservação ambiental. Práticas que assegurem o

acesso ao compartilhamento dos benefícios gerados pela atividade, com

estímulo ao empreendedorismo social e à criação de negócios inclusivos. E

que, finalmente, estabeleçam-se arranjos sustentáveis de interação social e

das populações com o território e o ambiente em que vivem.

Page 3: ARTIGO ECB.pdf

Contexto local

A região dos Rios Tapajós e Arapiuns, com sua riquíssima diversidade

biológica e cultural, tem em seus rios, florestas e comunidades inúmeros

atrativos para o Ecoturismo. A floresta, no entanto, está ameaçada por

atividades econômicas insustentáveis, que avançam sobre a cultura tradicional.

O Ecoturismo de Base Comunitária pode representar uma estratégia de

desenvolvimento, com o protagonismo dos atores locais.

É necessário ser ressaltado um aspecto relevante da dinâmica turística

do Pólo Tapajós. O destino mais conhecido da região é Alter do Chão, onde o

turismo internacional já está estabelecido e alguns poucos equipamentos

turísticos estão estruturados. No entanto, antes ainda de serem otimizadas as

oportunidades abertas pelo pólo receptivo que passou a ser a Vila de Alter do

Chão, com a organização do acesso da comunidade aos potenciais benefícios,

a localidade passou a se caracterizar como um pólo emissivo para as

comunidades ribeirinhas tradicionais. Atualmente, com exceção de dois ou três

empreendimentos que buscam atuar no marco da organização e normatização

da atividade, o que se observa é a desorganização e desarticulação dos atores,

além do descontrole do fluxo de turistas para comunidades ainda pouco

estruturadas, social e fisicamente, para o protagonismo na operação do

receptivo.

O aspecto central do desenvolvimento regional no campo do

Ecoturismo de Base Comunitária, no momento atual, deve estar centrado no

planejamento e aprimoramento da capacidade de auto-gestão. Para o

fortalecimento dos processos é necessária a proximidade entre os diversos

parceiros existentes e potenciais. O acesso ao segmento-chave de público-

alvo, os ecoturistas realmente comprometidos com questões socioambientais,

que valorizem a troca de conhecimentos e saberes com as comunidades, deve

ser implementado gradualmente, de acordo com a consolidação da apropriação

da atividade e do aprimoramento da capacidade gerencial das comunidades.

O desenvolvimento do protagonismo local e o empoderamento da

liderança comunitária representam um elemento-chave para a estruturação das

bases da economia da floresta. Assim, o acesso aos benefícios do Ecoturismo

pode ser democratizado e ampliado, consolidando o conceito do Ecoturismo de

Base Comunitária.

Page 4: ARTIGO ECB.pdf

Objetivos

1. Levantar e sistematizar, de forma participativa, a percepção das

comunidades ribeirinhas locais sobre o ecoturismo, sistematizando

as bases fundamentais para o planejamento do desenvolvimento

ecoturístico de base comunitária nos Rios Tapajós e Arapiuns;

2. Desenvolver uma experiência demonstrativa de gestão da atividade

ecoturística, com o protagonismo das comunidades locais e o arranjo

de parcerias interinstitucionais e intersetoriais necessário para o

apoio ao desenvolvimento do Ecoturismo de Base Comunitária.

Metodologia

O histórico do Programa de Ecoturismo de Base Comunitária do

Projeto Saúde e Alegria

Desde 2001 o Projeto Saúde e Alegria - PSA vem estruturando, com

abordagem programática, sua ação no campo do Ecoturismo de Base

Comunitária. A experiência de facilitar e mediar a interação entre visitantes e

comunidades ribeirinhas, com as quais trabalha desde 1987, decorre da prática

constante de receber parceiros e financiadores para viagens de trabalho.

O que se apresenta a seguir está baseado no processo de 6 anos, até

o final de 2007. O autor conhece o histórico de sua primeira metade e

coordenou o processo em sua segunda metade.

Em 2001, por iniciativa de uma das fundadoras do Projeto Bagagem,

que na ocasião trabalhava com o PSA em um projeto de micro-crédito, foi

organizada a primeira expedição do Roteiro Amazônia Ribeirinha. Esta foi a

origem do Projeto Bagagem, do Programa de Ecoturismo de Base Comunitária

do PSA e, certamente, de uma longa história de aprendizado conjunto. O

Projeto Bagagem, desde então, vem seguindo uma trajetória ascendente, com

a diversificação de roteiros e parcerias e o reconhecimento como uma

experiência referencial de Ecoturismo de Base Comunitária. Da mesma forma,

mas na sua esfera de atuação, o Programa de Ecoturismo de Base

Comunitária do PSA vem ganhando escala e relevância, tanto do ponto de

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vista do “projeto-piloto” quanto, especialmente, como alternativa concreta de

geração de renda para 11 comunidades ribeirinhas.

A partir da experiência com o Projeto Bagagem novas parcerias

passaram a se consolidar, tanto no campo da operacionalização das viagens

quanto no campo da mobilização, formação e políticas públicas. Com isso deve

ficar claro que, além de parcerias com instituições como Ibama e Instituto Chico

Mendes, SEBRAE, Universidades, PROECOTUR/Ministério do Meio Ambiente

e Ministério do Turismo, estabeleceram-se também parcerias para a operação

local do receptivo ecoturístico.

Ao mesmo tempo em que o planejamento e a formação das

comunidades avançava, promovia-se a abordagem do “aprender fazendo”. A

operacionalização das viagens abria a possibilidade das comunidades

planejarem e se organizarem em torno da recepção dos grupos, para então

avaliarem as experiências e replanejarem as próximas visitas.

A prática do PSA, brevemente resumida, consistia na estruturação e

apresentação da programação e do orçamento aos parceiros, na organização

logística e programática da viagem e na prestação de contas e procedimentos

administrativos envolvidos. Um técnico do PSA sempre acompanhava as

viagens. A partir da chegada dos grupos aos destinos, em média 4

comunidades por viagem, a coordenação da programação passava a ser dos

responsáveis por cada uma das atividades, definidos ao longo dos

planejamentos prévios. Com isso o técnico do PSA passava a ter uma função

de assistência à coordenação comunitária.

Abaixo se apresenta um resumo das principais parcerias no campo da

Operação Turística.

- Projeto Bagagem: 2 expedições por ano, desde 2001, com 13 a 15

turistas por grupo. Os “bagageiros” são pessoas de diferentes faixas etárias,

comprometidas com questões sociais e ambientais e dispostas a vivenciar o

intenso intercâmbio cultural com as comunidades. Na programação são

organizadas oficinas e noites culturais, apresentadas tanto pelas comunidades

quanto pelos visitantes, além de todas as atividades no ambiente natural;

- World Learning Brazil: 2 a 3 visitas por ano, desde 2003, com 15

estudantes universitários estadunidenses por grupo. Os estudantes viajam por

diferentes regiões do Pará durante 1 mês e meio e desenvolvem uma

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monografia em uma das localidades visitadas, junto a uma das organizações

parceiras. Durante 3 a 4 dias 5 estudantes permanecem em cada uma das 3

comunidades, cada um na casa de uma família, onde participam da rotina

diária familiar;

- Ambiental Expedições: única agência de viagens e turismo envolvida,

a parceria teve início em 2006, com a recepção experimental de um grupo de

44 estudantes o primeiro ano do ensino médio do Colégio Santa Cruz, de São

Paulo. Neste ano deverá acontecer a terceira expedição, que acontece no

âmbito das disciplinas de meio-ambiente e ética e cidadania. Além da

consolidação da parceria no campo dos projetos pedagógicos de estudo do

meio, teve início em 2007 a parceria no campo do turismo internacional. Os

grupos, 2 em 2007 com cerca de 15 turistas cada um, foram mobilizados a

partir da percepção da Ambiental sobre agências européias diferenciadas, que

trabalham com os segmentos estratégicos de público-alvo buscados pela

iniciativa.

- I-To-I / IkoPoram: duas viagens experimentais até o momento, uma

em 2006 com 6 voluntários e outra em 2007 com 8 voluntários europeus. Com

experiência há algum tempo neste tipo de turismo de voluntariado,

particularmente em cidades como o Rio de Janeiro e Salvador, as empresas

operadoras estão estruturando a perspectiva de regularizar as viagens para a

Amazônia. Os voluntários permanecem 1 semana em cada comunidade

colaborando nos trabalhos comunitários, como construção e reforma de

escolas, implantação de postes e instalação elétrica, etc.

- Viagens avulsas / espontâneas: esporadicamente são demandadas

organizações de viagens para grupos avulsos, principalmente a partir de

parceiros do PSA. Entre 2005 e 2007 aconteceram 5 viagens desta natureza,

com 6 a 12 turistas, geralmente grupos familiares, que representam também

um segmento de público interessante para a experiência das comunidades.

Metodologia de mobilização social e planejamento participativo

Houve um avanço importante na concepção metodológica, superando-

se a fase do processo quando o avanço no planejamento e na articulação das

comunidades acontecia em função das próximas viagens.

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Ao longo de 1 ano, entre junho de 2006 e maio de 2007, foram

realizadas oficinas comunitárias em 11 comunidades, promovendo-se o debate

baseado na percepção das comunidades sobre o Ecoturismo. Neste grupo de

comunidades havia desde aquelas onde a atividade já estava mais estruturada,

a menor parte, quanto aquelas que tinham passado apenas por uma

experiência de recepção de grupos de visitantes.

O eixo central da metodologia partiu do propósito de ser gerada a

reflexão coletiva sobre a disposição ou não ao aprofundamento e envolvimento

com a proposta do Ecoturismo de Base Comunitária. Para tanto, considerou-se

que se devia partir de uma atividade que promovesse a reflexão sobre as

ameaças e oportunidades oriundas do fomento à atividade. Acima de tudo,

incitando a ampla participação da comunidade por meio de uma dinâmica de

trabalho agradável e lúdica, que detectasse os anseios e incertezas das

comunidades, reforçando-se o princípio da precaução e o compromisso com a

incorporação dos limites da atividade. Além disso, a metodologia procurou

motivar a manifestação de pessoas que pudessem vir a liderar as iniciativas

comunitárias.

As oficinas tiveram como atividade inicial a dinâmica do boneco, com a

reprodução e adaptação da metodologia que já havia sido desenvolvida pelo

próprio autor 4 anos antes, junto às Comunidades Remanescentes de

Quilombos do Vale do Ribeira, SP. Os participantes foram divididos em grupos

respeitando-se a proporcionalidade de gênero e geração. Em alguns casos,

dependendo do número de participantes, a atividade foi realizada

individualmente.

A cada grupo foram entregues dois papéis, onde foram estimulados a

desenharem partes de corpos: um para compor um turista e um para compor

alguém da comunidade. Com os desenhos prontos os bonecos passaram a ser

montados.

O conteúdo da discussão, sobre cada personagem e sobre a relação

entre os dois, foi registrado em tarjetas. Após o estímulo ao imaginário pessoal

e coletivo, tiramos os bonecos “de cena” e passamos a analisar cada

consideração, registrada em cada tarjeta, enfocando-as no plano da realidade.

Quando a análise lúdica, dos bonecos, foi antagônica à realidade, a negação

foi ressaltada e a tarjeta foi separada do bloco. Toda a discussão, na sua mais

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absoluta integridade, foi registrada nas tarjetas e preservada para o relato de

cada uma das oficinas.

Com a estruturação das idéias em torno das questões “O que é

ecoturismo?”; “Quem é o ecoturista”; “Quem é o comunitário com quem ele vai

se relacionar?”, os resultados foram organizados em pontos fortes e pontos

fracos da comunidade, oportunidades e ameaças da atividade ecoturística.

Os resultados das 11 oficinas foram sistematizados com o apoio de

Ândrea Colares, bióloga e Técnica de Produção Comunitária do Projeto Saúde

e Alegria. Ao longo deste processo várias viagens aconteceram e, nas reuniões

de planejamento e avaliação, diferentes elementos discutidos nas oficinas

auxiliaram na abordagem e nos encaminhamentos, legitimando o produto do

processo participativo e gerando reflexões sobre o enfrentamento dos desafios.

Em junho de 2007, logo após o término da rodada de oficinas, o PSA

promoveu em Jamaraquá, Belterra, na Floresta Nacional do Tapajós, o 1º

Seminário de Ecoturismo de Base Comunitária Tapajós – Arapiuns, reunindo

representantes de 13 comunidades e líderes de Federações de 3 territórios

(Flona Tapajós, Resex Tapajós-Arapiuns e Assentamento Agroextrativista),

além das instituições parceiras dos governos municipal e federal, ONGs e

empresas.

Inicialmente apresentaram-se as instituições parceiras presentes, com

ênfase a suas ações que dialogam com aquele público. Duas pessoas falaram

especificamente sobre Ecoturismo de Base Comunitária, o que gerou um

amplo debate sobre os princípios que devem guiar a atividade (resultado 1). A

formulação de princípios e critérios de base local é, inclusive, um dos princípios

do Ecoturismo de Base Comunitária (Rede TURISOL, 2005).

Foi então apresentada uma síntese da sistematização dos resultados

das oficinas (resultado 2), que guiou, a seguir, uma série de relatos de líderes

comunitários envolvidos com a implementação das atividades de Ecoturismo

de Base Comunitária em suas respectivas comunidades (resultado 3)

A partir do debate sobre os princípios e os aspectos importantes e da

apresentação das experiências comunitárias, foi estimulada a dinâmica

participativa fundamentada nos aspectos de gestão e operação do Ecoturismo

de Base Comunitária. Inicialmente os participantes foram divididos em 4

grupos, com a missão de prepararem 1 esquete de circo cada um, a serem

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apresentados à noite, no Circo Mocorongo, sobre os temas organização;

capacitação, gestão e operação turística.

Na manhã do dia seguinte foram sistematizadas as idéias-chaves

captadas das apresentações circenses organizadas em dois blocos: gestão e

operação (resultado 4). Alguns aspectos foram também organizados como um

conjunto de valores fundamentais para a atividade (resultado 5). Foi motivada,

então, a definição de perguntas geradoras que guiaram o debate concentrado

em dois momentos: gestão e operação (resultado 6).

A metodologia participativa utilizada foi a do Carrossel. Os participantes

foram divididos no número de grupos correspondente ao número de perguntas

em cada um dos momentos – 4 em gestão e 6 em operação. Cada pergunta,

escrita em um grande papel, ficou em uma base, onde um facilitador /

contextualizador permaneceu até o fim. Cada grupo teve um relator

responsável por seguir adiante com sua caneta colorida e registrar as

contribuições de seu grupo a cada uma das bases. Cada grupo tinha uma

caneta de cor diferente. A cada 10 a 15 minutos era dado um sinal para que

todos os grupos parassem a discussão onde estivessem e se deslocassem

para a próxima base, ao mesmo tempo. Por isso o nome Carrossel.

Em plenária foi estimulado um amplo debate sobre os resultados,

compondo um conjunto de elementos que devem servir como referencial para a

auto-gestão da atividade e para que a operação do Ecoturismo seja, de fato, de

Base Comunitária.

Metodologia de implementação do sistema de gestão

A evolução do processo facilitado pelo PSA na área de Ecoturismo de

Base Comunitária acontecia bilateralmente, ou seja, envolvendo-se com cada

uma das comunidades paralelamente. A intenção de promover o encontro das

comunidades e suas representações territoriais, bem como o cruzamento de

suas experiências, foi o que moveu o desencadeamento do processo que é

apresentado neste artigo. O propósito principal foi o estabelecimento de novos

arranjos que assegurem a gestão política adequada do processo.

Em relação à gestão financeira, deve ser ressaltado que

estrategicamente, para o PSA, a atividade representa um componente da

Page 10: ARTIGO ECB.pdf

matriz de geração de recursos próprios. A diversificação de fontes de receita,

especialmente aquelas que não dependam da mobilização de recursos

financeiros a fundo perdido, é um desafio sempre presente nos planejamentos

estratégico das Organizações Não Governamentais.

Uma premissa para o arranjo financeiro que foi implementado a partir

de janeiro de 2005 foi a segurança de que, em hipótese alguma, o PSA não

viesse ter receita maior que a das comunidades.

Sempre foi praticado, no âmbito desta pareceria, o pagamento e uma

taxa de visitação correspondente a R$10,00 (dez reais) por pessoa por dia, que

é de 50% a 100% maior que as taxas definidas e praticadas pelas 4

comunidades da região que recebem turistas regularmente, em caráter

comercial.

Como parte do novo sistema de gestão financeira foi criado um Fundo

Comunitário, para onde vem sendo destinada a proporção da receita

correspondente à diferença entre o repasse direto para as comunidades, a

título de taxa de visitação, e a metade da receita líquida (exemplo ilustrativo no

resultado 7).

Ao longo do ano de 2007, quando o sistema de gestão teve seu maior

avanço em estruturação e prática, foram realizadas 12 viagens. Em 2006 foram

9 viagens e no interior, 2005, aconteceram 7 viagens. A ampliação gradual do

número de viagens faz parte da abordagem metodológica, em que a prática

leva ao aprimoramento das capacidades e, com a intensificação das

experiências, o sistema de gestão passe a se estruturar para poder dar

resposta a uma demanda crescente.

Outro aspecto relevante é o da concentração de viagens no tempo e no

espaço. Todos os anos a maior parte concentra-se em janeiro e julho, e as

demais são dispersas ao longo do ano, especialmente em março, outubro e

dezembro.

Para que se respeite um dos estabelecidos, a valorização e

fortalecimento cultural, é importante que, desde a abordagem estratégica de

planejamento da atividade seja respeitado o ritmo da vida ribeirinha. O

cruzamento de dois fatores - o tempo de processamento das experiências e a

demanda de mobilização para a recepção de qualidade de grupos de

visitantes, foi estabelecido como um dos limites para assegurar a ampliação

Page 11: ARTIGO ECB.pdf

gradual da freqüência de viagens. Em janeiro e julho, quando a intensidade de

visitação é maior, trabalhou-se para garantir que dois grupos não viessem a se

encontrar na mesma comunidade.

O princípio de se trabalhar baseado nos limites da visitação é

permeado também pelo esforço de se acessar os segmentos certos de público-

alvo. As “oportunidades” de divulgação da experiência sempre foram tratadas

com cautela para que não viessem a se caracterizar como divulgação do

destino ou publicidade do roteiro. A dinâmica de divulgação “boca-a-boca”, a

rede de contatos e a capacidade de alcance dos parceiros vêm se

demonstrando adequadas para o crescimento da atividade.

Retomando-se a dimensão econômica da atividade, paralelamente à

estruturação da capacidade de gestão da atividade ecoturística, esforços foram

alocados também para a dinamização econômica e o estímulo aos grupos

produtivos. A dinamização da economia local é promovida pelo Ecoturismo de

Base Comunitária por meio de estratégias variadas. Um bom exemplo disso é a

experiência do grupo TucumArte (resultado 8). O grupo de artesãs e artesãos

da Comunidade de Urucureá definiu, inclusive, uma estratégia específica no

seu sistema de manejo e certificação florestal FSC, baseada no atendimento à

demanda de cestaria de palha de Tucumã pelos grupos de visitantes.

Finalmente, a transparência do sistema de gestão teve um avanço

entre os encaminhamentos do Seminário de junho de 2007, quando foram

estabelecidos alguns procedimentos a serem instalados no âmbito de cada

comunidade, na relação entre os presidentes e coordenadores e os

comunitários em geral.

Além disso, na relação do PSA com as comunidades também se tratou

de encaminhamentos para a gestão do Fundo Comunitário. O Fundo foi gerado

e vem sendo alimentado pela dinâmica de visitação no conjunto das

comunidades. Ele transcende a escala comunitária e até mesmo a territorial,

visto que as visitas geralmente acontecem nos dois rios e, no mínimo, em dois

territórios (Floresta Nacional e Assentamento Agroextrativista, por exemplo). A

estruturação do Fundo aconteceu por iniciativa própria do PSA, mediante a

constatação da necessidade de nivelamento da receita sem aumento do valor

da taxa de visitação (na última expedição do Projeto Bagagem já teve início o

exercício da taxa de R$15,00 por dia, seguindo a mesma lógica de aumento

Page 12: ARTIGO ECB.pdf

gradual). Por não haver ainda uma instância de gestão representativa o PSA se

colocou como o “fiel depositário” do fundo, com o compromisso de não utilizar o

recurso. Ou seja, entre janeiro de 2005 e dezembro de 2007 o Fundo foi

incrementado e só teve aumentado o valor depositado. A partir do primeiro

encontro, no seminário de junho, teve início o delineamento da estratégia com

o estímulo ao debate entre as comunidades. Até o final de 2007, quando foi

apresentado um balanço parcial aos parceiros, ainda não se havia estabelecido

a primeira deliberação de investimento do recurso do Fundo (resultado 9).

Resultados

Resultado 1

A sistematização dos resultados das 11 oficinas foi feito com o

propósito de agregação dos pontos-chave. Foi escolhido arbitrariamente uma

das idéias para expressar a idéia-central do conjunto:

Pontos fortes e Oportunidades – Ecoturista

- Tem compromiso e respeito

- Incentiva e ajuda

- Quer saber do cotidiano

- Gosta de falar e escuta o que falamos

- Pode trazer informação

- Tem dinheiro e quer comprar

- Observa o que acontece na amazônia

- Quer conhecer e admirar a natureza

Pontos fortes e oportunidades - Comunitário / comunidade

- Gera atrativos

- Relata o imaginário amazônico

- Tem conhecimento tradicional

- É artista, faz arte e artesanato

- Faz comidas e bebidas típicas, óleos comestíveis e medicinais

- Sabe andar na floresta

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- Conhece as árvores

- Sabe pescar

- É um cientista da natureza

- Tem capacidade de organização

- É trabalhador

- Atividade turística é trabalho comunitário

- Casas podem ser usadas para receber

- Estabelece limites para a visitação

- Remuneração por receber o turista

- Tem harmonia e paz

- Tem alegria em receber o turista

Ameaças e pontos fracos – Comunitário

- tem que saber quem é e a finalidade

- o comunitário pode não ver quando levam a riqueza

- cuidado com a idéia de levar

- condições de segurança em trilhas longas

- não há estrutura física (pousada, etc)

- dificuldade de comunicação

- lixo na comunidade

- necessita de intérprete

- precisa de informações sobre dst/aids

Ameaças e pontos fracos - ecoturista

- fotos

- tem tecnologia para levar algo e reproduzir em seu país

- pode prejudicar a comunidade

- turistas sem autorização

- turismo sexual

- ameaça do alcool e drogas

Page 14: ARTIGO ECB.pdf

Resultado 2

Princípios

- Conservação Ambiental

- Ordenamento territorial

- Estímulo a outras atividades econômicas / produtos

- Organização comunitária

- O negócio do turismo é coletivo

- Troca cultural

- Promoção da cultura da paz

- Valorização do modo de vida tradicional

- Gestão financeira transparente

Aspectos Importantes

- Manejo sustentável de recursos naturais

- Gestão sustentável dos resíduos (lixo)

- Oportunidades de formação e qualificação

- Serviço de qualidade

- Benefício econômico para as comunidades

- Planejamento participativo

- Segurança

- Estímulo a outros projetos comunitários (sociais, educacionais,

culturais)

- Acesso a financiamento

- Fixação na comunidade, com geração de emprego e renda

Resultado 3

Os relatos a seguir registram opiniões pessoais e apresentam aspectos

importantes para balizar o processo de planejamento participativo.

Miguel Silva– Suruacá (RESEX Tapajós/Arapiuns)

Os comunitários não querem ser empregados, querem ser donos do

“negócio”, das viagens de ecoturismo, podendo ganhar dinheiro.

Page 15: ARTIGO ECB.pdf

João Pedro Oliveira – Pedreira (Floresta Nacional do Tapajós)

Para eles é uma coisa nova conhecer a comunidade. Os alunos da

comunidade se sentiram satisfeitos com o intercâmbio com os alunos do

colégio Santa Cruz. Tem que haver responsabilidade com o turista, conduzir da

melhor forma possível.

Waldenezes Andrade (Assentamento Agroextrativista Lago Grande)

A visão do turista sobre a Amazônia é diferente de antes e depois da

visitação. Passam a divulgar a comunidade. Experiência boa e louvável.

Edinelson Fonseca – Jamaraquá (Floresta Nacional do Tapajós).

Para os condutores e os próprios comunitários é preciso haver

responsabilidade, treinamentos e multiplicação do conhecimento referente ao

Ecoturismo de Base Comunitária. A segurança para o turista é muito

importante, o condutor deve orientar durante a caminhada. Para nós, nada aqui

é diferente. Pra eles tudo é novidade; os turistas são diferentes. O regimento

tem que contemplar soluções para o problema do lixo. Há a preocupação com

alguns comunitários, eles podem prejudicar o turismo, pela falta de

conscientização.

Abílio Alves– Maguari (Floresta Nacional do Tapajós).

Sou responsável pelos condutores. A autorização do IBAMA para a visitação é

importante, isso dá credibilidade ao condutor, já que está respaldado pelo

órgão. Para as taxas recebidas durante a visita, é feita a prestação de contas

para a Associação de Moradores. Sinto-me feliz quando recebo os visitantes.

Resultado 4

Idéias-chaves – Gestão

- Regulamentação clara e detalhada

- Estabelecimento de espaços de participação

- Planejar – avaliar - replanejar

- Avaliação constante da própria comunidade

Page 16: ARTIGO ECB.pdf

- Controle 100% comunitário

- Estabelecimento de limites

- Postura positiva e construtiva

- Gestão financeira definida

- Acesso de todos aos benefícios

- Ecoturismo é um complemento de renda

- Transparência

Idéias-chaves - Operação

- Estrutura de comunicação

- Formação não só técnica, também política

- Valorizar o acesso aos atrativos também como atrativo

- Logística eficiente

- Garantir a segurança

- Soluções e gestão do lixo

- Infra-estrutura (hospedagem e alimentação)

- Qualidade do serviço

Resultado 5

Conjunto de valores

- Valorização e fortalecimento cultural

- Construir uma convivência harmoniosa

- Valorizar o que somos mais do que o que mostramos

- Agradar tanto o comunitário quanto o turista

- Comunidade feliz é o objetivo principal

Resultado 6

Perguntas geradoras – Operação

- Base 1: Como operacionalizar o EBC hoje?

- Base 2: Quais os investimentos em infra-estrutura necessários para o

Ecoturismo de Base Comunitária que queremos?

- Base 3: Quais os investimentos em formação e qualificação

necessários para o Ecoturismo de Base Comunitária que queremos?

Page 17: ARTIGO ECB.pdf

- Base 4: Quais os investimentos em segurança necessários para o

Ecoturismo de Base Comunitária que queremos?

Perguntas Geradoras – Gestão

- Base 1: Como fazer a gestão e o planejamento participativo do EBC

e de seus resultados econômicos?

- Base 2: O que considerar no termo de conduta dos visitantes?

- Base 3: O que considerar no regimento interno?

- Base 4: Como garantir a sustentabilidade ambiental para a operação

do ecoturismo de base comunitária?

- Base 5: O que fazer para valorizar e fortalecer a cultura nas

comunidades?

- Base 6: Como garantir que os resultados econômicos sejam

revertidos para o benefício comunitário?

Obs: A transcrição das respostas, ou seja, o resultado objetivo da dinâmica

está contido em 10 páginas. Na sua sistematização concluiu-se ser impossível

resumi-los, o que inviabilizou sua apresentação neste artigo. Este produto é

público e deve ser disponibilizado, a quem se interessar, entrando-se em

contato com o Programa de Economia da Floresta do Projeto Saúde e Alegria

(website ao final do artigo).

Resultado 7

A título de ilustração do critério utilizado para a destinação das receita

geradas pelas viagens apresenta-se o caso da expedição do Colégio Santa

Cruz de 2006, operada em parceria com a Ambiental Expedições. É necessário

ressaltar que nem sempre o valor destinado ao fundo é exatamente o mesmo

destinado a título de taxa comunitária.

- Taxa Comunitária= 46 estudantes x 10,00/dia x 6 dias = R$2.760,00

- Fundo Comunitário = mesmo valor da taxa comunitária = R$2.760,00

- PSA = mesmo valor destinado para as comunidades = R$5.520,00

Page 18: ARTIGO ECB.pdf

Resultado 8

O caso do Grupo TucumArte, de Urucureá, ilustra o potencial de

dinamização da economia local e a relevância da receita gerada pelo

Ecoturismo de Base Comunitária. As expedições do Projeto Bagagem geram,

em média, R$1.200,00 de receita com a venda de cestaria de palha de

Tucumã. Na expedição de janeiro de 2007 foram R$1.600,00 vendidos no

momento da exposição e R$2.400,00 em encomendas para o envio posterior.

Resultado 9

Seguindo a mesma lógica apresentada no resultado 7, demonstra-se a

seguir um balanço geral das receitas geradas entre janeiro de 2005 e

dezembro de 2007.

- Taxa Comunitária= R$20.065,00

- Fundo Comunitário = R$23.347,00

- PSA = R$43.251,00

Dos R$43.412,00 destinados para as comunidades ao longo de três

anos, 56% foram gerados em 2007, correspondentes ao valor de R$24.359,00.

Em diferentes proporções, 11 comunidades participaram da geração desta

receita. Não há ainda capacidade instalada nem estrutura de gestão para

afirmar quantas pessoas ou famílias foram beneficiadas por esta receita.

Para se fazer uma análise superficial do rendimento, no entanto, e da

incipiência do grau de consolidação do empreendimento, é possível traçar um

paralelo em caráter comparativo. O grupo TucumArte teve uma receita de

aproximadamente R$36.000 no mesmo período, ao longo de 2007, envolvendo

43 artesãs e artesãos da Comunidade de Urucureá, Rio Arapiuns.

Obs: O destino dos R$23.347 depositados no Fundo e fielmente

confiados ao PSA está ainda em fase de definição. As respostas às questões

apresentadas no resultado 6 são um bom indicativo para a alocação do

recurso, mas todo um processo de priorização e fortalecimento da gestão

intercomunitária e interterritorial ainda é necessário.

Page 19: ARTIGO ECB.pdf

Conclusões

A experiência de planejamento participativo do Ecoturismo de Base

Comunitário junto às comunidades ribeirinhas da região dos Rios Tapajós e

Arapiuns, apesar de estar em sei início, tem se demonstrado promissora. Ao

pensar qual ecoturismo querem as comunidades remetem-se a casos

próximos, que vem experimentando aspectos negativos e demonstrando, de

fato, quais são os impactos e ameaças da atividade.

O fato já constatado por elas é que, mais cedo ou mais tarde, o

ecoturismo chega. Diante da carência de oportunidades e alternativas de

renda, a perspectiva financeira coloca num plano distante a possibilidade de

determinada comunidade decidir-se por “fechar as portas” ao ecoturismo.

Assim sendo, é positivo o fato de um conjunto de atores locais da

região de Santarém, em parceria com vários atores intervenientes, todos

comprometidos com a sustentabilidade do desenvolvimento, estarem

desencadeando este processo endógeno de se pensar o desenvolvimento

ecoturístico de base comunitária.

Os resultados referentes ao primeiro objetivo deste trabalho estão pré-

estruturados e são um elemento estratégico para a elaboração dos futuros

projetos de operacionalização da atividade e dos instrumentos de gestão.

Em relação ao segundo objetivo, a experiência de gestão começa a dar

indícios para que se apresentem duas conclusões parciais, não definitivas.

Um dos pontos é que, ainda que incipiente, a geração de receitas já

motiva as comunidades a se dedicarem ao processo de pensar a atividade.

Este é um indício de maturidade e visão de futuro, em que o entendimento de

uma potencialidade envolve os protagonistas em uma atitude responsável de

se esforçarem para o planejamento integrado, ainda que além de seus

territórios onde os processos de gestão costumam ser estruturados.

A gradual intensificação da operacionalização da atividade, entendida

aqui como o número de grupos recebidos por período, demonstra ser uma

condição “sine qua non” para o desenvolvimento do turismo responsável. O

eixo prioritário de ação deve ser, nesta fase de estruturação e aprimoramento

das capacidades de gestão, menos econômico e mais social.

Page 20: ARTIGO ECB.pdf

Entra aqui uma questão muito relevante, relacionada ao

posicionamento do PSA neste arranjo institucional. É interessante que uma

ONG reconhecida pelas comunidades seja a facilitadora e articuladora do

processo. É necessário também que a atividade seja auto-gerida e auto-

sustentável e aceitável que a organização enxergue a possibilidade de geração

de recursos próprios, ou seja, que pense na sustentabilidade institucional.

No entanto, é fundamental que o limite à ação institucional nesta área

seja estabelecido e controlado no âmbito das parcerias, com o protagonismo

dos atores principais, as comunidades. A escala comercial que deve ser

atingida pelo empreendimento não cabe na natureza ou na missão institucional

de uma ONG. O profissionalismo cada vez mais exigido pelo setor turístico e a

qualidade e segurança necessárias para o desenvolvimento do ecoturismo

demandam que os papéis dos diferentes atores sociais sejam

proporcionalmente incorporados. Este deve ser um estímulo ao arranjo de

parcerias baseadas nos princípios da economia solidária, avançando-se ao

longo deste processo até que sejam construídas capacidades e constituídos

arranjos institucionais adequados, com ênfase ao protagonismo e o

empreendedorismo comunitários.

Está colocado o desafio de serem estabelecidas estratégias e

consolidadas práticas que estimulem a valorização cultural, a organização

comunitária e a conservação ambiental. Práticas que assegurem o acesso ao

compartilhamento dos benefícios gerados pela atividade, com estímulo ao

empreendedorismo social e à criação de negócios inclusivos. E que,

finalmente, estabeleçam arranjos sustentáveis de interação social e das

populações com o território e o ambiente em que vivem.

Referências Bibliográficas

BORN, RubensH. & TALOCCHI, Sergio. Proteção do capital social e

ecológico por meio de compensações por serviços ambientais. São Paulo:

Peirópolis, 2002.

INSKEEP,E. Tourism Planning: An integrated and sustainable

development approach. New York: Van Nostrand Reinhold, 1991.

Page 21: ARTIGO ECB.pdf

PETROCCHI, Mario. Turismo: planejamento e gestão. São Paulo:

Futura, 1998

SALVATTI, S.S. In: BORN, Rubens (org.) Diálogos entre a esfera

global e local.. São Paulo: Peirópolis, 2002.

SILVA, SANDRA DA. Ecoturismo em comunidades tradicionais da

Floresta Nacional do Tapajós: o caso de Maguari e Jamaraquá. Manaus: 2005.

VITAE CIVILIS e WWF-BRASIL. Sociedade e ecoturismo: na trilha do

desenvolvimento sustentável. São Paulo: Peirópolis, 2003.

WORLD TRAVEL AND TOURISM COUNCIL (WTTC), WORLD

TOURISM ORGANIZATION (WTO), EARTH COUNCIL, AGENDA 21 FOR

TRAVEL AND TOURISM INDUSTRY. Towards environmentally sustainable

development. London: WTTC,1995.

Sites na internet:

Ambiental Expedições online. www.ambiental.tur.br

Projeto Bagagem online. www.projetobagagem.org.br

Projeto Saude Alegria online. www.projetosaudeealegria.org.br