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Texto para Discussão 003 | 2018
Student Discussion Paper 003 | 2018
As lições de Sun Tzu e Miyamoto Musashi na aplicação dos conceitos de liderança e estratégia na gestão de projetos
Rodrigo Mendes Gandra Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas, Estratégias e
Desenvolvimento (PPED) da UFRJ.
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IE-UFRJ STUDENT DISCUSSION PAPER: GANDRA, TDD 003 - 2018. 2
As lições de Sun Tzu e Miyamoto Musashi na aplicação dos conceitos de liderança e estratégia na gestão de projetos
Maio, 2018
Rodrigo Mendes Gandra Doutorando no Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas, Estratégias e
Desenvolvimento (PPED) da UFRJ.
Resumo
O objetivo é captar as lições de Sun Tzu (autor de “A Arte da Guerra”) e de Miyamoto Musashi (autor de “O Livro dos Cinco Anéis”) para entender o conceito de liderança e estratégia na Gestão de Projetos. Em primeiro lugar, será abordado a explicação dos conceitos de estratégia e liderança cunhados por Sun Tzu e por alguns dos principais autores ocidentais modernos. Em seguida será verificada a aplicação na Gestão de Projetos. Após isto, será abordada as principais contribuições do mais famoso samurai japonês, Miyamoto Musashi, bem como a identificação de similaridades com as ideias de Sun Tzu.
Palavras chave: Gestão de Projetos, Estratégia, Sun Tzu, Miyamoto Musashi
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1 Introdução
Este artigo visa captar as lições de Sun Tzu e de Miyamoto Musashi para compreender o
conceito de estratégia na Gestão de Projetos. Este artigo está dividido em duas partes,
onde a primeira visa entender o conceito de estratégia cunhado por Sun Tzu e por alguns
dos principais autores ocidentais modernos, bem como verificar o que se pode aplicar na
Gestão de Projetos. E segunda objetiva captar as principais contribuições do samurai
japonês, Miyamoto Musashi, bem como identificar similaridades com Sun Tzu.
2 Arte do General e as lições de Sun Tzu para Gestão de Projetos
2.1 Introdução à Arte da Guerra e aos objetivos quanto à Gestão de Projetos
No prefácio do livro, A Arte da Guerra, James Clavell relata que Sun Tzu nasceu no
estado de Ch’i aproximadamente 500 a.C., e que seus breves treze capítulos chamaram
atenção do Rei Ho Lu, de Wu, que o nomeou seu General. O objetivo de Sun Tzu foi
ilustrar algumas receitas para conquistar a vitória em qualquer tipo de conflito (bélico,
comercial, interpessoal etc.). Além disso, mostrava que o método mais eficiente (em
termos de economia de recursos e prevenção de desgastes) consistia na quebra da
resistência do inimigo sem ter que efetivamente lutar; ou seja, obter a vitória com a
“espada embainhada”.
Uma vez que os ensinamentos seriam válidos em qualquer ocasião, os objetivos desta
primeira parte do trabalho são: (a) entender o conceito de estratégia de Sun Tzu, (b)
percorrer os conceitos de estratégia concebidos por alguns dos principais autores
ocidentais modernos e (c) verificar o que se pode aplicar dos ensinamentos de Sun Tzu
na Gestão de Projetos. O que se quer de fato é entender o conceito de estratégia para
aplicação na Gestão de Projetos, uma vez que, não só a Empresa, mas os Projetos devem
traçar suas próprias estratégias de desenvolvimento.
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2.2 A preparação dos planos e da estratégia
O primeiro capítulo intitulado “Preparação dos Planos” chama atenção para o fato de Sun
Tzu ter observado que o General deve planejar de forma meticulosa, ou “fazer muitos
cálculos” antes de partir para a execução do plano. Além disso, ele deve saber como
avaliar as possibilidades (ou os riscos) frente aos recursos disponíveis, o ambiente das
batalhas, o tempo e o custo de qualquer ação. O fato mais interessante é que Sun Tzu
cunha o conceito de estratégia sem mencionar o termo e, vai além, receitando que o bom
conhecimento do seu inimigo, legitimando inclusive o uso da espionagem, a
dissimulação, agilidade nas manobras e o logro seriam estratégias eficazes para vencer as
batalhas. Esta percepção de planejamento está totalmente em linha com as boas práticas
de Gestão de Projetos que conhecemos hoje em dia, pois se tratarmos de uma guerra como
um projeto ou programa (de várias batalhas), que deve ter início e fim, é patente que o
General deva planejar cada ação a ser tomada a fim de minimizar os danos e maximizar
os objetivos. Sun Tzu apresenta cinco fatores imprescindíveis que o General deve saber
para obter a vitória.
▪ Lei Moral (Legitimidade / Cultura / Objetivo / Missão) => o que faz o povo estar
em pleno acordo com o seu governante sem temer as intempéries, ou seja, a causa
legítima que sustenta a liderança de acordo com a cultura. Para que as pessoas
cumpram seu dever, devem acreditar legitimamente em uma causa e saber aonde
se quer chegar. Contudo, ele não discute como ganhar esta legitimidade, ou seja,
apresenta como um pressuposto. No mundo dos negócios este fator está em
consonância com os conceitos para formulação estratégica de Visão, Missão e
Objetivos.
▪ Céu (Clima) => abrange as condições climáticas, as estações do ano e a noção de
tempo.
▪ Terra (Espaço) => compreende as condições geográficas, a noção de espaço e
distâncias (onde podem surgir oportunidades de vida ou morte através de
possíveis emboscadas).
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▪ Chefe (Liderança) => compreende as virtudes pessoais para que o general possa
exercer a arte de liderar e planejar (“fazer muitos cálculos”, improvisar e
dissimular).
▪ Método e Disciplina (Organização e Processos) => lógica dos processos pela qual
se deve planejar, agir, mobilizar, aprimorar e manter em bom estado e prontidão
dos recursos e da logística de forma organizada e eficiente (sob baixos custos e
desgastes). O que hoje no mundo corporativo se conhece por Sistema de Gestão
Integrada e Metodologia de Gestão de Programas e Projetos.
Além dos cinco fatores, algumas releituras identificam quatro habilidades fundamentais
do General, quais sejam:
▪ Conhecimento => saber traçar as estratégias (planejar) e conhecer o adversário;
▪ Ação => saber quando e de que forma avançar ou não;
▪ Visão => saber aonde se quer chegar e como fazê-lo; e
▪ Posicionamento => saber como tirar proveito das oportunidades e evitar ameaças.
A Figura 1 sintetiza o casamento dos 5 fatores com os quatro skills:
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Figura 1: Cinco fatores do General de Sun Tzu
De acordo com os conceitos de Sun Tzu, estratégia consiste em realizar o planejamento,
inclusive no nível tático e operacional, e em traçar cenários (“fazer muito cálculos”),
levando em conta os cinco fatores citados acima, a fim de que se possa atingir os
objetivos. Fará mais criteriosamente quem atentar para as quatro habilidades supracitadas.
Deve-se ressaltar que projetos nascem para atender ou aplicar uma estratégia definida
alinhada aos objetivos da empresa. Contudo, até mesmo os projetos devem formular suas
próprias estratégias de desenvolvimento – este é limite da autoridade do gerente de
projetos e que o diferencia de um coordenador de recursos, além de ser o limite entre a
Gestão de Projetos e gerenciamento de projetos. Quanto mais o gerente de projeto estudar
e entender o conceito de estratégia, com mais propriedade ele conhecerá suas
responsabilidades, seus papeis e seu limite para tomar decisão. Assim, uma vez que o
termo “estratégia” nasceu nas academias militares e foi adaptado para o mundo dos
negócios, vale a curiosidade de resgatar as origens e desdobramentos a fim de que se
possa tirar proveito para aplicação na Gestão de Projetos.
2.3 Conceito moderno de estratégia
O termo estratégia empregado, no Século XVIII, por Paul Gédéon Joly de Maizeroy,
provém da palavra, em grego, strategós, composta por stratós - exército - e ágein (ou
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ago) - condutor, liderança, comando -, significando: “aquele que conduz o exército” ou
"Arte do General". Esta ideia está em consonância à de Sun Tzu que apresentou cinco
fatores para General então desenvolver sua arte.
Esta arte estuda como serão empregados os recursos, como serão executadas as operações
e como se efetuará a movimentação dos exércitos a fim de chegar à presença do inimigo,
isto é, atingir os objetivos. O Almirante Caminha (1980: 51) oferece a seguinte definição:
“A arte de apresentar um plano de campanha, de dirigir um exército sobre os pontos
decisivos ou estratégicos e de reconhecer os pontos sobre os quais é preciso, na batalha,
colocar as maiores massas de tropas para assegurar o sucesso”. Pode-se destacar nesta
definição: “arte de apresentar um plano” (que reside em planejar antes de executar) e
“sucesso”, que oferece a ideia de pleno atendimento dos objetivos (com eficácia e
eficiência). Jomini (1838: 26), em L’art de la Guerre, definiu estratégia como “a arte de
bem dirigir as forças sobre o teatro da guerra, seja para a invasão de um país, seja para a
defesa de seu próprio” focando mais na ação do que no planejamento. O que importa é
que a formulação da estratégia está tanto no campo do planejamento quanto na execução
das ações.
Apesar de muito utilizada na área militar, este conceito foi apropriado por diversos
segmentos de negócios, assim, cabe à estratégia, planejar a aplicação dos meios e recursos
a fim de atingir os objetivos estabelecidos. Von Neumann e Morgenstern (1944:79) -
“criadores da Teoria dos Jogos” - definem estratégia como “um plano completo, que
especifica que escolhas poderão ser feitas (pelo jogador) a cada situação possível”.
Chandler (1962) define como a determinação das metas e objetivos básicos de um
empreendimento, de longo prazo, e a adoção de cursos de ação e a alocação de recursos
necessários para a concretização dessas metas. Dessler (1980) pensou na adequação dos
recursos e das competências da empresa, frente às oportunidades e às ameaças que
permeiam seu ambiente, bem como a definição dos valores e propósitos da organização
que norteiam seus objetivos (de perpetuação, crescimento, marca, disseminação etc.)
frente à sociedade. Ou seja, assim, como Sun Tzu, cabe à estratégia a definição das
próprias metas (de como e quando usar os recursos e de onde se quer chegar - múltiplos
objetivos -, tendo em vista as restrições e incertezas).
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Geralmente as metas são pensadas pelo board de executivos (ou Generais), contudo ela
não deve ser entendida como algo imutável; ao contrário, ela deve ser constantemente
reavaliada e revisada na medida em que os parâmetros - influenciados pelos meios,
ambiente e/ou adversários - mudam. A fim de verificar a qualidade da própria estratégia,
é de boa prática aplicar periodicamente o conceito de ciclo PDCA (Plan-Do-Check-Act)
para avaliar a compatibilidade das estratégias aos múltiplos objetivos vislumbrados.
Nem todas as estratégias surgem de um processo organizado e deliberado, tendo em vista
que as organizações necessitam se adaptar as mudanças no ambiente. Assim Mintzberg e
Waters (1985), conforme mostra a Figura 2, desenvolveram dois conceitos de origem das
estratégias, onde elas podem ser (i) deliberadas (planejadas e intencionais), ou (ii)
emergentes (circunstanciais). A fim de classificar as abordagens das organizações na
formulação das estratégias, Whittington (2006) apresenta, na Figura 3, o cruzamento entre
as origens das estratégias (deliberada ou emergente) e os objetivos da organização
(maximização de lucros ou pluralidade de metas).
Na abordagem clássica, o sucesso e a permanência no mercado das organizações são
obtidos por meio da maximização dos lucros, e este sucesso seria alcançado por meio de
ações planejadas (com base na aplicação de ferramentas analíticas formais). Inspirada no
Darwinismo, a abordagem evolucionária destaca que os mais fortes e os mais adaptáveis
em ambiente competitivo obtêm mais sucesso, tal como defendido por Makridakis e Héau
(1987). Hannan e Freeman (1977), afirmavam que a estratégia deliberada / clássica
voltada para o futuro é irrelevante, uma vez que o ambiente em que a organização está
inserida é influenciado por inúmeras variáveis. Para Mintzberg (1987), as abordagens,
processual e sistêmica, abrangem uma visão em que as organizações objetivam metas
além da maximização do lucro. Granovetter (1985) e Whitley (1992) acreditavam na
abordagem sistêmica, onde a estratégia é deliberada e as razões por trás das estratégias
são peculiares ao contexto sociológico.
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Figura 2: Estratégia deliberada e emergente
(Mintzberg, Ahlstrand e Lampel, 2000)
Contudo pode-se concordar com Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) que poucas
estratégias são puramente deliberadas ou puramente emergentes. No dia-a-dia, é
necessário mesclar as duas formas para exercer o controle, fomentar a adaptação e o
aprendizado. Neste ponto, não é à-toa que Sun Tzu destacava a importância da
criatividade e da capacidade de adaptação para formulação das manobras.
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Figura 3: Perspectivas genéricas sobre estratégia
(Whittington, 2006)
O conceito de estratégia não é consensual, em face disto, Mintzberg (1992) sistematizou
suas variações e sentidos nos "Cinco Ps da estratégia", que de certa maneira não é mais
que uma proxy dos 5 fatores de Sun Tzu, tal como pode-se observar abaixo.
▪ Plano (Plan): entendido como o fruto do planejamento das ações a serem tomadas
para se atingir objetivos. São elaboradas antes das ações que se pretendem
realizar; aqui estão implícitos os conceitos de liderança (Chefe) e objetivo (Lei
Moral) de Sun Tzu.
▪ Manobra / Estratagema / Artimanha (Ploy): este aspecto se daria mais no nível
tático e representa como, com quais recursos e o timing em que as ações deverão
ser tomadas. Neste caso, Sun Tzu o entenderia como o uso da liderança nas
oportunidades e ameaças referentes ao Céu (Tempo) e a Terra (Espaço).
▪ Padrão (Pattern): representa o modelo de regularidade comportamental e a forma
consistente / habitual de tomar decisões em uma organização. Este aspecto se
aproxima do conceito de Método e Disciplina de Sun Tzu.
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▪ Posição (Position): representa uma visão presente da localização da organização
no que diz respeito à sua situação frente ao contexto interno (forças e fraquezas)
e externo (ameaças e oportunidades) em que está inserida. Neste caso, Sun Tzu o
entenderia como o uso da liderança frente ao Céu (Tempo) e Terra (Espaço).
▪ Perspectiva (Perspective): refere-se à forma como a empresa percebe a ela
própria, o mundo que a rodeia e aonde se quer chegar. Isto é, representa uma visão
futura da localização da organização frente ao contexto interno (forças e
fraquezas) e externo (ameaças e oportunidades). Para Sun Tzu, esta seria uma das
dimensões da Lei Moral.
Definida a direção estratégica (ou estabelecimento da Visão, Missão e Objetivos) das
empresas nas dimensões espaço e tempo, deve-se começar pela definição de qual o
caminho a seguir através da análise das estratégias, formulação da estratégia e
implementação da estratégia. Esta definição abrange três níveis (geralmente relacionados
aos níveis hierárquicos das empresas), quais sejam:
▪ Estratégico => define os valores, elabora os objetivos e metas, toma decisões e
realiza revisões estratégicas periódicas e sistemáticas. Geralmente encontram-se
no board de controle da empresa (os Generais): Chief Executive Office (CEO),
Chief Operation Office (COO), Chief Finance Office (CFO). Para ser mais
completa os gestores de riscos e de planejamento de portfólio deveriam auxiliar
na atividade de “fazer muitos cálculos”.
▪ Tático => do grego taktika, “coisas relativas à organização ou ordenação”, ou do
grego taktik– (tekhn–), a “arte de dispor ou organizar as forças para o combate”.
Refere-se ao planejamento de como os objetivos serão atingidos, acompanhar e
avaliar se o trabalho operacional está sendo executado conforme o plano, avaliar
se existem maneiras mais eficientes do trabalho ser executado, traduzir os
objetivos estratégicos em indicadores de desempenho, além de saber como
reportar e auxiliar os Decision Makers. Aqui se encontram os gerentes de médio
escalão (White Collars).
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▪ Operacional => arte de executar o serviço de forma alcançar os objetivos
estratégicos dentro do planejamento. Aqui se encontram os operários (Blue
Collars).
Segundo Kaplan e Norton (2008), a boa execução da estratégia dependerá da implantação
de um Sistema de Gestão, também denominado Ciclo Fechado de cinco estágios, ilustrado
na Figura 4, que une a estratégia à operação. Para eles, desenvolver a estratégia é o mesmo
que planejar; pois neste estágio são definidos os Valores (bússola que norteia os atos), a
Missão (propósito da empresa), a Visão e os Objetivos (expectativas de resultados
futuros). Após planejar, é necessário elaborar o Plano Estratégico que servirá de guia para
que a empresa mapeie as necessidades operacionais para esquematizar quais e como serão
usados os recursos necessários para atingir os objetivos. Por outro lado, o Plano
Estratégico deve servir de subsídio para traduzir e comunicar a estratégia ao nível tático
e operacional da organização. Este Plano deverá conter: Mapa Estratégico, para se ter a
noção de causa e efeito na cadeia de relações; e, seria de bom tom, ter um Balance Score
Card (BSC). O BSC abrange quatro perspectivas (financeira, clientes, processos internos,
aprendizado e crescimento) com os seus respectivos Key Performance Index (KPIs)
desdobrados, de forma que se possa avaliar o desempenho e agregação de valor de cada
área da organização. Este Plano serve também de subsídio para o Planejamento das
Operações e, por consequência, para a definição do Plano Operacional onde serão
comunicados os métodos, os meios, as possibilidades, os recursos, e estimativas de OPEX
e CAPEX das novas iniciativas e dos sistemas em operação. Uma vez que se tenha este
planejamento com suas metas definidas, é possível seguir para a execução dos projetos
(que significam a implantação das iniciativas estratégicas) e continuidade da operação. O
sucesso da estratégia será medido e monitorado a cada ciclo de planejamento através da
avaliação dos KPIs. Caso a estratégia não tenha sucesso, ou caso deva ser aperfeiçoada,
sofrerá adaptação para que o próximo ciclo de planejamento seja mais consistente e
assertivo.
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Figura 4: Sistema de Gestão / Ciclo Fechado (Closed-Loop)
(Kaplan e Norton, 2008)
Para Sun Tzu estava explícito que o sucesso está relacionado em atingir o objetivo com o
mínimo de recursos e desgastes. Apesar de projetos nascerem da necessidade estratégica
de uma organização, o próprio projeto necessita de uma estratégia para atingir os
objetivos (ou sucesso frente à Tripla Restrição Ampliada: Escopo, Custo, Tempo,
Qualidade e Satisfação do Cliente). Segundo Morris e Ashley (2004) quase não há
literatura sobre como a estratégia no projeto deve ser desenvolvida. Isto porque, é comum
pensar em projetos - e esta é a visão do Project Management Institute (PMI) - como algo
pré-encomendado (e.g.: projeto de obra, desenvolvimento de softwares etc.), onde análise
de viabilidade técnico-econômica e alinhamento estratégico já foram definidos pelo
board da instituição. Mas no geral, não se pensa em projetos de desenvolvimento de
ativos de negócio, onde o resultado econômico, social, alinhamento estratégico com a
organização, também é de responsabilidade do gerente de projetos (que acumula as
responsabilidades de gerente de um ativo de negócio). Neste âmbito não se trata somente
de aplicação de ferramentas de gerenciamento de projetos, o gerente deve pensar
estrategicamente e traçar cenários para buscar a melhor opção para a organização. Assim,
os projetos podem desenvolver suas próprias estratégias e não devem se limitar a
formular, por exemplo, um “Plano de Gerenciamento de Projetos”, mas sim, um “Plano
de Governança do Projeto”, evidenciando: Metas, Objetivos, Visão, Missão e até um
Balance Score Card (BSC) com indicadores associados que vão além de medir desvios
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de escopo, custo, prazo e qualidade. Assim, o termo, “Gestão de Projetos”, se encaixaria
melhor que o termo, “Gerenciamento de Projetos”. Assim, uma vez que Sun Tzu fala de
receitas para o sucesso em situação de resolução de quaisquer conflitos, podemos verificar
o que há de aplicável de seus ensinamentos às áreas de conhecimento da Gestão de
Projetos.
2.4 Sun Tzu e aplicação na Gestão de Projetos
Aqui foi feito um exercício de verificação do que se pode aplicar dos ensinamentos de
Sun Tzu às disciplinas e atividades “d’Arte de Gestão de Projetos”. Lembrando que
Projetos são feitos por pessoas, onde cada uma tem suas próprias crenças, costumes,
vaidades, pré-conceitos, objetivos, limites de tolerância etc. Estas divergências
invariavelmente geram situações de conflitos (que até determinado limite são sadios).
2.4.1 Gestão da integração e da logística
Quanto a Integração, Sun Tzu diz que o primeiro a se fazer é “conhecer seu inimigo como
a si mesmo”, ou seja, mapear os stakeholders de forma ampla (clientes, fornecedores,
concorrentes, aliados, força de trabalho, sindicatos, força de trabalho, associações,
sociedade, governo, demais órgãos e organizações). Ele vai mais além legitimando
inclusive o uso da espionagem. Não è à-toa que se diz que “o segredo é a alma do
negócio”. Em ambiente de projetos onde há relações com parceiros (joint ventures e
consórcios), fornecedores, competidores, clientes, sociedade, governos, agências
reguladoras, projetos concorrentes por recursos, o ato de não revelar a real estratégia (ou
descobrir as intenções alheias) pode significar vantagens.
Quanto a logística, Sun Tzu recomenda levar para o campo inimigo “o material bélico,
mas tome as provisões do inimigo, assim o exército terá alimentação suficiente para
alimentá-lo. (...) Um general inteligente estabelece um ponto de reabastecimento por
saque no território inimigo”. Ou seja, projeto sem uma logística eficiente não prospera,
pois ela é similar à corrente sanguínea que leva os nutrientes para as células.
2.4.2 Gestão de custos e do patrocinador (Sponsor)
Segundo Sun Tzu, “lutar e vencer em todas as batalhas não é a glória suprema; a glória
suprema consiste e quebrar a resistência do inimigo sem lutar”. O método da espada
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embainhada do General habilidoso consiste em conquistar as tropas inimigas sem o ato
da luta; tomar suas cidades sem cerco e sem operações de longa duração. Fazendo desta
forma, evita-se custos, desgastes e ônus.
Quanto ao Sponsor, ele diz que não há, “na história, notícia de um país que se tenha
beneficiado com uma guerra prolongada. (...) Contribuir para a manutenção de um
exército distante leva o povo ao empobrecimento. (...) a proximidade de um exército
provoca subida nos preços que suga o poder aquisitivo do povo. Quando isto acontece,
ele sofre pesados tributos”. Em projetos, os recursos são limitados e geralmente há um
budget aprovado de acordo com um nível de tolerância determinado. Um gerente não
pode ultrapassar este nível de tolerância sucessivamente, daí, deve-se tratar com zelo da
fonte financiadora (terceiros ou acionistas).
2.4.3 Gestão de tempo
Além de saber a hora de atacar, de recuar e conhecer as condições climáticas, Sun Tzu
dizia que “... deixe que seu grande objetivo seja a vitória e não campanhas extensas”.
Também por pragmatismo e por questões e eficiência, “o bom combatente deve ser
terrível no seu ataque e rápido na sua decisão”.
2.4.4 Gestão de recursos humanos
Sun Tzu focava nas questões de liderança e motivação, onde “no que refere a matar o
inimigo, nossos soldados devem ser levados à ira. Para que percebem a vantagem de
derrotar o adversário, devem também ser recompensados”. Além disso, ele dizia que é
necessário premiar os soldados para que tenham forte desejo de lutar, cada um por sua
conta. O mesmo deve ocorrer em projetos, onde a equipe deve estar motivada e acreditar
no projeto para exercer seus papéis com vontade. A causa e a legitimidade devem ser
consideradas, além do fator higiênico da remuneração. Quando se coloca metas inviáveis,
pode-se gerar desânimo “das tropas”.
Sun Tzu entendia que a divisão de tarefas deve levar em consideração o perfil de cada
soldado, assim “empregar os oficiais do seu exército indiscriminadamente pela ignorância
do princípio militar de adaptação ás circunstâncias. Isso abala a confiança dos soldados”.
Seu comentador, em 100 a.C., Su-ma Ch’ien, acrescenta que “um hábil empregador de
homens usará o prudente, o bravo, o cobiçoso e o burro. Pois o prudente terá prazer em
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aplicar seu mérito, o bravo sua coragem em ação, o cobiçoso é rápido em tirar vantagens
e o burro não teme a morte” O General inteligente, “leva em conta o talento de cada um
e utiliza cada homem de acordo com sua capacidade. Não exige perfeição dos sem
talento”. Frequentemente, nas organizações “modernas”, encontra-se profissionais
desempenhando papeis que não são condizentes com suas habilidades, o que gera
frustração e aumenta o turnover (principalmente em época de mercado aquecido). Muitas
vezes os gestores só oferecem mudanças quando o “soldado anuncia a troca de exército”!
Outras lições são úteis, tais como: “os soldados devem ser tratados em primeiro lugar
com humanidade, porém, mantidos sob o controle, mediante uma rígida disciplina”;
outra, o General “bondoso, porém incapaz de fazer cumprir suas ordens, incapaz, além
disso, de dominar a desordem, então seus soldados ficarão iguais a crianças estragadas;
ficarão inúteis para o que for”; e “trate seus soldados como seus filhos e eles o seguirão
aos vales mais profundos”.
2.4.5 Gestão dos riscos e comunicação
Neste caso, Sun Tzu avalia que, após fazer vários cálculos, pode haver eventos futuros
positivos e negativos oferecendo certa noção de incerteza. Ele afirma que “será vencedor
quem souber quando lutar e quando não lutar (...). Os bons guerreiros de antigamente
primeiro se colocaram fora da possibilidade de derrota e depois esperaram a oportunidade
de derrotar o inimigo. A garantia de não sermos derrotados está em nossas próprias mãos,
porém a oportunidade de derrotar o inimigo é fornecida por ele próprio”.
Na sua visão, riscos (ameaças e oportunidades) e gestão da informação estão intimamente
ligados, quanto menos se sabe sobre o inimigo e sobre o ambiente, menores as
possibilidades de sucesso. Para Sun Tzu, a comunicação (através do uso de espiões) é um
dos elementos mais importantes para a vitória, pois nele repousa a capacidade de
movimentação dos exércitos.
Sua percepção está de certa forma em conformidade com a definição moderna de Gestão
de Riscos em Projetos, onde segundo PMBOK é o “Evento ou condição incerta que, se
ocorrer, provocará um efeito positivo ou negativo nos objetivos de um projeto”. Além
disso, sua percepção está de acordo com a percepção de que correr riscos é uma “opção”
e “não um destino”. Segundo Bernstein (1997) a palavra ‘risco’ deriva do italiano antigo
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riscare, que significa ‘ousar’. Assim, “a essência da administração de risco está em
maximizar as áreas onde temos certo controle sobre o resultado, enquanto minimizamos
as áreas onde não temos absolutamente nenhum controle sobre o resultado”.
Para que os soldados assumam os riscos, o General deve ser habilidoso. São nas situações
de riscos que a liderança do General é testada ao limite. Segundo Sun Tzu, “reunir seus
homens e guiá-los no perigo, talvez seja o limite de competência do general”.
2.5 Resumo geral para atingir o sucesso de acordo com Sun Tzu
Segue abaixo a receita de Sun Tzu para vencer uma situação de conflito.
▪ Planejamento => “fazer muitos cálculos” antes de agir levando em conta os 5
fatores.
▪ Conhecimento pessoal do seu inimigo => “Será vencedor quem souber quando
lutar e quando não lutar; (...) Se conhecermos o inimigo e a nós mesmos não
precisamos temer o resultado de uma centena de combates” legitimando até
mesmo o uso da espionagem. Para ele, só através da espionagem se tem uma
previsão mais acertada da movimentação do inimigo. O mesmo ocorre quando se
emprega lobistas nos meios governamentais e nas relações fornecedor–cliente.
Práticas bem comuns em países regidos pelo “Capitalismo de Compadres” como
é o caso do Brasil.
▪ Criatividade nas táticas => combinar diversas maneiras de defesa e ataque a
depender das circunstâncias e dos inimigos.
▪ Agilidade nas manobras e ser implacável => minar a resistência e o poder de
reação do oponente sem oferecer chance de defesa ou contra-ataque.
▪ Sutileza, sigilo, logro e dissimulação => “Toda operação militar tem o logro como
base. Por isso, quando capazes de atacar devemos parecer incapazes; ao utilizar
nossas forças, devemos parecer inativos, quando nós estivermos perto, devemos
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fazer o inimigo acreditar que estamos longe (...) preparar iscas para atrair o
inimigo. Fingir desorganização e esmagá-lo”. “Oh, arte divina da sutiliza e do
sigilo! Graças a ti, aprenderemos a ser invisíveis, inaudíveis”.
Será que algum chinês da antiguidade também já havia pensado no conceito de Antoine-
Laurent de Lavoisier, onde “... nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”? Desde
500 a.C., os conhecimentos de Sun Tzu, de fato, podem ser objetivamente adaptados à
realidade dos negócios e da Gestão de Projetos.
3 O Caminho do Gestor de projetos: lições do mais famoso samurai japonês: Miyamoto Musashi
3.1 Introdução ao Livro dos Cinco Anéis
Na primeira parte deste artigo, foram apresentadas as ideias de Sun Tzu (500 a.C.) sobre
estratégia, foram percorridos os conceitos concebidos por alguns dos principais autores
ocidentais modernos (especialistas nas academias de guerra e especialistas empresariais)
e foram apontados a aplicabilidade destes ensinamentos na Gestão de Projetos. Nesta
segunda parte do artigo, o objetivo é captar as principais contribuições do samurai
japonês, Miyamoto Musashi, para a Gestão de Projetos, bem como identificar
similaridades com os ideais do chinês.
Miyamoto Musashi (cujo nome completo era Shinmen Musashi No Kami Fujiwara No
Genshin), o mais famoso samurai do Japão, nasceu na aldeia de Miyamoto na província
de Mimasaka em 1584, dedicou sua vida ao bushido (caminho / essência do guerreiro) a
fim de alcançar a perfeição através da arte da espada. Ele lutou e venceu mais de 60 duelos
de vida ou morte e nunca foi derrotado, além de ter sido o criador do estilo de luta, Niten
Ichi Ryu ou Hyoho Niten Ichi Ryu Kenjutsu, e da escola de artes marciais Niten Ichi, que
utiliza duas espadas ao mesmo tempo (a longa, katana, e a curta, waki-zashi). Se na época
dos samurais era comum andar com duas espadas presas ao cinturão, para Musashi, seria
natural que se tirasse proveito das duas ao mesmo tempo, ou seja, utilizar todos os
recursos disponíveis. Para ele era inadmissível “morrer com a arma embainhada”. Em
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1643 ele escreveu seu importante e breve tratado, Gorin No Sho (“O Livro dos Cinco
Anéis”), apresentando seus ensinamentos e estratégias para vencer um combate, dividido
em livros intitulados de acordo com os cinco elementos fundamentais da filosofia budista.
Como método, percorreremos os cinco livros a fim de captar suas lições para a Gestão de
Projetos.
Antes de avançar faz-se necessário entender núcleo que fundamenta as teorias dos
autores. Sun Tzu mostrava que o método mais eficiente (em termos de economia de
recursos e prevenção de desgastes) consistia na quebra da resistência do inimigo sem ter
que lutar (ou obter a vitória com a “espada embainhada”), onde ele filosofava que “na
paz, prepare-se para a guerra; na guerra prepare-se para a paz”. Por outro lado, Musashi
escolhia a luta como o caminho do aperfeiçoamento, tinha um estilo agressivo em que o
objetivo era atingir os inimigos de forma definitiva, implacável e letal. Embora esta
filosofia não seja unânime, no mundo das artes marciais, era praticada por alguns
samurais. Contudo, o próprio Sun Tzu concordaria que, uma vez que o combate é
inevitável, deve-se ser implacável a fim de minar a resistência e o poder de reação do
oponente sem oferecer chance de defesa ou contra-ataque.
A ideia de ser implacável é famosa inclusive entre os pensadores mais clássicos do
ocidente. O filósofo alemão, Arthur Schopenhauer, devida crença na perversidade da
natureza humana, em seu célebre livro, “Como Vencer um Debate sem Precisar Ter
Razão”, apresenta trinta e oito estratagemas pelos quais o interlocutor pode utilizar, “per
faz et per nefas” (“por maios lícitos ou ilícitos”), para derrotar o oponente. Se o objetivo
da dialética é vencer um debate então, deve-se fazer de forma implacável. Assim como
Nicolau Maquiavel, deve-se aproveitar cada momento de fraqueza do adversário para
derrotá-lo; caso não o faça, o adversário pode se recuperar e derrotá-lo sem apresentar a
mesma misericórdia.
3.2 Livro da Terra
Musashi trata do Caminho da Estratégia (entenda-se estratégia como domínio das artes
marciais), abordando a importância do planejamento, da organização e da liderança. Ele
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explica que a Lei Moral ou o código de honra do guerreiro é obter a vitória sobre os
adversários para que possa auferir fama e prestigio. É comum observar este aspecto nos
empresários e gestores de projetos, em que o sucesso depende de fechar negócios e
entregar os projetos dentro do planejado para suas organizações.
Musashi ressalta o Caminho do Artesão, onde este deve ser competente no uso das
ferramentas, primeiro estabelecendo seus planos na medida certa e depois executando
conforme o planejado. Mas para que isto aconteça, o comandante (gerente) e o capataz
(equipe) devem dispor e cuidar de suas ferramentas (das técnicas), conhecerem as leis
naturais (ser capacitado), do país (entender o ambiente / cultura em que se aplica) e as
leis da casa (escopo do projeto). Ele traça um comparativo do Caminho da Estratégia (ou
do Guerreiro) com o Caminho do Artesão (Carpinteiro) e mostra que ambos priorizam o
planejamento como base. Este também é o entendimento de Sun Tzu, onde, no primeiro
capítulo intitulado, Preparação dos Planos, ele chama atenção para o fato de que o General
deve planejar de forma meticulosa, ou “fazer muitos cálculos” antes de partir para a
execução.
Se planejamento é importante, então podemos falar que existe o “caminho do Gestor de
Projetos”: em que o domínio do conhecimento amplo em gestão, de todas as ferramentas,
capacitação e disciplina para entrega do escopo que lhe foi encomendado dentro do custo,
prazo, qualidade e resultando na satisfação do cliente (estrategicamente,
economicamente, ecologicamente, legalmente, socialmente, fiscalmente, contabilmente,
normativamente etc.).
Neste livro, Musashi oferece um cardápio de ensinamentos que podem ser aplicados em
nossos tempos, mais especificamente, na Gestão de Projetos e de empresas como segue
abaixo:
3.2.1 Sobre a distribuição das tarefas
Vale ressaltar que Musashi e Sun Tzu pensavam da mesma forma quando o assunto era
distribuir atribuições. Ele ressalta que o “capataz (o gerente) designa o trabalho a seus
homens de acordo com a capacidade de cada um. (...) Os que têm menos capacidade
rejuntam o assoalho, ainda aparam as arestas e fazem trabalhos secundários. Se o capataz
conhecer e empregar bem seus homens, o resultado final será bom”. Sun Tzu entendia
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que a divisão de tarefas deve levar em consideração o perfil de cada soldado, assim o
General inteligente, “leva em conta o talento de cada um e utiliza cada homem de acordo
com sua capacidade. Não exige perfeição dos sem talento”.
Nas organizações “modernas”, profissionais desempenhando papéis não alinhados com
suas habilidades, o que gera frustração e aumenta o turnover (principalmente em época
de mercado aquecido).
3.2.2 Sobre liderança e motivação
Musashi ressalta que, além de notar as habilidades, o capataz deve perceber a moral e o
ânimo de seus subordinados para, se for o caso, encorajá-los. Sun Tzu também ressaltava
as questões de liderança e motivação das tropas como fator crucial para obter a vitória.
3.2.3 Sobre dedicação e perseverança
Musashi enfatiza que, além da habilidade e do ânimo, a dedicação e disciplina aos treinos
são fundamentais; seja qual o for o caminho a ser seguido, o homem deve se aprimorar.
A dedicação e o treinamento são partes fundamentais do processo de vitória. Além disso,
deve-se aprender a manejar todos os tipos de armas (o mesmo se aplica ao manuseio das
ferramentas no mundo corporativo). Segundo Musashi, “é ruim para comandantes e
soldados gostar e deixar de gostar”, cada arma tem sua utilidade a depender das
circunstâncias.
Para Musashi, existe um ritmo para tudo nesta vida e o ritmo da estratégia só pode ser
dominado com muita prática. Em termos práticos, para dominar a carreira de Gestão de
Projetos ou conhecer o “Caminho do Gestor de Projeto”, deve-se obter experiência
(através de combates efetivos, ou respondendo por responsabilidades efetivas em seu
ofício - não só com treinando com “espadas de bambu”) e adquirir conhecimento no ramo
em que se está atuando (aqui os treinamentos e certificações podem ser aplicados, mas
deve-se lembrar de que não é garantia de sucesso). Musashi exemplifica o ritmo no
Caminho do Mercador que deve compreender a ascensão e queda do capital. Então ele
ressalta que as pessoas (gestores, lutadores, mercadores etc.) devem ser capazes de
discernir estes ritmos das coisas e que isto é o que há de mais importante da estratégia.
Dizer que o gestor de projetos não deve conhecer dos drivers do negócio em que está
inserido é uma profunda bobagem ou até mesmo podemos dizer “descaso”. Entender do
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mercado e do negócio ao qual se está inserido, a conjuntura econômica, as ferramentas
de gerenciamento de projetos, as ferramentas de análise de viabilidade para tomada de
decisão e as variáveis estratégicas envolvidas são fundamentais para um Gestor de
Projetos de primeira linha. Os executivos que não têm estes conceitos correndo nas veias
são apenas Gerentes de Projetos um tanto quanto “engessados”. Segundo Gandra (2009),
a quantidade de projetos depende diretamente do volume de investimentos na economia,
assim, como projetos têm inicio e fim definidos, o Gestor de Projeto deve entender a
ascensão e queda dos Mercados para não ser pego de surpresa (seja em benefício aos seus
projetos, seja em benefício de sua própria empregabilidade).
3.3 Livro da Água
Aqui são apresentados os métodos, os movimentos, o tempo (ritmo) e as posições da
escola de artes marciais Niten Ichi para se obter a vitória. Ele mostra que é mais fácil
vencer quando se conhece o ritmo do inimigo e confrontá-lo em um ritmo que o inimigo
não conhece. Sun Tzu classificaria estes aspectos como Método e Disciplina
(Organização e Processos). Como exemplo, não se precisa recorrer aos antigos chineses
para reconhecer esta estratégia, basta observar o sucesso adquirido pela família Gracie na
difusão do Bazilian Jiu-Jitsu nos eventos de Mixed Marcial Arts (MMA). Na prática, a
família fez o mesmo que Musashi, ou seja, difundiram um estilo próprio e original de luta
desconhecido pela maioria dos praticantes de artes marciais. O mesmo ocorre quando se
observa a entrada de uma inovação nos mercados onde, segundo o economista austríaco,
Joseph Schumpeter, causa uma espécie de “destruição criadora” que pode derrubar os
adversários comerciais.
3.4 Livro do Fogo
Apresenta o combate em si, ensinado a manipular o ânimo, como enganar e surpreender
o inimigo não importando seu tamanho ou força. Para isso, deve-se atentar para o
treinamento contínuo (tomadas rápidas de decisões), para o conhecimento do lugar de
batalha e para a compreensão da estratégia do inimigo de forma que se possa pensar como
ele agiria a fim de antecipar aos seus movimentos ainda na intenção (ex-ante). Esta
antecipação ocorre em três situações: quando se ataca primeiro (Ken No Sen), quando se
espera o ataque (Tai No Sen) e quando ambos atacam (Tai Tai No Sen). Em todas as
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situações o ataque ou contra-ataque deve ser implacável (sem tréguas). Deve-se atentar
que a capacidade de adaptação, a criatividade, o oportunismo, a simulação e a sustentação
da motivação, são importantes para manter a liderança e para induzir o inimigo ao erro.
3.5 Livro do Vento (Tradição)
Ressalta a importância de conhecer a tradição e os outros estilos dos oponentes, onde “é
difícil conhecer a si mesmo sem conhecer os outros”. Para a Gestão de Projetos é muito
importante mapear os stakeholders antes de começar um projeto, pois é difícil satisfazer
todos sem conhecê-los adequadamente.
Outro ensinamento é que você não deve ser rápido e nem devagar, o importante é não sair
do ritmo. Geralmente, as empresas gostam de fazer projetos fast track com metas
ambiciosas que muitas das vezes não são consistentes. Gestão de Projetos é sinônimo de
Gestão de Conforto, onde o mais importante é manter a previsibilidade, ou seja, entregar
o que foi prometido dentro do planejado, acordado e dentro dos limites de tolerâncias.
Assim pressões para antecipação e falta de planejamento, geralmente tiram o projeto “dos
trilhos”.
3.6 Livro do Vazio
Ele recomenda não se afastar do bushido (caminho / essência do guerreiro) e da busca
pelo entendimento da natureza das coisas. Sun Tzu traduziria como a importância da
manutenção da ética ou da Lei Moral. Ou seja, não deixar que aquilo que não
compreendem seja interpretado como vazio. Deve-se tentar conhecer de tudo, ao menos
um pouco ou até superficialmente, e é este aspecto que diferencia um Gerente de Projetos
de um Gestor de Projetos. Aqui, o Gestor de Projetos se preocupa e presta contas da
estratégia de implantação do projeto e pelos seus indicadores estratégicos, ou seja, ele
pratica a Arte do General.
"A arte do general, a que os gregos chamavam Estratégia, ciência profunda, vasta,
sublime, que engloba muitas outras." (Paul Gédéon Joly de Maizeroy, 1719-1780)
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3.7 Considerações gerais do Caminho do Guerreiro de acordo com Miyamoto Musashi
Musashi finaliza seu tratado com os seguintes ensinamentos para se atingir o caminho do
guerreiro. Podemos relacionar estes ensinamentos aos de Sun Tzu e ao que se pode aplicar
na Gestão de Projetos, conforme abaixo.
▪ “Não tenha pensamentos desonestos” => Sun Tzu chamaria de respeitar a Lei
Moral, o que para o mundo corporativo e de projetos é respeitar a cultura, a ética,
os objetivos e a missão.
▪ “O Caminho está no treinamento” => motivação e disciplina são fundamentais,
não foi à-toa que o Japão se reergueu depois a Segunda Grande Guerra e está se
reerguendo da Catástrofe Natural de 2011.
▪ “Familiarize-se com todas as artes” => Sun Tzu também defendia esta tese ao
afirmar que “se conhecermos o inimigo e a nós mesmos não precisamos temer o
resultado de uma centena de combates”.
▪ “Conheça o caminho de todas as profissões” => saiba que se pode tirar de proveito
de todos os perfis profissionais; será útil para compor equipe.
▪ “Distinga entre ganho e perda em assuntos mundanos” => o gestor de projetos
deve ser capaz de reconhecer e calcular os custos e os benefícios de seu projeto e
das decisões acerca dele (geralmente a visualização do fluxo de caixa descontado
e conhecimento dos indicadores estratégicos facilitam esta análise).
▪ “Desenvolva a capacidade intuitiva de julgar e compreender tudo” => o gestor de
projetos deve desenvolver diversas habilidades em diversas áreas.
▪ “Perceba as coisas que não podem ser vistas” => Tente captar os outliers ou os
“Cisnes Negros”, como diria o Nassim Taleb, o que é fundamental para a gestão
de riscos e para tomada de decisões em projetos e empresas.
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▪ “Esteja atento até as coisas mais insignificantes” => Treine a capacidade de
“pensar fora da caixa”.
▪ “Não faça nada que não seja útil” => Sun Tzu também era adepto da economia de
esforços e, no que diz respeito à Gestão de Projetos, definitivamente, não faça
Gold Plate. Como a maioria dos projetos não apresenta sucesso, não gaste energia
fazendo mais do que foi requerido.
4 Conclusões
O que distingue o “Gerenciamento de Projetos” da “Gestão de Projetos” é a forma pela
qual o conceito de estratégia é apropriado e utilizado. Foi visto que este conceito foi
cunhado nas academias de guerra e incorporado ao mundo dos negócios. É certo que os
projetos são oriundos de iniciativas estratégicas, mas além do trabalho técnico e gerencial
a ser desenvolvido, cada projeto deve traçar sua própria estratégia para atingir os objetivos
(que não são necessariamente imutáveis) com eficiência e eficácia. Neste sentido, as
lições de Sun Tzu convergem e complementam as de Miyamoto Musashi e levantam
questões que até hoje afligem gestores de todas as áreas e lugares.
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