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ANÁLISE DO SERVIÇO RELACIONAL EATWITH
Fabio Luiz Zamberlan (UFRJ)
Daise Lopes Porto (UFRJ)
Paula Allevato Bernardo (UFRJ)
CLAUDIO ULYSSES FERREIRA COELHO (UFRJ)
Este trabalho discute a organização do trabalho, voltado a perspectiva de um
serviço relacional.Trata-se, portanto, de uma inovação social, em que a
organização do trabalho se diferencia de modelos mais clássicos.
Comparando-o com as filosofias de diferentes escolas de organização do
trabalho, por meio da análise de categorias específicas levantadas por
autores como Senett (2009), Zaoual(2006). Tais categorias de análise são:
flexibilidade do trabalho e do tempo; confiança; novas tecnologias, auto
motivação e auto realização. Ao fim, identifica-se quais são os principais
conceitos de organização do trabalho que esse caso traz e se esses conceitos
podem ser generalizados a outros tipos de serviços.
Palavras-chave: Organização do trabalho; serviços relacionais; inovação
social; EatWith
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
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1. Introdução
A disseminação do uso das tecnologias de informação vem demandando grandes
transformações na sociedade. Essas tecnologias agem sobre todos os domínios da atividade
humana e possibilitam o estabelecimento de conexões infinitas entre indivíduos, assim como
entre os elementos e agentes de suas atividades (CASTELLS, 1999).
Pode-se considerar que o advento dessas tecnologias trouxe uma nova articulação ao ambiente
corporativo e à prestação de serviços, alterando as formas de organizar o trabalho nesses
casos. A tecnologia da informação vem sendo aplicada no desenvolvimento de novos
produtos e também em novos meios de comunicação com seus clientes. Consequentemente, a
organização do trabalho se modifica, flexibilizando não só as atividades internas, mas também
a relação com os colaboradores, seja no papel de clientes e/ou fornecedores.
Segundo KOVÁCS (2006), a flexibilização referente às formas de organização das estruturas
produtivas, às modalidades de organização, às relações de trabalho e às competências dos
recursos humanos visa a conferir às empresas capacidade de adaptação às mudanças.
Corroborando com essa linha de pensamento SILVA (1999, p. 14) afirma que “as novas
relações de trabalho pressupõem não mais apenas patrão e empregado, mas contratantes e
fornecedores de serviços”.
Dentro desse contexto de flexibilidade e dinamicidade, propomos analisar a organização do
trabalho incutida nos serviços relacionais, tomando como base um estudo de caso, baseado no
serviço EatWith.
2. Método
Esta pesquisa se apresenta segundo a taxonomia de GIL (2008) como uma pesquisa social,
por se tratar de um processo que utiliza a metodologia científica no intuito de obter novos
conhecimentos no campo da realidade social. Confere-se a ela também um cunho
exploratório, baseada no levantamento bibliográfico acerca dos temas de organização do
trabalho e serviços relacionais a fim de contribuir com o amadurecimento das discussões em
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torno dos mesmos.
A proposta de aplicação é de um estudo de caso. Toma-se como referência a taxonomia
apresentada por YIN (2009), que classifica o estudo de caso como um caminho que permite
que os investigadores mantenham as características holísticas e significativas dos eventos da
vida real.
O estudo de caso EatWith norteou-se com base em entrevistas estruturadas aos promotores de
eventos da cidade do Rio de Janeiro. Utilizando-se das informações apresentadas pela
plataforma promotora do serviço, levantou-se que 14 eventos eram ofertados durante o
período de aplicação desta pesquisa, ofertados por oito anfitriões. Sete dos oito anfitriões
foram contatados, porém apenas dois se dispuseram a participar da pesquisa. A amostra foi,
portanto, retirada com base na disponibilidade de participação
O roteiro das entrevistas foi delineado por 16 questões, elaboradas a partir das perspectivas
apresentadas por SENETT (2009) e ZAOUAL (2006) com relação as suas proposições
referentes à organização do trabalho, à flexibilidade, ao sentido de “pertencimento”, às novas
tecnologias e ao aspecto da motivação.
3. Referencial Teórico
O levantamento bibliográfico desse estudo buscou investigar o tema organização do trabalho,
analisando conceitos e filosofias de três distintas escolas. Propõe-se também verificar a
concepção de serviços relacionais, que é um conceito ainda não difundido totalmente, mas
que representou a base do presente estudo.
3.1 Organização do Trabalho
Pode-se definir a organização do trabalho como a “especificação do conteúdo, métodos e
inter-relações entre os cargos, de modo a satisfazer os requisitos organizacionais e
tecnológicos, assim como os requisitos sociais e individuais do ocupante do cargo” (DAVIS,
1966 apud FLEURY, 1980).
BARNES (1986), em seu Estudo de Tempos e Movimentos, enfatiza a tarefa, definindo como
será executada a operação, qual será o local de trabalho e quais serão as medidas desse
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trabalho. MINTZBERG (2003), por sua vez, apresenta uma visão mais holística e
contemporânea quando defende o conceito de Design Organizacional. Segundo o autor, a
atividade humana organizada dá origem a dois importantes conceitos: a divisão do trabalho
em várias tarefas e a coordenação e controle dessas tarefas para que a atividade seja realizada.
A organização do trabalho é um tema estudado desde muito tempo pela sociedade,
apresentando diferentes definições e abordagens. No estudo em questão, serão detalhadas três
formas de organização do trabalho: a Administração Científica, a Escola de Relações
Humanas e a Escola Sócio-Técnica.
3.1.1 Administração Científica
A Administração Científica criada por Frederick W. Taylor, em 1911, propunha a
determinação científica e racionalização da tarefa, em suprimento às “regras pessoais
empíricas que vigoravam no processo”. Seus objetivos, portanto, eram aumentar a
produtividade a acabar com a “vadiagem no trabalho”. Para isso, baseava seu método em
quatro princípios: (1) desenvolvimento de uma verdadeira ciência; (2) seleção científica do
trabalhador; (3) instrução e treinamento do funcionário; (4) cooperação entre direção e
trabalhadores. Além desses princípios, duas de suas principais filosofias eram “existe uma
maneira ótima de se desempenhar uma tarefa para estabelec -la, deve-se examinar a
realidade de forma científica" e “todo trabalhador procura maximizar seus ganhos
monetários" (TAYLOR, 1986).
Nessa forma de organização do trabalho, a produtividade dependeria apenas do desempenho
do operário, que seria garantido por um sistema de incentivos salariais, levando o nível de
produtividade ao seu ponto mais elevado (FLEURY, 1980).
Apesar de produtivo, esse método apresenta como característica a questão da fadiga e tédio no
trabalho. Assim, é uma forma de organização em que o funcionário está alienado do seu
próprio trabalho: ele sabe a tarefa que deve realizar, porém não sabe como isso se encaixa no
todo.
Por fim, outro conceito de suma importância do taylorismo é a separação drástica entre
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projetação e execução do trabalho. Quem planeja não executa e quem executa não planeja
(ZAMBERLAN, 1987). Observa-se portanto, uma perspectiva top-down, que será
questionada por outras escolas.
3.1.2 Escola de Relações Humanas
A Escola de Relações Humanas (ERH) surge para tentar equacionar alguns dos problemas
identificados no taylorismo, principalmente os relacionados à fadiga (ZAMBERLAN, 1987).
A ERH também foi fortemente influenciada pelo experimento da Western Electric, em
Hawthorne, na década de 20, elaborado por Elton Mayo. Assim, foi levantada a hipótese de
que a produtividade seria maior desde que os aspectos psicológicos dos trabalhadores
estivessem adequadamente tratados. O resultado prático do experimento, devido ao pouco
conhecimento existente na época sobre tais aspectos, foi a adoção de medidas com o intuito
de melhorar o ambiente de trabalho (FLEURY, 1980). Tais medidas criadas por Mayo foram,
por exemplo, o desenvolvimento de atividades paralelas, extra jornadas, recreativas, já
evidenciando o conceito que utilizamos hoje de “vestir a camisa” da empresa
(ZAMBERLAN, 1987).
Maslow formulou a tese da exist ncia de uma “hierarquia de necessidades”, que orienta o
comportamento das pessoas. Segundo essa hierarquia, o nível básico das necessidades
humanas seriam as necessidades fisiológicas, seguidas das necessidades de segurança,
necessidades sociais, autoestima, para enfim, com todas essas atingidas, chegar na auto
realização (MASLOW, 1943). Já HERZBERG (1959) estudou os fatores que satisfazem e
motivam os indivíduos nos seus trabalhos, dividindo-os em fatores higiênicos, como políticas,
condições, supervisão, remuneração, status e segurança; e fatores motivacionais, como
conquista, reconhecimento, responsabilidade, crescimento e desenvolvimento.
Para esses autores, a produtividade está diretamente relacionada à satisfação e essa decorre de
fatores intrínsecos ao trabalho que só poderão ser alcançadas por meio de um conjunto de
técnicas, denominadas enriquecimento de cargos. Essas técnicas presumem a rotação de
cargos e a ampliação horizontal (diversas tarefas de mesma natureza) e vertical (tarefas de
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diferentes naturezas).
A ERH surge, portanto, como uma resposta à Administração Científica, adicionando o fator
humano em suas perspectivas.
3.1.3 Escola Sócio Técnica
O enfoque sócio técnico apresenta como propostas:
a) equilíbrio entre o social e o técnico;
b) a organização como um sistema aberto, propiciando intercâmbios;
c) solução ótima não é única e depende da contingência, não havendo necessidade de um
modelo organizacional único.
Os conceitos mais relevantes dessa escola são a autonomia (empowerment) e os grupos
semiautônomos. Ela defende que os trabalhadores encontrem a melhor forma de realizar seu
trabalho e assim o façam de forma a adequar melhor suas experiências.
A EST, portanto, se propõe a abordar os problemas relacionados à organização do trabalho de
forma distinta das outras escolas, tratando-os em uma dimensão coletiva, em que aspectos
sociais e técnicos interagem de forma equânime. Outra diferenciação refere-se à questão da
hierarquização, já que nessa escola a divisão do trabalho de forma hierárquica é substituída
por formas de representação e participação dos trabalhadores nas diversas esferas de decisão
(ZAMBERLAN, 1987).
3.2 Serviços Relacionais
Serviços são elementos híbridos e complexos, feitos de lugares e sistemas de comunicação e
interação, porém, principalmente, de seres humanos e suas organizações. Por serem
complexos, são difíceis de serem projetados, porém cada vez torna-se mais importante existir
uma cultura orientada ao design de serviços. Essa nova cultura do design reflete uma mudança
mais ampla: a transição em curso para uma economia baseada em serviços, redes e
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sustentabilidade (MERONA; SANGIORI, 2011).
Nesse sentido, surgem os conceitos de inovação social e serviços relacionais. Segundo
CIPOLLA & MANZINI (2009), inovação social seria a criação de soluções que fujam ao
padrão de produção e consumo existentes. A partir de uma análise dessas inovações, os
autores sugerem o surgimento de uma nova configuração de serviços, denominada serviços
relacionais, aos quais envolvem intensivas relações interpessoais para se conseguir operar.
Segundo MERONA & SANGIORI (2011), projetos dessa natureza devem explorar e
desenvolver soluções de colaboração em que os usuários se tornam coprodutores de seus
serviços, e onde os recursos são acessados e gerenciados de forma mais distribuída.
Serviços relacionais são, portanto, definidos como aqueles profundamente baseados em
interações interpessoais, favorecendo encontros. Eles estão desafiando a maneira padrão de
concepção e oferta de serviços (CIPOLLA & MANZINI, 2009).
No modelo padrão de serviço, agentes e clientes realizam funções predefinidas. O "ponto de
intersecção" do desempenho do serviço ocorre quando as duas áreas distintas, o provedor e
área do cliente, se encontram o que ocorre, muitas vezes, intermediado por algum elemento,
como um balcão.
Nesses casos, os encontros interpessoais entre os participantes não são considerados um
requisito essencial para o desempenho do serviço satisfatório (CIPOLLA & MANZINI,
2009).
Assim, serviços relacionais exigem responsabilidade mútua, a intimidade e confiança para
trabalhar. Os participantes são envolvidos pessoalmente, eles não representam outra pessoa ou
outras organizações. Segue-se que estas formas de organização são distintas do conceito
habitual dos serviços industrializados (LEVITT, 1972, apud CIPOLLA & MANZINI, 2009).
4. Apresentação do caso EatWith
O serviço relacional analisado constitui-se de uma nova solução apresentada para unir
questões gastronômicas, sociais e culturais. Ele opera por meio de uma plataforma on-line,
projetada para intermediar a integração entre pessoas, idealmente de outras culturas,
organizando-se encontros com propósito gastronômico e social.
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Qualquer pessoa pode cadastrar-se na plataforma e participar da operação do serviço. Para ser
anfitrião, se faz necessário ter interesses e dotes culinários, preparando normalmente pratos
típicos de seus países e regiões e cobrando uma quantia financeira associada a esse serviço,
oferecendo assim, uma experiência cultural gastronômica customizada. Trata-se, portanto, de
uma nova forma de se realizar refeições que não as formas tradicionais: restaurantes ou casa
de familiares/amigos.
O caso envolve relações de troca e confiança de forma intensa, pelo fato de o serviço permitir
a conexão de pessoas que realizam encontros sociais e gastronômicos a serem prestados na
residência do anfitrião que se disponibiliza a receber os hóspedes. Com o intuito de garantir a
reciprocidade do serviço, da mesma forma que os hóspedes elegem o anfitrião para participar
do “evento”, o anfitrião também pode optar por receber ou não determinado hóspede .
O serviço tem como objetivo de proporcionar uma troca de conhecimento cultural local
através de uma experiência gastronômica.
A solução apresenta como sustentação do modelo de negócio a disponibilização do site
(www.eatwith.com) que cadastra os participantes: hóspedes e/ou anfitriões, tendo seu tramite
financeiro intermediado pelo PayPall, e como moedas de circulação do serviço: dólar, euro,
libra, shekel de Israel e iene. O promotor do serviço cobra uma taxa de manutenção de 15%
em cima do valor (individual) apresentado pelo anfitrião para a realização do evento.
Os interessados podem ser cadastrados como hóspedes e também disponibilizar o serviço
como anfitrião.
A Figura 1 explicita o fluxo de operação do serviço em geral, enquanto a Figura 2 evidencia
as etapas para que um usuário se torne um anfitrião, fornecendo uma refeição em sua casa.
Figura 1 - Fluxo de operação do serviço
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Figura 2 - Fluxo de operação do usuário como anfitrião
Esse caso é um exemplo claro de serviço relacional, uma vez que exige responsabilidade
mútua, intimidade e confiança para trabalhar e onde os participantes são envolvidos
pessoalmente. Nesse tipo de serviço um dos elementos cruciais para seu funcionamento é a
questão da segurança e como garanti-la. Justamente por isso, o próprio site cria elementos que
ajudam a garantir a segurança, aumentando a confiança envolvida entre os usuários.
Alguns desses elementos são: entrevista online do anfitrião, com o objetivo de conferir as
informações fornecidas; seguro financeiro fornecido pelo promotor do serviço (equipe
EatWith); verificação pessoal dos promotores da qualidade e segurança dos anfitriões,
anunciando os casos em que o anfitrião foi verificado.
5. Discussão do caso
Na discussão do caso realizar-se-á um recorte em cima das teorias apresentadas por SENETT
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(2009) e ZAOUAL (2006), onde a organização do trabalho terá como vetores de análise: a
operação do trabalho, flexibilidade, tempo, confiança requerida no processo, novas
tecnologias e auto motivação.
De acordo com ZAOUAL (2006) o desenvolvimento diante de uma diversidade de contextos,
através de uma sociedade que é composta por diversas visões de mundo, buscando assim
melhorar seus conhecimentos práticos e teóricos, apresenta o empreendedorismo como o seu
suposto “motor” para o alcance do mesmo. Estando o desenvolvimento atrelado a um
sentimento de pertencimento, sendo, o empreendedorismo uma alternativa de concretizar o
mesmo in situ.
Nessa perspectiva SENETT (2009) discute a relação de trabalho com o trabalhador diante da
sua postura de gestão do tempo, e abre uma discussão em torno dos diferentes
comportamentos tomados por diferentes gerações, que estão relacionadas em cima de um
momento econômico que cada geração vive e da forma que as mesmas impactam nas suas
relações de confiança.
Tendo em vista que os serviços relacionais exigem uma relação de confiança entre as partes
participantes e também apresenta uma discussão com relação a gestão do tempo e
flexibilidade é que foram escolhidos esses autores para a realização do recorte de analise do
presente trabalho de pesquisa.
5.1 Relação entre categorias levantadas e a organização do trabalho
O quadro a seguir evidencia como cada categoria de análise é vista nas três escolas abordadas
nessa pesquisa, segundo o referencial teórico apresentado:
Tabela 1 - Categorias de Análise x Escolas de Organização do Trabalho
Administração
Científica
Escola de
Relações
Humanas
Escola Sócio
Técnica
Autonomia Pouquíssimo grau
de autonomia e de
compreensão do
trabalho como um
todo. Gerência
determina melhor
Ainda não há uma
autonomia de fato,
porém os
trabalhadores já
conseguem
perceber suas
Amplo grau de
autonomia, já que
grupos
semiautônomos
definem o método
para realizar suas
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maneira de se
realizar as tarefas e
os funcionários
devem segui-la
atividades como
execução de tarefas
conclusivas
tarefas
Confiança Parâmetro pouco
presente,
aconteciam
contratos de
trabalho e o
funcionário deveria
fazer o que a
gerência
determinasse
Maior preocupação
com o lado
humano, aumenta-
se o grau de
confiança
começam-se a criar
grupos internos e a
introduzir
elementos que
aumentem a
satisfação no
trabalho
Maior grau de
confiança gerência
permite que o
trabalhador
determine seu
próprio método de
trabalho
Pertencimento Muito baixo, pois
quem executa as
tarefas não é quem
as planeja
Maior grau de
pertencimento
devido ao
desenvolvimento
de atividades
paralelas, que
contribuem para
maior satisfação do
trabalhador
É mais provável
que haja um maior
grau de
pertencimento, uma
vez que os
funcionários
decidem como
desejam trabalhar,
o trabalho mais
pessoal,
aproximando as
atividades de
planejamento e
operação
Novas tecnologias No taylorismo,
proposto na década
de 10, apesar de já
existir elementos
automatizados, a
tecnologia ainda
era pouco utilizada
No contexto da
ERH, por volta dos
anos 20, já existia
uma maior
presença de
tecnologia, porém a
escola pouco se
baseava nesse
avanço tecnológico
A EST já se insere
em um contexto de
maior avanço
tecnológico, entre
os anos 50 e 70,
entretanto, pouco
baseia seus
princípios nesse
avanço.
Automotivação/
auto realização
Estão atreladas à
maximização dos
ganhos monetários
apenas
Há maior
automotivação e
realização, uma vez
que os funcionários
estão mais
Sistema aberto que
propicia
intercâmbios,
funcionários se
sentem mais
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satisfeitos com o
trabalho, tanto
fisicamente como
psicologicamente
motivados a
trabalhar e mais
auto realizados,
lado técnico e
social são
considerados
5.2 Análise do estudo de caso
No cruzamento entre as categorias de análise e as escolas levantadas, identifica-se uma
aproximação do caso em questão com a Escola Sócio Técnica, considerando-se os parâmetros
analisados nesta pesquisa.
Tabela 2 - Categorias de Análise no caso EatWith
EatWith
Autonomia Há autonomia no serviço, uma vez que os usuários são
responsáveis por tomar todas as decisões. As pessoas decidem
se querem participar como anfitriões ou hóspedes (ou ambos),
caso sejam os anfitriões: decidem qual será o cardápio
proposto, quanto irão cobrar por aquele serviço, que dias deseja
oferece-lo, quantas pessoas irá receber por evento, além de
determinar se quer receber os hóspedes que solicitaram o
serviço ou não.
Não existe sistema de metas exigidas pelos promotores do
serviço, Fazendo com que o anfitrião forneça o serviço da
forma que melhor julgar. O anfitrião é inteiramente responsável
pelas atividades que realiza, desde as etapas de planejamento
das tarefas, até a sua execução.
Confiança O serviço relacional exige elevado grau de confiança entre os
usuários por envolver relações pessoais. O promotor do caso é
responsável por fornecer mecanismos que diminuam a
sensação de insegurança que alguns usuários, podem sentir
como: seguro, verificação do anfitrião, dentre outros exemplos.
Os entrevistados declararam sentirem-se seguros utilizando o
serviço
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Percebe-se que existe um alto grau de confiança entre os
usuários desse serviço e que esse é um parâmetro que merece
atenção dos promotores para que ele funcione com sucesso.
Pertencimento Consideravelmente elevado e está atrelado diretamente à
autonomia que o mesmo propicia.
Ações relacionadas ao controle total das etapas que envolvem a
preparação e planejamento do evento fazem com que haja um
elevado grau de pertencimento, identificado pela declaração de
um sentimento de proprietário do negócio, por poder tomar as
decisões que deseja e trabalhar da forma que melhor lhe
convém.
Novas tecnologias Esse aspecto está atrelado ao contexto histórico-econômico e
ao tipo específico da organização.
No caso estudado, as novas tecnologias são um parâmetro
essencial, uma vez que todo o serviço está baseado nelas. O uso
cada vez mais comum da internet para a realização de serviços
contribui para que surjam ideias inovadoras, como o desse
caso. Por meio de um maior contato virtual, propiciado pelo
advento de redes sociais, amplia-se a possibilidade de
existência de serviços como esse.
O modelo do serviço baseado em uma plataforma on-line é que
decorre implicações como: o elevado grau de autonomia e
flexibilidade do trabalho, assim como a questão da confiança
envolvida, já que trata-se de um meio onde a única referência
das pessoas são as disponíveis nas plataformas.
Todo o controle existente no trabalho ocorre por meio virtual.
Os promotores do EatWith controlam os tempos de resposta
dos chats deixados para os anfitriões, assim como verificam os
feedbacks deixados pelos hóspedes acerca do serviço utilizado.
Assim, cria-se uma rede, propiciada pelo advento de novas
tecnologias, em que toda a organização do trabalho é
embasada.
Automotivação/
auto realização
Observou-se alto grau de automotivação e auto realização na
prestação desse serviço, principalmente devido a elevada
autonomia que ele proporciona, assim como o elevado grau de
pertencimento que os usuários sentem.
Alguns anfitriões não possuem relação profissional com a
gastronomia, porém gostam de atividades relacionadas, ficando
auto realizados em poder ter uma receita realizando uma tarefa
que lhes traga prazer, o que os torna motivados a realizar tais
atividades.
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6. Conclusão
Experiências diferenciadas se enquadram nas demandas voláteis discutidas por SENNET
(2009) e se apresentam como uma das principais características dos sistemas flexíveis de
produção, permitindo responder com rapidez as mudanças do ambiente que participa.
Este estudo vai de encontro aos conceitos difundidos por SENNET (2009) referentes a uma
nova organização do trabalho que descentraliza o poder, proporcionando às pessoas o controle
de suas atividades.
O serviço está desprendido de qualquer relação de empregador versus empregado entre os
anfitriões participantes com os responsáveis pela disponibilização da plataforma, assim como
não estabelece mecanismos de controle para o monitoramento do desenvolvimento dos seus
eventos, deixando os anfitriões e demais participantes da rede livres para exercerem as
atividades quando considerarem pertinentes.
Enquadra-se assim conceito de sítio de pertencimento apresentado por ZAOUAL (2006),
onde cada sítio é uma entidade imaterial que impregna o conjunto da vida em dado meio, que
possui uma caixa preta composta por suas crenças, mitos, valores e experiências passadas
conscientes ou inconscientes ritualizadas.
Pode-se concluir que o caso apresenta a possibilidade de atuar dentro do seu sítio de
pertencimento de rotina, hábitos e conhecimentos, permitindo aos atores envolvidos um maior
engajamento e identificação. Contudo com uma racionalidade humanizada já que a situa
dentro do espaço vivido pelos atores (ZAOUAL, 2006).
A inovação do caso estudado vai ao encontro dos sítios utilizando-se do empreendedorismo
como uma alternativa de diversificação da renda.
De acordo com ZAOUAL (2006) o essencial do sítio é que se trate de algo que reúna homens,
em alguma escala, em torno de um sentido e de um sistema de crenças que os motiva e
coordenam. Esse sentido de motivação e coordenação se apresenta como sendo uma
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alternativa para exercer uma atividade gratificante, possibilitando a troca de experiências
interpessoais, atrelado a uma arrecadação financeira. Conclui-se que o promotor do serviço
relacional estudado não busca hegemonizar práticas, mas sim abrir momentos de comunhão e
troca de forma que amplie a base de experiência entre os participantes, valorizando assim a
diversidade entre os envolvidos, tendo como elemento enriquecedor as diversas formas de
organização do trabalho que podem estar incutidas dentro do funcionamento do mesmo.
Levando assim a identificar uma possível relação do serviço com as teorias de sítio de
pertencimento apresentadas no recorte desta pesquisa.
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pós-global. Tradução de Michel Thiollet –Rio de Janeiro: DP&A: Consulado Geral da
França: COPPE/ UFRJ, 2006.