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DEFESA DE DISSERTAÇÃO MESTRANDO: MÁRCIO SANCTOS COSTA (8° TURMA DO MESTRADO SMI-IMIP) DISSERTAÇÃO: "EVOLUÇÃO DOS NÍVEIS TENSIONAIS NO PUERPÉRIO EM MULHERES COM PRÉ-ECLÂMPSIA GRAVE ATENDIDAS EM UM HOSPITAL TERCIÁRIO: ESTUDO DE COORTE" ORIENTADORA: Profª. MELANIA MARIA RAMOS DE AMORIM CO-ORIENTADORA: Profª. LEILA KATZ BANCA EXAMINADORA : LINHA DE PESQUISA: ESTUDO DE SAÚDE DA MULHER DIA : 27.02.04 (SEXTA-FEIRA) LOCAL: AUDITÓRIO GERTRUDE LUTZ HORÁRIO: 10:30 horas A Coordenação do Curso Prof. FELIPE RINALD B. LORENZATO (IMIP) Prof. OLIMPIO BARBOSA DE MORAES FILHO (UPE) Prof. JOÃO GUILHERME B. ALVES (IMIP)

DEFESA DE DISSERTAÇÃO - imip.org.br05101020;... · mulheres com pré-eclâmpsia não apresentem a segunda onda de migração trofoblástica nas fases iniciais do segundo trimestre

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DEFESA DE DISSERTAÇÃO MESTRANDO: MÁRCIO SANCTOS COSTA (8° TURMA DO MESTRADO SMI-IMIP) DISSERTAÇÃO: "EVOLUÇÃO DOS NÍVEIS TENSIONAIS NO PUERPÉRIO EM MULHERES COM PRÉ-ECLÂMPSIA GRAVE ATENDIDAS EM UM HOSPITAL TERCIÁRIO: ESTUDO DE COORTE" ORIENTADORA: Profª. MELANIA MARIA RAMOS DE AMORIM CO-ORIENTADORA: Profª. LEILA KATZ BANCA EXAMINADORA : LINHA DE PESQUISA: ESTUDO DE SAÚDE DA MULHER DIA : 27.02.04 (SEXTA-FEIRA) LOCAL: AUDITÓRIO GERTRUDE LUTZ HORÁRIO: 10:30 horas A Coordenação do Curso

Prof. FELIPE RINALD B. LORENZATO (IMIP)

Prof. OLIMPIO BARBOSA DE MORAES FILHO (UPE)

Prof. JOÃO GUILHERME B. ALVES (IMIP)

Ofício nº 035/2004 Recife, 26 de fevereiro de 2004 Ilmo. Sr. Prof. Olimpio Barbosa de Moraes Filho Prezada Senhora, Tenho o prazer de convidar V.Sa., para compor a banca examinadora da tese

“EVOLUÇÃO DOS NÍVEIS TENSIONAIS NO PUERPÉRIO EM MULHERES COM

PRÉ-ECLÂMPSIA GRAVE ATENDIDAS EM UM HOSPITAL TERCIÁRIO:

ESTUDO DE COORTE”, do mestrando Márcio Sanctos Costa, a ser efetuada no

Instituto Materno Infantil de Pernambuco - IMIP, Auditório Gertrude Lutz, no dia 27

de fevereiro do corrente exercício, às 10:30 horas.

Os demais membros da comissão são os Professores João Guilherme Bezerra

Alves e Felipe Rinald B. Lorenzato.

Atenciosamente, João Guilherme B. Alves Coordenador do Mestrado

C E R T I D Ã O

CERTIFICO, para os devidos fins, que ao vigésimo sétimo dia do mês de

fevereiro do ano dois mil e quatro (27.02.2004), às 10:30 horas, no Auditório

Gertrude Lutz, foi realizada a defesa pública da dissertação do aluno MÁRCIO

SANCTOS COSTA, intitulada “EVOLUÇÃO DOS NÍVEIS TENSIONAIS NO

PUERPÉRIO EM MULHERES COM PRÉ-ECLÂMPSIA GRAVE ATENDIDAS EM

UM HOSPITAL TERCIÁRIO: ESTUDO DE COORTE”, sendo a banca examinadora

composta pelos professores: Prof. Felipe Rinald Babosa Lorenzato, Prof. João

Guilherme Bezerra Alves, e Prof. Olimpio Barbosa de Moraes Filho , tendo sido

APROVADA, fazendo, assim jus ao Grau de Mestre em Saúde Materno Infantil.

Recife, 03 de março de 2004.

1

I. INTRODUÇÃO

HIPERTENSÃO E GRAVIDEZ: ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS

A hipertensão acomete cerca de um bilhão de pessoas em todo o mundo, e com o

envelhecimento da população a prevalência de hipertensão arterial sistêmica (HAS) tende a

aumentar. A hipertensão representa um fator de risco independente para doença

cardiovascular, que constitui a causa mais freqüente de óbito no mundo. Ensaios clínicos

mostram que o tratamento com drogas anti-hipertensivas está associado a uma redução de

35 a 40% na incidência de acidentes vasculares cerebrais (AVC), 20 a 25% em infarto

agudo do miocárdio (IAM) e de mais de 50% em insuficiência cardíaca na população em

geral (SEVENTH REPORT OF THE JOINT NATIONAL COMMITTEE ON

PREVENTION, DETECTION, EVALUATION AND TREATMENT OF HIGH BLOOD

PRESSURE – THE JNC 7 REPORT, 2003).

A ocorrência de hipertensão na gravidez representa fenômeno de especial interesse

por se tratar de uma população em geral jovem, sem outras morbidades associadas.

Dependendo dos níveis pressóricos definidos como “normais”, a hipertensão está presente

em 1% a 5% das mulheres em idade fértil. A prevalência aumenta com o avanço da idade e

a concomitância de diabetes mellitus, obesidade, doença renal; além disso, também é maior

na raça negra, chegando a 20% em algumas populações (GUIBERT E FRANCO, 1996).

Dados do “Third National Health and Nutrition Examination Survey” realizado nos

Estados Unidos estimam que a prevalência de hipertensão na população acima de 18 anos é

de 24% (THE THIRD NATIONAL HEALTH AND NUTRITION EXAMINATION

SURVEY, 1995).

Por outro lado, a hipertensão está presente em 6% a 10% das gestações (ACOG

TECHNICAL BULLETIN, 1996; DULEY et al., 1992; SAMADI et al., 1996). Nesses

2

casos, a hipertensão pode estar presente antes da gestação ou pode ser diagnosticada pela

primeira vez durante a gravidez. Além disso, em algumas mulheres a hipertensão pode se

tornar evidente apenas durante o parto ou mesmo no puerpério (SIBAI, 2003). A

freqüência global destas manifestações hipertensivas varia de acordo com a população

estudada, sendo maior nos hospitais de referência e em determinadas regiões do mundo

(SAMADI et al., 1996).

HIPERTENSÃO E GRAVIDEZ: CLASSIFICAÇÃO

De acordo com Sibai (2003), o termo “hipertensão e gravidez” é geralmente usado

para descrever um largo espectro de pacientes que podem ter desde apenas elevações leves

da pressão arterial até hipertensão grave com disfunção de múltiplos órgãos. Estas

manifestações podem ter em comum alguns achados clínicos como hipertensão e

proteinúria, porém resultando de diferentes causas subjacentes, como hipertensão crônica,

doença renal ou pré-eclâmpsia pura.

Até recentemente a terminologia usada para descrever as síndromes hipertensivas

da gravidez era confusa e inconsistente (SIBAI, 2003), o que tornava a comparação entre

estudos praticamente impossível. No ano de 2000 um grande consenso reunindo diversos

especialistas foi realizado, considerando as evidências científicas correntemente

disponíveis, e foi publicada uma nova classificação que deve contribuir para uma distinção

mais clara das diversas formas clínicas da hipertensão na gravidez (REPORT OF THE

NATIONAL HIGH BLOOD PRESSURE EDUCATION PROGRAM WORKING

GROUP ON HIGH BLOOD PRESSURE IN PREGNANCY, 2000).

De acordo com este consenso, as síndromes hipertensivas da gravidez são

classificadas como 1) hipertensão crônica; 2) pré-eclâmpsia – eclâmpsia; 3) pré-eclâmpsia

superposta à hipertensão crônica e 4) hipertensão gestacional.

3

Nos casos de hipertensão crônica a mulher já é portadora de hipertensão, e a

gestação não modifica seu curso clínico. É definida como a hipertensão (pressão arterial

sistólica ≥ 140 mmHg e/ou pressão arterial diastólica ≥ 90 mmHg) presente e observada

antes da gravidez ou antes da 20ª semana de gravidez, incluindo também os casos em que a

hipertensão é diagnosticada pela primeira vez durante a gravidez e não ocorre a resolução

pós-parto. Sob esta epígrafe, incluem-se tanto os casos de hipertensão essencial (primária)

como de hipertensão secundária (feocromocitoma, hipertensão renovascular, nefropatia e

outras) (REPORT OF THE NATIONAL HIGH BLOOD PRESSURE EDUCATION

PROGRAM WORKING GROUP ON HIGH BLOOD PRESSURE IN PREGNANCY,

2000).

A hipertensão na gravidez é definida como pressão arterial sistólica (PAS) maior ou

igual que 140 mmHg e/ou pressão diastólica maior ou igual que 90 mmHg. Existiam até

recentemente controvérsias em se estabelecer que som de Korotkoff seria determinante da

pressão arterial diastólica (PAD), se o quarto (AUSTRALASIAN SOCIETY FOR THE

STUDY OF HYPERTENSION IN PREGNANCY, 1993; HELEWA et al., 1997) ou o

quinto (NATIONAL HIGH BLOOD PRESSURE EDUCATION PROGRAM, 1990;

BROWN et al., 2000). O “National High Blood Pressure Education Group”, decidiu pelo

quinto som de Korotkoff (REPORT OF THE NATIONAL HIGH BLOOD PRESSURE

EDUCATION PROGRAM WORKING GROUP ON HIGH BLOOD PRESSURE IN

PREGNANCY, 2000), baseado também em evidências recentes (BROWN et al., 1998).

A pré-eclâmpsia (P.E.) é caracterizada por hipertensão e proteinúria (≥ 300mg na

urina de 24 horas) após 20 semanas de gestação em mulheres hígidas antes da gravidez.

Estes níveis de proteinúria nas 24 horas geralmente se correlacionam com o exame

qualitativo (de fita) de 30mg% ou 1+, embora se recomende que o diagnóstico se baseie,

sempre que possível, na amostra de 24 horas. O edema não faz mais parte da classificação,

4

uma vez que ocorre em muitas mulheres normais (REPORT OF THE NATIONAL HIGH

BLOOD PRESSURE EDUCATION PROGRAM WORKING GROUP ON HIGH

BLOOD PRESSURE IN PREGNANCY, 2000; SIBAI, 2002).

A pré-eclâmpsia geralmente acarreta riscos maiores para o binômio mãe-feto,

comprometendo diversos órgãos e sistemas, com o achado característico de vasoespasmo

arteriolar generalizado. A eclâmpsia representa uma condição mais grave dentro do

espectro da pré-eclâmpsia, e é definida pela presença de convulsões em mulheres com

diagnóstico de pré-eclâmpsia, que não podem ser atribuídas a outras causas. Geralmente as

pacientes apresentam manifestações da iminência de eclâmpsia (cefaléia, epigastralgia e

distúrbios visuais) antes das convulsões (REPORT OF THE NATIONAL HIGH BLOOD

PRESSURE EDUCATION PROGRAM WORKING GROUP ON HIGH BLOOD

PRESSURE IN PREGNANCY, 2000).

Quando a pré-eclâmpsia se superpõe à hipertensão já existente, a hipertensão prévia

tem o seu curso modificado pela gravidez, agravando-se tanto o prognóstico materno

quanto o fetal. O diagnóstico é feito a partir do surgimento de proteinúria em mulheres

com hipertensão prévia diagnosticada antes de 20 semanas e sem proteinúria; assim como

nas mulheres com hipertensão e proteinúria antes de 20 semanas por qualquer dos

seguintes achados: aumento súbito da pressão arterial em gestantes previamente

controladas; aumento súbito da proteinúria; trombocitopenia (abaixo de 100.000/mm3) e

elevação das enzimas hepáticas. Geralmente a gravidade destes casos é maior do que na

pré-eclâmpsia isolada, e bem pior que na hipertensão crônica sem superposição (SIBAI,

2003).

A hipertensão gestacional é caracterizada pela presença de níveis pressóricos

elevados após 20 semanas de gravidez, na ausência de qualquer manifestação como

proteinúria. Este é um diagnóstico não específico que inclui tanto mulheres com pré-

5

eclâmpsia que ainda não desenvolveram proteinúria quanto mulheres que realmente não

têm pré-eclâmpsia. Neste último caso, pode haver hipertensão crônica não diagnosticada (o

que pode ser freqüente quando não se conhecem os valores da pressão arterial abaixo de 20

semanas) ou realmente uma hipertensão induzida pela gravidez, sem a proteinúria. O

diagnóstico de certeza é retrospectivo, determinado na consulta com 12 semanas de pós-

parto. Se não ocorreu pré-eclâmpsia e a pressão voltou ao normal, o diagnóstico é de

hipertensão transitória. Caso os níveis tensionais não voltem ao normal, caracteriza-se a

hipertensão crônica (SIBAI, 2002).

As três formas mais comuns de hipertensão durante a gravidez são representadas

pela hipertensão gestacional aguda, a pré-eclâmpsia e a hipertensão essencial crônica

(SIBAI, 2003).

HIPERTENSÃO E MORTE MATERNA

A hipertensão constitui a terceira causa de morte materna em todo o mundo,

ocorrendo anualmente cerca de 50.000 mortes maternas por eclâmpsia (OMS, 1999). As

síndromes hipertensivas são a segunda causa de morte materna nos Estados Unidos, onde

cerca de 18% destes casos decorrem de complicações de hipertensão induzida pela

gestação (ACOG TECHNICAL BULLETIN, 1996; KOONIN et al., 1997). Mesmo em

países desenvolvidos a hipertensão continua provocando mortes maternas, em geral

decorrentes de complicações como edema agudo de pulmão, eclâmpsia, insuficiência renal

aguda, síndrome HELLP (“Haemolysis, Elevated Liver enzymes, Low Platelets”),

descolamento prematuro de placenta (DPPNI), coagulação intravascular disseminada

(CIVD) e embolia pulmonar (ONRUST et al., 1999).

No Brasil, a hipertensão é responsável por 29% dos óbitos maternos,

correspondendo à principal causa de morte no ciclo gravídico-puerperal (MINISTÉRIO

6

DA SAÚDE, 1998). Na cidade do Recife, 19% dos casos de morte materna são por

hipertensão, a grande maioria em mulheres com mais de 30 anos, multíparas e hipertensas

crônicas. Estas condições podem ser facilmente identificadas no pré-natal, adotando-se a

terapêutica adequada para minimizar as repercussões sobre o binômio mãe-feto, incluindo

o internamento precoce e o parto prematuro terapêutico em centros de referência (COSTA

et al., 2002).

PRÉ-ECLÂMPSIA: FISIOPATOLOGIA

A pré-eclâmpsia constitui uma síndrome específica da gestação que reduz a

perfusão placentária e posteriormente de outros órgãos, relacionando-se com vasoespasmo

e ativação da cascata de coagulação (MATTAR E SIBAI et al., 1999).

A real etiologia da pré-eclâmpsia persiste por ser desvendada. Atualmente, a

maioria dos autores considera a placenta o foco patogênico para todas as manifestações da

pré-eclâmpsia, mesmo porque o parto representa a cura definitiva para o processo.

Acredita-se que, por mecanismo possivelmente ligado a causas imunogenéticas, as

mulheres com pré-eclâmpsia não apresentem a segunda onda de migração trofoblástica nas

fases iniciais do segundo trimestre da gravidez. Em mulheres normais, esta onda é

responsável pela destruição da capa músculo-elástica das arteríolas espiraladas que nutrem

o leito placentário, transformando-as em vasos flácidos, não-reativos aos agentes

vasoconstrictores e capazes de acomodar um aumento de 10 vezes do fluxo sanguíneo

uterino (PIJNENBORG, 1990). A circulação útero-placentária passa a constituir um

sistema de alto fluxo e baixa resistência.

Existem consideráveis evidências de que a invasão trofoblástica é incompleta em

mulheres com pré-eclâmpsia, de forma que persiste a camada muscular das arteríolas

espiraladas (ZHOU et al., 1993), permanecendo portanto sensíveis aos estímulos

7

vasoativos da periferia. Nestes casos o leito útero-placentário mantém um padrão de baixo

fluxo e alta resistência. Esta “falha da placentação” constitui, possivelmente, o substrato

morfológico da perfusão placentária diminuída na pré-eclâmpsia, acarretando isquemia

útero-placentária.

A isquemia útero-placentária parece ser o evento inicial na seqüência de eventos

fisiopatológicos que ocorrem na pré-eclâmpsia. Em decorrência da isquemia, surgem

diversas e complexas alterações envolvendo os mais variados mediadores, como

prostaglandinas (aumento do tromboxano e redução da prostaciclina), endoperóxidos

lipídicos, óxido nítrico, radicais livres, citocinas inflamatórias e lipoproteínas, além de

disfunção endotelial (DEKKER E SIBAI, 1998). Todas estas alterações determinam

alterações da reatividade vascular e estão associadas ao evento universal da pré-eclâmpsia,

qual seja o vasoespasmo arteriolar generalizado.

As pacientes com pré-eclâmpsia usualmente não demonstram hipertensão franca até

a segunda metade da gestação, mas influências vasoconstrictoras podem se apresentar

desde cedo. Alterações na reatividade vascular podem ser detectadas por volta da 20ª

semana de gestação. A pressão elevada em pacientes com pré-eclâmpsia se deve

principalmente à reversão da vasodilatação característica da gestação normal para um

aumento da resistência vascular periférica (CONRAD et al., 1999; VISSER et al., 1991).

Normalmente, a vasculatura de gestantes se apresenta com uma responsividade diminuída

aos vasopressores (aminas, peptídeos e especialmente angiotensina II). Os vasos de

mulheres com pré-eclâmpsia, contudo, se tornam hiperresponsivos a esses hormônios. Os

mecanismos de alteração da reatividade vascular permanecem obscuros. Pesquisas se

concentram em alterações da taxa de prostanóides vasodilatadores e vasoconstrictores, uma

vez que diversas modificações sugerem diminuição na produção de prostaciclinas e

aumento na de tromboxano (MILLS et al., 1999; WALSH, 1985).

8

Recentemente, alguns autores têm sugerido que o potencial vasoconstrictor de

substâncias pressoras (angiotensina II, endotelina) está aumentado na pré-eclâmpsia como

conseqüência da diminuição da atividade da enzima óxido nítrico–sintetase e dos fatores de

relaxamento derivados do endotélio, óxido nítrico dependentes e independentes (BAYLIS

et al., 1998; BEGUM et al., 1996).

Vários órgãos e sistemas estão envolvidos na doença. A hipoperfusão uterina é a

manifestação local desse desarranjo fisiológico que é prejudicial para o feto, porque

determina hipóxia e acidose. A insuficiência útero-placentária crônica resulta em elevada

freqüência de retardo do crescimento fetal. Os achados histopatológicos da placenta

evidenciam quadro de aterosclerose aguda (KONG, 1991).

Enquanto o coração raramente é afetado, o envolvimento renal é um dos

marcadores da síndrome, e a endoteliose capilar glomerular constitui a lesão renal

característica. Ocorre uma diminuição da taxa de filtração glomerular (TFG), do fluxo

sanguíneo renal (FSR) e da fração de filtração. Insuficiência renal raramente é grave e

quando ocorre geralmente está associada a DPPNI ou CIVD. Necrose tubular aguda (NTA)

ou cortical (NTC) podem estar associadas à pré-eclâmpsia. O clearence fracionado dos

uratos está diminuído, produzindo hiperuricemia, um importante marcador da doença

(CONRAD et al., 1999). Proteinúria pode aparecer tardiamente. Pré-eclâmpsia se associa

ainda com hipocalciúria, contrastando com o aumento da excreção urinária de cálcio

observada na gestação normal (TAUFIELD et al., 1987).

Algumas das formas graves não se acompanham de edema, e mesmo quando este é

importante o volume plasmático é mais baixo do que o de uma gestação normal, existindo

evidências de hemoconcentração decorrente do extravasamento de albumina para o

interstício. A pressão venosa central (PVC) e a pressão capilar pulmonar (PCP) estão

freqüentemente mais baixas do que o valor normal (SIBAI, 2002).

9

Edema pulmonar ocorre em 2,9% das pacientes com pré-eclâmpsia grave (SIBAI et

al., 1987). Na maioria das vezes é não-cardiogênico, por lesão capilar-alveolar ou redução

da pressão coloidosmótica do plasma. O nível de sódio filtrado, embora diminuído em

relação a uma gestação normal, ainda está acima do nível medido em uma mulher não-

grávida. Supressão do sistema renina angiotensina aldosterona (SRAA) representa um

achado bem documentado nestas pacientes (AUGUST et al., 1990), podendo ser causa da

maior excreção de sódio.

Trombocitopenia raramente é grave, representando a alteração hematológica mais

comum. Ocasionalmente os produtos de degradação da fibrina estão aumentados. Os níveis

de fibrinogênio geralmente não se elevam, a não ser que também esteja presente DPPNI

(BARRON et al., 1999). Uma contagem plaquetária abaixo de 100.000 células/mm3 é sinal

de doença grave, porém geralmente não se associa com maior sangramento. A causa da

trombocitopenia não é clara, sugerindo-se que se deva ao depósito de plaquetas no

endotélio lesado e ao conseqüente processo imunológico desencadeado.

No fígado, os achados são hemorragia periportal, lesões isquêmicas e depósito de

fibrina. As alterações vão desde necrose hepatocelular leve, com níveis de enzimas

hepáticas alterados, até síndrome HELLP (hemólise, aumento das enzimas hepáticas, e

trombocitopenia <100.000/mm3) e, nas formas mais graves, sangramento subcapsular e

ruptura hepática. Esta última se associa com significante morbimortalidade materna

(SIBAI et al., 1994; WEINSTEIN, 1982).

PRÉ-ECLÂMPSIA: MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

A pré-eclâmpsia pode se apresentar clinicamente na forma leve ou grave. Na

maioria dos casos a progressão de uma para a outra é lenta, mas pode ser rápida, passando

10

à forma grave dentro de poucos dias ou semanas. No entanto, a progressão para a forma

grave não é obrigatória (SIBAI, 2002).

De acordo com o último consenso, define-se como pré-eclâmpsia grave a presença

de qualquer um dos seguintes sinais ou sintomas, em uma gestante com hipertensão e

proteinúria: PAS ≥ 160 mmHg e/ou PAD ≥ 110 mmHg (persistindo após repouso de 30

minutos em decúbito lateral esquerdo); proteinúria igual ou superior a 2g/ 24 horas ou 3+

ou mais na fita; manifestações visuais (turvação visual, escotomas, diplopia e amaurose) e

cerebrais (cefaléia, obnubilação, torpor e coma); sinais e sintomas de iminência de

eclâmpsia (manifestações visuais e/ou cerebrais persistentes, dor em hipocôndrio direito

e/ou epigastralgia, oligúria/cilindrúria e exaltação dos reflexos tendinosos); creatinina > 1,2

mg%; achados característicos da síndrome HELLP (isolados ou em conjunto); edema

agudo de pulmão ou cianose; oligúria (menor que 400 ml/24 horas) e achados

fundoscópicos: papiledema, exsudatos, hemorragia (REPORT OF THE NATIONAL

HIGH BLOOD PRESSURE EDUCATION PROGRAM WORKING GROUP ON HIGH

BLOOD PRESSURE IN PREGNANCY, 2000).

A principal alteração do sistema nervoso central ligada à doença é a eclâmpsia, que

na verdade é a fase convulsiva da pré-eclâmpsia, importante causa de mortalidade materna.

Outras manifestações freqüentes são a cefaléia e os distúrbios visuais (visão borrada,

escotomas, e raramente cegueira cortical). Imagens de ressonância magnética têm

mostrado sinais de isquemia global induzida pelo vasoespasmo (MORRIS et al., 1997).

A Síndrome HELLP constitui uma particular manifestação da pré-eclâmpsia em

que se acentuam alguns dos aspectos fisiopatológicos da doença: anemia hemolítica

microangiopática (caracterizada pela presença de esquistócitos e outras formas anormais

no esfregaço de sangue periférico), trombocitopenia (plaquetas abaixo de 100.000/mm3) e

alterações da função hepática, refletindo tanto isquemia como necrose (elevação das

11

enzimas hepáticas, particularmente da aspartato-aminotranferase (AST), acima de 70U). A

síndrome pode ser diagnosticada apenas pelas alterações laboratoriais, mas nos casos

graves associa-se a manifestações clínicas como dor persistente no hipocôndrio direito e

manifestações hemorrágicas. Em alguns casos, pode ocorrer hematoma hepático

subcapsular, cuja ruptura constitui um quadro agudo e geralmente fatal (BARTON e

SIBAI, 1992; MARTIN et al., 1999; SIBAI et al., 1993).

HIPERTENSÃO E GRAVIDEZ: PROGNÓSTICO EM LONGO PRAZO

As síndromes hipertensivas têm prognósticos diferentes. Embora hipertensão seja

um fator de risco importante para a formação de placas de ateroma, por conseguinte para o

desenvolvimento de respostas adaptativas do ventrículo esquerdo e pelo aumento da

resistência pré-capilar (PERLOFF, 1998), as gestações nas mulheres portadoras de

hipertensão essencial que não desenvolvem pré-eclâmpsia têm excelente prognóstico

(SEELY, 1999). Entretanto, mulheres portadoras de hipertensão têm risco quatro vezes

maior de desenvolver pré-eclâmpsia/eclâmpsia superposta, ou seja, hipertensão agravada

pela gestação. A possibilidade de gravidez em idades mais avançadas, a maior sobrevida

de mulheres diabéticas do tipo 1 (insulino-dependentes), o tabagismo e a obesidade podem

constituir fatores de risco para complicações cardiovasculares em gestantes (KENDRICK

et al., 1996; KITTNER et al., 1996, VRIZ et al., 1997).

Hipertensão gestacional pode ser a primeira manifestação de uma hipertensão não

diagnosticada anteriormente ou ser o primeiro sinal de pré-eclâmpsia. Uma mulher que

desenvolva hipertensão após 20 semanas deve ter acompanhamento rigoroso, mas se não

surgirem sinais ou sintomas de pré-eclâmpsia, medicação anti-hipertensiva não é

necessária. O aumento dos níveis pressóricos não é deletério para gravidez, retornando

habitualmente ao normal por volta de seis semanas após o parto (PERLOFF, 1998).

12

Nos casos de pré-eclâmpsia/eclâmpsia, verifica-se uma conotação prognóstica

diferente. Tal como na hipertensão essencial, não há uma causa única, mas multifatorial

para o seu desenvolvimento. Em 1925, Berkeley e Bonney já descreviam que a

“albuminúria aguda produzida pela gravidez – eclâmpsia”, classificada em período pré-

eclâmptico, período eclâmptico e período pós-eclâmptico tem grave prognóstico, com uma

mortalidade de aproximadamente 25% (BERKELEY & BONNEY, 1925).

O risco de desenvolvimento de hipertensão e a expectativa de vida em mulheres

que desenvolveram P.E. sem história prévia de hipertensão ou outros fatores de risco é

igual ao da população em geral, com aproximadamente 2% de chance de desenvolverem

P.E. na gestação subseqüente (CHESLEY et al., 1978; JONSDOTTIR et al., 1995). Em

compensação, as mulheres que desenvolvem P.E. na segunda gestação têm risco

aumentado de desenvolver hipertensão, sobretudo se houver P.E. com menos de 28

semanas de gestação (quanto mais precoce a idade gestacional, maior o risco de

recorrência de P.E. nas gestações subseqüentes), chegando a 55% em algumas séries

(NESS et al., 1996; SIBAI et al., 1992). Quando avaliadas 20 a 40 anos após a primeira

gravidez, a prevalência de hipertensão era aproximadamente o dobro da população controle

(PALLER et al., 1998).

Gestantes com fatores de risco como diabetes, doenças renais e obesidade que

desenvolvem P.E. têm maior chance de novo episódio. O risco relativo de gestantes obesas

desenvolverem PE é de 2,3 a 5,5 (WOLFE et al., 1991). Outros estudos, como o de Adams

e MacGillivray de 1961, corroboram com uma possível associação entre hipertensão na

gravidez e o prognóstico cardiovascular destas mulheres. Mais recentemente, Jonsdottir

revisou 7543 prontuários e demonstrou que mulheres com passado de hipertensão na

gestação têm risco aumentado de doença coronariana quando comparadas à população

geral. Hannaford publicou em 1997 estudo onde se evidenciava risco relativo para HAS de

13

2,35 e para IAM de 2,24 em mulheres com passado de HAS na gravidez. Um achado

interessante deste estudo foi o de menor risco para as mulheres com passado de gestações

sem hipertensão (normotensas) do que as nulíparas em relação a HAS subseqüente

(ADAMS E MACGILLIVRAY, 1961; HANNAFORD et al., 1997; JONSDOTTIR et al.,

1995).

PRÉ-ECLÂMPSIA: TRATAMENTO

Embora a única cura definitiva para a pré-eclâmpsia seja o parto, a doença pode

ocorrer em idade gestacional precoce, quando a sobrevida do concepto é incerta (SCHIFF

et al., 1993). O parto prematuro terapêutico é habitualmente indicado quando ocorre

deterioração da condição clínica materna, nas formas mais graves como eclâmpsia ou

síndrome HELLP, ou quando se verifica sofrimento fetal (SANTOS et al., 2003). Na pré-

eclâmpsia leve, permite-se habitualmente que a gestação prossiga até o termo, enquanto na

pré-eclâmpsia grave a maioria dos autores defende a interrupção a partir de 34 semanas. A

aceleração da maturidade pulmonar fetal está indicada, ante a elevada possibilidade de um

parto prematuro, em todas as gestantes com pré-eclâmpsia (AMORIM et al., 1998;

SANTOS et al., 2003).

Antes de 34 semanas, e não havendo risco imediato para o binômio mãe-feto, uma

conduta conservadora pode ser adotada nos casos de pré-eclâmpsia grave (AMORIM et al.,

1999; SANTOS et al., 2003; SCHIFF et al., 1993), visando obter melhores taxas de

sobrevida neonatal (REPORT OF THE NATIONAL HIGH BLOOD PRESSURE

EDUCATION PROGRAM WORKING GROUP ON HIGH BLOOD PRESSURE IN

PREGNANCY, 2000). Nesses casos, a conduta envolve monitorização rigorosa do bem-

estar materno fetal, rastreamento de complicações como a síndrome HELLP, propedêutica

da função renal e avaliação da vitalidade fetal (REPORT OF THE NATIONAL HIGH

14

BLOOD PRESSURE EDUCATION PROGRAM WORKING GROUP ON HIGH

BLOOD PRESSURE IN PREGNANCY, 2000; SANTOS et al., 2003).

O tratamento farmacológico com drogas hipotensoras nestas pacientes persiste

controverso, e não é indicado pelo Consenso de 2000. Embora a necessidade de tratamento

dos picos pressóricos seja indiscutível (DULEY E HENDERSON-SMART, 2003;

REPORT OF THE NATIONAL HIGH BLOOD PRESSURE EDUCATION PROGRAM

WORKING GROUP ON HIGH BLOOD PRESSURE IN PREGNANCY, 2000), o

tratamento em longo prazo não tem sido adequadamente avaliado em pacientes com pré-

eclâmpsia. Em pacientes com hipertensão crônica, o tratamento hipotensor não evidenciou

melhora do prognóstico materno nem reduziu a incidência de pré-eclâmpsia superposta e

de eclâmpsia, porém alguns estudos sugerem melhora do prognóstico perinatal, com

prolongamento da gravidez e redução da prematuridade (GRUPPO DI STUDIO IN

GRAVIDANZA, 1998; LIVINGSTON et al., 2001; REDMAN et al., 1976; REDMAN,

1991). Muitos estudos não diferenciam claramente entre hipertensão gestacional,

hipertensão crônica e pré-eclâmpsia, de forma que fica difícil extrapolar estes achados para

as pacientes com pré-eclâmpsia (SEELY, 1999). Os reais benefícios (se houver) do uso de

hipotensores em gestantes com pré-eclâmpsia permanecem ainda a ser esclarecidos.

Claramente, são necessários ensaios clínicos controlados para determinar sua eficácia.

Não obstante todas estas considerações, o tratamento hipotensor é rotineiramente

empregado no IMIP. Além do tratamento de emergência dos picos hipertensivos

(recomendado pelo Consenso de 2000, que indica como drogas preferíveis hidralazina e

labetalol), utilizam-se drogas hipotensoras por via oral, para tratamento em longo prazo

nos casos em que se opta pela conduta conservadora (REPORT OF THE NATIONAL

HIGH BLOOD PRESSURE EDUCATION PROGRAM WORKING GROUP ON HIGH

BLOOD PRESSURE IN PREGNANCY, 2000; SANTOS et al., 2003).

15

Na gravidez, a α-metildopa é o hipotensor de uso mais difundido, por não alterar o

fluxo útero-placentário e a hemodinâmica fetal (MONTAN et al., 1993). Também é a

droga com a qual se tem maior experiência e onde existe um seguimento de crianças por

aproximadamente sete anos e meio sem a documentação de efeitos adversos (COCKBURN

et al., 1982). Clonidina é pouco utilizada, mais por causa da ausência de estudos do que por

comprovação de efeitos deletérios para o concepto. Os poucos ensaios clínicos

randomizados disponíveis sobre o uso de betabloqueadores na gestação trazem resultados

conflitantes, com relatos de restrição do crescimento intra-uterino. Não fica claro se estas

condições estariam relacionadas à doença hipertensiva de base. Outra droga de uso

considerado seguro é a hidralazina. A nifedipina, bloqueador de canais de cálcio

dihidropiridínico, utilizada como tocolítico, também tem sido administrada para tratamento

de hipertensão na gravidez. Inibidores de Enzima Conversora de Angiotensina (iECA) e

antagonistas dos receptores de angiotensina II estão contra-indicados na gestação devido

ao seu potencial teratogênico. No IMIP a conduta tem sido iniciar o tratamento com a α-

metildopa e adicionar progressivamente hidralazina ou pindolol quando se atinge a dose

máxima sem controle dos níveis pressóricos (LIPSCOMB et al., 1997; NATIONAL HIGH

BLOOD PRESSURE EDUCATION PROGRAM WORKING GROUP ON HIGH

BLOOD PRESSURE IN PREGNANCY, 1990; PERLOFF, 1998; SANTOS et al., 2003;

SCOTT et al., 1989).

A profilaxia anticonvulsivante com sulfato de magnésio está indicada em todas as

pacientes com pré-eclâmpsia grave, independente da presença ou não de sinais e sintomas

de iminência de eclâmpsia (SANTOS et al., 2003). Um grande ensaio clínico multicêntrico

(MAGPIE, 2002), publicado no Lancet em junho de 2002, comprovou significativa

redução na incidência de eclâmpsia (58%) e na mortalidade materna (45%) quando se

administrou sulfato de Magnésio às gestantes com pré-eclâmpsia. O sulfato de Magnésio

16

também reduz a incidência de DPPNI em gestantes com pré-eclâmpsia (33%), não

acarretando efeitos deletérios para o concepto nem alterações do prognóstico perinatal

(MAGPIE, 2002). O momento ideal para administração do sulfato de magnésio, entretanto,

ainda deve ser estabelecido. Atualmente, no Instituto Materno-Infantil de Pernambuco, a

droga é administrada rotineiramente na admissão da paciente com pré-eclâmpsia grave e

antes da interrupção da gravidez, mantendo-se a infusão por 24 horas pós-parto.

Eventualmente a droga pode ser repetida ou seu uso prolongado, se presentes sinais ou

sintomas de eclâmpsia iminente. Neste serviço, o sulfato de magnésio é administrado

conforme o esquema de Zuspan, intravenoso, com dose de ataque de 6g e infusão de 1-2g

por hora nas 24 horas subseqüentes (SANTOS et al., 2003).

EVOLUÇÃO E TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO NO PUERPÉRIO

Apesar de existirem numerosos estudos relativos à hipertensão na gravidez, a

literatura é escassa no que diz respeito à evolução dos níveis tensionais pós-parto em

pacientes com pré-eclâmpsia. Considerando-se a fisiopatologia da doença, é de se esperar

que, após o delivramento, interrompa-se a cadeia de reações induzidas pela presença do

trofoblasto no organismo materno. Entretanto, esta interrupção não parece imediata, e o

tempo exato de recuperação pós-parto não foi estabelecido. Alguns estudos sugerem que

parte das mulheres evolui com níveis pressóricos elevados no puerpério imediato, mesmo

após a retirada (ou expulsão) do trofoblasto (FERRAZZANI et al., 1994; MAKKONEN et

al., 1996; WALTERS et al., 1987).

A normalização dos níveis tensionais deve ocorrer em algum momento durante o

puerpério, porém o tempo necessário para esta normalização é desconhecido. Estima-se

que mulheres com pré-eclâmpsia possam permanecer hipertensas por até seis a 12 semanas

após o parto. A persistência de níveis tensionais elevados depois destes limites sugere o

17

diagnóstico de hipertensão crônica (REPORT OF THE NATIONAL HIGH BLOOD

PRESSURE EDUCATION PROGRAM WORKING GROUP ON HIGH BLOOD

PRESSURE IN PREGNANCY, 2000). Entretanto, estes limites parecem ter sido

arbitrariamente fixados, não se baseando em evidências científicas sólidas.

A prevalência da hipertensão pós-parto é desconhecida (MAGEE e SADEGHI,

2003), porém a importância de se pesquisar e monitorizar as mulheres no puerpério pode

ser depreendida a partir de informações fornecidas por estudos sobre morte materna, como

o Confidential Enquiries into Maternal Deaths in the United Kingdom (LEWIS, 2001).

Neste estudo, 10% das mortes por síndromes hipertensivas ocorreram no puerpério. Por

outro lado, um estudo de todos os casos de eclâmpsia no Reino Unido em 1992 mostrou

que 44% dos casos de eclâmpsia ocorriam no período pós-parto, sobretudo nas primeiras

48 horas (DOUGLAS, 1994). Além disso, mulheres com hipertensão pós-parto também

podem ter prolongamento da permanência hospitalar e, possivelmente, ansiedade e/ou

depressão em decorrência da hospitalização e da preocupação com sua recuperação

(MAGEE E SADEGHI, 2003).

A duração da hipertensão pós-parto não foi avaliada em nenhuma revisão

sistemática. Em revisão realizada nos bancos de dados MEDLINE, LILACS, EMBASE e

na biblioteca COCHRANE, não encontramos referência a nenhuma metanálise. Os termos

(“hypertension” OR “blood pressure” OR “preeclampsia”) AND (“puerperium” OR

“postpartum”) foram utilizados, encontrando-se principalmente relatos de casos ou séries

de casos, e raros estudos longitudinais em que se estudou o comportamento dos níveis

tensionais no puerpério.

Walters et al. (1986) descreveram o comportamento dos níveis tensionais em

mulheres normais nos primeiros cinco dias pós-parto, observando neste grupo uma

elevação da pressão arterial no puerpério em relação aos valores verificados durante a

18

gravidez. Também analisaram em estudo subseqüente (WALTERS et al., 1987) 67

mulheres com pré-eclâmpsia pura ou superposta, descrevendo que os níveis tensionais

persistiam elevados na primeira semana pós-parto. Na maioria dos casos, depois de um

discreto decréscimo da pressão arterial logo depois do parto, verificava-se uma elevação

entre o terceiro e o sexto dias. Cerca de 50% das mulheres apresentavam níveis tensionais

superiores a 150 x 100 mmHg no quinto dia pós-parto.

Em um estudo publicado em 1994, Ferrazzani et al. estudaram 110 mulheres com

pré-eclâmpsia, comparando-as com 159 mulheres com hipertensão gestacional. O tempo

transcorrido até normalização dos níveis tensionais variou entre zero e 23 dias, com uma

média de 16,0 ± 9,5 dias, significativamente superior à média observada para os casos de

hipertensão gestacional (6,0 ± 5,5 dias).

Em 2002, Bayliss et al. publicaram um resumo de um estudo cujos resultados

foram semelhantes aos de Walters et al. (1987) descrevendo um aumento progressivo da

pressão arterial nos primeiros cinco dias pós-parto, com pico entre o terceiro e o sexto dias.

Uma evolução diferente dos níveis tensionais foi descrita por Makkonen et al.

(1996), que encontraram uma queda progressiva da pressão arterial pós-parto em pacientes

com pré-eclâmpsia grave e síndrome HELLP. Cerca de 40% das pacientes tiveram alta

com tratamento hipotensor. Os autores não descrevem o tempo necessário para

normalização da pressão arterial, porém realizaram análise de regressão logística para

determinação dos fatores preditivos mais fortemente associados a uma recuperação mais

rápida (pressão diastólica menor que 100 mmHg e proteinúria menor que 500 mg no quinto

dia pós-parto), e a única variável associada a este padrão de recuperação foi a presença de

restrição do crescimento fetal.

Se o tempo transcorrido no puerpério até a normalização dos níveis pressóricos em

pacientes com pré-eclâmpsia permanece desconhecido, também não se sabe se este período

19

de hipertensão, por vezes grave, é suficiente para induzir dano aos chamados órgãos-alvo

(retina, rins, coração, endotélio). A própria necessidade do tratamento hipotensor, exceto

na presença de picos pressóricos, pode então ser questionada. Este tratamento

habitualmente é iniciado visando à redução dos níveis tensionais para minimizar a

possibilidade de complicações da hipertensão, mas não se encontra respaldado em

nenhuma evidência obtida de estudos clínicos confiáveis.

Encontramos na Biblioteca Cochrane um protocolo de revisão sistemática

(MAGEE e SADEGHI, 2003), com o objetivo de estudar intervenções para prevenção e

tratamento da hipertensão pós-parto. A proposta é de incluir estudos comparando, por

exemplo, o tratamento hipotensor com placebo, ou o uso de hipotensores orais versus

outros hipotensores. Os principais desfechos maternos estudados incluem a freqüência de

complicações, hipertensão grave, necessidade adicional de drogas hipotensoras, eclâmpsia,

síndrome HELLP, duração da permanência hospitalar e necessidade de re-internamento.

Entretanto, a revisão ainda se encontra em andamento, à procura de ensaios clínicos

randomizados que preencham os requisitos necessários para inclusão na metanálise.

Na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Obstétrica do IMIP, vimos lidando, há mais

de um ano, com puérperas com pré-eclâmpsia e eclâmpsia que são mantidas sob estrita

vigilância neste setor, até a alta. A observação clínica diária destas mulheres tem gerado,

entre os responsáveis pela visita diária, a sensação de que é freqüente que estas

permaneçam hipertensas por todo o período de internamento hospitalar, apresentando

níveis de pressão arterial sistólica e diastólica que seriam alarmantes em outras condições

que não o puerpério. Esta observação empírica também deixa a sensação de que os níveis

pressóricos das pacientes permanecem elevados apesar de tratamento adequado com

drogas hipotensoras. Entretanto, até o presente nenhum estudo foi realizado no serviço para

20

avaliação do comportamento da pressão arterial pós-parto em pacientes com pré-

eclâmpsia, particularmente em relação ao tempo necessário para o controle pressórico.

Visando suprir esta lacuna, que não representa apenas um problema local mas uma

escassez preocupante de evidências na literatura em todo o mundo, o presente estudo foi

realizado com o objetivo de avaliar a evolução dos níveis tensionais no puerpério em

mulheres com pré-eclâmpsia grave e eclâmpsia atendidas na UTI Obstétrica do IMIP.

21

II. OBJETIVOS

3.1. OBJETIVO GERAL:

Avaliar a evolução dos níveis tensionais no puerpério em mulheres com pré-

eclâmpsia grave e eclâmpsia atendidas em uma UTI Obstétrica do Recife no período de

agosto de 2003 a janeiro de 2004.

3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Em mulheres com pré-eclâmpsia grave e eclâmpsia atendidas em uma UTI

Obstétrica do Recife:

1. Descrever características biológicas (idade e índice de massa corpórea), obstétricas

(paridade, realização de assistência pré-natal, idade gestacional no parto, peso,

condições de nascimento e vitalidade do concepto) e forma clínica da doença (pré-

eclâmpsia grave, eclâmpsia e síndrome HELLP).

2. Avaliar os níveis pressóricos (média e número de picos), a freqüência de uso de

hipotensor e o tipo de hipotensor nas 24 horas que precederam a interrupção da

gravidez.

3. Determinar a média diária dos níveis tensionais, a freqüência de picos

hipertensivos, a freqüência de controle da pressão arterial e das complicações da

pré-eclâmpsia pós-parto.

4. Determinar a freqüência de utilização de drogas hipotensoras, o tipo de hipotensor,

a dose máxima utilizada e as associações de drogas no puerpério.

5. Determinar o tempo necessário para o controle da pressão arterial pós-parto.

6. Determinar se existe associação do controle da pressão arterial pós-parto com as

características biológicas, obstétricas e a forma clínica da doença.

22

7. Determinar se existe associação do controle da pressão arterial pós-parto com os

níveis pressóricos e o uso de hipotensor pré-parto.

8. Determinar se existe associação entre o controle da pressão arterial e a presença de

complicações da pré-eclâmpsia no pós-parto.

23

III. MÉTODOS

4.1. LOCAL DO ESTUDO

O Instituto Materno Infantil de Pernambuco é uma instituição não governamental

de direito privado, sem fins lucrativos, fundada em 13 de Junho de 1960 e voltada para

assistência integral à saúde da mulher e da criança; sobretudo nas comunidades carentes da

cidade do Recife. Sua unidade hospitalar localiza-se no bairro dos Coelhos, Recife,

Pernambuco e presta serviços de saúde nas comunidades próximas. Mantém nestas

comunidades equipes de saúde da família, meio eficiente para cumprir a proposta de

assistência integral à saúde, nos níveis primário, secundário e terciário.

Hospital escola, referência nacional e estadual em suas áreas de abrangência, recebe

estudantes de várias áreas (Medicina, Enfermagem, Nutrição, Fisioterapia e Terapia

Ocupacional) provenientes de vários estados do Nordeste. Oferece Residência Médica em

Anestesiologia, Cirurgia Pediátrica, Cirurgia Plástica, Pediatria, Radiologia e

Tocoginecologia, Residência de Enfermagem em Pediatria e Obstetrícia, e desde 1993

proporciona Mestrado em Saúde Materno-Infantil, procurado por estudantes de outros

países.

A unidade hospitalar possui 271 leitos em Pediatria (Cirurgia Pediátrica, Pediatria

Clínica, Neonatologia e UTI Pediátrica) e 127 leitos de Tocoginecologia, sendo 28 em

enfermaria de Gestação de Alto-Risco, 40 leitos na enfermaria de ginecologia, 12 leitos no

serviço para infectados em Ginecologia e Obstetrícia, 12 leitos de UTI e 35 leitos para

puerpério. São assistidos anualmente no IMIP cerca de 5000 partos, dos quais

aproximadamente 15% são complicados por alguma das síndromes hipertensivas. A

freqüência de pré-eclâmpsia e eclâmpsia no período entre 1990 e 2002 foi de 12,3%.

(AMORIM et al., 2003).

24

A partir de agosto de 2002, iniciou-se o funcionamento da Unidade de Terapia

Intensiva (UTI) Obstétrica. A UTI Obstétrica conta com 12 leitos, destinando-se ao

tratamento de intercorrências clínicas e obstétricas que requeiram atenção especial e

regime de terapia intensiva. A pré-eclâmpsia representa o principal diagnóstico de

internação, em torno de 84% (KATZ et al., 2003). Além da profilaxia e do tratamento

anticonvulsivante com sulfato de magnésio, tanto anteparto como pós-parto, as pacientes

com pré-eclâmpsia permanecem na UTI até o adequado controle pressórico, com manejo

das complicações freqüentes, em especial a síndrome HELLP.

Todas as pacientes atendidas na UTI são incluídas em um sistema informatizado

para coleta de dados, classificando-se por diagnóstico e diversas outras variáveis,

permitindo assim a rápida identificação dos prontuários, sempre que necessário para

estudos conduzidos no setor.

4.2. DESENHO DO ESTUDO

Realizou-se um estudo de coorte, ambidirecional (prospectivo e retrospectivo), em

que foram acompanhadas mulheres com pré-eclâmpsia grave/eclâmpsia atendidas no IMIP,

desde as 24 horas antecedendo o parto até a alta.

A etapa retrospectiva englobou os meses entre agosto e novembro de 2003,

enquanto a etapa prospectiva incluiu o período de dezembro de 2003 a janeiro de 2004.

O estudo configura-se uma coorte populacional, incluindo sujeitos que têm em

comum a presença de pré-eclâmpsia/eclâmpsia, e que são acompanhados em um período

de tempo (estudo longitudinal). Este tipo de estudo permite a verificação, ao longo do

acompanhamento, de vários desfechos (entre os quais, o controle da pressão arterial),

permitindo também a identificação de fatores de risco (exposição).

25

A etapa retrospectiva foi realizada visando a completar o número de pacientes

necessário para o estudo em tempo hábil para a conclusão do Mestrado, uma vez que,

devido à aplicação de rígidos critérios de inclusão e exclusão, não foi possível obter-se este

número na etapa prospectiva.

4.3. POPULAÇÃO DO ESTUDO

Foram selecionadas para o estudo todas as gestantes com diagnóstico de pré-

eclâmpsia grave atendidas no Centro de Atenção à Mulher (CAM) e internadas na UTI

Obstétrica do IMIP no período de agosto de 2003 a janeiro de 2004 – observados os

critérios de inclusão e exclusão.

4.4. TAMANHO AMOSTRAL

O cálculo do tamanho da amostra foi realizado no programa STATCALC, do Epi-

Info 6.04b. Inicialmente, considerou-se para o estudo descritivo, uma freqüência de

controle da pressão arterial de 70% durante o internamento (baseada na observação clínica

diária), com uma precisão de 10% (pior resultado esperado = 60%). Para um nível de

confiança de 95%, considerando-se infinito o tamanho da população, seriam necessárias 81

mulheres, conforme a fórmula abaixo descrita (DANIEL, 1987).

N z² p (1-p) n = ────────────────────- d² (N-1) + z² p (1-p)

Onde:

N: população total

z: escore z (correspondendo ao nível de confiança)

d: precisão absoluta

26

p: proporção esperada na população

Acrescentando-se 20% para o risco de eventuais perdas e exclusões, atingimos um

n de 96 mulheres. Foram coletados os dados de 102.

Para a etapa analítica do estudo, como não dispúnhamos de informações da

literatura pertinente à freqüência de controle pressórico para as diversas variáveis de

análise, optou-se por considerar as freqüências encontradas no presente estudo para o

cálculo do tamanho da amostra, devendo o estudo prosseguir prospectivamente até

obtenção do n necessário.

4.5. CRITÉRIOS E PROCEDIMENTOS PARA SELEÇÃO DAS PARTICIPANTES

4.4.1. Procedimentos para seleção das participantes:

Na etapa prospectiva, todas as mulheres com diagnóstico de pré-eclâmpsia

grave internadas na UTI Obstétrica do IMIP foram avaliadas pelo plantonista, que

confirmou o diagnóstico aplicando os critérios de inclusão e exclusão, solicitando

sua autorização para participar da pesquisa. Todas aquelas que concordaram em

participar confirmaram sua anuência através da assinatura do termo de

consentimento livre e esclarecido (APÊNDICE I). O prontuário de cada uma destas

foi marcado com um adesivo indicando sua participação na pesquisa, facilitando a

identificação e a coleta dos dados pelo pesquisador, usando o formulário específico

da pesquisa (APÊNDICE II).

Na etapa retrospectiva, a partir dos dados disponíveis em computador, do

banco de dados próprio da UTI Obstétrica e que vem sendo alimentado

continuamente desde o início das atividades da UTI, identificaram-se os números

de registro das pacientes com pré-eclâmpsia grave e eclâmpsia. Recorreu-se, então,

27

aos prontuários, obtidos no Serviço de Arquivo Médico e Estatística, que foram

consultados pelo pesquisador, anotando-se as informações nos formulários. Todos

estes prontuários, na verdade, já tinham anexado um termo de consentimento livre e

esclarecido para participação na pesquisa geral que inclui todas as pacientes

internadas na UTI Obstétrica.

4.4.2. Critérios de inclusão:

• Diagnóstico de pré-eclâmpsia grave e eclâmpsia (NATIONAL BLOOD

PRESSURE WORKING GROUP, 2000);

• Gestação única

• Parto assistido no IMIP;

• Internação na UTI Obstétrica do IMIP;

• Acompanhamento pós-parto no IMIP;

• Consentimento livre e esclarecido em participar do estudo.

4.4.3. Critérios de exclusão:

• Diagnóstico de hipertensão arterial sistêmica (primária ou secundária), previamente

conhecida ou diagnosticada durante a gravidez.

• Doença renal crônica

• Diabetes mellitus

• Doenças auto-imunes

• Anemia falciforme

• Condições clínicas ou mentais impedindo a livre decisão da paciente quanto a

participar ou não do estudo, como por exemplo doenças mentais ou coma

prolongado ou irreversível.

28

4.5. VARIÁVEIS DE ANÁLISE

4.5.1. Variáveis Descritivas

Biológicas

• Idade

• Índice de Massa Corpórea

Obstétricas

• Paridade

• Assistência pré-natal

• Idade gestacional no parto

• Peso ao nascer

• Condições de nascimento (vivo ou morto)

• Escores de Apgar

Clínicas

• Forma clínica da doença: pré-eclâmpsia grave ou eclâmpsia

• Níveis tensionais pré-parto

• Picos hipertensivos pré-parto

• Drogas hipotensoras pré-parto

• Níveis tensionais pós-parto

• Picos hipertensivos pós-parto

• Drogas hipotensoras pós-parto

• Complicações pós-parto

• Controle da pressão arterial

• Tempo necessário para controle da pressão arterial durante o internamento

29

4.5.2. Variáveis para o estudo de associação

Variável dependente (desfecho)

• Controle da pressão arterial

Variáveis independentes (preditoras)

• Características biológicas: idade e índice de massa corpórea.

• Características obstétricas: paridade, realização de assistência pré-natal, idade

gestacional no parto, peso, condições de nascimento e vitalidade do concepto.

• Forma clínica da doença: pré-eclâmpsia ou eclâmpsia.

• Complicações pós-parto: síndrome HELLP, edema agudo de pulmão, insuficiência

renal aguda, choque hipovolêmico, coagulação intravascular disseminada (CIVD),

sepse, hemorragia cerebral e coma.

4.6. DEFINIÇÃO DE TERMOS E VARIÁVEIS

Pré-eclâmpsia grave e eclâmpsia – utilizadas as definições descritas no NATIONAL

HIGH BLOOD PRESSURE EDUCATION PROGRAM WORKING GROUP ON

HIGH BLOOD PRESSURE IN PREGNANCY, 2000, a saber:

Pré-eclâmpsia – associação de hipertensão e proteinúria, desenvolvendo-se durante a

gravidez, em geral depois de 20 semanas de gestação (exceto em casos de mola

hidatiforme e hidropisia fetal).

Hipertensão - pressão arterial sistólica (PAS) de 140 mmHg ou superior e/ou pressão

arterial diastólica (PAD) de 90 mmHg ou superior.

30

Proteinúria – a partir de 300 mg na urina de 24 horas ou 1+ ou mais em amostra

simples de urina (exame de fita). Idealmente deve ser realizado o diagnóstico em 24

horas (definitivo). Caso o diagnóstico seja feito somente em amostra isolada, esta deve

ser repetida em outra ocasião para confirmação.

Pré-eclâmpsia grave – qualquer um dos seguintes sinais ou sintomas:

− PAS ≥ 160 mmHg e/ou PAD ≥ 110 mmHg (persistindo após repouso de 30 minutos

em decúbito lateral esquerdo)

− Proteinúria igual ou superior a 2g/ 24 horas ou 3+ ou mais na fita

− Manifestações visuais e cerebrais

o Cefaléia, obnubilação, torpor e coma

o Turvação visual, escotomas, diplopia e amaurose

− Sinais e sintomas de iminência de eclâmpsia

− Creatinina > 1,2 mg%

− Achados característicos da síndrome HELLP (qualquer um isolado, ou seu

conjunto).

− Edema Agudo de Pulmão ou cianose

− Oligúria (menor que 400 ml/24 horas)

− Achados fundoscópicos: papiledema, exsudatos, hemorragia.

Eclâmpsia – ocorrência de convulsões (tônico-clônicas, generalizadas) que não podem

ser atribuídas a outras causas em mulheres com pré-eclâmpsia.

Complicações relacionadas à Pré-Eclâmpsia – qualquer das complicações abaixo

descritas, sendo que cada uma destas corresponde a uma variável dicotômica (tipo

sim/não).

31

Edema Agudo de Pulmão – diagnosticado com base em achados clínicos

(presença de taquidispnéia, cianose, taquicardia e estertores finos) na vigência

de hipertensão arterial ou de doença cardíaca previamente diagnosticada

(SANTOS et al., 2003).

Síndrome HELLP – definida pelos critérios de SIBAI (SIBAI et al, 1990)

como a presença de hemólise (formas anormais no sangue periférico, DHL >

600UI e bilirrubinas totais > 1,2mg%, elevação das enzimas hepáticas (TGO >

70UF) e plaquetopenia (abaixo de 100.000/mm3)).

Hemorragia Cerebral – diagnosticada por tomografia computadorizada e/ou

por ressonância magnética nuclear de crânio/encéfalo em pacientes com

suspeita clínica (SANTOS et al., 2003).

Choque hipovolêmico – definido pelos critérios propostos pelo ATLS em 1998

(ATLS, 1998), avaliando-se clinicamente os diversos estágios do choque

hemorrágico (SANTOS et al., 2003).

Insuficiência renal aguda – declínio da função renal resultando em rápido

acúmulo de produtos nitrogenados (uréia e creatinina), podendo acompanhar-se

de oligúria (abaixo de 400ml/24 horas) (SANTOS et al., 2003).

Coagulação Intravascular Disseminada – síndrome hemorrágica definida

clínica e laboratorialmente, conforme os critérios apresentados no manual de

normas da UTI Obstétrica do IMIP (SANTOS et al., 2003).

Sepse – como a síndrome da resposta inflamatória sistêmica, conforme os

critérios de Bone (BONE et al., 1992).

Embolia pulmonar – sugerido por quadro clínico, gasimétrico e radiológico

característico (SANTOS et al., 2003).

32

Coma – utilizada a escala de coma de Glasgow (SANTOS et al., 2003).

Pacientes com coma prolongado ou irreversível foram excluídas do estudo,

admitindo-se apenas aquelas que retornaram ao nível de consciência normal,

assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Hipertensão arterial sistêmica (critério de exclusão) – corresponde à hipertensão

crônica presente antes da gravidez ou à hipertensão diagnosticada pela primeira vez

antes de 20 semanas de gestação. Inclui tanto os casos de hipertensão primária como

secundária (feocromocitoma, hipertensão renovascular e outras). Em pacientes cujos

níveis tensionais antes da gravidez e/ou antes de 20 semanas eram desconhecidos,

também se considerou hipertensão crônica a hipertensão diagnosticada pela primeira

vez durante a gravidez porém associada a manifestações da hipertensão de longo prazo,

como hipertrofia de ventrículo esquerdo (pelo eletrocardiograma ou ecocardiograma) e

alterações da fundoscopia (classificação de KEITH e WAGENER). Também se

incluíram nesta epígrafe os casos de hipertensão sem proteinúria diagnosticada em

qualquer momento durante a gravidez (SANTOS et al., 1998).

Idade – Variável numérica contínua, expressa em anos, obtida no dia do parto através

da verificação da data de nascimento, conforme anotação no prontuário.

Peso – Variável numérica contínua, expressa em quilos, obtida pela pesagem da

puérpera em balança apropriada.

Altura – Variável numérica contínua, expressa em metros.

33

Paridade – Variável numérica discreta, expressa pelo número de parturições

(nascimento de conceptos com mais de 20 semanas).

Índice de Massa Corpórea – variável numérica contínua, expressa pelo peso em

quilos dividido pelo quadrado da altura em metros (QUETELET, 1994).

Idade gestacional – variável numérica contínua, expressa em semanas. Anotou-se a

informação conforme registro no prontuário, de acordo com a data da última

menstruação (DUM), a ultra-sonografia (USG) e o método de Capurro somático

realizado em sala de parto (CAPURRO et al, 1978). Para análise estatística,

consideraram-se os dados do método de Capurro para os recém-nascidos a partir das 32

semanas, abaixo desta idade gestacional utilizou-se a combinação dos dados da DUM e

da USG obstétrica.

Peso ao nascer – variável numérica contínua expressa em gramas (g), obtida pela

pesagem do recém-nascido (RN) em sala de parto em balança apropriada.

Escores de Apgar – variável numérica, ordinal, correspondendo à avaliação das

condições de vitalidade neonatal, em escala variando de zero a 10, anotando-se os

escores no primeiro e no quinto minuto de vida, conforme definido nas pautas da

Unidade de Neonatologia do IMIP (LIMA et al., 2000).

Níveis tensionais no pré-parto – considerou-se a média aritmética de todos os valores

de pressão arterial sistólica e pressão arterial diastólica verificados nas 24 horas

precedendo a interrupção da gravidez. O número de aferições variou conforme a

34

duração da internação e a gravidade do quadro clínico, mas em geral registraram-se no

mínimo quatro aferições.

Pressão Arterial Sistólica (PAS) – variável numérica contínua, expressa em

milímetros de mercúrio (mmHg), determinada pelo aparecimento do primeiro som de

Korotkoff (NATIONAL HIGH BLOOD PRESSURE EDUCATION PROGRAM

WORKING GROUP ON HIGH BLOOD PRESSURE IN PREGNANCY 2000).

Pressão Arterial Diastólica (PAD) – variável numérica contínua expressa em

milímetros de mercúrio (mmHg), determinada pelo aparecimento do quinto som de

Korotkoff (NATIONAL HIGH BLOOD PRESSURE EDUCATION PROGRAM

WORKING GROUP ON HIGH BLOOD PRESSURE IN PREGNANCY 2000).

Controle dos níveis tensionais – variável categórica, dicotômica (sim ou não),

determinada a partir da avaliação da pressão arterial sistólica (inferior a 140 mmHg) e

diastólica (inferior a 90 mmHg) em todas as aferições (pelo menos quatro tomadas) por

um período mínimo de 24 horas.

Drogas hipotensoras pré-parto – variável categórica dicotômica (sim ou não)

referente à utilização, em qualquer momento durante a gravidez, de qualquer droga

hipotensora, independente se foi utilizada para tratamento dos picos hipertensivos (por

exemplo, hidralazina injetável) ou para controle em longo prazo da pressão arterial

(uso oral, por exemplo, de alfametildopa, hidralazina, pindolol e outras medicações).

35

Associação de drogas hipotensoras – variável categórica (duas drogas ou três ou mais

drogas) referente à utilização de quaisquer associações entre as drogas hipotensoras

(captopril, nifedipina, α-metildopa, propranolol, hidroclorotiazida) no puerpério.

Níveis tensionais pós-parto – média diária dos níveis de pressão arterial sistólica e

diastólica, já definidos anteriormente, correspondendo ao número mínimo de quatro

aferições.

Pico Hipertensivo – variável dicotômica (tipo sim/não), correspondendo a valores de

PAS maiores ou iguais a 180 mmHg e/ou a valores de PAD maiores ou iguais a 120

mmHg (SANTOS et al., 2003).

Drogas hipotensoras pós-parto – variável categórica dicotômica (sim ou não)

referente à utilização, no pós-parto, de qualquer droga hipotensora.

Tipo de droga hipotensora – variável correspondendo à utilização das seguintes

drogas hipotensoras, cada qual representando uma variável categórica dicotômica (sim

ou não): alfametildopa, nifedipina, captopril, propranolol, e hidroclorotiazida.

Tempo necessário para controle da pressão arterial durante o internamento –

variável numérica contínua, referente ao tempo (em dias) transcorrido entre o parto e o

controle da pressão arterial, caso atingido, durante a internação hospitalar.

36

4.6. PROCEDIMENTOS, TÉCNICAS, TESTES E EXAMES

4.6.1. Procedimentos para verificação da pressão arterial

A medida da pressão arterial (PA) não-invasiva foi realizada pela equipe médica

ou de enfermagem (todos devidamente treinados para o procedimento), com a mulher

em posição sentada ou reclinada, após repouso inicial de cinco minutos, com braço

direito na altura do coração e com o manguito do tensiômetro posicionado dois dedos

transversos acima da prega cubital. A PAS correspondeu ao primeiro ruído de

Korotkoff, e a PAD ao quinto ruído (vide definições de termos e variáveis). Para isto,

foram utilizados tensiômetros da marca Missouri, previamente calibrados e vistoriados

pelo INMETRO. Anotaram-se os valores das diversas aferições diárias durante as 24

horas antecedendo a interrupção da gravidez, até o parto, variando o número de

aferições de acordo com as características de cada caso. Na vigência do tratamento com

sulfato de magnésio, esta verificação foi realizada a cada duas horas. O número mínimo

de aferições diárias registrado foi de quatro.

4.6.2. Procedimento para a administração das drogas hipotensoras antes do

parto:

Quando houve necessidade de drogas hipotensoras antes do parto (presença de

hipertensão arterial de acordo com os parâmetros definidos acima), adotaram-se as

normas e condutas utilizadas no IMIP para o controle de hipertensão na gestante

(SANTOS et al., 2003). A primeira droga utilizada é a α-metildopa, nas dosagens de

500 a 2000 mg ao dia, divididas em duas a quatro tomadas. Não se obtendo controle de

pressão arterial com a α-metildopa, inicia-se hidralazina, 100 a 200 mg ao dia. Se ainda

não se obtém controle da pressão arterial, adiciona-se pindolol 10mg VO ao dia, com

37

dose máxima de 30mg em 24 horas. O verapamil pode ser introduzido no esquema, caso

seja necessário (dose variando entre 80mg e 240mg VO/dia). Todas estas medicações

são disponíveis no IMIP.

4.6.3. Procedimento para a administração de drogas hipotensoras no

puerpério:

De acordo com o atual protocolo adotado na UTI Obstétrica do IMIP (SANTOS

et al., 2003), indica-se a administração de medicamentos hipotensores no puerpério

quando, 24 horas após o parto ou após o término do tratamento com sulfato de magnésio

contínuo, constatam-se duas ou mais aferições de pressão arterial diastólica maiores ou

iguais a 110 mmHg.

O tratamento da hipertensão difere no puerpério por não haver mais risco de

efeitos deletérios para o concepto, utilizando-se, além da α-metildopa, fármacos como

captopril, propranolol, nifedipina e hidroclorotiazida. No presente estudo, utilizou-se a

α-metildopa (750 a 2000mg, em três a quatro tomadas) e o captopril (50 a 150mg, duas

a quatro tomadas) como primeiras opções. Associações com propranolol (40 a 160mg

ao dia, em duas a três tomadas), nifedipina (30 a 60mg ao dia, em três tomadas) e

hidroclorotiazida (25 a 50mg em tomada única diária) são possíveis, respeitadas as

indicações e contra-indicações das drogas hipotensoras conforme descritas no JNC

Report (SEVENTH REPORT OF THE JOINT NATIONAL COMMITTEE ON

PREVENTION, DETECTION, EVALUATION AND TREATMENT OF HIGH

BLOOD PRESSURE – THE JNC 7 REPORT, 2003). Estas medicações podem ser

utilizadas no puerpério e não estão contra-indicadas na amamentação (COMMITTEE

ON DRUGS, AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICS, 1994).

38

Apesar de o Consenso de 2000 (NATIONAL HIGH BLOOD PRESSURE

EDUCATION PROGRAM WORKING GROUP ON HIGH BLOOD PRESSURE IN

PREGNANCY) contra-indicar o uso do captopril no pós-parto, existem consideráveis

evidências garantindo sua segurança neste período (HALE, 1999) e a droga é

compatível, segundo o FDA, para uso durante o aleitamento (COMMITTEE ON

DRUGS, AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICS, 1994).

4.6.4. Acompanhamento das aferições de pressão arterial:

Conforme já descrito anteriormente, obtiveram-se os valores de pressão arterial

sistólica e diastólica em todas as aferições disponíveis em 24 horas (12 aferições

durante a infusão de sulfato de magnésio, seis aferições enquanto internada na UTI,

quatro aferições durante o internamento na enfermaria de puerpério normal) desde o

início do tratamento até a alta hospitalar, independente do controle pressórico.

Utilizamos a média das pressões obtidas para efeito de comparação.

4.6.5. Procedimentos para verificação do peso e altura das pacientes:

As mulheres tiveram seu peso e altura aferidos na UTI obstétrica, no puerpério

imediato, assim que possível a deambulação.

Utilizou-se uma balança antropométrica, da marca FILIZOLA, devidamente

calibrada pelo INMETRO. Tanto peso como altura foram verificados pela equipe de

enfermagem, devidamente treinada, na etapa prospectiva da pesquisa. Como não era

rotina da UTI a verificação destes parâmetros antes do início deste estudo, estes dados

não estavam disponíveis nos prontuários avaliados retrospectivamente.

39

4.7. ACOMPANHAMENTO DOS SUJEITOS

Conduta nos casos de pré-eclâmpsia grave e eclâmpsia

A conduta adotada seguiu as orientações do manual de normas da UTI Obstétrica

(SANTOS et al., 2003), incluindo a profilaxia e o tratamento anticonvulsivante com

sulfato de magnésio. Todas as pacientes foram monitorizadas clínica e laboratorialmente.

Profilaxia e tratamento anticonvulsivante

Todas as pacientes receberam sulfato de magnésio para profilaxia (pacientes com

pré-eclâmpsia grave) ou tratamento (pacientes com eclâmpsia) anticonvulsivante. O sulfato

de magnésio foi administrado segundo o esquema de Zuspan (por via intravenosa), que

consta de uma dose de ataque de 6g e manutenção de 1-2g/hora, em bomba de infusão

contínua. A administração de sulfato foi iniciada antes do parto e mantida por pelo menos

24 horas depois do parto ou depois da última crise convulsiva, podendo-se manter seu uso

por até 72 horas, de acordo com as características individuais. Durante a infusão do sulfato,

monitorizava-se diurese horária, freqüência respiratória e reflexos profundos (SANTOS et

al., 2003). A manutenção da droga dependia da presença de diurese acima de 25ml/hora,

freqüência respiratória maior que 12 incursões por minuto e presença dos reflexos

profundos.

Interrupção da gravidez

Indicada em todos os casos de eclâmpsia, independente da idade gestacional, e nos

casos de pré-eclâmpsia grave, a partir de 34 semanas, ou na presença de comprometimento

da vitalidade fetal (alterações da dopplervelocimetria, perfil biofísico fetal ou

cardiotocografia) ou deterioração da condição clínica materna (complicações como

40

síndrome HELLP, edema agudo de pulmão, oligúria, insuficiência renal aguda e outras).

Todas estas indicações seguiram a rotina do serviço (SANTOS et al., 2003).

Exames laboratoriais

A propedêutica laboratorial incluiu os seguintes exames: hemograma,

coagulograma, função renal (uréia, creatinina, ácido úrico), proteinúria 24 horas,

transaminases, bilirrubinas, DHL, fosfatase alcalina, glicemia, ionograma, gasimetria (na

presença de eclâmpsia e outras complicações). Estes exames eram repetidos diariamente,

até a resolução do quadro, conforme a rotina do IMIP. Adicionalmente, dependendo do

caso clínico, outros tipos de exames podem ser solicitados (SANTOS et al, 2003).

Conduta pós-parto

As pacientes foram conduzidas na UTI Obstétrica, até obtenção de controle

pressórico e melhora da condição clínica, incluindo resolução das complicações. A partir

daí, receberam alta da UTI e foram encaminhadas à enfermaria de puerpério normal, de

onde poderiam receber alta hospitalar definitiva.

Durante a internação em UTI, as pacientes foram avaliadas diariamente no mínimo

duas vezes pelo obstetra plantonista, sendo todos os casos discutidos em visita e

supervisionados pelos médicos-clínicos (intensivistas) e pela Coordenadora da UTI

(diarista).

O critério de alta definitiva para pacientes com pré-eclâmpsia no IMIP requer o

controle da pressão arterial, com ou sem medicação hipotensora, porém em alguns casos as

pacientes tiveram alta sem este controle, embora mantivessem níveis tensionais diastólicos

abaixo de 100 mmHg. Em se tratando de um estudo observacional, não houve interferência

com a conduta, que foi de responsabilidade do médico assistente.

41

Todas as pacientes foram orientadas ao retorno com uma semana ao ambulatório

pós-natal, para controle, e a marcar consulta com o cardiologista com seis e 12 semanas.

Tratamento dos picos hipertensivos

A literatura médica é bastante controversa na definição de níveis de pressão

diastólica a partir dos quais configura-se a indicação de medicações de ação rápida

(sublinguais ou venosas). Neste estudo, administramos medicamentos para os picos

hipertensivos para pacientes com níveis de pressão arterial diastólica a partir de 120

mmHg, ou PAD maior ou igual a 110 mmHg em mulheres sintomáticas (escotomas, dor

epigástrica, turvação visual, sonolência) e/ou com PAS maior ou igual a 180 mmHg. Cabe

neste momento lembrar que devem ser evitadas quedas abruptas dos níveis pressóricos

durante a gravidez, devido ao risco de hipoperfusão do concepto.

Nas gestantes, a droga utilizada para tratamento dos picos hipertensivos foi a

hidralazina intravenosa na dose de 5mg, podendo ser repetida a cada 20 minutos até a dose

máxima de 20 mg.

A medicação utilizada para o tratamento dos picos hipertensivos nas puérperas foi o

captopril, na dose de 25mg por via sublingual. A dose poderia ser repetida 30 minutos

depois caso a pressão arterial permanecesse elevada.

4.7.1. Condutas adotadas na ocorrência de complicações obstétricas:

Todas as pacientes receberam o tratamento específico para a complicação

apresentada, conforme a rotina do serviço. O tratamento da síndrome HELLP inclui

corticoterapia (DEXAMETASONA 10mg IV 12/12 horas até resolução do quadro

laboratorial) e medidas de suporte (SANTOS et al., 2003).

42

Todas as condutas foram individualizadas e discutidas em visita diária na UTI

Obstétrica.

4.8. PROCEDIMENTOS PARA A COLETA DE DADOS

4.8.1. Instrumento de coleta:

Os dados foram coletados através da utilização de um formulário padronizado, pré-

codificado para entrada de dados no computador (APÊNDICE II).

4.8.2. Coleta de Dados

A coleta de dados foi realizada no período de primeiro de dezembro de 2003 a 15

de janeiro de 2004, sendo os responsáveis pelo preenchimento dos formulários na etapa

prospectiva os médicos-plantonistas, a Coordenadora da UTI e o próprio mestrando.

Durante este período, o mestrando (que é um dos médicos clínicos intensivistas)

esteve presente pelo menos cinco vezes durante a semana, participando ativamente na

coleta de dados e na supervisão dos dados colhidos. Este realizou também revisões

periódicas (a cada 10 formulários preenchidos). Todos os prontuários foram revisados

posteriormente pelo mestrando para a correção de eventuais erros. Nesta etapa, foram

incluídas 48 pacientes.

Na etapa retrospectiva, a partir do número de registro foram obtidos os prontuários

no SAME do CAM-IMIP, realizando-se a coleta de dados no próprio local, a partir da

consulta aos prontuários. Utilizaram-se os mesmos critérios de inclusão e exclusão, porém

houve algumas perdas, não se localizando os prontuários em 08 casos. Nesta etapa, foram

incluídas 54 pacientes.

43

4.8.3. Controle da qualidade das informações:

Adotou-se um sistema de lista de checagem dos critérios de inclusão e exclusão,

além dos exames laboratoriais e parâmetros clínicos (APÊNDICE III).

4.8.3. Treinamento:

O treinamento da equipe (médicos obstetras e residentes de Obstetrícia, plantonistas

da triagem e UTI obstétrica e do pré-parto) consistiu na discussão do projeto, abordando-se

objetivos e métodos do estudo. Foi apresentado o formulário-padrão, destacando-se os

critérios de inclusão e exclusão. Todos estes profissionais já são treinados o suficiente para

diagnosticar e conduzir as mulheres com pré-eclâmpsia e para aferir a pressão arterial da

forma correta.

As orientações quanto ao preenchimento das questões pré-codificadas foram

contínua e minuciosamente transmitidas.

Durante a coleta de dados as dúvidas acaso existentes foram discutidas com o

mestrando e os formulários incorretamente preenchidos corrigidos em conjunto com o

plantonista.

4.9. PROCESSAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS

4.9.1. Processamento dos Dados

A digitação no banco de dados específico criado no programa Epi-Info 2003

(versão 3.01) foi realizada duas vezes, em épocas e por pessoas diferentes, obtendo-se ao

final uma listagem para correção de eventuais erros de digitação, com supervisão do

próprio pesquisador, formulário a formulário.

44

Quando constatadas inconsistências ou ausência de dados por ocasião da revisão

das listagens, foram consultados os formulários arquivados correspondentes, de acordo

com o número de registro das pacientes. Quando presentes distorções não detectadas

anteriormente nos formulários, recorreu-se novamente aos prontuários.

Ao término da entrada de todos os formulários nos dois bancos de dados foi

realizada a revisão final, comparando-se as listagens e completando-se os dados ausentes

pelos processos acima mencionados.

O banco de dados definitivo assim criado foi então utilizado para análise

estatística, sendo ainda submetido a testes de consistência e limpeza das informações,

gerando-se cópias de segurança em disquetes e compact-disc (CD).

4.9.2. Análise dos Dados

A análise dos dados foi realizada pelo pesquisador supervisionado por sua

orientadora, usando o mesmo programa Epi-Info 3.01 (2003). Para as variáveis numéricas

contínuas, como pressão arterial, utilizaram-se como medidas de tendência central e de

dispersão a média e o desvio-padrão. Em se tratando de uma amostra com número superior

a 100 pacientes, presumiu-se a normalidade dos dados (teorema de regressão central da

média). Para as variáveis discretas (paridade) e ordinais, descreveram-se amplitude

(variação) e mediana. Para as variáveis categóricas, foram construídas tabelas de

distribuição de freqüência.

Para teste da associação entre controle de pressão arterial (variável dependente) e as

variáveis biológicas, obstétricas e complicações da pré-eclâmpsia (variáveis

independentes), utilizou-se o teste qui-quadrado de associação, podendo ser usado o teste

exato de Fisher, quando necessário (um dos valores esperados menor que cinco).

45

O risco relativo foi mensurado utilizando-se a razão de risco (RR) e seu intervalo de

confiança a 95%(IC 95%) para cada uma das variáveis associadas ao controle da pressão

arterial, definindo-se para a categoria de referência o risco padrão de 1,0.

Foi realizada análise de regressão logística múltipla para identificar as variáveis

preditoras (independentes) mais fortemente associadas ao controle da pressão arterial

(variável dependente). Nesta etapa da análise as variáveis foram codificadas binariamente

(1=sim; 0=não), selecionando-se no modelo final as variáveis que persistiram associadas

ao desfecho (controle de pressão) ao nível de significância de 5%.

4.10. ASPECTOS ÉTICOS

A presente pesquisa foi elaborada seguindo as recomendações da resolução 196/96

e da Declaração de Helsinque emendada em Hong-Kong em 1989 para a pesquisa em seres

humanos. O projeto desta pesquisa foi submetido à apreciação do Comitê de Ética em

Pesquisa do IMIP e a coleta de dados teve início apenas após sua aprovação (APÊNDICE

IV).

Em se tratando de um estudo observacional, não houve qualquer prejuízo para as

participantes, mantendo-se em todas as etapas da coleta de dados as normas preconizadas

na Instituição para o acompanhamento de pacientes com pré-eclâmpsia grave (SANTOS et

al., 2003). A aferição da pressão arterial, levando em consideração todos os critérios e

cuidados já explicitados, já faz parte da rotina de atendimento a estas pacientes no serviço.

Não houve mudanças na conduta anteparto ou pós-parto, nem interferência na indicação e

escolha de drogas hipotensoras. O único procedimento adicional realizado foi a verificação

sistemática de peso e altura das pacientes no pós-parto, durante a internação na UTI, o que

só foi realizado quando assim o permitia a condição clínica da paciente.

46

Desta forma, nenhum dos procedimentos adotados veio a causar sofrimento

adicional às mulheres envolvidas na pesquisa nem tampouco custo adicional ao IMIP, quer

com recursos humanos, quer com medicamentos.

Na etapa prospectiva, todas as pacientes foram devidamente informadas sobre o

estudo e somente foram incluídas caso concordassem em participar, assinando o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido. Na etapa retrospectiva, não foi possível a obtenção de

um termo específico porque foram consultados apenas os prontuários, porém todas as

pacientes já tinham autorizado a utilização das informações destes prontuários para

pesquisa, assinando um termo para a pesquisa da UTI.

Vale ressaltar que o presente estudo pode trazer importantes benefícios para a

população assistida, uma vez que até o momento desconhece-se qual o tempo transcorrido

desde o parto até o controle dos níveis tensionais, e portanto a terapia anti-hipertensiva no

puerpério não se baseia em qualquer evidência sólida pertinente à evolução dos níveis

tensionais.

Os autores se comprometem a publicar os resultados aqui encontrados, em revista

médica indexada, divulgando assim o estudo para a comunidade científica.

47

IV. RESULTADOS

5.1. CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS E OBSTÉTRICAS DA POPULAÇÃO

Incluíram-se no estudo 102 mulheres com pré-eclâmpsia grave e eclâmpsia. As

características deste grupo são apresentadas na Tabela 1.

Encontrou-se uma média de idade em torno de 24 anos. A paridade variou entre um

e dez partos (incluindo o atual), com um percentual de primíparas de aproximadamente

61%. A freqüência de assistência pré-natal foi de 80,4%. A idade gestacional média no

parto foi de 36,1 semanas, com uma freqüência de parto prematuro em torno de 55%. O

índice de massa corpórea (IMC) só foi calculado em 37 pacientes, observando-se uma

média de 27,9 (com desvio-padrão de 5,0).

A média do peso ao nascer nesta população foi de aproximadamente 2417g, sendo

que 53% dos recém-nascidos eram de baixo peso (menor que 2500gramas). Encontrou-se

uma freqüência de natimortos em torno de 9%, considerando-se os 101 recém-nascidos em

que esta informação estava disponível. A mediana dos escores de Apgar foi oito no

primeiro minuto e nove no quinto minuto, com um percentual de escores de Apgar

menores que sete de, respectivamente, 17,6% e 4,4%.

48

TABELA 1. CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS E OBSTÉTRICAS DAS MULHERES

COM PRÉ-ECLÂMPSIA GRAVE ATENDIDAS NO IMIP NO PERÍODO DE AGOSTO

DE 2003 A JANEIRO DE 2004

CARACTERÍSTICA Idade (anos) Variação Média ± DP

14 – 42

24,1± 6,5 IMC (n=37) Variação Média ± DP

21,8 – 37,6 27,9 ± 5,0

Paridade Variação Mediana % primíparas

1 – 10

1 60,8%

Assistência pré-natal Sim (n, %) Não (n, %)

82 (80, 4%) 20 (19,6%)

Forma clínica da doença Pré-eclâmpsia (n, %) Eclâmpsia (n, %)

98 (96,1%) 04 (3,9%)

Idade gestacional no parto (semanas) Variação Média ± DP Parto pré-termo (n, %)

27 – 42 semanas

36,1 ± 3,5 56 (54,9%)

Peso ao nascer (gramas) Variação Média ± DP % < 2500g

650 – 4190

2416,8 ± 902 54 (52,9%)

Condições de nascimento (n=101) Nativivos (n, %) Natimortos (n, %)

92 (91,1%) 09 (8,9%)

Apgar de primeiro minuto (n=91) Variação Mediana % Apgar < 7

1 – 10

8 17,6%

Apgar de quinto minuto (n=91) Variação Mediana % < 7

4 – 10

9 4,4%

49

5.2. NÍVEIS PRESSÓRICOS E ESQUEMA HIPOTENSOR ADOTADO NAS 24

HORAS QUE PRECEDERAM A INTERRUPÇÃO DA GRAVIDEZ.

As médias dos níveis pressóricos encontradas nas 24 horas que antecederam o parto

foram de 154,4 mmHg (PAS) e 103,2 mmHg (PAD), sendo que 8,8% das mulheres

apresentavam níveis médios de PAS iguais ou superiores a 180 mmHg, e 11,8% tinham

níveis médios de PAD iguais ou superiores a 120 mmHg. Em torno de 57% das mulheres

apresentaram pelo menos um pico pressórico neste período (TABELA 2).

TABELA 2. AVALIAÇÃO DOS NÍVEIS PRESSÓRICOS PRÉ-PARTO DE

MULHERES COM PRÉ-ECLÂMPSIA GRAVE ATENDIDAS NO IMIP ENTRE

AGOSTO DE 2003 E JANEIRO DE 2004

NÍVEIS PRESSÓRICOS

PAS (mmHg)

Variação

Média + DP

PAS ≥ 180 mmHg (n,%)

108 – 200

154,4 ± 15,7

09 (8,8%)

PAD (mmHg)

Variação

Média + DP

% ≥ 120 mmHg

60 – 125

103,2 ± 11,2

12 (11,8%)

Número de picos pressóricos

Variação

Mediana

Pelo menos 1 pico pressórico (n, %)

0 – 9

1

58 (56,9%)

Em relação ao esquema hipotensor, 52 pacientes (51% do total) receberam

tratamento com alguma droga hipotensora nas 24 horas que antecederam o parto. Destas, a

50

maioria recebeu hidralazina (65,4%), sendo a associação α-metildopa mais hidralazina

utilizada em 25%. Apenas 9,6% estavam usando α-metildopa como medicação isolada

(Tabela 3).

TABELA 3. UTILIZAÇÃO DE DROGAS HIPOTENSORAS EM MULHERES COM

PRÉ-ECLÂMPSIA GRAVE ATENDIDAS NO IMIP ENTRE AGOSTO DE 2003 E

JANEIRO DE 2004

USO DE HIPOTENSOR

Sim 52 (51%)

Drogas utilizadas

Hidralazina

Alfametildopa

Alfametildopa + Hidralazina

34 (65,4%)

05 (9,6%)

13 (25,0%)

Não 50 (49%)

51

5.3. MÉDIA DIÁRIA DOS NÍVEIS TENSIONAIS, FREQÜÊNCIA DE PICOS

HIPERTENSIVOS, FREQÜÊNCIA DE CONTROLE DA PRESSÃO ARTERIAL E

DAS COMPLICAÇÕES DA PRÉ-ECLÂMPSIA PÓS-PARTO.

Analisando-se a evolução dos níveis tensionais no pós-parto (Tabela 4 e Figura 1)

verifica-se que os níveis médios de pressão arterial sistólica e diastólica persistiram

elevados nos primeiros cinco dias, observando-se as médias mais elevadas no quarto dia

(PAS de 145,8 mmHg e PAD de 101,0 mmHg). Picos pressóricos foram observados entre

46% – 50% das mulheres neste período. O percentual de controle da pressão arterial ficou

em torno de 25% nos primeiros quatro dias. A partir do terceiro dia, algumas pacientes

obtiveram alta do serviço e o número total começa a diminuir, mas um número

significativo ainda permanece internado no quarto (n = 90) e no quinto dia (n = 81).

A partir do sexto dia pós-parto, verificam-se níveis progressivamente menores de

pressão arterial sistólica e diastólica, com um declínio diário do percentual de picos

pressóricos. Permaneceram internadas no décimo dia apenas 35 pacientes, observando-se

uma média de PAS de 130,5 mmHg e PAD de 87,6 mmHg. Estas médias caem

progressivamente, com retorno à normalidade nos dias seguintes, não se verificando mais

registro de picos pressóricos. No 14º dia encontravam-se internadas 10 pacientes, todas

com controle pressórico. No 16º dia apenas quatro pacientes encontravam-se internadas e

no vigésimo dia uma única paciente persistia hospitalizada.

52

TABELA 4. AVALIAÇÃO PRESSÓRICA PÓS-PARTO EM MULHERES COM PRÉ-

ECLÂMPSIA GRAVE ATENDIDAS NO IMIP ENTRE AGOSTO DE 2003 E JANEIRO

DE 2004

Dia de Avaliação n PAS

Média ± DP PAD

Média ± DP Picos pressóricos

(%) Controle de

PA (%) D1 102 143,1 ± 16,2 96,8 ± 12,0 46,1% 25,5%

D2 102 142,8 ± 16,1 97,4 ± 13,4 47,1% 27,5%

D3 100 144,8 ± 16,2 98,4 ± 12,7 49,0% 23,0%

D4 90 147,1 ± 15,5 101,0 + 12,9 54,4% 25,6%

D5 81 145,8 ± 15,1 98,8 ± 11,8 50,6% 18,5%

D6 74 141,7 ± 15,3 96,5 ± 12,4 36,5% 27,0%

D7 67 138,3 ± 14,1 94,0 ± 11,1 26,9% 28,4%

D8 59 132,9 ± 13,3 91,1 ± 11,2 18,6% 45,8%

D9 44 131,6 ± 13,8 87,6 ± 11,1 13,6% 50,0%

D10 35 130,5 ± 12,6 87,6 ± 10,3 8,6% 48,6%

D11 26 128,7 ± 10,6 86,8 ± 8,4 – 53,9%

D12 18 124,8 ± 7,5 82,7 ± 7,2 – 77,8%

D13 13 120,2 ± 8,8 77,6 ± 7,5 – 84,6%

D14 10 115,8 ± 7,2 76,3 ± 6,8 – 100,0%

D15 07 117,9 ± 14,0 78,4 ± 13,7 – 85,7%

D16 04 116,8 ± 17,4 75,0 ± 12,4 – 75,0%

D17 03 115,7 ± 10,0 78,7 ± 6,1 – 100,0%

D18 02 112,0 ± 0,0 75,0 ± 4,2 – 100,0%

D19 01 122 ± 0,0 80,0 ± 0,0 – 100,0%

D20 01 117 ± 0,0 70 ± 0,0 – 100,0%

* não houve diferença estatisticamente significativa entre os valores médios de pressão arterial sistólica nos quatro primeiros dias. Os níveis de pressão diastólica não diferiram nos três primeiros dias, porém foram significativamente maiores no quarto dia, em relação ao primeiro dia (p=0,02). Os níveis tensionais sistólicos e diastólicos foram semelhantes no quarto e quinto dias, porém foram significativamente menores no sexto dia, em relação aos valores do quinto dia (p=0,03), mantendo-se então semelhantes no sexto e sétimo dias. A seguir, foram significativamente menores no oitavo dia (p<0,01). Estes níveis voltam a cair no nono dia (p=0,02), mantendo-se semelhantes até o 12o dia. No 13º ocorre queda significativa da pressão sistólica e diastólica, e a partir daí não se evidenciam mais diferenças significativas nas médias diárias de pressão.

53

Figura 1. Evolução dos níveis tensionais no pós-parto de mulheres com pré-eclâmpsia

grave atendidas no IMIP entre Agosto de 2003 e Janeiro de 2004

0

20

40

60

80

100

120

140

160

D1 D2 D3 D4 D5 D6 D7 D8 D9 D10 D11 D12 D13 D14 D15 D16 D17 D18 D19 D20

PASPAD

54

Na população estudada, aproximadamente 71% das mulheres obtiveram controle

pressórico durante o internamento, enquanto 29% receberam alta independente do controle

(TABELA 5).

TABELA 5. FREQUÊNCIA GLOBAL DE CONTROLE DA PRESSÃO ARTERIAL EM

MULHERES COM PRÉ-ECLÂMPSIA GRAVE ATENDIDAS NO IMIP ENTRE

AGOSTO DE 2003 E JANEIRO DE 2004.

CONTROLE DA PA N %

Sim 72 70,6%

Não 30 29,4%

Complicações pós-parto estiveram presentes em 22,5% das pacientes, sendo a mais

freqüente a síndrome HELLP (19,6% do total). Choque hipovolêmico e insuficiência renal

aguda estiveram presentes, cada um, em 2,9% das pacientes. Houve um único caso de

coagulação intravascular disseminada. Não houve casos de edema agudo de pulmão, sepse,

hemorragia cerebral e óbito materno (TABELA 6).

TABELA 6. FREQUÊNCIA DE COMPLICAÇÕES PÓS-PARTO EM MULHERES

COM PRÉ-ECLÂMPSIA GRAVE ATENDIDAS NO IMIP ENTRE AGOSTO DE 2003 E

JANEIRO DE 2004.

COMPLICAÇÕES* N %

Síndrome HELLP 20 19,6%

Choque Hipovolêmico 03 2,9%

IRA 03 2,9%

CIVD 01 1,0%

Qualquer complicação 23 22,5%

* Uma paciente pode ter uma ou mais complicações

55

5.4. FREQÜÊNCIA DE UTILIZAÇÃO DE DROGAS HIPOTENSORAS, TIPO DE

HIPOTENSOR, NÚMERO DE DOSES E ASSOCIAÇÕES

Durante o pós-parto, 74 mulheres (72,5%) receberam drogas hipotensoras. Destas,

33,8% usaram uma droga isolada, 25,7% usaram associação de duas drogas e 40,5% três

ou mais drogas (TABELA 7).

TABELA 7. USO DE DROGAS HIPOTENSORAS EM MULHERES COM PRÉ-

ECLÂMPSIA GRAVE ATENDIDAS NO IMIP ENTRE AGOSTO DE 2003 E JANEIRO

DE 2004.

DROGAS HIPOTENSORAS N %

Sim 74 72,5%

Uma droga 25 33,8%

Duas drogas 19 25,7%

Três ou mais drogas 30 40,5%

Não 28 27,5%

56

A droga mais utilizada foi o captopril (63,7%), seguida por α-metildopa (33,3%) e

propranolol (30,4%). Hidroclorotiazida foi administrada em apenas duas mulheres.

Ressaltamos que uma mulher pode ter feito uso de mais de uma droga, porquanto foram

freqüentes as associações (TABELA 8).

TABELA 8. TIPO E DOSE DE DROGAS HIPOTENSORAS UTILIZADAS EM

MULHERES COM PRÉ-ECLÂMPSIA GRAVE ATENDIDAS NO IMIP ENTRE

AGOSTO DE 2003 E JANEIRO DE 2004.

DROGAS HIPOTENSORAS* N % Dose máxima (mg) Média ± DP

Captopril 65 63,7 109,6 ± 37,9

Nifedipina 27 26,5 33,7 ± 11,8

Propranolol 31 30,4 95,5 ± 22,3

Alfametildopa 34 33,3 1448,5 ± 347,0

Hidroclorotiazida 2 2,0 37,5 ± 17,7

* cada paciente pode usar uma ou mais drogas hipotensoras

57

5.5. TEMPO NECESSÁRIO PARA O CONTROLE DA PRESSÃO ARTERIAL

PÓS-PARTO.

Das 72 mulheres que atingiram o controle pressórico durante o internamento,

27,8% obtiveram este controle nas primeiras 72 horas, 20,8% entre o terceiro e o quinto

dia, 25% entre o quinto e o sétimo dia e 26,4% depois do sétimo dia. O tempo médio

necessário para o controle foi de 5,5 dias, variando de um a 13 dias, e a duração média do

internamento após o parto foi de 8,3 dias, variando de 2 a 27 dias (TABELA 9 e Figura 2).

TABELA 9. TEMPO NECESSÁRIO PARA O CONTROLE DA PRESSÃO ARTERIAL

PÓS-PARTO EM MULHERES COM PRÉ-ECLÂMPSIA GRAVE ATENDIDAS NO

IMIP ENTRE AGOSTO DE 2003 E JANEIRO DE 2004.

CONTROLE DA PRESSÃO ARTERIAL

Tempo necessário para controle (N=72)

Variação 1 – 13

Média ± DP 5,5 ± 3,2

< 72 horas (n, %) 20 (27,8%)

3 – 5 dias (n, %) 15 (20,8%)

5 – 7 dias (n, %) 18 (25%)

> 7 dias (n, %) 19 (26,4%)

Duração do internamento pós-parto

Variação 2 – 27

Média ± DP 8,3 ± 4,1

58

Figura 2. Distribuição da freqüência percentual de controle da pressão arterial pós-parto

em mulheres com pré-eclâmpsia grave atendidas no IMIP entre agosto de 2003 e janeiro de

2004.

0,0%

5,0%

10,0%

15,0%

20,0%

25,0%

D1 D2 D3 D4 D5 D6 D7 D8 D9 D10 D11 D12 D13

59

5.6. ASSOCIAÇÃO DO CONTROLE DA PRESSÃO ARTERIAL PÓS-PARTO

COM AS VARIÁVEIS BIOLÓGICAS, OBSTÉTRICAS E A FORMA CLÍNICA DA

DOENÇA

Não houve associação entre controle pressórico pós-parto e variáveis como idade

materna (RR para idade menor que 25 anos = 1,07; IC 95% = 0,83 – 1,40), índice de massa

corpórea (RR para IMC menor ou igual a 27 = 1,21; IC 95% = 0,78 – 1,88), paridade (RR

para primíparas = 1,00; IC 95% = 0,77 – 1,29), assistência pré-natal (RR = 0,94; IC 95% =

0,73 – 1,22), idade gestacional (RR para idade gestacional menor que 37 semanas = 1,29;

IC 95% = 0,98 – 1,69), peso ao nascer (RR para peso menor que 2500g = 1,24; IC 95% =

0,96 – 1,62) e escores de Apgar no primeiro minuto (RR para Apgar menor que 7 = 1,13;

IC 95% = 0,81 – 1,60).

As únicas variáveis que evidenciaram associação com o controle pressórico pós-

parto foram as condições de nascimento e os escores de Apgar no quinto minuto. A

freqüência de controle pressórico foi significativamente maior nos casos de natimortos (RR

= 1,48; IC 95% = 1,29 – 1,71) e recém-nascidos com escores de Apgar no quinto minuto

abaixo de sete (RR = 1,50; IC 95% = 1,30 – 1,74) (TABELA 10).

60

TABELA 10. ASSOCIAÇÃO ENTRE O CONTROLE DA PRESSÃO ARTERIAL PÓS-

PARTO E AS VARIÁVEIS BIOLÓGICAS E OBSTÉTRICAS EM MULHERES COM

PRÉ-ECLÂMPSIA GRAVE ATENDIDAS NO IMIP ENTRE AGOSTO DE 2003 E

JANEIRO DE 2004

Variáveis Com controle

da PA (n, %) Sem controle da PA (n, %)

RR IC 95%

Idade (anos) < 25 > 25

45 (72,6%) 27 (67,5%)

17 (27,4%) 13 (32,5%)

1,07 1,00

0,83 – 1,40

IMC (n=37) < 27 > 27

12 (75,0%) 13 (61,9%)

04 (25,0%) 08 (38,1%)

1,21 1,00

0,78 – 1,88

Paridade Primíparas 2 ou mais partos

43 (70,5%) 29 (70,7%)

18 (29,5%) 12 (29,3%)

1,00 1,00

0,77 – 1,29

Assistência pré-natal Sim Não

30 (68,2%) 42 (72,4%)

14 (31,8%) 16 (27,6%)

0,94 1,00

0,73 – 1,22

Idade gestacional no parto < 37 semanas > 37 semanas

44 (78,6%) 28 (60,9%)

12 (21,4%) 18 (39,1%)

1,29 1,00

0,98 – 1,69

Peso ao nascer (gramas) < 2500g > 2500g

42 (77,8%) 30 (62,5%)

12 (22,2%) 18 (37,5%)

1,24 1,00

0,96 – 1,62

Condições de nascimento (n=101) Natimortos Nativivos

09 (100,0%) 62 (67,4%)

30 (32,6%)

1,48 1,00

1,29 – 1,71

Apgar de 1º. minuto (n=91) < 7 > 7

12 (75,0%) 50 (66,7%)

04 (25,0%) 25 (33,3%)

1,13 1,00

0,81 – 1,60

Apgar de 5º.minuto (n=91) < 7 > 7

4 (100,0%) 58 (66,7%)

29 (33,3%)

1,50 1,00

1,30 – 1,74

61

Também não houve associação significativa entre a forma clínica da doença e o

controle pressórico pós-parto, evidenciando-se risco inalterado de controle da pressão para

os casos com síndrome HELLP (RR = 1,23; IC 95% = 0,96 – 1,58) e eclâmpsia (RR =

0,73; IC 95% = 0,27 – 1,97), quando comparados aos casos de pré-eclâmpsia sem

síndrome HELLP.

TABELA 11. ASSOCIAÇÃO ENTRE O CONTROLE DA PRESSÃO ARTERIAL PÓS-

PARTO E A FORMA CLÍNICA DA DOENÇA EM MULHERES COM PRÉ-

ECLÂMPSIA GRAVE ATENDIDAS NO IMIP ENTRE AGOSTO DE 2003 E JANEIRO

DE 2004

Forma clínica da doença

Com controle da PA (n, %)

Sem controle da PA (n, %)

RR IC 95%

Pré-eclâmpsia com Síndrome

HELLP

16 (84,2%) 03 (15,8%) 1,23 0,96 – 1,58

Eclâmpsia 02 (50,0%) 02 (50,0%) 0,73 0,27 – 1,97

Pré-eclâmpsia sem síndrome

HELLP

54 (68,4%) 25 (31,6%) 1,00

62

5.7. ASSOCIAÇÃO ENTRE O CONTROLE DA PRESSÃO ARTERIAL E OS

NÍVEIS TENSIONAIS E USO DE HIPOTENSOR PRÉ-PARTO

Não houve associação estatisticamente significante entre os níveis tensionais pré-

parto e o controle da pressão arterial. O risco de controle da pressão arterial ficou em torno

de 1,0 tanto para a média de PAS ≥ 160 mmHg como para a média de PAD ≥ 110 mmHg.

Também não houve associação entre a presença de picos pressóricos pré-parto e o controle

da pressão arterial, encontrando-se uma razão de risco de 0,85 (IC 95% = 0,66 – 1,08)

(Tabela 12).

TABELA 12. ASSOCIAÇÃO ENTRE O CONTROLE DA PRESSÃO ARTERIAL E OS

NÍVEIS TENSIONAIS PRÉ-PARTO EM MULHERES COM PRÉ-ECLÂMPSIA

GRAVE ATENDIDAS NO IMIP ENTRE AGOSTO DE 2003 E JANEIRO DE 2004

Controle pressórico

Níveis tensionais Sim (n, %) Não (n, %)

RR

IC 95%

PAS média

≥ 160 mmHg

< 160 mmHg

27 (69,2%)

45 (71,4%)

12 (30,8%)

18 (28,6%)

0,97

0,75 – 1,26

PAD média

≥ 110 mmHg

< 110 mmHg

26 (74,3%)

46 (68,7%)

09 (25,7%)

21 (31,3%)

1,08

0,84 – 1,39

Picos

pressóricos

Pelo menos 1

Ausentes

38 (65,5%)

34 (77,3%)

20 (34,5%)

10 (22,7%)

0,85

0,66 – 1,08

63

A freqüência de controle da pressão arterial foi significativamente menor entre as

pacientes que receberam hipotensor pré-parto (61,5%) em relação àquelas que não

receberam tratamento hipotensor (80,0%). O uso de hipotensor pré-parto reduziu em 23% a

chance de controle da pressão arterial (Tabela 13).

TABELA 13. ASSOCIAÇÃO ENTRE O CONTROLE DA PRESSÃO ARTERIAL E O

USO DE HIPOTENSOR PRÉ-PARTO EM MULHERES COM PRÉ-ECLÂMPSIA

GRAVE ATENDIDAS NO IMIP ENTRE AGOSTO DE 2003 E JANEIRO DE 2004

Controle pressórico

Uso de hipotensor Sim Não

RR

IC 95%

Sim

Não

32 (61,5%)

40 (80,0%)

20 (38,5%)

10 (20,0%)

0,77 0,60 – 0,99

X2 = 4,18 p =0,04

Na análise de regressão logística múltipla, a variável uso de hipotensor foi a única

que persistiu significativamente associada ao controle pressórico (Tabela 14).

TABELA 14. ANÁLISE DE REGRESSÃO LOGÍSTICA MÚLTIPLA. FATORES

ASSOCIADOS AO CONTROLE PRESSÓRICO PÓS-PARTO

Variável Odds Ratio IC 95% Coeficiente Erro-padrão do coeficiente

p

Uso de hipotensor

pré-parto

0,40 0,16 – 0,97 - 0,9163 0,4541 0,0436

* * 1,3863 0,3535 0,0001

64

5.8. ASSOCIAÇÃO ENTRE O CONTROLE DA PRESSÃO ARTERIAL E A

PRESENÇA DE COMPLICAÇÕES DA PRÉ-ECLÂMPSIA NO PÓS-PARTO

Complicações da pré-eclâmpsia estiveram presentes em 23,6% das pacientes que

obtiveram controle pressórico e em 20,0% das que não obtiveram controle pressórico. Não

se observou associação estatisticamente significante entre a presença destas complicações e

o controle pressórico (RR = 1,20; IC 95% = 0,52 – 2,70) (TABELA 15).

TABELA 15. ASSOCIAÇÃO ENTRE O CONTROLE DA PRESSÃO ARTERIAL E A

PRESENÇA DE COMPLICAÇÕES DA PRÉ-ECLÂMPSIA NO PÓS-PARTO EM

MULHERES COM PRÉ-ECLÂMPSIA GRAVE ATENDIDAS NO IMIP ENTRE

AGOSTO DE 2003 E JANEIRO DE 2004

Complicações da pré-eclâmpsia

Controle da PA

Presentes (n, %) Ausentes (n, %)

RR

IC 95%

Sim

Não

17 (23,6%)

06 (20,0%)

55 (76,4%)

24 (80,0%)

1,20

1,00

0,52 – 2,70

X2 = 0,16 p =0,7

65

VI. DISCUSSÃO

Os achados do presente estudo evidenciam que a pressão arterial persiste elevada

no puerpério em mulheres com pré-eclâmpsia grave e eclâmpsia nos primeiros cinco dias,

observando-se as médias mais elevadas no quarto dia pós-parto. Neste período, picos

pressóricos são observados em torno de 50% das mulheres, obtendo-se controle da

hipertensão em apenas 25% dos casos nos primeiros quatro dias. Observa-se declínio dos

níveis pressóricos a partir do sexto dia, encontrando-se uma freqüência global de controle

pressórico em torno de 71%.

Apesar de existirem poucos estudos analisando a evolução da pressão arterial de

mulheres com pré-eclâmpsia no puerpério, os resultados encontrados por alguns autores

vêm corroborar nossos achados, embora possam ser constatadas diferenças no tempo

necessário para controle da pressão arterial.

No estudo de Walters et al., (1986), descreveu-se a evolução dos níveis pressóricos

em 67 puérperas (62,7% primíparas) portadoras de pré-eclâmpsia pura ou superposta. A

média dos níveis pressóricos sistólicos e diastólicos permaneceu elevada por uma semana

após o parto. Em metade das pacientes níveis pressóricos superiores a 150 x 100 mmHg

foram documentados no quinto dia de puerpério. Em 62,7% das mulheres houve ligeira

queda destes níveis logo após o parto, seguida de aumento da pressão arterial entre o

terceiro e o sexto dias (WALTERS et al., 1986). Estes resultados assemelham-se aos

encontrados em nossa casuística, apontando para uma persistência da hipertensão nos

primeiros dias pós-parto em mulheres com pré-eclâmpsia.

Por outro lado, uma contribuição importante do estudo de Walters et al. (1986) é

que os autores também avaliaram o comportamento dos níveis pressóricos nas puérperas

sem história de hipertensão nos cinco primeiros dias no pós-parto. Constatou-se, mesmo

em normotensas, uma elevação dos níveis pressóricos neste período, em relação aos

66

valores observados antes do parto. Discute-se então uma gênese comum para o fenômeno

de aumento dos níveis pressóricos no puerpério – possivelmente relacionada às alterações

hemodinâmicas pós-parto, como o aumento do volume intravascular devido à mobilização

de volume do extravascular para o intravascular que ocorre nesta fase (WALTERS et al.,

1986; WALTERS et al., 1987).

Entretanto, alguns vieses metodológicos podem ser apontados neste estudo de

Walters et al., uma vez que, apesar de os autores descreverem que as 67 mulheres tinham

pré-eclâmpsia, apenas 30 pacientes tinham proteinúria documentada, o que leva a

questionamento em relação ao diagnóstico de pré-eclâmpsia. Na ausência de proteinúria, é

possível que o estudo tenha incluído tanto casos de hipertensão crônica como de

hipertensão gestacional, conforme os critérios atualmente estabelecidos (NATIONAL

HIGH BLOOD PRESSURE EDUCATION PROGRAM WORKING GROUP, 2000).

Assim, o número real de pacientes com pré-eclâmpsia não pôde ser determinado. Além

disso, os autores utilizaram o quarto ruído de Korotkoff, e não o quinto, conforme a

recomendação no presente (NATIONAL HIGH BLOOD PRESSURE EDUCATION

PROGRAM WORKING GROUP, 2000).

Em um estudo mais recente, Ferrazzani et al., (1994) descreveram a duração da

hipertensão no puerpério de 269 gestações únicas (159 com hipertensão gestacional e 110

com pré-eclâmpsia, das quais respectivamente 54,7% e 70,9% de primíparas),

considerando o tempo transcorrido entre o parto e o primeiro dia em que se constatavam

todas as aferições diárias de pressão arterial diastólica iguais ou menores que 80 mmHg

(em torno de duas a quatro), mantendo-se estes níveis por três dias consecutivos. O tempo

para controle pressórico foi significativamente menor no grupo de pacientes com

hipertensão gestacional (6,0 ± 5,5 dias) do que no grupo de pacientes com pré-eclâmpsia

(16,0 ± 9,5 dias).

67

Deve-se destacar, entretanto, que no estudo supracitado não se analisou a

associação das variáveis estudadas (idade, idade gestacional e tempo de internamento) com

o controle da pressão arterial no puerpério, comparando-se apenas estas características

entre os grupos com hipertensão gestacional e pré-eclâmpsia. Não houve distinção entre

pré-eclâmpsia leve e grave.

Além disso, o estudo de Ferrazzani et al. (1994) incluiu tanto uma etapa hospitalar,

quando os níveis tensionais eram verificados por profissionais de enfermagem, como uma

etapa extra-hospitalar, após a alta, quando as próprias mulheres verificavam sua pressão

arterial. Este prolongamento da observação, que somente cessou quando houve controle da

pressão arterial foi interessante, porém os autores não descreveram a média diária dos

níveis pressóricos. Desta forma, não foi possível a comparação com estes achados, a não

ser com o tempo entre o parto e o controle da pressão arterial (16 ± 9,5 dias para

Ferrazzani; 5,5 ± 3,2 dias no presente estudo).

Esta diferença no tempo transcorrido até controle da hipertensão deve ser discutida.

Além de o estudo de Ferrazzani et al. (1994) ter estendido a observação pós-parto com a

monitorização domiciliar da pressão arterial, o que permitiu o acompanhamento de todas

as pacientes até o controle da pressão arterial, os níveis de pressão arterial considerados

como controle também foram diferentes, uma vez que os autores consideraram este

controle na presença de pressão diastólica ≤ 80 mmHg, enquanto nós consideramos

controle médias diárias de pressão sistólica menor que 140 mmHg e diastólica menor que

90 mmHg.

Esta definição de controle pressórico se deu por acreditarmos que os fenômenos

fisiopatológicos da pré-eclâmpsia continuam ainda no puerpério imediato, portanto

estabelecemos como limites pressóricos os mesmos recomendados pela literatura para

diagnóstico de hipertensão na gestação (REPORT OF THE NATIONAL HIGH BLOOD

68

PRESSURE EDUCATION PROGRAM WORKING GROUP ON HIGH BLOOD

PRESSURE IN PREGNANCY, 2000).

Vale ainda ressaltar outros aspectos que explicam essa diferença constatada no

tempo necessário para controle da pressão arterial entre o estudo de Ferrazzani et al.

(1994) e o presente estudo. No estudo de Ferrazzani et al. (1994), utilizou-se o quarto ruído

de Korotkoff para a medida da pressão diastólica, enquanto que neste utilizou-se o quinto

ruído, conforme a recomendação do Consenso (REPORT OF THE NATIONAL HIGH

BLOOD PRESSURE EDUCATION PROGRAM WORKING GROUP ON HIGH

BLOOD PRESSURE IN PREGNANCY, 2000). A definição de “controle” da pressão

arterial torna-se extremamente rígida quando se estabelece o critério de pressão diastólica

menor ou igual a 80 mmHg e se utiliza o quarto ruído porque, caso fosse utilizado o quinto

ruído, estas pacientes, para serem consideradas “controladas”, teriam de ter níveis de

pressão diastólica menores ou iguais a 70 mmHg! Assim, explica-se o porquê de um

intervalo mais longo entre parto e controle da pressão arterial ter sido observado no estudo

de Ferrazzani et al. (1994), em relação a este estudo.

Ainda neste sentido, devemos acrescentar que, embora tanto em nosso estudo como

no de Ferrazzani et al. (1994) tenham sido utilizadas drogas hipotensoras no pós-parto, os

autores deste último estudo suspendiam as medicações hipotensoras quando a pressão

diastólica era inferior a 110 mmHg. Já em nosso estudo, o esquema hipotensor era indicado

com o objetivo de se atingir o controle da pressão arterial, sendo mantido mesmo depois da

alta hospitalar, de forma que todas as puérperas que tiveram indicação de tratamento

hipotensor receberam alta ainda em uso de pelo menos uma droga, para posterior avaliação

ambulatorial e possível retirada dos medicamentos.

Poderíamos ainda discutir o aspecto de o controle pressórico mais precoce permitir

a diminuição do tempo de internamento hospitalar e os gastos hospitalares, por outro lado

69

aumentando o custo com medicações, mas como o nosso estudo não teve como objetivo

avaliar custos, não foi possível determinar qual alternativa seria mais econômica. De

qualquer forma, a terapia anti-hipertensiva no puerpério representa um assunto

controverso, não existindo evidências suficientes para orientar sua prescrição (REPORT

OF THE NATIONAL HIGH BLOOD PRESSURE EDUCATION PROGRAM

WORKING GROUP ON HIGH BLOOD PRESSURE IN PREGNANCY, 2000).

Em outro estudo publicado por um grupo alemão, foram avaliadas através de

M.A.P.A. (Monitorização Ambulatorial de Pressão Arterial – 24 horas) 18 mulheres

normotensas e 36 com síndromes hipertensivas (16 com pré-eclâmpsia leve, 12 com pré-

eclâmpsia grave e oito com síndrome HELLP). As gestantes normotensas tiveram

diminuição dos níveis pressóricos no período pré-parto, enquanto as pré-eclâmpticas

tiveram o comportamento esperado de elevação dos níveis pressóricos antes do parto,

prosseguindo estes níveis elevados no puerpério até a oitava semana. Nove das doze

pacientes com pré-eclâmpsia grave tiveram aumento dos níveis pressóricos durante a noite

na primeira semana pós-parto, e ausência da redução fisiológica dos níveis pressóricos à

noite nas oito semanas seguintes. Os autores sugerem que as mulheres com diagnóstico de

pré-eclâmpsia sejam monitorizadas de forma mais intensa, cogitam o uso de hipotensores e

um melhor controle pressórico à noite (RUSCHITZKA et al., 1996).

Todos estes estudos, não obstante eventuais diferenças no tempo necessário para

controle da pressão arterial, apontam para a persistência de níveis elevados no puerpério

em mulheres com pré-eclâmpsia. Entretanto, resultados diferentes foram descritos por

Makkonen et al. (1996), indicando queda progressiva da pressão arterial pós-parto em

pacientes com pré-eclâmpsia grave e síndrome HELLP (um total de 100 pacientes). Neste

estudo finlandês a média de duração do internamento pós-parto foi em torno de seis dias,

observando-se uma redução da pressão arterial diastólica em torno de 10 mmHg no

70

primeiro dia e 13 mmHg no final da primeira semana. Os autores também descrevem um

padrão de recuperação “rápida” versus “lenta”, esta última caracterizada por pressão

diastólica maior que 100 mmHg no quinto dia, ou persistência de proteinúria maior que 0,5

g/dia no sétimo dia pós-parto. Esta recuperação “lenta” foi encontrada em 47% das

pacientes. Entretanto, os autores não descreveram os critérios para verificação da pressão

arterial, qual o ruído adotado, como foi realizada a monitorização pós-parto, e na verdade o

elevado percentual de pacientes com recuperação “lenta” está em aparente desacordo com

a referência à queda dos níveis tensionais observada na primeira semana pós-parto; os

autores não discutiram este ponto, de forma que fica difícil interpretar tais achados

(MAKKONEN et al., 1996).

Este mesmo grupo finlandês comparou posteriormente o tempo necessário para

controle da pressão arterial e para normalização das alterações vasoativas em 20 mulheres

com pré-eclâmpsia. Pesquisaram os seguintes marcadores: fibronectina, óxido nítrico,

GMP cíclico, endotelina-1 e 6-ceto-prostaglandina F. À exceção da fibronectina, que ainda

permanecia alta no quinto dia pós-parto, todos os outros parâmetros laboratoriais

retornaram aos valores normais entre o segundo e o terceiro dias depois do parto,

antecedendo assim o controle clínico da pressão arterial. À diferença do estudo inicial, os

níveis tensionais persistiram elevados até o momento da alta na maioria das mulheres.

Entretanto, como o número de pacientes foi pequeno e não houve acompanhamento até

normalização da pressão arterial, o tempo necessário para esta normalização não foi

descrito (MAKKONEN et al., 2002).

Algumas limitações metodológicas do presente estudo merecem discussão. Cerca

de 30% das mulheres receberam alta sem controle pressórico adequado. Em se tratando de

casos de pré-eclâmpsia pura, é de se esperar que a completa normalização dos níveis de

pressão arterial venha a ocorrer em determinado momento durante o puerpério, porém

71

estas pacientes não foram acompanhadas depois da alta e não pudemos precisar o tempo

necessário para controle pressórico. Talvez a avaliação deste tempo represente um

desfecho mais consistente do que a freqüência de controle da pressão arterial.

Como o estudo foi observacional, não houve interferência na conduta do serviço e,

assim, não foi possível manter as puérperas internadas até obter-se um controle adequado,

devido a variações individuais da conduta médica, e à própria dificuldade de manter estas

pacientes, em geral jovens e saudáveis, internadas.

Outro aspecto que deve ser considerado é a definição de controle pressórico

utilizada no presente estudo, caracterizado por pressão sistólica abaixo de 140 mmHg e

pressão diastólica menor que 90 mmHg, enquanto na prática clínica diária muitas pacientes

recebem alta com níveis tensionais diastólicos inferiores a 100 mmHg. Na verdade, não

existe no IMIP, até o momento, um protocolo formal para o tratamento da hipertensão pós-

parto, e em geral permite-se a alta na vigência do tratamento hipotensor, com a orientação

de retorno com uma, seis e 12 semanas pós-parto, para reavaliação da necessidade deste

tratamento.

No entanto, esta observação não invalida os resultados, já que a quase totalidade

destas mulheres permaneceu internada nos primeiros cinco dias de puerpério, permitindo

assim a documentação de pressão arterial. Cumpre ressaltar que um número significativo

(em torno de 71%) de mulheres só recebeu alta após o controle pressórico. Como

mencionado anteriormente, Ferrazzani et al., (1994) e Walters et al., (1987) destacaram as

dificuldades de realização de estudos nesta população, em função da necessidade materna

de prestar todos os cuidados ao recém-nascido.

Em outra direção, também não podemos deixar de apontar alguns aspectos do

controle pressórico que não foram abordados no presente estudo. Uma característica

importante corresponde ao ritmo circadiano na variação da pressão arterial, o que foi

72

descrito pela primeira vez por Millar-Craig et al. (1978). Evidências recentes sugerem a

importância da pressão noturna nas lesões de órgãos-alvo e no prognóstico nos casos de

hipertensão (STAESSEN et al., 1999; VERDECCHIA et al., 1997). Na gestação,

descreve-se um comportamento circadiano em normotensas semelhante ao de mulheres

não-grávidas, com o decréscimo noturno. Entretanto, em mulheres com pré-eclâmpsia

grave não há o decréscimo noturno dos níveis pressóricos, que podem até mesmo

encontrar-se mais elevados à noite (LARRY, 2000). Ruschitzka et al., (1996) já haviam

descrito esse fenômeno, observando uma maior freqüência de picos hipertensivos no

período noturno. Em 2003, Hermida et al. propuseram que se utilizasse a variação do ritmo

circadiano como fator preditivo para o aparecimento de pré-eclâmpsia.

Em nosso estudo, ao utilizarmos a média de quatro a 12 aferições diárias,

evidentemente estavam incluídas as aferições no período noturno, porém esta variável não

foi incluída no protocolo original, de forma que não pudemos documentar a variação

noturna da pressão arterial em nossas pacientes. Entretanto, julgamos importante incluir

sua avaliação em novos estudos que pretendam descrever o comportamento de níveis

pressóricos no puerpério.

Apesar destas limitações, acreditamos que o nosso estudo vem contribuir

significativamente para elucidar alguns aspectos pertinentes à evolução dos níveis

tensionais pós-parto em pacientes com pré-eclâmpsia grave e eclâmpsia. É interessante

constatar que, não obstante a abundância de referências sobre o tema hipertensão e

gravidez, tão poucos estudos tenham sido publicados a este respeito.

Neste sentido, nosso estudo caracterizou-se por critérios de inclusão bastante

rígidos e por definição estrita das síndromes hipertensivas, de forma que incluímos apenas

pacientes com diagnóstico de certeza de pré-eclâmpsia grave. Pode-se, evidentemente,

questionar se alguns casos de hipertensão crônica com pré-eclâmpsia superposta não foram

73

incluídos, porém todos os esforços foram feitos para afastar a presença de hipertensão

crônica e certamente todos os casos tinham hipertensão proteinúrica. Embora a proteinúria

de 24 horas não tenha sido realizada em todos os casos, devido a fatores como indicação

imediata de interrupção da gravidez, todas as pacientes tinham proteinúria estabelecida

pelo menos pela fita, além do que preenchiam os critérios diagnósticos de pré-eclâmpsia

grave (REPORT OF THE NATIONAL HIGH BLOOD PRESSURE EDUCATION

PROGRAM WORKING GROUP ON HIGH BLOOD PRESSURE IN PREGNANCY,

2000).

Vale ainda ressaltar que, neste estudo, tivemos também a preocupação de analisar

os fatores associados ao controle da pressão arterial, que não foram pesquisados pela

maioria dos autores que estudaram a evolução da pressão pós-parto em pacientes com pré-

eclâmpsia.

Somente Makkonen et al. (1996) pesquisaram fatores antenatais e perinatais

associados com o padrão de recuperação das pacientes com pré-eclâmpsia no puerpério:

“lenta” ou “rápida” (conforme discutido anteriormente). Não encontraram diferenças entre

estes grupos com relação a fatores como idade, pressão arterial diastólica no primeiro

trimestre, duração da hipertensão pré-parto (semanas), duração da proteinúria, incidência

de sintomas subjetivos, gestação múltipla, idade gestacional no parto, peso ao nascer,

pressão diastólica no primeiro dia pós-parto. Apenas os níveis de proteinúria no primeiro

dia pós-parto e a presença de retardo do crescimento intra-uterino apresentaram diferença

estatisticamente significante entre os grupos: a média de proteinúria em gramas foi de 1,6

± 1,9 nos casos de recuperação rápida versus 5,0 ± 4,1 nos casos de recuperação lenta,

encontrando-se uma freqüência de, respectivamente, 28,3% e 36,2% de casos de retardo de

crescimento intra-uterino nesses grupos. Na análise de regressão logística, a única variável

que persistiu significativamente associada à recuperação lenta foi a presença de retardo do

74

crescimento intra-uterino. Os autores não apresentam os critérios utilizados para

diagnosticar “retardo do crescimento intra-uterino”, não definindo esta variável.

Evidentemente, a presença de restrição do crescimento fetal pode ser um marcador da

gravidade da pré-eclâmpsia, refletindo em parte a magnitude das alterações

fisiopatológicas e particularmente a isquemia útero-placentária, porém este achado não foi

adequadamente discutido pelos autores.

Em nosso estudo, pesquisamos a associação entre controle da pressão e diversas

variáveis, incluindo idade, índice de massa corpórea (IMC), paridade, idade gestacional no

parto, peso ao nascer, natimortos, escores de Apgar, forma clínica da doença, níveis

tensionais e uso de hipotensor nas 24 horas antecedendo o parto. O controle pressórico foi

mais freqüente em pacientes com natimortos (RR = 1,48; IC 95% = 1,29 – 1,71) e nos

casos de recém-nascidos com escores de Apgar menores que sete no quinto minuto (RR =

1,50; IC 95% = 1,30 – 1,74). Por outro lado, a freqüência de controle pressórico foi

significativamente menor em pacientes que receberam hipotensor pré-parto (RR = 0,77; IC

95% = 0,60 – 0,99). Nenhuma das outras variáveis evidenciou associação significativa com

o controle pressórico, e na análise multivariada a única variável que persistiu associada a

este controle foi o uso de hipotensor antes do parto (OR = 0,40; IC 95% = 0,16 – 0,97).

Estes resultados diferem bastante dos resultados encontrados por Makkonen et al.

(1996), porém torna-se difícil comparar os estudos porque envolveram populações

diferentes e variáveis também diferentes. Da mesma forma, não há como cotejar estes

achados com a literatura, que não tem pesquisado fatores associados ao controle pressórico

pós-parto. Mesmo assim, devemos discuti-los, baseando-nos em considerações

fisiopatológicas e clínicas.

Pré-eclâmpsia e eclâmpsia formam um binômio, com um sintoma diferente no caso

da eclâmpsia – as convulsões, mas partilham os mesmos mecanismos fisiopatológicos e o

75

mesmo tratamento: em suma a mesma doença, porém com maior gravidade e pior

prognóstico associado à eclâmpsia. Por outro lado, a síndrome HELLP constitui outra

entidade dentro do espectro da pré-eclâmpsia/eclâmpsia que se associa à significativa

morbimortalidade materna e perinatal (SANTOS et al., 2003; SIBAI, 1990; WEINSTEIN,

1982). Entretanto, não encontramos associação entre o controle pressórico e a presença de

eclâmpsia ou síndrome HELLP (RR = 0,73; IC 95% = 0,27 – 1,97 e RR = 1,23; IC 95% =

0,96 – 1,58, respectivamente).

Em relação às outras variáveis, a idade menor que 25 anos não esteve associada ao

controle pressórico (RR = 1,07; IC 95% = 0,83 – 1,40). Sabe-se que a prevalência de

hipertensão aumenta de acordo com a idade e que o risco de pré-eclâmpsia aumenta

conforme o aumento da idade a partir de 30 anos. (SEVENTH REPORT OF THE JOINT

NATIONAL COMMITTEE ON PREVENTION, DETECTION, EVALUATION AND

TREATMENT OF HIGH BLOOD PRESSURE – THE JNC 7 REPORT, 2003; SIBAI

2002). Entretanto, não pudemos utilizar este ponto de corte de 30 anos devido à

composição de nossa amostra, com poucas mulheres acima de trinta anos, concentrando-se

nas faixas etárias mais jovens. É possível que, com um maior número de pacientes, esta

comparação possa ser realizada.

Também não houve na população estudada associação entre controle pressórico e a

paridade (RR = 1,00; IC 95% = 0,77 – 1,29). A primiparidade, como já mencionado, é

fator de risco para pré-eclâmpsia. Por outro lado, a presença de pré-eclâmpsia numa

segunda gravidez está associada a um prognóstico adverso no que diz respeito ao risco de

hipertensão crônica e à recorrência futura de pré-eclâmpsia (NESS et al., 1996; PALLER

et al., 1998; SIBAI et al., 1992; SIBAI, 2002). Estes fatores podem estar balanceados e

justificar a falta de associação entre paridade e controle pressórico. Entretanto, não

distinguimos nesta pesquisa as mulheres sem história prévia de pré-eclâmpsia das que

76

tinham este antecedente. É possível que a associação entre controle pressórico e mulheres

sem história de pré-eclâmpsia em gestação anterior possa vir a ser documentada.

Por outro lado, o pré-natal não parece oferecer proteção para uma evolução

favorável da pressão pós-parto, uma vez que não se associou com controle pressórico (RR

= 0,94; IC 95% = 0,73 – 1,22). Consideramos este resultado surpreendente, porque em

geral as pacientes que têm assistência pré-natal apresentam melhor prognóstico, em função

do diagnóstico precoce da hipertensão e, no caso da pré-eclâmpsia grave, do

encaminhamento aos serviços de referência para a conduta adequada (COSTA et al.,

2002). Uma possível explicação pode ser a qualidade da assistência pré-natal, uma vez que

consideramos como assistência pré-natal a presença de pelo menos seis consultas,

contemplando assim apenas aspectos quantitativos. Este aspecto merece ser

adequadamente investigado em estudos futuros.

Não observamos associação das variáveis peso ao nascer menor que 2500g e idade

gestacional no parto menor que 37 semanas com o controle pressórico (respectivamente

com RR = 1,24; IC 95% = 0,96 – 1,62 e RR = 1,29; IC 95% = 0,98 – 1,69). Duas situações

poderiam contribuir para esta associação: a maior intensidade ou gravidade da pré-

eclâmpsia culminaria com diagnóstico precoce, e poderíamos esperar maior dificuldade

para controle pressórico no puerpério nas mulheres com estas características. Em outra

situação também relacionada ao diagnóstico precoce, deve-se considerar a possibilidade de

tratamento oportuno, impedindo a progressão e maior gravidade da doença, pois que passa

a existir uma demanda para interrupção da gestação (uma vez garantida a maturidade

pulmonar do feto). A interrupção da gestação em pacientes com pré-eclâmpsia grave e feto

viável é defendida por diminuir a morbidade materna, sem oferecer riscos significativos ao

concepto (NATIONAL HIGH BLOOD PRESSURE EDUCATION PROGRAM

WORKING GROUP, 2000; SANTOS et al, 2003). O fato de não encontrarmos associação

77

significativa entre o controle pressórico e estas variáveis, entretanto, pode se dever ao

tamanho amostral insuficiente.

O mesmo raciocínio pode ser feito para o peso ao nascer. Baixo-peso ao nascer e

restrição do crescimento fetal constituem achados freqüentes em gestações complicadas

por pré-eclâmpsia (SIBAI, 2002). Uma maior freqüência de restrição do crescimento

supostamente aconteceria em doenças mais graves, e por conseguinte de difícil controle

pressórico (MAKKONEN et al., 1996). Mais uma vez, a falta de associação pode ter se

devido à falta de poder da amostra para evidenciar um risco realmente existente na

população.

A variável índice de massa corpórea (abaixo de 27) não esteve associada ao

controle pressórico no puerpério (RR = 1,21; IC 95% = 0,78 – 1,88). A análise desta

variável, no entanto, foi dificultada pelo fato de a informação pertinente só estar disponível

em 37 pacientes. Isto ocorreu basicamente porque o estudo teve parte retrospectiva e esta

informação não constava em prontuário, prejudicando assim a análise estatística.

Salientamos, ainda, que o uso do IMC no puerpério não tem sido adequadamente estudado,

e que o próprio ponto de corte pode ser questionado. Todavia, a relação de sobrepeso e

obesidade (IMC entre 25 e 30 e acima de 30, respectivamente) com níveis pressóricos

elevados está bem documentada na população em geral. Para cada aumento de 4,5 Kg de

peso verificou-se uma elevação de 04 mmHg nos níveis pressóricos no estudo de

Framingham, tanto em homens quanto em mulheres (CHOCKALINGAN et al., 1990;

HALL et al., 1994; HIGGINS et al., 1998). Na gravidez, IMC acima do percentil 90

associa-se com risco aumentado de pré-eclâmpsia, diabetes gestacional, macrossomia fetal

e distocia de ombro (MURAI et al., 1997; SAFTLAS et al., 2000; STREVENS et al.,

2002; TOMODA et al., 1996; WOLFE et al., 1991). IMC elevado tem sido descrito em

pacientes com pré-eclâmpsia (BUCHBINDER et al., 2002), e é possível que um maior

78

IMC associe-se a menor freqüência de controle pressórico no pós-parto, porém esta

hipótese precisa ser testada em estudos futuros. Na verdade, a etapa prospectiva deste

estudo vem prosseguindo, e futuramente poderemos analisar esta variável em um número

maior de puérperas.

Não houve associação entre os escores de Apgar do primeiro minuto e controle

pressórico no puerpério (RR = 1,13; IC 95% = 0,81 – 1,60), porém, como já descrevemos,

encontramos associação entre Apgar do quinto minuto menor que sete e controle

pressórico. As mães de recém-nascidos com escores de Apgar abaixo de sete no quinto

minuto tiveram aumentadas em 50% as chances de obter controle pressórico no puerpério.

É interessante acrescentar que a chance de controle pressórico também foi

significativamente maior nos casos de natimortos (48%), de forma que estes achados

devem ser interpretados em conjunto.

O Apgar de primeiro minuto reflete as condições de parto, enquanto o Apgar de

quinto minuto nos fornece informações indiretas sobre as condições intra-uterinas, e baixos

escores podem refletir a gravidade da insuficiência placentária. Por outro lado, a morte do

feto também pode resultar da falência placentária, e é uma observação comum entre os

obstetras de que, com o decesso fetal, inicia-se a resolução do quadro da pré-eclâmpsia.

Embora esta suposição não tenha sido confirmada por estudos clínicos, teoricamente

parece-nos convincente a hipótese de que o óbito fetal poderia equivaler ao parto, uma vez

que cessa a atividade trofoblástica. Há muitos anos tem se constatado que a única “cura”

possível para a pré-eclâmpsia é o parto (NATIONAL HIGH BLOOD PRESSURE

EDUCATION PROGRAM WORKING GROUP, 2000; SIBAI, 2002), uma vez que a

doença depende da presença do trofoblasto no organismo materno (SIBAI, 2002).

Inequivocamente, a evolução da curva pressórica nos casos de pré-eclâmpsia em que

79

ocorre o óbito fetal merece investigações ulteriores, incluindo outras variáveis clínicas e

laboratoriais para avaliação da resolução da pré-eclâmpsia.

Os níveis pressóricos nas 24 horas que antecederam o parto deveriam caracterizar a

gravidade da doença: quanto maiores, de mais difícil controle deveria ser a doença. Esta

associação, porém, não foi observada nem para os níveis médios de pressão sistólica (RR =

0,97; IC 95% = 0,75 – 1,26), nem para os níveis médios de pressão diastólica (RR = 1,08;

IC 95% = 0,84 – 1,39), assim como para a presença de picos hipertensivos (RR = 0,85; IC

95% = 0,66 – 1,08).

Em relação ao uso de drogas hipotensoras antes do parto, esta variável associou-se

a uma menor freqüência de controle pressórico. Devemos, contudo, esclarecer que sob a

epígrafe “uso de hipotensor pré-parto”, incluíram-se tanto as pacientes internadas na

enfermaria de alto-risco ou provenientes do ambulatório pré-natal, que vinham recebendo

hipotensores orais como os casos em que se administrou hidralazina intravenosa para o

tratamento de picos hipertensivos e apenas se dispunha da informação nas 24 horas que

antecederam o parto. Assim, o uso de hipotensor constitui um indicador da gravidade do

processo hipertensivo, refletindo a ocorrência de picos hipertensivos neste período.

Procuramos, também, estabelecer se o controle da pressão arterial pós-parto

associa-se a menor freqüência de complicações, porém não encontramos associação entre

controle pressórico e a presença de qualquer complicação na amostra analisada (RR = 1,20;

IC 95% = 0,52 – 2,70). É claro que algumas complicações tiveram uma freqüência muito

baixa neste estudo, e assim não calculamos o risco individual para cada uma delas. Embora

teoricamente o controle pressórico devesse reduzir o risco de complicações, é possível que

esta associação não tenha sido evidenciada em nosso estudo por falta de poder da amostra.

Por outro lado, pode ser que simplesmente não exista qualquer associação entre os níveis

pressóricos pós-parto e a freqüência de complicações, e que a presença de níveis tensionais

80

elevados no puerpério não resulte em qualquer morbidade para as pacientes com pré-

eclâmpsia, até mesmo porque esta elevação não persiste por tempo suficiente para

promover lesões definitivas em órgãos-alvo.

Todos estes resultados, em conjunto, suscitam uma discussão sobre o tratamento

hipotensor no puerpério em pacientes com pré-eclâmpsia grave e eclâmpsia. O presente

estudo não foi desenhado com o objetivo de determinar se este tratamento é necessário,

porém a interpretação de seus resultados leva a algumas considerações importantes sobre o

tema.

Neste estudo, o tratamento hipotensor foi indicado em 72,5% das puérperas, sendo

o captopril a droga mais usada (64%), seguindo-se a α-metildopa (33,3%), isoladamente

ou em associações. Propranolol (30,4%), nifedipina (26,5%) também foram bastante

utilizados. Apenas duas pacientes receberam hidroclorotiazida.

O uso do captopril no puerpério é considerado seguro (COMMITTEE ON DRUGS,

AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICS, 1994; HALE, 1999), e a racionalidade da

escolha se baseia em alguns estudos que mostram que a vasculatura de gestantes normais

se apresenta com responsividade diminuída a algumas substâncias, sobretudo a

angiotensina II. Os vasos de mulheres com pré-eclâmpsia, contudo, se tornam

hiperresponsivos a esses hormônios. Gant, em 1973, sugeria que a inibição da angiotensina

II ainda na gestação poderia proporcionar melhor controle pressórico, opinião que foi

referendada por outros autores (MILLS et al., 1999; WALSH, 1985). Assim, acreditando

que a fisiopatologia da hipertensão no puerpério é semelhante à da hipertensão na gravidez

de mulheres portadoras de pré-eclâmpsia, o captopril vem sendo utilizado no IMIP como

droga de escolha para o tratamento hipotensor pós-parto.

A grande discussão, porém, é se o tratamento hipotensor das pacientes com pré-

eclâmpsia é realmente necessário depois do parto. Na verdade, o uso de hipotensores

81

durante a gravidez nestas pacientes também é controverso, não sendo recomendado pelo

Consenso (NATIONAL HIGH BLOOD PRESSURE EDUCATION PROGRAM

WORKING GROUP, 2000).

No IMIP, o tratamento hipotensor no puerpério é indicado quando, 24 horas após o

parto ou após o término do tratamento com sulfato de magnésio contínuo, constatam-se

duas ou mais aferições de pressão arterial diastólica maiores ou iguais a 110 mmHg

(SANTOS et al., 2003). Neste estudo, administramos medicamentos para os picos

hipertensivos para pacientes com níveis de pressão arterial diastólica a partir de 120

mmHg, ou PAD maior ou igual a 110 mmHg em mulheres sintomáticas (escotomas, dor

epigástrica, turvação visual, sonolência) e/ou com PAS maior ou igual a 180 mmHg. A

medicação utilizada para o tratamento dos picos hipertensivos nas puérperas foi o

captopril. Para o tratamento dos níveis pressóricos elevados no puerpério, a norma

preconiza opções diversas, como captopril, nifedipina, α-metildopa e hidroclorotiazida,

sendo a indicação e seleção de hipotensor individualizada após discussão de cada caso, na

evolução clínica diária.

Neste estudo, 49 mulheres usaram associação de drogas hipotensoras, o que

representa 35% daquelas que receberam alguma droga hipotensora. Destas 49, 61,2%

utilizaram esquema com três ou mais drogas. Foram administradas onze diferentes

associações de fármacos, sendo que 13 pacientes receberam captopril em associação com

nifedipina e/ou propranolol e 10 receberam a associação de captopril com α-metildopa.

Não fica claro, porém, se o uso de hipotensores, em qualquer esquema ou

associação, influencia o curso da pressão arterial pós-parto. O que nosso estudo permitiu

concluir foi que, até o quinto dia, constatam-se níveis tensionais elevados, iniciando-se a

seguir queda progressiva até normalização da pressão arterial. Também não existem

evidências de que, durante o tempo em que persistem elevados os níveis tensionais, estes

82

se associem a efeitos deletérios. As seqüelas em potencial da hipertensão pós-parto

precisam ainda ser estabelecidas.

Magee e Sadeghi (2003) propõem que sejam realizados ensaios clínicos

randomizados comparando por exemplo tratamento hipotensor com placebo ou diferentes

esquemas hipotensores, tendo como desfechos sugeridos a freqüência de complicações,

duração da permanência hospitalar e necessidade de re-internamento, ao que

acrescentaríamos análise dos custos com internamento hospitalar prolongado versus gasto

com hipotensores orais.

A seleção do hipotensor ideal para uso no puerpério nos casos de pré-eclâmpsia

deve considerar as alterações fisiopatológicas subjacentes à persistência de níveis

tensionais: além das alterações da reatividade vascular (CONRAD et al., 1999; VISSER et

al., 1991), que poderiam persistir por um prazo indeterminado no puerpério, postula-se que

a elevação dos níveis tensionais, à semelhança do que ocorre em normotensas, decorre de

uma reorganização dos fluidos, com retorno de líquido do extravascular para o

intravascular após o parto (WALTERS et al., 1986).

Neste sentido, alguns autores propõem um curso de furosemida no puerpério de

mulheres com pré-eclâmpsia que persistem hipertensas ou em insuficiência renal

(ASCARELLI et al., 1999; KEISEB et al., 2002.). Esta abordagem poderia ser eficaz,

porque evitaria o acúmulo de líquidos no espaço intravascular. O problema é que a pré-

eclâmpsia caracteriza-se por redução do volume intravascular em decorrência da

hipoproteinemia e aumento da permeabilidade capilar, com vazamento de plasma para o

interstício (SIBAI, 2002). O momento exato em que se reverte esta alteração

fisiopatológica e inicia-se o retorno do líquido para o espaço intravascular, entretanto, pode

não ser identificado clinicamente. Assim, acreditamos que há necessidade de cautela para

indicar uma medicação que aumenta a taxa de filtração glomerular e que, em situações de

83

hipovolemia, pode mesmo induzir alteração da função renal (DE VRIESE, 2003). Em

nossa opinião, os diuréticos não devem ser utilizados imediatamente depois do parto,

quando a hipovolemia decorrente das alterações fisiopatológicas da pré-eclâmpsia

certamente ainda persiste, podendo ainda ser agravada pela perda sangüínea do parto.

Por outro lado, é importante documentar e descrever o comportamento da diurese e

do balanço hídrico destas mulheres enquanto internadas, buscando determinar se existe

associação entre diurese, balanço hídrico e níveis pressóricos. Com base na interpretação

destes achados, pode-se determinar o momento de indicar terapia diurética durante o

puerpério. É possível, analisando os valores de pressão arterial no presente estudo, postular

que este retorno para o espaço intravascular ocorra por volta do terceiro e quarto dias pós-

parto, quando se verificam os níveis máximos de pressão arterial, porém estes resultados

devem ser corroborados em estudos prospectivos com avaliação de diversas outras

variáveis e um número maior de pacientes.

De fato, o presente estudo vem seguindo prospectivamente e pretendemos incluir

novas variáveis para análise. Além disso, estamos preparando o projeto de um grande

ensaio clínico randomizado comparando o tratamento farmacológico da hipertensão pós-

parto com placebo nestas pacientes com pré-eclâmpsia grave e eclâmpsia. O tratamento

farmacológico deverá ter dois ou três braços, para comparação de drogas como captopril,

nifedipina e, possivelmente, furosemida.

Neste futuro estudo, as pacientes deverão prosseguir hospitalizadas até o controle

pressórico. Como desfechos primários, pretendemos observar os níveis tensionais (média

diária e freqüência de picos pressóricos), o tempo necessário para controle da pressão

arterial, necessidade de uso de outros hipotensores, duração da permanência hospitalar,

efeitos colaterais da terapia hipertensiva e freqüência de complicações da pré-eclâmpsia. A

análise secundária dos dados também deve incluir avaliação dos fatores associados ao

84

controle pressórico em um prazo ainda a ser definido, como por exemplo controle a partir

do sexto dia pós-parto.

85

VI. CONCLUSÕES

Em 102 mulheres com pré-eclâmpsia grave e eclâmpsia atendidas na UTI

Obstétrica do IMIP entre agosto de 2003 e janeiro de 2004:

1. A idade média foi em torno de 24 anos, observando-se uma média do índice de

massa corpórea de 27,9 e um percentual de primíparas de aproximadamente 61%.

A freqüência de assistência pré-natal foi de 80,4%. 3,9% das mulheres tiveram

eclâmpsia em associação com a pré-eclâmpsia. A média de idade gestacional no

parto ficou em torno de 36 semanas, com uma freqüência de parto prematuro de

55%. Encontrou-se uma média do peso ao nascer de aproximadamente 2417

gramas, com um percentual de baixo peso de 53%. A freqüência de natimortos foi

9% e a mediana dos escores de Apgar foi 8 no primeiro minuto e 9 no quinto

minuto.

2. A média dos níveis pressóricos nas 24 horas antecedendo a interrupção da gravidez

foi de 154,4 mmHg (pressão sistólica) e 103,2 mmHg (pressão diastólica), sendo

que 57% tiveram um ou mais picos pressóricos nesse período. Em torno de 52%

das mulheres tinham recebido tratamento hipotensor, 65% das quais utilizaram

hidralazina.

3. Os níveis médios de pressão arterial sistólica e diastólica persistiram elevados nos

primeiros cinco dias, observando-se as médias mais elevadas no quarto dia (pressão

sistólica de 145,8 mmHg e pressão diastólica de 101,0 mmHg). Picos pressóricos

foram observados entre 46% – 50% das mulheres neste período. O percentual de

controle da pressão arterial ficou em torno de 25% nos primeiros quatro dias. A

partir do sexto dia pós-parto, verificam-se níveis progressivamente menores de

pressão arterial sistólica e diastólica, com um declínio diário do percentual de picos

86

pressóricos diários. A partir do décimo dia não ocorreram picos pressóricos. A

freqüência global de controle pressórico foi em torno de 71%. Complicações pós-

parto ocorreram em 22,5% das pacientes, sendo a complicação mais freqüente a

síndrome HELLP (em torno de 20%).

4. Drogas hipotensoras foram utilizadas em 72,5% das pacientes depois do parto.

Destas, 33,8% usaram uma só droga, 25,7% usaram associação de duas drogas e

40,5% três ou mais drogas. A droga mais utilizada foi o captopril (63,7%), seguida

por α-metildopa (33,3%) e propranolol (30,4%).

5. Das 72 mulheres que atingiram o controle pressórico pós-parto (70,6% do total),

27,8% obtiveram este controle nas primeiras 72 horas, 20,8% entre o terceiro e o

quinto dia, 25% entre o quinto e o sétimo dia e 26,4% depois do sétimo dia. O

tempo médio necessário para o controle foi de 5,5 dias, variando de um a 13 dias.

6. Não se verificou associação significativa entre controle pressórico pós-parto e as

variáveis idade, índice de massa corpórea, paridade, assistência pré-natal, idade

gestacional, peso ao nascer, escores de Apgar no primeiro minuto e forma clínica

da doença. O controle pressórico foi mais freqüente em pacientes com natimortos

(RR = 1,48; IC 95% = 1,29 – 1,71) e recém-nascidos com escores de Apgar

menores que sete no quinto minuto (RR = 1,50; IC 95% = 1,30 – 1,74).

7. Não se verificou associação significativa do controle pressórico pós-parto com a

média pré-parto de pressão arterial sistólica e diastólica nem com a presença de

picos pressóricos. A freqüência de controle pressórico foi significativamente menor

em pacientes que receberam hipotensor pré-parto (RR = 0,77; IC 95% = 0,60 –

0,99).

8. Não se verificou associação significativa entre controle pressórico e a presença de

complicações no pós-parto. A freqüência de complicações foi em torno de 24% nas

87

pacientes com controle e de 20% nas pacientes sem controle pressórico (RR = 1,20;

IC 95% = 0,52 – 2,70).

88

VII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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