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DOCUMENTOS REVELAM
Juiz recebe vários
depósit os num dia
RASTOO Não fazemtransferências, apenasdepósitos. E sempreabaixo do valor queobriga bancos a daremalerta às autoridadesINVESTIGAÇÃO O As
provas foram enviadas
para o Supremo, ondeo caso está parado hámeses sem diligências
EDUARDO DAMASO/HENRIQUEMACHADO/TÂNIA LARANJO
A busca ao advogado José
Santos Martins tem maisde meio ano, quando fo-
ram recolhidos os indícios decrimes que apontam para o juizRui Rangel - por recebimentosindevidos, de forma encapota-da, de largos milhares de euros- , e desde então que a investi-gação está de mãos e pés atados .
Por se tratar de um desembar-gador, só o Supremo Tribunalde Justiça pode ordenar a aber-tura de um inquérito a Rangel,acompanhar diligências e vali-dar as provas . Aparentemente ,
o processo parou no Supremo .
O advogado Santos Martins jáestá indiciado por branquea-mento. Amigo de longa data de
Rangel, a investigação acredita
que será um testa de ferro do
juiz - e, quer a sua conta bancá-ria, quer a do filho, são utiliza-das como 'barriga de aluguer'da fortuna do magistrado.
Fazem prova os emaiis que o
juiz enviou a Santos Martins a
pedir que lhe depositasse di-nheiro, a um ritmo compulsivo,em valores superiores a 5 mil
euros - e os talões de depósitoefetuados pelo advogado. Nun-ca recorreram à modalidade detransferência bancária.
Numa das situações, apurou o
CM, em que o juiz Rangel estavanecessitado de receber mais di-nheiro rapidamente, foram fei-
tos na sua conta cerca de seis
depósitos num dia - tudo emvalores abaixo dos 10 mil euros,
que assim não implicam o deverde comunicação as autoridades.
Também não restam dúvidasaos investigadores quanto ao
branqueamento - e o modusoperandi levanta sérias dúvidas
quanto à licitude da origemdeste dinheiro.
Rangel caiu de forma colate-ral na operação Rota do Atlân-tico - na qual os alvos princi-pais eram José Veiga e o sócioPaulo Santana Lopes, sobretu-do por corrupção no mercado
internacional, enquanto inter-mediários de um esquema de
distribuição de luvas â altas fi
guras do regime da Repúblicado Congo, pagas por empresasbrasileiras e norte -americanas
.- construtoras, que ganham as
obras públicas e petrolíferasque beneficiam do petróleodaquele país.
Depois, há as figuras secundá-rias, como Manuel Damásio,antigo presidente do Benfica,que também foi detido sob sus -peita de ajudar Veiga a bran-quear milhões.
Mas a procuradora do DCIAPque conduziu o processo Rotado Atlântico, cujos arguidosaguardam a acusação - já nãohá presos preventivos - nãotem poder para prosseguir na
direção de Rangel. Extraiu umacertidão do processo principale, no que ao juiz diz respeito, re-meteu todos os indícios apura-dos, comprovas documentais,para o Supremo. Agora, espera-
se que o Tribunal Superior dis -tribua a investigação, no senti-do de se perceber qual é o inte -resse de José Veiga em dar de-zenas de milhares de euros ao
juiz que toma decisões judiciaisna Relação de Lisboa. •
EMAILS DO MAGISTRADO
REVELAM COMPULSÃO
A PEDIR DINHEIRO
ADVOGADO AMIGO FEZ-LHE
SEIS DEPÓSITOS, NUM DIA,
DEMILHARES DE EUROS
FILHO DE JURISTA USADO
PARA ESCONDER FORTUNA
COM ORIGEM EM VEIGA
LIGAÇÃO DE JOSÉ VEIGA
AO DESEMBARGADOR
COMEÇA NO BENFICA
VEIGA ESTA INDICIADO
POR BRANQUEAMENTO,
CORRUPÇÃOEFRAUDE
INVESTIGAÇÃO QUER
PERCEBEROPORQUÊ
DEJUIZESTARASERPAGO
A nobremissão de
julgar
Qãoé por acaso que os
tribunais são órgãosde soberania e que
os juizes gozam de um esta-tuto de independência faceaos restantes poderes. Uns e
outros são peça essencial deum regime democrático eum comportamento pautadopor valores de seriedade édecisivo para que o povoconfie na Justiça. Não podemser os juizes os causadores defocos de instabilidade e dú-vida sobre a imparcialidade ea igualdade na administra -
ção da justiça. O poder con-centrado nos juizes é dema-siado importante para nãoser escrutinado. E, no casodo juiz Rangel, esse escrutí-nio do órgão de governo da
magistratura judicial está
longe da perfeição. Rangelnunca se coibiu de criticaroutros colegas que decidemem casos concretos, mesmoquando foi chamado a deci-dir nesses casos, envolveu --se em estranhos processosde dívidas e aparece em vá-rios casos investigados nosúltimos tempos. A nobremissão de julgar não pode fi -car depositada na imagemque Rangel projeta. Se oConselho Superior de Ma-gistratura não percebe isso,não percebe nada de Justiçae democracia em tempos de
grande exigência. •EDUARDO DÃMASODIRETOR-ADJUNTO