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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS CRISTINA MARIA BOUISSOU MORAIS SOARES DOENÇA RENAL CRÔNICA: CURSO CLÍNICO E FATORES PREDITIVOS DE FALÊNCIA RENAL EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM TRATAMENTO CONSERVADOR Belo Horizonte Faculdade de Medicina da UFMG 2007

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

CRISTINA MARIA BOUISSOU MORAIS SOARES

DOENÇA RENAL CRÔNICA :

CURSO CLÍNICO E FATORES PREDITIVOS

DE FALÊNCIA RENAL EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

EM TRATAMENTO CONSERVADOR

Belo Horizonte

Faculdade de Medicina da UFMG

2007

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CRISTINA MARIA BOUISSOU MORAIS SOARES

DOENÇA RENAL CRÔNICA :

CURSO CLÍNICO E FATORES PREDITIVOS

DE FALÊNCIA RENAL EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

EM TRATAMENTO CONSERVADOR

Tese apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais como requisito parcial para obtenção do grau de Doutor em Medicina.

Área de concentração: Saúde da Criança e do Adolescente.

Orientador: Prof. Eduardo Araújo de Oliveira.

Belo Horizonte

Faculdade de Medicina da UFMG

2007

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

REITOR: Prof. Dr. Ronaldo Tadêu Pena

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO

Prof. Dr. Jaime Arturo Ramirez

FACULDADE DE MEDICINA

Diretor: Prof. Dr. Francisco José Penna

CENTRO DE PÓS-GRADUAÇÃO

Coordenador: Prof. Dr. Joel Alves Lamounier

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PEDIATRIA

COLEGIADO

Coordenador: Prof. Joel Alves Lamounier

Subcoordenador: Prof. Eduardo Araújo de Oliveira

Profa. Ana Cristina Simões e Silva

Prof. Francisco José Penna

Prof. Ivani Nonato Silva

Prof. Lincoln Marcelo Silveira Freire

Prof. Marco Antônio Duarte

Profa. Regina Lunardi Rocha

Ludmila Teixeira Fazito (representante discente)

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O Programa Interdisciplinar de Prevenção e Assistência da Insuficiência Renal

Crônica em Crianças e Adolescentes contou com o auxílio da Pró-Reitoria de

Pós-Graduação, tendo sido selecionado como um dos cinco projetos

interdisciplinares da UFMG a receber apoio da CAPES em 1997.

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Aos meus pais, Manoel e Sarah,

ainda hoje farol, apoio e retaguarda.

E à tão saudosa Anita Bouissou,

que tanta satisfação sentiria ao ler estas páginas.

Ao meu amado marido, Paulo.

E às minhas filhas queridas, Cecília, Sílvia e Beatriz.

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AGRADECIMENTOS

Às crianças e adolescentes portadores de insuficiência renal crônica, por tudo o

que me ensinaram ao longo de nosso longo convívio, na esperança de que este

estudo possa contribuir para o aperfeiçoamento do seu tratamento e para a

redução do seu sofrimento.

Ao Professor Eduardo Oliveira, pela sua competência, dedicação e paciência na

orientação deste trabalho. A completa execução deste estudo só foi possível

graças ao seu estímulo, ao seu incentivo e à sua excepcional dedicação.

Ao Professor José Silvério Santos Diniz, mentor do Programa de Assistência

Interdisciplinar de Tratamento e Prevenção da Insuficiência Renal Crônica em

Crianças e Adolescentes, mestre na acepção mais nobre do termo, cujos maiores

ensinamentos foram não só técnicos ou científicos, mas sempre éticos e

humanísticos.

Ao Professor José Maria Penido Silva, que ao longo de tantos anos me tem

incentivado, apoiado e repartido valiosos conhecimentos, contribuindo

decisivamente para a minha formação acadêmica.

Aos professores e demais componentes da Unidade de Nefrologia Pediátrica da

UFMG: Ana Cristina Simões e Silva, Eleonora Moreira Lima, Luís Sérgio Bahia

Cardoso, Maria Goretti Penido e Sérgio Veloso Brant Pinheiro, pelo convívio e

incentivo.

Aos profissionais que, com sua dedicação inabalável, tornam possível a

realização do Programa Interdisciplinar de Tratamento e Prevenção da

Insuficiência Renal Crônica em Crianças e Adolescentes: Mônica Canhestro,

Marilene Moreira, Vanessa Rodrigues da Silva e Andréa Marques Chiaretti

Munair.

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À Dra. Gilce Moura, por seus vários anos de dedicação contínua, como voluntária,

no atendimento aos pacientes do Programa. E por sua amizade e carinho.

Aos secretários da nefrologia e às secretárias do quarto andar do Ambulatório

Bias Fortes, pela boa vontade e prontidão no atendimento às minhas solicitações.

À equipe de Urologia, que presta valioso atendimento a esses doentes.

Ao saudoso Dr. Eli Rabelo, grande mestre que tanto me ensinou e que serviu a

essas crianças com talento, dedicação e cuidado.

À Ana Cristina Simões e Silva, pelo estímulo e amizade.

Às minhas filhas, por entenderem minhas ausências e meus períodos de

reclusão. E, mais ainda, pelo carinho e pela cooperação com meus projetos.

À Cecília, sempre pronta a me socorrer com suas habilidades em informática.

Ao Paulo, parceiro há tantos anos.

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“- Está aí uma fábula infantil - disse Pedrinho

- diz a mesma coisa que a do Asno e do Burro.

- Sim, meu filho. É uma variante. Serve para

mostrar que uma mesma verdade pode ser

expressa de modos diferentes.

- Continuo a achá-la inútil - insistiu Pedrinho

- se veio para provar isso, perdeu o tempo,

porque nada mais claro que todas as coisas

podem ser ditas de muitas maneiras.

O Visconde contestou:

- Isso também não, Pedrinho. As verdades

científicas só podem ser ditas de uma maneira.

Quando eu pergunto quanto é um mais um? A

resposta só pode ser ‘dois´.

- E o ‘onze´, onde fica, Visconde? - berrou

Emília - Um mais um também dá onze.

O sabuguinho científico atrapalhou-se.”

Monteiro Lobato - Fábulas

“A Ciência é talvez a única atividade humana em

que os erros são sistematicamente criticados e,

com o tempo, corrigidos.”

Karl Popper

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RESUMO

SOARES, C.M.B.M. Doença renal crônica: curso clínico e fatores predi tivos de falência renal em crianças e adolescentes em tra tamento conservador . Tese de Doutorado em Medicina Belo Horizonte: UFMG, 110p.

A doença renal crônica na criança, assim como nos adultos, tende a progredir para a falência renal. O curso clínico da doença na criança é heterogêneo e pouco compreendido. Em 1990, foi implementado este programa interdisciplinar de prevenção e tratamento da doença renal crônica na Universidade Federal de Minas Gerais. Ele compreende o atendimento periódico dos pacientes por uma equipe interdisciplinar composta por nefrologistas, pediatra, psicólogo, assistente social, enfermeira e nutricionista. O objetivo desse estudo retrospectivo foi descrever a evolução dos 107 pacientes portadores de DRC, admitidos nesse programa entre março/1990 e janeiro/2007 e a identificação dos fatores preditivos de progressão para DRC estágio 5. A taxa de filtração glomerular média à admissão foi de 37/ml/min/1,73m². Os pacientes foram avaliados a cada 2 meses. Os pacientes foram classificados em 4 grupos, de acordo com sua doença renal primária: nefro-uropatias congênitas; doenças glomerulares; doenças císticas e miscelânea. O seguimento médio foi de 94 meses. A probabilidade de se alcançar DRC estágio 5 foi estimado em 36% em 5 anos após a admissão. Como grupo, a deterioração estimada da taxa de filtração glomerular por ano foi de 5,8ml/min por 1,73m² de superfície corporal. O grupo das doenças glomerulares apresentou uma taxa de deterioração do RFG de 10ml/min por 1,73m² por ano, enquanto a taxa do grupo de doenças císticas, nefro-uropatias congênitas e miscelânea foi de 2,5ml/min, 2,2ml/min e 0,36ml/min, respectivamente (P<0,001). Os resultados desse estudo sugerem que as crianças e adolescentes portadores de doenças glomerulares necessitam ser referenciados precocemente a centros de nefrologia pediátrica para que possa ser evitado um manejo deficiente de sua doença.

Palavras-chave: Doença renal crônica. Criança. Adolescente.

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ABSTRACT

SOARES, C.M.B.M, Outcome of children and adolescents with chronic re nal failure in conservative therapy: a multivariate ana lysis . Thesis for PhD Degree. Belo Horizonte: UFMG,110p.

Chronic renal failure in children, as well as in adults, tends to progress to

end-stage renal disease. The clinical course of the disease in children is heterogeneous and poor understood. In 1990, it was implemented this pre-dialysis Interdisciplinary management program at Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais. This program comprises a periodical attendance on the patients by an interdisciplinary team of nephrologists, pediatrician, psychologist, social worker, nurse and nutritionist. The pourpose of this retrospective cohort study was to describe the outcome of 107 patients with chronic kidney disease admited to this program from march/1990 to january/2007 and the identification of the predictive factors of progression to CKD stage 5. The median glomerular filtration rate at admission was 37ml/min/1,73m². The patients were evaluated every 2 months. Patients were classified into four groups according to their primary renal disease: congenital nephro-uropathies; glomerular diseases; cystic diseases and miscellaneous. Median follow-up time was 94 months. The probability of reaching CKD stage 5 was estimated to be 36% by five years after admission. As a whole, the mean estimated glomerular filtration rate (GFR) decrease per year was 5.8 ml/min per 1.73m² body surface area. The glomerular diseases group showed a median rate of GRF deterioration of 10 ml/min per 1.73m² per year, whereas the median rate of GRF deterioration for the groups with cystic diseases, congenital nephro-uropathies and miscellanea were 2.5ml/min, 2.2ml/min and 0.36 ml/min, respectively (P<0.001). The results of this study support the view that children and adolescents with glomerular diseases present a faster dterioration of renal function. Therefore, patients with glomerular diseases need to be referred early to a pediatric nephrology center so that suboptimal pre-dialysis care might possibly be avoided.

Keys words: Chronic renal failure. Children. Adolescents.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Aleat....................Aleatório

Ang......................Angiotensina

AT1......................Receptor tipo 1 da Angiotensina

AT2......................Receptor tipo 2 da Angiotensina

CAPES................Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CCR.................... Clearance de creatinina em ml/min

CNPD.................. Cuidado nefrológico pré-diálise

Control.................Controlado

DCV......................Doença cardiovascular

DPAD.................. Doença policística autossômica dominante

DRC.....................Doença renal crônica

DRCT...................Doença renal crônica terminal

EDTA...................European Dialysis and Transplant Association

EUA………………Estados Unidos da América

GN…………….... Glomerulopatia

HA………………..Hipertensão arterial

HC.......................Hospital das Clínicas

IECA....................Inibidor da enzima conversora da angiotensina

ITALKID………....Registro Pediatrico Dell’Insufficienza Renale Cronica

MDRD..................Modification of Diet in Renal Disease Study Group

NAPRTCS............North American Pediatric Renal Trials and Collaborative Studies

NKF/DOQI………National Kidney Foundation’s Disease Outcomes Quality

Initiative

pmp…….…….…..Por milhão de população

pmpi.....................Por milhão de população infantil

Prosp....................Prospectivo

PROT....................Proteinúria

PRPG-UFMG…....Pró-Reitoria de Pós-Graduação da Universidade Federal de

Minas Gerais

Retros.................. Estudo retrospectivo

RFG......................Ritmo de filtração glomerular

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SBN......................Sociedade Brasileira de Nefrologia

SCR.................... .Creatinina sérica em mg/dl

SRA......................Sistema renina angiotensina

SUS......................Serviço Único de Saúde

TGF-ß1................ Fator de crescimento tumoral beta-1

TRS......................Terapia renal substitutiva

USRDS……….….United States Renal Data System

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figuras

Figura 1 - Diagrama ilustrativo da complexidade das inter-relações do

paciente com insuficiência renal crônica, a nefrologia e as demais

áreas de apoio à abordagem do problema............................................

47

Figura 2 - Modelo conceitual do curso da DRC.......................................... 60

Gráficos

Gráfico 1 - Total de pacientes em tratamento dialítico no Brasil (2000 -

2006).....................................................................................................

26

Gráfico 2 - Distribuição da incidência de DRCT na população dos

Estados Unidos, de acordo com as diversas faixas etárias.................

28

Gráfico 3 - Comparação do impacto dos sistemas de saúde no acesso à

terapia de substituição de função renal em 16 países.........................

33

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - National Kidney Foundation’s Kidney Disease Outcomes

Quality Initiative (NKF-K/DOQI) stages of chronic kidney disease……

23

Tabela 2 - National Kidney Foundation’s (NKF/2002)- RFG esperado

para crianças e adultos jovens............................................................

24

Tabela 3 - Distribuição da freqüência da doença renal primária nas

crianças e adolescentes portadores de DRC (1973-2005)..................

30

Tabela 4 - Estudos sobre fatores prognósticos na evolução da doença

renal (1983-2007)................................................................................

50

Tabela 5 - Estágios de doença renal crônica e recomendações

específicas para detecção, avaliação e abordagem da National

Kidney Foundation - Kidney Disease Outcomes Quality Initiative

(NKF/K/DOQI).....................................................................................

60

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.......................................................................................... 16

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA...................................................................... 22

2.1 Definições............................................................................................... 22

2.2 Aspectos epidemiológicos..................................................................... 25

2.3 Etiologia da DRC.................................................................................... 29

2.4 Tratamento da DRCT e morbimortalidade............................................. 31

2.5 Abordagem pré-DRCT.......................................................................... 35

2.6 Progressão da DRC............................................................................... 48

2.6.1 Hipertensão arterial............................................................................. 51

2.6.2 Proteinúria........................................................................................... 53

2.6.3 Doença renal de base......................................................................... 56

2.6.4 Sexo.................................................................................................... 57

2.6.5 Fatores genéticos............................................................................... 57

2.6.6 Função renal no início do acompanhamento..................................... 58

2.6.7 Comentário final.................................................................................. 58

REFERÊNCIAS........................................................................................... 61

3 OBJETIVOS.............................................................................................. 70

4 ARTIGOS………………………………………………………………………. 71

4.1 Original article: Clinical outcome of children with chronic kidney

disease in a predialysis interdisciplinary program..............................……..

71

4.2 Original article: Predictive factors of progression to chronic kidney

disease stage 5 in a pre-dialysis interdisciplinary program.........................

94

5 COMENTÁRIOS FINAIS........................................................................... 114

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1 INTRODUÇÃO

A doença renal crônica (DRC) é uma síndrome clínica decorrente da

lesão renal progressiva, de etiologia diversificada. Independentemente da

natureza inicial do insulto, uma vez que a doença chegue a causar determinado

grau de lesão renal, acometendo proporção superior a 50% dos néfrons, a

deterioração funcional do órgão é inevitável, mesmo se retirado o fator agressor

inicial1. Essa lesão renal progressiva parece se dever a mecanismos de fibrose

ativados após a injúria inicial2. Como néfrons gravemente lesados não são

capazes de se regenerar espontaneamente, não ocorre recuperação funcional.

Há então uma lenta e inexorável piora e, com ela, a perda progressiva das

funções homeostáticas e metabólicas exercidas pelos rins. O tratamento do

paciente com disfunção renal tem como objetivo retardar a progressão da lesão e

adotar medidas para compensar as alterações causadas pela função renal

reduzida. As medidas terapêuticas devem ser iniciadas precocemente no curso da

disfunção renal3,4.

Os estudos internacionais permitem supor que a incidência anual de

doença renal crônica terminal (DRCT) nas crianças esteja entre cinco e 15

pacientes por milhão de população infantil (pmpi) e a sua prevalência entre 22 e

62 pmpi, com grande variação entre as fontes consultadas5-9. É importante

ressaltar que, nos diferentes países, essas estimativas são obtidas dos

certificados de óbito ou de dados de admissão de pacientes em programas de

diálise. Portanto, essa incidência pode estar subestimada, já que os registros não

listam as crianças que não são tratadas por razões técnicas, ausência de

recursos ou políticas públicas de saúde. Os dados epidemiológicos sobre a

doença renal crônica na infância são, pois, limitados.

A DRC é, muitas vezes, silenciosa e, por isso, freqüentemente pouco

diagnosticada e subnotificada. Do ponto de vista clínico, esse fato é indesejável,

pois os estágios menos avançados da doença são aqueles em que ela é mais

susceptível às intervenções terapêuticas. De qualquer forma, os portadores de

DRCT, com idade inferior a 21 anos, representam pequena proporção do número

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total de doentes. Em relação aos pacientes em tratamento dialítico, Schena afirma

que sua distribuição no mundo é fortemente influenciada pelo nível do produto

interno bruto de cada país8. No relatório de 2000 do Registro Latino Americano de

Diálise e Transplante, na América Latina, dos quatro países com maior produto

interno bruto, três figuravam como os de maior número de pacientes em diálise

por milhão de habitantes (Uruguai, Argentina e Chile, respectivamente, com 594,

359 e 356). O Brasil apresentava, naquela ocasião, coeficiente de 189 pacientes

por milhão, em terapêutica renal substitutiva (TRS)10. No Brasil, no censo de

diálise realizado pela Sociedade Brasileira de Nefrologia em 2005, 517 crianças

menores de 15 anos estavam em diálise crônica e o número total de doentes em

diálise atingia 65.121, que representavam 361 doentes por milhão de habitantes

naquele ano11.

Apesar de a população pediátrica representar menor número de

pacientes com DRC em relação à população adulta, esse grupo constitui um

desafio para os sistemas de saúde em todo o mundo, por apresentar, além

daquelas complicações comuns aos adultos, características únicas decorrentes

das manifestações da doença em seres em crescimento e em desenvolvimento

neurológico, emocional e da sua inserção social. Além disso, a taxa de

mortalidade em crianças portadoras de DRC em tratamento dialítico é 30 a 150%

mais alta do que a da população pediátrica geral e a expectativa de vida para uma

criança de zero a 14 anos em diálise é de somente 20 anos12. O diagnóstico

precoce e a apropriada abordagem terapêutica tornam-se, pois, essenciais e,

para tal, o conhecimento da epidemiologia da DRC e de suas manifestações

clínicas é importante para que se atinja a população em risco e se efetuem as

prevenções primária e secundária.

Sabe-se que tanto na população pediátrica como entre os adultos, as

taxas de doença renal crônica terminal se elevam com a idade. A etiologia da

DRC renal crônica na infância apresenta diferenças entre os vários países.

Segundo Chantler e Ridgen13, diferenças raciais e ambientais existem. Esses

autores citam que nas crianças negras da África do Sul, são comuns a

glomerulosclerose focal e segmentar, a glomerulonefrite rapidamente progressiva,

a síndrome nefrótica congênita e a arterite de Takayasu, enquanto são incomuns

a síndrome hemolítico-urêmica, a doença policística autossômica recessiva e,

principalmente, a nefropatia de refluxo.

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Em revisão recente, Warady e Chadha9 descreveram a etiologia da

DRC em vários países. Segundo os dados de diversos registros, tais como o

North American Pediatric Renal Trials and Collaborative Studies (NAPRTCS), o

United States Renal Data System (USRDS), o Registro Pediatrico Italiano

dell'Insufficienza Renale Cronica (ITALKID) e o European Dialysis and Transplant

Association (EDTA), as uropatias e displasias respondem por mais de 50% dos

casos. Já no Japão, Austrália, Nova Zelândia e Finlândia, as glomerulopatias

predominam como as causas mais comuns de insuficiência renal. Os mesmos

autores citam, ainda, a maior freqüência de DRCT decorrente de doenças

infecciosas como a hepatite C, a malária, a esquistossomose, a tuberculose e a

síndrome da imunodeficiência adquirida nos países mais pobres e de doenças

hereditárias naqueles países com mais consangüinidade, como o Irã e a Jordânia.

Estão disponíveis dois tipos de tratamento para a DRCT: a diálise

(hemodiálise ou peritoneal) e o transplante14. Os tratamentos dialíticos vêm sendo

desenvolvidos há aproximadamente 70 anos. O primeiro foi a diálise peritoneal,

sendo de 1923 o primeiro relato de emprego em humanos; no entanto, o método

somente se viabilizou na década de 6015-17. O primeiro rim artificial foi

desenvolvido e utilizado na década de 40 na Escandinávia, mas somente foi

empregado na criança em 195518,19. O uso da hemodiálise no tratamento regular

da DRCT foi relatado nos Estados Unidos da América apenas em 196017. Em

1954, foi realizado o primeiro transplante renal bem sucedido em seres humanos,

relatado por Murray et al.20. Na era ainda sem imunossupressores, o transplante

foi realizado entre gemelares. No início da década de 60, foram introduzidos a

azatioprina e o corticosteróide na imunossupressão, impulsionando o emprego

dessa técnica21,22. Na década de 80, com a demonstração do potente efeito

imunossupressivo da ciclosporina A, um agente antifúngico, houve novo impulso

na técnica do transplante, beneficiando crianças e adultos23-25. Em suma, em

curto intervalo de aproximadamente 50 anos, em termos históricos, a perspectiva

para o paciente com doença renal crônica terminal mudou completamente. Da

inexistente perspectiva de sobrevivência, o impressionante avanço das técnicas

de substituição da função renal proporciona, atualmente, expressiva sobrevida e,

em muitos casos, boa qualidade de vida26.

Contudo, vários aspectos da abordagem da DRC, em todas as faixas

etárias, necessitam ser aprimorados. Os pacientes com DRCT vivenciam

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19

significativa morbidade. Nos Estados Unidos, a média de dias de internação é de

10 dias por ano entre os adultos. Os pacientes são diagnosticados e

encaminhados tardiamente, implicando ausência de acesso vascular, variados

distúrbios metabólicos e complicações cardiovasculares no momento do início da

diálise27. Apesar da melhor qualidade do tratamento dialítico, as taxas de

mortalidade são elevadas. Os pacientes em diálise apresentam expectativa de

vida 16 a 35% menor do que a população em geral, pareada por idade e sexo28.

Esses inaceitáveis índices de morbimortalidade têm preocupado

especialistas em todo o mundo. A perspectiva dos pacientes com DRC nos países

subdesenvolvidos é muito mais desoladora. Os recursos públicos direcionados à

saúde são, de maneira geral, escassos e mal empregados. Há correlação entre a

renda per capita e a prevalência de pacientes com DRC tratados. Em outras

palavras, é desconhecida a proporção de pacientes não diagnosticados ou para

os quais não há tratamento disponível. Para 1996, estimava-se que mais de 25%

dos portadores de DRC em São Paulo morreriam sem serem admitidos em um

programa de diálise29.

Dessa maneira, há ainda uma complexa gama de aspectos que

necessitam ser analisados para se propor melhor abordagem para os pacientes

com DRCT. Entre esses múltiplos fatores, incluem-se a adequação da diálise

(esquema, nutrição, etc.) e o incremento do transplante renal. Todos têm sido

intensivamente estudados nos últimos anos, resultando em significativa melhoria

na qualidade do tratamento e na sobrevida dos pacientes. Entretanto, entre os

fatores que necessitam de melhor abordagem em todo o mundo, destacam-se a

qualidade e a sistematização do tratamento da doença renal crônica antes da

necessidade da terapia renal substitutiva28. Na fase pré-diálise, as principais

medidas devem incluir a intervenção nos fatores que deterioram a função renal, a

adequada abordagem da nutrição, da anemia, dos distúrbios metabólicos e ácido-

básicos, programas educacionais e de suporte para familiares e pacientes, a

garantia de adequado acesso vascular e a indicação da terapia de substituição da

função renal em um tempo "ótimo". Dados os potenciais benefícios dos cuidados

na pré-diálise, é recomendável que o paciente seja encaminhado a uma equipe

especializada, de caráter interdisciplinar, de forma precoce, bem antes da

necessidade do tratamento dialítico.

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20

Estudo americano que analisou 109.321 pacientes que iniciaram diálise

entre 1995 e 1998 relatou que somente 50% dos pacientes receberam cuidado

nefrológico especializado nos 24 meses que antecederam ao início da terapia

renal substitutiva30. O atraso no encaminhamento resulta freqüentemente em

diálise de emergência, levando à hospitalização mais prolongada no início do

processo, associada ao aumento de morbidade e mortalidade. A referência tardia

ainda impede uma série de medidas, tais como a escolha adequada do método

de tratamento de substituição da função renal, a preparação e o suporte

psicológico para pacientes e familiares, levando a início de diálise traumático, sem

acesso vascular adequado, com todas as suas conseqüências. Assim, a

constituição de equipes interdisciplinares especializadas na abordagem da DRC é

um processo desejável que, associado à conscientização da equipe de cuidados

primários para o encaminhamento precoce, pode contribuir para melhorar a

qualidade de vida e a sobrevida dos pacientes com essa alteração crônica31,32.

O presente estudo é originado do Programa Interdisciplinar de

Prevenção e Assistência da DRC em Crianças e Adolescentes, constituído na

Unidade de Nefrologia Pediátrica, no início da década de 90. Esse projeto de

característica interdisciplinar foi desenvolvido sob a coordenação do professor

José Silvério Santos Diniz, que foi o mentor e grande incentivador da sua

constituição e desenvolvimento. No início, contou com o apoio financeiro da

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), após

ter sido selecionado pela Pró-Reitoria de Pós-Graduação da Universidade Federal

de Minas Gerais (PRPG-UFMG). Esta é uma iniciativa pioneira, em nosso meio,

de sistematizar o tratamento da DRC na faixa etária pediátrica, antes da

necessidade de terapia renal substitutiva. Como o próprio nome do projeto

denota, há a participação de vários profissionais da área da saúde, envolvendo a

Faculdade de Medicina, a Escola de Enfermagem, o Hospital das Clínicas-UFMG,

além de outras áreas correlatas e de apoio, como a Terapia Ocupacional e a

Músicoterapia.

Diante dessas considerações, esta tese de doutoramento segue o

modelo aprovado pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde - Área

de Concentração em Saúde da Criança e do Adolescente, que permite sua

confecção no formato de artigos científicos a serem submetidos a revistas

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médicas. Sendo assim, a estruturação do trabalho foi elaborada da seguinte

maneira:

1. Introdução

2. Revisão bibliográfica

3. Objetivos

4. Pacientes e Métodos, Resultados e Discussão (em formato de dois artigos)

a. Clinical outcome of children with chronic kidney disease in a

predialysis interdisciplinary program. Artigo aprovado para

publicação no Pediatric Nephrology;

b. Predictive factors of progression to chronic kidney disease stage 5 in

a pre-dialysis interdisciplinary program. Artigo submetido para

publicação no periódico Nephrology, Dyalisis, Transplantation

5. Comentários finais.

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22

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Definições

Apesar do contínuo aprimoramento dos conhecimentos relativos à

perda progressiva da função renal, a terminologia e as definições empregadas na

literatura para nomear os diversos estágios da insuficiência renal historicamente

foram confusas e variadas. Esse problema era ainda mais visível para os quadros

de insuficiência renal antes da necessidade de substituição da função renal. Em

2000, Hsu et al.33 conduziram extenso levantamento no MEDLINE e detectaram

mais de 10 termos da língua inglesa utilizados para a definição da perda de

função renal. O termo mais comum foi chronic renal failure, empregado em 21.091

artigos. Contudo, mesmo este termo foi usado para definir diferentes estágios da

perda de função renal, desde casos leves até pacientes em diálise.

Em 2002, numa tentativa de padronização da nomeclatura, foi

divulgada a classificação da DRC proposta pela National Kidney Foundation’s

Disease Outcomes Quality Initiative (NKF/DOQI)34. Essa classificação

representou indiscutível avanço, por uniformizar a nomeclatura e definir os

estágios da disfunção renal, de acordo com a queda do ritmo de filtração

glomerular (TAB. 1). A doença renal crônica é atualmente definida pela presença

de lesão renal por período acima de três meses, caracterizada por anormalidades

estruturais ou funcionais do rim, com ou sem alterações do ritmo de filtração

glomerular ou por um ritmo de filtração glomerular menor que 60 ml/min/1.73

m/m² que persista por mais de três meses, independentemente de lesão renal.

Ela pode ser classificada em estágios de 1 a 5, de acordo com a gravidade da

queda da função renal, correspondendo o estágio 5 à falência renal.

A lesão renal é definida como anormalidade funcional ou estrutural do

rim, sendo diagnosticado a partir de alterações na composição do sangue ou da

urina ou nos exames de imagem. Ou seja, a DRC foi caracterizada pela presença

de lesão renal, independentemente de ocorrer redução do RFG. Isto se justifica

por poder o RFG ser mantido em níveis normais ou até elevados, apesar da lesão

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renal substancial, estando esse grupo de pacientes expostos ao risco tanto de

progressão da lesão renal quanto a complicações cardiovasculares.

A inclusão dos pacientes com RFG < 60 ml/min/m² como portadores de

doença renal crônica se justifica, já que a redução na função renal a esse nível ou

inferior a ele representa a perda de mais da metade da função renal em um adulto

normal e se associa a elevado número de complicações34.

TABELA 1

National Kidney Foundation’s Disease Outcomes Quality Initiative

(NKF-K/DOQI) stages of chronic kidney disease³¹

Estágio Descrição RFG

ml/min/1.73m²

1 Lesão renal com RFG normal ou ↑ >90

2 Lesão renal com↓ leve do RFG 60-89

3 Diminuição moderada do RFG 30-59

4 Diminuição grave do RFG 15-29

5 Falência renal <15 ou diálise

RFG - ritmo de filtração glomerular.

Essa classificação tem sido extensamente utilizada, embora mereça

algumas considerações. Em primeiro lugar, questiona-se se os dois primeiros

estágios não seriam mais bem caracterizados pelas anormalidades associadas,

como a presença de proteinúria, hematúria ou de anormalidades estruturais, e

não pelo RFG. Em segundo lugar, essa caracterização dos estágios só

corresponde aos níveis de RFG esperados na criança com idade superior a dois

anos, considerando-se o processo de maturação renal (TAB. 2)9.

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24

TABELA 2

National Kidney Foundation’s (NKF/2002)- RFG esperado para

crianças e adultos jovens

Idade RFG médio ± SD (ml/min/1.73m²)

1 semana 40,6±14,8

2-8 semanas 65,8±24,8

>8 semanas 95,7±21,7

2-12 anos 133,0±27,0

13-21anos (sexo masculino) 140,0±30,0

13-21 anos (sexo feminino) 126,0±22,0

Neste estudo será adotada a classificação do K/DOQI. Evidentemente,

ela é arbitrária como qualquer tentativa de estratificar valores contínuos de

determinada variável. Por exemplo, alguns pacientes necessitarão de algum

método de substituição da função renal mesmo antes de atingir um ritmo de

filtração glomerular menor que 15 ml/min. Esse fato foi considerado na análise.

Outro aspecto sobre o qual não há consenso, especialmente na faixa etária

pediátrica, é o ponto de corte que se deve adotar para o encaminhamento do

paciente para o cuidado nefrológico especializado. Para os adultos, um consenso

de 1994 do National Institute of Health (Estados Unidos) recomendou o

encaminhamento do paciente para o nefrologista quando a creatinina sérica

atinge 1,5 mg/dl nas mulheres e 2 mg/dl para os homens35. A recomendação atual

do NKF é que sejam encaminhados os pacientes adultos portadores de doença

renal crônica nos estágios 3 e 4. A justificativa é permitir a todos os países a

assistência a essa população de alto risco e alto custo, além de reduzir o risco de

progressão para a falência renal e os custos de diálise e transplante. Um

programa de acompanhamento dos pacientes adultos em estágio 3 poderia

alcançar mais pessoas e ser mais efetivo para reduzir as taxas de doenças

cardiovasculares e morte. Todavia, um programa de acompanhamento mais

abrangente envolveria maior aporte de recursos. Os pacientes com DRC nos

estágios 1 a 3 seriam acompanhados no serviço primário36.

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Como será descrito, foi adotado no presente estudo o limite de função

renal igual ou inferior a 75% da função renal esperada para a idade, de acordo

com Moore37, o qual tem sido utilizado para a admissão do Programa de DRC da

Unidade de Nefrologia Pediátrica do Hospital das Clínicas (HC) da UFMG.

2.2 Aspectos epidemiológicos

Os dados latino-americanos e brasileiros sobre a DRC são escassos. A

exata incidência da DRC em nosso meio é desconhecida, tanto pela possibilidade

do não reconhecimento do problema, muitas vezes silencioso, quanto pela

subnotificação dos casos diagnosticados. Estatísticas do Third National Health

and Nutrition Examination Survey dos Estados Unidos da América do Norte de

2005 estimam que até 11% da população americana adulta seja portadora de

algum grau de DRC e que mais de 8 milhões de americanos possuam RFG< 60

ml/min/1,73 m².38. A incidência e a prevalência da DRC estágio 5 em adultos tem

aumentado progressivamente, em proporções epidêmicas no Brasil, como em

todo o mundo, guardando estreita relação com o aumento do número de casos de

diabetes, de hipertensão arterial e de obesidade. Deve-se ressaltar que a DRC é

uma doença grave e mesmo com a terapia renal substitutiva tem, em nosso meio,

mortalidade superior, em números absolutos, à da maioria das neoplasias, como

as de colo de útero, cólon/reto, próstata e mama39.

Segundo o censo de diálise e transplante de 2006 da Sociedade

Brasileira de Nefrologia (SBN), no Brasil havia 70.872 pacientes em diálise, sendo

a prevalência de 383 por milhão de população (pmp). Ressalta-se um aumento

rápido do número de pacientes em diálise, da ordem de aproximadamente 9% ao

ano, no período de 2000 a 2006 (GRÁF. 1).

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GRÁFICO 1 - Total de pacientes em tratamento dialítico no Brasil (2000 -2006).

Fonte: SBN (2000 a 2006).

Em relação à fonte pagadora, ressalta-se a predominância do Serviço

Único de Saúde (SUS), que se responsabiliza por 89% dos custos da diálise no

Brasil. A taxa de incidência anual estimada de pacientes novos em diálise em

2005 foi de 175 pmp, variando de 93 pmp na região Norte a 253 pmp na região

Centro-Oeste. Portanto, para uma população de 185 milhões em 2006, estima-se

que surjam aproximadamente 32.000 novos pacientes renais crônicos em estágio

5 no Brasil, por ano. Quanto à distribuição geográfica desses pacientes em

diálise, 53% (n=38.114) concentram-se na região Sudeste, 20% (n=14.041) na

região Nordeste e 27% (n= 19.222) nas regiões Sul, Centro-Oeste e Norte.

Segundo informações da SBN, 90,7% dos pacientes brasileiros se

submetem à hemodiálise e 9,3% à diálise peritoneal. Somente na região Sudeste,

18.431 pessoas estavam aguardando transplante renal em 2006. Os óbitos de

pacientes em diálise somaram 12.528 casos, em 2005, com taxa de mortalidade

de 13,0%.

Os dados sobre a DRC na faixa etária pediátrica são escassos. No Rio

Grande do Sul, a incidência de novos pacientes pediátricos admitidos para terapia

renal substitutiva vem aumentando progressivamente, de 0,58 pmpi entre 1970 e

1975, passando para 5,9 entre 1981 e 1985 e atingindo 6,5 entre 1986 e 198840.

0

10000

20000

30000

40000

50000

60000

70000

80000

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

número de pacientes

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27

O censo da SBN de janeiro de 2005 descreveu os dados de 497 centros de

diálise brasileiros, sendo 471 deles conveniados com o SUS. Esse censo não

incluiu 99 centros de diálise que foram contatados, mas não responderam (16%

do total). O total de contabilizados foi 54.311 (estima-se número total de pacientes

em diálise igual a 65.121). O número de menores de 15 anos em diálise foi de

518, estando 302 em hemodiálise, 68 em diálise peritoneal ambulatorial contínua

e 148 em diálise peritoneal intermitente. No estado de Minas Gerais, foram

contabilizados 67 menores de 15 anos, número inferior somente ao do estado de

São Paulo, que apresentava 109 crianças em diálise11.

Os estudos internacionais permitem supor que a incidência anual de

DRC estágio 5 (DRCT) nas crianças esteja entre cinco e 15 pmpi e a sua

prevalência entre 22 e 62 pmpi5-7. O desenvolvimento dos registros de diálise e

transplante renal tem permitido melhor conhecimento da incidência de DRCT.

Contudo, essa incidência é provavelmente subestimada, já que os registros não

listam as crianças que não são tratadas por razões técnicas, por ausência de

recursos ou de políticas públicas de saúde. Outra possível causa da

subestimação da incidência da DRCT na criança é que algumas delas somente

atingem essa fase na idade adulta, não sendo incluídas nas estatísticas.

A comparação das taxas de incidência e prevalência de DRC em

diferentes países do mundo é também difícil, pela escassez de registros

confiáveis e pelas diferenças metodológicas entre os estudos existentes. Como

mencionado, a maioria das estatísticas são concernentes a registros de diálise e

transplante e, portanto, referem-se a dados de DRCT. Grandes estudos em

adultos sugerem que a prevalência de pacientes com DRC em estágios precoces

(1 a 4) seja 50 vezes maior que a da incidência da DRCT41.

Na América do Norte, as crianças menores de 20 anos de idade

constituem 2% do total de portadores de DRCT e a prevalência de pacientes com

idades entre zero e 19 anos cresceu 32% desde 1990, o que contrasta com o

crescimento de 126% da população total portadora de DRCT9.

No Uruguai, o relato de um único centro mostra incidência de 4,4 pmpi

até 15 anos de idade, entre 1988-199142. No Chile, em 1996, a incidência de

DRCT em pacientes com menos de 18 anos foi estimada em 5,7 pmpi43.

Dados do Italkid Project/2003 mostram incidência média de DRC

(RFG< 75 ml/min/1,73 m²) de 12,1 pmp de zero a 20 anos, no período de 1995 a

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2000. A prevalência em janeiro de 2001 foi estimada em 74,7 pmpi44. Os dados

relativos aos Estados Unidos da América, segundo o USRDS, relativos a 1988 a

2003, mostram incidência anual de DRCT de 13 pmpi em 1988 versus 15 pmpi

em 2003. No GRAF. 2 pode ser observada a distribuição da incidência de DRCT

nas diversas faixas etárias pediátricas e na idade adulta nos Estados Unidos entre

2002 e 2003. Nesse período, a taxa ajustada para a população pediátrica foi de

15 pacientes por milhão de habitantes. A prevalência de ponto para os pacientes

pediátricos, ajustada por idade, raça e gênero, foi de 82 pmp durante o período de

2002-200345.

0 15 30 45 60 75 90 105 120 135

20-44 anos

0-19 anos

15-19 anos

10-14 anos

5-9 anos

0-4 anos

taxa por milhão de habitantes

incidência*

GRÁFICO 2 - Distribuição da incidência de DRCT na população dos Estados

Unidos, de acordo com as diversas faixas etárias.

Fonte: adaptado do USRDS (2005)45. *Incidência e prevalência calculadas por milhão de habitantes em cada grupo.

A obtenção de dados de prevalência de DRC é dificultada por fatores

semelhantes aos anteriormente mencionados, tais como as diferentes definições de

insuficiência renal, o uso de idades distintas como ponto de corte e a subnotificação

quando as crianças e adolescentes não são encaminhados para centros

especializados. No Canadá, a prevalência calculada para faixa etária de 0-15 anos

foi de 41 pmpi46. No Chile, em 1996, foi relatada a prevalência de 39,6 por milhão de

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habitantes menores de 18 anos, sendo 64% maiores de 10 anos, 14% menores de

cinco anos e 2,3% menores de dois anos de idade43. O número de casos aumentou

com a idade, com exceção dos maiores de 15 anos. No V Registro Brasileiro de

Diálise e Transplante (1993)47, não foram estimados dados específicos de

prevalência para a população pediátrica. A prevalência estimada, englobando

todas as faixas etárias, foi de 39 pmp. A taxa no Brasil foi aproximadamente 20

vezes mais baixa que a dos Estados Unidos, o que permite supor um elevado

número de pacientes brasileiros, em todas as faixas etárias, sem acesso ao

tratamento de substituição de função renal.

2.3 Etiologia da DRC

As causas da DRC em crianças e adolescentes diferem daquelas

relatadas para adultos. Diferentemente dos adultos, nos quais diabetes e

hipertensão arterial são as etiologias mais freqüentes, as causas congênitas se

responsabilizam por alta porcentagem dos casos de doença renal crônica na

infância. Em alguns paises pobres, causas adquiridas e infecciosas podem

predominar, como a hepatite C, a nefropatia da síndrome da imunodeficiência

adquirida, etc. Desordens hereditárias são mais freqüentes em países onde a

consangüinidade é mais comum, como a Jordânia e o Iran9.

Na TAB. 3 foram compilados diversos estudos, incluindo relatos de

centros isolados e de registros multicêntricos, que mostram a distribuição da

doença renal primária responsável pela perda da função renal em crianças e

adolescentes. A comparação de estudos diferentes não é simples, pois envolve

classificações variadas empregadas pelos autores, assim como a adoção de idades

diferentes como limite superior para a adolescência. Contudo, essa compilação é

útil ao fornecer um retrato aproximado das principais etiologias responsáveis pela

perda progressiva da função renal na faixa etária pediátrica. A doença renal

primária foi dividida em cinco grupos principais, de acordo com a freqüência com

que aparece nos diversos estudos: uropatias, glomerulopatias, hipoplasia/displasia

renal, nefropatia hereditária e outras. Na presente revisão, foram incluídas no grupo

das uropatias aquelas anomalias do trato urinário tais como uropatia obstrutiva (de

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diversas etiologias), refluxo vésico-ureteral, alterações ureterais e vesicais. No

grupo de hipoplasia/displasia renal foram incluídos apenas os casos primários

dessas alterações, não sendo incluídas ocorrências em que as alterações

estivessem associadas, por exemplo, a uropatias obstrutivas.

TABELA 3

Distribuição da freqüência da doença renal primária

nas crianças e adolescentes portadores de DRC (1973-2005)

Autor N Uropatias (%) Glomeru lopatias (%)

Hipoplasia/ displasia

(%)

Nefropatia hereditária

(%)

Outras (%)

Habib et al.(1973)48 270 57 (21,1) 71 (26,2) 59 (21,8) 61 (22,5) 22 (8,1) Helin et al. (1980)49 77 23 (29,8) 21 (27,2) 9 (11,7) 19 (24,6) 5 (6,5) Zilleruelo et al.(1980)50 81 34 (41,9) 22 (27,1) 12 (14,8) 2 (2,5) 11 (13,5) Arbus et al. (1980)51 90 24 (26,6) 43 (47,7) - 11 (12,2) 12 (13,3) Pistor et al. (1985)52 624 224 (35,9) 123 (197) 58 (9,3) 45 (7,2) 174 (27,9) Brunner et al. (1988)53 2372 574 (24,1) 612 (25,8) 320 (13,5) 370 (15,6) 496 (20,9) Garcia et al. (992)40 180 57 (31,6) 65 (36,1) - 12 (6,6) 46 (25,5) Diniz (1993)3 172 53 ( 30,8) 76 (44,2) 5 (2,9) 5 (2,9) 33 (19,1) Deleau (1994)6 127 55 (43,3) 29 (22,5) 13 (10,2) 21 (16,5) 9 (7,1) Avner (1995)54 901 187 (20,75) 191 (21,19) 149 (16,5) 82 (9,1) 292 (32,4) Logomarsimo(1999)43 227 79(34,8) 37 (16,3) 38 (16,7) 25 (11) 48 (21,1) Esbjorner et al(1997)55 111 27 (23,0) 23 (19,4) 21 (17,8) 25 (21,2) 15 (13,5) Warady et al. (1997)56 3673 1010 (27,4) 891 (24,2) 603 (16,4) 298 (8,1) 871 (23,7) Fivush (1998)57 1725 631 (36,6) 177 (10,3) 404 (23,4) 100 (5,8) 413 (23,9) USRDS (1999a)58 5431 743 (13,8) 1959 (36,0) 481 (8,8) 442 (8,1) 1806 (33,2) EL-Reshaid (1999)7 50 15 (30) 22 (44) - 3 (6) 10 (20) IITALKID (2000)44 1197 566(47,28) 37( 3) 167(13,9) 199(16,62) 228(19,04) ERA-EDTA (2003)59 3184 665 (20,8) 735 (23,0) 350 (10,99) 315 (9,8) 1119(35,4) NAPRTCS (2005)9 6405 2193 (34,2) 957 (14,9) 1125 (17,56) 449 (7) 1681(26,2)

TOTAL 26897 3424 (12,72) 6091 (22,7) 3814 (14,17) 2484 (9,2) 7291( 27,1)

Pode-se observar na TAB. 3 que as uropatias e as glomerulopatias são,

em conjunto, nas séries compiladas, responsáveis por aproximadamente 60% dos

casos de DRC em crianças e adolescentes. Do total de 26.903 pacientes relatados

em diferentes países, 3.424 (12,72%) eram portadores de uropatias, notadamente

refluxo vésico-ureteral e uropatia obstrutiva, e 6.091 (22,7%) eram portadores de

glomerulopatias, destacando-se a esclerose focal e segmentar. Pode-se notar,

ainda, que os percentuais de uropatias divergem bastante entre as séries

publicadas, variando de 13,8 a 47,28%. O mesmo quadro pode ser observado entre

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os demais grupos. Este fato pode ser conseqüência de classificações diferentes

adotadas pelos autores ou da heterogeneidade regional.

Portanto, embora se ressalvando as possíveis falhas de uma compilação

de estudos heterogêneos, há clara consistência nos relatos de literatura, nos quais

predominam as uropatias e as glomerulopatias como principais causas primárias de

DRC na faixa etária pediátrica.

2.4 Tratamento da DRCT e morbimortalidade

Foge ao escopo do presente estudo uma discussão detalhada do

tratamento da DRC. Contudo, serão brevemente revistos alguns pontos que serão

importantes para o desenvolvimento posterior da argumentação relativa aos

cuidados com o portador de doença renal crônica nos estágios de 1 a 4.

O prognóstico da criança com DRC grave depende muito da

disponibilidade de recursos para tratamento. Embora tenha ocorrido grande

melhora na sobrevida em longo prazo de crianças e adolescentes, nos últimos 40

anos, nos Estados Unidos, tanto para as crianças em diálise como para as

transplantadas, a sobrevida de 10 anos é de apenas 80% e, como já comentado, a

taxa de mortalidade ainda é 30 a 150 vezes mais alta que a dos pares de idade

sem doença renal9. De fato, o tempo de sobrevida esperado para uma criança de

zero a 14 anos em diálise é de apenas 20 anos, enquanto a população de mesma

idade transplantada tem sobrevida estimada em 50 anos. No levantamento de 2007

do USRDS, 92% das crianças que foram transplantadas sobreviveram por cinco

anos, comparadas a 78% daquelas que receberam hemodiálise ou diálise

peritoneal60. Nos países em que a terapia renal substitutiva está disponível, a

melhor forma de tratamento é, pois, o transplante renal, em todas as faixas de

idade da criança.

Como já referido, as modalidades de substituição da função renal

atualmente disponíveis são o transplante renal, a hemodiálise e a diálise

peritoneal14. As três modalidades, em seus diversos subtipos, garantem sobrevida

expressiva para os pacientes com DRCT e, em muitos casos, boa qualidade de

vida26. Em todos os países desenvolvidos há incremento no número de pacientes

em terapia de substituição da função renal. Nos Estados Unidos, havia 372.000

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pacientes nessa condição no final do ano 2000, contrastando com

aproximadamente 150.000 em 1991. A previsão para o ano de 2010 é de que

650.000 em todas as faixas etárias necessitarão de algum método de terapia de

substituição da função nos Estados Unidos61. Na Europa, o quadro não é muito

diferente. Por exemplo, no período compreendido entre 1990-1996, nos países da

Europa Central e Oriental, houve incremento de 56% no número de centros de

hemodiálise, de 78% no número de pacientes em diálise e de 306% no de

pacientes em diálise peritoneal62.

Assim, não causa surpresa que, do ponto de vista das políticas de saúde

pública, haja preocupação com os gastos crescentes no pagamento das diversas

formas de terapia de substituição da função renal. Dados do USRDS mostram que

os gastos nessas modalidades de tratamento totalizaram 7,2 bilhões de dólares em

1993, US$7,87 em 1994, US$8,97 em 1995, US$10,21 em 1996, US$10,77 em

1997, US$15,4 em 1999, US$16,5 em 2000, US$18,14 em 2004 e US$19,3 em

200560. Embora os pacientes com DRCT representem um pequeno grupo na

população em geral (por exemplo, 0,02% no Reino Unido e 0,06% na Itália), os

custos com a diálise absorvem 0,7 a 1,8% dos orçamentos dos serviços de saúde

na Europa26. Além disto, os gastos e a qualidade dos cuidados com os pacientes

com DRCT variam em todo o mundo, mesmo entre os países considerados

desenvolvidos.

Biesen et al.63 avaliaram comparativamente 16 países, os quais foram

divididos de acordo com o modelo de saúde adotado (exclusivamente público,

misto e exclusivamente privado). No GRÁF. 3 foram consolidados os dados dos

países analisados: público (Canadá, Reino Unido, Dinamarca, Finlândia, Noruega,

Suécia, Holanda e Suíça); misto (Áustria, Espanha, Alemanha, França, Itália e

Bélgica) e privado (Japão e Estados Unidos).63 Pode-se observar maior prevalência

de DRCT, estimada em pacientes pmp, assim como maior número de pacientes

novos/ano, nos países que adotam sistemas privados ou mistos de modelo de

saúde. Entretanto, os dados mais contrastantes se referem aos indicadores que

atestariam a qualidade nos cuidados com DRCT. O percentual de pacientes

transplantados nos países de sistema público de saúde foi de 55%, contrastando

com apenas 34 e 13,5% nos sistemas misto e privado, respectivamente. A

distribuição do percentual de pacientes em diálise peritoneal também foi

assimétrica. Enquanto nos países de sistema público esse percentual atingiu 31%,

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nos demais ficou em torno de 10%. Assim, além dos custos para o sistema de

saúde e o dispêndio do orçamento nos cuidados a pacientes com DRCT, há clara

assimetria na qualidade do atendimento a esses pacientes, mesmo em países de

alta renda per capita.

31

9

11,5

55

34

13,5

155

104

204

498

643

970

público

misto

privado

prevalênca

novos pacientes/ano

% pacientes transplantados

%pacientes em DP

GRÁFICO 3 - Comparação do impacto dos sistemas de saúde no acesso à

terapia de substituição de função renal em 16 países.

Fonte: adaptado de Biesen et al. (1998)63.

Do ponto de vista médico, a DRCT representa grande impacto clínico,

psíquico e social para pacientes, familiares e equipes médicas. Apesar dos

inegáveis avanços no tratamento da DRCT nas últimas décadas, essa condição

ainda é associada a inaceitáveis índices de morbimortalidade, especialmente para

os pacientes em diálise. Nos Estados Unidos, segundo dados do USRDS, em

2003 a taxa de mortalidade no primeiro ano do início do tratamento dialítico foi de

11,4% para a faixa etária entre zero e quatro anos de idade, 6,9% entre cinco e

19 anos e 16,6% entre 45 e 64 anos. Para os pacientes que iniciaram a diálise

entre 65 e 74 anos, 28,3% faleceram após um ano de tratamento. Além disso,

45% apresentaram alterações coronarianas, incluindo 12% com episódios de

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infarto agudo do miocárdio; 20% apresentam doenças vasculares periféricas e

11% doenças vasculares cerebrais45.

Os dados do USRDS (2007) mostram que a sobrevida em cinco anos

dos pacientes pediátricos em diálise é de 82% e transplantados de 93%. Ainda

segundo esses dados, desde 1991 as taxas de mortalidade dos pacientes

pediátricos em diálise aumentaram 5%, atingindo 26,6 pmp, em 200560. Ressalte-

se que, na população transplantada, as taxas de mortalidade são três a quatro

vezes mais baixas do que aquelas das duas modalidades de diálise. No Brasil,

segundo dados do Registro Brasileiro de Diálise e Transplante Renal (1997)47, a

estimativa atuarial de sobrevida em quatro anos é de 67%. Esse dado deve ser

visto com cautela, pois o registro obteve informações de aproximadamente 30%

dos pacientes brasileiros em tratamento para DRCT. As principais causas de óbito

foram complicações cardíacas (30%), infecciosas (22%) e cérebro-vasculares

(21%).

Além das taxas de mortalidade serem altas em todas as faixas etárias,

os pacientes com DRCT vivenciam alta morbidade. A freqüência e a duração das

hospitalizações têm sido utilizadas como um indicador de morbidade ou uma

medida objetiva de qualidade de vida, devido ao impacto que causa na vida dos

pacientes64. Além do impacto na vida dos indivíduos, do total dos gastos com o

tratamento da DRCT nos Estados Unidos, 40% são devidos à hospitalização65.

De acordo com o USRDS, o número médio de internações em 2003-2005 foi de

2,02 por paciente/ano, na faixa etária de 0-19anos. A média de dias de internação

foi de 12 dias para o mesmo grupo60. Essa taxa foi significativamente mais alta

para as crianças em hemodiálise, quando comparadas às dos pacientes em

diálise peritoneal.

Evidentemente que, além do impacto econômico para o sistema de

saúde, esse quadro representa forte impacto no tocante ao desenvolvimento

normal das crianças e adolescentes, considerando-se os aspectos sociais,

emocionais e cognitivos. Assim, apesar dos progressos obtidos no tratamento da

DRCT, especialmente nos países desenvolvidos, o quadro geral é preocupante. A

alta morbidade e a mortalidade associadas ao tratamento dialítico têm estimulado

estudos que visam à detecção de fatores que possam ser corrigidos, objetivando

reduzirem-se os agravos associados ao tratamento da DRCT. Entretanto, a

abordagem antes da evolução para DRCT tem recebido escassa atenção,

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especialmente na faixa etária pediátrica. A adequada abordagem pré-DRCT, ou

seja, antes do início dos métodos de terapia renal substitutiva, pode contribuir

para a redução da morbimortalidade nesse contexto. A atenção e os cuidados na

abordagem conservadora da DRC podem ser a chave para a melhor evolução do

tratamento da DRCT. Alguns fatores presentes antes da DRCT podem predizer a

evolução em diálise e podem ser modificados no tratamento conservador. Entre

eles incluem-se a anemia, a hipertrofia ventricular esquerda, o

hiperparatireoidismo secundário e a desnutrição.

A seguir serão revistos alguns estudos que comparam a evolução dos

pacientes que tiveram acesso ao tratamento pré-dialítico, tendo sido encaminhados

precocemente ao nefrologista, com aqueles pacientes referendados tardiamente

para o tratamento da DRCT.

2.5 Abordagem pré-DRCT

Os estudos que procuram avaliar o impacto do tratamento na fase de

insuficiência renal antes da necessidade de terapia de substituição da função renal

são ainda relativamente pouco freqüentes. Muitos abordam a questão comparando

a evolução da terapia de substituição da função renal em pacientes que foram

referendados “precocemente” ao nefrologista com os que foram encaminhados

próximo à fase de DRC estágio 5.

Poucas pesquisas na década de 80 abordavam a evolução dos

pacientes de acordo com a época de encaminhamento, na fase pré-diálise, para

uma equipe médica ou interdisciplinar com especialização em nefrologia. Ratcliffe

et al.66 avaliaram retrospectivamente 55 pacientes; 32 deles (58%) haviam sido

referidos precocemente e 23 (42%) tardiamente (menos de um mês antes do início

da diálise). No grupo de encaminhamento precoce, 72% dos pacientes

apresentavam fístula artério-venosa disponível contrastando com o grupo tardio,

que não apresentou esse evento. Hospitalização prolongada foi necessária para

complicações como insuficiência cardíaca congestiva, hipertensão e pericardite em

somente três (9%) do primeiro grupo e em 16 (70%) do segundo grupo (p<0,001).

No segundo grupo, ocorreram três mortes (13%) versus uma morte no outro grupo.

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Os autores concluíram que o encaminhamento precoce a uma unidade renal

beneficiaria o paciente, permitindo melhor uso dos recursos financeiros.

Innes et al.67, em estudo retrospectivo que englobou o período de

1983-1988, compararam características de 44 pacientes que faleceram no

primeiro ano de diálise (grupo 1) com 44 pareados por idade e sexo que iniciaram

diálise nesse mesmo período e sobreviveram por mais de um ano (grupo 2). A

mediana de tempo de controle com nefrologista do grupo 1 foi de 36 dias antes do

início da diálise e a do grupo 2 foi de 30 meses. Os níveis de uréia e creatinina

dos dois grupos no início da diálise foram semelhantes, sugerindo que o

tratamento conservador no grupo 2 esteve associado à maior sobrevida e não que

esse grupo tivesse iniciado diálise mais precocemente. Os autores demonstraram,

ainda, que a época do encaminhamento foi preditiva da sobrevida dos pacientes,

independentemente da presença de doença sistêmica.

Campbell et al.68 estudaram os padrões de encaminhamento de

pacientes que iniciaram diálise no chamado University of Missouri Renal Program

no período de 1982-87. No período de 1982-84, os pacientes referenciados em

caráter de urgência (início de diálise até quatro semanas após a admissão) tiveram

média de dias de hospitalização três vezes mais alta que aqueles referenciados

precocemente, com custo financeiro aproximadamente cinco vezes mais elevado.

Uma análise de 600 pacientes referendados entre 1982 e 1987 mostrou que o

início da TRS ocorreu como urgência em 47% dos casos e de forma programada

em 41%. A mortalidade em um ano no grupo de encaminhamento urgente foi de

39% e no grupo precoce de 6%. Contudo, eles não foram comparados quanto a

estados de co-morbidade, podendo ter havido um bias de seleção.

A partir da década de 90, os estudos vêm se tornando mais freqüentes e

com metodologias mais apropriadas. Jungers et al.69, em estudo de caso-controle

realizado na França, reviram 250 pacientes que iniciaram diálise por doença renal

primária progressiva, sendo selecionados aleatoriamente 20 caracterizados como

encaminhamento tardio (início de diálise em até um mês). Esse grupo foi pareado

por sexo e idade com 20 controles que foram acompanhados por pelo menos seis

meses antes do começo da diálise. No início desta, a creatinina e o fósforo sérico

foram significativamente mais altos no grupo encaminhado tardiamente, enquanto o

bicarbonato, hemoglobina, cálcio e albumina foram mais baixos. Fístulas em

condições de uso estavam presentes em todos os pacientes do grupo precoce. Do

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grupo tardio, 15 (75%) pacientes foram submetidos à colocação de cateteres

venosos centrais. Houve diferença muito significativa no tempo de hospitalização

dos dois grupos, tendo sido de 33,3±13,1 dias para o grupo de encaminhamento

tardio e de 5,7±1,1 para o grupo-controle, assim como nos custos do início do

processo dialítico.

Ifudu et al.70 avaliaram a mortalidade associada ao início da diálise em

139 pacientes adultos (idade acima de 19 anos) no período entre 1990 e 1994.

Desses, 43% receberam cuidados pré-dialíticos de nefrologista, 45% de médicos

não-nefrologistas e 12% não receberam cuidados médicos anteriores à diálise. O

uso de cateteres para diálise foi necessário em 36% dos acompanhados pelos

nefrologistas, em 69% dos que receberam atendimento por não-nefrologistas e em

todos sem cuidado médico anterior. O tempo médio de hospitalização também

refletiu seu atendimento médico anterior; 12±23 dias para o grupo previamente

acompanhado por nefrologistas, 25±21 dias para o segundo grupo e 29±23 dias

para o grupo sem cuidado médico anterior.

Khan et al.71 compararam 42 pacientes adultos que morreram nos

primeiros 90 dias após o início de diálise em uma unidade renal em Aberden,

Escócia, entre 1971 e 1992, com 42 controles pareados por idade e sexo, que

iniciaram diálise no mesmo período e que sobreviveram por mais de 90 dias. No

grupo que faleceu precocemente, 33 necessitaram de diálise de urgência com

cateter temporário, em comparação com nove do outro grupo (p< 0.005). A média

de acompanhamento médico antes do início da diálise foi de apenas um mês no

grupo que evoluiu para óbito precoce, contrapondo-se a 10,6 meses nos

sobreviventes.

Rasgon et al.72 relataram a evolução de 46 pacientes adultos

acompanhados em Los Angeles, Califórnia, que iniciaram diálise em 1995; 29

haviam participado de programa multidisciplinar pré-diálise. Os 29 pacientes do

primeiro grupo tiveram média de 1,82 dia de hospitalização, enquanto o segundo

grupo teve média de 10,7. Os autores chamam a atenção para o fato de que os

pacientes que foram acompanhados por programa multidisciplinar pré-diálise

tiveram significativamente menor número de dias de hospitalização, apesar de

serem mais velhos e com maior proporção de diabéticos. Houve significativa

melhora na qualidade de vida, com custos reduzidos pela diminuição dos dias de

hospitalização.

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Os mesmos autores avaliaram os benefícios da intervenção

multidisciplinar pré-diálise para 30 pacientes em diálise domiciliar na manutenção

de atividade empregatícia. Eles haviam sido inscritos em um programa pré-diálise

que consistia de avaliação psicológica, educação sobre diálise e sobre escolha de

modalidades, entre outros. Os pacientes foram referenciados para o programa

aproximadamente seis meses antes do início do tratamento dialítico. Desses 30, 11

já estavam desempregados quando iniciaram a diálise. Dos 19 que estavam

trabalhando no início da diálise, 14 se mantiveram empregados, um se licenciou e

quatro deixaram de trabalhar.

Muirhead e Blyndal73 descreveram um programa pré-diálise, em

Londres, que englobou 42 adultos por um período de 22 meses. Estes foram

comparados com 13 portadores de DRC admitidos em diálise no mesmo período e

que não freqüentaram o programa pré-diálise. O primeiro grupo permaneceu

hospitalizado por metade dos dias do segundo, tendo a redução dos custos

ocorrido em proporção semelhante. Esse estudo foi retrospectivo, havendo

possibilidade de ter ocorrido um bias de seleção, pela possibilidade de os pacientes

com melhor adesão ao tratamento terem sido selecionados para o programa.

Em uma investigação realizada no Hospital da Universidade Federal de

São Paulo, Sesso e Belasco29 avaliaram prospectivamente a influência do

diagnóstico tardio de DRC na mortalidade dos pacientes adultos em tratamento

dialítico. Em 184 pacientes consecutivos, não diabéticos, com doença renal

terminal e que iniciaram diálise crônica no serviço, 106 tiveram diagnóstico tardio

de DRC (menos de um mês antes do início da diálise) e 78 foram diagnosticados

precocemente. A taxa de sobrevida em seis meses foi mais baixa no grupo de

diagnóstico tardio (69% versus 87%, p<0,01). O risco de morrer nos seis primeiros

meses de diálise foi 2,77 vezes mais alto no grupo de diagnóstico tardio, em

relação ao outro grupo. Na análise multivariada, após o ajuste por idade, co-

morbidade e parâmetros bioquímicos, dois fatores foram preditivos de mortalidade:

a idade e a baixa concentração de albumina. Entretanto, o retardo no

encaminhamento não permaneceu significativo após o ajustamento pelos outros

fatores.

Levin et al.74 avaliaram retrospectivamente a ocorrência de hipertrofia

ventricular esquerda em 175 pacientes adultos atendidos em uma clínica de

nefrologia em Vancouver (Canadá). O clearance médio de creatinina dos 115

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homens e das 60 mulheres era de 25,7 ± 17 ml/min. A prevalência de hipertrofia

ventricular esquerda foi maior nos pacientes com pior função renal: 26,7% com

clearance de creatinina maior que 50 ml/min, 30,8% com clearance entre 25-49

ml/min e 42,2% com clearance menor que 25 ml/min (p< 0,05). A análise univariada

revelou que a idade, a hemoglobina, a pressão arterial sistólica e o clearance de

creatinina foram significativamente diferentes entre aqueles com e sem hipertrofia

ventricular esquerda. Esse estudo sugere que anormalidades significativas que

existam na população pré-DRCT podem ser controladas com intervenções

terapêuticas (sobre a pressão arterial, a anemia, entre outros), com conseqüente

redução na morbidade e na mortalidade cardiovasculares posteriores.

Foram avaliados dois programas multidisciplinares em duas diferentes

cidades canadenses - Vancouver e Toronto75. O primeiro foi uma coorte

prospectiva não-randomizada comparando dois grupos expostos ou não ao cuidado

multidisciplinar pré-dialítico. O segundo foi um estudo retrospectivo da evolução dos

pacientes antes e após a introdução de um programa multidisciplinar pré-dialítico.

Embora criados independentemente, ambos visavam à diminuição da freqüência de

início da diálise em caráter de urgência, melhoria do preparo para a diálise e

otimização da utilização dos recursos. O programa de Vancouver mostrou

diminuição do número de sessões de diálise em caráter de urgência (13% versus

35%; p< 0,05) e diminuição dos dias de hospitalização no primeiro mês de diálise

(13,5 dias versus 6,5 dias; p<0,05). Houve redução de custos superior a 4.000

dólares por paciente. O estudo de Toronto alcançou sucesso na criação pré-diálise

de acessos dialíticos (86,3% dos pacientes), mas não se mostrou eficaz para a

iniciação eletiva da diálise. Concluiu-se que a abordagem multidisciplinar pré-

dialítica pode ter impacto positivo, mas elementos essenciais para o sucesso

incluem o encaminhamento, a existência de recursos e de infra-estrutura e a

disponibilidade de centros dialíticos.

Binik et al.76 descreveram, em um estudo multicêntrico no Canadá, o

efeito da educação do paciente na qualidade de vida do doente com DRC. No

período de 1983 a 1988, metade de 204 pacientes foi aleatoriamente inscrita em

um programa educacional avançado que apresentava informações sobre o

funcionamento do rim normal, doença renal, abordagem dietética da doença renal e

modalidades de tratamento. Não foram encontradas diferenças demográficas ou

bioquímicas entre os dois grupos, mas os pacientes do grupo educacional só

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necessitaram iniciar diálise após tempo superior, em média, a quatro meses, em

relação ao outro grupo. Os autores questionam se um melhor manejo dietético,

com restrição protéica mais acentuada poderia ter sido a causa da evolução mais

lenta.

Schmidt et al.77 revisaram os prontuários médicos hospitalares dos

pacientes adultos que iniciaram diálise, em uma região dos EUA, entre 1990 e

1997. Foram abordados os procedimentos da primeira diálise de 238 pacientes,

com o objetivo de avaliar o impacto do encaminhamento precoce sobre a incidência

de diálise de urgência, a escolha da modalidade dialítica (hemodiálise ou diálise

peritoneal) e a sobrevida. Os encaminhados com mais de um mês antes da

necessidade de diálise (encaminhamento precoce - grupo 1) foram comparados

aos que se apresentaram nos 30 dias anteriores ao início da diálise

(encaminhamento tardio - grupo 2). A necessidade de hemodiálise de urgência foi

significativamente menor entre o grupo 1 (29%), em comparação ao grupo 2 (90%)

- (p<0,0001). A modalidade inicialmente escolhida foi similar entre os pacientes do

grupo 1 (59% para hemodiálise e 41% para diálise peritoneal). Depois de ajustados

em relação à idade e causa da DRC, os pacientes que necessitaram de diálise de

urgência não diferiram significativamente em relação à sobrevida em longo prazo,

mas sim quanto aos custos envolvidos.

Discordando dos resultados apresentados até o momento, Harris et al.78

apresentaram dados de um estudo prospectivo (cinco anos de seguimento)

realizado com o objetivo de avaliar o impacto de um programa de tratamento

multidisciplinar intensivo para pacientes com DRC estabelecida. Foram incluídos

437 pacientes adultos com clearance de creatinina menor que 50 ml/min e última

creatinina sérica maior que 1,4 mg/dl, atendidos em um Hospital geral da região de

Indiana (EUA). O acompanhamento intensivo realizado durante os primeiros dois

anos consistia de consultas em uma clínica nefrológica com nefrologista,

enfermeira, nutricionista e assistente-social. O grupo-controle recebia cuidado

habitual. As variáveis consideradas incluíam a mensuração da creatinina sérica, a

estimativa do clearance de creatinina, o uso de serviços de saúde e a mortalidade

em cinco anos. Não foram encontradas diferenças na função renal, na utilização

dos serviços de saúde ou na mortalidade nos cinco anos de acompanhamento.

Houve número significativamente maior de consultas ambulatoriais entre os

pacientes do grupo de intervenção, devido principalmente às idas ao centro de

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nefrologia. Não se verificou diferença significativa quanto ao uso de medicamentos

com efeitos possivelmente protetores ou de drogas nefrotóxicas. Os custos diretos

da intervenção foram em torno de 484 dólares por paciente/ano. A conclusão dos

autores é que a intervenção intensiva multidisciplinar não teve efeito sobre a

evolução desses pacientes e que, por representar intervenções dispendiosas e

invasivas, é necessária a realização de ensaios clínicos aleatórios antes de sua

generalização na prática clínica. Contudo, esse estudo, apesar da metodologia

apurada, mereceu ressalvas quanto a alguns aspectos.

Wrone e Hornberger79, em editorial publicado no mesmo volume do

periódico, ponderaram que o trabalho foi iniciado nos primeiros anos da década de

1990, quando os benefícios de tratamentos visando a diminuir a progressão da

doença não haviam sido estabelecidos em estudos clínicos. Além disso,

recentemente têm sido considerados outros critérios que não somente a avaliação

da velocidade de progressão da DRC, como o tipo de acesso do paciente ao início

da diálise. Finalmente, no delineamento desse estudo, a equipe multidisciplinar não

tinha autoridade para implementar medidas terapêuticas. Outro importante aspecto,

discutido pelos próprios autores, foi o tempo de seguimento de apenas cinco anos

para pacientes com insuficiência renal leve, em sua maioria, certamente

minimizando diferenças entre o grupo de intervenção e o grupo-controle.

Na avaliação da época do encaminhamento ao nefrologista de pacientes

adultos de 14 centros europeus, Lameire et al.80 encontraram que o

encaminhamento tardio foi definido como a referência com intervalo igual ou inferior

a um mês antes do início da diálise. Entre 1993 e 1995, 2.236 portadores de DRC

iniciaram diálise nesses 14 centros. Um total de 583 (26%) foi referendado

tardiamente. Houve grande variação entre centros individuais, ainda que no mesmo

país. Pesquisas mais detalhadas em centros europeus revelaram que os pacientes

de encaminhamento tardio tendem a iniciar como processo dialítico a hemodiálise

com maior freqüência, apresentam significativamente mais co-morbidade e mais

mortalidade no primeiro ano de diálise, além de serem menos freqüentemente

transplantados.

Arora et al.81 analisaram se o encaminhamento tardio ao nefrologista

pode levar a uma inadequação do cuidado pré-DRCT. Nesse trabalho foram

analisados 135 pacientes adultos do New England Medical Center (Boston, EUA).

Destes, 30 (22%) tiveram a sua primeira consulta com nefrologista em um período

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inferior a quatro meses antes do início da diálise (grupo de referenciamento tardio).

Comparando-se os grupos, os pacientes referendados tardiamente apresentaram

maior freqüência de hipoalbuminemia (80% versus 56%), de hematócrito <28%

(55% versus 33%) e ritmo de filtração glomerular menor que 5 ml/min por 1,73 m2

(40% versus 17 %) no início da diálise. Menor proporção desses pacientes fez uso

de eritropoietina (17% versus 40%) ou apresentava acesso vascular permanente

funcionante na primeira sessão de hemodiálise (4% versus 40%). Concluiu-se que

o encaminhamento tardio ao nefrologista é freqüente nos EUA e se associa a

cuidados deficientes no período pré-diálise. Os pacientes encaminhados ao

nefrologista precocemente também não recebem cuidado ideal. Os autores

acreditam que haja necessidade de esforços educacionais dirigidos aos pacientes,

aos médicos nefrologistas e aos médicos generalistas.

Na última década, vários trabalhos têm analisado e discutido o melhor

momento de encaminhamento do paciente portador de doença renal crônica ao

cuidado nefrológico especializado.

Em 2000, Levin27 ressaltou a necessidade não somente de diagnóstico

precoce do paciente com doença renal crônica, mas também do início precoce de

estratégias de tratamento, para retardar a progressão da doença, de suas co-

morbidades e para definição do tempo ótimo de encaminhamento para a TRS.

Ainda em 2000, organizações como a National Institute of Health dos Estados

Unidos e a Associação Canadense de Nefrologia recomendaram o

encaminhamento 12 meses antes do início da diálise, a uma equipe multidisciplinar,

para preparação médica e psicológica para a TRS. Nesse ano, apesar das

recomendações, 20 a 50% dos pacientes americanos iniciavam diálise sem contato

prévio com nefrologistas.

No ano seguinte, Jungers et al.31 analisaram os dados de 1.057

pacientes consecutivos que iniciaram diálise de 1989 a 1998, com idade variando

de 18 a 91 anos, com o propósito de avaliar o impacto da duração do cuidado

nefrológico pré-diálise (CNPD) na sobrevida dos pacientes em tratamento dialítico.

Nesses pacientes, a duração do CNPD foi inferior a seis meses em 258 deles, de

seis a 35 meses em 267, de 36-71 meses em 227 e superior a 72 meses nos

demais 307. A morbidade cardiovascular, definida como a história de enfarto

cerebral ou miocárdico, a arteriopatia periférica e a presença de insuficiência

cardíaca anteriores à diálise foram muito inferiores nos pacientes com

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acompanhamento nefrológico superior a seis meses (39,6% versus 24,4%,

p<0,001), assim como a sobrevida em cinco anos. Na análise multivariada, o

acompanhamento nefrológico por período inferior a seis meses, a idade, a

presença de diabetes e de doença cardiovascular prévia foram fatores preditivos

independentes de todas as causas de morte em diálise.

Foram analisados 262 pacientes em 200332, definindo-se como

encaminhamento precoce os que aconteceram há mais de um mês antes do início

da diálise. Esses pacientes foram analisados por meio de testes que mensuraram

marcadores de qualidade de vida, como bem-estar psicológico. Não houve

diferença entre os grupos.

Em estudo prospectivo de 2004, avaliou-se82 o encaminhamento tardio

dos pacientes, definido como aquele em que a diálise foi iniciada em até quatro

meses após o primeiro contato do doente com o nefrologista, em comparação com

o precoce. Foram analisados 2.195 pacientes. Os resultados foram incisivos: a

análise mostrou que, comparados aos precocemente encaminhados, os de

encaminhamento tardio tiveram risco 44% mais alto de falecer no primeiro ano de

diálise.

Curtis et al. (2005)83 realizaram estudo de caso-controle com pacientes

em diálise, em hospitais do Canadá e da Itália. Foi avaliada a evolução de

pacientes expostos à abordagem inerdisciplinar no período pré-dialítico, em

comparação a um grupo assistido somente por nefrologista. Após terem recebido

pelo menos três meses de atendimento, 288 começaram a diálise. A duração

média do cuidado nefrológico foi de 42 meses. O grupo assistido pela equipe

multidisciplinar apresentou níveis mais altos de hemoglobina, de albumina e de

cálcio no início da diálise (p<0,002). A sobrevida foi significativamente maior no

grupo assistido pela equipe multidisciplinar (p=0,01). A análise multivariada mostrou

que o cuidado padrão (realizado apenas pelo nefrologista) foi um preditor

independente de mortalidade (hazard ratio=2,17, IC 95% 1,11-4,28), após o ajuste

por outras variáveis.

Um estudo na Polônia (2006) avaliou 180 crianças com média de idade

de 14±6 anos, em diálise crônica. O encaminhamento tardio foi definido como

aquele realizado há menos de um mês antes do início do TSR. No começo do

processo dialítico, os pacientes de encaminhamento tardio apresentavam níveis

mais altos de fósforo, uréia e níveis mais baixos de cálcio sérico e de hemoglobina,

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mais baixos índices de massa corporal e mais ocorrência de hipertensão arterial

descontrolada, sobrecarga de volume e de admissões em unidades de cuidado

intensivo. Após três anos do início da diálise, apresentavam menor proporção de

transplante renal, em relação aos de encaminhamento precoce (p<0,02)84.

Dados do USRDS/2007 coletados entre maio de 2005 e junho de 2006,

referentes a pacientes de todas as faixas etárias, ilustram o uso de diferentes tipos

de acesso vascular na primeira diálise ambulatorial60. Mais de quatro entre cada

cinco novos pacientes usavam cateter de diálise no início do tratamento. Fístula

artério-venosa em maturação estava presente em somente 19,1% dos casos. A

mesma fonte revela que 30% dos que iniciaram diálise no período descrito não

receberam qualquer cuidado de nefrologista antes do início da terapêutica dialítica

e somente 25% receberam cuidado nefrológico por período igual ou superior a dois

meses.

Os dados do USRSD/2007 relativos às crianças e aos adolescentes

mostram que, de zero a nove anos, 70% dos pacientes receberam cuidado

nefrológico antes do início da diálise, versus 65% das crianças entre 10 e 14 anos e

55% entre 15 e 19 anos. Aqueles que receberam cuidado por nefrologistas antes

da DRCT apresentaram menor probabilidade de iniciar diálise com acesso vascular

por meio de cateteres, em comparação ao outro grupo (38,5% versus 70%)60. Em

suma, a maioria dos estudos indica que o encaminhamento tardio do paciente com

DRC para uma equipe de nefrologia tem contribuído para a maior morbimortalidade

daqueles em diálise, reduzindo-se a expectativa e a qualidade de vida e

aumentando os custos do tratamento, em relação ao encaminhamento precoce.

Apesar de grande parte dos estudos serem retrospectivos, há consenso quanto à

deficiência na abordagem pré-dialítica da maioria dos casos. A grande incidência

de encaminhados sem acesso vascular, a alta proporção de utilização de cateteres

temporários de diálise, em conjunto com a alta porcentagem de pacientes que

necessitam de hospitalizações dispendiosas e prolongadas no início do processo

dialítico, comprovam esse fato.

A publicação, em 2002, dos protocolos da National Kidney Foundation

K/DOQI faz parte de todo esse processo de amadurecimento científico das últimas

décadas, em relação ao manuseio clínico dos portadores de doença renal crônica.

Eles sugerem o cuidado com o doente renal desde as fases iniciais do processo de

perda progressiva de função dos rins. Para isso, dever-se-ia proceder à avaliação

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das pessoas em risco, no caso dos adultos, idosos, diabéticos, hipertensos,

obesos, portadores de dislipidemias e, no caso das crianças, além desses fatores

de risco, daquelas com doenças renais congênitas ou hereditárias e, ainda, das

portadoras de glomerulopatias, devendo ser priorizada a prevenção primária e

secundária. Destaca-se que a revisão dos trabalhos publicados mostra a

exigüidade de estudos abordando o momento ótimo de encaminhamento ao

cuidado nefrológico especializado para crianças e adolescentes. A DRC nessa

faixa etária apresenta causas, aspectos clínicos e repercussões muito específicas,

como as que se referem ao crescimento, aos aspectos nutricionais, à osteopatia.

Nesse contexto, insere-se a contribuição do presente estudo advindo da

experiência do um programa interdisciplinar pioneiro em nosso meio. Contudo, a

questão do tratamento da DRC é tema complexo, não se esgotando na questão do

encaminhamento precoce. Há necessidade não só de identificar os pacientes

portadores de DRC em estágio precoce, mas também de instituir estratégias

terapêuticas precocemente, visando a retardar a progressão da doença e das

condições de co-morbidade27.

Há forte associação entre o risco de morte em diálise e fatores passíveis

de correção, como dose de diálise insuficiente, co-morbidades e desnutrição. A

atenção a esses fatores tem aumentado a sobrevida dos pacientes, mas a

mortalidade ainda permanece muito alta, o que possivelmente se deve a outros

fatores associados. Entre estes, que têm recebido escassa atenção, incluem-se o

tempo e a qualidade dos cuidados pré-dialíticos81. O tratamento conservador pré-

dialítico envolve intervenções precoces que visem a diminuir a velocidade de

progressão da DRC, o manejo cuidadoso das complicações urêmicas, a confecção

em tempo hábil de acesso vascular dialítico, o início em tempo adequado da

terapêutica dialítica e a implementação de programas educacionais voltados para a

máxima reabilitação. Como mencionado no início da revisão, para adultos

recomenda-se que o encaminhamento para o nefrologista deva ocorrer com

creatinina sérica de 1,5 mg/dl para a mulher e de 2,2 mg/dl para o homem35.

Embora a patogênese da doença renal progressiva não seja

completamente conhecida, estudos experimentais em animais e alguns estudos em

humanos têm sugerido que a progressão de diferentes tipos dessa enfermidade

pode se dever a fatores hemodinâmicos, inflamatórios e metabólicos, além da

atividade da doença. Intervenções que reduzam a pressão intraglomerular, como

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controle da ingestão protéica, o uso de inibidores da enzima conversora da

angiotensina, o uso de bloqueadores de receptor da angiotensina, o controle da

glicemia e da pressão arterial e a correção da anemia têm se mostrado benéficas

em retardar a progressão da doença renal diabética e não diabética, em alguns

estudos experimentais1, 85-88.

Vários estudos correlacionaram a hipoalbuminemia no início da diálise

com a mortalidade subseqüente61,89-95. A hipoalbuminemia também tem sido

associada ao aumento das taxas de hospitalização95,96. Dados brasileiros de diálise

mostram que, segundo o Censo da Sociedade Brasileira de Nefrologia de 2006, a

porcentagem de pacientes em diálise com albumina sérica inferior a 3,5 g/dl é de

15% no Sudeste e de 22% no Centro-Oeste de nosso país. No tocante à anemia,

entre 40 e 47% dos pacientes brasileiros em diálise apresentam hemoglobina

menor que 11 g/dl. Entretanto, são escassos os dados brasileiros sobre o

encaminhamento precoce de pacientes para cuidado nefrológico especializado.

Alguns autores defendem que o início da diálise com nível de função

renal residual alto (início precoce) possa diminuir a morbimortalidade, em

comparação com aqueles com início tardio. Essa hipótese baseia-se no fato de que

a função renal em declínio se relaciona à desnutrição e que a desnutrição no início

da diálise se relaciona à pior evolução64. No que tange à disponibilização de acesso

dialítico em tempo hábil, Obrador et al.64 relembram que o uso de cateteres

temporários em pacientes sem acesso vascular permanente ou naqueles com

perda precoce do acesso se constitui em causa de morbidade e mortalidade

aumentadas. O uso de cateteres temporários se associa a complicações como a

estenose venosa central em até 40% dos pacientes que recebem cateter de

subclávia97. Além disso, dados do USRDS indicam que o KtV médio dos pacientes

que iniciam hemodiálise por cateter venoso é menor do que o dos que são

dialisados via fístula A-V. E que houve redução do risco de morte de 7% a cada KtV

mais alto que 0,198. A mortalidade esperada entre os dialisados com cateter venoso

é maior do que com acesso permanente funcionante. Os dados brasileiros sobre o

uso de cateteres para diálise indicam que 13% dos centros de diálise possuem

mais de 20% dos pacientes com cateteres venosos como via de diálise e 32% dos

centros com 10 a 20% dos pacientes usando esta via11.

A adequada abordagem da DRC é complexa, envolve altos custos e

necessariamente uma equipe interdisciplinar. À medida que o conhecimento dos

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ENFERMAGEM

NUTRIÇÃO

mecanismos de progressão da doença renal vem se expandindo, a inter-relação

entre o nefrologista, o paciente e seus familiares torna-se complexa e a

participação de outros profissionais é não somente inevitável como imprescindível.

A equipe deve incluir médicos, enfermeiros, nutricionistas, psicólogos, assistentes-

sociais, urologistas, entre outros. Além disso, quando se inicia progressiva queda

da função renal, o paciente necessita não exclusivamente desses profissionais,

como também de múltiplos serviços ambulatoriais e hospitalares.

Na FIG. 1 pode ser observado um diagrama dessa complexa teia de

inter-relações que perpassa a relação médico-paciente na DRC. Entretanto, a

adequada abordagem dos pacientes com DRC, especialmente na faixa etária

pediátrica, ainda carece de estudos prospectivos que avaliem a melhor forma de

intervenção e estabeleçam novo paradigma nos cuidados desse complexo

problema de saúde pública. No próximo subitem serão revistos os principais

estudos que avaliaram os fatores associados à progressão da doença renal e a

deterioração da função renal, fundamentais na elaboração de uma estratégia de

abordagem da DRC.

FIGURA 1 - Diagrama ilustrativo da complexidade das inter-relações do paciente

com insuficiência renal crônica, a nefrologia e as demais áreas de apoio à

abordagem do problema.

Fonte: adaptado do Bolton (1998)99.

PACIENTE COM DRC

NEFROLOGIA

PSICOLOGIA

UROLOGIA

CIRURGIA CÁRDIOVASCULAR

RADIOLOGIA

ASSISTÊNCIA SOCIAL

PEDIATRIA GERAL

DIÁLISE TRANSPLANTE

TERAPIA OCUPACIONAL

LABORATÓRIO

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2.6 Progressão da DRC

A DRC progressiva caracteriza-se pela perda da função renal,

permanente e inexorável, geralmente reconhecida na prática clínica pela elevação

persistente da creatinina sérica. A DRC nem sempre progride, sendo possível a

manutenção de níveis elevados, porém estáveis, de creatinina por longos

períodos de tempo. Porém, se a função renal se altera de forma significativa e

persistente, usualmente há progressão da lesão, mesmo quando a doença inicial

permanece inativa100. Este é um fenômeno cuja explicação patogenética tem sido

intensivamente estudada. A DRC caracteriza-se por cicatrização progressiva que

acaba afetando todas as estruturas do rim. Essa progressão da doença crônica

tem sido atribuída a um ciclo autoperpetuador de fibrose, ativado após o insulto

inicial2. A velocidade de declínio da função renal varia em grupos de pacientes

com nefropatias diferentes e mesmo entre portadores de uma mesma doença101.

A doença renal avançada tem expressão histológica única,

independentemente do insulto inicial. O rim em estágio terminal tem seu tamanho

reduzido, o glomérulo tem menor número de capilares íntegros, áreas localizadas

de proliferação celular e um processo cicatricial progressivo, que causa colapso

capilar. Os túbulos estão atrofiados, cercados por células inflamatórias. Há fibrose

difusa, deposição de colágeno e matriz mesenquimal, aumento da deposição de

lípides e do número de fibroblastos. Na microscopia eletrônica, as membranas

basais tubulares e glomerulares estão geralmente espessadas nos estágios

iniciais da doença e condensadas em material amorfo, nos tardios. Tanto em

humanos quanto em animais portadores de insuficiência renal, a evolução da

glomeruloesclerose caracteriza-se pelo envolvimento progressivo de todos os

segmentos de cada glomérulo e pelo acometimento da grande maioria das

unidades glomerulares, com obliteração das estruturas tubulares. A piora das

funções tubular e glomerular correlacionam-se com as alterações histológicas102.

Há 50 anos, Robert Platt103 descreveu a insuficiência renal como a

conseqüência da adaptação estrutural e funcional à perda de parênquima renal. A

falência renal foi descrita como "uma função extremamente eficiente dos néfrons

remanescentes, agora muito pequenos para esta tarefa". Por muitos anos,

nefrologistas tentaram evitar a perda de néfrons, geralmente sem sucesso. No

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início dos anos 80, Barry Brenner e colaboradores104,105 alteraram por completo

essa perspectiva e iniciou-se uma nova era na nefrologia com o seu trabalho

sobre a hipertensão capilar glomerular. A maioria das doenças renais progride

para DRC como conseqüência de adaptações funcionais do rim, após a doença

de base ter causado a perda acentuada de néfrons. Essas alterações,

extensamente estudadas em modelos experimentais, incluem hiperperfusão

glomerular e hipertensão dos néfrons remanescentes, o que acaba por elevar a

capacidade de filtração de cada néfron isoladamente. Ao longo do tempo, todavia,

a hiperfiltração renal é prejudicial. As alterações adaptativas dos néfrons após a

injúria inicial são atualmente vistas como deletérias, eventualmente causando

cicatrização e perda de néfrons, perpetuando um ciclo vicioso de hiperperfusão,

hiperfiltração, hipertrofia e glomeruloesclerose focal e segmentar, que resulta em

doença renal terminal.²

Os mecanismos de lesão renal progressiva incluem fatores

hemodinâmicos, o sistema renina-angiotensina-aldosterona, várias citocinas e

fatores de crescimento, perda de podócitos, dislipidemia, proteinúria e fatores

predisponentes, quer genéticos, quer ligados ao baixo número de néfrons9.

Resultados experimentais sugerem também a interferência de fatores

metabólicos, tais como a hiperglicemia. Cada vez mais tem sido também avaliado

o papel de fatores genéticos, já com estudos conclusivos em modelos

experimentais. Em humanos, é conhecido que a ocorrência de doença renal está

associada ao genótipo. Em negros, o HLA-DR3 se associa de forma consistente à

insuficiência renal causada pela hipertensão, nefropatia diabética e

glomerulonefrite membranosa. Há também evidências de que os genes modulem

o curso e a progressão da lesão orgânica. Vários fatores parecem induzir lesões

tubulares e contribuir para o afluxo de células inflamatórias. Entre eles, a

proteinúria parece ter papel importante. Certas proteínas filtradas parecem ser

tóxicas para as células tubulares e/ou exercem atividade pró-inflamatória, como a

transferrina, o complemento, as lipoproteínas ou mesmo a albumina106. A

progressão da DRC é influenciada por uma série de fatores de risco, alguns dos

quais, como a obesidade, a hipertensão e a proteinúria, podem ser modificados,

enquanto outros, como a genética, a raça, a idade e o gênero, não podem.

Com o intuito de melhorar a qualidade de vida dos doentes e otimizar

os gastos públicos com a saúde, é necessário que sejam desenvolvidas medidas

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de prevenção, consideradas de nível terciário, visando a diminuir a velocidade de

progressão da insuficiência renal já instalada. É também indispensável

reconhecer e abordar de maneira adequada e precoce as doenças renais

(prevenção secundária), assim como prevenir a instalação das nefropatias, a

partir da compreensão de seus fatores predisponentes (prevenção primária)106.

Dada a morbimortalidade relacionada à DRC e aos altos custos

envolvidos no seu tratamento, ambos já previamente discutidos, desde as últimas

décadas do século XX têm sido publicados estudos que buscam compreender os

fatores prognósticos para a evolução da doença renal. Esses trabalhos se

constituem, na sua grande maioria, em estudos retrospectivos não controlados,

com casuística que compreende populações adultas e portadoras de DRC em

estágio avançado. A compilação de alguns deles pode ser observada na TAB. 4.

TABELA 4

Estudos sobre fatores prognósticos na evolução da doença renal (1983-2007)

Autor N Idade (anos)

Função renal (admissão)

Tipo de estudo

Segui -mento

(meses)

Fatores Prognósticos

Oksa et al. (1983)107 73 Adultos Scr > 2.3 Retros. 183m HA Oldrizzi et al. (1985)108 88 25-71 Scr>1,3 Prosp. Contr. 92m. Prot; HA Gretz et al. (1986)109 161 Adultos Scr > 6 Prosp. - GN Bergström et al. (1986)110 17 20-70 Ccr < 60 Prosp.aleat - HA Vetter et al. (1988)111 100 Adultos Scr > 7 Retros. 20m. HA Hanedouche et al. (1988)112 167 35-54 Ccr < 20 Retros. - HA Williams et al. (1988)113 108 23-55 - Retros. 42m. Prot; GN Stenvinkel et al. (1989)114 108 40-70 Scr > 2,8 < 4 Retros. 86m. Prot; HA; GN; DPAD Fröhling et al. (1989)115 112 19-77 Ccr < 20 Prosp.aleat. 24m. HA Brazy et al. (1989)116 86 25-75 - Retros. 36m. HA Rosman et al. (1989) 117 248 Adultos Ccr > 10 < 60 Prosp. 48m. HA Brazy et al. (1990)118 200 44-70 Scr > 1.3 < 3.2 Retros. 114m. HA Wight et al. (1992)119 102 19-69 Scr > 2 < 7 Retros. 48m. HA; Prot Gonzalo et al. (1992) 120 26 23-74 Scr > 4 < 7 Retros. 144m. HA Alberti et al. (1993)121 456 18-65 Scr > 1.5 < 3.6 Prosp. Aleat. 24m. HA Hannedouche et al.(1993)122 174 50-54 Ccr < 15 Retros. Aleat. 48m. HA Sexo; GN Gonzalo et al. (1994)123 19 15-65 Scr >1.5 Retros. 168m. HA Jungers et al. (1995)124 159 25-71 Ccr < 50 Retros. 70m. Prot; HA; Sexo; GN Peterson et al. (1995)125 840 18-70 Ccr < 50 Prosp.aleat 36m. Prot Husincker et al. (1997)126 840 18-70 Ccr < 55 Prosp.aleat 36 m. Prot; HA; GN Wingen et al. (1997)127 191 2-18 Ccr < 60 Prosp.aleat 48 m. HÁ; Prot Jovanovic et al. (1999)128 92 17-70 Ccrt < 30 Retros. 8 a. HÁ; GN; Ccr Locatelli et al. (2000)101 886 37-64 Scr > 1.5 < 7 Prosp.aleat 36 m. GN; DPAD Jungers et al. (2001)31 63 45-76 Ccr 8-15 Retros 9 a. -* Soares et al. (2003)129 62 0-19 Ccr<75 Retros. 10 a. Prot, , Ccr Litwin (2004)130 92 3,4-15 GFR 25-61 Retros 3 a. HÁ, Prot González E et al. (2005)131 54 18-72 14-137 Retros 2,3-14,3 obesidade Furth et al. (2007)95 108 11-18 Ccr51±27 Prosp 3 anos Anemia, ↓ albumina Gonzalez et al. (2007)132 176 0-11,9 RFG<70 Retros 11,4 a. Prot; HÁ;RFG

Scr (creatinina sérica em mg/dl); Ccr (clearance de creatinina em ml/min); Retros (estudo retrospectivo); Prosp (Prospectivo); Aleat (Aleatório); control (controlado); HA (hipertensão arterial); Prot (proteinúria); GN (glomerulopatia); DPAD (doença policística autossômica dominante).

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51

*Este estudo mostra um efeito protetor do uso de eritropoetina recombinante sobre a queda do RFG.

Alguns fatores têm sido persistentemente relacionados à progressão da

doença renal, tais como: hipertensão arterial, proteinúria, o tipo de doença renal

básica, o sexo masculino e a função renal no início do acompanhamento. Serão

discutidos esses fatores nos subitens que se seguem.

2.6.1 Hipertensão arterial

Há forte associação entre a hipertensão arterial e o ritmo da perda de

função renal133. A interpretação deste fato é complexa. Esta associação não

estabelece necessariamente causa e efeito, já que a prevalência e a gravidade da

hipertensão aumentam à medida que a função renal declina134.

O modelo de ablação renal tem sido muito usado para investigar a

doença renal crônica85. Nesta técnica removem-se 5/6 de um rim único e

analisam-se os resultados. Observam-se hipertrofia, hiperperfusão e

hiperfiltração, com evolução posterior para esclerose glomerular progressiva. A

análise dos resultados levou à hipótese de que a hiperfiltração induz à

glomeruloesclerose. O glomérulo possui estrutura vascular diferenciada, com uma

arteríola eferente e uma aferente, que permitem alterações na pressão capilar

glomerular do néfron, como a resultante da ação dos inibidores de enzima

conversora.

O estresse induzido pela hipertensão arterial leva à lesão, ativação e

disfunção do endotélio glomerular que, por sua vez, inicia microinflamação

glomerular, ocorrendo interação entre células inflamatórias e células mesangiais.

Essas interações levam a: ativação, proliferação e disfunção do mesângio. A

comunicação entre as células depende da liberação de grande quantidade de

citocinas e de fatores de crescimento. Sob a influência desses fatores de

crescimento, em especial do fator de crescimento tumoral beta-1 (TGF-ß1), as

células mesangiais regridem a mesangioblastos, capazes de produção excessiva

de matriz extracelular, levando à expansão mesangial, um sinal precoce de

glomeruloesclerose. O dano podocitário também é reconhecido como um fator

importante na esclerose glomerular. A ativação contínua e persistente desse eixo

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52

endotelial-mesangial-epitelial pode lever à morte celular por apoptose, sua

substituição por matriz extracelular e glomeruloesclerose irreversível38.

A hipertensão sistêmica parece estar associada ao declínio da função

renal em todas as pessoas, portadoras ou não de disfunção renal. Em 1984,

verificou-se135 relação entre a pressão arterial média e a taxa de declínio do

clearance de creatinina, em uma investigação longitudinal prospectiva em homens

idosos. Um estudo retrospectivo de grande grupo de pacientes em diálise

encontrou116 taxa média de progressão para DRCT mais rápida nos pacientes

com hipertensão arterial quando comparada com pacientes normotensos.

O valor do controle da hipertensão arterial na prevenção de doenças

cardíacas e cerebrais já foi bem estabelecido, assim como os efeitos benéficos do

tratamento da hipertensão arterial nas taxas de progressão da doença renal.

Vários estudos demonstram esse benefício, independentemente da etiologia da

DRC, incluindo a nefropatia diabética, principal causa de DRC entre os pacientes

adultos. A nefropatia diabética representa uma boa oportunidade para o estudo

dos pacientes em estágio precoce de instalação da nefropatia. Nessa

enfermidade, a hipertensão é um fator de risco importante de queda rápida de

função renal. Ao mesmo tempo, vários trabalhos têm demonstrado efeitos

benéficos do uso de inibidores da enzima conversora de angiotensina em

pacientes diabéticos com proteinúria. Em pacientes portadores de insuficiência

renal secundária à nefropatia diabética, o controle da pressão arterial se associou

à redução de 33% na taxa de declínio do ritmo de filtração glomerular136.

O ensaio clínico denominado MDRD (Modification of Diet in Renal

Disease Study Group) comparou os efeitos do controle usual da pressão arterial

aos de um controle mais estrito, em 840 pacientes com DRC, com clearance

variando de 13 a 55 ml/min. O controle usual tinha como meta a pressão arterial

média de 107 mmHg para pacientes abaixo de 60 anos de idade e de 113 mmHg

para aqueles acima de 60 anos. A meta do grupo-controle estrito era de 92 e 98

mmHg, respectivamente. Após 27 meses, não foi encontrada diferença na taxa de

progressão da insuficiência renal. Todavia, nos portadores de proteinúria maior

que 1 g/24 horas e RFG de 25 a 55 ml/min, o controle estrito da pressão arterial

diminuiu significativamente a taxa de progressão da DRC, comparado ao grupo-

controle. Quando analisadas as pressões arteriais finais, todos com proteinúria

acima de 1 g/24 horas beneficiaram-se com a redução da HA137.

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53

Outros estudos, de desenho não prospectivo ou ensaio clínico,

também sugerem que o tratamento da hipertensão arterial nos não-diabéticos

portadores de DRC reduz a velocidade de progressão da falência renal. Zucchelli

et al.138, em um estudo expressivo, demonstraram prospectivamente que, em 120

pacientes adultos, a redução da pressão arterial de 165/100 mmHg para 140/90

mmHg diminuiu a taxa de progressão da DRC em 47%, em um período de três

anos. Além disto, a proteinúria foi significativamente reduzida no grupo com

pressão arterial média abaixo de 100.

Assim, a hipertensão arterial sistêmica associa-se à doença renal e

contribui para sua progressão. O controle da pressão arterial sistêmica constitui,

atualmente, ferramenta chave no manuseio clínico da DRC. O uso de inbidores de

enzima conversora e de outros antagonistas do sistema renina-angiotensina

(SRA) apresenta efeitos renoprotetores, que vão além daqueles esperados pelo

controle da pressão arterial sistêmica.

Concluindo, os estudos até o momento sugerem ser a hipertensão

arterial um importante fator na progressão da doença renal e indicam ser o

controle da hipertensão arterial uma medida terapêutica fundamentada e

certamente benéfica. Infelizmente, as pesquisas em faixa etária pediátrica são

escassas.

2.6.2 Proteinúria

A proteinúria é um marcador de lesão renal, refletindo perda da

permeabilidade seletiva. Tem sido extensamente debatido se a proteinúria está

somente associada à injúria glomerular progressiva.

A proteinúria parece alterar diretamente a função das células tubulares,

levando à inflamação intersticial e à ativação de vias que levam à fibrose2. A

fibrose túbulo-intersticial está estreitamente associada à diminuição da função

renal. Como na glomeruloesclerose, a fibrose túbulo-intersticial envolve

inflamação, proliferação, apoptose e fibrose. Evidências experimentais sugerem

que a proteinúria tem papel importante no desencadeamento da inflamação

túbulo-intersticial. A absorção excessiva de albumina pelas células do túbulo

proximal, in vitro, estimula a liberação de vários mediadores pró-inflamatóirios,

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inclusive quimiocinas. Esses agentes, por sua vez, podem atrair células

inflamatórias para o interstício renal e iniciar interações com fibroblastos

intersticiais. A ativação e proliferação de fibroblastos e a síntese excessiva de

matriz extracelular podem resultar em fibrose intersticial. Os túbulos lesados

sofrem apoptose, ocorrendo atrofia tubular e evolução para glomérulos sem

túbulos38.

Vários estudos têm demonstrado a associação entre a proteinúria e a

progressão mais rápida da doença renal. Em um estudo prospectivo,

multicêntrico, randomizado, que incluiu 456 pacientes adultos portadores de DRC,

Loccatelli et al.139 encontraram correlação altamente significativa entre a presença

e a intensidade da proteinúria e a sobrevida da função renal. A sobrevida

acumulada da função renal piorou gradativamente à medida que os valores de

proteinúria se elevaram, comparando-se níveis de menos de 1 g/24 horas aos

superiores a 3 g/24 horas. Esse resultado coincide com os estudos de Williams et

al.113 e de Hunt et al.140, que já haviam demonstrado que a taxa de declínio da

função renal se relaciona à magnitude da proteinúria, sendo mais alta nos

pacientes com proteinúria mais intensa. Não está claro ainda se a proteinúria é

somente um marcador da atividade da doença de base ou a causa direta da

deterioração renal. No estudo já citado139, a sobrevida acumulada da função renal

dos pacientes cuja proteinúria diminuiu, espontaneamente ou com medicação

anti-hipertensiva, foi melhor do que a dos outros pacientes. Esse resultado

também foi encontrado por Apperloo et al.141, que demonstraram que a queda na

excreção protéica urinária induzida por tratamento se associa à melhor evolução

da função.

No MDRD (1994), a proteinúria basal foi um forte preditor do declínio

da taxa de filtração glomerular e a estabilização da pressão arterial em nível ideal

beneficiou significativamente a taxa de declínio do ritmo de filtração glomerular

nos pacientes com nível de proteinúria basal mais elevado137.

No único estudo cuja amostra foi constituída por crianças e

adolescentes, Wingen et a.l. 127, utilizando metodologia multivariada, verificaram

que a proteinúria foi fator preditivo independentemente do declínio do ritmo de

filtração glomerular.

Vários estudos sugerem que a melhora do nível de proteinúria,

independentemente do nível da pressão arterial, associa-se a efeito benéfico na

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progressão da doença renal. Esses achados corroboram sugestões de que a

proteinúria não é somente um fator de risco de declínio mais rápido da função

renal, mas também pode contribuir na etiopatogenia da progressão da doença

renal142, 143.

As ações do sistema renina-angiotensina-aldosterona têm sido

relacionadas à progressão da doença renal crônica, pela eficácia da inibição dos

seus componentes na DRC. Conforme já mencionado, o uso de inbidores da

enzima conversora e de outros antagonistas do sistema renina-angiotensina

apresenta efeitos renoprotetores que vão além daqueles esperados pelo controle

da pressão arterial sistêmica. A ativação anormal do sistema renina-angiotensina

é freqüentemente observada nos pacientes com doenças renais144. A

angiotensina II induz hipertensão arterial e dano renal progressivo por vários

mecanismos. A angiotensina contrai as arteríolas pré-capilares, levando ao

aumento da pressão sangüínea, à retenção renal de sódio, que, por sua vez,

conduz à expansão do volume circulante. A angiotensina II produz contração e

proliferação de células mesangiais, estimula mediadores fibrogênicos e a

formação de radicais livres, causando inflamação, estresse oxidativo e fibrose

renal144.

Além da redução da pressão capilar glomerular pela dilatação da

arteríola eferente, os inibidores de enzima conversora da angiotensina I (IECA)

associam-se à inibição da angiotensina II e aumentam a bradicinina, que é

degradada pela enzima conversora da angiotensina I. A bradicinina é um potente

vasodilatador arterial. Os IECAs elevam as concentrações do peptídeo

angiotensina - Ang-(1-7), tanto pelo aumento de Ang-1, o substrato para Ang-(1-

7), quanto prevenindo a sua degradação. Os efeitos dos IECAs sobre o rim

podem ser atribuídos ao Ang-(1-7), que parece antagonizar os efeitos vasculares

e proliferativos da angiotensina II e exercer ações renais complexas. O efeito

renoprotetor dos IECAs e dos bloqueadores dos receptores tipo 1 da

angiotensina parecem envolver ações antiproliferativas e antifibrogênicas145.

Um outro grupo de drogas relacionadas, que parece representar um

avanço na renoproteção, é o uso de bloqueadores de receptor do tipo I da

angiotensina. Esses fármacos inibem os receptores tipo 1 da angiotensina (AT1)

e liberam ou até potencializam os receptores tipo 2 da angiotensina (AT2),

permitindo que a angiotensina II se ligue a esse receptor. Os receptores tipo 2 se

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contrapõem às ações clássicas dos receptores do tipo I, sendo vasodilatadores e

mediando a inbição do crescimento e o apoptose. O apoptose associa-se à

redução da fibrose, já que leva à remoção rápida das células lesadas, sem a

ativação de citocinas e quimiocinas pró-fibróticas. O tratamento combinado com

IECA e antagonistas do receptor do tipo 1 da angiotensina apresenta uma

vantagem teórica, permitindo o bloqueio das ações da angiotensina II e mantendo

os receptores AT2 disponíveis2.

Resultados de estudos clínicos sugerem que a combinação de

bloqueadores de receptor do tipo I da angiotensina associado aos inibidores de

enzima conversora exerce ação sobre a proteinúria, superior à ação sobre a

pressão arterial sistêmica. Esse efeito parece se associar à redução da

proteinúria146.

No denominado estudo REIN147, foi demonstrado que drogas que

reduzem proteinúria (especificamente IECA) são renoprotetoras e limitam a

progressão da DRC. Estudos de metanálise de ensaios clínicos randomizados

também avaliaram o papel da proteinúria e dos IECAs na progressão da DRC. Os

achados desses estudos são consistentes e confirmam, em grandes amostras de

pacientes adultos, o valor preditivo da proteiúria e o efeito renoprotetor da terapia

com inibidores IECA148. Concluindo, os trabalhos existentes sugerem que níveis

elevados de proteinúria podem predizer um declínio mais rápido da taxa de

filtração glomerular e que a redução da proteinúria retarda a progressão da

doença renal.

2.6.3 Doença renal de base

A doença renal primária exerce marcante influência sobre a evolução

da DRC. Inúmeros trabalhos têm relatado uma evolução mais rápida da queda da

função renal nos pacientes glomerulopatas, em relação aos uropatas. Ressalte-se

que o grupo das glomerulopatias se associa mais freqüentemente à hipertensão

arterial e à proteinúria.

Hannedouche et al.122, estudando 174 pacientes com nefropatias

primárias bem definidas, encontraram taxas de progressão da DRC mais rápidas

nos portadores de síndrome de Alport, seguidos pelos portadores de

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angionefroesclerose, glomerulopatas, doença policística dominante e nefrite

túbulo-intersticial crônica, nesta ordem. Essas diferenças foram significativas

mesmo após o ajuste da taxa de progressão para o sexo, idade e pressão arterial

média. Loccatelli et al.101, avaliando 456 pacientes adultos, relataram que a

doença policística autossômica dominante e as glomerulonefrites apresentaram

evolução mais rápida do que as outras doenças. O achado é similar ao de

Jungers et al.124, que estudaram 159 adultos com DRC.

Pode-se concluir que há várias evidências que sugerem ser a evolução

da doença renal crônica influenciada pelo tipo de lesão básica e que as

glomerulopatias se relacionam ao declínio mais rápido da função renal, em

relação às outras lesões.

Outros fatores de susceptibilidade podem estar presentes, como a

desnutrição do lactente e o baixo peso ao nascimento, freqüentemente

associados à redução no número de néfrons, predispondo à hipertensão arterial.

2.6.4 Sexo

Vários trabalhos publicados sugerem evolução mais rápida da DRC de

etiologia não-diabética nos homens, embora não haja qualquer explicação dos

mecanismos etiopatogênicos envolvidos. Em 2000, Neugarten et al.149 realizaram

uma metanálise de 68 artigos, todos com casuística constituída por adultos,

publicados entre 1975 e 1998, indexados no Medline. Concluíram que os homens

com doença renal crônica de várias etiologias apresentam declínio mais rápido de

sua função renal do que as mulheres.

2.6.5 Fatores genéticos

A DRC é muito mais freqüente em algumas famílias do que em outras,

o que sugere fortemente o papel de predisposição genética ou familiar em alguns

casos. Estudos relacionam a doença renal crônica a vários polimorfismos de

genes, incluindo aqueles do SRA150-152. Fatores raciais podem estar envolvidos,

como na grande ocorrência de doença renal hipertensiva em algumas famílias da

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raça negra. Esses achados não se limitam à maior susceptibilidade à doença,

mas também à maior velocidade de progressão da doença renal nesses grupos9.

2.6.6 Função renal no início do acompanhamento

Alguns autores têm relatado relação entre a taxa de declínio da função

renal e a creatinina sérica no início do acompanhamento. Hakim e Lazarus153,

calculando a taxa de progressão em um grupo de 277 adultos, encontraram

correlação inversa entre a deterioração da função renal e a concentração sérica

de creatinina à admissão. Esse achado foi similar ao do estudo de Oldrizzi et

al.108, no qual foi demonstrado que a creatinina sérica à admissão foi um dos três

fatores independentes que determinaram a taxa de progressão; os outros dois

foram a pressão diastólica e a proteinúria.

Estudos mais recentes envolvendo maior número de pacientes, com

planejamento estatístico mais sofisticado, mostraram correlação inversa: a taxa

de declínio da função renal foi significativamente maior (tanto em termos

absolutos quanto em porcentagem) nos pacientes com insuficiência renal mais

grave101,128,139,154. Algumas pesquisas mostraram que, independentemente da

doença renal subjacente ou da presença de fatores de risco adicionais, o risco de

progressão renal na criança é inversamente proporcional ao clearance de

creatinina basal9,44.

Uma das explicações para a elevação da taxa de progressão da DRC,

à medida que a função renal se deteriora, pode residir na maior possibilidade de

se tratar de doença subjacente de caráter mais agressivo, mesmo em pacientes

com o mesmo tipo de doença de base. Portanto, a deterioração mais rápida da

função renal em pacientes com função mais acometida à admissão demonstra a

necessidade de intervenções terapêuticas em fases mais precoces da DRC, para

melhor eficácia128.

2.6.7 Comentário final

Como visto, há uma pletora de estudos com o objetivo de identificar

fatores associados à deterioração da progressão renal. Contudo, embora nesta

década tenham surgido alguns trabalhos com crianças e adolescentes, a maioria

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deles sobre progressão de doença renal crônica aborda população adulta e são,

em sua maioria, retrospectivos. Além disso, os pacientes foram avaliados em uma

fase adiantada da insuficiência renal, ou seja, as pesquisas foram baseadas em

pacientes já próximos da necessidade de terapêutica de substituição da função

renal.

Apesar dessas limitações, sobressai a consistência dos achados na

maioria dos estudos, independentemente da metodologia utilizada. Os principais

fatores clínicos associados à mais rápida deterioração da função renal seriam:

níveis elevados de pressão arterial, níveis significativos de proteinúria, doença de

base, sexo masculino e a admissão tardia, com níveis elevados de creatinina

sérica. A identificação de fatores associados à deterioração da função renal é

crucial na investigação em nefrologia nos dias atuais, especialmente se esses

fatores puderem ser alterados de maneira eficaz com medidas de intervenção

clínica ou farmacológica. Citam-se como exemplos os trabalhos recentes que

relacionam alterações genéticas como o polimorfismo de deleção do gene da

enzima conversora da angiotensina, encontradas em alguns hipertensos, e o risco

aumentado de progressão da doença renal150-152.

Além desses fatores já reconhecidos, estudos experimentais têm

demonstrado que outros agentes podem desempenhar papel de destaque na

progressão da doença renal. A identificação precisa desses agentes, como a

endotelina-1 e peptídios natriuréticos, as citocinas, os fatores proliferativos e

promotores de fibrose, como o TGF-ß, pode possibilitar o desenvolvimento de

novas drogas renoprotetoras e, assim, retardar ou impedir a deterioração da

função renal26. Outrossim, os recentes avanços no conhecimento sobre o sistema

renina-angiotensina são uma fonte potencial de novos horizontes terapêuticos.

Entretanto, diante do conhecimento atual, pode-se propor uma

abordagem sistemática e racional para pacientes portadores de insuficiência

renal, objetivando principalmente retardar a progressão da lesão renal e o preparo

adequado para a terapêutica de substituição da função renal. Na FIG. 2 está

descrito um modelo conceitual da evolução da DRC. Na TAB. 5 está delineada a

síntese de uma possível abordagem procurando atender esses objetivos.

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FIGURA 2 – Modelo conceitual do curso da doença renal crônica.

Adaptado de NKF K/DOQI Guidelines.

TABELA 5

Estágios de doença renal crônica e recomendações específicas para

detecção, avaliação e abordagem da National Kidney Foundation - Kidney

Disease Outcomes Quality Initiative (NKF/K/DOQI)

Estágios de DRC

Descrição RFG (ml/min/1.73m²)

Detecção, avaliação e abordagem

1 Lesão renal c/ RFG normal ou ↑

>90 - Diagnóstico e tratamento - Tratar co-morbidades - Reduzir progressão - Reduzir risco de DCV

2 Lesão renal c/

↓ RFG 60-89 Estimar progressão

3 Moderada ↓ RFG 30-59 Avaliar e tratar complicações

4 Grave ↓ RFG 15-29 Referenciamento ao nefrologista e considerar TRS

5 Falência renal < 15 TRS (se uremia presente)

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3 OBJETIVOS

• Descrever as características de crianças e adolescentes com DRC

admitidas no Programa Interdisciplinar de Prevenção e Assistência da

DRC em Crianças e Adolescentes, com ênfase nos seguintes

aspectos: idade, doença renal primária, nutrição, função renal na

admissão e pressão arterial na admissão.

• Avaliar o curso clínico de crianças e adolescentes com DRC, com

ênfase nos seguintes aspectos: declínio da função renal, hipertensão

arterial, sobrevida e crescimento somático.

• Avaliar a sobrevida da função renal (evolução para DRC estágio 5).

• Identificar possíveis fatores preditivos associados à evolução para DRC

estágio 5 (falência renal).

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4 ARTIGOS 4.1 Original article

CLINICAL OUTCOME OF CHILDREN WITH CHRONIC KIDNEY

DISEASE IN A PREDIALYSIS INTERDISCIPLINARY PROGRAM

Hospital das Clínicas, Federal University of Minas Gerais (UFMG)

Belo Horizonte, MG, Brazil

Abstract

The purpose of this retrospective cohort study was to describe the outcome of 107 children and adolescents with chronic kidney disease (CKD) admitted to a Predialysis Interdisciplinary Management Program from 1990 to 2006. The following variables were analyzed: age at admission, gender, race, primary renal disease, Z scores for weight and height, glomerular filtration rate, and degree of proteinuria. The events of interest were progression to CKD stage 5 (renal survival), patient survival, hypertension, and somatic growth. Survival was studied using Kaplan-Meier nonparametric life table survival analysis. Patients were classified into four groups according to primary renal disease: Uropathies, Glomerulonephritis, Cystic disease, and Miscellaneous. Median follow-up time was 94 months (IQ range, 38-145) and 57 patients (53.3%) progressed to CKD stage 5. The probability to reach CKD stage 5 was estimated to be 14% by one year, 36% by five years and 54% by ten years after admission. After 5 years of follow-up, 75% of the children in the Glomerulonephritis group evolved to CKD stage 5, whereas the figures for the Uropathies, Cystic disease, and Miscellaneous groups were 23%, 39%, and 15%, respectively. As a whole, the mean estimated GFR decrease per year was 5.8 ml/min per 1.73 m2 (SD, 12.4). The results of this study support the view that children and adolescents with glomerular diseases present a faster deterioration of renal function. The clinical implication of our study is that children and adolescents with CKD, especially those with CKD secondary to glomerular disease, need to be referred early to a pediatric nephrology center in order to possibly avoid suboptimal predialysis care. Key-words: Chronic kidney disease. Chronic renal insufficiency. Proteinuria. Glomerulonephritis. Outcome.

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Introduction

Chronic kidney disease (CKD), defined as the presence of kidney damage

determined by structural or functional abnormalities and impaired glomerular

filtration rate, has a significant impact on children[1, 2]. Unlike adults, who have

completed their physiologic and intellectual maturation, children are in the

formative stages of development and therefore are particularly vulnerable to the

adverse effects of CKD[3]. In the recent report of the NIH task force on research

priorities in chronic kidney disease in children, Chesney et al.[4] pointed out the

need for research in secondary prevention efforts in order to identify CKD patients

at early stages in the natural history of the disease and to observe which group will

progress faster. Identification of modifiable risk factors in order to slow down the

progression of CKD in children will help decrease the burden of CKD and may

yield further insights into risk factors for progression in adults before the onset of

multiple comorbidities [3]. Moreover, early detection and aggressive management

have the potential to improve outcomes in young patients with CKD [5, 6].

Nevertheless, the clinical course of CKD in children has not been fully established.

Few longitudinal studies of CKD in children have been performed and relatively

little is known about the natural history of early stages of CKD in this population [7,

8].

In the present retrospective cohort study, we analyzed the outcome of

children and adolescents with CKD admitted to a Predialysis Interdisciplinary

Management Program. The aim was to describe the clinical course of CKD with

emphasis on outcome of renal function in a series of cases conservatively

managed and followed on a long-term basis.

Patients and Methods

Patients. In this retrospective cohort study, the records of 107 patients

diagnosed with CKD who were admitted to a Predialysis Interdisciplinary

Management Program (PDIMP) from 1990 to 2006 were retrospectively analyzed.

Inclusion criteria were a glomerular filtration rate (GFR) equal to or below 75% of

the value expected for their age according to normal reference data [9] and at

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least six-months of follow-up. GFR was estimated by the formula of Schwartz et al.

[10]. The program consisted of conservative management of children and

adolescents with CKD and was conducted by an interdisciplinary team including

pediatric nephrologists, pediatricians, nurses, psychologists, nutritionists, and

social workers[11].

Baseline and follow-up data. The data reviewed were obtained at admission

and at the time of last visit for primary renal disease: gender, race, age at

admission, height, weight, blood pressure, laboratory data (serum creatinine,

estimated GFR, urinary protein excretion). Ethnicity (race variable in the analysis)

was established by clinical examination based on skin color and hair color and

texture. According to the IBGE (Brazilian Institute of Geography and Statistics),

98.3% of the Brazilian population has been categorized into three “races”: white

(53.7%), black (6.2%), and an intermediate color (38.4%) [12]. For analysis

purposes, the black and intermediate color categories were merged into a “non-

white” group. Blood pressure was measured according to the recommendations of

the Task Force on Blood Pressure in Children. Blood pressure was standardized

for age, gender, and height using the Task Force tables and the 95th percentile

was used as the cut-off point [13]. Proteinuria at baseline was classified into three

categories: absent, mild/moderate (urinary protein excretion of <1 g/day or a

urinary albumin/creatinine (UaUc) ratio < 2), and severe (urinary protein excretion

of >1 g/day or a urinary albumin/creatinine (UaUc) ratio > 2). Weight-for-age

(WAZ) and Height-for-age (HAZ) z scores were used to assess stature. These

parameters were calculated using the public domain software Epi Info (version

3.4.1) provided on the World Wide Web by the Centers for Disease Control –

Atlanta (CDC)[14].

Clinical protocol. After the initial investigation, patients were followed

according to a systematic protocol. The visits were scheduled periodically at

intervals of about three months and a complete examination was performed on

each occasion including blood pressure, height, and weight evaluation. Laboratory

evaluation was performed at about three month intervals depending on the clinical

condition of each patient. Psychological evaluation was also scheduled as needed

by the team or the families. Conditions associated with CKD such as anemia,

hypertension, acidosis, renal osteodystrophy, and malnutrition were carefully

managed during conservative treatment. Briefly, the following interventions were

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74

performed according to the clinical conditions of the patients. The prescribed diet

contained 1.8 to 2.0 g of protein/kg body weight and 100% of the recommended

calories. Supplements of sodium bicarbonate, calcium carbonate and calcium

were given according to blood biochemistry findings. A vitamin D analogue was

used according to the values of serum parathyroid hormone (PTH). Erythropoietin

was available during the follow-up of the patients after 1990. Antihypertensive

drugs were used for patients with blood pressure above the 95th percentile.

Treatment compliance was checked by the nurses, who also organized family

meetings in which aspects of the renal disease and its treatment were

approached. Primary renal diseases were managed according to protocols

described elsewhere [15, 16].

Outcome Variables. The events of interest were progression to CKD stage

5 (renal survival), patient survival, hypertension, and somatic growth. CKD stage

5 was defined as a GFR < 15 ml/min or the need for renal replacement therapy.

The mean GFR slope was calculated by the following equation (estimated GFR at

last visit - estimated GFR at baseline/years of follow-up.

Statistical analysis. Renal survival was studied using the Kaplan-Meier

nonparametric survival function estimator. Renal survival was measured from the

date of patient enrollment to the date of initiation of dialysis or the date of GFR <

15 ml/min. Differences between subgroups were assessed by the two-sided log

rank test. Nutritional parameters were expressed as mean and standard deviation

(SD). The normality of the distribution was evaluated by the Kolmogornov-Smirnov

test for each parameter. The paired T test was used to compare paired means of

nutritional parameters at admission and at the end of follow-up. The Kruskal-Wallis

nonparametric test was used to compare medians of continuous variables. Odds

ratio (OR) and 95% confidence intervals (95%CI) were used for group risk

comparison.

Ethical aspects. The study was approved by the Ethics Committee of UFMG

and the parents or persons responsible for the children gave written informed

consent to participate.

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75

Results

A total of 107 patients were included in the analysis. The main baseline

clinical characteristics are summarized in Table 1. Patients were classified into

four groups according to l primary renadisease: Uropathies, Glomerulonephritis,

Cystic disease, and Miscellaneous. Vesicoureteral reflux (16; 32%) and posterior

urethral valves (16; 32%) predominated among urinary tract anomalies. In the

Glomerulonephritis and Cystic diseases groups, focal segmental

glomerulosclerosis ( FSGS) (12; 50%) and recessive polycystic kidney disease (8;

42%) were the most frequent findings, respectively. Aplastic/hypoplastic/dysplastic

kidneys (7; 50%) were the most common diagnosis in the Miscellaneous group.

The main baseline clinical and laboratory features are presented in Table 2. There

was no significant difference in estimated GFR at baseline among groups. As

expected, patients with glomerulonephritis were older at admission and had lower

albumin levels than the other groups. There was also a higher proportion of non-

white patients and hypertensive children in the Glomerulonephritis group but

without statistical significance.

Table 1

Table 2

Median follow-up time was 94 months (IQ range, 38-145). A total of 49

(46%) patients were followed up for more than 5 years and 57 patients (53.3%)

progressed to CKD stage 5. The probability to reach CKD stage 5 was estimated

to be 14% by one year, 36% by five years and 54% by ten years after admission to

the PDIMP. At the end of follow-up, median GFR was 41 ml/min (IQ range, 21–62)

for the 50 patients who remained at the PDIMP and 11.2 ml/min (IQ range, 9 – 14)

for 57 patients who reached CKD stage 5. There was a significant difference in

progression to CKD stage 5 between the different groups of primary renal disease.

After 5 years of follow-up, 75% of the patients in the Glomerulonephritis group

progressed to CKD stage 5, whereas the rates for the Uropathies, Cystic disease,

and Miscellanea groups were 23%, 39%, and 15%, respectively. The influence of

primary renal disease on renal survival is illustrated in Figure 1.

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As a whole, the mean estimated GFR decrease per year was 5.8 ml/min per

1.73 m2 (SD, 12.4) and the median rate of GFR deterioration was −2.8 ml/min per

1.73 m2 per year (IQ range, −8.9 to −0.52). Figure 2 illustrates the distribution of

GFR changes per year for all 107 patients included in the analysis. Estimated GFR

changes ranged from positive values (increases in GFR over time) to negative

values (indicating a GFR decline). Estimated GFR changes were between −7.5

and +7.5 ml/min per 1.73 m2 per year for most patients (68%).

The Glomerulonephritis group showed a median rate of GFR deterioration

of −10 ml/min per 1.73 m2 per year (IQ range, −24 to −5.7), whereas the median

rate of GFR deterioration for the Cystic diseases, Uropathies, and Miscellaneous

groups were −2.5 ml/min (IQ range, −10 to +0.34), −2.3 ml/min (IQ range, −5.07 to

−0.52), and −0.27 ml/min (IQ range, −1.3 to +2.6), respectively (P < 0.001) (Figure

3). The risk for renal replacement therapy was approximately 4 times greater for

patients with glomerulopathies (OR = 4.5, 95%CI, 1.4 – 16.60, p = 0.007). The

slope of GFR deterioration was also associated with the degree of proteinuria at

baseline. The median GFR deterioration was −1.8 ml/min (IQ range, −3.34 to

+0.91) for patients without proteinuria, −3.0 ml/min (IQ range, −8.8 to −0.39) for

patients with mild/moderate proteinuria, and −10.3 ml/min (IQ range, −24.7 to

−6.74) for children with severe proteinuria (P < 0.001). Figure 4 illustrates the

association between proteinuria at admission and GFR deterioration rate. The

difference remained significant even patients with glomerular diseases were

excluded (P = 0.048). There was no association between CKD stage at baseline

and the rate of GFR deterioration (P = 0.92). Patients at stage 2 at entry showed a

median rate of GFR deterioration of −3.5 ml/min per 1.73 m2 per year (IQ range,

−11 to +1.6), whereas the median rate of GFR deterioration for patients in stages

3 and 4 was −3.2 ml/min (IQ range, −8.5 to −0.55) and −2.2 ml/min (IQ range,

−10.2 to −0.53), respectively.

Figure 1

Figure 2

Figure 3

Figure 4

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At the end of follow-up, 4 (3.5%) of 107 patients died (one of them in CKD

stage 5 and three with infectious complications). The probability of patient survival

was estimated to be 98% by five years and 90% by ten years after admission to

the PDIMP. Of 103 surviving patients, 50 remained in the program, 44 are in a

dialysis program, and 9 have been transplanted. At last visit, 66 patients (62%)

were taking antihypertensive drugs. Of 107 patients enrolled in the program, 51

(48%) had been admitted with hypertension or in use of antihypertensive drugs

and 15 (14%) developed hypertension during follow-up. Overall, the probability of

hypertension was estimated to be 58% by five years and 68% by ten years after

admission to the PDIMP. For the 56 patients who were normotensive at

admission, the probability of hypertension was estimated to be 22% by five years

and 42% by ten years after enrollment at the PDIMP.

The median age at last visit was 14 years (IQ range, 9.6 to 17.5). The main

clinical and laboratory features at the end of follow-up are presented in Table 3.

There was a significant difference between groups in all parameters except HAZ.

At last visit, patients with glomerulonephritis presented a significant higher

proportion of hypertension and CKD stage 5 and lower hemoglobin and albumin

levels.

Table 3

In spite of GFR deterioration, there was no impairment of nutritional

parameters in 89 patients as determined at the beginning and at the end of follow-

up. At admission, mean WAZ was -2.18 (range -6.89 to +1.69, SD 1.75) whereas

at the end of follow-up mean WAZ was -2.02 (range -8.85 to +1.22, SD 1.87) (P =

0.28). The difference between WAZ at admission and at the end of the follow-up

was also not significant when patients were compared within each group (Figure

5). There was also no significant difference between HAZ at admission and at the

end of follow-up (P = 0.13). At baseline, mean HAZ was -2.25 (range -6.84 to

+2.02, SD 1.43) whereas at last visit mean HAZ was -2.08 (range -7.3 to -0.03, SD

1.37). The difference between HAZ at admission and at the end of follow-up was

also not significant when patients were compared within each group, except for the

Miscellaneous group in which there was a tendency to improvement (Figure 6).

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78

The proportion of patients with severe growth failure (HAZ < -3.0) at baseline and

at the end of follow-up was 25.5% and 17.8%, respectively.

Figure 5

Figure 6

Discussion

We reported a retrospective cohort study of children and adolescents with

CKD followed for a median time of about 8 years. During follow-up 57 patients

(53%) progressed to end stage renal disease (ESRD) and the probability to reach

CKD stage 5 was estimated to be 36% by five years and 54% by ten years of

admission to our program. However, there was a remarkable difference in renal

survival among distinct primary renal diseases. Patients with glomerular diseases

had a higher risk of progression to CKD 5. At 5-years of follow-up, renal survival in

this group was estimated at only 25%. It is important to point out the limitations

associated with the retrospective design of our study. The possible main

weakness is the limited control over variables recorded through the decades

because of the large span of time of patient enrollment in our cohort. For instance,

three patients had to be excluded from the analysis of somatic growth because

data were not appropriately recorded at baseline. Nevertheless, some features of

the study may increase the strength of our findings, such as the length of follow-up

and the management by the same interdisciplinary team.

The etiology of CKD in our series was similar to that reported in previous

studies in which there was a predominance of congenital urinary tract anomalies

[2, 8]. It differed from the etiology of primary renal disease among dialyzed

children in whom glomerulonephritis comprises about 25% of all cases[2, 17, 18].

At baseline, the majority of the patients (56.1%) in our series presented a

moderate CKD stage with a median estimated GFR of 37 ml/min/1.73 m2. In the

North American Pediatric Renal Transplant Coordinating System (NAPRTCS), a

subset of 4,651 children with CKD showed a similar GFR at baseline. Of those,

2,604 (56%) had baseline GFR 30–70 ml/min/ l.73 m2 [4].

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79

It has been suggested that adequate predialysis programs could improve

the outcome of patients with CKD [19-21]. The predialysis period would be the

ideal time for appropriate intervention and correction of many factors associated

with progressive renal disease such as hypertension, anemia, acidosis, renal

osteodystrophy, and malnutrition. Nevertheless, in the pediatric setting there have

been few studies addressing conservative management of CKD before the need of

renal replacement therapy. Moreover, in spite of a thorough approach, CKD often

progressive towards ESRD although some children have stable kidney function for

long periods of time [22]. We observed a mean overall annual decline in estimated

GFR of 5.8 ml/min per 1.73 m2, remarkably similar to results of other studies on

adult and pediatric populations [7, 23, 24]. However, the median rate of GFR

deterioration was −2.8 ml/min per 1.73 m2 (IQ range, −8.9 to −0.52) per year of

follow-up. We used comparison of the medians in statistical analysis because of

the large dispersion of our data. Of note, estimated GFR decreased by 10 ml/min

per 1.73 m2 in children with glomerulopathies. This finding was also similar to that

reported in other studies on pediatric and adult patients with glomerular disorders

[7, 25]. Most available data demonstrate a slower progression toward ESRD in

patients with congenital renal disorders compared with patients with glomerular

disease [2].

We used two statistical approaches to investigate a possible difference in

the rate of decline in renal function among the primary renal disease groups. In

both analyses our results showed that patients with glomerular diseases presented

a faster progression toward CKD stage 5. Of note, proteinuria at baseline was also

strongly correlated with GFR deterioration. Patients with severe proteinuria had a

median GFR deterioration slope about 6 times greater than children without

proteinuria. Most studies on adult and pediatric populations have demonstrated

that proteinuria at baseline is consistently associated with progression of CKD [7,

26, 27]. This influence was apparent regardless of the underlying type of kidney

disease. Obviously, in our series there was a strong correlation between primary

renal disease and degree of proteinuria. However, even when patients with

glomerular diseases were excluded from analysis the effect of proteinuria on GFR

decline remained significant.

In our analysis, the CKD stage at baseline did not influence the rate of

GFR deterioration, which was quite similar for stages 2 to 4. Nevertheless, this

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80

finding means that patients admitted to our program with a lower GFR had a

shorter length of renal survival, as shown in a previous report concerning our

program [11]. These findings emphasize the necessity of an early referral to the

nephrologist of patients with CKD or with potentially progressive kidney disease,

so that the health team can plan a timely and appropriate intervention to delay the

decline of renal function. Unlike our findings, Locatelli et al. [26] showed in a

cohort of 456 adult patients that baseline creatinine was a significant predictor of

progression of renal disease independently of the underlying nephropathy.

Growth failure is a common and significant clinical problem in children with

CKD [28-32]. The etiology of growth failure in this population is due to a variety of

factors, such as malnutrition, anemia, and metabolic and hormonal disorders[33-

35]. Children with extreme short stature face a disability that may affect their

physical, psychological, and social well-being [28, 30, 36]. Our study confirms the

disappointingly high prevalence of growth retardation in children with chronic

kidney disease [37]. In our series, at baseline 25.5% of patients presented with

severe growth failure, with a median HAZ of -1.97. At the end of follow-up there

was a tendency to a slight improvement in HAZ. Nevertheless, in spite of judicious

management of nutritional factors, anemia, serum phosphorous/calcium balance

and metabolic acidosis, about 46% of our patients had severe to moderate growth

failure (HAZ <-2.00) at the end of follow-up. Unfortunately, at present recombinant

human growth hormone (rhGH) is not available for patients with CKD in the

Brazilian Public Health System. Possibly, the appropriate use of rhGH could

improve this setting for some children in our program. Recently, Seikaly et al. [38]

showed that rhGH use was associated with a 0.8 increase in z score in 472

patients in the chronic renal insufficiency (CRI) group enrolled in the NAPRTCS

database. Moreover, the use of rhGH was associated with catch-up growth in

27%, 11%, and 25% of candidate CRI, dialysis, and transplant patients,

respectively.

In conclusion, our findings reaffirm that CKD is a progressive condition and

inevitably leads to ESRD in most patients. The results of this study support the

view that children and adolescents with glomerular diseases present a faster

deterioration of renal function. Moreover, independently of the underlying primary

renal disease, the degree of proteinuria was also associated with the decline of

estimated GFR. Considering the result as a whole, the clinical implication of our

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study is that children and adolescents with CKD, especially those with CKD

secondary to glomerular disease, need to be referred early to a pediatric

nephrology center in order to possibly avoid suboptimal predialysis care.

Nevertheless, further prospective cohort studies are needed to better define the

optimal timing and the role of interdisciplinary team care in the treatment of

children with chronic kidney disease.

Acknowledgements

This study was partially supported by FAPEMIG and CNPq. The authors

owe special thanks to the team of the Predialysis Interdisciplinary Management

Program (HC-UFMG), Vanessa Rodrigues da Silva, Andréa Marques Chiaretti

Munaier, and Marilene Moreira for their inestimable participation in the care of our

patients.

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84

Figure legends

Figure 1. Kaplan-Meier survival curves showing the probability of renal survival

according to primary renal disease.

Figure 2. Change in creatinine clearance during follow-up.

Figure 3. Deterioration of renal function (ml/min per 1.73 m2 per year) related to

primary renal disease groups (each box shows the median and quartiles and

values range).

Figure 4. Deterioration of renal function (ml/min per 1.73 m2 per year) related to

urinary protein excretion (each box shows the median and quartiles and values

range).

Figure 5. Median WAZ at admission and at end of the follow-up according to

primary renal disease (n = 89).

Figure 6. Median HAZ at admission and at end of the follow-up according to

primary renal disease (n = 89).

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85

Figure 1

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86

Figure 2

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87

Figure 3

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88

Figure 4

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89

Figure 5

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90

Figure 6

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91

Table 1

Table 1 – Baseline clinical characteristics (n = 107)

N (%)

Gender

Male

Female

Race

White

Non-white

Primary Renal disease

Uropathies

Glomerulonephritis

Cystic diseases

Others

Stages of CKD

Stage 2

Stage 3

Stage 4

GFR at admission (ml/min/1.73m2)

Median

IQ Range (25th – 75th)

Age at admission (yr)

Median

IQ Range (25th – 75th)

Height-for-age Z score

Mean

SD

57 (53.3)

50 (46.7)

61 (57.0)

46 (43.0)

50 (46.7)

24 (22.4)

19 (17.8)

14 (13.1)

8 (7.50)

60 (56.1)

39 (36.4)

37

24 - 48

8.3

2.6 - 13.2

-2.25

1.43

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92

Table 2

Table 2. Clinical and laboratory features at the baseline according to renal primary disease

Uropathies

( n = 50)

Glomerulonephritis

(n = 24)

Cystic

diseases

( n = 19)

Miscellanea

(n = 14)

P

Gender (M:F)

25:25 13:11 9:10 10:4 0.50

Age (yr) – median

(IQ range)

7.9

(2.9 – 11.4)

13..3

(8.8 – 15.2)

5.1

(1.1 – 11.3)

4.2

(1.3 – 12.8)

0.005

Hypertension (yes/no)

22:28

17:7

7:12

5:9 0.07

Race (white/non-white)

21:29 15:9 7:12 3:11 0.08

Height-for-age Z score

(IQ range)

-2.11

(-3.4 – -1.4)

-1.73

(-2.7 – -0.97)

-2.33

(-2.9 – -1.1)

-1.81

(-3.4 – -

1.29)

0.59

Weight-for-age Z score

(IQ range)

-1.95

(-4.0 – -1.2)

-1.30

(-2.3 – -0.03)

-2.1

(-3.4 – -1.3)

-1.7

(-3.6 – -1.2)

0.06

GFR ml/min - median

(IQ range)

37.5

(25.9 – 49.7)

36.3

(27.4 – 43.6)

33.3

(22.9 –42.0)

33.6

(20.5 – 44.7)

0.46

CKD stage (2/3 vs. 4)

34:16 16:8 10:9 8:6 0.63

Hemoglobin g/dl

(IQ range)

10.7

(9.6 – 12.8)

10.7

(9.3 – 12.5)

10.8

(9.5 – 11.8)

10.7

(9.2 – 12.2)

0.81

Serum albumin g/dl

(IQ range)

4.2

(3.7 – 4.5)

3.2

(2.2 – 4.0)

4.2

(3.5 – 4.7)

4.1

(4.0 – 4.5)

<0.001

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93

Table 3

Table 3. Clinical and laboratory features at the end of the follow-up according to renal primary disease

Uropathies

( n = 50)

Glomerulonephritis

(n = 24)

Cystic

diseases

( n = 19)

Miscellanea

(n = 14)

P

Age (yr) – median

(IQ range)

15.4

(10.1 – 17.6)

14.0

(11.0 – 17.9)

9.3

(6.8 – 15.1)

15.3

(11.5 – 19.6)

0.03

Hypertension (yes/no)

29:21

21:3

10:9

6:8 0.02

Height-for-age Z score

(IQ range)

-1.85

(-2.8 – -1.1)

-2.09

(-2.6 – -1.3)

-1.98

(-2.9 – -

0.75)

-1.3

(-2.3 – -

0.89)

0.62

Weight-for-age Z score

(IQ range)

-1.90

(-3.2 – -1.2)

-0.92

(-2.0 – 0.37)

-1.4

(-2.4 – -1.2)

-1.7

(-3.3 – -0.17)

0.04

CKD Stage 5 (yes/no)

27:23 19:5 6:13 5:9 0.008

GFR ml/min - median

(IQ range)

14.8

(10.9 – 43.5)

12.4

(9.1 – 14.9)

25.5

(12.7 –34.0)

25.9

(13.9 – 65.4)

0.01

Hemoglobin g/dl

(IQ range)

10.1

(9.2 – 12.9)

9.3

(8.5 – 11.9)

10.8

(8.7 – 12.6)

12.4

(10.7 – 13.8)

0.02

Serum albumin g/dl

(IQ range)

4.1

(3.7 – 4.5)

3.4

(2.3 – 4.3)

4.0

(3.8 – 4.6)

4.3

(3.9 – 4.6)

0.007

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94

4.2 Original article

PREDICTIVE FACTORS OF PROGRESSION TO

CHRONIC KIDNEY DISEASE STAGE 5 IN A PRE-DIALYSIS

INTERDISCIPLINARY PROGRAM

Abstract

The aim of this retrospective cohort study was to identify predictive factors associated with the progression of chronic kidney disease (CKD) among the children and adolescents admitted to a Predialysis Interdisciplinary Management Program (PDIMP). One-hundred-and-seven patients aged 2 months to 19 years with CKD stage 2 to stage 4 were followed up for a median time of 94 months (IQ range, 38 - 145). The following baseline variables were analyzed: age at admission, gender, race, blood pressure, primary renal disease, Z scores for weight and height, CKD stage, and presence and degree of proteinuria. CKD stage 5 was assigned as a dependent variable. Renal survival was analyzed by the Kaplan-Meier method and Cox’s regression model. Fifty-seven patients (53.3%) progressed to CKD stage 5. The probability to reach CKD stage 5 by 5 years was estimated to be 36% and 54% by 10 years after admission to the PDIMP. After adjustment, three baseline variables were found to be independent predictors of CKD stage 5: glomerulonephritis as primary renal disease (RR = 3.0, 95%CI = 1.2 – 7.4, P = 0.015), CKD stage 4 (RR = 2.6, 95%CI = 1.5 – 4.5, P = 0.001), and severe proteinuria (RR = 4.1, 95%CI = 1.5 –11.3, P = 0.006). Taking into account manageable factors, further prospective controlled studies are necessary to assess intervention measures in order to possibly modify the clinical course of CKD in children. Key-words: Chronic kidney disease. Proteinuria. Glomerulonephritis. Uropathies. Hypertension.

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95

Introduction

The clinical course of chronic kidney disease (CKD) in children is

heterogeneous and has not been fully established. CKD in children carries a

significant clinical and social impact[1, 2]. In addition, young adults who present

with kidney failure probably developed early stages of CKD in childhood [3].

Identification of modifiable risk factors to slow progression of CKD in children

possibly will help reduce the burden of CKD and may yield further insights into risk

factors for progression in adults before the onset of multiple comorbidities [3-5].

Few sizable studies of CKD have been performed in children and relatively little is

known about the natural history of early stages of CKD in this population[6].

Information about predictors of stable or deteriorating kidney function in children is

also scarce [7]. Some risk factors such as the degree of proteinuria and

hypertension are well established variables associated with kidney function

deterioration in adults [5, 8]. In pediatric populations, there are also some studies

supporting these findings [9, 10]

In this retrospective cohort study, we analyzed the outcome of 107 children

and adolescents with CKD. The purpose was to identify baseline variables that are

independent predictors of progression to CKD stage 5 in children and adolescents

admitted to a Predialysis Interdisciplinary Management Program (PDIMP).

Patients and Methods

Patients. In this retrospective cohort study, the records of 107 patients

diagnosed with CKD who were admitted to a PDIMP from 1990 to 2006 were

retrospectively analyzed. Inclusion criteria were a glomerular filtration rate (GFR)

equal to or below 75% of the value expected for their age according to normal

reference data [11] and at least six months of follow-up. GFR was estimated by

the formula of Schwartz et al. [12]. The program consisted of conservative

management of children and adolescents with CKD and was conducted by an

interdisciplinary team including pediatric nephrologists, pediatricians, nurses,

psychologists, nutritionists, and social workers [13]. The visits were scheduled

periodically at intervals of about three months and a complete examination was

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96

performed on each occasion including blood pressure, height, and weight

evaluation. Laboratory evaluation was performed at about three month intervals

depending on the clinical condition of each patient. Psychological evaluation was

also scheduled as needed by the team or the families. Conditions associated with

CKD such as hypertension, acidosis, renal osteodystrophy, and malnutrition were

carefully managed during conservative treatment. The patients were submitted to

a systematic protocol for at least 6 months. Briefly, the following interventions were

performed according to the clinical conditions of the patients. The prescribed diet

contained 1.8 to 2.0 g of protein/kg body weight and 100% of the recommended

calories. Supplements of sodium bicarbonate, calcium carbonate and calcium

were given according to blood biochemistry findings. A vitamin D analogue was

used according to the values of serum parathyroid hormone (PTH).

Antihypertensive drugs were used for patients with blood pressure above the 95th

percentile. Erythropoietin has been available in the Brazilian Public Health System

(SUS) since 1990. Treatment compliance was checked by the nurses, who also

organized family meetings in which aspects of the renal disease and its treatment

were approached.

Baseline predictive factors. The following variables were included in

univariate analysis: age at admission, gender, race, systolic and diastolic blood

pressure, primary renal disease, weight for-age Z score (WAZ), height for-age Z

score (HAZ), body mass index (BMI), CKD at entry, proteinuria (qualitatively

determined by the dipstick method), and degree of proteinuria (absent/mild vs.

severe). The variables studied are shown in Table 1. The code used for

dichotomous variables was 1 (presence) and 0 (absence). Continuous variables

were dichotomized either using traditional cut-off levels (blood pressure, WAZ,

HAZ) or by quartiles (hemoglobin, albumin). Proteinuria was categorized in two

ways. First, the variable was categorized as a dichotomous factor

(present/absent). Then, the variable was coded into two groups: absent/mild vs.

severe.

Definitions. Ethnicity (race variable in analysis) was established by clinical

examination according to skin color and hair color and texture. According to the

IBGE (Brazilian Institute of Geography and Statistics), 98.3% of the Brazilian

population has been categorized into three “races”: white (53.7%), black (6.2%),

and an intermediate color (38.4%) [14]. For analysis purposes, the black and

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97

intermediate color categories were merged into a “non-white” group. Blood

pressure was measured according to the recommendations of the Fourth Task

Force on Blood Pressure in Children [15].. Blood pressure was standardized for

age, gender, and height using the Task Force tables and the 95th percentile was

used as the cut-off point [15]. Proteinuria at baseline was classified into three

categories: absent, mild/moderate (urinary protein excretion of <1 g/day or a

urinary albumin/creatinine (UaUc) ratio < 2), and severe (urinary protein excretion

of >1 g/day or a UaUc ratio > 2). WAZ) and HAZ scores were used to assess

stature. These parameters were calculated using the public domain software Epi

Info (version 3.4.1) provided on the World Wide Web by the Centers for Disease

Control – Atlanta (CDC) [16].

Outcome. CKD stage 5 was assigned as a dependent variable. CKD stage

5 was defined as a GFR < 15 ml/min or the need for renal replacement therapy.

Statistical analysis. Renal survival was measured from the date of patient

enrollment to the date of initiation of dialysis or to the date of GFR < 15 ml/min.

The analysis was conducted in two steps. In the first step, univariate analysis was

performed to identify variables that were significantly associated with adverse

outcome. Univariate analyses were performed using the Kaplan-Meier

nonparametric survival function estimator [17]. Differences between patient

subgroups were assessed by the two-sided log rank test. For the purpose of

plotting the survival curves, continuous variables were categorized using either

clinical traditional cut-off levels or levels dichotomized according to the third

quartile. Cox’s regression model was applied to identify variables that were

independently associated with adverse outcome [18]. Only those variables that

were found to be associated with adverse outcome by univariate analysis (p <

0.25) were included in Cox’s regression model. Variables that met this criterion

were entered into the multivariable model. Then, using a backward elimination

strategy, those variables that retained a significant independent association with

adverse outcome (p < 0.05) were included in the final model. Model assumptions

were checked graphically by log-minus-log versus time plots for each variable

Ethical aspects. The study was approved by the Ethics Committee of UFMG

and the parents or persons responsible for the children gave written informed

consent to participate.

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98

Results

A total of 107 patients were included in the analysis (57 boys and 50 girls).

The median age at admission to the PDIMP was 8.3 years (IQ range 2.6 –13.2).

Median follow-up time was 94 months (IQ range, 38 - 145) and a total of 49 (46%)

patients were followed up for more than 5 years. Fifty-seven patients (53.3%)

progressed to CKD stage 5. The probability to reach CKD stage 5 was estimated

to be 36% by five years and 54% by ten years after admission to the PDIMP.

Figure 1 shows the Kaplan-Meier renal survival curve for the 107 patients included

in the analysis. The estimated median renal survival time was 7.9 years (95%CI =

5.4 – 10.3).

Figure 1

As shown in Table 1, in univariate survival analysis 7 variables were

significantly associated with progression to CKD stage 5: non-white race, age at

admission > 30 months, glomerulonephritis as primary renal disease, CKD stage

4, proteinuria (present/absent), severe proteinuria, and serum albumin < 3.5 g/dl.

For instance, patients with CKD stage 4 at entry had an estimated median time of

renal survival of 4.4 years (95%CI = 2.4 – 6.2) whereas for patients with CKD

stage 2/ stage 3 the estimated time was 9.2 years (95%CI = 6.4 – 11.9). The

influence of CKD stage at baseline on renal survival is illustrated in Figure 2.

Table 1

Figure 2

According to our criteria, 9 variables were included in the initial multivariable

model. After adjustment, only three variables were found to be independent

predictors of CKD stage 5: glomerulonephritis as primary renal disease, CKD

stage 4, and proteinuria (severe) (Table 2). There was no interaction between the

remained variables in the final model. Figure 3 illustrates the combined effect renal

primary disease and CKD stage on renal survival. Patients with CKD stage 3 and

non-glomerular disease had an estimated median renal survival time of 10 years

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99

(95%CI = 7 –13.3 years) whereas for children with CKD stage 4 and non-

glomerular disease the estimated median renal survival time was 6.7 years

(95%CI = 2 –11.3 years). On the other hand, patients with CKD stage 3 and

glomerular disease had an estimated median renal survival time of 3.3 years

(95%CI = 1.8–4.8 years) whereas for children with CKD stage 4 and glomerular

disease the estimated median renal survival time was only about 6 months (95%CI

= 5–7 months) (Log-rank = 68, P < 0.001). Figure 4 illustrates the combined

effect of the three factors on renal survival. The median renal survival time was 12

years for patients without any of the three predictive factors (CI95% = 8.5 – 15.7),

6.7 years (CI95% =2.9 – 10.4) for patients who presented one factor, 1.9 years

(CI95% = 0.1– 4.4) for patients who presented two predictive factors, and only 7

months (CI95% = 0.1–1.2) for children with all three predictive factors (Figure 4).

All six patients who presented the three factors progressed to CKD stage 5

whereas only 34% (5 out of 17) of patients without any predictive factors

presented CKD stage 5. As shown in Table 3, the relative risk of CKD stage 5

increased according to the presence of the predictive factors. Patients with a

single factor had a risk 2.5 times greater to progress to CKD stage 5 than patients

without any predictive factor whereas in patients with all three factors the risk

increased 25 times.

Table 2

Figure 3

Figure 4

Table 3

Discussion

In this retrospective cohort study we investigated possible predictive factors

of CKD stage 5 in a pediatric population admitted to a Predialysis Interdisciplinary

Management Program. Three variables were found to be independent predictors

of progression to CKD stage 5: CKD at entry, primary renal disease, and severe

proteinuria. We are aware of the limitations associated with the retrospective

design of our study. The possible main weakness is the limited control over the

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100

measurements of baseline variables included in the analysis. For instance,

proteinuria was not uniformly obtained by the determination of 24-hour proteinuria

excretion in all patients at baseline. Thus, this fact precluded the insertion of this

important predictor factor as a continuous variable in the Cox model.

Nevertheless, some features of the study may increase the strength of our findings

such as sample size, management by the same medical team according to a well-

established protocol, and duration of follow-up.

A number of studies on adult populations have demonstrated that some

factors are consistently associated with progression to end stage renal disease

such as hypertension, proteinuria, renal function at baseline, primary renal

disease, and male gender [8, 19-25]. Nevertheless, few studies have investigated

predictive factors of progression of CKD in the pediatric population [7, 9, 10].

The possibility that proteinuria may accelerate kidney disease progression

to end-stage renal failure has received support from the results of increasing

numbers of experimental and clinical studies [26]. Proteinuria at baseline has been

postulated as a strong independent predictor of the progression of CKD in adult

and pediatric populations [23, 27-29]. Ruggenenti, et al. [30] have shown that

urinary protein excretion rate is the best independent predictor of both CKD

progression and ESRD in non-diabetic proteinuric chronic nephropathies. In our

analysis, the median renal survival time of patients with any degree of proteinuria

was about half the median time of children without proteinuria (Table 1). In

addition, children with severe proteinuria had a median renal survival time of only

about 1.9 years. Wingen et al. [9] reported the results of a European multicenter

randomized study designed to assess the effects of a protein-restricted diet on the

rate of CKD progression. In that study, multivariable regression analysis showed

that proteinuria was the most important predictor of an increase in creatinine.

Locatelli et al. [5] have shown that the probability of ESRD became progressively

higher in patients with 24-hour protein excretion < 1 g as compared with patients

with 24-hour proteinuria > 3 g. This effect was apparent independently of the

underlying type of kidney disease. Although proteinuria is more abundant in

glomerular diseases, in our multivariable analysis, both variables remained in the

final model predictive of progression to CKD stage 5 (Table 2). This finding is

consistent with studies designed to assess the role of underlying nephropathy in

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101

the progression of renal disease, with chronic glomerulonephritis also being an

independent predictor of CKD progression [8].

Our findings support previous studies that found renal function at baseline

as an independent predictor of the progression of CKD [2]. In the present study,

patients admitted to our Predialysis Interdisciplinary Management Program with

CKD stage 4 had a shorter median renal survival time. Children in stage 2 or stage

3 had about double the median renal survival time compared to patients with CKD

stage 4 (Table 1). In our analysis, baseline renal function was also an

independent predictor of progression to CKD stage 5 as demonstrated by

multivariable analysis (Table 2). Some studies have shown that, irrespective of the

underlying kidney disease or the presence of additional risk factors, it is clear that

the risk of progression of CKD in childhood is inversely proportional to baseline

creatinine clearance [2, 7, 31]. We evaluated the combined effect of primary renal

disease and CKD stage at baseline on renal survival. Patients with glomerular

disease had a shorter median renal survival than children with non-glomerular

diseases. The effect of underlying disease was apparently stronger than renal

function at baseline because patients with non-glomerular disease and CKD stage

4 had a longer median renal survival time than children with glomerular disease

and CKD stage 3 (Figure 3).

Studies on adults have shown that hypertension is associated with a faster

rate of decline in renal function [5, 23]. Moreover, a beneficial effect of lowering

blood pressure has been demonstrated for the preservation of renal function [27,

32]. In the pediatric setting, Mitsnefes et al. [10] have shown that hypertension is a

highly significant and independent predictor of progression of CKD. However, in

our multivariable analysis baseline blood pressure was not significantly related to

renal survival. This may have been due to the size of the sample or more probably

to the way the variable was inserted into our model. Blood pressure was evaluated

only at baseline and thus the effect of antihypertensive drugs and other cofactors

was not measured.

The clinical implication of our study is that there are some factors amenable

to intervention in order to possibly modify the clinical course of CKD in children.

Proteinuria is a marker of renal injury, reflecting loss of normal permselectivity.

Whether proteinuria is merely a marker of injury or a contributor to progressive

injury has been debated [33, 34]. Randomized controlled trials have revealed

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102

consistent effects of angiotensin-converting enzyme inhibitors (ACEi) in slowing

the progression of nondiabetic kidney disease, although the effect of treatment

was modified by the degree of urinary protein excretion [28, 35-37]. Nevertheless,

studies on the pediatric population regarding the effect of ACEi in slowing the

progression of CKD are scarce. Some clinical studies have shown that ramipril

appears to be an effective and safe antiproteinuric agent in children with CKD

associated with hypertension or proteinuria, or both [38, 39]. However, in a select

pediatric population, Ardissino et al.[40] concluded that ACEi treatment does not

significantly modify the naturally progressive course of hypodysplastic

nephropathy.

According to our findings, another possible manageable factor was the

baseline renal function at which children with CKD are referred to a specialized

tertiary unit. The prevalence of late referral in our series was high and 36% of

patients were admitted in CKD stage 4 and 56% in CKD stage 3. As a whole, we

estimated that the median renal survival time was about 4.4 years for children with

CKD stage 4 but only about 6 months for patients with glomerular diseases.

These findings emphasize the necessity of an early referral of children with CKD

so that the health team could plan a timely and appropriate intervention to possibly

delay the decline of renal function.

In conclusion, the clinical course of CKD in children and adolescents is

heterogeneous. In the present study, various potential predictive factors were

assessed by the proportional hazard model and some variables were identified as

significant predictors of renal survival. At baseline, three factors were predictive of

CKD stage 5: primary renal disease, CKD stage and proteinuria. Further

prospective controlled studies are necessary to assess possible intervention

measures against the progression of renal failure in children with CKD.

Acknowledgements

This study was partially supported by FAPEMIG and CNPq. The authors

owe special thanks to the team of the Predialysis Interdisciplinary Management

Program (HC-UFMG), Vanessa Rodrigues da Silva, Andréa Marques Chiaretti

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103

Munaier, and Marilene Moreira for their inestimable participation in the care of our

patients.

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106

Figure legends

Figure 1. Kaplan-Meier survival curves showing the probability of renal survival for

107 children and adolescents admitted to a PDIMP.

Figure 2. Kaplan-Meier survival curves showing the probability of renal survival

according to the baseline CKD stage.

Figure 3. Kaplan-Meier survival curves showing the combined effect of renal

primary disease and CKD stage on renal survival.

Figure 4. Kaplan-Meier survival curves showing the combined effect of renal

primary disease, CKD stage, and proteinuria on renal survival.

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107

Figure 1

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108

Figure 2

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109

Figure 3

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110

Figure 4

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111

Table 1- Univariate analysis of predictive factors of CKD stage 5

Predictive Factors CKD stage 5 (+)

n = 57

CKD stage 5 ( -) n = 50

Renal Survival (yr) Median (95%CI)

log -rank p

Gender Male Female Race White Non-White Age at admission < 30m ≥ 30m Systolic blood pressure < p95 ≥ p95 Diastolic blood pressure < p95 ≥ p95 Primary renal disease Glomerulonephritis Others WAZ < -1.88 > -1.88 HAZ < -1.88 > -1.88 BMI < p10 ≥ p10 CKD Stage Stage 2/Stage 3

Stage 4 Proteinuria Absent Present Proteinuria Absent/mild Severe Hemoglobin < 10 g/dl > 10 g/dl Albumin < 3.5 g/dl > 3.5 g/dl

31 26

29 28

9

48

35 22

35 22

19 38

29 28

31 24

35 6

30 27

16 41

41 16

33 24

36 21

26 24

32 18

16 34

29 21

30 20

5

45

24 23

21 26

26 8

38 12

28 22

49 1

39 11

41 9

6.6 (3.3 – 10.0) 9.5 (6.1 – 12.9)

10.1 (6.4 – 13.9) 5..3 (3.3 – 7.20)

12.1 (8.9 – 15.3) 6.7 (4.7 – 8.70)

7.9 (5.5 – 10.3) 7.5 (1.8 – 13.0)

7.9 (6.2 – 9.60) 6.6 (0.51 – 12.9)

1.9 (0.1 – 4.40) 9.5 (7.4 – 11.6)

6.7 (4.5 – 8.90) 9.9 (6.4 – 13.3)

6.6 (4.6 – 8.6) 9.8 (6.5 – 13.3)

5.1 (2.3 – 7.90) 8.2 (5.4 – 11.0)

9.2 (6.4- 11.9) 4.40 (2.4- 6.2)

10.5 (7.8 – 12.5) 5.1 (2.8 – 7.40)

9.9 (7.7 – 12.0) 1.9 (0.1 – 4.80)

5.2 (1.4 – 8.8) 7.9 (4.9 -10.9)

3.7 (2.7 – 4.8) 9.8 (.8 – 11.8)

0.84

4.6

5.6

0.01

0.04

31.2

0.14

2.10

0.03

7.7

11.0

37.5

2.81

14.3

0.36

0.03

0.02

0.93

0.83

<0.001

0.71

0.14

0.85

0.006

0.009

<0.001

0.09

<0.001

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112

Table 2 – Multivariable model of progression to CKD stage 5

Factor Coefficient

Standard error

RR CI95% p

Renal primary disease

(Glomerular)

0.11 0.45 3.0 1.2 – 7.4 0.015

CKD stage (stage 4) 0.95 0.28 2.6 1.5 – 4.5 0.001

Proteinuria Absent* Mild Severe

0.45 1.41

0.33 0.51

1.6 4.1

0.81 - 3.0 1.5 – 11.3

0.17 0.006

* Reference

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113

Table 3 – Relative risk of progression to CKD stage 5

Factor RR CI95% p Predictive factors

Absent* One factor Two factors

Three factors

2.5 10.5 25.4

1.3 - 4.7 4.5 – 24.3 8.8 – 73.2

0.005 <0.001 <0.001

* Reference

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114

5 COMENTÁRIOS FINAIS

A expansão do conhecimento sobre a doença renal crônica nas

crianças e adolescentes e a adequação progressiva da abordagem terapêutica

têm contribuído para o aumento da sobrevida desses pacientes ao longo das

últimas décadas. Numa publicação de 1968, Richard Fine, um nefrologista de

extensa obra científica, dizia que “a hemodiálise de lactentes e crianças é

considerada difícil, mas se os problemas técnicos puderem ser superados, os

pacientes pediátricos podem se tornar candidatos à hemodiálise crônica, na

preparação para o transplante renal.” O cenário 40 anos após essa afirmação é

notavelmente distinto. A terapia renal substitutiva é hoje parte do nosso cotidiano.

O transplante renal pediátrico é prática rotineira. Apesar disso, a doença renal

crônica ainda se constitui em uma doença grave, com mortalidade e morbidade

elevadas e intenso sofrimento para os pacientes e suas famílias.

A abordagem interdisciplinar desse grupo de pacientes e suas famílias

tem sido proposta como uma forma mais abrangente de assistência, na qual os

diferentes profissionais envolvidos, com abordagens distintas e olhares

diferenciados, possam interagir proporcionando humanização e eficácia no

atendimento. O envolvimento de profissionais das áreas de Enfermagem,

Psicologia, Nutrição, Assistência Social, Pediatria, Urologia e Cirurgia

Cardiovascular visa a proporcionar aos pacientes e familiares o atendimento às

suas necessidades globais, levando-se em consideração a complexidade que

cerca o cuidado de pessoas que sofrem com uma doença crônica que restringe

seu cotidiano e limita suas atividades físicas, seu crescimento, sua alimentação,

enfim, a rotina dessas crianças e de suas famílias.

O presente estudo não pretendeu afirmar ou negar a superioridade da

abordagem interdisciplinar. Contudo, pode-se afirmar que, após a implantação

desse programa, houve expressiva redução nas taxas de hospitalização desses

pacientes e a atual mortalidade em tratamento conservador é muito baixa, em

geral relacionada às co-morbidades como pneumopatia em paciente portador de

síndrome de Prune-Belly e outras complicações infecciosas. Tornam-se, pois,

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115

necessários estudos especificamente direcionados à avaliação da eficácia da

abordagem interdisciplinar e do tratamento conservador na faixa etária pediátrica.

Entretanto, o presente estudo de coorte retrospectivo contribui para o

conhecimento do curso clínico da DRC em crianças e adolescentes. A análise

mostra dois padrões distintos de evolução. Os dados destacam que a doença

renal crônica na faixa etária pediátrica freqüentemente desenvolve-se de forma

precoce e associa-se a doenças renais congênitas, como as uropatias obstrutivas,

hipoplasia, aplasia e displasia renais. Em pacientes com anomalias nefro-

urológicas congênitas, há lenta deterioração da função renal e mesmo a

estabilidade do quadro por muitos anos. Nesse grupo, nota-se, muitas vezes, a

piora da função renal na adolescência ou mesmo em adultos jovens. O

reconhecimento precoce dessas doenças pode permitir intervenções urológicas

que aliviem a obstrução do trato urinário, previnam infecções e, em alguns casos,

levem à elevação do RFG, como ocorreu com alguns pacientes deste estudo.

Outro grupo freqüente de doença renal primária é o das doenças

glomerulares. Nesse grupo em particular, o curso clínico é diferente. Em geral,

acomete crianças escolares e adolescentes e caracteriza-se, muitas vezes, pela

rápida deterioração da função renal. Os dados sugerem que a presença de

proteinúria e de proteinúria elevada associam-se de forma independente à

deterioração da função renal. Embora a proteinúria seja um marcador de lesão

renal, sua ocorrência associa-se a reações inflamatórias que contribuem para a

lesão glomerular progressiva, conforme já anteriormente comentado. O

diagnóstico de DRC e sua caracterização permitem que intervenções terapêuticas

possam ser realizadas, visando à redução do ritmo de perda da função renal.

Trabalhos controlados são necessários para o estabelecimento da

eficácia dos inibidores de enzima conversora e dos antagonistas de receptores da

angiotensina, na redução da progressão da perda de função renal, na faixa etária

pediátrica. No entanto, as evidências presentes já parecem indicar o seu uso na

prática clínica. Para que isto ocorra, torna-se necessário o encaminhamento

precoce desses pacientes, em especial dos glomerulopatas e daqueles com

proteinúria elevada, de forma precoce, no início mesmo da queda do RFG, para

abordagem nefrológica.

Finalmente, pode-se questionar se os objetivos gerais do Programa

Interdisciplinar de Prevenção e Assistência da DRC em Crianças e Adolescentes,

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116

constituído na Unidade de Nefrologia Pediátrica, no início da década de 90, têm

sido alcançados.

No projeto inicial, eram listados os seguintes objetivos:

• detectar precocemente a doença renal progressiva;

• estabelecer intervenções que retardem a progressão da doença renal;

• prevenir complicações urêmicas;

• atenuar as condições de co-morbidade;

• melhorar a nutrição;

• avaliar e estimular a adesão ao tratamento;

• preparar o paciente para a terapia dialítica e/ou o transplante renal;

• otimizar o tempo de início da terapêutica de substituição da função

renal.

Apesar da metodologia do presente estudo não permitir responder a

muitos desses objetivos, pode-se afirmar que o programa modificou positivamente

a abordagem clínica das crianças e adolescentes com DRC em nossa Unidade.

Hoje, o panorama é completamente distinto daquele da década de 1980, quando

as crianças com DRC permaneciam internadas na enfermaria do HC-UFMG por

meses e vinham a falecer após intenso sofrimento para eles e suas famílias (e

para a equipe médica).

Acredita-se que dois objetivos precisam ser reavaliados com estudos

desenhados especificamente para esclarecer algumas questões prementes.

Primeiro, a abordagem nutricional, especialmente dos lactentes, necessita ser

revista e aprimorada. Outra questão, já mencionada, é a avaliação da eficácia das

intervenções que retardem a progressão da doença renal nessa faixa etária.

Concluindo, após este estudo do curso clínico de crianças e

adolescentes com DRC e, mais ainda, a partir da nossa vivência e experiência no

cuidado clínico a esses pacientes, pode-se afirmar, sem receio de errar, que

houve inegável progresso na abordagem da DRC na faixa etária pediátrica. Se a

contribuição desse programa e da equipe interdisciplinar nesses avanços é difícil

de ser dimensionada do ponto de vista científico, do ponto de vista clínico e

humano os benefícios para as crianças e adolescentes são tão evidentes, que

não seria mais ético abordar a DRC de outra maneira.

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