52
CENTRO UNIVERSITÁRIO SÃO CAMILO Curso de Psicologia Alberto Perez Tarazona Andrieli Cristina De Freitas Pereira Arthur André Mota Silva Beatriz Cristina Vicentini Pissato Daniel Huang Ilmara Lopes De Jesus Jessica Nathalia De Freitas Jovino Bernardes Neto Juliana Oliveira Dos Santos Nicole Oliveira Gomes Pêgo Patrícia Da Silva Oliveira PSICOLOGIA ESCOLAR São Paulo 2012

Escolar Bullying

Embed Size (px)

Citation preview

1

CENTRO UNIVERSITÁRIO SÃO CAMILO

Curso de Psicologia

Alberto Perez Tarazona

Andrieli Cristina De Freitas Pereira

Arthur André Mota Silva

Beatriz Cristina Vicentini Pissato

Daniel Huang

Ilmara Lopes De Jesus

Jessica Nathalia De Freitas

Jovino Bernardes Neto

Juliana Oliveira Dos Santos

Nicole Oliveira Gomes Pêgo

Patrícia Da Silva Oliveira

PSICOLOGIA ESCOLAR

São Paulo

2012

2

Alberto Perez Tarazona

Andrieli Cristina De Freitas Pereira

Arthur André Mota Silva

Beatriz Cristina Vicentini Pissato

Daniel Huang

Ilmara Lopes De Jesus

Jessica Nathalia De Freitas

Jovino Bernardes Neto

Juliana Oliveira Dos Santos

Nicole Oliveira Gomes Pêgo

Patrícia Da Silva Oliveira

PSICOLOGIA ESCOLAR

São Paulo

2012

Projeto de pesquisa apresentado à disciplina

de psicologia escolar do curso de Psicologia

do Centro Universitário São Camilo, para

obtenção parcial de nota, sob Orientação da

Profa. Roseli Pereira Silva

3

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................05

2. OBJETIVO....................................................................................................07

3. METODOLOGIA...........................................................................................08

4. SURGIMENTO DO BULLYING....................................................................09

5. CONCEITO DE VIOLÊNCIA E AGRESSIVIDADE.......................................10

5.1CONCEITO DE VIOLÊNCIA E AGRESSIVIDADE NA VISÃO

PSICANALITICA...........................................................................................................11

6. FENÔMENO BULLYING...............................................................................14

7. TIPOS DE BULLYING..................................................................................18

7.1 CYBERBULYING..........................................................................................18

7.2 OUTROS TIPOS DE BULLYING.....................................................................20

7.3 BULLYING NO AMBIENTE CORPORATIVO...................................................20

7.4 BULLYING NA FAMÍLIA.................................................................................21

7.5 CASOS DE BULLYING QUE ENVOLVEM PROFESSORES.............................22

8. CYBERBULLYING E CRIMES CIBERNÉTICOS.........................................23

8.1 EFEITOS CIVIS DO CYBERBULLYING..........................................................25

9. FATORES QUE CONTIBUEM PARA VIOLÊNCIA ESCOLAR..............................................26

9.1 OS PROTAGONISTAS..................................................................................26

9.2 O AGRESSOR..............................................................................................27

9.3 O ALVO........................................................................................................27

9.4 OBSERVADORES.........................................................................................28

10. ENTREVISTA COM A PSICÓLOGA...........................................................29

11. O PAPEL DO PSICOLOGO ESCOLAR......................................................34

11.1 FORMAS DE INTERVENÇÃO PSICOLOGICA..................................................34

12. MEIOS DE PUNIÇÃO.................................................................................37

4

13. RELATO DE UM CASO ONDE HOUVE INDENIZAÇÃO PELA PRÁTICA DO

BULLYING...........................................................................................................38

14. O PAPEL DOS PAIS E DA ESCOLA..........................................................40

14.1 CARACTERISTICAS DAS FAMILIAS DOS ALVOS.................................40

14.2 CARACTERISTICAS DAS FAMILIAS DOS AUTORES............................40

14.3 COMO A FAMILIA PODE CONTRIBUIR...................................................41

14.4 COMO A ESCOLA PODE CONTRIBUIR..................................................41

15. FORMAS DE TRATAMENTO PARA VITIMAS DE BULLYING...................42

16. CONCLUSÃO..............................................................................................46

17. REFERÊNCIAS...........................................................................................50

5

1. INTRODUÇÃO

A escola tem como papel social a educação, o convívio entre pessoas

de diferentes criações, aprendizagem e desenvolvimento do indivíduo para a

próxima etapa de sua vida. Torna-se, portanto, um ponto de encontro entre

diferentes pessoas, com diferentes realidades familiares e sociais, e que por

isso acaba configurando-se em um lugar de grandes conflitos.

A violência no espaço escolar é um fenômeno importante e não mais

inédito, é um problema televisionado diariamente e que toma formas e

proporções cada vez maiores, a partir do final da década de 1980, no Brasil e

no exterior (França, Japão, Portugal, Alemanha e outros países).

As práticas de violência encontradas nas escolas de tais países apontam

para uma forma de relacionamento pautada na violência física, psicológica e

simbólica. Tais formas de relacionamentos estão presentes nas famílias e nos

amigos de alunos (dentro e fora da escola) e na própria escola (RUDUIT,

2006).

Estudos mostram a complexidade do tema que não deve ser tratado

como fruto de uma variável (uma causa), mas sim, deve ser compreendido

dentro de um contexto (de algumas variáveis) que favorece as práticas de

violência.

Essas práticas presentes em estudos demonstram que há algumas

semelhanças nas ações violentas nos diversos países. Sendo as mais comuns

agressões físicas e verbais, dificultando e impossibilitando o processo de

ensino e aprendizagem.

Durante o desenvolvimento deste trabalho, entraremos em contato

constantemente com as relações humanas, principalmente a relação de

crianças e adolescentes, que com o tempo foram tornando-se complicadas.

Com a necessidade de engendramento de poder, crianças e

adolescentes sentem a necessidade de impor suas vontades e opiniões

perante aos colegas e para alcançarem seus objetivos partem para a agressão

física ou psicológica, principais características do Bullying.

6

O fenômeno Bullying no Brasil de forma geral, compreende “um conjunto

de atitudes agressivas intencionais e repetitivas que ocorrem sem motivação

evidente, de forma velada ou explícita, adotado por um ou mais indivíduos com

outro(s), causando dor, angústia e sofrimento”, segundo definição da

Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência

(ABRAPIA).

O Bullying é um tipo de violência que ocorre com maior frequência no

ambiente escolar e seus praticantes são alunos que agridem uns aos outros

usando critérios e características específicas que determinam o agressor, a

vítima e o espectador.

Esse fenômeno é conhecido mundialmente, porém pais e

professores, mesmo com tamanha repercussão, ainda têm dificuldades para

trabalhar com crianças que sofrem e agridem.

Utilizando pesquisa bibliográfica, entrevista com profissionais da

área e o uso de artigos científicos que nos ajudem a elucidar o tema pretendeu

com esse trabalho, trazer à luz algumas alternativas para a escola, vítima e

psicólogo escolar na identificação e tratamento dessa forma de violência que

acomete diariamente muitas crianças e adolescentes.

7

2. OBJETIVO

Este trabalho tem como objetivo apresentar, estudar e refletir sobre as

diversas dimensões do Fenômeno Bullying, seus mecanismos, etapas e

consequências. Analisando os diferentes processos que o envolvem e suas

implicações físicas e psíquicas, daremos enfoque aos sujeitos praticantes e as

vitimas de Bullying.

8

3. METODOLOGIA

Foram realizadas pesquisas bibliográficas em livros e artigos

relacionados aos assuntos da adolescência, violência, psicologia e pedagogia,

bem como entrevista com um profissional da área da psicologia escolar,

buscando conteúdos amplos e relevantes.

9

4. O SURGIMENTO DO BULLYING

O fenômeno Bullying sempre existiu e é tão antigo quanto as escolas e a

relação entre colegas de turma.

Porém, começou a ser estudado em 1970 por Dan Olweus, professor da

Universidade da Noruega. Fato importante e que impulsionou ainda mais suas

pesquisas foi que em 1982, três estudantes com idades próximas entre 10 e 14

anos cometeram suicídio e lançaram luz sobre o motivo do ato.

Dan constatou que estes adolescentes, assim como muitos outros,

sofriam com ameaças e brincadeiras constantes feitas pelos colegas. Os fatos

configuravam Bullying.

Foi então que Dan deu início a uma pesquisa com estudantes de

diversos níveis escolares, seus professores e pais.

Através de questionários com perguntas referentes aos tipos de

agressões sofridas, sua frequência, os locais de maior risco e o perfil dos

agressores, o pesquisador avaliou a natureza das agressões, a ocorrência, as

características e impacto do Bullying na vida dos estudantes vitimizados.

O estudo foi importante para verificar o ponto de vista da criança ou

adolescente em relação ao Bullying. O resultado da pesquisa informou que 1

em cada 7 estudantes estavam envolvidos com o Bullying.

O impacto dos suicídios e o resultado da pesquisa feita por Dan levou o

governo norueguês a criar um programa “anti-bullying” nas escolas no ano

seguinte. O projeto incluiu pais e professores em uma campanha de

conscientização contra esse tipo de violência.

O programa e suas ações fizeram com que diminuíssem em 50% o

número de casos de Bullying nas escolas, servindo de exemplo para diversos

outros países, inclusive no Brasil.

Aqui, a pioneira em pesquisas sobre Bullying é Marta Canfield, que

adaptou o questionário de Dan para aplicação em escolas públicas do Rio

Grande do Sul anos mais tarde, em 1989.

E assim como Marta, a especialista Cleo Fante também realizou

pesquisas em escolas de Rio Preto entre 2002 e 2003 e concluiu que 49% dos

alunos estão envolvidos no bullying, ocupando o lugar de agressores, vítimas

ou ambos.

10

5. CONCEITO DE VIOLÊNCIA E AGRESSIVIDADE

Antes de conceituarmos Bullying, é necessário entendermos o conceito

de violência, agressividade e suas diferenças.

A agressividade é um fenômeno comum do cotidiano que busca

comportamento adaptativo intenso, considerado como uma qualidade natural

de defesa e autopreservação. Na psicanálise, ao apreciar a leitura freudiana da

teoria pulsional após 1920, a agressividade passa a ser considerada como o

sinônimo dos impulsos da pulsão de morte - a ausência de angustia, falta e

sofrimento - cuja função é a destruição. O comportamento agressivo, que

incide para a dominação e na proteção dos pensamentos, sentimentos e

opiniões de uma maneira inapropriada por meio de humilhação e degradação,

se manifesta como uma ação de auto conservação perante acontecimentos

que induzem ao individuo a fragilidade e a insegurança.

Laplanche (1981) define agressividade como: “Tendência ou conjunto de

tendências que se atualizam em condutas reais ou fantasmáticas, dirigidas

para danificar a outro, a destruí-lo, a contrariá-lo, a humilhá-lo, etc. A agressão

pode adotar modalidades distintas de ação motriz violenta e destrutiva; não há

conduta, tanto negativa (recusa de ajuda, por exemplo) como positiva, tanto

simbólica (por exemplo, ironia) como efetivamente realizada, que não possa

funcionar como agressão. A psicanálise atua precocemente no

desenvolvimento do sujeito e pontuam o complexo jogo de sua união e

desunião com a sexualidade. Busca também explicar a agressividade ligada ao

substrato pulsional – o conceito de pulsão de morte.”

Diante de um indivíduo agressivo patológico, aquele que se precipita nos

sentimentos a todos os acontecimentos como uma contestação no seu

psíquico, tem dificuldade de relacionamento e de estabelecer limites, muitas

vezes, pela deficiência na construídos no âmbito familiar e/ou na educação

contrárias às normas de convivência e respeito.

A violência é uma reação variável e dinâmica, com aspectos, proporções

e significados adaptados na medida que a história e o contexto cultural e outros

fatores que atribuem caráter fenomenológico da sociedade se altera. A relação

social entre indivíduos que configura alguma conduta que causa o dano, que

prejudica a integridade física e psicológica mediante o uso excessivo de força

11

além do necessário ou da coerção caracteriza a violência na sociedade

contemporânea.

Segundo o Dicionário Houaiss, violência é a “ação ou efeito de violentar,

de empregar força física (contra alguém ou algo) ou intimidação moral contra

(alguém); ato violento, crueldade, força”. No aspecto jurídico, o mesmo

dicionário define o termo como o “constrangimento físico ou moral exercido

sobre alguém, para obrigá-lo a submeter-se à vontade de outrem; coação”. Já

a Organização Mundial da Saúde (OMS) define violência como “a imposição de

um grau significativo de dor e sofrimento evitáveis”. Violência pode ser também

“uma reação consequente a um sentimento de ameaça ou de falência da

capacidade psíquica em suportar o conjunto de pressões internas e externas a

que está submetida” segundo Levisky (1995).

5.1 CONCEITO DE VIOLÊNCIA E AGRESSIVIDADE NA VISÃO

PSICANALÍTICA

Na psicanálise, a violência é vista sempre em um referencial que mostra

que o encontro com a linguagem não sendo inconsequente para o sujeito e é

ligado à estados primitivos. Para Freud e Lacan, em meio às diferenças,

agressividade e violência têm algo em comum. Os dois termos presumem o

altruísmo por parte do sujeito, determinando tratamento que a civilização dá ao

prazer da vida.

O pensamento de Freud e de Lacan que se ocupam de infância, mostra

que os processos psíquicos que levam ao desenvolvimento, atuam em cada

sujeito e todas as conquistas psíquicas das fases iniciais da vida dão-se no

cuidados matemos. Entretanto, a mãe deve propiciar condições para que a

criança entre em contato com a realidade interna.

O Freud afirma que uma perversão na infância pode vir a ser a base

para a construção de uma perversão que tenha um sentido similar e que

permeia toda a vida, que consume toda a vida sexual do sujeito. No texto,

“Bate-se numa criança”, a fantasia tem sentimentos de prazer com um grau de

descarga num ato de satisfação auto-erótica, mas a vergonha e o sentimento

de culpa são também provocados. A fantasia passa por três fases, das quais a

primeira e a ultima são lembradas conscientemente, enquanto a do meio

12

permanece inconsciente. As duas conscientes parecem sádicas, um processo

em que o sadismo incide uma violência contra outro, e a segunda da fantasia,

culpa e vergonha presentificam-se ao conteúdo incestuoso, é mais importante

e indubitavelmente de natureza masoquista questão associada a uma

excitação sexual e a atividade masturbação. As fantasias são o resultado

deformado e recalcado do conflito inerente ao complexo parental e que sofre

muitas modificações e o princípio que sadismo e masoquismo estão sempre

concebidos juntos no mesmo sujeito e que a violência na maioria das vezes é

vivida só na fantasia, tem origem em desvios e transformações da libido para

ocultar desejos e prazeres libidinosos..

Em Lacan, “O Estádio do Espelho”, se dá em três tempos, é um

passagem essencial da formação da imago necessária para normalização no

andamento do Complexo de Édipo do sujeito. Num primeiro momento o sujeito

não se reconhece na imagem especular, a imagem reconhecida é a do corpo

do Outro materno. No segundo tempo, busca-se a referência neste Outro,

percebe-se que no espelho há uma outra imagem. No ultimo momento,

assume-se que esta imagem é ela. Portanto, uma tensão entre a imagem

integrada e a precocidade do individuo que se vê perfeito, mas sente-se

fragmentada. O estádio do espelho é uma das duas experiências pelas quais

se dá a constituição do sujeito.

A constituição da subjetividade do individuo se dá a partir de sua relação

com os pais. A função materna está profundamente imbricada na formação do

ego do sujeito e na tentativa estabelecê-lo com o mundo. A função paterna,

uma metáfora, está encarregada em interditar a mãe sob a ameaça de

castração como um ato simbólico, como um representante da lei que é

fundamental para que o sujeito possa se estruturar e se integrar à sociedade.

Cada individuo aprende a diferenciar e apontar a sua função e a dos seus pais,

recebendo desses a transmissão da Lei Paterna que se faz presente,

interditando o incesto, dando a dissolução ideal do complexo de Édipo, no

momento em que a criança reconhece na figura paterna o obstáculo para a

realização de seus desejos sexuais.

A decadência da imago paterna origina novas formas de sofrimento

psíquico e implicando em sujeitos com dificuldades para lidar com a introjeção

das normas, demonstrando intolerância e falta de limites que culminam na

13

violência presente no contexto escolar. Em entrevista com um psicanalista de

adolescentes, a respeito de sua abordagem frente ao tema, que acaba sendo

parecida em todos os casos. As vitimas de bullying e o porque de se coloca

nesse papel, sem se implicar na sua própria defesa, na sua própria integridade.

Para o agressor, algo de grave por traz da violência e as fantasias. Por ultimo,

o espectador que fica nessa posição passiva, vem o medo de se posicionar

frente a uma violência fantasiada, concordando ou não.

14

6. FENÔMENO BULLYING

Depois de definirmos violência e agressividade mostraremos a principal

característica do fenômeno Bullying, apresentaremos sua definição:

Bullying é uma situação que se caracteriza por atitudes agressivas,

como emocionais e psicológicas, verbais ou físicas, feitas de maneiras

intencionais e repetitivas, por um ou mais estudantes contra outro ou outros

sem motivação evidente inicialmente. O termo bullying tem origem na palavra

inglesa bully, que significa valentão, brigão. Mesmo sem uma denominação em

português, é entendido como ameaça, tirania, opressão, intimidação,

humilhação e maltrato. Infelizmente, é uma palavra que está em moda devido

aos inúmeros casos de perseguição e agressões que estão detectado nas

escolas, e que estão levando a muitos estudantes a conviverem situações

verdadeiramente tenebrosos. É uma das formas de violência que mais cresce

no mundo, sendo que pode ocorrer em qualquer contexto social, como escolas,

universidades, famílias, vizinhança e locais de trabalho.

Entretanto, discussões ou brigas pontuais não são Bullying. Conflitos

entre pais e filhos, chefe e subordinados, professor e aluno, aluno e gestor

também não são considerados bullying. Para que seja bullying, é necessário

que a agressão ocorra entre colegas de mesma tipificação ou

categoria. Todo bullying é uma agressão, mas nem toda a agressão é

classificada como bullying.

Dada como bullying, a agressão física ou moral deve apresentar quatro

características:

- A intenção do autor em ferir o alvo;

- A repetição da agressão;

- A presença de um público espectador;

- A concordância do alvo com relação à ofensa.

Portanto, conceitualmente, conflitos entre professor e aluno não é

considerada bullying, uma vez que é necessário que a violência ocorra entre

pares, como colegas de classe ou de trabalho. O professor pode, então, sofrer

outros tipos de agressões, como injúria, difamação ou até agressão física, por

parte de um ou mais alunos. Mesmo não sendo entendida como bullying, trata-

se de uma situação que exige a reflexão sobre o convívio entre membros da

15

comunidade escolar. Quando as agressões ocorrem, o problema está na

escola como um todo.

O indivíduo que exerce o Bullying, à primeira vista, parece apenas um

simples apelido inofensivo, porém, se torna o poder do agressor sobre a vítima

através de constantes ameaças, insultos, agressões e humilhações, que

podem afetar emocionalmente e fisicamente o alvo da ofensa que geralmente

sofre calada. Além de um possível isolamento ou queda do rendimento escolar,

crianças e adolescentes que passam por maus tratos intimidatórios,

humilhações racistas, difamatórias ou separatistas podem apresentar doenças

psicossomáticas e sofrer de algum tipo de trauma que influencie traços da

personalidade, em alguns casos extremos, pode leva-los a consequências

devastadoras como o suicídio.

Entre as crianças menores, é comum que as brigas estejam

relacionadas às disputas de território, de posse ou de atenção, o que também

não caracteriza o bullying. No entanto, por exemplo, se uma criança apresentar

alguma particularidade, como não conseguir segurar o xixi, e os colegas a

segregarem por isso ou darem apelidos para ofendê-la constantemente, trata-

se de um caso de bullying.

Há estudos na Psicologia que afirmam que, por volta dos dois anos de

idade, há uma primeira tomada de consciência de 'quem eu sou', separada de

outros objetos, como a mãe. E perto dos 3 anos, as crianças começam a se

identificar como um indivíduo diferente do outro, sendo possível que uma

criança seja alvo ou vítima de bullying. Essa conduta, porém, será mais

frequentes num momento em que houver uma maior convivência entre pares,

mais rotineira e estabelecida com os outros.

O alvo costuma ser uma criança com baixa autoestima e retraída tanto

na escola quanto no lar. Com essas características, geralmente, esse sujeito

não consegue reagir. Dadas essas características entra em questão da

repetição do bullying, pois o aluno não procura ajuda e a tendência é que a

provocação permaneça. Além dos traços psicológicos, os alvos desse tipo de

violência costumam apresentar particularidades físicas, aspectos culturais,

étnicos e religiosos.

O aluno que sofre bullying, principalmente quando sofre em silencio e

não pede ajuda, enfrenta desinteresse, aversão e vergonha de ir à escola.

16

Consequentemente, estimulado a abandonar os estudos por não se achar

culpado ou diferente para integrar o grupo e apresentar baixo rendimento.

Uma pesquisa da Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à

Infância e Adolescência (Abrapia) revela que 41,6% das vítimas nunca

procuraram ajuda ou falaram sobre o problema, nem mesmo com os

colegas. Aqueles que conseguem reagir podem alternar momentos de

ansiedade e agressividade. Para mostrar que não são fracos, covardes ou

quando percebem que seus agressores ficaram impunes, os alvos da agressão

podem escolher outras pessoas mais indefesas e passam a provocá-las,

tornando-se alvos e agressores ao mesmo tempo.

Geralmente, o agressor possui um lado perverso, necessita da

popularidade, de se sentir poderoso e obter uma boa imagem de si mesmo.

Isso tudo leva o autor do bullying a atingir o colega com repetidas humilhações

ou depreciações, sempre com espectadores. É uma pessoa que não aprendeu

a transformar sua raiva em diálogo e para quem o sofrimento do outro não é

motivo para ele deixar de agir. Pelo contrário, sente-se satisfeito com a

opressão do agredido, supondo ou antecipando quão dolorosa será aquela

crueldade vivida pela vítima. O autor não é assim apenas na escola.

Normalmente ele tem uma relação familiar na qual tudo se resolve pela

violência verbal ou física e ele reproduz essa relação no ambiente escolar.

É comum pensar que há apenas dois envolvidos no conflito: o autor e o

alvo. Mas os especialistas alertam para um terceiro personagem responsável

pela continuidade do conflito, o espectador.

O espectador típico é uma testemunha dos fatos, não sai em defesa da

vítima nem se junta aos autores. Sua atitude passiva pode ocorrer por medo de

também ser alvo de ataques ou por falta de iniciativa para tomar partido. Os

que atuam como plateia ativa ou como torcida, reforçam a agressão, rindo ou

proferindo palavras de incentivo, estes também são considerados

espectadores, pois transmitem imagens, comentários ou fofocas a respeito

desta.

Existem duas formas de comportamentos do bullying:

Direta: inclui agressões físicas (bater, chutar, tomar pertences) e verbais

(apelidar de maneira pejorativa e discriminatória, insultar, constranger);

17

Indireta: talvez seja a que mais prejuízo provoque, uma vez que pode criar

traumas irreversíveis. Esta última acontece através de disseminação de

rumores desagradáveis e que desqualifiquem, visando à discriminação e

exclusão da vítima do seu grupo social.

Ambas aversivas e prejudiciais ao psiquismo da vítima.

18

7. TIPOS DE BULLYING:

Temos que ter em mente que em raros casos a vitima de bullying é

atacada por apenas uma categoria de agressão. Quase sempre os ataques são

combinados nas mais diversas formas de maus-tratos. A conjunção dos

diversos tipos de bullying aumenta e muito a possibilidade de a vítima sofrer

uma exclusão social intensa e traumática.

7.1 CYBERBULYING

O cyberbullying envolve o uso das tecnologias da informação e

comunicação para apoiar comportamentos deliberados, repetidos e hostis por

um indivíduo ou grupo, que se destina a prejudicar os outros.

Segundo um estudo encomendado pelo Ministério da Educação da

Inglaterra, a popularização de equipamentos eletrônicos e o acesso a web

agravou os casos de bullying. Na pesquisa, 70% dos adolescentes entre 12 e

15 anos confessaram já ter sido vítimas de cyberbullying. Um caso bem

conhecido é da jovem Megan Meier, de 13 anos, que cometeu suicídio após

receber uma série de mensagens ofensivas de um garoto na sua página de um

site de relacionamento. No Brasil os casos não são menos violentos, como o

ocorrido em São Paulo, quando uma jovem foi queimada com gasolina após se

desentender com outra adolescente no ambiente online.

Apesar de ser praticado de forma virtual, o cyberbullying tem

preocupado pais e professores, pois através da internet os insultos se

multiplicam rapidamente e ainda contribuem para contaminar outras pessoas

que conhecem a vítima. Valendo-se do anonimato, os bullies inventam

mentiras, espalham rumores, boatos depreciativos e insultos.

Os ataques envolvem um conjunto de tecnologias entre os mais

frequentes destacam-se:

1. IM - Mensagens instantâneas: Os programas de mensagens instantâneas

(Messenger, Skype) são rápidos e úteis, às vezes substituem conversas

telefônicas e são utilizadas por pessoas do mundo inteiro com acesso à rede

como um meio de comunicação rápida e de interação.

19

2. E-mail: O e-mail é uma das formas de comunicação mais difundidas pela

simplicidade e rapidez, traz em seu corpo perfeita combinação entre conversa

instantânea e documentada, além da possibilidade de anexar imagens e fotos.

3. Websites, Blogs ou Redes Sociais (Myspace, Facebook, Orkut, entre

outros): As Redes sociais, páginas da internet ou blogs vêm crescendo e sua

visibilidade é incomparável, em 2007 foram criados 47,8 milhões de novos sites

na web.

4. Imagens ou vídeos difamadores: A tecnologia de produção e reprodução

de vídeos cada vez mais sofisticada e veloz permite sites como Youtube

virarem grandes fontes de comunicação.

5. Disseminação de códigos maliciosos, vírus, spywares (programas de

invasão): O cyberbullie com conhecimento em programação ou contato com

meios de inocular e disseminar vírus cria uma verdadeira perseguição com

larga vantagem se o objetivo for, por exemplo, danificar o computador da

vítima.

6. Jogos interativos: Nos jogos que trazem a fantasia para o mundo real

envolvendo jovens de forma exorbitante existem possibilidades de interação

entre os personagens e assim, possibilidade da ocorrência do cyberbullying.

7. Anonymizer: Esse serviço é gratuito de anonimato na internet que garante

uma navegação anônima, visitando sua home page (www.anonymizer.com) ele

possibilita que você digite algum endereço e seja redirecionado para ele sem

que seja diretamente identificado.

8. Proxy: O proxy possibilita uma ponte entre um computador e um servidor.

Assim, para acessar ou alterar dados em determinado site (hospedado em um

servidor) o proxy ou “a ponte” ligará o agressor à um servidor e este servidor

(que pode ser inclusive uma segunda vítima) é que terá sua identificação

registrada. Dessa forma, o cyberbullie passa-se por outra pessoa.

9. Remailer: Utilizado para enviar e-mails anonimamente que funciona através

de diversas pontes entre servidores de toda a Internet, os e-mails são

dificilmente rastreáveis.

O cyberbullying, de forma semelhante ao bullying, é muito frequente no

ambiente escolar, entre jovens, porém pode ser praticado também no ambiente

corporativo, no seio familiar, entre vizinhos, amigos ou em outros ambientes.

20

Em nosso dia-a-dia temos visto o cyberbullying ser praticado pelos mais

variados motivos, desde diferenças entre características físicas das pessoas,

como por exemplo, um indivíduo que usa óculos, que é obeso, que tem alguma

deformidade física ou em relação a outras características, como nos casos em

que um jovem se destaca muito intelectualmente ou que possui uma religião,

etnia ou preferência sexual diferente da maioria.

Esse tipo de problema tem proporcionado diversas consequências, como

danos morais e emocionais, corre-se o risco de que imagens da vítima atraiam

pessoas mal intencionadas, que podem utilizá-las na pornografia e pedofilia. É

comum o rebaixamento da autoestima, o que compromete a formação de sua

identidade, uma vez que o grupo exerce grande influência no processo de

autoafirmação. Por outro lado, compromete as relações sociais, na medida em

que os colegas se tornam suspeitos. Os prejuízos na vida acadêmica podem

ser imediatos. Na tentativa de evitar maior constrangimento, muitas vítimas

optam por faltar às aulas, pedir transferência de escola ou abandoná-la.

7.2 OUTROS TIPOS DE BULLYING:

Bullying Verbal: apelidar, falar mal e insultar.

Bullying Moral: difamações, manipulação com a vítima, obtendo dela

tudo que almeja;

Bullying Sexual: assediar, induzir ou abusar

Bullying Psicológico: ignorar, excluir, perseguir, amedrontar, aterrorizar,

intimidar, dominar, tiranizar. Chantagear e manipular.

Bullying Material: destroçar, estragar, furtar, roubar

Bullying Físico: empurrar, socar, chutar, beliscar, bater

* Fonte: Lopes Neto,A. A. Bullying: Saber identificar e como prevenir. São Paulo :

Brasiliense, 2011

7.3 BULLYING NO AMBIENTE CORPORATIVO

No ambiente corporativo, as vítimas de bullying normalmente são

pessoas com características similares às que sofrem bullying na escola, ou

21

seja, pessoas mais tímidas, ou com características físicas mais peculiares,

pessoas que não conseguem se defender quando a prática começa, ou

pessoas ‘invejadas' pelos valentões, por comportamentos ou por resultados

que alcançam.

As consequências afetam a vida pessoal adulta e também o

desempenho da organização. Este é, sobretudo, um problema incomum, que

não pode ser resolvido da noite para o dia e pode ser caracterizado como tal

quando se carrega por um período longo de sua vida profissional, podendo

passar até mesmo de um emprego para outro apelidos como “puxa saco”,

“enrolador”, “queridinho do chefe”, “desleal”, “preguiçoso” entre outros, e

atitudes como boicotes dos profissionais que o estão assediando são comuns.

Todo esse contexto gera na empresa uma imagem negativa do profissional

perseguido. Isso amplia e compromete seriamente a reputação do profissional,

seja ela positiva ou não.

Algumas pesquisas destacam a grande probabilidade de crianças e

adolescentes que praticavam o bullying na vida escolar vir a praticar diferentes

tipos de assédio ao longo da vida. Isto nos leva a concluir que todo o processo

de análise e entendimento do comportamento antissocial começa na infância.

Nas empresas, é fundamental que o empregado se senta seguro para

expressar suas necessidades, medos e angustias. A organização também deve

realizar treinamentos constantes de gerentes e funcionários. Deixando claro

que brincadeiras de mau gosto não devem acontecer, o respeito entre os

colegas deve sempre existir.

7.4 BULLYING NA FAMÍLIA

Na família, o bullying é praticado principalmente pelos pais, através de

ameaças explícitas e/ou veladas de privação de segurança financeira e/ou

emocional. O comportamento na família caracteriza-se por abuso físico: bater,

empurrar, chutar, castigos, etc; e por meios de palavras ou de ações que ferem

a auto-estima das pessoas, por exemplo, pais que chamam os filhos e/ou

esposas de burros (as), incompetentes, feios (as), más, desajeitados (as);

22

expondo as pessoas a humilhações públicas e/ou privadas. É muito comum

também, o uso do poder econômico na relação entre pais e filhos. As ameaças

de corte do sustento, de alguns privilégios são formas de bullying praticado nas

famílias.

7.5 CASOS DE BULLYING QUE ENVOLVEM PROFESSORES

Professores podem se apresentar como agressores, ao adotarem uma

postura de intimidação e autoritarismo, expondo seus alunos ao ridículo ou à

indiferença. Traves do abuso de poder que tende a ser crônico e geralmente é

expresso de forma pública. Essa é uma forma de humilhação que gera atenção

por degradar um aluno na frente dos outros e que as capacidades da vítima

são rebaixadas e sua identidade é ridicularizada.

Como também podendo acontecer o oposto, os professores serem

vítimas de bulying. Casos como comunidades no Orkut, Chacotas, apelidos,

caricaturas que passam de carteira em carteira, e assim por diante, gravações

via celular que são postadas no Youtube, e a chacota vai para a grande rede, e

se torna ciberbullying, circula por e-mails, e toma uma proporção imensa até

chegando aos órgãos e secretarias, muitas vezes às direções prejudicam o tal

profissional alvo e vítima, por não se dar ao respeito, e não impor limites aos

seus alunos.

23

8. CYBERBULLYING E CRIMES CIBERNÉTICOS

Cabe ainda destacar que alguns casos de cyberbullying rompem os

limites da licitude, pois se enquadram em previsões penais. Surgem nestes

casos os crimes cibernéticos, que se caracterizam pela prática de crimes

fazendo uso de recursos tecnológicos, especialmente computadores. Neste

tipo de situação também é deflagrada a atuação dos órgãos de persecução

penal e na sua primeira fase pode atuar a Polícia Civil ou a Polícia Federal que

possuem a função de apurar infrações penais, conforme consta no artigo 144

da Constituição Federal.

Dentre os principais exemplos de cyberbullying considerado criminoso

destacamos:

1. Calúnia: afirmar que a vítima praticou algum fato criminoso. Um exemplo

comum é o caso de mensagens deixadas no perfil de um usuário do Orkut ou

outro site de relacionamento que imputa a ele a prática de determinado crime,

como por exemplo, que certa pessoa praticou um furto ou um estupro. A pena

para este tipo de delito é de detenção de seis meses a dois anos e multa

2. Difamação: propagar fatos ofensivos contra a reputação da vítima. O

estudante que divulgou no Twitter que determinado empresário foi visto saindo

do motel acompanhado da vizinha praticou o crime de difamação. Mesmo que

o estudante prove que realmente o empresário foi visto no local, o crime

subsistirá, pois independe do fato ser verdadeiro ou falso, o que importa é que

prejudique a reputação da vítima. O delito tem uma pena de detenção de três

meses a um ano e multa.

3. Injúria: ofender a dignidade ou o decoro de outras pessoas. Geralmente

se relaciona com xingamentos, exemplo, escrever no Facebook da vítima ou

publicar na Wikipédia que ela seria prostituta, vagabunda e dependente de

drogas. Também comete este crime aquele que filma a vítima sendo agredida

ou humilhada e divulga no Youtube. A pena é de detenção e varia entre um a

seis meses ou multa. Se a injúria for composta de elementos relacionados com

a raça, cor, etnia, religião, origem ou condição de pessoa idosa ou portadora de

24

deficiência o crime se agrava e a pena passa a ser de reclusão de um a três

anos e multa.

4. Ameaça: ameaçar a vítima de mal injusto e grave. É corriqueiro a vítima

procurar a Delegacia de Polícia para informar que recebeu e-mails, mensagens

de MSN ou telefonemas com ameaças de morte. A pena consiste na detenção

de um a seis meses ou multa.

5. Constrangimento ilegal: em relação ao cyberbullying, o crime de

constrangimento ilegal pode ocorrer se for feita uma ameaça para que a vítima

faça algo que não deseja fazer e que a lei não determine, por exemplo, se um

garoto manda uma mensagem instantânea para a vítima dizendo que vai

agredir um familiar dela caso não aceite ligar a câmera de computador (web

cam). Também comete este crime aquele que obriga a vítima a não fazer o que

a lei permita, como no caso da garota que manda um e-mail para uma

conhecida e ameaça matar seu cachorro caso continue a namorar o seu ex

namorado. A pena para este delito é a detenção de três meses a um ano ou

multa.

6. Falsa identidade: ação de atribuir-se ou atribuir a outra pessoa falsa

identidade para obter vantagem em proveito próprio ou de outro indivíduo ou

para proporcionar algum dano. Tem sido freqüente a utilização de fakes em

sites de relacionamentos, como no caso de uma mulher casada que criou um

fake para poder se passar por pessoa solteira e conhecer outros homens.

Também recentemente uma pessoa utilizou a foto de um desafeto para criar

um perfil falso no Orkut, se passou por ele e começou a proferir ofensas contra

diversas pessoas, visando colocar a vítima em uma situação embaraçosa. A

pena prevista para este tipo de ilícito é de três meses a um ano ou multa se o

fato não for considerado elemento de crime mais grave.

7. Molestar ou perturbar a tranquilidade: neste caso não há um crime e

sim uma contravenção penal que permite punir aquele que passa a molestar ou

perturbar a tranquilidade de outra pessoa por acinte ou motivo reprovável,

como por exemplo, nos casos em que o autor passa a enviar mensagens

desagradáveis e capazes de incomodar a vítima. Recentemente ocorreu um

25

caso de um indivíduo que passava o dia inteiro realizando ligações telefônicas

e enviando centenas de mensagens SMS com frases românticas para a vítima.

O caso foi esclarecido e o autor foi enquadrado nesta contravenção penal. A

pena para essa figura delitiva é de prisão simples, de quinze dias a dois meses

ou multa.

A prática deste tipo de crime pela internet não é sinônimo de

impunidade, muito pelo contrário, a Polícia Civil e a Polícia Federal possuem

instrumentos adequados e profissionais capacitados para que, por intermédio

da investigação criminal, a autoria e a materialidade sejam comprovadas.

8.1 EFEITOS CIVIS DO CYBERBULLYING

A prática destas ofensas também desencadeia diversos efeitos no

âmbito civil, como por exemplo, a obrigação de reparar os danos morais ou

materiais proporcionados pelos autores das ofensas.

De acordo com o artigo 159 do Código Civil “aqueles que por ação ou

omissão voluntária, negligência ou imprudência violar direito ou causar prejuízo

a outrem fica obrigado a reparar o dano”.

A 2ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal no ano de

2010 manteve a sentença do juiz de direito da 4ª Vara Cível de Taguatinga,

que condenou uma pessoa a indenizar duas vítimas em razão de ter postado

no Orkut mensagens com palavras e expressões de baixo calão (Processo:

200701014929).

26

9. FATORES QUE CONTRIBUEM PARA A VIOLÊNCIA ESCOLAR

A definição de violência se faz necessária para uma maior compreensão

da violência escolar. É uma transgressão da ordem e das regras da vida em

sociedade. É o atentado direto, físico contra a pessoa cuja vida, saúde e

integridade física ou liberdade individual correm perigo a partir da ação de

outros. Neste sentido Aida Maria Monteiro Silva se proclama "entendemos a

violência, enquanto ausência e desrespeito aos direitos do outro."

Para o corpo discente "violência representa agressão física, simbolizada

pelo estupro, brigas em família e também a falta de respeito entre as pessoas".

Enquanto que para o corpo docente "a violência, enquanto descumprimento

das leis e da falta de condições materiais da população, associando a violência

à miséria, à exclusão social e ao desrespeito ao cidadão".

Fatores que contribuem para a existência de violência nas escolas:

Gangues como o principal fator que determina a violência;

O uso de drogas;

A desestrutura familiar;

A falta de educação e de sentido à vida.

“O elevado índice de alunos (para ambos os sexos) envolvidos em

gangues é um comportamento social que vem se perpetuando de forma

negativa para a formação do jovem.” É importante esclarecer que a

desestrutura familiar como falta de responsabilidade pela orientação e pelo

acompanhamento dos filhos, assim como a ausência de limites, de autoridade,

de diálogo e de respeito são fatores para compreender a dinâmica psicossocial

do jovem que podem influenciá-lo a se envolver em atos violentos.

9.1 OS PROTAGONISTAS

O fenômeno do bullying pode ser detectado quando inclui a intimidação

por colegas, o não comparecimento às aulas e a indisciplina em sala de aula,

que ocorre até mesmo em meio aos alunos das primeiras séries da escola

primária, que perturbam as aulas sendo ruidosos e não permanecendo em

seus lugares durante as aulas, problemas de comportamento que têm

27

profundas ligações com questões psicológicas, não sendo incomum encontrar

alunos afetados por problemas múltiplos.

9.2 O ALVO

Sentem-se infelizes, sofrem com o medo, a insegurança e a vergonha e

muitas vezes sofrem com críticas dos adultos.

Muitas vezes a vítima de bullying opta pelo silêncio e apresenta alguns

sinais devem ser observados pela família:

Agir de forma estranha, isolando-se;

Apresentar frequentemente sinais de trauma como ferimentos ou

hematomas para os quais não exista explicação;

Chegar em casa com roupas rasgadas;

Apresentar pânico na hora de ir à escola;

Possuir problemas para dormir;

Apresentar mudanças de humor bruscas;

Parar de falar sobre a escola;

Encontrar desculpas para faltar à escola;

Fazer subitamente novas amizades;

Demonstrar comportamento agressivo em casa.

Bullying é um lance que mexe comigo, porque passei por isso em três escolas, até que larguei de vez, quando tinha 16 anos, na metade do 2º ano do 2º grau. Sempre tive notas altas e tal, mas simplesmente não deu pra aguentar... Daí fiquei mal, depressão..., um ano depois, fui internada por 11 dias como esquizofrênica pelo meu psiquiatra da época... (Aramis Lopes Neto, 2011, p.44 Depoimento de uma mulher adulta, vítima de bullying na adolescência)

9.3 O AGRESSOR

É identificado como alguém que ataque aqueles que não podem ou não

sejam capazes de se defender. Tem algumas características típicas:

São populares

Sentem-se confiantes e seguros

Demostram opiniões negativas contra os outros

28

Tornam-se agressivos também com os adultos

Geralmente são mais fortes que os demais

Estão insatisfeitos com a escola

Possuem satisfação em causar danos aos demais

Tem necessidade de dominar os colegas

Usam o poder com a intenção de agredir e controlar

Tem dificuldade de resolver problemas de relacionamento

9.4 OS OBSERVADORES

Estão acostumados com a prática, encarando-a naturalmente dentro do

ambiente escolar. O espectador se fecha aos relacionamentos e se exclui

porque ele acha que pode sofrer também no futuro.

Os observadores podem participar de 3 formas:

Defensores: ajudam os alvos

Seguidores: incentivam os autores

Passivos: permanecem distantes e não intervém.

29

10. ENTREVISTA COM A PSICÓLOGA

Formação da psicóloga

Psicopedagoga, Psicóloga, trabalha atualmente em RH, voltada para a

psicologia organizacional, formação e especialização em distúrbio de leitura e

escrita.

O trabalho do psicólogo dentro do Colégio São José

Ela trabalha como psicóloga escolar dentro da instituição, sendo um

trabalho amplo, com formação de professores, atendimento aos pais, aos

alunos, e até a comunidade se houver demanda, cita ainda que o trabalho do

psicólogo não se limita ao âmbito escolar, envolve-se também com a

comunidade, os familiares, e as pessoas envolvidas com o aluno. O psicólogo

escolar abarca não só as questões emocionais, mas também as questões de

ordem escolar, da aprendizagem.

Visão a respeito do Bullying

Do ponto de vista da psicóloga, existe muito modernismo em relação ao

bullying, muitos problemas são diagnosticados como bullyning, mas que na

verdade são apenas problemas de relacionamento, de adolescência. Virou

modismo, banalizou-se o tema, é preciso filtrar o assunto, realizando palestras,

conversas com a comunidade, trazer o assunto aos pais e demonstrar que nem

tudo é bullying. Ressalta a instituição como tendo valores embutidos na missão

e na visão do colégio, então, quando o aluno se insere neste núcleo de ensino,

ele conhece esses valores específicos que atuam nesse local. Cita ainda que o

bullying pode existir de diferentes maneiras.

O papel da escola em relação ao Bullying

Abrir para o dialogo, ela acredita não existir nada que vá contra este

principio. Buscando um dialogo com a classe, com todas as partes envolvidas,

o trabalho do psicólogo dentro da escola, pode ser atuado de modo individual,

quanto no modo coletivo, isso tudo depende da abordagem, para que o aluno

se conscientize do problema. Enfatiza também a questão da prevenção, um

exemplo dentro do São José, são cartazes sobre o respeito a si e ao outro, o

30

amor, a cooperação, que são princípios da escola, onde segundo a psicóloga,

esta trabalhando assim o princípio moral da criança, e sua formação, e cita que

para estar dentro deste colégio, é preciso estar embutido na missão desta

instituição, os alunos que vem de fora não conhecem a cultura deste local, ele

precisa ser aculturado, que funciona como um enquadre realizado no começo

do ano letivo, onde se é apresentado os valores, qual deve ser a conduta do

aluno, e para se estudar no São José, é preciso respeitar todas as regras

impostas para que haja um convívio harmonioso entre as partes.

Os recursos utilizados pelo São José nesses casos

Através de campanhas, de um ensino religioso que dá subsidio,

auxiliando no trabalho do psicólogo. Cita um exemplo de quando algo

semelhante acontece, o próprio aluno percebe e pede desculpa. A psicóloga

tenta minimizar o caso, fazendo confraternização entre os alunos; não

deixando ser uma ação isolada, deixando claro que não só o psicólogo

participa do fato, ele conta com uma equipe, composta por coordenador, um

educador vocacional, os inspetores de pátio, que ela comenta ser os “olheiros”,

quando a criança está no pátio isolada, ele direciona-se a ela e investiga a

causa e o motivo para poder encaminhar. Deixando claro que isso acontece

dentro da política do São José, e não em outras instituições.

Tratamento psicológico dentro da escola publica

A violência na escola publica é muito exacerbada, até mesmo pelas

condições socioeconômicas das crianças e dos pais, na sua experiência dentro

de escolas publicas, ela trabalhou como estagiária de psicologia, muitos dos

projetos que o seu núcleo de trabalho gostaria de realizar dentro daquele

ambiente escolar, não encontravam um respaldo, uma contribuição e apoio

para a realização dos mesmos, pelo contrario, havia muitas ameaças

principalmente por parte de alunos, mas como hoje ela não tem contato com

escola publica, apenas em instituições particulares, ela não possui elementos

para comentar a respeito do tratamento dentro da publica.

Nível de violência dentro do São José

31

Não há níveis de violência, ela cita que há competições entre

adolescentes, por exemplo, quando ocorre disputa de namorados entre garotas

no colégio, nesse caso acontece uma perversidade, mas ela explica serem

disputas típicas da adolescência, então a psicóloga procura clarear, conversar

sobre o assunto, e segunda ela, ambas as partes acabam se entendendo.

Bullying dentro do São José

Se existe ele é muito amenizado, por conta dos programas elaborados

pela instituição, fato que favorece a escola diante dos problemas. Não existe

histórico de casos de bullying encaminhados à psicóloga, o que ocorre são

apelidos e gozação entre os alunos, isso visto mais nas primeiras séries de

ensino, onde ela consegue intervir com eficiência na prevenção de futuros

problemas, no ensino médio, há uma resistência emocional maior aos

programas de incentivo e prevenção, devido a maturidade.

Encaminhamento de casos para tratamento psicológico dentro da

instituição

Na maioria dos casos, os próprios alunos espontaneamente a procuram,

quando estão com algum tipo de sofrimento emocional ou dificuldade de se

inserir em determinado grupo, quando não ocorre essa procura por parte dos

alunos, os professores em reunião comentam sobre as intervenções primárias

feitas por eles, e se não obtiverem resultados, encaminham para a psicóloga. O

professor tem autonomia para fazer essa intervenção, eles recebem uma

orientação para o funcionamento de trabalhos em grupos, para não deixar

ninguém isolado, fazer com que os grupos funcionem, e quando não consegue

realizar essa técnica, ele encaminha para a orientadora educacional, que é a

primeira pessoa que toma conhecimento do caso, se ela não consegue

administrar, aciona a psicóloga, que por sua vez, faz um trabalho em conjunto.

A religiosidade dentro da instituição

Os valores culturais são significativos, interferem na formação do aluno,

segundo a opinião da psicóloga, as escolas hoje em dia não mostram para os

alunos qual é a sua missão, ela afirma que os professores precisam ser

orientados e preparados para atuar junto do aluno, é preciso que haja um

32

trabalho em equipe, professores – coordenação – funcionários - profissionais

da saúde, juntos trabalhando em pró dos alunos, e o papel do psicólogo é

manter esse clima, fazer com que ele funcione dentro da escola, partindo do

diálogo, prevenção e formação, trabalhando dinamicamente, saindo do

consultório e indo para o pátio, para dentro das salas, contrário ao trabalho

clinico, fortalece a criança a ter voz, a ter diálogo, pois se a criança tem

diálogo, não tem bullying, ela sabe dos seus direitos, e pode ter acesso ao

coordenador, ao diretor, e requisitar seus direitos de aluno.

Função dos pais diante do bullying

A função dos pais é procurar a escola e esclarecer, buscar medidas,

exigir da escola quais são as ações efetivas, eles devem apresentar a queixa e

requisitar um encaminhamento para o caso, a escola é responsável pela

integridade física e moral da criança, se esta dentro da escola, ela tem que

assumir suas responsabilidades e preservar o aluno.

O que falta na escola para que não ocorram mais casos de bullying

A escola carrega um peso muito grande, devido a falta de profissionais

qualificados, são raros os colégios que trabalham com psicólogos dentro da

instituição, cada vez mais os psicólogos estão sendo afastados das escolas,

por talvez ser uma mão de obra cara, e é um profissional que deveria estar

mais presente dentro desse âmbito, a falta de sociólogos, orientadores

educacionais, principalmente em escolas publicas, deixam um ‘buraco’ que a

educação deve solucionar.

Gratificação do trabalho do psicólogo escolar

O trabalho do psicólogo dentro da rede publica traz um amplo

desenvolvimento profissional, mas não da suporte para desenvolvimento dentro

da instituição, o psicólogo não consegue ter voz no local, nas escolas

particulares encontra um espaço para se desenvolver projetos, e apoio ao seu

trabalho, os funcionários tem um senso de equipe, e quando se consegue fazer

esse trabalho de base, obtêm-se uma gratificação. A opinião da psicóloga

quanto a sua profissão: “Se tivesse que retornar a graduação, escolheria

33

novamente a área escolar, a transformação da sociedade só vai ocorrer pela

educação, a escola vai formar pessoas para aturar na sociedade”.

Autonomia do psicólogo dentro de uma instituição

O psicólogo trabalha em função da missão e dos valores da instituição

em que ele está inserido, se há uma conjugação de valores, existe tudo para

dar certo, pois a empresa acredita no seu trabalho. A grande dificuldade do

psicólogo dentro de qualquer instituição é demonstrar resultados, mas quando

isso ocorre, o trabalho flui normalmente.

A reação dos alunos com a presença do psicólogo dentro da escola

A princípio, o psicólogo no passado era visto como aquela pessoa que

fala com o louco, quebrar essa imagem depende exclusivamente do próprio

psicólogo, se ele ficar dentro de uma sala fechada, é assim que os alunos vão

te ver, mas, se demonstrar para os alunos que o seu trabalho vai além de uma

sala trancada, ele consegue mudar o olhar, fazendo com que o aluno o

enxergue como uma figura de ajuda, alguém que possa contribuir com um

auxilio a sua angustia.

34

11. O PAPEL DO PSICOLOGO ESCOLAR

É extremamente importante à intervenção do Psicólogo Escolar em

crianças que foram afetadas psiquicamente devido às consequências do

bullying, comprometendo o seu processo de socialização e de aprendizagem.

Além de trabalhar dessas intervenções o psicólogo também pode atuar na

prevenção do bullying, através de observações e grupos de apoio com os pais,

professores e com os próprios alunos.

Existe um grande desafio ao psicólogo escolar nessa intervenção, pois

não basta somente o atendimento a vitima, e necessário que esse atendimento

seja abrangente, atingindo todos os envolvidos (vitimas, agressores, pais,

educadores).

Dessa forma, o psicólogo pode contribuir por meio de técnicas e

instrumentos psicológicos, como anamnese, observação, entrevistas,

questionários e testes para compreender o comportamento dos indivíduos e

verificar os fatores que os levam a se comportar de tal maneira. O psicólogo

também pode dar apoio psicológico às vítimas, a fim de amenizar o sofrimento

causado pela agressão.

É de extrema importância o apoio psicológico na escola com a vitima

pois possivelmente apresentará sofrimento psíquico. No caso do agressor, o

exercício persistente e continuado (bullying) é revelador de um enorme mal-

estar interno, sendo que para ele, a violência é uma forma de alcançar o poder.

11.1 FORMAS DE INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA

O psicólogo pode participar desse processo através da conscientização

da comunidade escolar para as questões relacionadas à violência.

A importância de se adotar políticas de tolerância zero na escola,

mobilizando órgãos governamentais e discutindo políticas públicas

voltadas a prevenção e combate ao bullying.

35

Perceber e monitorar as habilidades ou possíveis dificuldades que

possam ter os jovens em seu convívio social com os colegas passa a

ser uma atitude obrigatória.

Prevenir, investigar, diagnosticar e adotar medidas adequadas frente à

agressividade na escola, desenvolvendo um trabalho voltado aos

agressores, às vitimas e as famílias.

Outra alternativa que nos parece mais adequada e que não exclui, pelo

contrário, se beneficia das contribuições da Psicologia clínica e da Psicologia

acadêmica, seria a do psicólogo escolar como agente de mudanças dentro da

instituição-escola, onde funcionaria como um elemento catalizador de

reflexões, um conscientizador dos papéis representados pelos vários grupos

que compõem a instituição.

Uma vez que a Psicologia escolar é então encarada como uma área de

intersecção entre a Psicologia clínica e a Psicologia organizacional, por

trabalhar e lidar com uma instituição social complexa, hierarquizada, resistente

à mudança e que reflete a organização social como um todo. Nessa

perspectiva é importante considerar o indivíduo sem perder de vista, entretanto,

sua inserção no contexto mais amplo da organização.

Para Tognetta (2005), “neste contexto de causadores e vítimas de

bullying, ambos precisam de ajuda”.

Vitima: sofrem uma deterioração da sua autoestima, e do conceito que

tem de si.

Agressor: sofrem grave deterioração de sua escala de valores e,

portanto, de seu desenvolvimento afetivo e moral.

Esses são apenas um dos motivos de se combater o bullying dentro das

escolas, especialistas que já estudam este fenômeno afirma que educadores

devem alertar seus alunos contra esta prática, pois isto é essencial para que a

escola se transforme em um ambiente de paz.

Não basta somente o trabalho do psicólogo escolar na instituição, é

necessário que os profissionais também coloquem em pratica estratégias

capazes de coibir o bullying, como:

36

Conscientização dos alunos sobre o bullying, mostrando suas

características e consequências, e que as praticas são intoleráveis dentro da

escola.

Trabalhar assuntos como a solidariedade, a tolerância e o censo crítico,

estar aberto ao dialogo com os alunos.

Estimular a denuncia em casos de bullying,

Identificar possíveis vítimas e agressores e fazer um acompanhamento

individual com cada um dele.

Oportunizar que os alunos criem regras de disciplinas.

Estimular as lideranças positivas entre os alunos e interferir diretamente

quando perceberem que o bullying esta acontecendo dentro do

ambiente escolar.

Estimular as famílias para que elas trabalhem a questão do respeito e do

amor ao próximo com os seus filhos.

Orientar todos os funcionários, docentes e administrativos, a interferirem

quando presenciar a ocorrência de bullying.

Dessa forma, num trabalho conjunto, é possível identificar esse

fenômeno que dilacera tanto a vitima quanto o agressor, de forma que eles

possam ter um convívio sadio dentro de um ambiente tão fundamental para o

desenvolvimento interpessoal e social desses jovens.

37

12. MEIOS DE PUNIÇÃO

Atos de bullying podem ser considerados como atos ilícitos, não porque

não estão autorizados pelo nosso ordenamento jurídico, mas por

desrespeitarem princípios constitucionais e o Código Civil, que determina que

“todo ato ilícito que cause dano a outrem gera o dever de indenizar”, porém a

indenização visa a reparação do dano e não o enriquecimento ilícito.

Tradicionalmente a escola tem o objetivo de garantir o aprendizado, a

avaliação do desempenho dos alunos e o cumprimento de tarefas acadêmicas.

Sobretudo, existem três documentos legais que formam a base de

entendimento com relação ao desenvolvimento e educação de crianças e

adolescentes:

A Constituição da República Federativa do Brasil

O Estatuto da Criança e do Adolescente

Convenção sobre os Direitos da Criança da Organização das Nações

Unidas.

Em todos esses documentos, estão previstos os direitos ao respeito e à

dignidade, sendo a educação entendida como um meio de prover o pleno

desenvolvimento da pessoa e seu preparo para o exercício da cidadania.

Por iniciativa do governo federal, atrás da secretaria dos direitos

humanos, foi elaborado um requerimento para acrescentar os casos de

bullying ao DISQUE 100, criado para denunciar crimes contra a criança e o

adolescente.

No Brasil, caso seja praticado por maiores de idade e configure crime,

cabe ação penal privada e ação penal pública. Entretanto, se as condutas

forem praticadas por menores de 18 anos, caberá ao Ministério Público pleitear

ao juiz competente a apuração do ato infracional. Este, por sua vez, poderá

aplicar as medidas socioeducativas previstas no Estatuto da Criança e do

Adolescente (ECA).

38

13. RELATO DE UM CASO ONDE HOUVE INDENIZAÇÃO PELA PRÁTICA

DO BULLYING

A justiça condenou um aluno praticante de bullying a pagar uma

indenização de R$ 8 000,00 (oito mil reais) pela prática de tal conduta no

ambiente escolar contra outro estudante, a vítima é uma menina de 15 anos,

colega de sala do estudante agressor. Conforme a sentença, o adolescente

xingou e ofendeu sua colega, chamando-a de “g.e”, que significaria “grupo das

excluídas”, pelo fato de se relacionar com outras colegas que eram

classificadas pelo estudante como “lésbicas”, a mesma ainda foi classificada

ainda de “interesseira” e “prostituta” por ter começado a namorar um colega

mais rico no colégio. Os apelidos e insinuações não cessaram, mesmo após os

pais da aluna se queixarem à escola. A escola foi condenada a pagar 70% dos

honorários advocatícios da autora e parte das custas processuais. A própria

autora pagará 20% de custas. A estudante requereu ainda uma orientação

pedagógica ao adolescente, pedido não atendido, pois o magistrado entendeu

que não se deveria impor ao colégio tal orientação pedagógica. Para ele, o

exercício do poder familiar, do qual decorre a obrigação de educar, segundo o

artigo 1634, I, do Código Civil, é atribuição dos pais ou tutores.

Esse caso, demonstra que é plenamente cabível a responsabilização

civil nos casos de bullying, ensina que em princípio, toda atividade que acarreta

um prejuízo gera responsabilidade ou dever de indenizar, sob essa visão, toda

atividade humana pode acarretar o dever de indenizar. Assim, o estudo da

responsabilidade civil abrange todo o conjunto de princípios e normas que

regem a obrigação de indenizar.

No caso de agressores civilmente incapazes (menores de 16 anos),

quem deverá responder pelo ato serão os pais, na qualidade de responsáveis

pelos filhos menores (Art. 832, I, Código Civil), ou seus avós, na qualidade de

tutores nomeados de seus netos menores (Art. 832, II, Código Civil).

A jurisprudência assim se manifesta:

“O fato de o agente do ato ilícito ser menor inimputável não retira seu caráter

de ilicitude. Na órbita civil, havendo culpa dos pais por omissão, estes

respondem solidariamente pela reparação do dano causado pelo filho em

39

detrimento de outrem. A solidariedade passiva na reparação do prejuízo tem

fundamento no próprio texto do artigo 1.521 do Código Civil”. (RT, 641/132).

Em casos de colégios particulares, a responsabilidade pela prática de

bullying também se enquadra no Código de Defesa do Consumidor, tendo em

vista que as prestam serviço aos consumidores e são responsáveis por atos de

bullying que ocorram nesse contexto, podendo-se dizer que nesses casos

houve um defeito na prestação do serviço.

É importante atentar para o fato de que o contrato de prestação de

serviço educacional é, em regra, por adesão, e não pode conter cláusulas que

impossibilitem, exonerem ou atenuem a obrigação de indenizar do fornecedor.

Em relação à responsabilidade civil do Estado, a mesma é aplicável no

caso de instituições públicas de ensino, neste caso, a responsabilidade é

objetiva e baseia-se na Teoria do Risco Administrativo.

A modalidade do Risco Administrativo pode ser conceituada como

aquela em que o Estado só responde por prejuízos que tiver ocasionado a

terceiros, podendo afastar-se a hipótese de que o dano foi ocasionado por

causas naturais, humanas ou culpa excessiva da vítima.

O constituinte de 1988 determinou através do art. 37, § 6º da

Constituição Federal, a fórmula que obriga as pessoas jurídicas de direito

público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos a responder

pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros,

assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou

culpa.

Desta feita, se de um comportamento estatal resultou prejuízo para o

administrado, recai-lhe o dever de reparação, devendo apenas ser ressaltado o

fato de que esta sua responsabilidade é governada por princípios próprios,

compatíveis com sua posição jurídica, diferenciando-se desta maneira da

responsabilidade privada.

A responsabilidade civil objetiva, baseada no risco administrativo, exige

conjuntamente: a atividade administrativa, a ocorrência do dano, a existência

de nexo causal entre aquela atividade e o dano e a ausência de culpa

excludente da vítima. Verificando-se estas quatro condições, ocorre a

obrigação do Estado em reparar a lesão que causou.

40

14. O PAPEL DOS PAIS E DA ESCOLA

A mais importante de todas as medidas que diminuem o sofrimento é

enfrentar o problema.

Em qualquer âmbito, familiar ou social (escola, clubes, associações, ou

afins), nunca banalizar o sofrimento da vítima, tampouco estimular ou valorizar

a ação o agressor.

14.1 CARACTERISTICAS DAS FAMILIAS DOS ALVOS

Nas famílias de alvos do sexo masculino, há mães controladoras e que

superprotegem os filhos enquanto os pais são ausentes e distantes.

A relação entre mãe e filho não permite que a criança se desenvolva

emocionalmente para lidar com conflitos, segundo Aramis Lopes Neto.

Já nas famílias de alvos do sexo feminino, de acordo com o mesmo

autor, as famílias são geralmente desestruturadas e falta-lhes comunicação.

Como essas crianças não conseguem estabelecer uma relação de

vinculo com a mãe, também encontram dificuldades em estabelecer relação

com outras crianças, tornando-se assim, fácil alvo do Bullying.

14.1 CARACTERÍSTICAS DAS FAMÍLIAS DOS AUTORES

As famílias não criam vínculos familiares fortes e centralizam o interesse

familiar na valorização do poder, do domínio e da humilhação, bem como

sofrem agressões físicas e verbais entre os pais e violência entre irmãos.

Em uma reunião com pais de uma escola, discutia-se a agressividade

de um menino com alguns de seus colegas de turma e as possíveis

soluções que poderiam ser adotadas para impedir que novas

agressões ocorressem. De repente, levanta-se no fundo da sala um

senhor identificando-se como pai do estudante em questão e, com

voz imponente e corpo rígido, afirma em alto e bom som:

- O meu filho é um líder nato, enquanto os de vocês não

passam de um bando de babacas; portanto, não é ele que deve

mudar de comportamento. (Aramis Lopes Neto, 2011, p.91

Depoimento do autor sobre um acontecimento real)

41

14.2 COMO A FAMILIA PODE CONTRIBUIR

Educação com afetividade. Diálogo, confiabilidade. A autoproteção em

demasia ou descaso, se constituem num grave problema que reforça os

males de ordem psíquica causadas pelo Bullying.

Nos primeiros sinais de sofrimento por Bullying, procurar o local de

origem , buscar uma solução pacífica e em seguida, encaminhar a vítima

para uma avaliação e/ou acompanhamento psicológico.

14.3 COMO A ESCOLA PODE CONTRIBUIR

Educadores: estar atento que o Bullying é um problema de saúde

pública

Evitar em sala de aula menosprezo, apelidos, ou rejeição de alunos por

qualquer que seja o motivo. Também pode-se promover debates sobre

as várias formas de violência, respeito mútuo e a afetividade tendo como

foco as relações humanas. Estar atento que, o que vale para os alunos,

vale para os professores, ou seja: evitar apelidos entre os educadores,

ou comentários maldosos de qualquer tipo.

42

15. FORMAS DE TRATAMENTO PARA VITIMAS DE BULLYING

Bullying é um conjunto de comportamentos que tem um efeito negativo

no bem estar de um individuo. É possível para o individuo encontrar maneiras

para lidar com esse mal estar, impedindo que ele afete sua qualidade e se

recuperando de danos causados.

Para entendermos como é possível que uma pessoa se recupere de

danos causados pelo bullying, é necessário entender a natureza desse dano, o

que ele afetou na pessoa, como afetou a pessoa e onde a pessoa foi atingida.

Também implica no conhecimento da pessoa em si, que foi vitimada.

Cada individuo tem seu espaço vital e sua própria metodologia, elaborada ou

não, para lidar com mudanças. Por isso dependendo da pessoa uma atitude

simples pode ser particularmente efetiva enquanto outra complexa poderia se

mostrar ineficaz.

Existe uma diversidade de estudos da psicologia que busca

compreender sofrimento psíquico, assim como busca formas de amenizá-lo ou

mesmo cessá-lo. Consequentemente existem também uma variedade de

terapias eficientes para que se diminua o sofrimento de uma pessoa, incluindo

o sofrimento causado pelo bullying.

Entretanto, diminuir o sofrimento de uma pessoa que sofre bullying não é

uma atuação limitada a especialistas. Diversos comportamentos, gestos e

atitudes podem ter o efeito oposto do bullying, possibilitando que qualquer

pessoa tenha a oportunidade de amenizar a angustia de outra pessoa e

mesmo melhorar sua qualidade de vida.

Na psicanálise clássica, a angústia é um sinal de que o ego pode falhar

na tarefa de adaptação à realidade e de manter a personalidade integrada.

Dificuldade de adaptação à realidade é um fenômeno comum quando diversos

fatores combinados que as pessoas tem de se adaptar, mas não são

ensinadas a fazê-lo, são presentes na vida cotidiana. Manter a personalidade

integrada também pode ser um desafio, numa metrópole onde as pessoas não

tem uma cultura bem estabelecida e famílias são cada vez mais

desestruturadas.

Em todas as idades as pessoas enfrentam diversas mudanças em seu

modo de viver a vida, pois aprendem a lidar com determinada situação em seu

43

lar, e enfrentam uma situação diferente em sua escola ou serviço. Porque são

tratados de certa forma enquanto estão com a companhia de determinado

grupo de pessoas e são tratados de formas diferentes quando estão com outro

grupo. Devido às diferenças entre cada ambiente, o individuo pode não ser

capaz de se adaptar a cada ambiente, se tornando uma potencial vitima de

bullying ou simplesmente tendo a tendência de sofrer.

É um caso comum, por exemplo, de pessoas que não são

suficientemente desafiadas e testadas em casa e não são ensinadas a

conhecer sua própria natureza e seus próprios limites; quando estão num

ambiente fora de casa, onde seus interesses podem entrar em conflito com o

de outras pessoas, elas serão testadas, será exigido delas que façam um

esforço para se impor que talvez elas não estejam preparadas no momento, ou

não saibam que poderiam fazer. Esse desconhecimento de como agir é a

dificuldade de adaptação à realidade, que gera a angústia.

É uma situação comum, numa escola onde uma criança maior ameaça

uma criança menor, num ambiente de trabalho onde um superior hierárquico

coloca seu subordinado numa situação desconfortável ou numa família onde

um dos membros constantemente coloca outros membros em situações de

exposição, humilhação ou perigo físico. Nestas mesmas situações, se a pessoa

sabe como reagir assertivamente, conhece métodos adequados para evitar a

situação ou evitar danos físicos ou mentais à saúde, dela mesma ou daquelas

a sua volta, a pessoa provou estar adaptada aos desafios que a realidade lhe

impôs.

Qualquer forma de ensinamento, educação ou acompanhamento que

torne a pessoa apta a lidar com as situações, seja por reagir a elas ou por

evitá-las, se prova um método eficiente de diminuir o sofrimento causado por

vitimas de bullying, tanto por evitar que ela seja submetida aos obstáculos

atuais, como também por possibilitar que a pessoa tenha uma perspectiva de

que é capaz de encontrar formar para lidar com novas situações.

Existem também pessoas que já tiveram sua saúde e bem estar mental

prejudicados devido ao bullying. Danos físicos podem ser adequadamente

tratados, e a pessoa reabilitada para suas necessidades cotidianas se

necessário, isso, pois, o corpo busca se recuperar sem que o raciocínio da

pessoa interfira; danos mentais, porém, exigem da pessoa uma atitude frente

44

sua situação, e ela pode nunca ser capaz de tomar essa atitude sem o

incentivo adequado de outras pessoas.

Uma pessoa procura ter sua personalidade definida, isso é ter uma ideia

determinada sobre que tipo de pessoa ela é, quais são seus limites, do que ela

é capaz e o que ela não faria; essa ideia que pode ser transformada e

adaptada, se estruturando de acordo com as experiências da pessoa.

Entretanto, a personalidade também é passiva de desestruturação, o que pode

ser potencialmente ameaçador para toda a vida do individuo.

O bullying é uma atitude cuja principal característica nociva é a

participação no desestruturamento da personalidade da vitima. Muitas vezes

essa mesma característica não é o objetivo do bullying e este inclusive não

nota o efeito causado. Um exemplo típico disso é uma pessoa que é assediada

moralmente até perder a autoconfiança, ou sofrer uma grande perda de

autoestima.

Não analisando a motivação daquele que pratica o bullying, uma pessoa

pode ser depreciada de diversas formas, até que seja encontrada uma forma

que a atinja em nível de ego, ou seja, de uma forma que mude a ideia que a

pessoa tem dela mesma. No cotidiano encontramos isso numa escola onde os

alunos ou o próprio professor acusa um dos estudantes de ser “burro”, “idiota”,

etc. Num ambiente de trabalho onde os trabalhadores taxam uns aos outros

como incompetentes ou numa família onde um membro diz que o outro “não é

homem”, “não é capaz”, “não passa de um fracasso”. Em quase todos os casos

as pessoas acusam limitações a outra pessoa e isso faz efeito quando a

própria pessoa começa a acreditar nessas limitações.

Mesmo nesses casos, existem métodos para aliviar o sofrimento de uma

vitima de bullying são disponíveis como tratamentos especializados, baseados

em fatos estudados e analisados, mas também existem métodos disponíveis

para qualquer pessoa disposta a tentar. Enquanto o bullying geralmente busca

fazer a pessoa se sentir mais limitada do que ela realmente seria, qualquer

atitude que faça a pessoa se sentir mais capaz, porém dentro dos próprios

limites, é uma influência positiva para a pessoa.

Mas o diferencial de ajudar uma pessoa que sofreu danos físicos e

ajudar aquela que sofreu danos mentais, é que o segundo tipo a pessoa não irá

se recuperar a menos que ela mesma decida fazê-lo. Isso, pois, o dano mental

45

faz com que ela perca algo da sua própria personalidade e independente de

toda a ajuda externa, ela só irá recuperar esse algo perdido quando trazer a

própria consciência o conteúdo necessário para sua melhora. Nesse caso, a

pessoa pode se recuperar em poucos instantes ou talvez o processo seja muito

lento e pode nunca se complete.

O senso comum que visa o bem estar já tem diversas indicações sobre

como se pode diminuir o sofrimento de uma vitima, não apenas de bullying,

mas de diversas fontes de angústia. São os conceitos de “mão amiga”,

“gentileza”, “apoio emocional”, e muitas outras atitudes, não apenas que

servem para prevenir a pessoa de uma situação desconfortável, mas também

que a levam a ter confiança nela mesma o suficiente para pensar por conta

própria sobre quem ela é, sobre o que é capaz e quais são seus verdadeiros

limites.

46

16. CONCLUSÃO

Nosso trabalho visou, integralmente, explicar sobre Bullying, sua

diferença conceitual com relação a violência entre as partes dentro do âmbito

escolar e a atuação do psicólogo frente tudo isso.

Quando se busca a palavra bullying nos sites de busca, Google, por

exemplo, encontra-se 212.000.000 (duzentos e doze milhões) de citações na

internet. Quando se busca por artigos acadêmicos que falam sobre o tema,

encontra-se 191.000 (cento e noventa e um mil) citações e quando se busca na

mídia de vídeos mais popular disponível na internet tem-se um resultado de

mais de 100.000 (cem mil) resultados por busca.

Esses números nos mostram o quão popular está o tema, nos mostra

também que isso além de incorrer em erros de conceito e enquadramento,

pode nos dar uma dimensão muito exacerbada a respeito do tema, não que

este não seja importante, mas pode nos mostrar que qualquer coisa virou

bullying. Além disso, nos mostra que a academia está sempre atrasada em

relação ao cotidiano. Temos muito mais citações massificadas, sem

embasamento teórico, sem uma pesquisa nos parâmetros devidos e sem sua

publicação em forma de artigos científicos, temos poucas citações de trabalhos

de estudiosos que se debruçaram sobre o tema e que tem muito a nos contar a

respeito.

Caímos aqui naquela antiga dúvida: “Quem nasceu primeiro, o ovo ou a

galinha?”. Não sabemos quem chegou primeiro, o blullyng ou sua propagação

desastrosa nas redes sociais, porém, não há como negar que, de uns tempos

para cá, sua divulgação se intensificou, até mesmo como modo de promover

programas de prevenção contra, acreditamos que essa propagação é uma via

de mão dupla. Quanto mais informação a respeito, mas se sabe como lidar

com isso em sala de aula, no entanto, mais se tem notícia de como praticar e

de forma mais cruel. Quanto mais ibope tem, mais continua acontecendo e isso

acaba caindo num círculo vicioso.

Como citado anteriormente, “todo bullyng é uma agressão, mas nem

toda agressão é bullyng”. É importante ressaltar isso, pois, a palavra bullyng foi

47

se popularizando, a prática também, mas como toda cultura veiculada

desenfreadamente, confundem-se os conceitos.

Explicando melhor: nem toda violência que acontece na escola é

bullyng, o que não desmerece o fato de que outros tipos de violência

acontecem frequentemente dentro da escola e devem ser investigados e

tratados e resolvidos da melhor maneira possível para os envolvidos e a

escola.

Na entrevista com a psicóloga ficou claro o que acabou de ser dito:

“virou modismo classificar tudo como bullyng”. Ela acredita que nem todo

conflito é bullyng e sim coisas normais da adolescência, conflitos normais que

sempre existiram, a diferença é que deram nomes a esses conflitos e eles

ganharam dimensões enormes, internacionais por vezes, fazendo talvez, com

que se propagassem de forma mais violenta e mais rápida.

Após todas as pesquisas, vídeos assistidos e reportagens lidas foram

possível identificar que as vítimas de bullying tem um perfil mais ou menos

delimitado e os agressores também. As vítimas são, em sua maioria submissa

à força, poder ou influência daquele que é seu Bully sofre caladas e em casos

mais raros, cascateiaM sua violência para outras crianças que acredita ter seu

mesmo perfil, logo, mais fraca que ela. O Bully (agressor) tem um perfil de

“valentão”, não atua sozinho, precisa de espectadores e tem, na maioria das

vezes, a violência como única via de externar suas vontades e opiniões

(inclusive, muitas vezes esses valores são aprendidos em casa). Existe

também o espectador, que é aquele que não faz nada em defesa da vítima

tampouco toma partido frente ao agressor, simplesmente assiste, com palavras

de incentivo para que a briga continue, ou filma para que assim, o agressor

tenha ainda mais “ibope”. Os espectadores muitas vezes, tem medo de sofrer

bullying então se colocam nessa posição para que não virem alvos.

Todo esse posicionamento da vítima, do agressor e do espectador nos

faz pensar um pouco sobre seus papeis dentro da dinâmica da escola e o que

isso pode influenciar. Faz-nos pensar também em como poderia ser a atuação

do psicólogo frente a esses três atores do bullying.

48

A violência está presente em todos os nichos da sociedade, desde os

econômicos, sociais e raciais, a violência não escolhe classe para se instalar.

Porém, infelizmente, o que mais se tem notícia, denúncias e estatísticas são

nas classes sociais mais baixas, por isso, muitas vezes, associa-se a violência

à pobreza.

Quanto à atuação do psicólogo escolar, infelizmente a psicologia não

tem lugar definido no âmbito das escolas públicas. Não existe a possibilidade

nem de se inscrever a uma vaga, pois ela não existe. Isso faz com que a

atuação do psicólogo seja em escolas particulares, que dão essa oportunidade,

mas que delimita o profissional, incorrendo no risco de que ele fique totalmente

alienado das práticas psicológicas, atuando somente a partir das visões e

valores da escola, o que pode fazê-lo se alienar sobre o que é violência,

bullying, como ocorre e o que fazer quando isso acontece. Uma psicóloga

escolar que acredita que não há violência dentro de uma escola com

adolescentes, ou está com seu conceito de violência deturpado, ou está

alienada, vivendo dentro de um “mundinho cor-de-rosa”.

A escola deve abrir espaço para discutir o tema com toda a comunidade

escolar – docentes, discentes, pais e demais profissionais. É importante que os

estudantes sejam orientados tanto para os benefícios como para os perigos da

internet, assim como a ter ética e responsabilidade ao usarem a comunicação

online. Essa responsabilidade escolar deve ser compartilhada com os pais e

familiares dos alunos por meio de palestras, indicação de livros e filmes,

divulgação de textos por e-mail, distribuição de cartilhas, desenvolvimento de

projetos artísticos que premiem o combate ao cyberbullying. Os alunos devem

ser também alertados que o conteúdo enviado é de única e exclusiva

responsabilidade civil e penal do emissor.

Faltam profissionais qualificados, preparo e amparo e esse é um dos

motivos que fazem com que os profissionais da escola fechem os olhos para o

que está acontecendo dentro dela. Sem amparo da coordenação, sem práticas

multiprofissionais fica difícil definir o que fazer quando a violência acontece

contra si ou em sua frente.

49

Para finalizar, fazemos do grupo a frase citada pela psicóloga escolar

entrevistada: “a transformação da sociedade só vai ocorrer pela educação, a

escola vai formar pessoas para aturar na sociedade”.

50

16. REFERÊNCIAS

Artigos:

SILVA, Dezir Garcia da. Violência e estigma: bullying na escola. 2006.

136 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais Aplicadas)–Universidade do

Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, 2006

SILVA, Dezir Garcia da. Violência e estigma: bullying na escola. 2006.

136 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais Aplicadas)–Universidade do

Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, 2006

TORO,Giovana Vidotto Toman;NEVES, Ana Maria Silva;

REZENDE,Paula Cristina Medeiros. Bullying, o exercício da violência no

contexto escolar: reflexões sobre um sintoma social – Universidade federal de

Uberlandia.

LISBOA,Carolina;BRAGA, Luiza de Lima; EBERT,Guilherme. O

fenômeno bullying ou vitimização entre pares da sociedade: definições, formas

de manifestação e possibilidades de intervenção-Universidade d Vale do Rio

dos Sinos,2009

Livros:

FREUD, Sigmund. Obras Psicológicas Completas de Sigmund

Freud. Rio de Janeiro:1980.

___1919. Uma criança é espancada: uma contribuição ao estudo da origem

das perversões sexuais. vol.XVII, p.217-224.

LACAN, J., O estádio do espelho como formador da função de eu. In:

Escritos. RJ: JZE, 1998;

LACAN, J. – Os três tempos do Édipo, in O Seminário, livro V – As

Formações do Inconsciente, Jorge Zahar, Riod e de Janeiro, 2001

LAPLANCHE, J.; PONTALIS, J. B. Vocabulário de Psicanálise. 10. ed.

São Paulo: Martins Fontes, 1988.

51

NETO, Aramis Antonio Lopes. Bullying: saber identificar e como

prevenir. São Paulo, Ed. Brasiliense, 2011.

ABRAMOVAY, Miriam; RUA, Maria das Graças - Violência nas

escolas. Ed.Unesco, doações institucionais.

ABRAMOVAY, Miriam ; et alli - Gangues , galeras, chegados e

rappers. RJ, Ed. Garamond , 1999.

COLOMBIER,Claire; MANGEL,Gilbert; PERDRIAULT,Marguerite. A

violência na escola. São Paulo, Ed.Summus,1989.

GUIMARÃES, Eloisa. Escola, Galeras e Narcotráfico. Ed. UFRJ.

SILVA,Aida Maria Monteiro. Educação E Violência: qual o papel da

escola? www.dhnet.org.br/inedex.htm, 2002

SILVA,Aida Maria Monteiro. A Violência Na Escola : A Percepção Dos

Alunos E Professores

Fante, C. (2005). Fenômeno Bullying: Como prevenir a violência nas

escolas e educar para a paz. São Paulo: Verus

Sites:

O Bullying é um fenômeno recente? Disponível em:

<http://revistaescola.abril.com.br/crianca-e-dolescente/comportamento/bullying-

escola-fenomeno-recente-610444.shtml> Acesso em: 23 abril 2012

Violência Escolar e Bullying. Disponível em:

<http://br.guiainfantil.com/violencia-escolar/51-violencia-escolar-ou-

bullying.html> Acesso em 23 abril 2012

A Violência Escolar. Disponível em:

<http://www.artigonal.com/educacao-artigos/violencia-escolar-729041.html>

Acesso em 22 abril 2012

Bullying: prevenção, punição e políticas públicas. Disponível em:

<http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php/function.session-

52

start?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=10937&revista_caderno=24>

acesso em 23 abril 2012

Solução para o Cyberbullying não é restrito à escola. Disponível em:

<http://www.conjur.com.br/2011-jun-08/solucao-cyberbullying-nao-

responsabilidade-escola-policia> Acesso em 18 maio 2012.

Bullying atinge ambiente corporativo. Disponível em:

<http://www.quantumassessment.com.br/sessao-voce/bullying-atinge-

ambiente-corporativo> Acesso em 18 maio 2012

Bullying no ambiente de trabalho. Disponível em:

<http://comoserumprofissionaldesucesso.blogspot.com.br/2010/02/bullying-no-

ambiente-de-trabalho.html> Acesso em 10 maio 2012

O Bullying no trabalho. Disponível em:

<http://www.ceviu.com.br/blog/info/dicas/o-bullying-no-trabalho> Acesso em 10

maio 2012.

Cyberbullying, um problema das redes sociais. Disponível em

<http://www.conjur.com.br/2011-jun-08/solucao-cyberbullying-nao-

responsabilidade-escola-policia> Acesso em 12 maio 2012

O que é Cyberbullying? Disponível em:

<http://www.cyberbullying.org/>. Acesso em 12 maio 2012

Cyberbullying, 1/3 das crianças e adolescentes já sofreram com o

problema. <www.safernet.org.br> Acesso em 12 maio 2012