ESTUDO DE VALORIZAÇÃO COMERCIAL DO AZEITE

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  • ESTUDO DE VALORIZAO COMERCIAL DO AZEITE

    DE TRS OS MONTES E ALTO DOURO

    Jornada do Azeite de Trs-os-Montes. Mirandela 16 de Maro de 2005

    Duarte Rodrigues Pires

    Maro de 2005

  • Introduo.....................................................................................................................................................1 1 Definio e Abrangncia ..........................................................................................................................5

    1.1 A Importncia do Azeite na Regio....................................................................................................7 1.2 Objectivos do Estudo..........................................................................................................................9

    2 A Qualidade.............................................................................................................................................11 2.1 Normas de Qualidade .......................................................................................................................12

    2.1.1 Qualidade Bromatolgica ..........................................................................................................13 2.1.2 Qualidade Organoleptica ...........................................................................................................13 2.1.3 Qualidade Comercial .................................................................................................................14

    2.2 Factores de Qualidade na Regio .....................................................................................................14 2.2.1 Factores de Bromatologia ..........................................................................................................14 2.2.2 Factores de Organolptica .........................................................................................................17 2.2.3 Factores de Valorizao Comercial da Produo Regional .......................................................18

    3 Comercializao e Valorizao ..............................................................................................................20 3.1 O Mercado Mundial .........................................................................................................................20 3.2 O Mercado Nacional........................................................................................................................24

    3.2.1 Evoluo at CE/15 ..................................................................................................................24 3.2.2 Evoluo Recente e Situao Actual .........................................................................................25

    4. A Olivicultura e os Olivicultores na Regio...........................................................................................28 4.1 Caractersticas Gerais das Exploraes ............................................................................................28

    4.1.1 Dimenses .................................................................................................................................28 4.1.2 Mecanizao..............................................................................................................................30

    4.2 Colheita da Azeitona ........................................................................................................................32 4.2.1 poca de Colheita......................................................................................................................32 4.2.2 Acondicionamento e Demora para Laborao da Azeitona.......................................................35

    5. Os Lagares e o Azeite na Regio............................................................................................................41 5.1 Participao dos Lagares na Comercializao..................................................................................41 5.2 Alguns Aspectos das Gerncias........................................................................................................42 5.3 Caractersticas Tcnicas dos Lagares ...............................................................................................44 5.4 Caractersticas do Azeite, Informadas pelos Inquiridos ...................................................................45

    6. A Qualidade de um Produto Alimentar ..................................................................................................46 6.1 Qualidade do Azeite na Comercializao.........................................................................................46 6.2 A valorizao Comercial de Azeite de Qualidade ............................................................................47

    7. Estratgia de Marketing e Vantagens Competitivas para Azeites da Regio ........................................48 8. Alternativas de Aco.............................................................................................................................50

    8.1 Expanso Individual das Marca j Existentes...................................................................................52 8.2 Associao de Empresas para Criar e Desenvolver Marca(s) em Conjunto.....................................52 8.3 Criao e Gesto de uma Marca Representativa ..............................................................................53

  • Introduo

    Desde as condies histricas, at dcada de setenta, que as trocas comerciais da regio com o exterior eram restringidas, ou dificultadas, por obstculos diversos. Desde a situao geogrfica distante de centros de deciso, com relevos e distncias custosos de ultrapassar, sem vias e meios de transportes e comunicaes suficientes e a custos comportveis.

    Mas nessa fase de economia regional mais fechada, a azeitona e o azeite na regio, como a nvel nacional, eram produtos de retorno interessante para olivicultores e lagareiros. Os resultados, com preos relativamente baixos, eram sustentados pelos baixos custos dos factores de produo. Na olivicultura e na transformao, a concorrncia era condicionada por preos estipulados em determinados nveis, traduzindo-se isto em que os vrios agentes - olivicultores, lagares e comerciantes permaneciam na actividade sem serem condicionados pela seleco dos mais competitivos.

    A olivicultura, com preos do azeite determinados a nveis incentivadores, tal como para trigo e outros, era alternativa com interesse mercantil, desde que se verificassem condies naturais, ainda que no limite, de clima, de fertilidade, de dimenso ou de relevo. Estas condies de marginalidade apareciam no entanto mais associadas a auto abastecimento, a carncia de fontes de renda com a mo de obra familiar sem alternativas de ocupao regular e remunerada a nveis interessantes, ou mo de obra assalariada em condies de pobreza com baixas exigncias de remunerao em salrios e em alimentao.

    O azeite era por outro lado o principal, quando no o nico, leo vegetal consumido por famlias no interior.

    Quando a produo regional era destinada a consumidores da regio, com intermedirios armazenistas e distribuidores, indo algum eventualmente para embaladores fora da regio, a capacidade de armazenamento estava pulverizada por lagares, por armazenistas distribuidores, por consumidores que compravam uma ou poucas vezes por ano e por retalhistas dispersos em bairros de cidades e aldeias,.

    No processo actual de compras para consumo de famlias e de restaurantes, sem acumulao de importncia alm de uma ou poucas semanas, fornecidas em predominncia por supermercados, as estruturas de armazenamento so componente importante para funcionamento do circuito e do fluxo comercial e representam um poder de negociao e de domnio para os respectivos agentes detentores.

    Se os olivicultores e os lagareiros, com interesses comuns para aco conjunta regional, pretendem assumir papel decisrio para valorizao do produto, tero que multiplicar aces conjuntas para ultrapassar dificuldades, na certeza de que a soluo de problemas o acumular de experincia por sucessos, e no s.

    Procurem ver o mundo como na verdade ele pode ser visto, como um lugar maravilhoso, que, semelhana de um jardim, podemos cultivar e tornar ainda melhor. Procurem ter a humildade de um jardineiro experiente, de um jardineiro que sabe que muitas das suas tentativas no iro ser bem sucedidas1

    Vem nesta linha referir que h meio sculo, quando a agricultura era a principal actividade econmica regional, a principal ocupao do homem transmontano, Trs-os-Montes era referido como um Reino Maravilhoso.2 Mas esta agricultura com frequncia desconsiderada e ignorada por tcnicos e por polticos.

    1 POPPER, Karl, O Futuro Est Aberto 2 MIGUEL TORGA, Portugal

    1

  • Por outro lado aparecem afirmaes e estudos de tcnicos qualificados, que conhecendo e estudando potencialidades e formas de utilizao dos recursos, expressam avaliaes bem favorveis.

    Em parte alguma do pas se concentram to prodigamente os factores de produo temperatura e gua. O autor desta afirmao refere ainda ... sem exagerado optimismo, que s o distrito de Bragana, poder submeter a cultura intensiva mais de cem mil hectares em condies francamente lucrativas [...] Se for adicionado a este nmero o acrscimo que lhe imprime a fase industrial, teremos melhor a noo do montante de riqueza que, s neste distrito, anualmente perdemos.3

    Um estudo posterior identifica um conjunto de reas com possibilidades de rega, no Nordeste de Portugal, em que tais reas localizadas no distrito de Bragana totalizam algo no inferior a sessenta mil hectares. 4

    Perante tal potencial de recursos naturais, face situao econmica e social, pertinente averiguar explicaes para a distncia entre as potencialidades naturais e as realizaes, e estudar processos complementares alternativos para reduo dessa distncia.

    A valorizao do azeite da regio, associando a expanso da quantidade ao apuramento da qualidade, constitui componente alternativa de peso no avano da economia regional.

    interessante referir que a olivicultura, como componente do sistema agrrio em Trs-os-Montes, tem histria prpria a ser considerada, que a diferenciam da olivicultura do Centro Sul. O Norte montanhoso e hostil ao domnio rabe, foi o reduto que pde conservar intacta a estrutura antiga, ligada sobrevivncia de uma base demogrfica de cultura europeia e latina. 5

    A hostilidade ao domnio rabe, com a acessibilidade e a movimentao menos fceis, esto associadas ao retardo na introduo da oliveira l para o sculo XVI (Virglio Taborda, pg 87), inicialmente associada cultura da vinha, que j existia desde o passado imemorial.

    Em Trs-os-Montes no h oliveiras herdadas de outros povos, que tenham testemunhado a implantao da nacionalidade portuguesa, como acontece com casos do Sul, em que aparecem oliveiras com dimetros que representam idades talvez alm de um milnio. O azeite chegando aqui, aparecia como alternativa carne de porco, como adubo (gordura ou leo) para a culinria, que na Terra Quente seria mais escassa.

    O excedente de produo de algumas casas ficaria inicialmente na vizinhana, em troca de bens ou servios, destinando-se depois a venda para outras localidades da regio.

    Quando o azeite dever ter atingido produo expressiva, a partir do sculo XVII, as produes alimentares mais importantes da agricultura da regio eram os cereais, a castanha e o mel. Entre as produes comerciais aparecia a seda, por toda a regio; o linho mais localizado em Moncorvo, Vila Flor e Freixo de Espada Cinta; as moagens em Bragana, Moncorvo e Carrazeda de Ansies.

    de admitir que nas terras ao alcance do rio Douro houvesse produo vendida para o exterior da regio h mais tempo. J nas terras mais distantes do rio Douro a venda para fora estar mais relacionada com a chegada do caminho de ferro; antes de

    3 LEITO, Jernimo Dias, Eng. Agrnomo, A Regio Nordeste, in NORDESTE, Janeiro 1969 4 GARCIA, Jos e GONALVES, Dionsio , Contributo para a Identificao de Zonas Possveis de Adaptao ao Regadio no Nordeste de Portugal, Instituto Politcnico de Vila Real, 1977 5 CALDAS, Eugnio Castro, Condies Sociais e Morais da Vida Rural, Revista Agronmica, Vol XL, 1957

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  • 1850 demorava uma semana para levar a correspondncia do Porto a Barca de Alva e vice-versa.

    Com a invaso francesa, em 1807, seguida da Revoluo de 1820 e das posteriores lutas constitucionais, a regio de Trs-os-Montes afundou-se na desordem social generalizada, perdendo tambm o lugar nas produes e indstrias de seda, linho e outras.

    O sculo XIX e o incio do sculo XX, em termos econmicos, podem considerar-se de decadncia.

    Esta decadncia pode considerar-se como o custo, embora dispensvel, da libertao da escravatura e da abertura a princpios j consolidados em outros pases e outras regies.

    Nas colnias, como na metrpole, a reforma catlica interessava-se sobretudo pela instruo das elites sociais, minimizando a instruo popular em que se empenhava, na Europa, a reforma protestante [ ... ]. de crer que, entretanto, as necessidades do comrcio, da burocracia e da navegao, determinassem maior procura da instruo elementar6.

    Nos sculos XVII e XVIII manifesta-se oposio a ela nos meios que encarecem o fomento mercantilista: receia-se que a instruo afaste a juventude letrada do trabalho. [...] verdade que a celebrada lei de 6 de Novembro de 1772 constitui uma das primeiras tentativas do mundo de organizao de um ensino primrio; mas se era entendido que este deveria abranger o Reino todo e seus domnios, no se entendia que devesse compreendes todas as crianas. Aos braos e mos do Corpo Poltico (trabalhadores rurais e fabris) bastariam as instrues do Proco (isto , o catecismo nico conhecimento de que carecem os filhos das classes servis para nelas permanecerem como se faz mister ordem social).

    A revoluo liberal (1820) trazia condies polticas favorveis ao desenvolvimento da instruo popular7

    Mas por razes econmicas, com a carncia das finanas pblicas, no foram abertas escolas estaduais; e as escolas particulares vieram a ser extintas com a reaco absolutista (1828-1834), que encerrou ainda algumas das poucas estaduais existentes.

    O triunfo do liberalismo, em 1834, veio possibilitar a retomada do processo do ensino primrio, sendo que no distrito de Bragana a grande maior parte das escolas foi criada no perodo de 1850 a 1870, embora, por no haver profissionais qualificados disponveis, no campo muitas s vieram a funcionar mais tarde e algumas precariamente durante vrios anos.

    Em Portugal o estado foi absorvendo praticamente todo sector do ensino, reforado com a expulso dos Jesutas no sculo XVIII, de qualquer forma o professor primrio da escola pblica, que atendia a classe de menores recursos e o meio rural, deveria ter mais de profissional humilde e piedoso 8 do que qualificao.

    Ainda hoje na regio, como no meio rural do pas, parte significativa dos agricultores responsveis pela deciso na explorao agrcola de indivduos educados em condies que so traduzidas em termos expressivos pela mesma autora:

    A faixa interior, sobretudo, permanecia uma civilizao oral, no muito diferente da Inglaterra pr-industrial, onde a maioria das pessoas se limitava a pensar e falar, cantar e folgar, cultivar a terra, cuidar dos animais e fabricar objectos, e unicamente

    6 Dicionrio Histrico Ensino Primrio e Analfabetismo 7 ALVES; Francisco Manuel, Memrias Arqueolgicas Histricas do Distrito de Bragana, Tomo II 8 MNICA ,Maria Filomena, Educao e Sociedade no Portugal de Salazar

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  • meia dzia de indivduos sabia tambm ler e escrever, registar e reproduzir, criticar e dizer aos outros onde estava o n do problema e que soluo adoptar.

    A regio, mais ou menos segregada das instncias de debate e dos centros de deciso, e com dificuldades nas trocas de bens e servios pelas barreiras do relevo acidentado a dificultar trocas com outras regies e pela Guarda Fiscal a controlar trocas com Espanha - no haveria de conhecer dinamismo para ultrapassar a prevalncia do conhecimento tradicional e emprico.

    A par daquela segregao e do fechamento econmico, com a produo mais voltada para o consumo regional, assente na meta individual mais comum de produo para autoconsumo e venda de excedentes dos vrios produtos, foi sustentada a pulverizao da propriedade. A diversidade da produo das exploraes, as condies naturais de solo deficientes em extensas reas, o clima e outras condies j prximas de marginais para boa parte das produes, e a rivalidade a superar a solidariedade nas relaes entre vizinhos e homlogos, no ajudavam um arranque e consolidao do desenvolvimento agrcola.

    O arcasmo que prevaleceu at dcada de 1960, nas tcnicas de produo, na organizao e na estrutura das unidades de produo, geral para todas as produes da regio, resultando nas baixas produtividades mdias dos factores utilizados, para azeitona, castanha, trigo, centeio, vinho, batata, bovinos, ovinos, sunos, etc..

    A heterogeneidade da produo de azeite, com o comprador a avaliar a qualidade por prova no acto da compra, tratando-se de produto de baixo volume de consumo anual que facilita a acumulao pelo consumidor, explicam a prevalncia do comrcio informal no passado, que ainda representa elevada percentagem da produo nacional, com o autoconsumo e as vendas directas porta dos lagares em cerca de 13 000 ton, na campanha de 2 000/2 001.9

    Quanto a qualidade, a regio, pela altitude e caractersticas climticas, tem condies naturais para produo de azeite com qualidade, como vem ocorrendo recentemente, embora em casos que podem ser ainda considerados escassos. Mas o mais comum era o desmazelo de colheita, transporte, at armazenagem, processamento no lagar e armazenagem do azeite. Hoje estes factores de desqualificao tendem a diminuir, com a modernizao de equipamento e instalaes e o rigor de normas e fiscalizao.

    A abertura concorrncia externa pode considerar-se brusca perante alternativas que se abriram para aquisio pelo comrcio e pelo consumidor, quanto a preo, qualidade, homogeneidade e regularidade de abastecimento.

    O processo de cultivo da oliveira, para azeite e para azeitona de mesa, com base no que era apresentado como alternativa na regio, nos anos 60 e 70, e que hoje est implementado em Espanha, apresenta duas variantes principais:

    - com irrigao, maior densidade de plantio, mais cuidados de poda e

    fertilizaes mais intensas; - em sequeiro, com menor densidade de plantio embora maior e mais regular

    que em olivais antigos, com cuidados e fertilizaes menos intensos. Qualquer das duas variantes requer operaes mecanizadas em maior ou menor

    grau que, por aperfeioamento de mquinas e encarecimento da mo de obra, tender a crescer progressivamente. Isto resulta na necessidade de viabilizar operaes mecanizadas, e outros investimentos, o que se traduz em que a olivicultura dever ser 9 ACACSA, Anlise do sector do azeite em Portugal na campanha, 2 000/2 001, 2 002

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  • feita com base em empresas com dimenso unitria crescente. Das vrias operaes condicionantes do xito empresarial, a colheita certamente aquela cuja coordenao permanente mais exigida para ser conseguida a melhor eficincia dos meios utilizados e a valorizao do produto final pela qualidade. Esta coordenao no ser no entanto limitativa da dimenso da empresa, desde que esta tenha o suporte de adequada organizao e gesto.

    1 Definio e Abrangncia O xito dos lagares e o xito dos olivicultores so condies conjuntas do xito a

    longo prazo para sector do azeite. O desempenho econmico dos lagares est associado a: quantidade e custo da

    azeitona recebida para processar, eficincia do processo de produo no rendimento e na qualidade obtidos, condies de escoamento do produto no mercado. O que significa que o xito dos lagares est relacionado com condies que no conjunto havero de ser favorveis, desde a localizao e caractersticas tcnicas do lagar. A qualidade, as caractersticas do azeite e o rendimento na produo esto relacionadas com as variedades da azeitona e o estado de maturao e conservao em que laborada.

    Para produtos finais similares, a capacidade de concorrncia passa pelo preo de compra da azeitona e pelo custo da azeitona de produo prpria, tais que permitam produzir um azeite que possa ser vendido em condies atractivas para os compradores, com resultados interessantes para a empresa que o lagar.

    Uma empresa destas investe, em mquinas e instalaes, quantias de certo vulto. Estes investimentos para serem rentabilizados exigem operar alm de uma ou duas dcadas.

    Enfrentando produes anuais oscilantes e vendendo a produo para mercados concorrenciais, os riscos de no realizar as previses so elevados, o mesmo dizer que o grau de certeza reduzido. Por isso o xito assenta numa srie de exerccios, em geral histricos e futuros, favorveis. Sendo que para os exerccios histricos trata-se de resultados efectivos, enquanto para os exerccios futuros trata-se de previses que devero ser estimadas com prudncia to elevada como elevado o risco de imprevistos.

    O xito dos olivicultores est associado por um lado realizao do valor da produo, com a venda da azeitona ou do azeite, e por outro lado ao custo dos factores de produo, prprios ou adquiridos.

    Quando os preos do azeite, das categorias mais produzidas, so condicionados por aco de concorrentes externos, nomeadamente de Espanha, pode considerar-se, em termos gerais, que a viabilidade dos lagares est condicionada por um lado pelo volume de azeitona produzida aos preos que o olivicultor recebe e, por outro lado, pelo azeite que vende.

    Havendo produo suficiente de azeitona, os lagares realizaro resultados, por mais valia da produo de azeite prprio e por receitas da prestao de servios maquia. Como empresas, os lagares ajustaro as mais valias e os preos dos servios em funo dos custos e dos objectivos de lucros. Sendo os preos a que vendem o azeite praticamente fixados por alternativas de importao dos grossistas, o ajuste dos resultados ser custa do preo da azeitona, e por isso suportado pelos olivicultores.

    Assim, a sustentao do sector em condies menos favorveis, fica a pesar mais sobre o olivicultor, sujeito a ver reduzido o preo da azeitona para nveis que

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  • proporcionem margens operacionais aos demais agentes que so os lagares e os comerciantes.

    Tratando-se de cultura que no Nordeste, como em outras regies, j se situa em baixa margem de rentabilidade, pende sobre o olivicultor o risco de operar com resultados mdios anuais pouco interessantes, mesmo at com frequentes resultados correntes desfavorveis.

    Pelas questes abrangidas, para se tratar com fundamento as perspectivas de valorizao comercial do azeite, a par do estudo do mercado e da comercializao do produto final, haver que conhecer e analisar as potencialidades e a fragilidade dos olivicultores e dos lagares.

    As mudanas no enquadramento do sector foram bruscas e complexas. A concorrncia era entre as regies, a nvel nacional, e entre as empresas da

    mesma regio a concorrncia intra - regional; esta concorrncia intra regional est relacionada com a capacidade de laborao de alguns municpios que bem diferente da produo mdia de azeitona.

    O rpido crescimento da produo mundial, em particular da espanhola pela expanso da rea de olival em cumulativo o crescimento da produtividade por intensificao e modernizao, resultou no impacto brusco da concorrncia internacional com significativas redues de preos, imprevistas para a produo nacional.

    As mudanas necessrias nas estruturas das empresas olivcolas dimenso, mquinas, administrao e recursos humanos pela amplitude e diversidade, sero difceis de enumerar integral e precisamente; as mudanas devero ser profundas, embora graduais e demoradas, sendo que o adiamento representa para os actuais detentores a ameaa de irem sendo excludos com o passar do tempo.

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  • 1.1 A Importncia do Azeite na Regio A produo de azeite na regio tradicionalmente considerada caracterstica da

    Terra Quente, tal como a castanha da Terra Fria. A diferenciao tradicional Terra Quente Terra Fria era mais utilizada no

    distrito de Bragana, tendo por referncia as temperaturas de Inverno mais amenas, com menos chuvas e a Primavera antecipada de um ms e mais na Terra Quente em relao Terra Fria.

    Pela diviso do territrio da Direco Regional de Agricultura de Trs-os-Montes e Alto Douro (DRATMAD), Zona Agrria da Terra Fria foram atribudos quatro concelhos: Vinhais, Bragana, Vimioso e Miranda do Douro. Resulta que, mesmo tendo sido especificada fronteira da Terra Fria, as caractersticas de Terra Quente avanam em penetrao por reas baixas, ou de exposio mais soalheira, para concelhos da Terra Fria; assim como as caractersticas de Terra Fria aparecem em outras zonas agrrias, nas reas mais elevadas e de topografia favorvel a temperaturas inferiores e mais chuvas.

    Isto est associado a que, apesar de o azeite ser um produto caracterstico tradicional da Terra Quente, a oliveira cultivada em todos os trinta e trs (33) concelhos da DRATMAD, para azeite ou para azeitona de conserva, gerando produto, desde o menor peso em Montalegre, at ao maior em Mirandela.

    A presena da oliveira e da produo de azeite em todos os concelhos, est tambm associada a que, historicamente, o azeite era um produto nobre e caro. E quem tinha terras em zonas menos favorveis, escolhendo parcela(s) de localizao mais abrigada para a oliveira, plantando variedades mais resistentes, e com outros cuidados, fazia todo o possvel para conseguir obter azeite de colheita prpria. Assim a oliveira ocupou reas j marginais, custa de paredes e outros cuidados que hoje representam custos incomportveis, resultando disto o actual abandono progressivo das reas que no proporcionam resultados interessantes.

    Ainda na primeira parte do sculo XX, na regio, o azeite era o nico leo alimentar assim como a carne de porco era a nica gordura animal. Pode referir-se a produo domstica de manteiga em poucas localidades, com tradio de ordenha de vacas, mesmo raa regional de trabalho. Outros leos vegetais que hoje aparecem com consumo nacional triplo do azeite no tinham significado na primeira parte do sculo passado, quando as margarinas no tinham divulgao.

    No total da DRATMAD, de facto os concelhos da Terra Quente do distrito de Bragana so aqueles em que, em maior extenso, o olival ocupa maior proporo da SAU.10

    de referir que a participao da produo de azeite do distrito de Bragana no total nacional, em vrios anos, de 1943 a 1989, se situou a nveis prximos do trigo e bem superiores aos do vinho. Tambm em 1979, a participao em cabeas de gado ovino era da mesma ordem; as cabeas de muar representavam 16,5% do nacional, que est em relao com a conhecida associao do mesmo Terra Quente, com maior explorao em trabalho e necessitando de menos cuidados com alimentao e repouso.

    10 MONTEIRO ,Antnio Manuel, A Oliveira, 1999

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  • Quadro 1.1 Participao do Distrito de Bragana nos Principais Produtos

    Agrcolas e Rebanhos do Continente (%)

    Produto Unidade 1943 1951 1960 1969 1979 1989 Ha 3,40 4,50 7,30 7,30 8,00 7,00Trigo Ton 4,70 6,10 7,90 10,40 7,90 5,60Ha 22,60 21,20 22,10 16,50 14,10 17,90Centeio Ton 27,90 22,20 20,20 20,90 15,60 21,30

    Vinho Hl 1,70 1,60 1,90 2,00 2,00 2,30Azeite Ton 5,00 4,70 9,00 9,20 7,30 11,70Muar Cabeas 16,50 Bovino Cabeas 3,00 Ovino Cabeas 7,50

    Fonte: INE; Estatsticas Agrcolas No passado o azeite aparecia como um dos produtos de uma agricultura

    diversificada, a produzir para consumo prprio, para abastecimento regional e a vender para fora o excedente. Os cereais que figuram no Quadro acima, trigo e centeio, eram incentivados por meios de persuaso, com sustentao de preos e subsdios de peso na receita do agricultor.

    Actualmente o azeite aparece no reduzido leque de alternativas com perspectiva de permanecer, mas com resultados sem folga muito larga, ou seja, como actividade de certo risco apesar dos subsdios em vigor.

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  • 1.2 Objectivos do Estudo Trata-se de um estudo que se prope formular alternativas de sobrevivncia e

    consolidao em resultados favorveis. No entanto para um ramo de actividade como este, deve partir-se sobretudo com atitude realista, disponvel para analisar concluses intermdias menos optimistas, ou menos favorveis, ciente de que a probabilidade de se concluir finalmente com alternativas favorveis, exige abertura para discusso ampla e para enfrentar condies difceis na execuo. So resultantes das actuais condies de produo e comrcio nacional e da concorrncia internacional.

    tambm isto que recomenda o senso comum dos vrios agentes envolvidos e com conhecimento mais abrangente, de agricultores, lagares, tcnicos, responsveis associativos, e o um levantamento geral da evoluo de custos dos factores de produo e dos preos dos produtos.

    Mas no deixa de prevalecer o realismo se for considerado que, face a uma mudana brusca na comercializao pela ampliao da concorrncia, para haver possibilidades de xito estas havero de estar associadas a profundas mudanas, que valer a pena identificar e perseguir.

    Mudanas nas estratgias colectiva e individual, em que olivicultores e lagares tero que assumir a solidariedade activa e repudiar a rivalidade, com propsito ou objectivo maior de valorizar o produto da regio em geral, o que dever assentar na valorizao do produto de cada uma das empresas que sejam funcionalmente viveis.

    A ampliao da produo regional pode ocorrer na evoluo futura do sector. Mas no parece que a competitividade pela reduo de custo e de preo ser em si um objectivo estratgico. As informaes correntes apontam mais para que a estratgia deve ser orientada para enquadrar a mxima produo em padres de DOP com qualidade e conseguir a valorizao comercial como tal.

    Mas isto est associado a uma complexidade de factores, com grande variao de cada um a nvel internacional, que interferem mais ou menos na comercializao da produo regional de qualidade, mesmo que destinada ao mercado interno. Como os agentes do sector na regio, nomeadamente agricultores e lagares, exceptuando casos que at podem ser exemplares, tm olhado para o futuro como restabelecimento do bom passado, vale a pena formular alternativas para as mudanas necessrias, para que quanto antes possa haver discusso e divulgao a nveis de olivicultores, de lagares, de comerciantes e de outras entidades.

    Como uma contribuio conjunta com a Caixa de Crdito Agrcola Mtuo da Regio de Bragana, tambm empenhada com o desenvolvimento do sector, este estudo visa proporcionar a lagares, a olivicultores e a outros interessados, formulaes de alternativas a implementar pelos mesmos, em vista da valorizao do produto final azeite. O escopo do estudo abrange o tratamento de questes desde potencialidades e restries naturais, at estratgia de marketing, passando por outras questes necessrias sustentao e forma das propostas formuladas.

    De acordo com estas consideraes enunciam-se a seguir os objectivos definidos para o estudo.

    9

  • Objectivos Gerais: Proporcionar, aos interessados regionais no sector do azeite, a anlise dos factores

    da produo, dos processos de evoluo, e a formulao de perspectivas, ou alternativas, de evoluo futura, voltadas para a valorizao comercial;

    Proporcionar aos empresrios, suporte de informaes e directrizes para que os

    mesmos possam conceber e implementar as prprias mudanas, com riscos diminudos. Objectivos Especficos: Analisar o segmento da olivicultura, para avaliao de potencialidades e

    estrangulamentos ao melhor desempenho; Analisar o segmento dos lagares, tratando o desempenho produtivo e a eficcia

    comercial para realizar a valorizao comercial por qualidade; Caracterizar estratgia de marketing para azeites DOP e IGP; Avaliar condies de competitividade de azeite da regio, com as resultantes para

    produo de azeitona e azeite; Caracterizar e elaborar alternativas de aco para incrementar a comercializao e

    a produo com DOP e IGP.

    10

  • 2 A Qualidade Qualidade, em geral, uma ou diversas propriedades que distinguem alguma

    coisa de outras. Tratando-se de produto, a qualidade associada a caractersticas, ou propriedades,

    do mesmo produto que diferenciam, por classes ou tipos, os produtos semelhantes, com vantagem associada qualidade melhor.

    Qualidade, em termos de marketing, a capacidade de um produto desempenhar as suas funes; inclui durabilidade, confiabilidade, preciso, ... e vrios outros atributos valiosos.11

    O azeite como produto, como um bem de consumo directo, tem e ter o xito comercial relacionado com as preferncias e decises dos compradores, que na maioria so os consumidores.

    Apesar de a maioria dos compradores do mercado portugus serem os consumidores directos, tem tambm importncia significativa o consumo nos restaurantes e a quantidade que utilizada como bem de produo em indstrias de conserva de peixe e outras alimentares.

    A grande maioria dos consumidores directos e dos compradores dos restaurantes, no associam a qualidade, ou apreciao, de um azeite s caractersticas bromatolgicas do mesmo expressas por dados de anlise qumica, excepto para o grau de acidez que j uma referncia generalizada.

    Sob o ponto de vista do marketing, em que este a actividade humana dirigida para a satisfao das necessidades e desejos ... humanos12, o produto deve ser considerado nas suas caractersticas prprias, poderamos mesmo dizer tcnicas, na medida em que estas devem corresponder s necessidades do utente.13

    A qualidade comercial de um produto o conjunto de caractersticas, ou atributos, que permitem distingui-los de outros semelhantes.

    A qualidade do azeite de determinado ano de determinado produtor, representado por um lote homogneo, inclui as caractersticas analisadas e outras informaes confiveis, como por exemplo quanto a variedades de azeitonas e misturas e quanto a opinio de provadores especializados.

    Os padres de referncia de qualidade podem ser de vrios tipos para o mesmo produto. No caso do azeite virgem, a qualidade pode ser referida apenas a um ou a vrios dos indicadores a seguir:

    - grau de acidez; - caractersticas bromatolgicas , expressas pela composio qumica, figurando

    a participao de diversidade mais ou menos ampla dos possveis componentes naturais e eventuais componentes estranhos;

    - caractersticas organolpticas, de avaliao expressa por classificao

    atribuda por jri de provadores;

    - caractersticas relacionadas com variedades de azeitonas, grau de maturao das azeitonas, tipos de solos dos olivais.

    11 Dicionrio de Marketing, Atlas 12 Kotler, Philip, Administrao de Marketing 13 Curso Superior de Gesto, vol 4, As Opes Fundamentais

    11

  • Pode considerar-se, para especificar o significado da qualidade, que as

    caractersticas bromatolgicas representam o valor alimentar, enquanto os quatro indicadores em conjunto representam a qualidade ou classificao global.

    Para azeites comercializados atravs de uma marca, ter interesse tambm referir outras caractersticas do produto final oferecido ao consumidor, relacionadas com o valor comercial, em que se podem considerar:

    - tipo de embalagem, mais ou menos adequada ao mercado em vista, como por

    exemplo, o vidro colorido para melhor conservao ou a lata para exportao;

    - regularidade e histria de presena num mercado;

    - informaes de composio, origem e outras, expressas na embalagem. Isto considerando que para um produto com dificuldade de escoamento da maior

    importncia que seja vendido, com a determinao, a iniciativa e o xito do vendedor, que tanto pode ser o produtor, neste caso o olivicultor ou o lagareiro, como pode ser um intermedirio que, agregando fornecimento de alguns ou muitos produtores, consiga atingir mercados de maior valorizao do produto. E o produtor, como maior e directo interessado em que o azeite que produz seja conhecido e reconhecido como bom produto e de preo razovel pelo consumidor ou outro comprador, deve ser solidrio na composio do valor comercial do produto, agregando qualidade outros factores de valorizao como a classificao em concursos.

    2.1 Normas de Qualidade Sendo o consumo de azeite mais generalizado em pases mediterrneos, que so

    produtores, mas tambm j com quantidades expressivas em pases de elevado poder de compra - com tendncia a crescer na continuao do crescimento acentuado verificado nas ltimas duas dcadas os padres ou normas de qualidade adoptados so definidos a nvel supranacional.

    de assinalar, no entanto, que as normas de qualidade adoptadas em Portugal consideram o azeite virgem extra especial, para acidez inferior a 0,7, quando a classe virgem extra do Conselho Internacional do Azeite (COI) engloba todos os de acidez abaixo de 1,0, sem subdiviso desta classe.

    A valorizao comercial, que o reconhecimento da vantagem de consumir mais de determinado azeite, por aumento do consumo de um que j ocorria ou por substituio de outro azeite, atribuio do consumidor; e tal reconhecimento dever traduzir-se em deciso que possa ser concretizada no mercado.

    A qualidade dever traduzir-se em preferncia manifestada pelo consumidor, na maior parte dos casos atendida indirectamente pelo produtor atravs de comerciante(s) intermedirio(s).

    O agricultor que produz o melhor azeite mas s embala em garrafo para venda directa ao consumidor (no embala e expede em embalagem preferida pelo consumidor comum que compra em lojas ou grandes superfcies) deparar-se- com um de dois resultados: ou produz e vende pequena quantidade e pelas variaes das produes anuais alternadas vai vendendo a produo no prprio ano ou no seguinte, ou ento

    12

  • produz grande quantidade mas dificilmente vende toda a produo a preo relacionado com a qualidade.

    Neste sentido, quando se trata a qualidade do produto, a par das caractersticas bromatolgicas e organolpticas intrnsecas do produto, devem ser consideradas tambm as caractersticas agregadas para compor as condies que motivam a preferncia pelo produto no mercado em vista e que, com base no valor alimentar e em classificao atribuda por jri reconhecido e complementando estas, pode designar-se de qualidade comercial.

    2.1.1 Qualidade Bromatolgica A qualidade bromatolgica ou alimentar do azeite, como de outros produtos,

    decorre dos nveis em que esto presentes os vrios componentes. As normas estabelecem, para cada tipo ou classe, determinados nveis, com

    exigncia de serem atingidos ou ultrapassados, para os componentes desejveis, e nveis mximos com limites a no serem atingidos ou ultrapassados, para os componentes indesejveis; para outros componentes, nomeadamente os cidos gordos mais comuns no azeite, so indicados intervalos de variao admitidos, comuns a todos as classes.

    2.1.2 Qualidade Organolptica Embora as caractersticas bromatolgicas permitam enquadrar um azeite virgem

    em determinado tipo, quanto composio, a classificao efectiva assenta na composio bromatolgica e na organoleptica desse azeite.

    A qualidade ou classificao organoleptica expressa por pontuao, com base em sistema que vem sendo aperfeioado e de aceitao generalizada, relativamente a caractersticas percebidas quanto a: aspecto, cor, cheiro, sabor e outras que, eventualmente percebidas, sejam consideradas de interesse para enquadramento, ou no, em um dos tipos ou classes.

    A pontuao de um azeite virgem, por um jri habilitado, em determinada classe, em conjunto com o enquadramento nas normas bromatolgicas respectivas, estabelece a classificao de um azeite virgem em um dos tipos:

    Tipos de Azeite Virgem

    Acidez Livre Mxima (%)

    Pontuao organoleptica

    Virgem extra

    1,0

    6,5

    Virgem

    2,0

    5,5

    Corrente

    3,3

    3,5

    Lampante

    >3,3

  • 2.1.3 Qualidade Comercial A qualidade comercial de um azeite virgem, como conjunto de caractersticas que

    permitem distingui-lo de outros, com vantagem associada s caractersticas melhores, aquela que mais directamente contribui para a realizao dos objectivos dos produtores, que este estudo se prope tratar; tais objectivos so: produzir com a melhor qualidade possvel e comercializar com a devida valorizao da elevada qualidade conseguida. A qualidade comercial embora tenha como componente a classificao obtida por anlise laboratorial ou atribuda por jri, ser de facto traduzida por preferncia de consumidores que com certa fidelidade optam por determinado produto ao longo do tempo.

    O produtor, conseguida a produo e classificao de um azeite, para conseguir realizar a preferncia sustentada de compradores suficientes, carece de agregar ao produto uma srie de caractersticas relacionadas com o(s) mercado(s) em vista, ou seja, relacionadas quer com os consumidores quer com os comerciantes intermedirios que havero de encaminhar o produto at ao consumidor.

    Como a qualidade comercial est em relao com a comercializao, ser tratada oportunamente, mas sublinhando sempre que a qualidade comercial suficiente para vender todo o azeite da regio a preos correspondentes classificao por laboratrios e jris, com certeza no ser conseguida individualmente por agricultores e dificilmente ser conseguida por alguns lagares em actuao isolada independente. Para conseguir eficcia, maior ou menor mas persistente, haver que assentar em formas de actuao agregada no marketing, quanto a Produto, Preo, Promoo e Distribuio.

    2.2 Factores de Qualidade na Regio As caractersticas bromatolgicas e organolpticas do azeite esto relacionadas

    com mltiplos factores de natureza diversa. So factores naturais, como as condies de clima e de solo em que produzida a

    azeitona e tambm a(s) variedade(s) de azeitona. So as condies em que a azeitona chega para ser laborada no lagar, resultado de

    outros factores como: o estado de maturao em que colhida; o processo de colheita ou apanha que pode traumatizar a azeitona provocando processo de decomposio; o grau de limpeza da azeitona, que, quando o solo adere azeitona e esta permanece com sujeira de terra ou outros detritos, entra em apodrecimento mais fcil e rpido; a durao do tempo de armazenagem e as condies desta.

    So as condies tecnolgicas do processo no lagar, como: o grau de triturao ou moenda, as temperaturas de batedura e extraco, e a forma de extraco separao. Ainda, na acumulao/armazenagem do azeite no lagar, as condies: de materiais dos depsitos, de temperaturas, de grau de contacto com o ar, de luz, e tambm de cuidados na extraco de borras por trasfega, ou por filtragem ou por depsito em fundo cnico.

    So, finalmente, as condies de conservao inerentes ao(s) tipo(o) de embalagem em que expedido para a distribuio comercial.

    2.2.1 Factores de Bromatologia Os factores naturais, nomeadamente o clima e o solo, esto relacionados com os

    teores dos vrios cidos gordos, na forma de glicridos, no fruto e no azeite.

    14

  • Os teores destes cidos gordos tm intervalos de variao, ou limites, estabelecidos pelo COI (G167), que para os cidos geralmente considerados so:

    dos insaturados: Oleico

    Linoleico Linolnico Palmitoleico

    55,0 83,0 % 3,5 21,0 % < 1,5 % 0,3 - 3,5 %

    dos saturados: Palmtico Esterico

    7,5 20,0 % 0,5 - 5,0 %

    Os cidos gordos insaturados so mais favorveis num regime alimentar,

    solidificam a temperaturas mais baixas, contribuindo para azeite mais fino, ou de maior fluidez.

    Maior teor de sal nos solos resulta em diminuio do teor de cido oleico 14, desfavorvel portanto. A no ocorrncia de solos salgados aqui favorvel em relao a outras regies, nomeadamente ao norte de frica e s regies baixas mediterrneas da Europa.

    Temperaturas baixas e atraso na colheita resultam em aumento da percentagem de insaturados, especialmente do cido linoleico, com reduo do cido palmtico que saturado. Na regio, com as temperaturas baixas de inverno e relativamente moderadas de vero, favorecida a maior percentagem de insaturados em cumulativo, pelo pargrafo anterior, com facilidade menor de decomposio da azeitona por atraso de colheita no mesmo tempo que numa regio com invernos menos frios.

    um facto constatado que nas terras altas se produzem azeites mais finos15. A liplise microbiana associada a colheita com frutos feridos que entram em

    apodrecimento, e a liplise enzimtica activada com a simples maturao, resultam na decomposio com: aumento de acidez, deteriorao do aroma, perdas de cidos insaturados e outras caractersticas alimentares. Tambm os malefcios das liplises so mais reduzidos pelas baixas temperaturas da regio na poca da colheita.

    de ressaltar que o factor favorvel que representam as baixas temperaturas da regio na poca de maturao e colheita, s ter valor se for aproveitado para, com os cuidados e prticas necessrios, beneficiar de facto a qualidade. Isto muito ao contrrio de que se permita, pelo descuido, desperdiar as condies vantajosas, como ser se colher a azeitona com descuido, ferida e suja de terra, acumul-la armazenada mais tempo que o necessrio e colh-la aps concluda a maturao.

    A variedade da azeitona factor importante para a composio do azeite, em cidos gordos e outros componentes menores, que determinam o valor alimentar e a facilidade de conservao ou resistncia deteriorao.

    Anlises relativas a Campo Maior, no Alentejo,16, para azeites de cinco variedades, apresentam, em teores mdios dos cidos gordos:

    - para o oleico, desde 66,7 % na Blanqueta at 81,7 na Picual; - para o linoleico, desde 2,9 % na Picual at 13,4 % na Blanqueta; - para o palmtico, desde 10,3 % na Picual at 14,6 % na Blanqueta.

    14 KIRITSAKIS, A K. El Aceite de Oliva 15 BARRANCO, Diogo, e outros, El Cultivo del Olivo, 1999 16 GOUVEIA, Jos Manuel N. B. , Azeites Virgens do Alentejo, ... 1995,

    15

  • Tambm dados relativos em Espanha, Bajo Aragon Turolense,17 em harmonia

    com os anteriores: - para o oleico, desde 66,7 % na Blanqueta, 79,3 % na Picual, at 80,5 % na

    Hojiblanca; - para o linoleico, desde 4,6 % na Picual, 15,6 % na Blanqueta, at 17,6 % na

    Negral; - para o palmtico, desde 8,8 % na Hojiblanca, 11,3 % na Picual, at 13,0 %

    na Blanqueta. A composio do azeite de cada uma das variedades da regio, complementando

    tambm a DOP, com caracterizao sistematizada quanto a cidos gordos, acidez, perxidos, K 230, K 232 e tocoferol poder ter importncia para orientar novas plantaes.

    Os factores operacionais, considerando as operaes desde a colheita at chegada do azeite ao mercado consumidor, tm a grande importncia de considerar que, com mais perfeio ou menos imperfeio, se realize o processo desde a colheita at transformao num produto final que se aproxime mais ou se aproxime menos, em qualidade, do melhor que a azeitona poderia proporcionar.

    O estado de maturao em que a azeitona colhida, decidido pelo agricultor em calendrio que pode variar de ano para ano, pelas condies meteorolgicas, tambm variveis, do ciclo anual.

    Em condies de inverno relativamente ameno, a azeitona mais susceptvel quer a alteraes por ps-maturao quer a decomposio por queda, transporte e armazenamento, pelo que a colheita melhor, uma vez que no existam azeitonas verdes, a tempor, com vantagens por rendimento, acidez, antioxidantes e organolptica.

    J em condies de frio marcante nos meses de Novembro a Fevereiro, como ocorre em reas de olivais mais elevadas de Trs os Montes e Alto Douro, certamente acontece algo de muito semelhante ao caso do Bajo Aragn Turolense(Velarde). Nesta regio espanhola, com mdias das temperaturas mdias mensais inferiores a 10C e mdias das mnimas inferiores a 3 e at a 0C, a qualidade traduzida por acidez inferior a 0,2%, elevado teor de cido oleico, cor amarelo brilhante e sabor doce, est associada precisamente colheita tardia, ou atrasada, mas com a cultura protegida de pragas e doenas, a colheita com cuidados que evitam ou minimizam azeitonas feridas e variedades resistentes queda.

    Perder no afrutado e por mais marcada alternncia na produo, mas ganha em caractersticas de cor, suavidade, maior teor relativo de insaturados (Kiritsakis), e outras que tm seus apreciadores em determinados mercados.

    Tambm o estado de maturao da azeitona em determinada data, pela velocidade de maturao no perodo antecedente e/ou pela durao do perodo decorrido desde o incio da maturao, est relacionado com a idade das rvores, em que as azeitonas de rvores mais jovens amadurecem antes, e com a variedade. Para programao de colheita til dispor de informao organizada das caractersticas de precocidade das variedades da regio.

    Portanto a vantagem de colher cedo, sobre o verde, ou de colher tarde e j bem madura, est associada a outros factores naturais e operacionais, alm de a opo estar relacionada com objectivos estabelecidos e perseguidos de forma concertada, quanto a tipos de consumidores e respectivas preferncias a atender.

    17 VELARDE, Manuel Garcia, Aceite de Oliva,

    16

  • Dos processos de transporte da azeitona e conservao da mesma, armazenada a aguardar ser laborada, haver menores malefcios pelo menor tempo de espera, que geralmente tambm representam temperaturas de conservao mais baixas. H que considerar que qualquer processo, ou tcnica, sempre prejudica algo, que pode ser mais ou ser menos, qualidade inata da respectiva azeitona a que se aplicar.

    O sistema de extraco tem consequncias nas caractersticas do azeite obtido. Por exemplo, com o sistema de centrifugao, ou combinado, comparado com o sistema de prensagem, resulta:

    - acidez mais baixa; - constituintes volteis de melhor conservao; - fenis, que do resistncia oxidao, de concentrao mais baixa, por serem

    perdidos por adio de gua no processo. O armazenamento do azeite e a movimentao a granel, embora em meio,

    condies e perodos de tempo que no tm nada a ver com a azeitona, so complementares em riscos de malefcios para o produto final.

    O rano, ou rancidez, com deteriorao de aroma e destruio de cidos importantes como o linoleico, desenvolve-se na fruta por decomposio e no azeite por oxidao.

    2.2.2 Factores de Organolptica As caractersticas bromatolgica, de um modo geral, so factores das

    caractersticas organolpticas, ou esto associadas s mesmas com grau de influncia mais ou menos elevado.

    Um azeite com elevado teor de cidos gordos insaturados menos viscoso, ou mais macio ou fino, a temperaturas ambientes relativamente baixas, em que os cidos gordos saturados j solidificam.

    O grau de acidez mais elevado, seja resultante de oxidao seja de liplise, representa reduo de cidos gordos mais nobres, de vitaminas lipossolveis e deteriorao do aroma.

    A fraco insaponificvel, que representa 0,5 a 1,5 % do peso, contm os principais componentes responsveis pelas caractersticas organonpticas de cor, cheiro, sabor. (Gouveia) Dentro desta fraco que se carece da identificao mais detalhada de, por exemplo, quais os compostos responsveis por um aroma valorizado.

    Tambm os factores naturais tm influncia. Solos drenados e calcreos proporcionam melhores sabor e aroma do que solos hmidos e argilosos. Climas secos e ensolarados proporcionam melhor sabor. Como tambm umas variedades proporcionam melhores caractersticas sensoriais do que outras, como j foi visto para a composio bromatolgica.

    O azeite, como outros leos alimentares com cido oleico, alm do rano, que percebido pelo sabor, est sujeito ao processo de reverso do sabor, que consiste no desenvolvimento de sabores desagradveis. Este processo distinto do enranamento, podendo aparecer com ndice de perxidos baixo, ao contrrio do rano. So factores da reverso: a temperatura, a luz, os metais e tambm o oxignio que tem que estar presente, junto com pelo menos um dos trs primeiros factores.

    Os cheiros e os sabores estranhos presentes nos recipientes, ou mesmo no ambiente em que permanece o azeite ou a azeitona, so absorvidos com facilidade e desqualificam o azeite. Isto acontece mais frequentemente como resultado da presena

    17

  • de folhas, de insectos (mais com colepteros e mosca de azeitona), de recipientes ou ferramentas de ferro e de fumos no lagar. (K. 152)

    2.2.3 Factores de Valorizao Comercial da Produo Regional Em mercado de baixa competitividade comum a ideia de que o bom produto

    sempre se vende bem. Mas um mercado destes, de baixa competitividade, no mais encontrado nos dias de hoje. Em Portugal poderiam considerar-se de baixa competitividade aqueles de regies mais de interior, com predominncia do rural e como tal com elevada proporo de auto - abastecimento, mas certamente no alm da dcada de 70. Com a reduo da populao rural e do sector econmico primrio, com os hbitos de compras correntes de produtos diversificados e identificados por marcas, com a abertura a produtos europeus em igualdade com os nacionais, a competio veio para ficar.

    Mas, se bem que a competio seja factor de negociao e acordo de preos e outras condies, entre produtor e comprador, como para outros produtos, a maior parte dos produtores de azeite tm dificuldades de enquadrar a produo em regime de competio mais amplo do que aquele apenas relacionado com preo e acidez.

    A competio de uma empresa no mercado, de um modo geral, s tem sentido quando a empresa apresenta um produto prprio, devidamente identificado com a respectiva marca e caracterizao.

    O azeite vendido avulso pelo lagar ou pelo olivicultor, sem qualquer participao destes na embalagem e distribuio, no constitui um produto em termos comerciais e desconhecido como tal pelo consumidor.

    Em regime de competio para um produto, como um determinado azeite, os atributos que mais pesam na opo do consumidor no so necessariamente a qualidade alimentar (bromatolgica e organoleptica) e o preo do mesmo. Pode ser o conhecimento por publicidade, por permanecer disponvel ou por marca histrica, pode ser o tipo de embalagem interessante para o(s) consumidor(es), como podem tambm ser outras razes ocasionais.

    O azeite transmontano, certamente est em desvantagem, perante os armazenistas embaladores nacionais, em relao a qualquer outro, por exemplo o alentejano ou o espanhol. O alentejano est mais prximo para compra at sem intermedirios locais, e o espanhol das regies de maiores produes est disponvel em lotes homogneos maiores.

    O azeite de um produtor vendido avulso, na prtica no ter valorizao comercial. Mesmo o prmio em concurso ter consequncias efmeras e pouco significativas nos preos de venda.

    Seria difcil quantificar, ou fazer estimativa da quantidade de azeite comercializada directamente do produtor ao consumidor, no distrito de Bragana, ou na regio da DRATMAD, por exemplo.

    A nvel nacional aparece como estimativa algo volta de 30 % do consumo a ser comercializado fora dos circuitos normais de distribuio18, atingindo aproximadamente 50 % da produo nacional.

    No Entanto, considerando que o consumo mdio anual per capita na regio seja 6kg, 20 % acima do nacional que era 5 kg, resultaria para o distrito de Bragana um

    18 FIALHO, Manuel M. R. A Produo e o Mercado Nacional, in Olival & Azeite, maro 2000

    18

  • consumo total de cerca de 1000 ton (cerca de 160 000 hab x 6kg/ano = 960 000 kg/ano); que corresponder a cerca de 1 150 000 l.

    Este hipottico consumo, considerando a produo do distrito em 1999/2000 que foi 9 520 120 kg, e em 2000/2001 que foi 4 433 514 kg19, representa portanto algo volta de 10 % e de 20 % das respectivas produes. O que significa que, a nvel de distrito, a comercializao directa do produtor ao consumidor praticamente no ter peso na valorizao comercial.

    A valorizao comercial do azeite, a nvel de produo regional ou a nvel de produo de uma empresa, dever passar por identificao do produto com marca e a possvel caracterizao. A nvel regional a DOP pode cumprir este papel, mas sempre em complemento da identificao do produto da empresa.

    O sucesso comercial algo diferente daquele sucesso que pode ser alcanado por artistas, pensadores, ou inventores, que vivem pobres e ignorados pelos contemporneos, mas tiveram xito reconhecido pela posteridade. O sucesso comercial reconhecimento actual e corrente do produto bem ou servio.

    Um produto, neste caso, um determinado tipo de azeite, numa determinada embalagem.

    Ter um produto prprio, para uma empresa produtora, significa ter: aquisio e stock de embalagens, stock de azeite, equipamento de embalagem,

    servios administrativos, de distribuio, de transportes, promoo, e outros eventuais. Isto representa custos e dimenso operacional que s so compatveis com dimenso econmica acima de determinado mnimo.

    19 ACACSA (Agncia de Controlo das Ajudas Comunitrias ao Sector do Azeite), Anlise do sector do azeite em Portugal na campanha ...

    19

  • 3 Comercializao e Valorizao A comercializao com frequncia entendida, no meio agrcola como no

    artesanato ou tradicional de outros sectores, como aquela fase, ou operao, que haver de ser tratada aps o processo produtivo, para conseguir vender a produo j obtida. Esta venda com frequncia aguardada passivamente, at manifestao dos compradores que devero aparecer, sejam os intermedirios sejam os consumidores. O interesse pelo conhecimento do destino do produto e do processo de comercializao que se segue, deixado incumbncia do comprador.

    Aquela atitude dos vendedores de azeite, de passividade, est a ser ultrapassada e a introduo do produto no mercado ocupao e preocupao de empresrios produtores.

    Algumas das empresas produtoras de azeite na regio j encaram e assumem a comercializao, com as vrias operaes, para colocar a produo disposio do consumidor, ultrapassando distncias e diferenas entre as caractersticas de produto e preferncias de consumidor, com a informao necessria aproximao dos dois. Esta comercializao aparece como principal meio de valorizao da produo. So casos bem notrios os de comercializao com marcas prprias, de azeites biolgico e virgens de qualidade, que j ocorrem na regio, mas com expresso ainda reduzida em relao ao total vendido em mdia.

    Como a comercializao est relacionada com o mercado, ou mercados, em que o produto comercializado, h que tratar e analisar os mercados considerados para o azeite portugus em geral, tanto mais que sendo a regio de TMAD excedentria, a produo daqui vai concorrer com ofertas internacionais. Isto ocorreria tambm mesmo que o consumo regional fosse igual ou maior que a prpria produo regional.

    Portugal, vindo de uma tradio de longa data em sustentao de preos e em garantia de compra, voltado para o consumo interno e o atendimento de mercados externos praticamente cativos, sofreu impactos importantes com as mudanas quer dos hbitos de consumo de outros leos vegetais bem mais baratos, quer das interferncias externas na comercializao do azeite de produo nacional. As mudanas das interferncias externas so basicamente representadas pela incluso na CE, com a concorrncia externa de azeite espanhol ou do norte de frica, e pela descolonizao perdendo a exclusividade daqueles mercados, que por si tambm perderam dimenso.

    As exportaes, para o Brasil, tinham pouco significado em relao com a produo ou com o consumo.

    A substituio, no consumo, por outros leos vegetais, e a abertura importao de azeite para o mercado interno, causaram o impacto mais expressivo no sector nacional do azeite, sem estrutura e organizao para participar, concorrer e conquistar em novos mercados.

    3.1 O Mercado Mundial O azeite ainda continua a ser um produto de consumo muito concentrado nos

    pases produtores do Sul da Europa, do Norte de frica e do Mdio Oriente, que compem a regio do mediterrnea.

    20

  • Fora desta regio, aparece a olivicultura nos EUA (Califrnia), na Argentina e na Austrlia, que tm tambm clima de caractersticas mediterrneas vero quente e seco e inverno suave com chuva. A olivicultura dos EUA e da Argentina mais antiga, com a dos EUA mais voltada para azeitona de conserva; na Austrlia de introduo mais recente. Efectivamente as produes de azeite destes pases no tm significado a nvel mundial, nem de prever que cheguem a ter em horizonte de tempo previsvel.

    Quanto s participaes mais significativas no mercado mundial, pelas quantidades de produo, importao, consumo e exportao, conforme os Quadros 3.1 a 3.4, destacam-se:

    pela produo:

    - CE/15, (maiores: Espanha, Itlia e Grcia) com 76% do total; - Norte de frica (Tunsia, Marrocos e Arglia) com 11,2%; - Mdio Oriente (Turquia e Sria) com 9,9%;

    pela importao: - EUA com 35,6% e - CE/15 com 26,2%;

    pelo consumo: - CE/15 com 70,3%, - EUA com 6,5% e - Sria, Turquia e Tunsia, com 9,5% em conjunto;

    pela exportao: - CE/15 com 54,3% e - Tunsia com 27,1%.

    J de acordo com estudo publicado em 1986 (OLIVAE; nmero 65) a regio

    mediterrnea concentrava 97% da produo e 91% do consumo a nvel mundial, ficando os pases do sul da Europa com cerca de . As projeces de curto, de mdio e de longo prazos, apontavam para possveis evolues acentuadas de alguns dos actuais pases participantes, tanto produtores como consumidores.

    A curto prazo, que era 2000, apontava para crescimento de produo dos pases de norte de frica e Mdio Oriente, em vista do consumo interno em Marrocos e da exportao de Tunsia e Sria. Isto aparece expressivo nos dados de 1997 - 2001, embora s por este perodo no seja clara uma tendncia durvel.

    A mdio prazo, para 2005 2015, continuava a apontar para o crescimento de Tunsia, Marrocos e Sria, a par da modernizao tecnolgica que possibilite qualidade para exportao.

    A longo prazo apontava a possibilidade de reestruturao do sector em Marrocos, at quadruplicar a produo de azeitona e multiplicar por seis a produo de azeite, que em 97/01 foi superior a 70 000 tons anuais, isto a par de acordos do GATT que tendem a levantar incentivos ou proteco exportao em pases da CE.

    No entanto, para o mdio e o longo prazos, outras mudanas podem atingir maior significado, como pode vir a acontecer com as resultantes de aceleraes diferentes para cada uma das tendncias actuais, como sejam os crescimentos de consumos de EUA, Japo, pases da CE no mediterrnea, ou os crescimentos de produes de Argentina, EUA, Austrlia e outros produtores actuais.

    O futuro do mercado do azeite parece que seria mais problemtico para crescimentos da produo mais acentuados que os crescimentos do consumo, ocasionando excedentes permanentes. Como as tcnicas de produo mais modernas, da olivicultura e dos lagares, sempre tero custos acima de determinados nveis, as descidas de preos tm limites relacionados com tais custos, pelo que a concorrncia e a

    21

  • expanso devero basear-se mais nos factores de qualidade de produto, de promoo e de distribuio, do que no preo. Em complemento disto, o azeite tem um peso pouco significativo no total das despesas alimentares dos consumidores, pelo que eventuais variaes de preo devero provocar variaes menos que proporcionais no consumo.

    Quadro N 3.1 Produo Mundial de Azeite (1000 ton)

    ANO (fecho de colheita) Produtor 1997 1998 1999 2000 2001

    Total %

    CE/15 1802,0 2217,0 1707,0 1875,5 1919,0 9523,5 76,0 Portugal * 45,1 41,8 35,1 51,1 24,7 197,9 Arglia 46,0 15,0 54,5 33,5 50,0 199,0 1,6 Argentina 11,5 8,0 11,0 11,0 3,0 44,5 0,4 EUA 1,0 1,0 1,0 1,0 0,5 4,5 0,0 Jordnia 15,0 14,0 21,5 6,5 27,0 84,0 0,7 Marrocos 80,0 70,0 65,0 40,0 35,0 290,0 2,3 Palestina 14,0 9,0 5,5 2,0 20,0 50,5 0,4 Sria 125,0 70,0 115,0 81,0 165,0 556,0 4,4 Tunsia 270,0 93,0 215,0 210,0 130,0 918,0 7,3 Turquia 200,0 40,0 170,0 70,0 200,0 680,0 5,4 Outros 37,5 29,0 35,0 41,0 41,0 183,5 1,9 TOTAL 2602,0 2566,0 2400,5 2374,5 2590,5 12582,5 100,0

    Fontes: - Revista OLIVAE, nmeros diversos - ACACSA, Anlise do Sector ..., 2002 Quadro N 3.2 Produo Mundial de Azeitona de Mesa (1000 ton)

    ANO (fecho de colheita) Produtor 1997 1998 1999 2000 2001

    Total %

    CE/15 361,5 486,0 500,0 620,5 544,0 2512,0 42,0 Arglia 12,0 11,0 30,0 34,5 26,0 113,5 1,9 Argentina 40,0 50,0 51,0 53,0 30,0 224,0 3,8 EUA 136,5 90,5 77,5 129,0 44,5 478,0 8,0 Jordnia 16,5 36,0 36,0 8,0 24,0 120,5 2,0 Marrocos 100,0 85,0 95,0 80,0 80,0 440,0 7,4 Palestina 10,0 4,5 5,0 2,0 8,0 29,5 0,5 Sria 90,0 6,0 85,0 93,0 142,0 416,0 7,0 Tunsia 15,0 13,0 14,0 13,5 10,0 65,5 1,1 Turquia 185,0 124,0 210,0 150,0 224,0 893,0 14,9 Outros 116,0 183,0 122,0 161,5 101,5 684,0 11,4 TOTAL 1082,5 1089,0 1225,5 1345,0 1234,0 5976,0 100,0

    Fontes: - Revista OLIVAE, nmeros diversos

    22

  • Quadro N 3.3 Consumo Mundial de Azeite (1000 ton)

    ANO 1997 1998 1999 2000 2001

    Total %

    CE/15 1469,5 1766,5 1706,0 1731,0 1776,5 8449,5 70,3 Arglia 50,0 31,5 44,0 42,0 45,0 212,5 1,8 Argentina 5,5 8,0 8,0 7,0 7,0 35,5 0,3 EUA 134,5 142,5 151,0 169,5 190,5 788,0 6,5 Jordnia 15,0 19,0 19,0 9,0 23,0 85,0 0,7 Marrocos 40,0 55,0 55,0 55,0 47,0 252,0 2,1 Palestina 11,0 6,0 4,0 4,0 8,0 33,0 0,3 Sria 85,0 95,0 88,0 90,0 110,0 468,0 3,9 Tunsia 70,0 52,0 49,0 60,0 60,0 291,0 2,4 Turquia 75,0 85,5 85,0 60,0 75,0 380,5 3,2 Outros 174,5 180,0 201,0 224,5 238,5 1018,5 8,5 TOTAL 2130,0 2441,0 2410,0 2452,0 2580,5 12013,5 100,0

    Fontes: - Revista OLIVAE, nmeros diversos Quadro N 3.4 Produo, Importao, Consumo e Exportao no Quinqunio 1997-2001 (% do total mundial)) Produo Importao Consumo Exportao

    CE/15 76,0 26,2 70,3 54,3Arglia 1,6 0,0 1,8 0,0Argentina 0,4 0,9 0,3 1,3EUA 0,0 35,6 6,5 1,3Jordnia 0,7 0,5 0,7 0,1Marrocos 2,3 0,4 2,1 2,5Palestina 0,4 0,0 0,3 0,5Sria 4,4 0,0 3,9 1,1Tunsia 7,3 0,0 2,4 27,1Turquia 5,4 0,2 3,2 11,3Outros 1,5 36,2 8,5 0,5

    Fontes: - Revista OLIVAE, nmeros diversos

    23

  • 3.2 O Mercado Nacional

    3.2.1 Evoluo at CE 15 Em Portugal, o azeite era um produto alimentar bsico, com boa parte do

    consumo que se verificava at dcada de 60, do sculo XX, devida ao preo vantajoso entre gorduras e leos comestveis. ... o azeite , como o po e ao contrrio do vinho, um produto base da nossa alimentao, a gordura por excelncia consumida pelos portugueses; o preo tem que ser vigiado e esta necessidade coaduna-se melhor com o regime de preos tabelados do que com a sua variao ao sabor da lei da oferta e da procura, como sucede com o vinho. (JNA, 1955).

    As qualidades e vantagens para a dieta alimentar s recentemente aparecem no apelo ao consumo do azeite.

    As oscilaes anuais, em quantidade e qualidade de produo, entre safra e contra - safra, com as variaes de preos ao produtor, ao consumidor e entre intermedirios, constituam j vulnerabilidade da economia do azeite, que eram objecto de estudos e medidas governamentais para alcanar a estabilidade.

    de salientar que os transportes representavam, ento, condicionante de maior peso na circulao de mercadorias entre regies do que neste inicio de sculo XXI. Afirmando-se que A concentrao na zona de Santarm e no Alentejo e a insuficincia de produo no Norte do pas agrava as condies da distribuio e da oferta20.

    A nvel nacional as produes de trigo e de arroz eram iguais ou inferiores ao consumo, enquanto que para o azeite ... h sempre excedentes que transitam das campanhas de safra para as de contra - safra ....(JNA)

    No entanto verifica-se que em perodos anteriores, de 1921 a 1937, as importaes foram maiores que as exportaes.21

    A estrutura fundiria em que se expandia a olivicultura era aquela mesma que sustentava a maior parte da populao, residente e ocupada no meio rural, procedendo a divises sucessivas de heranas, resultando que A olivicultura nacional, na sua maioria, constituda por pequenos e mdios produtores, cuja situao econmica quase sempre difcil e que no podem esperar pela venda tardia. (JNA)

    A pulverizao da produo a nvel local, com processos de colheita, entulhamento e laborao que em geral comprometiam a qualidade, resultavam em produtos variados, incaractersticos, com propores elevadas de m e muito m qualidade corrente e lampante. A presena de lotes de qualidade inferior so em geral aproveitados pelos intermedirios para nivelar por baixo na negociao dos preos.

    A baixa qualidade frequente, a informao de preos e produes nas vrias regies mais disponvel para os intermedirios, e o transporte entre regies com dificuldades e custos expressivos, facilitavam e especulao pelos comerciantes. As tendncias dos preos por colheita e a retalho mostrando-se divergentes reflectem as circunstncias em que a produo se encontra, na dependncia das flutuaes dum mercado instvel e irregular que, rapidamente, passa da saturao insuficincia e vice-versa: uma simples gota a mais ou a menos satura ou cria a sensao de escassez. (Mendona)

    Os anos de 1944, 45 e 46, representam um perodo de baixa produo(JNA) apesar do crescimento que vinha ocorrendo anteriormente. As baixas produes, as 20 MENDONA, Camilo. A. A. G Lemos de, Relatrio de Tirocnio, 1948 21 MENDONA, Camilo, Do Intervencionismo, Relatrio Final do Curso de Engenheiro Agrnomo, 1949

    24

  • dificuldades da guerra e a impotncia duma orgnica defeituosa, reduziram as exportaes, mesmo para o Brasil, no perodo 1943-47. (Mendona)

    O incio da dcada de 1960 representa uma inverso na tendncia da produo, que passou a diminuir, certamente associada ao excedente de 1954-55 (JNA) e descida dos preos deflacionados, tambm em relao com os preos dos leos, bem mais baratos e com vantagem para alguns usos culinrios, e com a exportao que no foi suficiente para escoar e manter a produo.

    O consumo per capita foi crescente de 1916/25, com 5,5 l, at 1954/55 com 10,2 l, descendo tambm a partir da dcada de 60, tal como a produo.(JNA)

    O circuito de comercializao e a estrutura de intermediao enquadravam as condies daquele tempo em que o azeite comercializado no mercado interno chegava ao consumidor a granel e a fraco para refinao por falta de qualidade, varivel de ano para ano, era bem maior que a actual. O consumidor ia com o prprio recipiente mercearia, comprar do lote que havia, sem alternativa de escolha na hora para o consumidor nem praticamente para o merceeiro. (JNA) Para chegar do produtor ao merceeiro transitava por um ou mais armazenistas. Estes armazenistas, por localizao, dimenso e funes, podiam ser de tipos diferentes: distribuidores, nas zonas de consumo; propriamente armazenistas, que abasteciam, na maior parte, aqueles, situados nas zonas de produo; e pequenos armazenista de abastecimento local, quer nos concelhos de produo, quer em quase todos, no ltimo perodo do ciclo de consumo. (Mendona) de referir que a Junta Nacional do Azeite tambm actuava como intermedirio armazenista. (JNA)

    Quanto refinao, apesar de fraco elevada com falta de qualidade, a nossa indstria de refinao encontrou na multiplicao de unidades, cuja capacidade de laborao (era) muito superior s necessidades do pas, um derivativo para a sua incapacidade tcnica: insuficincia de rendimento. (Mendona)

    3.2.2 Evoluo Recente e Situao Actual O binio 1954/55 foi o de mximo consumo anual per capita, com 10,2 l,

    produo anual de cerca de 85 000 tons, sem importao expressiva e exportao de cerca de 7 000 tons. (JNA, pg10) A partir da a produo e o consumo caram acentuadamente, pela expanso de oferta e consumo de outros leos de preos muito inferiores e mais adequados para alguns fins culinrios, quando a vantagem diettica do azeite ainda no era (to) ressaltada.

    Em 1985 o consumo anual per capita estava em 2,7 kg22 tendo ento retomado o crescimento para 4,8 kg em 1996, 6,9 kg em 99/2000 e cerca de 5,5 kg em 2000/01. Este ltimo valor resulta de um consumo nacional de 57 000 tons, com produo 27 750 tons, importao de 49 950 tons e exportao de 20 756, sem considerar stocks iniciais nem finais de embaladores. (ACACSA)

    O azeite transita pelo comrcio retalhista, seja por lojas tradicionais mercearias , seja por redes integradas supermercados. O que vendido em redes de supermercados embalado, na maior parte, pelas 4 ou 5 maiores empresas de embaladores do pas, do total de cerca de 40. Trata-se de marcas com publicidade a nvel nacional, com permanncia de marcas, de embalagens e de caractersticas de produtos desde h muitos anos, portanto com condies para manter a fidelidade de antigos consumidores, como

    22 ALVES, Rui Tamagnini Moz, O Sector do Azeite na Regio de Trs-os-Montes e Alto Douro, Trabalho de Fim de Curso, 2001

    25

  • para fidelizar outros novos. No entanto tambm vendido azeite de outras marcas de menor expresso.

    As lojas independentes, embora podendo abranger comercializao de diversos ramos de produtos, no segmento de alimentares e de consumo domstico em geral enquadram-se no tipo tradicional de mercearias. Estas lojas so abastecidas por fornecedores diversos, e, para o azeite, alm daquelas marcas de grandes empresas, tambm comercializam produto local.

    Das lojas tradicionais podem tambm considerar-se aquelas mais voltadas para clientes que procuram a qualidade e produtos selectos ou diferenciados.

    Qualquer destes tipos de mercearias, as comuns ou as selectas, tm uma clientela mais de determinada rea residencial e as vendas atravs das mesmas acarretam custos unitrios mais elevados, seja para os embaladores fornecerem directamente as lojas, seja para fornecer atravs de intermedirios armazenistas.

    A parte de azeite embalado tem vindo a aumentar, como os demais produtos de consumo corrente.

    Quadro 3.5 Evoluo do Consumo de Azeite Embalado

    Consumo Embalado

    Campanha Total

    (ton) ton % 95/96 96/97 97/98 98/99 99/00 00/01

    - - - - 70 000 57 000

    31 832 33 875 40 858 35 938 38 145 43 397

    - - - - 54,5 76,1

    Fonte: ACACSA As vendas de produtos embalados para redes de supermercados so negociadas

    com as respectivas centrais de compras. A intermediao de armazenistas distribuidores atende mais s mercearias tradicionais. As lojas selectas independentes, para produtos diferenciados e em quantidades geralmente reduzidas, so mais abastecidas por produtores embaladores no caso do azeite, com custos unitrios de distribuio mais elevados. Embora j ocorra organizao de lojas selectas em rede, as mesmas ainda no tero volumes de peso significativo no global.

    Na evoluo da participao dos embaladores maiores na comercializao do azeite, num horizonte previsvel, pode considerar-se que a tendncia de continuidade e at de expanso. Mesmo na hiptese, meramente terica, de futura organizao slida dos produtores de cada DOP, h que considerar o peso das importaes no abastecimento nacional e o peso da classe azeite, portanto mistura de virgem com refinado, nas exportaes para mercados tradicionais consumidores de azeite portugus. E os intermedirios concentradores de mbito local continuaro nas relaes com os grandes embaladores.

    H que considerar que em Portugal, como nos pases tradicionais produtores na regio do mediterrneo, o azeite ainda consumido como produto bsico cuja qualidade, por referncias ou padres tcnicos, tem significado ainda limitado para a maioria dos consumidores. Mesmo em muitos restaurantes dos melhores a prpria gerncia no atribui importncia qualidade do azeite que compra, o que vem dar importncia obrigatoriedade de utilizao de embalagem individual na restaurao.

    26

  • Haver que divulgar informaes, por exemplo atravs de escolas de hotelaria e atravs de publicidade de DOP, para elevar a valorizao da qualidade tanto no consumo de restaurao como no consumo domstico.

    Um produto diferenciado por caractersticas deve ter poucas marcas da mesma DOP, sob risco de diluio desta por disperso maior ou menor em marcas com diferenas nos produtos - azeite, embalagem - publicidade, agentes de distribuio e outras.

    27

  • 4. A Olivicultura e os Olivicultores na Regio Para que posteriormente possa analisar-se o segmento de lagares e a

    comercializao do azeite, o conhecimento do segmento da produo de azeitona , a olivicultura, um dos factores de fundamentao das perspectivas de produo do azeite. Por outro lado a olivicultura est em relao com os agricultores que desenvolvem a actividade os olivicultores.

    Foi feito o levantamento de uma srie de informaes atravs da aplicao de um Inqurito aos Olivicultores, com cpia em anexo. Foram inquiridos 202 olivicultores, assim distribudos pelos cinco principais concelhos produtores do distrito de Bragana:

    13 de Alfndega da F 29 de Macedo de Cavaleiros 69 de Mirandela 29 de Mogadouro 23 de Vila Flor, e por dois adjacentes, do distrito de Vila Real: 25 de Mura 14 de Valpaos. Estes ltimos dois concelhos, embora do distrito de Vila Real, so de importncia

    particular pela qualidade do azeite produzido actualmente, alm de apresentarem grande intercmbio de azeitona de concelhos de Bragana que vai para laborao em lagares destes concelhos e casos inversos.

    Os inquiridos so em geral agricultores proprietrios, em que 196 (97%) tm propriedade prpria, 3 inquiridos so arrendatrios e 3 de outras formas de explorao.

    4.1 Caractersticas Gerais das Exploraes

    4.1.1 Dimenses Os 202 inquritos totalizam 3 379 ha SAU (Superfcie Agrcola til), com 4 043

    parcelas. A rea de olival 1 886 ha e a de outras culturas1602, conforme o Quadro 4.1 seguir.

    28

  • Quadro 4.1 Parcelamento, SAU, rea de Olival e rea de Outras Culturas

    Concelho N inquritos

    Anlise dos Inquritos

    Parcelas (n)

    SAU (ha)

    Olival (ha)

    Outras Cul- turas (ha)

    A da F 13

    Mdia Mnimo Mximo Total

    24,02

    97312

    27,82,0

    84,2361,5

    16,10,1547,2

    209,4

    12,9 0,0

    50,0 168,1

    M Caval. 29

    Mdia Mnimo Mximo Total

    38,92

    1601128

    22,91,4

    185,0664,1

    14,21,0

    191,0412,7

    11,9 0,15 46,0

    344,7 Mirandela 69

    Mdia Mnimo Mximo Total

    18,51

    1501275

    16,01,2

    150,01106,5

    11,10,64

    150,0764,7

    4,9 0,0

    35,0 337,3

    Mogadouro 29

    Mdia Mnimo Mximo Total

    21,14

    50612

    17,94,0

    55,0520,5

    5,00,3

    16,0144,6

    13,0 1,2

    39,0 375,9

    Vila Flor 23

    Mdia Mnimo Mximo Total

    16,62

    105381

    14,33,0

    104,0328,2

    7,21,5

    66,0164,8

    7,1 0,95 38,0

    163,4 Valpaos 14

    Mdia Mnimo Mximo Total

    8,71

    21122

    6,81,9

    17,595,3

    2,81,58,0

    39,0

    4,0 0,0 9,5

    56,3 Mura 25

    Mdia Mnimo Mximo Total

    8,52

    25213

    12,11,3

    29,0303,0

    6,01,3

    21,0150,3

    6,3 0,0

    23,0 156,6

    TOTAL 202

    Mdia Mnimo Mximo Total

    20,01

    1604043

    16,71,2

    185,03379,15

    9,30,15

    191,01885,6

    7,9 0,0

    50,0 1602,3

    Fonte: Inquritos aos Olivicultores, 2001 Isto represente uma rea SAU mdia de 0,836 ha para cada parcela e uma rea de

    olival de 55,8% da SAU total. A nvel de concelho, as mdias de reas SAU, de nmeros de parcelas e de reas

    de olival, encontradas pelos respectivos inquritos, traduzem algumas diferenas na estrutura parcelar das exploraes e no peso da olivicultura na ocupao das reas.

    Aparecem as menores mdias de SAU e de rea de olival em Valpaos e as maiores em Alfndega de F.

    29

  • O nmero mdio de 20 parcelas por explorao, para uma rea agrcola til de 16,7 ha resulta na dimenso mdia das parcelas de 0,87 ha. O elevado grau em que a propriedade est parcelada sobejamente conhecido e tem sido tratado.

    Quais so as consequncias do parcelamento? Por exemplo o concelho de Valpaos que, de acordo com o Quadro 4.1 foi

    encontrado o maior parcelamento da SAU e a menor dimenso mdia da rea de olival, poder apresentar produtividade elevada, por ha ou por rvore, resultante de mais cuidados que o prprio dono pode prestar. Uma vantagem destas que no sustentvel a mdio ou longo prazo, de um modo geral, porque tais cuidados s so possveis para dimenso inferior quela que assegura um nvel de vida razovel, requerido por agricultor e famlia dependente.

    4.1.2 Mecanizao As operaes de maior importncia na olivicultura, pelos custos e pela influncia

    nas caractersticas do azeite, so a colheita e o transporte da azeitona. As mobilizaes e as podas tm a sua importncia mas no to determinante para o produto e o resultado final.

    No sistema comum, de baixa densidade de plantao e sem irrigao, as podas continuam a ser operaes manuais, feitas por operadores com certo grau de formao profissional. Podador sem formao representa risco de prejuzo para a conformao das rvores e a produo de azeitona.

    No sistema comum na regio, operaes j mecanizadas em boa parte so as mobilizaes do solo, na quase totalidade, a colheita e o transporte da azeitona. No entanto o grau de mecanizao expresso pelo nmero de tractores e mquinas existentes bem varivel entre os inquritos dos vrios concelhos, quer pela percentagem quer pela diversidade, como consta do Quadro 4.2 a seguir.

    Quadro 4.2 Quantidade de Olivicultores com Tractores e Mquinas de Colheita Concelhos Sem

    Mquinas Tractor Tractor e

    Vara Tractor e Vibrador

    Total

    A. da F 6 7 - - 13M Cavaleiros 14 12 2 1 29Mirandela 33 21 - 15 69Mogadouro 8 21 - - 29Vila Flor 10 11 1 1 23Valpaos 10 3 - 1 14Mura 5 20 - - 25TOTAL 86 95 3 18 202

    Fonte: Inqurito aos Olivicultores Quadro 4.2.1 Percentagem de Olivicultores com Tractores e Mquinas de Colheita Concelhos Sem

    Mquinas Tractor Tractor e

    Vara Tractor e Vibrador

    Total

    A. da F 46,2 53,8 - - 100,0M Cavaleiros 43,8 41,4 6,9 3,4 100,0Mirandela 47,8 30,4 - 21,7 100,0

    30

  • Mogadouro 27,6 72,4 - - 100,0Vila Flor 4305 47,8 4,3 4,3 100,0Valpaos 71,4 21,4 - 7,1 100,0Mura 20,0 80,0 - - 100,0TOTAL 42,6 47,0 1,5 8,9 100,0

    Os pequenos olivicultores, que executam as operaes com mo de obra prpria,

    no assalariada, ainda podero aproveitar a azeitona cada na terra, na operao de colheita ou antes, o que sempre resulta em mais perda de qualidade do azeite, consequncia de deteriorao certa daqueles frutos.

    Os olivicultores que, pela dimenso e/ou falta de trabalhadores familiares, tenham que contratar mo de obra assalariada, geralmente perdem por abandono a azeitona cada na terra, fazendo a colheita por algum(s) do(s) sistemas de varejo manual, vibrao mecnica ou varejo mecnico, com recolha em superfcie ou rede de plstico, para transporte a granel, em contentor rgido ou em saco.

    de assinalar que, de acordo com o Quadro 4.2, actualmente 57,4 % dos inquiridos tm tractor, quando, de acordo com o Quadro 4.3, em 1991 j 47,0 % tinham tractor, adquirindo tractor 10,1 % a partir de ento.

    Vara para tractor s 3 tm, dos quais 2 em Macedo e 1 em Vila Flor; vibrador tm 18, com 15 em Mirandela e 1 em cada um dos concelhos de Macedo, Vila Flor e Valpaos.

    Quadro 4.3 Perodos de Aquisio dos Primeiros Tractores pelos Respectivos

    Olivicultores Com Tractor Sem

    Tractor Depois 97 92-96 At 91 Total

    Concelhos N % N % N % N % N %

    A. da F 6 46.2 - - 1 7,7 6 46,2 13 100,0M Cavaleiros 14 48,3 2 6,9 3 10,3 10 34,5 29 100,0Mirandela 33 47,8 4 5,8 3 4,3 29 42,0 69 100,0Mogadouro 8 27,6 1 3,4 2 6,9 18 62,1 29 100,0Vila Flor 10 43,5 5 21,7 - - 8 34,8 23 100,0Valpaos 10 71,4 - - - - 4 28,6 14 100,0Mura 5 20,0 - - - - 20 80,0 25 100,0TOTAL 86 42,6 12 5,9 9 4,5 95 47,0 202 100,0

    Fonte: Inqurito aos Olivicultores O grau de mecanizao traduzido em ha / tractor, com um ndice global de 22,7

    para os 202 inquritos (3 379 ha SAU : 149 tractores) pode considerar-se normal para exploraes com actividades diversas e distribudas ao longo do ano, como so as dos inquiridos em que o olival e as outras culturas tm dimenses totais prximas.

    Quadro 4.4 Grau de Mecanizao

    Concelhos Olival (ha)

    Outras Cult (ha)

    SAU (ha)

    Tractores ha SAU/ Tractor

    A da F 209,4 168,1 361,5 9 40,2 M Cavaleiros 412,7 344,7 664,0 20 33,2 Mirandela 764,7 337,3 1 106,5 46 24,1

    Pelo Quadro 4.2 so 116 com tractor, mas alguns tm 2 e at 3 tractores

    31

  • Mogadouro 144,6 375,9 520,5 26 20,0 Vila Flor 164,8 163,4 328,2 17 19,3 Valpaos 39,0 56,3 95,3 5 19,1 Mura 150,3 156,6 303,0 26 11,7 TOTAL 1 885,5 31 602,3 3 379,0 149 22,7

    Fonte: Inqurito aos Olivicultores Mesmo para exploraes pequenas o tractor pode ser economicamente

    interessante, em funes mltiplas , para mobilizao de solo, transporte e outras distribudas ao longo do ano. J mquinas especficas, como as de colheita, requerem dimenso e especializao da explorao, para viabilidade econmica e/ou deciso do responsvel.

    De acordo com o Quadro 4.4 o ndice de ha por tractor apresenta o mximo para o concelho de Alfndega da F e o mnimo para os de Mura e Valpaos, de alguma forma relacionados com a dimenso mdia da propriedade.

    A operao de colheita feita na grande maioria, em 82,7 % dos inquiridos, com vara manual. A vara mecnica usada em 8,4 %, e o vibrador em 9 % dos casos com igual nmero para vibrador ao tronco e vibrador pernada, como aparece a seguir.

    Quadro 4.5 Sistema de Colheita da Campanha 2001 / 2002

    Mecanizada Vara Manual Vara Vibr. Pern Vibr.Tronco

    Total Concelhos

    N % N % N % N % N % A. da F 12 92,3 - - 1 7,7 - - 13 100,0M Cavaleiros 26 89,7 2 6,9 - - 1 3,4 29 100,0Mirandela 44 63,8 11 16,0 7 10,1 7 10,1 69 100,0Mogadouro 28 96,6 - - - - 1 3,4 29 100,0Vila Flor 21 91,3 1 4,3 1 4,3 - - 23 100,0Valpaos 12 85,7 2 14,3 - - - - 14 100,0Mura 24 96,0 1 4,0 - - - - 25 100,0TOTAL 167 82,6 17 8,4 9 4,5 9 4,5 202 100,0

    Fonte: Inqurito aos Olivicultores O incremento da mecanizao da colheita, no futuro, deveria permitir maior

    eficincia, pela reduo das perdas de azeitona cada, pela reduo dos custos da azeitona produzida e pela colheita no momento de melhor estado de maturidade. Esta mecanizao poder ser facilitada pelas Organizaes de Produtores reconhecidas, em que o distrito de Bragana, com 8 j existentes, o de maior nmero no pas que totalizava 27, em 2000 /2001 (Anlise ... ,Abril de 2002).

    4.2 Colheita da Azeitona

    4.2.1 poca de Colheita A colheita da azeitona concentrada geralmente em Dezembro e Janeiro, podendo

    alguma ser antecipada para Novembro ou adiada para Fevereiro.

    32

  • Isto estar relacionado com vrios factores, como a disponibilidade de tempo para trabalhadores prprios ou assalariados, as condies climatricas, a(s) variedade(s)e o estado de maturidade da azeitona que varia de ano para ano

    No Quadro 4.6 aparece bem destacado o ms de Dezembro em que 79,7 % dos inquiridos colheram a maior parte. H que esclarecer que qualquer inquirido colhe a maior parte em determinado ms mas pode colher uma parte menor em outros meses.

    A poca de colheita tem importncia para a composio do azeite, cor, e caractersticas organolpticas.

    Os lagares ou os servios oficiais, com equipamento de laboratrio adequado, devero dar informao aos agricultores do momento oportuno de colheita para cada regio e variedade.

    No entanto, uma colheita tempor ter sempre mais vantagens que uma colheita tardia, pois a rvore tem mais tempo para recuperar, ...

    Alm disso os azeites so mais frutados, mais verdes e de acidez mais baixa e os frutos cados, que proporcionam azeites de baixa qualidade, so em menor quantidade. (Gouveia)

    Quando a polpa adquire uma cor violcea, cor de vinho, que enruga ligeiramente e se destaca facilmente do caroo, pode dizer-se que o momento da colheita chegou.23

    Esta regio em causa, pelo clima, menos sujeita a pragas e doenas, da oliveira e da azeitona, pelo que ter condies naturais, se bem aproveitadas, pa