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Rev. Psicopedagogia 2007; 24(74): 182-201 182 FAM˝LIA E APRENDIZAGEM ESCOLAR RELATO DE EXPERI˚NCIA Nelson Elinton Fonseca Casarin; Maria Beatriz Jacques Ramos Nelson Elinton Fonseca Casarin - Mestre em Educaçªo; CiŒncias e MatemÆtica/PUCRS. Maria Beatriz Jacques Ramos - Doutora em Psicologia - Faculdade de Psicologia/PUCRS; Coordenadora do Curso de Graduaçªo em Psicopedagogia - FACED/ PUCRS. RESUMO Esse estudo teve como objetivo a compreensªo da organizaçªo familiar e as implicaçıes no processo de escolarizaçªo de crianças e adolescentes que apresentam dificuldades de aprendizagem. As informaçıes foram obtidas a partir de entrevistas com famílias selecionadas, em uma escola particular de Porto Alegre. Isto possibilitou a investigaçªo das relaçıes familiares que acarretam dificuldades evidentes na aprendizagem. Muitas pesquisas tŒm sido dedicadas ao entendimento das causas do fracasso escolar ao longo do tempo. Entre as causas apontadas, em geral, percebemos a influŒncia da origem social, da prÆtica pedagógica do professor sobre o padrªo de estímulo intelectual e afetivo das crianças. PorØm, a relaçªo existente entre a família e os processos de aprendizagem nªo aparece claramente nesses estudos. A aprendizagem estÆ ligada à açªo social. A orientaçªo educacional Ø vital para as pessoas, tanto nas instituiçıes de ensino quanto nas famílias. Pode-se pensar que, a aprendizagem e o desempenho escolar dependem, primeiramente, da inter-relaçªo familiar e, posteriormente, da relaçªo professor-aluno. Se antes as escolas e famílias tinham objetivos que aparentemente nªo se relacionavam, agora ambas passaram a ser vistas como participantes na educaçªo. Embora distintas, buscam atingir objetivos complementares. UNITERMOS: Relaçıes familiares. Aprendizagem. Transtornos de aprendizagem. CorrespondŒncia Nelson Elinton Fonseca Casarin Rua Alberto Silva, 238/317 Porto Alegre RS 91370-000 Tel.: (51) 8433-5311 E-mail: [email protected] Maria Beatriz Ramos Av. ProtÆsio Alves, 1981 - conjunto 309 Porto Alegre RS E-mail: [email protected]

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RELATO DE EXPERIÊNCIA

Nelson Elinton Fonseca Casarin; Maria Beatriz Jacques Ramos

Nelson Elinton Fonseca Casarin - Mestre em Educação;Ciências e Matemática/PUCRS.Maria Beatriz Jacques Ramos - Doutora em Psicologia- Faculdade de Psicologia/PUCRS; Coordenadora doCurso de Graduação em Psicopedagogia - FACED/PUCRS.

RESUMO � Esse estudo teve como objetivo a compreensão da organizaçãofamiliar e as implicações no processo de escolarização de crianças eadolescentes que apresentam dificuldades de aprendizagem. As informaçõesforam obtidas a partir de entrevistas com famílias selecionadas, em uma escolaparticular de Porto Alegre. Isto possibilitou a investigação das relaçõesfamiliares que acarretam dificuldades evidentes na aprendizagem. Muitaspesquisas têm sido dedicadas ao entendimento das causas do fracasso escolarao longo do tempo. Entre as causas apontadas, em geral, percebemos ainfluência da origem social, da prática pedagógica do professor sobre o padrãode estímulo intelectual e afetivo das crianças. Porém, a relação existenteentre a família e os processos de aprendizagem não aparece claramentenesses estudos. A aprendizagem está ligada à ação social. A orientaçãoeducacional é vital para as pessoas, tanto nas instituições de ensino quantonas famílias. Pode-se pensar que, a aprendizagem e o desempenho escolardependem, primeiramente, da inter-relação familiar e, posteriormente, darelação professor-aluno. Se antes as escolas e famílias tinham objetivos queaparentemente não se relacionavam, agora ambas passaram a ser vistas comoparticipantes na educação. Embora distintas, buscam atingir objetivoscomplementares.

UNITERMOS: Relações familiares. Aprendizagem. Transtornos deaprendizagem.

CorrespondênciaNelson Elinton Fonseca CasarinRua Alberto Silva, 238/317Porto Alegre � RS � 91370-000 � Tel.: (51) 8433-5311E-mail: [email protected] Beatriz RamosAv. Protásio Alves, 1981 - conjunto 309 � Porto Alegre � RSE-mail: [email protected]

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CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA

1. Família e Aprendizagem EscolarNa história do Brasil, a família passou por

períodos distintos, os quais se relacionavam como contexto sociocultural e econômico no país.

No Brasil-Colônia, marcado pela escravidãoe pela produção rural às exportações, o modeloera uma família extensa, patriarcal e os casa-mentos baseavam-se em interesses econômicos.A mulher era destinada aos afazeres domésticose à educação dos filhos.

Nas últimas três décadas1, a tradicional divisãode papéis entre o homem e a mulher teve grandesalterações. No que se refere a gênero, ambos jánão recebem uma educação formal diferenciada.As mulheres pleiteiam as mesmas faculdades eocupam espaços cada vez maiores no mercadode trabalho. Com isso, a clássica divisão de tare-fas pai/provedor, mãe/rainha do lar é quaseinexistente. Isso parece muito bom! A mulher fezum movimento que lhe garantiu uma posiçãodiferente no mundo. O problema parece surgirquando, por não enfrentar sua nova condição, amulher se cobra e faz coisas demais, como umaespécie de punição por ter abandonado os filhos,passando tanto tempo fora de casa.

Esse autor faz uma interpretação pessoal dopapel da mulher na sociedade, ele aponta umaimportante questão: Como a estrutura familiaratual interfere na educação dos filhos? Destequestionamento surgem outros: A aprendizagemescolar possui relação com a família? Como aescola pode auxiliar, no contexto familiar, aaprendizagem dos filhos?

Cabe lembrar que, apesar da modificação noatual perfil da família, essa não deixa de ser umimportante núcleo de crescimento e aprendizadopara os adultos, assim como para as crianças e osadolescentes.

Sobre a fundamental importância da família,�não há livros, não há métodos artificiais quepossam substituir a educação em família. Amelhor história ou o quadro mais emocionantevisto num livro são para a criança como a visãode um sonho sem vínculos, sem seguimento, sem

verdade interior. Pelo contrário, o que se passaem casa, sob os olhos da criança, liga-se, natu-ralmente, no seu espírito, a mil outras imagensprecedentes, pertencendo à mesma ordem deidéias e, portanto, têm para ela uma verdadeinterior�2.

Este autor atribui grande importância à famíliana educação da pessoa. Isso pode ser percebidonos estudantes que não enfrentam problemasfamiliares.

A partir das últimas décadas do século XIX3,identifica-se um novo modelo de família. Com ofim do trabalho escravo, com as novas práticassociais e com o início da modernização do país,criou-se um terreno fértil à proliferação do modelode família nuclear burguesa, originário da Euro-pa. Trata-se de uma família constituída por pai,mãe e poucos filhos. O homem continua detentorda autoridade, enquanto a mulher assume umanova posição: �dona de casa�. Desde cedo, amenina é educada para desempenhar seu papelde mãe e esposa, zelar pela educação dos filhose pelos cuidados com o lar.

Nos últimos vinte anos, várias mudanças noplano socioeconômico e cultural, relacionadas aoprocesso de globalização, vêm interferindo nadinâmica e estrutura familiar e, conseqüen-temente, estimulando alterações em seu padrãotradicional de organização. Embora, esse proces-so tenha começado com a Revolução Industrial,a interferência nas configurações familiares passapor grandes mudanças; depois da II Guerramundial, a mão de obra feminina aumentou emvirtude da ausência masculina no mercado detrabalho.

Outro aspecto a ser ressaltado, remete aosentido da escola no contexto da família ao longodo tempo. Pois, essa dará continuidade na educa-ção dos filhos, sem se tornar responsável por esseprocesso, já que a responsabilidade fundamentalé do núcleo familiar.

A família é indispensável4 à garantia dasobrevivência e da proteção integral dos filhos,independentemente da estrutura familiar, ou daforma como vêm se estruturando. É a família quepropicia a construção dos laços afetivos e a satis-

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fação das necessidades no desenvolvimento dapessoa. Ela desempenha um papel decisivo nasocialização e na educação. É na família que sãoabsorvidos os primeiros saberes, e onde seaprofundam os vínculos humanos.

A família não é somente o berço da cultura5 ea base da sociedade futura, mas é o centro davida social. A educação bem sucedida serve deapoio à criatividade e ao comportamento produ-tivo escolar. A família tem sido, e será, a matrizdo desenvolvimento da personalidade e docaráter das pessoas.

A família é responsável pelo processo deamadurecimento psíquico e proporciona umasustentação necessária à individuação.

Os pais são responsáveis pela sustentaçãoemocional dos filhos, para que estes encontremsucesso na aprendizagem escolar, orientando-ospara lidar com as frustrações em relação aosmodelos de aprendizagem formal.

Os problemas vividos nas relações familiaresvêm acentuando-se, gradativamente, ao longo dahistória. Porém, nos últimos anos, as mudançasforam significativas. A falta de tempo, os desen-contros e a solidão denotam as dificuldades dosadultos dentro de suas casas. Parece que a maio-ria dos seres humanos precisa de bolsos forradosde dinheiro, mas possivelmente sem saúde, eprincipalmente sem familiares à sua volta.Trabalhar é necessário, porém deve-se analisar ocontexto familiar no qual se vive e as necessidadesdesse.

É na família que as transformações individuaise coletivas são maturadas e podem se desenvolvernos padrões da sociedade em que se vive. Mas,isso demanda tempo de convívio.

A reorganização das pessoas em grupo é umprocesso constante, pois é através dela que acon-tece a evolução pessoal e a estrutura necessáriaà formação de novas bases e identificações.

A criança precisa de segurança, estabilidade,afetividade e compreensão para sentir-se ade-quada diante dos processos de aprendizagem.Um ambiente desfavorável incrementa a agressi-vidade, o sentimento de incapacidade e, conse-qüentemente, o comportamento anti � social.

A falta, ou escassez, de relações familiares ade-quadas, devido ao pouco tempo de convívio, oudesajustamentos pessoais, provoca a carência dasfunções materna e paterna, fragiliza os laçosamorosos.

Todo ser humano procura identificação e acei-tação em um grupo. Se sua família não estiverprovendo essa identificação e organização neces-sária, ele irá buscá-las fora do convívio parental.Logo, surge o transtorno de aprendizagem6, quepode levar o sujeito à marginalização, ao fracassoescolar, o que comumente percebemos.

É no sistema familiar que são expressas asinquietações, as conquistas, os medos e as metaspessoais. Para tanto, é necessário preservar aindividualidade dos seus membros e, ao mesmotempo, o sentimento coletivo. Isso representa umaforma de apoio mútuo em família.

�[...] embora não exista uma concordânciaquanto ao papel desempenhado pelos afetos noprocesso de conhecer, é consenso o fato de queos estados afetivos interferem no cognitivo.Também parece haver uma certa concordânciaquanto ao fato de que as funções afetivas e cog-nitivas são de natureza distinta, embora indisso-ciáveis, uma vez que não existe conduta afetivasem elementos cognitivos, nem tão pouco elemen-tos cognitivos desvinculados do afeto7�.

A individuação é um processo que passa peladiferenciação, por uma condição de auto-expres-são. Teoricamente, a criança ou adolescente sãomembros garantidos no grupo, visto que nasceme crescem nesse meio. Mas, não basta nascer ecrescer, essa criança ou adolescente necessita doapoio da família e de um lugar na relação parental.Nesse sentido, o sujeito vai constituindo sua matu-ridade e iniciando o processo de individuação.Poderíamos dizer que a família é uma célulareprodutora de outras, pois o indivíduo ao atingira maturidade e individuação irá formar outracélula, no caso, outra família.

O papel da família vai além de prover osmeios necessários à sobrevivência. Para o casalque decide ter filhos, a responsabilidade é ampla.A criança deve ter suas necessidades básicassatisfeitas, receber afeto, usufruir do aprendi-

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zado que permita tornar-se um ser capaz de viverem sociedade.

Se a família não oferecer a base necessária aodesenvolvimento da criança, ou do adolescente,este irá buscá-la em outros grupos. O perigo seinstala nesse momento, pois, se o sujeito nãoencontrar apoio e atenção nos membros do seugrupo mais próximo, certamente irá buscá-losfora. Assim, a fragilidade do adolescente afloraquando não vislumbra expectativas de cresci-mento e autonomia no futuro.

As palavras têm um significado, pois umacomunicação eficiente diminui a chance de desviosde compreensão. Portanto, é necessário o diálogona tarefa de educar. Poderíamos dizer que as rela-ções parentais, regidas pelo comprometimento ediálogo, são essenciais para uma situação confor-tável entre as pessoas na família.

Entende-se a família como sendo uma estru-tura protetora8, que desempenha a tarefa de orien-tar a criança ou adolescente, de forma a favorecero seu crescimento e aprendizado no contexto social.Com o passar do tempo, essa idéia sofre transfor-mações até o ponto de tornar-se uma função daescola. Por outro lado, a escola é colocada comoauxiliadora da família na construção de conhe-cimento e formação social.

Percebemos, hoje, que a família e a escola têmuma tarefa complicada devido às transformaçõesque a sociedade vem sofrendo ao longo dotempo. Como conseqüência, observamos pais eprofessores queixarem-se em relação tarefa deeducar.

�O alongamento da jornada de trabalho,devido tanto à necessidade de trabalhar mais paraaumentar o rendimento familiar quanto ao cresci-mento das cidades, diminuiu consideravelmenteo tempo que os pais dispunham para compartilharcom os filhos. Mas a criança carece de muito afetoe de uma troca com os adultos que vá além dasatisfação das suas necessidades fisiológicas. Adiminuição desse afeto, dessa troca, empobrececonsideravelmente a criança e limita suaspossibilidades de amadurecimento. Paradoxal-mente, para poder satisfazer as necessidadesfisiológicas e materiais dos filhos, os pais preci-

saram trabalhar cada vez mais, reduzindo, comisto, o tempo de contato direto com eles8.�

Ao analisar as relações cada vez mais distantesentre pais e filhos, vemos que os filhos procuram,de alguma forma, suprir a necessidade de afeto,assim como buscar meios para atrair a atençãodos pais. Na sociedade atual, a situação escolaré importante para os pais e perturba-os constatarque seus filhos não estão bem nas atividadesescolares, em muitos casos.

A dificuldade de aprendizagem de umacriança, ou um adolescente, pode não ser maisdo que uma forma encontrada de manifestar afalta, a precariedade dos vínculos familiares, nessesentido, educar não é uma tarefa tão simples,como pode parecer.

Educar vai muito além de prover os meios paraa criança vir ao mundo e ser mantida nele, é umprocesso e, dentro desse estamos inseridos,enquanto família e escola, pois as crianças apren-dem de acordo com o que vivenciam com seusmodelos de identificação. Assim, crianças eadolescentes, constantemente, observam, anali-sam atitudes, comportamentos sociais eprofissionais. Daí a importância da organizaçãofamiliar, porque, ninguém9, ao vir ao mundo, sabeo que é certo e o que é errado. O ser humano, aonascer, não tem uma personalidade definida. Sãoos pais que têm a tarefa de fundamentar e conso-lidar a personalidade da criança.

Entende-se como família um sistema emconstante transformação, evoluindo graças àcapacidade de buscar a estabilidade e, então,recuperando-a por meio de reorganizações desuas estruturas sob novas bases. Ou seja, a famíliaé um sistema que passa por transformaçõesconstantes.

Percebemos isso, na mudança de uma família,ao nascer uma criança. A criança10 que nasce vempreencher um lugar já preparado, mas quandonasce é uma realidade que desde o imaginário,a fantasia, desafia a realidade. Também édestacado que, quando o fracasso escolar seinstala, profissionais devem intervir na situaçãodo sujeito que �não aprende� e de sua família,ajudando com indicações adequadas.

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Precisamos ser sensíveis às particularidadesde cada família e de seus membros, tambémtemos alguns dados sobre o que é essencial parao bom desenvolvimento de cada pessoa quecompõe a família.

Fatores complexos contribuem para o ambientefamiliar atual, no qual, além da presença e daesperança11, problemas sociais, como a ansiedadee a incerteza, já fazem parte intrínseca do contextoda família, que encontra cada vez menos verdadesprontas e cada vez mais valores que, em grandemedida, têm de ser construídos em conjunto.

Na formação de uma família, espera-se queas pessoas tenham uma relativa independênciaemocional das famílias de origem. Isso é impor-tante, pois facilita o processo no qual o cônjuge,na formação do novo lar, torna-se uma pessoasignificativa no novo contexto. Porém, a maioriados jovens só começa a vida conjugal na depen-dência financeira dos pais, o que pode ser umproblema. A autonomia, um dos principais desa-fios dessa fase, acaba ficando de lado, logo, adependência econômica prejudica o processo deformação da nova família em termos de respon-sabilidade e autonomia.

Não é rara a formação de novas famílias apartir da gravidez não-planejada por ocasião donamoro, momento que seria para o conhecimentoe formação de elos. Porém, a presença do bebêpode causar instabilidade e insegurança no casalem formação. Toda família em formação requermuita maturidade e, conseqüente, despren-dimento em favor do grupo a ser formado.

Conciliar essas necessidades requer muitamaturidade12. Só se constrói harmonia conjugalcom renúncias pessoais, o que, em nossa socie-dade, praticamente não acontece, pois a culturado egoísmo e do individualismo não prepara ade-quadamente as pessoas para a vida em família,para o enfrentamento das diversidades e adver-sidades. Essa é uma das principais razões dodivórcio precoce.

Outro fator importante é a luta das mulheres.Apesar da revolução feminista, elas ainda ficamcom o fardo principal da educação dos filhos, nãoque isto seja responsabilidade apenas delas, sem

contar com as tarefas domésticas. Os homens, porsua vez, continuam, em grande parte, a assumira principal responsabilidade pelo aspecto econô-mico, o que faz com que para eles o desempregoseja moralmente catastrófico. Este, portanto, passaa ser um dos grandes abalos familiares.

O desequilíbrio familiar pode se dar porvários motivos com implicações na vida daspessoas. Assim, deve-se lembrar da importânciada estrutura emocional dos adultos no sistemafamiliar ao enfrentar abalos. Existe um impor-tante período inicial durante o qual o casal semfilhos passa por um processo intenso, mútuo,de adaptação emocional e, se esse processo nãoocorrer, o casal pode não apresentar maturidadepara lidar com eventuais dificuldades, o quepode gerar a ruptura da família. Isso resulta naformação de novas famílias11 e, cada vez mais,crianças estão vivendo nessas novas famílias,devido ao rompimento da sua família anterior.Ocorre que esses novos lares não estão prontospara terem filhos, porém já iniciam com eles,frutos de relações anteriores desfeitas. E,segundo o autor, essa é a principal razão de 60%dos segundos casamentos terminarem emdivórcio em menos de cinco anos.

Geralmente, os pais apresentam mudançassignificativas na adolescência dos filhos, o casalenfrenta algumas crises, que também podemabalar a aprendizagem escolar dos filhos, poistodos os indivíduos da família são afetados.

Outras razões como possíveis problemas desaúde dos avós também podem gerar essas crises.Para os pais, a crise é um momento de reflexão,em que avaliam os rumos que a vida lhes temreservado. Surgem questionamentos sobre ocasamento, a profissão e a própria felicidade,também aparece insegurança nas relaçõesafetivas. O problema é que, nesse momento, aspessoas que formam o casal ainda se sentemjovens para mudar, e, em casos específicos, nãolevam em consideração as pessoas envolvidas emsuas decisões, no caso, os filhos, ou mesmo o outrocônjuge. Nessa etapa, são comuns os divórciose, como conseqüência, as dificuldades escolaresdos filhos.

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Tudo isso é agravado pela mídia e pela intensapropaganda sobre a vida estar apenas começandona meia idade. O estímulo à individualidade, emdetrimento do outro, que freqüentemente émostrado pela mídia, enaltece a mudança de valo-res e estilo de vida. Porém, essa não coloca ossentimentos envolvidos e esses podem ser grave-mente abalados.

Adultos que tenham limites e saibam estabe-lecer limites são importantes no cuidado de outrasgerações. A maturidade é fundamental nessafase, para que o sujeito perceba que a felicidadenão está nas coisas descartáveis, mas naquelasque não podem ser substituídas, como a família.

Os filhos, ao passarem por isso, buscam adiferenciação - buscam um espaço pessoal, ouseja, a própria identidade. Cada pessoa cresceráe se definirá pelas trocas com outras pessoas,principalmente nas relações parentais.

A família deveria ser a célula da sociedade,mas está se esfacelando aos poucos, dando lugarao liberalismo descontrolado, à procura desegurança no trabalho, no dinheiro, resumindo,em coisas materiais. Estamos perdidos, inseridosem um meio que não percebe a família como abase ou a sustentação para a resolução dessasdificuldades de ordem individual e coletiva.

Vejo que a descrição é sucinta e parcial, masparece-me necessária como parte do contexto maisamplo da família nessa parte do trabalho.

Hoje, fala-se muito das relações interpessoais,porém, os conflitos envolvendo diferenças deopinião aumentam drasticamente. Portanto,precisamos de um olhar atento aos processos demudanças individuais dentro da família, pois issotrará a maturidade necessária ao convívio dogrupo.

2. As Transformações Familiares e asSeparações

A estrutura e o funcionamento familiar vêmse modificando ao longo do tempo. O contextosociocultural é um parâmetro indispensável àcompreensão do que se passa com a família dehoje. Fatores sociais como o desemprego, acorrupção e a violência atingem todos os setores

da sociedade, principalmente a família, quedesprotegida pelas Entidades Governamentais,encontra-se só para enfrentar essas desordens,em muitos casos, não está preparada paraenfrentar todos esses agravantes.

Considerando o contexto atual, deparamo-noscom os divórcios. Problemas conjugais sempreexistiram e vão continuar a existir, para que seresolvam, precisa-se trabalhar com o casal. Asociedade moderna educa as pessoas para exigiro �máximo� da vida1, não aceitando os limites deuma relação com o outro. No entanto, em umaseparação, os sentimentos de perda são muitograndes, principalmente quando há filhos. Ossentimentos fortes de fracasso, frustração, raivae desejos de vingança são comuns quando umcasamento é desfeito, na maioria dos casos isso étransmitido aos filhos, mesmo que esse não sejao desejo nessa fase de ruptura. Existem casos,ainda que em números menores, nos quais osfilhos são preservados.

As separações mais difíceis13, principalmentenos casamentos de pessoas muito dependentes,com história de perda familiar, despertam grandestemores na criança e sensações de insegurança edesamparo. É comum que nesse período o (a)filho (a) precise mostrar seu desagrado, mesmoque isto seja involuntário, expondo-o por meiode bloqueios e retrações escolares, o que abalaos pais. Um fator importante a destacar é oresultado nos estudos, pois os pais preocupam-se com a educação de seus filhos.

Esse mesmo autor diz que a maioria dascrianças apresenta alguns sintomas nos primeirosanos após o divórcio, principalmente na escola.

Um dos pontos importantes é que a criançanasce �dependente�, precisa de uma família oude um grupo que a acolha, na verdade, a �inde-pendência�11 é algo que nunca atingimostotalmente.

Vejamos o que este autor refere quanto àfamília e à escola:

�À medida que os filhos crescem, a famíliagradativamente abre-se para o mundo externo,representado principalmente pela escola. Oscuidados de filhos em idade escolar exigem da

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família grande coesão e organização. A escolafunciona como verdadeira vitrina da família,mostrando o que está indo bem e o que está indomal. Por isso, é natural que seja a escola quemtome freqüentemente iniciativa de encaminhar acriança para atendimento�11.

Assim, evita-se falar de �família normal�, poisconstatamos conflitos nas gerações, aquele queestá bem tende a um bom desempenho escolar econvive com a família em relativa harmonia.Porém, quem nessa fase apresenta dificuldadesde relacionamento familiar reflete e denunciaessa instabilidade no aprendizado, com base nahistória de problemas familiares.

O fracasso escolar e suas manifestações podemestar associados aos problemas que, involunta-riamente, impedem o aluno no processo de aqui-sição de conhecimento, levando-o a apresentardificuldades ou transtornos emocionais, proble-mas complexos que advêm de influênciasfamiliares13.

A criança, ou adolescente, com suas crenças eexpectativas, pode não compreender claramenteo que está acontecendo, sente-se culpado pelosproblemas familiares. Assim, esses sujeitosnegam-se o direito de saber14.

Destaco esta perspectiva ao tentar compreen-der a dificuldade de aprendizagem.

Os problemas familiares15 fornecem as condi-ções para que o aprendiz não adquira o conheci-mento que lhe é transmitido, por não obter �aautorização para conhecer e, portanto, para apren-der, deixando, desta forma de ser consideradoaprendiz�15.

Se a família e a escola formassem uma parce-ria, já nos primeiros anos escolares todos teriama lucrar. Afinal, a criança que estiver bem vaimelhorar e aquela que estiver com dificuldadesreceberá ajuda tanto da escola quanto dos paispara superá-las1.

3. O Ensino e a Aprendizagem EscolarAo analisar os processos de desenvolvimento

e de aprendizado, um educador16 propôs umcomplexo estudo sobre o tema. Um dos pontosde reflexão que esse autor destacou é que o bom

ensino leva ao bom desenvolvimento17. Creio queas reflexões desses autores abrem caminho paraesse estudo. Esse conceito de desenvolvimento eaprendizagem pode ser compreendido como adistância entre o que o aluno é capaz de apren-der16, em seu desenvolvimento normal, e aquiloque ele não consegue desenvolver sozinho, masconsegue realizar no contexto da interação como meio escolar e familiar, na mediação com o outro.

Acredita-se que a família e a instituiçãoescolar compartilham a mesma função educa-cional, embora uma não possa fazer o serviçoda outra. Nos tempos atuais, o desempenho dospais deixa muito a desejar, principalmente, nosmodelos de ensino e aprendizagem, pois istoexige prática, acompanhamento e sustentaçãoemocional, já que a criança ou adolescente nãoapresenta maturidade suficiente para enfrentarsuas dificuldades sem a presença e os limitescolocados pelo adulto.

Uma família disfuncional não responde àsexigências internas e externas de convivênciaentre seus membros, tem papéis pouco discri-minados e modelos de comportamentoinadequado.

A relação entre pais e filhos, que se mostrarígida, parece não permitir possibilidades dealternativa de crescimento e diferenciação. Comisso, ocorre um bloqueio no processo de comu-nicação.

A aprendizagem demanda pesquisa, mascomo pesquisar se não há apoio e, por falta desse,motivação. Logo, esse trabalho quer sensibilizara sociedade com relação à aprendizagem, escla-recendo e mostrando situações nas quais temostido altos índices de enfraquecimento no desem-penho escolar.

É possível planejar ou mesmo executar oprocesso de educação escolar independentementedas condições familiares?

Essa questão merece um tratamento cuidadoso,que leve em conta aspectos sociais e culturais. Aaprendizagem é um processo individual, mas sedá no contexto sociocultural no qual o indivíduoestá inserido, promovendo uma articulação entrea inteligência e as experiências afetivas.

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A escola pode contribuir para diferentestrajetórias de desenvolvimento18. No sentido,pelo acesso à educação básica, a criança podealcançar estágios cognitivos mais elevados. Essacondição lhe possibilita melhores oportunidadesprofissionais.

O ato de aprender não ocorre de forma soli-tária, é um processo vincular que exige interação.Vivemos em um modelo de sociedade no qual ossaberes são discutidos e, de certa forma, possi-bilitam a reconstrução de saberes anteriores. Essatroca de informações proporciona à pessoaconclusões sobre saberes em construção. Aaprendizagem19 se dá em um contexto social, noqual as possibilidades de troca de informaçõessão exercidas proporcionando o crescimento dogrupo.

Para que o sujeito participe, exponha seussaberes e incertezas, ele precisa pertencer a umgrupo e sentir-se aceito nele. Essa aceitação permi-tirá que assuma a autoria de idéias, forme convic-ções, estabeleça diálogos com o outro e comaprendizagem formal.

Cada um possui uma forma diferente deorganizar-se, seja social ou mentalmente. Cadasujeito, inserido em um meio, deve compreendero seu modo de organização, suas possibilidadese modalidades de aprendizagem. Todos podemdiscernir entre o que é certo ou errado e, frenteàs escolhas, tornarem-se responsáveis por seusatos. Porém, uma criança em fase de amadure-cimento psicossocial, relativamente dependentedos cuidados dos outros, não pode ser responsa-bilizada por seus fracassos. Isso deve ser repartidocom seu grupo familiar, com as pessoas que aorientam quanto às escolhas e às possíveisconseqüências de seus atos, que lhe transfiramresponsabilidades. Seu desempenho escolarmostra uma �co-responsabilidade� com os pais.

Já o adolescente precisa assumir responsabi-lidades sobre seus atos e decisões. Para que issoaconteça, a família deve promover os meios paraque este se sinta seguro ao iniciar o processo deindividuação e separação progressiva das figurasparentais. A adolescência é um período quedemanda alterações no grupo familiar e,

principalmente, no jovem, para fortalecer suaidentidade pessoal. Por isso, é um processo quedeve ser acompanhado de perto pela família enão basicamente pela escola, como tem ocorridoem muitos casos.

É necessário destacar a grande importânciados adultos, inicialmente os pais, na educaçãodas novas gerações. Isso também se refere à vidaescolar do filho. Se por um lado a família começaa abrir mão de suas obrigações elementares,enquanto segmento responsável pela orientaçãoe conduta básica da pessoa, por outro, a escolaincentiva e acolhe esta opção, não fazendo, muitasvezes, nenhum chamamento que destaque aimportância da presença dos pais.

Assim, a escola se coloca em uma posiçãocômoda, pois não necessita dar satisfação de suadiretriz educacional às famílias. Isso é umairresponsabilidade, pois deixa de comunicar aospais os principais acontecimentos da vida do filho,não assume seus próprios equívocos, deixa dese comunicar com os pais por saber que isso exigeesforço e acaba por fechar-se em si mesma, nãotoma decisões em parceria com os pais sobre omelhor método educacional.

Os pais, por sua vez, mostram um distan-ciamento da vida dos filhos no que diz respeito àescola. Para muitos, não participar é maisinteressante, uma vez que têm outras atividadesque não podem deixar de assumir. Para a escola,a ausência da família significa que pode decidirsozinha, levar em conta seus próprios interesses.

4. Os Problemas Familiares e as Dificuldadesde Aprendizagem

Na escola e na vida familiar, cada um apre-senta formas diferentes de aprender e em temposdiferentes. Devemos lembrar que os compor-tamentos são distintos de pessoa para pessoa,porém cada um apresenta motivos para o seumodo de ser. Precisamos compreender cadasujeito e fornecer os meios necessários ao desen-volvimento de cada um. Isso é uma tarefacomplexa.

Muitos pais não impõem limites e permitemque os filhos tenham uma vivência social permis-

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siva. Esses, possivelmente, apresentarão conflitoscomportamentais, deixando de considerar aimportância dos conteúdos escolares, pois nãoacreditam em sua capacidade de aprender. Noentanto, o motivo é a falta de limites, a intole-rância às regras a que ficam submetidos nosrelacionamentos com colegas e professores. Essesujeito não foi educado para tolerar a realidade eas frustrações impostas na vida social.

Observa-se que alguns estudantes maisretraídos, e com dificuldade de aceitação nogrupo, acabam se refugiando em seus saberespessoais, mostram inibição cognitiva, resistênciaem mudar e não aprendem os conteúdos esco-lares. Como não possuem uma organizaçãointelectual e afetiva delimitadas com parâmetrosexternos, ao exporem suas idéias ao grupo, sãoridicularizados e, como não sabem lidar com afrustração, ou mesmo não possuem uma argu-mentação para defenderem seus pontos de vista,acabam partindo para atos de agressão, a açãopredomina sobre o pensamento. Esses, na grandemaioria, arrependem-se de seus atos, porém aimpulsividade do comportamento domina alógica, a objetividade.

O adulto, no caso os pais, têm o dever deorientar os filhos a desenvolver hábitos frente aosestudos. A tarefa de educar não cabe somente àescola, embora também seja um dos seus papéis.A participação da família na escola é fundamentalpara o bom desempenho escolar.

É preciso ter claro o que entendemos porparticipar. Muitos podem ser os significados dessapalavra. Acreditamos ser necessário conhecer asrazões pelas quais as famílias não têm corres-pondido ao que educadores esperam com respeitoa sua participação na escola.

�Podemos admitir que, para atingir a diferen-ciação - para encontrar espaço pessoal, a própriaidentidade - cada pessoa crescerá e se definiráatravés de trocas com outras pessoas�20.

Assim, a pessoa sente-se a única responsávelpor sua incapacidade, tornando-se apática e indi-ferente ao que se passa ao seu redor. Fica privadade sentir o prazer da descoberta, da criatividade,do enriquecimento pessoal. Normalmente, os

pais não sabem como ajudá-la, e apoiando-se naopinião dos outros, também responsabilizam o(a)filho(a) pelo problema.

A capacidade de enfrentamento dessa situaçãodepende, principalmente, das condições dafamília18.

Muitas vezes, a família ignora, ou tem umanoção precária, que seu papel é significativo nosuporte que oferece aos seus filhos para torná-los capazes de obter o sucesso escolar.

Só em famílias em que há diálogo e aceitação,ou seja, famílias organizadas, funcionais, esseprocesso se dá de forma e equilibrada. Assim,percebemos que coesão é um passo fundamentalpara o grupo no processo de individuação dosujeito. Em famílias saudáveis20, a diferenciaçãoindividual e a coesão grupal são garantidas peloequilíbrio dinâmico estabelecido entre osmecanismos de diversificação e estabilização depapéis.

A rigidez dos adultos é outro fator quepreocupa. O sujeito em desenvolvimento, tratan-do-se de uma criança ou adolescente, quandoameaçado retira-se para o mundo da fantasia enão tem maturidade para lidar com esse tipo desituação. Nesse momento, o sistema está abaladoe o grupo incapaz de reconhecer seus conflitos.

Ninguém retribui carinho com agressão. O serhumano busca refúgio em quem o compreenda eofereça gestos de sustentação, de aceitação.Assim, o lar deve ser um lugar de aconchego eharmonia, o amor e a maturidade familiar serãoos responsáveis pelas escolhas e estruturaçãopsíquica e social.

Crianças, ou adolescentes, que não possuema confiança necessária na família irão esconderseus fracassos. Isso é grave, pois a família deveser conhecedora de todas as situações que osafligem. Situações como esta fazem os problemaspessoais da criança, ou do adolescente, piorarem.

PERSPECTIVA METODOLÓGICA DOESTUDONesse trabalho, foram analisados casos de

cinco alunos, previamente selecionados por umorientador escolar de 7ª e 8ª séries, do Ensino

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Fundamental, de 1º e 2º ano, do Ensino Médio,de uma escola particular de Porto Alegre.

O SOE - Serviço de Orientação Escolar -selecionou as famílias que, aparentemente,apresentavam desordens em termos vinculares.Esse Serviço fez o primeiro contato com os refe-ridos grupos. Isso facilitou e auxiliou os primeirosencontros; favoreceu a aceitação das famíliasquanto aos objetivos da pesquisa.

Após a entrevista, com todos os dados neces-sários à compreensão da realidade da família,foi possível elaborar um texto para análisequalitativa21.

�A pesquisa qualitativa pretende apro-fundar a compreensão dos fenômenos que inves-tiga a partir de uma análise rigorosa e criteriosadesse tipo de informação, isto é, não pretendetestar hipóteses para comprová-las ou refutá-las ao final da pesquisa; a intenção é acompreensão�21.

Durante as etapas de coleta de dados,elaborou-se um relatório, para análise dos dados,como uma espécie de retorno ao ponto de partida,na busca de novos questionamentos para seremrefletidos e considerados. Algumas situações,durante a entrevista, não foram completamenteexpostas, pois em uma dessas entrevistas o climaficou constrangedor diante das discussões entrepais e filho.

Um dos participantes declarou que �é vendoe ouvindo sobre o erro que se aprende�.

As entrevistas devem ser gravadas e, poste-riormente, degravadas22, o que facilita acompreensão das informações e o favorecimentona formação do texto, a partir da escuta dosparticipantes do processo.

A ida às casas dos estudantes favoreceu acomunicação e a compreensão das relações fami-liares, bem como a verificação da situaçãoeconômica de cada uma, seus hábitos, potencia-lidades, capacidades e o relacionamento dafamília com a escola, na qual os filhos estudam.

Com essa estratégia foi possível conhecer cadafamília, as relações existentes entre as pessoas eas possíveis causas das dificuldades deaprendizagem dos filhos.

Assim, organizou-se a análise das informaçõescontidas nas entrevistas, destacando as particu-laridades de cada grupo em relação aos processosde ensino e aprendizagem.

Como forma de proteger as famílias, queaceitaram participar dessa pesquisa, irei chamá-las de famílias A, B, C, D e E; seus nomes sãofictícios.

À medida que cada grupo é apresentado,também é analisado o material comunicado, combase nos referenciais teóricos que sustentaramessa pesquisa.

Em todas as situações mostradas, o(a) filho(a)tem dificuldades de aprendizagem na área daMatemática, assim como em outras disciplinas.

UMA ANÁLISE DINÂMICA DASENTREVISTASFamília �A�Essa família é composta pelos pais e cinco

filhos, dos quais três são adotivos. O casal morajunto e mostra dificuldades na educação dosmesmos. Pareceu-me que os adultos não fazemdistinção entre os filhos biológicos e os adotivos.

Iremos nos deter em um membro da famíliaque será chamado �João�, 13 anos, aluno da 6ªsérie do ensino fundamental. O mesmo nãoapresenta nenhum motivo aparente para suasdificuldades, porém seu aprendizado não sedesenvolve de maneira satisfatória, na perspectivaescolar.

Destaca-se a ausência da matriz familiarbiológica e a conseqüente repercussão dessa sepa-ração no que se refere ao seu aprendizado. Pareceque essa separação pode ter ocasionado certa falhana construção da subjetividade e, por conse-qüência, na aquisição do conhecimento. Acredi-tamos ser necessário salientar o empobrecimentopessoal de João em relação aos seus irmãos. Talsituação pessoal pode ser devida ao sentimentode abandono sofrido na infância.

João tem todas as condições necessárias para obom desempenho escolar. Estuda em escolaparticular em zona nobre de Porto Alegre. A famíliapassa por certos problemas, pois mora em uma casaalugada. Os ganhos dos pais não são suficientes

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para ter uma vida confortável, têm limitações,principalmente no lazer, mas procuram não deixarfaltar nada para seus filhos, principalmente noque se refere aos estudos e à alimentação.

Essa família considera as regras fundamentaisnuma grande família. Elas são as mesmas paratodos os filhos, sejam biológicos ou adotivos. Nacasa, cada um possui suas tarefas e responsa-bilidades e estas, segundo eles, devem ser rigoro-samente cumpridas.

Quanto aos estudos, cada um tem o dever deestudar pelo menos duas horas a cada dia. Nosperíodos de avaliações, esse tempo aumenta deacordo com a necessidade de cada um.

João não gosta de estudar, então é liberadodas tarefas domésticas para fazê-lo. Essa foi umaforma que os pais encontraram de incentivá-lo aestudar.

Na visão dos pais, é muito importante comple-tar o Ensino Médio para poder se encaixar nomercado de trabalho.

Essa família considera que é importanteestreitar os laços de conhecimento entre pais efilhos, especialmente para conhecer a vontade decada filho no que se refere a uma profissão.

João quer ser policial e esse desejo é estimu-lado pela família. Os pais conseguem orientá-lode forma que dê continuidade aos estudos,mesmo com os problemas que enfrenta em relaçãoao abandono sofrido por parte da família bioló-gica, o que o torna resistente à aceitação do amordos pais adotivos. Ele enfrenta dificuldades derelacionamento dentro da família e, em deter-minados momentos, não consegue chamar a mãedesta forma. Ele está em tratamento psicológicopara aprender a enfrentar situações que odesagradam relacionadas a professores e colegas.Parece não tolerar frustrações.

O desejo de João de ser policial pode ser emfunção do que passou na infância. Seu desejo desegurança, de �ser a lei�, poder representá-la e,possivelmente, encontrar algo que lhe propor-cione parâmetros devido à vivência infantil demaus tratos e abandono. Acreditamos que, com opassar do tempo, ele possa encontrar essaconfiança na família que o acolheu como filho.

Percebemos um sentimento filial precário emJoão. Os pais o adotaram e proporcionam todasas condições necessárias para que ele se sintacomo filho, mas parece que João ainda não conse-gue adotá-los como pais, embora essa relaçãoesteja em processo avançado e logo possaacontecer.

A constituição do caráter na infância23 vai estarpresente pela vida toda. Um tipo problemático,rebelde, pode tornar-se assim devido a umahistória de vida na infância. Os sentimentos deJoão apóiam esta hipótese, possivelmente, porainda não expressar sentimentos de aceitação eafeto por seus pais.

É importante salientar que esses pais rela-taram que o amor e o carinho que João encontroufizeram diferença na vida dele. Desta forma, hojeJoão já os vê como sua família e, possivelmente,breve os verá como pais.

Foram investigadas as dinâmicas familiaresde adoções tardias, ele24 afirmou que elas têmcaracterísticas especiais que necessitam serobservadas; com a devida preparação e acompa-nhamento, mas estas adoções são perfeitamentepossíveis. Nas palavras dele24: �Na adoção tardia,tanto como na vida, as chances de sucesso oufracasso das relações dependem da capacidadede suporte, de entrega, de trocas afetivasprofundas, verdadeiras, entre os protagonistas�.

João é uma criança batalhadora e sempreprocura ajudar, mas é necessário ter seus limitesbem determinados. Se deixado à vontade,apresenta reações das quais se arrependeposteriormente. Percebe-se que os pais respeitamessa característica de João, porém mostram-lhe anecessidade de auto-controle como algofundamental para a profissão que almeja.

Alguns estudiosos desse tema procuramdestacar a preparação e o apoio na adoção22,25,26.Ressalta-se que, de acordo com esses autores,na verdade, a �preparação� deveria acontecercom todos aqueles que pretendem ter um filho,mesmo que esse seja biológico, mas isto poucoslevam a sério.

O ato de adotar envolve uma enorme respon-sabilidade23 e o medo de errar deve ser muito

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grande. Na maioria das vezes, para esse autor,�os candidatos à adoção não passam por umaconscientização e apoio frente à sua decisão, massomente por um processo de cadastramento eseleção�.

Apesar dos poucos recursos de que dispõem,os pais dessa família procuram incentivar os filhosa buscar informações sobre o que pretendem dofuturo em relação à profissão. Nos relatos, obser-va-se que os pais querem muito que os filhoscompletem pelo menos o ensino médio. Desta-caram que é importante completar o ensino médioou um curso técnico para poder trabalhar e terrecursos para fazer uma faculdade, já que nãopossuem recursos para o pagamento de uma. Hojeeles não vêem condições para seus filhos fazeremuma faculdade pública, pois julgam que esta sejapara quem possui condições financeiras de�bancar� os filhos apenas estudando, o que nãoé o caso deles, segundo suas comunicações.

Estes pais procuram acompanhar o rendi-mento dos filhos na escola, porém, pareceu-meum acompanhamento ocasional, que acontecequando há uma entrega de boletins. Não há umaprocura sistemática pela escola para ter retornoclaro do desenvolvimento de João. O pai destacouque quando João está mal em uma disciplina,ele se recusa a estudá-la, possivelmente por nãosaber lidar com a frustração. Para sanar esseproblema, existe uma espécie de aconselhamentosobre a necessidade de maior dedicação nadisciplina em que está com baixo rendimento. Ofato de João não querer estudar a disciplina quenão está tendo bom rendimento pode ser por umapossível negação da dificuldade, ou negação darealidade em virtude de não saber lidar com oinsucesso, tendo como possível conseqüência oabandono da disciplina.

Fazendo uma análise mais ampla, a famíliaconcluiu que possivelmente precise de umaintegração maior. Como a família é muito grande,torna-se complicada essa integração em funçãodas necessidades relacionadas ao trabalho. A mãequase não pára em casa, devido às suas tarefasprofissionais. O pai, nem no final de semana,dispõe de tempo, mas considera que isso seja

fundamental em uma família, pois se trata daeducação dos filhos.

Família �B�A composição familiar desse grupo é pai, no

caso padrasto, cerca de 20 anos mais velho doque a esposa, mãe biológica, a filha, que chama-remos de �Ana�, e a avó, que no fim da vida écuidada pela filha e neta. Ana é uma garota de17 anos e está no 2º ano do ensino médio de umaescola particular de Porto Alegre.

Moram todos juntos, porém apresentam umhistórico familiar que cabe ressaltar. Os pais najuventude foram namorados, casaram-se e sepa-raram-se em virtude do rompimento matrimonialpor parte da mãe. Esta, separada, gerou a filhaproveniente de outro relacionamento. Foiabandonada pelo pai biológico de Ana e, sem tercomo sustentar-se e a filha, voltou para o marido,que a aceitou juntamente com a filha. A meninacresceu em meio a um relacionamento contur-bado, sua mãe assumiu o alcoolismo, vício quecarrega desde a juventude, hoje se diz emrecuperação. Sua avó, por problemas de saúde,passou a morar junto, necessita de cuidadosespeciais em virtude de problemas visuaisprovocados pela diabete.

Parece que o padrasto gosta da �filha�, mascobra além das possibilidades que esta pode ofe-recer. Ana é responsável por cuidar de sua avó eresolver problemas ocasionados por sua mãe, que,aparentemente, apresenta um transtornoemocional e faz tratamento psiquiátrico.

Possuem uma condição financeira razoável,sem aparentar necessidades. Moram em um bomapartamento, amplo e com boa qualidade.

A família praticamente não conversa, o pai éo único que trabalha para manter o nível familiar.Sai cedo e chega tarde, querendo apenas relaxar.

A mãe relatou que cobra da filha boas notas,mas esta não responde às suas cobranças por nãogostar de estudar. Nessas palavras da mãe,percebe-se que a cobrança é maior que o incen-tivo, que provavelmente não há.

Quanto à organização de tarefas, Ana éesforçada, pois controla a casa e os compromissos

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escolares, mas não demonstra bom rendimentoem relação ao que é cobrado pela escola.

Mencionaram que procuraram oferecer omelhor à filha, aconselhando-a a ter bom desem-penho escolar. É importante ter apoio e desta-caram perceber a responsabilidade da família naeducação, por isso pagam uma escola particularque a eduque e ofereça as condições necessárias.

Sobre o ambiente familiar em relação aodesempenho escolar, aponta-se27 indicadores dedesvantagem na aprendizagem de alguém emmeio a um grupo com problemas não resolvidos.Desta forma, o grupo com problemas tem seuambiente de desenvolvimento prejudicado pelapresença de circunstâncias adversas nãoresolvidas, que afetam e geram insegurança,receio e dúvida.

Talvez nem o padrasto, nem a mãe possuamserenidade suficiente para compreender e poderexpressar-se sobre o relacionamento familiar.Parece não haver sintonia familiar, apenas moramjuntos sem responsabilidades maiores. Acreditoque isto ocorre devido à sua história passada.Trata-se de uma família disfuncional, com vínculosfrágeis e denegridos por situações do passadoque levaram à separação e à conseqüente desor-ganização familiar hoje vivenciada.

Quando questionados sobre como é tratada aindividualidade de cada pessoa da família, houveum desabafo do pai ao expor a falta de comprome-timento da mãe na educação de Ana. O padrastofez o seguinte comentário: �como alguém iráconhecer limites se não lhe é ensinado?�

O respeito à diferença e o reconhecimento sãofrágeis nessa família. O que existe em grandeescala é cobrança de resultados e a interferência,privando a singularidade de cada sujeito. Acre-dita-se que isso ocorre em conseqüência da condi-ção familiar no passado, refletindo-se no presente.

O acúmulo de funções pode provocar baixorendimento escolar28, pois nessa fase da vidacrianças ou adolescentes ainda não estão prontospara lidar com muitas situações ao mesmo tempo.É o que está acontecendo com Ana. Pode-seressaltar a confusão de papéis e os ressentimentosque não foram elaborados pelos adultos.

Quanto à necessidade de estudo de Ana,declararam ser importante para o seu futuro.

Novamente, não aparece incentivo algum. Oque fica claro são as cobranças sem uma metadefinida para as mesmas. Essa família aparentaapenas morar sob o mesmo teto e conviver diaria-mente com um erro do passado.

Quando foi abordado o tema escola, a mãedestacou que nem sempre comparece na escolaquando é chamada. Disse que sua saúde éprecária e não pode deixar sua mãe só, a avó deAna. O pai afirmou que a escola é cara e devefazer a parte dela em ensinar.

Não conhecem os professores, pois geralmentetratam com a orientação escolar, quando há neces-sidade. Gostariam que Ana tivesse melhoresnotas, mas a mesma não se esforça.

Não houve clima para que pudesse questionar oque seria esforço, na visão deles, em virtude daforma como vivem e como se relacionam. Ana nãotem condições, em um contexto como esse, de sedar bem nos estudos, ou mesmo querer esforçar-se.

Ambos querem que Ana estude, pois só com oestudo é que se consegue algo na vida, destacouo padrasto.

Ana parece ser uma boa menina. Sua bondadepode ser para compensar a realidade vivida, paratentar ser estimada e aceita pelo grupo. Ela precisaque outros gostem dela, mas nada faz por simesma. Não há circulação de afeto, há cuidadomaterial, físico, sem envolvimento afetivo. Anaparece viver carregando uma culpa que não é sua,estereotipada por um passado vivenciado pelospais que refletem nela as conseqüências.

As estratégias de aprendizagem podem abrirnovas perspectivas para a vida pessoal29 e, atémesmo, permitir a estudantes, como no caso deAna, ultrapassar as dificuldades promovidas peloambiente, de forma a conseguirem obter um maiorsucesso escolar. Mas, para tanto, penso que essafamília necessita de acompanhamento e de umtratamento especializado.

Família �C�Essa família é composta por três pessoas: a

mãe, um filho e uma filha.

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Na juventude, a mãe engravidou de seunamorado, mas foi abandonada pelo mesmo;optou por não interromper a gravidez, motivo daseparação. Seus pais lhe deram apoio, mesmopossuindo poucos recursos. Passou a trabalharcomo faxineira e, com dificuldades financeiras,criava seu filho.

O tempo passou e ela conheceu alguém comquem começou a viver, nos fundos da casa deseus pais, onde mora até hoje. Com esse compa-nheiro teve uma filha, hoje com 11 anos. Quandoessa tinha apenas 3 anos, esse companheiro aabandonou. Ela, então, decidiu não ter maisnenhum tipo de relacionamento e passou adedicar-se a seus filhos.

O garoto mais velho, hoje com 17 anos deidade, o chamarei de �Carlos�, cursa o 2º ano doensino médio. Carlos teve em seu avô a figurapaterna e sentiu muito a perda do mesmo, háoito anos.

Essa família possui dificuldades financeiras edevido a essas não compartilha momentos de trocaafetiva no grupo. A mãe trabalha muito paraconseguir sustentar a casa e dar conta doscompromissos.

As dificuldades de aprendizagem podem sercausadas por variáveis pessoais30, por ambientesdesfavoráveis e por uma combinação interativade ambos. Esse autor destaca a pobreza como umdos principais vilões em relação à aprendizagemescolar.

Essa família não apresenta regras, os filhospossuem liberdade de fazer as tarefas escolaresem frente à televisão. A mãe destacou queorienta para que não façam dessa forma e, sóquando é necessário, é usada a autoridade demãe para que o estudo seja de forma adequada.Segundo ela, não há imposição, existemconselhos.

Os avós influenciaram de forma positiva tantoa vida particular, como a vida escolar de Carlos,em todas as suas fases. Até hoje, existem coisasque ele comenta apenas com a avó e não com amãe. Isso se deve ao fato de ter sido criadopraticamente pela avó, pois a mãe trabalha o diatodo e retorna para casa tarde da noite. Durante

algum tempo, Carlos chegou a morar com a avóe ser cuidado somente por essa.

A mãe acha que a avó fez um excelentetrabalho com seu filho, exercendo uma influênciabenéfica na vida de dele. Afinal, ele é um bomgaroto, segundo ela. As primeiras experiênciaseducacionais31 da criança, geralmente, sãoproporcionadas pela família, e no caso de Carlosfoi pela avó, com uma grande diferença de idadeem relação a ele.

Enfatizo que a criança precisa ser educadaem um ambiente emocionalmente estável26 econsistente, no qual tenha experiência deaceitação e amor incondicionais. Carlos teve essarelação com sua avó, não com sua mãe, como elamesma relata.

Carlos é um garoto querido por todos, devidoà sua presteza. Ele gosta muito de fazer tarefaspara outras pessoas, mas não em casa. Ele semprese recusa a participar nas tarefas domésticas. Esseé um ponto de atrito e discussões entre mãe efilho. Talvez, isso se dê pelo fato de Carlos tersido criado segundo as orientações da avó, masparece carregar as marcas do sentimento derejeição pelo fato da mãe não ter participado nessaetapa de sua vida.

Eles possuem liberdade de falar sobre tudo ediscutirem sobre situações da vida cotidiana. Esserelacionamento parece mais de amigos do quede mãe e filhos, conforme a mãe de Carlos.

Esse relacionamento parece não ser firme comregras e papéis definidos, pois a mãe relatou queentra no quarto do filho só quando é extre-mamente necessário.É Carlos que cuida de suasroupas, o mesmo não ocorre com a filha, ou seja,parece que o sentimento de rejeição é recíprocoentre Carlos e sua mãe.

Como forma de incentivo para os familiares, amãe procura usar o elogio e agir com recompensasno grupo familiar. Parece uma espécie de trocapara conseguir algo. Ficou claro em suas palavrasque a mãe procura valorizar o ser humano,destacou que errar é normal, mas aconselha paraque não aconteça novamente.

Carlos é um garoto firme e decidido nas suasposições, então a mãe tenta usar a autoridade

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para fazê-lo estudar, pois ela acredita que elenão goste de estudar.

Carlos quis parar de estudar, mas não tevesucesso. Sua mãe não permitiu e ressaltou que ofuturo depende somente dele e de mais ninguém,pois ela não possui condições financeiras parapoder mantê-lo. Ela espera que Carlos estude etenha sucesso em sua vida e, quem sabe um dia,possa ajudá-la.

Carlos é um garoto atencioso, mas poucoparticipativo nas atividades escolares, devido,possivelmente, à vergonha de perguntar.

Quanto à participação e ao relacionamento comos professores, a mãe destacou que praticamentenão há, devido ao seu trabalho. Só vai à escolaquando é intimada a participar, geralmente porcausa de trabalhos, notas ou provas, nunca porindisciplina.

O relacionamento de Carlos com a irmã étumultuado. Ambos têm ciúmes um do outro, massem agressões. A mãe diz que Carlos precisaajudar em casa, visto que a mesma sai de casa às8 horas da manhã e volta à noite e, aos domingos,faz faxinas para complementar a renda.

A criança, ou o adolescente depende dosadultos32, seja na orientação quanto nos estudos,ou no que se refere à parte financeira. Essa depen-dência se dá por aqueles que exercem a funçãopaterna e materna, como é o caso de Carlos, quedepende de sua mãe, porém, foi praticamenteeducado pela avó. Ressalta-se que a própria mãemostra a necessidade e a carência de umcompanheiro na educação dos filhos.

A mãe destacou que é importante a presençamasculina, especialmente a figura do pai. Pois,muitas vezes, ela precisa fazer o papel de pai emãe, mesmo sem saber se está correto, istoprincipalmente na fase da adolescência. Então,ela julga a escola como importante na educaçãodos filhos. Sabe que a escola não vai suprir afalta do pai, mas acredita que possa auxiliar naorientação de Carlos.

Família �D�Essa família é composta por cinco pessoas, os

pais e três filhos. Todos moram juntos e possuemuma condição financeira baixa, porém aparentamesforço para manter a educação dos filhos. O mais

velho, com 19 anos, sempre estudou em escolaparticular. Irei deter-me em �Júlia�, garota de 17anos de idade, cursando o 2º ano do ensinomédio. A filha mais nova ainda não está em idadeescolar.

O casal mora junto, mas aparentemente nãomantém diálogo quanto à educação dos filhos.Mudam de residência com muita freqüência,devido à situação financeira. Discutem seusproblemas na frente dos filhos e, estes, por suavez, sentem-se culpados por tais problemas.

Consideram a situação econômica como sendoo grande empecilho e julgam que, se os filhos nãoestudarem, não terão as condições necessáriaspara enfrentar as exigências da sociedade.

Atribui-se à família33 a garantia de sobrevi-vência de seus filhos e destacam que dentro dafamília se realizam as experiências básicas, asquais serão imprescindíveis no desenvolvimentoe nas aprendizagens posteriores.

Júlia não tem apresentado bom desempenhoescolar este ano. A mãe relatou que não a cobraem relação aos estudos. Porém, quando percebeuque sua filha corria o risco de ser reprovada,colocou limites. Para tanto, tirou algumas regaliasque esta possuía até que apresente melhora nosestudos. Destacou que não cobra que seus filhossejam os melhores no estudo, mas quer que estesacompanhem com obrigação a aprendizagem etenham bom desempenho escolar.

Os pais propõem regras, mas, segundo eles,seus filhos não gostam de estudar. A mãeevidencia que ao cobrar e acompanhar o estudodos filhos, o retorno é certo. Em outras palavras,ela deixou claro que, quando coloca limites, estesdevem ser cumpridos.

O pai salientou que muitos têm facilidade emestudar e outros necessitam seguir regras.

As tensões acumuladas nas relações familiarescertamente ressurgirão na escola, a partir destasrelações, sob a forma que a aprendizagem assumena vida escolar.

É fundamental, segundo a mãe, que os paisacompanhem de perto o desempenho dos filhosna escola e, quando necessário, devemorientá-los.

Eles destacaram que sempre que a escola oschama, eles comparecem. Porém, nesse ano, não

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estão tendo muito tempo para acompanhar odesempenho de Júlia. Como conseqüência, essaoptou por parar de estudar e trabalhar para ter oseu dinheiro, porém, os pais não permitiram eestabeleceram regras que deverão ser seguidas.

Foi dito pelo pai que o filho mais velho nuncaprecisou ser orientado quanto aos estudos,apresentando facilidade. Nessa época, a famíliapraticamente não possuía problemas financeiros,como hoje. Porém, Júlia necessita de acompanha-mento e orientação, devido às suas dificuldades.

O autor34 refere-se à diferença de classessociais, e chega a afirmar que crianças oriundasde ambientes familiares que oferecem maioresoportunidades para a aprendizagem chegarão àescola mais preparadas para aprender osconteúdos ministrados pelos professores. Podenão acontecer o mesmo com quem passa por umaexperiência de maior ou menor pobreza, pois terámaior propensão ao fracasso escolar.

Ficou evidente que os pais procuraram dar omesmo tipo de educação aos filhos, mas hojepercebem que isso não foi correto, pois estes sãopessoas diferentes e com personalidades distintas.

Seu relacionamento em família é perfeito e comas demais pessoas também, mas Júlia é inibidana escola, possivelmente por não acompanhar acondição social das demais colegas. Parece sentir-se inferiorizada e isto, talvez, interfira na imageme na estima de si mesma.

O sonho de Júlia é ser veterinária. Quandoela optou por parar de estudar, conforme relatoda mãe, ela usou como argumento o sonho dafilha em relação à profissão, questionando-a sobrecomo ela iria realizá-lo se não estudasse.

Os pais têm pouco contato com a escola e,quando este ocorre, é com a orientação. Emnenhum momento tiveram contato com os profes-sores. Destacaram que, segundo a orientaçãoescolar, todos os professores apreciam o compor-tamento de Júlia e, sua única dificuldade, équanto ao rendimento em algumas matérias,embora todos assegurem que Júlia apresentatodas as condições para ter um bom desempenho.

A mãe destacou que a família é muito impor-tante e, quando os pais não estão bem um com o

outro em seu relacionamento, os filhos ficambloqueados para tomarem decisões e ilustra comas dificuldades de Júlia.

Situações adversas com relação à economiafamiliar atrapalham o estudo dos filhos. Júliaparece sentir-se culpada pelos problemasfinanceiros dos pais.

Família �E�Essa família é composta por quatro pessoas.

Os pais e duas filhas, uma já casada. Os paisnão moram juntos, separaram-se há três anos. Afilha mais velha casou-se quando estava aindano 2º ano do ensino médio, ficou grávida donamorado, hoje seu marido. A filha mais novacursa o primeiro ano do ensino médio, irei chamá-la de �Lúcia�. É uma menina que aparentementenão apresenta motivos para ter dificuldades deaprendizagem, porém, não se desenvolvesatisfatoriamente, de acordo com a visão atual deaprendizagem.

Os pais, hoje separados, não têm muitasposses, mas também não passam necessidades.

Os problemas que levaram o casal a separar-se foi o alcoolismo e, segundo a mãe, a falta decomprometimento do ex-marido com a família. Foirelatado que o pai, até mesmo, chegou a espancara mãe na frente das filhas. O pai não tem relacio-namento com a família e, quando marca umencontro com a filha, na maioria das vezes, nãocomparece. Ela sente-se rejeitada pelo pai.

Todo ser humano necessita de um ambientesaudável, que propicie desenvolvimento, princi-palmente os filhos, que merecem o respeito dospais, para que possam amadurecer e ter indepen-dência. Dessa forma, a criança passa a ter referên-cias seguras, consistentes e consciência de suaspossibilidades, quando é capaz de sentir segu-rança interna, auto-estima, estabelecendo umarelação de trocas e acreditando em si. Acredita-se35 que não é preciso que os pais sejam perfeitos,eles apenas devem ser atentos, sensíveis ehumanos. Esse autor destaca o que exatamentefalta para Lúcia, devido à desatenção de seu pai.

A mãe procura orientar a filha quanto àsregras, e diz que elas são importantes, pois

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colocam limites na vida. Segundo a mãe, Lúcianão esconde nada dela, mas não tem vontade deestudar e fazer as tarefas. Ela tenta ajudar, masnem sempre a filha está disposta. Ficou claro quea mãe não consegue controlar os hábitos de estudoda filha, pois trabalha o dia todo. Ambas saemcedo e, à tarde, Lúcia fica só e dorme a tardetoda, segundo a mãe. À noite, Lúcia quer apenasassistir à televisão. Ambas têm conversado sobrea importância de estudar, mas está difícil de Lúciadar retorno, de acordo com as exigênciaseducacionais.

Com respeito às influências da família, a mãedestacou que foram tremendamente negativas,pois suas duas filhas cresceram vendo o paidesprezá-las e também a ela, conclui ser em virtu-de do álcool. Elas nunca tiveram o hábito deestudar, e tão pouco ambiente para estudo.Enfrentaram um período que ficaram aproxima-damente três meses sem luz em casa devido àfalta de dinheiro, pois tudo que o pai ganhavagastava em bebida e obrigava a mãe a dar o queganhava para pagar dívidas.

Hoje separada, orienta melhor a menina, masainda não consegue fazer com que ela queiraestudar. Ela acredita que a baixa auto-estima deLúcia deve-se à rejeição paterna. A filha maisvelha casou-se cedo, a mãe pensa que foi parasair de casa. Ela odeia o pai, segundo sua mãe.

Lúcia está fazendo terapia, a mãe espera queisso a ajude a compreender melhor as coisas e aaceitá-las. Lúcia é muito amiga do namorado desua mãe, ambos conversam muito, segundo ela.

Lúcia tem total liberdade com sua mãe e vice-versa; somente as duas moram juntas e, à noite,há tempo para conversar, mas a televisão atrapa-lha. A mãe destacou que tem medo das amizadesde Lúcia, disse que a orienta quanto ao que nãoé bom, pois ela é só uma adolescente de 15 anos.Não quer que Lúcia siga os mesmos passos dairmã e pare de estudar.

Lúcia possui condições para estudar e éorientada para isso, mas ela parece não reagir.Apresenta grande potencial, precisa apenas saberlidar com tudo isso, ressalta a mãe, um poucoemocionada.

Lúcia recebe estímulo da mãe, que procuraconversar sobre tudo com ela, e sobre os estudos,principalmente. A mãe é professora, e diz sabercomo é um aluno com problemas de apren-dizagem. Destaca que sua filha não tem problemaspara aprender, ela não está motivada paraestudar. A mãe frisou que esse problema tem aver com ela e com o pai dela, devido às suas difi-culdades de relacionamento em função da bebida.A mãe disse já ter pedido várias vezes ao paique, pelo menos, trate Lúcia com respeito, que éo mínimo que um filho merece. A mãe destacouque Lúcia ama o pai, mas ele só enxerga a bebida,e acrescentou: �ele destruiu nossa família epercebe que está acabando com nossa filha�.

Lúcia tem recebido a ajuda da mãe paraestudar, mas a mãe enfrenta dificuldades, pois éprofessora de séries iniciais e já faz muito tempoque não tem contato com o que Lúcia está estu-dando. Disse não ter condições de pagar aulasparticulares, pois paga aluguel, escola particulare terapia para Lúcia, o que sobra é para alimen-tação. A mãe diz: �faço todo o possível para nãodeixar faltar nada para ela�.

A mãe de Lúcia tem ótima relação com a escola,pois trabalha no mesmo local onde a filha estuda,assim, encontra-se com os professores pratica-mente todos os dias. Segundo a mãe de Lúcia,todos dizem não compreender os motivos pelosquais Lúcia não consegue se desenvolver. Algunschegam até a dizer que ela tem tudo para se darbem. A mãe desabafa: �eles não entendem o quenós passamos�.

A mãe de Lúcia contou que tem conversadomuito com a orientadora escolar. Isso tem ajudadoLúcia. Na conversa, ela é orientada sobre os estudose matérias que não está bem e necessitam de estudo.

Chamou a atenção a seguinte frase: �Sei queLúcia pode perder o ano, não é o que quero, mastalvez possa ser melhor ela repetir, pois elarealmente não está aprendendo quase nada�.

Ficou evidente que a mãe de Lúcia gostariaque o pai percebesse a filha que tem e lhe desseo valor que ela merece, e acrescentou: �Isso nãoé fácil, ele precisa querer e não acredito que issoocorrerá�.

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UMA REFLEXÃO FINALNos relatos, a partir das entrevistas, constatou-

se a relação entre as expectativas, os investi-mentos familiares e a dificuldade para aprender,por esse motivo algumas falas ficaram inalteradas,por serem relevantes e explicativas do fenômenopesquisado.

Ao analisar os encontros com os pais, surgiua proposta de formar um grupo de apoio àsfamílias, com a presença de alguns especialistas,entre eles psicopedagogos, que possam atuarjunto aos pais e aos professores na tarefa deensinar e aprender.

A educação é um processo sério, que exigecomprometimento e disponibilidade, tanto dospais quanto dos professores.

A educação necessita de trabalhos e discussõescomo as indicadas, já que nunca se viu tantosproblemas relacionados ao ensinar e ao aprendercomo em nossos dias.

Acreditamos que essa pesquisa traz colabo-rações e reflexões pertinentes sobre os espaçosfamiliar e escolar na dinâmica do ensinar e apren-der. Destaca-se essa idéia, pois muitos profes-sores e pais agem como se aprender fosse umafunção tão natural quanto respirar ou andar.

É fácil encontrar, em inúmeros livros eartigos, conselhos sobre como agir em relaçãoao ensino e à aprendizagem de crianças e

adolescentes. Entretanto, muito deve ser cons-truído, questionado e estudado sobre o modocomo as novas gerações são preparadas para ofuturo, para a vida em sociedade. E quando nosreferimos à sociedade, nos reportamos à casa, àescola e à rua.

Os problemas na infância e adolescênciapodem nos ameaçar de muitas maneiras, portan-to, devemos rever nossas posições em termos deconfiabilidade e segurança.

Para finalizar, lembramos de algumas frases36

que podem ser úteis tanto para pais comoprofessores:

Filhos�Vossos filhos não são vossos filhos.São os filhos e as filhas pela aspiração divina

pela vida.Vêm por vosso intermédio, mas não de vós;E embora estejam convosco, não vos

pertencem.Podeis conceder-lhes vosso amor, mas não

vossos pensamentos;Pois têm seus próprios.Podeis abrigar seus corpos, mas não suas

almas;Pois elas abrigam-se no amanhã, que não

podeis visitar nem mesmo em sonho.Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não

procureis torná-los iguais a vós.�

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SUMMARYFamily and school learning

This research was intended to provide some understanding about familyorganization and its implications to the school process of children andteenagers who have learning troubles. The information were obtained throughinterviews with families chosen by the school. It made possible to investigatefamily relationships that lead to obvious learning difficulties. This study wasbased on the analysis of theoretical references on the subject. A great deal ofresearch have been devoted to understand the reasons for children�s schoolfailure along the time. Amidst the reasons pointed out by studies, one usuallysees the influence of the social origin and the teacher�s educational practiceon the children�s emotional and intellectual stimuli patterns. But therelationship between the family and the learning process do not appear clearlyat those studies. Learning is connected to social action. Educational guidanceis vital for people, both at educational institutions and within families. Ithink that learning and school performance depend first on the familyinterrelations and then on the relationship between teacher and student. If,in the past, schools and families had apparently unrelated goals, they nowboth begin to be seen as participants in the education process. Althoughdifferent, they try to achieve complementary objectives.

KEY WORDS: Family relations. Learning. Learning disorders.

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Trabalho realizado na Pontifícia Universidade Católicado Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS.A pesquisa foi realizada em 2006, numa instituiçãoescolar, particular, em Porto Alegre, RS.

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