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ANDRA PORTO LUIZ MADEIRA
F E EVOLUO: A INFLUNCIA DE CRENAS RELIGIOSAS
SOBRE A CRIAO DO HOMEM NA APRENDIZAGEM DA
TEORIA DA EVOLUO COM ALUNOS DO 3 ANO DO
ENSINO MDIO
Programa de Estudos Ps-Graduados em Cincias da Religio
Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo
PEPG-CRE-PUC/SP
So Paulo
2007
2
ANDRA PORTO LUIZ MADEIRA
F E EVOLUO: A INFLUNCIA DE CRENAS RELIGIOSAS
SOBRE A CRIAO DO HOMEM NA APRENDIZAGEM DA
TEORIA DA EVOLUO COM ALUNOS DO 3 ANO DO
ENSINO MDIO
Dissertao apresentada ao Programa de Estudos
Ps-Graduados em Cincia da Religio Pontifcia
Universidade Catlica de So Paulo
PUC/SP,
como exigncia parcial para a obteno do ttulo de
Mestre, sob a orientao do Prof. Dr. Eduardo
Rodrigues da Cruz.
PUC - SP
2007
3
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
4
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus e a Jesus Cristo por terem permitido a concluso
desta pesquisa, e por terem me dado tudo de bom que possuo!
Em especial ao meu esposo, Fredy Madeira Jnior, pela pacincia,
tolerncia e incentivo, sem ele no seria possvel a realizao deste
trabalho.
Secretaria da Educao do Estado de So Paulo, pela Bolsa de Estudos
oportunidade a mim ofertada.
Ao meu orientador, Prof. Dr. Eduardo Rodrigues da Cruz, por todo apoio,
compreenso, sabedoria e amizade.
Profa. Dra. Llian Al-Chueyr Martins pelos ensinamentos e por toda
ateno e carinho.
Ao Prof. Dr. Afonso Maria Ligrio Soares pelas valiosas discusses e
sugestes significativas.
Secretria do Programa de Cincias da Religio, Andria por sua ateno
e cordialidade.
Em especialmente Leide Bela de Brito Anlia da Costa, obrigada pela
amizade e pelo companheirismo nesta jornada.
Ao Diretor da escola E. E. Bom Pastor, Jos Maurcio Serafim Alves, seus
professores e alunos que motivaram e serviram de inspirao para esta
pesquisa.
A toda minha famlia, minhas irms Graa, Bete, Gilmara, minha sogra, D.
Jlia, minha cunhada Regina, e meus sobrinhos por todo amor, carinho e
incentivo para a realizao deste trabalho.
Aos meus amigos que compartilharam o percurso desta minha jornada, em
especial, Ivanilde, Marli e Sandra.
5
Dedico este trabalho aos meus pais (in
memoriam), os primeiros a me segurarem pelas
mos para que pudesse dar os primeiros passos
e por acreditarem que um dia seria capaz de
construir o meu prprio caminho.
6
Cincia e Religio: Modelo(s) Educativo(s) para a tradio
ou ps-modernidade.
Um educador consciente no esperar, nem pretender,
formar um adulto culto, que no possua nenhum princpio,
valores, ou opinies, os quais no consiga defender
racionalmente perante todas as pessoas e, que seja incapaz
de manifestar idias determinadas, virtudes bem enraizadas,
ou profunda lealdade e dedicao. Por outro lado, no
tratar tambm os seus alunos, de modo, a deix-los de
esprito fechado e compreenso limitada. O processo de
formao de aluno semelhante ao de aprender a construir
uma casa, em que se constri realmente a casa, e depois
tem de se viver na casa que se construiu. um processo
em que a pessoa necessita inevitavelmente de ajuda. O
autoritrio exagerado ajuda a construir a casa, segundo o
projeto que julgar ser melhor, obrigando o principiante a
viver nela. Este educador projeta a casa de madeira a
dificultar ao mximo a possibilidade de o principiante a
alterar. O liberal exagero deixa o principiante procurar seus
prprios materiais, criar o seu prprio projeto, com receio de
exercer uma influncia abusiva. No mximo fornecer
informaes exclusivamente tcnicas, se lhes pedirem. O
educador consciente ajuda o principiante a construir a
melhor casa que puder ( luz da experincia acumulada).
Ele faz o balano entre a necessidade de produzir uma boa
casa e a vantagem de deixar o principiante fazer suas
prprias opes; mas toma precaues para que o projeto
da casa seja criado, de modo a poder ser posteriormente
alterado e melhorado, quando o proprietrio, que deixou de
ser principiante, julgar conveniente .1
1 Este texto foi adaptado do Professor Basil Mitchell The Durham Report. In: POOLE, Michael. Coleo Epistemologia e Sociedade, sob a direo de Antonio Oliveira Cruz. Traduo de Ana Andr. Capa Dorindo Carvalho. Instituto Piaget. Av.Joo Paulo II, Lote 544.2-1900 Lisboa-Portugal.
7
RESUMO
O reconhecimento das transformaes do campo religioso nas ltimas
dcadas, e mais recentemente, o aumento e visibilidade do protestantismo
pentecostal, mais conhecido como grupo de evanglicos, e a insero
destes em diversos mbitos da sociedade brasileira e mais especificamente
em instituies e espaos pblicos, nos motivou a estudar e tentar
compreender como a dinmica interna das religies e do cristianismo em
geral, configura posturas individuais e coletivas que refletem no mbito das
relaes e interaes humanas, conflitos e tenses subjacentes a um
contexto bem maior e complexo: o eixo cincia-religio. Devido relevncia
histrica e a atualidade das questes e controvrsias quanto s explicaes
da origem do universo, da vida e do homem, a temtica deste trabalho vem
discutir o grau de conhecimento e adeso s teorias conhecidas como
evolucionismo e criacionismo e a forma como so entendidas, interpretadas
e, mediadas, por agentes sociais formadores de opinio como, por exemplo,
professores e lderes religiosos. Nosso trabalho , portanto, o resultado
dessa pesquisa que investiga a concepo, convico e a interpretao de
jovens secundaristas da classe popular da Grande So Paulo, mais
especificamente do municpio de Guarulhos, quanto origem da vida e do
homem. Tomamos como ponto de partida, a realidade educacional pblica,
mais particularmente, o ensino de biologia. A pesquisa aponta para a
necessidade da conjugao e a convivncia de opinies distintas e
conflitantes no mbito da sala de aula, bem como, para o reconhecimento de
um mapa indicativo que reflete elementos constitutivos de adeso e afiliao
em ambas esferas e, apontam para uma adeso hbrida que se configura
talvez, numa nova forma de ressignificao de identidade fundamentalista
em ambos os campos: cientfico e religioso. Nesse sentido, entendemos que
esse confronto ideolgico entre evoluo e criao, cada vez mais, se
consolida, como um elemento de fundamental importncia na anlise e
compreenso de aspectos da sociedade brasileira que muito tem chamado a
ateno de educadores e pesquisadores no mbito das cincias sociais.
8
ABSTRACT
The Recognition of the religious field changing in the last few decades, and
more recently, the increase and visibility of the Pentecostal Protestantism,
well known as evangelic group, and the insertion of these in several scopes
of the Brazilian society and more specifically in public institutions and spaces,
it motivated us to study and try to understand how the internal religions
dynamics and the Christianity in general configure individual and collective
positions that reflect the relations and interactions underlying human beings
scope, conflicts and tensions to a well bigger and complex context: the axle
science-religion. Due to historical relevance and the present time questions
and controversies as well as the origin of the universe, of the life and the
human being explanations, this work thematic comes to argue the degree of
knowledge and adhesion to the known theories such as evolutionism and
creationism and the way how they are understood, interpreted and mediated
by opinion influents social agents, for example: teachers and religious
leaders. Therefore our work is this research outcome that investigates the
conception, certainty and the interpretation of the young secondary students
come from popular economic classes in the Great So Paulo, more
specifically of the city of Guarulhos, about the origin of the life and the human
being. As a starting point we take the public education reality, more
particularly, the biology education. The research points to the conjugation
and the coexistence needing of distinct and conflicting opinions in the
classroom scope, as well as, to the recognition of an indicative map that
reflects constituent elements of adhesion and affiliation in both spheres and,
points with respect to a hybrid adhesion that configures itself maybe in a new
way of fundamentalist identity re-meaning in both fields: scientific and
religious. In this direction, we understand this ideological confrontation
between evolution and creation consolidates itself as an important basic
element in the analysis and understanding of the Brazilian society aspects
that has been calling the educators and researchers attention in the social
sciences scope.
9
SUMRIO
INTRODUO ...
15
CAPTULO I DARWIN, DARWINISMOS E A EVOLUO..............
20
1.1. Pensadores Pr-Darwinistas e Suas Contribuies................
23
1.2. Pensadores Ps-Darwinistas e suas Contribuies................
26
1.3. Pensadores Neodarwinistas e Suas Contribuies.................
27
1.4. O Darwinismo..........................................................................
28
1.5. Evoluo e Conceitos..............................................................
29
1.6 Quanto Velocidade em que Ocorre a Evoluo....................
31
1.7. Seleo Natural.......................................................................
32
1.8. A Trajetria dos Antepassados Humanos...............................
35
1.9. O Homem Veio do Macaco ou No?.......................................
41
1.10. A Biologia como Cincias......................................................
42
1.11. A Cincia no Brasil................................................................
43
1.12. O Currculo de Biologia e os PCN s...................................... 44
1.13. A Biologia numa Perspectiva da Educao Transformadora
47
1.14. O Papel do Professor de Biologia......................................... 48
CAPTULO II RELIGIO, EVOLUCIONISMO E CRIACIONISMO...
50
2.1. Religio e Cincia....................................................................
52
2.2. A Criao a partir da Cosmoviso Catlica.............................
55
2.3. O Humano na Criao.............................................................
57
2.4. Mitos e Mitologia......................................................................
58
2.5. Criao, Criacionistas e Criacionismo.....................................
62
2.6. Estruturas Conceituais do Evolucionimso e Criacionismo a
partir de um Ponto-de-Vista Teolgico Adventista...............................
67
2.6.1. Evolucionismo Naturalista..............................................
67
2.6.2. Evolucionismo Agnstico................................................
70
2.6.3. Evolucionismo Pantesta................................................
70
10
2.6.4. Evolucionismo Desta.....................................................
71
2.6.5. Evolucionismo Testa..................................................... 72
2.6.6. Criacionismo Progressivo...............................................
73
2.6.7. Criacionismo Bblico.......................................................
74
2.7. Informaes da Rede Internet.................................................
75
2.8. Vises de Religies Monotestas............................................ 78
2.8.1. Criacionismo da Terra Jovem.........................................
79
2.8.2. Criacionismo da Terra Antiga.........................................
80
2.8.3. Criacionismo Religioso...................................................
80
2.9. Criacionismo Cientfico............................................................
84
2.10. Desgnio Inteligente...............................................................
85
2.11. Criacionismo no Brasil...........................................................
86
2.12. Breve Panorama do Campo Religioso Brasileiro..................
89
2.13. Fundamentalismo, Dogmas e Doutrinas...............................
93
CAPTULO III
EVOLUCIONISMO E CRIACIONISMO NO
AMBIENTE ESCOLAR DA GRANDE SO PAULO...........................
95
3.1. A Pesquisa Proposta...............................................................
95
3.2. A Pesquisa de Campo.............................................................
97
3.3. Os Sujeitos Pesquisados.........................................................
97
3.4. Instrumental.............................................................................
98
3.5. Procedimentos.........................................................................
98
3.6. Representao das Figuras.................................................... 99
3.7. As Perguntas Respectivas s Figuras.....................................
100
3.8. Tratamento dos Dados............................................................
101
3.9. Resultados Obtidos nas Escolas Pesquisadas.......................
102
3.10. Dados da Pesquisa de Campo..............................................
106
3.11. Comentrios Gerais sobre os Dados Apresentados.............
139
CONSIDERAES FINAIS.................................................................
146
11
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS....................................................
152
ANEXOS.............................................................................................. 158
Anexo 1: Questionrio Aplicado.....................................................
158
Anexo 2: Instituies de Ensino e Igrejas.......................................
162
12
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Classificao dos primatas atuais........................................
36
Tabela 2: Taxonomia homdea: o lugar dos humanos e dos
homindeos no mundo biolgico (baseado em Le Gros Clark, 1949;
Szalay e Delson,1979).........................................................................
37
Tabela 3 Populao total e grupos religiosos no Brasil...................... 90
Tabela 4 Populao total do Estado de So Paulo (2000)................. 90
Tabela 5 Populao total do Municpio de Guarulhos/SP.................. 90
Tabela 6 Identificao dos alunos quanto idade das duas escolas
analisadas............................................................................................
102
Tabela 7 Identificao dos alunos quanto ao gnero......................... 102
Tabela 8 Adeso religiosa................................................................... 103
Tabela 9 Credo religioso quanto ao gnero........................................ 103
Tabela 10: Credo religioso dos alunos.................................................
103
Tabela 11: Igrejas freqentadas pelos alunos.....................................
104
Tabela 12: Credo religioso dos alunos resumido.................................
105
Tabela 13: Mapeamento dos dados de caracterizao dos alunos
pesquisados.........................................................................................
106
Tabela 14: Representao das respostas sobre a linha evolutiva do
homem, partindo de um mesmo ancestral comum..............................
109
Tabela 14a: Representao da opinio dos alunos quanto ao credo
religioso a respeito da linha evolutiva do homem, partindo de um
mesmo ancestral comum.....................................................................
110
Tabela 14b: Opinio dos alunos cristos quanto sua concordncia
ou no sobre a evoluo humana ter partido de um mesmo
ancestral comum..................................................................................
111
Tabela 15. Representao da ancestralidade comum: prossmios
(roedores/pr macacos).......................................................................
112
Tabela 15a: Aceitao da ancestralidade comum/prossmios entre
catlicos/evanglicos e sem religio....................................................
114
Tabela 16: Aceitao ou no da evoluo com mudanas
13
adaptativas...........................................................................................
116
Tabela 16a: Aceitao ou no da evoluo com mudanas
adaptativas, com base no credo religioso dos alunos.........................
117
Tabela 17: Corresponde opinio sobre a contraposio entre a
linha evolutiva humana com relao aos relatos bblicos do Gnesis 118
Tabela 17a: Corresponde opinio sobre a contraposio entre a
linha evolutiva humana com relao aos relatos bblicos do Gnesis,
considerando o credo religioso............................................................
119
Tabela 18: Reconhecem a ancestralidade homindea como oriunda
dos smios diretamente ou no............................................................
124
Tabela 18a: Reconhecem a ancestralidade homindea como oriunda
dos smios diretamente ou no, com base no credo religioso.............
125
Tabela 19: Representa idias da ancestralidade do homem como
sendo do macaco com vis cientfico ou criacionista..........................
127
Tabela 19a: Representa idias da ancestralidade do homem como
sendo do macaco com vis cientfico ou criacionista, levando em
conta o credo religioso.........................................................................
127
Tabela 20: A opinio dos alunos quanto contribuio de Darwin no
sculo XIX............................................................................................
130
Tabela 20a: Opinio dos alunos quanto contribuio de Darwin no
sculo XIX, levando em considerao seus credos religiosos............
131
Tabela 21: Origem da Humanidade: a criao ..................................
133
Tabela 21a: Origem da Humanidade: a criao , levando em conta
o credo dos alunos...............................................................................
133
Tabela 22: Surgimento da vida no universo h milhares de anos.......
136
Tabela 22a: Surgimento da vida no universo h milhares de anos,
levando em conta o credo dos alunos.................................................
136
Tabela 23: Surgimento da vida no universo com interveno de um
poder sobrenatural...............................................................................
138
Tabela 23a: Surgimento da vida no universo com interveno de um
poder sobrenatural, levando em considerao o credo dos alunos....
138
14
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Os humanos antes da humanidade......................................
40
Figura 2: Evoluo do bicho-homem...................................................
108
Figura 3: Representao esquemtica da possvel linha evolutiva
entre os Australopitecus e o Homo sapiens sapiens...........................
116
Figura 4: Linha evolutiva humana como descendente dos smios
(macacos)............................................................................................
122
Figura 5: Ainda sobre a linha evolutiva humana como descendente
dos smios (macacos)..........................................................................
123
Figura 6: Charge de Darwin.................................................................
129
Figura 7: Ado e Eva no paraso, o mito de criao do Gnesis.........
132
Figura 8: Galxia no universo..............................................................
135
15
INTRODUO
Apresentamos aqui uma temtica que no recente no mundo,
mas que vem ganhando cada vez mais fora no Brasil, principalmente a
partir das duas ltimas dcadas: a controvrsia entre Evolucionismo e
Criacionismo. Tal controvrsia est sendo debatida no meio acadmico e
religioso. No ir demorar muito para que em breve estas ganhem espao
em frum pblico, no s no plano Estadual como foi o caso do Rio de
Janeiro, mas em todo territrio Nacional. Nos Estados Unidos da Amrica j
existe esse impasse desde os anos 20. De alguma forma essa controvrsia
passou a ganhar fora ao passo que o campo religioso brasileiro foi se
configurando na mudana de um pas Cristo Catlico para um pas Cristo
Protestante (Pentecostal, Neopentecostal e Neocristo2).
Tal mudana no perfil religioso pode ser comprovada no ltimo
censo de 2000, e tambm identificada no contingente das escolas pblicas
onde foi realizada a pesquisa deste trabalho. A mudana social do perfil
religioso traz em seu bojo variaes epistemolgicas na cosmoviso dos
jovens, alunos do Ensino Mdio. Ao descrever a referida pesquisa
esperamos contribuir em alguns aspectos na compreenso da temtica e
sobretudo, dar visibilidade da questo em mbito escolar, isto , que a
discusso do evolucionismo e do criacionismo nos traga mais luz sobre
como anda a opinio de jovens alunos de ensino pblico e como est a
posio de professores (formadores de opinio) quanto questo ou
controvrsias entre cincias e religio, ou como queiram outros, entre f e
evoluo.
A motivao que nos moveu nesta direo de tentar clarificar o
motivo de tantas controvrsias entre ambos paradigmas foi a prtica
2 Segundo JACOB et al (2003), o grupo dos neocristos composto pelas religies Testemunha de Jeov, Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos ltimos Dias (Mrmos), e pela Legio da Boa Vontade/Religio de Deus.
16
docente. Considerando a experincia docente na disciplina de biologia junto
aos alunos do Ensino Mdio (3 ano) em escolas pblicas e, no trato de
assuntos como a origem do homem e do universo, observava entre os
alunos basicamente duas reaes: uma primeira, os alunos reagiam
normalmente s discusses da temtica, refletindo a respeito de suas
experincias e aprimorando seus conhecimentos; uma segunda, os alunos
reagiam de forma extremamente actica, tensa e conflituosa abordagem
cientfica e/ou evolucionista da origem do homem.
Como professora, pensava o que levaria esses alunos a reagirem
de forma to diversa e antagnica. Seria a forma de abordar o assunto em
sala de aula? Seriam suas pr-conceituaes a respeito do tema que
poderiam estar em conflito com a abordagem apresentada? Seria a forma de
encarar essa outra possibilidade de concepo que estaria causando
tamanho desconforto nestes? No tinha as respostas. Durante alguns anos
convivi com essas dvidas sem conseguir respostas satisfatrias. Estas
interrogaes me perseguiram e impulsionaram-me a estud-las
empiricamente.
Por certo, sabia que no eram questes muito simples, pois,
envolviam no mbito pedaggico, tenses e intenes entre as abordagens
cientfica, por um lado, e religiosa, por outro, no estudo da origem do
homem, da vida e do universo. Entendi que, para elucidar melhor a questo
teria que enfrentar desafios quanto compreenso do prprio contexto
macro-social e religioso que envolvia os alunos e as caractersticas
peculiares da escola e da comunidade a que estavam inseridos; bem como,
as inter-relaes destes elementos com outros .ampos do saber.
Basicamente, o que nos interessa investigar como a escola
pblica age e reage diante de questes e interrogaes de alunos com
determinada orientao religiosa que privilegia a abordagem bblica da
origem do homem e do universo e que se sentem agredidos no mbito da
17
sala de aula, com respeito a seu direito de crer e pensar sobre a criao do
homem como uma questo de ordem religiosa.
Em outras palavras, o que nos interessa saber, como alunos
concluintes do Ensino Mdio, lidam com a abordagem cientfica da origem
do homem, (que se contrape orientao religiosa sobre o mesmo
assunto: o mito da criao) e secundariamente, como a escola no papel de
mediadora desse conhecimento formal, bem como a figura do professor de
biologia como mediador do conhecimento por parte destes alunos, vem
administrando conflitos (que no so poucos) e tenses emergentes quando
da abordagem dessa temtica em sala de aula.
Dessa forma, entendemos que preciso saber lidar com questo
to relevante quanto complexa para melhor desempenho do corpo docente
em vista de garantir uma educao de melhor qualidade na escola pblica,
bem como, otimizar melhorias na compreenso e apreenso da construo
social da realidade e do conhecimento por parte dos alunos, contribuindo
simultaneamente para a formao, desenvolvimento e consolidao de uma
atitude de respeito mtuo entre alunos de orientao religiosa crist catlica
e protestante (orientaes que enfatizam a interpretao bblica da criao)
e a escola pblica (orientao laica que enfatiza uma imagem cientfica da
origem da vida).
Para lidar com esse aspecto, optamos, discorrer em nosso
trabalho por um vis interdisciplinar para nos ajudar na compreenso,
elucidao e clarificao dessas questes.
Neste sentido, entendemos que, dentro do universo escolar, pois
no espao de educao formal o lugar que o fenmeno da interao social
e intelectual acontece, onde h necessidade de proporcionar varias
possibilidades (idias) para a construo do intelecto do aluno e do ser que
est por detrs do mesmo.
18
Primeiramente, a biologia fornece um vis para entendermos a
relao do aluno como sujeito ativo biolgico-corpo que interage com a
biologia na dimenso da macro-viso da evoluo das espcies do tempo e
espao correspondente nos acontecimentos temporais da evoluo do
homem. Em segundo lugar, no campo filosfico o vis para a compreenso
do aluno como sujeito ativo do universo pensante-mente humana-e sua
interao-pensamento-religio e religiosidade. Em terceiro, a pedagogia o
hmus como mediador na discusso ou para dialogar essas questes na
construo do ser humano-corpo biolgico-mente filosfico. Por ltimo, a
religio vem neste mesmo contexto ser uma possibilidade de interao do
ser humano (aluno) como meio de interlocuo e alteridade entre o homem
(aluno) com o prprio homem (professor/outro) e perceber a sua evoluo
histrica (biolgica) e social (idias) enquanto um todo - a condio humana.
A religio nunca estar longe do homem, mas sempre interagindo
com ele na sua construo do social. Nesse sentido, entendemos que a
religio crist, a qual a esteira de nosso objeto de estudo, fornece uma
gama de fatores primordiais na construo social e do carter do indivduo
(aluno), como a moral, os valores e as virtudes, fazendo parte deste ser
humano (aluno) que compe as salas de aulas das escolas pblicas de todo
pas.
Neste momento atual, as tenses entre as idias (pensamentos)
sobre evolucionismo e criacionismo esto se processando. Na verdade a
pergunta : O que esta por detrs destas idias? Para ns, o que realmente
est em jogo so as perguntas: De onde viemos? Para onde vamos? Quem
somos? A religio e as cincias esto h mais de dois sculos tentando
responder essas perguntas, mascaradas entre a criao divina e a evoluo
dos seres. Para sabermos realmente o que est por detrs de tais idias
faremos uma retrospectiva do homem em seus aspectos evolutivo
(biolgico) e histrico-filosfico formando uma ponte na construo do que
hoje conhecemos como Homo sapiens.
19
No primeiro captulo apresentamos a contribuio cientfica que
Darwin deu com suas pesquisas, em especial a Teoria das Origens das
Espcies publicada em 1859, e as controvrsias que sugiram aps sua
publicao e a partir desta publicao dando incio uma srie de
controvrsias que se alargaram nestes ltimos 150 anos ao que se refere
origem do homem. O conceito de evoluo em seu sentido amplo e a
proposta curricular de biologia (PCNs). No segundo captulo abordamos a
cosmo-viso criacionista dos cristos Catlicos e Evanglicos (protestantes
histricos, pentecostais e neocristos) que se destacam na pesquisa. E bem
como, o processo histrico de construo desse pensamento. No terceiro
captulo apresentamos o percurso metodolgico da pesquisa, os dados
obtidos e o tratamento de dados, e finalmente, nossas consideraes finais.
20
CAPTULO I DARWIN, DARWINISMOS E A EVOLUO
Ao abrir este captulo citamos alguns recortes da autobiografia de
Darwin. Trata-se de uma traduo de trechos do documento redigido por
este em 1876 e publicado pelo seu filho Sir Francis Darwin. O objetivo desse
recorte fazer uma breve retrospectiva histrica dos passos que Darwin
percorreu na elaborao das Origens das Espcies descrita por ele mesmo.
Disseram-me algumas vezes que o sucesso do Origin
mostrou que o assunto estava no ar ou que os espritos
estavam preparados para ele . No penso que isto seja
estritamente verdadeiro, pois ocasionalmente sondei no
poucos naturalistas e nunca me aconteceu descobrir um
nico que parecesse duvidar da permanncia das espcies.
Mesmo Lyell e Hooker, que me ouviam com muito interesse,
nunca pareciam concordar comigo. Tentei uma ou duas
vezes explicar a pessoas competentes o que eu queria dizer
com Seleo Natural, mas evidentemente fracassei. O que
creio ser absolutamente verdadeiro que inmeros fatos
bem observados estavam armazenados no esprito dos
naturalistas, prontos a tomarem seu lugar certo logo que
alguma teoria que os acolhesse fosse competentemente
exposta. Outro elemento de sucesso do livro foi o seu
tamanho moderado; devo isto ao aparecimento do ensaio do
Sr. Wallace. Se o tivesse publicado na escala em que
comecei a escrev-lo em 1856, o livro teria sido quatro a
cinco vezes maior do que o Origin, e poucos teriam a
pacincia de l-lo. (...) Fui, quase sempre, tratado
honestamente pelos meus crticos, deixando de lado os
destitudos de conhecimento cientfico e que, por isto no
merecem referncia. Meus pontos de vista foram, em geral,
grosseiramente deturpados, amargamente combatidos e
ridicularizados, mas creio que tudo isto foi feito em boa f.
No todo, no duvido de que meus trabalhos foram, acima de
21
tudo, louvados com exagero. O meu Descent of Man foi
publicado em fevereiro de 1871. Logo que me convenci, em
1837 ou 1838, de que as espcies eram produes
mutveis, no poderia evitar a convico de que o Homem
deve estar sob a mesma lei. A redao do Descent of Man
tomou-se trs anos, mas, na poca, como de costume,
algum desse tempo era perdido devido minha m sade
(apud FREIRE-MAIA, 1988, p. 32).
Darwin, um ilustre naturalista, deixou para seus sucessores seu
legado, A Origem das Espcies, que contribuiu para que no meio cientfico
se desvendassem uma das importantes questes da poca, a origem da
vida, contendo os intrigantes dados levantados e coletados por Darwin em
suas viagens no HMS Beagle (1832 a 1835) ao redor da costa da Amrica
do Sul a servio do imprio britnico. A partir dessa viagem ele pode
observar caractersticas de relevos, aves, florestas, povos e muito mais que
encontrava pelo caminho, somando elementos para que pudesse elaborar
sua teoria. Esses dados serviram de anlise para compor os fatos sobre as
idias da descendncia comum entre os organismos vivos, juntamente com
os pensamentos de outros pesquisadores.
Darwin se encontrava no sculo XIX, poca onde o Iluminismo
teve um campo frtil na Inglaterra. Com a idia de progresso, os filsofos e
naturalistas desse sculo acreditavam que a razo seria a explicao para
todas as coisas no universo, e essa idia se contrapunha a crenas
religiosas, como a f crist (base comum de todo pensamento da poca). De
acordo com esses pensadores, as pessoas deveriam pensar por si prprias,
e no se deixar levar por outras ideologias que, apesar de no concordarem,
eram forados a seguir. O Iluminismo trouxe consigo grandes avanos que,
juntamente com a Revoluo Industrial, abriram espao para a profunda
mudana poltica instaurada pela Revoluo Francesa.
22
Darwin vivia nessa poca de fomento de novas idias, e sua
orientao religiosa junto com sua cosmo-viso estava pautada por vrias
influncias. De um lado, as idias da maonaria recebida na casa paterna,
de outro lado, o testemunho cristo que conhecido por ele atravs das duas
irms e da sua esposa. O background religioso, social e poltico da
Inglaterra, influenciaram os pensamentos de Darwin. Cuidadosamente
Darwin sabia o que poderia acontecer com a publicao de sua teoria. O que
ele apresentaria ao mundo cientfico e na sociedade poderia provocar um
dilema em todas as classes sociais, por isso, demorou tanto para publicar
sua teoria na Origem das Espcies (DESMOND e MOORE, 2001). Todo
cuidado era pouco com sua publicao, mesmo vislumbrando um
pensamento mais transformista e j considerando que o organismo vivo
poderia ser mutvel.
As idias evolucionistas (transformistas) j pairavam no
imaginrio cientfico permeado pelo esprito da poca, e no pensamento de
outros pesquisadores. Antes de Darwin, muitos pensadores j entretinham
idias sobre a transformao dos organismos vivos, ou seja, no foi s
Darwin que pensou sobre o assunto, houve vrios antecedentes a ele. Ele
se destacou na histria devido o momento ser propcio, por muitos
elementos favorveis para a validao e para a concluso de seus
pensamentos, sobretudo, a sistematizao dos dados coletados nas
viagens. Mesmo os ventos soprando em seu favor, suas idias geraram
enormes controvrsias no ambiente religioso. Darwin foi alvo de muitos
ataques ao longo dos anos. Charges comparando-o a um macaco eram
publicadas em jornais como forma de zombar da teoria, segundo a qual
ramos parentes dos primatas (Figura 6, Captulo III, p. 130). No foi s
Darwin que pensou numa possvel mutabilidade dos organismos vivos,
outros os fizeram, pensadores antes de Darwin e ps Darwin contriburam
para que fossem possveis os desenvolvimentos histricos da Teoria da
Evoluo. Vejamos alguns deles.
23
1.1. Pensadores Pr-Darwinistas e Suas Contribuies
Jan Swammerdam (1637-1680), naturalista holands e
microscopista, abandonou a medicina para investigar insetos e a anatomia
de pequenos animais. Usando novas tcnicas de laboratrio, melhorou o
conhecimento sobre o sistema circulatrio no homem e se tornou o primeiro
a descrever os corpsculos vermelhos em 1658. Estudou os batimentos
cardacos, o movimento dos pulmes e dos msculos. Sua obra foi
publicada aps sua morte sob o ttulo A Bblia da Natureza . Durante sua
vida descreveu e classificou centenas de espcies de insetos, aracndeos,
peixes e vermes. Seu livro Algemeene Verhandeling van bloedeloose
diertjens, uma histria natural dos insetos publicado em 1669, foi o primeiro
trabalho importante de entomologia. Tambm estudou embriologia e
acreditava na teoria do homnculo, ou da existncia de um homem
microscpico em pr-formao no esperma humano. Sua contribuio foi
sobre a refutao da amorfia dos insetos e sua evoluo por metamorfose
(DI MARE, 2002, p. 84).
Pierre-Loius Moreau de Maupertuis (1698-1759), matemtico e
cientista francs sugeriu em sua obra Vnus Physique que todos os
organismos poderiam ter tido um ancestral comum e divergido atravs de
variao aleatria e seleo natural. A Vnus Physique contm uma critica
s principais teorias embriolgicas que se propem a resolver os problemas
relacionados gerao de animais e do homem. Estes dois elementos
aparecem igualmente nas duas partes em que a obra se divide, sendo a
primeira, dedicada aos problemas gerais da gerao dos animais e a
segunda questo particular das raas humanas. tambm nesta segunda
parte que aparecem importantes idias sobre a transformao das espcies
(RAMOS, 2005, p. 79-101).
24
George-Louis Leclerc Buffon, Conde de Buffon (1707-1788), filho
de um conselheiro do Parlamento de Borgonha, cientista ilustre, e sua
carreira foi um extraordinrio sucesso social. Na Academia Francesa desde
1753, Buffon foi elevado nobreza por Luis XV em 1773. A obra de sua vida
realizada com uma equipe de colaboradores sua Histria Natural em 15
volumes com os ttulos: Terra, Homem, Quadrpedes, Pssaros e Minerais,
publicados entre 1749 e 1789. As pocas da Natureza
de 1779. Buffon
submeteu-se censura pronunciada contra o primeiro volume da Histria
Natural em 1749 e esforou-se em seguida em no ferir de frente as
doutrinas crists (DI MARE, 2002, p. 91-92).
Jean-Baptiste Pierre Antoine de Monet, Chevalier de Lamarck,
(1744-1829), naturalista francs do sculo XIX, ele foi quem, de fato,
introduziu o termo biologia, pois foi o primeiro a utilizar o termo para designar
o conjunto de disciplina dedicado ao estudo dos organismos vivos que
desenvolveu a teoria dos caracteres adquirida, uma teoria transformista. Os
pilares de sua obra foram constitudos pelas obras de Maupertius
(Philosophie zoologique 1809) e Buffon. Pertenceu ao exrcito francs,
interessou-se por histria natural e escreveu uma obra de vrios volumes
sobre a flora da Frana. Isto chamou a ateno do Conde de Buffon que o
indicou para o Museu de Histria Natural da Frana. Depois de ter
trabalhado durante vrios anos com plantas, Lamarck foi nomeado curador
dos invertebrados. Antes de iniciar seus estudos com vertebrados em 1800,
era um essencialista que acreditava que as espcies eram imutveis. Mas
depois, graas ao seu trabalho sobre os moluscos da Bacia de Paris, ficou
convencido da transmutao das espcies ao longo do tempo passando a
desenvolver a sua teoria sobre a transformao dos organismos vivos
(apresentada ao pblico em 1809 na sua Philosophie Zoologique), a fim de
explicar a teoria criada por ele, conhecida como Lei do Uso e Desuso (Ibid.,
p. 100-102).
25
Lamarck achava que as mudanas no ambiente faziam os
animais e plantas adquirirem novos hbitos, e que esses novos hbitos
tinham a capacidade de criar mudanas no organismo destes. Isto , ele
acreditava que, h muito tempo, as girafas tinham o pescoo curto. S que,
como elas habitavam em um lugar que tinha poucas plantas no cho,
comearam a esticar o pescoo para comer as folhas mais altas. Com esse
"esticamento", as girafas foram ficando com pescoos mais longos, ou seja,
como elas precisavam usar mais o pescoo, essa parte do corpo passou a
desenvolver-se (Ibid.).
George Cuvier (1769-1832), naturalista francs, impressionou o
mundo com sua teoria das catstrofes , que periodicamente abalam o
mundo, o sistema terrestre. So elas que, segundo o estudioso, explicam as
grandes transformaes geolgicas e os avanos da vida. Ele acreditava
que aps cada catstrofe, Deus aperfeioaria as espcies de vida
precedentes, que foram abaladas ou destrudas. Assim, aps a penltima
catstrofe, teria aparecido o homem, sendo a ltima delas o dilvio,
responsvel pelo aperfeioamento das culturas primitivas e pela inaugurao
das civilizaes humanas (Ibid., p. 102-106).
Charles Lyell (1797-1875), gelogo escocs, foi responsvel pela
subdiviso das pocas do Perodo Tercirio (1833). Considerado um dos
fundadores da estratigrafia, sua obra influenciou a geologia moderna. Com
base em sistemticos trabalhos de campo definiu a Teoria do
Uniformitarismo, ao afirmar que os processos naturais que ocorrem no
presente ocorreram tambm no passado, de forma semelhante. Essa teoria
contrariou a Teoria Catastrofista de Cuvier, bastante popular entre os
cientistas da poca, publicada em Principles of Geology, revisado e
reeditado 11 vezes entre 1830 e 1872. Lyell conquistou grande respeito com
seus trabalhos. Foi nomeado Sir em 1848 e Baro em 1864 (Ibid., p. 108-
111).
26
1.2. Pensadores Ps-Darwinistas e suas Contribuies
Thomas Henry Huxley (1825-1895) foi bilogo britnico que ficou
conhecido como O Buldogue de Darwin por ser o principal defensor pblico
da Teoria da Evoluo de Charles Darwin. Confidente de Darwin foi um dos
principais responsveis pelo sucesso da sua publicao das Origens das
Espcies. Logo aps conhecer (mas mantendo-se critico) a Seleo Natural,
usou sua influncia na Linnean Society a fim de divulgar os escritos de
Darwin. Em 1858, quando Darwin foi orientado (em parte por Huxley) a
elaborar rapidamente um artigo cientfico sobre a Teoria da Evoluo e
apresent-la em conjunto com o artigo semelhante de Alfred Russel Wallace
Linnean Society em Londres, a comunidade cientfica j era muito diferente
e permevel mudana. De fato, apesar da resistncia esperada, a
mudana de paradigma causada pela teoria da Evoluo coincidiu com uma
ampla mudana na cincia inglesa. Huxley acreditava em uma evoluo por
saltos bruscos. Em sua obra Homem na Natureza, publicada em 1863
demonstrou as relaes morfolgicas e anatmicas entre o homem e os
macacos antropides (DI MARE, 2002, p. 111-112).
Herbert Spencer (1820-1903), filsofo ingls, foi um dos
representantes do positivismo e profundo admirador da obra de Darwin.
dele a expresso "sobrevivncia do mais apto". Em sua obra procurou
aplicar as leis da evoluo a todos os nveis da atividade humana. Foi
considerado o pai do Darwinismo social, embora jamais tenha utilizado o
termo. Com base em suas idias, alguns autores procuraram justificar a
diviso da sociedade em classes e o imperialismo europeu, sugerindo que
estes seriam exemplos de seleo natural. Spencer integrou nos princpios
de sociologia e tica que promove um entendimento confuso entre
darwinismo e seleo social assimilando a sociedade como um
superorganismo, aplicando a seleo natural (Ibid., p. 118-120).
27
Pierre Teilhard de Chardin (1881-1955), padre-jesuta, telogo,
filsofo e paleontlogo francs, como escritor elaborou a obra-prima O
Fenmeno Humano, alm de centenas de outros escritos sobre a condio
humana. Como paleontlogo, esteve presente na descoberta do homem de
Pequim. Segundo Di Mare (2002), Teilhard em sua obra procurou
demonstrar que o nosso Universo, no apenas est em evoluo, mas
uma evoluo (Ibid., p. 120-124).
Gregrio Mendel (1822-1884), monge agostiniano, pesquisou
sobre a transmisso de caracteres em ervilhas e estabeleceu as bases para
o desenvolvimento da gentica. Cruzou uma ervilha de flor vermelha e casca
lisa com uma ervilha de flor branca e casca rugosa. Tal experincia resultou
em ervilhas de flor vermelha e casca lisa e ervilhas de flor branca e casca
rugosa. Com isso Mendel conseguiu comprovar que as caractersticas de um
organismo poderiam ser transmitidas de uma gerao a outra a partir de um
segmento, ou seja, um nico gene (SYSBIBLI, 1975, p. 89-120).
1.3. Pensadores Neodarwinistas e Suas Contribuies
Thomas Hunt Morgan (1866-1945) trabalhou em Histria Natural,
Zoologia, e macro-mutaes da Drosophila. Baseou seus trabalhos na
evoluo experimental em um esforo para distinguir entre teorias
evolucionistas darwinistas, neolamarckistas atravs de cruzamentos
experimentais e anlise mendeliana, e tornou-se um dos principais modelos
na rea da gentica com animais. Suas contribuies mais importantes se
deram no campo da gentica. Graas a isso, foi premiado com o Nobel da
Medicina (1933), pelo fato de haver provado que os cromossomos so
portadores de genes. Contriburam tambm Alfred Henry Sturtevant (1891-
1970) trabalhando com pedigree de cavalos e Ernst Mayr (1904-2005)
bilogo de origem alem que dedicou grande parte da sua carreira ao estudo
da evoluo, gentica de populaes e taxonomia. Descendente de diversas
geraes de mdicos, abriu mo da carreira, voltando-se para o estudo da
28
Zoologia. Durante os anos 30 tomou parte numa expedio Nova Guin e
s Ilhas Salomo, onde estudou a fauna, especialmente a ornitolgica.
Dedicou-se a aprofundar a teoria de Darwin, elucidando o percurso do
darwinismo nas cincias modernas. Contribuiu ao vislumbrar na teoria
darwiniana a possibilidade de cinco teorias em uma s: evoluo como tal,
ascendente comum, gradualismo, multiplicao das espcies e seleo
natural (MAYR, 2006).
Assim sendo, apresentamos at aqui, pensadores que marcaram
poca nas cincias e na biologia. Foram marcos de referenciais na
elucidao de fatos que contriburam na construo e interpretao da
Teoria da Evoluo. Entretanto, sabemos que no foram mencionados
outros importantes nomes de ilustre pensadores como Carl von Linn (1707-
1778), Louis Pasteur (1821-1892), Ernst Heinrich Haeckel (1834-1919), entre
outros. Mas neste momento queremos evidenciar que a Teoria da Evoluo
teve um processo histrico longo e controvertido para se chegar nas
proposies atuais. medida que o tempo foi passando, a complexidade da
origem do homem ganhou destaque na cincia moderna.
1.4. O Darwinismo
Uma das personalidades mais comentadas nos anos de 1860 foi
Darwin sob a tica Huxleyana. Huxley criou uma frase que ficou marcada na
histria como referncia para indicar princpios e idias embasados nos
postulados darwinianos, chamando-o de darwinismo. Em 1864 Huxley (e
mais tarde o senhor Wallace), publicou um volume inteiro intitulado
Darwinismo (MAYR, 2006).
A palavra darwinismo tem significados diferentes entre fatores
ideolgicos e na compreenso de outros pases e nas diferentes pocas.
Quem pode clarificar quanto questo sobre o darwinismo o prprio
Darwin, quando postulou sua prpria teoria como monoltica a teoria da
29
descendncia com modificao pela seleo natural , como se a teoria da
origem comum fosse inseparvel da teoria da seleo natural (MAYR, 2006).
Entretanto, segundo o mesmo, esta teoria foi sendo estudada com o passar
do tempo por diversos pesquisadores evolucionistas e se chegou a uma
concluso: a Teoria da Evoluo de Darwin poderia ser estudada a partir de
cinco teorias: a evoluo propriamente dita; descendncia comum;
gradualismo versus saltacionismo; multiplicao das espcies e a seleo
natural. Alm disso, o darwinismo se consolidou em 1940 com o impacto da
revoluo molecular, ou seja, biologia molecular, sempre estando firmada
em seu conceito original a variao das espcies e a descendncia comum
(MAYR, 2006).
Ante o exposto, precisamos considerar alguns conceitos para
elucidao da trajetria evolutiva dos seres vivos e do homem. Entendemos
que se faz necessrio apresentar conceitos explicativos a respeito da teoria
da evoluo. Contaremos para essa apresentao com Freire-Maia (1988),
Futuyma (2002) e Foley (2003).
1.5. Evoluo e Conceitos
A palavra, ou termo evoluo tem diversas formas de designao:
srie de modificaes graduais e contnuas susceptveis de reger o mundo
fsico (e cosmolgico), o dos vivos, ou, ainda, a sociedade. Outra delas
segundo Freire-Maia (1988), significa qualquer mudana ocorrida na
constituio gentica das unidades taxonmicas dos animais e das plantas,
na formao de novas variedades ou subespcie, por exemplo, de evoluo.
Outras definies sugeridas, a exemplo de Teilhard de Chardin, consistem
na evoluo como algo que transborda os limites da biologia e envolve todo
o desenvolver do universo, da matria primeira ao reino de Deus. Para
Branco (2004), a palavra evoluo tem origem latina, evoluir significa
literalmente desenrolar passar progressivamente de um estado para outro.
30
De acordo com Freire-Maia (1988), na evoluo, a tendncia de
produzir formas primitivas (organismos vivos) acaba por originar outras
formas futuras. Dentro de um ponto de vista gradualista, ou seja, a vida
partindo de um microorganismo simples para um organismo mais complexo,
lembra a seleo natural de Darwin. Nesse contexto, todo processo evolutivo
representa um processo complexo.
As mudanas culturais e tecnolgicas partem de um princpio
evolutivo, lembrando as idias gradualistas. A teoria da evoluo como uma
boa teoria, apresenta alguns princpios metodolgicos ou mtodos empricos
para sua compreenso.
Sendo assim, as definies apresentadas foram retiradas de
Freire-Maia (1988, p. 93), que nos forneceu dados para melhor
identificarmos pontos cruciais na evoluo da biologia, dividindo as etapas
evolutivas de formas vivas em diversos nveis como, por exemplo:
(1) Micro-evoluo: variao, ou freqncia de uma ou poucas variantes
genticas (mutaes).
(2) Meso-evoluo: origem das raas geogrficas pela variao das
freqncias de um nmero aprecivel de mutaes, isto , criao de
comunidade gentica adaptada e integrada.
(3) Macro-evoluo: origem das espcies e sua conseqente diversificao
em categorias sistemticas situadas pouco acima delas (subgnero,
gneros, subfamlias, famlias, tribo, etc.).
(4) Mega-evoluo: origem das mais altas categorias sistemticas (reinos,
filo, subfilos, superclasses, classes, etc.).
31
Mediante tais fatos, a Evoluo opera de duas formas: primeiro,
por diversificao ou ramificaes de populaes diferentes em que cada
qual passa a seguir caminho diferente; e segundo, pela diferena ao longo
de tempo, de uma mesma populao podendo diversificar-se a si mesma.
1.6. Quanto Velocidade em que Ocorre a Evoluo
A evoluo um processo que envolve mudana no tempo,
podendo ser medida pela velocidade atravs dos anos, com base nos
fsseis disponveis. Essas velocidades so classificadas em rpidas, lentas
e moderadas.
Evoluo lenta (bradeditelia) atravessa dezenas ou centenas de
milhes de anos sem mudana morfolgica aparente, exemplos dessa
evoluo lenta so as ostras, os gambs, as liblulas, as lampreias, o
celacanto, as baratas, etc., chamados de fsseis vivos . A evoluo normal
surgiu com uma grande exploso de vrias espcies de animais no
Jurssico, h cerca de 170 milhes de anos, nesse perodo a transio de
rptil-mamfero deve ter ocorrido alguns milhes de anos antes, a partir dos
rpteis terapsidos do trissico. Os animais que participaram dessa evoluo
foram os cavalos e elefantes apesar de apresentarem uma evoluo normal,
se comparamos os fsseis vivos acima mencionados, ento essa evoluo
pode ser considerada bem rpida (taquitelia). Segundo Freire-Maia (1988),
as exploses evolutivas se concentram nesses grandes grupos sistemticos,
que se deram to depressa que no deixaram suficiente documentao
(registros fsseis).
(...) O primeiro peixe j era peixe, a primeira ave j era ave,
o primeiro mamfero j era mamfero. claro que h formas
intermedirias, mas elas no se encontram nem no incio e
nem no meio do prprio meio; elas se acham j no fim do
meio. Assim que os intermedirios entre os rpteis e as
32
aves apresentam traos reptilianos, mas j so aves (isto
esto mais prximos das aves do que dos rpteis). Os
mamferos derivaram, provavelmente, de um grupo bem
especfico de rpteis, mas suas primeiras formas, se bem
que apresentando traos reptilianos, esto mais prximas
dos mamferos do que dos rpteis. Mas no s preciso ir
to alto: os primeiros morcegos cujos fsseis possumos j
tinham asas membranosas e voavam (FREIRE-MAIA, 1988,
p. 97).
Podemos catalogar a evoluo em trs nveis como j vimos,
lenta, normal e rpida, entretanto, esses nveis de evoluo so
determinados na base dos fsseis disponveis. Como em geral esses fsseis
so fragmentos de apenas partes dos organismos ento a evoluo se torna
difcil de ser investigada e sistematizada principalmente quanto aos fsseis
de elos de ligao e os problemas na verificao dos fsseis quanto ao
critrio e a determinao das categorias, o que dificulta a comparao das
mesmas. A velocidade da evoluo nos ajuda a compreender quanto ao
processo evolutivo das espcies e os desafios que esto por vir.
Essas definies apresentam as seguintes caractersticas: a
evoluo abrange sucessivas dimenses para se consolidar; necessita de
espao (geogrfico), tempo, adaptaes e mutaes. Contudo, no s
dessa forma que se baseia a evoluo, mas envolve uma gama de
complexidade que promove essas mudanas nas geraes futuras.
1.7. Seleo Natural
A seleo natural consiste num mecanismo gerador de um alto
grau de improbabilidade, principalmente quando depende da adaptividade.
Explica que a Seleo Natural atuao de viabilidades e fertilidades
diferenciais por motivos genticos (FREIRE-MAIA, 1988). O mesmo cita
33
alguns autores a fim de elucidar a seleo natural, como por exemplo,
Dobzhansky, para quem: a essncia da seleo natural a reproduo
diferencial dos portadores de diferentes dotaes hereditrias . Depois, cita
Ayala, para quem: a seleo natural simplesmente o processo de
reproduo diferencial de variantes genticas alternativas ou uma distoro
estatstica da eficincia reprodutiva a favor das variantes genticas, mais
adaptativas . Outro mencionado Julian Huxley que diz: a teoria da seleo
natural baseia-se em trs fatos e duas dedues, primeiro nas tendncias
gerais dos seres vivos em aumentar em nmero; segundo, apesar dessa
tendncia, o seu nmero mantm-se mais ou menos constante . De acordo
com os princpios darwinianos, sob a tica Huxleyana, Freire-Maia (1988, p.
108), apresenta seis itens importantes ao entendimento da seleo natural, a
saber:
(1) O nmero de indivduos em qualquer populao tende a aumentar
geometricamente quando as condies permitem a sobrevivncia de toda a
prognie.
(2) O potencial para rpido aumento raramente se cumpre.
(3) Darwin deduziu destes fatos que ocorre uma competio ou luta pela
sobrevivncia na qual muitos indivduos so eliminados.
(4) Variao na forma de diferenas individuais existe em cada espcie ou
populao.
(5) Pelas diferenas observadas entre indivduos e entre variedades, Darwin
deduziu que o processo de eliminao era seletivo.
(6) Evoluo uma mudana gradual na composio hereditria da espcie.
34
Esses pontos que levantamos aqui so relevantes para perceber
o processo evolutivo dos seres vivos e do homem em geral e os critrios
metodolgicos oriundos das pesquisas de Darwin que nos auxiliaram at
agora. A histria evolutiva do homem composta de mudanas e
adaptaes comportamentais e anatmicas. Os padres de alterao
ambiental e do desenvolvimento comportamental so, portanto, partes da
histria da evoluo da nossa espcie. O primeiro est gravado no registro
geolgico e paleontolgico, o segundo nos restos materiais que constituem a
base da arqueologia. Os humanos se tornaram o que so atravs de uma
aprendizagem intensa das habilidades de sobrevivncia e costumes sociais
que os diferenciam em grande parte dos outros animais.
A evoluo da espcie humana apenas mais uma dentre as
milhes de espcies que evoluram com o passar do tempo, e tem habitado
este planeta. Para tentar compreender a evoluo do bicho homem e dos
homindeos como um todo necessrio consider-la sob o ponto de vista da
evoluo da vida em geral (FOLEY, 1993, p. 29-31).
Os caminhos percorridos pelo homem moderno, assim como suas
origens, so pontos primordiais de muitas pesquisas no mundo todo. Os
achados em arqueologia e paleontologia traam as possveis migraes
populacionais que ocorreram ao longo da histria. Na busca das nossas
origens precisamos estar atentos ancestralidade e ao processo evolutivo
humano, que se fazem necessrios para melhor entendermos os aspectos
biolgicos dos nossos antepassados. O foco at aqui foi descrio do
processo de formao e consolidao da Teoria da Evoluo e seu percurso
nestes ltimos 150 anos quanto origem do homem, sobretudo e
fundamentalmente, a partir dos escritos darwinianos, refazendo a trajetria
da espcie.
35
1.8. A Trajetria dos Antepassados Humanos
Ao tratar da questo de nossos antepassados, Darwin em A
descendncia do homem, publicado em fevereiro de 1871, exps o seguinte:
logo que me convenci, em 1837 ou 1838, de que as espcies eram
produes mutveis, no poderia evitar a convico de que o Homem deve
estar sob a mesma lei . (apud Freire Maia, 1988, p. 33).
Segundo Freire-Maia (1988), a origem e evoluo do Homem so
terrenos movedios incertos, todo cuidado pouco. Nesse sentido, os dados
muitas vezes so escassos e pouco seguros. Mas nas ltimas dcadas
aumentou a descoberta de stios arqueolgicos e paleontolgicos, onde o
nmero de fsseis de homindeos cresceu significativamente.
Por isso, concordamos com a idia de Montanari (1995), e nos
propomos a, fazer uma aproximao terica com os escritos de Freire-Maia
(1988), Futuyma (2002) e Foley (2003), quanto representao
esquemtica da possvel linha evolutiva dos Austrolopitecus ao Homo
sapiens. Para situar o leitor sobre a ancestralidade humana, assim esta ser
mais bem elucidada conforme o que est na Figura 2 do questionrio
aplicado na pesquisa, lembrando que as informaes sobre os respectivos
homindeos e dos macacos do Velho Mundo constituem uma sntese retirada
dos trs autores acima mencionados.
A ancestralidade dos primatas percorre um longo caminho
distinto, e para melhor elucid-la, observaremos a Tabela 1 a seguir.
Segundo Futuyma (2002), a classificao dos primatas atuais :
36
Tabela 1: Classificao dos primatas atuais
Ordem Primata
Subordem Prosimii
Infra-ordem Lemuriformes
Famlia Lemuridae, indriidae, Daubentoniidae (lmures, indrie e
daubentonia)
Infra-ordem Lorisiformes
Famlia Lorisidae (prossmios africanos do Sri-Lanka e Java)
Famlia Tarsiidae (trsio)
Subordem Anthropoidea
Infra-ordem Platyrrhini
Superfamlia Ceboidea
Famlia Callitrichidae, Cebidae (sagis, micos e outros macacos do Novo
Mundo)
Infra-ordem Catarrhini
Superfamlia Cereopithecoidea
Famlia Cercopithecidade (macaco do Velho Mundo)
Supre famlia Hominoidea
Famlia Hylobatidae (gibes, gibo gigante de Sumatra, siamang )
Famlia Pongidae (gnero Pongo, orangotango; Pan, Chimpanz: Gorilla,
gorila)
Famlia Hominidae (Gnero Homo)
Fonte: FUTUYMA, 2002, p. 533.
37
Tabela 2: Taxonomia homdea: o lugar dos humanos e dos homindeos no
mundo biolgico (baseado em Le Gros Clark, 1949; Szalay e Delson,1979)
Categoria
Taxonmica
Nome
lineano
Nome
comum
Grupo de animais
Classe Mammalia Mamferos
Todos os animais de sangue quente, com plos, que carregam crias vivparas.
Ordem Primates Primatas Prossmios, macacos smios e homem. Subordem Haplorhini Haplorrneos Trsios, macacos, smios e
homem. Infraordem Catarrhini Catarrineos Macacos do Velho Mundo,
smios e homem. Superfamlia Hominoidea Hominides Smios e homem
Famlia Hominidae Homindeos Homem e seus ancestrais
Gnero Homo Hominneos Homem
Espcie H. Sapiens Homem recente
Subespecie H.s.sapiens Homem anatomicamente moderno (humanos)
Fonte: FOLEY, 1993, p. 43.
Nessa escala evolutiva iniciaremos com as vrias espcies de
Australopithecus dos quais j se encontraram fsseis persuasivos. Incluem
alm de A. afarensis e A. africanus, apesar da aparncia simiesca, o
Australopithecus (Macaco do Sul), cuja ocorrncia alguns situam pouco
menos de dois milhes de anos atrs e, sem dvida o mais antigo gnero
conhecido de homindeos.
Australopithecus afarensis um dos mais completos homindeos
encontrados; seus fsseis foram datados entre 3,6 e 3,8 milhes de anos.
Lucy o exemplar feminino considerado o fssil do pr-Homo mais completo
at hoje. Possveis pegadas suas foram encontradas, reconhecidas no
mesmo sitio arqueolgico. As anlises das pegadas mostram que no
diferem substancialmente das nossas, quando feitas sobre o mesmo
38
substrato o que demonstra bipedia, que vivia em terreno aberto e
relativamente seco.
Australopithecus africanus, o primeiro Australopitecneo a ser
descoberto, em 1924, na regio da Taung, sul da frica, pelo paleontlogo
australiano Raymond Dart, mostrava muitas caractersticas homindeas,
apesar de o crnio ter aparncia simiesca. Muitos colocaram em dvida a
descoberta e afirmaram ser crnio de um pequeno gorila. Mas a dentio era
semelhante demais do ser humano. Estima-se que tenha vivido entre 3,5 e
2,5 milhes de anos atrs. Era bpede pelo que indica a anatomia de sua
espinha, de sua plvis e de seu fmur; devido ao clima que enfrentou na
regio equatorial, supe-se que a espcie tinha pele escura e poucos plos.
Paranthropus Boise, encontrado em 1959 no desfiladeiro de
Oldupai, na Tanznia, leva o nome do industrial britnico que financiou os
trabalhos arqueolgicos. Foi um homindeo que habitou nos pastos da
savana entre 2 milhes e 1 milho de anos atrs. Tinha crnio grande com
acentuadas, e estrias nos ligamentos musculares, mandbulas pesadas e
grandes molares dentes trituradores. A configurao das mos indica que
era apto a fabricar ferramentas.
Homo habilis foi a primeira espcie do gnero Homo encontrada
na garganta de Olduvai (1960), na Tanznia. Viveu entre 2,4 e 1,5 milhes
de anos atrs. Distingue-se dos Australopithecus por possuir face e
mandbulas e dentio menores, com dentes pequenos. Sua capacidade
craniana est entre 600 e 700 cc em contraste ao valor de 380 a 450 cc do
Australopithecus afarensis. Fabricava ferramentas simples de pedra e,
possivelmente, com ossos de animais. Os cientistas se dividem quanto sua
condio de ancestral direto do homem moderno. Alguns afirmam que ao
invs dele ser nosso antepassado, foi seu contemporneo, o Homo
rudolfensis, (antecessor do homem, encontrado em uma caverna na
Espanha,e que possui a face muito semelhante ao homem moderno).
39
Homo erectus. Seus fsseis foram achados na sia, na frica e
na Europa; era um ser totalmente bpede, com capacidade craniana de 900
cm, quase o dobro do ancestral, o Australopithecus, mas com rbitas e
mandbulas semelhantes s dos macacos antropides. Morava em cavernas
e foi, possivelmente, o primeiro homindeo a utilizar fogo e vestimentas, o
que propiciou migraes para lugares mais frios. Tinha como ferramenta de
caa, a lana, feita de madeira ou de presa de elefante. A antiga
denominao que compreendia tambm o chamado homem de Pequim foi
substituda pela de Homo erectus. Mais tarde se localizaram outros fsseis
semelhantes a este na Europa (homem de Heidelberg) e na frica
(Atlanthropus). Tais variedades da espcie genericamente Homo erectus
tiveram, segundo as diversas hipteses paleontolgicas, um perodo de
durao varivel, entre 1,6 milhes a 130.000 anos atrs.
Homo sapiens neandertalensis. Eram indivduos de caixa
craniana e rosto grande, que teriam vivido no sul e no centro da Europa,
assim no Oriente Mdio, entre 135.000 e 30.000 anos atrs. Supe-se que o
desaparecimento do homem de Neandertal resultou do predomnio da outra
subespcie, o homem de Cro-Magnon, que procedia do Oriente.
Os primeiros fsseis de Cro-Magnon (localidade do sul da Frana)
tm cerca de 32.000 anos, mas provvel que tenham penetrado na Europa
antes dessa data. Outra hiptese atribui a extino do homem de Neandertal
ao cruzamento entre as duas subespcies. Os dois tipos de esqueletos
foram encontrados, praticamente juntos, no Monte Carmelo, em Israel.
Homo sapiens, homem moderno poderia ter surgido
aproximadamente h 150 mil anos, descendentes dos Neandertais. H
controvrsias entre correntes de pesquisadores supondo que os Neandertais
no seriam nossos descendentes, mas apenas competimos com eles quanto
ao espao geogrfico, desalojando-os de sua regio e levando-os ao
40
desaparecimento; isto uma hiptese, segundo Freire-Maia (1988) mais
plausvel.
A histria dos homindeos deriva de uma srie de radiaes
adaptativas ao longo do tempo, de origem muitas vezes incerta. A
classificao dos homindeos pode mudar a qualquer momento, a partir de
uma nova descoberta de fssil, constituindo-se numa nova viso alternativa,
de interpretao proposta pela cincia.
Sendo assim, conclumos que o passo da evoluo humana est
cada vez mais claro para o mundo cientfico. A certeza da origem no existe
fielmente. A cada fssil encontrado, sugere uma nova histria ou um
complemento da histria j existente. Nos dias atuais a certeza que temos
que os primeiros primatas surgiram na era Cenozica e que, da evoluo
destes, surgiu o Homo Sapiens, mas ao certo, nunca teremos respostas,
pois cada descoberta possui diversas interpretaes e atravs destas, que
se tenta desvendar os mistrios da evoluo humana.
Figura 1: Os humanos antes da humanidade.
Fonte: FOLEY, 2003, p. 141.
41
1.9. O Homem Veio do Macaco ou No?
Afinal, o homem descende ou no do macaco? A resposta que
Freire-Maia (1988) nos d que o homem no descende do macaco, mas a
linha evolutiva entre o homem e o macaco diverge aproximadamente de 15
milhes de anos ou mais. Em outras palavras, essa divergncia teve incio
na famlia Pongidae que possivelmente originou o homindeo. Contudo, a
nica certeza que temos que surgiro novas pistas.
De qualquer modo, o certo que a publicao do Origem das
Espcies chocou as cincias do sculo XIX. Podemos dizer que, a
compreenso do mundo antes de Darwin, era regida pela fsica, a natureza
viva era postulada por reflexo filosfica; com o advento da seleo natural
mesclada nas idias vigentes da poca instaurou-se uma nova viso de
mundo na cincia secular.
O darwinismo conhecido como um agente antagnico dos
pensamentos fisicalistas revigorou a biologia. A biologia estava ganhando
uma ateno, principalmente aps a contribuio do pensamento Darwinista.
Antes de Darwin a biologia era regida por pensamentos essencialistas,
deterministas e reducionistas, baseando-se em leis cartesianas.
Com a complexidade que os estudos dos organismos vivos
estavam emergindo, eles no cabiam mais como uma roupa justa para a
biologia. Mesmo a biologia sendo filha do positivismo, foi um avano muito
grande livr-la de leis fisicalistas e adapt-la a uma abordagem mais
conceitual. Com isso, esta entrou no sculo XX ganhando autonomia. Uma
das vertentes da biologia foi a Antropologia, pois o paradigma darwiniano
possibilitou um novo vis ao estudo do homem, muitas outras reas do
conhecimento se fortaleceram assumindo uma abordagem darwinista.
Lembrando que muitos naturalistas e bilogos adentraram o sculo XX
42
sabendo das idias de Darwin, mas passaram-se quase oitenta anos para
que as idias de Darwin ganhassem o espao merecido.
1.10. A Biologia como Cincia
A biologia tem um espao de destaque nas cincias, talvez seja o
mais novo dos empreendimentos intelectuais humanos, o saber cientfico se
configura a partir do senso comum at chegar ao conhecimento cientfico. A
surge uma gama de importantes conquistas humanas, principalmente, o que
se refere aos artefatos tecnolgicos, contribuindo para melhorar a qualidade
de vida. Compreender as cincias em todas suas vertentes significa
compreender um pouco do mundo contemporneo incluindo sua
subjetividade.
No mbito educacional, o ensino de cincias se encontra em
qualquer grade curricular de estudos para crianas jovens e adultos. Um
adolescente hoje em qualquer lugar do mundo sabe mais sobre cincias do
que um adolescente do inicio do sculo XIX.
Entendemos que Darwin foi uma pea importante para a cincia e
a biologia. Alm da publicao do Origem das Espcies em 1859, que foi um
dos fatores relevantes para os avanos da cincia moderna, as idias de
evoluo por meio de seleo natural ameaaram diversas posturas
intelectuais, no s os fundamentalistas cristos, mas uma oposio dos
cientistas sociais que naquele momento acharam as idias de Darwin
irrelevantes. Em Origem das Espcies e Linhagem do Homem, Charles
Darwin colocou disposio um importante mecanismo cientfico por meio
do qual os humanos poderiam ter surgido sem necessidade de interveno
divina. O fato que na medida que as idias darwinianas foram ganhando
espao, ou seja, mais adeptos, as controvrsias passaram a existir. Contudo
nos prximos captulos vamos vislumbrar um pouco do contexto da evoluo
43
no mbito educacional e no mbito religioso onde ainda se propagam
controvrsias entre criao e evoluo.
1.11. A Cincia no Brasil
No Brasil, o ensino de cincias est normatizado nas leis de
diretrizes e bases da educao nacional (LDB n 9.394/96), e a mesma est
vinculada ao desenvolvimento cientfico do pas ou regio, e ao
desenvolvimento cientfico mundial. Historicamente, pases de longa tradio
cientfica, como Inglaterra, Frana, Alemanha, Itlia e Espanha, contriburam
para definir prioridades e inclinaes para o que se deve ensinar em
Cincias, Biologia, Qumica e muitas outras disciplinas, desde o elementar
at ao ensino superior (DELIZOICOV; ANGOTTI, 1994).
No entanto, desde o incio do sculo XX, no Brasil,
especificamente em 1920, comeou a haver uma preocupao com o ensino
de cincias. O Estado interveio na educao fundamental a partir de 1950,
poca fervorosa da industrializao. A partir dos anos 70, a nova direo do
programa de cincias, estava baseada nos avanos tecnolgicos de uma
economia industrial emergente. Os anos 80 foram marcados pelo fim da
ditadura, as diretas-j e a democracia; o momento de transio da educao
era regido pelo mercado de trabalho. Nessa dcada o Brasil caminhava para
disputar um lugar no ranking dos pases desenvolvidos. Cuidadosamente, o
mercado de trabalho brasileiro incitou o meio educacional a traar o novo
perfil de sua mo-de-obra: a qualificao passou a ser um ponto decisivo,
pois o que antes exigia tcnicas, agora alm das tcnicas, exigia-se o
conhecimento mais abrangente, para satisfazer os consumidores cada vez
mais exigentes, pois, o mercado havia se tornado muito mais competitivo.
Portanto, no bastava mais s saber apertar o boto, as especialidades se
tornaram um ponto de limitao para este mercado.
44
Os anos 90 foram marcados pela globalizao, o mercado de
trabalho passou por uma forte mudana e a educao teve que se adaptar.
Agora, se antes era necessrio ter uma especializao apenas para entrar
no mercado de trabalho, agora se fazia necessria uma especializao e um
amplo conhecimento do produto a ser oferecido. A Educao teve que se
reorganizar para qualificar essa mo-de-obra. A Lei de Diretrizes e Bases da
Educao Nacional ou LDB, dentro da dcada dos anos 90, comeou a
traar uma nova viso de educao.
Nossa educao sempre foi influenciada por aquela educao
norte-americana ou europia, sempre flutuando de acordo com as correntes
pedaggicas ou a influncia do capital estrangeiro.
Para nortear e normatizar os currculos mnimos da educao
brasileira dentro das unidades federativas, props-se um referencial de
qualidade para a educao no ensino fundamental e no ensino mdio: os
parmetros curriculares nacionais, os PCN s, com base em uma proposta
flexvel, caracterizada nas decises regionais do Estado, a fim de garantir as
diversidades culturais, regionais, tnicas, religiosas e polticas. Assim sendo,
as propostas curriculares dos Estados passaram a ficar imbricadas nas
exigncias do mercado de trabalho, e conseqentemente, atreladas aos
PCN s, normatizando os diversos currculos e as disciplinas que os
compem.
Contudo, o Ensino de biologia tem sido analisado pelos
especialistas (educadores/bilogos) com muita ateno nestes ltimos anos.
Isso o que iremos ver a seguir.
1.12. O Currculo de Biologia e os PCN s
O currculo de biologia, por muitos anos foi centrado na
memorizao e no preparo dos alunos para o vestibular. Com as
45
problemticas ambientais que nesses ltimos anos vm sendo apontados
pela mdia, houve uma necessidade de se elaborar uma nova proposta
curricular. Logo aps a publicao da Lei de Diretrizes e Bases da Educao
Brasileira (LDB), foram publicadas normatizaes para ajustar a nova
realidade educacional com as tendncias curriculares, na formao dos
jovens de todo Brasil. A primeira preposio quanto ao ensino mdio,
resumiu-se s Diretrizes Curriculares do Ensino Mdio (DCNEM), que por
sua vez, no foram suficientes para definir essa organizao curricular.
Em complementao ao DCNEM surgiu o PCNEM (Parmetro
Curricular Nacional para o Ensino Mdio). Segundo Bizzo (2004), o PCNEM
apresenta algumas lacunas que precisam ser preenchidas; as propostas
oferecidas como sugesto, no aprofundam suficientemente suas principais
questes junto aos professores; o texto perde-se em exerccios de reflexo
que so pouco efetivos quando aplicados em sala de aula. Portanto, apesar
do documento trazer orientaes gerais sobre os princpios norteadores da
prtica didtica faltam, na verdade, sugestes e propostas ao professor do
como fazer .
(...) O texto sobre Conhecimentos de biologia nos PCNEM s
tenta apresentar sugestes para uma abordagem que
relacione teoria e prtica. Ela seria fruto de uma educao
tecnolgica bsica, na qual o educando poderia demonstrar
domnio dos princpios cientficos e tecnolgicos da Biologia
que a produo moderna. No entanto, enveredou por um
caminho de frases feitas no qual os professores de Biologia
podem encontrar pouca ou nenhuma contribuio para zelar
pela aprendizagem de seus alunos (BIZZO, 2004, p.165-
166).
Recentemente, pesquisadores e especialistas
(educadores/bilogos) se curvaram em direo aos PCNEM s e
46
(re)elaboraram sua proposta didtica com um complemento, o PCN+, que
apresenta um dilogo direto com professores e educadores, tornando a
menor distncia entre a proposio das idias e sua execuo. O texto
reafirma seu compromisso, possibilitando um ajuste entre as competncias
gerais e com os conhecimentos disciplinares e organizando as formas mais
sistemticas de muitas das propostas pretendidas pelos PCNEM s.
Entretanto, as propostas do PCN+ em relao ao ensino de
biologia enfrentam alguns desafios: um deles seria possibilitar ao aluno a
participao nos debates contemporneos que exigem conhecimento
biolgico; outro, a formao do indivduo com um slido conhecimento de
Biologia e com um raciocnio crtico; e tambm fazer com que o educando
opine sobre os temas que refletem suas aes do dia-a-dia. Para enfrentar
esse desafio o professor deve pautar-se na alfabetizao cientfica, que se
resume em trs pontos: aquisio de um vocabulrio bsico de conceitos
cientficos, compreenso da natureza do mtodo cientfico e compreenso
sobre o impacto da cincia e da tecnologia sobre os indivduos e a
sociedade. Sendo assim o professor dever mediar os conhecimentos de
senso comum do educando e sistematizar de acordo com contedo
apropriado sala de aula.
O que nos leva prtica pedaggica do docente, sendo que o
mesmo dever estar sempre em processo de qualificao no que se refere
abordagem dos contedos em especial PCN+ - origem e evoluo da vida -
deve ser contemplado dentro de outros contedos, como a diversidade
biolgica ou o estudo sobre a identidade e a classe dos seres vivos, por
exemplo. O tema origem e evoluo da vida ao longo de diferentes
contedos no representa a diluio do tema evoluo, mas sim, sua
articulao com outros, como elemento central e unificador no estudo da
Biologia.
47
Quanto aos valores pessoais e sociais do PCN+ propem uma
articulao cuidadosa quanto a esses aspectos. Um caso tpico a
discusso sobre o ensino (ou no) do criacionismo em aulas de Biologia em
que se discute sobre a origem e a evoluo da vida. Essa discusso de
grande valia, pois, d oportunidade para que o professor destaque o papel
da cincia, mais especificamente o da biologia.
1.13. A Biologia numa Perspectiva da Educao Transformadora
Ao pensar em ensino de biologia dentro da atual proposta
curricular, notamos que a perspectiva de possibilitar ao educando uma
educao transformadora para a cidadania trabalhando com o cotidiano.
Essa idia no recente, existe desde 1973 com os Guias Curriculares de
Cincias (GCC So Paulo, 1973), e j havia uma valorizao dos contedos
relacionados com a vida dos educandos, embora no houvesse uma
definio detalhada do que deveria ser trabalhado. A mesma preocupao
est caracterizada nos Parmetros Curriculares Nacionais (PCN s) de 1999,
a preocupao com o cotidiano. Estes no utilizam esse termo, mas se
apresentam com domnio vivencial, universo vivencial e contedo vivencial.
Em outras palavras, a realidade social e o meio social tambm so muito
utilizados para sugerir o cotidiano do aluno e as interaes entre os
contedos propostos.
O fato que vivemos na sala de aula na maioria das vezes com
os problemas sociais que afetam os educandos. Isso implica que os
contedos nem sempre esto pertinentes com a situao real dos
educandos, mesmo escolhendo contedos que se aproximem de seu
cotidiano. Em outras palavras, conseguimos ensinar muito bem temas que
fazem parte das relaes fisiolgicas e morfolgicas (corpo e sade) do que
temas que implicam com questes ticas, por exemplo. A questo evolutiva
do ser humano e a origem da vida est sendo o calcanhar de Aquiles no
ensino de biologia. Devido alterao no campo religioso nestas ltimas
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dcadas, notamos uma mudana na situao social que invade a sala de
aula, nos colocando em confronto com campos doutrinrios religiosos que
ainda no nos demos conta.
A questo mais polmica vivenciada pelos professores de biologia
nestes ltimos trs anos a criacionista. Ou seja, o fato de o campo
religioso protestante estar quase equiparado com o campo religioso catlico
acaba promovendo confrontos entre a teoria da evoluo e a criao bblica
de forma inevitvel.
De acordo com a proposta curricular j mencionada acima,
notamos que o ensino de biologia para ser uma educao transformadora e
cidad tem que valorizar o cotidiano deste educando. Como trabalhar essas
concepes cujas vises de mundo esto embasadas na doutrina da
criao? E mais, sabendo das fragilidades do ensino da evoluo que ainda
estamos no mundo cientfico aprendendo, descobrindo sobre nossas origens
atravs da antropologia, como lidarmos com essa situao?
O tema evoluo reconhecido como difcil de ser trabalhado na
escola por envolver contedos abstratos, dificultando o entendimento e a
compreenso dos alunos. Alm disso, muitos alunos possuem concepes
criacionistas/fixistas disseminadas por igrejas e outras instituies similares
(NARDI; BASTOS e DINIZ, 2004).
1.14. O Papel do Professor de Biologia
Cabe ao professor de biologia mediar a construo do
conhecimento, levando em conta, que o educando dever ter uma ampla
capacidade de abstrao com relao aos conceitos, teorias, princpios,
formulaes de hipteses e pressupostos para o entendimento das relaes
entre os seres vivos. E isto, lembrando que a construo de uma idia em
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uma determinada situao exige a participao ativa do aluno (NARDI;
BASTOS e DINIZ, 2004).
Lembrando tambm que os professores, a todo momento,
realizam atos polticos, pois so pessoas que tomam decises: escolher o
contedo dado em sala de aula, optar por uma metodologia de ensino,
decidir manter ou no um dilogo com os alunos, escolher ou no avaliar ou
trazer ou no a realidade social, poltico econmica do pas ou ficar omissos
quanto a tudo. Ou tambm escolher o contedo que mais lhes parecer
pertinente quanto questo de domnio intelectual, deixando os outros
contedos de fora do previsto por falta de domnio de outros assuntos.
Haja vista que se o tema for polmico ou o professor no tiver
domnio do contedo, isto passar desapercebido pelos alunos a ponto de
criar um analfabetismo cientfico, cheio de lacunas.
Evolucionismo uma idia que permeia um terreno frtil de idias
filosficas na tentativa de clarificar a possvel origem da vida sem um Deus
que guie a trajetria da origem da vida. Ou seja, Deus no teria a batuta da
vida ela apenas teria surgido pelo processo longo e gradual da evoluo, isto
dentro de uma viso darwinista.
Seguiremos adiante com as idias criacionistas, e situaremos no
tempo e no espao esse paradigma que anda se contrapondo com o
evolucionismo desde que este surgiu em 1859, e esclareceremos o
evolucionismo e o criacionismo, que desde seus surgimentos tm trazido
inmeras controvrsias e batalhas.
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CAPTULO II RELIGIO, EVOLUCIONISMO E
CRIACIONISMO
O que religio? Como poderamos definir esse objeto que tem
sido alvo de estudo e discusso to diferenciada e contraditria? O que quer
que se encerre nela (religio), nenhuma definio singular ou simples
bastaria. As definies de dicionrios, (como por exemplo, reconhecimentos
humanos do poder sobrenatural , a crena em Deus , qualquer sistema de
f e de culto), o uso de vrias palavras preconceituosas ou to genricas
que se tornam inteis. Talvez por isso, alguns estudiosos propem que os
empregos de nomes prprios para as chamadas religies (prtica incomum
antes do sculo XIX), sejam substitudos pela terminologia a religio de
(um povo ou uma rea cultural, por exemplo). Tambm encontramos em
dicionrios que a palavra religio deriva do termo latino Re-Ligare , que
significa religao com o divino. Essa definio engloba necessariamente
qualquer forma de aspecto mstico e religioso, abrangendo seitas, mitologias
e quaisquer outras doutrinas ou formas de pensamento que tenham como
caracterstica fundamental um contedo metafsico, ou seja, de alm do
mundo fsico.
Hinnells (1995, p. 217), define a religio como: sistema de
crenas e prticas por meio das quais um grupo de pessoas luta com os
problemas bsicos da vida humana . J para Durkheim (1996, p. 5), a
religio encontra-se na prpria natureza social das coisas. Se assim no
fosse, logo a realidade faria uma oposio qual a religio no resistiria. A
natureza da religio indica que ela est muito mais atenta a explicar o que
comum e constante no mundo do que extraordinrio.
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Todas as crenas religiosas conhecidas sejam simples ou
complexas, apresentam um mesmo carter comum: supem
uma classificao das coisas, reais ou ideais, que os
homens concebem, em duas classes, em dois gneros
opostos, designados geralmente por dois termos distintos
que as palavras profano e sagrado traduzem bem. A diviso
do mundo em dois domnios compreende um tudo sagrado,
e outro, profano, tal o trao distintivo do pensamento
religioso: as crenas, os mitos, os gnomos, as lendas, so
representaes ou sistemas de representaes que
exprimem a natureza das coisas sagradas, as virtudes e os
poderes que lhes so atribudos, sua histria, suas relaes
mtuas e com coisas profanas (DURKHEIM, 1996, p. 19-
20).
Sobre o assunto Weber (2004) nos explica que num primeiro
momento, o desenvolvimento da religio deu-se em uma poca em que os
diversos interesses e as vicissitudes da histria afetavam suas referncias
sobre o divino e a promessa de salvao. Num segundo, as promessas
religiosas passaram a unificar-se e sistematizar-se dentro de uma ampla
religio de salvao. Mediante tais fatos, ao analisarmos o pensamento
weberiano poderamos dizer que este se baseia mais nos efeitos e