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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS - RJ ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA A GESTÃO DO PROCESSO DE NEGOCIAÇÃO COMPLEXA: UMA AVALIAÇÃO DA 58 CONFERÊNCIA MINISTERIAL DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO - OMC, EM CANCÚN, MÉXICO DISSERTAÇÃO APRESENTADA À ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ANA TEREZA SCHLAEPFER SPINOLA Rio de Janeiro / 2004

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS - RJ CURSO DE MESTRADO EM … · 2019. 1. 16. · fundaÇÃo getulio vargas - rj escola brasileira de administraÇÃo pÚblica e de empresas centro de formaÇÃo

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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS - RJ

ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS

CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA

CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

A GESTÃO DO PROCESSO DE NEGOCIAÇÃO COMPLEXA: UMA AVALIAÇÃO DA 58 CONFERÊNCIA MINISTERIAL DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO -OMC, EM CANCÚN, MÉXICO

DISSERTAÇÃO APRESENTADA À ESCOLA

BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E

DE EMPRESAS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU

DE MESTRE EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

ANA TEREZA SCHLAEPFER SPINOLA

Rio de Janeiro / 2004

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS

CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA

CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

A GESTÃO DO PROCESSO DE NEGOCIAÇÃO COMPLEXA: UMA AVALIAÇÃO DA 5° CONFERÊNCIA MINISTERIAL DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO - OMC, EM CANCÚN -MEXICO

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA POR

ANA TEREZA SCHLAEPFER SPINOLA

APROVADA EM PELA COMISSÃO EXAMINADORA

Doutor em Gestão de Risco, da Informação e da Decisão

/ Prof. Alexandre Linhares Doutor em Pesquisa Operacional

~~-~

~~ ~ P:MariO Cesar Rodrigye~/yidal Doutor em Engenharia Ergonômica

Anna Maris, Aurélio Wander, Déborah Zouain, Joarez de Oliveira, José

Guilherme Heráclito Lima, Josélio, Marilia, Yann Duzert, Chris, Alê e

Léo, professores da EBAPE, colegas do mestrado.

À vocês que me estimularam e auxiliaram, muito obrigada.

111

Pretende-se no presente trabalho avaliar a gestão do processo de negociação complexa

da 5a Conferência Ministerial da Organização Mundial do Comércio em Cancún,

ocorrida entre os dias 10 e 14 de setembro de 2003, no México, apontando os

problemas e questões que resultaram no colapso de um possível acordo. O futuro da

OMC é incerto e mudanças traumáticas sofridas por muitos países que vivem sob as

regras da OMC indicam que alguma coisa na OMC terá que mudar, principalmente nos

processos de negociação complexa, de forma que a integridade da organização não seja

comprometida. Buscou-se respostas na análise e avaliação da gestão do processo de

negociação, estudando e pesquisando os conceitos de barganha posicional, detalhando

o processo de negociação baseado em princípios, explorando em profundidade o estado

da arte para gestão de conversas difíceis. Dissecando a questão dos conflitos e das

coalizões, mostrando a dificuldade existente na resolução de disputas públicas e no uso

de instrumentos para quebrar o impasse nas negociações buscou-se estabelecer o

instrumental teórico que possibilitasse aprofundar o diagnóstico da situação atual na

OMe. Como recomendação explorou-se a avaliação de conflitos, com base na eficiência

- teoria dos jogos-, justiça e na eqüidade, a melhor forma de negociação baseada em

princípios, de gestão de público demandante, no diálogo dos multistakeholders, a

importância das conversas informais paralelas, o ambiente da complexidade e a visão

ampla que proporciona o enfoque do funcionamento de sistemas decisórios

autopoiéticos.

Palavras-chave: autopoiese, avaliação de conflito, complexidade, conhecimento comum,

criação de consenso, impasse, mediação, racionalidade limitada, teoria dos jogos,

equilíbrio de Nash.

IV

The present paper has the proposal to assess the management process of complex

negotiation of the 5th OMC that took place at Cancun from September 10th until the 14th,

2003. This thesis points out the problems and questions that resulted on the collapse of a

possible agreement, it also suggest proposal to solve these issues.

The future of OMC is uncertain and traumatic changes suffered by many countries that live

under the rules of OMC shows that something at OMC will have to change, principally on

the process of complex negotiation, such as the integrity of the organization to avoid having

to compromise and being damaged.

There were searches for answers on the analysis and assessment of the negotiation process,

studying and researching the bargain positional concepts, giving full details on the

negotiation process based on principIes, exploring profusely the state of art for the

management of difficult conversation. This thesis also tackles the sources of conflicts and

the building of coalitions such as the G20, showing the difficulty existing in the resolution

of public disputes and in the use of instruments to break the impasses. We also defined

theoretical instrumental, which allowed the diagnostic ofthe actual situation at OMe.

It was recommend to explore the valuation of conflicts, based on justice and equitant, the

best form of negotiation by principIes, of management demanding public, on the multi

stakeholder dialogue and the importance of informal parallel conversation. The environment

of complexity and the extensive vision that it provides to adjust the functioning of

autopoietics systems.

Key words : autopoiesis, conflict valuation, complexity, common knowledge, consensus

building, impasse, mediation, bounded rationality, games theory, Nash equilibrium

v

Quadro 1: Antecedentes dos conflitos nas relaçãoes comerciais ............................... 18

Quadro 2: Principais questões dos países industrializados........ .............................. 22

Quadro 3: Principais questões dos países em desenvolvimento.............................. 22

Quadro 4: Principais questões relativas ao TRlPS treaty ....................................... .23

Quadro 5: Principais questões relativas ao tratamento especial e acesso ao

mercado .................................................................................... 24

Quadro 6: Zona de Acordo PossíveL .............................................................. 29

Quadro 7: Impasse atual nas negociações: países industrializados x países em

desenvolvimento ........................................................................... 33

Quadro 8: Estágios do processo de negociação baseado em princípios ......................... 34

Quadro 9: Processo de construção do consenso ................................................... 37

Quadro 10: Posição polarizada - sem acordo ........................................................ 37

Quadro 11: Posição polarizada - com possibilidade de acordo ................................ 38

Quadro 12: Jogos não-cooperativos. Equilíbrio de Nash .......................................... 61

Quadro 13: Impasse das negociações ............................................................ 68

Quadro 14: Articulação da gestão do conhecimento para facilitar o consenso ............ 79

Quadro 15: Mapa do conflito: causas e intervenções .......................................... 81

Quadro 16: Etapas do processo de construção e testagem de hipóteses para a resolução de

conflitos ............................................................................... 82

Quadro 17: Possíveis resultados de uma disputa ................................................... 84

Quadro 18: Possíveis resultados de uma disputa (representação gráfica) ................... 85

Quadro 19: Características estratégicas utilizadas para a resolução de disputas ........... 86

Quadro 20: Estratégias de abordagem ............................................................... 87

Quadro 21: Múltiplos papéis em um jogo de negócios ........................................ 93

Quadro 22: Múltiplos papéis do Brasil e dos EUA - o caso da soja ....................... 94

VI

Introdução ......................................................................................... .. 1

I Antecedentes do Comércio Internacional ................................................... 7

1.1 A questão agrícola .............................................................................. l O

11 Diagnóstico da Situação Atual ............................................................... 13

11.1 Organização Mundial do Comércio - OMC ................................................ 13

11.2 Antecedentes das Relações Comerciais ..................................................... 16

11.3 A 5a Reunião Ministerial da Organização Mundial do Comércio - OMC ............. 19

lIA Principais temas de discussões da 5a Reunião Ministerial da OMC ..................... .20

IIA.I Acordos de negociação na área agrícola ................................................ 20

IIA.2 Acordos relacionados a aspectos comerciais dos direitos de propriedade

intelectual (TRlPS) e saúde pública .......................................................... 22

IIA.3 Tratamentos preferencial e especial para os países em desenvolvimento ...... 23

IlAA Ampliação do poder da OMC através de acordos de investimentos ........... .24

11.5 O Fracasso da 5a Reunião Ministerial da OMC ...................................... 25

111 Processos de Negociação . ................................................................... 28

III.I Barganha Posicional. ........................................................................ 30

III.2 Processo de Negociação baseada em Princípios ........................................ 33

111.3 Gestão de Conversas Difíceis ............................................................ .. AO

IIL3.1 Conciliação ............................................................................ 43

IIL3.2 Facilitação e Mediação ........................................................... . A5

III.3.3 Mediadores nas Relações Internacionais ...................................... . A7

III.3A Barreiras para a Resolução de Conflitos ...................................... ... A8

III.3.5 Princípios para Ultrapassar Impasses (barreiras) nas Negociações ......... A9

1II.3.6 Culpa e as Conversações Difíceis ................................................. 52

VII

m.4 Coalizões e Conflitos ....................................................................... 54

111.4.1 Teoria da Cooperação ............................................................... 57

111.4.2 Jogos não-cooperativos ............................................................ 58

m.4.3 Teoria dos Jogos .................................................................... 59

111.5 Resolução de Disputas Públicas ........................................................... 63

m.5.1 Pré-negociação ..................................................................... 63

111.5.2 Negociação ......................................................................... 68

m.5.3 Implementação ou Pós-negociação .............................................. 69

111.6 Instrumentos para Quebrar o Impasse .................................................... 70

m.6.1 Abordagem dos Ganhos Mútuos ................................................. 70

m.6.2 Inventando Opções para Ganhos Mútuos ....................................... 71

111.6.3 Colaboração ........................................................................ 72

m.6.4 Modelo para Viabilizar a Negociação de Conflitos Intratáveis .............. 73

111.7 Mídia .......................................................................................... 74

m.7.1 A Mídia em um Fórum de Construção de Consenso ............................ 75

m.7.2 Regras Básicas a serem Estabelecidas ........................................... 76

IV Recomendações .............................................................................. 78

IV.l Avaliação de Conflito ....................................................................... 78

IV.l 1 Possíveis Resultados de Disputas ................................................. 83

IV.1.2 Justiça - Eqüidade - Repartição Justa ............................................ 87

IV.2 Sistema de Solução de Controvérsias ..................................................... 89

IV.3 Negociação baseada em Princípios ....................................................... 91

IV.4 Co-opetition . ................................................................................ 93

IV.5 Gestão de Público Demandante ............................................................ 96

IV.6 Multistakeholders Dialogue - MSD ..................................................... 98

IV.6.1 Objetivos do MSD ................................................................ I00

IV 7 Conversas Informais Paralelas ........................................................... 102

IV.8 O Ambiente da CompIexidade .............................................................................. l 05

IV.9 Sistemas Autopoiéticos ........................................................................................ 110

V Conclusão ................................................................................................................ 114

Bibliografia .................................................................................................................. 120

VIlI

"We are told that trade can provide a ladder to a

better life and de/iver us from the poverty and

despair ... . Sadly, the reality of the international

trading system today does not match the rhetoric ".

Koji Annan, Secretary General United Nations

A Gestão do Processo de Negociação Complexa : Uma avaliação da 5a Conferência

Ministerial da Organização Mundial do Comércio - OMC, em Cancún, México.

Introdução

Nas negociações, a complexidade do processo para se alcançar o consenso perpassa pelo

mistério presente na forma dos seres humanos fazerem escolhas e responderem ao risco.

Segundo Bernstein, "escolher a alternativa que julgamos nos trará o maior retorno tende a

ser a decisão mais arriscada, pois poderemos provocar a defesa mais forte dos jogadores

que perderão com o nosso sucesso. Assim, geralmente aceitamos alternativas de meio­

termo, que podem exigir que façamos o melhor de uma barganha ruim" [Bernstein: 1997,

p.232].

As escolhas e decisões dos indivíduos não correspondem às ações isoladas e sim dependem

das decisões e ações dos outros indivíduos com os quais interagem I. Em um ambiente de

negociação multipartite, como o das Reuniões Ministeriais da Organização Mundial do

Comércio, a formulação da teoria dos jogos provê uma representação formal e uma solução

racional única para o problema da escolha estratégica na qual um certo número de pessoas

encontra-se envolvido. Segundo Hardim, a teoria dos jogos é a melhor representação da

interação estratégica que se caracteriza pela importância das ações coletivas sobre uma ação

individual. Nas decisões não se tem como saber se a alternativa escolhida foi boa ou ruim

até se conhecer o resultado final que, por sua vez, irá depender das escolhas dos outros com

quem interagimos. Uma escolha feita tem apenas o poder de restringir o conjunto de

resultados possíveis [ Hadim in Lessa: 1998].

I "As escolhas e decisões dos indivíduos em sociedade são freqüentemente decisões "coletivas ", no sentido de que os

resultados de suas ações isoladas são reconhecidamente dependentes de decisões e ações de outros indivíduos com os

quais eles interagem. Este tipo de interação pode ser teoricamente representado como interação estratégica e modelado

como umjogo". (Lessa :1998, p.l)

"Sempre que o resultado de uma ação de um indivíduo depende das ações dos outros com

quem se interage na mesma medida em que depende de suas próprias ações, suas

atividades demonstram um componente estratégico e, logo, se adequam à definição de von

Neumann-Morgenstern (1944) de umjogo"[Bicchieri: 1993, p.8].

Toda essa complexidade de comportamento, em uma visão mais ampla, faz parte das

negociações multilaterais, e mais ainda daquelas que envolvem diferentes povos com

diversas culturas. A negociação, em um mundo globalizado, deve levar em consideração os

aspectos culturais, associados ao comportamento daqueles que estão envolvidos no

processo. Nos negócios, padrões de procedimentos ou o modo de ser de cada povo devem

ser observados sob pena de se instalar um clima de rejeição, de animosidade e de

impossibilidade.

A linguagem, os processos mentais, as percepções, os estilos de comunicação e as

personalidades são constituídos por um emaranhado de cultura, gênero e dinâmicas sociais.

A cultura é um amálgama das tendências mais preponderantes em um grupo do que em

outro - a maneira de pensar e comportar-se das pessoas. A cultura não prevê o

comportamento nem as escolhas de ninguém. Com freqüência atribuem-se rupturas ou

dificuldades na negociação a diferenças culturais ou de gênero, quando podem não ser essas

as causas do problema. Culturas diversas às vezes chegam à mesa de negociações com

premissas diferentes, que não são explicitadas e podem criar obstáculos para um consenso.

Michael Watkins descreve que as crenças profundas e freqüentemente não ditas que

permeiam e sustentam os sistemas sociais são como o ar que todos respiram mas nunca

vêem [Watkins: 2000].

Na arena internacional as negociações são intrinsecamente posicionais. Neste caso, os

negociadores são freqüentemente instruídos pelos seus governantes a não improvisar nem

explorar novas opções, mesmo que possam trazer maiores benefícios para ambas as partes.

Sair da posição de negociação posicional implicaria em uma maior liberdade para os

negociadores e em uma melhor preparação prévia, de forma a permitir maior autonomia na

negociação.

2

A demanda por novos instrumentos de negociação deveu-se à recente globalização do

mundo, no qual as fronteiras entre cultura e mercado tomaram-se mais frágeis, e à

velocidade das mudanças impulsionadas pelo avanço tecnológico. A intensificação das

negociações de propósitos, propostas e idéias fizeram-se necessárias. A vida média dos

produtos, das idéias, das soluções propostas para situações e eventos da vida diária

encurtou tomando tudo isso rapidamente desatualizado. Desta forma, novos métodos para

resolução de conflitos e de negociação se fazem necessários para que possam acompanhar o

dinamismo dos tempos atuais, permitindo flexibilidade para articular culturas além de

velocidade na resolução de problemas [Almeida: 2002].

Pretende-se no presente trabalho avaliar a gestão do processo de negociação complexa da

53 Conferência Ministerial da Organização Mundial do Comércio em Cancún, ocorrida entre

os dias 10 e 14 de setembro de 2003, no México, apontando os problemas e questões que

resultaram no colapso de um possível acordo. Patricia Hewitt, delegada da Inglaterra,

declarou ao final da Conferência que se houve falha isso se tornará um desastre para a

economia mundiat2. No mesmo momento, Pascal Lamy, representante da União Européia

anunciava à imprensa que todos poderiam ter ganhado, mas todos perderam.3

Passadas algumas semanas da Conferência Ministerial de Cancún, a OMC retornou às suas

atividades, iniciando as consultas sobre os temas substantivos da Rodada para que se

pudesse explorar as possibilidades de um acordo nas áreas mais sensíveis - agricultura,

temas de Cingapura, NAMA - Non-agricultural market access - e algodão. O Presidente

do Conselho Geral da OMC iniciou as gestões pelo tema da agricultura.

Para a Reunião Ministerial de Cancún, os EUA e a UE firmaram um grande acordo que

espelhava a relação de seus interesses, não deixando espaço para acomodar os interesses dos

demais países. Se por um lado o resultado foi negativo, por outro lado criou condições para

que, por iniciativa do Brasil aceita pela Índia, África do Sul, Argentina e China, se formasse

2 Patricia Hewitt, representante da UK, em uma entrevista à BBC Radio 4 na manhã de 15 de setembro de 2003, não percebendo a gravidade da situação declarou: "also highlighted just a partial reaction, implying that everyone were ready to make a concession, and that it was totally surprising and unfathomable as to why the poor countries could not agree". Nota: não são palavras exatas, mas correspondem ao conteúdo interpretado por Anup Shah (2003) ao analisar suas declarações. 3 Pascal Lamy, delegado da União Européia, declarou: "I do not want to beat about the bush: Cancun have failed ...... We would ali have gained. We allloose" in Anup Shah (2003).

3

uma inédita e poderosa coligação de países em desenvolvimento - denominada G-20 para

fazer frente aos países desenvolvidos, principalmente aos EUA e à UE.

o futuro da OMC é incerto. As mudanças traumáticas sofridas por muitos países que vivem

sob as regras da OMC nos últimos nove anos significam que alguma coisa na OMC terá que

mudar. A pergunta que se coloca é: o que acontecerá com a Rodada de Doha e, por extensão

com a OMC? Do lado negativo, está a perspectiva de que o impasse em Cancún possa ter

revelado a fragilidade sistêmica da organização, a inconsistência do processo decisório

adotado e a obsolescência do modelo da dinâmica das negociações. Será que os países

poderosos, que ditaram as regras da OMC no passado, irão se adaptar à alguma mudança?

Aqueles que pedem mudanças em leis que prejudicam seus interesses nacionais deixarão de

pertencer à OMC, caso as mudanças requeridas não ocorram ? Qual o processo de

negociação que deverá ser adotado a fim de evitar que as negociações voltem a enfatizar as

relações bilaterais e regionais, por oposição a processos globais ? O desafio que se tem à

frente é impedir que se reproduza o nível de ambição do mandato de Doha, para não

comprometer a integridade da organização.

As respostas para estas questões serão buscadas na análise e avaliação da gestão do

processo de negociação utilizado na 53 Conferência Ministerial da OMC, em Cancún. Para

esta análise, buscou-se amparo na literatura ampla que estabelece a conceituação teórica,

explorada em detalhes no capítulo III.

Estudando e pesquisando os conceitos de barganha posicional, detalhando o processo de

negociação baseado em princípios, explorando em profundidade o estado da arte para gestão

de conversas difíceis, dissecando a questão dos conflitos e das coalizões, mostrando a

dificuldade existente na resolução de disputas públicas e no uso de instrumentos para

quebrar o impasse nas negociações buscou-se estabelecer o instrumental teórico que

possibilitasse aprofundar o diagnóstico da situação atual na OMe.

Este diagnóstico abrangeu a explanação do processo histórico de constituição da OMC, a

descrição detalhada das principais discussões levadas a efeito na 53 Reunião Ministerial de

Cancún e a identificação dos erros e desacertos que provocaram o fracasso desse importante

fórum internacional.

4

A compreensão e clareza do diagnóstico da situação e da atuação da OMC, conforme

descrito no capítulo 11, foram facilitadas pelo detalhamento dos antecedentes do comércio

internacional, explicados em detalhe, com o auxílio dos autores clássicos, no capítulo I.

Algumas recomendações foram necessárias, antes que se chegasse à conclusão, para mostrar

quais os parâmetros para avaliação de conflitos, com base na justiça e na eqüidade, qual o

sistema a ser utilizado na solução de controvérsias, qual a melhor forma de negociação

baseada em princípios e como se deve proceder na gestão de público demandante e no

diálogo dos multistakeholders.

Destaca-se também no capítulo IV, quando se mostram as recomendações cabíveis, a

importância das conversas informais paralelas, o ambiente da complexidade e a visão

ampla que proporciona o enfoque do funcionamento dos sistemas autopoiéticos.

o trabalho científico é uma forma de ampliar o conhecimento atendendo a algumas

características que o distingue dos demais trabalhos literários: a coerência, a profundidade

da pesquisa, a possibilidade de refutação e o rigor metodológico que protege o pesquisador

de erros, precipitações e conclusões de cunho pessoal. A metodologia compreende o

conjunto de regras capazes de fornecer segurança e fidedignidade à pesquisa científica na

consecução de seus objetivos em relação à obtenção do conhecimento.

Considerando a grande variedade de problemas e aspectos relacionados à negociação, a

pesquisa realizada para elaboração deste trabalho concentrou-se nos aspectos macros dos

processos de negociação, ainda que se utilizassem conceitos aplicáveis, observando as

devidas proporções, nos processos de negociação internos às organizações empresariais. O

tema escolhido focalizou a gestão do processo de negociação em nível internacional, entre

Estados soberanos e organizações de alcance planetário.

Para a classificação da pesquisa, tomou-se como base a taxonomia apresentada por

Vergara, que a classifica em relação a dois aspectos: quanto aos fins e quanto aos meios

[Vergara:2004].

5

Quanto aos fins, trata-se de uma pesquisa descritiva, pois expõe as características e os

processos utilizados na Conferência Internacional do Comércio e a estrutura e

funcionamento do organismo internacional (OMC) encarregado de conduzir os trabalhos.

Quanto aos meios, trata-se de uma pesquisa eminentemente bibliográfica e documental.

Bibliográfica pela realização de um estudo sistemático de textos de autores credenciados e

reconhecidos como referência sobre o tema, proporcionando a fundamentação teórico­

metodológica do trabalho. Documental pela coleta de informações realizada em

documentação oficial da OMC.

Utilizou-se também como fonte de dados e informação atualizada, em função da dinâmica

inerente ao próprio tema, o noticiário da mídia impressa e de revistas técnicas.

6

I. Antecedentes do Comércio Internacional

A Organização Mundial do Comércio é uma instituição global que opera com base em um

sistema de regras comerciais. Desempenha inúmeras funções dentre as quais destacam-se a

busca pela liberalização do comércio e a manutenção de um fórum no qual os governos

podem negociar acordos e resolver disputas comerciais.

As questões sobre as disputas comerciais não surgiram recentemente. Os autores clássicos já

as discutiam buscando regulá-las e encontrar formas de melhor encaminhar os desencontros

que interesses conflitantes pudessem provocar.

O percurso do pensamento econômico, que se inicia em Platão na busca da justiça, procurou

definir os princípios da vida em sociedade e ensinar que o funcionamento da economia não

pode ser determinado por decreto. A organização econômica da sociedade era entendida

como um sub-produto do modo de funcionamento da vida na cidade. Platão definiu um

regime que muito se assemelha à ideologia comunista: cada família receberia um pedaço de

terra idêntico, inalienável e transmissível a um único herdeiro; não se poderia entesourar

nem ouro nem prata pois esses metais estavam reservados para as trocas com o exterior;

caso ocorressem desigualdades, a despeito dos mecanismos de proteção, estabelecer-se-ia

um imposto para corrigi-las; os cidadãos eram agricultores, em sua maioria, e aqueles que

não estivessem vinculados à agricultura só poderiam exercer uma especialidade. A

economia não era auto-suficiente e, para Platão, as transações de importação e exportação

dependeriam de uma autorização, de forma a facilitar o controle. No que se refere à

produção interna, as colheitas seriam estocadas e divididas em 12 partes, uma para cada

mês do ano, e cada um desses doze avos, seriam sub-divididos em três: uma parte para os

cidadãos, outra para os escravos e a terceira para os estrangeiros, sendo assim trocados por

outros produtos. Os estrangeiros, por sua vez, também poderiam vender seus produtos para

os nativos. Platão não se preocupava em controlar a produção dos bens, mas em controlar a

distribuição, como uma forma de evitar distorções nos princípios igualitários estabelecidos.

Ele tinha claramente a idéia de que o funcionamento da economia produzia,

mecanicamente, as desigualdades e, se estas não fossem corrigidas a tempo, poderiam

pesar negativamente sobre a sociedade [Minc:2004].

7

Mais tarde, Aristóteles defendeu a idéia que o trabalho produtivo deveria ser confiado aos

escravos, enquanto o comércio e as atividades financeiras deveriam ser atribuições dos

habitantes da cidade. As trocas não eram condenadas e eram inerentes à multiplicidade das

necessidades e à especialização dos produtores; a aparição da moeda facilitou em muito as

relações de trocas entre produtores de diferentes regiões. Aristóteles definiu o comércio

como sendo uma necessidade para que um país pudesse importar os produtos que não

conseguisse produzir e exportar o excedente da sua própria produção. Diferentemente de

Platão, Aristóteles não acreditava em igualdade perfeita, pois oferecer a mesma quantidade

de capital igualmente para todos é injusto na medida em que as pessoas são diferentes entre

si. Deve-se oferecer vantagens para aqueles que merecem. Essa idéia era denominada

igualdade proporcional, que é a chave da justiça distributiva. Quanto à justiça comutativa,

ela deve ser imposta dentro dos contratos ou das trocas [Minc:2004].

Os teólogos medievais voltaram suas reflexões econômicas para estabelecer uma filosofia

do risco, que constituiu o ponto de partida do capitalismo. Para Robert de Courçon, cada

comprador/vendedor deve desejar participar dos lucros, mostrar que participa dos riscos e

defender-se de tudo que afeta as compras e as vendas [Minc:2004]. A máxima de Colbert,

na França de 1600, foi defender a idéia de produzir, exportar, enriquecer, entesourar e

dominar, por meio da criação de indústrias, mesmo as de luxo. Com base em suas idéias,

estabeleceu-se um sistema de proteção da alfândega, organizou-se os produtores e

comerciantes em corporações, verificou-se os entraves fiscais nocivos à população,

restituiu-se à França o transporte marítimo de seus produtos, buscando-se desenvolver as

colônias vinculando-as comercialmente à França [Minc:2004].

Duas revoluções da época moderna promoveram amplas transformações nos planos

econômico, social, político e ideológico: a Revolução Industrial, na Grã Bretanha, e a

Revolução Francesa. A Revolução Industrial permitiu, por meio de máquinas movidas a

vapor, uma produção em larga escala. A ampliação da produtividade deveu-se ao

aperfeiçoamento de instrumentos mecânicos de produção que substituíram a habilidade e

destreza do artesão. Dessa forma, a produção fabril ultrapassou a capacidade de demanda

interna pelos produtos, abrindo um grande espaço para as exportações desse excedente. A

Revolução Francesa trouxe o liberalismo como uma força política real. A liberdade política

e a igualdade jurídica tinham conquistado a intelectual idade européia e americana.

8

A oportunidade de acesso ao restrito grupo dos economistas franceses, liderados por

François Quesnay, permitiu a Adam Smith conhecer profundamente o pensamento

fisiocrático, pensamento esse que teria grande influência sobre os aspectos teóricos

fundamentais de seu famoso livro A Riqueza das Nações, publicado em 1776. Essa obra,

que constitui o clássico da economia política, apresenta a teoria do crescimento econômico

baseada no conceito de que a riqueza ou o bem-estar das nações é identificada com o seu

produto anual per capita e não mais pela quantidade de riqueza (ouro e prata) entesourada.

A obra apresenta uma discussão a respeito da propensão inata do homem à troca e do

processo de crescimento econômico.

Francis Hutcheson, professor de Adam Smith, em seu trabalho intitulado System of Moral

Philosophy, discorre no capítulo " Os valores dos bens no comércio e a natureza da

moeda" sobre a necessidade para o comércio, que os bens sejam avaliados e que os valores

dos bens sejam determinados pela procura e pela dificuldade em adquiri-los. Ainda

segundo o autor: "A moeda sempre tem o valor de uma mercadoria no comércio, como

outros bens; e isso, em proporção à raridade do metal, pois se trata de procura universaf' 4

[Smith: 1983, p.22]. Adam Smith, à luz de seu professor, indica que o dinheiro enviado

para o exterior "trará para dentro do país alimentos, roupa e moradia" e "quanto maiores

forem as mercadorias importadas, tanto maior será a opulência do país" [Smith: 1983

p.22]. A fim de garantir uma balança comercial favorável, a Grã-Bretanha impôs restrições

ao comércio com a França, atitude compreendida por Adam Smith como "normas e leis

altamente prejudiciais" [Smith: 1983 pp.7-11]. Por fim, com relação ao comércio entre

países, Adam Smith entende que: "Todo o comércio efetuado entre países quaisquer deve

trazer vantagens para ambos. O verdadeiro objetivo do comércio é trocar as nossas

próprias mercadorias por outras que acreditamos serem mais convenientes para nós.

Quando duas pessoas comercializam entre si, sem dúvida isso é jeito para que os dois

aufiram vantagem ... Exatamente o mesmo ocorre entre duas nações quaisquer. Os bens que

os comerciantes ingleses querem importar da França certamente valem mais para eles, do

que aquilo que dão em troca" [Smith: 1983, p.204].

4 "Os valores devem ser medidos com base em algum padrão comum. e que deve ser algo desejado por todos. de sorte que todos estejam dispostos a aceitá-lo na troca. Para assegurá-lo. o padrão deve ser algo divisível sem perda e portátil. além de durável. O ouro e a prata melhor atendem aos mencionados requisitos" ( HUTCHESON, F. System of a Moral Philosophy, v I, p.288-289 in Adam Smith. A Riqueza das Nações. São Paulo: 1983, p. 22)

9

David Ricardo, outro representante da escola clássica de economia política, formulou, a

partir da leitura de A Riqueza das Nações, a teoria do valor, da repartição da renda, do

comércio internacional e do sistema monetários. Na sua formulação da Teoria Quantitativa

da Moeda, Ricardo estabeleceu as regras do 'padrão ouro', ao demonstrar que, em

condições de liberdade de comércio internacional, se todos os países utilizarem moeda

plenamente conversível, o volume de moeda se distribuirá entre eles de tal modo que em

cada um o nível de preços será praticamente constante (referido ao metal). O padrão-ouro,

proposto por Ricardo, foi adotado no século XVIII pela maioria dos países capitalistas e

vigorou no século XX até a Segunda Grande Guerra. Sobre esse padrão montou-se um

sistema internacional de pagamentos que funcionava 'automaticamente', sem a interferência

deliberada de qualquer autoridade pública [ Singer in Ricardo: 1983].

1.1 A questão agrícola

Durante os períodos das guerras, no final do século XVIII, a agricultura da Grã-Bretanha

voltava-se para abastecer o mercado interno, diante das dificuldades de transporte e da

nascente industrialização, o que acarretou uma ampliação na população urbana que

necessitava ser alimentada pela limitada capacidade produtiva da agricultura inglesa. Uma

vez restabelecida a paz, países que dispunham de grandes extensões de terras

agriculturáveis, com grande capacidade produtiva, passaram a oferecer à Grã Bretanha sua

produção a preços comparativamente menores. A queda nos preços mobilizou os

agricultores que passaram a exigir uma proteção contra a concorrência do produto

estrangeiro, o que resultou na Corn Law que proibia a importação de trigo, se o seu preço

fosse abaixo de um certo limite. Ricardo se opunha a essa restrição porque entendia que o

favorecimento da liberdade de comércio e dos lucros dos capitalistas seria a única fonte de

acumulação de capital. A manutenção da Corn Law proporcionava um alto custo de vida e

ia de encontro aos interesses industriais. Ao impedir a importação de cereais a preços mais

baixos, a Grã-Bretanha limitava a exportação de bens industriais, principalmente para os

países que só poderiam pagar pelo sistema de trocas com produtos agrícolas.

5 A obra utilizada Princípios de Economia Política e Tributação (1983) de David Ricardo foi traduzida do Livro On the Principies of Polítical Economy and Taxation. Editado por Piero Sraffa, com a colaboração de M.H.Dobb. in: The Works and Correspondence of David Ricardo. Cambridge, At the University Press for the Royal Economic Society, 1970. v.l (Reimpressão da 18 edição, 1951 )

10

Assim, se por um lado existiam restrições à entrada de produtos agrícolas mais baratos, o

que atualmente gera a discussão sobre o acesso a mercados, tinham-se, por outro lado, os

prêmios à exportação que proporcionavam uma redução do preço dos produtos exportados,

tomando-os mais competitivos no mercado internacional. Esta é a discussão atual a respeito

dos subsídios.

Ricardo, em sua obra, no capítulo intitulado 'Prêmios às exportações e proibição das

importações', afirma que "o efeito de um prêmio às exportações de trigo não consiste, em

última análise, em aumentar ou reduzir o preço no mercado interno, mas em reduzi-lo para

o consumidor estrangeiro - na totalidade do montante do prêmio, se o preço do trigo no

mercado externo já não fosse iriferior ao do mercado interno - ou em menor grau, se o

preço interno estivesse acima do preço no mercado externo" [Ricardo: 1983 p.20S]'"

Smith, no Livro Quatro de A Riqueza das Nações, explica os efeitos maléficos do

mercantilismo em uma época em que a riqueza de um país era avaliada pelo volume de ouro

e prata entesourado. Para os países que não dispunham de minas de ouro e prata, a única

forma para acumular riqueza era por meio da exportação de bens e serviços, a qual, em

excesso, comprometia os níveis de oferta internos provocando um aumento de preços. Por

outro lado, dever-se-ia reduzir a importação de bens e serviços uma vez que representava

saída de metais preciosos e, conseqüentemente, redução na riqueza das nações. Para inibir a

saída de divisas, mecanismos restritivos à importação eram utilizados, desde altas taxas

alfandegárias até proibições absolutas.

Por outro lado, as exportações eram estimuladas algumas vezes por mecanismos de

drawback, outras vezes por subsídios e por tratados comerciais vantajosos ou ainda pela

expansão e exploração de colônias em países distantes [Ricardo: 1983].6

Pode-se depreender que a questão dos prêmios à exportação não é uma discussão recente,

mas vem sendo polemizada desde as Guerras Franco-Inglesas, no período 1793 a 181S, e

constitui o principal foco de tensão nas negociações atuais da OMe. A S3 Reunião

6 Say supõe que a vantagem dos fabricantes nacionais é mais do que temporária. "Um Governo que proíbe totalmente a importação de certos artigos estrangeiros estabelece um monopólio em favor daqueles que produzem tais mercadorias internamente contra aqueles que a consomem. Em outras palavras, como os fabricantes nacionais que as produzem têm exclusividade do privilégio de vendê-las, podem aumentar o preço

11

Ministerial da OMC, em Cancún, foi abruptamente encerrada devido ao impasse ocorrido

com a questão agrícola, mais especificamente no que se refere aos subsídios agrícolas à

exportação, recebidos por produtores europeus e americanos. Esses subsídios proporcionam

significativas restrições à colocação dos produtos agrícolas dos países em desenvolvimento

no mercado mundial. As próximas reuniões deverão contemplar nas suas agendas não só a

questão dos subsídios agrícolas como também as de acesso ao mercado.

além do natural, e como os consumidores nacionais não podem obtê-Ias de outra fonte, são obrigados a adquiri-Ias a um preço mais elevado"[.Jean-Baptiste Say, v.I, p.201 in Ricardo: 1983, p.213].

12

11. Diagnóstico da Situação Atual

11.1 Organização Mundial do Comércio - OMC

Ao final da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos dirigiram uma série de reuniões e

conferências que tinham por objetivo discutir a reconstrução das estruturas políticas e

econômicas internacionais. A principal dessas reuniões aconteceu em Bretton Woods, onde

foram constituídas as organizações que seriam os pilares da hegemonia capitalista: o Fundo

Monetário Internacional - FMI, o Banco Mundial - BIRD e a Organização Internacional do

Comércio - Ole. A criação da OIC, definida ao final de uma Conferência das Nações

Unidas sobre o Comércio e o Emprego realizada em Havana no ano de 1947, jamais ocorreu

por diversos motivos, dentre eles o veto dos Estados Unidos. Assim, o capítulo sobre o

comércio da Carta de Havana foi transformado, com alguns acréscimos, no Acordo Geral de

Tarifas e Comércio - GA TI. O GA TI foi utilizado como um protocolo provisório,

tornando-se definitivo a partir de janeiro de 1948, tendo como objetivo regular as tarifas e

as barreiras não-tarifárias ao comércio, com regras aplicadas exclusivamente quando

consistentes com a legislação em vigor nos países membros [Organização Mundial do

Comércio: 2002].

A Rodada do Uruguai de Negociações Multilaterais na Área de Comércio deu continuidade

ao processo de redução de barreiras ao comércio, concluído após sete rodadas iniciais de

negociações. As mais significativas realizações foram a adoção de novas normas

reguladoras para a comercialização de produtos agrícolas, o estabelecimento de

instrumentos de controle sobre o uso de medidas sanitárias e fitosanitárias, e um novo

acordo sobre um diferente processo para a resolução de disputas comerciais? Terminada em

1994, a Rodada do Uruguai foi a última de um conjunto de oito rodadas de negociações

multilaterais realizadas pelo GA TI, que levou à sua reformulação e deu origem à criação

da OMC. A OMC é uma instituição internacional responsável tanto pelo monitoramento da

implementação pelos estados dos seus acordos constitutivos8, quanto pelo julgamento de

7 Relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos sobre agricultura e comércio internacional, "AgricuIture and the WTO"divulgado em dezembro de 1998, in Revista Eletrônica da USIA, VoI. 4, N° 2, Maio de 1999 - http:jusil1f().state,g\):-:Ll!:~Ll1.1t~Ü~i1ç'-,~jÍl59í)jiicp!ii0.5.2~lLh!Ll}, em 27022004

8 Os acordos constitutivos da OMC são as regras que orientam todo o comércio internacional, que devem ser seguidas e implementadas pelos governos e setores produtivos de cada país-membro. Os principais acordos são: Acordo Constitutivo da OMC, Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT- General Agreement on

13

disputas entre países com relação a esses acordos. Além disso, também é responsável por

organizar as rodadas de negociações entre países-membros.

A OMC foi constituída como o centro do sistema multilateral de comércio que estabelece

os principais direitos e obrigações aos quais os países membros devem obedecer para

comercializarem bens e serviços entre si, oferecendo um mecanismo para a solução de

disputas surgidas na aplicação desses princípios9.

A OMC é um fórum no qual os governos discutem as disputas comerciais, negociando

acordos com base em um sistema de regras, que têm por objetivos a elevação dos níveis de

vida, o pleno emprego, o aumento do volume de poupança e demanda efetiva, a expansão

da produção e do comércio de bens e serviços, a proteção do meio ambiente, o uso ótimo

dos recursos naturais em níveis sustentáveis e a necessidade de realizar esforços positivos

para assegurar uma participação mais efetiva dos países em desenvolvimento no comércio

internacional. As regras substantivas da OMC priorizam sistematicamente o comércio sobre

todos os outros valores e objetivos, sendo os países membros obrigados a adaptar suas

leis, regulamentos e procedimentos administrativos a essas regras. Políticas e leis nacionais

que violem as regras da OMC devem ser eliminadas para que os países membros não

venham a sofrer sanções comerciais [ INESC: 2003].

A autoridade máxima da OMC é a Conferência Ministerial, formada por representantes de

todos os seus 148 membros, que se reúne pelo menos a cada dois anos, sendo que desde sua

criação já ocorreram cinco reuniões - Cingapura (Dez 1996), Genebra (Mai 1998), Seattle

(Dez 1999), Doha (Nov 2001) e Cancún (Set 2003). Abaixo dela, há o Conselho Geral,

TarifJs and Trade), Acordo Geral sobre o Comércio de Serviços (GATS - General Agreement on Trade in Services), Acordos sobre aspectos de Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio (TRIPs -Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights) e o Entendimento sobre Regras e Procedimentos de Solução de Controvérsias (DSU - Dispute Settlement Understanding). Há ainda acordos sobre agricultura, barreiras técnicas (TBT - Agreement of Technical Barriers to Trade ), medidas sanitárias e fitosanitárias (SPS - Agreement on the Application of Sanitary and Phitisanitary Measures), têxteis e confecções, investimentos (TRIMs - Trade-Related Investiments Measures), subsídios (SCM - Agreement on Subsidies and Countervailling Measures), anti-dumping (ADFP - Agreement on Anti-dumping Practices) e salvaguardas.

9 São os seguintes princípios fundamentais dos acordos que regem a sua implementação e o próprio comportamento da OMC : (i) proteção à produção nacional somente por meio de tarifas, na medida em que outros tipos de proteção, como quotas de importação, são pouco transparentes e dificultam as negociações para liberalização; (ii) redução e consolidação das tarifas, em que, nas sucessivas rodadas de negociação, os países devem esforçar-se para reduzir as suas tarifas até um patamar negociado, não podendo elevá-Ias sem justificativas; (iii) nação mais favorecida (MFN - Most Favored Nation), em que o que cada país concede a outro deve ser estendido aos demais; e (iv) tratamento nacional, que determina que um produto importado não possa ser tratado de forma diferente de um nacional (por meio de impostos mais elevados, por exemplo).

14

responsável pela direção geral da OMC, podendo inclusive reunir-se como órgão de solução

de disputas entre países, como comitê de negociações comerciais e como órgão de revisão

das políticas comerciais de cada país. Abaixo desses, há os conselhos de comércio de bens,

serviços e propriedade intelectual, além de diversos comitês e grupos de trabalho

especializados, divididos em assuntos como agricultura e meio ambiente. A OMC tem sido

utilizada para estabelecer uma extensa série de políticas relativas ao comércio, aos

investimentos e às desregulamentações que exacerbam a desigualdade entre os países

industrializados e os países em desenvolvimento. O sistema da OMC possui um alcance

quase universal, englobando mais de 97% dos intercâmbios comerciais mundiais.

A OMC tem por função administrar e aplicar os acordos comerciais multilaterais (acordos

que devem ser cumpridos por todos) e plurilaterais (com validade apenas para os membros

que concordaram com a sua adoção) que, em conjunto, configuram o novo sistema de

comércio; servir de foro para as negociações multilaterais; administrar o entendimento

relativo às normas e procedimentos que regulam as soluções de controvérsias; supervisionar

as políticas comerciais nacionais; e cooperar com as demais instituições internacionais que

participam da fomentação de políticas econômicas em nível mundial - FMI, BIRD e

organismos conexos.

Existe uma grande discórdia entre os países signatários sobre o que deve ser incluído na

futura agenda da OMe. Em Cancún, ocorreu uma séria crise de legitimidade da instituição

com o colapso da Reunião Ministerial, causado pela resistência dos Estados Unidos (EUA)

e da União Européia (UE) aos pedidos da maioria dos países signatários da organização que

reivindicavam regras comerciais globais mais justas. Após o fracasso da Conferência,

ocorreu uma reunião em Genebra para avaliação e, ao invés de se analisar o modelo de

globalização e a estrutura da OMC, os interesses corporativos e de seus governos-clientes

tentaram justificar o fracasso colocando a culpa em tudo e em todos: na maioria dos países

membros que defendeu interesses nacionais na OMC, no diplomata mexicano que defendeu

a cúpula, na sociedade civil global e até nos movimentos sociais.

Atualmente a OMC está trabalhando sob pressão de expectativas dos seus 148 membros que

desejam sua legitimidade como organização. A OMC toma suas decisões por consenso,

alcançado quando não existe qualquer objeção à proposta apresentada. A base de todo o

trabalho na OMC é a conversa entre as partes e, qualquer resultado que se consiga obter é

15

conseqüência de uma negociação. Os princípios básicos de funcionamento do sistema

multilateral fundamentam-se na não-discriminação entre os membros da organização

[Organização Mundial do Comércio: 2002]. Supostamente, os países em desenvolvimento

teriam parcialmente preservado o seu direito histórico a um tratamento especial e

diferenciado (Parte IV - GA TI) que possibilitasse atingir o desenvolvimento econômico.

Na prática da resolução de conflitos da OMC, observa-se que esse tratamento está sendo

negado. Por exemplo, na área do Acordo da Propriedade Intelectual relacionada ao

Comércio - TRIP's, o caso de litígio mais conhecido é o confronto entre o Brasil - Embraer

e o Canadá - Bombardier, relacionado ao comércio de aeronaves; ou outro exemplo ocorre

com relação às restrições às importações impostas pela Índia e contestadas pelos EUA. O

Brasil e a Índia descobriram que suas concessões na Rodada do Uruguai tornaram-se

conflitos comerciais com os EUA, e que devido ao tamanho de seus mercados estes países

tornaram-se alvo das investigações americanas.

A OMC possui um banco de dados dos acordos e negociações já assinados por todas as

nações que mantém relações comerciais. Esses documentos constituem o conjunto das

regras legais básicas para o comércio internacional e servem para auxiliar os produtores de

bens e serviços, assim como os exportadores e importadores, a conduzir seus negócios, para

dar suporte aos governos oferecendo transparência para as negociações.

11. 2 Antecedentes das Relações Comerciais

A Rodada do Uruguai de negociações multilaterais na área de comércio deu continuidade ao

processo de redução de barreiraslOao comércio iniciado em rodadas anteriores. As mais

significativas realizações dessas negociações foram: a adoção de novas normas a respeito da

política de comércio de produtos agrícolas; o estabelecimento de instrumentos de controle

no uso de medidas sanitárias e fitosanitárias (SPS); e um acordo sobre um novo processo

multilateral de Resolução de Disputas, sendo que este último deu origem à criação da OMe.

[Relatório Agriculture and the WTO: 1998]

10 Entende-se como barreiras não-tarifárias ao comercIO, quaisquer normas e regulamentos técnicos estabelecidos pelo governo, bem como normas sanitárias e fitosanitárias (aplicáveis a espécies vegetais importadas) que, na prática, impeçam a importação de certos produtos. Pode, também, tornar mais dificeis os procedimentos ou impor quotas de importação, por país ou por produto. Essas barreiras têm sido utilizadas por muitos países como instrumento protecionista para dificultar as exportações de outros países.

16

A nova política de comércio agrícola definida na Rodada do Uruguai, não só convertia todas

as barreiras não-tarifárias ao comércio agrícola em barreiras tarifárias como também se

preocupava em reduzi-las. Como as tarifas eram excessivas para determinados produtos,

ficou estabelecido um sistema de quotas segundo o qual se aplica uma tarifa mais baixa

sobre os produtos importados, dentro de uma determinada quota, permitindo que seja

imposta uma tarifa mais elevada sobre a quantidade que excede esse limite, de forma a

assegurar a manutenção de níveis históricos de comércio e a criação de algumas novas

oportunidades. Ficou acordado, também, que os países que utilizavam subsídios!! à

exportação reduziriam o valor e o volume das suas exportações subsidiadas, no decorrer de

um período de implementação especificado. [Relatório Agriculture and the WTO: 1998]

Até o momento, as questões agrícolas e a manutenção da relação de dependência dos países

em desenvolvimento em relação aos países industrializados constituem um "calcanhar de

Aquiles" nas relações entre esses dois grupos. Os países industrializados estão com sua

capacidade produtiva no setor agrícola cada vez mais limitada. Os EUA não conseguirão

ampliar sua produção porque a tecnologia existente já foi incorporada e não há mais

fronteiras para plantar. A UE já está com suas áreas agrícolas completamente exploradas.

Por outro lado, os países em desenvolvimento estão em uma posição de vantagem em

relação aos países industrializados. O Brasil, que possui a maior reserva de terras

agriculturáveis ainda disponíveis do planeta, ocupa uma posição privilegiada no curto prazo

pois a Índia, Canadá e Rússia que possuem grandes extensões de terra, enfrentam limitações

geográficas e climáticas para ampliar a produção. A China tem uma grande área

agriculturável, porém enfrenta duas barreiras: possui 20% da população mundial para

alimentar e necessita de investimento para preparar o solo para produzir. O potencial

brasileiro equivale a agregar uma área agrícola igual à dos EUA, que atualmente ocupa 140

milhões de hectares, com a vantagem de poder exportar grande quantidade de produtos

agrícolas uma vez que o seu consumo interno (175 milhões de habitantes) é inferior ao dos

EUA que possui 290 milhões de habitantes [Revista Veja: 3/3/2004].

Na OMC, as regras referentes ao comércio internacional de alimentos e a política agrícola

doméstica dos países membros são definidas pela AoA - Agreement on Agriculture. Essas

11 Subsídios são beneficios concedidos pelo governo a determinados setores, por meio da transferência de recursos, isenção de tributos ou aquisição de bens a preços não comerciais. Nem todos os subsídios são condenados, mas somente aqueles que injustamente prejudicam produtores competitivos e diminuem a eficiência da produção global, como os direcionados ao aumento das exportações ou ao consumo de bens nacionais em relação aos importados.

17

regras aceleram a concentração rápida do agribusiness, diminuindo a capacidade dos países

pobres de manter a soberania e a segurança alimentar por meio da agricultura. Como na

OMC as regras são definidas por pressão dos países mais ricos e poderosos, não interessa a

esses membros discutir o ítem da agricultura nas reuniões e fóruns internacionais. Os países

industrializados poderosos insistem em discutir novos temas conhecidos como os temas de

Cingapura: política de competição, compras governamentais, investimento e facilitação de

comércio.

Pode-se dividir os conflitos nas relações comerciais na OMC em antes e depois de Cancún,

conforme é possível avaliar a partir do Quadro I a seguir:

Quadro 1 : Antecedentes dos conflitos nas relações comerciais

Questões Agrícolas - pré - Cancún

EUA x UE

D . Conflitos no setor agrícola- barreiras tarifárias e subsídios.

1990/93 . Conflito minorado para permitir alcançar uma legislação internacional, em matéria de comércio, funcional aos interesses dos EUA, UE e Japão.

Questões Agrícolas - pós - Cancún

EUA x Países em Desenvolvimento

• Condenação como ilegais dos subsídios às exportações dos países em desenvolvimento.

• Legalização dos subsídios praticados pelos países industrializados (agrícolas, P&D, auxílios regionais e auxílios para a resolução de problemas ambientais).

Questões Comerciais - pré - Cancún

EUA x

D . Exigência de reciprocidade.

Países em Desenvolvimento

D . Aumento das obrigações nas relações comerciais.

. Perda do direito legal ao tratamento especial e diferenciado para atingir o desenvolvimento econômico.

Questões Comerciais - pós - Cancún

Países Industrializados

• Abertura acelerada nas áreas de interesse: tecnologia da informação, propriedade intelectual, serviços e eliminação das medidas restritivas aos investimentos diretos.

x

Países em Desenvolvimento

• . Abertura lenta e limitada nas áreas de interesse exclusivo: vestuário, têxtil, calçados e produtos tropicais.

• Legislação protecionista dos processos antidumping e anti-subsídios tornada oficial na OMe.

18

Os conflitos no setor agrícola inicialmente eram de natureza tarifária - barreiras e subsídios

entre os EUA e a UE. No período 1990/93, este conflito foi minorado dando lugar a

negociações sobre uma legislação internacional de comércio que fosse funcional aos

interesses dos países industrializados - EUA, UE e Japão. Já se percebia, então, um domínio

dos países industrializados na OMC. Os EUA passaram a exigir uma reciprocidade dos

países em desenvolvimento, enquanto estes perdiam o direito legal ao tratamento especial e

diferenciado para atingir o desenvolvimento econômico.

Pós-Cancún, na área agrícola, os países industrializados condenaram, como ilegais, os

subsídios concedidos às exportações pelos países em desenvolvimento enquanto

legalizavam os subsídios por eles praticados. Por outro lado, esses países industrializados

forçavam a inclusão dos temas de Cingapura como prioritários aos temas agrícolas.

11. 3 A 5a Reunião Ministerial da Organização Mundial do Comércio - OMC

A 5a Reunião Ministerial da OMC, realizada em Cancún, aberta em 10 de setembro pelo

Presidente do México Vicente Fox, presidida pelo Secretário das Relações Exteriores do

México Luis Ernesto Derbez, com a participação do Diretor Geral da OMC Supachai

Panitchpakdi, do Presidente do Conselho Geral e Embaixador do Uruguai para a OMC

Carlos Pérez dei Castillo, do Secretário Geral da UNCT AD Rubens Ricupero, constituiu

mais uma etapa importante do programa da Rodada de Doha para o desenvolvimento dos

países pobres.

A pauta de negociações de comércio internacional incluía a avaliação do progresso das

promessas feitas em Doha, em 200 I, com relação às novas liberalizações comerciais entre

os países industrializados - ricos, do hemisfério norte, e os países em desenvolvimento -

pobres, do hemisfério sul. As principais questões em pauta eram: (i) acordos de negociação

na área agrícola; (i i) acordos relacionados a aspectos comerciais dos direitos de propriedade

intelectual (TRIPS treaty - Agreement on Trade-Related Aspects of Intellectual Property

Rights) e saúde pública; (iii) tratamento preferencial e especial para os países em

desenvolvimento; e, (iv) ampliação do poder da OMC através de acordos de investimentos.

19

o encerramento da Conferência Ministerial, ao final do quinto dia de deliberações,

anunciado pelo presidente da Conferência Luis Derbez, sem qualquer Declaração de

Encerramento substantiva a respeito do encontro, fez com que a Conferência parecesse mais

com um enclave medieval. Segundo o representante da União Européia, Pascal Lamy, a

razão pelo qual o consenso não foi alcançado deveu-se à organização medieval da OMC

I2[Shah:2003].

Nesse encontro era esperado que os países industrializados promovessem substanciais

concessões considerando medidas protecionistas e de acesso de mercado, principalmente no

setor agrícola, que pudessem favorecer os países em desenvolvimento. Por outro lado, os

países industrializados esperavam que essa rodada de negociações constituísse um grande

passo ao encontro da liberalização do mercado global e um sinal de crescimento para a

estagnada economia global.

11. 4 Principais temas de discussões da sa Reunião Ministerial da Organização

Mundial do Comércio - OMC

Durante a realização da 5a Reunião Ministerial da OMC, as principais discussões giraram

em torno dos acordos de negociação na área agrícola; dos acordos relacionados a aspectos

comerciais dos direitos de propriedade intelectual e saúde pública; do tratamento

preferencial e especial para os países em desenvolvimento; e da ampliação do poder da

OMC através de acordos de investimentos.

11.4.1 Acordos de negociação na área agrícola

A agricultura é o assunto mais polêmico das negociações. O comércio internacional dos

produtos agrícolas e produtos alimentícios é regulado pelo Acordo sobre a Agricultura

(AoA), um dos principais acordos constitutivos da OMe. Esse acordo, que cobre as áreas de

acesso ao mercado e os subsídios à produção doméstica e à exportação de produtos

agrícolas, tem como objetivo reduzir o protecionismo e a proteção aos mercados agrícolas

impedindo distorções no comércio e garantindo o acesso a esses mercados. Neste acordo,

12 Pascal Lamy, representante da União Européia justifica, dessa forma, não se ter alcançado o consenso: "Despite the commitment ofmany able people, the WTO remains a medieval organization".[Shah, 2003, p.7]

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20

estabelecido a partir de negociações entre os EUA e a UE, aceito pelos outros membros da

OMC num pacote de outras pequenas concessões, os EUA e a UE ficaram praticamente

isentos da redução de subsídios enquanto os países em desenvolvimento, que não tinham

subsídios, foram proibidos de utilizá-los. Por outro lado, os países industrializados e os

países em desenvolvimento estão divididos em sub-grupos que têm diferentes interesses

sobre a mesma questão. Os Exportadores Agrícolas do Cairns Group demandam uma

redução de tarifas; o Like-minded Group demanda uma proteção aos pequenos fazendeiros

que foram afetados pela importação de produtos mais baratos sugerindo uma aplicação de

tarifas de importação para os produtos essenciais; La Via Campesina - Aliança Global de

Pequenos Fazendeiros, com base no conceito de soberania dos alimentos, demanda que a

agricultura deixe de integrar o sistema da OMe. Do outro lado, os EUA demandam uma

maciça redução nas tarifas de comércio, ao mesmo tempo que preservam os subsídios para a

produção doméstica; a UE, o Japão, a Suíça, a Noruega e a Coréia do Sul desenvolvem o

conceito de agricultura multi-funcional que tem por objetivo promover subsídios nas áreas

de bem-estar animal, conservação da paisagem e desenvolvimento rural. Após um longo

período de estagnação, a aliança EUA-UE trouxe uma nova dinâmica ao processo de

negociação com a Farm Bill que torna as negociações praticamente inviáveis a médio prazo.

Sob a liderança do Brasil, um grupo de 17 países, dentre eles os integrantes do Cairns

Group, a Índia e a China, submeteram uma proposta alternativa, pois o AoA impôs regras

que aceleram a concentração rápida do agribusiness e diminuem a habilidade de países

pobres de manter a soberania e a segurança alimentar através da agricultura de subsistência.

Um dos principais problemas seria substituir as barreiras tarifárias e comerciais por

barreitas fito sanitárias que promoveriam restrições às exportações dos países em

desenvolvimento para os países industrializados baseadas nos acordos de Sanitary and

Phytosanitary Standards - SPS (Padrões Sanitários e Fitossanitários). Esses acordos criam

restrições às políticas governamentais relacionadas à segurança alimentar (pesticidas,

inspeção, contaminação e rotulagem) e saúde animal e vegetal (pestes e doenças

importadas). As regras da SPS tendem para o lado do comércio, protegendo o fluxo de bens

a qualquer custo.

21

Quadro 2 : Principais questões dos países industrializados

EUA

. Demandam uma maciça redução nas tari fas de comércio, ao

mesmo tempo que preservam os subsídios para a

produção doméstica.

UE

. Ignora a segurança de alimentos/ abordagem

de soberania e a demanda por regras

especiais para produtos estratégicos.

UE + Japão + Suíça + Noruega -t Coréia do Sul

. Promovem o conceito de agricultura multi-funcional

que tem por objetivo conceder subsídios nas áreas de bem­estar animal, conservação da paisagem e desenvolvimento

rural.

Quadro 3 : Principais questões dos países em desenvolvimento

"Cairns Group"

.Demandam uma redução

de tarifas.

"Like-minded Group"

. Demandam uma proteção aos pequenos fazendeiros que foram

afetados por importação de produtos mais baratos sugerindo uma aplicação de tarifas de importação

para os produtos essenciais.

"La Via Campesina"

. Demandam que a agricul tura saia do sistema da OMC

utilizando como base o conceito de soberania dos

alimentos.

11.4.2 Acordos relacionados a aspectos comerciais dos direitos de propriedade

intelectual (TRIPS treaty - Agreement on Trade-Related Aspects of Intellectual Property

Rights) e saúde pública

Essa é uma questão também polêmica. Em Doha, os países em desenvolvimento

conseguiram um acordo no qual, a despeito da proteção de patentes definida no TRlPS

treaty, seria permitido produzir medicamentos genéricos mais baratos, desde que fossem

22

para atender a doenças básicas, para uso interno e sem orientação para a exportação. A

Declaração Ministerial de Doha confirma que seria dado o direito ao Estado de proteger a

saúde do cidadão e habilitaria acesso à produção de remédios com licenças compulsórias. A

questão permaneceu aberta para Cancún uma vez que não ficou definido como proceder,

caso um país não tivesse capacidade tecnológica, nem produtiva, para produzir um

medicamento genérico e, também, para definição das doenças que poderiam estar cobertas

com essa Declaração. A indústria farmacêutica, nos países em desenvolvimento, concordou

em utilizar o relaxamento da proteção de patentes somente para propostas humanitárias e

não para conquistar mercados. As regras do TRIPS causaram um conflito internacional

sobre os direitos dos países em desenvolvimento de emitir licenças compulsórias para

medicamentos essenciais.

Quadro 4 : Principais questões relativas ao TRIPS treaty

TRIPS treaty -Agreement on Trade-Related Aspects olIntellectual Property Rights

Países em Desenvolvimento

Seria permitido produzir medicamentos mais baratos, para atender a doenças básicas, para uso interno e sem orientação para a exportação.

. Restringir o licenciamento para a

produção de remédios.

(Doha)

. Não ficou definido:

- como proceder caso um país não tenha capacidade tecnológica nem produtiva

para produzir um medicamento genérico e,

- a relação das doenças que estariam cobertas por essa definição.

11.4.3 Tratamento preferencial e especial para os países em desenvolvimento

Os tratados da OMC contemplam a possibilidade de que os países em desenvolvimento

tenham um tratamento preferencial e especial para contrabalançar diferenças econômicas

entre os países industrializados e os países em desenvolvimento. De acordo com os termos

da Rodada de Doha, todas essas regras deverão ser revistas com o objetivo de corrigir os

impactos negativos de uma política de desenvolvimento, seguida de rodadas de negociações

23

comerciais. Os países em desenvolvimento estão demandando acesso aos mercadosI3,

redução nas tarifas de comércio para produtos estratégicos, assim como uma revisão nos

acordos do TRlPS. Os países industrializados não estão interessados em fazer qualquer

concessão e estão atrasando as negociações.

Quadro 5 : Principais questões relativas ao tratamento especial e acesso ao mercado

Tratamento Especial e Acesso ao Mercado

~ses Industrializados ~

. Não estão interessados em fazer qualquer concessão e

estão atrasando as negociações.

C::ses em Desenvolvimento~

. Demandam acesso aos mercados, redução nas tarifas de comércio para

produtos estratégicos, revisão nos acordos do TRIPS.

11.4.4 Ampliação do poder da OMC através de acordos de investimentos

Os países industrializados aceleraram suas agendas para Cancún forçando discussões das

questões de Cingapura, quais sejam: investimentos, política de competitividade,

transparência nas ações do governo e facilitação do comércio. Os EUA e o Japão

articularam-se para iniciar a rodada das negociações em Cancún pelos acordos multilaterais

de investimento. O que interessa aos investidores é obter um melhor acesso aos mercados

do hemisfério sul e obter uma melhor proteção aos seus direitos de propriedade, enquanto os

deveres dos investidores com relação aos aspectos sociais, econômicos e de meio ambiente

não deverão ser determinados na estrutura do acordo de Cancún. As principais discussões

entre os diversos países membros podem ser resumidas da seguinte forma:

- Países Industrializados: forçam a discussão sobre investimentos diretos, política de

competitividade, transparência nas ações do Governo e facilitação do comércio; adiam

discussão sobre questões agrícolas; e, exercem forte pressão sobre os países em

desenvolvimento para mantê-los em posição de submissão.

13 Negociar acesso a mercados significa debater como os mercados domésticos para bens industriais e agrícolas são abertos. Em acesso a mercados também incluem-se temas como: regras de origem, barreiras técnicas ao comércio, procedimentos aduaneiros e outros.

24

- Japão e UE: articulam-se para iniciar as negociações pelos acordos multilaterais de

investimento.

- Países em desenvolvimento, China, Índia, Venezuela, Malásia, Países não Desenvolvidos

14 e África : só discutirão as questões de Cingapura depois de resolvidas as questões

agrícolas.

11.5 O Fracasso da 58 Reunião Ministerial da OMC

A proposta principal da 53 Reunião Ministerial da OMC, em Cancún, era promover o

desenvolvimento dos países mais carentes. Os países membros não alcançaram qualquer

acordo nesse sentido.

Eram, de fato, muitas e poderosas as circunstâncias que conspiravam contra o êxito de

Cancún: as ambigüidades do mandato negociador; a pressão política dos países

desenvolvidos; certos interesses domésticos; o tempo alongado das negociações; as

coalizões que variam de geometria em função dos diferentes temas da mesa; em suma, um

processo em que todos os fatores interagem intensamente e que, dada a regra do consenso,

são capazes de assumir a qualquer momento proporções inesperadas. Na origem do impasse

a que se chegou, têm-se as insuficiências do processo preparatório e o fato de as

deliberações ministeriais partirem de uma base pouco apropriada, um projeto de texto com

um víeis em favor do entendimento EUA e UE e de certa opacidade em relação às

demandas dos países em desenvolvimento [Carta de Genebra, Ano 2, N° 7, out 2003].

Esperava-se que de um lado os países industrializados promovessem substanciais

concessões de abertura e extinção das barreiras tarifárias e não-tarifárias ao setor agrícola e,

do outro lado, que os países em desenvolvimento discutissem, uma vez definidas as

questões agrícolas, a pauta dos temas de Cingapura.

Os EUA, representados por Robert Zoellick, deram mais atenção ao fato de que as Nações

Unidas tinham uma multifacetada agenda comercial, que cerca de 14 negociações regionais

ou bilaterais estavam prontas para serem iniciadas e que outros países haviam expressado,

em Cancún, seus desejos de iniciar uma negociação comercial com os EUA.

25

Em uma outra posição, Pascal Lamy, representante da UE, deu maior atenção à estrutura

multilateral da OMC e às prioridades de Doha para a política comercial da UE. Ele

denunciou - repetindo o que já havia dito após a Reunião de Seattle - a natureza medieval

das operações da OMC e a inadequação de sua estrutura e de seus procedimentos

[Monchau:2003] .

o G-20, grupo formado pelos países em desenvolvimento, chegou a Cancún com uma clara

e ativa postura negociadora. Nas palavras do embaixador brasileiro em Genebra - Luiz

Felipe Seixas Corrêa, os países do G-20 " ... buscaram, sem êxito, incentivar os EUA e a UE

para que se demovessem da posição extremamente rígida, em que se colocaram ao deixar

entrever publicamente (e indicar privadamente) que o cerne de sua posição na agricultura

era inegociávef' [Carta de Genebra, Ano 2, N° 7, out 2003, p.2]. O G-20 decidiu, em

conjunto, não participar das negociações a menos que os temas de Cingapura, definidos na

agenda para o início das discussões, fossem colocados em discussão, depois de se ter

alcançado um consenso a respeito das questões agrícolas.

Na Conferência Ministerial de Cancún, em 2003, mais de 80 países estavam unidos contra a

inclusão dos temas de Cingapura. O texto ministerial de Doha exigia que a decisão de

iniciar ou não novas negociações fosse condicionada pelo consenso crítico. A postura

intransigente dos europeus, coreanos e de outros países exigindo que as demandas dos

países em desenvolvimento fossem ignoradas e que os novos temas fossem considerados,

levou ao colapso a 5a Reunião Ministerial de Cancún. A mídia denominou a Conferência

como o "Fracasso de Cancún"[ INESC:2003].

A UE manteve suas demandas em nível elevado por um longo período. A insistência em

formulações maximalistas para os temas de Cingapura, levadas a ferro e fogo durante o

processo preparatório em Genebra, se estenderam até o final da Conferência. Os EUA, por

sua vez, até um determinado momento estavam mais empenhados do que a UE em

promover a negociação agrícola. Por outro lado, os EUA tinham capacidade para manter os

subsídios em um longo prazo e assim preferiram, da mesma forma que Pascal Lamy, não

negociar a ceder [Carta de Genebra, Ano 2, N° 7, out 2003].

14 Países não desenvolvidos, em inglês Least Development Countries - LD 's

26

Era esperado, portanto, que Cancún se constituísse em uma oportunidade para a re­

estruturação do AoA - Agreement on Agriculture, uma vez que os subsídios domésticos da

UE e dos EUA devastaram o setor agrícola em todo o mundo. Os EUA e a UE gastam, por

ano, mais de US$ 300 bilhões para subsidiar sua agricultura. Os 25.000 fazendeiros

americanos de algodão recebem cerca de US$ 3,9 bilhões por ano, o que corresponde a

cerca de US$ 150.000 por fazendeiro. Os subsídios para a produção de açúcar alcançaram,

US$ 6,35 bilhões por ano, enquanto o valor mundial anual do comércio para esse ítem é da

ordem de US$ 11,6 bilhões15• Esses subsídios fizeram com que os preços desses produtos

no mercado ficassem menores do que os custos de produção e desta forma devastassem a

produção agrícola dos países mais pobres. A importância da agricultura na composição da

renda desses países é significativa, estando cerca de 80% da sua força de trabalho alocada

na agricultura contra 4% nos países industrializados.

O fracasso de Cancún não foi bem-vindo deixando muito claro a intransigência dos países

industrializados.

O lado positivo dessa Conferência Ministerial foi a enorme solidariedade e apoio entre os

países em desenvolvimento. Eles demonstraram que agora têm um papel significativo e

determinante na arena do comércio multilateral. A Conferência Ministerial de Cancún

deixou claro que as velhas táticas de negociação dos países industrializados não são mais

adequadas para a nova dinâmica das negociações do comércio intemacional. 16 [ Bassel:

2004].

15 !:llin~,~i_~',.\',.\~DlªrxisLcomiQloQi!litJ!tion'C;UKl!ILlillll.fJ.U.Ll11dx. html. Brooks, Mick (2003). Cancun fiasco reveals real nature of WTO. 16 [ http://www.uswa.ca/eng/newsletter6/cancun.htm. Bassett, Michael (Canadian Councilfor International Co-operation ). Cancun: Wealthy Countries Still Willing to End Poverty [fev.2004].

27

IH . Processos de Negociação

o conflito está presente em todos os relacionamentos humanos e em todas as sociedades. As

disputas acontecem entre pessoas de uma mesma família, vizinhos, grupos religiosos e

esportistas, organizações e governo, cidadãos, dentre outros. Devido ao alto custo fisico,

emocional e financeiro que resulta de uma situação conflituosa, os indivíduos têm buscado

maneiras de resolver suas discordâncias e diferenças de pontos de vista. Ao buscar

administrar e resolver as diferenças tem-se procurado estabelecer procedimentos que

atendam aos interesses das partes envolvidas, minimizando o desgaste e os gastos

desnecessários.

Negociação é a possibilidade de se fazer algo melhor por meio de uma ação conjunta; por

outro lado, não deverá ser surpresa caso as ações de não-negociação provem ser o meio

superior de realizar algo [Sebenius e Lax: 1987].

A negociação é ainda o modo mais eficiente de conseguir algo que se deseja. Negocia-se

quando existem alternativas a serem escolhidas e essas alternativas envolvem a própria

pessoa ou a terceiros. Para ambos os lados, as diversas alternativas apresentam interesses

comuns e interesses conflitantes, significando a complexidade das relações.

Deborah Kolb e Judith Williams comentam: a "resistência é uma parte natural do processo

informal de negociação. De modo geral, só daremos a devida atenção a um problema

quando acreditarmos em duas coisas: a outra parte possui algo desejável e nossos próprios

objetivos só serão atingidos se oferecermos algo em troca. A disposição para negociar é,

portanto, uma confissão de necessidade mútua" [Kolb e William:200 1 in Watkins:2004,

p.65].

Qualquer negociação deve ter uma estrutura básica fundamentada no conhecimento das

seguintes questões: qual a alternativa à negociação; qual o limite mínimo para um acordo

negociado; até que ponto cada parte está disposta a ser flexível; e, quais as concessões que

as partes estão dispostas a fazer. Para a definição desses fatores utilizam-se os seguintes

conceitos : BA TNA - Best Alternative to a Negotiation Agreement ou MAANA - Melhor

28

Alternativa à Negociação de um Acordo; Preço de Reserva; e, ZOPA - Zone oi Possibles

Agreements ou ZAP - Zona de Acordo Possível. l?

A MAANA corresponde a alternativa que será adotada caso não se alcance um acordo na

negociação. Esta alternativa é definida antes do início de qualquer negociação para permitir

ao negociador uma posição vantajosa em relação à outra parte, na medida em que ele

conhece e dispõe de uma referência, tanto para avaliação das propostas decorrentes do

processo como para poder dizer não a uma proposta desfavorável. Preço de Reserva é o

limite máximo possível de concessões a serem aceitas em um acordo. Esse limite é definido

levando-se em consideração a quantificação de outros elementos que interessem a parte e

pelos quais ela se disporia a pagar. ZAP é o conjunto de alternativas possíveis, para ambas

as partes, definidas por limites superiores e inferiores, dentro das quais pode-se chegar a

um consenso que satisfaça ambas as partes. Esses limites são definidos pelo Preço de

Reserva de cada parte. As partes não alcançarão resultados enquanto existir a região ZAP

[Mnookin, Peppet e Tolumelo:2000].

Quadro 6: Zona de Acordo Possível

• Alternativa A:

! ... ZAP

~! ------- ------------------

Preço de Reserva Preço de Reserva do vendedor do comprador

• Alternativa B: MAANA

Segundo Sebenius e Lax, as alternativas podem ser tão variáveis quanto as situações

negociadas que circunscrevem. Podem ser corretas e ter um único atributo, como nas

competições por preços de insumos para um produto idêntico; podem ser contingenciais e

multi-atributos, como levar a questão a uma decisão judicial ao invés de aceitar um acordo,

o que pode envolver incerteza, ansiedade, despesas com taxas legais e custo do tempo

dispendido, dentre outros; e podem também variar ao longo do tempo a partir de novas

17 Max Bazerman descreve a MAANA como sendo "one piece of advice that negotiation experts commonly offer is very simple: before you enter into any important negotiation. you should consider what you will do if no agreement is reached". Extraído do artigo Is there help for the Big Ticket Buyer , publicado na Harvard Business Review, em 17 set 2001.

29

informações, interpretações, movimentos competitivos ou oportunidades [Sebenius e Lax:

1987].

Nas negociações multipartidárias e organizacionais, a alternativa de um dos lados pode ser

um conjunto de acordos a ser alcançado por uma potencial coalizão dos adversários.

Ameaças inequívocas para alterar a posição de não-acordo são comumente utilizadas por

uma das partes, como pode ser observado pela posição dos países industrializados nas cinco

Conferências Ministeriais da OMC, quando tentaram impedir que fossem levadas à

discussão as questões agrícolas como é o desejo e a necessidade dos países em

desenvolvimento e forçaram uma agenda para discussões das questões que atendessem aos

seus interesses como os temas de Cingapura. Neste caso, além de buscar acordos, as partes

envolvidas se utilizam, freqüentemente, de negociações formais para fazer propaganda,

reunir inteligências, influenciar terceiros ou outras audiências, manter contato, desviar a

atenção dos outros jogadores sobre algo ou sobre a comunicação de algum assunto, e assim

por diante [Sebenius e Lax: 1987].

Conforme Sebenius e Lax teorizam, a determinação dos países desenvolvidos de influenciar

agendas e a irredutibilidade das posições assumidas provocam falhas nos acordos

constituídos por relações ruins e benefícios perdidos, dificultando, desta forma, as

possibilidades de conciliação [Sebenius e Lax : 1987].

IH. 1 Barganha Posicional

Apesar do fórum da OMC privilegiar o consenso nas negociações, os países industrializados

negociam privilegiando posições e não princípios. O modelo de barganha posicional é

aquele em que as partes competem pela distribuição de uma soma fixa de valor, ou seja, um

lado ganha à custa do outro [Watkins: 2004]. Este modelo compreende posições polarizadas

- afável ou áspera, em que o estilo afável enfatiza a importância de construir e manter o

relacionamento, e o estilo áspero acarreta o elevado ônus de tentar obter concessões e de

fazer ameaças, apesar de levar vantagem ao negociar duro, principalmente quando o

opositor for afável. O forte, em geral, domina o fraco em uma negociação.

Relacionamento e reputação significam pouco nesse modelo: os negociadores não estão

dispostos a trocar valor no acordo por valor no seu relacionamento com o outro lado. A

30

informação desempenha um papel importante nesse tipo de negociação. Quanto menos uma

parte souber a respeito das fraquezas e das reais preferências da outra parte, e quanto mais

perceber o seu poder de barganha, em melhor posição de negociação ela estará. A primeira

oferta poderá constituir-se em uma âncora psicológica capaz de definir a amplitude da

negociação. Ancoragem é uma tentativa de definir um ponto de referência em torno do qual

as negociações aconteçam. Por outro lado, é vantajoso informar à outra parte que se dispõe

de boas alternativas (MAANA), não apresentadas à mesa, caso a negociação não chegue a

termo [Watkins: 2004]. Max Bazerman e Margareth Neale acreditam que as posições

iniciais afetam a percepção dos dois lados quanto aos resultados possíveis [Bazerman e

Neale:1992 in Watkins :2004].

Joseph Stiglitz, em entrevista que antecedeu ao encontro de Cancún, demonstrou

preocupação com relação as chances de se alcançar um sistema mais justo de comercializar

globalmente e com a ameaça de retorno aos métodos antigos de negociações secretas e

negociações inflexíveis dentre outras. 18

Segundo Fisher et ai, a" ... forma mais comum de negociação, ... , depende de se assumir

sucessivamente - e depois, abandonar - uma seqüência de posições" [Fisher et ai: 1994].

Quando se discutem posições, dá-se menos atenção ao atendimento dos interesses

subjacentes das partes, enrigecendo-se posições, o que dificulta o estabelecimento de um

acordo. Prosseguindo, os autores explicam que "quando os negociadores discutem

posições, tendem a fechar-se nelas. Quanto mais você esclarece sua posição e a defende

dos ataques, mais se compromete com ela. Quanto mais procura convencer o outro lado da

impossibilidade de modificar sua posição inicial, mais dificil se torna fazê-Io"[Fisher et

al:1994, p.22].

Assim, a barganha posicional, segundo os autores, " .. . converte-se numa disputa de

vontades. Cada um dos lados tenta, através de mera força de vontade, forçar o outro a

alterar sua posição. A raiva e o ressentimento são resultados freqüentes quando um dos

lados percebe-se curvando à rígida vontade do outro, enquanto seus próprios interesses

18 Joseph Stiglitz, em entrevista aojomal The Guardian em 15 agosto de 2003, que antecedeu ao encontro de Cancún, afirmou: "One would have thought that the developing countries would lookforward to the meeting as a chance to achieve a fairer global trading system. Instead, many fear Ihat what has happened in the past wil/ happen again: secret negotiations, arm twisting, and the display of brute economic power by the US and Europe aimed at ensuring that the interests ofthe rich are protected".

31

legítimos são postos de lado. Assim, a barganha posicional tensiona e, por vezes destrói o

relacionamento entre as partes."[Fisher et ai : 1994, p.24].

Em Cancún, os países industrializados gostariam de discutir novas questões que pudessem

beneficiá-los, como os temas de Cingapura, mais especificamente os investimentos,

enquanto os países em desenvolvimento desejavam fechar as questões sobre a agricultura,

especialmente sobre o impacto dos subsídios concedidos nos EUA e na UE aos seus setores

agrícolas. O acordo não foi alcançado porque enquanto não se esgotasse a pauta do setor

agrícola, os países em desenvolvimento não passariam para a pauta seguinte. Foi observado,

por essa atitude, que os países em desenvolvimento estão pensando e, conseqüentemente,

atuando em bloco, em uma atitude até então inédita face aos países industrializados.

Segundo Shah, a partir de uma perspectiva histórica, Cancún é mais uma vez um exemplo

da posição dos países ricos em absorver a riqueza dos países mais pobres. Por outro lado,

Georges Monbiot, em seu artigo no The Guardian de 16 de setembro de 2003, entitulado A

threat to the rich 19, reconheceu que os países em desenvolvimento perceberam que podem

constituir uma ameaça aos países industrializados, quando fazem alianças entre si para

negociar [Shah: 2003].

O encontro de Cancún segUIu o mesmo padrão dos anteriores nos quais prevaleceu o

processo de decisão não-democrático, utilizando a tática da queda-de-braço de maior poder

dos países industrializados sobre os países em desenvolvimento. Segundo Monbiot, nesse

encontro Lamy elaborou uma proposta às nações pobres e às nações em desenvolvimento

cuja aceitação seria impossível [Monbiot:2003].

O quadro 7 apresenta, de forma esquemática, o impasse atual das negociações entre países

em desenvolvimento e desenvolvidos.

19 George Monbiot comenta que: "the stance ofthe poor countries was a threat to the rich, which, historically has been enough reasonfor the powerfu! to attempt to do whatever they can ensure they remain injluentia!". Em seguida, Monbiot refere-se ao trabalho Leviatã de Thomas Hobbes (1651) comentando: "the nasty and brutish behavior ofthe powerfu! ensures that the lives ofthe poor remains short" [ Jornal The Guardian, 16 set 2003].

32

Como não é aconselhável em situações de negociações complexas posicionar-se de forma

polarizada, o modelo de negociação baseada em princípios apresenta-se como uma

alternativa mais indicada nas negociações multilaterais ao modelo de barganha posicional.

Quadro 7 : Impasse atual nas negociações: países industrializados x países em

desenvolvimento

IMPASSE

Países industrializados X Cses em desenvolvime~

. Desejam priorizar a discussão . Não discutirão a pauta de sobre investimentos que os investimentos enquanto não se chegar beneficiará a curto prazo. a um acordo sobre as questões

agrícolas.

FORMA DE NEGOCIAÇÃO: BARGANHA POSICIONAL

Os países industrializados e os países em desenvolvimento mantém-se em suas posições, de forma polarizada, desejando impor, um ao outro, a sua posição como sendo a melhor.

111.2 Processo de Negociação baseada em Princípios

Em um processo de negociação baseada em princípios, também denominado integrativo, as

partes competem para dividir o valor mas, ao mesmo tempo, cooperam entre si para obter o

máximo de benefícios, conjugando seus interesses no fechamento de um acordo. Nesse

caso, todos devem fazer concessões para conseguir os resultados que mais valorizam,

abrindo mão de outros não fundamentais. Esse processo se desenvolve em quatro estágios:

preparação, criação de valor, distribuição de valores e acompanhamento. Cada um desses

estágios tem uma dinâmica própria e trabalha com os sete elementos da negociação, a saber:

relacionamento, comunicação, interesses, opções, legitimidade, alternativas e

compromissos. Estes elementos de negociação são utilizados em uma dinâmica que

perpassa a exploração de alternativas para construir e distribuir valor [Mnookin, Peppet e

Tolumelo: 2000].

33

Quadro 8: Estágios do processo de negociação baseado em princípios

PREPARANDO

Deixe claro as suas atribuições CRIANDO VALOR e defina sua equipe

Estime seu melhor MAANA Explore os interesses de

assim como o dos outros DISTRIBUINDO VALORES participantes

ambos os lados

Aperfeiçoe o seu MAANA Suspenda a critica

Comporte-se de maneira que CONTINUANDO (se possivel) crie confiança

Discuta padrões e critérios Entre em acordo para o

Identifique seus interesses Crie sem compromisso monitoramento das decisões para "dividir o bolo"

adotadas

Veja quais são os interesses Gere altemativas que Use a neutralidade para

Facilite a sustentação dos dos outros "façam o bolo aumentar"

sugerir possiveis formas de compromissos

distribuição

Prepare sugestões de Alinhe os incentivos e controles alternativas de ganhos mútuos Use a neutralidade para organizacionais

melhorar a situação Projete acordos próximos Continue trabalhando para

que se reforcem melhorar o relacionamento

Use a neutralidade para

Fonte: Yann Duzert - FGV 2004 resolver desacordos

Watkins entende que para o negociador, preparar-se significa compreender sua própria

posição e seus interesses, a posição e os interesses da outra parte ou partes, o que está em

jogo e as soluções alternativas [Watkins:2004].

• Preparação

A etapa de preparação envolve inicialmente a definição da equipe e a escolha do líder

(negociador); a identificação das questões; o mapeamento das questões envolvidas; a

realização de um estudo sobre os interesses, informações e posições das outras partes; o

estudo sobre os interesses - da sua parte -, em contemplar as oportunidades para a criação

de valor; o conhecimento da sua MAANA e a sua melhoria, se for possível; e o

estabelecimento de uma meta ambiciosa porém realista. Para a construção do

relacionamento, deve-se compreender que, " .. certos interesses intangíveis podem ser

importantes de alguma forma nas negociações. As partes podem ter interesse em se sentir

compreendidas e tratadas com justiça" [Mnookin, Peppet e Tolumelo: 2000].

A definição da MAANA de cada parte deve ser feita antes de qualquer definição sem a qual

estará em posição desvantajosa, podendo, sem essa referência, rejeitar uma boa oferta, por

vezes muito melhor que as demais opções, por excesso de otimismo; ou aceitar uma

34

proposta ruim, menos favorável do que a que poderiam obter de outro modo caso não

alcançasse um acordo [Watkins:2004]. Uma MAANA forte permitirá que uma parte

negocie condições mais favoráveis e, por outro lado, uma MAANA fraca poderá deixar a

parte mais vulnerável, pois qualquer proposta poderá ser mais atraente do que a alternativa

que se tem, e desta forma, a outra parte, percebendo a fragilidade, pressionaria para uma

melhor negociação para ela.

No caso de Cancún, o processo que se estabeleceu foi posicional. No processo de

negociação por princípios, a MAANA do grupo de países em desenvolvimento foi não

negociar os temas de Cingapura, concentrando esforços nas questões agrícolas, enquanto os

países desenvolvidos menosprezaram a capacidade de integração dos países em

desenvolvimento, se fixando na estratégia posicional somente para negociar as questões de

Cingapura.

Uma MAANA fraca pode ser superada se uma parte reforçar o jogo buscando melhorar a

MAANA e/ou descobrindo a MAANA da outra parte e/ou enfraquecendo a MAANA da

outra parte. Em uma situação de blefe, uma parte deixa a outra parte saber o que pode ser

feito. Quando a MAANA não está clara, os negociadores devem buscar elementos que

permitam conhecer as preocupações mais gerais das partes, o tipo de negócio, os relatórios

anuais, a estrutura corporativa, outros acordos e metas de forma que se obtenham mais

informações que melhorem as posições de negociação. Segundo Watkins, enfraquecer a

MAANA do outro lado significa fortalecer a sua posição relativa [Watkins: 2004].

A preparação envolve também a definição de uma agenda. Esta não deve ser muito extensa

sob pena de desmoralizar as partes comprometidas quando não for cumprida. As questões

agendadas para o início dos trabalhos não deverão ser polêmicas, frias ou contundentes,

para que não produzam danos nem uma oposição forte ao que está sendo discutido

[Susskind e Cruikshank: 1996]. A agenda de Cancún sofreu grande influência dos países

industrializados para as suas questões - temas de Cingapura, relegando para um segundo

plano as questões agrícolas que, conforme definido na reunião anterior, seriam objeto de

discussão no início da pauta.

35

• Criação de Valor

Por definição, a criação de valor ocorre quando, em uma negociação, ambas as partes

acreditam que os resultados alcançados as deixarão, ao final, melhores do que ficariam caso

não houvesse acordo. Em um senso mais estrito, qualquer resultado negociado, se melhor

do que a alternativa de fora da negociação, diz-se que criou valor [Mnookin, Pepper e

Tolumelo:2000].

o estágio de criação de valor só acontece depois de se entender o que seria um bom

resultado do ponto de vista de uma das partes e do ponto de vista das outras partes, quando

então poder-se-á identificar as áreas de intercessão, consenso e oportunidades para trocas

mais favoráveis. Caso exista qualquer incerteza sobre os interesses, os recursos e as

capacidades da outra parte, não será possível identificar as oportunidades de criação de

valor, daí a necessidade de um encontro entre as partes, para que se possa obter mais e

novos subsídios que permitam maximizar a avaliação e identificar as oportunidades de

criação de valor [Mnookin, Peppet e Tolumelo: 2000]. Segundo David Lax e James

Sebenius, os negociadores deverão concentrar suas energias no aumento do tamanho do

bolo, realizando trocas - criação de valor - que consistem em melhorar as posições

mediante o intercâmbio de valores que disponham. A criação de valor por meio de trocas

ocorre no contexto das negociações integrativas; em geral, cada parte obtém algo de seu

interesse em troca de algo a que dá importância muito menor [Watkins: 2004]. Nesse

processo, contrário ao processo de negociação por barganha, para se alcançar resultados,

será necessário compartilhar informações significativas sobre as respectivas situações, a fim

de encontrar oportunidades de benefícios mútuos. O compartilhamento de informações

compreende: explicar por que se deseja fechar o negócio; falar sobre os reais interesses ou

restrições empresariais; revelar e explicar as preferências entre assuntos e opções; analisar e

revelar eventuais capacidades que interessem à outra parte e que poderiam fazer parte do

acordo; e, utilizar o conhecimento adquirido para buscar opções criativas que atendam, ao

máximo, o interesse de ambos os lados [Watkins: 2004].

Utilizar a alternativa de não-acordo limita o conjunto de resultados negociados. Em todas as

etapas do processo, a percepção das diferentes alternativas é crítica para o posicionamento

das partes, e o processo vai se desenvolvendo por meio de concessões e não-concessões e

36

sucessivos pequenos ganhos que vão sendo obtidos, posição à posição, até o momento em

que não é mais possível se obter ganhos adicionais. Desconhece-se em que momento o

acordo acontecerá. Exemplificando, no quadro 9, tem-se dois negociadores - A e B com

três possibilidades de ganhos cada um. O ponto (0,0) representa o estágio inicial da

negociação em que cada uma das partes buscará negociar, para si, um ganho. Na posição

(6,0) o ganho de 6 para o negociador B representa um não ganho para o negociador A, e na

posição (0,6) é o inverso, significando um jogo de soma-zero. Ao longo das negociações,

ocorrem concessões de ambas as partes que representam ganhos de valor até o ponto ótimo

(3,3), denominado Equilíbrio de Nash, a partir do qual não é mais possível obter ganhos

adicionais. Esse ponto ótimo não representa a maximização dos desejos de cada uma das

partes que seria representada pela posição (0,6) para o negociador B e (6,0) para o

negociador A, entretanto representa o melhor resultado conjunto possível. Nesse caso, cada

uma das partes perde três pontos mas, em relação a não ganhar nada ( posição de não

acordo) , foi possível para ambas as partes ganhar três pontos.

Quadro 9: Processo de construção do consenso

Negociador A

6 .. 3

2

2 3

Melhor resultado possível

.... ~ 6 Negociador B

No caso das negociações multilaterais da Rodada de Doha, em Cancún, no âmbito da

OMC, a única alternativa possível de negociação dos países industrializados com relação à

questão agrícola era, indiscutivelmente, a manutenção do subsídio aos produtores europeus

e americanos e a discussão sobre os temas de Cingapura. Da parte dos países em

desenvolvimento, a única alternativa era a extinção dos subsídios. As posições das partes

eram polarizadas com interesses divergentes.

nenhum

subsídio

Países em desenvolvimento

Quadro 10: Posição polarizada - sem acordo

] [ todos

subsídios

Países Industrializados

37

Em março de 2004, depois de suspensas as negociações agrícolas na reunião de Cancún,

realizada em setembro de 2003, durante uma reunião do Comitê de Agricultura em Genebra,

ocorreu uma mudança na posição dos países industrializados, iniciada pelos EUA, dispostos

a definir o compromisso de fixar uma data para que os subsídios aos produtores agrícolas

deixassem de existir. De acordo com o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso

Amorim: "o G-20 está absolutamente fortalecido" [Jornal O Globo: 30/0312004, p.26].

Diante do impasse nas negociações com a Alca - um elemento que altera o cenário das

negociações que diz respeito às negociações dos EUA, Canadá e México com o Brasil - a

UE aproveitou a oportunidade para dar sinais de que irá melhorar sua proposta na área

agrícola, aceitando estabelecer compensações aos significativos subsídios concedidos à

agricultura na Europa. A estratégia dos europeus é estender aos demais países do Mercosul

benefícios que não quer estender aos demais países em desenvolvimento, além de

promover, por meio desta "aliança" um incentivo para que o Mercosul deixe de ser um

opositor na Rodada da OMC [Jornal O Globo: 10/04/2004].

Quadro 11: Posição polarizada - com possibilidade de acordo

nenhum

subsídio

Países em desenvolvimento

[ ZPA

] todos

subsídios

Países Industrializados

A região da ZPA - Zona de Possíveis Acordos, tende a diminuir ao longo das negociações

até que se alcance uma única posição que seja boa para ambas as partes. As alternativas

podem ser tão variadas quanto as situações que as circunscrevem. Em uma negociação

multipartite, as alternativas de um dos lados podem ser um conjunto de acordos que serão

alcançados por potenciais coalizões da outra parte [Lax e Sebenius: 2000].

Administrar a tensão entre criar e distribuir valor pressupõe que já tenha sido detenninado o

ponto limite para deixar a negociação. "Negociação não é um jogo estático" [Mnookin,

Peppet e Tolumelo: 2000, p.l8]. O conhecimento da MAANA pennitirá, ao invés de excluir

peremptoriamente a solução que não corresponda ao seu interesse mínimo, que se obtenha

um real poder na negociação, pois representa uma medida que possui a vantagem de ser

suficientemente flexível para pennitir a exploração de soluções imaginativas.

38

Mnookin define quatro fontes possíveis de criação de valor: diferenças entre as partes,

similaridades não competitivas, economias de escala e redução nos custos de transação. As

diferenças entre as partes são as mais importantes e eficientes fontes de criação de valor,

pois provocam a criatividade na busca de alternativas que permitam a ampliação do leque

de opções. Segundo o autor, essas diferenças podem ser analisadas sob a ótica dos recursos,

da valoração relativa, das previsões, da tolerância ao risco e dos ajustes no tempo

[Mnookin, Peppet e Tolumelo: 2000].

Segundo Mnookin et ai, ''para muitos, a distribuição de valor - em oposição à criação - é

a essência da negociação" [Mnookin, Peppet e Tolumelo: 2000, p.l8]. É necessário que as

partes se comportem de forma a criar confiança para propor e discutir padrões e critérios

para uma ótima divisão do todo, em posição de neutralidade. Caso haja interesse em se

explorar outras oportunidades que não só o valor, tem-se então, para essas novas

oportunidades, uma possibilidade de criação de valor.

Na maioria das negociações, cada uma das partes dispõe de diferentes conjuntos de

informações com diferenças nas quantidades e qualidades dessas informações. A essas

diferenças denomina-se assimetria de informações. A questão estratégica é que nenhum

negociador conhece o quanto poderá exigir da outra parte. Os negociadores raramente

revelam os seus valores de reserva e também são relutantes em conversar a respeito dos

seus MAANA's.

Um negociador que livremente disponibiliza suas informações sobre seus interesses e

preferências poderá não obter a mesma reciprocidade da outra parte. Por outro lado, a

criação ficará prejudicada caso não exponham, para a outra parte, as suas informações. Esse

é o primeiro núcleo de tensão nas negociações - denominado Dilema do Negociador - que

consiste na dicotomia entre a necessidade de revelar informações que criem valor versus

revelar informações, oferecendo argumentos e elementos à outra parte que podem

prejudicar a distribuição de valor. A pergunta que melhor representa o Dilema do

Negociador deve ser assim formulada: qual o limite da oferta de informações à outra parte?

A resposta pode ser encontrada na compreensão do conceito de co-opetição.

Em resumo, quando um negociador observa de forma míope as questões distributivas e não

divide qualquer informação, perderá oportunidades de criar valor. A essência da

39

distribuição de valor é a busca em cada um dos negociadores dos modelos de percepção que

possuem (elemento subjetivo), a fim de facilitar as suas ações em relação aos demais

participantes. Nessa avaliação, deverão ser consideradas as prováveis reações e percebidos

os limites da negociação. Os negociadores empregam uma variedade de táticas para

influenciar a percepção da outra parte - algumas podem ser confusas e outras desonestas.

Segundo a experiência de Mnookin, quando as questões de distribuição estão aparentes,

habilidades são mais do que necessárias para a resolução de problemas [Mnookin, Peppet e

Tolumelo:2000].

As normas poderão auxiliar no entendimento das partes. Normas e procedimentos sobre

Solução de Controvérsias podem, freqüentemente, resgatar negociações que tenham

chegado a um impasse, de forma simples, não sendo necessário fazer uso de complicadas

alternativas de solução de conflitos, que tomariam uma parcela significativa de recursos e

de tempo. Alguns acreditam que com cooperação, o todo cresce ampliando-se de tal forma

que as questões de distribuição desaparecem [Mnookin, Peppet e Tolumelo:2000].

111.3 Gestão de Conversas Difíceis

Em processos de negociação, algumas dificuldades de posicionamento podem ocorrer,

entretanto podem ter seu rumo corrigido. Max Bazerman e Margareth Neale mencionam o

"exagero irracional" como um erro cometido por negociadores quando se envolvem em

negociações difíceis e competitivas. Em sua definição, exagero irracional é "insistir em um

curso de ação previamente escolhido além do que seria recomendado por uma análise

racional" [Bazerman e Neale: 1992, p.10 in Watkins:2004, p.123]. Watkins destaca a

"percepção tendenciosa" como um fenômeno psicológico que faz com que as pessoas

percebam o mundo por um viés a seu próprio favor ou coerente com seus próprios pontos de

vista. Os bons negociadores sabem como ficar de fora de uma situação e encará-la com

objetividade, sendo capazes de compreender a maneira de pensar dos outros envolvidos,

bem como seus pontos de vista tendenciosos [Watkins: 2004]. Acordos também são difíceis

de serem alcançados quando uma ou mais partes têm expectativas que não podem ser

atendidas - o que elimina qualquer zona de acordo possível, denominada "expectativa

irracional". Excesso de confiança também inviabiliza acordos, pois pode levar a

superestimar as próprias vantagens e menosprezar as vantagens das outras partes,

impedindo ou dificultando o reconhecimento de perigos e oportunidades, sendo reforçado

40

por um outro erro, conhecido como pensamento grupal (groupthink) ou conhecimento

comum.

Um outro comportamento (groupthink) pode levar ao "erro irracional", definido pelo

psicólogo Irving Janus como a "maneira de pensar exibida pelas pessoas quando

profundamente envolvidas num grupo coeso, quando a ânsia dos membros por

unanimidade se sobrepõe à sua motivação para fazer uma avaliação realista de cursos

alternativos de ação" [Janus: 1982, p.9 in Watkins:2004, p.131]. Quando ocorre o

descontrole emocional, a raiva passa a dominar a negociação e assim, as partes deixam de se

concentrar na lógica e em seus interesses racionais; seu objetivo passa a ser o de provocar

danos ao outro lado, mesmo quando isso for prejudicial também a si próprias.

Por outro lado, na busca de soluções determinadas para situações estratégicas, considera-se

que o suposto do conhecimento comum é a condição de conhecimento relevante. Considera­

se como conhecimento comum um evento que é conhecido pelas pessoas, quando todas

sabem disso, e todas sabem que todas sabem disso, e assim por diante. Um outro sentido

para conhecimento comum foi elaborado pelo filósofo David Lewis que concluiu ser

racional para os indivíduos a adesão às convenções, sendo essas determinantes da

coordenação social. Essa compreensão leva a duas questões: a primeira é que a origem

arbitrária das convenções pode produzir bons equilíbrios - que resultarão em cooperação

efetiva, ou maus equilíbrios - que resultarão em prejuízo generalizado; a outra refere-se à

garantia de que crenças e disposições das pessoas são de conhecimento comum

[Lessa: 1998].

Dupuy sugere que um dos sentidos possíveis para conhecimento comum corresponde ao

melhor uso que se pode fazer desse conhecimento comum na Teoria dos Jogos. Trata-se da

idéia de que os jogadores conhecem a Teoria dos Jogos e tomam suas decisões de acordo

com o que a teoria prescreve para o jogo em que estão envolvidos. Na versão clássica da

teoria, as decisões dos atores são tidas como independentes umas das outras e os atores são

presumivelmente possuidores de informação completa. Na visão moderna, as decisões são

de tal forma independentes que configuram uma situação de incerteza generalizada [Dupuy

in Lessa: 1998].

41

No fórum da OMe, os interesses conflituosos manifestam-se entre os países

industrializados e em desenvolvimento quando esses últimos reclamam que estão perdendo

o tratamento preferencial (p.e. tarifas e proteção de patentes) e demandam maior espaço

para acomodar as suas prioridades para o desenvolvimento. Ao mesmo tempo, os países

industrializados argumentam com as suas necessidades para proteção às suas indústrias (p.e.

agrícolas, têxteis e aço) justificando a utilização de tarifas altas. Por outro lado, têm-se

políticas ambientais, políticas de proteção ao consumidor e de desenvolvimento,

organizações não-governamentais e uniões de comércio insistindo em afirmar que as regras

da OMe não estão atendendo aos objetivos sociais, ambientais, dos consumidores e de

desenvolvimento. São muitos os interesses divergentes que se deparam com um grande

grupo de lobistas transitando entre os vários interesses tratados na OMe [Unmüssig: 2004].

Segundo Moore, "todas as sociedades, comunidades, organizações e relacionamentos

inter pessoais experimentam conflitos em um ou outro movimento do processo diário de

interação. O conflito não é necessariamente ruim, anormal ou disfuncional, é um fato da

vida. O conflito e as disputas existem quando as pessoas estão envolvidas na competição

para atingir objetivos que sejam percebidos - ou de fato, incompatíveis" [Moore: 1998,

p.5].

A disputa tem uma dinâmica negativa e um custo muito alto quando inflinge dano físico ou

psicológico a um oponente e, uma dinâmica positiva quando é produtiva e conduz a um

crescimento para todas as partes. Para que uma disputa tenha uma dinâmica positiva será

necessário que os participantes tenham capacidade de criar procedimentos eficientes para a

resolução de problemas de forma cooperativa, colocando de lado a desconfiança e a

animosidade enquanto trabalham juntos na busca da solução do conflito, criando e

distribuindo valores, explorando as oportunidades e opções que possam satisfazer, pelo

menos parcialmente, aos interesses de todas as partes [Moore: 1998].

De acordo com Goleman, os indivíduos possuem aflições mentais tais como apego ou

ansiedade, raiva - hostilidade e ódio, arrogância, ignorância, ilusão, dúvida e opiniões

aflitivas que interferem, significativamente, sobre o curso das negociações, produzindo uma

dinâmica negativa com prejuízo para ambas as partes [Goleman:2004].

42

Ainda o autor associa alguns sentimentos às aflições mentais conforme se pode observar na

relação seguinte:

A raiva está associada à: ira, ressentimento, rancor, inveja, ciúme e crueldade.

O apego está associado a : avareza, auto-estima em excesso, empolgação,

ocultação dos próprios defeitos e apatia.

A ignorância está associada a : fé cega, indolência espiritual, negligência e falta

de atenção introspectiva.

A ignorância e o apego estão relacionados à: presunção, logro, despudor, falta de

consideração pelo próximo, falta de escrúpulos e aturdimento.

A reversão da dinâmica negativa para uma dinâmica positiva é possível com o cultivo do

equilíbrio emocional. Por emoção entende-se um estado mental que tem um forte

componente sensível. Cabe ao negociador se permitir racionalmente avaliar o desenrolar das

negociações, de forma a fazer o contraponto com uma emoção impulsiva originária dessas

situações, que inibe o controle das emoções destrutivas. Esse controle pode ser

proporcionado pela meditação - percepção de coisas sutis, pela intuição e mente alerta - no

conceito de Goleman - que possue um cognitivismo forte e, na atitude "Pare e Pense ,,20

definida por William Ury.

As tensões que existem entre os diferentes interesses que se quer perseguir são trabalhadas

pelos indivíduos e produzem uma grande diversidade de estilos de comportamento. Em uma

negociação, principalmente quando se está diante de uma disputa acirrada, os sentimentos

podem ser mais importantes que as palavras. As partes, muitas vezes, estão mais preparadas

para uma batalha do que para se debruçar, juntas, sobre uma questão comum [Fisher, Ury e

Patton: 1994]. O grande desafio na negociação para a resolução de problemas é reconhecer

e administrar a tensão. Esta não pode ser resolvida, só pode ser administrada [Mnookin,

Peppet e Tulumello :2000].

111.3.1 Conciliação

"A conciliação é essencialmente uma tática psicológica aplicada que visa corrigir as

percepções, reduzir medos irracionais e melhorar a comunicação a tal ponto que permita a

20 A expressão utilizada por William Ury é "stop and go to the balcony".

43

ocorrência de uma discussão razoável e, na verdade, possibilita a negociação

racionaf'(Curle: 1971 in Moore: 1998, p.145). A conciliação pode ser alcançada por

intermédio de um mediador que minimiza o conflito desnecessário e constroe um

relacionamento psicológico positivo entre as partes.

Moore entende que existem cinco problemas que criam uma dinâmica psicológica negativa

nas negociações: emoções fortes; percepções erradas ou estereótipos empregados por uma

ou mais partes em relação à outra ou sobre as questões em disputa; problemas de

legitimidade; falta de confiança; e comunicação deficiente [Moore: 1998].

No início das negociações, as pessoas freqüentemente se sentem zangadas, magoadas,

frustradas, desconfiadas, alienadas, desesperançadas, ressentidas, traídas, temerosas ou

resignadas em relação às condições insatisfatórias. Essas emoções deverão ser minimizadas

e amenizadas antes de qualquer negociação, sob pena de mais tarde bloquearem um acordo

ou inibirem a formação de relacionamentos mais positivos. Em sua maioria, os conflitos

envolvem mais sentimentos negativos. As emoções são reações fisiológicas e psicológicas

complexas a estímulos externos e podem se manifestar em alterações neuro-musculares,

cardiovasculares, respiratórias, hormonais e em outras alterações corporais. Deixar

expressar uma emoção forte pode fazer parte de uma estratégia quando: uma parte necessita

de uma liberação fisiológica das emoções reprimidas pois está sendo incapaz de se

concentrar nas questões essenciais da negociação; uma parte necessita demonstrar à outra

parte suas emoções como um dos elementos de um movimento educacional; a expressão

direta das emoções é culturalmente esperada e aceitável. Caberá ao mediador, familiariza-se

com as técnicas psicológicas para ajudar as partes a lidarem com suas emoções, de forma a

poderem negociar as questões específicas que estão disputando [Moore: 1998].

Os indivíduos estão em conflito muitas vezes, em função da natureza do conflito, outras

vezes pela própria natureza do ser humano quando incapaz de desenvolver um processo de

negociação de forma efetiva, de lidar com as barreiras psicológicas e de participar com

soluções integrativas. Quando as partes encontram-se em um forte desentendimento e as

dificuldades enunciadas anteriormente atingem limites que inviabilizam o desenvolvimento

das negociações, tem-se um processo de negociação (gestão de conversas difíceis) em que o

papel de uma terceira pessoa - mediador - é fundamental para o processo de negociação.

As pessoas entram em um processo de negociação conscientes de que os riscos são grandes,

44

sentindo-se ameaçadas. O medo gera a raiva que por sua vez pode gerar o medo. As

emoções de um lado podem gerar emoções no outro, podendo levar rapidamente a

negociação a um impasse ou ao fim [Fisher, Ury e Patton: 1994].

A construção de consenso é um processo que busca um acordo unânime entre as partes.

Envolve um esforço para conciliar os interesses de todos os stakeholders . O consenso é

alcançado quando cada um concorda que poderá conviver com o que foi proposto depois

de todo o esforço da negociação. O consenso requer que se defina uma proposta depois de

ouvido, com cuidado, tudo o que já foi dito [Susskind: 1999].

111.3.2 Facilitação e Mediação

Na Reunião Ministerial de Cancún, o Presidente Derbez anunciou o convite a cinco

ministros para atuarem como facilitadores ajudando-o nas negociações nos diversos temas,

tais como : agricultura, acesso aos mercados não-agrícolas, de desenvolvimento, de

Cingapura e outros. Os facilitadores eram pessoas com habilidade para gerenciar encontros

e conversas entre partes em litígio, devendo trabalhar com grupos individuais e delegações

e, mais tarde, reportar-se ao Presidente Derbez. Como nas Conferências Ministeriais

anteriores, esses encontros informais ocorriam enquanto o plenário formal continuava com

as exposições gerais dos Ministros.

Nesta ocasião foram escolhidos os seguintes facilitadores:

Agricultura: George Yeo Yong-Bom , Ministro da Indústria e do Comércio de

Cingapura;

Acesso ao mercado de produtos não-agrícolas: Henry Tang Ying-yen, Secretário de

Finanças de Hong-Kong, China;

Temas de desenvolvimento: Mukhisa Kituyi, Ministro da Indústria e Comércio do

Quênia;

Temas de Cingapura: Pierre Pettigrew, Ministro do Comércio Internacional do

Canadá; e,

Outros temas: Clement Rohee, Ministro do Comércio Exterior e da Cooperação

Internacional da Guiana.

45

Os facilitadores fazem o seu trabalho na mesa de negociação, com as partes frente-a-frente,

enquanto os mediadores são chamados para trabalhar com as partes fora do ambiente da

disputa, antes ou depois de cada rodada, e com um grande número de situações conflituosas.

Em Cancún, o trabalho dos facilitadores foi assessorar o presidente para tentar alcançar o

consenso e assumir grupos de trabalhos abertos a todos os membros, por tema.

Moore entende o mediador como sendo a pessoa que "ajuda as partes principais a

chegarem de forma voluntária a um acordo mutuamente aceitável das questões em

disputa". O autor acrescenta que a "mediação é um processo voluntário em que os

participantes devem estar dispostos a aceitar a ajuda do interventor se sua função for

ajudá-los a lidar com suas diferenças - ou resolvê-las" [Moore: 1998, pp.22-23].

O mediador não pode fechar os olhos para atitudes desonestas, acordos que não poderão ser

implementados ou violação das regras. Antes das partes se colocarem frente-a-frente, os

mediadores têm um importante papel na seleção dos participantes mais representativos,

devendo auxiliá-los na definição da agenda e na determinação de regras sob as quais

deverão atuar, desde que estejam em uma posição absolutamente neutra.

Uma das importantes habilidades do mediador é a capacidade de observar e interpretar as

situações que se desenrolam, de analisar os interesses, compreender conflitos e explorar as

relações de poder de tal forma que as situações possam ser colocadas dentro de medidas de

controle [Morgan: 1996].

Uma vez iniciado o processo, os mediadores assistirão as partes nos seus esforços em gerar

soluções criativas dentro das diferenças. Durante as discussões ou negociações, o mediador,

como não está envolvido diretamente na disputa, poderá assessorar os participantes

observando e entendendo de forma mais racional a questão, servindo de porta-voz do

processo, se a mídia estiver acompanhando as negociações. Finalmente, o mediador poderá

ser chamado para monitorar a implementação dos acordos e reunir as partes, para rever o

progresso ou avaliar as falhas ou violações ocorridas [Susskind: 1999].

Em uma perspectiva de conciliação, existem desafios para o mediador como a relutância

entre as partes para saírem de suas posições iniciais.

46

111.3.3 Mediadores nas Relações Internacionais

No livro Minimizing Agency Costs In Two Levei Games, Kalypso Nicolai"dis traz a questão

de um agente representar múltiplos constituintes. Ela argumenta que o ótimo mandato

do ''jogo de dois níveis" envolve um balanço da eficiência externa (buscando o melhor

acordo que puder do lado oposto) com um equilíbrio interno (buscando um acordo que

seja justo para todos os principais envolvidos) [Mnookin e Susskind: 1999].

Nicolai"dis aplica essa teoria para as negociações comerciais na União Européia e nos

Estados Unidos e busca explicar a diferença dos mandatos dos negociadores da União

Européia e dos Estados Unidos, os problemas engendrados por estes mandatos e o

desenvolvimento dos mesmos ao longo do tempo. Ela distingue três estágios de negociações

para os mediadores - antes, durante e após os encontros, - e sugere três interesses para os

principais negociadores: quanto de flexibilidade deve ser dado ao agente para que ele possa

ir à negociação; quanto de autonomia deve ser dado ao agente durante as negociações;

quanto de autoridade, necessária para ratificação, deve ser dada ao agente depois que a

negociação for consumada.

Na diplomacia internacional, os mediadores encontram desafios eSpeCIaIS pOIS

freqüentemente representam partes amorfas (p.e. Estado-nação) ou um conjunto de partes

ativas (p.e. Presidência, o Departamento de Estado ou grupos de comércio doméstico). Os

mandatos das partes podem mudar rapidamente levando-as a usar múltiplos mediadores,

simultaneamente, para cumprir suas agendas. A diplomacia internacional também envolve

papéis conflituosos.

Em Challenges for International Diplomatic Agents, Eillen Fabbit argumenta que para

produzir uma melhor diplomacia, na prática, essas complexidades da negociação

internacional deverão ser encaminhadas de forma mais efetiva. Assim, quando diferentes

mensagens estão sendo enviadas por múltiplas partes usando múltiplos mediadores, será

impossível alcançar um acordo externo enquanto esses constituintes estiverem negociando

um acordo interno sobre como conduzir a negociação externa [Mnookin e Susskind: 1999].

47

111.3.4 Barreiras para Resolução de Conflitos

Arrow et ai em seu livro Barriers to Conjlit Resolution, analisam a entrada de um agente

nas negociações entre as partes a fim de facilitar a eliminação das barreiras. Os autores

sugerem três categorias de barreiras para a resolução de conflitos : barreiras táticas e

estratégicas; barreiras psicológicas; e barreiras organizacionais, estruturais e institucionais

[Arrow et ai: 1995].

Constitue barreira tática e estratégica, a tensão central na negociação que ocorre entre a

criação de valor e a reclamação do valor. É muito comum que os negociadores deixem de

lado as suas possibilidades de acordo para concentrarem esforços, principalmente, nas

táticas e no processo de negociação em si mesmo. Em todos os estágios da negociação, as

percepções das alternativas são críticas para a definição do comportamento das partes. Uma

negociação tática que tem um único objetivo é prejudicial para a outra parte [Sebenius e

Lax: 1987]. As barreiras psicológicas ocorrem quando cada indivíduo assimila as

informações de forma diversa a do outro. Em uma negociação, devido as diferenças sociais,

econômicas e principalmente culturais, as partes tendem a ver o mundo, de acordo com as

suas posições e convicções [Arrow et ai: 1995]. A sinceridade e a confiabilidade são as

pedras angulares da confiança. Negociar com alguém indigno de confiança obriga a parte a

recorrer à alternativas ou a restringir os acordos feitos, tornando-os mais restritos ou

limitados. A esses acordos denominam-se acordos inseguros. Com relação às barreiras

organizacionais, estruturais e institucionais, muito freqüentemente as regras, estruturas,

condições ou sistemas organizacionais impostos por outros serão condições pesadas nas

barganhas descentralizadas. Alterando as regras ou a estrutura entre as partes, a ocorrência

de outras negociações pode alterar as alternativas de não-acordos dessas negociações e

também seus resultados [Lax e Sebenius, 1987].

Nas negociações de Cancún, os países industrializados voltaram-se apenas, e

exclusivamente, para os seus interesses, convenientemente esquecendo-se de agendas

anteriormente firmadas, forçando a discussão a respeito dos temas de Cingapura pois

atendiam aos seus interesses específicos. Por outro lado, dado o poderio econômico desses

países, houve uma tentativa de exercer pressão sobre os países em desenvolvimento com

relação a não discussão sobre as questões agrícolas. Pela primeira vez, a despeito da pressão

exercida, os países do G-21 firmaram uma posição para fazer prevalecer a agenda da

48

discussão sobre os subsídios agrícolas. Na "queda de braço", já que nenhuma das partes

recuou, houve a ruptura representada pela interrupção repentina da Reunião Ministerial.

Cerca de seis meses após a Reunião de Cancún, EUA, UE e Japão concordaram em

negociar uma data para eliminar os subsídios às exportações agrícolas. Este avanço foi

obtido em Genebra, durante a reunião do Comitê de Agricultura, quando os EUA

procederam a uma mudança de posição, anunciando que admitiriam rever esses subsídios

desde que os europeus também flexibilizassem suas posições. Essa flexibilização foi

acontecendo gradativamente de parte a parte, entre EUA, Japão e UE. De acordo com o

embaixador brasileiro Clodoaldo Hugueney, principal negociador do Brasil na OMC, o

acordo agrícola deve ser fechado o mais rapidamente possível devido às eleições nos EUA e

Japão, no segundo semestre de 2004 e possíveis mudanças no comissariado da UE. As

negociações estão sendo lideradas pelo G-20, e esse grupo está completamente fortalecido,

não com uma posição de interlocutor indispensável mas como um fator de aglutinação.

As partes, com visões influenciadas sobre o que é justo ou o que é eqüitativo para si e

apenas para si, podem constituir barreiras para a resolução de conflitos [Bazerman e Neale

in Arrow : 1995 in Cohen: 1972].

111.3.5 Princípios para Ultrapassar Impasses (barreiras) nas Negociações

De acordo com Watkins, sete princípios representam uma visão ampla da forma como os

negociadores, que lidam com situações extremamente [J ifíceis e adversas, operam.

Princípio I : Os negociadores determinam a estrutura de suas negociações.

Esses negociadores não vêem as situações de negociação de forma pré-ordenada ou fixa.

Eles compreendem que não poderão ficar à mercê das reações dos seus interlocutores e que

deverão estabelecer suas áreas de atuação. Trabalham para moldar a estrutura básica de uma

negociação, envolvendo as pessoas certas, controlando os assuntos da agenda, criando

ligações que sustentem seu poder de barganha, e trocando o fluxo do processo ao longo do

tempo. Eles entendem que as ações que acontecem fora da mesa de negociação são tão

importantes quanto aquelas que ocorrem na mesa.

49

Especificamente, negociadores habilidosos reconhecem que os resultados são fortemente

influenciados pelos contatos desenvolvidos, anteriores à negociação, ainda que, mesmo

depois de iniciadas as negociações, eles continuem a definir a estrutura da agenda e a

estabelecer a mobilização de eventos [Watkins: 2001].

Princípio 2 : Os negociadores organizam para aprender.

Negociadores habilidosos aprendem fazendo a preparação necessária para negociar:

diagnosticam as principais características da situação; familiarizam-se com a história, com o

contexto e com as memórias das negociações anteriores; investigam os antecedentes, perfil

e reputação dos participantes do outro lado. Reconhecem que a preparação convencional

tem limitações.

Negociadores habilidosos concentram-se na continuidade do aprendizado ao longo da

negociação, percebendo as reações e tipos de respostas, enquanto testam hipóteses fazendo

perguntas e colocando ofertas sobre a mesa. Em suma, é a parte do processo em que são

trabalhadas a cognição, as percepções, o compartilhamento de informações e a busca

conjunta de dados.

Negociadores habilidosos prestam atenção na administração da equipe no processo de

aprendizado, estabelecendo claramente os papéis e responsabilidades para observação e

análise, e dedicando parcela de tempo substancial entre as sessões de negociação para

integração e troca de informações sobre percepções / intuições (insights).

Princípio 3 : Os negociadores são mestres no desenho do processo.

Controlar o processo produz um controle também sobre os resultados. Negociadores hábeis

avaliam o impacto que o processo tem sobre a percepção, os interesses e as alternativas dos

"adversários" ou daqueles que eles representam, e também sobre os seus parceiros. Esses

negociadores também sabem que cada negociação, uma com cada um dos membros do

grupo, está associada às diferentes questões do grupo. Eles estão informados sobre os

benefícios potenciais e os custos de terem um canal secreto. Eles sabem que os detalhes, o

tempo, o timming, o formato e o tamanho da negociação podem fazer diferença [Watkins:

2001].

50

Princípio 4 : Os negociadores favorecem acordos quando possível e empregam a força

quando necessário.

Os negociadores compreendem a delicada interface entre a negociação e o poder coercitivo.

Os grandes negociadores são hábeis em utilizar ameaças implícitas e explícitas. Eles

reconhecem a necessidade de ameaças para terem credibilidade, pois o uso da força é muito

grande.

Negociadores experientes reconhecem também que seus "oponentes" provavelmente vêem

qualquer acordo alcançado por meio do poder coercitivo como ilegítimo, e sentem-se livres

para violar os termos [Watkins: 2001].

Princípio 5 : Os negociadores antecipam e administram o conflito.

Os negociadores, para conseguir avanços significativos, administram os conflitos entre si e

com os outros lados. Freqüentemente, negociadores, ou quem eles representam, estão

fechados nos relacionamentos com os adversários quando as negociações começam, e a

experiência do conflito passado pode muito bem distorcer suas percepções.

Parafraseando Fisher, os negociadores intermediam suas próprias disputas. Eles são hábeis

em diagnosticar potenciais fontes de conflitos. Eles reconhecem o potencial para o

pensamento do soma-zero, das mútuas percepções de vulnerabilidade, da história de

desconfiança e injúria que foi transformada em percepções, e de confusões culturais. Um

não acordo é preferível a um mau acordo [Watkins: 2001].

Princípio 6 : Os negociadores constroem o momento em direção ao acordo.

Negociadores não procedem de forma calma do início até o final da negociação. Eles

alternam movimentos de ação com movimentos de inação até o acordo ser alcançado ou

quando ocorrer um não acerto. Os tomadores de decisão fazem escolhas duras (como fazer

uma concessão desfavorável) somente quando faltam alternativas atraentes ou quando não

existe nada mais a fazer. Enquanto os oponentes acreditam que o custo de ação não supera

os potenciais benefícios da inação, eles não estão prontos para agir [Watkins: 2001].

51

Princípio 7 : Os negociadores trabalham pelo meio.

Grandes líderes são geralmente grandes negociadores, mas o reverso também pode ser

verdadeiro. As ações dos hábeis negociadores têm um grande impacto sobre o resultado de

negociações complexas. Nas negociações entre grupos, negociações externas e tomadas de

decisão internas fazem com que os grupos invariavelmente interajam. A forma de fazerem

isso leva a um desfecho bom ou ruim.

Os representantes devem trabalhar internamente para configurar seus mandatos, negociar

instruções, e vender os acordos resultantes aos constituintes. Ao mesmo tempo, eles deverão

construir credibilidade e trabalho produtivo de relacionamento enquanto avançam nos

interesses de ambos os lados.

Os negociadores prestam atenção no processo de tomada de decisão do outro lado, e usam

as suas percepções para definir os próprios passos, algumas vezes ajudando os oponentes a

concluir os acordos[Watkins: 2001].

111.3.6 Culpa e as Conversações Dificeis.

Fundamentalmente, utilizando a abordagem da culpa em uma negociação, tem-se

conversações mais difíceis do que utilizando a compreensão presente no sistema de

colaboração, que promove maior facilidade na conversação com a perspectiva de que a

mesma seja mais produtiva [Patton: 1992].

A culpa é uma importante questão em muitas conversações difíceis. A tendência do ser

humano é simplificar as questões entre o que é certo e o que é errado. A simplificação entre

o absolutamente certo ou o absolutamente errado não constituiria uma questão que surge

dada a complexidade existente nas diversas gradações entre as posições polarizadas, tais

como entre o certo e o errado, o bom e o mau, o verdadeiro e o falso, dentre várias. Querer

apontar o erro e o imputar a uma das partes, traz a questão da culpa. Imputar a culpa a uma

das partes é querer manter a discussão ao invés de resolvê-Ia. O foco na culpa é uma má

idéia pois inibe a habilidade de se aprender o que realmente está causando problemas e o

52

que pode ser feito para corrigí-Ios. A culpa é freqüentemente irrelevante e injusta.

Entretanto, também é muito difícil sair da posição de culpa sem que se compreenda o que é

a culpa, o que motiva um indivíduo a culpar o outro e como se consegue buscar algo melhor

em conversações difíceis [Patton: 1992]. Em situações que apresentam uma clara indicação

de culpa, existe um custo associado que é a punição. Quanto maior a possibilidade de

punição - legal ou qualquer outra, conhecer a verdade sobre o que ocorreu é mais difícil.

As pessoas são menos abertas, menos disponíveis e menos propensas a pedir desculpas

quando existe a possibilidade de uma punição. Essas atitudes não constituem uma ação que

agregue valor, sendo atitudes de divisão e de inibição que mascaram situações. A atitude de

compreensão dos erros tem a força de agregar valor [Patton: 1992].

o indivíduo quando se sente culpado, fala defensivamente, com grande emoção, com

interrupções, tomando-se mais abrupto, aumentando o distanciamento das outras pessoas.

Desta forma, a comunicação entre as partes toma-se desgastada e os erros se multiplicam.

Essas atitudes podem promover uma ampliação do problema ao contrário das atitudes de

compreensão que somam valor às possibilidades de resultados [Patton: 1992].

Os países industrializados desejam culpar os países em desenvolvimento pelo fracasso das

negociações em Cancún. Mais uma vez os países industrializados se utilizaram de

estratégias para fazer prevalecer seus interesses. Pressionaram para a discussão dos temas de

C ingapura , sem antes ter buscado um consenso sobre as questões agrícolas; os EUA,

buscando dividir para "reinar", atuavam em paralelo tentando fechar acordos bilaterais com

países menores, acordos esses em que definia as regras do jogo e, em troca, oferecia acordos

de comércio livre, fora da OMC, com o Chile e com Cingapura . Essas atitudes provocaram

ao invés de culpa, indiferença e agressividade por parte dos países em desenvolvimento,

uma união entre esses países para fazerem frente à pressão dos países industrializados.

George Monbiot, do jornal The Guardian, observou que os países em desenvolvimento,

após 20 anos, estão começando a se unir e a se mover como um único corpo. Desta forma,

se os EUA indicarem um percurso de ameaças ou pressões terão muito a perder21. Em

Cancún, as nações mais fracas se levantaram contra os mais poderosos negociadores do

mundo e não quebraram. As nações em desenvolvimento, caso se mantenham unidas,

podem começar a constituir-se uma ameaça para os países industrializados.

21 Monbiot observou que" .. . something e/se is now beginning to shake itself awake. The deve/oping countries, for the first time in some 20 years, are beginning to unite and to move as a body".[ Shah:2003].

53

IH.4 Coalizões e Conflitos

o conceito de política, desde a época de Aristóteles, demonstra que, quando há divergência

de interesses, a sociedade deverá oferecer meios para permitir que os indivíduos reconciliem

suas diferenças com o auxílio da consulta e da negociação [Morgan: 1996] . Aristóteles,

defendia a utilização da política como meio para reconciliar a unidade da pólis grega

(cidade-estado), uma vez que a pólis era um "agregado de muitos membros".

As negociações empresariais e profissionais envolvem várias partes - são multipartites -

diferindo das negociações bilaterais pela possibilidade dos grupos que venham a formar.

Essas alianças assim constituídas, fortalecem individualmente cada uma das partes em um

todo que passa a reunir a força necessária para impor suas propostas preferidas ou, no

mínimo, para barrar aquelas que consideram inaceitáveis [Watkins:2004].

Existem dois tipos de coalizão: uma coalizão natural, de aliados que compartilham uma

vasta gama de interesses comuns e uma coalizão com vistas à uma só questão, na qual as

partes divergem em uma série de assuntos mas, geralmente, movidas por razões diferentes,

unem-se em apoio, ou em reação, a uma questão específica.

o desafio da negociação multipartite é gerir as coalizões, dividindo seus membros ou

mantendo-os unidos, de acordo com os interesses de cada um. Romper uma coalizão natural

de aliados é muito difícil, entretanto uma coalizão centrada em um único interesse e

formada por partes, que em outras circunstâncias permaneceriam dissociadas, é muito mais

vulnerável [Watkins:2004]. Em Cancún, pela primeira vez, os países em desenvolvimento

liderados pela Índia, China e Brasil mostraram aos países industrializados e ao mundo a sua

força com a coesão.

Ao entrar em uma negociação conflituosa é necessário que se tenha um profundo

conhecimento da questão a ser discutida, que se tenha mapeado todas as alternativas com

seus possíveis resultados e que se tenha definido a MAANA. Estrategicamente, os

negociadores não revelam seus valores de reserva (limite da ZPA) e, muito menos, a sua

MAANA. A questão estratégica é a busca do conhecimento sobre quanto se poderá forçar

uma posição de negociação em relação à outra parte [Mnookin, Peppet e Tulumello: 2000].

54

Sob a ótica da política pode-se ver as organizações como redes de pessoas independentes,

com interesses divergentes que se juntam, em função da oportunidade. As organizações são

compostas de coalizões e a construção da coalizão é uma dimensão importante na vida

organizacional [Morgan: 1992].

As coalizões surgem quando grupos de indivíduos ficam juntos para cooperar sobre

assuntos específicos, ou então para propor valores específicos e ideologias. As coalizões

devem alcançar algum tipo de equilíbrio entre recompensas e contribuições necessárias à

sustentação da afiliação. Em uma organização como a OMC, que agrega muitos membros

com bases democráticas, quando submetida a um ambiente turbulento, deverão ser

desenvolvidos mecanismos de gestão, de caráter orgânico, que permitam conciliar de modo

adequado as inconsistências e as contradições com as quais se deve conviver [

Chanlat: 1996]. A OMC deve, portanto, desempenhar um papel integrador por meio de

formas participativas de decisão em que todos, conjuntamente, contribuam efetivamente

para o processo administrativo, sem distinção entre seus membros, sejam eles países

industrializados ou países em desenvolvimento.

Na OMC, empresas defendem interesses de seus acionistas, o governo faz-se representar

defendendo os interesses do Estado e dos cidadãos, as ONG's manifestam-se em prol dos

interesses da sociedade civil, mostrando, cada grupo, objetivos e preferências divergentes,

ou seja, tem-se uma situação de conflito com múltiplos objetivos e interesses.

Como em qualquer organização, a OMC também sofre com os conflitos e jogos de poder

que ocupam o centro das atenções, além de promoverem o desvio da atenção, de forma

proposital ou não, das reais necessidades e prioridades de seus membros das agendas.

Martin Khor, diretor da Third World Network, afirma que a razão mais profunda do

fracasso das negociações na OMC, em Cancún, foi a falta de transparência e o sistema anti­

democrático de preparação da agenda. Ele observa ainda que o sistema de tomada de

decisão na OMC deve ser reformado de forma que seja mais transparente e democrático,

para que os países em desenvolvimento possam participar com mais eficiência,

especialmente na proposta da agenda [Shah:2003].

55

Entende-se por interesses, um conjunto complexo de pré-disposições que envolvem

objetivos, valores, desejos, expectativas e outras orientações que podem levar as pessoas a

agirem em diferentes direções. Caso um indivíduo (ou um Estado) se feche nos seus

interesses, não perceberá o "outro" e quando o fizer o interpretará como um intruso. Essa

posição é frágil, uma vez que esse sentimento leva o indivíduo (ou o Estado) a se precaver

de ataques ou a "armar" defesas para sustentar ou melhorar sua posição. Cada indivíduo (ou

Estado) reage e se comporta de forma diferente face às pressões, geralmente mais políticas

do que técnicas, existentes em um processo de negociação.

Em uma análise estrutural de um conflito, cada parte agirá não apenas segundo suas

predisposições e suas previsões relativas ao desenvolvimento do conflito, mas também de

acordo com a situação na qual se produz o conflito - forças em jogo nas negociações do

conflito. Entende-se por predisposição, neste caso, a um conjunto dos traços e habilidades

pessoais suscetíveis de influenciar o comportamento das partes em uma determinada

situação. Por outro lado, as previsões quanto ao desenvolvimento do conflito correspondem

à avaliação cognitiva da sua posição estratégica e a estimativa do comportamento da outra

parte [Chanlat:1996].

Um outro parâmetro para a avaliação do conflito é a pressão a que são submetidas as partes.

A tomada de decisão do representante de um grupo, em um conflito, resulta de um processo

semelhante ao que ele deve desenvolver com os membros do seu grupo.

Em uma negociação, existe um conjunto de forças em jogo influenciando a discussão sobre

o objeto que está no centro da questão, que é desejável às duas ou mais partes e para o qual

o comportamento de uma das partes pode ser a frustração da outra parte. [Chanlat: 1996].

Um dos principais trunfos nas negociações de um conflito está ligado ao controle de

recursos escassos, controle este que provoca um choque de interesse entre as partes

determinando a tomada de posições divergentes entre os diversos protagonistas.

A negociação possível emergirá do conflito quando uma das partes impuser suas

prioridades à outra ou quando elas definirem diversas "questões de princípios" sobre as

quais permaneçam inflexíveis. O estudo de uma situação de conflito deve necessariamente

levar em consideração a análise do conjunto de regras, normas e métodos que exercem uma

56

coerção sobre as partes e que pré-detenninam seu comportamento sem deixar de considerar

a função da cultura como elemento detenninante nos conflitos humanos [Chanlat: 1996].

Uma organização, muitas vezes, deve aceitar soluções satisfatórias, e não ótimas, para os

problemas usando a negociação e a transigência, que se tornam mais importantes do que a

racionalidade técnica [Morgan: 1996]. Pode-se perceber, então, nesta transigência, o peso da

racionalidade cultural, social e política nas decisões tomadas e no resultado da negociação.

o conflito aparece sempre que os interesses colidem. O conflito pode ser pessoal,

interpessoal ou entre grupos rivais e coalizões. Sua origem reside em algum tipo de

divergência de interesses percebidos ou reais. Pode ser construído dentro das estruturas

organizacionais, nos papéis, nas atitudes e nos estereótipos, ou surgir em função de recursos

escassos [Morgan: 1996]. Algumas vezes o conflito é bastante explícito e aberto para que

todos vejam ou pode ser oculto por razões sobre as quais nem mesmo os participantes têm

consciência. Segundo o sociólogo escocês, Tom Burns, "na maioria das organizações

modernas ... sistemas de competição e de colaboração coexistem simultaneamente" [Burns

in Morgan: 1996, p.160]. Essas competições podem estar encobertas, gerando um conflito

não explícito, e portanto, mais difícil de ser negociado.

111.4.1 Teoria da Cooperação

A Teoria da Cooperação, desenvolvida por Axelrod, demonstra que os indivíduos,

motivados por interesses próprios, cooperam sem a presença de uma autoridade central que

os force a isso. Este fenômeno pode ser observado nas situações em que a busca da

otimização dos interesses individuais de uma das partes conduz a um resultado sub-ótimo

para todas as partes. Por outro lado, um clima de cooperação e confiança se estabelece

quanto mais vezes as partes se encontram. Quando os encontros são limitados e escassos, as

partes tendem a não cooperar com receio de que a outra parte traia. Segundo Axelrod, a

justiça de uma transação é garantida não pela ameaça da lei, mas pela antecipação de

transações mutuamente gratificantes no futuro [Axelrod: 1984].

Ao contrário do que ocorre com os jogos de soma-zero, a Teoria da Cooperação demonstra

que o indivíduo está mais preocupado em promover o interesse mútuo do que em explorar

a fraqueza do adversário. Axelrod mostra que a cooperação baseada na reciprocidade pode

57

surgir dentro de um ambiente competitivo, a partir de um pequeno grupo de indivíduos que

estejam prontos para retribuir a cooperação e que se relacionem entre si. Para que haja a

cooperação, não há necessidade de que os indivíduos sejam racionais ou comunicativos, que

sejam amigos ou confiáveis entre si e nem mesmo que haja uma autoridade central. Uma

vez que há reciprocidade, a punição pela oposição reestabelece o equilíbrio das relações,

mas é importante que a retaliação seja imediata, sob pena de ser mal interpretada caso tarde

e, se não for relacionada a uma atitude anterior, perder o valor de punição passando a ser

provocação [Axelrod: 1984].

Axelrod avalia que a base da cooperação não é realmente a confiança, mas a durabilidade

das relações. Entende o autor que quando as condições são propícias, os indivíduos podem

vir a cooperar através de um aprendizado, via tentativa e erro, das possibilidades de

recompensas mútuas; por meio da imitação de outros indivíduos bem sucedidos; ou mesmo

via um processo de seleção cego dos comportamentos mais viáveis [Axelrod: 1984].

111.4.2 Jogos não-cooperativos

o modelo de jogos não-cooperativos baseia-se em uma estrutura de preferências distintas.

Em princípio, um equilíbrio em tais jogos refletiria o tipo de coordenação em que os

indivíduos seriam capazes de engendrar sem recorrer a sanções externas, de um lado, e sem

abdicar de sua racionalidade, de outro. Na realidade, a estrutura de preferências, implícita

nos jogos não-cooperativos, representa uma situação na qual as pessoas estão prontas a

cooperar com as outras apenas na medida em que a cooperação não conflitar com sua

racionalidade individual (maximizadora de utilidade); o equilíbrio representaria a

compatibilização dos planos e das decisões dos indivíduos, a qual resultaria, por sua vez, de

esforços consistentes de maximização de utilidade por parte dos indivíduos tomados

isoladamente [Lessa: 1998].

Os jogos não-cooperativos enfatizam o aspecto de compatibilização dos planos e decisões

de agentes racionais e, portanto, da possibilidade de um equilíbrio emergir, ao invés da

possibilidade de cooperação. Um conceito clássico utilizado na solução dos jogos não­

cooperativos é o Equilíbrio de Nash [Lessa: 1998].

58

111. 4.3 Teoria dos Jogos

A Teoria dos Jogos analisa o processo de decisão estratégica e procura determinar,

matemática e logicamente, as atitudes que os jogadores devem tomar para assegurar os

melhores resultados para si próprios, dentre um elenco de jogos.

Para deduzir as estratégias ótimas quanto ao comportamento dos diversos jogadores, a

Teoria dos Jogos analisa os seguintes aspectos: as conseqüências das diversas estratégias

possíveis; as possíveis alianças entre jogadores; o grau de compromisso e o contato entre

eles; e a quantidade de vezes que o jogo pode se repetir. A lógica utilizada pode ser

demonstrada da seguinte forma: indivíduos A e B estão jogando um jogo; a definição da

estratégia de A dependerá da sua predição sobre qual será a estratégia de B; ao mesmo

tempo, a definição da estratégia de B dependerá da sua predição sobre qual será a estratégia

de A [Binmore:1992].

A primeira aplicação investigada por von Neumann e Morgenstern - os pais da Teoria dos

Jogos, foi a de um jogo com estratégica não cooperativa. Este problema, estritamente

competitivo ou de soma-zero, caracteriza-se pelos interesses diametralmente opostos dos

jogadores, ou seja, a vantagem para um jogador sempre se equilibra exatamente por uma

perda correspondente para o outro jogador. Esta aplicação requer que cada jogador conheça

perfeitamente as regras do que pode e do que não pode fazer durante o jogo, para que

busque, cada um, uma estratégia ótima. O compromisso de grupo é impossível, não existem

acordos forçados. Nesses jogos apenas um Equilíbrio de Nash representará um resultado

estável. Isto ocorre porque apenas o Equilíbrio de Nash será uma situação na qual a

estratégia de cada jogador é a melhor resposta à estratégia do outro jogador, de forma que

nenhum jogador terá incentivo para mudar para uma outra estratégia [Harsanyi: 1997).

Uma outra aplicação refere-se aos jogos cooperativos ou de coalizão nos quais os acordos

entre jogadores são estritamente exigíveis. Qualquer combinação de estratégia será estável,

mesmo que não seja em Equilíbrio Nash, desde que os jogadores tenham chegado a um

acordo sobre como continuar utilizando aquela combinação particular de estratégias, uma

vez que tal acordo será, agora, um acordo exigível. O comportamento de grupo permite que

se comprometam com estratégias específicas [Harsanyi: 1997).

59

lohn Nash introduziu a distinção entre os jogos não cooperativos e os cooperativos,

ampliando a teoria para admitir jogos interdependentes que refletissem mais fielmente o

mundo real. Essa interdependência, característica dos jogos de estratégia, é demonstrada

quando em um jogo o resultado para um determinado jogador depende do que todos os

outros jogadores decidem fazer e vice-versa. Os jogadores fazem suas jogadas em

seqüência, observando sempre as jogadas dos oponentes. O princípio é olhar para diante e

raciocinar para trás, ou seja, avaliar quais serão as possíveis jogadas seguintes, uma vez

tendo acumulado experiência com as jogadas anteriores, de forma a fazer a melhor escolha

do momento.

Uma aplicação da Teoria de von Neumann e Morgenstein de aceitação do risco e das

utilidades é a Teoria da Barganha de Nash [Nash:1950b,1950]. Um dos maiores problemas

enfrentados pelas pessoas em barganhas é decidir se devem insistir em ganhos relativamente

altos, ainda que isso envolva o risco de estar impossibilitado de obter qualquer acordo com

o outro lado, ou se devem aceitar um ganho relativamente baixo, de forma a reduzir o risco.

A Teoria da Barganha de Nash busca mostrar como os ganhos, de acordo com os jogadores,

dependerão de seus ganhos de conflitos e de suas funções de utilidade. Entende-se como

ganho de acordo de um dado jogador o ganho de utilidade que ele obteria se chegasse a um

acordo com o outro jogador. Por ganho de conflito, Harsanyi designa o ganho de utilidade

que o jogador obteria em uma situação de conflito, isto é, no caso de não poder chegar a

qualquer acordo com o outro jogador. A importância da Teoria da Barganha de Nash reside

no fato de que ela mostra como essas conclusões podem ser derivadas de uma conceituação

clara e consistente do comportamento racional [Harsanyi:1997].

Dixit e Nalebuff avaliam que "em contraste com a cadeia de raciocínio linear dos jogos

seqüenciais, um jogo com lances simultâneos envolve círculo lógico" [Dixit e Nalebuff:

1991, p.12]. Esses lances simultâneos fazem com que os jogadores fiquem atentos às

jogadas dos outros jogadores, devendo cada um se colocar no lugar de todos para tentar

avaliar o resultado.

O Equilíbrio de Nash caracteriza-se como um perfil de estratégias que representam a melhor

resposta ao que os agentes consideram como certo que os outros, que com eles interagem,

irão fazer; em particular, eles consideram que agentes racionais não utilizarão estratégias

dominadas. Essa crença está baseada na idéia que a racionalidade dos jogadores, que indica

60

o comportamento maximizado de utilidade como o comportamento racional, bem como o

conhecimento comum desta condição indica que os jogadores, em uma interação

estratégica, sabem que são racionais, que isso é conhecido e assim por diante [Lessa: 1998].

Como estratégia, entende-se um tipo de comportamento que um jogador pode utilizar no

jogo. Para melhor exemplificar, considerou-se um jogo simples com dois jogadores no qual

cada jogador tem apenas duas estratégias diferentes, as estratégias 1 e 2, conforme

demonstrado na matriz representada no quadro 12.

Quadro 12 : Jogos não-cooperativos - Equilíbrio de Nash

Jogador B

Estratégias BI B2

AI (3,3 ) (0,4 )

A2 (4,0 ) (2,2 ) I Equilíbrio de Nash

As duas diferentes estratégias compreendem a possibilidade de escolha entre dois tipos de

comportamento. Como ganho, entende-se a quantidade de valor (utilidade) que se recebe

como resultado de um jogo.

Em cada célula representada no quadro 12, o primeiro número representa o ganho do

jogador A, enquanto o segundo número representa o ganho do jogador B. Por exemplo, o

par (0,4) significa que o jogador A ao utilizar a estratégia AI teve um ganho de O (zero) e o

jogador B ao utilizar a estratégia B2 teve um ganho de 4.

Caso o Jogador B escolhesse a estratégia BI , a melhor resposta do Jogador A seria A2,

porque o ganho seria de 4. Se o Jogador B escolhesse a estratégia B2 , a melhor resposta do

Jogador A seria novamente a estratégia A2. Assim, o par estratégico (A2 , B2),

correspondendo à célula inferior direita, é o único par cujas duas estratégias A2 e B2 são,

mutuamente, as melhores respostas uma à outra. A tal combinação denomina-se Equilíbrio

de Nash. Nessa situação de equilíbrio nenhum dos parceiros terá qualquer incentivo para

alterar sua estratégia, que já será a melhor resposta à estratégia do outro jogador.

61

o cenário da OMC pode ser considerado um ambiente de jogo pois atende as seguintes

premissas: (i) há regras formais e informais para atuação; (ii) existe um resultado definido

representado pelas soluções dadas a cada tema em questão; (iii) o resultado para cada país

membro depende não só da própria estratégia como também da estratégia dos outros países

membros; e, (iv) as questões do comércio internacional podem ser alocadas em diferentes

categorias apresentando soluções distintas de acordo com a sua classificação.

Nash, em seu trabalho sobre jogos não-cooperativos, afirmou que existem situações na

economia e na política internacional nas quais, efetivamente, um grupo de interesse poderá

estar envolvido em um jogo não cooperativo sem, muitas vezes, ter consciência disso; a não

consciência da participação promove, de fato, a não cooperação. Atualmente, pode-se

esperar somente um conjunto de equilíbrio aproximado, desde que a informação, sua

utilização e a estabilidade da sua freqüência média, sejam imperfeitas [Nash: 1950].

o poder é o meio através do qual conflitos de interesses são, afinal, resolvidos. O poder

influencia a determinação de quem consegue o quê, quando e como. O cientista político

Robert Dahl, sugere que o poder envolve habilidade para conseguir que outra pessoa faça

alguma coisa que, de outra forma, não seria feita, sendo essa, portanto, a essência do poder

que afeta consideravelmente qualquer processo de negociação [Dahl: 1957].

No âmbito da OMC, a atuação político-organizacional facilita a construção e a manutenção

de alianças e redes informais, incorporando, sempre que possível, a ajuda e influência de

todos aqueles que tenham interesse no campo no qual operam. Alianças e coalizões não são

construídas, necessariamente, em torno de interesses idênticos; ao contrário, o requisito é

que exista uma base para alguma troca de benefícios mútuos. As coalizões bem sucedidas

envolvem a consciência da existência de inimigos potenciais contra os quais se exigirão

habilidades para descobrir formas de negociar uma não ajuda no presente, com um discurso

de promessas no futuro. O criador da coalizão reconhece que o sucesso da sua construção é

a dependência mútua e a troca [Morgan: 1996].

John Rawls utiliza a Teoria Contratual como ponto de partida para alcançar o aumento da

igualdade, através de princípios universais de justiça distributiva. Rawls adota um conceito

básico de justiça, reconhecendo a existência de um conflito de interesses e a necessidade de

62

se buscar um consenso quanto aos princípios que deverão nortear a associação humana22 e

para o qual tenta encontrar um consenso na idéia de justice as fairness [Rawls in

Melo:200 1]. Atento à sociedade como um todo e avesso à teses individualistas, Rawls é um

defensor da liberdade, mas em igualdade de circunstâncias. Daí uma das peças

fundamentais do seu pensamento ser a noção da justiça com eqüidade, expressa na opção

por uma distribuição igual dos rendimentos, através dos impostos.

111.5 Resolução de Disputas Públicas

As Conferências Ministeriais constituem-se em um fórum em que são negociadas questões

de interesse público. O processo de negociação dessas questões é denominado, para fins de

análise, de Resolução de Disputas Públicas.

As disputas públicas são negociações difíceis de serem gerenciadas, pOIS são muitos e

diversos os interesses para uma mesma questão e, desta forma, tomam-se mais complexas

na medida em que a quantidade de parceiros é ampliada. Cada parte tem uma ótica de

avaliação sobre uma questão que pode apresentar tanto pontos coincidentes quanto pontos

totalmente divergentes e/ou uma combinação desses. Em uma disputa que possui uma única

questão e múltiplos interesses, o processo de negociação desenvolve-se por meio da

construção de consenso. Segundo Susskind, o processo de construção de consenso

compreende três fases : pré-negociação; negociação; e, implementação e pós-negociação

[Susskind: 1987].

111.5 1 Pré-negociação

A fase de pré-negociação é crucial para um melhor desenvolvimento dos trabalhos e

corresponde à etapa de planejamento. Quanto melhor for o planejamento, mais eficiente

será o resultado a ser alcançado. Essa etapa compreende a definição da questão, a escolha

dos representantes, a definição do protocolo e da agenda, bem como o relacionamento com

a mídia para a divulgação da realização do evento. Tem-se nas disputas públicas alguns

grupos voltados para as conseqüências de uma política particular, outros preocupados com

22 There is a conflict of interests since persons are not indifJerent as to how the greater benefits produced by their collaboration is distributes (. . .) Men disagree about which principIes should define the basic terms of their associations. (RawIs: 1971, p.5)

63

as repercussões sobre o ambiente externo, mais especificamente com os impactos sobre a

sociedade, e outros voltados para uma decisão sobre a alocação de recursos. É possível que

haja um esforço conjunto, anterior, para evitar o conflito. Os stakeholders - grupos de

relacionamento que incluem empregados, clientes, fornecedores, credores e outros que

possuem vínculo econômico de interesses com a empresa - só deverão entrar no conflito

depois que ele se instale, mesmo porque, para muitos grupos, a tomada de consciência da

situação só ocorre com a explosão do conflito.

O conteúdo das negociações varia com relação ao grau de especificidade ou de definição

conceitual dos tópicos em discussão. Na OMC, atualmente, têm-se de um lado os EUA e a

UE defendendo o subsídio à exportação de produtos agrícolas, e do outro lado os países em

desenvolvimento - 0-22 que desejam a redução do subsídio e acesso aos mercados para

seus produtos agrícolas. A OMC pode definir os limites da discussão na questão e a forma

de fazer com que suas opiniões e interesses sejam respeitados por aqueles que estão no

poder e que, em última análise, decidirão a questão. Os EUA e a UE, que se opõem à

redução dos subsídios, estão forçando não discutir a questão e passar para outras discussões

relacionadas aos temas de Cingapura (investimentos). Se um representante de cada grupo

for solicitado a identificar qual deverá ser o contexto e a extensão das negociações, cada um

responderá de maneira diferente. Alguns conflitos começam com um desacordo sobre um

determinado ponto e depois passam da questão específica para um nível mais geral de

disputa, enquanto outros começam com tópicos muito gerais de desacordo e, pouco a pouco,

tomam-se mais específicos [ Moore: 1998]. Uma disputa pode ser classificada como

consensual (baseada nos interesses) e divergente (baseada nos valores) [Aubert: 1963 in

Moore: 1998].

Nos conflitos de interesse, existe um consenso entre as partes sobre a competição para o

resultado final desejado ou em que existem interesses divergentes significantes, para

facilitar a implantação de um processo de negociação que possa minimizar as perdas para

ambos os lados. Os conflitos divergentes são baseados em diferenças de valores e

concentram-se em questões como culpa, crenças, fatos que devem ser considerados como

válidos, princípios que devem guiar aqueles que tomam decisões, dentre outros. Essas

disputas são extremamente difíceis de resolver.

64

Cada parte chega ao conflito com uma visão individual e subjetiva das questões que estão

em disputa e da base do conflito [Berger e Luckmann: 1967 in Moore: 1998]. Watzlawick

assim descreve o comportamento do indivíduo: "Vamos lembrar: Nunca lidamos com a

realidade em si, mas com imagens da realidade - ou seja, com interpretações. Embora o

número de interpretações, potencialmente, possíveis seja muito grande, nossa imagem de

mundo em geral nos pennite enxergar apenas uma perspectiva - e por isso esta uma parece

ser a única possível, razoável e permitida. Além disso, esta única interpretação também

sugere apenas uma solução possível, razoável e permitida" [Watzlawick: 1978, p.l19].

Lorenzi e Riley assim definiram as etapas a serem observadas pelos stakeholders para

identificação dos papéis desempenhados pelas partes que possibilitam uma melhor

preparação para as negociações:

identificar os papéis que a sua parte desempenha no processo;

identificar os papéis que as outras partes estão desempenhando no processo,

sendo cuidadoso no reconhecimento dos múltiplos papéis;

identificar qual o papel que está sendo desempenhado, por quem está se

comunicando com aquele que possui múltiplos papéis; e,

monitorar o processo para perceber quando ocorrem alterações nos papéis

[Lorenzi e Riley: 2000].

Em uma negociação de grande porte, a escolha dos representantes é extremamente delicada,

para não dizer crucial, e deve ser pautada por flexibilidade e abertura. Existe uma

preocupação com a identificação e a seleção apropriada de todos os representantes dos

grupos de stakeholders. As negociações produtivas só terão início quando os grupos já

estiverem representados e após a escolha de um representante com legitimidade, ou seja,

com poder a ele atribuído para falar pelo grupo.

Na 5a Conferência Ministerial da OMC, de setembro de 2003, esperava-se ao menos que

houvesse a definição de acordos básicos, dada a grande participação que promoveu.

Compareceram 148 ministros dos países membros e 1.578 representantes de 795 ONG's,

um recorde para a história da OMC [Van der Veen:2003]. O Cambodja e o Nepal, que não

participavam da OMC, tomaram-se membros em Cancún. Além desses representantes,

compareceram cerca de 3.000 jornalistas e 5.000 delegados dos países membros. A UE se

pronuncia como um membro único nas negociações de matéria de política comercial. A

65

Comissão Européia, representada por Pascal Lamy, negociou em Cancún representando

todos os seus países-membros dentro do estrito respeito ao mandato definido por esses

países-membros e sob seu controle permanente.

Com relação ao fracasso das negociações, avaliando a adequação da estrutura e dos

procedimentos, Pascal Lamy declarou à midia que os procedimentos e regras da OMC não

suportaram o peso da tarefa. Não existe forma de se estruturar e dirigir discussões entre os

146 participantes diretos de forma a alcançar um consenso.

É desejada uma representação que possua credibilidade para cada coalizão, com um líder e

um porta-voz definidos, a fim de que aconteçam conversas informais ao longo das

negociações. Os processos ad hoc têm, algumas vezes, que adotar uma elaborada seleção

de procedimentos para superar a reduzida representatividade, quando comparados com o

processo convencional. [Susskind e Cruikshank: 1996]. O tamanho do grupo, na prática,

acaba sendo definido pelo próprio grupo, com a ressalva de que qualquer stakeholder

previsto será convidado para unir-se ao processo, tão logo suas ausências tornem-se óbvias.

Os negociadores precisam ter certeza que os representantes têm autoridade para defender

os interesses do grupo.

A grande quantidade de representantes em Cancún dificultou as negociações e gerou um

impasse. Há que se definir para a agenda, quais os representantes relevantes para cada

assunto e, dessa forma, determinar um número máximo de participações, destacando dentro

de cada grupo, quem será o porta-voz e aquele que terá o poder de voto.

Convém ressaltar que nem todos os participantes se envolvem da mesma forma no processo

de resolução da disputa. Aqueles mais diretamente afetados participam, desde o início, mais

intensamente do que aqueles que são menos afetados. Com a continuidade do processo, a

composição do grupo de participantes pode mudar e o grupo que acredita que seus

interesses não estão realmente em jogo deve partir.

No desenvolvimento de negociações para a resolução de disputas públicas de grandes

dimensões e repercussão, com a participação de stakeholders, autoridades do setor público e

população, é necessário estabelecer um protocolo (regras básicas), por escrito, definindo

uma linguagem única que constituirá a base para a decisão do grupo, de forma a alcançar

66

uma autonomia do sistema. As preocupações referem-se: ao local e freqüência das reuniões;

a distribuição dos participantes em mesas e a localização de cada um, função dos grupos de

trabalho e das afinidades; a definição do registro e da documentação referentes ao

desenvolvimento dos trabalhos; o relacionamento com a imprensa e as informações para a

mídia; e, a participação ativa ou não dos observadores.

Em algumas instâncias, quando as disputas são complexas e há numerosas partes

envolvidas, um sub-comitê, com pelo menos um membro de cada um dos principais grupos

de interesse, pode desempenhar um papel chave no estabelecimento de um conjunto de

propostas para o protocolo, as quais, na sua totalidade, podem ser implementadas no futuro.

Haja visto que, em Cancún, o Presidente da Conferência - Ministro Derbez, no início dos

trabalhos, havia definido facilitadores para os diferentes temas e, diante do impasse na

questão do algodão, nomeou, no segundo dia, o Presidente da OMC como facilitador desse

tema.

Os protocolos devem ser desenvolvidos sempre a cada negociação. Para tanto, não se deve

estabelecer um conjunto rígido de regras básicas que possam servir para qualquer evento

[Susskind e Cruikshank: 1996].

Em Cancún, a agenda foi definida por pressão dos países industrializados que ocuparam

maior espaço na agenda, forçando inclusive a discussão dos temas de Cingapura, em

detrimento da agenda pré-definida em Doha, com relação às questões agrícolas. O quadro

13 apresenta, de forma sintética, o impasse das negociações da 5a Reunião Ministerial.

67

Quadro 13: Impasse das negociações

IMPASSE Países Industrializados ~ses em Desenvolvime~

- Possuem um maior espaço na - Discutem a forma atribulada, a falta de agenda do encontro; regras democráticas e de transparência no

processo de organização do evento; - Alto poder de negociação; - Discutem os gaps de justiça, participação

igualitária e princípios democráticos; - Determinam os assuntos para - Possuem menor espaço nas agendas; discussão, rejeitando questões - Insistem que devem ser tratados

agrícolas e impondo os tratados de diferentemente e preferencialmente sob as investimentos e competição regras da OMC;

(questões de Cingapura). - Demandam maior espaço para acomodar suas prioridades de desenvolvimento, no que é possível fazer dentro das normas da

OMC;e, - Possuem baixo poder de negociação.

Convém assinalar que, enquanto as negociações estiverem em curso, nenhum participante

falará diretamente à mídia sobre o conteúdo das mesmas, exceto por meio de um

comunicado conjunto à imprensa. Nesses comunicados, somente os líderes se apresentam

para responder às questões [Susskind e Cruikshank: 1996].

111.5.2 Negociação

A segunda fase do processo de construção de consenso é a fase de negociação. Essa fase

trata do processo de busca conjunta de informações e da confiabilidade dessas informações,

da etapa relativa a criação de opções para ganhos mútuos, da produção de acordos escritos e

da ratificação dos resultados alcançados. É fundamental que os dados sejam absolutamente

neutros de forma a não induzir a quaisquer conclusões que não tenham sido consensuadas

entre as partes.

Uma vez estabelecida uma agenda, as partes devem se engajar em um processo de busca

conjunta de fatos. As partes, em conjunto, deverão definir o que sabem, o que não sabem e

quais os contextos e experiências relevantes da disputa. [Susskind e Cruikshank: 1996].

Buscar definir as questões relacionadas é determinar as pressuposições, opiniões e valores

que darão lugar a novas informações.

68

A maior parte dos países em desenvolvimento se opõe, vigorosamente, a esse pleito, uma

vez que isto favoreceria ainda mais a posição dos países desenvolvidos. As ONGs mais

bem estruturadas, as associações comerciais mais poderosas e as sociedades de caráter

técnico-cientifíco mais influentes estão situadas nos países industrializados. Assim, os

países em desenvolvimento temem que a desproporção no domínio da informação e do

instrumental técnico propiciado pela atuação dessas instituições atue em seu desfavor.

Entendem os países em desenvolvimento que o artigo 13 do Entendimento relativo aos

Procedimentos sobre Solução de Controvérsias (ESC), ao prever que "os grupos especiais

poderão buscar informações em qualquer fonte relevante e poderão consultar peritos para

obter sua opinião sobre determinados aspectos de uma questão ", já faculta aos painéis a

busca de informações necessárias, de qualquer fonte [ Michels: 2004, p.7].

111.5 3 Implementação ou Pós-negociação

A última fase desse processo compreende a integração dos acordos informais ao processo

formal. Depois da ratificação dos resultados alcançados, as partes deverão buscar um

caminho para ligar os acordos informais, ad hoc, ao processo de decisão formal dos

governos. Um processo não-oficial produz um resultado informal, resultado este que

poderia não ter sido conseguido por outros meios. O desafio, no entanto, é formalizar esse

resultado, apesar de parecer paradoxal formalizar um acordo informal [Susskind e

Cruikshank : 1996].

Um acordo informal negociado poderá ser formalizado por meio de um estatuto ou por lei,

através de um voto legislativo, por uma ordem executiva ou por uma ação administrativa.

A Conferência Ministerial de Cancun, encerrada abruptamente, deixou sem definição as

negociações que estavam em curso. Até a próxima reunião, estão sendo realizados

encontros informais paralelos com o objetivo de ajustar gradativamente os interesses das

partes.

69

111.6 - Instrumentos para quebrar o impasse

111.6.1 Abordagem de ganhos mútuos

A abordagem de ganhos mútuos reflete uma profunda mudança em relação à forma

tradicional de se fazer negócios. Essa abordagem está baseada em seis princípios que

oferecem uma estrutura para se tratar de forma mais eficiente com um público demandante.

Esses princípios são:

Reconhecer os interesses da outra parte;

Buscar conjuntamente os dados;

Oferecer um conjunto de compensações para minimizar os impactos, caso

ocorram;

Aceitar responsabilidade, admitir erros e dividir poder;

Atuar de forma confiável; e,

Priorizar relacionamento de longo prazo.

O primeiro princípio - reconhecer os interesses da outra parte - pode ser utilizado para a

superação de uma situação conflituosa que, em negociação, é denominada jogo de soma­

zero. Nesse jogo, a vantagem de uma das partes corresponde à desvantagem da outra parte.

Reconhecer os interesses da outra parte pode ser traduzido por: " Tente se colocar na

posição do outro".

A busca conjunta de dados, que corresponde ao segundo princípio, tem como objetivo gerar

informações que sejam confiáveis para ambas as partes. Se por um lado este princípio

assusta os usuários do método tradicional, por deixar que a outra parte conheça suas

informações e que as utilize em seu próprio proveito, por outro lado, os tomadores de

decisão desejam obter a melhor informação possível para que possam fazer a melhor

escolha. A melhor informação será aquela que for buscada conjuntamente, pois a

informação buscada individualmente, analisada, modelada e cuidadosamente empacotada

sem a participação da outra parte não tem credibilidade quando aparece.

Oferecer um conjunto de compensações para minimizar o impacto quando ele ocorrer ou

prometer compensar um efeito involuntário porém conhecido é o terceiro princípio que

70

define uma compensação à parte que sofrer um prejuízo involuntário, no futuro, decorrente

de uma mudança no presente.

o quarto princípio - aceitar responsabilidade, admitir erros e dividir poder - indica que as

partes deverão avaliar as questões e a tomada de decisão para, conjuntamente, rever

eventuais falhas, corrigi-las, renegociar as modificações e, dependendo da questão, criar

uma gestão participativa.

o quinto ponto, que se refere à atuação de forma confiável, é uma condição básica para

qualquer relacionamento. Não se deve prometer aquilo que não se consegue cumprir, sob

pena de comprometer a negociação.

o último princípio é talvez o mais difícil - priorizar o relacionamento de longo prazo - pois

a tendência é dar ênfase nos relatórios e indicadores que atendam às necessidades das

decisões de curto prazo. Desenvolver relacionamentos de longo prazo permite aprofundar

parcerias que trarão ganhos para ambas as partes [Susskind: 1996].

111.6.2 Inventando opções para ganhos mútuos

Uma vez que as partes tenham obtido resultados na busca conjunta de informações, os

participantes passam a vislumbrar e articular uma solução, total ou parcial, que possam

achar satisfatória. Se cada lado for inflexível nas suas opções ideais, não haverá solução

possível. Essa inflexibilidade, usualmente, reflete mais uma tática preliminar do que uma

postura de trabalho e, como a disputa continua e com ela os riscos associados, muitos

grupos se posicionam em torno de suas MAANA's [Susskind e Cruikshank: 1996].

Até que todos os participantes tenham apresentado um quadro claro de suas preocupações é

impossível colaborar com soluções integrativas. A exposição de interesses deve ser seguida

por um período de criatividade sem compromisso, talvez por meio de um processo de

brainstorming, que poderia resultar em alguma proposta mutuamente satisfatória. Um

grande número de participantes evita emitir opiniões sobre assuntos referidos a outros com

medo de que tais sugestões sejam vistas como concessões ou sinais de fraqueza; ao

contrário, muitos se mantêm repetindo, irrealisticamente e antagonicamente, demandas que

provocam impasse [Susskind e Cruikshank : 1996].

71

Uma vez que as partes definam suas propostas de possível acordo, a parte neutra elaborará

um documento com a possibilidade de acordo, a partir de informações oferecidas pelas

partes, de forma que os participantes não saiam da negociação com silenciosas e diferentes

interpretações a respeito do que foi prometido, além do que servirá de base para o

acompanhamento da implementação dos acordos alcançados [Susskind e Cruikshank :

1996].

A ratificação é um ponto crítico em muitas negociações. Quando as questões não são

conduzidas com efetividade, os grupos afetados poderão repudiar não só o acordo como

também o representante. Entretanto, se as negociações iniciarem com um suporte

adequado, haverá maiores chances de serem mais produtivas e de gerarem conciliações

melhores do que as esperadas [Susskind e Cruikshank : 1996].

111.6.3 Colaboração

Um outro conceito que poderá auxiliar na superação do impasse é o da colaboração. A culpa

está relacionada com julgamento e a colaboração com compreensão. A colaboração, estando

associada à compreensão, é uma atitude muito mais adulta, equilibrada e menos emocional

para lidar com as diferenças e superar as conversas dificeis. Ao se discutir os diferentes

enfoques dos problemas, ampliam-se as possibilidades de entendimento, nos ajustes das

posições de cada um, proporcionando maiores possibilidades para futuros trabalhos em

conjunto. A colaboração é mútua e interativa, conseqüentemente, quando está presente,

constitui inputs para ambas as partes [Patton: 1992].

Os impasses em uma negociação difícil poderão ser superados quando observados os

seguintes aspectos:

É melhor adiar uma confrontação e utilizar uma terceira pessoa, que faça o papel de

intermediário, para ajudar na negociação;

O desinteresse, a indelicadeza, a intempestividade, as posições julgadoras, punitivas,

hiper-sensitivas, argumentativas ou não-amigas podem constituir elementos de

rejeição entre as partes;

72

Dificuldades de estabelecer sintonia entre duas partes podem advir da história de

cada uma, de preferências, de estilos de comunicação ou de definições de

relacionamentos diferentes;

Culturas e estilos de comportamento diferentes podem acarretar interpretações

diferentes, causando ruído nos relacionamentos. Reações mais lentas, impetuosidade

e questões emocionais, como rir quando se está nervoso, poderão trazer diferentes

resultados;

Perceber o estabelecimento de impasse nas negociações pode significar que uma

parte está esperando por alguma manifestação da outra parte;

Colaborar envolve assumir, muitas vezes inconscientemente, um papel na situação;

É importante conseguir olhar e observar a situação com olhos de quem não está

envolvido nela. Assim, poder-se-á descrevê-la de uma forma neutra, sem

julgamento, percebendo a contribuição de cada uma das pessoas;

O primeiro passo para sair da situação de culpa é reorientar o pensamento para a

situação que se apresentou. Pode-se iniciar um diagnóstico dos problemas que

trouxeram a questão e determinar as contribuições que poderiam ser dadas a cada

uma dessas questões;

Reconhecer a sua contribuição é um risco, mas não reconhecê-la também é;

Assumir a sua contribuição previne a utilização da idéia por outra pessoa, que

poderia utilizá-la como um escudo contra o autor da idéia [Patton: 1992].

111.6.4 Modelo para Viabilizar a Negociação de Conflitos Intratáveis

Existem três níveis em que os conflitos, que envolvem valores fundamentais e identidades,

podem ser identificados. No primeiro nível, os disputantes podem concordar em fazer

mudanças periféricas que não eliminam o surgimento de hostilidades, mas que aliviam os

problemas específicos. No segundo nível, mudanças podem alterar alguns aspectos do

relacionamento, mas os valores fundamentais não são mudados ou transformados, pelo

menos no curto prazo. Acordos alcançados nesse nível mostram como as partes se

relacionarão ao longo do tempo, em oposição a uma específica situação ou problema que

será solucionado. O terceiro nível de mudança é, de longe, o mais difícil. Refere-se a

mudanças na identidade, implicando em alteração de valores que as pessoas tem como

73

caros, e também na forma como as pessoas estão percebendo essas mudanças [Susskind:

1996].

Para escapar das dificuldades que surgem quando os valores conflitam, deve-se avaliar as

situações, buscando observar se:

o conflito é resultante de uma injustiça no processo de questões substantivas que

já ocorreram no passado. Nesse caso, as partes ficam receosas, tomando-se

defensivas e rígidas para aceitar um consenso;

todos os stakeholders estão contribuindo com inputs nas discussões em torno do

planejamento e da implementação de questões controversas;

existe a oportunidade de oferecer e criar valor para as partes de forma a tomar a

negociação mais eficiente; e,

as decisões técnicas estão separadas das decisões políticas.

Essas mudanças, se analisadas sob uma visão macro, podem tornar-se complexas, gerando

um estado de forças dinâmico de tensão entre as partes. Quando as discussões envolvem o

Estado ou a empresa pública ou privada e a população, tem-se a gestão de público

demandante como um processo específico para superar os impasses.

111.7 Mídia

É muito complexo o relacionamento no mundo de relações públicas e no mundo da mídia.

Deve-se considerar que existe mais de uma interpretação para qualquer acontecimento ou

evento. Caberia a pergunta: "Qual é a verdade ?" As corporações e as instituições políticas,

freqüentemente, presumem que a imprensa pode e deve ser manipulada a partir do momento

em que dissemina a informação que deseja, esquecendo, portanto, que a comunicação tem

duas vias: as instituições podem influenciar como também podem ser influenciadas. Os

tomadores de decisão assumem como sua primeira prioridade a criação de uma imagem

para o público [Susskind: 1996].

É impossível controlar todas as informações disponíveis na medida em que as questões do

dia-a-dia envolvem numerosas agências de notícias, grupos de consumidores, governo,

74

empresas e toda a sorte de instituições e pessoas com interesses e interpretações

divergentes.

A mídia deve ser cuidada e trabalhada pelas outras partes pois não é ela um observador

paSSIVO nem um inimigo a ser ignorado, neutralizado ou atacado. Para um bom

relacionamento com a mídia, empresas e governo devem levar em consideração as seguintes

características de comportamento e de relacionamento: reciprocidade, confiança,

credibilidade, respeito mútuo, transparência, satisfação mútua e mútua compreensão.

Se, por um lado, a sobrevivência da mídia depende da informação, que é sua matéria-prima

e de uma boa história e não somente boas informações; por outro lado, a mídia pode fazer

mais do que somente informar as decisões depois de terem sido tomadas e inflamar questões

destacando os pontos polêmicos. A mídia também pode auxiliar na educação, bem como

informar e distrair seus leitores e ouvintes, apresentando os diferentes pontos de vista sobre

as questões, discutindo, inclusive, alternativas para suas resoluções. A mídia pode promover

um fórum para os cidadãos, para a discussão das questões públicas, sem ter que ficar restrita

aos especialistas [Susskind: 1996].

111.7.1 A Mídia em um Fórum de Construção de Consenso

Em um fórum de negociações multilaterais, a mídia pode comunicar ao público interessado

as informações relativas ao desenvolvimento dos trabalhos. Ela deverá ser convidada a

observar os procedimentos e deverá ser informada, tendo acesso aos documentos relativos

às questões a serem discutidas, pois deverá estar apta a reproduzir todo o espectro de

opiniões, não somente aquelas que estiverem polarizadas. Por outro lado, os cidadãos, a

partir desse acompanhamento, poderão avaliar a atuação de seus representantes na resolução

das disputas e encorajar a participação de outros cidadãos.

Cidadãos e tomadores de decisão precisam sensibilizar a mídia para que ela participe do

processo de construção de consenso. As partes em conflito deverão se aproximar, juntas, da

mídia e solicitar que desempenhe um papel educativo no desenvolvimento dos esforços

para a construção do consenso. Caso um lado tenha sentido que a mídia não apresentou sua

imagem de forma justa, deve pedir espaço e tempo para que possa se retratar. Se a mídia

75

concordar que houve erro, poderá produzir esclarecimentos, correções e até, se for

apropriado, um pedido de desculpas.

Em um processo de construção de consenso, é importante que haja um sub-comitê de mídia.

Esse grupo poderá preparar comunicados conjuntos para a imprensa, desenvolver estratégias

que considerem a mídia como parceira no esforço para alcançar resultados, além de abordar

a mídia como um todo, trazendo legitimidade para o desenvolvimento do processo

[Susskind: 1996].

Para a construção do consenso, é importante que o porta-voz seja uma pessoa neutra. Essa

pessoa poderá, com mais facilidade, dar suporte ao sub-comitê de mídia; falar para um

grupo de diferentes stakeholders que estejam trabalhando juntos para resolver suas

diferenças; e, ao se comunicar com o público, deverá expressar-se sob uma perspectiva de

todos os grupos, em conjunto, em uma linguagem que não só mostrará os pontos

divergentes como também os pontos de acordos [Susskind: 1996].

111.7.2 Regras básicas a serem estabelecidas

Devem ser estabelecidas regras de relacionamento entre os stakeholders e a mídia,

principalmente quando o encontro ocorrer fora do seu grupo de trabalho. Essas regras

podem ajudar a estabelecer uma atmosfera de abertura e de respeito mútuo, prevenindo a

transformação do fórum em uma arena de acusações. No processo de construção de

consenso, são utilizadas três regras básicas:

os participantes concordam que são livres para falar à imprensa sobre suas próprias

opiniões, mas deverão abster-se de falar pelo grupo;

os participantes deverão rapidamente informar ao grupo quando perceberem que

alguma questão discutida por outro participante tiver sido mal interpretada; e,

os participantes não deverão fazer qualquer comentário depreciativo sobre os

outros participantes do processo.

Essas regras básicas devem orientar os participantes no que se refere às expectativas de

comportamento, ao tipo de relacionamento com a mídia, à forma de lidar com divergências

entre grupos, auxiliando, portanto, no estabelecimento de um diálogo mais franco entre os

participantes.

76

Em Cancún, a imprensa estava representada por cerca de 3.000 jornalistas e divulgava as

informações oficiais após a uma Press Conference . Na edição de 14 de setembro de 2003, o

representante da União Européia, Pascal Lamy, iniciou seu discurso, atônito, da seguinte

forma: "I do not want to beat about the bush: Cancun has failed".

77

IV . Recomendações

Com base nos conceitos que norteiam a gestão do processo de negociação complexa,

algumas recomendações podem ser feitas.

IV.1 Avaliação de Conflito

A negociação é composta por uma série de atividades ou "movimentos" complexos que as

pessoas realizam para resolver suas diferenças e pôr fim a algum conflito [Goffman: 1969].

Cada movimento realizado pelo negociador envolve uma tomada de decisão racional em

que as ações possíveis são analisadas por ambas as partes, em função dos seguintes fatores:

movimentos das outras partes, padrões de comportamento, estilos, percepção e habilidades,

necessidades e preferências, determinação, quantidade de informações que os negociadores

possuem sobre o conflito, atributos pessoais dos negociadores e recursos disponíveis

[Moore: 1998].

o quadro 14 apresenta as diferentes ações dos patrocinadores e assessores na articulação da

gestão do conhecimento para facilitar o consenso. Entende-se como patrocinador o

indivíduo ou organização interessado em avaliar a possibilidade de um diálogo facilitado. O

assessor que será o articulador precisa ser neutro, imparcial e experiente na resolução de

conflitos.

78

Quadro 14: Articulação da gestão do conhecimento para facilitar o consenso

DECIDIR iniciar a avaliação de

um conflito

• Indicar um assessor crivei e não-partidário

• Fazer uma lista preliminar dos

interessados para entrevistar

• Convidar os interessados a

participar • Apresentar o assessor aos participantes

I ~

INICIAR a avaliação de um

conflito

• Fazer uma lista preliminar dos

assuntos a explorar

• Desenvolver o protocolo da entrevista

Organizar entrevistas confidenciais com

todos os interessados relevantes

COLETAR informações através

de entrevistas

• Explorar os interesses dos interessados

• Avaliar a disposição dos interessados para

negociar

• Identificar os interessados

adicionais para entrevistar

Fonte: Yann Duzert. FOV. 2004

PROJETAR PARTILHAR

com os a articulação do entrevistados

processo de resolução

ANALISAR de conflitos

• Distribuir a minuta os resultados das • Identificar os grupos do relatório

entrevistas de interessados que precisam estar

• Resumir envolvidos

preocupações e • Solicitar aos interesses sem • Traçar um plano de entrevistados que

manifestar trabalho para tratar as verifiquem a julgamentos questões-chave veracidade do

relatório

• Mapear áreas de • Incorporar as

interesses comuns e opostas • Estimar os custos de

mudanças recebidas e finalizar o relatório

suporte do processo • Identificar

oportunidades potenciais de ganhos

mútuos • Assistir o patrocinador e

• Identificar os outros na decisão de

obstáculos para atingir continuar com o

o acordo sistema facilitado de resolução de

conflitos • Estimar o sucesso

potencial de um diálogo facilitado

Nas negociações, as pessoas que se encontram em conflito estão diante de uma variedade

de problemas de procedimentos ou psicológicos, ou ainda de "situações críticas, que devem

enfrentar ou superar se quiserem chegar a um acordo" [Cohen e Smith: 1972, p.59].

o negociador deverá ser capaz de analisar e avaliar as situações críticas identificando com

acuidade as causas do conflito que, na maioria das vezes, estão obscuras e encobertas pela

dinâmica das interações entre as partes. A maior parte dos conflitos tem causas múltiplas.

79

Deve-se realizar um "mapa do conflito", que detalhe a razão da ocorrência do conflito, que

identifique as barreiras ao acordo e que indique os procedimentos para administrar ou

resolver a disputa [Wehr:1979 in Moore: 1998].

Um mediador poderá ser de grande ajuda para a avaliação do conflito, bem como para

planejar intervenções eficazes que conduzam à resolução da disputa.

Moore constrói um conjunto de causas explanatórias e respectivas possibilidades de

intervenções que facilita, por meio de uma experiência de tentativa e erro, a identificação de

hipóteses que, uma vez testadas, poderão definir as principais fontes do conflito

[Moore: 1998].

80

Quadro 15: Mapa do conflito: causas e intervenções

Os conflitos .... são causados por: Valores: -critérios diferentes para avaliar idéias e comportamento;

-objetivos exclusivos intrinsecamente valiosos; e,

-métodos de vida, ideologia ou religião diferentes.

Estruturais: -padrões destrutivos de comportamento ou interação;

-controle, posse ou distribuição desigual de recursos;

-poder e autoridade desiguais; -fatores geográficos, fisicos ou ambientais que impeçam a cooperação; e,

-pressões de tempo.

Interesses: -competição percebida ou real sobre interesses fundamentais (conteúdo);

-interesses quanto a procedimentos; e, - interesses psicológicos.

Dados: -falta de informação;

Possíveis Intervenções Valores: - evitar definir o problema em termos de valor; - permitir que as partes concordem e discordem; - criar esferas de influência em que domine um conjunto

de valores; e, - buscar atingir um objetivo superior compartilhado por

todas as partes. Estruturais: - definir claramente e mudar os papéis; - substituir padrões de comportamento destrutivos; - realocar a posse ou o controle dos recursos; - estabelecer um processo de tomada de decisão justo e

mutuamente aceitável; - modificar o processo de barganha de uma negociação

baseada nas posições para um ajuste fundamentado no interesse;

- mudar os meios de influência utilizados pelas partes (menos coersão, mais persuasão);

- mudar o relacionamento fisico e ambiental das partes (proximidade e distância);

- modificar as pressões externas sobre as partes; e, - mudar as pressões de tempo (mais ou menos tempo). Interesses : - concentrar-se nos interesses, não nas posições; - buscar critérios objetivos; - desenvolver soluções integradoras que lidem com as

necessidades de todas as partes; - buscar maneiras de expandir opções ou recursos; e, - desenvolver intercâmbios para satisfazer os interesses

de forças diferentes. Dados: - conseguir acordo sobre a importância dos dados;

- informação errada; - concordar sobre o processo para reunir os dados; -pontos de vista diferentes sobre o que é - desenvolver critérios comuns para avaliar os dados; e, importante;

- interpretações diferentes dos dados; e, -procedimentos de avaliação diferentes. Relacionamento : -emoções fortes; -percepções equivocadas ou estereótipos; -comunicação inadequada ou deficiente; e, - comportamento negativo-repetitivo.

- usar especialistas, como uma terceira parte, para conseguir uma opinião externa ou romper impasses.

Relacionamento: - controlar a expressão das emoções através dos

procedimentos, regras básicas, encontros privados etc; - promover a expressão das emoções, legitimando e

processando os sentimentos; - esclarecer as percepções e construir percepções

positivas; - melhorar a qualidade e a quantidade da comunicação; - bloquear o comportamento negativo-repetitivo

mudando a estrutura; e, - estimular atitudes positivas de resolução de problemas.

Fonte: Adaptação do Circulo do Conflito de Moore :1998, p.62-63)

o mediador, dialogando entre as partes, observa e identifica as atitudes, percepções, padrões

de comunicação ou interações contínuas que estejam produzindo um relacionamento

81

negativo; determina se a raiz do conflito está na falta de informações ou na má-informação,

na metodologia utilizada na coleta dos dados ou nos critérios de análise; identifica interesses

conflitantes e compatíveis, ao mesmo tempo em que explora as causas estruturais do

conflito, ou os impactos do tempo; e apura as semelhanças e diferenças nos valores

defendidos pelos indivíduos.

A partir dessas informações, será possível desenvolver uma estratégia para abordar os

problemas enfrentados pelos disputantes e um plano para a seqüência das atividades. O

ciclo de construção e testagem de hipóteses é o processo básico da intervenção e da

resolução de conflito [Moore: 1998].

O processo de construção e testagem de hipóteses para a resolução de conflitos compreende

seis etapas, conforme pode-se observar no quadro 16.

Quadro 16 : Etapas do processo de construção e testagem de hipóteses para a

resolução de conflitos

I. Coleta dados sobre a disputa através de observação,

fontes secundárias ou entrevistas com as partes

D 6. Comprova ou rejeita

a hipótese

Fonte: Moore: 1998, p.65

~ ~

2. Desenvolve hipóteses sobre situações críticas

enfrentadas pelas partes e sobre as causas de conflitos

5. Realiza a intervenção (testa a

hipótese)

~ 3. Busca teorias que

expliquem o conflito e que

~ sugiram intervenções

4. Seleciona a teoria e a intervenção indicada;

desenvolve hipóteses sobre o que a intervenção deve realizar.

Para Rawls, a racionalidade individual significa a ausência de sentimentos como a inveja ou

a vaidade. A individualidade se expressa quando as partes, ao desejar ampliar as condições

de ganhos, atuam sem pensar em trazer prejuízos para a outra parte. Há, dessa forma, um

total desinteresse pelos planos e objetivos alheios [Rawls: 1989].

82

Na verdade, Rawls adota como pressuposto a noção intuitiva do homem racional e moral,

descrevendo lia sociedade como um sistema eqüitativo de cooperação social entre pessoas

livres e iguais que, por sua vez, são racionais - têm a capacidade de ter uma concepção de

bem, - e razoáveis - têm a capacidade de ter um senso de justiça 11 [Rawls: 1989].

IV.1.I Possíveis resultados de disputas

Uma vez identificados os interesses envolvidos no conflito, deve-se trabalhar para

identificar as diversas combinações potenciais de resultados. Considerando uma disputa

entre duas partes, têm-se os seguintes resultados possíveis: vencedor - perdedor, impasse,

compromisso e vencedor-vencedor. Essas posições são analisadas por Moore conforme

pode-se observar no quadro 17.

83

Quadro 17 : Possíveis resultados de uma disputa

Vencedor - Perdedor Vencedor - Vencedor

- Uma das partes tem um poder esmagador; - As partes não estão envolvidas em uma

- O relacionamento futuro não é de grande disputa de poder;

importância; - Um relacionamento futuro positivo é

- As possibilidades de vencer são grandes; importante;

e, - As possibilidades de se chegar a uma solução

- Uma parte é assertiva e a outra é passiva. mutuamente satisfatória são grandes;

Impasse

- As partes são assertivas na resolução dos

problemas;

- Os interesses das duas partes são

interdependentes; e,

- As partes são livres para cooperar e se

envolver na resolução conjunta dos problemas.

Compromisso

- As duas partes optam por evitar o conflito por - Nenhuma das partes tem o poder necessário

uma razão qualquer; para vencer totalmente;

- Nenhuma das partes tem poder suficiente para - O futuro relacionamento das partes é

forçar a questão; importante, mas elas não confiam bastante uma

- Há uma falta de confiança, comunicação na outra para trabalhar juntas em prol de

deficiente, emoção manifesta ou um processo soluções integrativas com ganhos mútuos;

de resolução inadequado; - As possibilidades de vencer são

- As possibilidades de vencer são pequenas ou moderadamente altas;

nenhuma das partes se importa com a disputa; - As partes são assertivas;

- Os interesses das partes não estão - Os interesses das partes são mutuamente

relacionados; e, interdependentes; e,

- As partes não são cooperativas. - As partes têm algum espaço para cooperação,

barganha e intercâmbio.

Fonte: Moore, 1982b, p.V-3 In Moore: 1998, p.97-98

Os resultados de uma disputa podem ser observados graficamente, no quadro 18. Cada um

dos eixos apresenta os diferentes níveis de satisfação dos interesses dos jogadores A e B. Os

pontos (a) e (c) representam posições em que uma das partes está satisfeita e a outra está

insatisfeita, são posições denominadas jogo de soma-zero. O ponto (b) representa uma

84

posição ótima quando as duas partes têm, plenamente, seus desejos satisfeitos, sem precisar

abrir mão de parte de seu interesse. A posição de não-acordo, ou impasse está representada

no ponto (e) e o compromisso reflete a posição em que ambas as partes abriram mão de

alguns objetivos de forma a alcançar o consenso.

Quadro 18: Possíveis resultados de uma disputa ( representação gráfica)

Vencer A / Perder B (a)

• Vencer A -Vencer B (b)

Compromisso (d)

.Impasse (e) • Perder A / Vencer B (c) L-______________________________ ~

Meios de Satisfação dos Interesses da Parte B

Fonte: Moore: 1998, p.97

• Abordagens para alcançar o objetivo

Uma vez que as partes avaliaram os interesses das outras partes, é necessário que se defina

qual a abordagem que será utilizada para a resolução da disputa: negociações não-assistidas,

negociações com ajuda de advogados, conciliação para lidar com as barreiras emocionais,

facilitação, mediação, arbitragem e/ou litígio. Existem cinco diferentes estratégias que

podem ser aplicadas sobre cada abordagem: competição (litígio ou arbitragem), evitação,

acomodação, compromisso negociado e

características estão expostas no quadro 19.

barganha baseada nos interesses, cujas

85

Quadro 19: Características estratégicas utilizadas para a resolução de disputas

Competição Evitação ou Paralisarão

- Quando os interesses são restritos e só podem ser - Razões da evitação : medo, falta de conhecimento dos

satisfeitos por poucas soluções, nenhuma delas

aceitáveis para a outra parte.

processos de gerenciamento, ausência de interesses

interdependentes, indiferença em relação às questões

em disputa, ou crença de que um acordo não é possível

e o conflito não é desej ável.

- Leva a se alcançar um resultado vencedor-perdedor.

- Inclui situações de litígio, arbitragem e atividades

extra-legais, como ação tática direta não-violenta e - Quando existe um conflito de interesses e o conflito

violência. aberto não é desejável, busca-se o isolamento.

-Pessoas e grupos que vêm sendo freqüentemente

derrotados, utilizam-se da retirada como uma forma de

garantir a sua existência. A retirada significa a total

dissociação dos disputantes.

Acomodação Compromisso Negociado

- Quando uma das partes resolve satisfazer os - As partes antevêem que não alcançarão o resultado

interesses de outra às custas das suas próprias vencedor-vencedor decidindo dividir e compartilhar o

necessidades. que consideram um recurso compartilhado.

- Estratégia buscada quando é necessário se sacrificar - Os interesses não são considerados interdependentes

alguns interesses para se manter um relacionamento ou incompatíveis.

positivo, quando se deseja demonstrar cooperação, e - As partes não confiam o bastante entre si para entrar

quando os interesses são extremamente em uma resolução conjunta de problemas para ganho

interdependentes. mútuo.

- Pode ser conseguida quando caso um processo mais - As partes têm um poder suficientemente equilibrado e

cooperativo possa ocorrer em outra oportunidade. nenhuma delas pode impor a questão a seu favor.

Negociação Baseada nos Interesses

Busca ampliar a extensão das altemativas, de forma que as necessidades de todas as partes estejam

consideradas e satisfeitas da melhor forma possível.

- As partes têm um mínimo de confiança uma na outra.

- As partes têm alguns interesses mutuamente interdependentes.

- A parte com maior poder está disposta a reduzir o exercício do poder e atuar na direção de soluções

cooperativas.

- As partes têm grande interesse em um resultado mutuamente satisfatório devido ao medo de terem

que arcar com altos custos decorrentes de um impasse.

- As partes desejam um relacionamento futuro positivo.

Fonte: Moore: 1982b, p.V. 3-4-5

o quadro 20 está associado ao quadro 19. Sob a ótica do Jogador A, a posição (a) apresenta

o resultado em que o Jogador A vence enquanto o Jogador B perde e que existe uma relação

de domínio de uma parte sobre a outra - jogo de soma-zero. A posição (d) representa a

posição do dominado que é a do vencido - acomodado. Na posição (b), em que os dois são

86

vencedores, as necessidades de todas as partes foram consideradas atendidas da melhor

forma possível. A evitação ou paralização (e) pode ocorrer pela incapacidade de

participação em um conflito ou pela crença de que o conflito não é a solução para a questão.

Quadro 20: Estratégias de abordagem

-< ~ Q.,

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~ ê ~ .5 '" .g .g <>

~ .~

OI)

{l '" o

Competição (a) - Barganha baseada

-Evitação (e)

-Compromisso egociado ( c)

nos interesses (b)

'õ :::;: Meios de Satisfação dos Interesses da Parte B

Fonte: Moore:1998 , p. 99

Dentre os possíveis resultados de uma disputa pode-se observar, no quadro 20, que o

resultado ótimo ocorre quando as duas partes vencem (Vencer A - Vencer B). Quando o

resultado é de compromisso, que ocorre quando todas as partes desistem de alguns de seus

objetivos para atingir outros, o resultado não é ótimo mas, dentro do possível, atendeu

satisfatoriamente às partes. De toda a forma, esses dois resultados compreendem uma

repartição justa entre as partes, ou seja, é feita justiça com eqüidade como preconiza John

Rawls23 [Rawls: 1971].

IV.1.2 Justiça - Eqüidade - Repartição Justa

Para Rawls, a noção de justiça é a estrutura base da sociedade e a primeira virtude das

instituições sociais24. A definição rawlsiana da sociedade é: "a more or less self sujJicient

23 Rawls, J. A Theory of Justice. Belknap Press ofHarvard UP, Cambridge, Mass., 1971. Nesse trabalho John Rawls aborda a noção de justiça que gerou um dos maiores debates intelectuais do século XX - "what explains the unusually wide interest in Pawl 's work? One obvious factor is that many readers and editors found in Rawl 's work a welcome retum to an older tradition of substantive, rather than semantic moral and political philosophy. Rawl 's approach stands in sharp contrast to the work of the global positivists and the analytical school in general" Daniels, Norman. Reading Rawls, Stanford UP, California, 1989 24 "Justice, the basic structure of society (. . .) Justice is the first virtue of social institutions (. . .) laws and institutions, no malter how efficient and well arranged must be reformed and abolished if they were injusto

87

association of persons who in their relations to one to another recognize certains rules of

conduct as binding" [Rawls:1971, pA]. Esta definição contém em si outro elemento

essencial: a admissão, por esse mesmo grupo social, de regras de conduta vinculativas.

Rawls adota um conceito clássico de justiça, reconhecendo um conflito de interesses e a

necessidade de se encontrar o consenso, na idéia de justiça como eqüidade, quanto aos

princípios que deverão orientar a associação humana25 [Rawls in Melo :2001].

Atento à sociedade como um todo, Rawls defende a liberdade, mas em igualdade de

circunstâncias. Em seu pensamento, a justiça como eqüidade está expressa na opção por

uma distribuição igual dos rendimentos, através dos impostos. Rawls entende que os

princípios morais derivam de escolhas racionais, o que contraria a necessidade de aceitação

geral. O véu de ignorância,26 de Rawls, estabelece que havendo acordo quanto aos

princípios iniciais, o consenso estaria garantido quanto às questões subseqüentes, de forma

necessária a garantir o mínimo exigível de justiça em uma sociedade bem ordenada [Rawls

in Melo: 2001].

O primeiro princípio apresentado por Rawls é o da liberdade. O autor considera, em termos

gerais, como liberdades básicas dos cidadãos, os direitos de liberdade política ( eleger e ser

eleito), liberdade de pensamento, de consciência, de expressão e de associação, de

propriedade pessoal, de proibição de prisão arbitrária e expropriação, salvaguardados pelo

estado de Direito [Rawls in Mello: 2001].

O princípio da diferença e da igualdade, apresentado por Rawls, propõe um sistema político

em que as desigualdades sociais e econômicas devem ser organizadas de modo a,

simultaneamente, representarem o maior benefício para os menos favorecidos; e estarem

ligadas a cargos e posições abertos a todos, em condições de igualdade justa de

oportunidades. A igualdade surge, assim, em uma perspectiva de coexistência pacífica,

Each person possesses an inviolability founded on justice that even the welfare of society as a whole cannot override"[ Rawls:1971, p.3] 25 "There is a coriflict of interests since persons are not indifferent as to how the greater benefits produced by their col/aboration is distributed (. . .) Men disagree about which principies should define the basic terms of their associations " ( Rawls : 1971, p.5) 26 A expressão "veil of ignorance" utilizada por Rawls significa que só é possível conceber a igualdade incondicional da situação inicial se os indivíduos desconhecerem totalmente sua situação particular e a dos outros, se não souberem exatamente nada acerca do que são, de suas características pessoais e do contexto social no qual se inserem; quando se refere ao desconhecimento dos agentes sobre qualquer informação particular sobre a sua situação na sociedade, como por exemplo a sua classe social, poder econômico, grau de inteligência e força e noção do bem.

88

como o direito à diferença, mas sem a idéia de condescendência. A distribuição da riqueza e

lucro assume importância nesse contexto, devendo ser realizada, tal como as hierarquias de

autoridade, de acordo com as liberdades de igual cidadania e igualdade de oportunidades

[Rawls in Mello:2001].

o sentido da teoria rawlsiana para a negociação reside no fato das partes não terem a real

noção das suas posições na sociedade, sua classe ou status social, bem como a parte que

lhes caberá na distribuição do conjunto de bens e capacidades naturais, tais como a força, a

inteligência e a habilidade. O véu da ignorância garante que os acordos poderão ser feitos

em absoluta situação de igualdade, eliminando na negociação a possibilidade de cada uma

das partes obterem qualquer tipo de vantagem, uma vez que desconhecem se a adoção de

uma posição facilitará ou não as suas posições no mundo real. Rawls entende que as partes

não são iguais, apenas desconhecem suas diferenças. Assim, as negociações serão

referenciadas pelo significado social de justiça e não terão qualquer sentido utilitário,

permitindo que as partes participem do acordo e escolham racionalmente os princípios de

justiça social, com imparcialidade.

A noção rawlsiana de justiça que descreve o estabelecimento de uma relação entre a teoria

da justiça, os valores da sociedade e o bem comum, pode ser observada em uma Declaração

Ministerial, assinada um dia antes da 11 a Reunião da Conferência das Nações Unidas sobre

o Comércio e Desenvolvimento - UNCTAD em 12 junho de 2004, onde o G-77 - que

compreende atualmente 132 países em desenvolvimento -, se manifesta sobre a intenção de

seguir lutando por um comércio internacional mais justo, e pela adoção de regras mais

equilibradas que sirvam de suporte ao desenvolvimento econômico e à redução da pobreza

entre os seus membros.27

IV.2 Sistema de Solução de Controvérsias (SSC)

Os procedimentos atualmente utilizados na OMC constituem o Sistema de Solução de

Controvérsias (SSC), formalmente regulado pelo Entendimento relativo às Normas e

27 Assim diz o trecho do documento: "Questões que estavam na agenda do G-77 em 1964 seguem válidas, como a assimetria do sistema de comércio internacional, o insuficiente fluxo de assistência oficial ao desenvolvimento, o problema da dívida, a volatilidade dos mercados de matérias-primas e o desmantelamento das barreiras protecionistas dos países desenvolvidos"( Jornal do Brasil, 12/612004, p.A-17)

89

Procedimentos sobre Solução de Controvérsias (ESC). Esse sistema é reconhecidamente um

modelo efetivo e raro de jurisdição internacional, que se constitui em um dos pilares

centrais de sustentação da atuação da organização internacional e que vem sendo utilizado

nas negociações multilaterais [Michels: 2004].

Existe um interesse em modificar o SSC mais, efetivamente, muito pouco se tem avançado

no sentido de sanar problemas de variadas ordens diagnosticados ao longo do tempo. Desde

as importantes mudanças operadas quando da passagem, em 1995, do modelo do GATT

1947 para o modelo da OMC, nenhuma alteração significativa foi promovida [Michels:

2004].

Existe um conjunto de proposições que são recorrentes nas comunicações apresentadas

pelos membros em um processo de negociação e que, portanto, devem ser observadas e

avaliadas. São elas: (i) busca de maior transparência nos procedimentos; (ii) resolução de

problemas relacionados com o seqüenciamento de disposições do ESC; (iii) tentativa de

conceder tratamento diferenciado para os países em desenvolvimento e menos

desenvolvidos; (iv) resgate de medidas corretivas alternativas às hoje questionadas

retaliações; (v) definição da conveniência e dos contornos da participação da sociedade civil

nos procedimentos; (vi) revisão de questões relacionadas com a composição, o

funcionamento e os limites de manifestação das instâncias que compõem o Sistema de

Solução de Controvérsias.

Os acordos da OMC são geralmente muito lentos e complexos devido às questões legais que

envolvem cada objeto de negociação. São tratados assuntos como: agricultura, têxtil e

vestuário, bancos, telecomunicações, compras governamentais, padrões industriais e

segurança do produto, regulação sanitária, propriedade intelectual e muitos outros. Um

conjunto de princípios fundamentais perpassa por todos esses documentos. Esses princípios

constituem os fundamentos do sistema de comércio multilateral, cuja finalidade deverá ser

zelar pelos seguintes princípios: evitar a discriminação entre os parceiros comerciais e

entre os produtos e serviços negociáveis; incentivar negociações para a redução das

barreiras comerciais; desencorajar as práticas injustas como a concessão de subsídios e

dumping; e, oferecer benefícios para os países em desenvolvimento para promover o

desenvolvimento sustentável.

90

Em Cancún, o pnmelro princípio não foi respeitado. A natureza da OMC ainda é

antidemocrática. Desde a formulação da agenda para a definição das negociações, o

processo está sendo dominado pelos países mais poderosos e mais ricos como os EUA, a

UE e o Japão que possuem instalados em Genebra, na sede da OMC, uma considerável

equipe de especialistas. Os países em desenvolvimento não têm condições de manter

equipes similares.

Recomenda-se que a agenda da reunião reflita o que efetivamente está sendo discutido e não

somente as propostas dos países industrializados; que o(s) facilitador(es)/mediador(es)

seja(m) eleito(s) e não indicado(s), como ocorreu em Cancún; que as negociações não se

estendam quando as delegações dos países não possuírem recursos para uma efetiva

participação; e, que a secretaria se mantenha neutra.

IV.3 Negociação baseada em Princípios

Esse processo de construção de solução conjunta de problemas surgiu para agregar valor às

negociações em contra-posição à regra da maioria que trazia uma desvantagem no seu

método pois, simultaneamente, proporcionava vantagens para uns e desvantagens para

outros, em um jogo de soma-zero.

Na construção do consenso, o facilitador ou mediador, denominado de articulador ajudará

as partes a alcançarem um acordo comum. A articulação deverá ser utilizada quando não

houver grupo ou pessoas para tomar decisões unilaterais; o processo de decisão fracassar;

nenhuma pessoa ou grupo tiver conhecimento adequado ou informações para tomar uma

decisão justa; existirem grandes divergências a serem superadas; a unidade entre as pessoas

da equipe for essencial; e, houver necessidade de implementação de uma cooperação forte

na busca de decisões integradas e elegantes28. O trabalho desse articulador consiste em

compartilhar com as partes as informações relevantes; explicar os raciocínios; observar o

foco nos interesses e não nas posições; combinar a defesa e a pesquisa por meio da Procura

Conjunta de Dados29; mapear os interesses dos participantes; e, manter-se neutro para

formatar uma descrição consensual do conflito, proporcionando um desempenho atrativo e

convidando sem se impor. O brainstorming é um dos métodos utilizados para mobilizar o

28 Observações coletadas em conversas informais com o Prof. José Guilherme H.Lima - FGV Rio 29 Em inglês adota-se o termo Joint Fact Findings

91

grupo a estimular a criatividade, na busca de alternativas viáveis e satisfatórias que

proporcionarão a construção do consenso.

Os países industrializados ao excluírem os países em desenvolvimento da sua coalizão

incorreram em um sério erro de avaliação. O G-22, que deseja conseguir o compromisso

dos países industrializados de reduzir os subsídios aos agricultores, se sentiu insultado com

a decisão dos países desenvolvidos de não considerar seriamente a questão. Esse foi um dos

fatores que desencadeou um não-acordo entre as partes nessa última reunião, em Cancún.

Uma lição para os negociadores multipartites é a necessidade de uma escolha cuidadosa de

seus representantes na coalizão [Susskind:2004 A].

A negociação baseada em princípios é orientada por um método que pode ser resumido em

quatro pontos fundamentais : pessoas, interesses, opções e critérios. Basicamente, para cada

um desses pontos, o método indica que se deve separar as pessoas dos problemas, pois as

pessoas têm percepções, emoções fortes e dificuldades de comunicação, que podem ser

confundidas com a questão a ser discutida. Os esforços e a atenção deverão concentrar-se

nos interesses para a determinação de acordos, sem que sejam adotadas posições rígidas.

Deve-se pensar em criar opções de benefícios mútuos de forma que não se enrijeça a

negociação buscando uma única solução, com a exigência de que seja ótima. É preciso

também promover a negociação de forma que o acordo reflita algum padrão justo, com

critérios claros e previamente definidos, independente da vontade pura e simples de

qualquer uma das partes.

Em junho de 2004, o governo brasileiro aprovou uma terceira proposta melhorada que prevê

uma redução progressiva de tarifas para produtos e serviços como uma forma de

desbloquear as negociações para um acordo comercial entre o Mercosul e a União Européia.

Representantes de países emergentes como Brasil, China, Índia, Argentina e México

traçaram uma estratégia de ação comum nas negociações para a abertura comercial que

ocorrerá em evento paralelo à XI UNCTAD. O Ministro de Comércio da Índia, Kamal Nath,

advertiu que para o seu país a agricultura é um tema extremamente sensível, ao afirmar que

: "A agricultura não é uma matéria-prima, não é um comércio, e sim um meio de vida". O

Ministro indiano condicionou a abertura agrícola à articulação de políticas direcionadas à

erradicação da pobreza [Jornal O Globo, 13/6/2004- Caderno Economia, p.43].

92

o chefe do Departamento de Negócios Internacionais do Itamaraty, Regis Arslanian,

afirmou que esta proposta representa uma posição isolada do Brasil e precisa, ainda, ser

avaliada pelos demais parceiros do Mercosul. Nessa proposta, o Brasil cede em alguns

pontos e apresenta ofertas em setores antes preservados, como serviços e investimentos. A

segunda proposta, apresentada em maio/2004, previa a redução das barreiras comerciais e as

tarifas para 87,8% do comércio entre blocos.

Essas negociações, entre Mercosul e EU, fortalecem as posições e podem constituir um

avanço para as negociações da agenda comercial da OMe. Segundo o Ministro das

Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, "há sinais de uma vontade política" para

vencer os impasses que travou a última reunião da OMC, em setembro no México [Jornal O

Globo, 13/6/2004, Caderno Economia, p.43].

VIA Co-opetition

Brandenburger e Nalebuff cunharam o termo co-opetition para designar a estratégia de

negócios que combina competição com cooperação, trazendo vantagens para ambos os

lados. Co-opetition significa cooperar para criar maiores oportunidades de negócios,

enquanto competição significa dividir oportunidades. Em um jogo de negócios, cada um dos

jogadores tem múltiplos papéis - complementores, concorrentes, fornecedores e clientes, o

que complexifica as negociações [Brandenburger e Nalebuff: 1996].

Quadro 21: Múltiplos papéis em um jogo de negócios

O quadro 22 apresenta, esquematicamente, os múltiplos papéis do Brasil e dos EUA na

arena das negociações agrícolas, especificamente discutindo o caso da soja. Assim, mostra o

Brasil como fornecedor de soja para a União Européia, Estados Unidos e China, sendo esses

93

últimos, então, clientes do Brasil. Os EUA além de clientes do Brasil são também

fornecedores da União Européia e da China, além de fornecer o produto ao seu próprio

mercado interno. Os EUA além de fornecedores, também, da União Européia e da China,

são concorrentes do Brasil e por outro lado, realizam a tarefa de distribuição da soja

brasileira no seu próprio mercado interno. Sendo assim, os EUA são complementores do

Brasil.

Quadro 22 : Múltiplos papéis do Brasil e dos EUA - o caso da soja

,.---- Soja ----...

~------------------------~ Fornecedor

fornece para

-----. Concorrentes .... ---

UE cliente do Brasil

China cliente do Brasil

EUA cliente do Brasil

EUA fornecedor

EUA comolementor

UE cliente dos EUA

China cliente dos EUA

Mercado Intemo­EUA

Distribuição da soja brasileira no Mercado

Tntprnn-FT r A

_._._._._._.-. Complernentor do Brasil ~._._._._._._._._._.

Se as negociações são jogos, quais são os jogadores? As empresas têm por objetivo produzir

bens e serviços para atender às necessidades do mercado, precisando então negociar com

clientes - para melhor colocar seus produtos no mercado, e com seus fornecedores - para

comprar em condições as mais favoráveis possíveis. Além dos clientes e fornecedores, as

empresas se relacionam com outras empresas que produzem bens complementares aos seus;

por exemplo, um determinado software que tem uma melhor performance em um hardware

específico; ou uma empresa de seguros que também complementa o negócio de

comercialização de automóveis. Conscientes da complementariedade, as empresas

trabalham juntas para ampliar as oportunidades, assumindo uma posição ganha-ganha

[Brandenburger e Nalebuff: 1996].

94

Cada país, em função das suas potencialidades de recursos naturais, clima e solo possui

vantagens competitivas sobre os demais países. Grande parte do carvão mundial está

concentrado nos Estados Unidos e na Rússia, tal como o petróleo nos países árabes. O solo

tem potencialidades diferenciadas que, juntamente com o clima, favorecem o cultivo ou a

exploração de produtos distintos por regiões. O mundo, atualmente, está dividido em um

hemisfério norte industrializado e um hemisfério sul com uma atividade econômica

predominantemente agrícola. Nas negociações de Cancún, o impasse deveu-se às questões

agrícolas relativas ao subsídio à exportação oferecido pelos países industrializados aos seus

produtores, de tal forma que disponibilizam os mesmos no mercado com preços inferiores

aos custos de produção desses produtos. Dessa forma, uma competição predatória asfixia

cada vez mais os produtores agrícolas dos países em desenvolvimento que empregam cerca

de 80% da força de trabalho nessa atividade, impossibilitando-os de participarem do

processo de desenvolvimento.

A política protecionista, se por um lado protege a economia local, por outro lado isola o país

das possibilidades de diferentes trocas para agregar e criar valor para o Estado. Deve-se

trabalhar de forma mais complexa, criando opções, agregando valor, aumentando o

potencial do todo para que todos possam ampliar suas participações nesse mercado, atraindo

mais compradores [Brandenburger e Nalebuff: 1996].

Os países têm limites para atender completamente as necessidades das suas populações,

dada a escassez de recursos. Os países, para ampliar seus interesses nacionais, devem e

precisam associar-se a outros países em projetos cooperativos. Assim, as nações abrem mão

de parte de sua soberania econômica para as organizações globais e regionais. Na área

econômica, mais do que em outras áreas, os países reconhecem os benefícios da

cooperação. Se eles cederem de forma limitada a sua autonomia econômica, poderão

fortalecer suas economias beneficiando a população e fortalecendo sua habilidade para

exercer a soberania não-econômica, dentro do sistema internacional.

Muitas vezes, o mais valioso serviço que pode ser oferecido por uma das partes é criar

competição e não eliminá-la. A competição pode ser extremamente vantajosa, por exemplo,

para quebrar o quase-monopólio de determinados países. Pode-se utilizar como estratégia

uma associação com os países-clientes para viabilizar o início de uma relação comercial.

Nesse caso, o mercado coopera com a abertura de uma nova frente comercial de forma que

95

não dependa de uma única fonte de produção. Assim, a competição é necessária e muito

valiosa para que seja eliminada [Brandenburger e Nalebuff: 1996].

No caso das empresas, que pode ser estendido para uma visão macro, entender a

concorrência como um processo evolutivo é conceituá-Ia como a competição entre as partes

por meio de inovações que são motivadas pela busca por diferenciação dos concorrentes que

lhes permita a obtenção de melhores resultados. A concorrência pode ser vista como um

processo de seleção econômica em que aqueles que não forem competentes no

estabelecimento de estratégias, e na sua constante renovação, possivelmente sucumbirão

[Possas in Grassi: 1999]

o objetivo estratégico de longo prazo é a inserção dos países em desenvolvimento na

economia global de forma que possa trazer vantagens para a sociedade. Há clientes para

determinados produtos em todas as partes do mundo e é necessário melhorar a participação

desses países nos mercados importadores nos quais podem ser competitivos.

A liberalização das barreiras comerciais e das distorções no comércio agrícola podem

contribuir para a transformação econômica, a redução da pobreza e das diferenças

econômicas e para a formação de uma estabilidade política e social nos países em

desenvolvimento.

IV.5 Gestão de Público Demandante

Kurt Lewin, o pioneiro no campo de dinâmica de grupo, observou que os sistemas sociais

humanos - grupos, organizações e nações - existem em um estado de forças dinâmicas de

tensão pressionando para mudanças, enquanto outras forças resistem às mudanças. Segundo

Lewin, o comportamento do sistema social é "o resultado de uma multiplicidade de

forças. Algumas forças suportam umas às outras, algumas se opõem às outras. Algumas

são forças parafrente, outras são forças reprimidas" [Lewin in Watkins: 2004 p.164]

Quando existem forças iguais reprimindo e impulsionando o sistema, este fica em

equilíbrio. Quando o sistema flutua em limites estreitos, mas se movimenta para além

desses limites, rapidamente cresce em forças restritivas. Quando as forças para frente se

acumulam, então as forças que resistem realizam também mudanças. Se a pressão se toma

96

muito grande, o sistema passa por uma revolução, levando-o para um novo equilíbrio, pois,

de outra forma, ele retomaria ao status quo [Watkin: 2004].

No caso das rodadas de negociações da OMC, a 5a Conferência teve a maior representação

da história das Conferências Ministeriais. O público que circulou por todo o evento

totalizou cerca de 10.000 pessoas sendo que muitos participavam de eventos pró e contra a

posição dos países industrializados no fórum. Pode-se citar alguns fóruns e movimentos que

tiveram lugar em Cancún no mesmo período da Conferência: World Forum 01 Fish

Harvesters and Fish Workers, Social Movements Assembly, Forum 01 the lnternational

Parlamentary Network, Massive Peasant and Farmers March, Massive March Aganinst the

WTO, lnternational Women and Trade Forum, lnternational lndigenous and Farmers

F orum, dentre vários.

A diversidade de público, conforme ocorreu em Cancún, com interesses absolutamente

diversos, dificulta a aplicação dos princípios, defendidos por Lawrence Susskind e Patrick

Field para a abordagem dos ganhos mútuos, que em lugar de uma abordagem convencional,

oferece uma estrutura mais eficiente para lidar com o público demandante [Susskind e

Field: 1996].

Os autores entendem que é preciso:

(i) Ouvir e compreender o outro lado pois este pode oferecer informações e criar valor.

De acordo com Bazerman e Neal, em seu livro Negotiating Rationally, "numa

negociação, se cada lado compreende e pode explicar o seu ponto de vista para o outro,

isso aumenta as possibilidades de se alcançar um acordo" [Bazerman e Neal: 1992 in

Susskind e Field: 1996, p.38];

(ii) Encorajar a geração de informações conjuntas para que os tomadores de decisão

tenham informações precisas que lhes assegurem que estão tomando a decisão correta. ;

(iii) Oferecer um conjunto de comprometimentos para minimizar os impactos, caso estes

ocorram, e buscar compensar os impactos negativos, não intencionais, ocorridos;

(iv) Aceitar as falhas de um determinado projeto, aceitar revê-lo, pedir ajuda para

realizar a revisão pois esses são elementos essenciais ao comprometimento entre as

97

partes envolvidas, havendo, desta forma, um interesse real para que o projeto seja bem

sucedido;

(v) Atuar em um ambiente de confiança lembrando que essa confiança é construída e,

uma vez perdida, é impossível de ser resgatada. Não se deve camuflar as intenções,

simulando confiança; modificar a história para fazer com que ela pareça melhor; fazer

promessas, se não se tem a intenção de cumpri-las; ou perguntar por compromissos que

se sabe que os outros não são capazes de honrar; e,

(vi) Investir na construção de relacionamentos de longo prazo favorecendo maior

respeito e confiança no relacionamento de curto prazo [Susskind e Field: 1996].

IV.6 Diálogo dos multistakeholders

Durante muitas décadas as negociações foram bilaterais. A nova política introduz as

negociações multipartites nas quais são colocados frente-à-frente os diversos stakeholders.

A diferença das negociações multipartites para as negociações bilaterais refere-se ao

número de participantes ou seja, quando o número de stakeholders aumenta em mais de dois

membros, criam-se as chances de coalizão. Uma negociação multipartite significa que

alguns membros irão para uma posição de ataque enquanto outros ficarão em uma posição

de defesa das questões e, desta forma, a dinâmica das coalizões vai acontecendo. Na medida

em que a quantidade de negociadores aumenta, administrar esse grupo toma-se um desafio

[Susskind: 2004B].

Outra solução para que as negociações multipartites prosperem é estruturar corretamente a

estratégia das coalizões, construindo alianças para ampliar o poder de barganha. Por outro

lado, não se deve desmerecer a outra parte, sendo necessário tato e precaução quando uma

das partes for abordada por algum membro de outra coalizão.

Susskind et ai definem multistakeholders como indivíduos chave, grupos e organizações

que têm um interesse em uma questão em pauta. Eles poderão ser responsáveis por perceber

a solução de um problema ou uma decisão tomada, poderão ser afetados pelo problema e

pela decisão, ou poderão ter o poder de impedir uma solução ou uma decisão [ Susskind et

ai: 2002].

98

Multistakeholder Dialogue é um processo atualmente utilizado, por dezenas de agências das

Nações Unidas e de organizações multilaterais, na busca do desenvolvimento de intensivas

conversações entre representativos grupos de interesse. Algumas conversações são

concentradas nos mesmos assuntos que estão sendo discutidos nos meios oficiais, outras são

organizadas em períodos anteriores aos encontros para dar subsídios à agenda. O fato é que

os resultados desses encontros informais deverão tornar-se inputs para os processos oficiais;

entretanto as ligações entre os processos oficiais e não oficiais são freqüentemente obscuras

e os impactos incertos.

Lawrence Susskind, Boyd Fuller, Michele Ferenz e David Fairman, em seu trabalho

entitulado Multistakeholders Dialogue at the Global Scale, descrevem os elementos chave

com os quais poderão se deparar os artífices do diálogo prospectivo dos multistakeholders.

São eles : buscar os participantes adequados, administrar com extremo cuidado os recursos

financeiros limitados, promover efetivos encontros de facilitação e integrar o trabalho do

diálogo dos multistakeholders às atividades e instituições já existentes [Susskind et ai:

2002].

Estudos teóricos no campo da negociação e da resolução de conflitos sugerem que multi­

participantes e múltiplas questões de desentendimento são mais bem trabalhadas: (i)

definindo representantes apropriados dos stakeholders chaves para trabalhar juntos; (ii)

garantindo que as partes têm tempo e recursos para se prepararem condignamente; (iii)

definindo os facilitadores não-partidários para administrar o diálogo; (iv) definindo as

regras básicas que constituem o protocolo das conversações; e, (v) deixando claro o que será

a decisão do grupo [Susskind et ai: 2002].

A sociedade civil está se tornando uma voz ativa, não só na elaboração de tratados oficiais

internacionais mas também em todos os esforços multilaterais para analisar problemas

emergentes, explorar opções políticas e estabelecer novos programas ou práticas. Alguns

observadores argumentam que a participação da sociedade civil nas deliberações

internacionais tem aumentado nos tratados de negociações, contribuindo com idéias e

informações e alavancando recursos para a implementação das soluções. Existe um

reconhecimento nos círculos diplomáticos, entretanto, que não somente a comunicação

99

entre as partes não-oficiais é valiosa, mas a coordenação e o diálogo entre as partes oficial e

a não-oficial também são importantes [Lederach: 1997].

IV.6.1 Objetivos do Multistakeholder Dialogue (MSD)

Os objetivos do MSD referem-se à construção do relacionamento, à reunião e troca de

informações, ao brainstorming para solução de problemas e à construção de consenso,

sendo esse último o mais ambicioso. As informações geradas conjuntamente terão maior

credibilidade entre todas as partes, sendo a construção do relacionamento indispensável

quando há divergência entre valores fundamentais, tomando-se importante que as partes

iniciem a construção de alguma possibilidade de acordo. Por meio do MSD, são

promovidos diálogos informais nos quais cada uma das partes compreende as perspectivas

das outras partes e, assim, exploram as áreas de acordos e desacordos.

A construção de consenso deve ser buscada entre os participantes. O consenso é alcançado

quando todos os participantes concordam que poderão se satisfazer com o pacote de

resultados que foi definido, depois de um esforço para identificar os interesses dos

participantes [Susskind et ai: 2002].

Organizar um MSD faz com que se encontrem duas escolhas fundamentais : definir quem

deverá ser convidado e estabelecer a interação entre os stakeholders.

No caso da primeira alternativa - definição dos participantes, os organizadores poderão usar

as redes informais para identificar, quando se tratar de questões de significado global, em

todo o mundo, indivíduos com experiência, conhecimento, habilidade e estatura suficientes

para aumentar a dimensão da questão. Alternativamente, poderão contatar outros grupos de

stakeholders, tais como: agências internacionais, governos, organizações não

governamentais (ONG's) politicamente significativas e universidades, de forma a aumentar

a legitimidade política dos seus esforços, baseados no status dos participantes [ Susskind et

ai: 2002].

A segunda escolha - estabelecer a interação entre os participantes, poderá ser o momento

em que os representantes oficiais conhecerão uns aos outros, em que conhecerão as posições

100

de cada um em relação às questões ou, ainda, se esse momento servirá para que sejam

realizadas apresentações técnicas aos representantes oficiais sobre as questões em pauta.

o MSD é um processo que pode ser utilizado para iniciar a comunicação, construir

relacionamentos entre os stakeholders, e trocar informações que poderão auxiliar os

stakeholders e os tomadores de decisão a compreenderem a origem das controvérsias; pode

buscar esclarecer as questões que precisam ser respondidas antes que a tomada de decisão

formal ocorra; pode criar um diálogo permanente, em que alguns tomadores de decisão

oficiais e não-oficiais possam explorar as diferenças, construir entendimentos, buscar áreas

comuns e explorar possíveis soluções que eles, como indivíduos, possam concordar e sejam

as mais apropriadas para a elaboração da política internacional; e, pode criar um conjunto de

recomendações, como consenso, utilizada em fóruns oficiais para a tomada de decisão, com

a esperança e com as expectativas de que serão incorporadas à política oficial. Busca

também construir legitimidade por meio de uma posição formal dos participantes e pelo fato

de que eles estariam aptos a alcançar o consenso.

Deve-se ressaltar ainda a importância da cultura no que se refere a compreensão sobre as

características específicas das diversas etnias, nacionalidades, disciplina, crenças políticas,

religião, dentre outras. A dinâmica cultural pode afetar muitos aspectos do MSD, incluindo

a velocidade com que as pessoas podem trabalhar, o quanto as questões de relacionamento

são importantes e quão rápido deverão ser efetivadas, qual a ideologia que triunfará sobre a

análise factual e qual a necessidade de tradução.

Para alcançar seus propósitos, o MSD precisa se estabelecer como uma legítima fonte de

informação e influência. Os organizadores do MSD deverão facilitar o processo de seleção

dos participantes e o levantamento de informações de forma que o mesmo tenha

legitimidade, atue com justiça, estabeleça critérios e alcance a eficácia com eficiência.

A justiça, um dos valores básicos da humanidade, é utilizada como um importante balizador

nos processos participatórios e de deliberação. Os diferentes valores vinculados à cada um

dos stakeholders faz com que haja dificuldade em se encontrar um parâmetro único de

ganhos e perdas entre grupos, com o qual todos concordem.

101

A integração do MSD com as instituições e com os formuladores oficiais de políticas deve

ser desenvolvida dentro de regras rigorosas, tendo em vista a proximidade com os

tomadores de decisão em um nível oficial. Esses diálogos de integração são limitados pelas

regras de determinadas instituições ou órgãos e referem-se à soberania nacional.

Às vésperas da 11 a Conferência Internacional de Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD)

ocorreu um movimento de deputados brasileiros, ligados à União Interparlamentar,

defendendo uma maior participação dos Parlamentos em negociações multilaterais de

comércio.3o

Em junho de 2004, ocorreu a terceira rodada de negociações do Sistema Geral de

Preferências Comerciais (SGPC), sistema esse que permite aos países emergentes -

atualmente 47 - reduzirem mutuamente barreiras e tarifas para ampliar as trocas comerciais

entre si. Os integrantes não precisam estender as vantagens tarifárias aos países

industrializados. A promoção dessas rodadas de negociação proporcionam uma maior

articulação entre esses países, maior conhecimento entre as partes, e aumento de confiança

servindo de base para fortalecer a união desses países nas grandes negociações.

IV.7 Conversas Informais Paralelas

Barganhar na arena internacional é intrinsecamente posicional. Recomenda-se que nada

seja inventado, na última hora, para a negociação, a menos que a proposta feita possa trazer

bons resultados para todas as partes. A necessidade de reunir atores diminui a tensão, a

realização de brainstorming permite que as posições dos atores sejam testadas, sem

compromisso, oferecendo um espaço para o diálogo e para a circulação de informações.

No domínio da elaboração de tratados internacionais, as representações oficiais dos países

devem se encontram com as representações informais de grupos de stakeholders não­

oficiais para estabelecer as bases das negociações. Em muitos casos, dessas conversas

paralelas informais, realizadas em vários estágios do processo formal de elaboração de

30 O presidente da UIP defendeu que " Os Congressos não podem transformar-se em obstáculos para as negociações internacionais. Devido à sua própria natureza institucional de fiscalizadores dos poderes do Estado. devem ter, necessariamente. uma participação mais ativa"; o senador chileno Sérgio Paez defende a união de forças dos países latino-americanos nos tratados internacionais, afirmando que: "O Parlamento

\02

tratados, surgem idéias e elementos de acordos que tomam possível a elaboração dos

tratados oficiais [Susskind et ai: 2002].

Os negociadores de vários países comparecem aos encontros internacionais com uma

agenda e programação já definidas anteriormente, posições estas que não estão sujeitas à

revisão. A comunidade diplomática internacional, apesar de saber que as representações

não-oficiais geram novas idéias e novos elementos de acordos, as recebem com restrições

uma vez que podem ser interpretadas com desconfiança pela outra parte.

No caso de Cancún, no primeiro dia, o presidente da sessão anunciou os facilitadores para

cada tema de discussão e os orientou para iniciarem as consultas a grupos isolados e

delegações. Essas ações informais ocorreram simultaneamente às negociações formais

realizadas em plenário com os Ministros.

Algumas questões surgiram em plenário, como o caso do algodão em que os EUA discutiam

como lidar com as distorções surgidas ao longo da cadeia produtiva, incluindo concessão de

subsídios, estabelecimento de barreiras tarifárias e não-tarifárias sobre o produto e a

existência da concorrência com as fibras sintéticas e derivados. Os EUA afirmavam que sua

produção é muito incipiente para que provoque algum impacto sobre os preços do algodão e

que isso estaria alterando o programa para os produtores americanos do produto. Os países

em desenvolvimento contra-argumentavam que era muito difícil competir com os subsídios

praticados pelos países industrializados. Dado o impasse, Derbez concluiu que a questão

poderia ser discutida nos encontros informais dos Ministros dos próximos dias. [Sumário da

Reunião da OMC: 14/9/2003].

Derbez declarou que os encontros informais com a liderança das delegações eram

importantes para garantir a transparência das negociações e das consultas entre todos os

membros.

Como essa prática tem suas limitações, Susskind sugere uma "negociação paralela

informaf'31 , formada por membros do segundo escalão da diplomacia, que surge da

precisa ajudar nofortalecimento do comércio internacional". (Jornal O Globo, 12/612004, p.31 - Caderno de Economia) 31 Em inglês: Paral/el Informal Negotiation - PIN

103

construção de um relacionamento de longo-prazo, a partir de workshops, com ênfase em

brainstorming e na busca de solução de problemas. Nesse ambiente, os representantes estão

livres para ouvir os outros, perceber como o mundo observa os pontos de vista das outras

partes e, também, para explorar opções que os negociadores oficiais não consideram. Como

os participantes do workshop se movimentam para posições de influência e poder, a

melhoria do relacionamento entre eles permite uma efetiva solução de problemas.

As negociações do segundo escalão da diplomacia são realizadas por representantes não­

oficiais que discutem entre si, buscando elementos para um acordo, enquanto as hostilidades

permanecem muitas vezes com os representantes oficiais.

Em um caso de disputa entre diferentes países e interesses, pode ser entendido pelos

moderadores que um debate formal pouco ajudaria a promover o consenso. Desta forma,

podem propor um formato alternativo para a promoção do consenso - o" policy dialogue".

Este formato prevê um encontro preliminar para facilitar o conhecimento entre os

representantes das comunidades, a fim de que possam conversar, privadamente e

informalmente, sobre seus conflitos.

Esse encontro preliminar tem por objetivos: criar um fórum em que os grupos, que durante

longo tempo se rivalizaram, busquem uma base comum para entendimento; mapear os

conflitos, identificando, da melhor forma possível, as áreas de acordos em pelo menos

algumas questões pendentes; e verificar se o escopo de algumas áreas de concordância pode

ser comunicado às pessoas e/ou instituições relevantes do grupo encarregado de elaborar a

política, tal como o GA TT Ministerial Meeting.

o diálogo não será somente para realização da técnica de brainstorming, mas também, e

principalmente, para promover aprendizado, troca de informações e esclarecer bases de

interesses, bem como para criar um ambiente de questionamento e de exploração intelectual

que não pode ser confundido com as posições oficiais. Por outro lado, enquanto o diálogo

prossegue não é surpresa se os sub-grupos se sentirem encorajados a desenvolver novas

idéias. A qualidade do diálogo depende fortemente das intervenções dos neutros para que se

esclareçam interesses, testem hipóteses e promovam as trocas.

104

Pós-Cancún, diante dos impasses nas negociações, algumas reuniões paralelas às

conferências são realizadas pelo grupo informal NG-5 que, além dos ministros do Brasil, da

Índia e da Austrália, conta com a participação do comissário europeu de comércio, Pascal

Lamy e do representante comercial dos EUA, Robert Zoellick. Este grupo reuniu-se

paralelamente à 11 a Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento

para discutir os impasses que vêm travando as negociações sobre subsídios agrícolas no

âmbito da OMC32• O Ministro tailandês, Supachai Panitchpakdi, que presidiu a Reunião de

Cancún, define como cruciais os encontros ministeriais paralelos aos eventos e declarou que

"essas reuniões são importantes, se não decisivas". Perguntado sobre o preço de um

fracasso nas discussões da OMC, o Ministro Supachai declarou que "isso seria

desaconselhável. (. . .) Se não houver uma especificação, então as coisas (conversas) podem

parar". 33 Já se realizaram duas reuniões informais e em maio/2004, na Cúpula de

Guadalajara (México), os negociadores aproveitaram para fazer um encontro extraordinário

no qual os negociadores europeus apresentaram uma proposta que relacionava o setor

agrícola como sendo "sensível,,34.

Os ministros do G-20, grupo de países em desenvolvimento liderados por Brasil e Índia que

lutam contra os subsídios agrícolas na OMC, reúnem-se antes da lIa Conferência das

Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento - UNCT AD para firmarem as posições

do grupo que vêm sendo debatidas, em Genebra. Outras reuniões técnicas do G-20 foram

realizadas em Buenos Aires, mas a situação de impasse com relação às questões agrícolas

ainda persiste.

IV. 8 O ambiente da complexidade

Muitos conceitos, teorias e conclusões desenvolvidos por cientistas da biologia, física,

química e matemática, e aqueles provenientes dos estudos dos sistemas naturais foram

amplamente utilizados nos estudos dos sistemas sociais. Nessa perspectiva, a partir da

32 De acordo com o Ministro brasileiro das Relações Exteriores Celso Amorim: "Mesmo que não haja um acordo definitivo, um esboço de proposta que nos permita prosseguir até julho (2004) ,quando haverá a reunião do Conselho da OMC, nos dará tempo para finalizar o arcabouço de um acordo, que confio virá em seguida" (O Globo, 12/6/2004, p.31 - Economia) 33 Jornal do Brasil, 12/6/2004, p.A-17 34 Ainda sobre esse assunto, o Ministro Amorim declarou : "Reconheço que a proposta deles é importante, mas ainda limitada. É preciso que os negociadores europeus tenham consciência disso" [Jornal O Globo, 12/6/2004, p.31-Caderno de Economia]

105

abordagem sistêmica, as organizações foram consideradas como sistemas e depois como

sistemas abertos, em constante interação com o seu ambiente externo [Dufloth:2004]

A Teoria da Complexidade e a Teoria do Caos têm sido utilizadas pelas organizações

para a formulação de modelos de gestão. Nesse sentido, as organizações são consideradas

como sistemas complexos.

A complexidade corresponde à multiplicidade, ao entrelaçamento e à contínua interação da

infinidade de sistemas e fenômenos que compõem o mundo natural. A complexidade só

pode ser compreendida por meio de um sistema de pensamento aberto, abrangente e flexível

- o pensamento complexo que configura uma nova visão de mundo, que aceita e procura

compreender as mudanças constantes no mundo real e não pretende negar a multiplicidade,

a aleatoriedade e a incerteza, e sim conviver com elas [ Mariotti:2004].

Para Parsons, " os sistemas sociais são considerados abertos, engajados em complexos

processos de permuta com os sistemas circundantes, o comportamento e outros sub­

sistemas do organismo e do meio ambiente fisico."[Parsons: 1987 in Souza:200 1, p.6].

Segundo Paulré, "de um ponto de vista experimental é possível a aplicação de um conceito

de sistema a um certo conjunto social, onde a natureza sociológica consiste em aplicar a

noção de sistema social a todo conjunto social no interior do qual os indivíduos se situam

em reciprocidade e cujas interações obedecem a um conjunto de normas que eles

contribuem para criar, manter ou modificar. Isso porque o que predomina são as inter­

relações entre os homens, que atuam, legislam, criam, trabalham, interagem, etc" [ Paulré

in Pedroso e Silva:2000, p.12].

Morin sugere que a transformação da diversidade desordenada em diversidade organizada

obedece a seguinte seqüência: ordem, desordem, interações, organização, ordem e

desordem. Nesse sentido, Morin afirma que : "[ ... ] para que haja organização, é

necessário que haja interações (entre moléculas, pessoas,). Essas interações só ocorrem se

existirem encontros. E os encontros só ocorrem se houver desordem/agitação/turbulência,

gerados por um desequilíbrio do sistema.[. . .] Nesse ponto é buscada uma nova interação

entre as partes, e um novo equilíbrio (segundo) é concebido. E esse novo equilíbrio pode

representar a transformação, a inovação, a renovação, a evolução. Portanto, a concepção

106

de que a desordem é sempre algo negativo não é verdadeira. E esse segundo equilíbrio se

mantém até que novas perturbações provoquem alterações que levem a um terceiro

equilíbrio. E isso é um movimento contínuo"[ Morin in Pedroso e Silva:2000, p.14].

Morin apresenta sete princípios que definem o pensamento complexo: (i) dialógico: que

pode ser definido como a união de dois princípios ou noções antagônicas que deveriam se

repelir, mas são indissociáveis para a compreensão da realidade; (ii) recursividade ou da

autogeração: refere-se a um processo em que os efeitos ou produtos são, ao mesmo tempo,

causadores e produtores do próprio processo, sendo os estados finais necessários à geração

dos estados iniciais; (iii) hologramático: demonstra que o todo está na parte e que esta está

no todo, e a parte poderia estar mais ou menos apta a gerar o todo; (iv) sistêmico ou

organizacional: segundo o qual a organização do todo produz qualidades ou propriedades

novas em relação às partes consideradas isoladamente, denominadas emergências; (v)

círculo retroativo: princípio que permite o conhecimento dos processos auto-reguladores,

mais conhecidos como feedback; (vi) auto-eco-organização: segundo o qual a autonomia é

inseparável do meio, o que produz de certa forma uma autonomia relativa, dependente do

meio; e, (vii) reintrodução do conhecimento em todo o conhecimento: todo o conhecimento

é uma reconstrução/tradução por um espírito/cérebro em uma cultura e em um tempo

determinado [Morin: 1999].

As reuniões na OMe, que envolvem os 148 países membros, constituem um desafio pela

diversidade de interesses, pela necessidade de articulação entre as partes, de alinhamento e

de circulação das percepções que permitam a criação de um pensamento coletivo.

Nessa visão, a complexidade da sociedade humana não será explicada pelo número de

genomas do homo sapiens , mas sim pela complexidade distinta, porém conjuntiva de toda a

vida. Na concepção dos sistemas complexos os conhecimentos simples não ajudam a

conhecer as propriedades do conjunto. O todo é mais do que a simples soma das partes. Por

outro lado, cada uma das partes não pode se expressar em sua plenitude, sendo o todo,

portanto, menor do que a soma das partes e, por fim, a complexidade integra esses

conceitos quando então o todo é ao mesmo tempo maior e menor do que a soma das partes.

Desta forma pode-se dizer que os sistemas vivos convivem com sua própria autonomia

quando necessitam construir e reconstruir sua autonomia com energia externa e, ao mesmo

tempo, com uma relação de dependência do meio - a auto-organização do sistema.

107

Na OMe, a autonomia do grupo criada pelo fechamento operacional envolveu negociações

externas com a sociedade civil e com a imprensa, ou seja, com os meios de comunicação

com o exterior.

Esses conceitos estão também explicados e também explorados na primeira abordagem

para a Teoria dos Sistemas realizada, em 1951, por Talcott Parsons, em sua obra Social

System, na qual parte do princípio que todos os sistemas sociais se caracterizam por um

certo número de estruturas e que essas estruturas são fixas.

Buckley e Miller interpretaram as estruturas de um sistema social como uma variável que

se modifica à medida em que o sistema tenta reagir a mudanças no seu meio, sempre

buscando se adaptar da melhor forma possível às condições externas para poder garantir a

sua sobrevivência, o crescimento e o desempenho de suas funções [Buckley e Miller in

Mathis: 1997].

Luhmann modificou o olhar sobre o sistema, transferindo a visão do interior do sistema para

o meio que deixa de ser condicionante da formação do sistema e torna-se fator constitutivo.

O sistema passa a ser compreendido como resultado de um processo de definição de

fronteiras entre o dentro e/ou fora do sistema, como resultado de uma tentativa de entender

a complexidade do mundo.

Os sistemas de uma sociedade são interligados, dependentes e buscam no meio informações

sobre si mesmos e sobre os resultados de sua atuação. O sistema integra-se na sociedade e

assim trabalhar com sua capacidade cognitiva no sentido de poder prever os riscos e perigos

que possam resultar da sua atuação.

Uma das características da sociedade moderna é a complexidade das relações sociais que se

mostram como algo entrelaçado e diferenciado em várias unidades específicas e

especializadas, que dependem uma das outras. A complexidade da sociedade se expressa na

diferenciação funcional do sistema social e do número das dimensões de referência; nas

relações de interdependência entre as partes da sociedade e, entre as partes e a sociedade

como um todo; e, no número e peso das conseqüências gerado pelas decisões tomadas

dentro de um determinado sistema social.

108

Uma outra característica é a contingência que tende a ser interpretada por um sistema social

ou um indivíduo como a variedade das alternativas de atuação com um grau de liberdade

para escolher entre várias alternativas de atuação. A existência e o relacionamento das

contingências dos diversos sistemas ao seu redor constituem, para o sistema focal, a

complexidade do seu meio. Para poder enfrentar a complexidade do seu meio, o sistema é

obrigado a corresponder com a elaboração de estruturas complexas que por sua vez podem

aumentar a contingência do sistema e assim iniciar um processo evolutivo.

São fontes de conflito dentro de um sistema complexo a seleção de dados conforme critérios

de relevância para reduzir a complexidade do meio e a obrigação do sistema em selecionar

as suas alternativas de atuação em relação ao meio. Esses conflitos estão entrelaçados uma

vez que, selecionar os dados relevantes, que internamente estão sendo processados de forma

que se gerem várias alternativas de atuação para o sistema, pode provocar um aumento na

complexidade dentro do sistema, e assim sucessivamente.

A nova Teoria dos Sistemas define que os sistemas SOCIaIS se orgamzam baseados no

sentido. A noção comum do sentido é o critério que define os limites do sistema, além de se

apoiar em outros fatores como normas, valores e metas que criam uma ordem de

preferência . Os sistemas complexos têm a capacidade de reflexão, de definir e redefinir

internamente o que é o sentido e, assim, constituem e são constituídos por sentidos.

O sistema deve relacionar-se com vários meios uma vez que existem diversos níveis

nesses meios. O mundo interior ao sistema, também compreendido como meio, é definido

pelas relações que o sistema mantém com os seus membros, cujas orientações devem ser

coordenadas sob o ponto de vista de uma atuação relevante para o sistema. Em consonância

com o mundo interior, o mundo exterior inclui as relações externas que podem ser

classificadas em: (i) relações externas horizontais, com outros sistemas que fazem parte de

um sistema maior; (ii) relações externas verticais, com outro sistema que seja

hierarquicamente superior; e, (iii) relações laterais, com outros sistemas em que o sistema

focalizado encontra-se em um contexto secundário, p.e, entre países. As relações laterais

são inovadoras pois não são influenciadas por um sistema maior e formam as bases para as

ligações inter-sistêmicas mais complexas [Mathis: 1997].

109

A autopoiese é um conceito em que um sistema complexo reproduz os seus elementos e

suas estruturas dentro de um processo operacionalmente fechado com a ajuda de seus

próprios elementos. Essa compreensão indica que cada sistema deve se preocupar com a

sua própria continuidade para poder entrar em contato com o seu meio.

M.C.Escher- Drawings Hands, January 1948 - Lithograph

IV. 9 Sistema autopoiético

Nas negociações da OMe pode-se analisar o processo de construção de consenso, tal como

a elaboração de sistemas articulados e racionais. O domínio do consenso é baseado sobre as

premissas das ciências da complexidade, inteligência artificial sob a ótica da autopoiese.

Poiesis é um termo grego que significa produção. Autopoiesis significa auto-produção. Esse

termo surgiu pela primeira vez, em 1974, em um artigo publicado por Varela, Maturana e

Uribe , no qual os autores vêem os seres vivos como sistemas que produzem a si mesmos de

forma incessante. Pode-se dizer que um sistema autopoiético é ao mesmo tempo produtor e

produzido [Mariotti: 2003 ].

Nas abordagens tradicionais, as organizações são consideradas como sistemas abertos e em

constante interação com o seu contexto, gerando inputs e outputs que proporcionam a sua

sobrevivência. Francisco Varela e Humberto Maturana desenvolveram uma nova

abordagem na qual os sistemas vivos são caracterizados por quatro aspectos: autonomia,

circularidade, inter-subjetividade e mudanças, o que lhes confere a capacidade de se auto-

110

reproduzirem através de um sistema fechado de relações, denominado autopoiético

[Morgan: 1996] .

Criação da autonomia do grupo:

Sob o ponto de vista de Maturana, o termo autopoiético expressa o que ele denomina centro

da dinâmica constitutiva dos seres vivos. Para viver essa dinâmica de uma forma autônoma,

os sistemas vivos necessitam obter recursos do ambiente no qual vivem. Paradoxalmente

eles são, simuItâneamente, sistemas autônomos e dependentes.

o fato do universo estar em permanente transformação, incorporando tanto características

de permanência, quanto de mudança, já tinha sido observado, em 500 A.C pelo filósofo

grego Heráclito. Para Heráclito, "os segredos do universo seriam descobertos nas tensões

ocultas e nas conexões que simultaneamente criam padrões de unidade e mudanças"

[Morgan: 1996, p.239].

David Bohm desenvolveu uma teoria que compreende o universo como uma unidade que

flui, é indivisível e considera processo, fluxo e mudança como fundamentais. Para o autor,

o mundo é, em si mesmo, nada mais do que um momento dentro de um processo mais

fundamental de mudança.

Circularidade

A estrutura de um dado sistema é a forma como seus componentes se interconectam, sem

que haja mudanças em sua organização. Se as partes de um sistema se desconectam ou se

separam, o sistema em pouco tempo ficará descaracterizado porque sua organização está

perdida. Da mesma forma, a estrutura de um sistema vivo se modifica o tempo todo, o que

demonstra que ele está continuamente se adaptando às mudanças do ambiente. A

organização determina a identidade do sistema, enquanto a estrutura determina como as

suas partes são articuladas. A organização identifica o sistema e corresponde à sua

configuração geral. A estrutura mostra como as partes se interconectam.

Gestão da inter-subjetividade para facilitar a tomada de decisão em grupo

111

o mundo é construído a partir das percepções das pessoas, e é a estrutura do ser humano

que permite essas percepções. Assim, o mundo das pessoas é aquele sobre o qual elas têm

conhecimento. Se a realidade percebida depende da estrutura pessoal - que é individual -

existem tantas realidades quantas são as pessoas. Isso explica porque o conhecimento

objetivo puro é inviável: o observador não está de fora do fenômeno ao qual observa. Se as

pessoas são determinadas pelo modo como as partes de que são formadas se interligam e

funcionam, o ambiente só desencadeia nas pessoas o que essa estrutura permite

[Mariotti:2003]. Para quebrar o impasse da negociações da OMC percebe-se a importância

da gestão cognitiva para alinhar percepções e fazer circular as informações como

instrumento para a criação de consenso.

No ponto de vista de Maturana, quando alguém diz que é objetivo, significa que essa pessoa

tem acesso privilegiado a uma visão mais abrangente, e que esse privilégio, de alguma

forma, permite que essa pessoa exerça uma autoridade que é recebida, sem restrições, por

aqueles que têm uma visão mais limitada. A partir da visão fragmentada e limitada,

entende-se que é possível chegar a uma só verdade e mostrá-la aos pares - a verdade que

se imagina ser a mesma para todos.

Condições culturais não podem ser interpretadas à luz do raciocínio linear que estimula o

imediatismo e dá um alto valor à competição e à guerra. Sabe-se que não existe uma única

causa para ver e analisar os fenômenos da natureza. É importante lembrar que o que faz a

sociedade funcionar dessa maneira não é a dimensão cultural nela mesma, mas o tipo de

cultura sob a qual as pessoas vivem, que enfatiza a crença de que a competição predatória é

boa, saudável e eticamente justificável. A sua forma mais visível de manifestação é a

competitividade - a compulsão não só para ganhar, mas também para eliminar o oponente, a

compulsão para levar às máximas conseqüências a agressividade, a implacabilidade e a

necessidade da exclusão. Isso corresponde a um jogo de soma-zero: a interação de que a

satisfação da vitória de uma das partes está vinculada à derrota da outra parte. Nesse clima,

pessoas, coisas e eventos não podem ser complementares; alguma coisa necessariamente

precisa ser descartada para que uma outra possa ser colocada no seu lugar.

De toda a forma, a idéia de que o outro é inevitavelmente um adversário, como um inimigo

a ser exterminado, é um dos modelos de competitividade da cultura de vários povos,

principalmente, dos ocidentais/capitalistas. Na visão desses povos, saber como ganhar é

112

saber ser competente. Uma verdadeira sociedade autopoiética não poderá coexistir com a

competição predatória que é a marca da cultura ocidental.

Mudanças para criar meta-regras (sistema criativo de solução)

Sabe-se que um sistema autopoiético se auto-produz utilizando recursos do ambiente de

forma a seguir em frente com esse processo. O organismo humano, por exemplo, descarta as

células mortas que são, continuamente, repostas de forma que o organismo permaneça

vivo. Assim, uma sociedade que descarta jovens e pessoas produtivas (resultado de

estratégias produtivas, guerras, genocídio, exclusão social e outras formas de violência) está

se auto-mutilando e desenvolvendo um sistema patológico. Maturana e Varela comprovam

que os seres vivos não são agregados de partes, são padrões de inter-relacionamentos entre

essas partes, padrões dinâmicamente renováveis. Nelson e Winter abordam as meta-rotinas

como um meio para se modificar as regras e percepções iniciais. Essa circularidade facilita

as mudanças e a geração criativa de soluções baseada, não sobre regras pré-estabelecidas,

mas sobre interesses de informações35 [Winter e Nelson: 1982].

Deve-se buscar compreender a OMC como um sistema autopoiético integrado por países

membros (148) que estão sistematicamente negociando seus interesses. A dinâmica do

processo de negociação na OMC desenvolve-se entre as partes por meio de um

entendimento progressivo e independente, de análises conjuntas cujo resultado será obtido

por consenso, fruto de um esforço coletivo. Não será algo imposto top down mas, dada a

igualdade entre todos os países-membros, será resultado de negociações em que as partes se

posicionam como complementoras, interessadas na melhor solução possível, fora do jogo

soma-zero.

A autopoiesis enfatiza a maneira pela qual o sistema global de interações acaba por moldar

o seu próprio futuro. De acordo com a teoria da autopoiesis, enquanto a preservação da

identidade é fundamental para todos os sistemas vivos, existem outras formas de se obter o

confinamento em relação ao ambiente. Quando se reconhece que o ambiente não é um

campo independente e que não se tem que, necessariamente, competir ou lutar com ele, um

relacionamento completamente novo se toma possível [Morgan: 1996].

35 Essa é a idéia de pensar e perceber as questões de fora do problema. Em inglês utiliza-se a expressão "think out of the box"

113

Conclusão

Apesar do fracasso da 5a Conferência Mundial da OMC, em Cancún, as questões que

entravaram o processo de negociação permanecem em discussão.

Os EUA e a UE perceberam ao final da Reunião Ministerial a solidez e a determinação do

G-20. No início minimizaram a solidez do grupo, dando a entender que o consenso desse

grupo não resistiria a uma rodada de negociação. Mesmo depois de Cancún continuram a

dar sinais de não terem entendido que, ao organizar o mundo dos países em

desenvolvimento em tomo de uma plataforma negociadora, o G-20 oferecia uma sólida e

inédita plataforma de interlocução para a busca do consenso na questão agrícola. Ao se

consolidar como a força mais organizada e dinâmica do processo de Cancún, a coalizão do

G-20 evitou atitudes de confronto e de obstrução.

Em uma reunião da OMC, realizada em Paris, em julho de 2004, a questão dos subsídios

voltou a ser discutida. Na ocasião, cinco países membros - EUA, UE, Brasil, Austrália e

Índia, considerados representantes com ampla variedade de interesses comerciais, após

duras negociações, concordaram com os princípios que podem abrir caminho para um pacto

de livre-comércio. Um dos participantes declarou que: "Isso torna mais próxima a

possibilidade de um acordo (total na organização)"[ Jornal O Globo, 12/07/2004].

Um acordo entre esses países é considerado essencial para qualquer possibilidade de

progresso na abertura do comércio global, no incentivo à economia mundial, e na tentativa

de reativar as abaladas negociações na Rodada de Doha.

Entretanto, alguns membros da OMC refutaram a liderança desses cinco países, e

advertiram que não pretendem aderir a acordos firmados dessa maneira, apenas por

representarem o desejo de grandes potências mundiais.

114

Segundo o representante de comércio dos EUA, Robert Zoellick, ainda existe um longo

caminho a percorrer. Ele acredita que esta será uma negociação difícil, face aos inúmeros

obstáculos a superar.

No início de agosto de 2004, os países membros da OMe, reunidos em Genebra, aprovaram

um acordo baseado em regras básicas (Rawls ground rules) para suspender os subsídios às

exportações de produtos agrícolas e para cortar tarifas de importação em todo o mundo.

Essas regras, conhecimento comum (common knowledge) e fechamento operacional

representam condição sine qua non para o início de uma resolução coletiva - o domínio do

consenso. Segundo os negociadores, o acerto constituiu um passo fundamental em direção

ao acordo de liberação comercial, que vêm sendo discutido desde 2001.

A importância maior desse acordo foi o consenso alcançado, que além de se constituir em

um projeto intermediário, determina os novos rumos futuros das negociações da OMe.

Desta forma, o comissário de comércio da UE, Pascal Lamy, que se mostrou decepcionado

com o resultado de Cancún, acredita agora que a Rodada de Doha ganhou novos rumos, e

que o acordo final será firmado até o final de 2005.

Mariotti acredita que a diversidade de visões não impede (pelo contrário, pede) que se

chegue a acordos (consensos sociais) sobre o mundo. Esses consensos determinarão as

práticas sociais. Para que se possa chegar a consensos que levem em conta o respeito à

diversidade de pontos de vista é necessário observar alguns parâmetros básicos:

O que se chama de racional é o resultado das percepções das pessoas. No

início elas surgem como sentimentos e emoções. Só depois que se transforma

e pensamentos, que geram discursos, que por fim são formalizados como

conceitos.

O pensamento vem do corpo, das sensações e a racionalidade advém e

promove simultaneamente o pensamento.

Uma cultura é uma rede de conversações que define um modo de viver. Toda

a cultura é definida pelos discursos que nela predominam. Estes se originam

nas conversações que começam entre indivíduos, estendem-se às

comunidades, e por fim a todo o âmbito cultural.

115

Os consensos sociais (que determinam, p.e, o que é permitido e o que não é,

o que é real e o que é imaginário em uma determinada cultura) resultam

desses discursos, que por sua vez são oriundos das redes de conversação.

Cresce-se em uma cultura vivendo nela como um indivíduo participante de

uma rede de conversações que a define. Crescer em uma cultura significa,

então, adquirir e desenvolver a cidadania.

Os argumentos racionais, como a procura conjunta de dados, é útil para

iniciar conversações. Mas eles insistem e permanecer lineares (ou seja,

excludentes, apegados ao "ou/ou"), isso significa querer manter-se como os

únicos "verdadeiros", isto é, que não respeita a diversidade. E esta, como se

sabe, é a base da cidadania [ Mariotti:2003]

H. Simon parte da perspectiva que a modelagem da racionalidade dos agentes (econômicos

ou não) deve considerar a complexidade do ambiente no qual os agentes estão inseridos,

mas não deve reduzi-Ia a um único postulado psicológico, como a maximização da utilidade

em economia. Este tipo de abordagem reducionista, na perspectiva do autor, parece ser mais

adequado para o estudo da estrutura do ambiente no qual os agentes estão inseridos do que

para o estudo da natureza do comportamento destes organismos. Uma teoria que supere a

simples reflexão do ambiente e se torne uma teoria psicológica da racionalidade humana

precisa estabelecer claramente como se posicionar. Para Newel e Simon esta teoria ''precisa

olhar para dentro do sujeito" [Newel e Simon: 1972, pp. 55] de duas formas: (a) nos limites

de sua habilidade para determinar o que é um "comportamento ótimo"; (b) na sua habilidade

para executá-lo, caso possa determiná-lo [Newel e Simon: 1972].

O foco modifica-se então do acesso à informação incompleta e à capacidade de

aprendizado, para uma perspectiva onde o processo de cálculo do comportamento adequado

toma uma importância maior. O modelo modifica-se rumo a um maior realismo [Newel e

Simon: 1972].

Disputas ideológicas, interesses mesquinhos, arrogância, competição predatória,

agressividade, implacabilidade e necessidade de exclusão são formas de ver o outro como

um inimigo a ser exterminado e não como um parceiro a ser conquistado, na busca da

melhor solução possível para as partes envolvidas em uma disputa, fora do jogo soma-zero.

116

o modelo de jogos não-cooperativos baseia-se e estrutura de preferência distinta. Em

princípio, um equilíbrio de tais jogos refletiria o tipo de coordenação que os indivíduos

seriam capazes de engendrar sem recorrer a sanções externas, de um lado, e se abdicar de

sua racionalidade, de outro. Na realidade, a estrutura de preferências implícita nos jogos

não-cooperativos representa uma situação na qual as pessoas estão prontas a cooperar com

as outras apenas na medida em que a cooperação não conflitar com a sua racionalidade

individual [Lessa: 1998].

A Teoria da Evolução da Cooperação, desenvolvida por Axelrod, demonstra que os

indivíduos, motivados por interesses próprios, cooperam sem a presença de uma autoridade

central que os force a isso. Isto pode ser observado em situações em que a busca da

otimização dos interesses individuais de uma das partes conduz a um resultado sub-ótimo

para todas as partes. Por outro lado, um clima de cooperação e confiança se estabelece

quanto mais vezes as partes se encontram. Quando os encontros são limitados e escassos, as

partes tendem a não cooperar com receio de que a outra parte traia. Segundo Axelrod a

justiça de uma transação é garantida não pela ameaça da lei, mas pela antecipação de

transações mutuamente gratificantes no futuro [Axelrod: 1984].

Ao contrário do que ocorre com os jogos de soma-zero, a teoria da cooperação demonstra

que o indivíduo está mais preocupado em promover o interesse mútuo do que em explorar

a fraqueza do adversário. Axelrod mostra que a cooperação baseada na reciprocidade pode

surgir dentro de um ambiente competitivo, a partir de um pequeno grupo de indivíduos que

estejam prontos para retribuir a cooperação e que se relacionem entre si. Para que haja a

cooperação, não há necessidade de que os indivíduos sejam racionais ou comunicativos, que

sejam amigos ou confiáveis entre si e nem mesmo que haja uma autoridade central

[Axelrod: 1984].

A cooperação deve ser a base e o princípio que norteia as negociações na OMe. Está certo o

Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim ao declarar que o acordo

firmado em Genebra é "um bom acordo para a liberalização do comércio mundial. E igualmente um bom negócio para ajustiça social a eliminação dos subsídios". O Ministro

do Comércio da Índia, Kamal Nath, acrescenta ainda que: "os países desenvolvidos

reconheceram que negociações agrícolas com um forte componente de subsídios não são

um livre comércio". Nesta mesma ocasião, o Diretor Geral da OMC, Supachai Panitchpakdi

117

que vem mediando as negociações desde o Fracasso de Cancún, declarou que: "é realmente

um momento histórico para essa organização já que provamos mais uma vez que quando

os seus membros querem, todos os tipos de obstáculos são removidos" [Jornal O Globo,

1/8/2004].

Hardt e Negri em seu trabalho intitulado Empire analisam, historicamente, as formas de

poder nas diferentes esferas sociais - monarquia, aristocracia e burguesia, todas sob a tutela

de um Estado - e sugerem uma nova forma de articulação e poder entre essas forças,

denominada Constituição Híbrida. Esse modelo envolve regras sobre a unificação do

comércio mundial, garante a circulação de bens, tecnologia e poder do trabalho como uma

forma de garantir a dimensão coletiva do trabalho. Seu corpo é espacialmente multiforme e

difuso, desenvolvendo e articulando as redes produtivas e mercados, não mais em uma

relação centro-periferia mas em uma organização horizontal; e, introduz uma nova relação

de forças [Hardt e Negri: 2001].

Kissinger afirma que em " nenhuma outra época uma nova ordem mundial teve que ser

organizada a partir de tantas perspectivas diferentes, muito menos em uma escala tão

global. Nem tampouco nenhuma ordem prévia teve que combinar os atributos dos sistemas

históricos de equilíbrio de poder com opinião democrática global e exploração tecnológica

do período contemporâneo" [Kissinger: 1997, p.22]

Para especialistas do setor, o acordo firmado em Genebra representou um passo

fundamental. Judith Lee, advogada especializada em comércio internacional, acredita que:

"a OMe alcançou um acordo monumental em relação à agricultura. Embora possa não

incluir todos os pontos que os países e desenvolvimento reivindicam, o acordo representa

um significativo avanço no tema mais dificil da OMe' [Jornal O Globo, 1/8/2004].

De acordo com o Banco Mundial (BIRD), um acordo comercial mundial pode retirar cerca

de 140 milhões de pessoas da pobreza até 2015 [Jornal O Globo, 1/8/2004]. Em um fórum

como o da OMC define-se, p.e, maior fluxo de exportação de produtos o que proporciona

desenvolvimento sustentado. O fim dos subsídios às exportações e a redução dos subsídios

internos a produtos agrícolas, de acordo com a opinião de especialistas, permitiriam que os

países em desenvolvimento lucrassem cerca de US$ 200 bilhões no longo prazo.

118

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