222
 1 ANTROPOLOGIA BÍBLICA [Estudo da Doutrina do Homem e do Pecado]  Heber Carlos de Campos

Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

Embed Size (px)

Citation preview

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 1/222

  1

ANTROPOLOGIA

BÍBLICA 

[Estudo da Doutrinado Homem e do Pecado] 

Heber Carlos de Campos

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 2/222

  2

ÍndiceÍndice ......................................................................................................................... 2INTRODUÇÃO........................................................................................................... 11A DOUTRINA DO HOMEM NA SISTEMÁTICA............................................................. 12PARTE 1 ................................................................................................................... 13A CONDIÇÃO DO HOMEM ANTES DA QUEDA .......................................................... 13CAPÍTULO 1 ............................................................................................................. 14A CRIAÇÃO DO HOMEM ........................................................................................... 14ANTROPOGENIA ....................................................................................................... 14Conceito Evolucionista da Origem do Homem ............................................................ 14

1. Evolucionismo Materialista ................................................................................ 142. Evolucionismo Teísta ......................................................................................... 15

Conceito Criacionista da Origem do Homem .............................................................. 15A Unidade da Raça ................................................................................................ 15Criação Mediata ou Imediata? ............................................................................... 16A criação do ser humano completo ........................................................................ 16Distinções entre o Homem e os outros Animais Inferiores ....................................... 16

CAPÍTULO II ............................................................................................................. 18A NATUREZA DO HOMEM ........................................................................................ 181. UM SER DEPENDENTE E RESPONSÁVEL ............................................................. 19Livre Arbítrio & Livre Agência .................................................................................... 202. UM SER SANTO .................................................................................................... 22

Santidade Derivada e Finita ........................................................................... 24CAPITULO III ............................................................................................................ 26A NATUREZA CONSTITUCIONAL DO HOMEM ........................................................... 26Base Escriturística da Natureza Constitucional do Homem ........................................ 261. O HOMEM É CORPO (Adão foi criado um ser material ou físico) ............................. 272. O HOMEM É ALMA (Adão foi criado um ser imaterial ou espiritual)........................ 29A Unidade do Homem ............................................................................................... 29A) A ESCRITURA FREQÜENTEMENTE DISTINGUE ENTRE CORPO- ALMA E/OU

CORPO-ESPÍRITO. ............................................................................................................... 30(1) O VT SUGERE UMA DISTINÇÃO CORPO-ALMA (ESPIRITO), ............................. 30(2) O NT TAMBÉM SUGERE A DISTINÇÃO CORPO-ALMA (ESPIRITO): ................... 31

B) A ESCRITURA PARECE, AO MESMO TEMPO, DISTINGUIR OS TERMOS ALMA EESPÍRITO. ........................................................................................................................... 32

C) A ESCRITURA USA, FREQÜENTEMENTE, OS TERMOS ALMA E ESPIRITOINDISTINTAMENTE .............................................................................................................. 33

(1) Alma e espírito são usados indistintamente quando a referência é a uma  pessoadesincorporada. ................................................................................................................ 33

(2) Alma e espírito são usados indistintamente quando a referência é a expressões deemoção e de devoção. ....................................................................................................... 34

(3) Alma e espírito são usados indistintamente para descrever o objeto da obraredentora e santificadora de Cristo. .................................................................................. 37

3. O HOMEM É CORAÇÃO ........................................................................................ 39A) A ABRANGÊNCIA DO SIGNIFICADO DO TERMO ―CORAÇÃO” NA ESCRITURA: . 39

(1) Referência a ―coração‖ no Livro de Provérbios ................................................ 39(2) Referências a coração no uso de Jesus Cristo ................................................ 40(3) Referências a ―coração‖ na mensagem de Paulo ............................................. 40

B) A ESCRITURA USA O TERMO CORAÇÃO COMO INDICATIVO DE: ..................... 401. Coração como Indicativo de Atividade Intelectual............................................ 412. Coração como Indicativo de Atividade Volitiva ................................................ 413. Coração como Indicativo de Atividade Emotiva ............................................... 41

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 3/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 4/222

  4

CAPÍTULO VI ............................................................................................................ 61O HOMEM NO PACTO DAS OBRAS ........................................................................... 61

 Teologia do Pacto ou Teologia Federal ........................................................................ 61O SIGNIFICADO DO TERMO ―PACTO‖ ....................................................................... 61O NOME ―PACTO DAS OBRAS‖ ................................................................................. 62EVIDÊNCIA BÍBLICA DO PACTO DAS OBRAS ........................................................... 63

O PACTO DAS OBRAS E A LEI DE DEUS .................................................................. 641. Deus deu ao homem uma lei natural. ............................................................ 642. Deus deu ao homem uma lei expressa em palavras. ....................................... 65

OS ELEMENTOS DO PACTO DAS OBRAS ................................................................. 651. Partes Contratantes .......................................................................................... 652. Promessa de Vida Condicionada à Obediência .................................................... 66

Este é o ensino de Moisés .................................................................................. 66Este é o ensino de Davi ...................................................................................... 66Este é o ensino de Paulo .................................................................................... 67Este é o ensino de Jesus .................................................................................... 67Este é o ensino dos Padrões de Fé de Westminster ............................................. 68

3. A Ameaça de Morte em Caso de Desobediência .................................................. 684. O Sacramento do Pacto ..................................................................................... 69

A VIOLAÇÃO DO PACTO DAS OBRAS ....................................................................... 70A Gravidade da Violação do Pacto .......................................................................... 70

A IDÉIA DE REPRESENTATIVIDADE NO PACTO DAS OBRAS .................................... 70Adão é o Cabeça Natural da Raça .......................................................................... 71Adão é o Cabeça Representativo da Raça ............................................................... 71Paralelo entre o Primeiro Adão e o Último Adão ...................................................... 72

FUNÇÃO ATUAL DO PACTO DAS OBRAS .................................................................. 74Sentidos em que o Pacto das Obras Ainda Vigora ................................................... 74

O Pensamento Arminiano .................................................................................. 74O Pensamento Reformado .................................................................................. 74

Sentidos em que o Pacto das Obras Não Mais Vigora .............................................. 75PARTE 2 ................................................................................................................... 76A CONDIÇÃO DO HOMEM E A QUEDA ..................................................................... 76A LIBERDADE E A MUTABILIDADE PARA O PECADO ............................................... 77CAPITULO VII ........................................................................................................... 79A ORIGEM DO MAL MORAL ...................................................................................... 79

A) DADOS BÍBLICOS SOBRE A ORIGEM DO MAL ................................................. 79Análise de Is 45.1-7 .................................................................................................. 80

B) DADOS BÍBLICOS SOBRE O CARÁTER DO PECADO ........................................ 851) O Pecado é uma classe específica de mal ........................................................ 852) O Pecado tem um caráter absoluto ................................................................. 853) O Pecado tem a ver com a transgressão da Lei ................................................ 86

C) A ORIGEM DO PECADO NO MUNDO ANGELICAL ............................................. 86D) A ORIGEM DO PECADO NO MUNDO DOS HOMENS ......................................... 87

Análise de Gn 3.1-6 .................................................................................................. 87PARTE 3 ................................................................................................................... 92A CONDIÇÃO DO HOMEM DEPOIS DA QUEDA ......................................................... 92(DOUTRINA DO PECADO) ......................................................................................... 92CAPÍTULO VIII .......................................................................................................... 93A TRANSMISSÃO DO PECADO .................................................................................. 93CONEXÃO DO PECADO DE ADÃO COM O DA POSTERIDADE .................................. 93

A. OS QUE NEGAM ESTA CONEXÃO ..................................................................... 931) Os Pelagianos ................................................................................................ 932) Os Semi-Pelagianos ....................................................................................... 953) Os Arminianos Consistentes .......................................................................... 98

B. OS QUE AFIRMAM ESTA CONEXÃO ............................................................... 100

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 5/222

  5

1) Todos os que Sustentam a Teoria Realista .................................................... 1002) Todos os que sustentam o Pacto das Obras .................................................. 101

a) A Relação Natural de Adão com a Raça ..................................................... 102b) A Relação Pactual de Adão com a Raça ..................................................... 102c) Distinção de sentido nas Palavras JUSTO e INJUSTO ............................... 103d) A Base Bíblica da Imputação do Pecado de Adão ....................................... 104

Análise do texto de Rom. 5.12-21: ........................................................................... 104O Princípio da Representação na Escritura ................................................... 1083) Os que Sustentam a Teoria da Imputação Mediata ....................................... 109

CAPITULO IX .......................................................................................................... 111AS CONSEQÜÊNCIAS DO PECADO NA VIDA DA RAÇA HUMANA ............................ 111

1. CONSEQÜÊNCIAS PARA ADÃO ....................................................................... 111Análise de Gn 3.7-24 ........................................................................................... 1122. CONSEQÚÊNCIAS PARA A RAÇA HUMANA ..................................................... 117

CAPITULO X ........................................................................................................... 119O PECADO ORIGINAL ............................................................................................. 119

1. CULPA ORIGINAL............................................................................................ 119Reatus Culpae  ................................................................................................. 119Reatus Poenae  ................................................................................................. 120

2. CORRUPÇÃO ORIGINAL .................................................................................. 120a) Ausência de Justiça Original ........................................................................ 120 Justiça ........................................................................................................ 120Santidade .................................................................................................... 120Conhecimento Verdadeiro ............................................................................ 121

b) Presença de um Mal Verdadeiro ....................................................................... 121DEPRAVAÇÃO TOTAL ............................................................................................. 121

a) Descrição Bíblica da Corrupção do Pecado ....................................................... 121b) Descrição Bíblica do Homem Corrupto ............................................................. 122

A DEPRAVAÇÃO DO CORAÇÃO HUMANO ............................................................... 122OS VÁRIOS NOMES PARA DEPRAVAÇÃO NA ESCRITURA ....................................... 126

1. Corrupção do Coração ..................................................................................... 1262. Cegueira do Coração ....................................................................................... 1263. Dureza de Coração .......................................................................................... 1274. Consciência Corrompida .................................................................................. 1275. Escravidão do Pecado ...................................................................................... 1286. Escravidão da Corrupção................................................................................. 1297. Escravidão de Satanás .................................................................................... 129

CARACTERÍSTICAS DA DEPRAVAÇÃO .................................................................... 1301. É comum a todos desde o Ventre Materno ....................................................... 1302. Afeta a Totalidade do Ser Humano ................................................................... 132

A DOUTRINA DA DEPRAVAÇÃO TOTAL .................................................................. 133Sobre o termo depravação ............................................................................ 133Sobre o adjetivo "total" ................................................................................. 133

1. O CORPO ........................................................................................................ 1332. ALMA .............................................................................................................. 134

a) Mente .......................................................................................................... 134b) Emoções...................................................................................................... 137C. Vontade ...................................................................................................... 141

A Vontade e os Motivos ................................................................................ 141INCAPACIDADE TOTAL ........................................................................................... 144

1. O Homem é Incapaz de Sensibilidade Moral ................................................. 1472. O Homem é Incapaz de Obediência Moral ..................................................... 1493. O Homem é Incapaz de Amar a Deus ........................................................... 1494. O Homem é Incapaz de Amar Aqueles que são de Deus ................................ 1505. O Homem ê Incapaz de Perceber e Fazer as Coisas Santas ............................ 151

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 6/222

  6

6. O Homem é Incapaz de Vir a Cristo .............................................................. 153PARTE IV ................................................................................................................ 155A CONDIÇÃO DO HOMEM NO PLANO REDENTOR DE DEUS .................................. 155(A DOUTRINA DO PACTO) ....................................................................................... 155CAPITULO XVI ........................................................................................................ 156O HOMEM NO PACTO DA GRAÇA ........................................................................... 156

A Necessidade do Estabelecimento do Pacto da Graça .......................................... 156O PACTO DA GRAÇA CONCEBIDO NA ETERNIDADE .............................................. 1561. Este Pacto foi feito na Eternidade .................................................................... 1562. Este Pacto foi feito entre o Pai e o Filho ............................................................ 1573. Este Pacto teve Cristo como Fiador e Cabeça .................................................... 158

a) Cristo Como Fiador do Pacto .................................................................... 158b) Cristo como Cabeça do Pacto ................................................................... 159

4. Este Pacto foi de Obras Para Cristo .................................................................. 1595. Este Pacto possuía Requisitos e Promessas ...................................................... 159

a) Requisitos ................................................................................................ 159b) Promessas ............................................................................................... 159

6. Este Pacto foi feito em favor do Pecador Eleito .................................................. 160O PACTO DA GRAÇA REALIZADO NA HISTÓRIA ..................................................... 160

1. A Base para a Intervenção Graciosa de Deus ................................................... 1602. A Intervenção Divina é Soberana e Incondicional ............................................. 161AS PARTES CONTRATANTES .............................................................................. 161AS PROMESSAS DO PACTO ................................................................................ 161AS CARACTERÍSTICAS DO PACTO ...................................................................... 161É um Pacto Gracioso ........................................................................................... 161Com Origem Trinitária ........................................................................................ 161

 Tem Conseqüências Eternas ................................................................................ 161Destinado a um Povo Especial ............................................................................. 161É o mesmo em Ambas as Dispensações ............................................................... 161O PAPEL DE CRISTO NA REALIZAÇÃO HISTÓRICA DO PACTO ........................... 161

ASPECTOS DO PACTO ............................................................................................ 161Relação Legal ...................................................................................................... 161Relação de Comunhão de Vida ............................................................................ 161

AS VÁRIAS DISPENSAÇÕES DO PACTO DA GRAÇA ................................................ 1611. PACTO DE DEUS COM NOÉ ............................................................................... 162

Sua Relação com os outros Pactos ............................................................... 163As Promessas do Pacto com Noé .......................................................................... 164As Características do Pacto com Noé .................................................................... 165

2. PACTO DE DEUS COM ABRAÃO ......................................................................... 165Partes Contratantes ............................................................................................ 165Um Pacto Incondicional ....................................................................................... 165Um Pacto Amoroso .............................................................................................. 165Um Pacto Eterno ................................................................................................. 165

A Eternidade do Pacto Afirmada ................................................................... 165A Eternidade do Pacto Demonstrada ............................................................ 166

As Promessas desse Pacto ................................................................................... 166Promessas Gerais ................................................................................................ 166Promessas Específicas ......................................................................................... 167

a) Promessa de Deus estar presente no meio do povo .................................... 167É uma promessa de restauração ........................................................... 167É uma promessa de comunhão ............................................................. 168

b) Promessa de Yehovah ser o Deus da Descendência de Abraão ................... 168c) Promessa de a Descendência de Abraão ser Povo de Yehovah .................... 168

O Povo de Yehovah é um povo Santo ..................................................... 169O Povo de Yehovah é um povo Peculiar ................................................. 169

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 7/222

  7

O Sacramento do Pacto com Abraão .................................................................... 1693. O PACTO SINAÍTICO ........................................................................................... 169

Partes Contratantes ............................................................................................ 169O Estabelecimento do Pacto Sinaítico .................................................................. 170

 Tipo - Um Pacto Condicional ............................................................................... 170O Pacto é confirmado quando há a obediência ao Senhor .............................. 170

O Pacto é quebrado quando há a desobediência ao Senhor ........................... 170O Pacto é Renovado quando há a volta sincera para o Senhor ....................... 170A Singularidade do Pacto Sinaítico ...................................................................... 171O Sacramento do Pacto Sinaítico ......................................................................... 171Aspectos do Pacto Sinaítico ................................................................................. 171

O Pacto Sinaítico é uma continuação do Pacto Abraâmico ............................ 171O Pacto Sinaítico é um Pacto da Graça ......................................................... 172O Pacto Sinaítico é um Pacto Nacional ......................................................... 172

4. O PACTO DE DEUS COM OS LEVITAS ................................................................ 173 Tipo - Um Pacto Incondicional ............................................................................. 173Estabelecimento do Pacto .................................................................................... 173Um Pacto Perpétuo .............................................................................................. 174A Violação Pacto .................................................................................................. 174

5. PACTO DE DEUS COM DAVI .............................................................................. 175Estabelecimento do Pacto .................................................................................... 175Aspectos do Pacto Davídico ................................................................................. 176

1. É uma Continuação do Pacto da Graça .................................................... 1762. E um Pacto Eterno ................................................................................... 1763. É um Pacto cumprido em Cristo ............................................................... 177

6. O NOVO PACTO .................................................................................................. 178PARTES CONTRATANTES ................................................................................... 178O ESTABELECIMENTO DO NOVO PACTO ........................................................... 178

 TIPO - UM PACTO INCONDICIONAL .................................................................... 178O TEMPO DO CUMPRIMENTO DO NOVO PACTO ................................................ 178RELAÇÃO DO NOVO PACTO COM OS PACTOS ANTERIORES .............................. 179Relação com o Pacto Abraâmico ........................................................................... 179Relação com o Pacto Sinaítico .............................................................................. 180Relação com o Pacto Levítico ............................................................................... 180Relação com o Pacto Davídico .............................................................................. 180CONTRASTES ENTRE O VELHO PACTO E O NOVO PACTO ................................. 180SEMELHANÇAS .................................................................................................. 181Os dois pactos possuíam algumas promessas comuns ......................................... 181Os dois pactos eram caracterizados pelo sacrifício de um Cordeiro ....................... 181Os dois pactos são sancionados com sangue ........................................................ 181Os dois pactos possuem o mesmo livro da lei ....................................................... 181DIFERENÇAS ...................................................................................................... 1811. O Antigo Pacto era Condicional e o Novo era Incondicional ............................... 1812. O Novo Pacto ê superior ao Antigo Pacto .......................................................... 181

a) Superioridade quanto ao Sacerdócio ......................................................... 181b) Superioridade quanto aos Sacrifícios ........................................................ 182c) Superioridade quanto ao Lugar dos Sacrifícios .......................................... 182c) Superioridade quanto à Administração da Lei: .......................................... 182d) Superioridade quanto às Promessas ......................................................... 182e) Superioridade quanto ao conceito de Redenção ......................................... 183

PROMESSAS DO NOVO PACTO ........................................................................... 1831. A Promessa da doação de um novo coração ...................................................... 1832. A Promessa da Interiorização da lei de Deus .................................................... 1833. A Promessa de um Conhecimento Pessoal do Senhor ....................................... 185

a) É uma promessa de caráter pessoal.......................................................... 185

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 8/222

  8

b) É uma promessa de caráter universal ....................................................... 185c) É uma promessa de caráter nivelador ....................................................... 185d) É uma promessa de caráter eficaz ............................................................ 186e) É uma promessa de cumprimento pleno no futuro .................................... 186

4. A Promessa de Ser o Deus do Povo e deles serem Povo de Deus ........................ 186"Eu serei o seu Deus" ........................................................................... 186

"Eles serão o meu povo" ........................................................................ 1875. A Promessa do Perdão dos Pecados .................................................................. 1876. A Promessa deles terem o Temor de Deus no Coração ...................................... 1887. A Promessa de Bênçãos Contínuas .................................................................. 1898. A Promessa da Perseverança deles no Senhor .................................................. 1899. A Promessa de terem para sempre o Tabernáculo do Senhor ............................ 19010. A Promessa de prover o grande Pastor para o seu povo ................................... 190

a) Cristo é o Pastor Prometido ...................................................................... 191b) Cristo é o Grande Pastor .......................................................................... 191c) Cristo é o Único Pastor ............................................................................. 191d) Cristo é o Pastor das Ovelhas ................................................................... 191e) Cristo tornou-se Pastor Pelo Sangue do Pacto ........................................... 191f) Cristo é o Pastor que venceu a morte ......................................................... 191

ASPECTOS DO NOVO PACTO ................................................................................. 1911. É uma Continuação do Pacto da Graça ............................................................ 1912. É um Pacto Eterno .......................................................................................... 1923. É um Pacto que tem Jesus como o Fiador ........................................................ 1924. É um Pacto que tem Jesus como Mediador ...................................................... 192

A CONTINUIDADE DO PACTO DA GRAÇA NO N.T. .................................................. 192UNIDADE DO PACTO DA GRAÇA NOS DOIS TESTAMENTOS .................................. 192

1. A Expressão Resumida do Pacto é a Mesma nos dois Testamentos ................... 1922. O Evangelho do Pacto é o mesmo nos dois Testamentos ................................... 1923. O Modo da Recepção da Salvação é a mesma nos dois Testamentos ................. 1934. O Mediador do Pacto é o mesmo em ambos os Testamentos ............................. 1935. As promessas do Pacto são as mesmas em ambos os Testamentos ................... 193

a) A Promessa á Descendência de Abraão ser Povo de Deus no VT e NT ......... 193Raça Eleita ........................................................................................... 194Sacerdócio Real .................................................................................... 194Nação Santa ......................................................................................... 194Povo de Propriedade exclusiva de Deus ................................................. 194Antes não éreis povo ............................................................................. 194Agora sois povo de Deus ....................................................................... 195

b) A Promessa de Yehovah de ser o Deus da Descendência de Abraão no VT e noNT .......................................................................................................................... 195

c) A Promessa da Posse da Terra no VT e NT ................................................. 1966. Os Sacramentos do Pacto da Graça são os mesmos em ambos os Testamentos . 196

CAPITULO XIII ........................................................................................................ 197OS PECADOS ATUAIS ............................................................................................. 197A ORIGEM DOS PECADOS ATUAIS ......................................................................... 197

Veja o Ensino de Jesus ....................................................................................... 197Veja o ensino de Paulo ........................................................................................ 198Veja o ensino de Tiago ......................................................................................... 198

OS VÁRIOS NOMES DOS PECADOS ATUAIS ........................................................... 198OS PECADOS ATUAIS E SUA RELAÇÃO COM A LEI DE DEUS ................................ 198A MULTIPLICIDADE DOS PECADOS ATUAIS ........................................................... 198OS OBJETOS DOS PECADOS ATUAIS .................................................................... 199

Pecados diretos contra Deus ................................................................................ 199Pecados contra o próximo .................................................................................... 200Pecados contra si próprio .................................................................................... 200

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 9/222

  9

OS MODOS DOS PECADOS ATUAIS ....................................................................... 201Pecados Internos ................................................................................................. 201Pecados Externos ................................................................................................ 201

AS PARTES DOS PECADOS ATUAIS ........................................................................ 202Pecados de Omissão ............................................................................................ 202Pecados de Comissão .......................................................................................... 202

OS GRAUS DOS PECADOS ATUAIS ........................................................................ 203Pecados de Ignorância ......................................................................................... 203Pecados deliberados ............................................................................................ 204

A gravidade de ambos os pecados:................................................................ 204DISTINÇÕES DOS PECADOS ATUAIS ..................................................................... 204

Pecados Remissíveis e Irremissíveis ..................................................................... 204CAPITULO XV ......................................................................................................... 206A PUNIÇÃO DO PECADO ........................................................................................ 206A ORIGEM DA PUNIÇÃO ......................................................................................... 206OS PROPÓSITOS DA PUNIÇÃO DIVINA ................................................................... 206

a) Vindicar a Retidão ou a Justiça Divina ............................................................. 206b) A Reforma do Pecador ..................................................................................... 206c) Fazer com que os homens desistam de pecar .................................................... 206

 TIPOS DE PUNIÇÃO DIVINA.................................................................................... 206(a) Castigos Naturais ........................................................................................... 206(b) Castigos Positivos ........................................................................................... 207

A PUNIÇÃO DE MORTE .......................................................................................... 207O Conceito de Morte ............................................................................................ 207O poder sobre a morte ......................................................................................... 207A Causa Judicial da Morte .................................................................................. 207

PUNIÇÃO NA EXISTÊNCIA PRESENTE .................................................................... 2081. MORTE ESPIRITUAL ....................................................................................... 208A Natureza dessa morte ....................................................................................... 208O tempo dessa morte .......................................................................................... 209O Modo que essa morte chegou até nós ............................................................... 209A Inescapabilidade dessa morte ........................................................................... 209A Duração dessa morte ....................................................................................... 2102. OS SOFRIMENTOS DESTA VIDA ..................................................................... 210Sofrimentos no ser material ................................................................................. 210Sofrimentos no ser Imaterial ................................................................................ 210Sofrimentos do ser Social .................................................................................... 2103. MORTE FÍSICA ............................................................................................... 211A Natureza da Morte Física .................................................................................. 211O Processo da Morte Física .................................................................................. 211A Inescapabilidade da Morte Física ...................................................................... 212A Morte Física do Cristão .................................................................................... 213Diferença entre o Cristão e o Ímpio na morte Física .............................................. 215

PUNIÇÃO NA EXISTÊNCIA FUTURA ........................................................................ 2154. MORTE ETERNA ............................................................................................. 215O Lugar desse Castigo ......................................................................................... 215

O uso da palavra grega Hades  ...................................................................... 215O Uso do Termo Grego Gehenna .................................................................. 216O Uso do Termo Grego Tártaro  ..................................................................... 217

A plenitude desse castigo .................................................................................... 217O Tempo desse castigo ........................................................................................ 217A Duração desse castigo ...................................................................................... 218

O Sentido da palavra “eterno"  ....................................................................... 218As Teorias dos Adversários das Penas Eternas .............................................. 219

A teoria da Não-Punição ....................................................................... 219

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 10/222

  10

A Teoria do Aniquilacionismo ................................................................ 219A Teoria da Segunda Chance ................................................................ 219A Teoria da Redenção Universal ............................................................ 219

Objeções a essas teorias .............................................................................. 220A Condição em que se suporta esse castigo .......................................................... 220Os sofrimentos desse castigo ............................................................................... 220

Os Objetos desse castigo ..................................................................................... 221A Inescapabilidade desse castigo ......................................................................... 222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 11/222

  11

INTRODUÇÃO

Não devemos confundir essa matéria com a antropologia cultural, ou a ciência da raça,que inclui todas as outras ciências ligadas ao homem, como por exemplo: psicologia, sociologia,lingüística, etc. Neste capitulo estudaremos uma antropologia bíblica e teológica, não umaantropologia filosófica ou cultural. O homem sempre foi o centro das preocupações filosóficas,mas não será esta a preocupação deste estudo. Veremos o homem à luz do que Deus pensa dele.Esta é uma abordagem desafiadora, especialmente num tempo quando Deus não entra na contados homens, quando estes se estudam a si mesmos.

Vamos analisar como o homem veio de Deus, qual foi seu comportamento no Éden, quaisforam as causas da sua queda, os resultados dela, e a redenção do homem em Cristo, no pacto dagraça, tudo com base na revelação de Deus como está nas Santas Escrituras.

Na antropologia bíblica vamos estudar o homem no seu relacionamento com Deus. É umatolice tentar conhecer o homem sem que o conheçamos à luz da revelação divina. Por causa datentativa de se estudar o homem à parte das informações que o próprio Deus dá do ser humano,muitos erros são cometidos na avaliação do homem pelo homem. Portanto, o estudo daantropologia tem que ser feito à luz da teologia que é baseada na revelação da Escritura.

O estudo da antropologia é extremamente importante, especialmente dentro da esferateológica. A teologia cristã foi elaborada quando, cientificamente, o homem pensavageocêntricamente, isto é, que a terra era o centro de tudo. O grande astro girava em torno daterra, e tudo servia a terra. Com a entrada de Nicolau Copérnico, o mundo passou a pensarheliocentricamente. Com essa mudança do geocentrismo para heliocentrismo, diz Verduin, aterra, a habitação do homem, pareceu muito menos importante. Com o advento doheliocentrismo, com a revolução Copérnica, a terra perdeu o seu lugar central. ―Esta mudançatendeu a diminuir o lugar e a importância do homem; esta mudança fé-lo sentir-se pequeno emenos importante‖. 1  A enormidade do universo veio à tona com a implementação dasdescobertas telescópicas. Cada vez mais a terra tornou-se menor, e menor ainda a importânciadaquele que foi feito ―menor do que Deus‖. De lá para cá, pouca atenção tem sido dada ao estudodo homem, como parte da criação de Deus.

A diminuição da importância do homem devido à descoberta do tamanho do universo, e oempequenecimento de sua existência tão curta, em vista da suposta longa duração e existênciado universo material, não devem desanimar o homem no estudo sério das suas origens e do seucomportamento. E este estudo tem crescido neste últimos dois séculos, mas sem as devidasprecauções. Os cientistas têm desprezado as informações que Deus dá das origens e docomportamento dos homens na Sua Palavra. Isto tem levado a distorções sérias no estudo daantropologia.

O estudo do homem deveria merecer uma atenção maior da parte de todos nós, não que ohomem seja o centro absoluto do universo, mas pela dedicação e atenção que o próprio Deus lhedeu, quando o criou à sua própria imagem e semelhança. Essa atenção deveria ser dada, aomenos, pelos psicólogos, antropólogos e outros cientistas cristãos. Deveríamos devolver aoestudo da teologia, uma boa base de antropologia bíblica.

Fazemos jus a uma boa antropologia bíblica, quando estudamos as origens do homemdentro da Escritura. Por essa razão, a primeira parte da antropologia tem a ver com a criação dohomem.

1 Leonard Verdum, Somewhat Less than God, (Eerdmans, 1970), 9-10.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 12/222

  12

A DOUTRINA DO HOMEM NA SISTEMÁTICA

E perfeitamente natural a transição do estudo do ser de Deus (Teontologia) para o estudodo ser humano (Antropologia). Este não é somente a coroa da criação, mas é o objeto especial dapreocupação de Deus. A Escritura mostra essa preocupação de Deus nos muitos textos que

tratam da criação, da queda e da redenção do homem. Na Escritura, o homem sempre é visto nassuas relações com Deus e, como ato reflexo, em suas relações com os seus semelhantes. Estasrelações mostram a grande importância para todos nós do estudo da antropologia.

A transição da teontologia para a antropologia é absolutamente necessária, porque aprimeira prepara o terreno para a segunda. A visão que temos do homem dependerá, em últimainstância, do conceito que tivermos de Deus. Os departamentos da sistemática estãoabsolutamente interligados, de tal forma que o conceito que temos de um, determina o conceitode outro.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 13/222

  13

PARTE 1

A CONDIÇÃO DO

HOMEM ANTES DA

QUEDA

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 14/222

  14

CAPÍTULO 1

A CRIAÇÃO DO HOMEM

ANTROPOGENIA

O livro do Gênesis, que é o livro dos começos, não trata simplesmente da cosmogonia, queé o vir à existência do cosmos material, mas também de antropogenia, que é o vir à existência doser humano. A criação do mundo material foi em função da criação do dominador dele. Deuscolocou o homem como governador e dominador de toda a criação, conforme nos diz o Salmo 8.

Depois do propósito da glória de Deus, todas as coisas foram feitas para que o homemdesfrutasse delas. O nosso planeta e o restante do cosmos foram designados para o bem-estar doúltimo dos seres criados, o homem. Por isso é dito do homem como sendo a coroa da criação. Ohomem é apresentado na Escritura como o capeamento ou o acabamento da empreitada criadoratotal do Todo-Poderoso. Da criação do homem Leonard Verduin diz: ―Antes do homem entrar emcena, no fim de cada dia da atividade criadora de Deus, o Artífice Divino chama o produto da Sua

criação ―bom‖; mas só após o homem entrar em cena ele é chamado ―muito bom‖.2 Contudo, ignorando em parte aquilo que a narrativa da criação diz nos primeiros

capítulos de Gênesis, no século passado alguns estudiosos tentaram derrubar tudo o que atéentão havia sido crido pela igreja cristã. Levantou-se no seio da igreja, especialmente na Europa,a doutrina do evolucionismo que permeou até os limites do cristianismo ortodoxo. Oevolucionismo da criação do homem teve um número crescente de adeptos até algumas décadas

atrás, mas o seu número está decrescendo ultimamente devido à queda de algumas das teoriasanteriormente cridas, no mundo científico, pelos primeiros evolucionistas.

Conceito Evolucionista da Origem do HomemHá dois tipos de evolucionismo ainda vigentes no mundo teológico e científico, que devem

ser analisados, mesmo que de maneira bastante superficial: o primeiro é o evolucionismomaterialista (dentro dos círculos não-cristãos), e o segundo é o evolucionismo teísta (dentro doscírculos cristãos).

1. Evolucionismo MaterialistaHá muitas variações do evolucionismo, mas Berkhof resume dizendo que ―qualquer que

seja a diferença de opinião que possa haver nesse ponto, é seguro que, segundo a evoluçãomaterialista, o homem descende dos animais inferiores no corpo e na alma, mediante um

processo natural de perfeição, controlado totalmente por energias inerentes.‖3 A doutrina do evolucionismo materialista é um ataque frontal às doutrinas da Escritura.

É uma negação de toda a história, como revelada por Deus, que é o fundamento de todo ocristianismo. Se os animais e os homens evoluem, então não houve os primeiros pais, não houve

2 Leonard Verduin, Somewhat Less than God, (Eerdmans, 1970), 9. 3 Louis Berkhof, Teologia Sistemática (Grand Rapids: Tell, 1981) 216 (edição castelhana).

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 15/222

  15

Paraíso, não houve queda. E se não houve queda, não houve necessidade de redenção. Jesus veioao mundo sem qualquer razão. O evolucionismo nega tudo o que aconteceu, que é fundamentalpara a vida humana. O evolucionismo nega Deus.

2. Evolucionismo TeístaO problema do cristianismo hoje não é somente o evolucionismo materialista, mas o

evolucionismo teísta, que se tem tornado palatável a vários teólogos modernos. O evolucionismoteísta crê que há um Deus, um Criador pessoal nas origens. Deus criou os céus e a terra, mastodas as coisas sofrem um desenvolvimento de acordo com certas leis inerentes criadas ecolocadas na matéria por Deus. E uma espécie de deísmo, onde Deus cria e solta as espécies, semintervir no seu desenvolvimento.

Há também uma pequena variação de evolucionismo teísta que diz que Deus criou a terraoriginal, mas então supõe que todas as plantas subsequentes e a vida animal evoluíram-se deuma forma mais baixa para uma mais alta, sem qualquer ato criador separado de Deus paracada espécie. E possível, portanto, ser um teísta, mas ao mesmo tempo sustentar odesenvolvimento da vida de uma forma protozoária para uma forma bem superior de vida, atéchegar à vida humana. O problema é que a Escritura, que é fonte de autoridade para os cristãosgenuínos, diz que os insetos, os répteis, os anfíbios, os pássaros, os outros animais e os homens,foram originados em atos distintos e separados de Deus, não um sendo o desenvolvimento ou a

evolução de outro.Os evolucionistas teístas tentam mostram que não há qualquer contradição ou conflitoentre as narrativas do Gênesis e as teorias do evolucionismo.

 Todavia, é impossível alguém ser um evolucionista e, ao mesmo tempo, crer nasafirmações do Gênesis. Como pode alguém ser um evolucionista e ainda crer na criação de Deusem seis dias, como a Escritura afirma? A única saída para os evolucionistas teístas é interpretaro Gênesis alegoricamente. Nada da narrativa do Gênesis é literal, tudo é alegórico. Oevolucionista teísta crê que Deus criou alguma coisa no começo, mas Ele deixou o que crioupassar por um processo de evolução, como por exemplo uma célula viva que se desenvolveu atéchegar a um animal primitivo, e deste ao homem. E esse o teísmo evolucionista deles.

Conceito Criacionista da Origem do HomemA Unidade da RaçaO Testemunho da Escritura: Além da narração do texto de Gênesis, há outras indicações

de que a raça humana tenha vindo de um só casal. Eles se multiplicaram e encheram a terra (Gn1.28), como aconteceu com os animais. A raça humana não constitui somente uma unidaderacial, mas todos os homens vêm de um só tronco, sendo todos membros da mesma árvoregenealógica. Paulo, o apóstolo, ensinou isto claramente quando estava instruindo os sábios noAreópago. Referindo-se ao ―Deus desconhecido‖ dos helênicos, ele apresentou o Deus verdadeirocomo sendo o Deus criador, que fez todas as cousas que há no mundo (At 17.24), o Deusauto-suficiente (v.25) e, então, mostra a unidade da raça humana, dizendo: ―de um só fez todaraça humana para habitar sobre a face da terra, havendo fixado os tempos previamenteestabelecidos e os limites da sua habitação‖ (v.26). Citando provavelmente o poeta pagão Arato,

Paulo diz que ―Dele também somos geração. Sendo, pois geração de Deus...‖ (v.28b-29a). Há umaligação orgânica entre todos os membros da raça humana. Todos procedem de uma só raiz.

Há outros textos da Escritura que indicam que a humanidade toda veio de um só homem(Rm 5.12,19; 1 Co 15.21-22).

O Testemunho da Ciência : —   As várias ciências têm corroborado para mostrar averacidade do testemunho das Santas Escrituras com respeito à unidade da raça humana.

O estudo da história  tem mostrado a veracidade da Escritura. Muitos grandes eruditostêm crido que a civilização teve o seu começo nas terras mencionadas no Gênesis (região daMesopotâmia, Armênia, Babilônia, etc.). Todos os homens vieram de uma região somente, e que,

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 16/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 17/222

  17

A despeito de o homem ser considerado um animal, a diferença entre ele e os outrosanimais é enorme, como conseqüência da maneira especial como Deus o criou.

As enormes diferenças entre eles podem ser consideradas desta forma:

1. O animal é consciente, mas não tem auto-consciência. O animal não reconhece-se a si

mesmo, não tem nenhum conceito sobre mesmo. Jamais qualquer macaco pensaria de si

mesmo: ―Eu sou um macaco‖, porque se isso acontecesse, ele deixaria de ser um macaco. Umanimal não distingue a si mesmo de suas sensações.

2. Um animal percebe, mas somente o homem concebe. Os animais conhecem as coisas

brancas, mas não sabe o que é a alvura. Ele lembra coisas, mas não as pensa. Só o homem tem

o poder de abstração, o poder de derivar idéias abstratas de coisas particulares ou da

experiência.

3. O animal não tem linguagem. Linguagem é a expressão de noções gerais através de

símbolos. As palavras são símbolos de conceitos. Onde não há conceitos, não há palavras. Visto

que a linguagem é sinal, ela pressupõe a existência de um intelecto capaz de entender o sinal. Por

que os animais não falam? Porque eles não têm nada a dizer. Eles não possuem idéias gerais que

possam ser expressas em palavras.4. O animal não é capaz de estabelecer um julgamento. Não sabe diferenciar uma cousa

de outra. O animal não sabe associar idéias e nem tem senso do ridículo.

5. O animal não é capaz de raciocínio, de ligar os fatos, de saber que isto vem daquilo,

acompanhado de um sentimento de que a seqüência é necessária. A associação de idéias sem

 juízo é o processo típico da mente animal.

6. O animal não é um ser religioso, não tem idéia para o sobrenatural, nem é um ser

moral.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 18/222

  18

CAPÍTULO II

A NATUREZA DO HOMEM

A quem Adão era semelhante antes da queda? A única fonte de informação quepossuímos nesta matéria é a Escritura. Nenhuma outra fonte de informação confiável temos ànossa disposição.

Segundo a Escritura, a condição de nossos primeiros pais era de perfeição natural. Estespodiam perfeitamente cumprir todas as exigências de Deus. Adão, por um certo tempo, foi umexemplo de vida natural perfeita e normal (relativo a norma), o que exatamente Deus queria detodos os seus descendentes. A única cousa anormal no Paraíso foi o pecado. Pecar era

anormalidade, e ainda o é, embora seja extremamente comum. Foi por causa dessaanormalidade que Jesus Cristo teve que vir ao mundo. Ser normal para o homem é estar emCristo, dizer o que Ele diz e fazer o que Ele faz.

O homem foi originalmente criado num estado de perfeição, maturidade e liberdade. Issonão quer dizer que a humanidade em Adão, antes da queda, estava no seu mais alto estado deexcelência. É  bem possível que o estado de maior excelência seja aquele em que os homensestiverem após a completação da redenção deles, porque nem mesmo serão expostos ao pecado,em virtude de sua união com Cristo. Serão os homens, certamente, elevados a uma condição demaior glória do que aquela que Adão teve antes da queda. Contudo, é importante ter-se em menteque essa glória futura do homem é devida à sua união com Cristo, o redentor dos filhos de Deus.

Quando dizemos que Adão foi criado num estado de maturidade, estamos dizendo que elenão foi criado num estado de infância, como todos os outros seres humanos que vieram aomundo. Diferentemente dos outros humanos, Adão não teve um desenvolvimento de sua

inteligência ou de outras das suas faculdades, como nós o temos. Deus fé-lo completo, sem lheacrescentar nada posteriormente.Quando dizemos que Adão foi criado  perfeito, estamos querendo dizer que ele era

perfeitamente adaptado ao fim para o qual foi criado e na esfera na qual foi designado viver. Seucorpo e alma eram perfeitamente adaptados um ao outro. Adão era perfeito na sua criação. Eralivre de qualquer corrupção ou deficiência. Não havia nada na sua natureza que pudesse dar aidéia de fraqueza ou falha.

O estado primeiro de nossa raça, não foi como os livros científicos dizem, de primitivismoou de barbarismo, que se evoluiu até se tornar o homo sapiens desenvolvido como o conhecemoshoje. De forma alguma! Deus criou o homem perfeito que, com o passar dos tempos e levado pelaqueda, veio a sofrer algum tipo de involução, passando a viver em estado de ―barbarismo‖. 

Quando dizemos que Adão foi criado num estado de liberdade, estamos querendo dizerque Ele possuía tanto a capacidade de permanecer na condição em que foi criado, isto é, santo,

mas de tal forma que também pudesse cair do estado em que foi criado, agindo contra a suanatureza.Adão era livre de qualquer corrupção, doença ou morte. Não havia nada na sua

constituição que pudesse denotar fraqueza ou falha. O estado primitivo de nossa raça, portanto,não foi de barbarismo, ou o produto de um processo de desenvolvimento longo e gradual.

Pelo ensino geral das Santas Escrituras e das ciências, podemos concluir:

 —  que o homem foi criado na perfeição de sua natureza. Por perfeito não queremos dizer

num estado de pleno desenvolvimento, mas perfeito no sentido de não haver qualquer falha na

sua natureza. Esta é uma matéria decisiva para os cristãos;

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 19/222

  19

 —  que as tradições de todas as nações falam de uma "era dourada", da qual os homens

caíram. Tem havido uma involução da raça, não uma evolução para um estado melhor. O estado

primitivo de homem segundo a narrativa da Escritura, está em harmonia com as melhores

tradições de nações antigas;

 —  que os mais antigos registros em escritos e monumentos têm demonstrado a existência

de nações no mais alto grau de civilização em períodos bem antigos da história humana;A teoria de que a raça humana passou através da idade da pedra, bronze, ferro, estágios

de progresso do barbarismo para a civilização, é destituída de comprovado fundamento científico. Tem sido crença universal de que o estado original do homem é aquele que a Bíblia

ensina. Seu mais alto estado começou no Éden. O que existe hoje são civilizações que vão sedeteriorando, como já aconteceu no passado com muitas delas.

E verdade que as civilizações mais modernas têm tido a oportunidade de desenvolver suaspotencialidades nas áreas das ciências e da filosofia, mas nunca houve um desenvolvimento napersonalidade ou nas faculdades da alma humana. O homem foi sempre o mesmo em todas asépocas.

1. UM SER DEPENDENTE E RESPONSÁVELEsta parte trata do homem como criatura e como  pessoa. São dois aspectos distintos e

muito importantes para que compreendamos as peculiaridades da ―coroa da criação‖. Comocriatura o homem é dependente e como pessoa o homem é responsável. Esta matéria pode serdesenvolvida da seguinte maneira:

Deus criou o homem à sua própria imagem e semelhança. Uma característica importantedessa criação é que o homem é uma pessoa humana ―que não existe autonomamente ou

independentemente, mas como uma criatura de Deus‖.5 O fato de o homem ser uma criatura o torna absolutamente dependente. Para colocar de

uma forma diferente, Shedd diz: ―A natureza dependente da santidade finita implica que ela é

criada.‖6 Todas as coisas criadas têm um sentido de absoluta dependência do Criador (Ne 9.6).

Não há nada que não precise da assistência providencial de Deus.Mas como uma pessoa que é, o homem tem um certo grau de independência,

―não uma independência absoluta, mas relativa. Ser uma pessoa significa sercapaz de fazer decisões, de estabelecer metas e de mover-se em direção às metasestabelecidas. Isto significa possuir liberdade —  ao menos no sentido de ser capazde fazer suas próprias escolhas. O ser humano não é um robot cujo curso étotalmente determinado por forças externas. Ele tem o poder deauto-determinar-se e de auto-dirigir-se‖.7 

O homem é, portanto, uma criatura e uma pessoa. Como criatura é dependentetotalmente de Deus, e como  pessoa possui uma independência relativa no sentido de podertomar decisões, que não é o caso de outra criatura não racional.

―Ser uma criatura, portanto, significa que eu não posso mover um dedo ouemitir uma palavra sem a ajuda de Deus; Ser uma pessoa significa que quandomeus dedos são movidos, eu os movi, e quando as palavras são emitidas dos meuslábios, eu as emiti. Ser criatura significa que eu sou barro e que Deus é o oleiro

5 Anthony Hoekema, Created in God's Image, (Grand Rapids: Eerdmans, 1986), 5.6 W.G.T. Shedd, Dogmatic Theology, vol. 2, (Nashville: Thomas Nelson publishers, 1980 edition),

101.7 Hoekema, 5.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 20/222

  20

(Rm 9.21); ser uma pessoa significa que somos aqueles que moldamos nossasvidas pelas nossas decisões (Gl 6.7-8)‖.8 

É  importante que se faça essa distinção para que vejamos a grande diferença que háentre nós e os seres irracionais, que agem instintivamente, e para que se tenha clara na mente aidéia de que dependência e liberdade não são conceitos incompatíveis entre si. Os dois conceitos

estão claramente presentes na Escritura. Estas duas verdades devem ser preservadas para ocorreto entendimento do que seja o homem. Alguns conceitos antropológicos e soteriológicos sãodistorcidos justamente porque os estudiosos não distinguem corretamente o fato do homem sercriatura e pessoa. Há que se guardar ambas as idéias juntas, em equilíbrio.

Se enfatizarmos em excesso o fato do homem ser criatura, subordinando suapessoalidade, haveremos de cair num determinismo, onde o homem não tem qualquerparticipação na realização da sua própria história. Deus é o Senhor da história, mas os homens,

nesse caso, seriam meros robots. Nesse caso o homem ―é desumanizado‖.9 Quando damos ênfaseexagerada na pessoalidade, em detrimento do caráter de criatura do homem, ―o homem é

divinizado e a soberania de Deus é comprometida.‖10 Neste caso a ênfase na pessoalidade fariaDeus um servo do homem. Estes extremos devem ser evitados. Temos que ter uma visãoequilibrada e bíblica da constituição da alma humana.

Estes conceitos são muito importantes para que compreendamos o problema daresponsabilidade do homem nos pecados e nos atos bons que são a expressão da santificação,assunto esse que já vimos no estudo da providência de Deus.

Livre Arbítrio & Livre AgênciaQuando estudamos sobre a responsabilidade do ser humano, não podemos deixar de

tocar no delicado assunto do livre-arbítrio. É uma pena que poucos volumes tocam seriamenteneste assunto, à luz da Escritura. Grande desentendimento tem havido entre os estudioso destamatéria por causa da impropriedade no entendimento e no uso desses termos, mesmo noscírculos Reformados.

Neste estudo fazemos uma diferença entre os dois termos usados acima. O primeiro foi

uma propriedade singular de nossos primeiros pais; o segundo é propriedade inalienável de todosos seres humanos.Livre Arbítrio  - Se por livre-arbítrio entende-se a liberdade que a vontade tem, sendo

independente dos outros movimentos da alma humana, ou seja, da razão e das afeições, devemosnegar a existência dele. A vontade, como uma das faculdades da alma humana, não é soberanaou independente das outras, mas depende do julgamento da razão ou das disposições afetivasque a influenciam. Uma pessoa não toma nenhuma decisão sem que seja levada pelo crivo darazão ou das emoções.

Se por livre-arbítrio entende-se a escolha livre que a vontade faz, independente das outraspartes do alma humana, temos que negar esse livre-arbítrio, porque a vontade humana nãocontrola as outras faculdades, mas é serva delas. As decisões da vontade são sempre calcadasnas disposições das outras faculdades.

Então, quer dizer que os Reformados negam a doutrina do livre-arbítrio? Não. A fé

Reformada não nega o livre-arbítrio. A resposta a essa pergunta depende, portanto, doentendimento que temos dele. A fé Reformada afirma o livre arbítrio, mas o entende da seguinteforma: é a capacidade que nossos primeiros pais tiveram, quando criados, de escolherem ascoisas que combinavam com a sua natureza santa, mas que, mutavelmente, pudessem escolheraquilo que era contrário à sua natureza santa.

A Confissão de Fé de Westminster traduz essa idéia assim:

8 Hoekema, 6.9 Ver Hoekema, 7.10 Ver Hoekema, 6

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 21/222

  21

―O homem, em seu estado de inocência, tinha a liberdade e o poder de querere fazer aquilo que é bom e agradável a Deus, mas mudavelmente, de sorte quepudesse decair dessa liberdade e poder.‖ (IX, 2) 

Adão possuiu essa capacidade de fazer tudo o que era justo e santo, mas também foi

dotado com a capacidade de fazer alguma coisa que era contrária à santidade com que foioriginalmente criado. Ele possuiu aquilo que ninguém hoje mais possui, isto é, a capacidade defazer algo que é contrário à sua natureza moral. Ele teve, nesse sentido, a capacidade para umaescolha contrária, isto é, com natureza santa, escolheu o que era mau.

Livre Agência  - Esta é uma capacidade que todos os seres humanos possuem. Ninguémpode prescindir dela, pois esta é uma característica de um ser racional. E essencial no homem alivre-agência. Sem ela o homem deixa de ser o que é: um ser racional. Homens e anjos agem deacordo com a natureza deles, sendo para eles impossível agir de modo contrário a ela.

A livre agência, então, poderia ser definida como a capacidade que todos os seresracionais têm de agir espontaneamente, sem serem coagidos de fora, a caminharem paraqualquer lado, fazendo o que querem e o que lhes agrada, sendo, contudo, levados a fazer aquiloque combina com a natureza deles.

A CFW traduz este pensamento nestas palavras:

―Deus dotou a vontade do homem de tal liberdade, que ele nem é forçado parao bem ou para o mal, nem a isso é determinado por qualquer necessidade absolutade sua natureza.‖ (IX, 1) 

Os agentes livres agem espontaneamente, com a autodeterminação da vontade deles. Elesnão São seres amorais. Sempre penderão para um lado ou para outro, dependendo de como sãointeriormente. Os seres racionais são seres morais que agem conforme as suas disposiçõesinteriores. A vontade deles não age independentemente da natureza deles. A vontade deles ésempre inclinada a pender para um lado ou para o outro em termos morais. Ela não existe numequilíbrio de indiferença. Anselmo contende que ―se a vontade do homem ou de um anjo ésuposta ser criada num estado de indiferença, sem qualquer inclinação para nada, então, não

poderia começar qualquer ato de forma alguma. Ela permaneceria indiferente para sempre, enunca teria qualquer inclinação.‖11 Se a vontade do homem está em indiferença moral, nenhumhomem pode ser responsabilizado por nada do que faz, porque ele não começa nenhum ato. Masa Escritura apresenta o homem de uma outra maneira. Ele foi criado com disposição e cominclinação, e sua disposição ou inclinação está sempre ligada à sua condição moral. Adão foicriado não somente com a livre agência, mas também com o livre-arbítrio, com a capacidade deescolha contrária que nenhum de seus descendentes veio a possuir. Ela foi perdida com a queda.Nesse sentido, nossos primeiros pais foram singulares. Os seus descendentes, agora, não maispodem agir de modo contrário à sua natureza.

Mas é importante que não percamos de vista este ponto: o ser racional é sempre movidopelo seu ego. Nunca ele é movido por outra coisa que não seja por seu próprio ego. Quando ele fazcoisas pecaminosas, ele obedece ao seu ser interior pecaminoso. Quando ele faz coisas santas e

 justas, ele o faz mediante o seu eu interior que foi renovado pelo Espírito Santo. A

responsabilidade dele sempre estará diretamente ligada à voluntariedade do seu ato. Todos osatos dele devem ser auto-inclinados e auto-determinados. O homem possui responsabilidade emtudo que faz, porque tudo que faz é produto das disposições de sua natureza interior.

Para fins didáticos é bom que se distinga a inclinação do ato volitivo. Shedd faz essadistinção que ajuda bastante:

A ação central da vontade está na pronta inclinação; e a ação superficial em

11 Citado por W.G.T. Shedd, Dogmatic Theology, vol. 2, p. 101.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 22/222

  22

sua volição momentânea está num instância particular. O ódio de um assassino éa atividade central da sua vontade; o ato do assassinato é superficial. Ambos Sãoauto-movidos, para que haja responsabilidade e culpa. E ambos Sãoauto-movidos. O assassino não é forçado a odiar. Ele é desejoso no seu ódio, e emtodos os seus desejos morais e sentimentos;...Todavia, enquanto a atividadecentral e superficial são iguais no que diz respeito ao livre-movimento, elas são

diferentes no que diz respeito à capacidade para coisas contrárias. A atividadesuperficial, ou o ato volitivo, é acompanhado com este poder; a atividade central,ou a inclinação, não é. O assassino pode refrear-se no ato de matar, por uma açãovolitiva, mas ele não pode refrear o seu desejo interior, o ódio que pode levar aoassassinato. Uma volição pode parar uma outra volição, mas uma volição nãopode parar uma inclinação. Um homem pode reverter sua volição pecaminosa,mas não pode reverter sua inclinação pecaminosa.12 

Portanto, para que haja responsabilidade, não é necessário que haja o  poder de escolhacontrária, mas sim, que haja o  poder de autodeterminação, que a ação seja nascida nasinclinações do ser racional. ―A fim de responsabilizar o pecador por uma inclinação pecaminosa,não é necessário que ele seja capaz de reverter sua inclinação pecaminosa. E necessário somente

que ele seja capaz de originar a ação, e que ele de fato a origine‖.13 

Para ser responsável por seus atos, portanto, o homem tem que simplesmente agir deacordo com sua vontade, espontaneamente, sem ser forçado de fora por ninguém. Apenas ele agede acordo com as suas disposições interiores.

Originalmente, antes da queda, o homem teve tanto o livre arbítrio como a livre agência.Depois da queda o homem ficou somente com a livre agência, pois perdeu tanto o desejo quantoa capacidade de fazer o bem, isto é, o poder de agir contrariamente à sua natureza pecaminosa.

2. UM SER SANTOA Confissão de Fé de Westminster, com tradição Agostiniana14 e Calvinista, assevera que

o homem foi criado no estado de "inocência". Por inocência os padrões de Westminster querem

dizer que o homem, quando criado, não tinha qualquer mancha ou pecado, nem propensão parapecar, embora pudesse cair do estado em que foi criado. 15  Shedd contesta que a palavrainocência seja a melhor para explicar o estado de Adão antes da queda. Com precisão ele diz que

―santidade é mais do que inocência. Não é suficiente dizer que o homem foicriado no estado de inocência. Isto seria verdadeiro, se ele houvesse sidodestituído de sua disposição moral, para o errado ou para o certo. O homem foicriado não somente negativamente inocente, mas positivamente santo‖.16 

Deus fez o homem positivamente santo no seu caráter. Nada errado poderia ter saído dasmãos de Deus. Deus dotou os homens de ―inteligência, retidão e perfeita santidade, segundo a

12 Shedd, vol. 2, p. 103-104.13 Shedd, vol. 2, p. 105.14 Agostinho disse: ―A natureza do homem, de fato, foi criada sem qualquer falha e sem nenhum

pecado; mas aquela natureza do homem na qual cada um é nascido de Adão, necessita agora do Médico,porque ela não é sadia mais. (On Nature and Grace, 3, citado por Norman Geisler, What  Augustine Says,(Baker, 1982), p. 96.15 Ver CFW, IX, ii. 

16 W. G. T. Shedd, Dogmatic Theology, vol. 2, (Nashville: Thomas Nelson Publishers, 1980 edition),p. 96.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 23/222

  23

Sua própria imagem.‖17 Estas coisas têm sido cridas pelos grupos de tradição Agostiniana eCalvinista, mas têm sido negadas em movimentos teológicos na história da Igreja, como o

Pelagianismo18 e o Semi-Pelagianismo.19 O Semi-Pelagianismo, que, com algumas variações, noprotestantismo assume o nome de Arminianismo, através de alguns de seus defensores, nega ocaráter original santo do homem por sustentar a tese do donum superadditum 20  à naturezaconstitucional do homem.

O Calvinismo, contudo, afirma categoricamente a santidade original do homem, emconsonância com as Sagradas Escrituras.21 Para os Calvinistas em geral, a santidade original dohomem tem dois aspectos: 1) sua  percepção e seu conhecimento; 2) sua inclinação e seusentimento.22  

1) O conhecimento tem a ver com o entendimento. A fim de que o homem seja santo eletem que entender e apreender as coisas de Deus. O conhecimento que Adão e Eva possuíamantes da queda era diferente daqueles que tiveram depois da queda. Isto é provado por Gn 2.5 –  ―Ora, um e outro, o homem e sua mulher, estavam nus, e não se envergonhavam‖. - Eles estavamconscientes da sua santidade, e não possuíam nenhuma consciência de pecado. Mas quandoeles se apartaram de Deus, o conhecimento do mal veio. Gn 3.7 diz: ―Abriram-se, então, os olhosde ambos; e, percebendo que estavam nus, colheram folhas de figueira, e fizeram cintas para si.‖ 

Deus, então, após a queda do homem disse em Gn 3.22: ―Eis que o homem se tornou

como um de nós, conhecedor do bem e do mal‖.23 

Deus conhece o bem conscientemente, mas omal intuitivamente, através de Sua onisciência. E Seu conhecimento do bem e do mal é perfeito,embora Ele nunca tenha conhecido este último experimentalmente.

Antes da queda, contudo, o homem conhecia o bem conscientemente e o mal apenasespeculativa e teoricamente. Nesse sentido, o seu conhecimento do mal foi imperfeito, porque ele

17 CFW, IV, ii.18 Os Pelagianos não aceitam a santidade congênita do homem. A idéia do pelagianismo era que a

vontade do homem era neutra, sem qualidades morais em si mesma. Através de um ato da vontade, ohomem se torna bom ou mau. A neutralidade moral é característica do Pelagianismo. Shedd diz que ―aposteridade de Adão é nascida como ele, sem santidade e sem pecado.‖ (Shedd, vol. 2, p. 96).

19 O Semi-Pelagianismo também sustenta quase a mesma posição, embora considere os efeitos daqueda, que o Pelagianismo não considera. O Semi-Pelagianismo crê que o homem tem a iniciativa nos atos

maus, tanto quanto nos bons. Nestes últimos, ele tem a cooperação conseqüente de Deus. Shedd diz que o―Semi-Pelagiano assevera que a santidade, igual ao pecado, deve ser auto-originada em cada indivíduo. AAntropologia Tridentina é uma mistura de Pelagianismo e Agostinianismo.‖ (Shedd, vol. 2, p. 96).

20 Qual é a razão desse posicionamento Semi-Pelagiano? A razão está no fato de a santidade ser algoacrescido posteriormente à criação do homem, não fazendo parte originalmente dela. A isso eles chamam―donum superadditum ‖. O que é o donum superadditum? E um dom gracioso de Deus que foi acrescido apôsa criação, mas antes da queda. O conceito surge da dificuldade de se explicar o problema da capacidadehipotética de Adão e Eva de reterem a sua justiça original. Sem essa graça adicional, Adão não seria capazde resistir no estado de retidão. Na verdade não houve uma concordância absoluta entre os teólogosmedievais sobre se o donum superadditum fazia parte da natureza original do homem. Tomás de Aquinosustentava que o donum superadditum era parte da constituição original do homem, e que sua perda foi aperda da capacidade original para a justiça. Visto que essa graça acrescentada não foi merecida no começo,ela não poderia ser reconquistada por mérito após a queda. A teologia Franciscana, particularmente aquelaorientada no final da Idade Média por Scotus, argumentava que o donum superadditum não era parte daconstituição original do homem ou sua justiça original, mas foi considerado como um dom merecido peloprimeiro ato de obediência da parte de Adão, apresentado por ele de acordo com sua capacidade puramentenatural. Visto que Adão podia, num ato finito ou mínimo, merecer o dom inicial da graça de Deus, o homemcaído deveria, por apresentar um ato mínimo, também merecer o dom da primeira graça (Richard A. Muíler,Díctionary ofLatin and Greek Tkeological Terms, (Baker, 1986), p. 96.

21 Ver, como exemplo, Ec 7.29; cí 3.10.22 Idéias tiradas de Shedd, vol. 2, pp. 97-98.23 Através de Sua apostasia, Adão veio a ter um conhecimento do mal, similar ao de Deus (embora

Deus nunca tivesse pecado), e foi um conhecimento completo do pecado, pois ele o experimentou. Foi umconhecimento do mal consciente e idêntico ao de Satanás, porque foi conhecimento experimental econsciente.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 24/222

  24

não possuía a mesma onisciência de Deus. Depois da queda, contudo, o homem passou aconhecer o mal conscientemente e o bem apenas especulativa e teoricamente (Gn 3.7-8; 1 Co2.14). Com respeito ao conhecimento do pecado e da santidade no homem antes da queda edepois dela, Shedd diz:

Assim parece, que em Adão a consciência do conhecimento experimental da

santidade implicava somente em um conhecimento inadequado e especulativo dopecado; e o conhecimento experimental consciente do pecado implicou somentenum conhecimento especulativo e inadequado da santidade. O homem santo eraignorante do pecado, e o pecador era ignorante da santidade.24 

2) Por inclinação e sentimento, devemos entender a vontade e as emoções ou afeições. Afim de que o homem seja santo, ele deve desejar e sentir prazer em Deus e nas coisas divinas.

Quando Deus criou a vontade no homem, Ele criou, portanto a inclinação, porquevontade e inclinação são inseparáveis.

A vontade humana é por criação voluntária, como o entendimento humanopor criação é cognitivo. Quando Deus cria o entendimento, Ele o capacita com

idéias inatas, e leis de pensamento, por virtude do qual ela é uma faculdadeinteligente. Este é o conteúdo do entendimento. E quando Ele cria a vontadehumana, Ele a capacita com uma inclinação, ou disposição, ou uma

auto-determinação.. em virtude da qual ela é uma faculdade voluntária.25 

Essa inclinação era originariamente santa. O homem não eraoriginariamente um ser moral neutro, mas possuía inclinações querefletiam Aquele que o havia criado.

A inclinação e a disposição moral com a qual o homem foi criado, consistiamnuma harmonia perfeita de sua vontade com a lei Divina. A concordância era tão

perfeita e total, que não havia distinção entre as duas na consciência do Adãosanto. A inclinação era um dever, e o dever era uma inclinação... Numa perfeitacondição moral a lei e a vontade eram uma coisa só, como na esfera da naturezafísica, as leis da natureza e as forças da natureza são idênticas.26 

Na verdade, o homem santo não precisa de lei do mesmo modo que os caídos precisam. Alei, no fundo, é dada para aqueles que estão no estado de desobediência, mas para os que estãoem santidade a lei e o desejo de cumprir a lei são a mesma coisa (Ver 1 Tm 1.8-9).

A santidade positiva, com que o homem foi capacitado na criação, consistia de umentendimento iluminado no conhecimento espiritual de Deus e de Suas coisas, e uma vontadetotalmente inclinada para elas.

Santidade Derivada e Finita

A santidade em Deus é essencial e infinita. Diferentemente de Deus, a santidade nohomem é derivada e finita.

É derivada porque não faz parte da essência do homem, embora originariamente ela

24 Shedd, vol. 2, p. 9825 Shedd, vol. 2, p. .100.26 Shedd, vol. 2, p. 98.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 25/222

  25

tenha sido dada ao homem. Deus tem santidade essencial, sem a qual Ele não pode ser o que é.O homem originalmente possuía santidade, mas ele a perdeu, mas assim mesmo ele continuousendo exatamente o que é: homem. Ele não continuaria sendo homem se a santidade fosseessencial nele.

É  finita porque é santidade de criatura dependente. Por essa razão é uma santidademutável. A santidade no homem é dependente, em última instância, da ação do Criador. Deus a

deu às Suas criaturas racionais, homens e anjos, mas eles a perderam voluntariamente, porquea santidade neles é algo finito e dependente de uma ação direta, imediata do Criador. Se oCriador decide definitivamente não mantê-las em santidade, elas voluntariamente a perdem.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 26/222

  26

CAPITULO III

A NATUREZA CONSTITUCIONAL DO HOMEM27 

Houve sempre dois conceitos predominantes na história da igreja com respeito àcomposição da natureza essencial do homem: dicotomia e tricotomia.

Historicamente, especialmente nos círculos cristãos, concebeu-se o homem composto deduas partes: corpo e alma. No decorrer do desenvolvimento do pensamento cristão, contudo,apareceu outro conceito que compunha o homem de três partes: corpo, alma e espírito  —   atricotomia.

Este último movimento apareceu com a influência da filosofia grega, que concebeu arelação entre o corpo e o espírito ligados entre si por meio de uma terceira substância, ou umterceiro elemento, que é a alma. A alma era considerada, por um lado, como imaterial quando

relacionada com o espírito e, por outro lado, material, quando se relacionava com o corpo. ―Aforma mais familiar e mais crua da tricotomia é a que toma o corpo como a parte materialhumana, a alma como o principio da vida animal, e o espírito como o elemento racional e imortal

que há no homem para relacionar-se com Deus.‖28 Berkhof ainda diz: ―A alma se apropriava do―nous‖ (ou pneuma) se fosse considerada como imortal; mas se fosse relacionada com o corpo, ela

era carnal e mortal.‖29 O pensamento tricotômico encontrou apoio em vários pais da igreja grega, nos primeiros

séculos da era cristã. O pensamento dicotômico já teve seus adeptos na igreja ocidental ou latina,como por exemplo, em Agostinho. Na Idade Média, foi crença comum a dicotomia. Na Reformaaconteceu o mesmo, exceto uns poucos estudiosos.

Base Escriturística da Natureza Constitucional doHomem

A apresentação que a Escritura dá do homem não é a de uma tricotomia (embora hajadois textos que pareçam favorecer essa corrente), nem da dicotomia (embora muito mais textosfavoreçam, como veremos, a apresentação dicotômica), mas é a da unidade do homem. Cada atodo homem contempla-se como sendo um ato do homem completo. Não é a alma que peca, mas ohomem que peca; não é o corpo que morre, mas o homem que morre; não é a alma que Cristoredime, mas o homem. O homem é uma unidade. Portanto, quando a Escritura fala do corpo, elaestá falando do homem; quando fala da alma, está falando do homem; ou quando fala do coração,está falando do homem. A concentração das Escrituras não é nas partes que compõem o homem,mas na unidade que cada parte apresenta.

 Temos sempre que ver o homem como uma unidade. E assim que aBíblia o apresenta.Analisaremos o material bíblico debaixo dos seguintes tópicos:1. O homem é Corpo (Adão foi criado um ser material)

27 Ensino retirado basicamente da Apostila não-publicada, preparada pelo Dr. Fred H. Klooster,para seus alunos no calvin Seminary.

28 Berkhof, p. 225, (edição castelhana).29 Berkhof, p. 225 (edição castelhana).

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 27/222

  27

2. O homem é Alma (Adão foi criado um ser espiritual)3) O homem é Coração.Antes da exposição destes três tópicos, vejamos as palavras hebraicas e gregas usadas

para os termos:

a) Corpo VT —   rfpf( ('apar) = pó

rf&fB (basar) = carnehfl"b:n  (nebhlah) = corpo (cadáver) 

NT   —   sw=ma b) Alma VT —   $epeN (nephesh) 

NT —   yuxh\n c) Espírito VT —   axUr   (ruah) 

NT   —   pneu=ma d) Coração VT —   bfb"l (lebhabh) 

b"l (lebh) NT   —   kardi/a 

1. O HOMEM É CORPO (Adão foi criado um sermaterial ou físico) 

a)  Considere a ênfase sobre homem nos seguintes textos:

Gn 2.7 —  ―Então, formou o Senhor Deus ao homem do pó (rfpf() da terra, e

lhe soprou nas narinas o fôlego da vida, e o homem a passou a ser alma vivente.‖ 

Esta é a primeira informação a respeito da natureza constitucional do homem. Nesteverso é-nos dito que o ser humano possui uma natureza física ou material. Antes dele ser ―almavivente‖, já é dito que ele é homem. Contudo, quando o autor sagrado fala dessa natureza ele nãoestá pensando numa parte do homem, mas do homem na sua unidade.

Gn 3.19 —  ―No suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois

dela foste formado: porque tu és pó  (rfpf() e ao pó tornarás.‖ 

Este outro verso de Gênesis mostra a materialidade que o homem é. Antes de botar a―alma vivente‖ Deus fez o homem. Novamente posso afirmar que o autor quis mostrar a natureza

terrena do homem, não enfatizar que ele tem um corpo. Esse corpo (pó) é o homem. Esseelemento de unidade não pode ser perdido de vista quando se estuda este verso.

Nesses textos acima, embora se esteja falando da parte física do homem, que é o seucorpo, a ênfase é no homem como uma unidade.

 Jó 34.15 —  ―Toda a carne juntamente expiraria, e o homem voltaria ao pó.‖ 

Novamente aqui a ênfase recai sobre o elemento físico ou material do homem,

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 28/222

  28

considerando-o como uma unidade. A verdade é que quem expira é o homem, não o corpo. Amorte é do homem, não do corpo.

Essa é a grande dificuldade que muitos ministros da Palavra enfrentam quando vãooficiar uma cerimônia fúnebre. Partamos do pressuposto que a pessoa que morreu seja cristã. Ooficiante geralmente fala de Fulano que foi estar com Cristo, como se a pessoa consistisseunicamente da sua alma. ―O corpo do Fulano‖, diz o oficiante, ―vai ser enterrado, mas o Fulano já

está no céu‖, como se o corpo não fosse o homem, ou como se o homem não fosse corpo. Emboraa morte separe o homem (alma) de si mesmo (corpo), devemos sempre pensar no ser humanocomo uma unidade. Quem morre é o homem (não o corpo) e quem ressuscita é o homem (não ocorpo). A morte é a separação do homem de si mesmo, enquanto que a ressurreição é reunião dohomem consigo mesmo. Isto se dará somente no dia final, quando haverá a completação dasalvação do pecador.

b) Considere a expressão: “O homem é espirito, mas ele tem um corpo”.  

Não seria mais próprio dizer que o ―homem é corpo‖? A Escritura indica que o corporepresenta o homem como uma unidade e também como um ser total, completo. O corpo não éum mero acessório (apêndice, departamento), nem é a prisão da alma (ou espirito). Se dizemos

que o ser humano é um espirito que tem um corpo, o corpo não tem muita importância.Mas não é esta a idéia que a Escritura dá do corpo, como já vimos acima.

c) Veja as seguintes observações sobre esta doutrina:

Quando a Bíblia ensina que Adão foi feito ―do pó da terra‖ (Gn 2.7), está claramenteafirmada a natureza material do homem. Desde o principio houve uma identificação, harmonia econtinuidade com este mundo. O homem é terreno.

Portanto, todas as noções gnósticas da criação material como pecaminosas, devem serterminantemente rejeitadas. Deus não somente declarou a criação material ―muito boa‖ (Gn1.31), mas fez o homem de elemento material. Vários textos do NT São respostas às heresiasgnósticas, nas quais o universo material era mau. Veja a luta de Paulo e João contra as heresias

gnósticas em Cl 1.19; 2.9; 1 JO 1.1; 4.2; 5.6-8. Esta é a razão porque Paulo, quando fala damorte, diz a respeito do anelo próprio do crente em assumir um outro corpo, porque seria algoanormal não querê-lo (2 Co 5). A morte é um estado anatural para o homem. E natural para ohomem sempre ser corpo. Na morte, o homem fica sem o que é muito importante nele, o corpo,que é a devida expressão da alma. E de grande importância para nós o estado de Cristoressuscitado ser corporal, e o nosso estado final vai ser similar ao dEle. No novo céu e na novaterra, viveremos em plenitude a nossa humanidade perfeita.

―O corpo não é para ser considerado, como os antigos filósofos pensaram dele,como a prisão material, da qual o homem deveria ficar feliz se pudesse escapar namorte. Ele (o corpo) é  parte de si mesmo: uma parte integral de suapersonalidade total, e corpo e a alma em separação, não completam o homem.‖30 

O ser humano não funciona melhor sem o corpo. O corpo é o veículo adequado para aexpressão da alma. Essas duas realidades São o homem e o homem é essas duas realidades. Everdade que a criação material foi amaldiçoada por causa do pecado, tanto os elementos danatureza como o corpo humano, mas não por causa da materialidade dele (porque os anjos forampecaminosos, sem terem qualquer forma corporal). A materialidade humana nunca deve serconsiderada (como infelizmente alguns o fazem) a parte mais baixa da natureza humana, e aparte espiritual (imaterial) a mais elevada. Ambas as criações, material e espiritual, São

30 James Orr, God's Image in Man, (Grand Rapids: Eerdmans reprint, 1948), p. 251-52.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 29/222

  29

igualmente boas e igualmente importantes, porque ambas vieram de Deus e vão para Deus (1Co6.14-15). Ambas as partes, igualmente, foram corrompidas pelo pecado e têm que ser redimidas.

Freqüentemente, num pensamento pecaminosamente distorcido, o espiritual éidentificado com Deus e o material com o diabo. E bom ser lembrado que Satanás é espiritual(imaterial), e que sua esfera de ação é no mundo material. A materialidade humana, portanto,

 jamais deve ser identificada com o mal, pois a matéria não é má. Ela é criação de Deus.

Corpo e espírito não São antitéticos (isto é, opostos entre si). Não há necessariamentequalquer conflito entre esses dois aspectos da natureza humana.

2. O HOMEM É ALMA (Adão foi criado um ser imaterialou espiritual) 

Não podemos deixar de fazer referência a esse aspecto tão importante da composição danatureza humana. Este é o outro lado da mesma moeda. Ambos os elementos, o material e oimaterial, aparecem na narrativa da criação: Adão foi formado do pó da terra, mas somentequando o espírito foi soprado é que Adão foi tornado ―alma vivente‖. O fato de Adão ser ―almavivente‖ não foi único. Em Gn 1.21, 24 e 30 o mesmo é dito de outras criaturas vivas não -humanas. O único ponto digno de nota na criação do homem é a maneira pela qual Deus fezisso.: Ele soprou em Adão o espírito da vida. Este ato da parte de Deus foi pessoal, direto,singular, que distinguiu a criação humana (e a vida humana) das outras vida animadas (Gn 2.7).O homem pertence aos dois mundos, ao espiritual e ao físico.

O sopro da vida animada mostra que o homem é mais do que corpo. O próprio Deus deuvida ao corpo por soprar o espírito nele. Este ato especial aponta para um caso especial. Estesoprar do espírito é a fonte da vida animada, e sem ela o homem propriamente pode ser chamadode morto (Tg 2.26).

Há uma referência óbvia a Gn 2.7 em Ec 12.7 onde se lê: ―e o pó volte a terra como o era,e o espírito volte a Deus, que o deu.‖ —  Está claro que o uso que o autor de Eclesiastes fez doGênesis refere-se à natureza dupla do homem. Diferentemente dos animais, Adão foi formado deum elemento tomado da terra (pó) e um elemento que veio diretamente de Deus, que Ele ―deu‖.Na morte, estes dois elementos novamente se tornam distintos, e retornam às suas fontesdistintas. Está claro também que o autor de Eclesiastes entendeu que a vida humana diferiu davida animal em sua fonte e composição. Ec 3.20-21 diz: ―Todos vão para o mesmo lugar; todosprocedem do pó, e ao pó tornarão. Quem sabe que o fôlego de vida dos filhos dos homens se dirigepara cima, e o dos animais para baixo, para a terra?‖ —   Aqui, o principio que anima émencionado e usado para ambos os casos, mas há uma clara distinção entre os dois, o homem eos animais: o espírito do homem vai para cima, para Deus que o deu (Ec 12.7), enquanto que a―alma‖ do animal desce para a terra, de onde veio (Gn 1.24  —  ―produza a terra seres viventes(hfYah $epen) conforme a sua espécie...‖).O espírito humano, então, é separado do corpo humanona morte por causa dos aspectos singulares que ele recebeu na criação (ele veio diretamente deDeus, de cima), enquanto que o poder animador das outras criaturas é preso aos seus corpos, eambos deixam de existir como constituintes daquele animal, sendo sepultados na terra.

Este assunto, o da natureza dual do homem, tem conduzido os estudiosos àquilo que,infelizmente, tem sido chamado de dicotomia e tricotomia.

A questão do número dos elementos distintos que compõe a natureza humana é muitoimportante, mas o foco tem sido o da separação, como os termos dicotomia e tricotomiaclaramente indicam.

A Unidade do HomemA ênfase das Escrituras, contudo, é sobre a unidade desses elementos. O homem não é o

que é sem o corpo, e nem pode ser o que é sem a alma.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 30/222

  30

―Corpo e alma existem somente em e um  para o outro; o corpo não é umcorpo, mas o corpo da alma; a alma não é uma  alma, mas a alma do corpo; nanossa consciência do 'eu' os dois são um...O homem é uma unidade, não uma

 junção de duas partes separadas ou mesmo faculdades separadas, e a Bíblia tratacom ele como tal.‖31 

É por isso que neste estudo preferiremos o termo duplo ou dúplex, ao nos referirmos ànatureza humana, ao invés da idéia tradicional da dicotomia. Os termos duplo ou dúplexenfatizam a unidade dos elementos, antes que sua separação.

O número desses elementos que compõe a natureza humana é importante, por causa dasdiferenças práticas que resultam em problemas sérios, dependendo da posição que se toma. Opsicólogo cristão Clyde Narramore, por exemplo, mostra que sua tricotomia o levou a um pontoinsustentável biblicamente. No aconselhamento ele diz que o corpo deve ser tratado pelo médico,o espírito pelo pastor, e a alma pelo psicólogo. E estranha tal separação na Escritura.

A Escritura não permite a visão triplex (tríplice) do homem. Quando há separação é só porcausa da morte, mas a ênfase é sobre a unidade. Além disso, na separação da morte, só há doiselementos. Em adição a Gn 2.7, examine Mt 10.28.

Nesse verso de Mateus, é ensinado que o todo (a totalidade) do homem sofre no inferno. Averdadeira ênfase é sobre a totalidade (unidade) do homem sofrendo e não apenas o corpo ou a

alma. A afirmação "alma" e "corpo" mostra que a natureza humana é dúplex (veja outro exemploem 1 Co 7.34b).

Vejamos este ensino de maneira sistemática:

A) A ESCRITURA FREQÜENTEMENTE DISTINGUEENTRE CORPO- ALMA E/OU CORPO-ESPÍRITO.

(1) O VT SUGERE UMA DISTINÇÃO CORPO-ALMA (ESPIRITO),

Contudo, esta distinção só entrou em uso mais tarde, debaixo da filosofia grega. A idéia éde que as duas partes formam uma unidade, um conjunto harmonioso —  o homem, um ser quevive.

Gn 3.19  —   (após a queda com respeito à maldição)  —   ―...tu és  pó e ao pótornarás.‖ 

A ênfase neste verso cai na parte física, mas o intento de Deus é tratar o ser humano comouma unidade. O particular é tomado como sendo a totalidade.

Ec 12.7 —  ―e o pó (rfpf( - corpo) volte à terra, com o era, e o espírito (axUr ) volte

a Deus, que o deu.‖ 

Este verso já mostra o homem com uma composição dúplex, mostrando a sua origem.Ambas as partes, material e imaterial vieram de Deus.

 Jó 32.8  –   ―Na verdade há um espírito no homem (corpo), e o sopro do

31 James Denny, Studies in Theology, (Grand Rapids: Balcer repriflt, 1967), p. 76.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 31/222

  31

 Todo-Poderoso o faz entendido.‖ 

Neste verso de Jó a ênfase cai sobre a parte material (corpo), que é chamada de ―homem‖.Contudo, a parte imaterial, o espírito, foi colocado no homem por Deus. Portanto, este verso tratada composição dúplex da natureza humana, embora dê mais força ao aspecto material. A mesmaênfase vem neste verso seguinte, do mesmo autor: (Jó 33.4)  –  ―O Espírito de Deus me fez: e o

sopro do Todo-Poderoso me dá vida.‖ 

(2) O NT TAMBÉM SUGERE A DISTINÇÃO CORPO-ALMA (ESPIRITO):

1 Co 2.11 –  ―Porque qual dos homens sabe as cousas do homem, senão o seupróprio espírito que nele (corpo) está?‖ 

A mesma ênfase dada no VT está agora no NT. A parte enfatizada aqui é o corpo porqueela é chamada de ―homem‖ e que ―nele ‖ está o espírito. Contudo, o intento de Paulo é falar daunidade, embora os dois elementos apareçam claramente nesse verso. Certamente o propósito dePaulo é tratar da capacidade perscrutadora do espírito humano, mas deixa evidente acomposição dual da natureza humana.

Mt 10.28 –  ―Não temais os que matam o corpo (soma) e não podem matar aalma (yuxh\n) temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a almacomo o corpo.‖ 

 Jesus Cristo está ensinando neste verso sobre o poder de Deus em contraste com o poderdos homens. Obviamente, ele usa o linguagem comum das pessoas quando fala da morte docorpo, pois o corpo fica inerte sem a presença da alma. Contudo, quando Deus exerce o seu poderele pode fazer perecer tanto o aspecto físico como o aspecto espiritual do homem. A idéia de morteai é de separação, não de extinção. O mesmo acontece se fala da morte do corpo: é a separaçãodele da alma —  por isso o homem fica sem vida. Sem entrar mais do mérito desta questão, o textomostra essa distinção entre as duas partes constituintes da natureza humana. E exatamenteessa mesma idéia que Tiago mostra no verso a seguir:

 Tg 2.26 —  ―Porque, assim como o corpo sem espírito é morto, assim também afé sem as obras é morta.‖ 

Mesmo embora ele esteja falando da morte do corpo (que é a separação do homem de simesmo), o texto nos ensina sobre a composição dual da natureza humana.

1 Co 7.34 —  ―.. Também a mulher, tanto a viúva quanto a virgem, cuida dascousas do Senhor, para ser santo, assim no corpo como no espírito.‖ 

A pureza de uma mulher, segundo Paulo, em qualquer estado civil que possa estar, deve

produzir uma vida que evidencie a santidade cristã na totalidade do seu ser: no material e noespiritual.

2 Co 7.1 —  ―Tendo, pois, ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos de toda

impureza, tanto da carne (sarko\j) como do espírito (pneu/matoj) aperfeiçoando anossa santidade no amor de Deus.‖ 

Este verso de Paulo aos Coríntios e muitíssimo claro quanto à obra santificadora doSenhor que é feita na totalidade do homem, isto é, na sua parte material como na imaterial. Deus

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 32/222

  32

realiza a obra da redenção. Assim como a santificação é uma obra de Deus, também ela é umdever do homem que deve ser puro tanto na sua natureza física quanto na sua naturezaespiritual.

Mt 26.41 —  ―…o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca.‖ 

 Jesus ensina sobre o dever de orar e vigiar e, ao fazê-lo, ensina sobrea fraqueza da natureza humana. E provável que espírito esteja ligado comuma nova natureza e que carne significa as fraquezas de nosso ser. Sejacomo for, a idéia da composição dúplex não deve ser deixada de lado,mesmo neste texto que pode ter dupla interpretação.

B) A ESCRITURA PARECE, AO MESMO TEMPO,DISTINGUIR OS TERMOS ALMA E ESPÍRITO.

Sem dúvida, há duas passagens que parecem contradizer a idéia da apresentação dacomposição dual da natureza humana. São os dois únicos textos usados pelos chamadostricotomistas: 1 Co 5.23 e Hb 4.12.

A pergunta levantada é esta: ―Não ensinam estes dois textos sobre a separação de alma eespírito, o que indica uma tríplice concepção do homem?‖ A resposta é enfaticamente, ―não‖!!! 

a) Vejamos, primeiro, Hb 4.12

―Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer

espada de dois gumes, e penetra até o ponto de dividir alma e espírito (yuxh=j kai\pneu/matoj), juntas e medulas, e apta para discernir os pensamentos e ospropósitos do coração.‖ 

A Palavra de Deus, a Escritura, é como uma espada aguda, de dois gumes, que penetrabem fundo, ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas. Diz o tricotomista: ―Se a Bíbliaafirma a possibilidade de separar alma de espírito, por que não podemos fazer?‖ - O fato é que opensamento grego não está dizendo realmente isso. O problema não é de tradução. O texto gregonão diz que a alma é separada do espírito, ou que as juntas podem ser separadas das medulas.Ao contrário, o que é dito é que a Palavra de Deus divide o espírito e também a alma, assim comoas juntas e as medulas. Os escritor, de mentalidade hebraica, está usando paralelismos,utilizando-se de sinônimos para reforçar a idéia da natureza tanto material como espiritual dohomem. Ele fala de ―alma‖ e ―espírito‖ e de ―juntas‖ e ―medulas‖, mostrando a composição dual,não tríplice da natureza humana.

Esse paralelismo também se evidencia na idéia básica do texto de que a Palavra de Deuspenetra profundamente, o suficiente para discernir no ser mais interior do homem, que é ocoração, onde o autor usa duas idéias similares - os seus pensamentos e propósitos (vv. 12c e 13).

O quadro aqui fala em dividir as juntas, medulas, alma e espírito. Observe que há duascategorias básicas aqui: material (juntas e medulas) e imaterial (alma/espírito), não três.Exatamente como os ―pensamentos e propósitos‖ do coração não podem ser divididos, mas Sãocolocados juntos, abrangentemente, a fim de expressar o aspecto total do intelecto, assim espíritoe alma São mencionados para mostrar que nenhum aspecto do interior do homem está além do poder penetrante da palavra de Deus.

b) Vejamos agora 1 Ts 5.23

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 33/222

  33

―O mesmo Deus vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo, sejamconservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.‖ 

Novamente a ênfase do texto não está sobre o número dos elementos que compõe anatureza humana, nem como podemos dividi-la. Antes, está sobre a totalidade do homem.

Poderíamos traduzir este verso, da seguinte maneira:

―O mesmo Deus vos santifique em tudo (completamente); e o vosso ser total(corpo, alma e espírito), seja conservado integro e irrepreensível na vinda de nossoSenhor Jesus Cristo.‖ 

Paulo aqui não está dividindo, mas unindo. Se você não se conforma com essaargumentação, mas crê que Paulo está somando ao corpo a alma e o espírito, formando trêspartes, o que você faria com os seguintes textos: Mt 22.37; Mc 12.30; Lc 10.27? Estes textosfalam de alma, coração, força e entendimento. Você acresceria essas partes mencionadas àcomposição do homem? Naturalmente que não!

A Escritura usa freqüentemente dois, três ou até quatro termos sobre a natureza

imaterial do homem, para enfatizar a idéia de totalidade. E necessário que observemos o sentidoda passagem à luz de toda a verdade, vê-la à luz de seu propósito e não daquilo que queremos queo texto diga.

C) A ESCRITURA USA, FREQÜENTEMENTE, OSTERMOS ALMA E ESPIRITO INDISTINTAMENTE

(1) Alma e espírito são usados indistintamente quando a referência é a uma

 pessoa desincorporada.

a) Nos texto abaixo as pessoas desincorporadas São chamadas de espírito:

 Todas as pessoas que morrem, isto é, que têm a sua natureza material separada da suanatureza imaterial, São consideradas como ―espíritos‖. Na morte de qualquer ser humano,aplica-se a velha máxima de sábio Salomão em Ec 7.12- ―E o pó ( 'apar) volte à terra, como o era,e o espírito volte a Deus que o deu.‖ Tanto os homens comuns como o Salvador deles provaram amesma experiência:

Lc 23.46 —  ―Então, Jesus clamou em alta voz: Pai, nas tuas mãos entrego omeu espírito! E, dito isto, expirou.‖ 

Desde a encarnação, o Redentor é vere Deus e vere homo, possuindo as duas naturezas —  a divina e a humana. Como homem, ele possuía os dois aspectos da natureza humana  —   omaterial e o espiritual. Quando o Redentor morreu, seu corpo foi para a sepultura e o seu espírito(que não é o Espírito Santo) voltou para Deus, até que ele ressurgiu ao terceiro dia. Nesse períodoessa pessoa desincorporada era um espírito.

At 7.59  —   ―E apedrejavam a Estevão que invocava e dizia: Senhor Jesus,

recebe o meu espírito (pneu=ma/ mou).‖ 

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 34/222

  34

Quem morreu apedrejado foi Estevão, seu corpo ficou inerte porque foi separado do seuespírito. Essa parte, que veio diretamente de Deus, voltou para Deus onde goza da alegria até quea redenção se complete. Mas é o espírito de Estevão que está com Deus.

Hb 12.23 —  ―… e igreja dos primogênitos arrolados no céus, e a Deus, o juiz de

todos, e aos espíritos dos justos (pneu/masi dikai/wn) aperfeiçoados.‖ 

 Todos aqueles que fazem parte dos remidos, que já morreram com Cristo, estão napresença de Deus gozando de suas delicias, sendo ―justos e aperfeiçoados‖, São chamados de―espíritos ‖. 

b) Nos textos abaixo uma  pessoa desincorporada também é descrita na Escritura comoalma:

Esta observação cabe tanto aos homens comuns como ao Redentor deles.

At 2.27  —   ―Porque não deixarás a minha alma (yuxh/n)  na morte, nempermitirás que o teu santo veja corrupção.‖ 

Como humano que também era, Jesus possuía o seu corpo que foi sepultado, separado desua alma até o terceiro dia. Perceba que o texto fala da morte da alma. Ora, morte significaseparação. O que o escritor bíblico profeticamente diz é que o Senhor Deus não haveria de deixara alma humana do Redentor no estado de morte, isto é, no estado de separação do seu corpo.Nem o seu corpo haveria de experimentar corrupção. A razão dessa incorrupção física e da almanão poder ficar par sempre no estado de morte é que ambos os aspectos da natureza humana doRedentor estavam indissoluvelmente ligadas à sua natureza divina, ao Logos. Portanto, quandohouve a morte do Redentor, estando desincorporado, ele foi chamado de ―alma‖, que é a mesmacoisa que ―espírito‖. 

Ap 6.9 —  ―...vi as almas (yuxa\j) daqueles que tinham sido mortos por causa dapalavra de Deus.‖ 

Ap 20.4  —   ―vi ainda as almas (yuxa\j)  dos decapitados por causa dotestemunho de Jesus...‖ 

Esses dois textos acima falam da situação dos remidos do Redentor. Quando elesmorrem, e nestes textos há o motivo de suas mortes, eles São separados de si mesmos. O físicodeles repousam na sepultura e espírito deles vai estar com Deus. No entanto, quandodesincorporados eles São chamados de ―almas‖, o que eqüivale a ―espíritos‖. 

Obs.: a) Note que a Escritura apresenta a  pessoa desincorporada como espírito que é,

auto-consciente, cônscio de sua identidade pessoal: Lc 23.43; Lc 16.19-31; Fp 1.22-23; 2 Co5.1-10 (especialmente vv.6-8).b) quando se fala de almas ou espíritos das pessoas desincorporadas, deve se ter em

mente que o escritor bíblico tem como meta falar de pessoas em sua unidade, não somente umadas partes delas.

(2) Alma e espírito são usados indistintamente quando a referência é aexpressões de emoção e de devoção.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 35/222

  35

Esta argumentação que se segue destrói qualquer possibilidade de alguém reivindicar atese tricotomista. A Escritura é a intérprete de si própria. Ela mesma dá as respostas às nossasinquirições.

(a) A Dor faz alusão tanto à alma como ao espírito: isto está claro nos ensinamentos sobrea pessoa de Jesus Cristo: 

Este ponto pode e deve tanto ser aplicado aos homens comuns como ao Redentor deles.Vejamos primeiro sobre Jesus:

 Jo 12.27 —  ―Agora está angustiada a minha alma (yuxh/), e que direi eu?...‖ 

 Jo 13.21  —   (após lavar os pés dos discípulos)  –   ―Ditas estas cousas,angustiou-se Jesus em espírito (pneu/mati).‖ 

Esses dois textos acima falam de uma situação de sofrimento angustiante de nossoRedentor. De acordo com o ensino geral dos tricotomistas, somente a alma deveria ser aportadora dessa angústia. Contudo, como esses termos São usados indistintamente, tratando da

mesma natureza espiritual do homem, é dito também que o espírito estava angustiado.

Mt 26.38 —  (No Getsêmani) –  ―Então lhes disse: a minha alma (yuxh/ mou) estáprofundamente triste até a morte...‖ 

Mc 8.12 —  (quando os fariseus pediram um sinal) –  ―Jesus, porém, arrancoudo intimo do seu espírito (pneu/mati au)tou=) um gemido, e disse: por que pede estageração um sinal?...‖ 

O mesmo caso se aplica nestes dois textos acima. A emoção chamada ―tristeza‖ quenormalmente é atribuída pelos tricotomistas à alma, a Escritura atribuí ao espírito, porque as

duas palavras São indicativas da mesma coisa —  a natureza imaterial do homem.(Obs.: note que o uso que Marcos faz de espírito é menos intenso do que na situação deMateus, quando este usa a palavra alma. Isto é uma grande dificuldade para quem pensatricotomísticamente).

 Também no caso dos homens comuns, a dor é atribuída tanto a alma como ao espírito.

At 17.16 —  ―Enquanto Paulo os esperava em Atenas, o seu espírito (pneu=ma

au)tou=) se revoltava em face da idolatria reinante na cidade.‖ 

2 Pe 2.8 —  (Sobre Ló em Sodoma) –  ―Porque este justo, pelo que ouvia e viaquando habitava entre eles, atormentava a sua alma justa (yuxh\n dikai/na), cada dia,por causa das obras iníquas daqueles.‖ 

 Tanto Paulo como Ló, ao contemplar o mal, num reflexo da imagem de Deus que já haviasido restaurada neles, pois eram justos, sentiram dor que lhes atormentava a ―alma‖ (ou―espírito‖- pois essas duas palavras São usadas indistintamente) deles, pois é essa sensaçãodolorida que o pecado causa na vida dos redimidos.

Veja-se ainda Sl 77.3; 142.3; 143.7 - aplicando a dor ou a tristeza ao espírito.

(b) Alegria Ação de Graças estão relacionadas tanto à alma como ao espírito:

O escritor sacro narra uma ocasião quando Maria deixa os tricotomistas numa situação

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 36/222

  36

muito embaraçosa, pois ela inverte a ordem estabelecida por eles na distribuição dos elementosdistintos na natureza não material do homem. Veja o que Maria, a mãe do Redentor, diz:

Lc 1.46-47- ―Então disse Maria: a minha alma (yuxh/ mou) engrandece aoSenhor, e o meu espírito (pneu=ma/ mou) exulta em Deus meu salvador.‖ 

Segundo a teoria geral dos tricotomistas, o que é próprio da alma é o sentimento, éatribuído ao espírito  —   ―o meu espírito exulta em Deus meu salvador‖. E o que é próprio doespírito, a adoração cristã, é atribuído a alma —  ―a minha alma engrandece ao Senhor‖. 

Por que Maria faz esse uso ―indevido‖ dessas palavras? Obviamente, não há uso indevido.O que acontece é que não há nenhuma autorização nas Escrituras para considerarmos essasduas palavras  —   alma e espírito  —   como elementos distintos na composição da naturezahumana.

Na adoração dos crentes comuns é muito usada a expressão do Salmista no Sl 42.1-2 —  ―Como a corça suspira pelas correntes das águas, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma. Aminha alma (yi$:pan) tem sede de Deus, do Deus vivo...‖ —  Todos os verdadeiros cristãos adorama Deus com todos os anelos de sua alma. Eles poderiam perfeitamente usar duas outras palavraspara expressar a mesma idéia. Eles poderia dizer que suspiram pelo Senhor com todo o seucoração ou com todo o seu espírito. São termos usados indistintamente para expressar o mesmo

sentimento de adoração num desejo ardente por Deus.

(c) Adoração e Devoção São também atribuídos a ambos: alma e espírito.

Os textos abaixo criam uma dificuldade enorme para aqueles que possuem umamentalidade tricotomista, pois se a regra for aplicada literalmente, os tricotomistas não maispoderiam ser tricotomistas, mas pentatomistas, pois o verso abaixo fala de cinco partes. Umadela obviamente, se refere ao corpo (―toda a tua força‖). As quatro restantes dizem respeito àspartes imateriais do homem que deveriam ser consideradas distintas se fôssemos aplicar a tesetricotomista. Veja o texto:

Mc 12.30 - (pergunta sobre o l.º grande mandamento)  –   ―Amarás, pois, o

Senhor teu Deus de todo o teu coração (kardi/aj sou), de toda a tua alma (yuxh=j sou), detodo o teu entendimento (dianoi/aj sou), e de toda a tua força (i)sxu/oj sou).

Observe os outros textos paralelos:Mc 12.30 - coração, alma, entendimento, forçaMt 22.37 - coração, alma, entendimento,Lc 10.27 - coração, alma, entendimento, forçaDt 6.5 - coração, alma, força

Obs.: Uma observação que não pode deixar de ser feita é esta: A parte mais importante nonosso culto a Deus e na expressão de nosso amor a Deus, segundo o entendimento tricotomistasé o espírito do homem. Contudo, a ausência de espírito nestes textos é um problema sério para otricotomista.

Perceba no verso abaixo que o que é dito de um (espírito) é dito do outro (alma) no querespeita ao esforço do cristão em preservar o corpo de doutrinas que ele recebe, que aqui échamado de ―fé evangélica‖. Isto é assim porque não se trata de elementos distintos, mas domesmo elemento. Paulo, obviamente, está usando um paralelismo hebraico.

Fp 1.27 —  ―Vivei, acima de tudo, por modo digno do evangelho de Cristo, paraque, ou indo ver-vos, ou estando ausente, ouça, no tocante a vós outros, que estaisfirmes em um só espírito (pneu/mati), com uma alma (yuxv=), lutando juntos pela féevangélica.‖ 

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 37/222

  37

Ef 6.5-6 —  ―Quanto a vós outros, servos, obedecei a vossos senhores, segundoa carne com temor e tremor, na sinceridade do vosso coração (kardi/aj u(mw=n) como aCristo, não servindo à vista, como para agradar a homens, mas como servos deCristo, fazendo de coração (e)k yuxh=j) a vontade de Deus.‖ 

Note: de todas as referências à dor, alegria, adoração, perceba que o lugar dos exercíciosespirituais de um homem regenerado está, tanto na alma como no espírito. Nenhum exercícioespiritual da alma deve deixar de ser atribuído ao espírito, porque ambos os termos significam amesma coisa —  o aspecto imaterial do ser humano.

E importante ser observado que é a alma que tem anelos de Deus em vários textos daEscritura (Sl 42.1-2; 62.1, 5, 8; 84.2; 86.4; 130.5-6; 143.6; Is 26.9.).

Observe-se ainda que é a alma que é devota a Deus (S1103.1, 2, 22; 104.1, 35; 108.1;119.175; 143.8).

(3) Alma e espírito são usados indistintamente para descrever o objeto da obraredentora e santificadora de Cristo.

(a)  Quem vai para o céu ou para o inferno é a alma ou o espírito.

A existência humana no futuro, seja em vida ou em morte, isto é, em comunhão com Deusou em separação de Deus, é dita pertencer à alma ou ao espírito.

Os dois textos paralelos abaixo demonstram que a existência em morte pertence à alma.

Mt 16.26  —   ―Pois que aproveitaria o homem se ganhar o mundo inteiro eperder a sua alma (yuxh\n)? Ou o que dará o homem em troca de sua alma (yuxh=j

au)tou=)?‖ (cf. Mc 8.36)

Lc 12.20  —   ―Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te pedirão a tua alma(yuxh/n), e o que tens preparado, para quem será?‖ 

Nos textos abaixo é dito que a existência em vida dos cristãos pertence à alma. E curiosoque, na concepção tricotomista, quem vai para o céu é o espírito, não a alma. No entanto, aEscritura usa o termo alma como equivalente a espírito.

Lc 21.19 —  ―E na perseverança que ganhareis as vossas almas (yuxa\j u(mw=n).‖ 

Hb 10.39  —   ―Nós, porém, não somos dos que retrocedem para a perdição;somos, entretanto, da fé para a conservaçao da alma (peripoi/hsin yuxh=j).‖ 

 Tg 1.21  —   ―Portanto, despojando-vos de toda impureza e acúmulo demaldade, acolhei com mansidão a palavra em vós implantada, a qual é poderosapara salvar as vossas almas (yuxa\j u(mw=n).‖ 

 Tg 5.20 —  ―Sabei que aquele que converte o pecador do seu caminho errado,salvará a alma dele (yuxh\n au)tou=) e cobrirá multidão de pecados.‖ 

1 Pe 1.9 —  ―Obtendo o fim da vossa fé, a salvação das vossas almas (u(mw=n

swthri/na yuxw=n).‖ 

Ez 3.19 —  ―Mas, se avisares o perverso, e ele não se converter da sua maldadee do seu caminho perverso, ele morrerá na sua iniquidade, mas tu salvaste a tua

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 38/222

  38

alma (!:$:pan)).‖ 

Nos dois textos abaixo é mostrado que um cristão que morre vai para a vida com Jesus.No entanto, a palavra usada aqui é ―espírito‖ não ―alma‖, como nos textos anteriores. 

At 7.59  —   ―E apedrejavam a Estevão que invocava e dizia: Senhor Jesus,

recebe o meu espírito (pneu=ma/ mou).‖ 

1 Co 5.5 —  ―... seja entregue a Satanás para a destruição da carne (sapko/j), afim de que o espírito (pneu=ma swqv=) seja salvo no dia do Senhor.‖ 

(b)  A Santificação é da alma (ou espírito).

A salvação é alguma coisa que já aconteceu no passado, mas ainda é uma realidadepresente. Deus continua ainda a nos salvar. A isto a Escritura chama ―santificação‖. O processoda santificação acontece com a totalidade do seu humano, tanto da sua parte material como daimaterial. Escrevendo aos Coríntios, Paulo deixa bem claro esta verdade. A parte material elechama de ―carne‖ e a parte imaterial ele chama de ―espírito‖. Estes são os únicos dois elementos

que compõem a natureza humana.

2 Co 7.1 —  ―Tendo, pois, ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos de todaimpureza, tanto da carne (sarko\j), como do espírito (pneu/matoj) aperfeiçoando a nossasantidade no temor de Deus.‖ 

Pedro, no entanto usa, nos textos abaixo, a palavra ―alma‖ como sendo o locus dasantificação que Deus opera em nós, e que nós operamos mediante nossa obediência à verdade.

1 Pe 1.22 —  ―Tendo purificado as vossas almas (yuxa\j) pela vossa obediência àverdade, tendo em vista o amor fraternal não fingido, amai-vos de coração uns aosoutros, ardentemente.‖ 

1 Pe 2.11 —  ―Amados, exorto-vos como peregrinos e forasteiros que sois, a vosabsterdes das paixões carnais que fazem guerra contra a alma (yuxh=j).‖ 

Is 38.16-17  —   ―Senhor, por estas disposições tuas vivem os homens, einteiramente delas depende o meu espírito (yixUr ); portanto, restaura-me a saúde,e faze-me viver. Eis que foi para a minha paz que tive eu grande amargura; tu,porém, amas a minha alma (yi$:pan) e a livraste da cova da corrupção porquelançaste para trás de ti todos os meus pecados.‖ 

O ensino dos profetas do Antigo Testamento não é diferente dos escritores do Novo Testamento. A contaminação da ―alma‖ torna necessária a purificação dela. Da mesma forma asaúde do ―espírito‖ do homem depende da obra santificadora de Deus. Analise com propriedade

estes dois textos abaixo e verifique que alma ou espírito São o locus da obra santificadora deDeus, pois são termos usados indistintamente.

Ez 4.14 —  ―Então, disse eu: Ah! Senhor Deus! eis que a minha alma (yi$:pan)não foi contaminada, pois desde a minha mocidade até agora, nunca comi animalmorto de si mesmo nem dilacerado por feras, nem carne abominável entrou naminha boca.‖ 

Is 38.16-17  —   ―Senhor, por estas disposições tuas vivem os homens, e

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 39/222

  39

inteiramente delas depende o meu espírito (yixUr ); portanto, restaura-me a saúde,e faze-me viver. Eis que foi para a minha paz que tive eu grande amargura; tu,porém, amas a minha alma (yi$:pan) e a livraste da cova da corrupção porquelançaste para trás de ti todos os meus pecados.‖ 

(c) O Perdão de Deus é para a Alma

Na concepção tricotomista, o perdão de Deus deveria ser para o espírito humano, nãopara a alma. Contudo, a Escritura diz em vários lugares que a alma humana é objeto dacompaixão perdoadora de Deus.

Sl 41.4  —   ―Disse eu: compadece-te de mim, Senhor; sara a minha alma,porque pequei contra ti.‖ 

S1102.2-3  —   ―Bendize, ó minha alma ao Senhor, e não te esqueças denenhum só de seus benefícios. Ele é quem  perdoa todas as tuas iniquidades.‖ 

Observe: É muito importante que se leve em conta que, quando a Escritura se refere ao

perdão da alma, ao fato dela ir para o céu, a ênfase não está na divisão da pessoa,mas na unidade dela. Portanto, é salutar pensar que Deus perdoa apessoa, e não apenas o lado imaterial dela; que é a pessoa que vai para océu, não um pedaço dela.

Explicação: O fato de que a Escritura usa alma e espírito indistintamente em muitoscontextos, como sinônimos básicos em tais contextos, não implica que não possa haver outrosentido do seu uso em outros contextos; o mesmo acontece com carne e corpo.

3. O HOMEM É CORAÇÃONuma tentativa de compreender a doutrina bíblica do homem, atenção foi dada às

referências ao corpo, tanto quanto às variações no uso com respeito à alma e espírito. Entretanto,a Escritura também apresenta o homem como coração. Este termo enfoca a unidade da naturezabásica do homem.

A) A ABRANGÊNCIA DO SIGNIFICADO DO TERMO “CORAÇÃO”   NA ESCRITURA:

O livro de Provérbios é abundantemente rico no uso do termo ―coração‖ especialmentequando fala que ele é a sede da personalidade humana.

(1) Referência a “coração” no Livro de Provérbios

Pv 2.10  —   ―Porquanto a sabedoria entrará no teu coração, e o conhecimento seráagradável à tua alma.‖ 

3.5  —   ―Confia no Senhor de todo o teu coração, e não te estribes no teu próprioentendimento.‖ 

4.23 —  ―Sobretudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem asfontes da vida.‖ 

12.25 —  ―A ansiedade no coração do homem o abate, mas a boa palavra o alegra.‖ 14.10 —  ―O coração conhece a sua própria amargura, e da sua alegria não participará o

estranho.‖ 

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 40/222

  40

14.13 —  ―Até no riso tem dor o coração, e o fim da alegria é a tristeza.‖ 14.14 —  ―O infiel de coração dos seus próprios caminhos se farta...‖ 15.13 —  ―O coração alegre aformoseia o rosto, mas com a tristeza do coração, o espírito se

abate.‖ Ver também: 15.14; 15.30; 16.5; 18.12,15; 19.3; 23.17.

(2) Referências a coração no uso de Jesus Cristo

Mt 5.8 —  ―Bem aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus.‖ Mt 5.28  —   ―Eu, porém, vos digo: qualquer que olhar para uma mulher com intenção

impura, no coração já adulterou com ela.‖ Mt 15.19  —   ―Porque do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios,

prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias.‖ Mt 22.37 —  ―Respondeu-lhes Jesus: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de

toda a tua alma, e de todo o teu entendimento.‖ Lc 8.11-15 —  (Parábola do Semeador) ―A que caiu na boa terra são os que, tendo ouvido

de bom e reto coração, retém a palavra; estes frutificam com perseverança.‖ (v. 15). 

Observação: Há dezenas de outras referências de Jesus a coração como a essência danatureza humana, como o âmago de nosso interior, e são referências usadas indistintamentepara descrever não somente toda a personalidade, mas as coisas da própria alma (ou espírito).

(3) Referências a “coração” na mensagem de Paulo

H. Wheeler Robinson, em seu livro "Christian Doctrine of Man" resume o ensino de Paulocomo se segue:

15 vezes —  Personalidade, ou vida interior em geral. Cf 1 Co 14.14, 24, 25  –  ―Porém setodos profetizarem, e entrar algum incrédulo ou indouto, é ele por todos convencido, e por todos

 julgado; tornam-se-lhes manifestos os segredos do coração e, assim, prostrando-se com a faceem terra, adorará a Deus, testemunhando que Deus está de fato no meio de vós.‖ 

13 vezes —  lugar do estado emocional da consciência, cf Rm 9.1-3 ―Digo a verdade emCristo, não minto, testemunhando comigo, no Espírito Santo, a minha própria consciência: quetenho grande tristeza e incessante dor no coração, porque eu mesmo desejaria ser anátema,separado de Cristo, por amor de vós, meus irmãos, meus compatriotas segundo a carne.‖  

11 vezes —   lugar das atividades intelectuais. Cf Rm 1.21-22 ―Porquanto, tendoconhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes se tornaramnulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo- lhes o coração insensato. Inculcando-se porsábios, tornaram - se loucos.‖ 

13 vezes —  lugar da vontade. Cf Rm 2.4-5 ―Ou desprezas a riqueza da sua bondade, etolerância, e longanimidade, ignorando que a bondade de Deus é que te conduz aoarrependimento? Mas, segundo a tua dureza e coração impenitente, acumulas contra ti mesmoira para o dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus.‖  

B) A ESCRITURA USA O TERMO CORAÇÃO COMO INDICATIVO DE:

Pensamento = intelectoQuerer = vontade (volição)Sentimento = emoção (afeições)

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 41/222

  41

1. Coração como Indicativo de Atividade Intelectual

Dt 29.4 —  ―Porém o Senhor não vos deu coração para entender, nem olhos para ver, nemouvidos para ouvir, até o dia de hoje.‖ 

Lc 5.22 —  ―Jesus, porém, conhecendo-lhes os pensamentos, disse-lhes: que arrazoais emvossos corações? ‖ 

 Jo 12.40 —  ―Cegou-lhes os olhos e endureceu-lhes o coração, para que não vejam com osolhos, nem entendam com o coração, e se convertam e sejam por mim curados.‖ At 8.22  —   ―Arrepende-te, pois, da tua maldade, e roga ao Senhor; talvez que te seja

perdoado o pensamento (e)pi/noia) do coração.‖ 

2. Coração como Indicativo de Atividade Volitiva

Mt 15.19 —  ―Porque, do coração, procedem maus desígnios, homicídios, adultérios...‖ Ex 25.2 —  ―Fala aos filhos de Israel que me tragam ofertas; de todo homem cujo coração o

mover para isso, dele recebereis a minha oferta.‖ 1 Cr 22.19 —  ―Disponde, pois, o vosso coração, e a vossa alma para buscardes ao Senhor

vosso Deus....‖ Dn 1.8 —  ―Daniel, porém, propôs no seu coração, não se contaminar com as finas iguarias

do rei…‖ At 11.23 —  ―Tendo ele chegado e, vendo a graça de Deus, alegrou-se, e exortava a todos

que, com firmeza de coração, permanecessem firmes no Senhor.‖ 1 Co 7.37  —   ―Todavia, o que está  firme no seu coração, não tendo necessidade, mas

domínio sobre o seu próprio arbítrio, e isto bem  firmado no seu ânimo (kardi/#), para conservarvirgem a sua filha, bem fará.‖ 

3. Coração como Indicativo de Atividade Emotiva

Ex 4.14 —  ―Então se acendeu a ira do Senhor contra Moisés, e disse: Não é Arão, o levita,teu irmão? Eu sei que ele fala fluentemente; e eis que ele sai ao teu encontro e, vendo-te, sealegrará em seu coração.‖ 

Ne 2.2 —  ―O rei me disse: porque está triste o teu rosto, se não estás doente? Tem de sertristeza do coração. Então temi sobremaneira.‖ 

Sl 28.7 —  ―O Senhor é a minha força e o meu escudo; nele o meu coração confia; nele fuisocorrido; por isso o meu coração exulta.‖ 

 Jo 14.1 —  ―Não se turbe o vosso coração....‖ At 2.26 —  ―Por isso se alegrou o meu coração e a minha língua exultou...‖ 2 Co 2.4  —  ―Porque no meio de muitos sofrimentos e angústias do coração vos escrevi,

com muitas lágrimas, não para que ficásseis entristecidos, mas para que conhecêsseis o amorque vos consagro em grande medida.‖ 

c) A ESCRITURA APRESENTA O CORAÇÃO COMO A SEDE DO PECADO

No Antigo Testamento

Pv 6.14 —  ―No seu coração há perversidade; todo o tempo maquina o mal; anda semeandocontendas.‖ 

Pv 6.18 —  ―Coração que trama projetos iníquos...‖ Pv 6.25 —  ―Não cobices no teu coração a sua formosura, nem te deixes prender com as

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 42/222

  42

suas olhadelas.‖ Pv 7.10 —  ―Eis que a mulher lhe sai ao encontro, com vestes de prostituta, e astuta de

coração.‖ Pv 12.20  —  ―Há fraude no coração dos que maquinam o mal, mas alegria têm os que

aconselham a paz.‖ Pv 12.23 —  ―O homem prudente oculta o conhecimento, mas o coração dos insensatos

proclama a estultícia.‖  Jr 17.9  —   ―Enganoso é o coração; mais do que todas as coisas e desesperadamentecorrupto. Quem o conhecerá?‖ 

No Novo Testamento

 Jesus é absolutamente claro quando trata da pecaminosidade que atribuída ao coraçãohumano:

Mc 7.21-23  —   ―Porque de dentro, do coração dos homens, e que procedem os mausdesígnios, a prostituição, furtos, os homicídios, os adultérios....; ora, todos esses males vêm dedentro e contaminam o homem.‖ 

Paulo é o apóstolo que mais trata desta matéria:

Ef 4.17-18 —  ver outros textos sobre o coração endurecido.

Obs.: averiguar esta matéria no Livro de Provérbios.

D)A ESCRITURA APRESENTA TAMBÉM O CORAÇÃO COMO O CENTRO DA OBRAREDENTORA DA GRAÇA.

Sl 51.10 —  ―Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova dentro de mim um espírito

reto.‖  Ez 36.26 —  ―Dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo.‖ At 16.14 —  (Sobre Lídia) ―…e o Senhor lhe abriu o coração para atender às coisas que

Paulo dizia.‖ Rm 2.29 —  ―Porém justo é aquele que o é interiormente, e circuncisão a que é do coração.‖ Rm 10.9-10 —  ―Porque, como coração se crê para a justiça...‖ Ef 3.17 —  ―E assim, habite Cristo em vossos corações, pela fé....‖ 

―O coração é o ponto de concentração, a raiz religiosa de nossa existênciahumana total. Dele surgem todos os nossos pensamentos, ações, sentimentos edesejos. Em nossos corações damos respostas às mais profundas e definitivasquestões, e em nossos corações o nosso relacionamento com Deus é determinado.A regeneração, a renovação do coração pelo Espírito Santo, faz-nos voltar para

Deus e redirige-nos o coração do caminho da apostasia para Deus. O coração, oualma do homem, jamais pode ser identificado com qualquer outra função vital, talcomo sentimento ou fé. Ele é mais profundo do que qualquer outra função vital etranscende o temporal. O coração é o ponto do homem que determina o seurelacionamento com Deus. Não é possível dar uma conceituação ou uma definiçãocientífica do coração, porque como o centro de nossa existência em seu todo, ocoração é a pressuposição mais profunda de nosso pensamento. Nós podemossomente repetir através da fé o que Deus nos tem revelado em Sua Palavra a

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 43/222

  43

respeito do centro de nossa vida.‖32 

Resumo —  A fim de ajudar-nos a compreender melhor o significado bíblico de coração,perguntamos: O que deve ser oposto ao coração, na Bíblia? A resposta é sempre, sem exceção,aquilo que é visível, o homem exterior. A adoração que uma pessoa pode prestar com seus lábios(exterior, visível, adoração audível), é contrastada com a adoração do coração (interior, invisível,

inaudível) ilustrada em Mt 15.8. Uma outra maneira de se ver esse contraste é observar 1 Sm16.7 –  ―aparência exterior‖ e ―coração‖ (Rm 10.8-10).Sempre a Escritura usa a palavra ―coração‖ para falar do interior do homem (ou do

homem interior - 1 Pe 3.4; 2 Co 4.16). O coração é a parte interior de nossa vida diante de Deuse de si mesmo, uma vida desconhecida dos outros, porque ela é escondida deles (Mt 5.28).

E bom que se lembre aos tricotomistas de que tudo o que é dito da alma e do espírito, étambém dito do coração (Dt 11.13; Mt 22.37; 1 Rs 4.48; 1 Cr 22.19; At 4.32; Sl 32.2; Mc 14.38;8.12; Ef 4.23; Hb 4.12-13; 1 Pe 3.4; S164.6; 13.2).

Pode haver alguma distinção entre alma e espírito? Por que essas duas palavras Sãousadas para descrever uma só entidade? Como essas duas palavras estão ligadas a coração?Como já foi visto, o coração é a parte interior, não-observável, imaterial do ser humano.

ALMA —  fala do homem em unidade dos elementos material e imaterial como um ser vivo(1 Pe 3.20; Gn 46.22; alma também diz respeito ao ―eu‖ do homem (Sl 42.1; 103.1, etc.). 

ESPIRITO —  sempre pinta o aspecto imaterial da natureza humana, fora da relação docorpo. O espírito fala do estado desincorporado. Deus, por exemplo, nunca é chamado Alma(embora nephesh seja atribuída a Ele), mas sempre ele é chamado Espírito (Jo 4.24). A terceirapessoa da Trindade é o Espírito Santo, não a Alma Santa. Quando Jesus disse que Deus éEspírito, Ele enfatizou o fato de que a adoração requerida deveria ser mais do que exterior (física);Deus deveria ser adorado em espírito e em verdade. Quando Cristo discutiu e definiu um espirito,Ele disse: ―...apalpai-me e verificai, porque um espírito não tem carne nem ossos, com vedes queeu tenho‖ (Lc 24.39). Um espírito é uma pessoa sem o corpo. Assim, como a palavra alma (de umaforma ou outra) sempre descreve o aspecto não-material da natureza humana em relação ao (ouem unidade) material, assim a palavra espírito refere-se ao mesmo aspecto imaterial da naturezahumana, mas fora de sua ligação com o corpo (o material).

CORAÇÃO  —   refere-se ao aspecto imaterial do homem em contraste com o aspectomaterial (usualmente enfatizando sobre a visibilidade deste último e a invisibilidade do primeiro).

São três palavras distintas, contudo, todas elas referem-se a mesma entidade: a pessoaimaterial.

32 J. M. Spier, Na Introduction to Christian Philosophy, 15-16.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 44/222

  44

CAPITULO IV

TEORIAS SOBRE A ORIGEM DA ALMA HUMANA 

 Três teorias disputaram a opinião da igreja desde os primeiros séculos da igreja cristã,com respeito à origem da alma:

1.  PRE-EXISTENCIALISMO33 

Orígenes (séc. III) foi seu principal expoente. Esta teoria ensina que as almas dos homenstiveram uma existência anterior à criação dos próprios homens. Alguns acontecimentos nesseperíodo pré-temporal determinaram a condição em que atualmente se encontram essas almas.

Houve uma espécie de queda pré-temporal. Orígenes considerou que a existência materialpresente no homem, com todas as suas desigualdades e irregularidades físicas e morais, é umcastigo pelos pecados cometidos em uma existência anterior. O pecado, portanto, teve entrada nomundo dos homens num estado pré-temporal, e isso fez com que o homem já entrasse no mundonuma condição de pecado.

Objeções: a) É uma teoria sem base escriturística. Algumas de suas formas refletem umabase filosófica pagã que aceita um dualismo, matéria-espírito, tornando um castigo para a almao fato dela ser unida ao corpo.

b) Faz com que o corpo seja meramente acidental. A princípio, a alma existia sem o corpo.O homem estava completo sem o corpo. Isto apaga a distinção entre o homem e os anjos.

c) Destrói a unidade da raça humana, porque aceita que as almas individuais existirammuito tempo antes de entrarem na vida presente. Não constituem uma raça.

d) Não tem apoio na consciência humana. O homem não tem uma consciência de uma

existência prévia, ou que o corpo seja uma espécie de prisão para a alma.

2. TRADUCIANISMO (ou PROPAGAÇÃO)34 Segundo o traducianismo, as almas dos homens se propagam juntamente com os corpos,

mediante uma geração ordinária, transmitida dos pais aos filhos.Entre os Reformados há alguns que defendem a idéia traducianista. W.G.T. Shedd é o

principal expoente dessa corrente.

a) Argumentos a favor do Traducianismo

Os traducianistas apresentam vários argumentos em favor de sua teoria:

(a) A Escritura parece favorecer a apresentação do traducianismo

A Bíblia ensina que o homem é uma espécie, e a idéia de espécie implica numapropagação da totalidade do indivíduo, e não de uma parte apenas, ou seja, o corpo, como ensinao criacionismo.

 —   Gn 1.26, 27; 5.2 ensinam que o homem e mulher são denominados ―homem‖. Apalavra ―Adão‖ não denota simplesmente o nome de um homem, mas da espécie. Quando Deuscriou Adão, ele não criou o indivíduo, mas a espécie.

33 Dados tirados de Berkhof, p. 232 (edição castelhana).34 Argumentos tirados de Berkhof, p. 233-34 (edição castelhana)

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 45/222

  45

 —  A criação da alma de Eva esteve incluída na de Adão, pois dele ela foi formada ( 2 Co11.8; Gn 2.21-23). A mulher toda (por inteiro), e não somente o seu corpo, foi derivada de Adão.Alma e corpo são propagados. Deus criou a natureza humana em Adão, e depois essa naturezahumana foi transformada em milhões de indivíduos por propagação sexual. A criação do ―Adão‖(natureza humana) foi terminada e completada no sexto dia. Após isso, há somente a propagaçãoda raça.

 —  Gn 2.2 diz que Deus cessou o trabalho da criação depois de haver feito o homem. —  Deus soprou somente uma vez nas narinas do homem, e depois o tornou fecundo paraa propagação da espécie (Gn 1.28; 2.7).

 —  Observe o uso da palavra ―carne‖ quando denota ―natureza humana‖ (corpo e alma), enão apenas corpo (Jo 3.6; 1.14; Rm 1.3).

Estes textos parecem favorecer a posição traducianista, isto é, eles ensinam que oindivíduo é propagado como um todo (consistindo de corpo e alma), e não somente em parte comoensina o criacionismo.

(b) Pelas leis naturais da vida vegetal e animal

O crescimento nesses remos não é por um crescente de criação imediata, mas por meio dederivação natural de novos indivíduos procedentes de um tronco paterno (mas observe-se Si

104.30).

(c) As Leis genéticas favorecem o Traducianismo

A herança das peculiaridades mentais e tendências familiares são notáveis, traços físicose mentais que não são explicáveis nem pela educação, nem pelo exemplo.

(d) O Traducianismo oferece mais base para explicar a depravação moral e espiritual

porque este assunto é mais um assunto da alma do que do corpo.OBS. - Para justificar os seus argumentos, os traducianistas se juntam ao realismo para

explicar o pecado original.

b) Objeções ao Traducianismo

Contra o traducianismo há varias objeções:(a) Ele é contrario à doutrina filosófica da simplicidade da alma. A alma é uma substancia

espiritual pura que não admite divisão. A propagação da alma implicaria na divisão da alma, jáque a criança recebe a sua alma dos pais. O problema maior é: de quem procede a alma dacriança? da mãe ou do pai? Ou ela vem de ambos? Se é assim, não seria uma alma composta?

(b) A fim de evitar essa dificuldade supra-mencionada, os traducianistas têm que recorrera uma dessas três teorias a serem mencionadas: Primeira, que a alma da criança tem umaexistência prévia, uma espécie de pre-existencialismo; Segunda, que a alma está potencialmentepresente no sêmen do homem ou da mulher, ou em ambos, e isso e. materialismo; Terceira, que

a alma é produzida, isto é, ela é criada de algum modo, pelos pais, e isto os torna, de algum modo,criadores.

(c) Os traducianistas dizem que, após a criação original, Deus somente obramediatamente. Após os seis dias da criação Sua obra criadora cessou, por isso Deus não podemais criar almas. Mas a pergunta a ser levantada é esta: Onde fica, então, a regeneração, que nãoé efetuada através de causas secundarias? Ela é uma nova criação!

(d) Geralmente o traducianismo se une ao realismo para explicar o pecado da raça, isto é,a culpa do homem. Fazendo isto, o traducianismo afirma a unidade numérica da substância detodas as almas humanas, o que é uma posição insustentável. Além disso, o traducianismo falha

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 46/222

  46

em explicar a culpa individual de cada homem nos outros pecados de Adão, e nos pecados dosoutros antepassados.

(e) O traducianismo tem dificuldades insuperáveis na Cristologia. Se em Adão a naturezapecou como um todo, e que o pecado foi de cada parte da natureza, então, a conclusão é que anatureza humana de Cristo foi também pecaminosa e culpada, pois ela fazia parte da raça criadanumericamente uma e a mesma em Adão.

3) CRIACIONISMOEsta teoria considera que cada alma é uma criação imediata de Deus, possuindo sua

origem num ato criativo direto de Deus, no qual o tempo não pode ser precisamente determinado.Supostamente, a alma é criada pura, pois Deus não poderia tê-la criado impura, e ela é unida aum corpo depravado. Não deve ser crido que a alma é criada separadamente do corpo e que ela setorna poluída em contato com o corpo, o que tornaria o pecado algo simplesmente físico. Deve sercrido que a alma é criada pura, mas que Deus imputa a culpa de Adão a ela e, então, se tornacorrupta também.

A alma, que é produto de um ato criador direto de Deus, já está pré-formada na vidapsíquica do feto.

a) Argumentos a favor do Criacionismo

(a) Ele é mais consistente com as apresentações dominantes da Escritura que otraducianismo. O relato original da criação assinala uma distinção clara entre a criação do corpoe da alma. O corpo foi tomado da terra e a alma vem diretamente de Deus. Em toda a Bíblia estadistinção se conserva, onde a alma e o corpo não são somente substâncias diferentes, mas têmorigens diferentes (veja Ec 12.7; Is 42.5; Zc 12.1; Hb 12.9; Nm 16.22). Sobre o texto de Hebreus,Delitzsch, um notável traducianista, disse: "Dificilmente pode encontrar-se um texto que dêprova mais clássica a favor do criacionismo!"- O criacionismo é muito mais consistente com anatureza da alma humana do que o traducianismo. A natureza individual da alma humana éperfeitamente reconhecida pelo criacionismo. A teoria traducianista, por sua vez, implica. numaseparação e divisão da essência da alma.

(b) Evita os tropeços do traducianismo na Cristologia, e faz mais justiça à pessoa de Cristona Escritura. Cristo foi verdadeiramente homem, com verdadeira natureza humana, um corpoverdadeiro e uma alma racional. Nasceu da mulher, foi feito semelhante a nós e, não obstante,sem pecado. Diferentemente dos outros homens, não participou da culpa e corrupção datransgressão de Adão, pois Deus não lhe imputou culpa. Isto foi possível porque Ele nãoparticipou da mesma essência numérica dos que pecaram em Adão.

b) Objeções ao Criacionismo

(a) A objeção mais séria é a seguinte: a alma sendo depravada, ou possuindo tendênciasdepravadas, torna Deus o autor direto do mal. Se a alma foi criada pura, torna Deus o autorindireto do mal, pois Deus a coloca num corpo que fatalmente a corromperá.

Este argumento é considerado pelos traducianistas como fatal para o criacionismo. Claroque este é um tropeço a ser evitado. Para o criacionismo, o pecado original não é um problema

simplesmente de herança. Os descendentes de Adão são pecadores, não como resultado dehaverem sido postos em contato com um corpo pecador, mas em virtude do fato de Deusimputar-lhes a desobediência original de Adão. Então, a justiça original é tirada, e a corrupção dopecado, naturalmente, se desenvolve.

(b) O criacionismo considera os pais terrenos como gerando somente o corpo de seusfilhos, o que certamente não é a parte mais importante da criança e, portanto, não explica osreaparecimentos de tendências mentais e morais dos pais nos filhos.

Até onde tenha a ver com as semelhanças mentais e morais dos pais e filhos, nãonecessariamente precisam ser explicadas unicamente com base na herança. Nosso

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 47/222

  47

conhecimento da alma é tão imperfeito para falar com absoluta segurança sobre esse ponto. Masesta semelhança, em parte, é explicada pelo exemplo dos pais, em parte pela influência do corposobre a alma e, em parte, pelo fato de que Deus não cria todas as almas iguais, mas que cria emcada caso particular uma alma adaptada ao corpo com o qual se unirá, e adaptada também àscomplexas relações nos quais terá que ser introduzida.

(c) O criacionismo não está em harmonia com a relação atual de Deus com o mundo e com

sua maneira de trabalhar nele, visto que ensina uma atividade criadora de Deus e, deste modo,ignora que Deus não mais obra diretamente, mas somente por meio de agência secundária.

4) PONDERAÇÕES FINAIS

a) Há que se ter prudência ao falar deste assunto

Deve admitir-se que os argumentos de ambas as partes, traducianismo e criacionismo,estão equilibrados. A Escritura não faz uma afirmação direta a respeito da origem da alma nohomem em particular, exceto no caso de Adão. As poucas passagens da Bíblia que tratam doassunto, só podem ser consideradas conclusivas por cada parte, já que algumas delas sãousadas pelas duas partes. Alguns teólogos são de opinião de que há verdades em ambas asteorias.

b) Alguma forma de criacionismo merece preferência

Pelas seguintes razões:(a) Não encontra dificuldade filosófica insuperável com a qual o traducianismo sofre;(b) Evita os erros cristológicos que envolve o traducianismo;(c) Está mais em harmonia com a nossa idéia de pacto.Ao mesmo tempo, estamos convencidos de que a atividade criadora de Deus, ao formar as

almas humanas, deve ser concebida como muita estreitamente ligada ao processo natural degeração dos indivíduos.

O criacionismo não evita todas as dificuldades, mas é uma garantia contra os seguinteserros: (a) que a alma é divisível; (b) que todos os homens são meramente a mesma substância; (c)que Cristo tomou aquela mesma natureza numérica que caiu em Adão.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 48/222

  48

CAPITULO V

A IMAGEM DE DEUS NO HOMEM

Hoekema diz que ―o conceito da imagem de Deus é o coração da antropologia cristã.‖ 35 Essa doutrina é fundamental para o entendimento de outros aspectos da antropologia, como porexemplo, o do efeito do pecado na vida do homem, especialmente quando estudamos a imagem deDeus após a queda.

Segundo Herman Bavinck, o homem não carrega ou tem simplesmente a imagem deDeus, mas ele é a imagem de Deus, e diz também que a imagem de Deus não é um acidente, masalgo essencial a ele, sem a qual ele não pode ser o que e.

―Da doutrina de que o homem foi criado à imagem de Deus segue -se a

implicação clara que a imagem de Deus estende-se ao homem em toda a suainteireza. Nada no homem é excluído da imagem de Deus. Todas as criaturasrevelam traços de Deus, mas somente o homem é a imagem de Deus. E ele é aimagem totalmente, na alma e no corpo, em todas as faculdades e poderes, emtodas as condições e relacionamentos. O homem é a imagem de Deus porque e aograu em que ele é verdadeiro homem, e ele é homem, homem verdadeiro e real,

porque e ao grau em que ele é a imagem de Deus.‖36 

Isto quer dizer que a imagem de Deus não é acidental, mas algo extremamente importantee essencial à natureza humana. O homem não pode ser homem sem a imagem de Deus. Por issoo homem é a imagem de Deus, não simplesmente a tem, como algo que foi acrescentado depois desua formação.

Quando criado, portanto, o homem era:a) O espelho de Deus - Antes da queda, o homem refletia perfeitamente o seu Criador.

Bastava olhar para ele para ver a perfeição de Deus refletida nele. Tudo era harmonia. Hoekemadiz que

―Deus era o homem tornado visível na terra. Para ser exato, outras criaturas, emesmo os céus, declaram a glória de Deus, mas somente no homem Deus torna-se

visível. Os teólogos Reformados falam da revelação geral de Deus, naqual Ele revela a Sua presença, poder e divindade através das obras de Suas mãos.Mas na criação do homem, Deus revelou-Se a Si mesmo de um modo singular, portornar alguém que era uma espécie de espelho, uma imagem de Si próprio.Nenhuma honra mais alta poderia ter sido dada ao homem do que a do privilégiode ser a imagem de Deus que o fez‖.37 

Esta imagem foi deformada pela queda, mas foi restaurada por Cristo, e será aperfeiçoadaaté que volte de novo a ser como era.

b) O representante de Deus - O domínio que Deus deu ao homem sobre todas as obras deSua criação, indica que Deus deixou o homem como seu representante e governador da criação.

35 Anthony Hoekema, Created God‟s Image , (Eerdmans, 1986), p.66.36 Herman Bavinck, Dogmatiek, 2:595-96, citado por Hoekema, p. 65.37 Hoekema, p. 67.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 49/222

  49

Deus governa através do homem, a quem deu o domínio sobre tudo. Por essa razão, aresponsabilidade do homem aumenta, pois ele tem que fazer exatamente o que Deus faria, comoum embaixador de Deus que e.

SOBRE O SIGNIFICADO DAS PALAVRAS

“Imagem” e “Semelhança” As duas palavras aparecem juntas e Gn 1.26, mas não se referem a coisas diferentes,

como, por muito tempo, creu-se na história da igreja.38 As duas palavras, imagem e semelhança, são sinônimas e usadas indistintamente. Em

Gn 1.26 aparecem as duas palavras, enquanto que em Gn 5.1 aparece somente a ―semelhança‖,e em Gn 5.3 as duas novamente. Em Gn 9.6 aparece somente a palavra ―imagem‖, como queindicando a idéia total do homem. Hoekema assevera que ―se estas palavras pretendessemdescrever aspectos diferentes do ser humano, elas não seriam usadas, como as temos visto sendousadas, isto é, quase indistintamente‖.39 Berkhof observa que

―a opinião corrente é que a palavra ‗semelhança‘ foi acrescentada à ‗imagem‘para expressar a idéia de que a ‗imagem‘ foi extraordinariamente parecida, umaimagem perfeita. A idéia é que, mediante a criação, aquilo que era arquetípico emDeus, se transformou em cópia no homem. Deus foi o original de onde se tirou a

cópia que é o homem.‖40 

A palavra hebraica para ―imagem‖ é {elec: (tselem )  derivada de uma raiz que significa―esculpir‖ ou ―cortar‖. Portanto, podemos entender ―imagem‖ como sendo o homem umarepresentação de Deus.41 

A palavra hebraica para ―semelhança‖ é "tUm:di  (demuth ), que vem de uma raiz quesignifica ―ser igual‖. ―Alguém poderia dizer que em Gn 1.26 a palavra imagem é igual asemelhança, uma imagem que é igual à nossa. As duas palavras juntas dizem-nos que o homem

é uma representação de Deus, que é igual a Deus em certos aspectos.‖42 

SOBRE A REFLEXÃO DA IMAGEM DE DEUSGn 1.26  —  ―Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança...‖  

38  Irineu (175...) e Tertuliano (160-225) pensaram que ―imagem‖ e ―semelhança‖ fossem coisasdistintas. A primeira tinha a ver com as características físicas, enquanto que a segunda com a naturezaespiritual do homem;

Clemente de Alexandria (155-220) e Orígenes (185-254) pensaram que ―imagem” denotava ascaracterísticas do homem como homem, enquanto que ―semelhança‖ dizia respeito ás qualidades essenciais

que não se podem perder ou cultivar;Os escolásticos, com algumas variações, conceberam a ―imagem‖ como sendo as capacidades

intelectuais e da liberdade do homem, enquanto que ―semelhança‖ dizia respeito à justiça original. Numdesenvolvimento desse conceito, acrescentou-se posteriormente que a ―imagem‖ era um dom natural deDeus ao homem, enquanto que a ―semelhança‖, ou a justiça original, é um dom sobrenatural que foiacrescentado ao homem, para que fosse freio para a natureza baixa do homem. Este é o donumsuperadditum. 

39 Anthony Hoekema, Created in God‟s Image , (Eerdmans, 1986), p. 13.40 Berkhof, p. 240, (edição em castelhano).41 Hoekema, p.13.42 Hoekema, p. 13.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 50/222

  50

A relevância deste verso está no fato de Deus usar a expressão ―nós‖ , uma expressãoplural que anuncia o conselho triunitário da criação do homem. ―Isto‖, diz Hoekema, ―indicanovamente a singularidade da criação do homem‖.43 

Neste tópico, vamos analisar a imagem do homem teologicamente, tanto quanto possível,baseado no ensino geral das Escrituras sobre o homem.

De que consiste o reflexo da imagem de Deus?

Reflexo 1

O homem reflete a imagem de Deus como um ser pessoal que é. Nesse sentido ele seassemelha a Deus. Ele não pode viver isolado, como Deus não vive em solidão44, mas sempre emrelacionamento. Não existe a pessoalidade sem a noção de companheirismo. Foi por isso queDeus fez uma companheira para o homem, pois como pessoa que ele é, não poderia ficar só.Nessa capacidade de pessoalidade o homem reflete Aquele que o criou.

Reflexo 2

O homem reflete a imagem de Deus pela capacidade de domínio sobre as outras coisascriadas. Esta é a indicação mais clara que a Escritura dá da imagem de Deus no homem.

Há divergência entre os teólogos sobre se o domínio da criação é parte essencial daimagem de Deus. Alguns dizem que o domínio sobre a criação é resultado do homem ser criado àimagem de Deus45, enquanto que outros afirmam que isso é essencial ao conceito de imagem deDeus.46 Neste estudo, assumimos esta última posição.

O domínio do homem é parte essencial da sua natureza. A palavra domínio vem dapalavra latina dominus, que quer dizer ―Senhor‖. O homem foi colocado como o ―senhor‖ da terra.Nesse sentido, ele é o imitador de Deus, como o Senhor absoluto e supremo. Deus, quandoestampou a Sua imagem no homem, colocou o senso de domínio sobre todas as obras da criação,

e ordenou esse domínio ao homem. Obviamente, é um domínio subordinado, não absoluto comoo do seu Senhor.

O texto de Gn 1. demonstra fartamente esta verdade:

Gn 1.26-28  —   ―Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem,conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre asaves do céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos osrépteis que rastejam pela terra. Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, àimagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou, e lhesdisse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre ospeixes do mar, sobre as aves do céus, e sobre todo animal que rasteja pela terra‖. 

Este texto de Gn 1.26-28 dá-nos uma idéia vaga, mas correspondente com a real, daimagem de Deus. E o domínio do homem sobre a criação, especialmente sobre os seres vivos.

43 Hoekema, p. 12.44 Eternamente Deus é tripessoal. Antes de haver a criação, Ele já se comunicava consigo mesmo,

nas pessoas da Trindade. A prova disto está no fato de Deus usar a frase ―Façamos o homem ‖, numa espécie de conselho, um acordo de pessoas que se entendem relacionando-se.

45 Vide J. Skinner, Critical and Exegetical Commentary on Genesis , (Nem York: Scribner, 1910), p.32; Berkouwer, Man: The image of God, (Eerdmans, 1984), pp. 70-72.

46 Vide Berkhof, Systematics ; L. Verduin, Somewhat Less Than God , (Eerdmans, 1970), pp. 27-48.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 51/222

  51

Quando o homem exerce devidamente esse domínio, ele está se portando como Deus, refletindo odomínio que Deus tem sobre todas as coisas.

O Salmo 8 é uma ―linguagem poética imponente‖47 que descreve o conteúdo de Gn 1.26,mostrando o poder e o domínio do homem. ―O homem é um rei, e não um rei sem território; omundo em derredor, com as obras da sabedoria criadora que o enchem, é o seu reino‖.48 Segundoeste Salmo, o homem foi feito, por um pouco, menor do que Deus, e foi coroado de glória e de

honra, pelo domínio sobre a criação (vv.5-9). A glória e honra do homem está, na verdade, no fatodele ser parecido com Deus no domínio sobre toda a criação. Nisto o homem reflete a imagem deDeus, como nenhuma outra criatura racional, mesmo os próprios seres celestiais.

Esse domínio é chamado por alguns teólogos o ―mandato cultural‖, isto é, a ordenaçãopara o governo da terra no lugar de Deus, como representante de Deus.

Reflexo 3

O homem reflete a imagem de Deus por ter atributos que chamamos "essenciais" nele,sem os quais ele não poderia continuar sendo o que é: Poder intelectual, afeições naturais,liberdade moral, espiritualidade, imortalidade e o aspecto físico.

a) Por Poder Intelectual queremos dizer a faculdade do raciocínio, inteligência, e outras

capacidades intelectivas em geral, que refletem aquilo que Deus tem.Se o homem perde as suas capacidades intelectivas, ele deixa de ser o que é. A

racionalidade é o aspecto distintivo dos outros seres criados. Estas capacidades foram afetadas,mas não extintas pela Queda.

b) Por Afeições Naturais queremos dizer as capacidades que o homem tem de ligar-seemocional e afetivamente a outros seres ou coisas. Deus tem essa capacidade e a passou para osseres humanos.

c) Por Liberdade Moral queremos a capacidade que o homem tem de fazer todas as coisasde acordo com os princípios morais que nele existem, de acordo com as leis que Deus implantouno seu coração (Rm 2). Os teólogos também dizem que a liberdade moral está vinculada àLibertas Naturae que o homem possui, independentemente de sua queda. Ele é capaz de agirsempre de acordo com a sua natureza, também chamada de liberdade de agência. Essa é aliberdade própria do ser humano, sem a qual ele não pode ser o que e.

d) Por Espiritualidade queremos dizer a natureza imaterial do homem, com a qual ele foicriado. A Escritura diz que o homem foi feito ―alma vivente‖ (Gn 2.7). Deus é Espírito, e num certosentido, o homem tem traços dessa espiritualidade, embora ele não seja completo sem o corpo.

e) Por Imortalidade queremos dizer que o homem, depois de criado, não mais cessa deexistir. Não é somente a alma do homem que é imortal, mas o seu ser completo. A morte, não épara o corpo, mas para o homem. Morte é separação, não cessação de existência. A imortalidadeé singular para Deus (1 Tm 6.16) no sentido de ser essencial para Ele. O homem a possui numcaráter secundário e derivado. A imortalidade é um dom que o homem recebe de Deus.

f) Por Aspecto Físico queremos nos reportar ao texto de Gn 9.6 que diz: ―Se alguémderramar o sangue do homem, pelo homem se derramará o seu; porque Deus fez o homemsegundo a sua imagem‖. Uma assassinato é a destruição do corpo, mas o texto diz que é adestruição da imagem de Deus. ―Portanto, quando alguém mata o ser humano, não somente eletira a vida de uma pessoa, ele ofende o próprio Deus - o Deus que foi refletido naquele indivíduo.

 Tocar na imagem de Deus é tocar no próprio Deus; matar a imagem de Deus é fazer violência aopróprio Deus.‖49 Não podemos deduzir de Gn 9.6 que o Senhor Deus tenha uma aparência física,mas temos que entender que quando a Escritura fala do corpo, do aspecto físico, ela está falandodo homem completo, que é a imagem de Deus. Hoekema diz com grande acerto que ―deveríamos

47 Esta é uma expressão usada por Franz Delitzsch, em seu comentário sobre o Salmo 8.7-9.48 C. F. Keil and Franz Delitzsch, Commentary on the Old Testament, vol. 9, (Eerdmans, 1982), p.

155.49 Hoekema, p. 16.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 52/222

  52

dizer não somente que o homem tem a imagem de Deus, mas que o homem é a imagem de Deus.Do ponto-de-vista do Antigo Testamento, ser humano e carregar consigo a imagem de Deus.‖50 

Não podemos menosprezar a idéia do corpo, como sendo algo descartável, que não fazparte da imagem de Deus. Quando Deus fez o homem à sua imagem e semelhança, o corpoestava incluso, porque o homem total é a imagem de Deus.

Reflexo 4

O homem reflete a imagem de Deus por ter atributos que consideramos ―não essenciais ” aele.

A rigor, o que não é essencial, é aquilo que alguém pode não ter, e mesmo assim,continuar a ser o que é. Estes atributos dos quais vamos falar, o homem perdeu na queda e,contudo, continuou a ser homem. O homem não poderia perder as faculdades que o fazem ser oque é, mas perdeu as capacidades éticas de suas faculdades. Berkhof diz que o homem

―era,  por natureza, dotado com aquela justiça original que é a glóriaculminante da imagem de Deus e vivia, consequentemente, num estado desantidade positiva. A perda dessa justiça significou a perda de algo quecorrespondia à verdadeira natureza do homem em seu estado ideal. O homempoderia perdê-la e continuar sendo homem, mas não poderia perdê-la e continuarsendo homem no seu sentido ideal. Em outras palavras, sua perda significaria adeterioração e ruína da natureza humana.‖51 

OS ESTÁGIOS DA IMAGEM DE DEUS

Neste capítulo vamos tratar da imagem de Deus nos seus vários estágios, isto é, antes daqueda, depois da queda, depois da regeneração e no estado de glória.

1. A IMAGEM ORIGINALNeste ponto vamos falar de um aspecto extremamente importantíssimo, que os teólogos,

com o suporte das Escrituras, chamam de ―justiça Original‖. Nesse tempo, antes da queda, no estado de integridade, o homem refletia perfeitamente a

imagem de Deus. Ele era capaz de viver perfeitamente de acordo com as prescrições de Deus.Agostinho disse que ele era capaz de não pecar. A famosa frase latina posse non peccare expressabem a capacidade do homem em viver de acordo com a vontade preceptiva de Deus explicitada alino Éden.

Adão e Eva possuíam a justiça original. Esta justiça original é uma terminologia teológica,que não é encontrada na Escritura para os nossos primeiros pais. Contudo, podemos deduzirclaramente do ensino bíblico que os nossos primeiros pais a possuíam, porque estas coisasperdidas, são restauradas posteriormente.

Composição da Justiça Original

Essa justiça original que os nossos primeiros pais possuíram, é composta de:

a) ―Conhecimento verdadeiro‖ O NT indica que o conhecimento de Deus é restaurado no homem. Paulo, escrevendo a

50 Hoekema, p. 18.51 Berkhof, p. 246 (edição castelhana)

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 53/222

  53

pessoas nascidas de novo, diz: ―E vos revestistes do novo homem que se refaz para o plenoconhecimento, segundo a imagem daquele que o criou‖ (Cl 3.10). Este conhecimento restauradono homem através de Cristo (2 Co 4.6), havia sido perdido na queda. Após o Éden, o homemperdeu a comunhão e, portanto, o conhecimento de Deus, porque foi expulso do lugar querevelava perfeitamente a presença de Deus.

b) ― Justiça‖ Novamente, falando do novo homem, do homem renovado em Cristo, Paulo diz: ―E vosrevistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade‖ (Ef4.24). Por justiça, portanto, entendemos a conformidade com a lei divina. Antes da queda haviauma harmonia perfeita entre a natureza moral do homem e todas as santas exigências da lei deDeus. A regra de conduta estabelecida por Deus era cumprida perfeitamente antes da queda. ABíblia diz em Ec 7.29, que Deus fez o homem reto (justo), referindo-se à sua excelência moral.

c) ―Santidade‖ Aqui, santidade é sinônimo de ―retidão‖ de Ef 4.24. Essa santidade diz respeito à pureza

imaculada do ser humano quando criado. Ele possuía uma comunhão direta com o seu Criador.A santidade não era simplesmente advinda da comunhão com Deus, mas uma qualidade moraldeles. Os nossos primeiros pais não eram apenas separados do mal, mas possuíam o bem. Eram

limpos de coração.Esta é a imagem moral de Deus que foi perdida no Éden, mas o homem não deixou de ser

homem, por perdê-la.O homem, portanto, por causa da imagem moral de Deus estampada nele, a justiça

original, possuía um relacionamento triplo perfeito:

Relacionamento Tríplice Perfeito

a) Relacionamento com Deus

A harmonia com Deus originalmente era patente. Ele respondia perfeitamente aos apelosda revelação natural de Deus. A comunhão dele com Deus no Éden era perfeita. A Escritura diz

que Deus ―andava no jardim pela viração da tarde‖ (Gn 3.8). Não há erro em dizer que Adãoamava a Deus ―sobre todas as coisas‖, e dependia totalmente dEle. No sentido mais pleno dapalavra, podemos dizer que Adão vivia coram Deo, isto é, na presença de Deus.

Deus criou o homem capaz de responder ao Seu amor e providência. E foi assim no Éden,até que o homem decidiu voluntariamente desobedecer.

Esse relacionamento perfeito com Deus determinava os outros relacionamentos. Osrelacionamentos horizontais eram diretamente relacionados com o relacionamento vertical. Donosso relacionamento com Deus dependem todos os outros relacionamentos.

b) Relacionamento com o semelhante

Como um resultado de andar bem com Deus, era perfeito o relacionamento de Adão comsua mulher. Gn 2.18 diz que não era bom para o homem viver só. Por isso Deus quis uma vidaainda melhor para ele, uma vida que incluía o relacionamento com um semelhante. Certamente,a vida com Eva foi de perfeição relacional. Este foi o propósito de Deus para os seres humanos.Uma pessoa, como pessoa, não pode viver em isolamento e, por isso, Deus fez a mulher, para sersua companheira, sua ajudadora, seu par, de tal forma que um não seria completo sem o outro.As palavras de Gn 2.18 indicam

―que a mulher complementa o homem, suplementa-o, completa-o, é forte ondeele pode ser fraco, supre suas deficiências preenche suas necessidades. O homeme, portanto, incompleto sem a mulher. Isto vale tanto para o homem quanto para a

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 54/222

  54

mulher. A mulher também é incompleta sem o homem; o homem suplementa amulher, complementa-a, preenche suas necessidades, e é forte onde ela é fraca.‖52 

O casamento indica o melhor relacionamento que pode haver entre dois seres humanos, eilustra como podem ser os outros relacionamentos com os nossos semelhantes. O que queremosdizer é que o ser humano não é completo sozinho. Ele precisa de outros seres humanos para se

realizar. O ser humano não alcança a sua plena satisfação sem o relacionamento, porque Deusnos fez pessoas, e estas não podem viver em isolamento. Somos seres psicológicos, afetivos esociais, diferentemente de outros seres criados. Não podemos viver sem as afeições dorelacionamento. E os primeiros seres humanos viviam em perfeito relacionamento entre si, antesda queda. Quando Jesus estava tratando da quebra do casamento, do divórcio, em Mt 19, Eledisse, em palavras bem claras: ―Não foi assim desde o princípio‖. Isso quer dizer que, no Éden,havia um perfeito relacionamento entre os seres humanos.

c) Relacionamento com a natureza

Este também era perfeito. Gn 1.26-28 descreve como Deus quis que os seres humanosvivessem com a natureza.

Deus colocou o homem no mundo para viver em perfeita harmonia com a sua criação.Deus o colocou para ter domínio sobre a vida vegetal e animal. E isto o que está claro em Gn1.28-29. Tudo estava colocado para o bem-estar do homem, que a tudo dominava. A natureza foifeita para servir ao homem, e este deveria viver em perfeita harmonia com ela, cuidando dela. Docuidado dela dependeria toda a sua subsistência.

―O homem é chamado por Deus para desenvolver todas as potencialidadesencontradas na natureza e na raça humana como um todo. Ele deve procurardesenvolver não só a agricultura, horticultura, afazeres domésticos com osanimais, mas também a ciência, tecnologia e arte. Em outras palavras, nós temosaqui o que e freqüentemente chamado de mandato cultural: a ordem paradesenvolver uma cultura que glorifica a Deus.‖53 

Mas não foi assim até o fim. O pecado fez com que essa harmonia fosse quebrada, esubsistência do homem ficou prejudicada pela desarmonia com a natureza.

Posse Non Peccare

O posse non peccare de Agostinho, era a condição natural do homem antes da queda. Elepoderia perfeitamente viver sem transgredir as leis de Deus, porque ele possuía a habilidade paratal. Ele não possuía natureza pecaminosa, e nada no seu interior que o levasse a pecar. Aobediência plena era perfeitamente possível para Ele. Ele poderia agir perfeitamente de acordocom a sua natureza. Os escolásticos chamaram essa condição de libertas naturae. Adão possuíao potentia non peccandi. No jardim, enquanto não pecou, Adão, portanto, refletia perfeitamente aimagem de Deus, com a qual havia sido criado.

Mas o posse non peccare, não era uma condição imutável. Hoekema diz que –  

―a integridade na qual Adão e Eva existiram, não foi um estado de perfeiçãoconsumada e imutável. Para ser exato, o homem foi criado à imagem de Deus nocomeço, mas ele não era ainda um ―produto terminado‖. Ele ainda necessitavacrescer e ser testado. Deus desejou determinar se o homem seria obediente a Ele

52 Hoekema, p. 77.53 Hoekema, p. 79.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 55/222

  55

livre e voluntariamente, em face de real possibilidade de desobediência. Por estarazão, Deus pôs Adão à prova (Gn 2.16-17). Se Adão e Eva houvessem guardadoaquela ordem, quem sabe igual a quê seria a história humana. Mas é triste dizer,eles desobedeceram a ordem, e lançaram-se a si mesmos, e toda a raça humanaque veio depois, no estado de pecaminosidade.‖54 

É esta também a opinião da Confissão de Fé de Westminster: ―O homem, em seu estado deinocência, tinha a liberdade e o poder de querer e fazer aquilo que é bom e agradável a Deus, masmudavelmente, de sorte que pudesse decair dessa liberdade e poder.‖ (IX, 2) 

Adão foi criado de tal forma que pudesse cair desse estado. E foi exatamente isso o queaconteceu, com todas as suas conseqüências.

2.  A IMAGEM DESFIGURADA

A imagem de Deus permanece depois da queda, mesmo embora não vejamos mais osvestígios da justiça original. Todas as suas capacidades intelectuais, afetivas, sua liberdademoral, seu domínio sobre a criação, etc., foram afetados pela Queda, mas mesmo depois da

Queda, é dito que o homem é a imagem de Deus (Tg 3.9 e Gn 9.6).A condição da humanidade agora caída, portanto, é a da impossibilidade de não pecar.Neste estado o non posse non peccare é uma realidade indiscutível. Não há forças no pecadorpara fugir do pecado. Nesse estado, é também dito que o homem tem impotentia bene agendi, istoé, ele é incapaz de fazer o bem.

Calvino diz ―mesmo embora concedamos que a imagem de Deus não tenha sidototalmente aniquilada e destruída no homem, ela foi tão corrompida que, qualquer coisa que

permaneça, é uma deformidade horrenda‖. 55  Possivelmente pensando na justiça original,Calvino acrescenta:

―Agora, a imagem de Deus é a excelência perfeita da natureza humana quebrilhava em Adão antes da queda, mas que subseqüentemente foi viciada e quaseapagada, de tal forma que nada permanece após a ruína, exceto que ela e confusa,

mutilada e doentia.‖56 

Com a queda, a imagem ficou pervertida, e o homem quebrou os relacionamentos com osquais Deus o havia dotado: O homem quebrou o relacionamento com Deus, com o seusemelhante e com a natureza.

A Quebra do Relacionamento Tríplice

a) O Homem quebrou o relacionamento com Deus

Depois da queda, ele passou a adorar a criatura ao invés do Criador (Rm 1.20-23). Aidolatria antiga era bastante primitiva, pois o homem adorava estátuas de barro, madeira, coisasbastante rudimentares. Hoje, não existe diferença de idolatria, apenas a confecção maiselaborada dos ídolos modernos. Hoje os homens fazem outros tipos de idolatria sem seajoelharem literalmente diante delas, mas têm o dinheiro, a fama, o poder, os prazeres, asposses, etc., como objetos de culto. Não podemos, contudo, nos esquecer, de que mesmo nesta 

54 Hoekema, p. 83.55 Institutes, I, xv, 4.56 Institutes, I, xv, 4.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 56/222

  56

nossa sociedade contemporânea, ainda há idolatria à moda antiga, ou seja, o curvar-se diante deídolos feitos à imagem e semelhança de homens e animais.

O homem se esqueceu dAquele de quem foi feito imagem e semelhança.

b) O homem quebrou o relacionamento com seu semelhante

Ao invés de ser bênção para o seu semelhante, agora o homem perdeu a verdadeiracomunhão com eles. Hoekema diz q ue ao invés de ser útil para eles, os ―homens caídos agorausam o dom do relacionamento para manipular os outros como ferramentas para os seuspropósitos egoístas. Ele usa o dom da linguagem para falar mentiras ao invés da verdade, paraferir o seu vizinho ao invés de ajudá-lo.‖57 

Os relacionamentos entre os caídos tornou-se altamente prejudicado. O amor não mais éa tônica, e sim o ódio. O real interesse pelo bem estar dos outros tornou-se em indiferença edescaso. Apenas nos interessamos pelos que são do sangue, e ainda assim quando eles não nosdecepcionam. Ninguém ama ninguém, porque a imagem de Deus está terrivelmente desfigurada.

Se as ciências dos homens estudassem o homem antes da queda, elas haveriam deentender muito melhor os relacionamentos dos homens pós-queda. As ciências humanas quenão prestam atenção ao que Deus diz dos homens na Escritura, não são sábias, e podem

perfeitamente ser chamadas não-científicas, porque sempre ficarão sem analisar os verdadeirosproblemas dos homens. As antropologias que não estudam o homem à luz da revelação divina,não são simplesmente não-cristãs, mas anti-cristãs.

―Todas as concepções do homem que não levam em conta o ponto-de-partidada doutrina da criação e, que, portanto, olham para ele como um ser autônomo eque pode chegar ao que é verdadeiro e reto totalmente à parte de Deus, ou da

revelação de Deus na Escritura, devem ser rejeitadas como falsas.‖58 

c) O homem quebrou o relacionamento com a natureza

Como os outros dois relacionamentos, este também é fácil de ser percebido. O homem foi

colocado no mundo para ser o guardador da terra que belamente Deus havia criado, mas depoisda queda, o mundo vem sendo estragado e suas riquezas tem sido usadas para propósitostremendamente egoístas. A exploração das riquezas tem sido somente para o enriquecimento dealguns mais ―espertos‖, em prejuízo da grande maioria de desfavorecidos. A natureza que deveriaser para o bem de toda a humanidade, tem sido estragada para o beneficio de algunsexploradores poderosos. Isso é tremendamente triste, porque o homem está se alienando de seupróprio habitat. Modernamente, o homem pensa no futuro, mas não sem pensar antes em seuspróprios interesses, sem levar em conta os interesses do Criador. O interesse da humanidadeestá aquém de Seus próprios interesses.

Embora possamos ver resquícios da imagem de Deus, é fácil perceber que ela está bemdistorcida, pervertida, desfigurada. E o homem revela muito bem essa condição de pecador coma imagem de Deus desfigurada. Por isso uma grande Providência foi tomada para recuperaraquilo que havia sido quase totalmente perdido.

Non Posse Non Peccare

Nesta altura o homem perdeu a capacidade de fazer o bem (o que é agradável a Deus).Agora, escravo do pecado, faz com que o pecado seja uma necessidade nele. A condição

57 In God‘s Image, p. 84. 58 Hoekema, p. 76.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 57/222

  57

pecaminosa dele o obriga a pecar porque é a única coisa que ele sabe fazer, pois de agora emdiante, como um livre-agente que é, só poderá fazer o que está de acordo com a sua natureza.Como ele só possui a natureza pecaminosa, ele só fará o que lhe é próprio. Por isso que ele nãotem capacidade de viver sem pecar. Daí a expressão latina non posse non peccare.

3.  A IMAGEM RESTAURADA

Cristo Jesus é considerado na Escritura a imagem perfeita de Deus. Em vários lugares édito que Ele reflete Seu Pai de maneira perfeita.59 

Por isso é dito na Escritura que Deus nos predestinou para sermos ―conformes à imagem‖de Jesus Cristo. Ser igual a Jesus é ter de volta a imagem de Deus.

Rm 8.29 —  ―Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de Seu Filho, a fim de que Ele seja o primogênitoentre muitos irmãos.‖ 

Os eleitos foram predestinados para se parecerem com Jesus Cristo, para refletirem a Suaperfeita varonilidade, a humanidade plena de Jesus Cristo. Este texto de Romanos indica que

alguma coisa errada aconteceu com a imagem de Deus no homem após a queda, imagem essaque precisava ser refeita. A conformidade com a imagem de Jesus Cristo é o mesmo que ser feitoà imagem de Deus. Jesus é a imagem e o reflexo exato do ser de Deus. A meta final da obraredentora de Cristo é devolver ao homem aquilo que foi perdido na queda, isto é, a imagem deDeus. Ser conformado à imagem de Jesus Cristo, é ser conformado à imagem de Deus. E é paraisso que fomos destinados de antemão. A completação da obra da redenção será o sermossemelhantes a Cristo, nosso Redentor. Esta restauração da imagem já começou, mas ainda nãoestá completada. Ainda temos sementes do pecado em nós que impedem que a imagem de Deusseja completamente vista em nós. À medida que Deus completa a sua salvação em nós,restaurando-nos, Sua imagem será plenamente vista, e Cristo será visto em nós.

2 Co 3.18 —  ―E todos nós com o rosto desvendado, contemplando, como porespelho (katoptrizo/menoi)  a glória do Senhor, somos transformados de glória em

glória, na Sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espirito.‖ 

No tempo do VT as pessoas se aproximavam de Deus com o rosto vendado, para nãoverem a glória de Deus. Opostamente, nos tempos do NT, as pessoas não mais precisam tapar osseus rostos, como medo de verem a glória de Deus. Essa glória de Deus, de alguma forma, vai serrevelada na vida dos crentes, que estão sendo transformados pela obra redentora de Cristo, pararefletirem, de novo, a imagem de Deus que foi desfigurada na queda.

Perceba-se que essa transformação é paulatina, pouco a pouco, ―transformados de glóriaem glória‖, até que reflitamos perfeitamente, amanhã, a glória de Jesus Cristo. Ass im comoCristo reflete a glória de Seu Pai, como Ele é a expressão exata do Seu Ser, também nóshaveremos de refletir perfeitamente a imagem daquele que nos redimiu.

Embora tenhamos a imagem do Senhor restaurada em nós, ainda não podemos vê-laplenamente, porque há embaraços, há ainda pecaminosidade em nosso ser. Mas não podemos

negar que, de algum modo, já refletimos algo de nosso Senhor. O texto em português diz que nós―com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor...‖ - Essatradução pode, às vezes, dar uma interpretação falseada. Ela pode dar-nos a impressão de quepor contemplarmos a glória é que somos transformados à imagem de Cristo. A idéia não é bemesta. A melhor tradução do texto diz que nós estamos como que com ―o ro sto desvendado,refletindo (katoptrizo/menoi) a glória do Senhor, somos transformados... na sua própria imagem‖. Dr.Hoekema diz que

59 Cl 1.15; Hb 1.3

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 58/222

  58

―A palavra grega é derivada de katoptron, que significa ―espelho‖. Literalmente,portanto, katoptrizo/menoi significa espelhando. A palavra poderia significar tanto―contemplando como num espelho‖ como ―refletindo como um espelho‖. Eu prefiroo segundo significado, visto que ele se encaixa tão bem no contexto. A face deMoisés estava refletindo a glória de Deus, após ele ter estado face a face, em

comunhão com Ele. Visto que esta glória estava brilhante demais para osIsraelitas olharem para ela, .Moisés teve que esconder a face. Mas hoje, Pauloaponta, nós podemos refletir a glória do Senhor Jesus Cristo, com as facesdesvendadas. E deste modo que vemos a superioridade do novo pacto sobre o

antigo.‖60 

O processo de transformação pelo qual passamos, até que reflitamos perfeitamente aimagem de Cristo, é paulatino, pois o verbo grego metamorfou/meta (―estamos sendo transformados‖)indica essa idéia. O verbo dá a idéia de um processo continuo, ainda não acabado. Já refletimosa imagem de Cristo, mas ainda não fomos transformados completamente a sua imagem.

O primeiro texto analisado, o de Rm 8.29, aponta a meta de Deus para nós - destinadospara refletir a imagem de Cristo; o segundo texto, o de 2 Co 3.18, indica o caráter progressivo

dessa transformação. Embora o Pai nos tenha destinado para sermos conformes à imagem de Jesus, é dito que o Espírito nos transforma nesse continuado processo.Com a imagem de Deus restaurada em nós, Cristo restaura também em nós os

relacionamentos perdidos:

a)  Restaura a nossa comunhão com Deus;

b)  Restaura a nossa comunhão com os semelhantes;

c) Restaura a nossa comunhão com a natureza.

Posse non p eccare (?)

4.  A IMAGEM APERFEIÇOADA

Os textos analisados na seção anterior, Rm 8.29 e 2 Co 3.18 indicam que a queda causouaos homens a necessidade de serem transformados para terem de volta aquilo que perderamquando da sua criação. A meta final de Deus para os redimidos é a perfeição de Cristo.

Que esta condição se dará somente depois da nossa ressurreição, está claro de algunstextos da Escritura.

1 Co 15.49 —  ―E, assim como trouxemos a imagem do que é terreno, devemostrazer também a imagem do celestial‖. 

―Terreno‖ aqui se refere ao primeiro Adão. ―Celestial‖ refere-se ao segundo Adão, JesusCristo. O contexto dessa passagem está no ensino sobre a ressurreição. Somente depois dacompletação de nossa salvação é que refletiremos a perfeição da imagem de Jesus Cristo. Aglorificação do homem é o estado final da redenção do pecador por quem Cristo morreu. Somenteno estado de glorificação é que o remido refletirá perfeitamente a imagem de Cristo. Porenquanto, ele ainda está no processo, mas então, o processo já estará terminado. Nesse tempo,até o corpo refletirá aquilo que Cristo já é. Teremos um corpo semelhante ao corpo de Sua glória

60 Anthony Hoekema, In God‟s Image , p. 24.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 59/222

  59

(Fp 3.21).Hoje não somos o que seremos, mas quando Cristo se manifestar, isto é, na completação

de nossa salvação, haveremos de refletir perfeitamente Jesus Cristo. Por essa razão, João diz:―ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando Ele se manifestar,seremos semelhantes a Ele, porque havemos de vê-lo como Ele é.‖ (1 Jo 3.2). A idéia de imagemde Cristo, está perfeitamente delineada nesse verso. Após a nossa ressurreição, haveremos de

exibir tudo aquilo para o que fomos destinados de antemão.

Non Poss e Peccare

A reflexão da imagem de Cristo, nessa época, será vista na capacidade de não pecar. Nãoteremos a impecabilidade61 de Cristo, porque continuaremos a ser homens, mas o Senhor Deusnos livrará da presença do pecado e o non posse peccare de Agostinho, será uma grande emaravilhosa realidade.

A IMAGEM DE DEUS NA TEOLOGIA CRISTÃ1) CatolicismoA  justiça original dentro do catolicismo é uma espécie de donum superadditum, algo que

Deus acresceu ao homem depois da sua criação. O homem foi criado com uma justiça natural(justitia naturalis), que é composta dos dons naturais que recebeu de Deus. Mas ainda assim,com a justiça natural, o homem estava sujeito a paixões baixas e apetites indevidos. Estatendência é chamada concupiscência, que em si mesma, não é pecado, mas oferece elementospara acontecer o pecado. Essa concupiscência é uma espécie de combustível para o pecado,quando a ação se torna voluntária. Para refrear impulsos pecaminosos, Deus acrescentou, então,aos dons naturais os dons sobrenaturais (dona supernaturalia), que inclui a justiça sobrenatural.Este é o donum superadditum. Originalmente, portanto, a justiça original não fazia parte dohomem, mas foi acrescentada como uma recompensa pelo uso dos dons naturais. Mas essesdons sobrenaturais, incluindo a justiça original, foram perdidos com a queda.

A dedução clara desse ensino é que o homem hoje é exatamente o mesmo que Adão antesde receber a justiça original, ainda que agora tenha uma tendência muito mais forte em direçãoao mal, especialmente porque não tem o freio da justiça original, que é o donum superadditum.

2) SocinianismoSegundo os socinianos, a imagem de Deus consistia, quase que unicamente, do domínio

do homem sobre os outros elementos da criação.Os socinianos, assim como os arminianos primitivos, descartam qualquer possibilidade

de o homem ter sido criado num estado de santidade. Eles não criam que o homem foi feitopecador, mas não criam que a justiça original fizesse parte deles na criação. Eles apenas criamque o homem foi criado num estado de neutralidade moral, capacitado com uma vontade livre,

para poder ir para qualquer direção. O homem era inocente, sem pecado, mas não santo. Poressa razão, eles colocaram a imagem de Deus apenas na esfera do domínio sobre a criação

3) LuteranismoOs luteranos, às vezes, tentam distinguir a imagem de Deus num sentido mais estrito e

num mais amplo. No sentido mais estrito, o luteranismo viu a imagem de Deus como sendo a

61  Impecabilidade que advém do fato de Sua natureza humana estar inseparavelmente unida ánatureza divina.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 60/222

  60

 justiça original. Sendo assim, O homem perdeu totalmente a imagem de Deus, por causa dopecado. No sentido mais amplo, a existência do intelecto e da vontade, que ainda existem nohomem, que o diferem dos outros seres animais, nada tem a ver com o religioso ou teológico. Poressa razão Piepper diz que ―chamar a imagem de Deus porque ele possue razão e vontade é não

levar em consideração o que o homem está para se tornar em Cristo.‖62 Portanto, é muito maiscomum para os luteranos enfatizarem o aspecto justiça original do que os outros aspectos

geralmente considerados dentro da teologia Reformada.

―Os teólogos luteranos são concordes em que imagem de Deus, que consisteno conhecimento de Deus, santidade da vontade, está faltando no homem depoisda queda... Eles diferem, contudo, sobre a questão se em Gn 9.6 a imagem divina

é ainda atribuída ao homem após a Queda.‖63 

Lutero preferiu esta interpretação, de que a queda aniquilou a imagem de Deus, em seucomentário sobre Gn 9.6.

4) CalvinismoHá idéias diferentes entre os vários teólogos Reformados: Robert Dabney insiste ―que a

imagem de Deus não consiste de algo absolutamente essencial à natureza do homem, masunicamente em alguns acidentes”.64  É provável que Dabney estivesse pensando aqui somente na justiça original.

Alguns teólogos Reformados limitam a imagem de Deus apenas à justiça original,enquanto que outros incluem toda a natureza racional e moral. Outros ainda incluem o corpocomo parte da imagem de Deus, como já vimos.

De qualquer modo, o conceito de imagem de Deus é extremamente importante para ateologia reformada, porque essa imagem é o que há de mais distintivo no homem em sua relaçãocom Deus. O conceito reformado de imagem de Deus é muito mais abrangente e inclusivo do queo luterano e o católico romano. O homem não perdeu a imagem de Deus, pois se a tivesseperdido, haveria deixado de ser o que é —  homem.

62 Francis Pieper, Christian Dogmatics , vol. 1, (Saint Louis: Concordia Publishing House, 1950), p.520.

63 Francis Pieper, Christian Dogmatics , vol. 1, (Saint Louis: Concordia Publishing House, 1950), p.518-19.

64 Systematic and Polemic Theology, p.293.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 61/222

  61

CAPÍTULO VI

O HOMEM NO PACTO DAS OBRAS

Teologia do Pacto ou Teologia Federal65 

A  Teologia Reformada é conhecida como a Teologia do Pacto, porque desde os seusprimórdios, creu-se no estabelecimento de pactos da parte de Deus. Do começo ao fim, aEscritura mostra que Deus estabeleceu relacionamentos com os homens através de pactos. Asalianças de Deus com Israel é um tema dominante através de toda a Escritura.

Deus estabeleceu pactos para relacionar-se amorosamente com as Suas criaturas,porque, doutra forma, não poderia haver ligação entre Ele e elas. Eis o que diz a Confissão de Féde Westminster:

―Tão grande é a distância entre Deus e a criatura, que, embora as criaturasracionais lhe devam obediência como ao seu Criador, nunca poderiam fruir nadadele como bem-aventurança e recompensa, senão por alguma voluntáriacondescendência da parte de Deus, a qual foi ele servido significar por meio de umpacto.‖ (VII, 1). 

O SIGNIFICADO DO TERMO “PACTO” Não é simples definir em nossa língua o termo hebraico tyir:b  (berith), que traduzimos

como ―pacto‖. Etimologicamente é muito improvável que consigamos o seu significadofundamental. Robertson diz que ―investigações extensivas na etimologia do  termo do Antigo

 Testamento para o termo ―pacto‖ (tyir:b) têm se provado inconclusivas na determinação do

significado da palavra.‖66 Ela tem muitas conotações dadas na própria Escritura.Robertson define que ―pacto é um vínculo de sangue administrado soberanamente ‖.67  Ele

sempre contém a idéia de vínculo ou relacionamento, antes que a idéia de ―obrigação‖ ou―compromisso‖. McCoy diz: 

―Enquanto os pactos divinos envolvem invariavelmente obrigações, opropósito definitivo deles vai além do cumprimento garantido de um dever. Ao

invés disso, é uma interrelação pessoal de Deus com Seu povo que está no coraçãodo pacto. Este conceito do coração do pacto foi percebido na história dosinvestigadores do pacto logo cedo no tempo de Coceius, como também foi visto por

65O termo Federal vem do latin 'foedus", que significa "pacto". A doutrina dofoedus operumpressupõe que Adão conhecia a lei moral de Deus, tanto a da natureza (Iex naturalis que foi impressa no seucoração desde sua criação) quanto àquela que foi expressamente ordenada por Deus (Iex paradísiaca, lei doParaíso).

66 O Palmer Robertson, The Christ of Covenants, (P&R, 1982), p 5.67 Ibid., p. 4

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 62/222

  62

sua ênfase sobre o efeito de um pacto como o que estabelece a paz entre as

partes.‖68 

Portanto, o estabelecimento de pacto é sempre o estabelecimento de um relacionamento―em conexão com‖ ou ―entre‖ pessoas. O elemento essencial de um pacto é que alguém ficavinculado a outrem pelo estabelecimento de um compromisso. O vinculo leva a obrigações

graciosas da parte de Deus para com o homem, e de uma resposta obediente da parte desteúltimo.Essas obrigações ou compromissos são decorrentes do vinculo estabelecido. Por essa

razão, muitas vezes há a menção de ―juramentos‖69 nos pactos divinos. Um pacto faz com queuma pessoa seja comprometida com outra. Isto mostra que um pacto é em essência um vinculo.Robertson diz:

A Escritura sugere não meramente que um pacto geralmente contém um juramento. Ao invés disso, pode ser afirmado que um pacto é um juramento. Ocompromisso da relação pactual liga as pessoas com a solidariedade equivalenteaos resultados alcançados pelo processo de uma estabelecimento formal de

 juramento. ―Juramento‖ adequadamente capta a relação efetuada pelo ―pacto‖ detal forma que os termos podem ser permutáveis (cf 51 89.3, 34 sgts; 105.8-10). O

processo de formalização da tomada de juramento pode estar ou não presentes.Mas o compromisso pactual inevitavelmente resultará numa obrigação muitosolene.70 

A quase identidade entre os termos pacto e juramento mostram estas duas palavrasenfatizam a idéia de relacionamento, de estreito vinculo, que é parte essencial do que a Escriturachama de Pacto. As partes contratantes de um pacto estão profundamente comprometidas entresi.

Na sua definição Robertson disse que pacto é "vinculko em sangue admistradosoberanamente." A idéia de sangue é porque pacto sempre envolve uma questão de vida ou morte,e quase que sempre mostra o derramamento de sangue de uma vitima.

O NOME “PACTO DAS OBRAS” 

Vários nomes têm sido dados ao relacionamento entre Deus e o homem no Éden: Pacto daCriação, Pacto da Natureza, Pacto Edênico, Pacto Adâmico, mas o que prevaleceu foi o nomePacto das obras. Embora não me agrade pessoalmente desse nome, vou usá-lo porque é este queos nossos símbolos de fé usam.

Portanto, o primeiro dos pactos estabelecido historicamente, segundo os símbolos deWestminster, é o pacto de obras.

―O primeiro pacto feito como o homem era um pacto de Obras; nesse pacto foi

a vida prometida a Adão e nele à sua posteridade, sob a condição de perfeita

68 Ver Charles Sherwood McCoy, The Covenant Theology of Johannes Coceius , (New Haven, 1965),p. 166), citado por Robertson, p. 5, nota de rodapé 4.

69 Em quase todos os pactos estabelecidos por Deus há a menção de ―juramentos‖ de Deus, emboraesses juramentos formais não devam ser considerados como conditio síne qua non dos pactos. Robertson dizque ―embora o juramento apareça repetidamente em relação a um pacto, não está claro que uma cerimoniaformal de tomada de juramento seja absolutamente essencial para o estabelecimento de um relacionamentode pacto‖ Robertson, p. 6, nota de rodapé 7). 

70 Robertson, p. 6, nota de rodapé 7.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 63/222

  63

obediência pessoal.‖ (VII, 2) 

Nesse pacto de Obras Deus viu Adão, não como um indivíduo simplesmente, mas como o―cabeça federal‖ de toda a humanidade, debaixo da obrigação de obedecer as leis estabelecidaspor Deus através da natureza e das Suas asseverações verbais. Tem sido chamado pacto dasobras para enfatizar a responsabilidade de Adão.

EVIDÊNCIA BÍBLICA DO PACTO DAS OBRAS

O termo ―pacto‖ (tyir:b) não aparece nos eventos do Éden. Isto tem dado motivo a algunsteólogos Reformados para desistirem da teologia do pacto, tão fortemente sustentada pelatradição Reformada. Contudo, há uma passagem na Escritura que considera o que se passouentre Deus e Adão, como sendo um pacto. Oséias 6.7 diz: ―Mas eles transgrediram o pacto (tyir:b),como Adão ({fdf):K); eles se portaram aleivosamente contra mim.‖ 

Alguns teólogos têm tentado dar uma outra interpretação a este texto, alterando o sentidode ―como Adão‖ para ―em Adão‖. ―Adão‖ significaria o nome de uma cidade. Portanto, a idéia é ade que os homens do tempo de Oséias transgrediram o pacto como os homens de Adão fizeram.

Isso altera o sentido do texto, invalidando assim, a doutrina do pacto lá no Éden. Estainterpretação dificilmente encontraria apoio. Robertson diz:

―Somente uma pura suposição pode proporcionar uma ocasião concreta depecado nacional em Adão, localizada no Jordão, cerca de 12 milhas ao norte de

 Jericó. A narrativa de um transbordamento do Jordão a Adão não faz qualquermenção de um pecado da parte de Israel.‖71 

Essa é uma interpretação tendenciosa. Há um único registro de uma cidade chamada―Adão‖, mas não há nenhuma menção de os homens terem violado o pacto de Deus. ―Além disso,esta interpretação pareceria requerer uma emenda ao texto massorético. Este verso não deve sertraduzido ―em Adão‖, mas ―como Adão‖.72 Há outros dois versos na Escritura que possuem amesma conotação e são traduzidos ―como Adão‖ (Jó 31.33 e 51 82.6-7), sem que alguém tente

afirmar que Adão ali signifique um lugar ou cidade.Uma outra possibilidade de interpretação tem sido esta: que Israel tenha quebrado o

pacto ―como homem‖ ou ―igual a raça‖.73 De qualquer forma, esta interpretação tem que estarligada à queda da raça ou do homem, o que não faz muita diferença se comparada com ainterpretação tradicional que assumimos neste trabalho.

 Tradicionalmente, os teólogos do pacto, sejam eles Reformados ou não, têm traduzido aspalavras hebraicas {fdf):K (―como Adão‖) relacionando-as ao pecado do primeiro homem. Esta é atradução que oferece menos dificuldade que as outras. ―Como Adão transgrediu os arranjospactuais estabelecidos pela criação, assim Israel tem transgredido o pacto designado no Sinai‖.74 

De qualquer forma, as duas últimas interpretações falam de um pacto que foi quebradopor um Adão indivíduo, ou por um Adão representativo da raça. Robertson diz:

―Se ‗Adão‘ é tomado genericamente, o termo se referiria a uma obrigação

pactual mais ampla que recai sobre o homem que lhe dá uma responsabilidadesolene no mundo de Deus pela criação. Em qualquer caso, Oséias 6.7 pareceria

71 O. Palmer Robertson, The Christ of the Covenants , (P&R, 1982), p. 22. O texto ao qual PalmerRobertson se refere de um transbordamento do Jordão está registrado em Josué 3. 15-16.

72 Ibid., p. 22.73 Robertson argumenta que a Septuaginta traduz a expressão hebraica mfdf):K como w(j a)/nqrwpoj, o

que favorecia esta interpretação. Calvino também sugere esta interpretação em seu Commentaries on theTwelve Minor Prophets , (Edinburgh, 1846), 1:233, 235. (Robertson, p. 23, nota de rodapé 4).

74 Ibid., p. 23.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 64/222

  64

referir-se a uma terminologia pactual na relação de Deus com o homem

estabelecida pela criação.‖75 

Ninguém duvida do pacto da graça, porque ele está afirmado explicitamente nasEscrituras, mas porque não aparece explicitamente em Gênesis, há os que tentam destruir anoção de pacto ali. Charles Hodge, um partidário da teologia do pacto, coloca nestes termos a sua

crença no pacto de obras feito entre Deus e Adão, por comparação ao que aconteceu no pacto dagraça:

―Embora a palavra pacto não seja usada em Gênesis… o plano de salvação écontentemente representado como o novo pacto, novo, não meramente emantítese ao que foi feito no Sinai, mas novo em referência a todas os pactos legaisquaisquer que fossem.. Está claro que a Bíblia representa o arranjo feito com Adãocomo uma transação verdadeiramente federal. A Escritura não conhece nenhumoutro além dos dois métodos de se obter a vida eterna: um é aquele que exigeperfeita obediência, e o outro é aquele que exige fé. Se o último é chamado pacto, o

primeiro é declarado ser da mesma natureza.‖76 

Portanto, queiramos reconhecer ou não, a idéia de pacto de obras está presente noGênesis, embora ali não esteja o termo próprio.

O PACTO DAS OBRAS E A LEI DE DEUS

Não há como se questionar que Deus deu lei para Adão. A lei foi dada para Adão como umprincipio regulativo para a sua vida. Ela declara ao homem o que é bom e o que não é bom e, porvirtude de ser de autoridade divina, ela obriga o homem à obediência.

A lei dada no Éden indica que o homem é um ser moral, não um ser moralmente neutroou indiferente.

Deus deu duas espécies de lei a Adão no Éden: a lei da natureza e a lei expressa empalavras.

1. Deus deu ao homem uma lei natural.

Paulo nos diz que há uma lei impressa nos corações dos homens desde que foram criados(Rm 2.14-15). Esta é a lei da natureza. Essas leis não foram escritas nos corações dos homensdepois da Queda, mas na criação do homem. Se o homem depois da Queda ainda possuem essasleis, quanto mais o homem antes da Queda! Essas leis fazem parte da natureza constitucional dohomem, e o tornam um ser absolutamente moral, com padrões a serem seguidos.

Essas leis naturais refletem não somente o caráter moral de Adão, mas também anatureza de Deus. A natureza de ambos exige a presença de leis, porque um reflete o primeiro

reflete a imagem do segundo. Se Deus é um ser moral, o homem também tem que ser e, portanto,há algumas normas dadas por Deus que refletem a moralidade do Criador na criatura. Porvirtude de Sua natureza, Deus está acima da criatura e tem a prerrogativa de estabelecer leispara ser obedecido. Deus é soberano e o homem é criatura dependente dEle em todas as coisas,sendo sujeito a Ele em tudo.

Essas leis naturais são uma sombra daquilo que foi posteriormente dado em formaescrita no tempo de Moisés. Elas refletem os 10 Mandamentos quase que na sua inteireza. Essas

75 Ibid., p. 24.76 Systematic Theology, vol. II, 117.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 65/222

  65

leis naturais são perfeitas, e Adão estava em posse dela. Ainda é possível perceber a impressãodelas na alma humana, embora os homens tenham sido afetados moralmente pela Queda,mesmo os homens que vivem numa civilização muito distante daquela que conhecemos como―civilização cristã ou ocidental‖. Todos eles têm noções básicas das leis morais de Deus, a quemdevem obedecer. Após a Queda, Paulo diz, essa lei tornou-se enferma por causa da naturezapecaminosa do homem que obsta o homem de obedecê-la plenamente (Rm 8.3). A

inadequacidade não é da lei, mas daquele que se torna incapaz de obedecê-la, mas há algo clarono texto: essa lei, se obedecida, concederia vida, porque ela é espiritual.Portanto, desde a sua criação, Adão tinha deveres de obediência, embora estas leis

impressas não revelem um caráter pactual.

2. Deus deu ao homem uma lei expressa em palavras.

Elas estão afirmadas nas proibições de Gn 2.15-17. A lei natural dada na criaçãoexpressão o caráter moral de Deus. Estas leis são a expressão da Sua soberania que agora éformalmente declarada. Elas são expressão de Sua soberania porque Ele não precisava dá-las senão quisesse. Ao homem foi ordenado o cuidado do jardim e a proibição de não comer da árvoredo conhecimento do bem e do mal.

Por quê Deus deu esta ordem a Adão? Se Deus não a houvesse dado, Adão não teria

pecado. A resposta a esta objeção é que Deus não costuma dar justificativa de todos os Seus atos,e Ele agiu assim conforme o conselho da Sua vontade. Além disso, uma lei não significanecessariamente que alguém deva desobedecê-la.

De uma coisa podemos todos estar absolutamente certos: Com essa ordem Deus declaraformalmente a Sua soberania, que Ele era o Senhor, e que Ele requeria a obediência da criaturade maneira inequívoca, sem que esta lhe pedisse qualquer justificativa. Era dever do homemobedecer à lei e fazer a vontade de Deus desejosamente, pois esta era a maneira de continuar emboas relações com o Criador. A alegria e a santa comunhão só poderiam continuar e tornar-seainda num grau maior e definitivo com a continuada obediência da lei. Isto significava que ohomem deveria estar contente com aquilo que o Criador lhe havia dado até então, sem desejarqualquer coisa superior a ela.

A resposta à pergunta feita logo acima não pode, portanto, ser respondida, a menos que aentendemos à luz da soberania divina, que faz todas as coisas segundo o conselho da sua

vontade.

OS ELEMENTOS DO PACTO DAS OBRAS

Embora no Éden não apareça o termo, os elementos do pacto estão presentes nos atosreveladores de Deus. Há as partes contratantes, há a promessa de vida sob a condição deobediência, e há a penalidade fixada no caso da desobediência à lei estabelecida.

1. Partes ContratantesSempre há o envolvimento de duas partes num pacto. Neste caso são Deus, como

soberano e supremo Senhor e Adão. Este foi feito à imagem e semelhança dAquele. Foi tornadocabeça e representante de toda sua progênie.

Deus prescreveu todas as coisas a Adão com poder absoluto, de forma que todas ascondições e promessas do pacto foram unilaterais, estando Adão apenas na posição de aceitar eobedecer todas as exigências de Deus. Deus estabelece todas as condições virtude da suaabsoluta soberania, supremacia, majestade e eminência, que São Seus atributos essenciais. Oprofeta Jeremias mostra esses atributo de Deus de uma forma bem simples e resumida, quecolocam o homem na posição de obedecer todas as prescrições divinamente enviadas:

 Jr 10.6-7 —  ―Ninguém há semelhante a ti, ó Senhor; tu és grande, e grande é

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 66/222

  66

o poder do teu nome. Quem te não temeria a ti, ó Rei das nações? pois isto é a tidevido; porquanto entre todos os sábios das nações, e em todo o seu reino,ninguém há semelhante a ti.‖ 

Dessa idéia de Deus, segue-se que o homem está sob o dever de obedecer todas asestipulações. Adão acatou todas as exigências divinas e, como criatura finita, não discutiu as

exigências de Deus porque conhecia o seu papel de criatura e das responsabilidades comomordomo do jardim que Deus lhe havia confiado.

2. Promessa de Vida Condicionada à ObediênciaNenhum pacto é estabelecido  por Deus sem promessas. A  promessa deste pacto das

obras é a de vida eterna, que está implícita no texto de proibição de comer da árvore doconhecimento do bem e do mal. No pacto das obras, ―a Adão foi prometida a mesma vida eternaa ser obtida pela justiça que é da lei, da qual os crentes São tornados participantes através de

Cristo.‖77 A promessa de vida prometida no evangelho aos que crêem em Cristo é exatamente damesma natureza da que foi feita no Éden a Adão. Os dois tipos de vida prometidos Sãoabsolutamente iguais. Quando Jesus disse: ―Aquele que crê em mim tem a vida eterna‖, é arepetição da idéia que Moisés disse: ―Faze isso, e viverás‖.  

Essa idéia de vida plena está no bojo de todos os homens. E isso o que todos desejam. Odesejo de felicidade eterna é algo que está ainda presente em todos os homens, mesmo nos maisímpios. Todos eles sabem que a felicidade está vinculada ao fazer o que é bom como a infelicidadeno fazer o que é mau. E uma noção universal a idéia de recompensa para os que obedecem epunição para os que não obedecem as leis estabelecidas. Isso advém das leis naturais impressasna alma humana, sem que ninguém ensine aos homens.

Contudo, a noção de vida eterna é muito mais claramente percebida pela ordem dada porDeus como expressão da Sua Soberania no Éden. Se o pagão ainda hoje tem a noção derecompensa para os que fazem o bem e a punição para os que fazem o mal, quanto mais Adão!Ele que possuía o conhecimento advindo dois tipos de lei que Deus lhe havida dado no Éden. Oseu conhecimento dessas leis era perfeito, então.

O ensino de que a vida eterna vem pela obediência é uma tônica de toda a Escritura.

Este é o ensino de Moisés

O pacto das obras, num sentido estrito, tem relação absoluta com a Lei de Deus. A vidaeterna de Adão, assim como de toda a sua posteridade, estava vinculada à sua obediência estritaà lei estabelecida por Deus. Mesmo após a desobediência, Deus não retirou a idéia de que a vidaeterna vem pela mesma obediência. Veja algumas sugestões da Escritura no tempo em que ohomem já havia caído:

Lv 18.5  —   ―Portanto os meus estatutos e os meus juízos guardareis;cumprindo os quais, o homem viverá por eles: Eu sou o Senhor‖. 

Deus poderia ter retirado o mandado de ter vida pela obediência, pela simples razão deque ele é o Senhor. No pacto das obras a ordem é ―Faze isto‖ e a promessa ―e viverás‖. Deus aindacoloca uma ameaça: ―Se não fizeres isto, morreras‖. 

Este é o ensino de Davi

Davi é um outro famoso escritor sacro. A sua ênfase na importância da obediência à lei é

77 Herman Witsius, The Economy of the Covenants between God na Man , vol. 1, (Phillispsburg, New Jersy: Presbyterian and Reformed Publishing House, 1990), 75.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 67/222

  67

conhecida nos salmos que escreveu. O Salmo 119 mostra o seu apego à lei de Deus. Veja tambémcomo se porta falando sobre a perfeição da lei do Senhor:

S119.7- 11 —  ―A lei do Senhor é perfeita e restaura a alma.. .Além disso, poreles se admoesta o teu servo...; os preceitos do Senhor São retos... e em os guardarhá grande recompensa.‖ 

 Todo homem que guarda perfeitamente a lei do Senhor é recompensado com a vidaeterna, com a comunhão imperdoável. Contudo, mesmo embora saibamos que a lei do Senhor éperfeita, não existe perfeição em nós para que a guardemos perfeitamente, a fim de querecebamos a recompensa da vida eterna.

Este é o ensino de Paulo

A mesma vida eterna que alguém recebe pela fé em Cristo é prometida àqueles queobedecem perfeitamente à lei de Deus. Paulo reafirmou o pensamento de Moisés de que a vidaeterna vem pela obediência irrestrita à lei de Deus.

Rm 10.5  —   ―Ora, Moisés escreveu q ue o homem que praticar a justiçadecorrente da lei, viverá por ela.‖ 

Gl 3.12 —  ―Ora, a lei não procede da fé, mas: aquele que observar

os seus preceitos,  por eles viverá.”  

Rm 7.10 —  ―E o mandamento que me fora para a vida, verifiquei queeste mesmo se me tornou para morte.‖ 

Obviamente, Paulo sabe da impotência do pecador para cumprir a lei de Deusperfeitamente. Por essa razão, ele trata abundantemente da justiça da fé (Rm 10.6-9). Ele ainda

argumenta que, porque ―ninguém pode ser justificado pelas obras da lei‖' (pela impotência depecador em cumprir todos os preceitos), Cristo teve que ―nos resgatar da maldição da lei‖ (Gl3.10-13). Paulo argumenta que a lei tornou-se impotente de dar vida ao homem, mas o problemanão estava na lei, mas na impotência humana (Rm 8.3-4).

Mas ninguém pode negar que a vida eterna de um homem vem pela obediência. Osmesmos preceitos que Deus propôs a Adão, que produzem vida eterna, e sobre os quais o pactodas obras está fundado, São repetidos e reforçados na Lei de Moisés. Há uma continuação entrea lei dada a Adão e a lei repetida a Moisés. A mesma lei que estava em vigor no Éden, antes daentrada do pecado no mundo, ainda permanece em vigor. Se devidamente observada, ela produzvida. Basicamente é a mesma lei à qual todos os homens devem obediência, se querem ter vidaeterna.

Paulo confirmou isso, mas reconheceu a incapacidade humana dessa obediênciairrestrita a todos os preceitos da lei. Por essa razão, Cristo obedeceu perfeitamente todos os

preceitos, para que Deus nos concedesse vida eterna. Cristo veio fazer o que o primeiro Adão nãofez: obedecer para conseguir vida eterna para os seus representados.

Este é o ensino de Jesus

 Jesus confirmou o ensino do VT de que a vida eterna dos homens vem pelo cumprimentoda lei estabelecida por Deus no Éden e na confirmação dela por Moisés.

A lei natural dada no Éden era uma sombra da lei que haveria de ser dada de formaescrita muito tempo depois, no Monte Sinai. E a lei dos 10 Mandamentos. Essa lei contém uma

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 68/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 69/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 70/222

  70

A VIOLAÇÃO DO PACTO DAS OBRAS

Alguns cristãos mal informados pensam que a transgressão de nossos Primeiros pais foialgo sem muita importância, ou que Deus tenha sido muito severo no julgamento da atitudedeles. Precisamos estar de acordo com as Escrituras, sem tentar suavizar o que Deus consideraalgo extremamente sério.

A Gravidade da Violação do PactoOs 6.7 diz que Adão quebrou o pacto. Tratando dessa matéria, Paulo diz que o pecado

entrou no mundo através de um homem (Adão) e, por causa disso, a morte passou a todos oshomens. No texto de Rm 5.12-21, Paulo usa algumas expressões bastante fortes para expressaro ato de Adão: Pecado (v. 12); transgressão (v. 13); ofensa (v.14,15,16,17,18, 20); desobediência(v.19). Todas essas expressões mostram a gravidade do ato de Adão ao violar o pacto.

A Conseqüência da Violação do PactoA conseqüência imediata da violação do pacto foi a entrada do pecado no mundo (Rm

5.12).Com a entrada do pecado no mundo a harmonia dele se foi. Até então, o mundo criado

havia considerado ―muito bom‖ por Deus, e não havia qualquer iniquidade nele. Havia perfeitacomunhão entre o universo criado e o homem, a criatura mais elevada de Deus, sob quem tornousujeitas todas as cousas. Quando o pecado entrou no mundo, essa harmonia absoluta entre ascousas criadas desapareceu: Desapareceu a harmonia entre o homem e os animais; desapareceua harmonia entre o casal; desapareceu a harmonia entre irmãos carnais; desapareceu aharmonia entre os próprios animais; mas acima de tudo desapareceu a harmonia entre acriatura e o Criador.

Com a entrada do pecado no mundo apareceu a maldição de Deus sobre a natureza esobre o ser humano. A terra tornou-se maldita e agora o homem tinha que trabalhar com pesarpara ganhar o pão de cada dia, e a mulher haveria de sofrer dores para ter filhos, e as relações desexo ficaram prejudicadas, pois o prazer ficou mais voltado para o homem. Tudo por causa daentrada do pecado no mundo.

Com a entrada do pecado no mundo não ficou ninguém sem ser afetado por ele. A morte

passou a todos os homens (Rm 5.12). A conseqüência mais séria do pecado, a morte, bateu àporta de todos os homens, sem exceção.

A violação do pacto certamente foi um ato muito grave contra Deus para Ele mostrar tãofortemente o seu desgosto contra o universo criado e, principalmente, contra o homem.

A IDÉIA DE REPRESENTATIVIDADE NO PACTO DASOBRAS

No pacto das obras Adão foi constituído uma pessoa pública, que agiu não somente emseu próprio nome, mas foi considerado como agindo como representante de toda a raça.

A dedução desta matéria é claramente retirada do texto de Paulo aos Coríntios, onde ficaabsolutamente evidente a presença de dois homens: o Primeiro Adão, e o Segundo Adão.

1Co 15.45-49 —  ―Pois assim está escrito: O primeiro homem, Adão, foi feitoalma vivente. O último Adão, porém, é espírito vivificante. Mas não é primeiro oespiritual, e, sim, o natural; depois o espiritual. O primeiro homem, formado daterra, é terreno; o segundo homem é do céu. Como foi o primeiro homem, oterreno, tais São também os demais homens terrenos; e como é o homem celestial,tais também os celestiais. E, assim como trouxemos a imagem do que é terreno,

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 71/222

  71

devemos trazer também a imagem do celestial.‖ 

Conforme o texto acima, Adão possui conosco um relacionamento duplo:

Adão é o Cabeça Natural da RaçaDele todos os homens descendem. Ele é o primeiro duma série enorme, todos derivados

naturalmente dele por propagação. No discurso em Atenas Paulo disse: Deus ―de um só fez todaa raça humana para habitar sobre toda a face da terra‖ (At 17.26) e, citando p rovavelmente opoeta Arato, ele continua: ―Porque dele também somos geração‖ (At 17.28b). O livro de Gênesisindica que Eva, a esposa de Adão (Gn 2.21-24), ―é a mãe de todos os seres humanos‖ (Gn 3.20).Dessa forma, Adão foi o pai de todos os seres humanos.

Adão é o Cabeça Representativo da RaçaContudo, Adão não foi somente o primeiro de uma série de indivíduos, que constituíram a

raça humana, mas ele foi o primeiro e o representante de todos eles, de tal forma que o ato dele foiconsiderado o ato de todos. A posição de Adão foi única com relação aos seus descendentes. Elefoi considerado uma pessoa pública e agiu no lugar de todos representando a todos. Toda a raçahumana foi representada por ele de forma que o seu ato foi considerado por Deus o ato de todos.

A Escritura mostra que Adão agiu em favor e no lugar de seus descendentes. O que ele fez foiconsiderado como se todos eles fizessem.82 Não há nenhuma dúvida de que todos os descendentes do primeiro casal receberam a

culpa e a corrupção do pecado de Adão, que em teologia é conhecido como o pecado original.Com base em qual critério os descendentes receberam a culpa de Adão? Pelo processo da

imputação de culpa do representante aos representados.O texto de Rm 5.12 começa indicando que o pecado de um é o pecado de todos. O texto diz

―que todos pecaram‖. Este verso não pode indicar o pecado individual de cada um porque elesainda não existiam quando Adão pecou. A morte passou a todos os homens que ainda não eramhistoricamente existentes. Mas o pecado deles está no pecado de um, Adão. Todos eles pecaramem Adão, representativamente.

Os versos subsequentes de Rm 5 mostram que o ato do representante é considerado o atodos representados.

O v. 15 diz que ―ofensa de um só‖ causa a morte de sua posteridade;  O v. 16 trata do pecado ―de um só‖, e do ―julgamento que derivou de uma só ofensa‖,trazendo a condenação sobre a posteridade.

O v. 17 fala que ―pela ofensa de um, e por meio de um só‖, a morte veio a reinar sobre asua posteridade.

O v. 18 diz que o juízo de Deus veio sobre todos os da posteridade de Adão, por causa de―uma só ofensa‖. 

82  Há duas ressalvas a serem  feitas nesta matéria: (1) Cristo não estava incluído nestarepresentação. No texto de I Co 15.4549 Cristo está em oposição ao Primeiro Adão. Se Adão houvesseguardado o pacto, Cristo não teria vindo, porque a Sua obra foi fazer exatamente o que o primeiro Adão nãofez  —  obedecer, para conseguir vida eterna para o seu povo. Embora Cristo seja, em última instância,descendência natural de Adão, via Maria, Ele não é representado por Adão, não recebendo, portanto, a

culpa e a herança pecaminosa dele; (2) Não podemos afirmar de modo dogmático que Eva estava inclusanessa representação. Contudo, há indícios de que Adão era o cabeça da família, porque era o varão e oprimeiro a ser formado. Gn 2.16-17 dá-nos uma perfeita idéia de que o pacto foi feito com Adão, antesmesmo de Eva ter sido formada. O pacto foi feito exclusivamente com Adão e Eva, ao que nos parece, foiinclusa nessa representação. A razão disso está no fato de Eva ter pecado primeiro e Adão ter sidoresponsabilizado por Deus. E verdade que ela caiu pela sua própria transgressão, mas a ruína da raça sóveio a ser anunciada depois de Adão caiu, porque o pacto havia sido estabelecido com ele. Adão foi oprimeiro a ser convicto do seu pecado, embora Eva fosse a primeira a ter caído. A culpa do pecado éatribuído a Adão como representante da raça. Deus foi ajustar contas com ele, quando disse: ―Comeste daarvore de que eu te ordenei que não comesses?‖ (Gn 3.11). 

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 72/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 73/222

  73

que é natural e o que é espiritual (v.46).

v.46 –  ―Mas não é o primeiro o espiritual, e, sim, o natural; depois o espiritual.‖ 

O que é natural vem primeiro. O que é espiritual vem depois. Perceba que quando Paulofala do primeiro, o natural, ele está se referindo a um homem, não a um principio. Quando fala do

espiritual a mesma coisa. Isto significa que antes da redenção está a queda; que antes daressurreição está a morte; antes do segundo o primeiro. Ambos São representantes das coisasdiametralmente opostas: o primeiro, do pecado e o segundo, da salvação.

É importante que se observe que assim como natural (v.46) está para terreno (v.48), oespiritual (v.46) está para celestial (v.48).

3) A idéia de representação está patente no fato de Paulo estabelecer asconseqüências para os naturais assim como para os espirituais (v.48)

v.48  –  ―Como foi o primeiro homem, o terreno, tais São também os demaishomens terrenos; e como é o homem celestial, tais também os celestiais.‖  

O estado do representante reflete o estado dos representados. Todos os da descendênciade Adão refletem a situação baixa dele. Os da progênie de Cristo refletem também o estado dEle.Por isso que Paulo chama de terrenos os de Adão e celestiais os de Cristo. Isso indica que o queUm é os outros São, seja do primeiro Adão ou do último Adão.

4) A idéia de representação está patente do fato de Paulo a nossa participação tantono natural como no celestial (v.49).

v.49 –  ―E, assim como trouxemos a imagem do que é terreno, devemos trazertambém a imagem do celestial.‖ 

Isto significa que todos aqueles que estão em Cristo, estiveram em Adão. Certamente nemtodos os que estiveram em Adão vieram a estar em Cristo, pois este agiu somente em favor do Seupovo, mas indubitavelmente, todos os que estão em Cristo hoje, já estiveram em Adão. Todos osque possuem a imagem do que é celestial já refletiram a imagem do terreno. Usando o próprioraciocínio de Paulo, posso concluir: todos os que São de Adão refletem a imagem das coisaspecaminosas, assim como devem refletir a santidade de Cristo todos os que estão nele. A imagemnossa reflete aquele de quem somos.

Rm 5.12-2183  - O verso 14 diz que Adão era tipo daquele que haveria de vir. Há umparalelo perfeito entre ambos. Nos versos subsequentes, os dois aparecem em paralelorepresentando cada um o seu povo. O primeiro Adão representando a velha humanidade, e oúltimo Adão, Cristo, representando a nova humanidade.

O primeiro Adão, foi tornado representante de todos por causa do pacto das obras; osegundo Adão, Cristo, foi tornado representante por causa do pacto da graça. O primeirodesobedeceu o pacto, o segundo obedeceu todas as prescrições estabelecidas pelo primeiro pacto.Cristo cumpriu todas as exigências do pacto de obras, obedecendo em nosso lugar. E aobediência dEle é considerada por Deus como nossa obediência, assim como a desobediência de

Adão também é considerada nossa desobediência. Nós recebemos todas as cousas gratuitamentepor meio de Jesus Cristo (por isso é chamado de pacto da graça), mas para Jesus Cristo foi umpacto de obras, porque Ele, como segundo Adão, teve que fazer todas as cousas por seu povo, queo primeiro Adão não fez. Logo, assim como a culpa de Um é atribuída a todos, a justiça de Umtambém atribuída a todos. 

83  A análise deste texto aparecerá em detalhes quando tratarmos do capítulo sobre o PecadoOriginal.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 74/222

  74

FUNÇÃO ATUAL DO PACTO DAS OBRAS

Sentidos em que o Pacto das Obras Ainda Vigora

O Pacto das obras não foi anulado. São evidentes as mostras de que  ainda ele vigora.Contudo, esse não é o pensamento sustentado pelos arminianos.

O Pensamento Arminiano

O próprio Armínio afirma que os pecadores não têm mais nada a ver com o pacto dasobras. Eis alguns dos argumentos arminianos:84 

1) Quando o homem está no estado de pecado, ele não esta pactuado com Deus. Portanto,não há mais nenhum contrato entre Deus e o homem, pelo qual Deus possa requerer obediência;

2) Deus tem privado o homem da capacidade e do poder de cumprir a lei, por causa dopecado. Por essa razão, Deus não mais pode requerer do homem o cumprimento das exigênciasdo pacto, o que seria injustiça, a menos que Ele devolva ao homem a sua capacidade de

obedecê-lo;3) Deus não pode exigir do pecador que ele O ame, respeite e O obedeça no estado de

maldição em que o pecador se encontra. Deus não pode exigir do pecador que cumpra algo, se opecador está fora do seu favor.

Basicamente por estas razões, todos os segmentos arminianos rejeitam a idéia de que opacto esta ainda em vigor.

O Pensamento Reformado

Respondendo as objeções arminianas, podemos dizer o seguinte:1) Quanto ao primeiro argumento: o fato de uma das partes violar o contrato não implica

que o contrato deva ser desfeito. Num contrato humano a parte lesada por ou não desfazer ocontrato, não quem lesa. Muito mais sério é o pacto de Deus com a criatura. Acima de tudo isso,porém, temos que considerar que a parte ofendida é Deus, o Supremo Legislador e Soberano. Ohomem não pode afrontar o soberano e ainda ficar impune pela desobediência.

2) Quanto ao segundo argumento: o fato de o homem ficar impotente por causa do pecadonão retira de Deus o direito de continuar exigindo dele a obediência. A perda da capacidade deobedecer não foi uma decisão arbitrária. Deus havia avisado ao homem que, se eledesobedecesse, ele haveria de morrer. A impotência do homem é uma das conseqüências dessamorte. Como a parte ofendida no pacto, Deus pode ainda exigir que o homem continue debaixoda obrigação de obedecer. Deus não retirou essa exigência, mesmo embora os homens não maissejam capazes dela.

3) Quanto ao terceiro argumento: Novamente o argumento arminiano esbarra na idéia dasoberania divina. E bom que nos lembremos de que Deus é quem estabeleceu todas as condiçõese estipulações do pacto. Somente ele pode pô-las ou retirá-las. Ninguém mais. Não é a situaçãodo homem que vai alterar as exigências de Deus.

Passemos agora à argumentação positiva que os Calvinistas fazem a respeito dos sentidosem que o pacto das obras ainda vigora:

1) Deus ainda afirma que se alguém obedecer a lei de Deus obtém vida eterna. Deus nãoretirou essa lei.

Lv 18.5 diz: ―Portanto os meus estatutos e os meus juízos guardareis; cumprindo osquais, o homem viverá por eles: Eu sou o Senhor‘. Deus poderia, se quisesse, ter retirado estaobrigação, mas Ele não o fez. Os homens ainda podem obter vida eterna se obedecerem à lei.

84 Idéia retiradas de Witsius, p. 152.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 75/222

  75

Embora os homens sejam incapazes de cumprir essa lei, Deus não a retirou. Paulo deixou esteensino bem claro, quando recordou seus leitores dessa lei de Moisés (Rm 10.5; Gl 3.12).

2) Deus ainda afirma que os homens estão debaixo da obrigação de obedecer à Sua lei demodo perfeito.

Mesmo depois da promulgação do evangelho da graça de Jesus Cristo, aqueles queviolaram o pacto das obras não estão livres de guardar toda a lei, se se aventuram a querer

guardar um só princípio para obter vida. Essa lei exige deles absoluta obediência, e que, porcausa da impotência do pecado, eles continuaram a ser devedores de toda a lei (Gl 5.3). Deus nãofacultou aos homens guardarem apenas alguns dos Seus princípios, mas toda a lei.

3) Deus ainda afirma que o homem continua a morrer por causa da violação do pacto dasobras.

Paulo diz: ―E o mandamento que me fora dado para a vida, verifiquei que este mesmo seme tornou para morte.‖ (Rm 7.10). Lembremo-nos de que Paulo está falando milênios depois doevento do Éden. Ainda continua a lei de morte para o transgressor dos preceitos divinos. A Almaque pecar ainda morre. A lei que originariamente foi dada para que, por sua obediência, houvessea vida eterna, continua matando os homens.

Portanto, diferentemente dos arminianos, os calvinistas afirmam que o pacto das obrasainda vigora. Contudo, há

Sentidos em que o Pacto das Obras Não Mais VigoraHá algumas coisas que indicam que nenhum homem mais pode ter vida eterna pelo pactodas obras:

O Apóstolo Paulo declara que Deus, por enviar seu único Filho ao mundo, fê-lo porque alei não podia fazer mais nada pelo homem. Este tornou-se impotente para cumprir a lei. Por essarazão, ―o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus enviando o seupróprio Filho...‖ (Rm 8.3). Por ―carne‖, entenda-se a natureza pecaminosa. Por causa da ―carne‖,o homem não mais pode observar todos os preceitos a lei. Por essa razão a lei é impotente paradar vida. A vida que vem da lei depende da obediência absoluta do homem. Como isto éimpossível pela condição pecaminosa do homem, a lei torna-se ineficaz. Se não fosse pelo pecado,todo homem poderia obedecer perfeitamente a lei e possuir vida eterna.

Se Adão houvesse obedecido a lei estabelecida por Deus, ele haveria de receber a herançada vida eterna, que é equivalente à vida que Jesus Cristo nos traz. A lei sempre foi compatível

com a vida eterna. Paulo trata desse assunto, sem qualquer constrangimento:

Gl 3.21  –   ―É, porventura, a lei contrária às promessas de Deus? De modonenhum. Porque se fosse promulgada uma lei que pudesse dar vida, a justiça, naverdade seria procedente da lei.‖ 

Mas a justiça não procede realmente da lei, mas da obediência à lei, que o pecador nãomais tem condição de prestar. Por essa razão, não mais estão debaixo do pacto das obras paraconseguir a vida eterna aqueles em favor de quem Cristo obedeceu. Aqueles que São beneficiáriosdo pacto da graça, não mais estão na obrigação de guardar a lei perfeitamente para obterem vida,pois Cristo já a obteve por eles e no lugar deles. Todas as obrigações que devíamos, Cristo assatisfez por nós.

Daquele que está em Cristo já não mais se pode dizer que está sob o pacto das obras no

que concerne à obtenção da vida eterna.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 76/222

  76

PARTE 2

A CONDIÇÃO DO

HOMEM E A QUEDA

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 77/222

  77

A LIBERDADE E A MUTABILIDADE PARA O PECADO

Deus criou o homem com capacidade de auto determinar-se, um agente livre, para agirsempre de acordo com as disposições do seu coração. Ele poderia fazer tanto o bem, que erapróprio de sua natureza, mas também poderia, mudavelmente, fazer o que era contrário à suanatureza, pecando contra o Senhor Deus e Suas leis.

Novamente a CFW diz:

O homem, em seu estado de inocência, tinha a liberdade e o poder de querer efazer aquilo que é bom e agradável a Deus, mas mudavelmente, de sorte quepudesse decair dessa liberdade e poder. (IX.2)

Deus criou o homem com uma santidade mutável. Como já foi dito acima, a santidade nohomem não era parte essencial nele, como o é em Deus. Santidade não é um atributoconstitucional do homem. A prova disso é que ele a perdeu e, ainda assim, continua sendohomem. Deus é livre na expressão da Sua santidade, e ela é sempre a mesma, por causa daprópria natureza imutável de Deus. Deus nunca vai fazer alguma coisa diferente daquilo que Eleé. Por isso Ele não pode pecar. Sua vontade quer sempre aquilo que a Sua natureza determina.Na Sua infinitude há a exclusão da idéia de mudança na vontade. Deus não tem o poder deescolha contrária, isto é, de fazer algo que vá de encontro à Sua natureza. Deus é um ser morallivre, todavia só faz aquilo que é próprio da Sua natureza. Portanto, em Deus liberdade enecessidade moral São a mesma coisa. Para que haja liberdade, não há a necessidade de haver opoder de escolha contrária.

A liberdade em Deus é uma auto-determinação imutável, mas no homem, como ser finitoque é, a capacidade de auto-determinação ou seja, a capacidade de fazer as coisas de acordo coma natureza, é mutável. Deus deu ao homem, no principio, aquilo que Ele próprio não possuía, acapacidade de escolha contrária. O homem era livre para expressar a santidade com a qual Deuso havia criado, mas de tal modo que pudesse também fazer algo contrário à sua santidade. Paraque Adão fosse livre, ele não precisava ter o poder de fazer algo revers o. ―O poder de reverter aauto-determinação existente não é a substância da liberdade, mas é um acidente dela.‖85 Deus élivre sem esse acidente. Mas Deus deu ã criatura essa capacidade de escolha contrária, e ela ausou para a sua própria vergonha.

Por isso é possível entender como uma pessoa santa como Adão poderia fazer o que fez.Ele usou a capacidade de escolha contrária que lhe foi dada por Deus.

Há que se olhar essa atitude de Adão de um outro prisma. Ele era Simplesmente umacriatura perfeita. Como criatura, contudo, dependia de Deus para todas as coisas da vidanatural, como dependia de Deus para que sua vida de comunhão com Ele continuasse. E própriode toda a criação essa dependência de vida. Vida é algo que é dado, mantido e renovado por Deus.E Adão era santo, mas apenas uma criatura, desprovida de qualquer senso de onisciência,passível de ser enganada, que poderia pensar no mal como algo que não fosse tão mal assim.Embora a condição moral do homem fosse de excelência, sem tendência para o mal, todavia,poderia cair desse estado.

 Toda a criatura tem algo que Deus não tem  —  mutabilidade. Esta é uma das grandesdistinções entre Deus e a criatura. Imutabilidade e impecabilidade são atributos do Criador, nãodas criaturas, sejam elas homens ou anjos.

A liberdade de Adão e Eva consistia no fato de fato deles poderem escolher ou abraçaraquilo era bom e agradável ao seu entendimento, como Deus queria, ou para colocar de outromodo, em recusar aquilo que era mau. Ele tinham o poder de continuar no estado em que foramcriados. Era só agirem de acordo com a natureza santa que Deus lhes havia dado. Mas não foi

85 Shedd, vol. 2, p. 107.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 78/222

  78

assim que fizeram. Simplesmente puseram em ação a capacidade de fazer aquilo que eracontrairão à natureza deles. Contudo, desobedeceram a Deus, agindo voluntariamente,constituindo-se numa situação singular em toda a história humana. Usaram da liberdade deescolha contrária que tiveram para perderem-se a si mesmos, imergindo-se a si mesmos e toda araça na escravidão da miséria.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 79/222

  79

CAPITULO VII

A ORIGEM DO MAL MORAL

O fato de Adão possuir a liberdade de escolha contrária, não explica todos os mistériosrelacionados ao problema da entrada do mal no mundo. Há que se pensar que o mal moral éanterior ã queda do homem.

Há, na verdade, dois grandes problemas praticamente impossíveis de serem explicados: Oprimeiro, que tem a ver com a entrada do mal no universo, é a dificuldade de entender a quedados anjos sem haver tentador externo e sem que tivessem natureza propensa para o mal; o

segundo, que tem a ver com a entrada do pecado no mundo dos homens, é a dificuldade deexplicar como Adão veio a pecar já que não possuía natureza pecaminosa. Este é um problema dateodicéia, que estudaremos neste capítulo.

O problema da origem do mal tem sido considerado como um dos mais profundos dentroda filosofia e da teologia. Não se pode fechar os olhos para o problema do mal que é universal. Eleé uma mancha indelével que caiu sobre o universo e sobre a vida em todas as suasmanifestações, e tem sido a tônica diária de cada membro da raça humana. Os estudiosos têmtentado encontrar um resposta para o problema do mal no universo, mas sem sucesso,especialmente quando a resposta é procurada fora da esfera da revelação divina.

As grandes e freqüentes perguntas feitas são estas: ―Se Deus é bom como Ele permitiu aentrada do mal no mundo? Se Deus é bom, por que Ele não tira todos as manifestações do mal nomundo?‖ 

Há algumas respostas bíblicas e teológicas a essas perguntas, que são delineadas com o

maior temor diante de tão grande mistério, à luz de algumas sugestões que a Escritura dá sobreo assunto.

A) DADOS BÍBLICOS SOBRE A ORIGEM DO MALA primeira grande descoberta no tratamento deste assunto é reconhecer a nossa

pequenez diante de tão grande problema e, a segunda grande descoberta é reconhecer asoberania divina em todas as coisas que existem no mundo em que Ele nos colocou.

A CFW diz categoricamente:

―Pela Sua muito sábia providência, segundo a sua infalível presciência e o livree imutável conselho da Sua própria vontade, Deus, o grande Criador de todas ascoisas, para o louvor da glória da Sua sabedoria, poder, justiça, bondade e

misericórdia, sustenta, dirige, dispõe e governa todas as Suas criaturas, todas asações e todas as cousas, desde a maior até a menor‖ (V,1). 

Este é um ponto-de-partida sem o qual vamos ter sérios problemas. Esta abordagem daConfissão de Fé de Westminster é um ponto indispensável e a condição sine qua non para se teralguma luz sobre este assunto.

A Escritura ensina que Deus é bom, mas que também exerce a Sua soberania. Estas duascoisas parecem não poder existir juntas na mente de muitos crentes, como se fossem atributosincompatíveis. E por isso que esta pergunta surge freqüentemente: ―Se Deus é bom, como pode

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 80/222

  80

permitir a entrada no mal no mundo?‖ Para que tenhamos resposta a perguntas como essa, precisamos ir ao profeta Isaías, no

capítulo 45, quando ele trata da soberania de Deus, onde o próprio Deus é quem Se dirige a Ciro,o rei da Pérsia.

Neste capitulo, Isaías enfrentou corajosamente um assunto que muitos teólogos relutamem aceitar hoje, mesmo depois de séculos de reflexão teológica, onde muitas vezes a teologia

deles tem sido controlada pelos seus pressupostos, sem que estes sejam submetidos ao crivo daprópria Escritura. Isaías enfrentou a questão que freqüentemente nos assedia: ―Quem é oresponsável pelo mal no mundo?‖ A resposta a essa pergunta vai, de algum modo, definir a nossateologia sobre quem Deus realmente é.

Análise de Is 45.1-7Há algumas coisas preliminares que precisam ser ditas deste texto: Primeiro, Temos que

ver Quem é o autor destas palavras. Claramente Deus é o sujeito destas palavras e Ele fala, emtodos os versos, na primeira pessoa do singular; Segundo, a quem Deus se dirige. Ele se dirige aCiro, rei da Pérsia. Ele era um rei de uma terra onde se cria num dualismo, isto é, cria-se numdeus do bem e num deus do mal; terceiro, Deus está mostrando a Ciro que só existe um Deus

(v.5, 6), isto é, que não há o chamado dualismo persa, e que, como Deus, Ele faz tudo o que Lheapraz (v.7), inclusive usa os homens ímpios para cumprir os seus propósitos (v. 1).No ponto culminante desta passagem majestosa de Isaías, há um verso que trata de

frente o problema do mal, encarando-o à luz da soberania divina (v.7). Nada pode ser mais clarodo que este verso. Esta é uma palavra inspirada pelo Espírito Santo, palavra que Deus quis quefosse registrada para o nosso conhecimento. O profeta narra aquilo que Deus quer queenfrentemos com o maior santo temor: o problema do mal. Mesmo não compreendendo todas asrazões de Deus, porque Deus é, pelo que faz, um ―Deus misterioso‖ (v. 15), temos que admitir queeste texto lança alguma luz sobre o tão importante e incomodante problema do mal. O texto nãotrata das razões últimas de Deus. Não podemos entender por quê Deus faz o que faz, maspodemos crer que Ele faz o que faz.

Quando Deus fala que ―crio as trevas e faço o mal‖, Ele assume perfeitamente aresponsabilidade pela entrada do mal no mundo. Esta é uma revelação que não devemos

desprezar para justificar a nossa teologia, porque, fazendo assim, estaremos andando de (não ao)encontro à Sua revelação.Nos capítulos 40 a 45, o tema de Isaías é a soberania divina. Aliás, este é um tema que

atravessa toda a Escritura, mas Isaías dá uma atenção especial a ele. Há um só Deus e Ele estásobre todas as coisas.

Como Paulo, Isaías declarou todo o conselho de Deus e, fazendo isto, proclamou que Deusestá acima e sobre todas as coisas. A declaração pelo próprio Deus sobre a origem do mal naspalavras do v.7, dá-nos algumas idéias sobre as quais passamos a discorrer:86 

Em que sentido Deus é o criador do mal?87 O que Ele quer dizer com Is 45.7? Será que omal do v.7 diz respeito apenas aos castigos, aos flagelos, às penalidades que Ele impinge aoshomens? Ou será muito mais que isso?

Não temos todas as respostas às perguntas sobre a origem do mal, mas cremos ser o malreferido no texto de Isaías seja o problema do mal moral. De qualquer forma, de algumas coisas,

86 Fundamentalmente, essas idéias estão incluídas no livro de Willian Fitch, Deus e o Mal , (SãoPaulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1984), 9-21.

87 A expressão ―crio o mal‖ não deve ser entendida com a clássica frase que torna Deus ―o autor domal‖ ou ―o autor do pecado‖. Deus é santo e não pode pecar, não envolve-se pessoalmente com aquilo que émoralmente mau. Nem mesmo Deus induz os homens ao pecado (Tg 1.13, 14). Is 45.7 não diz que Deus levao homem a pecar, tentando-o. Do Deus da Escritura não pode ser dito que faz coisas moralmente mas,embora faça coisas que sejam contrárias à lei que Ele estabeleceu como regra de vida para nós, e Ele estáacima dessa lei, não sujeito a ela Se Ele viola uma dessas leis, Ele não se torna pecador, porque a lei é parahomens, e não para Ele.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 81/222

  81

temos absoluta certeza:

1) Deus não foi tomado de surpresa nela Presença do Mal no mundoNão creio que Deus seja o autor do mal no sentido dele envolver-se pessoalmente no mal,

mas sabemos que o mal não é produto do acaso. Ele é parte de um plano maior de Deus, planoesse que Ele não deu a conhecer em todos os seus detalhes. Com certeza, o decreto eterno de

Deus tornou segura a entrada do pecado no universo. Nada é mais verdadeiro do que isso. Nãoexiste nada que acontece neste mundo que não seja parte dos desígnios de Deus.O que é dito pelo profeta para confortar Ezequias, que havia sido ameaçado pelo rei

Senaqueribe, serve para ilustrar que Deus faz todas as cousas na história do mundo comoproduto de um plano previam ente traçado.

2Rs 19.25  –  ―Acaso não ouviste que já há muito dispus eu estas cousas, jádesde os dias remotos o tinha planejado? Agora, porém, as faço executar, e eu quisque tu reduzisses a montões de ruínas as cidades fortificadas.‖ 

 Todas as cousas que Deus executa na história são produto de um plano previamenteestabelecido. Todos os eventos, os grandes e os pequenos, vêm como produto do cumprimento

dos desígnios eternos de Deus. Não é diferente com o decreto da entrado do pecado no mundo.A entrada do mal no universo angelical e humano serve para um propósito previamenteestabelecido, especialmente se entendemos o plano da salvação que foi proclamado e anunciadoantes da fundação do mundo (Tt 1.2).

A segunda verdade neste assunto é que, no texto de Isaías,

2) Deus assume a Responsabilidade pela Presença do Mal no Mundo

Ele não conta as razões pelas quais ele responsabiliza-se pela presença do mal no mundo,mas é obvio que Ele não foi apanhado de surpresa pela presença do pecado no Seu universo.

Com certeza, sabemos que Deus rejeita algumas idéias errôneas a respeito daorigem do mal:

a) Neste texto de Isaías Deus rejeita a doutrina do Dualismo.88 

O dualismo ensina sobre deuses rivais, de igual poder. Hughes define dualismo como ―ateoria de que por dentro e por detrás de toda a realidade há a presença não de um, mas de doisprincípios eternos e absolutos que são irreconciliáveis, opostos um ao outro,‖89 especialmentequando se trata do difícil problema da coexistência do bem com o mal neste mundo.

A presença do mal coexistindo com o bem teve uma solução simplista na teologia dasreligiões do oriente. E assim que o livro sagrado do zoroastrismo, a mais elevada das religiõesnão-bíblicas, contorna a dificuldade da presença do mal no universo. O zoroastrismo apregoadois deuses —  Ormuz e Arimã. Ambos criaram o mundo. O bom deus Ormuz criou as coisasboas; o mau Arimã criou todas as coisas más. O primeiro era o deus da luz, e o segundo o dastrevas, que sempre lutaram num conflito ininterrupto. Hughes nos diz que:

88 Dependendo do ponto-de-vista, vários ―dualismos‖ podem ser identificados na teologia. Um deles,é o dualismo relacionado à matéria e ao espírito, muito comum no gnosticismo que a Escritura combateu,logo no primeiro século da era cristã. Esta seita ensinava que havia dois poderes supremos, o da luz e o dastrevas. Ela ensinava que a luz não poderia abordar as trevas, que era irreconciliavelmente oposto a ela. A fimde ligar esse abismo entre luz e trevas, tinha que haver seres intermediários. Jesus era um desses seresintermediários (eons). Por ele ser da luz, ele não poderia ser matéria, não poderia ter vindo em carne. essetipo de erro que João combate na sua carta (1 JO 1.1-2).

89  Philip Edgcumbe Hughes, The True Image , (Grand Rapids: Willian Eerdmans PublishingCompany, 1989), 83.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 82/222

  82

―foi este tipo de dualismo que tornou-se um elemento proeminente na filosofiasincretista do Maniqueísmo, fundado por um persa chamado Mani, no terceiroséculo da era cristã, pelo qual Agostinho sentiu-se muito atraído antes de sua

conversão para a fé cristã.‖90 

Esse tipo de dualismo pairava na Pérsia, onde reinava o rei Ciro, quando Deus se lhedirigiu, porque este cria dualisticamente. Foi por essa razão que Deus disse várias vezes: ―Eu souDeus. Além de mim não há outro...‖. 

Esta solução dualista para explicar a coexistência do bem com o mal é uma soluçãoanti-escriturística porque ata o princípio do mal como algo inseparável do universo que Deus fez.Em última instância, a religião do dualismo nunca dará a vitória ao bem, porque os doisprincípios são eternos e igualmente poderosos. ―A religião dualista é uma religião sem esperançada eliminação definitiva do mal e do triunfo do bem.‖91 A teoria dualista é absolutamenteincompatível com a teologia do cristianismo. Por essa razão, Deus rejeita a possibilidade dodualismo. no texto de Isaías 45.

b) Neste texto de Isaías Deus rejeita a idéia da espontaneidade do mal.

Este teoria da teodicéia de alguns estudiosos diz que o mal apareceu sem que alguém otrouxesse à existência. Se o mal surgisse assim, Deus não teria tido qualquer controle sobre ascousas deste mundo. O mal sendo gerado espontaneamente tira Deus do trono de sobre todas ascoisas. Mas Deus diz: ―Eu faço todas as coisas...‖. 

c) Neste texto de Isaías Deus rejeita as idéias deterministas que apresentam o pecadocomo uma necessidade inerente na natureza íntima de todas as coisas.

O filósofo alemão G. W. Leibniz (1646-1716) ensinou em sua teodicéia que existe uma

imperfeição metafísica que é inerente na real constituição de todas as cousas criadas. 92 Apresença do mal é parte constituinte e está embutida na estrutura de todas as cousas. Leibniz

admitiu claramente que ―há uma imperfeição original na criatura, mesmo antes de o pecado sercometido, porq ue a criatura é limitada em sua essência.‖93 Nesse ponto, Barth assimila algo deLeibniz, porque sustenta que o problema do homem é o fato dele ser criatura. O pecado apenascomplica esse problema. O mal está inerente e necessariamente presente no mundo pelo fato deleser criação. Leibniz falou ainda do ―verdadeiro pecado necessário de Adão que é cancelado pelamorte de Cristo!‖94 

Hegel sustenta que o aparecimento do mal é algo necessário para que o homem chegue àsua humanidade plena. A idéia de Hegel é que ―a queda em si mesma foi um desenvolvimentonecessário para a realização pelo homem de sua humanidade autêntica.‖95 Hegel não nega que ohomem foi criado bom, mas afirma que a vinda do mal era necessária para que o homem setornasse completo. ―Assim, Hegel supôs que ambos, o bem e o mal, foram necessários se ohomem estava para desenvolver para a plenitude de sua humanidade, e que o alcance da síntesefosse possível somente pelo modo da confrontação entre a tese e a antítese.‖ 96 

90 Hughes, 85.91 Hughes, 85.92 Hughes, 93.93 G. H. Leibniz, Theodicy: Essays on the Goodness of God, the Freedom of Man, and the Origin of

Evil, (London, 1951), parágrafo 21-21.94 G. H. Leibniz, Theodicy: Essays on the Goodness of God, the Freedom of Man, and the Origin of

Evil, (London, 1951), parágrafo 40.95 Hughes, 96.96 Hughes, 97.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 83/222

  83

Estas teorias tornariam Deus o autor direto do mal, porque Ele teria criado todas ascousas como necessitadas do mal. A teodicéia cristão não pode admitir tais teorias. Deus crioutodas as cousas e disse que elas eram muito boas! ―E viu Deus tudo o que criou e disse: Eis quetudo é muito bom‖ (Gn 1.31). 

d) Neste texto de Isaías Deus rejeita a idéia da eternidade do mal.

A idéia da eternidade do mal geralmente surge da idéia do dualismo dos deuses rivais.Assim como houve sempre o bem, da mesma forma houve o mal.

Mas a Escritura rejeita essa teoria. O mal veio a existir no universo e no mundo doshomens. Houve um ―tempo‖ quando não havia a presença do mal no universo criado. O malapareceu primeiro no mundo angelical e, depois, no mundo dos homens. O mal não é eterno.Eterno é Aquele que é o bem.

Portanto, quando Deus diz que ―cria o mal‖, Ele está aceitando a responsabilidade pela

presença do mal no meio da Sua criação. Não basta dizer, como Calvino97 e outros, que disseramque o ―mal‖ mencionado por Isaías se refere aos males dos juízos e punições que Deus envia aoshomens. O texto parece ir muito mais profundo do que isso. A palavra usada para ―criar‖ aqui emIsaías 45.7, é exatamente a mesma que foi usada em Gênesis, quando da criação das coisas sem

ter qualquer material pré-existente. Portanto, Deus também chamou o mal à existência, mas Elefez com que ele viesse ao mundo através da agência das criaturas racionais, tanto anjos comoAdão e Eva, que agiram livremente, isto é, sem compulsão exterior alguma, apenas levados porseus desejos e conveniências, incompreensivelmente nascidos numa natureza santa com a qualforam criados.

Vejamos alguma coisa relacionada com o contraste entre as palavras usadas em Is 45.7.Deus disse: ―Eu faço a paz e formo a luz‖. Não havia necessidade de Deus ―criar‖ a paz e a luz,porque Deus é luz e paz (1 JO 4.5; Gl 5.22). Deus compartilha a Sua vida com os homens quandolhes dá o dom da luz e da paz. Mas o mal é cousa muito diferente. Ele ainda não existia, e, porrazões desconhecidas de nós, Deus resolveu dar origem ao que não havia antes. Por isso, o malrequer uma criação especial e, assim, as Escrituras inspiradas empregam a palavra )frfB, parareferir-se à criação do mal.

 Todas as respostas não estão, obviamente, aqui, mas não podemos fugir do assunto que

Deus aceita tratar abertamente, embora não nos revele todos os seus detalhes.A terceira verdade que devemos apresentar sobre este assunto e:

3) Deus Restringe a Operação do Mal em Sua CriaçãoA Bíblia afirma que Deus restringe o pecado. Não há nenhum ponto nas Escrituras em

que a vitória seja concedida às forças das trevas. Muitos crentes podem até perguntar: ―Atéquando, Senhor, até quando o mal reinará?‖ —  Mesmo em suas horas mais sombrias, quandodas profundezas do seu ser eles suplicam ao Trono nas alturas, os filhos de Deus ainda semantém confiantes em que a justiça haverá de triunfar e que, finalmente, o bem será vistoclaramente como o supremo vencedor, porque crêem que Deus é poder e justiça.

O livro do Apocalipse fala do sangue do martírio dos filhos do povo de Deus, fala damutilação dos corpos deles, mas de forma alguma esse livro profético fala da vitória e do domíniodo mal no universo de Deus. O universo é de Deus, não do diabo. Deus ainda está no trono. Deus

não perdeu o controle sobre nada. Tudo o que acontece de mal é para o cumprimento dos Seussantos e eternos propósitos, mesmo que as razões últimas deles sejam escondidas de nós.A Escritura acentua que Deus nunca permite que o mal Lhe escape das mãos. Ele o

controla, restringindo-o. Satanás não tem o poder de frustrar os desígnios de Deus. O inimigo dos

97 No seu comentário de Isaías, Calvino interpreta o mal como sendo ―aflições, guerras e outrasocorrências adversas‖. Isto ele faz para livrar-se daqueles que ele chama de ―fanáticos, que torturam apalavra mal, como se Deus fosse o autor do mal; mas é muito óbvio quão ridiculamente eles abusam destapassagem do profeta… Deus é o autor do mal de punição, não do mal de culpa‖.(Ver John Calvin,Commentary on the Book of the Prophet Isaiah, (Baker, 1981 edition), p.403.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 84/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 85/222

  85

natureza pecaminosa. O pecado já não mais tem domínio sobre nós (Rm 6.14). Essa é a promessaque temos de que Deus está no trono, sendo vitorioso sobre o mal, proporcionando um escapepara ele. O pecado não mais reinará sobre os nossos corpos mortais, porque Cristo já conseguiua vitória por nós e no nosso lugar, e bem logo, veremos esta coisas claramente, quando o Senhor

 Jesus se manifestar em glória.A quinta verdade sobre esta matéria é que

5) Deus Insta aos Homens para que Fujam do Mal e se Refugiem nele.Veja o que Deus diz nesse mesmo capítulo de Isaías:

―Olhai para Mim e sede salvos, vós, todos os termos da terra; porque Eu souDeus e não há outro. Por mim mesmo tenho jurado; da minha boca saiu o que é

 justo, e a minha palavra não tornará atrás. Diante de mim se dobrará todo o joelho, e toda língua. De mim se dirá: tão somente no Senhor há justiça e força; atéEle virão e serão envergonhados todos os que se irritarem contra Ele. Mas noSenhor será justificada toda a descendência de Israel, e nEle se gloriará.‖ (Is45.23-25).

A verdade é vista de forma duplamente completa: os do Seu povo têm salvação do mal nelee nele serão justificados, e os ímpios haverão de prestar contas a Ele de suas maldades, porqueEle é o Deus da justiça.

Deus continua no trono. E do Seu trono que Ele está falando aqui. E é para o Seu tronoque somos convocados a olhar. O homem terá que ser libertado do pecado, e isso acontecerá por

 Jesus Cristo, em quem o homem deverá olhar com fé. A Escritura sempre encoraja os homens abuscarem refúgio e socorro nele, afastando-se do mal. E isso que o Senhor deseja que façamos e,para isso, necessitamos de Seu auxilio!

B) DADOS BÍBLICOS SOBRE O CARÁTER DO PECADO

1) O Pecado é uma classe específica de mal99 

Muito se fala na atualidade a respeito do mal, mas pouco se tem dito a respeito do pecado.Esta é uma palavra omitida na maioria das publicações ou conferências científicas que tratamdos problemas da raça humana. Contrariamente, a Escritura fala muito a respeito do pecado,que tem a ver com a transgressão de uma lei divina, mas é preciso ter em mente que nem todo omal é pecado. O pecado não deve ser confundido com os males físicos que provocam ascalamidades e prejuízos, que tantas dores têm trazido à raça humana. Estes últimos, na maioriadas vezes, vêm como manifestação do julgamento parcial de Deus sobre os pecados dos homens.Aquele, entretanto, é um mal moral, porque afeta e viola uma lei moral de Deus, é uma oposiçãodeliberada àquilo que Deus estabeleceu. No seu cerne, o pecado é sempre um ato positivo deoposição a Deus, que envolve culpabilidade pessoal, e é produto de uma ação voluntária da parte

do homem, como agente livre que é (Gn 3.1-6; Rm 1.18-32; 1 Jo 3.4).

2) O Pecado tem um caráter absoluto100 

Na esfera ética o contraste entre o bem e o mal é   absoluto. Não há um intervalo deneutralidade entre ambos. Ainda que haja graus em ambos, não há grau entre um e outro. A

99 Ver Berkhof, p. 276 (edição castelhano).100 Ver Berkhof, p. 277 (edição em castelhano).

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 86/222

  86

transição de um para o outro não é de caráter quantitativo, mas qualitativo. Um ser moral que ébom não se converte em mau por diminuir a sua bondade, mas unicamente por uma mudançaqualitativa radical volvendo-se para o pecado. O pecado não é um grau menor de bondade, masum mal positivo. A Escritura não reconhece qualquer posição de neutralidade entre o bem e omal. O homem está do lado do justo ou do ímpio.

Mt 12.30 –  ―Quem não é por mim, é contra mim; e quem comigo não ajunta,espalha.‖ 

O que Jesus está querendo dizer neste verso é que se Ele merece o nosso respeito, mereceque o recebamos de todo o coração. Se não rendemos todo o coração a Cristo, não lhe estamosrendendo cousa alguma. Não existe a idéia de estar indiferente com respeito a Cristo. Aindiferença é considerada oposição a Ele. Ou Lhe damos a honra, a adoração e o amor que Elemerece, ou O desonramos, cultuamos o demônio e odiamos ao Filho de Deus. Trata-se de ser oitoou oitenta com Jesus. Não existe equilíbrio no sentido de ficar entre Jesus e Satanás. Não háposição de indiferença ou neutralidade. Por isso, Ele disse: ―Quem não é por mim, é contra mim.‖ 

Não há forma de ser neutro nas coisas espirituais. Se alguém não é seguidor de JesusCristo, certamente estará do lado do maligno. Aqueles que não estão fazendo a obra de Deusestão fazendo as obras do diabo. Não estar do lado de Deus significa estar do lado de Satanás.

Não existe meio termo ou neutralidade na esfera espiritual.

3) O Pecado tem a ver com a transgressão da Lei

A Escritura afirma categoricamente que o pecado ―é a transgressão da lei‖ (1Jo 3.4). Opecado propriamente não existiria para o homem se não houve uma lei estabelecida. Desde ocomeço do mundo, no pacto de obras do Éden, Deus estabeleceu leis para serem cumpridas pelasua criatura racional. Para que não houvesse dúvida quanto ao conceito de que pecado tem a vercom a lei, Deus colocou duas leis para o homem: uma interna, quando imprimiu as suas leis noscorações deles (Rm 2.12-15); a outra ele a transmitiu em palavras, quando no jardim deu asdevidas ordens (Gn 2.15-16). Posteriormente, Deus formalizou essas leis gravando-as em tábuasno tempo de Moisés, para que ninguém pudesse alegar falta de conhecimento.

Portanto, quando o homem peca, ele transgride uma lei que Deus estabeleceu.

C) A ORIGEM DO PECADO NO MUNDO ANGELICAL

A Bíblia deixa absolutamente claro que o pecado não começou no Éden, com a queda dosnossos primeiros pais. O pecado vai além de Gn 3. Deus havia criado as hostes angelicais, e todosas cousas que Deus fez eram boas quando vieram das mãos do seu Criador (Gn 1.31; 2.1).

2 Pe 2.4 diz que ―Deus não poupou a anjos quando pecaram, antes, precipitando-os noinferno, os entregou a abismos de trevas, reservando-os para juízo‖. A queda dos anjos ocorreuquando legiões deles ―abandonaram o seu estado original‖ (Jd 6). O tempo exato dessa queda nãose sabe, mas Jo 8.44 diz que o Diabo foi ―homicida desde o princípio‖, e 1 Jo 3.8 diz que ele vive―pecando desde o princípio‖. 

Estas passagens mostram que houve um primeiro estado, um estado original no qual eleseram santos, estado de criação esse que eles abandonaram. Eles caíram e foram tornadosinstrumentos de ruína para os outros seres racionais, os homens. A Escritura, contudo, não dizquase nada sobre a queda dos anjos. E possível que o ―orgulho‖ tenha sido o pecado de

Satanás101, mas não há nenhuma outra indicação que nos dê mais luz sobre a queda deSatanás.

101 Esta é uma referência sacada de 1 Tm 3.6, onde se supõe que Satanás é orgulhoso, soberbo,porque quis ser igual a Deus. O mesmo pode deduzir-se das palavras que ele usou para tentar Eva, em Gn3, onde ela a induziu a ser como Deus.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 87/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 88/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 89/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 90/222

  90

desafiar Deus ficando impunes (veja Dt 29.19).

Gn 3.5 —  ―Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirãoos olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal.‖  

Eva, ao invés de fugir da conversa, continuou a dar ouvidos à fala de Satanás. Este não

somente sugeriu que ela não sofreria punição qualquer, com insinuou que ela se beneficiaria aocomer do fruto, por três razões: Primeiro, por comer do fruto, a capacidade dela de discernimentoe o de percepção seriam sensivelmente aumentados. Este é o sentido de ―se vos abrirão os olhos‖.Os olhos físicos de Eva e Adão já estavam abertos, portanto, esta referência deve ter sido aosolhos do entendimento; Segundo, o seu poder seria aumentado, e sua posição melhorada. Elesseriam como ―Deus‖ ou anjos; Terceiro, a sabedoria seria aumentada em muito, ―sendoconhecedores do bem e do mal como Deus‖. Isto era algo altamente desejável!

É interessante que Satanás não dirigiu seus ataques aos apetites físicos de Eva, mas àparte mais nobre do seu ser, isto é, aos apetites da alma humana  —  querer ser mais sábio,inteligente, poderoso, ser uma criatura celestial, ser um ser independente, auto-suficiente, agirindependentemente de Deus.

De lá para cá, Satanás tem tentado fazer o mesmo com todos os homens, tentando-os atornarem-se independentes de Deus, o que é uma falácia, mas muitos têm caído nessa esparrela.

Gn 3.6 —  ―Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aosolhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu, edeu também ao marido, e ele comeu.‖ 

Antes de examinar os detalhes deste trágico verso, analisemos cuidadosamente duasperguntas:

Primeira: Por que a soberania da divina ameaça em Gn 2.17 não deteve Eva? Davideclarou: ―Guardo no coração as tuas palavras, para não pecar contra ti‖ (S1119.11). E claro deGn 3.3 que a palavra de Deus estava na mente de Eva ao menos, quando ela foi acossada porSatanás. Como, então, se explica que ela não se preservou de pecar? Certamente, a resposta éque ela não fez uso da Palavra, mas namorou com a tentação, parlamentou como inimigo de

Deus, e acabou crendo na sua mentira. Aqui está a mais solene advertência para nós: sedesejamos que Deus nos liberte do tentador, devemos evitar toda ocasião do mal e, como José doEgito, fugir da tentação. Então, poderemos livremente, orar: ―Não nos deixes cair em tentação,mas livra-nos do mal.‖ 

―Eva viu que a árvore era boa para se comer (porque provavelmente Satanás a tinhacomido na frente dela) e que ela era ―agradável aos olhos‖. 

Observemos a ordem das duas cláusulas: esperaríamos encontrar, pela lógica, a frase―agradável aos olhos‖ primeiro que ―boa para se comer‖. Por que estariam elas mencionadasinversamente?

Isto capacita-nos a entender melhor o significado da frase ―vendo a mulher que a árvoreera boa para se come‖. O elemento tempo não pode ser ignorado aqui. Cremos, porque estáimplícito, que a serpente comeu do fruto na presença de Eva. Como ela poderia perceber que aárvore era ―boa para se comer‖, se alguém não a tivesse provado? Como Eva poderia saber que o

fruto era ―desejável para dar entendimento‖ a menos que alguém t ivesse previamentetestemunhado através de uma demonstração visual do fato?

É evidente que as palavras ―vendo a mulher que a árvore era boa para se comer‖significam que ela havia visto a serpente comê-la sem morrer ou sofrer qualquer punição. Então,ela seguiu o exemplo da serpente. Este fato interferiu no raciocínio de Eva. Ao invés de crer naPalavra de Deus, Eva andou pelo que viu —  como seus filhos e filhas fazem ainda hoje  —  e asaparências enganam.

Eva viu que a árvore ―era agradável aos olhos‖. Não havia nada na aparência exterior dofruto que indicasse que ele era impróprio para ser comido. Ao contrário, ele parecia atraente. Em

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 91/222

  91

Gn 2.9 lemos: ―Do solo fez o Senhor Deus brotar toda sorte de árvores agradável à vista e boapara o alimento...‖ —  Como o texto mostra, a árvore do conhecimento do bem e do mal não eraexceção. Toda a criação foi bela e agradável aos sentidos. Mas Eva, por entregar-se à tentação daserpente, notou que aquela árvore era particularmente bela. Eva teve o desejo secreto ecobiçou-a.

Se houvesse havido qualquer incerteza na mente de Eva, ela poderia ter consultado seu

marido. Segundo a Escritura, este é o dever e o privilégio de uma esposa. Mas ela quis ter―entendimento‖ como Deus. Ela fez o juízo pelo que a serpente disse, e não pelo que Deus haviadito ao seu marido. Ela preferiu a falsa esperança que o inimigo lhe havia dado, mas ela foienganada.

Primeiro, ela deu crédito ao ―é certo que não morrereis‖ (v.4); depois foi atraída pelaperspectiva de tornar-se igual a ―Deus‖ ou anjo. E, então, sob essa crença, comeu do fruto.

A palavra hebraica fdfm:xen:w para ―desejável‖ (v.6), tem a mesma raiz (Dom:xat) em Ex20.17, e é traduzida aqui por ―cobiça‖. A mesma palavra é chamada ―concupiscência‖ em Rm 7.8,e ―cobiça‖ em Tg 1.15. De f ato, esta última passagem, de algum modo, traça o caminho emdetalhes da desobediência final de Eva, mesmo embora ela não possuísse natureza pecaminosa,como nós hoje a possuímos.

O estatuto do Éden, tanto quanto o dos Dez Mandamentos, envolvia ambos, os desejosinteriores e os atos exteriores. Aquele que deseja o mal proibido, de fato já o escolheu, comoaquele que odeia antes de violar o sexto mandamento, embora nunca chegue a uma violênciafísica. Eva não poderia nem desejar o fruto, porque Deus a havia proibido de comê-lo. Ao invés dedesejá-lo, ela deveria fugir dele. Cobiçar o que Deus proíbe já é pecaminoso, é preferir a criaturaao invés do Criador. Esta é a grande advertência para nós todos. Se estimamos coisas apenaslevados pelos sentidos, ou pelo que outros dizem delas, ao invés de aceitarmos o que Deus diz arespeito, certamente erraremos em nosso juízo. Nada é bom para nós exceto aquilo que vem dasmãos de Deus.

Eva, então, ―tomou-lhe do fruto e comeu‖—  sem consultar Adão. Tão forte foi o desejo doseu coração, que ela não quis ouvir a opinião de ninguém. Assim, ela completou a transgressão.A serpente não colocou o fruto na boca de Eva. O diabo pode tentar, mas não pode forçarninguém a pecar. Por sua própria determinação, obedecendo a desejos interiores, ela comeu dofruto. Ela, e nem nós, podemos culpar quem quer que seja pelos nossos próprios atospecaminosos.

A essa altura, Adão juntou-se a Eva, porque é dito que Eva deu o fruto ao seu marido, ―eele comeu‖. Este é o progresso do pecado: alguém entrega-se à tentação e, então, torna-se otentador de outras pessoas. Ao invés de recusar o fruto, Adão comeu. O texto da Escritura diz―que Adão não foi enganado‖ (1 Tm 2.14), o que o torna um maior culpado. Ele apenas ―atendeua voz de sua mulher‖ (Gn 3.17), e isto foi o bastante para ele apostatar de Deus. Foi uma revoltacontra o Criador, uma insurreição à Sua supremacia, uma rebelião contra a Sua autoridade.Deliberadamente Adão resistiu à vontade revelada de Deus, desertou do Seu caminho. Emconseqüência, ele perdeu sua primitiva excelência e toda a sua alegria. Assim, Adão lançou-se asi mesmo, e a toda sua posteridade, na ruína espiritual. Esta foi a origem do pecado na raçahumana. Gn 3 dá-nos uma narrativa inspirada de como o pecado invadiu o território doshomens, e também nos dá a única resposta para os males e as misérias que permeiam este nossomundo.

Resumo: A queda do ser humano foi ocasionada pela tentação da serpente, que semeouna mente de nossos primeiros pais a desconfiança e da incredulidade. Ainda que, sem dúvida, opropósito da serpente tenha sido o de fazer Adão cair, ele se dirigiu a Eva provavelmente pelasrazões que se seguem: a) Ela não era a cabeça do pacto e, portanto, não teria o mesmo sentido deresponsabilidade; b) Ela não havia recebido o mandato de Deus diretamente, mas de formaindireta, através de Adão e, por conseguinte, seria mais suscetível ao argumento da dúvida; c)Com segurança ela seria o agente mais eficaz para chegar ao coração de Adão.

Assim, portanto, deu-se a história da queda do homem, o inicio do pecado no mundo.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 92/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 93/222

  93

CAPÍTULO VIII

A TRANSMISSÃO DO PECADO

O pecado original (que é a culpa e a conseqüente corrupção) tem sido a experiência detodos os homens. Tanto a Biblia quanto a experiência humana têm mostrado a universalidade dopecado. Segundo a Escritura, a origem disto tudo está na queda de Adão. Neste capitulo vamosver qual é a conexão que há entre o pecado de Adão com o da humanidade em geral.

E pensamento geral entre os Reformados a teoria da imputação. As palavras usadas naslínguas originais que são traduzidas como ―imputação‖, são bo$:xay (Sl 32.2 do verbo hebraicob$x)) e logi/shtai (Rm 4.8 do verbo logizomai).105 A imputação é o método de Deus para explicar aconexão do pecado de Adão com os nossos pecados, mas nem todos os cristãos têm concordado

nesta matéria.Diferentes conceitos têm surgido no decorrer da história da igreja a respeito de como aculpa de Adão passou até nós.

CONEXÃO DO PECADO DE ADÃO COM O DAPOSTERIDADE

A. OS QUE NEGAM ESTA CONEXÃOHouve alguns movimentos na história da igreja que tentaram negar a conexão entre o

pecado do primeiro pai e os pecados dos seus descendentes. A negação é total no primeiro grupo

e parcial no segundo e terceiro.

1) Os Pelagianos

Pelágio, monge inglês do séc. IV, adversário teológico de Agostinho, partiu doponto-de-vista da habilidade natural do homem. Seu axioma fundamental é: ―Deus mandou ohomem fazer o que é bom; disto, deduz-se que o homem deve ter a capacidade de fazê- lo.‖ Istoquer dizer, na teologia de Pelágio, que todos os homens possuem o livre arbítrio, ou seja, avontade livre no sentido absoluto da palavra, de tal forma que é possível para eles irem tanto parao mal quanto para o bem, como resultado da sua constituição natural. Na verdade, dentro doconceito pelagiano, o homem é um ser moralmente neutro. Ele não tem tendência alguma. Adecisão do homem não depende do seu caráter moral, visto que a vontade do homem está

inteiramente indeterminada tanto de dentro como de fora. Seja o que for que o homem faça, obem ou o mal, dependerá unicamente de sua vontade livre, isto é, da natureza moral neutra dela.Os atos bons ou maus são ações soltas do homem, não estão vinculadas à natureza moral dohomem. O pecado consiste de atos independentes ou soltos da sua vontade. A vontade não temconexão com o coração do homem. E nesse sentido que ele entende vontade livre. E aindependência da vontade. Não há uma natureza pecaminosa no homem que o leva a pecar. Opecado é sempre uma escolha deliberada do homem, e ele peca porque ele resolve imitar Adãoque pecou. Segue-se, portanto, que Adão não foi criado num estado de verdadeira santidade, mas

105 Ver também 2 Co 5.19; Gl 3.6; Tg 2.23.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 94/222

  94

em um equilíbrio moral. Sua condição era de neutralidade moral. Não era bom nem mau,portanto, não possuía caráter moral. Escolheu livremente a carreira do mal, mas isto não fez queseus descendentes nascessem pecaminosos.

Para o pelagianismo, não há nenhuma conexão entre o pecado de Adão e os pecados dosdescendentes. Não há o pecado original. As crianças nascem num estado de neutralidade,começando exatamente onde Adão começou, exceto no sentido em que estão numa situação de

desvantagem, pois já nascem com maus exemplos ao seu redor. Os homens hoje pecam porqueresolvem imitar Adão e, como conseqüência, o hábito de pecar vai se formando.O conceito de livre arbítrio de Pelágio , em algum sentido, foi tirado de um livro apócrifo

das Escrituras, o livro de Eclesiástico, que tem dado margem a alguns eruditos posteriores,inclusive, Erasmo de Roterdã, a formularem sua teologia libertária.

Pelágio defendeu um libertarismo muito extremo. Ele creu que

―todo infante vem ao mundo na mesma condição que Adão estava antes daqueda. Seu princípio principal era que a vontade do homem era absolutamentelivre. Daí, segue-se que todos têm o poder, dentro deles mesmos, para crer no

evangelho tanto como para guardar perfeitamente a lei de Deus.‖106 

Pelágio ―vê a liberdade humana como um dom de Deus. Portanto, a prova desta liberdadetem que ser buscada na Escritura Sagrada. E a conhecida passagem de Eccli XV, 17107 queproporcionou a Pelágio a mais exata definição da liberdade da vontade.‖108 Comentando sobre 1

 Tm 2.4 –  ―…que deseja que todos os homens sejam salvos‖, Pelágio diz:  ―Disto é provado queDeus não força ninguém a crer, nem que Ele tira a liberdade da vontade.‖109 Agostinho citaPelágio em sua obra On the Grace of Christ, capítulo XXIV: ―O homem que se apressa para oSenhor e deseja ser dirigido por Ele, que faz sua própria vontade, depende do Senhor, que alémdisso, apega-se tão proximamente ao Senhor tornando-se (como diz o apóstolo), ‗um espírito comEle‘, faz tudo isto por nada mais do que pela liberdade da vontade.‖110  ―Livre Arbítrio‖ era oprincipal tema de Pelágio, e ele determinou a totalidade de seu sistema teológico nas áreas deantropologia e soteriologia.111 

106  David N. Steele, The Five Points of Calvinism , Philadelphia: Presbyterian and Reformad

Publishing Company, 1967), p. 20.107 Eclesiástico 15.14-18 (que diz: ―Ele mesmo fez o ser humano no princípio e, então, deixou-o livrepara fazer suas próprias decisões. Ele lhe deu mais os seus mandamentos, e os seus preceitos; se tuquiseres observar estes mandamentos, e guardar sempre com fidelidade o que é do agrado de Deus, eles teconservarão. Ele pôs diante de ti a água e o fogo: lança a tua mão ao que quiseres. Diante do homem estãoa vida e a morte, o bem e o mal: o que lhe agradar, isso lhe será dado.‖) dá a base para muitos escritoresformularem sua concepção de livre-arbítrio. Juan P. Valero diz: ―Pelágio é um dos primeiros escritoreseclesiásticos, sem se exceptuarem Tertuliano e Orígenes, que se utilizou desta passagem como fundamentoda liberdade do homem "Las Bases Antropologicas de Pelagio, (Madrid, Publicaciones de La UniversidadPontificia comilías, 1980), p. 315.

108 Ibid.109 Alexander Souter. The Earliest Latin Commentaries on the Epistles of St. Paul, (Oxford: At the

Clarendon Press, 1927), p. 224.110 Whitney J. Oates. (Editor) Basic Writings of Saint Augustine, vol. 1, (New York, Random House

Publishers, 1948), p. 599. Neste capítulo On the Grace of Christ , Agostinho cita diversas vezes o pensamentode Pelágio sobre as capacidades da vontade livre do homem.

111 No século IV uma lista de erros pelagianos, que foi parte do credo Pelagiano, havia sidoapresentada pelo diácono Paulinus de Milão, em sua acusação a Celéstio, diante de Aurelius, bispo deCartago: 1) ―Adam mostalem factum, qui sive peccaret sive non peccaret, moriturus esset.‖ (De gestisPelagil, 11); 2) ―Quoniam peccatum Adae ipsum solum laeserit et non genus humanum.‖ (Ibid); 3) ―Quoniam

lex sic mittit ad regnum quemadmodum evangelium.‖(Ibid); 4) ―Quoniam ante adventum christi fuerunthomines sine peccato.‖(Ibid); 5) ―Quoniam infantes nuper nati in illo statu sint, in quo Adam fuit antepraevaricationem.‖ (Ibid); 6) ―Quoniam neque per mortem vel praevaricationem Adae omne genus hominummoriatur, neque per resurrectionem Christi omne genus hominum resurgat.‖ (Ibid). (Chisholm. ThePseudo-Augustinian Hypomnesticon Against the Pelagians and Celestians, p. 6-7).

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 95/222

  95

Os modernos pelagianos foram ressuscitados especialmente no tempo de Jean J.Rousseau, que dizia que as crianças são uma espécie de tabula rasa, ou um papel branco, que vaise sujando ou manchando pela influência externa.

Vejamos este ensinamento colocado numa forma mais sistemática: —   Pelágio enfatizou a plena liberdade da vontade, a vontade como independente das

outras faculdades da alma humana. A vontade possuía plena liberdade para querer e para fazer.

O princípio de Pelágio era: ―Se eu devo, eu posso‖.  —  O pecado consistia, portanto, somente na escolha deliberada do mal. Ele pressupõe oconhecimento daquilo que o mal é, mas o homem tem poder de escolhê-lo ou de rejeitá-lo.

 —  Não há pecado original, ou corrupção herdada. Todos os homens são nascidos namesma condição em que Adão foi criado.

 —  O pecado de Adão é apenas um mau exemplo que foi seguido por seus descendentes;Pelágio negou que houvesse qualquer conexão de relação causal entre o pecado de Adão e o daraça, ou que a morte tenha sido a pena do peado. Adão morreu por causa da constituição da suanatureza, e isto aconteceria mesmo que ele não houvesse pecado.

 —  Adão não foi o representante da raça humana, nem o seu cabeça. —  Como o descendente de Adão vem ao mundo sem a contaminação do pecado, ele tem

pleno poder para fazer tudo o que Deus quer, inclusive viver sem pecar. Ele tem a possibilidadede não pecar. Alguns pelagianos ensinaram que alguns homens não precisavam orar:―Perdoa-nos as nossas dívidas‖. 

 —  Uma conseqüência do ensino de Pelágio foi que ensinou-se que o homem poderia sersalvo sem o evangelho. Com a vontade plenamente livre, ele poderia obedecer perfeitamente a leide Deus e ser salvo, e ter vida eterna. A única diferença é que, debaixo da luz do Evangelho, estaperfeita obediência é tornada mais fácil.

 —   Pelágio nega a necessidade da graça como nós a entendemos, como a atuaçãosobrenatural do Espírito Santo. Ele crê na graça, mas com uma outra conotação. Graça,portanto, para Pelágio, e entendida como cada coisa que deriva da bondade de Deus. Nossasfaculdades naturais como a razão, o livre-arbítrio, revelação da verdade, etc., é que são a graçadivina.

2) Os Semi-Pelagianos

O Semi-Pelagianismo é a doutrina dos católicos-romanos desde o tempo em que aigreja se posicionou entre Agostinho e Pelágio.

Após a controvérsia Agostinho-Pelagiana, a igreja cristã decidiu tomar um posiçãomediana. Ela evitou os pontos extremos de Pelágio e de Agostinho. Esta posição é historicamenteconhecida como Semi-Pelagianismo que tomou elementos de ambos. Segundo George Smeaton,

 João Cassiano (A.D. 360-435), um contemporâneo de Agostinho,

foi o fundador dessa posição mediana, que veio a ser chamadaSEMI-PELAGIANISMO, porque ela ocupou um terreno intermediário entrePelagianismo e Agostinianismo, e tomou elementos de ambos. Ele reconheceu queo pecado de Adão estendeu-se a sua posteridade, e que a natureza humana eracorrompida pelo pecado original. Mas, por outro lado, ele sustentou um sistema degraça universal para todos os homens igualmente, fazendo com que a decisão final

no caso de cada indivíduo fosse dependente do exercício do livre arbítrio.112 

Cassiano, como Agostinho, viu a universalidade da graça, mas

112 The Doctríne of lhe Holy Spírít, (Edinburgh: T & T Clark, 1889), p. 338. N.P. Williams in The Graceof God, (London: Hodder and Stoughton, 1966) pensa que ―seria mais justo descrever o sistema queCassiano advogou como ―Semi-Agostinianismo‖‖, porque Williams pensa que Cassiano crê em muitas coisasa respeito do pecado original, como Agostinho, e Cassiano discordou somente sobre a "Irresistibílidade dagraça, que torna a vo1ição humana um mero modo dá auto-expressão da vontade divina.‖ (p. 54)

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 96/222

  96

ele casa isto com uma certa admissão do poder cooperador da vontade livre dohomem. Isto se aplica mesmo à graça primeira, a graça da conversão... ParaAgostinho a primeira graça é estritamente preveniente, para Cassiano ela é, comoas outras graças, cooperante.113 

Ele diz em suas Collationes que a graça cooperante vem ―ajudar as fracas aspirações eveleidades que são espontâneas ou movimentos não-causados da vontade humana.‖ 114  Aconclusão óbvia deste pensamento é que Cassiano não cria numa real depravação da almahumana como o fez seu contemporâneo Agostinho. Sua concepção ―do estado presente danatureza humana caída é perceptivelmente mais suave do que aquela sustentada por Santo

Agostinho.‖115 

Agostinho, que havia sido vitorioso em sua controvérsia com Pelágio, não teria ficadosatisfeito com o caminho que a igreja tomou posteriormente. Um voluntarismo libertário triunfouna teologia do Semi-Pelagianismo. A graça de Deus vinha conforme os méritos dos homens, istoé, de acordo com o bom uso ou com a melhora correta dos poderes naturais da vontade livre,mesmo embora o Semi-Pelagianismo tenha sido condenado pelo Sínodo de Orange (A.D. 529)116,presidido pelo bispo de Arles, um teólogo agostiniano. O sumário da doutrina de Orange sobre a

capacidade do homem está asseverada na afirmação concludente como apêndice aos Cânones:

Isto nós devemos ambos pregar e crer - que através do pecado do livre arbítriodo primeiro homem foi tão deformada e atenuada, que daí por diante nenhumhomem pode mesmo amar a Deus como ele deve, ou crer em Deus, ou apresentarqualquer boa obra em nome de Deus, amenos que a graça da misericórdia divinatenha se antecipado nele.117 

Muitos teólogos, contudo, não têm dado atenção nem a sã  doutrina nem à condenaçãopronunciada por Orange. Eles minimizaram a posição de Orange sobre a queda e asconseqüências que foram óbvias: eles tiveram uma atitude benevolente em relação ao homemnão-regenerado, o que tornou fácil crer em qualquer espécie de liberdade da determinação,

ambos, da influência externa e, especialmente, da interna.O Semi-Pelagianismo, com sua teologia sinergista, cruzou todos os períodos da igrejacristã. Ele ganhou muitos seguidores, visto que esta é a posição da igreja de Roma até hoje,mesmo embora ela não o declare oficialmente.

O voluntarismo libertário teve seu grande campeão na pessoa de Duns Scotus, perto do

113 Williams, p. 57.114 Collationes  XIII, II (citado por Williams, p. 58).115 Williams, p. 58.116 Alguns Canones de Orange que condenaram o Semi-Pelagianismo mostram a teologia em vigor

naquela época na Igreja Crista: ―Se qualquer um afirma que a totalidade do homem, alma e corpo, não temsido corrompida pela transgressão de Adão, mas que o corpo somente esta sujeito a corrupção, enquanto aliberdade da alma permanece intacta, que tal pessoa, seduzida pelos erros de Pelágio, contradiz a Escrituraque diz: ―A alma que pecar, essa morrera.‖; ―4) Se qualquer homem afirma que Deus espera  pela nossa

vontade de tal forma que nós podemos ser eximidos de pecar, e que não confessa que é devido a infusão eoperação do Santo Espírito sobre nós que nós desejamos ser limpos, ele resiste ao Espírito Santo...‖; ―6) Sequalquer homem afirma que a misericórdia é comunicada a nós quando, sem a graça de Deus, cremos,decidimos, desejamos, nos esforçamos, observamos e trabalhamos, oramos, procuramos e batemos, e quenão confessa que é pela inspiração e infusão do Espírito de Deus que nós cremos, desejamos.... - quemeramente afirma que a ajuda da graça é acrescentada à humildade e obediência do homem...‖; ―7) Sequalquer homem afirma que pode, pela força da natureza, pensar qualquer coisa boa pertencente a salvaçãoda vida eterna.. .ou escolher ou consentir diante da pregação evangélica salvadora, sem a iluminação einspiração do Espírito Santo, que dá a todos o doce sabor em consentir e crer na verdade, ele esta enganadopor espírito herético....‖ (See Smeaton, pp. 340-42, e Williams, pp. 63-65).

117 Williams, p. 66.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 97/222

  97

final da Idade Média. Ele ―representa um estágio de transição no movimento de uma teoria do

apetite da volição humana para a teoria da causa eficiente.‖118 Duns Scotus escreveu:

―Qual é a fonte desta escolha determinada? Ela pode vir somente de um poderdistinto da razão que é capaz de escolher. Porque a razão não é um fatordeterminante, visto que ela tem a ver com os opostos com respeito ao qual ela não

pode determinar a si mesma, muito menos determinar alguma coisa além de simesma… Propriamente falando, o poder executivo não está num podercontraditório ao efeito que ele carrega, visto que ele é racional por participação.Mas o sentido pleno de um poder pelos opostos é encontrado formalmente na

vontade.‖119 

E fácil perceber nesta citação o voluntarismo de Scotus. Toda determinação vem davontade sem qualquer ligação com os poderes intelectuais. A vontade tem a primazia sobre todasas outras faculdades do homem e tem conotação libertária. Aqui o voluntarismo libertário deScotus triunfou sobre o intelectualismo em vigor em seus dias.

Com Duns Scotus o intelectualismo de Tomás de Aquino, que ensinou que a vontade éum apetite racional, é ―descartado e substituído (durante o século XIV e até o tempo presente) na

maioria dos escritos dos filósofos e teólogos católicos.‖120  Uma nova ênfase foi posta nascapacidades da vontade humana, mesmo embora não tenha sido uma volta completa aos ensinos

de Pelágio. Bourke diz que a teoria do ―livre-arbítrio‖ é basicamente Scotista.121 Nada podecausar a ação da vontade, exceto ela mesma. Como ele próprio diz: ―Nada além da própriavontade é a causa total da volição na vontade.‖ 122 A senha de Duns Scotus é, portanto,liberdade.123 Dessa forma, Berard Vogt concluiu corretamente um estudo das idéias de DunsScotus com estas palavras:

Assim, então, é a teoria da liberdade como esboçada por Duns Scotus. Ela édominada por sua alta consideração pela vontade como a rainha e a soberana dasfaculdades do homem. De fato, sua característica distintiva e a sua defesa dasoberania e autonomia absoluta da vontade.124 

Duns Scotus introduziu em sua teologia a

noção interessante de  prima indifferentía para explicar a condição inicial davontade quando ela está livre. O primeiro ato do entendimento não é livre, masuma vez que um objeto intelectual seja apresentado à vontade, a vontade éindiferente (i.e., não determinado de qualquer modo) em direção a este objeto. Avontade pode dirigir o intelecto para considerar este objeto ou outro, e a vontadepode aceitá-lo ou rejeitá-lo.125 

Assim, o voluntarismo libertário do Semi-Pelagianismo ganhou a batalha contra o

118 J. Vernon Bourke. Will in Western Thought , (New York: Sheed and Ward, 1964), p. 84.119 Duns Scotus, Duns Scotus on the Will and Morality , selected and translated with na introductionby Allan B. Wolter, (Washington, D. C.: The Catholic University of America press, 1986), p. 161.

120 Bourke, p. 88.121 Ibid.122 Duns Scotus, ´quod nihil aliud a voluntate est causa totalis volitions in voluntate.‖ (Op. Ox. II,

25, q. 1, n.766), como está citado por Bourke, p. 98.123 Josef Pieper. Scholasticism-Personalities and Problems of Medieval Philosophy, (New York:

Pantheon Books, 1960), p. 146.124 Citado por Bourke, p. 88.125 Ibid., p. 85.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 98/222

  98

intelectualismo daquele período em diante, mesmo embora o intelectualismo tenha sido revividono período do neotomismo e no escolasticismo protestante. Mas a vontade nunca perdeu o seu

lugar de domínio porque isto foi fortemente favorecido pela tendência natural do homem.126 Enatural para os seres humanos enfatizarem suas próprias capacidades espirituais. E naturalpara eles desejarem ser participantes em sua própria salvação. Sinergismo, portanto, é o modonatural dos seres humanos expressarem sua própria teologia.

Os Semi-Pelagianos, portanto, enfatizaram que o homem herdou de Adão umaincapacidade natural, mas que não é responsável por ela, de maneira que o homem não pode serculpado por ela. Portanto, não será condenado por causa dessa incapacidade natural. Algunschegam ao ponto de concluir que Deus, de alguma forma, está obrigado a proporcionar cura paraessa incapacidade.

Dentro do Semi-Pelagianismo do catolicismo, admitiu-se que a justiça original era umdom sobrenatural, e que efeitos do pecado de Adão sobre a sua posteridade, foi a perda dessa

 justiça. A alma, portanto, é deixada no estado em que foi originalmente criada, com a justiçanatural. Os homens hoje nascem do modo como Adão foi originalmente feito: com a justiçanatural. O pecado original, então, não está ligado à perda da justiça original. Não há nenhumacorrupção hereditária inerente, nenhum caráter bom ou mau. De acordo com osemi-pelagianismo, a perda da justiça original é apenas pena e não culpa.

3) Os Arminianos Consistentes127 

Os arminianos consistentes são aqueles que ensinam quase a mesma coisa que osemi-pelagianismo ensina dentro do catolicismo.

O próprio fundador do movimento que leva o seu nome, teve muita dificuldade de admitira idéia de que o nosso pecado tem conexão com o de Adão, manifestando enorme indecisãoquando tratou da matéria de imputação.

É passível de discussão se Deus poderia ficar irado por causa do pecadooriginal que foi nascido conosco, visto que pareceu ser inflingido sobre nós pelopróprio Deus, como uma punição pelo pecado atual que havia sido cometido porAdão e por nós nele.128 

Nesse mesmo lugar Armínio fez a distinção entre o "pecado atual" e "a causa dos outros

 pecados". Fazendo isto, segundo Meeuwsen,129 Armínio quebrou a idéia da unidade adâmica.Após analisar e citar os documentos dos Remonstrantes, Shedd assevera que

estes extratos são suficientes para provar que os teólogos Arminianos nãocriam que a unidade entre Adão e sua posteridade, que eles asseveravam em suaConfissão e Declaração, era de tal natureza que tornava o primeiro ato pecaminosode Adão, um ato comum da raça, e através disso justificam a imputação do pecadooriginal como verdadeira e propriamente pecado. Embora empregassem umafraseologia Agostiniana respeitando a conexão Adâmica, eles punham uma

126  Por tendências naturais eu quero dizer aquelas capacidades que o homem tem sem anecessidade de um aprendizado especial. Faz parte do homem pensar o melhor de si mesmo, a menos queele seja o objeto da graça de Deus. O homem, sem a graça de Deus sobre si, nunca pensarámonergisticamente. Esta é uma tendência do pensamento do homem desde o começo dos estudosteológicos. Somente uma compreensão correta da graça de Deus dá ao homem o senso de um monergismosoteriológico.

127 Eu uso a expressão ―Arminianos Consistentes‖ porque há aqueles que são inconsistentes na suateologia, afirmando o livre-arbítrio, mas ao mesmo tempo a fé como um Dom de Deus, o que quebra aharmonia deles. Este é apenas um exemplo.

128 Arminius, The Writings…, vol. 1, pp. 374-74.129 Meeuwsen.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 99/222

  99

interpretação diferente daquela que é encontrada nos símbolos de ambas astradições, Luterana e Reformada. A objeção deles à doutrina de que o pecadooriginal é a culpa, procede da suposição de que o ato de apostasia de Adão foipuramente individual, e que a posteridade não estava no progenitor em nenhumsentido real como a fraseologia de suas próprias afirmações doutrináriasimplicariam, se tomadas em sua aceitação estrita e literal.130 

Por esta razão, George Curtiss diz que

como relação ao pecado original, Armínio ensina que o homem, descendendode Adão, foi corrompido pelo pecado de Adão, mas não é culpado. Adão foi tantoculpado como corrupto. Ninguém jamais estará na condição de perdição por causada transgressão de Adão, mas todos estão na escravidão da corrupção, por causado cabeça federal da raça.131 

Eu não estou absolutamente certo de que a opinião de Curtiss encaixa exatamente naprópria teologia de Armínio, porque ele não foi claro na sua exposição, e ele não deu nenhumaexplicação dos termos que ele empregou. Todavia, esta observação de Curtiss certamente estábem de acordo com a teologia dos seguidores de Armínio.

Os teólogos Remonstrantes negaram, em sua antropologia, qualquer conexão federal realentre Adão e sua posteridade de tal modo, que não pode haver qualquer imputação do primeiroato de Adão à raça. O pecado de Adão não foi o pecado da raça, segundo a teologia dosRemonstrantes, porque não havia nenhuma base Bíblica ou teológica para Deus imputar lhes opecado do nosso primeiro pai.

Episcopius, um dos formuladores da Confessio Remonstrantium, Arminiana, revelou suasopiniões a respeito do pecado original na Apologia. Ele disse:

Os Remonstrantes não consideram o pecado original como é propriamentechamado, que torna a posteridade de Adão merecedora do ódio de Deus; nem oconsideram como um mal que, pelo método de punição propriamente chamado( per modo proprie dictae poenae ) passa de Adão para sua posteridade; . . Mas que o

pecado original ( peccatum originis ) não é um mal em qualquer outro sentido alémdisto —  que ele não é mal no sentido de implicar em culpa de abandono de punição(malum culpae, aut malum poenae ), —  está claro.132 

Um pouco mais tarde, Episcopius continua:

―Mas não há nenhuma base para a asserção de que o pecado de Adão foiimputado á sua posteridade, no sentido de que Deus realmente julgou aposteridade de Adão como culpada e acusável do mesmo crime (culpa) e pecadoque Adão havia cometido. Nem a Escritura, nem a verdade, nem a sabedoria, nema benevolência divina, nem a natureza do pecado, nem a idéia de justiça eeqüidade, permitem que seja dito que o pecado de Adão foi, assim, imputado á suaposteridade. A Escritura testifica que Deus ameaçou punir a Adão somente, e

impô-la sobre Adão somente; a benevolência divina, Sua veracidade e sabedoria,não permitem que o pecado de uma pessoa seja imputado, estrita e literalmente, a

130 Shedd, pp. 185-86.131 George L. Curtiss. Arminianism in History, (New York: Hunt and Eaton, 1894), p. 12. O termo

―federal‖ é relacionado com pacto. A palavra latina para pacto é foedus. Assim, ‗federal‖ é derivativo de foederatus confederado, uma parte no pacto. Uma conexão federal é o mesmo que uma conexão de pacto.Ver Richard A. Muller. Dictionary of Latin and Greek Theological Terms, (Grand Rapids: Baker, 1985), pp.119-22.

132 Citado por Shedd, pp. 181-82.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 100/222

  100

uma outra pessoa.‖133 

Os Remonstrantes aceitaram a transmissão do pecado através da propagação. Aposteridade de Adão herda a sua condição maligna. Ela herda os efeitos da natureza caída, masnão a imputação do pecado. A posteridade de Adão não é culpada por causa do pecado de Adão,mas recebe a conseqüência de seu pecado, sendo a posteridade do pai da raça. Isto parece soar

igual à imputação do pecado, mas a teoria da imputação de Armínio parece ser

imputação somente no sentido em que Deus quis que os descendentes deAdão fossem sujeitos ao mesmo mal ao qual Adão sujeitou-se através de umaparticipação deliberada no pecado. E pecado somente na medida em que o mal épermitido. Deus permite uma tendência má a ser imputada. Isto é a mesma coisaque foi imposta sobre o primeiro homem como punição, mas que é transmitida àsua posteridade na forma de um mal propagado, não como verdadeira punição emqualquer sentido da palavra.134 

Shedd assevera que, segundo o Arminianismo, ―não há qualquer base a asserção de que opecado de Adão tenha sido imputado à sua posteridade no sentido em que Deus realmente julgoua posteridade de Adão como culpada dele, e acusada com o mesmo pecado e crime que Adão

havia cometido.‖135 

 Todos os Arminianos consistentes negam a imputação do pecado de Adão por três razões:(1) Porque eles pensam que a doutrina da imputação é uma doutrina que rompe com osprincípios fundamentais da justiça eterna; (2) Porque eles dizem que a culpa pode ser atribuídasomente àqueles que pecam pessoal e voluntariamente; (3) Porque do conceito que eles possuemde graça preveniente.

B. OS QUE AFIRMAM ESTA CONEXÃO Todos os sinergistas, de alguma forma, negam que haja conexão entre o pecado de Adão e

o da posteridade, mas todos os de tendência Luterana e Reformada afirmam essa conexãoinequivocamente, mas a diferença entre os Reformados está no processo que Deus usou paraestabelecer essa conexão. Há, pelo menos, três teorias nos círculos Reformados, que tem

vigorado até agora:

1) Todos os que Sustentam a Teoria Realista

O método primitivo para se explicar a conexão entre o pecado de Adão com a culpa e acorrupção de sua posteridade foi a teoria realista.

Segundo W.G. T. Shedd, ―o Realismo foi a filosofia adotada pela Igreja, quando elaconstruiu as doutrinas da Trindade e do Deus-Homem. O traducianismo faz a mesma distinçãoem antropologia. O homem foi originalmente uma única natureza humana que, por propagação,tornou-se milhões de pessoas‖.136 

O Realismo supõe que a humanidade, a natureza humana como principio geral ou umaforma de vida, existe antecedentemente (cronológica ou logicamente) aos homens individuais. A―humanidade (ou gênero humano) existe antes das gerações da humanidade. A natureza é

anterior aos indivíduos produzidos dela.‖ A natureza existe também independente e fora dosindivíduos. A humanidade existe antes dos indivíduos e independentemente deles, como aeletricidade existe mesmo antes dela ser coletada e usada.

Conforme os primitivos realistas, o indivíduo é somente um modus exístendi

133 Episcopius in his Apology Pro Confessione Remonstrantium, cap. VII, (Ibid., pp. 183-84).134 Meeuwsen, p. 23.135 Shedd, pp. 183-84.136 W. G. T. Shedd, Dogmatic Theology , vol. II, p. 77.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 101/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 102/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 103/222

  103

obediência, mas o direito de desfrutar da vida eterna para si e para os seus descendentes, comoem caso de desobediência a culpabilidade para si e para toda a raça. Seria absolutamente óbvioque Adão obtivesse a promessa de vida, se obedecesse, pois a ameaça de morte (―no dia em quecomeres, certamente morrerás‖) implica necessariamente no reverso. E como se Deus lhehouvesse dito: ―Se não comeres, não morrerás e, certamente, poderás comer da árvore da vida,como recompensa por tua obediência‖ (ver Gn 3.22). A promessa de vida incluía muito mais do

que simplesmente não morrer. Adão haveria de ter vida eterna, aquilo que Cristo veio dar ao Seupovo, uma comunhão imperdível com Deus, uma qualidade de vida superior à que Adão possuía,mesmo quando não havia pecado, uma qualidade de vida que Adão teria, se houvesse obedecidoe comido da árvore da vida.

Os 6.7 diz que houve um pacto que Adão transgrediu e, fazendo isso, imergiu a si mesmoe toda a raça na desgraça e miséria, sujeitando todos os homens ao estado de culpados emerecedores do castigo divino.

―O fato de Adão ter permanecido como o cabeça da raça no relacionamento depacto, é demonstrado conclusivamente pelos males penais que vieram sobre seusfilhos, em conseqüência de sua queda. Da maldição terrível que cai sobre todos osseus descendentes, somos compelidos a inferir a relação pactual que existia entreele e eles; porque o Juiz de toda a terra, sendo justo, nunca punirá onde não há

crime. ―Em Adão todos morrem‖ porque nele todos pecaram.‖140 

A culpa do pecado de Adão foi imputada a toda a sua posteridade. O princípio daimputação permeia toda a Escritura. Se alguém age em favor ou em nome de outros, então estesestão legalmente representados, e são também contados como responsáveis nos atos de quem osrepresentou, e sofrem as conseqüências da conduta dele, seja ela boa ou má.

Os teólogos Reformados, em geral, aceitam a teologia federal141 mas há aqueles que

relutam aceitar o fato de que Deus estabeleceu um pacto com Adão142 no Éden. A teologia federalé perfeitamente passível de ser sustentada, pois há diversos elementos na Escritura que nosautorizam a elaborar uma teologia pactual que dá base para a representatividade de Adão.

c) Distinção de sentido nas Palavras JUSTO e INJUSTOAlgumas vezes essas duas palavras expressam o caráter moral das pessoas. Um homem

 justo é um homem reto, honrado, bom. Outras vezes, estas palavras expressam nãosimplesmente o caráter moral, mas relação de justiça.

Nesse sentido, um homem justo é aquele com quem as demandas da justiça sãosatisfeitas. Ele pode ser pessoalmente um injusto e legalmente justo. Se isto não fosse assim,nenhum pecador poderia ser salvo. Não há um crente na face da terra que não tenha sidopessoalmente injusto, merecedor da ira de Deus. Sendo ele, portanto, injusto, Deus, através daobra expiatória de Cristo, declara-o legalmente justo, não moralmente, à vista de Sua justiça.

Quando, portanto, Deus declara o injusto justo, Ele não o declara ser o que, na realidade,ele não é, mas simplesmente declara que o débito dele, com relação à justiça, foi pago por Outro.

Portanto, quando é dito que o pecado de Adão é imputado à sua posteridade, não querdizer que a humanidade toda estava presente pessoalmente quando Adão pecou, ou que

140 A. W. Pink, Gleanings from the Scriptures , (chicago: Moody Press, 1977), p. 43.141 O termo ―federal‖ vem de foedus , uma palavra latina que quer dizer ―pacto‖. A teologia federal é

a teologia do pacto.142 O texto clássico usado como base para o estabelecimento do pacto de Deus com Adão está em Os

6.7, que diz: ―Mas eles transgrediram o pacto como Adão; eles se portaram aleivosamente contra mim.‖ -Qual é a objeção deles? Eles não discutem o termo pacto, mas a expressão ―como‖ que eles insistem emtraduzir ―em‖ (que é uma tradução possível), para justificar o fato de que eles transgrediram o pacto numlugar chamado Adão. Adão, portanto, não seria uma pessoa nesse caso, mas uma cidade, onde um pacto foiestabelecido.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 104/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 105/222

  105

haveria de vir. Adão é chamado o primeiro Adão, e Cristo é chamado o segundo Adão. 143 Adãoprefigura Cristo. Do modo como vemos os homens em Jesus Cristo, deveríamos vê-los em Adão.

Adão, quando tentado,  foi derrotado. Cristo, quando tentado, resistiu e venceu. Oprimeiro foi amaldiçoado por Deus, e o último foi agradável a Deus. O primeiro foi a fonte dopecado e da corrupção para toda a sua posteridade, mas o segundo foi a fonte de santidade paratodos os que pertenciam ao Seu povo. Através de Adão, a condenação veio, mas a redenção veio

através de Jesus Cristo.Em que sentido Adão foi o tu/poj do Redentor? A palavra grega significa ―figura‖ ou ―tipo‖, eno significado escriturístico do termo, um tipo consiste de algo mais do que uma similaridadecausal entre duas pessoas, ou um paralelo incidental. Há algo mais que Deus queria nosmostrar. E claro que desde a eternidade Deus preordenou que o primeiro homem deveriaprefigurar o Filho encarnado de Deus. Mas em que sentido? Certamente não na sua conduta. Ocontexto de Romanos 5 torna claro que Adão se tornou o tipo de Jesus em uma posição oficialque ele assumiu, isto é, como cabeça federal, como o representante legal de outros. Está claro deRm 5.12-19 que um age em favor (ou no lugar) de muitos, afetando o destino deles. O que um fezé considerado a base judicial 40 para o que aconteceu a muitos. Como a desobediência e a culpade Adão trouxeram a condenação para todos que foram representados por ele, assim, aobediência de Um, Cristo, garantiu a justificação de todos aqueles que foram representados porEle.

Assim, a despeito de contraste entre o tipo e o Anti-Tipo, eles possuíam algo em comum:eles foram certamente representantes de dois povos. O Primeiro Adão foi representante de cadamembro da raça, e o Segundo Adão foi o representante de cada membro do Seu povo. No primeirotodos morrem, no segundo todos vivem; no primeiro todos são condenados, no segundo todos são

 justificados, a justificação que traz vida.Rm 5.12-19 mostra que todos os membros da raça experimentam o fato de que eles são

culpados por alguma coisa que eles não fizeram pessoalmente. Em Adão nós ofendemos a Deusem sua ofensa, e cometemos a transgressão em sua transgressão.

Rm 5.12  –   ―Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado nomundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homensporque todos pecaram.‖ 

A luz do que aconteceu em Gênesis 3, é estranho que Paulo tenha dito que o ―pecadoentrou no mundo por um só homem‖, quando é dito na Bíblia que Eva foi o primeiro ser humanoa pecar. Por que Paulo não disse: ―Portanto, assim como por uma só mulher entrou o pecado nomundo‖? A resposta é totalmente óbvia: porque o pacto foi feito com Adão. Ele era orepresentante da raça humana, não Eva. Foi Adão que recebeu a ordem de Deus, não Eva. Poresta razão aprendemos a respeito do ―pecado de Adão‖, não a respeito do ―pecado de Eva‖. Paulonão tratou do pecado de Eva, porque ele estava tratando da matéria da representação neste texto.

Uma outra palavra importante neste verso 12 é a(marti/a (pecado). Aqui, ―pecado‖ nãosignifica o ato de desobediência pessoal de Adão ou a depravação com a qual os homens sãonascidos. Aqui ele significa culpa. Paulo está tratando de matéria judicial, não simplesmentedum ato pessoal de Adão. Ele está tratando da ira de Deus que vem sobre todos os homensporque todos eles são culpados. O texto diz que ―a morte passou a todos os homens porque todospecaram‖. Paulo não está tratando dos pecados pessoais deles, mas da culpa que todos têm emAdão. Murray diz que quando Paulo diz que ―um pecou‖ e ―todos pecaram‖, ele se refere ao

143 Ver 1 Co 15.45-49. Adão foi chamado o ―primeiro homem‖ não simplesmente porque ele foi oprimeiro a ser criado, mas porque ele foi o primeiro a agir como representante legal da raça humana. Nestesentido, segundo a teologia Reformada, ele é o representante no pacto das obras. Cristo é chamado o―segundo homem‖, mesmo embora ele tenha vivido muitos milênios mais tarde, porque Ele foi o segundohomem a agir como um representante legal. Ele é também chamado ―o último Adão‖ porque não haveria dehaver nenhum outro pacto. Neste sentido, segundo a teologia reformada, Ele é o representante do Pacto daGraça, fazendo o que o primeiro homem Adão não fez, no chamado Pacto das Obras.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 106/222

  106

mesmo pecado visto em seu aspecto duplo: como o pecado de Adão, e com o pecado de toda sua

posteridade.144 E um assunto judicial.―Assim também a morte passou a todos os homens‖. A morte é uma conseqüência penal

para pessoas culpadas. A meta principal de Paulo era mostrar a conexão entre Adão e suaposteridade. Todos são considerados culpados por causa da transgressão de um só homem. Poresta razão Paulo diz em 1 Co 15.22 que ―em Adão todos morrem‖. Eles morrem em virtude de sua

relação pactual, a união legal entre Adão e a raça, a quem ele representa. Morremos porqueestamos unidos a Adão no mesmo sentido em que vivemos porque estamos unidos a Cristo, pelomesmo processo de representação. Todos os homens vêm ao mundo sem pecados pessoais, masporque eles são representados em Adão, eles são nascidos culpados, debaixo da ira de Deus.

Cada ser humano, seja homem, mulher ou criança, é considerado culpado diante deDeus. A base de nossa condenação está extra nos 145 , mesmo embora não devamos nos esquecerde que a Escritura diz que o pecado de Adão é nosso pecado. 1 Co 15.22 diz que ―em Adão todosmorrem‖. Murray assinala 

que a morte é o salário do pecado (Rm 6.23) e que a morte não pode serconcebida como existindo ou exercendo sua função à parte do pecado. Este é oprincípio Paulino: Quando ele diz que ―em Adão todos morrem‖ é impossível, sobas premissas de Paulo, excluir a antecedência do pecado e o único modo no qual a

antecedência neste caso poderia obter, e que todos são concebidos dele sãoconsiderados como tendo pecado nele.146 

A corrupção interior e a alienação de Deus que nós experimentamos, são meramente aconseqüência e não a causa de nossa condenação. A causa é o fato de nossa culpa em Adão.Antes de qualquer ato pessoal, todos nós somos amaldiçoados pela lei de Deus. Visto que a morteveio como resultado do ―pecado‖, porque o primeiro é a conseqüência penal do segundo, estasentença pode somente ser imposta sobre pessoas culpadas. Se a morte ―passou‖ a todos oshomens, é porque todos eles são culpados, todos deles participaram legalmente (judicialmente)do pecado de Adão. A base de nossa condenação está extra nos no sentido de que nós nãopecamos voluntariamente nem pessoalmente em Adão.

Paulo afirma que ―a morte passou a todos os homens porque todos pecaram‖. As palavrasgregas e)f %( são costumeiramente traduzidas como ―porque‖, e os comentadores Arminianos, afim de negar a imputação imediata, usualmente tratam desta matéria dizendo que todos morrempor causa de seus pecados pessoais, não porque eles estão representados em Adão. Godet nãotoca na matéria da imputação, porque ele sustenta uma espécie de posição Arminiana. Ao invésde tratar da imputação, ele diz que

a solidariedade dos indivíduos com o cabeça da primeira humanidade não seestende além do domínio da vida natural. Aquilo que pertence à vida mais alta dohomem, sua existência espiritual e eterna, não é uma matéria de espécies, mas deindivíduos.147 

Com isto, ele nega a doutrina da imputação. A única explicação para Godet, a respeito darelação entre o indivíduo e a espécie é dizer que este ―é o mistério mais impenetrável na vida da

144 Murray, first article, p. 164.145 Ambos, a base de nossa condenação (o pecado de Adão) e a base de nossa salvação (a obra de

Cristo) estão fora de nós (extra  nos ). O processo é o mesmo. É obvio que Jesus Cristo também morreu pornossos pecados atuais, e aqueles que não crêem em Cristo já estão condenados também por seus pecadospessoais, mas a culpa de Adão imputada aos homens é bastante para condená-los.

146  John Murray. ―The Imputation of Sin‖, third article, The Westminster Theological journal , 19,(May 1957), p. 168.

147 Frederic Louis Godet, Commentary on Romans , (Grand Rapids: Kregel Publications, 1977), p.209.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 107/222

  107

natureza.‖148 Alguns outros comentadores, incluindo Calvino, tendem a interpretar este versodizendo que todos morrem por causa de sua corrupção natural. Eles enfatizam a corrupção mais

do que a culpa.149 Outros comentadores adotam uma idéia realista-traducianista, como já vimos

anteriormente.150 A razão pela qual todos morrem é que todos pecaram. Novamente, Paulo não está levando

em conta os pecados individuais deles, mas o pecado deles em Adão. A fim de provar isto, não

precisamos traduzir e)f %( como ―em quem‖, do modo como alguns escritores antigos fizeram.151 A idéia de imputação está clara neste texto.

O que Paulo tem em mente é a idéia de um homem. Corretamente Godet assevera: ―Deveser permitido que a idéia de di e(no\oj a)nqrw/pou, ―por um só homem‖, com que o verso começa,controla assim a mente do apóstolo, de tal forma que ele não vê necessidade de repeti-laexpressamente‖.152 A idéia de um homem controla o pensamento de Paulo através de seuargumento todo. Ele quer enfatizar a idéia de representação. Mesmo embora Paulo creia que oshomens sejam culpados por causa de seus pecados pessoais, ele não está dizendo neste texto que―todos os homens‖ tenham pecado pessoalmente, mas representativamente. A maldição da lei cai

sobre eles, não (somente) porque eles sejam pessoalmente pecaminosos, mas porqueeles são (também) federalmente culpados, quando o cabeça de pacto deles

pecou.Se aceitamos a crença de que a ―morte‖ é o resultado de nossos pecados pessoais (o que sepode dizer a respeito da morte das criancinhas no ventre de suas mães?), nós destruímos a idéiade que Adão era o ―tu/poj‖ dAquele que haveria de vir mais tarde. Se todos morrem porque elespecaram pessoalmente, deveria eu crer que todos vivem porque ele são justos pessoalmente?Absolutamente, não! E fácil observar em Cristo o mesmo princípio de representação. Se todos nósfomos salvos é porque todos estávamos representados em Cristo; do mesmo modo todos oshomens morrem porque eles estão representados em Adão.

O principio da representação está claramente expresso neste texto. Isto forma a base paraa imputação do pecado. O método de imputação controla, em algum sentido, a antropologiacristã e a soteriologia. Vejamos: O pecado de Adão é imputado a nós; nossos pecados sãoimputados a Cristo; e a justiça de Cristo é imputada a nós. O principio é o mesmo nos trêsexemplos.

Se continuamos na análise deste texto pode ver o mesmo principio ilustrado:

Rm 5.16  —   ―O dom, entretanto, não é  como no caso em que somente umpecou; porque o julgamento derivou de uma só ofensa, para a condenação; mas agraça transcorre de muitas ofensas, para a justificação.‖ 

Apenas uma ofensa cometida por um homem traz condenação, uma sentença judicial, quesignifica ―morte‖ ou ―condenação‖. O contraste é que Jesus Cristo morreu não simplesmente poraquela única ofensa, mas também morreu por muitas ofensas, nossos pecados pessoais, quetiveram o seu nascedouro naquela única ofensa. O que Paulo está dizendo aqui é que não hánecessidade alguma de pecados pessoais para que sejamos condenados, mesmo embora Deustambém condene os homens por causa de seus pecados pessoais. O pecado de Adão, a única

148 Ibid.149 Calvino diz: ―Todos nós, portanto, temos pecado, porque todos estamos revestidos de umacorrupção natural, e assim nos tornamos pecaminosos…‖ (Commentary upon the Epistle of Saint Paul to theRomans, Edinburg: printer for the Calvin Translation Society, 1844), p. 135. Ver também, Robert Haldane,Commentary on Romans , (Grand Rapids: Kregel Publications, 1988 edition), p. 216.

150 Ver W. G. T. Shedd, Critical and Doctrinal Commentary upon the Epistle of St. Paul to theRomans , (New York: Charles Scribner‘s Sons, 1879), pp. 127-28.

151 A Vulgata traduz ―in   quo ‖ (em quem) e assim também fizeram Palágio e Agostinho. Outrosteólogos Reformados, como Beza e Owen, também traduziram a expressão grega acima como sendoequivalente a ―em quem‖. 

152 Godet, p. 208.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 108/222

  108

ofensa, é o bastante. Mas a nossa salvação transcorre de ―muitas ofensas‖. 

Rm 5.17 —  ―Se pela ofensa de um, e por meio de um só, reinou a morte, muitomais os que recebem a 8hundáncia da graça e o dom da justiça, reinarão em vidapor meio de um só, a saber, Jesus Cristo.‖ 

Ambos, a morte e a vida, vem através de um só homem. A ―morte‖ é a sentença judicialsobre todos os homens, por causa do pecado de Adão. O texto diz que a ―morte reinou‖ por causade apenas uma ofensa. De um lado, todos os homens morrem porque eles receberam aimputação da culpa. Do outro lado, se todos vivem, é por causa do ato de um só homem, Jesus,que traz vida. Isto é também imputação, mas de justiça, porque para nós ela é o ―dom da justiça‖.O modus operandi de Deus é o mesmo em ambas, a condenação e a justificação.

―O uso da linguagem de imputação, não é por imputação mediata que oscrentes entram em posse da justiça de Cristo na justificação. Seria contraditóriada doutrina da justificação de Paulo, supor que a justiça e obediência de Cristo setornassem nossas para a justificação por causa da santidade que é comunicada anós da parte de Cristo ou que a justiça de Cristo é mediada a nós através dasantidade gerada em nós pela regeneração. A única base sobre a qual a imputação

da justiça de Cristo se torna nossa é a união com Cristo. Em outras palavras: apessoa justificada é constituída justa pela obediência de Cristo, por causa dasolidariedade estabelecida entre Cristo e a pessoa justificada. A solidariedadeconstitui o laço pelo qual a justiça de Cristo se torna a do crente.‖153 

E justo dizer que o mesmo em relação a Adão e sua posteridade. A solidariedade entre elee toda a raça é a base para a imputação do pecado. Ambos os atos, o de Adão e o de Cristo, sãoimputados, isto é, eles são transferidos de uma pessoa para as outras. O mesmo principio estáevidente nos versos 18 e 19.

Nesta passagem de Paulo, portanto, podemos ver o princípio da representação e aimputação conseqüente, em ambos os aspectos enfatizados nela: condenação e salvação. Nelepodemos ver a velha humanidade em Adão, e a nova humanidade em Cristo. Nele estão presentesas duas principais personagens da história humana: Adão e Cristo, símbolos da desobediência eda obediência, representantes de dois pactos, o das obras e o da graça.

O Princípio da Representação na Escritura

O princípio representativo pervade toda a Escritura. A imputação do pecado de Adão nãoum fato isolado. Ele é somente uma ilustração de como Deus trata os outros assuntos. Vejamosalguns exemplos do princípio da representação que tornam possível a imputação:

 —  Por causa de Esaú, no caso do direito da primogenitura, toda a sua descendência ficoufora das promessas do pacto (Gn 25.27-34). Jacó recebeu os benefícios de filho mais velho, e suadescendência foi abençoada, enquanto que a de Esaú ficou fora dos privilégios pactuais (Gn 27).

 —  Os filhos de Moab e Amon foram excluídos da congregação do Senhor para sempre,porque seus ancestrais se opuseram aos israelitas quando eles saíram do Egito (Dt 23.3-4).

 —  Por causa do pecado de Acã, toda a família, inclusive as criancinhas, foi morta (Js7.24-26).

 —  Por causa dos pecados de Coré, Datã e Abirão, pereceram muitas pessoas, sobretudomulheres e crianças. Deus imputou a culpa dos lideres nos liderados (Nm 16.22-33).

 —  Por causa da maldade dos pais, as gerações dos filhos, especialmente os pequeninos depeito, sofrem as conseqüências (Dt 32.18-25).

 —  Por causa do pecado de Davi com Batseba e Urias, Deus disse: ―Agora, pois, não se

153 Murray, third article, p. 169.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 109/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 110/222

  110

notar que a doutrina da imputação do pecado de Adão é mais clara no Catecismo Maior e Brevedo que na própria Confissão de Fé de Westminster.

Objeções:(a) A corrupção é uma espécie de punição de Deus. Portanto, para que haja punição é

necessário primeiro, que haja culpa. A culpa precede a punição. A depravação (ou morteespiritual) é a punição de Deus. Então, a imputação do primeiro pecado de Adão precede a

depravação, e não é a conseqüência dela.(b) Se essa teoria fosse consistente, deveria ensinar a imputação mediata dos pecados detodas as gerações anteriores àquelas que lhes seguiram, porque a corrupção transmite-se pormeio de geração ordinária.

(c) Se a corrupção inerente que está presente nos descendentes pode ser consideradacomo o fundamento legal para a explicação de alguma outra cousa, já não há necessidade dequalquer imputação mediata.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 111/222

  111

CAPITULO IX

AS CONSEQÜÊNCIAS DO PECADO NA VIDA DA RAÇAHUMANA

Ninguém poderá encontrar a chave do mistério da miséria humana se não recorrer aosensinos das Sagradas Escrituras. Nenhuma ciência humana haverá de dar respostas às maiscruciais perguntas feitas sobre a condição em que vive o ser humano desde que dele se temnotícia da história. Se quisermos ter respostas, haveremos de encontrá-las somente na revelação

divina como registrada na Biblia.O que aconteceu do Éden é chave para entendermos a condição atual do homem. Nestecapítulo estudaremos sobre as terríveis conseqüências do pecado para Adão e para a suaposteridade. Adão é considerado na Escritura o protótipo de toda a humanidade, e seu pecadoestá intimamente relacionado com a sua descendência, pois ele agiu, não como um homemparticular, mas como o representante da raça, por causa da sua relação pactual. Se Adão nãohouvesse sido o cabeça representativo da raça, os nossos pecados atuais não teriam qualquerrelação com Adão, apenas uma simples imitação, como pensam os pelagianos. Mas a Escrituratrata deste assunto muito seriamente, e não podemos fechar os olhos ao que ela nos diz.

As conseqüências do pecado para ele e para a sua posteridade:

1. CONSEQÜÊNCIAS PARA ADÃOA Confissão de Fé de Westminster diz da conseqüência do pecado dos primeiros pais para

eles próprios:

―Por este pecado eles decaíram da sua retidão original e da comunhão comDeus, e assim se tornaram mortos em pecado e inteiramente corrompidos emtodas as suas faculdades e partes do corpo e da alma‖ (V, ii). 

Consideraremos aqui apenas as conseqüências imediatas do pecado na vida de nossosprimeiros pais. A ofensa de Adão não deve ser medida pelo ato externo de comer do frutoproibido, mas pela afronta terrível que foi feita à Majestade de Deus.

Nesse único pecado de nossos primeiros pais houve uma ramificação de crimes: Houveingratidão contra Aquele que os havia abençoado e capacitado para exercer a grande obra decuidar de toda a criação; houve incredulidade na verdadeira palavra de Deus que havia sidoclaramente dirigida a Adão, e uma certa crença na palavra de Satanás; houve o repúdio dasobrigações impostas por Deus; houve insatisfação pelo modo como Deus os havia feito; houve oorgulho em querer ser igual ou maior do que Deus; houve um desafio à solene ameaça de Deus;e por fim, a desobediência que foi a reta final do pecado de nossos primeiros pais.

Segundo o que a Escritura indica, Adão pereceu por causa do seu pecado. Nãocompartilho da idéia popular de alguns teólogos de que o Senhor salvou a Adão após a queda.Não há qualquer base escriturística para se afirmar tal cousa. Muito ao contrário. As Escrituras,

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 112/222

  112

todas as vezes que se refere a Adão, tem uma palavra negativa de sua atitude. 154 Não hánenhuma palavra elogiosa a ele, ou qualquer menção de seu arrependimento, muito menos oregistro de uma confissão sua. A contrário, quando acusado, tentou desculpar-se, colocando aculpa na sua esposa. Nada na Escritura dá qualquer crédito a Adão, ou que ele tenha recebido amisericórdia de Deus.

Vejamos agora, a análise do texto de Gênesis que é chave para a compreensão dos

resultados imediatos do pecado na vida de nossos primeiros pais.

Análise de Gn 3.7-24155 

Quando Deus colocou Adão do Éden, ele parecia ser cheio de veneração para com seuCriador, e parecia amá-lo pelo que Ele lhe havia dado. Mas parece-nos, esse estado debem-aventurança não durou muito tempo.156 Sua vontade que havia sido sujeita ao Criador,agora se rebela inexplicavelmente. Sua constituição moral ficou altamente prejudicada, comtendência para a perversão. A vida de comunhão com Deus havia sido perdida. E isto que ficaevidente dos versos que vamos analisar:

1) O primeira conseqüência da transgressão dos nossos primeiros pais foi: tiveram aconsciência culpada, e um senso de vergonha se apoderou deles.

Gn 3.7 —  ―Abriram-se, então, os olhos de ambos; e, percebendo que estavam

nus...‖ 

Não percebemos mudança qualquer quando Eva comeu do fruto, mas quando Adão ocomeu, diz a Escritura que os ―os olhos de ambos foram abertos‖. Isto nos dá uma base bem fortepara mostrar que o pacto havia sido feito com Adão. Ele era o cabeça, e dele Deus cobra o pecado.Adão era o representante legal de sua esposa, tanto quanto dos futuros filhos que viriam deles. Epor isso que até hoje conhecemos esse pecado como ―o pecado de Adão‖, não como ―pecado deEva‖. 

O que significa ter os olhos abertos? Certamente aqui não se refere aos olhos físicos,porque estes já estavam previamente abertos. Mas o texto se refere aos olhos do entendimento, ouos olhos da consciência, que vêem, percebem, acusam e castigam.

O resultado de comerem o fruto proibido não foi a aquisição da sabedoria sobrenatural,

como Satanás havia dito (v.5), mas foi a descoberta triste de que haviam sido reduzidos a umasituação de miséria.Agora perceberam que estavam ―nus‖, que tem um sentido bem diferente de Gn 2.25. Os

olhos deles ―foram abertos‖ e seria de se esperar que o texto dissesse: ―e viram eles que estavamnus‖, mas ao invés disso o texto diz: ―e perceberam que estavam nus‖. Este verbo demonstra algomais do que simplesmente nudez física. O verbo ―perceber‖ aqui dá o sentido de ―sentir‖. Como aabertura dos olhos se refere ―aos olhos do entendimento‖ (ou ―da consciência‖), concluímos queeles discerniram o sentido de estarem ―nus‖. Eles perderam a sua inocência. Há a nudez da almaque é muito pior do a de um corpo sem roupa, porque ela incapacita o homem de perceber apresença de Deus. A nudez de Adão e Eva foi a perda da justiça original da imagem de Deus. Talé a condição em que todos os humanos são nascidos depois deles. E por isso que as Escriturasfalam sobre as ―vestiduras brancas‖ (Ap 3.18), ―vestidos de salvação‖ ou ―mantos de justiça‖ (Is61.10), indicando uma justiça original que Cristo nos traz de volta.

154 Olhe o testemunho desta verdade no VT —  Jó diz que Adão encobriu as suas transgressões (Jó31.33); O Salmista Asafe (SI 82,7) diz que aqueles que julgam injustamente, morrem como Adão. Obs.: apalavra hebraica para homem é A dão; observe o testemunho da mesma verdade no NT  —  Aqui Adão é

contrastado em detalhes consideráveis com cristo (Rm 5.12-21; 1 Co 15.22, 4547; 1 Tm 2.14. Se Adãotivesse sido salvo, a antítese falharia no seu ponto principal. como que aqueles que estavam em Adão foramcondenados se o próprio Adão foi salvo? Falharia Deus em Sua justiça?

155 Análise feita com base nas felizes observações de A. W. Pink, Gleanings , pp. 59-68.156 Não há nenhum indicação na Escritura sobre o tempo em que Adão ficou no estado de inocência,

isto é, sem pecado.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 113/222

  113

―Ele perceberam que estavam nus‖ —   Perceberam que a sua situação física estavaespelhando a sua condição espiritual. Eles foram tornados dolorosamente conscientes do pecadoe de seus terríveis conseqüências.

2) A segunda conseqüência da transgressão deles foi esta: eles ocultaram o seu realcaráter.

Eles estavam mais preocupados em salvar as aparências do que realmente procurar operdão de Deus.

Gn 3.7  —   ―e, percebendo que estavam nus, coseram folhas  de figueira, efizeram cintas para si.‖ 

Cosendo cintos para si, eles tentaram acalmar a própria consciência. Da mesma forma osfilhos de Adão fazem hoje. Eles têm mais medo em serem detectados nos seus erros do quecometê-los, e mais preocupados estão ainda em parecerem bem diante dos homens do queobterem a aprovação de Deus. O objetivo principal dos homens caídos é aquietar a própriaconsciência culpada e parecerem bem diante dos vizinhos. Alguns até assumem o papel dereligiosos, fazendo os outros pensarem que andam decentemente, vestidos.

3) A terceira conseqüência da transgressão deles foi esta: tiveram medo de Deus.

Gn 3.8 —  ―Quando ouviram a voz do Senhor Deus, que andava no jardim pelaviração do dia, esconderam-se da presença do Senhor, o homem e sua mulher, porentre as árvores do jardim.‖ 

Até este ponto eles haviam estado preocupados somente consigo mesmos e com suavergonha, mas agora tinham Outro com quem se preocupar: o Juiz de toda a terra. Ao ouvirem avoz de Deus, ao invés de darem boas-vindas a ela, ficaram terrificados e ―esconderam-se dapresença do Senhor‖.157 Nesta tentativa percebemos a tolice deles. Quem pode esconder-se daonipresença e da onisciência de Deus?

Quando eles pecaram, eles cessaram de amar a Deus e de confiar nele. Deus passou a serobjeto da sua aversão e desprazer. Um senso de degradação encheu-os e tiveram uma terrívelinimizade contra Deus. Assim, esconderam-se dele por causa do seu pecado, aterrorizados.

 Temeram ouvir Deus pronunciar uma sentença formal de condenação sobre si mesmos, porquesabiam bem o que mereciam.

Adão e Eva não somente trouxeram danos irreparáveis sobre si mesmos, mastornaram-se fugitivos do Todo Glorioso Criador. Este é puro e aqueles pecadores. Portanto, ospecadores evitaram o que era puro. Não é assim que acontece com os homens hoje? Gostam elesde ficar juntos dos que são genuinamente cristãos? Gostam eles da santidade?

 Todos os homens têm que comparecer perante o Santo e prestar-lhe contas. Não poderiadeixar de ser assim com o primeiro homem. Só não prestarão contas pessoalmente a Deusaqueles que tiveram as suas contas prestadas por Jesus Cristo. A menos que o sangue de JesusCristo tenha expiado os nossos pecados, compareceremos perante o Juiz de toda a terra. ―Como

escaparemos nós se negligenciarmos tão grande salvação?‖ (Hb 2.3). Não presuma que você é umcristão. Examine as suas bases. Peça a Deus para que Ele sonde o seu coração e lhe mostre a suareal condição.

Gn 3.9 —  ―E chamou o Senhor Deus ao homem e lhe perguntou: onde estás?‖ 

Esta pergunta já era parte do juízo divino, para que Adão visse realmente o que havia

157 Ler Jr 23.24.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 114/222

  114

feito. Foi uma pergunta para Adão perceber a distância de Deus que o pecado causou. O pecadosepara o homem de Deus. A ofensa de Adão provocou a perda da comunhão com Deus. Agora, apergunta de Paulo, vale claramente: ―Que sociedade pode haver entre a justiça e a iniquidade? ouque comunhão da luz com as trevas?‖ (2 Co 6.14). 

Observe novamente que o Senhor ignorou Eva e dirigiu-se ao cabeça responsável. Deushavia advertido a Adão a respeito do fruto proibido: ―No dia em que comeres, certamente

morrerás‖. Esta morte não significa aniquilação, mas alienação, separação. A morte espiritual é aseparação do homem do Deus Santo (Is 59.2), que culmina com a morte eterna (2 Ts 1.9).

Gn 3.10 —  ―Ele respondeu: Ouvi a tua voz no jardim e, porque estava nu, tivemedo e me escondi.‖ 

Observe quão incapaz é o pecador para encontrar-se diante da inquisição divina. Adãonão poderia oferecer nenhuma resistência adequada. Ouça a sua admissão: ―Tive medo‖. Suaconsciência o condenava. Agora era a dura presença de Deus que o incomodava. Deus que é orefúgio para a alma do crente, torna-se o terror para a alma pecaminosa. Adão comparece diantede Deus destituído de qualquer justiça, justiça essa que nós obtivemos de e em Cristo. Observe acolocação de Adão: ―Por que eu estava nu, tive medo e me escondi‖. O coração de Adão estavacheio de horror e terror. Os cintos de folhas de figueira não haviam adiantado nada. Isto acontece

quando o Espírito Santo descobre a alma humana. A despeito das roupas religiosas quepossamos vestir, o Espírito nos convence da nossa nudez espiritual. Então, a alma se enche detemor e vergonha, e ela percebe que vai se haver com Aquele diante do qual ―todas as coisas estãopatentes e descobertas‖ (Hb 4.13). 

Gn 3.11 —  ―Perguntou-lhe Deus: Quem te fez saber que estavas nu? Comesteda árvore de que te ordenei que não comesses?‖ 

A esta pergunta Adão não teve resposta. Ao invés de humilhar-se perante o seu Benfeitor,Adão fracassou em responder. Apenas deu uma desculpa esfarrapada. Se as palavras de Adão nov. 10 foram devidamente ponderadas, uma omissão grande e fatal deve ser observada: ele nãodisse nada a respeito do seu pecado, mas mencionou apenas os efeitos dolorosos que eleproduziu. Mas Deus neste v. 11 dirige-se para a causa daqueles efeitos. Esta pergunta direta de

Deus abriu o caminho e tornou muito mais fácil para Adão reconhecer contritamente a suatransgressão, embora sem o precioso senso de arrependimento.

Deus não fez estas perguntas porque queria ser informado, mas antes, para providenciara Adão uma ocasião de rever o que havia feito. Em sua recusa percebemos a quarta conseqüênciado seu pecado.

4) A quarta conseqüência da transgressão de nossos primeiros pais foi esta: oendurecimento do coração pelo pecado.

Não houve tristeza profunda por sua flagrante desobediência. Portanto, não houvearrependimento.

Gn 3.12 —  ―Então disse o homem: a mulher que deste por esposa, ela me deu

da árvore, e eu comi.‖ 

Este verso 12 é a resposta à segunda pergunta do verso anterior. Ele não assumiu aspróprias responsabilidades como chefe da família, nem como cabeça da mulher. Simplesmentetransferiu a culpa do pecado para ela. Nem se tocou de que ele era o principal responsável, e queera dele que Deus cobrava. Esta é a conseqüência mais comum quando os homens pecam. Elessempre arranjam uma justificativa para os seus pecados. Esta foi a outra conseqüência.

5) A quinta conseqüência da transgressão de nossos primeiros pais foi que eles se

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 115/222

  115

auto-justificaram.

Ele tentaram encontrar um culpado pelos seus próprios pecados. Ao invés de confessar asua impiedade, Adão tentou lançar a culpa em outro. A entrada do pecado na vida do homemproduz um coração enganoso e desonesto. Ao invés de culpar-se a Si mesmo, lançou a culpa namulher. E assim acontece também com todos os seus descendentes. Eles esforçam-se para tirar

a responsabilidade de sobre os próprios ombros, atribuindo culpabilidade a outro ser ou aalguma outra coisa, como por exemplo, ao diabo. Isto é muito comum acontecer para se fugir daprópria responsabilidade.

6) A sexta conseqüência da transgressão de nossos primeiros pais  foi o insolente desafioao próprio Deus.

As palavras do v. 12 mostram quão insolente foi Adão com Deus. Ele não dissesimplesmente: ―A mulher deu-me do fruto e eu comi‖, mas disse ―a mulher que TU me deste...‖ —  Assim, abertamente, ele culpa ao Senhor pela transgressão dele. Em outras palavras, Adão disse:―Se  Tú não me tivesses dado essa mulher, eu não teria caído. Por que fizeste isso comigo?‖—  Observe o orgulho e a dureza de coração que caracterizam o demônio, agora fazem parte do reinodos homens. E assim ainda hoje com os filhos dos homens. A diferença é que hoje eles são

tentados pela própria cobiça do coração pecaminoso (Tg 1.13). A natureza depravada da criaturacaída é sempre propensa a pensar que a melhor cousa é procurar abrigo na desculpa: ―Se Deustivesse feito de outra forma, eu não teria feito aquilo‖. Assim, em nossos esforços deauto-justificação, desafiamos ao próprio Deus corrigindo-o naquilo que ele faz.

Pv 19.3 diz: ―A estultícia do homem perverte o seu caminho, mas é contra o Senhor queseu coração se ira‖. Esta é uma das formas mais vis na qual a depravação do homem semanifesta: após comportar-se como um tolo e de descobrir que o caminho da transgressão édifícil, o homem murmura contra Deus ao invés de, mansamente, submeter-se à Sua vara. Apóspervertermos os nossos caminhos, não culpemos Deus pelos frutos amargos do nosso proceder.Visto que somos os autores de nossa miséria, é razoável que fiquemos tristes conosco mesmos.Mas o orgulho do coração é tal que, evidenciando a nossa inimizade contra Deus, ficamos iradoscontra Ele, sendo que nós mesmos somos responsáveis por nossos pecados. E verdade o que aEscritura diz: ―Não se colhe uvas de espinheiros e nem figos dos abrolhos!‖ - Não acusemos Deus

pelos frutos de nossa própria perversidade! Se fizermos assim, estaremos repetindo o mesmopecado de nossos primeiros pais.

A resposta do v. 12 mostra realmente o que aconteceu, mas esta atitude tornou ainda pioro ato de Adão. Ele era o cabeça e protetor da mulher e, portanto, deveria cuidar dela melhor,evitando que ela caísse em pecado. Quando ela foi enganada pela serpente, e ele o soube, ele nãodeveria seguir o exemplo dela recusando a oferta.

Arão, embora tenha reconhecido o seu pecado, culpou o povo por ser pecaminoso,tentando eximir-se de culpa (Ex 32.22-24); Assim também fez Saul (1 Sm 15.17-21); Pilatos deuordem para a crucificação de Jesus, e atribuiu o crime aos judeus (Mt 27.24).

7) A sétima conseqüência do pecado de nossos primeiros pais foi a quebra da afeição.

A quebra da afeição entre o homem e o seu próximo - neste caso sua esposa, a quem eledeveria respeitar, proteger e amar.

Gn 3.13 —  ―Disse o Senhor Deus à mulher: Que é isso que fizeste? Respondeua mulher: A serpente me enganou, e eu comi.‖ 

O Senhor perguntou, não propriamente como um juiz, não apontandocondenatoriamente, mas, parece-nos, para dar uma oportunidade a Eva para defender-se ouconfessar o seu pecado. Mas Eva portou-se exatamente como seu marido. Seguiu exatamente o

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 116/222

  116

mesmo curso de Adão. Ela não se humilhou diante do seu Criador, não deu qualquer sinal dearrependimento, nenhum sentimento de tristeza ou confissão. Ele tratou de arranjar alguémresponsável pelo seu ato. Culpou a serpente. Foi uma desculpa fraca, porque Deus a capacitoucom entendimento para perceber a mentira, e com retidão de natureza para rejeitá-laprontamente.

Os filhos de Adão fazem o mesmo hoje. E inútil dizer: ―Eu não tinha intenção de pecar,

mas o demônio tentou-me‖. O demônio não pode forçar ninguém a pecar, nem prevalecer sobre ohomem seu consentimento.

Gn 3.14-14 —  ―Então o Senhor Deus disse à serpente: Visto que fizeste isto,maldita és entre todos os animais domésticos, e o és entre todos os animaisselváticos: rastejarás sobre o teu ventre, e comerás pó todos os dias da tua vida.Porei inimizade ente ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente.Este te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás calcanhar.‖ 

Antes de pronunciar sentença sobre Adão e Eva, Deus dirigiu-se à serpente, que foi acausa instrumental da queda deles. Observe que nenhuma pergunta foi feita à serpente. Antes, oSenhor a tratou como uma inimiga declarada. Sua sentença deve ser tomada literalmente comrelação à serpente, mas alegoricamente com relação à Satanás. Estas palavras de Deus implicam

numa punição visível, que é executada sobre a serpente, como instrumento da tentação, mas amaldição foi dirigida contra o tentador invisível, Satanás.

8) A oitava conseqüência da transgressão de nossos primeiros pais foi tristeza, sofrimentoe morte.

Gn 3.16-19 —  ―E à mulher disse: Multiplicarei sobremodo os sofrimentos datua gravidez; em meio a dores darás à luz filhos; o teu desejo será para o teumarido, e ele te governará. E a Adão disse: Visto que atendeste à voz de tuamulher, e comeste da árvore que eu te ordenara não comesses: maldita é a terrapor tua causa. Em fadigas obterás dela o sustento durante os dias da tua vida. Elaproduzirá também cardos e abrolhos, e tu comerás a erva do campo. No suor dorosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste formado: porque tu

és pó e ao pó tornarás.‖ 

Nestes versos há as sentenças que foram pronunciadas contra Adão, Eva e a terra: Eva foicondenada a um estado de tristeza, sofrimento e servidão; Adão foi condenado a uma vida detristeza e cansaço; e a terra sofre a maldição que até hoje pesa sobre ela (Rm 8.20-23).

9) A nona conseqüência do pecado de nossos primeiro pais foi que o homem desceu aonível dos animais.

Gn 3.20-21 —  ―E deu o homem o nome de Eva à sua mulher, por ser a mãe detodos os seres humanos. Fez o Senhor Deus vestimentas de peles para Adão e suamulher, e os vestiu.‖ 

Adão e Eva foram vestidos como os animais se vestem...Alguns intérpretes das Escrituras entendem o v.2 1 como sendo uma provisão de Deus

que indica o sacrifício de um animal para vestir o homem, apontando para o sacrifício doCordeiro. Se isto é assim, podemos inferir que Deus tratou os nossos pais com misericórdia, oque elimina a condenação deles. As roupas de peles tipificam as vestimentas de justiça, asmesmas que Jesus Cristo cobre os Seus, sendo vestes de salvação. Mas parece não havernenhuma provisão de salvação no Éden. Creio que seria forçar o texto. Se Deus quisesse falar desalvação a Adão, ele teria feito claramente, como quando anunciou o proto-evangelho em 3.15.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 117/222

  117

Obs.: Moisés, o narrador destas cousas, recebeu de Deus alguns detalhes importantescomo estes do v.20: Eva ainda não havia dado à luz filhos, senão somente depois de seremexpulsos do Éden (isso ilustra o v.16). Adão deu prova do seu domínio sobre a criação (1.28),conferindo nome à Eva.

10) A décima conseqüência da transgressão de nossos primeiros pais: eles foram

lançados para fora da presença de Deus.

Antes de lançá-los para fora do jardim, Deus usou uma linguagem irônica e sarcástica arespeito do resultado do pecado de comer o fruto de Adão: A promessa de Satanás no v.5 era queeles seriam "como Deus".

Gn 3.22 —  ―Então disse o Senhor Deus: Eis que o homem se tornou como umde nós, conhecedor do bem e do mal...‖ 

Agora, ao invés, de serem como Deus, conhecedores do bem e do mal, foram colocados aonível das bestas-feras, tiveram que vestir-se à moda dos animais e comer as coisas que osanimais comiam, que originalmente não era próprio para eles: ―comer das ervas do campo‖. 

Então, vem a maldição final:

Gn 3.23-24 —  ―O Senhor Deus, por isso, o lançou fora do jardim do Éden, afim de lavrar a terra de que fora tomado. E, expulso o homem, colocou querubinsao oriente do jardim do Éden, e o refulgir de uma espada que se revolvia, paraguardar o caminho da árvore da vida.‖ 

Estar fora do jardim do Éden era o mesmo que estar longe da presença benévola,reveladora e agradável de Deus. Ser expulso do jardim significa a expressão da ira de Deus pelodescontentamento com o pecado de Adão. Este tornou-se estranho ao favor de Deus e à Suacomunhão. Ele foi banido do lugar de prazer e gozo. Tornou-se errante e fugitivo. Assim comolançou para fora da Sua habitação os anjos que pecaram (Jd 6), Deus também lançou o homempara fora do lugar da Sua habitação, como prova do Seu desagrado com o pecado.

2. CONSEQÚÊNCIAS PARA A RAÇA HUMANAAs conseqüências do triste evento do Éden não trouxeram conseqüências simplesmente

para os nossos primeiros pais, mas para toda a raça humana. A condição com que nascem todosos homens, isto é, em condição pecaminosa, é chamada na teologia  peccatum oríginale. É umamancha que atinge a todos sem exceção.

A Confissão de Fé de Westminster mostra que o pecado dos nossos primeiros pais trouxeconseqüência para toda a raça, porque o pecado deles é imputado, pela relação pactual, a toda aposteridade dele.

Sendo eles o tronco de toda a humanidade, o delitos de seus pecados foiimputado a seus filhos; e a mesma morte em pecado, bem como a sua naturezacorrompida, foram transmitidas a toda a sua posteridade, que deles procede porgeração ordinária (V, iii).

A CFW também mostra que todos os nossos pecados atuais têm nascedouro no pecadooriginal:

Desta corrupção total pela qual ficamos totalmente indispostos, adversos atodo o bem e inteiramente inclinados a todo o mal, é que procedem todas astransgressões atuais. (V, iv).

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 118/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 119/222

  119

CAPITULO X

O PECADO ORIGINAL

O que é o pecado original? O pecado original tem sido visto como o pecado herdado, masherança não explica tudo daquilo que chamamos peccatum oríginale. A culpa, por exemplo, não éuma matéria de herança. Berkhof diz que este pecado se chama ―pecado original‖ por algumasrazões: 1) Por que se deriva do tronco original da raça humana; 2) Porque está presente na vidade cada indivíduo desde o momento do seu nascimento e, portanto, não pode ser consideradocomo resultado de imitação; 3) Por que é a raiz interna de todos atuais que mancham a vida dohomem‖.158 Berkhof ainda adverte que desse nome ―pecado original‖, jamais deve ser pensadoque ele pertença à natureza constitucional do homem, pois tornaria Deus o autor do homempecador.159 

O pecado original pode ser dividido basicamente em dois elementos: Culpa Original eCorrupção Original.

1. CULPA ORIGINALA palavra ―culpa‖ tem que ser corretamente entendida. Aqui, neste estudo, não

estudaremos nada a respeito do ―sentimento de culpa‖, que é um elemento emocional do pecado,

nem da imputação dela160, mas estudaremos o aspecto judicial ou forense da palavra, ou ainda,a relação que o pecado tem com a lei.

A culpa é o estado no qual se merece a condenação, ou na qual se sente merecer o castigopela violação da lei ou de qualquer exigência moral.

Podemos falar de culpa de dois modos:

Reatus Culpae

E a culpa de réu. Esta culpa Turretin chama de Culpa Potencial.161 E a culpa moralintrínseca do pecador, inerente a ele, que não pode ser separada dele. Ela faz parte da essênciado pecado. Essa culpa nunca se encontra em alguém que não é pessoalmente pecador. Essaculpa é permanente de tal forma que não é tirada nem com o perdão. Ela pertence à essência dopecado e é parte inseparável do pecado. Pertence unicamente àqueles que são pessoalmentepecadores, e lhes acompanha permanentemente. Os méritos de Jesus Cristo não tiram essaculpa do pecador porque lhe é inerente. Mesmo tendo suas penas pagas, essa culpa aindapermanece com o pecador. O fato de Jesus Cristo ter morrido pelo pecador, não o torna inocente,apenas livre da penalidade da lei, justificado, portanto. Essa culpa não pode ser transferida paraoutro.

 Jesus Cristo nunca teve essa culpa, porque nunca foi pessoalmente pecador. Ela éprópria somente de nós. Mesmo quando entrarmos no céu, haveremos de ir com essa culpa,embora sem os sentimentos dela. E essa idéia de culpados, que nos acompanha para sempre,

que nos fará adorar Jesus como nosso Redentor, eternamente.

158 Berkhof, p. 291 (edição castelhana).159 Berkhof, p. 291 (edição castelhana).160  O assunto da culpa já foi estudada em capítulos anteriores, quando se estudou sobre a

―Imputação Imediata‖ (paginas ?) 161 Francis Turretin, Institutes of Elenctic Theology , vol. 1, (New Jersey: Presbyterian & Reformed,

1992 edition), p. 595.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 120/222

  120

Reatus Poenae

E a pena de réu. Esta culpa Turretin chama de Culpa Real 162 , que denota o castigo oupena que vem sobre o transgressor da lei. Ele tem a ver com o edito penal do Legislador que lixao castigo da culpa. Esta pena, ou castigo, não é inerente ao pecador. Ela pode ser paga pelopróprio pecador ou removida pela misericórdia de Deus, através da remissão pelo Substituto dospecadores. Nessa culpa o pecador tem a obrigação de render satisfação à Justiça por causa da

violação da lei. Nesse sentido, a culpa não é a essência do pecado, mas antes, uma relação com asanção penal da lei.

E nesse sentido que Jesus levou as nossas culpas, isto é, pagando a penalidade do réu.Nesse sentido, nunca mais seremos culpados, isto é, merecedores do castigo, porque não maistemos dividas com a lei. Seremos santos e inculpáveis, porque essa culpa pode ser removida pelasatisfação da Justiça.

2. CORRUPÇÃO ORIGINALPor corrupção podemos entender a poluição ou contaminação inerente à qual todo o

pecador está sujeito. Esta é a mais inegável das verdades a respeito do ser humano caído: é oestado pecaminoso que se torna a base do hábito pecaminoso, do qual surgem os atospecaminosos.

A corrupção pode também ser vista como uma conseqüência imediata da culpa com a

qual o indivíduo entra no mundo. Todo homem é culpável em Adão, como já vimos, e, portanto,nascido com uma corrupção original.

A corrupção original do homem inclui duas coisas: a) A ausência da justiça original e b) Apresença de um mal verdadeiro.

a) Ausência de Justiça Original

E a perda da imagem moral de Deus, com a qual o homem foi originalmente criado. A justiça original do homem consistia de três coisas mencionadas na Escritura (Ef 4.24; Cl 3.10),que foram completamente perdidas na queda:

Justiça

Ela diz respeito à conformidade com a lei divina. Antes da queda havia total harmoniaentre a natureza moral do homem e todas as exigências da lei de Deus, que sempre foi ―santa,

 justa e boa‖ (Rm 7.12). Havia concordância perfeita entre a constituição natural de nossosprimeiros pais e a regra de vida estabelecida por Deus para as Suas criaturas. Na parte maisinterior do ser humano havia uma santa inclinação. A Escritura diz que Deus ―fez o homem reto‖(Ec 7.29), referindo-se à sua natureza moral, mas esta retidão moral foi perdida pela queda.

 Todavia, ela vem a ser restaurada na regeneração do Espírito, mas todos os descendentes deAdão já nascem sem ela.

Santidade

Esta diz respeito à pureza imaculada do ser que Deus criou. Como a justiça estava emrelação à lei divina, a santidade era a relação direta com o Criador. Nossos primeiros paispossuíam comunhão plena com Deus. A santidade não era advinda somente da comunhão comDeus, mas era a natureza moral deles. Não era uma simples separação do mal, mas umasantidade positiva, uma possessão de tudo o que é bom. No verdadeiro sentido, nossos pais eram

162 Turretin, p. 595.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 121/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 122/222

  122

câncer. A única maneira de resolver a situação é através de uma operação sobrenatural. Opecado está tão profundamente enraizado na alma humana que o homem não pode ter a suacondição alterada, ou reformada. O pecado é igual ao negrume do etíope que não pode ter a corda sua pele mudada (Jr 13.23).

b) Descrição Bíblica do Homem Corrupto

A  descrição que a Escritura dá do homem debaixo da queda é estonteante e causasurpresa inclusive nos cristãos que não estão muito familiarizados com ela.A Bíblia diz: ―Viu o Senhor que a maldade do homem havia se multiplicado na terra, e que

era continuamente mau todo o desígnio do seu coração‖ (Gn 6.5). Estas palavras são graves eextremamente solenes, especialmente se comparadas com a congratulação de Deus consigomesmo, quando da criação do homem: ―Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom‖(Gn 1.31). Qual é a causa dessa desordem total no interior do homem? E o pecado de Adão, opecado da raça. Os desígnios do coração do homem estão totalmente corruptos, e Deus tem olhosde ira sobre a maldade humana.

A DEPRAVAÇÃO DO CORAÇÃO HUMANOO coração é o órgão central da personalidade humana164, de onde emanam todas as

coisas. Se boas ou ruins, elas dependem da natureza do coração. Mas como o coração doshomens é mau, e desesperadamente corrupto, que o próprio homem não conhece, pois é sempreenganado por ele (Jr 17.9).

O Velho Testamento tem um ensino bastante abundante sobre a condição do coraçãohumano, após a Queda.

Há muitíssimos textos na Escritura que descrevem a depravação do homem. Eis apenasalguns, por ora:

Gn 6.5 —  ―Viu o Senhor que a maldade do homem se havia multiplicado naterra, e que era continuamente mau todo o desígnio do seu coração.‖ 

Observe que o texto diz que ―todo desígnio é mau‖165 Não há pensamentos e decisões desantidade no homem não redimido, ainda sob os efeitos da queda. Os pensamentos e os atosmaus têm nascedouro no coração que está infectado de pecado. As disposições que o coraçãohumano possuem são disposições miseráveis, todas fermentadas pelo pecado. As afeições doshomens são desordenadas porque provém de um coração envenenado pelo pecado. Odesequilíbrio no homem é generalizado. ―Não há parte sã na sua carne‖. E por essa razão que―eles fazem o mal continuamente ‖, todos os dias de sua vida, até que sejam renovados pela obragraciosa do Espírito Santo.

Gn 8.21 —  ―E o Senhor aspirou o suave cheiro, e disse consigo mesmo: nãotornarei a amaldiçoar a terra por causa do homem, porque é mau o desígnio intimo

164 Ler Pv 27.19.165 Pink diz que ―a palavra hebraica para ―desígnio do coração‖ significa a matriz, a estrutura na

qual todos os nossos pensamentos são lançados. Observe que ―todo desígnio‖ é mau, nenhuma boa idéiaacompanha. Toda a maldade é sem alívio. Tudo está contaminado, não somente os atos exteriores, mas osprimeiros movimentos da alma em direção a um objeto. No coração nós temos a fonte de todas asimpiedades que procedem do homem. A lama corrupta dentro de nós está em constante fermentação. Ocoração do homem é de tal forma que, entregue a si mesmo, sempre estará produzindo afeições e emoçõesdesordenadas. Os homens são ―somente mal‖ sem exceção, totalmente assim; não há nada simplesmentevirtuoso entre os homens. Além disso, eles são ―o mal continuamente‘, sem intervalo, todos os dias de suasvidas, portanto, todas as suas obras são más e infrutuosas.‖ (p. 121).

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 123/222

  123

do homem desde a sua mocidade: nem tornarei a ferir todo o vivente, como fiz.‖ 

Esta é a descrição do homem antes do dilúvio. Mas a situação não mudou após o dilúvio.O coração do homem é sempre o mesmo. Mesmo as águas do dilúvio não foram suficientementecapazes de lavar a malignidade e o engano do coração do homem. Do começo da sua vida até o

fim, o coração do homem é a manifestação de coisas más. Desde o começo da vida, o coração dohomem já é manchado pelo pecado. Se alguém quer uma prova dessa verdade, ele a pode ver nacriação de nossos filhos. Desde o começo de suas vidas eles revelam uma tendência para ascoisas más. Todas as coisas más têm o seu nascedouro na coração de nossos filhos, desde a suaconcepção.

 Jó 15.15-16 —  Eis que Deus não confia nem nos seus santos; nem os céus sãopuros aos seus olhos, quanto menos o homem, que é abominável e corrupto, quebebe iniquidade como água?‖ 

Que terrível descrição da condição humana! Diante de Deus a nossa naturezapecaminosa é detestável. Mesmo os crentes e a natureza criada ainda sofrem os efeitos da queda

(veja Rm 8.19-21). Que se dirá dos homens que ainda não são renovados pelo Espírito Santo?Eles são corruptos e abomináveis! Por essa razão sorvem o pecado como o fazem com a água.Apenas o sangue de Jesus pode limpá-los de sua imundície.

Ec 8.11  —  ―Visto como não se executa logo a sentença sobre a má obra, ocoração dos filhos dos homens está inteiramente disposto a praticar o mar‖. 

 Tal é a perversidade do coração corrupto dos homens que eles abusam da paciência e datolerância de Deus. Visto que o julgamento de Deus sobre os homens nem sempre é imediato aopecado deles, estes se dispõe a cometer toda sorte de maldade e coisas vergonhosas. Assimaconteceu nos tempos de Noé. Quanto mais Noé pregava, mais zombadores e violentos elesforam. Assim também acontece nos dias de hoje. Quanto mais Deus retarda a manifestação da

Sua ira, mais os homens se afundam nos seus pecados, tendo o coração cada vez mais dispostopara praticarem o mal. Ao invés de voltarem-se para Deus, eles continuamente se apartavam deDeus, portando-se cada vez mais corruptamente em seu estilo de vida. A atitude deles não édiferente hoje. Os homens são sempre os mesmos. Enquanto o coração deles não é mudado peloDeus Todo-Poderoso, sempre ele será pervertido e praticará coisas más.

Ec 9.3 —  ―Este é o mal que há em tudo quanto se faz debaixo do sol; a todossucede o mesmo; também o coração dos homens está cheio de maldade, nele hádesvarios enquanto vivem; depois, rumo aos mortos.‖ 

Ninguém escapa desta terrível condição. Este é o grande mal debaixo do sol, diz oPregador. Por natureza, todos os homens são injustos e cheios de impiedade. O escritor bíblico

aponta que a prática do mal conduz ―ao desvario do coração ‖. Nossa sociedade moderna, que nãoé essencialmente diferente da sociedade do tempo de Salomão, é um exemplo claro dessedesvario do coração. Há muitos modos modernos de se expressar a pecaminosidade do homem(de fato, os pecados são sempre os mesmos, apenas as formas é que variam). Pink diz que ―oshomens são tão enfatuados a ponto de procurarem os seus prazeres nas coisas que Deus odeia.Eles abandonam todas as restrições da razão e da consciência, enquanto suas paixões violentasos pressionam em direção ao pecado.‖166 Eles não estão satisfeitos com ―os velhos métodos‖ de

166 Pink, p.122.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 124/222

  124

pecar. Em sua loucura de coração, eles procuram modos diferentes para expressarem a suapecaminosidade, iguais pessoas dementes sem controle sobre si mesmas. Eles são extravagantesna procura de novas maneiras de pecar. Seus corações estão cheios de desvarios enquantovivem. Isto quer dizer que eles pecam desenfreadamente a vida inteira.

Estas manifestações de pecaminosidade só terminarão quando Deus manifestar o seu julgamento final, ou quando Ele resolver tirar homens ―do império das trevas para colocá-los

debaixo do reino do filho do Seu amor‖ (Cl 1.13). Estes são apenas alguns versos a respeito da corrupção do coração, dentro as centenasque existem nas Santas Escrituras do Antigo Testamento.

O Novo Testamento não tem uma imagem melhor do coração humano do que a imagemapresentada pelo VT. O quadro da condição humana não é alterado quando examinamosdetidamente os vários autores neo-testamentários. Em um sentido, os textos do NT pintam acondição do homem em cores mais escuras ainda.

1. Veja o que Pedro diz da depravação do coração humano

2 Pe 2.14 —  diz que os homens têm ―os olhos cheios de adultério e insaciáveisno pecado, engodam almas inconstantes, têm o coração exercitado na avareza,filhos malditos‖. 

Eles não podem parar de pecar por causa do coração pecaminoso deles. Eles são escravosda corrupção. Esta é a conclusão que o próprio Pedro chega a respeito deles: Pedro diz que elesengodam as almas ―prometendo-lhes liberdade, quando eles mesmos são escravos da corrupção,pois aquele que é vencido fica escravo do vencedor.‖ (2 Pe 2.19). Eles são vencidos pela suaprópria natureza pecaminosa. Eles procuram satisfação para os seus desejos, mas nunca secansam de pecar. São insaciáveis. Vivem sempre com sede de pecado, e têm prazer nainiquidade. E por isso que Pedro diz que eles são ― filhos malditos ‖ (1 Pe 2.14). Assim são todos oshomens, embora nem todos manifestem sua depravação da mesma forma e com a mesmaintensidade.

2. Veja o que Paulo diz da depravação do coração humano

3. Veja o que Jesus diz da depravação do coração humanoEsta tarefa de mostrar a condição do homem é perfeitamente apoiada pelo Inspirador do

Antigo Testamento. O próprio Jesus Cristo lança luz sobre esta matéria tão importante. Jesus também ensinou que o coração é o centro moral do homem, e que somente Ele

conhece a profundidade da corrupção do coração. Foi por isso que somente Jesus, o conhecedordos corações, pode descrever, de forma maravilhosamente correta, aquilo que provoca acontaminação do homem. Diz Ele:

Mc 7.20-23 —  ―Não compreendeis que tudo o que de fora entra no homem nãoo pode contaminar, porque não lhe entra no coração, mas no ventre, e sai paralugar escuso? E assim considerou Ele puros todos os alimentos. E dizia: O que saido homem, isso é o que o contamina. Porque de dentro, do coração dos homens, éque procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, osadultérios, a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, asoberba, a loucura: Ora, todos esses males vem de dentro e contaminam ohomem‖. 

O coração é a matriz de todos os nossos pensamentos, atitudes e afeições. Nada escapa dacontaminação do coração. Se a fonte é suja, sujos serão todos os regatos que saem dela. O pecadoda raça humana, o pecado original, tem causado um efeito devastador nas partes mais interioresdo ser humano, de tal forma que tudo o que sai do ser mais interior, o coração, é totalmente

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 125/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 126/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 127/222

  127

estão familiarizados com a idéia de que Deus é amor, misericórdia, e assim por diante. Contudo,eles não estão envolvidos com Deus, nem comprometidos com Ele. Eles não O adoramespiritualmente nem verdadeiramente, como Ele requer. Seus corações estão longe dEle porque,mesmo conhecendo muitas coisas sobre religião, eles estão cegos e ainda andam em trevas,sendo enganados por Satanás. É possível ver muitos milhões deles em nosso mundo ocidental,onde a ―civilização cristã‖ foi implantada. 

Segundo, há a cegueira daqueles não vivem debaixo da pregação do evangelho.170  

Estetipo de cegueira pode ser visto mais claramente. Essas pessoas são ignorantes das verdadesespirituais, e não possuem idéia qualquer de quem Deus realmente é. Eles têm suas própriasreligiões pagãs com as suas formas mais primitivas de adoração da criatura, ao invés daadoração ao Criador.

Ambas espécies de cegueira são evidência de que os homens estão debaixo do mesmodomínio do pecado, mesmo embora alguns manifestem mais iniquidade do que outros, devido aausência da pregação do evangelho. A cegueira do coração deles é a mesma em ambos os casos,mesmo embora uns tenham mais informação a respeito da Sua Palavra do que outros. Ambas ascegueiras impedem o amor a Jesus Cristo.

3. Dureza de CoraçãoEste é um outro nome para a cegueira do coração. A natureza do coração do homem

natural é dita ser igual ―pedra‖. Ezequiel 11.19 e 36.26 mostram que esta figura é muitoapropriada para caracterizar todos os homens naturais. A tendência do coração dos homens éinclinada somente para as coisas deste mundo presente, para coisas más, porque o coração

humano é insensível ás coisas espirituais.171 Zacarias disse que

―eles, porém, não quiseram atender, e rebeldes me deram as costas, eensurdeceram os seus ouvidos, para que não ouvissem. Sim, fizeram os seuscorações duros como diamante, para que não ouvissem a lei, nem as palavras queo Senhor dos Exércitos enviara pelo seu Espírito mediante os profetas que nosprecederam; daí veio a grande ira do Senhor dos Exércitos‖ (7.11-12).

Nada é mais duro que o ―diamante‖. Esta comparação é muito forte, mas absolutamente

adequada, porque ela mostra a obstinação do coração em fazer o mal.172 Esta obstinação émanifesta pela ausência da sensibilidade espiritual. Os homens não estão nem mesmo temerososda ira de Deus, porque eles não têm nem idéia do que ela realmente significa. Eles não possuemsenso de culpa de terem ofendido ao Senhor. Por esta razão, eles vivem na prática dos pecadossem qualquer temor. Pecar é um prazer para eles.

Esta dureza de coração causa no homem uma falta total de interesse em matériaespiritual. Deus diz a Ezequiel: ―Mas a casa de Israel não te dará ouvidos, porque não me querdar ouvidos a mim; pois toda a casa de Israel é de fronte obstinada e dura de coração‖ (Ez 3.7).Eles odeiam a Palavra de Deus e são inconstantes e infiéis em seu coração. 173 

4. Consciência CorrompidaMuitos defensores do Arminianismo tentam apelar para a voz da consciência para indicar

que alguma coisa boa ainda permanece no homem. E verdade que o homem, em geral, ainda é

170 Ef 2.12; 4.17, 18; 5.8.171 Jr 3.17; 7.24; 9.14; 11.8; 13.10; 16.12; 18.12; 23.17; Mt 19.8; Mc 3.5; Ef 4.18.172 Is 46.12; 48.4-8.173 Sl 78.8. Observe os textos que falam a respeito de ― povo obstinado ‖ (Ex 32.9; 33.3,5; 34.9); ―dura

cerviz ‖ (Dt 9.6, 13; 31.27); ou ―coração incircunciso ‖ (Jr 9.26; Ez 44.7, 9; At 7.51). Todas estas expressões sãoequivalentes à idéia de cegueira, porque os resultados são os mesmos em todos os casos. Incircunsisão decoração significa impureza e sujeira, das quais o coração estás cheio, e tudo isto está relacionado à cegueirae insensibilidade.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 128/222

  128

capaz de distinguir o que é certo e o que é errado, mas somente nas ―coisas terreais‖, em matérias

do relacionamento entre seres humanos, não com referência às ―coisas celestiais‖.174 

Mesmo a consciência humana não escapa aos terríveis efeitos do pecado. Paulo, falando arespeito da consciência dos crentes, diz que ela pode ser ―fraca‖ (1 Co 8.12). A respeito daquelesque desprezam a Palavra, Paulo diz que eles têm a consciência ―cauterizada‖ (1 Tm 4.2), econsciência ―corrupta‖ (Tt 1.15). O escritor aos Hebreus também fala da ―consciência má‖

(10.22). Todos os homens naturais possuem consciência ―má‖ e ―corrupta‖, mesmo embora elesmanifestem bom julgamento nas ―coisas terreais‖, mas eles são incapazes de tratar devidamentecom as ―coisas celestiais‖. A consciência do homem natural não tem luz para agir de acordo comos padrões de Deus. Ao invés de guiar os sentidos do homem, a sua consciência o confunde e elanão é capaz de dar-lhe uma direção correta. A consciência corrompida tem conduzido os sereshumanos a inventar e a propagar as mais ímpias representações de divindades.

A consciência corrupta não é capaz de dar ao pecador uma atitude positiva para comDeus. Mesmo embora ela tenha alguma resistência à prática de alguns pecados crassos (e a razãodisto é a opinião pública ou outro interesse qualquer), ela não faz oposição em relação aosterríveis pecados secretos que manifestam a corrupção interior do coração.

A consciência corrupta é parcial. Freqüentemente, ela toma em consideração grandespecados, mas faz oposição aos terríveis pecados comuns que perturbam os homens. Ela ignoragrandes pecados e se preocupa somente com os menores.175 

A consciência corrupta não é capaz de conduzir os homens ao arrependimento ou deconvencer o homem do pecado de Adão e de sua necessidade de Jesus Cristo. As acusações deuma consciência corrupta não são bastante para produzir bons frutos ou um genuínoarrependimento, mas são capazes de causar aversão e ódio a Deus.

A consciência do homem natural não é confiável porque o ser interior do pecador écorrupto. O padrão de conduta da consciência corrupta nunca será o da Palavra de Deus.

5. Escravidão do Pecado Todos os que estão debaixo do Pacto das Obras também estão debaixo da escravidão do

pecado. Jesus disse: "Em verdade, em verdade vos digo, que aquele que comete pecado é escravodo pecado" (Jo 8.34). Ora, se alguém é escravo do pecado, o pecado é o seu senhor. Mas aEscritura diz que esta escravidão é voluntária. O homem não é forçado de fora a pecar. Ele pecaporque ele quer. Pelo menos, é isso o que Paulo ensina:

―Não sabeis que daquele a quem vos ofereceis como servos para obediência,desse mesmo a quem obedeceis sois servos, seja do pecado para a morte, ou daobediência para a justiça?‖ (Rm 6.16) 

Ninguém força o homem a pecar. O homem não peca contra a sua vontade. Apenas ohomem obedece às inclinações de sua própria natureza. O domínio do pecado vem de dentro dopróprio homem. Este domínio é natural e congênito, e controla o ser total do homem, porque elepervade todas as partes do ser humano, desde a queda.

O pecado é chamado um ―reino‖ na Escritura,176 e reina sobre todos os homens, porque aposteridade de Adão está sob seu domínio. O pecado está no centro da personalidade humana epolue e envenena tudo que procede do coração. Este controle poderoso sobre todas as faculdadesda alma humana é vencido somente quando a obra regeneradora do Espírito Santo pára osefeitos da morte no homem. Antes dessa maravilhosa obra, o homem permanece escravo dopecado. Rm 6.1-23 é a descrição da escravidão do pecado do homem.

174 Estas expressões ―coisas terreais‖ e ―coisas celestiais‖ são típicas de Calvino em suas Institutas. 175 Por exemplo: Saul, em 1 Sm 14.33, 34 condenou o povo porque ele havia transgredido um

preceito da Lei, mas ele não teve nenhum problema em matar 85 profetas de Senhor. Aqueles que procurammatar Jesus Cristo justificaram-se a si mesmos diante da Lei (Jo 19.7). sobre eles está a sentença de Deus(Is 5.20).

176 Rm 5.21.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 129/222

  129

6. Escravidão da Corrupção Tudo na criação, não somente as criaturas racionais, está debaixo da escravidão da

corrupção. Rm 8.20-21 diz que

―a criação está sujeita á vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele

que a sujeitou, na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro dacorrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus.‖ 

Pedro afirma categoricamente que os homens ―são escravos da corrupção, pois aquele queé vencido fica escravo do vencedor‖ (2 Pe 2.19). Ninguém está livre desta condição maldita, nemmesmo os elementos da natureza. A maldição do pecado é a escravidão da corrupção. Estaverdade a respeito do homem o humilha. Por esta razão, algumas teologias tentam minimizar osefeitos da depravação do homem.

7. Escravidão de SatanásEsta verdade bíblica é um das coisas mais terríveis que o Senhor Jesus disse aos homens.

Ele lhes disse que eles eram filhos do diabo e, consequentemente, escravos dele. Esta conclusão

é fácil de ser tirada de Jo 8.44: ―Vos sois filhos do diabo que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhesos desejos.‖177  Todos os que não eram crentes em Jesus eram obedientes aos ditames do diabo.Eles não estavam conscientes de sua condição, mas Jesus fê-los saber quem eles eram.

A Escritura diz que todos os homens naturais são filhos do diabo.178 Aqueles que não sãofilhos de Deus são, automaticamente, filhos do diabo, porque só há dois tipos de filhos nestemundo. Não há alternativa. Todo mundo é filho de alguém. Espiritualmente os homens sempresão filhos de alguém, Deus ou o diabo. E os filhos devem obedecer a seu pai. Por esta razão, Jesusdisse que os homens obedecem os desejos de seu pai, que é o diabo.

Mas a Escritura vai mais longe. Ela diz que o homem natural estásob th=j e)cousi/aj tou= Satana= (potestade de Satanás)179 e, por esta razão, elessão ―cativos de Satanás (diabo/lou) para fazer a sua vontade‖.180 

O coração do homem caído, não-regenerado, é o trono de Satanás. Este tem um reino (Mt12.26), e todos os homens naturais são servos ou escravos dele. Paulo é muito claro quandodirige-se aos ex-escravos de Satanás, dizendo:

―nos quais (delitos e pecados) andastes outrora, segundo o curso destemundo, segundo o príncipe da potestade do ar; do espírito que agora atua nos filhosda desobediência, entre os quais todos nós andamos outrora, segundo asinclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos...‖ (Ef2.2-3)

O reino de Satanás é um reino de usurpação, porque ele não tem direito algum sobre asvidas dos homens, mas é um reino, e todos os homens naturais estão sob o seu domínio. Por estarazão, João disse que, em contraste com os crentes, ―o mundo inteiro jaz no maligno ‖ (1 Jo 5.19).

Desde a queda do mundo houve duas espécies de pessoas: os que pertencem a Deus, e osoutros que estão sob o domínio de Satanás. Deus disse à Serpente: ―Eu porei inimizade entre ti(Satanás) e a mulher, e entre a tua descendência e o seu descendente (Cristo). Este te ferirá a

177  Este verso pode ser aplicado a todos os homens naturais porque todos eles encaixam nascondições daqueles judeus que não criam em Jesus.

178 1 Jo 1.10. Este verso mostra que todos os homens que não praticaram a justiça são filhos dodiabo.

179 At 26.18.180 2 Tm 2.26.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 130/222

  130

cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar‖ (Gn 3.15). Estas duas posteridades foram mencionadas por Jesus Cristo nas parábolas do reino, como sendo ―os filhos do reino‖ e os ―filhos do maligno‖ (Mt13.38).

Satanás, o deus deste século, pega os homens que vivem escravos do pecado, e tiravantagem da sua natureza pecaminosa, fazendo-os seus escravos. Paulo diz que o diabo ―cegouos entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de

Cristo, o qual é a imagem de Deus‖ (2 Co 4.4). É espantoso que os Arminianos digam que estes homens, tendo ―consciência corrupta‖,―cegueira de coração‖, sendo ―escravos do pecado‖, ―escravos da corrupção‖ e ―escravos dodiabo‖, ainda tenham liberdade de vontade para ver e para escolher as coisas espiritualmenteboas!

CARACTERÍSTICAS DA DEPRAVAÇÃOHá, todavia, algumas outras verdades a respeito da depravação total do homem que

precisam ser estudadas à luz da Escritura:

1. É comum a todos desde o Ventre Materno

É um erro de origem Pelagiana o fato de ser pensar que os pequeninos, os infantes, sejaminocentes ou que sejam uma espécie de tabula rasa quando nascem, destituídos de qualquermancha pecaminosa em suas almas. Este ponto-de-vista tem sido, embora de Pelágio, tem sidosustentado por cristãos de todas as tradições, sem pensarem nas conseqüências sérias trazidaspor essa teologia. Não é o meio ou a educação que tornam a criança pecaminosa, mas apecaminosidade dela apenas se manifesta quando ela começa a dar os primeiros sinais decomunicação. Nenhuma delas escapa a uma maldade interior, mesmo que se manifeste das maisvariadas maneiras. Todas as crianças já nascem no mundo culpadas e, portanto, com as terríveismarcas da corrupção em todo o seu ser.

 Todos os filhos de Adão estão igualmente afetados pela sentença de Deus que é acorrupção. Esta já é um castigo divino por causa do fato de todos serem culpados em Adão.

 Toda criança já é nascida culpada neste mundo e, como conseqüência, corrupta. Todasas crianças são nascidas debaixo de condenação e com suas naturezas depravadas, e com uma

completa incapacidade de alma para mudarem a situação com a qual nasceram.Há alguns textos da Escritura que nos ajudam a entender esta matéria tão difícil e tão

dolorida, especialmente quando pensamos que os nossos pequeninos têm estas coisas, mas nãopodemos fugir da verdade de Deus.

Sl 58.3  —   ―Desviam-se os ímpios desde a sua concepção; nascem e já sedesencaminham, proferindo mentiras.‖ 

Desde o momento em que são concebidas, as crianças são moral e espiritualmenteseparadas de Deus —  pecadoras sujeitas à condenação. Elas já nascem alienadas de Deus, deSeus princípios, de Seus poderes e de Suas bênçãos. A natureza delas é inclinada à impiedadesomente, e se Deus deixá-las entregues a si mesmas, elas nunca sairão desse estado. Logo queelas começam a entender as coisas, a inclinação delas é para a desobediência às leis que lhe são

colocadas em casa. Perceba que ninguém precisa ensinar aos filhos a desobediência. Não hánecessidade de ser ter um professor para o mal. Isso é natural neles. E só deixá-los entregues a simesmos, porque a malignidade está atada ao coração da criança, evidenciando a sua corrupção.

 Tem que haver a disciplina para que os nossos filhos venham a aprender a obedecer. Docontrário, eles sempre dirão ―não‖ às leis que lhes impomos.  

É bom lembrar que os nossos filhos já são desviados ou separados de Deus desde queeles são concebidos no ventre da mãe deles. Essa separação de Deus não vem com o tempo, como contato com os adultos ou com a sociedade corrompida. Não! E uma séria enfermidadecongênita a corrupção do coração.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 131/222

  131

Sl 51.5 —  ―Eu nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe.‖ 

O verso anterior trata da concepção de uma criança. Neste fala da parte seguinte doprocesso: o nascimento dela. Mas a idéia fundamental do texto é a mesma. Tanto a concepçãocomo o nascimento de Davi foram em pecado. Davi não era o único que possuía esta triste

situação.Esta é uma confissão que bem caberia na boca de todos os humanos. A nossa corrupçãovem do começo da nossa existência, pois a recebemos, de alguma forma, de nossos pais. Pelo fatode sermos filhos de Adão, todos nascemos depravados. Davi era filho de um casamento digno ehonrado, todavia, recebeu de seus pais a herança maldita da corrupção, com todas as suas másdisposições. Observe, como já vimos, que a culpa é imputada, mas a corrupção não. Ela érecebida pelo fato de sermos culpados em Adão, mas a recebemos via nossos pais, por geraçãonatural.

Para entendermos esta verdade, vejamos a antítese dela: Por quê foi necessário paraCristo ser encarnado sobrenaturalmente pelo milagre do nascimento virginal? Essa era a únicamaneira de haver dentro de Maria um ―ente santo ‖ (Lc 1.35), pois se fosse por geração ordinária,Cristo herdaria a natureza pecaminosa. O que Deus fez? Deus não imputou a culpa de Adão aCristo, fé-lo ser concebido sobrenaturalmente, e o livrou da corrupção. Ele não nasceu nainiquidade porque não teve a imputação e a geração ordinária, não foi contado comodescendência de Adão. Ficou livre da culpa e, consequentemente, da corrupção.

Mas não é assim com os filhos de Adão. Estes já são concebidos e nascidos em corrupção,

poluição moral e espiritual, coisas essas que se externalizam à medida que elesentram em comunicação com o mundo externo, onde vivem.

Isaías 48.8 diz que somos chamados transgressores ―desde o ventre materno ‖. Por essarazão é que, quando nascemos, ―já nos desencaminhamos proferindo mentiras‖ (Sl 58.3). Você jáviu, porventura, um pai decente ensinando mentiras aos seus filhos? Nunca! Todavia, os filhosdesse pai mentem, sem nunca terem aprendido a mentir. Essa é uma terrível capacidadeherdada, com a qual vimos ao mundo.

Pv 22.15  —   ―A estultícia está ligada ao coração da criança, mas a vara dadisciplina a afastará dela.‖ 

Estultícia é igual tolice. Essa tolice não é meramente uma ignorância intelectual, mas umprincípio positivo para o mal, porque no Livro de Provérbios, o "tolo" não é um idiota, mas umpecador. A corrupção está profundamente enraizada no coração da criança. O texto diz que aestultícia está ligada ao coração da criança. Isso significa que o pecado está amarrado, preso,atado, anexado ao coração. Não existe uma criança sequer livre dessa estultícia.

É por essa razão que ninguém precisa ensiná-la a pecar. Basta que os pais tirem o freiodela e, então, a corrupção se manifestará em maior ou menor grau. Nessa hora é que um pai vê ador que um filho lhe traz e a mãe vem a ser envergonhada por causa daquilo que ele faz (Pv29.15).

Nosso coração, que é a sede de nosso ser moral, é corrompido desde o ventre materno, eas nossa iniqüidades estão ligadas a ele. Portanto, somos transgressores desde o ventre maternopor disposição interna antes de sermos por atos externos. Os atos são apenas manifestações dedisposições interiores.

Ef 2.1-3 —  ―Ele vos deu vida, estando vós mortos em vossos delitos e pecados,nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe dapotestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência; entre osquais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossacarne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza, filhos da ira, como também os demais‖. 

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 132/222

  132

 Talvez esta expressão seja mais forte ainda do que Sl 58.3, porque ensina que nãosomente somos nascidos no mundo com uma constituição corrupta, mas que somos vistos comocriminosos à vista de Deus. A depravação de nossa natureza não é um mero infortúnio: se assimfosse, despertaria misericórdia e não ira. Os ―filhos da ira‖ são aqueles que merecem a ira,herdeiros da ira. Eles não são somente criaturas corruptas e manchadas, mas objetos da

indignação judicial de Deus. Por que? Porque o pecado de Adão foi imputado a elas, e elas sãoculpadas e merecedoras da manifestação judicial da ira do Deus justo.Igualmente forte é a expressão ― por natureza ‖. Muitos têm negado a corrupção inata,

insistindo no fato dela ser adquirida pelo contato com o mundo mau, e que seus hábitos tambémsão adquiridos. Alguns crêem que os seres humanos são depravados por um processo dedesenvolvimento, não por causa de uma natureza pecaminosa inata. Mas a Escritura éabsolutamente inamovível na sua idéia de que a gênesis da depravação é a própria natureza coma qual os homens são gerados e nascidos. A Escritura não negocia esta verdade. Desde o ventrematerno os homens já são objetos da ira divina, por causa da natureza congênita deles. E essanatureza corrompida deles é um mal penal, em virtude do fato de sermos culpados em Adão.

 Justamente o fato de os infantes morrerem na sua infância, mostra que a sujeição ámorte tem algo a ver com a natureza inata deles. A morte, queiramos admitir ou não, é oresultado da corrupção que afeta todo o nosso ser, desde que nascemos. Se em Adão as crianças

não houvessem pecado, elas não estariam sujeitas à morte. Se a culpa de Adão não houvesse sidocomunicada a elas, não haveria mortalidade infantil181. Portanto, desde o ventre materno, os homens têm sido afetados pela corrupção maldita

que os acompanha até o fim de suas vidas, mesmo naqueles que Jesus Cristo salva, através dolavar regenerador e renovador do Espírito Santo. Quando o Espírito nos regenera, ele não eliminade um vez para sempre os resultados da corrupção. Ele planta, sim, vida na alma, onde haviasomente morte. Então, essa vida, dom divino, vai se impondo, à medida que crescemos noconhecimento de Cristo Jesus. E experiência de todos nós, mesmo os crentes mais maduros, oconvívio com o pecado que em nós habita. Triste, mas uma verdade bastante palpável, até que oSenhor nos leve para o Seu reino e glória.

2. Afeta a Totalidade do Ser HumanoEsta é  uma outra terrível verdade sobre a corrupção do ser humano. A chamada

―depravação total‖ tem sido muito mal compreendida, mesmo nos círculos Calvinistas. E necessário, portanto, que algumas coisas sejam ditas sobre a expressão ―depravação total‖, antesque argumentemos sobre ela na Escritura.

181  O fato de uma criança morrer na infância, não significa que ela esteja irremediavelmenteperdida, eternamente. É evidente que todas as crianças que são nascidas neste mundo sejamespiritualmente mortas, alienadas da vida de Deus, mas se elas estão para herdar a vida eterna, énecessário que elas sejam renovadas no coração pelo Santo Espírito, que opera independentemente da fédelas, para que sejam salvas, porque ninguém verá o reino de Deus sem ser nascido de novo. A obra do

Espírito Santo no coração de uma criança é absolutamente necessária para que ela venha a herdar edesfrutar da vida eterna. Obviamente, o Espírito Santo aplica nela a redenção que há em Cristo Jesus, quepor ela morreu. Portanto, se os infantes estão para ser salvos, é por causa da Eleição do Pai, da Redenção doFilho e da Regeneração do Espírito. Sem isso, jamais alguém será salvo!

Há os que insistem dogmaticamente no fato de que Jesus Cristo fez expiação pelo pecado original,de tal modo que a culpa de nossos primeiros pais não mais está sobre os seus descendentes. Mas estepensamento é contra a evidência de todos os fatos. Apenas um argumento contrário a ele: obviamente, esseponto de vista Arminiano não pode prevalecer porque, se assim fosse, isto é, se a culpa do pecado originaltivesse sido removida por Jesus Cristo, os efeitos dela não mais poderiam continuar, já que a corrupção danatureza humana é conseqüência da culpa humana. Se Cristo removeu a culpa dos homens do pecadooriginal, então a raça toda deveria voltar ao estado em que originalmente foi criada.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 133/222

  133

A DOUTRINA DA DEPRAVAÇÃO TOTAL

Sobre o termo depravação

Por depravação não se quer dizer que o ser humano não possa fazer nada que não sejareconhecidamente entre os homens considerado como bom; não quer dizer que o pecador não

tenha qualquer conhecimento inato daquilo que é bom e do que não é bom; não quer dizerque ele não saiba distinguir o que convém e o que não convém; não querdizer que o homem não seja capaz de admirar as virtudes e ações virtuosasem outras pessoas; ou que ele não tenha afeições desinteressadas comrelação a outras pessoas; nem quer dizer que o homem não-regenerado,em virtude de sua pecaminosidade inerente, tenha que suportar ou darapoio a toda espécie de pecado, ou que não tenha nenhum código ético.

A depravação está intimamente ligada à tendência para o mal, uma pré-indisposiçãocontra as coisas das quais Deus se agrada. Existe uma indisposição natural para com Deus epara com as coisas deles.

Sobre o adjetivo "total"O adjetivo "total" tem a ver com a extensão da corrupção. Ele significa que o ser humano

por completo foi afetado pela queda. Nada do seu ser escapou dos efeitos do pecado. O pecadoatingiu todas as faculdades da personalidade humana, inclusive o seu corpo. O pecado é umcâncer com metástase, isto é, uma doença mortal que infectou todo o ser. Para usar outralinguagem médica, podemos dizer que o pecado é uma espécie de septicemia, uma infecçãogeneralizada no sangue que, por sua vez, conduz o sangue a todas as partes do organismo, einfecta tudo. O homem esta no seu ser total infectado pelo veneno do pecado. O profeta Isaíasmostra esta realidade de forma muito clara:

"Por que haveis de ainda ser feridos, visto que continuais em rebeldia? Toda acabeça está doente e todo o coração enfermo. Desde a planta do pé até à cabeçanão há nele cousa sã, senão feridas, contusões e chagas inflamadas, umas e

outras não espremidas, nem atadas, nem amolecidas com óleo." (1.5-6)

Paulo mostra a imundície generalizada do homem de outra maneira, quando insta-os aserem purificados dela, dizendo: "Tendo, pois, amados tais promessas, purifiquemo-nos de todaa impureza, tanto da carne, como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus"(2 Co 7.1). Corpo (carne) e alma (ou espírito) indicam o homem total, que está corrupto. Estapoluição moral estende-se aos pensamentos e imaginações, assim como às palavras e às ações.

Quando dizemos que essa depravação total afeta a totalidade do ser humano, estamosdizendo que cada elemento constituinte da natureza humana, isto é, o corpo e as faculdades da

alma, sofrem a poluição do pecado; estamos dizendo que não há nenhumaparte sã no homem, que não há nenhum bem espiritual nele.

Esta depravação afeta:

1. O CORPOA queda do homem trouxe conseqüências sérias para o nosso organismo físico. A vidafísica do homem é cheia de fraquezas e enfermidades. Estas são a grande angústia do serhumano, desde a queda. Estas são a maior luta da humanidade e seu maior fardo, porqueresultam em tremendos desconfortos e, freqüentemente, em dores agonizantes. Essas coisas nãoaconteciam no Éden, nem teriam acontecido se não fosse a queda. Quando da redenção final,

édito que o homem não mais terá incômodos, dores não haverá, nem lágrimas, morte, etc.182 As

182 Ap 21.4 diz: E Deus ―lhes enxugará dos olhos toda a lágrima, e a morte já não existirá, já nãohaverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras cousas passaram‖; Ap 22.2 diz: ―No meio da sua

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 134/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 135/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 136/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 137/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 138/222

  138

fascinam e dispõem a alma a favor ou contra qualquer atitude ou pessoa. As disposições afetivassão controladas por essa faculdade de nossa personalidade. E somos seres extremamenteconduzidos por nossas emoções. As coisas tornam-se agradáveis ou desagradáveis através dessafaculdade que tem um grande controle sobre os nossos sentidos físicos.

Na verdade, os juízos do intelecto e as sensações das afeições é que determinam, emalguma medida, as decisões da vontade do homem.

No princípio, Deus criou o homem à Sua própria imagem e semelhança, de tal modo quea alma humana possuía o entendimento correto, as afeições ordenadas, e a vontade fazendo oque devia. Todo o complexo do ser humano era voltado direta e corretamente para Deus. Masquando houve a queda, tanto o seu entendimento como a vontade e as afeições ficaram afetadosseriamente, divorciados de Deus.

Originalmente, as afeições humanas eram direcionadas e ordenadas devidamente. Com aqueda, nossos pais começaram a desejar somente aquilo que era contra a vontade de Deus. Aalegria deles não mais era o Senhor, mas a própria criatura. De lá para cá, a posteridade de Adãotem seguido o mesmo caminho, tendo afeições mais elevadas para com a criatura ao invés detê-las com o Criador. Houve rebelião e reversão das santas afeições da alma. Então, o prazer dosfilhos de Adão concentrou-se não mais na lei do Senhor, mas nos apetites desordenados daspróprias afeições.

Essa reversão das afeições mostra que o homem está sem paz, inquieto, sem repouso,sem morte, sem razão de existência. Isto porque ele está apartado de Deus, por causa daperversidade do coração (Hb 3.12). O homem não é feliz no que é e no que faz. Ele não maisconheceu o que é a alegria do Senhor. Somente depois de tê-la, e de perdê-la temporariamente,por causa de seus pecados, é que Davi reconheceu: "Volta, minha alma ao teu sossego, pois oSenhor tem sido generoso para contigo" (Sl 116.7). Deus não era somente o prazer daqueles aquem havia feito à Sua própria imagem, mas também era o fim principal dos motivos e ações doshomens. Mas estes "se esqueceram do manancial de águas vivas" (Jr 2.13), a fonte perpétua deseu conforto e gozo. Agora, após o incidente edênico, o prazer dos homens não mais é Deus. Asafeições deles estão desordenadas, e os seus gostos reversos, porque andam agora "segundo assuas ímpias paixões".

As afeições que deveriam estar em harmonia com a criação original, estão agora todasfora da sua forma original. O homem não mais é guiado por uma razão correta, mas por suasafeições desordenadas. Isso fica muito evidente na maneira contemporânea de agir: os homensagem hoje pelos sentimentos. Isto é claro até nas formas de culto e das suas avaliaçõesteológicas. A frase mais comum hoje é: "Eu sinto bem fazendo isto". O homem hoje é controladopelos sentimentos, em detrimento de outras partes da faculdade humana, que devem viver, emequilíbrio e interrelacionadas. As emoções e os sentimentos estão no trono do ser humano. Nãoseria mal se as nossas afeições fossem santas afeições, em equilíbrio com a verdade de Deus, masesse é o grande problema. Tudo está desordenado. Deus colocou um anelo de paz e alegria nocoração do homem, mas que estas coisas pudessem ser encontradas somente nele, mas oshomens não O querem e, como conseqüência, essas belas afeições ordenadas não estãopresentes no ser humano. Este perdeu todas as santas capacidades afetivas para com o seuCriador, tendo prazer somente nas coisas terrenas. Nunca o seu prazer estará na lei do Senhor,nem meditará nela, até que suas afeições sejam reordenadas pela divina obra redentora.

O homem caído tem afeições pela riqueza, pelo prazer sensual, pelo poder, pela honra,mas nunca no evangelho, porque este não lhe oferece estas coisas. Veja que inversão de afeições!

O evangelho indica o caminho da santidade, da mortificação da carne, das alegrias emobjetos diferentes. Por isso o evangelho não é bem-vindo ao pecador! Serdependente de Deus para ser feliz e realizado é uma pancada nossentimentos orgulhosos do pecador.

 Tanto a razão como as afeições do pecador estão corruptas. Isto é fácil de ser percebido,mesmos nos nossos pequeninos filhos. Eles respondem imediatamente diante de uma diversãoviolenta, que evidencia a força e a esperteza das pessoas, mas respondem muito lentamente àdiversão que a faz refletir, pensar e agir corretamente. Em geral, elas não gostam das diversõesque as levam a aperfeiçoar os seus sentimentos e intelecto. Elas facilmente caem para o lado das

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 139/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 140/222

  140

As paixões dos homens são as correntes imundas que procedem da fonte poluída doscorações dos homens. Elas são os primeiros movimentos pecaminosos da alma que acabam porconduzir aos atos pecaminosos abertos. Eles são os primeiros movimentos ilegais de nossosanseios pecaminosos que precedem os pensamentos estudados e deliberados da mente.

Veja o texto de Rm 7.8 - "Mas o pecado (que é a fonte inerentemente corrompida),tomando ocasião pelo mandamento, despertou em mim (esse "despertou" sugere a idéia de uma

disposição poluída ou uma propensão para o mal, distinta dos atos que ela produziu. O pecadoinerente é um princípio poderoso, que constantemente exerce uma influência má, estimulaafeições impuras), toda sorte de concupiscência (desejo lascivo, luxuria, sensualidade); porquesem lei está morto o pecado."

A depravação do próprio coração é que induz o homem a ouvir os cochichos de Satanás.Se assim não fosse, nenhuma solicitação para fazer qualquer coisa errada vingaria, ou teriaqualquer força n~ vida dos homens. A disposição interior das afeições é que facilitam aos apelosexternos serem realizados. A eficácia de uma tentação está diretamente vinculada àpredisposição do coração concupiscente, na propensão da natureza caída. Quando a nossacorrupção nativa é convidada a fazer algo externo que promete lucro e prazer, e as paixões sãoatraídas por esse algo, então a tentação começa e o coração vai atrás. Visto que os caídos sãoinfluenciados por sua concupiscência, esta domina a ambos, a mente e a vontade, de quem elassão, em algum sentido, servas. E por isso que Paulo fala: "vejo nos meus membros outra! lei" (Rm

7.23). E uma lei imperiosa, forte, que tem domínio sobre o homem total.

 Tg 1.13-15 - "Ninguém ao ser tentado, diga: sou tentado por Deus; porqueDeus não pode ser tentado pelo mal, e Ele mesmo a ninguém tenta. Ao contrário,cada um é tentado por sua  própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então acobiça, depois de haver concebido, dá á luz o pecado; e o pecado uma vezconsumado, gera a morte."

Estes versos delineiam a origem de todo nosso pecado. Estas palavras mostram que opecado invade o nosso ser interior gradativamente; elas descrevem os diversos estágios antes deo homem pecar exteriormente; elas revelam uma causa geradora de todo o pecado. Os nossospecados descansam no pecado que habita em nós, isto é, na nossa concupiscência. Aconcupiscência é o ventre e a raiz de todas as nossas manifestações de maldade.

O texto diz que "cada um é tentado por sua própria cobiça" Não podemos colocar o ônusde nossos pecados no diabo, ou em Deus. De fato, a culpa de nossos pecados está dentro de nós.Não podemos desprezar nunca o que há dentro dos corações dos homens, suas afeições sujas,suas inclinações corruptas, sendo devidamente conduzidas por Satanás, que nos conhecemmuito bem, pelo simples fato de lidar com a natureza pecaminosa por milênios. Ele sabe otrabalhar conosco, mas a culpa do pecado é nossa. A "cobiça" é nossa, de ninguém mais. Apalavra "cobiça" no texto significa "um anelo por", um "desejo de obter algo". Ela é tão forte queleva a alma aos objetos proibidos. Ela é tão forte que o texto diz que "a cobiça o atrai e seduz". Acobiça alicia, induz, porque não há forças no homem que o levem a combatê-la. Nada no homemobsta o caminho que a cobiça traça. Então, o homem cai. E porque o homem falha em resistir, éque o pecado se torna mais atraente, e a sedução é mais fácil. Isto quer dizer que a cobiça impelecom força. Ela empurra o homem para a consecução do pecado. A força impetuosa desse desejoexige a realização dele. As paixões, a concupiscência interna (que é a cobiça), levam a vontade do

homem ao controle e, o pior de tudo, é que ele sempre haverá de sentir culpa pelo que faz."Então a cobiça, depois de haver concebido..." - O ato pecaminoso está embrionário, lábem dentro do coração. Então, as outras faculdades da alma começam a trabalhar para fazernascer aquilo que foi concebido. Então, a mente trabalha e a vontade passa a funcionar,querendo o término daquilo que foi começado. "E o pecado, uma vez consumado, gera a morte"-Esta é o salário e a colheita daquilo que foi plantado. Este é o progresso dentro de nós.

Da queda para cá, os homens todos já vem governados pelas afeições indevidas. Asfaculdades da alma não mais andam em equilíbrio. As emoções controlam o homem moderno detal forma que um sentimentismo ("feelism") determina todas as coisas presentemente. As"paixões" desordenadas, descontroladas pelo ser interior, são os órgãos comandantes do ser

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 141/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 142/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 143/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 144/222

  144

disposições interiores deles.Portanto, a vontade humana esta sempre recebendo a influência das outras faculdades e

do coração. E sem base crer na liberdade ou independência da vontade, como os arminianos

consistentes ensinam. A vontade do homem nunca será livre da condiçãointerior do homem. E verdade que Deus nunca é influenciado por nada defora, porque Ele é onipotente, mas este não é o caso do homem. Este éfinito, influenciado e estimulado por motivos externos, mas adeterminação do motivo sempre estará dependente da inclinação do seucoração.

A vontade não controla o homem, como os arminianos erroneamente ensinam. A vontadedo homem não é auto-motivada, não é espontânea no sentido de que as decisões são originadassomente nela, sem qualquer dependência das outras faculdades e da condição interior do

homem, o coração. A Escritura diz que o homem é um escravo do pecado.196 A vontade dohomem não pode non peccare. As decisões do homem serão sempre afetadas pelo que ele éinternamente.

Neste sentido, a vontade nunca foi livre, mesmo antes da queda. Ela nunca foi ummecanismo independente das outras engrenagens da alma humana. Aqueles que negam a

corrupção da vontade do homem, não crêem na depravação total. Temos que crer que a vontadeé a faculdade executiva de tudo o que está dentro do homem. Ela meramente apresenta osditames do ser mais interior do homem. Ela é uma escrava da condição do homem.

Se alguém crê que a razão humana pode entender perfeitamente a vontade de Deus; sealguém crê que as afeições estão perfeitamente dirigidas para Deus, então ele pode crer que avontade é capaz de apresentar "coisas celestiais". Mas esta não é a condição do homem. Ocoração é desesperadamente corrupto e tem aversão ás coisas espirituais.

Pink corretamente diz: "A queda tem cegado a mente do homem, endurecido o seucoração, desordenado suas afeições, corrompido a sua consciência, e incapacitado a sua

vontade"197, de tal modo que "desde a planta do pé até à cabeça não há nele cousa Sã, senãoferidas, contusões, e chagas inflamadas, umas e outras não espremidas, nem atadas, nemamolecidas com óleo" (Is 1.6).

A vontade simplesmente obedece a própria natureza pecaminosa do homem. Portanto, a

vontade está sempre pronta a fazer coisas más. Ela está amarrada à condição depravada docoração do homem. A dependência da vontade das outras faculdades e do coração não é somente

um ensino lógico, mas é fácil de encontrar provas disto na Escritura. Este ponto serátratado na próxima parte deste trabalho. Porque todas as faculdades daalma humana São corruptas, por virtude da corrupção do coração, ohomem está totalmente paralisado, incapaz de dar qualquer passo emdireção ãs coisas espiritualmente boas, isto é, agradáveis a Deus. Estadoutrina é chamada incapacidade moral ou incapacidade total do homem.

INCAPACIDADE TOTALA doutrina da incapacidade total é o resultado da depravação total. Já explicamos a

depravação do coração do homem e de todas as suas faculdades.Agora a questão a ser feita é esta: Como pode a vontade humana decidir apresentar atos

espiritualmente bons, ou ter a capacidade de escolha contrária, se ela é determinada pela

196 Rm 6.16-18, 20.197 Gleanings, p. 152.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 145/222

  145

condição do coração? Tem o homem poder moral para apresentar atos contrários ã sua natureza?Aqueles que tentam estudar sobre a capacidade moral do homem, sem levar em conta adepravação total do homem, cometem um sério engano.

Após 1618, quando os Remonstrantes tiveram sua proposta rejeitada pelo Sínodo deDort, a causa que eles defenderam começou a expandir e a se espalhar através de todo o mundocristão protestante. Hoje, a grande maioria dos cristãos não católicos, sustenta a posição de que

a vontade do homem é capaz de apresentar atos moralmente bons. E natural para os homenspensarem o melhor sobre si mesmos, e se esquecerem do que a Escritura diz que eles são, e suaconseqüente incapacidade espiritual. Os Arminianos tentaram diminuir a natureza do estragocausado pela queda, sustentando uma capacidade moral que, na verdade, foi perdida no Éden.

Em geral os Arminianos, que São uma versão similar, mas modificada, doSemi-Pelagianismo, dentro dos círculos Protestantes, espalhados por todas as denominações,afirmam com o metodista Wakefield que "as volições São perfeitamente livres de toda coação, sejade fora ou de dentro."198 Wakefield está absolutamente certo quando assevera que nada de foraforça o homem a tomar qualquer atitude, mas ele está totalmente enganado em relação ao dedentro. Há alguma coisa na natureza humana que impede o homem de agir moralmente bem, oucontrário à sua própria natureza. Mas Wakefield insiste que as volições dos homens podem serdiferentes daquilo que o homem é. Criticando aqueles a quem ele considera partidários do―necessitarianismo‖ (Lutero, Calvino e Jonathan Edwards), ele diz:

Mas se a doutrina da necessidade moral fosse verdadeira, que as volições eações dos homens não pudessem ser diferentes daquilo que eles são, todos oshomens seriam perfeitamente inocentes; porque certamente ninguém em suamente sã suporá que os homens possam ser culpados e, entretanto, serempunidos justamente, se as ações deles e suas volições São necessárias einevitáveis.199 

Vejamos dois enganos importantes nesta citação: 1) Ele assevera de um modo negativoque o homem é capaz de apresentar atos que São contrários a sua natureza; 2) Ele deduz que ohomem é considerado responsável somente quando ele apresente uma ação independente de suaprópria natureza, sem ser forçado de dentro. Portanto, ele crê que a vontade é independente dacondição do coração humano e das outras faculdades. Uma pessoa só pode ser consideradaculpada se ela pratica atos com sua vontade independente. De outra forma, ela é inocente.

Como Wakefield, assim pensa a grande maioria dos Arminianos. Eles se esquecem de quea vontade está debaixo da influência da razão e das emoções, e debaixo do controle da ser maisinterior do homem, que é seu coração ou natureza. E uma questão de necessidade de

imutabilidade,200 isto é, os atos do homem não podem ser diferente daquilo que ele é, porque eleestá condicionado por sua natureza pecaminosa.

A descrição da natureza corrupta do homem não é precisa no Arminianismo. Eles crêem,com a Escritura, que o homem está espiritualmente morto, mas o problema é saber o que elesentendem por "morte", porque eles asseveram que o homem é moralmente capaz de dar oprimeiro passo com relação a Deus (como fazem os Semi-Pelagianos) ou responder positivamenteà chamada do evangelho, tomando uma decisão a respeito de sua própria salvação, sem ter anecessidade de serem primeiro regenerados pelo Espírito Santo.

Se o homem fosse capaz, através de sua própria capacidade moral, de exercer um

 julgamento moral correto, por que desde a Queda temos a grande maioria dos homens nãoagindo de acordo com essa "capacidade"? Se o homem tem esta capacidade moral, por quemuitos deles não vêm a Cristo? Pensam eles que este assunto é apenas uma matéria de

198 Samuel Wakefield. A Complete System of Christian Theology , (Cincinnati: Walden and Stowe,1868), p. 317.

199 Wakifield, p. 320.200 Martinho Lutero havia feito a distinção entre Necessidade e Compulsão em sua disputa com

Erasmo: ―Por necessidade eu não quero dizer compulsão ; mas (como eles a denominam) a necessidade deimutabilidade”. The Bondage of the Will, (Grand Rapids: William Eerdmans Publishing Co., 1931), p. 72.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 146/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 147/222

  147

capacidade de distinguir corretamente entre o que é bom e o mal, o verdadeiro e o falso, Deus e asoutras deidades. A incapacidade moral causa no homem uma indisposição para com os padrõesde Deus para si próprio, mesmo embora ele seja capaz de admirar as qualidades boas em outroshomens.204 

A capacidade moral, por outro lado, "não é nada mais nada menos do que uma santanatureza com santas disposições; é a percepção da beleza de Deus e a resposta do coração à

excelência e glória de Deus."205 

Esta capacidade o homem perdeu com o pecado.Em que sentido é o homem natural moralmente incapaz? A resposta a esta pergunta émuito longa. O homem pode manifestar sua incapacidade de várias maneiras. A Escritura émuito clara e rica em textos sobre este assunto, e os Arminianos têm enormes dificuldades paraexplicá-los. Esta matéria é uma espécie de golpe mortal para a teologia Arminiana. Por estarazão, eles a odeiam, e acusam o Calvinismo de negar a responsabilidade humana.

Primeiro, vamos analisar aquilo que é relacionado com assuntos éticos:

1. O Homem é Incapaz de Sensibilidade Moral

Um dos resultados mais terríveis da queda é que o homem não é consciente do queaconteceu dentro do seu coração. Mesmo se alguém diz em detalhes o que aconteceu, o pecadornão tem sensibilidade para perceber os efeitos do pecado. Suas capacidades sensitivas estãoparalisadas neste sentido. Pink observa que

há uma diferença entre ser totalmente ignorante de nossa condição e serinsensível a ela. Os irregenerados podem adquirir um conhecimento teórico dadepravação total do homem, todavia, eles estão totalmente sem qualquersentimento dessa depravação neles próprios.206 

Ele não tem senso de pecado, nem sente o peso dele. Esta insensibilidade moral é comuma todos os homens naturais. Se não fosse assim, isto é, se todos os homens tivessem umaconsciência e sentissem dor por causa do fato deles estarem perdidos, e sujeitos à condenação,todos eles estariam em desespero, procurando por uma solução para seus problemas em Cristo.Mas eles não possuem esta sensibilidade moral. Não estão cônscios de sua depravação e estãosatisfeitos com a condição nas quais vivem, e eles não possuem nenhum interesse em ter uma

natureza diferente, diferentemente daqueles que São cristãos. Eles São capazes de admiraralgumas virtudes dos cristãos, mas curiosamente eles não as querem para si mesmos. Eles não

querem ser cristãos. Por essa razão, eu creio que eles gostam da condição em quevivem, porque ela se encaixa na disposições dos corações deles.

Se alguém diz que Jesus Cristo morreu sobre a cruz pelos pecados deles, isto não causanenhum impacto ou senso de culpa neles porque, de acordo com seus corações, o que aconteceuna cruz não tem nada a ver com eles. Eles não possuem qualquer espécie de sentimentosrelacionados aos padrões de Deus. Eles não se preocupam em obedecer às leis de Deus porqueeles servem de lei para si mesmos. Eles criam seu próprio estilo de vida.

A insensibilidade deles está ligada à dureza de seus próprios corações. Paulo diz que eles

vivem com seus corações endurecidos e que eles "se tornaram insensíveis" 207  a respeito deapresentarem qualquer espécie de pecado. A Escritura diz que eles possuem um "coração de

204 Um exemplo é Herodes, um homem sem capacidade moral que, contudo, admirava João Batista,por suas boas qualidades, personalidade e pregação (Mc 6.20).

205 Pink, p. 236.206 Pink, p. 168.207 Ef 4.19. O verbo grego para ―tornaram-se insensíveis‖ é a\phlghko/tej, apontando que os homens a

quem Paulo se refere, ―haviam cessado de preocupar-se‖, isto é, eles não possuíam qualquer sensibilidadepor coisas espirituais. A conseqüência é que eles acabaram se entregando à sensualidade cometeram todasorte de impureza. ―Quando as pessoas continuam em pecado e apartam-se da vida de Deus, eles se tornamapáticos e insensíveis a respeito de coisas morais e espirituais‖ (Charles Hodge. A Commentary on theEpistle to the Ephesians, (Nem York: Robert Carter and Brothers, 1856)), p. 254.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 148/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 149/222

  149

que eles estão seguindo. Esta conduta é chamada insensibilidade moral.

2. O Homem é Incapaz de Obediência Moral

Há muitas leis que qualquer ser humana, regenerado ou não, é capaz de cumprir,simplesmente pelo fato de que ele possui capacidade física e intelectual. A queda trouxe danosobre o corpo e a mente, mas todos os homens ainda podem fazer muitas coisas com eles. O

corpo e a alma foram seriamente afetados pela queda, mas há capacidades naturais que nãodesapareceram com ela. Elas foram meramente danificadas, mas não desapareceram. Elas sãocapacidades sem as quais o homem não podem ser o que São, nem podem viver sem elas nomundo. Eles possuem capacidade de obedecer as leis da vida natural, leis de companheirismo,leis do relacionamento horizontal.

Contudo, quando tratamos das leis verticais, das leis vinculadas ao relacionamento comDeus, o quadro muda de figura. Nesse sentido, nossos poderes intelectivo-espiritual foramprofunda e mortalmente feridos. Paulo diz que os homens estão "obscurecidos de entendimento,alheios à vida de Deus por causa da ignorância em que vivem, pela dureza dos seus corações" (Ef4.18).

Com seus entendimentos obscurecidos, eles não podem entender o significado real da leide Deus. O entendimento das coisas do Espírito Santo está além da capacidade e, portanto, elesnão podem obedecê-los. Eles não podem produzir obediência moral, a menos que o Espirito

Santo abra-lhes o próprio entendimento, a fim de que possam ser iluminados. É isto o que Paulodiz em Ef 1.17-18:

"...para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos concedao espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele, iluminados osolhos dos vosso coração, para saberdes qual é a esperança do seu chamamento,qual a riqueza da glória da sua herança nos santos..."

Segundo Pink,

Os poderes morais da alma humana estão paralisados pela queda. Escuridãosobre o entendimento, ignorância na mente, corrupção das afeições, devem denecessidade afetar radicalmente os motivos e a escolha. Insistir que a mente ou avontade tem um poder de agir contrariamente ao motivo, é um absurdo manifesto,porque no caso não seria uma ato moral, de forma alguma. A verdadeira essênciada moralidade é uma capacidade de ser influenciada pelas considerações sejamcorretas ou errôneas.213 

O homem reteve todas as coisas necessárias a fim de continua sendo um ser humano,isto é, sua racionalidade, responsabilidade e uma constituição moral. Mas ele perdeucompletamente o grande principio da santidade e da retidão moral. Ele perdeu sua justiçaoriginal, que o capacitaria a obedecer moralmente.

3. O Homem é Incapaz de Amar a Deus

Perdendo a capacidade de obedecer moralmente, o homem perdeu uma outra capacidade

importantíssima: Ele tornou-se incapaz de amar a Deus sobre todas as coisas, que o primeiro emaior mandamento. Esta é a mais importante lei moral que está afirmada na Escritura (Mt22.34-40). Mesmo embora ele seja capaz de mostrar afeição e amor por outros seres humanos,ele é incapaz de amar a Deus. O amor pelo Senhor, Criador e Redentor, é contrário à  suanatureza pecaminosa.

A falta de amor por Deus é uma inimizade contra Ele. Não existe qualquer intervalo entreamor e ódio. Amamos ou odiamos. E a Escritura diz que a propensão por coisas da carne éinimizade contra Deus.

213 Pink, p. 235.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 150/222

  150

Porque o pendor da carne dá para a morte, mas o do Espírito, para a vida epaz. Por isso o pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito ã leide Deus, nem mesmo pode estar (Rm 8.6-7).

Essas pessoas, com o pendor da carne, não possuem a habilidade para amar a Deus e à Sua Palavra, a menos que a Graça intervenha.

Diversas vezes Jesus disse que as pessoas O odiavam,214 mas certa vez Ele disse, comprofunda tristeza de alma: "Eles odiaram-me sem motivo" (Jo 15.25). Jesus não havia feito nadaerrado para receber esse ódio. A causa do ódio estava dentro do coração deles. Onde o ódio está,há a impossibilidade de haver amor. Ambas as coisas não podem coexistir. Este ódio foimanifesto na rejeição dele: "Mas os seus concidadãos O odiavam, e enviaram após ele umaembaixada, dizendo: Não queremos que este reino sobre nós" (Lc 19.14). Jesus contou estaparábola para ilustrar o ódio deles pelo grande Rei. Era um ódio voluntário, deliberado, que seevidenciava numa rejeição propositada. Eles perderam a capacidade de amor Aquele que tantoamou pecadores! Isto é incapacidade moral!

4. O Homem é Incapaz de Amar Aqueles que são de DeusSe isto parece um exagero, é necessário verificar esta verdade na Escritura e na própria

experiência humana. O homem natural tem a capacidade de amor outras pessoas simplesmenteporque elas são seres humanos. E uma espécie de senso de solidariedade humana aindapresente nas vidas dos homens, porque sem ela, seria impossível para as pessoas viverem juntas.Mas, se você quer ver a veracidade deste ponto, coloque um cristão genuíno no meio de homensnaturais. Estes são capazes de amar um ser humano, como já foi dito, mas incapazes de amaraquele ser humano porque ele é um cristão. Ele pode até possuir admiração pelas qualidades docristão, mas ele o odeia. Onde está a prova disso?

 Jesus disse-nos o que iria acontecer. Eis suas palavras em Jo 15.20-21:

Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: Não é o servo maior do que seusenhor. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros; seguardaram a minha palavra, também guardarão a vossa. Tudo isto, porém, vosfarão por causa do meu nome, porquanto não conhecem aquele que me enviou.215 

Por que os fariseus, que odiaram Cristo, perseguiram Pedro e João, colocando-os naprisão? Por que eles perseguiram Estevão até a morte? O ódio que eles tiveram para com aqueles

que eram filhos de Deus foi, em última instancia, um ódio contra Deus. Por essa razão Jesusdisse ao perseguidor dos cristãos: "Saulo, Saulo, por que me persegues?"(At 9.4). Se um homem natural não tem qualquer amor pelos cristãos, éporque eles odeiam ao Salvador deles. É impossível para o homem naturalamar aqueles que pertencem Aquele a quem odeiam. Pelo simples e

glorioso fato de que somos chamados filhos de Deus, o mundo "não nosconhece", e o mundo não nos conhece "porque não conheceu a Elemesmo".216 

Quando o homem natural, que não tem o amor pelo Senhor, está envolvido com os

214 Jo 15.18, 24.215 Veja também Mt 5.11-12; 10.22; 24.9; Mc 13.13; Lc 21.12, 17; Jo 15.18, 19; 17.14; 1 Jo 3.13.216 1 Jo 3.1  –  É justíssimo interpretar este verbo ―conhecer‖ hebraisticamente, significando uma

relação de intimidade, de preocupação especial, uma relação de amor.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 151/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 152/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 153/222

  153

"Mas, se o nosso evangelho ainda está encoberto, é para os que se perdem éque está encoberto, nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dosincrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, oqual é a imagem de Deus." (2 Co 4.3-4).

Esta é uma incapacidade natural. É  espantoso que alguns cristãos ainda digam que ohomem seja capaz de responder ao chamando de Deus no evangelho sem primeiro ser renovadopelo Espírito Santo!

6. O Homem é Incapaz de Vir a Cristo

Em pregação ouvimos freqüentemente que os pecadores não São somente convidados avir a Cristo, mas que eles têm a capacidade de vir. Conforme a antropologia Arminiana, a vontadehumana é capaz de dizer "sim" á chamada do evangelho. Como vimos antes, segundo a teologialibertária, a vontade do homem não é tão afetada pelo pecado que chegue a ser surda às verdades

espirituais ou que seja totalmente corrupta. A pregação da maioria dospregadores arminianos assevera que a palavra final em matéria desalvação pertence ao uso correto que o homem faz da sua vontade.

Mas Jesus, o Salvador, tem uma opinião totalmente diferente da condição do homem.Segundo Ele, o homem é totalmente incapaz de vir a Ele. Veja o Seu ensino a respeito desteterrível assunto: "Ninguém pode vir a Mim se o Pai que me enviou não o trouxer; e eu oressuscitarei no último dia" (Jo 6.44).

O homem é um escravo de sua própria natureza, e ele tem que ser liberto dela por umaobra sobrenatural. Até que esta obra aconteça em sua vida, ele continuará a ser um escravo do

pecado.219 Ele não pode vir a Jesus. Jesus deixou isto absolutamente claro, mas este ensinocausou problemas na mente de vários de seus discípulos. Provavelmente, como uma reaçãonatural de sua má formação teológica, eles desgostaram do ensino de Jesus a respeito daincapacidade natural do homem.

Após a repetição da idéia da incapacidade do homem de vir a Ele (em Jo 6.64-65), "muitosdos seus discípulos o abandonaram e já não andavam com ele" (6.66). Isto é o que os Arminianos

fazem. Quando a verdade a respeito a incapacidade do homem é ensinada, eles procuram umacongregação diferente onde podem partilhar sua própria teologia libertária. Eles abandonam olugar onde a verdade sobre o homem é ensinada. Esta é uma reação natural à verdade de Deus.

Por que o homem natural é incapaz de vir a Cristo? Porque ele não tine inclinação por Jesus e por Suas verdades. O ensino de Cristo lhe causa repugnância, porque "a alma do

perverso deseja o mal".220 Se isto é assim, como ele pode ter desejos de Cristo? Como ele pode vira Jesus sem possuir uma natureza disposta para isso?

De qualquer forma, é importante observar que há uma combinação perfeita das obras deDeus na economia da salvação. A obra de salvação está totalmente presa ao desempenho da

 Trindade Santa. O Filho disse: "Ninguém vem ao Pai senão por Mim" (Jo 14.6), e também disse"Ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou não o trouxer" (Jo 6.44). E o Espírito Santoaplica estas coisas a nós pessoalmente. Oh, que obra graciosa e gloriosa é apresentada em favorde homens caídos e impotentes!

Este é o único modo de vencer a impotência humana - a obra do gracioso Triúno Deus!Fora de sua obra, o homem será sempre corrupto, manifestando sua depravação e incapacidadeespiritual.

Por esta razão, na fé Reformada a concepção de salvação está ligada intimamente à doutrina do pecado do homem. Como foi dito antes, é impossível entender a assim chamada "tãogrande salvação" a menos que se entenda a doutrina da "tão grande perdição". O entendimento

219 Jo 8.32, 34, 36.220 Pv 21.10.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 154/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 155/222

  155

PARTE IV 

A CONDIÇÃO

DO HOMEM NOPLANO REDENTOR

DE DEUS 

(A DOUTRINA DO PACTO)

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 156/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 157/222

  157

o chama de "pacto eterno" (Hb 13.20).A eternidade desse pacto se evidencia nas providências salvadoras tomadas por Deus

antes da criação do mundo (Ef 1.4, 7-11; 3.8-11; 2 Tm 1.9; 1 Pe 1.19-20; Ap 13.8; 17.8).

2. Este Pacto foi feito entre o Pai e o FilhoQuando falamos desse pacto entre o Pai e o Filho, estamos falando da vontade do Pai e da

disposição do Filho em realizar todas as cousas propostas por Deus para a salvação do pecador.Não deve ser esquecido que a Trindade toda participa deste pacto, pois Is 48.16-17 dá a entenderque o Espirito Santo também é enviado do Pai para realizar a Sua vontade neste mundo,

 juntamente com o Filho. Contudo, é mais comum dos textos a idéia de um pacto onde o Filho e oPai são as partes contratantes mais expoentes. O próprio Jesus Cristo falou que o Pai entrou empacto com ele, embora as nossas traduções não deixem a idéia clara. Veja o texto de Lc 22.29"Assim como meu Pai me confiou um reino, eu vo-lo confio." No grego, contudo, a idéia édiferente. A palavra traduzida como "confiou e o verbo que significa "entrar num pacto". O verbogrego é diati/qemai de onde vem a palavra "pacto" –  diaqh/kh. Deus pactuou com Cristo para lhe darum reino, e nós somos parte desse reino, portanto, parte da herança que Deus deu a Cristo.

Deus, ante a incapacidade do homem de expiar os seus próprios pecados, fez um pactocom Cristo de salvar alguns membros da raça caída em Adão. O próprio Deus, na pessoa de SeuFilho, compromete-se a realizar e tornar eficaz esse pacto. O Filho seria o Mediador, a vítimaexpiatória, o resgate e o Salvador dos beneficiários históricos do pacto.

O Pai e o Filho tomam a decisão comum de salvar criaturas caídas. O Pai seria orepresentante da Trindade e o Filho o representante dos caídos, mas eleitos.

A Escritura mostra de maneira inequívoca que o Filho veio ao mundo para realizar umatarefa que o Pai lhe havia entregue, uma obra em favor dos homens, realizando a vontade de SeuPai.

Vejamos a análise de alguns textos:

Is 48.16-17 - "Chegai-vos a mim, ouvi isto: Não falei em segredo desde oprincípio; desde o tempo em que isto vem acontecendo tenho estado lá. Agora oSenhor Deus me enviou a mim e o seu Espírito. Assim diz o Senhor, o teu Redentor,o Santo de Israel: Eu sou o Senhor, o teu Deus, que te ensina o que é útil, e te guiapelo caminho em que deves andar."

Estas palavras são como que colocadas nos lábios de Cristo, como fizeram outrosescritores do VT. O Verbo é eterno. Num tempo quando ainda não havia tempo, a Trindadeentabulou um acordo. Desse acordo surgiu a decisão de enviar o Filho para a Redenção dopecador e o Espírito para aplicá-la. Por isso que é dito que «o Senhor Deus me enviou a mim e oseu Espírito." O Filho e o Espírito são enviados ao mundo para cumprir um propósito redentor daDivindade. O texto diz que essas pessoas são enviadas, o que indica um acordo prévio entre elas.

 Jo 5.30 –  ―Eu nada posso fazer de mim mesmo; na forma porque ouço, julgo. Omeu juízo é justo  porque não procuro a minha própria vontade, e, sim, a daqueleque me enviou.‖ 

É claro deste verso que Jesus veio ao mundo a mandado de Seu Pai, e para realizar avontade de Seu Pai. Voluntariamente Ele submeteu-se à vontade dAquele a quem Ele sempre foisubmisso como Filho. Mas essa submissão indica que Eles tiveram um acordo antes de haverhistória. Cristo foi enviado pelo Pai como produto de um pacto, como veremos adiante.

 JO 6.38-40 –  ―Porque eu desci do céu não para fazer a minha própria vontade;e, sim, a vontade daquele que me enviou. E a vontade daquele que me enviou éesta: Que nenhum eu perca de todos os que me deu; pelo contrário, eu oressuscitarei no último dia. De fato, a vontade de meu Pai é que todo homem que

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 158/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 159/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 160/222

  160

Ele necessitava para executar o Pacto da Redenção.(a) O Pai deveria dar ao Filho um corpo para começar a executar a sua obra redentiva (Lc

1.35; Hb 10.5).(b) O Pai daria ao Filho todo o amparo necessário para a realização da obra da redenção

(Is 49.8; 61.1) e o tornaria vitorioso sobre a morte (5116.8-10, cf At 2.25-28) e sobre o diabo (Hb2.14).

(c) O Pai daria ao Filho, como recompensa por Sua obra perfeita, o Espírito Santo que iriadar proteção ao corpo de Cristo, Sua Igreja (Jo 14.26; 15.26; 16.13-14; At 2.33).(d) O Pai daria ao Filho uma semente numerosa, como recompensa por Sua obra

cumprida. Essa semente é de uma multidão numerosa que ninguém pode contar. Virão pessoasde todas as terras, povos, línguas e nações (Si 22.27; 72.17; Ap 7.9-10; Mt 8.11).

(e) O Pai daria ao Filho toda a autoridade e poder nos céus e na terra para o governo domundo e de Sua igreja (Mt 28.18; Ef 1.20-22; Fp 2.9-11; Hb 2.9; JO 17.5).

6. Este Pacto foi feito em favor do Pecador EleitoEste pacto tem como objetivo a salvação dos caídos que foram entregues ao Filho. Não

havendo redenção, a escravidão haveria de continuar, e a sentença de morte seria posta em vigor.A cruz de Jesus é a vitória sobre o pecado, a redenção completa.

Por causa da cruz, os condenados saem livres (1 Co 6.20). Todos os substituídos por Jesus deixam de ser pessoalmente malditos de Deus (Gl 3.13), porque Cristo levou pessoalmentea maldição deles sobre Si.

O sangue de Jesus foi derramado para limpar os pecados dos filhos de Deus, as ovelhasde Deus, aqueles que o Pai tinha entregue a Cristo (Hb 2.12-14, 15-18; Jo 17.2,3,6,8,9,10; Jo10.11.14,15,16,27,28).

O PACTO DA GRAÇA REALIZADO NA HISTÓRIAO Pacto da redenção foi estabelecido na eternidade, mas tão logo houve queda, Deus já

começou a anunciar redenção que, tempos depois, foi sabida ser nascida numa relação pactualentre Deus e o homem, um anúncio histórico do que havia sido celebrado na eternidade entre oPai e o Filho.

Por várias vezes Deus anuncia seu pacto no decorrer da história. Deus sempre tomou ainiciativa do pacto e convidou o homem a entrar nesse pacto com Ele.

1. A Base para a Intervenção Graciosa de DeusEstá no anúncio da redenção prometido logo após a queda do Éden, em Gn 3.15. Se Deus

fosse apenas agir com justiça, Ele haveria de deixar o homem no estado de miséria e perdição,mas Ele dignou-se anunciar a redenção tão logo houve queda.

O anúncio da redenção deu-se no que chamamos de  proto-evangelho, conformeregistro de Gn 3.15. Ali o Redentor é anunciado de maneira inequívoca. O primeiro Adão não fezo que deveria fazer e lançou o homem na miséria. O segundo Adão agora é prometido, e Ele éanunciado para revelar o plano que Deus possuía de glorificar-Se a Si mesmo na redenção dospecadores. Estas palavras de Gênesis são o evangelho como revelado no Paraíso.

A base para o estabelecimento do pacto é o anúncio soberano de Deus que resolve intervir

no assunto da miséria humana. E Ele resolve fazer isso de uma maneira graciosa emisericordiosa.

Esta promessa de Gn 3.15 é uma promessa incondicional envolvendo a vitória daSemente da mulher sobre a semente 4.a serpente. E uma promessa que enfoca a constante luteentre as duas sementes, mas que afirma categoricamente a vitória da Vida sobre a morte. Deus,portanto, em graça anuncia a salvação incondicional daqueles que estão sob a proteção dasemente da mulher.

A promessa graciosa, portanto,. está presente em Gn 3.15, mas a apresentação pactualda graça vem posteriormente, mas o fundamento do pacto da graça está na soberania de Deus

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 161/222

  161

que anuncia a redenção logo imediatamente após a queda.

2. A Intervenção Divina é Soberana e IncondicionalDeus diz: "Eu porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu

descendente. Este te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar"(Gn 3.15).Este não é um simples anúncio de inimizade entre a serpente e a mulher, mas produto da

imposição divina sobre as criaturas caídas. A palavra hebraica para ―inimizade‖   (hfby")  –  ‗ebhah) só é aplicável a seres racionais, não a animais. É a inimizade entre seres morais que sãolivres agentes. Deus não instiga ou simplesmente promova a inimizade, mas decreta a existênciadela, fazendo com que os laços entre as duas sementes sejam quebrados.

Após a imposição da penalidade sobre a serpente e a mulher, Deus anuncia a vitória dasemente da mulher sobre a semente da serpente. E uma promessa divina que é impostasoberanamente, onde Deus resgata e traz o homem novamente em misericórdia e graça.

Esta promessa graciosa de Deus é incondicional. Deus simplesmente impõe todas ascondições para o cumprimento dessa promessa. Toda a história da redenção está amarrada aesta promessa e todos os eventos redentivos mostram como Deus interveio sobrenatural esoberanamente na vida dos homens.

Aliás, Deus quase que sempre interviu incondicionalmente em matéria pactual. Foi assimque Ele fez com Noé, Abraão, Jacó, Davi, etc.

AS PARTES CONTRATANTESNo aspecto eterno do pacto da graça o pacto é entre o Pai e o Filho, e na revelação histórica

dele, Deus entra em acordo com o pecador eleito em Cristo Jesus.Definição: ―O pacto da graça é um acordo entre Deus e o pecador eleito; de sua parte,

Deus declara sua livre boa-vontade a respeito da salvação eterna, e todas as cousas relativas aela, que livremente são dadas aos que estão no pacto através de Cristo, o Mediador; por sua vez,

o homem mostra sua boa-vontade através de uma fé sincera.‖226 

AS PROMESSAS DO PACTOAS CARACTERÍSTICAS DO PACTO

É um Pacto Gracioso

Com Origem TrinitáriaTem Conseqüências EternasDestinado a um Povo EspecialÉ o mesmo em Ambas as Dispensações 

O PAPEL DE CRISTO NA REALIZAÇÃO HISTÓRICA DO PACTO

ASPECTOS DO PACTORelação Legal

Relação de Comunhão de Vida

AS VÁRIAS DISPENSAÇÕES DO PACTO DA GRAÇA

226 Herman Witsius, The Economy of the Covenants between God and Man, vol. 1, 164.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 162/222

  162

1. PACTO DE DEUS COM NOÉ Textos para estudo - Gn 6.17-22; 8.20-22; 9.1-7; 9.8-17Partes Contratantes - Deus fez este pacto com um homem "justo" (Gn 6.9), Noé, e com os

seus descendentes (Gn 9.9) envolvendo todos os seres vivos sobre a terra, isto é, todos os seresdebaixo da jurisdição do homem (Gn 9.10, 12, 15, 16, 17).

Tipo - Um Pacto Incondicional, contendo uma promessa incondicional dizendo que aterra e os elementos vivos nunca mais haveriam de ser destruídos por catástrofe da natureza (Gn9.9-10). Este pacto contém um compromisso divino claro de executar suas promessas, sem quehouvesse qualquer envolvimento de obrigação da parte da criatura humana. O cumprimentodessas promessas independe da atitude dos homens para com Deus, mas somente do bomprazer de Deus de realizar os seus propósito de preservação da sua criação. Visto que este pactoabarca todas as criaturas vivas, tanto homens como animais, e estes últimos não possuemqualquer condição de obediência ou obrigação para com Deus, pois não são agentes racionais,Deus decidiu sozinho cumprir todas as obrigações que impôs sobre Si próprio, preservando aterra, nunca mais a destruindo com água.

A incondicionalidade deste pacto está evidente do fato de não haver nenhummandamento para que o homem obedeça para que as promessas de Deus sejam cumpridas. Nãonenhuma sugestão de que as bênçãos prometidas sejam canceladas pela infidelidade do homem.Não há como o homem possa quebrar esse pacto, pois ele é incondicional em suas promessas.

A incondicionalidade desse pacto está no fato dele ser um pacto eminentementemonergistico. O selo mostrado no céu, o arco, é uma atestação de que Deus estabelece todas asregras e Ele mesmo as cumpre. Somente Deus tem o controle sobre os elementos da natureza.Não há nada que o homem possa fazer para evitar uma catástrofe. Somente Deus podeestabelecer todas as promessas porque só Ele tem as condições de cumpri-las.

Um Pacto Eterno - O pacto é eterno no sentido popular do termo, que tem duração semfim. Ela continua através de todas as gerações subsequentes. O texto de Gn 9.9 diz que o pactoseria com Noé e com a sua descendência após ele, "para gerações perpétuas" (9.12). e Gn 9.16acrescenta: "O arco estará nas nuvens; vê-lo-ei e me lembrarei da aliança eterna entre Deus etodos os seres viventes de toda carne que há sobre a terra." A perpetuidade ou eternidade destepacto existe em razão do fato de Deus ter estabelecido o pacto, de seu aspecto monergistico eunilateral. Porque tudo está nas mãos de Deus o pacto é eterno. A eternidade dele tem a vertambém com a incondicionalidade dele.

Um Pacto Amoroso - Este pacto revela a preocupação amorosa de Deus com apreservação da Sua criação. Enquanto o mundo enfrenta o justo juízo de Deus, aqueles em quemDeus pôs coração recebem o carinho especial de Deus, a promessa de um novo começo, umestabelecimento novo de todas as coisas. Em Gn 3.15 Deus havia dito que da semente da mulherhaveria de nascer Aquele que esmagaria a cabeça da serpente. Foi através da preservação da raçano pacto com Noé que aquela promessa foi possível. A destruição da descendência da serpente,isto é, a humanidade apóstata, foi concomitante com a salvação de uma família e da preservaçãodos representantes de cada espécie de animal, para o beneficio da própria nova humanidade quehaveria de surgir da família de Noé. Deus castigou a sua criação, mas não a destruiu porcompleto. Deixou semente para um novo começo. A continuação da sua criação está no fato deque a terra emerge novamente das águas do dilúvio, enquanto que a arca leva consigo a salvo araça humana representativa e a representação da vida animal. Não foi uma aniquilação da raça,mas uma continuação, um novo começo. Observe-se também que a semente do pecado não foiextirpada. A arca também carregou consigo filhos de Noé que vieram a se rebelar com Deusposteriormente, na sua descendência. Cada pacto estabelecido por Deus é o estabelecimento deum novo começo de Deus, para a limpeza da raça. Até que Deus complete a salvação do pecador,o elemento de pecado sempre estará presente no meio da raça preservada por Deus.

A característica de um novo começo deste pacto fica evidenciada nos seguintes fatos:

a) Ordenanças com respeito á Propagação da Vida.Visto que a raça humana havia sido reduzida à família de Noé, então podemos ouvir uma

repetição de algumas ordenanças originais da criação (veja-se Gn 9.1,7 cf Gn 1.28).

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 163/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 164/222

  164

Neste pacto Deus resolve preservar o homem e as espécies (Gn 6.18-20) para estabelecer

um novo começo. Por esta razão, Noé e sua família são exortados a fazer o mesmo que foiordenado aos nossos primeiros pais e às espécies: "Abençoou Deus a Noé e a seus filhos, e lhesdisse: Sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra" (Gn 9.1,7).

Aquilo que foi prometido a Adão no Éden, isto é, a capacidade de dominar sobre osanimais (Gn 1.28), tem o paralelo no Pacto com Noé. Robertson diz que

"o juízo de Deus sobre o pecado trouxe uma desarmonia no papel dedominador do homem sobre a criação. Como uma conseqüência, e temor e o terrordo homem desapareceu dos animais, dos pássaros e dos peixes da criação (Gn9.2). O domínio do homem será exercido em um contexto anatural de terror emedo".229 

Mas ainda assim o homem continuaria a ter o domínio sobre os animais, não somenteporque isto é parte da imagem de Deus nele, mas como produto também de uma relação pactual.

Se, por um lado, o pacto com Noé estabelece a ligação com o pacto da criação, por outro,ele também nos conecta aos pactos redentivos subsequentes, quando nos aponta para alibertação que Deus nos dá da morte e da destruição. A redenção para a qual este pacto aponta é

muito mais ampla do que simplesmente a salvação da alma do pecador. Ele aponta para aredenção do cosmos, o que inclue o homem.O pacto com Noé é uma antecipação da redenção futura e final do povo de Deus. O profeta

Oséias, quando fala da redenção final do povo, usa praticamente as mesmas idéias contidasbasicamente no pacto de Deus com Noé (cf Os 2.18 com Gn 6.20; 8.17; 9.9,10).

O pacto com Noé, portanto, é o elo de ligação entre a criação caída e o indício da criaçãoredimida.

As Promessas do Pacto com Noéa) A promessa de não mais amaldiçoar a terra por causa do homem (Gn 8.21; 9.11).Após o dilúvio Noé prestou culto a Deus com oferta de sacrifícios e Deus, como parte de

sua promessa pactual, decide não mais amaldiçoar a natureza por causa do homem (Gn8.20-21). Ele já havia amaldiçoado a terra duas vezes: a primeira no Éden, após a queda, e agora

com a destruição da natureza pelo dilúvio.b) A promessa da preservação da regularidade das estações (Gn 8.22).Há um paralelo desta promessa em Jr 33.20-25. Gerhardus Vos sugere que seja possível

que haja "mais do que uma introdução comparativa à idéia de berith; uma referência real aoepisódio do tempo de Noé é pretendida aqui."230 Outro paralelo está em Is 54.9-10. Vos observaainda que

"o pacto com Noé permanece em sua infalibilidade como um tipo de umaperpetuidade ainda maior da promessa do juramento de redenção feito por Deus.A promessa a Noé tem seu limite na crise escatológica que trará o céu e a terra aum fim, mas embora naquela catástrofe final as montanhas fujam e os montessejam removidos, todavia ainda assim a amabilidade de Deus nunca se apartaria

de Israel, nem o pacto da sua paz seria removido."231 

A cessação das estações só acontecerá com a catástrofe final narrada em 2 Pe 3.10, ondetodos os elementos serão destruídos, mas enquanto esta terra durar, isto é, enquanto ela estivernas condições em que está agora, as estações continuarão, como produto da fidelidade de Deuspara com Sua promessa.

229 Robertson, p. 110.230 Vos, Biblical Tehology, p. 66.231 Vos, p. 66.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 165/222

  165

c) A promessa de Salvação de Noé e de sua Família (2 Pe 2.5).Essa salvação da família de Noé é típica da salvação da destruição do povo de Deus 1 Pe

3.20-21). No meio da escuridão e corrupção dos homens, Deus resolveu mostrar sua graça a umhomem e sua família. A Escritura diz que Noé "achou graça diante do Senhor" (Gn 6.8). O fato deNoé ser um homem "justo e íntegro entre os seus contemporâneos‖ (v.9) é produto da graça deDeus sobre ele. Se ele não houvesse sido agraciado por Deus, por certo, estaria nos mesmos

níveis de corrupção que seus contemporâneos. Se ele "andava com Deus" (v.9), diferentementedos outros homens do seu tempo, é porque ele "encontrou graça da parte de Deus". Não há outraexplicação para tal comportamento. Deus interviu graciosamente com Noé e sua família. Quandotodos os homens encontraram o juízo de Deus por causa de seus pecados (v.5-7), Noé encontrouo favor do Senhor. Não há base para se dizer que o pacto de Deus com Noé foi por causa da justiçade Noé, mas produto unicamente da bondade de Deus.

As Características do Pacto com Noé (ver Palmer Robertson p.1 10-ss)

2. PACTO DE DEUS COM ABRAÃO Textos para estudo - Gn 15.9-21; 17

Partes ContratantesDeus fez este pacto com um homem "justo", porque a Escritura diz que "Abrão creu em

Deus e isto lhe foi imputado como justiça" (Gn 15.6), e também com a sua descendência (v.18). Todavia, a menção direta de um pacto é feita em Gn 17.1-8. Foi um pacto concebido,

nascido, determinado, estabelecido, confirmado e dispensado pelo próprio Deus, como todos osoutros pactos. A Abraão coube a tarefa de ser obediente em todas as cousas.

Um Pacto IncondicionalEste pacto mostra uma unilateridade incrível, pois Deus simplesmente chama Abraão e

lhe dá um ordem para sair da terra e ir para uma outra terra, e cumprir todas as suas promessasnele. Deus não sugere que se Abrão obedecesse, Deus cumpriria tudo o que havia prometido,sem qualquer condição preenchida da parte de Abraão (Gn 17.1-8).

Um Pacto AmorosoUm Pacto Eterno

A Eternidade do Pacto Afirmada

O capítulo 17 de Gênesis fala da eternidade desse pacto. Deus não nenhuma dúvida com

respeito à duração desse pacto. Ele repete várias vezes a mesma expressão no capítulo 17  –  ―Aliança Perpétua": 

- quando fala do pacto em si mesmo, ele diz: "Estabelecerei a minha aliança entre mim e

ti e a tua descendência no decurso das suas gerações, aliança perpétua..." (Gn 17.7);- quando fala da posse da terra, Deus diz: "Dar-te-ei e à tua descendência a terra das tuas

peregrinações, toda a terra de Canaã, em possessão perpétua..." (Gn 17.8);

- quando fala da circuncisão, que é o selo do pacto, Deus diz: "Com efeito, serácircuncidado o nascido em tua casa, e o comprado por teu dinheiro; a minha aliança estará na

vossa carne e será aliança perpétua" (Gn 17.13);

- quando fala da descendência prometida a Abraão, Deus diz: "De fato, Sara, tua mulher, te dará

um filho, e lhe chamarás Isaque; estabelecerei com ele a minha aliança, aliança perpétuapara a sua descendência" (Gn 17.19).

A idéia de "eternidade" ou "perpetuidade" deste pacto não significa apenas um longotempo. A idéia da eternidade deste pacto significa que ele nunca mais será desfeito. A eternidade

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 166/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 167/222

  167

Abraão ali habitasse (Gn 15.18-21).Abraão propriamente dito não se apossou daquela terra, pois por causa da fome ali

reinante, desceu para o Egito para ali se abastecer (Gn 12.10). E curioso que o texto de At 7afirma que Abraão mesmo não tomou posse de nenhum pé da terra que o Senhor haviaprometido (At 7.5).

Observe-se que mais tarde, quando voltou do Egito, depois da contenda com Ló, o Senhor

lhe relembra a promessa daquele grande pedaço de terra (Gn 13.14-15).Observe-se que a promessa da terra é parte do pacto (Gn 15.18).2.0 Filho Prometido - Deus havia prometido fazer dele uma grande nação (Gn 12.2), e sem

ter filho algum Deus lhe promete uma descendência extremamente numerosa (Gn 13.16; 15.1-5).As preocupações humanas da esterilidade fizeram com que Sara humilhasse a escrava

Hagar (Gn 16.1-6). Abraão queria ver a sua descendência. Nasce Ismael (16.16-16), mas Deusmostrou a Abraão que a sua descendência viria de Sara, mesmo Abraão tendo 100 anos e Sara 90(Gn 17.1, 17), e que Isaque seria o filho da promessa (cf 17.2, 4, 7-8, 19-21).

3. A Bênção Prometida para todas as Famílias da Terra - Esta promessa encontra-se emGn 12.2b-3 -

Esta promessa fala-nos alguma coisa da universalidade das bênçãos de Deus. Todasas famílias da terra haveriam de ser abençoadas em Abraão. Deus havia escolhido uma famíliaque haveria de ser o canal de bênçãos para todas as famílias da terra. Gerhaardus Vos diz que "a

eleição de Abraão, assim como o desenvolvimento posterior da coisas de Israel, foi significandoum meio particularista para um fim universalístico".232 

O eco desta promessa é repetido várias vezes a Abraão (Gn 15.18; 17.8; 18.17-19;22.15-18) relembrada a Isaque (26.2-5) e a Jacó (28.10-15). O eco forte desta promessa atravessao VT e chega ao NT (At 3.25-26; Gl 3.8-9).

É importante observar que estas três promessas: terra, descendência e bênção sobre todaa terra, estão intimamente ligadas, e têm seu foco principal em Cristo, e são o instrumento paraque a promessa mãe de Gn 3.15 seja plenamente cumprida.

Promessas EspecíficasAté esse ponto de Gn 12 não há ainda o que formalmente chamamos "pacto". Somente

mais tarde, com o surgimento de algumas incertezas da parte de Abraão, é que Deus confirmouas promessas com um juramento. A palavra "pacto" aparece pela primeira vez com Abraão em

15.18.As três promessas, que chamo de promessas específicas do pacto da graça, estão

claramente colocadas por Deus ao povo de Israel, mas que têm o seu gérmen nas promessasfeitas a Abraão, muitos anos antes.

Lv 26.12: ―Andarei entre vós, e serei o vosso Deus, e vós sereis o meu povo.‖  

a) Promessa de Deus estar presente no meio do povo

Lv 26.12 –  ―Eu andarei no meio de vós‖ 

É uma promessa de restauração

Não podemos nos esquecer de que, quando Deus criou Adão, Ele andava com o homem no jardim, fazendo-lhe companhia (Gn 3.8) Havia perfeita comunhão entre o Criador e a criatura.Eles andavam juntos porque Deus estava presente no jardim. Quando o pacto das obras foiquebrado no jardim do Éden, o homem ficou privado da companhia divina. Adão foi expulso da

232 Ver Vos pp. 89-92.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 168/222

  168

presença de Deus, perdendo todos os privilégios da sua companhia.O pacto da graça, formalizado historicamente com Abraão, traz de volta essa promessa de

o povo ter novamente a presença de Deus no meio dele. Deus traz de volta a sua presença perdidano Éden por causa do pecado. O pacto da graça feito com Abraão é uma iniciativa unicamentedivina, que inclui a retirada da barreira que separava Deus do homem.

É uma promessa de comunhão―Eu andarei no meio de vós‖ - E altamente consoladora essa promessa, porque devolve ao

homem parcialmente a sua condição original de gozo da presença de Deus. A comunhão comDeus sempre foi o anelo do seu povo. Davi expressa essa sede e a necessidade dela dizendo:"Quem mais tenho eu no céu Não há outro em quem eu me compraz na terra. Ainda que a minhacarne e o meu coração desfalecem, Deus é a fortaleza do meu coração e a minha herança parasempre" (Sl 73.25-26). E esse o tipo de anelo que todos temos na alma: a sede da comunhãoplenamente restaurada com Deus.

Deus promete ao seu povo essa bênção maravilhosa e a cumpre plenamente no período doNT. Por essa razão, João nos diz que «a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho JesusCristo" (1 Jo 1.3b). A comunhão perdida no Éden é restaurada através da vida e obra de JesusCristo em favor do povo de Deus.

b) Promessa de Yehovah ser o Deus da Descendência de Abraão

Lv 26.12 - "Eu serei o vosso Deus..."

Essa promessa ao povo de Israel no deserto é um eco da promessa de Deus feita a Abraão,séculos antes:

Em Gn 17.7-8 - "Estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tuadescendência no decurso das suas gerações, aliança perpétua,  para ser o teuDeus, e da tua descendência. Dar-te-ei e à tua descendência, a terra das tuasperegrinações, toda a terra de Canaã, em possessão perpétua, e serei o seu Deus."

Deus faz uma promessa de natureza espiritual bastante especifica: Deus promete serpara sempre o Deus de Abraão e da descendência dele.

c) Promessa de a Descendência de Abraão ser Povo de Yehovah

Lv 26.12 - "...E vós sereis o meu povo."

Deus não somente prometeu que seria o Deus da descendência de Abraão, mas quetambém a sua descendência seria povo dEle. Em outras palavras, Deus está dizendo: ―Vocês sãomeus‖. O povo no meio do qual Yehovah anda, e de quem é o único Deus, é também propriedadedo Senhor. Moisés disse ao povo no meio do deserto:

Dt 14.1a - "Filhos, vós sois do Senhor vosso Deus". Isto significa que eles não mais

pertenciam a si mesmos, e que não poderiam fazer nada de acordo com as suas próprias idéias,mas sempre presos agora às ordenanças do Senhor. Eles não mais eram donos de si mesmos,entregues às suas próprias paixões, como os outros eram, mas eles deveriam seguir os preceitosdAquele a quem pertenciam.

Deus lhes deu as proibições para fazer as cousas que os outros povos faziam. Agora osisraelitas eram de Deus, e teriam que cumprir somente as cousas próprias dAquele que os haviachamado. O povo do pacto, que tinha a comunhão com Yehovah, não poderia quebrar osmandamentos já previamente estabelecidos.

Dt 14.2 diz: "Porque sois povo santo ao Senhor vosso Deus, e o Senhor vos

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 169/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 170/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 171/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 172/222

  172

deles"(Ex 2.25-26).Assim, a libertação do povo de Israel do Egito tem a ver com as bênçãos prometidas a

Abraão.Ler S1105.8-12, 42-45; 106.1-5, 43-48

Não podemos isolar o pacto sinaítico do pacto abraâmico, porque haveríamos de fazer

uma injustiça com a Escritura.

O Pacto Sinaítico é um Pacto da Graça

Ele é um pacto gracioso e espiritual antes que uma formulação legal, onde se ganha aredenção por meio da obediência à lei. Embora haja aspectos legais e cerimoniais que sãoestabelecidos pelo próprio Deus para uma nação, todavia, essas prescrições legais e cerimoniaissão indicativas de uma realidade superior futura. Não há nenhuma diferença essencial entre opacto da graça debaixo da administração abraâmica e a mosaica.

A promessa principal encontrada no pacto abraâmico é exatamente a mesma encontradano Sinaítico: ―Tomar-vos-ei por meu povo, e serei vosso Deus; e sabereis que eu sou o Senhorvosso Deus, que vos tiro de debaixo das cargas do Egito‖ (Ex 6.7). Observe a identidade do pactoda graça com Abraão com o Sinaítico, no texto seguinte: Dt 29.12-13 - "...para que entres naaliança do Senhor teu Deus, e no seu juramento que hoje o Senhor teu Deus faz contigo; para que

hoje te estabeleça por seu povo, e ele te seja por Deus, como te tem prometido, como jurou a teuspais, Abraão, Isaque e Jacó."

A promessa principal feita a Abraão nunca foi anulada pelo estabelecimento do pactoSinaítico. Ao contrário, ela foi confirmada, como demonstra Paulo: Gl 3.17-18 –  ―E digo isto: umaaliança anteriormente confirmada, a lei, que veio quatrocentos e trinta anos depois, não a podeab-rogar, de forma que venha a desfazer a promessa. Porque se a herança provem de lei, já nãodecorre da promessa; mas foi pela promessa que Deus a concedeu gratuitamente a Abraão". Apromessa feita a Abraão é reafirmada em cada uma das dispensações do pacto da graça. Alémdisso, temos que observar que a ênfase que é dada no pacto sinaítico é a de que ele é espiritual,embora não exclua as bênçãos materiais, que são indicativas de cousas superiores. As bênçãosmateriais são, em si mesmas, sinais do Deus gracioso que se une pactualmente a Israel. Todavia,o cumprimento da lei mosaica é, em si mesmo, puramente espiritual, porque ela se resume noamor a Deus sobre todas as cousas e ao próximo como a si mesmo (Dt 6.4-8; Lv 19.18 cf. Mt

22.37-39).A gratuidade do pacto sinaítico fica evidente do fato de Deus institui-lo, iniciá-lo,

estabelecê-lo, confirmá-lo e cumpri-lo soberanamente. John Murray chama isto de "umaadministração monergistica da graça‖.233 

É um pacto gracioso porque ele é administrado e selado com sangue (Ex 24.6-8) que étípico do sangue de Cristo, que é chamado de sangue do pacto (Mt 26.26).

O Pacto Sinaítico é um Pacto Nacional

Ele foi estabelecido com a nação de Israel quando ela estava no Sinai, após ter sidolibertada do Egito, onde permanecera por cerca de quatrocentos anos. Esse pacto foi renovadoalgumas vezes com a nação durante os tempos de peregrinação no deserto:

1) O Pacto foi renovado após o grave pecado da adoração do bezerro de ouro.A idolatria com Arão mostra que o povo não havia respondido positivamente ao pacto feito

com o povo. Do povo Deus disse a Moisés: Ex 32.7-8 - "porque o teu povo, que fizeste sair doEgito, se corrompeu, e depressa se desviou do caminho que lhes havia eu ordenado; fizeram parasi um bezerro fundido, e o adoram, e lhe sacrificam, e dizem: São estes, ó Israel, os teus deuses,que te tiraram da terra do Egito.‖ Percebendo a ira iminente de Deus, Moisés intercede pelo povo,lembrando ao Senhor o pacto feito no passado: Ex 32.13 - "Lembra-te de Abraão, de Isaque e deIsrael, teus servos, aos quais por ti mesmo tens jurado, e lhes disseste:

Multiplicarei a vossa descendência como as estrelas do céu, e toda esta terra de que tenho

233 The Covenant of Grace, p. 21.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 173/222

  173

falado, dá-la-ei à vossa descendência, para que a possuam por herança eternamente." Deus,então, em misericórdia, renova o pacto ali com Moisés, após dar as Tábuas a Lei novamente (Ex32.14; 34.10).

2) O Pacto foi renovado com a geração seguinte, que havia nascido no deserto, nasplanícies de Moab.

Dt 29.1 - "São estas as palavras da aliança que o Senhor ordenou a Moisés fizesse com os

filhos de Israel na terra de Moabe, além da aliança que fizera com ele em Horebe."Nessa renovação do pacto condicional foi reafirmada novamente a necessidade deobediência da parte do povo, para que participasse do pacto e dos benefícios das promessas dele(Dt 29.9-29).

3) O Pacto foi relembrado por Deus a Josué, na posse da terra, quando Deus ordenou queos dois sacramentos do pacto da graça fossem administrados.

 Josué circuncida a segunda geração dos filhos de Israel que não haviam sidocircuncidados no deserto Js 5.1-8).

 Josué celebra a páscoa com a segunda geração pela primeira vez desde que entraram naterra (Js 5.10-12). É curioso observar que a administração da circuncisão foi pré-requisito para aadministração da páscoa (Ex 12.43-49).

4) O Pacto foi lembrado outra vez antes da morte de Josué (Js 23.6-16), na região deSiquém.

Antes um pouco de morrer, Josué reúne o povo e lhes relembra o Pacto de Deus comAbraão, Isaque e Jacó, e o pacto com Moisés (Js 24.2-7). Então apela para a renovação que elepróprio faz do pacto (v. 14-15), provocando a resposta do povo em disposição de obediência (v.17-24). E o texto continua, no v.25 - "Assim, naquele dia fez Josué aliança com o povo, e lha pôspor estatuto e direito em Siquém," estabelecendo, em seguida um documento formal deobediência aos estatutos do Senhor (v.26-27).

5) O Pacto é violado durante o período dos JuizesDeus nunca havia invalidado a sua aliança com o seu povo (Jz 2.1), mas continuava a

pedir a fidelidade do povo (Jz 2.2). Após a morte de Josué e de todos os de sua geração (que foramfiéis ao pacto Jz 2.8-10), levantou-se uma outra geração que não guardou a aliança, tornando-seidólatra (Jz 2.10-13). Deus levantou-lhes juizes, mas eles não os obedeceram (v. 16). A despeitodessa desobediência, o Senhor era gracioso com eles, compadecendo-se deles (v. 18), mas tãologo o Senhor os livrava dos inimigos, eles voltavam-se para a idolatria novamente. Nesseperíodo, por causa da sua promessa de castigo pela violação do pacto, Deus entregou-os nasmãos de povos que acabaram habitando na terra que Deus prometera dar somente a eles(v.19-23). O período dos juizes, portanto, foi um tempo de desordem e de falta de real autoridade.O próprio livro termina, dizendo: "Naqueles dias não havia rei em Israel; cada um fazia o queachava mais reto"(Jz 21.25).

4. O PACTO DE DEUS COM OS LEVITAS

Partes Contratantes - Finéias e os seus descendentes de linhagem levítica (Lv 25.12).

Tipo - Um Pacto Incondicional

A promessa do sacerdócio é uma promessa divina incondicional de manter a família deFinéias na linhagem sacerdotal. É uma promessa implícita com juramento de que, em Israel,nunca haveria de faltar um sacerdócio fiel.

Estabelecimento do PactoEste pacto tem sido um dos mais negligenciados dentro da teologia Reformada. A própria

Escritura fala relativamente pouco dele, embora haja algumas referências diretas e outrasindiretas a ele. É até surpreendente que a Carta aos Hebreus, que trata do sacerdócio, não omencione, nem o compare ao sacerdócio de Cristo ou de Melquisedeque.

A maior referência deste pacto está registrada em Nm 25.1-31, que analiso rapidamente:

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 174/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 175/222

  175

5. PACTO DE DEUS COM DAVIPartes Contratantes - Deus estabeleceu este pacto com o fiel rei Davi após a sua devoção

a Deus como rei de Israel e como o vassalo ungido (2 Sm 7.5-16; 51 89.1-3)

Estabelecimento do PactoDavi já havia trazido a Arca da Aliança de volta para o tabernáculo em Jerusalém (l Cr15.25-29). Então, segue-se o estabelecimento do pacto.

2 Sm 7.12-16  –   ―Quando teus dias te cumprirem, e descansares com teuspais, então farei levantar depois de ti o teu descendente, que procederá de ti, eestabelecerei o teu reino. Este edificará uma casa ao meu nome, e eu estabelecereipara sempre o trono do seu reino. Eu lhe serei por pai, e ele me será por filho; sevier a transgredir, castigá-lo-ei com varas de homens, e com açoites de filhos dehomens. Mas a minha misericórdia se não apartará dele, como a retirei de Saul, aquem tirei de diante de ti. Porém a tua casa e o teu reino serão firmados parasempre diante de ti; teu trono será estabelecido para sempre." (cf l Cr 17.11-14)

O Salmo 89, na sua totalidade, lembra de maneira inequívoca o pacto de Deus feito comDavi.O cumprimento do pacto com Davi foi cumprido com o levantamento do reino de Salomão

(l Rs 8.20, 23-26), a quem Davi ordena obediência às palavras do Senhor (2 Rs 2.1-4). Deusreconfirma com Salomão o pacto feito com Davi (l Rs 9.5)

 Tipo - Um Pacto Incondicional - Esse pacto é ratificado ou confirmado por Davi.Simplesmente Deus estabelece soberanamente o pacto. John Murray diz que o pacto ―é uma

dispensação soberana, divino em sua origem, estabelecimento, confirmação e cumprimento".235 Após fazer uma análise dos dados da Escritura sobre esse pacto, Murray conclui:

―Um estudo destas passagens mostrará que o aspecto mais marcante é asegurança, a determinação e a imutabilidade da promessa divina.. .A certeza documprimento surge da promessa e do juramento de Deus... Nenhum exemplo de

pacto do VI' dá um apoio mais claro à tese de que um pacto é promessa soberana,uma promessa solenizada pela santidade de um juramento, imutável em suasegurança e divinamente confirmado no que respeita à certeza de seu

cumprimento."236 

Nesse pacto, Deus faz uma promessa incondicional de estabelecer e manter a dinastiadavídica no trono de Israel. Em Israel nunca haveria de faltar um rei que ocupasse o lugar deDavi.

Semelhantemente ao pacto abraâmico, Deus fez exigências que deveriam ser obedecidaspelos descendentes de Davi (l Rs 9.4-9). A responsabilidade pactual não está ausente. Davi viveuem fidelidade pactual, como o próprio Deus declara. Não aconteceu o mesmo com Salomão e como restante da descendência de Davi.

Esse pacto divinamente estabelecido é incondicional. Contudo, para que houvesseapropriação pessoal das promessas dele, as pessoas tinham que obedecer as suas prescrições,que eram as mesmas relacionadas aos pactos anteriores. Muitos dos descendentes de Davi nãoobedeceram as prescrições divinas, e perderam o reino, mas nunca faltou alguém que seassentasse no lugar de Davi. Não obstante os pecados de Davi e dos seus filhos, o pactopermaneceria (l Rs 11.1-3,9-13; 2 Cr 21.7). Deus enviou os castigos aos descendentes infiéis deDavi, como Deus justo que é. Contudo, os pecados dos homens não haveriam de anular o pacto

235 The Covenant of Grace, 22.236 The Covenant of Grace, 23.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 176/222

  176

de Deus, que é absolutamente incondicional.

Sl 89.30-36 –  ―Se os seus filhos desprezarem a minha lei, e não andarem nosmeus juízos, se violarem os meus preceitos, e não guardarem os meusmandamentos, então punirei com vara as suas transgressões, e com açoites a suainiquidade. Mas jamais retirarei dele a minha bondade, nem desmentirei a minha

 fidelidade. Não violarei a minha aliança, nem modificarei o que os meus lábios proferiram. Uma vez jurei por minha santidade (e serei eu falso a Davi?): a suaposteridade durará para sempre, e o seu trono como o sol perante mim.

O Salmo 132 também é um eco do pacto feito com Davi, onde Deus prometeincondicionalmente se interpôs com juramento para abençoar a sua casa e erigir o seu trono.

Aspectos do Pacto Davídico

1. É uma Continuação do Pacto da Graça

Este pacto é uma continuação do pacto da graça, que começou a ser anunciado comAbraão, continuou com Moisés no Sinai, e continua através de todo o VT, chegando ao tempo deDavi. Há algumas indicações de que o pacto é o mesmo:

A despeito da desobediência de muitos reis, sucessores de Davi, Deus não destruiu o povopor causa da sua promessa feita a Abraão, Isaque e Jacó (2 Rs 13.22-23);

As tábuas da Aliança às quais Salomão se refere, são as mesmas que Deus deu a Moisés(l Rs 8.21). As prescrições de Deus para todas as dispensações velho-testamentárias do pacto sãoas mesmas.

A promessa de ser o Deus do povo é a mesma ( ).Contudo, com Davi o pacto tem um aspecto novo, que é a promessa da Realeza do

Redentor do pacto. Davi faz menção dessa aliança num salmo que esta- registrado em l Cr16.14-22.

2. E um Pacto Eterno

Um pacto pode ser incondicional e não ser eterno. Mas com Davi Deus prometeu algo quedurará para sempre. Antes de morrer> Davi falou palavras que evidenciam a eternidade do pactoque Deus havia feito consigo: 2 Sm 23.5 - "Pois estabeleceu comigo uma aliança eterna, em tudobem definida e segura.‖ 

Sl 89.28-29 - "Conservar-lhe-ei para sempre a minha graça e firme com a minha aliança.Farei durar para sempre a sua descendência, e o seu trono como os dias do céu.‖ 

O texto de Lc 1.32-33, já mencionado acima, mostra claramente a eternidade do pactodavídico.

A inviolabilidade e a eternidade do pacto davídico é enfatizada pela indicação de que ele étão certo quanto é certo o pacto que Deus fez com Noé do dia com a noite.

 Jr 33.20-26 –  ―Assim diz o Senhor: Se puderdes invalidar a minha aliança como dia e a minha aliança com a noite, de tal modo que não haja nem dia nem noitea seu tempo, poder-se-á também invalidar a minha aliança com Davi, meu servo,para que não tenha filho que reine no seu trono.. .v.25 - Assim diz o Senhor: Se aminha aliança com o dia e com a noite não permanecer, e eu não mantiver as leisfixas dos céus e da terra, também rejeitarei a descendência de Jacó, e de Davi,meu servo, de modo que não tome de sua descendência quem domine sobre adescendência de Abraão, Isaque e Jacó; porque lhes restaurarei a sorte e deles meapiedarei."

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 177/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 178/222

  178

6. O NOVO PACTO Texto para estudo - Jr 31-31-33; 32.38-40; Hb 8.

PARTES CONTRATANTESUm pacto feito entre Deus e o Israel rebelde, a quem Ele chama de "casa de Israel e casa

de Judá" (Hb 8.8).237 

O ESTABELECIMENTO DO NOVO PACTO Jr 31.31 - "Eis aí vêm dias, diz o Senhor, e firmarei nova aliança com a casa de Israel e

com a casa de Judá"Ez 16.60-63 -Ez 37.26 - "Farei com ele aliança de paz; será uma aliança perpétua. Estabelecê-los-ei e

os multiplicarei, e porei o meu santuário no meio deles para sempre."

TIPO - UM PACTO INCONDICIONAL

É uma promessa incondicional feita a um Israel rebelde que consiste no perdão de seuspecados e na re-estabelecimento da comunhão de Israel com Deus numa nova base, onde Deus

haveria de inscrever nos corações deles a Sua lei - um pacto de pura graça,mediante a vinda do Renovo.

A incondicionalidade do pacto está patente no modo como Deus o estabelece. Ele diz: ―Eufirmarei um pacto.. ."(Hb 8.10). Nessa maneira de falar, Deus expressa a Sua soberania deautoridade, de poder, de veracidade e, ao mesmo tempo de Sua graça. Ele é a causa única e oautor único do novo pacto.

O TEMPO DO CUMPRIMENTO DO NOVO PACTO

 Jr 31.31; Hb 8.8  –  ―Eis aí vem dias... 

 Jr 31.33 –  ―...depois daqueles dias...." Há algumas idéias na tentativa de explicar o significado das palavras "depois daquelesdias".

1) Uns pensam que a expressão «depois daqueles dias" se refira ao tempo imediato aoCativeiro da Babilônia, referindo-se especificamente à volta dos cativos para a terra, porque umadas promessas tinha a ver com a volta do povo à terra de Israel e a reconstrução da cidade (Jr31.38-40).

Contudo, essa idéia não pode ser aceita porque os Israelitas voltaram do cativeiro,construíram os muros e a cidade, mas o pacto não foi feito naqueles dias. Após a volta docativeiro, eles não foram os donos e os governadores da terra. Outros povos dominaram sobreeles, até o estabelecimento do novo pacto, séculos mais tarde.

2. Outros pensam que a expressão «aqueles dias" se refere à completação dos dias darevelação velho-testamentária, ou da dispensação da Velha Aliança, que haveria de vigorar até o

advento do Messias. O escritor aos Hebreus chamaria "aqueles dias" de «o tempo oportuno dareforma" (Hb 9.~10), o tempo quando as cousas novas haveriam de aparecer.Certamente, Jeremias está tratando de dias específicos, limitados e futuros, mas ainda

indeterminados. Jeremias não sabia precisamente de que tempos estava falando. Todavia, paranós, hoje, não é dificil precisar que dias seriam aqueles, pois temos a história da redenção diantede nós de uma maneira patente.

237 Essa divisão da posteridade de Abraão deu-se somente nos dias do rei Roboão. Antes dessadivisão, essa posteridade era chamada simplesmente de ―casa de Israel‖. É por essa razão que, na maioriados casos aparece unicamente a expressão ―casa de Israel‖ (Hb 8.10). 

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 179/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 180/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 181/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 182/222

  182

que não podiam fazer nada em favor daqueles por quem intercediam, mas o Sacerdócio do NovoPacto era poderoso para salvar os pecadores (Hb 7.25).

O sacerdócio do antigo pacto era composto de pecadores que tinham que oferecersacrifícios por si mesmos, enquanto que o sacerdote do Novo Pacto era sem mácula, separado dospecadores (Hb 7.26-27).

O sacerdócio levítico era imperfeito (Hb 7.11); o sacerdócio segundo a ordem de

Melquisedeque, que é Cristo, é perfeito (Hb 7.28).Os sacerdócio levítico era constituído sem juramento (Hb 7.20), enquanto que o Sacerdotedo novo pacto foi constituído por Deus com juramento (Hb 7.21). Por essa razão, ele permaneceupara sempre.

b) Superioridade quanto aos Sacrifícios

Os sacerdotes do pacto sinaítico ofereciam um cordeiro macho, sem defeito (ou sangue debodes e touros) que era ineficaz. O Sacerdote do Novo pacto oferecia um Cordeiro perfeito, semmácula, separado dos pecadores, de superioridade inquestionável.

Os sacerdotes do pacto sinaítico ofereciam sacrifícios que eram repetidos todos os dias,devido à imperfeição deles. Os sacrifícios do antigo pacto eram apenas simbólicos e indicativos dosacrifício perfeito, que foi oferecido uma vez para sempre (Hb 7.27; 9.24-26).

Os sacrifícios da primeira aliança (a sinaítica) possuía os rituais do culto sagrado (Hb9.1-6) que eram ineficazes para aperfeiçoar aqueles que prestavam culto (Hb 9.9), enquanto queo único sacrifício da nova aliança tornava santificados os adoradores (Hb 2.11; 9.11-14; 10.14).

Os sacerdotes da antiga aliança ofereciam sacrifícios que eram fora deles mesmos,alguma coisa que eles possuíam, enquanto que o Sacerdote da nova aliança oferece-se a Simesmo pelos pecados do povo.

c) Superioridade quanto ao Lugar dos Sacrifícios

Os sacerdotes do velho pacto assentavam-se no tabernáculo terreno, construído porhomens, enquanto que o Sumo-Sacerdote do novo pacto adentrou um santo dos santosdiferente, superior. "Ele assentou à destra do trono da Majestade nos céus, como ministro dosantuário e do verdadeiro tabernáculo que o Senhor erigiu, não o homem" (Hb 8.1-2).

Hb 9.24 - "Porque Cristo não entrou em santuário feito por mãos, figura do verdadeiro,porém no mesmo céu, para comparecer, agora, por nós, diante de Deus."

c) Superioridade quanto à Administração da Lei:

A velha aliança era caracterizada pela doação da lei objetivamente aos filhos de Israel; anova aliança tem a mesma lei, mas ela é tornada interior, gravada no coração.

d) Superioridade quanto às Promessas

O escritor aos Hebreus deixa bem claro que as promessas do novo pacto são bemsuperiores às do pacto sinaítico:

Hb 8.6 - "Agora, com efeito, obteve Jesus ministério tanto mais excelente,quando é ele também mediador de superior aliança instituída com base emsuperiores promessas."

As promessas do pacto sinaítico apenas apontava para cousas futuras que eramsuperiores em conteúdo.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 183/222

  183

e) Superioridade quanto ao conceito de Redenção

 —  A redenção conseguida no pacto sinaítico era apenas terrena, do jugo do domínio doEgito; a redenção conseguida pelo novo pacto é redenção do pecado.

 —   A redenção conseguida no pacto sinaítico era temporal, enquanto que a redençãoobtida no novo pacto é eterna

Hb 9.11-12 –  ―Quando, porém, veio Cristo como sumo sacerdote dos bens járealizados, mediante o maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, querdizer, não desta criação, não por meio de sangue de bodes e de bezerros, mas peloseu próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtidoeterna redenção."

 —  A redenção do sangue da velha aliança purificava as cousas físicas da carne, ou cousasterrenas, enquanto que a redenção do novo pacto purificava interiormente, a consciência.

Hb 9.13-14 ―Portanto, se o sangue de bodes e de touros, e a cinza de umanovilha, aspergida sobre os contaminados, os santifica, quanto à  purificação dacarne, muito mais o sangue de Cristo que, pelo Espírito eterno, a si mesmo seofereceu sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência de obras mortas para

servirmos ao Deus vivo!

PROMESSAS DO NOVO PACTO

1. A Promessa da doação de um novo coraçãoEssa promessa não entra explicitamente no novo pacto, mas é fácil perceber pelo contexto

de Jeremias e Ezequiel que ela é parte integrante desse pacto gracioso.

Ez 36.25-27a - "Então aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados;de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei.Dar-vos-ei coração novo, e porei dentro em vós espírito novo; tirarei de vós o coraçãode pedra e vos darei coração de carne. Porei dentro de vós o meu Espírito..." (cf Ez

11.19)

Esta não é a primeira promessa do novo pacto, mas é a mais importante, porque sem ela,as outras promessas de aplicação pessoal da redenção não podem ser cumpridas.

Do novo pacto faz parte a promessa da renovação do coração, que é a mesma coisa que aimplantação da vida, ou regeneração. E uma promessa de dar um coração «de carne", isto é,sensível em contraposição ao coração endurecido, «de pedra".

O coração de pedra, isto é, endurecido, é o lugar de toda a corrupção. Os filhos do povo deDeus recebem um coração sensível, agora pronto para receber a lei de Deus dentro dele. Então, aalienação de Deus é retirada, e os filhos do povo de Deus passam a ter santas disposições paracom a lei de Deus.

2. A Promessa da Interiorização da lei de DeusEssa promessa é a conseqüência natural da primeira. Somente um coração renovado pelo

Espírito pode ter dentro de si as leis de Deus inscritas. A lei de Deus tem que ser interiorizada nocoração, porque ali é a sede de todos nos nossos pecados e precisa ser limpa pela Palavra deDeus.

 Jr 31.33 - "Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depoisdaqueles dias, diz o Senhor. Na mente lhes imprimirei as minhas leis, também nocoração lhas inscreverei...”  

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 184/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 185/222

  185

3. A Promessa de um Conhecimento Pessoal do Senhor

 Jr 31.34 - "Não ensinará jamais cada um ao seu próximo, nem cada um ao seuirmão, dizendo: Conhece ao Senhor,  porque todos me conhecerão, desde o menoraté ao maior deles, diz o Senhor.‖ 

Essa promessa é exatamente decorrente da segunda, porque não pode haver nenhumconhecimento de Deus, a menos que Deus tome a iniciativa de interiorizar as Suas leis nasmentes e nos corações dos homens.

O conhecimento de Deus foi algo que Deus sempre quis que o seu povo tivesse de Si.Desde o começo das suas alianças Deus prometeu que o povo o conheceria. Ele deu-se aconhecer através das suas leis escritas, no pacto sinaítico, mas eles não conheceram o Senhor.Ele queria que as suas leis estivessem dentro dos corações dos homens. Por essa razão, Ele deucertas prescrições estabelecidas muito claramente (Dt 6.5-9). Mas o conhecimento de Deus nocoração dependia do estudo, de colocar na mente pelo constante contato com as leis. O homemnão deu conta de internalizar as leis de Deus, pois a internalização dependia do esforço pessoal.A impotência do homem para essas coisas sempre foi algo tristemente notável. Que fez> então,Deus? Deus prometeu que Ele mesmo haveria de tornar essas leis interiorizadas, fazendo comque Ele fosse realmente conhecido> dando-lhes um coração novo. Observe a Sua promessa: Jr

24.7 - "Dar-lhes-ei coração novo para que me conheçam, que eu sou o Senhor; eles serão o meupovo, e eu serei o seu Deus; porque se voltarão para mim de todo o seu coração.>' Com a doaçãode um novo coração, então, o homem pode chegar a um verdadeiro conhecimento de seu Deus.

Essa promessa é gloriosamente linda, porque ela é cumprida em Cristo Jesus e tornadaeficaz pelo Espírito Santo (Jo 17.3). O real conhecimento de Deus é o alvo de todos os filhos dopovo de Deus! Conhecer Deus é ter a comunhão imperdível com Ele! É bom ser observado que aspessoas destituídas desse conhecimento salvador de Deus estão fora do novo pacto.

Essa promessa do conhecimento do Senhor tem algumas características:

a) É uma promessa de caráter pessoal

É importante reconhecer que esse conhecimento do Senhor é uma promessa de caráterpessoal. Não somente os filhos do pacto haveriam de conhecer as leis do Senhor no coração,como também conheceriam ao Senhor pessoalmente. O texto diz que “cada um" conhecerá aoSenhor.

b) É uma promessa de caráter universal

O texto diz que ―todos me conhecerão". Por universal entenda-se pessoas de todas aspartes do mundo, desde os pequenos até os maiores. Não deve entender-se esta expressão comoindicativo de universalismo salvador. Na palavra ―todos‖ estão incluídos os parentes, vizinhos, etodos os outros que vierem a fazer parte do pacto, onde estiverem.

c) É uma promessa de caráter nivelador

―porque todos me conhecerão, desde o menor até o maior".A expressão 'desde o menor até o maior' é um provérbio conhecido naquela época (cf. Jr

6.13; 8.10; 42.1; 44.12 e Jn 3.5). Contudo, esta expressão não significa literalmente crianças eadultos (embora a idéia esteja incluída), mas especificamente gentes de todas as classes. Nãohaverá diferença de classes nesse tipo de conhecimento. Tanto os pequenos quanto os grandesvirão a conhecer ao Senhor. Todas as classes de pessoas, quer sejam importantes ou semimportância; bajulados pelos homens ou não, sejam os ricos ou os párias da sociedade. Por suapromessa pactual, Deus se dará a conhecer a todas as classes de pessoas. As pessoas serãoabençoadas pelo conhecimento de Deus, não por causa das suas categorias, mas a despeito

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 186/222

  186

delas. Como as outras, esta também é uma promessa da graça!

d) É uma promessa de caráter eficaz

―porque todos me conhecerão...”  A promessa gloriosa é que todos os do seu povo conhecerão ao Senhor. Não é um

conhecimento de informação que uma lei escrita dá, quando estudada. Não é o conhecimentopelo acúmulo de informação, mas um conhecimento experimental! Todos os do seu povo, desde omenor ao maior, desde o mais imaturo ao mais maduro, haverão de ter, na completação de todasas cousas, um conhecimento adequado de Deus, isto é, um conhecimento que reflita a realidade.Esse conhecimento não virá necessariamente pelo ensino dos mestres da igreja (que não devemnunca ser descartados), mas pela obra do Senhor dentro do coração deles, aplicando-lhes a leianteriormente escrita na pedra, colocando-a nos seus corações. A eficácia do conhecimento doSenhor não vem pelo ensino dos homens, mas pela obra interior de Deus no coração dos homens,que é parte da promessa desse novo pacto.

Esse conhecimento é eficaz porque é conhecimento salvador de Deus. Ele não vem peloensino, mas pelo próprio Senhor. E um conhecimento experimental de Deus, onde não somentesomos confrontados com as verdades de Deus, mas com a própria pessoa de Deus.

Depois que o Espírito de Deus habilita o seu povo com a internalização das leis, então,

eles podem vir a conhecer quem realmente o Senhor ~! O conhecimento do Senhor é umacombinação do estudo da sua revelação com a capacidade preveniente que o Senhor dá pelo doardo novo coração e com a interiorização da sua palavra. Não há modo de se conhecer ao Senhor,sem que estas coisas estejam juntas.

e) É uma promessa de cumprimento pleno no futuro

O cumprimento pleno desta promessa só se dará na ordem eterna das cousas, pois nessaépoca não mais necessitaremos de mestres deste mundo. E também uma promessa decumprimento pleno no futuro, pois o tempo verbal é futuro. Por isso, o texto diz que «nãoensinará jamais cada um o seu próximo, porque todos me conhecerão..." Quando toda a redençãodo novo pacto se completar, todos haverão de ter conhecido plenamente o Senhor. E por causadisso que o profeta diz que naquela época o conhecimento de Deus na terra será pleno porque,

então, a terra «estará cheia do conhecimento do Senhor" (Is 11.9),' exatamente no tempo em queo Senhor reinará em plenitude sobre o Seu povo. Este será o tempo dos ―novos céus e da novaterra‖. 

4. A Promessa de Ser o Deus do Povo e deles serem Povo de Deus 

 Jr 31.33 –  ―Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel:...eu sereio seu Deus e eles serão o meu povo”. 

Essa promessa está anunciada por quase todos os escritores que tratam do pacto,incluindo especialmente Jeremias e Ezequiel (cf. Ez 11.20; Ez 37.26-27; Hb 8.10).

Esta é a promessa do pacto da graça que atravessa toda a Escritura. Ela foi

primeiramente feita a Abraão e, então, passa praticamente por todos os pactos, e culmina nonovo pacto.É verdade que Yahvéh é Deus do mundo inteiro, porque Deus criou a todos e a todos

sustenta, mas Ele é Deus de maneira especial e relacional somente dos que estão incluídos nopacto da graça. Como conseqüência de Yehovah ser o Deus deles, eles passam a ser um povopeculiar de Deus, como nenhum povo veio a ser.

"Eu serei o seu Deus"

 —   Quando Deus, em pacto, prometeu que seria o Deus do seu povo, Ele estava

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 187/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 188/222

  188

o pacto sinaítico, que é aliança que Deus havia feito nos dias da mocidade do povo, ainda nodeserto. Eles transgrediram a aliança feita no passado. Deus, então, olhando para o pactopassado, diz de um pacto eterno que haveria de estabelecer com o povo. Seria uma aliançaestabelecida em dias ainda distantes, mas na história da sua revelação, quando a plenitude dostempos chegasse.

Depois, então, fala sobre os acontecimentos futuros de arrependimento do seu povo,

como produto dessa nova pacto, dizendo:Ez 16.61-63  –   ―Então te lembrarás dos teus  caminhos, e te envergonharás

quando receberes as tuas irmãs, assim as mais velhas como as mais novas, e tasdarei por filhas, mas não pela tua aliança. Estabelecerei a minha aliança contigo, esaberás que eu sou o Senhor; para que te lembres, e te envergonhes, e nunca maisfale a tua boca soberbamente, por causa do teu opróbrio, quando eu te houver perdoado tudo quanto fizeste, diz o Senhor Deus.‖ 

O perdão de Deus é algo que vem tendo como base o novo pacto do qual Jesus é o fiador.Se uma pessoa não tem o perdão de Deus, certamente ela não faz parte do pacto.

Por causa da impotência do seu povo em obedecer todas as prescrições da Lei, Deusenviou o seu Filho para morrer pelos pecados do povo, a fim de que o seu povo recebesse o seu

perdão. Embora Deus sempre tenha perdoado o seu povo, a base desse perdão está em JesusCristo, que pagou pelas penas. Por causa do pagamento de Jesus, Deus não impõe nenhumapena sobre nós, cancelando a nossa divida. Isso é perdão!

Ezequiel ainda pinta em cores vividas o perdão que aconteceria quando o novo pacto fosseestabelecido plenamente. Intimamente associada com a obra interior do espírito, dando um novocoração, está a promessa do perdão dos pecados:

Ez 36.31 - «Então vos lembrareis dos vossos maus caminhos, e dos vossosfeitos, que não foram bons; tereis nojo de vós mesmos por causa das vossasiniqüidades e das vossas abominações."

Esta é a primeira cousa que acontece depois que Deus bota um novo coração em nós:temos a convicção de nossa imundície. O segundo passo é o perdão de Deus do qual tomamos

posse, que evidencia-se na limpeza de nosso coração:

Ez 37.33 –  ―Assim diz o Senhor Deus: no dia em que eu vos purificar de todasas vossas iniqüidades, então farei que sejam habitadas as cidades e sejamedificados os lugares desertos."

6. A Promessa deles terem o Temor de Deus no Coração Jr 32.39-40 - "Dar-lhes-ei um só coração e um só caminho, para que me temam todos os

dias, para seu bem e bem de seus filhos. Farei com eles aliança eterna... e porei o meu temor nocoração deles..."

Por causa do novo coração que Deus coloca nos filhos do Seu povo, eles também recebema capacidade de temer ao Senhor. E exatamente isto que Deus requer de todos aqueles com quementra em pacto. Deus requer deles a reverência devida à Sua majestade, o respeito à Sua

santidade, honra à Sua autoridade, e a glória devida ao Seu nome.A beleza da graça divina é que Ele nunca exige dos filhos do Seu povo aquilo que Ele

mesmo não providencie. Os homens, por si próprios, nunca haveriam de ter o tipo de temor queDeus requer deles. Então, ao mesmo tempo Ele exige esse temor, Ele próprio toma providênciaspara que isso seja possível. Deus prometeu primeiro um coração novo e, em seguida, eleprometeu aquilo que sempre requereu de Seus filhos: «eu porei o meu temor no coração deles".Os nossos mestres podem ensinar sobre o temor de Deus, mas eles não são capazes de fazer comque temamos a Deus. Matthew Henry disse que ―os mestres podem colocar boas cousas emnossas mentes, mas somente Deus pode fazer descê-las aos nossos corações, sendo Aquele que

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 189/222

  189

pode operar em nós ambos, o querer e o realizar.‖239 Pensando nessa maravilhosa graça é que Davi suplicou ao Senhor para que o seu coração

temesse somente o nome do Senhor (Sl 86.11). Davi queria ter o coração voltado somente para oSenhor, mas essa promessa não havia ainda sido explicitada pelo Senhor, pois os tempos de

 Jeremias foram bem posteriores. Contudo, como um homem ―segundo o coração de Deus‖ queera, Davi entendeu que esse temor somente ao nome do Senhor seria uma obra exclusiva do

Senhor. Nunca ele partiria do coração humano, sem que a Graça operasse. Por essa razão, eleorou: ―Dispõe-me o coração para temer somente o teu nome‖. Essas santas disposições que Deus coloca em nossos corações, são maravilhas da Sua

graça!

7. A Promessa de Bênçãos Contínuas

 Jr 32.40-42 –  ―Farei com eles aliança eterna, segundo a qual não deixarei delhes fazer o bem, Alegrar-me-ei por causa deles, e lhes farei bem . Porque assim dizo Senhor: assim como fiz vir sobre este povo todo este grande mal, assim lhes trareitodo o bem que lhes estou prometendo.‖ 

Por causa da fidelidade às suas promessas pactuais, Deus nunca dá Suas bênçãos pelas

metades. Ele sempre vai até o fim na concessão de Suas graças. A quem Deus ama, Ele ama atéo fim.Deus promete-lhes fazer o bem continuamente porque Deus regozija-se neles> porque

eles lhe são caros. Deus se alegra em fazer lhes o bem. Por essa razão, Deus entrou em pacto comeles de lhes fazer o bem. Deus se afeiçoou ao Seu povo, não por causa do que eles faziam, maspara que eles viessem a fazer alguma cousa boa posteriormente. Por causa da Sua afeição a eles,Deus reluta repreendê-los, mas tem enorme prazer em recebê-los de volta. Estas coisas sãoexpressas pelo profeta Isaías. Temporariamente Deus pode relutantemente disciplinar o seu povodeixando-o à mercê de problemas, mas é somente por um momento do seu desprazer com nossospecados, mas as Suas bondades não param nunca de vir sobre nós. Através de Isaías Deusexpressou essa verdade, da seguinte forma:

Is 54.7-8 - "Por breve momento te deixei, mas com grandes misericórdias

torno a acolher-te; num ímpeto de indignação escondi de ti a minha face por ummomento; mas com misericórdia eterna me compadeço de ti, diz o Senhor, o teuRedentor."

 Todos os filhos de Deus têm sido objeto dessa bondade continuada de Deus, bondade quenão tem fim. Deus nunca deixou de fazer o bem ao seu povo em virtude do pacto. Rendamosgraças a Deus porque Ele tem sido fiel também a essa promessa.

8. A Promessa da Perseverança deles no Senhor

 Jr 32.40  –  ―Farei com eles aliança eterna... e porei o meu temor no coraçãodeles para que nunca se apartem de mim.”  

Deus coloca o Seu temor no coração dos filhos do Seu povo para uma finalidadeespecífica: "Para que nunca se apartem de mim". Deus não somente começa a boa neles, mas fazcom que eles andem em novidade de vida até o final. Nunca os filhos do povo de Deus haverão deabandonar ao Senhor. Eles haverão de perseverar até o fim. Nesse sentido o pacto é também deduração perpétua.

A promessa de que eles nunca haveriam de se apartar do Senhor também é obra dabondade graciosa de Deus. Nunca os filhos de Deus abandonam o Senhor porque o Senhor

239 Na Exp[osition of the New Testament, vol. V (London: James Nisbet and Co., 1856), 616.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 190/222

  190

nunca os abandona. O profeta Isaías deixa este ensino bem claro:

Is 54.10 –  ―Porque os montes se retirarão, e os outeiros serão removidos; masa minha misericórdia não se apartará de ti, e a aliança da minha paz não seráremovida, diz o Senhor, que se compadece de ti.‖ 

Em outras palavras, o profeta está dizendo que todas as cousas pode mudar, mesmo afisionomia da terra, mas não o propósito de Deus de permanecer com o seu povo. Deus haverásempre de estar unido ao Seu povo. Faz parte do pacto de Deus conosco nunca se apartar de nós.O reflexo dessa bondade irretirável é a nossa permanência nEle. Por essa razão, nunca os Seus seapartam de Si. Esta resposta do homem de perseverar no Senhor também é uma promessa deDeus no novo pacto.

Não temos motivo qualquer para desconfiar da fidelidade de Deus em não se apartar doSeu povo, mas temos todas as razões possíveis para duvidar da nossa permanência nEle. Somosfracos e inconstantes, mas é uma promessa dEle que Ele próprio realiza em nós, a de quehaveremos de sempre permanecer firmes nEle, nunca nos apartando dEle. A nossa perseverançanEle está embasada na perseverança dEle em permanecer em nós, causando a resposta positiva

para com Ele. Isso é graça abundante. Por isso o pacto é chamado ―novo‖, em contrastecom o antigo" que era ineficaz porque a lei de Deus não podia serinteriorizada. Somente com a interiorização da lei é que podemos ficarfirmes no Senhor, obedecendo-Lhe os preceitos. Não há forma de nãoapartar-se do Senhor sem que a Sua Palavra esteja em nosso coração!

9. A Promessa de terem para sempre o Tabernáculo do Senhor

Ez 37.26-27  –   ―Farei com eles aliança de paz; será aliança perpétua.Estabelecê-los-ei, e os multiplicarei, e  porei o meu santuário no meio deles parasempre. O meu tabernáculo estará com eles; eu serei o seu Deus e eles serão o meupovo.‖ 

Esta promessa do novo pacto nunca deve ser entendida literalmente, como se referindo àreconstrução do templo de Jerusalém, ensinada pelos dispensacionalistas. A própria Escriturainterpreta-se a si mesma. Esta promessa está relacionada à nova terra, quando a presença deDeus estará para sempre conosco, e nós seremos o tabernáculo dele. Contudo, ele já começou aerigir o seu tabernáculo, que é a Igreja, e nele já está habitando. A sua forma final, entretanto, sedará no estabelecimento de todas as cousas novas, como declara Jesus Cristo a João em Ap 21.3- "Então ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deushabitará com eles. Eles serão povos de Deus e Deus mesmo estará com eles." Perceba que apromessa de ser o Deus do povo está contida tanto em Ezequiel como no Apocalipse, dentro docontexto geral do pacto da graça e no contexto específico do novo pacto.

10. A Promessa de prover o grande Pastor para o seu povo

Ez 34.23,25 - "Suscitarei para elas um só pastor, e ele as apascentará; o meuservo Davi é que as apascentará; ele lhes servirá de pastor... Farei com elas aliançade paz, e acabarei com as bestas-feras da terra; seguras habitarão no deserto, edormirão nos bosques."

Ez 37.24 - "O meu servo Davi reinará sobre eles; todos eles terão um só pastor,andarão nos meus juízos, guardarão os meus estatutos e os observarão.

Hb 13.20 - "Ora, o Deus da paz, que tornou a trazer dentre os mortos a Jesusnosso Senhor, o grande Pastor das ovelhas, pelo sangue da eterna aliança."

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 191/222

  191

Há algumas verdades que podem ser arrancadas destes dois versos:

a) Cristo é o Pastor Prometido

Obviamente, a referência a Davi diz respeito a Jesus Cristo, mesmo porque Davi viveraséculos atrás. Ele é prometido no VI, sendo objeto de fé e de esperança da igreja em todas as

épocas.

b) Cristo é o Grande Pastor

Ele é o grande pastor em vários sentidos:(a) Ele é grande em sua Pessoa, porque Ele é o eterno Filho de Deus. Ele teve poder sobre

a própria morte, vencendo-a;(b) Ele é grande no seu Poder Ele é capaz de pastorear muitas ovelhas de uma só vez. Ele

preserva uma multidão inumerável de ovelhas espalhadas ao redor do mundo inteiro, livrando-asdos lobos vorazes e das bestas-feras da terra;

(c) Ele é grande na sua Tarefa. Ele tem que alimentar, instruir e proteger todas as suasovelhas;

(d) Ele é grande na Sua Glória. Ele é um pastor exaltado que está acima de todas ascousas criadas.

c) Cristo é o Único Pastor

 Jo 10.16 -

d) Cristo é o Pastor das Ovelhas

Ele foi prometido no VT para ser o pastor do seu próprio rebanho. Is 40.11 - "Como pastorapascentará o seu rebanho; entre os seus braços recolherá os cordeirinhos, e os levará no seio; asque amamentam, ele guiará mansamente." No NT, Ele próprio confirmou esta verdade do VT. Eleé pastor das "suas próprias ovelhas" (Jo 10).

e) Cristo tornou-se Pastor Pelo Sangue do Pacto

Cristo, como o grande pastor das ovelhas, foi trazido ao estado de morte pela sentença

 judicial de Deus, porque ele tornou-se o representante dos pecadores pelos quais morreu, quehaviam violado a santa lei. A lei exigia que alguém pague a penalidade dos pecados. Jesus Cristoassumiu voluntariamente a tarefa de morrer pelas Suas ovelhas. Aí é que Ele tornou-se pastordelas. É por isso que o sangue de Jesus é chamado de o "sangue da eterna aliança".

A Escritura afirma de maneira categórica que Cristo, o bom pastor, "dá a sua vida pelasovelhas" (Jo 10.11, 14-15). É um pastor que ao mesmo tempo se sacrifica por Suas ovelhas erecebe seu pastorado em virtude do sacrifício feito. O escritor aos Hebreus diz que Jesus Cristo ―éo grande pastor das ovelhas pelo sangue da eterna aliança ‖ (13.20).

f) Cristo é o Pastor que venceu a morte

O texto de Hb 13.20 diz que o ―grande Pastor das ovelhas‖ foi trazido da morte. Ao mesmotempo em que é dito que Jesus Cristo foi ressuscitado por Deus, é dito pelo próprio Jesus que Elemesmo, por seu próprio poder, haveria de ressuscitar dentre os mortos (Jo 10.17-18).

ASPECTOS DO NOVO PACTO1. É uma Continuação do Pacto da Graça

 Jr 32.38-40 -As promessas feitas a Abraão são relembradas no Novo Pacto, porque este é uma

continuação daquele. Na verdade, este pacto é o aspecto final daquele.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 192/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 193/222

  193

Qual era o conteúdo desse evangelho. Exatamente a promessa do pacto abraâmico. Todasas famílias da terra seriam abençoadas com o crente Abrão. Isto significa que a boa-nova desalvação haveria de atingir todas as terras, e não ficar somente nos limites de Israel.

 Jesus Cristo, de uma maneira indireta, falando da revelação da sua vontade, disse arespeito de Abraão: "Vosso pai Abraão alegrou-se por ver o meu dia, viu-o e regozijou-se" (Jo8.56). Pela fé Abraão contemplou o seu descendente e alegrou-se nele. Deus deu de uma forma

concreta promessas ao povo do VT que são as mesmas promessas de redenção que temos noperíodo do NT.

3. O Modo da Recepção da Salvação é a mesma nos dois Testamentos Todas as promessas feitas por Deus têm que ser recebidas pela fé. Foi assim nos dois

testamentos. Abraão creu em Deus, e se apossou daquilo que podia ser apossado na época.Rm 4.2-5 –  ―Porque se Abraão foi justificado por obras, tem de que se gloriar, porém não

diante de Deus. Pois, que diz a Escritura? „Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça‟ . Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado como favor, e, sim, como dívida. Mas aoque não trabalha, porém crê naquele que justifica ao ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça.‖ 

Abraão apossou-se das bênçãos salvadoras do mesmo modo que hoje nós nos apossamos- pela fé.

Gl 3.8  –   ―Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios,

preanunciou o evangelho a Abraão… para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios, em Jesus Cristo, a fim de que recebêssemos pela fé o Espírito prometido.‖ Como recebemos Cristo pela fé e também o seu Espírito, assim acontecia nos tempos do

VT. A fé sempre foi o meio que Deus estabeleceu para que nos apossássemos de Suas bênçãossalvadoras. Como o pacto é o mesmo em ambos os testamentos, o modo de recepção da salvaçãonão poderia ser diferente.

Abraão é considerado o ―Pai dos Crentes‖ (Rm 4.16). A lei, que veio 430 anos depois dapromessa feita a Abraão não pode cancelar as promessas que lhe foram feitas, pois elas são parteintegrante e imutável do pacto da graça (Hb 6.13-18).

Como no tempo de Abraão, o homem ainda continua a ser justificado pela fé. Os cristãosde hoje são chamados "filhos e herdeiros de Abraão", porque a mesma promessa feita a Abraão é

para nós outros hoje (Gl 3.29).

4. O Mediador do Pacto é o mesmo em ambos os Testamentos

5. As promessas do Pacto são as mesmas em ambos os Testamentos

a) A Promessa á Descendência de Abraão ser Povo de Deus no VT e NT

Em Lv 26.12 Deus promete que o povo de Israel seria o seu povo. Será que essa promessaé válida para nós hoje, os que vivemos após a revelação neo-testamentária? A resposta é positiva.Quem a coloca em termos absolutamente claros é Pedro, aquele mesmo discípulo que possuíaanteriormente uma visão bastante judaizante de "povo de Deus".

1 Pe 2.9-10 - "Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real> nação santa, povode propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele quevos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz, vós, sim, que antes não éreis povo, mas agora sois povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia, masagora alcançastes misericórdia."

Pedro não está escrevendo simplesmente a judeus da Ásia Menor, mas aos eleitos deDeus que haviam sido dispersos por causa da sua fé em Cristo Jesus. A "dispersão" (v.1) não foide judeus, mas de cristãos.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 194/222

  194

Raça Eleita

Esta referência, como todas as outras analisadas abaixo, tem uma conotação primáriareferindo-se ao povo do VI'. O sabor dessas expressões é sempre judaico. Mas Pedro reinterpretaessa expressão. Aqui ele se refere à igreja de Jesus Cristo de todos os tempos, que é o povo eleitode Deus por quem Cristo deu a Sua vida. Essa raça eleita, que é o povo de Deus, compreendegente de toda a parte, "dos quatro ventos da terra" (Mt 24.31), a quem os anjos virão buscar, para

levá-la para o seu destino eterno com Deus.

Sacerdócio Real

Novamente, o pano-de-fundo do pensamento petrino é a teologia do VI'. Contudo, Pedrofala de um sacerdócio diferente, que não é restrito à tribo de Levi, mas composto de todos aquelesque vieram a ter acesso a Deus pela mediação única, perfeita e definitiva de Jesus Cristo. Todosos que Cristo remiu vêm a ser sacerdotes do Altíssimo, para reinarem com Ele, como naçãosanta, no meio deste mundo. E essa a idéia que João passa quando escreve em Ap 1.5-6  –  ―…Aquele que nos ama, e pelo seu sangue nos libertou dos nossos pecados, e nos constituiu reino,sacerdotes, para o seu Deus e Pai…‖. Deus, por meio de Cristo, nos constituiu seus sacerdotes,isto é, nos separou para o seu serviço, tornando-nos consagrados para Ele.

Nação Santa

O povo de Deus no VT  se restringia basicamente à nação de Israel. A base dessa afirmaçãode Pedro tem raízes na sua origem hebréia. E perfeitamente compreensível que Pedro tivesse emmente alguns textos do VI' em mente, quando falou essas cousas (Ex 19.6; Dt 14.2). Contudo, opensamento de Pedro não se restringe simplesmente ao povo do VI', mas aplica-o ao povo do NT.A "nação santa" da qual Pedro fala não é mais a nação israelita. Ele tem em mente algo bem maisamplo. Ele está pensando em todos, incluindo judeus e gentios, que eram separados do mundo,sendo consagrados inteiramente a Deus. Por essa razão, Pedro fala em 1 Pe 1.2 que eram eleitosde Deus e santificados pela obra do Espírito. Agora não eram mais judeus ou gentios. Essaqualificação era secundária. O que importava é que eram, agora, devotados a Deus, separadospara o Seu serviço. Eram totalmente de Deus. Como nação santa, haveriam de testificar aos domundo quem Cristo era e o que Ele lhes havia feito.

Povo de Propriedade exclusiva de Deus

Esta é uma outra expressão com sabor judaico, mas com conotação diferente doexclusivismo anteriormente assumido por Pedro. Esta expressão está carregada do tempero

 judaico, pois o pano de fundo da mentalidade de Pedro era velho-testamentário. Mas agora, coma nova visão que Cristo lhe havia dado, Pedro conseguia enxergar essa matéria com uma outracosmovisão. "Povo de Deus" passou a ser uma expressão com significado bastante ampliado.Assim como nos tempos do VI' Israel era o povo exclusivo de Deus, assim o povo crente de todasas épocas veio a ser esse "povo de propriedade exclusiva de Deus". Esse "povo" havia sidobatizado pelo sangue de Jesus Cristo (1 Pe 1.2). Cristo fazia a enorme diferença. Não um Cristosomente de Judeus, mas o Cristo de toda a descendência de Abraão, isto é, daqueles todos quecriam nEle.

O fato de os crentes de todas as épocas, sejam judeus ou gentios, estarem incluídos nesse"povo de propriedade exclusiva de Deus" está patente em 1 Pe 2.10: "Vós que antes não éreis

povo, mas agora sois povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia, mas agoraalcançastes misericórdia."

Antes não éreis povo

Esta expressão é sacada de Oséias 1.9. Observe que essa linguagem tem o sabor de Gn17.7.0 povo de Israel no passado foi deixado de lado, por causa de seu adultério espiritual. Deusnão mais o considerou seu povo por causa da pecaminosidade dele. Por causa de seus pecados,eles foram cortados dos privilégios do pacto, porque o que Deus queria era a fidelidade a Ele, e ofato de serem descendentes físicos de Abraão não tinha importância. Deus havia dito a Abraãoque a descendência dele seria suscitada de todas as famílias da terra, não unicamente da nação

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 195/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 196/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 197/222

  197

CAPITULO XIII

OS PECADOS ATUAIS

A ORIGEM DOS PECADOS ATUAIS

É crença generalizada entre os Reformados que herdamos a corrupção do pecado através

dos nossos pais, por geração ordinária, o que não é o caso da culpa, pois ela vem por imputaçãodireta do pecado de Adão. Por geração ordinária, então, toda a raça humana é infectada pelopecado original, que é a origem e a fonte de todos os nossos pecados atuais. É do pecado que vêmos pecados que cometemos consciente ou inconscientemente. A fonte dos pecados está em nossanatureza corrupta.

Com razão, Paulo fala delas como sendo as "obras da carne", isto é, as obras nascidas emnossa natureza pecaminosa, em contraste com o fruto do Espírito, que é nascido em nossa novanatureza, renovada pelo próprio Espírito Santo (Gl 5.17-22).

Veja o Ensino de Jesus Jesus ensina com extrema propriedade a respeito do nascedouro dos nossos pecados

atuais. A lista de pecados que Ele apresenta é apenas uma demonstração clara de que eles sãonascidos numa natureza pecaminosa que infectou a parte mais interior do ser humano, que é o

coração.

Mc 7.15-23 - "Nada há fora do homem que, entrando nele, o possacontaminar; mas, o que sai do homem é o que o contamina. Se alguém temouvidos para ouvir, ouça. Quando entrou em casa, deixando a multidão, os seusdiscípulos o interrogaram acerca desta parábola. Então lhes disse: Assim tambémvós não entendeis? Não compreendeis que tudo o que de fora entra no homem nãoo pode contaminar, porque não lhe entra no coração, mas no ventre, e sai paralugar escuso? E assim considerou ele puros todos os alimentos. E dizia: O que saido homem, isso é o que o contamina. Porque de dentro, do coração dos homens, éque procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, osadultérios, a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, asoberba, a loucura: Ora, todos estes males vêm de dentro e contaminam o

homem."

 Jesus começou ensinando que nada que vem de fora do homem pode causar-lhecontaminação, porque, para contaminar o homem tem contaminar o seu ser mais interior, que éo coração. Somente o mais interior pode infectar todo o ser humano.

Quando a fonte esta poluída, tudo o que vem dela também sai poluído. O ser mais interiordo homem esta contaminado e como todas as cousas vêm do coração, todas elas estão tambéminfectadas. Não há como fugir deste raciocínio que o próprio Senhor nos ensinou. Os pecados quecometemos são nascidos numa natureza mais interior que é maculada indelevelmente de forma

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 198/222

  198

de contamina tudo o que sai dela. Todos os nossos pecados atuais, segundo Jesus Cristo, vêm dedentro, do coração dos homens.

O pecado original enraizado no coração corrupto é a fonte de onde procedem todas ascorrentes poluídas. Se a fonte é amarga, amargas serão todas as correntes que se originam nela.

Os frutos são de acordo com a natureza da árvore. E este o ensino de Jesus Cristo sobreos nossos pecados atuais (Mt 7.16-20; 15.18-20; 12.33-35).

Veja o ensino de PauloRm 7.5

Veja o ensino de TiagoOs pecados atuais são gerados em nossa natureza corrupta, como demonstra Tiago:

1.14-15 - "Ao contrário, cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz.Então a cobiça, depois de haver concebido, da á luz o pecado; e o pecado uma vez consumado,gera a morte."

OS VÁRIOS NOMES DOS PECADOS ATUAISOs pecados atuais, isto é, os pecados que cometemos, tendo como nascedouro a nossa

velha natureza, têm vários nomes da Escritura. —  Eles são equivalentes às "obras da carne" de Gálatas 5. —  Eles são equivalentes às "inclinações da nossa carne" e a vontade da carne e dos

pensamentos" de Ef 2.3. —  Eles também são chamadas de "os feitos do corpo" (Rm 8.13), porque a nossa natureza

velha é chamada de "corpo do pecado" (Rm 6.6). Os "feitos do corpo" são nascidos no "corpo dopecado", porque os pecados são originados no pecado que habita em nós.

OS PECADOS ATUAIS E SUA RELAÇÃO COM A LEIDE DEUS

 Todos eles têm a ver com a "transgressão da lei" (1 Jo 3.4). Uma ação é boa ou mádependendo da sua concordância ou discordância da lei de Deus. Sempre uma ação deve estarem conformidade ou desconformidade com ela. A lei divina é o paradigma de comportamento doser humano. Ela é o único norte que o homem tem para guiar-se. Portanto, não há forma de seescapar da lei moral de Deus. Por essa razão, nunca uma ação humana é moralmente neutra.Não existem ações neutras. Todas elas estão, de algum modo, vinculadas à lei que Deusestabeleceu. Deus criou o mundo moral de forma que nada escapa às leis morais estabelecidaspor Ele. Portanto, todas as ações dos homens devem ser consideradas à luz do relacionamentodelas com a lei estabelecida. Portanto, não há neutralidade alguma nas ações dos homens.

A MULTIPLICIDADE DOS PECADOS ATUAISSão inúmeras as formas em que os pecados atuais se manifestam. "As obras da carne"

mencionadas por Paulo em Gl 5.19-21 podem ser divididas da seguinte maneira:Pecados sexuais - Prostituição, impureza e lascíviaPecados da religião - idolatria e feitiçariasPecados de relacionamento - inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões,

facções e invejas.Pecados da incontinência - bebedices e glutonarias

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 199/222

  199

OS OBJETOS DOS PECADOS ATUAIS

Pecados diretos contra Deus

Em última instância, todos os pecados mesmo os cometidos contra os homens, sãopecados contra Deus, porque todos eles estão vinculados com a transgressão da Sua lei. Certafeita, José foi convidado pela mulher de Potifar a deitar-se com ela. Ao receber essa proposta,

 José reagiu de maneira corretíssima porque entendeu que os nossos pecados ofendem a Deus,antes que aos homens (Gn 39.7-9). Davi também possuía consciência absoluta dessa verdade.Quando pecou contra Betsabá e contra Urias, ele reconheceu que, antes de pecar contra eles, elehavia pecado contra Deus. Por essa razão, ao escrever o Salmo 51, disse: "Pequei contra ti, contrati somente, e fiz o que é mal perante os Teus olhos..."

 Todavia, há certos pecados que são cometidos de uma maneira direta contra o Ele. Sãopecados atrevidos, que mostram a irreverência e o destemor de Deus.

Muitos homens há que perderam todo o senso de temor a Deus e mostram seus pecadosatrevidamente. Em Jó 15.25, Elifaz descreve que o ímpio "estendeu a sua mão contra Deus edesafiou o Todo-Poderoso". A Escritura é farta de exemplos desses pecados diretos contra Deus.

Referindo-se à atitude atrevida e maldosa dos ímpios que prosperam, o Salmista disseque eles «motejam e falam maliciosamente; da opressão falam com altivez. Contra os céusdesandam a boca, e a sua língua percorre a terra" (Sl 73.8-9)

A maldade e ingratidão de Israel fé-lo portar-se de maneira absolutamente petulantecontra Deus, pois Isaías menciona a hediondez desse pecado, dizendo que

Is 3.8 - "Jerusalém esta arruinada, e Judá caída; porquanto a sua língua e assuas obras são contra o Senhor; para desafiarem a sua gloriosa presença."

Os pecados cometidos diretamente contra o Senhor estão enquadrados na primeira tábuada lei:

1) O pecado de criar outros deuses - Este é o pecado contra o primeiro mandamento (Ex20.2). Desde a queda os pecadores procurar criar deuses, segundo a sua própria imagem e

semelhança, para poderem adorar. Uma das primeiras providências dos pecadores rebeladoscontra o verdadeiro Deus foi arranjar outros diante de quem pudessem dobrar-se. Por essa razão,esse é o primeiro mandamento divino: "Não terás outros deuses diante de mim". Ninguém deveriacurvar-se diante de outro ser que não o Yavéh. Somente Ele é o Senhor. Este pecado contra oprimeiro mandamento é uma violência direta contra o Senhor. A violência desse pecado é maiorporque os homens fazem isso na presença do Senhor. Diante do verdadeiro Deus os homens, eaté os do seu povo, erigiram imagens de escultura a quem adoraram.

2) O pecado da idolatria - Este é o pecado contra o segundo mandamento (Ex 20.4-5).Moisés repete este ensino de maneira mais detalhada em Dt 4.12, 14-19). O ensino deste textoensina que o próprio Deus não pode ser adorado com uma representação. Deus proíbeterminantemente a construção de representações da divindade. Deus pergunta: ―Com quemcomparareis a Deus? ou que cousa semelhante confrontareis com ele?" (Is 40.18). Então, Isaíaspassa a descrever a respeito da idolatria, que o Senhor abomina (v. 19-20). A ereção de imagens

para adoração é uma ofensa direta ao Senhor dos céus. Este é um pecado muito comum emculturas não cristãs, e uma tendência, mesmo que disfarçada em meios cristãos.240 A idolatria é,de certa forma, uma conseqüência dos homens suprimirem a verdade de Deus pela injustiça (Rm

240 Diante da acusação dos protestantes, os da tradição Católica tentam fazer uma distinção entrelatre/ia (latréia, que é o culto que se presta a Deus) e doule/ia (douléia, que é reverência ou culto que se prestaaos santos), para justificar as suas atitudes cúlticas. Contudo, não é uma distinção justa, pois ambostermos etmologicamente podem ser usados indistintamente, tanto aplicando-se ao Criador como àscriaturas (cf. At 20.19; Rm 12.11; At 7.42; Rm 1.25). a Escritura não conhece nada desta distinção.Portanto, não podemos aceitar a justificativa dessa tradição do cristianismo.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 200/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 201/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 202/222

  202

descobertos facilmente. Podem ser feitos diretamente contra Deus e contra os homens. ContraDeus em forma de adoração errônea e inaceitável; contra os homens ele encontra múltiplasformas.

Os pecados interiores são os mais numerosos. Contudo, os que São considerados degrande magnitude São os atos, aqueles que os homens podem ver. A razão dessa magnitude éporque eles estão combinados com os pensamentos e, freqüentemente, com as palavras deles.

Contudo, da mesma forma que os pensamentos e as palavras, ―Deus há de trazer à juízotodas as obras até que as que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más‖ (Ec 12.14).Então, Jesus conclui: «Apartai-vos de mim todos vós que praticais a iniquidade" (Mt 7.23).

Uma outra divisão muito comumente encontrada para esses modos de pecados é:pecados por pensamentos, palavras e ações.

AS PARTES DOS PECADOS ATUAIS

Pecados de Omissão

O pecado de omissão diz respeito àquilo que deveria ser feito e que não o foi. E a

não apresentação daquilo que está ordenado por Deus. Embora muitosnão prestem atenção a esse pecado, é tão grave quanto os pecados decomissão, porque procede da indisposição em fazer a vontade preceptivade Deus. Tiago menciona claramente esse tipo de pecado quando diz: Tg 4.17 –  ―Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz, nisso estápecando‖. 

Os pecados de omissão São freqüentes, embora ignorados, pois a atenção dos homensestá mais ligada aos pecados de comissão que, em geral, São considerados mais graves. Mas

 Jesus mostra que a omissão daquilo que é bom é tão grave como o fazer daquilo que é mau.Nos seus vários ―ais‖, um deles é dirigido aos que pecavam por omissão: 

Mt 23.23 –  ―Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque dais o dízimo dahortelã, do endro e do cominho, e tendes negligenciado os preceitos maisimportantes da lei, a justiça, a misericórdia e a fé; devíeis, porém, fazer estascoisas, sem omitir aquelas.‖ 

A gravidade do pecado de omissão está patente no fato de Jesus mencioná-los comomotivo de condenação dos homens:

Mt 25.42-43 –  ―Porque tive fome e não me destes de comer; tive sede e não medestes de beber; sendo forasteiro, não me hospedastes; estando nu, não mevestistes; achando-me enfermo e preso, não fostes verme.‖ 

Eles São muitíssimo mais comum do que pensamos em nossa vida. Tenhamos cuidadopara que não sejamos pegos deixando de fazer o que deveríamos fazer!

Pecados de ComissãoO pecado de comissão tem a ver com o fazer aquilo que a lei proíbe, ou com a feitura

daquilo que é bom, mas com motivo sujo ou impuro. Em algum sentido já tratamos deles empartes anteriores deste capítulo.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 203/222

  203

OS GRAUS DOS PECADOS ATUAISNão existe diferença de grau nos pecados atuais se nós os entendermos do ponto de vista

da sua natureza. Todo pecado é uma ―transgressão da lei" de Deus. Nesse sentido, todos eles Sãoiguais.

Contudo, há pecados muito mais sérios que outros pelo estrago que causam na família ouna comunidade maior pela hediondez deles. O estrago tem a ver com os homens e a hediondezcom Deus. Os pecados diretos contra Deus São os mais ofensivos do que os cometidos contra oshomens. Os pecados da primeira tábua São mais ofensivos do que o da segunda.

 Jesus deixou claro que há pecados onde alguns homens São mais culpáveis que outros.Quando Pilatos falou a Jesus da sua autoridade de prender e de soltar, Jesus disse que Pilatostinha culpa do seu pecado, mas disse que quem O havia entregue a Pilatos tinha um pecadomaior (Jo 19.11). Há pecados mais graves que outros porque alguns São cometidosdeliberadamente, atrevidamente, insolentemente contra o Senhor.

Os graus de pecados atuais estão em proporção às diferentes espécies de puniçõesestabelecidas por Deus. Jesus Cristo disse com respeito aos pecados de algumas cidades

 judaicas, após ter feito milagres do meio delas:

Mt 11.21-24 - "Ai de ti, Corazim! ai de ti, Betsaida! porque se em Tiro e em

Sidom se tivessem operado os milagres que em vós se fizeram, há muito que elasse teriam arrependido com pano de saco e cinza. E contudo vos digo: No dia do juízo haverá menos rigor para Tiro e Sidom, do que para vós outros. Tu,Cafarnaum, elevar-te-ás, porventura, até o céu? Descerás até o inferno; porque seem Sodoma se tivessem operado os milagres que em ti se fizeram, teria elapermanecido até ao dia de hoje. Digo-vos, porém que menos rigor haverá no dia do

 juízo para com a terra de Sodoma, do que para contigo".

O rigor maior e o menor estão vinculados à gravidade de pecados cometidos á luz dasoportunidades recebidas.

Pecados de IgnorânciaHá um sentido em que todos os pecados São cometidos na ignorância, se por ignorância

entendemos que o indivíduo está em trevas espirituais. Embora culpados, aqueles quecrucificaram Jesus Cristo, o fizeram na ignorância. Não é de estranhar, pois, que Paulo tenhadito:

1 Co 2.8  –   ―… sabedoria essa que nenhum dos poderosos deste séculoconheceu; porque, se a tivessem conhecido, jamais teriam crucificado o Senhor daglória.‖ 

Por esta razão, depois de pecarem, essas pessoas não possuem qualquer reconhecimentode pecado, nem remorso ou qualquer outro tipo de tristeza. E porque desconhecem os preceitosestatuídos por Deus na sua lei. Paulo fez tudo o que fez sem sentir qualquer remorso, e fezpensando estar fazendo o que devia fazer. Ele não se desculpa na ignorância, mas mostra que a

ignorância é a causa de muitos pecados. Ei-lo, argumentando:

L Tm 1.13 –  ―a mim que noutro tempo era blasfemo e perseguidor e insolente.Mas obtive misericórdia, pois o fiz  na ignorância, na incredulidade.”  

Paulo ainda não possuía a luz. Andava em trevas e praticava todas as blasfêmias einsolência, em nome de Deus, pensando estar agradando a Deus, a quem, a seu modo, ele servia.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 204/222

  204

Pecados deliberadosEmbora a maioria dos pecados seja cometida na ignorância, há muitos deles que são

cometidos deliberadamente. Em geral, os homens conhecem as leis gerais de Deus, mas Sãoatrevidos e pecam conscientemente, sabendo que estão afrontando a Sua lei. Estes pecados sãode maior gravidade. A gravidade e a seriedade desses pecados é mostrada pelo escritor da Cartaaos Hebreus:

Hb 10.26 - "Porque, se vivemos deliberadamente em pecado, depois de termosrecebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados."

Provavelmente, o autor sacro esteja se referindo ao conhecimento da doutrina, criticandoaqueles que conscientemente pecam contra Deus conhecendo a verdade de Deus.

Nestes últimos dias têm havido pessoas que pecam contra Deus de um modo deliberadoesquecendo-se da verdade de que o universo veio à existência pela palavra de Deus. Por essarazão, eles zombam de Deus, andando em paixões ímpias.

2 Pe 3.3-5  –   ―Tendo em conta, antes de tudo, que, nos últimos dias, virãoescarnecedores com os seus escárnios, andando segundo as suas própriaspaixões, e dizendo: Onde está a promessa da sua vinda? porque desde que os pais

dormiram, todas as cousas permanecem como desde o princípio da criação Porquedeliberadamente esquecem que, de longo tempo, houve céus bem como terra, aqual surgiu da água e através da água pela palavra de Deus.‖ 

Os homens se esquecem destas verdades propositadamente. Eles já foram informadosque o Senhor é o Criador e que Ele há de voltar para julgar o mundo, mas abusadamente ignorama verdade de Deus. Isto é grave abominação ao Senhor.

A gravidade de ambos os pecados:

A gravidade de um pecado tem a ver, em alguma medida, com o fato dele ser feitodeliberada ou ignorantemente. Veja o que Jesus diz sobre eles:

Lc 12.47-48 –  ―Aquele servo, porém, que conheceu a vontade do seu senhor enão se aprontou, nem fez segundo a sua vontade, será punido com muitos açoites.Aquele, porém, que não soube a vontade do seu senhor, e fez cousas dignas dereprovação, levará poucos açoites. Mas àquele a quem muito foi dado, muito lheserá exigido; e àquele a quem muito se confia, muito mais lhe pedirão.‖ 

 Tanto o pecado cometido conhecendo a lei como desconhecendo-a São passíveis depunição, mas a severidade da punição é que varia. A ignorância não desculpa ninguém.

DISTINÇÕES DOS PECADOS ATUAIS

Pecados Remissíveis e Irremissíveis Todos os pecados do povo de Deus são remissíveis. Deus perdoa todas as suas

iniqüidades, e sara todas as suas enfermidades, com base naquilo que o Salvador deles fez nacruz.

Contudo, há os pecados daqueles que foram deixados em seus delitos e pecados. Estespecados não foram remidos. Eles receberão o salário do pecado deles, que é a morte(condenação), e não a vida eterna. Esses pecadores sofrerão pessoalmente a punição de Deus porcausa dos seus pecados, mas não serão remidos deles.

Há ainda, na Escritura, a menção de um outro pecado atual, nascido na natureza

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 205/222

  205

pecaminosa do homem, que é chamado em teologia de  pecado imperdoável, constituindo-se nablasfêmia contra o Espírito Santo. Essa blasfêmia não pode ser perdoada nem neste mundo, nemno porvir (Mt 12.31-32).

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 206/222

  206

CAPITULO XV

A PUNIÇÃO DO PECADO

A palavra "pena" (penalidade) deriva do latim poena, aparecendo já na Idade Média, comoum conceito teológico para denotar a punição por causa do pecado original.

A ORIGEM DA PUNIÇÃOBerkhof diz que os castigos tem "a sua origem na retidão, isto é, na justiça punitiva de

Deus, por meio da qual Ele se sustém como o Santo e necessariamente exige santidade e retidão

de todas as Suas criaturas racionais."241

 O pecado é a violação das leis divinamente estabelecidase, por causa da santidade divina, merece ser punido. Portanto, a punição denota um castigoimposto por Deus aos infratores da sua lei.

O pecado não pode ficar sem punição justamente por causa da santidade e da justiça deDeus. Porque a Sua lei foi infringida, Ele, de necessidade, tem que punir o pecado.

OS PROPÓSITOS DA PUNIÇÃO DIVINA242 

a) Vindicar a Retidão ou a Justiça Divina

b) A Reforma do Pecador

c) Fazer com que os homens desistam de pecar

TIPOS DE PUNIÇÃO DIVINA Teologicamente, costuma-se falar de dois tipos de castigos que o pecado traz:

(a) Castigos NaturaisDestes castigos os homens não podem livrar-se nem pelo arrependimento nem pelo

perdão de Deus. Esse tipo de castigo é o resultado natural do pecado. Há várias maneiras de seilustrar os castigos naturais: Um homem promíscuo sexualmente, fatalmente haverá de

transmitir as suas doenças venéreas aos seus filhos, mesmo que ele tenha se arrependidoprofundamente de sua vida promíscua; Um homem preguiçoso haverá de levar à penúria suafamília, mesmo que chore ou que Deus perdoe a sua negligência de trabalho (Pv 6.6-11; 13.4;19.15; 21.25; Ec 10.18); Um homem beberrão trará ruína sobre si e sobre sua família (Pv 23.21,29-35). A inevitabilidade desse tipo de castigo natural é algo incontestável!

A Escritura tem alguns exemplos do fato do homem ceifar aquilo que ele planta: Jó 4.8;S19.15; 94.23; Pv 5.22

241 Berkhof, Teologia Sistemática , p. 307 (edição castelhana).242 Idéias tiradas de Berkhof, pp. 307-309.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 207/222

  207

(b) Castigos PositivosEstes castigos não pressupõem simplesmente as leis naturais da vida, mas revelam uma

atitude positiva do Santo Legislador. São imposições judiciais de Deus sobre o pecador nestavida. Eles São a expresSão do caráter moral de Deus, que se ira contra aqueles que violam asSuas leis claramente estabelecidas (Lv 26.21; Nm 15.30-31; 1 Cr 10.13; S175.8; Is 1.24, 28, etc.

Estes castigos São uma imposição direta de Deus sobre os homens, sejam eles Seus servos ounão.

A PUNIÇÃO DE MORTE

A morte é uma penalidade imposta por Deus por causa do pecado, embora esta idéiatenha sido contestada na história da Igreja cristã. Os pelagianos pensaram que a morte não tinhanada a ver com o pecado. Os homens morreriam de qualquer forma. A razão da morte doshomens estaria na sua finitude. Portanto, a morte era parte da natureza criada, não penalidadepelo pecado.

Entretanto, a Escritura afirma expressamente que a morte tem necessariamente a vercom o pecado. Ela é punição do Santo Legislador sobre os infratores da Sua Lei. A morte é o

 julgamento de Deus sobre o pecador (Ez 18.4; Rm 6.23).

O Conceito de MorteAntes de tudo, é necessário entender a idéia de morte. Morte não é extinção, não é

aniquilamento, nem cessação de existência, mas separação.O homem foi criado imortal. Quando ele pecou, ele não deixou de ser imortal, se por

imortalidade entendemos a existência continuada, mas ele morreu, isto é, ele ficou separado de simesmo pela morte física e separado de Deus pela morte espiritual.

O poder sobre a morteQuem tem o poder da morte? Deus ou o Diabo? Esta é uma pergunta que tem que ser

respondida com muita cautela. A resposta depende do entendimento que temos sobre o quesignifica ―poder‖. Embora a morte seja o resultado de um pronunciamento judicial de Deus (como veremos

abaixo), há certas passagens que parecem indicar que a morte tem algo a ver com a hegemonia deSatanás com a morte (Hb 2.14-15). Se nós distinguimos entre a morte como um evento e mortecomo um estado, o conflito aparente é resolvido.243 A Escritura uniformemente coloca a mortecomo um evento nas mãos de Deus. Deus tem o poder da morte em Suas mãos (Ap 1.18; Lc 12.5),porque é Ele quem concede a vida. Quem tem o poder de dar a vida, também tem o poder detirá-la. Quem paga o salário da morte é Deus, não o diabo. Contudo, temos que entender queSatanás reina no estado de morte, estando, todavia, sob o domínio de Deus. Satanás não tempoder de impingir morte sobre ninguém, mas as pessoas que morrem estão sob o domínio dele,até que esse domínio seja retirado dele, e ele também enfrente o juízo de Deus no final.

A Causa Judicial da MorteA Escritura diz que "a morte é o salário do pecado" (Rm 6.23).A morte é o resultado judicial do pecado, não o resultado natural do pecado do homem.

 Também não podemos crer que o homem morreria de qualquer maneira. A morte não é parte danatureza humana, nem o homem não foi criado para existir em um estado de morte.

Os Pelagianos afirmaram que o homem morreria de qualquer forma> mesmo que nãohouvesse pecado. A morte faz parte da criação. Para o pelagiano a morte é o seguimento natural

243 The Encyclopedia of Christianity , vol. III, 333.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 208/222

  208

na vida do ser humano. Para os pelagianos "as referências bíblicas sobre a morte comoconseqüência do pecado São entendidas como referências à morte espiritual, separação de Deus,

antes do que à morte física."244 Alguns discípulos de Barth diriam que o problema da morte estávinculado ao fato do homem ser finito. O pecado apenas complica o problema da finitude dohomem. Embora Pelágio pensasse que o homem morreria de qualquer forma, mesmo que não

houvesse pecado, e que Barth tenha pensado que a morte seja um problema da finitude do

homem, é geralmente aceito entre os cristãos que a morte é anatural,sendo uma imposição penal de Deus sobre os pecadores. Os Calvinistas,contudo, afirmam categoricamente que a morte é uma imposição judicialde Deus sobre o homem pecador.

Desde os primeiros concílio regionais da igreja Cristã tem-se defendido que a morte écastigo, sendo um elemento anatural na existência humana. Num dos Concílios de Cartago,lutando contra um pelagianismo presente na vida da igreja, foi dito: ―Se alguém disser que Adãofoi criado mortal de tal forma que ele teria morrido no corpo se tivesse pecado ou não, sejaanátema.‖245 Portanto, não podemos aceitar a morte como natural, mas como uma imposição

 judicial de Deus por causa do pecado. Lutero foi veemente na sua idéia da causa da morte:

"A morte dos seres humanos é, portanto, diferente da morte dos animais. Estemorrem por causa da lei da natureza. Nem é a morte do homem um evento queocorre acidentalmente ou que tenha meramente um aspecto de temporalidade. Aocontrário, a morte do homem, se assim posso falar, foi ameaçada por Deus e écausada por um Deus encolerizado e estranho. Se Adão não houvesse comido daárvore proibida, ele teria permanecido imortal. Mas porque ele pecou peladesobediência, ele sucumbe à morte como os animais que estão sujeitos a ele.Originalmente, a morte não foi parte de sua natureza. Ele morre porque provoca aira de Deus. A morte é, em seu caso, a conseqüência merecida inevitável de seu

pecado e desobediência."246 

A morte do homem, portanto, tem conexão com a justiça divina. Não somente é umatragédia, mas uma penalidade, uma imposição judicial da qual nenhum pecador foge.

PUNIÇÃO NA EXISTÊNCIA PRESENTE

1. MORTE ESPIRITUAL

A Natureza dessa morteQuando Adão foi criado, ele vivia em perfeita harmonia com Deus, possuindo uma vida

natural perfeita. Havia comunhão da criatura com o Criador. Todavia, quando Adãodesobedeceu, a morte veio sobre ele. Essa morte espiritual é a ausência da vida, ou seja, aausência da comunhão com Deus. Por causa do fato de todos estarem incluídos no pacto das

obras, todos eles recebem a imputação da culpa de Adão, vindo a este mundo na condição demortos espirituais. Exceto Cristo, todos os seres humanos São concebidos em estado de morte.

 Todos vêm ao mundo separados de Deus, sem a vida dEle. Todos nascem com inclinaçãocontrária aos preceitos de Deus. Paulo fala claramente que aqueles "que se inclinam para a carnecogitam das coisas da carne; mas os que se inclinam para o Espírito, das cousas do Espírito.

244 Millard J. Erickson, Christian Theology, (Baker, 1990), p. 612.245 Citado por Custance, The Seed of the Woman , p. 87.246 Martin Luther, Luther‟s Works  –   Selected Psalms II, edited by Jeroslav Pelikan, (St Louis:

Concordia Publishing House, 1965), vol. 13, pp. 94-95, 96.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 209/222

  209

Porque o pendor da carne dá para a morte, mas o do Espírito, para a vida e paz" (Rm 8.5-6).Aquele que está morto espiritualmente está sem a vida de Deus.

O tempo dessa morteAlém de Cristo Jesus, Adão foi o único ser humano que veio ao mundo sem esta morte.

Ele veio a morrer depois que ele pecou contra o Senhor Deus. Deus lhe disse: No dia em que

comeres, certamente morrerás" (Gn 2.17). Esta morte da qual Deus falou é a morte espiritual, enão a física. Esta última veio posteriormente, alguns séculos mais tarde. Contudo, no momentoem que Adão pecou, ele perdeu a comunhão com Deus.

Mas quando tratamos da progênie de Adão, a situação é diferente. Lógica etemporalmente, esta é a primeira morte que acontece nos descendentes de Adão, por causa dopecado. O ser humano já é concebido com ela. Por natureza, o homem é um natimorto, isto é, elevem ao mundo sem qualquer comunhão com Deus, porque ele é contado entre os que estão emAdão. Quando o ser humano é concebido, ele já é separado de Deus, porque, por natureza ele jáe "filho da ira" (Ef 2.2), separado do favor e do amor do Senhor.

O Modo que essa morte chegou até nósDentro da história da igreja alguns vieram a crer que Adão foi um exemplo para todos os

homens, de forma que todos os que o imitaram, vieram a morrer como ele. Assim pensaram os

pelagianos; outros vieram a crer que Adão transmitiu a nós, por geração ordinária, isto é, de paipara filho, uma natureza enfraquecida, mas não pecaminosa em si mesma. Cada um,individualmente, vem a morrer por causa dos pecados feitos voluntária e pessoalmente. Assimpensaram os arminianos247; uma outra linha de pensamento foi a dos realistas que ensinaramque a morte espiritual é transmitida pelo fato de todos terem estado seminalmente em Adão.Quando Adão morreu, todos morreram, porque todos estavam voluntariamente presentes noÉden quando Adão foi criado e caiu248; Os Reformados ensinam que esta morte espiritual vempelo fato de todos os homens, exceto Jesus Cristo, estarem incluídos no pacto das obras,estando, portanto, representados pelo primeiro Adão. O texto de Rm 5.12-21, que trata daimputação de pecado, explica como a morte de Adão passou a ser também a nossa morte.

A Inescapabilidade dessa morteNão há ninguém que esteja em Adão que não receba esse tipo de morte. Não há como

evitá-la. Quando Deus disse a Adão "No dia em que dela comeres certamente morrerás" (Gn2.17), a morte realmente aconteceu. Não houve morte física imediata, mas morte espiritual. Osnossos primeiros pais perderam a sua comunhão com Deus, e até fugiram de Sua presença. Otexto diz: "Naquele dia certamente morrerás". Não há como evitar a literalidade deste verso. 249 Adão e sua companheira, de fato, morreram naquele dia.

A ênfase de Gn 2.17 é na inescapabilidade dessa morte, não no fato dela ser imediata.Quando Adão pecou, o veneno do pecado o infectou e ele morreu. Com a sua morte, toda a suaprogênie nasce na mesma condição de morte.

Essa é a única morte que o crente experimenta inescapavelmente, pois o fato de sermoseleitos de Deus não nos isenta dela. Como veremos adiante, poderemos ser livres da morte físicacomo pagamento de penalidade; poderemos ser livres da morte eterna, mas não de morrerespiritualmente. Vimos ao mundo com esta condição, e ninguém escapa de sofrer essa morte,

embora possa vir a escapar de ser morto espiritualmente para sempre, porgraça divina.

247 Ver Orton Wiley, Christian Theology, 125.248 Ver W. G. T. Shedd, Dogmatic Theology , vol. II, 30 sgts.249 Há um exemplo paralelo que trata da morte física de Simei, mas a idéia ―daquele dia‖ é similar à

de Gênesis 2.17 (ver 1 Rs 2.36-46).

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 210/222

  210

A Duração dessa morteNão podemos evitar ser mortos espiritualmente, mas podemos ser livres desse estado de

morte, quando recebemos a vida nova implantada em nós através da obra regeneradora doEspírito Santo. Portanto, essa morte dura até que a pessoa seja tirada dela pela ação renovadorado Espírito Santo. Paulo disse: "E estando nós mortos em nossos delitos e pecados, (Ele) nos deuvida juntamente com Cristo —  pela graça sois salvos" (Ef 2.5). Nós somos libertos desse estado de

morte quando o Espírito nos conecta com a vida. Quando essa obra espiritual acontece,imediatamente saímos do estado de morte, porque a Escritura diz que aquele "que está em Cristoé nova criatura", que passou da morte para a vida.

2. OS SOFRIMENTOS DESTA VIDAOs sofrimentos desta vida são conseqüência de os homens serem concebidos no estado de

morte espiritual. Eles sofrem as conseqüências externas e internas da morte espiritual. Ossofrimentos desta vida afetam a totalidade da personalidade do homem, seu corpo e todas asfaculdades de sua alma. O pecado trouxe uma afetação para o ser humano por inteiro. Tudovirou desordem depois da queda.

Sofrimentos no ser materialOs hospitais, as prisões, os manicômios, os asilos e as casas de recuperação São apenas

algumas amostras do sofrimento da raça humana que, em última análise, se reporta ao pecadohumano.

Corpo - Desde que vimos ao mundo, todos somos nascidos em pecado e, portanto, emmiséria física, sujeito às enfermidades desde o ventre materno. Alguns já herdam males de seuspais, males que haverão de acompanhá-los por toda a existência terrena. A debilidade física quedia a dia afeta mais duramente o nosso organismo é uma das humilhações mais duras que o serhumano experimenta.

Há alguns casos onde as doenças físicas vêm por causa do pecado, como o próprio Senhor Jesus afirmou (Jo 5.14), embora nem sempre seja esse o caso (Jo 9.2).

Sofrimentos no ser ImaterialMente - Depois da queda, a mente humana ficou afetada e já não consegue raciocinar

corretamente, ficando sujeita a distúrbios dos mais variados. A grande maioria das nossas

doenças somáticas tem nascedouro em nossas problemas mentais. Infelizmente não há aaceitação dessa triste verdade: grande parte dos humanos sofre de qualquer distúrbio mental,tudo provocado pelos incômodos desta vida que, numa conclusão bem refletida, reconhece-seque é por causa da maldade humana, o pecado.

Vontade - A capacidade decisória do homem é afetada pelos distúrbios mentais, onde amente já não sabe julgar direito. Portanto, suas decisões são loucas e insensatas.

Emoções - Por causa da afetação da mente, as afeições do homem estão desordenadas, eos desequilíbrios emocionais tornaram-se cada vez mais constantes. As clinicas de distúrbiosemocionais não caberiam se todos reconhecessem seu sofrimento afetivo-emocional. Cada vezmais o nosso mundo pecaminoso tende a tornar mais infeliz a vida dos homens.

A corrupção se dirigiu a todas as parte do ser humano. E isto é um sofrimento terrível doqual todos desejam escapar.

Estes sofrimentos são causados pelo fato do homem estar mergulhado no pecado, fato

que tem a ver com a morte do homem, assunto a ser tratado posteriormente. É a separação dohomem de Deus e de si mesmo que causam esses sofrimentos e distúrbios na totalidade da vidahumana.

Sofrimentos do ser SocialPor causa dos pecados toda a sociedade sofre. Os relacionamentos ficam quebrados e as

pessoas tornam-se inimigas umas das outras com a maior facilidade.Segundo a Escritura, há outras duas punições por causa do pecado, em forma de morte:

a morte física e a morte eterna.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 211/222

  211

3. MORTE FÍSICAEsta morte é a mais conhecida, experimentada e lamentada por todos os homens, porque

todos podem vê-la como uma experiência constante e palpável. Ela é a que mais afetaemocionalmente as pessoas e é dela que todos têm medo, porque pensam que ela é o pior quelhes pode acontecer. Em geral, as pessoas não conseguem ver a morte física como parte da

punição divina, pois não levam a sério as advertências da Escritura. A morte física éfreqüentemente a mais temida porque ela separa as pessoas umas das outras, o que causa muitador, mas não é este o verdadeiro significado dela. A conseqüência maior é para a pessoa quemorre, pois ela é a separação que acontece na própria pessoa, como veremos logo abaixo.

A Natureza da Morte FísicaLógica e temporalmente, esta é a morte que se segue à morte espiritual. A morte física é a

separação temporária entre o corpo e a alma. E nessa morte que nós somos separados de nósmesmos, isto é, o nosso eu material é separado do nosso eu imaterial.

A morte física é uma violência grande e justa da parte de Deus sobre o homem pecador.

"A morte não é um processo natural, mas algo totalmente anatural - umaviolenta separação das duas partes do seu ser que Deus nunca quis que fossemseparadas; uma ruptura, um despedaçar, uma mutilação de sua

personalidade."250 

No estudo sobre a constituição original do homem, vimos que o corpo é visto como sendoo próprio homem, não um acessório temporal que é descartável. Quando o corpo se separa daalma, costumamos dizer que o corpo morreu, mas essa não é a verdade. E verdade que o corpo setornou inerte, sem anima, sem vida, mas ele nunca cessa de existir, mesmo que no pó de ondeveio. A imortalidade é algo próprio do homem como um todo. Não somente a sua alma, mastambém o seu corpo é imortal. Portanto, é muito melhor dizer que o homem morreu, porque nomomento do desenlace, o homem (corpo) é separado de si mesmo (alma). Ambas as partesconstituintes da natureza humana vão para lugares diferentes até o tempo da ressurreição.

 Tanto o corpo quanto a alma não cessam de existir, apenas ficam separados como uma forma de

castigo de Deus sobre eles. Esse é o estado de morte que o homem fica até que o dia do juízochegue.

O Processo da Morte FísicaO texto de Gn 2.17 diz: "No dia em que comeres certamente morrerás". Não houve uma

morte imediata do corpo, mas a semente da morte foi plantada no homem. Após o comer do fruto

proibido, Deus retardou a punição da morte física de Adão, que veio aacontecer alguns séculos mais tarde, pois Adão viveu mais de novecentosanos. Esse retardamento da punição da morte física é um ato da bondadede Deus com a sua primeira criatura, e com todas as outras que já nascemespiritualmente mortas.

Stephen Charnock, o grande pregador presbiteriano-puritano de Londres, comentandosobre o texto de Gênesis, disse: "Assim, deve ser entendido, não como uma morte real do corpo,

mas como o merecimento da morte, e a necessidade da morte."251 O homem tinha que sofrer apunição dos seus pecados, também no corpo.

Após a queda, não somente houve a morte espiritual, mas o veneno de morte foi injetadono corpo humano. A partir do seu ato pecaminoso, Adão começou a morrer. Após o pecado, a

250 James Orr, God‟s Image in Man, (Eerdmans reprint, 1948), p. 251-252.251 Citado por W. G. T. Shedd, Dogmatic Theology, vol. 3, p. 336.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 212/222

  212

morte começou a fazer parte da existência física do homem. Esta idéia é refletida na esperança dePaulo, assim como na esperança de todos os filhos de Deus, que experimentam os efeitos dessamorte. Em 2 Co 5.1-5 Paulo fala da ânsia de ser revestido de uma nova habitação, isto é, de serrevestido de um novo tabernáculo, um corpo novo, uma nova qualidade de vida física, que sedará na ressurreição. Este corpo que é mortal, isto é, que experimenta os efeitos da morte, vai serrenovado, ser revestido da vida na ressurreição. Não anelamos pela morte, mas pelo revestimento

que caracterizar-se-á em forma de vida plena. A nossa natureza plena, corpo e alma, serárestaurada na completação de nossa salvação. Esta é a esperança de Paulo, e nossa. Mas até queisso aconteça, estaremos ainda sob o efeito da morte em nós.

Enquanto a morte espiritual foi um evento, a morte física é um processo. O homem nãomorre de uma vez, mas ele morre lentamente, até que o corpo seja separado da alma, no suspirofinal.

Desde que nascemos, já sentimos os efeitos do pecado em nosso corpo: as doenças logoaparecem e, depois de alguns anos, o processo de queda já se torna evidente. Nós morremos aospoucos. Custance disse:

"Assim a Adão e aos seus descendentes imediatos deve ser permitidosobreviverem o tempo suficiente para o estabelecimento da raça humana. Mas,uma vez estabelecida, daí por diante a longevidade poderia ser reduzida em nome

da segurança da raça que, por sua vez uma vez mais se destrói a si mesma por suapotencialidade para invenções ímpias que o fator da vida longa tornou muitoprovável."252 

O ser humano não tem morte física instantânea pelo fato de ser pecador, mas porque araça precisa ser preservada, e porque assim Deus determinou em virtude de Sua longanimidadepara com os homens. Por causa da Sua natureza, Deus não destrói o homem de uma só vez.Custance disse: "A penalidade de comer do fruto não foi o encurtamento de uma vida que possuíaum término determinado de qualquer modo, mas a introdução de uma experiência totalmente

nova - a morte física." 253   A morte física também começou quando o pecado entrou na vidahumana. A consumação da morte física foi apenas uma questão de tempo.

A Inescapabilidade da Morte FísicaA Escritura diz que Jesus Cristo morreu voluntariamente (Jo 10.18). Jesus escolheu nãosomente o tempo de Sua morte, mas a morte em si. Ele ofereceu-Se à morte. A morte para Ele foialgo ativo. Não foi algo que Ele sofreu, impossível de ser evitado. Ele não precisava morrer, se nãoquisesse. Ele não era pecador e, portanto, ele não devia morrer de necessidade. Contudo, Elevoluntariamente entregou-se à morte, mas os homens pecadores não possuem essa escolha.

A Escritura diz de maneira clara em Hb 9.27 diz que "aos homens está destinadomorrerem uma só vez, e depois disso o juízo". Esse é um decreto divino que está sobre pecadores.Está ordenado que todos os pecadores venham infalivelmente à morte, porque ela é o "salário dopecado". Todos os homens morrem fisicamente. Deste fato ninguém escapa, exceto aquelescristãos que viverem na  parousia de Jesus Cristo, porque eles não estarão debaixo danecessidade de morrer. Sobre isto falaremos mais tarde.

A morte é algo passivo para nós homens, não algo ativo com foi para Cristo. Não

escolhemos morrer. Simplesmente morremos infalivelmente. E algo que sofremos, uma execuçãode uma sentença com base na violação da lei estabelecida pelo santo Legislador. A morte éinevitável para o pecador. Os pecadores todos estão sujeitos à morte. Cristo humilhou-Se a Si

mesmo (Fp 2.8), mas os seres humanos pecadores são humilhados pela morte. Eleescolheu a morte, e a morte tem colhido todos os homens. Por quê? Porqueestá ordenado aos homens morrerem (Hb 9.27). Não há alternativa para os

252 Arthur C. Custance, The Seed of the Woman, (Ontario: Doorway Publications, 1980), p. 86.253 Custance, The Seed of the Woman, p. 161.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 213/222

  213

seres humanos caídos. Todos eles morrem, pessoal ou vicariamente254,porque todos os pecados deles têm que ser punidos, por causa danecessidade da justiça divina ser exercida.

Uns morrem mais cedo, prematuramente (em nossa ótica); outros mais tarde, no tempoconhecido como próprio, mas para todos é apenas uma questão de tempo. Ninguém escapa dela.

A Morte Física do CristãoÉ justo dizer que a morte do cristão é um pagamento de penalidade também? Quando o

cristão morre ele está sofrendo o castigo pelos seus pecados?Para se responder a esta pergunta, é necessário que tenhamos uma exata idéia da morte

substitutiva de Jesus Cristo.O cristão, quando morre, já não mais está pagando a penalidade de seus pecados, mas

morre como uma conseqüência inevitável do estado de pecado em que este mundo se encontra.Ele morre porque ele tem que desfrutar todos os benefícios da salvação que não podem serdesfrutados plenamente nesta vida, por causa dos efeitos do pecado, ainda permanentes nesteuniverso de Deus. Temos ainda as doenças, as tristezas, as angústias, etc., que Sãoconseqüências do pecado em nossa raça, mas Deus nos livrará desse tipo de morte, desseestigma que nos afeta a todos os seres humanos, sem exceção. Até que a redenção se complete no

final, ainda sofreremos os resultados do pecado no mundo. Mas não podemos dizer que a mortefísica dos redimidos por Cristo seja o salário de seus pecados (cf Rm 6.23), porque Jesus Cristo jápagou a morte por eles. A morte deles é apenas o fim das dores e das tristezas da vida presente.A morte para eles é a porta da comunhão perene com Deus, a porta da vida plena, é o acessodireto à presença do Salvador deles, na plenitude da comunhão imperdível, que é a vida eterna.Enquanto o corpo dos redimidos espera receber anima (o que se dará na ressurreição final), aalma dos redimidos já goza da redenção, mas não em plenitude, até que a salvação se completena redenção do corpo.

A morte do cristão, portanto, não deve ser considerada como uma obra judicial de Deus,pois Deus é justo e não faria com que Seus filhos pagassem novamente aquilo que já foi pago peloSeu Filho, o Redentor deles. Os crentes ainda morrem, mas a morte deles não é mais um

 julgamento de Deus. Jesus disse que aqueles que estão em Cristo ―já passaram da morte para avida‖ (Jo 5.24). Consolando as irmãs, Marta e Maria, que haviam perdido o irmão Lázaro, Jesus

disse: "Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo o quevive e crê em mim, não morrerá, eternamente. Crês isto?" (Jo 11.25-26). Lázaro apenas "dormiu",segundo Jesus. A sua morte foi apenas um descanso das fadigas desta vida, mas Lázaro "viviamesmo no estado de morte, não uma morte judicial, mas com o sabor de alívio do estado em quevivia, até que a redenção dele fosse completada.

Houve casos de pessoas de Deus que não experimentaram a morte, como a entendemoshoje, como o de Enoque, Elias, e todos aqueles que estiverem presentes na geração da segundavinda do Senhor Jesus Cristo (1 Ts 4.13 sgts). Não há necessidade da morte deles, porque JesusCristo já pagou a penalidade no seu lugar.

Aqueles que não tiveram seus pecados pagos pelo Redentor é que morrerão como umapenalidade por seus pecados, "porque está destinado aos homens morrerem uma só vez, e depoisdisto o juízo" (Hb 9.27). A morte física deles já é parte do juízo, embora não do juízo final de Deus.

Há algumas razões para se afirmar que a morte do cristão não é parte da punição divina:

a) Se os sofrimentos físicos e a morte física São castigo pelos pecados, estamos negandoque Cristo fez uma obra de salvação completa.Ao contrário, Sua obra foi de tal forma que Ele não deixou nada para os seus

254 Nem todos os cristãos têm que morrer necessariamente. Paulo diz aos Tessalonicenses (1 Ts4.13-18) que os crentes que estiverem vivendo na vinda ( parousia ) de Cristo não morrerão, mas todos serãotransformados, o que não significa morte. A morte para eles não é necessária, porque Jesus Cristo já pagouas dívidas deles, e este pagamento inclui a morte física. E esta verdade é um consolo para eles. Morte comonecessidade, não mais! Todavia, há aqueles que têm que enfrentar a morte como penalidade. É destes queeste capítulo trata mais detidamente.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 214/222

  214

representados pagarem. Nenhuma penalidade cai sobre eles porque por eles todos Eleentregou-Se a Si mesmo. Através do Seu sacrifício, Deus foi plenamente reconciliado com o Seupovo e o povo vem sendo reconciliado com Deus. Se Deus tivesse que punir o seu povo por causade seus pecados, a obra redentora de Jesus Cristo não seria completa. Na verdade não seriaredenção! Mas Deus removeu toda a penalidade do pecador e lançou-a sobre o representantedeles, Jesus Cristo.

b) Se os sofrimentos físicos e a morte física são punição de Deus pelos pecados, estamosnegando que a punição divina é muito mais séria do que os sofrimentos ou a morte física. A justiça de Deus exige muito mais do que os sofrimentos desta vida ou a morte física. Se essasduas cousas são punição divina para o cristão, ele está cooperando no pagamento que Cristo fez,que é incompleto. Se a morte física é pagamento, a justiça de Deus é pouco exigente. Por queCristo haveria de nos livrar somente de parte da punição e não dela toda? Se estas cousas sãopenalidade, Cristo deixou algumas contas para serem pagas, o que diminui o valor da obra deCristo.

e) Se os sofrimentos físicos e a morte do cristão São punição pelos pecados, essa puniçãovaria muito na vida dos homens, independentemente dos seus pecados. Os sofrimentostemporais e a morte têm tido uma variação muito grande na existência dos cristãos. Uns pecammais e sofrem menos e têm até morte calma e sem sofrimento, enquanto que outros crentessofrem muito e ainda têm morte terrivelmente dolorosa. Se estas cousas são pagamento depenalidade, alguma cousa anda errado com os efeitos da morte de Cristo, uns estão pagandomenos que outros.

d) Se os sofrimentos e a morte física são punição de Deus, podemos concluir que o homemtem condição de render satisfação a Deus por seus pecados. O pecador não-remido pode sofrer apenalidade de seus pecados, mas não pode ser remido do sofrimento. Se cremos que a morte docristão é penalidade, ele está participando do pagamento para ser remido, o que implica nacooperação humana da sua própria redenção. Se objeta que participamos de nossa redenção, porquê se entende que a morte é pagamento? Contudo, se o homem é capaz de render satisfaçãopelos seus pecados, pagando com a morte física, ele poderia, se sofresse um pouco mais, derender satisfação completa por seus pecados, desfrutando da vida eterna, o que gera um absurdoteológico inominável!

e) Se a morte fosse um pagamento de penalidade, Enoque e Elias não a teriam sofrido.Isso implica que eles foram melhores ou que Deus fez vista grossa aos pecados deles, o quetambém é absurdo. Se considerarmos a razão da morte dos mártires da igreja tanto do VT comodo NT, haveremos de perceber que não foi o pecado a causa dela, mas o comprometimento delescom o reino de Deus.

f) Se os sofrimentos físicos e a morte física fossem penalidade, temos que chegar a uma deduas conclusões: que o sofrimento físico de Cristo e sua morte física foram em vão e ineficazes (oque é uma inverdade), ou que Ele removeu a punição temporal (o que é uma verdade). QuandoCristo sofreu essas cousas, Ele as retirou de nós como punição. "Pelas Suas pisaduras fomossarados" (Is 53.5). Não sofremos mais punição. Apenas temos os sofrimentos e a morte físicaporque ainda vivemos num ambiente onde estas coisas persistem, até que a redenção sejacompletada e o ambiente seja mudado, o que se dará na nova terra.

g) Se os sofrimentos físicos e a morte física fossem penalidade, teríamos que crer queDeus pune os membros do corpo de Cristo, porque Ele ainda está irado com eles. Tal pensamentoé uma injustiça ao amor redentor de Deus e à justiça de Deus demonstrada em Cristo Jesus. Nóssomos santuário do Espírito Santo, e Deus não haveria de despejar a Sua ira contra os membrosdo corpo do Seu Filho (1 Co 6.15-20).

h) Se os sofrimentos físicos e a morte física fossem penalidade dos pecados, teríamostambém que considerar as angústias e ansiedades da alma como castigo de Deus por causa dopecado, também, porque em todos os sofrimentos do corpo a alma sofre igualmente, porqueexiste uma interpenetração de influências. Se isto é verdade, o que Jesus fez pelos pecadores nãoresultou em muitas cousas positivas, pois temos muito sofrimento nesta vida. Os benefícios daobra de Cristo só serão percebidos depois da morte, o que mostra que ainda somos os maisinfelizes dos homens! Mas tal pensamento é tolice. Mesmo que sob os efeitos do mundo emqueda, ainda somos os mais felizes dos homens, por causa de Jesus Cristo!

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 215/222

  215

A morte dos filhos de Deus é, na verdade, a entrada deles no reino dos céus de maneiraplena! Nunca ela deve ser vista neles como pagamento de penalidade!

Diferença entre o Cristão e o Ímpio na morte FísicaO cristão é um ganhador e o ímpio é um perdedor. Ambos morrem. Nenhum deles escapa

da morte. O Senhor é o mensageiro da morte para ambos. Ela vem para o regenerado e para o

irregenerado. Todavia, a mor te para o cristão é a porta através da qual ele tem acesso ao reino docéu; a morte para o ímpio é a porta através da qual ele já toma posse parcialmente dacondenação. Na morte o cristão entra na companhia dos remidos glorificados, enquanto que osímpios já começam a sofrer a companhia dos pecadores, os que colhem a maldição. Na morte ocristão entra na plenitude de alegria, e o ímpio na plenitude da tristeza. A morte faz uma grandediferença entre eles. Os caminhos deles nesta vida são diferentes, e o destino deles éabsolutamente diferente. O ímpio anda em seus próprios caminhos (Pv 14.14), caminhando paraa condenação, tendo a sua vida escondida no Maligno. O cristão anda nos caminhos do Senhor(511.1; 51119.1), o caminho da negação e da renúncia do pecado e do "eu", tendo a sua vidaoculta em Cristo Jesus. Por essa razão, o fim deles é diferente. E a diferença entre luz e trevas,como o céu é diferente do inferno.

A morte vem para ambos, mas sela o fim diferente deles. Ela é portal de separação para osímpios e portal de vida para os cristãos. A morte em si mesma é o pior pedaço para o cristão,enquanto que para o ímpio ela é apenas o começo. O pior ainda está por vir. O primeiro éconfortado na morte, enquanto que o último é atormentado nela. Por causa do seu sofrimento ocristão pode ter o seu inferno na terra, e o seu céu está por vir. Opostamente, o ímpio pode ter oseu "céu" aqui na terra (S173), enquanto que o seu inferno está determinado depois da morte. O"inferno" do cristão limita-se apenas aos sofrimentos desta vida, enquanto que o do ímpio ossofrimentos desta não são para comparar com os que vêm depois da morte.

PUNIÇÃO NA EXISTÊNCIA FUTURAOs castigos até agora analisados têm a ver com esta presente existência, mas a morte

eterna é o único e o mais terrível de todos eles, pois trata-se da plenitude da punição divina sobreos pecadores, que vem acontecer na existência futura dos ímpios impenitentes.

Contudo, antes que a morte eterna se manifeste, aquele que morreu fisicamente semCristo, já se encontra debaixo de punição, de maneira provisória, esperando a sentença final deDeus sobre ele. Enquanto a ressurreição dos ímpios não acontece, o corpo deles está sob a terra,e a alma deles já se encontra sob castigo de Deus, mas não desfrutando ainda a plenitude dele.Esta verdade é ilustrada na parábola do rico e de Lázaro. O texto sagrado diz que o rico, "noinferno, estando em tormentos, levantou os olhos e viu ao longe a Abraão e Lázaro no seu seio (Lc16.23). O tormento final, todavia, dar-se-á depois da ressurreição dos ímpios, quando foremlançados no lugar próprio e definitivo dos condenados.

4. MORTE ETERNAEsta morte eterna tem alguns nomes na Escritura: "Lago de Fogo" (Ap 19.20) e "segunda

morte" (Ap 2.11; 20.6, 14-15; 21.8); "condenação do inferno" (Mt 23.33); "lugar de tormento" (Lc16.28); "inferno de fogo" (Mt 5.22); "fogo eterno" (Mt 25.41).

O Lugar desse CastigoNão sabemos exatamente onde é o lugar desse castigo, onde os condenados haverão de

existir para sempre em sofrimento. Contudo, usualmente, o lugar desse castigo é chamado naEscritura de "inferno". Há três palavras gregas na Escritura que são traduzidas em nossasversões da Bíblia como inferno:

O uso da palavra grega Hades

1) A palavra grega a(/dhj (hades), também é usada pelos pagãos para descrever inferno.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 216/222

  216

Na literatura grega, a palavra hades era descritiva de um mundo inferior, o reino dosmortos, fossem eles bons ou maus. O Hades era descritivo de uma esfera divida em duascategorias: a do elysium (para onde iam os bons, e a do tartaro (para onde iam os maus). Emboraalguns cristãos tenham assimilado a noção grega de hades, não há uma autorização da Escriturapara esse entendimento. A origem dessa divisão em compartimentos veio também de escritos daliteratura judaica não canônica, onde os justos estão em lugar separado dos ímpios, nos quais

cada um deles experimenta um antegosto do seu destino eterno.255

 Usualmente a palavra hebraica sheol, que aparece muitas vezes do VT, é traduzida pelaLXX como Hades. "O VT oferece apenas umas poucas informações a respeito do eterno destino doindivíduo, e maior parte da sua preocupação é com o futuro dos justos antes do que dos

ímpios."256 Portanto, não é absolutamente claro nem único o uso que o VT faz da palavra sheol.No Novo Testamento a palavra Hades se encontra Mt 16.18 como indicativa do lugar onde

Satanás reina, pois Jesus disse que as "portas do inferno (a)/dhj) não prevalecem contra ela(igreja)" (Mt 16.18).

Ela também aparece em Lc 16.23, onde fala que o rico estava no "inferno" (a)/dhj), o lugarpróprio para onde vão aqueles que não temem a Deus. Ela é usada para denotar provavelmente olugar temporário para onde vão os mortos ímpios que, posteriormente São levados para o seudestino final, que é o lago de fogo, a segunda morte.

Ap 20.13-14 também menciona o termo hades, que é traduzido na versão Revista e

Atualizada de Almeida como "além» no v. 13. No v. 14 hades é traduzido já como "inferno". Estetexto de Apocalipse sugere fortemente que hades se refere ao lugar intermediário onde estão osespíritos desincorporados, antes de entrarem no estado absolutamente final, que e o ―lago defogo‖.257 

O Uso do Termo Grego Gehenna

A segunda palavra grega que trata do castigo final é gee/nna (gehenna), que é usada

somente na Escritura.258 Seu uso no NT não é descritivo dos tormentos presentes do estadointermediário, mas refere-se aos tormentos do estado final. E Jesus Cristo quem faz um usoabundante dessa palavra, todas as vezes em conexão com os tormentos eternos. O uso dela éderivado do ensino sobre o "vale dos filhos de Hinnom", que era um lugar maldito onde osisraelitas queimavam seus filhos no fogo, em honra ao deus Moloque, e que Josias transformounum vale de horror por causa da abominação ali cometida (2 Rs 23.10).

 Jesus usa a palavra gehenna em Mt 5.22 (ge/ennan tou= puro/j) traduzida como "inferno defogo"; a mesma palavra aparece também em Mt 5.29-30, sempre traduzida como "inferno".259 EmMt 18.8-9 Jesus torna a expressão grega th\n ge/enan tou= puro/j ("inferno de fogo" - v.9) equivalente áoutra expressão grega pu=r to\ ai)w/nion ("fogo eterno"- v.8), e contrasta estas duas expressões à idéiade "entrares na vida" (v.8-9).

A idéia de sofrimento eterno dos ímpios está ainda mais clara no ensino de Jesus em Mc9.43-48. A expressão grega usada por Jesus, que é traduzida como ―inferno‖ é gehenna(v.43,45,47). Você deve ser recordar do Vale dos filhos de Hinnon, e da idéia de fogo. Jesus dizcom muita clareza que o fogo do Gehenna é inextinguível (v.43, 48). Novamente estar no gehennaé contrastado com "entrares na vida" (v.43, 45) e "entrares no reino de Deus"(v.47)

Em Mt 23 Jesus adverte os fariseus por causa da sua hipocrisia e iniquidade. Então,faz-lhes uma ameaça, usando para palavra gehenna para mostrar a inexcapabilidade dessetormento: "Serpentes, raça de víboras! Como escapareis da condenação do inferno(gehenna)?"(v.33).

Não há como escapar ao fato de que estas passagens ensinam claramente a realidade de

255 Observação de Fred Karl Kuehner, ―Heaven or Hell?‖, em Fundamentals of the Faith , editado porCarl F. Henry, (Grand Rapids: Zondervan, 1969), 238. Verificar no livro de Enoch xxii. 1-14.

256 Fred Karl Kuehner, ―Heaven or Hell?‖, em Fundamentals of the Faith, editado por Carl F. Henry,(Grand Rapids: Zondervan, 1969), 238.

257 Ibid. 238.258 Gehenna aparece 12 vezes no NT.259 Das 12 vezes que esta expressão aparece no NT, 11 delas estão contidas no ensino de Cristo.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 217/222

  217

um lugar onde os impenitentes haverão de passar eternamente. E bom recordar que embora ostormentos do inferno sejam absolutamente reais, devemos entender que alguns nomes usados(como "fogo" ou "verme") usados metaforicamente, não com sentido absolutamente literal.

O Uso do Termo Grego Tárt aro

A terceira palavra grega que trata do castigo final é ta/rtarw (tártaro –  2 Pe 2.4) que, na

linguagem pagã também era conhecida como o lugar para onde vão os ímpios, uma subdivisão dohades pagão, o lugar próprio dos maus.É importante que se creia que o inferno é um lugar real, não apenas um estado, ou um

ensino produto de uma ficção da igreja no decorrer dos séculos, especialmente no período daIdade Média. Deus criou um lugar especialmente para o diabo e seus anjos, mas para lá enviatodos os ímpios impenitentes (Mt 25.41), embora não saibamos a localização dele. O inferno émais do que um estado. E um lugar, como o céu! Tem que ser um lugar, pois para lá vão pessoascompletas, isto é, pessoas físicas, que ocupam espaço. Não será um simples mundo espiritual,mas um mundo físico, criado especificamente por Deus para ser o lugar de habitação dos ímpios,

 juntamente com o diabo e seus anjos.

A plenitude desse castigoNo inferno o homem total sofrerá a manifestação plena da ira de Deus. O corpo e alma

humanos sofrerão a pena dos pecados. Jesus disse que Deus deve ser temido, pois Ele é o únicoque pode fazer "perecer no inferno tanto a alma quanto o corpo" (Mt 10.28). Isto quer dizer que asegunda morte é a morte do homem total. É a separação final do homem completo de Deus.

É costume dizer que inferno é a ausência de Deus. Ao contrário. Deus estará presente noinferno, mas será uma presença que infunde terror e ira (Ap 14.11). É significativo que é dito queo Cordeiro estará presente, com uma presença de juízo, no lago de fogo, onde existe o sofrimentoeterno. É verdade que o texto da Escritura diz que os ímpios "sofrerão penalidade de eternadestruição, (sendo) banidos da face do Senhor e da glória do seu poder" (l Ts 1.9), mas eles serãobanidos de uma presença santificante e abençoadora. Deus estará presente diante deles, porqueeles poderão olhar para Deus (Lc 16.23-24), mas terão sofrimento terrível pela presençaaterradora de Deus. Ali não haverá qualquer coisa doce ou consoladora, para aliaviar-lhes. Elesestarão privados da doce companhia de Deus. A companhia deles será de demônios e de outrosespíritos condenados, e todos juntos sofrerão a penalidade que lhes está reservada, produto da

ira divina sobre eles, por causa de seus pecados. Aos ímpios, Jesus Cristo, o Cordeiro de Deuscheio de ira, dirá: "Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo eseus anjos" (Mt 25.41).

O Tempo desse castigo

A semelhança da morte física, esta morte eterna também éretardada, reservando somente para o tempo do fim, depois que Deuscolocar um final na ordem presente das cousas.

Contudo, há um sentido em que os ímpios já assumem o castigo eterno logo após a mortefísica, indo para a condenação, à semelhança dos anjos maus. O texto é claro quando diz que osanjos maus ficarão em "algemas eternas para o juízo do grande dia" (Jd 1.6-7). Os homenstambém experimentarão o mesmo tormento, já de caráter eterno, esperando apenas a

completação dele que se dará no grande dia final.Esta verdade é ilustrada na parábola do rico e de Lázaro. O texto da Escritura diz que

"aconteceu morrer o mendigo e ser levado pelos anjos para o seio de Abraão;morreu também o rico, e foi sepultado. No inferno, estando em tormentos, levantouos olhos e viu ao longe a Abraão e a Lázaro no seu seio" (Lc 16.22-23).

Com clareza o texto afirma que o rico foi sepultado (v.22) e, imediatamente, afirma que eleestava no inferno, em tormentos. Isso demonstra que, ao mesmo tempo em que os justos vão

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 218/222

  218

imediatamente para o gozo de Deus (que é o caso de Lázaro - v.22), o rico foi imediatamente paraos tormentos sem fim, apenas esperando o juízo do grande dia.

Contudo, é preciso lembrar que os ímpios sofrem esse castigoparcialmente, apenas no espírito, pois o corpo deles ainda não participadele, pois está no pó. Após a ressurreição final, que é a ressurreição para a

vergonha e horror eterno (Dn 12.2), os ímpios impenitentes serão lançadosnesse lago, onde estão juntamente o diabo e seus anjos.A Escritura diz que após a morte e ressurreição dos ímpios eles entrarão no juízo final,

"porque está ordenado aos homens morrerem uma só vez e, depois disto, o juízo" (Hb 9.27).

A Duração desse castigoAs tristes perdas dos ímpios serão para sempre. Eles não serão somente miseráveis, mas

miseráveis eternamente. Tanto os homens quanto os seres espirituais caídos haverão deexperimentar eternamente esse sofrimento, que é a morte eterna, que não pode ser destruída (Ap14.10-11; 20.10; Mt 25.41, 46; Mc 9.43-48; 2 Ts 1.9; Hb 6.2; Jd 1.6-7; Ap 14.11).

 Judas fala daqueles que são impenitentes como experimentando o amargor do sofrimentocomo uma experiência infindável, sendo "duplamente mortos":

"Estes homens são como rochas submersas, em vossas festas de fraternidade,banqueteando-se juntos sem qualquer recato, pastores que a si mesmos seapascentam; nuvens sem água impelidas pelo vento; árvore em plena estação dosfrutos, destes desprovidas, duplamente mortas, desarraigadas; ondas bravias domar, que espumam as suas próprias sujidades; estrelas errantes, para as quaistem sido guardada a negridão das trevas, para sempre" (Jd 12-13).

A razão dessa punição eterna pelo pecado é porque o pecado é cometido contra um Deuseterno e infinito (l Tm 1.17), que requer uma satisfação infinita e, portanto, eterna. Porque oímpio pecou contra um Deus infinito, a sua punição, portanto, é reconhecida como infinita.Nunca o homem terminará de pagar a sua dívida com Deus, porque é dívida de alguém quecontinua pecador. O débito do pecador não pode nunca ser saldado porque somente a obediênciaa Deus poderia satisfazer a justiça divina. Todavia, ainda lã, no inferno, na condenação, o homemhaverá de estar contra Deus, insurgindo-se contra a sua lei. No estado futuro, os ímpios haverãode pecar. Quando mais pecado, mais ódio contra Deus. João, no Apocalipse, dá uma idéia do queacontecerá no destino eterno de ambos, dos justos e dos injustos: "Continue o injusto fazendoinjustiça, continue o imundo ainda sendo imundo; o justo continue na prática da justiça, e osanto continue a santificar-se" (Ap 22.11). Os ímpios pagarão pelos seus pecados, mas nuncaterminarão de pagar porque para sempre se rebelarão contra o Senhor.

A palavra grega gee/nna que sempre é traduzida como inferno nas nossas versões, nunca serefere ao tormento do estado intermediário, mas sempre à punição eterna.

O Sentido da palavra “eterno"  

A palavra grega ai)w/nion, que é traduzida como "eterno" aparece diversas vezes no NT comrespeito à vida e à morte. Qual é o sentido dessa palavra grega? No caso de combinação com apalavra "vida", o termo ai)w/nion tem a conotação de "vida imperdível". O sentido, todavia, é mais doque de quantidade. Ela é a vida plena da bondade de Deus, plena da comunhão com Deus.Contudo, não se pode esquecer que ela contém a idéia de duração sem fim. Observe-se que em 1Co 15.53, as palavras imperecível (ou incorruptível) e imortal são sinônimas.

No caso de combinação com a idéia de "morte", há a mesma conotação qualitativa equantitativa. Estes dois aspectos não podem ser esquecidos.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 219/222

  219

As Teorias dos Adversários das Penas Eternas

A teoria da Não-Punição

Os defensores dessa teoria não crêem numa punição futura, porque eles não crêem emqualquer espécie de existência futura. Tudo termina por aqui. Esses são os materialistas puros.Eles crêem que a alma, se há alguma, é apenas uma função do cérebro, ou uma parte de todo ocomplexo do organismo humano. Quando o homem morre, tudo se acaba. Nem a recompensafutura existe, na conta deles. Na verdade, esses não são cristãos. Então, eles não causam umproblema maior, exceto se estivermos em lugares de grande concentração de materialistas.

A Teoria do Aniquilacionismo

Há outros que pensam que o pecado deve ser punido, mas eles são incapazes de admitir aidéia de uma punição sem fim. Admitem uma recompensa de bem-aventurança eterna. Eles sãochamados de aniquilacionistas. Eles crêem numa ressurreição geral final, numa vida futura degozo, que é o céu. Segundo eles, somente os cristãos recebem uma existência eterna. Contudo, osímpios serão destruídos após a ressurreição final. A punição deles está em não poderem maisexistir.

Há alguns aniquilacionistas que sustentam que o homem foi feito um ser mortal. Dequalquer forma ele morreria. O pecado veio somente complicar a sua finitude. A vida eterna é umdom que Deus da aos que crêem e vivem piedosamente neste mundo. A punição dos ímpios,contudo, é o fato de Deus se recusar dar-lhes a vida eterna. A punição, então, é a privação da vidaeterna, mas não há um castigo positivo. Apenas a privação do que é bom.

Há ainda outros aniquilacionistas que admitem uma certa punição, não aceitando,todavia, a punição sem fim. Esses são cristãos que aceitam todas as outras verdades docristianismo, exceto esta. Eles dizem que a doutrina da punição eterna não está em consonânciacom o caráter de Deus.

Para eles, o adjetivo "eterno" em relação à punição não deve ser tomado literalmente, massomente como indicação de um longo período de tempo. O outro argumento usado por eles é queas palavras "destruição" e "morte" implicam numa cessação de existência.

A Teoria da Segunda ChanceEsta teoria é uma outra forma de aniquilacionismo. Após a morte, no estadointermediário, aqueles que rejeitaram a verdade recebem a outra oportunidade de fazer asescolhas certas. Porque Deus é um ser muito amoroso, aqueles que morrem sem se arrepender,terão uma outra chance na existência futura. Os que se recusam a isso na segunda chance, serãoaniquilados, sendo lançados na gehenna, o fogo que consome, ou poderão ter uma forma maisbaixa de existência eterna. No fundo, segundo essa teoria, Deus vai fazendo tentativas para tiraro máximo de pessoas da destruição. A teoria do purgatório, no catolicismo romano, é um exemplobastante claro dessa idéia, mesmo embora, no purgatório as pessoas não se arrependem, mascompletam o sofrimento de Cristo, tendo a chance de purgar os seus próprios pecados.

A Teoria da Redenção Universal

Estes crêem que no final todos haverão de ser redimidos. Esta é uma das teorias mais

antigas, vindo desde Orígenes, alguns anabatistas e muitos teólogos do séc. XIX e, em geral, pelateologia moderna, que evita qualquer noção de punição eterna.

Em geral, essas três últimas teorias usam argumentos como os que se seguem:1) O adjetivo eterno na Escritura, quando usado em conexão com punição, não deveria

nunca ser tomado literalmente, mas somente como uma indicação de um tempo muito longo;2) Tais palavras como "morte" e "destruição" implicam numa cessação de existência;3) A linguagem universalística é freqüentemente usada nas Escrituras.4) A condenação eterna é contrária ao próprio ser de Deus, especialmente o seu amor.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 220/222

  220

Objeções a essas teorias

1) Embora o termo grego ai)w/nioj (que é traduzido em nossas versões como "eterno") nãosignifique literalmente "um tempo interminável", contudo, quando usado em contraste com "vidaeterna", não pode significar outra coisa que não "duração sem fim". Este argumento estáabsolutamente claro em Mt 25.46 "E estes irão para o castigo eterno, porém os justos para a vida

eterna". A menos que neguemos a duração sem fim da bem-aventurança, teremos que aceitar aeternidade, ou a duração sem fim da punição.

O texto de Ap 14.11 mostra uma outra conotação de eternidade de uma outra forma,combinada com outras expressões: A expressão "Tormento  pelos séculos dos séculos "é atradução da expressão grega ei)j ai)w=nas ai)w/nwn - Esta expressão grega fala da duração da puniçãoda besta e de todos os seus adoradores, os ímpios, que é seguida de duas outras expressões quereforçam a idéia de eternidade.

Ap 14.11 - "A fumaça do seu tormento sobe pelos séculos dos séculos, e nãotem descanso algum, nem de dia nem de noite, os adoradores da besta e da suaimagem, e quem quer que receba a marca do seu nome."

Um outro texto de Apocalipse repete as mesmas palavras e as mesmas idéias, enfatizandoa continuidade indefinida do tormento:

Ap 20.10 - "O diabo, o sedutor deles, foi lançado para dentro do lago de fogo eenxofre, onde também se encontram não só a besta como o falso profeta e serãoatormentados de dia e de noite pelos séculos dos séculos."

Há uma outra expressão da Escritura, que não ~ que evidencia que a punição tem umcaráter sem fim.

A expressão bíblica usada é Fogo Inextinguível - O texto de Mc 9.43, diz: "E se a tua mão tefaz tropeçar, corta-a; pois é melhor entrares maneta na vida do que, tendo as duas mãos, irespara o inferno (gee/nan), para o  fogo inextinguível." 260  Observe que gehenna é sempre conectadocom penas eternas, nunca com o sofrimento do período intermediário. Confira este texto com Mt

3.12. 2) As palavras ―destruição‖ e "morte", usadas pelos três teorias acima para negar as penaseternas não é um argumento sustentável. A palavra "destruição" (2 Ts 1.9) não pode nuncasignificar aniquilação porque é alguma coisa que acontece eternamente. Além disso, e umaexpressão que pode indicar a qualidade da existência sem Deus e sua graça. A palavra ―morte‖(Ap 2.11; 20.14 e 21.8) também é indicativa de qualidade de existência sem Deus. Por essa razão,não pode significar aniquilamento.

A Condição em que se suporta esse castigoAlém de ser um sofrimento de caráter perene, a Escritura dá-nos a entender que ele será

suportado de forma consciente. O texto de Lc 16.19-31, que narra a parábola do rico e de Lázaro,ilustra de modo inequívoco a consciência em que vivia nos tormentos do inferno (v.23-24). Aconversa do ímpio em tormento com Deus (v.25-31) reforça a idéia de o ímpio estar na plenitudede suas faculdades mentais, a despeito da ausência do corpo.

Os sofrimentos desse castigoMt 7.23; Lc 13.27-28;Lc 16.19-31 - Este texto da parábola de Jesus parece indicar que parte do tormento do

ímpio é ver o gozo dos remidos de Deus (ver também Lc 13.27-28). A condenação tem a ver comuma espécie de privatio boni, a ausência do bem, ou seja, a ausência dos benefícios da presença

260 Os textos de Mc 9.44, 46 e 48 não se encontram nos melhores Manuscritos mais antigos. Poressa razão, não usaremos como textos-prova do nosso argumento, a fim de não sermos contestados pelosadversários das penas eternas.

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 221/222

8/9/2019 Heber Carlos de Campos - Antropologia Biblica

http://slidepdf.com/reader/full/heber-carlos-de-campos-antropologia-biblica 222/222