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MMOODDEELLIIZZAACcedilCcedilAtildeAtildeOO DDAASS PPOOLLIacuteIacuteTTIICCAASS EE DDAASS PPRRAacuteAacuteTTIICCAASS DDEE IINNCCLLUUSSAtildeAtildeOO
SSOOCCIIAALL DDAASS PPEESSSSOOAASS CCOOMM DDEEFFIICCIIEcircEcircNNCCIIAASS EEMM PPOORRTTUUGGAALL
DDEELLIIMMIITTAACcedilCcedilAtildeAtildeOO EE OOPPEERRAACCIIOONNAALLIIZZAACcedilCcedilAtildeAtildeOO DDOO CCOONNCCEEIITTOO DDEE
DDEEFFIICCIIEcircEcircNNCCIIAA
Realizado no acircmbito do Estudo ldquoModelizaccedilatildeo
das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social
das Pessoas com Deficiecircncias em Portugalrdquo
promovido pelo CRPG ndash Centro de Reabilitaccedilatildeo Profissional de Gaia ndash em
parceria com o ISCTE ndash Instituto Superior de Ciecircncias do Trabalho e da Empresa
Disponiacutevel em wwwcrpgpt
Apoio Programa Operacional de Assistecircncia Teacutecnica ao QCA III ndash Eixo FSE
IacuteNDICE
1 EVOLUCcedilAtildeO DOS REFERENCIAIS CONCEPTUAIS NO DOMIacuteNIO DA INCLUSAtildeO DE PESSOAS
COM DEFICIEcircNCIAS E INCAPACIDADES
4
11 EVOLUCcedilAtildeO DE PARADIGMAS E MODELOS TEOacuteRICOS 4
12 PERSPECTIVA EVOLUTIVA DO MODELO SOCIAL 7
13 DESAFIOS EMERGENTES NO PLANO CONCEPTUAL COM IMPLICACcedilOtildeES NO DOMIacuteNIO DAS
INTERVENCcedilOtildeES
10
2 CONCEITOS E TERMINOLOGIA 14
21 EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA DOS SISTEMAS DE CLASSIFICACcedilAtildeO 14
211 A ABORDAGEM TRADICIONAL INDIVIDUALISTA 14
212 A ABORDAGEM LIBERAL OU INTER-RELACIONAL 16
3 OBJECTIVOS OPERACIONAIS 20
4 ANAacuteLISE PRELIMINAR DA EVOLUCcedilAtildeO DA TERMINOLOGIA NO DOMIacuteNIO 21
41 ESTADO DA ARTE 21
42 FUNCcedilOtildeES DO CORPO 23
43 ESTRUTURAS DO CORPO 24
44 DEFICIEcircNCIA 24
45 INCAPACIDADE 27
5 ANAacuteLISE DOS REFERENCIAIS NACIONAIS E INTERNACIONAIS 30
51 INE 30
52 EUROSTAT 31
53 OCDE 32
54 AMERICAN DISABILITIES ACT 33
55 OMS ONU 35
6 SISTEMATIZACcedilAtildeO DAS DIMENSOtildeES DE ORGANIZACcedilAtildeO E OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO
CONCEITO
36
7 ESCOLHA DO CENAacuteRIO A IMPLEMENTAR 38
71 ABORDAGEM 38
72 FOCUS 38
73 MEacuteTODOS DE MENSURACcedilAtildeO 39
74 DELIMITACcedilAtildeO CONCEPTUAL E TEMPORAL DO CONCEITO 39
75 DELIMITACcedilAtildeO DA DURACcedilAtildeO E CURSO DE EVOLUCcedilAtildeO 43
76 DESIGN DAS QUESTOtildeES 43
77 PROPOSTA DE DELIMITACcedilAtildeO DO CONCEITO 44
8 CRITEacuteRIOS DE ELEGIBILIDADE DO PUacuteBLICO-ALVO E SISTEMAS DE AVALIACcedilAtildeO 46
9 BIBLIOGRAFIA 53
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
1 EVOLUCcedilAtildeO DOS REFERENCIAIS CONCEPTUAIS NO DOMIacuteNIO DA
INCLUSAtildeO DE PESSOAS COM DEFICIEcircNCIAS E INCAPACIDADES
11 EVOLUCcedilAtildeO DE PARADIGMAS E MODELOS TEOacuteRICOS
Ao pensarmos as questotildees relativas agraves deficiecircncias e incapacidades conveacutem relevar as
mudanccedilas societais operadas sobre as percepccedilotildees ligadas agrave incapacidade Desde os anos
sessenta tem existido uma progressiva consciencializaccedilatildeo por parte de poliacuteticos legisladores
e investigadores sociais de que o problema da incapacidade natildeo eacute susceptiacutevel de continuar a
ser considerado numa perspectiva individual estritamente meacutedica (Barnes and Mercer 2003)
Este facto poderaacute encontrar a sua explicaccedilatildeo (a) num crescente nuacutemero de pessoas da
sociedade com uma qualquer deficiecircncia e incapacidade fiacutesica ou intelectual e (b) porque em
parte quanto maior for a sofisticaccedilatildeo tecnoloacutegica e cultural de uma dada sociedade maior o
grau de incapacidade gerada (Oliver 1990) Estimativas recentes sugerem a existecircncia de 50
milhotildees de pessoas com incapacidades na Europa e 500 milhotildees em todo o mundo sendo que
eacute esperado que estes nuacutemeros aumentem significativamente nas proacuteximas deacutecadas quer nos
paiacuteses considerados desenvolvidos quer nas naccedilotildees subdesenvolvidas (IDF 1998) Este
cenaacuterio fica a dever-se a um conjunto diversificado de factores tais como os progressos ao
niacutevel da medicina o envelhecimento das populaccedilotildees a intensificaccedilatildeo do ritmo da mudanccedila
social e tecnoloacutegica os conflitos militares e o terrorismo (Coleridge 1993 Ingstad 2001)
Todos estes factores tecircm implicaccedilotildees econoacutemicas poliacuteticas e culturais para os governos
nacionais e organismos internacionais como a Uniatildeo Europeia e as Naccedilotildees Unidas Uma
preocupaccedilatildeo crescente focaliza-se no aumento dos custos com os programas de reabilitaccedilatildeo
reconhecidos como cientificamente apropriados e com respostas socialmente ajustadas para
os problemas encontrados pelas pessoas com incapacidades (Stone 1985 Albrecht 1992
Sandvin 2002)
A evoluccedilatildeo conceptual no domiacutenio das poliacuteticas e dos modelos organizadores das intervenccedilotildees
no contexto da reabilitaccedilatildeo e da inclusatildeo social tem sido reflectida na forma como os diversos
actores sociais equacionam e problematizam as questotildees ligadas agraves deficiecircncias e
incapacidades Neste quadro evolutivo constata-se que as deficiecircncias eram equacionadas
como um problema das proacuteprias pessoas directamente causado por doenccedila acidente ou outra
condiccedilatildeo de sauacutede passiacutevel de melhorar atraveacutes de intervenccedilotildees meacutedicas tais como a
reabilitaccedilatildeo Neste sentido a perspectiva das poliacuteticas centrava-se no reconhecimento de
necessidades especiais atraveacutes da criaccedilatildeo de serviccedilos especiais Estes serviccedilos baseavam-se
na criaccedilatildeo de uma rede de cuidados especiacutefica para as pessoas com deficiecircncias favorecendo
mecanismos de institucionalizaccedilatildeo Outra caracteriacutestica deste estaacutedio inicial de
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 4
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
conceptualizaccedilatildeo das deficiecircncias e incapacidades baseava-se na focalizaccedilatildeo de todos os
processos de poder e controlo das intervenccedilotildees nos teacutecnicos e profissionais do sector Do
ponto de vista da envolvente cultural assistia-se ao reforccedilo da estigmatizaccedilatildeo e dos
preconceitos em relaccedilatildeo agraves pessoas com deficiecircncias e incapacidades atraveacutes da mensagem
de impossibilidade de integraccedilatildeo das diferenccedilas materializadas nas diferentes deficiecircncias e
incapacidades ao niacutevel das estruturas sociais e dos serviccedilos disponiacuteveis nos sistemas
regulares Do ponto de vista da focalizaccedilatildeo e dos objectivos das poliacuteticas estas centram-se no
indiviacuteduo sendo que o seu principal objectivo era activar mecanismos de compensaccedilatildeo
capazes de atenuar os efeitos decorrentes das incapacidades
Adicionalmente refira-se que uma das caracteriacutesticas deste periacuteodo eacute a de que o locus de
responsabilidade das poliacuteticas assenta no modelo do Estado-providecircncia do periacuteodo fordista
As poliacuteticas sociais tradicionais satildeo baseadas numa orientaccedilatildeo meacutedica na interpretaccedilatildeo da
natureza das deficiecircncias e incapacidades pelo que no conjunto de caracteriacutesticas
enunciadas tecircm sido identificados elementos integrantes do modelo meacutedico de abordagem agraves
deficiecircncias e incapacidades
Os documentos internacionais provenientes da Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) e os
proacuteprios documentos de poliacutetica europeia comeccedilaram progressivamente a colocar em
evidecircncia as deficiecircncias e incapacidades natildeo como um atributo inerente agrave pessoa mas como
um resultado da interacccedilatildeo entre a pessoa e o ambiente incluindo as suas estruturas fiacutesicas (o
design dos edifiacutecios sistemas de transporte etc) as relaccedilotildees sociais e as construccedilotildees sociais
e crenccedilas que levam agrave discriminaccedilatildeo das pessoas Deste modo as deficiecircncias e
incapacidades tornam-se um problema relevante para as poliacuteticas sociais em consequecircncia da
adopccedilatildeo de um modelo que privilegia a adequaccedilatildeo dos contextos agraves pessoas fazendo com
que o seu focus se descentre uacutenica e exclusivamente da componente individual para passar a
contemplar a relaccedilatildeo da pessoa com os seus ambientes e contextos de vida bem como os
obstaacuteculos e barreiras sociais que emergem nesta interacccedilatildeo Neste sentido a participaccedilatildeo de
todos os cidadatildeos nos mais diversificados contextos da vida social passa a constituir uma
questatildeo de direitos e de igualdade de oportunidades
Do ponto de vista das poliacuteticas sociais pode-se observar dois focos distintos no discurso e nas
propostas de inclusatildeo O primeiro trabalha a inclusatildeo voltada para a ampliaccedilatildeo da cidadania
enfatizando o discurso do direito de interagir e o direito agrave participaccedilatildeo social atraveacutes das redes
sociais na construccedilatildeo do projecto colectivo O segundo focaliza o combate agrave exclusatildeo como
elemento voltado para a inserccedilatildeo dos puacuteblicos desfavorecidos no contexto do mercado de
trabalho Neste caso o foco da inclusatildeo tem o seu epicentro na profissionalizaccedilatildeo e na
capacitaccedilatildeo para o trabalho e emprego Paralelamente aos dois focos explicitados subjaz a
necessidade de eliminaccedilatildeo das barreiras ambientais (fiacutesicas psicoloacutegicas e socioloacutegicas) como
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 5
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
condiccedilatildeo necessaacuteria agrave participaccedilatildeo plena das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na
sociedade numa loacutegica de igualdade de oportunidades
Este desenvolvimento conceptual na forma como as deficiecircncias e incapacidades satildeo
equacionadas faz com que pela primeira vez seja reconhecida a possibilidade das diferentes
necessidades das pessoas com deficiecircncias e incapacidades constituiacuterem objecto de resposta
nos serviccedilos e estruturas regulares da sociedade Este facto assenta na reconfiguraccedilatildeo dos
modelos de inclusatildeo e de capacitaccedilatildeo colectiva de todos os actores sociais que directa ou
indirectamente contribuem para a exclusatildeo inclusatildeo das pessoas com deficiecircncias e
incapacidades Deste modo inicia-se a estruturaccedilatildeo das perspectivas de mainstreaming que
tecircm vindo a intencionalizar a implementaccedilatildeo de serviccedilos especializados assentes numa loacutegica
de consultoria baseados nas estruturas e serviccedilos da comunidade Esta ruptura com o modelo
meacutedico na forma como a deficiecircncia eacute conceptualizada implicou que as poliacuteticas comeccedilassem
a ser dirigidas agrave remoccedilatildeo das barreiras agrave plena participaccedilatildeo para as pessoas com deficiecircncias
e incapacidades em vez de ldquoproblematizarrdquo a pessoa e focalizarem-se apenas nela Pode-se
verificar esta abordagem atraveacutes do desenvolvimento de regulamentos sobre o design de
edifiacutecios e nas infra-estruturas de transportes no sentido de prevenir a construccedilatildeo de situaccedilotildees
e contextos incapacitantes e reduzir as barreiras existentes entre outras manifestaccedilotildees
Do ponto de vista do ambiente cultural comeccedila a emergir o reconhecimento das diferenccedilas e a
relevacircncia de adoptar poliacuteticas que promovam a integraccedilatildeo da diversidade Neste acircmbito as
poliacuteticas comeccedilam progressivamente a pretender influenciar mudanccedilas nos padrotildees de
atitudes e de comportamentos sobre a forma como os cidadatildeos compreendem e percepcionam
as pessoas com deficiecircncias e incapacidades (designadas por poliacuteticas simboacutelicas)
focalizando-se na alteraccedilatildeo dos elementos inibidores da participaccedilatildeo para factores
facilitadores De igual forma as poliacuteticas simboacutelicas apesar de ainda natildeo existirem directrizes
coerentes e consensuais para a definiccedilatildeo da categoria de pessoas com e sem deficiecircncias e
incapacidades comeccedilam a sentir a necessidade de enquadrar esta delimitaccedilatildeo e definiccedilatildeo de
forma a garantir o seu sucesso e eficaacutecia na transformaccedilatildeo das representaccedilotildees simboacutelicas dos
cidadatildeos O conjunto de caracteriacutesticas enunciadas bem como os seus elementos
constituintes tecircm vindo a ser designadas pelos investigadores por modelo social por oposiccedilatildeo
agraves caracteriacutesticas do modelo meacutedico O Quadro 1 permite analisar de uma forma sistemaacutetica os
principais pontos de ruptura entre o modelo meacutedico e o modelo social sendo certo que a
adopccedilatildeo predominante de um modelo ou de outro implica uma concepccedilatildeo radicalmente
diferente das diversas tipologias de poliacuteticas assim como a definiccedilatildeo de diferentes objectivos e
resultados ao niacutevel da inclusatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 6
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Modelo meacutedico Modelo social
Problema Incapacidade dependecircncia das
pessoas
Inadequaccedilatildeo dos contextos agraves
pessoas
Origem Nas pessoas Na sociedade
Focalizaccedilatildeo Na pessoa nas suas limitaccedilotildees Relaccedilatildeo pessoa contexto nas
barreiras sociais
Eacutetica Assistecircncia Direitos
Igualdade de oportunidades
Objectivos Reabilitar curar tratar
Habilitar
Eliminar barreiras promover a
compatibilidade
Perspectiva Necessidades especiais
Serviccedilos especializados
Necessidades diferentes
Serviccedilos regulares
Serviccedilos Institucionalizados
Rede de cuidados De apoio baseados na comunidade
Poder controlo Profissionais Clientes
Cultura Disabling
Manutenccedilatildeo e reforccedilo da deficiecircncia
Reconhecimento e inclusatildeo da
diversidade
Objectivos das poliacuteticas
Compensar os indiviacuteduos pelas
suas incapacidades
ldquoAliviar a situaccedilatildeordquo
Promover direitos
Prover recursos e competecircncias
para identificar e eliminar barreiras
pessoais e sociais
Focalizaccedilatildeo das poliacuteticas Nos indiviacuteduos
Nas pessoas com deficiecircncias No grupo social
Na populaccedilatildeo global
Responsabilidade Poliacutetica social
ldquoWelfare provisionrdquo
Poliacuteticas transversais
Poliacuteticas sociais activas
Quadro 1 ndash Anaacutelise comparativa do modelo meacutedico com o modelo social relativamente agraves dimensotildees estruturantes na organizaccedilatildeo dos quadros conceptuais de intervenccedilatildeo (Sousa 2005) 12 PERSPECTIVA EVOLUTIVA DO MODELO SOCIAL
O modelo social da deficiecircncia surge na deacutecada de 1960 no Reino Unido como uma reacccedilatildeo
agraves abordagens biomeacutedicas A premissa baacutesica do modelo social eacute que a deficiecircncia natildeo deve
ser entendida como um problema individual mas como uma questatildeo eminentemente social
transferindo a responsabilidade pelas desvantagens das pessoas com deficiecircncias para a
incapacidade da sociedade em prever e ajustar-se agrave diversidade (Oliver 1990) Em torno do
modelo social da deficiecircncia surge na deacutecada de 1970 a UPIAS (The Union of the Phisically
Impaired Against Segregation) uma das primeiras organizaccedilotildees de pessoas com deficiecircncias
com objectivos eminentemente poliacuteticos e natildeo apenas assistenciais como era o caso das
instituiccedilotildees criadas nos dois seacuteculos anteriores (UPIAS 1976) O ponto de partida teoacuterico do
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 7
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
modelo social eacute que a deficiecircncia eacute uma experiecircncia resultante da interacccedilatildeo entre
caracteriacutesticas corporais do indiviacuteduo e as condiccedilotildees da sociedade em que ele vive isto eacute da
combinaccedilatildeo de limitaccedilotildees impostas pelo corpo com algum tipo de perda ou reduccedilatildeo de
funcionalidade (lesatildeo) e uma organizaccedilatildeo social pouco sensiacutevel agrave diversidade corporal
Originalmente a UPIAS propocircs uma definiccedilatildeo que explicitava o efeito da exclusatildeo na criaccedilatildeo
da deficiecircncia ldquoLesatildeo ausecircncia parcial ou total de um membro ou oacutergatildeo ou existecircncia de um
mecanismo corporal defeituoso Deficiecircncia desvantagem ou restriccedilatildeo de actividade
provocada pela organizaccedilatildeo social contemporacircnea que pouco ou nada considera aqueles que
possuem lesotildees fiacutesicas e os exclui das principais actividades da vida socialrdquo (UPIAS 19763-
4) A ecircnfase inicial nas limitaccedilotildees fiacutesicas foi imediatamente revista e com isso abriu-se um
grande debate sobre as limitaccedilotildees do vocabulaacuterio usado para descrever as deficiecircncias e
incapacidades A intenccedilatildeo era destacar que natildeo havia necessariamente uma relaccedilatildeo directa
entre lesatildeo e deficiecircncia transferindo o debate da discussatildeo sobre sauacutede para o terreno da
organizaccedilatildeo social e poliacutetica Lesatildeo seria uma caracteriacutestica corporal como seria o sexo ou a
cor da pele ao passo que deficiecircncia seria o resultado da opressatildeo e da discriminaccedilatildeo sofrida
pelas pessoas em funccedilatildeo de uma sociedade que se organiza de uma maneira que natildeo permite
incluiacute-las na vida quotidiana Eacute possiacutevel uma pessoa ter lesotildees e natildeo experimentar a
deficiecircncia a depender de quanto a sociedade esteja ajustada para incorporar a diversidade
Como exemplifica Morris (2001) natildeo poder caminhar eacute a expressatildeo da lesatildeo a deficiecircncia
consiste na inacessibilidade imposta agraves pessoas que usam cadeira de rodas O resultado
dessa revisatildeo na semacircntica dos conceitos foi uma separaccedilatildeo radical entre lesatildeo e deficiecircncia
a primeira eacute objecto da discussatildeo sobre sauacutede enquanto a segunda eacute uma questatildeo da ordem
dos direitos e da justiccedila social e portanto essencialmente normativa
Se para o modelo meacutedico a lesatildeo levava agrave deficiecircncia para o modelo social os sistemas
sociais levavam pessoas com lesotildees agrave experiecircncia da incapacidade Em siacutentese o modelo
meacutedico identifica a pessoa com deficiecircncia como uma pessoa com algum tipo de inadequaccedilatildeo
para a sociedade o modelo social por sua vez inverte o argumento e contextualiza a
deficiecircncia na incapacidade da sociedade para incluir todas as pessoas gerindo de forma
inclusiva a sua diversidade Em geral as definiccedilotildees baseadas no modelo meacutedico exigem um
grande afastamento dos padrotildees de normalidade para considerar uma pessoa como tendo
deficiecircncia Os criteacuterios utilizados para definir a deficiecircncia geralmente tecircm como referecircncia a
perda completa de certos oacutergatildeos ou funccedilotildees A identificaccedilatildeo da deficiecircncia eacute feita levando-se
em conta caracteriacutesticas isoladas destes oacutergatildeos e funccedilotildees e comparando-as com limites
estabelecidos para cada uma delas Neste quadro de inteligibilidade existem criteacuterios que
estabelecem para oacutergatildeo ou funccedilatildeo comprometida os limites da deficiecircncia como por
exemplo patamares miacutenimos de acuidade visual capacidade auditiva etc que podem ser
avaliados isoladamente uns dos outros bem como separados das necessidades impostas
pelas caracteriacutesticas sociais de cada pessoa
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 8
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
A combinaccedilatildeo da existecircncia de uma condiccedilatildeo de sauacutede bem abaixo de um padratildeo abstracto de
normalidade e a persistecircncia dessa condiccedilatildeo no tempo permite ao modelo meacutedico diferenciar
doenccedila de deficiecircncia Muitas das doenccedilas satildeo entendidas como situaccedilotildees temporaacuterias
Assim embora tenham uma condiccedilatildeo de sauacutede inferior agrave determinada por algum criteacuterio de
normalidade as pessoas doentes podem natildeo ser consideradas pessoas com deficiecircncias
dentro do modelo meacutedico porque a sua reduccedilatildeo de capacidades eacute apenas temporaacuteria e natildeo
permite definir um estado consistente ao longo do tempo O caminho inverso tambeacutem eacute trilhado
para separar deficiecircncia de doenccedila poreacutem com um argumento um pouco mais sofisticado
(Diniz 1996) Se a deficiecircncia eacute uma situaccedilatildeo irreversiacutevel eacute perfeitamente possiacutevel redefinir o
conceito de normalidade de modo a ajustaacute-lo agrave condiccedilatildeo permanente das pessoas A cegueira
por exemplo passa a ser a condiccedilatildeo normal de uma pessoa cega e portanto natildeo faz sentido
classificaacute-la como doente Neste esquema uma pessoa que natildeo pode ver porque estaacute com
uma inflamaccedilatildeo ocular grave eacute uma pessoa doente e uma pessoa permanentemente cega eacute
uma pessoa deficiente Como o reconhecimento da ldquosociedade deficienterdquo eacute tatildeo ou mais
importante para o debate sobre poliacuteticas puacuteblicas e deficiecircncia do que a identificaccedilatildeo da
ldquopessoa deficienterdquo as preocupaccedilotildees com a identidade do modelo social satildeo bem distintas
daquelas do modelo meacutedico Abberley (1987) por exemplo natildeo insiste na distinccedilatildeo entre
deficiecircncia e doenccedila e praticamente ignora a regra de persistecircncia da lesatildeo no tempo para
identificar as pessoas com deficiecircncias criteacuterio tatildeo caro aos legisladores de poliacuteticas sociais
nos anos 1980 que o utilizaram sistematicamente em contagens de populaccedilatildeo de vaacuterios
paiacuteses do mundo A loacutegica do modelo social natildeo reconhece esta distinccedilatildeo principalmente
porque entende que os ajustes requeridos da sociedade para que ela contemple a diversidade
da deficiecircncia satildeo independentes de quanto tempo uma condiccedilatildeo corporal se iraacute manter Afinal
se uma pessoa que usa cadeira de rodas enquanto recupera de fracturas nas pernas
necessita dos mesmos ajustes no sistema de transporte que uma pessoa permanentemente
incapacitada de caminhar porquecirc separaacute-las em grupos diferentes Ao natildeo reconhecer que os
doentes tambeacutem experimentam a deficiecircncia o modelo meacutedico exclui da atenccedilatildeo das poliacuteticas
puacuteblicas uma grande parcela da populaccedilatildeo que necessita delas problema que pode afectar
uma parte razoaacutevel da populaccedilatildeo idosa Natildeo usar da mesma maneira a distinccedilatildeo entre doenccedila
e deficiecircncia eacute um recurso do modelo social para evitar este tipo de exclusatildeo A consequecircncia
oacutebvia da definiccedilatildeo do modelo social eacute de que a pesquisa e as poliacuteticas puacuteblicas direccionadas agrave
deficiecircncia natildeo poderiam concentrar-se apenas nos aspectos corporais dos indiviacuteduos para
identificar a deficiecircncia Aleacutem disso ao separar a deficiecircncia da lesatildeo o modelo social abre
espaccedilo para mostrar que a despeito da diversidade das lesotildees haacute um factor que une as
diferentes comunidades de pessoas com deficiecircncias em torno de um projecto poliacutetico uacutenico a
experiecircncia da exclusatildeo Segundo Oliver ldquoTodos os deficientes experimentam a deficiecircncia
como uma restriccedilatildeo social natildeo importando se estas restriccedilotildees ocorrem em consequecircncia de
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 9
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
ambientes inacessiacuteveis de noccedilotildees questionaacuteveis de inteligecircncia e competecircncia social se da
inabilidade da populaccedilatildeo em geral de utilizar a linguagem de sinais se pela falta de material
em Braille ou se pelas atitudes puacuteblicas hostis das pessoas que natildeo tecircm lesotildees visiacuteveisrdquo
(1990xiv)
Em meados da deacutecada de 1990 os movimentos feministas lanccedilaram um argumento com
profundas implicaccedilotildees para as poliacuteticas puacuteblicas a experiecircncia da deficiecircncia no acircmbito
familiar apresenta implicaccedilotildees ao niacutevel do geacutenero Ao mostrar que a deficiecircncia eacute
acompanhada de reorganizaccedilotildees familiares voltadas para o cuidado da pessoa com
deficiecircncia os movimentos feministas colocaram em evidecircncia que natildeo satildeo apenas as
pessoas com algum tipo de restriccedilatildeo corporal que necessitam da atenccedilatildeo das poliacuteticas
puacuteblicas Atendendo a que as cuidadoras satildeo predominantemente mulheres devido agrave divisatildeo
sexual do trabalho a deficiecircncia quando entendida como um fenoacutemeno com implicaccedilotildees
familiares possui um enviesamento de geacutenero Satildeo as mulheres por exemplo que se afastam
do mercado de trabalho para cuidar das pessoas com deficiecircncias de crianccedilas pequenas ou
idosos Nos casos dos homens idosos este recorte inclui uma sobreposiccedilatildeo de geacutenero agrave idade
pois dado o padratildeo tiacutepico de arranjo familiar satildeo mulheres idosas que cuidam desses homens
Este afastamento tem uma seacuterie de implicaccedilotildees para as mulheres como a ausecircncia de
serviccedilos de suporte e de apoio para as mulheres em idade economicamente activa e tal facto
natildeo pode passar esquecido pelas poliacuteticas puacuteblicas (Barton amp Oliver 1997)
No final da deacutecada de 1990 alguns argumentos do modelo social da deficiecircncia foram objecto
de revisatildeo O lema ldquoOs limites satildeo sociais natildeo do indiviacuteduordquo usado como bandeira para
reivindicar condiccedilotildees para que as pessoas com deficiecircncias fossem independentes passa a ser
relativizado Uma longa tradiccedilatildeo da filosofia feminista critica o valor da independecircncia absoluta
mostrando que a interdependecircncia por meio do cuidado com os dependentes eacute um elemento
constituinte da vida em sociedade e em muitos casos de deficiecircncia natildeo pode ser evitada As
poliacuteticas puacuteblicas portanto natildeo devem procurar apenas promover a independecircncia das
pessoas com deficiecircncias mas criar condiccedilotildees favoraacuteveis para que o cuidar seja exercido
13 DESAFIOS EMERGENTES NO PLANO CONCEPTUAL COM IMPLICACcedilOtildeES NO DOMIacuteNIO DAS
INTERVENCcedilOtildeES
Historicamente as diferentes perspectivas de intervenccedilatildeo no campo da reabilitaccedilatildeo tecircm-se
centrado predominantemente nos pressupostos conceptuais do modelo meacutedico sendo que
mais recentemente tem-se vindo a assistir a uma focalizaccedilatildeo progressiva nos pressupostos
conceptuais do modelo social
Neste contexto histoacuterico as interpretaccedilotildees sociais da deficiecircncia encontram-se em processo de
transiccedilatildeo Este aspecto aparece claramente reflectido nos documentos oficiais em relaccedilatildeo agraves
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 10
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
definiccedilotildees de deficiecircncia e de reabilitaccedilatildeo Apesar dos factores econoacutemicos e demograacuteficos se
afigurarem de uma importacircncia crescente parece evidente que o motor que subjaz a este
fenoacutemeno se alicerccedila na politizaccedilatildeo sem precedentes da deficiecircncia liderada pela sociedade
civil bem como a exigecircncia crescente de igualdade de oportunidades para as pessoas com
deficiecircncias A evoluccedilatildeo conceptual da interpretaccedilatildeo sociopoliacutetica do conceito tem produzido
avanccedilos ao niacutevel das praacuteticas e das intervenccedilotildees ainda que com diferentes ritmos de
aplicaccedilatildeo e com necessidades evidentes de um maior niacutevel de sistematizaccedilatildeo e estruturaccedilatildeo
na globalidade do sector
Consequentemente alguns dos elementos das praacuteticas de reabilitaccedilatildeo mantecircm-se focalizados
em abordagens centradas no indiviacuteduo Apesar da relevacircncia das intervenccedilotildees e das
terapecircuticas meacutedicas ainda que absolutamente necessaacuterias nos paiacuteses mais pobres estas
apenas produzem um impacte parcial no contexto de um ambiente cultural organizado
privilegiadamente para um modo de vida onde natildeo existem pessoas com deficiecircncias Deste
modo o domiacutenio de sauacutede puacuteblica bem como os problemas experimentados pelas pessoas
com deficiecircncias constituem-se como assuntos de natureza poliacutetica que apenas poderatildeo ser
equacionados na sua resoluccedilatildeo atraveacutes de uma profunda mudanccedila estrutural e cultural
envolvendo a redistribuiccedilatildeo sistemaacutetica de recursos e o desenvolvimento de uma cultura que
valoriza a diversidade humana
Neste cenaacuterio afigura-se relevante equacionar um conjunto de desafios fundamentais para
enquadrar a iniciativa poliacutetica na implementaccedilatildeo dos princiacutepios do modelo social
Coerecircncia dos conceitos utilizados
Parece subsistir uma elevada diversidade de conceitos associados ao domiacutenio da deficiecircncia
na organizaccedilatildeo social A tiacutetulo de exemplo pode-se citar a nomenclatura de ldquodeficientesrdquo ou
ldquopessoas portadoras de deficiecircnciardquo no acesso prioritaacuterio a determinados tipos de serviccedilos
puacuteblicos ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ao niacutevel de programas de intervenccedilatildeo social e
designaccedilotildees ao niacutevel dos instrumentos de poliacutetica que remetem para concepccedilotildees radicalmente
diferentes entre si tal como eacute o caso da ldquopensatildeo de invalidezrdquo ou da ldquotabela nacional de
incapacidadesrdquo Esta pluralidade de conceitos sem qualquer coerecircncia conceptual entre si
parece espelhar o resultado de diferentes velocidades de evoluccedilatildeo em diferentes domiacutenios da
poliacutetica social ocorrida em diferentes momentos socio-histoacutericos Aliaacutes tal facto emerge de
forma mais ou menos incisiva na maioria dos paiacuteses europeus A investigaccedilatildeo neste sector tem
permitido colocar em evidecircncia que diferentes definiccedilotildees de deficiecircncia satildeo relevantes para
diferentes poliacuteticas e que as tentativas de usar a mesma definiccedilatildeo ao longo de uma vasta
diversidade de poliacuteticas pode resultar na utilizaccedilatildeo de definiccedilotildees de reduzido poder
diferenciador o que significa que as poliacuteticas podem correr o risco de natildeo chegar ao seu
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 11
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
puacuteblico-alvo A necessidade de usar uma pluralidade de definiccedilotildees de forma a assegurar a
relevacircncia da definiccedilatildeo para o seu domiacutenio de aplicabilidade levanta um problema de
coerecircncia no quadro poliacutetico relativo agraves pessoas com deficiecircncias Neste cenaacuterio as pessoas
podem ser consideradas como tendo deficiecircncias no quadro de uma determinada poliacutetica e
como natildeo tendo no quadro de uma poliacutetica diferente sendo que por vezes se encontram
lacunas no fornecimento de serviccedilos como resultado imediato desta opccedilatildeo De uma forma
geral os diferentes Estados resolvem estes problemas requerendo agraves instituiccedilotildees das poliacuteticas
sociais a coordenaccedilatildeo das actividades em detrimento do estabelecimento de definiccedilotildees
uacutenicas
Diferentes abordagens entre diferentes aacutereas de poliacutetica social
A evoluccedilatildeo histoacuterica e a apropriaccedilatildeo de diferentes conceitos por parte de diferentes sectores
da poliacutetica social encerram o risco de serem adoptados modelos operativos e intervenccedilotildees com
caracteriacutesticas significativamente diferentes Neste sentido podem-se observar sectores que
privilegiam o mainstreaming e o desenvolvimento das intervenccedilotildees baseadas na comunidade
e noutros sectores verificarem-se intervenccedilotildees mais centradas no indiviacuteduo mobilizando
criteacuterios quase exclusivamente meacutedicos Esta diferenccedila de abordagens pode potencialmente
acarretar desarticulaccedilotildees e incoerecircncias ao niacutevel dos princiacutepios gerais da poliacutetica social
reflectindo-se numa resposta fragmentada e parcelar agraves necessidades das pessoas Neste
contexto afigura-se relevante a definiccedilatildeo clara sistemaacutetica e estruturada dos princiacutepios
transversais subjacentes agrave globalidade das poliacuteticas para num segundo momento se proceder
agrave definiccedilatildeo dos seus elementos especiacuteficos
Classificaccedilatildeo da deficiecircncia e metodologias de avaliaccedilatildeo
Enquanto que no quadro do modelo meacutedico importava associar as diferentes deficiecircncias a
diferentes niacuteveis de incapacidade mobilizando criteacuterios de natureza exclusivamente meacutedica a
progressiva implementaccedilatildeo do modelo social na maior parte dos paiacuteses da Europa tem
colocado desafios sobre qual a categorizaccedilatildeo que melhor reflecte as dificuldades de
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades ao niacutevel dos seus ambientes de
vida A OMS perante esta encruzilhada de classificaccedilotildees propocircs a Classificaccedilatildeo Internacional
de Funcionalidade Incapacidade e Sauacutede (CIF) como modelo operativo de caracterizaccedilatildeo da
funcionalidade do indiviacuteduo colocando em evidecircncia para efeitos de elegibilidade dos
programas as limitaccedilotildees de actividade e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo das pessoas Ou seja
enquanto nalguns modelos se continuam a avaliar as deficiecircncias do indiviacuteduo a CIF vem
enfatizar em coerecircncia com o modelo social que o mais relevante natildeo eacute avaliar as alteraccedilotildees
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 12
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
ao niacutevel das estruturas ou das funccedilotildees dos indiviacuteduos ndash ainda que natildeo as negligencie ndash mas
sim as limitaccedilotildees de actividades e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo que o sujeito experiencia no
decorrer da desadequaccedilatildeo entre as suas diferenccedilas e as caracteriacutesticas dos ambientes sociais
em que se move Atente-se que esta opccedilatildeo conceptual natildeo eacute neutra do ponto de vista
pragmaacutetico dado que os objectivos das intervenccedilotildees passam a ser a remoccedilatildeo das barreiras e
dos obstaacuteculos que ocorrem no quadro da relaccedilatildeo do sujeito com os seus contextos de vida
em detrimento de intervenccedilotildees polarizadas exclusivamente na dimensatildeo individual ou
exclusivamente na dimensatildeo social
No desenvolvimento das poliacuteticas sociais a investigaccedilatildeo tem permitido colocar em evidecircncia a
necessidade de identificar definir e sistematizar os princiacutepios norteadores que tenderatildeo a ser
transversais a todos os sectores de poliacutetica social sendo que apenas deste modo se poderaacute
assegurar a coerecircncia entre as diferentes poliacuteticas dos diferentes sectores Neste sentido
torna-se relevante um processo de clarificaccedilatildeo sobre qual o modelo conceptual em que a
estrateacutegia poliacutetica se baseou de forma a que o conjunto de objectivos estrateacutegias processos
de intervenccedilatildeo definiccedilatildeo de resultados alocaccedilatildeo de recursos e indicadores de avaliaccedilatildeo
estejam devidamente articulados e em consonacircncia com os princiacutepios adoptados
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 13
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
2 CONCEITOS E TERMINOLOGIA
A anaacutelise conceptual no domiacutenio da deficiecircncia permite colocar em evidecircncia a existecircncia de
um conjunto de imprecisotildees ao niacutevel dos conceitos com variaccedilotildees relacionadas com o modelo
meacutedico e com o modelo social Neste contexto afigura-se criacutetico clarificar os contornos teoacutericos
e os modelos conceptuais subjacentes aos diferentes conceitos utilizados estabelecendo uma
base teoacuterica de referecircncia que assegure o necessaacuterio grau de coerecircncia e simultaneamente
abrangecircncia
21 EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA DOS SISTEMAS DE CLASSIFICACcedilAtildeO
Para uma clara delimitaccedilatildeo dos modelos teoacutericos que tecircm influenciado historicamente o
desenvolvimento dos conceitos no domiacutenio da deficiecircncia poderemos identificar 2 abordagens
conceptuais distintas
211 A ABORDAGEM TRADICIONAL INDIVIDUALISTA
A preocupaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede em estabelecer uma classificaccedilatildeo das doenccedilas
remonta ao seacuteculo XVIII Mas somente na VI Revisatildeo da Classificaccedilatildeo Internacional de
Doenccedilas (CID-6) em 1948 citada na IX Revisatildeo foram feitas referecircncias a doenccedilas que
poderiam tornar-se croacutenicas exigindo outros serviccedilos aleacutem de cuidados meacutedicos
Ateacute a deacutecada de 70 a CID-8 citada na IX Revisatildeo considerava apenas as manifestaccedilotildees
agudas segundo o modelo meacutedico etiologia rArr patologia rArr manifestaccedilatildeo
Esse modelo mostrou-se limitado para descrever as consequecircncias das doenccedilas pois excluiacutea
as perturbaccedilotildees croacutenicas evolutivas e irreversiacuteveis
Na IX Assembleia da OMS em 1976 surgiu uma nova conceptualizaccedilatildeo a International
Classification of Impairments Disabilities and Handicaps a manual of classification relating to
the consequences of disease (ICIDH) sendo sua traduccedilatildeo a Classificaccedilatildeo Internacional de
Deficiecircncias Incapacidades e Desvantagens um manual de classificaccedilatildeo das consequecircncias
das doenccedilas (CIDID) publicada em 1989
Apesar da abordagem meacutedica individualista ter dominado a cultura ocidental desde pelo
menos o seacuteculo XIX (Oliver 1990 Gleeson 1999) esta encontra-se geralmente associada agrave
Classificaccedilatildeo Internacional da Deficiecircncia Incapacidades e Desvantagens (ICIDH) da OMS
(1980) Em resposta agraves necessidades crescentes ao niacutevel internacional de clarificaccedilatildeo do
sentido do conceito de incapacidade e atendendo agraves criticas progressivas das pessoas com
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 14
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
incapacidades e seus significativos baseadas no facto de que a incapacidade envolve mais do
que um conjunto de preocupaccedilotildees estritamente meacutedicas a OMS constituiu uma comissatildeo de
cientistas sociais para desenvolver a existente Classificaccedilatildeo Internacional de Doenccedilas em
ordem a conseguir abranger as consequecircncias a longo termo das doenccedilas croacutenicas A ICIDH
foi publicada em 1980 sendo largamente reconhecida como o directoacuterio mais abrangente
existente vindo a ser extensivamente utilizada como uma base para as iniciativas
governamentais dos paiacuteses desenvolvidos da Europa e Ameacuterica do Norte e os paiacuteses
subdesenvolvidos do Sul (Ustun et al 2001)
A ICIDH utiliza uma categorizaratildeo tripartida da deficiecircncia incapacidade e desvantagem A
deficiecircncia refere-se a qualquer perda ou irregularidade da estrutura ou das funccedilotildees
anatoacutemica fisioloacutegica ou psicoloacutegica A incapacidade refere-se a qualquer restriccedilatildeo ou perda
(resultante de uma deficiecircncia) da capacidade para executar uma actividade da forma e dentro
do contexto considerado normal para o ser humano A desvantagem refere-se agrave limitaccedilatildeo
resultante de uma deficiecircncia ou incapacidade no desempenho de um dado papel considerado
normativo (dependendo da idade geacutenero e factores sociais e culturais) para aquele indiviacuteduo
(OMS 1980 p 29)
Esta tipologia baseia-se nas noccedilotildees de normalidade fiacutesica e intelectual bem como no facto de
que a incapacidade e a desvantagem satildeo causadas por deficiecircncias ou irregularidades
psicoloacutegicas ou fisioloacutegicas Neste contexto a ICIDH pode ser objecto de criacuteticas a diferentes
niacuteveis Primeiro as percepccedilotildees de deficiecircncia e normalidade satildeo fenoacutemenos sociais pelo que
satildeo sujeitas a substantivas mudanccedilas temporais culturais e situacionais (Hanks and Hanks
1948 Scheer and Groce 1988 Coleridge 1993 Ingstad and Whyte 1995) A dislexia por
exemplo natildeo seria vista como um problema significativo numa sociedade predominantemente
agraacuteria No entanto eacute considerada uma dificuldade de aprendizagem nas sociedades
modernas tecnologicamente avanccediladas nas quais a literacia e a numeracia desempenham
requisitos criacuteticos para a participaccedilatildeo social e econoacutemica Segundo encontra-se impliacutecito na
ICIDH que o organismo humano eacute flexiacutevel e adaptaacutevel enquanto os ambientes fiacutesicos e sociais
o natildeo satildeo Este facto claramente conflitua com a realidade histoacuterica na qual os indiviacuteduos
transformaram continuamente o seu ambiente em funccedilatildeo das suas necessidades (Barnes
1991) Terceiro as definiccedilotildees da ICIDH sugerem que a deficiecircncia a incapacidade e a
desvantagem constituem-se como estados estaacuteticos Para aleacutem do facto desta noccedilatildeo afigurar-
se incorrecta parece criar distinccedilotildees e barreiras entre as pessoas com e sem deficiecircncias
distinccedilotildees que natildeo satildeo necessaacuterias nem deveriam existir Uma tal situaccedilatildeo parece ser
paradoxal atendendo a que a ICIDH possui uma classificaccedilatildeo para cada caracteriacutestica do
organismo fiacutesico e humano (Shakespeare 1994 104)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 15
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Finalmente e mais significativo neste contexto a ICIDH apresenta as deficiecircncias enquanto
causa primaacuteria da incapacidade e da desvantagem Neste contexto a reabilitaccedilatildeo constitui-se
como uma filosofia e uma praacutetica para erradicar ou minimizar os problemas da deficiecircncia e
capacitar aqueles com deficiecircncias designadas para funcionarem nos seus niacuteveis fiacutesico
psicoloacutegico e social mais elevados (Albrecht 1992 23) Por outras palavras as pessoas com
incapacidades tornam-se objectos para serem curados tratados treinados mudados e
tornados normais de acordo com um conjunto particular de valores As limitaccedilotildees de tais
intervenccedilotildees encontram-se sustentadamente documentadas pelos activistas como
incapacidades desde 1960 (Hunt 1966 Sutherland 1981 Zola 1982)
212 A ABORDAGEM LIBERAL OU INTER-RELACIONAL
A abordagem liberal ou inter-relacional encontra-se expressa no uacuteltimo corpo de trabalhos da
OMS para redefinir a incapacidade nomeadamente a Classificaccedilatildeo Internacional de
Funcionalidade Incapacidade e Sauacutede (CIF) conhecida previamente como ICIDH2 (OMS
2002)
Esta redefiniccedilatildeo constituiu uma tentativa concertada para integrar o modelo meacutedico
individualista tradicional e a interpretaccedilatildeo sociopoliacutetica Por um lado como resultado da sua
rejeiccedilatildeo por parte das pessoas com incapacidades organizaccedilotildees e parceiros dentro e fora da
comunidade cientiacutefica (Driedger 1989 Oliver 1990 Barnes et al 2002) e por outro lado
porque apesar da sua vasta utilizaccedilatildeo a sua aplicabilidade tem sido caracterizada por diversas
interpretaccedilotildees (Coleridge 1993 Ingstad 2001) Em siacutentese demonstrou-se como limitada para
muitos dos actores e natildeo forneceu a delimitaccedilatildeo de significado que originalmente pretendia
Em comum com a sua predecessora a CIF manteacutem o constructo tripartido O primeiro niacutevel
deficiecircncia no original relaciona-se com as funccedilotildees e estrutura do organismo O segundo
niacutevel o que era anteriormente incapacidade eacute agora referido como actividade e o terceiro
desvantagem aparece como participaccedilatildeo No entanto e apesar do intenso debate sobre o
significado de incapacidade o conceito eacute preservado como um termo global para os trecircs niacuteveis
de dificuldade de funcionamento Neste cenaacuterio e em contraste com a ICIDH a nova
formulaccedilatildeo eacute apresentada como uma classificaccedilatildeo universal do funcionamento humano As
pessoas ligadas a acccedilotildees de advocacy defendem que esta configuraccedilatildeo oferece um quadro de
inteligibilidade completo para os aspectos funcionais da experiecircncia de sauacutede Nesta
perspectiva a incapacidade permanece uma preocupaccedilatildeo privilegiadamente do domiacutenio da
sauacutede em detrimento do domiacutenio poliacutetico Constitui-se por um lado como um resultado das
caracteriacutesticas da pessoa e por outro dos ambientes fiacutesicos e sociais Deste modo mais do
que se constituir como uma classificaccedilatildeo das pessoas com incapacidades ou dos problemas
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 16
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
que experienciam a CIF afigura-se como uma classificaccedilatildeo do funcionamento a 3 niacuteveis
compreendida em termos neutros (Ustun et al 2001 6-7)
O reconhecimento da importacircncia dos ambientes fiacutesico e social na CIF poderaacute ser equacionado
como uma melhoria significativa em relaccedilatildeo agrave sua predecessora (Hurst 2000) No entanto
parece-nos altamente improvaacutevel que seja mais eficaz do que a anterior classificaccedilatildeo a gerar
uma linguagem universal sobre a incapacidade na medida em que transformar as diferenccedilas
culturais na conceptualizaccedilatildeo das deficiecircncias assume-se como tarefa extremamente
complexa de alcanccedilar (Bury 2000 Miles 2001) Este facto eacute especialmente significativo na
medida em que natildeo obstante a CIF reconhecer o contexto cultural das percepccedilotildees de
incapacidade e por consequecircncia a normalidade o actual sistema de classificaccedilatildeo
permanece fortemente alicerccedilado nas formulaccedilotildees e nos conceitos cientiacuteficos ocidentais
(Finkelstein 1998 Pfeiffer 2000 Baylies 2002)
Adicionalmente apesar da CIF explicitar que os indiviacuteduos satildeo um elemento da anaacutelise da
incapacidade a abordagem biopsicossocial natildeo se encontra muito distanciada do modelo
anterior na medida em que privilegia o indiviacuteduo como ponto de partida para anaacutelise das
funccedilotildees do corpo e actividades O conceito de participaccedilatildeo eacute incluiacutedo mas subdesenvolvido no
esquema conceptual e continua associado agraves circunstacircncias individuais em vez de fortemente
ligado agrave inclusatildeo poliacutetica e social Adicionalmente enquanto a significacircncia do contexto eacute
enfatizada na CIF as estrateacutegias para a sua mensuraccedilatildeo afiguram-se limitadas Os seus
utilizadores satildeo encorajados a classificar os factores ambientais mas natildeo existem ferramentas
eficazes para levar a cabo esta tarefa bem como para avaliar as tendecircncias de incapacidade
ou por outro lado das poliacuteticas governamentais praacuteticas ambientes fiacutesicos e contextos
culturais (Baylies 2002)
Esta aparente descentraccedilatildeo das preocupaccedilotildees poliacuteticas tem caracterizado a maioria da ciecircncia
social mainstream desde o seacuteculo XIX Deste modo a definiccedilatildeo inter-relacional de
incapacidade e a consequente despolitizaccedilatildeo das questotildees associadas reflectiu-se nos
estudos e na literatura produzida nesta aacuterea por acadeacutemicos e investigadores durante a uacuteltima
metade do seacuteculo XX
Mais recentemente reemergiram na Inglaterra um conjunto de respostas poacutes-modernas ao
modelo social da incapacidade Este cenaacuterio tem favorecido o aparecimento de asserccedilotildees de
que tais fenoacutemenos soacute tecircm servido para agudizar e natildeo diminuir a conflituosidade a propoacutesito
da inclusatildeo (Hunt 1981 Germon 1998 Linton 1998 Gordon and Rosenblum 2001)
No quadro da reabilitaccedilatildeo a abordagem inter-relacional eacute sinoacutenima da liberalizaccedilatildeo da poliacutetica
social para as pessoas com incapacidades nos finais dos anos sessenta e setenta em
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 17
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
particular a mudanccedila dos serviccedilos centrados institucionalmente para os serviccedilos e apoios
centrados na comunidade Deste modo a ecircnfase eacute colocada na integraccedilatildeo de pessoas com
incapacidades na sociedade mainstream Os Standards da Equalizaccedilatildeo das Pessoas com
Incapacidades (1993) da ONU explicitam que todos os estados devem providenciar serviccedilos de
reabilitaccedilatildeo Mas esta orientaccedilatildeo recomenda que se vaacute aleacutem do cuidado meacutedico inicial para
incluir uma ampla gama de medidas e actividades desde a reabilitaccedilatildeo baacutesica e generalista
para actividades orientadas por objectivos (UN 199311) Ainda mais significativo todos os
serviccedilos de reabilitaccedilatildeo deveratildeo estar disponiacuteveis nas comunidades locais nas quais as
pessoas com incapacidades se movem No entanto em determinadas circunstacircncias e para
que se reforcem os objectivos de formaccedilatildeo e aprendizagem poderatildeo ser organizados cursos
localizados nas organizaccedilotildees prestadoras de serviccedilos com um quadro temporal o mais
reduzido possiacutevel (UN 1993 19)
Adicionalmente apesar dos Standards enfatizarem a importacircncia do envolvimento das pessoas
com incapacidades e dos seus significativos no desenvolvimento dos programas de
reabilitaccedilatildeo parece natildeo existir uma asserccedilatildeo clara de que tais estrateacutegias devam ser
controladas por ou mensuradas para estes uacuteltimos Existe no entanto uma assunccedilatildeo taacutecita de
que tais serviccedilos seratildeo liderados por profissionais
Adicionalmente desde que a incapacidade na CIF foi apresentada como uma questatildeo de
sauacutede em detrimento de uma questatildeo poliacutetica parece inevitaacutevel que os profissionais no
domiacutenio da reabilitaccedilatildeo continuem a ser dominados ou laquoalienadosraquo pela Medicina (Finkelstein
1998) Este facto poderaacute ficar a dever-se primeiro agrave actual e persistente subjugaccedilatildeo dos
governos nacionais aos interesses corporativos e das organizaccedilotildees econoacutemicas e segundo agrave
diversidade de barreiras econoacutemicas poliacuteticas e culturais experienciadas pelas pessoas com
incapacidades quer nos paiacuteses desenvolvidos quer nos subdesenvolvidos Neste tipo de
cenaacuterio o pensamento ortodoxo sobre a reabilitaccedilatildeo contratualiza um expediente praacutetico para
os poliacuteticos legisladores e organizaccedilotildees profissionais Como resultado os teacutecnicos tecircm
invariavelmente um niacutevel de escolha reduzido na opccedilatildeo pelo modelo meacutedico em detrimento
de soluccedilotildees poliacuteticas colectivas na resposta aos problemas da exclusatildeo
Esta perspectiva parece afigurar-se a oposta da necessaacuteria De facto apoacutes o trabalho de
Talcott Parsons (1951) emergiu uma extensa literatura condenando a laquomedicalizaccedilatildeoraquo do
quotidiano de um conjunto diverso de perspectivas Por exemplo o filoacutesofo austriacuteaco Ivan Illich
nomeou o seacuteculo XX como a era dos profissionais incapacitantes (1977 11) pela sua
apropriaccedilatildeo do conhecimento mistificaccedilatildeo das competecircncias especializadas e a criaccedilatildeo de
uma cultura perversa e persuasiva de dependecircncia Apesar de tais criticas encontrarem a sua
aplicabilidade predominantemente nas naccedilotildees subdesenvolvidas do Ocidente surgiram
trabalhos recentes que sugerem que apesar de existir uma diminuiccedilatildeo significativa dos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 18
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
conhecimentos meacutedicos e de tratamentos com reduzidos niacuteveis de recursos nas naccedilotildees
subdesenvolvidas criacuteticas similares podem ser relevantes para o contexto no qual nos
situamos (Stone 1999 Ingstad 2001 OMS 2001)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 19
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
3 OBJECTIVOS OPERACIONAIS
Pretende-se desenvolver uma anaacutelise longitudinal e multissectorial ao conceito de deficiecircncia
no sentido de estabelecer uma configuraccedilatildeo operacional no quadro da sua aplicabilidade
estatiacutestica Esta anaacutelise insere-se no acircmbito do Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das
Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo
Objectivo Operacionalizar o conceito de deficiecircncia no quadro da sua aplicabilidade
estatiacutestica assegurando os criteacuterios de (a) comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica
e legislativa dentro do contexto portuguecircs (c) conformidade com os referenciais conceptuais
actuais
Metodologia a) Anaacutelise dos referenciais nacionais e internacionais de delimitaccedilatildeo operacional
do conceito b) exploraccedilatildeo de cenaacuterios que viabilizem o cumprimento dos requisitos definidos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 20
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
4 ANAacuteLISE PRELIMINAR DA EVOLUCcedilAtildeO DA TERMINOLOGIA NO
DOMIacuteNIO 41 ESTADO DA ARTE
A evoluccedilatildeo dos conceitos operativos nos domiacutenios da reabilitaccedilatildeo e da inclusatildeo social tem
sido reflectida nas diversas classificaccedilotildees propostas pela OMS Neste quadro evolutivo a
uacuteltima classificaccedilatildeo proposta ndash CIF ndash constitui-se como um modelo de siacutentese entre a
abordagem meacutedica e a abordagem social no domiacutenio da incapacidade e da sauacutede No sentido
de procedermos agrave anaacutelise dos principiais conceitos e termos focalizar-nos-emos na
reestruturaccedilatildeo conceptual proposta pela Classificaccedilatildeo Internacional de Funcionalidade
Incapacidade e Sauacutede (CIF)
O objectivo geral da CIF eacute proporcionar uma linguagem unificada e padronizada assim como
uma estrutura de trabalho para a descriccedilatildeo da sauacutede e de estados relacionados com a sauacutede
A classificaccedilatildeo define os componentes da sauacutede e alguns componentes do bem-estar
relacionados com a sauacutede (tais como educaccedilatildeo e trabalho) Os domiacutenios contidos na CIF
podem portanto ser considerados como domiacutenios da sauacutede e domiacutenios relacionados com a
sauacutede Estes domiacutenios satildeo descritos com base na perspectiva do corpo do indiviacuteduo e da
sociedade em duas listas baacutesicas (1) Funccedilotildees e Estruturas do Corpo e (2) Actividades e
Participaccedilatildeo Como classificaccedilatildeo a CIF agrupa sistematicamente diferentes domiacutenios de uma
pessoa com uma determinada condiccedilatildeo de sauacutede (eg o que uma pessoa com uma doenccedila
ou perturbaccedilatildeo faz ou pode fazer) A funcionalidade eacute um termo que engloba todas as funccedilotildees
do corpo actividades e participaccedilatildeo de maneira similar a incapacidade eacute um termo que inclui
deficiecircncias limitaccedilatildeo da actividade ou restriccedilatildeo na participaccedilatildeo A CIF tambeacutem relaciona os
factores ambientais que interagem com todos estes constructos Neste sentido a classificaccedilatildeo
permite ao utilizador registar perfis uacuteteis da funcionalidade incapacidade e sauacutede dos
indiviacuteduos em vaacuterios domiacutenios
A CIF pertence agrave ldquofamiacuteliardquo das classificaccedilotildees internacionais desenvolvida pela OMS para
aplicaccedilatildeo em vaacuterios aspectos da sauacutede A famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS
proporciona um sistema para a codificaccedilatildeo de uma ampla gama de informaccedilotildees sobre sauacutede
(eg diagnoacutestico funcionalidade e incapacidade motivos de contacto com os serviccedilos de
sauacutede) e utiliza uma linguagem comum padronizada que permite a comunicaccedilatildeo sobre sauacutede e
cuidados de sauacutede em todo o mundo entre vaacuterias disciplinas e ciecircncias
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 21
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Nas classificaccedilotildees internacionais da OMS os estados de sauacutede (doenccedilas perturbaccedilotildees
lesotildees etc) satildeo classificados principalmente na CID-10 (abreviatura da Classificaccedilatildeo
Internacional de Doenccedilas Deacutecima Revisatildeo) que fornece uma estrutura de base etioloacutegica A
funcionalidade e a incapacidade associadas aos estados de sauacutede satildeo classificadas na CIF
Portanto a CID-10 e a CIF satildeo complementares e os utilizadores satildeo estimulados a usar em
conjunto esses dois membros da famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS A CID-10
proporciona um ldquodiagnoacutesticordquo de doenccedilas perturbaccedilotildees ou outras condiccedilotildees de sauacutede que eacute
complementado pelas informaccedilotildees adicionais fornecidas pela CIF sobre funcionalidade Em
conjunto as informaccedilotildees sobre o diagnoacutestico e sobre a funcionalidade datildeo uma imagem mais
ampla e mais significativa da sauacutede das pessoas ou da populaccedilatildeo que pode ser utilizada em
tomadas de decisatildeo
A famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS constitui uma ferramenta valiosa para a
descriccedilatildeo e a comparaccedilatildeo da sauacutede das populaccedilotildees num contexto internacional As
informaccedilotildees sobre a mortalidade (facultadas pela CID-10) e sobre as consequecircncias na sauacutede
(proporcionadas pela CIF) podem ser combinadas de forma a obter medidas sinteacuteticas da
sauacutede das populaccedilotildees Isto permite seguir a sauacutede das populaccedilotildees e a sua distribuiccedilatildeo bem
como avaliar a parte atribuiacuteda agraves diferentes causas
A CIF transformou-se de uma classificaccedilatildeo de ldquoconsequecircncias da doenccedilardquo (versatildeo de 1980)
numa classificaccedilatildeo de ldquocomponentes da sauacutederdquo Os ldquocomponentes da sauacutederdquo identificam o que
constitui a sauacutede enquanto que as consequecircncias se referem ao impacto das doenccedilas na
condiccedilatildeo de sauacutede da pessoa Deste modo a CIF assume uma posiccedilatildeo neutra em relaccedilatildeo agrave
etiologia de modo que os investigadores podem desenvolver inferecircncias causais utilizando
meacutetodos cientiacuteficos adequados De maneira similar esta abordagem tambeacutem eacute diferente de
uma abordagem do tipo determinantes da sauacutede ou ldquofactores de risco Para facilitar o estudo
dos determinantes ou dos factores de risco a CIF inclui uma lista de factores ambientais que
descrevem o contexto em que o indiviacuteduo vive
A CIF descreve a funcionalidade e a incapacidade relacionadas com as condiccedilotildees de sauacutede
identificando o que uma pessoa ldquopode ou natildeo pode fazer na sua vida diaacuteriardquo tendo em vista as
funccedilotildees dos oacutergatildeos ou sistemas e estruturas do corpo assim como as limitaccedilotildees de
actividades e da participaccedilatildeo social no meio ambiente onde a pessoa vive Segundo a OMS a
CID-10 e a CIF satildeo complementares a informaccedilatildeo sobre o diagnoacutestico acrescido da
funcionalidade fornece um quadro mais amplo sobre a sauacutede do indiviacuteduo ou populaccedilotildees Por
exemplo duas pessoas com a mesma doenccedila podem ter diferentes niacuteveis de funcionalidade e
duas pessoas com o mesmo niacutevel de funcionalidade natildeo tecircm necessariamente a mesma
condiccedilatildeo de sauacutede
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 22
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
O termo do modelo da CIF eacute a funcionalidade que cobre os componentes de funccedilotildees e
estruturas do corpo actividade e participaccedilatildeo social A funcionalidade eacute usada no aspecto
positivo e o aspecto negativo corresponde agrave incapacidade Segundo esse modelo a
incapacidade eacute resultante da interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada pelo indiviacuteduo (seja
orgacircnica e ou da estrutura do corpo) a limitaccedilatildeo de suas actividades e a restriccedilatildeo na
participaccedilatildeo social e os factores ambientais que podem actuar como facilitadores ou barreiras
para o desempenho dessas actividades e da participaccedilatildeo
A CIF eacute baseada portanto numa abordagem biopsicossocial que incorpora os componentes
de sauacutede nos niacuteveis corporais e sociais Assim na avaliaccedilatildeo de uma pessoa com deficiecircncias
e incapacidades esse modelo destaca-se do biomeacutedico baseado no diagnoacutestico etioloacutegico da
disfunccedilatildeo evoluindo para um modelo que incorpora as trecircs dimensotildees a biomeacutedica a
psicoloacutegica (dimensatildeo individual) e a social Nesse modelo cada niacutevel age sobre e sofre a
acccedilatildeo dos demais sendo todos influenciados pelos factores ambientais A OMS pretende
incorporar tambeacutem no futuro os factores pessoais importantes na forma de lidar com as
condiccedilotildees limitantes
O objectivo pragmaacutetico da CIF eacute fornecer uma linguagem padronizada e um modelo para a
descriccedilatildeo da sauacutede e dos estados relacionados com a sauacutede permitindo a comparaccedilatildeo de
dados referentes a essas condiccedilotildees entre paiacuteses serviccedilos sectores relativos agrave sauacutede bem
como o acompanhamento da sua evoluccedilatildeo no tempo
No entanto os conceitos apresentados na classificaccedilatildeo introduzem um novo paradigma para
pensar e trabalhar as deficiecircncias e incapacidades elas natildeo satildeo apenas uma consequecircncia
das condiccedilotildees de sauacutede doenccedila mas satildeo determinadas tambeacutem pelo contexto do meio
ambiente fiacutesico e social pelas diferentes percepccedilotildees culturais e atitudes em relaccedilatildeo agrave
deficiecircncias pela disponibilidade de serviccedilos e de legislaccedilatildeo Dessa forma a classificaccedilatildeo natildeo
constitui apenas um instrumento para medir o estado funcional dos indiviacuteduos Aleacutem disso ela
permite avaliar as condiccedilotildees de vida e fornecer subsiacutedios para poliacuteticas de inclusatildeo social
42 FUNCcedilOtildeES DO CORPO
As Funccedilotildees do corpo satildeo as funccedilotildees fisioloacutegicas dos sistemas orgacircnicos (incluindo as
funccedilotildees psicoloacutegicas)
As funccedilotildees e as estruturas do corpo satildeo classificadas em duas secccedilotildees diferentes Essas duas
classificaccedilotildees estatildeo concebidas de forma a serem utilizadas em paralelo Por exemplo as
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Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
funccedilotildees do corpo incluem sentidos humanos baacutesicos como as funccedilotildees da visatildeo e as
estruturas relacionadas aparecem na forma de ldquoolho e estruturas relacionadasrdquo
43 ESTRUTURAS DO CORPO
As Estruturas do Corpo satildeo as partes anatoacutemicas do corpo tais como oacutergatildeos membros e
seus componentes
ldquoCorpo refere-se ao organismo humano como um todo por isso o ceacuterebro e as suas funccedilotildees
ie a mente estatildeo incluiacutedos As funccedilotildees mentais (ou psicoloacutegicas) satildeo portanto incluiacutedas nas
funccedilotildees do corpo As funccedilotildees e as estruturas do corpo satildeo classificadas de acordo com os
sistemas orgacircnicos por isso as estruturas do corpo natildeo satildeo consideradas como oacutergatildeos no
seu sentido restrito
44 DEFICIEcircNCIA
Deficiecircncias satildeo problemas nas funccedilotildees ou na estrutura do corpo tais como um desvio
importante ou uma perda
As deficiecircncias de estrutura podem consistir numa anormalidade defeito perda ou outro desvio
importante relativamente a um padratildeo das estruturas do corpo As deficiecircncias foram definidas
de acordo com os conhecimentos bioloacutegicos actuais ao niacutevel de tecidos ou das ceacutelulas e ao
niacutevel subcelular ou molecular Por motivos praacuteticos no entanto esses niacuteveis natildeo estatildeo
classificados As bases bioloacutegicas das deficiecircncias orientaram essa classificaccedilatildeo e eacute possiacutevel
expandir a classificaccedilatildeo para incluir os niacuteveis celular ou molecular Do ponto de vista meacutedico
deve-se ter em mente que as deficiecircncias natildeo satildeo equivalentes agraves patologias subjacentes mas
sim a manifestaccedilotildees dessas patologias
As deficiecircncias correspondem a um desvio relativamente ao que eacute geralmente aceite como
estado biomeacutedico normal (padratildeo) do corpo e das suas funccedilotildees A definiccedilatildeo dos seus
componentes eacute feita essencialmente por pessoas com competecircncia para avaliar a
funcionalidade fiacutesica e mental de acordo com esses padrotildees
As deficiecircncias podem ser temporaacuterias ou permanentes progressivas regressivas ou estaacuteveis
intermitentes ou contiacutenuas O desvio em relaccedilatildeo ao modelo baseado na populaccedilatildeo e
geralmente aceite como normal pode ser leve ou grave e pode variar ao longo do tempo Estas
caracteriacutesticas satildeo consideradas posteriormente em descriccedilotildees adicionais principalmente nos
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Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
coacutedigos atraveacutes de um qualificador que se acrescenta ao coacutedigo e do qual fica separado por
um ponto
As deficiecircncias natildeo tecircm uma relaccedilatildeo causal com a etiologia ou com a forma como se
desenvolveram Por exemplo a perda da visatildeo ou de um membro pode resultar de uma
anormalidade geneacutetica ou de uma lesatildeo A presenccedila de uma deficiecircncia implica
necessariamente uma causa No entanto a causa pode natildeo ser suficiente para explicar a
deficiecircncia resultante Da mesma forma quando haacute uma deficiecircncia haacute uma disfunccedilatildeo das
funccedilotildees ou estruturas do corpo mas isto pode estar relacionado com qualquer doenccedila
perturbaccedilatildeo ou estado fisioloacutegico
As deficiecircncias podem ser parte ou uma expressatildeo de uma condiccedilatildeo de sauacutede mas natildeo
indicam necessariamente a presenccedila de uma doenccedila ou que o indiviacuteduo deva ser
considerado doente
As deficiecircncias cobrem um campo mais vasto que as perturbaccedilotildees ou as doenccedilas Por
exemplo a perda de uma perna eacute uma deficiecircncia de uma estrutura do corpo mas natildeo eacute uma
perturbaccedilatildeo ou uma doenccedila
As deficiecircncias podem originar outras deficiecircncias Por exemplo a diminuiccedilatildeo da forccedila
muscular pode prejudicar as funccedilotildees do movimento as funccedilotildees cardiacuteacas podem estar
relacionadas com o deacutefice das funccedilotildees respiratoacuterias e uma percepccedilatildeo prejudicada pode estar
relacionada com as funccedilotildees do pensamento
Actualmente na perspectiva da CIF o conceito de deficiecircncia constitui o poacutelo negativo da
componente ldquoFunccedilotildees e Estrutura do Corpordquo sendo descrito atraveacutes da existecircncia de
alteraccedilotildees significativas das funccedilotildees eou das estruturas do corpo O poacutelo positivo desta
componente refere-se agrave integridade funcional e estrutural Neste contexto um dos desafios
criacuteticos das poliacuteticas sociais consiste na operacionalizaccedilatildeo do conceito de deficiecircncia de forma
a que a elegibilidade dos diferentes puacuteblicos alvo se encontre devidamente delimitada
assegurando a eficaacutecia das medidas subjacentes
No entanto a amplitude e abrangecircncia da definiccedilatildeo do conceito de deficiecircncia proposta pela
OMS atraveacutes da CIF coloca um enorme desafio na medida em que qualquer cidadatildeo desde
que apresente um desvio significativo ao niacutevel da estrutura eou funccedilatildeo passa a ser um
potencial beneficiaacuterio das poliacuteticas neste domiacutenio Neste contexto poder-se-atildeo colocar vaacuterias
questotildees A primeira eacute se interessa agraves diferentes poliacuteticas no sector continuarem a ser
desenvolvidas tendo por focus o conceito de pessoas com deficiecircncias sabendo que a sua
distinccedilatildeo ao longo da populaccedilatildeo apenas poderaacute ser feita atraveacutes do niacutevel e extensatildeo da
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
alteraccedilatildeo da integridade estrutural e funcional de cada individuo A segunda questatildeo prende-se
com as consequecircncias conceptuais decorrentes da integraccedilatildeo do modelo social na formulaccedilatildeo
e operacionalizaccedilatildeo dos conceitos a serem utilizados pelas poliacuteticas no sector na medida em
que o aspecto critico deixa de ser a natureza e severidade da deficiecircncia para passar a centrar-
se no niacutevel e tipo de restriccedilotildees de participaccedilatildeo que cada cidadatildeo experiencia na interacccedilatildeo
com os seus contextos de vida
No que concerne agrave primeira questatildeo e atendendo a que a mais recente definiccedilatildeo do conceito
de deficiecircncia proposto pela OMS apresenta um elevado niacutevel de abrangecircncia e um reduzido
potencial diferenciador poderemos equacionar 2 hipoacuteteses centrais de operacionalizaccedilatildeo
a) A primeira hipoacutetese baseia-se na possibilidade de operacionalizar diferentes definiccedilotildees
de deficiecircncia ao longo das diferentes poliacuteticas sociais no sentido de assegurar que as
diferentes medidas alcanccedilam efectivamente as pessoas para as quais foram
elaboradas Esta perspectiva tem a vantagem de uma maior focalizaccedilatildeo nas
caracteriacutesticas especificas do puacuteblico-alvo mas no entanto apresenta uma grande
desvantagem que consiste na elevada probabilidade das diferentes definiccedilotildees
perderem a coerecircncia entre si fragmentando igualmente o modelo teoacuterico a partir do
qual se deveriam basear
b) A segunda hipoacutetese consiste na articulaccedilatildeo operativa de dois conceitos o de
deficiecircncia e o de restriccedilotildees de participaccedilatildeo Nesta perspectiva a elegibilidade de uma
determinada politica social baseia-se na validaccedilatildeo preacutevia da existecircncia da primeira
condiccedilatildeo do puacuteblico-alvo ndash a existecircncia de uma deficiecircncia ndash determinando logo de
seguida o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo a partir do qual os diferentes cidadatildeos
passam a poder aceder agraves medidas especiacuteficas nela contidas O desafio contido nesta
hipoacutetese consiste na necessidade de desenvolvimento de um sistema de avaliaccedilatildeo que
permita avaliar o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo experimentado pelas pessoas com
deficiecircncias determinando atraveacutes do valor aferido quais seriam as pessoas com
acesso agraves medidas Neste cenaacuterio natildeo bastaria que uma pessoa tivesse uma
deficiecircncia pelo que seria necessaacuterio avaliar os efeitos da deficiecircncia em interacccedilatildeo
com o ambiente social ao niacutevel da participaccedilatildeo no sentido de determinar a
elegibilidade As vantagens desta hipoacutetese relacionam-se com (i) a preservaccedilatildeo do
niacutevel de coerecircncia dos conceitos utilizados ao longo das diferentes poliacuteticas sociais (ii)
a existecircncia de um processo comum de afericcedilatildeo e determinaccedilatildeo da elegibilidade ao
longo dos diferentes sectores de politica (iii) a compatibilidade e adequabilidade dos
princiacutepios teoacutericos do modelo social com a operacionalizaccedilatildeo dos sistemas e medidas
poliacuteticos de apoio agraves pessoas com deficiecircncias e (iv) a existecircncia de mecanismos de
avaliaccedilatildeo de elevada transparecircncia controlabilidade e rigor
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
45 INCAPACIDADE
Do ponto de vista de utilizaccedilatildeo dos conceitos de Deficiecircncia e de Incapacidade em Portugal
tecircm subsistido vaacuterias imprecisotildees terminoloacutegicas Primeiro na generalidade dos documentos
internacionais alude-se ao termo ldquopeople with disabilitiesrdquo sendo que invariavelmente esta
expressatildeo eacute traduzida para Portuguecircs como ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo Tal facto parece criar
condiccedilotildees para uma grande permeabilidade semacircntica dificilmente resoluacutevel do ponto de vista
conceptual Segundo deficiecircncia e incapacidade satildeo claramente dois conceitos distintos
Enquanto a deficiecircncia remete para alteraccedilotildees significativas ao niacutevel das estruturas eou das
funccedilotildees do corpo a incapacidade constitui o poacutelo negativo do funcionamento humano em
situaccedilatildeo potencial ou efectiva de participaccedilatildeo no contexto de vida Este facto pressupotildee que os
conceitos de deficiecircncia e de incapacidade natildeo contecircm nenhuma relaccedilatildeo causal entre si nem
nenhuma relaccedilatildeo linear de frequecircncia na medida em que eacute possiacutevel existir uma deficiecircncia
sem que exista uma incapacidade e eacute possiacutevel emergir uma determinada incapacidade sem
que haja uma qualquer deficiecircncia
Deste modo eacute possiacutevel
a) Ter deficiecircncias sem limitaccedilotildees de capacidade (eg uma desfiguraccedilatildeo resultante da
doenccedila de Hansen pode natildeo ter efeito sobre a capacidade da pessoa
b) Ter problemas de desempenho e limitaccedilotildees de capacidade sem deficiecircncias evidentes
(eg reduccedilatildeo de desempenho nas actividades diaacuterias associada a vaacuterias doenccedilas)
c) Ter problemas de desempenho sem deficiecircncias ou limitaccedilotildees de capacidade (eg um
indiviacuteduo HIV positivo ou um ex-doente curado de doenccedila mental que enfrenta
estigmas ou descriminaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais ou no trabalho)
d) Ter limitaccedilotildees de capacidade se natildeo tiver assistecircncia e nenhum problema de
desempenho no ambiente habitual (eg um indiviacuteduo com limitaccedilotildees de mobilidade
pode beneficiar por parte da sociedade de ajudas tecnoloacutegicas de assistecircncia para se
movimentar
e) Experimentar um grau de influecircncia em sentido contraacuterio (eg a inactividade dos
membros pode levar agrave atrofia muscular a institucionalizaccedilatildeo pode resultar numa perda
da socializaccedilatildeo)
Daqui resulta que ao referirmo-nos agraves pessoas com deficiecircncias enquanto puacuteblico-alvo
privilegiado das medidas de reabilitaccedilatildeo poderemos incorrer num desvio significativo de
alocaccedilatildeo dos recursos agraves reais necessidades das pessoas na medida em que natildeo eacute a
deficiecircncia que gera por si mesma a necessidade de reabilitaccedilatildeo mas sim as limitaccedilotildees de
actividade e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo decorrentes da interacccedilatildeo entre as caracteriacutesticas
biopsicossociais e as caracteriacutesticas dos ambientes em que o individuo se move
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
A persistecircncia em traduzir o termo disability para deficiecircncia e natildeo apenas o seu homoacutelogo
anglo-saxoacutenico ndash impairment ndash poderaacute explicar-se pelas seguintes razotildees
a) O potencial efeito estigmatizante da expressatildeo ldquopessoas com incapacidadesrdquo ser maior
do que aquele contido na expressatildeo ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo
b) O termo incapacidade centrar-se exclusivamente nos aspectos negativos do
funcionamento individual classificando a pessoa agrave partida como sendo destituiacuteda de
competecircncias e condiccedilotildees para atingir os niacuteveis normativos de desempenho e
performance num conjunto de domiacutenios da vida pessoal e social
O paradoxo surge igualmente porque enquanto no modelo meacutedico a incapacidade aparece
em termos causais relacionada com a deficiecircncia numa perspectiva exclusivamente individual
no modelo proposto pela OMS operacionalizado na CIF os dois conceitos gozam de total
independecircncia conceptual e operativa sendo que a deficiecircncia passa a ter uma baixa
relevacircncia diferenciadora do ponto de vista do funcionamento humano Ora se atendermos a
que as medidas de reabilitaccedilatildeo pretendem promover os potenciais do funcionamento humano
numa perspectiva de participaccedilatildeo plena do indiviacuteduo nos mais diferenciados contextos de vida
assegurando o co-desenvolvimento de todos os actores e das estruturas sociais necessaacuterias agrave
cidadania plena entatildeo falar de ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo natildeo soacute natildeo eacute relevante no quadro
da loacutegica de intervenccedilatildeo como poderaacute traduzir dificuldades dos actores em mudar
efectivamente do paradigma meacutedico para o paradigma social
Este fenoacutemeno aliaacutes natildeo acontece apenas em Portugal sendo que recentes estudos de
investigaccedilatildeo vieram sugerir a adopccedilatildeo dos conceitos de ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo e
ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo para ultrapassar a aplicaccedilatildeo indevida dos
conceitos de deficiecircncia e incapacidade A utilizaccedilatildeo destes conceitos parece articular de forma
mais precisa com o novo modelo conceptual proposto pela OMS enfatizando a diversidade de
niacuteveis de funcionamento humano e apelando a uma certa noccedilatildeo de relatividade socialmente
construiacuteda Uma das criticas feita pela comunidade de investigadores ao conceito de ldquopessoas
com diversidade funcionalrdquo reside no facto de que a expressatildeo eacute dotada de um tatildeo elevado
niacutevel de abrangecircncia que natildeo permite um niacutevel de diferenciaccedilatildeo relevante na medida em que
todos os cidadatildeos detecircm entre si diversos e diferentes padrotildees de funcionamento humano
Neste sentido o conceito ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo aplicar-se-ia a todos os
cidadatildeos sem excepccedilatildeo A proliferaccedilatildeo destes termos eacute explicada pela necessidade da
comunidade politica e cientifica de construir constructos que sejam socialmente aceites e o
mais neutros possiacuteveis do ponto de vista dos seus valores impliacutecitos No entanto a
impossibilidade epistemoloacutegica de desenvolver expressotildees e conceitos socio-historicamente
neutros parece levar muitas vezes agrave concepccedilatildeo de definiccedilotildees com reduzida identidade isto eacute
de significado demasiado amplo e abrangente o que na expressatildeo da UPIAS ldquopodem significar
tudo e coisiacutessima nenhumardquo (2005)
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Os conceitos ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo ldquopessoas com limitaccedilotildees de
actividaderdquo e ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo afiguram-se comparativamente ao
anterior como um conceito de maior coerecircncia conceptual com o modelo proposto pela OMS e
deteacutem cumulativamente um maior poder diferenciador A sua desvantagem reside no facto de
constituiacuterem expressotildees com maior dificuldade de apreensatildeo e inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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5 ANAacuteLISE DOS REFERENCIAIS NACIONAIS E INTERNACIONAIS
No sentido de obter um conjunto de vectores de referecircncia na estruturaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo do
conceito de deficiecircncia foram analisadas as abordagens desenvolvidas pelos seguintes
organismos INE Eurostat OCDE American Disabilities Act WHO UN
51 INE
Os dados disponiacuteveis no INE parecem indicar a utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na
ICIDH
Deficiecircncia1 Perda ou alteraccedilatildeo de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou
anatoacutemica Nesta definiccedilatildeo estatildeo incluiacutedas as seguintes tipologias2
Deficiecircncia AUDITIVA
Deficiecircncia MENTAL
Deficiecircncia MOTORA
Deficiecircncia ORGAcircNICO-FUNCIONAL
Deficiecircncia PSIQUIAacuteTRICA
Deficiecircncia VISUAL
Incapacidade3 Ausecircncia ou limitaccedilatildeo da capacidade para funcionar estando comprometida a
realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida
diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e originando uma desvantagem para funcionar em
sociedade face a outros
Pessoa deficiente Aquela que tenha uma ou mais das seguintes deficiecircncias a) deficiecircncia
visual b) deficiecircncia auditiva c) deficiecircncia mental d) deficiecircncia motora
1 Nota Na operaccedilatildeo censitaacuteria de 2001 apenas foi observada a deficiecircncia permanente a deficiecircncia temporaacuteria natildeo foi considerada (por exemplo se um indiviacuteduo se desloca com canadianas ou em cadeira de rodas porque partiu uma perna ou se sofre de descolamento parcial da retina que o obriga a andar com uma venda natildeo foi considerado como tendo uma deficiecircncia) 2 Fonte INE ndash Censos 2001 ndash Recenseamento Geral da Populaccedilatildeo (Antecedentes Metodologia e Conceitos) Antecedentes Metodologia e Conceitos 3 Fonte INS ndash Inqueacuterito Nacional agrave Sauacutede
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Trabalhador deficiente Trabalhador que estaacute incapacitado para assegurar por si mesmo total
ou parcialmente a satisfaccedilatildeo de necessidades de uma vida individual ou social normal devido
a uma deficiecircncia congeacutenita ou adquirida das suas capacidades fiacutesicas sensoriais ou
mentais tendo por isso dificuldade em obter eou manter o desempenho de funccedilotildees de acordo
com as suas habilitaccedilotildees idade e experiecircncia profissional
Cidadatildeo Trabalhador com necessidades especiais Cidadatildeo idoso ou portador de
deficiecircncias sensoriais (visuais e auditivas) fiacutesicas (motoras) e cognitivas
52 EUROSTAT
Os dados disponibilizados pelo Eurostat no seu endereccedilo electroacutenico4 parecem indicar a
utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na ICIDH
Conceito Deficiecircncia5
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de deficiecircncia refere-se a uma perda ou alteraccedilatildeo
de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou anatoacutemica
Conceito Incapacidade6
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de incapacidade refere-se agrave ausecircncia ou limitaccedilatildeo
da capacidade para funcionar estando comprometida a realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas
funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e
originando uma desvantagem para funcionar em sociedade face a outros
Conceito Desvantagem7
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito refere-se agrave desvantagem para um dado individuo
decorrente de uma deficiecircncia ou incapacidade
4 httpforumeuropaeuintircdsiscodedinfodatacodedenTheme3htm 5 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 6 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 7 Fonte Key data on health 2000 Eurostat
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
53 OCDE
Definiccedilotildees gerais de incapacidade
No contexto da OCDE identificam-se 2 abordagens distintas no quadro da definiccedilatildeo de
incapacidade
A incapacidade pode ser definida enquanto um estado decorrente de autoavaliaccedilatildeo ou um
status baseado em fontes administrativas eg beneficiaacuterio dos apoios De forma muito
frequente e talvez de forma imprecisa estas duas definiccedilotildees satildeo explicitadas como
incapacidade ldquosubjectivardquo versus rdquoobjectivardquo
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo e instrumentos
A incapacidade autoavaliada eacute medida atraveacutes de inqueacuteritos feitos directamente aos cidadatildeos
nas suas residecircncias Apesar da avaliaccedilatildeo ser baseada de uma forma geral nas respostas agraves
questotildees relativas a problemas de sauacutede de longo termo que limitam as actividades de vida
diaacuteria o detalhe das questotildees eacute geralmente diferente dificultando a comparabilidade dos
dados Por exemplo ldquolongo termordquo eacute parametrizado em 6 meses na Noruega e em 12 meses
na Suiccedila O status dos beneficiaacuterios pode ser avaliado atraveacutes de registos administrativos ou
atraveacutes de inqueacuteritos Os resultados entre as duas fontes satildeo de uma forma geral bastante
diferentes por duas razotildees nucleares os registos administrativos geralmente contam casos e
natildeo pessoas o que em situaccedilotildees de benefiacutecios muacuteltiplos pode levar a contagens duplas por
outro lado os inqueacuteritos satildeo baseados nas respostas sobre o status do beneficiaacuterio e algumas
pessoas podem desejar natildeo revelar a sua condiccedilatildeo perante os benefiacutecios
Nenhuma destas definiccedilotildees e medidas de mensuraccedilatildeo eacute superior a outras pelo que a sua
utilizaccedilatildeo depende dos objectivos do propoacutesito da investigaccedilatildeo e da disponibilidade da
informaccedilatildeo
Abordagens para medir a incapacidade no quadro da aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos agraves populaccedilotildees
a) Incapacidade geral (natildeo especificada)
Puacuteblico-alvo todos os adultos
b) Incapacidade relativa ao trabalho
Puacuteblico-alvo pessoas em idade activa
c) Limitaccedilotildees nas actividades de vida diaacuteria (AVD)
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Puacuteblico-alvo Populaccedilatildeo idosa
54 AMERICAN DISABILITIES ACT
O American Disabilities Act (ADA) desenvolvido em 1990 fornece um conjunto de guidelines
no sentido de assegurar a disponibilizaccedilatildeo de serviccedilos para as pessoas com deficiecircncias bem
como a protecccedilatildeo dos seus direitos legais
A ADA inclui uma definiccedilatildeo legal de incapacidade consistindo na presenccedila de ldquouma deficiecircncia
fiacutesica ou mental que limita significativamente uma ou mais das principais actividades de vidardquo
Independentemente da definiccedilatildeo proposta pela ADA a existecircncia de muacuteltiplos programas a
favor das pessoas com deficiecircncias e os diferentes focus legais em diferentes puacuteblicos alvo
fazem com que tenham emergido uma multiplicidade de definiccedilotildees de incapacidade ao longo
do tempo no quadro das poliacuteticas sociais americanas
55 OMS ONU Revisatildeo dos actuais inqueacuteritos sobre a incapacidade
Apesar de existir um desenvolvimento consideraacutevel dos inqueacuteritos na aacuterea da incapacidade
poder-se-atildeo explicitar algumas observaccedilotildees relativas agrave sua multiplicidade Numa primeira linha
de anaacutelise os inqueacuteritos tendem a focalizar-se nas limitaccedilotildees de actividade eou na deficiecircncia
No que concerne agrave formulaccedilatildeo escrita tendem a existir diferenccedilas significativas entre
inqueacuteritos facto que inviabiliza natildeo raras vezes a comparabilidade dos dados entre inqueacuteritos
As diferentes formulaccedilotildees das questotildees incluem
Tem dificuldade
Eacute capaz de
Faz
Tem sentido problemas em
com ou sem assistecircncia pessoal eou tecnoloacutegica
A questatildeo que se coloca eacute se estas formulaccedilotildees tecircm o mesmo significado isto eacute se todas elas
pretendem medir a capacidade ou a performance De acordo com a CIF a capacidade
remeteria para o potencial de execuccedilatildeo de um indiviacuteduo enquanto a performance diria respeito
ao niacutevel de desempenho efectivo do indiviacuteduo atraveacutes do seu envolvimento numa situaccedilatildeo de
vida real As lacunas existentes e as poucas referecircncias ao niacutevel da forma como os inquiridos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 33
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
satildeo instruiacutedos a responder faz com que natildeo seja possiacutevel desenvolver um discernimento
irrefutaacutevel sobre esta mateacuteria
Do ponto de vista dos domiacutenios abrangidos os inqueacuteritos tecircm apresentado algumas questotildees
sobre a participaccedilatildeo e o ambiente e evidenciam algumas limitaccedilotildees na sua amplitude Os
domiacutenios de actividades e participaccedilatildeo geralmente abrangidos tecircm sido operacionalizados de
uma forma geral nas seguintes dimensotildees
Educaccedilatildeo e emprego (formulado como questotildees de performance)
Outros inqueacuteritos incluem aacutereas como relaccedilotildees interpessoais vida familiar tomada de
decisotildees etc
O domiacutenio relativo aos factores ambientais tem incluiacutedo
Utilizaccedilatildeo e acessibilidadedisponibilidade dos produtos de assistecircncia e da tecnologia
Acessibilidade do ambiente
Disponibilidade dos serviccedilos (sauacutede protecccedilatildeo social educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo)
Evidecircncias muito escassas ao niacutevel da poliacutetica atitudes ambiente natural
planeamento e concepccedilatildeo
A questatildeo de investigaccedilatildeo neste contexto centra-se na seguinte formulaccedilatildeo ldquoo que eacute que os
inqueacuteritos medem como incapacidaderdquo
a) Definiccedilatildeo a priori da incapacidade versus sem incapacidade
Alguns inqueacuteritos sobre a incapacidade especialmente os mais antigos utilizam uma definiccedilatildeo
a priori de incapacidade O objectivo deste tipo de inqueacuteritos eacute contar o nuacutemero de pessoas
que se encaixam na definiccedilatildeo no contexto da populaccedilatildeo total Neste sentido os dados satildeo
analisados de acordo com dois grupos de referecircncia ndash com incapacidade e sem incapacidade ndash
em funccedilatildeo de um conjunto de diferentes variaacuteveis Este tipo de questionaacuterios formula questotildees
do tipo ldquoPossui algum tipo de incapacidade auditiva visual ou fiacutesicardquo Muitas questotildees dos
censos tecircm utilizado este formato
b) Definiccedilatildeo a posteriori de incapacidade versus sem incapacidade
Mais recentemente alguns inqueacuteritos desenvolveram-se em direcccedilatildeo a uma definiccedilatildeo a
posteriori de incapacidade Nestes casos eacute medida a capacidade a performance ao longo de
um conjunto vasto de domiacutenios Este segundo tipo de inqueacuteritos tende a ter uma ampla
aceitaccedilatildeo eg HALS (Canada) HID (Franccedila) inqueacuterito sobre incapacidade na Africa do Sul
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 34
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Inqueacuterito Espanhol sobre incapacidade NHIS-D (USA) inqueacuterito Holandecircs entre outros Estes
instrumentos formulam questotildees relativas agraves dificuldades que as pessoas experienciam em
diferentes domiacutenios produzindo um perfil pessoal que possa colocar em evidecircncia os
diferentes graus de capacidade associados A categorizaccedilatildeo de incapacidade sem
incapacidade eacute formulada ao niacutevel do domiacutenio e natildeo como uma categoria geral de atributo
pessoal Esta abordagem permite uma anaacutelise ao niacutevel de funcionamento individual por
domiacutenio por exemplo comparando a experiecircncia de incapacidade no domiacutenio de mobilidade
versus socializaccedilatildeo versus comunicaccedilatildeo entre outros bem como o impacto dos factores
ambientais nestes diferentes domiacutenios O perfil resultante do funcionamento individual ao longo
de muacuteltiplos domiacutenios eacute similar aos estados de sauacutede individuais ao longo das diferentes
dimensotildees
Vantagens de uma abordagem a posteriori
Estaacute em consonacircncia com a abordagem universal proposta pela CIF Todas as
pessoas experienciam deficiecircncia nalgum ponto e esta experiecircncia eacute caracterizada
numa abordagem a posteriori e natildeo a priori
Decisotildees sobre a criaccedilatildeo de categorias sobre quem tem incapacidade e sobre quem
natildeo tem podem ser tomadas atraveacutes de diferentes niacuteveis de anaacutelise por exemplo
atraveacutes da anaacutelise da experiecircncia das pessoas que experienciam incapacidade em 1 2
ou 3 domiacutenios de cruzar o status de emprego de pessoas com incapacidade ao longo
dos diferentes domiacutenios etc
Deixa de ser necessaacuteria uma definiccedilatildeo tipoloacutegica e categoacuterica de pessoas com
incapacidade O que necessita de ser definido neste contexto eacute o que se designa por
limitaccedilatildeo da capacidade ou problemas de performance ao longo dos diferentes
domiacutenios
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 35
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
6 SISTEMATIZACcedilAtildeO DAS DIMENSOtildeES DE ORGANIZACcedilAtildeO E
OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em todos os estudos efectuados neste domiacutenio foi colocada em evidecircncia a actual dificuldade
de comparabilidade estatiacutestica internacional inter ou intra sectorial independentemente do
organismo referenciador ndash OCDE ONU EUROSTAT INE OMS
Neste contexto desenvolver-se-aacute a extracccedilatildeo de conhecimento tendo por base a identificaccedilatildeo
de um conjunto de eixos de anaacutelise que actuem como vectores de estruturaccedilatildeo na
operacionalizaccedilatildeo do conceito A este propoacutesito atente-se no Quadro 2
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Abordagem Focus Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Delimitaccedilatildeo temporal do
conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo
Design das questotildees
CID-10
ICIDH
ICF
SauacutedeDoenccedila
Deficiecircncia
Incapacidade
a) Geral
b) Relativa ao trabalho
c) Limitaccedilotildees nas
actividades de vida
diaacuteria
Funcionalidade ndash
Niacuteveis de execuccedilatildeo
das actividades por
domiacutenio e niacuteveistipos
de ajudas mobilizadas
Intersubjectivo ndash
vg inqueacuteritos
Objectivo ndash vg
fontes administrativas
A priori
A posteriori
Temporaacuterias
permanentes
Progressivas
regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou
contiacutenuas
Tipo 1 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre uma determinada
condiccedilatildeo individual
combinada com itens
referentes a limitaccedilotildees de
actividade e participaccedilatildeo e
factores contextuais
Tipo 2 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre a presenccedila de uma
pessoa com incapacidade
no agregado familiar
seguindo-se uma lista de
deficiecircncias e
incapacidades
Tipo 3 ndash Checklist de
deficiecircncias
Quadro 2 ndash Eixos de operacionalizaccedilatildeo do conceito
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 37
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 38
Dezembro2006
7 ESCOLHA DO CENAacuteRIO A IMPLEMENTAR
A anaacutelise do Quadro 2 permite-nos uma definiccedilatildeo modular do cenaacuterio a implementar atraveacutes de
uma configuraccedilatildeo do conceito pelos eixos de anaacutelise propostos Uma das dificuldades
evidentes nesta delimitaccedilatildeo prende-se com o cumprimento dos requisitos de (a)
comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica e legislativa dentro do contexto portuguecircs
e (c) conformidade com os referenciais conceptuais actuais sendo que a coexistecircncia destes
criteacuterios afigura-se em muitos casos incompatiacutevel entre si Para efeitos da estruturaccedilatildeo do
cenaacuterio privilegiar-se-aacute a conformidade com os referenciais conceptuais actuais
71 ABORDAGEM No que concerne agrave abordagem privilegia-se a adopccedilatildeo das mais recentes directrizes propostas
pela OMS adoptando explicitamente a CIF
Fundamentaccedilatildeo
A CIF apresenta a capacidade para descrever o funcionamento humano numa
perspectiva biopsicossocial em detrimento da classificaccedilatildeo anterior (ICIDH) que se
focalizava na dimensatildeo biomeacutedica A CIF foi desenvolvida no plano conceptual para ser aplicaacutevel em diferentes aacutereas e
sectores A CIF eacute aplicaacutevel transversalmente agraves dimensotildees de cultura idade geacutenero sendo um
instrumento sistemaacutetico para descrever e medir a sauacutede e o funcionamento humano
num dado contexto A CIF constitui-se enquanto instrumento potencial para a poliacutetica social design das
intervenccedilotildees nos domiacutenios da sauacutede educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e intervenccedilatildeo social Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
72 FOCUS
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo da centraccedilatildeo da recolha de dados ao niacutevel
da dimensatildeo de funcionalidade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 39
Dezembro2006
Fundamentaccedilatildeo
Consonacircncia com o modelo conceptual proposto pela CIF enfatizando o caraacutecter
dinacircmico e interaccional (pessoa factores contextuais) do funcionamento de cada
pessoa Permite caracterizar as limitaccedilotildees de actividade e restriccedilotildees de participaccedilatildeo dos
cidadatildeos identificando necessidades de intervenccedilotildees especializadas numa loacutegica de
empowerment e participaccedilatildeo social Permite analisar a adequabilidade e ajustamento das actuais medidas poliacuteticas do
ponto de vista dos seus objectivos e os problemas detectados ao niacutevel da participaccedilatildeo
dos cidadatildeos ao longo de um conjunto diversificado de domiacutenios
73 MEacuteTODOS DE MENSURACcedilAtildeO
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo de meacutetodos intersubjectivos nomeadamente
inqueacuteritos
Fundamentaccedilatildeo
Flexibilidade ao niacutevel da abrangecircncia e profundidade das dimensotildees
Maior facilidade na implementaccedilatildeo atendendo agrave disponibilizaccedilatildeo de uma amostra
delimitada
Maior niacutevel de controlo sobre as condiccedilotildees de observaccedilatildeo e da entrevista devido ao
menor nuacutemero de entrevistas a ser implementado
74 DELIMITACcedilAtildeO CONCEPTUAL E TEMPORAL DO CONCEITO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo temporal e apesar de se privilegiar as vantagens anteriormente
explicitadas no desenvolvimento de uma definiccedilatildeo a posteriori assume-se a necessidade
politica de delimitar o campo de intervenccedilatildeo do conjunto de medidas sociais neste domiacutenio
pelo que a delimitaccedilatildeo conceptual poderaacute ser objecto de operacionalizaccedilatildeo atraveacutes dos
seguintes paracircmetros
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 40
Dezembro2006
Poder-se-aacute colocar a questatildeo de saber se a delimitaccedilatildeo do conceito proposta remete
especificamente para ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ou para ldquopessoas com limitaccedilotildees de
participaccedilatildeordquo Atendendo a que a definiccedilatildeo comporta uma abordagem sisteacutemica enfatizando a
interacccedilatildeo entre um conjunto diversificado de componentes que produzem impacto na
funcionalidade da pessoa a resposta natildeo eacute linear dependendo da ecircnfase socio-histoacuterica e da
abordagem sociopoliacutetica que se escolher enfatizar No entanto e do ponto de vista conceptual
privilegia-se a adopccedilatildeo do conceito ldquopessoas com limitaccedilotildees de participaccedilatildeordquo dado que existe
total autonomia operativa entre os diferentes constructos Neste sentido a deficiecircncia natildeo
constitui um factor causal linear das limitaccedilotildees de actividade e das restriccedilotildees ao niacutevel da
participaccedilatildeo mas antes uma das componentes que em interacccedilatildeo com outras podem
provocar impactos ao niacutevel da funcionalidade do indiviacuteduo Por uacuteltimo refira-se que a tipologia
ldquopessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeordquo poderaacute ser alvo de criticas por constituir
uma designaccedilatildeo que apela a duas componentes em simultacircneo (actividades e participaccedilatildeo)
excluindo outras e ser demasiado longa para uma definiccedilatildeo tipoloacutegica A este propoacutesito pode-
se sugerir a delimitaccedilatildeo ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo constituindo esta
expressatildeo uma abordagem holiacutestica ao conjunto de componentes que interferem com o
funcionamento humano Deste modo poderemos ter as seguintes designaccedilotildees
Pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Pessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo
Pessoas com limitaccedilotildees de funcionalidade
Figura 2 ndash Possiacuteveis designaccedilotildees
O Quadro 3 pretende fornecer uma visatildeo sistemaacutetica sobre o processo de decisatildeo da
designaccedilatildeo a adoptar
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
deficiecircncias
Tradiccedilatildeo analiacutetica dentro do
contexto portuguecircs
Em conformidade com o modelo
meacutedico ndash centra-se nas alteraccedilotildees
de estrutura e funccedilatildeo ndash
focalizaccedilatildeo na pessoa
Desarticulado dos pressupostos do
modelo social ndash natildeo remete para a
experiecircncia de incapacidade
enquanto produto da interacccedilatildeo
entre pessoa e ambiente
Mai
or
Abr
angecirc
ncia
Mai
or
Espe
cific
idad
e
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 41
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
incapacidades
Em conformidade com a
delimitaccedilatildeo anglo-saxoacutenica que
utiliza o conceito Disability
Focalizaccedilatildeo no poacutelo negativo do
funcionamento humano ndash
funcionalidadeincapacidade
Ao focalizar-se na experiecircncia de
incapacidade enquanto
interacccedilatildeo pessoa-ambiente
remete indirectamente para a
mobilizaccedilatildeo de apoios e recursos
de forma a ultrapassar eou
eliminar os obstaacuteculos ao
funcionamento em contexto
O potencial efeito estigmatizante
da expressatildeo ldquopessoas com
incapacidadesrdquo
Pessoas com
diversidade
Funcional
Em conformidade com o modelo
social
Focaliza-se na gestatildeo das
diferenccedilas e no seu impacto ao
niacutevel da participaccedilatildeo das pessoas
na sociedade
Elevado niacutevel de abrangecircncia natildeo
permitindo um niacutevel de
diferenciaccedilatildeo relevante na
medida em que todos os cidadatildeos
detecircm entre si diversos e
diferentes padrotildees de
funcionamento humano
Conceito dificilmente
operacionalizaacutevel do ponto de
vista da formulaccedilatildeo das poliacuteticas e
da delimitaccedilatildeo dos puacuteblicos-alvo
Pessoas com
restriccedilotildees ao
niacutevel da
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos Desta forma
todos os obstaacuteculos agrave participaccedilatildeo
relacionados com discriminaccedilatildeo
social preconceitos estereoacutetipos
deficiecircncias doenccedilas croacutenicas
entre outros satildeo incluiacutedos
Natildeo inclui as limitaccedilotildees de
actividade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 42
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
limitaccedilotildees de
actividade e
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida e simultaneamente no
domiacutenio das limitaccedilotildees de
actividade
Ruptura com a tradiccedilatildeo analiacutetica
no sector
Dificuldade de apreensatildeo e
inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Natildeo inclui as alteraccedilotildees da
estrutura e da funccedilatildeo
Pessoas com
limitaccedilotildees de
funcionalidade
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel das
diferentes dimensotildees constituintes
da funcionalidade e do
funcionamento humano
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos
Pessoas com
deficiecircncias e
incapacidades
Natildeo introduz ruptura com a
tradiccedilatildeo analiacutetica no sector
Inclui as alteraccedilotildees de estrutura e
funccedilatildeo bem como as alteraccedilotildees
decorrentes ao niacutevel da
funcionalidade
Diferencia os conceitos de
deficiecircncia e incapacidade
autonomizando-os e fornecendo
uma base compreensiva para o
natildeo estabelecimento de relaccedilotildees
de causa-efeito entre os ambos
Abrange os obstaacuteculos que
emergem na interacccedilatildeo pessoa-
contextos de vida e
simultaneamente no domiacutenio das
limitaccedilotildees de actividade
Poder diferenciador e delimitador
na definiccedilatildeo do puacuteblico-alvo
Em alinhamento estrateacutegico com o
PAIPDI
Designaccedilatildeo de compromisso com
os referenciais teoacutericos do modelo
social e dos princiacutepios da ldquoeacutetica da
diversidaderdquo
Quadro 3 ndash Visatildeo comparativa das hipoacuteteses da designaccedilatildeo a adoptar
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 43
Dezembro2006
75 DELIMITACcedilAtildeO DA DURACcedilAtildeO E CURSO DE EVOLUCcedilAtildeO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo interessa a caracterizaccedilatildeo nas
3 dimensotildees desenvolvidas
Fundamentaccedilatildeo
Afigura-se relevante caracterizar a ocorrecircncia das deficiecircncias quanto aacute sua
consistecircncia no tempo ndash temporaacuterias permanentes ndash analisando os factores
contextuais associados consequecircncias ao niacutevel das actividades e da participaccedilatildeo ao
longo de um conjunto de domiacutenios em ordem agrave extracccedilatildeo de implicaccedilotildees no acircmbito
das poliacuteticas sociais
No acircmbito da adaptabilidade e da adequaccedilatildeo das medidas poliacuteticas agraves necessidades
especiacuteficas dos cidadatildeos torna-se relevante caracterizar a deficiecircncia quanto agrave
natureza do seu curso evolutivo ndash progressivas regressivas estaacuteveis O mesmo
criteacuterio eacute aplicaacutevel quanto aacute dimensatildeo de padratildeo de manifestaccedilatildeo ndash intermitente
contiacutenua
No entanto e apesar da incapacidade se manifestar ao longo do ciclo de vida da pessoa
de forma multimodal para efeitos de delimitaccedilatildeo e de definiccedilatildeo do conceito de pessoas
com deficiecircncias e incapacidades privilegiaremos o caraacutecter permanente Desta forma
excluem-se as manifestaccedilotildees temporaacuterias de incapacidade que enviesariam a anaacutelise e o
desenvolvimento de poliacuteticas neste domiacutenio
76 DESIGN DAS QUESTOtildeES
No que concerne ao design das questotildees privilegia-se a escolha de questotildees tipo 1
Fundamentaccedilatildeo
Em consonacircncia com a CIF
Permite comparabilidade estatiacutestica futura
Permite a caracterizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre os factores de funcionalidade ndash integridade
estrutural e funcional actividades participaccedilatildeo e factores contextuais
Permite o design das poliacuteticas sociais e metodologias de intervenccedilatildeo alicerccediladas nas
necessidades especiacuteficas dos cidadatildeos em torno das dimensotildees de inclusatildeo social
Domiacutenios
Visatildeo
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 44
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Audiccedilatildeo
Comunicaccedilatildeo
Mobilidade
Dor
Aprendizagem e funcionamento psicoloacutegico
Autocuidados e vida domeacutestica
Condiccedilotildees gerais de sauacutede
Mobilizaccedilatildeo de ajudas ou equipamento especializado
Participaccedilatildeo social
Transporte e educaccedilatildeo
77 PROPOSTA DE DELIMITACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em funccedilatildeo das dimensotildees caracterizadas e dos criteacuterios privilegiados desenvolveu-se o
seguinte enquadramento conceptual
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 45
Dezembro2006
Figura 2 ndash Enquadramento conceptual da delimitaccedilatildeo do conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso da evoluccedilatildeo
Temporaacuterias permanentes
Progressivas regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou contiacutenuas
Focus
Funcionalidade ndash Niacuteveis de execuccedilatildeo das actividades por domiacutenio e niacuteveistipos de ajudas mobilizadas
Abordagem CIF
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo temporal do conceito
A priori
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Inter-subjectivo
Design das questotildees
Questatildeo geneacuterica sobre uma determinada condiccedilatildeo individual combinada com itens referentes a limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo e factores contextuais
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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8 CRITEacuteRIOS DE ELEGIBILIDADE DO PUacuteBLICO-ALVO E SISTEMAS DE
AVALIACcedilAtildeO
A operacionalizaccedilatildeo do conceito de incapacidade tem sido abordada de forma heterogeacutenea
entre diferentes modalidades de politica e os diferentes contextos socioculturais de cada paiacutes
De uma forma geral encontram-se 2 eixos criacuteticos na sua operacionalizaccedilatildeo
a) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de trabalho (na ocupaccedilatildeo preacutevia ou numa nova
ocupaccedilatildeo ajustada agraves alteraccedilotildees funcionais)
b) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de obter rendimentos provenientes do trabalho
A explicitaccedilatildeo dos criteacuterios de delimitaccedilatildeo do conceito de incapacidade nos diferentes paiacuteses
encontra-se na Quadro 4
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Austraacutelia 2 Criteacuterios possuir uma incapacidade que resulte
num score nunca inferior a 20 nas tabelas de
incapacidades e incapacidade em trabalhar 30
horas ou mais por semana ou em ser
reconvertido para trabalho em contexto regular
nos proacuteximos 2 anos
Nenhum
Aacuteustria 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho (50
de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo para
trabalhadores sem qualificaccedilotildees) papel criacutetico
das decisotildees dos tribunais devido a definiccedilotildees
legais imprecisas
Nenhum mas as
restriccedilotildees de sauacutede
devem ter uma duraccedilatildeo
igual ou superior a 6
meses
Beacutelgica 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na actual ocupaccedilatildeo
1 ano
Canada Incapacidade severa e prolongada que impeccedila de
desenvolver trabalho numa base regular
Nenhum
Dinamarca 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum mas a
reabilitaccedilatildeo precisa de
estar completa
Franccedila 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual mas a
totalidade do subsidio requer igualmente perda de
capacidade de trabalho
Nenhum no caso das
condiccedilotildees estarem
estaacuteveis mas muito
frequentemente apoacutes 3
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 47
Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
anos
Alemanha 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho a
incapacidade parcial eacute calculada em funccedilatildeo do nordm
de horas que a pessoa pode trabalhar
Nenhum mas a
incapacidade deve ter
uma duraccedilatildeo miacutenima
de 26 semanas
Itaacutelia 666reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum
Coreia Criteacuterios meacutedicos (niacuteveis de incapacidade
definidos de forma detalhada)
Periacuteodo de espera de
50 dias (os subsiacutedios
de doenccedila natildeo se
encontram disponiacuteveis)
Meacutexico 50 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo Nenhum
Holanda 15 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
(25 para os trabalhadores por conta proacutepria e
jovens com incapacidade) grau de incapacidade
calculado pela diferenccedila de remuneraccedilatildeo entre o
actual posto de trabalho compatiacutevel com as
limitaccedilotildees funcionais e o anterior
1 ano
Noruega 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho O
grau de subsiacutedio eacute calculado pela capacidade de
remuneraccedilatildeo
Nenhum (apoacutes ter
completado a
reabilitaccedilatildeo vocacional)
Poloacutenia Reduccedilatildeo temporaacuteria ou permanente da
capacidade de trabalho
Nenhum
Portugal 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual
Nenhum mas na
praacutetica ao fim de 3
anos (fim do periacuteodo de
doenccedila de longo termo)
Espanha 33 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho na
ocupaccedilatildeo actual incapacidade para todo e
qualquer trabalho para a totalidade do subsiacutedio
1 ano (embora seja
possiacutevel a candidatura
antes deste prazo em
casos de incapacidade
permanente)
Sueacutecia 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho grau
de incapacidade parcial calculado a partir das
horas que uma pessoa pode trabalhar
Nenhum
Suiccedila 40 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho para
as pessoas inactivas o grau de incapacidade eacute
calculado em relaccedilatildeo aacute actividade actual
1 ano
Turquia 666 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho
com um focus meacutedico bastante significativo
Nenhum
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 48
Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Reino Unido Limitaccedilotildees nas actividades de vida quotidianas
relevantes para o trabalho (avaliaccedilotildees meacutedicas
predominantes) teste ocupacional durante a s
primeiras 28 semanas (subsidio de doenccedila)
28 semanas
Estados
Unidos
Reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
incapacidade em investir numa actividade
profissional com rendimentos ($ US 740 por mecircs)
5 meses (nem sempre
cobertos pelos
subsiacutedios de curto-
termo) e 24 meses
para a cobertura
meacutedica
Quadro 4 ndash Definiccedilotildees de incapacidade e tempos regulamentares
Um dos desafios que se coloca aos actuais sistemas reside na delimitaccedilatildeo da elegibilidade do
puacuteblico-alvo Para cumprir este objectivo satildeo necessaacuterios sistemas de avaliaccedilatildeo holiacutesticos
abrangentes coerentes e que permitam chegar a resultados de forma consistente e com
validade interna No actual contexto a CIF propotildee constituir-se como o instrumento conceptual
abrangente para caracterizar os diferentes domiacutenios e niacuteveis de funcionalidade incapacidade
de forma coerente e integrada Neste sentido uma das vantagens apontadas para a adopccedilatildeo
do modelo desenvolvido pela OMS eacute a possibilidade de uniformizaccedilatildeo de conceitos e portanto
da utilizaccedilatildeo de uma linguagem padratildeo que permita a comunicaccedilatildeo entre investigadores
gestores profissionais de sauacutede organizaccedilotildees da sociedade civil e utilizadores em geral
Um dos campos de estudo mais explorados para a aplicaccedilatildeo da CIF tem sido a aacuterea de
Medicina Fiacutesica e de Reabilitaccedilatildeo no que concerne ao acompanhamento do estado de sauacutede
dos pacientes em tratamento O uso da CIF tem sido considerado tambeacutem na avaliaccedilatildeo apoacutes
transtornos agudos condiccedilotildees traumaacuteticas condiccedilotildees croacutenicas e na geriatria
Alguns autores argumentam que a CIF deve ser explorada como uma base de informaccedilotildees
padronizadas em estudos sobre incapacidade profissional quando haacute necessidade de
relacionar dados de sauacutede ocupacional com os da Seguranccedila Social
Na Sauacutede Puacuteblica tradicionalmente pouca atenccedilatildeo tem sido dada agraves pessoas com
incapacidades No entanto ao lado de recentes investimentos por parte de organizaccedilotildees e de
alguns governos a publicaccedilatildeo do modelo da CIF fornece as bases para as poliacuteticas e
disciplinas da Sauacutede Puacuteblica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo que apresenta deficiecircncias e
incapacidades Assim uma das possibilidades de uso da CIF pode ser a contribuiccedilatildeo para
responder a importantes questotildees de sauacutede puacuteblica tais como qual o estado de sauacutede das
pessoas com deficiecircncias comparadas com as demais que necessidades e que tipos de
intervenccedilotildees satildeo mais adequadas para reduzir condiccedilotildees secundaacuterias e promover a
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na sociedade entre outras
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 49
Dezembro2006
Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 50
Dezembro2006
Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 51
Dezembro2006
Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
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Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 53
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IacuteNDICE
1 EVOLUCcedilAtildeO DOS REFERENCIAIS CONCEPTUAIS NO DOMIacuteNIO DA INCLUSAtildeO DE PESSOAS
COM DEFICIEcircNCIAS E INCAPACIDADES
4
11 EVOLUCcedilAtildeO DE PARADIGMAS E MODELOS TEOacuteRICOS 4
12 PERSPECTIVA EVOLUTIVA DO MODELO SOCIAL 7
13 DESAFIOS EMERGENTES NO PLANO CONCEPTUAL COM IMPLICACcedilOtildeES NO DOMIacuteNIO DAS
INTERVENCcedilOtildeES
10
2 CONCEITOS E TERMINOLOGIA 14
21 EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA DOS SISTEMAS DE CLASSIFICACcedilAtildeO 14
211 A ABORDAGEM TRADICIONAL INDIVIDUALISTA 14
212 A ABORDAGEM LIBERAL OU INTER-RELACIONAL 16
3 OBJECTIVOS OPERACIONAIS 20
4 ANAacuteLISE PRELIMINAR DA EVOLUCcedilAtildeO DA TERMINOLOGIA NO DOMIacuteNIO 21
41 ESTADO DA ARTE 21
42 FUNCcedilOtildeES DO CORPO 23
43 ESTRUTURAS DO CORPO 24
44 DEFICIEcircNCIA 24
45 INCAPACIDADE 27
5 ANAacuteLISE DOS REFERENCIAIS NACIONAIS E INTERNACIONAIS 30
51 INE 30
52 EUROSTAT 31
53 OCDE 32
54 AMERICAN DISABILITIES ACT 33
55 OMS ONU 35
6 SISTEMATIZACcedilAtildeO DAS DIMENSOtildeES DE ORGANIZACcedilAtildeO E OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO
CONCEITO
36
7 ESCOLHA DO CENAacuteRIO A IMPLEMENTAR 38
71 ABORDAGEM 38
72 FOCUS 38
73 MEacuteTODOS DE MENSURACcedilAtildeO 39
74 DELIMITACcedilAtildeO CONCEPTUAL E TEMPORAL DO CONCEITO 39
75 DELIMITACcedilAtildeO DA DURACcedilAtildeO E CURSO DE EVOLUCcedilAtildeO 43
76 DESIGN DAS QUESTOtildeES 43
77 PROPOSTA DE DELIMITACcedilAtildeO DO CONCEITO 44
8 CRITEacuteRIOS DE ELEGIBILIDADE DO PUacuteBLICO-ALVO E SISTEMAS DE AVALIACcedilAtildeO 46
9 BIBLIOGRAFIA 53
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
1 EVOLUCcedilAtildeO DOS REFERENCIAIS CONCEPTUAIS NO DOMIacuteNIO DA
INCLUSAtildeO DE PESSOAS COM DEFICIEcircNCIAS E INCAPACIDADES
11 EVOLUCcedilAtildeO DE PARADIGMAS E MODELOS TEOacuteRICOS
Ao pensarmos as questotildees relativas agraves deficiecircncias e incapacidades conveacutem relevar as
mudanccedilas societais operadas sobre as percepccedilotildees ligadas agrave incapacidade Desde os anos
sessenta tem existido uma progressiva consciencializaccedilatildeo por parte de poliacuteticos legisladores
e investigadores sociais de que o problema da incapacidade natildeo eacute susceptiacutevel de continuar a
ser considerado numa perspectiva individual estritamente meacutedica (Barnes and Mercer 2003)
Este facto poderaacute encontrar a sua explicaccedilatildeo (a) num crescente nuacutemero de pessoas da
sociedade com uma qualquer deficiecircncia e incapacidade fiacutesica ou intelectual e (b) porque em
parte quanto maior for a sofisticaccedilatildeo tecnoloacutegica e cultural de uma dada sociedade maior o
grau de incapacidade gerada (Oliver 1990) Estimativas recentes sugerem a existecircncia de 50
milhotildees de pessoas com incapacidades na Europa e 500 milhotildees em todo o mundo sendo que
eacute esperado que estes nuacutemeros aumentem significativamente nas proacuteximas deacutecadas quer nos
paiacuteses considerados desenvolvidos quer nas naccedilotildees subdesenvolvidas (IDF 1998) Este
cenaacuterio fica a dever-se a um conjunto diversificado de factores tais como os progressos ao
niacutevel da medicina o envelhecimento das populaccedilotildees a intensificaccedilatildeo do ritmo da mudanccedila
social e tecnoloacutegica os conflitos militares e o terrorismo (Coleridge 1993 Ingstad 2001)
Todos estes factores tecircm implicaccedilotildees econoacutemicas poliacuteticas e culturais para os governos
nacionais e organismos internacionais como a Uniatildeo Europeia e as Naccedilotildees Unidas Uma
preocupaccedilatildeo crescente focaliza-se no aumento dos custos com os programas de reabilitaccedilatildeo
reconhecidos como cientificamente apropriados e com respostas socialmente ajustadas para
os problemas encontrados pelas pessoas com incapacidades (Stone 1985 Albrecht 1992
Sandvin 2002)
A evoluccedilatildeo conceptual no domiacutenio das poliacuteticas e dos modelos organizadores das intervenccedilotildees
no contexto da reabilitaccedilatildeo e da inclusatildeo social tem sido reflectida na forma como os diversos
actores sociais equacionam e problematizam as questotildees ligadas agraves deficiecircncias e
incapacidades Neste quadro evolutivo constata-se que as deficiecircncias eram equacionadas
como um problema das proacuteprias pessoas directamente causado por doenccedila acidente ou outra
condiccedilatildeo de sauacutede passiacutevel de melhorar atraveacutes de intervenccedilotildees meacutedicas tais como a
reabilitaccedilatildeo Neste sentido a perspectiva das poliacuteticas centrava-se no reconhecimento de
necessidades especiais atraveacutes da criaccedilatildeo de serviccedilos especiais Estes serviccedilos baseavam-se
na criaccedilatildeo de uma rede de cuidados especiacutefica para as pessoas com deficiecircncias favorecendo
mecanismos de institucionalizaccedilatildeo Outra caracteriacutestica deste estaacutedio inicial de
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 4
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
conceptualizaccedilatildeo das deficiecircncias e incapacidades baseava-se na focalizaccedilatildeo de todos os
processos de poder e controlo das intervenccedilotildees nos teacutecnicos e profissionais do sector Do
ponto de vista da envolvente cultural assistia-se ao reforccedilo da estigmatizaccedilatildeo e dos
preconceitos em relaccedilatildeo agraves pessoas com deficiecircncias e incapacidades atraveacutes da mensagem
de impossibilidade de integraccedilatildeo das diferenccedilas materializadas nas diferentes deficiecircncias e
incapacidades ao niacutevel das estruturas sociais e dos serviccedilos disponiacuteveis nos sistemas
regulares Do ponto de vista da focalizaccedilatildeo e dos objectivos das poliacuteticas estas centram-se no
indiviacuteduo sendo que o seu principal objectivo era activar mecanismos de compensaccedilatildeo
capazes de atenuar os efeitos decorrentes das incapacidades
Adicionalmente refira-se que uma das caracteriacutesticas deste periacuteodo eacute a de que o locus de
responsabilidade das poliacuteticas assenta no modelo do Estado-providecircncia do periacuteodo fordista
As poliacuteticas sociais tradicionais satildeo baseadas numa orientaccedilatildeo meacutedica na interpretaccedilatildeo da
natureza das deficiecircncias e incapacidades pelo que no conjunto de caracteriacutesticas
enunciadas tecircm sido identificados elementos integrantes do modelo meacutedico de abordagem agraves
deficiecircncias e incapacidades
Os documentos internacionais provenientes da Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) e os
proacuteprios documentos de poliacutetica europeia comeccedilaram progressivamente a colocar em
evidecircncia as deficiecircncias e incapacidades natildeo como um atributo inerente agrave pessoa mas como
um resultado da interacccedilatildeo entre a pessoa e o ambiente incluindo as suas estruturas fiacutesicas (o
design dos edifiacutecios sistemas de transporte etc) as relaccedilotildees sociais e as construccedilotildees sociais
e crenccedilas que levam agrave discriminaccedilatildeo das pessoas Deste modo as deficiecircncias e
incapacidades tornam-se um problema relevante para as poliacuteticas sociais em consequecircncia da
adopccedilatildeo de um modelo que privilegia a adequaccedilatildeo dos contextos agraves pessoas fazendo com
que o seu focus se descentre uacutenica e exclusivamente da componente individual para passar a
contemplar a relaccedilatildeo da pessoa com os seus ambientes e contextos de vida bem como os
obstaacuteculos e barreiras sociais que emergem nesta interacccedilatildeo Neste sentido a participaccedilatildeo de
todos os cidadatildeos nos mais diversificados contextos da vida social passa a constituir uma
questatildeo de direitos e de igualdade de oportunidades
Do ponto de vista das poliacuteticas sociais pode-se observar dois focos distintos no discurso e nas
propostas de inclusatildeo O primeiro trabalha a inclusatildeo voltada para a ampliaccedilatildeo da cidadania
enfatizando o discurso do direito de interagir e o direito agrave participaccedilatildeo social atraveacutes das redes
sociais na construccedilatildeo do projecto colectivo O segundo focaliza o combate agrave exclusatildeo como
elemento voltado para a inserccedilatildeo dos puacuteblicos desfavorecidos no contexto do mercado de
trabalho Neste caso o foco da inclusatildeo tem o seu epicentro na profissionalizaccedilatildeo e na
capacitaccedilatildeo para o trabalho e emprego Paralelamente aos dois focos explicitados subjaz a
necessidade de eliminaccedilatildeo das barreiras ambientais (fiacutesicas psicoloacutegicas e socioloacutegicas) como
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 5
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
condiccedilatildeo necessaacuteria agrave participaccedilatildeo plena das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na
sociedade numa loacutegica de igualdade de oportunidades
Este desenvolvimento conceptual na forma como as deficiecircncias e incapacidades satildeo
equacionadas faz com que pela primeira vez seja reconhecida a possibilidade das diferentes
necessidades das pessoas com deficiecircncias e incapacidades constituiacuterem objecto de resposta
nos serviccedilos e estruturas regulares da sociedade Este facto assenta na reconfiguraccedilatildeo dos
modelos de inclusatildeo e de capacitaccedilatildeo colectiva de todos os actores sociais que directa ou
indirectamente contribuem para a exclusatildeo inclusatildeo das pessoas com deficiecircncias e
incapacidades Deste modo inicia-se a estruturaccedilatildeo das perspectivas de mainstreaming que
tecircm vindo a intencionalizar a implementaccedilatildeo de serviccedilos especializados assentes numa loacutegica
de consultoria baseados nas estruturas e serviccedilos da comunidade Esta ruptura com o modelo
meacutedico na forma como a deficiecircncia eacute conceptualizada implicou que as poliacuteticas comeccedilassem
a ser dirigidas agrave remoccedilatildeo das barreiras agrave plena participaccedilatildeo para as pessoas com deficiecircncias
e incapacidades em vez de ldquoproblematizarrdquo a pessoa e focalizarem-se apenas nela Pode-se
verificar esta abordagem atraveacutes do desenvolvimento de regulamentos sobre o design de
edifiacutecios e nas infra-estruturas de transportes no sentido de prevenir a construccedilatildeo de situaccedilotildees
e contextos incapacitantes e reduzir as barreiras existentes entre outras manifestaccedilotildees
Do ponto de vista do ambiente cultural comeccedila a emergir o reconhecimento das diferenccedilas e a
relevacircncia de adoptar poliacuteticas que promovam a integraccedilatildeo da diversidade Neste acircmbito as
poliacuteticas comeccedilam progressivamente a pretender influenciar mudanccedilas nos padrotildees de
atitudes e de comportamentos sobre a forma como os cidadatildeos compreendem e percepcionam
as pessoas com deficiecircncias e incapacidades (designadas por poliacuteticas simboacutelicas)
focalizando-se na alteraccedilatildeo dos elementos inibidores da participaccedilatildeo para factores
facilitadores De igual forma as poliacuteticas simboacutelicas apesar de ainda natildeo existirem directrizes
coerentes e consensuais para a definiccedilatildeo da categoria de pessoas com e sem deficiecircncias e
incapacidades comeccedilam a sentir a necessidade de enquadrar esta delimitaccedilatildeo e definiccedilatildeo de
forma a garantir o seu sucesso e eficaacutecia na transformaccedilatildeo das representaccedilotildees simboacutelicas dos
cidadatildeos O conjunto de caracteriacutesticas enunciadas bem como os seus elementos
constituintes tecircm vindo a ser designadas pelos investigadores por modelo social por oposiccedilatildeo
agraves caracteriacutesticas do modelo meacutedico O Quadro 1 permite analisar de uma forma sistemaacutetica os
principais pontos de ruptura entre o modelo meacutedico e o modelo social sendo certo que a
adopccedilatildeo predominante de um modelo ou de outro implica uma concepccedilatildeo radicalmente
diferente das diversas tipologias de poliacuteticas assim como a definiccedilatildeo de diferentes objectivos e
resultados ao niacutevel da inclusatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 6
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Modelo meacutedico Modelo social
Problema Incapacidade dependecircncia das
pessoas
Inadequaccedilatildeo dos contextos agraves
pessoas
Origem Nas pessoas Na sociedade
Focalizaccedilatildeo Na pessoa nas suas limitaccedilotildees Relaccedilatildeo pessoa contexto nas
barreiras sociais
Eacutetica Assistecircncia Direitos
Igualdade de oportunidades
Objectivos Reabilitar curar tratar
Habilitar
Eliminar barreiras promover a
compatibilidade
Perspectiva Necessidades especiais
Serviccedilos especializados
Necessidades diferentes
Serviccedilos regulares
Serviccedilos Institucionalizados
Rede de cuidados De apoio baseados na comunidade
Poder controlo Profissionais Clientes
Cultura Disabling
Manutenccedilatildeo e reforccedilo da deficiecircncia
Reconhecimento e inclusatildeo da
diversidade
Objectivos das poliacuteticas
Compensar os indiviacuteduos pelas
suas incapacidades
ldquoAliviar a situaccedilatildeordquo
Promover direitos
Prover recursos e competecircncias
para identificar e eliminar barreiras
pessoais e sociais
Focalizaccedilatildeo das poliacuteticas Nos indiviacuteduos
Nas pessoas com deficiecircncias No grupo social
Na populaccedilatildeo global
Responsabilidade Poliacutetica social
ldquoWelfare provisionrdquo
Poliacuteticas transversais
Poliacuteticas sociais activas
Quadro 1 ndash Anaacutelise comparativa do modelo meacutedico com o modelo social relativamente agraves dimensotildees estruturantes na organizaccedilatildeo dos quadros conceptuais de intervenccedilatildeo (Sousa 2005) 12 PERSPECTIVA EVOLUTIVA DO MODELO SOCIAL
O modelo social da deficiecircncia surge na deacutecada de 1960 no Reino Unido como uma reacccedilatildeo
agraves abordagens biomeacutedicas A premissa baacutesica do modelo social eacute que a deficiecircncia natildeo deve
ser entendida como um problema individual mas como uma questatildeo eminentemente social
transferindo a responsabilidade pelas desvantagens das pessoas com deficiecircncias para a
incapacidade da sociedade em prever e ajustar-se agrave diversidade (Oliver 1990) Em torno do
modelo social da deficiecircncia surge na deacutecada de 1970 a UPIAS (The Union of the Phisically
Impaired Against Segregation) uma das primeiras organizaccedilotildees de pessoas com deficiecircncias
com objectivos eminentemente poliacuteticos e natildeo apenas assistenciais como era o caso das
instituiccedilotildees criadas nos dois seacuteculos anteriores (UPIAS 1976) O ponto de partida teoacuterico do
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 7
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
modelo social eacute que a deficiecircncia eacute uma experiecircncia resultante da interacccedilatildeo entre
caracteriacutesticas corporais do indiviacuteduo e as condiccedilotildees da sociedade em que ele vive isto eacute da
combinaccedilatildeo de limitaccedilotildees impostas pelo corpo com algum tipo de perda ou reduccedilatildeo de
funcionalidade (lesatildeo) e uma organizaccedilatildeo social pouco sensiacutevel agrave diversidade corporal
Originalmente a UPIAS propocircs uma definiccedilatildeo que explicitava o efeito da exclusatildeo na criaccedilatildeo
da deficiecircncia ldquoLesatildeo ausecircncia parcial ou total de um membro ou oacutergatildeo ou existecircncia de um
mecanismo corporal defeituoso Deficiecircncia desvantagem ou restriccedilatildeo de actividade
provocada pela organizaccedilatildeo social contemporacircnea que pouco ou nada considera aqueles que
possuem lesotildees fiacutesicas e os exclui das principais actividades da vida socialrdquo (UPIAS 19763-
4) A ecircnfase inicial nas limitaccedilotildees fiacutesicas foi imediatamente revista e com isso abriu-se um
grande debate sobre as limitaccedilotildees do vocabulaacuterio usado para descrever as deficiecircncias e
incapacidades A intenccedilatildeo era destacar que natildeo havia necessariamente uma relaccedilatildeo directa
entre lesatildeo e deficiecircncia transferindo o debate da discussatildeo sobre sauacutede para o terreno da
organizaccedilatildeo social e poliacutetica Lesatildeo seria uma caracteriacutestica corporal como seria o sexo ou a
cor da pele ao passo que deficiecircncia seria o resultado da opressatildeo e da discriminaccedilatildeo sofrida
pelas pessoas em funccedilatildeo de uma sociedade que se organiza de uma maneira que natildeo permite
incluiacute-las na vida quotidiana Eacute possiacutevel uma pessoa ter lesotildees e natildeo experimentar a
deficiecircncia a depender de quanto a sociedade esteja ajustada para incorporar a diversidade
Como exemplifica Morris (2001) natildeo poder caminhar eacute a expressatildeo da lesatildeo a deficiecircncia
consiste na inacessibilidade imposta agraves pessoas que usam cadeira de rodas O resultado
dessa revisatildeo na semacircntica dos conceitos foi uma separaccedilatildeo radical entre lesatildeo e deficiecircncia
a primeira eacute objecto da discussatildeo sobre sauacutede enquanto a segunda eacute uma questatildeo da ordem
dos direitos e da justiccedila social e portanto essencialmente normativa
Se para o modelo meacutedico a lesatildeo levava agrave deficiecircncia para o modelo social os sistemas
sociais levavam pessoas com lesotildees agrave experiecircncia da incapacidade Em siacutentese o modelo
meacutedico identifica a pessoa com deficiecircncia como uma pessoa com algum tipo de inadequaccedilatildeo
para a sociedade o modelo social por sua vez inverte o argumento e contextualiza a
deficiecircncia na incapacidade da sociedade para incluir todas as pessoas gerindo de forma
inclusiva a sua diversidade Em geral as definiccedilotildees baseadas no modelo meacutedico exigem um
grande afastamento dos padrotildees de normalidade para considerar uma pessoa como tendo
deficiecircncia Os criteacuterios utilizados para definir a deficiecircncia geralmente tecircm como referecircncia a
perda completa de certos oacutergatildeos ou funccedilotildees A identificaccedilatildeo da deficiecircncia eacute feita levando-se
em conta caracteriacutesticas isoladas destes oacutergatildeos e funccedilotildees e comparando-as com limites
estabelecidos para cada uma delas Neste quadro de inteligibilidade existem criteacuterios que
estabelecem para oacutergatildeo ou funccedilatildeo comprometida os limites da deficiecircncia como por
exemplo patamares miacutenimos de acuidade visual capacidade auditiva etc que podem ser
avaliados isoladamente uns dos outros bem como separados das necessidades impostas
pelas caracteriacutesticas sociais de cada pessoa
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 8
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
A combinaccedilatildeo da existecircncia de uma condiccedilatildeo de sauacutede bem abaixo de um padratildeo abstracto de
normalidade e a persistecircncia dessa condiccedilatildeo no tempo permite ao modelo meacutedico diferenciar
doenccedila de deficiecircncia Muitas das doenccedilas satildeo entendidas como situaccedilotildees temporaacuterias
Assim embora tenham uma condiccedilatildeo de sauacutede inferior agrave determinada por algum criteacuterio de
normalidade as pessoas doentes podem natildeo ser consideradas pessoas com deficiecircncias
dentro do modelo meacutedico porque a sua reduccedilatildeo de capacidades eacute apenas temporaacuteria e natildeo
permite definir um estado consistente ao longo do tempo O caminho inverso tambeacutem eacute trilhado
para separar deficiecircncia de doenccedila poreacutem com um argumento um pouco mais sofisticado
(Diniz 1996) Se a deficiecircncia eacute uma situaccedilatildeo irreversiacutevel eacute perfeitamente possiacutevel redefinir o
conceito de normalidade de modo a ajustaacute-lo agrave condiccedilatildeo permanente das pessoas A cegueira
por exemplo passa a ser a condiccedilatildeo normal de uma pessoa cega e portanto natildeo faz sentido
classificaacute-la como doente Neste esquema uma pessoa que natildeo pode ver porque estaacute com
uma inflamaccedilatildeo ocular grave eacute uma pessoa doente e uma pessoa permanentemente cega eacute
uma pessoa deficiente Como o reconhecimento da ldquosociedade deficienterdquo eacute tatildeo ou mais
importante para o debate sobre poliacuteticas puacuteblicas e deficiecircncia do que a identificaccedilatildeo da
ldquopessoa deficienterdquo as preocupaccedilotildees com a identidade do modelo social satildeo bem distintas
daquelas do modelo meacutedico Abberley (1987) por exemplo natildeo insiste na distinccedilatildeo entre
deficiecircncia e doenccedila e praticamente ignora a regra de persistecircncia da lesatildeo no tempo para
identificar as pessoas com deficiecircncias criteacuterio tatildeo caro aos legisladores de poliacuteticas sociais
nos anos 1980 que o utilizaram sistematicamente em contagens de populaccedilatildeo de vaacuterios
paiacuteses do mundo A loacutegica do modelo social natildeo reconhece esta distinccedilatildeo principalmente
porque entende que os ajustes requeridos da sociedade para que ela contemple a diversidade
da deficiecircncia satildeo independentes de quanto tempo uma condiccedilatildeo corporal se iraacute manter Afinal
se uma pessoa que usa cadeira de rodas enquanto recupera de fracturas nas pernas
necessita dos mesmos ajustes no sistema de transporte que uma pessoa permanentemente
incapacitada de caminhar porquecirc separaacute-las em grupos diferentes Ao natildeo reconhecer que os
doentes tambeacutem experimentam a deficiecircncia o modelo meacutedico exclui da atenccedilatildeo das poliacuteticas
puacuteblicas uma grande parcela da populaccedilatildeo que necessita delas problema que pode afectar
uma parte razoaacutevel da populaccedilatildeo idosa Natildeo usar da mesma maneira a distinccedilatildeo entre doenccedila
e deficiecircncia eacute um recurso do modelo social para evitar este tipo de exclusatildeo A consequecircncia
oacutebvia da definiccedilatildeo do modelo social eacute de que a pesquisa e as poliacuteticas puacuteblicas direccionadas agrave
deficiecircncia natildeo poderiam concentrar-se apenas nos aspectos corporais dos indiviacuteduos para
identificar a deficiecircncia Aleacutem disso ao separar a deficiecircncia da lesatildeo o modelo social abre
espaccedilo para mostrar que a despeito da diversidade das lesotildees haacute um factor que une as
diferentes comunidades de pessoas com deficiecircncias em torno de um projecto poliacutetico uacutenico a
experiecircncia da exclusatildeo Segundo Oliver ldquoTodos os deficientes experimentam a deficiecircncia
como uma restriccedilatildeo social natildeo importando se estas restriccedilotildees ocorrem em consequecircncia de
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 9
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
ambientes inacessiacuteveis de noccedilotildees questionaacuteveis de inteligecircncia e competecircncia social se da
inabilidade da populaccedilatildeo em geral de utilizar a linguagem de sinais se pela falta de material
em Braille ou se pelas atitudes puacuteblicas hostis das pessoas que natildeo tecircm lesotildees visiacuteveisrdquo
(1990xiv)
Em meados da deacutecada de 1990 os movimentos feministas lanccedilaram um argumento com
profundas implicaccedilotildees para as poliacuteticas puacuteblicas a experiecircncia da deficiecircncia no acircmbito
familiar apresenta implicaccedilotildees ao niacutevel do geacutenero Ao mostrar que a deficiecircncia eacute
acompanhada de reorganizaccedilotildees familiares voltadas para o cuidado da pessoa com
deficiecircncia os movimentos feministas colocaram em evidecircncia que natildeo satildeo apenas as
pessoas com algum tipo de restriccedilatildeo corporal que necessitam da atenccedilatildeo das poliacuteticas
puacuteblicas Atendendo a que as cuidadoras satildeo predominantemente mulheres devido agrave divisatildeo
sexual do trabalho a deficiecircncia quando entendida como um fenoacutemeno com implicaccedilotildees
familiares possui um enviesamento de geacutenero Satildeo as mulheres por exemplo que se afastam
do mercado de trabalho para cuidar das pessoas com deficiecircncias de crianccedilas pequenas ou
idosos Nos casos dos homens idosos este recorte inclui uma sobreposiccedilatildeo de geacutenero agrave idade
pois dado o padratildeo tiacutepico de arranjo familiar satildeo mulheres idosas que cuidam desses homens
Este afastamento tem uma seacuterie de implicaccedilotildees para as mulheres como a ausecircncia de
serviccedilos de suporte e de apoio para as mulheres em idade economicamente activa e tal facto
natildeo pode passar esquecido pelas poliacuteticas puacuteblicas (Barton amp Oliver 1997)
No final da deacutecada de 1990 alguns argumentos do modelo social da deficiecircncia foram objecto
de revisatildeo O lema ldquoOs limites satildeo sociais natildeo do indiviacuteduordquo usado como bandeira para
reivindicar condiccedilotildees para que as pessoas com deficiecircncias fossem independentes passa a ser
relativizado Uma longa tradiccedilatildeo da filosofia feminista critica o valor da independecircncia absoluta
mostrando que a interdependecircncia por meio do cuidado com os dependentes eacute um elemento
constituinte da vida em sociedade e em muitos casos de deficiecircncia natildeo pode ser evitada As
poliacuteticas puacuteblicas portanto natildeo devem procurar apenas promover a independecircncia das
pessoas com deficiecircncias mas criar condiccedilotildees favoraacuteveis para que o cuidar seja exercido
13 DESAFIOS EMERGENTES NO PLANO CONCEPTUAL COM IMPLICACcedilOtildeES NO DOMIacuteNIO DAS
INTERVENCcedilOtildeES
Historicamente as diferentes perspectivas de intervenccedilatildeo no campo da reabilitaccedilatildeo tecircm-se
centrado predominantemente nos pressupostos conceptuais do modelo meacutedico sendo que
mais recentemente tem-se vindo a assistir a uma focalizaccedilatildeo progressiva nos pressupostos
conceptuais do modelo social
Neste contexto histoacuterico as interpretaccedilotildees sociais da deficiecircncia encontram-se em processo de
transiccedilatildeo Este aspecto aparece claramente reflectido nos documentos oficiais em relaccedilatildeo agraves
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 10
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
definiccedilotildees de deficiecircncia e de reabilitaccedilatildeo Apesar dos factores econoacutemicos e demograacuteficos se
afigurarem de uma importacircncia crescente parece evidente que o motor que subjaz a este
fenoacutemeno se alicerccedila na politizaccedilatildeo sem precedentes da deficiecircncia liderada pela sociedade
civil bem como a exigecircncia crescente de igualdade de oportunidades para as pessoas com
deficiecircncias A evoluccedilatildeo conceptual da interpretaccedilatildeo sociopoliacutetica do conceito tem produzido
avanccedilos ao niacutevel das praacuteticas e das intervenccedilotildees ainda que com diferentes ritmos de
aplicaccedilatildeo e com necessidades evidentes de um maior niacutevel de sistematizaccedilatildeo e estruturaccedilatildeo
na globalidade do sector
Consequentemente alguns dos elementos das praacuteticas de reabilitaccedilatildeo mantecircm-se focalizados
em abordagens centradas no indiviacuteduo Apesar da relevacircncia das intervenccedilotildees e das
terapecircuticas meacutedicas ainda que absolutamente necessaacuterias nos paiacuteses mais pobres estas
apenas produzem um impacte parcial no contexto de um ambiente cultural organizado
privilegiadamente para um modo de vida onde natildeo existem pessoas com deficiecircncias Deste
modo o domiacutenio de sauacutede puacuteblica bem como os problemas experimentados pelas pessoas
com deficiecircncias constituem-se como assuntos de natureza poliacutetica que apenas poderatildeo ser
equacionados na sua resoluccedilatildeo atraveacutes de uma profunda mudanccedila estrutural e cultural
envolvendo a redistribuiccedilatildeo sistemaacutetica de recursos e o desenvolvimento de uma cultura que
valoriza a diversidade humana
Neste cenaacuterio afigura-se relevante equacionar um conjunto de desafios fundamentais para
enquadrar a iniciativa poliacutetica na implementaccedilatildeo dos princiacutepios do modelo social
Coerecircncia dos conceitos utilizados
Parece subsistir uma elevada diversidade de conceitos associados ao domiacutenio da deficiecircncia
na organizaccedilatildeo social A tiacutetulo de exemplo pode-se citar a nomenclatura de ldquodeficientesrdquo ou
ldquopessoas portadoras de deficiecircnciardquo no acesso prioritaacuterio a determinados tipos de serviccedilos
puacuteblicos ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ao niacutevel de programas de intervenccedilatildeo social e
designaccedilotildees ao niacutevel dos instrumentos de poliacutetica que remetem para concepccedilotildees radicalmente
diferentes entre si tal como eacute o caso da ldquopensatildeo de invalidezrdquo ou da ldquotabela nacional de
incapacidadesrdquo Esta pluralidade de conceitos sem qualquer coerecircncia conceptual entre si
parece espelhar o resultado de diferentes velocidades de evoluccedilatildeo em diferentes domiacutenios da
poliacutetica social ocorrida em diferentes momentos socio-histoacutericos Aliaacutes tal facto emerge de
forma mais ou menos incisiva na maioria dos paiacuteses europeus A investigaccedilatildeo neste sector tem
permitido colocar em evidecircncia que diferentes definiccedilotildees de deficiecircncia satildeo relevantes para
diferentes poliacuteticas e que as tentativas de usar a mesma definiccedilatildeo ao longo de uma vasta
diversidade de poliacuteticas pode resultar na utilizaccedilatildeo de definiccedilotildees de reduzido poder
diferenciador o que significa que as poliacuteticas podem correr o risco de natildeo chegar ao seu
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
puacuteblico-alvo A necessidade de usar uma pluralidade de definiccedilotildees de forma a assegurar a
relevacircncia da definiccedilatildeo para o seu domiacutenio de aplicabilidade levanta um problema de
coerecircncia no quadro poliacutetico relativo agraves pessoas com deficiecircncias Neste cenaacuterio as pessoas
podem ser consideradas como tendo deficiecircncias no quadro de uma determinada poliacutetica e
como natildeo tendo no quadro de uma poliacutetica diferente sendo que por vezes se encontram
lacunas no fornecimento de serviccedilos como resultado imediato desta opccedilatildeo De uma forma
geral os diferentes Estados resolvem estes problemas requerendo agraves instituiccedilotildees das poliacuteticas
sociais a coordenaccedilatildeo das actividades em detrimento do estabelecimento de definiccedilotildees
uacutenicas
Diferentes abordagens entre diferentes aacutereas de poliacutetica social
A evoluccedilatildeo histoacuterica e a apropriaccedilatildeo de diferentes conceitos por parte de diferentes sectores
da poliacutetica social encerram o risco de serem adoptados modelos operativos e intervenccedilotildees com
caracteriacutesticas significativamente diferentes Neste sentido podem-se observar sectores que
privilegiam o mainstreaming e o desenvolvimento das intervenccedilotildees baseadas na comunidade
e noutros sectores verificarem-se intervenccedilotildees mais centradas no indiviacuteduo mobilizando
criteacuterios quase exclusivamente meacutedicos Esta diferenccedila de abordagens pode potencialmente
acarretar desarticulaccedilotildees e incoerecircncias ao niacutevel dos princiacutepios gerais da poliacutetica social
reflectindo-se numa resposta fragmentada e parcelar agraves necessidades das pessoas Neste
contexto afigura-se relevante a definiccedilatildeo clara sistemaacutetica e estruturada dos princiacutepios
transversais subjacentes agrave globalidade das poliacuteticas para num segundo momento se proceder
agrave definiccedilatildeo dos seus elementos especiacuteficos
Classificaccedilatildeo da deficiecircncia e metodologias de avaliaccedilatildeo
Enquanto que no quadro do modelo meacutedico importava associar as diferentes deficiecircncias a
diferentes niacuteveis de incapacidade mobilizando criteacuterios de natureza exclusivamente meacutedica a
progressiva implementaccedilatildeo do modelo social na maior parte dos paiacuteses da Europa tem
colocado desafios sobre qual a categorizaccedilatildeo que melhor reflecte as dificuldades de
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades ao niacutevel dos seus ambientes de
vida A OMS perante esta encruzilhada de classificaccedilotildees propocircs a Classificaccedilatildeo Internacional
de Funcionalidade Incapacidade e Sauacutede (CIF) como modelo operativo de caracterizaccedilatildeo da
funcionalidade do indiviacuteduo colocando em evidecircncia para efeitos de elegibilidade dos
programas as limitaccedilotildees de actividade e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo das pessoas Ou seja
enquanto nalguns modelos se continuam a avaliar as deficiecircncias do indiviacuteduo a CIF vem
enfatizar em coerecircncia com o modelo social que o mais relevante natildeo eacute avaliar as alteraccedilotildees
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
ao niacutevel das estruturas ou das funccedilotildees dos indiviacuteduos ndash ainda que natildeo as negligencie ndash mas
sim as limitaccedilotildees de actividades e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo que o sujeito experiencia no
decorrer da desadequaccedilatildeo entre as suas diferenccedilas e as caracteriacutesticas dos ambientes sociais
em que se move Atente-se que esta opccedilatildeo conceptual natildeo eacute neutra do ponto de vista
pragmaacutetico dado que os objectivos das intervenccedilotildees passam a ser a remoccedilatildeo das barreiras e
dos obstaacuteculos que ocorrem no quadro da relaccedilatildeo do sujeito com os seus contextos de vida
em detrimento de intervenccedilotildees polarizadas exclusivamente na dimensatildeo individual ou
exclusivamente na dimensatildeo social
No desenvolvimento das poliacuteticas sociais a investigaccedilatildeo tem permitido colocar em evidecircncia a
necessidade de identificar definir e sistematizar os princiacutepios norteadores que tenderatildeo a ser
transversais a todos os sectores de poliacutetica social sendo que apenas deste modo se poderaacute
assegurar a coerecircncia entre as diferentes poliacuteticas dos diferentes sectores Neste sentido
torna-se relevante um processo de clarificaccedilatildeo sobre qual o modelo conceptual em que a
estrateacutegia poliacutetica se baseou de forma a que o conjunto de objectivos estrateacutegias processos
de intervenccedilatildeo definiccedilatildeo de resultados alocaccedilatildeo de recursos e indicadores de avaliaccedilatildeo
estejam devidamente articulados e em consonacircncia com os princiacutepios adoptados
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
2 CONCEITOS E TERMINOLOGIA
A anaacutelise conceptual no domiacutenio da deficiecircncia permite colocar em evidecircncia a existecircncia de
um conjunto de imprecisotildees ao niacutevel dos conceitos com variaccedilotildees relacionadas com o modelo
meacutedico e com o modelo social Neste contexto afigura-se criacutetico clarificar os contornos teoacutericos
e os modelos conceptuais subjacentes aos diferentes conceitos utilizados estabelecendo uma
base teoacuterica de referecircncia que assegure o necessaacuterio grau de coerecircncia e simultaneamente
abrangecircncia
21 EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA DOS SISTEMAS DE CLASSIFICACcedilAtildeO
Para uma clara delimitaccedilatildeo dos modelos teoacutericos que tecircm influenciado historicamente o
desenvolvimento dos conceitos no domiacutenio da deficiecircncia poderemos identificar 2 abordagens
conceptuais distintas
211 A ABORDAGEM TRADICIONAL INDIVIDUALISTA
A preocupaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede em estabelecer uma classificaccedilatildeo das doenccedilas
remonta ao seacuteculo XVIII Mas somente na VI Revisatildeo da Classificaccedilatildeo Internacional de
Doenccedilas (CID-6) em 1948 citada na IX Revisatildeo foram feitas referecircncias a doenccedilas que
poderiam tornar-se croacutenicas exigindo outros serviccedilos aleacutem de cuidados meacutedicos
Ateacute a deacutecada de 70 a CID-8 citada na IX Revisatildeo considerava apenas as manifestaccedilotildees
agudas segundo o modelo meacutedico etiologia rArr patologia rArr manifestaccedilatildeo
Esse modelo mostrou-se limitado para descrever as consequecircncias das doenccedilas pois excluiacutea
as perturbaccedilotildees croacutenicas evolutivas e irreversiacuteveis
Na IX Assembleia da OMS em 1976 surgiu uma nova conceptualizaccedilatildeo a International
Classification of Impairments Disabilities and Handicaps a manual of classification relating to
the consequences of disease (ICIDH) sendo sua traduccedilatildeo a Classificaccedilatildeo Internacional de
Deficiecircncias Incapacidades e Desvantagens um manual de classificaccedilatildeo das consequecircncias
das doenccedilas (CIDID) publicada em 1989
Apesar da abordagem meacutedica individualista ter dominado a cultura ocidental desde pelo
menos o seacuteculo XIX (Oliver 1990 Gleeson 1999) esta encontra-se geralmente associada agrave
Classificaccedilatildeo Internacional da Deficiecircncia Incapacidades e Desvantagens (ICIDH) da OMS
(1980) Em resposta agraves necessidades crescentes ao niacutevel internacional de clarificaccedilatildeo do
sentido do conceito de incapacidade e atendendo agraves criticas progressivas das pessoas com
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
incapacidades e seus significativos baseadas no facto de que a incapacidade envolve mais do
que um conjunto de preocupaccedilotildees estritamente meacutedicas a OMS constituiu uma comissatildeo de
cientistas sociais para desenvolver a existente Classificaccedilatildeo Internacional de Doenccedilas em
ordem a conseguir abranger as consequecircncias a longo termo das doenccedilas croacutenicas A ICIDH
foi publicada em 1980 sendo largamente reconhecida como o directoacuterio mais abrangente
existente vindo a ser extensivamente utilizada como uma base para as iniciativas
governamentais dos paiacuteses desenvolvidos da Europa e Ameacuterica do Norte e os paiacuteses
subdesenvolvidos do Sul (Ustun et al 2001)
A ICIDH utiliza uma categorizaratildeo tripartida da deficiecircncia incapacidade e desvantagem A
deficiecircncia refere-se a qualquer perda ou irregularidade da estrutura ou das funccedilotildees
anatoacutemica fisioloacutegica ou psicoloacutegica A incapacidade refere-se a qualquer restriccedilatildeo ou perda
(resultante de uma deficiecircncia) da capacidade para executar uma actividade da forma e dentro
do contexto considerado normal para o ser humano A desvantagem refere-se agrave limitaccedilatildeo
resultante de uma deficiecircncia ou incapacidade no desempenho de um dado papel considerado
normativo (dependendo da idade geacutenero e factores sociais e culturais) para aquele indiviacuteduo
(OMS 1980 p 29)
Esta tipologia baseia-se nas noccedilotildees de normalidade fiacutesica e intelectual bem como no facto de
que a incapacidade e a desvantagem satildeo causadas por deficiecircncias ou irregularidades
psicoloacutegicas ou fisioloacutegicas Neste contexto a ICIDH pode ser objecto de criacuteticas a diferentes
niacuteveis Primeiro as percepccedilotildees de deficiecircncia e normalidade satildeo fenoacutemenos sociais pelo que
satildeo sujeitas a substantivas mudanccedilas temporais culturais e situacionais (Hanks and Hanks
1948 Scheer and Groce 1988 Coleridge 1993 Ingstad and Whyte 1995) A dislexia por
exemplo natildeo seria vista como um problema significativo numa sociedade predominantemente
agraacuteria No entanto eacute considerada uma dificuldade de aprendizagem nas sociedades
modernas tecnologicamente avanccediladas nas quais a literacia e a numeracia desempenham
requisitos criacuteticos para a participaccedilatildeo social e econoacutemica Segundo encontra-se impliacutecito na
ICIDH que o organismo humano eacute flexiacutevel e adaptaacutevel enquanto os ambientes fiacutesicos e sociais
o natildeo satildeo Este facto claramente conflitua com a realidade histoacuterica na qual os indiviacuteduos
transformaram continuamente o seu ambiente em funccedilatildeo das suas necessidades (Barnes
1991) Terceiro as definiccedilotildees da ICIDH sugerem que a deficiecircncia a incapacidade e a
desvantagem constituem-se como estados estaacuteticos Para aleacutem do facto desta noccedilatildeo afigurar-
se incorrecta parece criar distinccedilotildees e barreiras entre as pessoas com e sem deficiecircncias
distinccedilotildees que natildeo satildeo necessaacuterias nem deveriam existir Uma tal situaccedilatildeo parece ser
paradoxal atendendo a que a ICIDH possui uma classificaccedilatildeo para cada caracteriacutestica do
organismo fiacutesico e humano (Shakespeare 1994 104)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 15
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Finalmente e mais significativo neste contexto a ICIDH apresenta as deficiecircncias enquanto
causa primaacuteria da incapacidade e da desvantagem Neste contexto a reabilitaccedilatildeo constitui-se
como uma filosofia e uma praacutetica para erradicar ou minimizar os problemas da deficiecircncia e
capacitar aqueles com deficiecircncias designadas para funcionarem nos seus niacuteveis fiacutesico
psicoloacutegico e social mais elevados (Albrecht 1992 23) Por outras palavras as pessoas com
incapacidades tornam-se objectos para serem curados tratados treinados mudados e
tornados normais de acordo com um conjunto particular de valores As limitaccedilotildees de tais
intervenccedilotildees encontram-se sustentadamente documentadas pelos activistas como
incapacidades desde 1960 (Hunt 1966 Sutherland 1981 Zola 1982)
212 A ABORDAGEM LIBERAL OU INTER-RELACIONAL
A abordagem liberal ou inter-relacional encontra-se expressa no uacuteltimo corpo de trabalhos da
OMS para redefinir a incapacidade nomeadamente a Classificaccedilatildeo Internacional de
Funcionalidade Incapacidade e Sauacutede (CIF) conhecida previamente como ICIDH2 (OMS
2002)
Esta redefiniccedilatildeo constituiu uma tentativa concertada para integrar o modelo meacutedico
individualista tradicional e a interpretaccedilatildeo sociopoliacutetica Por um lado como resultado da sua
rejeiccedilatildeo por parte das pessoas com incapacidades organizaccedilotildees e parceiros dentro e fora da
comunidade cientiacutefica (Driedger 1989 Oliver 1990 Barnes et al 2002) e por outro lado
porque apesar da sua vasta utilizaccedilatildeo a sua aplicabilidade tem sido caracterizada por diversas
interpretaccedilotildees (Coleridge 1993 Ingstad 2001) Em siacutentese demonstrou-se como limitada para
muitos dos actores e natildeo forneceu a delimitaccedilatildeo de significado que originalmente pretendia
Em comum com a sua predecessora a CIF manteacutem o constructo tripartido O primeiro niacutevel
deficiecircncia no original relaciona-se com as funccedilotildees e estrutura do organismo O segundo
niacutevel o que era anteriormente incapacidade eacute agora referido como actividade e o terceiro
desvantagem aparece como participaccedilatildeo No entanto e apesar do intenso debate sobre o
significado de incapacidade o conceito eacute preservado como um termo global para os trecircs niacuteveis
de dificuldade de funcionamento Neste cenaacuterio e em contraste com a ICIDH a nova
formulaccedilatildeo eacute apresentada como uma classificaccedilatildeo universal do funcionamento humano As
pessoas ligadas a acccedilotildees de advocacy defendem que esta configuraccedilatildeo oferece um quadro de
inteligibilidade completo para os aspectos funcionais da experiecircncia de sauacutede Nesta
perspectiva a incapacidade permanece uma preocupaccedilatildeo privilegiadamente do domiacutenio da
sauacutede em detrimento do domiacutenio poliacutetico Constitui-se por um lado como um resultado das
caracteriacutesticas da pessoa e por outro dos ambientes fiacutesicos e sociais Deste modo mais do
que se constituir como uma classificaccedilatildeo das pessoas com incapacidades ou dos problemas
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 16
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
que experienciam a CIF afigura-se como uma classificaccedilatildeo do funcionamento a 3 niacuteveis
compreendida em termos neutros (Ustun et al 2001 6-7)
O reconhecimento da importacircncia dos ambientes fiacutesico e social na CIF poderaacute ser equacionado
como uma melhoria significativa em relaccedilatildeo agrave sua predecessora (Hurst 2000) No entanto
parece-nos altamente improvaacutevel que seja mais eficaz do que a anterior classificaccedilatildeo a gerar
uma linguagem universal sobre a incapacidade na medida em que transformar as diferenccedilas
culturais na conceptualizaccedilatildeo das deficiecircncias assume-se como tarefa extremamente
complexa de alcanccedilar (Bury 2000 Miles 2001) Este facto eacute especialmente significativo na
medida em que natildeo obstante a CIF reconhecer o contexto cultural das percepccedilotildees de
incapacidade e por consequecircncia a normalidade o actual sistema de classificaccedilatildeo
permanece fortemente alicerccedilado nas formulaccedilotildees e nos conceitos cientiacuteficos ocidentais
(Finkelstein 1998 Pfeiffer 2000 Baylies 2002)
Adicionalmente apesar da CIF explicitar que os indiviacuteduos satildeo um elemento da anaacutelise da
incapacidade a abordagem biopsicossocial natildeo se encontra muito distanciada do modelo
anterior na medida em que privilegia o indiviacuteduo como ponto de partida para anaacutelise das
funccedilotildees do corpo e actividades O conceito de participaccedilatildeo eacute incluiacutedo mas subdesenvolvido no
esquema conceptual e continua associado agraves circunstacircncias individuais em vez de fortemente
ligado agrave inclusatildeo poliacutetica e social Adicionalmente enquanto a significacircncia do contexto eacute
enfatizada na CIF as estrateacutegias para a sua mensuraccedilatildeo afiguram-se limitadas Os seus
utilizadores satildeo encorajados a classificar os factores ambientais mas natildeo existem ferramentas
eficazes para levar a cabo esta tarefa bem como para avaliar as tendecircncias de incapacidade
ou por outro lado das poliacuteticas governamentais praacuteticas ambientes fiacutesicos e contextos
culturais (Baylies 2002)
Esta aparente descentraccedilatildeo das preocupaccedilotildees poliacuteticas tem caracterizado a maioria da ciecircncia
social mainstream desde o seacuteculo XIX Deste modo a definiccedilatildeo inter-relacional de
incapacidade e a consequente despolitizaccedilatildeo das questotildees associadas reflectiu-se nos
estudos e na literatura produzida nesta aacuterea por acadeacutemicos e investigadores durante a uacuteltima
metade do seacuteculo XX
Mais recentemente reemergiram na Inglaterra um conjunto de respostas poacutes-modernas ao
modelo social da incapacidade Este cenaacuterio tem favorecido o aparecimento de asserccedilotildees de
que tais fenoacutemenos soacute tecircm servido para agudizar e natildeo diminuir a conflituosidade a propoacutesito
da inclusatildeo (Hunt 1981 Germon 1998 Linton 1998 Gordon and Rosenblum 2001)
No quadro da reabilitaccedilatildeo a abordagem inter-relacional eacute sinoacutenima da liberalizaccedilatildeo da poliacutetica
social para as pessoas com incapacidades nos finais dos anos sessenta e setenta em
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 17
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
particular a mudanccedila dos serviccedilos centrados institucionalmente para os serviccedilos e apoios
centrados na comunidade Deste modo a ecircnfase eacute colocada na integraccedilatildeo de pessoas com
incapacidades na sociedade mainstream Os Standards da Equalizaccedilatildeo das Pessoas com
Incapacidades (1993) da ONU explicitam que todos os estados devem providenciar serviccedilos de
reabilitaccedilatildeo Mas esta orientaccedilatildeo recomenda que se vaacute aleacutem do cuidado meacutedico inicial para
incluir uma ampla gama de medidas e actividades desde a reabilitaccedilatildeo baacutesica e generalista
para actividades orientadas por objectivos (UN 199311) Ainda mais significativo todos os
serviccedilos de reabilitaccedilatildeo deveratildeo estar disponiacuteveis nas comunidades locais nas quais as
pessoas com incapacidades se movem No entanto em determinadas circunstacircncias e para
que se reforcem os objectivos de formaccedilatildeo e aprendizagem poderatildeo ser organizados cursos
localizados nas organizaccedilotildees prestadoras de serviccedilos com um quadro temporal o mais
reduzido possiacutevel (UN 1993 19)
Adicionalmente apesar dos Standards enfatizarem a importacircncia do envolvimento das pessoas
com incapacidades e dos seus significativos no desenvolvimento dos programas de
reabilitaccedilatildeo parece natildeo existir uma asserccedilatildeo clara de que tais estrateacutegias devam ser
controladas por ou mensuradas para estes uacuteltimos Existe no entanto uma assunccedilatildeo taacutecita de
que tais serviccedilos seratildeo liderados por profissionais
Adicionalmente desde que a incapacidade na CIF foi apresentada como uma questatildeo de
sauacutede em detrimento de uma questatildeo poliacutetica parece inevitaacutevel que os profissionais no
domiacutenio da reabilitaccedilatildeo continuem a ser dominados ou laquoalienadosraquo pela Medicina (Finkelstein
1998) Este facto poderaacute ficar a dever-se primeiro agrave actual e persistente subjugaccedilatildeo dos
governos nacionais aos interesses corporativos e das organizaccedilotildees econoacutemicas e segundo agrave
diversidade de barreiras econoacutemicas poliacuteticas e culturais experienciadas pelas pessoas com
incapacidades quer nos paiacuteses desenvolvidos quer nos subdesenvolvidos Neste tipo de
cenaacuterio o pensamento ortodoxo sobre a reabilitaccedilatildeo contratualiza um expediente praacutetico para
os poliacuteticos legisladores e organizaccedilotildees profissionais Como resultado os teacutecnicos tecircm
invariavelmente um niacutevel de escolha reduzido na opccedilatildeo pelo modelo meacutedico em detrimento
de soluccedilotildees poliacuteticas colectivas na resposta aos problemas da exclusatildeo
Esta perspectiva parece afigurar-se a oposta da necessaacuteria De facto apoacutes o trabalho de
Talcott Parsons (1951) emergiu uma extensa literatura condenando a laquomedicalizaccedilatildeoraquo do
quotidiano de um conjunto diverso de perspectivas Por exemplo o filoacutesofo austriacuteaco Ivan Illich
nomeou o seacuteculo XX como a era dos profissionais incapacitantes (1977 11) pela sua
apropriaccedilatildeo do conhecimento mistificaccedilatildeo das competecircncias especializadas e a criaccedilatildeo de
uma cultura perversa e persuasiva de dependecircncia Apesar de tais criticas encontrarem a sua
aplicabilidade predominantemente nas naccedilotildees subdesenvolvidas do Ocidente surgiram
trabalhos recentes que sugerem que apesar de existir uma diminuiccedilatildeo significativa dos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 18
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
conhecimentos meacutedicos e de tratamentos com reduzidos niacuteveis de recursos nas naccedilotildees
subdesenvolvidas criacuteticas similares podem ser relevantes para o contexto no qual nos
situamos (Stone 1999 Ingstad 2001 OMS 2001)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 19
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
3 OBJECTIVOS OPERACIONAIS
Pretende-se desenvolver uma anaacutelise longitudinal e multissectorial ao conceito de deficiecircncia
no sentido de estabelecer uma configuraccedilatildeo operacional no quadro da sua aplicabilidade
estatiacutestica Esta anaacutelise insere-se no acircmbito do Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das
Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo
Objectivo Operacionalizar o conceito de deficiecircncia no quadro da sua aplicabilidade
estatiacutestica assegurando os criteacuterios de (a) comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica
e legislativa dentro do contexto portuguecircs (c) conformidade com os referenciais conceptuais
actuais
Metodologia a) Anaacutelise dos referenciais nacionais e internacionais de delimitaccedilatildeo operacional
do conceito b) exploraccedilatildeo de cenaacuterios que viabilizem o cumprimento dos requisitos definidos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 20
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
4 ANAacuteLISE PRELIMINAR DA EVOLUCcedilAtildeO DA TERMINOLOGIA NO
DOMIacuteNIO 41 ESTADO DA ARTE
A evoluccedilatildeo dos conceitos operativos nos domiacutenios da reabilitaccedilatildeo e da inclusatildeo social tem
sido reflectida nas diversas classificaccedilotildees propostas pela OMS Neste quadro evolutivo a
uacuteltima classificaccedilatildeo proposta ndash CIF ndash constitui-se como um modelo de siacutentese entre a
abordagem meacutedica e a abordagem social no domiacutenio da incapacidade e da sauacutede No sentido
de procedermos agrave anaacutelise dos principiais conceitos e termos focalizar-nos-emos na
reestruturaccedilatildeo conceptual proposta pela Classificaccedilatildeo Internacional de Funcionalidade
Incapacidade e Sauacutede (CIF)
O objectivo geral da CIF eacute proporcionar uma linguagem unificada e padronizada assim como
uma estrutura de trabalho para a descriccedilatildeo da sauacutede e de estados relacionados com a sauacutede
A classificaccedilatildeo define os componentes da sauacutede e alguns componentes do bem-estar
relacionados com a sauacutede (tais como educaccedilatildeo e trabalho) Os domiacutenios contidos na CIF
podem portanto ser considerados como domiacutenios da sauacutede e domiacutenios relacionados com a
sauacutede Estes domiacutenios satildeo descritos com base na perspectiva do corpo do indiviacuteduo e da
sociedade em duas listas baacutesicas (1) Funccedilotildees e Estruturas do Corpo e (2) Actividades e
Participaccedilatildeo Como classificaccedilatildeo a CIF agrupa sistematicamente diferentes domiacutenios de uma
pessoa com uma determinada condiccedilatildeo de sauacutede (eg o que uma pessoa com uma doenccedila
ou perturbaccedilatildeo faz ou pode fazer) A funcionalidade eacute um termo que engloba todas as funccedilotildees
do corpo actividades e participaccedilatildeo de maneira similar a incapacidade eacute um termo que inclui
deficiecircncias limitaccedilatildeo da actividade ou restriccedilatildeo na participaccedilatildeo A CIF tambeacutem relaciona os
factores ambientais que interagem com todos estes constructos Neste sentido a classificaccedilatildeo
permite ao utilizador registar perfis uacuteteis da funcionalidade incapacidade e sauacutede dos
indiviacuteduos em vaacuterios domiacutenios
A CIF pertence agrave ldquofamiacuteliardquo das classificaccedilotildees internacionais desenvolvida pela OMS para
aplicaccedilatildeo em vaacuterios aspectos da sauacutede A famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS
proporciona um sistema para a codificaccedilatildeo de uma ampla gama de informaccedilotildees sobre sauacutede
(eg diagnoacutestico funcionalidade e incapacidade motivos de contacto com os serviccedilos de
sauacutede) e utiliza uma linguagem comum padronizada que permite a comunicaccedilatildeo sobre sauacutede e
cuidados de sauacutede em todo o mundo entre vaacuterias disciplinas e ciecircncias
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 21
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Nas classificaccedilotildees internacionais da OMS os estados de sauacutede (doenccedilas perturbaccedilotildees
lesotildees etc) satildeo classificados principalmente na CID-10 (abreviatura da Classificaccedilatildeo
Internacional de Doenccedilas Deacutecima Revisatildeo) que fornece uma estrutura de base etioloacutegica A
funcionalidade e a incapacidade associadas aos estados de sauacutede satildeo classificadas na CIF
Portanto a CID-10 e a CIF satildeo complementares e os utilizadores satildeo estimulados a usar em
conjunto esses dois membros da famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS A CID-10
proporciona um ldquodiagnoacutesticordquo de doenccedilas perturbaccedilotildees ou outras condiccedilotildees de sauacutede que eacute
complementado pelas informaccedilotildees adicionais fornecidas pela CIF sobre funcionalidade Em
conjunto as informaccedilotildees sobre o diagnoacutestico e sobre a funcionalidade datildeo uma imagem mais
ampla e mais significativa da sauacutede das pessoas ou da populaccedilatildeo que pode ser utilizada em
tomadas de decisatildeo
A famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS constitui uma ferramenta valiosa para a
descriccedilatildeo e a comparaccedilatildeo da sauacutede das populaccedilotildees num contexto internacional As
informaccedilotildees sobre a mortalidade (facultadas pela CID-10) e sobre as consequecircncias na sauacutede
(proporcionadas pela CIF) podem ser combinadas de forma a obter medidas sinteacuteticas da
sauacutede das populaccedilotildees Isto permite seguir a sauacutede das populaccedilotildees e a sua distribuiccedilatildeo bem
como avaliar a parte atribuiacuteda agraves diferentes causas
A CIF transformou-se de uma classificaccedilatildeo de ldquoconsequecircncias da doenccedilardquo (versatildeo de 1980)
numa classificaccedilatildeo de ldquocomponentes da sauacutederdquo Os ldquocomponentes da sauacutederdquo identificam o que
constitui a sauacutede enquanto que as consequecircncias se referem ao impacto das doenccedilas na
condiccedilatildeo de sauacutede da pessoa Deste modo a CIF assume uma posiccedilatildeo neutra em relaccedilatildeo agrave
etiologia de modo que os investigadores podem desenvolver inferecircncias causais utilizando
meacutetodos cientiacuteficos adequados De maneira similar esta abordagem tambeacutem eacute diferente de
uma abordagem do tipo determinantes da sauacutede ou ldquofactores de risco Para facilitar o estudo
dos determinantes ou dos factores de risco a CIF inclui uma lista de factores ambientais que
descrevem o contexto em que o indiviacuteduo vive
A CIF descreve a funcionalidade e a incapacidade relacionadas com as condiccedilotildees de sauacutede
identificando o que uma pessoa ldquopode ou natildeo pode fazer na sua vida diaacuteriardquo tendo em vista as
funccedilotildees dos oacutergatildeos ou sistemas e estruturas do corpo assim como as limitaccedilotildees de
actividades e da participaccedilatildeo social no meio ambiente onde a pessoa vive Segundo a OMS a
CID-10 e a CIF satildeo complementares a informaccedilatildeo sobre o diagnoacutestico acrescido da
funcionalidade fornece um quadro mais amplo sobre a sauacutede do indiviacuteduo ou populaccedilotildees Por
exemplo duas pessoas com a mesma doenccedila podem ter diferentes niacuteveis de funcionalidade e
duas pessoas com o mesmo niacutevel de funcionalidade natildeo tecircm necessariamente a mesma
condiccedilatildeo de sauacutede
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 22
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
O termo do modelo da CIF eacute a funcionalidade que cobre os componentes de funccedilotildees e
estruturas do corpo actividade e participaccedilatildeo social A funcionalidade eacute usada no aspecto
positivo e o aspecto negativo corresponde agrave incapacidade Segundo esse modelo a
incapacidade eacute resultante da interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada pelo indiviacuteduo (seja
orgacircnica e ou da estrutura do corpo) a limitaccedilatildeo de suas actividades e a restriccedilatildeo na
participaccedilatildeo social e os factores ambientais que podem actuar como facilitadores ou barreiras
para o desempenho dessas actividades e da participaccedilatildeo
A CIF eacute baseada portanto numa abordagem biopsicossocial que incorpora os componentes
de sauacutede nos niacuteveis corporais e sociais Assim na avaliaccedilatildeo de uma pessoa com deficiecircncias
e incapacidades esse modelo destaca-se do biomeacutedico baseado no diagnoacutestico etioloacutegico da
disfunccedilatildeo evoluindo para um modelo que incorpora as trecircs dimensotildees a biomeacutedica a
psicoloacutegica (dimensatildeo individual) e a social Nesse modelo cada niacutevel age sobre e sofre a
acccedilatildeo dos demais sendo todos influenciados pelos factores ambientais A OMS pretende
incorporar tambeacutem no futuro os factores pessoais importantes na forma de lidar com as
condiccedilotildees limitantes
O objectivo pragmaacutetico da CIF eacute fornecer uma linguagem padronizada e um modelo para a
descriccedilatildeo da sauacutede e dos estados relacionados com a sauacutede permitindo a comparaccedilatildeo de
dados referentes a essas condiccedilotildees entre paiacuteses serviccedilos sectores relativos agrave sauacutede bem
como o acompanhamento da sua evoluccedilatildeo no tempo
No entanto os conceitos apresentados na classificaccedilatildeo introduzem um novo paradigma para
pensar e trabalhar as deficiecircncias e incapacidades elas natildeo satildeo apenas uma consequecircncia
das condiccedilotildees de sauacutede doenccedila mas satildeo determinadas tambeacutem pelo contexto do meio
ambiente fiacutesico e social pelas diferentes percepccedilotildees culturais e atitudes em relaccedilatildeo agrave
deficiecircncias pela disponibilidade de serviccedilos e de legislaccedilatildeo Dessa forma a classificaccedilatildeo natildeo
constitui apenas um instrumento para medir o estado funcional dos indiviacuteduos Aleacutem disso ela
permite avaliar as condiccedilotildees de vida e fornecer subsiacutedios para poliacuteticas de inclusatildeo social
42 FUNCcedilOtildeES DO CORPO
As Funccedilotildees do corpo satildeo as funccedilotildees fisioloacutegicas dos sistemas orgacircnicos (incluindo as
funccedilotildees psicoloacutegicas)
As funccedilotildees e as estruturas do corpo satildeo classificadas em duas secccedilotildees diferentes Essas duas
classificaccedilotildees estatildeo concebidas de forma a serem utilizadas em paralelo Por exemplo as
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 23
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
funccedilotildees do corpo incluem sentidos humanos baacutesicos como as funccedilotildees da visatildeo e as
estruturas relacionadas aparecem na forma de ldquoolho e estruturas relacionadasrdquo
43 ESTRUTURAS DO CORPO
As Estruturas do Corpo satildeo as partes anatoacutemicas do corpo tais como oacutergatildeos membros e
seus componentes
ldquoCorpo refere-se ao organismo humano como um todo por isso o ceacuterebro e as suas funccedilotildees
ie a mente estatildeo incluiacutedos As funccedilotildees mentais (ou psicoloacutegicas) satildeo portanto incluiacutedas nas
funccedilotildees do corpo As funccedilotildees e as estruturas do corpo satildeo classificadas de acordo com os
sistemas orgacircnicos por isso as estruturas do corpo natildeo satildeo consideradas como oacutergatildeos no
seu sentido restrito
44 DEFICIEcircNCIA
Deficiecircncias satildeo problemas nas funccedilotildees ou na estrutura do corpo tais como um desvio
importante ou uma perda
As deficiecircncias de estrutura podem consistir numa anormalidade defeito perda ou outro desvio
importante relativamente a um padratildeo das estruturas do corpo As deficiecircncias foram definidas
de acordo com os conhecimentos bioloacutegicos actuais ao niacutevel de tecidos ou das ceacutelulas e ao
niacutevel subcelular ou molecular Por motivos praacuteticos no entanto esses niacuteveis natildeo estatildeo
classificados As bases bioloacutegicas das deficiecircncias orientaram essa classificaccedilatildeo e eacute possiacutevel
expandir a classificaccedilatildeo para incluir os niacuteveis celular ou molecular Do ponto de vista meacutedico
deve-se ter em mente que as deficiecircncias natildeo satildeo equivalentes agraves patologias subjacentes mas
sim a manifestaccedilotildees dessas patologias
As deficiecircncias correspondem a um desvio relativamente ao que eacute geralmente aceite como
estado biomeacutedico normal (padratildeo) do corpo e das suas funccedilotildees A definiccedilatildeo dos seus
componentes eacute feita essencialmente por pessoas com competecircncia para avaliar a
funcionalidade fiacutesica e mental de acordo com esses padrotildees
As deficiecircncias podem ser temporaacuterias ou permanentes progressivas regressivas ou estaacuteveis
intermitentes ou contiacutenuas O desvio em relaccedilatildeo ao modelo baseado na populaccedilatildeo e
geralmente aceite como normal pode ser leve ou grave e pode variar ao longo do tempo Estas
caracteriacutesticas satildeo consideradas posteriormente em descriccedilotildees adicionais principalmente nos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 24
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
coacutedigos atraveacutes de um qualificador que se acrescenta ao coacutedigo e do qual fica separado por
um ponto
As deficiecircncias natildeo tecircm uma relaccedilatildeo causal com a etiologia ou com a forma como se
desenvolveram Por exemplo a perda da visatildeo ou de um membro pode resultar de uma
anormalidade geneacutetica ou de uma lesatildeo A presenccedila de uma deficiecircncia implica
necessariamente uma causa No entanto a causa pode natildeo ser suficiente para explicar a
deficiecircncia resultante Da mesma forma quando haacute uma deficiecircncia haacute uma disfunccedilatildeo das
funccedilotildees ou estruturas do corpo mas isto pode estar relacionado com qualquer doenccedila
perturbaccedilatildeo ou estado fisioloacutegico
As deficiecircncias podem ser parte ou uma expressatildeo de uma condiccedilatildeo de sauacutede mas natildeo
indicam necessariamente a presenccedila de uma doenccedila ou que o indiviacuteduo deva ser
considerado doente
As deficiecircncias cobrem um campo mais vasto que as perturbaccedilotildees ou as doenccedilas Por
exemplo a perda de uma perna eacute uma deficiecircncia de uma estrutura do corpo mas natildeo eacute uma
perturbaccedilatildeo ou uma doenccedila
As deficiecircncias podem originar outras deficiecircncias Por exemplo a diminuiccedilatildeo da forccedila
muscular pode prejudicar as funccedilotildees do movimento as funccedilotildees cardiacuteacas podem estar
relacionadas com o deacutefice das funccedilotildees respiratoacuterias e uma percepccedilatildeo prejudicada pode estar
relacionada com as funccedilotildees do pensamento
Actualmente na perspectiva da CIF o conceito de deficiecircncia constitui o poacutelo negativo da
componente ldquoFunccedilotildees e Estrutura do Corpordquo sendo descrito atraveacutes da existecircncia de
alteraccedilotildees significativas das funccedilotildees eou das estruturas do corpo O poacutelo positivo desta
componente refere-se agrave integridade funcional e estrutural Neste contexto um dos desafios
criacuteticos das poliacuteticas sociais consiste na operacionalizaccedilatildeo do conceito de deficiecircncia de forma
a que a elegibilidade dos diferentes puacuteblicos alvo se encontre devidamente delimitada
assegurando a eficaacutecia das medidas subjacentes
No entanto a amplitude e abrangecircncia da definiccedilatildeo do conceito de deficiecircncia proposta pela
OMS atraveacutes da CIF coloca um enorme desafio na medida em que qualquer cidadatildeo desde
que apresente um desvio significativo ao niacutevel da estrutura eou funccedilatildeo passa a ser um
potencial beneficiaacuterio das poliacuteticas neste domiacutenio Neste contexto poder-se-atildeo colocar vaacuterias
questotildees A primeira eacute se interessa agraves diferentes poliacuteticas no sector continuarem a ser
desenvolvidas tendo por focus o conceito de pessoas com deficiecircncias sabendo que a sua
distinccedilatildeo ao longo da populaccedilatildeo apenas poderaacute ser feita atraveacutes do niacutevel e extensatildeo da
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 25
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
alteraccedilatildeo da integridade estrutural e funcional de cada individuo A segunda questatildeo prende-se
com as consequecircncias conceptuais decorrentes da integraccedilatildeo do modelo social na formulaccedilatildeo
e operacionalizaccedilatildeo dos conceitos a serem utilizados pelas poliacuteticas no sector na medida em
que o aspecto critico deixa de ser a natureza e severidade da deficiecircncia para passar a centrar-
se no niacutevel e tipo de restriccedilotildees de participaccedilatildeo que cada cidadatildeo experiencia na interacccedilatildeo
com os seus contextos de vida
No que concerne agrave primeira questatildeo e atendendo a que a mais recente definiccedilatildeo do conceito
de deficiecircncia proposto pela OMS apresenta um elevado niacutevel de abrangecircncia e um reduzido
potencial diferenciador poderemos equacionar 2 hipoacuteteses centrais de operacionalizaccedilatildeo
a) A primeira hipoacutetese baseia-se na possibilidade de operacionalizar diferentes definiccedilotildees
de deficiecircncia ao longo das diferentes poliacuteticas sociais no sentido de assegurar que as
diferentes medidas alcanccedilam efectivamente as pessoas para as quais foram
elaboradas Esta perspectiva tem a vantagem de uma maior focalizaccedilatildeo nas
caracteriacutesticas especificas do puacuteblico-alvo mas no entanto apresenta uma grande
desvantagem que consiste na elevada probabilidade das diferentes definiccedilotildees
perderem a coerecircncia entre si fragmentando igualmente o modelo teoacuterico a partir do
qual se deveriam basear
b) A segunda hipoacutetese consiste na articulaccedilatildeo operativa de dois conceitos o de
deficiecircncia e o de restriccedilotildees de participaccedilatildeo Nesta perspectiva a elegibilidade de uma
determinada politica social baseia-se na validaccedilatildeo preacutevia da existecircncia da primeira
condiccedilatildeo do puacuteblico-alvo ndash a existecircncia de uma deficiecircncia ndash determinando logo de
seguida o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo a partir do qual os diferentes cidadatildeos
passam a poder aceder agraves medidas especiacuteficas nela contidas O desafio contido nesta
hipoacutetese consiste na necessidade de desenvolvimento de um sistema de avaliaccedilatildeo que
permita avaliar o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo experimentado pelas pessoas com
deficiecircncias determinando atraveacutes do valor aferido quais seriam as pessoas com
acesso agraves medidas Neste cenaacuterio natildeo bastaria que uma pessoa tivesse uma
deficiecircncia pelo que seria necessaacuterio avaliar os efeitos da deficiecircncia em interacccedilatildeo
com o ambiente social ao niacutevel da participaccedilatildeo no sentido de determinar a
elegibilidade As vantagens desta hipoacutetese relacionam-se com (i) a preservaccedilatildeo do
niacutevel de coerecircncia dos conceitos utilizados ao longo das diferentes poliacuteticas sociais (ii)
a existecircncia de um processo comum de afericcedilatildeo e determinaccedilatildeo da elegibilidade ao
longo dos diferentes sectores de politica (iii) a compatibilidade e adequabilidade dos
princiacutepios teoacutericos do modelo social com a operacionalizaccedilatildeo dos sistemas e medidas
poliacuteticos de apoio agraves pessoas com deficiecircncias e (iv) a existecircncia de mecanismos de
avaliaccedilatildeo de elevada transparecircncia controlabilidade e rigor
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 26
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
45 INCAPACIDADE
Do ponto de vista de utilizaccedilatildeo dos conceitos de Deficiecircncia e de Incapacidade em Portugal
tecircm subsistido vaacuterias imprecisotildees terminoloacutegicas Primeiro na generalidade dos documentos
internacionais alude-se ao termo ldquopeople with disabilitiesrdquo sendo que invariavelmente esta
expressatildeo eacute traduzida para Portuguecircs como ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo Tal facto parece criar
condiccedilotildees para uma grande permeabilidade semacircntica dificilmente resoluacutevel do ponto de vista
conceptual Segundo deficiecircncia e incapacidade satildeo claramente dois conceitos distintos
Enquanto a deficiecircncia remete para alteraccedilotildees significativas ao niacutevel das estruturas eou das
funccedilotildees do corpo a incapacidade constitui o poacutelo negativo do funcionamento humano em
situaccedilatildeo potencial ou efectiva de participaccedilatildeo no contexto de vida Este facto pressupotildee que os
conceitos de deficiecircncia e de incapacidade natildeo contecircm nenhuma relaccedilatildeo causal entre si nem
nenhuma relaccedilatildeo linear de frequecircncia na medida em que eacute possiacutevel existir uma deficiecircncia
sem que exista uma incapacidade e eacute possiacutevel emergir uma determinada incapacidade sem
que haja uma qualquer deficiecircncia
Deste modo eacute possiacutevel
a) Ter deficiecircncias sem limitaccedilotildees de capacidade (eg uma desfiguraccedilatildeo resultante da
doenccedila de Hansen pode natildeo ter efeito sobre a capacidade da pessoa
b) Ter problemas de desempenho e limitaccedilotildees de capacidade sem deficiecircncias evidentes
(eg reduccedilatildeo de desempenho nas actividades diaacuterias associada a vaacuterias doenccedilas)
c) Ter problemas de desempenho sem deficiecircncias ou limitaccedilotildees de capacidade (eg um
indiviacuteduo HIV positivo ou um ex-doente curado de doenccedila mental que enfrenta
estigmas ou descriminaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais ou no trabalho)
d) Ter limitaccedilotildees de capacidade se natildeo tiver assistecircncia e nenhum problema de
desempenho no ambiente habitual (eg um indiviacuteduo com limitaccedilotildees de mobilidade
pode beneficiar por parte da sociedade de ajudas tecnoloacutegicas de assistecircncia para se
movimentar
e) Experimentar um grau de influecircncia em sentido contraacuterio (eg a inactividade dos
membros pode levar agrave atrofia muscular a institucionalizaccedilatildeo pode resultar numa perda
da socializaccedilatildeo)
Daqui resulta que ao referirmo-nos agraves pessoas com deficiecircncias enquanto puacuteblico-alvo
privilegiado das medidas de reabilitaccedilatildeo poderemos incorrer num desvio significativo de
alocaccedilatildeo dos recursos agraves reais necessidades das pessoas na medida em que natildeo eacute a
deficiecircncia que gera por si mesma a necessidade de reabilitaccedilatildeo mas sim as limitaccedilotildees de
actividade e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo decorrentes da interacccedilatildeo entre as caracteriacutesticas
biopsicossociais e as caracteriacutesticas dos ambientes em que o individuo se move
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Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
A persistecircncia em traduzir o termo disability para deficiecircncia e natildeo apenas o seu homoacutelogo
anglo-saxoacutenico ndash impairment ndash poderaacute explicar-se pelas seguintes razotildees
a) O potencial efeito estigmatizante da expressatildeo ldquopessoas com incapacidadesrdquo ser maior
do que aquele contido na expressatildeo ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo
b) O termo incapacidade centrar-se exclusivamente nos aspectos negativos do
funcionamento individual classificando a pessoa agrave partida como sendo destituiacuteda de
competecircncias e condiccedilotildees para atingir os niacuteveis normativos de desempenho e
performance num conjunto de domiacutenios da vida pessoal e social
O paradoxo surge igualmente porque enquanto no modelo meacutedico a incapacidade aparece
em termos causais relacionada com a deficiecircncia numa perspectiva exclusivamente individual
no modelo proposto pela OMS operacionalizado na CIF os dois conceitos gozam de total
independecircncia conceptual e operativa sendo que a deficiecircncia passa a ter uma baixa
relevacircncia diferenciadora do ponto de vista do funcionamento humano Ora se atendermos a
que as medidas de reabilitaccedilatildeo pretendem promover os potenciais do funcionamento humano
numa perspectiva de participaccedilatildeo plena do indiviacuteduo nos mais diferenciados contextos de vida
assegurando o co-desenvolvimento de todos os actores e das estruturas sociais necessaacuterias agrave
cidadania plena entatildeo falar de ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo natildeo soacute natildeo eacute relevante no quadro
da loacutegica de intervenccedilatildeo como poderaacute traduzir dificuldades dos actores em mudar
efectivamente do paradigma meacutedico para o paradigma social
Este fenoacutemeno aliaacutes natildeo acontece apenas em Portugal sendo que recentes estudos de
investigaccedilatildeo vieram sugerir a adopccedilatildeo dos conceitos de ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo e
ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo para ultrapassar a aplicaccedilatildeo indevida dos
conceitos de deficiecircncia e incapacidade A utilizaccedilatildeo destes conceitos parece articular de forma
mais precisa com o novo modelo conceptual proposto pela OMS enfatizando a diversidade de
niacuteveis de funcionamento humano e apelando a uma certa noccedilatildeo de relatividade socialmente
construiacuteda Uma das criticas feita pela comunidade de investigadores ao conceito de ldquopessoas
com diversidade funcionalrdquo reside no facto de que a expressatildeo eacute dotada de um tatildeo elevado
niacutevel de abrangecircncia que natildeo permite um niacutevel de diferenciaccedilatildeo relevante na medida em que
todos os cidadatildeos detecircm entre si diversos e diferentes padrotildees de funcionamento humano
Neste sentido o conceito ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo aplicar-se-ia a todos os
cidadatildeos sem excepccedilatildeo A proliferaccedilatildeo destes termos eacute explicada pela necessidade da
comunidade politica e cientifica de construir constructos que sejam socialmente aceites e o
mais neutros possiacuteveis do ponto de vista dos seus valores impliacutecitos No entanto a
impossibilidade epistemoloacutegica de desenvolver expressotildees e conceitos socio-historicamente
neutros parece levar muitas vezes agrave concepccedilatildeo de definiccedilotildees com reduzida identidade isto eacute
de significado demasiado amplo e abrangente o que na expressatildeo da UPIAS ldquopodem significar
tudo e coisiacutessima nenhumardquo (2005)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 28
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Os conceitos ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo ldquopessoas com limitaccedilotildees de
actividaderdquo e ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo afiguram-se comparativamente ao
anterior como um conceito de maior coerecircncia conceptual com o modelo proposto pela OMS e
deteacutem cumulativamente um maior poder diferenciador A sua desvantagem reside no facto de
constituiacuterem expressotildees com maior dificuldade de apreensatildeo e inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 29
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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5 ANAacuteLISE DOS REFERENCIAIS NACIONAIS E INTERNACIONAIS
No sentido de obter um conjunto de vectores de referecircncia na estruturaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo do
conceito de deficiecircncia foram analisadas as abordagens desenvolvidas pelos seguintes
organismos INE Eurostat OCDE American Disabilities Act WHO UN
51 INE
Os dados disponiacuteveis no INE parecem indicar a utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na
ICIDH
Deficiecircncia1 Perda ou alteraccedilatildeo de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou
anatoacutemica Nesta definiccedilatildeo estatildeo incluiacutedas as seguintes tipologias2
Deficiecircncia AUDITIVA
Deficiecircncia MENTAL
Deficiecircncia MOTORA
Deficiecircncia ORGAcircNICO-FUNCIONAL
Deficiecircncia PSIQUIAacuteTRICA
Deficiecircncia VISUAL
Incapacidade3 Ausecircncia ou limitaccedilatildeo da capacidade para funcionar estando comprometida a
realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida
diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e originando uma desvantagem para funcionar em
sociedade face a outros
Pessoa deficiente Aquela que tenha uma ou mais das seguintes deficiecircncias a) deficiecircncia
visual b) deficiecircncia auditiva c) deficiecircncia mental d) deficiecircncia motora
1 Nota Na operaccedilatildeo censitaacuteria de 2001 apenas foi observada a deficiecircncia permanente a deficiecircncia temporaacuteria natildeo foi considerada (por exemplo se um indiviacuteduo se desloca com canadianas ou em cadeira de rodas porque partiu uma perna ou se sofre de descolamento parcial da retina que o obriga a andar com uma venda natildeo foi considerado como tendo uma deficiecircncia) 2 Fonte INE ndash Censos 2001 ndash Recenseamento Geral da Populaccedilatildeo (Antecedentes Metodologia e Conceitos) Antecedentes Metodologia e Conceitos 3 Fonte INS ndash Inqueacuterito Nacional agrave Sauacutede
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Trabalhador deficiente Trabalhador que estaacute incapacitado para assegurar por si mesmo total
ou parcialmente a satisfaccedilatildeo de necessidades de uma vida individual ou social normal devido
a uma deficiecircncia congeacutenita ou adquirida das suas capacidades fiacutesicas sensoriais ou
mentais tendo por isso dificuldade em obter eou manter o desempenho de funccedilotildees de acordo
com as suas habilitaccedilotildees idade e experiecircncia profissional
Cidadatildeo Trabalhador com necessidades especiais Cidadatildeo idoso ou portador de
deficiecircncias sensoriais (visuais e auditivas) fiacutesicas (motoras) e cognitivas
52 EUROSTAT
Os dados disponibilizados pelo Eurostat no seu endereccedilo electroacutenico4 parecem indicar a
utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na ICIDH
Conceito Deficiecircncia5
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de deficiecircncia refere-se a uma perda ou alteraccedilatildeo
de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou anatoacutemica
Conceito Incapacidade6
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de incapacidade refere-se agrave ausecircncia ou limitaccedilatildeo
da capacidade para funcionar estando comprometida a realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas
funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e
originando uma desvantagem para funcionar em sociedade face a outros
Conceito Desvantagem7
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito refere-se agrave desvantagem para um dado individuo
decorrente de uma deficiecircncia ou incapacidade
4 httpforumeuropaeuintircdsiscodedinfodatacodedenTheme3htm 5 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 6 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 7 Fonte Key data on health 2000 Eurostat
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
53 OCDE
Definiccedilotildees gerais de incapacidade
No contexto da OCDE identificam-se 2 abordagens distintas no quadro da definiccedilatildeo de
incapacidade
A incapacidade pode ser definida enquanto um estado decorrente de autoavaliaccedilatildeo ou um
status baseado em fontes administrativas eg beneficiaacuterio dos apoios De forma muito
frequente e talvez de forma imprecisa estas duas definiccedilotildees satildeo explicitadas como
incapacidade ldquosubjectivardquo versus rdquoobjectivardquo
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo e instrumentos
A incapacidade autoavaliada eacute medida atraveacutes de inqueacuteritos feitos directamente aos cidadatildeos
nas suas residecircncias Apesar da avaliaccedilatildeo ser baseada de uma forma geral nas respostas agraves
questotildees relativas a problemas de sauacutede de longo termo que limitam as actividades de vida
diaacuteria o detalhe das questotildees eacute geralmente diferente dificultando a comparabilidade dos
dados Por exemplo ldquolongo termordquo eacute parametrizado em 6 meses na Noruega e em 12 meses
na Suiccedila O status dos beneficiaacuterios pode ser avaliado atraveacutes de registos administrativos ou
atraveacutes de inqueacuteritos Os resultados entre as duas fontes satildeo de uma forma geral bastante
diferentes por duas razotildees nucleares os registos administrativos geralmente contam casos e
natildeo pessoas o que em situaccedilotildees de benefiacutecios muacuteltiplos pode levar a contagens duplas por
outro lado os inqueacuteritos satildeo baseados nas respostas sobre o status do beneficiaacuterio e algumas
pessoas podem desejar natildeo revelar a sua condiccedilatildeo perante os benefiacutecios
Nenhuma destas definiccedilotildees e medidas de mensuraccedilatildeo eacute superior a outras pelo que a sua
utilizaccedilatildeo depende dos objectivos do propoacutesito da investigaccedilatildeo e da disponibilidade da
informaccedilatildeo
Abordagens para medir a incapacidade no quadro da aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos agraves populaccedilotildees
a) Incapacidade geral (natildeo especificada)
Puacuteblico-alvo todos os adultos
b) Incapacidade relativa ao trabalho
Puacuteblico-alvo pessoas em idade activa
c) Limitaccedilotildees nas actividades de vida diaacuteria (AVD)
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Puacuteblico-alvo Populaccedilatildeo idosa
54 AMERICAN DISABILITIES ACT
O American Disabilities Act (ADA) desenvolvido em 1990 fornece um conjunto de guidelines
no sentido de assegurar a disponibilizaccedilatildeo de serviccedilos para as pessoas com deficiecircncias bem
como a protecccedilatildeo dos seus direitos legais
A ADA inclui uma definiccedilatildeo legal de incapacidade consistindo na presenccedila de ldquouma deficiecircncia
fiacutesica ou mental que limita significativamente uma ou mais das principais actividades de vidardquo
Independentemente da definiccedilatildeo proposta pela ADA a existecircncia de muacuteltiplos programas a
favor das pessoas com deficiecircncias e os diferentes focus legais em diferentes puacuteblicos alvo
fazem com que tenham emergido uma multiplicidade de definiccedilotildees de incapacidade ao longo
do tempo no quadro das poliacuteticas sociais americanas
55 OMS ONU Revisatildeo dos actuais inqueacuteritos sobre a incapacidade
Apesar de existir um desenvolvimento consideraacutevel dos inqueacuteritos na aacuterea da incapacidade
poder-se-atildeo explicitar algumas observaccedilotildees relativas agrave sua multiplicidade Numa primeira linha
de anaacutelise os inqueacuteritos tendem a focalizar-se nas limitaccedilotildees de actividade eou na deficiecircncia
No que concerne agrave formulaccedilatildeo escrita tendem a existir diferenccedilas significativas entre
inqueacuteritos facto que inviabiliza natildeo raras vezes a comparabilidade dos dados entre inqueacuteritos
As diferentes formulaccedilotildees das questotildees incluem
Tem dificuldade
Eacute capaz de
Faz
Tem sentido problemas em
com ou sem assistecircncia pessoal eou tecnoloacutegica
A questatildeo que se coloca eacute se estas formulaccedilotildees tecircm o mesmo significado isto eacute se todas elas
pretendem medir a capacidade ou a performance De acordo com a CIF a capacidade
remeteria para o potencial de execuccedilatildeo de um indiviacuteduo enquanto a performance diria respeito
ao niacutevel de desempenho efectivo do indiviacuteduo atraveacutes do seu envolvimento numa situaccedilatildeo de
vida real As lacunas existentes e as poucas referecircncias ao niacutevel da forma como os inquiridos
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
satildeo instruiacutedos a responder faz com que natildeo seja possiacutevel desenvolver um discernimento
irrefutaacutevel sobre esta mateacuteria
Do ponto de vista dos domiacutenios abrangidos os inqueacuteritos tecircm apresentado algumas questotildees
sobre a participaccedilatildeo e o ambiente e evidenciam algumas limitaccedilotildees na sua amplitude Os
domiacutenios de actividades e participaccedilatildeo geralmente abrangidos tecircm sido operacionalizados de
uma forma geral nas seguintes dimensotildees
Educaccedilatildeo e emprego (formulado como questotildees de performance)
Outros inqueacuteritos incluem aacutereas como relaccedilotildees interpessoais vida familiar tomada de
decisotildees etc
O domiacutenio relativo aos factores ambientais tem incluiacutedo
Utilizaccedilatildeo e acessibilidadedisponibilidade dos produtos de assistecircncia e da tecnologia
Acessibilidade do ambiente
Disponibilidade dos serviccedilos (sauacutede protecccedilatildeo social educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo)
Evidecircncias muito escassas ao niacutevel da poliacutetica atitudes ambiente natural
planeamento e concepccedilatildeo
A questatildeo de investigaccedilatildeo neste contexto centra-se na seguinte formulaccedilatildeo ldquoo que eacute que os
inqueacuteritos medem como incapacidaderdquo
a) Definiccedilatildeo a priori da incapacidade versus sem incapacidade
Alguns inqueacuteritos sobre a incapacidade especialmente os mais antigos utilizam uma definiccedilatildeo
a priori de incapacidade O objectivo deste tipo de inqueacuteritos eacute contar o nuacutemero de pessoas
que se encaixam na definiccedilatildeo no contexto da populaccedilatildeo total Neste sentido os dados satildeo
analisados de acordo com dois grupos de referecircncia ndash com incapacidade e sem incapacidade ndash
em funccedilatildeo de um conjunto de diferentes variaacuteveis Este tipo de questionaacuterios formula questotildees
do tipo ldquoPossui algum tipo de incapacidade auditiva visual ou fiacutesicardquo Muitas questotildees dos
censos tecircm utilizado este formato
b) Definiccedilatildeo a posteriori de incapacidade versus sem incapacidade
Mais recentemente alguns inqueacuteritos desenvolveram-se em direcccedilatildeo a uma definiccedilatildeo a
posteriori de incapacidade Nestes casos eacute medida a capacidade a performance ao longo de
um conjunto vasto de domiacutenios Este segundo tipo de inqueacuteritos tende a ter uma ampla
aceitaccedilatildeo eg HALS (Canada) HID (Franccedila) inqueacuterito sobre incapacidade na Africa do Sul
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Inqueacuterito Espanhol sobre incapacidade NHIS-D (USA) inqueacuterito Holandecircs entre outros Estes
instrumentos formulam questotildees relativas agraves dificuldades que as pessoas experienciam em
diferentes domiacutenios produzindo um perfil pessoal que possa colocar em evidecircncia os
diferentes graus de capacidade associados A categorizaccedilatildeo de incapacidade sem
incapacidade eacute formulada ao niacutevel do domiacutenio e natildeo como uma categoria geral de atributo
pessoal Esta abordagem permite uma anaacutelise ao niacutevel de funcionamento individual por
domiacutenio por exemplo comparando a experiecircncia de incapacidade no domiacutenio de mobilidade
versus socializaccedilatildeo versus comunicaccedilatildeo entre outros bem como o impacto dos factores
ambientais nestes diferentes domiacutenios O perfil resultante do funcionamento individual ao longo
de muacuteltiplos domiacutenios eacute similar aos estados de sauacutede individuais ao longo das diferentes
dimensotildees
Vantagens de uma abordagem a posteriori
Estaacute em consonacircncia com a abordagem universal proposta pela CIF Todas as
pessoas experienciam deficiecircncia nalgum ponto e esta experiecircncia eacute caracterizada
numa abordagem a posteriori e natildeo a priori
Decisotildees sobre a criaccedilatildeo de categorias sobre quem tem incapacidade e sobre quem
natildeo tem podem ser tomadas atraveacutes de diferentes niacuteveis de anaacutelise por exemplo
atraveacutes da anaacutelise da experiecircncia das pessoas que experienciam incapacidade em 1 2
ou 3 domiacutenios de cruzar o status de emprego de pessoas com incapacidade ao longo
dos diferentes domiacutenios etc
Deixa de ser necessaacuteria uma definiccedilatildeo tipoloacutegica e categoacuterica de pessoas com
incapacidade O que necessita de ser definido neste contexto eacute o que se designa por
limitaccedilatildeo da capacidade ou problemas de performance ao longo dos diferentes
domiacutenios
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6 SISTEMATIZACcedilAtildeO DAS DIMENSOtildeES DE ORGANIZACcedilAtildeO E
OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em todos os estudos efectuados neste domiacutenio foi colocada em evidecircncia a actual dificuldade
de comparabilidade estatiacutestica internacional inter ou intra sectorial independentemente do
organismo referenciador ndash OCDE ONU EUROSTAT INE OMS
Neste contexto desenvolver-se-aacute a extracccedilatildeo de conhecimento tendo por base a identificaccedilatildeo
de um conjunto de eixos de anaacutelise que actuem como vectores de estruturaccedilatildeo na
operacionalizaccedilatildeo do conceito A este propoacutesito atente-se no Quadro 2
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Abordagem Focus Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Delimitaccedilatildeo temporal do
conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo
Design das questotildees
CID-10
ICIDH
ICF
SauacutedeDoenccedila
Deficiecircncia
Incapacidade
a) Geral
b) Relativa ao trabalho
c) Limitaccedilotildees nas
actividades de vida
diaacuteria
Funcionalidade ndash
Niacuteveis de execuccedilatildeo
das actividades por
domiacutenio e niacuteveistipos
de ajudas mobilizadas
Intersubjectivo ndash
vg inqueacuteritos
Objectivo ndash vg
fontes administrativas
A priori
A posteriori
Temporaacuterias
permanentes
Progressivas
regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou
contiacutenuas
Tipo 1 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre uma determinada
condiccedilatildeo individual
combinada com itens
referentes a limitaccedilotildees de
actividade e participaccedilatildeo e
factores contextuais
Tipo 2 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre a presenccedila de uma
pessoa com incapacidade
no agregado familiar
seguindo-se uma lista de
deficiecircncias e
incapacidades
Tipo 3 ndash Checklist de
deficiecircncias
Quadro 2 ndash Eixos de operacionalizaccedilatildeo do conceito
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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7 ESCOLHA DO CENAacuteRIO A IMPLEMENTAR
A anaacutelise do Quadro 2 permite-nos uma definiccedilatildeo modular do cenaacuterio a implementar atraveacutes de
uma configuraccedilatildeo do conceito pelos eixos de anaacutelise propostos Uma das dificuldades
evidentes nesta delimitaccedilatildeo prende-se com o cumprimento dos requisitos de (a)
comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica e legislativa dentro do contexto portuguecircs
e (c) conformidade com os referenciais conceptuais actuais sendo que a coexistecircncia destes
criteacuterios afigura-se em muitos casos incompatiacutevel entre si Para efeitos da estruturaccedilatildeo do
cenaacuterio privilegiar-se-aacute a conformidade com os referenciais conceptuais actuais
71 ABORDAGEM No que concerne agrave abordagem privilegia-se a adopccedilatildeo das mais recentes directrizes propostas
pela OMS adoptando explicitamente a CIF
Fundamentaccedilatildeo
A CIF apresenta a capacidade para descrever o funcionamento humano numa
perspectiva biopsicossocial em detrimento da classificaccedilatildeo anterior (ICIDH) que se
focalizava na dimensatildeo biomeacutedica A CIF foi desenvolvida no plano conceptual para ser aplicaacutevel em diferentes aacutereas e
sectores A CIF eacute aplicaacutevel transversalmente agraves dimensotildees de cultura idade geacutenero sendo um
instrumento sistemaacutetico para descrever e medir a sauacutede e o funcionamento humano
num dado contexto A CIF constitui-se enquanto instrumento potencial para a poliacutetica social design das
intervenccedilotildees nos domiacutenios da sauacutede educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e intervenccedilatildeo social Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
72 FOCUS
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo da centraccedilatildeo da recolha de dados ao niacutevel
da dimensatildeo de funcionalidade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 39
Dezembro2006
Fundamentaccedilatildeo
Consonacircncia com o modelo conceptual proposto pela CIF enfatizando o caraacutecter
dinacircmico e interaccional (pessoa factores contextuais) do funcionamento de cada
pessoa Permite caracterizar as limitaccedilotildees de actividade e restriccedilotildees de participaccedilatildeo dos
cidadatildeos identificando necessidades de intervenccedilotildees especializadas numa loacutegica de
empowerment e participaccedilatildeo social Permite analisar a adequabilidade e ajustamento das actuais medidas poliacuteticas do
ponto de vista dos seus objectivos e os problemas detectados ao niacutevel da participaccedilatildeo
dos cidadatildeos ao longo de um conjunto diversificado de domiacutenios
73 MEacuteTODOS DE MENSURACcedilAtildeO
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo de meacutetodos intersubjectivos nomeadamente
inqueacuteritos
Fundamentaccedilatildeo
Flexibilidade ao niacutevel da abrangecircncia e profundidade das dimensotildees
Maior facilidade na implementaccedilatildeo atendendo agrave disponibilizaccedilatildeo de uma amostra
delimitada
Maior niacutevel de controlo sobre as condiccedilotildees de observaccedilatildeo e da entrevista devido ao
menor nuacutemero de entrevistas a ser implementado
74 DELIMITACcedilAtildeO CONCEPTUAL E TEMPORAL DO CONCEITO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo temporal e apesar de se privilegiar as vantagens anteriormente
explicitadas no desenvolvimento de uma definiccedilatildeo a posteriori assume-se a necessidade
politica de delimitar o campo de intervenccedilatildeo do conjunto de medidas sociais neste domiacutenio
pelo que a delimitaccedilatildeo conceptual poderaacute ser objecto de operacionalizaccedilatildeo atraveacutes dos
seguintes paracircmetros
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 40
Dezembro2006
Poder-se-aacute colocar a questatildeo de saber se a delimitaccedilatildeo do conceito proposta remete
especificamente para ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ou para ldquopessoas com limitaccedilotildees de
participaccedilatildeordquo Atendendo a que a definiccedilatildeo comporta uma abordagem sisteacutemica enfatizando a
interacccedilatildeo entre um conjunto diversificado de componentes que produzem impacto na
funcionalidade da pessoa a resposta natildeo eacute linear dependendo da ecircnfase socio-histoacuterica e da
abordagem sociopoliacutetica que se escolher enfatizar No entanto e do ponto de vista conceptual
privilegia-se a adopccedilatildeo do conceito ldquopessoas com limitaccedilotildees de participaccedilatildeordquo dado que existe
total autonomia operativa entre os diferentes constructos Neste sentido a deficiecircncia natildeo
constitui um factor causal linear das limitaccedilotildees de actividade e das restriccedilotildees ao niacutevel da
participaccedilatildeo mas antes uma das componentes que em interacccedilatildeo com outras podem
provocar impactos ao niacutevel da funcionalidade do indiviacuteduo Por uacuteltimo refira-se que a tipologia
ldquopessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeordquo poderaacute ser alvo de criticas por constituir
uma designaccedilatildeo que apela a duas componentes em simultacircneo (actividades e participaccedilatildeo)
excluindo outras e ser demasiado longa para uma definiccedilatildeo tipoloacutegica A este propoacutesito pode-
se sugerir a delimitaccedilatildeo ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo constituindo esta
expressatildeo uma abordagem holiacutestica ao conjunto de componentes que interferem com o
funcionamento humano Deste modo poderemos ter as seguintes designaccedilotildees
Pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Pessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo
Pessoas com limitaccedilotildees de funcionalidade
Figura 2 ndash Possiacuteveis designaccedilotildees
O Quadro 3 pretende fornecer uma visatildeo sistemaacutetica sobre o processo de decisatildeo da
designaccedilatildeo a adoptar
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
deficiecircncias
Tradiccedilatildeo analiacutetica dentro do
contexto portuguecircs
Em conformidade com o modelo
meacutedico ndash centra-se nas alteraccedilotildees
de estrutura e funccedilatildeo ndash
focalizaccedilatildeo na pessoa
Desarticulado dos pressupostos do
modelo social ndash natildeo remete para a
experiecircncia de incapacidade
enquanto produto da interacccedilatildeo
entre pessoa e ambiente
Mai
or
Abr
angecirc
ncia
Mai
or
Espe
cific
idad
e
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 41
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
incapacidades
Em conformidade com a
delimitaccedilatildeo anglo-saxoacutenica que
utiliza o conceito Disability
Focalizaccedilatildeo no poacutelo negativo do
funcionamento humano ndash
funcionalidadeincapacidade
Ao focalizar-se na experiecircncia de
incapacidade enquanto
interacccedilatildeo pessoa-ambiente
remete indirectamente para a
mobilizaccedilatildeo de apoios e recursos
de forma a ultrapassar eou
eliminar os obstaacuteculos ao
funcionamento em contexto
O potencial efeito estigmatizante
da expressatildeo ldquopessoas com
incapacidadesrdquo
Pessoas com
diversidade
Funcional
Em conformidade com o modelo
social
Focaliza-se na gestatildeo das
diferenccedilas e no seu impacto ao
niacutevel da participaccedilatildeo das pessoas
na sociedade
Elevado niacutevel de abrangecircncia natildeo
permitindo um niacutevel de
diferenciaccedilatildeo relevante na
medida em que todos os cidadatildeos
detecircm entre si diversos e
diferentes padrotildees de
funcionamento humano
Conceito dificilmente
operacionalizaacutevel do ponto de
vista da formulaccedilatildeo das poliacuteticas e
da delimitaccedilatildeo dos puacuteblicos-alvo
Pessoas com
restriccedilotildees ao
niacutevel da
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos Desta forma
todos os obstaacuteculos agrave participaccedilatildeo
relacionados com discriminaccedilatildeo
social preconceitos estereoacutetipos
deficiecircncias doenccedilas croacutenicas
entre outros satildeo incluiacutedos
Natildeo inclui as limitaccedilotildees de
actividade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
limitaccedilotildees de
actividade e
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida e simultaneamente no
domiacutenio das limitaccedilotildees de
actividade
Ruptura com a tradiccedilatildeo analiacutetica
no sector
Dificuldade de apreensatildeo e
inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Natildeo inclui as alteraccedilotildees da
estrutura e da funccedilatildeo
Pessoas com
limitaccedilotildees de
funcionalidade
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel das
diferentes dimensotildees constituintes
da funcionalidade e do
funcionamento humano
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos
Pessoas com
deficiecircncias e
incapacidades
Natildeo introduz ruptura com a
tradiccedilatildeo analiacutetica no sector
Inclui as alteraccedilotildees de estrutura e
funccedilatildeo bem como as alteraccedilotildees
decorrentes ao niacutevel da
funcionalidade
Diferencia os conceitos de
deficiecircncia e incapacidade
autonomizando-os e fornecendo
uma base compreensiva para o
natildeo estabelecimento de relaccedilotildees
de causa-efeito entre os ambos
Abrange os obstaacuteculos que
emergem na interacccedilatildeo pessoa-
contextos de vida e
simultaneamente no domiacutenio das
limitaccedilotildees de actividade
Poder diferenciador e delimitador
na definiccedilatildeo do puacuteblico-alvo
Em alinhamento estrateacutegico com o
PAIPDI
Designaccedilatildeo de compromisso com
os referenciais teoacutericos do modelo
social e dos princiacutepios da ldquoeacutetica da
diversidaderdquo
Quadro 3 ndash Visatildeo comparativa das hipoacuteteses da designaccedilatildeo a adoptar
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
75 DELIMITACcedilAtildeO DA DURACcedilAtildeO E CURSO DE EVOLUCcedilAtildeO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo interessa a caracterizaccedilatildeo nas
3 dimensotildees desenvolvidas
Fundamentaccedilatildeo
Afigura-se relevante caracterizar a ocorrecircncia das deficiecircncias quanto aacute sua
consistecircncia no tempo ndash temporaacuterias permanentes ndash analisando os factores
contextuais associados consequecircncias ao niacutevel das actividades e da participaccedilatildeo ao
longo de um conjunto de domiacutenios em ordem agrave extracccedilatildeo de implicaccedilotildees no acircmbito
das poliacuteticas sociais
No acircmbito da adaptabilidade e da adequaccedilatildeo das medidas poliacuteticas agraves necessidades
especiacuteficas dos cidadatildeos torna-se relevante caracterizar a deficiecircncia quanto agrave
natureza do seu curso evolutivo ndash progressivas regressivas estaacuteveis O mesmo
criteacuterio eacute aplicaacutevel quanto aacute dimensatildeo de padratildeo de manifestaccedilatildeo ndash intermitente
contiacutenua
No entanto e apesar da incapacidade se manifestar ao longo do ciclo de vida da pessoa
de forma multimodal para efeitos de delimitaccedilatildeo e de definiccedilatildeo do conceito de pessoas
com deficiecircncias e incapacidades privilegiaremos o caraacutecter permanente Desta forma
excluem-se as manifestaccedilotildees temporaacuterias de incapacidade que enviesariam a anaacutelise e o
desenvolvimento de poliacuteticas neste domiacutenio
76 DESIGN DAS QUESTOtildeES
No que concerne ao design das questotildees privilegia-se a escolha de questotildees tipo 1
Fundamentaccedilatildeo
Em consonacircncia com a CIF
Permite comparabilidade estatiacutestica futura
Permite a caracterizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre os factores de funcionalidade ndash integridade
estrutural e funcional actividades participaccedilatildeo e factores contextuais
Permite o design das poliacuteticas sociais e metodologias de intervenccedilatildeo alicerccediladas nas
necessidades especiacuteficas dos cidadatildeos em torno das dimensotildees de inclusatildeo social
Domiacutenios
Visatildeo
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
Audiccedilatildeo
Comunicaccedilatildeo
Mobilidade
Dor
Aprendizagem e funcionamento psicoloacutegico
Autocuidados e vida domeacutestica
Condiccedilotildees gerais de sauacutede
Mobilizaccedilatildeo de ajudas ou equipamento especializado
Participaccedilatildeo social
Transporte e educaccedilatildeo
77 PROPOSTA DE DELIMITACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em funccedilatildeo das dimensotildees caracterizadas e dos criteacuterios privilegiados desenvolveu-se o
seguinte enquadramento conceptual
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
Figura 2 ndash Enquadramento conceptual da delimitaccedilatildeo do conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso da evoluccedilatildeo
Temporaacuterias permanentes
Progressivas regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou contiacutenuas
Focus
Funcionalidade ndash Niacuteveis de execuccedilatildeo das actividades por domiacutenio e niacuteveistipos de ajudas mobilizadas
Abordagem CIF
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo temporal do conceito
A priori
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Inter-subjectivo
Design das questotildees
Questatildeo geneacuterica sobre uma determinada condiccedilatildeo individual combinada com itens referentes a limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo e factores contextuais
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
8 CRITEacuteRIOS DE ELEGIBILIDADE DO PUacuteBLICO-ALVO E SISTEMAS DE
AVALIACcedilAtildeO
A operacionalizaccedilatildeo do conceito de incapacidade tem sido abordada de forma heterogeacutenea
entre diferentes modalidades de politica e os diferentes contextos socioculturais de cada paiacutes
De uma forma geral encontram-se 2 eixos criacuteticos na sua operacionalizaccedilatildeo
a) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de trabalho (na ocupaccedilatildeo preacutevia ou numa nova
ocupaccedilatildeo ajustada agraves alteraccedilotildees funcionais)
b) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de obter rendimentos provenientes do trabalho
A explicitaccedilatildeo dos criteacuterios de delimitaccedilatildeo do conceito de incapacidade nos diferentes paiacuteses
encontra-se na Quadro 4
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Austraacutelia 2 Criteacuterios possuir uma incapacidade que resulte
num score nunca inferior a 20 nas tabelas de
incapacidades e incapacidade em trabalhar 30
horas ou mais por semana ou em ser
reconvertido para trabalho em contexto regular
nos proacuteximos 2 anos
Nenhum
Aacuteustria 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho (50
de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo para
trabalhadores sem qualificaccedilotildees) papel criacutetico
das decisotildees dos tribunais devido a definiccedilotildees
legais imprecisas
Nenhum mas as
restriccedilotildees de sauacutede
devem ter uma duraccedilatildeo
igual ou superior a 6
meses
Beacutelgica 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na actual ocupaccedilatildeo
1 ano
Canada Incapacidade severa e prolongada que impeccedila de
desenvolver trabalho numa base regular
Nenhum
Dinamarca 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum mas a
reabilitaccedilatildeo precisa de
estar completa
Franccedila 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual mas a
totalidade do subsidio requer igualmente perda de
capacidade de trabalho
Nenhum no caso das
condiccedilotildees estarem
estaacuteveis mas muito
frequentemente apoacutes 3
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
anos
Alemanha 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho a
incapacidade parcial eacute calculada em funccedilatildeo do nordm
de horas que a pessoa pode trabalhar
Nenhum mas a
incapacidade deve ter
uma duraccedilatildeo miacutenima
de 26 semanas
Itaacutelia 666reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum
Coreia Criteacuterios meacutedicos (niacuteveis de incapacidade
definidos de forma detalhada)
Periacuteodo de espera de
50 dias (os subsiacutedios
de doenccedila natildeo se
encontram disponiacuteveis)
Meacutexico 50 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo Nenhum
Holanda 15 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
(25 para os trabalhadores por conta proacutepria e
jovens com incapacidade) grau de incapacidade
calculado pela diferenccedila de remuneraccedilatildeo entre o
actual posto de trabalho compatiacutevel com as
limitaccedilotildees funcionais e o anterior
1 ano
Noruega 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho O
grau de subsiacutedio eacute calculado pela capacidade de
remuneraccedilatildeo
Nenhum (apoacutes ter
completado a
reabilitaccedilatildeo vocacional)
Poloacutenia Reduccedilatildeo temporaacuteria ou permanente da
capacidade de trabalho
Nenhum
Portugal 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual
Nenhum mas na
praacutetica ao fim de 3
anos (fim do periacuteodo de
doenccedila de longo termo)
Espanha 33 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho na
ocupaccedilatildeo actual incapacidade para todo e
qualquer trabalho para a totalidade do subsiacutedio
1 ano (embora seja
possiacutevel a candidatura
antes deste prazo em
casos de incapacidade
permanente)
Sueacutecia 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho grau
de incapacidade parcial calculado a partir das
horas que uma pessoa pode trabalhar
Nenhum
Suiccedila 40 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho para
as pessoas inactivas o grau de incapacidade eacute
calculado em relaccedilatildeo aacute actividade actual
1 ano
Turquia 666 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho
com um focus meacutedico bastante significativo
Nenhum
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Reino Unido Limitaccedilotildees nas actividades de vida quotidianas
relevantes para o trabalho (avaliaccedilotildees meacutedicas
predominantes) teste ocupacional durante a s
primeiras 28 semanas (subsidio de doenccedila)
28 semanas
Estados
Unidos
Reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
incapacidade em investir numa actividade
profissional com rendimentos ($ US 740 por mecircs)
5 meses (nem sempre
cobertos pelos
subsiacutedios de curto-
termo) e 24 meses
para a cobertura
meacutedica
Quadro 4 ndash Definiccedilotildees de incapacidade e tempos regulamentares
Um dos desafios que se coloca aos actuais sistemas reside na delimitaccedilatildeo da elegibilidade do
puacuteblico-alvo Para cumprir este objectivo satildeo necessaacuterios sistemas de avaliaccedilatildeo holiacutesticos
abrangentes coerentes e que permitam chegar a resultados de forma consistente e com
validade interna No actual contexto a CIF propotildee constituir-se como o instrumento conceptual
abrangente para caracterizar os diferentes domiacutenios e niacuteveis de funcionalidade incapacidade
de forma coerente e integrada Neste sentido uma das vantagens apontadas para a adopccedilatildeo
do modelo desenvolvido pela OMS eacute a possibilidade de uniformizaccedilatildeo de conceitos e portanto
da utilizaccedilatildeo de uma linguagem padratildeo que permita a comunicaccedilatildeo entre investigadores
gestores profissionais de sauacutede organizaccedilotildees da sociedade civil e utilizadores em geral
Um dos campos de estudo mais explorados para a aplicaccedilatildeo da CIF tem sido a aacuterea de
Medicina Fiacutesica e de Reabilitaccedilatildeo no que concerne ao acompanhamento do estado de sauacutede
dos pacientes em tratamento O uso da CIF tem sido considerado tambeacutem na avaliaccedilatildeo apoacutes
transtornos agudos condiccedilotildees traumaacuteticas condiccedilotildees croacutenicas e na geriatria
Alguns autores argumentam que a CIF deve ser explorada como uma base de informaccedilotildees
padronizadas em estudos sobre incapacidade profissional quando haacute necessidade de
relacionar dados de sauacutede ocupacional com os da Seguranccedila Social
Na Sauacutede Puacuteblica tradicionalmente pouca atenccedilatildeo tem sido dada agraves pessoas com
incapacidades No entanto ao lado de recentes investimentos por parte de organizaccedilotildees e de
alguns governos a publicaccedilatildeo do modelo da CIF fornece as bases para as poliacuteticas e
disciplinas da Sauacutede Puacuteblica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo que apresenta deficiecircncias e
incapacidades Assim uma das possibilidades de uso da CIF pode ser a contribuiccedilatildeo para
responder a importantes questotildees de sauacutede puacuteblica tais como qual o estado de sauacutede das
pessoas com deficiecircncias comparadas com as demais que necessidades e que tipos de
intervenccedilotildees satildeo mais adequadas para reduzir condiccedilotildees secundaacuterias e promover a
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na sociedade entre outras
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
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Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
Dezembro2006
Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 53
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7 ESCOLHA DO CENAacuteRIO A IMPLEMENTAR 38
71 ABORDAGEM 38
72 FOCUS 38
73 MEacuteTODOS DE MENSURACcedilAtildeO 39
74 DELIMITACcedilAtildeO CONCEPTUAL E TEMPORAL DO CONCEITO 39
75 DELIMITACcedilAtildeO DA DURACcedilAtildeO E CURSO DE EVOLUCcedilAtildeO 43
76 DESIGN DAS QUESTOtildeES 43
77 PROPOSTA DE DELIMITACcedilAtildeO DO CONCEITO 44
8 CRITEacuteRIOS DE ELEGIBILIDADE DO PUacuteBLICO-ALVO E SISTEMAS DE AVALIACcedilAtildeO 46
9 BIBLIOGRAFIA 53
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
1 EVOLUCcedilAtildeO DOS REFERENCIAIS CONCEPTUAIS NO DOMIacuteNIO DA
INCLUSAtildeO DE PESSOAS COM DEFICIEcircNCIAS E INCAPACIDADES
11 EVOLUCcedilAtildeO DE PARADIGMAS E MODELOS TEOacuteRICOS
Ao pensarmos as questotildees relativas agraves deficiecircncias e incapacidades conveacutem relevar as
mudanccedilas societais operadas sobre as percepccedilotildees ligadas agrave incapacidade Desde os anos
sessenta tem existido uma progressiva consciencializaccedilatildeo por parte de poliacuteticos legisladores
e investigadores sociais de que o problema da incapacidade natildeo eacute susceptiacutevel de continuar a
ser considerado numa perspectiva individual estritamente meacutedica (Barnes and Mercer 2003)
Este facto poderaacute encontrar a sua explicaccedilatildeo (a) num crescente nuacutemero de pessoas da
sociedade com uma qualquer deficiecircncia e incapacidade fiacutesica ou intelectual e (b) porque em
parte quanto maior for a sofisticaccedilatildeo tecnoloacutegica e cultural de uma dada sociedade maior o
grau de incapacidade gerada (Oliver 1990) Estimativas recentes sugerem a existecircncia de 50
milhotildees de pessoas com incapacidades na Europa e 500 milhotildees em todo o mundo sendo que
eacute esperado que estes nuacutemeros aumentem significativamente nas proacuteximas deacutecadas quer nos
paiacuteses considerados desenvolvidos quer nas naccedilotildees subdesenvolvidas (IDF 1998) Este
cenaacuterio fica a dever-se a um conjunto diversificado de factores tais como os progressos ao
niacutevel da medicina o envelhecimento das populaccedilotildees a intensificaccedilatildeo do ritmo da mudanccedila
social e tecnoloacutegica os conflitos militares e o terrorismo (Coleridge 1993 Ingstad 2001)
Todos estes factores tecircm implicaccedilotildees econoacutemicas poliacuteticas e culturais para os governos
nacionais e organismos internacionais como a Uniatildeo Europeia e as Naccedilotildees Unidas Uma
preocupaccedilatildeo crescente focaliza-se no aumento dos custos com os programas de reabilitaccedilatildeo
reconhecidos como cientificamente apropriados e com respostas socialmente ajustadas para
os problemas encontrados pelas pessoas com incapacidades (Stone 1985 Albrecht 1992
Sandvin 2002)
A evoluccedilatildeo conceptual no domiacutenio das poliacuteticas e dos modelos organizadores das intervenccedilotildees
no contexto da reabilitaccedilatildeo e da inclusatildeo social tem sido reflectida na forma como os diversos
actores sociais equacionam e problematizam as questotildees ligadas agraves deficiecircncias e
incapacidades Neste quadro evolutivo constata-se que as deficiecircncias eram equacionadas
como um problema das proacuteprias pessoas directamente causado por doenccedila acidente ou outra
condiccedilatildeo de sauacutede passiacutevel de melhorar atraveacutes de intervenccedilotildees meacutedicas tais como a
reabilitaccedilatildeo Neste sentido a perspectiva das poliacuteticas centrava-se no reconhecimento de
necessidades especiais atraveacutes da criaccedilatildeo de serviccedilos especiais Estes serviccedilos baseavam-se
na criaccedilatildeo de uma rede de cuidados especiacutefica para as pessoas com deficiecircncias favorecendo
mecanismos de institucionalizaccedilatildeo Outra caracteriacutestica deste estaacutedio inicial de
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 4
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
conceptualizaccedilatildeo das deficiecircncias e incapacidades baseava-se na focalizaccedilatildeo de todos os
processos de poder e controlo das intervenccedilotildees nos teacutecnicos e profissionais do sector Do
ponto de vista da envolvente cultural assistia-se ao reforccedilo da estigmatizaccedilatildeo e dos
preconceitos em relaccedilatildeo agraves pessoas com deficiecircncias e incapacidades atraveacutes da mensagem
de impossibilidade de integraccedilatildeo das diferenccedilas materializadas nas diferentes deficiecircncias e
incapacidades ao niacutevel das estruturas sociais e dos serviccedilos disponiacuteveis nos sistemas
regulares Do ponto de vista da focalizaccedilatildeo e dos objectivos das poliacuteticas estas centram-se no
indiviacuteduo sendo que o seu principal objectivo era activar mecanismos de compensaccedilatildeo
capazes de atenuar os efeitos decorrentes das incapacidades
Adicionalmente refira-se que uma das caracteriacutesticas deste periacuteodo eacute a de que o locus de
responsabilidade das poliacuteticas assenta no modelo do Estado-providecircncia do periacuteodo fordista
As poliacuteticas sociais tradicionais satildeo baseadas numa orientaccedilatildeo meacutedica na interpretaccedilatildeo da
natureza das deficiecircncias e incapacidades pelo que no conjunto de caracteriacutesticas
enunciadas tecircm sido identificados elementos integrantes do modelo meacutedico de abordagem agraves
deficiecircncias e incapacidades
Os documentos internacionais provenientes da Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) e os
proacuteprios documentos de poliacutetica europeia comeccedilaram progressivamente a colocar em
evidecircncia as deficiecircncias e incapacidades natildeo como um atributo inerente agrave pessoa mas como
um resultado da interacccedilatildeo entre a pessoa e o ambiente incluindo as suas estruturas fiacutesicas (o
design dos edifiacutecios sistemas de transporte etc) as relaccedilotildees sociais e as construccedilotildees sociais
e crenccedilas que levam agrave discriminaccedilatildeo das pessoas Deste modo as deficiecircncias e
incapacidades tornam-se um problema relevante para as poliacuteticas sociais em consequecircncia da
adopccedilatildeo de um modelo que privilegia a adequaccedilatildeo dos contextos agraves pessoas fazendo com
que o seu focus se descentre uacutenica e exclusivamente da componente individual para passar a
contemplar a relaccedilatildeo da pessoa com os seus ambientes e contextos de vida bem como os
obstaacuteculos e barreiras sociais que emergem nesta interacccedilatildeo Neste sentido a participaccedilatildeo de
todos os cidadatildeos nos mais diversificados contextos da vida social passa a constituir uma
questatildeo de direitos e de igualdade de oportunidades
Do ponto de vista das poliacuteticas sociais pode-se observar dois focos distintos no discurso e nas
propostas de inclusatildeo O primeiro trabalha a inclusatildeo voltada para a ampliaccedilatildeo da cidadania
enfatizando o discurso do direito de interagir e o direito agrave participaccedilatildeo social atraveacutes das redes
sociais na construccedilatildeo do projecto colectivo O segundo focaliza o combate agrave exclusatildeo como
elemento voltado para a inserccedilatildeo dos puacuteblicos desfavorecidos no contexto do mercado de
trabalho Neste caso o foco da inclusatildeo tem o seu epicentro na profissionalizaccedilatildeo e na
capacitaccedilatildeo para o trabalho e emprego Paralelamente aos dois focos explicitados subjaz a
necessidade de eliminaccedilatildeo das barreiras ambientais (fiacutesicas psicoloacutegicas e socioloacutegicas) como
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 5
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
condiccedilatildeo necessaacuteria agrave participaccedilatildeo plena das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na
sociedade numa loacutegica de igualdade de oportunidades
Este desenvolvimento conceptual na forma como as deficiecircncias e incapacidades satildeo
equacionadas faz com que pela primeira vez seja reconhecida a possibilidade das diferentes
necessidades das pessoas com deficiecircncias e incapacidades constituiacuterem objecto de resposta
nos serviccedilos e estruturas regulares da sociedade Este facto assenta na reconfiguraccedilatildeo dos
modelos de inclusatildeo e de capacitaccedilatildeo colectiva de todos os actores sociais que directa ou
indirectamente contribuem para a exclusatildeo inclusatildeo das pessoas com deficiecircncias e
incapacidades Deste modo inicia-se a estruturaccedilatildeo das perspectivas de mainstreaming que
tecircm vindo a intencionalizar a implementaccedilatildeo de serviccedilos especializados assentes numa loacutegica
de consultoria baseados nas estruturas e serviccedilos da comunidade Esta ruptura com o modelo
meacutedico na forma como a deficiecircncia eacute conceptualizada implicou que as poliacuteticas comeccedilassem
a ser dirigidas agrave remoccedilatildeo das barreiras agrave plena participaccedilatildeo para as pessoas com deficiecircncias
e incapacidades em vez de ldquoproblematizarrdquo a pessoa e focalizarem-se apenas nela Pode-se
verificar esta abordagem atraveacutes do desenvolvimento de regulamentos sobre o design de
edifiacutecios e nas infra-estruturas de transportes no sentido de prevenir a construccedilatildeo de situaccedilotildees
e contextos incapacitantes e reduzir as barreiras existentes entre outras manifestaccedilotildees
Do ponto de vista do ambiente cultural comeccedila a emergir o reconhecimento das diferenccedilas e a
relevacircncia de adoptar poliacuteticas que promovam a integraccedilatildeo da diversidade Neste acircmbito as
poliacuteticas comeccedilam progressivamente a pretender influenciar mudanccedilas nos padrotildees de
atitudes e de comportamentos sobre a forma como os cidadatildeos compreendem e percepcionam
as pessoas com deficiecircncias e incapacidades (designadas por poliacuteticas simboacutelicas)
focalizando-se na alteraccedilatildeo dos elementos inibidores da participaccedilatildeo para factores
facilitadores De igual forma as poliacuteticas simboacutelicas apesar de ainda natildeo existirem directrizes
coerentes e consensuais para a definiccedilatildeo da categoria de pessoas com e sem deficiecircncias e
incapacidades comeccedilam a sentir a necessidade de enquadrar esta delimitaccedilatildeo e definiccedilatildeo de
forma a garantir o seu sucesso e eficaacutecia na transformaccedilatildeo das representaccedilotildees simboacutelicas dos
cidadatildeos O conjunto de caracteriacutesticas enunciadas bem como os seus elementos
constituintes tecircm vindo a ser designadas pelos investigadores por modelo social por oposiccedilatildeo
agraves caracteriacutesticas do modelo meacutedico O Quadro 1 permite analisar de uma forma sistemaacutetica os
principais pontos de ruptura entre o modelo meacutedico e o modelo social sendo certo que a
adopccedilatildeo predominante de um modelo ou de outro implica uma concepccedilatildeo radicalmente
diferente das diversas tipologias de poliacuteticas assim como a definiccedilatildeo de diferentes objectivos e
resultados ao niacutevel da inclusatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 6
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Modelo meacutedico Modelo social
Problema Incapacidade dependecircncia das
pessoas
Inadequaccedilatildeo dos contextos agraves
pessoas
Origem Nas pessoas Na sociedade
Focalizaccedilatildeo Na pessoa nas suas limitaccedilotildees Relaccedilatildeo pessoa contexto nas
barreiras sociais
Eacutetica Assistecircncia Direitos
Igualdade de oportunidades
Objectivos Reabilitar curar tratar
Habilitar
Eliminar barreiras promover a
compatibilidade
Perspectiva Necessidades especiais
Serviccedilos especializados
Necessidades diferentes
Serviccedilos regulares
Serviccedilos Institucionalizados
Rede de cuidados De apoio baseados na comunidade
Poder controlo Profissionais Clientes
Cultura Disabling
Manutenccedilatildeo e reforccedilo da deficiecircncia
Reconhecimento e inclusatildeo da
diversidade
Objectivos das poliacuteticas
Compensar os indiviacuteduos pelas
suas incapacidades
ldquoAliviar a situaccedilatildeordquo
Promover direitos
Prover recursos e competecircncias
para identificar e eliminar barreiras
pessoais e sociais
Focalizaccedilatildeo das poliacuteticas Nos indiviacuteduos
Nas pessoas com deficiecircncias No grupo social
Na populaccedilatildeo global
Responsabilidade Poliacutetica social
ldquoWelfare provisionrdquo
Poliacuteticas transversais
Poliacuteticas sociais activas
Quadro 1 ndash Anaacutelise comparativa do modelo meacutedico com o modelo social relativamente agraves dimensotildees estruturantes na organizaccedilatildeo dos quadros conceptuais de intervenccedilatildeo (Sousa 2005) 12 PERSPECTIVA EVOLUTIVA DO MODELO SOCIAL
O modelo social da deficiecircncia surge na deacutecada de 1960 no Reino Unido como uma reacccedilatildeo
agraves abordagens biomeacutedicas A premissa baacutesica do modelo social eacute que a deficiecircncia natildeo deve
ser entendida como um problema individual mas como uma questatildeo eminentemente social
transferindo a responsabilidade pelas desvantagens das pessoas com deficiecircncias para a
incapacidade da sociedade em prever e ajustar-se agrave diversidade (Oliver 1990) Em torno do
modelo social da deficiecircncia surge na deacutecada de 1970 a UPIAS (The Union of the Phisically
Impaired Against Segregation) uma das primeiras organizaccedilotildees de pessoas com deficiecircncias
com objectivos eminentemente poliacuteticos e natildeo apenas assistenciais como era o caso das
instituiccedilotildees criadas nos dois seacuteculos anteriores (UPIAS 1976) O ponto de partida teoacuterico do
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 7
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
modelo social eacute que a deficiecircncia eacute uma experiecircncia resultante da interacccedilatildeo entre
caracteriacutesticas corporais do indiviacuteduo e as condiccedilotildees da sociedade em que ele vive isto eacute da
combinaccedilatildeo de limitaccedilotildees impostas pelo corpo com algum tipo de perda ou reduccedilatildeo de
funcionalidade (lesatildeo) e uma organizaccedilatildeo social pouco sensiacutevel agrave diversidade corporal
Originalmente a UPIAS propocircs uma definiccedilatildeo que explicitava o efeito da exclusatildeo na criaccedilatildeo
da deficiecircncia ldquoLesatildeo ausecircncia parcial ou total de um membro ou oacutergatildeo ou existecircncia de um
mecanismo corporal defeituoso Deficiecircncia desvantagem ou restriccedilatildeo de actividade
provocada pela organizaccedilatildeo social contemporacircnea que pouco ou nada considera aqueles que
possuem lesotildees fiacutesicas e os exclui das principais actividades da vida socialrdquo (UPIAS 19763-
4) A ecircnfase inicial nas limitaccedilotildees fiacutesicas foi imediatamente revista e com isso abriu-se um
grande debate sobre as limitaccedilotildees do vocabulaacuterio usado para descrever as deficiecircncias e
incapacidades A intenccedilatildeo era destacar que natildeo havia necessariamente uma relaccedilatildeo directa
entre lesatildeo e deficiecircncia transferindo o debate da discussatildeo sobre sauacutede para o terreno da
organizaccedilatildeo social e poliacutetica Lesatildeo seria uma caracteriacutestica corporal como seria o sexo ou a
cor da pele ao passo que deficiecircncia seria o resultado da opressatildeo e da discriminaccedilatildeo sofrida
pelas pessoas em funccedilatildeo de uma sociedade que se organiza de uma maneira que natildeo permite
incluiacute-las na vida quotidiana Eacute possiacutevel uma pessoa ter lesotildees e natildeo experimentar a
deficiecircncia a depender de quanto a sociedade esteja ajustada para incorporar a diversidade
Como exemplifica Morris (2001) natildeo poder caminhar eacute a expressatildeo da lesatildeo a deficiecircncia
consiste na inacessibilidade imposta agraves pessoas que usam cadeira de rodas O resultado
dessa revisatildeo na semacircntica dos conceitos foi uma separaccedilatildeo radical entre lesatildeo e deficiecircncia
a primeira eacute objecto da discussatildeo sobre sauacutede enquanto a segunda eacute uma questatildeo da ordem
dos direitos e da justiccedila social e portanto essencialmente normativa
Se para o modelo meacutedico a lesatildeo levava agrave deficiecircncia para o modelo social os sistemas
sociais levavam pessoas com lesotildees agrave experiecircncia da incapacidade Em siacutentese o modelo
meacutedico identifica a pessoa com deficiecircncia como uma pessoa com algum tipo de inadequaccedilatildeo
para a sociedade o modelo social por sua vez inverte o argumento e contextualiza a
deficiecircncia na incapacidade da sociedade para incluir todas as pessoas gerindo de forma
inclusiva a sua diversidade Em geral as definiccedilotildees baseadas no modelo meacutedico exigem um
grande afastamento dos padrotildees de normalidade para considerar uma pessoa como tendo
deficiecircncia Os criteacuterios utilizados para definir a deficiecircncia geralmente tecircm como referecircncia a
perda completa de certos oacutergatildeos ou funccedilotildees A identificaccedilatildeo da deficiecircncia eacute feita levando-se
em conta caracteriacutesticas isoladas destes oacutergatildeos e funccedilotildees e comparando-as com limites
estabelecidos para cada uma delas Neste quadro de inteligibilidade existem criteacuterios que
estabelecem para oacutergatildeo ou funccedilatildeo comprometida os limites da deficiecircncia como por
exemplo patamares miacutenimos de acuidade visual capacidade auditiva etc que podem ser
avaliados isoladamente uns dos outros bem como separados das necessidades impostas
pelas caracteriacutesticas sociais de cada pessoa
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 8
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
A combinaccedilatildeo da existecircncia de uma condiccedilatildeo de sauacutede bem abaixo de um padratildeo abstracto de
normalidade e a persistecircncia dessa condiccedilatildeo no tempo permite ao modelo meacutedico diferenciar
doenccedila de deficiecircncia Muitas das doenccedilas satildeo entendidas como situaccedilotildees temporaacuterias
Assim embora tenham uma condiccedilatildeo de sauacutede inferior agrave determinada por algum criteacuterio de
normalidade as pessoas doentes podem natildeo ser consideradas pessoas com deficiecircncias
dentro do modelo meacutedico porque a sua reduccedilatildeo de capacidades eacute apenas temporaacuteria e natildeo
permite definir um estado consistente ao longo do tempo O caminho inverso tambeacutem eacute trilhado
para separar deficiecircncia de doenccedila poreacutem com um argumento um pouco mais sofisticado
(Diniz 1996) Se a deficiecircncia eacute uma situaccedilatildeo irreversiacutevel eacute perfeitamente possiacutevel redefinir o
conceito de normalidade de modo a ajustaacute-lo agrave condiccedilatildeo permanente das pessoas A cegueira
por exemplo passa a ser a condiccedilatildeo normal de uma pessoa cega e portanto natildeo faz sentido
classificaacute-la como doente Neste esquema uma pessoa que natildeo pode ver porque estaacute com
uma inflamaccedilatildeo ocular grave eacute uma pessoa doente e uma pessoa permanentemente cega eacute
uma pessoa deficiente Como o reconhecimento da ldquosociedade deficienterdquo eacute tatildeo ou mais
importante para o debate sobre poliacuteticas puacuteblicas e deficiecircncia do que a identificaccedilatildeo da
ldquopessoa deficienterdquo as preocupaccedilotildees com a identidade do modelo social satildeo bem distintas
daquelas do modelo meacutedico Abberley (1987) por exemplo natildeo insiste na distinccedilatildeo entre
deficiecircncia e doenccedila e praticamente ignora a regra de persistecircncia da lesatildeo no tempo para
identificar as pessoas com deficiecircncias criteacuterio tatildeo caro aos legisladores de poliacuteticas sociais
nos anos 1980 que o utilizaram sistematicamente em contagens de populaccedilatildeo de vaacuterios
paiacuteses do mundo A loacutegica do modelo social natildeo reconhece esta distinccedilatildeo principalmente
porque entende que os ajustes requeridos da sociedade para que ela contemple a diversidade
da deficiecircncia satildeo independentes de quanto tempo uma condiccedilatildeo corporal se iraacute manter Afinal
se uma pessoa que usa cadeira de rodas enquanto recupera de fracturas nas pernas
necessita dos mesmos ajustes no sistema de transporte que uma pessoa permanentemente
incapacitada de caminhar porquecirc separaacute-las em grupos diferentes Ao natildeo reconhecer que os
doentes tambeacutem experimentam a deficiecircncia o modelo meacutedico exclui da atenccedilatildeo das poliacuteticas
puacuteblicas uma grande parcela da populaccedilatildeo que necessita delas problema que pode afectar
uma parte razoaacutevel da populaccedilatildeo idosa Natildeo usar da mesma maneira a distinccedilatildeo entre doenccedila
e deficiecircncia eacute um recurso do modelo social para evitar este tipo de exclusatildeo A consequecircncia
oacutebvia da definiccedilatildeo do modelo social eacute de que a pesquisa e as poliacuteticas puacuteblicas direccionadas agrave
deficiecircncia natildeo poderiam concentrar-se apenas nos aspectos corporais dos indiviacuteduos para
identificar a deficiecircncia Aleacutem disso ao separar a deficiecircncia da lesatildeo o modelo social abre
espaccedilo para mostrar que a despeito da diversidade das lesotildees haacute um factor que une as
diferentes comunidades de pessoas com deficiecircncias em torno de um projecto poliacutetico uacutenico a
experiecircncia da exclusatildeo Segundo Oliver ldquoTodos os deficientes experimentam a deficiecircncia
como uma restriccedilatildeo social natildeo importando se estas restriccedilotildees ocorrem em consequecircncia de
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 9
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
ambientes inacessiacuteveis de noccedilotildees questionaacuteveis de inteligecircncia e competecircncia social se da
inabilidade da populaccedilatildeo em geral de utilizar a linguagem de sinais se pela falta de material
em Braille ou se pelas atitudes puacuteblicas hostis das pessoas que natildeo tecircm lesotildees visiacuteveisrdquo
(1990xiv)
Em meados da deacutecada de 1990 os movimentos feministas lanccedilaram um argumento com
profundas implicaccedilotildees para as poliacuteticas puacuteblicas a experiecircncia da deficiecircncia no acircmbito
familiar apresenta implicaccedilotildees ao niacutevel do geacutenero Ao mostrar que a deficiecircncia eacute
acompanhada de reorganizaccedilotildees familiares voltadas para o cuidado da pessoa com
deficiecircncia os movimentos feministas colocaram em evidecircncia que natildeo satildeo apenas as
pessoas com algum tipo de restriccedilatildeo corporal que necessitam da atenccedilatildeo das poliacuteticas
puacuteblicas Atendendo a que as cuidadoras satildeo predominantemente mulheres devido agrave divisatildeo
sexual do trabalho a deficiecircncia quando entendida como um fenoacutemeno com implicaccedilotildees
familiares possui um enviesamento de geacutenero Satildeo as mulheres por exemplo que se afastam
do mercado de trabalho para cuidar das pessoas com deficiecircncias de crianccedilas pequenas ou
idosos Nos casos dos homens idosos este recorte inclui uma sobreposiccedilatildeo de geacutenero agrave idade
pois dado o padratildeo tiacutepico de arranjo familiar satildeo mulheres idosas que cuidam desses homens
Este afastamento tem uma seacuterie de implicaccedilotildees para as mulheres como a ausecircncia de
serviccedilos de suporte e de apoio para as mulheres em idade economicamente activa e tal facto
natildeo pode passar esquecido pelas poliacuteticas puacuteblicas (Barton amp Oliver 1997)
No final da deacutecada de 1990 alguns argumentos do modelo social da deficiecircncia foram objecto
de revisatildeo O lema ldquoOs limites satildeo sociais natildeo do indiviacuteduordquo usado como bandeira para
reivindicar condiccedilotildees para que as pessoas com deficiecircncias fossem independentes passa a ser
relativizado Uma longa tradiccedilatildeo da filosofia feminista critica o valor da independecircncia absoluta
mostrando que a interdependecircncia por meio do cuidado com os dependentes eacute um elemento
constituinte da vida em sociedade e em muitos casos de deficiecircncia natildeo pode ser evitada As
poliacuteticas puacuteblicas portanto natildeo devem procurar apenas promover a independecircncia das
pessoas com deficiecircncias mas criar condiccedilotildees favoraacuteveis para que o cuidar seja exercido
13 DESAFIOS EMERGENTES NO PLANO CONCEPTUAL COM IMPLICACcedilOtildeES NO DOMIacuteNIO DAS
INTERVENCcedilOtildeES
Historicamente as diferentes perspectivas de intervenccedilatildeo no campo da reabilitaccedilatildeo tecircm-se
centrado predominantemente nos pressupostos conceptuais do modelo meacutedico sendo que
mais recentemente tem-se vindo a assistir a uma focalizaccedilatildeo progressiva nos pressupostos
conceptuais do modelo social
Neste contexto histoacuterico as interpretaccedilotildees sociais da deficiecircncia encontram-se em processo de
transiccedilatildeo Este aspecto aparece claramente reflectido nos documentos oficiais em relaccedilatildeo agraves
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 10
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
definiccedilotildees de deficiecircncia e de reabilitaccedilatildeo Apesar dos factores econoacutemicos e demograacuteficos se
afigurarem de uma importacircncia crescente parece evidente que o motor que subjaz a este
fenoacutemeno se alicerccedila na politizaccedilatildeo sem precedentes da deficiecircncia liderada pela sociedade
civil bem como a exigecircncia crescente de igualdade de oportunidades para as pessoas com
deficiecircncias A evoluccedilatildeo conceptual da interpretaccedilatildeo sociopoliacutetica do conceito tem produzido
avanccedilos ao niacutevel das praacuteticas e das intervenccedilotildees ainda que com diferentes ritmos de
aplicaccedilatildeo e com necessidades evidentes de um maior niacutevel de sistematizaccedilatildeo e estruturaccedilatildeo
na globalidade do sector
Consequentemente alguns dos elementos das praacuteticas de reabilitaccedilatildeo mantecircm-se focalizados
em abordagens centradas no indiviacuteduo Apesar da relevacircncia das intervenccedilotildees e das
terapecircuticas meacutedicas ainda que absolutamente necessaacuterias nos paiacuteses mais pobres estas
apenas produzem um impacte parcial no contexto de um ambiente cultural organizado
privilegiadamente para um modo de vida onde natildeo existem pessoas com deficiecircncias Deste
modo o domiacutenio de sauacutede puacuteblica bem como os problemas experimentados pelas pessoas
com deficiecircncias constituem-se como assuntos de natureza poliacutetica que apenas poderatildeo ser
equacionados na sua resoluccedilatildeo atraveacutes de uma profunda mudanccedila estrutural e cultural
envolvendo a redistribuiccedilatildeo sistemaacutetica de recursos e o desenvolvimento de uma cultura que
valoriza a diversidade humana
Neste cenaacuterio afigura-se relevante equacionar um conjunto de desafios fundamentais para
enquadrar a iniciativa poliacutetica na implementaccedilatildeo dos princiacutepios do modelo social
Coerecircncia dos conceitos utilizados
Parece subsistir uma elevada diversidade de conceitos associados ao domiacutenio da deficiecircncia
na organizaccedilatildeo social A tiacutetulo de exemplo pode-se citar a nomenclatura de ldquodeficientesrdquo ou
ldquopessoas portadoras de deficiecircnciardquo no acesso prioritaacuterio a determinados tipos de serviccedilos
puacuteblicos ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ao niacutevel de programas de intervenccedilatildeo social e
designaccedilotildees ao niacutevel dos instrumentos de poliacutetica que remetem para concepccedilotildees radicalmente
diferentes entre si tal como eacute o caso da ldquopensatildeo de invalidezrdquo ou da ldquotabela nacional de
incapacidadesrdquo Esta pluralidade de conceitos sem qualquer coerecircncia conceptual entre si
parece espelhar o resultado de diferentes velocidades de evoluccedilatildeo em diferentes domiacutenios da
poliacutetica social ocorrida em diferentes momentos socio-histoacutericos Aliaacutes tal facto emerge de
forma mais ou menos incisiva na maioria dos paiacuteses europeus A investigaccedilatildeo neste sector tem
permitido colocar em evidecircncia que diferentes definiccedilotildees de deficiecircncia satildeo relevantes para
diferentes poliacuteticas e que as tentativas de usar a mesma definiccedilatildeo ao longo de uma vasta
diversidade de poliacuteticas pode resultar na utilizaccedilatildeo de definiccedilotildees de reduzido poder
diferenciador o que significa que as poliacuteticas podem correr o risco de natildeo chegar ao seu
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 11
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
puacuteblico-alvo A necessidade de usar uma pluralidade de definiccedilotildees de forma a assegurar a
relevacircncia da definiccedilatildeo para o seu domiacutenio de aplicabilidade levanta um problema de
coerecircncia no quadro poliacutetico relativo agraves pessoas com deficiecircncias Neste cenaacuterio as pessoas
podem ser consideradas como tendo deficiecircncias no quadro de uma determinada poliacutetica e
como natildeo tendo no quadro de uma poliacutetica diferente sendo que por vezes se encontram
lacunas no fornecimento de serviccedilos como resultado imediato desta opccedilatildeo De uma forma
geral os diferentes Estados resolvem estes problemas requerendo agraves instituiccedilotildees das poliacuteticas
sociais a coordenaccedilatildeo das actividades em detrimento do estabelecimento de definiccedilotildees
uacutenicas
Diferentes abordagens entre diferentes aacutereas de poliacutetica social
A evoluccedilatildeo histoacuterica e a apropriaccedilatildeo de diferentes conceitos por parte de diferentes sectores
da poliacutetica social encerram o risco de serem adoptados modelos operativos e intervenccedilotildees com
caracteriacutesticas significativamente diferentes Neste sentido podem-se observar sectores que
privilegiam o mainstreaming e o desenvolvimento das intervenccedilotildees baseadas na comunidade
e noutros sectores verificarem-se intervenccedilotildees mais centradas no indiviacuteduo mobilizando
criteacuterios quase exclusivamente meacutedicos Esta diferenccedila de abordagens pode potencialmente
acarretar desarticulaccedilotildees e incoerecircncias ao niacutevel dos princiacutepios gerais da poliacutetica social
reflectindo-se numa resposta fragmentada e parcelar agraves necessidades das pessoas Neste
contexto afigura-se relevante a definiccedilatildeo clara sistemaacutetica e estruturada dos princiacutepios
transversais subjacentes agrave globalidade das poliacuteticas para num segundo momento se proceder
agrave definiccedilatildeo dos seus elementos especiacuteficos
Classificaccedilatildeo da deficiecircncia e metodologias de avaliaccedilatildeo
Enquanto que no quadro do modelo meacutedico importava associar as diferentes deficiecircncias a
diferentes niacuteveis de incapacidade mobilizando criteacuterios de natureza exclusivamente meacutedica a
progressiva implementaccedilatildeo do modelo social na maior parte dos paiacuteses da Europa tem
colocado desafios sobre qual a categorizaccedilatildeo que melhor reflecte as dificuldades de
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades ao niacutevel dos seus ambientes de
vida A OMS perante esta encruzilhada de classificaccedilotildees propocircs a Classificaccedilatildeo Internacional
de Funcionalidade Incapacidade e Sauacutede (CIF) como modelo operativo de caracterizaccedilatildeo da
funcionalidade do indiviacuteduo colocando em evidecircncia para efeitos de elegibilidade dos
programas as limitaccedilotildees de actividade e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo das pessoas Ou seja
enquanto nalguns modelos se continuam a avaliar as deficiecircncias do indiviacuteduo a CIF vem
enfatizar em coerecircncia com o modelo social que o mais relevante natildeo eacute avaliar as alteraccedilotildees
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 12
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
ao niacutevel das estruturas ou das funccedilotildees dos indiviacuteduos ndash ainda que natildeo as negligencie ndash mas
sim as limitaccedilotildees de actividades e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo que o sujeito experiencia no
decorrer da desadequaccedilatildeo entre as suas diferenccedilas e as caracteriacutesticas dos ambientes sociais
em que se move Atente-se que esta opccedilatildeo conceptual natildeo eacute neutra do ponto de vista
pragmaacutetico dado que os objectivos das intervenccedilotildees passam a ser a remoccedilatildeo das barreiras e
dos obstaacuteculos que ocorrem no quadro da relaccedilatildeo do sujeito com os seus contextos de vida
em detrimento de intervenccedilotildees polarizadas exclusivamente na dimensatildeo individual ou
exclusivamente na dimensatildeo social
No desenvolvimento das poliacuteticas sociais a investigaccedilatildeo tem permitido colocar em evidecircncia a
necessidade de identificar definir e sistematizar os princiacutepios norteadores que tenderatildeo a ser
transversais a todos os sectores de poliacutetica social sendo que apenas deste modo se poderaacute
assegurar a coerecircncia entre as diferentes poliacuteticas dos diferentes sectores Neste sentido
torna-se relevante um processo de clarificaccedilatildeo sobre qual o modelo conceptual em que a
estrateacutegia poliacutetica se baseou de forma a que o conjunto de objectivos estrateacutegias processos
de intervenccedilatildeo definiccedilatildeo de resultados alocaccedilatildeo de recursos e indicadores de avaliaccedilatildeo
estejam devidamente articulados e em consonacircncia com os princiacutepios adoptados
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 13
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
2 CONCEITOS E TERMINOLOGIA
A anaacutelise conceptual no domiacutenio da deficiecircncia permite colocar em evidecircncia a existecircncia de
um conjunto de imprecisotildees ao niacutevel dos conceitos com variaccedilotildees relacionadas com o modelo
meacutedico e com o modelo social Neste contexto afigura-se criacutetico clarificar os contornos teoacutericos
e os modelos conceptuais subjacentes aos diferentes conceitos utilizados estabelecendo uma
base teoacuterica de referecircncia que assegure o necessaacuterio grau de coerecircncia e simultaneamente
abrangecircncia
21 EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA DOS SISTEMAS DE CLASSIFICACcedilAtildeO
Para uma clara delimitaccedilatildeo dos modelos teoacutericos que tecircm influenciado historicamente o
desenvolvimento dos conceitos no domiacutenio da deficiecircncia poderemos identificar 2 abordagens
conceptuais distintas
211 A ABORDAGEM TRADICIONAL INDIVIDUALISTA
A preocupaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede em estabelecer uma classificaccedilatildeo das doenccedilas
remonta ao seacuteculo XVIII Mas somente na VI Revisatildeo da Classificaccedilatildeo Internacional de
Doenccedilas (CID-6) em 1948 citada na IX Revisatildeo foram feitas referecircncias a doenccedilas que
poderiam tornar-se croacutenicas exigindo outros serviccedilos aleacutem de cuidados meacutedicos
Ateacute a deacutecada de 70 a CID-8 citada na IX Revisatildeo considerava apenas as manifestaccedilotildees
agudas segundo o modelo meacutedico etiologia rArr patologia rArr manifestaccedilatildeo
Esse modelo mostrou-se limitado para descrever as consequecircncias das doenccedilas pois excluiacutea
as perturbaccedilotildees croacutenicas evolutivas e irreversiacuteveis
Na IX Assembleia da OMS em 1976 surgiu uma nova conceptualizaccedilatildeo a International
Classification of Impairments Disabilities and Handicaps a manual of classification relating to
the consequences of disease (ICIDH) sendo sua traduccedilatildeo a Classificaccedilatildeo Internacional de
Deficiecircncias Incapacidades e Desvantagens um manual de classificaccedilatildeo das consequecircncias
das doenccedilas (CIDID) publicada em 1989
Apesar da abordagem meacutedica individualista ter dominado a cultura ocidental desde pelo
menos o seacuteculo XIX (Oliver 1990 Gleeson 1999) esta encontra-se geralmente associada agrave
Classificaccedilatildeo Internacional da Deficiecircncia Incapacidades e Desvantagens (ICIDH) da OMS
(1980) Em resposta agraves necessidades crescentes ao niacutevel internacional de clarificaccedilatildeo do
sentido do conceito de incapacidade e atendendo agraves criticas progressivas das pessoas com
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 14
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
incapacidades e seus significativos baseadas no facto de que a incapacidade envolve mais do
que um conjunto de preocupaccedilotildees estritamente meacutedicas a OMS constituiu uma comissatildeo de
cientistas sociais para desenvolver a existente Classificaccedilatildeo Internacional de Doenccedilas em
ordem a conseguir abranger as consequecircncias a longo termo das doenccedilas croacutenicas A ICIDH
foi publicada em 1980 sendo largamente reconhecida como o directoacuterio mais abrangente
existente vindo a ser extensivamente utilizada como uma base para as iniciativas
governamentais dos paiacuteses desenvolvidos da Europa e Ameacuterica do Norte e os paiacuteses
subdesenvolvidos do Sul (Ustun et al 2001)
A ICIDH utiliza uma categorizaratildeo tripartida da deficiecircncia incapacidade e desvantagem A
deficiecircncia refere-se a qualquer perda ou irregularidade da estrutura ou das funccedilotildees
anatoacutemica fisioloacutegica ou psicoloacutegica A incapacidade refere-se a qualquer restriccedilatildeo ou perda
(resultante de uma deficiecircncia) da capacidade para executar uma actividade da forma e dentro
do contexto considerado normal para o ser humano A desvantagem refere-se agrave limitaccedilatildeo
resultante de uma deficiecircncia ou incapacidade no desempenho de um dado papel considerado
normativo (dependendo da idade geacutenero e factores sociais e culturais) para aquele indiviacuteduo
(OMS 1980 p 29)
Esta tipologia baseia-se nas noccedilotildees de normalidade fiacutesica e intelectual bem como no facto de
que a incapacidade e a desvantagem satildeo causadas por deficiecircncias ou irregularidades
psicoloacutegicas ou fisioloacutegicas Neste contexto a ICIDH pode ser objecto de criacuteticas a diferentes
niacuteveis Primeiro as percepccedilotildees de deficiecircncia e normalidade satildeo fenoacutemenos sociais pelo que
satildeo sujeitas a substantivas mudanccedilas temporais culturais e situacionais (Hanks and Hanks
1948 Scheer and Groce 1988 Coleridge 1993 Ingstad and Whyte 1995) A dislexia por
exemplo natildeo seria vista como um problema significativo numa sociedade predominantemente
agraacuteria No entanto eacute considerada uma dificuldade de aprendizagem nas sociedades
modernas tecnologicamente avanccediladas nas quais a literacia e a numeracia desempenham
requisitos criacuteticos para a participaccedilatildeo social e econoacutemica Segundo encontra-se impliacutecito na
ICIDH que o organismo humano eacute flexiacutevel e adaptaacutevel enquanto os ambientes fiacutesicos e sociais
o natildeo satildeo Este facto claramente conflitua com a realidade histoacuterica na qual os indiviacuteduos
transformaram continuamente o seu ambiente em funccedilatildeo das suas necessidades (Barnes
1991) Terceiro as definiccedilotildees da ICIDH sugerem que a deficiecircncia a incapacidade e a
desvantagem constituem-se como estados estaacuteticos Para aleacutem do facto desta noccedilatildeo afigurar-
se incorrecta parece criar distinccedilotildees e barreiras entre as pessoas com e sem deficiecircncias
distinccedilotildees que natildeo satildeo necessaacuterias nem deveriam existir Uma tal situaccedilatildeo parece ser
paradoxal atendendo a que a ICIDH possui uma classificaccedilatildeo para cada caracteriacutestica do
organismo fiacutesico e humano (Shakespeare 1994 104)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 15
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Finalmente e mais significativo neste contexto a ICIDH apresenta as deficiecircncias enquanto
causa primaacuteria da incapacidade e da desvantagem Neste contexto a reabilitaccedilatildeo constitui-se
como uma filosofia e uma praacutetica para erradicar ou minimizar os problemas da deficiecircncia e
capacitar aqueles com deficiecircncias designadas para funcionarem nos seus niacuteveis fiacutesico
psicoloacutegico e social mais elevados (Albrecht 1992 23) Por outras palavras as pessoas com
incapacidades tornam-se objectos para serem curados tratados treinados mudados e
tornados normais de acordo com um conjunto particular de valores As limitaccedilotildees de tais
intervenccedilotildees encontram-se sustentadamente documentadas pelos activistas como
incapacidades desde 1960 (Hunt 1966 Sutherland 1981 Zola 1982)
212 A ABORDAGEM LIBERAL OU INTER-RELACIONAL
A abordagem liberal ou inter-relacional encontra-se expressa no uacuteltimo corpo de trabalhos da
OMS para redefinir a incapacidade nomeadamente a Classificaccedilatildeo Internacional de
Funcionalidade Incapacidade e Sauacutede (CIF) conhecida previamente como ICIDH2 (OMS
2002)
Esta redefiniccedilatildeo constituiu uma tentativa concertada para integrar o modelo meacutedico
individualista tradicional e a interpretaccedilatildeo sociopoliacutetica Por um lado como resultado da sua
rejeiccedilatildeo por parte das pessoas com incapacidades organizaccedilotildees e parceiros dentro e fora da
comunidade cientiacutefica (Driedger 1989 Oliver 1990 Barnes et al 2002) e por outro lado
porque apesar da sua vasta utilizaccedilatildeo a sua aplicabilidade tem sido caracterizada por diversas
interpretaccedilotildees (Coleridge 1993 Ingstad 2001) Em siacutentese demonstrou-se como limitada para
muitos dos actores e natildeo forneceu a delimitaccedilatildeo de significado que originalmente pretendia
Em comum com a sua predecessora a CIF manteacutem o constructo tripartido O primeiro niacutevel
deficiecircncia no original relaciona-se com as funccedilotildees e estrutura do organismo O segundo
niacutevel o que era anteriormente incapacidade eacute agora referido como actividade e o terceiro
desvantagem aparece como participaccedilatildeo No entanto e apesar do intenso debate sobre o
significado de incapacidade o conceito eacute preservado como um termo global para os trecircs niacuteveis
de dificuldade de funcionamento Neste cenaacuterio e em contraste com a ICIDH a nova
formulaccedilatildeo eacute apresentada como uma classificaccedilatildeo universal do funcionamento humano As
pessoas ligadas a acccedilotildees de advocacy defendem que esta configuraccedilatildeo oferece um quadro de
inteligibilidade completo para os aspectos funcionais da experiecircncia de sauacutede Nesta
perspectiva a incapacidade permanece uma preocupaccedilatildeo privilegiadamente do domiacutenio da
sauacutede em detrimento do domiacutenio poliacutetico Constitui-se por um lado como um resultado das
caracteriacutesticas da pessoa e por outro dos ambientes fiacutesicos e sociais Deste modo mais do
que se constituir como uma classificaccedilatildeo das pessoas com incapacidades ou dos problemas
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 16
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
que experienciam a CIF afigura-se como uma classificaccedilatildeo do funcionamento a 3 niacuteveis
compreendida em termos neutros (Ustun et al 2001 6-7)
O reconhecimento da importacircncia dos ambientes fiacutesico e social na CIF poderaacute ser equacionado
como uma melhoria significativa em relaccedilatildeo agrave sua predecessora (Hurst 2000) No entanto
parece-nos altamente improvaacutevel que seja mais eficaz do que a anterior classificaccedilatildeo a gerar
uma linguagem universal sobre a incapacidade na medida em que transformar as diferenccedilas
culturais na conceptualizaccedilatildeo das deficiecircncias assume-se como tarefa extremamente
complexa de alcanccedilar (Bury 2000 Miles 2001) Este facto eacute especialmente significativo na
medida em que natildeo obstante a CIF reconhecer o contexto cultural das percepccedilotildees de
incapacidade e por consequecircncia a normalidade o actual sistema de classificaccedilatildeo
permanece fortemente alicerccedilado nas formulaccedilotildees e nos conceitos cientiacuteficos ocidentais
(Finkelstein 1998 Pfeiffer 2000 Baylies 2002)
Adicionalmente apesar da CIF explicitar que os indiviacuteduos satildeo um elemento da anaacutelise da
incapacidade a abordagem biopsicossocial natildeo se encontra muito distanciada do modelo
anterior na medida em que privilegia o indiviacuteduo como ponto de partida para anaacutelise das
funccedilotildees do corpo e actividades O conceito de participaccedilatildeo eacute incluiacutedo mas subdesenvolvido no
esquema conceptual e continua associado agraves circunstacircncias individuais em vez de fortemente
ligado agrave inclusatildeo poliacutetica e social Adicionalmente enquanto a significacircncia do contexto eacute
enfatizada na CIF as estrateacutegias para a sua mensuraccedilatildeo afiguram-se limitadas Os seus
utilizadores satildeo encorajados a classificar os factores ambientais mas natildeo existem ferramentas
eficazes para levar a cabo esta tarefa bem como para avaliar as tendecircncias de incapacidade
ou por outro lado das poliacuteticas governamentais praacuteticas ambientes fiacutesicos e contextos
culturais (Baylies 2002)
Esta aparente descentraccedilatildeo das preocupaccedilotildees poliacuteticas tem caracterizado a maioria da ciecircncia
social mainstream desde o seacuteculo XIX Deste modo a definiccedilatildeo inter-relacional de
incapacidade e a consequente despolitizaccedilatildeo das questotildees associadas reflectiu-se nos
estudos e na literatura produzida nesta aacuterea por acadeacutemicos e investigadores durante a uacuteltima
metade do seacuteculo XX
Mais recentemente reemergiram na Inglaterra um conjunto de respostas poacutes-modernas ao
modelo social da incapacidade Este cenaacuterio tem favorecido o aparecimento de asserccedilotildees de
que tais fenoacutemenos soacute tecircm servido para agudizar e natildeo diminuir a conflituosidade a propoacutesito
da inclusatildeo (Hunt 1981 Germon 1998 Linton 1998 Gordon and Rosenblum 2001)
No quadro da reabilitaccedilatildeo a abordagem inter-relacional eacute sinoacutenima da liberalizaccedilatildeo da poliacutetica
social para as pessoas com incapacidades nos finais dos anos sessenta e setenta em
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 17
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
particular a mudanccedila dos serviccedilos centrados institucionalmente para os serviccedilos e apoios
centrados na comunidade Deste modo a ecircnfase eacute colocada na integraccedilatildeo de pessoas com
incapacidades na sociedade mainstream Os Standards da Equalizaccedilatildeo das Pessoas com
Incapacidades (1993) da ONU explicitam que todos os estados devem providenciar serviccedilos de
reabilitaccedilatildeo Mas esta orientaccedilatildeo recomenda que se vaacute aleacutem do cuidado meacutedico inicial para
incluir uma ampla gama de medidas e actividades desde a reabilitaccedilatildeo baacutesica e generalista
para actividades orientadas por objectivos (UN 199311) Ainda mais significativo todos os
serviccedilos de reabilitaccedilatildeo deveratildeo estar disponiacuteveis nas comunidades locais nas quais as
pessoas com incapacidades se movem No entanto em determinadas circunstacircncias e para
que se reforcem os objectivos de formaccedilatildeo e aprendizagem poderatildeo ser organizados cursos
localizados nas organizaccedilotildees prestadoras de serviccedilos com um quadro temporal o mais
reduzido possiacutevel (UN 1993 19)
Adicionalmente apesar dos Standards enfatizarem a importacircncia do envolvimento das pessoas
com incapacidades e dos seus significativos no desenvolvimento dos programas de
reabilitaccedilatildeo parece natildeo existir uma asserccedilatildeo clara de que tais estrateacutegias devam ser
controladas por ou mensuradas para estes uacuteltimos Existe no entanto uma assunccedilatildeo taacutecita de
que tais serviccedilos seratildeo liderados por profissionais
Adicionalmente desde que a incapacidade na CIF foi apresentada como uma questatildeo de
sauacutede em detrimento de uma questatildeo poliacutetica parece inevitaacutevel que os profissionais no
domiacutenio da reabilitaccedilatildeo continuem a ser dominados ou laquoalienadosraquo pela Medicina (Finkelstein
1998) Este facto poderaacute ficar a dever-se primeiro agrave actual e persistente subjugaccedilatildeo dos
governos nacionais aos interesses corporativos e das organizaccedilotildees econoacutemicas e segundo agrave
diversidade de barreiras econoacutemicas poliacuteticas e culturais experienciadas pelas pessoas com
incapacidades quer nos paiacuteses desenvolvidos quer nos subdesenvolvidos Neste tipo de
cenaacuterio o pensamento ortodoxo sobre a reabilitaccedilatildeo contratualiza um expediente praacutetico para
os poliacuteticos legisladores e organizaccedilotildees profissionais Como resultado os teacutecnicos tecircm
invariavelmente um niacutevel de escolha reduzido na opccedilatildeo pelo modelo meacutedico em detrimento
de soluccedilotildees poliacuteticas colectivas na resposta aos problemas da exclusatildeo
Esta perspectiva parece afigurar-se a oposta da necessaacuteria De facto apoacutes o trabalho de
Talcott Parsons (1951) emergiu uma extensa literatura condenando a laquomedicalizaccedilatildeoraquo do
quotidiano de um conjunto diverso de perspectivas Por exemplo o filoacutesofo austriacuteaco Ivan Illich
nomeou o seacuteculo XX como a era dos profissionais incapacitantes (1977 11) pela sua
apropriaccedilatildeo do conhecimento mistificaccedilatildeo das competecircncias especializadas e a criaccedilatildeo de
uma cultura perversa e persuasiva de dependecircncia Apesar de tais criticas encontrarem a sua
aplicabilidade predominantemente nas naccedilotildees subdesenvolvidas do Ocidente surgiram
trabalhos recentes que sugerem que apesar de existir uma diminuiccedilatildeo significativa dos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 18
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
conhecimentos meacutedicos e de tratamentos com reduzidos niacuteveis de recursos nas naccedilotildees
subdesenvolvidas criacuteticas similares podem ser relevantes para o contexto no qual nos
situamos (Stone 1999 Ingstad 2001 OMS 2001)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 19
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
3 OBJECTIVOS OPERACIONAIS
Pretende-se desenvolver uma anaacutelise longitudinal e multissectorial ao conceito de deficiecircncia
no sentido de estabelecer uma configuraccedilatildeo operacional no quadro da sua aplicabilidade
estatiacutestica Esta anaacutelise insere-se no acircmbito do Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das
Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo
Objectivo Operacionalizar o conceito de deficiecircncia no quadro da sua aplicabilidade
estatiacutestica assegurando os criteacuterios de (a) comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica
e legislativa dentro do contexto portuguecircs (c) conformidade com os referenciais conceptuais
actuais
Metodologia a) Anaacutelise dos referenciais nacionais e internacionais de delimitaccedilatildeo operacional
do conceito b) exploraccedilatildeo de cenaacuterios que viabilizem o cumprimento dos requisitos definidos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 20
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
4 ANAacuteLISE PRELIMINAR DA EVOLUCcedilAtildeO DA TERMINOLOGIA NO
DOMIacuteNIO 41 ESTADO DA ARTE
A evoluccedilatildeo dos conceitos operativos nos domiacutenios da reabilitaccedilatildeo e da inclusatildeo social tem
sido reflectida nas diversas classificaccedilotildees propostas pela OMS Neste quadro evolutivo a
uacuteltima classificaccedilatildeo proposta ndash CIF ndash constitui-se como um modelo de siacutentese entre a
abordagem meacutedica e a abordagem social no domiacutenio da incapacidade e da sauacutede No sentido
de procedermos agrave anaacutelise dos principiais conceitos e termos focalizar-nos-emos na
reestruturaccedilatildeo conceptual proposta pela Classificaccedilatildeo Internacional de Funcionalidade
Incapacidade e Sauacutede (CIF)
O objectivo geral da CIF eacute proporcionar uma linguagem unificada e padronizada assim como
uma estrutura de trabalho para a descriccedilatildeo da sauacutede e de estados relacionados com a sauacutede
A classificaccedilatildeo define os componentes da sauacutede e alguns componentes do bem-estar
relacionados com a sauacutede (tais como educaccedilatildeo e trabalho) Os domiacutenios contidos na CIF
podem portanto ser considerados como domiacutenios da sauacutede e domiacutenios relacionados com a
sauacutede Estes domiacutenios satildeo descritos com base na perspectiva do corpo do indiviacuteduo e da
sociedade em duas listas baacutesicas (1) Funccedilotildees e Estruturas do Corpo e (2) Actividades e
Participaccedilatildeo Como classificaccedilatildeo a CIF agrupa sistematicamente diferentes domiacutenios de uma
pessoa com uma determinada condiccedilatildeo de sauacutede (eg o que uma pessoa com uma doenccedila
ou perturbaccedilatildeo faz ou pode fazer) A funcionalidade eacute um termo que engloba todas as funccedilotildees
do corpo actividades e participaccedilatildeo de maneira similar a incapacidade eacute um termo que inclui
deficiecircncias limitaccedilatildeo da actividade ou restriccedilatildeo na participaccedilatildeo A CIF tambeacutem relaciona os
factores ambientais que interagem com todos estes constructos Neste sentido a classificaccedilatildeo
permite ao utilizador registar perfis uacuteteis da funcionalidade incapacidade e sauacutede dos
indiviacuteduos em vaacuterios domiacutenios
A CIF pertence agrave ldquofamiacuteliardquo das classificaccedilotildees internacionais desenvolvida pela OMS para
aplicaccedilatildeo em vaacuterios aspectos da sauacutede A famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS
proporciona um sistema para a codificaccedilatildeo de uma ampla gama de informaccedilotildees sobre sauacutede
(eg diagnoacutestico funcionalidade e incapacidade motivos de contacto com os serviccedilos de
sauacutede) e utiliza uma linguagem comum padronizada que permite a comunicaccedilatildeo sobre sauacutede e
cuidados de sauacutede em todo o mundo entre vaacuterias disciplinas e ciecircncias
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 21
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Nas classificaccedilotildees internacionais da OMS os estados de sauacutede (doenccedilas perturbaccedilotildees
lesotildees etc) satildeo classificados principalmente na CID-10 (abreviatura da Classificaccedilatildeo
Internacional de Doenccedilas Deacutecima Revisatildeo) que fornece uma estrutura de base etioloacutegica A
funcionalidade e a incapacidade associadas aos estados de sauacutede satildeo classificadas na CIF
Portanto a CID-10 e a CIF satildeo complementares e os utilizadores satildeo estimulados a usar em
conjunto esses dois membros da famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS A CID-10
proporciona um ldquodiagnoacutesticordquo de doenccedilas perturbaccedilotildees ou outras condiccedilotildees de sauacutede que eacute
complementado pelas informaccedilotildees adicionais fornecidas pela CIF sobre funcionalidade Em
conjunto as informaccedilotildees sobre o diagnoacutestico e sobre a funcionalidade datildeo uma imagem mais
ampla e mais significativa da sauacutede das pessoas ou da populaccedilatildeo que pode ser utilizada em
tomadas de decisatildeo
A famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS constitui uma ferramenta valiosa para a
descriccedilatildeo e a comparaccedilatildeo da sauacutede das populaccedilotildees num contexto internacional As
informaccedilotildees sobre a mortalidade (facultadas pela CID-10) e sobre as consequecircncias na sauacutede
(proporcionadas pela CIF) podem ser combinadas de forma a obter medidas sinteacuteticas da
sauacutede das populaccedilotildees Isto permite seguir a sauacutede das populaccedilotildees e a sua distribuiccedilatildeo bem
como avaliar a parte atribuiacuteda agraves diferentes causas
A CIF transformou-se de uma classificaccedilatildeo de ldquoconsequecircncias da doenccedilardquo (versatildeo de 1980)
numa classificaccedilatildeo de ldquocomponentes da sauacutederdquo Os ldquocomponentes da sauacutederdquo identificam o que
constitui a sauacutede enquanto que as consequecircncias se referem ao impacto das doenccedilas na
condiccedilatildeo de sauacutede da pessoa Deste modo a CIF assume uma posiccedilatildeo neutra em relaccedilatildeo agrave
etiologia de modo que os investigadores podem desenvolver inferecircncias causais utilizando
meacutetodos cientiacuteficos adequados De maneira similar esta abordagem tambeacutem eacute diferente de
uma abordagem do tipo determinantes da sauacutede ou ldquofactores de risco Para facilitar o estudo
dos determinantes ou dos factores de risco a CIF inclui uma lista de factores ambientais que
descrevem o contexto em que o indiviacuteduo vive
A CIF descreve a funcionalidade e a incapacidade relacionadas com as condiccedilotildees de sauacutede
identificando o que uma pessoa ldquopode ou natildeo pode fazer na sua vida diaacuteriardquo tendo em vista as
funccedilotildees dos oacutergatildeos ou sistemas e estruturas do corpo assim como as limitaccedilotildees de
actividades e da participaccedilatildeo social no meio ambiente onde a pessoa vive Segundo a OMS a
CID-10 e a CIF satildeo complementares a informaccedilatildeo sobre o diagnoacutestico acrescido da
funcionalidade fornece um quadro mais amplo sobre a sauacutede do indiviacuteduo ou populaccedilotildees Por
exemplo duas pessoas com a mesma doenccedila podem ter diferentes niacuteveis de funcionalidade e
duas pessoas com o mesmo niacutevel de funcionalidade natildeo tecircm necessariamente a mesma
condiccedilatildeo de sauacutede
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 22
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
O termo do modelo da CIF eacute a funcionalidade que cobre os componentes de funccedilotildees e
estruturas do corpo actividade e participaccedilatildeo social A funcionalidade eacute usada no aspecto
positivo e o aspecto negativo corresponde agrave incapacidade Segundo esse modelo a
incapacidade eacute resultante da interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada pelo indiviacuteduo (seja
orgacircnica e ou da estrutura do corpo) a limitaccedilatildeo de suas actividades e a restriccedilatildeo na
participaccedilatildeo social e os factores ambientais que podem actuar como facilitadores ou barreiras
para o desempenho dessas actividades e da participaccedilatildeo
A CIF eacute baseada portanto numa abordagem biopsicossocial que incorpora os componentes
de sauacutede nos niacuteveis corporais e sociais Assim na avaliaccedilatildeo de uma pessoa com deficiecircncias
e incapacidades esse modelo destaca-se do biomeacutedico baseado no diagnoacutestico etioloacutegico da
disfunccedilatildeo evoluindo para um modelo que incorpora as trecircs dimensotildees a biomeacutedica a
psicoloacutegica (dimensatildeo individual) e a social Nesse modelo cada niacutevel age sobre e sofre a
acccedilatildeo dos demais sendo todos influenciados pelos factores ambientais A OMS pretende
incorporar tambeacutem no futuro os factores pessoais importantes na forma de lidar com as
condiccedilotildees limitantes
O objectivo pragmaacutetico da CIF eacute fornecer uma linguagem padronizada e um modelo para a
descriccedilatildeo da sauacutede e dos estados relacionados com a sauacutede permitindo a comparaccedilatildeo de
dados referentes a essas condiccedilotildees entre paiacuteses serviccedilos sectores relativos agrave sauacutede bem
como o acompanhamento da sua evoluccedilatildeo no tempo
No entanto os conceitos apresentados na classificaccedilatildeo introduzem um novo paradigma para
pensar e trabalhar as deficiecircncias e incapacidades elas natildeo satildeo apenas uma consequecircncia
das condiccedilotildees de sauacutede doenccedila mas satildeo determinadas tambeacutem pelo contexto do meio
ambiente fiacutesico e social pelas diferentes percepccedilotildees culturais e atitudes em relaccedilatildeo agrave
deficiecircncias pela disponibilidade de serviccedilos e de legislaccedilatildeo Dessa forma a classificaccedilatildeo natildeo
constitui apenas um instrumento para medir o estado funcional dos indiviacuteduos Aleacutem disso ela
permite avaliar as condiccedilotildees de vida e fornecer subsiacutedios para poliacuteticas de inclusatildeo social
42 FUNCcedilOtildeES DO CORPO
As Funccedilotildees do corpo satildeo as funccedilotildees fisioloacutegicas dos sistemas orgacircnicos (incluindo as
funccedilotildees psicoloacutegicas)
As funccedilotildees e as estruturas do corpo satildeo classificadas em duas secccedilotildees diferentes Essas duas
classificaccedilotildees estatildeo concebidas de forma a serem utilizadas em paralelo Por exemplo as
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Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
funccedilotildees do corpo incluem sentidos humanos baacutesicos como as funccedilotildees da visatildeo e as
estruturas relacionadas aparecem na forma de ldquoolho e estruturas relacionadasrdquo
43 ESTRUTURAS DO CORPO
As Estruturas do Corpo satildeo as partes anatoacutemicas do corpo tais como oacutergatildeos membros e
seus componentes
ldquoCorpo refere-se ao organismo humano como um todo por isso o ceacuterebro e as suas funccedilotildees
ie a mente estatildeo incluiacutedos As funccedilotildees mentais (ou psicoloacutegicas) satildeo portanto incluiacutedas nas
funccedilotildees do corpo As funccedilotildees e as estruturas do corpo satildeo classificadas de acordo com os
sistemas orgacircnicos por isso as estruturas do corpo natildeo satildeo consideradas como oacutergatildeos no
seu sentido restrito
44 DEFICIEcircNCIA
Deficiecircncias satildeo problemas nas funccedilotildees ou na estrutura do corpo tais como um desvio
importante ou uma perda
As deficiecircncias de estrutura podem consistir numa anormalidade defeito perda ou outro desvio
importante relativamente a um padratildeo das estruturas do corpo As deficiecircncias foram definidas
de acordo com os conhecimentos bioloacutegicos actuais ao niacutevel de tecidos ou das ceacutelulas e ao
niacutevel subcelular ou molecular Por motivos praacuteticos no entanto esses niacuteveis natildeo estatildeo
classificados As bases bioloacutegicas das deficiecircncias orientaram essa classificaccedilatildeo e eacute possiacutevel
expandir a classificaccedilatildeo para incluir os niacuteveis celular ou molecular Do ponto de vista meacutedico
deve-se ter em mente que as deficiecircncias natildeo satildeo equivalentes agraves patologias subjacentes mas
sim a manifestaccedilotildees dessas patologias
As deficiecircncias correspondem a um desvio relativamente ao que eacute geralmente aceite como
estado biomeacutedico normal (padratildeo) do corpo e das suas funccedilotildees A definiccedilatildeo dos seus
componentes eacute feita essencialmente por pessoas com competecircncia para avaliar a
funcionalidade fiacutesica e mental de acordo com esses padrotildees
As deficiecircncias podem ser temporaacuterias ou permanentes progressivas regressivas ou estaacuteveis
intermitentes ou contiacutenuas O desvio em relaccedilatildeo ao modelo baseado na populaccedilatildeo e
geralmente aceite como normal pode ser leve ou grave e pode variar ao longo do tempo Estas
caracteriacutesticas satildeo consideradas posteriormente em descriccedilotildees adicionais principalmente nos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 24
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
coacutedigos atraveacutes de um qualificador que se acrescenta ao coacutedigo e do qual fica separado por
um ponto
As deficiecircncias natildeo tecircm uma relaccedilatildeo causal com a etiologia ou com a forma como se
desenvolveram Por exemplo a perda da visatildeo ou de um membro pode resultar de uma
anormalidade geneacutetica ou de uma lesatildeo A presenccedila de uma deficiecircncia implica
necessariamente uma causa No entanto a causa pode natildeo ser suficiente para explicar a
deficiecircncia resultante Da mesma forma quando haacute uma deficiecircncia haacute uma disfunccedilatildeo das
funccedilotildees ou estruturas do corpo mas isto pode estar relacionado com qualquer doenccedila
perturbaccedilatildeo ou estado fisioloacutegico
As deficiecircncias podem ser parte ou uma expressatildeo de uma condiccedilatildeo de sauacutede mas natildeo
indicam necessariamente a presenccedila de uma doenccedila ou que o indiviacuteduo deva ser
considerado doente
As deficiecircncias cobrem um campo mais vasto que as perturbaccedilotildees ou as doenccedilas Por
exemplo a perda de uma perna eacute uma deficiecircncia de uma estrutura do corpo mas natildeo eacute uma
perturbaccedilatildeo ou uma doenccedila
As deficiecircncias podem originar outras deficiecircncias Por exemplo a diminuiccedilatildeo da forccedila
muscular pode prejudicar as funccedilotildees do movimento as funccedilotildees cardiacuteacas podem estar
relacionadas com o deacutefice das funccedilotildees respiratoacuterias e uma percepccedilatildeo prejudicada pode estar
relacionada com as funccedilotildees do pensamento
Actualmente na perspectiva da CIF o conceito de deficiecircncia constitui o poacutelo negativo da
componente ldquoFunccedilotildees e Estrutura do Corpordquo sendo descrito atraveacutes da existecircncia de
alteraccedilotildees significativas das funccedilotildees eou das estruturas do corpo O poacutelo positivo desta
componente refere-se agrave integridade funcional e estrutural Neste contexto um dos desafios
criacuteticos das poliacuteticas sociais consiste na operacionalizaccedilatildeo do conceito de deficiecircncia de forma
a que a elegibilidade dos diferentes puacuteblicos alvo se encontre devidamente delimitada
assegurando a eficaacutecia das medidas subjacentes
No entanto a amplitude e abrangecircncia da definiccedilatildeo do conceito de deficiecircncia proposta pela
OMS atraveacutes da CIF coloca um enorme desafio na medida em que qualquer cidadatildeo desde
que apresente um desvio significativo ao niacutevel da estrutura eou funccedilatildeo passa a ser um
potencial beneficiaacuterio das poliacuteticas neste domiacutenio Neste contexto poder-se-atildeo colocar vaacuterias
questotildees A primeira eacute se interessa agraves diferentes poliacuteticas no sector continuarem a ser
desenvolvidas tendo por focus o conceito de pessoas com deficiecircncias sabendo que a sua
distinccedilatildeo ao longo da populaccedilatildeo apenas poderaacute ser feita atraveacutes do niacutevel e extensatildeo da
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 25
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
alteraccedilatildeo da integridade estrutural e funcional de cada individuo A segunda questatildeo prende-se
com as consequecircncias conceptuais decorrentes da integraccedilatildeo do modelo social na formulaccedilatildeo
e operacionalizaccedilatildeo dos conceitos a serem utilizados pelas poliacuteticas no sector na medida em
que o aspecto critico deixa de ser a natureza e severidade da deficiecircncia para passar a centrar-
se no niacutevel e tipo de restriccedilotildees de participaccedilatildeo que cada cidadatildeo experiencia na interacccedilatildeo
com os seus contextos de vida
No que concerne agrave primeira questatildeo e atendendo a que a mais recente definiccedilatildeo do conceito
de deficiecircncia proposto pela OMS apresenta um elevado niacutevel de abrangecircncia e um reduzido
potencial diferenciador poderemos equacionar 2 hipoacuteteses centrais de operacionalizaccedilatildeo
a) A primeira hipoacutetese baseia-se na possibilidade de operacionalizar diferentes definiccedilotildees
de deficiecircncia ao longo das diferentes poliacuteticas sociais no sentido de assegurar que as
diferentes medidas alcanccedilam efectivamente as pessoas para as quais foram
elaboradas Esta perspectiva tem a vantagem de uma maior focalizaccedilatildeo nas
caracteriacutesticas especificas do puacuteblico-alvo mas no entanto apresenta uma grande
desvantagem que consiste na elevada probabilidade das diferentes definiccedilotildees
perderem a coerecircncia entre si fragmentando igualmente o modelo teoacuterico a partir do
qual se deveriam basear
b) A segunda hipoacutetese consiste na articulaccedilatildeo operativa de dois conceitos o de
deficiecircncia e o de restriccedilotildees de participaccedilatildeo Nesta perspectiva a elegibilidade de uma
determinada politica social baseia-se na validaccedilatildeo preacutevia da existecircncia da primeira
condiccedilatildeo do puacuteblico-alvo ndash a existecircncia de uma deficiecircncia ndash determinando logo de
seguida o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo a partir do qual os diferentes cidadatildeos
passam a poder aceder agraves medidas especiacuteficas nela contidas O desafio contido nesta
hipoacutetese consiste na necessidade de desenvolvimento de um sistema de avaliaccedilatildeo que
permita avaliar o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo experimentado pelas pessoas com
deficiecircncias determinando atraveacutes do valor aferido quais seriam as pessoas com
acesso agraves medidas Neste cenaacuterio natildeo bastaria que uma pessoa tivesse uma
deficiecircncia pelo que seria necessaacuterio avaliar os efeitos da deficiecircncia em interacccedilatildeo
com o ambiente social ao niacutevel da participaccedilatildeo no sentido de determinar a
elegibilidade As vantagens desta hipoacutetese relacionam-se com (i) a preservaccedilatildeo do
niacutevel de coerecircncia dos conceitos utilizados ao longo das diferentes poliacuteticas sociais (ii)
a existecircncia de um processo comum de afericcedilatildeo e determinaccedilatildeo da elegibilidade ao
longo dos diferentes sectores de politica (iii) a compatibilidade e adequabilidade dos
princiacutepios teoacutericos do modelo social com a operacionalizaccedilatildeo dos sistemas e medidas
poliacuteticos de apoio agraves pessoas com deficiecircncias e (iv) a existecircncia de mecanismos de
avaliaccedilatildeo de elevada transparecircncia controlabilidade e rigor
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 26
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
45 INCAPACIDADE
Do ponto de vista de utilizaccedilatildeo dos conceitos de Deficiecircncia e de Incapacidade em Portugal
tecircm subsistido vaacuterias imprecisotildees terminoloacutegicas Primeiro na generalidade dos documentos
internacionais alude-se ao termo ldquopeople with disabilitiesrdquo sendo que invariavelmente esta
expressatildeo eacute traduzida para Portuguecircs como ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo Tal facto parece criar
condiccedilotildees para uma grande permeabilidade semacircntica dificilmente resoluacutevel do ponto de vista
conceptual Segundo deficiecircncia e incapacidade satildeo claramente dois conceitos distintos
Enquanto a deficiecircncia remete para alteraccedilotildees significativas ao niacutevel das estruturas eou das
funccedilotildees do corpo a incapacidade constitui o poacutelo negativo do funcionamento humano em
situaccedilatildeo potencial ou efectiva de participaccedilatildeo no contexto de vida Este facto pressupotildee que os
conceitos de deficiecircncia e de incapacidade natildeo contecircm nenhuma relaccedilatildeo causal entre si nem
nenhuma relaccedilatildeo linear de frequecircncia na medida em que eacute possiacutevel existir uma deficiecircncia
sem que exista uma incapacidade e eacute possiacutevel emergir uma determinada incapacidade sem
que haja uma qualquer deficiecircncia
Deste modo eacute possiacutevel
a) Ter deficiecircncias sem limitaccedilotildees de capacidade (eg uma desfiguraccedilatildeo resultante da
doenccedila de Hansen pode natildeo ter efeito sobre a capacidade da pessoa
b) Ter problemas de desempenho e limitaccedilotildees de capacidade sem deficiecircncias evidentes
(eg reduccedilatildeo de desempenho nas actividades diaacuterias associada a vaacuterias doenccedilas)
c) Ter problemas de desempenho sem deficiecircncias ou limitaccedilotildees de capacidade (eg um
indiviacuteduo HIV positivo ou um ex-doente curado de doenccedila mental que enfrenta
estigmas ou descriminaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais ou no trabalho)
d) Ter limitaccedilotildees de capacidade se natildeo tiver assistecircncia e nenhum problema de
desempenho no ambiente habitual (eg um indiviacuteduo com limitaccedilotildees de mobilidade
pode beneficiar por parte da sociedade de ajudas tecnoloacutegicas de assistecircncia para se
movimentar
e) Experimentar um grau de influecircncia em sentido contraacuterio (eg a inactividade dos
membros pode levar agrave atrofia muscular a institucionalizaccedilatildeo pode resultar numa perda
da socializaccedilatildeo)
Daqui resulta que ao referirmo-nos agraves pessoas com deficiecircncias enquanto puacuteblico-alvo
privilegiado das medidas de reabilitaccedilatildeo poderemos incorrer num desvio significativo de
alocaccedilatildeo dos recursos agraves reais necessidades das pessoas na medida em que natildeo eacute a
deficiecircncia que gera por si mesma a necessidade de reabilitaccedilatildeo mas sim as limitaccedilotildees de
actividade e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo decorrentes da interacccedilatildeo entre as caracteriacutesticas
biopsicossociais e as caracteriacutesticas dos ambientes em que o individuo se move
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 27
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
A persistecircncia em traduzir o termo disability para deficiecircncia e natildeo apenas o seu homoacutelogo
anglo-saxoacutenico ndash impairment ndash poderaacute explicar-se pelas seguintes razotildees
a) O potencial efeito estigmatizante da expressatildeo ldquopessoas com incapacidadesrdquo ser maior
do que aquele contido na expressatildeo ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo
b) O termo incapacidade centrar-se exclusivamente nos aspectos negativos do
funcionamento individual classificando a pessoa agrave partida como sendo destituiacuteda de
competecircncias e condiccedilotildees para atingir os niacuteveis normativos de desempenho e
performance num conjunto de domiacutenios da vida pessoal e social
O paradoxo surge igualmente porque enquanto no modelo meacutedico a incapacidade aparece
em termos causais relacionada com a deficiecircncia numa perspectiva exclusivamente individual
no modelo proposto pela OMS operacionalizado na CIF os dois conceitos gozam de total
independecircncia conceptual e operativa sendo que a deficiecircncia passa a ter uma baixa
relevacircncia diferenciadora do ponto de vista do funcionamento humano Ora se atendermos a
que as medidas de reabilitaccedilatildeo pretendem promover os potenciais do funcionamento humano
numa perspectiva de participaccedilatildeo plena do indiviacuteduo nos mais diferenciados contextos de vida
assegurando o co-desenvolvimento de todos os actores e das estruturas sociais necessaacuterias agrave
cidadania plena entatildeo falar de ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo natildeo soacute natildeo eacute relevante no quadro
da loacutegica de intervenccedilatildeo como poderaacute traduzir dificuldades dos actores em mudar
efectivamente do paradigma meacutedico para o paradigma social
Este fenoacutemeno aliaacutes natildeo acontece apenas em Portugal sendo que recentes estudos de
investigaccedilatildeo vieram sugerir a adopccedilatildeo dos conceitos de ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo e
ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo para ultrapassar a aplicaccedilatildeo indevida dos
conceitos de deficiecircncia e incapacidade A utilizaccedilatildeo destes conceitos parece articular de forma
mais precisa com o novo modelo conceptual proposto pela OMS enfatizando a diversidade de
niacuteveis de funcionamento humano e apelando a uma certa noccedilatildeo de relatividade socialmente
construiacuteda Uma das criticas feita pela comunidade de investigadores ao conceito de ldquopessoas
com diversidade funcionalrdquo reside no facto de que a expressatildeo eacute dotada de um tatildeo elevado
niacutevel de abrangecircncia que natildeo permite um niacutevel de diferenciaccedilatildeo relevante na medida em que
todos os cidadatildeos detecircm entre si diversos e diferentes padrotildees de funcionamento humano
Neste sentido o conceito ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo aplicar-se-ia a todos os
cidadatildeos sem excepccedilatildeo A proliferaccedilatildeo destes termos eacute explicada pela necessidade da
comunidade politica e cientifica de construir constructos que sejam socialmente aceites e o
mais neutros possiacuteveis do ponto de vista dos seus valores impliacutecitos No entanto a
impossibilidade epistemoloacutegica de desenvolver expressotildees e conceitos socio-historicamente
neutros parece levar muitas vezes agrave concepccedilatildeo de definiccedilotildees com reduzida identidade isto eacute
de significado demasiado amplo e abrangente o que na expressatildeo da UPIAS ldquopodem significar
tudo e coisiacutessima nenhumardquo (2005)
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Os conceitos ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo ldquopessoas com limitaccedilotildees de
actividaderdquo e ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo afiguram-se comparativamente ao
anterior como um conceito de maior coerecircncia conceptual com o modelo proposto pela OMS e
deteacutem cumulativamente um maior poder diferenciador A sua desvantagem reside no facto de
constituiacuterem expressotildees com maior dificuldade de apreensatildeo e inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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5 ANAacuteLISE DOS REFERENCIAIS NACIONAIS E INTERNACIONAIS
No sentido de obter um conjunto de vectores de referecircncia na estruturaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo do
conceito de deficiecircncia foram analisadas as abordagens desenvolvidas pelos seguintes
organismos INE Eurostat OCDE American Disabilities Act WHO UN
51 INE
Os dados disponiacuteveis no INE parecem indicar a utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na
ICIDH
Deficiecircncia1 Perda ou alteraccedilatildeo de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou
anatoacutemica Nesta definiccedilatildeo estatildeo incluiacutedas as seguintes tipologias2
Deficiecircncia AUDITIVA
Deficiecircncia MENTAL
Deficiecircncia MOTORA
Deficiecircncia ORGAcircNICO-FUNCIONAL
Deficiecircncia PSIQUIAacuteTRICA
Deficiecircncia VISUAL
Incapacidade3 Ausecircncia ou limitaccedilatildeo da capacidade para funcionar estando comprometida a
realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida
diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e originando uma desvantagem para funcionar em
sociedade face a outros
Pessoa deficiente Aquela que tenha uma ou mais das seguintes deficiecircncias a) deficiecircncia
visual b) deficiecircncia auditiva c) deficiecircncia mental d) deficiecircncia motora
1 Nota Na operaccedilatildeo censitaacuteria de 2001 apenas foi observada a deficiecircncia permanente a deficiecircncia temporaacuteria natildeo foi considerada (por exemplo se um indiviacuteduo se desloca com canadianas ou em cadeira de rodas porque partiu uma perna ou se sofre de descolamento parcial da retina que o obriga a andar com uma venda natildeo foi considerado como tendo uma deficiecircncia) 2 Fonte INE ndash Censos 2001 ndash Recenseamento Geral da Populaccedilatildeo (Antecedentes Metodologia e Conceitos) Antecedentes Metodologia e Conceitos 3 Fonte INS ndash Inqueacuterito Nacional agrave Sauacutede
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 31
Dezembro2006
Trabalhador deficiente Trabalhador que estaacute incapacitado para assegurar por si mesmo total
ou parcialmente a satisfaccedilatildeo de necessidades de uma vida individual ou social normal devido
a uma deficiecircncia congeacutenita ou adquirida das suas capacidades fiacutesicas sensoriais ou
mentais tendo por isso dificuldade em obter eou manter o desempenho de funccedilotildees de acordo
com as suas habilitaccedilotildees idade e experiecircncia profissional
Cidadatildeo Trabalhador com necessidades especiais Cidadatildeo idoso ou portador de
deficiecircncias sensoriais (visuais e auditivas) fiacutesicas (motoras) e cognitivas
52 EUROSTAT
Os dados disponibilizados pelo Eurostat no seu endereccedilo electroacutenico4 parecem indicar a
utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na ICIDH
Conceito Deficiecircncia5
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de deficiecircncia refere-se a uma perda ou alteraccedilatildeo
de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou anatoacutemica
Conceito Incapacidade6
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de incapacidade refere-se agrave ausecircncia ou limitaccedilatildeo
da capacidade para funcionar estando comprometida a realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas
funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e
originando uma desvantagem para funcionar em sociedade face a outros
Conceito Desvantagem7
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito refere-se agrave desvantagem para um dado individuo
decorrente de uma deficiecircncia ou incapacidade
4 httpforumeuropaeuintircdsiscodedinfodatacodedenTheme3htm 5 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 6 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 7 Fonte Key data on health 2000 Eurostat
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
53 OCDE
Definiccedilotildees gerais de incapacidade
No contexto da OCDE identificam-se 2 abordagens distintas no quadro da definiccedilatildeo de
incapacidade
A incapacidade pode ser definida enquanto um estado decorrente de autoavaliaccedilatildeo ou um
status baseado em fontes administrativas eg beneficiaacuterio dos apoios De forma muito
frequente e talvez de forma imprecisa estas duas definiccedilotildees satildeo explicitadas como
incapacidade ldquosubjectivardquo versus rdquoobjectivardquo
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo e instrumentos
A incapacidade autoavaliada eacute medida atraveacutes de inqueacuteritos feitos directamente aos cidadatildeos
nas suas residecircncias Apesar da avaliaccedilatildeo ser baseada de uma forma geral nas respostas agraves
questotildees relativas a problemas de sauacutede de longo termo que limitam as actividades de vida
diaacuteria o detalhe das questotildees eacute geralmente diferente dificultando a comparabilidade dos
dados Por exemplo ldquolongo termordquo eacute parametrizado em 6 meses na Noruega e em 12 meses
na Suiccedila O status dos beneficiaacuterios pode ser avaliado atraveacutes de registos administrativos ou
atraveacutes de inqueacuteritos Os resultados entre as duas fontes satildeo de uma forma geral bastante
diferentes por duas razotildees nucleares os registos administrativos geralmente contam casos e
natildeo pessoas o que em situaccedilotildees de benefiacutecios muacuteltiplos pode levar a contagens duplas por
outro lado os inqueacuteritos satildeo baseados nas respostas sobre o status do beneficiaacuterio e algumas
pessoas podem desejar natildeo revelar a sua condiccedilatildeo perante os benefiacutecios
Nenhuma destas definiccedilotildees e medidas de mensuraccedilatildeo eacute superior a outras pelo que a sua
utilizaccedilatildeo depende dos objectivos do propoacutesito da investigaccedilatildeo e da disponibilidade da
informaccedilatildeo
Abordagens para medir a incapacidade no quadro da aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos agraves populaccedilotildees
a) Incapacidade geral (natildeo especificada)
Puacuteblico-alvo todos os adultos
b) Incapacidade relativa ao trabalho
Puacuteblico-alvo pessoas em idade activa
c) Limitaccedilotildees nas actividades de vida diaacuteria (AVD)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 32
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Puacuteblico-alvo Populaccedilatildeo idosa
54 AMERICAN DISABILITIES ACT
O American Disabilities Act (ADA) desenvolvido em 1990 fornece um conjunto de guidelines
no sentido de assegurar a disponibilizaccedilatildeo de serviccedilos para as pessoas com deficiecircncias bem
como a protecccedilatildeo dos seus direitos legais
A ADA inclui uma definiccedilatildeo legal de incapacidade consistindo na presenccedila de ldquouma deficiecircncia
fiacutesica ou mental que limita significativamente uma ou mais das principais actividades de vidardquo
Independentemente da definiccedilatildeo proposta pela ADA a existecircncia de muacuteltiplos programas a
favor das pessoas com deficiecircncias e os diferentes focus legais em diferentes puacuteblicos alvo
fazem com que tenham emergido uma multiplicidade de definiccedilotildees de incapacidade ao longo
do tempo no quadro das poliacuteticas sociais americanas
55 OMS ONU Revisatildeo dos actuais inqueacuteritos sobre a incapacidade
Apesar de existir um desenvolvimento consideraacutevel dos inqueacuteritos na aacuterea da incapacidade
poder-se-atildeo explicitar algumas observaccedilotildees relativas agrave sua multiplicidade Numa primeira linha
de anaacutelise os inqueacuteritos tendem a focalizar-se nas limitaccedilotildees de actividade eou na deficiecircncia
No que concerne agrave formulaccedilatildeo escrita tendem a existir diferenccedilas significativas entre
inqueacuteritos facto que inviabiliza natildeo raras vezes a comparabilidade dos dados entre inqueacuteritos
As diferentes formulaccedilotildees das questotildees incluem
Tem dificuldade
Eacute capaz de
Faz
Tem sentido problemas em
com ou sem assistecircncia pessoal eou tecnoloacutegica
A questatildeo que se coloca eacute se estas formulaccedilotildees tecircm o mesmo significado isto eacute se todas elas
pretendem medir a capacidade ou a performance De acordo com a CIF a capacidade
remeteria para o potencial de execuccedilatildeo de um indiviacuteduo enquanto a performance diria respeito
ao niacutevel de desempenho efectivo do indiviacuteduo atraveacutes do seu envolvimento numa situaccedilatildeo de
vida real As lacunas existentes e as poucas referecircncias ao niacutevel da forma como os inquiridos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 33
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
satildeo instruiacutedos a responder faz com que natildeo seja possiacutevel desenvolver um discernimento
irrefutaacutevel sobre esta mateacuteria
Do ponto de vista dos domiacutenios abrangidos os inqueacuteritos tecircm apresentado algumas questotildees
sobre a participaccedilatildeo e o ambiente e evidenciam algumas limitaccedilotildees na sua amplitude Os
domiacutenios de actividades e participaccedilatildeo geralmente abrangidos tecircm sido operacionalizados de
uma forma geral nas seguintes dimensotildees
Educaccedilatildeo e emprego (formulado como questotildees de performance)
Outros inqueacuteritos incluem aacutereas como relaccedilotildees interpessoais vida familiar tomada de
decisotildees etc
O domiacutenio relativo aos factores ambientais tem incluiacutedo
Utilizaccedilatildeo e acessibilidadedisponibilidade dos produtos de assistecircncia e da tecnologia
Acessibilidade do ambiente
Disponibilidade dos serviccedilos (sauacutede protecccedilatildeo social educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo)
Evidecircncias muito escassas ao niacutevel da poliacutetica atitudes ambiente natural
planeamento e concepccedilatildeo
A questatildeo de investigaccedilatildeo neste contexto centra-se na seguinte formulaccedilatildeo ldquoo que eacute que os
inqueacuteritos medem como incapacidaderdquo
a) Definiccedilatildeo a priori da incapacidade versus sem incapacidade
Alguns inqueacuteritos sobre a incapacidade especialmente os mais antigos utilizam uma definiccedilatildeo
a priori de incapacidade O objectivo deste tipo de inqueacuteritos eacute contar o nuacutemero de pessoas
que se encaixam na definiccedilatildeo no contexto da populaccedilatildeo total Neste sentido os dados satildeo
analisados de acordo com dois grupos de referecircncia ndash com incapacidade e sem incapacidade ndash
em funccedilatildeo de um conjunto de diferentes variaacuteveis Este tipo de questionaacuterios formula questotildees
do tipo ldquoPossui algum tipo de incapacidade auditiva visual ou fiacutesicardquo Muitas questotildees dos
censos tecircm utilizado este formato
b) Definiccedilatildeo a posteriori de incapacidade versus sem incapacidade
Mais recentemente alguns inqueacuteritos desenvolveram-se em direcccedilatildeo a uma definiccedilatildeo a
posteriori de incapacidade Nestes casos eacute medida a capacidade a performance ao longo de
um conjunto vasto de domiacutenios Este segundo tipo de inqueacuteritos tende a ter uma ampla
aceitaccedilatildeo eg HALS (Canada) HID (Franccedila) inqueacuterito sobre incapacidade na Africa do Sul
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 34
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Inqueacuterito Espanhol sobre incapacidade NHIS-D (USA) inqueacuterito Holandecircs entre outros Estes
instrumentos formulam questotildees relativas agraves dificuldades que as pessoas experienciam em
diferentes domiacutenios produzindo um perfil pessoal que possa colocar em evidecircncia os
diferentes graus de capacidade associados A categorizaccedilatildeo de incapacidade sem
incapacidade eacute formulada ao niacutevel do domiacutenio e natildeo como uma categoria geral de atributo
pessoal Esta abordagem permite uma anaacutelise ao niacutevel de funcionamento individual por
domiacutenio por exemplo comparando a experiecircncia de incapacidade no domiacutenio de mobilidade
versus socializaccedilatildeo versus comunicaccedilatildeo entre outros bem como o impacto dos factores
ambientais nestes diferentes domiacutenios O perfil resultante do funcionamento individual ao longo
de muacuteltiplos domiacutenios eacute similar aos estados de sauacutede individuais ao longo das diferentes
dimensotildees
Vantagens de uma abordagem a posteriori
Estaacute em consonacircncia com a abordagem universal proposta pela CIF Todas as
pessoas experienciam deficiecircncia nalgum ponto e esta experiecircncia eacute caracterizada
numa abordagem a posteriori e natildeo a priori
Decisotildees sobre a criaccedilatildeo de categorias sobre quem tem incapacidade e sobre quem
natildeo tem podem ser tomadas atraveacutes de diferentes niacuteveis de anaacutelise por exemplo
atraveacutes da anaacutelise da experiecircncia das pessoas que experienciam incapacidade em 1 2
ou 3 domiacutenios de cruzar o status de emprego de pessoas com incapacidade ao longo
dos diferentes domiacutenios etc
Deixa de ser necessaacuteria uma definiccedilatildeo tipoloacutegica e categoacuterica de pessoas com
incapacidade O que necessita de ser definido neste contexto eacute o que se designa por
limitaccedilatildeo da capacidade ou problemas de performance ao longo dos diferentes
domiacutenios
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 35
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
6 SISTEMATIZACcedilAtildeO DAS DIMENSOtildeES DE ORGANIZACcedilAtildeO E
OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em todos os estudos efectuados neste domiacutenio foi colocada em evidecircncia a actual dificuldade
de comparabilidade estatiacutestica internacional inter ou intra sectorial independentemente do
organismo referenciador ndash OCDE ONU EUROSTAT INE OMS
Neste contexto desenvolver-se-aacute a extracccedilatildeo de conhecimento tendo por base a identificaccedilatildeo
de um conjunto de eixos de anaacutelise que actuem como vectores de estruturaccedilatildeo na
operacionalizaccedilatildeo do conceito A este propoacutesito atente-se no Quadro 2
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Abordagem Focus Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Delimitaccedilatildeo temporal do
conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo
Design das questotildees
CID-10
ICIDH
ICF
SauacutedeDoenccedila
Deficiecircncia
Incapacidade
a) Geral
b) Relativa ao trabalho
c) Limitaccedilotildees nas
actividades de vida
diaacuteria
Funcionalidade ndash
Niacuteveis de execuccedilatildeo
das actividades por
domiacutenio e niacuteveistipos
de ajudas mobilizadas
Intersubjectivo ndash
vg inqueacuteritos
Objectivo ndash vg
fontes administrativas
A priori
A posteriori
Temporaacuterias
permanentes
Progressivas
regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou
contiacutenuas
Tipo 1 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre uma determinada
condiccedilatildeo individual
combinada com itens
referentes a limitaccedilotildees de
actividade e participaccedilatildeo e
factores contextuais
Tipo 2 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre a presenccedila de uma
pessoa com incapacidade
no agregado familiar
seguindo-se uma lista de
deficiecircncias e
incapacidades
Tipo 3 ndash Checklist de
deficiecircncias
Quadro 2 ndash Eixos de operacionalizaccedilatildeo do conceito
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 38
Dezembro2006
7 ESCOLHA DO CENAacuteRIO A IMPLEMENTAR
A anaacutelise do Quadro 2 permite-nos uma definiccedilatildeo modular do cenaacuterio a implementar atraveacutes de
uma configuraccedilatildeo do conceito pelos eixos de anaacutelise propostos Uma das dificuldades
evidentes nesta delimitaccedilatildeo prende-se com o cumprimento dos requisitos de (a)
comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica e legislativa dentro do contexto portuguecircs
e (c) conformidade com os referenciais conceptuais actuais sendo que a coexistecircncia destes
criteacuterios afigura-se em muitos casos incompatiacutevel entre si Para efeitos da estruturaccedilatildeo do
cenaacuterio privilegiar-se-aacute a conformidade com os referenciais conceptuais actuais
71 ABORDAGEM No que concerne agrave abordagem privilegia-se a adopccedilatildeo das mais recentes directrizes propostas
pela OMS adoptando explicitamente a CIF
Fundamentaccedilatildeo
A CIF apresenta a capacidade para descrever o funcionamento humano numa
perspectiva biopsicossocial em detrimento da classificaccedilatildeo anterior (ICIDH) que se
focalizava na dimensatildeo biomeacutedica A CIF foi desenvolvida no plano conceptual para ser aplicaacutevel em diferentes aacutereas e
sectores A CIF eacute aplicaacutevel transversalmente agraves dimensotildees de cultura idade geacutenero sendo um
instrumento sistemaacutetico para descrever e medir a sauacutede e o funcionamento humano
num dado contexto A CIF constitui-se enquanto instrumento potencial para a poliacutetica social design das
intervenccedilotildees nos domiacutenios da sauacutede educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e intervenccedilatildeo social Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
72 FOCUS
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo da centraccedilatildeo da recolha de dados ao niacutevel
da dimensatildeo de funcionalidade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 39
Dezembro2006
Fundamentaccedilatildeo
Consonacircncia com o modelo conceptual proposto pela CIF enfatizando o caraacutecter
dinacircmico e interaccional (pessoa factores contextuais) do funcionamento de cada
pessoa Permite caracterizar as limitaccedilotildees de actividade e restriccedilotildees de participaccedilatildeo dos
cidadatildeos identificando necessidades de intervenccedilotildees especializadas numa loacutegica de
empowerment e participaccedilatildeo social Permite analisar a adequabilidade e ajustamento das actuais medidas poliacuteticas do
ponto de vista dos seus objectivos e os problemas detectados ao niacutevel da participaccedilatildeo
dos cidadatildeos ao longo de um conjunto diversificado de domiacutenios
73 MEacuteTODOS DE MENSURACcedilAtildeO
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo de meacutetodos intersubjectivos nomeadamente
inqueacuteritos
Fundamentaccedilatildeo
Flexibilidade ao niacutevel da abrangecircncia e profundidade das dimensotildees
Maior facilidade na implementaccedilatildeo atendendo agrave disponibilizaccedilatildeo de uma amostra
delimitada
Maior niacutevel de controlo sobre as condiccedilotildees de observaccedilatildeo e da entrevista devido ao
menor nuacutemero de entrevistas a ser implementado
74 DELIMITACcedilAtildeO CONCEPTUAL E TEMPORAL DO CONCEITO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo temporal e apesar de se privilegiar as vantagens anteriormente
explicitadas no desenvolvimento de uma definiccedilatildeo a posteriori assume-se a necessidade
politica de delimitar o campo de intervenccedilatildeo do conjunto de medidas sociais neste domiacutenio
pelo que a delimitaccedilatildeo conceptual poderaacute ser objecto de operacionalizaccedilatildeo atraveacutes dos
seguintes paracircmetros
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 40
Dezembro2006
Poder-se-aacute colocar a questatildeo de saber se a delimitaccedilatildeo do conceito proposta remete
especificamente para ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ou para ldquopessoas com limitaccedilotildees de
participaccedilatildeordquo Atendendo a que a definiccedilatildeo comporta uma abordagem sisteacutemica enfatizando a
interacccedilatildeo entre um conjunto diversificado de componentes que produzem impacto na
funcionalidade da pessoa a resposta natildeo eacute linear dependendo da ecircnfase socio-histoacuterica e da
abordagem sociopoliacutetica que se escolher enfatizar No entanto e do ponto de vista conceptual
privilegia-se a adopccedilatildeo do conceito ldquopessoas com limitaccedilotildees de participaccedilatildeordquo dado que existe
total autonomia operativa entre os diferentes constructos Neste sentido a deficiecircncia natildeo
constitui um factor causal linear das limitaccedilotildees de actividade e das restriccedilotildees ao niacutevel da
participaccedilatildeo mas antes uma das componentes que em interacccedilatildeo com outras podem
provocar impactos ao niacutevel da funcionalidade do indiviacuteduo Por uacuteltimo refira-se que a tipologia
ldquopessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeordquo poderaacute ser alvo de criticas por constituir
uma designaccedilatildeo que apela a duas componentes em simultacircneo (actividades e participaccedilatildeo)
excluindo outras e ser demasiado longa para uma definiccedilatildeo tipoloacutegica A este propoacutesito pode-
se sugerir a delimitaccedilatildeo ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo constituindo esta
expressatildeo uma abordagem holiacutestica ao conjunto de componentes que interferem com o
funcionamento humano Deste modo poderemos ter as seguintes designaccedilotildees
Pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Pessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo
Pessoas com limitaccedilotildees de funcionalidade
Figura 2 ndash Possiacuteveis designaccedilotildees
O Quadro 3 pretende fornecer uma visatildeo sistemaacutetica sobre o processo de decisatildeo da
designaccedilatildeo a adoptar
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
deficiecircncias
Tradiccedilatildeo analiacutetica dentro do
contexto portuguecircs
Em conformidade com o modelo
meacutedico ndash centra-se nas alteraccedilotildees
de estrutura e funccedilatildeo ndash
focalizaccedilatildeo na pessoa
Desarticulado dos pressupostos do
modelo social ndash natildeo remete para a
experiecircncia de incapacidade
enquanto produto da interacccedilatildeo
entre pessoa e ambiente
Mai
or
Abr
angecirc
ncia
Mai
or
Espe
cific
idad
e
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 41
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
incapacidades
Em conformidade com a
delimitaccedilatildeo anglo-saxoacutenica que
utiliza o conceito Disability
Focalizaccedilatildeo no poacutelo negativo do
funcionamento humano ndash
funcionalidadeincapacidade
Ao focalizar-se na experiecircncia de
incapacidade enquanto
interacccedilatildeo pessoa-ambiente
remete indirectamente para a
mobilizaccedilatildeo de apoios e recursos
de forma a ultrapassar eou
eliminar os obstaacuteculos ao
funcionamento em contexto
O potencial efeito estigmatizante
da expressatildeo ldquopessoas com
incapacidadesrdquo
Pessoas com
diversidade
Funcional
Em conformidade com o modelo
social
Focaliza-se na gestatildeo das
diferenccedilas e no seu impacto ao
niacutevel da participaccedilatildeo das pessoas
na sociedade
Elevado niacutevel de abrangecircncia natildeo
permitindo um niacutevel de
diferenciaccedilatildeo relevante na
medida em que todos os cidadatildeos
detecircm entre si diversos e
diferentes padrotildees de
funcionamento humano
Conceito dificilmente
operacionalizaacutevel do ponto de
vista da formulaccedilatildeo das poliacuteticas e
da delimitaccedilatildeo dos puacuteblicos-alvo
Pessoas com
restriccedilotildees ao
niacutevel da
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos Desta forma
todos os obstaacuteculos agrave participaccedilatildeo
relacionados com discriminaccedilatildeo
social preconceitos estereoacutetipos
deficiecircncias doenccedilas croacutenicas
entre outros satildeo incluiacutedos
Natildeo inclui as limitaccedilotildees de
actividade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 42
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
limitaccedilotildees de
actividade e
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida e simultaneamente no
domiacutenio das limitaccedilotildees de
actividade
Ruptura com a tradiccedilatildeo analiacutetica
no sector
Dificuldade de apreensatildeo e
inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Natildeo inclui as alteraccedilotildees da
estrutura e da funccedilatildeo
Pessoas com
limitaccedilotildees de
funcionalidade
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel das
diferentes dimensotildees constituintes
da funcionalidade e do
funcionamento humano
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos
Pessoas com
deficiecircncias e
incapacidades
Natildeo introduz ruptura com a
tradiccedilatildeo analiacutetica no sector
Inclui as alteraccedilotildees de estrutura e
funccedilatildeo bem como as alteraccedilotildees
decorrentes ao niacutevel da
funcionalidade
Diferencia os conceitos de
deficiecircncia e incapacidade
autonomizando-os e fornecendo
uma base compreensiva para o
natildeo estabelecimento de relaccedilotildees
de causa-efeito entre os ambos
Abrange os obstaacuteculos que
emergem na interacccedilatildeo pessoa-
contextos de vida e
simultaneamente no domiacutenio das
limitaccedilotildees de actividade
Poder diferenciador e delimitador
na definiccedilatildeo do puacuteblico-alvo
Em alinhamento estrateacutegico com o
PAIPDI
Designaccedilatildeo de compromisso com
os referenciais teoacutericos do modelo
social e dos princiacutepios da ldquoeacutetica da
diversidaderdquo
Quadro 3 ndash Visatildeo comparativa das hipoacuteteses da designaccedilatildeo a adoptar
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 43
Dezembro2006
75 DELIMITACcedilAtildeO DA DURACcedilAtildeO E CURSO DE EVOLUCcedilAtildeO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo interessa a caracterizaccedilatildeo nas
3 dimensotildees desenvolvidas
Fundamentaccedilatildeo
Afigura-se relevante caracterizar a ocorrecircncia das deficiecircncias quanto aacute sua
consistecircncia no tempo ndash temporaacuterias permanentes ndash analisando os factores
contextuais associados consequecircncias ao niacutevel das actividades e da participaccedilatildeo ao
longo de um conjunto de domiacutenios em ordem agrave extracccedilatildeo de implicaccedilotildees no acircmbito
das poliacuteticas sociais
No acircmbito da adaptabilidade e da adequaccedilatildeo das medidas poliacuteticas agraves necessidades
especiacuteficas dos cidadatildeos torna-se relevante caracterizar a deficiecircncia quanto agrave
natureza do seu curso evolutivo ndash progressivas regressivas estaacuteveis O mesmo
criteacuterio eacute aplicaacutevel quanto aacute dimensatildeo de padratildeo de manifestaccedilatildeo ndash intermitente
contiacutenua
No entanto e apesar da incapacidade se manifestar ao longo do ciclo de vida da pessoa
de forma multimodal para efeitos de delimitaccedilatildeo e de definiccedilatildeo do conceito de pessoas
com deficiecircncias e incapacidades privilegiaremos o caraacutecter permanente Desta forma
excluem-se as manifestaccedilotildees temporaacuterias de incapacidade que enviesariam a anaacutelise e o
desenvolvimento de poliacuteticas neste domiacutenio
76 DESIGN DAS QUESTOtildeES
No que concerne ao design das questotildees privilegia-se a escolha de questotildees tipo 1
Fundamentaccedilatildeo
Em consonacircncia com a CIF
Permite comparabilidade estatiacutestica futura
Permite a caracterizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre os factores de funcionalidade ndash integridade
estrutural e funcional actividades participaccedilatildeo e factores contextuais
Permite o design das poliacuteticas sociais e metodologias de intervenccedilatildeo alicerccediladas nas
necessidades especiacuteficas dos cidadatildeos em torno das dimensotildees de inclusatildeo social
Domiacutenios
Visatildeo
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 44
Dezembro2006
Audiccedilatildeo
Comunicaccedilatildeo
Mobilidade
Dor
Aprendizagem e funcionamento psicoloacutegico
Autocuidados e vida domeacutestica
Condiccedilotildees gerais de sauacutede
Mobilizaccedilatildeo de ajudas ou equipamento especializado
Participaccedilatildeo social
Transporte e educaccedilatildeo
77 PROPOSTA DE DELIMITACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em funccedilatildeo das dimensotildees caracterizadas e dos criteacuterios privilegiados desenvolveu-se o
seguinte enquadramento conceptual
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 45
Dezembro2006
Figura 2 ndash Enquadramento conceptual da delimitaccedilatildeo do conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso da evoluccedilatildeo
Temporaacuterias permanentes
Progressivas regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou contiacutenuas
Focus
Funcionalidade ndash Niacuteveis de execuccedilatildeo das actividades por domiacutenio e niacuteveistipos de ajudas mobilizadas
Abordagem CIF
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo temporal do conceito
A priori
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Inter-subjectivo
Design das questotildees
Questatildeo geneacuterica sobre uma determinada condiccedilatildeo individual combinada com itens referentes a limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo e factores contextuais
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 46
Dezembro2006
8 CRITEacuteRIOS DE ELEGIBILIDADE DO PUacuteBLICO-ALVO E SISTEMAS DE
AVALIACcedilAtildeO
A operacionalizaccedilatildeo do conceito de incapacidade tem sido abordada de forma heterogeacutenea
entre diferentes modalidades de politica e os diferentes contextos socioculturais de cada paiacutes
De uma forma geral encontram-se 2 eixos criacuteticos na sua operacionalizaccedilatildeo
a) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de trabalho (na ocupaccedilatildeo preacutevia ou numa nova
ocupaccedilatildeo ajustada agraves alteraccedilotildees funcionais)
b) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de obter rendimentos provenientes do trabalho
A explicitaccedilatildeo dos criteacuterios de delimitaccedilatildeo do conceito de incapacidade nos diferentes paiacuteses
encontra-se na Quadro 4
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Austraacutelia 2 Criteacuterios possuir uma incapacidade que resulte
num score nunca inferior a 20 nas tabelas de
incapacidades e incapacidade em trabalhar 30
horas ou mais por semana ou em ser
reconvertido para trabalho em contexto regular
nos proacuteximos 2 anos
Nenhum
Aacuteustria 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho (50
de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo para
trabalhadores sem qualificaccedilotildees) papel criacutetico
das decisotildees dos tribunais devido a definiccedilotildees
legais imprecisas
Nenhum mas as
restriccedilotildees de sauacutede
devem ter uma duraccedilatildeo
igual ou superior a 6
meses
Beacutelgica 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na actual ocupaccedilatildeo
1 ano
Canada Incapacidade severa e prolongada que impeccedila de
desenvolver trabalho numa base regular
Nenhum
Dinamarca 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum mas a
reabilitaccedilatildeo precisa de
estar completa
Franccedila 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual mas a
totalidade do subsidio requer igualmente perda de
capacidade de trabalho
Nenhum no caso das
condiccedilotildees estarem
estaacuteveis mas muito
frequentemente apoacutes 3
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 47
Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
anos
Alemanha 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho a
incapacidade parcial eacute calculada em funccedilatildeo do nordm
de horas que a pessoa pode trabalhar
Nenhum mas a
incapacidade deve ter
uma duraccedilatildeo miacutenima
de 26 semanas
Itaacutelia 666reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum
Coreia Criteacuterios meacutedicos (niacuteveis de incapacidade
definidos de forma detalhada)
Periacuteodo de espera de
50 dias (os subsiacutedios
de doenccedila natildeo se
encontram disponiacuteveis)
Meacutexico 50 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo Nenhum
Holanda 15 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
(25 para os trabalhadores por conta proacutepria e
jovens com incapacidade) grau de incapacidade
calculado pela diferenccedila de remuneraccedilatildeo entre o
actual posto de trabalho compatiacutevel com as
limitaccedilotildees funcionais e o anterior
1 ano
Noruega 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho O
grau de subsiacutedio eacute calculado pela capacidade de
remuneraccedilatildeo
Nenhum (apoacutes ter
completado a
reabilitaccedilatildeo vocacional)
Poloacutenia Reduccedilatildeo temporaacuteria ou permanente da
capacidade de trabalho
Nenhum
Portugal 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual
Nenhum mas na
praacutetica ao fim de 3
anos (fim do periacuteodo de
doenccedila de longo termo)
Espanha 33 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho na
ocupaccedilatildeo actual incapacidade para todo e
qualquer trabalho para a totalidade do subsiacutedio
1 ano (embora seja
possiacutevel a candidatura
antes deste prazo em
casos de incapacidade
permanente)
Sueacutecia 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho grau
de incapacidade parcial calculado a partir das
horas que uma pessoa pode trabalhar
Nenhum
Suiccedila 40 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho para
as pessoas inactivas o grau de incapacidade eacute
calculado em relaccedilatildeo aacute actividade actual
1 ano
Turquia 666 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho
com um focus meacutedico bastante significativo
Nenhum
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 48
Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Reino Unido Limitaccedilotildees nas actividades de vida quotidianas
relevantes para o trabalho (avaliaccedilotildees meacutedicas
predominantes) teste ocupacional durante a s
primeiras 28 semanas (subsidio de doenccedila)
28 semanas
Estados
Unidos
Reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
incapacidade em investir numa actividade
profissional com rendimentos ($ US 740 por mecircs)
5 meses (nem sempre
cobertos pelos
subsiacutedios de curto-
termo) e 24 meses
para a cobertura
meacutedica
Quadro 4 ndash Definiccedilotildees de incapacidade e tempos regulamentares
Um dos desafios que se coloca aos actuais sistemas reside na delimitaccedilatildeo da elegibilidade do
puacuteblico-alvo Para cumprir este objectivo satildeo necessaacuterios sistemas de avaliaccedilatildeo holiacutesticos
abrangentes coerentes e que permitam chegar a resultados de forma consistente e com
validade interna No actual contexto a CIF propotildee constituir-se como o instrumento conceptual
abrangente para caracterizar os diferentes domiacutenios e niacuteveis de funcionalidade incapacidade
de forma coerente e integrada Neste sentido uma das vantagens apontadas para a adopccedilatildeo
do modelo desenvolvido pela OMS eacute a possibilidade de uniformizaccedilatildeo de conceitos e portanto
da utilizaccedilatildeo de uma linguagem padratildeo que permita a comunicaccedilatildeo entre investigadores
gestores profissionais de sauacutede organizaccedilotildees da sociedade civil e utilizadores em geral
Um dos campos de estudo mais explorados para a aplicaccedilatildeo da CIF tem sido a aacuterea de
Medicina Fiacutesica e de Reabilitaccedilatildeo no que concerne ao acompanhamento do estado de sauacutede
dos pacientes em tratamento O uso da CIF tem sido considerado tambeacutem na avaliaccedilatildeo apoacutes
transtornos agudos condiccedilotildees traumaacuteticas condiccedilotildees croacutenicas e na geriatria
Alguns autores argumentam que a CIF deve ser explorada como uma base de informaccedilotildees
padronizadas em estudos sobre incapacidade profissional quando haacute necessidade de
relacionar dados de sauacutede ocupacional com os da Seguranccedila Social
Na Sauacutede Puacuteblica tradicionalmente pouca atenccedilatildeo tem sido dada agraves pessoas com
incapacidades No entanto ao lado de recentes investimentos por parte de organizaccedilotildees e de
alguns governos a publicaccedilatildeo do modelo da CIF fornece as bases para as poliacuteticas e
disciplinas da Sauacutede Puacuteblica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo que apresenta deficiecircncias e
incapacidades Assim uma das possibilidades de uso da CIF pode ser a contribuiccedilatildeo para
responder a importantes questotildees de sauacutede puacuteblica tais como qual o estado de sauacutede das
pessoas com deficiecircncias comparadas com as demais que necessidades e que tipos de
intervenccedilotildees satildeo mais adequadas para reduzir condiccedilotildees secundaacuterias e promover a
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na sociedade entre outras
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 49
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Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 50
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Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 51
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Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
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Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 53
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1 EVOLUCcedilAtildeO DOS REFERENCIAIS CONCEPTUAIS NO DOMIacuteNIO DA
INCLUSAtildeO DE PESSOAS COM DEFICIEcircNCIAS E INCAPACIDADES
11 EVOLUCcedilAtildeO DE PARADIGMAS E MODELOS TEOacuteRICOS
Ao pensarmos as questotildees relativas agraves deficiecircncias e incapacidades conveacutem relevar as
mudanccedilas societais operadas sobre as percepccedilotildees ligadas agrave incapacidade Desde os anos
sessenta tem existido uma progressiva consciencializaccedilatildeo por parte de poliacuteticos legisladores
e investigadores sociais de que o problema da incapacidade natildeo eacute susceptiacutevel de continuar a
ser considerado numa perspectiva individual estritamente meacutedica (Barnes and Mercer 2003)
Este facto poderaacute encontrar a sua explicaccedilatildeo (a) num crescente nuacutemero de pessoas da
sociedade com uma qualquer deficiecircncia e incapacidade fiacutesica ou intelectual e (b) porque em
parte quanto maior for a sofisticaccedilatildeo tecnoloacutegica e cultural de uma dada sociedade maior o
grau de incapacidade gerada (Oliver 1990) Estimativas recentes sugerem a existecircncia de 50
milhotildees de pessoas com incapacidades na Europa e 500 milhotildees em todo o mundo sendo que
eacute esperado que estes nuacutemeros aumentem significativamente nas proacuteximas deacutecadas quer nos
paiacuteses considerados desenvolvidos quer nas naccedilotildees subdesenvolvidas (IDF 1998) Este
cenaacuterio fica a dever-se a um conjunto diversificado de factores tais como os progressos ao
niacutevel da medicina o envelhecimento das populaccedilotildees a intensificaccedilatildeo do ritmo da mudanccedila
social e tecnoloacutegica os conflitos militares e o terrorismo (Coleridge 1993 Ingstad 2001)
Todos estes factores tecircm implicaccedilotildees econoacutemicas poliacuteticas e culturais para os governos
nacionais e organismos internacionais como a Uniatildeo Europeia e as Naccedilotildees Unidas Uma
preocupaccedilatildeo crescente focaliza-se no aumento dos custos com os programas de reabilitaccedilatildeo
reconhecidos como cientificamente apropriados e com respostas socialmente ajustadas para
os problemas encontrados pelas pessoas com incapacidades (Stone 1985 Albrecht 1992
Sandvin 2002)
A evoluccedilatildeo conceptual no domiacutenio das poliacuteticas e dos modelos organizadores das intervenccedilotildees
no contexto da reabilitaccedilatildeo e da inclusatildeo social tem sido reflectida na forma como os diversos
actores sociais equacionam e problematizam as questotildees ligadas agraves deficiecircncias e
incapacidades Neste quadro evolutivo constata-se que as deficiecircncias eram equacionadas
como um problema das proacuteprias pessoas directamente causado por doenccedila acidente ou outra
condiccedilatildeo de sauacutede passiacutevel de melhorar atraveacutes de intervenccedilotildees meacutedicas tais como a
reabilitaccedilatildeo Neste sentido a perspectiva das poliacuteticas centrava-se no reconhecimento de
necessidades especiais atraveacutes da criaccedilatildeo de serviccedilos especiais Estes serviccedilos baseavam-se
na criaccedilatildeo de uma rede de cuidados especiacutefica para as pessoas com deficiecircncias favorecendo
mecanismos de institucionalizaccedilatildeo Outra caracteriacutestica deste estaacutedio inicial de
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 4
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
conceptualizaccedilatildeo das deficiecircncias e incapacidades baseava-se na focalizaccedilatildeo de todos os
processos de poder e controlo das intervenccedilotildees nos teacutecnicos e profissionais do sector Do
ponto de vista da envolvente cultural assistia-se ao reforccedilo da estigmatizaccedilatildeo e dos
preconceitos em relaccedilatildeo agraves pessoas com deficiecircncias e incapacidades atraveacutes da mensagem
de impossibilidade de integraccedilatildeo das diferenccedilas materializadas nas diferentes deficiecircncias e
incapacidades ao niacutevel das estruturas sociais e dos serviccedilos disponiacuteveis nos sistemas
regulares Do ponto de vista da focalizaccedilatildeo e dos objectivos das poliacuteticas estas centram-se no
indiviacuteduo sendo que o seu principal objectivo era activar mecanismos de compensaccedilatildeo
capazes de atenuar os efeitos decorrentes das incapacidades
Adicionalmente refira-se que uma das caracteriacutesticas deste periacuteodo eacute a de que o locus de
responsabilidade das poliacuteticas assenta no modelo do Estado-providecircncia do periacuteodo fordista
As poliacuteticas sociais tradicionais satildeo baseadas numa orientaccedilatildeo meacutedica na interpretaccedilatildeo da
natureza das deficiecircncias e incapacidades pelo que no conjunto de caracteriacutesticas
enunciadas tecircm sido identificados elementos integrantes do modelo meacutedico de abordagem agraves
deficiecircncias e incapacidades
Os documentos internacionais provenientes da Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) e os
proacuteprios documentos de poliacutetica europeia comeccedilaram progressivamente a colocar em
evidecircncia as deficiecircncias e incapacidades natildeo como um atributo inerente agrave pessoa mas como
um resultado da interacccedilatildeo entre a pessoa e o ambiente incluindo as suas estruturas fiacutesicas (o
design dos edifiacutecios sistemas de transporte etc) as relaccedilotildees sociais e as construccedilotildees sociais
e crenccedilas que levam agrave discriminaccedilatildeo das pessoas Deste modo as deficiecircncias e
incapacidades tornam-se um problema relevante para as poliacuteticas sociais em consequecircncia da
adopccedilatildeo de um modelo que privilegia a adequaccedilatildeo dos contextos agraves pessoas fazendo com
que o seu focus se descentre uacutenica e exclusivamente da componente individual para passar a
contemplar a relaccedilatildeo da pessoa com os seus ambientes e contextos de vida bem como os
obstaacuteculos e barreiras sociais que emergem nesta interacccedilatildeo Neste sentido a participaccedilatildeo de
todos os cidadatildeos nos mais diversificados contextos da vida social passa a constituir uma
questatildeo de direitos e de igualdade de oportunidades
Do ponto de vista das poliacuteticas sociais pode-se observar dois focos distintos no discurso e nas
propostas de inclusatildeo O primeiro trabalha a inclusatildeo voltada para a ampliaccedilatildeo da cidadania
enfatizando o discurso do direito de interagir e o direito agrave participaccedilatildeo social atraveacutes das redes
sociais na construccedilatildeo do projecto colectivo O segundo focaliza o combate agrave exclusatildeo como
elemento voltado para a inserccedilatildeo dos puacuteblicos desfavorecidos no contexto do mercado de
trabalho Neste caso o foco da inclusatildeo tem o seu epicentro na profissionalizaccedilatildeo e na
capacitaccedilatildeo para o trabalho e emprego Paralelamente aos dois focos explicitados subjaz a
necessidade de eliminaccedilatildeo das barreiras ambientais (fiacutesicas psicoloacutegicas e socioloacutegicas) como
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 5
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
condiccedilatildeo necessaacuteria agrave participaccedilatildeo plena das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na
sociedade numa loacutegica de igualdade de oportunidades
Este desenvolvimento conceptual na forma como as deficiecircncias e incapacidades satildeo
equacionadas faz com que pela primeira vez seja reconhecida a possibilidade das diferentes
necessidades das pessoas com deficiecircncias e incapacidades constituiacuterem objecto de resposta
nos serviccedilos e estruturas regulares da sociedade Este facto assenta na reconfiguraccedilatildeo dos
modelos de inclusatildeo e de capacitaccedilatildeo colectiva de todos os actores sociais que directa ou
indirectamente contribuem para a exclusatildeo inclusatildeo das pessoas com deficiecircncias e
incapacidades Deste modo inicia-se a estruturaccedilatildeo das perspectivas de mainstreaming que
tecircm vindo a intencionalizar a implementaccedilatildeo de serviccedilos especializados assentes numa loacutegica
de consultoria baseados nas estruturas e serviccedilos da comunidade Esta ruptura com o modelo
meacutedico na forma como a deficiecircncia eacute conceptualizada implicou que as poliacuteticas comeccedilassem
a ser dirigidas agrave remoccedilatildeo das barreiras agrave plena participaccedilatildeo para as pessoas com deficiecircncias
e incapacidades em vez de ldquoproblematizarrdquo a pessoa e focalizarem-se apenas nela Pode-se
verificar esta abordagem atraveacutes do desenvolvimento de regulamentos sobre o design de
edifiacutecios e nas infra-estruturas de transportes no sentido de prevenir a construccedilatildeo de situaccedilotildees
e contextos incapacitantes e reduzir as barreiras existentes entre outras manifestaccedilotildees
Do ponto de vista do ambiente cultural comeccedila a emergir o reconhecimento das diferenccedilas e a
relevacircncia de adoptar poliacuteticas que promovam a integraccedilatildeo da diversidade Neste acircmbito as
poliacuteticas comeccedilam progressivamente a pretender influenciar mudanccedilas nos padrotildees de
atitudes e de comportamentos sobre a forma como os cidadatildeos compreendem e percepcionam
as pessoas com deficiecircncias e incapacidades (designadas por poliacuteticas simboacutelicas)
focalizando-se na alteraccedilatildeo dos elementos inibidores da participaccedilatildeo para factores
facilitadores De igual forma as poliacuteticas simboacutelicas apesar de ainda natildeo existirem directrizes
coerentes e consensuais para a definiccedilatildeo da categoria de pessoas com e sem deficiecircncias e
incapacidades comeccedilam a sentir a necessidade de enquadrar esta delimitaccedilatildeo e definiccedilatildeo de
forma a garantir o seu sucesso e eficaacutecia na transformaccedilatildeo das representaccedilotildees simboacutelicas dos
cidadatildeos O conjunto de caracteriacutesticas enunciadas bem como os seus elementos
constituintes tecircm vindo a ser designadas pelos investigadores por modelo social por oposiccedilatildeo
agraves caracteriacutesticas do modelo meacutedico O Quadro 1 permite analisar de uma forma sistemaacutetica os
principais pontos de ruptura entre o modelo meacutedico e o modelo social sendo certo que a
adopccedilatildeo predominante de um modelo ou de outro implica uma concepccedilatildeo radicalmente
diferente das diversas tipologias de poliacuteticas assim como a definiccedilatildeo de diferentes objectivos e
resultados ao niacutevel da inclusatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 6
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Modelo meacutedico Modelo social
Problema Incapacidade dependecircncia das
pessoas
Inadequaccedilatildeo dos contextos agraves
pessoas
Origem Nas pessoas Na sociedade
Focalizaccedilatildeo Na pessoa nas suas limitaccedilotildees Relaccedilatildeo pessoa contexto nas
barreiras sociais
Eacutetica Assistecircncia Direitos
Igualdade de oportunidades
Objectivos Reabilitar curar tratar
Habilitar
Eliminar barreiras promover a
compatibilidade
Perspectiva Necessidades especiais
Serviccedilos especializados
Necessidades diferentes
Serviccedilos regulares
Serviccedilos Institucionalizados
Rede de cuidados De apoio baseados na comunidade
Poder controlo Profissionais Clientes
Cultura Disabling
Manutenccedilatildeo e reforccedilo da deficiecircncia
Reconhecimento e inclusatildeo da
diversidade
Objectivos das poliacuteticas
Compensar os indiviacuteduos pelas
suas incapacidades
ldquoAliviar a situaccedilatildeordquo
Promover direitos
Prover recursos e competecircncias
para identificar e eliminar barreiras
pessoais e sociais
Focalizaccedilatildeo das poliacuteticas Nos indiviacuteduos
Nas pessoas com deficiecircncias No grupo social
Na populaccedilatildeo global
Responsabilidade Poliacutetica social
ldquoWelfare provisionrdquo
Poliacuteticas transversais
Poliacuteticas sociais activas
Quadro 1 ndash Anaacutelise comparativa do modelo meacutedico com o modelo social relativamente agraves dimensotildees estruturantes na organizaccedilatildeo dos quadros conceptuais de intervenccedilatildeo (Sousa 2005) 12 PERSPECTIVA EVOLUTIVA DO MODELO SOCIAL
O modelo social da deficiecircncia surge na deacutecada de 1960 no Reino Unido como uma reacccedilatildeo
agraves abordagens biomeacutedicas A premissa baacutesica do modelo social eacute que a deficiecircncia natildeo deve
ser entendida como um problema individual mas como uma questatildeo eminentemente social
transferindo a responsabilidade pelas desvantagens das pessoas com deficiecircncias para a
incapacidade da sociedade em prever e ajustar-se agrave diversidade (Oliver 1990) Em torno do
modelo social da deficiecircncia surge na deacutecada de 1970 a UPIAS (The Union of the Phisically
Impaired Against Segregation) uma das primeiras organizaccedilotildees de pessoas com deficiecircncias
com objectivos eminentemente poliacuteticos e natildeo apenas assistenciais como era o caso das
instituiccedilotildees criadas nos dois seacuteculos anteriores (UPIAS 1976) O ponto de partida teoacuterico do
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 7
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
modelo social eacute que a deficiecircncia eacute uma experiecircncia resultante da interacccedilatildeo entre
caracteriacutesticas corporais do indiviacuteduo e as condiccedilotildees da sociedade em que ele vive isto eacute da
combinaccedilatildeo de limitaccedilotildees impostas pelo corpo com algum tipo de perda ou reduccedilatildeo de
funcionalidade (lesatildeo) e uma organizaccedilatildeo social pouco sensiacutevel agrave diversidade corporal
Originalmente a UPIAS propocircs uma definiccedilatildeo que explicitava o efeito da exclusatildeo na criaccedilatildeo
da deficiecircncia ldquoLesatildeo ausecircncia parcial ou total de um membro ou oacutergatildeo ou existecircncia de um
mecanismo corporal defeituoso Deficiecircncia desvantagem ou restriccedilatildeo de actividade
provocada pela organizaccedilatildeo social contemporacircnea que pouco ou nada considera aqueles que
possuem lesotildees fiacutesicas e os exclui das principais actividades da vida socialrdquo (UPIAS 19763-
4) A ecircnfase inicial nas limitaccedilotildees fiacutesicas foi imediatamente revista e com isso abriu-se um
grande debate sobre as limitaccedilotildees do vocabulaacuterio usado para descrever as deficiecircncias e
incapacidades A intenccedilatildeo era destacar que natildeo havia necessariamente uma relaccedilatildeo directa
entre lesatildeo e deficiecircncia transferindo o debate da discussatildeo sobre sauacutede para o terreno da
organizaccedilatildeo social e poliacutetica Lesatildeo seria uma caracteriacutestica corporal como seria o sexo ou a
cor da pele ao passo que deficiecircncia seria o resultado da opressatildeo e da discriminaccedilatildeo sofrida
pelas pessoas em funccedilatildeo de uma sociedade que se organiza de uma maneira que natildeo permite
incluiacute-las na vida quotidiana Eacute possiacutevel uma pessoa ter lesotildees e natildeo experimentar a
deficiecircncia a depender de quanto a sociedade esteja ajustada para incorporar a diversidade
Como exemplifica Morris (2001) natildeo poder caminhar eacute a expressatildeo da lesatildeo a deficiecircncia
consiste na inacessibilidade imposta agraves pessoas que usam cadeira de rodas O resultado
dessa revisatildeo na semacircntica dos conceitos foi uma separaccedilatildeo radical entre lesatildeo e deficiecircncia
a primeira eacute objecto da discussatildeo sobre sauacutede enquanto a segunda eacute uma questatildeo da ordem
dos direitos e da justiccedila social e portanto essencialmente normativa
Se para o modelo meacutedico a lesatildeo levava agrave deficiecircncia para o modelo social os sistemas
sociais levavam pessoas com lesotildees agrave experiecircncia da incapacidade Em siacutentese o modelo
meacutedico identifica a pessoa com deficiecircncia como uma pessoa com algum tipo de inadequaccedilatildeo
para a sociedade o modelo social por sua vez inverte o argumento e contextualiza a
deficiecircncia na incapacidade da sociedade para incluir todas as pessoas gerindo de forma
inclusiva a sua diversidade Em geral as definiccedilotildees baseadas no modelo meacutedico exigem um
grande afastamento dos padrotildees de normalidade para considerar uma pessoa como tendo
deficiecircncia Os criteacuterios utilizados para definir a deficiecircncia geralmente tecircm como referecircncia a
perda completa de certos oacutergatildeos ou funccedilotildees A identificaccedilatildeo da deficiecircncia eacute feita levando-se
em conta caracteriacutesticas isoladas destes oacutergatildeos e funccedilotildees e comparando-as com limites
estabelecidos para cada uma delas Neste quadro de inteligibilidade existem criteacuterios que
estabelecem para oacutergatildeo ou funccedilatildeo comprometida os limites da deficiecircncia como por
exemplo patamares miacutenimos de acuidade visual capacidade auditiva etc que podem ser
avaliados isoladamente uns dos outros bem como separados das necessidades impostas
pelas caracteriacutesticas sociais de cada pessoa
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 8
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
A combinaccedilatildeo da existecircncia de uma condiccedilatildeo de sauacutede bem abaixo de um padratildeo abstracto de
normalidade e a persistecircncia dessa condiccedilatildeo no tempo permite ao modelo meacutedico diferenciar
doenccedila de deficiecircncia Muitas das doenccedilas satildeo entendidas como situaccedilotildees temporaacuterias
Assim embora tenham uma condiccedilatildeo de sauacutede inferior agrave determinada por algum criteacuterio de
normalidade as pessoas doentes podem natildeo ser consideradas pessoas com deficiecircncias
dentro do modelo meacutedico porque a sua reduccedilatildeo de capacidades eacute apenas temporaacuteria e natildeo
permite definir um estado consistente ao longo do tempo O caminho inverso tambeacutem eacute trilhado
para separar deficiecircncia de doenccedila poreacutem com um argumento um pouco mais sofisticado
(Diniz 1996) Se a deficiecircncia eacute uma situaccedilatildeo irreversiacutevel eacute perfeitamente possiacutevel redefinir o
conceito de normalidade de modo a ajustaacute-lo agrave condiccedilatildeo permanente das pessoas A cegueira
por exemplo passa a ser a condiccedilatildeo normal de uma pessoa cega e portanto natildeo faz sentido
classificaacute-la como doente Neste esquema uma pessoa que natildeo pode ver porque estaacute com
uma inflamaccedilatildeo ocular grave eacute uma pessoa doente e uma pessoa permanentemente cega eacute
uma pessoa deficiente Como o reconhecimento da ldquosociedade deficienterdquo eacute tatildeo ou mais
importante para o debate sobre poliacuteticas puacuteblicas e deficiecircncia do que a identificaccedilatildeo da
ldquopessoa deficienterdquo as preocupaccedilotildees com a identidade do modelo social satildeo bem distintas
daquelas do modelo meacutedico Abberley (1987) por exemplo natildeo insiste na distinccedilatildeo entre
deficiecircncia e doenccedila e praticamente ignora a regra de persistecircncia da lesatildeo no tempo para
identificar as pessoas com deficiecircncias criteacuterio tatildeo caro aos legisladores de poliacuteticas sociais
nos anos 1980 que o utilizaram sistematicamente em contagens de populaccedilatildeo de vaacuterios
paiacuteses do mundo A loacutegica do modelo social natildeo reconhece esta distinccedilatildeo principalmente
porque entende que os ajustes requeridos da sociedade para que ela contemple a diversidade
da deficiecircncia satildeo independentes de quanto tempo uma condiccedilatildeo corporal se iraacute manter Afinal
se uma pessoa que usa cadeira de rodas enquanto recupera de fracturas nas pernas
necessita dos mesmos ajustes no sistema de transporte que uma pessoa permanentemente
incapacitada de caminhar porquecirc separaacute-las em grupos diferentes Ao natildeo reconhecer que os
doentes tambeacutem experimentam a deficiecircncia o modelo meacutedico exclui da atenccedilatildeo das poliacuteticas
puacuteblicas uma grande parcela da populaccedilatildeo que necessita delas problema que pode afectar
uma parte razoaacutevel da populaccedilatildeo idosa Natildeo usar da mesma maneira a distinccedilatildeo entre doenccedila
e deficiecircncia eacute um recurso do modelo social para evitar este tipo de exclusatildeo A consequecircncia
oacutebvia da definiccedilatildeo do modelo social eacute de que a pesquisa e as poliacuteticas puacuteblicas direccionadas agrave
deficiecircncia natildeo poderiam concentrar-se apenas nos aspectos corporais dos indiviacuteduos para
identificar a deficiecircncia Aleacutem disso ao separar a deficiecircncia da lesatildeo o modelo social abre
espaccedilo para mostrar que a despeito da diversidade das lesotildees haacute um factor que une as
diferentes comunidades de pessoas com deficiecircncias em torno de um projecto poliacutetico uacutenico a
experiecircncia da exclusatildeo Segundo Oliver ldquoTodos os deficientes experimentam a deficiecircncia
como uma restriccedilatildeo social natildeo importando se estas restriccedilotildees ocorrem em consequecircncia de
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 9
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
ambientes inacessiacuteveis de noccedilotildees questionaacuteveis de inteligecircncia e competecircncia social se da
inabilidade da populaccedilatildeo em geral de utilizar a linguagem de sinais se pela falta de material
em Braille ou se pelas atitudes puacuteblicas hostis das pessoas que natildeo tecircm lesotildees visiacuteveisrdquo
(1990xiv)
Em meados da deacutecada de 1990 os movimentos feministas lanccedilaram um argumento com
profundas implicaccedilotildees para as poliacuteticas puacuteblicas a experiecircncia da deficiecircncia no acircmbito
familiar apresenta implicaccedilotildees ao niacutevel do geacutenero Ao mostrar que a deficiecircncia eacute
acompanhada de reorganizaccedilotildees familiares voltadas para o cuidado da pessoa com
deficiecircncia os movimentos feministas colocaram em evidecircncia que natildeo satildeo apenas as
pessoas com algum tipo de restriccedilatildeo corporal que necessitam da atenccedilatildeo das poliacuteticas
puacuteblicas Atendendo a que as cuidadoras satildeo predominantemente mulheres devido agrave divisatildeo
sexual do trabalho a deficiecircncia quando entendida como um fenoacutemeno com implicaccedilotildees
familiares possui um enviesamento de geacutenero Satildeo as mulheres por exemplo que se afastam
do mercado de trabalho para cuidar das pessoas com deficiecircncias de crianccedilas pequenas ou
idosos Nos casos dos homens idosos este recorte inclui uma sobreposiccedilatildeo de geacutenero agrave idade
pois dado o padratildeo tiacutepico de arranjo familiar satildeo mulheres idosas que cuidam desses homens
Este afastamento tem uma seacuterie de implicaccedilotildees para as mulheres como a ausecircncia de
serviccedilos de suporte e de apoio para as mulheres em idade economicamente activa e tal facto
natildeo pode passar esquecido pelas poliacuteticas puacuteblicas (Barton amp Oliver 1997)
No final da deacutecada de 1990 alguns argumentos do modelo social da deficiecircncia foram objecto
de revisatildeo O lema ldquoOs limites satildeo sociais natildeo do indiviacuteduordquo usado como bandeira para
reivindicar condiccedilotildees para que as pessoas com deficiecircncias fossem independentes passa a ser
relativizado Uma longa tradiccedilatildeo da filosofia feminista critica o valor da independecircncia absoluta
mostrando que a interdependecircncia por meio do cuidado com os dependentes eacute um elemento
constituinte da vida em sociedade e em muitos casos de deficiecircncia natildeo pode ser evitada As
poliacuteticas puacuteblicas portanto natildeo devem procurar apenas promover a independecircncia das
pessoas com deficiecircncias mas criar condiccedilotildees favoraacuteveis para que o cuidar seja exercido
13 DESAFIOS EMERGENTES NO PLANO CONCEPTUAL COM IMPLICACcedilOtildeES NO DOMIacuteNIO DAS
INTERVENCcedilOtildeES
Historicamente as diferentes perspectivas de intervenccedilatildeo no campo da reabilitaccedilatildeo tecircm-se
centrado predominantemente nos pressupostos conceptuais do modelo meacutedico sendo que
mais recentemente tem-se vindo a assistir a uma focalizaccedilatildeo progressiva nos pressupostos
conceptuais do modelo social
Neste contexto histoacuterico as interpretaccedilotildees sociais da deficiecircncia encontram-se em processo de
transiccedilatildeo Este aspecto aparece claramente reflectido nos documentos oficiais em relaccedilatildeo agraves
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 10
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
definiccedilotildees de deficiecircncia e de reabilitaccedilatildeo Apesar dos factores econoacutemicos e demograacuteficos se
afigurarem de uma importacircncia crescente parece evidente que o motor que subjaz a este
fenoacutemeno se alicerccedila na politizaccedilatildeo sem precedentes da deficiecircncia liderada pela sociedade
civil bem como a exigecircncia crescente de igualdade de oportunidades para as pessoas com
deficiecircncias A evoluccedilatildeo conceptual da interpretaccedilatildeo sociopoliacutetica do conceito tem produzido
avanccedilos ao niacutevel das praacuteticas e das intervenccedilotildees ainda que com diferentes ritmos de
aplicaccedilatildeo e com necessidades evidentes de um maior niacutevel de sistematizaccedilatildeo e estruturaccedilatildeo
na globalidade do sector
Consequentemente alguns dos elementos das praacuteticas de reabilitaccedilatildeo mantecircm-se focalizados
em abordagens centradas no indiviacuteduo Apesar da relevacircncia das intervenccedilotildees e das
terapecircuticas meacutedicas ainda que absolutamente necessaacuterias nos paiacuteses mais pobres estas
apenas produzem um impacte parcial no contexto de um ambiente cultural organizado
privilegiadamente para um modo de vida onde natildeo existem pessoas com deficiecircncias Deste
modo o domiacutenio de sauacutede puacuteblica bem como os problemas experimentados pelas pessoas
com deficiecircncias constituem-se como assuntos de natureza poliacutetica que apenas poderatildeo ser
equacionados na sua resoluccedilatildeo atraveacutes de uma profunda mudanccedila estrutural e cultural
envolvendo a redistribuiccedilatildeo sistemaacutetica de recursos e o desenvolvimento de uma cultura que
valoriza a diversidade humana
Neste cenaacuterio afigura-se relevante equacionar um conjunto de desafios fundamentais para
enquadrar a iniciativa poliacutetica na implementaccedilatildeo dos princiacutepios do modelo social
Coerecircncia dos conceitos utilizados
Parece subsistir uma elevada diversidade de conceitos associados ao domiacutenio da deficiecircncia
na organizaccedilatildeo social A tiacutetulo de exemplo pode-se citar a nomenclatura de ldquodeficientesrdquo ou
ldquopessoas portadoras de deficiecircnciardquo no acesso prioritaacuterio a determinados tipos de serviccedilos
puacuteblicos ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ao niacutevel de programas de intervenccedilatildeo social e
designaccedilotildees ao niacutevel dos instrumentos de poliacutetica que remetem para concepccedilotildees radicalmente
diferentes entre si tal como eacute o caso da ldquopensatildeo de invalidezrdquo ou da ldquotabela nacional de
incapacidadesrdquo Esta pluralidade de conceitos sem qualquer coerecircncia conceptual entre si
parece espelhar o resultado de diferentes velocidades de evoluccedilatildeo em diferentes domiacutenios da
poliacutetica social ocorrida em diferentes momentos socio-histoacutericos Aliaacutes tal facto emerge de
forma mais ou menos incisiva na maioria dos paiacuteses europeus A investigaccedilatildeo neste sector tem
permitido colocar em evidecircncia que diferentes definiccedilotildees de deficiecircncia satildeo relevantes para
diferentes poliacuteticas e que as tentativas de usar a mesma definiccedilatildeo ao longo de uma vasta
diversidade de poliacuteticas pode resultar na utilizaccedilatildeo de definiccedilotildees de reduzido poder
diferenciador o que significa que as poliacuteticas podem correr o risco de natildeo chegar ao seu
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 11
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
puacuteblico-alvo A necessidade de usar uma pluralidade de definiccedilotildees de forma a assegurar a
relevacircncia da definiccedilatildeo para o seu domiacutenio de aplicabilidade levanta um problema de
coerecircncia no quadro poliacutetico relativo agraves pessoas com deficiecircncias Neste cenaacuterio as pessoas
podem ser consideradas como tendo deficiecircncias no quadro de uma determinada poliacutetica e
como natildeo tendo no quadro de uma poliacutetica diferente sendo que por vezes se encontram
lacunas no fornecimento de serviccedilos como resultado imediato desta opccedilatildeo De uma forma
geral os diferentes Estados resolvem estes problemas requerendo agraves instituiccedilotildees das poliacuteticas
sociais a coordenaccedilatildeo das actividades em detrimento do estabelecimento de definiccedilotildees
uacutenicas
Diferentes abordagens entre diferentes aacutereas de poliacutetica social
A evoluccedilatildeo histoacuterica e a apropriaccedilatildeo de diferentes conceitos por parte de diferentes sectores
da poliacutetica social encerram o risco de serem adoptados modelos operativos e intervenccedilotildees com
caracteriacutesticas significativamente diferentes Neste sentido podem-se observar sectores que
privilegiam o mainstreaming e o desenvolvimento das intervenccedilotildees baseadas na comunidade
e noutros sectores verificarem-se intervenccedilotildees mais centradas no indiviacuteduo mobilizando
criteacuterios quase exclusivamente meacutedicos Esta diferenccedila de abordagens pode potencialmente
acarretar desarticulaccedilotildees e incoerecircncias ao niacutevel dos princiacutepios gerais da poliacutetica social
reflectindo-se numa resposta fragmentada e parcelar agraves necessidades das pessoas Neste
contexto afigura-se relevante a definiccedilatildeo clara sistemaacutetica e estruturada dos princiacutepios
transversais subjacentes agrave globalidade das poliacuteticas para num segundo momento se proceder
agrave definiccedilatildeo dos seus elementos especiacuteficos
Classificaccedilatildeo da deficiecircncia e metodologias de avaliaccedilatildeo
Enquanto que no quadro do modelo meacutedico importava associar as diferentes deficiecircncias a
diferentes niacuteveis de incapacidade mobilizando criteacuterios de natureza exclusivamente meacutedica a
progressiva implementaccedilatildeo do modelo social na maior parte dos paiacuteses da Europa tem
colocado desafios sobre qual a categorizaccedilatildeo que melhor reflecte as dificuldades de
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades ao niacutevel dos seus ambientes de
vida A OMS perante esta encruzilhada de classificaccedilotildees propocircs a Classificaccedilatildeo Internacional
de Funcionalidade Incapacidade e Sauacutede (CIF) como modelo operativo de caracterizaccedilatildeo da
funcionalidade do indiviacuteduo colocando em evidecircncia para efeitos de elegibilidade dos
programas as limitaccedilotildees de actividade e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo das pessoas Ou seja
enquanto nalguns modelos se continuam a avaliar as deficiecircncias do indiviacuteduo a CIF vem
enfatizar em coerecircncia com o modelo social que o mais relevante natildeo eacute avaliar as alteraccedilotildees
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 12
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
ao niacutevel das estruturas ou das funccedilotildees dos indiviacuteduos ndash ainda que natildeo as negligencie ndash mas
sim as limitaccedilotildees de actividades e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo que o sujeito experiencia no
decorrer da desadequaccedilatildeo entre as suas diferenccedilas e as caracteriacutesticas dos ambientes sociais
em que se move Atente-se que esta opccedilatildeo conceptual natildeo eacute neutra do ponto de vista
pragmaacutetico dado que os objectivos das intervenccedilotildees passam a ser a remoccedilatildeo das barreiras e
dos obstaacuteculos que ocorrem no quadro da relaccedilatildeo do sujeito com os seus contextos de vida
em detrimento de intervenccedilotildees polarizadas exclusivamente na dimensatildeo individual ou
exclusivamente na dimensatildeo social
No desenvolvimento das poliacuteticas sociais a investigaccedilatildeo tem permitido colocar em evidecircncia a
necessidade de identificar definir e sistematizar os princiacutepios norteadores que tenderatildeo a ser
transversais a todos os sectores de poliacutetica social sendo que apenas deste modo se poderaacute
assegurar a coerecircncia entre as diferentes poliacuteticas dos diferentes sectores Neste sentido
torna-se relevante um processo de clarificaccedilatildeo sobre qual o modelo conceptual em que a
estrateacutegia poliacutetica se baseou de forma a que o conjunto de objectivos estrateacutegias processos
de intervenccedilatildeo definiccedilatildeo de resultados alocaccedilatildeo de recursos e indicadores de avaliaccedilatildeo
estejam devidamente articulados e em consonacircncia com os princiacutepios adoptados
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 13
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
2 CONCEITOS E TERMINOLOGIA
A anaacutelise conceptual no domiacutenio da deficiecircncia permite colocar em evidecircncia a existecircncia de
um conjunto de imprecisotildees ao niacutevel dos conceitos com variaccedilotildees relacionadas com o modelo
meacutedico e com o modelo social Neste contexto afigura-se criacutetico clarificar os contornos teoacutericos
e os modelos conceptuais subjacentes aos diferentes conceitos utilizados estabelecendo uma
base teoacuterica de referecircncia que assegure o necessaacuterio grau de coerecircncia e simultaneamente
abrangecircncia
21 EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA DOS SISTEMAS DE CLASSIFICACcedilAtildeO
Para uma clara delimitaccedilatildeo dos modelos teoacutericos que tecircm influenciado historicamente o
desenvolvimento dos conceitos no domiacutenio da deficiecircncia poderemos identificar 2 abordagens
conceptuais distintas
211 A ABORDAGEM TRADICIONAL INDIVIDUALISTA
A preocupaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede em estabelecer uma classificaccedilatildeo das doenccedilas
remonta ao seacuteculo XVIII Mas somente na VI Revisatildeo da Classificaccedilatildeo Internacional de
Doenccedilas (CID-6) em 1948 citada na IX Revisatildeo foram feitas referecircncias a doenccedilas que
poderiam tornar-se croacutenicas exigindo outros serviccedilos aleacutem de cuidados meacutedicos
Ateacute a deacutecada de 70 a CID-8 citada na IX Revisatildeo considerava apenas as manifestaccedilotildees
agudas segundo o modelo meacutedico etiologia rArr patologia rArr manifestaccedilatildeo
Esse modelo mostrou-se limitado para descrever as consequecircncias das doenccedilas pois excluiacutea
as perturbaccedilotildees croacutenicas evolutivas e irreversiacuteveis
Na IX Assembleia da OMS em 1976 surgiu uma nova conceptualizaccedilatildeo a International
Classification of Impairments Disabilities and Handicaps a manual of classification relating to
the consequences of disease (ICIDH) sendo sua traduccedilatildeo a Classificaccedilatildeo Internacional de
Deficiecircncias Incapacidades e Desvantagens um manual de classificaccedilatildeo das consequecircncias
das doenccedilas (CIDID) publicada em 1989
Apesar da abordagem meacutedica individualista ter dominado a cultura ocidental desde pelo
menos o seacuteculo XIX (Oliver 1990 Gleeson 1999) esta encontra-se geralmente associada agrave
Classificaccedilatildeo Internacional da Deficiecircncia Incapacidades e Desvantagens (ICIDH) da OMS
(1980) Em resposta agraves necessidades crescentes ao niacutevel internacional de clarificaccedilatildeo do
sentido do conceito de incapacidade e atendendo agraves criticas progressivas das pessoas com
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Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
incapacidades e seus significativos baseadas no facto de que a incapacidade envolve mais do
que um conjunto de preocupaccedilotildees estritamente meacutedicas a OMS constituiu uma comissatildeo de
cientistas sociais para desenvolver a existente Classificaccedilatildeo Internacional de Doenccedilas em
ordem a conseguir abranger as consequecircncias a longo termo das doenccedilas croacutenicas A ICIDH
foi publicada em 1980 sendo largamente reconhecida como o directoacuterio mais abrangente
existente vindo a ser extensivamente utilizada como uma base para as iniciativas
governamentais dos paiacuteses desenvolvidos da Europa e Ameacuterica do Norte e os paiacuteses
subdesenvolvidos do Sul (Ustun et al 2001)
A ICIDH utiliza uma categorizaratildeo tripartida da deficiecircncia incapacidade e desvantagem A
deficiecircncia refere-se a qualquer perda ou irregularidade da estrutura ou das funccedilotildees
anatoacutemica fisioloacutegica ou psicoloacutegica A incapacidade refere-se a qualquer restriccedilatildeo ou perda
(resultante de uma deficiecircncia) da capacidade para executar uma actividade da forma e dentro
do contexto considerado normal para o ser humano A desvantagem refere-se agrave limitaccedilatildeo
resultante de uma deficiecircncia ou incapacidade no desempenho de um dado papel considerado
normativo (dependendo da idade geacutenero e factores sociais e culturais) para aquele indiviacuteduo
(OMS 1980 p 29)
Esta tipologia baseia-se nas noccedilotildees de normalidade fiacutesica e intelectual bem como no facto de
que a incapacidade e a desvantagem satildeo causadas por deficiecircncias ou irregularidades
psicoloacutegicas ou fisioloacutegicas Neste contexto a ICIDH pode ser objecto de criacuteticas a diferentes
niacuteveis Primeiro as percepccedilotildees de deficiecircncia e normalidade satildeo fenoacutemenos sociais pelo que
satildeo sujeitas a substantivas mudanccedilas temporais culturais e situacionais (Hanks and Hanks
1948 Scheer and Groce 1988 Coleridge 1993 Ingstad and Whyte 1995) A dislexia por
exemplo natildeo seria vista como um problema significativo numa sociedade predominantemente
agraacuteria No entanto eacute considerada uma dificuldade de aprendizagem nas sociedades
modernas tecnologicamente avanccediladas nas quais a literacia e a numeracia desempenham
requisitos criacuteticos para a participaccedilatildeo social e econoacutemica Segundo encontra-se impliacutecito na
ICIDH que o organismo humano eacute flexiacutevel e adaptaacutevel enquanto os ambientes fiacutesicos e sociais
o natildeo satildeo Este facto claramente conflitua com a realidade histoacuterica na qual os indiviacuteduos
transformaram continuamente o seu ambiente em funccedilatildeo das suas necessidades (Barnes
1991) Terceiro as definiccedilotildees da ICIDH sugerem que a deficiecircncia a incapacidade e a
desvantagem constituem-se como estados estaacuteticos Para aleacutem do facto desta noccedilatildeo afigurar-
se incorrecta parece criar distinccedilotildees e barreiras entre as pessoas com e sem deficiecircncias
distinccedilotildees que natildeo satildeo necessaacuterias nem deveriam existir Uma tal situaccedilatildeo parece ser
paradoxal atendendo a que a ICIDH possui uma classificaccedilatildeo para cada caracteriacutestica do
organismo fiacutesico e humano (Shakespeare 1994 104)
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Finalmente e mais significativo neste contexto a ICIDH apresenta as deficiecircncias enquanto
causa primaacuteria da incapacidade e da desvantagem Neste contexto a reabilitaccedilatildeo constitui-se
como uma filosofia e uma praacutetica para erradicar ou minimizar os problemas da deficiecircncia e
capacitar aqueles com deficiecircncias designadas para funcionarem nos seus niacuteveis fiacutesico
psicoloacutegico e social mais elevados (Albrecht 1992 23) Por outras palavras as pessoas com
incapacidades tornam-se objectos para serem curados tratados treinados mudados e
tornados normais de acordo com um conjunto particular de valores As limitaccedilotildees de tais
intervenccedilotildees encontram-se sustentadamente documentadas pelos activistas como
incapacidades desde 1960 (Hunt 1966 Sutherland 1981 Zola 1982)
212 A ABORDAGEM LIBERAL OU INTER-RELACIONAL
A abordagem liberal ou inter-relacional encontra-se expressa no uacuteltimo corpo de trabalhos da
OMS para redefinir a incapacidade nomeadamente a Classificaccedilatildeo Internacional de
Funcionalidade Incapacidade e Sauacutede (CIF) conhecida previamente como ICIDH2 (OMS
2002)
Esta redefiniccedilatildeo constituiu uma tentativa concertada para integrar o modelo meacutedico
individualista tradicional e a interpretaccedilatildeo sociopoliacutetica Por um lado como resultado da sua
rejeiccedilatildeo por parte das pessoas com incapacidades organizaccedilotildees e parceiros dentro e fora da
comunidade cientiacutefica (Driedger 1989 Oliver 1990 Barnes et al 2002) e por outro lado
porque apesar da sua vasta utilizaccedilatildeo a sua aplicabilidade tem sido caracterizada por diversas
interpretaccedilotildees (Coleridge 1993 Ingstad 2001) Em siacutentese demonstrou-se como limitada para
muitos dos actores e natildeo forneceu a delimitaccedilatildeo de significado que originalmente pretendia
Em comum com a sua predecessora a CIF manteacutem o constructo tripartido O primeiro niacutevel
deficiecircncia no original relaciona-se com as funccedilotildees e estrutura do organismo O segundo
niacutevel o que era anteriormente incapacidade eacute agora referido como actividade e o terceiro
desvantagem aparece como participaccedilatildeo No entanto e apesar do intenso debate sobre o
significado de incapacidade o conceito eacute preservado como um termo global para os trecircs niacuteveis
de dificuldade de funcionamento Neste cenaacuterio e em contraste com a ICIDH a nova
formulaccedilatildeo eacute apresentada como uma classificaccedilatildeo universal do funcionamento humano As
pessoas ligadas a acccedilotildees de advocacy defendem que esta configuraccedilatildeo oferece um quadro de
inteligibilidade completo para os aspectos funcionais da experiecircncia de sauacutede Nesta
perspectiva a incapacidade permanece uma preocupaccedilatildeo privilegiadamente do domiacutenio da
sauacutede em detrimento do domiacutenio poliacutetico Constitui-se por um lado como um resultado das
caracteriacutesticas da pessoa e por outro dos ambientes fiacutesicos e sociais Deste modo mais do
que se constituir como uma classificaccedilatildeo das pessoas com incapacidades ou dos problemas
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 16
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
que experienciam a CIF afigura-se como uma classificaccedilatildeo do funcionamento a 3 niacuteveis
compreendida em termos neutros (Ustun et al 2001 6-7)
O reconhecimento da importacircncia dos ambientes fiacutesico e social na CIF poderaacute ser equacionado
como uma melhoria significativa em relaccedilatildeo agrave sua predecessora (Hurst 2000) No entanto
parece-nos altamente improvaacutevel que seja mais eficaz do que a anterior classificaccedilatildeo a gerar
uma linguagem universal sobre a incapacidade na medida em que transformar as diferenccedilas
culturais na conceptualizaccedilatildeo das deficiecircncias assume-se como tarefa extremamente
complexa de alcanccedilar (Bury 2000 Miles 2001) Este facto eacute especialmente significativo na
medida em que natildeo obstante a CIF reconhecer o contexto cultural das percepccedilotildees de
incapacidade e por consequecircncia a normalidade o actual sistema de classificaccedilatildeo
permanece fortemente alicerccedilado nas formulaccedilotildees e nos conceitos cientiacuteficos ocidentais
(Finkelstein 1998 Pfeiffer 2000 Baylies 2002)
Adicionalmente apesar da CIF explicitar que os indiviacuteduos satildeo um elemento da anaacutelise da
incapacidade a abordagem biopsicossocial natildeo se encontra muito distanciada do modelo
anterior na medida em que privilegia o indiviacuteduo como ponto de partida para anaacutelise das
funccedilotildees do corpo e actividades O conceito de participaccedilatildeo eacute incluiacutedo mas subdesenvolvido no
esquema conceptual e continua associado agraves circunstacircncias individuais em vez de fortemente
ligado agrave inclusatildeo poliacutetica e social Adicionalmente enquanto a significacircncia do contexto eacute
enfatizada na CIF as estrateacutegias para a sua mensuraccedilatildeo afiguram-se limitadas Os seus
utilizadores satildeo encorajados a classificar os factores ambientais mas natildeo existem ferramentas
eficazes para levar a cabo esta tarefa bem como para avaliar as tendecircncias de incapacidade
ou por outro lado das poliacuteticas governamentais praacuteticas ambientes fiacutesicos e contextos
culturais (Baylies 2002)
Esta aparente descentraccedilatildeo das preocupaccedilotildees poliacuteticas tem caracterizado a maioria da ciecircncia
social mainstream desde o seacuteculo XIX Deste modo a definiccedilatildeo inter-relacional de
incapacidade e a consequente despolitizaccedilatildeo das questotildees associadas reflectiu-se nos
estudos e na literatura produzida nesta aacuterea por acadeacutemicos e investigadores durante a uacuteltima
metade do seacuteculo XX
Mais recentemente reemergiram na Inglaterra um conjunto de respostas poacutes-modernas ao
modelo social da incapacidade Este cenaacuterio tem favorecido o aparecimento de asserccedilotildees de
que tais fenoacutemenos soacute tecircm servido para agudizar e natildeo diminuir a conflituosidade a propoacutesito
da inclusatildeo (Hunt 1981 Germon 1998 Linton 1998 Gordon and Rosenblum 2001)
No quadro da reabilitaccedilatildeo a abordagem inter-relacional eacute sinoacutenima da liberalizaccedilatildeo da poliacutetica
social para as pessoas com incapacidades nos finais dos anos sessenta e setenta em
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 17
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
particular a mudanccedila dos serviccedilos centrados institucionalmente para os serviccedilos e apoios
centrados na comunidade Deste modo a ecircnfase eacute colocada na integraccedilatildeo de pessoas com
incapacidades na sociedade mainstream Os Standards da Equalizaccedilatildeo das Pessoas com
Incapacidades (1993) da ONU explicitam que todos os estados devem providenciar serviccedilos de
reabilitaccedilatildeo Mas esta orientaccedilatildeo recomenda que se vaacute aleacutem do cuidado meacutedico inicial para
incluir uma ampla gama de medidas e actividades desde a reabilitaccedilatildeo baacutesica e generalista
para actividades orientadas por objectivos (UN 199311) Ainda mais significativo todos os
serviccedilos de reabilitaccedilatildeo deveratildeo estar disponiacuteveis nas comunidades locais nas quais as
pessoas com incapacidades se movem No entanto em determinadas circunstacircncias e para
que se reforcem os objectivos de formaccedilatildeo e aprendizagem poderatildeo ser organizados cursos
localizados nas organizaccedilotildees prestadoras de serviccedilos com um quadro temporal o mais
reduzido possiacutevel (UN 1993 19)
Adicionalmente apesar dos Standards enfatizarem a importacircncia do envolvimento das pessoas
com incapacidades e dos seus significativos no desenvolvimento dos programas de
reabilitaccedilatildeo parece natildeo existir uma asserccedilatildeo clara de que tais estrateacutegias devam ser
controladas por ou mensuradas para estes uacuteltimos Existe no entanto uma assunccedilatildeo taacutecita de
que tais serviccedilos seratildeo liderados por profissionais
Adicionalmente desde que a incapacidade na CIF foi apresentada como uma questatildeo de
sauacutede em detrimento de uma questatildeo poliacutetica parece inevitaacutevel que os profissionais no
domiacutenio da reabilitaccedilatildeo continuem a ser dominados ou laquoalienadosraquo pela Medicina (Finkelstein
1998) Este facto poderaacute ficar a dever-se primeiro agrave actual e persistente subjugaccedilatildeo dos
governos nacionais aos interesses corporativos e das organizaccedilotildees econoacutemicas e segundo agrave
diversidade de barreiras econoacutemicas poliacuteticas e culturais experienciadas pelas pessoas com
incapacidades quer nos paiacuteses desenvolvidos quer nos subdesenvolvidos Neste tipo de
cenaacuterio o pensamento ortodoxo sobre a reabilitaccedilatildeo contratualiza um expediente praacutetico para
os poliacuteticos legisladores e organizaccedilotildees profissionais Como resultado os teacutecnicos tecircm
invariavelmente um niacutevel de escolha reduzido na opccedilatildeo pelo modelo meacutedico em detrimento
de soluccedilotildees poliacuteticas colectivas na resposta aos problemas da exclusatildeo
Esta perspectiva parece afigurar-se a oposta da necessaacuteria De facto apoacutes o trabalho de
Talcott Parsons (1951) emergiu uma extensa literatura condenando a laquomedicalizaccedilatildeoraquo do
quotidiano de um conjunto diverso de perspectivas Por exemplo o filoacutesofo austriacuteaco Ivan Illich
nomeou o seacuteculo XX como a era dos profissionais incapacitantes (1977 11) pela sua
apropriaccedilatildeo do conhecimento mistificaccedilatildeo das competecircncias especializadas e a criaccedilatildeo de
uma cultura perversa e persuasiva de dependecircncia Apesar de tais criticas encontrarem a sua
aplicabilidade predominantemente nas naccedilotildees subdesenvolvidas do Ocidente surgiram
trabalhos recentes que sugerem que apesar de existir uma diminuiccedilatildeo significativa dos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 18
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
conhecimentos meacutedicos e de tratamentos com reduzidos niacuteveis de recursos nas naccedilotildees
subdesenvolvidas criacuteticas similares podem ser relevantes para o contexto no qual nos
situamos (Stone 1999 Ingstad 2001 OMS 2001)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 19
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
3 OBJECTIVOS OPERACIONAIS
Pretende-se desenvolver uma anaacutelise longitudinal e multissectorial ao conceito de deficiecircncia
no sentido de estabelecer uma configuraccedilatildeo operacional no quadro da sua aplicabilidade
estatiacutestica Esta anaacutelise insere-se no acircmbito do Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das
Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo
Objectivo Operacionalizar o conceito de deficiecircncia no quadro da sua aplicabilidade
estatiacutestica assegurando os criteacuterios de (a) comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica
e legislativa dentro do contexto portuguecircs (c) conformidade com os referenciais conceptuais
actuais
Metodologia a) Anaacutelise dos referenciais nacionais e internacionais de delimitaccedilatildeo operacional
do conceito b) exploraccedilatildeo de cenaacuterios que viabilizem o cumprimento dos requisitos definidos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 20
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
4 ANAacuteLISE PRELIMINAR DA EVOLUCcedilAtildeO DA TERMINOLOGIA NO
DOMIacuteNIO 41 ESTADO DA ARTE
A evoluccedilatildeo dos conceitos operativos nos domiacutenios da reabilitaccedilatildeo e da inclusatildeo social tem
sido reflectida nas diversas classificaccedilotildees propostas pela OMS Neste quadro evolutivo a
uacuteltima classificaccedilatildeo proposta ndash CIF ndash constitui-se como um modelo de siacutentese entre a
abordagem meacutedica e a abordagem social no domiacutenio da incapacidade e da sauacutede No sentido
de procedermos agrave anaacutelise dos principiais conceitos e termos focalizar-nos-emos na
reestruturaccedilatildeo conceptual proposta pela Classificaccedilatildeo Internacional de Funcionalidade
Incapacidade e Sauacutede (CIF)
O objectivo geral da CIF eacute proporcionar uma linguagem unificada e padronizada assim como
uma estrutura de trabalho para a descriccedilatildeo da sauacutede e de estados relacionados com a sauacutede
A classificaccedilatildeo define os componentes da sauacutede e alguns componentes do bem-estar
relacionados com a sauacutede (tais como educaccedilatildeo e trabalho) Os domiacutenios contidos na CIF
podem portanto ser considerados como domiacutenios da sauacutede e domiacutenios relacionados com a
sauacutede Estes domiacutenios satildeo descritos com base na perspectiva do corpo do indiviacuteduo e da
sociedade em duas listas baacutesicas (1) Funccedilotildees e Estruturas do Corpo e (2) Actividades e
Participaccedilatildeo Como classificaccedilatildeo a CIF agrupa sistematicamente diferentes domiacutenios de uma
pessoa com uma determinada condiccedilatildeo de sauacutede (eg o que uma pessoa com uma doenccedila
ou perturbaccedilatildeo faz ou pode fazer) A funcionalidade eacute um termo que engloba todas as funccedilotildees
do corpo actividades e participaccedilatildeo de maneira similar a incapacidade eacute um termo que inclui
deficiecircncias limitaccedilatildeo da actividade ou restriccedilatildeo na participaccedilatildeo A CIF tambeacutem relaciona os
factores ambientais que interagem com todos estes constructos Neste sentido a classificaccedilatildeo
permite ao utilizador registar perfis uacuteteis da funcionalidade incapacidade e sauacutede dos
indiviacuteduos em vaacuterios domiacutenios
A CIF pertence agrave ldquofamiacuteliardquo das classificaccedilotildees internacionais desenvolvida pela OMS para
aplicaccedilatildeo em vaacuterios aspectos da sauacutede A famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS
proporciona um sistema para a codificaccedilatildeo de uma ampla gama de informaccedilotildees sobre sauacutede
(eg diagnoacutestico funcionalidade e incapacidade motivos de contacto com os serviccedilos de
sauacutede) e utiliza uma linguagem comum padronizada que permite a comunicaccedilatildeo sobre sauacutede e
cuidados de sauacutede em todo o mundo entre vaacuterias disciplinas e ciecircncias
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Nas classificaccedilotildees internacionais da OMS os estados de sauacutede (doenccedilas perturbaccedilotildees
lesotildees etc) satildeo classificados principalmente na CID-10 (abreviatura da Classificaccedilatildeo
Internacional de Doenccedilas Deacutecima Revisatildeo) que fornece uma estrutura de base etioloacutegica A
funcionalidade e a incapacidade associadas aos estados de sauacutede satildeo classificadas na CIF
Portanto a CID-10 e a CIF satildeo complementares e os utilizadores satildeo estimulados a usar em
conjunto esses dois membros da famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS A CID-10
proporciona um ldquodiagnoacutesticordquo de doenccedilas perturbaccedilotildees ou outras condiccedilotildees de sauacutede que eacute
complementado pelas informaccedilotildees adicionais fornecidas pela CIF sobre funcionalidade Em
conjunto as informaccedilotildees sobre o diagnoacutestico e sobre a funcionalidade datildeo uma imagem mais
ampla e mais significativa da sauacutede das pessoas ou da populaccedilatildeo que pode ser utilizada em
tomadas de decisatildeo
A famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS constitui uma ferramenta valiosa para a
descriccedilatildeo e a comparaccedilatildeo da sauacutede das populaccedilotildees num contexto internacional As
informaccedilotildees sobre a mortalidade (facultadas pela CID-10) e sobre as consequecircncias na sauacutede
(proporcionadas pela CIF) podem ser combinadas de forma a obter medidas sinteacuteticas da
sauacutede das populaccedilotildees Isto permite seguir a sauacutede das populaccedilotildees e a sua distribuiccedilatildeo bem
como avaliar a parte atribuiacuteda agraves diferentes causas
A CIF transformou-se de uma classificaccedilatildeo de ldquoconsequecircncias da doenccedilardquo (versatildeo de 1980)
numa classificaccedilatildeo de ldquocomponentes da sauacutederdquo Os ldquocomponentes da sauacutederdquo identificam o que
constitui a sauacutede enquanto que as consequecircncias se referem ao impacto das doenccedilas na
condiccedilatildeo de sauacutede da pessoa Deste modo a CIF assume uma posiccedilatildeo neutra em relaccedilatildeo agrave
etiologia de modo que os investigadores podem desenvolver inferecircncias causais utilizando
meacutetodos cientiacuteficos adequados De maneira similar esta abordagem tambeacutem eacute diferente de
uma abordagem do tipo determinantes da sauacutede ou ldquofactores de risco Para facilitar o estudo
dos determinantes ou dos factores de risco a CIF inclui uma lista de factores ambientais que
descrevem o contexto em que o indiviacuteduo vive
A CIF descreve a funcionalidade e a incapacidade relacionadas com as condiccedilotildees de sauacutede
identificando o que uma pessoa ldquopode ou natildeo pode fazer na sua vida diaacuteriardquo tendo em vista as
funccedilotildees dos oacutergatildeos ou sistemas e estruturas do corpo assim como as limitaccedilotildees de
actividades e da participaccedilatildeo social no meio ambiente onde a pessoa vive Segundo a OMS a
CID-10 e a CIF satildeo complementares a informaccedilatildeo sobre o diagnoacutestico acrescido da
funcionalidade fornece um quadro mais amplo sobre a sauacutede do indiviacuteduo ou populaccedilotildees Por
exemplo duas pessoas com a mesma doenccedila podem ter diferentes niacuteveis de funcionalidade e
duas pessoas com o mesmo niacutevel de funcionalidade natildeo tecircm necessariamente a mesma
condiccedilatildeo de sauacutede
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 22
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
O termo do modelo da CIF eacute a funcionalidade que cobre os componentes de funccedilotildees e
estruturas do corpo actividade e participaccedilatildeo social A funcionalidade eacute usada no aspecto
positivo e o aspecto negativo corresponde agrave incapacidade Segundo esse modelo a
incapacidade eacute resultante da interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada pelo indiviacuteduo (seja
orgacircnica e ou da estrutura do corpo) a limitaccedilatildeo de suas actividades e a restriccedilatildeo na
participaccedilatildeo social e os factores ambientais que podem actuar como facilitadores ou barreiras
para o desempenho dessas actividades e da participaccedilatildeo
A CIF eacute baseada portanto numa abordagem biopsicossocial que incorpora os componentes
de sauacutede nos niacuteveis corporais e sociais Assim na avaliaccedilatildeo de uma pessoa com deficiecircncias
e incapacidades esse modelo destaca-se do biomeacutedico baseado no diagnoacutestico etioloacutegico da
disfunccedilatildeo evoluindo para um modelo que incorpora as trecircs dimensotildees a biomeacutedica a
psicoloacutegica (dimensatildeo individual) e a social Nesse modelo cada niacutevel age sobre e sofre a
acccedilatildeo dos demais sendo todos influenciados pelos factores ambientais A OMS pretende
incorporar tambeacutem no futuro os factores pessoais importantes na forma de lidar com as
condiccedilotildees limitantes
O objectivo pragmaacutetico da CIF eacute fornecer uma linguagem padronizada e um modelo para a
descriccedilatildeo da sauacutede e dos estados relacionados com a sauacutede permitindo a comparaccedilatildeo de
dados referentes a essas condiccedilotildees entre paiacuteses serviccedilos sectores relativos agrave sauacutede bem
como o acompanhamento da sua evoluccedilatildeo no tempo
No entanto os conceitos apresentados na classificaccedilatildeo introduzem um novo paradigma para
pensar e trabalhar as deficiecircncias e incapacidades elas natildeo satildeo apenas uma consequecircncia
das condiccedilotildees de sauacutede doenccedila mas satildeo determinadas tambeacutem pelo contexto do meio
ambiente fiacutesico e social pelas diferentes percepccedilotildees culturais e atitudes em relaccedilatildeo agrave
deficiecircncias pela disponibilidade de serviccedilos e de legislaccedilatildeo Dessa forma a classificaccedilatildeo natildeo
constitui apenas um instrumento para medir o estado funcional dos indiviacuteduos Aleacutem disso ela
permite avaliar as condiccedilotildees de vida e fornecer subsiacutedios para poliacuteticas de inclusatildeo social
42 FUNCcedilOtildeES DO CORPO
As Funccedilotildees do corpo satildeo as funccedilotildees fisioloacutegicas dos sistemas orgacircnicos (incluindo as
funccedilotildees psicoloacutegicas)
As funccedilotildees e as estruturas do corpo satildeo classificadas em duas secccedilotildees diferentes Essas duas
classificaccedilotildees estatildeo concebidas de forma a serem utilizadas em paralelo Por exemplo as
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 23
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
funccedilotildees do corpo incluem sentidos humanos baacutesicos como as funccedilotildees da visatildeo e as
estruturas relacionadas aparecem na forma de ldquoolho e estruturas relacionadasrdquo
43 ESTRUTURAS DO CORPO
As Estruturas do Corpo satildeo as partes anatoacutemicas do corpo tais como oacutergatildeos membros e
seus componentes
ldquoCorpo refere-se ao organismo humano como um todo por isso o ceacuterebro e as suas funccedilotildees
ie a mente estatildeo incluiacutedos As funccedilotildees mentais (ou psicoloacutegicas) satildeo portanto incluiacutedas nas
funccedilotildees do corpo As funccedilotildees e as estruturas do corpo satildeo classificadas de acordo com os
sistemas orgacircnicos por isso as estruturas do corpo natildeo satildeo consideradas como oacutergatildeos no
seu sentido restrito
44 DEFICIEcircNCIA
Deficiecircncias satildeo problemas nas funccedilotildees ou na estrutura do corpo tais como um desvio
importante ou uma perda
As deficiecircncias de estrutura podem consistir numa anormalidade defeito perda ou outro desvio
importante relativamente a um padratildeo das estruturas do corpo As deficiecircncias foram definidas
de acordo com os conhecimentos bioloacutegicos actuais ao niacutevel de tecidos ou das ceacutelulas e ao
niacutevel subcelular ou molecular Por motivos praacuteticos no entanto esses niacuteveis natildeo estatildeo
classificados As bases bioloacutegicas das deficiecircncias orientaram essa classificaccedilatildeo e eacute possiacutevel
expandir a classificaccedilatildeo para incluir os niacuteveis celular ou molecular Do ponto de vista meacutedico
deve-se ter em mente que as deficiecircncias natildeo satildeo equivalentes agraves patologias subjacentes mas
sim a manifestaccedilotildees dessas patologias
As deficiecircncias correspondem a um desvio relativamente ao que eacute geralmente aceite como
estado biomeacutedico normal (padratildeo) do corpo e das suas funccedilotildees A definiccedilatildeo dos seus
componentes eacute feita essencialmente por pessoas com competecircncia para avaliar a
funcionalidade fiacutesica e mental de acordo com esses padrotildees
As deficiecircncias podem ser temporaacuterias ou permanentes progressivas regressivas ou estaacuteveis
intermitentes ou contiacutenuas O desvio em relaccedilatildeo ao modelo baseado na populaccedilatildeo e
geralmente aceite como normal pode ser leve ou grave e pode variar ao longo do tempo Estas
caracteriacutesticas satildeo consideradas posteriormente em descriccedilotildees adicionais principalmente nos
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
coacutedigos atraveacutes de um qualificador que se acrescenta ao coacutedigo e do qual fica separado por
um ponto
As deficiecircncias natildeo tecircm uma relaccedilatildeo causal com a etiologia ou com a forma como se
desenvolveram Por exemplo a perda da visatildeo ou de um membro pode resultar de uma
anormalidade geneacutetica ou de uma lesatildeo A presenccedila de uma deficiecircncia implica
necessariamente uma causa No entanto a causa pode natildeo ser suficiente para explicar a
deficiecircncia resultante Da mesma forma quando haacute uma deficiecircncia haacute uma disfunccedilatildeo das
funccedilotildees ou estruturas do corpo mas isto pode estar relacionado com qualquer doenccedila
perturbaccedilatildeo ou estado fisioloacutegico
As deficiecircncias podem ser parte ou uma expressatildeo de uma condiccedilatildeo de sauacutede mas natildeo
indicam necessariamente a presenccedila de uma doenccedila ou que o indiviacuteduo deva ser
considerado doente
As deficiecircncias cobrem um campo mais vasto que as perturbaccedilotildees ou as doenccedilas Por
exemplo a perda de uma perna eacute uma deficiecircncia de uma estrutura do corpo mas natildeo eacute uma
perturbaccedilatildeo ou uma doenccedila
As deficiecircncias podem originar outras deficiecircncias Por exemplo a diminuiccedilatildeo da forccedila
muscular pode prejudicar as funccedilotildees do movimento as funccedilotildees cardiacuteacas podem estar
relacionadas com o deacutefice das funccedilotildees respiratoacuterias e uma percepccedilatildeo prejudicada pode estar
relacionada com as funccedilotildees do pensamento
Actualmente na perspectiva da CIF o conceito de deficiecircncia constitui o poacutelo negativo da
componente ldquoFunccedilotildees e Estrutura do Corpordquo sendo descrito atraveacutes da existecircncia de
alteraccedilotildees significativas das funccedilotildees eou das estruturas do corpo O poacutelo positivo desta
componente refere-se agrave integridade funcional e estrutural Neste contexto um dos desafios
criacuteticos das poliacuteticas sociais consiste na operacionalizaccedilatildeo do conceito de deficiecircncia de forma
a que a elegibilidade dos diferentes puacuteblicos alvo se encontre devidamente delimitada
assegurando a eficaacutecia das medidas subjacentes
No entanto a amplitude e abrangecircncia da definiccedilatildeo do conceito de deficiecircncia proposta pela
OMS atraveacutes da CIF coloca um enorme desafio na medida em que qualquer cidadatildeo desde
que apresente um desvio significativo ao niacutevel da estrutura eou funccedilatildeo passa a ser um
potencial beneficiaacuterio das poliacuteticas neste domiacutenio Neste contexto poder-se-atildeo colocar vaacuterias
questotildees A primeira eacute se interessa agraves diferentes poliacuteticas no sector continuarem a ser
desenvolvidas tendo por focus o conceito de pessoas com deficiecircncias sabendo que a sua
distinccedilatildeo ao longo da populaccedilatildeo apenas poderaacute ser feita atraveacutes do niacutevel e extensatildeo da
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
alteraccedilatildeo da integridade estrutural e funcional de cada individuo A segunda questatildeo prende-se
com as consequecircncias conceptuais decorrentes da integraccedilatildeo do modelo social na formulaccedilatildeo
e operacionalizaccedilatildeo dos conceitos a serem utilizados pelas poliacuteticas no sector na medida em
que o aspecto critico deixa de ser a natureza e severidade da deficiecircncia para passar a centrar-
se no niacutevel e tipo de restriccedilotildees de participaccedilatildeo que cada cidadatildeo experiencia na interacccedilatildeo
com os seus contextos de vida
No que concerne agrave primeira questatildeo e atendendo a que a mais recente definiccedilatildeo do conceito
de deficiecircncia proposto pela OMS apresenta um elevado niacutevel de abrangecircncia e um reduzido
potencial diferenciador poderemos equacionar 2 hipoacuteteses centrais de operacionalizaccedilatildeo
a) A primeira hipoacutetese baseia-se na possibilidade de operacionalizar diferentes definiccedilotildees
de deficiecircncia ao longo das diferentes poliacuteticas sociais no sentido de assegurar que as
diferentes medidas alcanccedilam efectivamente as pessoas para as quais foram
elaboradas Esta perspectiva tem a vantagem de uma maior focalizaccedilatildeo nas
caracteriacutesticas especificas do puacuteblico-alvo mas no entanto apresenta uma grande
desvantagem que consiste na elevada probabilidade das diferentes definiccedilotildees
perderem a coerecircncia entre si fragmentando igualmente o modelo teoacuterico a partir do
qual se deveriam basear
b) A segunda hipoacutetese consiste na articulaccedilatildeo operativa de dois conceitos o de
deficiecircncia e o de restriccedilotildees de participaccedilatildeo Nesta perspectiva a elegibilidade de uma
determinada politica social baseia-se na validaccedilatildeo preacutevia da existecircncia da primeira
condiccedilatildeo do puacuteblico-alvo ndash a existecircncia de uma deficiecircncia ndash determinando logo de
seguida o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo a partir do qual os diferentes cidadatildeos
passam a poder aceder agraves medidas especiacuteficas nela contidas O desafio contido nesta
hipoacutetese consiste na necessidade de desenvolvimento de um sistema de avaliaccedilatildeo que
permita avaliar o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo experimentado pelas pessoas com
deficiecircncias determinando atraveacutes do valor aferido quais seriam as pessoas com
acesso agraves medidas Neste cenaacuterio natildeo bastaria que uma pessoa tivesse uma
deficiecircncia pelo que seria necessaacuterio avaliar os efeitos da deficiecircncia em interacccedilatildeo
com o ambiente social ao niacutevel da participaccedilatildeo no sentido de determinar a
elegibilidade As vantagens desta hipoacutetese relacionam-se com (i) a preservaccedilatildeo do
niacutevel de coerecircncia dos conceitos utilizados ao longo das diferentes poliacuteticas sociais (ii)
a existecircncia de um processo comum de afericcedilatildeo e determinaccedilatildeo da elegibilidade ao
longo dos diferentes sectores de politica (iii) a compatibilidade e adequabilidade dos
princiacutepios teoacutericos do modelo social com a operacionalizaccedilatildeo dos sistemas e medidas
poliacuteticos de apoio agraves pessoas com deficiecircncias e (iv) a existecircncia de mecanismos de
avaliaccedilatildeo de elevada transparecircncia controlabilidade e rigor
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
45 INCAPACIDADE
Do ponto de vista de utilizaccedilatildeo dos conceitos de Deficiecircncia e de Incapacidade em Portugal
tecircm subsistido vaacuterias imprecisotildees terminoloacutegicas Primeiro na generalidade dos documentos
internacionais alude-se ao termo ldquopeople with disabilitiesrdquo sendo que invariavelmente esta
expressatildeo eacute traduzida para Portuguecircs como ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo Tal facto parece criar
condiccedilotildees para uma grande permeabilidade semacircntica dificilmente resoluacutevel do ponto de vista
conceptual Segundo deficiecircncia e incapacidade satildeo claramente dois conceitos distintos
Enquanto a deficiecircncia remete para alteraccedilotildees significativas ao niacutevel das estruturas eou das
funccedilotildees do corpo a incapacidade constitui o poacutelo negativo do funcionamento humano em
situaccedilatildeo potencial ou efectiva de participaccedilatildeo no contexto de vida Este facto pressupotildee que os
conceitos de deficiecircncia e de incapacidade natildeo contecircm nenhuma relaccedilatildeo causal entre si nem
nenhuma relaccedilatildeo linear de frequecircncia na medida em que eacute possiacutevel existir uma deficiecircncia
sem que exista uma incapacidade e eacute possiacutevel emergir uma determinada incapacidade sem
que haja uma qualquer deficiecircncia
Deste modo eacute possiacutevel
a) Ter deficiecircncias sem limitaccedilotildees de capacidade (eg uma desfiguraccedilatildeo resultante da
doenccedila de Hansen pode natildeo ter efeito sobre a capacidade da pessoa
b) Ter problemas de desempenho e limitaccedilotildees de capacidade sem deficiecircncias evidentes
(eg reduccedilatildeo de desempenho nas actividades diaacuterias associada a vaacuterias doenccedilas)
c) Ter problemas de desempenho sem deficiecircncias ou limitaccedilotildees de capacidade (eg um
indiviacuteduo HIV positivo ou um ex-doente curado de doenccedila mental que enfrenta
estigmas ou descriminaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais ou no trabalho)
d) Ter limitaccedilotildees de capacidade se natildeo tiver assistecircncia e nenhum problema de
desempenho no ambiente habitual (eg um indiviacuteduo com limitaccedilotildees de mobilidade
pode beneficiar por parte da sociedade de ajudas tecnoloacutegicas de assistecircncia para se
movimentar
e) Experimentar um grau de influecircncia em sentido contraacuterio (eg a inactividade dos
membros pode levar agrave atrofia muscular a institucionalizaccedilatildeo pode resultar numa perda
da socializaccedilatildeo)
Daqui resulta que ao referirmo-nos agraves pessoas com deficiecircncias enquanto puacuteblico-alvo
privilegiado das medidas de reabilitaccedilatildeo poderemos incorrer num desvio significativo de
alocaccedilatildeo dos recursos agraves reais necessidades das pessoas na medida em que natildeo eacute a
deficiecircncia que gera por si mesma a necessidade de reabilitaccedilatildeo mas sim as limitaccedilotildees de
actividade e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo decorrentes da interacccedilatildeo entre as caracteriacutesticas
biopsicossociais e as caracteriacutesticas dos ambientes em que o individuo se move
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
A persistecircncia em traduzir o termo disability para deficiecircncia e natildeo apenas o seu homoacutelogo
anglo-saxoacutenico ndash impairment ndash poderaacute explicar-se pelas seguintes razotildees
a) O potencial efeito estigmatizante da expressatildeo ldquopessoas com incapacidadesrdquo ser maior
do que aquele contido na expressatildeo ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo
b) O termo incapacidade centrar-se exclusivamente nos aspectos negativos do
funcionamento individual classificando a pessoa agrave partida como sendo destituiacuteda de
competecircncias e condiccedilotildees para atingir os niacuteveis normativos de desempenho e
performance num conjunto de domiacutenios da vida pessoal e social
O paradoxo surge igualmente porque enquanto no modelo meacutedico a incapacidade aparece
em termos causais relacionada com a deficiecircncia numa perspectiva exclusivamente individual
no modelo proposto pela OMS operacionalizado na CIF os dois conceitos gozam de total
independecircncia conceptual e operativa sendo que a deficiecircncia passa a ter uma baixa
relevacircncia diferenciadora do ponto de vista do funcionamento humano Ora se atendermos a
que as medidas de reabilitaccedilatildeo pretendem promover os potenciais do funcionamento humano
numa perspectiva de participaccedilatildeo plena do indiviacuteduo nos mais diferenciados contextos de vida
assegurando o co-desenvolvimento de todos os actores e das estruturas sociais necessaacuterias agrave
cidadania plena entatildeo falar de ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo natildeo soacute natildeo eacute relevante no quadro
da loacutegica de intervenccedilatildeo como poderaacute traduzir dificuldades dos actores em mudar
efectivamente do paradigma meacutedico para o paradigma social
Este fenoacutemeno aliaacutes natildeo acontece apenas em Portugal sendo que recentes estudos de
investigaccedilatildeo vieram sugerir a adopccedilatildeo dos conceitos de ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo e
ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo para ultrapassar a aplicaccedilatildeo indevida dos
conceitos de deficiecircncia e incapacidade A utilizaccedilatildeo destes conceitos parece articular de forma
mais precisa com o novo modelo conceptual proposto pela OMS enfatizando a diversidade de
niacuteveis de funcionamento humano e apelando a uma certa noccedilatildeo de relatividade socialmente
construiacuteda Uma das criticas feita pela comunidade de investigadores ao conceito de ldquopessoas
com diversidade funcionalrdquo reside no facto de que a expressatildeo eacute dotada de um tatildeo elevado
niacutevel de abrangecircncia que natildeo permite um niacutevel de diferenciaccedilatildeo relevante na medida em que
todos os cidadatildeos detecircm entre si diversos e diferentes padrotildees de funcionamento humano
Neste sentido o conceito ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo aplicar-se-ia a todos os
cidadatildeos sem excepccedilatildeo A proliferaccedilatildeo destes termos eacute explicada pela necessidade da
comunidade politica e cientifica de construir constructos que sejam socialmente aceites e o
mais neutros possiacuteveis do ponto de vista dos seus valores impliacutecitos No entanto a
impossibilidade epistemoloacutegica de desenvolver expressotildees e conceitos socio-historicamente
neutros parece levar muitas vezes agrave concepccedilatildeo de definiccedilotildees com reduzida identidade isto eacute
de significado demasiado amplo e abrangente o que na expressatildeo da UPIAS ldquopodem significar
tudo e coisiacutessima nenhumardquo (2005)
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Os conceitos ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo ldquopessoas com limitaccedilotildees de
actividaderdquo e ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo afiguram-se comparativamente ao
anterior como um conceito de maior coerecircncia conceptual com o modelo proposto pela OMS e
deteacutem cumulativamente um maior poder diferenciador A sua desvantagem reside no facto de
constituiacuterem expressotildees com maior dificuldade de apreensatildeo e inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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5 ANAacuteLISE DOS REFERENCIAIS NACIONAIS E INTERNACIONAIS
No sentido de obter um conjunto de vectores de referecircncia na estruturaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo do
conceito de deficiecircncia foram analisadas as abordagens desenvolvidas pelos seguintes
organismos INE Eurostat OCDE American Disabilities Act WHO UN
51 INE
Os dados disponiacuteveis no INE parecem indicar a utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na
ICIDH
Deficiecircncia1 Perda ou alteraccedilatildeo de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou
anatoacutemica Nesta definiccedilatildeo estatildeo incluiacutedas as seguintes tipologias2
Deficiecircncia AUDITIVA
Deficiecircncia MENTAL
Deficiecircncia MOTORA
Deficiecircncia ORGAcircNICO-FUNCIONAL
Deficiecircncia PSIQUIAacuteTRICA
Deficiecircncia VISUAL
Incapacidade3 Ausecircncia ou limitaccedilatildeo da capacidade para funcionar estando comprometida a
realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida
diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e originando uma desvantagem para funcionar em
sociedade face a outros
Pessoa deficiente Aquela que tenha uma ou mais das seguintes deficiecircncias a) deficiecircncia
visual b) deficiecircncia auditiva c) deficiecircncia mental d) deficiecircncia motora
1 Nota Na operaccedilatildeo censitaacuteria de 2001 apenas foi observada a deficiecircncia permanente a deficiecircncia temporaacuteria natildeo foi considerada (por exemplo se um indiviacuteduo se desloca com canadianas ou em cadeira de rodas porque partiu uma perna ou se sofre de descolamento parcial da retina que o obriga a andar com uma venda natildeo foi considerado como tendo uma deficiecircncia) 2 Fonte INE ndash Censos 2001 ndash Recenseamento Geral da Populaccedilatildeo (Antecedentes Metodologia e Conceitos) Antecedentes Metodologia e Conceitos 3 Fonte INS ndash Inqueacuterito Nacional agrave Sauacutede
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Dezembro2006
Trabalhador deficiente Trabalhador que estaacute incapacitado para assegurar por si mesmo total
ou parcialmente a satisfaccedilatildeo de necessidades de uma vida individual ou social normal devido
a uma deficiecircncia congeacutenita ou adquirida das suas capacidades fiacutesicas sensoriais ou
mentais tendo por isso dificuldade em obter eou manter o desempenho de funccedilotildees de acordo
com as suas habilitaccedilotildees idade e experiecircncia profissional
Cidadatildeo Trabalhador com necessidades especiais Cidadatildeo idoso ou portador de
deficiecircncias sensoriais (visuais e auditivas) fiacutesicas (motoras) e cognitivas
52 EUROSTAT
Os dados disponibilizados pelo Eurostat no seu endereccedilo electroacutenico4 parecem indicar a
utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na ICIDH
Conceito Deficiecircncia5
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de deficiecircncia refere-se a uma perda ou alteraccedilatildeo
de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou anatoacutemica
Conceito Incapacidade6
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de incapacidade refere-se agrave ausecircncia ou limitaccedilatildeo
da capacidade para funcionar estando comprometida a realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas
funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e
originando uma desvantagem para funcionar em sociedade face a outros
Conceito Desvantagem7
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito refere-se agrave desvantagem para um dado individuo
decorrente de uma deficiecircncia ou incapacidade
4 httpforumeuropaeuintircdsiscodedinfodatacodedenTheme3htm 5 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 6 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 7 Fonte Key data on health 2000 Eurostat
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
53 OCDE
Definiccedilotildees gerais de incapacidade
No contexto da OCDE identificam-se 2 abordagens distintas no quadro da definiccedilatildeo de
incapacidade
A incapacidade pode ser definida enquanto um estado decorrente de autoavaliaccedilatildeo ou um
status baseado em fontes administrativas eg beneficiaacuterio dos apoios De forma muito
frequente e talvez de forma imprecisa estas duas definiccedilotildees satildeo explicitadas como
incapacidade ldquosubjectivardquo versus rdquoobjectivardquo
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo e instrumentos
A incapacidade autoavaliada eacute medida atraveacutes de inqueacuteritos feitos directamente aos cidadatildeos
nas suas residecircncias Apesar da avaliaccedilatildeo ser baseada de uma forma geral nas respostas agraves
questotildees relativas a problemas de sauacutede de longo termo que limitam as actividades de vida
diaacuteria o detalhe das questotildees eacute geralmente diferente dificultando a comparabilidade dos
dados Por exemplo ldquolongo termordquo eacute parametrizado em 6 meses na Noruega e em 12 meses
na Suiccedila O status dos beneficiaacuterios pode ser avaliado atraveacutes de registos administrativos ou
atraveacutes de inqueacuteritos Os resultados entre as duas fontes satildeo de uma forma geral bastante
diferentes por duas razotildees nucleares os registos administrativos geralmente contam casos e
natildeo pessoas o que em situaccedilotildees de benefiacutecios muacuteltiplos pode levar a contagens duplas por
outro lado os inqueacuteritos satildeo baseados nas respostas sobre o status do beneficiaacuterio e algumas
pessoas podem desejar natildeo revelar a sua condiccedilatildeo perante os benefiacutecios
Nenhuma destas definiccedilotildees e medidas de mensuraccedilatildeo eacute superior a outras pelo que a sua
utilizaccedilatildeo depende dos objectivos do propoacutesito da investigaccedilatildeo e da disponibilidade da
informaccedilatildeo
Abordagens para medir a incapacidade no quadro da aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos agraves populaccedilotildees
a) Incapacidade geral (natildeo especificada)
Puacuteblico-alvo todos os adultos
b) Incapacidade relativa ao trabalho
Puacuteblico-alvo pessoas em idade activa
c) Limitaccedilotildees nas actividades de vida diaacuteria (AVD)
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Puacuteblico-alvo Populaccedilatildeo idosa
54 AMERICAN DISABILITIES ACT
O American Disabilities Act (ADA) desenvolvido em 1990 fornece um conjunto de guidelines
no sentido de assegurar a disponibilizaccedilatildeo de serviccedilos para as pessoas com deficiecircncias bem
como a protecccedilatildeo dos seus direitos legais
A ADA inclui uma definiccedilatildeo legal de incapacidade consistindo na presenccedila de ldquouma deficiecircncia
fiacutesica ou mental que limita significativamente uma ou mais das principais actividades de vidardquo
Independentemente da definiccedilatildeo proposta pela ADA a existecircncia de muacuteltiplos programas a
favor das pessoas com deficiecircncias e os diferentes focus legais em diferentes puacuteblicos alvo
fazem com que tenham emergido uma multiplicidade de definiccedilotildees de incapacidade ao longo
do tempo no quadro das poliacuteticas sociais americanas
55 OMS ONU Revisatildeo dos actuais inqueacuteritos sobre a incapacidade
Apesar de existir um desenvolvimento consideraacutevel dos inqueacuteritos na aacuterea da incapacidade
poder-se-atildeo explicitar algumas observaccedilotildees relativas agrave sua multiplicidade Numa primeira linha
de anaacutelise os inqueacuteritos tendem a focalizar-se nas limitaccedilotildees de actividade eou na deficiecircncia
No que concerne agrave formulaccedilatildeo escrita tendem a existir diferenccedilas significativas entre
inqueacuteritos facto que inviabiliza natildeo raras vezes a comparabilidade dos dados entre inqueacuteritos
As diferentes formulaccedilotildees das questotildees incluem
Tem dificuldade
Eacute capaz de
Faz
Tem sentido problemas em
com ou sem assistecircncia pessoal eou tecnoloacutegica
A questatildeo que se coloca eacute se estas formulaccedilotildees tecircm o mesmo significado isto eacute se todas elas
pretendem medir a capacidade ou a performance De acordo com a CIF a capacidade
remeteria para o potencial de execuccedilatildeo de um indiviacuteduo enquanto a performance diria respeito
ao niacutevel de desempenho efectivo do indiviacuteduo atraveacutes do seu envolvimento numa situaccedilatildeo de
vida real As lacunas existentes e as poucas referecircncias ao niacutevel da forma como os inquiridos
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
satildeo instruiacutedos a responder faz com que natildeo seja possiacutevel desenvolver um discernimento
irrefutaacutevel sobre esta mateacuteria
Do ponto de vista dos domiacutenios abrangidos os inqueacuteritos tecircm apresentado algumas questotildees
sobre a participaccedilatildeo e o ambiente e evidenciam algumas limitaccedilotildees na sua amplitude Os
domiacutenios de actividades e participaccedilatildeo geralmente abrangidos tecircm sido operacionalizados de
uma forma geral nas seguintes dimensotildees
Educaccedilatildeo e emprego (formulado como questotildees de performance)
Outros inqueacuteritos incluem aacutereas como relaccedilotildees interpessoais vida familiar tomada de
decisotildees etc
O domiacutenio relativo aos factores ambientais tem incluiacutedo
Utilizaccedilatildeo e acessibilidadedisponibilidade dos produtos de assistecircncia e da tecnologia
Acessibilidade do ambiente
Disponibilidade dos serviccedilos (sauacutede protecccedilatildeo social educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo)
Evidecircncias muito escassas ao niacutevel da poliacutetica atitudes ambiente natural
planeamento e concepccedilatildeo
A questatildeo de investigaccedilatildeo neste contexto centra-se na seguinte formulaccedilatildeo ldquoo que eacute que os
inqueacuteritos medem como incapacidaderdquo
a) Definiccedilatildeo a priori da incapacidade versus sem incapacidade
Alguns inqueacuteritos sobre a incapacidade especialmente os mais antigos utilizam uma definiccedilatildeo
a priori de incapacidade O objectivo deste tipo de inqueacuteritos eacute contar o nuacutemero de pessoas
que se encaixam na definiccedilatildeo no contexto da populaccedilatildeo total Neste sentido os dados satildeo
analisados de acordo com dois grupos de referecircncia ndash com incapacidade e sem incapacidade ndash
em funccedilatildeo de um conjunto de diferentes variaacuteveis Este tipo de questionaacuterios formula questotildees
do tipo ldquoPossui algum tipo de incapacidade auditiva visual ou fiacutesicardquo Muitas questotildees dos
censos tecircm utilizado este formato
b) Definiccedilatildeo a posteriori de incapacidade versus sem incapacidade
Mais recentemente alguns inqueacuteritos desenvolveram-se em direcccedilatildeo a uma definiccedilatildeo a
posteriori de incapacidade Nestes casos eacute medida a capacidade a performance ao longo de
um conjunto vasto de domiacutenios Este segundo tipo de inqueacuteritos tende a ter uma ampla
aceitaccedilatildeo eg HALS (Canada) HID (Franccedila) inqueacuterito sobre incapacidade na Africa do Sul
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Inqueacuterito Espanhol sobre incapacidade NHIS-D (USA) inqueacuterito Holandecircs entre outros Estes
instrumentos formulam questotildees relativas agraves dificuldades que as pessoas experienciam em
diferentes domiacutenios produzindo um perfil pessoal que possa colocar em evidecircncia os
diferentes graus de capacidade associados A categorizaccedilatildeo de incapacidade sem
incapacidade eacute formulada ao niacutevel do domiacutenio e natildeo como uma categoria geral de atributo
pessoal Esta abordagem permite uma anaacutelise ao niacutevel de funcionamento individual por
domiacutenio por exemplo comparando a experiecircncia de incapacidade no domiacutenio de mobilidade
versus socializaccedilatildeo versus comunicaccedilatildeo entre outros bem como o impacto dos factores
ambientais nestes diferentes domiacutenios O perfil resultante do funcionamento individual ao longo
de muacuteltiplos domiacutenios eacute similar aos estados de sauacutede individuais ao longo das diferentes
dimensotildees
Vantagens de uma abordagem a posteriori
Estaacute em consonacircncia com a abordagem universal proposta pela CIF Todas as
pessoas experienciam deficiecircncia nalgum ponto e esta experiecircncia eacute caracterizada
numa abordagem a posteriori e natildeo a priori
Decisotildees sobre a criaccedilatildeo de categorias sobre quem tem incapacidade e sobre quem
natildeo tem podem ser tomadas atraveacutes de diferentes niacuteveis de anaacutelise por exemplo
atraveacutes da anaacutelise da experiecircncia das pessoas que experienciam incapacidade em 1 2
ou 3 domiacutenios de cruzar o status de emprego de pessoas com incapacidade ao longo
dos diferentes domiacutenios etc
Deixa de ser necessaacuteria uma definiccedilatildeo tipoloacutegica e categoacuterica de pessoas com
incapacidade O que necessita de ser definido neste contexto eacute o que se designa por
limitaccedilatildeo da capacidade ou problemas de performance ao longo dos diferentes
domiacutenios
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 35
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 36
Dezembro2006
6 SISTEMATIZACcedilAtildeO DAS DIMENSOtildeES DE ORGANIZACcedilAtildeO E
OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em todos os estudos efectuados neste domiacutenio foi colocada em evidecircncia a actual dificuldade
de comparabilidade estatiacutestica internacional inter ou intra sectorial independentemente do
organismo referenciador ndash OCDE ONU EUROSTAT INE OMS
Neste contexto desenvolver-se-aacute a extracccedilatildeo de conhecimento tendo por base a identificaccedilatildeo
de um conjunto de eixos de anaacutelise que actuem como vectores de estruturaccedilatildeo na
operacionalizaccedilatildeo do conceito A este propoacutesito atente-se no Quadro 2
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Abordagem Focus Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Delimitaccedilatildeo temporal do
conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo
Design das questotildees
CID-10
ICIDH
ICF
SauacutedeDoenccedila
Deficiecircncia
Incapacidade
a) Geral
b) Relativa ao trabalho
c) Limitaccedilotildees nas
actividades de vida
diaacuteria
Funcionalidade ndash
Niacuteveis de execuccedilatildeo
das actividades por
domiacutenio e niacuteveistipos
de ajudas mobilizadas
Intersubjectivo ndash
vg inqueacuteritos
Objectivo ndash vg
fontes administrativas
A priori
A posteriori
Temporaacuterias
permanentes
Progressivas
regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou
contiacutenuas
Tipo 1 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre uma determinada
condiccedilatildeo individual
combinada com itens
referentes a limitaccedilotildees de
actividade e participaccedilatildeo e
factores contextuais
Tipo 2 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre a presenccedila de uma
pessoa com incapacidade
no agregado familiar
seguindo-se uma lista de
deficiecircncias e
incapacidades
Tipo 3 ndash Checklist de
deficiecircncias
Quadro 2 ndash Eixos de operacionalizaccedilatildeo do conceito
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 37
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 38
Dezembro2006
7 ESCOLHA DO CENAacuteRIO A IMPLEMENTAR
A anaacutelise do Quadro 2 permite-nos uma definiccedilatildeo modular do cenaacuterio a implementar atraveacutes de
uma configuraccedilatildeo do conceito pelos eixos de anaacutelise propostos Uma das dificuldades
evidentes nesta delimitaccedilatildeo prende-se com o cumprimento dos requisitos de (a)
comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica e legislativa dentro do contexto portuguecircs
e (c) conformidade com os referenciais conceptuais actuais sendo que a coexistecircncia destes
criteacuterios afigura-se em muitos casos incompatiacutevel entre si Para efeitos da estruturaccedilatildeo do
cenaacuterio privilegiar-se-aacute a conformidade com os referenciais conceptuais actuais
71 ABORDAGEM No que concerne agrave abordagem privilegia-se a adopccedilatildeo das mais recentes directrizes propostas
pela OMS adoptando explicitamente a CIF
Fundamentaccedilatildeo
A CIF apresenta a capacidade para descrever o funcionamento humano numa
perspectiva biopsicossocial em detrimento da classificaccedilatildeo anterior (ICIDH) que se
focalizava na dimensatildeo biomeacutedica A CIF foi desenvolvida no plano conceptual para ser aplicaacutevel em diferentes aacutereas e
sectores A CIF eacute aplicaacutevel transversalmente agraves dimensotildees de cultura idade geacutenero sendo um
instrumento sistemaacutetico para descrever e medir a sauacutede e o funcionamento humano
num dado contexto A CIF constitui-se enquanto instrumento potencial para a poliacutetica social design das
intervenccedilotildees nos domiacutenios da sauacutede educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e intervenccedilatildeo social Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
72 FOCUS
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo da centraccedilatildeo da recolha de dados ao niacutevel
da dimensatildeo de funcionalidade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 39
Dezembro2006
Fundamentaccedilatildeo
Consonacircncia com o modelo conceptual proposto pela CIF enfatizando o caraacutecter
dinacircmico e interaccional (pessoa factores contextuais) do funcionamento de cada
pessoa Permite caracterizar as limitaccedilotildees de actividade e restriccedilotildees de participaccedilatildeo dos
cidadatildeos identificando necessidades de intervenccedilotildees especializadas numa loacutegica de
empowerment e participaccedilatildeo social Permite analisar a adequabilidade e ajustamento das actuais medidas poliacuteticas do
ponto de vista dos seus objectivos e os problemas detectados ao niacutevel da participaccedilatildeo
dos cidadatildeos ao longo de um conjunto diversificado de domiacutenios
73 MEacuteTODOS DE MENSURACcedilAtildeO
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo de meacutetodos intersubjectivos nomeadamente
inqueacuteritos
Fundamentaccedilatildeo
Flexibilidade ao niacutevel da abrangecircncia e profundidade das dimensotildees
Maior facilidade na implementaccedilatildeo atendendo agrave disponibilizaccedilatildeo de uma amostra
delimitada
Maior niacutevel de controlo sobre as condiccedilotildees de observaccedilatildeo e da entrevista devido ao
menor nuacutemero de entrevistas a ser implementado
74 DELIMITACcedilAtildeO CONCEPTUAL E TEMPORAL DO CONCEITO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo temporal e apesar de se privilegiar as vantagens anteriormente
explicitadas no desenvolvimento de uma definiccedilatildeo a posteriori assume-se a necessidade
politica de delimitar o campo de intervenccedilatildeo do conjunto de medidas sociais neste domiacutenio
pelo que a delimitaccedilatildeo conceptual poderaacute ser objecto de operacionalizaccedilatildeo atraveacutes dos
seguintes paracircmetros
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 40
Dezembro2006
Poder-se-aacute colocar a questatildeo de saber se a delimitaccedilatildeo do conceito proposta remete
especificamente para ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ou para ldquopessoas com limitaccedilotildees de
participaccedilatildeordquo Atendendo a que a definiccedilatildeo comporta uma abordagem sisteacutemica enfatizando a
interacccedilatildeo entre um conjunto diversificado de componentes que produzem impacto na
funcionalidade da pessoa a resposta natildeo eacute linear dependendo da ecircnfase socio-histoacuterica e da
abordagem sociopoliacutetica que se escolher enfatizar No entanto e do ponto de vista conceptual
privilegia-se a adopccedilatildeo do conceito ldquopessoas com limitaccedilotildees de participaccedilatildeordquo dado que existe
total autonomia operativa entre os diferentes constructos Neste sentido a deficiecircncia natildeo
constitui um factor causal linear das limitaccedilotildees de actividade e das restriccedilotildees ao niacutevel da
participaccedilatildeo mas antes uma das componentes que em interacccedilatildeo com outras podem
provocar impactos ao niacutevel da funcionalidade do indiviacuteduo Por uacuteltimo refira-se que a tipologia
ldquopessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeordquo poderaacute ser alvo de criticas por constituir
uma designaccedilatildeo que apela a duas componentes em simultacircneo (actividades e participaccedilatildeo)
excluindo outras e ser demasiado longa para uma definiccedilatildeo tipoloacutegica A este propoacutesito pode-
se sugerir a delimitaccedilatildeo ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo constituindo esta
expressatildeo uma abordagem holiacutestica ao conjunto de componentes que interferem com o
funcionamento humano Deste modo poderemos ter as seguintes designaccedilotildees
Pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Pessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo
Pessoas com limitaccedilotildees de funcionalidade
Figura 2 ndash Possiacuteveis designaccedilotildees
O Quadro 3 pretende fornecer uma visatildeo sistemaacutetica sobre o processo de decisatildeo da
designaccedilatildeo a adoptar
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
deficiecircncias
Tradiccedilatildeo analiacutetica dentro do
contexto portuguecircs
Em conformidade com o modelo
meacutedico ndash centra-se nas alteraccedilotildees
de estrutura e funccedilatildeo ndash
focalizaccedilatildeo na pessoa
Desarticulado dos pressupostos do
modelo social ndash natildeo remete para a
experiecircncia de incapacidade
enquanto produto da interacccedilatildeo
entre pessoa e ambiente
Mai
or
Abr
angecirc
ncia
Mai
or
Espe
cific
idad
e
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 41
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
incapacidades
Em conformidade com a
delimitaccedilatildeo anglo-saxoacutenica que
utiliza o conceito Disability
Focalizaccedilatildeo no poacutelo negativo do
funcionamento humano ndash
funcionalidadeincapacidade
Ao focalizar-se na experiecircncia de
incapacidade enquanto
interacccedilatildeo pessoa-ambiente
remete indirectamente para a
mobilizaccedilatildeo de apoios e recursos
de forma a ultrapassar eou
eliminar os obstaacuteculos ao
funcionamento em contexto
O potencial efeito estigmatizante
da expressatildeo ldquopessoas com
incapacidadesrdquo
Pessoas com
diversidade
Funcional
Em conformidade com o modelo
social
Focaliza-se na gestatildeo das
diferenccedilas e no seu impacto ao
niacutevel da participaccedilatildeo das pessoas
na sociedade
Elevado niacutevel de abrangecircncia natildeo
permitindo um niacutevel de
diferenciaccedilatildeo relevante na
medida em que todos os cidadatildeos
detecircm entre si diversos e
diferentes padrotildees de
funcionamento humano
Conceito dificilmente
operacionalizaacutevel do ponto de
vista da formulaccedilatildeo das poliacuteticas e
da delimitaccedilatildeo dos puacuteblicos-alvo
Pessoas com
restriccedilotildees ao
niacutevel da
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos Desta forma
todos os obstaacuteculos agrave participaccedilatildeo
relacionados com discriminaccedilatildeo
social preconceitos estereoacutetipos
deficiecircncias doenccedilas croacutenicas
entre outros satildeo incluiacutedos
Natildeo inclui as limitaccedilotildees de
actividade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 42
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
limitaccedilotildees de
actividade e
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida e simultaneamente no
domiacutenio das limitaccedilotildees de
actividade
Ruptura com a tradiccedilatildeo analiacutetica
no sector
Dificuldade de apreensatildeo e
inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Natildeo inclui as alteraccedilotildees da
estrutura e da funccedilatildeo
Pessoas com
limitaccedilotildees de
funcionalidade
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel das
diferentes dimensotildees constituintes
da funcionalidade e do
funcionamento humano
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos
Pessoas com
deficiecircncias e
incapacidades
Natildeo introduz ruptura com a
tradiccedilatildeo analiacutetica no sector
Inclui as alteraccedilotildees de estrutura e
funccedilatildeo bem como as alteraccedilotildees
decorrentes ao niacutevel da
funcionalidade
Diferencia os conceitos de
deficiecircncia e incapacidade
autonomizando-os e fornecendo
uma base compreensiva para o
natildeo estabelecimento de relaccedilotildees
de causa-efeito entre os ambos
Abrange os obstaacuteculos que
emergem na interacccedilatildeo pessoa-
contextos de vida e
simultaneamente no domiacutenio das
limitaccedilotildees de actividade
Poder diferenciador e delimitador
na definiccedilatildeo do puacuteblico-alvo
Em alinhamento estrateacutegico com o
PAIPDI
Designaccedilatildeo de compromisso com
os referenciais teoacutericos do modelo
social e dos princiacutepios da ldquoeacutetica da
diversidaderdquo
Quadro 3 ndash Visatildeo comparativa das hipoacuteteses da designaccedilatildeo a adoptar
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 43
Dezembro2006
75 DELIMITACcedilAtildeO DA DURACcedilAtildeO E CURSO DE EVOLUCcedilAtildeO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo interessa a caracterizaccedilatildeo nas
3 dimensotildees desenvolvidas
Fundamentaccedilatildeo
Afigura-se relevante caracterizar a ocorrecircncia das deficiecircncias quanto aacute sua
consistecircncia no tempo ndash temporaacuterias permanentes ndash analisando os factores
contextuais associados consequecircncias ao niacutevel das actividades e da participaccedilatildeo ao
longo de um conjunto de domiacutenios em ordem agrave extracccedilatildeo de implicaccedilotildees no acircmbito
das poliacuteticas sociais
No acircmbito da adaptabilidade e da adequaccedilatildeo das medidas poliacuteticas agraves necessidades
especiacuteficas dos cidadatildeos torna-se relevante caracterizar a deficiecircncia quanto agrave
natureza do seu curso evolutivo ndash progressivas regressivas estaacuteveis O mesmo
criteacuterio eacute aplicaacutevel quanto aacute dimensatildeo de padratildeo de manifestaccedilatildeo ndash intermitente
contiacutenua
No entanto e apesar da incapacidade se manifestar ao longo do ciclo de vida da pessoa
de forma multimodal para efeitos de delimitaccedilatildeo e de definiccedilatildeo do conceito de pessoas
com deficiecircncias e incapacidades privilegiaremos o caraacutecter permanente Desta forma
excluem-se as manifestaccedilotildees temporaacuterias de incapacidade que enviesariam a anaacutelise e o
desenvolvimento de poliacuteticas neste domiacutenio
76 DESIGN DAS QUESTOtildeES
No que concerne ao design das questotildees privilegia-se a escolha de questotildees tipo 1
Fundamentaccedilatildeo
Em consonacircncia com a CIF
Permite comparabilidade estatiacutestica futura
Permite a caracterizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre os factores de funcionalidade ndash integridade
estrutural e funcional actividades participaccedilatildeo e factores contextuais
Permite o design das poliacuteticas sociais e metodologias de intervenccedilatildeo alicerccediladas nas
necessidades especiacuteficas dos cidadatildeos em torno das dimensotildees de inclusatildeo social
Domiacutenios
Visatildeo
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 44
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Audiccedilatildeo
Comunicaccedilatildeo
Mobilidade
Dor
Aprendizagem e funcionamento psicoloacutegico
Autocuidados e vida domeacutestica
Condiccedilotildees gerais de sauacutede
Mobilizaccedilatildeo de ajudas ou equipamento especializado
Participaccedilatildeo social
Transporte e educaccedilatildeo
77 PROPOSTA DE DELIMITACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em funccedilatildeo das dimensotildees caracterizadas e dos criteacuterios privilegiados desenvolveu-se o
seguinte enquadramento conceptual
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 45
Dezembro2006
Figura 2 ndash Enquadramento conceptual da delimitaccedilatildeo do conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso da evoluccedilatildeo
Temporaacuterias permanentes
Progressivas regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou contiacutenuas
Focus
Funcionalidade ndash Niacuteveis de execuccedilatildeo das actividades por domiacutenio e niacuteveistipos de ajudas mobilizadas
Abordagem CIF
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo temporal do conceito
A priori
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Inter-subjectivo
Design das questotildees
Questatildeo geneacuterica sobre uma determinada condiccedilatildeo individual combinada com itens referentes a limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo e factores contextuais
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
8 CRITEacuteRIOS DE ELEGIBILIDADE DO PUacuteBLICO-ALVO E SISTEMAS DE
AVALIACcedilAtildeO
A operacionalizaccedilatildeo do conceito de incapacidade tem sido abordada de forma heterogeacutenea
entre diferentes modalidades de politica e os diferentes contextos socioculturais de cada paiacutes
De uma forma geral encontram-se 2 eixos criacuteticos na sua operacionalizaccedilatildeo
a) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de trabalho (na ocupaccedilatildeo preacutevia ou numa nova
ocupaccedilatildeo ajustada agraves alteraccedilotildees funcionais)
b) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de obter rendimentos provenientes do trabalho
A explicitaccedilatildeo dos criteacuterios de delimitaccedilatildeo do conceito de incapacidade nos diferentes paiacuteses
encontra-se na Quadro 4
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Austraacutelia 2 Criteacuterios possuir uma incapacidade que resulte
num score nunca inferior a 20 nas tabelas de
incapacidades e incapacidade em trabalhar 30
horas ou mais por semana ou em ser
reconvertido para trabalho em contexto regular
nos proacuteximos 2 anos
Nenhum
Aacuteustria 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho (50
de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo para
trabalhadores sem qualificaccedilotildees) papel criacutetico
das decisotildees dos tribunais devido a definiccedilotildees
legais imprecisas
Nenhum mas as
restriccedilotildees de sauacutede
devem ter uma duraccedilatildeo
igual ou superior a 6
meses
Beacutelgica 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na actual ocupaccedilatildeo
1 ano
Canada Incapacidade severa e prolongada que impeccedila de
desenvolver trabalho numa base regular
Nenhum
Dinamarca 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum mas a
reabilitaccedilatildeo precisa de
estar completa
Franccedila 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual mas a
totalidade do subsidio requer igualmente perda de
capacidade de trabalho
Nenhum no caso das
condiccedilotildees estarem
estaacuteveis mas muito
frequentemente apoacutes 3
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
anos
Alemanha 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho a
incapacidade parcial eacute calculada em funccedilatildeo do nordm
de horas que a pessoa pode trabalhar
Nenhum mas a
incapacidade deve ter
uma duraccedilatildeo miacutenima
de 26 semanas
Itaacutelia 666reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum
Coreia Criteacuterios meacutedicos (niacuteveis de incapacidade
definidos de forma detalhada)
Periacuteodo de espera de
50 dias (os subsiacutedios
de doenccedila natildeo se
encontram disponiacuteveis)
Meacutexico 50 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo Nenhum
Holanda 15 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
(25 para os trabalhadores por conta proacutepria e
jovens com incapacidade) grau de incapacidade
calculado pela diferenccedila de remuneraccedilatildeo entre o
actual posto de trabalho compatiacutevel com as
limitaccedilotildees funcionais e o anterior
1 ano
Noruega 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho O
grau de subsiacutedio eacute calculado pela capacidade de
remuneraccedilatildeo
Nenhum (apoacutes ter
completado a
reabilitaccedilatildeo vocacional)
Poloacutenia Reduccedilatildeo temporaacuteria ou permanente da
capacidade de trabalho
Nenhum
Portugal 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual
Nenhum mas na
praacutetica ao fim de 3
anos (fim do periacuteodo de
doenccedila de longo termo)
Espanha 33 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho na
ocupaccedilatildeo actual incapacidade para todo e
qualquer trabalho para a totalidade do subsiacutedio
1 ano (embora seja
possiacutevel a candidatura
antes deste prazo em
casos de incapacidade
permanente)
Sueacutecia 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho grau
de incapacidade parcial calculado a partir das
horas que uma pessoa pode trabalhar
Nenhum
Suiccedila 40 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho para
as pessoas inactivas o grau de incapacidade eacute
calculado em relaccedilatildeo aacute actividade actual
1 ano
Turquia 666 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho
com um focus meacutedico bastante significativo
Nenhum
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Reino Unido Limitaccedilotildees nas actividades de vida quotidianas
relevantes para o trabalho (avaliaccedilotildees meacutedicas
predominantes) teste ocupacional durante a s
primeiras 28 semanas (subsidio de doenccedila)
28 semanas
Estados
Unidos
Reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
incapacidade em investir numa actividade
profissional com rendimentos ($ US 740 por mecircs)
5 meses (nem sempre
cobertos pelos
subsiacutedios de curto-
termo) e 24 meses
para a cobertura
meacutedica
Quadro 4 ndash Definiccedilotildees de incapacidade e tempos regulamentares
Um dos desafios que se coloca aos actuais sistemas reside na delimitaccedilatildeo da elegibilidade do
puacuteblico-alvo Para cumprir este objectivo satildeo necessaacuterios sistemas de avaliaccedilatildeo holiacutesticos
abrangentes coerentes e que permitam chegar a resultados de forma consistente e com
validade interna No actual contexto a CIF propotildee constituir-se como o instrumento conceptual
abrangente para caracterizar os diferentes domiacutenios e niacuteveis de funcionalidade incapacidade
de forma coerente e integrada Neste sentido uma das vantagens apontadas para a adopccedilatildeo
do modelo desenvolvido pela OMS eacute a possibilidade de uniformizaccedilatildeo de conceitos e portanto
da utilizaccedilatildeo de uma linguagem padratildeo que permita a comunicaccedilatildeo entre investigadores
gestores profissionais de sauacutede organizaccedilotildees da sociedade civil e utilizadores em geral
Um dos campos de estudo mais explorados para a aplicaccedilatildeo da CIF tem sido a aacuterea de
Medicina Fiacutesica e de Reabilitaccedilatildeo no que concerne ao acompanhamento do estado de sauacutede
dos pacientes em tratamento O uso da CIF tem sido considerado tambeacutem na avaliaccedilatildeo apoacutes
transtornos agudos condiccedilotildees traumaacuteticas condiccedilotildees croacutenicas e na geriatria
Alguns autores argumentam que a CIF deve ser explorada como uma base de informaccedilotildees
padronizadas em estudos sobre incapacidade profissional quando haacute necessidade de
relacionar dados de sauacutede ocupacional com os da Seguranccedila Social
Na Sauacutede Puacuteblica tradicionalmente pouca atenccedilatildeo tem sido dada agraves pessoas com
incapacidades No entanto ao lado de recentes investimentos por parte de organizaccedilotildees e de
alguns governos a publicaccedilatildeo do modelo da CIF fornece as bases para as poliacuteticas e
disciplinas da Sauacutede Puacuteblica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo que apresenta deficiecircncias e
incapacidades Assim uma das possibilidades de uso da CIF pode ser a contribuiccedilatildeo para
responder a importantes questotildees de sauacutede puacuteblica tais como qual o estado de sauacutede das
pessoas com deficiecircncias comparadas com as demais que necessidades e que tipos de
intervenccedilotildees satildeo mais adequadas para reduzir condiccedilotildees secundaacuterias e promover a
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na sociedade entre outras
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 49
Dezembro2006
Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 50
Dezembro2006
Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 51
Dezembro2006
Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
Dezembro2006
Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 53
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
conceptualizaccedilatildeo das deficiecircncias e incapacidades baseava-se na focalizaccedilatildeo de todos os
processos de poder e controlo das intervenccedilotildees nos teacutecnicos e profissionais do sector Do
ponto de vista da envolvente cultural assistia-se ao reforccedilo da estigmatizaccedilatildeo e dos
preconceitos em relaccedilatildeo agraves pessoas com deficiecircncias e incapacidades atraveacutes da mensagem
de impossibilidade de integraccedilatildeo das diferenccedilas materializadas nas diferentes deficiecircncias e
incapacidades ao niacutevel das estruturas sociais e dos serviccedilos disponiacuteveis nos sistemas
regulares Do ponto de vista da focalizaccedilatildeo e dos objectivos das poliacuteticas estas centram-se no
indiviacuteduo sendo que o seu principal objectivo era activar mecanismos de compensaccedilatildeo
capazes de atenuar os efeitos decorrentes das incapacidades
Adicionalmente refira-se que uma das caracteriacutesticas deste periacuteodo eacute a de que o locus de
responsabilidade das poliacuteticas assenta no modelo do Estado-providecircncia do periacuteodo fordista
As poliacuteticas sociais tradicionais satildeo baseadas numa orientaccedilatildeo meacutedica na interpretaccedilatildeo da
natureza das deficiecircncias e incapacidades pelo que no conjunto de caracteriacutesticas
enunciadas tecircm sido identificados elementos integrantes do modelo meacutedico de abordagem agraves
deficiecircncias e incapacidades
Os documentos internacionais provenientes da Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede (OMS) e os
proacuteprios documentos de poliacutetica europeia comeccedilaram progressivamente a colocar em
evidecircncia as deficiecircncias e incapacidades natildeo como um atributo inerente agrave pessoa mas como
um resultado da interacccedilatildeo entre a pessoa e o ambiente incluindo as suas estruturas fiacutesicas (o
design dos edifiacutecios sistemas de transporte etc) as relaccedilotildees sociais e as construccedilotildees sociais
e crenccedilas que levam agrave discriminaccedilatildeo das pessoas Deste modo as deficiecircncias e
incapacidades tornam-se um problema relevante para as poliacuteticas sociais em consequecircncia da
adopccedilatildeo de um modelo que privilegia a adequaccedilatildeo dos contextos agraves pessoas fazendo com
que o seu focus se descentre uacutenica e exclusivamente da componente individual para passar a
contemplar a relaccedilatildeo da pessoa com os seus ambientes e contextos de vida bem como os
obstaacuteculos e barreiras sociais que emergem nesta interacccedilatildeo Neste sentido a participaccedilatildeo de
todos os cidadatildeos nos mais diversificados contextos da vida social passa a constituir uma
questatildeo de direitos e de igualdade de oportunidades
Do ponto de vista das poliacuteticas sociais pode-se observar dois focos distintos no discurso e nas
propostas de inclusatildeo O primeiro trabalha a inclusatildeo voltada para a ampliaccedilatildeo da cidadania
enfatizando o discurso do direito de interagir e o direito agrave participaccedilatildeo social atraveacutes das redes
sociais na construccedilatildeo do projecto colectivo O segundo focaliza o combate agrave exclusatildeo como
elemento voltado para a inserccedilatildeo dos puacuteblicos desfavorecidos no contexto do mercado de
trabalho Neste caso o foco da inclusatildeo tem o seu epicentro na profissionalizaccedilatildeo e na
capacitaccedilatildeo para o trabalho e emprego Paralelamente aos dois focos explicitados subjaz a
necessidade de eliminaccedilatildeo das barreiras ambientais (fiacutesicas psicoloacutegicas e socioloacutegicas) como
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 5
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
condiccedilatildeo necessaacuteria agrave participaccedilatildeo plena das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na
sociedade numa loacutegica de igualdade de oportunidades
Este desenvolvimento conceptual na forma como as deficiecircncias e incapacidades satildeo
equacionadas faz com que pela primeira vez seja reconhecida a possibilidade das diferentes
necessidades das pessoas com deficiecircncias e incapacidades constituiacuterem objecto de resposta
nos serviccedilos e estruturas regulares da sociedade Este facto assenta na reconfiguraccedilatildeo dos
modelos de inclusatildeo e de capacitaccedilatildeo colectiva de todos os actores sociais que directa ou
indirectamente contribuem para a exclusatildeo inclusatildeo das pessoas com deficiecircncias e
incapacidades Deste modo inicia-se a estruturaccedilatildeo das perspectivas de mainstreaming que
tecircm vindo a intencionalizar a implementaccedilatildeo de serviccedilos especializados assentes numa loacutegica
de consultoria baseados nas estruturas e serviccedilos da comunidade Esta ruptura com o modelo
meacutedico na forma como a deficiecircncia eacute conceptualizada implicou que as poliacuteticas comeccedilassem
a ser dirigidas agrave remoccedilatildeo das barreiras agrave plena participaccedilatildeo para as pessoas com deficiecircncias
e incapacidades em vez de ldquoproblematizarrdquo a pessoa e focalizarem-se apenas nela Pode-se
verificar esta abordagem atraveacutes do desenvolvimento de regulamentos sobre o design de
edifiacutecios e nas infra-estruturas de transportes no sentido de prevenir a construccedilatildeo de situaccedilotildees
e contextos incapacitantes e reduzir as barreiras existentes entre outras manifestaccedilotildees
Do ponto de vista do ambiente cultural comeccedila a emergir o reconhecimento das diferenccedilas e a
relevacircncia de adoptar poliacuteticas que promovam a integraccedilatildeo da diversidade Neste acircmbito as
poliacuteticas comeccedilam progressivamente a pretender influenciar mudanccedilas nos padrotildees de
atitudes e de comportamentos sobre a forma como os cidadatildeos compreendem e percepcionam
as pessoas com deficiecircncias e incapacidades (designadas por poliacuteticas simboacutelicas)
focalizando-se na alteraccedilatildeo dos elementos inibidores da participaccedilatildeo para factores
facilitadores De igual forma as poliacuteticas simboacutelicas apesar de ainda natildeo existirem directrizes
coerentes e consensuais para a definiccedilatildeo da categoria de pessoas com e sem deficiecircncias e
incapacidades comeccedilam a sentir a necessidade de enquadrar esta delimitaccedilatildeo e definiccedilatildeo de
forma a garantir o seu sucesso e eficaacutecia na transformaccedilatildeo das representaccedilotildees simboacutelicas dos
cidadatildeos O conjunto de caracteriacutesticas enunciadas bem como os seus elementos
constituintes tecircm vindo a ser designadas pelos investigadores por modelo social por oposiccedilatildeo
agraves caracteriacutesticas do modelo meacutedico O Quadro 1 permite analisar de uma forma sistemaacutetica os
principais pontos de ruptura entre o modelo meacutedico e o modelo social sendo certo que a
adopccedilatildeo predominante de um modelo ou de outro implica uma concepccedilatildeo radicalmente
diferente das diversas tipologias de poliacuteticas assim como a definiccedilatildeo de diferentes objectivos e
resultados ao niacutevel da inclusatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 6
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Modelo meacutedico Modelo social
Problema Incapacidade dependecircncia das
pessoas
Inadequaccedilatildeo dos contextos agraves
pessoas
Origem Nas pessoas Na sociedade
Focalizaccedilatildeo Na pessoa nas suas limitaccedilotildees Relaccedilatildeo pessoa contexto nas
barreiras sociais
Eacutetica Assistecircncia Direitos
Igualdade de oportunidades
Objectivos Reabilitar curar tratar
Habilitar
Eliminar barreiras promover a
compatibilidade
Perspectiva Necessidades especiais
Serviccedilos especializados
Necessidades diferentes
Serviccedilos regulares
Serviccedilos Institucionalizados
Rede de cuidados De apoio baseados na comunidade
Poder controlo Profissionais Clientes
Cultura Disabling
Manutenccedilatildeo e reforccedilo da deficiecircncia
Reconhecimento e inclusatildeo da
diversidade
Objectivos das poliacuteticas
Compensar os indiviacuteduos pelas
suas incapacidades
ldquoAliviar a situaccedilatildeordquo
Promover direitos
Prover recursos e competecircncias
para identificar e eliminar barreiras
pessoais e sociais
Focalizaccedilatildeo das poliacuteticas Nos indiviacuteduos
Nas pessoas com deficiecircncias No grupo social
Na populaccedilatildeo global
Responsabilidade Poliacutetica social
ldquoWelfare provisionrdquo
Poliacuteticas transversais
Poliacuteticas sociais activas
Quadro 1 ndash Anaacutelise comparativa do modelo meacutedico com o modelo social relativamente agraves dimensotildees estruturantes na organizaccedilatildeo dos quadros conceptuais de intervenccedilatildeo (Sousa 2005) 12 PERSPECTIVA EVOLUTIVA DO MODELO SOCIAL
O modelo social da deficiecircncia surge na deacutecada de 1960 no Reino Unido como uma reacccedilatildeo
agraves abordagens biomeacutedicas A premissa baacutesica do modelo social eacute que a deficiecircncia natildeo deve
ser entendida como um problema individual mas como uma questatildeo eminentemente social
transferindo a responsabilidade pelas desvantagens das pessoas com deficiecircncias para a
incapacidade da sociedade em prever e ajustar-se agrave diversidade (Oliver 1990) Em torno do
modelo social da deficiecircncia surge na deacutecada de 1970 a UPIAS (The Union of the Phisically
Impaired Against Segregation) uma das primeiras organizaccedilotildees de pessoas com deficiecircncias
com objectivos eminentemente poliacuteticos e natildeo apenas assistenciais como era o caso das
instituiccedilotildees criadas nos dois seacuteculos anteriores (UPIAS 1976) O ponto de partida teoacuterico do
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 7
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
modelo social eacute que a deficiecircncia eacute uma experiecircncia resultante da interacccedilatildeo entre
caracteriacutesticas corporais do indiviacuteduo e as condiccedilotildees da sociedade em que ele vive isto eacute da
combinaccedilatildeo de limitaccedilotildees impostas pelo corpo com algum tipo de perda ou reduccedilatildeo de
funcionalidade (lesatildeo) e uma organizaccedilatildeo social pouco sensiacutevel agrave diversidade corporal
Originalmente a UPIAS propocircs uma definiccedilatildeo que explicitava o efeito da exclusatildeo na criaccedilatildeo
da deficiecircncia ldquoLesatildeo ausecircncia parcial ou total de um membro ou oacutergatildeo ou existecircncia de um
mecanismo corporal defeituoso Deficiecircncia desvantagem ou restriccedilatildeo de actividade
provocada pela organizaccedilatildeo social contemporacircnea que pouco ou nada considera aqueles que
possuem lesotildees fiacutesicas e os exclui das principais actividades da vida socialrdquo (UPIAS 19763-
4) A ecircnfase inicial nas limitaccedilotildees fiacutesicas foi imediatamente revista e com isso abriu-se um
grande debate sobre as limitaccedilotildees do vocabulaacuterio usado para descrever as deficiecircncias e
incapacidades A intenccedilatildeo era destacar que natildeo havia necessariamente uma relaccedilatildeo directa
entre lesatildeo e deficiecircncia transferindo o debate da discussatildeo sobre sauacutede para o terreno da
organizaccedilatildeo social e poliacutetica Lesatildeo seria uma caracteriacutestica corporal como seria o sexo ou a
cor da pele ao passo que deficiecircncia seria o resultado da opressatildeo e da discriminaccedilatildeo sofrida
pelas pessoas em funccedilatildeo de uma sociedade que se organiza de uma maneira que natildeo permite
incluiacute-las na vida quotidiana Eacute possiacutevel uma pessoa ter lesotildees e natildeo experimentar a
deficiecircncia a depender de quanto a sociedade esteja ajustada para incorporar a diversidade
Como exemplifica Morris (2001) natildeo poder caminhar eacute a expressatildeo da lesatildeo a deficiecircncia
consiste na inacessibilidade imposta agraves pessoas que usam cadeira de rodas O resultado
dessa revisatildeo na semacircntica dos conceitos foi uma separaccedilatildeo radical entre lesatildeo e deficiecircncia
a primeira eacute objecto da discussatildeo sobre sauacutede enquanto a segunda eacute uma questatildeo da ordem
dos direitos e da justiccedila social e portanto essencialmente normativa
Se para o modelo meacutedico a lesatildeo levava agrave deficiecircncia para o modelo social os sistemas
sociais levavam pessoas com lesotildees agrave experiecircncia da incapacidade Em siacutentese o modelo
meacutedico identifica a pessoa com deficiecircncia como uma pessoa com algum tipo de inadequaccedilatildeo
para a sociedade o modelo social por sua vez inverte o argumento e contextualiza a
deficiecircncia na incapacidade da sociedade para incluir todas as pessoas gerindo de forma
inclusiva a sua diversidade Em geral as definiccedilotildees baseadas no modelo meacutedico exigem um
grande afastamento dos padrotildees de normalidade para considerar uma pessoa como tendo
deficiecircncia Os criteacuterios utilizados para definir a deficiecircncia geralmente tecircm como referecircncia a
perda completa de certos oacutergatildeos ou funccedilotildees A identificaccedilatildeo da deficiecircncia eacute feita levando-se
em conta caracteriacutesticas isoladas destes oacutergatildeos e funccedilotildees e comparando-as com limites
estabelecidos para cada uma delas Neste quadro de inteligibilidade existem criteacuterios que
estabelecem para oacutergatildeo ou funccedilatildeo comprometida os limites da deficiecircncia como por
exemplo patamares miacutenimos de acuidade visual capacidade auditiva etc que podem ser
avaliados isoladamente uns dos outros bem como separados das necessidades impostas
pelas caracteriacutesticas sociais de cada pessoa
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 8
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
A combinaccedilatildeo da existecircncia de uma condiccedilatildeo de sauacutede bem abaixo de um padratildeo abstracto de
normalidade e a persistecircncia dessa condiccedilatildeo no tempo permite ao modelo meacutedico diferenciar
doenccedila de deficiecircncia Muitas das doenccedilas satildeo entendidas como situaccedilotildees temporaacuterias
Assim embora tenham uma condiccedilatildeo de sauacutede inferior agrave determinada por algum criteacuterio de
normalidade as pessoas doentes podem natildeo ser consideradas pessoas com deficiecircncias
dentro do modelo meacutedico porque a sua reduccedilatildeo de capacidades eacute apenas temporaacuteria e natildeo
permite definir um estado consistente ao longo do tempo O caminho inverso tambeacutem eacute trilhado
para separar deficiecircncia de doenccedila poreacutem com um argumento um pouco mais sofisticado
(Diniz 1996) Se a deficiecircncia eacute uma situaccedilatildeo irreversiacutevel eacute perfeitamente possiacutevel redefinir o
conceito de normalidade de modo a ajustaacute-lo agrave condiccedilatildeo permanente das pessoas A cegueira
por exemplo passa a ser a condiccedilatildeo normal de uma pessoa cega e portanto natildeo faz sentido
classificaacute-la como doente Neste esquema uma pessoa que natildeo pode ver porque estaacute com
uma inflamaccedilatildeo ocular grave eacute uma pessoa doente e uma pessoa permanentemente cega eacute
uma pessoa deficiente Como o reconhecimento da ldquosociedade deficienterdquo eacute tatildeo ou mais
importante para o debate sobre poliacuteticas puacuteblicas e deficiecircncia do que a identificaccedilatildeo da
ldquopessoa deficienterdquo as preocupaccedilotildees com a identidade do modelo social satildeo bem distintas
daquelas do modelo meacutedico Abberley (1987) por exemplo natildeo insiste na distinccedilatildeo entre
deficiecircncia e doenccedila e praticamente ignora a regra de persistecircncia da lesatildeo no tempo para
identificar as pessoas com deficiecircncias criteacuterio tatildeo caro aos legisladores de poliacuteticas sociais
nos anos 1980 que o utilizaram sistematicamente em contagens de populaccedilatildeo de vaacuterios
paiacuteses do mundo A loacutegica do modelo social natildeo reconhece esta distinccedilatildeo principalmente
porque entende que os ajustes requeridos da sociedade para que ela contemple a diversidade
da deficiecircncia satildeo independentes de quanto tempo uma condiccedilatildeo corporal se iraacute manter Afinal
se uma pessoa que usa cadeira de rodas enquanto recupera de fracturas nas pernas
necessita dos mesmos ajustes no sistema de transporte que uma pessoa permanentemente
incapacitada de caminhar porquecirc separaacute-las em grupos diferentes Ao natildeo reconhecer que os
doentes tambeacutem experimentam a deficiecircncia o modelo meacutedico exclui da atenccedilatildeo das poliacuteticas
puacuteblicas uma grande parcela da populaccedilatildeo que necessita delas problema que pode afectar
uma parte razoaacutevel da populaccedilatildeo idosa Natildeo usar da mesma maneira a distinccedilatildeo entre doenccedila
e deficiecircncia eacute um recurso do modelo social para evitar este tipo de exclusatildeo A consequecircncia
oacutebvia da definiccedilatildeo do modelo social eacute de que a pesquisa e as poliacuteticas puacuteblicas direccionadas agrave
deficiecircncia natildeo poderiam concentrar-se apenas nos aspectos corporais dos indiviacuteduos para
identificar a deficiecircncia Aleacutem disso ao separar a deficiecircncia da lesatildeo o modelo social abre
espaccedilo para mostrar que a despeito da diversidade das lesotildees haacute um factor que une as
diferentes comunidades de pessoas com deficiecircncias em torno de um projecto poliacutetico uacutenico a
experiecircncia da exclusatildeo Segundo Oliver ldquoTodos os deficientes experimentam a deficiecircncia
como uma restriccedilatildeo social natildeo importando se estas restriccedilotildees ocorrem em consequecircncia de
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Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
ambientes inacessiacuteveis de noccedilotildees questionaacuteveis de inteligecircncia e competecircncia social se da
inabilidade da populaccedilatildeo em geral de utilizar a linguagem de sinais se pela falta de material
em Braille ou se pelas atitudes puacuteblicas hostis das pessoas que natildeo tecircm lesotildees visiacuteveisrdquo
(1990xiv)
Em meados da deacutecada de 1990 os movimentos feministas lanccedilaram um argumento com
profundas implicaccedilotildees para as poliacuteticas puacuteblicas a experiecircncia da deficiecircncia no acircmbito
familiar apresenta implicaccedilotildees ao niacutevel do geacutenero Ao mostrar que a deficiecircncia eacute
acompanhada de reorganizaccedilotildees familiares voltadas para o cuidado da pessoa com
deficiecircncia os movimentos feministas colocaram em evidecircncia que natildeo satildeo apenas as
pessoas com algum tipo de restriccedilatildeo corporal que necessitam da atenccedilatildeo das poliacuteticas
puacuteblicas Atendendo a que as cuidadoras satildeo predominantemente mulheres devido agrave divisatildeo
sexual do trabalho a deficiecircncia quando entendida como um fenoacutemeno com implicaccedilotildees
familiares possui um enviesamento de geacutenero Satildeo as mulheres por exemplo que se afastam
do mercado de trabalho para cuidar das pessoas com deficiecircncias de crianccedilas pequenas ou
idosos Nos casos dos homens idosos este recorte inclui uma sobreposiccedilatildeo de geacutenero agrave idade
pois dado o padratildeo tiacutepico de arranjo familiar satildeo mulheres idosas que cuidam desses homens
Este afastamento tem uma seacuterie de implicaccedilotildees para as mulheres como a ausecircncia de
serviccedilos de suporte e de apoio para as mulheres em idade economicamente activa e tal facto
natildeo pode passar esquecido pelas poliacuteticas puacuteblicas (Barton amp Oliver 1997)
No final da deacutecada de 1990 alguns argumentos do modelo social da deficiecircncia foram objecto
de revisatildeo O lema ldquoOs limites satildeo sociais natildeo do indiviacuteduordquo usado como bandeira para
reivindicar condiccedilotildees para que as pessoas com deficiecircncias fossem independentes passa a ser
relativizado Uma longa tradiccedilatildeo da filosofia feminista critica o valor da independecircncia absoluta
mostrando que a interdependecircncia por meio do cuidado com os dependentes eacute um elemento
constituinte da vida em sociedade e em muitos casos de deficiecircncia natildeo pode ser evitada As
poliacuteticas puacuteblicas portanto natildeo devem procurar apenas promover a independecircncia das
pessoas com deficiecircncias mas criar condiccedilotildees favoraacuteveis para que o cuidar seja exercido
13 DESAFIOS EMERGENTES NO PLANO CONCEPTUAL COM IMPLICACcedilOtildeES NO DOMIacuteNIO DAS
INTERVENCcedilOtildeES
Historicamente as diferentes perspectivas de intervenccedilatildeo no campo da reabilitaccedilatildeo tecircm-se
centrado predominantemente nos pressupostos conceptuais do modelo meacutedico sendo que
mais recentemente tem-se vindo a assistir a uma focalizaccedilatildeo progressiva nos pressupostos
conceptuais do modelo social
Neste contexto histoacuterico as interpretaccedilotildees sociais da deficiecircncia encontram-se em processo de
transiccedilatildeo Este aspecto aparece claramente reflectido nos documentos oficiais em relaccedilatildeo agraves
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 10
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
definiccedilotildees de deficiecircncia e de reabilitaccedilatildeo Apesar dos factores econoacutemicos e demograacuteficos se
afigurarem de uma importacircncia crescente parece evidente que o motor que subjaz a este
fenoacutemeno se alicerccedila na politizaccedilatildeo sem precedentes da deficiecircncia liderada pela sociedade
civil bem como a exigecircncia crescente de igualdade de oportunidades para as pessoas com
deficiecircncias A evoluccedilatildeo conceptual da interpretaccedilatildeo sociopoliacutetica do conceito tem produzido
avanccedilos ao niacutevel das praacuteticas e das intervenccedilotildees ainda que com diferentes ritmos de
aplicaccedilatildeo e com necessidades evidentes de um maior niacutevel de sistematizaccedilatildeo e estruturaccedilatildeo
na globalidade do sector
Consequentemente alguns dos elementos das praacuteticas de reabilitaccedilatildeo mantecircm-se focalizados
em abordagens centradas no indiviacuteduo Apesar da relevacircncia das intervenccedilotildees e das
terapecircuticas meacutedicas ainda que absolutamente necessaacuterias nos paiacuteses mais pobres estas
apenas produzem um impacte parcial no contexto de um ambiente cultural organizado
privilegiadamente para um modo de vida onde natildeo existem pessoas com deficiecircncias Deste
modo o domiacutenio de sauacutede puacuteblica bem como os problemas experimentados pelas pessoas
com deficiecircncias constituem-se como assuntos de natureza poliacutetica que apenas poderatildeo ser
equacionados na sua resoluccedilatildeo atraveacutes de uma profunda mudanccedila estrutural e cultural
envolvendo a redistribuiccedilatildeo sistemaacutetica de recursos e o desenvolvimento de uma cultura que
valoriza a diversidade humana
Neste cenaacuterio afigura-se relevante equacionar um conjunto de desafios fundamentais para
enquadrar a iniciativa poliacutetica na implementaccedilatildeo dos princiacutepios do modelo social
Coerecircncia dos conceitos utilizados
Parece subsistir uma elevada diversidade de conceitos associados ao domiacutenio da deficiecircncia
na organizaccedilatildeo social A tiacutetulo de exemplo pode-se citar a nomenclatura de ldquodeficientesrdquo ou
ldquopessoas portadoras de deficiecircnciardquo no acesso prioritaacuterio a determinados tipos de serviccedilos
puacuteblicos ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ao niacutevel de programas de intervenccedilatildeo social e
designaccedilotildees ao niacutevel dos instrumentos de poliacutetica que remetem para concepccedilotildees radicalmente
diferentes entre si tal como eacute o caso da ldquopensatildeo de invalidezrdquo ou da ldquotabela nacional de
incapacidadesrdquo Esta pluralidade de conceitos sem qualquer coerecircncia conceptual entre si
parece espelhar o resultado de diferentes velocidades de evoluccedilatildeo em diferentes domiacutenios da
poliacutetica social ocorrida em diferentes momentos socio-histoacutericos Aliaacutes tal facto emerge de
forma mais ou menos incisiva na maioria dos paiacuteses europeus A investigaccedilatildeo neste sector tem
permitido colocar em evidecircncia que diferentes definiccedilotildees de deficiecircncia satildeo relevantes para
diferentes poliacuteticas e que as tentativas de usar a mesma definiccedilatildeo ao longo de uma vasta
diversidade de poliacuteticas pode resultar na utilizaccedilatildeo de definiccedilotildees de reduzido poder
diferenciador o que significa que as poliacuteticas podem correr o risco de natildeo chegar ao seu
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 11
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
puacuteblico-alvo A necessidade de usar uma pluralidade de definiccedilotildees de forma a assegurar a
relevacircncia da definiccedilatildeo para o seu domiacutenio de aplicabilidade levanta um problema de
coerecircncia no quadro poliacutetico relativo agraves pessoas com deficiecircncias Neste cenaacuterio as pessoas
podem ser consideradas como tendo deficiecircncias no quadro de uma determinada poliacutetica e
como natildeo tendo no quadro de uma poliacutetica diferente sendo que por vezes se encontram
lacunas no fornecimento de serviccedilos como resultado imediato desta opccedilatildeo De uma forma
geral os diferentes Estados resolvem estes problemas requerendo agraves instituiccedilotildees das poliacuteticas
sociais a coordenaccedilatildeo das actividades em detrimento do estabelecimento de definiccedilotildees
uacutenicas
Diferentes abordagens entre diferentes aacutereas de poliacutetica social
A evoluccedilatildeo histoacuterica e a apropriaccedilatildeo de diferentes conceitos por parte de diferentes sectores
da poliacutetica social encerram o risco de serem adoptados modelos operativos e intervenccedilotildees com
caracteriacutesticas significativamente diferentes Neste sentido podem-se observar sectores que
privilegiam o mainstreaming e o desenvolvimento das intervenccedilotildees baseadas na comunidade
e noutros sectores verificarem-se intervenccedilotildees mais centradas no indiviacuteduo mobilizando
criteacuterios quase exclusivamente meacutedicos Esta diferenccedila de abordagens pode potencialmente
acarretar desarticulaccedilotildees e incoerecircncias ao niacutevel dos princiacutepios gerais da poliacutetica social
reflectindo-se numa resposta fragmentada e parcelar agraves necessidades das pessoas Neste
contexto afigura-se relevante a definiccedilatildeo clara sistemaacutetica e estruturada dos princiacutepios
transversais subjacentes agrave globalidade das poliacuteticas para num segundo momento se proceder
agrave definiccedilatildeo dos seus elementos especiacuteficos
Classificaccedilatildeo da deficiecircncia e metodologias de avaliaccedilatildeo
Enquanto que no quadro do modelo meacutedico importava associar as diferentes deficiecircncias a
diferentes niacuteveis de incapacidade mobilizando criteacuterios de natureza exclusivamente meacutedica a
progressiva implementaccedilatildeo do modelo social na maior parte dos paiacuteses da Europa tem
colocado desafios sobre qual a categorizaccedilatildeo que melhor reflecte as dificuldades de
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades ao niacutevel dos seus ambientes de
vida A OMS perante esta encruzilhada de classificaccedilotildees propocircs a Classificaccedilatildeo Internacional
de Funcionalidade Incapacidade e Sauacutede (CIF) como modelo operativo de caracterizaccedilatildeo da
funcionalidade do indiviacuteduo colocando em evidecircncia para efeitos de elegibilidade dos
programas as limitaccedilotildees de actividade e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo das pessoas Ou seja
enquanto nalguns modelos se continuam a avaliar as deficiecircncias do indiviacuteduo a CIF vem
enfatizar em coerecircncia com o modelo social que o mais relevante natildeo eacute avaliar as alteraccedilotildees
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ao niacutevel das estruturas ou das funccedilotildees dos indiviacuteduos ndash ainda que natildeo as negligencie ndash mas
sim as limitaccedilotildees de actividades e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo que o sujeito experiencia no
decorrer da desadequaccedilatildeo entre as suas diferenccedilas e as caracteriacutesticas dos ambientes sociais
em que se move Atente-se que esta opccedilatildeo conceptual natildeo eacute neutra do ponto de vista
pragmaacutetico dado que os objectivos das intervenccedilotildees passam a ser a remoccedilatildeo das barreiras e
dos obstaacuteculos que ocorrem no quadro da relaccedilatildeo do sujeito com os seus contextos de vida
em detrimento de intervenccedilotildees polarizadas exclusivamente na dimensatildeo individual ou
exclusivamente na dimensatildeo social
No desenvolvimento das poliacuteticas sociais a investigaccedilatildeo tem permitido colocar em evidecircncia a
necessidade de identificar definir e sistematizar os princiacutepios norteadores que tenderatildeo a ser
transversais a todos os sectores de poliacutetica social sendo que apenas deste modo se poderaacute
assegurar a coerecircncia entre as diferentes poliacuteticas dos diferentes sectores Neste sentido
torna-se relevante um processo de clarificaccedilatildeo sobre qual o modelo conceptual em que a
estrateacutegia poliacutetica se baseou de forma a que o conjunto de objectivos estrateacutegias processos
de intervenccedilatildeo definiccedilatildeo de resultados alocaccedilatildeo de recursos e indicadores de avaliaccedilatildeo
estejam devidamente articulados e em consonacircncia com os princiacutepios adoptados
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
2 CONCEITOS E TERMINOLOGIA
A anaacutelise conceptual no domiacutenio da deficiecircncia permite colocar em evidecircncia a existecircncia de
um conjunto de imprecisotildees ao niacutevel dos conceitos com variaccedilotildees relacionadas com o modelo
meacutedico e com o modelo social Neste contexto afigura-se criacutetico clarificar os contornos teoacutericos
e os modelos conceptuais subjacentes aos diferentes conceitos utilizados estabelecendo uma
base teoacuterica de referecircncia que assegure o necessaacuterio grau de coerecircncia e simultaneamente
abrangecircncia
21 EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA DOS SISTEMAS DE CLASSIFICACcedilAtildeO
Para uma clara delimitaccedilatildeo dos modelos teoacutericos que tecircm influenciado historicamente o
desenvolvimento dos conceitos no domiacutenio da deficiecircncia poderemos identificar 2 abordagens
conceptuais distintas
211 A ABORDAGEM TRADICIONAL INDIVIDUALISTA
A preocupaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede em estabelecer uma classificaccedilatildeo das doenccedilas
remonta ao seacuteculo XVIII Mas somente na VI Revisatildeo da Classificaccedilatildeo Internacional de
Doenccedilas (CID-6) em 1948 citada na IX Revisatildeo foram feitas referecircncias a doenccedilas que
poderiam tornar-se croacutenicas exigindo outros serviccedilos aleacutem de cuidados meacutedicos
Ateacute a deacutecada de 70 a CID-8 citada na IX Revisatildeo considerava apenas as manifestaccedilotildees
agudas segundo o modelo meacutedico etiologia rArr patologia rArr manifestaccedilatildeo
Esse modelo mostrou-se limitado para descrever as consequecircncias das doenccedilas pois excluiacutea
as perturbaccedilotildees croacutenicas evolutivas e irreversiacuteveis
Na IX Assembleia da OMS em 1976 surgiu uma nova conceptualizaccedilatildeo a International
Classification of Impairments Disabilities and Handicaps a manual of classification relating to
the consequences of disease (ICIDH) sendo sua traduccedilatildeo a Classificaccedilatildeo Internacional de
Deficiecircncias Incapacidades e Desvantagens um manual de classificaccedilatildeo das consequecircncias
das doenccedilas (CIDID) publicada em 1989
Apesar da abordagem meacutedica individualista ter dominado a cultura ocidental desde pelo
menos o seacuteculo XIX (Oliver 1990 Gleeson 1999) esta encontra-se geralmente associada agrave
Classificaccedilatildeo Internacional da Deficiecircncia Incapacidades e Desvantagens (ICIDH) da OMS
(1980) Em resposta agraves necessidades crescentes ao niacutevel internacional de clarificaccedilatildeo do
sentido do conceito de incapacidade e atendendo agraves criticas progressivas das pessoas com
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incapacidades e seus significativos baseadas no facto de que a incapacidade envolve mais do
que um conjunto de preocupaccedilotildees estritamente meacutedicas a OMS constituiu uma comissatildeo de
cientistas sociais para desenvolver a existente Classificaccedilatildeo Internacional de Doenccedilas em
ordem a conseguir abranger as consequecircncias a longo termo das doenccedilas croacutenicas A ICIDH
foi publicada em 1980 sendo largamente reconhecida como o directoacuterio mais abrangente
existente vindo a ser extensivamente utilizada como uma base para as iniciativas
governamentais dos paiacuteses desenvolvidos da Europa e Ameacuterica do Norte e os paiacuteses
subdesenvolvidos do Sul (Ustun et al 2001)
A ICIDH utiliza uma categorizaratildeo tripartida da deficiecircncia incapacidade e desvantagem A
deficiecircncia refere-se a qualquer perda ou irregularidade da estrutura ou das funccedilotildees
anatoacutemica fisioloacutegica ou psicoloacutegica A incapacidade refere-se a qualquer restriccedilatildeo ou perda
(resultante de uma deficiecircncia) da capacidade para executar uma actividade da forma e dentro
do contexto considerado normal para o ser humano A desvantagem refere-se agrave limitaccedilatildeo
resultante de uma deficiecircncia ou incapacidade no desempenho de um dado papel considerado
normativo (dependendo da idade geacutenero e factores sociais e culturais) para aquele indiviacuteduo
(OMS 1980 p 29)
Esta tipologia baseia-se nas noccedilotildees de normalidade fiacutesica e intelectual bem como no facto de
que a incapacidade e a desvantagem satildeo causadas por deficiecircncias ou irregularidades
psicoloacutegicas ou fisioloacutegicas Neste contexto a ICIDH pode ser objecto de criacuteticas a diferentes
niacuteveis Primeiro as percepccedilotildees de deficiecircncia e normalidade satildeo fenoacutemenos sociais pelo que
satildeo sujeitas a substantivas mudanccedilas temporais culturais e situacionais (Hanks and Hanks
1948 Scheer and Groce 1988 Coleridge 1993 Ingstad and Whyte 1995) A dislexia por
exemplo natildeo seria vista como um problema significativo numa sociedade predominantemente
agraacuteria No entanto eacute considerada uma dificuldade de aprendizagem nas sociedades
modernas tecnologicamente avanccediladas nas quais a literacia e a numeracia desempenham
requisitos criacuteticos para a participaccedilatildeo social e econoacutemica Segundo encontra-se impliacutecito na
ICIDH que o organismo humano eacute flexiacutevel e adaptaacutevel enquanto os ambientes fiacutesicos e sociais
o natildeo satildeo Este facto claramente conflitua com a realidade histoacuterica na qual os indiviacuteduos
transformaram continuamente o seu ambiente em funccedilatildeo das suas necessidades (Barnes
1991) Terceiro as definiccedilotildees da ICIDH sugerem que a deficiecircncia a incapacidade e a
desvantagem constituem-se como estados estaacuteticos Para aleacutem do facto desta noccedilatildeo afigurar-
se incorrecta parece criar distinccedilotildees e barreiras entre as pessoas com e sem deficiecircncias
distinccedilotildees que natildeo satildeo necessaacuterias nem deveriam existir Uma tal situaccedilatildeo parece ser
paradoxal atendendo a que a ICIDH possui uma classificaccedilatildeo para cada caracteriacutestica do
organismo fiacutesico e humano (Shakespeare 1994 104)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 15
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Finalmente e mais significativo neste contexto a ICIDH apresenta as deficiecircncias enquanto
causa primaacuteria da incapacidade e da desvantagem Neste contexto a reabilitaccedilatildeo constitui-se
como uma filosofia e uma praacutetica para erradicar ou minimizar os problemas da deficiecircncia e
capacitar aqueles com deficiecircncias designadas para funcionarem nos seus niacuteveis fiacutesico
psicoloacutegico e social mais elevados (Albrecht 1992 23) Por outras palavras as pessoas com
incapacidades tornam-se objectos para serem curados tratados treinados mudados e
tornados normais de acordo com um conjunto particular de valores As limitaccedilotildees de tais
intervenccedilotildees encontram-se sustentadamente documentadas pelos activistas como
incapacidades desde 1960 (Hunt 1966 Sutherland 1981 Zola 1982)
212 A ABORDAGEM LIBERAL OU INTER-RELACIONAL
A abordagem liberal ou inter-relacional encontra-se expressa no uacuteltimo corpo de trabalhos da
OMS para redefinir a incapacidade nomeadamente a Classificaccedilatildeo Internacional de
Funcionalidade Incapacidade e Sauacutede (CIF) conhecida previamente como ICIDH2 (OMS
2002)
Esta redefiniccedilatildeo constituiu uma tentativa concertada para integrar o modelo meacutedico
individualista tradicional e a interpretaccedilatildeo sociopoliacutetica Por um lado como resultado da sua
rejeiccedilatildeo por parte das pessoas com incapacidades organizaccedilotildees e parceiros dentro e fora da
comunidade cientiacutefica (Driedger 1989 Oliver 1990 Barnes et al 2002) e por outro lado
porque apesar da sua vasta utilizaccedilatildeo a sua aplicabilidade tem sido caracterizada por diversas
interpretaccedilotildees (Coleridge 1993 Ingstad 2001) Em siacutentese demonstrou-se como limitada para
muitos dos actores e natildeo forneceu a delimitaccedilatildeo de significado que originalmente pretendia
Em comum com a sua predecessora a CIF manteacutem o constructo tripartido O primeiro niacutevel
deficiecircncia no original relaciona-se com as funccedilotildees e estrutura do organismo O segundo
niacutevel o que era anteriormente incapacidade eacute agora referido como actividade e o terceiro
desvantagem aparece como participaccedilatildeo No entanto e apesar do intenso debate sobre o
significado de incapacidade o conceito eacute preservado como um termo global para os trecircs niacuteveis
de dificuldade de funcionamento Neste cenaacuterio e em contraste com a ICIDH a nova
formulaccedilatildeo eacute apresentada como uma classificaccedilatildeo universal do funcionamento humano As
pessoas ligadas a acccedilotildees de advocacy defendem que esta configuraccedilatildeo oferece um quadro de
inteligibilidade completo para os aspectos funcionais da experiecircncia de sauacutede Nesta
perspectiva a incapacidade permanece uma preocupaccedilatildeo privilegiadamente do domiacutenio da
sauacutede em detrimento do domiacutenio poliacutetico Constitui-se por um lado como um resultado das
caracteriacutesticas da pessoa e por outro dos ambientes fiacutesicos e sociais Deste modo mais do
que se constituir como uma classificaccedilatildeo das pessoas com incapacidades ou dos problemas
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 16
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
que experienciam a CIF afigura-se como uma classificaccedilatildeo do funcionamento a 3 niacuteveis
compreendida em termos neutros (Ustun et al 2001 6-7)
O reconhecimento da importacircncia dos ambientes fiacutesico e social na CIF poderaacute ser equacionado
como uma melhoria significativa em relaccedilatildeo agrave sua predecessora (Hurst 2000) No entanto
parece-nos altamente improvaacutevel que seja mais eficaz do que a anterior classificaccedilatildeo a gerar
uma linguagem universal sobre a incapacidade na medida em que transformar as diferenccedilas
culturais na conceptualizaccedilatildeo das deficiecircncias assume-se como tarefa extremamente
complexa de alcanccedilar (Bury 2000 Miles 2001) Este facto eacute especialmente significativo na
medida em que natildeo obstante a CIF reconhecer o contexto cultural das percepccedilotildees de
incapacidade e por consequecircncia a normalidade o actual sistema de classificaccedilatildeo
permanece fortemente alicerccedilado nas formulaccedilotildees e nos conceitos cientiacuteficos ocidentais
(Finkelstein 1998 Pfeiffer 2000 Baylies 2002)
Adicionalmente apesar da CIF explicitar que os indiviacuteduos satildeo um elemento da anaacutelise da
incapacidade a abordagem biopsicossocial natildeo se encontra muito distanciada do modelo
anterior na medida em que privilegia o indiviacuteduo como ponto de partida para anaacutelise das
funccedilotildees do corpo e actividades O conceito de participaccedilatildeo eacute incluiacutedo mas subdesenvolvido no
esquema conceptual e continua associado agraves circunstacircncias individuais em vez de fortemente
ligado agrave inclusatildeo poliacutetica e social Adicionalmente enquanto a significacircncia do contexto eacute
enfatizada na CIF as estrateacutegias para a sua mensuraccedilatildeo afiguram-se limitadas Os seus
utilizadores satildeo encorajados a classificar os factores ambientais mas natildeo existem ferramentas
eficazes para levar a cabo esta tarefa bem como para avaliar as tendecircncias de incapacidade
ou por outro lado das poliacuteticas governamentais praacuteticas ambientes fiacutesicos e contextos
culturais (Baylies 2002)
Esta aparente descentraccedilatildeo das preocupaccedilotildees poliacuteticas tem caracterizado a maioria da ciecircncia
social mainstream desde o seacuteculo XIX Deste modo a definiccedilatildeo inter-relacional de
incapacidade e a consequente despolitizaccedilatildeo das questotildees associadas reflectiu-se nos
estudos e na literatura produzida nesta aacuterea por acadeacutemicos e investigadores durante a uacuteltima
metade do seacuteculo XX
Mais recentemente reemergiram na Inglaterra um conjunto de respostas poacutes-modernas ao
modelo social da incapacidade Este cenaacuterio tem favorecido o aparecimento de asserccedilotildees de
que tais fenoacutemenos soacute tecircm servido para agudizar e natildeo diminuir a conflituosidade a propoacutesito
da inclusatildeo (Hunt 1981 Germon 1998 Linton 1998 Gordon and Rosenblum 2001)
No quadro da reabilitaccedilatildeo a abordagem inter-relacional eacute sinoacutenima da liberalizaccedilatildeo da poliacutetica
social para as pessoas com incapacidades nos finais dos anos sessenta e setenta em
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
particular a mudanccedila dos serviccedilos centrados institucionalmente para os serviccedilos e apoios
centrados na comunidade Deste modo a ecircnfase eacute colocada na integraccedilatildeo de pessoas com
incapacidades na sociedade mainstream Os Standards da Equalizaccedilatildeo das Pessoas com
Incapacidades (1993) da ONU explicitam que todos os estados devem providenciar serviccedilos de
reabilitaccedilatildeo Mas esta orientaccedilatildeo recomenda que se vaacute aleacutem do cuidado meacutedico inicial para
incluir uma ampla gama de medidas e actividades desde a reabilitaccedilatildeo baacutesica e generalista
para actividades orientadas por objectivos (UN 199311) Ainda mais significativo todos os
serviccedilos de reabilitaccedilatildeo deveratildeo estar disponiacuteveis nas comunidades locais nas quais as
pessoas com incapacidades se movem No entanto em determinadas circunstacircncias e para
que se reforcem os objectivos de formaccedilatildeo e aprendizagem poderatildeo ser organizados cursos
localizados nas organizaccedilotildees prestadoras de serviccedilos com um quadro temporal o mais
reduzido possiacutevel (UN 1993 19)
Adicionalmente apesar dos Standards enfatizarem a importacircncia do envolvimento das pessoas
com incapacidades e dos seus significativos no desenvolvimento dos programas de
reabilitaccedilatildeo parece natildeo existir uma asserccedilatildeo clara de que tais estrateacutegias devam ser
controladas por ou mensuradas para estes uacuteltimos Existe no entanto uma assunccedilatildeo taacutecita de
que tais serviccedilos seratildeo liderados por profissionais
Adicionalmente desde que a incapacidade na CIF foi apresentada como uma questatildeo de
sauacutede em detrimento de uma questatildeo poliacutetica parece inevitaacutevel que os profissionais no
domiacutenio da reabilitaccedilatildeo continuem a ser dominados ou laquoalienadosraquo pela Medicina (Finkelstein
1998) Este facto poderaacute ficar a dever-se primeiro agrave actual e persistente subjugaccedilatildeo dos
governos nacionais aos interesses corporativos e das organizaccedilotildees econoacutemicas e segundo agrave
diversidade de barreiras econoacutemicas poliacuteticas e culturais experienciadas pelas pessoas com
incapacidades quer nos paiacuteses desenvolvidos quer nos subdesenvolvidos Neste tipo de
cenaacuterio o pensamento ortodoxo sobre a reabilitaccedilatildeo contratualiza um expediente praacutetico para
os poliacuteticos legisladores e organizaccedilotildees profissionais Como resultado os teacutecnicos tecircm
invariavelmente um niacutevel de escolha reduzido na opccedilatildeo pelo modelo meacutedico em detrimento
de soluccedilotildees poliacuteticas colectivas na resposta aos problemas da exclusatildeo
Esta perspectiva parece afigurar-se a oposta da necessaacuteria De facto apoacutes o trabalho de
Talcott Parsons (1951) emergiu uma extensa literatura condenando a laquomedicalizaccedilatildeoraquo do
quotidiano de um conjunto diverso de perspectivas Por exemplo o filoacutesofo austriacuteaco Ivan Illich
nomeou o seacuteculo XX como a era dos profissionais incapacitantes (1977 11) pela sua
apropriaccedilatildeo do conhecimento mistificaccedilatildeo das competecircncias especializadas e a criaccedilatildeo de
uma cultura perversa e persuasiva de dependecircncia Apesar de tais criticas encontrarem a sua
aplicabilidade predominantemente nas naccedilotildees subdesenvolvidas do Ocidente surgiram
trabalhos recentes que sugerem que apesar de existir uma diminuiccedilatildeo significativa dos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 18
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
conhecimentos meacutedicos e de tratamentos com reduzidos niacuteveis de recursos nas naccedilotildees
subdesenvolvidas criacuteticas similares podem ser relevantes para o contexto no qual nos
situamos (Stone 1999 Ingstad 2001 OMS 2001)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 19
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
3 OBJECTIVOS OPERACIONAIS
Pretende-se desenvolver uma anaacutelise longitudinal e multissectorial ao conceito de deficiecircncia
no sentido de estabelecer uma configuraccedilatildeo operacional no quadro da sua aplicabilidade
estatiacutestica Esta anaacutelise insere-se no acircmbito do Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das
Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo
Objectivo Operacionalizar o conceito de deficiecircncia no quadro da sua aplicabilidade
estatiacutestica assegurando os criteacuterios de (a) comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica
e legislativa dentro do contexto portuguecircs (c) conformidade com os referenciais conceptuais
actuais
Metodologia a) Anaacutelise dos referenciais nacionais e internacionais de delimitaccedilatildeo operacional
do conceito b) exploraccedilatildeo de cenaacuterios que viabilizem o cumprimento dos requisitos definidos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 20
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
4 ANAacuteLISE PRELIMINAR DA EVOLUCcedilAtildeO DA TERMINOLOGIA NO
DOMIacuteNIO 41 ESTADO DA ARTE
A evoluccedilatildeo dos conceitos operativos nos domiacutenios da reabilitaccedilatildeo e da inclusatildeo social tem
sido reflectida nas diversas classificaccedilotildees propostas pela OMS Neste quadro evolutivo a
uacuteltima classificaccedilatildeo proposta ndash CIF ndash constitui-se como um modelo de siacutentese entre a
abordagem meacutedica e a abordagem social no domiacutenio da incapacidade e da sauacutede No sentido
de procedermos agrave anaacutelise dos principiais conceitos e termos focalizar-nos-emos na
reestruturaccedilatildeo conceptual proposta pela Classificaccedilatildeo Internacional de Funcionalidade
Incapacidade e Sauacutede (CIF)
O objectivo geral da CIF eacute proporcionar uma linguagem unificada e padronizada assim como
uma estrutura de trabalho para a descriccedilatildeo da sauacutede e de estados relacionados com a sauacutede
A classificaccedilatildeo define os componentes da sauacutede e alguns componentes do bem-estar
relacionados com a sauacutede (tais como educaccedilatildeo e trabalho) Os domiacutenios contidos na CIF
podem portanto ser considerados como domiacutenios da sauacutede e domiacutenios relacionados com a
sauacutede Estes domiacutenios satildeo descritos com base na perspectiva do corpo do indiviacuteduo e da
sociedade em duas listas baacutesicas (1) Funccedilotildees e Estruturas do Corpo e (2) Actividades e
Participaccedilatildeo Como classificaccedilatildeo a CIF agrupa sistematicamente diferentes domiacutenios de uma
pessoa com uma determinada condiccedilatildeo de sauacutede (eg o que uma pessoa com uma doenccedila
ou perturbaccedilatildeo faz ou pode fazer) A funcionalidade eacute um termo que engloba todas as funccedilotildees
do corpo actividades e participaccedilatildeo de maneira similar a incapacidade eacute um termo que inclui
deficiecircncias limitaccedilatildeo da actividade ou restriccedilatildeo na participaccedilatildeo A CIF tambeacutem relaciona os
factores ambientais que interagem com todos estes constructos Neste sentido a classificaccedilatildeo
permite ao utilizador registar perfis uacuteteis da funcionalidade incapacidade e sauacutede dos
indiviacuteduos em vaacuterios domiacutenios
A CIF pertence agrave ldquofamiacuteliardquo das classificaccedilotildees internacionais desenvolvida pela OMS para
aplicaccedilatildeo em vaacuterios aspectos da sauacutede A famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS
proporciona um sistema para a codificaccedilatildeo de uma ampla gama de informaccedilotildees sobre sauacutede
(eg diagnoacutestico funcionalidade e incapacidade motivos de contacto com os serviccedilos de
sauacutede) e utiliza uma linguagem comum padronizada que permite a comunicaccedilatildeo sobre sauacutede e
cuidados de sauacutede em todo o mundo entre vaacuterias disciplinas e ciecircncias
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 21
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Nas classificaccedilotildees internacionais da OMS os estados de sauacutede (doenccedilas perturbaccedilotildees
lesotildees etc) satildeo classificados principalmente na CID-10 (abreviatura da Classificaccedilatildeo
Internacional de Doenccedilas Deacutecima Revisatildeo) que fornece uma estrutura de base etioloacutegica A
funcionalidade e a incapacidade associadas aos estados de sauacutede satildeo classificadas na CIF
Portanto a CID-10 e a CIF satildeo complementares e os utilizadores satildeo estimulados a usar em
conjunto esses dois membros da famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS A CID-10
proporciona um ldquodiagnoacutesticordquo de doenccedilas perturbaccedilotildees ou outras condiccedilotildees de sauacutede que eacute
complementado pelas informaccedilotildees adicionais fornecidas pela CIF sobre funcionalidade Em
conjunto as informaccedilotildees sobre o diagnoacutestico e sobre a funcionalidade datildeo uma imagem mais
ampla e mais significativa da sauacutede das pessoas ou da populaccedilatildeo que pode ser utilizada em
tomadas de decisatildeo
A famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS constitui uma ferramenta valiosa para a
descriccedilatildeo e a comparaccedilatildeo da sauacutede das populaccedilotildees num contexto internacional As
informaccedilotildees sobre a mortalidade (facultadas pela CID-10) e sobre as consequecircncias na sauacutede
(proporcionadas pela CIF) podem ser combinadas de forma a obter medidas sinteacuteticas da
sauacutede das populaccedilotildees Isto permite seguir a sauacutede das populaccedilotildees e a sua distribuiccedilatildeo bem
como avaliar a parte atribuiacuteda agraves diferentes causas
A CIF transformou-se de uma classificaccedilatildeo de ldquoconsequecircncias da doenccedilardquo (versatildeo de 1980)
numa classificaccedilatildeo de ldquocomponentes da sauacutederdquo Os ldquocomponentes da sauacutederdquo identificam o que
constitui a sauacutede enquanto que as consequecircncias se referem ao impacto das doenccedilas na
condiccedilatildeo de sauacutede da pessoa Deste modo a CIF assume uma posiccedilatildeo neutra em relaccedilatildeo agrave
etiologia de modo que os investigadores podem desenvolver inferecircncias causais utilizando
meacutetodos cientiacuteficos adequados De maneira similar esta abordagem tambeacutem eacute diferente de
uma abordagem do tipo determinantes da sauacutede ou ldquofactores de risco Para facilitar o estudo
dos determinantes ou dos factores de risco a CIF inclui uma lista de factores ambientais que
descrevem o contexto em que o indiviacuteduo vive
A CIF descreve a funcionalidade e a incapacidade relacionadas com as condiccedilotildees de sauacutede
identificando o que uma pessoa ldquopode ou natildeo pode fazer na sua vida diaacuteriardquo tendo em vista as
funccedilotildees dos oacutergatildeos ou sistemas e estruturas do corpo assim como as limitaccedilotildees de
actividades e da participaccedilatildeo social no meio ambiente onde a pessoa vive Segundo a OMS a
CID-10 e a CIF satildeo complementares a informaccedilatildeo sobre o diagnoacutestico acrescido da
funcionalidade fornece um quadro mais amplo sobre a sauacutede do indiviacuteduo ou populaccedilotildees Por
exemplo duas pessoas com a mesma doenccedila podem ter diferentes niacuteveis de funcionalidade e
duas pessoas com o mesmo niacutevel de funcionalidade natildeo tecircm necessariamente a mesma
condiccedilatildeo de sauacutede
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 22
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
O termo do modelo da CIF eacute a funcionalidade que cobre os componentes de funccedilotildees e
estruturas do corpo actividade e participaccedilatildeo social A funcionalidade eacute usada no aspecto
positivo e o aspecto negativo corresponde agrave incapacidade Segundo esse modelo a
incapacidade eacute resultante da interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada pelo indiviacuteduo (seja
orgacircnica e ou da estrutura do corpo) a limitaccedilatildeo de suas actividades e a restriccedilatildeo na
participaccedilatildeo social e os factores ambientais que podem actuar como facilitadores ou barreiras
para o desempenho dessas actividades e da participaccedilatildeo
A CIF eacute baseada portanto numa abordagem biopsicossocial que incorpora os componentes
de sauacutede nos niacuteveis corporais e sociais Assim na avaliaccedilatildeo de uma pessoa com deficiecircncias
e incapacidades esse modelo destaca-se do biomeacutedico baseado no diagnoacutestico etioloacutegico da
disfunccedilatildeo evoluindo para um modelo que incorpora as trecircs dimensotildees a biomeacutedica a
psicoloacutegica (dimensatildeo individual) e a social Nesse modelo cada niacutevel age sobre e sofre a
acccedilatildeo dos demais sendo todos influenciados pelos factores ambientais A OMS pretende
incorporar tambeacutem no futuro os factores pessoais importantes na forma de lidar com as
condiccedilotildees limitantes
O objectivo pragmaacutetico da CIF eacute fornecer uma linguagem padronizada e um modelo para a
descriccedilatildeo da sauacutede e dos estados relacionados com a sauacutede permitindo a comparaccedilatildeo de
dados referentes a essas condiccedilotildees entre paiacuteses serviccedilos sectores relativos agrave sauacutede bem
como o acompanhamento da sua evoluccedilatildeo no tempo
No entanto os conceitos apresentados na classificaccedilatildeo introduzem um novo paradigma para
pensar e trabalhar as deficiecircncias e incapacidades elas natildeo satildeo apenas uma consequecircncia
das condiccedilotildees de sauacutede doenccedila mas satildeo determinadas tambeacutem pelo contexto do meio
ambiente fiacutesico e social pelas diferentes percepccedilotildees culturais e atitudes em relaccedilatildeo agrave
deficiecircncias pela disponibilidade de serviccedilos e de legislaccedilatildeo Dessa forma a classificaccedilatildeo natildeo
constitui apenas um instrumento para medir o estado funcional dos indiviacuteduos Aleacutem disso ela
permite avaliar as condiccedilotildees de vida e fornecer subsiacutedios para poliacuteticas de inclusatildeo social
42 FUNCcedilOtildeES DO CORPO
As Funccedilotildees do corpo satildeo as funccedilotildees fisioloacutegicas dos sistemas orgacircnicos (incluindo as
funccedilotildees psicoloacutegicas)
As funccedilotildees e as estruturas do corpo satildeo classificadas em duas secccedilotildees diferentes Essas duas
classificaccedilotildees estatildeo concebidas de forma a serem utilizadas em paralelo Por exemplo as
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 23
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
funccedilotildees do corpo incluem sentidos humanos baacutesicos como as funccedilotildees da visatildeo e as
estruturas relacionadas aparecem na forma de ldquoolho e estruturas relacionadasrdquo
43 ESTRUTURAS DO CORPO
As Estruturas do Corpo satildeo as partes anatoacutemicas do corpo tais como oacutergatildeos membros e
seus componentes
ldquoCorpo refere-se ao organismo humano como um todo por isso o ceacuterebro e as suas funccedilotildees
ie a mente estatildeo incluiacutedos As funccedilotildees mentais (ou psicoloacutegicas) satildeo portanto incluiacutedas nas
funccedilotildees do corpo As funccedilotildees e as estruturas do corpo satildeo classificadas de acordo com os
sistemas orgacircnicos por isso as estruturas do corpo natildeo satildeo consideradas como oacutergatildeos no
seu sentido restrito
44 DEFICIEcircNCIA
Deficiecircncias satildeo problemas nas funccedilotildees ou na estrutura do corpo tais como um desvio
importante ou uma perda
As deficiecircncias de estrutura podem consistir numa anormalidade defeito perda ou outro desvio
importante relativamente a um padratildeo das estruturas do corpo As deficiecircncias foram definidas
de acordo com os conhecimentos bioloacutegicos actuais ao niacutevel de tecidos ou das ceacutelulas e ao
niacutevel subcelular ou molecular Por motivos praacuteticos no entanto esses niacuteveis natildeo estatildeo
classificados As bases bioloacutegicas das deficiecircncias orientaram essa classificaccedilatildeo e eacute possiacutevel
expandir a classificaccedilatildeo para incluir os niacuteveis celular ou molecular Do ponto de vista meacutedico
deve-se ter em mente que as deficiecircncias natildeo satildeo equivalentes agraves patologias subjacentes mas
sim a manifestaccedilotildees dessas patologias
As deficiecircncias correspondem a um desvio relativamente ao que eacute geralmente aceite como
estado biomeacutedico normal (padratildeo) do corpo e das suas funccedilotildees A definiccedilatildeo dos seus
componentes eacute feita essencialmente por pessoas com competecircncia para avaliar a
funcionalidade fiacutesica e mental de acordo com esses padrotildees
As deficiecircncias podem ser temporaacuterias ou permanentes progressivas regressivas ou estaacuteveis
intermitentes ou contiacutenuas O desvio em relaccedilatildeo ao modelo baseado na populaccedilatildeo e
geralmente aceite como normal pode ser leve ou grave e pode variar ao longo do tempo Estas
caracteriacutesticas satildeo consideradas posteriormente em descriccedilotildees adicionais principalmente nos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 24
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
coacutedigos atraveacutes de um qualificador que se acrescenta ao coacutedigo e do qual fica separado por
um ponto
As deficiecircncias natildeo tecircm uma relaccedilatildeo causal com a etiologia ou com a forma como se
desenvolveram Por exemplo a perda da visatildeo ou de um membro pode resultar de uma
anormalidade geneacutetica ou de uma lesatildeo A presenccedila de uma deficiecircncia implica
necessariamente uma causa No entanto a causa pode natildeo ser suficiente para explicar a
deficiecircncia resultante Da mesma forma quando haacute uma deficiecircncia haacute uma disfunccedilatildeo das
funccedilotildees ou estruturas do corpo mas isto pode estar relacionado com qualquer doenccedila
perturbaccedilatildeo ou estado fisioloacutegico
As deficiecircncias podem ser parte ou uma expressatildeo de uma condiccedilatildeo de sauacutede mas natildeo
indicam necessariamente a presenccedila de uma doenccedila ou que o indiviacuteduo deva ser
considerado doente
As deficiecircncias cobrem um campo mais vasto que as perturbaccedilotildees ou as doenccedilas Por
exemplo a perda de uma perna eacute uma deficiecircncia de uma estrutura do corpo mas natildeo eacute uma
perturbaccedilatildeo ou uma doenccedila
As deficiecircncias podem originar outras deficiecircncias Por exemplo a diminuiccedilatildeo da forccedila
muscular pode prejudicar as funccedilotildees do movimento as funccedilotildees cardiacuteacas podem estar
relacionadas com o deacutefice das funccedilotildees respiratoacuterias e uma percepccedilatildeo prejudicada pode estar
relacionada com as funccedilotildees do pensamento
Actualmente na perspectiva da CIF o conceito de deficiecircncia constitui o poacutelo negativo da
componente ldquoFunccedilotildees e Estrutura do Corpordquo sendo descrito atraveacutes da existecircncia de
alteraccedilotildees significativas das funccedilotildees eou das estruturas do corpo O poacutelo positivo desta
componente refere-se agrave integridade funcional e estrutural Neste contexto um dos desafios
criacuteticos das poliacuteticas sociais consiste na operacionalizaccedilatildeo do conceito de deficiecircncia de forma
a que a elegibilidade dos diferentes puacuteblicos alvo se encontre devidamente delimitada
assegurando a eficaacutecia das medidas subjacentes
No entanto a amplitude e abrangecircncia da definiccedilatildeo do conceito de deficiecircncia proposta pela
OMS atraveacutes da CIF coloca um enorme desafio na medida em que qualquer cidadatildeo desde
que apresente um desvio significativo ao niacutevel da estrutura eou funccedilatildeo passa a ser um
potencial beneficiaacuterio das poliacuteticas neste domiacutenio Neste contexto poder-se-atildeo colocar vaacuterias
questotildees A primeira eacute se interessa agraves diferentes poliacuteticas no sector continuarem a ser
desenvolvidas tendo por focus o conceito de pessoas com deficiecircncias sabendo que a sua
distinccedilatildeo ao longo da populaccedilatildeo apenas poderaacute ser feita atraveacutes do niacutevel e extensatildeo da
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 25
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
alteraccedilatildeo da integridade estrutural e funcional de cada individuo A segunda questatildeo prende-se
com as consequecircncias conceptuais decorrentes da integraccedilatildeo do modelo social na formulaccedilatildeo
e operacionalizaccedilatildeo dos conceitos a serem utilizados pelas poliacuteticas no sector na medida em
que o aspecto critico deixa de ser a natureza e severidade da deficiecircncia para passar a centrar-
se no niacutevel e tipo de restriccedilotildees de participaccedilatildeo que cada cidadatildeo experiencia na interacccedilatildeo
com os seus contextos de vida
No que concerne agrave primeira questatildeo e atendendo a que a mais recente definiccedilatildeo do conceito
de deficiecircncia proposto pela OMS apresenta um elevado niacutevel de abrangecircncia e um reduzido
potencial diferenciador poderemos equacionar 2 hipoacuteteses centrais de operacionalizaccedilatildeo
a) A primeira hipoacutetese baseia-se na possibilidade de operacionalizar diferentes definiccedilotildees
de deficiecircncia ao longo das diferentes poliacuteticas sociais no sentido de assegurar que as
diferentes medidas alcanccedilam efectivamente as pessoas para as quais foram
elaboradas Esta perspectiva tem a vantagem de uma maior focalizaccedilatildeo nas
caracteriacutesticas especificas do puacuteblico-alvo mas no entanto apresenta uma grande
desvantagem que consiste na elevada probabilidade das diferentes definiccedilotildees
perderem a coerecircncia entre si fragmentando igualmente o modelo teoacuterico a partir do
qual se deveriam basear
b) A segunda hipoacutetese consiste na articulaccedilatildeo operativa de dois conceitos o de
deficiecircncia e o de restriccedilotildees de participaccedilatildeo Nesta perspectiva a elegibilidade de uma
determinada politica social baseia-se na validaccedilatildeo preacutevia da existecircncia da primeira
condiccedilatildeo do puacuteblico-alvo ndash a existecircncia de uma deficiecircncia ndash determinando logo de
seguida o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo a partir do qual os diferentes cidadatildeos
passam a poder aceder agraves medidas especiacuteficas nela contidas O desafio contido nesta
hipoacutetese consiste na necessidade de desenvolvimento de um sistema de avaliaccedilatildeo que
permita avaliar o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo experimentado pelas pessoas com
deficiecircncias determinando atraveacutes do valor aferido quais seriam as pessoas com
acesso agraves medidas Neste cenaacuterio natildeo bastaria que uma pessoa tivesse uma
deficiecircncia pelo que seria necessaacuterio avaliar os efeitos da deficiecircncia em interacccedilatildeo
com o ambiente social ao niacutevel da participaccedilatildeo no sentido de determinar a
elegibilidade As vantagens desta hipoacutetese relacionam-se com (i) a preservaccedilatildeo do
niacutevel de coerecircncia dos conceitos utilizados ao longo das diferentes poliacuteticas sociais (ii)
a existecircncia de um processo comum de afericcedilatildeo e determinaccedilatildeo da elegibilidade ao
longo dos diferentes sectores de politica (iii) a compatibilidade e adequabilidade dos
princiacutepios teoacutericos do modelo social com a operacionalizaccedilatildeo dos sistemas e medidas
poliacuteticos de apoio agraves pessoas com deficiecircncias e (iv) a existecircncia de mecanismos de
avaliaccedilatildeo de elevada transparecircncia controlabilidade e rigor
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 26
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45 INCAPACIDADE
Do ponto de vista de utilizaccedilatildeo dos conceitos de Deficiecircncia e de Incapacidade em Portugal
tecircm subsistido vaacuterias imprecisotildees terminoloacutegicas Primeiro na generalidade dos documentos
internacionais alude-se ao termo ldquopeople with disabilitiesrdquo sendo que invariavelmente esta
expressatildeo eacute traduzida para Portuguecircs como ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo Tal facto parece criar
condiccedilotildees para uma grande permeabilidade semacircntica dificilmente resoluacutevel do ponto de vista
conceptual Segundo deficiecircncia e incapacidade satildeo claramente dois conceitos distintos
Enquanto a deficiecircncia remete para alteraccedilotildees significativas ao niacutevel das estruturas eou das
funccedilotildees do corpo a incapacidade constitui o poacutelo negativo do funcionamento humano em
situaccedilatildeo potencial ou efectiva de participaccedilatildeo no contexto de vida Este facto pressupotildee que os
conceitos de deficiecircncia e de incapacidade natildeo contecircm nenhuma relaccedilatildeo causal entre si nem
nenhuma relaccedilatildeo linear de frequecircncia na medida em que eacute possiacutevel existir uma deficiecircncia
sem que exista uma incapacidade e eacute possiacutevel emergir uma determinada incapacidade sem
que haja uma qualquer deficiecircncia
Deste modo eacute possiacutevel
a) Ter deficiecircncias sem limitaccedilotildees de capacidade (eg uma desfiguraccedilatildeo resultante da
doenccedila de Hansen pode natildeo ter efeito sobre a capacidade da pessoa
b) Ter problemas de desempenho e limitaccedilotildees de capacidade sem deficiecircncias evidentes
(eg reduccedilatildeo de desempenho nas actividades diaacuterias associada a vaacuterias doenccedilas)
c) Ter problemas de desempenho sem deficiecircncias ou limitaccedilotildees de capacidade (eg um
indiviacuteduo HIV positivo ou um ex-doente curado de doenccedila mental que enfrenta
estigmas ou descriminaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais ou no trabalho)
d) Ter limitaccedilotildees de capacidade se natildeo tiver assistecircncia e nenhum problema de
desempenho no ambiente habitual (eg um indiviacuteduo com limitaccedilotildees de mobilidade
pode beneficiar por parte da sociedade de ajudas tecnoloacutegicas de assistecircncia para se
movimentar
e) Experimentar um grau de influecircncia em sentido contraacuterio (eg a inactividade dos
membros pode levar agrave atrofia muscular a institucionalizaccedilatildeo pode resultar numa perda
da socializaccedilatildeo)
Daqui resulta que ao referirmo-nos agraves pessoas com deficiecircncias enquanto puacuteblico-alvo
privilegiado das medidas de reabilitaccedilatildeo poderemos incorrer num desvio significativo de
alocaccedilatildeo dos recursos agraves reais necessidades das pessoas na medida em que natildeo eacute a
deficiecircncia que gera por si mesma a necessidade de reabilitaccedilatildeo mas sim as limitaccedilotildees de
actividade e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo decorrentes da interacccedilatildeo entre as caracteriacutesticas
biopsicossociais e as caracteriacutesticas dos ambientes em que o individuo se move
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 27
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A persistecircncia em traduzir o termo disability para deficiecircncia e natildeo apenas o seu homoacutelogo
anglo-saxoacutenico ndash impairment ndash poderaacute explicar-se pelas seguintes razotildees
a) O potencial efeito estigmatizante da expressatildeo ldquopessoas com incapacidadesrdquo ser maior
do que aquele contido na expressatildeo ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo
b) O termo incapacidade centrar-se exclusivamente nos aspectos negativos do
funcionamento individual classificando a pessoa agrave partida como sendo destituiacuteda de
competecircncias e condiccedilotildees para atingir os niacuteveis normativos de desempenho e
performance num conjunto de domiacutenios da vida pessoal e social
O paradoxo surge igualmente porque enquanto no modelo meacutedico a incapacidade aparece
em termos causais relacionada com a deficiecircncia numa perspectiva exclusivamente individual
no modelo proposto pela OMS operacionalizado na CIF os dois conceitos gozam de total
independecircncia conceptual e operativa sendo que a deficiecircncia passa a ter uma baixa
relevacircncia diferenciadora do ponto de vista do funcionamento humano Ora se atendermos a
que as medidas de reabilitaccedilatildeo pretendem promover os potenciais do funcionamento humano
numa perspectiva de participaccedilatildeo plena do indiviacuteduo nos mais diferenciados contextos de vida
assegurando o co-desenvolvimento de todos os actores e das estruturas sociais necessaacuterias agrave
cidadania plena entatildeo falar de ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo natildeo soacute natildeo eacute relevante no quadro
da loacutegica de intervenccedilatildeo como poderaacute traduzir dificuldades dos actores em mudar
efectivamente do paradigma meacutedico para o paradigma social
Este fenoacutemeno aliaacutes natildeo acontece apenas em Portugal sendo que recentes estudos de
investigaccedilatildeo vieram sugerir a adopccedilatildeo dos conceitos de ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo e
ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo para ultrapassar a aplicaccedilatildeo indevida dos
conceitos de deficiecircncia e incapacidade A utilizaccedilatildeo destes conceitos parece articular de forma
mais precisa com o novo modelo conceptual proposto pela OMS enfatizando a diversidade de
niacuteveis de funcionamento humano e apelando a uma certa noccedilatildeo de relatividade socialmente
construiacuteda Uma das criticas feita pela comunidade de investigadores ao conceito de ldquopessoas
com diversidade funcionalrdquo reside no facto de que a expressatildeo eacute dotada de um tatildeo elevado
niacutevel de abrangecircncia que natildeo permite um niacutevel de diferenciaccedilatildeo relevante na medida em que
todos os cidadatildeos detecircm entre si diversos e diferentes padrotildees de funcionamento humano
Neste sentido o conceito ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo aplicar-se-ia a todos os
cidadatildeos sem excepccedilatildeo A proliferaccedilatildeo destes termos eacute explicada pela necessidade da
comunidade politica e cientifica de construir constructos que sejam socialmente aceites e o
mais neutros possiacuteveis do ponto de vista dos seus valores impliacutecitos No entanto a
impossibilidade epistemoloacutegica de desenvolver expressotildees e conceitos socio-historicamente
neutros parece levar muitas vezes agrave concepccedilatildeo de definiccedilotildees com reduzida identidade isto eacute
de significado demasiado amplo e abrangente o que na expressatildeo da UPIAS ldquopodem significar
tudo e coisiacutessima nenhumardquo (2005)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 28
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Os conceitos ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo ldquopessoas com limitaccedilotildees de
actividaderdquo e ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo afiguram-se comparativamente ao
anterior como um conceito de maior coerecircncia conceptual com o modelo proposto pela OMS e
deteacutem cumulativamente um maior poder diferenciador A sua desvantagem reside no facto de
constituiacuterem expressotildees com maior dificuldade de apreensatildeo e inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 29
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 30
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5 ANAacuteLISE DOS REFERENCIAIS NACIONAIS E INTERNACIONAIS
No sentido de obter um conjunto de vectores de referecircncia na estruturaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo do
conceito de deficiecircncia foram analisadas as abordagens desenvolvidas pelos seguintes
organismos INE Eurostat OCDE American Disabilities Act WHO UN
51 INE
Os dados disponiacuteveis no INE parecem indicar a utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na
ICIDH
Deficiecircncia1 Perda ou alteraccedilatildeo de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou
anatoacutemica Nesta definiccedilatildeo estatildeo incluiacutedas as seguintes tipologias2
Deficiecircncia AUDITIVA
Deficiecircncia MENTAL
Deficiecircncia MOTORA
Deficiecircncia ORGAcircNICO-FUNCIONAL
Deficiecircncia PSIQUIAacuteTRICA
Deficiecircncia VISUAL
Incapacidade3 Ausecircncia ou limitaccedilatildeo da capacidade para funcionar estando comprometida a
realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida
diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e originando uma desvantagem para funcionar em
sociedade face a outros
Pessoa deficiente Aquela que tenha uma ou mais das seguintes deficiecircncias a) deficiecircncia
visual b) deficiecircncia auditiva c) deficiecircncia mental d) deficiecircncia motora
1 Nota Na operaccedilatildeo censitaacuteria de 2001 apenas foi observada a deficiecircncia permanente a deficiecircncia temporaacuteria natildeo foi considerada (por exemplo se um indiviacuteduo se desloca com canadianas ou em cadeira de rodas porque partiu uma perna ou se sofre de descolamento parcial da retina que o obriga a andar com uma venda natildeo foi considerado como tendo uma deficiecircncia) 2 Fonte INE ndash Censos 2001 ndash Recenseamento Geral da Populaccedilatildeo (Antecedentes Metodologia e Conceitos) Antecedentes Metodologia e Conceitos 3 Fonte INS ndash Inqueacuterito Nacional agrave Sauacutede
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 31
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Trabalhador deficiente Trabalhador que estaacute incapacitado para assegurar por si mesmo total
ou parcialmente a satisfaccedilatildeo de necessidades de uma vida individual ou social normal devido
a uma deficiecircncia congeacutenita ou adquirida das suas capacidades fiacutesicas sensoriais ou
mentais tendo por isso dificuldade em obter eou manter o desempenho de funccedilotildees de acordo
com as suas habilitaccedilotildees idade e experiecircncia profissional
Cidadatildeo Trabalhador com necessidades especiais Cidadatildeo idoso ou portador de
deficiecircncias sensoriais (visuais e auditivas) fiacutesicas (motoras) e cognitivas
52 EUROSTAT
Os dados disponibilizados pelo Eurostat no seu endereccedilo electroacutenico4 parecem indicar a
utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na ICIDH
Conceito Deficiecircncia5
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de deficiecircncia refere-se a uma perda ou alteraccedilatildeo
de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou anatoacutemica
Conceito Incapacidade6
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de incapacidade refere-se agrave ausecircncia ou limitaccedilatildeo
da capacidade para funcionar estando comprometida a realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas
funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e
originando uma desvantagem para funcionar em sociedade face a outros
Conceito Desvantagem7
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito refere-se agrave desvantagem para um dado individuo
decorrente de uma deficiecircncia ou incapacidade
4 httpforumeuropaeuintircdsiscodedinfodatacodedenTheme3htm 5 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 6 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 7 Fonte Key data on health 2000 Eurostat
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
53 OCDE
Definiccedilotildees gerais de incapacidade
No contexto da OCDE identificam-se 2 abordagens distintas no quadro da definiccedilatildeo de
incapacidade
A incapacidade pode ser definida enquanto um estado decorrente de autoavaliaccedilatildeo ou um
status baseado em fontes administrativas eg beneficiaacuterio dos apoios De forma muito
frequente e talvez de forma imprecisa estas duas definiccedilotildees satildeo explicitadas como
incapacidade ldquosubjectivardquo versus rdquoobjectivardquo
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo e instrumentos
A incapacidade autoavaliada eacute medida atraveacutes de inqueacuteritos feitos directamente aos cidadatildeos
nas suas residecircncias Apesar da avaliaccedilatildeo ser baseada de uma forma geral nas respostas agraves
questotildees relativas a problemas de sauacutede de longo termo que limitam as actividades de vida
diaacuteria o detalhe das questotildees eacute geralmente diferente dificultando a comparabilidade dos
dados Por exemplo ldquolongo termordquo eacute parametrizado em 6 meses na Noruega e em 12 meses
na Suiccedila O status dos beneficiaacuterios pode ser avaliado atraveacutes de registos administrativos ou
atraveacutes de inqueacuteritos Os resultados entre as duas fontes satildeo de uma forma geral bastante
diferentes por duas razotildees nucleares os registos administrativos geralmente contam casos e
natildeo pessoas o que em situaccedilotildees de benefiacutecios muacuteltiplos pode levar a contagens duplas por
outro lado os inqueacuteritos satildeo baseados nas respostas sobre o status do beneficiaacuterio e algumas
pessoas podem desejar natildeo revelar a sua condiccedilatildeo perante os benefiacutecios
Nenhuma destas definiccedilotildees e medidas de mensuraccedilatildeo eacute superior a outras pelo que a sua
utilizaccedilatildeo depende dos objectivos do propoacutesito da investigaccedilatildeo e da disponibilidade da
informaccedilatildeo
Abordagens para medir a incapacidade no quadro da aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos agraves populaccedilotildees
a) Incapacidade geral (natildeo especificada)
Puacuteblico-alvo todos os adultos
b) Incapacidade relativa ao trabalho
Puacuteblico-alvo pessoas em idade activa
c) Limitaccedilotildees nas actividades de vida diaacuteria (AVD)
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Puacuteblico-alvo Populaccedilatildeo idosa
54 AMERICAN DISABILITIES ACT
O American Disabilities Act (ADA) desenvolvido em 1990 fornece um conjunto de guidelines
no sentido de assegurar a disponibilizaccedilatildeo de serviccedilos para as pessoas com deficiecircncias bem
como a protecccedilatildeo dos seus direitos legais
A ADA inclui uma definiccedilatildeo legal de incapacidade consistindo na presenccedila de ldquouma deficiecircncia
fiacutesica ou mental que limita significativamente uma ou mais das principais actividades de vidardquo
Independentemente da definiccedilatildeo proposta pela ADA a existecircncia de muacuteltiplos programas a
favor das pessoas com deficiecircncias e os diferentes focus legais em diferentes puacuteblicos alvo
fazem com que tenham emergido uma multiplicidade de definiccedilotildees de incapacidade ao longo
do tempo no quadro das poliacuteticas sociais americanas
55 OMS ONU Revisatildeo dos actuais inqueacuteritos sobre a incapacidade
Apesar de existir um desenvolvimento consideraacutevel dos inqueacuteritos na aacuterea da incapacidade
poder-se-atildeo explicitar algumas observaccedilotildees relativas agrave sua multiplicidade Numa primeira linha
de anaacutelise os inqueacuteritos tendem a focalizar-se nas limitaccedilotildees de actividade eou na deficiecircncia
No que concerne agrave formulaccedilatildeo escrita tendem a existir diferenccedilas significativas entre
inqueacuteritos facto que inviabiliza natildeo raras vezes a comparabilidade dos dados entre inqueacuteritos
As diferentes formulaccedilotildees das questotildees incluem
Tem dificuldade
Eacute capaz de
Faz
Tem sentido problemas em
com ou sem assistecircncia pessoal eou tecnoloacutegica
A questatildeo que se coloca eacute se estas formulaccedilotildees tecircm o mesmo significado isto eacute se todas elas
pretendem medir a capacidade ou a performance De acordo com a CIF a capacidade
remeteria para o potencial de execuccedilatildeo de um indiviacuteduo enquanto a performance diria respeito
ao niacutevel de desempenho efectivo do indiviacuteduo atraveacutes do seu envolvimento numa situaccedilatildeo de
vida real As lacunas existentes e as poucas referecircncias ao niacutevel da forma como os inquiridos
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
satildeo instruiacutedos a responder faz com que natildeo seja possiacutevel desenvolver um discernimento
irrefutaacutevel sobre esta mateacuteria
Do ponto de vista dos domiacutenios abrangidos os inqueacuteritos tecircm apresentado algumas questotildees
sobre a participaccedilatildeo e o ambiente e evidenciam algumas limitaccedilotildees na sua amplitude Os
domiacutenios de actividades e participaccedilatildeo geralmente abrangidos tecircm sido operacionalizados de
uma forma geral nas seguintes dimensotildees
Educaccedilatildeo e emprego (formulado como questotildees de performance)
Outros inqueacuteritos incluem aacutereas como relaccedilotildees interpessoais vida familiar tomada de
decisotildees etc
O domiacutenio relativo aos factores ambientais tem incluiacutedo
Utilizaccedilatildeo e acessibilidadedisponibilidade dos produtos de assistecircncia e da tecnologia
Acessibilidade do ambiente
Disponibilidade dos serviccedilos (sauacutede protecccedilatildeo social educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo)
Evidecircncias muito escassas ao niacutevel da poliacutetica atitudes ambiente natural
planeamento e concepccedilatildeo
A questatildeo de investigaccedilatildeo neste contexto centra-se na seguinte formulaccedilatildeo ldquoo que eacute que os
inqueacuteritos medem como incapacidaderdquo
a) Definiccedilatildeo a priori da incapacidade versus sem incapacidade
Alguns inqueacuteritos sobre a incapacidade especialmente os mais antigos utilizam uma definiccedilatildeo
a priori de incapacidade O objectivo deste tipo de inqueacuteritos eacute contar o nuacutemero de pessoas
que se encaixam na definiccedilatildeo no contexto da populaccedilatildeo total Neste sentido os dados satildeo
analisados de acordo com dois grupos de referecircncia ndash com incapacidade e sem incapacidade ndash
em funccedilatildeo de um conjunto de diferentes variaacuteveis Este tipo de questionaacuterios formula questotildees
do tipo ldquoPossui algum tipo de incapacidade auditiva visual ou fiacutesicardquo Muitas questotildees dos
censos tecircm utilizado este formato
b) Definiccedilatildeo a posteriori de incapacidade versus sem incapacidade
Mais recentemente alguns inqueacuteritos desenvolveram-se em direcccedilatildeo a uma definiccedilatildeo a
posteriori de incapacidade Nestes casos eacute medida a capacidade a performance ao longo de
um conjunto vasto de domiacutenios Este segundo tipo de inqueacuteritos tende a ter uma ampla
aceitaccedilatildeo eg HALS (Canada) HID (Franccedila) inqueacuterito sobre incapacidade na Africa do Sul
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Inqueacuterito Espanhol sobre incapacidade NHIS-D (USA) inqueacuterito Holandecircs entre outros Estes
instrumentos formulam questotildees relativas agraves dificuldades que as pessoas experienciam em
diferentes domiacutenios produzindo um perfil pessoal que possa colocar em evidecircncia os
diferentes graus de capacidade associados A categorizaccedilatildeo de incapacidade sem
incapacidade eacute formulada ao niacutevel do domiacutenio e natildeo como uma categoria geral de atributo
pessoal Esta abordagem permite uma anaacutelise ao niacutevel de funcionamento individual por
domiacutenio por exemplo comparando a experiecircncia de incapacidade no domiacutenio de mobilidade
versus socializaccedilatildeo versus comunicaccedilatildeo entre outros bem como o impacto dos factores
ambientais nestes diferentes domiacutenios O perfil resultante do funcionamento individual ao longo
de muacuteltiplos domiacutenios eacute similar aos estados de sauacutede individuais ao longo das diferentes
dimensotildees
Vantagens de uma abordagem a posteriori
Estaacute em consonacircncia com a abordagem universal proposta pela CIF Todas as
pessoas experienciam deficiecircncia nalgum ponto e esta experiecircncia eacute caracterizada
numa abordagem a posteriori e natildeo a priori
Decisotildees sobre a criaccedilatildeo de categorias sobre quem tem incapacidade e sobre quem
natildeo tem podem ser tomadas atraveacutes de diferentes niacuteveis de anaacutelise por exemplo
atraveacutes da anaacutelise da experiecircncia das pessoas que experienciam incapacidade em 1 2
ou 3 domiacutenios de cruzar o status de emprego de pessoas com incapacidade ao longo
dos diferentes domiacutenios etc
Deixa de ser necessaacuteria uma definiccedilatildeo tipoloacutegica e categoacuterica de pessoas com
incapacidade O que necessita de ser definido neste contexto eacute o que se designa por
limitaccedilatildeo da capacidade ou problemas de performance ao longo dos diferentes
domiacutenios
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6 SISTEMATIZACcedilAtildeO DAS DIMENSOtildeES DE ORGANIZACcedilAtildeO E
OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em todos os estudos efectuados neste domiacutenio foi colocada em evidecircncia a actual dificuldade
de comparabilidade estatiacutestica internacional inter ou intra sectorial independentemente do
organismo referenciador ndash OCDE ONU EUROSTAT INE OMS
Neste contexto desenvolver-se-aacute a extracccedilatildeo de conhecimento tendo por base a identificaccedilatildeo
de um conjunto de eixos de anaacutelise que actuem como vectores de estruturaccedilatildeo na
operacionalizaccedilatildeo do conceito A este propoacutesito atente-se no Quadro 2
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Abordagem Focus Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Delimitaccedilatildeo temporal do
conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo
Design das questotildees
CID-10
ICIDH
ICF
SauacutedeDoenccedila
Deficiecircncia
Incapacidade
a) Geral
b) Relativa ao trabalho
c) Limitaccedilotildees nas
actividades de vida
diaacuteria
Funcionalidade ndash
Niacuteveis de execuccedilatildeo
das actividades por
domiacutenio e niacuteveistipos
de ajudas mobilizadas
Intersubjectivo ndash
vg inqueacuteritos
Objectivo ndash vg
fontes administrativas
A priori
A posteriori
Temporaacuterias
permanentes
Progressivas
regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou
contiacutenuas
Tipo 1 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre uma determinada
condiccedilatildeo individual
combinada com itens
referentes a limitaccedilotildees de
actividade e participaccedilatildeo e
factores contextuais
Tipo 2 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre a presenccedila de uma
pessoa com incapacidade
no agregado familiar
seguindo-se uma lista de
deficiecircncias e
incapacidades
Tipo 3 ndash Checklist de
deficiecircncias
Quadro 2 ndash Eixos de operacionalizaccedilatildeo do conceito
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7 ESCOLHA DO CENAacuteRIO A IMPLEMENTAR
A anaacutelise do Quadro 2 permite-nos uma definiccedilatildeo modular do cenaacuterio a implementar atraveacutes de
uma configuraccedilatildeo do conceito pelos eixos de anaacutelise propostos Uma das dificuldades
evidentes nesta delimitaccedilatildeo prende-se com o cumprimento dos requisitos de (a)
comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica e legislativa dentro do contexto portuguecircs
e (c) conformidade com os referenciais conceptuais actuais sendo que a coexistecircncia destes
criteacuterios afigura-se em muitos casos incompatiacutevel entre si Para efeitos da estruturaccedilatildeo do
cenaacuterio privilegiar-se-aacute a conformidade com os referenciais conceptuais actuais
71 ABORDAGEM No que concerne agrave abordagem privilegia-se a adopccedilatildeo das mais recentes directrizes propostas
pela OMS adoptando explicitamente a CIF
Fundamentaccedilatildeo
A CIF apresenta a capacidade para descrever o funcionamento humano numa
perspectiva biopsicossocial em detrimento da classificaccedilatildeo anterior (ICIDH) que se
focalizava na dimensatildeo biomeacutedica A CIF foi desenvolvida no plano conceptual para ser aplicaacutevel em diferentes aacutereas e
sectores A CIF eacute aplicaacutevel transversalmente agraves dimensotildees de cultura idade geacutenero sendo um
instrumento sistemaacutetico para descrever e medir a sauacutede e o funcionamento humano
num dado contexto A CIF constitui-se enquanto instrumento potencial para a poliacutetica social design das
intervenccedilotildees nos domiacutenios da sauacutede educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e intervenccedilatildeo social Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
72 FOCUS
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo da centraccedilatildeo da recolha de dados ao niacutevel
da dimensatildeo de funcionalidade
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Fundamentaccedilatildeo
Consonacircncia com o modelo conceptual proposto pela CIF enfatizando o caraacutecter
dinacircmico e interaccional (pessoa factores contextuais) do funcionamento de cada
pessoa Permite caracterizar as limitaccedilotildees de actividade e restriccedilotildees de participaccedilatildeo dos
cidadatildeos identificando necessidades de intervenccedilotildees especializadas numa loacutegica de
empowerment e participaccedilatildeo social Permite analisar a adequabilidade e ajustamento das actuais medidas poliacuteticas do
ponto de vista dos seus objectivos e os problemas detectados ao niacutevel da participaccedilatildeo
dos cidadatildeos ao longo de um conjunto diversificado de domiacutenios
73 MEacuteTODOS DE MENSURACcedilAtildeO
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo de meacutetodos intersubjectivos nomeadamente
inqueacuteritos
Fundamentaccedilatildeo
Flexibilidade ao niacutevel da abrangecircncia e profundidade das dimensotildees
Maior facilidade na implementaccedilatildeo atendendo agrave disponibilizaccedilatildeo de uma amostra
delimitada
Maior niacutevel de controlo sobre as condiccedilotildees de observaccedilatildeo e da entrevista devido ao
menor nuacutemero de entrevistas a ser implementado
74 DELIMITACcedilAtildeO CONCEPTUAL E TEMPORAL DO CONCEITO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo temporal e apesar de se privilegiar as vantagens anteriormente
explicitadas no desenvolvimento de uma definiccedilatildeo a posteriori assume-se a necessidade
politica de delimitar o campo de intervenccedilatildeo do conjunto de medidas sociais neste domiacutenio
pelo que a delimitaccedilatildeo conceptual poderaacute ser objecto de operacionalizaccedilatildeo atraveacutes dos
seguintes paracircmetros
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
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Poder-se-aacute colocar a questatildeo de saber se a delimitaccedilatildeo do conceito proposta remete
especificamente para ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ou para ldquopessoas com limitaccedilotildees de
participaccedilatildeordquo Atendendo a que a definiccedilatildeo comporta uma abordagem sisteacutemica enfatizando a
interacccedilatildeo entre um conjunto diversificado de componentes que produzem impacto na
funcionalidade da pessoa a resposta natildeo eacute linear dependendo da ecircnfase socio-histoacuterica e da
abordagem sociopoliacutetica que se escolher enfatizar No entanto e do ponto de vista conceptual
privilegia-se a adopccedilatildeo do conceito ldquopessoas com limitaccedilotildees de participaccedilatildeordquo dado que existe
total autonomia operativa entre os diferentes constructos Neste sentido a deficiecircncia natildeo
constitui um factor causal linear das limitaccedilotildees de actividade e das restriccedilotildees ao niacutevel da
participaccedilatildeo mas antes uma das componentes que em interacccedilatildeo com outras podem
provocar impactos ao niacutevel da funcionalidade do indiviacuteduo Por uacuteltimo refira-se que a tipologia
ldquopessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeordquo poderaacute ser alvo de criticas por constituir
uma designaccedilatildeo que apela a duas componentes em simultacircneo (actividades e participaccedilatildeo)
excluindo outras e ser demasiado longa para uma definiccedilatildeo tipoloacutegica A este propoacutesito pode-
se sugerir a delimitaccedilatildeo ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo constituindo esta
expressatildeo uma abordagem holiacutestica ao conjunto de componentes que interferem com o
funcionamento humano Deste modo poderemos ter as seguintes designaccedilotildees
Pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Pessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo
Pessoas com limitaccedilotildees de funcionalidade
Figura 2 ndash Possiacuteveis designaccedilotildees
O Quadro 3 pretende fornecer uma visatildeo sistemaacutetica sobre o processo de decisatildeo da
designaccedilatildeo a adoptar
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
deficiecircncias
Tradiccedilatildeo analiacutetica dentro do
contexto portuguecircs
Em conformidade com o modelo
meacutedico ndash centra-se nas alteraccedilotildees
de estrutura e funccedilatildeo ndash
focalizaccedilatildeo na pessoa
Desarticulado dos pressupostos do
modelo social ndash natildeo remete para a
experiecircncia de incapacidade
enquanto produto da interacccedilatildeo
entre pessoa e ambiente
Mai
or
Abr
angecirc
ncia
Mai
or
Espe
cific
idad
e
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
incapacidades
Em conformidade com a
delimitaccedilatildeo anglo-saxoacutenica que
utiliza o conceito Disability
Focalizaccedilatildeo no poacutelo negativo do
funcionamento humano ndash
funcionalidadeincapacidade
Ao focalizar-se na experiecircncia de
incapacidade enquanto
interacccedilatildeo pessoa-ambiente
remete indirectamente para a
mobilizaccedilatildeo de apoios e recursos
de forma a ultrapassar eou
eliminar os obstaacuteculos ao
funcionamento em contexto
O potencial efeito estigmatizante
da expressatildeo ldquopessoas com
incapacidadesrdquo
Pessoas com
diversidade
Funcional
Em conformidade com o modelo
social
Focaliza-se na gestatildeo das
diferenccedilas e no seu impacto ao
niacutevel da participaccedilatildeo das pessoas
na sociedade
Elevado niacutevel de abrangecircncia natildeo
permitindo um niacutevel de
diferenciaccedilatildeo relevante na
medida em que todos os cidadatildeos
detecircm entre si diversos e
diferentes padrotildees de
funcionamento humano
Conceito dificilmente
operacionalizaacutevel do ponto de
vista da formulaccedilatildeo das poliacuteticas e
da delimitaccedilatildeo dos puacuteblicos-alvo
Pessoas com
restriccedilotildees ao
niacutevel da
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos Desta forma
todos os obstaacuteculos agrave participaccedilatildeo
relacionados com discriminaccedilatildeo
social preconceitos estereoacutetipos
deficiecircncias doenccedilas croacutenicas
entre outros satildeo incluiacutedos
Natildeo inclui as limitaccedilotildees de
actividade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
limitaccedilotildees de
actividade e
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida e simultaneamente no
domiacutenio das limitaccedilotildees de
actividade
Ruptura com a tradiccedilatildeo analiacutetica
no sector
Dificuldade de apreensatildeo e
inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Natildeo inclui as alteraccedilotildees da
estrutura e da funccedilatildeo
Pessoas com
limitaccedilotildees de
funcionalidade
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel das
diferentes dimensotildees constituintes
da funcionalidade e do
funcionamento humano
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos
Pessoas com
deficiecircncias e
incapacidades
Natildeo introduz ruptura com a
tradiccedilatildeo analiacutetica no sector
Inclui as alteraccedilotildees de estrutura e
funccedilatildeo bem como as alteraccedilotildees
decorrentes ao niacutevel da
funcionalidade
Diferencia os conceitos de
deficiecircncia e incapacidade
autonomizando-os e fornecendo
uma base compreensiva para o
natildeo estabelecimento de relaccedilotildees
de causa-efeito entre os ambos
Abrange os obstaacuteculos que
emergem na interacccedilatildeo pessoa-
contextos de vida e
simultaneamente no domiacutenio das
limitaccedilotildees de actividade
Poder diferenciador e delimitador
na definiccedilatildeo do puacuteblico-alvo
Em alinhamento estrateacutegico com o
PAIPDI
Designaccedilatildeo de compromisso com
os referenciais teoacutericos do modelo
social e dos princiacutepios da ldquoeacutetica da
diversidaderdquo
Quadro 3 ndash Visatildeo comparativa das hipoacuteteses da designaccedilatildeo a adoptar
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 43
Dezembro2006
75 DELIMITACcedilAtildeO DA DURACcedilAtildeO E CURSO DE EVOLUCcedilAtildeO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo interessa a caracterizaccedilatildeo nas
3 dimensotildees desenvolvidas
Fundamentaccedilatildeo
Afigura-se relevante caracterizar a ocorrecircncia das deficiecircncias quanto aacute sua
consistecircncia no tempo ndash temporaacuterias permanentes ndash analisando os factores
contextuais associados consequecircncias ao niacutevel das actividades e da participaccedilatildeo ao
longo de um conjunto de domiacutenios em ordem agrave extracccedilatildeo de implicaccedilotildees no acircmbito
das poliacuteticas sociais
No acircmbito da adaptabilidade e da adequaccedilatildeo das medidas poliacuteticas agraves necessidades
especiacuteficas dos cidadatildeos torna-se relevante caracterizar a deficiecircncia quanto agrave
natureza do seu curso evolutivo ndash progressivas regressivas estaacuteveis O mesmo
criteacuterio eacute aplicaacutevel quanto aacute dimensatildeo de padratildeo de manifestaccedilatildeo ndash intermitente
contiacutenua
No entanto e apesar da incapacidade se manifestar ao longo do ciclo de vida da pessoa
de forma multimodal para efeitos de delimitaccedilatildeo e de definiccedilatildeo do conceito de pessoas
com deficiecircncias e incapacidades privilegiaremos o caraacutecter permanente Desta forma
excluem-se as manifestaccedilotildees temporaacuterias de incapacidade que enviesariam a anaacutelise e o
desenvolvimento de poliacuteticas neste domiacutenio
76 DESIGN DAS QUESTOtildeES
No que concerne ao design das questotildees privilegia-se a escolha de questotildees tipo 1
Fundamentaccedilatildeo
Em consonacircncia com a CIF
Permite comparabilidade estatiacutestica futura
Permite a caracterizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre os factores de funcionalidade ndash integridade
estrutural e funcional actividades participaccedilatildeo e factores contextuais
Permite o design das poliacuteticas sociais e metodologias de intervenccedilatildeo alicerccediladas nas
necessidades especiacuteficas dos cidadatildeos em torno das dimensotildees de inclusatildeo social
Domiacutenios
Visatildeo
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 44
Dezembro2006
Audiccedilatildeo
Comunicaccedilatildeo
Mobilidade
Dor
Aprendizagem e funcionamento psicoloacutegico
Autocuidados e vida domeacutestica
Condiccedilotildees gerais de sauacutede
Mobilizaccedilatildeo de ajudas ou equipamento especializado
Participaccedilatildeo social
Transporte e educaccedilatildeo
77 PROPOSTA DE DELIMITACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em funccedilatildeo das dimensotildees caracterizadas e dos criteacuterios privilegiados desenvolveu-se o
seguinte enquadramento conceptual
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 45
Dezembro2006
Figura 2 ndash Enquadramento conceptual da delimitaccedilatildeo do conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso da evoluccedilatildeo
Temporaacuterias permanentes
Progressivas regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou contiacutenuas
Focus
Funcionalidade ndash Niacuteveis de execuccedilatildeo das actividades por domiacutenio e niacuteveistipos de ajudas mobilizadas
Abordagem CIF
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo temporal do conceito
A priori
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Inter-subjectivo
Design das questotildees
Questatildeo geneacuterica sobre uma determinada condiccedilatildeo individual combinada com itens referentes a limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo e factores contextuais
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 46
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8 CRITEacuteRIOS DE ELEGIBILIDADE DO PUacuteBLICO-ALVO E SISTEMAS DE
AVALIACcedilAtildeO
A operacionalizaccedilatildeo do conceito de incapacidade tem sido abordada de forma heterogeacutenea
entre diferentes modalidades de politica e os diferentes contextos socioculturais de cada paiacutes
De uma forma geral encontram-se 2 eixos criacuteticos na sua operacionalizaccedilatildeo
a) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de trabalho (na ocupaccedilatildeo preacutevia ou numa nova
ocupaccedilatildeo ajustada agraves alteraccedilotildees funcionais)
b) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de obter rendimentos provenientes do trabalho
A explicitaccedilatildeo dos criteacuterios de delimitaccedilatildeo do conceito de incapacidade nos diferentes paiacuteses
encontra-se na Quadro 4
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Austraacutelia 2 Criteacuterios possuir uma incapacidade que resulte
num score nunca inferior a 20 nas tabelas de
incapacidades e incapacidade em trabalhar 30
horas ou mais por semana ou em ser
reconvertido para trabalho em contexto regular
nos proacuteximos 2 anos
Nenhum
Aacuteustria 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho (50
de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo para
trabalhadores sem qualificaccedilotildees) papel criacutetico
das decisotildees dos tribunais devido a definiccedilotildees
legais imprecisas
Nenhum mas as
restriccedilotildees de sauacutede
devem ter uma duraccedilatildeo
igual ou superior a 6
meses
Beacutelgica 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na actual ocupaccedilatildeo
1 ano
Canada Incapacidade severa e prolongada que impeccedila de
desenvolver trabalho numa base regular
Nenhum
Dinamarca 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum mas a
reabilitaccedilatildeo precisa de
estar completa
Franccedila 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual mas a
totalidade do subsidio requer igualmente perda de
capacidade de trabalho
Nenhum no caso das
condiccedilotildees estarem
estaacuteveis mas muito
frequentemente apoacutes 3
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 47
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Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
anos
Alemanha 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho a
incapacidade parcial eacute calculada em funccedilatildeo do nordm
de horas que a pessoa pode trabalhar
Nenhum mas a
incapacidade deve ter
uma duraccedilatildeo miacutenima
de 26 semanas
Itaacutelia 666reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum
Coreia Criteacuterios meacutedicos (niacuteveis de incapacidade
definidos de forma detalhada)
Periacuteodo de espera de
50 dias (os subsiacutedios
de doenccedila natildeo se
encontram disponiacuteveis)
Meacutexico 50 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo Nenhum
Holanda 15 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
(25 para os trabalhadores por conta proacutepria e
jovens com incapacidade) grau de incapacidade
calculado pela diferenccedila de remuneraccedilatildeo entre o
actual posto de trabalho compatiacutevel com as
limitaccedilotildees funcionais e o anterior
1 ano
Noruega 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho O
grau de subsiacutedio eacute calculado pela capacidade de
remuneraccedilatildeo
Nenhum (apoacutes ter
completado a
reabilitaccedilatildeo vocacional)
Poloacutenia Reduccedilatildeo temporaacuteria ou permanente da
capacidade de trabalho
Nenhum
Portugal 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual
Nenhum mas na
praacutetica ao fim de 3
anos (fim do periacuteodo de
doenccedila de longo termo)
Espanha 33 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho na
ocupaccedilatildeo actual incapacidade para todo e
qualquer trabalho para a totalidade do subsiacutedio
1 ano (embora seja
possiacutevel a candidatura
antes deste prazo em
casos de incapacidade
permanente)
Sueacutecia 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho grau
de incapacidade parcial calculado a partir das
horas que uma pessoa pode trabalhar
Nenhum
Suiccedila 40 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho para
as pessoas inactivas o grau de incapacidade eacute
calculado em relaccedilatildeo aacute actividade actual
1 ano
Turquia 666 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho
com um focus meacutedico bastante significativo
Nenhum
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Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 48
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Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Reino Unido Limitaccedilotildees nas actividades de vida quotidianas
relevantes para o trabalho (avaliaccedilotildees meacutedicas
predominantes) teste ocupacional durante a s
primeiras 28 semanas (subsidio de doenccedila)
28 semanas
Estados
Unidos
Reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
incapacidade em investir numa actividade
profissional com rendimentos ($ US 740 por mecircs)
5 meses (nem sempre
cobertos pelos
subsiacutedios de curto-
termo) e 24 meses
para a cobertura
meacutedica
Quadro 4 ndash Definiccedilotildees de incapacidade e tempos regulamentares
Um dos desafios que se coloca aos actuais sistemas reside na delimitaccedilatildeo da elegibilidade do
puacuteblico-alvo Para cumprir este objectivo satildeo necessaacuterios sistemas de avaliaccedilatildeo holiacutesticos
abrangentes coerentes e que permitam chegar a resultados de forma consistente e com
validade interna No actual contexto a CIF propotildee constituir-se como o instrumento conceptual
abrangente para caracterizar os diferentes domiacutenios e niacuteveis de funcionalidade incapacidade
de forma coerente e integrada Neste sentido uma das vantagens apontadas para a adopccedilatildeo
do modelo desenvolvido pela OMS eacute a possibilidade de uniformizaccedilatildeo de conceitos e portanto
da utilizaccedilatildeo de uma linguagem padratildeo que permita a comunicaccedilatildeo entre investigadores
gestores profissionais de sauacutede organizaccedilotildees da sociedade civil e utilizadores em geral
Um dos campos de estudo mais explorados para a aplicaccedilatildeo da CIF tem sido a aacuterea de
Medicina Fiacutesica e de Reabilitaccedilatildeo no que concerne ao acompanhamento do estado de sauacutede
dos pacientes em tratamento O uso da CIF tem sido considerado tambeacutem na avaliaccedilatildeo apoacutes
transtornos agudos condiccedilotildees traumaacuteticas condiccedilotildees croacutenicas e na geriatria
Alguns autores argumentam que a CIF deve ser explorada como uma base de informaccedilotildees
padronizadas em estudos sobre incapacidade profissional quando haacute necessidade de
relacionar dados de sauacutede ocupacional com os da Seguranccedila Social
Na Sauacutede Puacuteblica tradicionalmente pouca atenccedilatildeo tem sido dada agraves pessoas com
incapacidades No entanto ao lado de recentes investimentos por parte de organizaccedilotildees e de
alguns governos a publicaccedilatildeo do modelo da CIF fornece as bases para as poliacuteticas e
disciplinas da Sauacutede Puacuteblica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo que apresenta deficiecircncias e
incapacidades Assim uma das possibilidades de uso da CIF pode ser a contribuiccedilatildeo para
responder a importantes questotildees de sauacutede puacuteblica tais como qual o estado de sauacutede das
pessoas com deficiecircncias comparadas com as demais que necessidades e que tipos de
intervenccedilotildees satildeo mais adequadas para reduzir condiccedilotildees secundaacuterias e promover a
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na sociedade entre outras
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 49
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Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 50
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Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 51
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Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
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Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
condiccedilatildeo necessaacuteria agrave participaccedilatildeo plena das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na
sociedade numa loacutegica de igualdade de oportunidades
Este desenvolvimento conceptual na forma como as deficiecircncias e incapacidades satildeo
equacionadas faz com que pela primeira vez seja reconhecida a possibilidade das diferentes
necessidades das pessoas com deficiecircncias e incapacidades constituiacuterem objecto de resposta
nos serviccedilos e estruturas regulares da sociedade Este facto assenta na reconfiguraccedilatildeo dos
modelos de inclusatildeo e de capacitaccedilatildeo colectiva de todos os actores sociais que directa ou
indirectamente contribuem para a exclusatildeo inclusatildeo das pessoas com deficiecircncias e
incapacidades Deste modo inicia-se a estruturaccedilatildeo das perspectivas de mainstreaming que
tecircm vindo a intencionalizar a implementaccedilatildeo de serviccedilos especializados assentes numa loacutegica
de consultoria baseados nas estruturas e serviccedilos da comunidade Esta ruptura com o modelo
meacutedico na forma como a deficiecircncia eacute conceptualizada implicou que as poliacuteticas comeccedilassem
a ser dirigidas agrave remoccedilatildeo das barreiras agrave plena participaccedilatildeo para as pessoas com deficiecircncias
e incapacidades em vez de ldquoproblematizarrdquo a pessoa e focalizarem-se apenas nela Pode-se
verificar esta abordagem atraveacutes do desenvolvimento de regulamentos sobre o design de
edifiacutecios e nas infra-estruturas de transportes no sentido de prevenir a construccedilatildeo de situaccedilotildees
e contextos incapacitantes e reduzir as barreiras existentes entre outras manifestaccedilotildees
Do ponto de vista do ambiente cultural comeccedila a emergir o reconhecimento das diferenccedilas e a
relevacircncia de adoptar poliacuteticas que promovam a integraccedilatildeo da diversidade Neste acircmbito as
poliacuteticas comeccedilam progressivamente a pretender influenciar mudanccedilas nos padrotildees de
atitudes e de comportamentos sobre a forma como os cidadatildeos compreendem e percepcionam
as pessoas com deficiecircncias e incapacidades (designadas por poliacuteticas simboacutelicas)
focalizando-se na alteraccedilatildeo dos elementos inibidores da participaccedilatildeo para factores
facilitadores De igual forma as poliacuteticas simboacutelicas apesar de ainda natildeo existirem directrizes
coerentes e consensuais para a definiccedilatildeo da categoria de pessoas com e sem deficiecircncias e
incapacidades comeccedilam a sentir a necessidade de enquadrar esta delimitaccedilatildeo e definiccedilatildeo de
forma a garantir o seu sucesso e eficaacutecia na transformaccedilatildeo das representaccedilotildees simboacutelicas dos
cidadatildeos O conjunto de caracteriacutesticas enunciadas bem como os seus elementos
constituintes tecircm vindo a ser designadas pelos investigadores por modelo social por oposiccedilatildeo
agraves caracteriacutesticas do modelo meacutedico O Quadro 1 permite analisar de uma forma sistemaacutetica os
principais pontos de ruptura entre o modelo meacutedico e o modelo social sendo certo que a
adopccedilatildeo predominante de um modelo ou de outro implica uma concepccedilatildeo radicalmente
diferente das diversas tipologias de poliacuteticas assim como a definiccedilatildeo de diferentes objectivos e
resultados ao niacutevel da inclusatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 6
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Modelo meacutedico Modelo social
Problema Incapacidade dependecircncia das
pessoas
Inadequaccedilatildeo dos contextos agraves
pessoas
Origem Nas pessoas Na sociedade
Focalizaccedilatildeo Na pessoa nas suas limitaccedilotildees Relaccedilatildeo pessoa contexto nas
barreiras sociais
Eacutetica Assistecircncia Direitos
Igualdade de oportunidades
Objectivos Reabilitar curar tratar
Habilitar
Eliminar barreiras promover a
compatibilidade
Perspectiva Necessidades especiais
Serviccedilos especializados
Necessidades diferentes
Serviccedilos regulares
Serviccedilos Institucionalizados
Rede de cuidados De apoio baseados na comunidade
Poder controlo Profissionais Clientes
Cultura Disabling
Manutenccedilatildeo e reforccedilo da deficiecircncia
Reconhecimento e inclusatildeo da
diversidade
Objectivos das poliacuteticas
Compensar os indiviacuteduos pelas
suas incapacidades
ldquoAliviar a situaccedilatildeordquo
Promover direitos
Prover recursos e competecircncias
para identificar e eliminar barreiras
pessoais e sociais
Focalizaccedilatildeo das poliacuteticas Nos indiviacuteduos
Nas pessoas com deficiecircncias No grupo social
Na populaccedilatildeo global
Responsabilidade Poliacutetica social
ldquoWelfare provisionrdquo
Poliacuteticas transversais
Poliacuteticas sociais activas
Quadro 1 ndash Anaacutelise comparativa do modelo meacutedico com o modelo social relativamente agraves dimensotildees estruturantes na organizaccedilatildeo dos quadros conceptuais de intervenccedilatildeo (Sousa 2005) 12 PERSPECTIVA EVOLUTIVA DO MODELO SOCIAL
O modelo social da deficiecircncia surge na deacutecada de 1960 no Reino Unido como uma reacccedilatildeo
agraves abordagens biomeacutedicas A premissa baacutesica do modelo social eacute que a deficiecircncia natildeo deve
ser entendida como um problema individual mas como uma questatildeo eminentemente social
transferindo a responsabilidade pelas desvantagens das pessoas com deficiecircncias para a
incapacidade da sociedade em prever e ajustar-se agrave diversidade (Oliver 1990) Em torno do
modelo social da deficiecircncia surge na deacutecada de 1970 a UPIAS (The Union of the Phisically
Impaired Against Segregation) uma das primeiras organizaccedilotildees de pessoas com deficiecircncias
com objectivos eminentemente poliacuteticos e natildeo apenas assistenciais como era o caso das
instituiccedilotildees criadas nos dois seacuteculos anteriores (UPIAS 1976) O ponto de partida teoacuterico do
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 7
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
modelo social eacute que a deficiecircncia eacute uma experiecircncia resultante da interacccedilatildeo entre
caracteriacutesticas corporais do indiviacuteduo e as condiccedilotildees da sociedade em que ele vive isto eacute da
combinaccedilatildeo de limitaccedilotildees impostas pelo corpo com algum tipo de perda ou reduccedilatildeo de
funcionalidade (lesatildeo) e uma organizaccedilatildeo social pouco sensiacutevel agrave diversidade corporal
Originalmente a UPIAS propocircs uma definiccedilatildeo que explicitava o efeito da exclusatildeo na criaccedilatildeo
da deficiecircncia ldquoLesatildeo ausecircncia parcial ou total de um membro ou oacutergatildeo ou existecircncia de um
mecanismo corporal defeituoso Deficiecircncia desvantagem ou restriccedilatildeo de actividade
provocada pela organizaccedilatildeo social contemporacircnea que pouco ou nada considera aqueles que
possuem lesotildees fiacutesicas e os exclui das principais actividades da vida socialrdquo (UPIAS 19763-
4) A ecircnfase inicial nas limitaccedilotildees fiacutesicas foi imediatamente revista e com isso abriu-se um
grande debate sobre as limitaccedilotildees do vocabulaacuterio usado para descrever as deficiecircncias e
incapacidades A intenccedilatildeo era destacar que natildeo havia necessariamente uma relaccedilatildeo directa
entre lesatildeo e deficiecircncia transferindo o debate da discussatildeo sobre sauacutede para o terreno da
organizaccedilatildeo social e poliacutetica Lesatildeo seria uma caracteriacutestica corporal como seria o sexo ou a
cor da pele ao passo que deficiecircncia seria o resultado da opressatildeo e da discriminaccedilatildeo sofrida
pelas pessoas em funccedilatildeo de uma sociedade que se organiza de uma maneira que natildeo permite
incluiacute-las na vida quotidiana Eacute possiacutevel uma pessoa ter lesotildees e natildeo experimentar a
deficiecircncia a depender de quanto a sociedade esteja ajustada para incorporar a diversidade
Como exemplifica Morris (2001) natildeo poder caminhar eacute a expressatildeo da lesatildeo a deficiecircncia
consiste na inacessibilidade imposta agraves pessoas que usam cadeira de rodas O resultado
dessa revisatildeo na semacircntica dos conceitos foi uma separaccedilatildeo radical entre lesatildeo e deficiecircncia
a primeira eacute objecto da discussatildeo sobre sauacutede enquanto a segunda eacute uma questatildeo da ordem
dos direitos e da justiccedila social e portanto essencialmente normativa
Se para o modelo meacutedico a lesatildeo levava agrave deficiecircncia para o modelo social os sistemas
sociais levavam pessoas com lesotildees agrave experiecircncia da incapacidade Em siacutentese o modelo
meacutedico identifica a pessoa com deficiecircncia como uma pessoa com algum tipo de inadequaccedilatildeo
para a sociedade o modelo social por sua vez inverte o argumento e contextualiza a
deficiecircncia na incapacidade da sociedade para incluir todas as pessoas gerindo de forma
inclusiva a sua diversidade Em geral as definiccedilotildees baseadas no modelo meacutedico exigem um
grande afastamento dos padrotildees de normalidade para considerar uma pessoa como tendo
deficiecircncia Os criteacuterios utilizados para definir a deficiecircncia geralmente tecircm como referecircncia a
perda completa de certos oacutergatildeos ou funccedilotildees A identificaccedilatildeo da deficiecircncia eacute feita levando-se
em conta caracteriacutesticas isoladas destes oacutergatildeos e funccedilotildees e comparando-as com limites
estabelecidos para cada uma delas Neste quadro de inteligibilidade existem criteacuterios que
estabelecem para oacutergatildeo ou funccedilatildeo comprometida os limites da deficiecircncia como por
exemplo patamares miacutenimos de acuidade visual capacidade auditiva etc que podem ser
avaliados isoladamente uns dos outros bem como separados das necessidades impostas
pelas caracteriacutesticas sociais de cada pessoa
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 8
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
A combinaccedilatildeo da existecircncia de uma condiccedilatildeo de sauacutede bem abaixo de um padratildeo abstracto de
normalidade e a persistecircncia dessa condiccedilatildeo no tempo permite ao modelo meacutedico diferenciar
doenccedila de deficiecircncia Muitas das doenccedilas satildeo entendidas como situaccedilotildees temporaacuterias
Assim embora tenham uma condiccedilatildeo de sauacutede inferior agrave determinada por algum criteacuterio de
normalidade as pessoas doentes podem natildeo ser consideradas pessoas com deficiecircncias
dentro do modelo meacutedico porque a sua reduccedilatildeo de capacidades eacute apenas temporaacuteria e natildeo
permite definir um estado consistente ao longo do tempo O caminho inverso tambeacutem eacute trilhado
para separar deficiecircncia de doenccedila poreacutem com um argumento um pouco mais sofisticado
(Diniz 1996) Se a deficiecircncia eacute uma situaccedilatildeo irreversiacutevel eacute perfeitamente possiacutevel redefinir o
conceito de normalidade de modo a ajustaacute-lo agrave condiccedilatildeo permanente das pessoas A cegueira
por exemplo passa a ser a condiccedilatildeo normal de uma pessoa cega e portanto natildeo faz sentido
classificaacute-la como doente Neste esquema uma pessoa que natildeo pode ver porque estaacute com
uma inflamaccedilatildeo ocular grave eacute uma pessoa doente e uma pessoa permanentemente cega eacute
uma pessoa deficiente Como o reconhecimento da ldquosociedade deficienterdquo eacute tatildeo ou mais
importante para o debate sobre poliacuteticas puacuteblicas e deficiecircncia do que a identificaccedilatildeo da
ldquopessoa deficienterdquo as preocupaccedilotildees com a identidade do modelo social satildeo bem distintas
daquelas do modelo meacutedico Abberley (1987) por exemplo natildeo insiste na distinccedilatildeo entre
deficiecircncia e doenccedila e praticamente ignora a regra de persistecircncia da lesatildeo no tempo para
identificar as pessoas com deficiecircncias criteacuterio tatildeo caro aos legisladores de poliacuteticas sociais
nos anos 1980 que o utilizaram sistematicamente em contagens de populaccedilatildeo de vaacuterios
paiacuteses do mundo A loacutegica do modelo social natildeo reconhece esta distinccedilatildeo principalmente
porque entende que os ajustes requeridos da sociedade para que ela contemple a diversidade
da deficiecircncia satildeo independentes de quanto tempo uma condiccedilatildeo corporal se iraacute manter Afinal
se uma pessoa que usa cadeira de rodas enquanto recupera de fracturas nas pernas
necessita dos mesmos ajustes no sistema de transporte que uma pessoa permanentemente
incapacitada de caminhar porquecirc separaacute-las em grupos diferentes Ao natildeo reconhecer que os
doentes tambeacutem experimentam a deficiecircncia o modelo meacutedico exclui da atenccedilatildeo das poliacuteticas
puacuteblicas uma grande parcela da populaccedilatildeo que necessita delas problema que pode afectar
uma parte razoaacutevel da populaccedilatildeo idosa Natildeo usar da mesma maneira a distinccedilatildeo entre doenccedila
e deficiecircncia eacute um recurso do modelo social para evitar este tipo de exclusatildeo A consequecircncia
oacutebvia da definiccedilatildeo do modelo social eacute de que a pesquisa e as poliacuteticas puacuteblicas direccionadas agrave
deficiecircncia natildeo poderiam concentrar-se apenas nos aspectos corporais dos indiviacuteduos para
identificar a deficiecircncia Aleacutem disso ao separar a deficiecircncia da lesatildeo o modelo social abre
espaccedilo para mostrar que a despeito da diversidade das lesotildees haacute um factor que une as
diferentes comunidades de pessoas com deficiecircncias em torno de um projecto poliacutetico uacutenico a
experiecircncia da exclusatildeo Segundo Oliver ldquoTodos os deficientes experimentam a deficiecircncia
como uma restriccedilatildeo social natildeo importando se estas restriccedilotildees ocorrem em consequecircncia de
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 9
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
ambientes inacessiacuteveis de noccedilotildees questionaacuteveis de inteligecircncia e competecircncia social se da
inabilidade da populaccedilatildeo em geral de utilizar a linguagem de sinais se pela falta de material
em Braille ou se pelas atitudes puacuteblicas hostis das pessoas que natildeo tecircm lesotildees visiacuteveisrdquo
(1990xiv)
Em meados da deacutecada de 1990 os movimentos feministas lanccedilaram um argumento com
profundas implicaccedilotildees para as poliacuteticas puacuteblicas a experiecircncia da deficiecircncia no acircmbito
familiar apresenta implicaccedilotildees ao niacutevel do geacutenero Ao mostrar que a deficiecircncia eacute
acompanhada de reorganizaccedilotildees familiares voltadas para o cuidado da pessoa com
deficiecircncia os movimentos feministas colocaram em evidecircncia que natildeo satildeo apenas as
pessoas com algum tipo de restriccedilatildeo corporal que necessitam da atenccedilatildeo das poliacuteticas
puacuteblicas Atendendo a que as cuidadoras satildeo predominantemente mulheres devido agrave divisatildeo
sexual do trabalho a deficiecircncia quando entendida como um fenoacutemeno com implicaccedilotildees
familiares possui um enviesamento de geacutenero Satildeo as mulheres por exemplo que se afastam
do mercado de trabalho para cuidar das pessoas com deficiecircncias de crianccedilas pequenas ou
idosos Nos casos dos homens idosos este recorte inclui uma sobreposiccedilatildeo de geacutenero agrave idade
pois dado o padratildeo tiacutepico de arranjo familiar satildeo mulheres idosas que cuidam desses homens
Este afastamento tem uma seacuterie de implicaccedilotildees para as mulheres como a ausecircncia de
serviccedilos de suporte e de apoio para as mulheres em idade economicamente activa e tal facto
natildeo pode passar esquecido pelas poliacuteticas puacuteblicas (Barton amp Oliver 1997)
No final da deacutecada de 1990 alguns argumentos do modelo social da deficiecircncia foram objecto
de revisatildeo O lema ldquoOs limites satildeo sociais natildeo do indiviacuteduordquo usado como bandeira para
reivindicar condiccedilotildees para que as pessoas com deficiecircncias fossem independentes passa a ser
relativizado Uma longa tradiccedilatildeo da filosofia feminista critica o valor da independecircncia absoluta
mostrando que a interdependecircncia por meio do cuidado com os dependentes eacute um elemento
constituinte da vida em sociedade e em muitos casos de deficiecircncia natildeo pode ser evitada As
poliacuteticas puacuteblicas portanto natildeo devem procurar apenas promover a independecircncia das
pessoas com deficiecircncias mas criar condiccedilotildees favoraacuteveis para que o cuidar seja exercido
13 DESAFIOS EMERGENTES NO PLANO CONCEPTUAL COM IMPLICACcedilOtildeES NO DOMIacuteNIO DAS
INTERVENCcedilOtildeES
Historicamente as diferentes perspectivas de intervenccedilatildeo no campo da reabilitaccedilatildeo tecircm-se
centrado predominantemente nos pressupostos conceptuais do modelo meacutedico sendo que
mais recentemente tem-se vindo a assistir a uma focalizaccedilatildeo progressiva nos pressupostos
conceptuais do modelo social
Neste contexto histoacuterico as interpretaccedilotildees sociais da deficiecircncia encontram-se em processo de
transiccedilatildeo Este aspecto aparece claramente reflectido nos documentos oficiais em relaccedilatildeo agraves
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 10
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
definiccedilotildees de deficiecircncia e de reabilitaccedilatildeo Apesar dos factores econoacutemicos e demograacuteficos se
afigurarem de uma importacircncia crescente parece evidente que o motor que subjaz a este
fenoacutemeno se alicerccedila na politizaccedilatildeo sem precedentes da deficiecircncia liderada pela sociedade
civil bem como a exigecircncia crescente de igualdade de oportunidades para as pessoas com
deficiecircncias A evoluccedilatildeo conceptual da interpretaccedilatildeo sociopoliacutetica do conceito tem produzido
avanccedilos ao niacutevel das praacuteticas e das intervenccedilotildees ainda que com diferentes ritmos de
aplicaccedilatildeo e com necessidades evidentes de um maior niacutevel de sistematizaccedilatildeo e estruturaccedilatildeo
na globalidade do sector
Consequentemente alguns dos elementos das praacuteticas de reabilitaccedilatildeo mantecircm-se focalizados
em abordagens centradas no indiviacuteduo Apesar da relevacircncia das intervenccedilotildees e das
terapecircuticas meacutedicas ainda que absolutamente necessaacuterias nos paiacuteses mais pobres estas
apenas produzem um impacte parcial no contexto de um ambiente cultural organizado
privilegiadamente para um modo de vida onde natildeo existem pessoas com deficiecircncias Deste
modo o domiacutenio de sauacutede puacuteblica bem como os problemas experimentados pelas pessoas
com deficiecircncias constituem-se como assuntos de natureza poliacutetica que apenas poderatildeo ser
equacionados na sua resoluccedilatildeo atraveacutes de uma profunda mudanccedila estrutural e cultural
envolvendo a redistribuiccedilatildeo sistemaacutetica de recursos e o desenvolvimento de uma cultura que
valoriza a diversidade humana
Neste cenaacuterio afigura-se relevante equacionar um conjunto de desafios fundamentais para
enquadrar a iniciativa poliacutetica na implementaccedilatildeo dos princiacutepios do modelo social
Coerecircncia dos conceitos utilizados
Parece subsistir uma elevada diversidade de conceitos associados ao domiacutenio da deficiecircncia
na organizaccedilatildeo social A tiacutetulo de exemplo pode-se citar a nomenclatura de ldquodeficientesrdquo ou
ldquopessoas portadoras de deficiecircnciardquo no acesso prioritaacuterio a determinados tipos de serviccedilos
puacuteblicos ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ao niacutevel de programas de intervenccedilatildeo social e
designaccedilotildees ao niacutevel dos instrumentos de poliacutetica que remetem para concepccedilotildees radicalmente
diferentes entre si tal como eacute o caso da ldquopensatildeo de invalidezrdquo ou da ldquotabela nacional de
incapacidadesrdquo Esta pluralidade de conceitos sem qualquer coerecircncia conceptual entre si
parece espelhar o resultado de diferentes velocidades de evoluccedilatildeo em diferentes domiacutenios da
poliacutetica social ocorrida em diferentes momentos socio-histoacutericos Aliaacutes tal facto emerge de
forma mais ou menos incisiva na maioria dos paiacuteses europeus A investigaccedilatildeo neste sector tem
permitido colocar em evidecircncia que diferentes definiccedilotildees de deficiecircncia satildeo relevantes para
diferentes poliacuteticas e que as tentativas de usar a mesma definiccedilatildeo ao longo de uma vasta
diversidade de poliacuteticas pode resultar na utilizaccedilatildeo de definiccedilotildees de reduzido poder
diferenciador o que significa que as poliacuteticas podem correr o risco de natildeo chegar ao seu
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 11
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
puacuteblico-alvo A necessidade de usar uma pluralidade de definiccedilotildees de forma a assegurar a
relevacircncia da definiccedilatildeo para o seu domiacutenio de aplicabilidade levanta um problema de
coerecircncia no quadro poliacutetico relativo agraves pessoas com deficiecircncias Neste cenaacuterio as pessoas
podem ser consideradas como tendo deficiecircncias no quadro de uma determinada poliacutetica e
como natildeo tendo no quadro de uma poliacutetica diferente sendo que por vezes se encontram
lacunas no fornecimento de serviccedilos como resultado imediato desta opccedilatildeo De uma forma
geral os diferentes Estados resolvem estes problemas requerendo agraves instituiccedilotildees das poliacuteticas
sociais a coordenaccedilatildeo das actividades em detrimento do estabelecimento de definiccedilotildees
uacutenicas
Diferentes abordagens entre diferentes aacutereas de poliacutetica social
A evoluccedilatildeo histoacuterica e a apropriaccedilatildeo de diferentes conceitos por parte de diferentes sectores
da poliacutetica social encerram o risco de serem adoptados modelos operativos e intervenccedilotildees com
caracteriacutesticas significativamente diferentes Neste sentido podem-se observar sectores que
privilegiam o mainstreaming e o desenvolvimento das intervenccedilotildees baseadas na comunidade
e noutros sectores verificarem-se intervenccedilotildees mais centradas no indiviacuteduo mobilizando
criteacuterios quase exclusivamente meacutedicos Esta diferenccedila de abordagens pode potencialmente
acarretar desarticulaccedilotildees e incoerecircncias ao niacutevel dos princiacutepios gerais da poliacutetica social
reflectindo-se numa resposta fragmentada e parcelar agraves necessidades das pessoas Neste
contexto afigura-se relevante a definiccedilatildeo clara sistemaacutetica e estruturada dos princiacutepios
transversais subjacentes agrave globalidade das poliacuteticas para num segundo momento se proceder
agrave definiccedilatildeo dos seus elementos especiacuteficos
Classificaccedilatildeo da deficiecircncia e metodologias de avaliaccedilatildeo
Enquanto que no quadro do modelo meacutedico importava associar as diferentes deficiecircncias a
diferentes niacuteveis de incapacidade mobilizando criteacuterios de natureza exclusivamente meacutedica a
progressiva implementaccedilatildeo do modelo social na maior parte dos paiacuteses da Europa tem
colocado desafios sobre qual a categorizaccedilatildeo que melhor reflecte as dificuldades de
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades ao niacutevel dos seus ambientes de
vida A OMS perante esta encruzilhada de classificaccedilotildees propocircs a Classificaccedilatildeo Internacional
de Funcionalidade Incapacidade e Sauacutede (CIF) como modelo operativo de caracterizaccedilatildeo da
funcionalidade do indiviacuteduo colocando em evidecircncia para efeitos de elegibilidade dos
programas as limitaccedilotildees de actividade e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo das pessoas Ou seja
enquanto nalguns modelos se continuam a avaliar as deficiecircncias do indiviacuteduo a CIF vem
enfatizar em coerecircncia com o modelo social que o mais relevante natildeo eacute avaliar as alteraccedilotildees
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 12
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
ao niacutevel das estruturas ou das funccedilotildees dos indiviacuteduos ndash ainda que natildeo as negligencie ndash mas
sim as limitaccedilotildees de actividades e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo que o sujeito experiencia no
decorrer da desadequaccedilatildeo entre as suas diferenccedilas e as caracteriacutesticas dos ambientes sociais
em que se move Atente-se que esta opccedilatildeo conceptual natildeo eacute neutra do ponto de vista
pragmaacutetico dado que os objectivos das intervenccedilotildees passam a ser a remoccedilatildeo das barreiras e
dos obstaacuteculos que ocorrem no quadro da relaccedilatildeo do sujeito com os seus contextos de vida
em detrimento de intervenccedilotildees polarizadas exclusivamente na dimensatildeo individual ou
exclusivamente na dimensatildeo social
No desenvolvimento das poliacuteticas sociais a investigaccedilatildeo tem permitido colocar em evidecircncia a
necessidade de identificar definir e sistematizar os princiacutepios norteadores que tenderatildeo a ser
transversais a todos os sectores de poliacutetica social sendo que apenas deste modo se poderaacute
assegurar a coerecircncia entre as diferentes poliacuteticas dos diferentes sectores Neste sentido
torna-se relevante um processo de clarificaccedilatildeo sobre qual o modelo conceptual em que a
estrateacutegia poliacutetica se baseou de forma a que o conjunto de objectivos estrateacutegias processos
de intervenccedilatildeo definiccedilatildeo de resultados alocaccedilatildeo de recursos e indicadores de avaliaccedilatildeo
estejam devidamente articulados e em consonacircncia com os princiacutepios adoptados
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 13
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
2 CONCEITOS E TERMINOLOGIA
A anaacutelise conceptual no domiacutenio da deficiecircncia permite colocar em evidecircncia a existecircncia de
um conjunto de imprecisotildees ao niacutevel dos conceitos com variaccedilotildees relacionadas com o modelo
meacutedico e com o modelo social Neste contexto afigura-se criacutetico clarificar os contornos teoacutericos
e os modelos conceptuais subjacentes aos diferentes conceitos utilizados estabelecendo uma
base teoacuterica de referecircncia que assegure o necessaacuterio grau de coerecircncia e simultaneamente
abrangecircncia
21 EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA DOS SISTEMAS DE CLASSIFICACcedilAtildeO
Para uma clara delimitaccedilatildeo dos modelos teoacutericos que tecircm influenciado historicamente o
desenvolvimento dos conceitos no domiacutenio da deficiecircncia poderemos identificar 2 abordagens
conceptuais distintas
211 A ABORDAGEM TRADICIONAL INDIVIDUALISTA
A preocupaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede em estabelecer uma classificaccedilatildeo das doenccedilas
remonta ao seacuteculo XVIII Mas somente na VI Revisatildeo da Classificaccedilatildeo Internacional de
Doenccedilas (CID-6) em 1948 citada na IX Revisatildeo foram feitas referecircncias a doenccedilas que
poderiam tornar-se croacutenicas exigindo outros serviccedilos aleacutem de cuidados meacutedicos
Ateacute a deacutecada de 70 a CID-8 citada na IX Revisatildeo considerava apenas as manifestaccedilotildees
agudas segundo o modelo meacutedico etiologia rArr patologia rArr manifestaccedilatildeo
Esse modelo mostrou-se limitado para descrever as consequecircncias das doenccedilas pois excluiacutea
as perturbaccedilotildees croacutenicas evolutivas e irreversiacuteveis
Na IX Assembleia da OMS em 1976 surgiu uma nova conceptualizaccedilatildeo a International
Classification of Impairments Disabilities and Handicaps a manual of classification relating to
the consequences of disease (ICIDH) sendo sua traduccedilatildeo a Classificaccedilatildeo Internacional de
Deficiecircncias Incapacidades e Desvantagens um manual de classificaccedilatildeo das consequecircncias
das doenccedilas (CIDID) publicada em 1989
Apesar da abordagem meacutedica individualista ter dominado a cultura ocidental desde pelo
menos o seacuteculo XIX (Oliver 1990 Gleeson 1999) esta encontra-se geralmente associada agrave
Classificaccedilatildeo Internacional da Deficiecircncia Incapacidades e Desvantagens (ICIDH) da OMS
(1980) Em resposta agraves necessidades crescentes ao niacutevel internacional de clarificaccedilatildeo do
sentido do conceito de incapacidade e atendendo agraves criticas progressivas das pessoas com
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 14
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
incapacidades e seus significativos baseadas no facto de que a incapacidade envolve mais do
que um conjunto de preocupaccedilotildees estritamente meacutedicas a OMS constituiu uma comissatildeo de
cientistas sociais para desenvolver a existente Classificaccedilatildeo Internacional de Doenccedilas em
ordem a conseguir abranger as consequecircncias a longo termo das doenccedilas croacutenicas A ICIDH
foi publicada em 1980 sendo largamente reconhecida como o directoacuterio mais abrangente
existente vindo a ser extensivamente utilizada como uma base para as iniciativas
governamentais dos paiacuteses desenvolvidos da Europa e Ameacuterica do Norte e os paiacuteses
subdesenvolvidos do Sul (Ustun et al 2001)
A ICIDH utiliza uma categorizaratildeo tripartida da deficiecircncia incapacidade e desvantagem A
deficiecircncia refere-se a qualquer perda ou irregularidade da estrutura ou das funccedilotildees
anatoacutemica fisioloacutegica ou psicoloacutegica A incapacidade refere-se a qualquer restriccedilatildeo ou perda
(resultante de uma deficiecircncia) da capacidade para executar uma actividade da forma e dentro
do contexto considerado normal para o ser humano A desvantagem refere-se agrave limitaccedilatildeo
resultante de uma deficiecircncia ou incapacidade no desempenho de um dado papel considerado
normativo (dependendo da idade geacutenero e factores sociais e culturais) para aquele indiviacuteduo
(OMS 1980 p 29)
Esta tipologia baseia-se nas noccedilotildees de normalidade fiacutesica e intelectual bem como no facto de
que a incapacidade e a desvantagem satildeo causadas por deficiecircncias ou irregularidades
psicoloacutegicas ou fisioloacutegicas Neste contexto a ICIDH pode ser objecto de criacuteticas a diferentes
niacuteveis Primeiro as percepccedilotildees de deficiecircncia e normalidade satildeo fenoacutemenos sociais pelo que
satildeo sujeitas a substantivas mudanccedilas temporais culturais e situacionais (Hanks and Hanks
1948 Scheer and Groce 1988 Coleridge 1993 Ingstad and Whyte 1995) A dislexia por
exemplo natildeo seria vista como um problema significativo numa sociedade predominantemente
agraacuteria No entanto eacute considerada uma dificuldade de aprendizagem nas sociedades
modernas tecnologicamente avanccediladas nas quais a literacia e a numeracia desempenham
requisitos criacuteticos para a participaccedilatildeo social e econoacutemica Segundo encontra-se impliacutecito na
ICIDH que o organismo humano eacute flexiacutevel e adaptaacutevel enquanto os ambientes fiacutesicos e sociais
o natildeo satildeo Este facto claramente conflitua com a realidade histoacuterica na qual os indiviacuteduos
transformaram continuamente o seu ambiente em funccedilatildeo das suas necessidades (Barnes
1991) Terceiro as definiccedilotildees da ICIDH sugerem que a deficiecircncia a incapacidade e a
desvantagem constituem-se como estados estaacuteticos Para aleacutem do facto desta noccedilatildeo afigurar-
se incorrecta parece criar distinccedilotildees e barreiras entre as pessoas com e sem deficiecircncias
distinccedilotildees que natildeo satildeo necessaacuterias nem deveriam existir Uma tal situaccedilatildeo parece ser
paradoxal atendendo a que a ICIDH possui uma classificaccedilatildeo para cada caracteriacutestica do
organismo fiacutesico e humano (Shakespeare 1994 104)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 15
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Finalmente e mais significativo neste contexto a ICIDH apresenta as deficiecircncias enquanto
causa primaacuteria da incapacidade e da desvantagem Neste contexto a reabilitaccedilatildeo constitui-se
como uma filosofia e uma praacutetica para erradicar ou minimizar os problemas da deficiecircncia e
capacitar aqueles com deficiecircncias designadas para funcionarem nos seus niacuteveis fiacutesico
psicoloacutegico e social mais elevados (Albrecht 1992 23) Por outras palavras as pessoas com
incapacidades tornam-se objectos para serem curados tratados treinados mudados e
tornados normais de acordo com um conjunto particular de valores As limitaccedilotildees de tais
intervenccedilotildees encontram-se sustentadamente documentadas pelos activistas como
incapacidades desde 1960 (Hunt 1966 Sutherland 1981 Zola 1982)
212 A ABORDAGEM LIBERAL OU INTER-RELACIONAL
A abordagem liberal ou inter-relacional encontra-se expressa no uacuteltimo corpo de trabalhos da
OMS para redefinir a incapacidade nomeadamente a Classificaccedilatildeo Internacional de
Funcionalidade Incapacidade e Sauacutede (CIF) conhecida previamente como ICIDH2 (OMS
2002)
Esta redefiniccedilatildeo constituiu uma tentativa concertada para integrar o modelo meacutedico
individualista tradicional e a interpretaccedilatildeo sociopoliacutetica Por um lado como resultado da sua
rejeiccedilatildeo por parte das pessoas com incapacidades organizaccedilotildees e parceiros dentro e fora da
comunidade cientiacutefica (Driedger 1989 Oliver 1990 Barnes et al 2002) e por outro lado
porque apesar da sua vasta utilizaccedilatildeo a sua aplicabilidade tem sido caracterizada por diversas
interpretaccedilotildees (Coleridge 1993 Ingstad 2001) Em siacutentese demonstrou-se como limitada para
muitos dos actores e natildeo forneceu a delimitaccedilatildeo de significado que originalmente pretendia
Em comum com a sua predecessora a CIF manteacutem o constructo tripartido O primeiro niacutevel
deficiecircncia no original relaciona-se com as funccedilotildees e estrutura do organismo O segundo
niacutevel o que era anteriormente incapacidade eacute agora referido como actividade e o terceiro
desvantagem aparece como participaccedilatildeo No entanto e apesar do intenso debate sobre o
significado de incapacidade o conceito eacute preservado como um termo global para os trecircs niacuteveis
de dificuldade de funcionamento Neste cenaacuterio e em contraste com a ICIDH a nova
formulaccedilatildeo eacute apresentada como uma classificaccedilatildeo universal do funcionamento humano As
pessoas ligadas a acccedilotildees de advocacy defendem que esta configuraccedilatildeo oferece um quadro de
inteligibilidade completo para os aspectos funcionais da experiecircncia de sauacutede Nesta
perspectiva a incapacidade permanece uma preocupaccedilatildeo privilegiadamente do domiacutenio da
sauacutede em detrimento do domiacutenio poliacutetico Constitui-se por um lado como um resultado das
caracteriacutesticas da pessoa e por outro dos ambientes fiacutesicos e sociais Deste modo mais do
que se constituir como uma classificaccedilatildeo das pessoas com incapacidades ou dos problemas
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 16
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
que experienciam a CIF afigura-se como uma classificaccedilatildeo do funcionamento a 3 niacuteveis
compreendida em termos neutros (Ustun et al 2001 6-7)
O reconhecimento da importacircncia dos ambientes fiacutesico e social na CIF poderaacute ser equacionado
como uma melhoria significativa em relaccedilatildeo agrave sua predecessora (Hurst 2000) No entanto
parece-nos altamente improvaacutevel que seja mais eficaz do que a anterior classificaccedilatildeo a gerar
uma linguagem universal sobre a incapacidade na medida em que transformar as diferenccedilas
culturais na conceptualizaccedilatildeo das deficiecircncias assume-se como tarefa extremamente
complexa de alcanccedilar (Bury 2000 Miles 2001) Este facto eacute especialmente significativo na
medida em que natildeo obstante a CIF reconhecer o contexto cultural das percepccedilotildees de
incapacidade e por consequecircncia a normalidade o actual sistema de classificaccedilatildeo
permanece fortemente alicerccedilado nas formulaccedilotildees e nos conceitos cientiacuteficos ocidentais
(Finkelstein 1998 Pfeiffer 2000 Baylies 2002)
Adicionalmente apesar da CIF explicitar que os indiviacuteduos satildeo um elemento da anaacutelise da
incapacidade a abordagem biopsicossocial natildeo se encontra muito distanciada do modelo
anterior na medida em que privilegia o indiviacuteduo como ponto de partida para anaacutelise das
funccedilotildees do corpo e actividades O conceito de participaccedilatildeo eacute incluiacutedo mas subdesenvolvido no
esquema conceptual e continua associado agraves circunstacircncias individuais em vez de fortemente
ligado agrave inclusatildeo poliacutetica e social Adicionalmente enquanto a significacircncia do contexto eacute
enfatizada na CIF as estrateacutegias para a sua mensuraccedilatildeo afiguram-se limitadas Os seus
utilizadores satildeo encorajados a classificar os factores ambientais mas natildeo existem ferramentas
eficazes para levar a cabo esta tarefa bem como para avaliar as tendecircncias de incapacidade
ou por outro lado das poliacuteticas governamentais praacuteticas ambientes fiacutesicos e contextos
culturais (Baylies 2002)
Esta aparente descentraccedilatildeo das preocupaccedilotildees poliacuteticas tem caracterizado a maioria da ciecircncia
social mainstream desde o seacuteculo XIX Deste modo a definiccedilatildeo inter-relacional de
incapacidade e a consequente despolitizaccedilatildeo das questotildees associadas reflectiu-se nos
estudos e na literatura produzida nesta aacuterea por acadeacutemicos e investigadores durante a uacuteltima
metade do seacuteculo XX
Mais recentemente reemergiram na Inglaterra um conjunto de respostas poacutes-modernas ao
modelo social da incapacidade Este cenaacuterio tem favorecido o aparecimento de asserccedilotildees de
que tais fenoacutemenos soacute tecircm servido para agudizar e natildeo diminuir a conflituosidade a propoacutesito
da inclusatildeo (Hunt 1981 Germon 1998 Linton 1998 Gordon and Rosenblum 2001)
No quadro da reabilitaccedilatildeo a abordagem inter-relacional eacute sinoacutenima da liberalizaccedilatildeo da poliacutetica
social para as pessoas com incapacidades nos finais dos anos sessenta e setenta em
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 17
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
particular a mudanccedila dos serviccedilos centrados institucionalmente para os serviccedilos e apoios
centrados na comunidade Deste modo a ecircnfase eacute colocada na integraccedilatildeo de pessoas com
incapacidades na sociedade mainstream Os Standards da Equalizaccedilatildeo das Pessoas com
Incapacidades (1993) da ONU explicitam que todos os estados devem providenciar serviccedilos de
reabilitaccedilatildeo Mas esta orientaccedilatildeo recomenda que se vaacute aleacutem do cuidado meacutedico inicial para
incluir uma ampla gama de medidas e actividades desde a reabilitaccedilatildeo baacutesica e generalista
para actividades orientadas por objectivos (UN 199311) Ainda mais significativo todos os
serviccedilos de reabilitaccedilatildeo deveratildeo estar disponiacuteveis nas comunidades locais nas quais as
pessoas com incapacidades se movem No entanto em determinadas circunstacircncias e para
que se reforcem os objectivos de formaccedilatildeo e aprendizagem poderatildeo ser organizados cursos
localizados nas organizaccedilotildees prestadoras de serviccedilos com um quadro temporal o mais
reduzido possiacutevel (UN 1993 19)
Adicionalmente apesar dos Standards enfatizarem a importacircncia do envolvimento das pessoas
com incapacidades e dos seus significativos no desenvolvimento dos programas de
reabilitaccedilatildeo parece natildeo existir uma asserccedilatildeo clara de que tais estrateacutegias devam ser
controladas por ou mensuradas para estes uacuteltimos Existe no entanto uma assunccedilatildeo taacutecita de
que tais serviccedilos seratildeo liderados por profissionais
Adicionalmente desde que a incapacidade na CIF foi apresentada como uma questatildeo de
sauacutede em detrimento de uma questatildeo poliacutetica parece inevitaacutevel que os profissionais no
domiacutenio da reabilitaccedilatildeo continuem a ser dominados ou laquoalienadosraquo pela Medicina (Finkelstein
1998) Este facto poderaacute ficar a dever-se primeiro agrave actual e persistente subjugaccedilatildeo dos
governos nacionais aos interesses corporativos e das organizaccedilotildees econoacutemicas e segundo agrave
diversidade de barreiras econoacutemicas poliacuteticas e culturais experienciadas pelas pessoas com
incapacidades quer nos paiacuteses desenvolvidos quer nos subdesenvolvidos Neste tipo de
cenaacuterio o pensamento ortodoxo sobre a reabilitaccedilatildeo contratualiza um expediente praacutetico para
os poliacuteticos legisladores e organizaccedilotildees profissionais Como resultado os teacutecnicos tecircm
invariavelmente um niacutevel de escolha reduzido na opccedilatildeo pelo modelo meacutedico em detrimento
de soluccedilotildees poliacuteticas colectivas na resposta aos problemas da exclusatildeo
Esta perspectiva parece afigurar-se a oposta da necessaacuteria De facto apoacutes o trabalho de
Talcott Parsons (1951) emergiu uma extensa literatura condenando a laquomedicalizaccedilatildeoraquo do
quotidiano de um conjunto diverso de perspectivas Por exemplo o filoacutesofo austriacuteaco Ivan Illich
nomeou o seacuteculo XX como a era dos profissionais incapacitantes (1977 11) pela sua
apropriaccedilatildeo do conhecimento mistificaccedilatildeo das competecircncias especializadas e a criaccedilatildeo de
uma cultura perversa e persuasiva de dependecircncia Apesar de tais criticas encontrarem a sua
aplicabilidade predominantemente nas naccedilotildees subdesenvolvidas do Ocidente surgiram
trabalhos recentes que sugerem que apesar de existir uma diminuiccedilatildeo significativa dos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 18
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
conhecimentos meacutedicos e de tratamentos com reduzidos niacuteveis de recursos nas naccedilotildees
subdesenvolvidas criacuteticas similares podem ser relevantes para o contexto no qual nos
situamos (Stone 1999 Ingstad 2001 OMS 2001)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 19
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
3 OBJECTIVOS OPERACIONAIS
Pretende-se desenvolver uma anaacutelise longitudinal e multissectorial ao conceito de deficiecircncia
no sentido de estabelecer uma configuraccedilatildeo operacional no quadro da sua aplicabilidade
estatiacutestica Esta anaacutelise insere-se no acircmbito do Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das
Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo
Objectivo Operacionalizar o conceito de deficiecircncia no quadro da sua aplicabilidade
estatiacutestica assegurando os criteacuterios de (a) comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica
e legislativa dentro do contexto portuguecircs (c) conformidade com os referenciais conceptuais
actuais
Metodologia a) Anaacutelise dos referenciais nacionais e internacionais de delimitaccedilatildeo operacional
do conceito b) exploraccedilatildeo de cenaacuterios que viabilizem o cumprimento dos requisitos definidos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 20
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
4 ANAacuteLISE PRELIMINAR DA EVOLUCcedilAtildeO DA TERMINOLOGIA NO
DOMIacuteNIO 41 ESTADO DA ARTE
A evoluccedilatildeo dos conceitos operativos nos domiacutenios da reabilitaccedilatildeo e da inclusatildeo social tem
sido reflectida nas diversas classificaccedilotildees propostas pela OMS Neste quadro evolutivo a
uacuteltima classificaccedilatildeo proposta ndash CIF ndash constitui-se como um modelo de siacutentese entre a
abordagem meacutedica e a abordagem social no domiacutenio da incapacidade e da sauacutede No sentido
de procedermos agrave anaacutelise dos principiais conceitos e termos focalizar-nos-emos na
reestruturaccedilatildeo conceptual proposta pela Classificaccedilatildeo Internacional de Funcionalidade
Incapacidade e Sauacutede (CIF)
O objectivo geral da CIF eacute proporcionar uma linguagem unificada e padronizada assim como
uma estrutura de trabalho para a descriccedilatildeo da sauacutede e de estados relacionados com a sauacutede
A classificaccedilatildeo define os componentes da sauacutede e alguns componentes do bem-estar
relacionados com a sauacutede (tais como educaccedilatildeo e trabalho) Os domiacutenios contidos na CIF
podem portanto ser considerados como domiacutenios da sauacutede e domiacutenios relacionados com a
sauacutede Estes domiacutenios satildeo descritos com base na perspectiva do corpo do indiviacuteduo e da
sociedade em duas listas baacutesicas (1) Funccedilotildees e Estruturas do Corpo e (2) Actividades e
Participaccedilatildeo Como classificaccedilatildeo a CIF agrupa sistematicamente diferentes domiacutenios de uma
pessoa com uma determinada condiccedilatildeo de sauacutede (eg o que uma pessoa com uma doenccedila
ou perturbaccedilatildeo faz ou pode fazer) A funcionalidade eacute um termo que engloba todas as funccedilotildees
do corpo actividades e participaccedilatildeo de maneira similar a incapacidade eacute um termo que inclui
deficiecircncias limitaccedilatildeo da actividade ou restriccedilatildeo na participaccedilatildeo A CIF tambeacutem relaciona os
factores ambientais que interagem com todos estes constructos Neste sentido a classificaccedilatildeo
permite ao utilizador registar perfis uacuteteis da funcionalidade incapacidade e sauacutede dos
indiviacuteduos em vaacuterios domiacutenios
A CIF pertence agrave ldquofamiacuteliardquo das classificaccedilotildees internacionais desenvolvida pela OMS para
aplicaccedilatildeo em vaacuterios aspectos da sauacutede A famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS
proporciona um sistema para a codificaccedilatildeo de uma ampla gama de informaccedilotildees sobre sauacutede
(eg diagnoacutestico funcionalidade e incapacidade motivos de contacto com os serviccedilos de
sauacutede) e utiliza uma linguagem comum padronizada que permite a comunicaccedilatildeo sobre sauacutede e
cuidados de sauacutede em todo o mundo entre vaacuterias disciplinas e ciecircncias
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 21
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Nas classificaccedilotildees internacionais da OMS os estados de sauacutede (doenccedilas perturbaccedilotildees
lesotildees etc) satildeo classificados principalmente na CID-10 (abreviatura da Classificaccedilatildeo
Internacional de Doenccedilas Deacutecima Revisatildeo) que fornece uma estrutura de base etioloacutegica A
funcionalidade e a incapacidade associadas aos estados de sauacutede satildeo classificadas na CIF
Portanto a CID-10 e a CIF satildeo complementares e os utilizadores satildeo estimulados a usar em
conjunto esses dois membros da famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS A CID-10
proporciona um ldquodiagnoacutesticordquo de doenccedilas perturbaccedilotildees ou outras condiccedilotildees de sauacutede que eacute
complementado pelas informaccedilotildees adicionais fornecidas pela CIF sobre funcionalidade Em
conjunto as informaccedilotildees sobre o diagnoacutestico e sobre a funcionalidade datildeo uma imagem mais
ampla e mais significativa da sauacutede das pessoas ou da populaccedilatildeo que pode ser utilizada em
tomadas de decisatildeo
A famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS constitui uma ferramenta valiosa para a
descriccedilatildeo e a comparaccedilatildeo da sauacutede das populaccedilotildees num contexto internacional As
informaccedilotildees sobre a mortalidade (facultadas pela CID-10) e sobre as consequecircncias na sauacutede
(proporcionadas pela CIF) podem ser combinadas de forma a obter medidas sinteacuteticas da
sauacutede das populaccedilotildees Isto permite seguir a sauacutede das populaccedilotildees e a sua distribuiccedilatildeo bem
como avaliar a parte atribuiacuteda agraves diferentes causas
A CIF transformou-se de uma classificaccedilatildeo de ldquoconsequecircncias da doenccedilardquo (versatildeo de 1980)
numa classificaccedilatildeo de ldquocomponentes da sauacutederdquo Os ldquocomponentes da sauacutederdquo identificam o que
constitui a sauacutede enquanto que as consequecircncias se referem ao impacto das doenccedilas na
condiccedilatildeo de sauacutede da pessoa Deste modo a CIF assume uma posiccedilatildeo neutra em relaccedilatildeo agrave
etiologia de modo que os investigadores podem desenvolver inferecircncias causais utilizando
meacutetodos cientiacuteficos adequados De maneira similar esta abordagem tambeacutem eacute diferente de
uma abordagem do tipo determinantes da sauacutede ou ldquofactores de risco Para facilitar o estudo
dos determinantes ou dos factores de risco a CIF inclui uma lista de factores ambientais que
descrevem o contexto em que o indiviacuteduo vive
A CIF descreve a funcionalidade e a incapacidade relacionadas com as condiccedilotildees de sauacutede
identificando o que uma pessoa ldquopode ou natildeo pode fazer na sua vida diaacuteriardquo tendo em vista as
funccedilotildees dos oacutergatildeos ou sistemas e estruturas do corpo assim como as limitaccedilotildees de
actividades e da participaccedilatildeo social no meio ambiente onde a pessoa vive Segundo a OMS a
CID-10 e a CIF satildeo complementares a informaccedilatildeo sobre o diagnoacutestico acrescido da
funcionalidade fornece um quadro mais amplo sobre a sauacutede do indiviacuteduo ou populaccedilotildees Por
exemplo duas pessoas com a mesma doenccedila podem ter diferentes niacuteveis de funcionalidade e
duas pessoas com o mesmo niacutevel de funcionalidade natildeo tecircm necessariamente a mesma
condiccedilatildeo de sauacutede
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 22
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
O termo do modelo da CIF eacute a funcionalidade que cobre os componentes de funccedilotildees e
estruturas do corpo actividade e participaccedilatildeo social A funcionalidade eacute usada no aspecto
positivo e o aspecto negativo corresponde agrave incapacidade Segundo esse modelo a
incapacidade eacute resultante da interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada pelo indiviacuteduo (seja
orgacircnica e ou da estrutura do corpo) a limitaccedilatildeo de suas actividades e a restriccedilatildeo na
participaccedilatildeo social e os factores ambientais que podem actuar como facilitadores ou barreiras
para o desempenho dessas actividades e da participaccedilatildeo
A CIF eacute baseada portanto numa abordagem biopsicossocial que incorpora os componentes
de sauacutede nos niacuteveis corporais e sociais Assim na avaliaccedilatildeo de uma pessoa com deficiecircncias
e incapacidades esse modelo destaca-se do biomeacutedico baseado no diagnoacutestico etioloacutegico da
disfunccedilatildeo evoluindo para um modelo que incorpora as trecircs dimensotildees a biomeacutedica a
psicoloacutegica (dimensatildeo individual) e a social Nesse modelo cada niacutevel age sobre e sofre a
acccedilatildeo dos demais sendo todos influenciados pelos factores ambientais A OMS pretende
incorporar tambeacutem no futuro os factores pessoais importantes na forma de lidar com as
condiccedilotildees limitantes
O objectivo pragmaacutetico da CIF eacute fornecer uma linguagem padronizada e um modelo para a
descriccedilatildeo da sauacutede e dos estados relacionados com a sauacutede permitindo a comparaccedilatildeo de
dados referentes a essas condiccedilotildees entre paiacuteses serviccedilos sectores relativos agrave sauacutede bem
como o acompanhamento da sua evoluccedilatildeo no tempo
No entanto os conceitos apresentados na classificaccedilatildeo introduzem um novo paradigma para
pensar e trabalhar as deficiecircncias e incapacidades elas natildeo satildeo apenas uma consequecircncia
das condiccedilotildees de sauacutede doenccedila mas satildeo determinadas tambeacutem pelo contexto do meio
ambiente fiacutesico e social pelas diferentes percepccedilotildees culturais e atitudes em relaccedilatildeo agrave
deficiecircncias pela disponibilidade de serviccedilos e de legislaccedilatildeo Dessa forma a classificaccedilatildeo natildeo
constitui apenas um instrumento para medir o estado funcional dos indiviacuteduos Aleacutem disso ela
permite avaliar as condiccedilotildees de vida e fornecer subsiacutedios para poliacuteticas de inclusatildeo social
42 FUNCcedilOtildeES DO CORPO
As Funccedilotildees do corpo satildeo as funccedilotildees fisioloacutegicas dos sistemas orgacircnicos (incluindo as
funccedilotildees psicoloacutegicas)
As funccedilotildees e as estruturas do corpo satildeo classificadas em duas secccedilotildees diferentes Essas duas
classificaccedilotildees estatildeo concebidas de forma a serem utilizadas em paralelo Por exemplo as
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 23
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
funccedilotildees do corpo incluem sentidos humanos baacutesicos como as funccedilotildees da visatildeo e as
estruturas relacionadas aparecem na forma de ldquoolho e estruturas relacionadasrdquo
43 ESTRUTURAS DO CORPO
As Estruturas do Corpo satildeo as partes anatoacutemicas do corpo tais como oacutergatildeos membros e
seus componentes
ldquoCorpo refere-se ao organismo humano como um todo por isso o ceacuterebro e as suas funccedilotildees
ie a mente estatildeo incluiacutedos As funccedilotildees mentais (ou psicoloacutegicas) satildeo portanto incluiacutedas nas
funccedilotildees do corpo As funccedilotildees e as estruturas do corpo satildeo classificadas de acordo com os
sistemas orgacircnicos por isso as estruturas do corpo natildeo satildeo consideradas como oacutergatildeos no
seu sentido restrito
44 DEFICIEcircNCIA
Deficiecircncias satildeo problemas nas funccedilotildees ou na estrutura do corpo tais como um desvio
importante ou uma perda
As deficiecircncias de estrutura podem consistir numa anormalidade defeito perda ou outro desvio
importante relativamente a um padratildeo das estruturas do corpo As deficiecircncias foram definidas
de acordo com os conhecimentos bioloacutegicos actuais ao niacutevel de tecidos ou das ceacutelulas e ao
niacutevel subcelular ou molecular Por motivos praacuteticos no entanto esses niacuteveis natildeo estatildeo
classificados As bases bioloacutegicas das deficiecircncias orientaram essa classificaccedilatildeo e eacute possiacutevel
expandir a classificaccedilatildeo para incluir os niacuteveis celular ou molecular Do ponto de vista meacutedico
deve-se ter em mente que as deficiecircncias natildeo satildeo equivalentes agraves patologias subjacentes mas
sim a manifestaccedilotildees dessas patologias
As deficiecircncias correspondem a um desvio relativamente ao que eacute geralmente aceite como
estado biomeacutedico normal (padratildeo) do corpo e das suas funccedilotildees A definiccedilatildeo dos seus
componentes eacute feita essencialmente por pessoas com competecircncia para avaliar a
funcionalidade fiacutesica e mental de acordo com esses padrotildees
As deficiecircncias podem ser temporaacuterias ou permanentes progressivas regressivas ou estaacuteveis
intermitentes ou contiacutenuas O desvio em relaccedilatildeo ao modelo baseado na populaccedilatildeo e
geralmente aceite como normal pode ser leve ou grave e pode variar ao longo do tempo Estas
caracteriacutesticas satildeo consideradas posteriormente em descriccedilotildees adicionais principalmente nos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 24
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
coacutedigos atraveacutes de um qualificador que se acrescenta ao coacutedigo e do qual fica separado por
um ponto
As deficiecircncias natildeo tecircm uma relaccedilatildeo causal com a etiologia ou com a forma como se
desenvolveram Por exemplo a perda da visatildeo ou de um membro pode resultar de uma
anormalidade geneacutetica ou de uma lesatildeo A presenccedila de uma deficiecircncia implica
necessariamente uma causa No entanto a causa pode natildeo ser suficiente para explicar a
deficiecircncia resultante Da mesma forma quando haacute uma deficiecircncia haacute uma disfunccedilatildeo das
funccedilotildees ou estruturas do corpo mas isto pode estar relacionado com qualquer doenccedila
perturbaccedilatildeo ou estado fisioloacutegico
As deficiecircncias podem ser parte ou uma expressatildeo de uma condiccedilatildeo de sauacutede mas natildeo
indicam necessariamente a presenccedila de uma doenccedila ou que o indiviacuteduo deva ser
considerado doente
As deficiecircncias cobrem um campo mais vasto que as perturbaccedilotildees ou as doenccedilas Por
exemplo a perda de uma perna eacute uma deficiecircncia de uma estrutura do corpo mas natildeo eacute uma
perturbaccedilatildeo ou uma doenccedila
As deficiecircncias podem originar outras deficiecircncias Por exemplo a diminuiccedilatildeo da forccedila
muscular pode prejudicar as funccedilotildees do movimento as funccedilotildees cardiacuteacas podem estar
relacionadas com o deacutefice das funccedilotildees respiratoacuterias e uma percepccedilatildeo prejudicada pode estar
relacionada com as funccedilotildees do pensamento
Actualmente na perspectiva da CIF o conceito de deficiecircncia constitui o poacutelo negativo da
componente ldquoFunccedilotildees e Estrutura do Corpordquo sendo descrito atraveacutes da existecircncia de
alteraccedilotildees significativas das funccedilotildees eou das estruturas do corpo O poacutelo positivo desta
componente refere-se agrave integridade funcional e estrutural Neste contexto um dos desafios
criacuteticos das poliacuteticas sociais consiste na operacionalizaccedilatildeo do conceito de deficiecircncia de forma
a que a elegibilidade dos diferentes puacuteblicos alvo se encontre devidamente delimitada
assegurando a eficaacutecia das medidas subjacentes
No entanto a amplitude e abrangecircncia da definiccedilatildeo do conceito de deficiecircncia proposta pela
OMS atraveacutes da CIF coloca um enorme desafio na medida em que qualquer cidadatildeo desde
que apresente um desvio significativo ao niacutevel da estrutura eou funccedilatildeo passa a ser um
potencial beneficiaacuterio das poliacuteticas neste domiacutenio Neste contexto poder-se-atildeo colocar vaacuterias
questotildees A primeira eacute se interessa agraves diferentes poliacuteticas no sector continuarem a ser
desenvolvidas tendo por focus o conceito de pessoas com deficiecircncias sabendo que a sua
distinccedilatildeo ao longo da populaccedilatildeo apenas poderaacute ser feita atraveacutes do niacutevel e extensatildeo da
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 25
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
alteraccedilatildeo da integridade estrutural e funcional de cada individuo A segunda questatildeo prende-se
com as consequecircncias conceptuais decorrentes da integraccedilatildeo do modelo social na formulaccedilatildeo
e operacionalizaccedilatildeo dos conceitos a serem utilizados pelas poliacuteticas no sector na medida em
que o aspecto critico deixa de ser a natureza e severidade da deficiecircncia para passar a centrar-
se no niacutevel e tipo de restriccedilotildees de participaccedilatildeo que cada cidadatildeo experiencia na interacccedilatildeo
com os seus contextos de vida
No que concerne agrave primeira questatildeo e atendendo a que a mais recente definiccedilatildeo do conceito
de deficiecircncia proposto pela OMS apresenta um elevado niacutevel de abrangecircncia e um reduzido
potencial diferenciador poderemos equacionar 2 hipoacuteteses centrais de operacionalizaccedilatildeo
a) A primeira hipoacutetese baseia-se na possibilidade de operacionalizar diferentes definiccedilotildees
de deficiecircncia ao longo das diferentes poliacuteticas sociais no sentido de assegurar que as
diferentes medidas alcanccedilam efectivamente as pessoas para as quais foram
elaboradas Esta perspectiva tem a vantagem de uma maior focalizaccedilatildeo nas
caracteriacutesticas especificas do puacuteblico-alvo mas no entanto apresenta uma grande
desvantagem que consiste na elevada probabilidade das diferentes definiccedilotildees
perderem a coerecircncia entre si fragmentando igualmente o modelo teoacuterico a partir do
qual se deveriam basear
b) A segunda hipoacutetese consiste na articulaccedilatildeo operativa de dois conceitos o de
deficiecircncia e o de restriccedilotildees de participaccedilatildeo Nesta perspectiva a elegibilidade de uma
determinada politica social baseia-se na validaccedilatildeo preacutevia da existecircncia da primeira
condiccedilatildeo do puacuteblico-alvo ndash a existecircncia de uma deficiecircncia ndash determinando logo de
seguida o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo a partir do qual os diferentes cidadatildeos
passam a poder aceder agraves medidas especiacuteficas nela contidas O desafio contido nesta
hipoacutetese consiste na necessidade de desenvolvimento de um sistema de avaliaccedilatildeo que
permita avaliar o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo experimentado pelas pessoas com
deficiecircncias determinando atraveacutes do valor aferido quais seriam as pessoas com
acesso agraves medidas Neste cenaacuterio natildeo bastaria que uma pessoa tivesse uma
deficiecircncia pelo que seria necessaacuterio avaliar os efeitos da deficiecircncia em interacccedilatildeo
com o ambiente social ao niacutevel da participaccedilatildeo no sentido de determinar a
elegibilidade As vantagens desta hipoacutetese relacionam-se com (i) a preservaccedilatildeo do
niacutevel de coerecircncia dos conceitos utilizados ao longo das diferentes poliacuteticas sociais (ii)
a existecircncia de um processo comum de afericcedilatildeo e determinaccedilatildeo da elegibilidade ao
longo dos diferentes sectores de politica (iii) a compatibilidade e adequabilidade dos
princiacutepios teoacutericos do modelo social com a operacionalizaccedilatildeo dos sistemas e medidas
poliacuteticos de apoio agraves pessoas com deficiecircncias e (iv) a existecircncia de mecanismos de
avaliaccedilatildeo de elevada transparecircncia controlabilidade e rigor
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 26
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
45 INCAPACIDADE
Do ponto de vista de utilizaccedilatildeo dos conceitos de Deficiecircncia e de Incapacidade em Portugal
tecircm subsistido vaacuterias imprecisotildees terminoloacutegicas Primeiro na generalidade dos documentos
internacionais alude-se ao termo ldquopeople with disabilitiesrdquo sendo que invariavelmente esta
expressatildeo eacute traduzida para Portuguecircs como ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo Tal facto parece criar
condiccedilotildees para uma grande permeabilidade semacircntica dificilmente resoluacutevel do ponto de vista
conceptual Segundo deficiecircncia e incapacidade satildeo claramente dois conceitos distintos
Enquanto a deficiecircncia remete para alteraccedilotildees significativas ao niacutevel das estruturas eou das
funccedilotildees do corpo a incapacidade constitui o poacutelo negativo do funcionamento humano em
situaccedilatildeo potencial ou efectiva de participaccedilatildeo no contexto de vida Este facto pressupotildee que os
conceitos de deficiecircncia e de incapacidade natildeo contecircm nenhuma relaccedilatildeo causal entre si nem
nenhuma relaccedilatildeo linear de frequecircncia na medida em que eacute possiacutevel existir uma deficiecircncia
sem que exista uma incapacidade e eacute possiacutevel emergir uma determinada incapacidade sem
que haja uma qualquer deficiecircncia
Deste modo eacute possiacutevel
a) Ter deficiecircncias sem limitaccedilotildees de capacidade (eg uma desfiguraccedilatildeo resultante da
doenccedila de Hansen pode natildeo ter efeito sobre a capacidade da pessoa
b) Ter problemas de desempenho e limitaccedilotildees de capacidade sem deficiecircncias evidentes
(eg reduccedilatildeo de desempenho nas actividades diaacuterias associada a vaacuterias doenccedilas)
c) Ter problemas de desempenho sem deficiecircncias ou limitaccedilotildees de capacidade (eg um
indiviacuteduo HIV positivo ou um ex-doente curado de doenccedila mental que enfrenta
estigmas ou descriminaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais ou no trabalho)
d) Ter limitaccedilotildees de capacidade se natildeo tiver assistecircncia e nenhum problema de
desempenho no ambiente habitual (eg um indiviacuteduo com limitaccedilotildees de mobilidade
pode beneficiar por parte da sociedade de ajudas tecnoloacutegicas de assistecircncia para se
movimentar
e) Experimentar um grau de influecircncia em sentido contraacuterio (eg a inactividade dos
membros pode levar agrave atrofia muscular a institucionalizaccedilatildeo pode resultar numa perda
da socializaccedilatildeo)
Daqui resulta que ao referirmo-nos agraves pessoas com deficiecircncias enquanto puacuteblico-alvo
privilegiado das medidas de reabilitaccedilatildeo poderemos incorrer num desvio significativo de
alocaccedilatildeo dos recursos agraves reais necessidades das pessoas na medida em que natildeo eacute a
deficiecircncia que gera por si mesma a necessidade de reabilitaccedilatildeo mas sim as limitaccedilotildees de
actividade e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo decorrentes da interacccedilatildeo entre as caracteriacutesticas
biopsicossociais e as caracteriacutesticas dos ambientes em que o individuo se move
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Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
A persistecircncia em traduzir o termo disability para deficiecircncia e natildeo apenas o seu homoacutelogo
anglo-saxoacutenico ndash impairment ndash poderaacute explicar-se pelas seguintes razotildees
a) O potencial efeito estigmatizante da expressatildeo ldquopessoas com incapacidadesrdquo ser maior
do que aquele contido na expressatildeo ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo
b) O termo incapacidade centrar-se exclusivamente nos aspectos negativos do
funcionamento individual classificando a pessoa agrave partida como sendo destituiacuteda de
competecircncias e condiccedilotildees para atingir os niacuteveis normativos de desempenho e
performance num conjunto de domiacutenios da vida pessoal e social
O paradoxo surge igualmente porque enquanto no modelo meacutedico a incapacidade aparece
em termos causais relacionada com a deficiecircncia numa perspectiva exclusivamente individual
no modelo proposto pela OMS operacionalizado na CIF os dois conceitos gozam de total
independecircncia conceptual e operativa sendo que a deficiecircncia passa a ter uma baixa
relevacircncia diferenciadora do ponto de vista do funcionamento humano Ora se atendermos a
que as medidas de reabilitaccedilatildeo pretendem promover os potenciais do funcionamento humano
numa perspectiva de participaccedilatildeo plena do indiviacuteduo nos mais diferenciados contextos de vida
assegurando o co-desenvolvimento de todos os actores e das estruturas sociais necessaacuterias agrave
cidadania plena entatildeo falar de ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo natildeo soacute natildeo eacute relevante no quadro
da loacutegica de intervenccedilatildeo como poderaacute traduzir dificuldades dos actores em mudar
efectivamente do paradigma meacutedico para o paradigma social
Este fenoacutemeno aliaacutes natildeo acontece apenas em Portugal sendo que recentes estudos de
investigaccedilatildeo vieram sugerir a adopccedilatildeo dos conceitos de ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo e
ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo para ultrapassar a aplicaccedilatildeo indevida dos
conceitos de deficiecircncia e incapacidade A utilizaccedilatildeo destes conceitos parece articular de forma
mais precisa com o novo modelo conceptual proposto pela OMS enfatizando a diversidade de
niacuteveis de funcionamento humano e apelando a uma certa noccedilatildeo de relatividade socialmente
construiacuteda Uma das criticas feita pela comunidade de investigadores ao conceito de ldquopessoas
com diversidade funcionalrdquo reside no facto de que a expressatildeo eacute dotada de um tatildeo elevado
niacutevel de abrangecircncia que natildeo permite um niacutevel de diferenciaccedilatildeo relevante na medida em que
todos os cidadatildeos detecircm entre si diversos e diferentes padrotildees de funcionamento humano
Neste sentido o conceito ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo aplicar-se-ia a todos os
cidadatildeos sem excepccedilatildeo A proliferaccedilatildeo destes termos eacute explicada pela necessidade da
comunidade politica e cientifica de construir constructos que sejam socialmente aceites e o
mais neutros possiacuteveis do ponto de vista dos seus valores impliacutecitos No entanto a
impossibilidade epistemoloacutegica de desenvolver expressotildees e conceitos socio-historicamente
neutros parece levar muitas vezes agrave concepccedilatildeo de definiccedilotildees com reduzida identidade isto eacute
de significado demasiado amplo e abrangente o que na expressatildeo da UPIAS ldquopodem significar
tudo e coisiacutessima nenhumardquo (2005)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 28
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Os conceitos ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo ldquopessoas com limitaccedilotildees de
actividaderdquo e ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo afiguram-se comparativamente ao
anterior como um conceito de maior coerecircncia conceptual com o modelo proposto pela OMS e
deteacutem cumulativamente um maior poder diferenciador A sua desvantagem reside no facto de
constituiacuterem expressotildees com maior dificuldade de apreensatildeo e inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 29
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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5 ANAacuteLISE DOS REFERENCIAIS NACIONAIS E INTERNACIONAIS
No sentido de obter um conjunto de vectores de referecircncia na estruturaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo do
conceito de deficiecircncia foram analisadas as abordagens desenvolvidas pelos seguintes
organismos INE Eurostat OCDE American Disabilities Act WHO UN
51 INE
Os dados disponiacuteveis no INE parecem indicar a utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na
ICIDH
Deficiecircncia1 Perda ou alteraccedilatildeo de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou
anatoacutemica Nesta definiccedilatildeo estatildeo incluiacutedas as seguintes tipologias2
Deficiecircncia AUDITIVA
Deficiecircncia MENTAL
Deficiecircncia MOTORA
Deficiecircncia ORGAcircNICO-FUNCIONAL
Deficiecircncia PSIQUIAacuteTRICA
Deficiecircncia VISUAL
Incapacidade3 Ausecircncia ou limitaccedilatildeo da capacidade para funcionar estando comprometida a
realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida
diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e originando uma desvantagem para funcionar em
sociedade face a outros
Pessoa deficiente Aquela que tenha uma ou mais das seguintes deficiecircncias a) deficiecircncia
visual b) deficiecircncia auditiva c) deficiecircncia mental d) deficiecircncia motora
1 Nota Na operaccedilatildeo censitaacuteria de 2001 apenas foi observada a deficiecircncia permanente a deficiecircncia temporaacuteria natildeo foi considerada (por exemplo se um indiviacuteduo se desloca com canadianas ou em cadeira de rodas porque partiu uma perna ou se sofre de descolamento parcial da retina que o obriga a andar com uma venda natildeo foi considerado como tendo uma deficiecircncia) 2 Fonte INE ndash Censos 2001 ndash Recenseamento Geral da Populaccedilatildeo (Antecedentes Metodologia e Conceitos) Antecedentes Metodologia e Conceitos 3 Fonte INS ndash Inqueacuterito Nacional agrave Sauacutede
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Trabalhador deficiente Trabalhador que estaacute incapacitado para assegurar por si mesmo total
ou parcialmente a satisfaccedilatildeo de necessidades de uma vida individual ou social normal devido
a uma deficiecircncia congeacutenita ou adquirida das suas capacidades fiacutesicas sensoriais ou
mentais tendo por isso dificuldade em obter eou manter o desempenho de funccedilotildees de acordo
com as suas habilitaccedilotildees idade e experiecircncia profissional
Cidadatildeo Trabalhador com necessidades especiais Cidadatildeo idoso ou portador de
deficiecircncias sensoriais (visuais e auditivas) fiacutesicas (motoras) e cognitivas
52 EUROSTAT
Os dados disponibilizados pelo Eurostat no seu endereccedilo electroacutenico4 parecem indicar a
utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na ICIDH
Conceito Deficiecircncia5
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de deficiecircncia refere-se a uma perda ou alteraccedilatildeo
de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou anatoacutemica
Conceito Incapacidade6
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de incapacidade refere-se agrave ausecircncia ou limitaccedilatildeo
da capacidade para funcionar estando comprometida a realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas
funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e
originando uma desvantagem para funcionar em sociedade face a outros
Conceito Desvantagem7
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito refere-se agrave desvantagem para um dado individuo
decorrente de uma deficiecircncia ou incapacidade
4 httpforumeuropaeuintircdsiscodedinfodatacodedenTheme3htm 5 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 6 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 7 Fonte Key data on health 2000 Eurostat
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
53 OCDE
Definiccedilotildees gerais de incapacidade
No contexto da OCDE identificam-se 2 abordagens distintas no quadro da definiccedilatildeo de
incapacidade
A incapacidade pode ser definida enquanto um estado decorrente de autoavaliaccedilatildeo ou um
status baseado em fontes administrativas eg beneficiaacuterio dos apoios De forma muito
frequente e talvez de forma imprecisa estas duas definiccedilotildees satildeo explicitadas como
incapacidade ldquosubjectivardquo versus rdquoobjectivardquo
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo e instrumentos
A incapacidade autoavaliada eacute medida atraveacutes de inqueacuteritos feitos directamente aos cidadatildeos
nas suas residecircncias Apesar da avaliaccedilatildeo ser baseada de uma forma geral nas respostas agraves
questotildees relativas a problemas de sauacutede de longo termo que limitam as actividades de vida
diaacuteria o detalhe das questotildees eacute geralmente diferente dificultando a comparabilidade dos
dados Por exemplo ldquolongo termordquo eacute parametrizado em 6 meses na Noruega e em 12 meses
na Suiccedila O status dos beneficiaacuterios pode ser avaliado atraveacutes de registos administrativos ou
atraveacutes de inqueacuteritos Os resultados entre as duas fontes satildeo de uma forma geral bastante
diferentes por duas razotildees nucleares os registos administrativos geralmente contam casos e
natildeo pessoas o que em situaccedilotildees de benefiacutecios muacuteltiplos pode levar a contagens duplas por
outro lado os inqueacuteritos satildeo baseados nas respostas sobre o status do beneficiaacuterio e algumas
pessoas podem desejar natildeo revelar a sua condiccedilatildeo perante os benefiacutecios
Nenhuma destas definiccedilotildees e medidas de mensuraccedilatildeo eacute superior a outras pelo que a sua
utilizaccedilatildeo depende dos objectivos do propoacutesito da investigaccedilatildeo e da disponibilidade da
informaccedilatildeo
Abordagens para medir a incapacidade no quadro da aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos agraves populaccedilotildees
a) Incapacidade geral (natildeo especificada)
Puacuteblico-alvo todos os adultos
b) Incapacidade relativa ao trabalho
Puacuteblico-alvo pessoas em idade activa
c) Limitaccedilotildees nas actividades de vida diaacuteria (AVD)
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Puacuteblico-alvo Populaccedilatildeo idosa
54 AMERICAN DISABILITIES ACT
O American Disabilities Act (ADA) desenvolvido em 1990 fornece um conjunto de guidelines
no sentido de assegurar a disponibilizaccedilatildeo de serviccedilos para as pessoas com deficiecircncias bem
como a protecccedilatildeo dos seus direitos legais
A ADA inclui uma definiccedilatildeo legal de incapacidade consistindo na presenccedila de ldquouma deficiecircncia
fiacutesica ou mental que limita significativamente uma ou mais das principais actividades de vidardquo
Independentemente da definiccedilatildeo proposta pela ADA a existecircncia de muacuteltiplos programas a
favor das pessoas com deficiecircncias e os diferentes focus legais em diferentes puacuteblicos alvo
fazem com que tenham emergido uma multiplicidade de definiccedilotildees de incapacidade ao longo
do tempo no quadro das poliacuteticas sociais americanas
55 OMS ONU Revisatildeo dos actuais inqueacuteritos sobre a incapacidade
Apesar de existir um desenvolvimento consideraacutevel dos inqueacuteritos na aacuterea da incapacidade
poder-se-atildeo explicitar algumas observaccedilotildees relativas agrave sua multiplicidade Numa primeira linha
de anaacutelise os inqueacuteritos tendem a focalizar-se nas limitaccedilotildees de actividade eou na deficiecircncia
No que concerne agrave formulaccedilatildeo escrita tendem a existir diferenccedilas significativas entre
inqueacuteritos facto que inviabiliza natildeo raras vezes a comparabilidade dos dados entre inqueacuteritos
As diferentes formulaccedilotildees das questotildees incluem
Tem dificuldade
Eacute capaz de
Faz
Tem sentido problemas em
com ou sem assistecircncia pessoal eou tecnoloacutegica
A questatildeo que se coloca eacute se estas formulaccedilotildees tecircm o mesmo significado isto eacute se todas elas
pretendem medir a capacidade ou a performance De acordo com a CIF a capacidade
remeteria para o potencial de execuccedilatildeo de um indiviacuteduo enquanto a performance diria respeito
ao niacutevel de desempenho efectivo do indiviacuteduo atraveacutes do seu envolvimento numa situaccedilatildeo de
vida real As lacunas existentes e as poucas referecircncias ao niacutevel da forma como os inquiridos
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
satildeo instruiacutedos a responder faz com que natildeo seja possiacutevel desenvolver um discernimento
irrefutaacutevel sobre esta mateacuteria
Do ponto de vista dos domiacutenios abrangidos os inqueacuteritos tecircm apresentado algumas questotildees
sobre a participaccedilatildeo e o ambiente e evidenciam algumas limitaccedilotildees na sua amplitude Os
domiacutenios de actividades e participaccedilatildeo geralmente abrangidos tecircm sido operacionalizados de
uma forma geral nas seguintes dimensotildees
Educaccedilatildeo e emprego (formulado como questotildees de performance)
Outros inqueacuteritos incluem aacutereas como relaccedilotildees interpessoais vida familiar tomada de
decisotildees etc
O domiacutenio relativo aos factores ambientais tem incluiacutedo
Utilizaccedilatildeo e acessibilidadedisponibilidade dos produtos de assistecircncia e da tecnologia
Acessibilidade do ambiente
Disponibilidade dos serviccedilos (sauacutede protecccedilatildeo social educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo)
Evidecircncias muito escassas ao niacutevel da poliacutetica atitudes ambiente natural
planeamento e concepccedilatildeo
A questatildeo de investigaccedilatildeo neste contexto centra-se na seguinte formulaccedilatildeo ldquoo que eacute que os
inqueacuteritos medem como incapacidaderdquo
a) Definiccedilatildeo a priori da incapacidade versus sem incapacidade
Alguns inqueacuteritos sobre a incapacidade especialmente os mais antigos utilizam uma definiccedilatildeo
a priori de incapacidade O objectivo deste tipo de inqueacuteritos eacute contar o nuacutemero de pessoas
que se encaixam na definiccedilatildeo no contexto da populaccedilatildeo total Neste sentido os dados satildeo
analisados de acordo com dois grupos de referecircncia ndash com incapacidade e sem incapacidade ndash
em funccedilatildeo de um conjunto de diferentes variaacuteveis Este tipo de questionaacuterios formula questotildees
do tipo ldquoPossui algum tipo de incapacidade auditiva visual ou fiacutesicardquo Muitas questotildees dos
censos tecircm utilizado este formato
b) Definiccedilatildeo a posteriori de incapacidade versus sem incapacidade
Mais recentemente alguns inqueacuteritos desenvolveram-se em direcccedilatildeo a uma definiccedilatildeo a
posteriori de incapacidade Nestes casos eacute medida a capacidade a performance ao longo de
um conjunto vasto de domiacutenios Este segundo tipo de inqueacuteritos tende a ter uma ampla
aceitaccedilatildeo eg HALS (Canada) HID (Franccedila) inqueacuterito sobre incapacidade na Africa do Sul
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Inqueacuterito Espanhol sobre incapacidade NHIS-D (USA) inqueacuterito Holandecircs entre outros Estes
instrumentos formulam questotildees relativas agraves dificuldades que as pessoas experienciam em
diferentes domiacutenios produzindo um perfil pessoal que possa colocar em evidecircncia os
diferentes graus de capacidade associados A categorizaccedilatildeo de incapacidade sem
incapacidade eacute formulada ao niacutevel do domiacutenio e natildeo como uma categoria geral de atributo
pessoal Esta abordagem permite uma anaacutelise ao niacutevel de funcionamento individual por
domiacutenio por exemplo comparando a experiecircncia de incapacidade no domiacutenio de mobilidade
versus socializaccedilatildeo versus comunicaccedilatildeo entre outros bem como o impacto dos factores
ambientais nestes diferentes domiacutenios O perfil resultante do funcionamento individual ao longo
de muacuteltiplos domiacutenios eacute similar aos estados de sauacutede individuais ao longo das diferentes
dimensotildees
Vantagens de uma abordagem a posteriori
Estaacute em consonacircncia com a abordagem universal proposta pela CIF Todas as
pessoas experienciam deficiecircncia nalgum ponto e esta experiecircncia eacute caracterizada
numa abordagem a posteriori e natildeo a priori
Decisotildees sobre a criaccedilatildeo de categorias sobre quem tem incapacidade e sobre quem
natildeo tem podem ser tomadas atraveacutes de diferentes niacuteveis de anaacutelise por exemplo
atraveacutes da anaacutelise da experiecircncia das pessoas que experienciam incapacidade em 1 2
ou 3 domiacutenios de cruzar o status de emprego de pessoas com incapacidade ao longo
dos diferentes domiacutenios etc
Deixa de ser necessaacuteria uma definiccedilatildeo tipoloacutegica e categoacuterica de pessoas com
incapacidade O que necessita de ser definido neste contexto eacute o que se designa por
limitaccedilatildeo da capacidade ou problemas de performance ao longo dos diferentes
domiacutenios
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6 SISTEMATIZACcedilAtildeO DAS DIMENSOtildeES DE ORGANIZACcedilAtildeO E
OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em todos os estudos efectuados neste domiacutenio foi colocada em evidecircncia a actual dificuldade
de comparabilidade estatiacutestica internacional inter ou intra sectorial independentemente do
organismo referenciador ndash OCDE ONU EUROSTAT INE OMS
Neste contexto desenvolver-se-aacute a extracccedilatildeo de conhecimento tendo por base a identificaccedilatildeo
de um conjunto de eixos de anaacutelise que actuem como vectores de estruturaccedilatildeo na
operacionalizaccedilatildeo do conceito A este propoacutesito atente-se no Quadro 2
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Abordagem Focus Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Delimitaccedilatildeo temporal do
conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo
Design das questotildees
CID-10
ICIDH
ICF
SauacutedeDoenccedila
Deficiecircncia
Incapacidade
a) Geral
b) Relativa ao trabalho
c) Limitaccedilotildees nas
actividades de vida
diaacuteria
Funcionalidade ndash
Niacuteveis de execuccedilatildeo
das actividades por
domiacutenio e niacuteveistipos
de ajudas mobilizadas
Intersubjectivo ndash
vg inqueacuteritos
Objectivo ndash vg
fontes administrativas
A priori
A posteriori
Temporaacuterias
permanentes
Progressivas
regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou
contiacutenuas
Tipo 1 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre uma determinada
condiccedilatildeo individual
combinada com itens
referentes a limitaccedilotildees de
actividade e participaccedilatildeo e
factores contextuais
Tipo 2 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre a presenccedila de uma
pessoa com incapacidade
no agregado familiar
seguindo-se uma lista de
deficiecircncias e
incapacidades
Tipo 3 ndash Checklist de
deficiecircncias
Quadro 2 ndash Eixos de operacionalizaccedilatildeo do conceito
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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7 ESCOLHA DO CENAacuteRIO A IMPLEMENTAR
A anaacutelise do Quadro 2 permite-nos uma definiccedilatildeo modular do cenaacuterio a implementar atraveacutes de
uma configuraccedilatildeo do conceito pelos eixos de anaacutelise propostos Uma das dificuldades
evidentes nesta delimitaccedilatildeo prende-se com o cumprimento dos requisitos de (a)
comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica e legislativa dentro do contexto portuguecircs
e (c) conformidade com os referenciais conceptuais actuais sendo que a coexistecircncia destes
criteacuterios afigura-se em muitos casos incompatiacutevel entre si Para efeitos da estruturaccedilatildeo do
cenaacuterio privilegiar-se-aacute a conformidade com os referenciais conceptuais actuais
71 ABORDAGEM No que concerne agrave abordagem privilegia-se a adopccedilatildeo das mais recentes directrizes propostas
pela OMS adoptando explicitamente a CIF
Fundamentaccedilatildeo
A CIF apresenta a capacidade para descrever o funcionamento humano numa
perspectiva biopsicossocial em detrimento da classificaccedilatildeo anterior (ICIDH) que se
focalizava na dimensatildeo biomeacutedica A CIF foi desenvolvida no plano conceptual para ser aplicaacutevel em diferentes aacutereas e
sectores A CIF eacute aplicaacutevel transversalmente agraves dimensotildees de cultura idade geacutenero sendo um
instrumento sistemaacutetico para descrever e medir a sauacutede e o funcionamento humano
num dado contexto A CIF constitui-se enquanto instrumento potencial para a poliacutetica social design das
intervenccedilotildees nos domiacutenios da sauacutede educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e intervenccedilatildeo social Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
72 FOCUS
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo da centraccedilatildeo da recolha de dados ao niacutevel
da dimensatildeo de funcionalidade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 39
Dezembro2006
Fundamentaccedilatildeo
Consonacircncia com o modelo conceptual proposto pela CIF enfatizando o caraacutecter
dinacircmico e interaccional (pessoa factores contextuais) do funcionamento de cada
pessoa Permite caracterizar as limitaccedilotildees de actividade e restriccedilotildees de participaccedilatildeo dos
cidadatildeos identificando necessidades de intervenccedilotildees especializadas numa loacutegica de
empowerment e participaccedilatildeo social Permite analisar a adequabilidade e ajustamento das actuais medidas poliacuteticas do
ponto de vista dos seus objectivos e os problemas detectados ao niacutevel da participaccedilatildeo
dos cidadatildeos ao longo de um conjunto diversificado de domiacutenios
73 MEacuteTODOS DE MENSURACcedilAtildeO
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo de meacutetodos intersubjectivos nomeadamente
inqueacuteritos
Fundamentaccedilatildeo
Flexibilidade ao niacutevel da abrangecircncia e profundidade das dimensotildees
Maior facilidade na implementaccedilatildeo atendendo agrave disponibilizaccedilatildeo de uma amostra
delimitada
Maior niacutevel de controlo sobre as condiccedilotildees de observaccedilatildeo e da entrevista devido ao
menor nuacutemero de entrevistas a ser implementado
74 DELIMITACcedilAtildeO CONCEPTUAL E TEMPORAL DO CONCEITO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo temporal e apesar de se privilegiar as vantagens anteriormente
explicitadas no desenvolvimento de uma definiccedilatildeo a posteriori assume-se a necessidade
politica de delimitar o campo de intervenccedilatildeo do conjunto de medidas sociais neste domiacutenio
pelo que a delimitaccedilatildeo conceptual poderaacute ser objecto de operacionalizaccedilatildeo atraveacutes dos
seguintes paracircmetros
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 40
Dezembro2006
Poder-se-aacute colocar a questatildeo de saber se a delimitaccedilatildeo do conceito proposta remete
especificamente para ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ou para ldquopessoas com limitaccedilotildees de
participaccedilatildeordquo Atendendo a que a definiccedilatildeo comporta uma abordagem sisteacutemica enfatizando a
interacccedilatildeo entre um conjunto diversificado de componentes que produzem impacto na
funcionalidade da pessoa a resposta natildeo eacute linear dependendo da ecircnfase socio-histoacuterica e da
abordagem sociopoliacutetica que se escolher enfatizar No entanto e do ponto de vista conceptual
privilegia-se a adopccedilatildeo do conceito ldquopessoas com limitaccedilotildees de participaccedilatildeordquo dado que existe
total autonomia operativa entre os diferentes constructos Neste sentido a deficiecircncia natildeo
constitui um factor causal linear das limitaccedilotildees de actividade e das restriccedilotildees ao niacutevel da
participaccedilatildeo mas antes uma das componentes que em interacccedilatildeo com outras podem
provocar impactos ao niacutevel da funcionalidade do indiviacuteduo Por uacuteltimo refira-se que a tipologia
ldquopessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeordquo poderaacute ser alvo de criticas por constituir
uma designaccedilatildeo que apela a duas componentes em simultacircneo (actividades e participaccedilatildeo)
excluindo outras e ser demasiado longa para uma definiccedilatildeo tipoloacutegica A este propoacutesito pode-
se sugerir a delimitaccedilatildeo ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo constituindo esta
expressatildeo uma abordagem holiacutestica ao conjunto de componentes que interferem com o
funcionamento humano Deste modo poderemos ter as seguintes designaccedilotildees
Pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Pessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo
Pessoas com limitaccedilotildees de funcionalidade
Figura 2 ndash Possiacuteveis designaccedilotildees
O Quadro 3 pretende fornecer uma visatildeo sistemaacutetica sobre o processo de decisatildeo da
designaccedilatildeo a adoptar
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
deficiecircncias
Tradiccedilatildeo analiacutetica dentro do
contexto portuguecircs
Em conformidade com o modelo
meacutedico ndash centra-se nas alteraccedilotildees
de estrutura e funccedilatildeo ndash
focalizaccedilatildeo na pessoa
Desarticulado dos pressupostos do
modelo social ndash natildeo remete para a
experiecircncia de incapacidade
enquanto produto da interacccedilatildeo
entre pessoa e ambiente
Mai
or
Abr
angecirc
ncia
Mai
or
Espe
cific
idad
e
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 41
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
incapacidades
Em conformidade com a
delimitaccedilatildeo anglo-saxoacutenica que
utiliza o conceito Disability
Focalizaccedilatildeo no poacutelo negativo do
funcionamento humano ndash
funcionalidadeincapacidade
Ao focalizar-se na experiecircncia de
incapacidade enquanto
interacccedilatildeo pessoa-ambiente
remete indirectamente para a
mobilizaccedilatildeo de apoios e recursos
de forma a ultrapassar eou
eliminar os obstaacuteculos ao
funcionamento em contexto
O potencial efeito estigmatizante
da expressatildeo ldquopessoas com
incapacidadesrdquo
Pessoas com
diversidade
Funcional
Em conformidade com o modelo
social
Focaliza-se na gestatildeo das
diferenccedilas e no seu impacto ao
niacutevel da participaccedilatildeo das pessoas
na sociedade
Elevado niacutevel de abrangecircncia natildeo
permitindo um niacutevel de
diferenciaccedilatildeo relevante na
medida em que todos os cidadatildeos
detecircm entre si diversos e
diferentes padrotildees de
funcionamento humano
Conceito dificilmente
operacionalizaacutevel do ponto de
vista da formulaccedilatildeo das poliacuteticas e
da delimitaccedilatildeo dos puacuteblicos-alvo
Pessoas com
restriccedilotildees ao
niacutevel da
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos Desta forma
todos os obstaacuteculos agrave participaccedilatildeo
relacionados com discriminaccedilatildeo
social preconceitos estereoacutetipos
deficiecircncias doenccedilas croacutenicas
entre outros satildeo incluiacutedos
Natildeo inclui as limitaccedilotildees de
actividade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
limitaccedilotildees de
actividade e
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida e simultaneamente no
domiacutenio das limitaccedilotildees de
actividade
Ruptura com a tradiccedilatildeo analiacutetica
no sector
Dificuldade de apreensatildeo e
inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Natildeo inclui as alteraccedilotildees da
estrutura e da funccedilatildeo
Pessoas com
limitaccedilotildees de
funcionalidade
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel das
diferentes dimensotildees constituintes
da funcionalidade e do
funcionamento humano
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos
Pessoas com
deficiecircncias e
incapacidades
Natildeo introduz ruptura com a
tradiccedilatildeo analiacutetica no sector
Inclui as alteraccedilotildees de estrutura e
funccedilatildeo bem como as alteraccedilotildees
decorrentes ao niacutevel da
funcionalidade
Diferencia os conceitos de
deficiecircncia e incapacidade
autonomizando-os e fornecendo
uma base compreensiva para o
natildeo estabelecimento de relaccedilotildees
de causa-efeito entre os ambos
Abrange os obstaacuteculos que
emergem na interacccedilatildeo pessoa-
contextos de vida e
simultaneamente no domiacutenio das
limitaccedilotildees de actividade
Poder diferenciador e delimitador
na definiccedilatildeo do puacuteblico-alvo
Em alinhamento estrateacutegico com o
PAIPDI
Designaccedilatildeo de compromisso com
os referenciais teoacutericos do modelo
social e dos princiacutepios da ldquoeacutetica da
diversidaderdquo
Quadro 3 ndash Visatildeo comparativa das hipoacuteteses da designaccedilatildeo a adoptar
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
75 DELIMITACcedilAtildeO DA DURACcedilAtildeO E CURSO DE EVOLUCcedilAtildeO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo interessa a caracterizaccedilatildeo nas
3 dimensotildees desenvolvidas
Fundamentaccedilatildeo
Afigura-se relevante caracterizar a ocorrecircncia das deficiecircncias quanto aacute sua
consistecircncia no tempo ndash temporaacuterias permanentes ndash analisando os factores
contextuais associados consequecircncias ao niacutevel das actividades e da participaccedilatildeo ao
longo de um conjunto de domiacutenios em ordem agrave extracccedilatildeo de implicaccedilotildees no acircmbito
das poliacuteticas sociais
No acircmbito da adaptabilidade e da adequaccedilatildeo das medidas poliacuteticas agraves necessidades
especiacuteficas dos cidadatildeos torna-se relevante caracterizar a deficiecircncia quanto agrave
natureza do seu curso evolutivo ndash progressivas regressivas estaacuteveis O mesmo
criteacuterio eacute aplicaacutevel quanto aacute dimensatildeo de padratildeo de manifestaccedilatildeo ndash intermitente
contiacutenua
No entanto e apesar da incapacidade se manifestar ao longo do ciclo de vida da pessoa
de forma multimodal para efeitos de delimitaccedilatildeo e de definiccedilatildeo do conceito de pessoas
com deficiecircncias e incapacidades privilegiaremos o caraacutecter permanente Desta forma
excluem-se as manifestaccedilotildees temporaacuterias de incapacidade que enviesariam a anaacutelise e o
desenvolvimento de poliacuteticas neste domiacutenio
76 DESIGN DAS QUESTOtildeES
No que concerne ao design das questotildees privilegia-se a escolha de questotildees tipo 1
Fundamentaccedilatildeo
Em consonacircncia com a CIF
Permite comparabilidade estatiacutestica futura
Permite a caracterizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre os factores de funcionalidade ndash integridade
estrutural e funcional actividades participaccedilatildeo e factores contextuais
Permite o design das poliacuteticas sociais e metodologias de intervenccedilatildeo alicerccediladas nas
necessidades especiacuteficas dos cidadatildeos em torno das dimensotildees de inclusatildeo social
Domiacutenios
Visatildeo
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
Audiccedilatildeo
Comunicaccedilatildeo
Mobilidade
Dor
Aprendizagem e funcionamento psicoloacutegico
Autocuidados e vida domeacutestica
Condiccedilotildees gerais de sauacutede
Mobilizaccedilatildeo de ajudas ou equipamento especializado
Participaccedilatildeo social
Transporte e educaccedilatildeo
77 PROPOSTA DE DELIMITACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em funccedilatildeo das dimensotildees caracterizadas e dos criteacuterios privilegiados desenvolveu-se o
seguinte enquadramento conceptual
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
Figura 2 ndash Enquadramento conceptual da delimitaccedilatildeo do conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso da evoluccedilatildeo
Temporaacuterias permanentes
Progressivas regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou contiacutenuas
Focus
Funcionalidade ndash Niacuteveis de execuccedilatildeo das actividades por domiacutenio e niacuteveistipos de ajudas mobilizadas
Abordagem CIF
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo temporal do conceito
A priori
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Inter-subjectivo
Design das questotildees
Questatildeo geneacuterica sobre uma determinada condiccedilatildeo individual combinada com itens referentes a limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo e factores contextuais
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
8 CRITEacuteRIOS DE ELEGIBILIDADE DO PUacuteBLICO-ALVO E SISTEMAS DE
AVALIACcedilAtildeO
A operacionalizaccedilatildeo do conceito de incapacidade tem sido abordada de forma heterogeacutenea
entre diferentes modalidades de politica e os diferentes contextos socioculturais de cada paiacutes
De uma forma geral encontram-se 2 eixos criacuteticos na sua operacionalizaccedilatildeo
a) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de trabalho (na ocupaccedilatildeo preacutevia ou numa nova
ocupaccedilatildeo ajustada agraves alteraccedilotildees funcionais)
b) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de obter rendimentos provenientes do trabalho
A explicitaccedilatildeo dos criteacuterios de delimitaccedilatildeo do conceito de incapacidade nos diferentes paiacuteses
encontra-se na Quadro 4
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Austraacutelia 2 Criteacuterios possuir uma incapacidade que resulte
num score nunca inferior a 20 nas tabelas de
incapacidades e incapacidade em trabalhar 30
horas ou mais por semana ou em ser
reconvertido para trabalho em contexto regular
nos proacuteximos 2 anos
Nenhum
Aacuteustria 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho (50
de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo para
trabalhadores sem qualificaccedilotildees) papel criacutetico
das decisotildees dos tribunais devido a definiccedilotildees
legais imprecisas
Nenhum mas as
restriccedilotildees de sauacutede
devem ter uma duraccedilatildeo
igual ou superior a 6
meses
Beacutelgica 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na actual ocupaccedilatildeo
1 ano
Canada Incapacidade severa e prolongada que impeccedila de
desenvolver trabalho numa base regular
Nenhum
Dinamarca 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum mas a
reabilitaccedilatildeo precisa de
estar completa
Franccedila 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual mas a
totalidade do subsidio requer igualmente perda de
capacidade de trabalho
Nenhum no caso das
condiccedilotildees estarem
estaacuteveis mas muito
frequentemente apoacutes 3
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
anos
Alemanha 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho a
incapacidade parcial eacute calculada em funccedilatildeo do nordm
de horas que a pessoa pode trabalhar
Nenhum mas a
incapacidade deve ter
uma duraccedilatildeo miacutenima
de 26 semanas
Itaacutelia 666reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum
Coreia Criteacuterios meacutedicos (niacuteveis de incapacidade
definidos de forma detalhada)
Periacuteodo de espera de
50 dias (os subsiacutedios
de doenccedila natildeo se
encontram disponiacuteveis)
Meacutexico 50 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo Nenhum
Holanda 15 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
(25 para os trabalhadores por conta proacutepria e
jovens com incapacidade) grau de incapacidade
calculado pela diferenccedila de remuneraccedilatildeo entre o
actual posto de trabalho compatiacutevel com as
limitaccedilotildees funcionais e o anterior
1 ano
Noruega 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho O
grau de subsiacutedio eacute calculado pela capacidade de
remuneraccedilatildeo
Nenhum (apoacutes ter
completado a
reabilitaccedilatildeo vocacional)
Poloacutenia Reduccedilatildeo temporaacuteria ou permanente da
capacidade de trabalho
Nenhum
Portugal 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual
Nenhum mas na
praacutetica ao fim de 3
anos (fim do periacuteodo de
doenccedila de longo termo)
Espanha 33 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho na
ocupaccedilatildeo actual incapacidade para todo e
qualquer trabalho para a totalidade do subsiacutedio
1 ano (embora seja
possiacutevel a candidatura
antes deste prazo em
casos de incapacidade
permanente)
Sueacutecia 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho grau
de incapacidade parcial calculado a partir das
horas que uma pessoa pode trabalhar
Nenhum
Suiccedila 40 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho para
as pessoas inactivas o grau de incapacidade eacute
calculado em relaccedilatildeo aacute actividade actual
1 ano
Turquia 666 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho
com um focus meacutedico bastante significativo
Nenhum
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Reino Unido Limitaccedilotildees nas actividades de vida quotidianas
relevantes para o trabalho (avaliaccedilotildees meacutedicas
predominantes) teste ocupacional durante a s
primeiras 28 semanas (subsidio de doenccedila)
28 semanas
Estados
Unidos
Reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
incapacidade em investir numa actividade
profissional com rendimentos ($ US 740 por mecircs)
5 meses (nem sempre
cobertos pelos
subsiacutedios de curto-
termo) e 24 meses
para a cobertura
meacutedica
Quadro 4 ndash Definiccedilotildees de incapacidade e tempos regulamentares
Um dos desafios que se coloca aos actuais sistemas reside na delimitaccedilatildeo da elegibilidade do
puacuteblico-alvo Para cumprir este objectivo satildeo necessaacuterios sistemas de avaliaccedilatildeo holiacutesticos
abrangentes coerentes e que permitam chegar a resultados de forma consistente e com
validade interna No actual contexto a CIF propotildee constituir-se como o instrumento conceptual
abrangente para caracterizar os diferentes domiacutenios e niacuteveis de funcionalidade incapacidade
de forma coerente e integrada Neste sentido uma das vantagens apontadas para a adopccedilatildeo
do modelo desenvolvido pela OMS eacute a possibilidade de uniformizaccedilatildeo de conceitos e portanto
da utilizaccedilatildeo de uma linguagem padratildeo que permita a comunicaccedilatildeo entre investigadores
gestores profissionais de sauacutede organizaccedilotildees da sociedade civil e utilizadores em geral
Um dos campos de estudo mais explorados para a aplicaccedilatildeo da CIF tem sido a aacuterea de
Medicina Fiacutesica e de Reabilitaccedilatildeo no que concerne ao acompanhamento do estado de sauacutede
dos pacientes em tratamento O uso da CIF tem sido considerado tambeacutem na avaliaccedilatildeo apoacutes
transtornos agudos condiccedilotildees traumaacuteticas condiccedilotildees croacutenicas e na geriatria
Alguns autores argumentam que a CIF deve ser explorada como uma base de informaccedilotildees
padronizadas em estudos sobre incapacidade profissional quando haacute necessidade de
relacionar dados de sauacutede ocupacional com os da Seguranccedila Social
Na Sauacutede Puacuteblica tradicionalmente pouca atenccedilatildeo tem sido dada agraves pessoas com
incapacidades No entanto ao lado de recentes investimentos por parte de organizaccedilotildees e de
alguns governos a publicaccedilatildeo do modelo da CIF fornece as bases para as poliacuteticas e
disciplinas da Sauacutede Puacuteblica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo que apresenta deficiecircncias e
incapacidades Assim uma das possibilidades de uso da CIF pode ser a contribuiccedilatildeo para
responder a importantes questotildees de sauacutede puacuteblica tais como qual o estado de sauacutede das
pessoas com deficiecircncias comparadas com as demais que necessidades e que tipos de
intervenccedilotildees satildeo mais adequadas para reduzir condiccedilotildees secundaacuterias e promover a
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na sociedade entre outras
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
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Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
Dezembro2006
Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 53
Dezembro2006
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Modelo meacutedico Modelo social
Problema Incapacidade dependecircncia das
pessoas
Inadequaccedilatildeo dos contextos agraves
pessoas
Origem Nas pessoas Na sociedade
Focalizaccedilatildeo Na pessoa nas suas limitaccedilotildees Relaccedilatildeo pessoa contexto nas
barreiras sociais
Eacutetica Assistecircncia Direitos
Igualdade de oportunidades
Objectivos Reabilitar curar tratar
Habilitar
Eliminar barreiras promover a
compatibilidade
Perspectiva Necessidades especiais
Serviccedilos especializados
Necessidades diferentes
Serviccedilos regulares
Serviccedilos Institucionalizados
Rede de cuidados De apoio baseados na comunidade
Poder controlo Profissionais Clientes
Cultura Disabling
Manutenccedilatildeo e reforccedilo da deficiecircncia
Reconhecimento e inclusatildeo da
diversidade
Objectivos das poliacuteticas
Compensar os indiviacuteduos pelas
suas incapacidades
ldquoAliviar a situaccedilatildeordquo
Promover direitos
Prover recursos e competecircncias
para identificar e eliminar barreiras
pessoais e sociais
Focalizaccedilatildeo das poliacuteticas Nos indiviacuteduos
Nas pessoas com deficiecircncias No grupo social
Na populaccedilatildeo global
Responsabilidade Poliacutetica social
ldquoWelfare provisionrdquo
Poliacuteticas transversais
Poliacuteticas sociais activas
Quadro 1 ndash Anaacutelise comparativa do modelo meacutedico com o modelo social relativamente agraves dimensotildees estruturantes na organizaccedilatildeo dos quadros conceptuais de intervenccedilatildeo (Sousa 2005) 12 PERSPECTIVA EVOLUTIVA DO MODELO SOCIAL
O modelo social da deficiecircncia surge na deacutecada de 1960 no Reino Unido como uma reacccedilatildeo
agraves abordagens biomeacutedicas A premissa baacutesica do modelo social eacute que a deficiecircncia natildeo deve
ser entendida como um problema individual mas como uma questatildeo eminentemente social
transferindo a responsabilidade pelas desvantagens das pessoas com deficiecircncias para a
incapacidade da sociedade em prever e ajustar-se agrave diversidade (Oliver 1990) Em torno do
modelo social da deficiecircncia surge na deacutecada de 1970 a UPIAS (The Union of the Phisically
Impaired Against Segregation) uma das primeiras organizaccedilotildees de pessoas com deficiecircncias
com objectivos eminentemente poliacuteticos e natildeo apenas assistenciais como era o caso das
instituiccedilotildees criadas nos dois seacuteculos anteriores (UPIAS 1976) O ponto de partida teoacuterico do
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 7
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
modelo social eacute que a deficiecircncia eacute uma experiecircncia resultante da interacccedilatildeo entre
caracteriacutesticas corporais do indiviacuteduo e as condiccedilotildees da sociedade em que ele vive isto eacute da
combinaccedilatildeo de limitaccedilotildees impostas pelo corpo com algum tipo de perda ou reduccedilatildeo de
funcionalidade (lesatildeo) e uma organizaccedilatildeo social pouco sensiacutevel agrave diversidade corporal
Originalmente a UPIAS propocircs uma definiccedilatildeo que explicitava o efeito da exclusatildeo na criaccedilatildeo
da deficiecircncia ldquoLesatildeo ausecircncia parcial ou total de um membro ou oacutergatildeo ou existecircncia de um
mecanismo corporal defeituoso Deficiecircncia desvantagem ou restriccedilatildeo de actividade
provocada pela organizaccedilatildeo social contemporacircnea que pouco ou nada considera aqueles que
possuem lesotildees fiacutesicas e os exclui das principais actividades da vida socialrdquo (UPIAS 19763-
4) A ecircnfase inicial nas limitaccedilotildees fiacutesicas foi imediatamente revista e com isso abriu-se um
grande debate sobre as limitaccedilotildees do vocabulaacuterio usado para descrever as deficiecircncias e
incapacidades A intenccedilatildeo era destacar que natildeo havia necessariamente uma relaccedilatildeo directa
entre lesatildeo e deficiecircncia transferindo o debate da discussatildeo sobre sauacutede para o terreno da
organizaccedilatildeo social e poliacutetica Lesatildeo seria uma caracteriacutestica corporal como seria o sexo ou a
cor da pele ao passo que deficiecircncia seria o resultado da opressatildeo e da discriminaccedilatildeo sofrida
pelas pessoas em funccedilatildeo de uma sociedade que se organiza de uma maneira que natildeo permite
incluiacute-las na vida quotidiana Eacute possiacutevel uma pessoa ter lesotildees e natildeo experimentar a
deficiecircncia a depender de quanto a sociedade esteja ajustada para incorporar a diversidade
Como exemplifica Morris (2001) natildeo poder caminhar eacute a expressatildeo da lesatildeo a deficiecircncia
consiste na inacessibilidade imposta agraves pessoas que usam cadeira de rodas O resultado
dessa revisatildeo na semacircntica dos conceitos foi uma separaccedilatildeo radical entre lesatildeo e deficiecircncia
a primeira eacute objecto da discussatildeo sobre sauacutede enquanto a segunda eacute uma questatildeo da ordem
dos direitos e da justiccedila social e portanto essencialmente normativa
Se para o modelo meacutedico a lesatildeo levava agrave deficiecircncia para o modelo social os sistemas
sociais levavam pessoas com lesotildees agrave experiecircncia da incapacidade Em siacutentese o modelo
meacutedico identifica a pessoa com deficiecircncia como uma pessoa com algum tipo de inadequaccedilatildeo
para a sociedade o modelo social por sua vez inverte o argumento e contextualiza a
deficiecircncia na incapacidade da sociedade para incluir todas as pessoas gerindo de forma
inclusiva a sua diversidade Em geral as definiccedilotildees baseadas no modelo meacutedico exigem um
grande afastamento dos padrotildees de normalidade para considerar uma pessoa como tendo
deficiecircncia Os criteacuterios utilizados para definir a deficiecircncia geralmente tecircm como referecircncia a
perda completa de certos oacutergatildeos ou funccedilotildees A identificaccedilatildeo da deficiecircncia eacute feita levando-se
em conta caracteriacutesticas isoladas destes oacutergatildeos e funccedilotildees e comparando-as com limites
estabelecidos para cada uma delas Neste quadro de inteligibilidade existem criteacuterios que
estabelecem para oacutergatildeo ou funccedilatildeo comprometida os limites da deficiecircncia como por
exemplo patamares miacutenimos de acuidade visual capacidade auditiva etc que podem ser
avaliados isoladamente uns dos outros bem como separados das necessidades impostas
pelas caracteriacutesticas sociais de cada pessoa
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 8
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
A combinaccedilatildeo da existecircncia de uma condiccedilatildeo de sauacutede bem abaixo de um padratildeo abstracto de
normalidade e a persistecircncia dessa condiccedilatildeo no tempo permite ao modelo meacutedico diferenciar
doenccedila de deficiecircncia Muitas das doenccedilas satildeo entendidas como situaccedilotildees temporaacuterias
Assim embora tenham uma condiccedilatildeo de sauacutede inferior agrave determinada por algum criteacuterio de
normalidade as pessoas doentes podem natildeo ser consideradas pessoas com deficiecircncias
dentro do modelo meacutedico porque a sua reduccedilatildeo de capacidades eacute apenas temporaacuteria e natildeo
permite definir um estado consistente ao longo do tempo O caminho inverso tambeacutem eacute trilhado
para separar deficiecircncia de doenccedila poreacutem com um argumento um pouco mais sofisticado
(Diniz 1996) Se a deficiecircncia eacute uma situaccedilatildeo irreversiacutevel eacute perfeitamente possiacutevel redefinir o
conceito de normalidade de modo a ajustaacute-lo agrave condiccedilatildeo permanente das pessoas A cegueira
por exemplo passa a ser a condiccedilatildeo normal de uma pessoa cega e portanto natildeo faz sentido
classificaacute-la como doente Neste esquema uma pessoa que natildeo pode ver porque estaacute com
uma inflamaccedilatildeo ocular grave eacute uma pessoa doente e uma pessoa permanentemente cega eacute
uma pessoa deficiente Como o reconhecimento da ldquosociedade deficienterdquo eacute tatildeo ou mais
importante para o debate sobre poliacuteticas puacuteblicas e deficiecircncia do que a identificaccedilatildeo da
ldquopessoa deficienterdquo as preocupaccedilotildees com a identidade do modelo social satildeo bem distintas
daquelas do modelo meacutedico Abberley (1987) por exemplo natildeo insiste na distinccedilatildeo entre
deficiecircncia e doenccedila e praticamente ignora a regra de persistecircncia da lesatildeo no tempo para
identificar as pessoas com deficiecircncias criteacuterio tatildeo caro aos legisladores de poliacuteticas sociais
nos anos 1980 que o utilizaram sistematicamente em contagens de populaccedilatildeo de vaacuterios
paiacuteses do mundo A loacutegica do modelo social natildeo reconhece esta distinccedilatildeo principalmente
porque entende que os ajustes requeridos da sociedade para que ela contemple a diversidade
da deficiecircncia satildeo independentes de quanto tempo uma condiccedilatildeo corporal se iraacute manter Afinal
se uma pessoa que usa cadeira de rodas enquanto recupera de fracturas nas pernas
necessita dos mesmos ajustes no sistema de transporte que uma pessoa permanentemente
incapacitada de caminhar porquecirc separaacute-las em grupos diferentes Ao natildeo reconhecer que os
doentes tambeacutem experimentam a deficiecircncia o modelo meacutedico exclui da atenccedilatildeo das poliacuteticas
puacuteblicas uma grande parcela da populaccedilatildeo que necessita delas problema que pode afectar
uma parte razoaacutevel da populaccedilatildeo idosa Natildeo usar da mesma maneira a distinccedilatildeo entre doenccedila
e deficiecircncia eacute um recurso do modelo social para evitar este tipo de exclusatildeo A consequecircncia
oacutebvia da definiccedilatildeo do modelo social eacute de que a pesquisa e as poliacuteticas puacuteblicas direccionadas agrave
deficiecircncia natildeo poderiam concentrar-se apenas nos aspectos corporais dos indiviacuteduos para
identificar a deficiecircncia Aleacutem disso ao separar a deficiecircncia da lesatildeo o modelo social abre
espaccedilo para mostrar que a despeito da diversidade das lesotildees haacute um factor que une as
diferentes comunidades de pessoas com deficiecircncias em torno de um projecto poliacutetico uacutenico a
experiecircncia da exclusatildeo Segundo Oliver ldquoTodos os deficientes experimentam a deficiecircncia
como uma restriccedilatildeo social natildeo importando se estas restriccedilotildees ocorrem em consequecircncia de
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 9
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
ambientes inacessiacuteveis de noccedilotildees questionaacuteveis de inteligecircncia e competecircncia social se da
inabilidade da populaccedilatildeo em geral de utilizar a linguagem de sinais se pela falta de material
em Braille ou se pelas atitudes puacuteblicas hostis das pessoas que natildeo tecircm lesotildees visiacuteveisrdquo
(1990xiv)
Em meados da deacutecada de 1990 os movimentos feministas lanccedilaram um argumento com
profundas implicaccedilotildees para as poliacuteticas puacuteblicas a experiecircncia da deficiecircncia no acircmbito
familiar apresenta implicaccedilotildees ao niacutevel do geacutenero Ao mostrar que a deficiecircncia eacute
acompanhada de reorganizaccedilotildees familiares voltadas para o cuidado da pessoa com
deficiecircncia os movimentos feministas colocaram em evidecircncia que natildeo satildeo apenas as
pessoas com algum tipo de restriccedilatildeo corporal que necessitam da atenccedilatildeo das poliacuteticas
puacuteblicas Atendendo a que as cuidadoras satildeo predominantemente mulheres devido agrave divisatildeo
sexual do trabalho a deficiecircncia quando entendida como um fenoacutemeno com implicaccedilotildees
familiares possui um enviesamento de geacutenero Satildeo as mulheres por exemplo que se afastam
do mercado de trabalho para cuidar das pessoas com deficiecircncias de crianccedilas pequenas ou
idosos Nos casos dos homens idosos este recorte inclui uma sobreposiccedilatildeo de geacutenero agrave idade
pois dado o padratildeo tiacutepico de arranjo familiar satildeo mulheres idosas que cuidam desses homens
Este afastamento tem uma seacuterie de implicaccedilotildees para as mulheres como a ausecircncia de
serviccedilos de suporte e de apoio para as mulheres em idade economicamente activa e tal facto
natildeo pode passar esquecido pelas poliacuteticas puacuteblicas (Barton amp Oliver 1997)
No final da deacutecada de 1990 alguns argumentos do modelo social da deficiecircncia foram objecto
de revisatildeo O lema ldquoOs limites satildeo sociais natildeo do indiviacuteduordquo usado como bandeira para
reivindicar condiccedilotildees para que as pessoas com deficiecircncias fossem independentes passa a ser
relativizado Uma longa tradiccedilatildeo da filosofia feminista critica o valor da independecircncia absoluta
mostrando que a interdependecircncia por meio do cuidado com os dependentes eacute um elemento
constituinte da vida em sociedade e em muitos casos de deficiecircncia natildeo pode ser evitada As
poliacuteticas puacuteblicas portanto natildeo devem procurar apenas promover a independecircncia das
pessoas com deficiecircncias mas criar condiccedilotildees favoraacuteveis para que o cuidar seja exercido
13 DESAFIOS EMERGENTES NO PLANO CONCEPTUAL COM IMPLICACcedilOtildeES NO DOMIacuteNIO DAS
INTERVENCcedilOtildeES
Historicamente as diferentes perspectivas de intervenccedilatildeo no campo da reabilitaccedilatildeo tecircm-se
centrado predominantemente nos pressupostos conceptuais do modelo meacutedico sendo que
mais recentemente tem-se vindo a assistir a uma focalizaccedilatildeo progressiva nos pressupostos
conceptuais do modelo social
Neste contexto histoacuterico as interpretaccedilotildees sociais da deficiecircncia encontram-se em processo de
transiccedilatildeo Este aspecto aparece claramente reflectido nos documentos oficiais em relaccedilatildeo agraves
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 10
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
definiccedilotildees de deficiecircncia e de reabilitaccedilatildeo Apesar dos factores econoacutemicos e demograacuteficos se
afigurarem de uma importacircncia crescente parece evidente que o motor que subjaz a este
fenoacutemeno se alicerccedila na politizaccedilatildeo sem precedentes da deficiecircncia liderada pela sociedade
civil bem como a exigecircncia crescente de igualdade de oportunidades para as pessoas com
deficiecircncias A evoluccedilatildeo conceptual da interpretaccedilatildeo sociopoliacutetica do conceito tem produzido
avanccedilos ao niacutevel das praacuteticas e das intervenccedilotildees ainda que com diferentes ritmos de
aplicaccedilatildeo e com necessidades evidentes de um maior niacutevel de sistematizaccedilatildeo e estruturaccedilatildeo
na globalidade do sector
Consequentemente alguns dos elementos das praacuteticas de reabilitaccedilatildeo mantecircm-se focalizados
em abordagens centradas no indiviacuteduo Apesar da relevacircncia das intervenccedilotildees e das
terapecircuticas meacutedicas ainda que absolutamente necessaacuterias nos paiacuteses mais pobres estas
apenas produzem um impacte parcial no contexto de um ambiente cultural organizado
privilegiadamente para um modo de vida onde natildeo existem pessoas com deficiecircncias Deste
modo o domiacutenio de sauacutede puacuteblica bem como os problemas experimentados pelas pessoas
com deficiecircncias constituem-se como assuntos de natureza poliacutetica que apenas poderatildeo ser
equacionados na sua resoluccedilatildeo atraveacutes de uma profunda mudanccedila estrutural e cultural
envolvendo a redistribuiccedilatildeo sistemaacutetica de recursos e o desenvolvimento de uma cultura que
valoriza a diversidade humana
Neste cenaacuterio afigura-se relevante equacionar um conjunto de desafios fundamentais para
enquadrar a iniciativa poliacutetica na implementaccedilatildeo dos princiacutepios do modelo social
Coerecircncia dos conceitos utilizados
Parece subsistir uma elevada diversidade de conceitos associados ao domiacutenio da deficiecircncia
na organizaccedilatildeo social A tiacutetulo de exemplo pode-se citar a nomenclatura de ldquodeficientesrdquo ou
ldquopessoas portadoras de deficiecircnciardquo no acesso prioritaacuterio a determinados tipos de serviccedilos
puacuteblicos ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ao niacutevel de programas de intervenccedilatildeo social e
designaccedilotildees ao niacutevel dos instrumentos de poliacutetica que remetem para concepccedilotildees radicalmente
diferentes entre si tal como eacute o caso da ldquopensatildeo de invalidezrdquo ou da ldquotabela nacional de
incapacidadesrdquo Esta pluralidade de conceitos sem qualquer coerecircncia conceptual entre si
parece espelhar o resultado de diferentes velocidades de evoluccedilatildeo em diferentes domiacutenios da
poliacutetica social ocorrida em diferentes momentos socio-histoacutericos Aliaacutes tal facto emerge de
forma mais ou menos incisiva na maioria dos paiacuteses europeus A investigaccedilatildeo neste sector tem
permitido colocar em evidecircncia que diferentes definiccedilotildees de deficiecircncia satildeo relevantes para
diferentes poliacuteticas e que as tentativas de usar a mesma definiccedilatildeo ao longo de uma vasta
diversidade de poliacuteticas pode resultar na utilizaccedilatildeo de definiccedilotildees de reduzido poder
diferenciador o que significa que as poliacuteticas podem correr o risco de natildeo chegar ao seu
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 11
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
puacuteblico-alvo A necessidade de usar uma pluralidade de definiccedilotildees de forma a assegurar a
relevacircncia da definiccedilatildeo para o seu domiacutenio de aplicabilidade levanta um problema de
coerecircncia no quadro poliacutetico relativo agraves pessoas com deficiecircncias Neste cenaacuterio as pessoas
podem ser consideradas como tendo deficiecircncias no quadro de uma determinada poliacutetica e
como natildeo tendo no quadro de uma poliacutetica diferente sendo que por vezes se encontram
lacunas no fornecimento de serviccedilos como resultado imediato desta opccedilatildeo De uma forma
geral os diferentes Estados resolvem estes problemas requerendo agraves instituiccedilotildees das poliacuteticas
sociais a coordenaccedilatildeo das actividades em detrimento do estabelecimento de definiccedilotildees
uacutenicas
Diferentes abordagens entre diferentes aacutereas de poliacutetica social
A evoluccedilatildeo histoacuterica e a apropriaccedilatildeo de diferentes conceitos por parte de diferentes sectores
da poliacutetica social encerram o risco de serem adoptados modelos operativos e intervenccedilotildees com
caracteriacutesticas significativamente diferentes Neste sentido podem-se observar sectores que
privilegiam o mainstreaming e o desenvolvimento das intervenccedilotildees baseadas na comunidade
e noutros sectores verificarem-se intervenccedilotildees mais centradas no indiviacuteduo mobilizando
criteacuterios quase exclusivamente meacutedicos Esta diferenccedila de abordagens pode potencialmente
acarretar desarticulaccedilotildees e incoerecircncias ao niacutevel dos princiacutepios gerais da poliacutetica social
reflectindo-se numa resposta fragmentada e parcelar agraves necessidades das pessoas Neste
contexto afigura-se relevante a definiccedilatildeo clara sistemaacutetica e estruturada dos princiacutepios
transversais subjacentes agrave globalidade das poliacuteticas para num segundo momento se proceder
agrave definiccedilatildeo dos seus elementos especiacuteficos
Classificaccedilatildeo da deficiecircncia e metodologias de avaliaccedilatildeo
Enquanto que no quadro do modelo meacutedico importava associar as diferentes deficiecircncias a
diferentes niacuteveis de incapacidade mobilizando criteacuterios de natureza exclusivamente meacutedica a
progressiva implementaccedilatildeo do modelo social na maior parte dos paiacuteses da Europa tem
colocado desafios sobre qual a categorizaccedilatildeo que melhor reflecte as dificuldades de
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades ao niacutevel dos seus ambientes de
vida A OMS perante esta encruzilhada de classificaccedilotildees propocircs a Classificaccedilatildeo Internacional
de Funcionalidade Incapacidade e Sauacutede (CIF) como modelo operativo de caracterizaccedilatildeo da
funcionalidade do indiviacuteduo colocando em evidecircncia para efeitos de elegibilidade dos
programas as limitaccedilotildees de actividade e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo das pessoas Ou seja
enquanto nalguns modelos se continuam a avaliar as deficiecircncias do indiviacuteduo a CIF vem
enfatizar em coerecircncia com o modelo social que o mais relevante natildeo eacute avaliar as alteraccedilotildees
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 12
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
ao niacutevel das estruturas ou das funccedilotildees dos indiviacuteduos ndash ainda que natildeo as negligencie ndash mas
sim as limitaccedilotildees de actividades e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo que o sujeito experiencia no
decorrer da desadequaccedilatildeo entre as suas diferenccedilas e as caracteriacutesticas dos ambientes sociais
em que se move Atente-se que esta opccedilatildeo conceptual natildeo eacute neutra do ponto de vista
pragmaacutetico dado que os objectivos das intervenccedilotildees passam a ser a remoccedilatildeo das barreiras e
dos obstaacuteculos que ocorrem no quadro da relaccedilatildeo do sujeito com os seus contextos de vida
em detrimento de intervenccedilotildees polarizadas exclusivamente na dimensatildeo individual ou
exclusivamente na dimensatildeo social
No desenvolvimento das poliacuteticas sociais a investigaccedilatildeo tem permitido colocar em evidecircncia a
necessidade de identificar definir e sistematizar os princiacutepios norteadores que tenderatildeo a ser
transversais a todos os sectores de poliacutetica social sendo que apenas deste modo se poderaacute
assegurar a coerecircncia entre as diferentes poliacuteticas dos diferentes sectores Neste sentido
torna-se relevante um processo de clarificaccedilatildeo sobre qual o modelo conceptual em que a
estrateacutegia poliacutetica se baseou de forma a que o conjunto de objectivos estrateacutegias processos
de intervenccedilatildeo definiccedilatildeo de resultados alocaccedilatildeo de recursos e indicadores de avaliaccedilatildeo
estejam devidamente articulados e em consonacircncia com os princiacutepios adoptados
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 13
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
2 CONCEITOS E TERMINOLOGIA
A anaacutelise conceptual no domiacutenio da deficiecircncia permite colocar em evidecircncia a existecircncia de
um conjunto de imprecisotildees ao niacutevel dos conceitos com variaccedilotildees relacionadas com o modelo
meacutedico e com o modelo social Neste contexto afigura-se criacutetico clarificar os contornos teoacutericos
e os modelos conceptuais subjacentes aos diferentes conceitos utilizados estabelecendo uma
base teoacuterica de referecircncia que assegure o necessaacuterio grau de coerecircncia e simultaneamente
abrangecircncia
21 EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA DOS SISTEMAS DE CLASSIFICACcedilAtildeO
Para uma clara delimitaccedilatildeo dos modelos teoacutericos que tecircm influenciado historicamente o
desenvolvimento dos conceitos no domiacutenio da deficiecircncia poderemos identificar 2 abordagens
conceptuais distintas
211 A ABORDAGEM TRADICIONAL INDIVIDUALISTA
A preocupaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede em estabelecer uma classificaccedilatildeo das doenccedilas
remonta ao seacuteculo XVIII Mas somente na VI Revisatildeo da Classificaccedilatildeo Internacional de
Doenccedilas (CID-6) em 1948 citada na IX Revisatildeo foram feitas referecircncias a doenccedilas que
poderiam tornar-se croacutenicas exigindo outros serviccedilos aleacutem de cuidados meacutedicos
Ateacute a deacutecada de 70 a CID-8 citada na IX Revisatildeo considerava apenas as manifestaccedilotildees
agudas segundo o modelo meacutedico etiologia rArr patologia rArr manifestaccedilatildeo
Esse modelo mostrou-se limitado para descrever as consequecircncias das doenccedilas pois excluiacutea
as perturbaccedilotildees croacutenicas evolutivas e irreversiacuteveis
Na IX Assembleia da OMS em 1976 surgiu uma nova conceptualizaccedilatildeo a International
Classification of Impairments Disabilities and Handicaps a manual of classification relating to
the consequences of disease (ICIDH) sendo sua traduccedilatildeo a Classificaccedilatildeo Internacional de
Deficiecircncias Incapacidades e Desvantagens um manual de classificaccedilatildeo das consequecircncias
das doenccedilas (CIDID) publicada em 1989
Apesar da abordagem meacutedica individualista ter dominado a cultura ocidental desde pelo
menos o seacuteculo XIX (Oliver 1990 Gleeson 1999) esta encontra-se geralmente associada agrave
Classificaccedilatildeo Internacional da Deficiecircncia Incapacidades e Desvantagens (ICIDH) da OMS
(1980) Em resposta agraves necessidades crescentes ao niacutevel internacional de clarificaccedilatildeo do
sentido do conceito de incapacidade e atendendo agraves criticas progressivas das pessoas com
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 14
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
incapacidades e seus significativos baseadas no facto de que a incapacidade envolve mais do
que um conjunto de preocupaccedilotildees estritamente meacutedicas a OMS constituiu uma comissatildeo de
cientistas sociais para desenvolver a existente Classificaccedilatildeo Internacional de Doenccedilas em
ordem a conseguir abranger as consequecircncias a longo termo das doenccedilas croacutenicas A ICIDH
foi publicada em 1980 sendo largamente reconhecida como o directoacuterio mais abrangente
existente vindo a ser extensivamente utilizada como uma base para as iniciativas
governamentais dos paiacuteses desenvolvidos da Europa e Ameacuterica do Norte e os paiacuteses
subdesenvolvidos do Sul (Ustun et al 2001)
A ICIDH utiliza uma categorizaratildeo tripartida da deficiecircncia incapacidade e desvantagem A
deficiecircncia refere-se a qualquer perda ou irregularidade da estrutura ou das funccedilotildees
anatoacutemica fisioloacutegica ou psicoloacutegica A incapacidade refere-se a qualquer restriccedilatildeo ou perda
(resultante de uma deficiecircncia) da capacidade para executar uma actividade da forma e dentro
do contexto considerado normal para o ser humano A desvantagem refere-se agrave limitaccedilatildeo
resultante de uma deficiecircncia ou incapacidade no desempenho de um dado papel considerado
normativo (dependendo da idade geacutenero e factores sociais e culturais) para aquele indiviacuteduo
(OMS 1980 p 29)
Esta tipologia baseia-se nas noccedilotildees de normalidade fiacutesica e intelectual bem como no facto de
que a incapacidade e a desvantagem satildeo causadas por deficiecircncias ou irregularidades
psicoloacutegicas ou fisioloacutegicas Neste contexto a ICIDH pode ser objecto de criacuteticas a diferentes
niacuteveis Primeiro as percepccedilotildees de deficiecircncia e normalidade satildeo fenoacutemenos sociais pelo que
satildeo sujeitas a substantivas mudanccedilas temporais culturais e situacionais (Hanks and Hanks
1948 Scheer and Groce 1988 Coleridge 1993 Ingstad and Whyte 1995) A dislexia por
exemplo natildeo seria vista como um problema significativo numa sociedade predominantemente
agraacuteria No entanto eacute considerada uma dificuldade de aprendizagem nas sociedades
modernas tecnologicamente avanccediladas nas quais a literacia e a numeracia desempenham
requisitos criacuteticos para a participaccedilatildeo social e econoacutemica Segundo encontra-se impliacutecito na
ICIDH que o organismo humano eacute flexiacutevel e adaptaacutevel enquanto os ambientes fiacutesicos e sociais
o natildeo satildeo Este facto claramente conflitua com a realidade histoacuterica na qual os indiviacuteduos
transformaram continuamente o seu ambiente em funccedilatildeo das suas necessidades (Barnes
1991) Terceiro as definiccedilotildees da ICIDH sugerem que a deficiecircncia a incapacidade e a
desvantagem constituem-se como estados estaacuteticos Para aleacutem do facto desta noccedilatildeo afigurar-
se incorrecta parece criar distinccedilotildees e barreiras entre as pessoas com e sem deficiecircncias
distinccedilotildees que natildeo satildeo necessaacuterias nem deveriam existir Uma tal situaccedilatildeo parece ser
paradoxal atendendo a que a ICIDH possui uma classificaccedilatildeo para cada caracteriacutestica do
organismo fiacutesico e humano (Shakespeare 1994 104)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 15
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Finalmente e mais significativo neste contexto a ICIDH apresenta as deficiecircncias enquanto
causa primaacuteria da incapacidade e da desvantagem Neste contexto a reabilitaccedilatildeo constitui-se
como uma filosofia e uma praacutetica para erradicar ou minimizar os problemas da deficiecircncia e
capacitar aqueles com deficiecircncias designadas para funcionarem nos seus niacuteveis fiacutesico
psicoloacutegico e social mais elevados (Albrecht 1992 23) Por outras palavras as pessoas com
incapacidades tornam-se objectos para serem curados tratados treinados mudados e
tornados normais de acordo com um conjunto particular de valores As limitaccedilotildees de tais
intervenccedilotildees encontram-se sustentadamente documentadas pelos activistas como
incapacidades desde 1960 (Hunt 1966 Sutherland 1981 Zola 1982)
212 A ABORDAGEM LIBERAL OU INTER-RELACIONAL
A abordagem liberal ou inter-relacional encontra-se expressa no uacuteltimo corpo de trabalhos da
OMS para redefinir a incapacidade nomeadamente a Classificaccedilatildeo Internacional de
Funcionalidade Incapacidade e Sauacutede (CIF) conhecida previamente como ICIDH2 (OMS
2002)
Esta redefiniccedilatildeo constituiu uma tentativa concertada para integrar o modelo meacutedico
individualista tradicional e a interpretaccedilatildeo sociopoliacutetica Por um lado como resultado da sua
rejeiccedilatildeo por parte das pessoas com incapacidades organizaccedilotildees e parceiros dentro e fora da
comunidade cientiacutefica (Driedger 1989 Oliver 1990 Barnes et al 2002) e por outro lado
porque apesar da sua vasta utilizaccedilatildeo a sua aplicabilidade tem sido caracterizada por diversas
interpretaccedilotildees (Coleridge 1993 Ingstad 2001) Em siacutentese demonstrou-se como limitada para
muitos dos actores e natildeo forneceu a delimitaccedilatildeo de significado que originalmente pretendia
Em comum com a sua predecessora a CIF manteacutem o constructo tripartido O primeiro niacutevel
deficiecircncia no original relaciona-se com as funccedilotildees e estrutura do organismo O segundo
niacutevel o que era anteriormente incapacidade eacute agora referido como actividade e o terceiro
desvantagem aparece como participaccedilatildeo No entanto e apesar do intenso debate sobre o
significado de incapacidade o conceito eacute preservado como um termo global para os trecircs niacuteveis
de dificuldade de funcionamento Neste cenaacuterio e em contraste com a ICIDH a nova
formulaccedilatildeo eacute apresentada como uma classificaccedilatildeo universal do funcionamento humano As
pessoas ligadas a acccedilotildees de advocacy defendem que esta configuraccedilatildeo oferece um quadro de
inteligibilidade completo para os aspectos funcionais da experiecircncia de sauacutede Nesta
perspectiva a incapacidade permanece uma preocupaccedilatildeo privilegiadamente do domiacutenio da
sauacutede em detrimento do domiacutenio poliacutetico Constitui-se por um lado como um resultado das
caracteriacutesticas da pessoa e por outro dos ambientes fiacutesicos e sociais Deste modo mais do
que se constituir como uma classificaccedilatildeo das pessoas com incapacidades ou dos problemas
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 16
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
que experienciam a CIF afigura-se como uma classificaccedilatildeo do funcionamento a 3 niacuteveis
compreendida em termos neutros (Ustun et al 2001 6-7)
O reconhecimento da importacircncia dos ambientes fiacutesico e social na CIF poderaacute ser equacionado
como uma melhoria significativa em relaccedilatildeo agrave sua predecessora (Hurst 2000) No entanto
parece-nos altamente improvaacutevel que seja mais eficaz do que a anterior classificaccedilatildeo a gerar
uma linguagem universal sobre a incapacidade na medida em que transformar as diferenccedilas
culturais na conceptualizaccedilatildeo das deficiecircncias assume-se como tarefa extremamente
complexa de alcanccedilar (Bury 2000 Miles 2001) Este facto eacute especialmente significativo na
medida em que natildeo obstante a CIF reconhecer o contexto cultural das percepccedilotildees de
incapacidade e por consequecircncia a normalidade o actual sistema de classificaccedilatildeo
permanece fortemente alicerccedilado nas formulaccedilotildees e nos conceitos cientiacuteficos ocidentais
(Finkelstein 1998 Pfeiffer 2000 Baylies 2002)
Adicionalmente apesar da CIF explicitar que os indiviacuteduos satildeo um elemento da anaacutelise da
incapacidade a abordagem biopsicossocial natildeo se encontra muito distanciada do modelo
anterior na medida em que privilegia o indiviacuteduo como ponto de partida para anaacutelise das
funccedilotildees do corpo e actividades O conceito de participaccedilatildeo eacute incluiacutedo mas subdesenvolvido no
esquema conceptual e continua associado agraves circunstacircncias individuais em vez de fortemente
ligado agrave inclusatildeo poliacutetica e social Adicionalmente enquanto a significacircncia do contexto eacute
enfatizada na CIF as estrateacutegias para a sua mensuraccedilatildeo afiguram-se limitadas Os seus
utilizadores satildeo encorajados a classificar os factores ambientais mas natildeo existem ferramentas
eficazes para levar a cabo esta tarefa bem como para avaliar as tendecircncias de incapacidade
ou por outro lado das poliacuteticas governamentais praacuteticas ambientes fiacutesicos e contextos
culturais (Baylies 2002)
Esta aparente descentraccedilatildeo das preocupaccedilotildees poliacuteticas tem caracterizado a maioria da ciecircncia
social mainstream desde o seacuteculo XIX Deste modo a definiccedilatildeo inter-relacional de
incapacidade e a consequente despolitizaccedilatildeo das questotildees associadas reflectiu-se nos
estudos e na literatura produzida nesta aacuterea por acadeacutemicos e investigadores durante a uacuteltima
metade do seacuteculo XX
Mais recentemente reemergiram na Inglaterra um conjunto de respostas poacutes-modernas ao
modelo social da incapacidade Este cenaacuterio tem favorecido o aparecimento de asserccedilotildees de
que tais fenoacutemenos soacute tecircm servido para agudizar e natildeo diminuir a conflituosidade a propoacutesito
da inclusatildeo (Hunt 1981 Germon 1998 Linton 1998 Gordon and Rosenblum 2001)
No quadro da reabilitaccedilatildeo a abordagem inter-relacional eacute sinoacutenima da liberalizaccedilatildeo da poliacutetica
social para as pessoas com incapacidades nos finais dos anos sessenta e setenta em
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 17
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
particular a mudanccedila dos serviccedilos centrados institucionalmente para os serviccedilos e apoios
centrados na comunidade Deste modo a ecircnfase eacute colocada na integraccedilatildeo de pessoas com
incapacidades na sociedade mainstream Os Standards da Equalizaccedilatildeo das Pessoas com
Incapacidades (1993) da ONU explicitam que todos os estados devem providenciar serviccedilos de
reabilitaccedilatildeo Mas esta orientaccedilatildeo recomenda que se vaacute aleacutem do cuidado meacutedico inicial para
incluir uma ampla gama de medidas e actividades desde a reabilitaccedilatildeo baacutesica e generalista
para actividades orientadas por objectivos (UN 199311) Ainda mais significativo todos os
serviccedilos de reabilitaccedilatildeo deveratildeo estar disponiacuteveis nas comunidades locais nas quais as
pessoas com incapacidades se movem No entanto em determinadas circunstacircncias e para
que se reforcem os objectivos de formaccedilatildeo e aprendizagem poderatildeo ser organizados cursos
localizados nas organizaccedilotildees prestadoras de serviccedilos com um quadro temporal o mais
reduzido possiacutevel (UN 1993 19)
Adicionalmente apesar dos Standards enfatizarem a importacircncia do envolvimento das pessoas
com incapacidades e dos seus significativos no desenvolvimento dos programas de
reabilitaccedilatildeo parece natildeo existir uma asserccedilatildeo clara de que tais estrateacutegias devam ser
controladas por ou mensuradas para estes uacuteltimos Existe no entanto uma assunccedilatildeo taacutecita de
que tais serviccedilos seratildeo liderados por profissionais
Adicionalmente desde que a incapacidade na CIF foi apresentada como uma questatildeo de
sauacutede em detrimento de uma questatildeo poliacutetica parece inevitaacutevel que os profissionais no
domiacutenio da reabilitaccedilatildeo continuem a ser dominados ou laquoalienadosraquo pela Medicina (Finkelstein
1998) Este facto poderaacute ficar a dever-se primeiro agrave actual e persistente subjugaccedilatildeo dos
governos nacionais aos interesses corporativos e das organizaccedilotildees econoacutemicas e segundo agrave
diversidade de barreiras econoacutemicas poliacuteticas e culturais experienciadas pelas pessoas com
incapacidades quer nos paiacuteses desenvolvidos quer nos subdesenvolvidos Neste tipo de
cenaacuterio o pensamento ortodoxo sobre a reabilitaccedilatildeo contratualiza um expediente praacutetico para
os poliacuteticos legisladores e organizaccedilotildees profissionais Como resultado os teacutecnicos tecircm
invariavelmente um niacutevel de escolha reduzido na opccedilatildeo pelo modelo meacutedico em detrimento
de soluccedilotildees poliacuteticas colectivas na resposta aos problemas da exclusatildeo
Esta perspectiva parece afigurar-se a oposta da necessaacuteria De facto apoacutes o trabalho de
Talcott Parsons (1951) emergiu uma extensa literatura condenando a laquomedicalizaccedilatildeoraquo do
quotidiano de um conjunto diverso de perspectivas Por exemplo o filoacutesofo austriacuteaco Ivan Illich
nomeou o seacuteculo XX como a era dos profissionais incapacitantes (1977 11) pela sua
apropriaccedilatildeo do conhecimento mistificaccedilatildeo das competecircncias especializadas e a criaccedilatildeo de
uma cultura perversa e persuasiva de dependecircncia Apesar de tais criticas encontrarem a sua
aplicabilidade predominantemente nas naccedilotildees subdesenvolvidas do Ocidente surgiram
trabalhos recentes que sugerem que apesar de existir uma diminuiccedilatildeo significativa dos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 18
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
conhecimentos meacutedicos e de tratamentos com reduzidos niacuteveis de recursos nas naccedilotildees
subdesenvolvidas criacuteticas similares podem ser relevantes para o contexto no qual nos
situamos (Stone 1999 Ingstad 2001 OMS 2001)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 19
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
3 OBJECTIVOS OPERACIONAIS
Pretende-se desenvolver uma anaacutelise longitudinal e multissectorial ao conceito de deficiecircncia
no sentido de estabelecer uma configuraccedilatildeo operacional no quadro da sua aplicabilidade
estatiacutestica Esta anaacutelise insere-se no acircmbito do Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das
Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo
Objectivo Operacionalizar o conceito de deficiecircncia no quadro da sua aplicabilidade
estatiacutestica assegurando os criteacuterios de (a) comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica
e legislativa dentro do contexto portuguecircs (c) conformidade com os referenciais conceptuais
actuais
Metodologia a) Anaacutelise dos referenciais nacionais e internacionais de delimitaccedilatildeo operacional
do conceito b) exploraccedilatildeo de cenaacuterios que viabilizem o cumprimento dos requisitos definidos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 20
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
4 ANAacuteLISE PRELIMINAR DA EVOLUCcedilAtildeO DA TERMINOLOGIA NO
DOMIacuteNIO 41 ESTADO DA ARTE
A evoluccedilatildeo dos conceitos operativos nos domiacutenios da reabilitaccedilatildeo e da inclusatildeo social tem
sido reflectida nas diversas classificaccedilotildees propostas pela OMS Neste quadro evolutivo a
uacuteltima classificaccedilatildeo proposta ndash CIF ndash constitui-se como um modelo de siacutentese entre a
abordagem meacutedica e a abordagem social no domiacutenio da incapacidade e da sauacutede No sentido
de procedermos agrave anaacutelise dos principiais conceitos e termos focalizar-nos-emos na
reestruturaccedilatildeo conceptual proposta pela Classificaccedilatildeo Internacional de Funcionalidade
Incapacidade e Sauacutede (CIF)
O objectivo geral da CIF eacute proporcionar uma linguagem unificada e padronizada assim como
uma estrutura de trabalho para a descriccedilatildeo da sauacutede e de estados relacionados com a sauacutede
A classificaccedilatildeo define os componentes da sauacutede e alguns componentes do bem-estar
relacionados com a sauacutede (tais como educaccedilatildeo e trabalho) Os domiacutenios contidos na CIF
podem portanto ser considerados como domiacutenios da sauacutede e domiacutenios relacionados com a
sauacutede Estes domiacutenios satildeo descritos com base na perspectiva do corpo do indiviacuteduo e da
sociedade em duas listas baacutesicas (1) Funccedilotildees e Estruturas do Corpo e (2) Actividades e
Participaccedilatildeo Como classificaccedilatildeo a CIF agrupa sistematicamente diferentes domiacutenios de uma
pessoa com uma determinada condiccedilatildeo de sauacutede (eg o que uma pessoa com uma doenccedila
ou perturbaccedilatildeo faz ou pode fazer) A funcionalidade eacute um termo que engloba todas as funccedilotildees
do corpo actividades e participaccedilatildeo de maneira similar a incapacidade eacute um termo que inclui
deficiecircncias limitaccedilatildeo da actividade ou restriccedilatildeo na participaccedilatildeo A CIF tambeacutem relaciona os
factores ambientais que interagem com todos estes constructos Neste sentido a classificaccedilatildeo
permite ao utilizador registar perfis uacuteteis da funcionalidade incapacidade e sauacutede dos
indiviacuteduos em vaacuterios domiacutenios
A CIF pertence agrave ldquofamiacuteliardquo das classificaccedilotildees internacionais desenvolvida pela OMS para
aplicaccedilatildeo em vaacuterios aspectos da sauacutede A famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS
proporciona um sistema para a codificaccedilatildeo de uma ampla gama de informaccedilotildees sobre sauacutede
(eg diagnoacutestico funcionalidade e incapacidade motivos de contacto com os serviccedilos de
sauacutede) e utiliza uma linguagem comum padronizada que permite a comunicaccedilatildeo sobre sauacutede e
cuidados de sauacutede em todo o mundo entre vaacuterias disciplinas e ciecircncias
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 21
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Nas classificaccedilotildees internacionais da OMS os estados de sauacutede (doenccedilas perturbaccedilotildees
lesotildees etc) satildeo classificados principalmente na CID-10 (abreviatura da Classificaccedilatildeo
Internacional de Doenccedilas Deacutecima Revisatildeo) que fornece uma estrutura de base etioloacutegica A
funcionalidade e a incapacidade associadas aos estados de sauacutede satildeo classificadas na CIF
Portanto a CID-10 e a CIF satildeo complementares e os utilizadores satildeo estimulados a usar em
conjunto esses dois membros da famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS A CID-10
proporciona um ldquodiagnoacutesticordquo de doenccedilas perturbaccedilotildees ou outras condiccedilotildees de sauacutede que eacute
complementado pelas informaccedilotildees adicionais fornecidas pela CIF sobre funcionalidade Em
conjunto as informaccedilotildees sobre o diagnoacutestico e sobre a funcionalidade datildeo uma imagem mais
ampla e mais significativa da sauacutede das pessoas ou da populaccedilatildeo que pode ser utilizada em
tomadas de decisatildeo
A famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS constitui uma ferramenta valiosa para a
descriccedilatildeo e a comparaccedilatildeo da sauacutede das populaccedilotildees num contexto internacional As
informaccedilotildees sobre a mortalidade (facultadas pela CID-10) e sobre as consequecircncias na sauacutede
(proporcionadas pela CIF) podem ser combinadas de forma a obter medidas sinteacuteticas da
sauacutede das populaccedilotildees Isto permite seguir a sauacutede das populaccedilotildees e a sua distribuiccedilatildeo bem
como avaliar a parte atribuiacuteda agraves diferentes causas
A CIF transformou-se de uma classificaccedilatildeo de ldquoconsequecircncias da doenccedilardquo (versatildeo de 1980)
numa classificaccedilatildeo de ldquocomponentes da sauacutederdquo Os ldquocomponentes da sauacutederdquo identificam o que
constitui a sauacutede enquanto que as consequecircncias se referem ao impacto das doenccedilas na
condiccedilatildeo de sauacutede da pessoa Deste modo a CIF assume uma posiccedilatildeo neutra em relaccedilatildeo agrave
etiologia de modo que os investigadores podem desenvolver inferecircncias causais utilizando
meacutetodos cientiacuteficos adequados De maneira similar esta abordagem tambeacutem eacute diferente de
uma abordagem do tipo determinantes da sauacutede ou ldquofactores de risco Para facilitar o estudo
dos determinantes ou dos factores de risco a CIF inclui uma lista de factores ambientais que
descrevem o contexto em que o indiviacuteduo vive
A CIF descreve a funcionalidade e a incapacidade relacionadas com as condiccedilotildees de sauacutede
identificando o que uma pessoa ldquopode ou natildeo pode fazer na sua vida diaacuteriardquo tendo em vista as
funccedilotildees dos oacutergatildeos ou sistemas e estruturas do corpo assim como as limitaccedilotildees de
actividades e da participaccedilatildeo social no meio ambiente onde a pessoa vive Segundo a OMS a
CID-10 e a CIF satildeo complementares a informaccedilatildeo sobre o diagnoacutestico acrescido da
funcionalidade fornece um quadro mais amplo sobre a sauacutede do indiviacuteduo ou populaccedilotildees Por
exemplo duas pessoas com a mesma doenccedila podem ter diferentes niacuteveis de funcionalidade e
duas pessoas com o mesmo niacutevel de funcionalidade natildeo tecircm necessariamente a mesma
condiccedilatildeo de sauacutede
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 22
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
O termo do modelo da CIF eacute a funcionalidade que cobre os componentes de funccedilotildees e
estruturas do corpo actividade e participaccedilatildeo social A funcionalidade eacute usada no aspecto
positivo e o aspecto negativo corresponde agrave incapacidade Segundo esse modelo a
incapacidade eacute resultante da interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada pelo indiviacuteduo (seja
orgacircnica e ou da estrutura do corpo) a limitaccedilatildeo de suas actividades e a restriccedilatildeo na
participaccedilatildeo social e os factores ambientais que podem actuar como facilitadores ou barreiras
para o desempenho dessas actividades e da participaccedilatildeo
A CIF eacute baseada portanto numa abordagem biopsicossocial que incorpora os componentes
de sauacutede nos niacuteveis corporais e sociais Assim na avaliaccedilatildeo de uma pessoa com deficiecircncias
e incapacidades esse modelo destaca-se do biomeacutedico baseado no diagnoacutestico etioloacutegico da
disfunccedilatildeo evoluindo para um modelo que incorpora as trecircs dimensotildees a biomeacutedica a
psicoloacutegica (dimensatildeo individual) e a social Nesse modelo cada niacutevel age sobre e sofre a
acccedilatildeo dos demais sendo todos influenciados pelos factores ambientais A OMS pretende
incorporar tambeacutem no futuro os factores pessoais importantes na forma de lidar com as
condiccedilotildees limitantes
O objectivo pragmaacutetico da CIF eacute fornecer uma linguagem padronizada e um modelo para a
descriccedilatildeo da sauacutede e dos estados relacionados com a sauacutede permitindo a comparaccedilatildeo de
dados referentes a essas condiccedilotildees entre paiacuteses serviccedilos sectores relativos agrave sauacutede bem
como o acompanhamento da sua evoluccedilatildeo no tempo
No entanto os conceitos apresentados na classificaccedilatildeo introduzem um novo paradigma para
pensar e trabalhar as deficiecircncias e incapacidades elas natildeo satildeo apenas uma consequecircncia
das condiccedilotildees de sauacutede doenccedila mas satildeo determinadas tambeacutem pelo contexto do meio
ambiente fiacutesico e social pelas diferentes percepccedilotildees culturais e atitudes em relaccedilatildeo agrave
deficiecircncias pela disponibilidade de serviccedilos e de legislaccedilatildeo Dessa forma a classificaccedilatildeo natildeo
constitui apenas um instrumento para medir o estado funcional dos indiviacuteduos Aleacutem disso ela
permite avaliar as condiccedilotildees de vida e fornecer subsiacutedios para poliacuteticas de inclusatildeo social
42 FUNCcedilOtildeES DO CORPO
As Funccedilotildees do corpo satildeo as funccedilotildees fisioloacutegicas dos sistemas orgacircnicos (incluindo as
funccedilotildees psicoloacutegicas)
As funccedilotildees e as estruturas do corpo satildeo classificadas em duas secccedilotildees diferentes Essas duas
classificaccedilotildees estatildeo concebidas de forma a serem utilizadas em paralelo Por exemplo as
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 23
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
funccedilotildees do corpo incluem sentidos humanos baacutesicos como as funccedilotildees da visatildeo e as
estruturas relacionadas aparecem na forma de ldquoolho e estruturas relacionadasrdquo
43 ESTRUTURAS DO CORPO
As Estruturas do Corpo satildeo as partes anatoacutemicas do corpo tais como oacutergatildeos membros e
seus componentes
ldquoCorpo refere-se ao organismo humano como um todo por isso o ceacuterebro e as suas funccedilotildees
ie a mente estatildeo incluiacutedos As funccedilotildees mentais (ou psicoloacutegicas) satildeo portanto incluiacutedas nas
funccedilotildees do corpo As funccedilotildees e as estruturas do corpo satildeo classificadas de acordo com os
sistemas orgacircnicos por isso as estruturas do corpo natildeo satildeo consideradas como oacutergatildeos no
seu sentido restrito
44 DEFICIEcircNCIA
Deficiecircncias satildeo problemas nas funccedilotildees ou na estrutura do corpo tais como um desvio
importante ou uma perda
As deficiecircncias de estrutura podem consistir numa anormalidade defeito perda ou outro desvio
importante relativamente a um padratildeo das estruturas do corpo As deficiecircncias foram definidas
de acordo com os conhecimentos bioloacutegicos actuais ao niacutevel de tecidos ou das ceacutelulas e ao
niacutevel subcelular ou molecular Por motivos praacuteticos no entanto esses niacuteveis natildeo estatildeo
classificados As bases bioloacutegicas das deficiecircncias orientaram essa classificaccedilatildeo e eacute possiacutevel
expandir a classificaccedilatildeo para incluir os niacuteveis celular ou molecular Do ponto de vista meacutedico
deve-se ter em mente que as deficiecircncias natildeo satildeo equivalentes agraves patologias subjacentes mas
sim a manifestaccedilotildees dessas patologias
As deficiecircncias correspondem a um desvio relativamente ao que eacute geralmente aceite como
estado biomeacutedico normal (padratildeo) do corpo e das suas funccedilotildees A definiccedilatildeo dos seus
componentes eacute feita essencialmente por pessoas com competecircncia para avaliar a
funcionalidade fiacutesica e mental de acordo com esses padrotildees
As deficiecircncias podem ser temporaacuterias ou permanentes progressivas regressivas ou estaacuteveis
intermitentes ou contiacutenuas O desvio em relaccedilatildeo ao modelo baseado na populaccedilatildeo e
geralmente aceite como normal pode ser leve ou grave e pode variar ao longo do tempo Estas
caracteriacutesticas satildeo consideradas posteriormente em descriccedilotildees adicionais principalmente nos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 24
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
coacutedigos atraveacutes de um qualificador que se acrescenta ao coacutedigo e do qual fica separado por
um ponto
As deficiecircncias natildeo tecircm uma relaccedilatildeo causal com a etiologia ou com a forma como se
desenvolveram Por exemplo a perda da visatildeo ou de um membro pode resultar de uma
anormalidade geneacutetica ou de uma lesatildeo A presenccedila de uma deficiecircncia implica
necessariamente uma causa No entanto a causa pode natildeo ser suficiente para explicar a
deficiecircncia resultante Da mesma forma quando haacute uma deficiecircncia haacute uma disfunccedilatildeo das
funccedilotildees ou estruturas do corpo mas isto pode estar relacionado com qualquer doenccedila
perturbaccedilatildeo ou estado fisioloacutegico
As deficiecircncias podem ser parte ou uma expressatildeo de uma condiccedilatildeo de sauacutede mas natildeo
indicam necessariamente a presenccedila de uma doenccedila ou que o indiviacuteduo deva ser
considerado doente
As deficiecircncias cobrem um campo mais vasto que as perturbaccedilotildees ou as doenccedilas Por
exemplo a perda de uma perna eacute uma deficiecircncia de uma estrutura do corpo mas natildeo eacute uma
perturbaccedilatildeo ou uma doenccedila
As deficiecircncias podem originar outras deficiecircncias Por exemplo a diminuiccedilatildeo da forccedila
muscular pode prejudicar as funccedilotildees do movimento as funccedilotildees cardiacuteacas podem estar
relacionadas com o deacutefice das funccedilotildees respiratoacuterias e uma percepccedilatildeo prejudicada pode estar
relacionada com as funccedilotildees do pensamento
Actualmente na perspectiva da CIF o conceito de deficiecircncia constitui o poacutelo negativo da
componente ldquoFunccedilotildees e Estrutura do Corpordquo sendo descrito atraveacutes da existecircncia de
alteraccedilotildees significativas das funccedilotildees eou das estruturas do corpo O poacutelo positivo desta
componente refere-se agrave integridade funcional e estrutural Neste contexto um dos desafios
criacuteticos das poliacuteticas sociais consiste na operacionalizaccedilatildeo do conceito de deficiecircncia de forma
a que a elegibilidade dos diferentes puacuteblicos alvo se encontre devidamente delimitada
assegurando a eficaacutecia das medidas subjacentes
No entanto a amplitude e abrangecircncia da definiccedilatildeo do conceito de deficiecircncia proposta pela
OMS atraveacutes da CIF coloca um enorme desafio na medida em que qualquer cidadatildeo desde
que apresente um desvio significativo ao niacutevel da estrutura eou funccedilatildeo passa a ser um
potencial beneficiaacuterio das poliacuteticas neste domiacutenio Neste contexto poder-se-atildeo colocar vaacuterias
questotildees A primeira eacute se interessa agraves diferentes poliacuteticas no sector continuarem a ser
desenvolvidas tendo por focus o conceito de pessoas com deficiecircncias sabendo que a sua
distinccedilatildeo ao longo da populaccedilatildeo apenas poderaacute ser feita atraveacutes do niacutevel e extensatildeo da
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Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
alteraccedilatildeo da integridade estrutural e funcional de cada individuo A segunda questatildeo prende-se
com as consequecircncias conceptuais decorrentes da integraccedilatildeo do modelo social na formulaccedilatildeo
e operacionalizaccedilatildeo dos conceitos a serem utilizados pelas poliacuteticas no sector na medida em
que o aspecto critico deixa de ser a natureza e severidade da deficiecircncia para passar a centrar-
se no niacutevel e tipo de restriccedilotildees de participaccedilatildeo que cada cidadatildeo experiencia na interacccedilatildeo
com os seus contextos de vida
No que concerne agrave primeira questatildeo e atendendo a que a mais recente definiccedilatildeo do conceito
de deficiecircncia proposto pela OMS apresenta um elevado niacutevel de abrangecircncia e um reduzido
potencial diferenciador poderemos equacionar 2 hipoacuteteses centrais de operacionalizaccedilatildeo
a) A primeira hipoacutetese baseia-se na possibilidade de operacionalizar diferentes definiccedilotildees
de deficiecircncia ao longo das diferentes poliacuteticas sociais no sentido de assegurar que as
diferentes medidas alcanccedilam efectivamente as pessoas para as quais foram
elaboradas Esta perspectiva tem a vantagem de uma maior focalizaccedilatildeo nas
caracteriacutesticas especificas do puacuteblico-alvo mas no entanto apresenta uma grande
desvantagem que consiste na elevada probabilidade das diferentes definiccedilotildees
perderem a coerecircncia entre si fragmentando igualmente o modelo teoacuterico a partir do
qual se deveriam basear
b) A segunda hipoacutetese consiste na articulaccedilatildeo operativa de dois conceitos o de
deficiecircncia e o de restriccedilotildees de participaccedilatildeo Nesta perspectiva a elegibilidade de uma
determinada politica social baseia-se na validaccedilatildeo preacutevia da existecircncia da primeira
condiccedilatildeo do puacuteblico-alvo ndash a existecircncia de uma deficiecircncia ndash determinando logo de
seguida o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo a partir do qual os diferentes cidadatildeos
passam a poder aceder agraves medidas especiacuteficas nela contidas O desafio contido nesta
hipoacutetese consiste na necessidade de desenvolvimento de um sistema de avaliaccedilatildeo que
permita avaliar o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo experimentado pelas pessoas com
deficiecircncias determinando atraveacutes do valor aferido quais seriam as pessoas com
acesso agraves medidas Neste cenaacuterio natildeo bastaria que uma pessoa tivesse uma
deficiecircncia pelo que seria necessaacuterio avaliar os efeitos da deficiecircncia em interacccedilatildeo
com o ambiente social ao niacutevel da participaccedilatildeo no sentido de determinar a
elegibilidade As vantagens desta hipoacutetese relacionam-se com (i) a preservaccedilatildeo do
niacutevel de coerecircncia dos conceitos utilizados ao longo das diferentes poliacuteticas sociais (ii)
a existecircncia de um processo comum de afericcedilatildeo e determinaccedilatildeo da elegibilidade ao
longo dos diferentes sectores de politica (iii) a compatibilidade e adequabilidade dos
princiacutepios teoacutericos do modelo social com a operacionalizaccedilatildeo dos sistemas e medidas
poliacuteticos de apoio agraves pessoas com deficiecircncias e (iv) a existecircncia de mecanismos de
avaliaccedilatildeo de elevada transparecircncia controlabilidade e rigor
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 26
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
45 INCAPACIDADE
Do ponto de vista de utilizaccedilatildeo dos conceitos de Deficiecircncia e de Incapacidade em Portugal
tecircm subsistido vaacuterias imprecisotildees terminoloacutegicas Primeiro na generalidade dos documentos
internacionais alude-se ao termo ldquopeople with disabilitiesrdquo sendo que invariavelmente esta
expressatildeo eacute traduzida para Portuguecircs como ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo Tal facto parece criar
condiccedilotildees para uma grande permeabilidade semacircntica dificilmente resoluacutevel do ponto de vista
conceptual Segundo deficiecircncia e incapacidade satildeo claramente dois conceitos distintos
Enquanto a deficiecircncia remete para alteraccedilotildees significativas ao niacutevel das estruturas eou das
funccedilotildees do corpo a incapacidade constitui o poacutelo negativo do funcionamento humano em
situaccedilatildeo potencial ou efectiva de participaccedilatildeo no contexto de vida Este facto pressupotildee que os
conceitos de deficiecircncia e de incapacidade natildeo contecircm nenhuma relaccedilatildeo causal entre si nem
nenhuma relaccedilatildeo linear de frequecircncia na medida em que eacute possiacutevel existir uma deficiecircncia
sem que exista uma incapacidade e eacute possiacutevel emergir uma determinada incapacidade sem
que haja uma qualquer deficiecircncia
Deste modo eacute possiacutevel
a) Ter deficiecircncias sem limitaccedilotildees de capacidade (eg uma desfiguraccedilatildeo resultante da
doenccedila de Hansen pode natildeo ter efeito sobre a capacidade da pessoa
b) Ter problemas de desempenho e limitaccedilotildees de capacidade sem deficiecircncias evidentes
(eg reduccedilatildeo de desempenho nas actividades diaacuterias associada a vaacuterias doenccedilas)
c) Ter problemas de desempenho sem deficiecircncias ou limitaccedilotildees de capacidade (eg um
indiviacuteduo HIV positivo ou um ex-doente curado de doenccedila mental que enfrenta
estigmas ou descriminaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais ou no trabalho)
d) Ter limitaccedilotildees de capacidade se natildeo tiver assistecircncia e nenhum problema de
desempenho no ambiente habitual (eg um indiviacuteduo com limitaccedilotildees de mobilidade
pode beneficiar por parte da sociedade de ajudas tecnoloacutegicas de assistecircncia para se
movimentar
e) Experimentar um grau de influecircncia em sentido contraacuterio (eg a inactividade dos
membros pode levar agrave atrofia muscular a institucionalizaccedilatildeo pode resultar numa perda
da socializaccedilatildeo)
Daqui resulta que ao referirmo-nos agraves pessoas com deficiecircncias enquanto puacuteblico-alvo
privilegiado das medidas de reabilitaccedilatildeo poderemos incorrer num desvio significativo de
alocaccedilatildeo dos recursos agraves reais necessidades das pessoas na medida em que natildeo eacute a
deficiecircncia que gera por si mesma a necessidade de reabilitaccedilatildeo mas sim as limitaccedilotildees de
actividade e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo decorrentes da interacccedilatildeo entre as caracteriacutesticas
biopsicossociais e as caracteriacutesticas dos ambientes em que o individuo se move
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 27
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
A persistecircncia em traduzir o termo disability para deficiecircncia e natildeo apenas o seu homoacutelogo
anglo-saxoacutenico ndash impairment ndash poderaacute explicar-se pelas seguintes razotildees
a) O potencial efeito estigmatizante da expressatildeo ldquopessoas com incapacidadesrdquo ser maior
do que aquele contido na expressatildeo ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo
b) O termo incapacidade centrar-se exclusivamente nos aspectos negativos do
funcionamento individual classificando a pessoa agrave partida como sendo destituiacuteda de
competecircncias e condiccedilotildees para atingir os niacuteveis normativos de desempenho e
performance num conjunto de domiacutenios da vida pessoal e social
O paradoxo surge igualmente porque enquanto no modelo meacutedico a incapacidade aparece
em termos causais relacionada com a deficiecircncia numa perspectiva exclusivamente individual
no modelo proposto pela OMS operacionalizado na CIF os dois conceitos gozam de total
independecircncia conceptual e operativa sendo que a deficiecircncia passa a ter uma baixa
relevacircncia diferenciadora do ponto de vista do funcionamento humano Ora se atendermos a
que as medidas de reabilitaccedilatildeo pretendem promover os potenciais do funcionamento humano
numa perspectiva de participaccedilatildeo plena do indiviacuteduo nos mais diferenciados contextos de vida
assegurando o co-desenvolvimento de todos os actores e das estruturas sociais necessaacuterias agrave
cidadania plena entatildeo falar de ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo natildeo soacute natildeo eacute relevante no quadro
da loacutegica de intervenccedilatildeo como poderaacute traduzir dificuldades dos actores em mudar
efectivamente do paradigma meacutedico para o paradigma social
Este fenoacutemeno aliaacutes natildeo acontece apenas em Portugal sendo que recentes estudos de
investigaccedilatildeo vieram sugerir a adopccedilatildeo dos conceitos de ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo e
ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo para ultrapassar a aplicaccedilatildeo indevida dos
conceitos de deficiecircncia e incapacidade A utilizaccedilatildeo destes conceitos parece articular de forma
mais precisa com o novo modelo conceptual proposto pela OMS enfatizando a diversidade de
niacuteveis de funcionamento humano e apelando a uma certa noccedilatildeo de relatividade socialmente
construiacuteda Uma das criticas feita pela comunidade de investigadores ao conceito de ldquopessoas
com diversidade funcionalrdquo reside no facto de que a expressatildeo eacute dotada de um tatildeo elevado
niacutevel de abrangecircncia que natildeo permite um niacutevel de diferenciaccedilatildeo relevante na medida em que
todos os cidadatildeos detecircm entre si diversos e diferentes padrotildees de funcionamento humano
Neste sentido o conceito ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo aplicar-se-ia a todos os
cidadatildeos sem excepccedilatildeo A proliferaccedilatildeo destes termos eacute explicada pela necessidade da
comunidade politica e cientifica de construir constructos que sejam socialmente aceites e o
mais neutros possiacuteveis do ponto de vista dos seus valores impliacutecitos No entanto a
impossibilidade epistemoloacutegica de desenvolver expressotildees e conceitos socio-historicamente
neutros parece levar muitas vezes agrave concepccedilatildeo de definiccedilotildees com reduzida identidade isto eacute
de significado demasiado amplo e abrangente o que na expressatildeo da UPIAS ldquopodem significar
tudo e coisiacutessima nenhumardquo (2005)
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Os conceitos ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo ldquopessoas com limitaccedilotildees de
actividaderdquo e ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo afiguram-se comparativamente ao
anterior como um conceito de maior coerecircncia conceptual com o modelo proposto pela OMS e
deteacutem cumulativamente um maior poder diferenciador A sua desvantagem reside no facto de
constituiacuterem expressotildees com maior dificuldade de apreensatildeo e inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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5 ANAacuteLISE DOS REFERENCIAIS NACIONAIS E INTERNACIONAIS
No sentido de obter um conjunto de vectores de referecircncia na estruturaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo do
conceito de deficiecircncia foram analisadas as abordagens desenvolvidas pelos seguintes
organismos INE Eurostat OCDE American Disabilities Act WHO UN
51 INE
Os dados disponiacuteveis no INE parecem indicar a utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na
ICIDH
Deficiecircncia1 Perda ou alteraccedilatildeo de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou
anatoacutemica Nesta definiccedilatildeo estatildeo incluiacutedas as seguintes tipologias2
Deficiecircncia AUDITIVA
Deficiecircncia MENTAL
Deficiecircncia MOTORA
Deficiecircncia ORGAcircNICO-FUNCIONAL
Deficiecircncia PSIQUIAacuteTRICA
Deficiecircncia VISUAL
Incapacidade3 Ausecircncia ou limitaccedilatildeo da capacidade para funcionar estando comprometida a
realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida
diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e originando uma desvantagem para funcionar em
sociedade face a outros
Pessoa deficiente Aquela que tenha uma ou mais das seguintes deficiecircncias a) deficiecircncia
visual b) deficiecircncia auditiva c) deficiecircncia mental d) deficiecircncia motora
1 Nota Na operaccedilatildeo censitaacuteria de 2001 apenas foi observada a deficiecircncia permanente a deficiecircncia temporaacuteria natildeo foi considerada (por exemplo se um indiviacuteduo se desloca com canadianas ou em cadeira de rodas porque partiu uma perna ou se sofre de descolamento parcial da retina que o obriga a andar com uma venda natildeo foi considerado como tendo uma deficiecircncia) 2 Fonte INE ndash Censos 2001 ndash Recenseamento Geral da Populaccedilatildeo (Antecedentes Metodologia e Conceitos) Antecedentes Metodologia e Conceitos 3 Fonte INS ndash Inqueacuterito Nacional agrave Sauacutede
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
Trabalhador deficiente Trabalhador que estaacute incapacitado para assegurar por si mesmo total
ou parcialmente a satisfaccedilatildeo de necessidades de uma vida individual ou social normal devido
a uma deficiecircncia congeacutenita ou adquirida das suas capacidades fiacutesicas sensoriais ou
mentais tendo por isso dificuldade em obter eou manter o desempenho de funccedilotildees de acordo
com as suas habilitaccedilotildees idade e experiecircncia profissional
Cidadatildeo Trabalhador com necessidades especiais Cidadatildeo idoso ou portador de
deficiecircncias sensoriais (visuais e auditivas) fiacutesicas (motoras) e cognitivas
52 EUROSTAT
Os dados disponibilizados pelo Eurostat no seu endereccedilo electroacutenico4 parecem indicar a
utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na ICIDH
Conceito Deficiecircncia5
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de deficiecircncia refere-se a uma perda ou alteraccedilatildeo
de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou anatoacutemica
Conceito Incapacidade6
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de incapacidade refere-se agrave ausecircncia ou limitaccedilatildeo
da capacidade para funcionar estando comprometida a realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas
funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e
originando uma desvantagem para funcionar em sociedade face a outros
Conceito Desvantagem7
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito refere-se agrave desvantagem para um dado individuo
decorrente de uma deficiecircncia ou incapacidade
4 httpforumeuropaeuintircdsiscodedinfodatacodedenTheme3htm 5 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 6 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 7 Fonte Key data on health 2000 Eurostat
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
53 OCDE
Definiccedilotildees gerais de incapacidade
No contexto da OCDE identificam-se 2 abordagens distintas no quadro da definiccedilatildeo de
incapacidade
A incapacidade pode ser definida enquanto um estado decorrente de autoavaliaccedilatildeo ou um
status baseado em fontes administrativas eg beneficiaacuterio dos apoios De forma muito
frequente e talvez de forma imprecisa estas duas definiccedilotildees satildeo explicitadas como
incapacidade ldquosubjectivardquo versus rdquoobjectivardquo
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo e instrumentos
A incapacidade autoavaliada eacute medida atraveacutes de inqueacuteritos feitos directamente aos cidadatildeos
nas suas residecircncias Apesar da avaliaccedilatildeo ser baseada de uma forma geral nas respostas agraves
questotildees relativas a problemas de sauacutede de longo termo que limitam as actividades de vida
diaacuteria o detalhe das questotildees eacute geralmente diferente dificultando a comparabilidade dos
dados Por exemplo ldquolongo termordquo eacute parametrizado em 6 meses na Noruega e em 12 meses
na Suiccedila O status dos beneficiaacuterios pode ser avaliado atraveacutes de registos administrativos ou
atraveacutes de inqueacuteritos Os resultados entre as duas fontes satildeo de uma forma geral bastante
diferentes por duas razotildees nucleares os registos administrativos geralmente contam casos e
natildeo pessoas o que em situaccedilotildees de benefiacutecios muacuteltiplos pode levar a contagens duplas por
outro lado os inqueacuteritos satildeo baseados nas respostas sobre o status do beneficiaacuterio e algumas
pessoas podem desejar natildeo revelar a sua condiccedilatildeo perante os benefiacutecios
Nenhuma destas definiccedilotildees e medidas de mensuraccedilatildeo eacute superior a outras pelo que a sua
utilizaccedilatildeo depende dos objectivos do propoacutesito da investigaccedilatildeo e da disponibilidade da
informaccedilatildeo
Abordagens para medir a incapacidade no quadro da aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos agraves populaccedilotildees
a) Incapacidade geral (natildeo especificada)
Puacuteblico-alvo todos os adultos
b) Incapacidade relativa ao trabalho
Puacuteblico-alvo pessoas em idade activa
c) Limitaccedilotildees nas actividades de vida diaacuteria (AVD)
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Puacuteblico-alvo Populaccedilatildeo idosa
54 AMERICAN DISABILITIES ACT
O American Disabilities Act (ADA) desenvolvido em 1990 fornece um conjunto de guidelines
no sentido de assegurar a disponibilizaccedilatildeo de serviccedilos para as pessoas com deficiecircncias bem
como a protecccedilatildeo dos seus direitos legais
A ADA inclui uma definiccedilatildeo legal de incapacidade consistindo na presenccedila de ldquouma deficiecircncia
fiacutesica ou mental que limita significativamente uma ou mais das principais actividades de vidardquo
Independentemente da definiccedilatildeo proposta pela ADA a existecircncia de muacuteltiplos programas a
favor das pessoas com deficiecircncias e os diferentes focus legais em diferentes puacuteblicos alvo
fazem com que tenham emergido uma multiplicidade de definiccedilotildees de incapacidade ao longo
do tempo no quadro das poliacuteticas sociais americanas
55 OMS ONU Revisatildeo dos actuais inqueacuteritos sobre a incapacidade
Apesar de existir um desenvolvimento consideraacutevel dos inqueacuteritos na aacuterea da incapacidade
poder-se-atildeo explicitar algumas observaccedilotildees relativas agrave sua multiplicidade Numa primeira linha
de anaacutelise os inqueacuteritos tendem a focalizar-se nas limitaccedilotildees de actividade eou na deficiecircncia
No que concerne agrave formulaccedilatildeo escrita tendem a existir diferenccedilas significativas entre
inqueacuteritos facto que inviabiliza natildeo raras vezes a comparabilidade dos dados entre inqueacuteritos
As diferentes formulaccedilotildees das questotildees incluem
Tem dificuldade
Eacute capaz de
Faz
Tem sentido problemas em
com ou sem assistecircncia pessoal eou tecnoloacutegica
A questatildeo que se coloca eacute se estas formulaccedilotildees tecircm o mesmo significado isto eacute se todas elas
pretendem medir a capacidade ou a performance De acordo com a CIF a capacidade
remeteria para o potencial de execuccedilatildeo de um indiviacuteduo enquanto a performance diria respeito
ao niacutevel de desempenho efectivo do indiviacuteduo atraveacutes do seu envolvimento numa situaccedilatildeo de
vida real As lacunas existentes e as poucas referecircncias ao niacutevel da forma como os inquiridos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 33
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
satildeo instruiacutedos a responder faz com que natildeo seja possiacutevel desenvolver um discernimento
irrefutaacutevel sobre esta mateacuteria
Do ponto de vista dos domiacutenios abrangidos os inqueacuteritos tecircm apresentado algumas questotildees
sobre a participaccedilatildeo e o ambiente e evidenciam algumas limitaccedilotildees na sua amplitude Os
domiacutenios de actividades e participaccedilatildeo geralmente abrangidos tecircm sido operacionalizados de
uma forma geral nas seguintes dimensotildees
Educaccedilatildeo e emprego (formulado como questotildees de performance)
Outros inqueacuteritos incluem aacutereas como relaccedilotildees interpessoais vida familiar tomada de
decisotildees etc
O domiacutenio relativo aos factores ambientais tem incluiacutedo
Utilizaccedilatildeo e acessibilidadedisponibilidade dos produtos de assistecircncia e da tecnologia
Acessibilidade do ambiente
Disponibilidade dos serviccedilos (sauacutede protecccedilatildeo social educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo)
Evidecircncias muito escassas ao niacutevel da poliacutetica atitudes ambiente natural
planeamento e concepccedilatildeo
A questatildeo de investigaccedilatildeo neste contexto centra-se na seguinte formulaccedilatildeo ldquoo que eacute que os
inqueacuteritos medem como incapacidaderdquo
a) Definiccedilatildeo a priori da incapacidade versus sem incapacidade
Alguns inqueacuteritos sobre a incapacidade especialmente os mais antigos utilizam uma definiccedilatildeo
a priori de incapacidade O objectivo deste tipo de inqueacuteritos eacute contar o nuacutemero de pessoas
que se encaixam na definiccedilatildeo no contexto da populaccedilatildeo total Neste sentido os dados satildeo
analisados de acordo com dois grupos de referecircncia ndash com incapacidade e sem incapacidade ndash
em funccedilatildeo de um conjunto de diferentes variaacuteveis Este tipo de questionaacuterios formula questotildees
do tipo ldquoPossui algum tipo de incapacidade auditiva visual ou fiacutesicardquo Muitas questotildees dos
censos tecircm utilizado este formato
b) Definiccedilatildeo a posteriori de incapacidade versus sem incapacidade
Mais recentemente alguns inqueacuteritos desenvolveram-se em direcccedilatildeo a uma definiccedilatildeo a
posteriori de incapacidade Nestes casos eacute medida a capacidade a performance ao longo de
um conjunto vasto de domiacutenios Este segundo tipo de inqueacuteritos tende a ter uma ampla
aceitaccedilatildeo eg HALS (Canada) HID (Franccedila) inqueacuterito sobre incapacidade na Africa do Sul
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 34
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Inqueacuterito Espanhol sobre incapacidade NHIS-D (USA) inqueacuterito Holandecircs entre outros Estes
instrumentos formulam questotildees relativas agraves dificuldades que as pessoas experienciam em
diferentes domiacutenios produzindo um perfil pessoal que possa colocar em evidecircncia os
diferentes graus de capacidade associados A categorizaccedilatildeo de incapacidade sem
incapacidade eacute formulada ao niacutevel do domiacutenio e natildeo como uma categoria geral de atributo
pessoal Esta abordagem permite uma anaacutelise ao niacutevel de funcionamento individual por
domiacutenio por exemplo comparando a experiecircncia de incapacidade no domiacutenio de mobilidade
versus socializaccedilatildeo versus comunicaccedilatildeo entre outros bem como o impacto dos factores
ambientais nestes diferentes domiacutenios O perfil resultante do funcionamento individual ao longo
de muacuteltiplos domiacutenios eacute similar aos estados de sauacutede individuais ao longo das diferentes
dimensotildees
Vantagens de uma abordagem a posteriori
Estaacute em consonacircncia com a abordagem universal proposta pela CIF Todas as
pessoas experienciam deficiecircncia nalgum ponto e esta experiecircncia eacute caracterizada
numa abordagem a posteriori e natildeo a priori
Decisotildees sobre a criaccedilatildeo de categorias sobre quem tem incapacidade e sobre quem
natildeo tem podem ser tomadas atraveacutes de diferentes niacuteveis de anaacutelise por exemplo
atraveacutes da anaacutelise da experiecircncia das pessoas que experienciam incapacidade em 1 2
ou 3 domiacutenios de cruzar o status de emprego de pessoas com incapacidade ao longo
dos diferentes domiacutenios etc
Deixa de ser necessaacuteria uma definiccedilatildeo tipoloacutegica e categoacuterica de pessoas com
incapacidade O que necessita de ser definido neste contexto eacute o que se designa por
limitaccedilatildeo da capacidade ou problemas de performance ao longo dos diferentes
domiacutenios
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 35
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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6 SISTEMATIZACcedilAtildeO DAS DIMENSOtildeES DE ORGANIZACcedilAtildeO E
OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em todos os estudos efectuados neste domiacutenio foi colocada em evidecircncia a actual dificuldade
de comparabilidade estatiacutestica internacional inter ou intra sectorial independentemente do
organismo referenciador ndash OCDE ONU EUROSTAT INE OMS
Neste contexto desenvolver-se-aacute a extracccedilatildeo de conhecimento tendo por base a identificaccedilatildeo
de um conjunto de eixos de anaacutelise que actuem como vectores de estruturaccedilatildeo na
operacionalizaccedilatildeo do conceito A este propoacutesito atente-se no Quadro 2
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Abordagem Focus Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Delimitaccedilatildeo temporal do
conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo
Design das questotildees
CID-10
ICIDH
ICF
SauacutedeDoenccedila
Deficiecircncia
Incapacidade
a) Geral
b) Relativa ao trabalho
c) Limitaccedilotildees nas
actividades de vida
diaacuteria
Funcionalidade ndash
Niacuteveis de execuccedilatildeo
das actividades por
domiacutenio e niacuteveistipos
de ajudas mobilizadas
Intersubjectivo ndash
vg inqueacuteritos
Objectivo ndash vg
fontes administrativas
A priori
A posteriori
Temporaacuterias
permanentes
Progressivas
regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou
contiacutenuas
Tipo 1 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre uma determinada
condiccedilatildeo individual
combinada com itens
referentes a limitaccedilotildees de
actividade e participaccedilatildeo e
factores contextuais
Tipo 2 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre a presenccedila de uma
pessoa com incapacidade
no agregado familiar
seguindo-se uma lista de
deficiecircncias e
incapacidades
Tipo 3 ndash Checklist de
deficiecircncias
Quadro 2 ndash Eixos de operacionalizaccedilatildeo do conceito
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 37
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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7 ESCOLHA DO CENAacuteRIO A IMPLEMENTAR
A anaacutelise do Quadro 2 permite-nos uma definiccedilatildeo modular do cenaacuterio a implementar atraveacutes de
uma configuraccedilatildeo do conceito pelos eixos de anaacutelise propostos Uma das dificuldades
evidentes nesta delimitaccedilatildeo prende-se com o cumprimento dos requisitos de (a)
comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica e legislativa dentro do contexto portuguecircs
e (c) conformidade com os referenciais conceptuais actuais sendo que a coexistecircncia destes
criteacuterios afigura-se em muitos casos incompatiacutevel entre si Para efeitos da estruturaccedilatildeo do
cenaacuterio privilegiar-se-aacute a conformidade com os referenciais conceptuais actuais
71 ABORDAGEM No que concerne agrave abordagem privilegia-se a adopccedilatildeo das mais recentes directrizes propostas
pela OMS adoptando explicitamente a CIF
Fundamentaccedilatildeo
A CIF apresenta a capacidade para descrever o funcionamento humano numa
perspectiva biopsicossocial em detrimento da classificaccedilatildeo anterior (ICIDH) que se
focalizava na dimensatildeo biomeacutedica A CIF foi desenvolvida no plano conceptual para ser aplicaacutevel em diferentes aacutereas e
sectores A CIF eacute aplicaacutevel transversalmente agraves dimensotildees de cultura idade geacutenero sendo um
instrumento sistemaacutetico para descrever e medir a sauacutede e o funcionamento humano
num dado contexto A CIF constitui-se enquanto instrumento potencial para a poliacutetica social design das
intervenccedilotildees nos domiacutenios da sauacutede educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e intervenccedilatildeo social Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
72 FOCUS
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo da centraccedilatildeo da recolha de dados ao niacutevel
da dimensatildeo de funcionalidade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Fundamentaccedilatildeo
Consonacircncia com o modelo conceptual proposto pela CIF enfatizando o caraacutecter
dinacircmico e interaccional (pessoa factores contextuais) do funcionamento de cada
pessoa Permite caracterizar as limitaccedilotildees de actividade e restriccedilotildees de participaccedilatildeo dos
cidadatildeos identificando necessidades de intervenccedilotildees especializadas numa loacutegica de
empowerment e participaccedilatildeo social Permite analisar a adequabilidade e ajustamento das actuais medidas poliacuteticas do
ponto de vista dos seus objectivos e os problemas detectados ao niacutevel da participaccedilatildeo
dos cidadatildeos ao longo de um conjunto diversificado de domiacutenios
73 MEacuteTODOS DE MENSURACcedilAtildeO
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo de meacutetodos intersubjectivos nomeadamente
inqueacuteritos
Fundamentaccedilatildeo
Flexibilidade ao niacutevel da abrangecircncia e profundidade das dimensotildees
Maior facilidade na implementaccedilatildeo atendendo agrave disponibilizaccedilatildeo de uma amostra
delimitada
Maior niacutevel de controlo sobre as condiccedilotildees de observaccedilatildeo e da entrevista devido ao
menor nuacutemero de entrevistas a ser implementado
74 DELIMITACcedilAtildeO CONCEPTUAL E TEMPORAL DO CONCEITO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo temporal e apesar de se privilegiar as vantagens anteriormente
explicitadas no desenvolvimento de uma definiccedilatildeo a posteriori assume-se a necessidade
politica de delimitar o campo de intervenccedilatildeo do conjunto de medidas sociais neste domiacutenio
pelo que a delimitaccedilatildeo conceptual poderaacute ser objecto de operacionalizaccedilatildeo atraveacutes dos
seguintes paracircmetros
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 40
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Poder-se-aacute colocar a questatildeo de saber se a delimitaccedilatildeo do conceito proposta remete
especificamente para ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ou para ldquopessoas com limitaccedilotildees de
participaccedilatildeordquo Atendendo a que a definiccedilatildeo comporta uma abordagem sisteacutemica enfatizando a
interacccedilatildeo entre um conjunto diversificado de componentes que produzem impacto na
funcionalidade da pessoa a resposta natildeo eacute linear dependendo da ecircnfase socio-histoacuterica e da
abordagem sociopoliacutetica que se escolher enfatizar No entanto e do ponto de vista conceptual
privilegia-se a adopccedilatildeo do conceito ldquopessoas com limitaccedilotildees de participaccedilatildeordquo dado que existe
total autonomia operativa entre os diferentes constructos Neste sentido a deficiecircncia natildeo
constitui um factor causal linear das limitaccedilotildees de actividade e das restriccedilotildees ao niacutevel da
participaccedilatildeo mas antes uma das componentes que em interacccedilatildeo com outras podem
provocar impactos ao niacutevel da funcionalidade do indiviacuteduo Por uacuteltimo refira-se que a tipologia
ldquopessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeordquo poderaacute ser alvo de criticas por constituir
uma designaccedilatildeo que apela a duas componentes em simultacircneo (actividades e participaccedilatildeo)
excluindo outras e ser demasiado longa para uma definiccedilatildeo tipoloacutegica A este propoacutesito pode-
se sugerir a delimitaccedilatildeo ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo constituindo esta
expressatildeo uma abordagem holiacutestica ao conjunto de componentes que interferem com o
funcionamento humano Deste modo poderemos ter as seguintes designaccedilotildees
Pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Pessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo
Pessoas com limitaccedilotildees de funcionalidade
Figura 2 ndash Possiacuteveis designaccedilotildees
O Quadro 3 pretende fornecer uma visatildeo sistemaacutetica sobre o processo de decisatildeo da
designaccedilatildeo a adoptar
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
deficiecircncias
Tradiccedilatildeo analiacutetica dentro do
contexto portuguecircs
Em conformidade com o modelo
meacutedico ndash centra-se nas alteraccedilotildees
de estrutura e funccedilatildeo ndash
focalizaccedilatildeo na pessoa
Desarticulado dos pressupostos do
modelo social ndash natildeo remete para a
experiecircncia de incapacidade
enquanto produto da interacccedilatildeo
entre pessoa e ambiente
Mai
or
Abr
angecirc
ncia
Mai
or
Espe
cific
idad
e
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 41
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
incapacidades
Em conformidade com a
delimitaccedilatildeo anglo-saxoacutenica que
utiliza o conceito Disability
Focalizaccedilatildeo no poacutelo negativo do
funcionamento humano ndash
funcionalidadeincapacidade
Ao focalizar-se na experiecircncia de
incapacidade enquanto
interacccedilatildeo pessoa-ambiente
remete indirectamente para a
mobilizaccedilatildeo de apoios e recursos
de forma a ultrapassar eou
eliminar os obstaacuteculos ao
funcionamento em contexto
O potencial efeito estigmatizante
da expressatildeo ldquopessoas com
incapacidadesrdquo
Pessoas com
diversidade
Funcional
Em conformidade com o modelo
social
Focaliza-se na gestatildeo das
diferenccedilas e no seu impacto ao
niacutevel da participaccedilatildeo das pessoas
na sociedade
Elevado niacutevel de abrangecircncia natildeo
permitindo um niacutevel de
diferenciaccedilatildeo relevante na
medida em que todos os cidadatildeos
detecircm entre si diversos e
diferentes padrotildees de
funcionamento humano
Conceito dificilmente
operacionalizaacutevel do ponto de
vista da formulaccedilatildeo das poliacuteticas e
da delimitaccedilatildeo dos puacuteblicos-alvo
Pessoas com
restriccedilotildees ao
niacutevel da
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos Desta forma
todos os obstaacuteculos agrave participaccedilatildeo
relacionados com discriminaccedilatildeo
social preconceitos estereoacutetipos
deficiecircncias doenccedilas croacutenicas
entre outros satildeo incluiacutedos
Natildeo inclui as limitaccedilotildees de
actividade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
limitaccedilotildees de
actividade e
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida e simultaneamente no
domiacutenio das limitaccedilotildees de
actividade
Ruptura com a tradiccedilatildeo analiacutetica
no sector
Dificuldade de apreensatildeo e
inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Natildeo inclui as alteraccedilotildees da
estrutura e da funccedilatildeo
Pessoas com
limitaccedilotildees de
funcionalidade
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel das
diferentes dimensotildees constituintes
da funcionalidade e do
funcionamento humano
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos
Pessoas com
deficiecircncias e
incapacidades
Natildeo introduz ruptura com a
tradiccedilatildeo analiacutetica no sector
Inclui as alteraccedilotildees de estrutura e
funccedilatildeo bem como as alteraccedilotildees
decorrentes ao niacutevel da
funcionalidade
Diferencia os conceitos de
deficiecircncia e incapacidade
autonomizando-os e fornecendo
uma base compreensiva para o
natildeo estabelecimento de relaccedilotildees
de causa-efeito entre os ambos
Abrange os obstaacuteculos que
emergem na interacccedilatildeo pessoa-
contextos de vida e
simultaneamente no domiacutenio das
limitaccedilotildees de actividade
Poder diferenciador e delimitador
na definiccedilatildeo do puacuteblico-alvo
Em alinhamento estrateacutegico com o
PAIPDI
Designaccedilatildeo de compromisso com
os referenciais teoacutericos do modelo
social e dos princiacutepios da ldquoeacutetica da
diversidaderdquo
Quadro 3 ndash Visatildeo comparativa das hipoacuteteses da designaccedilatildeo a adoptar
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 43
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75 DELIMITACcedilAtildeO DA DURACcedilAtildeO E CURSO DE EVOLUCcedilAtildeO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo interessa a caracterizaccedilatildeo nas
3 dimensotildees desenvolvidas
Fundamentaccedilatildeo
Afigura-se relevante caracterizar a ocorrecircncia das deficiecircncias quanto aacute sua
consistecircncia no tempo ndash temporaacuterias permanentes ndash analisando os factores
contextuais associados consequecircncias ao niacutevel das actividades e da participaccedilatildeo ao
longo de um conjunto de domiacutenios em ordem agrave extracccedilatildeo de implicaccedilotildees no acircmbito
das poliacuteticas sociais
No acircmbito da adaptabilidade e da adequaccedilatildeo das medidas poliacuteticas agraves necessidades
especiacuteficas dos cidadatildeos torna-se relevante caracterizar a deficiecircncia quanto agrave
natureza do seu curso evolutivo ndash progressivas regressivas estaacuteveis O mesmo
criteacuterio eacute aplicaacutevel quanto aacute dimensatildeo de padratildeo de manifestaccedilatildeo ndash intermitente
contiacutenua
No entanto e apesar da incapacidade se manifestar ao longo do ciclo de vida da pessoa
de forma multimodal para efeitos de delimitaccedilatildeo e de definiccedilatildeo do conceito de pessoas
com deficiecircncias e incapacidades privilegiaremos o caraacutecter permanente Desta forma
excluem-se as manifestaccedilotildees temporaacuterias de incapacidade que enviesariam a anaacutelise e o
desenvolvimento de poliacuteticas neste domiacutenio
76 DESIGN DAS QUESTOtildeES
No que concerne ao design das questotildees privilegia-se a escolha de questotildees tipo 1
Fundamentaccedilatildeo
Em consonacircncia com a CIF
Permite comparabilidade estatiacutestica futura
Permite a caracterizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre os factores de funcionalidade ndash integridade
estrutural e funcional actividades participaccedilatildeo e factores contextuais
Permite o design das poliacuteticas sociais e metodologias de intervenccedilatildeo alicerccediladas nas
necessidades especiacuteficas dos cidadatildeos em torno das dimensotildees de inclusatildeo social
Domiacutenios
Visatildeo
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Audiccedilatildeo
Comunicaccedilatildeo
Mobilidade
Dor
Aprendizagem e funcionamento psicoloacutegico
Autocuidados e vida domeacutestica
Condiccedilotildees gerais de sauacutede
Mobilizaccedilatildeo de ajudas ou equipamento especializado
Participaccedilatildeo social
Transporte e educaccedilatildeo
77 PROPOSTA DE DELIMITACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em funccedilatildeo das dimensotildees caracterizadas e dos criteacuterios privilegiados desenvolveu-se o
seguinte enquadramento conceptual
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Figura 2 ndash Enquadramento conceptual da delimitaccedilatildeo do conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso da evoluccedilatildeo
Temporaacuterias permanentes
Progressivas regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou contiacutenuas
Focus
Funcionalidade ndash Niacuteveis de execuccedilatildeo das actividades por domiacutenio e niacuteveistipos de ajudas mobilizadas
Abordagem CIF
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo temporal do conceito
A priori
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Inter-subjectivo
Design das questotildees
Questatildeo geneacuterica sobre uma determinada condiccedilatildeo individual combinada com itens referentes a limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo e factores contextuais
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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8 CRITEacuteRIOS DE ELEGIBILIDADE DO PUacuteBLICO-ALVO E SISTEMAS DE
AVALIACcedilAtildeO
A operacionalizaccedilatildeo do conceito de incapacidade tem sido abordada de forma heterogeacutenea
entre diferentes modalidades de politica e os diferentes contextos socioculturais de cada paiacutes
De uma forma geral encontram-se 2 eixos criacuteticos na sua operacionalizaccedilatildeo
a) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de trabalho (na ocupaccedilatildeo preacutevia ou numa nova
ocupaccedilatildeo ajustada agraves alteraccedilotildees funcionais)
b) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de obter rendimentos provenientes do trabalho
A explicitaccedilatildeo dos criteacuterios de delimitaccedilatildeo do conceito de incapacidade nos diferentes paiacuteses
encontra-se na Quadro 4
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Austraacutelia 2 Criteacuterios possuir uma incapacidade que resulte
num score nunca inferior a 20 nas tabelas de
incapacidades e incapacidade em trabalhar 30
horas ou mais por semana ou em ser
reconvertido para trabalho em contexto regular
nos proacuteximos 2 anos
Nenhum
Aacuteustria 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho (50
de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo para
trabalhadores sem qualificaccedilotildees) papel criacutetico
das decisotildees dos tribunais devido a definiccedilotildees
legais imprecisas
Nenhum mas as
restriccedilotildees de sauacutede
devem ter uma duraccedilatildeo
igual ou superior a 6
meses
Beacutelgica 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na actual ocupaccedilatildeo
1 ano
Canada Incapacidade severa e prolongada que impeccedila de
desenvolver trabalho numa base regular
Nenhum
Dinamarca 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum mas a
reabilitaccedilatildeo precisa de
estar completa
Franccedila 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual mas a
totalidade do subsidio requer igualmente perda de
capacidade de trabalho
Nenhum no caso das
condiccedilotildees estarem
estaacuteveis mas muito
frequentemente apoacutes 3
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Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
anos
Alemanha 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho a
incapacidade parcial eacute calculada em funccedilatildeo do nordm
de horas que a pessoa pode trabalhar
Nenhum mas a
incapacidade deve ter
uma duraccedilatildeo miacutenima
de 26 semanas
Itaacutelia 666reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum
Coreia Criteacuterios meacutedicos (niacuteveis de incapacidade
definidos de forma detalhada)
Periacuteodo de espera de
50 dias (os subsiacutedios
de doenccedila natildeo se
encontram disponiacuteveis)
Meacutexico 50 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo Nenhum
Holanda 15 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
(25 para os trabalhadores por conta proacutepria e
jovens com incapacidade) grau de incapacidade
calculado pela diferenccedila de remuneraccedilatildeo entre o
actual posto de trabalho compatiacutevel com as
limitaccedilotildees funcionais e o anterior
1 ano
Noruega 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho O
grau de subsiacutedio eacute calculado pela capacidade de
remuneraccedilatildeo
Nenhum (apoacutes ter
completado a
reabilitaccedilatildeo vocacional)
Poloacutenia Reduccedilatildeo temporaacuteria ou permanente da
capacidade de trabalho
Nenhum
Portugal 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual
Nenhum mas na
praacutetica ao fim de 3
anos (fim do periacuteodo de
doenccedila de longo termo)
Espanha 33 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho na
ocupaccedilatildeo actual incapacidade para todo e
qualquer trabalho para a totalidade do subsiacutedio
1 ano (embora seja
possiacutevel a candidatura
antes deste prazo em
casos de incapacidade
permanente)
Sueacutecia 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho grau
de incapacidade parcial calculado a partir das
horas que uma pessoa pode trabalhar
Nenhum
Suiccedila 40 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho para
as pessoas inactivas o grau de incapacidade eacute
calculado em relaccedilatildeo aacute actividade actual
1 ano
Turquia 666 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho
com um focus meacutedico bastante significativo
Nenhum
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Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Reino Unido Limitaccedilotildees nas actividades de vida quotidianas
relevantes para o trabalho (avaliaccedilotildees meacutedicas
predominantes) teste ocupacional durante a s
primeiras 28 semanas (subsidio de doenccedila)
28 semanas
Estados
Unidos
Reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
incapacidade em investir numa actividade
profissional com rendimentos ($ US 740 por mecircs)
5 meses (nem sempre
cobertos pelos
subsiacutedios de curto-
termo) e 24 meses
para a cobertura
meacutedica
Quadro 4 ndash Definiccedilotildees de incapacidade e tempos regulamentares
Um dos desafios que se coloca aos actuais sistemas reside na delimitaccedilatildeo da elegibilidade do
puacuteblico-alvo Para cumprir este objectivo satildeo necessaacuterios sistemas de avaliaccedilatildeo holiacutesticos
abrangentes coerentes e que permitam chegar a resultados de forma consistente e com
validade interna No actual contexto a CIF propotildee constituir-se como o instrumento conceptual
abrangente para caracterizar os diferentes domiacutenios e niacuteveis de funcionalidade incapacidade
de forma coerente e integrada Neste sentido uma das vantagens apontadas para a adopccedilatildeo
do modelo desenvolvido pela OMS eacute a possibilidade de uniformizaccedilatildeo de conceitos e portanto
da utilizaccedilatildeo de uma linguagem padratildeo que permita a comunicaccedilatildeo entre investigadores
gestores profissionais de sauacutede organizaccedilotildees da sociedade civil e utilizadores em geral
Um dos campos de estudo mais explorados para a aplicaccedilatildeo da CIF tem sido a aacuterea de
Medicina Fiacutesica e de Reabilitaccedilatildeo no que concerne ao acompanhamento do estado de sauacutede
dos pacientes em tratamento O uso da CIF tem sido considerado tambeacutem na avaliaccedilatildeo apoacutes
transtornos agudos condiccedilotildees traumaacuteticas condiccedilotildees croacutenicas e na geriatria
Alguns autores argumentam que a CIF deve ser explorada como uma base de informaccedilotildees
padronizadas em estudos sobre incapacidade profissional quando haacute necessidade de
relacionar dados de sauacutede ocupacional com os da Seguranccedila Social
Na Sauacutede Puacuteblica tradicionalmente pouca atenccedilatildeo tem sido dada agraves pessoas com
incapacidades No entanto ao lado de recentes investimentos por parte de organizaccedilotildees e de
alguns governos a publicaccedilatildeo do modelo da CIF fornece as bases para as poliacuteticas e
disciplinas da Sauacutede Puacuteblica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo que apresenta deficiecircncias e
incapacidades Assim uma das possibilidades de uso da CIF pode ser a contribuiccedilatildeo para
responder a importantes questotildees de sauacutede puacuteblica tais como qual o estado de sauacutede das
pessoas com deficiecircncias comparadas com as demais que necessidades e que tipos de
intervenccedilotildees satildeo mais adequadas para reduzir condiccedilotildees secundaacuterias e promover a
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na sociedade entre outras
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 49
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Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 50
Dezembro2006
Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 51
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Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
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Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 53
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
modelo social eacute que a deficiecircncia eacute uma experiecircncia resultante da interacccedilatildeo entre
caracteriacutesticas corporais do indiviacuteduo e as condiccedilotildees da sociedade em que ele vive isto eacute da
combinaccedilatildeo de limitaccedilotildees impostas pelo corpo com algum tipo de perda ou reduccedilatildeo de
funcionalidade (lesatildeo) e uma organizaccedilatildeo social pouco sensiacutevel agrave diversidade corporal
Originalmente a UPIAS propocircs uma definiccedilatildeo que explicitava o efeito da exclusatildeo na criaccedilatildeo
da deficiecircncia ldquoLesatildeo ausecircncia parcial ou total de um membro ou oacutergatildeo ou existecircncia de um
mecanismo corporal defeituoso Deficiecircncia desvantagem ou restriccedilatildeo de actividade
provocada pela organizaccedilatildeo social contemporacircnea que pouco ou nada considera aqueles que
possuem lesotildees fiacutesicas e os exclui das principais actividades da vida socialrdquo (UPIAS 19763-
4) A ecircnfase inicial nas limitaccedilotildees fiacutesicas foi imediatamente revista e com isso abriu-se um
grande debate sobre as limitaccedilotildees do vocabulaacuterio usado para descrever as deficiecircncias e
incapacidades A intenccedilatildeo era destacar que natildeo havia necessariamente uma relaccedilatildeo directa
entre lesatildeo e deficiecircncia transferindo o debate da discussatildeo sobre sauacutede para o terreno da
organizaccedilatildeo social e poliacutetica Lesatildeo seria uma caracteriacutestica corporal como seria o sexo ou a
cor da pele ao passo que deficiecircncia seria o resultado da opressatildeo e da discriminaccedilatildeo sofrida
pelas pessoas em funccedilatildeo de uma sociedade que se organiza de uma maneira que natildeo permite
incluiacute-las na vida quotidiana Eacute possiacutevel uma pessoa ter lesotildees e natildeo experimentar a
deficiecircncia a depender de quanto a sociedade esteja ajustada para incorporar a diversidade
Como exemplifica Morris (2001) natildeo poder caminhar eacute a expressatildeo da lesatildeo a deficiecircncia
consiste na inacessibilidade imposta agraves pessoas que usam cadeira de rodas O resultado
dessa revisatildeo na semacircntica dos conceitos foi uma separaccedilatildeo radical entre lesatildeo e deficiecircncia
a primeira eacute objecto da discussatildeo sobre sauacutede enquanto a segunda eacute uma questatildeo da ordem
dos direitos e da justiccedila social e portanto essencialmente normativa
Se para o modelo meacutedico a lesatildeo levava agrave deficiecircncia para o modelo social os sistemas
sociais levavam pessoas com lesotildees agrave experiecircncia da incapacidade Em siacutentese o modelo
meacutedico identifica a pessoa com deficiecircncia como uma pessoa com algum tipo de inadequaccedilatildeo
para a sociedade o modelo social por sua vez inverte o argumento e contextualiza a
deficiecircncia na incapacidade da sociedade para incluir todas as pessoas gerindo de forma
inclusiva a sua diversidade Em geral as definiccedilotildees baseadas no modelo meacutedico exigem um
grande afastamento dos padrotildees de normalidade para considerar uma pessoa como tendo
deficiecircncia Os criteacuterios utilizados para definir a deficiecircncia geralmente tecircm como referecircncia a
perda completa de certos oacutergatildeos ou funccedilotildees A identificaccedilatildeo da deficiecircncia eacute feita levando-se
em conta caracteriacutesticas isoladas destes oacutergatildeos e funccedilotildees e comparando-as com limites
estabelecidos para cada uma delas Neste quadro de inteligibilidade existem criteacuterios que
estabelecem para oacutergatildeo ou funccedilatildeo comprometida os limites da deficiecircncia como por
exemplo patamares miacutenimos de acuidade visual capacidade auditiva etc que podem ser
avaliados isoladamente uns dos outros bem como separados das necessidades impostas
pelas caracteriacutesticas sociais de cada pessoa
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 8
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
A combinaccedilatildeo da existecircncia de uma condiccedilatildeo de sauacutede bem abaixo de um padratildeo abstracto de
normalidade e a persistecircncia dessa condiccedilatildeo no tempo permite ao modelo meacutedico diferenciar
doenccedila de deficiecircncia Muitas das doenccedilas satildeo entendidas como situaccedilotildees temporaacuterias
Assim embora tenham uma condiccedilatildeo de sauacutede inferior agrave determinada por algum criteacuterio de
normalidade as pessoas doentes podem natildeo ser consideradas pessoas com deficiecircncias
dentro do modelo meacutedico porque a sua reduccedilatildeo de capacidades eacute apenas temporaacuteria e natildeo
permite definir um estado consistente ao longo do tempo O caminho inverso tambeacutem eacute trilhado
para separar deficiecircncia de doenccedila poreacutem com um argumento um pouco mais sofisticado
(Diniz 1996) Se a deficiecircncia eacute uma situaccedilatildeo irreversiacutevel eacute perfeitamente possiacutevel redefinir o
conceito de normalidade de modo a ajustaacute-lo agrave condiccedilatildeo permanente das pessoas A cegueira
por exemplo passa a ser a condiccedilatildeo normal de uma pessoa cega e portanto natildeo faz sentido
classificaacute-la como doente Neste esquema uma pessoa que natildeo pode ver porque estaacute com
uma inflamaccedilatildeo ocular grave eacute uma pessoa doente e uma pessoa permanentemente cega eacute
uma pessoa deficiente Como o reconhecimento da ldquosociedade deficienterdquo eacute tatildeo ou mais
importante para o debate sobre poliacuteticas puacuteblicas e deficiecircncia do que a identificaccedilatildeo da
ldquopessoa deficienterdquo as preocupaccedilotildees com a identidade do modelo social satildeo bem distintas
daquelas do modelo meacutedico Abberley (1987) por exemplo natildeo insiste na distinccedilatildeo entre
deficiecircncia e doenccedila e praticamente ignora a regra de persistecircncia da lesatildeo no tempo para
identificar as pessoas com deficiecircncias criteacuterio tatildeo caro aos legisladores de poliacuteticas sociais
nos anos 1980 que o utilizaram sistematicamente em contagens de populaccedilatildeo de vaacuterios
paiacuteses do mundo A loacutegica do modelo social natildeo reconhece esta distinccedilatildeo principalmente
porque entende que os ajustes requeridos da sociedade para que ela contemple a diversidade
da deficiecircncia satildeo independentes de quanto tempo uma condiccedilatildeo corporal se iraacute manter Afinal
se uma pessoa que usa cadeira de rodas enquanto recupera de fracturas nas pernas
necessita dos mesmos ajustes no sistema de transporte que uma pessoa permanentemente
incapacitada de caminhar porquecirc separaacute-las em grupos diferentes Ao natildeo reconhecer que os
doentes tambeacutem experimentam a deficiecircncia o modelo meacutedico exclui da atenccedilatildeo das poliacuteticas
puacuteblicas uma grande parcela da populaccedilatildeo que necessita delas problema que pode afectar
uma parte razoaacutevel da populaccedilatildeo idosa Natildeo usar da mesma maneira a distinccedilatildeo entre doenccedila
e deficiecircncia eacute um recurso do modelo social para evitar este tipo de exclusatildeo A consequecircncia
oacutebvia da definiccedilatildeo do modelo social eacute de que a pesquisa e as poliacuteticas puacuteblicas direccionadas agrave
deficiecircncia natildeo poderiam concentrar-se apenas nos aspectos corporais dos indiviacuteduos para
identificar a deficiecircncia Aleacutem disso ao separar a deficiecircncia da lesatildeo o modelo social abre
espaccedilo para mostrar que a despeito da diversidade das lesotildees haacute um factor que une as
diferentes comunidades de pessoas com deficiecircncias em torno de um projecto poliacutetico uacutenico a
experiecircncia da exclusatildeo Segundo Oliver ldquoTodos os deficientes experimentam a deficiecircncia
como uma restriccedilatildeo social natildeo importando se estas restriccedilotildees ocorrem em consequecircncia de
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 9
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
ambientes inacessiacuteveis de noccedilotildees questionaacuteveis de inteligecircncia e competecircncia social se da
inabilidade da populaccedilatildeo em geral de utilizar a linguagem de sinais se pela falta de material
em Braille ou se pelas atitudes puacuteblicas hostis das pessoas que natildeo tecircm lesotildees visiacuteveisrdquo
(1990xiv)
Em meados da deacutecada de 1990 os movimentos feministas lanccedilaram um argumento com
profundas implicaccedilotildees para as poliacuteticas puacuteblicas a experiecircncia da deficiecircncia no acircmbito
familiar apresenta implicaccedilotildees ao niacutevel do geacutenero Ao mostrar que a deficiecircncia eacute
acompanhada de reorganizaccedilotildees familiares voltadas para o cuidado da pessoa com
deficiecircncia os movimentos feministas colocaram em evidecircncia que natildeo satildeo apenas as
pessoas com algum tipo de restriccedilatildeo corporal que necessitam da atenccedilatildeo das poliacuteticas
puacuteblicas Atendendo a que as cuidadoras satildeo predominantemente mulheres devido agrave divisatildeo
sexual do trabalho a deficiecircncia quando entendida como um fenoacutemeno com implicaccedilotildees
familiares possui um enviesamento de geacutenero Satildeo as mulheres por exemplo que se afastam
do mercado de trabalho para cuidar das pessoas com deficiecircncias de crianccedilas pequenas ou
idosos Nos casos dos homens idosos este recorte inclui uma sobreposiccedilatildeo de geacutenero agrave idade
pois dado o padratildeo tiacutepico de arranjo familiar satildeo mulheres idosas que cuidam desses homens
Este afastamento tem uma seacuterie de implicaccedilotildees para as mulheres como a ausecircncia de
serviccedilos de suporte e de apoio para as mulheres em idade economicamente activa e tal facto
natildeo pode passar esquecido pelas poliacuteticas puacuteblicas (Barton amp Oliver 1997)
No final da deacutecada de 1990 alguns argumentos do modelo social da deficiecircncia foram objecto
de revisatildeo O lema ldquoOs limites satildeo sociais natildeo do indiviacuteduordquo usado como bandeira para
reivindicar condiccedilotildees para que as pessoas com deficiecircncias fossem independentes passa a ser
relativizado Uma longa tradiccedilatildeo da filosofia feminista critica o valor da independecircncia absoluta
mostrando que a interdependecircncia por meio do cuidado com os dependentes eacute um elemento
constituinte da vida em sociedade e em muitos casos de deficiecircncia natildeo pode ser evitada As
poliacuteticas puacuteblicas portanto natildeo devem procurar apenas promover a independecircncia das
pessoas com deficiecircncias mas criar condiccedilotildees favoraacuteveis para que o cuidar seja exercido
13 DESAFIOS EMERGENTES NO PLANO CONCEPTUAL COM IMPLICACcedilOtildeES NO DOMIacuteNIO DAS
INTERVENCcedilOtildeES
Historicamente as diferentes perspectivas de intervenccedilatildeo no campo da reabilitaccedilatildeo tecircm-se
centrado predominantemente nos pressupostos conceptuais do modelo meacutedico sendo que
mais recentemente tem-se vindo a assistir a uma focalizaccedilatildeo progressiva nos pressupostos
conceptuais do modelo social
Neste contexto histoacuterico as interpretaccedilotildees sociais da deficiecircncia encontram-se em processo de
transiccedilatildeo Este aspecto aparece claramente reflectido nos documentos oficiais em relaccedilatildeo agraves
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 10
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
definiccedilotildees de deficiecircncia e de reabilitaccedilatildeo Apesar dos factores econoacutemicos e demograacuteficos se
afigurarem de uma importacircncia crescente parece evidente que o motor que subjaz a este
fenoacutemeno se alicerccedila na politizaccedilatildeo sem precedentes da deficiecircncia liderada pela sociedade
civil bem como a exigecircncia crescente de igualdade de oportunidades para as pessoas com
deficiecircncias A evoluccedilatildeo conceptual da interpretaccedilatildeo sociopoliacutetica do conceito tem produzido
avanccedilos ao niacutevel das praacuteticas e das intervenccedilotildees ainda que com diferentes ritmos de
aplicaccedilatildeo e com necessidades evidentes de um maior niacutevel de sistematizaccedilatildeo e estruturaccedilatildeo
na globalidade do sector
Consequentemente alguns dos elementos das praacuteticas de reabilitaccedilatildeo mantecircm-se focalizados
em abordagens centradas no indiviacuteduo Apesar da relevacircncia das intervenccedilotildees e das
terapecircuticas meacutedicas ainda que absolutamente necessaacuterias nos paiacuteses mais pobres estas
apenas produzem um impacte parcial no contexto de um ambiente cultural organizado
privilegiadamente para um modo de vida onde natildeo existem pessoas com deficiecircncias Deste
modo o domiacutenio de sauacutede puacuteblica bem como os problemas experimentados pelas pessoas
com deficiecircncias constituem-se como assuntos de natureza poliacutetica que apenas poderatildeo ser
equacionados na sua resoluccedilatildeo atraveacutes de uma profunda mudanccedila estrutural e cultural
envolvendo a redistribuiccedilatildeo sistemaacutetica de recursos e o desenvolvimento de uma cultura que
valoriza a diversidade humana
Neste cenaacuterio afigura-se relevante equacionar um conjunto de desafios fundamentais para
enquadrar a iniciativa poliacutetica na implementaccedilatildeo dos princiacutepios do modelo social
Coerecircncia dos conceitos utilizados
Parece subsistir uma elevada diversidade de conceitos associados ao domiacutenio da deficiecircncia
na organizaccedilatildeo social A tiacutetulo de exemplo pode-se citar a nomenclatura de ldquodeficientesrdquo ou
ldquopessoas portadoras de deficiecircnciardquo no acesso prioritaacuterio a determinados tipos de serviccedilos
puacuteblicos ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ao niacutevel de programas de intervenccedilatildeo social e
designaccedilotildees ao niacutevel dos instrumentos de poliacutetica que remetem para concepccedilotildees radicalmente
diferentes entre si tal como eacute o caso da ldquopensatildeo de invalidezrdquo ou da ldquotabela nacional de
incapacidadesrdquo Esta pluralidade de conceitos sem qualquer coerecircncia conceptual entre si
parece espelhar o resultado de diferentes velocidades de evoluccedilatildeo em diferentes domiacutenios da
poliacutetica social ocorrida em diferentes momentos socio-histoacutericos Aliaacutes tal facto emerge de
forma mais ou menos incisiva na maioria dos paiacuteses europeus A investigaccedilatildeo neste sector tem
permitido colocar em evidecircncia que diferentes definiccedilotildees de deficiecircncia satildeo relevantes para
diferentes poliacuteticas e que as tentativas de usar a mesma definiccedilatildeo ao longo de uma vasta
diversidade de poliacuteticas pode resultar na utilizaccedilatildeo de definiccedilotildees de reduzido poder
diferenciador o que significa que as poliacuteticas podem correr o risco de natildeo chegar ao seu
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 11
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
puacuteblico-alvo A necessidade de usar uma pluralidade de definiccedilotildees de forma a assegurar a
relevacircncia da definiccedilatildeo para o seu domiacutenio de aplicabilidade levanta um problema de
coerecircncia no quadro poliacutetico relativo agraves pessoas com deficiecircncias Neste cenaacuterio as pessoas
podem ser consideradas como tendo deficiecircncias no quadro de uma determinada poliacutetica e
como natildeo tendo no quadro de uma poliacutetica diferente sendo que por vezes se encontram
lacunas no fornecimento de serviccedilos como resultado imediato desta opccedilatildeo De uma forma
geral os diferentes Estados resolvem estes problemas requerendo agraves instituiccedilotildees das poliacuteticas
sociais a coordenaccedilatildeo das actividades em detrimento do estabelecimento de definiccedilotildees
uacutenicas
Diferentes abordagens entre diferentes aacutereas de poliacutetica social
A evoluccedilatildeo histoacuterica e a apropriaccedilatildeo de diferentes conceitos por parte de diferentes sectores
da poliacutetica social encerram o risco de serem adoptados modelos operativos e intervenccedilotildees com
caracteriacutesticas significativamente diferentes Neste sentido podem-se observar sectores que
privilegiam o mainstreaming e o desenvolvimento das intervenccedilotildees baseadas na comunidade
e noutros sectores verificarem-se intervenccedilotildees mais centradas no indiviacuteduo mobilizando
criteacuterios quase exclusivamente meacutedicos Esta diferenccedila de abordagens pode potencialmente
acarretar desarticulaccedilotildees e incoerecircncias ao niacutevel dos princiacutepios gerais da poliacutetica social
reflectindo-se numa resposta fragmentada e parcelar agraves necessidades das pessoas Neste
contexto afigura-se relevante a definiccedilatildeo clara sistemaacutetica e estruturada dos princiacutepios
transversais subjacentes agrave globalidade das poliacuteticas para num segundo momento se proceder
agrave definiccedilatildeo dos seus elementos especiacuteficos
Classificaccedilatildeo da deficiecircncia e metodologias de avaliaccedilatildeo
Enquanto que no quadro do modelo meacutedico importava associar as diferentes deficiecircncias a
diferentes niacuteveis de incapacidade mobilizando criteacuterios de natureza exclusivamente meacutedica a
progressiva implementaccedilatildeo do modelo social na maior parte dos paiacuteses da Europa tem
colocado desafios sobre qual a categorizaccedilatildeo que melhor reflecte as dificuldades de
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades ao niacutevel dos seus ambientes de
vida A OMS perante esta encruzilhada de classificaccedilotildees propocircs a Classificaccedilatildeo Internacional
de Funcionalidade Incapacidade e Sauacutede (CIF) como modelo operativo de caracterizaccedilatildeo da
funcionalidade do indiviacuteduo colocando em evidecircncia para efeitos de elegibilidade dos
programas as limitaccedilotildees de actividade e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo das pessoas Ou seja
enquanto nalguns modelos se continuam a avaliar as deficiecircncias do indiviacuteduo a CIF vem
enfatizar em coerecircncia com o modelo social que o mais relevante natildeo eacute avaliar as alteraccedilotildees
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 12
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
ao niacutevel das estruturas ou das funccedilotildees dos indiviacuteduos ndash ainda que natildeo as negligencie ndash mas
sim as limitaccedilotildees de actividades e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo que o sujeito experiencia no
decorrer da desadequaccedilatildeo entre as suas diferenccedilas e as caracteriacutesticas dos ambientes sociais
em que se move Atente-se que esta opccedilatildeo conceptual natildeo eacute neutra do ponto de vista
pragmaacutetico dado que os objectivos das intervenccedilotildees passam a ser a remoccedilatildeo das barreiras e
dos obstaacuteculos que ocorrem no quadro da relaccedilatildeo do sujeito com os seus contextos de vida
em detrimento de intervenccedilotildees polarizadas exclusivamente na dimensatildeo individual ou
exclusivamente na dimensatildeo social
No desenvolvimento das poliacuteticas sociais a investigaccedilatildeo tem permitido colocar em evidecircncia a
necessidade de identificar definir e sistematizar os princiacutepios norteadores que tenderatildeo a ser
transversais a todos os sectores de poliacutetica social sendo que apenas deste modo se poderaacute
assegurar a coerecircncia entre as diferentes poliacuteticas dos diferentes sectores Neste sentido
torna-se relevante um processo de clarificaccedilatildeo sobre qual o modelo conceptual em que a
estrateacutegia poliacutetica se baseou de forma a que o conjunto de objectivos estrateacutegias processos
de intervenccedilatildeo definiccedilatildeo de resultados alocaccedilatildeo de recursos e indicadores de avaliaccedilatildeo
estejam devidamente articulados e em consonacircncia com os princiacutepios adoptados
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 13
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
2 CONCEITOS E TERMINOLOGIA
A anaacutelise conceptual no domiacutenio da deficiecircncia permite colocar em evidecircncia a existecircncia de
um conjunto de imprecisotildees ao niacutevel dos conceitos com variaccedilotildees relacionadas com o modelo
meacutedico e com o modelo social Neste contexto afigura-se criacutetico clarificar os contornos teoacutericos
e os modelos conceptuais subjacentes aos diferentes conceitos utilizados estabelecendo uma
base teoacuterica de referecircncia que assegure o necessaacuterio grau de coerecircncia e simultaneamente
abrangecircncia
21 EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA DOS SISTEMAS DE CLASSIFICACcedilAtildeO
Para uma clara delimitaccedilatildeo dos modelos teoacutericos que tecircm influenciado historicamente o
desenvolvimento dos conceitos no domiacutenio da deficiecircncia poderemos identificar 2 abordagens
conceptuais distintas
211 A ABORDAGEM TRADICIONAL INDIVIDUALISTA
A preocupaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede em estabelecer uma classificaccedilatildeo das doenccedilas
remonta ao seacuteculo XVIII Mas somente na VI Revisatildeo da Classificaccedilatildeo Internacional de
Doenccedilas (CID-6) em 1948 citada na IX Revisatildeo foram feitas referecircncias a doenccedilas que
poderiam tornar-se croacutenicas exigindo outros serviccedilos aleacutem de cuidados meacutedicos
Ateacute a deacutecada de 70 a CID-8 citada na IX Revisatildeo considerava apenas as manifestaccedilotildees
agudas segundo o modelo meacutedico etiologia rArr patologia rArr manifestaccedilatildeo
Esse modelo mostrou-se limitado para descrever as consequecircncias das doenccedilas pois excluiacutea
as perturbaccedilotildees croacutenicas evolutivas e irreversiacuteveis
Na IX Assembleia da OMS em 1976 surgiu uma nova conceptualizaccedilatildeo a International
Classification of Impairments Disabilities and Handicaps a manual of classification relating to
the consequences of disease (ICIDH) sendo sua traduccedilatildeo a Classificaccedilatildeo Internacional de
Deficiecircncias Incapacidades e Desvantagens um manual de classificaccedilatildeo das consequecircncias
das doenccedilas (CIDID) publicada em 1989
Apesar da abordagem meacutedica individualista ter dominado a cultura ocidental desde pelo
menos o seacuteculo XIX (Oliver 1990 Gleeson 1999) esta encontra-se geralmente associada agrave
Classificaccedilatildeo Internacional da Deficiecircncia Incapacidades e Desvantagens (ICIDH) da OMS
(1980) Em resposta agraves necessidades crescentes ao niacutevel internacional de clarificaccedilatildeo do
sentido do conceito de incapacidade e atendendo agraves criticas progressivas das pessoas com
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 14
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
incapacidades e seus significativos baseadas no facto de que a incapacidade envolve mais do
que um conjunto de preocupaccedilotildees estritamente meacutedicas a OMS constituiu uma comissatildeo de
cientistas sociais para desenvolver a existente Classificaccedilatildeo Internacional de Doenccedilas em
ordem a conseguir abranger as consequecircncias a longo termo das doenccedilas croacutenicas A ICIDH
foi publicada em 1980 sendo largamente reconhecida como o directoacuterio mais abrangente
existente vindo a ser extensivamente utilizada como uma base para as iniciativas
governamentais dos paiacuteses desenvolvidos da Europa e Ameacuterica do Norte e os paiacuteses
subdesenvolvidos do Sul (Ustun et al 2001)
A ICIDH utiliza uma categorizaratildeo tripartida da deficiecircncia incapacidade e desvantagem A
deficiecircncia refere-se a qualquer perda ou irregularidade da estrutura ou das funccedilotildees
anatoacutemica fisioloacutegica ou psicoloacutegica A incapacidade refere-se a qualquer restriccedilatildeo ou perda
(resultante de uma deficiecircncia) da capacidade para executar uma actividade da forma e dentro
do contexto considerado normal para o ser humano A desvantagem refere-se agrave limitaccedilatildeo
resultante de uma deficiecircncia ou incapacidade no desempenho de um dado papel considerado
normativo (dependendo da idade geacutenero e factores sociais e culturais) para aquele indiviacuteduo
(OMS 1980 p 29)
Esta tipologia baseia-se nas noccedilotildees de normalidade fiacutesica e intelectual bem como no facto de
que a incapacidade e a desvantagem satildeo causadas por deficiecircncias ou irregularidades
psicoloacutegicas ou fisioloacutegicas Neste contexto a ICIDH pode ser objecto de criacuteticas a diferentes
niacuteveis Primeiro as percepccedilotildees de deficiecircncia e normalidade satildeo fenoacutemenos sociais pelo que
satildeo sujeitas a substantivas mudanccedilas temporais culturais e situacionais (Hanks and Hanks
1948 Scheer and Groce 1988 Coleridge 1993 Ingstad and Whyte 1995) A dislexia por
exemplo natildeo seria vista como um problema significativo numa sociedade predominantemente
agraacuteria No entanto eacute considerada uma dificuldade de aprendizagem nas sociedades
modernas tecnologicamente avanccediladas nas quais a literacia e a numeracia desempenham
requisitos criacuteticos para a participaccedilatildeo social e econoacutemica Segundo encontra-se impliacutecito na
ICIDH que o organismo humano eacute flexiacutevel e adaptaacutevel enquanto os ambientes fiacutesicos e sociais
o natildeo satildeo Este facto claramente conflitua com a realidade histoacuterica na qual os indiviacuteduos
transformaram continuamente o seu ambiente em funccedilatildeo das suas necessidades (Barnes
1991) Terceiro as definiccedilotildees da ICIDH sugerem que a deficiecircncia a incapacidade e a
desvantagem constituem-se como estados estaacuteticos Para aleacutem do facto desta noccedilatildeo afigurar-
se incorrecta parece criar distinccedilotildees e barreiras entre as pessoas com e sem deficiecircncias
distinccedilotildees que natildeo satildeo necessaacuterias nem deveriam existir Uma tal situaccedilatildeo parece ser
paradoxal atendendo a que a ICIDH possui uma classificaccedilatildeo para cada caracteriacutestica do
organismo fiacutesico e humano (Shakespeare 1994 104)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 15
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Finalmente e mais significativo neste contexto a ICIDH apresenta as deficiecircncias enquanto
causa primaacuteria da incapacidade e da desvantagem Neste contexto a reabilitaccedilatildeo constitui-se
como uma filosofia e uma praacutetica para erradicar ou minimizar os problemas da deficiecircncia e
capacitar aqueles com deficiecircncias designadas para funcionarem nos seus niacuteveis fiacutesico
psicoloacutegico e social mais elevados (Albrecht 1992 23) Por outras palavras as pessoas com
incapacidades tornam-se objectos para serem curados tratados treinados mudados e
tornados normais de acordo com um conjunto particular de valores As limitaccedilotildees de tais
intervenccedilotildees encontram-se sustentadamente documentadas pelos activistas como
incapacidades desde 1960 (Hunt 1966 Sutherland 1981 Zola 1982)
212 A ABORDAGEM LIBERAL OU INTER-RELACIONAL
A abordagem liberal ou inter-relacional encontra-se expressa no uacuteltimo corpo de trabalhos da
OMS para redefinir a incapacidade nomeadamente a Classificaccedilatildeo Internacional de
Funcionalidade Incapacidade e Sauacutede (CIF) conhecida previamente como ICIDH2 (OMS
2002)
Esta redefiniccedilatildeo constituiu uma tentativa concertada para integrar o modelo meacutedico
individualista tradicional e a interpretaccedilatildeo sociopoliacutetica Por um lado como resultado da sua
rejeiccedilatildeo por parte das pessoas com incapacidades organizaccedilotildees e parceiros dentro e fora da
comunidade cientiacutefica (Driedger 1989 Oliver 1990 Barnes et al 2002) e por outro lado
porque apesar da sua vasta utilizaccedilatildeo a sua aplicabilidade tem sido caracterizada por diversas
interpretaccedilotildees (Coleridge 1993 Ingstad 2001) Em siacutentese demonstrou-se como limitada para
muitos dos actores e natildeo forneceu a delimitaccedilatildeo de significado que originalmente pretendia
Em comum com a sua predecessora a CIF manteacutem o constructo tripartido O primeiro niacutevel
deficiecircncia no original relaciona-se com as funccedilotildees e estrutura do organismo O segundo
niacutevel o que era anteriormente incapacidade eacute agora referido como actividade e o terceiro
desvantagem aparece como participaccedilatildeo No entanto e apesar do intenso debate sobre o
significado de incapacidade o conceito eacute preservado como um termo global para os trecircs niacuteveis
de dificuldade de funcionamento Neste cenaacuterio e em contraste com a ICIDH a nova
formulaccedilatildeo eacute apresentada como uma classificaccedilatildeo universal do funcionamento humano As
pessoas ligadas a acccedilotildees de advocacy defendem que esta configuraccedilatildeo oferece um quadro de
inteligibilidade completo para os aspectos funcionais da experiecircncia de sauacutede Nesta
perspectiva a incapacidade permanece uma preocupaccedilatildeo privilegiadamente do domiacutenio da
sauacutede em detrimento do domiacutenio poliacutetico Constitui-se por um lado como um resultado das
caracteriacutesticas da pessoa e por outro dos ambientes fiacutesicos e sociais Deste modo mais do
que se constituir como uma classificaccedilatildeo das pessoas com incapacidades ou dos problemas
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 16
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
que experienciam a CIF afigura-se como uma classificaccedilatildeo do funcionamento a 3 niacuteveis
compreendida em termos neutros (Ustun et al 2001 6-7)
O reconhecimento da importacircncia dos ambientes fiacutesico e social na CIF poderaacute ser equacionado
como uma melhoria significativa em relaccedilatildeo agrave sua predecessora (Hurst 2000) No entanto
parece-nos altamente improvaacutevel que seja mais eficaz do que a anterior classificaccedilatildeo a gerar
uma linguagem universal sobre a incapacidade na medida em que transformar as diferenccedilas
culturais na conceptualizaccedilatildeo das deficiecircncias assume-se como tarefa extremamente
complexa de alcanccedilar (Bury 2000 Miles 2001) Este facto eacute especialmente significativo na
medida em que natildeo obstante a CIF reconhecer o contexto cultural das percepccedilotildees de
incapacidade e por consequecircncia a normalidade o actual sistema de classificaccedilatildeo
permanece fortemente alicerccedilado nas formulaccedilotildees e nos conceitos cientiacuteficos ocidentais
(Finkelstein 1998 Pfeiffer 2000 Baylies 2002)
Adicionalmente apesar da CIF explicitar que os indiviacuteduos satildeo um elemento da anaacutelise da
incapacidade a abordagem biopsicossocial natildeo se encontra muito distanciada do modelo
anterior na medida em que privilegia o indiviacuteduo como ponto de partida para anaacutelise das
funccedilotildees do corpo e actividades O conceito de participaccedilatildeo eacute incluiacutedo mas subdesenvolvido no
esquema conceptual e continua associado agraves circunstacircncias individuais em vez de fortemente
ligado agrave inclusatildeo poliacutetica e social Adicionalmente enquanto a significacircncia do contexto eacute
enfatizada na CIF as estrateacutegias para a sua mensuraccedilatildeo afiguram-se limitadas Os seus
utilizadores satildeo encorajados a classificar os factores ambientais mas natildeo existem ferramentas
eficazes para levar a cabo esta tarefa bem como para avaliar as tendecircncias de incapacidade
ou por outro lado das poliacuteticas governamentais praacuteticas ambientes fiacutesicos e contextos
culturais (Baylies 2002)
Esta aparente descentraccedilatildeo das preocupaccedilotildees poliacuteticas tem caracterizado a maioria da ciecircncia
social mainstream desde o seacuteculo XIX Deste modo a definiccedilatildeo inter-relacional de
incapacidade e a consequente despolitizaccedilatildeo das questotildees associadas reflectiu-se nos
estudos e na literatura produzida nesta aacuterea por acadeacutemicos e investigadores durante a uacuteltima
metade do seacuteculo XX
Mais recentemente reemergiram na Inglaterra um conjunto de respostas poacutes-modernas ao
modelo social da incapacidade Este cenaacuterio tem favorecido o aparecimento de asserccedilotildees de
que tais fenoacutemenos soacute tecircm servido para agudizar e natildeo diminuir a conflituosidade a propoacutesito
da inclusatildeo (Hunt 1981 Germon 1998 Linton 1998 Gordon and Rosenblum 2001)
No quadro da reabilitaccedilatildeo a abordagem inter-relacional eacute sinoacutenima da liberalizaccedilatildeo da poliacutetica
social para as pessoas com incapacidades nos finais dos anos sessenta e setenta em
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 17
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
particular a mudanccedila dos serviccedilos centrados institucionalmente para os serviccedilos e apoios
centrados na comunidade Deste modo a ecircnfase eacute colocada na integraccedilatildeo de pessoas com
incapacidades na sociedade mainstream Os Standards da Equalizaccedilatildeo das Pessoas com
Incapacidades (1993) da ONU explicitam que todos os estados devem providenciar serviccedilos de
reabilitaccedilatildeo Mas esta orientaccedilatildeo recomenda que se vaacute aleacutem do cuidado meacutedico inicial para
incluir uma ampla gama de medidas e actividades desde a reabilitaccedilatildeo baacutesica e generalista
para actividades orientadas por objectivos (UN 199311) Ainda mais significativo todos os
serviccedilos de reabilitaccedilatildeo deveratildeo estar disponiacuteveis nas comunidades locais nas quais as
pessoas com incapacidades se movem No entanto em determinadas circunstacircncias e para
que se reforcem os objectivos de formaccedilatildeo e aprendizagem poderatildeo ser organizados cursos
localizados nas organizaccedilotildees prestadoras de serviccedilos com um quadro temporal o mais
reduzido possiacutevel (UN 1993 19)
Adicionalmente apesar dos Standards enfatizarem a importacircncia do envolvimento das pessoas
com incapacidades e dos seus significativos no desenvolvimento dos programas de
reabilitaccedilatildeo parece natildeo existir uma asserccedilatildeo clara de que tais estrateacutegias devam ser
controladas por ou mensuradas para estes uacuteltimos Existe no entanto uma assunccedilatildeo taacutecita de
que tais serviccedilos seratildeo liderados por profissionais
Adicionalmente desde que a incapacidade na CIF foi apresentada como uma questatildeo de
sauacutede em detrimento de uma questatildeo poliacutetica parece inevitaacutevel que os profissionais no
domiacutenio da reabilitaccedilatildeo continuem a ser dominados ou laquoalienadosraquo pela Medicina (Finkelstein
1998) Este facto poderaacute ficar a dever-se primeiro agrave actual e persistente subjugaccedilatildeo dos
governos nacionais aos interesses corporativos e das organizaccedilotildees econoacutemicas e segundo agrave
diversidade de barreiras econoacutemicas poliacuteticas e culturais experienciadas pelas pessoas com
incapacidades quer nos paiacuteses desenvolvidos quer nos subdesenvolvidos Neste tipo de
cenaacuterio o pensamento ortodoxo sobre a reabilitaccedilatildeo contratualiza um expediente praacutetico para
os poliacuteticos legisladores e organizaccedilotildees profissionais Como resultado os teacutecnicos tecircm
invariavelmente um niacutevel de escolha reduzido na opccedilatildeo pelo modelo meacutedico em detrimento
de soluccedilotildees poliacuteticas colectivas na resposta aos problemas da exclusatildeo
Esta perspectiva parece afigurar-se a oposta da necessaacuteria De facto apoacutes o trabalho de
Talcott Parsons (1951) emergiu uma extensa literatura condenando a laquomedicalizaccedilatildeoraquo do
quotidiano de um conjunto diverso de perspectivas Por exemplo o filoacutesofo austriacuteaco Ivan Illich
nomeou o seacuteculo XX como a era dos profissionais incapacitantes (1977 11) pela sua
apropriaccedilatildeo do conhecimento mistificaccedilatildeo das competecircncias especializadas e a criaccedilatildeo de
uma cultura perversa e persuasiva de dependecircncia Apesar de tais criticas encontrarem a sua
aplicabilidade predominantemente nas naccedilotildees subdesenvolvidas do Ocidente surgiram
trabalhos recentes que sugerem que apesar de existir uma diminuiccedilatildeo significativa dos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 18
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
conhecimentos meacutedicos e de tratamentos com reduzidos niacuteveis de recursos nas naccedilotildees
subdesenvolvidas criacuteticas similares podem ser relevantes para o contexto no qual nos
situamos (Stone 1999 Ingstad 2001 OMS 2001)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 19
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
3 OBJECTIVOS OPERACIONAIS
Pretende-se desenvolver uma anaacutelise longitudinal e multissectorial ao conceito de deficiecircncia
no sentido de estabelecer uma configuraccedilatildeo operacional no quadro da sua aplicabilidade
estatiacutestica Esta anaacutelise insere-se no acircmbito do Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das
Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo
Objectivo Operacionalizar o conceito de deficiecircncia no quadro da sua aplicabilidade
estatiacutestica assegurando os criteacuterios de (a) comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica
e legislativa dentro do contexto portuguecircs (c) conformidade com os referenciais conceptuais
actuais
Metodologia a) Anaacutelise dos referenciais nacionais e internacionais de delimitaccedilatildeo operacional
do conceito b) exploraccedilatildeo de cenaacuterios que viabilizem o cumprimento dos requisitos definidos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 20
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
4 ANAacuteLISE PRELIMINAR DA EVOLUCcedilAtildeO DA TERMINOLOGIA NO
DOMIacuteNIO 41 ESTADO DA ARTE
A evoluccedilatildeo dos conceitos operativos nos domiacutenios da reabilitaccedilatildeo e da inclusatildeo social tem
sido reflectida nas diversas classificaccedilotildees propostas pela OMS Neste quadro evolutivo a
uacuteltima classificaccedilatildeo proposta ndash CIF ndash constitui-se como um modelo de siacutentese entre a
abordagem meacutedica e a abordagem social no domiacutenio da incapacidade e da sauacutede No sentido
de procedermos agrave anaacutelise dos principiais conceitos e termos focalizar-nos-emos na
reestruturaccedilatildeo conceptual proposta pela Classificaccedilatildeo Internacional de Funcionalidade
Incapacidade e Sauacutede (CIF)
O objectivo geral da CIF eacute proporcionar uma linguagem unificada e padronizada assim como
uma estrutura de trabalho para a descriccedilatildeo da sauacutede e de estados relacionados com a sauacutede
A classificaccedilatildeo define os componentes da sauacutede e alguns componentes do bem-estar
relacionados com a sauacutede (tais como educaccedilatildeo e trabalho) Os domiacutenios contidos na CIF
podem portanto ser considerados como domiacutenios da sauacutede e domiacutenios relacionados com a
sauacutede Estes domiacutenios satildeo descritos com base na perspectiva do corpo do indiviacuteduo e da
sociedade em duas listas baacutesicas (1) Funccedilotildees e Estruturas do Corpo e (2) Actividades e
Participaccedilatildeo Como classificaccedilatildeo a CIF agrupa sistematicamente diferentes domiacutenios de uma
pessoa com uma determinada condiccedilatildeo de sauacutede (eg o que uma pessoa com uma doenccedila
ou perturbaccedilatildeo faz ou pode fazer) A funcionalidade eacute um termo que engloba todas as funccedilotildees
do corpo actividades e participaccedilatildeo de maneira similar a incapacidade eacute um termo que inclui
deficiecircncias limitaccedilatildeo da actividade ou restriccedilatildeo na participaccedilatildeo A CIF tambeacutem relaciona os
factores ambientais que interagem com todos estes constructos Neste sentido a classificaccedilatildeo
permite ao utilizador registar perfis uacuteteis da funcionalidade incapacidade e sauacutede dos
indiviacuteduos em vaacuterios domiacutenios
A CIF pertence agrave ldquofamiacuteliardquo das classificaccedilotildees internacionais desenvolvida pela OMS para
aplicaccedilatildeo em vaacuterios aspectos da sauacutede A famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS
proporciona um sistema para a codificaccedilatildeo de uma ampla gama de informaccedilotildees sobre sauacutede
(eg diagnoacutestico funcionalidade e incapacidade motivos de contacto com os serviccedilos de
sauacutede) e utiliza uma linguagem comum padronizada que permite a comunicaccedilatildeo sobre sauacutede e
cuidados de sauacutede em todo o mundo entre vaacuterias disciplinas e ciecircncias
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 21
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Nas classificaccedilotildees internacionais da OMS os estados de sauacutede (doenccedilas perturbaccedilotildees
lesotildees etc) satildeo classificados principalmente na CID-10 (abreviatura da Classificaccedilatildeo
Internacional de Doenccedilas Deacutecima Revisatildeo) que fornece uma estrutura de base etioloacutegica A
funcionalidade e a incapacidade associadas aos estados de sauacutede satildeo classificadas na CIF
Portanto a CID-10 e a CIF satildeo complementares e os utilizadores satildeo estimulados a usar em
conjunto esses dois membros da famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS A CID-10
proporciona um ldquodiagnoacutesticordquo de doenccedilas perturbaccedilotildees ou outras condiccedilotildees de sauacutede que eacute
complementado pelas informaccedilotildees adicionais fornecidas pela CIF sobre funcionalidade Em
conjunto as informaccedilotildees sobre o diagnoacutestico e sobre a funcionalidade datildeo uma imagem mais
ampla e mais significativa da sauacutede das pessoas ou da populaccedilatildeo que pode ser utilizada em
tomadas de decisatildeo
A famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS constitui uma ferramenta valiosa para a
descriccedilatildeo e a comparaccedilatildeo da sauacutede das populaccedilotildees num contexto internacional As
informaccedilotildees sobre a mortalidade (facultadas pela CID-10) e sobre as consequecircncias na sauacutede
(proporcionadas pela CIF) podem ser combinadas de forma a obter medidas sinteacuteticas da
sauacutede das populaccedilotildees Isto permite seguir a sauacutede das populaccedilotildees e a sua distribuiccedilatildeo bem
como avaliar a parte atribuiacuteda agraves diferentes causas
A CIF transformou-se de uma classificaccedilatildeo de ldquoconsequecircncias da doenccedilardquo (versatildeo de 1980)
numa classificaccedilatildeo de ldquocomponentes da sauacutederdquo Os ldquocomponentes da sauacutederdquo identificam o que
constitui a sauacutede enquanto que as consequecircncias se referem ao impacto das doenccedilas na
condiccedilatildeo de sauacutede da pessoa Deste modo a CIF assume uma posiccedilatildeo neutra em relaccedilatildeo agrave
etiologia de modo que os investigadores podem desenvolver inferecircncias causais utilizando
meacutetodos cientiacuteficos adequados De maneira similar esta abordagem tambeacutem eacute diferente de
uma abordagem do tipo determinantes da sauacutede ou ldquofactores de risco Para facilitar o estudo
dos determinantes ou dos factores de risco a CIF inclui uma lista de factores ambientais que
descrevem o contexto em que o indiviacuteduo vive
A CIF descreve a funcionalidade e a incapacidade relacionadas com as condiccedilotildees de sauacutede
identificando o que uma pessoa ldquopode ou natildeo pode fazer na sua vida diaacuteriardquo tendo em vista as
funccedilotildees dos oacutergatildeos ou sistemas e estruturas do corpo assim como as limitaccedilotildees de
actividades e da participaccedilatildeo social no meio ambiente onde a pessoa vive Segundo a OMS a
CID-10 e a CIF satildeo complementares a informaccedilatildeo sobre o diagnoacutestico acrescido da
funcionalidade fornece um quadro mais amplo sobre a sauacutede do indiviacuteduo ou populaccedilotildees Por
exemplo duas pessoas com a mesma doenccedila podem ter diferentes niacuteveis de funcionalidade e
duas pessoas com o mesmo niacutevel de funcionalidade natildeo tecircm necessariamente a mesma
condiccedilatildeo de sauacutede
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 22
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
O termo do modelo da CIF eacute a funcionalidade que cobre os componentes de funccedilotildees e
estruturas do corpo actividade e participaccedilatildeo social A funcionalidade eacute usada no aspecto
positivo e o aspecto negativo corresponde agrave incapacidade Segundo esse modelo a
incapacidade eacute resultante da interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada pelo indiviacuteduo (seja
orgacircnica e ou da estrutura do corpo) a limitaccedilatildeo de suas actividades e a restriccedilatildeo na
participaccedilatildeo social e os factores ambientais que podem actuar como facilitadores ou barreiras
para o desempenho dessas actividades e da participaccedilatildeo
A CIF eacute baseada portanto numa abordagem biopsicossocial que incorpora os componentes
de sauacutede nos niacuteveis corporais e sociais Assim na avaliaccedilatildeo de uma pessoa com deficiecircncias
e incapacidades esse modelo destaca-se do biomeacutedico baseado no diagnoacutestico etioloacutegico da
disfunccedilatildeo evoluindo para um modelo que incorpora as trecircs dimensotildees a biomeacutedica a
psicoloacutegica (dimensatildeo individual) e a social Nesse modelo cada niacutevel age sobre e sofre a
acccedilatildeo dos demais sendo todos influenciados pelos factores ambientais A OMS pretende
incorporar tambeacutem no futuro os factores pessoais importantes na forma de lidar com as
condiccedilotildees limitantes
O objectivo pragmaacutetico da CIF eacute fornecer uma linguagem padronizada e um modelo para a
descriccedilatildeo da sauacutede e dos estados relacionados com a sauacutede permitindo a comparaccedilatildeo de
dados referentes a essas condiccedilotildees entre paiacuteses serviccedilos sectores relativos agrave sauacutede bem
como o acompanhamento da sua evoluccedilatildeo no tempo
No entanto os conceitos apresentados na classificaccedilatildeo introduzem um novo paradigma para
pensar e trabalhar as deficiecircncias e incapacidades elas natildeo satildeo apenas uma consequecircncia
das condiccedilotildees de sauacutede doenccedila mas satildeo determinadas tambeacutem pelo contexto do meio
ambiente fiacutesico e social pelas diferentes percepccedilotildees culturais e atitudes em relaccedilatildeo agrave
deficiecircncias pela disponibilidade de serviccedilos e de legislaccedilatildeo Dessa forma a classificaccedilatildeo natildeo
constitui apenas um instrumento para medir o estado funcional dos indiviacuteduos Aleacutem disso ela
permite avaliar as condiccedilotildees de vida e fornecer subsiacutedios para poliacuteticas de inclusatildeo social
42 FUNCcedilOtildeES DO CORPO
As Funccedilotildees do corpo satildeo as funccedilotildees fisioloacutegicas dos sistemas orgacircnicos (incluindo as
funccedilotildees psicoloacutegicas)
As funccedilotildees e as estruturas do corpo satildeo classificadas em duas secccedilotildees diferentes Essas duas
classificaccedilotildees estatildeo concebidas de forma a serem utilizadas em paralelo Por exemplo as
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 23
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
funccedilotildees do corpo incluem sentidos humanos baacutesicos como as funccedilotildees da visatildeo e as
estruturas relacionadas aparecem na forma de ldquoolho e estruturas relacionadasrdquo
43 ESTRUTURAS DO CORPO
As Estruturas do Corpo satildeo as partes anatoacutemicas do corpo tais como oacutergatildeos membros e
seus componentes
ldquoCorpo refere-se ao organismo humano como um todo por isso o ceacuterebro e as suas funccedilotildees
ie a mente estatildeo incluiacutedos As funccedilotildees mentais (ou psicoloacutegicas) satildeo portanto incluiacutedas nas
funccedilotildees do corpo As funccedilotildees e as estruturas do corpo satildeo classificadas de acordo com os
sistemas orgacircnicos por isso as estruturas do corpo natildeo satildeo consideradas como oacutergatildeos no
seu sentido restrito
44 DEFICIEcircNCIA
Deficiecircncias satildeo problemas nas funccedilotildees ou na estrutura do corpo tais como um desvio
importante ou uma perda
As deficiecircncias de estrutura podem consistir numa anormalidade defeito perda ou outro desvio
importante relativamente a um padratildeo das estruturas do corpo As deficiecircncias foram definidas
de acordo com os conhecimentos bioloacutegicos actuais ao niacutevel de tecidos ou das ceacutelulas e ao
niacutevel subcelular ou molecular Por motivos praacuteticos no entanto esses niacuteveis natildeo estatildeo
classificados As bases bioloacutegicas das deficiecircncias orientaram essa classificaccedilatildeo e eacute possiacutevel
expandir a classificaccedilatildeo para incluir os niacuteveis celular ou molecular Do ponto de vista meacutedico
deve-se ter em mente que as deficiecircncias natildeo satildeo equivalentes agraves patologias subjacentes mas
sim a manifestaccedilotildees dessas patologias
As deficiecircncias correspondem a um desvio relativamente ao que eacute geralmente aceite como
estado biomeacutedico normal (padratildeo) do corpo e das suas funccedilotildees A definiccedilatildeo dos seus
componentes eacute feita essencialmente por pessoas com competecircncia para avaliar a
funcionalidade fiacutesica e mental de acordo com esses padrotildees
As deficiecircncias podem ser temporaacuterias ou permanentes progressivas regressivas ou estaacuteveis
intermitentes ou contiacutenuas O desvio em relaccedilatildeo ao modelo baseado na populaccedilatildeo e
geralmente aceite como normal pode ser leve ou grave e pode variar ao longo do tempo Estas
caracteriacutesticas satildeo consideradas posteriormente em descriccedilotildees adicionais principalmente nos
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Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
coacutedigos atraveacutes de um qualificador que se acrescenta ao coacutedigo e do qual fica separado por
um ponto
As deficiecircncias natildeo tecircm uma relaccedilatildeo causal com a etiologia ou com a forma como se
desenvolveram Por exemplo a perda da visatildeo ou de um membro pode resultar de uma
anormalidade geneacutetica ou de uma lesatildeo A presenccedila de uma deficiecircncia implica
necessariamente uma causa No entanto a causa pode natildeo ser suficiente para explicar a
deficiecircncia resultante Da mesma forma quando haacute uma deficiecircncia haacute uma disfunccedilatildeo das
funccedilotildees ou estruturas do corpo mas isto pode estar relacionado com qualquer doenccedila
perturbaccedilatildeo ou estado fisioloacutegico
As deficiecircncias podem ser parte ou uma expressatildeo de uma condiccedilatildeo de sauacutede mas natildeo
indicam necessariamente a presenccedila de uma doenccedila ou que o indiviacuteduo deva ser
considerado doente
As deficiecircncias cobrem um campo mais vasto que as perturbaccedilotildees ou as doenccedilas Por
exemplo a perda de uma perna eacute uma deficiecircncia de uma estrutura do corpo mas natildeo eacute uma
perturbaccedilatildeo ou uma doenccedila
As deficiecircncias podem originar outras deficiecircncias Por exemplo a diminuiccedilatildeo da forccedila
muscular pode prejudicar as funccedilotildees do movimento as funccedilotildees cardiacuteacas podem estar
relacionadas com o deacutefice das funccedilotildees respiratoacuterias e uma percepccedilatildeo prejudicada pode estar
relacionada com as funccedilotildees do pensamento
Actualmente na perspectiva da CIF o conceito de deficiecircncia constitui o poacutelo negativo da
componente ldquoFunccedilotildees e Estrutura do Corpordquo sendo descrito atraveacutes da existecircncia de
alteraccedilotildees significativas das funccedilotildees eou das estruturas do corpo O poacutelo positivo desta
componente refere-se agrave integridade funcional e estrutural Neste contexto um dos desafios
criacuteticos das poliacuteticas sociais consiste na operacionalizaccedilatildeo do conceito de deficiecircncia de forma
a que a elegibilidade dos diferentes puacuteblicos alvo se encontre devidamente delimitada
assegurando a eficaacutecia das medidas subjacentes
No entanto a amplitude e abrangecircncia da definiccedilatildeo do conceito de deficiecircncia proposta pela
OMS atraveacutes da CIF coloca um enorme desafio na medida em que qualquer cidadatildeo desde
que apresente um desvio significativo ao niacutevel da estrutura eou funccedilatildeo passa a ser um
potencial beneficiaacuterio das poliacuteticas neste domiacutenio Neste contexto poder-se-atildeo colocar vaacuterias
questotildees A primeira eacute se interessa agraves diferentes poliacuteticas no sector continuarem a ser
desenvolvidas tendo por focus o conceito de pessoas com deficiecircncias sabendo que a sua
distinccedilatildeo ao longo da populaccedilatildeo apenas poderaacute ser feita atraveacutes do niacutevel e extensatildeo da
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Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
alteraccedilatildeo da integridade estrutural e funcional de cada individuo A segunda questatildeo prende-se
com as consequecircncias conceptuais decorrentes da integraccedilatildeo do modelo social na formulaccedilatildeo
e operacionalizaccedilatildeo dos conceitos a serem utilizados pelas poliacuteticas no sector na medida em
que o aspecto critico deixa de ser a natureza e severidade da deficiecircncia para passar a centrar-
se no niacutevel e tipo de restriccedilotildees de participaccedilatildeo que cada cidadatildeo experiencia na interacccedilatildeo
com os seus contextos de vida
No que concerne agrave primeira questatildeo e atendendo a que a mais recente definiccedilatildeo do conceito
de deficiecircncia proposto pela OMS apresenta um elevado niacutevel de abrangecircncia e um reduzido
potencial diferenciador poderemos equacionar 2 hipoacuteteses centrais de operacionalizaccedilatildeo
a) A primeira hipoacutetese baseia-se na possibilidade de operacionalizar diferentes definiccedilotildees
de deficiecircncia ao longo das diferentes poliacuteticas sociais no sentido de assegurar que as
diferentes medidas alcanccedilam efectivamente as pessoas para as quais foram
elaboradas Esta perspectiva tem a vantagem de uma maior focalizaccedilatildeo nas
caracteriacutesticas especificas do puacuteblico-alvo mas no entanto apresenta uma grande
desvantagem que consiste na elevada probabilidade das diferentes definiccedilotildees
perderem a coerecircncia entre si fragmentando igualmente o modelo teoacuterico a partir do
qual se deveriam basear
b) A segunda hipoacutetese consiste na articulaccedilatildeo operativa de dois conceitos o de
deficiecircncia e o de restriccedilotildees de participaccedilatildeo Nesta perspectiva a elegibilidade de uma
determinada politica social baseia-se na validaccedilatildeo preacutevia da existecircncia da primeira
condiccedilatildeo do puacuteblico-alvo ndash a existecircncia de uma deficiecircncia ndash determinando logo de
seguida o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo a partir do qual os diferentes cidadatildeos
passam a poder aceder agraves medidas especiacuteficas nela contidas O desafio contido nesta
hipoacutetese consiste na necessidade de desenvolvimento de um sistema de avaliaccedilatildeo que
permita avaliar o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo experimentado pelas pessoas com
deficiecircncias determinando atraveacutes do valor aferido quais seriam as pessoas com
acesso agraves medidas Neste cenaacuterio natildeo bastaria que uma pessoa tivesse uma
deficiecircncia pelo que seria necessaacuterio avaliar os efeitos da deficiecircncia em interacccedilatildeo
com o ambiente social ao niacutevel da participaccedilatildeo no sentido de determinar a
elegibilidade As vantagens desta hipoacutetese relacionam-se com (i) a preservaccedilatildeo do
niacutevel de coerecircncia dos conceitos utilizados ao longo das diferentes poliacuteticas sociais (ii)
a existecircncia de um processo comum de afericcedilatildeo e determinaccedilatildeo da elegibilidade ao
longo dos diferentes sectores de politica (iii) a compatibilidade e adequabilidade dos
princiacutepios teoacutericos do modelo social com a operacionalizaccedilatildeo dos sistemas e medidas
poliacuteticos de apoio agraves pessoas com deficiecircncias e (iv) a existecircncia de mecanismos de
avaliaccedilatildeo de elevada transparecircncia controlabilidade e rigor
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Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
45 INCAPACIDADE
Do ponto de vista de utilizaccedilatildeo dos conceitos de Deficiecircncia e de Incapacidade em Portugal
tecircm subsistido vaacuterias imprecisotildees terminoloacutegicas Primeiro na generalidade dos documentos
internacionais alude-se ao termo ldquopeople with disabilitiesrdquo sendo que invariavelmente esta
expressatildeo eacute traduzida para Portuguecircs como ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo Tal facto parece criar
condiccedilotildees para uma grande permeabilidade semacircntica dificilmente resoluacutevel do ponto de vista
conceptual Segundo deficiecircncia e incapacidade satildeo claramente dois conceitos distintos
Enquanto a deficiecircncia remete para alteraccedilotildees significativas ao niacutevel das estruturas eou das
funccedilotildees do corpo a incapacidade constitui o poacutelo negativo do funcionamento humano em
situaccedilatildeo potencial ou efectiva de participaccedilatildeo no contexto de vida Este facto pressupotildee que os
conceitos de deficiecircncia e de incapacidade natildeo contecircm nenhuma relaccedilatildeo causal entre si nem
nenhuma relaccedilatildeo linear de frequecircncia na medida em que eacute possiacutevel existir uma deficiecircncia
sem que exista uma incapacidade e eacute possiacutevel emergir uma determinada incapacidade sem
que haja uma qualquer deficiecircncia
Deste modo eacute possiacutevel
a) Ter deficiecircncias sem limitaccedilotildees de capacidade (eg uma desfiguraccedilatildeo resultante da
doenccedila de Hansen pode natildeo ter efeito sobre a capacidade da pessoa
b) Ter problemas de desempenho e limitaccedilotildees de capacidade sem deficiecircncias evidentes
(eg reduccedilatildeo de desempenho nas actividades diaacuterias associada a vaacuterias doenccedilas)
c) Ter problemas de desempenho sem deficiecircncias ou limitaccedilotildees de capacidade (eg um
indiviacuteduo HIV positivo ou um ex-doente curado de doenccedila mental que enfrenta
estigmas ou descriminaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais ou no trabalho)
d) Ter limitaccedilotildees de capacidade se natildeo tiver assistecircncia e nenhum problema de
desempenho no ambiente habitual (eg um indiviacuteduo com limitaccedilotildees de mobilidade
pode beneficiar por parte da sociedade de ajudas tecnoloacutegicas de assistecircncia para se
movimentar
e) Experimentar um grau de influecircncia em sentido contraacuterio (eg a inactividade dos
membros pode levar agrave atrofia muscular a institucionalizaccedilatildeo pode resultar numa perda
da socializaccedilatildeo)
Daqui resulta que ao referirmo-nos agraves pessoas com deficiecircncias enquanto puacuteblico-alvo
privilegiado das medidas de reabilitaccedilatildeo poderemos incorrer num desvio significativo de
alocaccedilatildeo dos recursos agraves reais necessidades das pessoas na medida em que natildeo eacute a
deficiecircncia que gera por si mesma a necessidade de reabilitaccedilatildeo mas sim as limitaccedilotildees de
actividade e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo decorrentes da interacccedilatildeo entre as caracteriacutesticas
biopsicossociais e as caracteriacutesticas dos ambientes em que o individuo se move
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
A persistecircncia em traduzir o termo disability para deficiecircncia e natildeo apenas o seu homoacutelogo
anglo-saxoacutenico ndash impairment ndash poderaacute explicar-se pelas seguintes razotildees
a) O potencial efeito estigmatizante da expressatildeo ldquopessoas com incapacidadesrdquo ser maior
do que aquele contido na expressatildeo ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo
b) O termo incapacidade centrar-se exclusivamente nos aspectos negativos do
funcionamento individual classificando a pessoa agrave partida como sendo destituiacuteda de
competecircncias e condiccedilotildees para atingir os niacuteveis normativos de desempenho e
performance num conjunto de domiacutenios da vida pessoal e social
O paradoxo surge igualmente porque enquanto no modelo meacutedico a incapacidade aparece
em termos causais relacionada com a deficiecircncia numa perspectiva exclusivamente individual
no modelo proposto pela OMS operacionalizado na CIF os dois conceitos gozam de total
independecircncia conceptual e operativa sendo que a deficiecircncia passa a ter uma baixa
relevacircncia diferenciadora do ponto de vista do funcionamento humano Ora se atendermos a
que as medidas de reabilitaccedilatildeo pretendem promover os potenciais do funcionamento humano
numa perspectiva de participaccedilatildeo plena do indiviacuteduo nos mais diferenciados contextos de vida
assegurando o co-desenvolvimento de todos os actores e das estruturas sociais necessaacuterias agrave
cidadania plena entatildeo falar de ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo natildeo soacute natildeo eacute relevante no quadro
da loacutegica de intervenccedilatildeo como poderaacute traduzir dificuldades dos actores em mudar
efectivamente do paradigma meacutedico para o paradigma social
Este fenoacutemeno aliaacutes natildeo acontece apenas em Portugal sendo que recentes estudos de
investigaccedilatildeo vieram sugerir a adopccedilatildeo dos conceitos de ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo e
ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo para ultrapassar a aplicaccedilatildeo indevida dos
conceitos de deficiecircncia e incapacidade A utilizaccedilatildeo destes conceitos parece articular de forma
mais precisa com o novo modelo conceptual proposto pela OMS enfatizando a diversidade de
niacuteveis de funcionamento humano e apelando a uma certa noccedilatildeo de relatividade socialmente
construiacuteda Uma das criticas feita pela comunidade de investigadores ao conceito de ldquopessoas
com diversidade funcionalrdquo reside no facto de que a expressatildeo eacute dotada de um tatildeo elevado
niacutevel de abrangecircncia que natildeo permite um niacutevel de diferenciaccedilatildeo relevante na medida em que
todos os cidadatildeos detecircm entre si diversos e diferentes padrotildees de funcionamento humano
Neste sentido o conceito ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo aplicar-se-ia a todos os
cidadatildeos sem excepccedilatildeo A proliferaccedilatildeo destes termos eacute explicada pela necessidade da
comunidade politica e cientifica de construir constructos que sejam socialmente aceites e o
mais neutros possiacuteveis do ponto de vista dos seus valores impliacutecitos No entanto a
impossibilidade epistemoloacutegica de desenvolver expressotildees e conceitos socio-historicamente
neutros parece levar muitas vezes agrave concepccedilatildeo de definiccedilotildees com reduzida identidade isto eacute
de significado demasiado amplo e abrangente o que na expressatildeo da UPIAS ldquopodem significar
tudo e coisiacutessima nenhumardquo (2005)
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Os conceitos ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo ldquopessoas com limitaccedilotildees de
actividaderdquo e ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo afiguram-se comparativamente ao
anterior como um conceito de maior coerecircncia conceptual com o modelo proposto pela OMS e
deteacutem cumulativamente um maior poder diferenciador A sua desvantagem reside no facto de
constituiacuterem expressotildees com maior dificuldade de apreensatildeo e inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 29
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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5 ANAacuteLISE DOS REFERENCIAIS NACIONAIS E INTERNACIONAIS
No sentido de obter um conjunto de vectores de referecircncia na estruturaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo do
conceito de deficiecircncia foram analisadas as abordagens desenvolvidas pelos seguintes
organismos INE Eurostat OCDE American Disabilities Act WHO UN
51 INE
Os dados disponiacuteveis no INE parecem indicar a utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na
ICIDH
Deficiecircncia1 Perda ou alteraccedilatildeo de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou
anatoacutemica Nesta definiccedilatildeo estatildeo incluiacutedas as seguintes tipologias2
Deficiecircncia AUDITIVA
Deficiecircncia MENTAL
Deficiecircncia MOTORA
Deficiecircncia ORGAcircNICO-FUNCIONAL
Deficiecircncia PSIQUIAacuteTRICA
Deficiecircncia VISUAL
Incapacidade3 Ausecircncia ou limitaccedilatildeo da capacidade para funcionar estando comprometida a
realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida
diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e originando uma desvantagem para funcionar em
sociedade face a outros
Pessoa deficiente Aquela que tenha uma ou mais das seguintes deficiecircncias a) deficiecircncia
visual b) deficiecircncia auditiva c) deficiecircncia mental d) deficiecircncia motora
1 Nota Na operaccedilatildeo censitaacuteria de 2001 apenas foi observada a deficiecircncia permanente a deficiecircncia temporaacuteria natildeo foi considerada (por exemplo se um indiviacuteduo se desloca com canadianas ou em cadeira de rodas porque partiu uma perna ou se sofre de descolamento parcial da retina que o obriga a andar com uma venda natildeo foi considerado como tendo uma deficiecircncia) 2 Fonte INE ndash Censos 2001 ndash Recenseamento Geral da Populaccedilatildeo (Antecedentes Metodologia e Conceitos) Antecedentes Metodologia e Conceitos 3 Fonte INS ndash Inqueacuterito Nacional agrave Sauacutede
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Trabalhador deficiente Trabalhador que estaacute incapacitado para assegurar por si mesmo total
ou parcialmente a satisfaccedilatildeo de necessidades de uma vida individual ou social normal devido
a uma deficiecircncia congeacutenita ou adquirida das suas capacidades fiacutesicas sensoriais ou
mentais tendo por isso dificuldade em obter eou manter o desempenho de funccedilotildees de acordo
com as suas habilitaccedilotildees idade e experiecircncia profissional
Cidadatildeo Trabalhador com necessidades especiais Cidadatildeo idoso ou portador de
deficiecircncias sensoriais (visuais e auditivas) fiacutesicas (motoras) e cognitivas
52 EUROSTAT
Os dados disponibilizados pelo Eurostat no seu endereccedilo electroacutenico4 parecem indicar a
utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na ICIDH
Conceito Deficiecircncia5
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de deficiecircncia refere-se a uma perda ou alteraccedilatildeo
de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou anatoacutemica
Conceito Incapacidade6
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de incapacidade refere-se agrave ausecircncia ou limitaccedilatildeo
da capacidade para funcionar estando comprometida a realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas
funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e
originando uma desvantagem para funcionar em sociedade face a outros
Conceito Desvantagem7
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito refere-se agrave desvantagem para um dado individuo
decorrente de uma deficiecircncia ou incapacidade
4 httpforumeuropaeuintircdsiscodedinfodatacodedenTheme3htm 5 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 6 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 7 Fonte Key data on health 2000 Eurostat
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
53 OCDE
Definiccedilotildees gerais de incapacidade
No contexto da OCDE identificam-se 2 abordagens distintas no quadro da definiccedilatildeo de
incapacidade
A incapacidade pode ser definida enquanto um estado decorrente de autoavaliaccedilatildeo ou um
status baseado em fontes administrativas eg beneficiaacuterio dos apoios De forma muito
frequente e talvez de forma imprecisa estas duas definiccedilotildees satildeo explicitadas como
incapacidade ldquosubjectivardquo versus rdquoobjectivardquo
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo e instrumentos
A incapacidade autoavaliada eacute medida atraveacutes de inqueacuteritos feitos directamente aos cidadatildeos
nas suas residecircncias Apesar da avaliaccedilatildeo ser baseada de uma forma geral nas respostas agraves
questotildees relativas a problemas de sauacutede de longo termo que limitam as actividades de vida
diaacuteria o detalhe das questotildees eacute geralmente diferente dificultando a comparabilidade dos
dados Por exemplo ldquolongo termordquo eacute parametrizado em 6 meses na Noruega e em 12 meses
na Suiccedila O status dos beneficiaacuterios pode ser avaliado atraveacutes de registos administrativos ou
atraveacutes de inqueacuteritos Os resultados entre as duas fontes satildeo de uma forma geral bastante
diferentes por duas razotildees nucleares os registos administrativos geralmente contam casos e
natildeo pessoas o que em situaccedilotildees de benefiacutecios muacuteltiplos pode levar a contagens duplas por
outro lado os inqueacuteritos satildeo baseados nas respostas sobre o status do beneficiaacuterio e algumas
pessoas podem desejar natildeo revelar a sua condiccedilatildeo perante os benefiacutecios
Nenhuma destas definiccedilotildees e medidas de mensuraccedilatildeo eacute superior a outras pelo que a sua
utilizaccedilatildeo depende dos objectivos do propoacutesito da investigaccedilatildeo e da disponibilidade da
informaccedilatildeo
Abordagens para medir a incapacidade no quadro da aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos agraves populaccedilotildees
a) Incapacidade geral (natildeo especificada)
Puacuteblico-alvo todos os adultos
b) Incapacidade relativa ao trabalho
Puacuteblico-alvo pessoas em idade activa
c) Limitaccedilotildees nas actividades de vida diaacuteria (AVD)
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Puacuteblico-alvo Populaccedilatildeo idosa
54 AMERICAN DISABILITIES ACT
O American Disabilities Act (ADA) desenvolvido em 1990 fornece um conjunto de guidelines
no sentido de assegurar a disponibilizaccedilatildeo de serviccedilos para as pessoas com deficiecircncias bem
como a protecccedilatildeo dos seus direitos legais
A ADA inclui uma definiccedilatildeo legal de incapacidade consistindo na presenccedila de ldquouma deficiecircncia
fiacutesica ou mental que limita significativamente uma ou mais das principais actividades de vidardquo
Independentemente da definiccedilatildeo proposta pela ADA a existecircncia de muacuteltiplos programas a
favor das pessoas com deficiecircncias e os diferentes focus legais em diferentes puacuteblicos alvo
fazem com que tenham emergido uma multiplicidade de definiccedilotildees de incapacidade ao longo
do tempo no quadro das poliacuteticas sociais americanas
55 OMS ONU Revisatildeo dos actuais inqueacuteritos sobre a incapacidade
Apesar de existir um desenvolvimento consideraacutevel dos inqueacuteritos na aacuterea da incapacidade
poder-se-atildeo explicitar algumas observaccedilotildees relativas agrave sua multiplicidade Numa primeira linha
de anaacutelise os inqueacuteritos tendem a focalizar-se nas limitaccedilotildees de actividade eou na deficiecircncia
No que concerne agrave formulaccedilatildeo escrita tendem a existir diferenccedilas significativas entre
inqueacuteritos facto que inviabiliza natildeo raras vezes a comparabilidade dos dados entre inqueacuteritos
As diferentes formulaccedilotildees das questotildees incluem
Tem dificuldade
Eacute capaz de
Faz
Tem sentido problemas em
com ou sem assistecircncia pessoal eou tecnoloacutegica
A questatildeo que se coloca eacute se estas formulaccedilotildees tecircm o mesmo significado isto eacute se todas elas
pretendem medir a capacidade ou a performance De acordo com a CIF a capacidade
remeteria para o potencial de execuccedilatildeo de um indiviacuteduo enquanto a performance diria respeito
ao niacutevel de desempenho efectivo do indiviacuteduo atraveacutes do seu envolvimento numa situaccedilatildeo de
vida real As lacunas existentes e as poucas referecircncias ao niacutevel da forma como os inquiridos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 33
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
satildeo instruiacutedos a responder faz com que natildeo seja possiacutevel desenvolver um discernimento
irrefutaacutevel sobre esta mateacuteria
Do ponto de vista dos domiacutenios abrangidos os inqueacuteritos tecircm apresentado algumas questotildees
sobre a participaccedilatildeo e o ambiente e evidenciam algumas limitaccedilotildees na sua amplitude Os
domiacutenios de actividades e participaccedilatildeo geralmente abrangidos tecircm sido operacionalizados de
uma forma geral nas seguintes dimensotildees
Educaccedilatildeo e emprego (formulado como questotildees de performance)
Outros inqueacuteritos incluem aacutereas como relaccedilotildees interpessoais vida familiar tomada de
decisotildees etc
O domiacutenio relativo aos factores ambientais tem incluiacutedo
Utilizaccedilatildeo e acessibilidadedisponibilidade dos produtos de assistecircncia e da tecnologia
Acessibilidade do ambiente
Disponibilidade dos serviccedilos (sauacutede protecccedilatildeo social educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo)
Evidecircncias muito escassas ao niacutevel da poliacutetica atitudes ambiente natural
planeamento e concepccedilatildeo
A questatildeo de investigaccedilatildeo neste contexto centra-se na seguinte formulaccedilatildeo ldquoo que eacute que os
inqueacuteritos medem como incapacidaderdquo
a) Definiccedilatildeo a priori da incapacidade versus sem incapacidade
Alguns inqueacuteritos sobre a incapacidade especialmente os mais antigos utilizam uma definiccedilatildeo
a priori de incapacidade O objectivo deste tipo de inqueacuteritos eacute contar o nuacutemero de pessoas
que se encaixam na definiccedilatildeo no contexto da populaccedilatildeo total Neste sentido os dados satildeo
analisados de acordo com dois grupos de referecircncia ndash com incapacidade e sem incapacidade ndash
em funccedilatildeo de um conjunto de diferentes variaacuteveis Este tipo de questionaacuterios formula questotildees
do tipo ldquoPossui algum tipo de incapacidade auditiva visual ou fiacutesicardquo Muitas questotildees dos
censos tecircm utilizado este formato
b) Definiccedilatildeo a posteriori de incapacidade versus sem incapacidade
Mais recentemente alguns inqueacuteritos desenvolveram-se em direcccedilatildeo a uma definiccedilatildeo a
posteriori de incapacidade Nestes casos eacute medida a capacidade a performance ao longo de
um conjunto vasto de domiacutenios Este segundo tipo de inqueacuteritos tende a ter uma ampla
aceitaccedilatildeo eg HALS (Canada) HID (Franccedila) inqueacuterito sobre incapacidade na Africa do Sul
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 34
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Inqueacuterito Espanhol sobre incapacidade NHIS-D (USA) inqueacuterito Holandecircs entre outros Estes
instrumentos formulam questotildees relativas agraves dificuldades que as pessoas experienciam em
diferentes domiacutenios produzindo um perfil pessoal que possa colocar em evidecircncia os
diferentes graus de capacidade associados A categorizaccedilatildeo de incapacidade sem
incapacidade eacute formulada ao niacutevel do domiacutenio e natildeo como uma categoria geral de atributo
pessoal Esta abordagem permite uma anaacutelise ao niacutevel de funcionamento individual por
domiacutenio por exemplo comparando a experiecircncia de incapacidade no domiacutenio de mobilidade
versus socializaccedilatildeo versus comunicaccedilatildeo entre outros bem como o impacto dos factores
ambientais nestes diferentes domiacutenios O perfil resultante do funcionamento individual ao longo
de muacuteltiplos domiacutenios eacute similar aos estados de sauacutede individuais ao longo das diferentes
dimensotildees
Vantagens de uma abordagem a posteriori
Estaacute em consonacircncia com a abordagem universal proposta pela CIF Todas as
pessoas experienciam deficiecircncia nalgum ponto e esta experiecircncia eacute caracterizada
numa abordagem a posteriori e natildeo a priori
Decisotildees sobre a criaccedilatildeo de categorias sobre quem tem incapacidade e sobre quem
natildeo tem podem ser tomadas atraveacutes de diferentes niacuteveis de anaacutelise por exemplo
atraveacutes da anaacutelise da experiecircncia das pessoas que experienciam incapacidade em 1 2
ou 3 domiacutenios de cruzar o status de emprego de pessoas com incapacidade ao longo
dos diferentes domiacutenios etc
Deixa de ser necessaacuteria uma definiccedilatildeo tipoloacutegica e categoacuterica de pessoas com
incapacidade O que necessita de ser definido neste contexto eacute o que se designa por
limitaccedilatildeo da capacidade ou problemas de performance ao longo dos diferentes
domiacutenios
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 35
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 36
Dezembro2006
6 SISTEMATIZACcedilAtildeO DAS DIMENSOtildeES DE ORGANIZACcedilAtildeO E
OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em todos os estudos efectuados neste domiacutenio foi colocada em evidecircncia a actual dificuldade
de comparabilidade estatiacutestica internacional inter ou intra sectorial independentemente do
organismo referenciador ndash OCDE ONU EUROSTAT INE OMS
Neste contexto desenvolver-se-aacute a extracccedilatildeo de conhecimento tendo por base a identificaccedilatildeo
de um conjunto de eixos de anaacutelise que actuem como vectores de estruturaccedilatildeo na
operacionalizaccedilatildeo do conceito A este propoacutesito atente-se no Quadro 2
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Abordagem Focus Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Delimitaccedilatildeo temporal do
conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo
Design das questotildees
CID-10
ICIDH
ICF
SauacutedeDoenccedila
Deficiecircncia
Incapacidade
a) Geral
b) Relativa ao trabalho
c) Limitaccedilotildees nas
actividades de vida
diaacuteria
Funcionalidade ndash
Niacuteveis de execuccedilatildeo
das actividades por
domiacutenio e niacuteveistipos
de ajudas mobilizadas
Intersubjectivo ndash
vg inqueacuteritos
Objectivo ndash vg
fontes administrativas
A priori
A posteriori
Temporaacuterias
permanentes
Progressivas
regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou
contiacutenuas
Tipo 1 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre uma determinada
condiccedilatildeo individual
combinada com itens
referentes a limitaccedilotildees de
actividade e participaccedilatildeo e
factores contextuais
Tipo 2 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre a presenccedila de uma
pessoa com incapacidade
no agregado familiar
seguindo-se uma lista de
deficiecircncias e
incapacidades
Tipo 3 ndash Checklist de
deficiecircncias
Quadro 2 ndash Eixos de operacionalizaccedilatildeo do conceito
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 37
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 38
Dezembro2006
7 ESCOLHA DO CENAacuteRIO A IMPLEMENTAR
A anaacutelise do Quadro 2 permite-nos uma definiccedilatildeo modular do cenaacuterio a implementar atraveacutes de
uma configuraccedilatildeo do conceito pelos eixos de anaacutelise propostos Uma das dificuldades
evidentes nesta delimitaccedilatildeo prende-se com o cumprimento dos requisitos de (a)
comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica e legislativa dentro do contexto portuguecircs
e (c) conformidade com os referenciais conceptuais actuais sendo que a coexistecircncia destes
criteacuterios afigura-se em muitos casos incompatiacutevel entre si Para efeitos da estruturaccedilatildeo do
cenaacuterio privilegiar-se-aacute a conformidade com os referenciais conceptuais actuais
71 ABORDAGEM No que concerne agrave abordagem privilegia-se a adopccedilatildeo das mais recentes directrizes propostas
pela OMS adoptando explicitamente a CIF
Fundamentaccedilatildeo
A CIF apresenta a capacidade para descrever o funcionamento humano numa
perspectiva biopsicossocial em detrimento da classificaccedilatildeo anterior (ICIDH) que se
focalizava na dimensatildeo biomeacutedica A CIF foi desenvolvida no plano conceptual para ser aplicaacutevel em diferentes aacutereas e
sectores A CIF eacute aplicaacutevel transversalmente agraves dimensotildees de cultura idade geacutenero sendo um
instrumento sistemaacutetico para descrever e medir a sauacutede e o funcionamento humano
num dado contexto A CIF constitui-se enquanto instrumento potencial para a poliacutetica social design das
intervenccedilotildees nos domiacutenios da sauacutede educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e intervenccedilatildeo social Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
72 FOCUS
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo da centraccedilatildeo da recolha de dados ao niacutevel
da dimensatildeo de funcionalidade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 39
Dezembro2006
Fundamentaccedilatildeo
Consonacircncia com o modelo conceptual proposto pela CIF enfatizando o caraacutecter
dinacircmico e interaccional (pessoa factores contextuais) do funcionamento de cada
pessoa Permite caracterizar as limitaccedilotildees de actividade e restriccedilotildees de participaccedilatildeo dos
cidadatildeos identificando necessidades de intervenccedilotildees especializadas numa loacutegica de
empowerment e participaccedilatildeo social Permite analisar a adequabilidade e ajustamento das actuais medidas poliacuteticas do
ponto de vista dos seus objectivos e os problemas detectados ao niacutevel da participaccedilatildeo
dos cidadatildeos ao longo de um conjunto diversificado de domiacutenios
73 MEacuteTODOS DE MENSURACcedilAtildeO
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo de meacutetodos intersubjectivos nomeadamente
inqueacuteritos
Fundamentaccedilatildeo
Flexibilidade ao niacutevel da abrangecircncia e profundidade das dimensotildees
Maior facilidade na implementaccedilatildeo atendendo agrave disponibilizaccedilatildeo de uma amostra
delimitada
Maior niacutevel de controlo sobre as condiccedilotildees de observaccedilatildeo e da entrevista devido ao
menor nuacutemero de entrevistas a ser implementado
74 DELIMITACcedilAtildeO CONCEPTUAL E TEMPORAL DO CONCEITO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo temporal e apesar de se privilegiar as vantagens anteriormente
explicitadas no desenvolvimento de uma definiccedilatildeo a posteriori assume-se a necessidade
politica de delimitar o campo de intervenccedilatildeo do conjunto de medidas sociais neste domiacutenio
pelo que a delimitaccedilatildeo conceptual poderaacute ser objecto de operacionalizaccedilatildeo atraveacutes dos
seguintes paracircmetros
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 40
Dezembro2006
Poder-se-aacute colocar a questatildeo de saber se a delimitaccedilatildeo do conceito proposta remete
especificamente para ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ou para ldquopessoas com limitaccedilotildees de
participaccedilatildeordquo Atendendo a que a definiccedilatildeo comporta uma abordagem sisteacutemica enfatizando a
interacccedilatildeo entre um conjunto diversificado de componentes que produzem impacto na
funcionalidade da pessoa a resposta natildeo eacute linear dependendo da ecircnfase socio-histoacuterica e da
abordagem sociopoliacutetica que se escolher enfatizar No entanto e do ponto de vista conceptual
privilegia-se a adopccedilatildeo do conceito ldquopessoas com limitaccedilotildees de participaccedilatildeordquo dado que existe
total autonomia operativa entre os diferentes constructos Neste sentido a deficiecircncia natildeo
constitui um factor causal linear das limitaccedilotildees de actividade e das restriccedilotildees ao niacutevel da
participaccedilatildeo mas antes uma das componentes que em interacccedilatildeo com outras podem
provocar impactos ao niacutevel da funcionalidade do indiviacuteduo Por uacuteltimo refira-se que a tipologia
ldquopessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeordquo poderaacute ser alvo de criticas por constituir
uma designaccedilatildeo que apela a duas componentes em simultacircneo (actividades e participaccedilatildeo)
excluindo outras e ser demasiado longa para uma definiccedilatildeo tipoloacutegica A este propoacutesito pode-
se sugerir a delimitaccedilatildeo ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo constituindo esta
expressatildeo uma abordagem holiacutestica ao conjunto de componentes que interferem com o
funcionamento humano Deste modo poderemos ter as seguintes designaccedilotildees
Pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Pessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo
Pessoas com limitaccedilotildees de funcionalidade
Figura 2 ndash Possiacuteveis designaccedilotildees
O Quadro 3 pretende fornecer uma visatildeo sistemaacutetica sobre o processo de decisatildeo da
designaccedilatildeo a adoptar
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
deficiecircncias
Tradiccedilatildeo analiacutetica dentro do
contexto portuguecircs
Em conformidade com o modelo
meacutedico ndash centra-se nas alteraccedilotildees
de estrutura e funccedilatildeo ndash
focalizaccedilatildeo na pessoa
Desarticulado dos pressupostos do
modelo social ndash natildeo remete para a
experiecircncia de incapacidade
enquanto produto da interacccedilatildeo
entre pessoa e ambiente
Mai
or
Abr
angecirc
ncia
Mai
or
Espe
cific
idad
e
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 41
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
incapacidades
Em conformidade com a
delimitaccedilatildeo anglo-saxoacutenica que
utiliza o conceito Disability
Focalizaccedilatildeo no poacutelo negativo do
funcionamento humano ndash
funcionalidadeincapacidade
Ao focalizar-se na experiecircncia de
incapacidade enquanto
interacccedilatildeo pessoa-ambiente
remete indirectamente para a
mobilizaccedilatildeo de apoios e recursos
de forma a ultrapassar eou
eliminar os obstaacuteculos ao
funcionamento em contexto
O potencial efeito estigmatizante
da expressatildeo ldquopessoas com
incapacidadesrdquo
Pessoas com
diversidade
Funcional
Em conformidade com o modelo
social
Focaliza-se na gestatildeo das
diferenccedilas e no seu impacto ao
niacutevel da participaccedilatildeo das pessoas
na sociedade
Elevado niacutevel de abrangecircncia natildeo
permitindo um niacutevel de
diferenciaccedilatildeo relevante na
medida em que todos os cidadatildeos
detecircm entre si diversos e
diferentes padrotildees de
funcionamento humano
Conceito dificilmente
operacionalizaacutevel do ponto de
vista da formulaccedilatildeo das poliacuteticas e
da delimitaccedilatildeo dos puacuteblicos-alvo
Pessoas com
restriccedilotildees ao
niacutevel da
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos Desta forma
todos os obstaacuteculos agrave participaccedilatildeo
relacionados com discriminaccedilatildeo
social preconceitos estereoacutetipos
deficiecircncias doenccedilas croacutenicas
entre outros satildeo incluiacutedos
Natildeo inclui as limitaccedilotildees de
actividade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 42
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
limitaccedilotildees de
actividade e
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida e simultaneamente no
domiacutenio das limitaccedilotildees de
actividade
Ruptura com a tradiccedilatildeo analiacutetica
no sector
Dificuldade de apreensatildeo e
inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Natildeo inclui as alteraccedilotildees da
estrutura e da funccedilatildeo
Pessoas com
limitaccedilotildees de
funcionalidade
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel das
diferentes dimensotildees constituintes
da funcionalidade e do
funcionamento humano
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos
Pessoas com
deficiecircncias e
incapacidades
Natildeo introduz ruptura com a
tradiccedilatildeo analiacutetica no sector
Inclui as alteraccedilotildees de estrutura e
funccedilatildeo bem como as alteraccedilotildees
decorrentes ao niacutevel da
funcionalidade
Diferencia os conceitos de
deficiecircncia e incapacidade
autonomizando-os e fornecendo
uma base compreensiva para o
natildeo estabelecimento de relaccedilotildees
de causa-efeito entre os ambos
Abrange os obstaacuteculos que
emergem na interacccedilatildeo pessoa-
contextos de vida e
simultaneamente no domiacutenio das
limitaccedilotildees de actividade
Poder diferenciador e delimitador
na definiccedilatildeo do puacuteblico-alvo
Em alinhamento estrateacutegico com o
PAIPDI
Designaccedilatildeo de compromisso com
os referenciais teoacutericos do modelo
social e dos princiacutepios da ldquoeacutetica da
diversidaderdquo
Quadro 3 ndash Visatildeo comparativa das hipoacuteteses da designaccedilatildeo a adoptar
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 43
Dezembro2006
75 DELIMITACcedilAtildeO DA DURACcedilAtildeO E CURSO DE EVOLUCcedilAtildeO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo interessa a caracterizaccedilatildeo nas
3 dimensotildees desenvolvidas
Fundamentaccedilatildeo
Afigura-se relevante caracterizar a ocorrecircncia das deficiecircncias quanto aacute sua
consistecircncia no tempo ndash temporaacuterias permanentes ndash analisando os factores
contextuais associados consequecircncias ao niacutevel das actividades e da participaccedilatildeo ao
longo de um conjunto de domiacutenios em ordem agrave extracccedilatildeo de implicaccedilotildees no acircmbito
das poliacuteticas sociais
No acircmbito da adaptabilidade e da adequaccedilatildeo das medidas poliacuteticas agraves necessidades
especiacuteficas dos cidadatildeos torna-se relevante caracterizar a deficiecircncia quanto agrave
natureza do seu curso evolutivo ndash progressivas regressivas estaacuteveis O mesmo
criteacuterio eacute aplicaacutevel quanto aacute dimensatildeo de padratildeo de manifestaccedilatildeo ndash intermitente
contiacutenua
No entanto e apesar da incapacidade se manifestar ao longo do ciclo de vida da pessoa
de forma multimodal para efeitos de delimitaccedilatildeo e de definiccedilatildeo do conceito de pessoas
com deficiecircncias e incapacidades privilegiaremos o caraacutecter permanente Desta forma
excluem-se as manifestaccedilotildees temporaacuterias de incapacidade que enviesariam a anaacutelise e o
desenvolvimento de poliacuteticas neste domiacutenio
76 DESIGN DAS QUESTOtildeES
No que concerne ao design das questotildees privilegia-se a escolha de questotildees tipo 1
Fundamentaccedilatildeo
Em consonacircncia com a CIF
Permite comparabilidade estatiacutestica futura
Permite a caracterizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre os factores de funcionalidade ndash integridade
estrutural e funcional actividades participaccedilatildeo e factores contextuais
Permite o design das poliacuteticas sociais e metodologias de intervenccedilatildeo alicerccediladas nas
necessidades especiacuteficas dos cidadatildeos em torno das dimensotildees de inclusatildeo social
Domiacutenios
Visatildeo
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 44
Dezembro2006
Audiccedilatildeo
Comunicaccedilatildeo
Mobilidade
Dor
Aprendizagem e funcionamento psicoloacutegico
Autocuidados e vida domeacutestica
Condiccedilotildees gerais de sauacutede
Mobilizaccedilatildeo de ajudas ou equipamento especializado
Participaccedilatildeo social
Transporte e educaccedilatildeo
77 PROPOSTA DE DELIMITACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em funccedilatildeo das dimensotildees caracterizadas e dos criteacuterios privilegiados desenvolveu-se o
seguinte enquadramento conceptual
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 45
Dezembro2006
Figura 2 ndash Enquadramento conceptual da delimitaccedilatildeo do conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso da evoluccedilatildeo
Temporaacuterias permanentes
Progressivas regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou contiacutenuas
Focus
Funcionalidade ndash Niacuteveis de execuccedilatildeo das actividades por domiacutenio e niacuteveistipos de ajudas mobilizadas
Abordagem CIF
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo temporal do conceito
A priori
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Inter-subjectivo
Design das questotildees
Questatildeo geneacuterica sobre uma determinada condiccedilatildeo individual combinada com itens referentes a limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo e factores contextuais
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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8 CRITEacuteRIOS DE ELEGIBILIDADE DO PUacuteBLICO-ALVO E SISTEMAS DE
AVALIACcedilAtildeO
A operacionalizaccedilatildeo do conceito de incapacidade tem sido abordada de forma heterogeacutenea
entre diferentes modalidades de politica e os diferentes contextos socioculturais de cada paiacutes
De uma forma geral encontram-se 2 eixos criacuteticos na sua operacionalizaccedilatildeo
a) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de trabalho (na ocupaccedilatildeo preacutevia ou numa nova
ocupaccedilatildeo ajustada agraves alteraccedilotildees funcionais)
b) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de obter rendimentos provenientes do trabalho
A explicitaccedilatildeo dos criteacuterios de delimitaccedilatildeo do conceito de incapacidade nos diferentes paiacuteses
encontra-se na Quadro 4
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Austraacutelia 2 Criteacuterios possuir uma incapacidade que resulte
num score nunca inferior a 20 nas tabelas de
incapacidades e incapacidade em trabalhar 30
horas ou mais por semana ou em ser
reconvertido para trabalho em contexto regular
nos proacuteximos 2 anos
Nenhum
Aacuteustria 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho (50
de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo para
trabalhadores sem qualificaccedilotildees) papel criacutetico
das decisotildees dos tribunais devido a definiccedilotildees
legais imprecisas
Nenhum mas as
restriccedilotildees de sauacutede
devem ter uma duraccedilatildeo
igual ou superior a 6
meses
Beacutelgica 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na actual ocupaccedilatildeo
1 ano
Canada Incapacidade severa e prolongada que impeccedila de
desenvolver trabalho numa base regular
Nenhum
Dinamarca 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum mas a
reabilitaccedilatildeo precisa de
estar completa
Franccedila 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual mas a
totalidade do subsidio requer igualmente perda de
capacidade de trabalho
Nenhum no caso das
condiccedilotildees estarem
estaacuteveis mas muito
frequentemente apoacutes 3
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 47
Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
anos
Alemanha 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho a
incapacidade parcial eacute calculada em funccedilatildeo do nordm
de horas que a pessoa pode trabalhar
Nenhum mas a
incapacidade deve ter
uma duraccedilatildeo miacutenima
de 26 semanas
Itaacutelia 666reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum
Coreia Criteacuterios meacutedicos (niacuteveis de incapacidade
definidos de forma detalhada)
Periacuteodo de espera de
50 dias (os subsiacutedios
de doenccedila natildeo se
encontram disponiacuteveis)
Meacutexico 50 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo Nenhum
Holanda 15 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
(25 para os trabalhadores por conta proacutepria e
jovens com incapacidade) grau de incapacidade
calculado pela diferenccedila de remuneraccedilatildeo entre o
actual posto de trabalho compatiacutevel com as
limitaccedilotildees funcionais e o anterior
1 ano
Noruega 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho O
grau de subsiacutedio eacute calculado pela capacidade de
remuneraccedilatildeo
Nenhum (apoacutes ter
completado a
reabilitaccedilatildeo vocacional)
Poloacutenia Reduccedilatildeo temporaacuteria ou permanente da
capacidade de trabalho
Nenhum
Portugal 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual
Nenhum mas na
praacutetica ao fim de 3
anos (fim do periacuteodo de
doenccedila de longo termo)
Espanha 33 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho na
ocupaccedilatildeo actual incapacidade para todo e
qualquer trabalho para a totalidade do subsiacutedio
1 ano (embora seja
possiacutevel a candidatura
antes deste prazo em
casos de incapacidade
permanente)
Sueacutecia 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho grau
de incapacidade parcial calculado a partir das
horas que uma pessoa pode trabalhar
Nenhum
Suiccedila 40 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho para
as pessoas inactivas o grau de incapacidade eacute
calculado em relaccedilatildeo aacute actividade actual
1 ano
Turquia 666 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho
com um focus meacutedico bastante significativo
Nenhum
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 48
Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Reino Unido Limitaccedilotildees nas actividades de vida quotidianas
relevantes para o trabalho (avaliaccedilotildees meacutedicas
predominantes) teste ocupacional durante a s
primeiras 28 semanas (subsidio de doenccedila)
28 semanas
Estados
Unidos
Reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
incapacidade em investir numa actividade
profissional com rendimentos ($ US 740 por mecircs)
5 meses (nem sempre
cobertos pelos
subsiacutedios de curto-
termo) e 24 meses
para a cobertura
meacutedica
Quadro 4 ndash Definiccedilotildees de incapacidade e tempos regulamentares
Um dos desafios que se coloca aos actuais sistemas reside na delimitaccedilatildeo da elegibilidade do
puacuteblico-alvo Para cumprir este objectivo satildeo necessaacuterios sistemas de avaliaccedilatildeo holiacutesticos
abrangentes coerentes e que permitam chegar a resultados de forma consistente e com
validade interna No actual contexto a CIF propotildee constituir-se como o instrumento conceptual
abrangente para caracterizar os diferentes domiacutenios e niacuteveis de funcionalidade incapacidade
de forma coerente e integrada Neste sentido uma das vantagens apontadas para a adopccedilatildeo
do modelo desenvolvido pela OMS eacute a possibilidade de uniformizaccedilatildeo de conceitos e portanto
da utilizaccedilatildeo de uma linguagem padratildeo que permita a comunicaccedilatildeo entre investigadores
gestores profissionais de sauacutede organizaccedilotildees da sociedade civil e utilizadores em geral
Um dos campos de estudo mais explorados para a aplicaccedilatildeo da CIF tem sido a aacuterea de
Medicina Fiacutesica e de Reabilitaccedilatildeo no que concerne ao acompanhamento do estado de sauacutede
dos pacientes em tratamento O uso da CIF tem sido considerado tambeacutem na avaliaccedilatildeo apoacutes
transtornos agudos condiccedilotildees traumaacuteticas condiccedilotildees croacutenicas e na geriatria
Alguns autores argumentam que a CIF deve ser explorada como uma base de informaccedilotildees
padronizadas em estudos sobre incapacidade profissional quando haacute necessidade de
relacionar dados de sauacutede ocupacional com os da Seguranccedila Social
Na Sauacutede Puacuteblica tradicionalmente pouca atenccedilatildeo tem sido dada agraves pessoas com
incapacidades No entanto ao lado de recentes investimentos por parte de organizaccedilotildees e de
alguns governos a publicaccedilatildeo do modelo da CIF fornece as bases para as poliacuteticas e
disciplinas da Sauacutede Puacuteblica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo que apresenta deficiecircncias e
incapacidades Assim uma das possibilidades de uso da CIF pode ser a contribuiccedilatildeo para
responder a importantes questotildees de sauacutede puacuteblica tais como qual o estado de sauacutede das
pessoas com deficiecircncias comparadas com as demais que necessidades e que tipos de
intervenccedilotildees satildeo mais adequadas para reduzir condiccedilotildees secundaacuterias e promover a
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na sociedade entre outras
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 49
Dezembro2006
Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 50
Dezembro2006
Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 51
Dezembro2006
Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
Dezembro2006
Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 53
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A combinaccedilatildeo da existecircncia de uma condiccedilatildeo de sauacutede bem abaixo de um padratildeo abstracto de
normalidade e a persistecircncia dessa condiccedilatildeo no tempo permite ao modelo meacutedico diferenciar
doenccedila de deficiecircncia Muitas das doenccedilas satildeo entendidas como situaccedilotildees temporaacuterias
Assim embora tenham uma condiccedilatildeo de sauacutede inferior agrave determinada por algum criteacuterio de
normalidade as pessoas doentes podem natildeo ser consideradas pessoas com deficiecircncias
dentro do modelo meacutedico porque a sua reduccedilatildeo de capacidades eacute apenas temporaacuteria e natildeo
permite definir um estado consistente ao longo do tempo O caminho inverso tambeacutem eacute trilhado
para separar deficiecircncia de doenccedila poreacutem com um argumento um pouco mais sofisticado
(Diniz 1996) Se a deficiecircncia eacute uma situaccedilatildeo irreversiacutevel eacute perfeitamente possiacutevel redefinir o
conceito de normalidade de modo a ajustaacute-lo agrave condiccedilatildeo permanente das pessoas A cegueira
por exemplo passa a ser a condiccedilatildeo normal de uma pessoa cega e portanto natildeo faz sentido
classificaacute-la como doente Neste esquema uma pessoa que natildeo pode ver porque estaacute com
uma inflamaccedilatildeo ocular grave eacute uma pessoa doente e uma pessoa permanentemente cega eacute
uma pessoa deficiente Como o reconhecimento da ldquosociedade deficienterdquo eacute tatildeo ou mais
importante para o debate sobre poliacuteticas puacuteblicas e deficiecircncia do que a identificaccedilatildeo da
ldquopessoa deficienterdquo as preocupaccedilotildees com a identidade do modelo social satildeo bem distintas
daquelas do modelo meacutedico Abberley (1987) por exemplo natildeo insiste na distinccedilatildeo entre
deficiecircncia e doenccedila e praticamente ignora a regra de persistecircncia da lesatildeo no tempo para
identificar as pessoas com deficiecircncias criteacuterio tatildeo caro aos legisladores de poliacuteticas sociais
nos anos 1980 que o utilizaram sistematicamente em contagens de populaccedilatildeo de vaacuterios
paiacuteses do mundo A loacutegica do modelo social natildeo reconhece esta distinccedilatildeo principalmente
porque entende que os ajustes requeridos da sociedade para que ela contemple a diversidade
da deficiecircncia satildeo independentes de quanto tempo uma condiccedilatildeo corporal se iraacute manter Afinal
se uma pessoa que usa cadeira de rodas enquanto recupera de fracturas nas pernas
necessita dos mesmos ajustes no sistema de transporte que uma pessoa permanentemente
incapacitada de caminhar porquecirc separaacute-las em grupos diferentes Ao natildeo reconhecer que os
doentes tambeacutem experimentam a deficiecircncia o modelo meacutedico exclui da atenccedilatildeo das poliacuteticas
puacuteblicas uma grande parcela da populaccedilatildeo que necessita delas problema que pode afectar
uma parte razoaacutevel da populaccedilatildeo idosa Natildeo usar da mesma maneira a distinccedilatildeo entre doenccedila
e deficiecircncia eacute um recurso do modelo social para evitar este tipo de exclusatildeo A consequecircncia
oacutebvia da definiccedilatildeo do modelo social eacute de que a pesquisa e as poliacuteticas puacuteblicas direccionadas agrave
deficiecircncia natildeo poderiam concentrar-se apenas nos aspectos corporais dos indiviacuteduos para
identificar a deficiecircncia Aleacutem disso ao separar a deficiecircncia da lesatildeo o modelo social abre
espaccedilo para mostrar que a despeito da diversidade das lesotildees haacute um factor que une as
diferentes comunidades de pessoas com deficiecircncias em torno de um projecto poliacutetico uacutenico a
experiecircncia da exclusatildeo Segundo Oliver ldquoTodos os deficientes experimentam a deficiecircncia
como uma restriccedilatildeo social natildeo importando se estas restriccedilotildees ocorrem em consequecircncia de
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 9
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
ambientes inacessiacuteveis de noccedilotildees questionaacuteveis de inteligecircncia e competecircncia social se da
inabilidade da populaccedilatildeo em geral de utilizar a linguagem de sinais se pela falta de material
em Braille ou se pelas atitudes puacuteblicas hostis das pessoas que natildeo tecircm lesotildees visiacuteveisrdquo
(1990xiv)
Em meados da deacutecada de 1990 os movimentos feministas lanccedilaram um argumento com
profundas implicaccedilotildees para as poliacuteticas puacuteblicas a experiecircncia da deficiecircncia no acircmbito
familiar apresenta implicaccedilotildees ao niacutevel do geacutenero Ao mostrar que a deficiecircncia eacute
acompanhada de reorganizaccedilotildees familiares voltadas para o cuidado da pessoa com
deficiecircncia os movimentos feministas colocaram em evidecircncia que natildeo satildeo apenas as
pessoas com algum tipo de restriccedilatildeo corporal que necessitam da atenccedilatildeo das poliacuteticas
puacuteblicas Atendendo a que as cuidadoras satildeo predominantemente mulheres devido agrave divisatildeo
sexual do trabalho a deficiecircncia quando entendida como um fenoacutemeno com implicaccedilotildees
familiares possui um enviesamento de geacutenero Satildeo as mulheres por exemplo que se afastam
do mercado de trabalho para cuidar das pessoas com deficiecircncias de crianccedilas pequenas ou
idosos Nos casos dos homens idosos este recorte inclui uma sobreposiccedilatildeo de geacutenero agrave idade
pois dado o padratildeo tiacutepico de arranjo familiar satildeo mulheres idosas que cuidam desses homens
Este afastamento tem uma seacuterie de implicaccedilotildees para as mulheres como a ausecircncia de
serviccedilos de suporte e de apoio para as mulheres em idade economicamente activa e tal facto
natildeo pode passar esquecido pelas poliacuteticas puacuteblicas (Barton amp Oliver 1997)
No final da deacutecada de 1990 alguns argumentos do modelo social da deficiecircncia foram objecto
de revisatildeo O lema ldquoOs limites satildeo sociais natildeo do indiviacuteduordquo usado como bandeira para
reivindicar condiccedilotildees para que as pessoas com deficiecircncias fossem independentes passa a ser
relativizado Uma longa tradiccedilatildeo da filosofia feminista critica o valor da independecircncia absoluta
mostrando que a interdependecircncia por meio do cuidado com os dependentes eacute um elemento
constituinte da vida em sociedade e em muitos casos de deficiecircncia natildeo pode ser evitada As
poliacuteticas puacuteblicas portanto natildeo devem procurar apenas promover a independecircncia das
pessoas com deficiecircncias mas criar condiccedilotildees favoraacuteveis para que o cuidar seja exercido
13 DESAFIOS EMERGENTES NO PLANO CONCEPTUAL COM IMPLICACcedilOtildeES NO DOMIacuteNIO DAS
INTERVENCcedilOtildeES
Historicamente as diferentes perspectivas de intervenccedilatildeo no campo da reabilitaccedilatildeo tecircm-se
centrado predominantemente nos pressupostos conceptuais do modelo meacutedico sendo que
mais recentemente tem-se vindo a assistir a uma focalizaccedilatildeo progressiva nos pressupostos
conceptuais do modelo social
Neste contexto histoacuterico as interpretaccedilotildees sociais da deficiecircncia encontram-se em processo de
transiccedilatildeo Este aspecto aparece claramente reflectido nos documentos oficiais em relaccedilatildeo agraves
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 10
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
definiccedilotildees de deficiecircncia e de reabilitaccedilatildeo Apesar dos factores econoacutemicos e demograacuteficos se
afigurarem de uma importacircncia crescente parece evidente que o motor que subjaz a este
fenoacutemeno se alicerccedila na politizaccedilatildeo sem precedentes da deficiecircncia liderada pela sociedade
civil bem como a exigecircncia crescente de igualdade de oportunidades para as pessoas com
deficiecircncias A evoluccedilatildeo conceptual da interpretaccedilatildeo sociopoliacutetica do conceito tem produzido
avanccedilos ao niacutevel das praacuteticas e das intervenccedilotildees ainda que com diferentes ritmos de
aplicaccedilatildeo e com necessidades evidentes de um maior niacutevel de sistematizaccedilatildeo e estruturaccedilatildeo
na globalidade do sector
Consequentemente alguns dos elementos das praacuteticas de reabilitaccedilatildeo mantecircm-se focalizados
em abordagens centradas no indiviacuteduo Apesar da relevacircncia das intervenccedilotildees e das
terapecircuticas meacutedicas ainda que absolutamente necessaacuterias nos paiacuteses mais pobres estas
apenas produzem um impacte parcial no contexto de um ambiente cultural organizado
privilegiadamente para um modo de vida onde natildeo existem pessoas com deficiecircncias Deste
modo o domiacutenio de sauacutede puacuteblica bem como os problemas experimentados pelas pessoas
com deficiecircncias constituem-se como assuntos de natureza poliacutetica que apenas poderatildeo ser
equacionados na sua resoluccedilatildeo atraveacutes de uma profunda mudanccedila estrutural e cultural
envolvendo a redistribuiccedilatildeo sistemaacutetica de recursos e o desenvolvimento de uma cultura que
valoriza a diversidade humana
Neste cenaacuterio afigura-se relevante equacionar um conjunto de desafios fundamentais para
enquadrar a iniciativa poliacutetica na implementaccedilatildeo dos princiacutepios do modelo social
Coerecircncia dos conceitos utilizados
Parece subsistir uma elevada diversidade de conceitos associados ao domiacutenio da deficiecircncia
na organizaccedilatildeo social A tiacutetulo de exemplo pode-se citar a nomenclatura de ldquodeficientesrdquo ou
ldquopessoas portadoras de deficiecircnciardquo no acesso prioritaacuterio a determinados tipos de serviccedilos
puacuteblicos ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ao niacutevel de programas de intervenccedilatildeo social e
designaccedilotildees ao niacutevel dos instrumentos de poliacutetica que remetem para concepccedilotildees radicalmente
diferentes entre si tal como eacute o caso da ldquopensatildeo de invalidezrdquo ou da ldquotabela nacional de
incapacidadesrdquo Esta pluralidade de conceitos sem qualquer coerecircncia conceptual entre si
parece espelhar o resultado de diferentes velocidades de evoluccedilatildeo em diferentes domiacutenios da
poliacutetica social ocorrida em diferentes momentos socio-histoacutericos Aliaacutes tal facto emerge de
forma mais ou menos incisiva na maioria dos paiacuteses europeus A investigaccedilatildeo neste sector tem
permitido colocar em evidecircncia que diferentes definiccedilotildees de deficiecircncia satildeo relevantes para
diferentes poliacuteticas e que as tentativas de usar a mesma definiccedilatildeo ao longo de uma vasta
diversidade de poliacuteticas pode resultar na utilizaccedilatildeo de definiccedilotildees de reduzido poder
diferenciador o que significa que as poliacuteticas podem correr o risco de natildeo chegar ao seu
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 11
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
puacuteblico-alvo A necessidade de usar uma pluralidade de definiccedilotildees de forma a assegurar a
relevacircncia da definiccedilatildeo para o seu domiacutenio de aplicabilidade levanta um problema de
coerecircncia no quadro poliacutetico relativo agraves pessoas com deficiecircncias Neste cenaacuterio as pessoas
podem ser consideradas como tendo deficiecircncias no quadro de uma determinada poliacutetica e
como natildeo tendo no quadro de uma poliacutetica diferente sendo que por vezes se encontram
lacunas no fornecimento de serviccedilos como resultado imediato desta opccedilatildeo De uma forma
geral os diferentes Estados resolvem estes problemas requerendo agraves instituiccedilotildees das poliacuteticas
sociais a coordenaccedilatildeo das actividades em detrimento do estabelecimento de definiccedilotildees
uacutenicas
Diferentes abordagens entre diferentes aacutereas de poliacutetica social
A evoluccedilatildeo histoacuterica e a apropriaccedilatildeo de diferentes conceitos por parte de diferentes sectores
da poliacutetica social encerram o risco de serem adoptados modelos operativos e intervenccedilotildees com
caracteriacutesticas significativamente diferentes Neste sentido podem-se observar sectores que
privilegiam o mainstreaming e o desenvolvimento das intervenccedilotildees baseadas na comunidade
e noutros sectores verificarem-se intervenccedilotildees mais centradas no indiviacuteduo mobilizando
criteacuterios quase exclusivamente meacutedicos Esta diferenccedila de abordagens pode potencialmente
acarretar desarticulaccedilotildees e incoerecircncias ao niacutevel dos princiacutepios gerais da poliacutetica social
reflectindo-se numa resposta fragmentada e parcelar agraves necessidades das pessoas Neste
contexto afigura-se relevante a definiccedilatildeo clara sistemaacutetica e estruturada dos princiacutepios
transversais subjacentes agrave globalidade das poliacuteticas para num segundo momento se proceder
agrave definiccedilatildeo dos seus elementos especiacuteficos
Classificaccedilatildeo da deficiecircncia e metodologias de avaliaccedilatildeo
Enquanto que no quadro do modelo meacutedico importava associar as diferentes deficiecircncias a
diferentes niacuteveis de incapacidade mobilizando criteacuterios de natureza exclusivamente meacutedica a
progressiva implementaccedilatildeo do modelo social na maior parte dos paiacuteses da Europa tem
colocado desafios sobre qual a categorizaccedilatildeo que melhor reflecte as dificuldades de
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades ao niacutevel dos seus ambientes de
vida A OMS perante esta encruzilhada de classificaccedilotildees propocircs a Classificaccedilatildeo Internacional
de Funcionalidade Incapacidade e Sauacutede (CIF) como modelo operativo de caracterizaccedilatildeo da
funcionalidade do indiviacuteduo colocando em evidecircncia para efeitos de elegibilidade dos
programas as limitaccedilotildees de actividade e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo das pessoas Ou seja
enquanto nalguns modelos se continuam a avaliar as deficiecircncias do indiviacuteduo a CIF vem
enfatizar em coerecircncia com o modelo social que o mais relevante natildeo eacute avaliar as alteraccedilotildees
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 12
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
ao niacutevel das estruturas ou das funccedilotildees dos indiviacuteduos ndash ainda que natildeo as negligencie ndash mas
sim as limitaccedilotildees de actividades e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo que o sujeito experiencia no
decorrer da desadequaccedilatildeo entre as suas diferenccedilas e as caracteriacutesticas dos ambientes sociais
em que se move Atente-se que esta opccedilatildeo conceptual natildeo eacute neutra do ponto de vista
pragmaacutetico dado que os objectivos das intervenccedilotildees passam a ser a remoccedilatildeo das barreiras e
dos obstaacuteculos que ocorrem no quadro da relaccedilatildeo do sujeito com os seus contextos de vida
em detrimento de intervenccedilotildees polarizadas exclusivamente na dimensatildeo individual ou
exclusivamente na dimensatildeo social
No desenvolvimento das poliacuteticas sociais a investigaccedilatildeo tem permitido colocar em evidecircncia a
necessidade de identificar definir e sistematizar os princiacutepios norteadores que tenderatildeo a ser
transversais a todos os sectores de poliacutetica social sendo que apenas deste modo se poderaacute
assegurar a coerecircncia entre as diferentes poliacuteticas dos diferentes sectores Neste sentido
torna-se relevante um processo de clarificaccedilatildeo sobre qual o modelo conceptual em que a
estrateacutegia poliacutetica se baseou de forma a que o conjunto de objectivos estrateacutegias processos
de intervenccedilatildeo definiccedilatildeo de resultados alocaccedilatildeo de recursos e indicadores de avaliaccedilatildeo
estejam devidamente articulados e em consonacircncia com os princiacutepios adoptados
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 13
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
2 CONCEITOS E TERMINOLOGIA
A anaacutelise conceptual no domiacutenio da deficiecircncia permite colocar em evidecircncia a existecircncia de
um conjunto de imprecisotildees ao niacutevel dos conceitos com variaccedilotildees relacionadas com o modelo
meacutedico e com o modelo social Neste contexto afigura-se criacutetico clarificar os contornos teoacutericos
e os modelos conceptuais subjacentes aos diferentes conceitos utilizados estabelecendo uma
base teoacuterica de referecircncia que assegure o necessaacuterio grau de coerecircncia e simultaneamente
abrangecircncia
21 EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA DOS SISTEMAS DE CLASSIFICACcedilAtildeO
Para uma clara delimitaccedilatildeo dos modelos teoacutericos que tecircm influenciado historicamente o
desenvolvimento dos conceitos no domiacutenio da deficiecircncia poderemos identificar 2 abordagens
conceptuais distintas
211 A ABORDAGEM TRADICIONAL INDIVIDUALISTA
A preocupaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede em estabelecer uma classificaccedilatildeo das doenccedilas
remonta ao seacuteculo XVIII Mas somente na VI Revisatildeo da Classificaccedilatildeo Internacional de
Doenccedilas (CID-6) em 1948 citada na IX Revisatildeo foram feitas referecircncias a doenccedilas que
poderiam tornar-se croacutenicas exigindo outros serviccedilos aleacutem de cuidados meacutedicos
Ateacute a deacutecada de 70 a CID-8 citada na IX Revisatildeo considerava apenas as manifestaccedilotildees
agudas segundo o modelo meacutedico etiologia rArr patologia rArr manifestaccedilatildeo
Esse modelo mostrou-se limitado para descrever as consequecircncias das doenccedilas pois excluiacutea
as perturbaccedilotildees croacutenicas evolutivas e irreversiacuteveis
Na IX Assembleia da OMS em 1976 surgiu uma nova conceptualizaccedilatildeo a International
Classification of Impairments Disabilities and Handicaps a manual of classification relating to
the consequences of disease (ICIDH) sendo sua traduccedilatildeo a Classificaccedilatildeo Internacional de
Deficiecircncias Incapacidades e Desvantagens um manual de classificaccedilatildeo das consequecircncias
das doenccedilas (CIDID) publicada em 1989
Apesar da abordagem meacutedica individualista ter dominado a cultura ocidental desde pelo
menos o seacuteculo XIX (Oliver 1990 Gleeson 1999) esta encontra-se geralmente associada agrave
Classificaccedilatildeo Internacional da Deficiecircncia Incapacidades e Desvantagens (ICIDH) da OMS
(1980) Em resposta agraves necessidades crescentes ao niacutevel internacional de clarificaccedilatildeo do
sentido do conceito de incapacidade e atendendo agraves criticas progressivas das pessoas com
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 14
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
incapacidades e seus significativos baseadas no facto de que a incapacidade envolve mais do
que um conjunto de preocupaccedilotildees estritamente meacutedicas a OMS constituiu uma comissatildeo de
cientistas sociais para desenvolver a existente Classificaccedilatildeo Internacional de Doenccedilas em
ordem a conseguir abranger as consequecircncias a longo termo das doenccedilas croacutenicas A ICIDH
foi publicada em 1980 sendo largamente reconhecida como o directoacuterio mais abrangente
existente vindo a ser extensivamente utilizada como uma base para as iniciativas
governamentais dos paiacuteses desenvolvidos da Europa e Ameacuterica do Norte e os paiacuteses
subdesenvolvidos do Sul (Ustun et al 2001)
A ICIDH utiliza uma categorizaratildeo tripartida da deficiecircncia incapacidade e desvantagem A
deficiecircncia refere-se a qualquer perda ou irregularidade da estrutura ou das funccedilotildees
anatoacutemica fisioloacutegica ou psicoloacutegica A incapacidade refere-se a qualquer restriccedilatildeo ou perda
(resultante de uma deficiecircncia) da capacidade para executar uma actividade da forma e dentro
do contexto considerado normal para o ser humano A desvantagem refere-se agrave limitaccedilatildeo
resultante de uma deficiecircncia ou incapacidade no desempenho de um dado papel considerado
normativo (dependendo da idade geacutenero e factores sociais e culturais) para aquele indiviacuteduo
(OMS 1980 p 29)
Esta tipologia baseia-se nas noccedilotildees de normalidade fiacutesica e intelectual bem como no facto de
que a incapacidade e a desvantagem satildeo causadas por deficiecircncias ou irregularidades
psicoloacutegicas ou fisioloacutegicas Neste contexto a ICIDH pode ser objecto de criacuteticas a diferentes
niacuteveis Primeiro as percepccedilotildees de deficiecircncia e normalidade satildeo fenoacutemenos sociais pelo que
satildeo sujeitas a substantivas mudanccedilas temporais culturais e situacionais (Hanks and Hanks
1948 Scheer and Groce 1988 Coleridge 1993 Ingstad and Whyte 1995) A dislexia por
exemplo natildeo seria vista como um problema significativo numa sociedade predominantemente
agraacuteria No entanto eacute considerada uma dificuldade de aprendizagem nas sociedades
modernas tecnologicamente avanccediladas nas quais a literacia e a numeracia desempenham
requisitos criacuteticos para a participaccedilatildeo social e econoacutemica Segundo encontra-se impliacutecito na
ICIDH que o organismo humano eacute flexiacutevel e adaptaacutevel enquanto os ambientes fiacutesicos e sociais
o natildeo satildeo Este facto claramente conflitua com a realidade histoacuterica na qual os indiviacuteduos
transformaram continuamente o seu ambiente em funccedilatildeo das suas necessidades (Barnes
1991) Terceiro as definiccedilotildees da ICIDH sugerem que a deficiecircncia a incapacidade e a
desvantagem constituem-se como estados estaacuteticos Para aleacutem do facto desta noccedilatildeo afigurar-
se incorrecta parece criar distinccedilotildees e barreiras entre as pessoas com e sem deficiecircncias
distinccedilotildees que natildeo satildeo necessaacuterias nem deveriam existir Uma tal situaccedilatildeo parece ser
paradoxal atendendo a que a ICIDH possui uma classificaccedilatildeo para cada caracteriacutestica do
organismo fiacutesico e humano (Shakespeare 1994 104)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 15
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Finalmente e mais significativo neste contexto a ICIDH apresenta as deficiecircncias enquanto
causa primaacuteria da incapacidade e da desvantagem Neste contexto a reabilitaccedilatildeo constitui-se
como uma filosofia e uma praacutetica para erradicar ou minimizar os problemas da deficiecircncia e
capacitar aqueles com deficiecircncias designadas para funcionarem nos seus niacuteveis fiacutesico
psicoloacutegico e social mais elevados (Albrecht 1992 23) Por outras palavras as pessoas com
incapacidades tornam-se objectos para serem curados tratados treinados mudados e
tornados normais de acordo com um conjunto particular de valores As limitaccedilotildees de tais
intervenccedilotildees encontram-se sustentadamente documentadas pelos activistas como
incapacidades desde 1960 (Hunt 1966 Sutherland 1981 Zola 1982)
212 A ABORDAGEM LIBERAL OU INTER-RELACIONAL
A abordagem liberal ou inter-relacional encontra-se expressa no uacuteltimo corpo de trabalhos da
OMS para redefinir a incapacidade nomeadamente a Classificaccedilatildeo Internacional de
Funcionalidade Incapacidade e Sauacutede (CIF) conhecida previamente como ICIDH2 (OMS
2002)
Esta redefiniccedilatildeo constituiu uma tentativa concertada para integrar o modelo meacutedico
individualista tradicional e a interpretaccedilatildeo sociopoliacutetica Por um lado como resultado da sua
rejeiccedilatildeo por parte das pessoas com incapacidades organizaccedilotildees e parceiros dentro e fora da
comunidade cientiacutefica (Driedger 1989 Oliver 1990 Barnes et al 2002) e por outro lado
porque apesar da sua vasta utilizaccedilatildeo a sua aplicabilidade tem sido caracterizada por diversas
interpretaccedilotildees (Coleridge 1993 Ingstad 2001) Em siacutentese demonstrou-se como limitada para
muitos dos actores e natildeo forneceu a delimitaccedilatildeo de significado que originalmente pretendia
Em comum com a sua predecessora a CIF manteacutem o constructo tripartido O primeiro niacutevel
deficiecircncia no original relaciona-se com as funccedilotildees e estrutura do organismo O segundo
niacutevel o que era anteriormente incapacidade eacute agora referido como actividade e o terceiro
desvantagem aparece como participaccedilatildeo No entanto e apesar do intenso debate sobre o
significado de incapacidade o conceito eacute preservado como um termo global para os trecircs niacuteveis
de dificuldade de funcionamento Neste cenaacuterio e em contraste com a ICIDH a nova
formulaccedilatildeo eacute apresentada como uma classificaccedilatildeo universal do funcionamento humano As
pessoas ligadas a acccedilotildees de advocacy defendem que esta configuraccedilatildeo oferece um quadro de
inteligibilidade completo para os aspectos funcionais da experiecircncia de sauacutede Nesta
perspectiva a incapacidade permanece uma preocupaccedilatildeo privilegiadamente do domiacutenio da
sauacutede em detrimento do domiacutenio poliacutetico Constitui-se por um lado como um resultado das
caracteriacutesticas da pessoa e por outro dos ambientes fiacutesicos e sociais Deste modo mais do
que se constituir como uma classificaccedilatildeo das pessoas com incapacidades ou dos problemas
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 16
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
que experienciam a CIF afigura-se como uma classificaccedilatildeo do funcionamento a 3 niacuteveis
compreendida em termos neutros (Ustun et al 2001 6-7)
O reconhecimento da importacircncia dos ambientes fiacutesico e social na CIF poderaacute ser equacionado
como uma melhoria significativa em relaccedilatildeo agrave sua predecessora (Hurst 2000) No entanto
parece-nos altamente improvaacutevel que seja mais eficaz do que a anterior classificaccedilatildeo a gerar
uma linguagem universal sobre a incapacidade na medida em que transformar as diferenccedilas
culturais na conceptualizaccedilatildeo das deficiecircncias assume-se como tarefa extremamente
complexa de alcanccedilar (Bury 2000 Miles 2001) Este facto eacute especialmente significativo na
medida em que natildeo obstante a CIF reconhecer o contexto cultural das percepccedilotildees de
incapacidade e por consequecircncia a normalidade o actual sistema de classificaccedilatildeo
permanece fortemente alicerccedilado nas formulaccedilotildees e nos conceitos cientiacuteficos ocidentais
(Finkelstein 1998 Pfeiffer 2000 Baylies 2002)
Adicionalmente apesar da CIF explicitar que os indiviacuteduos satildeo um elemento da anaacutelise da
incapacidade a abordagem biopsicossocial natildeo se encontra muito distanciada do modelo
anterior na medida em que privilegia o indiviacuteduo como ponto de partida para anaacutelise das
funccedilotildees do corpo e actividades O conceito de participaccedilatildeo eacute incluiacutedo mas subdesenvolvido no
esquema conceptual e continua associado agraves circunstacircncias individuais em vez de fortemente
ligado agrave inclusatildeo poliacutetica e social Adicionalmente enquanto a significacircncia do contexto eacute
enfatizada na CIF as estrateacutegias para a sua mensuraccedilatildeo afiguram-se limitadas Os seus
utilizadores satildeo encorajados a classificar os factores ambientais mas natildeo existem ferramentas
eficazes para levar a cabo esta tarefa bem como para avaliar as tendecircncias de incapacidade
ou por outro lado das poliacuteticas governamentais praacuteticas ambientes fiacutesicos e contextos
culturais (Baylies 2002)
Esta aparente descentraccedilatildeo das preocupaccedilotildees poliacuteticas tem caracterizado a maioria da ciecircncia
social mainstream desde o seacuteculo XIX Deste modo a definiccedilatildeo inter-relacional de
incapacidade e a consequente despolitizaccedilatildeo das questotildees associadas reflectiu-se nos
estudos e na literatura produzida nesta aacuterea por acadeacutemicos e investigadores durante a uacuteltima
metade do seacuteculo XX
Mais recentemente reemergiram na Inglaterra um conjunto de respostas poacutes-modernas ao
modelo social da incapacidade Este cenaacuterio tem favorecido o aparecimento de asserccedilotildees de
que tais fenoacutemenos soacute tecircm servido para agudizar e natildeo diminuir a conflituosidade a propoacutesito
da inclusatildeo (Hunt 1981 Germon 1998 Linton 1998 Gordon and Rosenblum 2001)
No quadro da reabilitaccedilatildeo a abordagem inter-relacional eacute sinoacutenima da liberalizaccedilatildeo da poliacutetica
social para as pessoas com incapacidades nos finais dos anos sessenta e setenta em
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 17
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
particular a mudanccedila dos serviccedilos centrados institucionalmente para os serviccedilos e apoios
centrados na comunidade Deste modo a ecircnfase eacute colocada na integraccedilatildeo de pessoas com
incapacidades na sociedade mainstream Os Standards da Equalizaccedilatildeo das Pessoas com
Incapacidades (1993) da ONU explicitam que todos os estados devem providenciar serviccedilos de
reabilitaccedilatildeo Mas esta orientaccedilatildeo recomenda que se vaacute aleacutem do cuidado meacutedico inicial para
incluir uma ampla gama de medidas e actividades desde a reabilitaccedilatildeo baacutesica e generalista
para actividades orientadas por objectivos (UN 199311) Ainda mais significativo todos os
serviccedilos de reabilitaccedilatildeo deveratildeo estar disponiacuteveis nas comunidades locais nas quais as
pessoas com incapacidades se movem No entanto em determinadas circunstacircncias e para
que se reforcem os objectivos de formaccedilatildeo e aprendizagem poderatildeo ser organizados cursos
localizados nas organizaccedilotildees prestadoras de serviccedilos com um quadro temporal o mais
reduzido possiacutevel (UN 1993 19)
Adicionalmente apesar dos Standards enfatizarem a importacircncia do envolvimento das pessoas
com incapacidades e dos seus significativos no desenvolvimento dos programas de
reabilitaccedilatildeo parece natildeo existir uma asserccedilatildeo clara de que tais estrateacutegias devam ser
controladas por ou mensuradas para estes uacuteltimos Existe no entanto uma assunccedilatildeo taacutecita de
que tais serviccedilos seratildeo liderados por profissionais
Adicionalmente desde que a incapacidade na CIF foi apresentada como uma questatildeo de
sauacutede em detrimento de uma questatildeo poliacutetica parece inevitaacutevel que os profissionais no
domiacutenio da reabilitaccedilatildeo continuem a ser dominados ou laquoalienadosraquo pela Medicina (Finkelstein
1998) Este facto poderaacute ficar a dever-se primeiro agrave actual e persistente subjugaccedilatildeo dos
governos nacionais aos interesses corporativos e das organizaccedilotildees econoacutemicas e segundo agrave
diversidade de barreiras econoacutemicas poliacuteticas e culturais experienciadas pelas pessoas com
incapacidades quer nos paiacuteses desenvolvidos quer nos subdesenvolvidos Neste tipo de
cenaacuterio o pensamento ortodoxo sobre a reabilitaccedilatildeo contratualiza um expediente praacutetico para
os poliacuteticos legisladores e organizaccedilotildees profissionais Como resultado os teacutecnicos tecircm
invariavelmente um niacutevel de escolha reduzido na opccedilatildeo pelo modelo meacutedico em detrimento
de soluccedilotildees poliacuteticas colectivas na resposta aos problemas da exclusatildeo
Esta perspectiva parece afigurar-se a oposta da necessaacuteria De facto apoacutes o trabalho de
Talcott Parsons (1951) emergiu uma extensa literatura condenando a laquomedicalizaccedilatildeoraquo do
quotidiano de um conjunto diverso de perspectivas Por exemplo o filoacutesofo austriacuteaco Ivan Illich
nomeou o seacuteculo XX como a era dos profissionais incapacitantes (1977 11) pela sua
apropriaccedilatildeo do conhecimento mistificaccedilatildeo das competecircncias especializadas e a criaccedilatildeo de
uma cultura perversa e persuasiva de dependecircncia Apesar de tais criticas encontrarem a sua
aplicabilidade predominantemente nas naccedilotildees subdesenvolvidas do Ocidente surgiram
trabalhos recentes que sugerem que apesar de existir uma diminuiccedilatildeo significativa dos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 18
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
conhecimentos meacutedicos e de tratamentos com reduzidos niacuteveis de recursos nas naccedilotildees
subdesenvolvidas criacuteticas similares podem ser relevantes para o contexto no qual nos
situamos (Stone 1999 Ingstad 2001 OMS 2001)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 19
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
3 OBJECTIVOS OPERACIONAIS
Pretende-se desenvolver uma anaacutelise longitudinal e multissectorial ao conceito de deficiecircncia
no sentido de estabelecer uma configuraccedilatildeo operacional no quadro da sua aplicabilidade
estatiacutestica Esta anaacutelise insere-se no acircmbito do Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das
Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo
Objectivo Operacionalizar o conceito de deficiecircncia no quadro da sua aplicabilidade
estatiacutestica assegurando os criteacuterios de (a) comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica
e legislativa dentro do contexto portuguecircs (c) conformidade com os referenciais conceptuais
actuais
Metodologia a) Anaacutelise dos referenciais nacionais e internacionais de delimitaccedilatildeo operacional
do conceito b) exploraccedilatildeo de cenaacuterios que viabilizem o cumprimento dos requisitos definidos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 20
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
4 ANAacuteLISE PRELIMINAR DA EVOLUCcedilAtildeO DA TERMINOLOGIA NO
DOMIacuteNIO 41 ESTADO DA ARTE
A evoluccedilatildeo dos conceitos operativos nos domiacutenios da reabilitaccedilatildeo e da inclusatildeo social tem
sido reflectida nas diversas classificaccedilotildees propostas pela OMS Neste quadro evolutivo a
uacuteltima classificaccedilatildeo proposta ndash CIF ndash constitui-se como um modelo de siacutentese entre a
abordagem meacutedica e a abordagem social no domiacutenio da incapacidade e da sauacutede No sentido
de procedermos agrave anaacutelise dos principiais conceitos e termos focalizar-nos-emos na
reestruturaccedilatildeo conceptual proposta pela Classificaccedilatildeo Internacional de Funcionalidade
Incapacidade e Sauacutede (CIF)
O objectivo geral da CIF eacute proporcionar uma linguagem unificada e padronizada assim como
uma estrutura de trabalho para a descriccedilatildeo da sauacutede e de estados relacionados com a sauacutede
A classificaccedilatildeo define os componentes da sauacutede e alguns componentes do bem-estar
relacionados com a sauacutede (tais como educaccedilatildeo e trabalho) Os domiacutenios contidos na CIF
podem portanto ser considerados como domiacutenios da sauacutede e domiacutenios relacionados com a
sauacutede Estes domiacutenios satildeo descritos com base na perspectiva do corpo do indiviacuteduo e da
sociedade em duas listas baacutesicas (1) Funccedilotildees e Estruturas do Corpo e (2) Actividades e
Participaccedilatildeo Como classificaccedilatildeo a CIF agrupa sistematicamente diferentes domiacutenios de uma
pessoa com uma determinada condiccedilatildeo de sauacutede (eg o que uma pessoa com uma doenccedila
ou perturbaccedilatildeo faz ou pode fazer) A funcionalidade eacute um termo que engloba todas as funccedilotildees
do corpo actividades e participaccedilatildeo de maneira similar a incapacidade eacute um termo que inclui
deficiecircncias limitaccedilatildeo da actividade ou restriccedilatildeo na participaccedilatildeo A CIF tambeacutem relaciona os
factores ambientais que interagem com todos estes constructos Neste sentido a classificaccedilatildeo
permite ao utilizador registar perfis uacuteteis da funcionalidade incapacidade e sauacutede dos
indiviacuteduos em vaacuterios domiacutenios
A CIF pertence agrave ldquofamiacuteliardquo das classificaccedilotildees internacionais desenvolvida pela OMS para
aplicaccedilatildeo em vaacuterios aspectos da sauacutede A famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS
proporciona um sistema para a codificaccedilatildeo de uma ampla gama de informaccedilotildees sobre sauacutede
(eg diagnoacutestico funcionalidade e incapacidade motivos de contacto com os serviccedilos de
sauacutede) e utiliza uma linguagem comum padronizada que permite a comunicaccedilatildeo sobre sauacutede e
cuidados de sauacutede em todo o mundo entre vaacuterias disciplinas e ciecircncias
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 21
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Nas classificaccedilotildees internacionais da OMS os estados de sauacutede (doenccedilas perturbaccedilotildees
lesotildees etc) satildeo classificados principalmente na CID-10 (abreviatura da Classificaccedilatildeo
Internacional de Doenccedilas Deacutecima Revisatildeo) que fornece uma estrutura de base etioloacutegica A
funcionalidade e a incapacidade associadas aos estados de sauacutede satildeo classificadas na CIF
Portanto a CID-10 e a CIF satildeo complementares e os utilizadores satildeo estimulados a usar em
conjunto esses dois membros da famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS A CID-10
proporciona um ldquodiagnoacutesticordquo de doenccedilas perturbaccedilotildees ou outras condiccedilotildees de sauacutede que eacute
complementado pelas informaccedilotildees adicionais fornecidas pela CIF sobre funcionalidade Em
conjunto as informaccedilotildees sobre o diagnoacutestico e sobre a funcionalidade datildeo uma imagem mais
ampla e mais significativa da sauacutede das pessoas ou da populaccedilatildeo que pode ser utilizada em
tomadas de decisatildeo
A famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS constitui uma ferramenta valiosa para a
descriccedilatildeo e a comparaccedilatildeo da sauacutede das populaccedilotildees num contexto internacional As
informaccedilotildees sobre a mortalidade (facultadas pela CID-10) e sobre as consequecircncias na sauacutede
(proporcionadas pela CIF) podem ser combinadas de forma a obter medidas sinteacuteticas da
sauacutede das populaccedilotildees Isto permite seguir a sauacutede das populaccedilotildees e a sua distribuiccedilatildeo bem
como avaliar a parte atribuiacuteda agraves diferentes causas
A CIF transformou-se de uma classificaccedilatildeo de ldquoconsequecircncias da doenccedilardquo (versatildeo de 1980)
numa classificaccedilatildeo de ldquocomponentes da sauacutederdquo Os ldquocomponentes da sauacutederdquo identificam o que
constitui a sauacutede enquanto que as consequecircncias se referem ao impacto das doenccedilas na
condiccedilatildeo de sauacutede da pessoa Deste modo a CIF assume uma posiccedilatildeo neutra em relaccedilatildeo agrave
etiologia de modo que os investigadores podem desenvolver inferecircncias causais utilizando
meacutetodos cientiacuteficos adequados De maneira similar esta abordagem tambeacutem eacute diferente de
uma abordagem do tipo determinantes da sauacutede ou ldquofactores de risco Para facilitar o estudo
dos determinantes ou dos factores de risco a CIF inclui uma lista de factores ambientais que
descrevem o contexto em que o indiviacuteduo vive
A CIF descreve a funcionalidade e a incapacidade relacionadas com as condiccedilotildees de sauacutede
identificando o que uma pessoa ldquopode ou natildeo pode fazer na sua vida diaacuteriardquo tendo em vista as
funccedilotildees dos oacutergatildeos ou sistemas e estruturas do corpo assim como as limitaccedilotildees de
actividades e da participaccedilatildeo social no meio ambiente onde a pessoa vive Segundo a OMS a
CID-10 e a CIF satildeo complementares a informaccedilatildeo sobre o diagnoacutestico acrescido da
funcionalidade fornece um quadro mais amplo sobre a sauacutede do indiviacuteduo ou populaccedilotildees Por
exemplo duas pessoas com a mesma doenccedila podem ter diferentes niacuteveis de funcionalidade e
duas pessoas com o mesmo niacutevel de funcionalidade natildeo tecircm necessariamente a mesma
condiccedilatildeo de sauacutede
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 22
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
O termo do modelo da CIF eacute a funcionalidade que cobre os componentes de funccedilotildees e
estruturas do corpo actividade e participaccedilatildeo social A funcionalidade eacute usada no aspecto
positivo e o aspecto negativo corresponde agrave incapacidade Segundo esse modelo a
incapacidade eacute resultante da interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada pelo indiviacuteduo (seja
orgacircnica e ou da estrutura do corpo) a limitaccedilatildeo de suas actividades e a restriccedilatildeo na
participaccedilatildeo social e os factores ambientais que podem actuar como facilitadores ou barreiras
para o desempenho dessas actividades e da participaccedilatildeo
A CIF eacute baseada portanto numa abordagem biopsicossocial que incorpora os componentes
de sauacutede nos niacuteveis corporais e sociais Assim na avaliaccedilatildeo de uma pessoa com deficiecircncias
e incapacidades esse modelo destaca-se do biomeacutedico baseado no diagnoacutestico etioloacutegico da
disfunccedilatildeo evoluindo para um modelo que incorpora as trecircs dimensotildees a biomeacutedica a
psicoloacutegica (dimensatildeo individual) e a social Nesse modelo cada niacutevel age sobre e sofre a
acccedilatildeo dos demais sendo todos influenciados pelos factores ambientais A OMS pretende
incorporar tambeacutem no futuro os factores pessoais importantes na forma de lidar com as
condiccedilotildees limitantes
O objectivo pragmaacutetico da CIF eacute fornecer uma linguagem padronizada e um modelo para a
descriccedilatildeo da sauacutede e dos estados relacionados com a sauacutede permitindo a comparaccedilatildeo de
dados referentes a essas condiccedilotildees entre paiacuteses serviccedilos sectores relativos agrave sauacutede bem
como o acompanhamento da sua evoluccedilatildeo no tempo
No entanto os conceitos apresentados na classificaccedilatildeo introduzem um novo paradigma para
pensar e trabalhar as deficiecircncias e incapacidades elas natildeo satildeo apenas uma consequecircncia
das condiccedilotildees de sauacutede doenccedila mas satildeo determinadas tambeacutem pelo contexto do meio
ambiente fiacutesico e social pelas diferentes percepccedilotildees culturais e atitudes em relaccedilatildeo agrave
deficiecircncias pela disponibilidade de serviccedilos e de legislaccedilatildeo Dessa forma a classificaccedilatildeo natildeo
constitui apenas um instrumento para medir o estado funcional dos indiviacuteduos Aleacutem disso ela
permite avaliar as condiccedilotildees de vida e fornecer subsiacutedios para poliacuteticas de inclusatildeo social
42 FUNCcedilOtildeES DO CORPO
As Funccedilotildees do corpo satildeo as funccedilotildees fisioloacutegicas dos sistemas orgacircnicos (incluindo as
funccedilotildees psicoloacutegicas)
As funccedilotildees e as estruturas do corpo satildeo classificadas em duas secccedilotildees diferentes Essas duas
classificaccedilotildees estatildeo concebidas de forma a serem utilizadas em paralelo Por exemplo as
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 23
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
funccedilotildees do corpo incluem sentidos humanos baacutesicos como as funccedilotildees da visatildeo e as
estruturas relacionadas aparecem na forma de ldquoolho e estruturas relacionadasrdquo
43 ESTRUTURAS DO CORPO
As Estruturas do Corpo satildeo as partes anatoacutemicas do corpo tais como oacutergatildeos membros e
seus componentes
ldquoCorpo refere-se ao organismo humano como um todo por isso o ceacuterebro e as suas funccedilotildees
ie a mente estatildeo incluiacutedos As funccedilotildees mentais (ou psicoloacutegicas) satildeo portanto incluiacutedas nas
funccedilotildees do corpo As funccedilotildees e as estruturas do corpo satildeo classificadas de acordo com os
sistemas orgacircnicos por isso as estruturas do corpo natildeo satildeo consideradas como oacutergatildeos no
seu sentido restrito
44 DEFICIEcircNCIA
Deficiecircncias satildeo problemas nas funccedilotildees ou na estrutura do corpo tais como um desvio
importante ou uma perda
As deficiecircncias de estrutura podem consistir numa anormalidade defeito perda ou outro desvio
importante relativamente a um padratildeo das estruturas do corpo As deficiecircncias foram definidas
de acordo com os conhecimentos bioloacutegicos actuais ao niacutevel de tecidos ou das ceacutelulas e ao
niacutevel subcelular ou molecular Por motivos praacuteticos no entanto esses niacuteveis natildeo estatildeo
classificados As bases bioloacutegicas das deficiecircncias orientaram essa classificaccedilatildeo e eacute possiacutevel
expandir a classificaccedilatildeo para incluir os niacuteveis celular ou molecular Do ponto de vista meacutedico
deve-se ter em mente que as deficiecircncias natildeo satildeo equivalentes agraves patologias subjacentes mas
sim a manifestaccedilotildees dessas patologias
As deficiecircncias correspondem a um desvio relativamente ao que eacute geralmente aceite como
estado biomeacutedico normal (padratildeo) do corpo e das suas funccedilotildees A definiccedilatildeo dos seus
componentes eacute feita essencialmente por pessoas com competecircncia para avaliar a
funcionalidade fiacutesica e mental de acordo com esses padrotildees
As deficiecircncias podem ser temporaacuterias ou permanentes progressivas regressivas ou estaacuteveis
intermitentes ou contiacutenuas O desvio em relaccedilatildeo ao modelo baseado na populaccedilatildeo e
geralmente aceite como normal pode ser leve ou grave e pode variar ao longo do tempo Estas
caracteriacutesticas satildeo consideradas posteriormente em descriccedilotildees adicionais principalmente nos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 24
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
coacutedigos atraveacutes de um qualificador que se acrescenta ao coacutedigo e do qual fica separado por
um ponto
As deficiecircncias natildeo tecircm uma relaccedilatildeo causal com a etiologia ou com a forma como se
desenvolveram Por exemplo a perda da visatildeo ou de um membro pode resultar de uma
anormalidade geneacutetica ou de uma lesatildeo A presenccedila de uma deficiecircncia implica
necessariamente uma causa No entanto a causa pode natildeo ser suficiente para explicar a
deficiecircncia resultante Da mesma forma quando haacute uma deficiecircncia haacute uma disfunccedilatildeo das
funccedilotildees ou estruturas do corpo mas isto pode estar relacionado com qualquer doenccedila
perturbaccedilatildeo ou estado fisioloacutegico
As deficiecircncias podem ser parte ou uma expressatildeo de uma condiccedilatildeo de sauacutede mas natildeo
indicam necessariamente a presenccedila de uma doenccedila ou que o indiviacuteduo deva ser
considerado doente
As deficiecircncias cobrem um campo mais vasto que as perturbaccedilotildees ou as doenccedilas Por
exemplo a perda de uma perna eacute uma deficiecircncia de uma estrutura do corpo mas natildeo eacute uma
perturbaccedilatildeo ou uma doenccedila
As deficiecircncias podem originar outras deficiecircncias Por exemplo a diminuiccedilatildeo da forccedila
muscular pode prejudicar as funccedilotildees do movimento as funccedilotildees cardiacuteacas podem estar
relacionadas com o deacutefice das funccedilotildees respiratoacuterias e uma percepccedilatildeo prejudicada pode estar
relacionada com as funccedilotildees do pensamento
Actualmente na perspectiva da CIF o conceito de deficiecircncia constitui o poacutelo negativo da
componente ldquoFunccedilotildees e Estrutura do Corpordquo sendo descrito atraveacutes da existecircncia de
alteraccedilotildees significativas das funccedilotildees eou das estruturas do corpo O poacutelo positivo desta
componente refere-se agrave integridade funcional e estrutural Neste contexto um dos desafios
criacuteticos das poliacuteticas sociais consiste na operacionalizaccedilatildeo do conceito de deficiecircncia de forma
a que a elegibilidade dos diferentes puacuteblicos alvo se encontre devidamente delimitada
assegurando a eficaacutecia das medidas subjacentes
No entanto a amplitude e abrangecircncia da definiccedilatildeo do conceito de deficiecircncia proposta pela
OMS atraveacutes da CIF coloca um enorme desafio na medida em que qualquer cidadatildeo desde
que apresente um desvio significativo ao niacutevel da estrutura eou funccedilatildeo passa a ser um
potencial beneficiaacuterio das poliacuteticas neste domiacutenio Neste contexto poder-se-atildeo colocar vaacuterias
questotildees A primeira eacute se interessa agraves diferentes poliacuteticas no sector continuarem a ser
desenvolvidas tendo por focus o conceito de pessoas com deficiecircncias sabendo que a sua
distinccedilatildeo ao longo da populaccedilatildeo apenas poderaacute ser feita atraveacutes do niacutevel e extensatildeo da
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Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
alteraccedilatildeo da integridade estrutural e funcional de cada individuo A segunda questatildeo prende-se
com as consequecircncias conceptuais decorrentes da integraccedilatildeo do modelo social na formulaccedilatildeo
e operacionalizaccedilatildeo dos conceitos a serem utilizados pelas poliacuteticas no sector na medida em
que o aspecto critico deixa de ser a natureza e severidade da deficiecircncia para passar a centrar-
se no niacutevel e tipo de restriccedilotildees de participaccedilatildeo que cada cidadatildeo experiencia na interacccedilatildeo
com os seus contextos de vida
No que concerne agrave primeira questatildeo e atendendo a que a mais recente definiccedilatildeo do conceito
de deficiecircncia proposto pela OMS apresenta um elevado niacutevel de abrangecircncia e um reduzido
potencial diferenciador poderemos equacionar 2 hipoacuteteses centrais de operacionalizaccedilatildeo
a) A primeira hipoacutetese baseia-se na possibilidade de operacionalizar diferentes definiccedilotildees
de deficiecircncia ao longo das diferentes poliacuteticas sociais no sentido de assegurar que as
diferentes medidas alcanccedilam efectivamente as pessoas para as quais foram
elaboradas Esta perspectiva tem a vantagem de uma maior focalizaccedilatildeo nas
caracteriacutesticas especificas do puacuteblico-alvo mas no entanto apresenta uma grande
desvantagem que consiste na elevada probabilidade das diferentes definiccedilotildees
perderem a coerecircncia entre si fragmentando igualmente o modelo teoacuterico a partir do
qual se deveriam basear
b) A segunda hipoacutetese consiste na articulaccedilatildeo operativa de dois conceitos o de
deficiecircncia e o de restriccedilotildees de participaccedilatildeo Nesta perspectiva a elegibilidade de uma
determinada politica social baseia-se na validaccedilatildeo preacutevia da existecircncia da primeira
condiccedilatildeo do puacuteblico-alvo ndash a existecircncia de uma deficiecircncia ndash determinando logo de
seguida o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo a partir do qual os diferentes cidadatildeos
passam a poder aceder agraves medidas especiacuteficas nela contidas O desafio contido nesta
hipoacutetese consiste na necessidade de desenvolvimento de um sistema de avaliaccedilatildeo que
permita avaliar o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo experimentado pelas pessoas com
deficiecircncias determinando atraveacutes do valor aferido quais seriam as pessoas com
acesso agraves medidas Neste cenaacuterio natildeo bastaria que uma pessoa tivesse uma
deficiecircncia pelo que seria necessaacuterio avaliar os efeitos da deficiecircncia em interacccedilatildeo
com o ambiente social ao niacutevel da participaccedilatildeo no sentido de determinar a
elegibilidade As vantagens desta hipoacutetese relacionam-se com (i) a preservaccedilatildeo do
niacutevel de coerecircncia dos conceitos utilizados ao longo das diferentes poliacuteticas sociais (ii)
a existecircncia de um processo comum de afericcedilatildeo e determinaccedilatildeo da elegibilidade ao
longo dos diferentes sectores de politica (iii) a compatibilidade e adequabilidade dos
princiacutepios teoacutericos do modelo social com a operacionalizaccedilatildeo dos sistemas e medidas
poliacuteticos de apoio agraves pessoas com deficiecircncias e (iv) a existecircncia de mecanismos de
avaliaccedilatildeo de elevada transparecircncia controlabilidade e rigor
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 26
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
45 INCAPACIDADE
Do ponto de vista de utilizaccedilatildeo dos conceitos de Deficiecircncia e de Incapacidade em Portugal
tecircm subsistido vaacuterias imprecisotildees terminoloacutegicas Primeiro na generalidade dos documentos
internacionais alude-se ao termo ldquopeople with disabilitiesrdquo sendo que invariavelmente esta
expressatildeo eacute traduzida para Portuguecircs como ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo Tal facto parece criar
condiccedilotildees para uma grande permeabilidade semacircntica dificilmente resoluacutevel do ponto de vista
conceptual Segundo deficiecircncia e incapacidade satildeo claramente dois conceitos distintos
Enquanto a deficiecircncia remete para alteraccedilotildees significativas ao niacutevel das estruturas eou das
funccedilotildees do corpo a incapacidade constitui o poacutelo negativo do funcionamento humano em
situaccedilatildeo potencial ou efectiva de participaccedilatildeo no contexto de vida Este facto pressupotildee que os
conceitos de deficiecircncia e de incapacidade natildeo contecircm nenhuma relaccedilatildeo causal entre si nem
nenhuma relaccedilatildeo linear de frequecircncia na medida em que eacute possiacutevel existir uma deficiecircncia
sem que exista uma incapacidade e eacute possiacutevel emergir uma determinada incapacidade sem
que haja uma qualquer deficiecircncia
Deste modo eacute possiacutevel
a) Ter deficiecircncias sem limitaccedilotildees de capacidade (eg uma desfiguraccedilatildeo resultante da
doenccedila de Hansen pode natildeo ter efeito sobre a capacidade da pessoa
b) Ter problemas de desempenho e limitaccedilotildees de capacidade sem deficiecircncias evidentes
(eg reduccedilatildeo de desempenho nas actividades diaacuterias associada a vaacuterias doenccedilas)
c) Ter problemas de desempenho sem deficiecircncias ou limitaccedilotildees de capacidade (eg um
indiviacuteduo HIV positivo ou um ex-doente curado de doenccedila mental que enfrenta
estigmas ou descriminaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais ou no trabalho)
d) Ter limitaccedilotildees de capacidade se natildeo tiver assistecircncia e nenhum problema de
desempenho no ambiente habitual (eg um indiviacuteduo com limitaccedilotildees de mobilidade
pode beneficiar por parte da sociedade de ajudas tecnoloacutegicas de assistecircncia para se
movimentar
e) Experimentar um grau de influecircncia em sentido contraacuterio (eg a inactividade dos
membros pode levar agrave atrofia muscular a institucionalizaccedilatildeo pode resultar numa perda
da socializaccedilatildeo)
Daqui resulta que ao referirmo-nos agraves pessoas com deficiecircncias enquanto puacuteblico-alvo
privilegiado das medidas de reabilitaccedilatildeo poderemos incorrer num desvio significativo de
alocaccedilatildeo dos recursos agraves reais necessidades das pessoas na medida em que natildeo eacute a
deficiecircncia que gera por si mesma a necessidade de reabilitaccedilatildeo mas sim as limitaccedilotildees de
actividade e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo decorrentes da interacccedilatildeo entre as caracteriacutesticas
biopsicossociais e as caracteriacutesticas dos ambientes em que o individuo se move
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
A persistecircncia em traduzir o termo disability para deficiecircncia e natildeo apenas o seu homoacutelogo
anglo-saxoacutenico ndash impairment ndash poderaacute explicar-se pelas seguintes razotildees
a) O potencial efeito estigmatizante da expressatildeo ldquopessoas com incapacidadesrdquo ser maior
do que aquele contido na expressatildeo ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo
b) O termo incapacidade centrar-se exclusivamente nos aspectos negativos do
funcionamento individual classificando a pessoa agrave partida como sendo destituiacuteda de
competecircncias e condiccedilotildees para atingir os niacuteveis normativos de desempenho e
performance num conjunto de domiacutenios da vida pessoal e social
O paradoxo surge igualmente porque enquanto no modelo meacutedico a incapacidade aparece
em termos causais relacionada com a deficiecircncia numa perspectiva exclusivamente individual
no modelo proposto pela OMS operacionalizado na CIF os dois conceitos gozam de total
independecircncia conceptual e operativa sendo que a deficiecircncia passa a ter uma baixa
relevacircncia diferenciadora do ponto de vista do funcionamento humano Ora se atendermos a
que as medidas de reabilitaccedilatildeo pretendem promover os potenciais do funcionamento humano
numa perspectiva de participaccedilatildeo plena do indiviacuteduo nos mais diferenciados contextos de vida
assegurando o co-desenvolvimento de todos os actores e das estruturas sociais necessaacuterias agrave
cidadania plena entatildeo falar de ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo natildeo soacute natildeo eacute relevante no quadro
da loacutegica de intervenccedilatildeo como poderaacute traduzir dificuldades dos actores em mudar
efectivamente do paradigma meacutedico para o paradigma social
Este fenoacutemeno aliaacutes natildeo acontece apenas em Portugal sendo que recentes estudos de
investigaccedilatildeo vieram sugerir a adopccedilatildeo dos conceitos de ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo e
ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo para ultrapassar a aplicaccedilatildeo indevida dos
conceitos de deficiecircncia e incapacidade A utilizaccedilatildeo destes conceitos parece articular de forma
mais precisa com o novo modelo conceptual proposto pela OMS enfatizando a diversidade de
niacuteveis de funcionamento humano e apelando a uma certa noccedilatildeo de relatividade socialmente
construiacuteda Uma das criticas feita pela comunidade de investigadores ao conceito de ldquopessoas
com diversidade funcionalrdquo reside no facto de que a expressatildeo eacute dotada de um tatildeo elevado
niacutevel de abrangecircncia que natildeo permite um niacutevel de diferenciaccedilatildeo relevante na medida em que
todos os cidadatildeos detecircm entre si diversos e diferentes padrotildees de funcionamento humano
Neste sentido o conceito ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo aplicar-se-ia a todos os
cidadatildeos sem excepccedilatildeo A proliferaccedilatildeo destes termos eacute explicada pela necessidade da
comunidade politica e cientifica de construir constructos que sejam socialmente aceites e o
mais neutros possiacuteveis do ponto de vista dos seus valores impliacutecitos No entanto a
impossibilidade epistemoloacutegica de desenvolver expressotildees e conceitos socio-historicamente
neutros parece levar muitas vezes agrave concepccedilatildeo de definiccedilotildees com reduzida identidade isto eacute
de significado demasiado amplo e abrangente o que na expressatildeo da UPIAS ldquopodem significar
tudo e coisiacutessima nenhumardquo (2005)
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Os conceitos ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo ldquopessoas com limitaccedilotildees de
actividaderdquo e ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo afiguram-se comparativamente ao
anterior como um conceito de maior coerecircncia conceptual com o modelo proposto pela OMS e
deteacutem cumulativamente um maior poder diferenciador A sua desvantagem reside no facto de
constituiacuterem expressotildees com maior dificuldade de apreensatildeo e inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 29
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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5 ANAacuteLISE DOS REFERENCIAIS NACIONAIS E INTERNACIONAIS
No sentido de obter um conjunto de vectores de referecircncia na estruturaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo do
conceito de deficiecircncia foram analisadas as abordagens desenvolvidas pelos seguintes
organismos INE Eurostat OCDE American Disabilities Act WHO UN
51 INE
Os dados disponiacuteveis no INE parecem indicar a utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na
ICIDH
Deficiecircncia1 Perda ou alteraccedilatildeo de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou
anatoacutemica Nesta definiccedilatildeo estatildeo incluiacutedas as seguintes tipologias2
Deficiecircncia AUDITIVA
Deficiecircncia MENTAL
Deficiecircncia MOTORA
Deficiecircncia ORGAcircNICO-FUNCIONAL
Deficiecircncia PSIQUIAacuteTRICA
Deficiecircncia VISUAL
Incapacidade3 Ausecircncia ou limitaccedilatildeo da capacidade para funcionar estando comprometida a
realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida
diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e originando uma desvantagem para funcionar em
sociedade face a outros
Pessoa deficiente Aquela que tenha uma ou mais das seguintes deficiecircncias a) deficiecircncia
visual b) deficiecircncia auditiva c) deficiecircncia mental d) deficiecircncia motora
1 Nota Na operaccedilatildeo censitaacuteria de 2001 apenas foi observada a deficiecircncia permanente a deficiecircncia temporaacuteria natildeo foi considerada (por exemplo se um indiviacuteduo se desloca com canadianas ou em cadeira de rodas porque partiu uma perna ou se sofre de descolamento parcial da retina que o obriga a andar com uma venda natildeo foi considerado como tendo uma deficiecircncia) 2 Fonte INE ndash Censos 2001 ndash Recenseamento Geral da Populaccedilatildeo (Antecedentes Metodologia e Conceitos) Antecedentes Metodologia e Conceitos 3 Fonte INS ndash Inqueacuterito Nacional agrave Sauacutede
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Dezembro2006
Trabalhador deficiente Trabalhador que estaacute incapacitado para assegurar por si mesmo total
ou parcialmente a satisfaccedilatildeo de necessidades de uma vida individual ou social normal devido
a uma deficiecircncia congeacutenita ou adquirida das suas capacidades fiacutesicas sensoriais ou
mentais tendo por isso dificuldade em obter eou manter o desempenho de funccedilotildees de acordo
com as suas habilitaccedilotildees idade e experiecircncia profissional
Cidadatildeo Trabalhador com necessidades especiais Cidadatildeo idoso ou portador de
deficiecircncias sensoriais (visuais e auditivas) fiacutesicas (motoras) e cognitivas
52 EUROSTAT
Os dados disponibilizados pelo Eurostat no seu endereccedilo electroacutenico4 parecem indicar a
utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na ICIDH
Conceito Deficiecircncia5
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de deficiecircncia refere-se a uma perda ou alteraccedilatildeo
de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou anatoacutemica
Conceito Incapacidade6
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de incapacidade refere-se agrave ausecircncia ou limitaccedilatildeo
da capacidade para funcionar estando comprometida a realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas
funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e
originando uma desvantagem para funcionar em sociedade face a outros
Conceito Desvantagem7
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito refere-se agrave desvantagem para um dado individuo
decorrente de uma deficiecircncia ou incapacidade
4 httpforumeuropaeuintircdsiscodedinfodatacodedenTheme3htm 5 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 6 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 7 Fonte Key data on health 2000 Eurostat
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
53 OCDE
Definiccedilotildees gerais de incapacidade
No contexto da OCDE identificam-se 2 abordagens distintas no quadro da definiccedilatildeo de
incapacidade
A incapacidade pode ser definida enquanto um estado decorrente de autoavaliaccedilatildeo ou um
status baseado em fontes administrativas eg beneficiaacuterio dos apoios De forma muito
frequente e talvez de forma imprecisa estas duas definiccedilotildees satildeo explicitadas como
incapacidade ldquosubjectivardquo versus rdquoobjectivardquo
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo e instrumentos
A incapacidade autoavaliada eacute medida atraveacutes de inqueacuteritos feitos directamente aos cidadatildeos
nas suas residecircncias Apesar da avaliaccedilatildeo ser baseada de uma forma geral nas respostas agraves
questotildees relativas a problemas de sauacutede de longo termo que limitam as actividades de vida
diaacuteria o detalhe das questotildees eacute geralmente diferente dificultando a comparabilidade dos
dados Por exemplo ldquolongo termordquo eacute parametrizado em 6 meses na Noruega e em 12 meses
na Suiccedila O status dos beneficiaacuterios pode ser avaliado atraveacutes de registos administrativos ou
atraveacutes de inqueacuteritos Os resultados entre as duas fontes satildeo de uma forma geral bastante
diferentes por duas razotildees nucleares os registos administrativos geralmente contam casos e
natildeo pessoas o que em situaccedilotildees de benefiacutecios muacuteltiplos pode levar a contagens duplas por
outro lado os inqueacuteritos satildeo baseados nas respostas sobre o status do beneficiaacuterio e algumas
pessoas podem desejar natildeo revelar a sua condiccedilatildeo perante os benefiacutecios
Nenhuma destas definiccedilotildees e medidas de mensuraccedilatildeo eacute superior a outras pelo que a sua
utilizaccedilatildeo depende dos objectivos do propoacutesito da investigaccedilatildeo e da disponibilidade da
informaccedilatildeo
Abordagens para medir a incapacidade no quadro da aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos agraves populaccedilotildees
a) Incapacidade geral (natildeo especificada)
Puacuteblico-alvo todos os adultos
b) Incapacidade relativa ao trabalho
Puacuteblico-alvo pessoas em idade activa
c) Limitaccedilotildees nas actividades de vida diaacuteria (AVD)
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Puacuteblico-alvo Populaccedilatildeo idosa
54 AMERICAN DISABILITIES ACT
O American Disabilities Act (ADA) desenvolvido em 1990 fornece um conjunto de guidelines
no sentido de assegurar a disponibilizaccedilatildeo de serviccedilos para as pessoas com deficiecircncias bem
como a protecccedilatildeo dos seus direitos legais
A ADA inclui uma definiccedilatildeo legal de incapacidade consistindo na presenccedila de ldquouma deficiecircncia
fiacutesica ou mental que limita significativamente uma ou mais das principais actividades de vidardquo
Independentemente da definiccedilatildeo proposta pela ADA a existecircncia de muacuteltiplos programas a
favor das pessoas com deficiecircncias e os diferentes focus legais em diferentes puacuteblicos alvo
fazem com que tenham emergido uma multiplicidade de definiccedilotildees de incapacidade ao longo
do tempo no quadro das poliacuteticas sociais americanas
55 OMS ONU Revisatildeo dos actuais inqueacuteritos sobre a incapacidade
Apesar de existir um desenvolvimento consideraacutevel dos inqueacuteritos na aacuterea da incapacidade
poder-se-atildeo explicitar algumas observaccedilotildees relativas agrave sua multiplicidade Numa primeira linha
de anaacutelise os inqueacuteritos tendem a focalizar-se nas limitaccedilotildees de actividade eou na deficiecircncia
No que concerne agrave formulaccedilatildeo escrita tendem a existir diferenccedilas significativas entre
inqueacuteritos facto que inviabiliza natildeo raras vezes a comparabilidade dos dados entre inqueacuteritos
As diferentes formulaccedilotildees das questotildees incluem
Tem dificuldade
Eacute capaz de
Faz
Tem sentido problemas em
com ou sem assistecircncia pessoal eou tecnoloacutegica
A questatildeo que se coloca eacute se estas formulaccedilotildees tecircm o mesmo significado isto eacute se todas elas
pretendem medir a capacidade ou a performance De acordo com a CIF a capacidade
remeteria para o potencial de execuccedilatildeo de um indiviacuteduo enquanto a performance diria respeito
ao niacutevel de desempenho efectivo do indiviacuteduo atraveacutes do seu envolvimento numa situaccedilatildeo de
vida real As lacunas existentes e as poucas referecircncias ao niacutevel da forma como os inquiridos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 33
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
satildeo instruiacutedos a responder faz com que natildeo seja possiacutevel desenvolver um discernimento
irrefutaacutevel sobre esta mateacuteria
Do ponto de vista dos domiacutenios abrangidos os inqueacuteritos tecircm apresentado algumas questotildees
sobre a participaccedilatildeo e o ambiente e evidenciam algumas limitaccedilotildees na sua amplitude Os
domiacutenios de actividades e participaccedilatildeo geralmente abrangidos tecircm sido operacionalizados de
uma forma geral nas seguintes dimensotildees
Educaccedilatildeo e emprego (formulado como questotildees de performance)
Outros inqueacuteritos incluem aacutereas como relaccedilotildees interpessoais vida familiar tomada de
decisotildees etc
O domiacutenio relativo aos factores ambientais tem incluiacutedo
Utilizaccedilatildeo e acessibilidadedisponibilidade dos produtos de assistecircncia e da tecnologia
Acessibilidade do ambiente
Disponibilidade dos serviccedilos (sauacutede protecccedilatildeo social educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo)
Evidecircncias muito escassas ao niacutevel da poliacutetica atitudes ambiente natural
planeamento e concepccedilatildeo
A questatildeo de investigaccedilatildeo neste contexto centra-se na seguinte formulaccedilatildeo ldquoo que eacute que os
inqueacuteritos medem como incapacidaderdquo
a) Definiccedilatildeo a priori da incapacidade versus sem incapacidade
Alguns inqueacuteritos sobre a incapacidade especialmente os mais antigos utilizam uma definiccedilatildeo
a priori de incapacidade O objectivo deste tipo de inqueacuteritos eacute contar o nuacutemero de pessoas
que se encaixam na definiccedilatildeo no contexto da populaccedilatildeo total Neste sentido os dados satildeo
analisados de acordo com dois grupos de referecircncia ndash com incapacidade e sem incapacidade ndash
em funccedilatildeo de um conjunto de diferentes variaacuteveis Este tipo de questionaacuterios formula questotildees
do tipo ldquoPossui algum tipo de incapacidade auditiva visual ou fiacutesicardquo Muitas questotildees dos
censos tecircm utilizado este formato
b) Definiccedilatildeo a posteriori de incapacidade versus sem incapacidade
Mais recentemente alguns inqueacuteritos desenvolveram-se em direcccedilatildeo a uma definiccedilatildeo a
posteriori de incapacidade Nestes casos eacute medida a capacidade a performance ao longo de
um conjunto vasto de domiacutenios Este segundo tipo de inqueacuteritos tende a ter uma ampla
aceitaccedilatildeo eg HALS (Canada) HID (Franccedila) inqueacuterito sobre incapacidade na Africa do Sul
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 34
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Inqueacuterito Espanhol sobre incapacidade NHIS-D (USA) inqueacuterito Holandecircs entre outros Estes
instrumentos formulam questotildees relativas agraves dificuldades que as pessoas experienciam em
diferentes domiacutenios produzindo um perfil pessoal que possa colocar em evidecircncia os
diferentes graus de capacidade associados A categorizaccedilatildeo de incapacidade sem
incapacidade eacute formulada ao niacutevel do domiacutenio e natildeo como uma categoria geral de atributo
pessoal Esta abordagem permite uma anaacutelise ao niacutevel de funcionamento individual por
domiacutenio por exemplo comparando a experiecircncia de incapacidade no domiacutenio de mobilidade
versus socializaccedilatildeo versus comunicaccedilatildeo entre outros bem como o impacto dos factores
ambientais nestes diferentes domiacutenios O perfil resultante do funcionamento individual ao longo
de muacuteltiplos domiacutenios eacute similar aos estados de sauacutede individuais ao longo das diferentes
dimensotildees
Vantagens de uma abordagem a posteriori
Estaacute em consonacircncia com a abordagem universal proposta pela CIF Todas as
pessoas experienciam deficiecircncia nalgum ponto e esta experiecircncia eacute caracterizada
numa abordagem a posteriori e natildeo a priori
Decisotildees sobre a criaccedilatildeo de categorias sobre quem tem incapacidade e sobre quem
natildeo tem podem ser tomadas atraveacutes de diferentes niacuteveis de anaacutelise por exemplo
atraveacutes da anaacutelise da experiecircncia das pessoas que experienciam incapacidade em 1 2
ou 3 domiacutenios de cruzar o status de emprego de pessoas com incapacidade ao longo
dos diferentes domiacutenios etc
Deixa de ser necessaacuteria uma definiccedilatildeo tipoloacutegica e categoacuterica de pessoas com
incapacidade O que necessita de ser definido neste contexto eacute o que se designa por
limitaccedilatildeo da capacidade ou problemas de performance ao longo dos diferentes
domiacutenios
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 35
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 36
Dezembro2006
6 SISTEMATIZACcedilAtildeO DAS DIMENSOtildeES DE ORGANIZACcedilAtildeO E
OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em todos os estudos efectuados neste domiacutenio foi colocada em evidecircncia a actual dificuldade
de comparabilidade estatiacutestica internacional inter ou intra sectorial independentemente do
organismo referenciador ndash OCDE ONU EUROSTAT INE OMS
Neste contexto desenvolver-se-aacute a extracccedilatildeo de conhecimento tendo por base a identificaccedilatildeo
de um conjunto de eixos de anaacutelise que actuem como vectores de estruturaccedilatildeo na
operacionalizaccedilatildeo do conceito A este propoacutesito atente-se no Quadro 2
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Abordagem Focus Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Delimitaccedilatildeo temporal do
conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo
Design das questotildees
CID-10
ICIDH
ICF
SauacutedeDoenccedila
Deficiecircncia
Incapacidade
a) Geral
b) Relativa ao trabalho
c) Limitaccedilotildees nas
actividades de vida
diaacuteria
Funcionalidade ndash
Niacuteveis de execuccedilatildeo
das actividades por
domiacutenio e niacuteveistipos
de ajudas mobilizadas
Intersubjectivo ndash
vg inqueacuteritos
Objectivo ndash vg
fontes administrativas
A priori
A posteriori
Temporaacuterias
permanentes
Progressivas
regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou
contiacutenuas
Tipo 1 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre uma determinada
condiccedilatildeo individual
combinada com itens
referentes a limitaccedilotildees de
actividade e participaccedilatildeo e
factores contextuais
Tipo 2 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre a presenccedila de uma
pessoa com incapacidade
no agregado familiar
seguindo-se uma lista de
deficiecircncias e
incapacidades
Tipo 3 ndash Checklist de
deficiecircncias
Quadro 2 ndash Eixos de operacionalizaccedilatildeo do conceito
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 37
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 38
Dezembro2006
7 ESCOLHA DO CENAacuteRIO A IMPLEMENTAR
A anaacutelise do Quadro 2 permite-nos uma definiccedilatildeo modular do cenaacuterio a implementar atraveacutes de
uma configuraccedilatildeo do conceito pelos eixos de anaacutelise propostos Uma das dificuldades
evidentes nesta delimitaccedilatildeo prende-se com o cumprimento dos requisitos de (a)
comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica e legislativa dentro do contexto portuguecircs
e (c) conformidade com os referenciais conceptuais actuais sendo que a coexistecircncia destes
criteacuterios afigura-se em muitos casos incompatiacutevel entre si Para efeitos da estruturaccedilatildeo do
cenaacuterio privilegiar-se-aacute a conformidade com os referenciais conceptuais actuais
71 ABORDAGEM No que concerne agrave abordagem privilegia-se a adopccedilatildeo das mais recentes directrizes propostas
pela OMS adoptando explicitamente a CIF
Fundamentaccedilatildeo
A CIF apresenta a capacidade para descrever o funcionamento humano numa
perspectiva biopsicossocial em detrimento da classificaccedilatildeo anterior (ICIDH) que se
focalizava na dimensatildeo biomeacutedica A CIF foi desenvolvida no plano conceptual para ser aplicaacutevel em diferentes aacutereas e
sectores A CIF eacute aplicaacutevel transversalmente agraves dimensotildees de cultura idade geacutenero sendo um
instrumento sistemaacutetico para descrever e medir a sauacutede e o funcionamento humano
num dado contexto A CIF constitui-se enquanto instrumento potencial para a poliacutetica social design das
intervenccedilotildees nos domiacutenios da sauacutede educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e intervenccedilatildeo social Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
72 FOCUS
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo da centraccedilatildeo da recolha de dados ao niacutevel
da dimensatildeo de funcionalidade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 39
Dezembro2006
Fundamentaccedilatildeo
Consonacircncia com o modelo conceptual proposto pela CIF enfatizando o caraacutecter
dinacircmico e interaccional (pessoa factores contextuais) do funcionamento de cada
pessoa Permite caracterizar as limitaccedilotildees de actividade e restriccedilotildees de participaccedilatildeo dos
cidadatildeos identificando necessidades de intervenccedilotildees especializadas numa loacutegica de
empowerment e participaccedilatildeo social Permite analisar a adequabilidade e ajustamento das actuais medidas poliacuteticas do
ponto de vista dos seus objectivos e os problemas detectados ao niacutevel da participaccedilatildeo
dos cidadatildeos ao longo de um conjunto diversificado de domiacutenios
73 MEacuteTODOS DE MENSURACcedilAtildeO
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo de meacutetodos intersubjectivos nomeadamente
inqueacuteritos
Fundamentaccedilatildeo
Flexibilidade ao niacutevel da abrangecircncia e profundidade das dimensotildees
Maior facilidade na implementaccedilatildeo atendendo agrave disponibilizaccedilatildeo de uma amostra
delimitada
Maior niacutevel de controlo sobre as condiccedilotildees de observaccedilatildeo e da entrevista devido ao
menor nuacutemero de entrevistas a ser implementado
74 DELIMITACcedilAtildeO CONCEPTUAL E TEMPORAL DO CONCEITO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo temporal e apesar de se privilegiar as vantagens anteriormente
explicitadas no desenvolvimento de uma definiccedilatildeo a posteriori assume-se a necessidade
politica de delimitar o campo de intervenccedilatildeo do conjunto de medidas sociais neste domiacutenio
pelo que a delimitaccedilatildeo conceptual poderaacute ser objecto de operacionalizaccedilatildeo atraveacutes dos
seguintes paracircmetros
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 40
Dezembro2006
Poder-se-aacute colocar a questatildeo de saber se a delimitaccedilatildeo do conceito proposta remete
especificamente para ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ou para ldquopessoas com limitaccedilotildees de
participaccedilatildeordquo Atendendo a que a definiccedilatildeo comporta uma abordagem sisteacutemica enfatizando a
interacccedilatildeo entre um conjunto diversificado de componentes que produzem impacto na
funcionalidade da pessoa a resposta natildeo eacute linear dependendo da ecircnfase socio-histoacuterica e da
abordagem sociopoliacutetica que se escolher enfatizar No entanto e do ponto de vista conceptual
privilegia-se a adopccedilatildeo do conceito ldquopessoas com limitaccedilotildees de participaccedilatildeordquo dado que existe
total autonomia operativa entre os diferentes constructos Neste sentido a deficiecircncia natildeo
constitui um factor causal linear das limitaccedilotildees de actividade e das restriccedilotildees ao niacutevel da
participaccedilatildeo mas antes uma das componentes que em interacccedilatildeo com outras podem
provocar impactos ao niacutevel da funcionalidade do indiviacuteduo Por uacuteltimo refira-se que a tipologia
ldquopessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeordquo poderaacute ser alvo de criticas por constituir
uma designaccedilatildeo que apela a duas componentes em simultacircneo (actividades e participaccedilatildeo)
excluindo outras e ser demasiado longa para uma definiccedilatildeo tipoloacutegica A este propoacutesito pode-
se sugerir a delimitaccedilatildeo ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo constituindo esta
expressatildeo uma abordagem holiacutestica ao conjunto de componentes que interferem com o
funcionamento humano Deste modo poderemos ter as seguintes designaccedilotildees
Pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Pessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo
Pessoas com limitaccedilotildees de funcionalidade
Figura 2 ndash Possiacuteveis designaccedilotildees
O Quadro 3 pretende fornecer uma visatildeo sistemaacutetica sobre o processo de decisatildeo da
designaccedilatildeo a adoptar
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
deficiecircncias
Tradiccedilatildeo analiacutetica dentro do
contexto portuguecircs
Em conformidade com o modelo
meacutedico ndash centra-se nas alteraccedilotildees
de estrutura e funccedilatildeo ndash
focalizaccedilatildeo na pessoa
Desarticulado dos pressupostos do
modelo social ndash natildeo remete para a
experiecircncia de incapacidade
enquanto produto da interacccedilatildeo
entre pessoa e ambiente
Mai
or
Abr
angecirc
ncia
Mai
or
Espe
cific
idad
e
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 41
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
incapacidades
Em conformidade com a
delimitaccedilatildeo anglo-saxoacutenica que
utiliza o conceito Disability
Focalizaccedilatildeo no poacutelo negativo do
funcionamento humano ndash
funcionalidadeincapacidade
Ao focalizar-se na experiecircncia de
incapacidade enquanto
interacccedilatildeo pessoa-ambiente
remete indirectamente para a
mobilizaccedilatildeo de apoios e recursos
de forma a ultrapassar eou
eliminar os obstaacuteculos ao
funcionamento em contexto
O potencial efeito estigmatizante
da expressatildeo ldquopessoas com
incapacidadesrdquo
Pessoas com
diversidade
Funcional
Em conformidade com o modelo
social
Focaliza-se na gestatildeo das
diferenccedilas e no seu impacto ao
niacutevel da participaccedilatildeo das pessoas
na sociedade
Elevado niacutevel de abrangecircncia natildeo
permitindo um niacutevel de
diferenciaccedilatildeo relevante na
medida em que todos os cidadatildeos
detecircm entre si diversos e
diferentes padrotildees de
funcionamento humano
Conceito dificilmente
operacionalizaacutevel do ponto de
vista da formulaccedilatildeo das poliacuteticas e
da delimitaccedilatildeo dos puacuteblicos-alvo
Pessoas com
restriccedilotildees ao
niacutevel da
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos Desta forma
todos os obstaacuteculos agrave participaccedilatildeo
relacionados com discriminaccedilatildeo
social preconceitos estereoacutetipos
deficiecircncias doenccedilas croacutenicas
entre outros satildeo incluiacutedos
Natildeo inclui as limitaccedilotildees de
actividade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 42
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
limitaccedilotildees de
actividade e
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida e simultaneamente no
domiacutenio das limitaccedilotildees de
actividade
Ruptura com a tradiccedilatildeo analiacutetica
no sector
Dificuldade de apreensatildeo e
inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Natildeo inclui as alteraccedilotildees da
estrutura e da funccedilatildeo
Pessoas com
limitaccedilotildees de
funcionalidade
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel das
diferentes dimensotildees constituintes
da funcionalidade e do
funcionamento humano
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos
Pessoas com
deficiecircncias e
incapacidades
Natildeo introduz ruptura com a
tradiccedilatildeo analiacutetica no sector
Inclui as alteraccedilotildees de estrutura e
funccedilatildeo bem como as alteraccedilotildees
decorrentes ao niacutevel da
funcionalidade
Diferencia os conceitos de
deficiecircncia e incapacidade
autonomizando-os e fornecendo
uma base compreensiva para o
natildeo estabelecimento de relaccedilotildees
de causa-efeito entre os ambos
Abrange os obstaacuteculos que
emergem na interacccedilatildeo pessoa-
contextos de vida e
simultaneamente no domiacutenio das
limitaccedilotildees de actividade
Poder diferenciador e delimitador
na definiccedilatildeo do puacuteblico-alvo
Em alinhamento estrateacutegico com o
PAIPDI
Designaccedilatildeo de compromisso com
os referenciais teoacutericos do modelo
social e dos princiacutepios da ldquoeacutetica da
diversidaderdquo
Quadro 3 ndash Visatildeo comparativa das hipoacuteteses da designaccedilatildeo a adoptar
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 43
Dezembro2006
75 DELIMITACcedilAtildeO DA DURACcedilAtildeO E CURSO DE EVOLUCcedilAtildeO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo interessa a caracterizaccedilatildeo nas
3 dimensotildees desenvolvidas
Fundamentaccedilatildeo
Afigura-se relevante caracterizar a ocorrecircncia das deficiecircncias quanto aacute sua
consistecircncia no tempo ndash temporaacuterias permanentes ndash analisando os factores
contextuais associados consequecircncias ao niacutevel das actividades e da participaccedilatildeo ao
longo de um conjunto de domiacutenios em ordem agrave extracccedilatildeo de implicaccedilotildees no acircmbito
das poliacuteticas sociais
No acircmbito da adaptabilidade e da adequaccedilatildeo das medidas poliacuteticas agraves necessidades
especiacuteficas dos cidadatildeos torna-se relevante caracterizar a deficiecircncia quanto agrave
natureza do seu curso evolutivo ndash progressivas regressivas estaacuteveis O mesmo
criteacuterio eacute aplicaacutevel quanto aacute dimensatildeo de padratildeo de manifestaccedilatildeo ndash intermitente
contiacutenua
No entanto e apesar da incapacidade se manifestar ao longo do ciclo de vida da pessoa
de forma multimodal para efeitos de delimitaccedilatildeo e de definiccedilatildeo do conceito de pessoas
com deficiecircncias e incapacidades privilegiaremos o caraacutecter permanente Desta forma
excluem-se as manifestaccedilotildees temporaacuterias de incapacidade que enviesariam a anaacutelise e o
desenvolvimento de poliacuteticas neste domiacutenio
76 DESIGN DAS QUESTOtildeES
No que concerne ao design das questotildees privilegia-se a escolha de questotildees tipo 1
Fundamentaccedilatildeo
Em consonacircncia com a CIF
Permite comparabilidade estatiacutestica futura
Permite a caracterizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre os factores de funcionalidade ndash integridade
estrutural e funcional actividades participaccedilatildeo e factores contextuais
Permite o design das poliacuteticas sociais e metodologias de intervenccedilatildeo alicerccediladas nas
necessidades especiacuteficas dos cidadatildeos em torno das dimensotildees de inclusatildeo social
Domiacutenios
Visatildeo
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 44
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Audiccedilatildeo
Comunicaccedilatildeo
Mobilidade
Dor
Aprendizagem e funcionamento psicoloacutegico
Autocuidados e vida domeacutestica
Condiccedilotildees gerais de sauacutede
Mobilizaccedilatildeo de ajudas ou equipamento especializado
Participaccedilatildeo social
Transporte e educaccedilatildeo
77 PROPOSTA DE DELIMITACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em funccedilatildeo das dimensotildees caracterizadas e dos criteacuterios privilegiados desenvolveu-se o
seguinte enquadramento conceptual
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 45
Dezembro2006
Figura 2 ndash Enquadramento conceptual da delimitaccedilatildeo do conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso da evoluccedilatildeo
Temporaacuterias permanentes
Progressivas regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou contiacutenuas
Focus
Funcionalidade ndash Niacuteveis de execuccedilatildeo das actividades por domiacutenio e niacuteveistipos de ajudas mobilizadas
Abordagem CIF
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo temporal do conceito
A priori
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Inter-subjectivo
Design das questotildees
Questatildeo geneacuterica sobre uma determinada condiccedilatildeo individual combinada com itens referentes a limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo e factores contextuais
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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8 CRITEacuteRIOS DE ELEGIBILIDADE DO PUacuteBLICO-ALVO E SISTEMAS DE
AVALIACcedilAtildeO
A operacionalizaccedilatildeo do conceito de incapacidade tem sido abordada de forma heterogeacutenea
entre diferentes modalidades de politica e os diferentes contextos socioculturais de cada paiacutes
De uma forma geral encontram-se 2 eixos criacuteticos na sua operacionalizaccedilatildeo
a) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de trabalho (na ocupaccedilatildeo preacutevia ou numa nova
ocupaccedilatildeo ajustada agraves alteraccedilotildees funcionais)
b) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de obter rendimentos provenientes do trabalho
A explicitaccedilatildeo dos criteacuterios de delimitaccedilatildeo do conceito de incapacidade nos diferentes paiacuteses
encontra-se na Quadro 4
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Austraacutelia 2 Criteacuterios possuir uma incapacidade que resulte
num score nunca inferior a 20 nas tabelas de
incapacidades e incapacidade em trabalhar 30
horas ou mais por semana ou em ser
reconvertido para trabalho em contexto regular
nos proacuteximos 2 anos
Nenhum
Aacuteustria 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho (50
de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo para
trabalhadores sem qualificaccedilotildees) papel criacutetico
das decisotildees dos tribunais devido a definiccedilotildees
legais imprecisas
Nenhum mas as
restriccedilotildees de sauacutede
devem ter uma duraccedilatildeo
igual ou superior a 6
meses
Beacutelgica 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na actual ocupaccedilatildeo
1 ano
Canada Incapacidade severa e prolongada que impeccedila de
desenvolver trabalho numa base regular
Nenhum
Dinamarca 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum mas a
reabilitaccedilatildeo precisa de
estar completa
Franccedila 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual mas a
totalidade do subsidio requer igualmente perda de
capacidade de trabalho
Nenhum no caso das
condiccedilotildees estarem
estaacuteveis mas muito
frequentemente apoacutes 3
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 47
Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
anos
Alemanha 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho a
incapacidade parcial eacute calculada em funccedilatildeo do nordm
de horas que a pessoa pode trabalhar
Nenhum mas a
incapacidade deve ter
uma duraccedilatildeo miacutenima
de 26 semanas
Itaacutelia 666reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum
Coreia Criteacuterios meacutedicos (niacuteveis de incapacidade
definidos de forma detalhada)
Periacuteodo de espera de
50 dias (os subsiacutedios
de doenccedila natildeo se
encontram disponiacuteveis)
Meacutexico 50 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo Nenhum
Holanda 15 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
(25 para os trabalhadores por conta proacutepria e
jovens com incapacidade) grau de incapacidade
calculado pela diferenccedila de remuneraccedilatildeo entre o
actual posto de trabalho compatiacutevel com as
limitaccedilotildees funcionais e o anterior
1 ano
Noruega 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho O
grau de subsiacutedio eacute calculado pela capacidade de
remuneraccedilatildeo
Nenhum (apoacutes ter
completado a
reabilitaccedilatildeo vocacional)
Poloacutenia Reduccedilatildeo temporaacuteria ou permanente da
capacidade de trabalho
Nenhum
Portugal 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual
Nenhum mas na
praacutetica ao fim de 3
anos (fim do periacuteodo de
doenccedila de longo termo)
Espanha 33 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho na
ocupaccedilatildeo actual incapacidade para todo e
qualquer trabalho para a totalidade do subsiacutedio
1 ano (embora seja
possiacutevel a candidatura
antes deste prazo em
casos de incapacidade
permanente)
Sueacutecia 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho grau
de incapacidade parcial calculado a partir das
horas que uma pessoa pode trabalhar
Nenhum
Suiccedila 40 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho para
as pessoas inactivas o grau de incapacidade eacute
calculado em relaccedilatildeo aacute actividade actual
1 ano
Turquia 666 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho
com um focus meacutedico bastante significativo
Nenhum
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 48
Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Reino Unido Limitaccedilotildees nas actividades de vida quotidianas
relevantes para o trabalho (avaliaccedilotildees meacutedicas
predominantes) teste ocupacional durante a s
primeiras 28 semanas (subsidio de doenccedila)
28 semanas
Estados
Unidos
Reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
incapacidade em investir numa actividade
profissional com rendimentos ($ US 740 por mecircs)
5 meses (nem sempre
cobertos pelos
subsiacutedios de curto-
termo) e 24 meses
para a cobertura
meacutedica
Quadro 4 ndash Definiccedilotildees de incapacidade e tempos regulamentares
Um dos desafios que se coloca aos actuais sistemas reside na delimitaccedilatildeo da elegibilidade do
puacuteblico-alvo Para cumprir este objectivo satildeo necessaacuterios sistemas de avaliaccedilatildeo holiacutesticos
abrangentes coerentes e que permitam chegar a resultados de forma consistente e com
validade interna No actual contexto a CIF propotildee constituir-se como o instrumento conceptual
abrangente para caracterizar os diferentes domiacutenios e niacuteveis de funcionalidade incapacidade
de forma coerente e integrada Neste sentido uma das vantagens apontadas para a adopccedilatildeo
do modelo desenvolvido pela OMS eacute a possibilidade de uniformizaccedilatildeo de conceitos e portanto
da utilizaccedilatildeo de uma linguagem padratildeo que permita a comunicaccedilatildeo entre investigadores
gestores profissionais de sauacutede organizaccedilotildees da sociedade civil e utilizadores em geral
Um dos campos de estudo mais explorados para a aplicaccedilatildeo da CIF tem sido a aacuterea de
Medicina Fiacutesica e de Reabilitaccedilatildeo no que concerne ao acompanhamento do estado de sauacutede
dos pacientes em tratamento O uso da CIF tem sido considerado tambeacutem na avaliaccedilatildeo apoacutes
transtornos agudos condiccedilotildees traumaacuteticas condiccedilotildees croacutenicas e na geriatria
Alguns autores argumentam que a CIF deve ser explorada como uma base de informaccedilotildees
padronizadas em estudos sobre incapacidade profissional quando haacute necessidade de
relacionar dados de sauacutede ocupacional com os da Seguranccedila Social
Na Sauacutede Puacuteblica tradicionalmente pouca atenccedilatildeo tem sido dada agraves pessoas com
incapacidades No entanto ao lado de recentes investimentos por parte de organizaccedilotildees e de
alguns governos a publicaccedilatildeo do modelo da CIF fornece as bases para as poliacuteticas e
disciplinas da Sauacutede Puacuteblica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo que apresenta deficiecircncias e
incapacidades Assim uma das possibilidades de uso da CIF pode ser a contribuiccedilatildeo para
responder a importantes questotildees de sauacutede puacuteblica tais como qual o estado de sauacutede das
pessoas com deficiecircncias comparadas com as demais que necessidades e que tipos de
intervenccedilotildees satildeo mais adequadas para reduzir condiccedilotildees secundaacuterias e promover a
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na sociedade entre outras
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 49
Dezembro2006
Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 50
Dezembro2006
Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 51
Dezembro2006
Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
Dezembro2006
Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 53
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
ambientes inacessiacuteveis de noccedilotildees questionaacuteveis de inteligecircncia e competecircncia social se da
inabilidade da populaccedilatildeo em geral de utilizar a linguagem de sinais se pela falta de material
em Braille ou se pelas atitudes puacuteblicas hostis das pessoas que natildeo tecircm lesotildees visiacuteveisrdquo
(1990xiv)
Em meados da deacutecada de 1990 os movimentos feministas lanccedilaram um argumento com
profundas implicaccedilotildees para as poliacuteticas puacuteblicas a experiecircncia da deficiecircncia no acircmbito
familiar apresenta implicaccedilotildees ao niacutevel do geacutenero Ao mostrar que a deficiecircncia eacute
acompanhada de reorganizaccedilotildees familiares voltadas para o cuidado da pessoa com
deficiecircncia os movimentos feministas colocaram em evidecircncia que natildeo satildeo apenas as
pessoas com algum tipo de restriccedilatildeo corporal que necessitam da atenccedilatildeo das poliacuteticas
puacuteblicas Atendendo a que as cuidadoras satildeo predominantemente mulheres devido agrave divisatildeo
sexual do trabalho a deficiecircncia quando entendida como um fenoacutemeno com implicaccedilotildees
familiares possui um enviesamento de geacutenero Satildeo as mulheres por exemplo que se afastam
do mercado de trabalho para cuidar das pessoas com deficiecircncias de crianccedilas pequenas ou
idosos Nos casos dos homens idosos este recorte inclui uma sobreposiccedilatildeo de geacutenero agrave idade
pois dado o padratildeo tiacutepico de arranjo familiar satildeo mulheres idosas que cuidam desses homens
Este afastamento tem uma seacuterie de implicaccedilotildees para as mulheres como a ausecircncia de
serviccedilos de suporte e de apoio para as mulheres em idade economicamente activa e tal facto
natildeo pode passar esquecido pelas poliacuteticas puacuteblicas (Barton amp Oliver 1997)
No final da deacutecada de 1990 alguns argumentos do modelo social da deficiecircncia foram objecto
de revisatildeo O lema ldquoOs limites satildeo sociais natildeo do indiviacuteduordquo usado como bandeira para
reivindicar condiccedilotildees para que as pessoas com deficiecircncias fossem independentes passa a ser
relativizado Uma longa tradiccedilatildeo da filosofia feminista critica o valor da independecircncia absoluta
mostrando que a interdependecircncia por meio do cuidado com os dependentes eacute um elemento
constituinte da vida em sociedade e em muitos casos de deficiecircncia natildeo pode ser evitada As
poliacuteticas puacuteblicas portanto natildeo devem procurar apenas promover a independecircncia das
pessoas com deficiecircncias mas criar condiccedilotildees favoraacuteveis para que o cuidar seja exercido
13 DESAFIOS EMERGENTES NO PLANO CONCEPTUAL COM IMPLICACcedilOtildeES NO DOMIacuteNIO DAS
INTERVENCcedilOtildeES
Historicamente as diferentes perspectivas de intervenccedilatildeo no campo da reabilitaccedilatildeo tecircm-se
centrado predominantemente nos pressupostos conceptuais do modelo meacutedico sendo que
mais recentemente tem-se vindo a assistir a uma focalizaccedilatildeo progressiva nos pressupostos
conceptuais do modelo social
Neste contexto histoacuterico as interpretaccedilotildees sociais da deficiecircncia encontram-se em processo de
transiccedilatildeo Este aspecto aparece claramente reflectido nos documentos oficiais em relaccedilatildeo agraves
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 10
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
definiccedilotildees de deficiecircncia e de reabilitaccedilatildeo Apesar dos factores econoacutemicos e demograacuteficos se
afigurarem de uma importacircncia crescente parece evidente que o motor que subjaz a este
fenoacutemeno se alicerccedila na politizaccedilatildeo sem precedentes da deficiecircncia liderada pela sociedade
civil bem como a exigecircncia crescente de igualdade de oportunidades para as pessoas com
deficiecircncias A evoluccedilatildeo conceptual da interpretaccedilatildeo sociopoliacutetica do conceito tem produzido
avanccedilos ao niacutevel das praacuteticas e das intervenccedilotildees ainda que com diferentes ritmos de
aplicaccedilatildeo e com necessidades evidentes de um maior niacutevel de sistematizaccedilatildeo e estruturaccedilatildeo
na globalidade do sector
Consequentemente alguns dos elementos das praacuteticas de reabilitaccedilatildeo mantecircm-se focalizados
em abordagens centradas no indiviacuteduo Apesar da relevacircncia das intervenccedilotildees e das
terapecircuticas meacutedicas ainda que absolutamente necessaacuterias nos paiacuteses mais pobres estas
apenas produzem um impacte parcial no contexto de um ambiente cultural organizado
privilegiadamente para um modo de vida onde natildeo existem pessoas com deficiecircncias Deste
modo o domiacutenio de sauacutede puacuteblica bem como os problemas experimentados pelas pessoas
com deficiecircncias constituem-se como assuntos de natureza poliacutetica que apenas poderatildeo ser
equacionados na sua resoluccedilatildeo atraveacutes de uma profunda mudanccedila estrutural e cultural
envolvendo a redistribuiccedilatildeo sistemaacutetica de recursos e o desenvolvimento de uma cultura que
valoriza a diversidade humana
Neste cenaacuterio afigura-se relevante equacionar um conjunto de desafios fundamentais para
enquadrar a iniciativa poliacutetica na implementaccedilatildeo dos princiacutepios do modelo social
Coerecircncia dos conceitos utilizados
Parece subsistir uma elevada diversidade de conceitos associados ao domiacutenio da deficiecircncia
na organizaccedilatildeo social A tiacutetulo de exemplo pode-se citar a nomenclatura de ldquodeficientesrdquo ou
ldquopessoas portadoras de deficiecircnciardquo no acesso prioritaacuterio a determinados tipos de serviccedilos
puacuteblicos ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ao niacutevel de programas de intervenccedilatildeo social e
designaccedilotildees ao niacutevel dos instrumentos de poliacutetica que remetem para concepccedilotildees radicalmente
diferentes entre si tal como eacute o caso da ldquopensatildeo de invalidezrdquo ou da ldquotabela nacional de
incapacidadesrdquo Esta pluralidade de conceitos sem qualquer coerecircncia conceptual entre si
parece espelhar o resultado de diferentes velocidades de evoluccedilatildeo em diferentes domiacutenios da
poliacutetica social ocorrida em diferentes momentos socio-histoacutericos Aliaacutes tal facto emerge de
forma mais ou menos incisiva na maioria dos paiacuteses europeus A investigaccedilatildeo neste sector tem
permitido colocar em evidecircncia que diferentes definiccedilotildees de deficiecircncia satildeo relevantes para
diferentes poliacuteticas e que as tentativas de usar a mesma definiccedilatildeo ao longo de uma vasta
diversidade de poliacuteticas pode resultar na utilizaccedilatildeo de definiccedilotildees de reduzido poder
diferenciador o que significa que as poliacuteticas podem correr o risco de natildeo chegar ao seu
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 11
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
puacuteblico-alvo A necessidade de usar uma pluralidade de definiccedilotildees de forma a assegurar a
relevacircncia da definiccedilatildeo para o seu domiacutenio de aplicabilidade levanta um problema de
coerecircncia no quadro poliacutetico relativo agraves pessoas com deficiecircncias Neste cenaacuterio as pessoas
podem ser consideradas como tendo deficiecircncias no quadro de uma determinada poliacutetica e
como natildeo tendo no quadro de uma poliacutetica diferente sendo que por vezes se encontram
lacunas no fornecimento de serviccedilos como resultado imediato desta opccedilatildeo De uma forma
geral os diferentes Estados resolvem estes problemas requerendo agraves instituiccedilotildees das poliacuteticas
sociais a coordenaccedilatildeo das actividades em detrimento do estabelecimento de definiccedilotildees
uacutenicas
Diferentes abordagens entre diferentes aacutereas de poliacutetica social
A evoluccedilatildeo histoacuterica e a apropriaccedilatildeo de diferentes conceitos por parte de diferentes sectores
da poliacutetica social encerram o risco de serem adoptados modelos operativos e intervenccedilotildees com
caracteriacutesticas significativamente diferentes Neste sentido podem-se observar sectores que
privilegiam o mainstreaming e o desenvolvimento das intervenccedilotildees baseadas na comunidade
e noutros sectores verificarem-se intervenccedilotildees mais centradas no indiviacuteduo mobilizando
criteacuterios quase exclusivamente meacutedicos Esta diferenccedila de abordagens pode potencialmente
acarretar desarticulaccedilotildees e incoerecircncias ao niacutevel dos princiacutepios gerais da poliacutetica social
reflectindo-se numa resposta fragmentada e parcelar agraves necessidades das pessoas Neste
contexto afigura-se relevante a definiccedilatildeo clara sistemaacutetica e estruturada dos princiacutepios
transversais subjacentes agrave globalidade das poliacuteticas para num segundo momento se proceder
agrave definiccedilatildeo dos seus elementos especiacuteficos
Classificaccedilatildeo da deficiecircncia e metodologias de avaliaccedilatildeo
Enquanto que no quadro do modelo meacutedico importava associar as diferentes deficiecircncias a
diferentes niacuteveis de incapacidade mobilizando criteacuterios de natureza exclusivamente meacutedica a
progressiva implementaccedilatildeo do modelo social na maior parte dos paiacuteses da Europa tem
colocado desafios sobre qual a categorizaccedilatildeo que melhor reflecte as dificuldades de
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades ao niacutevel dos seus ambientes de
vida A OMS perante esta encruzilhada de classificaccedilotildees propocircs a Classificaccedilatildeo Internacional
de Funcionalidade Incapacidade e Sauacutede (CIF) como modelo operativo de caracterizaccedilatildeo da
funcionalidade do indiviacuteduo colocando em evidecircncia para efeitos de elegibilidade dos
programas as limitaccedilotildees de actividade e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo das pessoas Ou seja
enquanto nalguns modelos se continuam a avaliar as deficiecircncias do indiviacuteduo a CIF vem
enfatizar em coerecircncia com o modelo social que o mais relevante natildeo eacute avaliar as alteraccedilotildees
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 12
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
ao niacutevel das estruturas ou das funccedilotildees dos indiviacuteduos ndash ainda que natildeo as negligencie ndash mas
sim as limitaccedilotildees de actividades e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo que o sujeito experiencia no
decorrer da desadequaccedilatildeo entre as suas diferenccedilas e as caracteriacutesticas dos ambientes sociais
em que se move Atente-se que esta opccedilatildeo conceptual natildeo eacute neutra do ponto de vista
pragmaacutetico dado que os objectivos das intervenccedilotildees passam a ser a remoccedilatildeo das barreiras e
dos obstaacuteculos que ocorrem no quadro da relaccedilatildeo do sujeito com os seus contextos de vida
em detrimento de intervenccedilotildees polarizadas exclusivamente na dimensatildeo individual ou
exclusivamente na dimensatildeo social
No desenvolvimento das poliacuteticas sociais a investigaccedilatildeo tem permitido colocar em evidecircncia a
necessidade de identificar definir e sistematizar os princiacutepios norteadores que tenderatildeo a ser
transversais a todos os sectores de poliacutetica social sendo que apenas deste modo se poderaacute
assegurar a coerecircncia entre as diferentes poliacuteticas dos diferentes sectores Neste sentido
torna-se relevante um processo de clarificaccedilatildeo sobre qual o modelo conceptual em que a
estrateacutegia poliacutetica se baseou de forma a que o conjunto de objectivos estrateacutegias processos
de intervenccedilatildeo definiccedilatildeo de resultados alocaccedilatildeo de recursos e indicadores de avaliaccedilatildeo
estejam devidamente articulados e em consonacircncia com os princiacutepios adoptados
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 13
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
2 CONCEITOS E TERMINOLOGIA
A anaacutelise conceptual no domiacutenio da deficiecircncia permite colocar em evidecircncia a existecircncia de
um conjunto de imprecisotildees ao niacutevel dos conceitos com variaccedilotildees relacionadas com o modelo
meacutedico e com o modelo social Neste contexto afigura-se criacutetico clarificar os contornos teoacutericos
e os modelos conceptuais subjacentes aos diferentes conceitos utilizados estabelecendo uma
base teoacuterica de referecircncia que assegure o necessaacuterio grau de coerecircncia e simultaneamente
abrangecircncia
21 EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA DOS SISTEMAS DE CLASSIFICACcedilAtildeO
Para uma clara delimitaccedilatildeo dos modelos teoacutericos que tecircm influenciado historicamente o
desenvolvimento dos conceitos no domiacutenio da deficiecircncia poderemos identificar 2 abordagens
conceptuais distintas
211 A ABORDAGEM TRADICIONAL INDIVIDUALISTA
A preocupaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede em estabelecer uma classificaccedilatildeo das doenccedilas
remonta ao seacuteculo XVIII Mas somente na VI Revisatildeo da Classificaccedilatildeo Internacional de
Doenccedilas (CID-6) em 1948 citada na IX Revisatildeo foram feitas referecircncias a doenccedilas que
poderiam tornar-se croacutenicas exigindo outros serviccedilos aleacutem de cuidados meacutedicos
Ateacute a deacutecada de 70 a CID-8 citada na IX Revisatildeo considerava apenas as manifestaccedilotildees
agudas segundo o modelo meacutedico etiologia rArr patologia rArr manifestaccedilatildeo
Esse modelo mostrou-se limitado para descrever as consequecircncias das doenccedilas pois excluiacutea
as perturbaccedilotildees croacutenicas evolutivas e irreversiacuteveis
Na IX Assembleia da OMS em 1976 surgiu uma nova conceptualizaccedilatildeo a International
Classification of Impairments Disabilities and Handicaps a manual of classification relating to
the consequences of disease (ICIDH) sendo sua traduccedilatildeo a Classificaccedilatildeo Internacional de
Deficiecircncias Incapacidades e Desvantagens um manual de classificaccedilatildeo das consequecircncias
das doenccedilas (CIDID) publicada em 1989
Apesar da abordagem meacutedica individualista ter dominado a cultura ocidental desde pelo
menos o seacuteculo XIX (Oliver 1990 Gleeson 1999) esta encontra-se geralmente associada agrave
Classificaccedilatildeo Internacional da Deficiecircncia Incapacidades e Desvantagens (ICIDH) da OMS
(1980) Em resposta agraves necessidades crescentes ao niacutevel internacional de clarificaccedilatildeo do
sentido do conceito de incapacidade e atendendo agraves criticas progressivas das pessoas com
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 14
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
incapacidades e seus significativos baseadas no facto de que a incapacidade envolve mais do
que um conjunto de preocupaccedilotildees estritamente meacutedicas a OMS constituiu uma comissatildeo de
cientistas sociais para desenvolver a existente Classificaccedilatildeo Internacional de Doenccedilas em
ordem a conseguir abranger as consequecircncias a longo termo das doenccedilas croacutenicas A ICIDH
foi publicada em 1980 sendo largamente reconhecida como o directoacuterio mais abrangente
existente vindo a ser extensivamente utilizada como uma base para as iniciativas
governamentais dos paiacuteses desenvolvidos da Europa e Ameacuterica do Norte e os paiacuteses
subdesenvolvidos do Sul (Ustun et al 2001)
A ICIDH utiliza uma categorizaratildeo tripartida da deficiecircncia incapacidade e desvantagem A
deficiecircncia refere-se a qualquer perda ou irregularidade da estrutura ou das funccedilotildees
anatoacutemica fisioloacutegica ou psicoloacutegica A incapacidade refere-se a qualquer restriccedilatildeo ou perda
(resultante de uma deficiecircncia) da capacidade para executar uma actividade da forma e dentro
do contexto considerado normal para o ser humano A desvantagem refere-se agrave limitaccedilatildeo
resultante de uma deficiecircncia ou incapacidade no desempenho de um dado papel considerado
normativo (dependendo da idade geacutenero e factores sociais e culturais) para aquele indiviacuteduo
(OMS 1980 p 29)
Esta tipologia baseia-se nas noccedilotildees de normalidade fiacutesica e intelectual bem como no facto de
que a incapacidade e a desvantagem satildeo causadas por deficiecircncias ou irregularidades
psicoloacutegicas ou fisioloacutegicas Neste contexto a ICIDH pode ser objecto de criacuteticas a diferentes
niacuteveis Primeiro as percepccedilotildees de deficiecircncia e normalidade satildeo fenoacutemenos sociais pelo que
satildeo sujeitas a substantivas mudanccedilas temporais culturais e situacionais (Hanks and Hanks
1948 Scheer and Groce 1988 Coleridge 1993 Ingstad and Whyte 1995) A dislexia por
exemplo natildeo seria vista como um problema significativo numa sociedade predominantemente
agraacuteria No entanto eacute considerada uma dificuldade de aprendizagem nas sociedades
modernas tecnologicamente avanccediladas nas quais a literacia e a numeracia desempenham
requisitos criacuteticos para a participaccedilatildeo social e econoacutemica Segundo encontra-se impliacutecito na
ICIDH que o organismo humano eacute flexiacutevel e adaptaacutevel enquanto os ambientes fiacutesicos e sociais
o natildeo satildeo Este facto claramente conflitua com a realidade histoacuterica na qual os indiviacuteduos
transformaram continuamente o seu ambiente em funccedilatildeo das suas necessidades (Barnes
1991) Terceiro as definiccedilotildees da ICIDH sugerem que a deficiecircncia a incapacidade e a
desvantagem constituem-se como estados estaacuteticos Para aleacutem do facto desta noccedilatildeo afigurar-
se incorrecta parece criar distinccedilotildees e barreiras entre as pessoas com e sem deficiecircncias
distinccedilotildees que natildeo satildeo necessaacuterias nem deveriam existir Uma tal situaccedilatildeo parece ser
paradoxal atendendo a que a ICIDH possui uma classificaccedilatildeo para cada caracteriacutestica do
organismo fiacutesico e humano (Shakespeare 1994 104)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 15
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Finalmente e mais significativo neste contexto a ICIDH apresenta as deficiecircncias enquanto
causa primaacuteria da incapacidade e da desvantagem Neste contexto a reabilitaccedilatildeo constitui-se
como uma filosofia e uma praacutetica para erradicar ou minimizar os problemas da deficiecircncia e
capacitar aqueles com deficiecircncias designadas para funcionarem nos seus niacuteveis fiacutesico
psicoloacutegico e social mais elevados (Albrecht 1992 23) Por outras palavras as pessoas com
incapacidades tornam-se objectos para serem curados tratados treinados mudados e
tornados normais de acordo com um conjunto particular de valores As limitaccedilotildees de tais
intervenccedilotildees encontram-se sustentadamente documentadas pelos activistas como
incapacidades desde 1960 (Hunt 1966 Sutherland 1981 Zola 1982)
212 A ABORDAGEM LIBERAL OU INTER-RELACIONAL
A abordagem liberal ou inter-relacional encontra-se expressa no uacuteltimo corpo de trabalhos da
OMS para redefinir a incapacidade nomeadamente a Classificaccedilatildeo Internacional de
Funcionalidade Incapacidade e Sauacutede (CIF) conhecida previamente como ICIDH2 (OMS
2002)
Esta redefiniccedilatildeo constituiu uma tentativa concertada para integrar o modelo meacutedico
individualista tradicional e a interpretaccedilatildeo sociopoliacutetica Por um lado como resultado da sua
rejeiccedilatildeo por parte das pessoas com incapacidades organizaccedilotildees e parceiros dentro e fora da
comunidade cientiacutefica (Driedger 1989 Oliver 1990 Barnes et al 2002) e por outro lado
porque apesar da sua vasta utilizaccedilatildeo a sua aplicabilidade tem sido caracterizada por diversas
interpretaccedilotildees (Coleridge 1993 Ingstad 2001) Em siacutentese demonstrou-se como limitada para
muitos dos actores e natildeo forneceu a delimitaccedilatildeo de significado que originalmente pretendia
Em comum com a sua predecessora a CIF manteacutem o constructo tripartido O primeiro niacutevel
deficiecircncia no original relaciona-se com as funccedilotildees e estrutura do organismo O segundo
niacutevel o que era anteriormente incapacidade eacute agora referido como actividade e o terceiro
desvantagem aparece como participaccedilatildeo No entanto e apesar do intenso debate sobre o
significado de incapacidade o conceito eacute preservado como um termo global para os trecircs niacuteveis
de dificuldade de funcionamento Neste cenaacuterio e em contraste com a ICIDH a nova
formulaccedilatildeo eacute apresentada como uma classificaccedilatildeo universal do funcionamento humano As
pessoas ligadas a acccedilotildees de advocacy defendem que esta configuraccedilatildeo oferece um quadro de
inteligibilidade completo para os aspectos funcionais da experiecircncia de sauacutede Nesta
perspectiva a incapacidade permanece uma preocupaccedilatildeo privilegiadamente do domiacutenio da
sauacutede em detrimento do domiacutenio poliacutetico Constitui-se por um lado como um resultado das
caracteriacutesticas da pessoa e por outro dos ambientes fiacutesicos e sociais Deste modo mais do
que se constituir como uma classificaccedilatildeo das pessoas com incapacidades ou dos problemas
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 16
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
que experienciam a CIF afigura-se como uma classificaccedilatildeo do funcionamento a 3 niacuteveis
compreendida em termos neutros (Ustun et al 2001 6-7)
O reconhecimento da importacircncia dos ambientes fiacutesico e social na CIF poderaacute ser equacionado
como uma melhoria significativa em relaccedilatildeo agrave sua predecessora (Hurst 2000) No entanto
parece-nos altamente improvaacutevel que seja mais eficaz do que a anterior classificaccedilatildeo a gerar
uma linguagem universal sobre a incapacidade na medida em que transformar as diferenccedilas
culturais na conceptualizaccedilatildeo das deficiecircncias assume-se como tarefa extremamente
complexa de alcanccedilar (Bury 2000 Miles 2001) Este facto eacute especialmente significativo na
medida em que natildeo obstante a CIF reconhecer o contexto cultural das percepccedilotildees de
incapacidade e por consequecircncia a normalidade o actual sistema de classificaccedilatildeo
permanece fortemente alicerccedilado nas formulaccedilotildees e nos conceitos cientiacuteficos ocidentais
(Finkelstein 1998 Pfeiffer 2000 Baylies 2002)
Adicionalmente apesar da CIF explicitar que os indiviacuteduos satildeo um elemento da anaacutelise da
incapacidade a abordagem biopsicossocial natildeo se encontra muito distanciada do modelo
anterior na medida em que privilegia o indiviacuteduo como ponto de partida para anaacutelise das
funccedilotildees do corpo e actividades O conceito de participaccedilatildeo eacute incluiacutedo mas subdesenvolvido no
esquema conceptual e continua associado agraves circunstacircncias individuais em vez de fortemente
ligado agrave inclusatildeo poliacutetica e social Adicionalmente enquanto a significacircncia do contexto eacute
enfatizada na CIF as estrateacutegias para a sua mensuraccedilatildeo afiguram-se limitadas Os seus
utilizadores satildeo encorajados a classificar os factores ambientais mas natildeo existem ferramentas
eficazes para levar a cabo esta tarefa bem como para avaliar as tendecircncias de incapacidade
ou por outro lado das poliacuteticas governamentais praacuteticas ambientes fiacutesicos e contextos
culturais (Baylies 2002)
Esta aparente descentraccedilatildeo das preocupaccedilotildees poliacuteticas tem caracterizado a maioria da ciecircncia
social mainstream desde o seacuteculo XIX Deste modo a definiccedilatildeo inter-relacional de
incapacidade e a consequente despolitizaccedilatildeo das questotildees associadas reflectiu-se nos
estudos e na literatura produzida nesta aacuterea por acadeacutemicos e investigadores durante a uacuteltima
metade do seacuteculo XX
Mais recentemente reemergiram na Inglaterra um conjunto de respostas poacutes-modernas ao
modelo social da incapacidade Este cenaacuterio tem favorecido o aparecimento de asserccedilotildees de
que tais fenoacutemenos soacute tecircm servido para agudizar e natildeo diminuir a conflituosidade a propoacutesito
da inclusatildeo (Hunt 1981 Germon 1998 Linton 1998 Gordon and Rosenblum 2001)
No quadro da reabilitaccedilatildeo a abordagem inter-relacional eacute sinoacutenima da liberalizaccedilatildeo da poliacutetica
social para as pessoas com incapacidades nos finais dos anos sessenta e setenta em
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 17
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
particular a mudanccedila dos serviccedilos centrados institucionalmente para os serviccedilos e apoios
centrados na comunidade Deste modo a ecircnfase eacute colocada na integraccedilatildeo de pessoas com
incapacidades na sociedade mainstream Os Standards da Equalizaccedilatildeo das Pessoas com
Incapacidades (1993) da ONU explicitam que todos os estados devem providenciar serviccedilos de
reabilitaccedilatildeo Mas esta orientaccedilatildeo recomenda que se vaacute aleacutem do cuidado meacutedico inicial para
incluir uma ampla gama de medidas e actividades desde a reabilitaccedilatildeo baacutesica e generalista
para actividades orientadas por objectivos (UN 199311) Ainda mais significativo todos os
serviccedilos de reabilitaccedilatildeo deveratildeo estar disponiacuteveis nas comunidades locais nas quais as
pessoas com incapacidades se movem No entanto em determinadas circunstacircncias e para
que se reforcem os objectivos de formaccedilatildeo e aprendizagem poderatildeo ser organizados cursos
localizados nas organizaccedilotildees prestadoras de serviccedilos com um quadro temporal o mais
reduzido possiacutevel (UN 1993 19)
Adicionalmente apesar dos Standards enfatizarem a importacircncia do envolvimento das pessoas
com incapacidades e dos seus significativos no desenvolvimento dos programas de
reabilitaccedilatildeo parece natildeo existir uma asserccedilatildeo clara de que tais estrateacutegias devam ser
controladas por ou mensuradas para estes uacuteltimos Existe no entanto uma assunccedilatildeo taacutecita de
que tais serviccedilos seratildeo liderados por profissionais
Adicionalmente desde que a incapacidade na CIF foi apresentada como uma questatildeo de
sauacutede em detrimento de uma questatildeo poliacutetica parece inevitaacutevel que os profissionais no
domiacutenio da reabilitaccedilatildeo continuem a ser dominados ou laquoalienadosraquo pela Medicina (Finkelstein
1998) Este facto poderaacute ficar a dever-se primeiro agrave actual e persistente subjugaccedilatildeo dos
governos nacionais aos interesses corporativos e das organizaccedilotildees econoacutemicas e segundo agrave
diversidade de barreiras econoacutemicas poliacuteticas e culturais experienciadas pelas pessoas com
incapacidades quer nos paiacuteses desenvolvidos quer nos subdesenvolvidos Neste tipo de
cenaacuterio o pensamento ortodoxo sobre a reabilitaccedilatildeo contratualiza um expediente praacutetico para
os poliacuteticos legisladores e organizaccedilotildees profissionais Como resultado os teacutecnicos tecircm
invariavelmente um niacutevel de escolha reduzido na opccedilatildeo pelo modelo meacutedico em detrimento
de soluccedilotildees poliacuteticas colectivas na resposta aos problemas da exclusatildeo
Esta perspectiva parece afigurar-se a oposta da necessaacuteria De facto apoacutes o trabalho de
Talcott Parsons (1951) emergiu uma extensa literatura condenando a laquomedicalizaccedilatildeoraquo do
quotidiano de um conjunto diverso de perspectivas Por exemplo o filoacutesofo austriacuteaco Ivan Illich
nomeou o seacuteculo XX como a era dos profissionais incapacitantes (1977 11) pela sua
apropriaccedilatildeo do conhecimento mistificaccedilatildeo das competecircncias especializadas e a criaccedilatildeo de
uma cultura perversa e persuasiva de dependecircncia Apesar de tais criticas encontrarem a sua
aplicabilidade predominantemente nas naccedilotildees subdesenvolvidas do Ocidente surgiram
trabalhos recentes que sugerem que apesar de existir uma diminuiccedilatildeo significativa dos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 18
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
conhecimentos meacutedicos e de tratamentos com reduzidos niacuteveis de recursos nas naccedilotildees
subdesenvolvidas criacuteticas similares podem ser relevantes para o contexto no qual nos
situamos (Stone 1999 Ingstad 2001 OMS 2001)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 19
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
3 OBJECTIVOS OPERACIONAIS
Pretende-se desenvolver uma anaacutelise longitudinal e multissectorial ao conceito de deficiecircncia
no sentido de estabelecer uma configuraccedilatildeo operacional no quadro da sua aplicabilidade
estatiacutestica Esta anaacutelise insere-se no acircmbito do Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das
Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo
Objectivo Operacionalizar o conceito de deficiecircncia no quadro da sua aplicabilidade
estatiacutestica assegurando os criteacuterios de (a) comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica
e legislativa dentro do contexto portuguecircs (c) conformidade com os referenciais conceptuais
actuais
Metodologia a) Anaacutelise dos referenciais nacionais e internacionais de delimitaccedilatildeo operacional
do conceito b) exploraccedilatildeo de cenaacuterios que viabilizem o cumprimento dos requisitos definidos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 20
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
4 ANAacuteLISE PRELIMINAR DA EVOLUCcedilAtildeO DA TERMINOLOGIA NO
DOMIacuteNIO 41 ESTADO DA ARTE
A evoluccedilatildeo dos conceitos operativos nos domiacutenios da reabilitaccedilatildeo e da inclusatildeo social tem
sido reflectida nas diversas classificaccedilotildees propostas pela OMS Neste quadro evolutivo a
uacuteltima classificaccedilatildeo proposta ndash CIF ndash constitui-se como um modelo de siacutentese entre a
abordagem meacutedica e a abordagem social no domiacutenio da incapacidade e da sauacutede No sentido
de procedermos agrave anaacutelise dos principiais conceitos e termos focalizar-nos-emos na
reestruturaccedilatildeo conceptual proposta pela Classificaccedilatildeo Internacional de Funcionalidade
Incapacidade e Sauacutede (CIF)
O objectivo geral da CIF eacute proporcionar uma linguagem unificada e padronizada assim como
uma estrutura de trabalho para a descriccedilatildeo da sauacutede e de estados relacionados com a sauacutede
A classificaccedilatildeo define os componentes da sauacutede e alguns componentes do bem-estar
relacionados com a sauacutede (tais como educaccedilatildeo e trabalho) Os domiacutenios contidos na CIF
podem portanto ser considerados como domiacutenios da sauacutede e domiacutenios relacionados com a
sauacutede Estes domiacutenios satildeo descritos com base na perspectiva do corpo do indiviacuteduo e da
sociedade em duas listas baacutesicas (1) Funccedilotildees e Estruturas do Corpo e (2) Actividades e
Participaccedilatildeo Como classificaccedilatildeo a CIF agrupa sistematicamente diferentes domiacutenios de uma
pessoa com uma determinada condiccedilatildeo de sauacutede (eg o que uma pessoa com uma doenccedila
ou perturbaccedilatildeo faz ou pode fazer) A funcionalidade eacute um termo que engloba todas as funccedilotildees
do corpo actividades e participaccedilatildeo de maneira similar a incapacidade eacute um termo que inclui
deficiecircncias limitaccedilatildeo da actividade ou restriccedilatildeo na participaccedilatildeo A CIF tambeacutem relaciona os
factores ambientais que interagem com todos estes constructos Neste sentido a classificaccedilatildeo
permite ao utilizador registar perfis uacuteteis da funcionalidade incapacidade e sauacutede dos
indiviacuteduos em vaacuterios domiacutenios
A CIF pertence agrave ldquofamiacuteliardquo das classificaccedilotildees internacionais desenvolvida pela OMS para
aplicaccedilatildeo em vaacuterios aspectos da sauacutede A famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS
proporciona um sistema para a codificaccedilatildeo de uma ampla gama de informaccedilotildees sobre sauacutede
(eg diagnoacutestico funcionalidade e incapacidade motivos de contacto com os serviccedilos de
sauacutede) e utiliza uma linguagem comum padronizada que permite a comunicaccedilatildeo sobre sauacutede e
cuidados de sauacutede em todo o mundo entre vaacuterias disciplinas e ciecircncias
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 21
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Nas classificaccedilotildees internacionais da OMS os estados de sauacutede (doenccedilas perturbaccedilotildees
lesotildees etc) satildeo classificados principalmente na CID-10 (abreviatura da Classificaccedilatildeo
Internacional de Doenccedilas Deacutecima Revisatildeo) que fornece uma estrutura de base etioloacutegica A
funcionalidade e a incapacidade associadas aos estados de sauacutede satildeo classificadas na CIF
Portanto a CID-10 e a CIF satildeo complementares e os utilizadores satildeo estimulados a usar em
conjunto esses dois membros da famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS A CID-10
proporciona um ldquodiagnoacutesticordquo de doenccedilas perturbaccedilotildees ou outras condiccedilotildees de sauacutede que eacute
complementado pelas informaccedilotildees adicionais fornecidas pela CIF sobre funcionalidade Em
conjunto as informaccedilotildees sobre o diagnoacutestico e sobre a funcionalidade datildeo uma imagem mais
ampla e mais significativa da sauacutede das pessoas ou da populaccedilatildeo que pode ser utilizada em
tomadas de decisatildeo
A famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS constitui uma ferramenta valiosa para a
descriccedilatildeo e a comparaccedilatildeo da sauacutede das populaccedilotildees num contexto internacional As
informaccedilotildees sobre a mortalidade (facultadas pela CID-10) e sobre as consequecircncias na sauacutede
(proporcionadas pela CIF) podem ser combinadas de forma a obter medidas sinteacuteticas da
sauacutede das populaccedilotildees Isto permite seguir a sauacutede das populaccedilotildees e a sua distribuiccedilatildeo bem
como avaliar a parte atribuiacuteda agraves diferentes causas
A CIF transformou-se de uma classificaccedilatildeo de ldquoconsequecircncias da doenccedilardquo (versatildeo de 1980)
numa classificaccedilatildeo de ldquocomponentes da sauacutederdquo Os ldquocomponentes da sauacutederdquo identificam o que
constitui a sauacutede enquanto que as consequecircncias se referem ao impacto das doenccedilas na
condiccedilatildeo de sauacutede da pessoa Deste modo a CIF assume uma posiccedilatildeo neutra em relaccedilatildeo agrave
etiologia de modo que os investigadores podem desenvolver inferecircncias causais utilizando
meacutetodos cientiacuteficos adequados De maneira similar esta abordagem tambeacutem eacute diferente de
uma abordagem do tipo determinantes da sauacutede ou ldquofactores de risco Para facilitar o estudo
dos determinantes ou dos factores de risco a CIF inclui uma lista de factores ambientais que
descrevem o contexto em que o indiviacuteduo vive
A CIF descreve a funcionalidade e a incapacidade relacionadas com as condiccedilotildees de sauacutede
identificando o que uma pessoa ldquopode ou natildeo pode fazer na sua vida diaacuteriardquo tendo em vista as
funccedilotildees dos oacutergatildeos ou sistemas e estruturas do corpo assim como as limitaccedilotildees de
actividades e da participaccedilatildeo social no meio ambiente onde a pessoa vive Segundo a OMS a
CID-10 e a CIF satildeo complementares a informaccedilatildeo sobre o diagnoacutestico acrescido da
funcionalidade fornece um quadro mais amplo sobre a sauacutede do indiviacuteduo ou populaccedilotildees Por
exemplo duas pessoas com a mesma doenccedila podem ter diferentes niacuteveis de funcionalidade e
duas pessoas com o mesmo niacutevel de funcionalidade natildeo tecircm necessariamente a mesma
condiccedilatildeo de sauacutede
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 22
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
O termo do modelo da CIF eacute a funcionalidade que cobre os componentes de funccedilotildees e
estruturas do corpo actividade e participaccedilatildeo social A funcionalidade eacute usada no aspecto
positivo e o aspecto negativo corresponde agrave incapacidade Segundo esse modelo a
incapacidade eacute resultante da interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada pelo indiviacuteduo (seja
orgacircnica e ou da estrutura do corpo) a limitaccedilatildeo de suas actividades e a restriccedilatildeo na
participaccedilatildeo social e os factores ambientais que podem actuar como facilitadores ou barreiras
para o desempenho dessas actividades e da participaccedilatildeo
A CIF eacute baseada portanto numa abordagem biopsicossocial que incorpora os componentes
de sauacutede nos niacuteveis corporais e sociais Assim na avaliaccedilatildeo de uma pessoa com deficiecircncias
e incapacidades esse modelo destaca-se do biomeacutedico baseado no diagnoacutestico etioloacutegico da
disfunccedilatildeo evoluindo para um modelo que incorpora as trecircs dimensotildees a biomeacutedica a
psicoloacutegica (dimensatildeo individual) e a social Nesse modelo cada niacutevel age sobre e sofre a
acccedilatildeo dos demais sendo todos influenciados pelos factores ambientais A OMS pretende
incorporar tambeacutem no futuro os factores pessoais importantes na forma de lidar com as
condiccedilotildees limitantes
O objectivo pragmaacutetico da CIF eacute fornecer uma linguagem padronizada e um modelo para a
descriccedilatildeo da sauacutede e dos estados relacionados com a sauacutede permitindo a comparaccedilatildeo de
dados referentes a essas condiccedilotildees entre paiacuteses serviccedilos sectores relativos agrave sauacutede bem
como o acompanhamento da sua evoluccedilatildeo no tempo
No entanto os conceitos apresentados na classificaccedilatildeo introduzem um novo paradigma para
pensar e trabalhar as deficiecircncias e incapacidades elas natildeo satildeo apenas uma consequecircncia
das condiccedilotildees de sauacutede doenccedila mas satildeo determinadas tambeacutem pelo contexto do meio
ambiente fiacutesico e social pelas diferentes percepccedilotildees culturais e atitudes em relaccedilatildeo agrave
deficiecircncias pela disponibilidade de serviccedilos e de legislaccedilatildeo Dessa forma a classificaccedilatildeo natildeo
constitui apenas um instrumento para medir o estado funcional dos indiviacuteduos Aleacutem disso ela
permite avaliar as condiccedilotildees de vida e fornecer subsiacutedios para poliacuteticas de inclusatildeo social
42 FUNCcedilOtildeES DO CORPO
As Funccedilotildees do corpo satildeo as funccedilotildees fisioloacutegicas dos sistemas orgacircnicos (incluindo as
funccedilotildees psicoloacutegicas)
As funccedilotildees e as estruturas do corpo satildeo classificadas em duas secccedilotildees diferentes Essas duas
classificaccedilotildees estatildeo concebidas de forma a serem utilizadas em paralelo Por exemplo as
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 23
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
funccedilotildees do corpo incluem sentidos humanos baacutesicos como as funccedilotildees da visatildeo e as
estruturas relacionadas aparecem na forma de ldquoolho e estruturas relacionadasrdquo
43 ESTRUTURAS DO CORPO
As Estruturas do Corpo satildeo as partes anatoacutemicas do corpo tais como oacutergatildeos membros e
seus componentes
ldquoCorpo refere-se ao organismo humano como um todo por isso o ceacuterebro e as suas funccedilotildees
ie a mente estatildeo incluiacutedos As funccedilotildees mentais (ou psicoloacutegicas) satildeo portanto incluiacutedas nas
funccedilotildees do corpo As funccedilotildees e as estruturas do corpo satildeo classificadas de acordo com os
sistemas orgacircnicos por isso as estruturas do corpo natildeo satildeo consideradas como oacutergatildeos no
seu sentido restrito
44 DEFICIEcircNCIA
Deficiecircncias satildeo problemas nas funccedilotildees ou na estrutura do corpo tais como um desvio
importante ou uma perda
As deficiecircncias de estrutura podem consistir numa anormalidade defeito perda ou outro desvio
importante relativamente a um padratildeo das estruturas do corpo As deficiecircncias foram definidas
de acordo com os conhecimentos bioloacutegicos actuais ao niacutevel de tecidos ou das ceacutelulas e ao
niacutevel subcelular ou molecular Por motivos praacuteticos no entanto esses niacuteveis natildeo estatildeo
classificados As bases bioloacutegicas das deficiecircncias orientaram essa classificaccedilatildeo e eacute possiacutevel
expandir a classificaccedilatildeo para incluir os niacuteveis celular ou molecular Do ponto de vista meacutedico
deve-se ter em mente que as deficiecircncias natildeo satildeo equivalentes agraves patologias subjacentes mas
sim a manifestaccedilotildees dessas patologias
As deficiecircncias correspondem a um desvio relativamente ao que eacute geralmente aceite como
estado biomeacutedico normal (padratildeo) do corpo e das suas funccedilotildees A definiccedilatildeo dos seus
componentes eacute feita essencialmente por pessoas com competecircncia para avaliar a
funcionalidade fiacutesica e mental de acordo com esses padrotildees
As deficiecircncias podem ser temporaacuterias ou permanentes progressivas regressivas ou estaacuteveis
intermitentes ou contiacutenuas O desvio em relaccedilatildeo ao modelo baseado na populaccedilatildeo e
geralmente aceite como normal pode ser leve ou grave e pode variar ao longo do tempo Estas
caracteriacutesticas satildeo consideradas posteriormente em descriccedilotildees adicionais principalmente nos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 24
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
coacutedigos atraveacutes de um qualificador que se acrescenta ao coacutedigo e do qual fica separado por
um ponto
As deficiecircncias natildeo tecircm uma relaccedilatildeo causal com a etiologia ou com a forma como se
desenvolveram Por exemplo a perda da visatildeo ou de um membro pode resultar de uma
anormalidade geneacutetica ou de uma lesatildeo A presenccedila de uma deficiecircncia implica
necessariamente uma causa No entanto a causa pode natildeo ser suficiente para explicar a
deficiecircncia resultante Da mesma forma quando haacute uma deficiecircncia haacute uma disfunccedilatildeo das
funccedilotildees ou estruturas do corpo mas isto pode estar relacionado com qualquer doenccedila
perturbaccedilatildeo ou estado fisioloacutegico
As deficiecircncias podem ser parte ou uma expressatildeo de uma condiccedilatildeo de sauacutede mas natildeo
indicam necessariamente a presenccedila de uma doenccedila ou que o indiviacuteduo deva ser
considerado doente
As deficiecircncias cobrem um campo mais vasto que as perturbaccedilotildees ou as doenccedilas Por
exemplo a perda de uma perna eacute uma deficiecircncia de uma estrutura do corpo mas natildeo eacute uma
perturbaccedilatildeo ou uma doenccedila
As deficiecircncias podem originar outras deficiecircncias Por exemplo a diminuiccedilatildeo da forccedila
muscular pode prejudicar as funccedilotildees do movimento as funccedilotildees cardiacuteacas podem estar
relacionadas com o deacutefice das funccedilotildees respiratoacuterias e uma percepccedilatildeo prejudicada pode estar
relacionada com as funccedilotildees do pensamento
Actualmente na perspectiva da CIF o conceito de deficiecircncia constitui o poacutelo negativo da
componente ldquoFunccedilotildees e Estrutura do Corpordquo sendo descrito atraveacutes da existecircncia de
alteraccedilotildees significativas das funccedilotildees eou das estruturas do corpo O poacutelo positivo desta
componente refere-se agrave integridade funcional e estrutural Neste contexto um dos desafios
criacuteticos das poliacuteticas sociais consiste na operacionalizaccedilatildeo do conceito de deficiecircncia de forma
a que a elegibilidade dos diferentes puacuteblicos alvo se encontre devidamente delimitada
assegurando a eficaacutecia das medidas subjacentes
No entanto a amplitude e abrangecircncia da definiccedilatildeo do conceito de deficiecircncia proposta pela
OMS atraveacutes da CIF coloca um enorme desafio na medida em que qualquer cidadatildeo desde
que apresente um desvio significativo ao niacutevel da estrutura eou funccedilatildeo passa a ser um
potencial beneficiaacuterio das poliacuteticas neste domiacutenio Neste contexto poder-se-atildeo colocar vaacuterias
questotildees A primeira eacute se interessa agraves diferentes poliacuteticas no sector continuarem a ser
desenvolvidas tendo por focus o conceito de pessoas com deficiecircncias sabendo que a sua
distinccedilatildeo ao longo da populaccedilatildeo apenas poderaacute ser feita atraveacutes do niacutevel e extensatildeo da
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 25
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
alteraccedilatildeo da integridade estrutural e funcional de cada individuo A segunda questatildeo prende-se
com as consequecircncias conceptuais decorrentes da integraccedilatildeo do modelo social na formulaccedilatildeo
e operacionalizaccedilatildeo dos conceitos a serem utilizados pelas poliacuteticas no sector na medida em
que o aspecto critico deixa de ser a natureza e severidade da deficiecircncia para passar a centrar-
se no niacutevel e tipo de restriccedilotildees de participaccedilatildeo que cada cidadatildeo experiencia na interacccedilatildeo
com os seus contextos de vida
No que concerne agrave primeira questatildeo e atendendo a que a mais recente definiccedilatildeo do conceito
de deficiecircncia proposto pela OMS apresenta um elevado niacutevel de abrangecircncia e um reduzido
potencial diferenciador poderemos equacionar 2 hipoacuteteses centrais de operacionalizaccedilatildeo
a) A primeira hipoacutetese baseia-se na possibilidade de operacionalizar diferentes definiccedilotildees
de deficiecircncia ao longo das diferentes poliacuteticas sociais no sentido de assegurar que as
diferentes medidas alcanccedilam efectivamente as pessoas para as quais foram
elaboradas Esta perspectiva tem a vantagem de uma maior focalizaccedilatildeo nas
caracteriacutesticas especificas do puacuteblico-alvo mas no entanto apresenta uma grande
desvantagem que consiste na elevada probabilidade das diferentes definiccedilotildees
perderem a coerecircncia entre si fragmentando igualmente o modelo teoacuterico a partir do
qual se deveriam basear
b) A segunda hipoacutetese consiste na articulaccedilatildeo operativa de dois conceitos o de
deficiecircncia e o de restriccedilotildees de participaccedilatildeo Nesta perspectiva a elegibilidade de uma
determinada politica social baseia-se na validaccedilatildeo preacutevia da existecircncia da primeira
condiccedilatildeo do puacuteblico-alvo ndash a existecircncia de uma deficiecircncia ndash determinando logo de
seguida o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo a partir do qual os diferentes cidadatildeos
passam a poder aceder agraves medidas especiacuteficas nela contidas O desafio contido nesta
hipoacutetese consiste na necessidade de desenvolvimento de um sistema de avaliaccedilatildeo que
permita avaliar o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo experimentado pelas pessoas com
deficiecircncias determinando atraveacutes do valor aferido quais seriam as pessoas com
acesso agraves medidas Neste cenaacuterio natildeo bastaria que uma pessoa tivesse uma
deficiecircncia pelo que seria necessaacuterio avaliar os efeitos da deficiecircncia em interacccedilatildeo
com o ambiente social ao niacutevel da participaccedilatildeo no sentido de determinar a
elegibilidade As vantagens desta hipoacutetese relacionam-se com (i) a preservaccedilatildeo do
niacutevel de coerecircncia dos conceitos utilizados ao longo das diferentes poliacuteticas sociais (ii)
a existecircncia de um processo comum de afericcedilatildeo e determinaccedilatildeo da elegibilidade ao
longo dos diferentes sectores de politica (iii) a compatibilidade e adequabilidade dos
princiacutepios teoacutericos do modelo social com a operacionalizaccedilatildeo dos sistemas e medidas
poliacuteticos de apoio agraves pessoas com deficiecircncias e (iv) a existecircncia de mecanismos de
avaliaccedilatildeo de elevada transparecircncia controlabilidade e rigor
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 26
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
45 INCAPACIDADE
Do ponto de vista de utilizaccedilatildeo dos conceitos de Deficiecircncia e de Incapacidade em Portugal
tecircm subsistido vaacuterias imprecisotildees terminoloacutegicas Primeiro na generalidade dos documentos
internacionais alude-se ao termo ldquopeople with disabilitiesrdquo sendo que invariavelmente esta
expressatildeo eacute traduzida para Portuguecircs como ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo Tal facto parece criar
condiccedilotildees para uma grande permeabilidade semacircntica dificilmente resoluacutevel do ponto de vista
conceptual Segundo deficiecircncia e incapacidade satildeo claramente dois conceitos distintos
Enquanto a deficiecircncia remete para alteraccedilotildees significativas ao niacutevel das estruturas eou das
funccedilotildees do corpo a incapacidade constitui o poacutelo negativo do funcionamento humano em
situaccedilatildeo potencial ou efectiva de participaccedilatildeo no contexto de vida Este facto pressupotildee que os
conceitos de deficiecircncia e de incapacidade natildeo contecircm nenhuma relaccedilatildeo causal entre si nem
nenhuma relaccedilatildeo linear de frequecircncia na medida em que eacute possiacutevel existir uma deficiecircncia
sem que exista uma incapacidade e eacute possiacutevel emergir uma determinada incapacidade sem
que haja uma qualquer deficiecircncia
Deste modo eacute possiacutevel
a) Ter deficiecircncias sem limitaccedilotildees de capacidade (eg uma desfiguraccedilatildeo resultante da
doenccedila de Hansen pode natildeo ter efeito sobre a capacidade da pessoa
b) Ter problemas de desempenho e limitaccedilotildees de capacidade sem deficiecircncias evidentes
(eg reduccedilatildeo de desempenho nas actividades diaacuterias associada a vaacuterias doenccedilas)
c) Ter problemas de desempenho sem deficiecircncias ou limitaccedilotildees de capacidade (eg um
indiviacuteduo HIV positivo ou um ex-doente curado de doenccedila mental que enfrenta
estigmas ou descriminaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais ou no trabalho)
d) Ter limitaccedilotildees de capacidade se natildeo tiver assistecircncia e nenhum problema de
desempenho no ambiente habitual (eg um indiviacuteduo com limitaccedilotildees de mobilidade
pode beneficiar por parte da sociedade de ajudas tecnoloacutegicas de assistecircncia para se
movimentar
e) Experimentar um grau de influecircncia em sentido contraacuterio (eg a inactividade dos
membros pode levar agrave atrofia muscular a institucionalizaccedilatildeo pode resultar numa perda
da socializaccedilatildeo)
Daqui resulta que ao referirmo-nos agraves pessoas com deficiecircncias enquanto puacuteblico-alvo
privilegiado das medidas de reabilitaccedilatildeo poderemos incorrer num desvio significativo de
alocaccedilatildeo dos recursos agraves reais necessidades das pessoas na medida em que natildeo eacute a
deficiecircncia que gera por si mesma a necessidade de reabilitaccedilatildeo mas sim as limitaccedilotildees de
actividade e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo decorrentes da interacccedilatildeo entre as caracteriacutesticas
biopsicossociais e as caracteriacutesticas dos ambientes em que o individuo se move
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Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
A persistecircncia em traduzir o termo disability para deficiecircncia e natildeo apenas o seu homoacutelogo
anglo-saxoacutenico ndash impairment ndash poderaacute explicar-se pelas seguintes razotildees
a) O potencial efeito estigmatizante da expressatildeo ldquopessoas com incapacidadesrdquo ser maior
do que aquele contido na expressatildeo ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo
b) O termo incapacidade centrar-se exclusivamente nos aspectos negativos do
funcionamento individual classificando a pessoa agrave partida como sendo destituiacuteda de
competecircncias e condiccedilotildees para atingir os niacuteveis normativos de desempenho e
performance num conjunto de domiacutenios da vida pessoal e social
O paradoxo surge igualmente porque enquanto no modelo meacutedico a incapacidade aparece
em termos causais relacionada com a deficiecircncia numa perspectiva exclusivamente individual
no modelo proposto pela OMS operacionalizado na CIF os dois conceitos gozam de total
independecircncia conceptual e operativa sendo que a deficiecircncia passa a ter uma baixa
relevacircncia diferenciadora do ponto de vista do funcionamento humano Ora se atendermos a
que as medidas de reabilitaccedilatildeo pretendem promover os potenciais do funcionamento humano
numa perspectiva de participaccedilatildeo plena do indiviacuteduo nos mais diferenciados contextos de vida
assegurando o co-desenvolvimento de todos os actores e das estruturas sociais necessaacuterias agrave
cidadania plena entatildeo falar de ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo natildeo soacute natildeo eacute relevante no quadro
da loacutegica de intervenccedilatildeo como poderaacute traduzir dificuldades dos actores em mudar
efectivamente do paradigma meacutedico para o paradigma social
Este fenoacutemeno aliaacutes natildeo acontece apenas em Portugal sendo que recentes estudos de
investigaccedilatildeo vieram sugerir a adopccedilatildeo dos conceitos de ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo e
ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo para ultrapassar a aplicaccedilatildeo indevida dos
conceitos de deficiecircncia e incapacidade A utilizaccedilatildeo destes conceitos parece articular de forma
mais precisa com o novo modelo conceptual proposto pela OMS enfatizando a diversidade de
niacuteveis de funcionamento humano e apelando a uma certa noccedilatildeo de relatividade socialmente
construiacuteda Uma das criticas feita pela comunidade de investigadores ao conceito de ldquopessoas
com diversidade funcionalrdquo reside no facto de que a expressatildeo eacute dotada de um tatildeo elevado
niacutevel de abrangecircncia que natildeo permite um niacutevel de diferenciaccedilatildeo relevante na medida em que
todos os cidadatildeos detecircm entre si diversos e diferentes padrotildees de funcionamento humano
Neste sentido o conceito ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo aplicar-se-ia a todos os
cidadatildeos sem excepccedilatildeo A proliferaccedilatildeo destes termos eacute explicada pela necessidade da
comunidade politica e cientifica de construir constructos que sejam socialmente aceites e o
mais neutros possiacuteveis do ponto de vista dos seus valores impliacutecitos No entanto a
impossibilidade epistemoloacutegica de desenvolver expressotildees e conceitos socio-historicamente
neutros parece levar muitas vezes agrave concepccedilatildeo de definiccedilotildees com reduzida identidade isto eacute
de significado demasiado amplo e abrangente o que na expressatildeo da UPIAS ldquopodem significar
tudo e coisiacutessima nenhumardquo (2005)
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Os conceitos ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo ldquopessoas com limitaccedilotildees de
actividaderdquo e ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo afiguram-se comparativamente ao
anterior como um conceito de maior coerecircncia conceptual com o modelo proposto pela OMS e
deteacutem cumulativamente um maior poder diferenciador A sua desvantagem reside no facto de
constituiacuterem expressotildees com maior dificuldade de apreensatildeo e inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 29
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
5 ANAacuteLISE DOS REFERENCIAIS NACIONAIS E INTERNACIONAIS
No sentido de obter um conjunto de vectores de referecircncia na estruturaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo do
conceito de deficiecircncia foram analisadas as abordagens desenvolvidas pelos seguintes
organismos INE Eurostat OCDE American Disabilities Act WHO UN
51 INE
Os dados disponiacuteveis no INE parecem indicar a utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na
ICIDH
Deficiecircncia1 Perda ou alteraccedilatildeo de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou
anatoacutemica Nesta definiccedilatildeo estatildeo incluiacutedas as seguintes tipologias2
Deficiecircncia AUDITIVA
Deficiecircncia MENTAL
Deficiecircncia MOTORA
Deficiecircncia ORGAcircNICO-FUNCIONAL
Deficiecircncia PSIQUIAacuteTRICA
Deficiecircncia VISUAL
Incapacidade3 Ausecircncia ou limitaccedilatildeo da capacidade para funcionar estando comprometida a
realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida
diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e originando uma desvantagem para funcionar em
sociedade face a outros
Pessoa deficiente Aquela que tenha uma ou mais das seguintes deficiecircncias a) deficiecircncia
visual b) deficiecircncia auditiva c) deficiecircncia mental d) deficiecircncia motora
1 Nota Na operaccedilatildeo censitaacuteria de 2001 apenas foi observada a deficiecircncia permanente a deficiecircncia temporaacuteria natildeo foi considerada (por exemplo se um indiviacuteduo se desloca com canadianas ou em cadeira de rodas porque partiu uma perna ou se sofre de descolamento parcial da retina que o obriga a andar com uma venda natildeo foi considerado como tendo uma deficiecircncia) 2 Fonte INE ndash Censos 2001 ndash Recenseamento Geral da Populaccedilatildeo (Antecedentes Metodologia e Conceitos) Antecedentes Metodologia e Conceitos 3 Fonte INS ndash Inqueacuterito Nacional agrave Sauacutede
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
Trabalhador deficiente Trabalhador que estaacute incapacitado para assegurar por si mesmo total
ou parcialmente a satisfaccedilatildeo de necessidades de uma vida individual ou social normal devido
a uma deficiecircncia congeacutenita ou adquirida das suas capacidades fiacutesicas sensoriais ou
mentais tendo por isso dificuldade em obter eou manter o desempenho de funccedilotildees de acordo
com as suas habilitaccedilotildees idade e experiecircncia profissional
Cidadatildeo Trabalhador com necessidades especiais Cidadatildeo idoso ou portador de
deficiecircncias sensoriais (visuais e auditivas) fiacutesicas (motoras) e cognitivas
52 EUROSTAT
Os dados disponibilizados pelo Eurostat no seu endereccedilo electroacutenico4 parecem indicar a
utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na ICIDH
Conceito Deficiecircncia5
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de deficiecircncia refere-se a uma perda ou alteraccedilatildeo
de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou anatoacutemica
Conceito Incapacidade6
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de incapacidade refere-se agrave ausecircncia ou limitaccedilatildeo
da capacidade para funcionar estando comprometida a realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas
funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e
originando uma desvantagem para funcionar em sociedade face a outros
Conceito Desvantagem7
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito refere-se agrave desvantagem para um dado individuo
decorrente de uma deficiecircncia ou incapacidade
4 httpforumeuropaeuintircdsiscodedinfodatacodedenTheme3htm 5 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 6 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 7 Fonte Key data on health 2000 Eurostat
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
53 OCDE
Definiccedilotildees gerais de incapacidade
No contexto da OCDE identificam-se 2 abordagens distintas no quadro da definiccedilatildeo de
incapacidade
A incapacidade pode ser definida enquanto um estado decorrente de autoavaliaccedilatildeo ou um
status baseado em fontes administrativas eg beneficiaacuterio dos apoios De forma muito
frequente e talvez de forma imprecisa estas duas definiccedilotildees satildeo explicitadas como
incapacidade ldquosubjectivardquo versus rdquoobjectivardquo
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo e instrumentos
A incapacidade autoavaliada eacute medida atraveacutes de inqueacuteritos feitos directamente aos cidadatildeos
nas suas residecircncias Apesar da avaliaccedilatildeo ser baseada de uma forma geral nas respostas agraves
questotildees relativas a problemas de sauacutede de longo termo que limitam as actividades de vida
diaacuteria o detalhe das questotildees eacute geralmente diferente dificultando a comparabilidade dos
dados Por exemplo ldquolongo termordquo eacute parametrizado em 6 meses na Noruega e em 12 meses
na Suiccedila O status dos beneficiaacuterios pode ser avaliado atraveacutes de registos administrativos ou
atraveacutes de inqueacuteritos Os resultados entre as duas fontes satildeo de uma forma geral bastante
diferentes por duas razotildees nucleares os registos administrativos geralmente contam casos e
natildeo pessoas o que em situaccedilotildees de benefiacutecios muacuteltiplos pode levar a contagens duplas por
outro lado os inqueacuteritos satildeo baseados nas respostas sobre o status do beneficiaacuterio e algumas
pessoas podem desejar natildeo revelar a sua condiccedilatildeo perante os benefiacutecios
Nenhuma destas definiccedilotildees e medidas de mensuraccedilatildeo eacute superior a outras pelo que a sua
utilizaccedilatildeo depende dos objectivos do propoacutesito da investigaccedilatildeo e da disponibilidade da
informaccedilatildeo
Abordagens para medir a incapacidade no quadro da aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos agraves populaccedilotildees
a) Incapacidade geral (natildeo especificada)
Puacuteblico-alvo todos os adultos
b) Incapacidade relativa ao trabalho
Puacuteblico-alvo pessoas em idade activa
c) Limitaccedilotildees nas actividades de vida diaacuteria (AVD)
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Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Puacuteblico-alvo Populaccedilatildeo idosa
54 AMERICAN DISABILITIES ACT
O American Disabilities Act (ADA) desenvolvido em 1990 fornece um conjunto de guidelines
no sentido de assegurar a disponibilizaccedilatildeo de serviccedilos para as pessoas com deficiecircncias bem
como a protecccedilatildeo dos seus direitos legais
A ADA inclui uma definiccedilatildeo legal de incapacidade consistindo na presenccedila de ldquouma deficiecircncia
fiacutesica ou mental que limita significativamente uma ou mais das principais actividades de vidardquo
Independentemente da definiccedilatildeo proposta pela ADA a existecircncia de muacuteltiplos programas a
favor das pessoas com deficiecircncias e os diferentes focus legais em diferentes puacuteblicos alvo
fazem com que tenham emergido uma multiplicidade de definiccedilotildees de incapacidade ao longo
do tempo no quadro das poliacuteticas sociais americanas
55 OMS ONU Revisatildeo dos actuais inqueacuteritos sobre a incapacidade
Apesar de existir um desenvolvimento consideraacutevel dos inqueacuteritos na aacuterea da incapacidade
poder-se-atildeo explicitar algumas observaccedilotildees relativas agrave sua multiplicidade Numa primeira linha
de anaacutelise os inqueacuteritos tendem a focalizar-se nas limitaccedilotildees de actividade eou na deficiecircncia
No que concerne agrave formulaccedilatildeo escrita tendem a existir diferenccedilas significativas entre
inqueacuteritos facto que inviabiliza natildeo raras vezes a comparabilidade dos dados entre inqueacuteritos
As diferentes formulaccedilotildees das questotildees incluem
Tem dificuldade
Eacute capaz de
Faz
Tem sentido problemas em
com ou sem assistecircncia pessoal eou tecnoloacutegica
A questatildeo que se coloca eacute se estas formulaccedilotildees tecircm o mesmo significado isto eacute se todas elas
pretendem medir a capacidade ou a performance De acordo com a CIF a capacidade
remeteria para o potencial de execuccedilatildeo de um indiviacuteduo enquanto a performance diria respeito
ao niacutevel de desempenho efectivo do indiviacuteduo atraveacutes do seu envolvimento numa situaccedilatildeo de
vida real As lacunas existentes e as poucas referecircncias ao niacutevel da forma como os inquiridos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 33
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
satildeo instruiacutedos a responder faz com que natildeo seja possiacutevel desenvolver um discernimento
irrefutaacutevel sobre esta mateacuteria
Do ponto de vista dos domiacutenios abrangidos os inqueacuteritos tecircm apresentado algumas questotildees
sobre a participaccedilatildeo e o ambiente e evidenciam algumas limitaccedilotildees na sua amplitude Os
domiacutenios de actividades e participaccedilatildeo geralmente abrangidos tecircm sido operacionalizados de
uma forma geral nas seguintes dimensotildees
Educaccedilatildeo e emprego (formulado como questotildees de performance)
Outros inqueacuteritos incluem aacutereas como relaccedilotildees interpessoais vida familiar tomada de
decisotildees etc
O domiacutenio relativo aos factores ambientais tem incluiacutedo
Utilizaccedilatildeo e acessibilidadedisponibilidade dos produtos de assistecircncia e da tecnologia
Acessibilidade do ambiente
Disponibilidade dos serviccedilos (sauacutede protecccedilatildeo social educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo)
Evidecircncias muito escassas ao niacutevel da poliacutetica atitudes ambiente natural
planeamento e concepccedilatildeo
A questatildeo de investigaccedilatildeo neste contexto centra-se na seguinte formulaccedilatildeo ldquoo que eacute que os
inqueacuteritos medem como incapacidaderdquo
a) Definiccedilatildeo a priori da incapacidade versus sem incapacidade
Alguns inqueacuteritos sobre a incapacidade especialmente os mais antigos utilizam uma definiccedilatildeo
a priori de incapacidade O objectivo deste tipo de inqueacuteritos eacute contar o nuacutemero de pessoas
que se encaixam na definiccedilatildeo no contexto da populaccedilatildeo total Neste sentido os dados satildeo
analisados de acordo com dois grupos de referecircncia ndash com incapacidade e sem incapacidade ndash
em funccedilatildeo de um conjunto de diferentes variaacuteveis Este tipo de questionaacuterios formula questotildees
do tipo ldquoPossui algum tipo de incapacidade auditiva visual ou fiacutesicardquo Muitas questotildees dos
censos tecircm utilizado este formato
b) Definiccedilatildeo a posteriori de incapacidade versus sem incapacidade
Mais recentemente alguns inqueacuteritos desenvolveram-se em direcccedilatildeo a uma definiccedilatildeo a
posteriori de incapacidade Nestes casos eacute medida a capacidade a performance ao longo de
um conjunto vasto de domiacutenios Este segundo tipo de inqueacuteritos tende a ter uma ampla
aceitaccedilatildeo eg HALS (Canada) HID (Franccedila) inqueacuterito sobre incapacidade na Africa do Sul
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 34
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Inqueacuterito Espanhol sobre incapacidade NHIS-D (USA) inqueacuterito Holandecircs entre outros Estes
instrumentos formulam questotildees relativas agraves dificuldades que as pessoas experienciam em
diferentes domiacutenios produzindo um perfil pessoal que possa colocar em evidecircncia os
diferentes graus de capacidade associados A categorizaccedilatildeo de incapacidade sem
incapacidade eacute formulada ao niacutevel do domiacutenio e natildeo como uma categoria geral de atributo
pessoal Esta abordagem permite uma anaacutelise ao niacutevel de funcionamento individual por
domiacutenio por exemplo comparando a experiecircncia de incapacidade no domiacutenio de mobilidade
versus socializaccedilatildeo versus comunicaccedilatildeo entre outros bem como o impacto dos factores
ambientais nestes diferentes domiacutenios O perfil resultante do funcionamento individual ao longo
de muacuteltiplos domiacutenios eacute similar aos estados de sauacutede individuais ao longo das diferentes
dimensotildees
Vantagens de uma abordagem a posteriori
Estaacute em consonacircncia com a abordagem universal proposta pela CIF Todas as
pessoas experienciam deficiecircncia nalgum ponto e esta experiecircncia eacute caracterizada
numa abordagem a posteriori e natildeo a priori
Decisotildees sobre a criaccedilatildeo de categorias sobre quem tem incapacidade e sobre quem
natildeo tem podem ser tomadas atraveacutes de diferentes niacuteveis de anaacutelise por exemplo
atraveacutes da anaacutelise da experiecircncia das pessoas que experienciam incapacidade em 1 2
ou 3 domiacutenios de cruzar o status de emprego de pessoas com incapacidade ao longo
dos diferentes domiacutenios etc
Deixa de ser necessaacuteria uma definiccedilatildeo tipoloacutegica e categoacuterica de pessoas com
incapacidade O que necessita de ser definido neste contexto eacute o que se designa por
limitaccedilatildeo da capacidade ou problemas de performance ao longo dos diferentes
domiacutenios
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 35
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 36
Dezembro2006
6 SISTEMATIZACcedilAtildeO DAS DIMENSOtildeES DE ORGANIZACcedilAtildeO E
OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em todos os estudos efectuados neste domiacutenio foi colocada em evidecircncia a actual dificuldade
de comparabilidade estatiacutestica internacional inter ou intra sectorial independentemente do
organismo referenciador ndash OCDE ONU EUROSTAT INE OMS
Neste contexto desenvolver-se-aacute a extracccedilatildeo de conhecimento tendo por base a identificaccedilatildeo
de um conjunto de eixos de anaacutelise que actuem como vectores de estruturaccedilatildeo na
operacionalizaccedilatildeo do conceito A este propoacutesito atente-se no Quadro 2
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Abordagem Focus Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Delimitaccedilatildeo temporal do
conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo
Design das questotildees
CID-10
ICIDH
ICF
SauacutedeDoenccedila
Deficiecircncia
Incapacidade
a) Geral
b) Relativa ao trabalho
c) Limitaccedilotildees nas
actividades de vida
diaacuteria
Funcionalidade ndash
Niacuteveis de execuccedilatildeo
das actividades por
domiacutenio e niacuteveistipos
de ajudas mobilizadas
Intersubjectivo ndash
vg inqueacuteritos
Objectivo ndash vg
fontes administrativas
A priori
A posteriori
Temporaacuterias
permanentes
Progressivas
regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou
contiacutenuas
Tipo 1 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre uma determinada
condiccedilatildeo individual
combinada com itens
referentes a limitaccedilotildees de
actividade e participaccedilatildeo e
factores contextuais
Tipo 2 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre a presenccedila de uma
pessoa com incapacidade
no agregado familiar
seguindo-se uma lista de
deficiecircncias e
incapacidades
Tipo 3 ndash Checklist de
deficiecircncias
Quadro 2 ndash Eixos de operacionalizaccedilatildeo do conceito
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 37
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 38
Dezembro2006
7 ESCOLHA DO CENAacuteRIO A IMPLEMENTAR
A anaacutelise do Quadro 2 permite-nos uma definiccedilatildeo modular do cenaacuterio a implementar atraveacutes de
uma configuraccedilatildeo do conceito pelos eixos de anaacutelise propostos Uma das dificuldades
evidentes nesta delimitaccedilatildeo prende-se com o cumprimento dos requisitos de (a)
comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica e legislativa dentro do contexto portuguecircs
e (c) conformidade com os referenciais conceptuais actuais sendo que a coexistecircncia destes
criteacuterios afigura-se em muitos casos incompatiacutevel entre si Para efeitos da estruturaccedilatildeo do
cenaacuterio privilegiar-se-aacute a conformidade com os referenciais conceptuais actuais
71 ABORDAGEM No que concerne agrave abordagem privilegia-se a adopccedilatildeo das mais recentes directrizes propostas
pela OMS adoptando explicitamente a CIF
Fundamentaccedilatildeo
A CIF apresenta a capacidade para descrever o funcionamento humano numa
perspectiva biopsicossocial em detrimento da classificaccedilatildeo anterior (ICIDH) que se
focalizava na dimensatildeo biomeacutedica A CIF foi desenvolvida no plano conceptual para ser aplicaacutevel em diferentes aacutereas e
sectores A CIF eacute aplicaacutevel transversalmente agraves dimensotildees de cultura idade geacutenero sendo um
instrumento sistemaacutetico para descrever e medir a sauacutede e o funcionamento humano
num dado contexto A CIF constitui-se enquanto instrumento potencial para a poliacutetica social design das
intervenccedilotildees nos domiacutenios da sauacutede educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e intervenccedilatildeo social Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
72 FOCUS
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo da centraccedilatildeo da recolha de dados ao niacutevel
da dimensatildeo de funcionalidade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 39
Dezembro2006
Fundamentaccedilatildeo
Consonacircncia com o modelo conceptual proposto pela CIF enfatizando o caraacutecter
dinacircmico e interaccional (pessoa factores contextuais) do funcionamento de cada
pessoa Permite caracterizar as limitaccedilotildees de actividade e restriccedilotildees de participaccedilatildeo dos
cidadatildeos identificando necessidades de intervenccedilotildees especializadas numa loacutegica de
empowerment e participaccedilatildeo social Permite analisar a adequabilidade e ajustamento das actuais medidas poliacuteticas do
ponto de vista dos seus objectivos e os problemas detectados ao niacutevel da participaccedilatildeo
dos cidadatildeos ao longo de um conjunto diversificado de domiacutenios
73 MEacuteTODOS DE MENSURACcedilAtildeO
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo de meacutetodos intersubjectivos nomeadamente
inqueacuteritos
Fundamentaccedilatildeo
Flexibilidade ao niacutevel da abrangecircncia e profundidade das dimensotildees
Maior facilidade na implementaccedilatildeo atendendo agrave disponibilizaccedilatildeo de uma amostra
delimitada
Maior niacutevel de controlo sobre as condiccedilotildees de observaccedilatildeo e da entrevista devido ao
menor nuacutemero de entrevistas a ser implementado
74 DELIMITACcedilAtildeO CONCEPTUAL E TEMPORAL DO CONCEITO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo temporal e apesar de se privilegiar as vantagens anteriormente
explicitadas no desenvolvimento de uma definiccedilatildeo a posteriori assume-se a necessidade
politica de delimitar o campo de intervenccedilatildeo do conjunto de medidas sociais neste domiacutenio
pelo que a delimitaccedilatildeo conceptual poderaacute ser objecto de operacionalizaccedilatildeo atraveacutes dos
seguintes paracircmetros
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 40
Dezembro2006
Poder-se-aacute colocar a questatildeo de saber se a delimitaccedilatildeo do conceito proposta remete
especificamente para ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ou para ldquopessoas com limitaccedilotildees de
participaccedilatildeordquo Atendendo a que a definiccedilatildeo comporta uma abordagem sisteacutemica enfatizando a
interacccedilatildeo entre um conjunto diversificado de componentes que produzem impacto na
funcionalidade da pessoa a resposta natildeo eacute linear dependendo da ecircnfase socio-histoacuterica e da
abordagem sociopoliacutetica que se escolher enfatizar No entanto e do ponto de vista conceptual
privilegia-se a adopccedilatildeo do conceito ldquopessoas com limitaccedilotildees de participaccedilatildeordquo dado que existe
total autonomia operativa entre os diferentes constructos Neste sentido a deficiecircncia natildeo
constitui um factor causal linear das limitaccedilotildees de actividade e das restriccedilotildees ao niacutevel da
participaccedilatildeo mas antes uma das componentes que em interacccedilatildeo com outras podem
provocar impactos ao niacutevel da funcionalidade do indiviacuteduo Por uacuteltimo refira-se que a tipologia
ldquopessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeordquo poderaacute ser alvo de criticas por constituir
uma designaccedilatildeo que apela a duas componentes em simultacircneo (actividades e participaccedilatildeo)
excluindo outras e ser demasiado longa para uma definiccedilatildeo tipoloacutegica A este propoacutesito pode-
se sugerir a delimitaccedilatildeo ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo constituindo esta
expressatildeo uma abordagem holiacutestica ao conjunto de componentes que interferem com o
funcionamento humano Deste modo poderemos ter as seguintes designaccedilotildees
Pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Pessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo
Pessoas com limitaccedilotildees de funcionalidade
Figura 2 ndash Possiacuteveis designaccedilotildees
O Quadro 3 pretende fornecer uma visatildeo sistemaacutetica sobre o processo de decisatildeo da
designaccedilatildeo a adoptar
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
deficiecircncias
Tradiccedilatildeo analiacutetica dentro do
contexto portuguecircs
Em conformidade com o modelo
meacutedico ndash centra-se nas alteraccedilotildees
de estrutura e funccedilatildeo ndash
focalizaccedilatildeo na pessoa
Desarticulado dos pressupostos do
modelo social ndash natildeo remete para a
experiecircncia de incapacidade
enquanto produto da interacccedilatildeo
entre pessoa e ambiente
Mai
or
Abr
angecirc
ncia
Mai
or
Espe
cific
idad
e
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 41
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
incapacidades
Em conformidade com a
delimitaccedilatildeo anglo-saxoacutenica que
utiliza o conceito Disability
Focalizaccedilatildeo no poacutelo negativo do
funcionamento humano ndash
funcionalidadeincapacidade
Ao focalizar-se na experiecircncia de
incapacidade enquanto
interacccedilatildeo pessoa-ambiente
remete indirectamente para a
mobilizaccedilatildeo de apoios e recursos
de forma a ultrapassar eou
eliminar os obstaacuteculos ao
funcionamento em contexto
O potencial efeito estigmatizante
da expressatildeo ldquopessoas com
incapacidadesrdquo
Pessoas com
diversidade
Funcional
Em conformidade com o modelo
social
Focaliza-se na gestatildeo das
diferenccedilas e no seu impacto ao
niacutevel da participaccedilatildeo das pessoas
na sociedade
Elevado niacutevel de abrangecircncia natildeo
permitindo um niacutevel de
diferenciaccedilatildeo relevante na
medida em que todos os cidadatildeos
detecircm entre si diversos e
diferentes padrotildees de
funcionamento humano
Conceito dificilmente
operacionalizaacutevel do ponto de
vista da formulaccedilatildeo das poliacuteticas e
da delimitaccedilatildeo dos puacuteblicos-alvo
Pessoas com
restriccedilotildees ao
niacutevel da
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos Desta forma
todos os obstaacuteculos agrave participaccedilatildeo
relacionados com discriminaccedilatildeo
social preconceitos estereoacutetipos
deficiecircncias doenccedilas croacutenicas
entre outros satildeo incluiacutedos
Natildeo inclui as limitaccedilotildees de
actividade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 42
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
limitaccedilotildees de
actividade e
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida e simultaneamente no
domiacutenio das limitaccedilotildees de
actividade
Ruptura com a tradiccedilatildeo analiacutetica
no sector
Dificuldade de apreensatildeo e
inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Natildeo inclui as alteraccedilotildees da
estrutura e da funccedilatildeo
Pessoas com
limitaccedilotildees de
funcionalidade
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel das
diferentes dimensotildees constituintes
da funcionalidade e do
funcionamento humano
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos
Pessoas com
deficiecircncias e
incapacidades
Natildeo introduz ruptura com a
tradiccedilatildeo analiacutetica no sector
Inclui as alteraccedilotildees de estrutura e
funccedilatildeo bem como as alteraccedilotildees
decorrentes ao niacutevel da
funcionalidade
Diferencia os conceitos de
deficiecircncia e incapacidade
autonomizando-os e fornecendo
uma base compreensiva para o
natildeo estabelecimento de relaccedilotildees
de causa-efeito entre os ambos
Abrange os obstaacuteculos que
emergem na interacccedilatildeo pessoa-
contextos de vida e
simultaneamente no domiacutenio das
limitaccedilotildees de actividade
Poder diferenciador e delimitador
na definiccedilatildeo do puacuteblico-alvo
Em alinhamento estrateacutegico com o
PAIPDI
Designaccedilatildeo de compromisso com
os referenciais teoacutericos do modelo
social e dos princiacutepios da ldquoeacutetica da
diversidaderdquo
Quadro 3 ndash Visatildeo comparativa das hipoacuteteses da designaccedilatildeo a adoptar
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 43
Dezembro2006
75 DELIMITACcedilAtildeO DA DURACcedilAtildeO E CURSO DE EVOLUCcedilAtildeO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo interessa a caracterizaccedilatildeo nas
3 dimensotildees desenvolvidas
Fundamentaccedilatildeo
Afigura-se relevante caracterizar a ocorrecircncia das deficiecircncias quanto aacute sua
consistecircncia no tempo ndash temporaacuterias permanentes ndash analisando os factores
contextuais associados consequecircncias ao niacutevel das actividades e da participaccedilatildeo ao
longo de um conjunto de domiacutenios em ordem agrave extracccedilatildeo de implicaccedilotildees no acircmbito
das poliacuteticas sociais
No acircmbito da adaptabilidade e da adequaccedilatildeo das medidas poliacuteticas agraves necessidades
especiacuteficas dos cidadatildeos torna-se relevante caracterizar a deficiecircncia quanto agrave
natureza do seu curso evolutivo ndash progressivas regressivas estaacuteveis O mesmo
criteacuterio eacute aplicaacutevel quanto aacute dimensatildeo de padratildeo de manifestaccedilatildeo ndash intermitente
contiacutenua
No entanto e apesar da incapacidade se manifestar ao longo do ciclo de vida da pessoa
de forma multimodal para efeitos de delimitaccedilatildeo e de definiccedilatildeo do conceito de pessoas
com deficiecircncias e incapacidades privilegiaremos o caraacutecter permanente Desta forma
excluem-se as manifestaccedilotildees temporaacuterias de incapacidade que enviesariam a anaacutelise e o
desenvolvimento de poliacuteticas neste domiacutenio
76 DESIGN DAS QUESTOtildeES
No que concerne ao design das questotildees privilegia-se a escolha de questotildees tipo 1
Fundamentaccedilatildeo
Em consonacircncia com a CIF
Permite comparabilidade estatiacutestica futura
Permite a caracterizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre os factores de funcionalidade ndash integridade
estrutural e funcional actividades participaccedilatildeo e factores contextuais
Permite o design das poliacuteticas sociais e metodologias de intervenccedilatildeo alicerccediladas nas
necessidades especiacuteficas dos cidadatildeos em torno das dimensotildees de inclusatildeo social
Domiacutenios
Visatildeo
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 44
Dezembro2006
Audiccedilatildeo
Comunicaccedilatildeo
Mobilidade
Dor
Aprendizagem e funcionamento psicoloacutegico
Autocuidados e vida domeacutestica
Condiccedilotildees gerais de sauacutede
Mobilizaccedilatildeo de ajudas ou equipamento especializado
Participaccedilatildeo social
Transporte e educaccedilatildeo
77 PROPOSTA DE DELIMITACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em funccedilatildeo das dimensotildees caracterizadas e dos criteacuterios privilegiados desenvolveu-se o
seguinte enquadramento conceptual
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 45
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Figura 2 ndash Enquadramento conceptual da delimitaccedilatildeo do conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso da evoluccedilatildeo
Temporaacuterias permanentes
Progressivas regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou contiacutenuas
Focus
Funcionalidade ndash Niacuteveis de execuccedilatildeo das actividades por domiacutenio e niacuteveistipos de ajudas mobilizadas
Abordagem CIF
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo temporal do conceito
A priori
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Inter-subjectivo
Design das questotildees
Questatildeo geneacuterica sobre uma determinada condiccedilatildeo individual combinada com itens referentes a limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo e factores contextuais
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
8 CRITEacuteRIOS DE ELEGIBILIDADE DO PUacuteBLICO-ALVO E SISTEMAS DE
AVALIACcedilAtildeO
A operacionalizaccedilatildeo do conceito de incapacidade tem sido abordada de forma heterogeacutenea
entre diferentes modalidades de politica e os diferentes contextos socioculturais de cada paiacutes
De uma forma geral encontram-se 2 eixos criacuteticos na sua operacionalizaccedilatildeo
a) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de trabalho (na ocupaccedilatildeo preacutevia ou numa nova
ocupaccedilatildeo ajustada agraves alteraccedilotildees funcionais)
b) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de obter rendimentos provenientes do trabalho
A explicitaccedilatildeo dos criteacuterios de delimitaccedilatildeo do conceito de incapacidade nos diferentes paiacuteses
encontra-se na Quadro 4
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Austraacutelia 2 Criteacuterios possuir uma incapacidade que resulte
num score nunca inferior a 20 nas tabelas de
incapacidades e incapacidade em trabalhar 30
horas ou mais por semana ou em ser
reconvertido para trabalho em contexto regular
nos proacuteximos 2 anos
Nenhum
Aacuteustria 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho (50
de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo para
trabalhadores sem qualificaccedilotildees) papel criacutetico
das decisotildees dos tribunais devido a definiccedilotildees
legais imprecisas
Nenhum mas as
restriccedilotildees de sauacutede
devem ter uma duraccedilatildeo
igual ou superior a 6
meses
Beacutelgica 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na actual ocupaccedilatildeo
1 ano
Canada Incapacidade severa e prolongada que impeccedila de
desenvolver trabalho numa base regular
Nenhum
Dinamarca 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum mas a
reabilitaccedilatildeo precisa de
estar completa
Franccedila 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual mas a
totalidade do subsidio requer igualmente perda de
capacidade de trabalho
Nenhum no caso das
condiccedilotildees estarem
estaacuteveis mas muito
frequentemente apoacutes 3
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
anos
Alemanha 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho a
incapacidade parcial eacute calculada em funccedilatildeo do nordm
de horas que a pessoa pode trabalhar
Nenhum mas a
incapacidade deve ter
uma duraccedilatildeo miacutenima
de 26 semanas
Itaacutelia 666reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum
Coreia Criteacuterios meacutedicos (niacuteveis de incapacidade
definidos de forma detalhada)
Periacuteodo de espera de
50 dias (os subsiacutedios
de doenccedila natildeo se
encontram disponiacuteveis)
Meacutexico 50 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo Nenhum
Holanda 15 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
(25 para os trabalhadores por conta proacutepria e
jovens com incapacidade) grau de incapacidade
calculado pela diferenccedila de remuneraccedilatildeo entre o
actual posto de trabalho compatiacutevel com as
limitaccedilotildees funcionais e o anterior
1 ano
Noruega 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho O
grau de subsiacutedio eacute calculado pela capacidade de
remuneraccedilatildeo
Nenhum (apoacutes ter
completado a
reabilitaccedilatildeo vocacional)
Poloacutenia Reduccedilatildeo temporaacuteria ou permanente da
capacidade de trabalho
Nenhum
Portugal 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual
Nenhum mas na
praacutetica ao fim de 3
anos (fim do periacuteodo de
doenccedila de longo termo)
Espanha 33 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho na
ocupaccedilatildeo actual incapacidade para todo e
qualquer trabalho para a totalidade do subsiacutedio
1 ano (embora seja
possiacutevel a candidatura
antes deste prazo em
casos de incapacidade
permanente)
Sueacutecia 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho grau
de incapacidade parcial calculado a partir das
horas que uma pessoa pode trabalhar
Nenhum
Suiccedila 40 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho para
as pessoas inactivas o grau de incapacidade eacute
calculado em relaccedilatildeo aacute actividade actual
1 ano
Turquia 666 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho
com um focus meacutedico bastante significativo
Nenhum
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Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Reino Unido Limitaccedilotildees nas actividades de vida quotidianas
relevantes para o trabalho (avaliaccedilotildees meacutedicas
predominantes) teste ocupacional durante a s
primeiras 28 semanas (subsidio de doenccedila)
28 semanas
Estados
Unidos
Reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
incapacidade em investir numa actividade
profissional com rendimentos ($ US 740 por mecircs)
5 meses (nem sempre
cobertos pelos
subsiacutedios de curto-
termo) e 24 meses
para a cobertura
meacutedica
Quadro 4 ndash Definiccedilotildees de incapacidade e tempos regulamentares
Um dos desafios que se coloca aos actuais sistemas reside na delimitaccedilatildeo da elegibilidade do
puacuteblico-alvo Para cumprir este objectivo satildeo necessaacuterios sistemas de avaliaccedilatildeo holiacutesticos
abrangentes coerentes e que permitam chegar a resultados de forma consistente e com
validade interna No actual contexto a CIF propotildee constituir-se como o instrumento conceptual
abrangente para caracterizar os diferentes domiacutenios e niacuteveis de funcionalidade incapacidade
de forma coerente e integrada Neste sentido uma das vantagens apontadas para a adopccedilatildeo
do modelo desenvolvido pela OMS eacute a possibilidade de uniformizaccedilatildeo de conceitos e portanto
da utilizaccedilatildeo de uma linguagem padratildeo que permita a comunicaccedilatildeo entre investigadores
gestores profissionais de sauacutede organizaccedilotildees da sociedade civil e utilizadores em geral
Um dos campos de estudo mais explorados para a aplicaccedilatildeo da CIF tem sido a aacuterea de
Medicina Fiacutesica e de Reabilitaccedilatildeo no que concerne ao acompanhamento do estado de sauacutede
dos pacientes em tratamento O uso da CIF tem sido considerado tambeacutem na avaliaccedilatildeo apoacutes
transtornos agudos condiccedilotildees traumaacuteticas condiccedilotildees croacutenicas e na geriatria
Alguns autores argumentam que a CIF deve ser explorada como uma base de informaccedilotildees
padronizadas em estudos sobre incapacidade profissional quando haacute necessidade de
relacionar dados de sauacutede ocupacional com os da Seguranccedila Social
Na Sauacutede Puacuteblica tradicionalmente pouca atenccedilatildeo tem sido dada agraves pessoas com
incapacidades No entanto ao lado de recentes investimentos por parte de organizaccedilotildees e de
alguns governos a publicaccedilatildeo do modelo da CIF fornece as bases para as poliacuteticas e
disciplinas da Sauacutede Puacuteblica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo que apresenta deficiecircncias e
incapacidades Assim uma das possibilidades de uso da CIF pode ser a contribuiccedilatildeo para
responder a importantes questotildees de sauacutede puacuteblica tais como qual o estado de sauacutede das
pessoas com deficiecircncias comparadas com as demais que necessidades e que tipos de
intervenccedilotildees satildeo mais adequadas para reduzir condiccedilotildees secundaacuterias e promover a
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na sociedade entre outras
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 49
Dezembro2006
Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 50
Dezembro2006
Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 51
Dezembro2006
Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
Dezembro2006
Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 53
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
definiccedilotildees de deficiecircncia e de reabilitaccedilatildeo Apesar dos factores econoacutemicos e demograacuteficos se
afigurarem de uma importacircncia crescente parece evidente que o motor que subjaz a este
fenoacutemeno se alicerccedila na politizaccedilatildeo sem precedentes da deficiecircncia liderada pela sociedade
civil bem como a exigecircncia crescente de igualdade de oportunidades para as pessoas com
deficiecircncias A evoluccedilatildeo conceptual da interpretaccedilatildeo sociopoliacutetica do conceito tem produzido
avanccedilos ao niacutevel das praacuteticas e das intervenccedilotildees ainda que com diferentes ritmos de
aplicaccedilatildeo e com necessidades evidentes de um maior niacutevel de sistematizaccedilatildeo e estruturaccedilatildeo
na globalidade do sector
Consequentemente alguns dos elementos das praacuteticas de reabilitaccedilatildeo mantecircm-se focalizados
em abordagens centradas no indiviacuteduo Apesar da relevacircncia das intervenccedilotildees e das
terapecircuticas meacutedicas ainda que absolutamente necessaacuterias nos paiacuteses mais pobres estas
apenas produzem um impacte parcial no contexto de um ambiente cultural organizado
privilegiadamente para um modo de vida onde natildeo existem pessoas com deficiecircncias Deste
modo o domiacutenio de sauacutede puacuteblica bem como os problemas experimentados pelas pessoas
com deficiecircncias constituem-se como assuntos de natureza poliacutetica que apenas poderatildeo ser
equacionados na sua resoluccedilatildeo atraveacutes de uma profunda mudanccedila estrutural e cultural
envolvendo a redistribuiccedilatildeo sistemaacutetica de recursos e o desenvolvimento de uma cultura que
valoriza a diversidade humana
Neste cenaacuterio afigura-se relevante equacionar um conjunto de desafios fundamentais para
enquadrar a iniciativa poliacutetica na implementaccedilatildeo dos princiacutepios do modelo social
Coerecircncia dos conceitos utilizados
Parece subsistir uma elevada diversidade de conceitos associados ao domiacutenio da deficiecircncia
na organizaccedilatildeo social A tiacutetulo de exemplo pode-se citar a nomenclatura de ldquodeficientesrdquo ou
ldquopessoas portadoras de deficiecircnciardquo no acesso prioritaacuterio a determinados tipos de serviccedilos
puacuteblicos ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ao niacutevel de programas de intervenccedilatildeo social e
designaccedilotildees ao niacutevel dos instrumentos de poliacutetica que remetem para concepccedilotildees radicalmente
diferentes entre si tal como eacute o caso da ldquopensatildeo de invalidezrdquo ou da ldquotabela nacional de
incapacidadesrdquo Esta pluralidade de conceitos sem qualquer coerecircncia conceptual entre si
parece espelhar o resultado de diferentes velocidades de evoluccedilatildeo em diferentes domiacutenios da
poliacutetica social ocorrida em diferentes momentos socio-histoacutericos Aliaacutes tal facto emerge de
forma mais ou menos incisiva na maioria dos paiacuteses europeus A investigaccedilatildeo neste sector tem
permitido colocar em evidecircncia que diferentes definiccedilotildees de deficiecircncia satildeo relevantes para
diferentes poliacuteticas e que as tentativas de usar a mesma definiccedilatildeo ao longo de uma vasta
diversidade de poliacuteticas pode resultar na utilizaccedilatildeo de definiccedilotildees de reduzido poder
diferenciador o que significa que as poliacuteticas podem correr o risco de natildeo chegar ao seu
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 11
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
puacuteblico-alvo A necessidade de usar uma pluralidade de definiccedilotildees de forma a assegurar a
relevacircncia da definiccedilatildeo para o seu domiacutenio de aplicabilidade levanta um problema de
coerecircncia no quadro poliacutetico relativo agraves pessoas com deficiecircncias Neste cenaacuterio as pessoas
podem ser consideradas como tendo deficiecircncias no quadro de uma determinada poliacutetica e
como natildeo tendo no quadro de uma poliacutetica diferente sendo que por vezes se encontram
lacunas no fornecimento de serviccedilos como resultado imediato desta opccedilatildeo De uma forma
geral os diferentes Estados resolvem estes problemas requerendo agraves instituiccedilotildees das poliacuteticas
sociais a coordenaccedilatildeo das actividades em detrimento do estabelecimento de definiccedilotildees
uacutenicas
Diferentes abordagens entre diferentes aacutereas de poliacutetica social
A evoluccedilatildeo histoacuterica e a apropriaccedilatildeo de diferentes conceitos por parte de diferentes sectores
da poliacutetica social encerram o risco de serem adoptados modelos operativos e intervenccedilotildees com
caracteriacutesticas significativamente diferentes Neste sentido podem-se observar sectores que
privilegiam o mainstreaming e o desenvolvimento das intervenccedilotildees baseadas na comunidade
e noutros sectores verificarem-se intervenccedilotildees mais centradas no indiviacuteduo mobilizando
criteacuterios quase exclusivamente meacutedicos Esta diferenccedila de abordagens pode potencialmente
acarretar desarticulaccedilotildees e incoerecircncias ao niacutevel dos princiacutepios gerais da poliacutetica social
reflectindo-se numa resposta fragmentada e parcelar agraves necessidades das pessoas Neste
contexto afigura-se relevante a definiccedilatildeo clara sistemaacutetica e estruturada dos princiacutepios
transversais subjacentes agrave globalidade das poliacuteticas para num segundo momento se proceder
agrave definiccedilatildeo dos seus elementos especiacuteficos
Classificaccedilatildeo da deficiecircncia e metodologias de avaliaccedilatildeo
Enquanto que no quadro do modelo meacutedico importava associar as diferentes deficiecircncias a
diferentes niacuteveis de incapacidade mobilizando criteacuterios de natureza exclusivamente meacutedica a
progressiva implementaccedilatildeo do modelo social na maior parte dos paiacuteses da Europa tem
colocado desafios sobre qual a categorizaccedilatildeo que melhor reflecte as dificuldades de
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades ao niacutevel dos seus ambientes de
vida A OMS perante esta encruzilhada de classificaccedilotildees propocircs a Classificaccedilatildeo Internacional
de Funcionalidade Incapacidade e Sauacutede (CIF) como modelo operativo de caracterizaccedilatildeo da
funcionalidade do indiviacuteduo colocando em evidecircncia para efeitos de elegibilidade dos
programas as limitaccedilotildees de actividade e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo das pessoas Ou seja
enquanto nalguns modelos se continuam a avaliar as deficiecircncias do indiviacuteduo a CIF vem
enfatizar em coerecircncia com o modelo social que o mais relevante natildeo eacute avaliar as alteraccedilotildees
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 12
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
ao niacutevel das estruturas ou das funccedilotildees dos indiviacuteduos ndash ainda que natildeo as negligencie ndash mas
sim as limitaccedilotildees de actividades e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo que o sujeito experiencia no
decorrer da desadequaccedilatildeo entre as suas diferenccedilas e as caracteriacutesticas dos ambientes sociais
em que se move Atente-se que esta opccedilatildeo conceptual natildeo eacute neutra do ponto de vista
pragmaacutetico dado que os objectivos das intervenccedilotildees passam a ser a remoccedilatildeo das barreiras e
dos obstaacuteculos que ocorrem no quadro da relaccedilatildeo do sujeito com os seus contextos de vida
em detrimento de intervenccedilotildees polarizadas exclusivamente na dimensatildeo individual ou
exclusivamente na dimensatildeo social
No desenvolvimento das poliacuteticas sociais a investigaccedilatildeo tem permitido colocar em evidecircncia a
necessidade de identificar definir e sistematizar os princiacutepios norteadores que tenderatildeo a ser
transversais a todos os sectores de poliacutetica social sendo que apenas deste modo se poderaacute
assegurar a coerecircncia entre as diferentes poliacuteticas dos diferentes sectores Neste sentido
torna-se relevante um processo de clarificaccedilatildeo sobre qual o modelo conceptual em que a
estrateacutegia poliacutetica se baseou de forma a que o conjunto de objectivos estrateacutegias processos
de intervenccedilatildeo definiccedilatildeo de resultados alocaccedilatildeo de recursos e indicadores de avaliaccedilatildeo
estejam devidamente articulados e em consonacircncia com os princiacutepios adoptados
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 13
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
2 CONCEITOS E TERMINOLOGIA
A anaacutelise conceptual no domiacutenio da deficiecircncia permite colocar em evidecircncia a existecircncia de
um conjunto de imprecisotildees ao niacutevel dos conceitos com variaccedilotildees relacionadas com o modelo
meacutedico e com o modelo social Neste contexto afigura-se criacutetico clarificar os contornos teoacutericos
e os modelos conceptuais subjacentes aos diferentes conceitos utilizados estabelecendo uma
base teoacuterica de referecircncia que assegure o necessaacuterio grau de coerecircncia e simultaneamente
abrangecircncia
21 EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA DOS SISTEMAS DE CLASSIFICACcedilAtildeO
Para uma clara delimitaccedilatildeo dos modelos teoacutericos que tecircm influenciado historicamente o
desenvolvimento dos conceitos no domiacutenio da deficiecircncia poderemos identificar 2 abordagens
conceptuais distintas
211 A ABORDAGEM TRADICIONAL INDIVIDUALISTA
A preocupaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede em estabelecer uma classificaccedilatildeo das doenccedilas
remonta ao seacuteculo XVIII Mas somente na VI Revisatildeo da Classificaccedilatildeo Internacional de
Doenccedilas (CID-6) em 1948 citada na IX Revisatildeo foram feitas referecircncias a doenccedilas que
poderiam tornar-se croacutenicas exigindo outros serviccedilos aleacutem de cuidados meacutedicos
Ateacute a deacutecada de 70 a CID-8 citada na IX Revisatildeo considerava apenas as manifestaccedilotildees
agudas segundo o modelo meacutedico etiologia rArr patologia rArr manifestaccedilatildeo
Esse modelo mostrou-se limitado para descrever as consequecircncias das doenccedilas pois excluiacutea
as perturbaccedilotildees croacutenicas evolutivas e irreversiacuteveis
Na IX Assembleia da OMS em 1976 surgiu uma nova conceptualizaccedilatildeo a International
Classification of Impairments Disabilities and Handicaps a manual of classification relating to
the consequences of disease (ICIDH) sendo sua traduccedilatildeo a Classificaccedilatildeo Internacional de
Deficiecircncias Incapacidades e Desvantagens um manual de classificaccedilatildeo das consequecircncias
das doenccedilas (CIDID) publicada em 1989
Apesar da abordagem meacutedica individualista ter dominado a cultura ocidental desde pelo
menos o seacuteculo XIX (Oliver 1990 Gleeson 1999) esta encontra-se geralmente associada agrave
Classificaccedilatildeo Internacional da Deficiecircncia Incapacidades e Desvantagens (ICIDH) da OMS
(1980) Em resposta agraves necessidades crescentes ao niacutevel internacional de clarificaccedilatildeo do
sentido do conceito de incapacidade e atendendo agraves criticas progressivas das pessoas com
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 14
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
incapacidades e seus significativos baseadas no facto de que a incapacidade envolve mais do
que um conjunto de preocupaccedilotildees estritamente meacutedicas a OMS constituiu uma comissatildeo de
cientistas sociais para desenvolver a existente Classificaccedilatildeo Internacional de Doenccedilas em
ordem a conseguir abranger as consequecircncias a longo termo das doenccedilas croacutenicas A ICIDH
foi publicada em 1980 sendo largamente reconhecida como o directoacuterio mais abrangente
existente vindo a ser extensivamente utilizada como uma base para as iniciativas
governamentais dos paiacuteses desenvolvidos da Europa e Ameacuterica do Norte e os paiacuteses
subdesenvolvidos do Sul (Ustun et al 2001)
A ICIDH utiliza uma categorizaratildeo tripartida da deficiecircncia incapacidade e desvantagem A
deficiecircncia refere-se a qualquer perda ou irregularidade da estrutura ou das funccedilotildees
anatoacutemica fisioloacutegica ou psicoloacutegica A incapacidade refere-se a qualquer restriccedilatildeo ou perda
(resultante de uma deficiecircncia) da capacidade para executar uma actividade da forma e dentro
do contexto considerado normal para o ser humano A desvantagem refere-se agrave limitaccedilatildeo
resultante de uma deficiecircncia ou incapacidade no desempenho de um dado papel considerado
normativo (dependendo da idade geacutenero e factores sociais e culturais) para aquele indiviacuteduo
(OMS 1980 p 29)
Esta tipologia baseia-se nas noccedilotildees de normalidade fiacutesica e intelectual bem como no facto de
que a incapacidade e a desvantagem satildeo causadas por deficiecircncias ou irregularidades
psicoloacutegicas ou fisioloacutegicas Neste contexto a ICIDH pode ser objecto de criacuteticas a diferentes
niacuteveis Primeiro as percepccedilotildees de deficiecircncia e normalidade satildeo fenoacutemenos sociais pelo que
satildeo sujeitas a substantivas mudanccedilas temporais culturais e situacionais (Hanks and Hanks
1948 Scheer and Groce 1988 Coleridge 1993 Ingstad and Whyte 1995) A dislexia por
exemplo natildeo seria vista como um problema significativo numa sociedade predominantemente
agraacuteria No entanto eacute considerada uma dificuldade de aprendizagem nas sociedades
modernas tecnologicamente avanccediladas nas quais a literacia e a numeracia desempenham
requisitos criacuteticos para a participaccedilatildeo social e econoacutemica Segundo encontra-se impliacutecito na
ICIDH que o organismo humano eacute flexiacutevel e adaptaacutevel enquanto os ambientes fiacutesicos e sociais
o natildeo satildeo Este facto claramente conflitua com a realidade histoacuterica na qual os indiviacuteduos
transformaram continuamente o seu ambiente em funccedilatildeo das suas necessidades (Barnes
1991) Terceiro as definiccedilotildees da ICIDH sugerem que a deficiecircncia a incapacidade e a
desvantagem constituem-se como estados estaacuteticos Para aleacutem do facto desta noccedilatildeo afigurar-
se incorrecta parece criar distinccedilotildees e barreiras entre as pessoas com e sem deficiecircncias
distinccedilotildees que natildeo satildeo necessaacuterias nem deveriam existir Uma tal situaccedilatildeo parece ser
paradoxal atendendo a que a ICIDH possui uma classificaccedilatildeo para cada caracteriacutestica do
organismo fiacutesico e humano (Shakespeare 1994 104)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 15
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Finalmente e mais significativo neste contexto a ICIDH apresenta as deficiecircncias enquanto
causa primaacuteria da incapacidade e da desvantagem Neste contexto a reabilitaccedilatildeo constitui-se
como uma filosofia e uma praacutetica para erradicar ou minimizar os problemas da deficiecircncia e
capacitar aqueles com deficiecircncias designadas para funcionarem nos seus niacuteveis fiacutesico
psicoloacutegico e social mais elevados (Albrecht 1992 23) Por outras palavras as pessoas com
incapacidades tornam-se objectos para serem curados tratados treinados mudados e
tornados normais de acordo com um conjunto particular de valores As limitaccedilotildees de tais
intervenccedilotildees encontram-se sustentadamente documentadas pelos activistas como
incapacidades desde 1960 (Hunt 1966 Sutherland 1981 Zola 1982)
212 A ABORDAGEM LIBERAL OU INTER-RELACIONAL
A abordagem liberal ou inter-relacional encontra-se expressa no uacuteltimo corpo de trabalhos da
OMS para redefinir a incapacidade nomeadamente a Classificaccedilatildeo Internacional de
Funcionalidade Incapacidade e Sauacutede (CIF) conhecida previamente como ICIDH2 (OMS
2002)
Esta redefiniccedilatildeo constituiu uma tentativa concertada para integrar o modelo meacutedico
individualista tradicional e a interpretaccedilatildeo sociopoliacutetica Por um lado como resultado da sua
rejeiccedilatildeo por parte das pessoas com incapacidades organizaccedilotildees e parceiros dentro e fora da
comunidade cientiacutefica (Driedger 1989 Oliver 1990 Barnes et al 2002) e por outro lado
porque apesar da sua vasta utilizaccedilatildeo a sua aplicabilidade tem sido caracterizada por diversas
interpretaccedilotildees (Coleridge 1993 Ingstad 2001) Em siacutentese demonstrou-se como limitada para
muitos dos actores e natildeo forneceu a delimitaccedilatildeo de significado que originalmente pretendia
Em comum com a sua predecessora a CIF manteacutem o constructo tripartido O primeiro niacutevel
deficiecircncia no original relaciona-se com as funccedilotildees e estrutura do organismo O segundo
niacutevel o que era anteriormente incapacidade eacute agora referido como actividade e o terceiro
desvantagem aparece como participaccedilatildeo No entanto e apesar do intenso debate sobre o
significado de incapacidade o conceito eacute preservado como um termo global para os trecircs niacuteveis
de dificuldade de funcionamento Neste cenaacuterio e em contraste com a ICIDH a nova
formulaccedilatildeo eacute apresentada como uma classificaccedilatildeo universal do funcionamento humano As
pessoas ligadas a acccedilotildees de advocacy defendem que esta configuraccedilatildeo oferece um quadro de
inteligibilidade completo para os aspectos funcionais da experiecircncia de sauacutede Nesta
perspectiva a incapacidade permanece uma preocupaccedilatildeo privilegiadamente do domiacutenio da
sauacutede em detrimento do domiacutenio poliacutetico Constitui-se por um lado como um resultado das
caracteriacutesticas da pessoa e por outro dos ambientes fiacutesicos e sociais Deste modo mais do
que se constituir como uma classificaccedilatildeo das pessoas com incapacidades ou dos problemas
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que experienciam a CIF afigura-se como uma classificaccedilatildeo do funcionamento a 3 niacuteveis
compreendida em termos neutros (Ustun et al 2001 6-7)
O reconhecimento da importacircncia dos ambientes fiacutesico e social na CIF poderaacute ser equacionado
como uma melhoria significativa em relaccedilatildeo agrave sua predecessora (Hurst 2000) No entanto
parece-nos altamente improvaacutevel que seja mais eficaz do que a anterior classificaccedilatildeo a gerar
uma linguagem universal sobre a incapacidade na medida em que transformar as diferenccedilas
culturais na conceptualizaccedilatildeo das deficiecircncias assume-se como tarefa extremamente
complexa de alcanccedilar (Bury 2000 Miles 2001) Este facto eacute especialmente significativo na
medida em que natildeo obstante a CIF reconhecer o contexto cultural das percepccedilotildees de
incapacidade e por consequecircncia a normalidade o actual sistema de classificaccedilatildeo
permanece fortemente alicerccedilado nas formulaccedilotildees e nos conceitos cientiacuteficos ocidentais
(Finkelstein 1998 Pfeiffer 2000 Baylies 2002)
Adicionalmente apesar da CIF explicitar que os indiviacuteduos satildeo um elemento da anaacutelise da
incapacidade a abordagem biopsicossocial natildeo se encontra muito distanciada do modelo
anterior na medida em que privilegia o indiviacuteduo como ponto de partida para anaacutelise das
funccedilotildees do corpo e actividades O conceito de participaccedilatildeo eacute incluiacutedo mas subdesenvolvido no
esquema conceptual e continua associado agraves circunstacircncias individuais em vez de fortemente
ligado agrave inclusatildeo poliacutetica e social Adicionalmente enquanto a significacircncia do contexto eacute
enfatizada na CIF as estrateacutegias para a sua mensuraccedilatildeo afiguram-se limitadas Os seus
utilizadores satildeo encorajados a classificar os factores ambientais mas natildeo existem ferramentas
eficazes para levar a cabo esta tarefa bem como para avaliar as tendecircncias de incapacidade
ou por outro lado das poliacuteticas governamentais praacuteticas ambientes fiacutesicos e contextos
culturais (Baylies 2002)
Esta aparente descentraccedilatildeo das preocupaccedilotildees poliacuteticas tem caracterizado a maioria da ciecircncia
social mainstream desde o seacuteculo XIX Deste modo a definiccedilatildeo inter-relacional de
incapacidade e a consequente despolitizaccedilatildeo das questotildees associadas reflectiu-se nos
estudos e na literatura produzida nesta aacuterea por acadeacutemicos e investigadores durante a uacuteltima
metade do seacuteculo XX
Mais recentemente reemergiram na Inglaterra um conjunto de respostas poacutes-modernas ao
modelo social da incapacidade Este cenaacuterio tem favorecido o aparecimento de asserccedilotildees de
que tais fenoacutemenos soacute tecircm servido para agudizar e natildeo diminuir a conflituosidade a propoacutesito
da inclusatildeo (Hunt 1981 Germon 1998 Linton 1998 Gordon and Rosenblum 2001)
No quadro da reabilitaccedilatildeo a abordagem inter-relacional eacute sinoacutenima da liberalizaccedilatildeo da poliacutetica
social para as pessoas com incapacidades nos finais dos anos sessenta e setenta em
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particular a mudanccedila dos serviccedilos centrados institucionalmente para os serviccedilos e apoios
centrados na comunidade Deste modo a ecircnfase eacute colocada na integraccedilatildeo de pessoas com
incapacidades na sociedade mainstream Os Standards da Equalizaccedilatildeo das Pessoas com
Incapacidades (1993) da ONU explicitam que todos os estados devem providenciar serviccedilos de
reabilitaccedilatildeo Mas esta orientaccedilatildeo recomenda que se vaacute aleacutem do cuidado meacutedico inicial para
incluir uma ampla gama de medidas e actividades desde a reabilitaccedilatildeo baacutesica e generalista
para actividades orientadas por objectivos (UN 199311) Ainda mais significativo todos os
serviccedilos de reabilitaccedilatildeo deveratildeo estar disponiacuteveis nas comunidades locais nas quais as
pessoas com incapacidades se movem No entanto em determinadas circunstacircncias e para
que se reforcem os objectivos de formaccedilatildeo e aprendizagem poderatildeo ser organizados cursos
localizados nas organizaccedilotildees prestadoras de serviccedilos com um quadro temporal o mais
reduzido possiacutevel (UN 1993 19)
Adicionalmente apesar dos Standards enfatizarem a importacircncia do envolvimento das pessoas
com incapacidades e dos seus significativos no desenvolvimento dos programas de
reabilitaccedilatildeo parece natildeo existir uma asserccedilatildeo clara de que tais estrateacutegias devam ser
controladas por ou mensuradas para estes uacuteltimos Existe no entanto uma assunccedilatildeo taacutecita de
que tais serviccedilos seratildeo liderados por profissionais
Adicionalmente desde que a incapacidade na CIF foi apresentada como uma questatildeo de
sauacutede em detrimento de uma questatildeo poliacutetica parece inevitaacutevel que os profissionais no
domiacutenio da reabilitaccedilatildeo continuem a ser dominados ou laquoalienadosraquo pela Medicina (Finkelstein
1998) Este facto poderaacute ficar a dever-se primeiro agrave actual e persistente subjugaccedilatildeo dos
governos nacionais aos interesses corporativos e das organizaccedilotildees econoacutemicas e segundo agrave
diversidade de barreiras econoacutemicas poliacuteticas e culturais experienciadas pelas pessoas com
incapacidades quer nos paiacuteses desenvolvidos quer nos subdesenvolvidos Neste tipo de
cenaacuterio o pensamento ortodoxo sobre a reabilitaccedilatildeo contratualiza um expediente praacutetico para
os poliacuteticos legisladores e organizaccedilotildees profissionais Como resultado os teacutecnicos tecircm
invariavelmente um niacutevel de escolha reduzido na opccedilatildeo pelo modelo meacutedico em detrimento
de soluccedilotildees poliacuteticas colectivas na resposta aos problemas da exclusatildeo
Esta perspectiva parece afigurar-se a oposta da necessaacuteria De facto apoacutes o trabalho de
Talcott Parsons (1951) emergiu uma extensa literatura condenando a laquomedicalizaccedilatildeoraquo do
quotidiano de um conjunto diverso de perspectivas Por exemplo o filoacutesofo austriacuteaco Ivan Illich
nomeou o seacuteculo XX como a era dos profissionais incapacitantes (1977 11) pela sua
apropriaccedilatildeo do conhecimento mistificaccedilatildeo das competecircncias especializadas e a criaccedilatildeo de
uma cultura perversa e persuasiva de dependecircncia Apesar de tais criticas encontrarem a sua
aplicabilidade predominantemente nas naccedilotildees subdesenvolvidas do Ocidente surgiram
trabalhos recentes que sugerem que apesar de existir uma diminuiccedilatildeo significativa dos
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
conhecimentos meacutedicos e de tratamentos com reduzidos niacuteveis de recursos nas naccedilotildees
subdesenvolvidas criacuteticas similares podem ser relevantes para o contexto no qual nos
situamos (Stone 1999 Ingstad 2001 OMS 2001)
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
3 OBJECTIVOS OPERACIONAIS
Pretende-se desenvolver uma anaacutelise longitudinal e multissectorial ao conceito de deficiecircncia
no sentido de estabelecer uma configuraccedilatildeo operacional no quadro da sua aplicabilidade
estatiacutestica Esta anaacutelise insere-se no acircmbito do Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das
Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo
Objectivo Operacionalizar o conceito de deficiecircncia no quadro da sua aplicabilidade
estatiacutestica assegurando os criteacuterios de (a) comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica
e legislativa dentro do contexto portuguecircs (c) conformidade com os referenciais conceptuais
actuais
Metodologia a) Anaacutelise dos referenciais nacionais e internacionais de delimitaccedilatildeo operacional
do conceito b) exploraccedilatildeo de cenaacuterios que viabilizem o cumprimento dos requisitos definidos
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
4 ANAacuteLISE PRELIMINAR DA EVOLUCcedilAtildeO DA TERMINOLOGIA NO
DOMIacuteNIO 41 ESTADO DA ARTE
A evoluccedilatildeo dos conceitos operativos nos domiacutenios da reabilitaccedilatildeo e da inclusatildeo social tem
sido reflectida nas diversas classificaccedilotildees propostas pela OMS Neste quadro evolutivo a
uacuteltima classificaccedilatildeo proposta ndash CIF ndash constitui-se como um modelo de siacutentese entre a
abordagem meacutedica e a abordagem social no domiacutenio da incapacidade e da sauacutede No sentido
de procedermos agrave anaacutelise dos principiais conceitos e termos focalizar-nos-emos na
reestruturaccedilatildeo conceptual proposta pela Classificaccedilatildeo Internacional de Funcionalidade
Incapacidade e Sauacutede (CIF)
O objectivo geral da CIF eacute proporcionar uma linguagem unificada e padronizada assim como
uma estrutura de trabalho para a descriccedilatildeo da sauacutede e de estados relacionados com a sauacutede
A classificaccedilatildeo define os componentes da sauacutede e alguns componentes do bem-estar
relacionados com a sauacutede (tais como educaccedilatildeo e trabalho) Os domiacutenios contidos na CIF
podem portanto ser considerados como domiacutenios da sauacutede e domiacutenios relacionados com a
sauacutede Estes domiacutenios satildeo descritos com base na perspectiva do corpo do indiviacuteduo e da
sociedade em duas listas baacutesicas (1) Funccedilotildees e Estruturas do Corpo e (2) Actividades e
Participaccedilatildeo Como classificaccedilatildeo a CIF agrupa sistematicamente diferentes domiacutenios de uma
pessoa com uma determinada condiccedilatildeo de sauacutede (eg o que uma pessoa com uma doenccedila
ou perturbaccedilatildeo faz ou pode fazer) A funcionalidade eacute um termo que engloba todas as funccedilotildees
do corpo actividades e participaccedilatildeo de maneira similar a incapacidade eacute um termo que inclui
deficiecircncias limitaccedilatildeo da actividade ou restriccedilatildeo na participaccedilatildeo A CIF tambeacutem relaciona os
factores ambientais que interagem com todos estes constructos Neste sentido a classificaccedilatildeo
permite ao utilizador registar perfis uacuteteis da funcionalidade incapacidade e sauacutede dos
indiviacuteduos em vaacuterios domiacutenios
A CIF pertence agrave ldquofamiacuteliardquo das classificaccedilotildees internacionais desenvolvida pela OMS para
aplicaccedilatildeo em vaacuterios aspectos da sauacutede A famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS
proporciona um sistema para a codificaccedilatildeo de uma ampla gama de informaccedilotildees sobre sauacutede
(eg diagnoacutestico funcionalidade e incapacidade motivos de contacto com os serviccedilos de
sauacutede) e utiliza uma linguagem comum padronizada que permite a comunicaccedilatildeo sobre sauacutede e
cuidados de sauacutede em todo o mundo entre vaacuterias disciplinas e ciecircncias
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Nas classificaccedilotildees internacionais da OMS os estados de sauacutede (doenccedilas perturbaccedilotildees
lesotildees etc) satildeo classificados principalmente na CID-10 (abreviatura da Classificaccedilatildeo
Internacional de Doenccedilas Deacutecima Revisatildeo) que fornece uma estrutura de base etioloacutegica A
funcionalidade e a incapacidade associadas aos estados de sauacutede satildeo classificadas na CIF
Portanto a CID-10 e a CIF satildeo complementares e os utilizadores satildeo estimulados a usar em
conjunto esses dois membros da famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS A CID-10
proporciona um ldquodiagnoacutesticordquo de doenccedilas perturbaccedilotildees ou outras condiccedilotildees de sauacutede que eacute
complementado pelas informaccedilotildees adicionais fornecidas pela CIF sobre funcionalidade Em
conjunto as informaccedilotildees sobre o diagnoacutestico e sobre a funcionalidade datildeo uma imagem mais
ampla e mais significativa da sauacutede das pessoas ou da populaccedilatildeo que pode ser utilizada em
tomadas de decisatildeo
A famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS constitui uma ferramenta valiosa para a
descriccedilatildeo e a comparaccedilatildeo da sauacutede das populaccedilotildees num contexto internacional As
informaccedilotildees sobre a mortalidade (facultadas pela CID-10) e sobre as consequecircncias na sauacutede
(proporcionadas pela CIF) podem ser combinadas de forma a obter medidas sinteacuteticas da
sauacutede das populaccedilotildees Isto permite seguir a sauacutede das populaccedilotildees e a sua distribuiccedilatildeo bem
como avaliar a parte atribuiacuteda agraves diferentes causas
A CIF transformou-se de uma classificaccedilatildeo de ldquoconsequecircncias da doenccedilardquo (versatildeo de 1980)
numa classificaccedilatildeo de ldquocomponentes da sauacutederdquo Os ldquocomponentes da sauacutederdquo identificam o que
constitui a sauacutede enquanto que as consequecircncias se referem ao impacto das doenccedilas na
condiccedilatildeo de sauacutede da pessoa Deste modo a CIF assume uma posiccedilatildeo neutra em relaccedilatildeo agrave
etiologia de modo que os investigadores podem desenvolver inferecircncias causais utilizando
meacutetodos cientiacuteficos adequados De maneira similar esta abordagem tambeacutem eacute diferente de
uma abordagem do tipo determinantes da sauacutede ou ldquofactores de risco Para facilitar o estudo
dos determinantes ou dos factores de risco a CIF inclui uma lista de factores ambientais que
descrevem o contexto em que o indiviacuteduo vive
A CIF descreve a funcionalidade e a incapacidade relacionadas com as condiccedilotildees de sauacutede
identificando o que uma pessoa ldquopode ou natildeo pode fazer na sua vida diaacuteriardquo tendo em vista as
funccedilotildees dos oacutergatildeos ou sistemas e estruturas do corpo assim como as limitaccedilotildees de
actividades e da participaccedilatildeo social no meio ambiente onde a pessoa vive Segundo a OMS a
CID-10 e a CIF satildeo complementares a informaccedilatildeo sobre o diagnoacutestico acrescido da
funcionalidade fornece um quadro mais amplo sobre a sauacutede do indiviacuteduo ou populaccedilotildees Por
exemplo duas pessoas com a mesma doenccedila podem ter diferentes niacuteveis de funcionalidade e
duas pessoas com o mesmo niacutevel de funcionalidade natildeo tecircm necessariamente a mesma
condiccedilatildeo de sauacutede
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
O termo do modelo da CIF eacute a funcionalidade que cobre os componentes de funccedilotildees e
estruturas do corpo actividade e participaccedilatildeo social A funcionalidade eacute usada no aspecto
positivo e o aspecto negativo corresponde agrave incapacidade Segundo esse modelo a
incapacidade eacute resultante da interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada pelo indiviacuteduo (seja
orgacircnica e ou da estrutura do corpo) a limitaccedilatildeo de suas actividades e a restriccedilatildeo na
participaccedilatildeo social e os factores ambientais que podem actuar como facilitadores ou barreiras
para o desempenho dessas actividades e da participaccedilatildeo
A CIF eacute baseada portanto numa abordagem biopsicossocial que incorpora os componentes
de sauacutede nos niacuteveis corporais e sociais Assim na avaliaccedilatildeo de uma pessoa com deficiecircncias
e incapacidades esse modelo destaca-se do biomeacutedico baseado no diagnoacutestico etioloacutegico da
disfunccedilatildeo evoluindo para um modelo que incorpora as trecircs dimensotildees a biomeacutedica a
psicoloacutegica (dimensatildeo individual) e a social Nesse modelo cada niacutevel age sobre e sofre a
acccedilatildeo dos demais sendo todos influenciados pelos factores ambientais A OMS pretende
incorporar tambeacutem no futuro os factores pessoais importantes na forma de lidar com as
condiccedilotildees limitantes
O objectivo pragmaacutetico da CIF eacute fornecer uma linguagem padronizada e um modelo para a
descriccedilatildeo da sauacutede e dos estados relacionados com a sauacutede permitindo a comparaccedilatildeo de
dados referentes a essas condiccedilotildees entre paiacuteses serviccedilos sectores relativos agrave sauacutede bem
como o acompanhamento da sua evoluccedilatildeo no tempo
No entanto os conceitos apresentados na classificaccedilatildeo introduzem um novo paradigma para
pensar e trabalhar as deficiecircncias e incapacidades elas natildeo satildeo apenas uma consequecircncia
das condiccedilotildees de sauacutede doenccedila mas satildeo determinadas tambeacutem pelo contexto do meio
ambiente fiacutesico e social pelas diferentes percepccedilotildees culturais e atitudes em relaccedilatildeo agrave
deficiecircncias pela disponibilidade de serviccedilos e de legislaccedilatildeo Dessa forma a classificaccedilatildeo natildeo
constitui apenas um instrumento para medir o estado funcional dos indiviacuteduos Aleacutem disso ela
permite avaliar as condiccedilotildees de vida e fornecer subsiacutedios para poliacuteticas de inclusatildeo social
42 FUNCcedilOtildeES DO CORPO
As Funccedilotildees do corpo satildeo as funccedilotildees fisioloacutegicas dos sistemas orgacircnicos (incluindo as
funccedilotildees psicoloacutegicas)
As funccedilotildees e as estruturas do corpo satildeo classificadas em duas secccedilotildees diferentes Essas duas
classificaccedilotildees estatildeo concebidas de forma a serem utilizadas em paralelo Por exemplo as
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
funccedilotildees do corpo incluem sentidos humanos baacutesicos como as funccedilotildees da visatildeo e as
estruturas relacionadas aparecem na forma de ldquoolho e estruturas relacionadasrdquo
43 ESTRUTURAS DO CORPO
As Estruturas do Corpo satildeo as partes anatoacutemicas do corpo tais como oacutergatildeos membros e
seus componentes
ldquoCorpo refere-se ao organismo humano como um todo por isso o ceacuterebro e as suas funccedilotildees
ie a mente estatildeo incluiacutedos As funccedilotildees mentais (ou psicoloacutegicas) satildeo portanto incluiacutedas nas
funccedilotildees do corpo As funccedilotildees e as estruturas do corpo satildeo classificadas de acordo com os
sistemas orgacircnicos por isso as estruturas do corpo natildeo satildeo consideradas como oacutergatildeos no
seu sentido restrito
44 DEFICIEcircNCIA
Deficiecircncias satildeo problemas nas funccedilotildees ou na estrutura do corpo tais como um desvio
importante ou uma perda
As deficiecircncias de estrutura podem consistir numa anormalidade defeito perda ou outro desvio
importante relativamente a um padratildeo das estruturas do corpo As deficiecircncias foram definidas
de acordo com os conhecimentos bioloacutegicos actuais ao niacutevel de tecidos ou das ceacutelulas e ao
niacutevel subcelular ou molecular Por motivos praacuteticos no entanto esses niacuteveis natildeo estatildeo
classificados As bases bioloacutegicas das deficiecircncias orientaram essa classificaccedilatildeo e eacute possiacutevel
expandir a classificaccedilatildeo para incluir os niacuteveis celular ou molecular Do ponto de vista meacutedico
deve-se ter em mente que as deficiecircncias natildeo satildeo equivalentes agraves patologias subjacentes mas
sim a manifestaccedilotildees dessas patologias
As deficiecircncias correspondem a um desvio relativamente ao que eacute geralmente aceite como
estado biomeacutedico normal (padratildeo) do corpo e das suas funccedilotildees A definiccedilatildeo dos seus
componentes eacute feita essencialmente por pessoas com competecircncia para avaliar a
funcionalidade fiacutesica e mental de acordo com esses padrotildees
As deficiecircncias podem ser temporaacuterias ou permanentes progressivas regressivas ou estaacuteveis
intermitentes ou contiacutenuas O desvio em relaccedilatildeo ao modelo baseado na populaccedilatildeo e
geralmente aceite como normal pode ser leve ou grave e pode variar ao longo do tempo Estas
caracteriacutesticas satildeo consideradas posteriormente em descriccedilotildees adicionais principalmente nos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 24
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
coacutedigos atraveacutes de um qualificador que se acrescenta ao coacutedigo e do qual fica separado por
um ponto
As deficiecircncias natildeo tecircm uma relaccedilatildeo causal com a etiologia ou com a forma como se
desenvolveram Por exemplo a perda da visatildeo ou de um membro pode resultar de uma
anormalidade geneacutetica ou de uma lesatildeo A presenccedila de uma deficiecircncia implica
necessariamente uma causa No entanto a causa pode natildeo ser suficiente para explicar a
deficiecircncia resultante Da mesma forma quando haacute uma deficiecircncia haacute uma disfunccedilatildeo das
funccedilotildees ou estruturas do corpo mas isto pode estar relacionado com qualquer doenccedila
perturbaccedilatildeo ou estado fisioloacutegico
As deficiecircncias podem ser parte ou uma expressatildeo de uma condiccedilatildeo de sauacutede mas natildeo
indicam necessariamente a presenccedila de uma doenccedila ou que o indiviacuteduo deva ser
considerado doente
As deficiecircncias cobrem um campo mais vasto que as perturbaccedilotildees ou as doenccedilas Por
exemplo a perda de uma perna eacute uma deficiecircncia de uma estrutura do corpo mas natildeo eacute uma
perturbaccedilatildeo ou uma doenccedila
As deficiecircncias podem originar outras deficiecircncias Por exemplo a diminuiccedilatildeo da forccedila
muscular pode prejudicar as funccedilotildees do movimento as funccedilotildees cardiacuteacas podem estar
relacionadas com o deacutefice das funccedilotildees respiratoacuterias e uma percepccedilatildeo prejudicada pode estar
relacionada com as funccedilotildees do pensamento
Actualmente na perspectiva da CIF o conceito de deficiecircncia constitui o poacutelo negativo da
componente ldquoFunccedilotildees e Estrutura do Corpordquo sendo descrito atraveacutes da existecircncia de
alteraccedilotildees significativas das funccedilotildees eou das estruturas do corpo O poacutelo positivo desta
componente refere-se agrave integridade funcional e estrutural Neste contexto um dos desafios
criacuteticos das poliacuteticas sociais consiste na operacionalizaccedilatildeo do conceito de deficiecircncia de forma
a que a elegibilidade dos diferentes puacuteblicos alvo se encontre devidamente delimitada
assegurando a eficaacutecia das medidas subjacentes
No entanto a amplitude e abrangecircncia da definiccedilatildeo do conceito de deficiecircncia proposta pela
OMS atraveacutes da CIF coloca um enorme desafio na medida em que qualquer cidadatildeo desde
que apresente um desvio significativo ao niacutevel da estrutura eou funccedilatildeo passa a ser um
potencial beneficiaacuterio das poliacuteticas neste domiacutenio Neste contexto poder-se-atildeo colocar vaacuterias
questotildees A primeira eacute se interessa agraves diferentes poliacuteticas no sector continuarem a ser
desenvolvidas tendo por focus o conceito de pessoas com deficiecircncias sabendo que a sua
distinccedilatildeo ao longo da populaccedilatildeo apenas poderaacute ser feita atraveacutes do niacutevel e extensatildeo da
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 25
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
alteraccedilatildeo da integridade estrutural e funcional de cada individuo A segunda questatildeo prende-se
com as consequecircncias conceptuais decorrentes da integraccedilatildeo do modelo social na formulaccedilatildeo
e operacionalizaccedilatildeo dos conceitos a serem utilizados pelas poliacuteticas no sector na medida em
que o aspecto critico deixa de ser a natureza e severidade da deficiecircncia para passar a centrar-
se no niacutevel e tipo de restriccedilotildees de participaccedilatildeo que cada cidadatildeo experiencia na interacccedilatildeo
com os seus contextos de vida
No que concerne agrave primeira questatildeo e atendendo a que a mais recente definiccedilatildeo do conceito
de deficiecircncia proposto pela OMS apresenta um elevado niacutevel de abrangecircncia e um reduzido
potencial diferenciador poderemos equacionar 2 hipoacuteteses centrais de operacionalizaccedilatildeo
a) A primeira hipoacutetese baseia-se na possibilidade de operacionalizar diferentes definiccedilotildees
de deficiecircncia ao longo das diferentes poliacuteticas sociais no sentido de assegurar que as
diferentes medidas alcanccedilam efectivamente as pessoas para as quais foram
elaboradas Esta perspectiva tem a vantagem de uma maior focalizaccedilatildeo nas
caracteriacutesticas especificas do puacuteblico-alvo mas no entanto apresenta uma grande
desvantagem que consiste na elevada probabilidade das diferentes definiccedilotildees
perderem a coerecircncia entre si fragmentando igualmente o modelo teoacuterico a partir do
qual se deveriam basear
b) A segunda hipoacutetese consiste na articulaccedilatildeo operativa de dois conceitos o de
deficiecircncia e o de restriccedilotildees de participaccedilatildeo Nesta perspectiva a elegibilidade de uma
determinada politica social baseia-se na validaccedilatildeo preacutevia da existecircncia da primeira
condiccedilatildeo do puacuteblico-alvo ndash a existecircncia de uma deficiecircncia ndash determinando logo de
seguida o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo a partir do qual os diferentes cidadatildeos
passam a poder aceder agraves medidas especiacuteficas nela contidas O desafio contido nesta
hipoacutetese consiste na necessidade de desenvolvimento de um sistema de avaliaccedilatildeo que
permita avaliar o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo experimentado pelas pessoas com
deficiecircncias determinando atraveacutes do valor aferido quais seriam as pessoas com
acesso agraves medidas Neste cenaacuterio natildeo bastaria que uma pessoa tivesse uma
deficiecircncia pelo que seria necessaacuterio avaliar os efeitos da deficiecircncia em interacccedilatildeo
com o ambiente social ao niacutevel da participaccedilatildeo no sentido de determinar a
elegibilidade As vantagens desta hipoacutetese relacionam-se com (i) a preservaccedilatildeo do
niacutevel de coerecircncia dos conceitos utilizados ao longo das diferentes poliacuteticas sociais (ii)
a existecircncia de um processo comum de afericcedilatildeo e determinaccedilatildeo da elegibilidade ao
longo dos diferentes sectores de politica (iii) a compatibilidade e adequabilidade dos
princiacutepios teoacutericos do modelo social com a operacionalizaccedilatildeo dos sistemas e medidas
poliacuteticos de apoio agraves pessoas com deficiecircncias e (iv) a existecircncia de mecanismos de
avaliaccedilatildeo de elevada transparecircncia controlabilidade e rigor
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 26
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
45 INCAPACIDADE
Do ponto de vista de utilizaccedilatildeo dos conceitos de Deficiecircncia e de Incapacidade em Portugal
tecircm subsistido vaacuterias imprecisotildees terminoloacutegicas Primeiro na generalidade dos documentos
internacionais alude-se ao termo ldquopeople with disabilitiesrdquo sendo que invariavelmente esta
expressatildeo eacute traduzida para Portuguecircs como ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo Tal facto parece criar
condiccedilotildees para uma grande permeabilidade semacircntica dificilmente resoluacutevel do ponto de vista
conceptual Segundo deficiecircncia e incapacidade satildeo claramente dois conceitos distintos
Enquanto a deficiecircncia remete para alteraccedilotildees significativas ao niacutevel das estruturas eou das
funccedilotildees do corpo a incapacidade constitui o poacutelo negativo do funcionamento humano em
situaccedilatildeo potencial ou efectiva de participaccedilatildeo no contexto de vida Este facto pressupotildee que os
conceitos de deficiecircncia e de incapacidade natildeo contecircm nenhuma relaccedilatildeo causal entre si nem
nenhuma relaccedilatildeo linear de frequecircncia na medida em que eacute possiacutevel existir uma deficiecircncia
sem que exista uma incapacidade e eacute possiacutevel emergir uma determinada incapacidade sem
que haja uma qualquer deficiecircncia
Deste modo eacute possiacutevel
a) Ter deficiecircncias sem limitaccedilotildees de capacidade (eg uma desfiguraccedilatildeo resultante da
doenccedila de Hansen pode natildeo ter efeito sobre a capacidade da pessoa
b) Ter problemas de desempenho e limitaccedilotildees de capacidade sem deficiecircncias evidentes
(eg reduccedilatildeo de desempenho nas actividades diaacuterias associada a vaacuterias doenccedilas)
c) Ter problemas de desempenho sem deficiecircncias ou limitaccedilotildees de capacidade (eg um
indiviacuteduo HIV positivo ou um ex-doente curado de doenccedila mental que enfrenta
estigmas ou descriminaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais ou no trabalho)
d) Ter limitaccedilotildees de capacidade se natildeo tiver assistecircncia e nenhum problema de
desempenho no ambiente habitual (eg um indiviacuteduo com limitaccedilotildees de mobilidade
pode beneficiar por parte da sociedade de ajudas tecnoloacutegicas de assistecircncia para se
movimentar
e) Experimentar um grau de influecircncia em sentido contraacuterio (eg a inactividade dos
membros pode levar agrave atrofia muscular a institucionalizaccedilatildeo pode resultar numa perda
da socializaccedilatildeo)
Daqui resulta que ao referirmo-nos agraves pessoas com deficiecircncias enquanto puacuteblico-alvo
privilegiado das medidas de reabilitaccedilatildeo poderemos incorrer num desvio significativo de
alocaccedilatildeo dos recursos agraves reais necessidades das pessoas na medida em que natildeo eacute a
deficiecircncia que gera por si mesma a necessidade de reabilitaccedilatildeo mas sim as limitaccedilotildees de
actividade e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo decorrentes da interacccedilatildeo entre as caracteriacutesticas
biopsicossociais e as caracteriacutesticas dos ambientes em que o individuo se move
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 27
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
A persistecircncia em traduzir o termo disability para deficiecircncia e natildeo apenas o seu homoacutelogo
anglo-saxoacutenico ndash impairment ndash poderaacute explicar-se pelas seguintes razotildees
a) O potencial efeito estigmatizante da expressatildeo ldquopessoas com incapacidadesrdquo ser maior
do que aquele contido na expressatildeo ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo
b) O termo incapacidade centrar-se exclusivamente nos aspectos negativos do
funcionamento individual classificando a pessoa agrave partida como sendo destituiacuteda de
competecircncias e condiccedilotildees para atingir os niacuteveis normativos de desempenho e
performance num conjunto de domiacutenios da vida pessoal e social
O paradoxo surge igualmente porque enquanto no modelo meacutedico a incapacidade aparece
em termos causais relacionada com a deficiecircncia numa perspectiva exclusivamente individual
no modelo proposto pela OMS operacionalizado na CIF os dois conceitos gozam de total
independecircncia conceptual e operativa sendo que a deficiecircncia passa a ter uma baixa
relevacircncia diferenciadora do ponto de vista do funcionamento humano Ora se atendermos a
que as medidas de reabilitaccedilatildeo pretendem promover os potenciais do funcionamento humano
numa perspectiva de participaccedilatildeo plena do indiviacuteduo nos mais diferenciados contextos de vida
assegurando o co-desenvolvimento de todos os actores e das estruturas sociais necessaacuterias agrave
cidadania plena entatildeo falar de ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo natildeo soacute natildeo eacute relevante no quadro
da loacutegica de intervenccedilatildeo como poderaacute traduzir dificuldades dos actores em mudar
efectivamente do paradigma meacutedico para o paradigma social
Este fenoacutemeno aliaacutes natildeo acontece apenas em Portugal sendo que recentes estudos de
investigaccedilatildeo vieram sugerir a adopccedilatildeo dos conceitos de ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo e
ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo para ultrapassar a aplicaccedilatildeo indevida dos
conceitos de deficiecircncia e incapacidade A utilizaccedilatildeo destes conceitos parece articular de forma
mais precisa com o novo modelo conceptual proposto pela OMS enfatizando a diversidade de
niacuteveis de funcionamento humano e apelando a uma certa noccedilatildeo de relatividade socialmente
construiacuteda Uma das criticas feita pela comunidade de investigadores ao conceito de ldquopessoas
com diversidade funcionalrdquo reside no facto de que a expressatildeo eacute dotada de um tatildeo elevado
niacutevel de abrangecircncia que natildeo permite um niacutevel de diferenciaccedilatildeo relevante na medida em que
todos os cidadatildeos detecircm entre si diversos e diferentes padrotildees de funcionamento humano
Neste sentido o conceito ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo aplicar-se-ia a todos os
cidadatildeos sem excepccedilatildeo A proliferaccedilatildeo destes termos eacute explicada pela necessidade da
comunidade politica e cientifica de construir constructos que sejam socialmente aceites e o
mais neutros possiacuteveis do ponto de vista dos seus valores impliacutecitos No entanto a
impossibilidade epistemoloacutegica de desenvolver expressotildees e conceitos socio-historicamente
neutros parece levar muitas vezes agrave concepccedilatildeo de definiccedilotildees com reduzida identidade isto eacute
de significado demasiado amplo e abrangente o que na expressatildeo da UPIAS ldquopodem significar
tudo e coisiacutessima nenhumardquo (2005)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 28
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Os conceitos ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo ldquopessoas com limitaccedilotildees de
actividaderdquo e ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo afiguram-se comparativamente ao
anterior como um conceito de maior coerecircncia conceptual com o modelo proposto pela OMS e
deteacutem cumulativamente um maior poder diferenciador A sua desvantagem reside no facto de
constituiacuterem expressotildees com maior dificuldade de apreensatildeo e inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 29
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 30
Dezembro2006
5 ANAacuteLISE DOS REFERENCIAIS NACIONAIS E INTERNACIONAIS
No sentido de obter um conjunto de vectores de referecircncia na estruturaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo do
conceito de deficiecircncia foram analisadas as abordagens desenvolvidas pelos seguintes
organismos INE Eurostat OCDE American Disabilities Act WHO UN
51 INE
Os dados disponiacuteveis no INE parecem indicar a utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na
ICIDH
Deficiecircncia1 Perda ou alteraccedilatildeo de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou
anatoacutemica Nesta definiccedilatildeo estatildeo incluiacutedas as seguintes tipologias2
Deficiecircncia AUDITIVA
Deficiecircncia MENTAL
Deficiecircncia MOTORA
Deficiecircncia ORGAcircNICO-FUNCIONAL
Deficiecircncia PSIQUIAacuteTRICA
Deficiecircncia VISUAL
Incapacidade3 Ausecircncia ou limitaccedilatildeo da capacidade para funcionar estando comprometida a
realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida
diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e originando uma desvantagem para funcionar em
sociedade face a outros
Pessoa deficiente Aquela que tenha uma ou mais das seguintes deficiecircncias a) deficiecircncia
visual b) deficiecircncia auditiva c) deficiecircncia mental d) deficiecircncia motora
1 Nota Na operaccedilatildeo censitaacuteria de 2001 apenas foi observada a deficiecircncia permanente a deficiecircncia temporaacuteria natildeo foi considerada (por exemplo se um indiviacuteduo se desloca com canadianas ou em cadeira de rodas porque partiu uma perna ou se sofre de descolamento parcial da retina que o obriga a andar com uma venda natildeo foi considerado como tendo uma deficiecircncia) 2 Fonte INE ndash Censos 2001 ndash Recenseamento Geral da Populaccedilatildeo (Antecedentes Metodologia e Conceitos) Antecedentes Metodologia e Conceitos 3 Fonte INS ndash Inqueacuterito Nacional agrave Sauacutede
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
Trabalhador deficiente Trabalhador que estaacute incapacitado para assegurar por si mesmo total
ou parcialmente a satisfaccedilatildeo de necessidades de uma vida individual ou social normal devido
a uma deficiecircncia congeacutenita ou adquirida das suas capacidades fiacutesicas sensoriais ou
mentais tendo por isso dificuldade em obter eou manter o desempenho de funccedilotildees de acordo
com as suas habilitaccedilotildees idade e experiecircncia profissional
Cidadatildeo Trabalhador com necessidades especiais Cidadatildeo idoso ou portador de
deficiecircncias sensoriais (visuais e auditivas) fiacutesicas (motoras) e cognitivas
52 EUROSTAT
Os dados disponibilizados pelo Eurostat no seu endereccedilo electroacutenico4 parecem indicar a
utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na ICIDH
Conceito Deficiecircncia5
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de deficiecircncia refere-se a uma perda ou alteraccedilatildeo
de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou anatoacutemica
Conceito Incapacidade6
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de incapacidade refere-se agrave ausecircncia ou limitaccedilatildeo
da capacidade para funcionar estando comprometida a realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas
funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e
originando uma desvantagem para funcionar em sociedade face a outros
Conceito Desvantagem7
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito refere-se agrave desvantagem para um dado individuo
decorrente de uma deficiecircncia ou incapacidade
4 httpforumeuropaeuintircdsiscodedinfodatacodedenTheme3htm 5 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 6 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 7 Fonte Key data on health 2000 Eurostat
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
53 OCDE
Definiccedilotildees gerais de incapacidade
No contexto da OCDE identificam-se 2 abordagens distintas no quadro da definiccedilatildeo de
incapacidade
A incapacidade pode ser definida enquanto um estado decorrente de autoavaliaccedilatildeo ou um
status baseado em fontes administrativas eg beneficiaacuterio dos apoios De forma muito
frequente e talvez de forma imprecisa estas duas definiccedilotildees satildeo explicitadas como
incapacidade ldquosubjectivardquo versus rdquoobjectivardquo
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo e instrumentos
A incapacidade autoavaliada eacute medida atraveacutes de inqueacuteritos feitos directamente aos cidadatildeos
nas suas residecircncias Apesar da avaliaccedilatildeo ser baseada de uma forma geral nas respostas agraves
questotildees relativas a problemas de sauacutede de longo termo que limitam as actividades de vida
diaacuteria o detalhe das questotildees eacute geralmente diferente dificultando a comparabilidade dos
dados Por exemplo ldquolongo termordquo eacute parametrizado em 6 meses na Noruega e em 12 meses
na Suiccedila O status dos beneficiaacuterios pode ser avaliado atraveacutes de registos administrativos ou
atraveacutes de inqueacuteritos Os resultados entre as duas fontes satildeo de uma forma geral bastante
diferentes por duas razotildees nucleares os registos administrativos geralmente contam casos e
natildeo pessoas o que em situaccedilotildees de benefiacutecios muacuteltiplos pode levar a contagens duplas por
outro lado os inqueacuteritos satildeo baseados nas respostas sobre o status do beneficiaacuterio e algumas
pessoas podem desejar natildeo revelar a sua condiccedilatildeo perante os benefiacutecios
Nenhuma destas definiccedilotildees e medidas de mensuraccedilatildeo eacute superior a outras pelo que a sua
utilizaccedilatildeo depende dos objectivos do propoacutesito da investigaccedilatildeo e da disponibilidade da
informaccedilatildeo
Abordagens para medir a incapacidade no quadro da aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos agraves populaccedilotildees
a) Incapacidade geral (natildeo especificada)
Puacuteblico-alvo todos os adultos
b) Incapacidade relativa ao trabalho
Puacuteblico-alvo pessoas em idade activa
c) Limitaccedilotildees nas actividades de vida diaacuteria (AVD)
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Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Puacuteblico-alvo Populaccedilatildeo idosa
54 AMERICAN DISABILITIES ACT
O American Disabilities Act (ADA) desenvolvido em 1990 fornece um conjunto de guidelines
no sentido de assegurar a disponibilizaccedilatildeo de serviccedilos para as pessoas com deficiecircncias bem
como a protecccedilatildeo dos seus direitos legais
A ADA inclui uma definiccedilatildeo legal de incapacidade consistindo na presenccedila de ldquouma deficiecircncia
fiacutesica ou mental que limita significativamente uma ou mais das principais actividades de vidardquo
Independentemente da definiccedilatildeo proposta pela ADA a existecircncia de muacuteltiplos programas a
favor das pessoas com deficiecircncias e os diferentes focus legais em diferentes puacuteblicos alvo
fazem com que tenham emergido uma multiplicidade de definiccedilotildees de incapacidade ao longo
do tempo no quadro das poliacuteticas sociais americanas
55 OMS ONU Revisatildeo dos actuais inqueacuteritos sobre a incapacidade
Apesar de existir um desenvolvimento consideraacutevel dos inqueacuteritos na aacuterea da incapacidade
poder-se-atildeo explicitar algumas observaccedilotildees relativas agrave sua multiplicidade Numa primeira linha
de anaacutelise os inqueacuteritos tendem a focalizar-se nas limitaccedilotildees de actividade eou na deficiecircncia
No que concerne agrave formulaccedilatildeo escrita tendem a existir diferenccedilas significativas entre
inqueacuteritos facto que inviabiliza natildeo raras vezes a comparabilidade dos dados entre inqueacuteritos
As diferentes formulaccedilotildees das questotildees incluem
Tem dificuldade
Eacute capaz de
Faz
Tem sentido problemas em
com ou sem assistecircncia pessoal eou tecnoloacutegica
A questatildeo que se coloca eacute se estas formulaccedilotildees tecircm o mesmo significado isto eacute se todas elas
pretendem medir a capacidade ou a performance De acordo com a CIF a capacidade
remeteria para o potencial de execuccedilatildeo de um indiviacuteduo enquanto a performance diria respeito
ao niacutevel de desempenho efectivo do indiviacuteduo atraveacutes do seu envolvimento numa situaccedilatildeo de
vida real As lacunas existentes e as poucas referecircncias ao niacutevel da forma como os inquiridos
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
satildeo instruiacutedos a responder faz com que natildeo seja possiacutevel desenvolver um discernimento
irrefutaacutevel sobre esta mateacuteria
Do ponto de vista dos domiacutenios abrangidos os inqueacuteritos tecircm apresentado algumas questotildees
sobre a participaccedilatildeo e o ambiente e evidenciam algumas limitaccedilotildees na sua amplitude Os
domiacutenios de actividades e participaccedilatildeo geralmente abrangidos tecircm sido operacionalizados de
uma forma geral nas seguintes dimensotildees
Educaccedilatildeo e emprego (formulado como questotildees de performance)
Outros inqueacuteritos incluem aacutereas como relaccedilotildees interpessoais vida familiar tomada de
decisotildees etc
O domiacutenio relativo aos factores ambientais tem incluiacutedo
Utilizaccedilatildeo e acessibilidadedisponibilidade dos produtos de assistecircncia e da tecnologia
Acessibilidade do ambiente
Disponibilidade dos serviccedilos (sauacutede protecccedilatildeo social educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo)
Evidecircncias muito escassas ao niacutevel da poliacutetica atitudes ambiente natural
planeamento e concepccedilatildeo
A questatildeo de investigaccedilatildeo neste contexto centra-se na seguinte formulaccedilatildeo ldquoo que eacute que os
inqueacuteritos medem como incapacidaderdquo
a) Definiccedilatildeo a priori da incapacidade versus sem incapacidade
Alguns inqueacuteritos sobre a incapacidade especialmente os mais antigos utilizam uma definiccedilatildeo
a priori de incapacidade O objectivo deste tipo de inqueacuteritos eacute contar o nuacutemero de pessoas
que se encaixam na definiccedilatildeo no contexto da populaccedilatildeo total Neste sentido os dados satildeo
analisados de acordo com dois grupos de referecircncia ndash com incapacidade e sem incapacidade ndash
em funccedilatildeo de um conjunto de diferentes variaacuteveis Este tipo de questionaacuterios formula questotildees
do tipo ldquoPossui algum tipo de incapacidade auditiva visual ou fiacutesicardquo Muitas questotildees dos
censos tecircm utilizado este formato
b) Definiccedilatildeo a posteriori de incapacidade versus sem incapacidade
Mais recentemente alguns inqueacuteritos desenvolveram-se em direcccedilatildeo a uma definiccedilatildeo a
posteriori de incapacidade Nestes casos eacute medida a capacidade a performance ao longo de
um conjunto vasto de domiacutenios Este segundo tipo de inqueacuteritos tende a ter uma ampla
aceitaccedilatildeo eg HALS (Canada) HID (Franccedila) inqueacuterito sobre incapacidade na Africa do Sul
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Inqueacuterito Espanhol sobre incapacidade NHIS-D (USA) inqueacuterito Holandecircs entre outros Estes
instrumentos formulam questotildees relativas agraves dificuldades que as pessoas experienciam em
diferentes domiacutenios produzindo um perfil pessoal que possa colocar em evidecircncia os
diferentes graus de capacidade associados A categorizaccedilatildeo de incapacidade sem
incapacidade eacute formulada ao niacutevel do domiacutenio e natildeo como uma categoria geral de atributo
pessoal Esta abordagem permite uma anaacutelise ao niacutevel de funcionamento individual por
domiacutenio por exemplo comparando a experiecircncia de incapacidade no domiacutenio de mobilidade
versus socializaccedilatildeo versus comunicaccedilatildeo entre outros bem como o impacto dos factores
ambientais nestes diferentes domiacutenios O perfil resultante do funcionamento individual ao longo
de muacuteltiplos domiacutenios eacute similar aos estados de sauacutede individuais ao longo das diferentes
dimensotildees
Vantagens de uma abordagem a posteriori
Estaacute em consonacircncia com a abordagem universal proposta pela CIF Todas as
pessoas experienciam deficiecircncia nalgum ponto e esta experiecircncia eacute caracterizada
numa abordagem a posteriori e natildeo a priori
Decisotildees sobre a criaccedilatildeo de categorias sobre quem tem incapacidade e sobre quem
natildeo tem podem ser tomadas atraveacutes de diferentes niacuteveis de anaacutelise por exemplo
atraveacutes da anaacutelise da experiecircncia das pessoas que experienciam incapacidade em 1 2
ou 3 domiacutenios de cruzar o status de emprego de pessoas com incapacidade ao longo
dos diferentes domiacutenios etc
Deixa de ser necessaacuteria uma definiccedilatildeo tipoloacutegica e categoacuterica de pessoas com
incapacidade O que necessita de ser definido neste contexto eacute o que se designa por
limitaccedilatildeo da capacidade ou problemas de performance ao longo dos diferentes
domiacutenios
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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6 SISTEMATIZACcedilAtildeO DAS DIMENSOtildeES DE ORGANIZACcedilAtildeO E
OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em todos os estudos efectuados neste domiacutenio foi colocada em evidecircncia a actual dificuldade
de comparabilidade estatiacutestica internacional inter ou intra sectorial independentemente do
organismo referenciador ndash OCDE ONU EUROSTAT INE OMS
Neste contexto desenvolver-se-aacute a extracccedilatildeo de conhecimento tendo por base a identificaccedilatildeo
de um conjunto de eixos de anaacutelise que actuem como vectores de estruturaccedilatildeo na
operacionalizaccedilatildeo do conceito A este propoacutesito atente-se no Quadro 2
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Abordagem Focus Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Delimitaccedilatildeo temporal do
conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo
Design das questotildees
CID-10
ICIDH
ICF
SauacutedeDoenccedila
Deficiecircncia
Incapacidade
a) Geral
b) Relativa ao trabalho
c) Limitaccedilotildees nas
actividades de vida
diaacuteria
Funcionalidade ndash
Niacuteveis de execuccedilatildeo
das actividades por
domiacutenio e niacuteveistipos
de ajudas mobilizadas
Intersubjectivo ndash
vg inqueacuteritos
Objectivo ndash vg
fontes administrativas
A priori
A posteriori
Temporaacuterias
permanentes
Progressivas
regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou
contiacutenuas
Tipo 1 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre uma determinada
condiccedilatildeo individual
combinada com itens
referentes a limitaccedilotildees de
actividade e participaccedilatildeo e
factores contextuais
Tipo 2 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre a presenccedila de uma
pessoa com incapacidade
no agregado familiar
seguindo-se uma lista de
deficiecircncias e
incapacidades
Tipo 3 ndash Checklist de
deficiecircncias
Quadro 2 ndash Eixos de operacionalizaccedilatildeo do conceito
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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7 ESCOLHA DO CENAacuteRIO A IMPLEMENTAR
A anaacutelise do Quadro 2 permite-nos uma definiccedilatildeo modular do cenaacuterio a implementar atraveacutes de
uma configuraccedilatildeo do conceito pelos eixos de anaacutelise propostos Uma das dificuldades
evidentes nesta delimitaccedilatildeo prende-se com o cumprimento dos requisitos de (a)
comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica e legislativa dentro do contexto portuguecircs
e (c) conformidade com os referenciais conceptuais actuais sendo que a coexistecircncia destes
criteacuterios afigura-se em muitos casos incompatiacutevel entre si Para efeitos da estruturaccedilatildeo do
cenaacuterio privilegiar-se-aacute a conformidade com os referenciais conceptuais actuais
71 ABORDAGEM No que concerne agrave abordagem privilegia-se a adopccedilatildeo das mais recentes directrizes propostas
pela OMS adoptando explicitamente a CIF
Fundamentaccedilatildeo
A CIF apresenta a capacidade para descrever o funcionamento humano numa
perspectiva biopsicossocial em detrimento da classificaccedilatildeo anterior (ICIDH) que se
focalizava na dimensatildeo biomeacutedica A CIF foi desenvolvida no plano conceptual para ser aplicaacutevel em diferentes aacutereas e
sectores A CIF eacute aplicaacutevel transversalmente agraves dimensotildees de cultura idade geacutenero sendo um
instrumento sistemaacutetico para descrever e medir a sauacutede e o funcionamento humano
num dado contexto A CIF constitui-se enquanto instrumento potencial para a poliacutetica social design das
intervenccedilotildees nos domiacutenios da sauacutede educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e intervenccedilatildeo social Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
72 FOCUS
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo da centraccedilatildeo da recolha de dados ao niacutevel
da dimensatildeo de funcionalidade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
Fundamentaccedilatildeo
Consonacircncia com o modelo conceptual proposto pela CIF enfatizando o caraacutecter
dinacircmico e interaccional (pessoa factores contextuais) do funcionamento de cada
pessoa Permite caracterizar as limitaccedilotildees de actividade e restriccedilotildees de participaccedilatildeo dos
cidadatildeos identificando necessidades de intervenccedilotildees especializadas numa loacutegica de
empowerment e participaccedilatildeo social Permite analisar a adequabilidade e ajustamento das actuais medidas poliacuteticas do
ponto de vista dos seus objectivos e os problemas detectados ao niacutevel da participaccedilatildeo
dos cidadatildeos ao longo de um conjunto diversificado de domiacutenios
73 MEacuteTODOS DE MENSURACcedilAtildeO
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo de meacutetodos intersubjectivos nomeadamente
inqueacuteritos
Fundamentaccedilatildeo
Flexibilidade ao niacutevel da abrangecircncia e profundidade das dimensotildees
Maior facilidade na implementaccedilatildeo atendendo agrave disponibilizaccedilatildeo de uma amostra
delimitada
Maior niacutevel de controlo sobre as condiccedilotildees de observaccedilatildeo e da entrevista devido ao
menor nuacutemero de entrevistas a ser implementado
74 DELIMITACcedilAtildeO CONCEPTUAL E TEMPORAL DO CONCEITO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo temporal e apesar de se privilegiar as vantagens anteriormente
explicitadas no desenvolvimento de uma definiccedilatildeo a posteriori assume-se a necessidade
politica de delimitar o campo de intervenccedilatildeo do conjunto de medidas sociais neste domiacutenio
pelo que a delimitaccedilatildeo conceptual poderaacute ser objecto de operacionalizaccedilatildeo atraveacutes dos
seguintes paracircmetros
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 40
Dezembro2006
Poder-se-aacute colocar a questatildeo de saber se a delimitaccedilatildeo do conceito proposta remete
especificamente para ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ou para ldquopessoas com limitaccedilotildees de
participaccedilatildeordquo Atendendo a que a definiccedilatildeo comporta uma abordagem sisteacutemica enfatizando a
interacccedilatildeo entre um conjunto diversificado de componentes que produzem impacto na
funcionalidade da pessoa a resposta natildeo eacute linear dependendo da ecircnfase socio-histoacuterica e da
abordagem sociopoliacutetica que se escolher enfatizar No entanto e do ponto de vista conceptual
privilegia-se a adopccedilatildeo do conceito ldquopessoas com limitaccedilotildees de participaccedilatildeordquo dado que existe
total autonomia operativa entre os diferentes constructos Neste sentido a deficiecircncia natildeo
constitui um factor causal linear das limitaccedilotildees de actividade e das restriccedilotildees ao niacutevel da
participaccedilatildeo mas antes uma das componentes que em interacccedilatildeo com outras podem
provocar impactos ao niacutevel da funcionalidade do indiviacuteduo Por uacuteltimo refira-se que a tipologia
ldquopessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeordquo poderaacute ser alvo de criticas por constituir
uma designaccedilatildeo que apela a duas componentes em simultacircneo (actividades e participaccedilatildeo)
excluindo outras e ser demasiado longa para uma definiccedilatildeo tipoloacutegica A este propoacutesito pode-
se sugerir a delimitaccedilatildeo ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo constituindo esta
expressatildeo uma abordagem holiacutestica ao conjunto de componentes que interferem com o
funcionamento humano Deste modo poderemos ter as seguintes designaccedilotildees
Pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Pessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo
Pessoas com limitaccedilotildees de funcionalidade
Figura 2 ndash Possiacuteveis designaccedilotildees
O Quadro 3 pretende fornecer uma visatildeo sistemaacutetica sobre o processo de decisatildeo da
designaccedilatildeo a adoptar
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
deficiecircncias
Tradiccedilatildeo analiacutetica dentro do
contexto portuguecircs
Em conformidade com o modelo
meacutedico ndash centra-se nas alteraccedilotildees
de estrutura e funccedilatildeo ndash
focalizaccedilatildeo na pessoa
Desarticulado dos pressupostos do
modelo social ndash natildeo remete para a
experiecircncia de incapacidade
enquanto produto da interacccedilatildeo
entre pessoa e ambiente
Mai
or
Abr
angecirc
ncia
Mai
or
Espe
cific
idad
e
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 41
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
incapacidades
Em conformidade com a
delimitaccedilatildeo anglo-saxoacutenica que
utiliza o conceito Disability
Focalizaccedilatildeo no poacutelo negativo do
funcionamento humano ndash
funcionalidadeincapacidade
Ao focalizar-se na experiecircncia de
incapacidade enquanto
interacccedilatildeo pessoa-ambiente
remete indirectamente para a
mobilizaccedilatildeo de apoios e recursos
de forma a ultrapassar eou
eliminar os obstaacuteculos ao
funcionamento em contexto
O potencial efeito estigmatizante
da expressatildeo ldquopessoas com
incapacidadesrdquo
Pessoas com
diversidade
Funcional
Em conformidade com o modelo
social
Focaliza-se na gestatildeo das
diferenccedilas e no seu impacto ao
niacutevel da participaccedilatildeo das pessoas
na sociedade
Elevado niacutevel de abrangecircncia natildeo
permitindo um niacutevel de
diferenciaccedilatildeo relevante na
medida em que todos os cidadatildeos
detecircm entre si diversos e
diferentes padrotildees de
funcionamento humano
Conceito dificilmente
operacionalizaacutevel do ponto de
vista da formulaccedilatildeo das poliacuteticas e
da delimitaccedilatildeo dos puacuteblicos-alvo
Pessoas com
restriccedilotildees ao
niacutevel da
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos Desta forma
todos os obstaacuteculos agrave participaccedilatildeo
relacionados com discriminaccedilatildeo
social preconceitos estereoacutetipos
deficiecircncias doenccedilas croacutenicas
entre outros satildeo incluiacutedos
Natildeo inclui as limitaccedilotildees de
actividade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
limitaccedilotildees de
actividade e
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida e simultaneamente no
domiacutenio das limitaccedilotildees de
actividade
Ruptura com a tradiccedilatildeo analiacutetica
no sector
Dificuldade de apreensatildeo e
inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Natildeo inclui as alteraccedilotildees da
estrutura e da funccedilatildeo
Pessoas com
limitaccedilotildees de
funcionalidade
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel das
diferentes dimensotildees constituintes
da funcionalidade e do
funcionamento humano
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos
Pessoas com
deficiecircncias e
incapacidades
Natildeo introduz ruptura com a
tradiccedilatildeo analiacutetica no sector
Inclui as alteraccedilotildees de estrutura e
funccedilatildeo bem como as alteraccedilotildees
decorrentes ao niacutevel da
funcionalidade
Diferencia os conceitos de
deficiecircncia e incapacidade
autonomizando-os e fornecendo
uma base compreensiva para o
natildeo estabelecimento de relaccedilotildees
de causa-efeito entre os ambos
Abrange os obstaacuteculos que
emergem na interacccedilatildeo pessoa-
contextos de vida e
simultaneamente no domiacutenio das
limitaccedilotildees de actividade
Poder diferenciador e delimitador
na definiccedilatildeo do puacuteblico-alvo
Em alinhamento estrateacutegico com o
PAIPDI
Designaccedilatildeo de compromisso com
os referenciais teoacutericos do modelo
social e dos princiacutepios da ldquoeacutetica da
diversidaderdquo
Quadro 3 ndash Visatildeo comparativa das hipoacuteteses da designaccedilatildeo a adoptar
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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75 DELIMITACcedilAtildeO DA DURACcedilAtildeO E CURSO DE EVOLUCcedilAtildeO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo interessa a caracterizaccedilatildeo nas
3 dimensotildees desenvolvidas
Fundamentaccedilatildeo
Afigura-se relevante caracterizar a ocorrecircncia das deficiecircncias quanto aacute sua
consistecircncia no tempo ndash temporaacuterias permanentes ndash analisando os factores
contextuais associados consequecircncias ao niacutevel das actividades e da participaccedilatildeo ao
longo de um conjunto de domiacutenios em ordem agrave extracccedilatildeo de implicaccedilotildees no acircmbito
das poliacuteticas sociais
No acircmbito da adaptabilidade e da adequaccedilatildeo das medidas poliacuteticas agraves necessidades
especiacuteficas dos cidadatildeos torna-se relevante caracterizar a deficiecircncia quanto agrave
natureza do seu curso evolutivo ndash progressivas regressivas estaacuteveis O mesmo
criteacuterio eacute aplicaacutevel quanto aacute dimensatildeo de padratildeo de manifestaccedilatildeo ndash intermitente
contiacutenua
No entanto e apesar da incapacidade se manifestar ao longo do ciclo de vida da pessoa
de forma multimodal para efeitos de delimitaccedilatildeo e de definiccedilatildeo do conceito de pessoas
com deficiecircncias e incapacidades privilegiaremos o caraacutecter permanente Desta forma
excluem-se as manifestaccedilotildees temporaacuterias de incapacidade que enviesariam a anaacutelise e o
desenvolvimento de poliacuteticas neste domiacutenio
76 DESIGN DAS QUESTOtildeES
No que concerne ao design das questotildees privilegia-se a escolha de questotildees tipo 1
Fundamentaccedilatildeo
Em consonacircncia com a CIF
Permite comparabilidade estatiacutestica futura
Permite a caracterizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre os factores de funcionalidade ndash integridade
estrutural e funcional actividades participaccedilatildeo e factores contextuais
Permite o design das poliacuteticas sociais e metodologias de intervenccedilatildeo alicerccediladas nas
necessidades especiacuteficas dos cidadatildeos em torno das dimensotildees de inclusatildeo social
Domiacutenios
Visatildeo
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Audiccedilatildeo
Comunicaccedilatildeo
Mobilidade
Dor
Aprendizagem e funcionamento psicoloacutegico
Autocuidados e vida domeacutestica
Condiccedilotildees gerais de sauacutede
Mobilizaccedilatildeo de ajudas ou equipamento especializado
Participaccedilatildeo social
Transporte e educaccedilatildeo
77 PROPOSTA DE DELIMITACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em funccedilatildeo das dimensotildees caracterizadas e dos criteacuterios privilegiados desenvolveu-se o
seguinte enquadramento conceptual
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Figura 2 ndash Enquadramento conceptual da delimitaccedilatildeo do conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso da evoluccedilatildeo
Temporaacuterias permanentes
Progressivas regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou contiacutenuas
Focus
Funcionalidade ndash Niacuteveis de execuccedilatildeo das actividades por domiacutenio e niacuteveistipos de ajudas mobilizadas
Abordagem CIF
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo temporal do conceito
A priori
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Inter-subjectivo
Design das questotildees
Questatildeo geneacuterica sobre uma determinada condiccedilatildeo individual combinada com itens referentes a limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo e factores contextuais
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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8 CRITEacuteRIOS DE ELEGIBILIDADE DO PUacuteBLICO-ALVO E SISTEMAS DE
AVALIACcedilAtildeO
A operacionalizaccedilatildeo do conceito de incapacidade tem sido abordada de forma heterogeacutenea
entre diferentes modalidades de politica e os diferentes contextos socioculturais de cada paiacutes
De uma forma geral encontram-se 2 eixos criacuteticos na sua operacionalizaccedilatildeo
a) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de trabalho (na ocupaccedilatildeo preacutevia ou numa nova
ocupaccedilatildeo ajustada agraves alteraccedilotildees funcionais)
b) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de obter rendimentos provenientes do trabalho
A explicitaccedilatildeo dos criteacuterios de delimitaccedilatildeo do conceito de incapacidade nos diferentes paiacuteses
encontra-se na Quadro 4
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Austraacutelia 2 Criteacuterios possuir uma incapacidade que resulte
num score nunca inferior a 20 nas tabelas de
incapacidades e incapacidade em trabalhar 30
horas ou mais por semana ou em ser
reconvertido para trabalho em contexto regular
nos proacuteximos 2 anos
Nenhum
Aacuteustria 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho (50
de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo para
trabalhadores sem qualificaccedilotildees) papel criacutetico
das decisotildees dos tribunais devido a definiccedilotildees
legais imprecisas
Nenhum mas as
restriccedilotildees de sauacutede
devem ter uma duraccedilatildeo
igual ou superior a 6
meses
Beacutelgica 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na actual ocupaccedilatildeo
1 ano
Canada Incapacidade severa e prolongada que impeccedila de
desenvolver trabalho numa base regular
Nenhum
Dinamarca 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum mas a
reabilitaccedilatildeo precisa de
estar completa
Franccedila 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual mas a
totalidade do subsidio requer igualmente perda de
capacidade de trabalho
Nenhum no caso das
condiccedilotildees estarem
estaacuteveis mas muito
frequentemente apoacutes 3
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
anos
Alemanha 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho a
incapacidade parcial eacute calculada em funccedilatildeo do nordm
de horas que a pessoa pode trabalhar
Nenhum mas a
incapacidade deve ter
uma duraccedilatildeo miacutenima
de 26 semanas
Itaacutelia 666reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum
Coreia Criteacuterios meacutedicos (niacuteveis de incapacidade
definidos de forma detalhada)
Periacuteodo de espera de
50 dias (os subsiacutedios
de doenccedila natildeo se
encontram disponiacuteveis)
Meacutexico 50 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo Nenhum
Holanda 15 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
(25 para os trabalhadores por conta proacutepria e
jovens com incapacidade) grau de incapacidade
calculado pela diferenccedila de remuneraccedilatildeo entre o
actual posto de trabalho compatiacutevel com as
limitaccedilotildees funcionais e o anterior
1 ano
Noruega 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho O
grau de subsiacutedio eacute calculado pela capacidade de
remuneraccedilatildeo
Nenhum (apoacutes ter
completado a
reabilitaccedilatildeo vocacional)
Poloacutenia Reduccedilatildeo temporaacuteria ou permanente da
capacidade de trabalho
Nenhum
Portugal 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual
Nenhum mas na
praacutetica ao fim de 3
anos (fim do periacuteodo de
doenccedila de longo termo)
Espanha 33 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho na
ocupaccedilatildeo actual incapacidade para todo e
qualquer trabalho para a totalidade do subsiacutedio
1 ano (embora seja
possiacutevel a candidatura
antes deste prazo em
casos de incapacidade
permanente)
Sueacutecia 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho grau
de incapacidade parcial calculado a partir das
horas que uma pessoa pode trabalhar
Nenhum
Suiccedila 40 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho para
as pessoas inactivas o grau de incapacidade eacute
calculado em relaccedilatildeo aacute actividade actual
1 ano
Turquia 666 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho
com um focus meacutedico bastante significativo
Nenhum
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Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Reino Unido Limitaccedilotildees nas actividades de vida quotidianas
relevantes para o trabalho (avaliaccedilotildees meacutedicas
predominantes) teste ocupacional durante a s
primeiras 28 semanas (subsidio de doenccedila)
28 semanas
Estados
Unidos
Reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
incapacidade em investir numa actividade
profissional com rendimentos ($ US 740 por mecircs)
5 meses (nem sempre
cobertos pelos
subsiacutedios de curto-
termo) e 24 meses
para a cobertura
meacutedica
Quadro 4 ndash Definiccedilotildees de incapacidade e tempos regulamentares
Um dos desafios que se coloca aos actuais sistemas reside na delimitaccedilatildeo da elegibilidade do
puacuteblico-alvo Para cumprir este objectivo satildeo necessaacuterios sistemas de avaliaccedilatildeo holiacutesticos
abrangentes coerentes e que permitam chegar a resultados de forma consistente e com
validade interna No actual contexto a CIF propotildee constituir-se como o instrumento conceptual
abrangente para caracterizar os diferentes domiacutenios e niacuteveis de funcionalidade incapacidade
de forma coerente e integrada Neste sentido uma das vantagens apontadas para a adopccedilatildeo
do modelo desenvolvido pela OMS eacute a possibilidade de uniformizaccedilatildeo de conceitos e portanto
da utilizaccedilatildeo de uma linguagem padratildeo que permita a comunicaccedilatildeo entre investigadores
gestores profissionais de sauacutede organizaccedilotildees da sociedade civil e utilizadores em geral
Um dos campos de estudo mais explorados para a aplicaccedilatildeo da CIF tem sido a aacuterea de
Medicina Fiacutesica e de Reabilitaccedilatildeo no que concerne ao acompanhamento do estado de sauacutede
dos pacientes em tratamento O uso da CIF tem sido considerado tambeacutem na avaliaccedilatildeo apoacutes
transtornos agudos condiccedilotildees traumaacuteticas condiccedilotildees croacutenicas e na geriatria
Alguns autores argumentam que a CIF deve ser explorada como uma base de informaccedilotildees
padronizadas em estudos sobre incapacidade profissional quando haacute necessidade de
relacionar dados de sauacutede ocupacional com os da Seguranccedila Social
Na Sauacutede Puacuteblica tradicionalmente pouca atenccedilatildeo tem sido dada agraves pessoas com
incapacidades No entanto ao lado de recentes investimentos por parte de organizaccedilotildees e de
alguns governos a publicaccedilatildeo do modelo da CIF fornece as bases para as poliacuteticas e
disciplinas da Sauacutede Puacuteblica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo que apresenta deficiecircncias e
incapacidades Assim uma das possibilidades de uso da CIF pode ser a contribuiccedilatildeo para
responder a importantes questotildees de sauacutede puacuteblica tais como qual o estado de sauacutede das
pessoas com deficiecircncias comparadas com as demais que necessidades e que tipos de
intervenccedilotildees satildeo mais adequadas para reduzir condiccedilotildees secundaacuterias e promover a
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na sociedade entre outras
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
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Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
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Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
Dezembro2006
Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 53
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
puacuteblico-alvo A necessidade de usar uma pluralidade de definiccedilotildees de forma a assegurar a
relevacircncia da definiccedilatildeo para o seu domiacutenio de aplicabilidade levanta um problema de
coerecircncia no quadro poliacutetico relativo agraves pessoas com deficiecircncias Neste cenaacuterio as pessoas
podem ser consideradas como tendo deficiecircncias no quadro de uma determinada poliacutetica e
como natildeo tendo no quadro de uma poliacutetica diferente sendo que por vezes se encontram
lacunas no fornecimento de serviccedilos como resultado imediato desta opccedilatildeo De uma forma
geral os diferentes Estados resolvem estes problemas requerendo agraves instituiccedilotildees das poliacuteticas
sociais a coordenaccedilatildeo das actividades em detrimento do estabelecimento de definiccedilotildees
uacutenicas
Diferentes abordagens entre diferentes aacutereas de poliacutetica social
A evoluccedilatildeo histoacuterica e a apropriaccedilatildeo de diferentes conceitos por parte de diferentes sectores
da poliacutetica social encerram o risco de serem adoptados modelos operativos e intervenccedilotildees com
caracteriacutesticas significativamente diferentes Neste sentido podem-se observar sectores que
privilegiam o mainstreaming e o desenvolvimento das intervenccedilotildees baseadas na comunidade
e noutros sectores verificarem-se intervenccedilotildees mais centradas no indiviacuteduo mobilizando
criteacuterios quase exclusivamente meacutedicos Esta diferenccedila de abordagens pode potencialmente
acarretar desarticulaccedilotildees e incoerecircncias ao niacutevel dos princiacutepios gerais da poliacutetica social
reflectindo-se numa resposta fragmentada e parcelar agraves necessidades das pessoas Neste
contexto afigura-se relevante a definiccedilatildeo clara sistemaacutetica e estruturada dos princiacutepios
transversais subjacentes agrave globalidade das poliacuteticas para num segundo momento se proceder
agrave definiccedilatildeo dos seus elementos especiacuteficos
Classificaccedilatildeo da deficiecircncia e metodologias de avaliaccedilatildeo
Enquanto que no quadro do modelo meacutedico importava associar as diferentes deficiecircncias a
diferentes niacuteveis de incapacidade mobilizando criteacuterios de natureza exclusivamente meacutedica a
progressiva implementaccedilatildeo do modelo social na maior parte dos paiacuteses da Europa tem
colocado desafios sobre qual a categorizaccedilatildeo que melhor reflecte as dificuldades de
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades ao niacutevel dos seus ambientes de
vida A OMS perante esta encruzilhada de classificaccedilotildees propocircs a Classificaccedilatildeo Internacional
de Funcionalidade Incapacidade e Sauacutede (CIF) como modelo operativo de caracterizaccedilatildeo da
funcionalidade do indiviacuteduo colocando em evidecircncia para efeitos de elegibilidade dos
programas as limitaccedilotildees de actividade e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo das pessoas Ou seja
enquanto nalguns modelos se continuam a avaliar as deficiecircncias do indiviacuteduo a CIF vem
enfatizar em coerecircncia com o modelo social que o mais relevante natildeo eacute avaliar as alteraccedilotildees
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 12
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
ao niacutevel das estruturas ou das funccedilotildees dos indiviacuteduos ndash ainda que natildeo as negligencie ndash mas
sim as limitaccedilotildees de actividades e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo que o sujeito experiencia no
decorrer da desadequaccedilatildeo entre as suas diferenccedilas e as caracteriacutesticas dos ambientes sociais
em que se move Atente-se que esta opccedilatildeo conceptual natildeo eacute neutra do ponto de vista
pragmaacutetico dado que os objectivos das intervenccedilotildees passam a ser a remoccedilatildeo das barreiras e
dos obstaacuteculos que ocorrem no quadro da relaccedilatildeo do sujeito com os seus contextos de vida
em detrimento de intervenccedilotildees polarizadas exclusivamente na dimensatildeo individual ou
exclusivamente na dimensatildeo social
No desenvolvimento das poliacuteticas sociais a investigaccedilatildeo tem permitido colocar em evidecircncia a
necessidade de identificar definir e sistematizar os princiacutepios norteadores que tenderatildeo a ser
transversais a todos os sectores de poliacutetica social sendo que apenas deste modo se poderaacute
assegurar a coerecircncia entre as diferentes poliacuteticas dos diferentes sectores Neste sentido
torna-se relevante um processo de clarificaccedilatildeo sobre qual o modelo conceptual em que a
estrateacutegia poliacutetica se baseou de forma a que o conjunto de objectivos estrateacutegias processos
de intervenccedilatildeo definiccedilatildeo de resultados alocaccedilatildeo de recursos e indicadores de avaliaccedilatildeo
estejam devidamente articulados e em consonacircncia com os princiacutepios adoptados
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 13
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
2 CONCEITOS E TERMINOLOGIA
A anaacutelise conceptual no domiacutenio da deficiecircncia permite colocar em evidecircncia a existecircncia de
um conjunto de imprecisotildees ao niacutevel dos conceitos com variaccedilotildees relacionadas com o modelo
meacutedico e com o modelo social Neste contexto afigura-se criacutetico clarificar os contornos teoacutericos
e os modelos conceptuais subjacentes aos diferentes conceitos utilizados estabelecendo uma
base teoacuterica de referecircncia que assegure o necessaacuterio grau de coerecircncia e simultaneamente
abrangecircncia
21 EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA DOS SISTEMAS DE CLASSIFICACcedilAtildeO
Para uma clara delimitaccedilatildeo dos modelos teoacutericos que tecircm influenciado historicamente o
desenvolvimento dos conceitos no domiacutenio da deficiecircncia poderemos identificar 2 abordagens
conceptuais distintas
211 A ABORDAGEM TRADICIONAL INDIVIDUALISTA
A preocupaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede em estabelecer uma classificaccedilatildeo das doenccedilas
remonta ao seacuteculo XVIII Mas somente na VI Revisatildeo da Classificaccedilatildeo Internacional de
Doenccedilas (CID-6) em 1948 citada na IX Revisatildeo foram feitas referecircncias a doenccedilas que
poderiam tornar-se croacutenicas exigindo outros serviccedilos aleacutem de cuidados meacutedicos
Ateacute a deacutecada de 70 a CID-8 citada na IX Revisatildeo considerava apenas as manifestaccedilotildees
agudas segundo o modelo meacutedico etiologia rArr patologia rArr manifestaccedilatildeo
Esse modelo mostrou-se limitado para descrever as consequecircncias das doenccedilas pois excluiacutea
as perturbaccedilotildees croacutenicas evolutivas e irreversiacuteveis
Na IX Assembleia da OMS em 1976 surgiu uma nova conceptualizaccedilatildeo a International
Classification of Impairments Disabilities and Handicaps a manual of classification relating to
the consequences of disease (ICIDH) sendo sua traduccedilatildeo a Classificaccedilatildeo Internacional de
Deficiecircncias Incapacidades e Desvantagens um manual de classificaccedilatildeo das consequecircncias
das doenccedilas (CIDID) publicada em 1989
Apesar da abordagem meacutedica individualista ter dominado a cultura ocidental desde pelo
menos o seacuteculo XIX (Oliver 1990 Gleeson 1999) esta encontra-se geralmente associada agrave
Classificaccedilatildeo Internacional da Deficiecircncia Incapacidades e Desvantagens (ICIDH) da OMS
(1980) Em resposta agraves necessidades crescentes ao niacutevel internacional de clarificaccedilatildeo do
sentido do conceito de incapacidade e atendendo agraves criticas progressivas das pessoas com
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 14
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
incapacidades e seus significativos baseadas no facto de que a incapacidade envolve mais do
que um conjunto de preocupaccedilotildees estritamente meacutedicas a OMS constituiu uma comissatildeo de
cientistas sociais para desenvolver a existente Classificaccedilatildeo Internacional de Doenccedilas em
ordem a conseguir abranger as consequecircncias a longo termo das doenccedilas croacutenicas A ICIDH
foi publicada em 1980 sendo largamente reconhecida como o directoacuterio mais abrangente
existente vindo a ser extensivamente utilizada como uma base para as iniciativas
governamentais dos paiacuteses desenvolvidos da Europa e Ameacuterica do Norte e os paiacuteses
subdesenvolvidos do Sul (Ustun et al 2001)
A ICIDH utiliza uma categorizaratildeo tripartida da deficiecircncia incapacidade e desvantagem A
deficiecircncia refere-se a qualquer perda ou irregularidade da estrutura ou das funccedilotildees
anatoacutemica fisioloacutegica ou psicoloacutegica A incapacidade refere-se a qualquer restriccedilatildeo ou perda
(resultante de uma deficiecircncia) da capacidade para executar uma actividade da forma e dentro
do contexto considerado normal para o ser humano A desvantagem refere-se agrave limitaccedilatildeo
resultante de uma deficiecircncia ou incapacidade no desempenho de um dado papel considerado
normativo (dependendo da idade geacutenero e factores sociais e culturais) para aquele indiviacuteduo
(OMS 1980 p 29)
Esta tipologia baseia-se nas noccedilotildees de normalidade fiacutesica e intelectual bem como no facto de
que a incapacidade e a desvantagem satildeo causadas por deficiecircncias ou irregularidades
psicoloacutegicas ou fisioloacutegicas Neste contexto a ICIDH pode ser objecto de criacuteticas a diferentes
niacuteveis Primeiro as percepccedilotildees de deficiecircncia e normalidade satildeo fenoacutemenos sociais pelo que
satildeo sujeitas a substantivas mudanccedilas temporais culturais e situacionais (Hanks and Hanks
1948 Scheer and Groce 1988 Coleridge 1993 Ingstad and Whyte 1995) A dislexia por
exemplo natildeo seria vista como um problema significativo numa sociedade predominantemente
agraacuteria No entanto eacute considerada uma dificuldade de aprendizagem nas sociedades
modernas tecnologicamente avanccediladas nas quais a literacia e a numeracia desempenham
requisitos criacuteticos para a participaccedilatildeo social e econoacutemica Segundo encontra-se impliacutecito na
ICIDH que o organismo humano eacute flexiacutevel e adaptaacutevel enquanto os ambientes fiacutesicos e sociais
o natildeo satildeo Este facto claramente conflitua com a realidade histoacuterica na qual os indiviacuteduos
transformaram continuamente o seu ambiente em funccedilatildeo das suas necessidades (Barnes
1991) Terceiro as definiccedilotildees da ICIDH sugerem que a deficiecircncia a incapacidade e a
desvantagem constituem-se como estados estaacuteticos Para aleacutem do facto desta noccedilatildeo afigurar-
se incorrecta parece criar distinccedilotildees e barreiras entre as pessoas com e sem deficiecircncias
distinccedilotildees que natildeo satildeo necessaacuterias nem deveriam existir Uma tal situaccedilatildeo parece ser
paradoxal atendendo a que a ICIDH possui uma classificaccedilatildeo para cada caracteriacutestica do
organismo fiacutesico e humano (Shakespeare 1994 104)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 15
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Finalmente e mais significativo neste contexto a ICIDH apresenta as deficiecircncias enquanto
causa primaacuteria da incapacidade e da desvantagem Neste contexto a reabilitaccedilatildeo constitui-se
como uma filosofia e uma praacutetica para erradicar ou minimizar os problemas da deficiecircncia e
capacitar aqueles com deficiecircncias designadas para funcionarem nos seus niacuteveis fiacutesico
psicoloacutegico e social mais elevados (Albrecht 1992 23) Por outras palavras as pessoas com
incapacidades tornam-se objectos para serem curados tratados treinados mudados e
tornados normais de acordo com um conjunto particular de valores As limitaccedilotildees de tais
intervenccedilotildees encontram-se sustentadamente documentadas pelos activistas como
incapacidades desde 1960 (Hunt 1966 Sutherland 1981 Zola 1982)
212 A ABORDAGEM LIBERAL OU INTER-RELACIONAL
A abordagem liberal ou inter-relacional encontra-se expressa no uacuteltimo corpo de trabalhos da
OMS para redefinir a incapacidade nomeadamente a Classificaccedilatildeo Internacional de
Funcionalidade Incapacidade e Sauacutede (CIF) conhecida previamente como ICIDH2 (OMS
2002)
Esta redefiniccedilatildeo constituiu uma tentativa concertada para integrar o modelo meacutedico
individualista tradicional e a interpretaccedilatildeo sociopoliacutetica Por um lado como resultado da sua
rejeiccedilatildeo por parte das pessoas com incapacidades organizaccedilotildees e parceiros dentro e fora da
comunidade cientiacutefica (Driedger 1989 Oliver 1990 Barnes et al 2002) e por outro lado
porque apesar da sua vasta utilizaccedilatildeo a sua aplicabilidade tem sido caracterizada por diversas
interpretaccedilotildees (Coleridge 1993 Ingstad 2001) Em siacutentese demonstrou-se como limitada para
muitos dos actores e natildeo forneceu a delimitaccedilatildeo de significado que originalmente pretendia
Em comum com a sua predecessora a CIF manteacutem o constructo tripartido O primeiro niacutevel
deficiecircncia no original relaciona-se com as funccedilotildees e estrutura do organismo O segundo
niacutevel o que era anteriormente incapacidade eacute agora referido como actividade e o terceiro
desvantagem aparece como participaccedilatildeo No entanto e apesar do intenso debate sobre o
significado de incapacidade o conceito eacute preservado como um termo global para os trecircs niacuteveis
de dificuldade de funcionamento Neste cenaacuterio e em contraste com a ICIDH a nova
formulaccedilatildeo eacute apresentada como uma classificaccedilatildeo universal do funcionamento humano As
pessoas ligadas a acccedilotildees de advocacy defendem que esta configuraccedilatildeo oferece um quadro de
inteligibilidade completo para os aspectos funcionais da experiecircncia de sauacutede Nesta
perspectiva a incapacidade permanece uma preocupaccedilatildeo privilegiadamente do domiacutenio da
sauacutede em detrimento do domiacutenio poliacutetico Constitui-se por um lado como um resultado das
caracteriacutesticas da pessoa e por outro dos ambientes fiacutesicos e sociais Deste modo mais do
que se constituir como uma classificaccedilatildeo das pessoas com incapacidades ou dos problemas
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 16
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
que experienciam a CIF afigura-se como uma classificaccedilatildeo do funcionamento a 3 niacuteveis
compreendida em termos neutros (Ustun et al 2001 6-7)
O reconhecimento da importacircncia dos ambientes fiacutesico e social na CIF poderaacute ser equacionado
como uma melhoria significativa em relaccedilatildeo agrave sua predecessora (Hurst 2000) No entanto
parece-nos altamente improvaacutevel que seja mais eficaz do que a anterior classificaccedilatildeo a gerar
uma linguagem universal sobre a incapacidade na medida em que transformar as diferenccedilas
culturais na conceptualizaccedilatildeo das deficiecircncias assume-se como tarefa extremamente
complexa de alcanccedilar (Bury 2000 Miles 2001) Este facto eacute especialmente significativo na
medida em que natildeo obstante a CIF reconhecer o contexto cultural das percepccedilotildees de
incapacidade e por consequecircncia a normalidade o actual sistema de classificaccedilatildeo
permanece fortemente alicerccedilado nas formulaccedilotildees e nos conceitos cientiacuteficos ocidentais
(Finkelstein 1998 Pfeiffer 2000 Baylies 2002)
Adicionalmente apesar da CIF explicitar que os indiviacuteduos satildeo um elemento da anaacutelise da
incapacidade a abordagem biopsicossocial natildeo se encontra muito distanciada do modelo
anterior na medida em que privilegia o indiviacuteduo como ponto de partida para anaacutelise das
funccedilotildees do corpo e actividades O conceito de participaccedilatildeo eacute incluiacutedo mas subdesenvolvido no
esquema conceptual e continua associado agraves circunstacircncias individuais em vez de fortemente
ligado agrave inclusatildeo poliacutetica e social Adicionalmente enquanto a significacircncia do contexto eacute
enfatizada na CIF as estrateacutegias para a sua mensuraccedilatildeo afiguram-se limitadas Os seus
utilizadores satildeo encorajados a classificar os factores ambientais mas natildeo existem ferramentas
eficazes para levar a cabo esta tarefa bem como para avaliar as tendecircncias de incapacidade
ou por outro lado das poliacuteticas governamentais praacuteticas ambientes fiacutesicos e contextos
culturais (Baylies 2002)
Esta aparente descentraccedilatildeo das preocupaccedilotildees poliacuteticas tem caracterizado a maioria da ciecircncia
social mainstream desde o seacuteculo XIX Deste modo a definiccedilatildeo inter-relacional de
incapacidade e a consequente despolitizaccedilatildeo das questotildees associadas reflectiu-se nos
estudos e na literatura produzida nesta aacuterea por acadeacutemicos e investigadores durante a uacuteltima
metade do seacuteculo XX
Mais recentemente reemergiram na Inglaterra um conjunto de respostas poacutes-modernas ao
modelo social da incapacidade Este cenaacuterio tem favorecido o aparecimento de asserccedilotildees de
que tais fenoacutemenos soacute tecircm servido para agudizar e natildeo diminuir a conflituosidade a propoacutesito
da inclusatildeo (Hunt 1981 Germon 1998 Linton 1998 Gordon and Rosenblum 2001)
No quadro da reabilitaccedilatildeo a abordagem inter-relacional eacute sinoacutenima da liberalizaccedilatildeo da poliacutetica
social para as pessoas com incapacidades nos finais dos anos sessenta e setenta em
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 17
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
particular a mudanccedila dos serviccedilos centrados institucionalmente para os serviccedilos e apoios
centrados na comunidade Deste modo a ecircnfase eacute colocada na integraccedilatildeo de pessoas com
incapacidades na sociedade mainstream Os Standards da Equalizaccedilatildeo das Pessoas com
Incapacidades (1993) da ONU explicitam que todos os estados devem providenciar serviccedilos de
reabilitaccedilatildeo Mas esta orientaccedilatildeo recomenda que se vaacute aleacutem do cuidado meacutedico inicial para
incluir uma ampla gama de medidas e actividades desde a reabilitaccedilatildeo baacutesica e generalista
para actividades orientadas por objectivos (UN 199311) Ainda mais significativo todos os
serviccedilos de reabilitaccedilatildeo deveratildeo estar disponiacuteveis nas comunidades locais nas quais as
pessoas com incapacidades se movem No entanto em determinadas circunstacircncias e para
que se reforcem os objectivos de formaccedilatildeo e aprendizagem poderatildeo ser organizados cursos
localizados nas organizaccedilotildees prestadoras de serviccedilos com um quadro temporal o mais
reduzido possiacutevel (UN 1993 19)
Adicionalmente apesar dos Standards enfatizarem a importacircncia do envolvimento das pessoas
com incapacidades e dos seus significativos no desenvolvimento dos programas de
reabilitaccedilatildeo parece natildeo existir uma asserccedilatildeo clara de que tais estrateacutegias devam ser
controladas por ou mensuradas para estes uacuteltimos Existe no entanto uma assunccedilatildeo taacutecita de
que tais serviccedilos seratildeo liderados por profissionais
Adicionalmente desde que a incapacidade na CIF foi apresentada como uma questatildeo de
sauacutede em detrimento de uma questatildeo poliacutetica parece inevitaacutevel que os profissionais no
domiacutenio da reabilitaccedilatildeo continuem a ser dominados ou laquoalienadosraquo pela Medicina (Finkelstein
1998) Este facto poderaacute ficar a dever-se primeiro agrave actual e persistente subjugaccedilatildeo dos
governos nacionais aos interesses corporativos e das organizaccedilotildees econoacutemicas e segundo agrave
diversidade de barreiras econoacutemicas poliacuteticas e culturais experienciadas pelas pessoas com
incapacidades quer nos paiacuteses desenvolvidos quer nos subdesenvolvidos Neste tipo de
cenaacuterio o pensamento ortodoxo sobre a reabilitaccedilatildeo contratualiza um expediente praacutetico para
os poliacuteticos legisladores e organizaccedilotildees profissionais Como resultado os teacutecnicos tecircm
invariavelmente um niacutevel de escolha reduzido na opccedilatildeo pelo modelo meacutedico em detrimento
de soluccedilotildees poliacuteticas colectivas na resposta aos problemas da exclusatildeo
Esta perspectiva parece afigurar-se a oposta da necessaacuteria De facto apoacutes o trabalho de
Talcott Parsons (1951) emergiu uma extensa literatura condenando a laquomedicalizaccedilatildeoraquo do
quotidiano de um conjunto diverso de perspectivas Por exemplo o filoacutesofo austriacuteaco Ivan Illich
nomeou o seacuteculo XX como a era dos profissionais incapacitantes (1977 11) pela sua
apropriaccedilatildeo do conhecimento mistificaccedilatildeo das competecircncias especializadas e a criaccedilatildeo de
uma cultura perversa e persuasiva de dependecircncia Apesar de tais criticas encontrarem a sua
aplicabilidade predominantemente nas naccedilotildees subdesenvolvidas do Ocidente surgiram
trabalhos recentes que sugerem que apesar de existir uma diminuiccedilatildeo significativa dos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 18
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conhecimentos meacutedicos e de tratamentos com reduzidos niacuteveis de recursos nas naccedilotildees
subdesenvolvidas criacuteticas similares podem ser relevantes para o contexto no qual nos
situamos (Stone 1999 Ingstad 2001 OMS 2001)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 19
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3 OBJECTIVOS OPERACIONAIS
Pretende-se desenvolver uma anaacutelise longitudinal e multissectorial ao conceito de deficiecircncia
no sentido de estabelecer uma configuraccedilatildeo operacional no quadro da sua aplicabilidade
estatiacutestica Esta anaacutelise insere-se no acircmbito do Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das
Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo
Objectivo Operacionalizar o conceito de deficiecircncia no quadro da sua aplicabilidade
estatiacutestica assegurando os criteacuterios de (a) comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica
e legislativa dentro do contexto portuguecircs (c) conformidade com os referenciais conceptuais
actuais
Metodologia a) Anaacutelise dos referenciais nacionais e internacionais de delimitaccedilatildeo operacional
do conceito b) exploraccedilatildeo de cenaacuterios que viabilizem o cumprimento dos requisitos definidos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 20
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4 ANAacuteLISE PRELIMINAR DA EVOLUCcedilAtildeO DA TERMINOLOGIA NO
DOMIacuteNIO 41 ESTADO DA ARTE
A evoluccedilatildeo dos conceitos operativos nos domiacutenios da reabilitaccedilatildeo e da inclusatildeo social tem
sido reflectida nas diversas classificaccedilotildees propostas pela OMS Neste quadro evolutivo a
uacuteltima classificaccedilatildeo proposta ndash CIF ndash constitui-se como um modelo de siacutentese entre a
abordagem meacutedica e a abordagem social no domiacutenio da incapacidade e da sauacutede No sentido
de procedermos agrave anaacutelise dos principiais conceitos e termos focalizar-nos-emos na
reestruturaccedilatildeo conceptual proposta pela Classificaccedilatildeo Internacional de Funcionalidade
Incapacidade e Sauacutede (CIF)
O objectivo geral da CIF eacute proporcionar uma linguagem unificada e padronizada assim como
uma estrutura de trabalho para a descriccedilatildeo da sauacutede e de estados relacionados com a sauacutede
A classificaccedilatildeo define os componentes da sauacutede e alguns componentes do bem-estar
relacionados com a sauacutede (tais como educaccedilatildeo e trabalho) Os domiacutenios contidos na CIF
podem portanto ser considerados como domiacutenios da sauacutede e domiacutenios relacionados com a
sauacutede Estes domiacutenios satildeo descritos com base na perspectiva do corpo do indiviacuteduo e da
sociedade em duas listas baacutesicas (1) Funccedilotildees e Estruturas do Corpo e (2) Actividades e
Participaccedilatildeo Como classificaccedilatildeo a CIF agrupa sistematicamente diferentes domiacutenios de uma
pessoa com uma determinada condiccedilatildeo de sauacutede (eg o que uma pessoa com uma doenccedila
ou perturbaccedilatildeo faz ou pode fazer) A funcionalidade eacute um termo que engloba todas as funccedilotildees
do corpo actividades e participaccedilatildeo de maneira similar a incapacidade eacute um termo que inclui
deficiecircncias limitaccedilatildeo da actividade ou restriccedilatildeo na participaccedilatildeo A CIF tambeacutem relaciona os
factores ambientais que interagem com todos estes constructos Neste sentido a classificaccedilatildeo
permite ao utilizador registar perfis uacuteteis da funcionalidade incapacidade e sauacutede dos
indiviacuteduos em vaacuterios domiacutenios
A CIF pertence agrave ldquofamiacuteliardquo das classificaccedilotildees internacionais desenvolvida pela OMS para
aplicaccedilatildeo em vaacuterios aspectos da sauacutede A famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS
proporciona um sistema para a codificaccedilatildeo de uma ampla gama de informaccedilotildees sobre sauacutede
(eg diagnoacutestico funcionalidade e incapacidade motivos de contacto com os serviccedilos de
sauacutede) e utiliza uma linguagem comum padronizada que permite a comunicaccedilatildeo sobre sauacutede e
cuidados de sauacutede em todo o mundo entre vaacuterias disciplinas e ciecircncias
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 21
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Nas classificaccedilotildees internacionais da OMS os estados de sauacutede (doenccedilas perturbaccedilotildees
lesotildees etc) satildeo classificados principalmente na CID-10 (abreviatura da Classificaccedilatildeo
Internacional de Doenccedilas Deacutecima Revisatildeo) que fornece uma estrutura de base etioloacutegica A
funcionalidade e a incapacidade associadas aos estados de sauacutede satildeo classificadas na CIF
Portanto a CID-10 e a CIF satildeo complementares e os utilizadores satildeo estimulados a usar em
conjunto esses dois membros da famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS A CID-10
proporciona um ldquodiagnoacutesticordquo de doenccedilas perturbaccedilotildees ou outras condiccedilotildees de sauacutede que eacute
complementado pelas informaccedilotildees adicionais fornecidas pela CIF sobre funcionalidade Em
conjunto as informaccedilotildees sobre o diagnoacutestico e sobre a funcionalidade datildeo uma imagem mais
ampla e mais significativa da sauacutede das pessoas ou da populaccedilatildeo que pode ser utilizada em
tomadas de decisatildeo
A famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS constitui uma ferramenta valiosa para a
descriccedilatildeo e a comparaccedilatildeo da sauacutede das populaccedilotildees num contexto internacional As
informaccedilotildees sobre a mortalidade (facultadas pela CID-10) e sobre as consequecircncias na sauacutede
(proporcionadas pela CIF) podem ser combinadas de forma a obter medidas sinteacuteticas da
sauacutede das populaccedilotildees Isto permite seguir a sauacutede das populaccedilotildees e a sua distribuiccedilatildeo bem
como avaliar a parte atribuiacuteda agraves diferentes causas
A CIF transformou-se de uma classificaccedilatildeo de ldquoconsequecircncias da doenccedilardquo (versatildeo de 1980)
numa classificaccedilatildeo de ldquocomponentes da sauacutederdquo Os ldquocomponentes da sauacutederdquo identificam o que
constitui a sauacutede enquanto que as consequecircncias se referem ao impacto das doenccedilas na
condiccedilatildeo de sauacutede da pessoa Deste modo a CIF assume uma posiccedilatildeo neutra em relaccedilatildeo agrave
etiologia de modo que os investigadores podem desenvolver inferecircncias causais utilizando
meacutetodos cientiacuteficos adequados De maneira similar esta abordagem tambeacutem eacute diferente de
uma abordagem do tipo determinantes da sauacutede ou ldquofactores de risco Para facilitar o estudo
dos determinantes ou dos factores de risco a CIF inclui uma lista de factores ambientais que
descrevem o contexto em que o indiviacuteduo vive
A CIF descreve a funcionalidade e a incapacidade relacionadas com as condiccedilotildees de sauacutede
identificando o que uma pessoa ldquopode ou natildeo pode fazer na sua vida diaacuteriardquo tendo em vista as
funccedilotildees dos oacutergatildeos ou sistemas e estruturas do corpo assim como as limitaccedilotildees de
actividades e da participaccedilatildeo social no meio ambiente onde a pessoa vive Segundo a OMS a
CID-10 e a CIF satildeo complementares a informaccedilatildeo sobre o diagnoacutestico acrescido da
funcionalidade fornece um quadro mais amplo sobre a sauacutede do indiviacuteduo ou populaccedilotildees Por
exemplo duas pessoas com a mesma doenccedila podem ter diferentes niacuteveis de funcionalidade e
duas pessoas com o mesmo niacutevel de funcionalidade natildeo tecircm necessariamente a mesma
condiccedilatildeo de sauacutede
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O termo do modelo da CIF eacute a funcionalidade que cobre os componentes de funccedilotildees e
estruturas do corpo actividade e participaccedilatildeo social A funcionalidade eacute usada no aspecto
positivo e o aspecto negativo corresponde agrave incapacidade Segundo esse modelo a
incapacidade eacute resultante da interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada pelo indiviacuteduo (seja
orgacircnica e ou da estrutura do corpo) a limitaccedilatildeo de suas actividades e a restriccedilatildeo na
participaccedilatildeo social e os factores ambientais que podem actuar como facilitadores ou barreiras
para o desempenho dessas actividades e da participaccedilatildeo
A CIF eacute baseada portanto numa abordagem biopsicossocial que incorpora os componentes
de sauacutede nos niacuteveis corporais e sociais Assim na avaliaccedilatildeo de uma pessoa com deficiecircncias
e incapacidades esse modelo destaca-se do biomeacutedico baseado no diagnoacutestico etioloacutegico da
disfunccedilatildeo evoluindo para um modelo que incorpora as trecircs dimensotildees a biomeacutedica a
psicoloacutegica (dimensatildeo individual) e a social Nesse modelo cada niacutevel age sobre e sofre a
acccedilatildeo dos demais sendo todos influenciados pelos factores ambientais A OMS pretende
incorporar tambeacutem no futuro os factores pessoais importantes na forma de lidar com as
condiccedilotildees limitantes
O objectivo pragmaacutetico da CIF eacute fornecer uma linguagem padronizada e um modelo para a
descriccedilatildeo da sauacutede e dos estados relacionados com a sauacutede permitindo a comparaccedilatildeo de
dados referentes a essas condiccedilotildees entre paiacuteses serviccedilos sectores relativos agrave sauacutede bem
como o acompanhamento da sua evoluccedilatildeo no tempo
No entanto os conceitos apresentados na classificaccedilatildeo introduzem um novo paradigma para
pensar e trabalhar as deficiecircncias e incapacidades elas natildeo satildeo apenas uma consequecircncia
das condiccedilotildees de sauacutede doenccedila mas satildeo determinadas tambeacutem pelo contexto do meio
ambiente fiacutesico e social pelas diferentes percepccedilotildees culturais e atitudes em relaccedilatildeo agrave
deficiecircncias pela disponibilidade de serviccedilos e de legislaccedilatildeo Dessa forma a classificaccedilatildeo natildeo
constitui apenas um instrumento para medir o estado funcional dos indiviacuteduos Aleacutem disso ela
permite avaliar as condiccedilotildees de vida e fornecer subsiacutedios para poliacuteticas de inclusatildeo social
42 FUNCcedilOtildeES DO CORPO
As Funccedilotildees do corpo satildeo as funccedilotildees fisioloacutegicas dos sistemas orgacircnicos (incluindo as
funccedilotildees psicoloacutegicas)
As funccedilotildees e as estruturas do corpo satildeo classificadas em duas secccedilotildees diferentes Essas duas
classificaccedilotildees estatildeo concebidas de forma a serem utilizadas em paralelo Por exemplo as
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funccedilotildees do corpo incluem sentidos humanos baacutesicos como as funccedilotildees da visatildeo e as
estruturas relacionadas aparecem na forma de ldquoolho e estruturas relacionadasrdquo
43 ESTRUTURAS DO CORPO
As Estruturas do Corpo satildeo as partes anatoacutemicas do corpo tais como oacutergatildeos membros e
seus componentes
ldquoCorpo refere-se ao organismo humano como um todo por isso o ceacuterebro e as suas funccedilotildees
ie a mente estatildeo incluiacutedos As funccedilotildees mentais (ou psicoloacutegicas) satildeo portanto incluiacutedas nas
funccedilotildees do corpo As funccedilotildees e as estruturas do corpo satildeo classificadas de acordo com os
sistemas orgacircnicos por isso as estruturas do corpo natildeo satildeo consideradas como oacutergatildeos no
seu sentido restrito
44 DEFICIEcircNCIA
Deficiecircncias satildeo problemas nas funccedilotildees ou na estrutura do corpo tais como um desvio
importante ou uma perda
As deficiecircncias de estrutura podem consistir numa anormalidade defeito perda ou outro desvio
importante relativamente a um padratildeo das estruturas do corpo As deficiecircncias foram definidas
de acordo com os conhecimentos bioloacutegicos actuais ao niacutevel de tecidos ou das ceacutelulas e ao
niacutevel subcelular ou molecular Por motivos praacuteticos no entanto esses niacuteveis natildeo estatildeo
classificados As bases bioloacutegicas das deficiecircncias orientaram essa classificaccedilatildeo e eacute possiacutevel
expandir a classificaccedilatildeo para incluir os niacuteveis celular ou molecular Do ponto de vista meacutedico
deve-se ter em mente que as deficiecircncias natildeo satildeo equivalentes agraves patologias subjacentes mas
sim a manifestaccedilotildees dessas patologias
As deficiecircncias correspondem a um desvio relativamente ao que eacute geralmente aceite como
estado biomeacutedico normal (padratildeo) do corpo e das suas funccedilotildees A definiccedilatildeo dos seus
componentes eacute feita essencialmente por pessoas com competecircncia para avaliar a
funcionalidade fiacutesica e mental de acordo com esses padrotildees
As deficiecircncias podem ser temporaacuterias ou permanentes progressivas regressivas ou estaacuteveis
intermitentes ou contiacutenuas O desvio em relaccedilatildeo ao modelo baseado na populaccedilatildeo e
geralmente aceite como normal pode ser leve ou grave e pode variar ao longo do tempo Estas
caracteriacutesticas satildeo consideradas posteriormente em descriccedilotildees adicionais principalmente nos
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coacutedigos atraveacutes de um qualificador que se acrescenta ao coacutedigo e do qual fica separado por
um ponto
As deficiecircncias natildeo tecircm uma relaccedilatildeo causal com a etiologia ou com a forma como se
desenvolveram Por exemplo a perda da visatildeo ou de um membro pode resultar de uma
anormalidade geneacutetica ou de uma lesatildeo A presenccedila de uma deficiecircncia implica
necessariamente uma causa No entanto a causa pode natildeo ser suficiente para explicar a
deficiecircncia resultante Da mesma forma quando haacute uma deficiecircncia haacute uma disfunccedilatildeo das
funccedilotildees ou estruturas do corpo mas isto pode estar relacionado com qualquer doenccedila
perturbaccedilatildeo ou estado fisioloacutegico
As deficiecircncias podem ser parte ou uma expressatildeo de uma condiccedilatildeo de sauacutede mas natildeo
indicam necessariamente a presenccedila de uma doenccedila ou que o indiviacuteduo deva ser
considerado doente
As deficiecircncias cobrem um campo mais vasto que as perturbaccedilotildees ou as doenccedilas Por
exemplo a perda de uma perna eacute uma deficiecircncia de uma estrutura do corpo mas natildeo eacute uma
perturbaccedilatildeo ou uma doenccedila
As deficiecircncias podem originar outras deficiecircncias Por exemplo a diminuiccedilatildeo da forccedila
muscular pode prejudicar as funccedilotildees do movimento as funccedilotildees cardiacuteacas podem estar
relacionadas com o deacutefice das funccedilotildees respiratoacuterias e uma percepccedilatildeo prejudicada pode estar
relacionada com as funccedilotildees do pensamento
Actualmente na perspectiva da CIF o conceito de deficiecircncia constitui o poacutelo negativo da
componente ldquoFunccedilotildees e Estrutura do Corpordquo sendo descrito atraveacutes da existecircncia de
alteraccedilotildees significativas das funccedilotildees eou das estruturas do corpo O poacutelo positivo desta
componente refere-se agrave integridade funcional e estrutural Neste contexto um dos desafios
criacuteticos das poliacuteticas sociais consiste na operacionalizaccedilatildeo do conceito de deficiecircncia de forma
a que a elegibilidade dos diferentes puacuteblicos alvo se encontre devidamente delimitada
assegurando a eficaacutecia das medidas subjacentes
No entanto a amplitude e abrangecircncia da definiccedilatildeo do conceito de deficiecircncia proposta pela
OMS atraveacutes da CIF coloca um enorme desafio na medida em que qualquer cidadatildeo desde
que apresente um desvio significativo ao niacutevel da estrutura eou funccedilatildeo passa a ser um
potencial beneficiaacuterio das poliacuteticas neste domiacutenio Neste contexto poder-se-atildeo colocar vaacuterias
questotildees A primeira eacute se interessa agraves diferentes poliacuteticas no sector continuarem a ser
desenvolvidas tendo por focus o conceito de pessoas com deficiecircncias sabendo que a sua
distinccedilatildeo ao longo da populaccedilatildeo apenas poderaacute ser feita atraveacutes do niacutevel e extensatildeo da
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alteraccedilatildeo da integridade estrutural e funcional de cada individuo A segunda questatildeo prende-se
com as consequecircncias conceptuais decorrentes da integraccedilatildeo do modelo social na formulaccedilatildeo
e operacionalizaccedilatildeo dos conceitos a serem utilizados pelas poliacuteticas no sector na medida em
que o aspecto critico deixa de ser a natureza e severidade da deficiecircncia para passar a centrar-
se no niacutevel e tipo de restriccedilotildees de participaccedilatildeo que cada cidadatildeo experiencia na interacccedilatildeo
com os seus contextos de vida
No que concerne agrave primeira questatildeo e atendendo a que a mais recente definiccedilatildeo do conceito
de deficiecircncia proposto pela OMS apresenta um elevado niacutevel de abrangecircncia e um reduzido
potencial diferenciador poderemos equacionar 2 hipoacuteteses centrais de operacionalizaccedilatildeo
a) A primeira hipoacutetese baseia-se na possibilidade de operacionalizar diferentes definiccedilotildees
de deficiecircncia ao longo das diferentes poliacuteticas sociais no sentido de assegurar que as
diferentes medidas alcanccedilam efectivamente as pessoas para as quais foram
elaboradas Esta perspectiva tem a vantagem de uma maior focalizaccedilatildeo nas
caracteriacutesticas especificas do puacuteblico-alvo mas no entanto apresenta uma grande
desvantagem que consiste na elevada probabilidade das diferentes definiccedilotildees
perderem a coerecircncia entre si fragmentando igualmente o modelo teoacuterico a partir do
qual se deveriam basear
b) A segunda hipoacutetese consiste na articulaccedilatildeo operativa de dois conceitos o de
deficiecircncia e o de restriccedilotildees de participaccedilatildeo Nesta perspectiva a elegibilidade de uma
determinada politica social baseia-se na validaccedilatildeo preacutevia da existecircncia da primeira
condiccedilatildeo do puacuteblico-alvo ndash a existecircncia de uma deficiecircncia ndash determinando logo de
seguida o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo a partir do qual os diferentes cidadatildeos
passam a poder aceder agraves medidas especiacuteficas nela contidas O desafio contido nesta
hipoacutetese consiste na necessidade de desenvolvimento de um sistema de avaliaccedilatildeo que
permita avaliar o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo experimentado pelas pessoas com
deficiecircncias determinando atraveacutes do valor aferido quais seriam as pessoas com
acesso agraves medidas Neste cenaacuterio natildeo bastaria que uma pessoa tivesse uma
deficiecircncia pelo que seria necessaacuterio avaliar os efeitos da deficiecircncia em interacccedilatildeo
com o ambiente social ao niacutevel da participaccedilatildeo no sentido de determinar a
elegibilidade As vantagens desta hipoacutetese relacionam-se com (i) a preservaccedilatildeo do
niacutevel de coerecircncia dos conceitos utilizados ao longo das diferentes poliacuteticas sociais (ii)
a existecircncia de um processo comum de afericcedilatildeo e determinaccedilatildeo da elegibilidade ao
longo dos diferentes sectores de politica (iii) a compatibilidade e adequabilidade dos
princiacutepios teoacutericos do modelo social com a operacionalizaccedilatildeo dos sistemas e medidas
poliacuteticos de apoio agraves pessoas com deficiecircncias e (iv) a existecircncia de mecanismos de
avaliaccedilatildeo de elevada transparecircncia controlabilidade e rigor
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 26
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45 INCAPACIDADE
Do ponto de vista de utilizaccedilatildeo dos conceitos de Deficiecircncia e de Incapacidade em Portugal
tecircm subsistido vaacuterias imprecisotildees terminoloacutegicas Primeiro na generalidade dos documentos
internacionais alude-se ao termo ldquopeople with disabilitiesrdquo sendo que invariavelmente esta
expressatildeo eacute traduzida para Portuguecircs como ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo Tal facto parece criar
condiccedilotildees para uma grande permeabilidade semacircntica dificilmente resoluacutevel do ponto de vista
conceptual Segundo deficiecircncia e incapacidade satildeo claramente dois conceitos distintos
Enquanto a deficiecircncia remete para alteraccedilotildees significativas ao niacutevel das estruturas eou das
funccedilotildees do corpo a incapacidade constitui o poacutelo negativo do funcionamento humano em
situaccedilatildeo potencial ou efectiva de participaccedilatildeo no contexto de vida Este facto pressupotildee que os
conceitos de deficiecircncia e de incapacidade natildeo contecircm nenhuma relaccedilatildeo causal entre si nem
nenhuma relaccedilatildeo linear de frequecircncia na medida em que eacute possiacutevel existir uma deficiecircncia
sem que exista uma incapacidade e eacute possiacutevel emergir uma determinada incapacidade sem
que haja uma qualquer deficiecircncia
Deste modo eacute possiacutevel
a) Ter deficiecircncias sem limitaccedilotildees de capacidade (eg uma desfiguraccedilatildeo resultante da
doenccedila de Hansen pode natildeo ter efeito sobre a capacidade da pessoa
b) Ter problemas de desempenho e limitaccedilotildees de capacidade sem deficiecircncias evidentes
(eg reduccedilatildeo de desempenho nas actividades diaacuterias associada a vaacuterias doenccedilas)
c) Ter problemas de desempenho sem deficiecircncias ou limitaccedilotildees de capacidade (eg um
indiviacuteduo HIV positivo ou um ex-doente curado de doenccedila mental que enfrenta
estigmas ou descriminaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais ou no trabalho)
d) Ter limitaccedilotildees de capacidade se natildeo tiver assistecircncia e nenhum problema de
desempenho no ambiente habitual (eg um indiviacuteduo com limitaccedilotildees de mobilidade
pode beneficiar por parte da sociedade de ajudas tecnoloacutegicas de assistecircncia para se
movimentar
e) Experimentar um grau de influecircncia em sentido contraacuterio (eg a inactividade dos
membros pode levar agrave atrofia muscular a institucionalizaccedilatildeo pode resultar numa perda
da socializaccedilatildeo)
Daqui resulta que ao referirmo-nos agraves pessoas com deficiecircncias enquanto puacuteblico-alvo
privilegiado das medidas de reabilitaccedilatildeo poderemos incorrer num desvio significativo de
alocaccedilatildeo dos recursos agraves reais necessidades das pessoas na medida em que natildeo eacute a
deficiecircncia que gera por si mesma a necessidade de reabilitaccedilatildeo mas sim as limitaccedilotildees de
actividade e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo decorrentes da interacccedilatildeo entre as caracteriacutesticas
biopsicossociais e as caracteriacutesticas dos ambientes em que o individuo se move
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 27
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A persistecircncia em traduzir o termo disability para deficiecircncia e natildeo apenas o seu homoacutelogo
anglo-saxoacutenico ndash impairment ndash poderaacute explicar-se pelas seguintes razotildees
a) O potencial efeito estigmatizante da expressatildeo ldquopessoas com incapacidadesrdquo ser maior
do que aquele contido na expressatildeo ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo
b) O termo incapacidade centrar-se exclusivamente nos aspectos negativos do
funcionamento individual classificando a pessoa agrave partida como sendo destituiacuteda de
competecircncias e condiccedilotildees para atingir os niacuteveis normativos de desempenho e
performance num conjunto de domiacutenios da vida pessoal e social
O paradoxo surge igualmente porque enquanto no modelo meacutedico a incapacidade aparece
em termos causais relacionada com a deficiecircncia numa perspectiva exclusivamente individual
no modelo proposto pela OMS operacionalizado na CIF os dois conceitos gozam de total
independecircncia conceptual e operativa sendo que a deficiecircncia passa a ter uma baixa
relevacircncia diferenciadora do ponto de vista do funcionamento humano Ora se atendermos a
que as medidas de reabilitaccedilatildeo pretendem promover os potenciais do funcionamento humano
numa perspectiva de participaccedilatildeo plena do indiviacuteduo nos mais diferenciados contextos de vida
assegurando o co-desenvolvimento de todos os actores e das estruturas sociais necessaacuterias agrave
cidadania plena entatildeo falar de ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo natildeo soacute natildeo eacute relevante no quadro
da loacutegica de intervenccedilatildeo como poderaacute traduzir dificuldades dos actores em mudar
efectivamente do paradigma meacutedico para o paradigma social
Este fenoacutemeno aliaacutes natildeo acontece apenas em Portugal sendo que recentes estudos de
investigaccedilatildeo vieram sugerir a adopccedilatildeo dos conceitos de ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo e
ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo para ultrapassar a aplicaccedilatildeo indevida dos
conceitos de deficiecircncia e incapacidade A utilizaccedilatildeo destes conceitos parece articular de forma
mais precisa com o novo modelo conceptual proposto pela OMS enfatizando a diversidade de
niacuteveis de funcionamento humano e apelando a uma certa noccedilatildeo de relatividade socialmente
construiacuteda Uma das criticas feita pela comunidade de investigadores ao conceito de ldquopessoas
com diversidade funcionalrdquo reside no facto de que a expressatildeo eacute dotada de um tatildeo elevado
niacutevel de abrangecircncia que natildeo permite um niacutevel de diferenciaccedilatildeo relevante na medida em que
todos os cidadatildeos detecircm entre si diversos e diferentes padrotildees de funcionamento humano
Neste sentido o conceito ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo aplicar-se-ia a todos os
cidadatildeos sem excepccedilatildeo A proliferaccedilatildeo destes termos eacute explicada pela necessidade da
comunidade politica e cientifica de construir constructos que sejam socialmente aceites e o
mais neutros possiacuteveis do ponto de vista dos seus valores impliacutecitos No entanto a
impossibilidade epistemoloacutegica de desenvolver expressotildees e conceitos socio-historicamente
neutros parece levar muitas vezes agrave concepccedilatildeo de definiccedilotildees com reduzida identidade isto eacute
de significado demasiado amplo e abrangente o que na expressatildeo da UPIAS ldquopodem significar
tudo e coisiacutessima nenhumardquo (2005)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 28
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Os conceitos ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo ldquopessoas com limitaccedilotildees de
actividaderdquo e ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo afiguram-se comparativamente ao
anterior como um conceito de maior coerecircncia conceptual com o modelo proposto pela OMS e
deteacutem cumulativamente um maior poder diferenciador A sua desvantagem reside no facto de
constituiacuterem expressotildees com maior dificuldade de apreensatildeo e inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 29
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 30
Dezembro2006
5 ANAacuteLISE DOS REFERENCIAIS NACIONAIS E INTERNACIONAIS
No sentido de obter um conjunto de vectores de referecircncia na estruturaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo do
conceito de deficiecircncia foram analisadas as abordagens desenvolvidas pelos seguintes
organismos INE Eurostat OCDE American Disabilities Act WHO UN
51 INE
Os dados disponiacuteveis no INE parecem indicar a utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na
ICIDH
Deficiecircncia1 Perda ou alteraccedilatildeo de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou
anatoacutemica Nesta definiccedilatildeo estatildeo incluiacutedas as seguintes tipologias2
Deficiecircncia AUDITIVA
Deficiecircncia MENTAL
Deficiecircncia MOTORA
Deficiecircncia ORGAcircNICO-FUNCIONAL
Deficiecircncia PSIQUIAacuteTRICA
Deficiecircncia VISUAL
Incapacidade3 Ausecircncia ou limitaccedilatildeo da capacidade para funcionar estando comprometida a
realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida
diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e originando uma desvantagem para funcionar em
sociedade face a outros
Pessoa deficiente Aquela que tenha uma ou mais das seguintes deficiecircncias a) deficiecircncia
visual b) deficiecircncia auditiva c) deficiecircncia mental d) deficiecircncia motora
1 Nota Na operaccedilatildeo censitaacuteria de 2001 apenas foi observada a deficiecircncia permanente a deficiecircncia temporaacuteria natildeo foi considerada (por exemplo se um indiviacuteduo se desloca com canadianas ou em cadeira de rodas porque partiu uma perna ou se sofre de descolamento parcial da retina que o obriga a andar com uma venda natildeo foi considerado como tendo uma deficiecircncia) 2 Fonte INE ndash Censos 2001 ndash Recenseamento Geral da Populaccedilatildeo (Antecedentes Metodologia e Conceitos) Antecedentes Metodologia e Conceitos 3 Fonte INS ndash Inqueacuterito Nacional agrave Sauacutede
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 31
Dezembro2006
Trabalhador deficiente Trabalhador que estaacute incapacitado para assegurar por si mesmo total
ou parcialmente a satisfaccedilatildeo de necessidades de uma vida individual ou social normal devido
a uma deficiecircncia congeacutenita ou adquirida das suas capacidades fiacutesicas sensoriais ou
mentais tendo por isso dificuldade em obter eou manter o desempenho de funccedilotildees de acordo
com as suas habilitaccedilotildees idade e experiecircncia profissional
Cidadatildeo Trabalhador com necessidades especiais Cidadatildeo idoso ou portador de
deficiecircncias sensoriais (visuais e auditivas) fiacutesicas (motoras) e cognitivas
52 EUROSTAT
Os dados disponibilizados pelo Eurostat no seu endereccedilo electroacutenico4 parecem indicar a
utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na ICIDH
Conceito Deficiecircncia5
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de deficiecircncia refere-se a uma perda ou alteraccedilatildeo
de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou anatoacutemica
Conceito Incapacidade6
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de incapacidade refere-se agrave ausecircncia ou limitaccedilatildeo
da capacidade para funcionar estando comprometida a realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas
funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e
originando uma desvantagem para funcionar em sociedade face a outros
Conceito Desvantagem7
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito refere-se agrave desvantagem para um dado individuo
decorrente de uma deficiecircncia ou incapacidade
4 httpforumeuropaeuintircdsiscodedinfodatacodedenTheme3htm 5 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 6 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 7 Fonte Key data on health 2000 Eurostat
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
53 OCDE
Definiccedilotildees gerais de incapacidade
No contexto da OCDE identificam-se 2 abordagens distintas no quadro da definiccedilatildeo de
incapacidade
A incapacidade pode ser definida enquanto um estado decorrente de autoavaliaccedilatildeo ou um
status baseado em fontes administrativas eg beneficiaacuterio dos apoios De forma muito
frequente e talvez de forma imprecisa estas duas definiccedilotildees satildeo explicitadas como
incapacidade ldquosubjectivardquo versus rdquoobjectivardquo
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo e instrumentos
A incapacidade autoavaliada eacute medida atraveacutes de inqueacuteritos feitos directamente aos cidadatildeos
nas suas residecircncias Apesar da avaliaccedilatildeo ser baseada de uma forma geral nas respostas agraves
questotildees relativas a problemas de sauacutede de longo termo que limitam as actividades de vida
diaacuteria o detalhe das questotildees eacute geralmente diferente dificultando a comparabilidade dos
dados Por exemplo ldquolongo termordquo eacute parametrizado em 6 meses na Noruega e em 12 meses
na Suiccedila O status dos beneficiaacuterios pode ser avaliado atraveacutes de registos administrativos ou
atraveacutes de inqueacuteritos Os resultados entre as duas fontes satildeo de uma forma geral bastante
diferentes por duas razotildees nucleares os registos administrativos geralmente contam casos e
natildeo pessoas o que em situaccedilotildees de benefiacutecios muacuteltiplos pode levar a contagens duplas por
outro lado os inqueacuteritos satildeo baseados nas respostas sobre o status do beneficiaacuterio e algumas
pessoas podem desejar natildeo revelar a sua condiccedilatildeo perante os benefiacutecios
Nenhuma destas definiccedilotildees e medidas de mensuraccedilatildeo eacute superior a outras pelo que a sua
utilizaccedilatildeo depende dos objectivos do propoacutesito da investigaccedilatildeo e da disponibilidade da
informaccedilatildeo
Abordagens para medir a incapacidade no quadro da aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos agraves populaccedilotildees
a) Incapacidade geral (natildeo especificada)
Puacuteblico-alvo todos os adultos
b) Incapacidade relativa ao trabalho
Puacuteblico-alvo pessoas em idade activa
c) Limitaccedilotildees nas actividades de vida diaacuteria (AVD)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 32
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Puacuteblico-alvo Populaccedilatildeo idosa
54 AMERICAN DISABILITIES ACT
O American Disabilities Act (ADA) desenvolvido em 1990 fornece um conjunto de guidelines
no sentido de assegurar a disponibilizaccedilatildeo de serviccedilos para as pessoas com deficiecircncias bem
como a protecccedilatildeo dos seus direitos legais
A ADA inclui uma definiccedilatildeo legal de incapacidade consistindo na presenccedila de ldquouma deficiecircncia
fiacutesica ou mental que limita significativamente uma ou mais das principais actividades de vidardquo
Independentemente da definiccedilatildeo proposta pela ADA a existecircncia de muacuteltiplos programas a
favor das pessoas com deficiecircncias e os diferentes focus legais em diferentes puacuteblicos alvo
fazem com que tenham emergido uma multiplicidade de definiccedilotildees de incapacidade ao longo
do tempo no quadro das poliacuteticas sociais americanas
55 OMS ONU Revisatildeo dos actuais inqueacuteritos sobre a incapacidade
Apesar de existir um desenvolvimento consideraacutevel dos inqueacuteritos na aacuterea da incapacidade
poder-se-atildeo explicitar algumas observaccedilotildees relativas agrave sua multiplicidade Numa primeira linha
de anaacutelise os inqueacuteritos tendem a focalizar-se nas limitaccedilotildees de actividade eou na deficiecircncia
No que concerne agrave formulaccedilatildeo escrita tendem a existir diferenccedilas significativas entre
inqueacuteritos facto que inviabiliza natildeo raras vezes a comparabilidade dos dados entre inqueacuteritos
As diferentes formulaccedilotildees das questotildees incluem
Tem dificuldade
Eacute capaz de
Faz
Tem sentido problemas em
com ou sem assistecircncia pessoal eou tecnoloacutegica
A questatildeo que se coloca eacute se estas formulaccedilotildees tecircm o mesmo significado isto eacute se todas elas
pretendem medir a capacidade ou a performance De acordo com a CIF a capacidade
remeteria para o potencial de execuccedilatildeo de um indiviacuteduo enquanto a performance diria respeito
ao niacutevel de desempenho efectivo do indiviacuteduo atraveacutes do seu envolvimento numa situaccedilatildeo de
vida real As lacunas existentes e as poucas referecircncias ao niacutevel da forma como os inquiridos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 33
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
satildeo instruiacutedos a responder faz com que natildeo seja possiacutevel desenvolver um discernimento
irrefutaacutevel sobre esta mateacuteria
Do ponto de vista dos domiacutenios abrangidos os inqueacuteritos tecircm apresentado algumas questotildees
sobre a participaccedilatildeo e o ambiente e evidenciam algumas limitaccedilotildees na sua amplitude Os
domiacutenios de actividades e participaccedilatildeo geralmente abrangidos tecircm sido operacionalizados de
uma forma geral nas seguintes dimensotildees
Educaccedilatildeo e emprego (formulado como questotildees de performance)
Outros inqueacuteritos incluem aacutereas como relaccedilotildees interpessoais vida familiar tomada de
decisotildees etc
O domiacutenio relativo aos factores ambientais tem incluiacutedo
Utilizaccedilatildeo e acessibilidadedisponibilidade dos produtos de assistecircncia e da tecnologia
Acessibilidade do ambiente
Disponibilidade dos serviccedilos (sauacutede protecccedilatildeo social educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo)
Evidecircncias muito escassas ao niacutevel da poliacutetica atitudes ambiente natural
planeamento e concepccedilatildeo
A questatildeo de investigaccedilatildeo neste contexto centra-se na seguinte formulaccedilatildeo ldquoo que eacute que os
inqueacuteritos medem como incapacidaderdquo
a) Definiccedilatildeo a priori da incapacidade versus sem incapacidade
Alguns inqueacuteritos sobre a incapacidade especialmente os mais antigos utilizam uma definiccedilatildeo
a priori de incapacidade O objectivo deste tipo de inqueacuteritos eacute contar o nuacutemero de pessoas
que se encaixam na definiccedilatildeo no contexto da populaccedilatildeo total Neste sentido os dados satildeo
analisados de acordo com dois grupos de referecircncia ndash com incapacidade e sem incapacidade ndash
em funccedilatildeo de um conjunto de diferentes variaacuteveis Este tipo de questionaacuterios formula questotildees
do tipo ldquoPossui algum tipo de incapacidade auditiva visual ou fiacutesicardquo Muitas questotildees dos
censos tecircm utilizado este formato
b) Definiccedilatildeo a posteriori de incapacidade versus sem incapacidade
Mais recentemente alguns inqueacuteritos desenvolveram-se em direcccedilatildeo a uma definiccedilatildeo a
posteriori de incapacidade Nestes casos eacute medida a capacidade a performance ao longo de
um conjunto vasto de domiacutenios Este segundo tipo de inqueacuteritos tende a ter uma ampla
aceitaccedilatildeo eg HALS (Canada) HID (Franccedila) inqueacuterito sobre incapacidade na Africa do Sul
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Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Inqueacuterito Espanhol sobre incapacidade NHIS-D (USA) inqueacuterito Holandecircs entre outros Estes
instrumentos formulam questotildees relativas agraves dificuldades que as pessoas experienciam em
diferentes domiacutenios produzindo um perfil pessoal que possa colocar em evidecircncia os
diferentes graus de capacidade associados A categorizaccedilatildeo de incapacidade sem
incapacidade eacute formulada ao niacutevel do domiacutenio e natildeo como uma categoria geral de atributo
pessoal Esta abordagem permite uma anaacutelise ao niacutevel de funcionamento individual por
domiacutenio por exemplo comparando a experiecircncia de incapacidade no domiacutenio de mobilidade
versus socializaccedilatildeo versus comunicaccedilatildeo entre outros bem como o impacto dos factores
ambientais nestes diferentes domiacutenios O perfil resultante do funcionamento individual ao longo
de muacuteltiplos domiacutenios eacute similar aos estados de sauacutede individuais ao longo das diferentes
dimensotildees
Vantagens de uma abordagem a posteriori
Estaacute em consonacircncia com a abordagem universal proposta pela CIF Todas as
pessoas experienciam deficiecircncia nalgum ponto e esta experiecircncia eacute caracterizada
numa abordagem a posteriori e natildeo a priori
Decisotildees sobre a criaccedilatildeo de categorias sobre quem tem incapacidade e sobre quem
natildeo tem podem ser tomadas atraveacutes de diferentes niacuteveis de anaacutelise por exemplo
atraveacutes da anaacutelise da experiecircncia das pessoas que experienciam incapacidade em 1 2
ou 3 domiacutenios de cruzar o status de emprego de pessoas com incapacidade ao longo
dos diferentes domiacutenios etc
Deixa de ser necessaacuteria uma definiccedilatildeo tipoloacutegica e categoacuterica de pessoas com
incapacidade O que necessita de ser definido neste contexto eacute o que se designa por
limitaccedilatildeo da capacidade ou problemas de performance ao longo dos diferentes
domiacutenios
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
6 SISTEMATIZACcedilAtildeO DAS DIMENSOtildeES DE ORGANIZACcedilAtildeO E
OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em todos os estudos efectuados neste domiacutenio foi colocada em evidecircncia a actual dificuldade
de comparabilidade estatiacutestica internacional inter ou intra sectorial independentemente do
organismo referenciador ndash OCDE ONU EUROSTAT INE OMS
Neste contexto desenvolver-se-aacute a extracccedilatildeo de conhecimento tendo por base a identificaccedilatildeo
de um conjunto de eixos de anaacutelise que actuem como vectores de estruturaccedilatildeo na
operacionalizaccedilatildeo do conceito A este propoacutesito atente-se no Quadro 2
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Abordagem Focus Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Delimitaccedilatildeo temporal do
conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo
Design das questotildees
CID-10
ICIDH
ICF
SauacutedeDoenccedila
Deficiecircncia
Incapacidade
a) Geral
b) Relativa ao trabalho
c) Limitaccedilotildees nas
actividades de vida
diaacuteria
Funcionalidade ndash
Niacuteveis de execuccedilatildeo
das actividades por
domiacutenio e niacuteveistipos
de ajudas mobilizadas
Intersubjectivo ndash
vg inqueacuteritos
Objectivo ndash vg
fontes administrativas
A priori
A posteriori
Temporaacuterias
permanentes
Progressivas
regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou
contiacutenuas
Tipo 1 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre uma determinada
condiccedilatildeo individual
combinada com itens
referentes a limitaccedilotildees de
actividade e participaccedilatildeo e
factores contextuais
Tipo 2 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre a presenccedila de uma
pessoa com incapacidade
no agregado familiar
seguindo-se uma lista de
deficiecircncias e
incapacidades
Tipo 3 ndash Checklist de
deficiecircncias
Quadro 2 ndash Eixos de operacionalizaccedilatildeo do conceito
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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7 ESCOLHA DO CENAacuteRIO A IMPLEMENTAR
A anaacutelise do Quadro 2 permite-nos uma definiccedilatildeo modular do cenaacuterio a implementar atraveacutes de
uma configuraccedilatildeo do conceito pelos eixos de anaacutelise propostos Uma das dificuldades
evidentes nesta delimitaccedilatildeo prende-se com o cumprimento dos requisitos de (a)
comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica e legislativa dentro do contexto portuguecircs
e (c) conformidade com os referenciais conceptuais actuais sendo que a coexistecircncia destes
criteacuterios afigura-se em muitos casos incompatiacutevel entre si Para efeitos da estruturaccedilatildeo do
cenaacuterio privilegiar-se-aacute a conformidade com os referenciais conceptuais actuais
71 ABORDAGEM No que concerne agrave abordagem privilegia-se a adopccedilatildeo das mais recentes directrizes propostas
pela OMS adoptando explicitamente a CIF
Fundamentaccedilatildeo
A CIF apresenta a capacidade para descrever o funcionamento humano numa
perspectiva biopsicossocial em detrimento da classificaccedilatildeo anterior (ICIDH) que se
focalizava na dimensatildeo biomeacutedica A CIF foi desenvolvida no plano conceptual para ser aplicaacutevel em diferentes aacutereas e
sectores A CIF eacute aplicaacutevel transversalmente agraves dimensotildees de cultura idade geacutenero sendo um
instrumento sistemaacutetico para descrever e medir a sauacutede e o funcionamento humano
num dado contexto A CIF constitui-se enquanto instrumento potencial para a poliacutetica social design das
intervenccedilotildees nos domiacutenios da sauacutede educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e intervenccedilatildeo social Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
72 FOCUS
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo da centraccedilatildeo da recolha de dados ao niacutevel
da dimensatildeo de funcionalidade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
Fundamentaccedilatildeo
Consonacircncia com o modelo conceptual proposto pela CIF enfatizando o caraacutecter
dinacircmico e interaccional (pessoa factores contextuais) do funcionamento de cada
pessoa Permite caracterizar as limitaccedilotildees de actividade e restriccedilotildees de participaccedilatildeo dos
cidadatildeos identificando necessidades de intervenccedilotildees especializadas numa loacutegica de
empowerment e participaccedilatildeo social Permite analisar a adequabilidade e ajustamento das actuais medidas poliacuteticas do
ponto de vista dos seus objectivos e os problemas detectados ao niacutevel da participaccedilatildeo
dos cidadatildeos ao longo de um conjunto diversificado de domiacutenios
73 MEacuteTODOS DE MENSURACcedilAtildeO
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo de meacutetodos intersubjectivos nomeadamente
inqueacuteritos
Fundamentaccedilatildeo
Flexibilidade ao niacutevel da abrangecircncia e profundidade das dimensotildees
Maior facilidade na implementaccedilatildeo atendendo agrave disponibilizaccedilatildeo de uma amostra
delimitada
Maior niacutevel de controlo sobre as condiccedilotildees de observaccedilatildeo e da entrevista devido ao
menor nuacutemero de entrevistas a ser implementado
74 DELIMITACcedilAtildeO CONCEPTUAL E TEMPORAL DO CONCEITO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo temporal e apesar de se privilegiar as vantagens anteriormente
explicitadas no desenvolvimento de uma definiccedilatildeo a posteriori assume-se a necessidade
politica de delimitar o campo de intervenccedilatildeo do conjunto de medidas sociais neste domiacutenio
pelo que a delimitaccedilatildeo conceptual poderaacute ser objecto de operacionalizaccedilatildeo atraveacutes dos
seguintes paracircmetros
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 40
Dezembro2006
Poder-se-aacute colocar a questatildeo de saber se a delimitaccedilatildeo do conceito proposta remete
especificamente para ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ou para ldquopessoas com limitaccedilotildees de
participaccedilatildeordquo Atendendo a que a definiccedilatildeo comporta uma abordagem sisteacutemica enfatizando a
interacccedilatildeo entre um conjunto diversificado de componentes que produzem impacto na
funcionalidade da pessoa a resposta natildeo eacute linear dependendo da ecircnfase socio-histoacuterica e da
abordagem sociopoliacutetica que se escolher enfatizar No entanto e do ponto de vista conceptual
privilegia-se a adopccedilatildeo do conceito ldquopessoas com limitaccedilotildees de participaccedilatildeordquo dado que existe
total autonomia operativa entre os diferentes constructos Neste sentido a deficiecircncia natildeo
constitui um factor causal linear das limitaccedilotildees de actividade e das restriccedilotildees ao niacutevel da
participaccedilatildeo mas antes uma das componentes que em interacccedilatildeo com outras podem
provocar impactos ao niacutevel da funcionalidade do indiviacuteduo Por uacuteltimo refira-se que a tipologia
ldquopessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeordquo poderaacute ser alvo de criticas por constituir
uma designaccedilatildeo que apela a duas componentes em simultacircneo (actividades e participaccedilatildeo)
excluindo outras e ser demasiado longa para uma definiccedilatildeo tipoloacutegica A este propoacutesito pode-
se sugerir a delimitaccedilatildeo ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo constituindo esta
expressatildeo uma abordagem holiacutestica ao conjunto de componentes que interferem com o
funcionamento humano Deste modo poderemos ter as seguintes designaccedilotildees
Pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Pessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo
Pessoas com limitaccedilotildees de funcionalidade
Figura 2 ndash Possiacuteveis designaccedilotildees
O Quadro 3 pretende fornecer uma visatildeo sistemaacutetica sobre o processo de decisatildeo da
designaccedilatildeo a adoptar
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
deficiecircncias
Tradiccedilatildeo analiacutetica dentro do
contexto portuguecircs
Em conformidade com o modelo
meacutedico ndash centra-se nas alteraccedilotildees
de estrutura e funccedilatildeo ndash
focalizaccedilatildeo na pessoa
Desarticulado dos pressupostos do
modelo social ndash natildeo remete para a
experiecircncia de incapacidade
enquanto produto da interacccedilatildeo
entre pessoa e ambiente
Mai
or
Abr
angecirc
ncia
Mai
or
Espe
cific
idad
e
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
incapacidades
Em conformidade com a
delimitaccedilatildeo anglo-saxoacutenica que
utiliza o conceito Disability
Focalizaccedilatildeo no poacutelo negativo do
funcionamento humano ndash
funcionalidadeincapacidade
Ao focalizar-se na experiecircncia de
incapacidade enquanto
interacccedilatildeo pessoa-ambiente
remete indirectamente para a
mobilizaccedilatildeo de apoios e recursos
de forma a ultrapassar eou
eliminar os obstaacuteculos ao
funcionamento em contexto
O potencial efeito estigmatizante
da expressatildeo ldquopessoas com
incapacidadesrdquo
Pessoas com
diversidade
Funcional
Em conformidade com o modelo
social
Focaliza-se na gestatildeo das
diferenccedilas e no seu impacto ao
niacutevel da participaccedilatildeo das pessoas
na sociedade
Elevado niacutevel de abrangecircncia natildeo
permitindo um niacutevel de
diferenciaccedilatildeo relevante na
medida em que todos os cidadatildeos
detecircm entre si diversos e
diferentes padrotildees de
funcionamento humano
Conceito dificilmente
operacionalizaacutevel do ponto de
vista da formulaccedilatildeo das poliacuteticas e
da delimitaccedilatildeo dos puacuteblicos-alvo
Pessoas com
restriccedilotildees ao
niacutevel da
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos Desta forma
todos os obstaacuteculos agrave participaccedilatildeo
relacionados com discriminaccedilatildeo
social preconceitos estereoacutetipos
deficiecircncias doenccedilas croacutenicas
entre outros satildeo incluiacutedos
Natildeo inclui as limitaccedilotildees de
actividade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
limitaccedilotildees de
actividade e
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida e simultaneamente no
domiacutenio das limitaccedilotildees de
actividade
Ruptura com a tradiccedilatildeo analiacutetica
no sector
Dificuldade de apreensatildeo e
inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Natildeo inclui as alteraccedilotildees da
estrutura e da funccedilatildeo
Pessoas com
limitaccedilotildees de
funcionalidade
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel das
diferentes dimensotildees constituintes
da funcionalidade e do
funcionamento humano
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos
Pessoas com
deficiecircncias e
incapacidades
Natildeo introduz ruptura com a
tradiccedilatildeo analiacutetica no sector
Inclui as alteraccedilotildees de estrutura e
funccedilatildeo bem como as alteraccedilotildees
decorrentes ao niacutevel da
funcionalidade
Diferencia os conceitos de
deficiecircncia e incapacidade
autonomizando-os e fornecendo
uma base compreensiva para o
natildeo estabelecimento de relaccedilotildees
de causa-efeito entre os ambos
Abrange os obstaacuteculos que
emergem na interacccedilatildeo pessoa-
contextos de vida e
simultaneamente no domiacutenio das
limitaccedilotildees de actividade
Poder diferenciador e delimitador
na definiccedilatildeo do puacuteblico-alvo
Em alinhamento estrateacutegico com o
PAIPDI
Designaccedilatildeo de compromisso com
os referenciais teoacutericos do modelo
social e dos princiacutepios da ldquoeacutetica da
diversidaderdquo
Quadro 3 ndash Visatildeo comparativa das hipoacuteteses da designaccedilatildeo a adoptar
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 43
Dezembro2006
75 DELIMITACcedilAtildeO DA DURACcedilAtildeO E CURSO DE EVOLUCcedilAtildeO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo interessa a caracterizaccedilatildeo nas
3 dimensotildees desenvolvidas
Fundamentaccedilatildeo
Afigura-se relevante caracterizar a ocorrecircncia das deficiecircncias quanto aacute sua
consistecircncia no tempo ndash temporaacuterias permanentes ndash analisando os factores
contextuais associados consequecircncias ao niacutevel das actividades e da participaccedilatildeo ao
longo de um conjunto de domiacutenios em ordem agrave extracccedilatildeo de implicaccedilotildees no acircmbito
das poliacuteticas sociais
No acircmbito da adaptabilidade e da adequaccedilatildeo das medidas poliacuteticas agraves necessidades
especiacuteficas dos cidadatildeos torna-se relevante caracterizar a deficiecircncia quanto agrave
natureza do seu curso evolutivo ndash progressivas regressivas estaacuteveis O mesmo
criteacuterio eacute aplicaacutevel quanto aacute dimensatildeo de padratildeo de manifestaccedilatildeo ndash intermitente
contiacutenua
No entanto e apesar da incapacidade se manifestar ao longo do ciclo de vida da pessoa
de forma multimodal para efeitos de delimitaccedilatildeo e de definiccedilatildeo do conceito de pessoas
com deficiecircncias e incapacidades privilegiaremos o caraacutecter permanente Desta forma
excluem-se as manifestaccedilotildees temporaacuterias de incapacidade que enviesariam a anaacutelise e o
desenvolvimento de poliacuteticas neste domiacutenio
76 DESIGN DAS QUESTOtildeES
No que concerne ao design das questotildees privilegia-se a escolha de questotildees tipo 1
Fundamentaccedilatildeo
Em consonacircncia com a CIF
Permite comparabilidade estatiacutestica futura
Permite a caracterizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre os factores de funcionalidade ndash integridade
estrutural e funcional actividades participaccedilatildeo e factores contextuais
Permite o design das poliacuteticas sociais e metodologias de intervenccedilatildeo alicerccediladas nas
necessidades especiacuteficas dos cidadatildeos em torno das dimensotildees de inclusatildeo social
Domiacutenios
Visatildeo
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 44
Dezembro2006
Audiccedilatildeo
Comunicaccedilatildeo
Mobilidade
Dor
Aprendizagem e funcionamento psicoloacutegico
Autocuidados e vida domeacutestica
Condiccedilotildees gerais de sauacutede
Mobilizaccedilatildeo de ajudas ou equipamento especializado
Participaccedilatildeo social
Transporte e educaccedilatildeo
77 PROPOSTA DE DELIMITACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em funccedilatildeo das dimensotildees caracterizadas e dos criteacuterios privilegiados desenvolveu-se o
seguinte enquadramento conceptual
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 45
Dezembro2006
Figura 2 ndash Enquadramento conceptual da delimitaccedilatildeo do conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso da evoluccedilatildeo
Temporaacuterias permanentes
Progressivas regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou contiacutenuas
Focus
Funcionalidade ndash Niacuteveis de execuccedilatildeo das actividades por domiacutenio e niacuteveistipos de ajudas mobilizadas
Abordagem CIF
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo temporal do conceito
A priori
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Inter-subjectivo
Design das questotildees
Questatildeo geneacuterica sobre uma determinada condiccedilatildeo individual combinada com itens referentes a limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo e factores contextuais
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 46
Dezembro2006
8 CRITEacuteRIOS DE ELEGIBILIDADE DO PUacuteBLICO-ALVO E SISTEMAS DE
AVALIACcedilAtildeO
A operacionalizaccedilatildeo do conceito de incapacidade tem sido abordada de forma heterogeacutenea
entre diferentes modalidades de politica e os diferentes contextos socioculturais de cada paiacutes
De uma forma geral encontram-se 2 eixos criacuteticos na sua operacionalizaccedilatildeo
a) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de trabalho (na ocupaccedilatildeo preacutevia ou numa nova
ocupaccedilatildeo ajustada agraves alteraccedilotildees funcionais)
b) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de obter rendimentos provenientes do trabalho
A explicitaccedilatildeo dos criteacuterios de delimitaccedilatildeo do conceito de incapacidade nos diferentes paiacuteses
encontra-se na Quadro 4
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Austraacutelia 2 Criteacuterios possuir uma incapacidade que resulte
num score nunca inferior a 20 nas tabelas de
incapacidades e incapacidade em trabalhar 30
horas ou mais por semana ou em ser
reconvertido para trabalho em contexto regular
nos proacuteximos 2 anos
Nenhum
Aacuteustria 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho (50
de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo para
trabalhadores sem qualificaccedilotildees) papel criacutetico
das decisotildees dos tribunais devido a definiccedilotildees
legais imprecisas
Nenhum mas as
restriccedilotildees de sauacutede
devem ter uma duraccedilatildeo
igual ou superior a 6
meses
Beacutelgica 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na actual ocupaccedilatildeo
1 ano
Canada Incapacidade severa e prolongada que impeccedila de
desenvolver trabalho numa base regular
Nenhum
Dinamarca 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum mas a
reabilitaccedilatildeo precisa de
estar completa
Franccedila 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual mas a
totalidade do subsidio requer igualmente perda de
capacidade de trabalho
Nenhum no caso das
condiccedilotildees estarem
estaacuteveis mas muito
frequentemente apoacutes 3
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 47
Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
anos
Alemanha 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho a
incapacidade parcial eacute calculada em funccedilatildeo do nordm
de horas que a pessoa pode trabalhar
Nenhum mas a
incapacidade deve ter
uma duraccedilatildeo miacutenima
de 26 semanas
Itaacutelia 666reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum
Coreia Criteacuterios meacutedicos (niacuteveis de incapacidade
definidos de forma detalhada)
Periacuteodo de espera de
50 dias (os subsiacutedios
de doenccedila natildeo se
encontram disponiacuteveis)
Meacutexico 50 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo Nenhum
Holanda 15 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
(25 para os trabalhadores por conta proacutepria e
jovens com incapacidade) grau de incapacidade
calculado pela diferenccedila de remuneraccedilatildeo entre o
actual posto de trabalho compatiacutevel com as
limitaccedilotildees funcionais e o anterior
1 ano
Noruega 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho O
grau de subsiacutedio eacute calculado pela capacidade de
remuneraccedilatildeo
Nenhum (apoacutes ter
completado a
reabilitaccedilatildeo vocacional)
Poloacutenia Reduccedilatildeo temporaacuteria ou permanente da
capacidade de trabalho
Nenhum
Portugal 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual
Nenhum mas na
praacutetica ao fim de 3
anos (fim do periacuteodo de
doenccedila de longo termo)
Espanha 33 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho na
ocupaccedilatildeo actual incapacidade para todo e
qualquer trabalho para a totalidade do subsiacutedio
1 ano (embora seja
possiacutevel a candidatura
antes deste prazo em
casos de incapacidade
permanente)
Sueacutecia 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho grau
de incapacidade parcial calculado a partir das
horas que uma pessoa pode trabalhar
Nenhum
Suiccedila 40 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho para
as pessoas inactivas o grau de incapacidade eacute
calculado em relaccedilatildeo aacute actividade actual
1 ano
Turquia 666 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho
com um focus meacutedico bastante significativo
Nenhum
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 48
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Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Reino Unido Limitaccedilotildees nas actividades de vida quotidianas
relevantes para o trabalho (avaliaccedilotildees meacutedicas
predominantes) teste ocupacional durante a s
primeiras 28 semanas (subsidio de doenccedila)
28 semanas
Estados
Unidos
Reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
incapacidade em investir numa actividade
profissional com rendimentos ($ US 740 por mecircs)
5 meses (nem sempre
cobertos pelos
subsiacutedios de curto-
termo) e 24 meses
para a cobertura
meacutedica
Quadro 4 ndash Definiccedilotildees de incapacidade e tempos regulamentares
Um dos desafios que se coloca aos actuais sistemas reside na delimitaccedilatildeo da elegibilidade do
puacuteblico-alvo Para cumprir este objectivo satildeo necessaacuterios sistemas de avaliaccedilatildeo holiacutesticos
abrangentes coerentes e que permitam chegar a resultados de forma consistente e com
validade interna No actual contexto a CIF propotildee constituir-se como o instrumento conceptual
abrangente para caracterizar os diferentes domiacutenios e niacuteveis de funcionalidade incapacidade
de forma coerente e integrada Neste sentido uma das vantagens apontadas para a adopccedilatildeo
do modelo desenvolvido pela OMS eacute a possibilidade de uniformizaccedilatildeo de conceitos e portanto
da utilizaccedilatildeo de uma linguagem padratildeo que permita a comunicaccedilatildeo entre investigadores
gestores profissionais de sauacutede organizaccedilotildees da sociedade civil e utilizadores em geral
Um dos campos de estudo mais explorados para a aplicaccedilatildeo da CIF tem sido a aacuterea de
Medicina Fiacutesica e de Reabilitaccedilatildeo no que concerne ao acompanhamento do estado de sauacutede
dos pacientes em tratamento O uso da CIF tem sido considerado tambeacutem na avaliaccedilatildeo apoacutes
transtornos agudos condiccedilotildees traumaacuteticas condiccedilotildees croacutenicas e na geriatria
Alguns autores argumentam que a CIF deve ser explorada como uma base de informaccedilotildees
padronizadas em estudos sobre incapacidade profissional quando haacute necessidade de
relacionar dados de sauacutede ocupacional com os da Seguranccedila Social
Na Sauacutede Puacuteblica tradicionalmente pouca atenccedilatildeo tem sido dada agraves pessoas com
incapacidades No entanto ao lado de recentes investimentos por parte de organizaccedilotildees e de
alguns governos a publicaccedilatildeo do modelo da CIF fornece as bases para as poliacuteticas e
disciplinas da Sauacutede Puacuteblica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo que apresenta deficiecircncias e
incapacidades Assim uma das possibilidades de uso da CIF pode ser a contribuiccedilatildeo para
responder a importantes questotildees de sauacutede puacuteblica tais como qual o estado de sauacutede das
pessoas com deficiecircncias comparadas com as demais que necessidades e que tipos de
intervenccedilotildees satildeo mais adequadas para reduzir condiccedilotildees secundaacuterias e promover a
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na sociedade entre outras
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 49
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Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 50
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Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 51
Dezembro2006
Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
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Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 53
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
ao niacutevel das estruturas ou das funccedilotildees dos indiviacuteduos ndash ainda que natildeo as negligencie ndash mas
sim as limitaccedilotildees de actividades e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo que o sujeito experiencia no
decorrer da desadequaccedilatildeo entre as suas diferenccedilas e as caracteriacutesticas dos ambientes sociais
em que se move Atente-se que esta opccedilatildeo conceptual natildeo eacute neutra do ponto de vista
pragmaacutetico dado que os objectivos das intervenccedilotildees passam a ser a remoccedilatildeo das barreiras e
dos obstaacuteculos que ocorrem no quadro da relaccedilatildeo do sujeito com os seus contextos de vida
em detrimento de intervenccedilotildees polarizadas exclusivamente na dimensatildeo individual ou
exclusivamente na dimensatildeo social
No desenvolvimento das poliacuteticas sociais a investigaccedilatildeo tem permitido colocar em evidecircncia a
necessidade de identificar definir e sistematizar os princiacutepios norteadores que tenderatildeo a ser
transversais a todos os sectores de poliacutetica social sendo que apenas deste modo se poderaacute
assegurar a coerecircncia entre as diferentes poliacuteticas dos diferentes sectores Neste sentido
torna-se relevante um processo de clarificaccedilatildeo sobre qual o modelo conceptual em que a
estrateacutegia poliacutetica se baseou de forma a que o conjunto de objectivos estrateacutegias processos
de intervenccedilatildeo definiccedilatildeo de resultados alocaccedilatildeo de recursos e indicadores de avaliaccedilatildeo
estejam devidamente articulados e em consonacircncia com os princiacutepios adoptados
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 13
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
2 CONCEITOS E TERMINOLOGIA
A anaacutelise conceptual no domiacutenio da deficiecircncia permite colocar em evidecircncia a existecircncia de
um conjunto de imprecisotildees ao niacutevel dos conceitos com variaccedilotildees relacionadas com o modelo
meacutedico e com o modelo social Neste contexto afigura-se criacutetico clarificar os contornos teoacutericos
e os modelos conceptuais subjacentes aos diferentes conceitos utilizados estabelecendo uma
base teoacuterica de referecircncia que assegure o necessaacuterio grau de coerecircncia e simultaneamente
abrangecircncia
21 EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA DOS SISTEMAS DE CLASSIFICACcedilAtildeO
Para uma clara delimitaccedilatildeo dos modelos teoacutericos que tecircm influenciado historicamente o
desenvolvimento dos conceitos no domiacutenio da deficiecircncia poderemos identificar 2 abordagens
conceptuais distintas
211 A ABORDAGEM TRADICIONAL INDIVIDUALISTA
A preocupaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede em estabelecer uma classificaccedilatildeo das doenccedilas
remonta ao seacuteculo XVIII Mas somente na VI Revisatildeo da Classificaccedilatildeo Internacional de
Doenccedilas (CID-6) em 1948 citada na IX Revisatildeo foram feitas referecircncias a doenccedilas que
poderiam tornar-se croacutenicas exigindo outros serviccedilos aleacutem de cuidados meacutedicos
Ateacute a deacutecada de 70 a CID-8 citada na IX Revisatildeo considerava apenas as manifestaccedilotildees
agudas segundo o modelo meacutedico etiologia rArr patologia rArr manifestaccedilatildeo
Esse modelo mostrou-se limitado para descrever as consequecircncias das doenccedilas pois excluiacutea
as perturbaccedilotildees croacutenicas evolutivas e irreversiacuteveis
Na IX Assembleia da OMS em 1976 surgiu uma nova conceptualizaccedilatildeo a International
Classification of Impairments Disabilities and Handicaps a manual of classification relating to
the consequences of disease (ICIDH) sendo sua traduccedilatildeo a Classificaccedilatildeo Internacional de
Deficiecircncias Incapacidades e Desvantagens um manual de classificaccedilatildeo das consequecircncias
das doenccedilas (CIDID) publicada em 1989
Apesar da abordagem meacutedica individualista ter dominado a cultura ocidental desde pelo
menos o seacuteculo XIX (Oliver 1990 Gleeson 1999) esta encontra-se geralmente associada agrave
Classificaccedilatildeo Internacional da Deficiecircncia Incapacidades e Desvantagens (ICIDH) da OMS
(1980) Em resposta agraves necessidades crescentes ao niacutevel internacional de clarificaccedilatildeo do
sentido do conceito de incapacidade e atendendo agraves criticas progressivas das pessoas com
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
incapacidades e seus significativos baseadas no facto de que a incapacidade envolve mais do
que um conjunto de preocupaccedilotildees estritamente meacutedicas a OMS constituiu uma comissatildeo de
cientistas sociais para desenvolver a existente Classificaccedilatildeo Internacional de Doenccedilas em
ordem a conseguir abranger as consequecircncias a longo termo das doenccedilas croacutenicas A ICIDH
foi publicada em 1980 sendo largamente reconhecida como o directoacuterio mais abrangente
existente vindo a ser extensivamente utilizada como uma base para as iniciativas
governamentais dos paiacuteses desenvolvidos da Europa e Ameacuterica do Norte e os paiacuteses
subdesenvolvidos do Sul (Ustun et al 2001)
A ICIDH utiliza uma categorizaratildeo tripartida da deficiecircncia incapacidade e desvantagem A
deficiecircncia refere-se a qualquer perda ou irregularidade da estrutura ou das funccedilotildees
anatoacutemica fisioloacutegica ou psicoloacutegica A incapacidade refere-se a qualquer restriccedilatildeo ou perda
(resultante de uma deficiecircncia) da capacidade para executar uma actividade da forma e dentro
do contexto considerado normal para o ser humano A desvantagem refere-se agrave limitaccedilatildeo
resultante de uma deficiecircncia ou incapacidade no desempenho de um dado papel considerado
normativo (dependendo da idade geacutenero e factores sociais e culturais) para aquele indiviacuteduo
(OMS 1980 p 29)
Esta tipologia baseia-se nas noccedilotildees de normalidade fiacutesica e intelectual bem como no facto de
que a incapacidade e a desvantagem satildeo causadas por deficiecircncias ou irregularidades
psicoloacutegicas ou fisioloacutegicas Neste contexto a ICIDH pode ser objecto de criacuteticas a diferentes
niacuteveis Primeiro as percepccedilotildees de deficiecircncia e normalidade satildeo fenoacutemenos sociais pelo que
satildeo sujeitas a substantivas mudanccedilas temporais culturais e situacionais (Hanks and Hanks
1948 Scheer and Groce 1988 Coleridge 1993 Ingstad and Whyte 1995) A dislexia por
exemplo natildeo seria vista como um problema significativo numa sociedade predominantemente
agraacuteria No entanto eacute considerada uma dificuldade de aprendizagem nas sociedades
modernas tecnologicamente avanccediladas nas quais a literacia e a numeracia desempenham
requisitos criacuteticos para a participaccedilatildeo social e econoacutemica Segundo encontra-se impliacutecito na
ICIDH que o organismo humano eacute flexiacutevel e adaptaacutevel enquanto os ambientes fiacutesicos e sociais
o natildeo satildeo Este facto claramente conflitua com a realidade histoacuterica na qual os indiviacuteduos
transformaram continuamente o seu ambiente em funccedilatildeo das suas necessidades (Barnes
1991) Terceiro as definiccedilotildees da ICIDH sugerem que a deficiecircncia a incapacidade e a
desvantagem constituem-se como estados estaacuteticos Para aleacutem do facto desta noccedilatildeo afigurar-
se incorrecta parece criar distinccedilotildees e barreiras entre as pessoas com e sem deficiecircncias
distinccedilotildees que natildeo satildeo necessaacuterias nem deveriam existir Uma tal situaccedilatildeo parece ser
paradoxal atendendo a que a ICIDH possui uma classificaccedilatildeo para cada caracteriacutestica do
organismo fiacutesico e humano (Shakespeare 1994 104)
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Finalmente e mais significativo neste contexto a ICIDH apresenta as deficiecircncias enquanto
causa primaacuteria da incapacidade e da desvantagem Neste contexto a reabilitaccedilatildeo constitui-se
como uma filosofia e uma praacutetica para erradicar ou minimizar os problemas da deficiecircncia e
capacitar aqueles com deficiecircncias designadas para funcionarem nos seus niacuteveis fiacutesico
psicoloacutegico e social mais elevados (Albrecht 1992 23) Por outras palavras as pessoas com
incapacidades tornam-se objectos para serem curados tratados treinados mudados e
tornados normais de acordo com um conjunto particular de valores As limitaccedilotildees de tais
intervenccedilotildees encontram-se sustentadamente documentadas pelos activistas como
incapacidades desde 1960 (Hunt 1966 Sutherland 1981 Zola 1982)
212 A ABORDAGEM LIBERAL OU INTER-RELACIONAL
A abordagem liberal ou inter-relacional encontra-se expressa no uacuteltimo corpo de trabalhos da
OMS para redefinir a incapacidade nomeadamente a Classificaccedilatildeo Internacional de
Funcionalidade Incapacidade e Sauacutede (CIF) conhecida previamente como ICIDH2 (OMS
2002)
Esta redefiniccedilatildeo constituiu uma tentativa concertada para integrar o modelo meacutedico
individualista tradicional e a interpretaccedilatildeo sociopoliacutetica Por um lado como resultado da sua
rejeiccedilatildeo por parte das pessoas com incapacidades organizaccedilotildees e parceiros dentro e fora da
comunidade cientiacutefica (Driedger 1989 Oliver 1990 Barnes et al 2002) e por outro lado
porque apesar da sua vasta utilizaccedilatildeo a sua aplicabilidade tem sido caracterizada por diversas
interpretaccedilotildees (Coleridge 1993 Ingstad 2001) Em siacutentese demonstrou-se como limitada para
muitos dos actores e natildeo forneceu a delimitaccedilatildeo de significado que originalmente pretendia
Em comum com a sua predecessora a CIF manteacutem o constructo tripartido O primeiro niacutevel
deficiecircncia no original relaciona-se com as funccedilotildees e estrutura do organismo O segundo
niacutevel o que era anteriormente incapacidade eacute agora referido como actividade e o terceiro
desvantagem aparece como participaccedilatildeo No entanto e apesar do intenso debate sobre o
significado de incapacidade o conceito eacute preservado como um termo global para os trecircs niacuteveis
de dificuldade de funcionamento Neste cenaacuterio e em contraste com a ICIDH a nova
formulaccedilatildeo eacute apresentada como uma classificaccedilatildeo universal do funcionamento humano As
pessoas ligadas a acccedilotildees de advocacy defendem que esta configuraccedilatildeo oferece um quadro de
inteligibilidade completo para os aspectos funcionais da experiecircncia de sauacutede Nesta
perspectiva a incapacidade permanece uma preocupaccedilatildeo privilegiadamente do domiacutenio da
sauacutede em detrimento do domiacutenio poliacutetico Constitui-se por um lado como um resultado das
caracteriacutesticas da pessoa e por outro dos ambientes fiacutesicos e sociais Deste modo mais do
que se constituir como uma classificaccedilatildeo das pessoas com incapacidades ou dos problemas
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
que experienciam a CIF afigura-se como uma classificaccedilatildeo do funcionamento a 3 niacuteveis
compreendida em termos neutros (Ustun et al 2001 6-7)
O reconhecimento da importacircncia dos ambientes fiacutesico e social na CIF poderaacute ser equacionado
como uma melhoria significativa em relaccedilatildeo agrave sua predecessora (Hurst 2000) No entanto
parece-nos altamente improvaacutevel que seja mais eficaz do que a anterior classificaccedilatildeo a gerar
uma linguagem universal sobre a incapacidade na medida em que transformar as diferenccedilas
culturais na conceptualizaccedilatildeo das deficiecircncias assume-se como tarefa extremamente
complexa de alcanccedilar (Bury 2000 Miles 2001) Este facto eacute especialmente significativo na
medida em que natildeo obstante a CIF reconhecer o contexto cultural das percepccedilotildees de
incapacidade e por consequecircncia a normalidade o actual sistema de classificaccedilatildeo
permanece fortemente alicerccedilado nas formulaccedilotildees e nos conceitos cientiacuteficos ocidentais
(Finkelstein 1998 Pfeiffer 2000 Baylies 2002)
Adicionalmente apesar da CIF explicitar que os indiviacuteduos satildeo um elemento da anaacutelise da
incapacidade a abordagem biopsicossocial natildeo se encontra muito distanciada do modelo
anterior na medida em que privilegia o indiviacuteduo como ponto de partida para anaacutelise das
funccedilotildees do corpo e actividades O conceito de participaccedilatildeo eacute incluiacutedo mas subdesenvolvido no
esquema conceptual e continua associado agraves circunstacircncias individuais em vez de fortemente
ligado agrave inclusatildeo poliacutetica e social Adicionalmente enquanto a significacircncia do contexto eacute
enfatizada na CIF as estrateacutegias para a sua mensuraccedilatildeo afiguram-se limitadas Os seus
utilizadores satildeo encorajados a classificar os factores ambientais mas natildeo existem ferramentas
eficazes para levar a cabo esta tarefa bem como para avaliar as tendecircncias de incapacidade
ou por outro lado das poliacuteticas governamentais praacuteticas ambientes fiacutesicos e contextos
culturais (Baylies 2002)
Esta aparente descentraccedilatildeo das preocupaccedilotildees poliacuteticas tem caracterizado a maioria da ciecircncia
social mainstream desde o seacuteculo XIX Deste modo a definiccedilatildeo inter-relacional de
incapacidade e a consequente despolitizaccedilatildeo das questotildees associadas reflectiu-se nos
estudos e na literatura produzida nesta aacuterea por acadeacutemicos e investigadores durante a uacuteltima
metade do seacuteculo XX
Mais recentemente reemergiram na Inglaterra um conjunto de respostas poacutes-modernas ao
modelo social da incapacidade Este cenaacuterio tem favorecido o aparecimento de asserccedilotildees de
que tais fenoacutemenos soacute tecircm servido para agudizar e natildeo diminuir a conflituosidade a propoacutesito
da inclusatildeo (Hunt 1981 Germon 1998 Linton 1998 Gordon and Rosenblum 2001)
No quadro da reabilitaccedilatildeo a abordagem inter-relacional eacute sinoacutenima da liberalizaccedilatildeo da poliacutetica
social para as pessoas com incapacidades nos finais dos anos sessenta e setenta em
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
particular a mudanccedila dos serviccedilos centrados institucionalmente para os serviccedilos e apoios
centrados na comunidade Deste modo a ecircnfase eacute colocada na integraccedilatildeo de pessoas com
incapacidades na sociedade mainstream Os Standards da Equalizaccedilatildeo das Pessoas com
Incapacidades (1993) da ONU explicitam que todos os estados devem providenciar serviccedilos de
reabilitaccedilatildeo Mas esta orientaccedilatildeo recomenda que se vaacute aleacutem do cuidado meacutedico inicial para
incluir uma ampla gama de medidas e actividades desde a reabilitaccedilatildeo baacutesica e generalista
para actividades orientadas por objectivos (UN 199311) Ainda mais significativo todos os
serviccedilos de reabilitaccedilatildeo deveratildeo estar disponiacuteveis nas comunidades locais nas quais as
pessoas com incapacidades se movem No entanto em determinadas circunstacircncias e para
que se reforcem os objectivos de formaccedilatildeo e aprendizagem poderatildeo ser organizados cursos
localizados nas organizaccedilotildees prestadoras de serviccedilos com um quadro temporal o mais
reduzido possiacutevel (UN 1993 19)
Adicionalmente apesar dos Standards enfatizarem a importacircncia do envolvimento das pessoas
com incapacidades e dos seus significativos no desenvolvimento dos programas de
reabilitaccedilatildeo parece natildeo existir uma asserccedilatildeo clara de que tais estrateacutegias devam ser
controladas por ou mensuradas para estes uacuteltimos Existe no entanto uma assunccedilatildeo taacutecita de
que tais serviccedilos seratildeo liderados por profissionais
Adicionalmente desde que a incapacidade na CIF foi apresentada como uma questatildeo de
sauacutede em detrimento de uma questatildeo poliacutetica parece inevitaacutevel que os profissionais no
domiacutenio da reabilitaccedilatildeo continuem a ser dominados ou laquoalienadosraquo pela Medicina (Finkelstein
1998) Este facto poderaacute ficar a dever-se primeiro agrave actual e persistente subjugaccedilatildeo dos
governos nacionais aos interesses corporativos e das organizaccedilotildees econoacutemicas e segundo agrave
diversidade de barreiras econoacutemicas poliacuteticas e culturais experienciadas pelas pessoas com
incapacidades quer nos paiacuteses desenvolvidos quer nos subdesenvolvidos Neste tipo de
cenaacuterio o pensamento ortodoxo sobre a reabilitaccedilatildeo contratualiza um expediente praacutetico para
os poliacuteticos legisladores e organizaccedilotildees profissionais Como resultado os teacutecnicos tecircm
invariavelmente um niacutevel de escolha reduzido na opccedilatildeo pelo modelo meacutedico em detrimento
de soluccedilotildees poliacuteticas colectivas na resposta aos problemas da exclusatildeo
Esta perspectiva parece afigurar-se a oposta da necessaacuteria De facto apoacutes o trabalho de
Talcott Parsons (1951) emergiu uma extensa literatura condenando a laquomedicalizaccedilatildeoraquo do
quotidiano de um conjunto diverso de perspectivas Por exemplo o filoacutesofo austriacuteaco Ivan Illich
nomeou o seacuteculo XX como a era dos profissionais incapacitantes (1977 11) pela sua
apropriaccedilatildeo do conhecimento mistificaccedilatildeo das competecircncias especializadas e a criaccedilatildeo de
uma cultura perversa e persuasiva de dependecircncia Apesar de tais criticas encontrarem a sua
aplicabilidade predominantemente nas naccedilotildees subdesenvolvidas do Ocidente surgiram
trabalhos recentes que sugerem que apesar de existir uma diminuiccedilatildeo significativa dos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 18
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
conhecimentos meacutedicos e de tratamentos com reduzidos niacuteveis de recursos nas naccedilotildees
subdesenvolvidas criacuteticas similares podem ser relevantes para o contexto no qual nos
situamos (Stone 1999 Ingstad 2001 OMS 2001)
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
3 OBJECTIVOS OPERACIONAIS
Pretende-se desenvolver uma anaacutelise longitudinal e multissectorial ao conceito de deficiecircncia
no sentido de estabelecer uma configuraccedilatildeo operacional no quadro da sua aplicabilidade
estatiacutestica Esta anaacutelise insere-se no acircmbito do Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das
Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo
Objectivo Operacionalizar o conceito de deficiecircncia no quadro da sua aplicabilidade
estatiacutestica assegurando os criteacuterios de (a) comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica
e legislativa dentro do contexto portuguecircs (c) conformidade com os referenciais conceptuais
actuais
Metodologia a) Anaacutelise dos referenciais nacionais e internacionais de delimitaccedilatildeo operacional
do conceito b) exploraccedilatildeo de cenaacuterios que viabilizem o cumprimento dos requisitos definidos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 20
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
4 ANAacuteLISE PRELIMINAR DA EVOLUCcedilAtildeO DA TERMINOLOGIA NO
DOMIacuteNIO 41 ESTADO DA ARTE
A evoluccedilatildeo dos conceitos operativos nos domiacutenios da reabilitaccedilatildeo e da inclusatildeo social tem
sido reflectida nas diversas classificaccedilotildees propostas pela OMS Neste quadro evolutivo a
uacuteltima classificaccedilatildeo proposta ndash CIF ndash constitui-se como um modelo de siacutentese entre a
abordagem meacutedica e a abordagem social no domiacutenio da incapacidade e da sauacutede No sentido
de procedermos agrave anaacutelise dos principiais conceitos e termos focalizar-nos-emos na
reestruturaccedilatildeo conceptual proposta pela Classificaccedilatildeo Internacional de Funcionalidade
Incapacidade e Sauacutede (CIF)
O objectivo geral da CIF eacute proporcionar uma linguagem unificada e padronizada assim como
uma estrutura de trabalho para a descriccedilatildeo da sauacutede e de estados relacionados com a sauacutede
A classificaccedilatildeo define os componentes da sauacutede e alguns componentes do bem-estar
relacionados com a sauacutede (tais como educaccedilatildeo e trabalho) Os domiacutenios contidos na CIF
podem portanto ser considerados como domiacutenios da sauacutede e domiacutenios relacionados com a
sauacutede Estes domiacutenios satildeo descritos com base na perspectiva do corpo do indiviacuteduo e da
sociedade em duas listas baacutesicas (1) Funccedilotildees e Estruturas do Corpo e (2) Actividades e
Participaccedilatildeo Como classificaccedilatildeo a CIF agrupa sistematicamente diferentes domiacutenios de uma
pessoa com uma determinada condiccedilatildeo de sauacutede (eg o que uma pessoa com uma doenccedila
ou perturbaccedilatildeo faz ou pode fazer) A funcionalidade eacute um termo que engloba todas as funccedilotildees
do corpo actividades e participaccedilatildeo de maneira similar a incapacidade eacute um termo que inclui
deficiecircncias limitaccedilatildeo da actividade ou restriccedilatildeo na participaccedilatildeo A CIF tambeacutem relaciona os
factores ambientais que interagem com todos estes constructos Neste sentido a classificaccedilatildeo
permite ao utilizador registar perfis uacuteteis da funcionalidade incapacidade e sauacutede dos
indiviacuteduos em vaacuterios domiacutenios
A CIF pertence agrave ldquofamiacuteliardquo das classificaccedilotildees internacionais desenvolvida pela OMS para
aplicaccedilatildeo em vaacuterios aspectos da sauacutede A famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS
proporciona um sistema para a codificaccedilatildeo de uma ampla gama de informaccedilotildees sobre sauacutede
(eg diagnoacutestico funcionalidade e incapacidade motivos de contacto com os serviccedilos de
sauacutede) e utiliza uma linguagem comum padronizada que permite a comunicaccedilatildeo sobre sauacutede e
cuidados de sauacutede em todo o mundo entre vaacuterias disciplinas e ciecircncias
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 21
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Nas classificaccedilotildees internacionais da OMS os estados de sauacutede (doenccedilas perturbaccedilotildees
lesotildees etc) satildeo classificados principalmente na CID-10 (abreviatura da Classificaccedilatildeo
Internacional de Doenccedilas Deacutecima Revisatildeo) que fornece uma estrutura de base etioloacutegica A
funcionalidade e a incapacidade associadas aos estados de sauacutede satildeo classificadas na CIF
Portanto a CID-10 e a CIF satildeo complementares e os utilizadores satildeo estimulados a usar em
conjunto esses dois membros da famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS A CID-10
proporciona um ldquodiagnoacutesticordquo de doenccedilas perturbaccedilotildees ou outras condiccedilotildees de sauacutede que eacute
complementado pelas informaccedilotildees adicionais fornecidas pela CIF sobre funcionalidade Em
conjunto as informaccedilotildees sobre o diagnoacutestico e sobre a funcionalidade datildeo uma imagem mais
ampla e mais significativa da sauacutede das pessoas ou da populaccedilatildeo que pode ser utilizada em
tomadas de decisatildeo
A famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS constitui uma ferramenta valiosa para a
descriccedilatildeo e a comparaccedilatildeo da sauacutede das populaccedilotildees num contexto internacional As
informaccedilotildees sobre a mortalidade (facultadas pela CID-10) e sobre as consequecircncias na sauacutede
(proporcionadas pela CIF) podem ser combinadas de forma a obter medidas sinteacuteticas da
sauacutede das populaccedilotildees Isto permite seguir a sauacutede das populaccedilotildees e a sua distribuiccedilatildeo bem
como avaliar a parte atribuiacuteda agraves diferentes causas
A CIF transformou-se de uma classificaccedilatildeo de ldquoconsequecircncias da doenccedilardquo (versatildeo de 1980)
numa classificaccedilatildeo de ldquocomponentes da sauacutederdquo Os ldquocomponentes da sauacutederdquo identificam o que
constitui a sauacutede enquanto que as consequecircncias se referem ao impacto das doenccedilas na
condiccedilatildeo de sauacutede da pessoa Deste modo a CIF assume uma posiccedilatildeo neutra em relaccedilatildeo agrave
etiologia de modo que os investigadores podem desenvolver inferecircncias causais utilizando
meacutetodos cientiacuteficos adequados De maneira similar esta abordagem tambeacutem eacute diferente de
uma abordagem do tipo determinantes da sauacutede ou ldquofactores de risco Para facilitar o estudo
dos determinantes ou dos factores de risco a CIF inclui uma lista de factores ambientais que
descrevem o contexto em que o indiviacuteduo vive
A CIF descreve a funcionalidade e a incapacidade relacionadas com as condiccedilotildees de sauacutede
identificando o que uma pessoa ldquopode ou natildeo pode fazer na sua vida diaacuteriardquo tendo em vista as
funccedilotildees dos oacutergatildeos ou sistemas e estruturas do corpo assim como as limitaccedilotildees de
actividades e da participaccedilatildeo social no meio ambiente onde a pessoa vive Segundo a OMS a
CID-10 e a CIF satildeo complementares a informaccedilatildeo sobre o diagnoacutestico acrescido da
funcionalidade fornece um quadro mais amplo sobre a sauacutede do indiviacuteduo ou populaccedilotildees Por
exemplo duas pessoas com a mesma doenccedila podem ter diferentes niacuteveis de funcionalidade e
duas pessoas com o mesmo niacutevel de funcionalidade natildeo tecircm necessariamente a mesma
condiccedilatildeo de sauacutede
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 22
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
O termo do modelo da CIF eacute a funcionalidade que cobre os componentes de funccedilotildees e
estruturas do corpo actividade e participaccedilatildeo social A funcionalidade eacute usada no aspecto
positivo e o aspecto negativo corresponde agrave incapacidade Segundo esse modelo a
incapacidade eacute resultante da interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada pelo indiviacuteduo (seja
orgacircnica e ou da estrutura do corpo) a limitaccedilatildeo de suas actividades e a restriccedilatildeo na
participaccedilatildeo social e os factores ambientais que podem actuar como facilitadores ou barreiras
para o desempenho dessas actividades e da participaccedilatildeo
A CIF eacute baseada portanto numa abordagem biopsicossocial que incorpora os componentes
de sauacutede nos niacuteveis corporais e sociais Assim na avaliaccedilatildeo de uma pessoa com deficiecircncias
e incapacidades esse modelo destaca-se do biomeacutedico baseado no diagnoacutestico etioloacutegico da
disfunccedilatildeo evoluindo para um modelo que incorpora as trecircs dimensotildees a biomeacutedica a
psicoloacutegica (dimensatildeo individual) e a social Nesse modelo cada niacutevel age sobre e sofre a
acccedilatildeo dos demais sendo todos influenciados pelos factores ambientais A OMS pretende
incorporar tambeacutem no futuro os factores pessoais importantes na forma de lidar com as
condiccedilotildees limitantes
O objectivo pragmaacutetico da CIF eacute fornecer uma linguagem padronizada e um modelo para a
descriccedilatildeo da sauacutede e dos estados relacionados com a sauacutede permitindo a comparaccedilatildeo de
dados referentes a essas condiccedilotildees entre paiacuteses serviccedilos sectores relativos agrave sauacutede bem
como o acompanhamento da sua evoluccedilatildeo no tempo
No entanto os conceitos apresentados na classificaccedilatildeo introduzem um novo paradigma para
pensar e trabalhar as deficiecircncias e incapacidades elas natildeo satildeo apenas uma consequecircncia
das condiccedilotildees de sauacutede doenccedila mas satildeo determinadas tambeacutem pelo contexto do meio
ambiente fiacutesico e social pelas diferentes percepccedilotildees culturais e atitudes em relaccedilatildeo agrave
deficiecircncias pela disponibilidade de serviccedilos e de legislaccedilatildeo Dessa forma a classificaccedilatildeo natildeo
constitui apenas um instrumento para medir o estado funcional dos indiviacuteduos Aleacutem disso ela
permite avaliar as condiccedilotildees de vida e fornecer subsiacutedios para poliacuteticas de inclusatildeo social
42 FUNCcedilOtildeES DO CORPO
As Funccedilotildees do corpo satildeo as funccedilotildees fisioloacutegicas dos sistemas orgacircnicos (incluindo as
funccedilotildees psicoloacutegicas)
As funccedilotildees e as estruturas do corpo satildeo classificadas em duas secccedilotildees diferentes Essas duas
classificaccedilotildees estatildeo concebidas de forma a serem utilizadas em paralelo Por exemplo as
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 23
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
funccedilotildees do corpo incluem sentidos humanos baacutesicos como as funccedilotildees da visatildeo e as
estruturas relacionadas aparecem na forma de ldquoolho e estruturas relacionadasrdquo
43 ESTRUTURAS DO CORPO
As Estruturas do Corpo satildeo as partes anatoacutemicas do corpo tais como oacutergatildeos membros e
seus componentes
ldquoCorpo refere-se ao organismo humano como um todo por isso o ceacuterebro e as suas funccedilotildees
ie a mente estatildeo incluiacutedos As funccedilotildees mentais (ou psicoloacutegicas) satildeo portanto incluiacutedas nas
funccedilotildees do corpo As funccedilotildees e as estruturas do corpo satildeo classificadas de acordo com os
sistemas orgacircnicos por isso as estruturas do corpo natildeo satildeo consideradas como oacutergatildeos no
seu sentido restrito
44 DEFICIEcircNCIA
Deficiecircncias satildeo problemas nas funccedilotildees ou na estrutura do corpo tais como um desvio
importante ou uma perda
As deficiecircncias de estrutura podem consistir numa anormalidade defeito perda ou outro desvio
importante relativamente a um padratildeo das estruturas do corpo As deficiecircncias foram definidas
de acordo com os conhecimentos bioloacutegicos actuais ao niacutevel de tecidos ou das ceacutelulas e ao
niacutevel subcelular ou molecular Por motivos praacuteticos no entanto esses niacuteveis natildeo estatildeo
classificados As bases bioloacutegicas das deficiecircncias orientaram essa classificaccedilatildeo e eacute possiacutevel
expandir a classificaccedilatildeo para incluir os niacuteveis celular ou molecular Do ponto de vista meacutedico
deve-se ter em mente que as deficiecircncias natildeo satildeo equivalentes agraves patologias subjacentes mas
sim a manifestaccedilotildees dessas patologias
As deficiecircncias correspondem a um desvio relativamente ao que eacute geralmente aceite como
estado biomeacutedico normal (padratildeo) do corpo e das suas funccedilotildees A definiccedilatildeo dos seus
componentes eacute feita essencialmente por pessoas com competecircncia para avaliar a
funcionalidade fiacutesica e mental de acordo com esses padrotildees
As deficiecircncias podem ser temporaacuterias ou permanentes progressivas regressivas ou estaacuteveis
intermitentes ou contiacutenuas O desvio em relaccedilatildeo ao modelo baseado na populaccedilatildeo e
geralmente aceite como normal pode ser leve ou grave e pode variar ao longo do tempo Estas
caracteriacutesticas satildeo consideradas posteriormente em descriccedilotildees adicionais principalmente nos
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Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
coacutedigos atraveacutes de um qualificador que se acrescenta ao coacutedigo e do qual fica separado por
um ponto
As deficiecircncias natildeo tecircm uma relaccedilatildeo causal com a etiologia ou com a forma como se
desenvolveram Por exemplo a perda da visatildeo ou de um membro pode resultar de uma
anormalidade geneacutetica ou de uma lesatildeo A presenccedila de uma deficiecircncia implica
necessariamente uma causa No entanto a causa pode natildeo ser suficiente para explicar a
deficiecircncia resultante Da mesma forma quando haacute uma deficiecircncia haacute uma disfunccedilatildeo das
funccedilotildees ou estruturas do corpo mas isto pode estar relacionado com qualquer doenccedila
perturbaccedilatildeo ou estado fisioloacutegico
As deficiecircncias podem ser parte ou uma expressatildeo de uma condiccedilatildeo de sauacutede mas natildeo
indicam necessariamente a presenccedila de uma doenccedila ou que o indiviacuteduo deva ser
considerado doente
As deficiecircncias cobrem um campo mais vasto que as perturbaccedilotildees ou as doenccedilas Por
exemplo a perda de uma perna eacute uma deficiecircncia de uma estrutura do corpo mas natildeo eacute uma
perturbaccedilatildeo ou uma doenccedila
As deficiecircncias podem originar outras deficiecircncias Por exemplo a diminuiccedilatildeo da forccedila
muscular pode prejudicar as funccedilotildees do movimento as funccedilotildees cardiacuteacas podem estar
relacionadas com o deacutefice das funccedilotildees respiratoacuterias e uma percepccedilatildeo prejudicada pode estar
relacionada com as funccedilotildees do pensamento
Actualmente na perspectiva da CIF o conceito de deficiecircncia constitui o poacutelo negativo da
componente ldquoFunccedilotildees e Estrutura do Corpordquo sendo descrito atraveacutes da existecircncia de
alteraccedilotildees significativas das funccedilotildees eou das estruturas do corpo O poacutelo positivo desta
componente refere-se agrave integridade funcional e estrutural Neste contexto um dos desafios
criacuteticos das poliacuteticas sociais consiste na operacionalizaccedilatildeo do conceito de deficiecircncia de forma
a que a elegibilidade dos diferentes puacuteblicos alvo se encontre devidamente delimitada
assegurando a eficaacutecia das medidas subjacentes
No entanto a amplitude e abrangecircncia da definiccedilatildeo do conceito de deficiecircncia proposta pela
OMS atraveacutes da CIF coloca um enorme desafio na medida em que qualquer cidadatildeo desde
que apresente um desvio significativo ao niacutevel da estrutura eou funccedilatildeo passa a ser um
potencial beneficiaacuterio das poliacuteticas neste domiacutenio Neste contexto poder-se-atildeo colocar vaacuterias
questotildees A primeira eacute se interessa agraves diferentes poliacuteticas no sector continuarem a ser
desenvolvidas tendo por focus o conceito de pessoas com deficiecircncias sabendo que a sua
distinccedilatildeo ao longo da populaccedilatildeo apenas poderaacute ser feita atraveacutes do niacutevel e extensatildeo da
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Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
alteraccedilatildeo da integridade estrutural e funcional de cada individuo A segunda questatildeo prende-se
com as consequecircncias conceptuais decorrentes da integraccedilatildeo do modelo social na formulaccedilatildeo
e operacionalizaccedilatildeo dos conceitos a serem utilizados pelas poliacuteticas no sector na medida em
que o aspecto critico deixa de ser a natureza e severidade da deficiecircncia para passar a centrar-
se no niacutevel e tipo de restriccedilotildees de participaccedilatildeo que cada cidadatildeo experiencia na interacccedilatildeo
com os seus contextos de vida
No que concerne agrave primeira questatildeo e atendendo a que a mais recente definiccedilatildeo do conceito
de deficiecircncia proposto pela OMS apresenta um elevado niacutevel de abrangecircncia e um reduzido
potencial diferenciador poderemos equacionar 2 hipoacuteteses centrais de operacionalizaccedilatildeo
a) A primeira hipoacutetese baseia-se na possibilidade de operacionalizar diferentes definiccedilotildees
de deficiecircncia ao longo das diferentes poliacuteticas sociais no sentido de assegurar que as
diferentes medidas alcanccedilam efectivamente as pessoas para as quais foram
elaboradas Esta perspectiva tem a vantagem de uma maior focalizaccedilatildeo nas
caracteriacutesticas especificas do puacuteblico-alvo mas no entanto apresenta uma grande
desvantagem que consiste na elevada probabilidade das diferentes definiccedilotildees
perderem a coerecircncia entre si fragmentando igualmente o modelo teoacuterico a partir do
qual se deveriam basear
b) A segunda hipoacutetese consiste na articulaccedilatildeo operativa de dois conceitos o de
deficiecircncia e o de restriccedilotildees de participaccedilatildeo Nesta perspectiva a elegibilidade de uma
determinada politica social baseia-se na validaccedilatildeo preacutevia da existecircncia da primeira
condiccedilatildeo do puacuteblico-alvo ndash a existecircncia de uma deficiecircncia ndash determinando logo de
seguida o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo a partir do qual os diferentes cidadatildeos
passam a poder aceder agraves medidas especiacuteficas nela contidas O desafio contido nesta
hipoacutetese consiste na necessidade de desenvolvimento de um sistema de avaliaccedilatildeo que
permita avaliar o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo experimentado pelas pessoas com
deficiecircncias determinando atraveacutes do valor aferido quais seriam as pessoas com
acesso agraves medidas Neste cenaacuterio natildeo bastaria que uma pessoa tivesse uma
deficiecircncia pelo que seria necessaacuterio avaliar os efeitos da deficiecircncia em interacccedilatildeo
com o ambiente social ao niacutevel da participaccedilatildeo no sentido de determinar a
elegibilidade As vantagens desta hipoacutetese relacionam-se com (i) a preservaccedilatildeo do
niacutevel de coerecircncia dos conceitos utilizados ao longo das diferentes poliacuteticas sociais (ii)
a existecircncia de um processo comum de afericcedilatildeo e determinaccedilatildeo da elegibilidade ao
longo dos diferentes sectores de politica (iii) a compatibilidade e adequabilidade dos
princiacutepios teoacutericos do modelo social com a operacionalizaccedilatildeo dos sistemas e medidas
poliacuteticos de apoio agraves pessoas com deficiecircncias e (iv) a existecircncia de mecanismos de
avaliaccedilatildeo de elevada transparecircncia controlabilidade e rigor
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 26
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
45 INCAPACIDADE
Do ponto de vista de utilizaccedilatildeo dos conceitos de Deficiecircncia e de Incapacidade em Portugal
tecircm subsistido vaacuterias imprecisotildees terminoloacutegicas Primeiro na generalidade dos documentos
internacionais alude-se ao termo ldquopeople with disabilitiesrdquo sendo que invariavelmente esta
expressatildeo eacute traduzida para Portuguecircs como ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo Tal facto parece criar
condiccedilotildees para uma grande permeabilidade semacircntica dificilmente resoluacutevel do ponto de vista
conceptual Segundo deficiecircncia e incapacidade satildeo claramente dois conceitos distintos
Enquanto a deficiecircncia remete para alteraccedilotildees significativas ao niacutevel das estruturas eou das
funccedilotildees do corpo a incapacidade constitui o poacutelo negativo do funcionamento humano em
situaccedilatildeo potencial ou efectiva de participaccedilatildeo no contexto de vida Este facto pressupotildee que os
conceitos de deficiecircncia e de incapacidade natildeo contecircm nenhuma relaccedilatildeo causal entre si nem
nenhuma relaccedilatildeo linear de frequecircncia na medida em que eacute possiacutevel existir uma deficiecircncia
sem que exista uma incapacidade e eacute possiacutevel emergir uma determinada incapacidade sem
que haja uma qualquer deficiecircncia
Deste modo eacute possiacutevel
a) Ter deficiecircncias sem limitaccedilotildees de capacidade (eg uma desfiguraccedilatildeo resultante da
doenccedila de Hansen pode natildeo ter efeito sobre a capacidade da pessoa
b) Ter problemas de desempenho e limitaccedilotildees de capacidade sem deficiecircncias evidentes
(eg reduccedilatildeo de desempenho nas actividades diaacuterias associada a vaacuterias doenccedilas)
c) Ter problemas de desempenho sem deficiecircncias ou limitaccedilotildees de capacidade (eg um
indiviacuteduo HIV positivo ou um ex-doente curado de doenccedila mental que enfrenta
estigmas ou descriminaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais ou no trabalho)
d) Ter limitaccedilotildees de capacidade se natildeo tiver assistecircncia e nenhum problema de
desempenho no ambiente habitual (eg um indiviacuteduo com limitaccedilotildees de mobilidade
pode beneficiar por parte da sociedade de ajudas tecnoloacutegicas de assistecircncia para se
movimentar
e) Experimentar um grau de influecircncia em sentido contraacuterio (eg a inactividade dos
membros pode levar agrave atrofia muscular a institucionalizaccedilatildeo pode resultar numa perda
da socializaccedilatildeo)
Daqui resulta que ao referirmo-nos agraves pessoas com deficiecircncias enquanto puacuteblico-alvo
privilegiado das medidas de reabilitaccedilatildeo poderemos incorrer num desvio significativo de
alocaccedilatildeo dos recursos agraves reais necessidades das pessoas na medida em que natildeo eacute a
deficiecircncia que gera por si mesma a necessidade de reabilitaccedilatildeo mas sim as limitaccedilotildees de
actividade e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo decorrentes da interacccedilatildeo entre as caracteriacutesticas
biopsicossociais e as caracteriacutesticas dos ambientes em que o individuo se move
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Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
A persistecircncia em traduzir o termo disability para deficiecircncia e natildeo apenas o seu homoacutelogo
anglo-saxoacutenico ndash impairment ndash poderaacute explicar-se pelas seguintes razotildees
a) O potencial efeito estigmatizante da expressatildeo ldquopessoas com incapacidadesrdquo ser maior
do que aquele contido na expressatildeo ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo
b) O termo incapacidade centrar-se exclusivamente nos aspectos negativos do
funcionamento individual classificando a pessoa agrave partida como sendo destituiacuteda de
competecircncias e condiccedilotildees para atingir os niacuteveis normativos de desempenho e
performance num conjunto de domiacutenios da vida pessoal e social
O paradoxo surge igualmente porque enquanto no modelo meacutedico a incapacidade aparece
em termos causais relacionada com a deficiecircncia numa perspectiva exclusivamente individual
no modelo proposto pela OMS operacionalizado na CIF os dois conceitos gozam de total
independecircncia conceptual e operativa sendo que a deficiecircncia passa a ter uma baixa
relevacircncia diferenciadora do ponto de vista do funcionamento humano Ora se atendermos a
que as medidas de reabilitaccedilatildeo pretendem promover os potenciais do funcionamento humano
numa perspectiva de participaccedilatildeo plena do indiviacuteduo nos mais diferenciados contextos de vida
assegurando o co-desenvolvimento de todos os actores e das estruturas sociais necessaacuterias agrave
cidadania plena entatildeo falar de ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo natildeo soacute natildeo eacute relevante no quadro
da loacutegica de intervenccedilatildeo como poderaacute traduzir dificuldades dos actores em mudar
efectivamente do paradigma meacutedico para o paradigma social
Este fenoacutemeno aliaacutes natildeo acontece apenas em Portugal sendo que recentes estudos de
investigaccedilatildeo vieram sugerir a adopccedilatildeo dos conceitos de ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo e
ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo para ultrapassar a aplicaccedilatildeo indevida dos
conceitos de deficiecircncia e incapacidade A utilizaccedilatildeo destes conceitos parece articular de forma
mais precisa com o novo modelo conceptual proposto pela OMS enfatizando a diversidade de
niacuteveis de funcionamento humano e apelando a uma certa noccedilatildeo de relatividade socialmente
construiacuteda Uma das criticas feita pela comunidade de investigadores ao conceito de ldquopessoas
com diversidade funcionalrdquo reside no facto de que a expressatildeo eacute dotada de um tatildeo elevado
niacutevel de abrangecircncia que natildeo permite um niacutevel de diferenciaccedilatildeo relevante na medida em que
todos os cidadatildeos detecircm entre si diversos e diferentes padrotildees de funcionamento humano
Neste sentido o conceito ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo aplicar-se-ia a todos os
cidadatildeos sem excepccedilatildeo A proliferaccedilatildeo destes termos eacute explicada pela necessidade da
comunidade politica e cientifica de construir constructos que sejam socialmente aceites e o
mais neutros possiacuteveis do ponto de vista dos seus valores impliacutecitos No entanto a
impossibilidade epistemoloacutegica de desenvolver expressotildees e conceitos socio-historicamente
neutros parece levar muitas vezes agrave concepccedilatildeo de definiccedilotildees com reduzida identidade isto eacute
de significado demasiado amplo e abrangente o que na expressatildeo da UPIAS ldquopodem significar
tudo e coisiacutessima nenhumardquo (2005)
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Os conceitos ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo ldquopessoas com limitaccedilotildees de
actividaderdquo e ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo afiguram-se comparativamente ao
anterior como um conceito de maior coerecircncia conceptual com o modelo proposto pela OMS e
deteacutem cumulativamente um maior poder diferenciador A sua desvantagem reside no facto de
constituiacuterem expressotildees com maior dificuldade de apreensatildeo e inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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5 ANAacuteLISE DOS REFERENCIAIS NACIONAIS E INTERNACIONAIS
No sentido de obter um conjunto de vectores de referecircncia na estruturaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo do
conceito de deficiecircncia foram analisadas as abordagens desenvolvidas pelos seguintes
organismos INE Eurostat OCDE American Disabilities Act WHO UN
51 INE
Os dados disponiacuteveis no INE parecem indicar a utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na
ICIDH
Deficiecircncia1 Perda ou alteraccedilatildeo de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou
anatoacutemica Nesta definiccedilatildeo estatildeo incluiacutedas as seguintes tipologias2
Deficiecircncia AUDITIVA
Deficiecircncia MENTAL
Deficiecircncia MOTORA
Deficiecircncia ORGAcircNICO-FUNCIONAL
Deficiecircncia PSIQUIAacuteTRICA
Deficiecircncia VISUAL
Incapacidade3 Ausecircncia ou limitaccedilatildeo da capacidade para funcionar estando comprometida a
realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida
diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e originando uma desvantagem para funcionar em
sociedade face a outros
Pessoa deficiente Aquela que tenha uma ou mais das seguintes deficiecircncias a) deficiecircncia
visual b) deficiecircncia auditiva c) deficiecircncia mental d) deficiecircncia motora
1 Nota Na operaccedilatildeo censitaacuteria de 2001 apenas foi observada a deficiecircncia permanente a deficiecircncia temporaacuteria natildeo foi considerada (por exemplo se um indiviacuteduo se desloca com canadianas ou em cadeira de rodas porque partiu uma perna ou se sofre de descolamento parcial da retina que o obriga a andar com uma venda natildeo foi considerado como tendo uma deficiecircncia) 2 Fonte INE ndash Censos 2001 ndash Recenseamento Geral da Populaccedilatildeo (Antecedentes Metodologia e Conceitos) Antecedentes Metodologia e Conceitos 3 Fonte INS ndash Inqueacuterito Nacional agrave Sauacutede
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
Trabalhador deficiente Trabalhador que estaacute incapacitado para assegurar por si mesmo total
ou parcialmente a satisfaccedilatildeo de necessidades de uma vida individual ou social normal devido
a uma deficiecircncia congeacutenita ou adquirida das suas capacidades fiacutesicas sensoriais ou
mentais tendo por isso dificuldade em obter eou manter o desempenho de funccedilotildees de acordo
com as suas habilitaccedilotildees idade e experiecircncia profissional
Cidadatildeo Trabalhador com necessidades especiais Cidadatildeo idoso ou portador de
deficiecircncias sensoriais (visuais e auditivas) fiacutesicas (motoras) e cognitivas
52 EUROSTAT
Os dados disponibilizados pelo Eurostat no seu endereccedilo electroacutenico4 parecem indicar a
utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na ICIDH
Conceito Deficiecircncia5
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de deficiecircncia refere-se a uma perda ou alteraccedilatildeo
de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou anatoacutemica
Conceito Incapacidade6
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de incapacidade refere-se agrave ausecircncia ou limitaccedilatildeo
da capacidade para funcionar estando comprometida a realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas
funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e
originando uma desvantagem para funcionar em sociedade face a outros
Conceito Desvantagem7
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito refere-se agrave desvantagem para um dado individuo
decorrente de uma deficiecircncia ou incapacidade
4 httpforumeuropaeuintircdsiscodedinfodatacodedenTheme3htm 5 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 6 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 7 Fonte Key data on health 2000 Eurostat
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
53 OCDE
Definiccedilotildees gerais de incapacidade
No contexto da OCDE identificam-se 2 abordagens distintas no quadro da definiccedilatildeo de
incapacidade
A incapacidade pode ser definida enquanto um estado decorrente de autoavaliaccedilatildeo ou um
status baseado em fontes administrativas eg beneficiaacuterio dos apoios De forma muito
frequente e talvez de forma imprecisa estas duas definiccedilotildees satildeo explicitadas como
incapacidade ldquosubjectivardquo versus rdquoobjectivardquo
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo e instrumentos
A incapacidade autoavaliada eacute medida atraveacutes de inqueacuteritos feitos directamente aos cidadatildeos
nas suas residecircncias Apesar da avaliaccedilatildeo ser baseada de uma forma geral nas respostas agraves
questotildees relativas a problemas de sauacutede de longo termo que limitam as actividades de vida
diaacuteria o detalhe das questotildees eacute geralmente diferente dificultando a comparabilidade dos
dados Por exemplo ldquolongo termordquo eacute parametrizado em 6 meses na Noruega e em 12 meses
na Suiccedila O status dos beneficiaacuterios pode ser avaliado atraveacutes de registos administrativos ou
atraveacutes de inqueacuteritos Os resultados entre as duas fontes satildeo de uma forma geral bastante
diferentes por duas razotildees nucleares os registos administrativos geralmente contam casos e
natildeo pessoas o que em situaccedilotildees de benefiacutecios muacuteltiplos pode levar a contagens duplas por
outro lado os inqueacuteritos satildeo baseados nas respostas sobre o status do beneficiaacuterio e algumas
pessoas podem desejar natildeo revelar a sua condiccedilatildeo perante os benefiacutecios
Nenhuma destas definiccedilotildees e medidas de mensuraccedilatildeo eacute superior a outras pelo que a sua
utilizaccedilatildeo depende dos objectivos do propoacutesito da investigaccedilatildeo e da disponibilidade da
informaccedilatildeo
Abordagens para medir a incapacidade no quadro da aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos agraves populaccedilotildees
a) Incapacidade geral (natildeo especificada)
Puacuteblico-alvo todos os adultos
b) Incapacidade relativa ao trabalho
Puacuteblico-alvo pessoas em idade activa
c) Limitaccedilotildees nas actividades de vida diaacuteria (AVD)
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Puacuteblico-alvo Populaccedilatildeo idosa
54 AMERICAN DISABILITIES ACT
O American Disabilities Act (ADA) desenvolvido em 1990 fornece um conjunto de guidelines
no sentido de assegurar a disponibilizaccedilatildeo de serviccedilos para as pessoas com deficiecircncias bem
como a protecccedilatildeo dos seus direitos legais
A ADA inclui uma definiccedilatildeo legal de incapacidade consistindo na presenccedila de ldquouma deficiecircncia
fiacutesica ou mental que limita significativamente uma ou mais das principais actividades de vidardquo
Independentemente da definiccedilatildeo proposta pela ADA a existecircncia de muacuteltiplos programas a
favor das pessoas com deficiecircncias e os diferentes focus legais em diferentes puacuteblicos alvo
fazem com que tenham emergido uma multiplicidade de definiccedilotildees de incapacidade ao longo
do tempo no quadro das poliacuteticas sociais americanas
55 OMS ONU Revisatildeo dos actuais inqueacuteritos sobre a incapacidade
Apesar de existir um desenvolvimento consideraacutevel dos inqueacuteritos na aacuterea da incapacidade
poder-se-atildeo explicitar algumas observaccedilotildees relativas agrave sua multiplicidade Numa primeira linha
de anaacutelise os inqueacuteritos tendem a focalizar-se nas limitaccedilotildees de actividade eou na deficiecircncia
No que concerne agrave formulaccedilatildeo escrita tendem a existir diferenccedilas significativas entre
inqueacuteritos facto que inviabiliza natildeo raras vezes a comparabilidade dos dados entre inqueacuteritos
As diferentes formulaccedilotildees das questotildees incluem
Tem dificuldade
Eacute capaz de
Faz
Tem sentido problemas em
com ou sem assistecircncia pessoal eou tecnoloacutegica
A questatildeo que se coloca eacute se estas formulaccedilotildees tecircm o mesmo significado isto eacute se todas elas
pretendem medir a capacidade ou a performance De acordo com a CIF a capacidade
remeteria para o potencial de execuccedilatildeo de um indiviacuteduo enquanto a performance diria respeito
ao niacutevel de desempenho efectivo do indiviacuteduo atraveacutes do seu envolvimento numa situaccedilatildeo de
vida real As lacunas existentes e as poucas referecircncias ao niacutevel da forma como os inquiridos
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
satildeo instruiacutedos a responder faz com que natildeo seja possiacutevel desenvolver um discernimento
irrefutaacutevel sobre esta mateacuteria
Do ponto de vista dos domiacutenios abrangidos os inqueacuteritos tecircm apresentado algumas questotildees
sobre a participaccedilatildeo e o ambiente e evidenciam algumas limitaccedilotildees na sua amplitude Os
domiacutenios de actividades e participaccedilatildeo geralmente abrangidos tecircm sido operacionalizados de
uma forma geral nas seguintes dimensotildees
Educaccedilatildeo e emprego (formulado como questotildees de performance)
Outros inqueacuteritos incluem aacutereas como relaccedilotildees interpessoais vida familiar tomada de
decisotildees etc
O domiacutenio relativo aos factores ambientais tem incluiacutedo
Utilizaccedilatildeo e acessibilidadedisponibilidade dos produtos de assistecircncia e da tecnologia
Acessibilidade do ambiente
Disponibilidade dos serviccedilos (sauacutede protecccedilatildeo social educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo)
Evidecircncias muito escassas ao niacutevel da poliacutetica atitudes ambiente natural
planeamento e concepccedilatildeo
A questatildeo de investigaccedilatildeo neste contexto centra-se na seguinte formulaccedilatildeo ldquoo que eacute que os
inqueacuteritos medem como incapacidaderdquo
a) Definiccedilatildeo a priori da incapacidade versus sem incapacidade
Alguns inqueacuteritos sobre a incapacidade especialmente os mais antigos utilizam uma definiccedilatildeo
a priori de incapacidade O objectivo deste tipo de inqueacuteritos eacute contar o nuacutemero de pessoas
que se encaixam na definiccedilatildeo no contexto da populaccedilatildeo total Neste sentido os dados satildeo
analisados de acordo com dois grupos de referecircncia ndash com incapacidade e sem incapacidade ndash
em funccedilatildeo de um conjunto de diferentes variaacuteveis Este tipo de questionaacuterios formula questotildees
do tipo ldquoPossui algum tipo de incapacidade auditiva visual ou fiacutesicardquo Muitas questotildees dos
censos tecircm utilizado este formato
b) Definiccedilatildeo a posteriori de incapacidade versus sem incapacidade
Mais recentemente alguns inqueacuteritos desenvolveram-se em direcccedilatildeo a uma definiccedilatildeo a
posteriori de incapacidade Nestes casos eacute medida a capacidade a performance ao longo de
um conjunto vasto de domiacutenios Este segundo tipo de inqueacuteritos tende a ter uma ampla
aceitaccedilatildeo eg HALS (Canada) HID (Franccedila) inqueacuterito sobre incapacidade na Africa do Sul
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Inqueacuterito Espanhol sobre incapacidade NHIS-D (USA) inqueacuterito Holandecircs entre outros Estes
instrumentos formulam questotildees relativas agraves dificuldades que as pessoas experienciam em
diferentes domiacutenios produzindo um perfil pessoal que possa colocar em evidecircncia os
diferentes graus de capacidade associados A categorizaccedilatildeo de incapacidade sem
incapacidade eacute formulada ao niacutevel do domiacutenio e natildeo como uma categoria geral de atributo
pessoal Esta abordagem permite uma anaacutelise ao niacutevel de funcionamento individual por
domiacutenio por exemplo comparando a experiecircncia de incapacidade no domiacutenio de mobilidade
versus socializaccedilatildeo versus comunicaccedilatildeo entre outros bem como o impacto dos factores
ambientais nestes diferentes domiacutenios O perfil resultante do funcionamento individual ao longo
de muacuteltiplos domiacutenios eacute similar aos estados de sauacutede individuais ao longo das diferentes
dimensotildees
Vantagens de uma abordagem a posteriori
Estaacute em consonacircncia com a abordagem universal proposta pela CIF Todas as
pessoas experienciam deficiecircncia nalgum ponto e esta experiecircncia eacute caracterizada
numa abordagem a posteriori e natildeo a priori
Decisotildees sobre a criaccedilatildeo de categorias sobre quem tem incapacidade e sobre quem
natildeo tem podem ser tomadas atraveacutes de diferentes niacuteveis de anaacutelise por exemplo
atraveacutes da anaacutelise da experiecircncia das pessoas que experienciam incapacidade em 1 2
ou 3 domiacutenios de cruzar o status de emprego de pessoas com incapacidade ao longo
dos diferentes domiacutenios etc
Deixa de ser necessaacuteria uma definiccedilatildeo tipoloacutegica e categoacuterica de pessoas com
incapacidade O que necessita de ser definido neste contexto eacute o que se designa por
limitaccedilatildeo da capacidade ou problemas de performance ao longo dos diferentes
domiacutenios
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 35
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 36
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6 SISTEMATIZACcedilAtildeO DAS DIMENSOtildeES DE ORGANIZACcedilAtildeO E
OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em todos os estudos efectuados neste domiacutenio foi colocada em evidecircncia a actual dificuldade
de comparabilidade estatiacutestica internacional inter ou intra sectorial independentemente do
organismo referenciador ndash OCDE ONU EUROSTAT INE OMS
Neste contexto desenvolver-se-aacute a extracccedilatildeo de conhecimento tendo por base a identificaccedilatildeo
de um conjunto de eixos de anaacutelise que actuem como vectores de estruturaccedilatildeo na
operacionalizaccedilatildeo do conceito A este propoacutesito atente-se no Quadro 2
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Abordagem Focus Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Delimitaccedilatildeo temporal do
conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo
Design das questotildees
CID-10
ICIDH
ICF
SauacutedeDoenccedila
Deficiecircncia
Incapacidade
a) Geral
b) Relativa ao trabalho
c) Limitaccedilotildees nas
actividades de vida
diaacuteria
Funcionalidade ndash
Niacuteveis de execuccedilatildeo
das actividades por
domiacutenio e niacuteveistipos
de ajudas mobilizadas
Intersubjectivo ndash
vg inqueacuteritos
Objectivo ndash vg
fontes administrativas
A priori
A posteriori
Temporaacuterias
permanentes
Progressivas
regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou
contiacutenuas
Tipo 1 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre uma determinada
condiccedilatildeo individual
combinada com itens
referentes a limitaccedilotildees de
actividade e participaccedilatildeo e
factores contextuais
Tipo 2 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre a presenccedila de uma
pessoa com incapacidade
no agregado familiar
seguindo-se uma lista de
deficiecircncias e
incapacidades
Tipo 3 ndash Checklist de
deficiecircncias
Quadro 2 ndash Eixos de operacionalizaccedilatildeo do conceito
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 37
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 38
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7 ESCOLHA DO CENAacuteRIO A IMPLEMENTAR
A anaacutelise do Quadro 2 permite-nos uma definiccedilatildeo modular do cenaacuterio a implementar atraveacutes de
uma configuraccedilatildeo do conceito pelos eixos de anaacutelise propostos Uma das dificuldades
evidentes nesta delimitaccedilatildeo prende-se com o cumprimento dos requisitos de (a)
comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica e legislativa dentro do contexto portuguecircs
e (c) conformidade com os referenciais conceptuais actuais sendo que a coexistecircncia destes
criteacuterios afigura-se em muitos casos incompatiacutevel entre si Para efeitos da estruturaccedilatildeo do
cenaacuterio privilegiar-se-aacute a conformidade com os referenciais conceptuais actuais
71 ABORDAGEM No que concerne agrave abordagem privilegia-se a adopccedilatildeo das mais recentes directrizes propostas
pela OMS adoptando explicitamente a CIF
Fundamentaccedilatildeo
A CIF apresenta a capacidade para descrever o funcionamento humano numa
perspectiva biopsicossocial em detrimento da classificaccedilatildeo anterior (ICIDH) que se
focalizava na dimensatildeo biomeacutedica A CIF foi desenvolvida no plano conceptual para ser aplicaacutevel em diferentes aacutereas e
sectores A CIF eacute aplicaacutevel transversalmente agraves dimensotildees de cultura idade geacutenero sendo um
instrumento sistemaacutetico para descrever e medir a sauacutede e o funcionamento humano
num dado contexto A CIF constitui-se enquanto instrumento potencial para a poliacutetica social design das
intervenccedilotildees nos domiacutenios da sauacutede educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e intervenccedilatildeo social Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
72 FOCUS
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo da centraccedilatildeo da recolha de dados ao niacutevel
da dimensatildeo de funcionalidade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Fundamentaccedilatildeo
Consonacircncia com o modelo conceptual proposto pela CIF enfatizando o caraacutecter
dinacircmico e interaccional (pessoa factores contextuais) do funcionamento de cada
pessoa Permite caracterizar as limitaccedilotildees de actividade e restriccedilotildees de participaccedilatildeo dos
cidadatildeos identificando necessidades de intervenccedilotildees especializadas numa loacutegica de
empowerment e participaccedilatildeo social Permite analisar a adequabilidade e ajustamento das actuais medidas poliacuteticas do
ponto de vista dos seus objectivos e os problemas detectados ao niacutevel da participaccedilatildeo
dos cidadatildeos ao longo de um conjunto diversificado de domiacutenios
73 MEacuteTODOS DE MENSURACcedilAtildeO
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo de meacutetodos intersubjectivos nomeadamente
inqueacuteritos
Fundamentaccedilatildeo
Flexibilidade ao niacutevel da abrangecircncia e profundidade das dimensotildees
Maior facilidade na implementaccedilatildeo atendendo agrave disponibilizaccedilatildeo de uma amostra
delimitada
Maior niacutevel de controlo sobre as condiccedilotildees de observaccedilatildeo e da entrevista devido ao
menor nuacutemero de entrevistas a ser implementado
74 DELIMITACcedilAtildeO CONCEPTUAL E TEMPORAL DO CONCEITO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo temporal e apesar de se privilegiar as vantagens anteriormente
explicitadas no desenvolvimento de uma definiccedilatildeo a posteriori assume-se a necessidade
politica de delimitar o campo de intervenccedilatildeo do conjunto de medidas sociais neste domiacutenio
pelo que a delimitaccedilatildeo conceptual poderaacute ser objecto de operacionalizaccedilatildeo atraveacutes dos
seguintes paracircmetros
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Poder-se-aacute colocar a questatildeo de saber se a delimitaccedilatildeo do conceito proposta remete
especificamente para ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ou para ldquopessoas com limitaccedilotildees de
participaccedilatildeordquo Atendendo a que a definiccedilatildeo comporta uma abordagem sisteacutemica enfatizando a
interacccedilatildeo entre um conjunto diversificado de componentes que produzem impacto na
funcionalidade da pessoa a resposta natildeo eacute linear dependendo da ecircnfase socio-histoacuterica e da
abordagem sociopoliacutetica que se escolher enfatizar No entanto e do ponto de vista conceptual
privilegia-se a adopccedilatildeo do conceito ldquopessoas com limitaccedilotildees de participaccedilatildeordquo dado que existe
total autonomia operativa entre os diferentes constructos Neste sentido a deficiecircncia natildeo
constitui um factor causal linear das limitaccedilotildees de actividade e das restriccedilotildees ao niacutevel da
participaccedilatildeo mas antes uma das componentes que em interacccedilatildeo com outras podem
provocar impactos ao niacutevel da funcionalidade do indiviacuteduo Por uacuteltimo refira-se que a tipologia
ldquopessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeordquo poderaacute ser alvo de criticas por constituir
uma designaccedilatildeo que apela a duas componentes em simultacircneo (actividades e participaccedilatildeo)
excluindo outras e ser demasiado longa para uma definiccedilatildeo tipoloacutegica A este propoacutesito pode-
se sugerir a delimitaccedilatildeo ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo constituindo esta
expressatildeo uma abordagem holiacutestica ao conjunto de componentes que interferem com o
funcionamento humano Deste modo poderemos ter as seguintes designaccedilotildees
Pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Pessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo
Pessoas com limitaccedilotildees de funcionalidade
Figura 2 ndash Possiacuteveis designaccedilotildees
O Quadro 3 pretende fornecer uma visatildeo sistemaacutetica sobre o processo de decisatildeo da
designaccedilatildeo a adoptar
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
deficiecircncias
Tradiccedilatildeo analiacutetica dentro do
contexto portuguecircs
Em conformidade com o modelo
meacutedico ndash centra-se nas alteraccedilotildees
de estrutura e funccedilatildeo ndash
focalizaccedilatildeo na pessoa
Desarticulado dos pressupostos do
modelo social ndash natildeo remete para a
experiecircncia de incapacidade
enquanto produto da interacccedilatildeo
entre pessoa e ambiente
Mai
or
Abr
angecirc
ncia
Mai
or
Espe
cific
idad
e
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 41
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Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
incapacidades
Em conformidade com a
delimitaccedilatildeo anglo-saxoacutenica que
utiliza o conceito Disability
Focalizaccedilatildeo no poacutelo negativo do
funcionamento humano ndash
funcionalidadeincapacidade
Ao focalizar-se na experiecircncia de
incapacidade enquanto
interacccedilatildeo pessoa-ambiente
remete indirectamente para a
mobilizaccedilatildeo de apoios e recursos
de forma a ultrapassar eou
eliminar os obstaacuteculos ao
funcionamento em contexto
O potencial efeito estigmatizante
da expressatildeo ldquopessoas com
incapacidadesrdquo
Pessoas com
diversidade
Funcional
Em conformidade com o modelo
social
Focaliza-se na gestatildeo das
diferenccedilas e no seu impacto ao
niacutevel da participaccedilatildeo das pessoas
na sociedade
Elevado niacutevel de abrangecircncia natildeo
permitindo um niacutevel de
diferenciaccedilatildeo relevante na
medida em que todos os cidadatildeos
detecircm entre si diversos e
diferentes padrotildees de
funcionamento humano
Conceito dificilmente
operacionalizaacutevel do ponto de
vista da formulaccedilatildeo das poliacuteticas e
da delimitaccedilatildeo dos puacuteblicos-alvo
Pessoas com
restriccedilotildees ao
niacutevel da
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos Desta forma
todos os obstaacuteculos agrave participaccedilatildeo
relacionados com discriminaccedilatildeo
social preconceitos estereoacutetipos
deficiecircncias doenccedilas croacutenicas
entre outros satildeo incluiacutedos
Natildeo inclui as limitaccedilotildees de
actividade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
limitaccedilotildees de
actividade e
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida e simultaneamente no
domiacutenio das limitaccedilotildees de
actividade
Ruptura com a tradiccedilatildeo analiacutetica
no sector
Dificuldade de apreensatildeo e
inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Natildeo inclui as alteraccedilotildees da
estrutura e da funccedilatildeo
Pessoas com
limitaccedilotildees de
funcionalidade
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel das
diferentes dimensotildees constituintes
da funcionalidade e do
funcionamento humano
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos
Pessoas com
deficiecircncias e
incapacidades
Natildeo introduz ruptura com a
tradiccedilatildeo analiacutetica no sector
Inclui as alteraccedilotildees de estrutura e
funccedilatildeo bem como as alteraccedilotildees
decorrentes ao niacutevel da
funcionalidade
Diferencia os conceitos de
deficiecircncia e incapacidade
autonomizando-os e fornecendo
uma base compreensiva para o
natildeo estabelecimento de relaccedilotildees
de causa-efeito entre os ambos
Abrange os obstaacuteculos que
emergem na interacccedilatildeo pessoa-
contextos de vida e
simultaneamente no domiacutenio das
limitaccedilotildees de actividade
Poder diferenciador e delimitador
na definiccedilatildeo do puacuteblico-alvo
Em alinhamento estrateacutegico com o
PAIPDI
Designaccedilatildeo de compromisso com
os referenciais teoacutericos do modelo
social e dos princiacutepios da ldquoeacutetica da
diversidaderdquo
Quadro 3 ndash Visatildeo comparativa das hipoacuteteses da designaccedilatildeo a adoptar
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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75 DELIMITACcedilAtildeO DA DURACcedilAtildeO E CURSO DE EVOLUCcedilAtildeO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo interessa a caracterizaccedilatildeo nas
3 dimensotildees desenvolvidas
Fundamentaccedilatildeo
Afigura-se relevante caracterizar a ocorrecircncia das deficiecircncias quanto aacute sua
consistecircncia no tempo ndash temporaacuterias permanentes ndash analisando os factores
contextuais associados consequecircncias ao niacutevel das actividades e da participaccedilatildeo ao
longo de um conjunto de domiacutenios em ordem agrave extracccedilatildeo de implicaccedilotildees no acircmbito
das poliacuteticas sociais
No acircmbito da adaptabilidade e da adequaccedilatildeo das medidas poliacuteticas agraves necessidades
especiacuteficas dos cidadatildeos torna-se relevante caracterizar a deficiecircncia quanto agrave
natureza do seu curso evolutivo ndash progressivas regressivas estaacuteveis O mesmo
criteacuterio eacute aplicaacutevel quanto aacute dimensatildeo de padratildeo de manifestaccedilatildeo ndash intermitente
contiacutenua
No entanto e apesar da incapacidade se manifestar ao longo do ciclo de vida da pessoa
de forma multimodal para efeitos de delimitaccedilatildeo e de definiccedilatildeo do conceito de pessoas
com deficiecircncias e incapacidades privilegiaremos o caraacutecter permanente Desta forma
excluem-se as manifestaccedilotildees temporaacuterias de incapacidade que enviesariam a anaacutelise e o
desenvolvimento de poliacuteticas neste domiacutenio
76 DESIGN DAS QUESTOtildeES
No que concerne ao design das questotildees privilegia-se a escolha de questotildees tipo 1
Fundamentaccedilatildeo
Em consonacircncia com a CIF
Permite comparabilidade estatiacutestica futura
Permite a caracterizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre os factores de funcionalidade ndash integridade
estrutural e funcional actividades participaccedilatildeo e factores contextuais
Permite o design das poliacuteticas sociais e metodologias de intervenccedilatildeo alicerccediladas nas
necessidades especiacuteficas dos cidadatildeos em torno das dimensotildees de inclusatildeo social
Domiacutenios
Visatildeo
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Audiccedilatildeo
Comunicaccedilatildeo
Mobilidade
Dor
Aprendizagem e funcionamento psicoloacutegico
Autocuidados e vida domeacutestica
Condiccedilotildees gerais de sauacutede
Mobilizaccedilatildeo de ajudas ou equipamento especializado
Participaccedilatildeo social
Transporte e educaccedilatildeo
77 PROPOSTA DE DELIMITACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em funccedilatildeo das dimensotildees caracterizadas e dos criteacuterios privilegiados desenvolveu-se o
seguinte enquadramento conceptual
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Figura 2 ndash Enquadramento conceptual da delimitaccedilatildeo do conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso da evoluccedilatildeo
Temporaacuterias permanentes
Progressivas regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou contiacutenuas
Focus
Funcionalidade ndash Niacuteveis de execuccedilatildeo das actividades por domiacutenio e niacuteveistipos de ajudas mobilizadas
Abordagem CIF
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo temporal do conceito
A priori
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Inter-subjectivo
Design das questotildees
Questatildeo geneacuterica sobre uma determinada condiccedilatildeo individual combinada com itens referentes a limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo e factores contextuais
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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8 CRITEacuteRIOS DE ELEGIBILIDADE DO PUacuteBLICO-ALVO E SISTEMAS DE
AVALIACcedilAtildeO
A operacionalizaccedilatildeo do conceito de incapacidade tem sido abordada de forma heterogeacutenea
entre diferentes modalidades de politica e os diferentes contextos socioculturais de cada paiacutes
De uma forma geral encontram-se 2 eixos criacuteticos na sua operacionalizaccedilatildeo
a) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de trabalho (na ocupaccedilatildeo preacutevia ou numa nova
ocupaccedilatildeo ajustada agraves alteraccedilotildees funcionais)
b) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de obter rendimentos provenientes do trabalho
A explicitaccedilatildeo dos criteacuterios de delimitaccedilatildeo do conceito de incapacidade nos diferentes paiacuteses
encontra-se na Quadro 4
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Austraacutelia 2 Criteacuterios possuir uma incapacidade que resulte
num score nunca inferior a 20 nas tabelas de
incapacidades e incapacidade em trabalhar 30
horas ou mais por semana ou em ser
reconvertido para trabalho em contexto regular
nos proacuteximos 2 anos
Nenhum
Aacuteustria 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho (50
de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo para
trabalhadores sem qualificaccedilotildees) papel criacutetico
das decisotildees dos tribunais devido a definiccedilotildees
legais imprecisas
Nenhum mas as
restriccedilotildees de sauacutede
devem ter uma duraccedilatildeo
igual ou superior a 6
meses
Beacutelgica 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na actual ocupaccedilatildeo
1 ano
Canada Incapacidade severa e prolongada que impeccedila de
desenvolver trabalho numa base regular
Nenhum
Dinamarca 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum mas a
reabilitaccedilatildeo precisa de
estar completa
Franccedila 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual mas a
totalidade do subsidio requer igualmente perda de
capacidade de trabalho
Nenhum no caso das
condiccedilotildees estarem
estaacuteveis mas muito
frequentemente apoacutes 3
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Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
anos
Alemanha 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho a
incapacidade parcial eacute calculada em funccedilatildeo do nordm
de horas que a pessoa pode trabalhar
Nenhum mas a
incapacidade deve ter
uma duraccedilatildeo miacutenima
de 26 semanas
Itaacutelia 666reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum
Coreia Criteacuterios meacutedicos (niacuteveis de incapacidade
definidos de forma detalhada)
Periacuteodo de espera de
50 dias (os subsiacutedios
de doenccedila natildeo se
encontram disponiacuteveis)
Meacutexico 50 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo Nenhum
Holanda 15 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
(25 para os trabalhadores por conta proacutepria e
jovens com incapacidade) grau de incapacidade
calculado pela diferenccedila de remuneraccedilatildeo entre o
actual posto de trabalho compatiacutevel com as
limitaccedilotildees funcionais e o anterior
1 ano
Noruega 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho O
grau de subsiacutedio eacute calculado pela capacidade de
remuneraccedilatildeo
Nenhum (apoacutes ter
completado a
reabilitaccedilatildeo vocacional)
Poloacutenia Reduccedilatildeo temporaacuteria ou permanente da
capacidade de trabalho
Nenhum
Portugal 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual
Nenhum mas na
praacutetica ao fim de 3
anos (fim do periacuteodo de
doenccedila de longo termo)
Espanha 33 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho na
ocupaccedilatildeo actual incapacidade para todo e
qualquer trabalho para a totalidade do subsiacutedio
1 ano (embora seja
possiacutevel a candidatura
antes deste prazo em
casos de incapacidade
permanente)
Sueacutecia 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho grau
de incapacidade parcial calculado a partir das
horas que uma pessoa pode trabalhar
Nenhum
Suiccedila 40 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho para
as pessoas inactivas o grau de incapacidade eacute
calculado em relaccedilatildeo aacute actividade actual
1 ano
Turquia 666 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho
com um focus meacutedico bastante significativo
Nenhum
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Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Reino Unido Limitaccedilotildees nas actividades de vida quotidianas
relevantes para o trabalho (avaliaccedilotildees meacutedicas
predominantes) teste ocupacional durante a s
primeiras 28 semanas (subsidio de doenccedila)
28 semanas
Estados
Unidos
Reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
incapacidade em investir numa actividade
profissional com rendimentos ($ US 740 por mecircs)
5 meses (nem sempre
cobertos pelos
subsiacutedios de curto-
termo) e 24 meses
para a cobertura
meacutedica
Quadro 4 ndash Definiccedilotildees de incapacidade e tempos regulamentares
Um dos desafios que se coloca aos actuais sistemas reside na delimitaccedilatildeo da elegibilidade do
puacuteblico-alvo Para cumprir este objectivo satildeo necessaacuterios sistemas de avaliaccedilatildeo holiacutesticos
abrangentes coerentes e que permitam chegar a resultados de forma consistente e com
validade interna No actual contexto a CIF propotildee constituir-se como o instrumento conceptual
abrangente para caracterizar os diferentes domiacutenios e niacuteveis de funcionalidade incapacidade
de forma coerente e integrada Neste sentido uma das vantagens apontadas para a adopccedilatildeo
do modelo desenvolvido pela OMS eacute a possibilidade de uniformizaccedilatildeo de conceitos e portanto
da utilizaccedilatildeo de uma linguagem padratildeo que permita a comunicaccedilatildeo entre investigadores
gestores profissionais de sauacutede organizaccedilotildees da sociedade civil e utilizadores em geral
Um dos campos de estudo mais explorados para a aplicaccedilatildeo da CIF tem sido a aacuterea de
Medicina Fiacutesica e de Reabilitaccedilatildeo no que concerne ao acompanhamento do estado de sauacutede
dos pacientes em tratamento O uso da CIF tem sido considerado tambeacutem na avaliaccedilatildeo apoacutes
transtornos agudos condiccedilotildees traumaacuteticas condiccedilotildees croacutenicas e na geriatria
Alguns autores argumentam que a CIF deve ser explorada como uma base de informaccedilotildees
padronizadas em estudos sobre incapacidade profissional quando haacute necessidade de
relacionar dados de sauacutede ocupacional com os da Seguranccedila Social
Na Sauacutede Puacuteblica tradicionalmente pouca atenccedilatildeo tem sido dada agraves pessoas com
incapacidades No entanto ao lado de recentes investimentos por parte de organizaccedilotildees e de
alguns governos a publicaccedilatildeo do modelo da CIF fornece as bases para as poliacuteticas e
disciplinas da Sauacutede Puacuteblica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo que apresenta deficiecircncias e
incapacidades Assim uma das possibilidades de uso da CIF pode ser a contribuiccedilatildeo para
responder a importantes questotildees de sauacutede puacuteblica tais como qual o estado de sauacutede das
pessoas com deficiecircncias comparadas com as demais que necessidades e que tipos de
intervenccedilotildees satildeo mais adequadas para reduzir condiccedilotildees secundaacuterias e promover a
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na sociedade entre outras
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 49
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Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 50
Dezembro2006
Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 51
Dezembro2006
Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
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Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 53
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
2 CONCEITOS E TERMINOLOGIA
A anaacutelise conceptual no domiacutenio da deficiecircncia permite colocar em evidecircncia a existecircncia de
um conjunto de imprecisotildees ao niacutevel dos conceitos com variaccedilotildees relacionadas com o modelo
meacutedico e com o modelo social Neste contexto afigura-se criacutetico clarificar os contornos teoacutericos
e os modelos conceptuais subjacentes aos diferentes conceitos utilizados estabelecendo uma
base teoacuterica de referecircncia que assegure o necessaacuterio grau de coerecircncia e simultaneamente
abrangecircncia
21 EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICA DOS SISTEMAS DE CLASSIFICACcedilAtildeO
Para uma clara delimitaccedilatildeo dos modelos teoacutericos que tecircm influenciado historicamente o
desenvolvimento dos conceitos no domiacutenio da deficiecircncia poderemos identificar 2 abordagens
conceptuais distintas
211 A ABORDAGEM TRADICIONAL INDIVIDUALISTA
A preocupaccedilatildeo dos profissionais de sauacutede em estabelecer uma classificaccedilatildeo das doenccedilas
remonta ao seacuteculo XVIII Mas somente na VI Revisatildeo da Classificaccedilatildeo Internacional de
Doenccedilas (CID-6) em 1948 citada na IX Revisatildeo foram feitas referecircncias a doenccedilas que
poderiam tornar-se croacutenicas exigindo outros serviccedilos aleacutem de cuidados meacutedicos
Ateacute a deacutecada de 70 a CID-8 citada na IX Revisatildeo considerava apenas as manifestaccedilotildees
agudas segundo o modelo meacutedico etiologia rArr patologia rArr manifestaccedilatildeo
Esse modelo mostrou-se limitado para descrever as consequecircncias das doenccedilas pois excluiacutea
as perturbaccedilotildees croacutenicas evolutivas e irreversiacuteveis
Na IX Assembleia da OMS em 1976 surgiu uma nova conceptualizaccedilatildeo a International
Classification of Impairments Disabilities and Handicaps a manual of classification relating to
the consequences of disease (ICIDH) sendo sua traduccedilatildeo a Classificaccedilatildeo Internacional de
Deficiecircncias Incapacidades e Desvantagens um manual de classificaccedilatildeo das consequecircncias
das doenccedilas (CIDID) publicada em 1989
Apesar da abordagem meacutedica individualista ter dominado a cultura ocidental desde pelo
menos o seacuteculo XIX (Oliver 1990 Gleeson 1999) esta encontra-se geralmente associada agrave
Classificaccedilatildeo Internacional da Deficiecircncia Incapacidades e Desvantagens (ICIDH) da OMS
(1980) Em resposta agraves necessidades crescentes ao niacutevel internacional de clarificaccedilatildeo do
sentido do conceito de incapacidade e atendendo agraves criticas progressivas das pessoas com
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 14
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
incapacidades e seus significativos baseadas no facto de que a incapacidade envolve mais do
que um conjunto de preocupaccedilotildees estritamente meacutedicas a OMS constituiu uma comissatildeo de
cientistas sociais para desenvolver a existente Classificaccedilatildeo Internacional de Doenccedilas em
ordem a conseguir abranger as consequecircncias a longo termo das doenccedilas croacutenicas A ICIDH
foi publicada em 1980 sendo largamente reconhecida como o directoacuterio mais abrangente
existente vindo a ser extensivamente utilizada como uma base para as iniciativas
governamentais dos paiacuteses desenvolvidos da Europa e Ameacuterica do Norte e os paiacuteses
subdesenvolvidos do Sul (Ustun et al 2001)
A ICIDH utiliza uma categorizaratildeo tripartida da deficiecircncia incapacidade e desvantagem A
deficiecircncia refere-se a qualquer perda ou irregularidade da estrutura ou das funccedilotildees
anatoacutemica fisioloacutegica ou psicoloacutegica A incapacidade refere-se a qualquer restriccedilatildeo ou perda
(resultante de uma deficiecircncia) da capacidade para executar uma actividade da forma e dentro
do contexto considerado normal para o ser humano A desvantagem refere-se agrave limitaccedilatildeo
resultante de uma deficiecircncia ou incapacidade no desempenho de um dado papel considerado
normativo (dependendo da idade geacutenero e factores sociais e culturais) para aquele indiviacuteduo
(OMS 1980 p 29)
Esta tipologia baseia-se nas noccedilotildees de normalidade fiacutesica e intelectual bem como no facto de
que a incapacidade e a desvantagem satildeo causadas por deficiecircncias ou irregularidades
psicoloacutegicas ou fisioloacutegicas Neste contexto a ICIDH pode ser objecto de criacuteticas a diferentes
niacuteveis Primeiro as percepccedilotildees de deficiecircncia e normalidade satildeo fenoacutemenos sociais pelo que
satildeo sujeitas a substantivas mudanccedilas temporais culturais e situacionais (Hanks and Hanks
1948 Scheer and Groce 1988 Coleridge 1993 Ingstad and Whyte 1995) A dislexia por
exemplo natildeo seria vista como um problema significativo numa sociedade predominantemente
agraacuteria No entanto eacute considerada uma dificuldade de aprendizagem nas sociedades
modernas tecnologicamente avanccediladas nas quais a literacia e a numeracia desempenham
requisitos criacuteticos para a participaccedilatildeo social e econoacutemica Segundo encontra-se impliacutecito na
ICIDH que o organismo humano eacute flexiacutevel e adaptaacutevel enquanto os ambientes fiacutesicos e sociais
o natildeo satildeo Este facto claramente conflitua com a realidade histoacuterica na qual os indiviacuteduos
transformaram continuamente o seu ambiente em funccedilatildeo das suas necessidades (Barnes
1991) Terceiro as definiccedilotildees da ICIDH sugerem que a deficiecircncia a incapacidade e a
desvantagem constituem-se como estados estaacuteticos Para aleacutem do facto desta noccedilatildeo afigurar-
se incorrecta parece criar distinccedilotildees e barreiras entre as pessoas com e sem deficiecircncias
distinccedilotildees que natildeo satildeo necessaacuterias nem deveriam existir Uma tal situaccedilatildeo parece ser
paradoxal atendendo a que a ICIDH possui uma classificaccedilatildeo para cada caracteriacutestica do
organismo fiacutesico e humano (Shakespeare 1994 104)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 15
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Finalmente e mais significativo neste contexto a ICIDH apresenta as deficiecircncias enquanto
causa primaacuteria da incapacidade e da desvantagem Neste contexto a reabilitaccedilatildeo constitui-se
como uma filosofia e uma praacutetica para erradicar ou minimizar os problemas da deficiecircncia e
capacitar aqueles com deficiecircncias designadas para funcionarem nos seus niacuteveis fiacutesico
psicoloacutegico e social mais elevados (Albrecht 1992 23) Por outras palavras as pessoas com
incapacidades tornam-se objectos para serem curados tratados treinados mudados e
tornados normais de acordo com um conjunto particular de valores As limitaccedilotildees de tais
intervenccedilotildees encontram-se sustentadamente documentadas pelos activistas como
incapacidades desde 1960 (Hunt 1966 Sutherland 1981 Zola 1982)
212 A ABORDAGEM LIBERAL OU INTER-RELACIONAL
A abordagem liberal ou inter-relacional encontra-se expressa no uacuteltimo corpo de trabalhos da
OMS para redefinir a incapacidade nomeadamente a Classificaccedilatildeo Internacional de
Funcionalidade Incapacidade e Sauacutede (CIF) conhecida previamente como ICIDH2 (OMS
2002)
Esta redefiniccedilatildeo constituiu uma tentativa concertada para integrar o modelo meacutedico
individualista tradicional e a interpretaccedilatildeo sociopoliacutetica Por um lado como resultado da sua
rejeiccedilatildeo por parte das pessoas com incapacidades organizaccedilotildees e parceiros dentro e fora da
comunidade cientiacutefica (Driedger 1989 Oliver 1990 Barnes et al 2002) e por outro lado
porque apesar da sua vasta utilizaccedilatildeo a sua aplicabilidade tem sido caracterizada por diversas
interpretaccedilotildees (Coleridge 1993 Ingstad 2001) Em siacutentese demonstrou-se como limitada para
muitos dos actores e natildeo forneceu a delimitaccedilatildeo de significado que originalmente pretendia
Em comum com a sua predecessora a CIF manteacutem o constructo tripartido O primeiro niacutevel
deficiecircncia no original relaciona-se com as funccedilotildees e estrutura do organismo O segundo
niacutevel o que era anteriormente incapacidade eacute agora referido como actividade e o terceiro
desvantagem aparece como participaccedilatildeo No entanto e apesar do intenso debate sobre o
significado de incapacidade o conceito eacute preservado como um termo global para os trecircs niacuteveis
de dificuldade de funcionamento Neste cenaacuterio e em contraste com a ICIDH a nova
formulaccedilatildeo eacute apresentada como uma classificaccedilatildeo universal do funcionamento humano As
pessoas ligadas a acccedilotildees de advocacy defendem que esta configuraccedilatildeo oferece um quadro de
inteligibilidade completo para os aspectos funcionais da experiecircncia de sauacutede Nesta
perspectiva a incapacidade permanece uma preocupaccedilatildeo privilegiadamente do domiacutenio da
sauacutede em detrimento do domiacutenio poliacutetico Constitui-se por um lado como um resultado das
caracteriacutesticas da pessoa e por outro dos ambientes fiacutesicos e sociais Deste modo mais do
que se constituir como uma classificaccedilatildeo das pessoas com incapacidades ou dos problemas
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 16
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
que experienciam a CIF afigura-se como uma classificaccedilatildeo do funcionamento a 3 niacuteveis
compreendida em termos neutros (Ustun et al 2001 6-7)
O reconhecimento da importacircncia dos ambientes fiacutesico e social na CIF poderaacute ser equacionado
como uma melhoria significativa em relaccedilatildeo agrave sua predecessora (Hurst 2000) No entanto
parece-nos altamente improvaacutevel que seja mais eficaz do que a anterior classificaccedilatildeo a gerar
uma linguagem universal sobre a incapacidade na medida em que transformar as diferenccedilas
culturais na conceptualizaccedilatildeo das deficiecircncias assume-se como tarefa extremamente
complexa de alcanccedilar (Bury 2000 Miles 2001) Este facto eacute especialmente significativo na
medida em que natildeo obstante a CIF reconhecer o contexto cultural das percepccedilotildees de
incapacidade e por consequecircncia a normalidade o actual sistema de classificaccedilatildeo
permanece fortemente alicerccedilado nas formulaccedilotildees e nos conceitos cientiacuteficos ocidentais
(Finkelstein 1998 Pfeiffer 2000 Baylies 2002)
Adicionalmente apesar da CIF explicitar que os indiviacuteduos satildeo um elemento da anaacutelise da
incapacidade a abordagem biopsicossocial natildeo se encontra muito distanciada do modelo
anterior na medida em que privilegia o indiviacuteduo como ponto de partida para anaacutelise das
funccedilotildees do corpo e actividades O conceito de participaccedilatildeo eacute incluiacutedo mas subdesenvolvido no
esquema conceptual e continua associado agraves circunstacircncias individuais em vez de fortemente
ligado agrave inclusatildeo poliacutetica e social Adicionalmente enquanto a significacircncia do contexto eacute
enfatizada na CIF as estrateacutegias para a sua mensuraccedilatildeo afiguram-se limitadas Os seus
utilizadores satildeo encorajados a classificar os factores ambientais mas natildeo existem ferramentas
eficazes para levar a cabo esta tarefa bem como para avaliar as tendecircncias de incapacidade
ou por outro lado das poliacuteticas governamentais praacuteticas ambientes fiacutesicos e contextos
culturais (Baylies 2002)
Esta aparente descentraccedilatildeo das preocupaccedilotildees poliacuteticas tem caracterizado a maioria da ciecircncia
social mainstream desde o seacuteculo XIX Deste modo a definiccedilatildeo inter-relacional de
incapacidade e a consequente despolitizaccedilatildeo das questotildees associadas reflectiu-se nos
estudos e na literatura produzida nesta aacuterea por acadeacutemicos e investigadores durante a uacuteltima
metade do seacuteculo XX
Mais recentemente reemergiram na Inglaterra um conjunto de respostas poacutes-modernas ao
modelo social da incapacidade Este cenaacuterio tem favorecido o aparecimento de asserccedilotildees de
que tais fenoacutemenos soacute tecircm servido para agudizar e natildeo diminuir a conflituosidade a propoacutesito
da inclusatildeo (Hunt 1981 Germon 1998 Linton 1998 Gordon and Rosenblum 2001)
No quadro da reabilitaccedilatildeo a abordagem inter-relacional eacute sinoacutenima da liberalizaccedilatildeo da poliacutetica
social para as pessoas com incapacidades nos finais dos anos sessenta e setenta em
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 17
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
particular a mudanccedila dos serviccedilos centrados institucionalmente para os serviccedilos e apoios
centrados na comunidade Deste modo a ecircnfase eacute colocada na integraccedilatildeo de pessoas com
incapacidades na sociedade mainstream Os Standards da Equalizaccedilatildeo das Pessoas com
Incapacidades (1993) da ONU explicitam que todos os estados devem providenciar serviccedilos de
reabilitaccedilatildeo Mas esta orientaccedilatildeo recomenda que se vaacute aleacutem do cuidado meacutedico inicial para
incluir uma ampla gama de medidas e actividades desde a reabilitaccedilatildeo baacutesica e generalista
para actividades orientadas por objectivos (UN 199311) Ainda mais significativo todos os
serviccedilos de reabilitaccedilatildeo deveratildeo estar disponiacuteveis nas comunidades locais nas quais as
pessoas com incapacidades se movem No entanto em determinadas circunstacircncias e para
que se reforcem os objectivos de formaccedilatildeo e aprendizagem poderatildeo ser organizados cursos
localizados nas organizaccedilotildees prestadoras de serviccedilos com um quadro temporal o mais
reduzido possiacutevel (UN 1993 19)
Adicionalmente apesar dos Standards enfatizarem a importacircncia do envolvimento das pessoas
com incapacidades e dos seus significativos no desenvolvimento dos programas de
reabilitaccedilatildeo parece natildeo existir uma asserccedilatildeo clara de que tais estrateacutegias devam ser
controladas por ou mensuradas para estes uacuteltimos Existe no entanto uma assunccedilatildeo taacutecita de
que tais serviccedilos seratildeo liderados por profissionais
Adicionalmente desde que a incapacidade na CIF foi apresentada como uma questatildeo de
sauacutede em detrimento de uma questatildeo poliacutetica parece inevitaacutevel que os profissionais no
domiacutenio da reabilitaccedilatildeo continuem a ser dominados ou laquoalienadosraquo pela Medicina (Finkelstein
1998) Este facto poderaacute ficar a dever-se primeiro agrave actual e persistente subjugaccedilatildeo dos
governos nacionais aos interesses corporativos e das organizaccedilotildees econoacutemicas e segundo agrave
diversidade de barreiras econoacutemicas poliacuteticas e culturais experienciadas pelas pessoas com
incapacidades quer nos paiacuteses desenvolvidos quer nos subdesenvolvidos Neste tipo de
cenaacuterio o pensamento ortodoxo sobre a reabilitaccedilatildeo contratualiza um expediente praacutetico para
os poliacuteticos legisladores e organizaccedilotildees profissionais Como resultado os teacutecnicos tecircm
invariavelmente um niacutevel de escolha reduzido na opccedilatildeo pelo modelo meacutedico em detrimento
de soluccedilotildees poliacuteticas colectivas na resposta aos problemas da exclusatildeo
Esta perspectiva parece afigurar-se a oposta da necessaacuteria De facto apoacutes o trabalho de
Talcott Parsons (1951) emergiu uma extensa literatura condenando a laquomedicalizaccedilatildeoraquo do
quotidiano de um conjunto diverso de perspectivas Por exemplo o filoacutesofo austriacuteaco Ivan Illich
nomeou o seacuteculo XX como a era dos profissionais incapacitantes (1977 11) pela sua
apropriaccedilatildeo do conhecimento mistificaccedilatildeo das competecircncias especializadas e a criaccedilatildeo de
uma cultura perversa e persuasiva de dependecircncia Apesar de tais criticas encontrarem a sua
aplicabilidade predominantemente nas naccedilotildees subdesenvolvidas do Ocidente surgiram
trabalhos recentes que sugerem que apesar de existir uma diminuiccedilatildeo significativa dos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 18
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
conhecimentos meacutedicos e de tratamentos com reduzidos niacuteveis de recursos nas naccedilotildees
subdesenvolvidas criacuteticas similares podem ser relevantes para o contexto no qual nos
situamos (Stone 1999 Ingstad 2001 OMS 2001)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 19
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
3 OBJECTIVOS OPERACIONAIS
Pretende-se desenvolver uma anaacutelise longitudinal e multissectorial ao conceito de deficiecircncia
no sentido de estabelecer uma configuraccedilatildeo operacional no quadro da sua aplicabilidade
estatiacutestica Esta anaacutelise insere-se no acircmbito do Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das
Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo
Objectivo Operacionalizar o conceito de deficiecircncia no quadro da sua aplicabilidade
estatiacutestica assegurando os criteacuterios de (a) comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica
e legislativa dentro do contexto portuguecircs (c) conformidade com os referenciais conceptuais
actuais
Metodologia a) Anaacutelise dos referenciais nacionais e internacionais de delimitaccedilatildeo operacional
do conceito b) exploraccedilatildeo de cenaacuterios que viabilizem o cumprimento dos requisitos definidos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 20
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
4 ANAacuteLISE PRELIMINAR DA EVOLUCcedilAtildeO DA TERMINOLOGIA NO
DOMIacuteNIO 41 ESTADO DA ARTE
A evoluccedilatildeo dos conceitos operativos nos domiacutenios da reabilitaccedilatildeo e da inclusatildeo social tem
sido reflectida nas diversas classificaccedilotildees propostas pela OMS Neste quadro evolutivo a
uacuteltima classificaccedilatildeo proposta ndash CIF ndash constitui-se como um modelo de siacutentese entre a
abordagem meacutedica e a abordagem social no domiacutenio da incapacidade e da sauacutede No sentido
de procedermos agrave anaacutelise dos principiais conceitos e termos focalizar-nos-emos na
reestruturaccedilatildeo conceptual proposta pela Classificaccedilatildeo Internacional de Funcionalidade
Incapacidade e Sauacutede (CIF)
O objectivo geral da CIF eacute proporcionar uma linguagem unificada e padronizada assim como
uma estrutura de trabalho para a descriccedilatildeo da sauacutede e de estados relacionados com a sauacutede
A classificaccedilatildeo define os componentes da sauacutede e alguns componentes do bem-estar
relacionados com a sauacutede (tais como educaccedilatildeo e trabalho) Os domiacutenios contidos na CIF
podem portanto ser considerados como domiacutenios da sauacutede e domiacutenios relacionados com a
sauacutede Estes domiacutenios satildeo descritos com base na perspectiva do corpo do indiviacuteduo e da
sociedade em duas listas baacutesicas (1) Funccedilotildees e Estruturas do Corpo e (2) Actividades e
Participaccedilatildeo Como classificaccedilatildeo a CIF agrupa sistematicamente diferentes domiacutenios de uma
pessoa com uma determinada condiccedilatildeo de sauacutede (eg o que uma pessoa com uma doenccedila
ou perturbaccedilatildeo faz ou pode fazer) A funcionalidade eacute um termo que engloba todas as funccedilotildees
do corpo actividades e participaccedilatildeo de maneira similar a incapacidade eacute um termo que inclui
deficiecircncias limitaccedilatildeo da actividade ou restriccedilatildeo na participaccedilatildeo A CIF tambeacutem relaciona os
factores ambientais que interagem com todos estes constructos Neste sentido a classificaccedilatildeo
permite ao utilizador registar perfis uacuteteis da funcionalidade incapacidade e sauacutede dos
indiviacuteduos em vaacuterios domiacutenios
A CIF pertence agrave ldquofamiacuteliardquo das classificaccedilotildees internacionais desenvolvida pela OMS para
aplicaccedilatildeo em vaacuterios aspectos da sauacutede A famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS
proporciona um sistema para a codificaccedilatildeo de uma ampla gama de informaccedilotildees sobre sauacutede
(eg diagnoacutestico funcionalidade e incapacidade motivos de contacto com os serviccedilos de
sauacutede) e utiliza uma linguagem comum padronizada que permite a comunicaccedilatildeo sobre sauacutede e
cuidados de sauacutede em todo o mundo entre vaacuterias disciplinas e ciecircncias
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Nas classificaccedilotildees internacionais da OMS os estados de sauacutede (doenccedilas perturbaccedilotildees
lesotildees etc) satildeo classificados principalmente na CID-10 (abreviatura da Classificaccedilatildeo
Internacional de Doenccedilas Deacutecima Revisatildeo) que fornece uma estrutura de base etioloacutegica A
funcionalidade e a incapacidade associadas aos estados de sauacutede satildeo classificadas na CIF
Portanto a CID-10 e a CIF satildeo complementares e os utilizadores satildeo estimulados a usar em
conjunto esses dois membros da famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS A CID-10
proporciona um ldquodiagnoacutesticordquo de doenccedilas perturbaccedilotildees ou outras condiccedilotildees de sauacutede que eacute
complementado pelas informaccedilotildees adicionais fornecidas pela CIF sobre funcionalidade Em
conjunto as informaccedilotildees sobre o diagnoacutestico e sobre a funcionalidade datildeo uma imagem mais
ampla e mais significativa da sauacutede das pessoas ou da populaccedilatildeo que pode ser utilizada em
tomadas de decisatildeo
A famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS constitui uma ferramenta valiosa para a
descriccedilatildeo e a comparaccedilatildeo da sauacutede das populaccedilotildees num contexto internacional As
informaccedilotildees sobre a mortalidade (facultadas pela CID-10) e sobre as consequecircncias na sauacutede
(proporcionadas pela CIF) podem ser combinadas de forma a obter medidas sinteacuteticas da
sauacutede das populaccedilotildees Isto permite seguir a sauacutede das populaccedilotildees e a sua distribuiccedilatildeo bem
como avaliar a parte atribuiacuteda agraves diferentes causas
A CIF transformou-se de uma classificaccedilatildeo de ldquoconsequecircncias da doenccedilardquo (versatildeo de 1980)
numa classificaccedilatildeo de ldquocomponentes da sauacutederdquo Os ldquocomponentes da sauacutederdquo identificam o que
constitui a sauacutede enquanto que as consequecircncias se referem ao impacto das doenccedilas na
condiccedilatildeo de sauacutede da pessoa Deste modo a CIF assume uma posiccedilatildeo neutra em relaccedilatildeo agrave
etiologia de modo que os investigadores podem desenvolver inferecircncias causais utilizando
meacutetodos cientiacuteficos adequados De maneira similar esta abordagem tambeacutem eacute diferente de
uma abordagem do tipo determinantes da sauacutede ou ldquofactores de risco Para facilitar o estudo
dos determinantes ou dos factores de risco a CIF inclui uma lista de factores ambientais que
descrevem o contexto em que o indiviacuteduo vive
A CIF descreve a funcionalidade e a incapacidade relacionadas com as condiccedilotildees de sauacutede
identificando o que uma pessoa ldquopode ou natildeo pode fazer na sua vida diaacuteriardquo tendo em vista as
funccedilotildees dos oacutergatildeos ou sistemas e estruturas do corpo assim como as limitaccedilotildees de
actividades e da participaccedilatildeo social no meio ambiente onde a pessoa vive Segundo a OMS a
CID-10 e a CIF satildeo complementares a informaccedilatildeo sobre o diagnoacutestico acrescido da
funcionalidade fornece um quadro mais amplo sobre a sauacutede do indiviacuteduo ou populaccedilotildees Por
exemplo duas pessoas com a mesma doenccedila podem ter diferentes niacuteveis de funcionalidade e
duas pessoas com o mesmo niacutevel de funcionalidade natildeo tecircm necessariamente a mesma
condiccedilatildeo de sauacutede
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O termo do modelo da CIF eacute a funcionalidade que cobre os componentes de funccedilotildees e
estruturas do corpo actividade e participaccedilatildeo social A funcionalidade eacute usada no aspecto
positivo e o aspecto negativo corresponde agrave incapacidade Segundo esse modelo a
incapacidade eacute resultante da interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada pelo indiviacuteduo (seja
orgacircnica e ou da estrutura do corpo) a limitaccedilatildeo de suas actividades e a restriccedilatildeo na
participaccedilatildeo social e os factores ambientais que podem actuar como facilitadores ou barreiras
para o desempenho dessas actividades e da participaccedilatildeo
A CIF eacute baseada portanto numa abordagem biopsicossocial que incorpora os componentes
de sauacutede nos niacuteveis corporais e sociais Assim na avaliaccedilatildeo de uma pessoa com deficiecircncias
e incapacidades esse modelo destaca-se do biomeacutedico baseado no diagnoacutestico etioloacutegico da
disfunccedilatildeo evoluindo para um modelo que incorpora as trecircs dimensotildees a biomeacutedica a
psicoloacutegica (dimensatildeo individual) e a social Nesse modelo cada niacutevel age sobre e sofre a
acccedilatildeo dos demais sendo todos influenciados pelos factores ambientais A OMS pretende
incorporar tambeacutem no futuro os factores pessoais importantes na forma de lidar com as
condiccedilotildees limitantes
O objectivo pragmaacutetico da CIF eacute fornecer uma linguagem padronizada e um modelo para a
descriccedilatildeo da sauacutede e dos estados relacionados com a sauacutede permitindo a comparaccedilatildeo de
dados referentes a essas condiccedilotildees entre paiacuteses serviccedilos sectores relativos agrave sauacutede bem
como o acompanhamento da sua evoluccedilatildeo no tempo
No entanto os conceitos apresentados na classificaccedilatildeo introduzem um novo paradigma para
pensar e trabalhar as deficiecircncias e incapacidades elas natildeo satildeo apenas uma consequecircncia
das condiccedilotildees de sauacutede doenccedila mas satildeo determinadas tambeacutem pelo contexto do meio
ambiente fiacutesico e social pelas diferentes percepccedilotildees culturais e atitudes em relaccedilatildeo agrave
deficiecircncias pela disponibilidade de serviccedilos e de legislaccedilatildeo Dessa forma a classificaccedilatildeo natildeo
constitui apenas um instrumento para medir o estado funcional dos indiviacuteduos Aleacutem disso ela
permite avaliar as condiccedilotildees de vida e fornecer subsiacutedios para poliacuteticas de inclusatildeo social
42 FUNCcedilOtildeES DO CORPO
As Funccedilotildees do corpo satildeo as funccedilotildees fisioloacutegicas dos sistemas orgacircnicos (incluindo as
funccedilotildees psicoloacutegicas)
As funccedilotildees e as estruturas do corpo satildeo classificadas em duas secccedilotildees diferentes Essas duas
classificaccedilotildees estatildeo concebidas de forma a serem utilizadas em paralelo Por exemplo as
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
funccedilotildees do corpo incluem sentidos humanos baacutesicos como as funccedilotildees da visatildeo e as
estruturas relacionadas aparecem na forma de ldquoolho e estruturas relacionadasrdquo
43 ESTRUTURAS DO CORPO
As Estruturas do Corpo satildeo as partes anatoacutemicas do corpo tais como oacutergatildeos membros e
seus componentes
ldquoCorpo refere-se ao organismo humano como um todo por isso o ceacuterebro e as suas funccedilotildees
ie a mente estatildeo incluiacutedos As funccedilotildees mentais (ou psicoloacutegicas) satildeo portanto incluiacutedas nas
funccedilotildees do corpo As funccedilotildees e as estruturas do corpo satildeo classificadas de acordo com os
sistemas orgacircnicos por isso as estruturas do corpo natildeo satildeo consideradas como oacutergatildeos no
seu sentido restrito
44 DEFICIEcircNCIA
Deficiecircncias satildeo problemas nas funccedilotildees ou na estrutura do corpo tais como um desvio
importante ou uma perda
As deficiecircncias de estrutura podem consistir numa anormalidade defeito perda ou outro desvio
importante relativamente a um padratildeo das estruturas do corpo As deficiecircncias foram definidas
de acordo com os conhecimentos bioloacutegicos actuais ao niacutevel de tecidos ou das ceacutelulas e ao
niacutevel subcelular ou molecular Por motivos praacuteticos no entanto esses niacuteveis natildeo estatildeo
classificados As bases bioloacutegicas das deficiecircncias orientaram essa classificaccedilatildeo e eacute possiacutevel
expandir a classificaccedilatildeo para incluir os niacuteveis celular ou molecular Do ponto de vista meacutedico
deve-se ter em mente que as deficiecircncias natildeo satildeo equivalentes agraves patologias subjacentes mas
sim a manifestaccedilotildees dessas patologias
As deficiecircncias correspondem a um desvio relativamente ao que eacute geralmente aceite como
estado biomeacutedico normal (padratildeo) do corpo e das suas funccedilotildees A definiccedilatildeo dos seus
componentes eacute feita essencialmente por pessoas com competecircncia para avaliar a
funcionalidade fiacutesica e mental de acordo com esses padrotildees
As deficiecircncias podem ser temporaacuterias ou permanentes progressivas regressivas ou estaacuteveis
intermitentes ou contiacutenuas O desvio em relaccedilatildeo ao modelo baseado na populaccedilatildeo e
geralmente aceite como normal pode ser leve ou grave e pode variar ao longo do tempo Estas
caracteriacutesticas satildeo consideradas posteriormente em descriccedilotildees adicionais principalmente nos
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
coacutedigos atraveacutes de um qualificador que se acrescenta ao coacutedigo e do qual fica separado por
um ponto
As deficiecircncias natildeo tecircm uma relaccedilatildeo causal com a etiologia ou com a forma como se
desenvolveram Por exemplo a perda da visatildeo ou de um membro pode resultar de uma
anormalidade geneacutetica ou de uma lesatildeo A presenccedila de uma deficiecircncia implica
necessariamente uma causa No entanto a causa pode natildeo ser suficiente para explicar a
deficiecircncia resultante Da mesma forma quando haacute uma deficiecircncia haacute uma disfunccedilatildeo das
funccedilotildees ou estruturas do corpo mas isto pode estar relacionado com qualquer doenccedila
perturbaccedilatildeo ou estado fisioloacutegico
As deficiecircncias podem ser parte ou uma expressatildeo de uma condiccedilatildeo de sauacutede mas natildeo
indicam necessariamente a presenccedila de uma doenccedila ou que o indiviacuteduo deva ser
considerado doente
As deficiecircncias cobrem um campo mais vasto que as perturbaccedilotildees ou as doenccedilas Por
exemplo a perda de uma perna eacute uma deficiecircncia de uma estrutura do corpo mas natildeo eacute uma
perturbaccedilatildeo ou uma doenccedila
As deficiecircncias podem originar outras deficiecircncias Por exemplo a diminuiccedilatildeo da forccedila
muscular pode prejudicar as funccedilotildees do movimento as funccedilotildees cardiacuteacas podem estar
relacionadas com o deacutefice das funccedilotildees respiratoacuterias e uma percepccedilatildeo prejudicada pode estar
relacionada com as funccedilotildees do pensamento
Actualmente na perspectiva da CIF o conceito de deficiecircncia constitui o poacutelo negativo da
componente ldquoFunccedilotildees e Estrutura do Corpordquo sendo descrito atraveacutes da existecircncia de
alteraccedilotildees significativas das funccedilotildees eou das estruturas do corpo O poacutelo positivo desta
componente refere-se agrave integridade funcional e estrutural Neste contexto um dos desafios
criacuteticos das poliacuteticas sociais consiste na operacionalizaccedilatildeo do conceito de deficiecircncia de forma
a que a elegibilidade dos diferentes puacuteblicos alvo se encontre devidamente delimitada
assegurando a eficaacutecia das medidas subjacentes
No entanto a amplitude e abrangecircncia da definiccedilatildeo do conceito de deficiecircncia proposta pela
OMS atraveacutes da CIF coloca um enorme desafio na medida em que qualquer cidadatildeo desde
que apresente um desvio significativo ao niacutevel da estrutura eou funccedilatildeo passa a ser um
potencial beneficiaacuterio das poliacuteticas neste domiacutenio Neste contexto poder-se-atildeo colocar vaacuterias
questotildees A primeira eacute se interessa agraves diferentes poliacuteticas no sector continuarem a ser
desenvolvidas tendo por focus o conceito de pessoas com deficiecircncias sabendo que a sua
distinccedilatildeo ao longo da populaccedilatildeo apenas poderaacute ser feita atraveacutes do niacutevel e extensatildeo da
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
alteraccedilatildeo da integridade estrutural e funcional de cada individuo A segunda questatildeo prende-se
com as consequecircncias conceptuais decorrentes da integraccedilatildeo do modelo social na formulaccedilatildeo
e operacionalizaccedilatildeo dos conceitos a serem utilizados pelas poliacuteticas no sector na medida em
que o aspecto critico deixa de ser a natureza e severidade da deficiecircncia para passar a centrar-
se no niacutevel e tipo de restriccedilotildees de participaccedilatildeo que cada cidadatildeo experiencia na interacccedilatildeo
com os seus contextos de vida
No que concerne agrave primeira questatildeo e atendendo a que a mais recente definiccedilatildeo do conceito
de deficiecircncia proposto pela OMS apresenta um elevado niacutevel de abrangecircncia e um reduzido
potencial diferenciador poderemos equacionar 2 hipoacuteteses centrais de operacionalizaccedilatildeo
a) A primeira hipoacutetese baseia-se na possibilidade de operacionalizar diferentes definiccedilotildees
de deficiecircncia ao longo das diferentes poliacuteticas sociais no sentido de assegurar que as
diferentes medidas alcanccedilam efectivamente as pessoas para as quais foram
elaboradas Esta perspectiva tem a vantagem de uma maior focalizaccedilatildeo nas
caracteriacutesticas especificas do puacuteblico-alvo mas no entanto apresenta uma grande
desvantagem que consiste na elevada probabilidade das diferentes definiccedilotildees
perderem a coerecircncia entre si fragmentando igualmente o modelo teoacuterico a partir do
qual se deveriam basear
b) A segunda hipoacutetese consiste na articulaccedilatildeo operativa de dois conceitos o de
deficiecircncia e o de restriccedilotildees de participaccedilatildeo Nesta perspectiva a elegibilidade de uma
determinada politica social baseia-se na validaccedilatildeo preacutevia da existecircncia da primeira
condiccedilatildeo do puacuteblico-alvo ndash a existecircncia de uma deficiecircncia ndash determinando logo de
seguida o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo a partir do qual os diferentes cidadatildeos
passam a poder aceder agraves medidas especiacuteficas nela contidas O desafio contido nesta
hipoacutetese consiste na necessidade de desenvolvimento de um sistema de avaliaccedilatildeo que
permita avaliar o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo experimentado pelas pessoas com
deficiecircncias determinando atraveacutes do valor aferido quais seriam as pessoas com
acesso agraves medidas Neste cenaacuterio natildeo bastaria que uma pessoa tivesse uma
deficiecircncia pelo que seria necessaacuterio avaliar os efeitos da deficiecircncia em interacccedilatildeo
com o ambiente social ao niacutevel da participaccedilatildeo no sentido de determinar a
elegibilidade As vantagens desta hipoacutetese relacionam-se com (i) a preservaccedilatildeo do
niacutevel de coerecircncia dos conceitos utilizados ao longo das diferentes poliacuteticas sociais (ii)
a existecircncia de um processo comum de afericcedilatildeo e determinaccedilatildeo da elegibilidade ao
longo dos diferentes sectores de politica (iii) a compatibilidade e adequabilidade dos
princiacutepios teoacutericos do modelo social com a operacionalizaccedilatildeo dos sistemas e medidas
poliacuteticos de apoio agraves pessoas com deficiecircncias e (iv) a existecircncia de mecanismos de
avaliaccedilatildeo de elevada transparecircncia controlabilidade e rigor
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 26
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
45 INCAPACIDADE
Do ponto de vista de utilizaccedilatildeo dos conceitos de Deficiecircncia e de Incapacidade em Portugal
tecircm subsistido vaacuterias imprecisotildees terminoloacutegicas Primeiro na generalidade dos documentos
internacionais alude-se ao termo ldquopeople with disabilitiesrdquo sendo que invariavelmente esta
expressatildeo eacute traduzida para Portuguecircs como ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo Tal facto parece criar
condiccedilotildees para uma grande permeabilidade semacircntica dificilmente resoluacutevel do ponto de vista
conceptual Segundo deficiecircncia e incapacidade satildeo claramente dois conceitos distintos
Enquanto a deficiecircncia remete para alteraccedilotildees significativas ao niacutevel das estruturas eou das
funccedilotildees do corpo a incapacidade constitui o poacutelo negativo do funcionamento humano em
situaccedilatildeo potencial ou efectiva de participaccedilatildeo no contexto de vida Este facto pressupotildee que os
conceitos de deficiecircncia e de incapacidade natildeo contecircm nenhuma relaccedilatildeo causal entre si nem
nenhuma relaccedilatildeo linear de frequecircncia na medida em que eacute possiacutevel existir uma deficiecircncia
sem que exista uma incapacidade e eacute possiacutevel emergir uma determinada incapacidade sem
que haja uma qualquer deficiecircncia
Deste modo eacute possiacutevel
a) Ter deficiecircncias sem limitaccedilotildees de capacidade (eg uma desfiguraccedilatildeo resultante da
doenccedila de Hansen pode natildeo ter efeito sobre a capacidade da pessoa
b) Ter problemas de desempenho e limitaccedilotildees de capacidade sem deficiecircncias evidentes
(eg reduccedilatildeo de desempenho nas actividades diaacuterias associada a vaacuterias doenccedilas)
c) Ter problemas de desempenho sem deficiecircncias ou limitaccedilotildees de capacidade (eg um
indiviacuteduo HIV positivo ou um ex-doente curado de doenccedila mental que enfrenta
estigmas ou descriminaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais ou no trabalho)
d) Ter limitaccedilotildees de capacidade se natildeo tiver assistecircncia e nenhum problema de
desempenho no ambiente habitual (eg um indiviacuteduo com limitaccedilotildees de mobilidade
pode beneficiar por parte da sociedade de ajudas tecnoloacutegicas de assistecircncia para se
movimentar
e) Experimentar um grau de influecircncia em sentido contraacuterio (eg a inactividade dos
membros pode levar agrave atrofia muscular a institucionalizaccedilatildeo pode resultar numa perda
da socializaccedilatildeo)
Daqui resulta que ao referirmo-nos agraves pessoas com deficiecircncias enquanto puacuteblico-alvo
privilegiado das medidas de reabilitaccedilatildeo poderemos incorrer num desvio significativo de
alocaccedilatildeo dos recursos agraves reais necessidades das pessoas na medida em que natildeo eacute a
deficiecircncia que gera por si mesma a necessidade de reabilitaccedilatildeo mas sim as limitaccedilotildees de
actividade e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo decorrentes da interacccedilatildeo entre as caracteriacutesticas
biopsicossociais e as caracteriacutesticas dos ambientes em que o individuo se move
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
A persistecircncia em traduzir o termo disability para deficiecircncia e natildeo apenas o seu homoacutelogo
anglo-saxoacutenico ndash impairment ndash poderaacute explicar-se pelas seguintes razotildees
a) O potencial efeito estigmatizante da expressatildeo ldquopessoas com incapacidadesrdquo ser maior
do que aquele contido na expressatildeo ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo
b) O termo incapacidade centrar-se exclusivamente nos aspectos negativos do
funcionamento individual classificando a pessoa agrave partida como sendo destituiacuteda de
competecircncias e condiccedilotildees para atingir os niacuteveis normativos de desempenho e
performance num conjunto de domiacutenios da vida pessoal e social
O paradoxo surge igualmente porque enquanto no modelo meacutedico a incapacidade aparece
em termos causais relacionada com a deficiecircncia numa perspectiva exclusivamente individual
no modelo proposto pela OMS operacionalizado na CIF os dois conceitos gozam de total
independecircncia conceptual e operativa sendo que a deficiecircncia passa a ter uma baixa
relevacircncia diferenciadora do ponto de vista do funcionamento humano Ora se atendermos a
que as medidas de reabilitaccedilatildeo pretendem promover os potenciais do funcionamento humano
numa perspectiva de participaccedilatildeo plena do indiviacuteduo nos mais diferenciados contextos de vida
assegurando o co-desenvolvimento de todos os actores e das estruturas sociais necessaacuterias agrave
cidadania plena entatildeo falar de ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo natildeo soacute natildeo eacute relevante no quadro
da loacutegica de intervenccedilatildeo como poderaacute traduzir dificuldades dos actores em mudar
efectivamente do paradigma meacutedico para o paradigma social
Este fenoacutemeno aliaacutes natildeo acontece apenas em Portugal sendo que recentes estudos de
investigaccedilatildeo vieram sugerir a adopccedilatildeo dos conceitos de ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo e
ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo para ultrapassar a aplicaccedilatildeo indevida dos
conceitos de deficiecircncia e incapacidade A utilizaccedilatildeo destes conceitos parece articular de forma
mais precisa com o novo modelo conceptual proposto pela OMS enfatizando a diversidade de
niacuteveis de funcionamento humano e apelando a uma certa noccedilatildeo de relatividade socialmente
construiacuteda Uma das criticas feita pela comunidade de investigadores ao conceito de ldquopessoas
com diversidade funcionalrdquo reside no facto de que a expressatildeo eacute dotada de um tatildeo elevado
niacutevel de abrangecircncia que natildeo permite um niacutevel de diferenciaccedilatildeo relevante na medida em que
todos os cidadatildeos detecircm entre si diversos e diferentes padrotildees de funcionamento humano
Neste sentido o conceito ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo aplicar-se-ia a todos os
cidadatildeos sem excepccedilatildeo A proliferaccedilatildeo destes termos eacute explicada pela necessidade da
comunidade politica e cientifica de construir constructos que sejam socialmente aceites e o
mais neutros possiacuteveis do ponto de vista dos seus valores impliacutecitos No entanto a
impossibilidade epistemoloacutegica de desenvolver expressotildees e conceitos socio-historicamente
neutros parece levar muitas vezes agrave concepccedilatildeo de definiccedilotildees com reduzida identidade isto eacute
de significado demasiado amplo e abrangente o que na expressatildeo da UPIAS ldquopodem significar
tudo e coisiacutessima nenhumardquo (2005)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 28
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Os conceitos ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo ldquopessoas com limitaccedilotildees de
actividaderdquo e ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo afiguram-se comparativamente ao
anterior como um conceito de maior coerecircncia conceptual com o modelo proposto pela OMS e
deteacutem cumulativamente um maior poder diferenciador A sua desvantagem reside no facto de
constituiacuterem expressotildees com maior dificuldade de apreensatildeo e inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 29
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 30
Dezembro2006
5 ANAacuteLISE DOS REFERENCIAIS NACIONAIS E INTERNACIONAIS
No sentido de obter um conjunto de vectores de referecircncia na estruturaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo do
conceito de deficiecircncia foram analisadas as abordagens desenvolvidas pelos seguintes
organismos INE Eurostat OCDE American Disabilities Act WHO UN
51 INE
Os dados disponiacuteveis no INE parecem indicar a utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na
ICIDH
Deficiecircncia1 Perda ou alteraccedilatildeo de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou
anatoacutemica Nesta definiccedilatildeo estatildeo incluiacutedas as seguintes tipologias2
Deficiecircncia AUDITIVA
Deficiecircncia MENTAL
Deficiecircncia MOTORA
Deficiecircncia ORGAcircNICO-FUNCIONAL
Deficiecircncia PSIQUIAacuteTRICA
Deficiecircncia VISUAL
Incapacidade3 Ausecircncia ou limitaccedilatildeo da capacidade para funcionar estando comprometida a
realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida
diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e originando uma desvantagem para funcionar em
sociedade face a outros
Pessoa deficiente Aquela que tenha uma ou mais das seguintes deficiecircncias a) deficiecircncia
visual b) deficiecircncia auditiva c) deficiecircncia mental d) deficiecircncia motora
1 Nota Na operaccedilatildeo censitaacuteria de 2001 apenas foi observada a deficiecircncia permanente a deficiecircncia temporaacuteria natildeo foi considerada (por exemplo se um indiviacuteduo se desloca com canadianas ou em cadeira de rodas porque partiu uma perna ou se sofre de descolamento parcial da retina que o obriga a andar com uma venda natildeo foi considerado como tendo uma deficiecircncia) 2 Fonte INE ndash Censos 2001 ndash Recenseamento Geral da Populaccedilatildeo (Antecedentes Metodologia e Conceitos) Antecedentes Metodologia e Conceitos 3 Fonte INS ndash Inqueacuterito Nacional agrave Sauacutede
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 31
Dezembro2006
Trabalhador deficiente Trabalhador que estaacute incapacitado para assegurar por si mesmo total
ou parcialmente a satisfaccedilatildeo de necessidades de uma vida individual ou social normal devido
a uma deficiecircncia congeacutenita ou adquirida das suas capacidades fiacutesicas sensoriais ou
mentais tendo por isso dificuldade em obter eou manter o desempenho de funccedilotildees de acordo
com as suas habilitaccedilotildees idade e experiecircncia profissional
Cidadatildeo Trabalhador com necessidades especiais Cidadatildeo idoso ou portador de
deficiecircncias sensoriais (visuais e auditivas) fiacutesicas (motoras) e cognitivas
52 EUROSTAT
Os dados disponibilizados pelo Eurostat no seu endereccedilo electroacutenico4 parecem indicar a
utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na ICIDH
Conceito Deficiecircncia5
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de deficiecircncia refere-se a uma perda ou alteraccedilatildeo
de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou anatoacutemica
Conceito Incapacidade6
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de incapacidade refere-se agrave ausecircncia ou limitaccedilatildeo
da capacidade para funcionar estando comprometida a realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas
funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e
originando uma desvantagem para funcionar em sociedade face a outros
Conceito Desvantagem7
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito refere-se agrave desvantagem para um dado individuo
decorrente de uma deficiecircncia ou incapacidade
4 httpforumeuropaeuintircdsiscodedinfodatacodedenTheme3htm 5 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 6 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 7 Fonte Key data on health 2000 Eurostat
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
53 OCDE
Definiccedilotildees gerais de incapacidade
No contexto da OCDE identificam-se 2 abordagens distintas no quadro da definiccedilatildeo de
incapacidade
A incapacidade pode ser definida enquanto um estado decorrente de autoavaliaccedilatildeo ou um
status baseado em fontes administrativas eg beneficiaacuterio dos apoios De forma muito
frequente e talvez de forma imprecisa estas duas definiccedilotildees satildeo explicitadas como
incapacidade ldquosubjectivardquo versus rdquoobjectivardquo
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo e instrumentos
A incapacidade autoavaliada eacute medida atraveacutes de inqueacuteritos feitos directamente aos cidadatildeos
nas suas residecircncias Apesar da avaliaccedilatildeo ser baseada de uma forma geral nas respostas agraves
questotildees relativas a problemas de sauacutede de longo termo que limitam as actividades de vida
diaacuteria o detalhe das questotildees eacute geralmente diferente dificultando a comparabilidade dos
dados Por exemplo ldquolongo termordquo eacute parametrizado em 6 meses na Noruega e em 12 meses
na Suiccedila O status dos beneficiaacuterios pode ser avaliado atraveacutes de registos administrativos ou
atraveacutes de inqueacuteritos Os resultados entre as duas fontes satildeo de uma forma geral bastante
diferentes por duas razotildees nucleares os registos administrativos geralmente contam casos e
natildeo pessoas o que em situaccedilotildees de benefiacutecios muacuteltiplos pode levar a contagens duplas por
outro lado os inqueacuteritos satildeo baseados nas respostas sobre o status do beneficiaacuterio e algumas
pessoas podem desejar natildeo revelar a sua condiccedilatildeo perante os benefiacutecios
Nenhuma destas definiccedilotildees e medidas de mensuraccedilatildeo eacute superior a outras pelo que a sua
utilizaccedilatildeo depende dos objectivos do propoacutesito da investigaccedilatildeo e da disponibilidade da
informaccedilatildeo
Abordagens para medir a incapacidade no quadro da aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos agraves populaccedilotildees
a) Incapacidade geral (natildeo especificada)
Puacuteblico-alvo todos os adultos
b) Incapacidade relativa ao trabalho
Puacuteblico-alvo pessoas em idade activa
c) Limitaccedilotildees nas actividades de vida diaacuteria (AVD)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 32
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Puacuteblico-alvo Populaccedilatildeo idosa
54 AMERICAN DISABILITIES ACT
O American Disabilities Act (ADA) desenvolvido em 1990 fornece um conjunto de guidelines
no sentido de assegurar a disponibilizaccedilatildeo de serviccedilos para as pessoas com deficiecircncias bem
como a protecccedilatildeo dos seus direitos legais
A ADA inclui uma definiccedilatildeo legal de incapacidade consistindo na presenccedila de ldquouma deficiecircncia
fiacutesica ou mental que limita significativamente uma ou mais das principais actividades de vidardquo
Independentemente da definiccedilatildeo proposta pela ADA a existecircncia de muacuteltiplos programas a
favor das pessoas com deficiecircncias e os diferentes focus legais em diferentes puacuteblicos alvo
fazem com que tenham emergido uma multiplicidade de definiccedilotildees de incapacidade ao longo
do tempo no quadro das poliacuteticas sociais americanas
55 OMS ONU Revisatildeo dos actuais inqueacuteritos sobre a incapacidade
Apesar de existir um desenvolvimento consideraacutevel dos inqueacuteritos na aacuterea da incapacidade
poder-se-atildeo explicitar algumas observaccedilotildees relativas agrave sua multiplicidade Numa primeira linha
de anaacutelise os inqueacuteritos tendem a focalizar-se nas limitaccedilotildees de actividade eou na deficiecircncia
No que concerne agrave formulaccedilatildeo escrita tendem a existir diferenccedilas significativas entre
inqueacuteritos facto que inviabiliza natildeo raras vezes a comparabilidade dos dados entre inqueacuteritos
As diferentes formulaccedilotildees das questotildees incluem
Tem dificuldade
Eacute capaz de
Faz
Tem sentido problemas em
com ou sem assistecircncia pessoal eou tecnoloacutegica
A questatildeo que se coloca eacute se estas formulaccedilotildees tecircm o mesmo significado isto eacute se todas elas
pretendem medir a capacidade ou a performance De acordo com a CIF a capacidade
remeteria para o potencial de execuccedilatildeo de um indiviacuteduo enquanto a performance diria respeito
ao niacutevel de desempenho efectivo do indiviacuteduo atraveacutes do seu envolvimento numa situaccedilatildeo de
vida real As lacunas existentes e as poucas referecircncias ao niacutevel da forma como os inquiridos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 33
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
satildeo instruiacutedos a responder faz com que natildeo seja possiacutevel desenvolver um discernimento
irrefutaacutevel sobre esta mateacuteria
Do ponto de vista dos domiacutenios abrangidos os inqueacuteritos tecircm apresentado algumas questotildees
sobre a participaccedilatildeo e o ambiente e evidenciam algumas limitaccedilotildees na sua amplitude Os
domiacutenios de actividades e participaccedilatildeo geralmente abrangidos tecircm sido operacionalizados de
uma forma geral nas seguintes dimensotildees
Educaccedilatildeo e emprego (formulado como questotildees de performance)
Outros inqueacuteritos incluem aacutereas como relaccedilotildees interpessoais vida familiar tomada de
decisotildees etc
O domiacutenio relativo aos factores ambientais tem incluiacutedo
Utilizaccedilatildeo e acessibilidadedisponibilidade dos produtos de assistecircncia e da tecnologia
Acessibilidade do ambiente
Disponibilidade dos serviccedilos (sauacutede protecccedilatildeo social educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo)
Evidecircncias muito escassas ao niacutevel da poliacutetica atitudes ambiente natural
planeamento e concepccedilatildeo
A questatildeo de investigaccedilatildeo neste contexto centra-se na seguinte formulaccedilatildeo ldquoo que eacute que os
inqueacuteritos medem como incapacidaderdquo
a) Definiccedilatildeo a priori da incapacidade versus sem incapacidade
Alguns inqueacuteritos sobre a incapacidade especialmente os mais antigos utilizam uma definiccedilatildeo
a priori de incapacidade O objectivo deste tipo de inqueacuteritos eacute contar o nuacutemero de pessoas
que se encaixam na definiccedilatildeo no contexto da populaccedilatildeo total Neste sentido os dados satildeo
analisados de acordo com dois grupos de referecircncia ndash com incapacidade e sem incapacidade ndash
em funccedilatildeo de um conjunto de diferentes variaacuteveis Este tipo de questionaacuterios formula questotildees
do tipo ldquoPossui algum tipo de incapacidade auditiva visual ou fiacutesicardquo Muitas questotildees dos
censos tecircm utilizado este formato
b) Definiccedilatildeo a posteriori de incapacidade versus sem incapacidade
Mais recentemente alguns inqueacuteritos desenvolveram-se em direcccedilatildeo a uma definiccedilatildeo a
posteriori de incapacidade Nestes casos eacute medida a capacidade a performance ao longo de
um conjunto vasto de domiacutenios Este segundo tipo de inqueacuteritos tende a ter uma ampla
aceitaccedilatildeo eg HALS (Canada) HID (Franccedila) inqueacuterito sobre incapacidade na Africa do Sul
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 34
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Inqueacuterito Espanhol sobre incapacidade NHIS-D (USA) inqueacuterito Holandecircs entre outros Estes
instrumentos formulam questotildees relativas agraves dificuldades que as pessoas experienciam em
diferentes domiacutenios produzindo um perfil pessoal que possa colocar em evidecircncia os
diferentes graus de capacidade associados A categorizaccedilatildeo de incapacidade sem
incapacidade eacute formulada ao niacutevel do domiacutenio e natildeo como uma categoria geral de atributo
pessoal Esta abordagem permite uma anaacutelise ao niacutevel de funcionamento individual por
domiacutenio por exemplo comparando a experiecircncia de incapacidade no domiacutenio de mobilidade
versus socializaccedilatildeo versus comunicaccedilatildeo entre outros bem como o impacto dos factores
ambientais nestes diferentes domiacutenios O perfil resultante do funcionamento individual ao longo
de muacuteltiplos domiacutenios eacute similar aos estados de sauacutede individuais ao longo das diferentes
dimensotildees
Vantagens de uma abordagem a posteriori
Estaacute em consonacircncia com a abordagem universal proposta pela CIF Todas as
pessoas experienciam deficiecircncia nalgum ponto e esta experiecircncia eacute caracterizada
numa abordagem a posteriori e natildeo a priori
Decisotildees sobre a criaccedilatildeo de categorias sobre quem tem incapacidade e sobre quem
natildeo tem podem ser tomadas atraveacutes de diferentes niacuteveis de anaacutelise por exemplo
atraveacutes da anaacutelise da experiecircncia das pessoas que experienciam incapacidade em 1 2
ou 3 domiacutenios de cruzar o status de emprego de pessoas com incapacidade ao longo
dos diferentes domiacutenios etc
Deixa de ser necessaacuteria uma definiccedilatildeo tipoloacutegica e categoacuterica de pessoas com
incapacidade O que necessita de ser definido neste contexto eacute o que se designa por
limitaccedilatildeo da capacidade ou problemas de performance ao longo dos diferentes
domiacutenios
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 35
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
6 SISTEMATIZACcedilAtildeO DAS DIMENSOtildeES DE ORGANIZACcedilAtildeO E
OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em todos os estudos efectuados neste domiacutenio foi colocada em evidecircncia a actual dificuldade
de comparabilidade estatiacutestica internacional inter ou intra sectorial independentemente do
organismo referenciador ndash OCDE ONU EUROSTAT INE OMS
Neste contexto desenvolver-se-aacute a extracccedilatildeo de conhecimento tendo por base a identificaccedilatildeo
de um conjunto de eixos de anaacutelise que actuem como vectores de estruturaccedilatildeo na
operacionalizaccedilatildeo do conceito A este propoacutesito atente-se no Quadro 2
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Abordagem Focus Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Delimitaccedilatildeo temporal do
conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo
Design das questotildees
CID-10
ICIDH
ICF
SauacutedeDoenccedila
Deficiecircncia
Incapacidade
a) Geral
b) Relativa ao trabalho
c) Limitaccedilotildees nas
actividades de vida
diaacuteria
Funcionalidade ndash
Niacuteveis de execuccedilatildeo
das actividades por
domiacutenio e niacuteveistipos
de ajudas mobilizadas
Intersubjectivo ndash
vg inqueacuteritos
Objectivo ndash vg
fontes administrativas
A priori
A posteriori
Temporaacuterias
permanentes
Progressivas
regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou
contiacutenuas
Tipo 1 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre uma determinada
condiccedilatildeo individual
combinada com itens
referentes a limitaccedilotildees de
actividade e participaccedilatildeo e
factores contextuais
Tipo 2 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre a presenccedila de uma
pessoa com incapacidade
no agregado familiar
seguindo-se uma lista de
deficiecircncias e
incapacidades
Tipo 3 ndash Checklist de
deficiecircncias
Quadro 2 ndash Eixos de operacionalizaccedilatildeo do conceito
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 37
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 38
Dezembro2006
7 ESCOLHA DO CENAacuteRIO A IMPLEMENTAR
A anaacutelise do Quadro 2 permite-nos uma definiccedilatildeo modular do cenaacuterio a implementar atraveacutes de
uma configuraccedilatildeo do conceito pelos eixos de anaacutelise propostos Uma das dificuldades
evidentes nesta delimitaccedilatildeo prende-se com o cumprimento dos requisitos de (a)
comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica e legislativa dentro do contexto portuguecircs
e (c) conformidade com os referenciais conceptuais actuais sendo que a coexistecircncia destes
criteacuterios afigura-se em muitos casos incompatiacutevel entre si Para efeitos da estruturaccedilatildeo do
cenaacuterio privilegiar-se-aacute a conformidade com os referenciais conceptuais actuais
71 ABORDAGEM No que concerne agrave abordagem privilegia-se a adopccedilatildeo das mais recentes directrizes propostas
pela OMS adoptando explicitamente a CIF
Fundamentaccedilatildeo
A CIF apresenta a capacidade para descrever o funcionamento humano numa
perspectiva biopsicossocial em detrimento da classificaccedilatildeo anterior (ICIDH) que se
focalizava na dimensatildeo biomeacutedica A CIF foi desenvolvida no plano conceptual para ser aplicaacutevel em diferentes aacutereas e
sectores A CIF eacute aplicaacutevel transversalmente agraves dimensotildees de cultura idade geacutenero sendo um
instrumento sistemaacutetico para descrever e medir a sauacutede e o funcionamento humano
num dado contexto A CIF constitui-se enquanto instrumento potencial para a poliacutetica social design das
intervenccedilotildees nos domiacutenios da sauacutede educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e intervenccedilatildeo social Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
72 FOCUS
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo da centraccedilatildeo da recolha de dados ao niacutevel
da dimensatildeo de funcionalidade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 39
Dezembro2006
Fundamentaccedilatildeo
Consonacircncia com o modelo conceptual proposto pela CIF enfatizando o caraacutecter
dinacircmico e interaccional (pessoa factores contextuais) do funcionamento de cada
pessoa Permite caracterizar as limitaccedilotildees de actividade e restriccedilotildees de participaccedilatildeo dos
cidadatildeos identificando necessidades de intervenccedilotildees especializadas numa loacutegica de
empowerment e participaccedilatildeo social Permite analisar a adequabilidade e ajustamento das actuais medidas poliacuteticas do
ponto de vista dos seus objectivos e os problemas detectados ao niacutevel da participaccedilatildeo
dos cidadatildeos ao longo de um conjunto diversificado de domiacutenios
73 MEacuteTODOS DE MENSURACcedilAtildeO
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo de meacutetodos intersubjectivos nomeadamente
inqueacuteritos
Fundamentaccedilatildeo
Flexibilidade ao niacutevel da abrangecircncia e profundidade das dimensotildees
Maior facilidade na implementaccedilatildeo atendendo agrave disponibilizaccedilatildeo de uma amostra
delimitada
Maior niacutevel de controlo sobre as condiccedilotildees de observaccedilatildeo e da entrevista devido ao
menor nuacutemero de entrevistas a ser implementado
74 DELIMITACcedilAtildeO CONCEPTUAL E TEMPORAL DO CONCEITO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo temporal e apesar de se privilegiar as vantagens anteriormente
explicitadas no desenvolvimento de uma definiccedilatildeo a posteriori assume-se a necessidade
politica de delimitar o campo de intervenccedilatildeo do conjunto de medidas sociais neste domiacutenio
pelo que a delimitaccedilatildeo conceptual poderaacute ser objecto de operacionalizaccedilatildeo atraveacutes dos
seguintes paracircmetros
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 40
Dezembro2006
Poder-se-aacute colocar a questatildeo de saber se a delimitaccedilatildeo do conceito proposta remete
especificamente para ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ou para ldquopessoas com limitaccedilotildees de
participaccedilatildeordquo Atendendo a que a definiccedilatildeo comporta uma abordagem sisteacutemica enfatizando a
interacccedilatildeo entre um conjunto diversificado de componentes que produzem impacto na
funcionalidade da pessoa a resposta natildeo eacute linear dependendo da ecircnfase socio-histoacuterica e da
abordagem sociopoliacutetica que se escolher enfatizar No entanto e do ponto de vista conceptual
privilegia-se a adopccedilatildeo do conceito ldquopessoas com limitaccedilotildees de participaccedilatildeordquo dado que existe
total autonomia operativa entre os diferentes constructos Neste sentido a deficiecircncia natildeo
constitui um factor causal linear das limitaccedilotildees de actividade e das restriccedilotildees ao niacutevel da
participaccedilatildeo mas antes uma das componentes que em interacccedilatildeo com outras podem
provocar impactos ao niacutevel da funcionalidade do indiviacuteduo Por uacuteltimo refira-se que a tipologia
ldquopessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeordquo poderaacute ser alvo de criticas por constituir
uma designaccedilatildeo que apela a duas componentes em simultacircneo (actividades e participaccedilatildeo)
excluindo outras e ser demasiado longa para uma definiccedilatildeo tipoloacutegica A este propoacutesito pode-
se sugerir a delimitaccedilatildeo ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo constituindo esta
expressatildeo uma abordagem holiacutestica ao conjunto de componentes que interferem com o
funcionamento humano Deste modo poderemos ter as seguintes designaccedilotildees
Pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Pessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo
Pessoas com limitaccedilotildees de funcionalidade
Figura 2 ndash Possiacuteveis designaccedilotildees
O Quadro 3 pretende fornecer uma visatildeo sistemaacutetica sobre o processo de decisatildeo da
designaccedilatildeo a adoptar
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
deficiecircncias
Tradiccedilatildeo analiacutetica dentro do
contexto portuguecircs
Em conformidade com o modelo
meacutedico ndash centra-se nas alteraccedilotildees
de estrutura e funccedilatildeo ndash
focalizaccedilatildeo na pessoa
Desarticulado dos pressupostos do
modelo social ndash natildeo remete para a
experiecircncia de incapacidade
enquanto produto da interacccedilatildeo
entre pessoa e ambiente
Mai
or
Abr
angecirc
ncia
Mai
or
Espe
cific
idad
e
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 41
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
incapacidades
Em conformidade com a
delimitaccedilatildeo anglo-saxoacutenica que
utiliza o conceito Disability
Focalizaccedilatildeo no poacutelo negativo do
funcionamento humano ndash
funcionalidadeincapacidade
Ao focalizar-se na experiecircncia de
incapacidade enquanto
interacccedilatildeo pessoa-ambiente
remete indirectamente para a
mobilizaccedilatildeo de apoios e recursos
de forma a ultrapassar eou
eliminar os obstaacuteculos ao
funcionamento em contexto
O potencial efeito estigmatizante
da expressatildeo ldquopessoas com
incapacidadesrdquo
Pessoas com
diversidade
Funcional
Em conformidade com o modelo
social
Focaliza-se na gestatildeo das
diferenccedilas e no seu impacto ao
niacutevel da participaccedilatildeo das pessoas
na sociedade
Elevado niacutevel de abrangecircncia natildeo
permitindo um niacutevel de
diferenciaccedilatildeo relevante na
medida em que todos os cidadatildeos
detecircm entre si diversos e
diferentes padrotildees de
funcionamento humano
Conceito dificilmente
operacionalizaacutevel do ponto de
vista da formulaccedilatildeo das poliacuteticas e
da delimitaccedilatildeo dos puacuteblicos-alvo
Pessoas com
restriccedilotildees ao
niacutevel da
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos Desta forma
todos os obstaacuteculos agrave participaccedilatildeo
relacionados com discriminaccedilatildeo
social preconceitos estereoacutetipos
deficiecircncias doenccedilas croacutenicas
entre outros satildeo incluiacutedos
Natildeo inclui as limitaccedilotildees de
actividade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 42
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Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
limitaccedilotildees de
actividade e
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida e simultaneamente no
domiacutenio das limitaccedilotildees de
actividade
Ruptura com a tradiccedilatildeo analiacutetica
no sector
Dificuldade de apreensatildeo e
inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Natildeo inclui as alteraccedilotildees da
estrutura e da funccedilatildeo
Pessoas com
limitaccedilotildees de
funcionalidade
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel das
diferentes dimensotildees constituintes
da funcionalidade e do
funcionamento humano
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos
Pessoas com
deficiecircncias e
incapacidades
Natildeo introduz ruptura com a
tradiccedilatildeo analiacutetica no sector
Inclui as alteraccedilotildees de estrutura e
funccedilatildeo bem como as alteraccedilotildees
decorrentes ao niacutevel da
funcionalidade
Diferencia os conceitos de
deficiecircncia e incapacidade
autonomizando-os e fornecendo
uma base compreensiva para o
natildeo estabelecimento de relaccedilotildees
de causa-efeito entre os ambos
Abrange os obstaacuteculos que
emergem na interacccedilatildeo pessoa-
contextos de vida e
simultaneamente no domiacutenio das
limitaccedilotildees de actividade
Poder diferenciador e delimitador
na definiccedilatildeo do puacuteblico-alvo
Em alinhamento estrateacutegico com o
PAIPDI
Designaccedilatildeo de compromisso com
os referenciais teoacutericos do modelo
social e dos princiacutepios da ldquoeacutetica da
diversidaderdquo
Quadro 3 ndash Visatildeo comparativa das hipoacuteteses da designaccedilatildeo a adoptar
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 43
Dezembro2006
75 DELIMITACcedilAtildeO DA DURACcedilAtildeO E CURSO DE EVOLUCcedilAtildeO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo interessa a caracterizaccedilatildeo nas
3 dimensotildees desenvolvidas
Fundamentaccedilatildeo
Afigura-se relevante caracterizar a ocorrecircncia das deficiecircncias quanto aacute sua
consistecircncia no tempo ndash temporaacuterias permanentes ndash analisando os factores
contextuais associados consequecircncias ao niacutevel das actividades e da participaccedilatildeo ao
longo de um conjunto de domiacutenios em ordem agrave extracccedilatildeo de implicaccedilotildees no acircmbito
das poliacuteticas sociais
No acircmbito da adaptabilidade e da adequaccedilatildeo das medidas poliacuteticas agraves necessidades
especiacuteficas dos cidadatildeos torna-se relevante caracterizar a deficiecircncia quanto agrave
natureza do seu curso evolutivo ndash progressivas regressivas estaacuteveis O mesmo
criteacuterio eacute aplicaacutevel quanto aacute dimensatildeo de padratildeo de manifestaccedilatildeo ndash intermitente
contiacutenua
No entanto e apesar da incapacidade se manifestar ao longo do ciclo de vida da pessoa
de forma multimodal para efeitos de delimitaccedilatildeo e de definiccedilatildeo do conceito de pessoas
com deficiecircncias e incapacidades privilegiaremos o caraacutecter permanente Desta forma
excluem-se as manifestaccedilotildees temporaacuterias de incapacidade que enviesariam a anaacutelise e o
desenvolvimento de poliacuteticas neste domiacutenio
76 DESIGN DAS QUESTOtildeES
No que concerne ao design das questotildees privilegia-se a escolha de questotildees tipo 1
Fundamentaccedilatildeo
Em consonacircncia com a CIF
Permite comparabilidade estatiacutestica futura
Permite a caracterizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre os factores de funcionalidade ndash integridade
estrutural e funcional actividades participaccedilatildeo e factores contextuais
Permite o design das poliacuteticas sociais e metodologias de intervenccedilatildeo alicerccediladas nas
necessidades especiacuteficas dos cidadatildeos em torno das dimensotildees de inclusatildeo social
Domiacutenios
Visatildeo
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 44
Dezembro2006
Audiccedilatildeo
Comunicaccedilatildeo
Mobilidade
Dor
Aprendizagem e funcionamento psicoloacutegico
Autocuidados e vida domeacutestica
Condiccedilotildees gerais de sauacutede
Mobilizaccedilatildeo de ajudas ou equipamento especializado
Participaccedilatildeo social
Transporte e educaccedilatildeo
77 PROPOSTA DE DELIMITACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em funccedilatildeo das dimensotildees caracterizadas e dos criteacuterios privilegiados desenvolveu-se o
seguinte enquadramento conceptual
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 45
Dezembro2006
Figura 2 ndash Enquadramento conceptual da delimitaccedilatildeo do conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso da evoluccedilatildeo
Temporaacuterias permanentes
Progressivas regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou contiacutenuas
Focus
Funcionalidade ndash Niacuteveis de execuccedilatildeo das actividades por domiacutenio e niacuteveistipos de ajudas mobilizadas
Abordagem CIF
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo temporal do conceito
A priori
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Inter-subjectivo
Design das questotildees
Questatildeo geneacuterica sobre uma determinada condiccedilatildeo individual combinada com itens referentes a limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo e factores contextuais
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 46
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8 CRITEacuteRIOS DE ELEGIBILIDADE DO PUacuteBLICO-ALVO E SISTEMAS DE
AVALIACcedilAtildeO
A operacionalizaccedilatildeo do conceito de incapacidade tem sido abordada de forma heterogeacutenea
entre diferentes modalidades de politica e os diferentes contextos socioculturais de cada paiacutes
De uma forma geral encontram-se 2 eixos criacuteticos na sua operacionalizaccedilatildeo
a) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de trabalho (na ocupaccedilatildeo preacutevia ou numa nova
ocupaccedilatildeo ajustada agraves alteraccedilotildees funcionais)
b) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de obter rendimentos provenientes do trabalho
A explicitaccedilatildeo dos criteacuterios de delimitaccedilatildeo do conceito de incapacidade nos diferentes paiacuteses
encontra-se na Quadro 4
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Austraacutelia 2 Criteacuterios possuir uma incapacidade que resulte
num score nunca inferior a 20 nas tabelas de
incapacidades e incapacidade em trabalhar 30
horas ou mais por semana ou em ser
reconvertido para trabalho em contexto regular
nos proacuteximos 2 anos
Nenhum
Aacuteustria 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho (50
de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo para
trabalhadores sem qualificaccedilotildees) papel criacutetico
das decisotildees dos tribunais devido a definiccedilotildees
legais imprecisas
Nenhum mas as
restriccedilotildees de sauacutede
devem ter uma duraccedilatildeo
igual ou superior a 6
meses
Beacutelgica 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na actual ocupaccedilatildeo
1 ano
Canada Incapacidade severa e prolongada que impeccedila de
desenvolver trabalho numa base regular
Nenhum
Dinamarca 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum mas a
reabilitaccedilatildeo precisa de
estar completa
Franccedila 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual mas a
totalidade do subsidio requer igualmente perda de
capacidade de trabalho
Nenhum no caso das
condiccedilotildees estarem
estaacuteveis mas muito
frequentemente apoacutes 3
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 47
Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
anos
Alemanha 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho a
incapacidade parcial eacute calculada em funccedilatildeo do nordm
de horas que a pessoa pode trabalhar
Nenhum mas a
incapacidade deve ter
uma duraccedilatildeo miacutenima
de 26 semanas
Itaacutelia 666reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum
Coreia Criteacuterios meacutedicos (niacuteveis de incapacidade
definidos de forma detalhada)
Periacuteodo de espera de
50 dias (os subsiacutedios
de doenccedila natildeo se
encontram disponiacuteveis)
Meacutexico 50 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo Nenhum
Holanda 15 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
(25 para os trabalhadores por conta proacutepria e
jovens com incapacidade) grau de incapacidade
calculado pela diferenccedila de remuneraccedilatildeo entre o
actual posto de trabalho compatiacutevel com as
limitaccedilotildees funcionais e o anterior
1 ano
Noruega 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho O
grau de subsiacutedio eacute calculado pela capacidade de
remuneraccedilatildeo
Nenhum (apoacutes ter
completado a
reabilitaccedilatildeo vocacional)
Poloacutenia Reduccedilatildeo temporaacuteria ou permanente da
capacidade de trabalho
Nenhum
Portugal 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual
Nenhum mas na
praacutetica ao fim de 3
anos (fim do periacuteodo de
doenccedila de longo termo)
Espanha 33 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho na
ocupaccedilatildeo actual incapacidade para todo e
qualquer trabalho para a totalidade do subsiacutedio
1 ano (embora seja
possiacutevel a candidatura
antes deste prazo em
casos de incapacidade
permanente)
Sueacutecia 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho grau
de incapacidade parcial calculado a partir das
horas que uma pessoa pode trabalhar
Nenhum
Suiccedila 40 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho para
as pessoas inactivas o grau de incapacidade eacute
calculado em relaccedilatildeo aacute actividade actual
1 ano
Turquia 666 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho
com um focus meacutedico bastante significativo
Nenhum
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 48
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Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Reino Unido Limitaccedilotildees nas actividades de vida quotidianas
relevantes para o trabalho (avaliaccedilotildees meacutedicas
predominantes) teste ocupacional durante a s
primeiras 28 semanas (subsidio de doenccedila)
28 semanas
Estados
Unidos
Reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
incapacidade em investir numa actividade
profissional com rendimentos ($ US 740 por mecircs)
5 meses (nem sempre
cobertos pelos
subsiacutedios de curto-
termo) e 24 meses
para a cobertura
meacutedica
Quadro 4 ndash Definiccedilotildees de incapacidade e tempos regulamentares
Um dos desafios que se coloca aos actuais sistemas reside na delimitaccedilatildeo da elegibilidade do
puacuteblico-alvo Para cumprir este objectivo satildeo necessaacuterios sistemas de avaliaccedilatildeo holiacutesticos
abrangentes coerentes e que permitam chegar a resultados de forma consistente e com
validade interna No actual contexto a CIF propotildee constituir-se como o instrumento conceptual
abrangente para caracterizar os diferentes domiacutenios e niacuteveis de funcionalidade incapacidade
de forma coerente e integrada Neste sentido uma das vantagens apontadas para a adopccedilatildeo
do modelo desenvolvido pela OMS eacute a possibilidade de uniformizaccedilatildeo de conceitos e portanto
da utilizaccedilatildeo de uma linguagem padratildeo que permita a comunicaccedilatildeo entre investigadores
gestores profissionais de sauacutede organizaccedilotildees da sociedade civil e utilizadores em geral
Um dos campos de estudo mais explorados para a aplicaccedilatildeo da CIF tem sido a aacuterea de
Medicina Fiacutesica e de Reabilitaccedilatildeo no que concerne ao acompanhamento do estado de sauacutede
dos pacientes em tratamento O uso da CIF tem sido considerado tambeacutem na avaliaccedilatildeo apoacutes
transtornos agudos condiccedilotildees traumaacuteticas condiccedilotildees croacutenicas e na geriatria
Alguns autores argumentam que a CIF deve ser explorada como uma base de informaccedilotildees
padronizadas em estudos sobre incapacidade profissional quando haacute necessidade de
relacionar dados de sauacutede ocupacional com os da Seguranccedila Social
Na Sauacutede Puacuteblica tradicionalmente pouca atenccedilatildeo tem sido dada agraves pessoas com
incapacidades No entanto ao lado de recentes investimentos por parte de organizaccedilotildees e de
alguns governos a publicaccedilatildeo do modelo da CIF fornece as bases para as poliacuteticas e
disciplinas da Sauacutede Puacuteblica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo que apresenta deficiecircncias e
incapacidades Assim uma das possibilidades de uso da CIF pode ser a contribuiccedilatildeo para
responder a importantes questotildees de sauacutede puacuteblica tais como qual o estado de sauacutede das
pessoas com deficiecircncias comparadas com as demais que necessidades e que tipos de
intervenccedilotildees satildeo mais adequadas para reduzir condiccedilotildees secundaacuterias e promover a
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na sociedade entre outras
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 49
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Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 50
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Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 51
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Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
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Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 53
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
incapacidades e seus significativos baseadas no facto de que a incapacidade envolve mais do
que um conjunto de preocupaccedilotildees estritamente meacutedicas a OMS constituiu uma comissatildeo de
cientistas sociais para desenvolver a existente Classificaccedilatildeo Internacional de Doenccedilas em
ordem a conseguir abranger as consequecircncias a longo termo das doenccedilas croacutenicas A ICIDH
foi publicada em 1980 sendo largamente reconhecida como o directoacuterio mais abrangente
existente vindo a ser extensivamente utilizada como uma base para as iniciativas
governamentais dos paiacuteses desenvolvidos da Europa e Ameacuterica do Norte e os paiacuteses
subdesenvolvidos do Sul (Ustun et al 2001)
A ICIDH utiliza uma categorizaratildeo tripartida da deficiecircncia incapacidade e desvantagem A
deficiecircncia refere-se a qualquer perda ou irregularidade da estrutura ou das funccedilotildees
anatoacutemica fisioloacutegica ou psicoloacutegica A incapacidade refere-se a qualquer restriccedilatildeo ou perda
(resultante de uma deficiecircncia) da capacidade para executar uma actividade da forma e dentro
do contexto considerado normal para o ser humano A desvantagem refere-se agrave limitaccedilatildeo
resultante de uma deficiecircncia ou incapacidade no desempenho de um dado papel considerado
normativo (dependendo da idade geacutenero e factores sociais e culturais) para aquele indiviacuteduo
(OMS 1980 p 29)
Esta tipologia baseia-se nas noccedilotildees de normalidade fiacutesica e intelectual bem como no facto de
que a incapacidade e a desvantagem satildeo causadas por deficiecircncias ou irregularidades
psicoloacutegicas ou fisioloacutegicas Neste contexto a ICIDH pode ser objecto de criacuteticas a diferentes
niacuteveis Primeiro as percepccedilotildees de deficiecircncia e normalidade satildeo fenoacutemenos sociais pelo que
satildeo sujeitas a substantivas mudanccedilas temporais culturais e situacionais (Hanks and Hanks
1948 Scheer and Groce 1988 Coleridge 1993 Ingstad and Whyte 1995) A dislexia por
exemplo natildeo seria vista como um problema significativo numa sociedade predominantemente
agraacuteria No entanto eacute considerada uma dificuldade de aprendizagem nas sociedades
modernas tecnologicamente avanccediladas nas quais a literacia e a numeracia desempenham
requisitos criacuteticos para a participaccedilatildeo social e econoacutemica Segundo encontra-se impliacutecito na
ICIDH que o organismo humano eacute flexiacutevel e adaptaacutevel enquanto os ambientes fiacutesicos e sociais
o natildeo satildeo Este facto claramente conflitua com a realidade histoacuterica na qual os indiviacuteduos
transformaram continuamente o seu ambiente em funccedilatildeo das suas necessidades (Barnes
1991) Terceiro as definiccedilotildees da ICIDH sugerem que a deficiecircncia a incapacidade e a
desvantagem constituem-se como estados estaacuteticos Para aleacutem do facto desta noccedilatildeo afigurar-
se incorrecta parece criar distinccedilotildees e barreiras entre as pessoas com e sem deficiecircncias
distinccedilotildees que natildeo satildeo necessaacuterias nem deveriam existir Uma tal situaccedilatildeo parece ser
paradoxal atendendo a que a ICIDH possui uma classificaccedilatildeo para cada caracteriacutestica do
organismo fiacutesico e humano (Shakespeare 1994 104)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 15
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Finalmente e mais significativo neste contexto a ICIDH apresenta as deficiecircncias enquanto
causa primaacuteria da incapacidade e da desvantagem Neste contexto a reabilitaccedilatildeo constitui-se
como uma filosofia e uma praacutetica para erradicar ou minimizar os problemas da deficiecircncia e
capacitar aqueles com deficiecircncias designadas para funcionarem nos seus niacuteveis fiacutesico
psicoloacutegico e social mais elevados (Albrecht 1992 23) Por outras palavras as pessoas com
incapacidades tornam-se objectos para serem curados tratados treinados mudados e
tornados normais de acordo com um conjunto particular de valores As limitaccedilotildees de tais
intervenccedilotildees encontram-se sustentadamente documentadas pelos activistas como
incapacidades desde 1960 (Hunt 1966 Sutherland 1981 Zola 1982)
212 A ABORDAGEM LIBERAL OU INTER-RELACIONAL
A abordagem liberal ou inter-relacional encontra-se expressa no uacuteltimo corpo de trabalhos da
OMS para redefinir a incapacidade nomeadamente a Classificaccedilatildeo Internacional de
Funcionalidade Incapacidade e Sauacutede (CIF) conhecida previamente como ICIDH2 (OMS
2002)
Esta redefiniccedilatildeo constituiu uma tentativa concertada para integrar o modelo meacutedico
individualista tradicional e a interpretaccedilatildeo sociopoliacutetica Por um lado como resultado da sua
rejeiccedilatildeo por parte das pessoas com incapacidades organizaccedilotildees e parceiros dentro e fora da
comunidade cientiacutefica (Driedger 1989 Oliver 1990 Barnes et al 2002) e por outro lado
porque apesar da sua vasta utilizaccedilatildeo a sua aplicabilidade tem sido caracterizada por diversas
interpretaccedilotildees (Coleridge 1993 Ingstad 2001) Em siacutentese demonstrou-se como limitada para
muitos dos actores e natildeo forneceu a delimitaccedilatildeo de significado que originalmente pretendia
Em comum com a sua predecessora a CIF manteacutem o constructo tripartido O primeiro niacutevel
deficiecircncia no original relaciona-se com as funccedilotildees e estrutura do organismo O segundo
niacutevel o que era anteriormente incapacidade eacute agora referido como actividade e o terceiro
desvantagem aparece como participaccedilatildeo No entanto e apesar do intenso debate sobre o
significado de incapacidade o conceito eacute preservado como um termo global para os trecircs niacuteveis
de dificuldade de funcionamento Neste cenaacuterio e em contraste com a ICIDH a nova
formulaccedilatildeo eacute apresentada como uma classificaccedilatildeo universal do funcionamento humano As
pessoas ligadas a acccedilotildees de advocacy defendem que esta configuraccedilatildeo oferece um quadro de
inteligibilidade completo para os aspectos funcionais da experiecircncia de sauacutede Nesta
perspectiva a incapacidade permanece uma preocupaccedilatildeo privilegiadamente do domiacutenio da
sauacutede em detrimento do domiacutenio poliacutetico Constitui-se por um lado como um resultado das
caracteriacutesticas da pessoa e por outro dos ambientes fiacutesicos e sociais Deste modo mais do
que se constituir como uma classificaccedilatildeo das pessoas com incapacidades ou dos problemas
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 16
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
que experienciam a CIF afigura-se como uma classificaccedilatildeo do funcionamento a 3 niacuteveis
compreendida em termos neutros (Ustun et al 2001 6-7)
O reconhecimento da importacircncia dos ambientes fiacutesico e social na CIF poderaacute ser equacionado
como uma melhoria significativa em relaccedilatildeo agrave sua predecessora (Hurst 2000) No entanto
parece-nos altamente improvaacutevel que seja mais eficaz do que a anterior classificaccedilatildeo a gerar
uma linguagem universal sobre a incapacidade na medida em que transformar as diferenccedilas
culturais na conceptualizaccedilatildeo das deficiecircncias assume-se como tarefa extremamente
complexa de alcanccedilar (Bury 2000 Miles 2001) Este facto eacute especialmente significativo na
medida em que natildeo obstante a CIF reconhecer o contexto cultural das percepccedilotildees de
incapacidade e por consequecircncia a normalidade o actual sistema de classificaccedilatildeo
permanece fortemente alicerccedilado nas formulaccedilotildees e nos conceitos cientiacuteficos ocidentais
(Finkelstein 1998 Pfeiffer 2000 Baylies 2002)
Adicionalmente apesar da CIF explicitar que os indiviacuteduos satildeo um elemento da anaacutelise da
incapacidade a abordagem biopsicossocial natildeo se encontra muito distanciada do modelo
anterior na medida em que privilegia o indiviacuteduo como ponto de partida para anaacutelise das
funccedilotildees do corpo e actividades O conceito de participaccedilatildeo eacute incluiacutedo mas subdesenvolvido no
esquema conceptual e continua associado agraves circunstacircncias individuais em vez de fortemente
ligado agrave inclusatildeo poliacutetica e social Adicionalmente enquanto a significacircncia do contexto eacute
enfatizada na CIF as estrateacutegias para a sua mensuraccedilatildeo afiguram-se limitadas Os seus
utilizadores satildeo encorajados a classificar os factores ambientais mas natildeo existem ferramentas
eficazes para levar a cabo esta tarefa bem como para avaliar as tendecircncias de incapacidade
ou por outro lado das poliacuteticas governamentais praacuteticas ambientes fiacutesicos e contextos
culturais (Baylies 2002)
Esta aparente descentraccedilatildeo das preocupaccedilotildees poliacuteticas tem caracterizado a maioria da ciecircncia
social mainstream desde o seacuteculo XIX Deste modo a definiccedilatildeo inter-relacional de
incapacidade e a consequente despolitizaccedilatildeo das questotildees associadas reflectiu-se nos
estudos e na literatura produzida nesta aacuterea por acadeacutemicos e investigadores durante a uacuteltima
metade do seacuteculo XX
Mais recentemente reemergiram na Inglaterra um conjunto de respostas poacutes-modernas ao
modelo social da incapacidade Este cenaacuterio tem favorecido o aparecimento de asserccedilotildees de
que tais fenoacutemenos soacute tecircm servido para agudizar e natildeo diminuir a conflituosidade a propoacutesito
da inclusatildeo (Hunt 1981 Germon 1998 Linton 1998 Gordon and Rosenblum 2001)
No quadro da reabilitaccedilatildeo a abordagem inter-relacional eacute sinoacutenima da liberalizaccedilatildeo da poliacutetica
social para as pessoas com incapacidades nos finais dos anos sessenta e setenta em
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 17
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
particular a mudanccedila dos serviccedilos centrados institucionalmente para os serviccedilos e apoios
centrados na comunidade Deste modo a ecircnfase eacute colocada na integraccedilatildeo de pessoas com
incapacidades na sociedade mainstream Os Standards da Equalizaccedilatildeo das Pessoas com
Incapacidades (1993) da ONU explicitam que todos os estados devem providenciar serviccedilos de
reabilitaccedilatildeo Mas esta orientaccedilatildeo recomenda que se vaacute aleacutem do cuidado meacutedico inicial para
incluir uma ampla gama de medidas e actividades desde a reabilitaccedilatildeo baacutesica e generalista
para actividades orientadas por objectivos (UN 199311) Ainda mais significativo todos os
serviccedilos de reabilitaccedilatildeo deveratildeo estar disponiacuteveis nas comunidades locais nas quais as
pessoas com incapacidades se movem No entanto em determinadas circunstacircncias e para
que se reforcem os objectivos de formaccedilatildeo e aprendizagem poderatildeo ser organizados cursos
localizados nas organizaccedilotildees prestadoras de serviccedilos com um quadro temporal o mais
reduzido possiacutevel (UN 1993 19)
Adicionalmente apesar dos Standards enfatizarem a importacircncia do envolvimento das pessoas
com incapacidades e dos seus significativos no desenvolvimento dos programas de
reabilitaccedilatildeo parece natildeo existir uma asserccedilatildeo clara de que tais estrateacutegias devam ser
controladas por ou mensuradas para estes uacuteltimos Existe no entanto uma assunccedilatildeo taacutecita de
que tais serviccedilos seratildeo liderados por profissionais
Adicionalmente desde que a incapacidade na CIF foi apresentada como uma questatildeo de
sauacutede em detrimento de uma questatildeo poliacutetica parece inevitaacutevel que os profissionais no
domiacutenio da reabilitaccedilatildeo continuem a ser dominados ou laquoalienadosraquo pela Medicina (Finkelstein
1998) Este facto poderaacute ficar a dever-se primeiro agrave actual e persistente subjugaccedilatildeo dos
governos nacionais aos interesses corporativos e das organizaccedilotildees econoacutemicas e segundo agrave
diversidade de barreiras econoacutemicas poliacuteticas e culturais experienciadas pelas pessoas com
incapacidades quer nos paiacuteses desenvolvidos quer nos subdesenvolvidos Neste tipo de
cenaacuterio o pensamento ortodoxo sobre a reabilitaccedilatildeo contratualiza um expediente praacutetico para
os poliacuteticos legisladores e organizaccedilotildees profissionais Como resultado os teacutecnicos tecircm
invariavelmente um niacutevel de escolha reduzido na opccedilatildeo pelo modelo meacutedico em detrimento
de soluccedilotildees poliacuteticas colectivas na resposta aos problemas da exclusatildeo
Esta perspectiva parece afigurar-se a oposta da necessaacuteria De facto apoacutes o trabalho de
Talcott Parsons (1951) emergiu uma extensa literatura condenando a laquomedicalizaccedilatildeoraquo do
quotidiano de um conjunto diverso de perspectivas Por exemplo o filoacutesofo austriacuteaco Ivan Illich
nomeou o seacuteculo XX como a era dos profissionais incapacitantes (1977 11) pela sua
apropriaccedilatildeo do conhecimento mistificaccedilatildeo das competecircncias especializadas e a criaccedilatildeo de
uma cultura perversa e persuasiva de dependecircncia Apesar de tais criticas encontrarem a sua
aplicabilidade predominantemente nas naccedilotildees subdesenvolvidas do Ocidente surgiram
trabalhos recentes que sugerem que apesar de existir uma diminuiccedilatildeo significativa dos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 18
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
conhecimentos meacutedicos e de tratamentos com reduzidos niacuteveis de recursos nas naccedilotildees
subdesenvolvidas criacuteticas similares podem ser relevantes para o contexto no qual nos
situamos (Stone 1999 Ingstad 2001 OMS 2001)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 19
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
3 OBJECTIVOS OPERACIONAIS
Pretende-se desenvolver uma anaacutelise longitudinal e multissectorial ao conceito de deficiecircncia
no sentido de estabelecer uma configuraccedilatildeo operacional no quadro da sua aplicabilidade
estatiacutestica Esta anaacutelise insere-se no acircmbito do Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das
Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo
Objectivo Operacionalizar o conceito de deficiecircncia no quadro da sua aplicabilidade
estatiacutestica assegurando os criteacuterios de (a) comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica
e legislativa dentro do contexto portuguecircs (c) conformidade com os referenciais conceptuais
actuais
Metodologia a) Anaacutelise dos referenciais nacionais e internacionais de delimitaccedilatildeo operacional
do conceito b) exploraccedilatildeo de cenaacuterios que viabilizem o cumprimento dos requisitos definidos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 20
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
4 ANAacuteLISE PRELIMINAR DA EVOLUCcedilAtildeO DA TERMINOLOGIA NO
DOMIacuteNIO 41 ESTADO DA ARTE
A evoluccedilatildeo dos conceitos operativos nos domiacutenios da reabilitaccedilatildeo e da inclusatildeo social tem
sido reflectida nas diversas classificaccedilotildees propostas pela OMS Neste quadro evolutivo a
uacuteltima classificaccedilatildeo proposta ndash CIF ndash constitui-se como um modelo de siacutentese entre a
abordagem meacutedica e a abordagem social no domiacutenio da incapacidade e da sauacutede No sentido
de procedermos agrave anaacutelise dos principiais conceitos e termos focalizar-nos-emos na
reestruturaccedilatildeo conceptual proposta pela Classificaccedilatildeo Internacional de Funcionalidade
Incapacidade e Sauacutede (CIF)
O objectivo geral da CIF eacute proporcionar uma linguagem unificada e padronizada assim como
uma estrutura de trabalho para a descriccedilatildeo da sauacutede e de estados relacionados com a sauacutede
A classificaccedilatildeo define os componentes da sauacutede e alguns componentes do bem-estar
relacionados com a sauacutede (tais como educaccedilatildeo e trabalho) Os domiacutenios contidos na CIF
podem portanto ser considerados como domiacutenios da sauacutede e domiacutenios relacionados com a
sauacutede Estes domiacutenios satildeo descritos com base na perspectiva do corpo do indiviacuteduo e da
sociedade em duas listas baacutesicas (1) Funccedilotildees e Estruturas do Corpo e (2) Actividades e
Participaccedilatildeo Como classificaccedilatildeo a CIF agrupa sistematicamente diferentes domiacutenios de uma
pessoa com uma determinada condiccedilatildeo de sauacutede (eg o que uma pessoa com uma doenccedila
ou perturbaccedilatildeo faz ou pode fazer) A funcionalidade eacute um termo que engloba todas as funccedilotildees
do corpo actividades e participaccedilatildeo de maneira similar a incapacidade eacute um termo que inclui
deficiecircncias limitaccedilatildeo da actividade ou restriccedilatildeo na participaccedilatildeo A CIF tambeacutem relaciona os
factores ambientais que interagem com todos estes constructos Neste sentido a classificaccedilatildeo
permite ao utilizador registar perfis uacuteteis da funcionalidade incapacidade e sauacutede dos
indiviacuteduos em vaacuterios domiacutenios
A CIF pertence agrave ldquofamiacuteliardquo das classificaccedilotildees internacionais desenvolvida pela OMS para
aplicaccedilatildeo em vaacuterios aspectos da sauacutede A famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS
proporciona um sistema para a codificaccedilatildeo de uma ampla gama de informaccedilotildees sobre sauacutede
(eg diagnoacutestico funcionalidade e incapacidade motivos de contacto com os serviccedilos de
sauacutede) e utiliza uma linguagem comum padronizada que permite a comunicaccedilatildeo sobre sauacutede e
cuidados de sauacutede em todo o mundo entre vaacuterias disciplinas e ciecircncias
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 21
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Nas classificaccedilotildees internacionais da OMS os estados de sauacutede (doenccedilas perturbaccedilotildees
lesotildees etc) satildeo classificados principalmente na CID-10 (abreviatura da Classificaccedilatildeo
Internacional de Doenccedilas Deacutecima Revisatildeo) que fornece uma estrutura de base etioloacutegica A
funcionalidade e a incapacidade associadas aos estados de sauacutede satildeo classificadas na CIF
Portanto a CID-10 e a CIF satildeo complementares e os utilizadores satildeo estimulados a usar em
conjunto esses dois membros da famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS A CID-10
proporciona um ldquodiagnoacutesticordquo de doenccedilas perturbaccedilotildees ou outras condiccedilotildees de sauacutede que eacute
complementado pelas informaccedilotildees adicionais fornecidas pela CIF sobre funcionalidade Em
conjunto as informaccedilotildees sobre o diagnoacutestico e sobre a funcionalidade datildeo uma imagem mais
ampla e mais significativa da sauacutede das pessoas ou da populaccedilatildeo que pode ser utilizada em
tomadas de decisatildeo
A famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS constitui uma ferramenta valiosa para a
descriccedilatildeo e a comparaccedilatildeo da sauacutede das populaccedilotildees num contexto internacional As
informaccedilotildees sobre a mortalidade (facultadas pela CID-10) e sobre as consequecircncias na sauacutede
(proporcionadas pela CIF) podem ser combinadas de forma a obter medidas sinteacuteticas da
sauacutede das populaccedilotildees Isto permite seguir a sauacutede das populaccedilotildees e a sua distribuiccedilatildeo bem
como avaliar a parte atribuiacuteda agraves diferentes causas
A CIF transformou-se de uma classificaccedilatildeo de ldquoconsequecircncias da doenccedilardquo (versatildeo de 1980)
numa classificaccedilatildeo de ldquocomponentes da sauacutederdquo Os ldquocomponentes da sauacutederdquo identificam o que
constitui a sauacutede enquanto que as consequecircncias se referem ao impacto das doenccedilas na
condiccedilatildeo de sauacutede da pessoa Deste modo a CIF assume uma posiccedilatildeo neutra em relaccedilatildeo agrave
etiologia de modo que os investigadores podem desenvolver inferecircncias causais utilizando
meacutetodos cientiacuteficos adequados De maneira similar esta abordagem tambeacutem eacute diferente de
uma abordagem do tipo determinantes da sauacutede ou ldquofactores de risco Para facilitar o estudo
dos determinantes ou dos factores de risco a CIF inclui uma lista de factores ambientais que
descrevem o contexto em que o indiviacuteduo vive
A CIF descreve a funcionalidade e a incapacidade relacionadas com as condiccedilotildees de sauacutede
identificando o que uma pessoa ldquopode ou natildeo pode fazer na sua vida diaacuteriardquo tendo em vista as
funccedilotildees dos oacutergatildeos ou sistemas e estruturas do corpo assim como as limitaccedilotildees de
actividades e da participaccedilatildeo social no meio ambiente onde a pessoa vive Segundo a OMS a
CID-10 e a CIF satildeo complementares a informaccedilatildeo sobre o diagnoacutestico acrescido da
funcionalidade fornece um quadro mais amplo sobre a sauacutede do indiviacuteduo ou populaccedilotildees Por
exemplo duas pessoas com a mesma doenccedila podem ter diferentes niacuteveis de funcionalidade e
duas pessoas com o mesmo niacutevel de funcionalidade natildeo tecircm necessariamente a mesma
condiccedilatildeo de sauacutede
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 22
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
O termo do modelo da CIF eacute a funcionalidade que cobre os componentes de funccedilotildees e
estruturas do corpo actividade e participaccedilatildeo social A funcionalidade eacute usada no aspecto
positivo e o aspecto negativo corresponde agrave incapacidade Segundo esse modelo a
incapacidade eacute resultante da interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada pelo indiviacuteduo (seja
orgacircnica e ou da estrutura do corpo) a limitaccedilatildeo de suas actividades e a restriccedilatildeo na
participaccedilatildeo social e os factores ambientais que podem actuar como facilitadores ou barreiras
para o desempenho dessas actividades e da participaccedilatildeo
A CIF eacute baseada portanto numa abordagem biopsicossocial que incorpora os componentes
de sauacutede nos niacuteveis corporais e sociais Assim na avaliaccedilatildeo de uma pessoa com deficiecircncias
e incapacidades esse modelo destaca-se do biomeacutedico baseado no diagnoacutestico etioloacutegico da
disfunccedilatildeo evoluindo para um modelo que incorpora as trecircs dimensotildees a biomeacutedica a
psicoloacutegica (dimensatildeo individual) e a social Nesse modelo cada niacutevel age sobre e sofre a
acccedilatildeo dos demais sendo todos influenciados pelos factores ambientais A OMS pretende
incorporar tambeacutem no futuro os factores pessoais importantes na forma de lidar com as
condiccedilotildees limitantes
O objectivo pragmaacutetico da CIF eacute fornecer uma linguagem padronizada e um modelo para a
descriccedilatildeo da sauacutede e dos estados relacionados com a sauacutede permitindo a comparaccedilatildeo de
dados referentes a essas condiccedilotildees entre paiacuteses serviccedilos sectores relativos agrave sauacutede bem
como o acompanhamento da sua evoluccedilatildeo no tempo
No entanto os conceitos apresentados na classificaccedilatildeo introduzem um novo paradigma para
pensar e trabalhar as deficiecircncias e incapacidades elas natildeo satildeo apenas uma consequecircncia
das condiccedilotildees de sauacutede doenccedila mas satildeo determinadas tambeacutem pelo contexto do meio
ambiente fiacutesico e social pelas diferentes percepccedilotildees culturais e atitudes em relaccedilatildeo agrave
deficiecircncias pela disponibilidade de serviccedilos e de legislaccedilatildeo Dessa forma a classificaccedilatildeo natildeo
constitui apenas um instrumento para medir o estado funcional dos indiviacuteduos Aleacutem disso ela
permite avaliar as condiccedilotildees de vida e fornecer subsiacutedios para poliacuteticas de inclusatildeo social
42 FUNCcedilOtildeES DO CORPO
As Funccedilotildees do corpo satildeo as funccedilotildees fisioloacutegicas dos sistemas orgacircnicos (incluindo as
funccedilotildees psicoloacutegicas)
As funccedilotildees e as estruturas do corpo satildeo classificadas em duas secccedilotildees diferentes Essas duas
classificaccedilotildees estatildeo concebidas de forma a serem utilizadas em paralelo Por exemplo as
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 23
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
funccedilotildees do corpo incluem sentidos humanos baacutesicos como as funccedilotildees da visatildeo e as
estruturas relacionadas aparecem na forma de ldquoolho e estruturas relacionadasrdquo
43 ESTRUTURAS DO CORPO
As Estruturas do Corpo satildeo as partes anatoacutemicas do corpo tais como oacutergatildeos membros e
seus componentes
ldquoCorpo refere-se ao organismo humano como um todo por isso o ceacuterebro e as suas funccedilotildees
ie a mente estatildeo incluiacutedos As funccedilotildees mentais (ou psicoloacutegicas) satildeo portanto incluiacutedas nas
funccedilotildees do corpo As funccedilotildees e as estruturas do corpo satildeo classificadas de acordo com os
sistemas orgacircnicos por isso as estruturas do corpo natildeo satildeo consideradas como oacutergatildeos no
seu sentido restrito
44 DEFICIEcircNCIA
Deficiecircncias satildeo problemas nas funccedilotildees ou na estrutura do corpo tais como um desvio
importante ou uma perda
As deficiecircncias de estrutura podem consistir numa anormalidade defeito perda ou outro desvio
importante relativamente a um padratildeo das estruturas do corpo As deficiecircncias foram definidas
de acordo com os conhecimentos bioloacutegicos actuais ao niacutevel de tecidos ou das ceacutelulas e ao
niacutevel subcelular ou molecular Por motivos praacuteticos no entanto esses niacuteveis natildeo estatildeo
classificados As bases bioloacutegicas das deficiecircncias orientaram essa classificaccedilatildeo e eacute possiacutevel
expandir a classificaccedilatildeo para incluir os niacuteveis celular ou molecular Do ponto de vista meacutedico
deve-se ter em mente que as deficiecircncias natildeo satildeo equivalentes agraves patologias subjacentes mas
sim a manifestaccedilotildees dessas patologias
As deficiecircncias correspondem a um desvio relativamente ao que eacute geralmente aceite como
estado biomeacutedico normal (padratildeo) do corpo e das suas funccedilotildees A definiccedilatildeo dos seus
componentes eacute feita essencialmente por pessoas com competecircncia para avaliar a
funcionalidade fiacutesica e mental de acordo com esses padrotildees
As deficiecircncias podem ser temporaacuterias ou permanentes progressivas regressivas ou estaacuteveis
intermitentes ou contiacutenuas O desvio em relaccedilatildeo ao modelo baseado na populaccedilatildeo e
geralmente aceite como normal pode ser leve ou grave e pode variar ao longo do tempo Estas
caracteriacutesticas satildeo consideradas posteriormente em descriccedilotildees adicionais principalmente nos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 24
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
coacutedigos atraveacutes de um qualificador que se acrescenta ao coacutedigo e do qual fica separado por
um ponto
As deficiecircncias natildeo tecircm uma relaccedilatildeo causal com a etiologia ou com a forma como se
desenvolveram Por exemplo a perda da visatildeo ou de um membro pode resultar de uma
anormalidade geneacutetica ou de uma lesatildeo A presenccedila de uma deficiecircncia implica
necessariamente uma causa No entanto a causa pode natildeo ser suficiente para explicar a
deficiecircncia resultante Da mesma forma quando haacute uma deficiecircncia haacute uma disfunccedilatildeo das
funccedilotildees ou estruturas do corpo mas isto pode estar relacionado com qualquer doenccedila
perturbaccedilatildeo ou estado fisioloacutegico
As deficiecircncias podem ser parte ou uma expressatildeo de uma condiccedilatildeo de sauacutede mas natildeo
indicam necessariamente a presenccedila de uma doenccedila ou que o indiviacuteduo deva ser
considerado doente
As deficiecircncias cobrem um campo mais vasto que as perturbaccedilotildees ou as doenccedilas Por
exemplo a perda de uma perna eacute uma deficiecircncia de uma estrutura do corpo mas natildeo eacute uma
perturbaccedilatildeo ou uma doenccedila
As deficiecircncias podem originar outras deficiecircncias Por exemplo a diminuiccedilatildeo da forccedila
muscular pode prejudicar as funccedilotildees do movimento as funccedilotildees cardiacuteacas podem estar
relacionadas com o deacutefice das funccedilotildees respiratoacuterias e uma percepccedilatildeo prejudicada pode estar
relacionada com as funccedilotildees do pensamento
Actualmente na perspectiva da CIF o conceito de deficiecircncia constitui o poacutelo negativo da
componente ldquoFunccedilotildees e Estrutura do Corpordquo sendo descrito atraveacutes da existecircncia de
alteraccedilotildees significativas das funccedilotildees eou das estruturas do corpo O poacutelo positivo desta
componente refere-se agrave integridade funcional e estrutural Neste contexto um dos desafios
criacuteticos das poliacuteticas sociais consiste na operacionalizaccedilatildeo do conceito de deficiecircncia de forma
a que a elegibilidade dos diferentes puacuteblicos alvo se encontre devidamente delimitada
assegurando a eficaacutecia das medidas subjacentes
No entanto a amplitude e abrangecircncia da definiccedilatildeo do conceito de deficiecircncia proposta pela
OMS atraveacutes da CIF coloca um enorme desafio na medida em que qualquer cidadatildeo desde
que apresente um desvio significativo ao niacutevel da estrutura eou funccedilatildeo passa a ser um
potencial beneficiaacuterio das poliacuteticas neste domiacutenio Neste contexto poder-se-atildeo colocar vaacuterias
questotildees A primeira eacute se interessa agraves diferentes poliacuteticas no sector continuarem a ser
desenvolvidas tendo por focus o conceito de pessoas com deficiecircncias sabendo que a sua
distinccedilatildeo ao longo da populaccedilatildeo apenas poderaacute ser feita atraveacutes do niacutevel e extensatildeo da
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
alteraccedilatildeo da integridade estrutural e funcional de cada individuo A segunda questatildeo prende-se
com as consequecircncias conceptuais decorrentes da integraccedilatildeo do modelo social na formulaccedilatildeo
e operacionalizaccedilatildeo dos conceitos a serem utilizados pelas poliacuteticas no sector na medida em
que o aspecto critico deixa de ser a natureza e severidade da deficiecircncia para passar a centrar-
se no niacutevel e tipo de restriccedilotildees de participaccedilatildeo que cada cidadatildeo experiencia na interacccedilatildeo
com os seus contextos de vida
No que concerne agrave primeira questatildeo e atendendo a que a mais recente definiccedilatildeo do conceito
de deficiecircncia proposto pela OMS apresenta um elevado niacutevel de abrangecircncia e um reduzido
potencial diferenciador poderemos equacionar 2 hipoacuteteses centrais de operacionalizaccedilatildeo
a) A primeira hipoacutetese baseia-se na possibilidade de operacionalizar diferentes definiccedilotildees
de deficiecircncia ao longo das diferentes poliacuteticas sociais no sentido de assegurar que as
diferentes medidas alcanccedilam efectivamente as pessoas para as quais foram
elaboradas Esta perspectiva tem a vantagem de uma maior focalizaccedilatildeo nas
caracteriacutesticas especificas do puacuteblico-alvo mas no entanto apresenta uma grande
desvantagem que consiste na elevada probabilidade das diferentes definiccedilotildees
perderem a coerecircncia entre si fragmentando igualmente o modelo teoacuterico a partir do
qual se deveriam basear
b) A segunda hipoacutetese consiste na articulaccedilatildeo operativa de dois conceitos o de
deficiecircncia e o de restriccedilotildees de participaccedilatildeo Nesta perspectiva a elegibilidade de uma
determinada politica social baseia-se na validaccedilatildeo preacutevia da existecircncia da primeira
condiccedilatildeo do puacuteblico-alvo ndash a existecircncia de uma deficiecircncia ndash determinando logo de
seguida o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo a partir do qual os diferentes cidadatildeos
passam a poder aceder agraves medidas especiacuteficas nela contidas O desafio contido nesta
hipoacutetese consiste na necessidade de desenvolvimento de um sistema de avaliaccedilatildeo que
permita avaliar o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo experimentado pelas pessoas com
deficiecircncias determinando atraveacutes do valor aferido quais seriam as pessoas com
acesso agraves medidas Neste cenaacuterio natildeo bastaria que uma pessoa tivesse uma
deficiecircncia pelo que seria necessaacuterio avaliar os efeitos da deficiecircncia em interacccedilatildeo
com o ambiente social ao niacutevel da participaccedilatildeo no sentido de determinar a
elegibilidade As vantagens desta hipoacutetese relacionam-se com (i) a preservaccedilatildeo do
niacutevel de coerecircncia dos conceitos utilizados ao longo das diferentes poliacuteticas sociais (ii)
a existecircncia de um processo comum de afericcedilatildeo e determinaccedilatildeo da elegibilidade ao
longo dos diferentes sectores de politica (iii) a compatibilidade e adequabilidade dos
princiacutepios teoacutericos do modelo social com a operacionalizaccedilatildeo dos sistemas e medidas
poliacuteticos de apoio agraves pessoas com deficiecircncias e (iv) a existecircncia de mecanismos de
avaliaccedilatildeo de elevada transparecircncia controlabilidade e rigor
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
45 INCAPACIDADE
Do ponto de vista de utilizaccedilatildeo dos conceitos de Deficiecircncia e de Incapacidade em Portugal
tecircm subsistido vaacuterias imprecisotildees terminoloacutegicas Primeiro na generalidade dos documentos
internacionais alude-se ao termo ldquopeople with disabilitiesrdquo sendo que invariavelmente esta
expressatildeo eacute traduzida para Portuguecircs como ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo Tal facto parece criar
condiccedilotildees para uma grande permeabilidade semacircntica dificilmente resoluacutevel do ponto de vista
conceptual Segundo deficiecircncia e incapacidade satildeo claramente dois conceitos distintos
Enquanto a deficiecircncia remete para alteraccedilotildees significativas ao niacutevel das estruturas eou das
funccedilotildees do corpo a incapacidade constitui o poacutelo negativo do funcionamento humano em
situaccedilatildeo potencial ou efectiva de participaccedilatildeo no contexto de vida Este facto pressupotildee que os
conceitos de deficiecircncia e de incapacidade natildeo contecircm nenhuma relaccedilatildeo causal entre si nem
nenhuma relaccedilatildeo linear de frequecircncia na medida em que eacute possiacutevel existir uma deficiecircncia
sem que exista uma incapacidade e eacute possiacutevel emergir uma determinada incapacidade sem
que haja uma qualquer deficiecircncia
Deste modo eacute possiacutevel
a) Ter deficiecircncias sem limitaccedilotildees de capacidade (eg uma desfiguraccedilatildeo resultante da
doenccedila de Hansen pode natildeo ter efeito sobre a capacidade da pessoa
b) Ter problemas de desempenho e limitaccedilotildees de capacidade sem deficiecircncias evidentes
(eg reduccedilatildeo de desempenho nas actividades diaacuterias associada a vaacuterias doenccedilas)
c) Ter problemas de desempenho sem deficiecircncias ou limitaccedilotildees de capacidade (eg um
indiviacuteduo HIV positivo ou um ex-doente curado de doenccedila mental que enfrenta
estigmas ou descriminaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais ou no trabalho)
d) Ter limitaccedilotildees de capacidade se natildeo tiver assistecircncia e nenhum problema de
desempenho no ambiente habitual (eg um indiviacuteduo com limitaccedilotildees de mobilidade
pode beneficiar por parte da sociedade de ajudas tecnoloacutegicas de assistecircncia para se
movimentar
e) Experimentar um grau de influecircncia em sentido contraacuterio (eg a inactividade dos
membros pode levar agrave atrofia muscular a institucionalizaccedilatildeo pode resultar numa perda
da socializaccedilatildeo)
Daqui resulta que ao referirmo-nos agraves pessoas com deficiecircncias enquanto puacuteblico-alvo
privilegiado das medidas de reabilitaccedilatildeo poderemos incorrer num desvio significativo de
alocaccedilatildeo dos recursos agraves reais necessidades das pessoas na medida em que natildeo eacute a
deficiecircncia que gera por si mesma a necessidade de reabilitaccedilatildeo mas sim as limitaccedilotildees de
actividade e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo decorrentes da interacccedilatildeo entre as caracteriacutesticas
biopsicossociais e as caracteriacutesticas dos ambientes em que o individuo se move
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
A persistecircncia em traduzir o termo disability para deficiecircncia e natildeo apenas o seu homoacutelogo
anglo-saxoacutenico ndash impairment ndash poderaacute explicar-se pelas seguintes razotildees
a) O potencial efeito estigmatizante da expressatildeo ldquopessoas com incapacidadesrdquo ser maior
do que aquele contido na expressatildeo ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo
b) O termo incapacidade centrar-se exclusivamente nos aspectos negativos do
funcionamento individual classificando a pessoa agrave partida como sendo destituiacuteda de
competecircncias e condiccedilotildees para atingir os niacuteveis normativos de desempenho e
performance num conjunto de domiacutenios da vida pessoal e social
O paradoxo surge igualmente porque enquanto no modelo meacutedico a incapacidade aparece
em termos causais relacionada com a deficiecircncia numa perspectiva exclusivamente individual
no modelo proposto pela OMS operacionalizado na CIF os dois conceitos gozam de total
independecircncia conceptual e operativa sendo que a deficiecircncia passa a ter uma baixa
relevacircncia diferenciadora do ponto de vista do funcionamento humano Ora se atendermos a
que as medidas de reabilitaccedilatildeo pretendem promover os potenciais do funcionamento humano
numa perspectiva de participaccedilatildeo plena do indiviacuteduo nos mais diferenciados contextos de vida
assegurando o co-desenvolvimento de todos os actores e das estruturas sociais necessaacuterias agrave
cidadania plena entatildeo falar de ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo natildeo soacute natildeo eacute relevante no quadro
da loacutegica de intervenccedilatildeo como poderaacute traduzir dificuldades dos actores em mudar
efectivamente do paradigma meacutedico para o paradigma social
Este fenoacutemeno aliaacutes natildeo acontece apenas em Portugal sendo que recentes estudos de
investigaccedilatildeo vieram sugerir a adopccedilatildeo dos conceitos de ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo e
ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo para ultrapassar a aplicaccedilatildeo indevida dos
conceitos de deficiecircncia e incapacidade A utilizaccedilatildeo destes conceitos parece articular de forma
mais precisa com o novo modelo conceptual proposto pela OMS enfatizando a diversidade de
niacuteveis de funcionamento humano e apelando a uma certa noccedilatildeo de relatividade socialmente
construiacuteda Uma das criticas feita pela comunidade de investigadores ao conceito de ldquopessoas
com diversidade funcionalrdquo reside no facto de que a expressatildeo eacute dotada de um tatildeo elevado
niacutevel de abrangecircncia que natildeo permite um niacutevel de diferenciaccedilatildeo relevante na medida em que
todos os cidadatildeos detecircm entre si diversos e diferentes padrotildees de funcionamento humano
Neste sentido o conceito ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo aplicar-se-ia a todos os
cidadatildeos sem excepccedilatildeo A proliferaccedilatildeo destes termos eacute explicada pela necessidade da
comunidade politica e cientifica de construir constructos que sejam socialmente aceites e o
mais neutros possiacuteveis do ponto de vista dos seus valores impliacutecitos No entanto a
impossibilidade epistemoloacutegica de desenvolver expressotildees e conceitos socio-historicamente
neutros parece levar muitas vezes agrave concepccedilatildeo de definiccedilotildees com reduzida identidade isto eacute
de significado demasiado amplo e abrangente o que na expressatildeo da UPIAS ldquopodem significar
tudo e coisiacutessima nenhumardquo (2005)
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Os conceitos ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo ldquopessoas com limitaccedilotildees de
actividaderdquo e ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo afiguram-se comparativamente ao
anterior como um conceito de maior coerecircncia conceptual com o modelo proposto pela OMS e
deteacutem cumulativamente um maior poder diferenciador A sua desvantagem reside no facto de
constituiacuterem expressotildees com maior dificuldade de apreensatildeo e inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
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5 ANAacuteLISE DOS REFERENCIAIS NACIONAIS E INTERNACIONAIS
No sentido de obter um conjunto de vectores de referecircncia na estruturaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo do
conceito de deficiecircncia foram analisadas as abordagens desenvolvidas pelos seguintes
organismos INE Eurostat OCDE American Disabilities Act WHO UN
51 INE
Os dados disponiacuteveis no INE parecem indicar a utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na
ICIDH
Deficiecircncia1 Perda ou alteraccedilatildeo de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou
anatoacutemica Nesta definiccedilatildeo estatildeo incluiacutedas as seguintes tipologias2
Deficiecircncia AUDITIVA
Deficiecircncia MENTAL
Deficiecircncia MOTORA
Deficiecircncia ORGAcircNICO-FUNCIONAL
Deficiecircncia PSIQUIAacuteTRICA
Deficiecircncia VISUAL
Incapacidade3 Ausecircncia ou limitaccedilatildeo da capacidade para funcionar estando comprometida a
realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida
diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e originando uma desvantagem para funcionar em
sociedade face a outros
Pessoa deficiente Aquela que tenha uma ou mais das seguintes deficiecircncias a) deficiecircncia
visual b) deficiecircncia auditiva c) deficiecircncia mental d) deficiecircncia motora
1 Nota Na operaccedilatildeo censitaacuteria de 2001 apenas foi observada a deficiecircncia permanente a deficiecircncia temporaacuteria natildeo foi considerada (por exemplo se um indiviacuteduo se desloca com canadianas ou em cadeira de rodas porque partiu uma perna ou se sofre de descolamento parcial da retina que o obriga a andar com uma venda natildeo foi considerado como tendo uma deficiecircncia) 2 Fonte INE ndash Censos 2001 ndash Recenseamento Geral da Populaccedilatildeo (Antecedentes Metodologia e Conceitos) Antecedentes Metodologia e Conceitos 3 Fonte INS ndash Inqueacuterito Nacional agrave Sauacutede
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Trabalhador deficiente Trabalhador que estaacute incapacitado para assegurar por si mesmo total
ou parcialmente a satisfaccedilatildeo de necessidades de uma vida individual ou social normal devido
a uma deficiecircncia congeacutenita ou adquirida das suas capacidades fiacutesicas sensoriais ou
mentais tendo por isso dificuldade em obter eou manter o desempenho de funccedilotildees de acordo
com as suas habilitaccedilotildees idade e experiecircncia profissional
Cidadatildeo Trabalhador com necessidades especiais Cidadatildeo idoso ou portador de
deficiecircncias sensoriais (visuais e auditivas) fiacutesicas (motoras) e cognitivas
52 EUROSTAT
Os dados disponibilizados pelo Eurostat no seu endereccedilo electroacutenico4 parecem indicar a
utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na ICIDH
Conceito Deficiecircncia5
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de deficiecircncia refere-se a uma perda ou alteraccedilatildeo
de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou anatoacutemica
Conceito Incapacidade6
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de incapacidade refere-se agrave ausecircncia ou limitaccedilatildeo
da capacidade para funcionar estando comprometida a realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas
funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e
originando uma desvantagem para funcionar em sociedade face a outros
Conceito Desvantagem7
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito refere-se agrave desvantagem para um dado individuo
decorrente de uma deficiecircncia ou incapacidade
4 httpforumeuropaeuintircdsiscodedinfodatacodedenTheme3htm 5 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 6 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 7 Fonte Key data on health 2000 Eurostat
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
53 OCDE
Definiccedilotildees gerais de incapacidade
No contexto da OCDE identificam-se 2 abordagens distintas no quadro da definiccedilatildeo de
incapacidade
A incapacidade pode ser definida enquanto um estado decorrente de autoavaliaccedilatildeo ou um
status baseado em fontes administrativas eg beneficiaacuterio dos apoios De forma muito
frequente e talvez de forma imprecisa estas duas definiccedilotildees satildeo explicitadas como
incapacidade ldquosubjectivardquo versus rdquoobjectivardquo
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo e instrumentos
A incapacidade autoavaliada eacute medida atraveacutes de inqueacuteritos feitos directamente aos cidadatildeos
nas suas residecircncias Apesar da avaliaccedilatildeo ser baseada de uma forma geral nas respostas agraves
questotildees relativas a problemas de sauacutede de longo termo que limitam as actividades de vida
diaacuteria o detalhe das questotildees eacute geralmente diferente dificultando a comparabilidade dos
dados Por exemplo ldquolongo termordquo eacute parametrizado em 6 meses na Noruega e em 12 meses
na Suiccedila O status dos beneficiaacuterios pode ser avaliado atraveacutes de registos administrativos ou
atraveacutes de inqueacuteritos Os resultados entre as duas fontes satildeo de uma forma geral bastante
diferentes por duas razotildees nucleares os registos administrativos geralmente contam casos e
natildeo pessoas o que em situaccedilotildees de benefiacutecios muacuteltiplos pode levar a contagens duplas por
outro lado os inqueacuteritos satildeo baseados nas respostas sobre o status do beneficiaacuterio e algumas
pessoas podem desejar natildeo revelar a sua condiccedilatildeo perante os benefiacutecios
Nenhuma destas definiccedilotildees e medidas de mensuraccedilatildeo eacute superior a outras pelo que a sua
utilizaccedilatildeo depende dos objectivos do propoacutesito da investigaccedilatildeo e da disponibilidade da
informaccedilatildeo
Abordagens para medir a incapacidade no quadro da aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos agraves populaccedilotildees
a) Incapacidade geral (natildeo especificada)
Puacuteblico-alvo todos os adultos
b) Incapacidade relativa ao trabalho
Puacuteblico-alvo pessoas em idade activa
c) Limitaccedilotildees nas actividades de vida diaacuteria (AVD)
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Puacuteblico-alvo Populaccedilatildeo idosa
54 AMERICAN DISABILITIES ACT
O American Disabilities Act (ADA) desenvolvido em 1990 fornece um conjunto de guidelines
no sentido de assegurar a disponibilizaccedilatildeo de serviccedilos para as pessoas com deficiecircncias bem
como a protecccedilatildeo dos seus direitos legais
A ADA inclui uma definiccedilatildeo legal de incapacidade consistindo na presenccedila de ldquouma deficiecircncia
fiacutesica ou mental que limita significativamente uma ou mais das principais actividades de vidardquo
Independentemente da definiccedilatildeo proposta pela ADA a existecircncia de muacuteltiplos programas a
favor das pessoas com deficiecircncias e os diferentes focus legais em diferentes puacuteblicos alvo
fazem com que tenham emergido uma multiplicidade de definiccedilotildees de incapacidade ao longo
do tempo no quadro das poliacuteticas sociais americanas
55 OMS ONU Revisatildeo dos actuais inqueacuteritos sobre a incapacidade
Apesar de existir um desenvolvimento consideraacutevel dos inqueacuteritos na aacuterea da incapacidade
poder-se-atildeo explicitar algumas observaccedilotildees relativas agrave sua multiplicidade Numa primeira linha
de anaacutelise os inqueacuteritos tendem a focalizar-se nas limitaccedilotildees de actividade eou na deficiecircncia
No que concerne agrave formulaccedilatildeo escrita tendem a existir diferenccedilas significativas entre
inqueacuteritos facto que inviabiliza natildeo raras vezes a comparabilidade dos dados entre inqueacuteritos
As diferentes formulaccedilotildees das questotildees incluem
Tem dificuldade
Eacute capaz de
Faz
Tem sentido problemas em
com ou sem assistecircncia pessoal eou tecnoloacutegica
A questatildeo que se coloca eacute se estas formulaccedilotildees tecircm o mesmo significado isto eacute se todas elas
pretendem medir a capacidade ou a performance De acordo com a CIF a capacidade
remeteria para o potencial de execuccedilatildeo de um indiviacuteduo enquanto a performance diria respeito
ao niacutevel de desempenho efectivo do indiviacuteduo atraveacutes do seu envolvimento numa situaccedilatildeo de
vida real As lacunas existentes e as poucas referecircncias ao niacutevel da forma como os inquiridos
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satildeo instruiacutedos a responder faz com que natildeo seja possiacutevel desenvolver um discernimento
irrefutaacutevel sobre esta mateacuteria
Do ponto de vista dos domiacutenios abrangidos os inqueacuteritos tecircm apresentado algumas questotildees
sobre a participaccedilatildeo e o ambiente e evidenciam algumas limitaccedilotildees na sua amplitude Os
domiacutenios de actividades e participaccedilatildeo geralmente abrangidos tecircm sido operacionalizados de
uma forma geral nas seguintes dimensotildees
Educaccedilatildeo e emprego (formulado como questotildees de performance)
Outros inqueacuteritos incluem aacutereas como relaccedilotildees interpessoais vida familiar tomada de
decisotildees etc
O domiacutenio relativo aos factores ambientais tem incluiacutedo
Utilizaccedilatildeo e acessibilidadedisponibilidade dos produtos de assistecircncia e da tecnologia
Acessibilidade do ambiente
Disponibilidade dos serviccedilos (sauacutede protecccedilatildeo social educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo)
Evidecircncias muito escassas ao niacutevel da poliacutetica atitudes ambiente natural
planeamento e concepccedilatildeo
A questatildeo de investigaccedilatildeo neste contexto centra-se na seguinte formulaccedilatildeo ldquoo que eacute que os
inqueacuteritos medem como incapacidaderdquo
a) Definiccedilatildeo a priori da incapacidade versus sem incapacidade
Alguns inqueacuteritos sobre a incapacidade especialmente os mais antigos utilizam uma definiccedilatildeo
a priori de incapacidade O objectivo deste tipo de inqueacuteritos eacute contar o nuacutemero de pessoas
que se encaixam na definiccedilatildeo no contexto da populaccedilatildeo total Neste sentido os dados satildeo
analisados de acordo com dois grupos de referecircncia ndash com incapacidade e sem incapacidade ndash
em funccedilatildeo de um conjunto de diferentes variaacuteveis Este tipo de questionaacuterios formula questotildees
do tipo ldquoPossui algum tipo de incapacidade auditiva visual ou fiacutesicardquo Muitas questotildees dos
censos tecircm utilizado este formato
b) Definiccedilatildeo a posteriori de incapacidade versus sem incapacidade
Mais recentemente alguns inqueacuteritos desenvolveram-se em direcccedilatildeo a uma definiccedilatildeo a
posteriori de incapacidade Nestes casos eacute medida a capacidade a performance ao longo de
um conjunto vasto de domiacutenios Este segundo tipo de inqueacuteritos tende a ter uma ampla
aceitaccedilatildeo eg HALS (Canada) HID (Franccedila) inqueacuterito sobre incapacidade na Africa do Sul
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Inqueacuterito Espanhol sobre incapacidade NHIS-D (USA) inqueacuterito Holandecircs entre outros Estes
instrumentos formulam questotildees relativas agraves dificuldades que as pessoas experienciam em
diferentes domiacutenios produzindo um perfil pessoal que possa colocar em evidecircncia os
diferentes graus de capacidade associados A categorizaccedilatildeo de incapacidade sem
incapacidade eacute formulada ao niacutevel do domiacutenio e natildeo como uma categoria geral de atributo
pessoal Esta abordagem permite uma anaacutelise ao niacutevel de funcionamento individual por
domiacutenio por exemplo comparando a experiecircncia de incapacidade no domiacutenio de mobilidade
versus socializaccedilatildeo versus comunicaccedilatildeo entre outros bem como o impacto dos factores
ambientais nestes diferentes domiacutenios O perfil resultante do funcionamento individual ao longo
de muacuteltiplos domiacutenios eacute similar aos estados de sauacutede individuais ao longo das diferentes
dimensotildees
Vantagens de uma abordagem a posteriori
Estaacute em consonacircncia com a abordagem universal proposta pela CIF Todas as
pessoas experienciam deficiecircncia nalgum ponto e esta experiecircncia eacute caracterizada
numa abordagem a posteriori e natildeo a priori
Decisotildees sobre a criaccedilatildeo de categorias sobre quem tem incapacidade e sobre quem
natildeo tem podem ser tomadas atraveacutes de diferentes niacuteveis de anaacutelise por exemplo
atraveacutes da anaacutelise da experiecircncia das pessoas que experienciam incapacidade em 1 2
ou 3 domiacutenios de cruzar o status de emprego de pessoas com incapacidade ao longo
dos diferentes domiacutenios etc
Deixa de ser necessaacuteria uma definiccedilatildeo tipoloacutegica e categoacuterica de pessoas com
incapacidade O que necessita de ser definido neste contexto eacute o que se designa por
limitaccedilatildeo da capacidade ou problemas de performance ao longo dos diferentes
domiacutenios
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6 SISTEMATIZACcedilAtildeO DAS DIMENSOtildeES DE ORGANIZACcedilAtildeO E
OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em todos os estudos efectuados neste domiacutenio foi colocada em evidecircncia a actual dificuldade
de comparabilidade estatiacutestica internacional inter ou intra sectorial independentemente do
organismo referenciador ndash OCDE ONU EUROSTAT INE OMS
Neste contexto desenvolver-se-aacute a extracccedilatildeo de conhecimento tendo por base a identificaccedilatildeo
de um conjunto de eixos de anaacutelise que actuem como vectores de estruturaccedilatildeo na
operacionalizaccedilatildeo do conceito A este propoacutesito atente-se no Quadro 2
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Abordagem Focus Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Delimitaccedilatildeo temporal do
conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo
Design das questotildees
CID-10
ICIDH
ICF
SauacutedeDoenccedila
Deficiecircncia
Incapacidade
a) Geral
b) Relativa ao trabalho
c) Limitaccedilotildees nas
actividades de vida
diaacuteria
Funcionalidade ndash
Niacuteveis de execuccedilatildeo
das actividades por
domiacutenio e niacuteveistipos
de ajudas mobilizadas
Intersubjectivo ndash
vg inqueacuteritos
Objectivo ndash vg
fontes administrativas
A priori
A posteriori
Temporaacuterias
permanentes
Progressivas
regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou
contiacutenuas
Tipo 1 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre uma determinada
condiccedilatildeo individual
combinada com itens
referentes a limitaccedilotildees de
actividade e participaccedilatildeo e
factores contextuais
Tipo 2 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre a presenccedila de uma
pessoa com incapacidade
no agregado familiar
seguindo-se uma lista de
deficiecircncias e
incapacidades
Tipo 3 ndash Checklist de
deficiecircncias
Quadro 2 ndash Eixos de operacionalizaccedilatildeo do conceito
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 37
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 38
Dezembro2006
7 ESCOLHA DO CENAacuteRIO A IMPLEMENTAR
A anaacutelise do Quadro 2 permite-nos uma definiccedilatildeo modular do cenaacuterio a implementar atraveacutes de
uma configuraccedilatildeo do conceito pelos eixos de anaacutelise propostos Uma das dificuldades
evidentes nesta delimitaccedilatildeo prende-se com o cumprimento dos requisitos de (a)
comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica e legislativa dentro do contexto portuguecircs
e (c) conformidade com os referenciais conceptuais actuais sendo que a coexistecircncia destes
criteacuterios afigura-se em muitos casos incompatiacutevel entre si Para efeitos da estruturaccedilatildeo do
cenaacuterio privilegiar-se-aacute a conformidade com os referenciais conceptuais actuais
71 ABORDAGEM No que concerne agrave abordagem privilegia-se a adopccedilatildeo das mais recentes directrizes propostas
pela OMS adoptando explicitamente a CIF
Fundamentaccedilatildeo
A CIF apresenta a capacidade para descrever o funcionamento humano numa
perspectiva biopsicossocial em detrimento da classificaccedilatildeo anterior (ICIDH) que se
focalizava na dimensatildeo biomeacutedica A CIF foi desenvolvida no plano conceptual para ser aplicaacutevel em diferentes aacutereas e
sectores A CIF eacute aplicaacutevel transversalmente agraves dimensotildees de cultura idade geacutenero sendo um
instrumento sistemaacutetico para descrever e medir a sauacutede e o funcionamento humano
num dado contexto A CIF constitui-se enquanto instrumento potencial para a poliacutetica social design das
intervenccedilotildees nos domiacutenios da sauacutede educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e intervenccedilatildeo social Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
72 FOCUS
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo da centraccedilatildeo da recolha de dados ao niacutevel
da dimensatildeo de funcionalidade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
Fundamentaccedilatildeo
Consonacircncia com o modelo conceptual proposto pela CIF enfatizando o caraacutecter
dinacircmico e interaccional (pessoa factores contextuais) do funcionamento de cada
pessoa Permite caracterizar as limitaccedilotildees de actividade e restriccedilotildees de participaccedilatildeo dos
cidadatildeos identificando necessidades de intervenccedilotildees especializadas numa loacutegica de
empowerment e participaccedilatildeo social Permite analisar a adequabilidade e ajustamento das actuais medidas poliacuteticas do
ponto de vista dos seus objectivos e os problemas detectados ao niacutevel da participaccedilatildeo
dos cidadatildeos ao longo de um conjunto diversificado de domiacutenios
73 MEacuteTODOS DE MENSURACcedilAtildeO
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo de meacutetodos intersubjectivos nomeadamente
inqueacuteritos
Fundamentaccedilatildeo
Flexibilidade ao niacutevel da abrangecircncia e profundidade das dimensotildees
Maior facilidade na implementaccedilatildeo atendendo agrave disponibilizaccedilatildeo de uma amostra
delimitada
Maior niacutevel de controlo sobre as condiccedilotildees de observaccedilatildeo e da entrevista devido ao
menor nuacutemero de entrevistas a ser implementado
74 DELIMITACcedilAtildeO CONCEPTUAL E TEMPORAL DO CONCEITO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo temporal e apesar de se privilegiar as vantagens anteriormente
explicitadas no desenvolvimento de uma definiccedilatildeo a posteriori assume-se a necessidade
politica de delimitar o campo de intervenccedilatildeo do conjunto de medidas sociais neste domiacutenio
pelo que a delimitaccedilatildeo conceptual poderaacute ser objecto de operacionalizaccedilatildeo atraveacutes dos
seguintes paracircmetros
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
Poder-se-aacute colocar a questatildeo de saber se a delimitaccedilatildeo do conceito proposta remete
especificamente para ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ou para ldquopessoas com limitaccedilotildees de
participaccedilatildeordquo Atendendo a que a definiccedilatildeo comporta uma abordagem sisteacutemica enfatizando a
interacccedilatildeo entre um conjunto diversificado de componentes que produzem impacto na
funcionalidade da pessoa a resposta natildeo eacute linear dependendo da ecircnfase socio-histoacuterica e da
abordagem sociopoliacutetica que se escolher enfatizar No entanto e do ponto de vista conceptual
privilegia-se a adopccedilatildeo do conceito ldquopessoas com limitaccedilotildees de participaccedilatildeordquo dado que existe
total autonomia operativa entre os diferentes constructos Neste sentido a deficiecircncia natildeo
constitui um factor causal linear das limitaccedilotildees de actividade e das restriccedilotildees ao niacutevel da
participaccedilatildeo mas antes uma das componentes que em interacccedilatildeo com outras podem
provocar impactos ao niacutevel da funcionalidade do indiviacuteduo Por uacuteltimo refira-se que a tipologia
ldquopessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeordquo poderaacute ser alvo de criticas por constituir
uma designaccedilatildeo que apela a duas componentes em simultacircneo (actividades e participaccedilatildeo)
excluindo outras e ser demasiado longa para uma definiccedilatildeo tipoloacutegica A este propoacutesito pode-
se sugerir a delimitaccedilatildeo ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo constituindo esta
expressatildeo uma abordagem holiacutestica ao conjunto de componentes que interferem com o
funcionamento humano Deste modo poderemos ter as seguintes designaccedilotildees
Pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Pessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo
Pessoas com limitaccedilotildees de funcionalidade
Figura 2 ndash Possiacuteveis designaccedilotildees
O Quadro 3 pretende fornecer uma visatildeo sistemaacutetica sobre o processo de decisatildeo da
designaccedilatildeo a adoptar
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
deficiecircncias
Tradiccedilatildeo analiacutetica dentro do
contexto portuguecircs
Em conformidade com o modelo
meacutedico ndash centra-se nas alteraccedilotildees
de estrutura e funccedilatildeo ndash
focalizaccedilatildeo na pessoa
Desarticulado dos pressupostos do
modelo social ndash natildeo remete para a
experiecircncia de incapacidade
enquanto produto da interacccedilatildeo
entre pessoa e ambiente
Mai
or
Abr
angecirc
ncia
Mai
or
Espe
cific
idad
e
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 41
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
incapacidades
Em conformidade com a
delimitaccedilatildeo anglo-saxoacutenica que
utiliza o conceito Disability
Focalizaccedilatildeo no poacutelo negativo do
funcionamento humano ndash
funcionalidadeincapacidade
Ao focalizar-se na experiecircncia de
incapacidade enquanto
interacccedilatildeo pessoa-ambiente
remete indirectamente para a
mobilizaccedilatildeo de apoios e recursos
de forma a ultrapassar eou
eliminar os obstaacuteculos ao
funcionamento em contexto
O potencial efeito estigmatizante
da expressatildeo ldquopessoas com
incapacidadesrdquo
Pessoas com
diversidade
Funcional
Em conformidade com o modelo
social
Focaliza-se na gestatildeo das
diferenccedilas e no seu impacto ao
niacutevel da participaccedilatildeo das pessoas
na sociedade
Elevado niacutevel de abrangecircncia natildeo
permitindo um niacutevel de
diferenciaccedilatildeo relevante na
medida em que todos os cidadatildeos
detecircm entre si diversos e
diferentes padrotildees de
funcionamento humano
Conceito dificilmente
operacionalizaacutevel do ponto de
vista da formulaccedilatildeo das poliacuteticas e
da delimitaccedilatildeo dos puacuteblicos-alvo
Pessoas com
restriccedilotildees ao
niacutevel da
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos Desta forma
todos os obstaacuteculos agrave participaccedilatildeo
relacionados com discriminaccedilatildeo
social preconceitos estereoacutetipos
deficiecircncias doenccedilas croacutenicas
entre outros satildeo incluiacutedos
Natildeo inclui as limitaccedilotildees de
actividade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
limitaccedilotildees de
actividade e
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida e simultaneamente no
domiacutenio das limitaccedilotildees de
actividade
Ruptura com a tradiccedilatildeo analiacutetica
no sector
Dificuldade de apreensatildeo e
inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Natildeo inclui as alteraccedilotildees da
estrutura e da funccedilatildeo
Pessoas com
limitaccedilotildees de
funcionalidade
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel das
diferentes dimensotildees constituintes
da funcionalidade e do
funcionamento humano
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos
Pessoas com
deficiecircncias e
incapacidades
Natildeo introduz ruptura com a
tradiccedilatildeo analiacutetica no sector
Inclui as alteraccedilotildees de estrutura e
funccedilatildeo bem como as alteraccedilotildees
decorrentes ao niacutevel da
funcionalidade
Diferencia os conceitos de
deficiecircncia e incapacidade
autonomizando-os e fornecendo
uma base compreensiva para o
natildeo estabelecimento de relaccedilotildees
de causa-efeito entre os ambos
Abrange os obstaacuteculos que
emergem na interacccedilatildeo pessoa-
contextos de vida e
simultaneamente no domiacutenio das
limitaccedilotildees de actividade
Poder diferenciador e delimitador
na definiccedilatildeo do puacuteblico-alvo
Em alinhamento estrateacutegico com o
PAIPDI
Designaccedilatildeo de compromisso com
os referenciais teoacutericos do modelo
social e dos princiacutepios da ldquoeacutetica da
diversidaderdquo
Quadro 3 ndash Visatildeo comparativa das hipoacuteteses da designaccedilatildeo a adoptar
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 43
Dezembro2006
75 DELIMITACcedilAtildeO DA DURACcedilAtildeO E CURSO DE EVOLUCcedilAtildeO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo interessa a caracterizaccedilatildeo nas
3 dimensotildees desenvolvidas
Fundamentaccedilatildeo
Afigura-se relevante caracterizar a ocorrecircncia das deficiecircncias quanto aacute sua
consistecircncia no tempo ndash temporaacuterias permanentes ndash analisando os factores
contextuais associados consequecircncias ao niacutevel das actividades e da participaccedilatildeo ao
longo de um conjunto de domiacutenios em ordem agrave extracccedilatildeo de implicaccedilotildees no acircmbito
das poliacuteticas sociais
No acircmbito da adaptabilidade e da adequaccedilatildeo das medidas poliacuteticas agraves necessidades
especiacuteficas dos cidadatildeos torna-se relevante caracterizar a deficiecircncia quanto agrave
natureza do seu curso evolutivo ndash progressivas regressivas estaacuteveis O mesmo
criteacuterio eacute aplicaacutevel quanto aacute dimensatildeo de padratildeo de manifestaccedilatildeo ndash intermitente
contiacutenua
No entanto e apesar da incapacidade se manifestar ao longo do ciclo de vida da pessoa
de forma multimodal para efeitos de delimitaccedilatildeo e de definiccedilatildeo do conceito de pessoas
com deficiecircncias e incapacidades privilegiaremos o caraacutecter permanente Desta forma
excluem-se as manifestaccedilotildees temporaacuterias de incapacidade que enviesariam a anaacutelise e o
desenvolvimento de poliacuteticas neste domiacutenio
76 DESIGN DAS QUESTOtildeES
No que concerne ao design das questotildees privilegia-se a escolha de questotildees tipo 1
Fundamentaccedilatildeo
Em consonacircncia com a CIF
Permite comparabilidade estatiacutestica futura
Permite a caracterizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre os factores de funcionalidade ndash integridade
estrutural e funcional actividades participaccedilatildeo e factores contextuais
Permite o design das poliacuteticas sociais e metodologias de intervenccedilatildeo alicerccediladas nas
necessidades especiacuteficas dos cidadatildeos em torno das dimensotildees de inclusatildeo social
Domiacutenios
Visatildeo
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
Audiccedilatildeo
Comunicaccedilatildeo
Mobilidade
Dor
Aprendizagem e funcionamento psicoloacutegico
Autocuidados e vida domeacutestica
Condiccedilotildees gerais de sauacutede
Mobilizaccedilatildeo de ajudas ou equipamento especializado
Participaccedilatildeo social
Transporte e educaccedilatildeo
77 PROPOSTA DE DELIMITACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em funccedilatildeo das dimensotildees caracterizadas e dos criteacuterios privilegiados desenvolveu-se o
seguinte enquadramento conceptual
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
Figura 2 ndash Enquadramento conceptual da delimitaccedilatildeo do conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso da evoluccedilatildeo
Temporaacuterias permanentes
Progressivas regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou contiacutenuas
Focus
Funcionalidade ndash Niacuteveis de execuccedilatildeo das actividades por domiacutenio e niacuteveistipos de ajudas mobilizadas
Abordagem CIF
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo temporal do conceito
A priori
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Inter-subjectivo
Design das questotildees
Questatildeo geneacuterica sobre uma determinada condiccedilatildeo individual combinada com itens referentes a limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo e factores contextuais
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
8 CRITEacuteRIOS DE ELEGIBILIDADE DO PUacuteBLICO-ALVO E SISTEMAS DE
AVALIACcedilAtildeO
A operacionalizaccedilatildeo do conceito de incapacidade tem sido abordada de forma heterogeacutenea
entre diferentes modalidades de politica e os diferentes contextos socioculturais de cada paiacutes
De uma forma geral encontram-se 2 eixos criacuteticos na sua operacionalizaccedilatildeo
a) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de trabalho (na ocupaccedilatildeo preacutevia ou numa nova
ocupaccedilatildeo ajustada agraves alteraccedilotildees funcionais)
b) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de obter rendimentos provenientes do trabalho
A explicitaccedilatildeo dos criteacuterios de delimitaccedilatildeo do conceito de incapacidade nos diferentes paiacuteses
encontra-se na Quadro 4
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Austraacutelia 2 Criteacuterios possuir uma incapacidade que resulte
num score nunca inferior a 20 nas tabelas de
incapacidades e incapacidade em trabalhar 30
horas ou mais por semana ou em ser
reconvertido para trabalho em contexto regular
nos proacuteximos 2 anos
Nenhum
Aacuteustria 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho (50
de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo para
trabalhadores sem qualificaccedilotildees) papel criacutetico
das decisotildees dos tribunais devido a definiccedilotildees
legais imprecisas
Nenhum mas as
restriccedilotildees de sauacutede
devem ter uma duraccedilatildeo
igual ou superior a 6
meses
Beacutelgica 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na actual ocupaccedilatildeo
1 ano
Canada Incapacidade severa e prolongada que impeccedila de
desenvolver trabalho numa base regular
Nenhum
Dinamarca 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum mas a
reabilitaccedilatildeo precisa de
estar completa
Franccedila 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual mas a
totalidade do subsidio requer igualmente perda de
capacidade de trabalho
Nenhum no caso das
condiccedilotildees estarem
estaacuteveis mas muito
frequentemente apoacutes 3
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
anos
Alemanha 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho a
incapacidade parcial eacute calculada em funccedilatildeo do nordm
de horas que a pessoa pode trabalhar
Nenhum mas a
incapacidade deve ter
uma duraccedilatildeo miacutenima
de 26 semanas
Itaacutelia 666reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum
Coreia Criteacuterios meacutedicos (niacuteveis de incapacidade
definidos de forma detalhada)
Periacuteodo de espera de
50 dias (os subsiacutedios
de doenccedila natildeo se
encontram disponiacuteveis)
Meacutexico 50 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo Nenhum
Holanda 15 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
(25 para os trabalhadores por conta proacutepria e
jovens com incapacidade) grau de incapacidade
calculado pela diferenccedila de remuneraccedilatildeo entre o
actual posto de trabalho compatiacutevel com as
limitaccedilotildees funcionais e o anterior
1 ano
Noruega 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho O
grau de subsiacutedio eacute calculado pela capacidade de
remuneraccedilatildeo
Nenhum (apoacutes ter
completado a
reabilitaccedilatildeo vocacional)
Poloacutenia Reduccedilatildeo temporaacuteria ou permanente da
capacidade de trabalho
Nenhum
Portugal 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual
Nenhum mas na
praacutetica ao fim de 3
anos (fim do periacuteodo de
doenccedila de longo termo)
Espanha 33 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho na
ocupaccedilatildeo actual incapacidade para todo e
qualquer trabalho para a totalidade do subsiacutedio
1 ano (embora seja
possiacutevel a candidatura
antes deste prazo em
casos de incapacidade
permanente)
Sueacutecia 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho grau
de incapacidade parcial calculado a partir das
horas que uma pessoa pode trabalhar
Nenhum
Suiccedila 40 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho para
as pessoas inactivas o grau de incapacidade eacute
calculado em relaccedilatildeo aacute actividade actual
1 ano
Turquia 666 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho
com um focus meacutedico bastante significativo
Nenhum
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Reino Unido Limitaccedilotildees nas actividades de vida quotidianas
relevantes para o trabalho (avaliaccedilotildees meacutedicas
predominantes) teste ocupacional durante a s
primeiras 28 semanas (subsidio de doenccedila)
28 semanas
Estados
Unidos
Reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
incapacidade em investir numa actividade
profissional com rendimentos ($ US 740 por mecircs)
5 meses (nem sempre
cobertos pelos
subsiacutedios de curto-
termo) e 24 meses
para a cobertura
meacutedica
Quadro 4 ndash Definiccedilotildees de incapacidade e tempos regulamentares
Um dos desafios que se coloca aos actuais sistemas reside na delimitaccedilatildeo da elegibilidade do
puacuteblico-alvo Para cumprir este objectivo satildeo necessaacuterios sistemas de avaliaccedilatildeo holiacutesticos
abrangentes coerentes e que permitam chegar a resultados de forma consistente e com
validade interna No actual contexto a CIF propotildee constituir-se como o instrumento conceptual
abrangente para caracterizar os diferentes domiacutenios e niacuteveis de funcionalidade incapacidade
de forma coerente e integrada Neste sentido uma das vantagens apontadas para a adopccedilatildeo
do modelo desenvolvido pela OMS eacute a possibilidade de uniformizaccedilatildeo de conceitos e portanto
da utilizaccedilatildeo de uma linguagem padratildeo que permita a comunicaccedilatildeo entre investigadores
gestores profissionais de sauacutede organizaccedilotildees da sociedade civil e utilizadores em geral
Um dos campos de estudo mais explorados para a aplicaccedilatildeo da CIF tem sido a aacuterea de
Medicina Fiacutesica e de Reabilitaccedilatildeo no que concerne ao acompanhamento do estado de sauacutede
dos pacientes em tratamento O uso da CIF tem sido considerado tambeacutem na avaliaccedilatildeo apoacutes
transtornos agudos condiccedilotildees traumaacuteticas condiccedilotildees croacutenicas e na geriatria
Alguns autores argumentam que a CIF deve ser explorada como uma base de informaccedilotildees
padronizadas em estudos sobre incapacidade profissional quando haacute necessidade de
relacionar dados de sauacutede ocupacional com os da Seguranccedila Social
Na Sauacutede Puacuteblica tradicionalmente pouca atenccedilatildeo tem sido dada agraves pessoas com
incapacidades No entanto ao lado de recentes investimentos por parte de organizaccedilotildees e de
alguns governos a publicaccedilatildeo do modelo da CIF fornece as bases para as poliacuteticas e
disciplinas da Sauacutede Puacuteblica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo que apresenta deficiecircncias e
incapacidades Assim uma das possibilidades de uso da CIF pode ser a contribuiccedilatildeo para
responder a importantes questotildees de sauacutede puacuteblica tais como qual o estado de sauacutede das
pessoas com deficiecircncias comparadas com as demais que necessidades e que tipos de
intervenccedilotildees satildeo mais adequadas para reduzir condiccedilotildees secundaacuterias e promover a
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na sociedade entre outras
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 51
Dezembro2006
Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
Dezembro2006
Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 53
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Finalmente e mais significativo neste contexto a ICIDH apresenta as deficiecircncias enquanto
causa primaacuteria da incapacidade e da desvantagem Neste contexto a reabilitaccedilatildeo constitui-se
como uma filosofia e uma praacutetica para erradicar ou minimizar os problemas da deficiecircncia e
capacitar aqueles com deficiecircncias designadas para funcionarem nos seus niacuteveis fiacutesico
psicoloacutegico e social mais elevados (Albrecht 1992 23) Por outras palavras as pessoas com
incapacidades tornam-se objectos para serem curados tratados treinados mudados e
tornados normais de acordo com um conjunto particular de valores As limitaccedilotildees de tais
intervenccedilotildees encontram-se sustentadamente documentadas pelos activistas como
incapacidades desde 1960 (Hunt 1966 Sutherland 1981 Zola 1982)
212 A ABORDAGEM LIBERAL OU INTER-RELACIONAL
A abordagem liberal ou inter-relacional encontra-se expressa no uacuteltimo corpo de trabalhos da
OMS para redefinir a incapacidade nomeadamente a Classificaccedilatildeo Internacional de
Funcionalidade Incapacidade e Sauacutede (CIF) conhecida previamente como ICIDH2 (OMS
2002)
Esta redefiniccedilatildeo constituiu uma tentativa concertada para integrar o modelo meacutedico
individualista tradicional e a interpretaccedilatildeo sociopoliacutetica Por um lado como resultado da sua
rejeiccedilatildeo por parte das pessoas com incapacidades organizaccedilotildees e parceiros dentro e fora da
comunidade cientiacutefica (Driedger 1989 Oliver 1990 Barnes et al 2002) e por outro lado
porque apesar da sua vasta utilizaccedilatildeo a sua aplicabilidade tem sido caracterizada por diversas
interpretaccedilotildees (Coleridge 1993 Ingstad 2001) Em siacutentese demonstrou-se como limitada para
muitos dos actores e natildeo forneceu a delimitaccedilatildeo de significado que originalmente pretendia
Em comum com a sua predecessora a CIF manteacutem o constructo tripartido O primeiro niacutevel
deficiecircncia no original relaciona-se com as funccedilotildees e estrutura do organismo O segundo
niacutevel o que era anteriormente incapacidade eacute agora referido como actividade e o terceiro
desvantagem aparece como participaccedilatildeo No entanto e apesar do intenso debate sobre o
significado de incapacidade o conceito eacute preservado como um termo global para os trecircs niacuteveis
de dificuldade de funcionamento Neste cenaacuterio e em contraste com a ICIDH a nova
formulaccedilatildeo eacute apresentada como uma classificaccedilatildeo universal do funcionamento humano As
pessoas ligadas a acccedilotildees de advocacy defendem que esta configuraccedilatildeo oferece um quadro de
inteligibilidade completo para os aspectos funcionais da experiecircncia de sauacutede Nesta
perspectiva a incapacidade permanece uma preocupaccedilatildeo privilegiadamente do domiacutenio da
sauacutede em detrimento do domiacutenio poliacutetico Constitui-se por um lado como um resultado das
caracteriacutesticas da pessoa e por outro dos ambientes fiacutesicos e sociais Deste modo mais do
que se constituir como uma classificaccedilatildeo das pessoas com incapacidades ou dos problemas
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 16
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
que experienciam a CIF afigura-se como uma classificaccedilatildeo do funcionamento a 3 niacuteveis
compreendida em termos neutros (Ustun et al 2001 6-7)
O reconhecimento da importacircncia dos ambientes fiacutesico e social na CIF poderaacute ser equacionado
como uma melhoria significativa em relaccedilatildeo agrave sua predecessora (Hurst 2000) No entanto
parece-nos altamente improvaacutevel que seja mais eficaz do que a anterior classificaccedilatildeo a gerar
uma linguagem universal sobre a incapacidade na medida em que transformar as diferenccedilas
culturais na conceptualizaccedilatildeo das deficiecircncias assume-se como tarefa extremamente
complexa de alcanccedilar (Bury 2000 Miles 2001) Este facto eacute especialmente significativo na
medida em que natildeo obstante a CIF reconhecer o contexto cultural das percepccedilotildees de
incapacidade e por consequecircncia a normalidade o actual sistema de classificaccedilatildeo
permanece fortemente alicerccedilado nas formulaccedilotildees e nos conceitos cientiacuteficos ocidentais
(Finkelstein 1998 Pfeiffer 2000 Baylies 2002)
Adicionalmente apesar da CIF explicitar que os indiviacuteduos satildeo um elemento da anaacutelise da
incapacidade a abordagem biopsicossocial natildeo se encontra muito distanciada do modelo
anterior na medida em que privilegia o indiviacuteduo como ponto de partida para anaacutelise das
funccedilotildees do corpo e actividades O conceito de participaccedilatildeo eacute incluiacutedo mas subdesenvolvido no
esquema conceptual e continua associado agraves circunstacircncias individuais em vez de fortemente
ligado agrave inclusatildeo poliacutetica e social Adicionalmente enquanto a significacircncia do contexto eacute
enfatizada na CIF as estrateacutegias para a sua mensuraccedilatildeo afiguram-se limitadas Os seus
utilizadores satildeo encorajados a classificar os factores ambientais mas natildeo existem ferramentas
eficazes para levar a cabo esta tarefa bem como para avaliar as tendecircncias de incapacidade
ou por outro lado das poliacuteticas governamentais praacuteticas ambientes fiacutesicos e contextos
culturais (Baylies 2002)
Esta aparente descentraccedilatildeo das preocupaccedilotildees poliacuteticas tem caracterizado a maioria da ciecircncia
social mainstream desde o seacuteculo XIX Deste modo a definiccedilatildeo inter-relacional de
incapacidade e a consequente despolitizaccedilatildeo das questotildees associadas reflectiu-se nos
estudos e na literatura produzida nesta aacuterea por acadeacutemicos e investigadores durante a uacuteltima
metade do seacuteculo XX
Mais recentemente reemergiram na Inglaterra um conjunto de respostas poacutes-modernas ao
modelo social da incapacidade Este cenaacuterio tem favorecido o aparecimento de asserccedilotildees de
que tais fenoacutemenos soacute tecircm servido para agudizar e natildeo diminuir a conflituosidade a propoacutesito
da inclusatildeo (Hunt 1981 Germon 1998 Linton 1998 Gordon and Rosenblum 2001)
No quadro da reabilitaccedilatildeo a abordagem inter-relacional eacute sinoacutenima da liberalizaccedilatildeo da poliacutetica
social para as pessoas com incapacidades nos finais dos anos sessenta e setenta em
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 17
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
particular a mudanccedila dos serviccedilos centrados institucionalmente para os serviccedilos e apoios
centrados na comunidade Deste modo a ecircnfase eacute colocada na integraccedilatildeo de pessoas com
incapacidades na sociedade mainstream Os Standards da Equalizaccedilatildeo das Pessoas com
Incapacidades (1993) da ONU explicitam que todos os estados devem providenciar serviccedilos de
reabilitaccedilatildeo Mas esta orientaccedilatildeo recomenda que se vaacute aleacutem do cuidado meacutedico inicial para
incluir uma ampla gama de medidas e actividades desde a reabilitaccedilatildeo baacutesica e generalista
para actividades orientadas por objectivos (UN 199311) Ainda mais significativo todos os
serviccedilos de reabilitaccedilatildeo deveratildeo estar disponiacuteveis nas comunidades locais nas quais as
pessoas com incapacidades se movem No entanto em determinadas circunstacircncias e para
que se reforcem os objectivos de formaccedilatildeo e aprendizagem poderatildeo ser organizados cursos
localizados nas organizaccedilotildees prestadoras de serviccedilos com um quadro temporal o mais
reduzido possiacutevel (UN 1993 19)
Adicionalmente apesar dos Standards enfatizarem a importacircncia do envolvimento das pessoas
com incapacidades e dos seus significativos no desenvolvimento dos programas de
reabilitaccedilatildeo parece natildeo existir uma asserccedilatildeo clara de que tais estrateacutegias devam ser
controladas por ou mensuradas para estes uacuteltimos Existe no entanto uma assunccedilatildeo taacutecita de
que tais serviccedilos seratildeo liderados por profissionais
Adicionalmente desde que a incapacidade na CIF foi apresentada como uma questatildeo de
sauacutede em detrimento de uma questatildeo poliacutetica parece inevitaacutevel que os profissionais no
domiacutenio da reabilitaccedilatildeo continuem a ser dominados ou laquoalienadosraquo pela Medicina (Finkelstein
1998) Este facto poderaacute ficar a dever-se primeiro agrave actual e persistente subjugaccedilatildeo dos
governos nacionais aos interesses corporativos e das organizaccedilotildees econoacutemicas e segundo agrave
diversidade de barreiras econoacutemicas poliacuteticas e culturais experienciadas pelas pessoas com
incapacidades quer nos paiacuteses desenvolvidos quer nos subdesenvolvidos Neste tipo de
cenaacuterio o pensamento ortodoxo sobre a reabilitaccedilatildeo contratualiza um expediente praacutetico para
os poliacuteticos legisladores e organizaccedilotildees profissionais Como resultado os teacutecnicos tecircm
invariavelmente um niacutevel de escolha reduzido na opccedilatildeo pelo modelo meacutedico em detrimento
de soluccedilotildees poliacuteticas colectivas na resposta aos problemas da exclusatildeo
Esta perspectiva parece afigurar-se a oposta da necessaacuteria De facto apoacutes o trabalho de
Talcott Parsons (1951) emergiu uma extensa literatura condenando a laquomedicalizaccedilatildeoraquo do
quotidiano de um conjunto diverso de perspectivas Por exemplo o filoacutesofo austriacuteaco Ivan Illich
nomeou o seacuteculo XX como a era dos profissionais incapacitantes (1977 11) pela sua
apropriaccedilatildeo do conhecimento mistificaccedilatildeo das competecircncias especializadas e a criaccedilatildeo de
uma cultura perversa e persuasiva de dependecircncia Apesar de tais criticas encontrarem a sua
aplicabilidade predominantemente nas naccedilotildees subdesenvolvidas do Ocidente surgiram
trabalhos recentes que sugerem que apesar de existir uma diminuiccedilatildeo significativa dos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 18
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
conhecimentos meacutedicos e de tratamentos com reduzidos niacuteveis de recursos nas naccedilotildees
subdesenvolvidas criacuteticas similares podem ser relevantes para o contexto no qual nos
situamos (Stone 1999 Ingstad 2001 OMS 2001)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 19
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
3 OBJECTIVOS OPERACIONAIS
Pretende-se desenvolver uma anaacutelise longitudinal e multissectorial ao conceito de deficiecircncia
no sentido de estabelecer uma configuraccedilatildeo operacional no quadro da sua aplicabilidade
estatiacutestica Esta anaacutelise insere-se no acircmbito do Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das
Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo
Objectivo Operacionalizar o conceito de deficiecircncia no quadro da sua aplicabilidade
estatiacutestica assegurando os criteacuterios de (a) comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica
e legislativa dentro do contexto portuguecircs (c) conformidade com os referenciais conceptuais
actuais
Metodologia a) Anaacutelise dos referenciais nacionais e internacionais de delimitaccedilatildeo operacional
do conceito b) exploraccedilatildeo de cenaacuterios que viabilizem o cumprimento dos requisitos definidos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 20
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
4 ANAacuteLISE PRELIMINAR DA EVOLUCcedilAtildeO DA TERMINOLOGIA NO
DOMIacuteNIO 41 ESTADO DA ARTE
A evoluccedilatildeo dos conceitos operativos nos domiacutenios da reabilitaccedilatildeo e da inclusatildeo social tem
sido reflectida nas diversas classificaccedilotildees propostas pela OMS Neste quadro evolutivo a
uacuteltima classificaccedilatildeo proposta ndash CIF ndash constitui-se como um modelo de siacutentese entre a
abordagem meacutedica e a abordagem social no domiacutenio da incapacidade e da sauacutede No sentido
de procedermos agrave anaacutelise dos principiais conceitos e termos focalizar-nos-emos na
reestruturaccedilatildeo conceptual proposta pela Classificaccedilatildeo Internacional de Funcionalidade
Incapacidade e Sauacutede (CIF)
O objectivo geral da CIF eacute proporcionar uma linguagem unificada e padronizada assim como
uma estrutura de trabalho para a descriccedilatildeo da sauacutede e de estados relacionados com a sauacutede
A classificaccedilatildeo define os componentes da sauacutede e alguns componentes do bem-estar
relacionados com a sauacutede (tais como educaccedilatildeo e trabalho) Os domiacutenios contidos na CIF
podem portanto ser considerados como domiacutenios da sauacutede e domiacutenios relacionados com a
sauacutede Estes domiacutenios satildeo descritos com base na perspectiva do corpo do indiviacuteduo e da
sociedade em duas listas baacutesicas (1) Funccedilotildees e Estruturas do Corpo e (2) Actividades e
Participaccedilatildeo Como classificaccedilatildeo a CIF agrupa sistematicamente diferentes domiacutenios de uma
pessoa com uma determinada condiccedilatildeo de sauacutede (eg o que uma pessoa com uma doenccedila
ou perturbaccedilatildeo faz ou pode fazer) A funcionalidade eacute um termo que engloba todas as funccedilotildees
do corpo actividades e participaccedilatildeo de maneira similar a incapacidade eacute um termo que inclui
deficiecircncias limitaccedilatildeo da actividade ou restriccedilatildeo na participaccedilatildeo A CIF tambeacutem relaciona os
factores ambientais que interagem com todos estes constructos Neste sentido a classificaccedilatildeo
permite ao utilizador registar perfis uacuteteis da funcionalidade incapacidade e sauacutede dos
indiviacuteduos em vaacuterios domiacutenios
A CIF pertence agrave ldquofamiacuteliardquo das classificaccedilotildees internacionais desenvolvida pela OMS para
aplicaccedilatildeo em vaacuterios aspectos da sauacutede A famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS
proporciona um sistema para a codificaccedilatildeo de uma ampla gama de informaccedilotildees sobre sauacutede
(eg diagnoacutestico funcionalidade e incapacidade motivos de contacto com os serviccedilos de
sauacutede) e utiliza uma linguagem comum padronizada que permite a comunicaccedilatildeo sobre sauacutede e
cuidados de sauacutede em todo o mundo entre vaacuterias disciplinas e ciecircncias
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 21
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Nas classificaccedilotildees internacionais da OMS os estados de sauacutede (doenccedilas perturbaccedilotildees
lesotildees etc) satildeo classificados principalmente na CID-10 (abreviatura da Classificaccedilatildeo
Internacional de Doenccedilas Deacutecima Revisatildeo) que fornece uma estrutura de base etioloacutegica A
funcionalidade e a incapacidade associadas aos estados de sauacutede satildeo classificadas na CIF
Portanto a CID-10 e a CIF satildeo complementares e os utilizadores satildeo estimulados a usar em
conjunto esses dois membros da famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS A CID-10
proporciona um ldquodiagnoacutesticordquo de doenccedilas perturbaccedilotildees ou outras condiccedilotildees de sauacutede que eacute
complementado pelas informaccedilotildees adicionais fornecidas pela CIF sobre funcionalidade Em
conjunto as informaccedilotildees sobre o diagnoacutestico e sobre a funcionalidade datildeo uma imagem mais
ampla e mais significativa da sauacutede das pessoas ou da populaccedilatildeo que pode ser utilizada em
tomadas de decisatildeo
A famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS constitui uma ferramenta valiosa para a
descriccedilatildeo e a comparaccedilatildeo da sauacutede das populaccedilotildees num contexto internacional As
informaccedilotildees sobre a mortalidade (facultadas pela CID-10) e sobre as consequecircncias na sauacutede
(proporcionadas pela CIF) podem ser combinadas de forma a obter medidas sinteacuteticas da
sauacutede das populaccedilotildees Isto permite seguir a sauacutede das populaccedilotildees e a sua distribuiccedilatildeo bem
como avaliar a parte atribuiacuteda agraves diferentes causas
A CIF transformou-se de uma classificaccedilatildeo de ldquoconsequecircncias da doenccedilardquo (versatildeo de 1980)
numa classificaccedilatildeo de ldquocomponentes da sauacutederdquo Os ldquocomponentes da sauacutederdquo identificam o que
constitui a sauacutede enquanto que as consequecircncias se referem ao impacto das doenccedilas na
condiccedilatildeo de sauacutede da pessoa Deste modo a CIF assume uma posiccedilatildeo neutra em relaccedilatildeo agrave
etiologia de modo que os investigadores podem desenvolver inferecircncias causais utilizando
meacutetodos cientiacuteficos adequados De maneira similar esta abordagem tambeacutem eacute diferente de
uma abordagem do tipo determinantes da sauacutede ou ldquofactores de risco Para facilitar o estudo
dos determinantes ou dos factores de risco a CIF inclui uma lista de factores ambientais que
descrevem o contexto em que o indiviacuteduo vive
A CIF descreve a funcionalidade e a incapacidade relacionadas com as condiccedilotildees de sauacutede
identificando o que uma pessoa ldquopode ou natildeo pode fazer na sua vida diaacuteriardquo tendo em vista as
funccedilotildees dos oacutergatildeos ou sistemas e estruturas do corpo assim como as limitaccedilotildees de
actividades e da participaccedilatildeo social no meio ambiente onde a pessoa vive Segundo a OMS a
CID-10 e a CIF satildeo complementares a informaccedilatildeo sobre o diagnoacutestico acrescido da
funcionalidade fornece um quadro mais amplo sobre a sauacutede do indiviacuteduo ou populaccedilotildees Por
exemplo duas pessoas com a mesma doenccedila podem ter diferentes niacuteveis de funcionalidade e
duas pessoas com o mesmo niacutevel de funcionalidade natildeo tecircm necessariamente a mesma
condiccedilatildeo de sauacutede
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 22
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
O termo do modelo da CIF eacute a funcionalidade que cobre os componentes de funccedilotildees e
estruturas do corpo actividade e participaccedilatildeo social A funcionalidade eacute usada no aspecto
positivo e o aspecto negativo corresponde agrave incapacidade Segundo esse modelo a
incapacidade eacute resultante da interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada pelo indiviacuteduo (seja
orgacircnica e ou da estrutura do corpo) a limitaccedilatildeo de suas actividades e a restriccedilatildeo na
participaccedilatildeo social e os factores ambientais que podem actuar como facilitadores ou barreiras
para o desempenho dessas actividades e da participaccedilatildeo
A CIF eacute baseada portanto numa abordagem biopsicossocial que incorpora os componentes
de sauacutede nos niacuteveis corporais e sociais Assim na avaliaccedilatildeo de uma pessoa com deficiecircncias
e incapacidades esse modelo destaca-se do biomeacutedico baseado no diagnoacutestico etioloacutegico da
disfunccedilatildeo evoluindo para um modelo que incorpora as trecircs dimensotildees a biomeacutedica a
psicoloacutegica (dimensatildeo individual) e a social Nesse modelo cada niacutevel age sobre e sofre a
acccedilatildeo dos demais sendo todos influenciados pelos factores ambientais A OMS pretende
incorporar tambeacutem no futuro os factores pessoais importantes na forma de lidar com as
condiccedilotildees limitantes
O objectivo pragmaacutetico da CIF eacute fornecer uma linguagem padronizada e um modelo para a
descriccedilatildeo da sauacutede e dos estados relacionados com a sauacutede permitindo a comparaccedilatildeo de
dados referentes a essas condiccedilotildees entre paiacuteses serviccedilos sectores relativos agrave sauacutede bem
como o acompanhamento da sua evoluccedilatildeo no tempo
No entanto os conceitos apresentados na classificaccedilatildeo introduzem um novo paradigma para
pensar e trabalhar as deficiecircncias e incapacidades elas natildeo satildeo apenas uma consequecircncia
das condiccedilotildees de sauacutede doenccedila mas satildeo determinadas tambeacutem pelo contexto do meio
ambiente fiacutesico e social pelas diferentes percepccedilotildees culturais e atitudes em relaccedilatildeo agrave
deficiecircncias pela disponibilidade de serviccedilos e de legislaccedilatildeo Dessa forma a classificaccedilatildeo natildeo
constitui apenas um instrumento para medir o estado funcional dos indiviacuteduos Aleacutem disso ela
permite avaliar as condiccedilotildees de vida e fornecer subsiacutedios para poliacuteticas de inclusatildeo social
42 FUNCcedilOtildeES DO CORPO
As Funccedilotildees do corpo satildeo as funccedilotildees fisioloacutegicas dos sistemas orgacircnicos (incluindo as
funccedilotildees psicoloacutegicas)
As funccedilotildees e as estruturas do corpo satildeo classificadas em duas secccedilotildees diferentes Essas duas
classificaccedilotildees estatildeo concebidas de forma a serem utilizadas em paralelo Por exemplo as
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 23
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
funccedilotildees do corpo incluem sentidos humanos baacutesicos como as funccedilotildees da visatildeo e as
estruturas relacionadas aparecem na forma de ldquoolho e estruturas relacionadasrdquo
43 ESTRUTURAS DO CORPO
As Estruturas do Corpo satildeo as partes anatoacutemicas do corpo tais como oacutergatildeos membros e
seus componentes
ldquoCorpo refere-se ao organismo humano como um todo por isso o ceacuterebro e as suas funccedilotildees
ie a mente estatildeo incluiacutedos As funccedilotildees mentais (ou psicoloacutegicas) satildeo portanto incluiacutedas nas
funccedilotildees do corpo As funccedilotildees e as estruturas do corpo satildeo classificadas de acordo com os
sistemas orgacircnicos por isso as estruturas do corpo natildeo satildeo consideradas como oacutergatildeos no
seu sentido restrito
44 DEFICIEcircNCIA
Deficiecircncias satildeo problemas nas funccedilotildees ou na estrutura do corpo tais como um desvio
importante ou uma perda
As deficiecircncias de estrutura podem consistir numa anormalidade defeito perda ou outro desvio
importante relativamente a um padratildeo das estruturas do corpo As deficiecircncias foram definidas
de acordo com os conhecimentos bioloacutegicos actuais ao niacutevel de tecidos ou das ceacutelulas e ao
niacutevel subcelular ou molecular Por motivos praacuteticos no entanto esses niacuteveis natildeo estatildeo
classificados As bases bioloacutegicas das deficiecircncias orientaram essa classificaccedilatildeo e eacute possiacutevel
expandir a classificaccedilatildeo para incluir os niacuteveis celular ou molecular Do ponto de vista meacutedico
deve-se ter em mente que as deficiecircncias natildeo satildeo equivalentes agraves patologias subjacentes mas
sim a manifestaccedilotildees dessas patologias
As deficiecircncias correspondem a um desvio relativamente ao que eacute geralmente aceite como
estado biomeacutedico normal (padratildeo) do corpo e das suas funccedilotildees A definiccedilatildeo dos seus
componentes eacute feita essencialmente por pessoas com competecircncia para avaliar a
funcionalidade fiacutesica e mental de acordo com esses padrotildees
As deficiecircncias podem ser temporaacuterias ou permanentes progressivas regressivas ou estaacuteveis
intermitentes ou contiacutenuas O desvio em relaccedilatildeo ao modelo baseado na populaccedilatildeo e
geralmente aceite como normal pode ser leve ou grave e pode variar ao longo do tempo Estas
caracteriacutesticas satildeo consideradas posteriormente em descriccedilotildees adicionais principalmente nos
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Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
coacutedigos atraveacutes de um qualificador que se acrescenta ao coacutedigo e do qual fica separado por
um ponto
As deficiecircncias natildeo tecircm uma relaccedilatildeo causal com a etiologia ou com a forma como se
desenvolveram Por exemplo a perda da visatildeo ou de um membro pode resultar de uma
anormalidade geneacutetica ou de uma lesatildeo A presenccedila de uma deficiecircncia implica
necessariamente uma causa No entanto a causa pode natildeo ser suficiente para explicar a
deficiecircncia resultante Da mesma forma quando haacute uma deficiecircncia haacute uma disfunccedilatildeo das
funccedilotildees ou estruturas do corpo mas isto pode estar relacionado com qualquer doenccedila
perturbaccedilatildeo ou estado fisioloacutegico
As deficiecircncias podem ser parte ou uma expressatildeo de uma condiccedilatildeo de sauacutede mas natildeo
indicam necessariamente a presenccedila de uma doenccedila ou que o indiviacuteduo deva ser
considerado doente
As deficiecircncias cobrem um campo mais vasto que as perturbaccedilotildees ou as doenccedilas Por
exemplo a perda de uma perna eacute uma deficiecircncia de uma estrutura do corpo mas natildeo eacute uma
perturbaccedilatildeo ou uma doenccedila
As deficiecircncias podem originar outras deficiecircncias Por exemplo a diminuiccedilatildeo da forccedila
muscular pode prejudicar as funccedilotildees do movimento as funccedilotildees cardiacuteacas podem estar
relacionadas com o deacutefice das funccedilotildees respiratoacuterias e uma percepccedilatildeo prejudicada pode estar
relacionada com as funccedilotildees do pensamento
Actualmente na perspectiva da CIF o conceito de deficiecircncia constitui o poacutelo negativo da
componente ldquoFunccedilotildees e Estrutura do Corpordquo sendo descrito atraveacutes da existecircncia de
alteraccedilotildees significativas das funccedilotildees eou das estruturas do corpo O poacutelo positivo desta
componente refere-se agrave integridade funcional e estrutural Neste contexto um dos desafios
criacuteticos das poliacuteticas sociais consiste na operacionalizaccedilatildeo do conceito de deficiecircncia de forma
a que a elegibilidade dos diferentes puacuteblicos alvo se encontre devidamente delimitada
assegurando a eficaacutecia das medidas subjacentes
No entanto a amplitude e abrangecircncia da definiccedilatildeo do conceito de deficiecircncia proposta pela
OMS atraveacutes da CIF coloca um enorme desafio na medida em que qualquer cidadatildeo desde
que apresente um desvio significativo ao niacutevel da estrutura eou funccedilatildeo passa a ser um
potencial beneficiaacuterio das poliacuteticas neste domiacutenio Neste contexto poder-se-atildeo colocar vaacuterias
questotildees A primeira eacute se interessa agraves diferentes poliacuteticas no sector continuarem a ser
desenvolvidas tendo por focus o conceito de pessoas com deficiecircncias sabendo que a sua
distinccedilatildeo ao longo da populaccedilatildeo apenas poderaacute ser feita atraveacutes do niacutevel e extensatildeo da
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Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
alteraccedilatildeo da integridade estrutural e funcional de cada individuo A segunda questatildeo prende-se
com as consequecircncias conceptuais decorrentes da integraccedilatildeo do modelo social na formulaccedilatildeo
e operacionalizaccedilatildeo dos conceitos a serem utilizados pelas poliacuteticas no sector na medida em
que o aspecto critico deixa de ser a natureza e severidade da deficiecircncia para passar a centrar-
se no niacutevel e tipo de restriccedilotildees de participaccedilatildeo que cada cidadatildeo experiencia na interacccedilatildeo
com os seus contextos de vida
No que concerne agrave primeira questatildeo e atendendo a que a mais recente definiccedilatildeo do conceito
de deficiecircncia proposto pela OMS apresenta um elevado niacutevel de abrangecircncia e um reduzido
potencial diferenciador poderemos equacionar 2 hipoacuteteses centrais de operacionalizaccedilatildeo
a) A primeira hipoacutetese baseia-se na possibilidade de operacionalizar diferentes definiccedilotildees
de deficiecircncia ao longo das diferentes poliacuteticas sociais no sentido de assegurar que as
diferentes medidas alcanccedilam efectivamente as pessoas para as quais foram
elaboradas Esta perspectiva tem a vantagem de uma maior focalizaccedilatildeo nas
caracteriacutesticas especificas do puacuteblico-alvo mas no entanto apresenta uma grande
desvantagem que consiste na elevada probabilidade das diferentes definiccedilotildees
perderem a coerecircncia entre si fragmentando igualmente o modelo teoacuterico a partir do
qual se deveriam basear
b) A segunda hipoacutetese consiste na articulaccedilatildeo operativa de dois conceitos o de
deficiecircncia e o de restriccedilotildees de participaccedilatildeo Nesta perspectiva a elegibilidade de uma
determinada politica social baseia-se na validaccedilatildeo preacutevia da existecircncia da primeira
condiccedilatildeo do puacuteblico-alvo ndash a existecircncia de uma deficiecircncia ndash determinando logo de
seguida o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo a partir do qual os diferentes cidadatildeos
passam a poder aceder agraves medidas especiacuteficas nela contidas O desafio contido nesta
hipoacutetese consiste na necessidade de desenvolvimento de um sistema de avaliaccedilatildeo que
permita avaliar o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo experimentado pelas pessoas com
deficiecircncias determinando atraveacutes do valor aferido quais seriam as pessoas com
acesso agraves medidas Neste cenaacuterio natildeo bastaria que uma pessoa tivesse uma
deficiecircncia pelo que seria necessaacuterio avaliar os efeitos da deficiecircncia em interacccedilatildeo
com o ambiente social ao niacutevel da participaccedilatildeo no sentido de determinar a
elegibilidade As vantagens desta hipoacutetese relacionam-se com (i) a preservaccedilatildeo do
niacutevel de coerecircncia dos conceitos utilizados ao longo das diferentes poliacuteticas sociais (ii)
a existecircncia de um processo comum de afericcedilatildeo e determinaccedilatildeo da elegibilidade ao
longo dos diferentes sectores de politica (iii) a compatibilidade e adequabilidade dos
princiacutepios teoacutericos do modelo social com a operacionalizaccedilatildeo dos sistemas e medidas
poliacuteticos de apoio agraves pessoas com deficiecircncias e (iv) a existecircncia de mecanismos de
avaliaccedilatildeo de elevada transparecircncia controlabilidade e rigor
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Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
45 INCAPACIDADE
Do ponto de vista de utilizaccedilatildeo dos conceitos de Deficiecircncia e de Incapacidade em Portugal
tecircm subsistido vaacuterias imprecisotildees terminoloacutegicas Primeiro na generalidade dos documentos
internacionais alude-se ao termo ldquopeople with disabilitiesrdquo sendo que invariavelmente esta
expressatildeo eacute traduzida para Portuguecircs como ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo Tal facto parece criar
condiccedilotildees para uma grande permeabilidade semacircntica dificilmente resoluacutevel do ponto de vista
conceptual Segundo deficiecircncia e incapacidade satildeo claramente dois conceitos distintos
Enquanto a deficiecircncia remete para alteraccedilotildees significativas ao niacutevel das estruturas eou das
funccedilotildees do corpo a incapacidade constitui o poacutelo negativo do funcionamento humano em
situaccedilatildeo potencial ou efectiva de participaccedilatildeo no contexto de vida Este facto pressupotildee que os
conceitos de deficiecircncia e de incapacidade natildeo contecircm nenhuma relaccedilatildeo causal entre si nem
nenhuma relaccedilatildeo linear de frequecircncia na medida em que eacute possiacutevel existir uma deficiecircncia
sem que exista uma incapacidade e eacute possiacutevel emergir uma determinada incapacidade sem
que haja uma qualquer deficiecircncia
Deste modo eacute possiacutevel
a) Ter deficiecircncias sem limitaccedilotildees de capacidade (eg uma desfiguraccedilatildeo resultante da
doenccedila de Hansen pode natildeo ter efeito sobre a capacidade da pessoa
b) Ter problemas de desempenho e limitaccedilotildees de capacidade sem deficiecircncias evidentes
(eg reduccedilatildeo de desempenho nas actividades diaacuterias associada a vaacuterias doenccedilas)
c) Ter problemas de desempenho sem deficiecircncias ou limitaccedilotildees de capacidade (eg um
indiviacuteduo HIV positivo ou um ex-doente curado de doenccedila mental que enfrenta
estigmas ou descriminaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais ou no trabalho)
d) Ter limitaccedilotildees de capacidade se natildeo tiver assistecircncia e nenhum problema de
desempenho no ambiente habitual (eg um indiviacuteduo com limitaccedilotildees de mobilidade
pode beneficiar por parte da sociedade de ajudas tecnoloacutegicas de assistecircncia para se
movimentar
e) Experimentar um grau de influecircncia em sentido contraacuterio (eg a inactividade dos
membros pode levar agrave atrofia muscular a institucionalizaccedilatildeo pode resultar numa perda
da socializaccedilatildeo)
Daqui resulta que ao referirmo-nos agraves pessoas com deficiecircncias enquanto puacuteblico-alvo
privilegiado das medidas de reabilitaccedilatildeo poderemos incorrer num desvio significativo de
alocaccedilatildeo dos recursos agraves reais necessidades das pessoas na medida em que natildeo eacute a
deficiecircncia que gera por si mesma a necessidade de reabilitaccedilatildeo mas sim as limitaccedilotildees de
actividade e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo decorrentes da interacccedilatildeo entre as caracteriacutesticas
biopsicossociais e as caracteriacutesticas dos ambientes em que o individuo se move
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
A persistecircncia em traduzir o termo disability para deficiecircncia e natildeo apenas o seu homoacutelogo
anglo-saxoacutenico ndash impairment ndash poderaacute explicar-se pelas seguintes razotildees
a) O potencial efeito estigmatizante da expressatildeo ldquopessoas com incapacidadesrdquo ser maior
do que aquele contido na expressatildeo ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo
b) O termo incapacidade centrar-se exclusivamente nos aspectos negativos do
funcionamento individual classificando a pessoa agrave partida como sendo destituiacuteda de
competecircncias e condiccedilotildees para atingir os niacuteveis normativos de desempenho e
performance num conjunto de domiacutenios da vida pessoal e social
O paradoxo surge igualmente porque enquanto no modelo meacutedico a incapacidade aparece
em termos causais relacionada com a deficiecircncia numa perspectiva exclusivamente individual
no modelo proposto pela OMS operacionalizado na CIF os dois conceitos gozam de total
independecircncia conceptual e operativa sendo que a deficiecircncia passa a ter uma baixa
relevacircncia diferenciadora do ponto de vista do funcionamento humano Ora se atendermos a
que as medidas de reabilitaccedilatildeo pretendem promover os potenciais do funcionamento humano
numa perspectiva de participaccedilatildeo plena do indiviacuteduo nos mais diferenciados contextos de vida
assegurando o co-desenvolvimento de todos os actores e das estruturas sociais necessaacuterias agrave
cidadania plena entatildeo falar de ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo natildeo soacute natildeo eacute relevante no quadro
da loacutegica de intervenccedilatildeo como poderaacute traduzir dificuldades dos actores em mudar
efectivamente do paradigma meacutedico para o paradigma social
Este fenoacutemeno aliaacutes natildeo acontece apenas em Portugal sendo que recentes estudos de
investigaccedilatildeo vieram sugerir a adopccedilatildeo dos conceitos de ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo e
ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo para ultrapassar a aplicaccedilatildeo indevida dos
conceitos de deficiecircncia e incapacidade A utilizaccedilatildeo destes conceitos parece articular de forma
mais precisa com o novo modelo conceptual proposto pela OMS enfatizando a diversidade de
niacuteveis de funcionamento humano e apelando a uma certa noccedilatildeo de relatividade socialmente
construiacuteda Uma das criticas feita pela comunidade de investigadores ao conceito de ldquopessoas
com diversidade funcionalrdquo reside no facto de que a expressatildeo eacute dotada de um tatildeo elevado
niacutevel de abrangecircncia que natildeo permite um niacutevel de diferenciaccedilatildeo relevante na medida em que
todos os cidadatildeos detecircm entre si diversos e diferentes padrotildees de funcionamento humano
Neste sentido o conceito ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo aplicar-se-ia a todos os
cidadatildeos sem excepccedilatildeo A proliferaccedilatildeo destes termos eacute explicada pela necessidade da
comunidade politica e cientifica de construir constructos que sejam socialmente aceites e o
mais neutros possiacuteveis do ponto de vista dos seus valores impliacutecitos No entanto a
impossibilidade epistemoloacutegica de desenvolver expressotildees e conceitos socio-historicamente
neutros parece levar muitas vezes agrave concepccedilatildeo de definiccedilotildees com reduzida identidade isto eacute
de significado demasiado amplo e abrangente o que na expressatildeo da UPIAS ldquopodem significar
tudo e coisiacutessima nenhumardquo (2005)
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Os conceitos ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo ldquopessoas com limitaccedilotildees de
actividaderdquo e ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo afiguram-se comparativamente ao
anterior como um conceito de maior coerecircncia conceptual com o modelo proposto pela OMS e
deteacutem cumulativamente um maior poder diferenciador A sua desvantagem reside no facto de
constituiacuterem expressotildees com maior dificuldade de apreensatildeo e inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 29
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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5 ANAacuteLISE DOS REFERENCIAIS NACIONAIS E INTERNACIONAIS
No sentido de obter um conjunto de vectores de referecircncia na estruturaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo do
conceito de deficiecircncia foram analisadas as abordagens desenvolvidas pelos seguintes
organismos INE Eurostat OCDE American Disabilities Act WHO UN
51 INE
Os dados disponiacuteveis no INE parecem indicar a utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na
ICIDH
Deficiecircncia1 Perda ou alteraccedilatildeo de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou
anatoacutemica Nesta definiccedilatildeo estatildeo incluiacutedas as seguintes tipologias2
Deficiecircncia AUDITIVA
Deficiecircncia MENTAL
Deficiecircncia MOTORA
Deficiecircncia ORGAcircNICO-FUNCIONAL
Deficiecircncia PSIQUIAacuteTRICA
Deficiecircncia VISUAL
Incapacidade3 Ausecircncia ou limitaccedilatildeo da capacidade para funcionar estando comprometida a
realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida
diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e originando uma desvantagem para funcionar em
sociedade face a outros
Pessoa deficiente Aquela que tenha uma ou mais das seguintes deficiecircncias a) deficiecircncia
visual b) deficiecircncia auditiva c) deficiecircncia mental d) deficiecircncia motora
1 Nota Na operaccedilatildeo censitaacuteria de 2001 apenas foi observada a deficiecircncia permanente a deficiecircncia temporaacuteria natildeo foi considerada (por exemplo se um indiviacuteduo se desloca com canadianas ou em cadeira de rodas porque partiu uma perna ou se sofre de descolamento parcial da retina que o obriga a andar com uma venda natildeo foi considerado como tendo uma deficiecircncia) 2 Fonte INE ndash Censos 2001 ndash Recenseamento Geral da Populaccedilatildeo (Antecedentes Metodologia e Conceitos) Antecedentes Metodologia e Conceitos 3 Fonte INS ndash Inqueacuterito Nacional agrave Sauacutede
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Trabalhador deficiente Trabalhador que estaacute incapacitado para assegurar por si mesmo total
ou parcialmente a satisfaccedilatildeo de necessidades de uma vida individual ou social normal devido
a uma deficiecircncia congeacutenita ou adquirida das suas capacidades fiacutesicas sensoriais ou
mentais tendo por isso dificuldade em obter eou manter o desempenho de funccedilotildees de acordo
com as suas habilitaccedilotildees idade e experiecircncia profissional
Cidadatildeo Trabalhador com necessidades especiais Cidadatildeo idoso ou portador de
deficiecircncias sensoriais (visuais e auditivas) fiacutesicas (motoras) e cognitivas
52 EUROSTAT
Os dados disponibilizados pelo Eurostat no seu endereccedilo electroacutenico4 parecem indicar a
utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na ICIDH
Conceito Deficiecircncia5
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de deficiecircncia refere-se a uma perda ou alteraccedilatildeo
de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou anatoacutemica
Conceito Incapacidade6
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de incapacidade refere-se agrave ausecircncia ou limitaccedilatildeo
da capacidade para funcionar estando comprometida a realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas
funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e
originando uma desvantagem para funcionar em sociedade face a outros
Conceito Desvantagem7
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito refere-se agrave desvantagem para um dado individuo
decorrente de uma deficiecircncia ou incapacidade
4 httpforumeuropaeuintircdsiscodedinfodatacodedenTheme3htm 5 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 6 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 7 Fonte Key data on health 2000 Eurostat
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
53 OCDE
Definiccedilotildees gerais de incapacidade
No contexto da OCDE identificam-se 2 abordagens distintas no quadro da definiccedilatildeo de
incapacidade
A incapacidade pode ser definida enquanto um estado decorrente de autoavaliaccedilatildeo ou um
status baseado em fontes administrativas eg beneficiaacuterio dos apoios De forma muito
frequente e talvez de forma imprecisa estas duas definiccedilotildees satildeo explicitadas como
incapacidade ldquosubjectivardquo versus rdquoobjectivardquo
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo e instrumentos
A incapacidade autoavaliada eacute medida atraveacutes de inqueacuteritos feitos directamente aos cidadatildeos
nas suas residecircncias Apesar da avaliaccedilatildeo ser baseada de uma forma geral nas respostas agraves
questotildees relativas a problemas de sauacutede de longo termo que limitam as actividades de vida
diaacuteria o detalhe das questotildees eacute geralmente diferente dificultando a comparabilidade dos
dados Por exemplo ldquolongo termordquo eacute parametrizado em 6 meses na Noruega e em 12 meses
na Suiccedila O status dos beneficiaacuterios pode ser avaliado atraveacutes de registos administrativos ou
atraveacutes de inqueacuteritos Os resultados entre as duas fontes satildeo de uma forma geral bastante
diferentes por duas razotildees nucleares os registos administrativos geralmente contam casos e
natildeo pessoas o que em situaccedilotildees de benefiacutecios muacuteltiplos pode levar a contagens duplas por
outro lado os inqueacuteritos satildeo baseados nas respostas sobre o status do beneficiaacuterio e algumas
pessoas podem desejar natildeo revelar a sua condiccedilatildeo perante os benefiacutecios
Nenhuma destas definiccedilotildees e medidas de mensuraccedilatildeo eacute superior a outras pelo que a sua
utilizaccedilatildeo depende dos objectivos do propoacutesito da investigaccedilatildeo e da disponibilidade da
informaccedilatildeo
Abordagens para medir a incapacidade no quadro da aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos agraves populaccedilotildees
a) Incapacidade geral (natildeo especificada)
Puacuteblico-alvo todos os adultos
b) Incapacidade relativa ao trabalho
Puacuteblico-alvo pessoas em idade activa
c) Limitaccedilotildees nas actividades de vida diaacuteria (AVD)
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Puacuteblico-alvo Populaccedilatildeo idosa
54 AMERICAN DISABILITIES ACT
O American Disabilities Act (ADA) desenvolvido em 1990 fornece um conjunto de guidelines
no sentido de assegurar a disponibilizaccedilatildeo de serviccedilos para as pessoas com deficiecircncias bem
como a protecccedilatildeo dos seus direitos legais
A ADA inclui uma definiccedilatildeo legal de incapacidade consistindo na presenccedila de ldquouma deficiecircncia
fiacutesica ou mental que limita significativamente uma ou mais das principais actividades de vidardquo
Independentemente da definiccedilatildeo proposta pela ADA a existecircncia de muacuteltiplos programas a
favor das pessoas com deficiecircncias e os diferentes focus legais em diferentes puacuteblicos alvo
fazem com que tenham emergido uma multiplicidade de definiccedilotildees de incapacidade ao longo
do tempo no quadro das poliacuteticas sociais americanas
55 OMS ONU Revisatildeo dos actuais inqueacuteritos sobre a incapacidade
Apesar de existir um desenvolvimento consideraacutevel dos inqueacuteritos na aacuterea da incapacidade
poder-se-atildeo explicitar algumas observaccedilotildees relativas agrave sua multiplicidade Numa primeira linha
de anaacutelise os inqueacuteritos tendem a focalizar-se nas limitaccedilotildees de actividade eou na deficiecircncia
No que concerne agrave formulaccedilatildeo escrita tendem a existir diferenccedilas significativas entre
inqueacuteritos facto que inviabiliza natildeo raras vezes a comparabilidade dos dados entre inqueacuteritos
As diferentes formulaccedilotildees das questotildees incluem
Tem dificuldade
Eacute capaz de
Faz
Tem sentido problemas em
com ou sem assistecircncia pessoal eou tecnoloacutegica
A questatildeo que se coloca eacute se estas formulaccedilotildees tecircm o mesmo significado isto eacute se todas elas
pretendem medir a capacidade ou a performance De acordo com a CIF a capacidade
remeteria para o potencial de execuccedilatildeo de um indiviacuteduo enquanto a performance diria respeito
ao niacutevel de desempenho efectivo do indiviacuteduo atraveacutes do seu envolvimento numa situaccedilatildeo de
vida real As lacunas existentes e as poucas referecircncias ao niacutevel da forma como os inquiridos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 33
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
satildeo instruiacutedos a responder faz com que natildeo seja possiacutevel desenvolver um discernimento
irrefutaacutevel sobre esta mateacuteria
Do ponto de vista dos domiacutenios abrangidos os inqueacuteritos tecircm apresentado algumas questotildees
sobre a participaccedilatildeo e o ambiente e evidenciam algumas limitaccedilotildees na sua amplitude Os
domiacutenios de actividades e participaccedilatildeo geralmente abrangidos tecircm sido operacionalizados de
uma forma geral nas seguintes dimensotildees
Educaccedilatildeo e emprego (formulado como questotildees de performance)
Outros inqueacuteritos incluem aacutereas como relaccedilotildees interpessoais vida familiar tomada de
decisotildees etc
O domiacutenio relativo aos factores ambientais tem incluiacutedo
Utilizaccedilatildeo e acessibilidadedisponibilidade dos produtos de assistecircncia e da tecnologia
Acessibilidade do ambiente
Disponibilidade dos serviccedilos (sauacutede protecccedilatildeo social educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo)
Evidecircncias muito escassas ao niacutevel da poliacutetica atitudes ambiente natural
planeamento e concepccedilatildeo
A questatildeo de investigaccedilatildeo neste contexto centra-se na seguinte formulaccedilatildeo ldquoo que eacute que os
inqueacuteritos medem como incapacidaderdquo
a) Definiccedilatildeo a priori da incapacidade versus sem incapacidade
Alguns inqueacuteritos sobre a incapacidade especialmente os mais antigos utilizam uma definiccedilatildeo
a priori de incapacidade O objectivo deste tipo de inqueacuteritos eacute contar o nuacutemero de pessoas
que se encaixam na definiccedilatildeo no contexto da populaccedilatildeo total Neste sentido os dados satildeo
analisados de acordo com dois grupos de referecircncia ndash com incapacidade e sem incapacidade ndash
em funccedilatildeo de um conjunto de diferentes variaacuteveis Este tipo de questionaacuterios formula questotildees
do tipo ldquoPossui algum tipo de incapacidade auditiva visual ou fiacutesicardquo Muitas questotildees dos
censos tecircm utilizado este formato
b) Definiccedilatildeo a posteriori de incapacidade versus sem incapacidade
Mais recentemente alguns inqueacuteritos desenvolveram-se em direcccedilatildeo a uma definiccedilatildeo a
posteriori de incapacidade Nestes casos eacute medida a capacidade a performance ao longo de
um conjunto vasto de domiacutenios Este segundo tipo de inqueacuteritos tende a ter uma ampla
aceitaccedilatildeo eg HALS (Canada) HID (Franccedila) inqueacuterito sobre incapacidade na Africa do Sul
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 34
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Inqueacuterito Espanhol sobre incapacidade NHIS-D (USA) inqueacuterito Holandecircs entre outros Estes
instrumentos formulam questotildees relativas agraves dificuldades que as pessoas experienciam em
diferentes domiacutenios produzindo um perfil pessoal que possa colocar em evidecircncia os
diferentes graus de capacidade associados A categorizaccedilatildeo de incapacidade sem
incapacidade eacute formulada ao niacutevel do domiacutenio e natildeo como uma categoria geral de atributo
pessoal Esta abordagem permite uma anaacutelise ao niacutevel de funcionamento individual por
domiacutenio por exemplo comparando a experiecircncia de incapacidade no domiacutenio de mobilidade
versus socializaccedilatildeo versus comunicaccedilatildeo entre outros bem como o impacto dos factores
ambientais nestes diferentes domiacutenios O perfil resultante do funcionamento individual ao longo
de muacuteltiplos domiacutenios eacute similar aos estados de sauacutede individuais ao longo das diferentes
dimensotildees
Vantagens de uma abordagem a posteriori
Estaacute em consonacircncia com a abordagem universal proposta pela CIF Todas as
pessoas experienciam deficiecircncia nalgum ponto e esta experiecircncia eacute caracterizada
numa abordagem a posteriori e natildeo a priori
Decisotildees sobre a criaccedilatildeo de categorias sobre quem tem incapacidade e sobre quem
natildeo tem podem ser tomadas atraveacutes de diferentes niacuteveis de anaacutelise por exemplo
atraveacutes da anaacutelise da experiecircncia das pessoas que experienciam incapacidade em 1 2
ou 3 domiacutenios de cruzar o status de emprego de pessoas com incapacidade ao longo
dos diferentes domiacutenios etc
Deixa de ser necessaacuteria uma definiccedilatildeo tipoloacutegica e categoacuterica de pessoas com
incapacidade O que necessita de ser definido neste contexto eacute o que se designa por
limitaccedilatildeo da capacidade ou problemas de performance ao longo dos diferentes
domiacutenios
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 35
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 36
Dezembro2006
6 SISTEMATIZACcedilAtildeO DAS DIMENSOtildeES DE ORGANIZACcedilAtildeO E
OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em todos os estudos efectuados neste domiacutenio foi colocada em evidecircncia a actual dificuldade
de comparabilidade estatiacutestica internacional inter ou intra sectorial independentemente do
organismo referenciador ndash OCDE ONU EUROSTAT INE OMS
Neste contexto desenvolver-se-aacute a extracccedilatildeo de conhecimento tendo por base a identificaccedilatildeo
de um conjunto de eixos de anaacutelise que actuem como vectores de estruturaccedilatildeo na
operacionalizaccedilatildeo do conceito A este propoacutesito atente-se no Quadro 2
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Abordagem Focus Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Delimitaccedilatildeo temporal do
conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo
Design das questotildees
CID-10
ICIDH
ICF
SauacutedeDoenccedila
Deficiecircncia
Incapacidade
a) Geral
b) Relativa ao trabalho
c) Limitaccedilotildees nas
actividades de vida
diaacuteria
Funcionalidade ndash
Niacuteveis de execuccedilatildeo
das actividades por
domiacutenio e niacuteveistipos
de ajudas mobilizadas
Intersubjectivo ndash
vg inqueacuteritos
Objectivo ndash vg
fontes administrativas
A priori
A posteriori
Temporaacuterias
permanentes
Progressivas
regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou
contiacutenuas
Tipo 1 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre uma determinada
condiccedilatildeo individual
combinada com itens
referentes a limitaccedilotildees de
actividade e participaccedilatildeo e
factores contextuais
Tipo 2 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre a presenccedila de uma
pessoa com incapacidade
no agregado familiar
seguindo-se uma lista de
deficiecircncias e
incapacidades
Tipo 3 ndash Checklist de
deficiecircncias
Quadro 2 ndash Eixos de operacionalizaccedilatildeo do conceito
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 37
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 38
Dezembro2006
7 ESCOLHA DO CENAacuteRIO A IMPLEMENTAR
A anaacutelise do Quadro 2 permite-nos uma definiccedilatildeo modular do cenaacuterio a implementar atraveacutes de
uma configuraccedilatildeo do conceito pelos eixos de anaacutelise propostos Uma das dificuldades
evidentes nesta delimitaccedilatildeo prende-se com o cumprimento dos requisitos de (a)
comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica e legislativa dentro do contexto portuguecircs
e (c) conformidade com os referenciais conceptuais actuais sendo que a coexistecircncia destes
criteacuterios afigura-se em muitos casos incompatiacutevel entre si Para efeitos da estruturaccedilatildeo do
cenaacuterio privilegiar-se-aacute a conformidade com os referenciais conceptuais actuais
71 ABORDAGEM No que concerne agrave abordagem privilegia-se a adopccedilatildeo das mais recentes directrizes propostas
pela OMS adoptando explicitamente a CIF
Fundamentaccedilatildeo
A CIF apresenta a capacidade para descrever o funcionamento humano numa
perspectiva biopsicossocial em detrimento da classificaccedilatildeo anterior (ICIDH) que se
focalizava na dimensatildeo biomeacutedica A CIF foi desenvolvida no plano conceptual para ser aplicaacutevel em diferentes aacutereas e
sectores A CIF eacute aplicaacutevel transversalmente agraves dimensotildees de cultura idade geacutenero sendo um
instrumento sistemaacutetico para descrever e medir a sauacutede e o funcionamento humano
num dado contexto A CIF constitui-se enquanto instrumento potencial para a poliacutetica social design das
intervenccedilotildees nos domiacutenios da sauacutede educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e intervenccedilatildeo social Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
72 FOCUS
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo da centraccedilatildeo da recolha de dados ao niacutevel
da dimensatildeo de funcionalidade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 39
Dezembro2006
Fundamentaccedilatildeo
Consonacircncia com o modelo conceptual proposto pela CIF enfatizando o caraacutecter
dinacircmico e interaccional (pessoa factores contextuais) do funcionamento de cada
pessoa Permite caracterizar as limitaccedilotildees de actividade e restriccedilotildees de participaccedilatildeo dos
cidadatildeos identificando necessidades de intervenccedilotildees especializadas numa loacutegica de
empowerment e participaccedilatildeo social Permite analisar a adequabilidade e ajustamento das actuais medidas poliacuteticas do
ponto de vista dos seus objectivos e os problemas detectados ao niacutevel da participaccedilatildeo
dos cidadatildeos ao longo de um conjunto diversificado de domiacutenios
73 MEacuteTODOS DE MENSURACcedilAtildeO
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo de meacutetodos intersubjectivos nomeadamente
inqueacuteritos
Fundamentaccedilatildeo
Flexibilidade ao niacutevel da abrangecircncia e profundidade das dimensotildees
Maior facilidade na implementaccedilatildeo atendendo agrave disponibilizaccedilatildeo de uma amostra
delimitada
Maior niacutevel de controlo sobre as condiccedilotildees de observaccedilatildeo e da entrevista devido ao
menor nuacutemero de entrevistas a ser implementado
74 DELIMITACcedilAtildeO CONCEPTUAL E TEMPORAL DO CONCEITO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo temporal e apesar de se privilegiar as vantagens anteriormente
explicitadas no desenvolvimento de uma definiccedilatildeo a posteriori assume-se a necessidade
politica de delimitar o campo de intervenccedilatildeo do conjunto de medidas sociais neste domiacutenio
pelo que a delimitaccedilatildeo conceptual poderaacute ser objecto de operacionalizaccedilatildeo atraveacutes dos
seguintes paracircmetros
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 40
Dezembro2006
Poder-se-aacute colocar a questatildeo de saber se a delimitaccedilatildeo do conceito proposta remete
especificamente para ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ou para ldquopessoas com limitaccedilotildees de
participaccedilatildeordquo Atendendo a que a definiccedilatildeo comporta uma abordagem sisteacutemica enfatizando a
interacccedilatildeo entre um conjunto diversificado de componentes que produzem impacto na
funcionalidade da pessoa a resposta natildeo eacute linear dependendo da ecircnfase socio-histoacuterica e da
abordagem sociopoliacutetica que se escolher enfatizar No entanto e do ponto de vista conceptual
privilegia-se a adopccedilatildeo do conceito ldquopessoas com limitaccedilotildees de participaccedilatildeordquo dado que existe
total autonomia operativa entre os diferentes constructos Neste sentido a deficiecircncia natildeo
constitui um factor causal linear das limitaccedilotildees de actividade e das restriccedilotildees ao niacutevel da
participaccedilatildeo mas antes uma das componentes que em interacccedilatildeo com outras podem
provocar impactos ao niacutevel da funcionalidade do indiviacuteduo Por uacuteltimo refira-se que a tipologia
ldquopessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeordquo poderaacute ser alvo de criticas por constituir
uma designaccedilatildeo que apela a duas componentes em simultacircneo (actividades e participaccedilatildeo)
excluindo outras e ser demasiado longa para uma definiccedilatildeo tipoloacutegica A este propoacutesito pode-
se sugerir a delimitaccedilatildeo ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo constituindo esta
expressatildeo uma abordagem holiacutestica ao conjunto de componentes que interferem com o
funcionamento humano Deste modo poderemos ter as seguintes designaccedilotildees
Pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Pessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo
Pessoas com limitaccedilotildees de funcionalidade
Figura 2 ndash Possiacuteveis designaccedilotildees
O Quadro 3 pretende fornecer uma visatildeo sistemaacutetica sobre o processo de decisatildeo da
designaccedilatildeo a adoptar
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
deficiecircncias
Tradiccedilatildeo analiacutetica dentro do
contexto portuguecircs
Em conformidade com o modelo
meacutedico ndash centra-se nas alteraccedilotildees
de estrutura e funccedilatildeo ndash
focalizaccedilatildeo na pessoa
Desarticulado dos pressupostos do
modelo social ndash natildeo remete para a
experiecircncia de incapacidade
enquanto produto da interacccedilatildeo
entre pessoa e ambiente
Mai
or
Abr
angecirc
ncia
Mai
or
Espe
cific
idad
e
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 41
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
incapacidades
Em conformidade com a
delimitaccedilatildeo anglo-saxoacutenica que
utiliza o conceito Disability
Focalizaccedilatildeo no poacutelo negativo do
funcionamento humano ndash
funcionalidadeincapacidade
Ao focalizar-se na experiecircncia de
incapacidade enquanto
interacccedilatildeo pessoa-ambiente
remete indirectamente para a
mobilizaccedilatildeo de apoios e recursos
de forma a ultrapassar eou
eliminar os obstaacuteculos ao
funcionamento em contexto
O potencial efeito estigmatizante
da expressatildeo ldquopessoas com
incapacidadesrdquo
Pessoas com
diversidade
Funcional
Em conformidade com o modelo
social
Focaliza-se na gestatildeo das
diferenccedilas e no seu impacto ao
niacutevel da participaccedilatildeo das pessoas
na sociedade
Elevado niacutevel de abrangecircncia natildeo
permitindo um niacutevel de
diferenciaccedilatildeo relevante na
medida em que todos os cidadatildeos
detecircm entre si diversos e
diferentes padrotildees de
funcionamento humano
Conceito dificilmente
operacionalizaacutevel do ponto de
vista da formulaccedilatildeo das poliacuteticas e
da delimitaccedilatildeo dos puacuteblicos-alvo
Pessoas com
restriccedilotildees ao
niacutevel da
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos Desta forma
todos os obstaacuteculos agrave participaccedilatildeo
relacionados com discriminaccedilatildeo
social preconceitos estereoacutetipos
deficiecircncias doenccedilas croacutenicas
entre outros satildeo incluiacutedos
Natildeo inclui as limitaccedilotildees de
actividade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 42
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
limitaccedilotildees de
actividade e
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida e simultaneamente no
domiacutenio das limitaccedilotildees de
actividade
Ruptura com a tradiccedilatildeo analiacutetica
no sector
Dificuldade de apreensatildeo e
inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Natildeo inclui as alteraccedilotildees da
estrutura e da funccedilatildeo
Pessoas com
limitaccedilotildees de
funcionalidade
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel das
diferentes dimensotildees constituintes
da funcionalidade e do
funcionamento humano
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos
Pessoas com
deficiecircncias e
incapacidades
Natildeo introduz ruptura com a
tradiccedilatildeo analiacutetica no sector
Inclui as alteraccedilotildees de estrutura e
funccedilatildeo bem como as alteraccedilotildees
decorrentes ao niacutevel da
funcionalidade
Diferencia os conceitos de
deficiecircncia e incapacidade
autonomizando-os e fornecendo
uma base compreensiva para o
natildeo estabelecimento de relaccedilotildees
de causa-efeito entre os ambos
Abrange os obstaacuteculos que
emergem na interacccedilatildeo pessoa-
contextos de vida e
simultaneamente no domiacutenio das
limitaccedilotildees de actividade
Poder diferenciador e delimitador
na definiccedilatildeo do puacuteblico-alvo
Em alinhamento estrateacutegico com o
PAIPDI
Designaccedilatildeo de compromisso com
os referenciais teoacutericos do modelo
social e dos princiacutepios da ldquoeacutetica da
diversidaderdquo
Quadro 3 ndash Visatildeo comparativa das hipoacuteteses da designaccedilatildeo a adoptar
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 43
Dezembro2006
75 DELIMITACcedilAtildeO DA DURACcedilAtildeO E CURSO DE EVOLUCcedilAtildeO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo interessa a caracterizaccedilatildeo nas
3 dimensotildees desenvolvidas
Fundamentaccedilatildeo
Afigura-se relevante caracterizar a ocorrecircncia das deficiecircncias quanto aacute sua
consistecircncia no tempo ndash temporaacuterias permanentes ndash analisando os factores
contextuais associados consequecircncias ao niacutevel das actividades e da participaccedilatildeo ao
longo de um conjunto de domiacutenios em ordem agrave extracccedilatildeo de implicaccedilotildees no acircmbito
das poliacuteticas sociais
No acircmbito da adaptabilidade e da adequaccedilatildeo das medidas poliacuteticas agraves necessidades
especiacuteficas dos cidadatildeos torna-se relevante caracterizar a deficiecircncia quanto agrave
natureza do seu curso evolutivo ndash progressivas regressivas estaacuteveis O mesmo
criteacuterio eacute aplicaacutevel quanto aacute dimensatildeo de padratildeo de manifestaccedilatildeo ndash intermitente
contiacutenua
No entanto e apesar da incapacidade se manifestar ao longo do ciclo de vida da pessoa
de forma multimodal para efeitos de delimitaccedilatildeo e de definiccedilatildeo do conceito de pessoas
com deficiecircncias e incapacidades privilegiaremos o caraacutecter permanente Desta forma
excluem-se as manifestaccedilotildees temporaacuterias de incapacidade que enviesariam a anaacutelise e o
desenvolvimento de poliacuteticas neste domiacutenio
76 DESIGN DAS QUESTOtildeES
No que concerne ao design das questotildees privilegia-se a escolha de questotildees tipo 1
Fundamentaccedilatildeo
Em consonacircncia com a CIF
Permite comparabilidade estatiacutestica futura
Permite a caracterizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre os factores de funcionalidade ndash integridade
estrutural e funcional actividades participaccedilatildeo e factores contextuais
Permite o design das poliacuteticas sociais e metodologias de intervenccedilatildeo alicerccediladas nas
necessidades especiacuteficas dos cidadatildeos em torno das dimensotildees de inclusatildeo social
Domiacutenios
Visatildeo
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 44
Dezembro2006
Audiccedilatildeo
Comunicaccedilatildeo
Mobilidade
Dor
Aprendizagem e funcionamento psicoloacutegico
Autocuidados e vida domeacutestica
Condiccedilotildees gerais de sauacutede
Mobilizaccedilatildeo de ajudas ou equipamento especializado
Participaccedilatildeo social
Transporte e educaccedilatildeo
77 PROPOSTA DE DELIMITACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em funccedilatildeo das dimensotildees caracterizadas e dos criteacuterios privilegiados desenvolveu-se o
seguinte enquadramento conceptual
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 45
Dezembro2006
Figura 2 ndash Enquadramento conceptual da delimitaccedilatildeo do conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso da evoluccedilatildeo
Temporaacuterias permanentes
Progressivas regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou contiacutenuas
Focus
Funcionalidade ndash Niacuteveis de execuccedilatildeo das actividades por domiacutenio e niacuteveistipos de ajudas mobilizadas
Abordagem CIF
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo temporal do conceito
A priori
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Inter-subjectivo
Design das questotildees
Questatildeo geneacuterica sobre uma determinada condiccedilatildeo individual combinada com itens referentes a limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo e factores contextuais
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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8 CRITEacuteRIOS DE ELEGIBILIDADE DO PUacuteBLICO-ALVO E SISTEMAS DE
AVALIACcedilAtildeO
A operacionalizaccedilatildeo do conceito de incapacidade tem sido abordada de forma heterogeacutenea
entre diferentes modalidades de politica e os diferentes contextos socioculturais de cada paiacutes
De uma forma geral encontram-se 2 eixos criacuteticos na sua operacionalizaccedilatildeo
a) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de trabalho (na ocupaccedilatildeo preacutevia ou numa nova
ocupaccedilatildeo ajustada agraves alteraccedilotildees funcionais)
b) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de obter rendimentos provenientes do trabalho
A explicitaccedilatildeo dos criteacuterios de delimitaccedilatildeo do conceito de incapacidade nos diferentes paiacuteses
encontra-se na Quadro 4
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Austraacutelia 2 Criteacuterios possuir uma incapacidade que resulte
num score nunca inferior a 20 nas tabelas de
incapacidades e incapacidade em trabalhar 30
horas ou mais por semana ou em ser
reconvertido para trabalho em contexto regular
nos proacuteximos 2 anos
Nenhum
Aacuteustria 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho (50
de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo para
trabalhadores sem qualificaccedilotildees) papel criacutetico
das decisotildees dos tribunais devido a definiccedilotildees
legais imprecisas
Nenhum mas as
restriccedilotildees de sauacutede
devem ter uma duraccedilatildeo
igual ou superior a 6
meses
Beacutelgica 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na actual ocupaccedilatildeo
1 ano
Canada Incapacidade severa e prolongada que impeccedila de
desenvolver trabalho numa base regular
Nenhum
Dinamarca 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum mas a
reabilitaccedilatildeo precisa de
estar completa
Franccedila 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual mas a
totalidade do subsidio requer igualmente perda de
capacidade de trabalho
Nenhum no caso das
condiccedilotildees estarem
estaacuteveis mas muito
frequentemente apoacutes 3
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 47
Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
anos
Alemanha 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho a
incapacidade parcial eacute calculada em funccedilatildeo do nordm
de horas que a pessoa pode trabalhar
Nenhum mas a
incapacidade deve ter
uma duraccedilatildeo miacutenima
de 26 semanas
Itaacutelia 666reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum
Coreia Criteacuterios meacutedicos (niacuteveis de incapacidade
definidos de forma detalhada)
Periacuteodo de espera de
50 dias (os subsiacutedios
de doenccedila natildeo se
encontram disponiacuteveis)
Meacutexico 50 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo Nenhum
Holanda 15 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
(25 para os trabalhadores por conta proacutepria e
jovens com incapacidade) grau de incapacidade
calculado pela diferenccedila de remuneraccedilatildeo entre o
actual posto de trabalho compatiacutevel com as
limitaccedilotildees funcionais e o anterior
1 ano
Noruega 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho O
grau de subsiacutedio eacute calculado pela capacidade de
remuneraccedilatildeo
Nenhum (apoacutes ter
completado a
reabilitaccedilatildeo vocacional)
Poloacutenia Reduccedilatildeo temporaacuteria ou permanente da
capacidade de trabalho
Nenhum
Portugal 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual
Nenhum mas na
praacutetica ao fim de 3
anos (fim do periacuteodo de
doenccedila de longo termo)
Espanha 33 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho na
ocupaccedilatildeo actual incapacidade para todo e
qualquer trabalho para a totalidade do subsiacutedio
1 ano (embora seja
possiacutevel a candidatura
antes deste prazo em
casos de incapacidade
permanente)
Sueacutecia 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho grau
de incapacidade parcial calculado a partir das
horas que uma pessoa pode trabalhar
Nenhum
Suiccedila 40 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho para
as pessoas inactivas o grau de incapacidade eacute
calculado em relaccedilatildeo aacute actividade actual
1 ano
Turquia 666 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho
com um focus meacutedico bastante significativo
Nenhum
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 48
Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Reino Unido Limitaccedilotildees nas actividades de vida quotidianas
relevantes para o trabalho (avaliaccedilotildees meacutedicas
predominantes) teste ocupacional durante a s
primeiras 28 semanas (subsidio de doenccedila)
28 semanas
Estados
Unidos
Reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
incapacidade em investir numa actividade
profissional com rendimentos ($ US 740 por mecircs)
5 meses (nem sempre
cobertos pelos
subsiacutedios de curto-
termo) e 24 meses
para a cobertura
meacutedica
Quadro 4 ndash Definiccedilotildees de incapacidade e tempos regulamentares
Um dos desafios que se coloca aos actuais sistemas reside na delimitaccedilatildeo da elegibilidade do
puacuteblico-alvo Para cumprir este objectivo satildeo necessaacuterios sistemas de avaliaccedilatildeo holiacutesticos
abrangentes coerentes e que permitam chegar a resultados de forma consistente e com
validade interna No actual contexto a CIF propotildee constituir-se como o instrumento conceptual
abrangente para caracterizar os diferentes domiacutenios e niacuteveis de funcionalidade incapacidade
de forma coerente e integrada Neste sentido uma das vantagens apontadas para a adopccedilatildeo
do modelo desenvolvido pela OMS eacute a possibilidade de uniformizaccedilatildeo de conceitos e portanto
da utilizaccedilatildeo de uma linguagem padratildeo que permita a comunicaccedilatildeo entre investigadores
gestores profissionais de sauacutede organizaccedilotildees da sociedade civil e utilizadores em geral
Um dos campos de estudo mais explorados para a aplicaccedilatildeo da CIF tem sido a aacuterea de
Medicina Fiacutesica e de Reabilitaccedilatildeo no que concerne ao acompanhamento do estado de sauacutede
dos pacientes em tratamento O uso da CIF tem sido considerado tambeacutem na avaliaccedilatildeo apoacutes
transtornos agudos condiccedilotildees traumaacuteticas condiccedilotildees croacutenicas e na geriatria
Alguns autores argumentam que a CIF deve ser explorada como uma base de informaccedilotildees
padronizadas em estudos sobre incapacidade profissional quando haacute necessidade de
relacionar dados de sauacutede ocupacional com os da Seguranccedila Social
Na Sauacutede Puacuteblica tradicionalmente pouca atenccedilatildeo tem sido dada agraves pessoas com
incapacidades No entanto ao lado de recentes investimentos por parte de organizaccedilotildees e de
alguns governos a publicaccedilatildeo do modelo da CIF fornece as bases para as poliacuteticas e
disciplinas da Sauacutede Puacuteblica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo que apresenta deficiecircncias e
incapacidades Assim uma das possibilidades de uso da CIF pode ser a contribuiccedilatildeo para
responder a importantes questotildees de sauacutede puacuteblica tais como qual o estado de sauacutede das
pessoas com deficiecircncias comparadas com as demais que necessidades e que tipos de
intervenccedilotildees satildeo mais adequadas para reduzir condiccedilotildees secundaacuterias e promover a
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na sociedade entre outras
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 49
Dezembro2006
Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 50
Dezembro2006
Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 51
Dezembro2006
Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
Dezembro2006
Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 53
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
que experienciam a CIF afigura-se como uma classificaccedilatildeo do funcionamento a 3 niacuteveis
compreendida em termos neutros (Ustun et al 2001 6-7)
O reconhecimento da importacircncia dos ambientes fiacutesico e social na CIF poderaacute ser equacionado
como uma melhoria significativa em relaccedilatildeo agrave sua predecessora (Hurst 2000) No entanto
parece-nos altamente improvaacutevel que seja mais eficaz do que a anterior classificaccedilatildeo a gerar
uma linguagem universal sobre a incapacidade na medida em que transformar as diferenccedilas
culturais na conceptualizaccedilatildeo das deficiecircncias assume-se como tarefa extremamente
complexa de alcanccedilar (Bury 2000 Miles 2001) Este facto eacute especialmente significativo na
medida em que natildeo obstante a CIF reconhecer o contexto cultural das percepccedilotildees de
incapacidade e por consequecircncia a normalidade o actual sistema de classificaccedilatildeo
permanece fortemente alicerccedilado nas formulaccedilotildees e nos conceitos cientiacuteficos ocidentais
(Finkelstein 1998 Pfeiffer 2000 Baylies 2002)
Adicionalmente apesar da CIF explicitar que os indiviacuteduos satildeo um elemento da anaacutelise da
incapacidade a abordagem biopsicossocial natildeo se encontra muito distanciada do modelo
anterior na medida em que privilegia o indiviacuteduo como ponto de partida para anaacutelise das
funccedilotildees do corpo e actividades O conceito de participaccedilatildeo eacute incluiacutedo mas subdesenvolvido no
esquema conceptual e continua associado agraves circunstacircncias individuais em vez de fortemente
ligado agrave inclusatildeo poliacutetica e social Adicionalmente enquanto a significacircncia do contexto eacute
enfatizada na CIF as estrateacutegias para a sua mensuraccedilatildeo afiguram-se limitadas Os seus
utilizadores satildeo encorajados a classificar os factores ambientais mas natildeo existem ferramentas
eficazes para levar a cabo esta tarefa bem como para avaliar as tendecircncias de incapacidade
ou por outro lado das poliacuteticas governamentais praacuteticas ambientes fiacutesicos e contextos
culturais (Baylies 2002)
Esta aparente descentraccedilatildeo das preocupaccedilotildees poliacuteticas tem caracterizado a maioria da ciecircncia
social mainstream desde o seacuteculo XIX Deste modo a definiccedilatildeo inter-relacional de
incapacidade e a consequente despolitizaccedilatildeo das questotildees associadas reflectiu-se nos
estudos e na literatura produzida nesta aacuterea por acadeacutemicos e investigadores durante a uacuteltima
metade do seacuteculo XX
Mais recentemente reemergiram na Inglaterra um conjunto de respostas poacutes-modernas ao
modelo social da incapacidade Este cenaacuterio tem favorecido o aparecimento de asserccedilotildees de
que tais fenoacutemenos soacute tecircm servido para agudizar e natildeo diminuir a conflituosidade a propoacutesito
da inclusatildeo (Hunt 1981 Germon 1998 Linton 1998 Gordon and Rosenblum 2001)
No quadro da reabilitaccedilatildeo a abordagem inter-relacional eacute sinoacutenima da liberalizaccedilatildeo da poliacutetica
social para as pessoas com incapacidades nos finais dos anos sessenta e setenta em
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 17
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
particular a mudanccedila dos serviccedilos centrados institucionalmente para os serviccedilos e apoios
centrados na comunidade Deste modo a ecircnfase eacute colocada na integraccedilatildeo de pessoas com
incapacidades na sociedade mainstream Os Standards da Equalizaccedilatildeo das Pessoas com
Incapacidades (1993) da ONU explicitam que todos os estados devem providenciar serviccedilos de
reabilitaccedilatildeo Mas esta orientaccedilatildeo recomenda que se vaacute aleacutem do cuidado meacutedico inicial para
incluir uma ampla gama de medidas e actividades desde a reabilitaccedilatildeo baacutesica e generalista
para actividades orientadas por objectivos (UN 199311) Ainda mais significativo todos os
serviccedilos de reabilitaccedilatildeo deveratildeo estar disponiacuteveis nas comunidades locais nas quais as
pessoas com incapacidades se movem No entanto em determinadas circunstacircncias e para
que se reforcem os objectivos de formaccedilatildeo e aprendizagem poderatildeo ser organizados cursos
localizados nas organizaccedilotildees prestadoras de serviccedilos com um quadro temporal o mais
reduzido possiacutevel (UN 1993 19)
Adicionalmente apesar dos Standards enfatizarem a importacircncia do envolvimento das pessoas
com incapacidades e dos seus significativos no desenvolvimento dos programas de
reabilitaccedilatildeo parece natildeo existir uma asserccedilatildeo clara de que tais estrateacutegias devam ser
controladas por ou mensuradas para estes uacuteltimos Existe no entanto uma assunccedilatildeo taacutecita de
que tais serviccedilos seratildeo liderados por profissionais
Adicionalmente desde que a incapacidade na CIF foi apresentada como uma questatildeo de
sauacutede em detrimento de uma questatildeo poliacutetica parece inevitaacutevel que os profissionais no
domiacutenio da reabilitaccedilatildeo continuem a ser dominados ou laquoalienadosraquo pela Medicina (Finkelstein
1998) Este facto poderaacute ficar a dever-se primeiro agrave actual e persistente subjugaccedilatildeo dos
governos nacionais aos interesses corporativos e das organizaccedilotildees econoacutemicas e segundo agrave
diversidade de barreiras econoacutemicas poliacuteticas e culturais experienciadas pelas pessoas com
incapacidades quer nos paiacuteses desenvolvidos quer nos subdesenvolvidos Neste tipo de
cenaacuterio o pensamento ortodoxo sobre a reabilitaccedilatildeo contratualiza um expediente praacutetico para
os poliacuteticos legisladores e organizaccedilotildees profissionais Como resultado os teacutecnicos tecircm
invariavelmente um niacutevel de escolha reduzido na opccedilatildeo pelo modelo meacutedico em detrimento
de soluccedilotildees poliacuteticas colectivas na resposta aos problemas da exclusatildeo
Esta perspectiva parece afigurar-se a oposta da necessaacuteria De facto apoacutes o trabalho de
Talcott Parsons (1951) emergiu uma extensa literatura condenando a laquomedicalizaccedilatildeoraquo do
quotidiano de um conjunto diverso de perspectivas Por exemplo o filoacutesofo austriacuteaco Ivan Illich
nomeou o seacuteculo XX como a era dos profissionais incapacitantes (1977 11) pela sua
apropriaccedilatildeo do conhecimento mistificaccedilatildeo das competecircncias especializadas e a criaccedilatildeo de
uma cultura perversa e persuasiva de dependecircncia Apesar de tais criticas encontrarem a sua
aplicabilidade predominantemente nas naccedilotildees subdesenvolvidas do Ocidente surgiram
trabalhos recentes que sugerem que apesar de existir uma diminuiccedilatildeo significativa dos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 18
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
conhecimentos meacutedicos e de tratamentos com reduzidos niacuteveis de recursos nas naccedilotildees
subdesenvolvidas criacuteticas similares podem ser relevantes para o contexto no qual nos
situamos (Stone 1999 Ingstad 2001 OMS 2001)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 19
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
3 OBJECTIVOS OPERACIONAIS
Pretende-se desenvolver uma anaacutelise longitudinal e multissectorial ao conceito de deficiecircncia
no sentido de estabelecer uma configuraccedilatildeo operacional no quadro da sua aplicabilidade
estatiacutestica Esta anaacutelise insere-se no acircmbito do Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das
Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo
Objectivo Operacionalizar o conceito de deficiecircncia no quadro da sua aplicabilidade
estatiacutestica assegurando os criteacuterios de (a) comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica
e legislativa dentro do contexto portuguecircs (c) conformidade com os referenciais conceptuais
actuais
Metodologia a) Anaacutelise dos referenciais nacionais e internacionais de delimitaccedilatildeo operacional
do conceito b) exploraccedilatildeo de cenaacuterios que viabilizem o cumprimento dos requisitos definidos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 20
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
4 ANAacuteLISE PRELIMINAR DA EVOLUCcedilAtildeO DA TERMINOLOGIA NO
DOMIacuteNIO 41 ESTADO DA ARTE
A evoluccedilatildeo dos conceitos operativos nos domiacutenios da reabilitaccedilatildeo e da inclusatildeo social tem
sido reflectida nas diversas classificaccedilotildees propostas pela OMS Neste quadro evolutivo a
uacuteltima classificaccedilatildeo proposta ndash CIF ndash constitui-se como um modelo de siacutentese entre a
abordagem meacutedica e a abordagem social no domiacutenio da incapacidade e da sauacutede No sentido
de procedermos agrave anaacutelise dos principiais conceitos e termos focalizar-nos-emos na
reestruturaccedilatildeo conceptual proposta pela Classificaccedilatildeo Internacional de Funcionalidade
Incapacidade e Sauacutede (CIF)
O objectivo geral da CIF eacute proporcionar uma linguagem unificada e padronizada assim como
uma estrutura de trabalho para a descriccedilatildeo da sauacutede e de estados relacionados com a sauacutede
A classificaccedilatildeo define os componentes da sauacutede e alguns componentes do bem-estar
relacionados com a sauacutede (tais como educaccedilatildeo e trabalho) Os domiacutenios contidos na CIF
podem portanto ser considerados como domiacutenios da sauacutede e domiacutenios relacionados com a
sauacutede Estes domiacutenios satildeo descritos com base na perspectiva do corpo do indiviacuteduo e da
sociedade em duas listas baacutesicas (1) Funccedilotildees e Estruturas do Corpo e (2) Actividades e
Participaccedilatildeo Como classificaccedilatildeo a CIF agrupa sistematicamente diferentes domiacutenios de uma
pessoa com uma determinada condiccedilatildeo de sauacutede (eg o que uma pessoa com uma doenccedila
ou perturbaccedilatildeo faz ou pode fazer) A funcionalidade eacute um termo que engloba todas as funccedilotildees
do corpo actividades e participaccedilatildeo de maneira similar a incapacidade eacute um termo que inclui
deficiecircncias limitaccedilatildeo da actividade ou restriccedilatildeo na participaccedilatildeo A CIF tambeacutem relaciona os
factores ambientais que interagem com todos estes constructos Neste sentido a classificaccedilatildeo
permite ao utilizador registar perfis uacuteteis da funcionalidade incapacidade e sauacutede dos
indiviacuteduos em vaacuterios domiacutenios
A CIF pertence agrave ldquofamiacuteliardquo das classificaccedilotildees internacionais desenvolvida pela OMS para
aplicaccedilatildeo em vaacuterios aspectos da sauacutede A famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS
proporciona um sistema para a codificaccedilatildeo de uma ampla gama de informaccedilotildees sobre sauacutede
(eg diagnoacutestico funcionalidade e incapacidade motivos de contacto com os serviccedilos de
sauacutede) e utiliza uma linguagem comum padronizada que permite a comunicaccedilatildeo sobre sauacutede e
cuidados de sauacutede em todo o mundo entre vaacuterias disciplinas e ciecircncias
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Nas classificaccedilotildees internacionais da OMS os estados de sauacutede (doenccedilas perturbaccedilotildees
lesotildees etc) satildeo classificados principalmente na CID-10 (abreviatura da Classificaccedilatildeo
Internacional de Doenccedilas Deacutecima Revisatildeo) que fornece uma estrutura de base etioloacutegica A
funcionalidade e a incapacidade associadas aos estados de sauacutede satildeo classificadas na CIF
Portanto a CID-10 e a CIF satildeo complementares e os utilizadores satildeo estimulados a usar em
conjunto esses dois membros da famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS A CID-10
proporciona um ldquodiagnoacutesticordquo de doenccedilas perturbaccedilotildees ou outras condiccedilotildees de sauacutede que eacute
complementado pelas informaccedilotildees adicionais fornecidas pela CIF sobre funcionalidade Em
conjunto as informaccedilotildees sobre o diagnoacutestico e sobre a funcionalidade datildeo uma imagem mais
ampla e mais significativa da sauacutede das pessoas ou da populaccedilatildeo que pode ser utilizada em
tomadas de decisatildeo
A famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS constitui uma ferramenta valiosa para a
descriccedilatildeo e a comparaccedilatildeo da sauacutede das populaccedilotildees num contexto internacional As
informaccedilotildees sobre a mortalidade (facultadas pela CID-10) e sobre as consequecircncias na sauacutede
(proporcionadas pela CIF) podem ser combinadas de forma a obter medidas sinteacuteticas da
sauacutede das populaccedilotildees Isto permite seguir a sauacutede das populaccedilotildees e a sua distribuiccedilatildeo bem
como avaliar a parte atribuiacuteda agraves diferentes causas
A CIF transformou-se de uma classificaccedilatildeo de ldquoconsequecircncias da doenccedilardquo (versatildeo de 1980)
numa classificaccedilatildeo de ldquocomponentes da sauacutederdquo Os ldquocomponentes da sauacutederdquo identificam o que
constitui a sauacutede enquanto que as consequecircncias se referem ao impacto das doenccedilas na
condiccedilatildeo de sauacutede da pessoa Deste modo a CIF assume uma posiccedilatildeo neutra em relaccedilatildeo agrave
etiologia de modo que os investigadores podem desenvolver inferecircncias causais utilizando
meacutetodos cientiacuteficos adequados De maneira similar esta abordagem tambeacutem eacute diferente de
uma abordagem do tipo determinantes da sauacutede ou ldquofactores de risco Para facilitar o estudo
dos determinantes ou dos factores de risco a CIF inclui uma lista de factores ambientais que
descrevem o contexto em que o indiviacuteduo vive
A CIF descreve a funcionalidade e a incapacidade relacionadas com as condiccedilotildees de sauacutede
identificando o que uma pessoa ldquopode ou natildeo pode fazer na sua vida diaacuteriardquo tendo em vista as
funccedilotildees dos oacutergatildeos ou sistemas e estruturas do corpo assim como as limitaccedilotildees de
actividades e da participaccedilatildeo social no meio ambiente onde a pessoa vive Segundo a OMS a
CID-10 e a CIF satildeo complementares a informaccedilatildeo sobre o diagnoacutestico acrescido da
funcionalidade fornece um quadro mais amplo sobre a sauacutede do indiviacuteduo ou populaccedilotildees Por
exemplo duas pessoas com a mesma doenccedila podem ter diferentes niacuteveis de funcionalidade e
duas pessoas com o mesmo niacutevel de funcionalidade natildeo tecircm necessariamente a mesma
condiccedilatildeo de sauacutede
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O termo do modelo da CIF eacute a funcionalidade que cobre os componentes de funccedilotildees e
estruturas do corpo actividade e participaccedilatildeo social A funcionalidade eacute usada no aspecto
positivo e o aspecto negativo corresponde agrave incapacidade Segundo esse modelo a
incapacidade eacute resultante da interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada pelo indiviacuteduo (seja
orgacircnica e ou da estrutura do corpo) a limitaccedilatildeo de suas actividades e a restriccedilatildeo na
participaccedilatildeo social e os factores ambientais que podem actuar como facilitadores ou barreiras
para o desempenho dessas actividades e da participaccedilatildeo
A CIF eacute baseada portanto numa abordagem biopsicossocial que incorpora os componentes
de sauacutede nos niacuteveis corporais e sociais Assim na avaliaccedilatildeo de uma pessoa com deficiecircncias
e incapacidades esse modelo destaca-se do biomeacutedico baseado no diagnoacutestico etioloacutegico da
disfunccedilatildeo evoluindo para um modelo que incorpora as trecircs dimensotildees a biomeacutedica a
psicoloacutegica (dimensatildeo individual) e a social Nesse modelo cada niacutevel age sobre e sofre a
acccedilatildeo dos demais sendo todos influenciados pelos factores ambientais A OMS pretende
incorporar tambeacutem no futuro os factores pessoais importantes na forma de lidar com as
condiccedilotildees limitantes
O objectivo pragmaacutetico da CIF eacute fornecer uma linguagem padronizada e um modelo para a
descriccedilatildeo da sauacutede e dos estados relacionados com a sauacutede permitindo a comparaccedilatildeo de
dados referentes a essas condiccedilotildees entre paiacuteses serviccedilos sectores relativos agrave sauacutede bem
como o acompanhamento da sua evoluccedilatildeo no tempo
No entanto os conceitos apresentados na classificaccedilatildeo introduzem um novo paradigma para
pensar e trabalhar as deficiecircncias e incapacidades elas natildeo satildeo apenas uma consequecircncia
das condiccedilotildees de sauacutede doenccedila mas satildeo determinadas tambeacutem pelo contexto do meio
ambiente fiacutesico e social pelas diferentes percepccedilotildees culturais e atitudes em relaccedilatildeo agrave
deficiecircncias pela disponibilidade de serviccedilos e de legislaccedilatildeo Dessa forma a classificaccedilatildeo natildeo
constitui apenas um instrumento para medir o estado funcional dos indiviacuteduos Aleacutem disso ela
permite avaliar as condiccedilotildees de vida e fornecer subsiacutedios para poliacuteticas de inclusatildeo social
42 FUNCcedilOtildeES DO CORPO
As Funccedilotildees do corpo satildeo as funccedilotildees fisioloacutegicas dos sistemas orgacircnicos (incluindo as
funccedilotildees psicoloacutegicas)
As funccedilotildees e as estruturas do corpo satildeo classificadas em duas secccedilotildees diferentes Essas duas
classificaccedilotildees estatildeo concebidas de forma a serem utilizadas em paralelo Por exemplo as
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
funccedilotildees do corpo incluem sentidos humanos baacutesicos como as funccedilotildees da visatildeo e as
estruturas relacionadas aparecem na forma de ldquoolho e estruturas relacionadasrdquo
43 ESTRUTURAS DO CORPO
As Estruturas do Corpo satildeo as partes anatoacutemicas do corpo tais como oacutergatildeos membros e
seus componentes
ldquoCorpo refere-se ao organismo humano como um todo por isso o ceacuterebro e as suas funccedilotildees
ie a mente estatildeo incluiacutedos As funccedilotildees mentais (ou psicoloacutegicas) satildeo portanto incluiacutedas nas
funccedilotildees do corpo As funccedilotildees e as estruturas do corpo satildeo classificadas de acordo com os
sistemas orgacircnicos por isso as estruturas do corpo natildeo satildeo consideradas como oacutergatildeos no
seu sentido restrito
44 DEFICIEcircNCIA
Deficiecircncias satildeo problemas nas funccedilotildees ou na estrutura do corpo tais como um desvio
importante ou uma perda
As deficiecircncias de estrutura podem consistir numa anormalidade defeito perda ou outro desvio
importante relativamente a um padratildeo das estruturas do corpo As deficiecircncias foram definidas
de acordo com os conhecimentos bioloacutegicos actuais ao niacutevel de tecidos ou das ceacutelulas e ao
niacutevel subcelular ou molecular Por motivos praacuteticos no entanto esses niacuteveis natildeo estatildeo
classificados As bases bioloacutegicas das deficiecircncias orientaram essa classificaccedilatildeo e eacute possiacutevel
expandir a classificaccedilatildeo para incluir os niacuteveis celular ou molecular Do ponto de vista meacutedico
deve-se ter em mente que as deficiecircncias natildeo satildeo equivalentes agraves patologias subjacentes mas
sim a manifestaccedilotildees dessas patologias
As deficiecircncias correspondem a um desvio relativamente ao que eacute geralmente aceite como
estado biomeacutedico normal (padratildeo) do corpo e das suas funccedilotildees A definiccedilatildeo dos seus
componentes eacute feita essencialmente por pessoas com competecircncia para avaliar a
funcionalidade fiacutesica e mental de acordo com esses padrotildees
As deficiecircncias podem ser temporaacuterias ou permanentes progressivas regressivas ou estaacuteveis
intermitentes ou contiacutenuas O desvio em relaccedilatildeo ao modelo baseado na populaccedilatildeo e
geralmente aceite como normal pode ser leve ou grave e pode variar ao longo do tempo Estas
caracteriacutesticas satildeo consideradas posteriormente em descriccedilotildees adicionais principalmente nos
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
coacutedigos atraveacutes de um qualificador que se acrescenta ao coacutedigo e do qual fica separado por
um ponto
As deficiecircncias natildeo tecircm uma relaccedilatildeo causal com a etiologia ou com a forma como se
desenvolveram Por exemplo a perda da visatildeo ou de um membro pode resultar de uma
anormalidade geneacutetica ou de uma lesatildeo A presenccedila de uma deficiecircncia implica
necessariamente uma causa No entanto a causa pode natildeo ser suficiente para explicar a
deficiecircncia resultante Da mesma forma quando haacute uma deficiecircncia haacute uma disfunccedilatildeo das
funccedilotildees ou estruturas do corpo mas isto pode estar relacionado com qualquer doenccedila
perturbaccedilatildeo ou estado fisioloacutegico
As deficiecircncias podem ser parte ou uma expressatildeo de uma condiccedilatildeo de sauacutede mas natildeo
indicam necessariamente a presenccedila de uma doenccedila ou que o indiviacuteduo deva ser
considerado doente
As deficiecircncias cobrem um campo mais vasto que as perturbaccedilotildees ou as doenccedilas Por
exemplo a perda de uma perna eacute uma deficiecircncia de uma estrutura do corpo mas natildeo eacute uma
perturbaccedilatildeo ou uma doenccedila
As deficiecircncias podem originar outras deficiecircncias Por exemplo a diminuiccedilatildeo da forccedila
muscular pode prejudicar as funccedilotildees do movimento as funccedilotildees cardiacuteacas podem estar
relacionadas com o deacutefice das funccedilotildees respiratoacuterias e uma percepccedilatildeo prejudicada pode estar
relacionada com as funccedilotildees do pensamento
Actualmente na perspectiva da CIF o conceito de deficiecircncia constitui o poacutelo negativo da
componente ldquoFunccedilotildees e Estrutura do Corpordquo sendo descrito atraveacutes da existecircncia de
alteraccedilotildees significativas das funccedilotildees eou das estruturas do corpo O poacutelo positivo desta
componente refere-se agrave integridade funcional e estrutural Neste contexto um dos desafios
criacuteticos das poliacuteticas sociais consiste na operacionalizaccedilatildeo do conceito de deficiecircncia de forma
a que a elegibilidade dos diferentes puacuteblicos alvo se encontre devidamente delimitada
assegurando a eficaacutecia das medidas subjacentes
No entanto a amplitude e abrangecircncia da definiccedilatildeo do conceito de deficiecircncia proposta pela
OMS atraveacutes da CIF coloca um enorme desafio na medida em que qualquer cidadatildeo desde
que apresente um desvio significativo ao niacutevel da estrutura eou funccedilatildeo passa a ser um
potencial beneficiaacuterio das poliacuteticas neste domiacutenio Neste contexto poder-se-atildeo colocar vaacuterias
questotildees A primeira eacute se interessa agraves diferentes poliacuteticas no sector continuarem a ser
desenvolvidas tendo por focus o conceito de pessoas com deficiecircncias sabendo que a sua
distinccedilatildeo ao longo da populaccedilatildeo apenas poderaacute ser feita atraveacutes do niacutevel e extensatildeo da
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
alteraccedilatildeo da integridade estrutural e funcional de cada individuo A segunda questatildeo prende-se
com as consequecircncias conceptuais decorrentes da integraccedilatildeo do modelo social na formulaccedilatildeo
e operacionalizaccedilatildeo dos conceitos a serem utilizados pelas poliacuteticas no sector na medida em
que o aspecto critico deixa de ser a natureza e severidade da deficiecircncia para passar a centrar-
se no niacutevel e tipo de restriccedilotildees de participaccedilatildeo que cada cidadatildeo experiencia na interacccedilatildeo
com os seus contextos de vida
No que concerne agrave primeira questatildeo e atendendo a que a mais recente definiccedilatildeo do conceito
de deficiecircncia proposto pela OMS apresenta um elevado niacutevel de abrangecircncia e um reduzido
potencial diferenciador poderemos equacionar 2 hipoacuteteses centrais de operacionalizaccedilatildeo
a) A primeira hipoacutetese baseia-se na possibilidade de operacionalizar diferentes definiccedilotildees
de deficiecircncia ao longo das diferentes poliacuteticas sociais no sentido de assegurar que as
diferentes medidas alcanccedilam efectivamente as pessoas para as quais foram
elaboradas Esta perspectiva tem a vantagem de uma maior focalizaccedilatildeo nas
caracteriacutesticas especificas do puacuteblico-alvo mas no entanto apresenta uma grande
desvantagem que consiste na elevada probabilidade das diferentes definiccedilotildees
perderem a coerecircncia entre si fragmentando igualmente o modelo teoacuterico a partir do
qual se deveriam basear
b) A segunda hipoacutetese consiste na articulaccedilatildeo operativa de dois conceitos o de
deficiecircncia e o de restriccedilotildees de participaccedilatildeo Nesta perspectiva a elegibilidade de uma
determinada politica social baseia-se na validaccedilatildeo preacutevia da existecircncia da primeira
condiccedilatildeo do puacuteblico-alvo ndash a existecircncia de uma deficiecircncia ndash determinando logo de
seguida o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo a partir do qual os diferentes cidadatildeos
passam a poder aceder agraves medidas especiacuteficas nela contidas O desafio contido nesta
hipoacutetese consiste na necessidade de desenvolvimento de um sistema de avaliaccedilatildeo que
permita avaliar o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo experimentado pelas pessoas com
deficiecircncias determinando atraveacutes do valor aferido quais seriam as pessoas com
acesso agraves medidas Neste cenaacuterio natildeo bastaria que uma pessoa tivesse uma
deficiecircncia pelo que seria necessaacuterio avaliar os efeitos da deficiecircncia em interacccedilatildeo
com o ambiente social ao niacutevel da participaccedilatildeo no sentido de determinar a
elegibilidade As vantagens desta hipoacutetese relacionam-se com (i) a preservaccedilatildeo do
niacutevel de coerecircncia dos conceitos utilizados ao longo das diferentes poliacuteticas sociais (ii)
a existecircncia de um processo comum de afericcedilatildeo e determinaccedilatildeo da elegibilidade ao
longo dos diferentes sectores de politica (iii) a compatibilidade e adequabilidade dos
princiacutepios teoacutericos do modelo social com a operacionalizaccedilatildeo dos sistemas e medidas
poliacuteticos de apoio agraves pessoas com deficiecircncias e (iv) a existecircncia de mecanismos de
avaliaccedilatildeo de elevada transparecircncia controlabilidade e rigor
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
45 INCAPACIDADE
Do ponto de vista de utilizaccedilatildeo dos conceitos de Deficiecircncia e de Incapacidade em Portugal
tecircm subsistido vaacuterias imprecisotildees terminoloacutegicas Primeiro na generalidade dos documentos
internacionais alude-se ao termo ldquopeople with disabilitiesrdquo sendo que invariavelmente esta
expressatildeo eacute traduzida para Portuguecircs como ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo Tal facto parece criar
condiccedilotildees para uma grande permeabilidade semacircntica dificilmente resoluacutevel do ponto de vista
conceptual Segundo deficiecircncia e incapacidade satildeo claramente dois conceitos distintos
Enquanto a deficiecircncia remete para alteraccedilotildees significativas ao niacutevel das estruturas eou das
funccedilotildees do corpo a incapacidade constitui o poacutelo negativo do funcionamento humano em
situaccedilatildeo potencial ou efectiva de participaccedilatildeo no contexto de vida Este facto pressupotildee que os
conceitos de deficiecircncia e de incapacidade natildeo contecircm nenhuma relaccedilatildeo causal entre si nem
nenhuma relaccedilatildeo linear de frequecircncia na medida em que eacute possiacutevel existir uma deficiecircncia
sem que exista uma incapacidade e eacute possiacutevel emergir uma determinada incapacidade sem
que haja uma qualquer deficiecircncia
Deste modo eacute possiacutevel
a) Ter deficiecircncias sem limitaccedilotildees de capacidade (eg uma desfiguraccedilatildeo resultante da
doenccedila de Hansen pode natildeo ter efeito sobre a capacidade da pessoa
b) Ter problemas de desempenho e limitaccedilotildees de capacidade sem deficiecircncias evidentes
(eg reduccedilatildeo de desempenho nas actividades diaacuterias associada a vaacuterias doenccedilas)
c) Ter problemas de desempenho sem deficiecircncias ou limitaccedilotildees de capacidade (eg um
indiviacuteduo HIV positivo ou um ex-doente curado de doenccedila mental que enfrenta
estigmas ou descriminaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais ou no trabalho)
d) Ter limitaccedilotildees de capacidade se natildeo tiver assistecircncia e nenhum problema de
desempenho no ambiente habitual (eg um indiviacuteduo com limitaccedilotildees de mobilidade
pode beneficiar por parte da sociedade de ajudas tecnoloacutegicas de assistecircncia para se
movimentar
e) Experimentar um grau de influecircncia em sentido contraacuterio (eg a inactividade dos
membros pode levar agrave atrofia muscular a institucionalizaccedilatildeo pode resultar numa perda
da socializaccedilatildeo)
Daqui resulta que ao referirmo-nos agraves pessoas com deficiecircncias enquanto puacuteblico-alvo
privilegiado das medidas de reabilitaccedilatildeo poderemos incorrer num desvio significativo de
alocaccedilatildeo dos recursos agraves reais necessidades das pessoas na medida em que natildeo eacute a
deficiecircncia que gera por si mesma a necessidade de reabilitaccedilatildeo mas sim as limitaccedilotildees de
actividade e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo decorrentes da interacccedilatildeo entre as caracteriacutesticas
biopsicossociais e as caracteriacutesticas dos ambientes em que o individuo se move
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A persistecircncia em traduzir o termo disability para deficiecircncia e natildeo apenas o seu homoacutelogo
anglo-saxoacutenico ndash impairment ndash poderaacute explicar-se pelas seguintes razotildees
a) O potencial efeito estigmatizante da expressatildeo ldquopessoas com incapacidadesrdquo ser maior
do que aquele contido na expressatildeo ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo
b) O termo incapacidade centrar-se exclusivamente nos aspectos negativos do
funcionamento individual classificando a pessoa agrave partida como sendo destituiacuteda de
competecircncias e condiccedilotildees para atingir os niacuteveis normativos de desempenho e
performance num conjunto de domiacutenios da vida pessoal e social
O paradoxo surge igualmente porque enquanto no modelo meacutedico a incapacidade aparece
em termos causais relacionada com a deficiecircncia numa perspectiva exclusivamente individual
no modelo proposto pela OMS operacionalizado na CIF os dois conceitos gozam de total
independecircncia conceptual e operativa sendo que a deficiecircncia passa a ter uma baixa
relevacircncia diferenciadora do ponto de vista do funcionamento humano Ora se atendermos a
que as medidas de reabilitaccedilatildeo pretendem promover os potenciais do funcionamento humano
numa perspectiva de participaccedilatildeo plena do indiviacuteduo nos mais diferenciados contextos de vida
assegurando o co-desenvolvimento de todos os actores e das estruturas sociais necessaacuterias agrave
cidadania plena entatildeo falar de ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo natildeo soacute natildeo eacute relevante no quadro
da loacutegica de intervenccedilatildeo como poderaacute traduzir dificuldades dos actores em mudar
efectivamente do paradigma meacutedico para o paradigma social
Este fenoacutemeno aliaacutes natildeo acontece apenas em Portugal sendo que recentes estudos de
investigaccedilatildeo vieram sugerir a adopccedilatildeo dos conceitos de ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo e
ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo para ultrapassar a aplicaccedilatildeo indevida dos
conceitos de deficiecircncia e incapacidade A utilizaccedilatildeo destes conceitos parece articular de forma
mais precisa com o novo modelo conceptual proposto pela OMS enfatizando a diversidade de
niacuteveis de funcionamento humano e apelando a uma certa noccedilatildeo de relatividade socialmente
construiacuteda Uma das criticas feita pela comunidade de investigadores ao conceito de ldquopessoas
com diversidade funcionalrdquo reside no facto de que a expressatildeo eacute dotada de um tatildeo elevado
niacutevel de abrangecircncia que natildeo permite um niacutevel de diferenciaccedilatildeo relevante na medida em que
todos os cidadatildeos detecircm entre si diversos e diferentes padrotildees de funcionamento humano
Neste sentido o conceito ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo aplicar-se-ia a todos os
cidadatildeos sem excepccedilatildeo A proliferaccedilatildeo destes termos eacute explicada pela necessidade da
comunidade politica e cientifica de construir constructos que sejam socialmente aceites e o
mais neutros possiacuteveis do ponto de vista dos seus valores impliacutecitos No entanto a
impossibilidade epistemoloacutegica de desenvolver expressotildees e conceitos socio-historicamente
neutros parece levar muitas vezes agrave concepccedilatildeo de definiccedilotildees com reduzida identidade isto eacute
de significado demasiado amplo e abrangente o que na expressatildeo da UPIAS ldquopodem significar
tudo e coisiacutessima nenhumardquo (2005)
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Os conceitos ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo ldquopessoas com limitaccedilotildees de
actividaderdquo e ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo afiguram-se comparativamente ao
anterior como um conceito de maior coerecircncia conceptual com o modelo proposto pela OMS e
deteacutem cumulativamente um maior poder diferenciador A sua desvantagem reside no facto de
constituiacuterem expressotildees com maior dificuldade de apreensatildeo e inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
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5 ANAacuteLISE DOS REFERENCIAIS NACIONAIS E INTERNACIONAIS
No sentido de obter um conjunto de vectores de referecircncia na estruturaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo do
conceito de deficiecircncia foram analisadas as abordagens desenvolvidas pelos seguintes
organismos INE Eurostat OCDE American Disabilities Act WHO UN
51 INE
Os dados disponiacuteveis no INE parecem indicar a utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na
ICIDH
Deficiecircncia1 Perda ou alteraccedilatildeo de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou
anatoacutemica Nesta definiccedilatildeo estatildeo incluiacutedas as seguintes tipologias2
Deficiecircncia AUDITIVA
Deficiecircncia MENTAL
Deficiecircncia MOTORA
Deficiecircncia ORGAcircNICO-FUNCIONAL
Deficiecircncia PSIQUIAacuteTRICA
Deficiecircncia VISUAL
Incapacidade3 Ausecircncia ou limitaccedilatildeo da capacidade para funcionar estando comprometida a
realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida
diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e originando uma desvantagem para funcionar em
sociedade face a outros
Pessoa deficiente Aquela que tenha uma ou mais das seguintes deficiecircncias a) deficiecircncia
visual b) deficiecircncia auditiva c) deficiecircncia mental d) deficiecircncia motora
1 Nota Na operaccedilatildeo censitaacuteria de 2001 apenas foi observada a deficiecircncia permanente a deficiecircncia temporaacuteria natildeo foi considerada (por exemplo se um indiviacuteduo se desloca com canadianas ou em cadeira de rodas porque partiu uma perna ou se sofre de descolamento parcial da retina que o obriga a andar com uma venda natildeo foi considerado como tendo uma deficiecircncia) 2 Fonte INE ndash Censos 2001 ndash Recenseamento Geral da Populaccedilatildeo (Antecedentes Metodologia e Conceitos) Antecedentes Metodologia e Conceitos 3 Fonte INS ndash Inqueacuterito Nacional agrave Sauacutede
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Trabalhador deficiente Trabalhador que estaacute incapacitado para assegurar por si mesmo total
ou parcialmente a satisfaccedilatildeo de necessidades de uma vida individual ou social normal devido
a uma deficiecircncia congeacutenita ou adquirida das suas capacidades fiacutesicas sensoriais ou
mentais tendo por isso dificuldade em obter eou manter o desempenho de funccedilotildees de acordo
com as suas habilitaccedilotildees idade e experiecircncia profissional
Cidadatildeo Trabalhador com necessidades especiais Cidadatildeo idoso ou portador de
deficiecircncias sensoriais (visuais e auditivas) fiacutesicas (motoras) e cognitivas
52 EUROSTAT
Os dados disponibilizados pelo Eurostat no seu endereccedilo electroacutenico4 parecem indicar a
utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na ICIDH
Conceito Deficiecircncia5
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de deficiecircncia refere-se a uma perda ou alteraccedilatildeo
de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou anatoacutemica
Conceito Incapacidade6
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de incapacidade refere-se agrave ausecircncia ou limitaccedilatildeo
da capacidade para funcionar estando comprometida a realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas
funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e
originando uma desvantagem para funcionar em sociedade face a outros
Conceito Desvantagem7
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito refere-se agrave desvantagem para um dado individuo
decorrente de uma deficiecircncia ou incapacidade
4 httpforumeuropaeuintircdsiscodedinfodatacodedenTheme3htm 5 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 6 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 7 Fonte Key data on health 2000 Eurostat
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
53 OCDE
Definiccedilotildees gerais de incapacidade
No contexto da OCDE identificam-se 2 abordagens distintas no quadro da definiccedilatildeo de
incapacidade
A incapacidade pode ser definida enquanto um estado decorrente de autoavaliaccedilatildeo ou um
status baseado em fontes administrativas eg beneficiaacuterio dos apoios De forma muito
frequente e talvez de forma imprecisa estas duas definiccedilotildees satildeo explicitadas como
incapacidade ldquosubjectivardquo versus rdquoobjectivardquo
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo e instrumentos
A incapacidade autoavaliada eacute medida atraveacutes de inqueacuteritos feitos directamente aos cidadatildeos
nas suas residecircncias Apesar da avaliaccedilatildeo ser baseada de uma forma geral nas respostas agraves
questotildees relativas a problemas de sauacutede de longo termo que limitam as actividades de vida
diaacuteria o detalhe das questotildees eacute geralmente diferente dificultando a comparabilidade dos
dados Por exemplo ldquolongo termordquo eacute parametrizado em 6 meses na Noruega e em 12 meses
na Suiccedila O status dos beneficiaacuterios pode ser avaliado atraveacutes de registos administrativos ou
atraveacutes de inqueacuteritos Os resultados entre as duas fontes satildeo de uma forma geral bastante
diferentes por duas razotildees nucleares os registos administrativos geralmente contam casos e
natildeo pessoas o que em situaccedilotildees de benefiacutecios muacuteltiplos pode levar a contagens duplas por
outro lado os inqueacuteritos satildeo baseados nas respostas sobre o status do beneficiaacuterio e algumas
pessoas podem desejar natildeo revelar a sua condiccedilatildeo perante os benefiacutecios
Nenhuma destas definiccedilotildees e medidas de mensuraccedilatildeo eacute superior a outras pelo que a sua
utilizaccedilatildeo depende dos objectivos do propoacutesito da investigaccedilatildeo e da disponibilidade da
informaccedilatildeo
Abordagens para medir a incapacidade no quadro da aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos agraves populaccedilotildees
a) Incapacidade geral (natildeo especificada)
Puacuteblico-alvo todos os adultos
b) Incapacidade relativa ao trabalho
Puacuteblico-alvo pessoas em idade activa
c) Limitaccedilotildees nas actividades de vida diaacuteria (AVD)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 32
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Puacuteblico-alvo Populaccedilatildeo idosa
54 AMERICAN DISABILITIES ACT
O American Disabilities Act (ADA) desenvolvido em 1990 fornece um conjunto de guidelines
no sentido de assegurar a disponibilizaccedilatildeo de serviccedilos para as pessoas com deficiecircncias bem
como a protecccedilatildeo dos seus direitos legais
A ADA inclui uma definiccedilatildeo legal de incapacidade consistindo na presenccedila de ldquouma deficiecircncia
fiacutesica ou mental que limita significativamente uma ou mais das principais actividades de vidardquo
Independentemente da definiccedilatildeo proposta pela ADA a existecircncia de muacuteltiplos programas a
favor das pessoas com deficiecircncias e os diferentes focus legais em diferentes puacuteblicos alvo
fazem com que tenham emergido uma multiplicidade de definiccedilotildees de incapacidade ao longo
do tempo no quadro das poliacuteticas sociais americanas
55 OMS ONU Revisatildeo dos actuais inqueacuteritos sobre a incapacidade
Apesar de existir um desenvolvimento consideraacutevel dos inqueacuteritos na aacuterea da incapacidade
poder-se-atildeo explicitar algumas observaccedilotildees relativas agrave sua multiplicidade Numa primeira linha
de anaacutelise os inqueacuteritos tendem a focalizar-se nas limitaccedilotildees de actividade eou na deficiecircncia
No que concerne agrave formulaccedilatildeo escrita tendem a existir diferenccedilas significativas entre
inqueacuteritos facto que inviabiliza natildeo raras vezes a comparabilidade dos dados entre inqueacuteritos
As diferentes formulaccedilotildees das questotildees incluem
Tem dificuldade
Eacute capaz de
Faz
Tem sentido problemas em
com ou sem assistecircncia pessoal eou tecnoloacutegica
A questatildeo que se coloca eacute se estas formulaccedilotildees tecircm o mesmo significado isto eacute se todas elas
pretendem medir a capacidade ou a performance De acordo com a CIF a capacidade
remeteria para o potencial de execuccedilatildeo de um indiviacuteduo enquanto a performance diria respeito
ao niacutevel de desempenho efectivo do indiviacuteduo atraveacutes do seu envolvimento numa situaccedilatildeo de
vida real As lacunas existentes e as poucas referecircncias ao niacutevel da forma como os inquiridos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 33
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
satildeo instruiacutedos a responder faz com que natildeo seja possiacutevel desenvolver um discernimento
irrefutaacutevel sobre esta mateacuteria
Do ponto de vista dos domiacutenios abrangidos os inqueacuteritos tecircm apresentado algumas questotildees
sobre a participaccedilatildeo e o ambiente e evidenciam algumas limitaccedilotildees na sua amplitude Os
domiacutenios de actividades e participaccedilatildeo geralmente abrangidos tecircm sido operacionalizados de
uma forma geral nas seguintes dimensotildees
Educaccedilatildeo e emprego (formulado como questotildees de performance)
Outros inqueacuteritos incluem aacutereas como relaccedilotildees interpessoais vida familiar tomada de
decisotildees etc
O domiacutenio relativo aos factores ambientais tem incluiacutedo
Utilizaccedilatildeo e acessibilidadedisponibilidade dos produtos de assistecircncia e da tecnologia
Acessibilidade do ambiente
Disponibilidade dos serviccedilos (sauacutede protecccedilatildeo social educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo)
Evidecircncias muito escassas ao niacutevel da poliacutetica atitudes ambiente natural
planeamento e concepccedilatildeo
A questatildeo de investigaccedilatildeo neste contexto centra-se na seguinte formulaccedilatildeo ldquoo que eacute que os
inqueacuteritos medem como incapacidaderdquo
a) Definiccedilatildeo a priori da incapacidade versus sem incapacidade
Alguns inqueacuteritos sobre a incapacidade especialmente os mais antigos utilizam uma definiccedilatildeo
a priori de incapacidade O objectivo deste tipo de inqueacuteritos eacute contar o nuacutemero de pessoas
que se encaixam na definiccedilatildeo no contexto da populaccedilatildeo total Neste sentido os dados satildeo
analisados de acordo com dois grupos de referecircncia ndash com incapacidade e sem incapacidade ndash
em funccedilatildeo de um conjunto de diferentes variaacuteveis Este tipo de questionaacuterios formula questotildees
do tipo ldquoPossui algum tipo de incapacidade auditiva visual ou fiacutesicardquo Muitas questotildees dos
censos tecircm utilizado este formato
b) Definiccedilatildeo a posteriori de incapacidade versus sem incapacidade
Mais recentemente alguns inqueacuteritos desenvolveram-se em direcccedilatildeo a uma definiccedilatildeo a
posteriori de incapacidade Nestes casos eacute medida a capacidade a performance ao longo de
um conjunto vasto de domiacutenios Este segundo tipo de inqueacuteritos tende a ter uma ampla
aceitaccedilatildeo eg HALS (Canada) HID (Franccedila) inqueacuterito sobre incapacidade na Africa do Sul
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 34
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Inqueacuterito Espanhol sobre incapacidade NHIS-D (USA) inqueacuterito Holandecircs entre outros Estes
instrumentos formulam questotildees relativas agraves dificuldades que as pessoas experienciam em
diferentes domiacutenios produzindo um perfil pessoal que possa colocar em evidecircncia os
diferentes graus de capacidade associados A categorizaccedilatildeo de incapacidade sem
incapacidade eacute formulada ao niacutevel do domiacutenio e natildeo como uma categoria geral de atributo
pessoal Esta abordagem permite uma anaacutelise ao niacutevel de funcionamento individual por
domiacutenio por exemplo comparando a experiecircncia de incapacidade no domiacutenio de mobilidade
versus socializaccedilatildeo versus comunicaccedilatildeo entre outros bem como o impacto dos factores
ambientais nestes diferentes domiacutenios O perfil resultante do funcionamento individual ao longo
de muacuteltiplos domiacutenios eacute similar aos estados de sauacutede individuais ao longo das diferentes
dimensotildees
Vantagens de uma abordagem a posteriori
Estaacute em consonacircncia com a abordagem universal proposta pela CIF Todas as
pessoas experienciam deficiecircncia nalgum ponto e esta experiecircncia eacute caracterizada
numa abordagem a posteriori e natildeo a priori
Decisotildees sobre a criaccedilatildeo de categorias sobre quem tem incapacidade e sobre quem
natildeo tem podem ser tomadas atraveacutes de diferentes niacuteveis de anaacutelise por exemplo
atraveacutes da anaacutelise da experiecircncia das pessoas que experienciam incapacidade em 1 2
ou 3 domiacutenios de cruzar o status de emprego de pessoas com incapacidade ao longo
dos diferentes domiacutenios etc
Deixa de ser necessaacuteria uma definiccedilatildeo tipoloacutegica e categoacuterica de pessoas com
incapacidade O que necessita de ser definido neste contexto eacute o que se designa por
limitaccedilatildeo da capacidade ou problemas de performance ao longo dos diferentes
domiacutenios
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 35
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
6 SISTEMATIZACcedilAtildeO DAS DIMENSOtildeES DE ORGANIZACcedilAtildeO E
OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em todos os estudos efectuados neste domiacutenio foi colocada em evidecircncia a actual dificuldade
de comparabilidade estatiacutestica internacional inter ou intra sectorial independentemente do
organismo referenciador ndash OCDE ONU EUROSTAT INE OMS
Neste contexto desenvolver-se-aacute a extracccedilatildeo de conhecimento tendo por base a identificaccedilatildeo
de um conjunto de eixos de anaacutelise que actuem como vectores de estruturaccedilatildeo na
operacionalizaccedilatildeo do conceito A este propoacutesito atente-se no Quadro 2
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Abordagem Focus Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Delimitaccedilatildeo temporal do
conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo
Design das questotildees
CID-10
ICIDH
ICF
SauacutedeDoenccedila
Deficiecircncia
Incapacidade
a) Geral
b) Relativa ao trabalho
c) Limitaccedilotildees nas
actividades de vida
diaacuteria
Funcionalidade ndash
Niacuteveis de execuccedilatildeo
das actividades por
domiacutenio e niacuteveistipos
de ajudas mobilizadas
Intersubjectivo ndash
vg inqueacuteritos
Objectivo ndash vg
fontes administrativas
A priori
A posteriori
Temporaacuterias
permanentes
Progressivas
regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou
contiacutenuas
Tipo 1 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre uma determinada
condiccedilatildeo individual
combinada com itens
referentes a limitaccedilotildees de
actividade e participaccedilatildeo e
factores contextuais
Tipo 2 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre a presenccedila de uma
pessoa com incapacidade
no agregado familiar
seguindo-se uma lista de
deficiecircncias e
incapacidades
Tipo 3 ndash Checklist de
deficiecircncias
Quadro 2 ndash Eixos de operacionalizaccedilatildeo do conceito
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 37
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 38
Dezembro2006
7 ESCOLHA DO CENAacuteRIO A IMPLEMENTAR
A anaacutelise do Quadro 2 permite-nos uma definiccedilatildeo modular do cenaacuterio a implementar atraveacutes de
uma configuraccedilatildeo do conceito pelos eixos de anaacutelise propostos Uma das dificuldades
evidentes nesta delimitaccedilatildeo prende-se com o cumprimento dos requisitos de (a)
comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica e legislativa dentro do contexto portuguecircs
e (c) conformidade com os referenciais conceptuais actuais sendo que a coexistecircncia destes
criteacuterios afigura-se em muitos casos incompatiacutevel entre si Para efeitos da estruturaccedilatildeo do
cenaacuterio privilegiar-se-aacute a conformidade com os referenciais conceptuais actuais
71 ABORDAGEM No que concerne agrave abordagem privilegia-se a adopccedilatildeo das mais recentes directrizes propostas
pela OMS adoptando explicitamente a CIF
Fundamentaccedilatildeo
A CIF apresenta a capacidade para descrever o funcionamento humano numa
perspectiva biopsicossocial em detrimento da classificaccedilatildeo anterior (ICIDH) que se
focalizava na dimensatildeo biomeacutedica A CIF foi desenvolvida no plano conceptual para ser aplicaacutevel em diferentes aacutereas e
sectores A CIF eacute aplicaacutevel transversalmente agraves dimensotildees de cultura idade geacutenero sendo um
instrumento sistemaacutetico para descrever e medir a sauacutede e o funcionamento humano
num dado contexto A CIF constitui-se enquanto instrumento potencial para a poliacutetica social design das
intervenccedilotildees nos domiacutenios da sauacutede educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e intervenccedilatildeo social Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
72 FOCUS
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo da centraccedilatildeo da recolha de dados ao niacutevel
da dimensatildeo de funcionalidade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
Fundamentaccedilatildeo
Consonacircncia com o modelo conceptual proposto pela CIF enfatizando o caraacutecter
dinacircmico e interaccional (pessoa factores contextuais) do funcionamento de cada
pessoa Permite caracterizar as limitaccedilotildees de actividade e restriccedilotildees de participaccedilatildeo dos
cidadatildeos identificando necessidades de intervenccedilotildees especializadas numa loacutegica de
empowerment e participaccedilatildeo social Permite analisar a adequabilidade e ajustamento das actuais medidas poliacuteticas do
ponto de vista dos seus objectivos e os problemas detectados ao niacutevel da participaccedilatildeo
dos cidadatildeos ao longo de um conjunto diversificado de domiacutenios
73 MEacuteTODOS DE MENSURACcedilAtildeO
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo de meacutetodos intersubjectivos nomeadamente
inqueacuteritos
Fundamentaccedilatildeo
Flexibilidade ao niacutevel da abrangecircncia e profundidade das dimensotildees
Maior facilidade na implementaccedilatildeo atendendo agrave disponibilizaccedilatildeo de uma amostra
delimitada
Maior niacutevel de controlo sobre as condiccedilotildees de observaccedilatildeo e da entrevista devido ao
menor nuacutemero de entrevistas a ser implementado
74 DELIMITACcedilAtildeO CONCEPTUAL E TEMPORAL DO CONCEITO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo temporal e apesar de se privilegiar as vantagens anteriormente
explicitadas no desenvolvimento de uma definiccedilatildeo a posteriori assume-se a necessidade
politica de delimitar o campo de intervenccedilatildeo do conjunto de medidas sociais neste domiacutenio
pelo que a delimitaccedilatildeo conceptual poderaacute ser objecto de operacionalizaccedilatildeo atraveacutes dos
seguintes paracircmetros
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 40
Dezembro2006
Poder-se-aacute colocar a questatildeo de saber se a delimitaccedilatildeo do conceito proposta remete
especificamente para ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ou para ldquopessoas com limitaccedilotildees de
participaccedilatildeordquo Atendendo a que a definiccedilatildeo comporta uma abordagem sisteacutemica enfatizando a
interacccedilatildeo entre um conjunto diversificado de componentes que produzem impacto na
funcionalidade da pessoa a resposta natildeo eacute linear dependendo da ecircnfase socio-histoacuterica e da
abordagem sociopoliacutetica que se escolher enfatizar No entanto e do ponto de vista conceptual
privilegia-se a adopccedilatildeo do conceito ldquopessoas com limitaccedilotildees de participaccedilatildeordquo dado que existe
total autonomia operativa entre os diferentes constructos Neste sentido a deficiecircncia natildeo
constitui um factor causal linear das limitaccedilotildees de actividade e das restriccedilotildees ao niacutevel da
participaccedilatildeo mas antes uma das componentes que em interacccedilatildeo com outras podem
provocar impactos ao niacutevel da funcionalidade do indiviacuteduo Por uacuteltimo refira-se que a tipologia
ldquopessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeordquo poderaacute ser alvo de criticas por constituir
uma designaccedilatildeo que apela a duas componentes em simultacircneo (actividades e participaccedilatildeo)
excluindo outras e ser demasiado longa para uma definiccedilatildeo tipoloacutegica A este propoacutesito pode-
se sugerir a delimitaccedilatildeo ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo constituindo esta
expressatildeo uma abordagem holiacutestica ao conjunto de componentes que interferem com o
funcionamento humano Deste modo poderemos ter as seguintes designaccedilotildees
Pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Pessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo
Pessoas com limitaccedilotildees de funcionalidade
Figura 2 ndash Possiacuteveis designaccedilotildees
O Quadro 3 pretende fornecer uma visatildeo sistemaacutetica sobre o processo de decisatildeo da
designaccedilatildeo a adoptar
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
deficiecircncias
Tradiccedilatildeo analiacutetica dentro do
contexto portuguecircs
Em conformidade com o modelo
meacutedico ndash centra-se nas alteraccedilotildees
de estrutura e funccedilatildeo ndash
focalizaccedilatildeo na pessoa
Desarticulado dos pressupostos do
modelo social ndash natildeo remete para a
experiecircncia de incapacidade
enquanto produto da interacccedilatildeo
entre pessoa e ambiente
Mai
or
Abr
angecirc
ncia
Mai
or
Espe
cific
idad
e
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 41
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
incapacidades
Em conformidade com a
delimitaccedilatildeo anglo-saxoacutenica que
utiliza o conceito Disability
Focalizaccedilatildeo no poacutelo negativo do
funcionamento humano ndash
funcionalidadeincapacidade
Ao focalizar-se na experiecircncia de
incapacidade enquanto
interacccedilatildeo pessoa-ambiente
remete indirectamente para a
mobilizaccedilatildeo de apoios e recursos
de forma a ultrapassar eou
eliminar os obstaacuteculos ao
funcionamento em contexto
O potencial efeito estigmatizante
da expressatildeo ldquopessoas com
incapacidadesrdquo
Pessoas com
diversidade
Funcional
Em conformidade com o modelo
social
Focaliza-se na gestatildeo das
diferenccedilas e no seu impacto ao
niacutevel da participaccedilatildeo das pessoas
na sociedade
Elevado niacutevel de abrangecircncia natildeo
permitindo um niacutevel de
diferenciaccedilatildeo relevante na
medida em que todos os cidadatildeos
detecircm entre si diversos e
diferentes padrotildees de
funcionamento humano
Conceito dificilmente
operacionalizaacutevel do ponto de
vista da formulaccedilatildeo das poliacuteticas e
da delimitaccedilatildeo dos puacuteblicos-alvo
Pessoas com
restriccedilotildees ao
niacutevel da
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos Desta forma
todos os obstaacuteculos agrave participaccedilatildeo
relacionados com discriminaccedilatildeo
social preconceitos estereoacutetipos
deficiecircncias doenccedilas croacutenicas
entre outros satildeo incluiacutedos
Natildeo inclui as limitaccedilotildees de
actividade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 42
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
limitaccedilotildees de
actividade e
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida e simultaneamente no
domiacutenio das limitaccedilotildees de
actividade
Ruptura com a tradiccedilatildeo analiacutetica
no sector
Dificuldade de apreensatildeo e
inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Natildeo inclui as alteraccedilotildees da
estrutura e da funccedilatildeo
Pessoas com
limitaccedilotildees de
funcionalidade
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel das
diferentes dimensotildees constituintes
da funcionalidade e do
funcionamento humano
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos
Pessoas com
deficiecircncias e
incapacidades
Natildeo introduz ruptura com a
tradiccedilatildeo analiacutetica no sector
Inclui as alteraccedilotildees de estrutura e
funccedilatildeo bem como as alteraccedilotildees
decorrentes ao niacutevel da
funcionalidade
Diferencia os conceitos de
deficiecircncia e incapacidade
autonomizando-os e fornecendo
uma base compreensiva para o
natildeo estabelecimento de relaccedilotildees
de causa-efeito entre os ambos
Abrange os obstaacuteculos que
emergem na interacccedilatildeo pessoa-
contextos de vida e
simultaneamente no domiacutenio das
limitaccedilotildees de actividade
Poder diferenciador e delimitador
na definiccedilatildeo do puacuteblico-alvo
Em alinhamento estrateacutegico com o
PAIPDI
Designaccedilatildeo de compromisso com
os referenciais teoacutericos do modelo
social e dos princiacutepios da ldquoeacutetica da
diversidaderdquo
Quadro 3 ndash Visatildeo comparativa das hipoacuteteses da designaccedilatildeo a adoptar
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 43
Dezembro2006
75 DELIMITACcedilAtildeO DA DURACcedilAtildeO E CURSO DE EVOLUCcedilAtildeO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo interessa a caracterizaccedilatildeo nas
3 dimensotildees desenvolvidas
Fundamentaccedilatildeo
Afigura-se relevante caracterizar a ocorrecircncia das deficiecircncias quanto aacute sua
consistecircncia no tempo ndash temporaacuterias permanentes ndash analisando os factores
contextuais associados consequecircncias ao niacutevel das actividades e da participaccedilatildeo ao
longo de um conjunto de domiacutenios em ordem agrave extracccedilatildeo de implicaccedilotildees no acircmbito
das poliacuteticas sociais
No acircmbito da adaptabilidade e da adequaccedilatildeo das medidas poliacuteticas agraves necessidades
especiacuteficas dos cidadatildeos torna-se relevante caracterizar a deficiecircncia quanto agrave
natureza do seu curso evolutivo ndash progressivas regressivas estaacuteveis O mesmo
criteacuterio eacute aplicaacutevel quanto aacute dimensatildeo de padratildeo de manifestaccedilatildeo ndash intermitente
contiacutenua
No entanto e apesar da incapacidade se manifestar ao longo do ciclo de vida da pessoa
de forma multimodal para efeitos de delimitaccedilatildeo e de definiccedilatildeo do conceito de pessoas
com deficiecircncias e incapacidades privilegiaremos o caraacutecter permanente Desta forma
excluem-se as manifestaccedilotildees temporaacuterias de incapacidade que enviesariam a anaacutelise e o
desenvolvimento de poliacuteticas neste domiacutenio
76 DESIGN DAS QUESTOtildeES
No que concerne ao design das questotildees privilegia-se a escolha de questotildees tipo 1
Fundamentaccedilatildeo
Em consonacircncia com a CIF
Permite comparabilidade estatiacutestica futura
Permite a caracterizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre os factores de funcionalidade ndash integridade
estrutural e funcional actividades participaccedilatildeo e factores contextuais
Permite o design das poliacuteticas sociais e metodologias de intervenccedilatildeo alicerccediladas nas
necessidades especiacuteficas dos cidadatildeos em torno das dimensotildees de inclusatildeo social
Domiacutenios
Visatildeo
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 44
Dezembro2006
Audiccedilatildeo
Comunicaccedilatildeo
Mobilidade
Dor
Aprendizagem e funcionamento psicoloacutegico
Autocuidados e vida domeacutestica
Condiccedilotildees gerais de sauacutede
Mobilizaccedilatildeo de ajudas ou equipamento especializado
Participaccedilatildeo social
Transporte e educaccedilatildeo
77 PROPOSTA DE DELIMITACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em funccedilatildeo das dimensotildees caracterizadas e dos criteacuterios privilegiados desenvolveu-se o
seguinte enquadramento conceptual
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 45
Dezembro2006
Figura 2 ndash Enquadramento conceptual da delimitaccedilatildeo do conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso da evoluccedilatildeo
Temporaacuterias permanentes
Progressivas regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou contiacutenuas
Focus
Funcionalidade ndash Niacuteveis de execuccedilatildeo das actividades por domiacutenio e niacuteveistipos de ajudas mobilizadas
Abordagem CIF
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo temporal do conceito
A priori
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Inter-subjectivo
Design das questotildees
Questatildeo geneacuterica sobre uma determinada condiccedilatildeo individual combinada com itens referentes a limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo e factores contextuais
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 46
Dezembro2006
8 CRITEacuteRIOS DE ELEGIBILIDADE DO PUacuteBLICO-ALVO E SISTEMAS DE
AVALIACcedilAtildeO
A operacionalizaccedilatildeo do conceito de incapacidade tem sido abordada de forma heterogeacutenea
entre diferentes modalidades de politica e os diferentes contextos socioculturais de cada paiacutes
De uma forma geral encontram-se 2 eixos criacuteticos na sua operacionalizaccedilatildeo
a) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de trabalho (na ocupaccedilatildeo preacutevia ou numa nova
ocupaccedilatildeo ajustada agraves alteraccedilotildees funcionais)
b) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de obter rendimentos provenientes do trabalho
A explicitaccedilatildeo dos criteacuterios de delimitaccedilatildeo do conceito de incapacidade nos diferentes paiacuteses
encontra-se na Quadro 4
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Austraacutelia 2 Criteacuterios possuir uma incapacidade que resulte
num score nunca inferior a 20 nas tabelas de
incapacidades e incapacidade em trabalhar 30
horas ou mais por semana ou em ser
reconvertido para trabalho em contexto regular
nos proacuteximos 2 anos
Nenhum
Aacuteustria 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho (50
de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo para
trabalhadores sem qualificaccedilotildees) papel criacutetico
das decisotildees dos tribunais devido a definiccedilotildees
legais imprecisas
Nenhum mas as
restriccedilotildees de sauacutede
devem ter uma duraccedilatildeo
igual ou superior a 6
meses
Beacutelgica 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na actual ocupaccedilatildeo
1 ano
Canada Incapacidade severa e prolongada que impeccedila de
desenvolver trabalho numa base regular
Nenhum
Dinamarca 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum mas a
reabilitaccedilatildeo precisa de
estar completa
Franccedila 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual mas a
totalidade do subsidio requer igualmente perda de
capacidade de trabalho
Nenhum no caso das
condiccedilotildees estarem
estaacuteveis mas muito
frequentemente apoacutes 3
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 47
Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
anos
Alemanha 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho a
incapacidade parcial eacute calculada em funccedilatildeo do nordm
de horas que a pessoa pode trabalhar
Nenhum mas a
incapacidade deve ter
uma duraccedilatildeo miacutenima
de 26 semanas
Itaacutelia 666reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum
Coreia Criteacuterios meacutedicos (niacuteveis de incapacidade
definidos de forma detalhada)
Periacuteodo de espera de
50 dias (os subsiacutedios
de doenccedila natildeo se
encontram disponiacuteveis)
Meacutexico 50 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo Nenhum
Holanda 15 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
(25 para os trabalhadores por conta proacutepria e
jovens com incapacidade) grau de incapacidade
calculado pela diferenccedila de remuneraccedilatildeo entre o
actual posto de trabalho compatiacutevel com as
limitaccedilotildees funcionais e o anterior
1 ano
Noruega 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho O
grau de subsiacutedio eacute calculado pela capacidade de
remuneraccedilatildeo
Nenhum (apoacutes ter
completado a
reabilitaccedilatildeo vocacional)
Poloacutenia Reduccedilatildeo temporaacuteria ou permanente da
capacidade de trabalho
Nenhum
Portugal 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual
Nenhum mas na
praacutetica ao fim de 3
anos (fim do periacuteodo de
doenccedila de longo termo)
Espanha 33 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho na
ocupaccedilatildeo actual incapacidade para todo e
qualquer trabalho para a totalidade do subsiacutedio
1 ano (embora seja
possiacutevel a candidatura
antes deste prazo em
casos de incapacidade
permanente)
Sueacutecia 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho grau
de incapacidade parcial calculado a partir das
horas que uma pessoa pode trabalhar
Nenhum
Suiccedila 40 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho para
as pessoas inactivas o grau de incapacidade eacute
calculado em relaccedilatildeo aacute actividade actual
1 ano
Turquia 666 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho
com um focus meacutedico bastante significativo
Nenhum
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 48
Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Reino Unido Limitaccedilotildees nas actividades de vida quotidianas
relevantes para o trabalho (avaliaccedilotildees meacutedicas
predominantes) teste ocupacional durante a s
primeiras 28 semanas (subsidio de doenccedila)
28 semanas
Estados
Unidos
Reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
incapacidade em investir numa actividade
profissional com rendimentos ($ US 740 por mecircs)
5 meses (nem sempre
cobertos pelos
subsiacutedios de curto-
termo) e 24 meses
para a cobertura
meacutedica
Quadro 4 ndash Definiccedilotildees de incapacidade e tempos regulamentares
Um dos desafios que se coloca aos actuais sistemas reside na delimitaccedilatildeo da elegibilidade do
puacuteblico-alvo Para cumprir este objectivo satildeo necessaacuterios sistemas de avaliaccedilatildeo holiacutesticos
abrangentes coerentes e que permitam chegar a resultados de forma consistente e com
validade interna No actual contexto a CIF propotildee constituir-se como o instrumento conceptual
abrangente para caracterizar os diferentes domiacutenios e niacuteveis de funcionalidade incapacidade
de forma coerente e integrada Neste sentido uma das vantagens apontadas para a adopccedilatildeo
do modelo desenvolvido pela OMS eacute a possibilidade de uniformizaccedilatildeo de conceitos e portanto
da utilizaccedilatildeo de uma linguagem padratildeo que permita a comunicaccedilatildeo entre investigadores
gestores profissionais de sauacutede organizaccedilotildees da sociedade civil e utilizadores em geral
Um dos campos de estudo mais explorados para a aplicaccedilatildeo da CIF tem sido a aacuterea de
Medicina Fiacutesica e de Reabilitaccedilatildeo no que concerne ao acompanhamento do estado de sauacutede
dos pacientes em tratamento O uso da CIF tem sido considerado tambeacutem na avaliaccedilatildeo apoacutes
transtornos agudos condiccedilotildees traumaacuteticas condiccedilotildees croacutenicas e na geriatria
Alguns autores argumentam que a CIF deve ser explorada como uma base de informaccedilotildees
padronizadas em estudos sobre incapacidade profissional quando haacute necessidade de
relacionar dados de sauacutede ocupacional com os da Seguranccedila Social
Na Sauacutede Puacuteblica tradicionalmente pouca atenccedilatildeo tem sido dada agraves pessoas com
incapacidades No entanto ao lado de recentes investimentos por parte de organizaccedilotildees e de
alguns governos a publicaccedilatildeo do modelo da CIF fornece as bases para as poliacuteticas e
disciplinas da Sauacutede Puacuteblica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo que apresenta deficiecircncias e
incapacidades Assim uma das possibilidades de uso da CIF pode ser a contribuiccedilatildeo para
responder a importantes questotildees de sauacutede puacuteblica tais como qual o estado de sauacutede das
pessoas com deficiecircncias comparadas com as demais que necessidades e que tipos de
intervenccedilotildees satildeo mais adequadas para reduzir condiccedilotildees secundaacuterias e promover a
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na sociedade entre outras
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 49
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Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 50
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Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 51
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Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
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Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
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Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 53
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
particular a mudanccedila dos serviccedilos centrados institucionalmente para os serviccedilos e apoios
centrados na comunidade Deste modo a ecircnfase eacute colocada na integraccedilatildeo de pessoas com
incapacidades na sociedade mainstream Os Standards da Equalizaccedilatildeo das Pessoas com
Incapacidades (1993) da ONU explicitam que todos os estados devem providenciar serviccedilos de
reabilitaccedilatildeo Mas esta orientaccedilatildeo recomenda que se vaacute aleacutem do cuidado meacutedico inicial para
incluir uma ampla gama de medidas e actividades desde a reabilitaccedilatildeo baacutesica e generalista
para actividades orientadas por objectivos (UN 199311) Ainda mais significativo todos os
serviccedilos de reabilitaccedilatildeo deveratildeo estar disponiacuteveis nas comunidades locais nas quais as
pessoas com incapacidades se movem No entanto em determinadas circunstacircncias e para
que se reforcem os objectivos de formaccedilatildeo e aprendizagem poderatildeo ser organizados cursos
localizados nas organizaccedilotildees prestadoras de serviccedilos com um quadro temporal o mais
reduzido possiacutevel (UN 1993 19)
Adicionalmente apesar dos Standards enfatizarem a importacircncia do envolvimento das pessoas
com incapacidades e dos seus significativos no desenvolvimento dos programas de
reabilitaccedilatildeo parece natildeo existir uma asserccedilatildeo clara de que tais estrateacutegias devam ser
controladas por ou mensuradas para estes uacuteltimos Existe no entanto uma assunccedilatildeo taacutecita de
que tais serviccedilos seratildeo liderados por profissionais
Adicionalmente desde que a incapacidade na CIF foi apresentada como uma questatildeo de
sauacutede em detrimento de uma questatildeo poliacutetica parece inevitaacutevel que os profissionais no
domiacutenio da reabilitaccedilatildeo continuem a ser dominados ou laquoalienadosraquo pela Medicina (Finkelstein
1998) Este facto poderaacute ficar a dever-se primeiro agrave actual e persistente subjugaccedilatildeo dos
governos nacionais aos interesses corporativos e das organizaccedilotildees econoacutemicas e segundo agrave
diversidade de barreiras econoacutemicas poliacuteticas e culturais experienciadas pelas pessoas com
incapacidades quer nos paiacuteses desenvolvidos quer nos subdesenvolvidos Neste tipo de
cenaacuterio o pensamento ortodoxo sobre a reabilitaccedilatildeo contratualiza um expediente praacutetico para
os poliacuteticos legisladores e organizaccedilotildees profissionais Como resultado os teacutecnicos tecircm
invariavelmente um niacutevel de escolha reduzido na opccedilatildeo pelo modelo meacutedico em detrimento
de soluccedilotildees poliacuteticas colectivas na resposta aos problemas da exclusatildeo
Esta perspectiva parece afigurar-se a oposta da necessaacuteria De facto apoacutes o trabalho de
Talcott Parsons (1951) emergiu uma extensa literatura condenando a laquomedicalizaccedilatildeoraquo do
quotidiano de um conjunto diverso de perspectivas Por exemplo o filoacutesofo austriacuteaco Ivan Illich
nomeou o seacuteculo XX como a era dos profissionais incapacitantes (1977 11) pela sua
apropriaccedilatildeo do conhecimento mistificaccedilatildeo das competecircncias especializadas e a criaccedilatildeo de
uma cultura perversa e persuasiva de dependecircncia Apesar de tais criticas encontrarem a sua
aplicabilidade predominantemente nas naccedilotildees subdesenvolvidas do Ocidente surgiram
trabalhos recentes que sugerem que apesar de existir uma diminuiccedilatildeo significativa dos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 18
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
conhecimentos meacutedicos e de tratamentos com reduzidos niacuteveis de recursos nas naccedilotildees
subdesenvolvidas criacuteticas similares podem ser relevantes para o contexto no qual nos
situamos (Stone 1999 Ingstad 2001 OMS 2001)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 19
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
3 OBJECTIVOS OPERACIONAIS
Pretende-se desenvolver uma anaacutelise longitudinal e multissectorial ao conceito de deficiecircncia
no sentido de estabelecer uma configuraccedilatildeo operacional no quadro da sua aplicabilidade
estatiacutestica Esta anaacutelise insere-se no acircmbito do Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das
Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo
Objectivo Operacionalizar o conceito de deficiecircncia no quadro da sua aplicabilidade
estatiacutestica assegurando os criteacuterios de (a) comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica
e legislativa dentro do contexto portuguecircs (c) conformidade com os referenciais conceptuais
actuais
Metodologia a) Anaacutelise dos referenciais nacionais e internacionais de delimitaccedilatildeo operacional
do conceito b) exploraccedilatildeo de cenaacuterios que viabilizem o cumprimento dos requisitos definidos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 20
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
4 ANAacuteLISE PRELIMINAR DA EVOLUCcedilAtildeO DA TERMINOLOGIA NO
DOMIacuteNIO 41 ESTADO DA ARTE
A evoluccedilatildeo dos conceitos operativos nos domiacutenios da reabilitaccedilatildeo e da inclusatildeo social tem
sido reflectida nas diversas classificaccedilotildees propostas pela OMS Neste quadro evolutivo a
uacuteltima classificaccedilatildeo proposta ndash CIF ndash constitui-se como um modelo de siacutentese entre a
abordagem meacutedica e a abordagem social no domiacutenio da incapacidade e da sauacutede No sentido
de procedermos agrave anaacutelise dos principiais conceitos e termos focalizar-nos-emos na
reestruturaccedilatildeo conceptual proposta pela Classificaccedilatildeo Internacional de Funcionalidade
Incapacidade e Sauacutede (CIF)
O objectivo geral da CIF eacute proporcionar uma linguagem unificada e padronizada assim como
uma estrutura de trabalho para a descriccedilatildeo da sauacutede e de estados relacionados com a sauacutede
A classificaccedilatildeo define os componentes da sauacutede e alguns componentes do bem-estar
relacionados com a sauacutede (tais como educaccedilatildeo e trabalho) Os domiacutenios contidos na CIF
podem portanto ser considerados como domiacutenios da sauacutede e domiacutenios relacionados com a
sauacutede Estes domiacutenios satildeo descritos com base na perspectiva do corpo do indiviacuteduo e da
sociedade em duas listas baacutesicas (1) Funccedilotildees e Estruturas do Corpo e (2) Actividades e
Participaccedilatildeo Como classificaccedilatildeo a CIF agrupa sistematicamente diferentes domiacutenios de uma
pessoa com uma determinada condiccedilatildeo de sauacutede (eg o que uma pessoa com uma doenccedila
ou perturbaccedilatildeo faz ou pode fazer) A funcionalidade eacute um termo que engloba todas as funccedilotildees
do corpo actividades e participaccedilatildeo de maneira similar a incapacidade eacute um termo que inclui
deficiecircncias limitaccedilatildeo da actividade ou restriccedilatildeo na participaccedilatildeo A CIF tambeacutem relaciona os
factores ambientais que interagem com todos estes constructos Neste sentido a classificaccedilatildeo
permite ao utilizador registar perfis uacuteteis da funcionalidade incapacidade e sauacutede dos
indiviacuteduos em vaacuterios domiacutenios
A CIF pertence agrave ldquofamiacuteliardquo das classificaccedilotildees internacionais desenvolvida pela OMS para
aplicaccedilatildeo em vaacuterios aspectos da sauacutede A famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS
proporciona um sistema para a codificaccedilatildeo de uma ampla gama de informaccedilotildees sobre sauacutede
(eg diagnoacutestico funcionalidade e incapacidade motivos de contacto com os serviccedilos de
sauacutede) e utiliza uma linguagem comum padronizada que permite a comunicaccedilatildeo sobre sauacutede e
cuidados de sauacutede em todo o mundo entre vaacuterias disciplinas e ciecircncias
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 21
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Nas classificaccedilotildees internacionais da OMS os estados de sauacutede (doenccedilas perturbaccedilotildees
lesotildees etc) satildeo classificados principalmente na CID-10 (abreviatura da Classificaccedilatildeo
Internacional de Doenccedilas Deacutecima Revisatildeo) que fornece uma estrutura de base etioloacutegica A
funcionalidade e a incapacidade associadas aos estados de sauacutede satildeo classificadas na CIF
Portanto a CID-10 e a CIF satildeo complementares e os utilizadores satildeo estimulados a usar em
conjunto esses dois membros da famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS A CID-10
proporciona um ldquodiagnoacutesticordquo de doenccedilas perturbaccedilotildees ou outras condiccedilotildees de sauacutede que eacute
complementado pelas informaccedilotildees adicionais fornecidas pela CIF sobre funcionalidade Em
conjunto as informaccedilotildees sobre o diagnoacutestico e sobre a funcionalidade datildeo uma imagem mais
ampla e mais significativa da sauacutede das pessoas ou da populaccedilatildeo que pode ser utilizada em
tomadas de decisatildeo
A famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS constitui uma ferramenta valiosa para a
descriccedilatildeo e a comparaccedilatildeo da sauacutede das populaccedilotildees num contexto internacional As
informaccedilotildees sobre a mortalidade (facultadas pela CID-10) e sobre as consequecircncias na sauacutede
(proporcionadas pela CIF) podem ser combinadas de forma a obter medidas sinteacuteticas da
sauacutede das populaccedilotildees Isto permite seguir a sauacutede das populaccedilotildees e a sua distribuiccedilatildeo bem
como avaliar a parte atribuiacuteda agraves diferentes causas
A CIF transformou-se de uma classificaccedilatildeo de ldquoconsequecircncias da doenccedilardquo (versatildeo de 1980)
numa classificaccedilatildeo de ldquocomponentes da sauacutederdquo Os ldquocomponentes da sauacutederdquo identificam o que
constitui a sauacutede enquanto que as consequecircncias se referem ao impacto das doenccedilas na
condiccedilatildeo de sauacutede da pessoa Deste modo a CIF assume uma posiccedilatildeo neutra em relaccedilatildeo agrave
etiologia de modo que os investigadores podem desenvolver inferecircncias causais utilizando
meacutetodos cientiacuteficos adequados De maneira similar esta abordagem tambeacutem eacute diferente de
uma abordagem do tipo determinantes da sauacutede ou ldquofactores de risco Para facilitar o estudo
dos determinantes ou dos factores de risco a CIF inclui uma lista de factores ambientais que
descrevem o contexto em que o indiviacuteduo vive
A CIF descreve a funcionalidade e a incapacidade relacionadas com as condiccedilotildees de sauacutede
identificando o que uma pessoa ldquopode ou natildeo pode fazer na sua vida diaacuteriardquo tendo em vista as
funccedilotildees dos oacutergatildeos ou sistemas e estruturas do corpo assim como as limitaccedilotildees de
actividades e da participaccedilatildeo social no meio ambiente onde a pessoa vive Segundo a OMS a
CID-10 e a CIF satildeo complementares a informaccedilatildeo sobre o diagnoacutestico acrescido da
funcionalidade fornece um quadro mais amplo sobre a sauacutede do indiviacuteduo ou populaccedilotildees Por
exemplo duas pessoas com a mesma doenccedila podem ter diferentes niacuteveis de funcionalidade e
duas pessoas com o mesmo niacutevel de funcionalidade natildeo tecircm necessariamente a mesma
condiccedilatildeo de sauacutede
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 22
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
O termo do modelo da CIF eacute a funcionalidade que cobre os componentes de funccedilotildees e
estruturas do corpo actividade e participaccedilatildeo social A funcionalidade eacute usada no aspecto
positivo e o aspecto negativo corresponde agrave incapacidade Segundo esse modelo a
incapacidade eacute resultante da interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada pelo indiviacuteduo (seja
orgacircnica e ou da estrutura do corpo) a limitaccedilatildeo de suas actividades e a restriccedilatildeo na
participaccedilatildeo social e os factores ambientais que podem actuar como facilitadores ou barreiras
para o desempenho dessas actividades e da participaccedilatildeo
A CIF eacute baseada portanto numa abordagem biopsicossocial que incorpora os componentes
de sauacutede nos niacuteveis corporais e sociais Assim na avaliaccedilatildeo de uma pessoa com deficiecircncias
e incapacidades esse modelo destaca-se do biomeacutedico baseado no diagnoacutestico etioloacutegico da
disfunccedilatildeo evoluindo para um modelo que incorpora as trecircs dimensotildees a biomeacutedica a
psicoloacutegica (dimensatildeo individual) e a social Nesse modelo cada niacutevel age sobre e sofre a
acccedilatildeo dos demais sendo todos influenciados pelos factores ambientais A OMS pretende
incorporar tambeacutem no futuro os factores pessoais importantes na forma de lidar com as
condiccedilotildees limitantes
O objectivo pragmaacutetico da CIF eacute fornecer uma linguagem padronizada e um modelo para a
descriccedilatildeo da sauacutede e dos estados relacionados com a sauacutede permitindo a comparaccedilatildeo de
dados referentes a essas condiccedilotildees entre paiacuteses serviccedilos sectores relativos agrave sauacutede bem
como o acompanhamento da sua evoluccedilatildeo no tempo
No entanto os conceitos apresentados na classificaccedilatildeo introduzem um novo paradigma para
pensar e trabalhar as deficiecircncias e incapacidades elas natildeo satildeo apenas uma consequecircncia
das condiccedilotildees de sauacutede doenccedila mas satildeo determinadas tambeacutem pelo contexto do meio
ambiente fiacutesico e social pelas diferentes percepccedilotildees culturais e atitudes em relaccedilatildeo agrave
deficiecircncias pela disponibilidade de serviccedilos e de legislaccedilatildeo Dessa forma a classificaccedilatildeo natildeo
constitui apenas um instrumento para medir o estado funcional dos indiviacuteduos Aleacutem disso ela
permite avaliar as condiccedilotildees de vida e fornecer subsiacutedios para poliacuteticas de inclusatildeo social
42 FUNCcedilOtildeES DO CORPO
As Funccedilotildees do corpo satildeo as funccedilotildees fisioloacutegicas dos sistemas orgacircnicos (incluindo as
funccedilotildees psicoloacutegicas)
As funccedilotildees e as estruturas do corpo satildeo classificadas em duas secccedilotildees diferentes Essas duas
classificaccedilotildees estatildeo concebidas de forma a serem utilizadas em paralelo Por exemplo as
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Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
funccedilotildees do corpo incluem sentidos humanos baacutesicos como as funccedilotildees da visatildeo e as
estruturas relacionadas aparecem na forma de ldquoolho e estruturas relacionadasrdquo
43 ESTRUTURAS DO CORPO
As Estruturas do Corpo satildeo as partes anatoacutemicas do corpo tais como oacutergatildeos membros e
seus componentes
ldquoCorpo refere-se ao organismo humano como um todo por isso o ceacuterebro e as suas funccedilotildees
ie a mente estatildeo incluiacutedos As funccedilotildees mentais (ou psicoloacutegicas) satildeo portanto incluiacutedas nas
funccedilotildees do corpo As funccedilotildees e as estruturas do corpo satildeo classificadas de acordo com os
sistemas orgacircnicos por isso as estruturas do corpo natildeo satildeo consideradas como oacutergatildeos no
seu sentido restrito
44 DEFICIEcircNCIA
Deficiecircncias satildeo problemas nas funccedilotildees ou na estrutura do corpo tais como um desvio
importante ou uma perda
As deficiecircncias de estrutura podem consistir numa anormalidade defeito perda ou outro desvio
importante relativamente a um padratildeo das estruturas do corpo As deficiecircncias foram definidas
de acordo com os conhecimentos bioloacutegicos actuais ao niacutevel de tecidos ou das ceacutelulas e ao
niacutevel subcelular ou molecular Por motivos praacuteticos no entanto esses niacuteveis natildeo estatildeo
classificados As bases bioloacutegicas das deficiecircncias orientaram essa classificaccedilatildeo e eacute possiacutevel
expandir a classificaccedilatildeo para incluir os niacuteveis celular ou molecular Do ponto de vista meacutedico
deve-se ter em mente que as deficiecircncias natildeo satildeo equivalentes agraves patologias subjacentes mas
sim a manifestaccedilotildees dessas patologias
As deficiecircncias correspondem a um desvio relativamente ao que eacute geralmente aceite como
estado biomeacutedico normal (padratildeo) do corpo e das suas funccedilotildees A definiccedilatildeo dos seus
componentes eacute feita essencialmente por pessoas com competecircncia para avaliar a
funcionalidade fiacutesica e mental de acordo com esses padrotildees
As deficiecircncias podem ser temporaacuterias ou permanentes progressivas regressivas ou estaacuteveis
intermitentes ou contiacutenuas O desvio em relaccedilatildeo ao modelo baseado na populaccedilatildeo e
geralmente aceite como normal pode ser leve ou grave e pode variar ao longo do tempo Estas
caracteriacutesticas satildeo consideradas posteriormente em descriccedilotildees adicionais principalmente nos
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Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
coacutedigos atraveacutes de um qualificador que se acrescenta ao coacutedigo e do qual fica separado por
um ponto
As deficiecircncias natildeo tecircm uma relaccedilatildeo causal com a etiologia ou com a forma como se
desenvolveram Por exemplo a perda da visatildeo ou de um membro pode resultar de uma
anormalidade geneacutetica ou de uma lesatildeo A presenccedila de uma deficiecircncia implica
necessariamente uma causa No entanto a causa pode natildeo ser suficiente para explicar a
deficiecircncia resultante Da mesma forma quando haacute uma deficiecircncia haacute uma disfunccedilatildeo das
funccedilotildees ou estruturas do corpo mas isto pode estar relacionado com qualquer doenccedila
perturbaccedilatildeo ou estado fisioloacutegico
As deficiecircncias podem ser parte ou uma expressatildeo de uma condiccedilatildeo de sauacutede mas natildeo
indicam necessariamente a presenccedila de uma doenccedila ou que o indiviacuteduo deva ser
considerado doente
As deficiecircncias cobrem um campo mais vasto que as perturbaccedilotildees ou as doenccedilas Por
exemplo a perda de uma perna eacute uma deficiecircncia de uma estrutura do corpo mas natildeo eacute uma
perturbaccedilatildeo ou uma doenccedila
As deficiecircncias podem originar outras deficiecircncias Por exemplo a diminuiccedilatildeo da forccedila
muscular pode prejudicar as funccedilotildees do movimento as funccedilotildees cardiacuteacas podem estar
relacionadas com o deacutefice das funccedilotildees respiratoacuterias e uma percepccedilatildeo prejudicada pode estar
relacionada com as funccedilotildees do pensamento
Actualmente na perspectiva da CIF o conceito de deficiecircncia constitui o poacutelo negativo da
componente ldquoFunccedilotildees e Estrutura do Corpordquo sendo descrito atraveacutes da existecircncia de
alteraccedilotildees significativas das funccedilotildees eou das estruturas do corpo O poacutelo positivo desta
componente refere-se agrave integridade funcional e estrutural Neste contexto um dos desafios
criacuteticos das poliacuteticas sociais consiste na operacionalizaccedilatildeo do conceito de deficiecircncia de forma
a que a elegibilidade dos diferentes puacuteblicos alvo se encontre devidamente delimitada
assegurando a eficaacutecia das medidas subjacentes
No entanto a amplitude e abrangecircncia da definiccedilatildeo do conceito de deficiecircncia proposta pela
OMS atraveacutes da CIF coloca um enorme desafio na medida em que qualquer cidadatildeo desde
que apresente um desvio significativo ao niacutevel da estrutura eou funccedilatildeo passa a ser um
potencial beneficiaacuterio das poliacuteticas neste domiacutenio Neste contexto poder-se-atildeo colocar vaacuterias
questotildees A primeira eacute se interessa agraves diferentes poliacuteticas no sector continuarem a ser
desenvolvidas tendo por focus o conceito de pessoas com deficiecircncias sabendo que a sua
distinccedilatildeo ao longo da populaccedilatildeo apenas poderaacute ser feita atraveacutes do niacutevel e extensatildeo da
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
alteraccedilatildeo da integridade estrutural e funcional de cada individuo A segunda questatildeo prende-se
com as consequecircncias conceptuais decorrentes da integraccedilatildeo do modelo social na formulaccedilatildeo
e operacionalizaccedilatildeo dos conceitos a serem utilizados pelas poliacuteticas no sector na medida em
que o aspecto critico deixa de ser a natureza e severidade da deficiecircncia para passar a centrar-
se no niacutevel e tipo de restriccedilotildees de participaccedilatildeo que cada cidadatildeo experiencia na interacccedilatildeo
com os seus contextos de vida
No que concerne agrave primeira questatildeo e atendendo a que a mais recente definiccedilatildeo do conceito
de deficiecircncia proposto pela OMS apresenta um elevado niacutevel de abrangecircncia e um reduzido
potencial diferenciador poderemos equacionar 2 hipoacuteteses centrais de operacionalizaccedilatildeo
a) A primeira hipoacutetese baseia-se na possibilidade de operacionalizar diferentes definiccedilotildees
de deficiecircncia ao longo das diferentes poliacuteticas sociais no sentido de assegurar que as
diferentes medidas alcanccedilam efectivamente as pessoas para as quais foram
elaboradas Esta perspectiva tem a vantagem de uma maior focalizaccedilatildeo nas
caracteriacutesticas especificas do puacuteblico-alvo mas no entanto apresenta uma grande
desvantagem que consiste na elevada probabilidade das diferentes definiccedilotildees
perderem a coerecircncia entre si fragmentando igualmente o modelo teoacuterico a partir do
qual se deveriam basear
b) A segunda hipoacutetese consiste na articulaccedilatildeo operativa de dois conceitos o de
deficiecircncia e o de restriccedilotildees de participaccedilatildeo Nesta perspectiva a elegibilidade de uma
determinada politica social baseia-se na validaccedilatildeo preacutevia da existecircncia da primeira
condiccedilatildeo do puacuteblico-alvo ndash a existecircncia de uma deficiecircncia ndash determinando logo de
seguida o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo a partir do qual os diferentes cidadatildeos
passam a poder aceder agraves medidas especiacuteficas nela contidas O desafio contido nesta
hipoacutetese consiste na necessidade de desenvolvimento de um sistema de avaliaccedilatildeo que
permita avaliar o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo experimentado pelas pessoas com
deficiecircncias determinando atraveacutes do valor aferido quais seriam as pessoas com
acesso agraves medidas Neste cenaacuterio natildeo bastaria que uma pessoa tivesse uma
deficiecircncia pelo que seria necessaacuterio avaliar os efeitos da deficiecircncia em interacccedilatildeo
com o ambiente social ao niacutevel da participaccedilatildeo no sentido de determinar a
elegibilidade As vantagens desta hipoacutetese relacionam-se com (i) a preservaccedilatildeo do
niacutevel de coerecircncia dos conceitos utilizados ao longo das diferentes poliacuteticas sociais (ii)
a existecircncia de um processo comum de afericcedilatildeo e determinaccedilatildeo da elegibilidade ao
longo dos diferentes sectores de politica (iii) a compatibilidade e adequabilidade dos
princiacutepios teoacutericos do modelo social com a operacionalizaccedilatildeo dos sistemas e medidas
poliacuteticos de apoio agraves pessoas com deficiecircncias e (iv) a existecircncia de mecanismos de
avaliaccedilatildeo de elevada transparecircncia controlabilidade e rigor
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 26
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
45 INCAPACIDADE
Do ponto de vista de utilizaccedilatildeo dos conceitos de Deficiecircncia e de Incapacidade em Portugal
tecircm subsistido vaacuterias imprecisotildees terminoloacutegicas Primeiro na generalidade dos documentos
internacionais alude-se ao termo ldquopeople with disabilitiesrdquo sendo que invariavelmente esta
expressatildeo eacute traduzida para Portuguecircs como ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo Tal facto parece criar
condiccedilotildees para uma grande permeabilidade semacircntica dificilmente resoluacutevel do ponto de vista
conceptual Segundo deficiecircncia e incapacidade satildeo claramente dois conceitos distintos
Enquanto a deficiecircncia remete para alteraccedilotildees significativas ao niacutevel das estruturas eou das
funccedilotildees do corpo a incapacidade constitui o poacutelo negativo do funcionamento humano em
situaccedilatildeo potencial ou efectiva de participaccedilatildeo no contexto de vida Este facto pressupotildee que os
conceitos de deficiecircncia e de incapacidade natildeo contecircm nenhuma relaccedilatildeo causal entre si nem
nenhuma relaccedilatildeo linear de frequecircncia na medida em que eacute possiacutevel existir uma deficiecircncia
sem que exista uma incapacidade e eacute possiacutevel emergir uma determinada incapacidade sem
que haja uma qualquer deficiecircncia
Deste modo eacute possiacutevel
a) Ter deficiecircncias sem limitaccedilotildees de capacidade (eg uma desfiguraccedilatildeo resultante da
doenccedila de Hansen pode natildeo ter efeito sobre a capacidade da pessoa
b) Ter problemas de desempenho e limitaccedilotildees de capacidade sem deficiecircncias evidentes
(eg reduccedilatildeo de desempenho nas actividades diaacuterias associada a vaacuterias doenccedilas)
c) Ter problemas de desempenho sem deficiecircncias ou limitaccedilotildees de capacidade (eg um
indiviacuteduo HIV positivo ou um ex-doente curado de doenccedila mental que enfrenta
estigmas ou descriminaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais ou no trabalho)
d) Ter limitaccedilotildees de capacidade se natildeo tiver assistecircncia e nenhum problema de
desempenho no ambiente habitual (eg um indiviacuteduo com limitaccedilotildees de mobilidade
pode beneficiar por parte da sociedade de ajudas tecnoloacutegicas de assistecircncia para se
movimentar
e) Experimentar um grau de influecircncia em sentido contraacuterio (eg a inactividade dos
membros pode levar agrave atrofia muscular a institucionalizaccedilatildeo pode resultar numa perda
da socializaccedilatildeo)
Daqui resulta que ao referirmo-nos agraves pessoas com deficiecircncias enquanto puacuteblico-alvo
privilegiado das medidas de reabilitaccedilatildeo poderemos incorrer num desvio significativo de
alocaccedilatildeo dos recursos agraves reais necessidades das pessoas na medida em que natildeo eacute a
deficiecircncia que gera por si mesma a necessidade de reabilitaccedilatildeo mas sim as limitaccedilotildees de
actividade e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo decorrentes da interacccedilatildeo entre as caracteriacutesticas
biopsicossociais e as caracteriacutesticas dos ambientes em que o individuo se move
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 27
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
A persistecircncia em traduzir o termo disability para deficiecircncia e natildeo apenas o seu homoacutelogo
anglo-saxoacutenico ndash impairment ndash poderaacute explicar-se pelas seguintes razotildees
a) O potencial efeito estigmatizante da expressatildeo ldquopessoas com incapacidadesrdquo ser maior
do que aquele contido na expressatildeo ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo
b) O termo incapacidade centrar-se exclusivamente nos aspectos negativos do
funcionamento individual classificando a pessoa agrave partida como sendo destituiacuteda de
competecircncias e condiccedilotildees para atingir os niacuteveis normativos de desempenho e
performance num conjunto de domiacutenios da vida pessoal e social
O paradoxo surge igualmente porque enquanto no modelo meacutedico a incapacidade aparece
em termos causais relacionada com a deficiecircncia numa perspectiva exclusivamente individual
no modelo proposto pela OMS operacionalizado na CIF os dois conceitos gozam de total
independecircncia conceptual e operativa sendo que a deficiecircncia passa a ter uma baixa
relevacircncia diferenciadora do ponto de vista do funcionamento humano Ora se atendermos a
que as medidas de reabilitaccedilatildeo pretendem promover os potenciais do funcionamento humano
numa perspectiva de participaccedilatildeo plena do indiviacuteduo nos mais diferenciados contextos de vida
assegurando o co-desenvolvimento de todos os actores e das estruturas sociais necessaacuterias agrave
cidadania plena entatildeo falar de ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo natildeo soacute natildeo eacute relevante no quadro
da loacutegica de intervenccedilatildeo como poderaacute traduzir dificuldades dos actores em mudar
efectivamente do paradigma meacutedico para o paradigma social
Este fenoacutemeno aliaacutes natildeo acontece apenas em Portugal sendo que recentes estudos de
investigaccedilatildeo vieram sugerir a adopccedilatildeo dos conceitos de ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo e
ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo para ultrapassar a aplicaccedilatildeo indevida dos
conceitos de deficiecircncia e incapacidade A utilizaccedilatildeo destes conceitos parece articular de forma
mais precisa com o novo modelo conceptual proposto pela OMS enfatizando a diversidade de
niacuteveis de funcionamento humano e apelando a uma certa noccedilatildeo de relatividade socialmente
construiacuteda Uma das criticas feita pela comunidade de investigadores ao conceito de ldquopessoas
com diversidade funcionalrdquo reside no facto de que a expressatildeo eacute dotada de um tatildeo elevado
niacutevel de abrangecircncia que natildeo permite um niacutevel de diferenciaccedilatildeo relevante na medida em que
todos os cidadatildeos detecircm entre si diversos e diferentes padrotildees de funcionamento humano
Neste sentido o conceito ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo aplicar-se-ia a todos os
cidadatildeos sem excepccedilatildeo A proliferaccedilatildeo destes termos eacute explicada pela necessidade da
comunidade politica e cientifica de construir constructos que sejam socialmente aceites e o
mais neutros possiacuteveis do ponto de vista dos seus valores impliacutecitos No entanto a
impossibilidade epistemoloacutegica de desenvolver expressotildees e conceitos socio-historicamente
neutros parece levar muitas vezes agrave concepccedilatildeo de definiccedilotildees com reduzida identidade isto eacute
de significado demasiado amplo e abrangente o que na expressatildeo da UPIAS ldquopodem significar
tudo e coisiacutessima nenhumardquo (2005)
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Os conceitos ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo ldquopessoas com limitaccedilotildees de
actividaderdquo e ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo afiguram-se comparativamente ao
anterior como um conceito de maior coerecircncia conceptual com o modelo proposto pela OMS e
deteacutem cumulativamente um maior poder diferenciador A sua desvantagem reside no facto de
constituiacuterem expressotildees com maior dificuldade de apreensatildeo e inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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5 ANAacuteLISE DOS REFERENCIAIS NACIONAIS E INTERNACIONAIS
No sentido de obter um conjunto de vectores de referecircncia na estruturaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo do
conceito de deficiecircncia foram analisadas as abordagens desenvolvidas pelos seguintes
organismos INE Eurostat OCDE American Disabilities Act WHO UN
51 INE
Os dados disponiacuteveis no INE parecem indicar a utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na
ICIDH
Deficiecircncia1 Perda ou alteraccedilatildeo de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou
anatoacutemica Nesta definiccedilatildeo estatildeo incluiacutedas as seguintes tipologias2
Deficiecircncia AUDITIVA
Deficiecircncia MENTAL
Deficiecircncia MOTORA
Deficiecircncia ORGAcircNICO-FUNCIONAL
Deficiecircncia PSIQUIAacuteTRICA
Deficiecircncia VISUAL
Incapacidade3 Ausecircncia ou limitaccedilatildeo da capacidade para funcionar estando comprometida a
realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida
diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e originando uma desvantagem para funcionar em
sociedade face a outros
Pessoa deficiente Aquela que tenha uma ou mais das seguintes deficiecircncias a) deficiecircncia
visual b) deficiecircncia auditiva c) deficiecircncia mental d) deficiecircncia motora
1 Nota Na operaccedilatildeo censitaacuteria de 2001 apenas foi observada a deficiecircncia permanente a deficiecircncia temporaacuteria natildeo foi considerada (por exemplo se um indiviacuteduo se desloca com canadianas ou em cadeira de rodas porque partiu uma perna ou se sofre de descolamento parcial da retina que o obriga a andar com uma venda natildeo foi considerado como tendo uma deficiecircncia) 2 Fonte INE ndash Censos 2001 ndash Recenseamento Geral da Populaccedilatildeo (Antecedentes Metodologia e Conceitos) Antecedentes Metodologia e Conceitos 3 Fonte INS ndash Inqueacuterito Nacional agrave Sauacutede
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 31
Dezembro2006
Trabalhador deficiente Trabalhador que estaacute incapacitado para assegurar por si mesmo total
ou parcialmente a satisfaccedilatildeo de necessidades de uma vida individual ou social normal devido
a uma deficiecircncia congeacutenita ou adquirida das suas capacidades fiacutesicas sensoriais ou
mentais tendo por isso dificuldade em obter eou manter o desempenho de funccedilotildees de acordo
com as suas habilitaccedilotildees idade e experiecircncia profissional
Cidadatildeo Trabalhador com necessidades especiais Cidadatildeo idoso ou portador de
deficiecircncias sensoriais (visuais e auditivas) fiacutesicas (motoras) e cognitivas
52 EUROSTAT
Os dados disponibilizados pelo Eurostat no seu endereccedilo electroacutenico4 parecem indicar a
utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na ICIDH
Conceito Deficiecircncia5
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de deficiecircncia refere-se a uma perda ou alteraccedilatildeo
de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou anatoacutemica
Conceito Incapacidade6
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de incapacidade refere-se agrave ausecircncia ou limitaccedilatildeo
da capacidade para funcionar estando comprometida a realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas
funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e
originando uma desvantagem para funcionar em sociedade face a outros
Conceito Desvantagem7
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito refere-se agrave desvantagem para um dado individuo
decorrente de uma deficiecircncia ou incapacidade
4 httpforumeuropaeuintircdsiscodedinfodatacodedenTheme3htm 5 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 6 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 7 Fonte Key data on health 2000 Eurostat
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
53 OCDE
Definiccedilotildees gerais de incapacidade
No contexto da OCDE identificam-se 2 abordagens distintas no quadro da definiccedilatildeo de
incapacidade
A incapacidade pode ser definida enquanto um estado decorrente de autoavaliaccedilatildeo ou um
status baseado em fontes administrativas eg beneficiaacuterio dos apoios De forma muito
frequente e talvez de forma imprecisa estas duas definiccedilotildees satildeo explicitadas como
incapacidade ldquosubjectivardquo versus rdquoobjectivardquo
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo e instrumentos
A incapacidade autoavaliada eacute medida atraveacutes de inqueacuteritos feitos directamente aos cidadatildeos
nas suas residecircncias Apesar da avaliaccedilatildeo ser baseada de uma forma geral nas respostas agraves
questotildees relativas a problemas de sauacutede de longo termo que limitam as actividades de vida
diaacuteria o detalhe das questotildees eacute geralmente diferente dificultando a comparabilidade dos
dados Por exemplo ldquolongo termordquo eacute parametrizado em 6 meses na Noruega e em 12 meses
na Suiccedila O status dos beneficiaacuterios pode ser avaliado atraveacutes de registos administrativos ou
atraveacutes de inqueacuteritos Os resultados entre as duas fontes satildeo de uma forma geral bastante
diferentes por duas razotildees nucleares os registos administrativos geralmente contam casos e
natildeo pessoas o que em situaccedilotildees de benefiacutecios muacuteltiplos pode levar a contagens duplas por
outro lado os inqueacuteritos satildeo baseados nas respostas sobre o status do beneficiaacuterio e algumas
pessoas podem desejar natildeo revelar a sua condiccedilatildeo perante os benefiacutecios
Nenhuma destas definiccedilotildees e medidas de mensuraccedilatildeo eacute superior a outras pelo que a sua
utilizaccedilatildeo depende dos objectivos do propoacutesito da investigaccedilatildeo e da disponibilidade da
informaccedilatildeo
Abordagens para medir a incapacidade no quadro da aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos agraves populaccedilotildees
a) Incapacidade geral (natildeo especificada)
Puacuteblico-alvo todos os adultos
b) Incapacidade relativa ao trabalho
Puacuteblico-alvo pessoas em idade activa
c) Limitaccedilotildees nas actividades de vida diaacuteria (AVD)
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Puacuteblico-alvo Populaccedilatildeo idosa
54 AMERICAN DISABILITIES ACT
O American Disabilities Act (ADA) desenvolvido em 1990 fornece um conjunto de guidelines
no sentido de assegurar a disponibilizaccedilatildeo de serviccedilos para as pessoas com deficiecircncias bem
como a protecccedilatildeo dos seus direitos legais
A ADA inclui uma definiccedilatildeo legal de incapacidade consistindo na presenccedila de ldquouma deficiecircncia
fiacutesica ou mental que limita significativamente uma ou mais das principais actividades de vidardquo
Independentemente da definiccedilatildeo proposta pela ADA a existecircncia de muacuteltiplos programas a
favor das pessoas com deficiecircncias e os diferentes focus legais em diferentes puacuteblicos alvo
fazem com que tenham emergido uma multiplicidade de definiccedilotildees de incapacidade ao longo
do tempo no quadro das poliacuteticas sociais americanas
55 OMS ONU Revisatildeo dos actuais inqueacuteritos sobre a incapacidade
Apesar de existir um desenvolvimento consideraacutevel dos inqueacuteritos na aacuterea da incapacidade
poder-se-atildeo explicitar algumas observaccedilotildees relativas agrave sua multiplicidade Numa primeira linha
de anaacutelise os inqueacuteritos tendem a focalizar-se nas limitaccedilotildees de actividade eou na deficiecircncia
No que concerne agrave formulaccedilatildeo escrita tendem a existir diferenccedilas significativas entre
inqueacuteritos facto que inviabiliza natildeo raras vezes a comparabilidade dos dados entre inqueacuteritos
As diferentes formulaccedilotildees das questotildees incluem
Tem dificuldade
Eacute capaz de
Faz
Tem sentido problemas em
com ou sem assistecircncia pessoal eou tecnoloacutegica
A questatildeo que se coloca eacute se estas formulaccedilotildees tecircm o mesmo significado isto eacute se todas elas
pretendem medir a capacidade ou a performance De acordo com a CIF a capacidade
remeteria para o potencial de execuccedilatildeo de um indiviacuteduo enquanto a performance diria respeito
ao niacutevel de desempenho efectivo do indiviacuteduo atraveacutes do seu envolvimento numa situaccedilatildeo de
vida real As lacunas existentes e as poucas referecircncias ao niacutevel da forma como os inquiridos
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Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
satildeo instruiacutedos a responder faz com que natildeo seja possiacutevel desenvolver um discernimento
irrefutaacutevel sobre esta mateacuteria
Do ponto de vista dos domiacutenios abrangidos os inqueacuteritos tecircm apresentado algumas questotildees
sobre a participaccedilatildeo e o ambiente e evidenciam algumas limitaccedilotildees na sua amplitude Os
domiacutenios de actividades e participaccedilatildeo geralmente abrangidos tecircm sido operacionalizados de
uma forma geral nas seguintes dimensotildees
Educaccedilatildeo e emprego (formulado como questotildees de performance)
Outros inqueacuteritos incluem aacutereas como relaccedilotildees interpessoais vida familiar tomada de
decisotildees etc
O domiacutenio relativo aos factores ambientais tem incluiacutedo
Utilizaccedilatildeo e acessibilidadedisponibilidade dos produtos de assistecircncia e da tecnologia
Acessibilidade do ambiente
Disponibilidade dos serviccedilos (sauacutede protecccedilatildeo social educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo)
Evidecircncias muito escassas ao niacutevel da poliacutetica atitudes ambiente natural
planeamento e concepccedilatildeo
A questatildeo de investigaccedilatildeo neste contexto centra-se na seguinte formulaccedilatildeo ldquoo que eacute que os
inqueacuteritos medem como incapacidaderdquo
a) Definiccedilatildeo a priori da incapacidade versus sem incapacidade
Alguns inqueacuteritos sobre a incapacidade especialmente os mais antigos utilizam uma definiccedilatildeo
a priori de incapacidade O objectivo deste tipo de inqueacuteritos eacute contar o nuacutemero de pessoas
que se encaixam na definiccedilatildeo no contexto da populaccedilatildeo total Neste sentido os dados satildeo
analisados de acordo com dois grupos de referecircncia ndash com incapacidade e sem incapacidade ndash
em funccedilatildeo de um conjunto de diferentes variaacuteveis Este tipo de questionaacuterios formula questotildees
do tipo ldquoPossui algum tipo de incapacidade auditiva visual ou fiacutesicardquo Muitas questotildees dos
censos tecircm utilizado este formato
b) Definiccedilatildeo a posteriori de incapacidade versus sem incapacidade
Mais recentemente alguns inqueacuteritos desenvolveram-se em direcccedilatildeo a uma definiccedilatildeo a
posteriori de incapacidade Nestes casos eacute medida a capacidade a performance ao longo de
um conjunto vasto de domiacutenios Este segundo tipo de inqueacuteritos tende a ter uma ampla
aceitaccedilatildeo eg HALS (Canada) HID (Franccedila) inqueacuterito sobre incapacidade na Africa do Sul
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Inqueacuterito Espanhol sobre incapacidade NHIS-D (USA) inqueacuterito Holandecircs entre outros Estes
instrumentos formulam questotildees relativas agraves dificuldades que as pessoas experienciam em
diferentes domiacutenios produzindo um perfil pessoal que possa colocar em evidecircncia os
diferentes graus de capacidade associados A categorizaccedilatildeo de incapacidade sem
incapacidade eacute formulada ao niacutevel do domiacutenio e natildeo como uma categoria geral de atributo
pessoal Esta abordagem permite uma anaacutelise ao niacutevel de funcionamento individual por
domiacutenio por exemplo comparando a experiecircncia de incapacidade no domiacutenio de mobilidade
versus socializaccedilatildeo versus comunicaccedilatildeo entre outros bem como o impacto dos factores
ambientais nestes diferentes domiacutenios O perfil resultante do funcionamento individual ao longo
de muacuteltiplos domiacutenios eacute similar aos estados de sauacutede individuais ao longo das diferentes
dimensotildees
Vantagens de uma abordagem a posteriori
Estaacute em consonacircncia com a abordagem universal proposta pela CIF Todas as
pessoas experienciam deficiecircncia nalgum ponto e esta experiecircncia eacute caracterizada
numa abordagem a posteriori e natildeo a priori
Decisotildees sobre a criaccedilatildeo de categorias sobre quem tem incapacidade e sobre quem
natildeo tem podem ser tomadas atraveacutes de diferentes niacuteveis de anaacutelise por exemplo
atraveacutes da anaacutelise da experiecircncia das pessoas que experienciam incapacidade em 1 2
ou 3 domiacutenios de cruzar o status de emprego de pessoas com incapacidade ao longo
dos diferentes domiacutenios etc
Deixa de ser necessaacuteria uma definiccedilatildeo tipoloacutegica e categoacuterica de pessoas com
incapacidade O que necessita de ser definido neste contexto eacute o que se designa por
limitaccedilatildeo da capacidade ou problemas de performance ao longo dos diferentes
domiacutenios
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6 SISTEMATIZACcedilAtildeO DAS DIMENSOtildeES DE ORGANIZACcedilAtildeO E
OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em todos os estudos efectuados neste domiacutenio foi colocada em evidecircncia a actual dificuldade
de comparabilidade estatiacutestica internacional inter ou intra sectorial independentemente do
organismo referenciador ndash OCDE ONU EUROSTAT INE OMS
Neste contexto desenvolver-se-aacute a extracccedilatildeo de conhecimento tendo por base a identificaccedilatildeo
de um conjunto de eixos de anaacutelise que actuem como vectores de estruturaccedilatildeo na
operacionalizaccedilatildeo do conceito A este propoacutesito atente-se no Quadro 2
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Abordagem Focus Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Delimitaccedilatildeo temporal do
conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo
Design das questotildees
CID-10
ICIDH
ICF
SauacutedeDoenccedila
Deficiecircncia
Incapacidade
a) Geral
b) Relativa ao trabalho
c) Limitaccedilotildees nas
actividades de vida
diaacuteria
Funcionalidade ndash
Niacuteveis de execuccedilatildeo
das actividades por
domiacutenio e niacuteveistipos
de ajudas mobilizadas
Intersubjectivo ndash
vg inqueacuteritos
Objectivo ndash vg
fontes administrativas
A priori
A posteriori
Temporaacuterias
permanentes
Progressivas
regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou
contiacutenuas
Tipo 1 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre uma determinada
condiccedilatildeo individual
combinada com itens
referentes a limitaccedilotildees de
actividade e participaccedilatildeo e
factores contextuais
Tipo 2 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre a presenccedila de uma
pessoa com incapacidade
no agregado familiar
seguindo-se uma lista de
deficiecircncias e
incapacidades
Tipo 3 ndash Checklist de
deficiecircncias
Quadro 2 ndash Eixos de operacionalizaccedilatildeo do conceito
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7 ESCOLHA DO CENAacuteRIO A IMPLEMENTAR
A anaacutelise do Quadro 2 permite-nos uma definiccedilatildeo modular do cenaacuterio a implementar atraveacutes de
uma configuraccedilatildeo do conceito pelos eixos de anaacutelise propostos Uma das dificuldades
evidentes nesta delimitaccedilatildeo prende-se com o cumprimento dos requisitos de (a)
comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica e legislativa dentro do contexto portuguecircs
e (c) conformidade com os referenciais conceptuais actuais sendo que a coexistecircncia destes
criteacuterios afigura-se em muitos casos incompatiacutevel entre si Para efeitos da estruturaccedilatildeo do
cenaacuterio privilegiar-se-aacute a conformidade com os referenciais conceptuais actuais
71 ABORDAGEM No que concerne agrave abordagem privilegia-se a adopccedilatildeo das mais recentes directrizes propostas
pela OMS adoptando explicitamente a CIF
Fundamentaccedilatildeo
A CIF apresenta a capacidade para descrever o funcionamento humano numa
perspectiva biopsicossocial em detrimento da classificaccedilatildeo anterior (ICIDH) que se
focalizava na dimensatildeo biomeacutedica A CIF foi desenvolvida no plano conceptual para ser aplicaacutevel em diferentes aacutereas e
sectores A CIF eacute aplicaacutevel transversalmente agraves dimensotildees de cultura idade geacutenero sendo um
instrumento sistemaacutetico para descrever e medir a sauacutede e o funcionamento humano
num dado contexto A CIF constitui-se enquanto instrumento potencial para a poliacutetica social design das
intervenccedilotildees nos domiacutenios da sauacutede educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e intervenccedilatildeo social Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
72 FOCUS
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo da centraccedilatildeo da recolha de dados ao niacutevel
da dimensatildeo de funcionalidade
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Fundamentaccedilatildeo
Consonacircncia com o modelo conceptual proposto pela CIF enfatizando o caraacutecter
dinacircmico e interaccional (pessoa factores contextuais) do funcionamento de cada
pessoa Permite caracterizar as limitaccedilotildees de actividade e restriccedilotildees de participaccedilatildeo dos
cidadatildeos identificando necessidades de intervenccedilotildees especializadas numa loacutegica de
empowerment e participaccedilatildeo social Permite analisar a adequabilidade e ajustamento das actuais medidas poliacuteticas do
ponto de vista dos seus objectivos e os problemas detectados ao niacutevel da participaccedilatildeo
dos cidadatildeos ao longo de um conjunto diversificado de domiacutenios
73 MEacuteTODOS DE MENSURACcedilAtildeO
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo de meacutetodos intersubjectivos nomeadamente
inqueacuteritos
Fundamentaccedilatildeo
Flexibilidade ao niacutevel da abrangecircncia e profundidade das dimensotildees
Maior facilidade na implementaccedilatildeo atendendo agrave disponibilizaccedilatildeo de uma amostra
delimitada
Maior niacutevel de controlo sobre as condiccedilotildees de observaccedilatildeo e da entrevista devido ao
menor nuacutemero de entrevistas a ser implementado
74 DELIMITACcedilAtildeO CONCEPTUAL E TEMPORAL DO CONCEITO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo temporal e apesar de se privilegiar as vantagens anteriormente
explicitadas no desenvolvimento de uma definiccedilatildeo a posteriori assume-se a necessidade
politica de delimitar o campo de intervenccedilatildeo do conjunto de medidas sociais neste domiacutenio
pelo que a delimitaccedilatildeo conceptual poderaacute ser objecto de operacionalizaccedilatildeo atraveacutes dos
seguintes paracircmetros
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
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Dezembro2006
Poder-se-aacute colocar a questatildeo de saber se a delimitaccedilatildeo do conceito proposta remete
especificamente para ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ou para ldquopessoas com limitaccedilotildees de
participaccedilatildeordquo Atendendo a que a definiccedilatildeo comporta uma abordagem sisteacutemica enfatizando a
interacccedilatildeo entre um conjunto diversificado de componentes que produzem impacto na
funcionalidade da pessoa a resposta natildeo eacute linear dependendo da ecircnfase socio-histoacuterica e da
abordagem sociopoliacutetica que se escolher enfatizar No entanto e do ponto de vista conceptual
privilegia-se a adopccedilatildeo do conceito ldquopessoas com limitaccedilotildees de participaccedilatildeordquo dado que existe
total autonomia operativa entre os diferentes constructos Neste sentido a deficiecircncia natildeo
constitui um factor causal linear das limitaccedilotildees de actividade e das restriccedilotildees ao niacutevel da
participaccedilatildeo mas antes uma das componentes que em interacccedilatildeo com outras podem
provocar impactos ao niacutevel da funcionalidade do indiviacuteduo Por uacuteltimo refira-se que a tipologia
ldquopessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeordquo poderaacute ser alvo de criticas por constituir
uma designaccedilatildeo que apela a duas componentes em simultacircneo (actividades e participaccedilatildeo)
excluindo outras e ser demasiado longa para uma definiccedilatildeo tipoloacutegica A este propoacutesito pode-
se sugerir a delimitaccedilatildeo ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo constituindo esta
expressatildeo uma abordagem holiacutestica ao conjunto de componentes que interferem com o
funcionamento humano Deste modo poderemos ter as seguintes designaccedilotildees
Pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Pessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo
Pessoas com limitaccedilotildees de funcionalidade
Figura 2 ndash Possiacuteveis designaccedilotildees
O Quadro 3 pretende fornecer uma visatildeo sistemaacutetica sobre o processo de decisatildeo da
designaccedilatildeo a adoptar
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
deficiecircncias
Tradiccedilatildeo analiacutetica dentro do
contexto portuguecircs
Em conformidade com o modelo
meacutedico ndash centra-se nas alteraccedilotildees
de estrutura e funccedilatildeo ndash
focalizaccedilatildeo na pessoa
Desarticulado dos pressupostos do
modelo social ndash natildeo remete para a
experiecircncia de incapacidade
enquanto produto da interacccedilatildeo
entre pessoa e ambiente
Mai
or
Abr
angecirc
ncia
Mai
or
Espe
cific
idad
e
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
incapacidades
Em conformidade com a
delimitaccedilatildeo anglo-saxoacutenica que
utiliza o conceito Disability
Focalizaccedilatildeo no poacutelo negativo do
funcionamento humano ndash
funcionalidadeincapacidade
Ao focalizar-se na experiecircncia de
incapacidade enquanto
interacccedilatildeo pessoa-ambiente
remete indirectamente para a
mobilizaccedilatildeo de apoios e recursos
de forma a ultrapassar eou
eliminar os obstaacuteculos ao
funcionamento em contexto
O potencial efeito estigmatizante
da expressatildeo ldquopessoas com
incapacidadesrdquo
Pessoas com
diversidade
Funcional
Em conformidade com o modelo
social
Focaliza-se na gestatildeo das
diferenccedilas e no seu impacto ao
niacutevel da participaccedilatildeo das pessoas
na sociedade
Elevado niacutevel de abrangecircncia natildeo
permitindo um niacutevel de
diferenciaccedilatildeo relevante na
medida em que todos os cidadatildeos
detecircm entre si diversos e
diferentes padrotildees de
funcionamento humano
Conceito dificilmente
operacionalizaacutevel do ponto de
vista da formulaccedilatildeo das poliacuteticas e
da delimitaccedilatildeo dos puacuteblicos-alvo
Pessoas com
restriccedilotildees ao
niacutevel da
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos Desta forma
todos os obstaacuteculos agrave participaccedilatildeo
relacionados com discriminaccedilatildeo
social preconceitos estereoacutetipos
deficiecircncias doenccedilas croacutenicas
entre outros satildeo incluiacutedos
Natildeo inclui as limitaccedilotildees de
actividade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
limitaccedilotildees de
actividade e
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida e simultaneamente no
domiacutenio das limitaccedilotildees de
actividade
Ruptura com a tradiccedilatildeo analiacutetica
no sector
Dificuldade de apreensatildeo e
inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Natildeo inclui as alteraccedilotildees da
estrutura e da funccedilatildeo
Pessoas com
limitaccedilotildees de
funcionalidade
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel das
diferentes dimensotildees constituintes
da funcionalidade e do
funcionamento humano
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos
Pessoas com
deficiecircncias e
incapacidades
Natildeo introduz ruptura com a
tradiccedilatildeo analiacutetica no sector
Inclui as alteraccedilotildees de estrutura e
funccedilatildeo bem como as alteraccedilotildees
decorrentes ao niacutevel da
funcionalidade
Diferencia os conceitos de
deficiecircncia e incapacidade
autonomizando-os e fornecendo
uma base compreensiva para o
natildeo estabelecimento de relaccedilotildees
de causa-efeito entre os ambos
Abrange os obstaacuteculos que
emergem na interacccedilatildeo pessoa-
contextos de vida e
simultaneamente no domiacutenio das
limitaccedilotildees de actividade
Poder diferenciador e delimitador
na definiccedilatildeo do puacuteblico-alvo
Em alinhamento estrateacutegico com o
PAIPDI
Designaccedilatildeo de compromisso com
os referenciais teoacutericos do modelo
social e dos princiacutepios da ldquoeacutetica da
diversidaderdquo
Quadro 3 ndash Visatildeo comparativa das hipoacuteteses da designaccedilatildeo a adoptar
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 43
Dezembro2006
75 DELIMITACcedilAtildeO DA DURACcedilAtildeO E CURSO DE EVOLUCcedilAtildeO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo interessa a caracterizaccedilatildeo nas
3 dimensotildees desenvolvidas
Fundamentaccedilatildeo
Afigura-se relevante caracterizar a ocorrecircncia das deficiecircncias quanto aacute sua
consistecircncia no tempo ndash temporaacuterias permanentes ndash analisando os factores
contextuais associados consequecircncias ao niacutevel das actividades e da participaccedilatildeo ao
longo de um conjunto de domiacutenios em ordem agrave extracccedilatildeo de implicaccedilotildees no acircmbito
das poliacuteticas sociais
No acircmbito da adaptabilidade e da adequaccedilatildeo das medidas poliacuteticas agraves necessidades
especiacuteficas dos cidadatildeos torna-se relevante caracterizar a deficiecircncia quanto agrave
natureza do seu curso evolutivo ndash progressivas regressivas estaacuteveis O mesmo
criteacuterio eacute aplicaacutevel quanto aacute dimensatildeo de padratildeo de manifestaccedilatildeo ndash intermitente
contiacutenua
No entanto e apesar da incapacidade se manifestar ao longo do ciclo de vida da pessoa
de forma multimodal para efeitos de delimitaccedilatildeo e de definiccedilatildeo do conceito de pessoas
com deficiecircncias e incapacidades privilegiaremos o caraacutecter permanente Desta forma
excluem-se as manifestaccedilotildees temporaacuterias de incapacidade que enviesariam a anaacutelise e o
desenvolvimento de poliacuteticas neste domiacutenio
76 DESIGN DAS QUESTOtildeES
No que concerne ao design das questotildees privilegia-se a escolha de questotildees tipo 1
Fundamentaccedilatildeo
Em consonacircncia com a CIF
Permite comparabilidade estatiacutestica futura
Permite a caracterizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre os factores de funcionalidade ndash integridade
estrutural e funcional actividades participaccedilatildeo e factores contextuais
Permite o design das poliacuteticas sociais e metodologias de intervenccedilatildeo alicerccediladas nas
necessidades especiacuteficas dos cidadatildeos em torno das dimensotildees de inclusatildeo social
Domiacutenios
Visatildeo
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 44
Dezembro2006
Audiccedilatildeo
Comunicaccedilatildeo
Mobilidade
Dor
Aprendizagem e funcionamento psicoloacutegico
Autocuidados e vida domeacutestica
Condiccedilotildees gerais de sauacutede
Mobilizaccedilatildeo de ajudas ou equipamento especializado
Participaccedilatildeo social
Transporte e educaccedilatildeo
77 PROPOSTA DE DELIMITACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em funccedilatildeo das dimensotildees caracterizadas e dos criteacuterios privilegiados desenvolveu-se o
seguinte enquadramento conceptual
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 45
Dezembro2006
Figura 2 ndash Enquadramento conceptual da delimitaccedilatildeo do conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso da evoluccedilatildeo
Temporaacuterias permanentes
Progressivas regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou contiacutenuas
Focus
Funcionalidade ndash Niacuteveis de execuccedilatildeo das actividades por domiacutenio e niacuteveistipos de ajudas mobilizadas
Abordagem CIF
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo temporal do conceito
A priori
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Inter-subjectivo
Design das questotildees
Questatildeo geneacuterica sobre uma determinada condiccedilatildeo individual combinada com itens referentes a limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo e factores contextuais
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 46
Dezembro2006
8 CRITEacuteRIOS DE ELEGIBILIDADE DO PUacuteBLICO-ALVO E SISTEMAS DE
AVALIACcedilAtildeO
A operacionalizaccedilatildeo do conceito de incapacidade tem sido abordada de forma heterogeacutenea
entre diferentes modalidades de politica e os diferentes contextos socioculturais de cada paiacutes
De uma forma geral encontram-se 2 eixos criacuteticos na sua operacionalizaccedilatildeo
a) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de trabalho (na ocupaccedilatildeo preacutevia ou numa nova
ocupaccedilatildeo ajustada agraves alteraccedilotildees funcionais)
b) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de obter rendimentos provenientes do trabalho
A explicitaccedilatildeo dos criteacuterios de delimitaccedilatildeo do conceito de incapacidade nos diferentes paiacuteses
encontra-se na Quadro 4
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Austraacutelia 2 Criteacuterios possuir uma incapacidade que resulte
num score nunca inferior a 20 nas tabelas de
incapacidades e incapacidade em trabalhar 30
horas ou mais por semana ou em ser
reconvertido para trabalho em contexto regular
nos proacuteximos 2 anos
Nenhum
Aacuteustria 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho (50
de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo para
trabalhadores sem qualificaccedilotildees) papel criacutetico
das decisotildees dos tribunais devido a definiccedilotildees
legais imprecisas
Nenhum mas as
restriccedilotildees de sauacutede
devem ter uma duraccedilatildeo
igual ou superior a 6
meses
Beacutelgica 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na actual ocupaccedilatildeo
1 ano
Canada Incapacidade severa e prolongada que impeccedila de
desenvolver trabalho numa base regular
Nenhum
Dinamarca 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum mas a
reabilitaccedilatildeo precisa de
estar completa
Franccedila 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual mas a
totalidade do subsidio requer igualmente perda de
capacidade de trabalho
Nenhum no caso das
condiccedilotildees estarem
estaacuteveis mas muito
frequentemente apoacutes 3
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 47
Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
anos
Alemanha 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho a
incapacidade parcial eacute calculada em funccedilatildeo do nordm
de horas que a pessoa pode trabalhar
Nenhum mas a
incapacidade deve ter
uma duraccedilatildeo miacutenima
de 26 semanas
Itaacutelia 666reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum
Coreia Criteacuterios meacutedicos (niacuteveis de incapacidade
definidos de forma detalhada)
Periacuteodo de espera de
50 dias (os subsiacutedios
de doenccedila natildeo se
encontram disponiacuteveis)
Meacutexico 50 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo Nenhum
Holanda 15 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
(25 para os trabalhadores por conta proacutepria e
jovens com incapacidade) grau de incapacidade
calculado pela diferenccedila de remuneraccedilatildeo entre o
actual posto de trabalho compatiacutevel com as
limitaccedilotildees funcionais e o anterior
1 ano
Noruega 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho O
grau de subsiacutedio eacute calculado pela capacidade de
remuneraccedilatildeo
Nenhum (apoacutes ter
completado a
reabilitaccedilatildeo vocacional)
Poloacutenia Reduccedilatildeo temporaacuteria ou permanente da
capacidade de trabalho
Nenhum
Portugal 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual
Nenhum mas na
praacutetica ao fim de 3
anos (fim do periacuteodo de
doenccedila de longo termo)
Espanha 33 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho na
ocupaccedilatildeo actual incapacidade para todo e
qualquer trabalho para a totalidade do subsiacutedio
1 ano (embora seja
possiacutevel a candidatura
antes deste prazo em
casos de incapacidade
permanente)
Sueacutecia 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho grau
de incapacidade parcial calculado a partir das
horas que uma pessoa pode trabalhar
Nenhum
Suiccedila 40 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho para
as pessoas inactivas o grau de incapacidade eacute
calculado em relaccedilatildeo aacute actividade actual
1 ano
Turquia 666 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho
com um focus meacutedico bastante significativo
Nenhum
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 48
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Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Reino Unido Limitaccedilotildees nas actividades de vida quotidianas
relevantes para o trabalho (avaliaccedilotildees meacutedicas
predominantes) teste ocupacional durante a s
primeiras 28 semanas (subsidio de doenccedila)
28 semanas
Estados
Unidos
Reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
incapacidade em investir numa actividade
profissional com rendimentos ($ US 740 por mecircs)
5 meses (nem sempre
cobertos pelos
subsiacutedios de curto-
termo) e 24 meses
para a cobertura
meacutedica
Quadro 4 ndash Definiccedilotildees de incapacidade e tempos regulamentares
Um dos desafios que se coloca aos actuais sistemas reside na delimitaccedilatildeo da elegibilidade do
puacuteblico-alvo Para cumprir este objectivo satildeo necessaacuterios sistemas de avaliaccedilatildeo holiacutesticos
abrangentes coerentes e que permitam chegar a resultados de forma consistente e com
validade interna No actual contexto a CIF propotildee constituir-se como o instrumento conceptual
abrangente para caracterizar os diferentes domiacutenios e niacuteveis de funcionalidade incapacidade
de forma coerente e integrada Neste sentido uma das vantagens apontadas para a adopccedilatildeo
do modelo desenvolvido pela OMS eacute a possibilidade de uniformizaccedilatildeo de conceitos e portanto
da utilizaccedilatildeo de uma linguagem padratildeo que permita a comunicaccedilatildeo entre investigadores
gestores profissionais de sauacutede organizaccedilotildees da sociedade civil e utilizadores em geral
Um dos campos de estudo mais explorados para a aplicaccedilatildeo da CIF tem sido a aacuterea de
Medicina Fiacutesica e de Reabilitaccedilatildeo no que concerne ao acompanhamento do estado de sauacutede
dos pacientes em tratamento O uso da CIF tem sido considerado tambeacutem na avaliaccedilatildeo apoacutes
transtornos agudos condiccedilotildees traumaacuteticas condiccedilotildees croacutenicas e na geriatria
Alguns autores argumentam que a CIF deve ser explorada como uma base de informaccedilotildees
padronizadas em estudos sobre incapacidade profissional quando haacute necessidade de
relacionar dados de sauacutede ocupacional com os da Seguranccedila Social
Na Sauacutede Puacuteblica tradicionalmente pouca atenccedilatildeo tem sido dada agraves pessoas com
incapacidades No entanto ao lado de recentes investimentos por parte de organizaccedilotildees e de
alguns governos a publicaccedilatildeo do modelo da CIF fornece as bases para as poliacuteticas e
disciplinas da Sauacutede Puacuteblica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo que apresenta deficiecircncias e
incapacidades Assim uma das possibilidades de uso da CIF pode ser a contribuiccedilatildeo para
responder a importantes questotildees de sauacutede puacuteblica tais como qual o estado de sauacutede das
pessoas com deficiecircncias comparadas com as demais que necessidades e que tipos de
intervenccedilotildees satildeo mais adequadas para reduzir condiccedilotildees secundaacuterias e promover a
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na sociedade entre outras
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 49
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Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 50
Dezembro2006
Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 51
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Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
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Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 53
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subdesenvolvidas criacuteticas similares podem ser relevantes para o contexto no qual nos
situamos (Stone 1999 Ingstad 2001 OMS 2001)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 19
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
3 OBJECTIVOS OPERACIONAIS
Pretende-se desenvolver uma anaacutelise longitudinal e multissectorial ao conceito de deficiecircncia
no sentido de estabelecer uma configuraccedilatildeo operacional no quadro da sua aplicabilidade
estatiacutestica Esta anaacutelise insere-se no acircmbito do Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das
Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo
Objectivo Operacionalizar o conceito de deficiecircncia no quadro da sua aplicabilidade
estatiacutestica assegurando os criteacuterios de (a) comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica
e legislativa dentro do contexto portuguecircs (c) conformidade com os referenciais conceptuais
actuais
Metodologia a) Anaacutelise dos referenciais nacionais e internacionais de delimitaccedilatildeo operacional
do conceito b) exploraccedilatildeo de cenaacuterios que viabilizem o cumprimento dos requisitos definidos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 20
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
4 ANAacuteLISE PRELIMINAR DA EVOLUCcedilAtildeO DA TERMINOLOGIA NO
DOMIacuteNIO 41 ESTADO DA ARTE
A evoluccedilatildeo dos conceitos operativos nos domiacutenios da reabilitaccedilatildeo e da inclusatildeo social tem
sido reflectida nas diversas classificaccedilotildees propostas pela OMS Neste quadro evolutivo a
uacuteltima classificaccedilatildeo proposta ndash CIF ndash constitui-se como um modelo de siacutentese entre a
abordagem meacutedica e a abordagem social no domiacutenio da incapacidade e da sauacutede No sentido
de procedermos agrave anaacutelise dos principiais conceitos e termos focalizar-nos-emos na
reestruturaccedilatildeo conceptual proposta pela Classificaccedilatildeo Internacional de Funcionalidade
Incapacidade e Sauacutede (CIF)
O objectivo geral da CIF eacute proporcionar uma linguagem unificada e padronizada assim como
uma estrutura de trabalho para a descriccedilatildeo da sauacutede e de estados relacionados com a sauacutede
A classificaccedilatildeo define os componentes da sauacutede e alguns componentes do bem-estar
relacionados com a sauacutede (tais como educaccedilatildeo e trabalho) Os domiacutenios contidos na CIF
podem portanto ser considerados como domiacutenios da sauacutede e domiacutenios relacionados com a
sauacutede Estes domiacutenios satildeo descritos com base na perspectiva do corpo do indiviacuteduo e da
sociedade em duas listas baacutesicas (1) Funccedilotildees e Estruturas do Corpo e (2) Actividades e
Participaccedilatildeo Como classificaccedilatildeo a CIF agrupa sistematicamente diferentes domiacutenios de uma
pessoa com uma determinada condiccedilatildeo de sauacutede (eg o que uma pessoa com uma doenccedila
ou perturbaccedilatildeo faz ou pode fazer) A funcionalidade eacute um termo que engloba todas as funccedilotildees
do corpo actividades e participaccedilatildeo de maneira similar a incapacidade eacute um termo que inclui
deficiecircncias limitaccedilatildeo da actividade ou restriccedilatildeo na participaccedilatildeo A CIF tambeacutem relaciona os
factores ambientais que interagem com todos estes constructos Neste sentido a classificaccedilatildeo
permite ao utilizador registar perfis uacuteteis da funcionalidade incapacidade e sauacutede dos
indiviacuteduos em vaacuterios domiacutenios
A CIF pertence agrave ldquofamiacuteliardquo das classificaccedilotildees internacionais desenvolvida pela OMS para
aplicaccedilatildeo em vaacuterios aspectos da sauacutede A famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS
proporciona um sistema para a codificaccedilatildeo de uma ampla gama de informaccedilotildees sobre sauacutede
(eg diagnoacutestico funcionalidade e incapacidade motivos de contacto com os serviccedilos de
sauacutede) e utiliza uma linguagem comum padronizada que permite a comunicaccedilatildeo sobre sauacutede e
cuidados de sauacutede em todo o mundo entre vaacuterias disciplinas e ciecircncias
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Nas classificaccedilotildees internacionais da OMS os estados de sauacutede (doenccedilas perturbaccedilotildees
lesotildees etc) satildeo classificados principalmente na CID-10 (abreviatura da Classificaccedilatildeo
Internacional de Doenccedilas Deacutecima Revisatildeo) que fornece uma estrutura de base etioloacutegica A
funcionalidade e a incapacidade associadas aos estados de sauacutede satildeo classificadas na CIF
Portanto a CID-10 e a CIF satildeo complementares e os utilizadores satildeo estimulados a usar em
conjunto esses dois membros da famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS A CID-10
proporciona um ldquodiagnoacutesticordquo de doenccedilas perturbaccedilotildees ou outras condiccedilotildees de sauacutede que eacute
complementado pelas informaccedilotildees adicionais fornecidas pela CIF sobre funcionalidade Em
conjunto as informaccedilotildees sobre o diagnoacutestico e sobre a funcionalidade datildeo uma imagem mais
ampla e mais significativa da sauacutede das pessoas ou da populaccedilatildeo que pode ser utilizada em
tomadas de decisatildeo
A famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS constitui uma ferramenta valiosa para a
descriccedilatildeo e a comparaccedilatildeo da sauacutede das populaccedilotildees num contexto internacional As
informaccedilotildees sobre a mortalidade (facultadas pela CID-10) e sobre as consequecircncias na sauacutede
(proporcionadas pela CIF) podem ser combinadas de forma a obter medidas sinteacuteticas da
sauacutede das populaccedilotildees Isto permite seguir a sauacutede das populaccedilotildees e a sua distribuiccedilatildeo bem
como avaliar a parte atribuiacuteda agraves diferentes causas
A CIF transformou-se de uma classificaccedilatildeo de ldquoconsequecircncias da doenccedilardquo (versatildeo de 1980)
numa classificaccedilatildeo de ldquocomponentes da sauacutederdquo Os ldquocomponentes da sauacutederdquo identificam o que
constitui a sauacutede enquanto que as consequecircncias se referem ao impacto das doenccedilas na
condiccedilatildeo de sauacutede da pessoa Deste modo a CIF assume uma posiccedilatildeo neutra em relaccedilatildeo agrave
etiologia de modo que os investigadores podem desenvolver inferecircncias causais utilizando
meacutetodos cientiacuteficos adequados De maneira similar esta abordagem tambeacutem eacute diferente de
uma abordagem do tipo determinantes da sauacutede ou ldquofactores de risco Para facilitar o estudo
dos determinantes ou dos factores de risco a CIF inclui uma lista de factores ambientais que
descrevem o contexto em que o indiviacuteduo vive
A CIF descreve a funcionalidade e a incapacidade relacionadas com as condiccedilotildees de sauacutede
identificando o que uma pessoa ldquopode ou natildeo pode fazer na sua vida diaacuteriardquo tendo em vista as
funccedilotildees dos oacutergatildeos ou sistemas e estruturas do corpo assim como as limitaccedilotildees de
actividades e da participaccedilatildeo social no meio ambiente onde a pessoa vive Segundo a OMS a
CID-10 e a CIF satildeo complementares a informaccedilatildeo sobre o diagnoacutestico acrescido da
funcionalidade fornece um quadro mais amplo sobre a sauacutede do indiviacuteduo ou populaccedilotildees Por
exemplo duas pessoas com a mesma doenccedila podem ter diferentes niacuteveis de funcionalidade e
duas pessoas com o mesmo niacutevel de funcionalidade natildeo tecircm necessariamente a mesma
condiccedilatildeo de sauacutede
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O termo do modelo da CIF eacute a funcionalidade que cobre os componentes de funccedilotildees e
estruturas do corpo actividade e participaccedilatildeo social A funcionalidade eacute usada no aspecto
positivo e o aspecto negativo corresponde agrave incapacidade Segundo esse modelo a
incapacidade eacute resultante da interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada pelo indiviacuteduo (seja
orgacircnica e ou da estrutura do corpo) a limitaccedilatildeo de suas actividades e a restriccedilatildeo na
participaccedilatildeo social e os factores ambientais que podem actuar como facilitadores ou barreiras
para o desempenho dessas actividades e da participaccedilatildeo
A CIF eacute baseada portanto numa abordagem biopsicossocial que incorpora os componentes
de sauacutede nos niacuteveis corporais e sociais Assim na avaliaccedilatildeo de uma pessoa com deficiecircncias
e incapacidades esse modelo destaca-se do biomeacutedico baseado no diagnoacutestico etioloacutegico da
disfunccedilatildeo evoluindo para um modelo que incorpora as trecircs dimensotildees a biomeacutedica a
psicoloacutegica (dimensatildeo individual) e a social Nesse modelo cada niacutevel age sobre e sofre a
acccedilatildeo dos demais sendo todos influenciados pelos factores ambientais A OMS pretende
incorporar tambeacutem no futuro os factores pessoais importantes na forma de lidar com as
condiccedilotildees limitantes
O objectivo pragmaacutetico da CIF eacute fornecer uma linguagem padronizada e um modelo para a
descriccedilatildeo da sauacutede e dos estados relacionados com a sauacutede permitindo a comparaccedilatildeo de
dados referentes a essas condiccedilotildees entre paiacuteses serviccedilos sectores relativos agrave sauacutede bem
como o acompanhamento da sua evoluccedilatildeo no tempo
No entanto os conceitos apresentados na classificaccedilatildeo introduzem um novo paradigma para
pensar e trabalhar as deficiecircncias e incapacidades elas natildeo satildeo apenas uma consequecircncia
das condiccedilotildees de sauacutede doenccedila mas satildeo determinadas tambeacutem pelo contexto do meio
ambiente fiacutesico e social pelas diferentes percepccedilotildees culturais e atitudes em relaccedilatildeo agrave
deficiecircncias pela disponibilidade de serviccedilos e de legislaccedilatildeo Dessa forma a classificaccedilatildeo natildeo
constitui apenas um instrumento para medir o estado funcional dos indiviacuteduos Aleacutem disso ela
permite avaliar as condiccedilotildees de vida e fornecer subsiacutedios para poliacuteticas de inclusatildeo social
42 FUNCcedilOtildeES DO CORPO
As Funccedilotildees do corpo satildeo as funccedilotildees fisioloacutegicas dos sistemas orgacircnicos (incluindo as
funccedilotildees psicoloacutegicas)
As funccedilotildees e as estruturas do corpo satildeo classificadas em duas secccedilotildees diferentes Essas duas
classificaccedilotildees estatildeo concebidas de forma a serem utilizadas em paralelo Por exemplo as
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funccedilotildees do corpo incluem sentidos humanos baacutesicos como as funccedilotildees da visatildeo e as
estruturas relacionadas aparecem na forma de ldquoolho e estruturas relacionadasrdquo
43 ESTRUTURAS DO CORPO
As Estruturas do Corpo satildeo as partes anatoacutemicas do corpo tais como oacutergatildeos membros e
seus componentes
ldquoCorpo refere-se ao organismo humano como um todo por isso o ceacuterebro e as suas funccedilotildees
ie a mente estatildeo incluiacutedos As funccedilotildees mentais (ou psicoloacutegicas) satildeo portanto incluiacutedas nas
funccedilotildees do corpo As funccedilotildees e as estruturas do corpo satildeo classificadas de acordo com os
sistemas orgacircnicos por isso as estruturas do corpo natildeo satildeo consideradas como oacutergatildeos no
seu sentido restrito
44 DEFICIEcircNCIA
Deficiecircncias satildeo problemas nas funccedilotildees ou na estrutura do corpo tais como um desvio
importante ou uma perda
As deficiecircncias de estrutura podem consistir numa anormalidade defeito perda ou outro desvio
importante relativamente a um padratildeo das estruturas do corpo As deficiecircncias foram definidas
de acordo com os conhecimentos bioloacutegicos actuais ao niacutevel de tecidos ou das ceacutelulas e ao
niacutevel subcelular ou molecular Por motivos praacuteticos no entanto esses niacuteveis natildeo estatildeo
classificados As bases bioloacutegicas das deficiecircncias orientaram essa classificaccedilatildeo e eacute possiacutevel
expandir a classificaccedilatildeo para incluir os niacuteveis celular ou molecular Do ponto de vista meacutedico
deve-se ter em mente que as deficiecircncias natildeo satildeo equivalentes agraves patologias subjacentes mas
sim a manifestaccedilotildees dessas patologias
As deficiecircncias correspondem a um desvio relativamente ao que eacute geralmente aceite como
estado biomeacutedico normal (padratildeo) do corpo e das suas funccedilotildees A definiccedilatildeo dos seus
componentes eacute feita essencialmente por pessoas com competecircncia para avaliar a
funcionalidade fiacutesica e mental de acordo com esses padrotildees
As deficiecircncias podem ser temporaacuterias ou permanentes progressivas regressivas ou estaacuteveis
intermitentes ou contiacutenuas O desvio em relaccedilatildeo ao modelo baseado na populaccedilatildeo e
geralmente aceite como normal pode ser leve ou grave e pode variar ao longo do tempo Estas
caracteriacutesticas satildeo consideradas posteriormente em descriccedilotildees adicionais principalmente nos
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coacutedigos atraveacutes de um qualificador que se acrescenta ao coacutedigo e do qual fica separado por
um ponto
As deficiecircncias natildeo tecircm uma relaccedilatildeo causal com a etiologia ou com a forma como se
desenvolveram Por exemplo a perda da visatildeo ou de um membro pode resultar de uma
anormalidade geneacutetica ou de uma lesatildeo A presenccedila de uma deficiecircncia implica
necessariamente uma causa No entanto a causa pode natildeo ser suficiente para explicar a
deficiecircncia resultante Da mesma forma quando haacute uma deficiecircncia haacute uma disfunccedilatildeo das
funccedilotildees ou estruturas do corpo mas isto pode estar relacionado com qualquer doenccedila
perturbaccedilatildeo ou estado fisioloacutegico
As deficiecircncias podem ser parte ou uma expressatildeo de uma condiccedilatildeo de sauacutede mas natildeo
indicam necessariamente a presenccedila de uma doenccedila ou que o indiviacuteduo deva ser
considerado doente
As deficiecircncias cobrem um campo mais vasto que as perturbaccedilotildees ou as doenccedilas Por
exemplo a perda de uma perna eacute uma deficiecircncia de uma estrutura do corpo mas natildeo eacute uma
perturbaccedilatildeo ou uma doenccedila
As deficiecircncias podem originar outras deficiecircncias Por exemplo a diminuiccedilatildeo da forccedila
muscular pode prejudicar as funccedilotildees do movimento as funccedilotildees cardiacuteacas podem estar
relacionadas com o deacutefice das funccedilotildees respiratoacuterias e uma percepccedilatildeo prejudicada pode estar
relacionada com as funccedilotildees do pensamento
Actualmente na perspectiva da CIF o conceito de deficiecircncia constitui o poacutelo negativo da
componente ldquoFunccedilotildees e Estrutura do Corpordquo sendo descrito atraveacutes da existecircncia de
alteraccedilotildees significativas das funccedilotildees eou das estruturas do corpo O poacutelo positivo desta
componente refere-se agrave integridade funcional e estrutural Neste contexto um dos desafios
criacuteticos das poliacuteticas sociais consiste na operacionalizaccedilatildeo do conceito de deficiecircncia de forma
a que a elegibilidade dos diferentes puacuteblicos alvo se encontre devidamente delimitada
assegurando a eficaacutecia das medidas subjacentes
No entanto a amplitude e abrangecircncia da definiccedilatildeo do conceito de deficiecircncia proposta pela
OMS atraveacutes da CIF coloca um enorme desafio na medida em que qualquer cidadatildeo desde
que apresente um desvio significativo ao niacutevel da estrutura eou funccedilatildeo passa a ser um
potencial beneficiaacuterio das poliacuteticas neste domiacutenio Neste contexto poder-se-atildeo colocar vaacuterias
questotildees A primeira eacute se interessa agraves diferentes poliacuteticas no sector continuarem a ser
desenvolvidas tendo por focus o conceito de pessoas com deficiecircncias sabendo que a sua
distinccedilatildeo ao longo da populaccedilatildeo apenas poderaacute ser feita atraveacutes do niacutevel e extensatildeo da
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alteraccedilatildeo da integridade estrutural e funcional de cada individuo A segunda questatildeo prende-se
com as consequecircncias conceptuais decorrentes da integraccedilatildeo do modelo social na formulaccedilatildeo
e operacionalizaccedilatildeo dos conceitos a serem utilizados pelas poliacuteticas no sector na medida em
que o aspecto critico deixa de ser a natureza e severidade da deficiecircncia para passar a centrar-
se no niacutevel e tipo de restriccedilotildees de participaccedilatildeo que cada cidadatildeo experiencia na interacccedilatildeo
com os seus contextos de vida
No que concerne agrave primeira questatildeo e atendendo a que a mais recente definiccedilatildeo do conceito
de deficiecircncia proposto pela OMS apresenta um elevado niacutevel de abrangecircncia e um reduzido
potencial diferenciador poderemos equacionar 2 hipoacuteteses centrais de operacionalizaccedilatildeo
a) A primeira hipoacutetese baseia-se na possibilidade de operacionalizar diferentes definiccedilotildees
de deficiecircncia ao longo das diferentes poliacuteticas sociais no sentido de assegurar que as
diferentes medidas alcanccedilam efectivamente as pessoas para as quais foram
elaboradas Esta perspectiva tem a vantagem de uma maior focalizaccedilatildeo nas
caracteriacutesticas especificas do puacuteblico-alvo mas no entanto apresenta uma grande
desvantagem que consiste na elevada probabilidade das diferentes definiccedilotildees
perderem a coerecircncia entre si fragmentando igualmente o modelo teoacuterico a partir do
qual se deveriam basear
b) A segunda hipoacutetese consiste na articulaccedilatildeo operativa de dois conceitos o de
deficiecircncia e o de restriccedilotildees de participaccedilatildeo Nesta perspectiva a elegibilidade de uma
determinada politica social baseia-se na validaccedilatildeo preacutevia da existecircncia da primeira
condiccedilatildeo do puacuteblico-alvo ndash a existecircncia de uma deficiecircncia ndash determinando logo de
seguida o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo a partir do qual os diferentes cidadatildeos
passam a poder aceder agraves medidas especiacuteficas nela contidas O desafio contido nesta
hipoacutetese consiste na necessidade de desenvolvimento de um sistema de avaliaccedilatildeo que
permita avaliar o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo experimentado pelas pessoas com
deficiecircncias determinando atraveacutes do valor aferido quais seriam as pessoas com
acesso agraves medidas Neste cenaacuterio natildeo bastaria que uma pessoa tivesse uma
deficiecircncia pelo que seria necessaacuterio avaliar os efeitos da deficiecircncia em interacccedilatildeo
com o ambiente social ao niacutevel da participaccedilatildeo no sentido de determinar a
elegibilidade As vantagens desta hipoacutetese relacionam-se com (i) a preservaccedilatildeo do
niacutevel de coerecircncia dos conceitos utilizados ao longo das diferentes poliacuteticas sociais (ii)
a existecircncia de um processo comum de afericcedilatildeo e determinaccedilatildeo da elegibilidade ao
longo dos diferentes sectores de politica (iii) a compatibilidade e adequabilidade dos
princiacutepios teoacutericos do modelo social com a operacionalizaccedilatildeo dos sistemas e medidas
poliacuteticos de apoio agraves pessoas com deficiecircncias e (iv) a existecircncia de mecanismos de
avaliaccedilatildeo de elevada transparecircncia controlabilidade e rigor
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45 INCAPACIDADE
Do ponto de vista de utilizaccedilatildeo dos conceitos de Deficiecircncia e de Incapacidade em Portugal
tecircm subsistido vaacuterias imprecisotildees terminoloacutegicas Primeiro na generalidade dos documentos
internacionais alude-se ao termo ldquopeople with disabilitiesrdquo sendo que invariavelmente esta
expressatildeo eacute traduzida para Portuguecircs como ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo Tal facto parece criar
condiccedilotildees para uma grande permeabilidade semacircntica dificilmente resoluacutevel do ponto de vista
conceptual Segundo deficiecircncia e incapacidade satildeo claramente dois conceitos distintos
Enquanto a deficiecircncia remete para alteraccedilotildees significativas ao niacutevel das estruturas eou das
funccedilotildees do corpo a incapacidade constitui o poacutelo negativo do funcionamento humano em
situaccedilatildeo potencial ou efectiva de participaccedilatildeo no contexto de vida Este facto pressupotildee que os
conceitos de deficiecircncia e de incapacidade natildeo contecircm nenhuma relaccedilatildeo causal entre si nem
nenhuma relaccedilatildeo linear de frequecircncia na medida em que eacute possiacutevel existir uma deficiecircncia
sem que exista uma incapacidade e eacute possiacutevel emergir uma determinada incapacidade sem
que haja uma qualquer deficiecircncia
Deste modo eacute possiacutevel
a) Ter deficiecircncias sem limitaccedilotildees de capacidade (eg uma desfiguraccedilatildeo resultante da
doenccedila de Hansen pode natildeo ter efeito sobre a capacidade da pessoa
b) Ter problemas de desempenho e limitaccedilotildees de capacidade sem deficiecircncias evidentes
(eg reduccedilatildeo de desempenho nas actividades diaacuterias associada a vaacuterias doenccedilas)
c) Ter problemas de desempenho sem deficiecircncias ou limitaccedilotildees de capacidade (eg um
indiviacuteduo HIV positivo ou um ex-doente curado de doenccedila mental que enfrenta
estigmas ou descriminaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais ou no trabalho)
d) Ter limitaccedilotildees de capacidade se natildeo tiver assistecircncia e nenhum problema de
desempenho no ambiente habitual (eg um indiviacuteduo com limitaccedilotildees de mobilidade
pode beneficiar por parte da sociedade de ajudas tecnoloacutegicas de assistecircncia para se
movimentar
e) Experimentar um grau de influecircncia em sentido contraacuterio (eg a inactividade dos
membros pode levar agrave atrofia muscular a institucionalizaccedilatildeo pode resultar numa perda
da socializaccedilatildeo)
Daqui resulta que ao referirmo-nos agraves pessoas com deficiecircncias enquanto puacuteblico-alvo
privilegiado das medidas de reabilitaccedilatildeo poderemos incorrer num desvio significativo de
alocaccedilatildeo dos recursos agraves reais necessidades das pessoas na medida em que natildeo eacute a
deficiecircncia que gera por si mesma a necessidade de reabilitaccedilatildeo mas sim as limitaccedilotildees de
actividade e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo decorrentes da interacccedilatildeo entre as caracteriacutesticas
biopsicossociais e as caracteriacutesticas dos ambientes em que o individuo se move
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A persistecircncia em traduzir o termo disability para deficiecircncia e natildeo apenas o seu homoacutelogo
anglo-saxoacutenico ndash impairment ndash poderaacute explicar-se pelas seguintes razotildees
a) O potencial efeito estigmatizante da expressatildeo ldquopessoas com incapacidadesrdquo ser maior
do que aquele contido na expressatildeo ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo
b) O termo incapacidade centrar-se exclusivamente nos aspectos negativos do
funcionamento individual classificando a pessoa agrave partida como sendo destituiacuteda de
competecircncias e condiccedilotildees para atingir os niacuteveis normativos de desempenho e
performance num conjunto de domiacutenios da vida pessoal e social
O paradoxo surge igualmente porque enquanto no modelo meacutedico a incapacidade aparece
em termos causais relacionada com a deficiecircncia numa perspectiva exclusivamente individual
no modelo proposto pela OMS operacionalizado na CIF os dois conceitos gozam de total
independecircncia conceptual e operativa sendo que a deficiecircncia passa a ter uma baixa
relevacircncia diferenciadora do ponto de vista do funcionamento humano Ora se atendermos a
que as medidas de reabilitaccedilatildeo pretendem promover os potenciais do funcionamento humano
numa perspectiva de participaccedilatildeo plena do indiviacuteduo nos mais diferenciados contextos de vida
assegurando o co-desenvolvimento de todos os actores e das estruturas sociais necessaacuterias agrave
cidadania plena entatildeo falar de ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo natildeo soacute natildeo eacute relevante no quadro
da loacutegica de intervenccedilatildeo como poderaacute traduzir dificuldades dos actores em mudar
efectivamente do paradigma meacutedico para o paradigma social
Este fenoacutemeno aliaacutes natildeo acontece apenas em Portugal sendo que recentes estudos de
investigaccedilatildeo vieram sugerir a adopccedilatildeo dos conceitos de ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo e
ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo para ultrapassar a aplicaccedilatildeo indevida dos
conceitos de deficiecircncia e incapacidade A utilizaccedilatildeo destes conceitos parece articular de forma
mais precisa com o novo modelo conceptual proposto pela OMS enfatizando a diversidade de
niacuteveis de funcionamento humano e apelando a uma certa noccedilatildeo de relatividade socialmente
construiacuteda Uma das criticas feita pela comunidade de investigadores ao conceito de ldquopessoas
com diversidade funcionalrdquo reside no facto de que a expressatildeo eacute dotada de um tatildeo elevado
niacutevel de abrangecircncia que natildeo permite um niacutevel de diferenciaccedilatildeo relevante na medida em que
todos os cidadatildeos detecircm entre si diversos e diferentes padrotildees de funcionamento humano
Neste sentido o conceito ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo aplicar-se-ia a todos os
cidadatildeos sem excepccedilatildeo A proliferaccedilatildeo destes termos eacute explicada pela necessidade da
comunidade politica e cientifica de construir constructos que sejam socialmente aceites e o
mais neutros possiacuteveis do ponto de vista dos seus valores impliacutecitos No entanto a
impossibilidade epistemoloacutegica de desenvolver expressotildees e conceitos socio-historicamente
neutros parece levar muitas vezes agrave concepccedilatildeo de definiccedilotildees com reduzida identidade isto eacute
de significado demasiado amplo e abrangente o que na expressatildeo da UPIAS ldquopodem significar
tudo e coisiacutessima nenhumardquo (2005)
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Os conceitos ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo ldquopessoas com limitaccedilotildees de
actividaderdquo e ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo afiguram-se comparativamente ao
anterior como um conceito de maior coerecircncia conceptual com o modelo proposto pela OMS e
deteacutem cumulativamente um maior poder diferenciador A sua desvantagem reside no facto de
constituiacuterem expressotildees com maior dificuldade de apreensatildeo e inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
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5 ANAacuteLISE DOS REFERENCIAIS NACIONAIS E INTERNACIONAIS
No sentido de obter um conjunto de vectores de referecircncia na estruturaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo do
conceito de deficiecircncia foram analisadas as abordagens desenvolvidas pelos seguintes
organismos INE Eurostat OCDE American Disabilities Act WHO UN
51 INE
Os dados disponiacuteveis no INE parecem indicar a utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na
ICIDH
Deficiecircncia1 Perda ou alteraccedilatildeo de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou
anatoacutemica Nesta definiccedilatildeo estatildeo incluiacutedas as seguintes tipologias2
Deficiecircncia AUDITIVA
Deficiecircncia MENTAL
Deficiecircncia MOTORA
Deficiecircncia ORGAcircNICO-FUNCIONAL
Deficiecircncia PSIQUIAacuteTRICA
Deficiecircncia VISUAL
Incapacidade3 Ausecircncia ou limitaccedilatildeo da capacidade para funcionar estando comprometida a
realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida
diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e originando uma desvantagem para funcionar em
sociedade face a outros
Pessoa deficiente Aquela que tenha uma ou mais das seguintes deficiecircncias a) deficiecircncia
visual b) deficiecircncia auditiva c) deficiecircncia mental d) deficiecircncia motora
1 Nota Na operaccedilatildeo censitaacuteria de 2001 apenas foi observada a deficiecircncia permanente a deficiecircncia temporaacuteria natildeo foi considerada (por exemplo se um indiviacuteduo se desloca com canadianas ou em cadeira de rodas porque partiu uma perna ou se sofre de descolamento parcial da retina que o obriga a andar com uma venda natildeo foi considerado como tendo uma deficiecircncia) 2 Fonte INE ndash Censos 2001 ndash Recenseamento Geral da Populaccedilatildeo (Antecedentes Metodologia e Conceitos) Antecedentes Metodologia e Conceitos 3 Fonte INS ndash Inqueacuterito Nacional agrave Sauacutede
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Trabalhador deficiente Trabalhador que estaacute incapacitado para assegurar por si mesmo total
ou parcialmente a satisfaccedilatildeo de necessidades de uma vida individual ou social normal devido
a uma deficiecircncia congeacutenita ou adquirida das suas capacidades fiacutesicas sensoriais ou
mentais tendo por isso dificuldade em obter eou manter o desempenho de funccedilotildees de acordo
com as suas habilitaccedilotildees idade e experiecircncia profissional
Cidadatildeo Trabalhador com necessidades especiais Cidadatildeo idoso ou portador de
deficiecircncias sensoriais (visuais e auditivas) fiacutesicas (motoras) e cognitivas
52 EUROSTAT
Os dados disponibilizados pelo Eurostat no seu endereccedilo electroacutenico4 parecem indicar a
utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na ICIDH
Conceito Deficiecircncia5
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de deficiecircncia refere-se a uma perda ou alteraccedilatildeo
de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou anatoacutemica
Conceito Incapacidade6
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de incapacidade refere-se agrave ausecircncia ou limitaccedilatildeo
da capacidade para funcionar estando comprometida a realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas
funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e
originando uma desvantagem para funcionar em sociedade face a outros
Conceito Desvantagem7
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito refere-se agrave desvantagem para um dado individuo
decorrente de uma deficiecircncia ou incapacidade
4 httpforumeuropaeuintircdsiscodedinfodatacodedenTheme3htm 5 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 6 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 7 Fonte Key data on health 2000 Eurostat
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
53 OCDE
Definiccedilotildees gerais de incapacidade
No contexto da OCDE identificam-se 2 abordagens distintas no quadro da definiccedilatildeo de
incapacidade
A incapacidade pode ser definida enquanto um estado decorrente de autoavaliaccedilatildeo ou um
status baseado em fontes administrativas eg beneficiaacuterio dos apoios De forma muito
frequente e talvez de forma imprecisa estas duas definiccedilotildees satildeo explicitadas como
incapacidade ldquosubjectivardquo versus rdquoobjectivardquo
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo e instrumentos
A incapacidade autoavaliada eacute medida atraveacutes de inqueacuteritos feitos directamente aos cidadatildeos
nas suas residecircncias Apesar da avaliaccedilatildeo ser baseada de uma forma geral nas respostas agraves
questotildees relativas a problemas de sauacutede de longo termo que limitam as actividades de vida
diaacuteria o detalhe das questotildees eacute geralmente diferente dificultando a comparabilidade dos
dados Por exemplo ldquolongo termordquo eacute parametrizado em 6 meses na Noruega e em 12 meses
na Suiccedila O status dos beneficiaacuterios pode ser avaliado atraveacutes de registos administrativos ou
atraveacutes de inqueacuteritos Os resultados entre as duas fontes satildeo de uma forma geral bastante
diferentes por duas razotildees nucleares os registos administrativos geralmente contam casos e
natildeo pessoas o que em situaccedilotildees de benefiacutecios muacuteltiplos pode levar a contagens duplas por
outro lado os inqueacuteritos satildeo baseados nas respostas sobre o status do beneficiaacuterio e algumas
pessoas podem desejar natildeo revelar a sua condiccedilatildeo perante os benefiacutecios
Nenhuma destas definiccedilotildees e medidas de mensuraccedilatildeo eacute superior a outras pelo que a sua
utilizaccedilatildeo depende dos objectivos do propoacutesito da investigaccedilatildeo e da disponibilidade da
informaccedilatildeo
Abordagens para medir a incapacidade no quadro da aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos agraves populaccedilotildees
a) Incapacidade geral (natildeo especificada)
Puacuteblico-alvo todos os adultos
b) Incapacidade relativa ao trabalho
Puacuteblico-alvo pessoas em idade activa
c) Limitaccedilotildees nas actividades de vida diaacuteria (AVD)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 32
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Puacuteblico-alvo Populaccedilatildeo idosa
54 AMERICAN DISABILITIES ACT
O American Disabilities Act (ADA) desenvolvido em 1990 fornece um conjunto de guidelines
no sentido de assegurar a disponibilizaccedilatildeo de serviccedilos para as pessoas com deficiecircncias bem
como a protecccedilatildeo dos seus direitos legais
A ADA inclui uma definiccedilatildeo legal de incapacidade consistindo na presenccedila de ldquouma deficiecircncia
fiacutesica ou mental que limita significativamente uma ou mais das principais actividades de vidardquo
Independentemente da definiccedilatildeo proposta pela ADA a existecircncia de muacuteltiplos programas a
favor das pessoas com deficiecircncias e os diferentes focus legais em diferentes puacuteblicos alvo
fazem com que tenham emergido uma multiplicidade de definiccedilotildees de incapacidade ao longo
do tempo no quadro das poliacuteticas sociais americanas
55 OMS ONU Revisatildeo dos actuais inqueacuteritos sobre a incapacidade
Apesar de existir um desenvolvimento consideraacutevel dos inqueacuteritos na aacuterea da incapacidade
poder-se-atildeo explicitar algumas observaccedilotildees relativas agrave sua multiplicidade Numa primeira linha
de anaacutelise os inqueacuteritos tendem a focalizar-se nas limitaccedilotildees de actividade eou na deficiecircncia
No que concerne agrave formulaccedilatildeo escrita tendem a existir diferenccedilas significativas entre
inqueacuteritos facto que inviabiliza natildeo raras vezes a comparabilidade dos dados entre inqueacuteritos
As diferentes formulaccedilotildees das questotildees incluem
Tem dificuldade
Eacute capaz de
Faz
Tem sentido problemas em
com ou sem assistecircncia pessoal eou tecnoloacutegica
A questatildeo que se coloca eacute se estas formulaccedilotildees tecircm o mesmo significado isto eacute se todas elas
pretendem medir a capacidade ou a performance De acordo com a CIF a capacidade
remeteria para o potencial de execuccedilatildeo de um indiviacuteduo enquanto a performance diria respeito
ao niacutevel de desempenho efectivo do indiviacuteduo atraveacutes do seu envolvimento numa situaccedilatildeo de
vida real As lacunas existentes e as poucas referecircncias ao niacutevel da forma como os inquiridos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 33
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
satildeo instruiacutedos a responder faz com que natildeo seja possiacutevel desenvolver um discernimento
irrefutaacutevel sobre esta mateacuteria
Do ponto de vista dos domiacutenios abrangidos os inqueacuteritos tecircm apresentado algumas questotildees
sobre a participaccedilatildeo e o ambiente e evidenciam algumas limitaccedilotildees na sua amplitude Os
domiacutenios de actividades e participaccedilatildeo geralmente abrangidos tecircm sido operacionalizados de
uma forma geral nas seguintes dimensotildees
Educaccedilatildeo e emprego (formulado como questotildees de performance)
Outros inqueacuteritos incluem aacutereas como relaccedilotildees interpessoais vida familiar tomada de
decisotildees etc
O domiacutenio relativo aos factores ambientais tem incluiacutedo
Utilizaccedilatildeo e acessibilidadedisponibilidade dos produtos de assistecircncia e da tecnologia
Acessibilidade do ambiente
Disponibilidade dos serviccedilos (sauacutede protecccedilatildeo social educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo)
Evidecircncias muito escassas ao niacutevel da poliacutetica atitudes ambiente natural
planeamento e concepccedilatildeo
A questatildeo de investigaccedilatildeo neste contexto centra-se na seguinte formulaccedilatildeo ldquoo que eacute que os
inqueacuteritos medem como incapacidaderdquo
a) Definiccedilatildeo a priori da incapacidade versus sem incapacidade
Alguns inqueacuteritos sobre a incapacidade especialmente os mais antigos utilizam uma definiccedilatildeo
a priori de incapacidade O objectivo deste tipo de inqueacuteritos eacute contar o nuacutemero de pessoas
que se encaixam na definiccedilatildeo no contexto da populaccedilatildeo total Neste sentido os dados satildeo
analisados de acordo com dois grupos de referecircncia ndash com incapacidade e sem incapacidade ndash
em funccedilatildeo de um conjunto de diferentes variaacuteveis Este tipo de questionaacuterios formula questotildees
do tipo ldquoPossui algum tipo de incapacidade auditiva visual ou fiacutesicardquo Muitas questotildees dos
censos tecircm utilizado este formato
b) Definiccedilatildeo a posteriori de incapacidade versus sem incapacidade
Mais recentemente alguns inqueacuteritos desenvolveram-se em direcccedilatildeo a uma definiccedilatildeo a
posteriori de incapacidade Nestes casos eacute medida a capacidade a performance ao longo de
um conjunto vasto de domiacutenios Este segundo tipo de inqueacuteritos tende a ter uma ampla
aceitaccedilatildeo eg HALS (Canada) HID (Franccedila) inqueacuterito sobre incapacidade na Africa do Sul
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 34
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Inqueacuterito Espanhol sobre incapacidade NHIS-D (USA) inqueacuterito Holandecircs entre outros Estes
instrumentos formulam questotildees relativas agraves dificuldades que as pessoas experienciam em
diferentes domiacutenios produzindo um perfil pessoal que possa colocar em evidecircncia os
diferentes graus de capacidade associados A categorizaccedilatildeo de incapacidade sem
incapacidade eacute formulada ao niacutevel do domiacutenio e natildeo como uma categoria geral de atributo
pessoal Esta abordagem permite uma anaacutelise ao niacutevel de funcionamento individual por
domiacutenio por exemplo comparando a experiecircncia de incapacidade no domiacutenio de mobilidade
versus socializaccedilatildeo versus comunicaccedilatildeo entre outros bem como o impacto dos factores
ambientais nestes diferentes domiacutenios O perfil resultante do funcionamento individual ao longo
de muacuteltiplos domiacutenios eacute similar aos estados de sauacutede individuais ao longo das diferentes
dimensotildees
Vantagens de uma abordagem a posteriori
Estaacute em consonacircncia com a abordagem universal proposta pela CIF Todas as
pessoas experienciam deficiecircncia nalgum ponto e esta experiecircncia eacute caracterizada
numa abordagem a posteriori e natildeo a priori
Decisotildees sobre a criaccedilatildeo de categorias sobre quem tem incapacidade e sobre quem
natildeo tem podem ser tomadas atraveacutes de diferentes niacuteveis de anaacutelise por exemplo
atraveacutes da anaacutelise da experiecircncia das pessoas que experienciam incapacidade em 1 2
ou 3 domiacutenios de cruzar o status de emprego de pessoas com incapacidade ao longo
dos diferentes domiacutenios etc
Deixa de ser necessaacuteria uma definiccedilatildeo tipoloacutegica e categoacuterica de pessoas com
incapacidade O que necessita de ser definido neste contexto eacute o que se designa por
limitaccedilatildeo da capacidade ou problemas de performance ao longo dos diferentes
domiacutenios
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 35
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
6 SISTEMATIZACcedilAtildeO DAS DIMENSOtildeES DE ORGANIZACcedilAtildeO E
OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em todos os estudos efectuados neste domiacutenio foi colocada em evidecircncia a actual dificuldade
de comparabilidade estatiacutestica internacional inter ou intra sectorial independentemente do
organismo referenciador ndash OCDE ONU EUROSTAT INE OMS
Neste contexto desenvolver-se-aacute a extracccedilatildeo de conhecimento tendo por base a identificaccedilatildeo
de um conjunto de eixos de anaacutelise que actuem como vectores de estruturaccedilatildeo na
operacionalizaccedilatildeo do conceito A este propoacutesito atente-se no Quadro 2
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Abordagem Focus Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Delimitaccedilatildeo temporal do
conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo
Design das questotildees
CID-10
ICIDH
ICF
SauacutedeDoenccedila
Deficiecircncia
Incapacidade
a) Geral
b) Relativa ao trabalho
c) Limitaccedilotildees nas
actividades de vida
diaacuteria
Funcionalidade ndash
Niacuteveis de execuccedilatildeo
das actividades por
domiacutenio e niacuteveistipos
de ajudas mobilizadas
Intersubjectivo ndash
vg inqueacuteritos
Objectivo ndash vg
fontes administrativas
A priori
A posteriori
Temporaacuterias
permanentes
Progressivas
regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou
contiacutenuas
Tipo 1 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre uma determinada
condiccedilatildeo individual
combinada com itens
referentes a limitaccedilotildees de
actividade e participaccedilatildeo e
factores contextuais
Tipo 2 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre a presenccedila de uma
pessoa com incapacidade
no agregado familiar
seguindo-se uma lista de
deficiecircncias e
incapacidades
Tipo 3 ndash Checklist de
deficiecircncias
Quadro 2 ndash Eixos de operacionalizaccedilatildeo do conceito
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 37
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 38
Dezembro2006
7 ESCOLHA DO CENAacuteRIO A IMPLEMENTAR
A anaacutelise do Quadro 2 permite-nos uma definiccedilatildeo modular do cenaacuterio a implementar atraveacutes de
uma configuraccedilatildeo do conceito pelos eixos de anaacutelise propostos Uma das dificuldades
evidentes nesta delimitaccedilatildeo prende-se com o cumprimento dos requisitos de (a)
comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica e legislativa dentro do contexto portuguecircs
e (c) conformidade com os referenciais conceptuais actuais sendo que a coexistecircncia destes
criteacuterios afigura-se em muitos casos incompatiacutevel entre si Para efeitos da estruturaccedilatildeo do
cenaacuterio privilegiar-se-aacute a conformidade com os referenciais conceptuais actuais
71 ABORDAGEM No que concerne agrave abordagem privilegia-se a adopccedilatildeo das mais recentes directrizes propostas
pela OMS adoptando explicitamente a CIF
Fundamentaccedilatildeo
A CIF apresenta a capacidade para descrever o funcionamento humano numa
perspectiva biopsicossocial em detrimento da classificaccedilatildeo anterior (ICIDH) que se
focalizava na dimensatildeo biomeacutedica A CIF foi desenvolvida no plano conceptual para ser aplicaacutevel em diferentes aacutereas e
sectores A CIF eacute aplicaacutevel transversalmente agraves dimensotildees de cultura idade geacutenero sendo um
instrumento sistemaacutetico para descrever e medir a sauacutede e o funcionamento humano
num dado contexto A CIF constitui-se enquanto instrumento potencial para a poliacutetica social design das
intervenccedilotildees nos domiacutenios da sauacutede educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e intervenccedilatildeo social Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
72 FOCUS
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo da centraccedilatildeo da recolha de dados ao niacutevel
da dimensatildeo de funcionalidade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
Fundamentaccedilatildeo
Consonacircncia com o modelo conceptual proposto pela CIF enfatizando o caraacutecter
dinacircmico e interaccional (pessoa factores contextuais) do funcionamento de cada
pessoa Permite caracterizar as limitaccedilotildees de actividade e restriccedilotildees de participaccedilatildeo dos
cidadatildeos identificando necessidades de intervenccedilotildees especializadas numa loacutegica de
empowerment e participaccedilatildeo social Permite analisar a adequabilidade e ajustamento das actuais medidas poliacuteticas do
ponto de vista dos seus objectivos e os problemas detectados ao niacutevel da participaccedilatildeo
dos cidadatildeos ao longo de um conjunto diversificado de domiacutenios
73 MEacuteTODOS DE MENSURACcedilAtildeO
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo de meacutetodos intersubjectivos nomeadamente
inqueacuteritos
Fundamentaccedilatildeo
Flexibilidade ao niacutevel da abrangecircncia e profundidade das dimensotildees
Maior facilidade na implementaccedilatildeo atendendo agrave disponibilizaccedilatildeo de uma amostra
delimitada
Maior niacutevel de controlo sobre as condiccedilotildees de observaccedilatildeo e da entrevista devido ao
menor nuacutemero de entrevistas a ser implementado
74 DELIMITACcedilAtildeO CONCEPTUAL E TEMPORAL DO CONCEITO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo temporal e apesar de se privilegiar as vantagens anteriormente
explicitadas no desenvolvimento de uma definiccedilatildeo a posteriori assume-se a necessidade
politica de delimitar o campo de intervenccedilatildeo do conjunto de medidas sociais neste domiacutenio
pelo que a delimitaccedilatildeo conceptual poderaacute ser objecto de operacionalizaccedilatildeo atraveacutes dos
seguintes paracircmetros
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 40
Dezembro2006
Poder-se-aacute colocar a questatildeo de saber se a delimitaccedilatildeo do conceito proposta remete
especificamente para ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ou para ldquopessoas com limitaccedilotildees de
participaccedilatildeordquo Atendendo a que a definiccedilatildeo comporta uma abordagem sisteacutemica enfatizando a
interacccedilatildeo entre um conjunto diversificado de componentes que produzem impacto na
funcionalidade da pessoa a resposta natildeo eacute linear dependendo da ecircnfase socio-histoacuterica e da
abordagem sociopoliacutetica que se escolher enfatizar No entanto e do ponto de vista conceptual
privilegia-se a adopccedilatildeo do conceito ldquopessoas com limitaccedilotildees de participaccedilatildeordquo dado que existe
total autonomia operativa entre os diferentes constructos Neste sentido a deficiecircncia natildeo
constitui um factor causal linear das limitaccedilotildees de actividade e das restriccedilotildees ao niacutevel da
participaccedilatildeo mas antes uma das componentes que em interacccedilatildeo com outras podem
provocar impactos ao niacutevel da funcionalidade do indiviacuteduo Por uacuteltimo refira-se que a tipologia
ldquopessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeordquo poderaacute ser alvo de criticas por constituir
uma designaccedilatildeo que apela a duas componentes em simultacircneo (actividades e participaccedilatildeo)
excluindo outras e ser demasiado longa para uma definiccedilatildeo tipoloacutegica A este propoacutesito pode-
se sugerir a delimitaccedilatildeo ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo constituindo esta
expressatildeo uma abordagem holiacutestica ao conjunto de componentes que interferem com o
funcionamento humano Deste modo poderemos ter as seguintes designaccedilotildees
Pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Pessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo
Pessoas com limitaccedilotildees de funcionalidade
Figura 2 ndash Possiacuteveis designaccedilotildees
O Quadro 3 pretende fornecer uma visatildeo sistemaacutetica sobre o processo de decisatildeo da
designaccedilatildeo a adoptar
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
deficiecircncias
Tradiccedilatildeo analiacutetica dentro do
contexto portuguecircs
Em conformidade com o modelo
meacutedico ndash centra-se nas alteraccedilotildees
de estrutura e funccedilatildeo ndash
focalizaccedilatildeo na pessoa
Desarticulado dos pressupostos do
modelo social ndash natildeo remete para a
experiecircncia de incapacidade
enquanto produto da interacccedilatildeo
entre pessoa e ambiente
Mai
or
Abr
angecirc
ncia
Mai
or
Espe
cific
idad
e
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 41
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
incapacidades
Em conformidade com a
delimitaccedilatildeo anglo-saxoacutenica que
utiliza o conceito Disability
Focalizaccedilatildeo no poacutelo negativo do
funcionamento humano ndash
funcionalidadeincapacidade
Ao focalizar-se na experiecircncia de
incapacidade enquanto
interacccedilatildeo pessoa-ambiente
remete indirectamente para a
mobilizaccedilatildeo de apoios e recursos
de forma a ultrapassar eou
eliminar os obstaacuteculos ao
funcionamento em contexto
O potencial efeito estigmatizante
da expressatildeo ldquopessoas com
incapacidadesrdquo
Pessoas com
diversidade
Funcional
Em conformidade com o modelo
social
Focaliza-se na gestatildeo das
diferenccedilas e no seu impacto ao
niacutevel da participaccedilatildeo das pessoas
na sociedade
Elevado niacutevel de abrangecircncia natildeo
permitindo um niacutevel de
diferenciaccedilatildeo relevante na
medida em que todos os cidadatildeos
detecircm entre si diversos e
diferentes padrotildees de
funcionamento humano
Conceito dificilmente
operacionalizaacutevel do ponto de
vista da formulaccedilatildeo das poliacuteticas e
da delimitaccedilatildeo dos puacuteblicos-alvo
Pessoas com
restriccedilotildees ao
niacutevel da
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos Desta forma
todos os obstaacuteculos agrave participaccedilatildeo
relacionados com discriminaccedilatildeo
social preconceitos estereoacutetipos
deficiecircncias doenccedilas croacutenicas
entre outros satildeo incluiacutedos
Natildeo inclui as limitaccedilotildees de
actividade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 42
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
limitaccedilotildees de
actividade e
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida e simultaneamente no
domiacutenio das limitaccedilotildees de
actividade
Ruptura com a tradiccedilatildeo analiacutetica
no sector
Dificuldade de apreensatildeo e
inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Natildeo inclui as alteraccedilotildees da
estrutura e da funccedilatildeo
Pessoas com
limitaccedilotildees de
funcionalidade
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel das
diferentes dimensotildees constituintes
da funcionalidade e do
funcionamento humano
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos
Pessoas com
deficiecircncias e
incapacidades
Natildeo introduz ruptura com a
tradiccedilatildeo analiacutetica no sector
Inclui as alteraccedilotildees de estrutura e
funccedilatildeo bem como as alteraccedilotildees
decorrentes ao niacutevel da
funcionalidade
Diferencia os conceitos de
deficiecircncia e incapacidade
autonomizando-os e fornecendo
uma base compreensiva para o
natildeo estabelecimento de relaccedilotildees
de causa-efeito entre os ambos
Abrange os obstaacuteculos que
emergem na interacccedilatildeo pessoa-
contextos de vida e
simultaneamente no domiacutenio das
limitaccedilotildees de actividade
Poder diferenciador e delimitador
na definiccedilatildeo do puacuteblico-alvo
Em alinhamento estrateacutegico com o
PAIPDI
Designaccedilatildeo de compromisso com
os referenciais teoacutericos do modelo
social e dos princiacutepios da ldquoeacutetica da
diversidaderdquo
Quadro 3 ndash Visatildeo comparativa das hipoacuteteses da designaccedilatildeo a adoptar
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 43
Dezembro2006
75 DELIMITACcedilAtildeO DA DURACcedilAtildeO E CURSO DE EVOLUCcedilAtildeO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo interessa a caracterizaccedilatildeo nas
3 dimensotildees desenvolvidas
Fundamentaccedilatildeo
Afigura-se relevante caracterizar a ocorrecircncia das deficiecircncias quanto aacute sua
consistecircncia no tempo ndash temporaacuterias permanentes ndash analisando os factores
contextuais associados consequecircncias ao niacutevel das actividades e da participaccedilatildeo ao
longo de um conjunto de domiacutenios em ordem agrave extracccedilatildeo de implicaccedilotildees no acircmbito
das poliacuteticas sociais
No acircmbito da adaptabilidade e da adequaccedilatildeo das medidas poliacuteticas agraves necessidades
especiacuteficas dos cidadatildeos torna-se relevante caracterizar a deficiecircncia quanto agrave
natureza do seu curso evolutivo ndash progressivas regressivas estaacuteveis O mesmo
criteacuterio eacute aplicaacutevel quanto aacute dimensatildeo de padratildeo de manifestaccedilatildeo ndash intermitente
contiacutenua
No entanto e apesar da incapacidade se manifestar ao longo do ciclo de vida da pessoa
de forma multimodal para efeitos de delimitaccedilatildeo e de definiccedilatildeo do conceito de pessoas
com deficiecircncias e incapacidades privilegiaremos o caraacutecter permanente Desta forma
excluem-se as manifestaccedilotildees temporaacuterias de incapacidade que enviesariam a anaacutelise e o
desenvolvimento de poliacuteticas neste domiacutenio
76 DESIGN DAS QUESTOtildeES
No que concerne ao design das questotildees privilegia-se a escolha de questotildees tipo 1
Fundamentaccedilatildeo
Em consonacircncia com a CIF
Permite comparabilidade estatiacutestica futura
Permite a caracterizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre os factores de funcionalidade ndash integridade
estrutural e funcional actividades participaccedilatildeo e factores contextuais
Permite o design das poliacuteticas sociais e metodologias de intervenccedilatildeo alicerccediladas nas
necessidades especiacuteficas dos cidadatildeos em torno das dimensotildees de inclusatildeo social
Domiacutenios
Visatildeo
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 44
Dezembro2006
Audiccedilatildeo
Comunicaccedilatildeo
Mobilidade
Dor
Aprendizagem e funcionamento psicoloacutegico
Autocuidados e vida domeacutestica
Condiccedilotildees gerais de sauacutede
Mobilizaccedilatildeo de ajudas ou equipamento especializado
Participaccedilatildeo social
Transporte e educaccedilatildeo
77 PROPOSTA DE DELIMITACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em funccedilatildeo das dimensotildees caracterizadas e dos criteacuterios privilegiados desenvolveu-se o
seguinte enquadramento conceptual
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 45
Dezembro2006
Figura 2 ndash Enquadramento conceptual da delimitaccedilatildeo do conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso da evoluccedilatildeo
Temporaacuterias permanentes
Progressivas regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou contiacutenuas
Focus
Funcionalidade ndash Niacuteveis de execuccedilatildeo das actividades por domiacutenio e niacuteveistipos de ajudas mobilizadas
Abordagem CIF
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo temporal do conceito
A priori
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Inter-subjectivo
Design das questotildees
Questatildeo geneacuterica sobre uma determinada condiccedilatildeo individual combinada com itens referentes a limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo e factores contextuais
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 46
Dezembro2006
8 CRITEacuteRIOS DE ELEGIBILIDADE DO PUacuteBLICO-ALVO E SISTEMAS DE
AVALIACcedilAtildeO
A operacionalizaccedilatildeo do conceito de incapacidade tem sido abordada de forma heterogeacutenea
entre diferentes modalidades de politica e os diferentes contextos socioculturais de cada paiacutes
De uma forma geral encontram-se 2 eixos criacuteticos na sua operacionalizaccedilatildeo
a) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de trabalho (na ocupaccedilatildeo preacutevia ou numa nova
ocupaccedilatildeo ajustada agraves alteraccedilotildees funcionais)
b) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de obter rendimentos provenientes do trabalho
A explicitaccedilatildeo dos criteacuterios de delimitaccedilatildeo do conceito de incapacidade nos diferentes paiacuteses
encontra-se na Quadro 4
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Austraacutelia 2 Criteacuterios possuir uma incapacidade que resulte
num score nunca inferior a 20 nas tabelas de
incapacidades e incapacidade em trabalhar 30
horas ou mais por semana ou em ser
reconvertido para trabalho em contexto regular
nos proacuteximos 2 anos
Nenhum
Aacuteustria 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho (50
de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo para
trabalhadores sem qualificaccedilotildees) papel criacutetico
das decisotildees dos tribunais devido a definiccedilotildees
legais imprecisas
Nenhum mas as
restriccedilotildees de sauacutede
devem ter uma duraccedilatildeo
igual ou superior a 6
meses
Beacutelgica 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na actual ocupaccedilatildeo
1 ano
Canada Incapacidade severa e prolongada que impeccedila de
desenvolver trabalho numa base regular
Nenhum
Dinamarca 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum mas a
reabilitaccedilatildeo precisa de
estar completa
Franccedila 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual mas a
totalidade do subsidio requer igualmente perda de
capacidade de trabalho
Nenhum no caso das
condiccedilotildees estarem
estaacuteveis mas muito
frequentemente apoacutes 3
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 47
Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
anos
Alemanha 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho a
incapacidade parcial eacute calculada em funccedilatildeo do nordm
de horas que a pessoa pode trabalhar
Nenhum mas a
incapacidade deve ter
uma duraccedilatildeo miacutenima
de 26 semanas
Itaacutelia 666reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum
Coreia Criteacuterios meacutedicos (niacuteveis de incapacidade
definidos de forma detalhada)
Periacuteodo de espera de
50 dias (os subsiacutedios
de doenccedila natildeo se
encontram disponiacuteveis)
Meacutexico 50 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo Nenhum
Holanda 15 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
(25 para os trabalhadores por conta proacutepria e
jovens com incapacidade) grau de incapacidade
calculado pela diferenccedila de remuneraccedilatildeo entre o
actual posto de trabalho compatiacutevel com as
limitaccedilotildees funcionais e o anterior
1 ano
Noruega 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho O
grau de subsiacutedio eacute calculado pela capacidade de
remuneraccedilatildeo
Nenhum (apoacutes ter
completado a
reabilitaccedilatildeo vocacional)
Poloacutenia Reduccedilatildeo temporaacuteria ou permanente da
capacidade de trabalho
Nenhum
Portugal 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual
Nenhum mas na
praacutetica ao fim de 3
anos (fim do periacuteodo de
doenccedila de longo termo)
Espanha 33 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho na
ocupaccedilatildeo actual incapacidade para todo e
qualquer trabalho para a totalidade do subsiacutedio
1 ano (embora seja
possiacutevel a candidatura
antes deste prazo em
casos de incapacidade
permanente)
Sueacutecia 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho grau
de incapacidade parcial calculado a partir das
horas que uma pessoa pode trabalhar
Nenhum
Suiccedila 40 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho para
as pessoas inactivas o grau de incapacidade eacute
calculado em relaccedilatildeo aacute actividade actual
1 ano
Turquia 666 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho
com um focus meacutedico bastante significativo
Nenhum
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 48
Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Reino Unido Limitaccedilotildees nas actividades de vida quotidianas
relevantes para o trabalho (avaliaccedilotildees meacutedicas
predominantes) teste ocupacional durante a s
primeiras 28 semanas (subsidio de doenccedila)
28 semanas
Estados
Unidos
Reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
incapacidade em investir numa actividade
profissional com rendimentos ($ US 740 por mecircs)
5 meses (nem sempre
cobertos pelos
subsiacutedios de curto-
termo) e 24 meses
para a cobertura
meacutedica
Quadro 4 ndash Definiccedilotildees de incapacidade e tempos regulamentares
Um dos desafios que se coloca aos actuais sistemas reside na delimitaccedilatildeo da elegibilidade do
puacuteblico-alvo Para cumprir este objectivo satildeo necessaacuterios sistemas de avaliaccedilatildeo holiacutesticos
abrangentes coerentes e que permitam chegar a resultados de forma consistente e com
validade interna No actual contexto a CIF propotildee constituir-se como o instrumento conceptual
abrangente para caracterizar os diferentes domiacutenios e niacuteveis de funcionalidade incapacidade
de forma coerente e integrada Neste sentido uma das vantagens apontadas para a adopccedilatildeo
do modelo desenvolvido pela OMS eacute a possibilidade de uniformizaccedilatildeo de conceitos e portanto
da utilizaccedilatildeo de uma linguagem padratildeo que permita a comunicaccedilatildeo entre investigadores
gestores profissionais de sauacutede organizaccedilotildees da sociedade civil e utilizadores em geral
Um dos campos de estudo mais explorados para a aplicaccedilatildeo da CIF tem sido a aacuterea de
Medicina Fiacutesica e de Reabilitaccedilatildeo no que concerne ao acompanhamento do estado de sauacutede
dos pacientes em tratamento O uso da CIF tem sido considerado tambeacutem na avaliaccedilatildeo apoacutes
transtornos agudos condiccedilotildees traumaacuteticas condiccedilotildees croacutenicas e na geriatria
Alguns autores argumentam que a CIF deve ser explorada como uma base de informaccedilotildees
padronizadas em estudos sobre incapacidade profissional quando haacute necessidade de
relacionar dados de sauacutede ocupacional com os da Seguranccedila Social
Na Sauacutede Puacuteblica tradicionalmente pouca atenccedilatildeo tem sido dada agraves pessoas com
incapacidades No entanto ao lado de recentes investimentos por parte de organizaccedilotildees e de
alguns governos a publicaccedilatildeo do modelo da CIF fornece as bases para as poliacuteticas e
disciplinas da Sauacutede Puacuteblica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo que apresenta deficiecircncias e
incapacidades Assim uma das possibilidades de uso da CIF pode ser a contribuiccedilatildeo para
responder a importantes questotildees de sauacutede puacuteblica tais como qual o estado de sauacutede das
pessoas com deficiecircncias comparadas com as demais que necessidades e que tipos de
intervenccedilotildees satildeo mais adequadas para reduzir condiccedilotildees secundaacuterias e promover a
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na sociedade entre outras
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 49
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Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 50
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Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 51
Dezembro2006
Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
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Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 53
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
3 OBJECTIVOS OPERACIONAIS
Pretende-se desenvolver uma anaacutelise longitudinal e multissectorial ao conceito de deficiecircncia
no sentido de estabelecer uma configuraccedilatildeo operacional no quadro da sua aplicabilidade
estatiacutestica Esta anaacutelise insere-se no acircmbito do Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das
Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo
Objectivo Operacionalizar o conceito de deficiecircncia no quadro da sua aplicabilidade
estatiacutestica assegurando os criteacuterios de (a) comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica
e legislativa dentro do contexto portuguecircs (c) conformidade com os referenciais conceptuais
actuais
Metodologia a) Anaacutelise dos referenciais nacionais e internacionais de delimitaccedilatildeo operacional
do conceito b) exploraccedilatildeo de cenaacuterios que viabilizem o cumprimento dos requisitos definidos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 20
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
4 ANAacuteLISE PRELIMINAR DA EVOLUCcedilAtildeO DA TERMINOLOGIA NO
DOMIacuteNIO 41 ESTADO DA ARTE
A evoluccedilatildeo dos conceitos operativos nos domiacutenios da reabilitaccedilatildeo e da inclusatildeo social tem
sido reflectida nas diversas classificaccedilotildees propostas pela OMS Neste quadro evolutivo a
uacuteltima classificaccedilatildeo proposta ndash CIF ndash constitui-se como um modelo de siacutentese entre a
abordagem meacutedica e a abordagem social no domiacutenio da incapacidade e da sauacutede No sentido
de procedermos agrave anaacutelise dos principiais conceitos e termos focalizar-nos-emos na
reestruturaccedilatildeo conceptual proposta pela Classificaccedilatildeo Internacional de Funcionalidade
Incapacidade e Sauacutede (CIF)
O objectivo geral da CIF eacute proporcionar uma linguagem unificada e padronizada assim como
uma estrutura de trabalho para a descriccedilatildeo da sauacutede e de estados relacionados com a sauacutede
A classificaccedilatildeo define os componentes da sauacutede e alguns componentes do bem-estar
relacionados com a sauacutede (tais como educaccedilatildeo e trabalho) Os domiacutenios contidos na CIF
podem portanto ser considerados como domiacutenios da sauacutede e domiacutenios relacionados com a
sauacutede Estes domiacutenios satildeo descritos com base na perspectiva do corpo do indiviacuteduo e da
sociedade em duas listas baacutesicas (1) Funccedilotildees e Estruturas do Corpo e (2) Actividades e
Participaccedilatildeo Como classificaccedilatildeo a CIF agrupa sistematicamente diferentes domiacutenios de uma
pessoa com uma determinada condiccedilatildeo de sauacutede (eg o que uma pessoa com uma doenccedila
ou perturbaccedilatildeo faz ou pode fazer) A funcionalidade eacute um termo que engloba todas as funccedilotildees
do corpo actividades e participaccedilatildeo de maneira similar a incapacidade eacute um termo que inclui
deficiecircncias limitaccedilatildeo da actividade ou restriccedilatildeo na participaccedilatildeo A CIF tambeacutem relaciona os
factores ambientais que interagem com todos estes constructos Neste sentido a classificaccedilatildeo
permite ao utilizador registar perfis uacuteteis da funcionalidade incapacidade e sauacutede dos
indiviacuteduos em vaacuterios domiacutenios
A CIF pertence agrave ldquofamiacuteliardquo das classificaccedilotildees internacionais desenvolvida pela OMS para
aplicaccedilatildeo em vaacuterios aspectos da sauacutede A famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS
proporciona um sistema para a codificaccedilatildeo de uma ampla gama de informaccedilotildees sobre sauacutede
(eg diagnoacutestico funcionalidade e incapacidade motivos de contacto com os serviccedilos de
sauacutede) e utiliza uma linguagem comum padronizada que permite a comunicaccedilatildeo sobre sauacutede e
cuidados de sauacutede em todo o mundo entre vaacuterias disciplinas e ciecircncias
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 21
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Nas classificaccedilotildees internacionais da OMS os estados de sauacutede (doenccedilas perturbaccedilotildees
lesotildees etc) satildeo classificados principalmente na CID-10 (abreviatura da Classificaccedilatildeo
Internacional de Doenccedilas Deacutecima Revisatildeo) que fornece uma estrutura de base etioloacutegica A
funcionalidade e a incapacidade associadas aos estados de sauacutede satildeo classificadas na CIF
Portanto a CID-10 e a CIF satildeo complementares e os utilizadores satildeo estimulados a usar em
conjunto esses dois membros da famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS A CID-10
proporciona um ldquodiagnoacutesticordquo de doenccedilas perturbaccedilotildees ou outras condiccedilotildees de sauacutede que eacute
complementado pelas informaccedilotildees adicionais fornecidas pela CIF sobre funcionalidade Em
conjunto as informaccedilotildees sobre o diagnoacutestico e sobre a funcionalidade datildeo uma imagem mais
ampla e mais significativa da sauacutede das pessoas ou da populaccedilatildeo que pode ser utilizada em
tomadas de decisatildeo
A famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS constitui uma ferramenta valiosa para a
descriccedilatildeo e a comparaccedilatildeo da sauacutede das populaccedilotildees num contexto internacional As
informaccedilotildees sobre a mortalidade (facultadas pela CID-10) e sobre as consequecircncias na sauacutede
(proporcionadas pela CIF) podem ser combinadas de forma a obter medidas sinteacuteticas da
sauacutede das populaccedilotildees Isto permite seguir a sauacutede das populaccedilotildees e a sua distribuiccedilatildeo bem
como avaliar a parte atribuiacuteda agraves diferentes causas
A CIF transformou-se de uma classificaccedilatildeo de ldquoconsequecircncias da doenccedilardquo (versatildeo de 1980)
numa classificaccedilatildeo de ldquocomponentes da sauacutederdquo Os ldquocomponentes da sauacutederdquo identificam o que
constitui a sauacutede enquanto que as consequecircncias se referem ao impacto das doenccedilas na
condiccedilatildeo de sauacutede da pessoa Deste modo a CIF assume uma posiccedilatildeo neutra em relaccedilatildeo agrave
etiologia de modo que os investigadores podem desenvolver inferecircncias causais utilizando
meacutetodos cientiacuteficos adequados De maneira similar esta abordagem tambeacutem eacute diferente de
uma abordagem do tipo determinantes da sauacutede ou ldquofactores de risco Para facilitar o estudo
dos determinantes ou dos factores de risco a CIF inclui uma lista de factores ambientais que
descrevem o contexto em que o indiviacuteduo vive
A CIF descreve a funcionalidade e a incapacidade relacionadas com as condiccedilotildees de sauacutede
identificando o que uma pessoa ldquopode ou natildeo pode fazer na sua vida diaacuteriardquo tendo em vista as
funccedilotildees dos oacutergatildeos ou sistemas e estruturas do corpo assim como as limitaccedilotildees de
actividades e da participaccedilatildeo social no meio ambiente onde a pessoa vive Segundo a OMS a
CID-10 e a CIF satildeo complementares a informaccedilatildeo sobre o diagnoacutestico acrescido da
funcionalidade fornece um quadro mais amplo sobre a sauacutede do indiviacuteduo ou populaccedilotildees Por
exemplo duas pessoas com a mesma doenccedila podem ter diferentes niacuteveis de funcionalidade e
duas pessoas com o mesmo niacutevel de funcionalidade natildeo tecircm necessariamente a mesma
condiccedilatildeo de sauacutede
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 22
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
O termo do modelo da CIF eacute a funcionalidade que cobre os componentes de funccedilotildees e
estruturas do corpo actividade e participaccedilatildeo social A funcionalidade eacute usada no aspecto
positivo e o aspecto negativo corresponde agrave incapacidade Segundo esse modelo a
incapacidade eacute resultante da interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada pelo indiviacuteduo (seja
orgacircnica e ou da estrutura do corpo) a limitaccedilatildeo de suas actividades e a restriccedilatildeo na
participaccedilatildeo social e os factores ambientais que podem actuar como facilitadores ou barreiras
para o desempenho dessas actividades e da participaccedilatildeo
A CIF eacute baseada portanto numa abordagem biopsicossocial que incorpora os componentes
de sauacutede nos niacuteveis corporais e sociais Assim na avaliaccedilatildeo de uma pessoa com deficiecircncias
e incapacidades esse modelo destaca-se do biomeacutedico baseado no diagnoacutestico etioloacutegico da
disfunccedilatildeo evoluindo para um modelo que incorpora as trecircs dimensotildees a biomeacutedica a
psicoloacutegica (dimensatildeo individual) e a social Nesse modelo cada niacutevel age sobre e sofre a
acccedilatildeo dos demais sendo todos influenciados pelos factores ambientais A OMS pretende
incorporar tambeacutem no futuro os factores pessoais importantes na forma de lidar com as
condiccedilotildees limitantes
O objectivo pragmaacutetico da CIF eacute fornecer uma linguagem padronizada e um modelo para a
descriccedilatildeo da sauacutede e dos estados relacionados com a sauacutede permitindo a comparaccedilatildeo de
dados referentes a essas condiccedilotildees entre paiacuteses serviccedilos sectores relativos agrave sauacutede bem
como o acompanhamento da sua evoluccedilatildeo no tempo
No entanto os conceitos apresentados na classificaccedilatildeo introduzem um novo paradigma para
pensar e trabalhar as deficiecircncias e incapacidades elas natildeo satildeo apenas uma consequecircncia
das condiccedilotildees de sauacutede doenccedila mas satildeo determinadas tambeacutem pelo contexto do meio
ambiente fiacutesico e social pelas diferentes percepccedilotildees culturais e atitudes em relaccedilatildeo agrave
deficiecircncias pela disponibilidade de serviccedilos e de legislaccedilatildeo Dessa forma a classificaccedilatildeo natildeo
constitui apenas um instrumento para medir o estado funcional dos indiviacuteduos Aleacutem disso ela
permite avaliar as condiccedilotildees de vida e fornecer subsiacutedios para poliacuteticas de inclusatildeo social
42 FUNCcedilOtildeES DO CORPO
As Funccedilotildees do corpo satildeo as funccedilotildees fisioloacutegicas dos sistemas orgacircnicos (incluindo as
funccedilotildees psicoloacutegicas)
As funccedilotildees e as estruturas do corpo satildeo classificadas em duas secccedilotildees diferentes Essas duas
classificaccedilotildees estatildeo concebidas de forma a serem utilizadas em paralelo Por exemplo as
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Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
funccedilotildees do corpo incluem sentidos humanos baacutesicos como as funccedilotildees da visatildeo e as
estruturas relacionadas aparecem na forma de ldquoolho e estruturas relacionadasrdquo
43 ESTRUTURAS DO CORPO
As Estruturas do Corpo satildeo as partes anatoacutemicas do corpo tais como oacutergatildeos membros e
seus componentes
ldquoCorpo refere-se ao organismo humano como um todo por isso o ceacuterebro e as suas funccedilotildees
ie a mente estatildeo incluiacutedos As funccedilotildees mentais (ou psicoloacutegicas) satildeo portanto incluiacutedas nas
funccedilotildees do corpo As funccedilotildees e as estruturas do corpo satildeo classificadas de acordo com os
sistemas orgacircnicos por isso as estruturas do corpo natildeo satildeo consideradas como oacutergatildeos no
seu sentido restrito
44 DEFICIEcircNCIA
Deficiecircncias satildeo problemas nas funccedilotildees ou na estrutura do corpo tais como um desvio
importante ou uma perda
As deficiecircncias de estrutura podem consistir numa anormalidade defeito perda ou outro desvio
importante relativamente a um padratildeo das estruturas do corpo As deficiecircncias foram definidas
de acordo com os conhecimentos bioloacutegicos actuais ao niacutevel de tecidos ou das ceacutelulas e ao
niacutevel subcelular ou molecular Por motivos praacuteticos no entanto esses niacuteveis natildeo estatildeo
classificados As bases bioloacutegicas das deficiecircncias orientaram essa classificaccedilatildeo e eacute possiacutevel
expandir a classificaccedilatildeo para incluir os niacuteveis celular ou molecular Do ponto de vista meacutedico
deve-se ter em mente que as deficiecircncias natildeo satildeo equivalentes agraves patologias subjacentes mas
sim a manifestaccedilotildees dessas patologias
As deficiecircncias correspondem a um desvio relativamente ao que eacute geralmente aceite como
estado biomeacutedico normal (padratildeo) do corpo e das suas funccedilotildees A definiccedilatildeo dos seus
componentes eacute feita essencialmente por pessoas com competecircncia para avaliar a
funcionalidade fiacutesica e mental de acordo com esses padrotildees
As deficiecircncias podem ser temporaacuterias ou permanentes progressivas regressivas ou estaacuteveis
intermitentes ou contiacutenuas O desvio em relaccedilatildeo ao modelo baseado na populaccedilatildeo e
geralmente aceite como normal pode ser leve ou grave e pode variar ao longo do tempo Estas
caracteriacutesticas satildeo consideradas posteriormente em descriccedilotildees adicionais principalmente nos
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Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
coacutedigos atraveacutes de um qualificador que se acrescenta ao coacutedigo e do qual fica separado por
um ponto
As deficiecircncias natildeo tecircm uma relaccedilatildeo causal com a etiologia ou com a forma como se
desenvolveram Por exemplo a perda da visatildeo ou de um membro pode resultar de uma
anormalidade geneacutetica ou de uma lesatildeo A presenccedila de uma deficiecircncia implica
necessariamente uma causa No entanto a causa pode natildeo ser suficiente para explicar a
deficiecircncia resultante Da mesma forma quando haacute uma deficiecircncia haacute uma disfunccedilatildeo das
funccedilotildees ou estruturas do corpo mas isto pode estar relacionado com qualquer doenccedila
perturbaccedilatildeo ou estado fisioloacutegico
As deficiecircncias podem ser parte ou uma expressatildeo de uma condiccedilatildeo de sauacutede mas natildeo
indicam necessariamente a presenccedila de uma doenccedila ou que o indiviacuteduo deva ser
considerado doente
As deficiecircncias cobrem um campo mais vasto que as perturbaccedilotildees ou as doenccedilas Por
exemplo a perda de uma perna eacute uma deficiecircncia de uma estrutura do corpo mas natildeo eacute uma
perturbaccedilatildeo ou uma doenccedila
As deficiecircncias podem originar outras deficiecircncias Por exemplo a diminuiccedilatildeo da forccedila
muscular pode prejudicar as funccedilotildees do movimento as funccedilotildees cardiacuteacas podem estar
relacionadas com o deacutefice das funccedilotildees respiratoacuterias e uma percepccedilatildeo prejudicada pode estar
relacionada com as funccedilotildees do pensamento
Actualmente na perspectiva da CIF o conceito de deficiecircncia constitui o poacutelo negativo da
componente ldquoFunccedilotildees e Estrutura do Corpordquo sendo descrito atraveacutes da existecircncia de
alteraccedilotildees significativas das funccedilotildees eou das estruturas do corpo O poacutelo positivo desta
componente refere-se agrave integridade funcional e estrutural Neste contexto um dos desafios
criacuteticos das poliacuteticas sociais consiste na operacionalizaccedilatildeo do conceito de deficiecircncia de forma
a que a elegibilidade dos diferentes puacuteblicos alvo se encontre devidamente delimitada
assegurando a eficaacutecia das medidas subjacentes
No entanto a amplitude e abrangecircncia da definiccedilatildeo do conceito de deficiecircncia proposta pela
OMS atraveacutes da CIF coloca um enorme desafio na medida em que qualquer cidadatildeo desde
que apresente um desvio significativo ao niacutevel da estrutura eou funccedilatildeo passa a ser um
potencial beneficiaacuterio das poliacuteticas neste domiacutenio Neste contexto poder-se-atildeo colocar vaacuterias
questotildees A primeira eacute se interessa agraves diferentes poliacuteticas no sector continuarem a ser
desenvolvidas tendo por focus o conceito de pessoas com deficiecircncias sabendo que a sua
distinccedilatildeo ao longo da populaccedilatildeo apenas poderaacute ser feita atraveacutes do niacutevel e extensatildeo da
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 25
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
alteraccedilatildeo da integridade estrutural e funcional de cada individuo A segunda questatildeo prende-se
com as consequecircncias conceptuais decorrentes da integraccedilatildeo do modelo social na formulaccedilatildeo
e operacionalizaccedilatildeo dos conceitos a serem utilizados pelas poliacuteticas no sector na medida em
que o aspecto critico deixa de ser a natureza e severidade da deficiecircncia para passar a centrar-
se no niacutevel e tipo de restriccedilotildees de participaccedilatildeo que cada cidadatildeo experiencia na interacccedilatildeo
com os seus contextos de vida
No que concerne agrave primeira questatildeo e atendendo a que a mais recente definiccedilatildeo do conceito
de deficiecircncia proposto pela OMS apresenta um elevado niacutevel de abrangecircncia e um reduzido
potencial diferenciador poderemos equacionar 2 hipoacuteteses centrais de operacionalizaccedilatildeo
a) A primeira hipoacutetese baseia-se na possibilidade de operacionalizar diferentes definiccedilotildees
de deficiecircncia ao longo das diferentes poliacuteticas sociais no sentido de assegurar que as
diferentes medidas alcanccedilam efectivamente as pessoas para as quais foram
elaboradas Esta perspectiva tem a vantagem de uma maior focalizaccedilatildeo nas
caracteriacutesticas especificas do puacuteblico-alvo mas no entanto apresenta uma grande
desvantagem que consiste na elevada probabilidade das diferentes definiccedilotildees
perderem a coerecircncia entre si fragmentando igualmente o modelo teoacuterico a partir do
qual se deveriam basear
b) A segunda hipoacutetese consiste na articulaccedilatildeo operativa de dois conceitos o de
deficiecircncia e o de restriccedilotildees de participaccedilatildeo Nesta perspectiva a elegibilidade de uma
determinada politica social baseia-se na validaccedilatildeo preacutevia da existecircncia da primeira
condiccedilatildeo do puacuteblico-alvo ndash a existecircncia de uma deficiecircncia ndash determinando logo de
seguida o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo a partir do qual os diferentes cidadatildeos
passam a poder aceder agraves medidas especiacuteficas nela contidas O desafio contido nesta
hipoacutetese consiste na necessidade de desenvolvimento de um sistema de avaliaccedilatildeo que
permita avaliar o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo experimentado pelas pessoas com
deficiecircncias determinando atraveacutes do valor aferido quais seriam as pessoas com
acesso agraves medidas Neste cenaacuterio natildeo bastaria que uma pessoa tivesse uma
deficiecircncia pelo que seria necessaacuterio avaliar os efeitos da deficiecircncia em interacccedilatildeo
com o ambiente social ao niacutevel da participaccedilatildeo no sentido de determinar a
elegibilidade As vantagens desta hipoacutetese relacionam-se com (i) a preservaccedilatildeo do
niacutevel de coerecircncia dos conceitos utilizados ao longo das diferentes poliacuteticas sociais (ii)
a existecircncia de um processo comum de afericcedilatildeo e determinaccedilatildeo da elegibilidade ao
longo dos diferentes sectores de politica (iii) a compatibilidade e adequabilidade dos
princiacutepios teoacutericos do modelo social com a operacionalizaccedilatildeo dos sistemas e medidas
poliacuteticos de apoio agraves pessoas com deficiecircncias e (iv) a existecircncia de mecanismos de
avaliaccedilatildeo de elevada transparecircncia controlabilidade e rigor
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 26
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
45 INCAPACIDADE
Do ponto de vista de utilizaccedilatildeo dos conceitos de Deficiecircncia e de Incapacidade em Portugal
tecircm subsistido vaacuterias imprecisotildees terminoloacutegicas Primeiro na generalidade dos documentos
internacionais alude-se ao termo ldquopeople with disabilitiesrdquo sendo que invariavelmente esta
expressatildeo eacute traduzida para Portuguecircs como ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo Tal facto parece criar
condiccedilotildees para uma grande permeabilidade semacircntica dificilmente resoluacutevel do ponto de vista
conceptual Segundo deficiecircncia e incapacidade satildeo claramente dois conceitos distintos
Enquanto a deficiecircncia remete para alteraccedilotildees significativas ao niacutevel das estruturas eou das
funccedilotildees do corpo a incapacidade constitui o poacutelo negativo do funcionamento humano em
situaccedilatildeo potencial ou efectiva de participaccedilatildeo no contexto de vida Este facto pressupotildee que os
conceitos de deficiecircncia e de incapacidade natildeo contecircm nenhuma relaccedilatildeo causal entre si nem
nenhuma relaccedilatildeo linear de frequecircncia na medida em que eacute possiacutevel existir uma deficiecircncia
sem que exista uma incapacidade e eacute possiacutevel emergir uma determinada incapacidade sem
que haja uma qualquer deficiecircncia
Deste modo eacute possiacutevel
a) Ter deficiecircncias sem limitaccedilotildees de capacidade (eg uma desfiguraccedilatildeo resultante da
doenccedila de Hansen pode natildeo ter efeito sobre a capacidade da pessoa
b) Ter problemas de desempenho e limitaccedilotildees de capacidade sem deficiecircncias evidentes
(eg reduccedilatildeo de desempenho nas actividades diaacuterias associada a vaacuterias doenccedilas)
c) Ter problemas de desempenho sem deficiecircncias ou limitaccedilotildees de capacidade (eg um
indiviacuteduo HIV positivo ou um ex-doente curado de doenccedila mental que enfrenta
estigmas ou descriminaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais ou no trabalho)
d) Ter limitaccedilotildees de capacidade se natildeo tiver assistecircncia e nenhum problema de
desempenho no ambiente habitual (eg um indiviacuteduo com limitaccedilotildees de mobilidade
pode beneficiar por parte da sociedade de ajudas tecnoloacutegicas de assistecircncia para se
movimentar
e) Experimentar um grau de influecircncia em sentido contraacuterio (eg a inactividade dos
membros pode levar agrave atrofia muscular a institucionalizaccedilatildeo pode resultar numa perda
da socializaccedilatildeo)
Daqui resulta que ao referirmo-nos agraves pessoas com deficiecircncias enquanto puacuteblico-alvo
privilegiado das medidas de reabilitaccedilatildeo poderemos incorrer num desvio significativo de
alocaccedilatildeo dos recursos agraves reais necessidades das pessoas na medida em que natildeo eacute a
deficiecircncia que gera por si mesma a necessidade de reabilitaccedilatildeo mas sim as limitaccedilotildees de
actividade e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo decorrentes da interacccedilatildeo entre as caracteriacutesticas
biopsicossociais e as caracteriacutesticas dos ambientes em que o individuo se move
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Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
A persistecircncia em traduzir o termo disability para deficiecircncia e natildeo apenas o seu homoacutelogo
anglo-saxoacutenico ndash impairment ndash poderaacute explicar-se pelas seguintes razotildees
a) O potencial efeito estigmatizante da expressatildeo ldquopessoas com incapacidadesrdquo ser maior
do que aquele contido na expressatildeo ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo
b) O termo incapacidade centrar-se exclusivamente nos aspectos negativos do
funcionamento individual classificando a pessoa agrave partida como sendo destituiacuteda de
competecircncias e condiccedilotildees para atingir os niacuteveis normativos de desempenho e
performance num conjunto de domiacutenios da vida pessoal e social
O paradoxo surge igualmente porque enquanto no modelo meacutedico a incapacidade aparece
em termos causais relacionada com a deficiecircncia numa perspectiva exclusivamente individual
no modelo proposto pela OMS operacionalizado na CIF os dois conceitos gozam de total
independecircncia conceptual e operativa sendo que a deficiecircncia passa a ter uma baixa
relevacircncia diferenciadora do ponto de vista do funcionamento humano Ora se atendermos a
que as medidas de reabilitaccedilatildeo pretendem promover os potenciais do funcionamento humano
numa perspectiva de participaccedilatildeo plena do indiviacuteduo nos mais diferenciados contextos de vida
assegurando o co-desenvolvimento de todos os actores e das estruturas sociais necessaacuterias agrave
cidadania plena entatildeo falar de ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo natildeo soacute natildeo eacute relevante no quadro
da loacutegica de intervenccedilatildeo como poderaacute traduzir dificuldades dos actores em mudar
efectivamente do paradigma meacutedico para o paradigma social
Este fenoacutemeno aliaacutes natildeo acontece apenas em Portugal sendo que recentes estudos de
investigaccedilatildeo vieram sugerir a adopccedilatildeo dos conceitos de ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo e
ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo para ultrapassar a aplicaccedilatildeo indevida dos
conceitos de deficiecircncia e incapacidade A utilizaccedilatildeo destes conceitos parece articular de forma
mais precisa com o novo modelo conceptual proposto pela OMS enfatizando a diversidade de
niacuteveis de funcionamento humano e apelando a uma certa noccedilatildeo de relatividade socialmente
construiacuteda Uma das criticas feita pela comunidade de investigadores ao conceito de ldquopessoas
com diversidade funcionalrdquo reside no facto de que a expressatildeo eacute dotada de um tatildeo elevado
niacutevel de abrangecircncia que natildeo permite um niacutevel de diferenciaccedilatildeo relevante na medida em que
todos os cidadatildeos detecircm entre si diversos e diferentes padrotildees de funcionamento humano
Neste sentido o conceito ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo aplicar-se-ia a todos os
cidadatildeos sem excepccedilatildeo A proliferaccedilatildeo destes termos eacute explicada pela necessidade da
comunidade politica e cientifica de construir constructos que sejam socialmente aceites e o
mais neutros possiacuteveis do ponto de vista dos seus valores impliacutecitos No entanto a
impossibilidade epistemoloacutegica de desenvolver expressotildees e conceitos socio-historicamente
neutros parece levar muitas vezes agrave concepccedilatildeo de definiccedilotildees com reduzida identidade isto eacute
de significado demasiado amplo e abrangente o que na expressatildeo da UPIAS ldquopodem significar
tudo e coisiacutessima nenhumardquo (2005)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 28
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Os conceitos ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo ldquopessoas com limitaccedilotildees de
actividaderdquo e ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo afiguram-se comparativamente ao
anterior como um conceito de maior coerecircncia conceptual com o modelo proposto pela OMS e
deteacutem cumulativamente um maior poder diferenciador A sua desvantagem reside no facto de
constituiacuterem expressotildees com maior dificuldade de apreensatildeo e inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 29
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 30
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5 ANAacuteLISE DOS REFERENCIAIS NACIONAIS E INTERNACIONAIS
No sentido de obter um conjunto de vectores de referecircncia na estruturaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo do
conceito de deficiecircncia foram analisadas as abordagens desenvolvidas pelos seguintes
organismos INE Eurostat OCDE American Disabilities Act WHO UN
51 INE
Os dados disponiacuteveis no INE parecem indicar a utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na
ICIDH
Deficiecircncia1 Perda ou alteraccedilatildeo de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou
anatoacutemica Nesta definiccedilatildeo estatildeo incluiacutedas as seguintes tipologias2
Deficiecircncia AUDITIVA
Deficiecircncia MENTAL
Deficiecircncia MOTORA
Deficiecircncia ORGAcircNICO-FUNCIONAL
Deficiecircncia PSIQUIAacuteTRICA
Deficiecircncia VISUAL
Incapacidade3 Ausecircncia ou limitaccedilatildeo da capacidade para funcionar estando comprometida a
realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida
diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e originando uma desvantagem para funcionar em
sociedade face a outros
Pessoa deficiente Aquela que tenha uma ou mais das seguintes deficiecircncias a) deficiecircncia
visual b) deficiecircncia auditiva c) deficiecircncia mental d) deficiecircncia motora
1 Nota Na operaccedilatildeo censitaacuteria de 2001 apenas foi observada a deficiecircncia permanente a deficiecircncia temporaacuteria natildeo foi considerada (por exemplo se um indiviacuteduo se desloca com canadianas ou em cadeira de rodas porque partiu uma perna ou se sofre de descolamento parcial da retina que o obriga a andar com uma venda natildeo foi considerado como tendo uma deficiecircncia) 2 Fonte INE ndash Censos 2001 ndash Recenseamento Geral da Populaccedilatildeo (Antecedentes Metodologia e Conceitos) Antecedentes Metodologia e Conceitos 3 Fonte INS ndash Inqueacuterito Nacional agrave Sauacutede
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 31
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Trabalhador deficiente Trabalhador que estaacute incapacitado para assegurar por si mesmo total
ou parcialmente a satisfaccedilatildeo de necessidades de uma vida individual ou social normal devido
a uma deficiecircncia congeacutenita ou adquirida das suas capacidades fiacutesicas sensoriais ou
mentais tendo por isso dificuldade em obter eou manter o desempenho de funccedilotildees de acordo
com as suas habilitaccedilotildees idade e experiecircncia profissional
Cidadatildeo Trabalhador com necessidades especiais Cidadatildeo idoso ou portador de
deficiecircncias sensoriais (visuais e auditivas) fiacutesicas (motoras) e cognitivas
52 EUROSTAT
Os dados disponibilizados pelo Eurostat no seu endereccedilo electroacutenico4 parecem indicar a
utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na ICIDH
Conceito Deficiecircncia5
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de deficiecircncia refere-se a uma perda ou alteraccedilatildeo
de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou anatoacutemica
Conceito Incapacidade6
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de incapacidade refere-se agrave ausecircncia ou limitaccedilatildeo
da capacidade para funcionar estando comprometida a realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas
funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e
originando uma desvantagem para funcionar em sociedade face a outros
Conceito Desvantagem7
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito refere-se agrave desvantagem para um dado individuo
decorrente de uma deficiecircncia ou incapacidade
4 httpforumeuropaeuintircdsiscodedinfodatacodedenTheme3htm 5 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 6 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 7 Fonte Key data on health 2000 Eurostat
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
53 OCDE
Definiccedilotildees gerais de incapacidade
No contexto da OCDE identificam-se 2 abordagens distintas no quadro da definiccedilatildeo de
incapacidade
A incapacidade pode ser definida enquanto um estado decorrente de autoavaliaccedilatildeo ou um
status baseado em fontes administrativas eg beneficiaacuterio dos apoios De forma muito
frequente e talvez de forma imprecisa estas duas definiccedilotildees satildeo explicitadas como
incapacidade ldquosubjectivardquo versus rdquoobjectivardquo
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo e instrumentos
A incapacidade autoavaliada eacute medida atraveacutes de inqueacuteritos feitos directamente aos cidadatildeos
nas suas residecircncias Apesar da avaliaccedilatildeo ser baseada de uma forma geral nas respostas agraves
questotildees relativas a problemas de sauacutede de longo termo que limitam as actividades de vida
diaacuteria o detalhe das questotildees eacute geralmente diferente dificultando a comparabilidade dos
dados Por exemplo ldquolongo termordquo eacute parametrizado em 6 meses na Noruega e em 12 meses
na Suiccedila O status dos beneficiaacuterios pode ser avaliado atraveacutes de registos administrativos ou
atraveacutes de inqueacuteritos Os resultados entre as duas fontes satildeo de uma forma geral bastante
diferentes por duas razotildees nucleares os registos administrativos geralmente contam casos e
natildeo pessoas o que em situaccedilotildees de benefiacutecios muacuteltiplos pode levar a contagens duplas por
outro lado os inqueacuteritos satildeo baseados nas respostas sobre o status do beneficiaacuterio e algumas
pessoas podem desejar natildeo revelar a sua condiccedilatildeo perante os benefiacutecios
Nenhuma destas definiccedilotildees e medidas de mensuraccedilatildeo eacute superior a outras pelo que a sua
utilizaccedilatildeo depende dos objectivos do propoacutesito da investigaccedilatildeo e da disponibilidade da
informaccedilatildeo
Abordagens para medir a incapacidade no quadro da aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos agraves populaccedilotildees
a) Incapacidade geral (natildeo especificada)
Puacuteblico-alvo todos os adultos
b) Incapacidade relativa ao trabalho
Puacuteblico-alvo pessoas em idade activa
c) Limitaccedilotildees nas actividades de vida diaacuteria (AVD)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 32
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Puacuteblico-alvo Populaccedilatildeo idosa
54 AMERICAN DISABILITIES ACT
O American Disabilities Act (ADA) desenvolvido em 1990 fornece um conjunto de guidelines
no sentido de assegurar a disponibilizaccedilatildeo de serviccedilos para as pessoas com deficiecircncias bem
como a protecccedilatildeo dos seus direitos legais
A ADA inclui uma definiccedilatildeo legal de incapacidade consistindo na presenccedila de ldquouma deficiecircncia
fiacutesica ou mental que limita significativamente uma ou mais das principais actividades de vidardquo
Independentemente da definiccedilatildeo proposta pela ADA a existecircncia de muacuteltiplos programas a
favor das pessoas com deficiecircncias e os diferentes focus legais em diferentes puacuteblicos alvo
fazem com que tenham emergido uma multiplicidade de definiccedilotildees de incapacidade ao longo
do tempo no quadro das poliacuteticas sociais americanas
55 OMS ONU Revisatildeo dos actuais inqueacuteritos sobre a incapacidade
Apesar de existir um desenvolvimento consideraacutevel dos inqueacuteritos na aacuterea da incapacidade
poder-se-atildeo explicitar algumas observaccedilotildees relativas agrave sua multiplicidade Numa primeira linha
de anaacutelise os inqueacuteritos tendem a focalizar-se nas limitaccedilotildees de actividade eou na deficiecircncia
No que concerne agrave formulaccedilatildeo escrita tendem a existir diferenccedilas significativas entre
inqueacuteritos facto que inviabiliza natildeo raras vezes a comparabilidade dos dados entre inqueacuteritos
As diferentes formulaccedilotildees das questotildees incluem
Tem dificuldade
Eacute capaz de
Faz
Tem sentido problemas em
com ou sem assistecircncia pessoal eou tecnoloacutegica
A questatildeo que se coloca eacute se estas formulaccedilotildees tecircm o mesmo significado isto eacute se todas elas
pretendem medir a capacidade ou a performance De acordo com a CIF a capacidade
remeteria para o potencial de execuccedilatildeo de um indiviacuteduo enquanto a performance diria respeito
ao niacutevel de desempenho efectivo do indiviacuteduo atraveacutes do seu envolvimento numa situaccedilatildeo de
vida real As lacunas existentes e as poucas referecircncias ao niacutevel da forma como os inquiridos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 33
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
satildeo instruiacutedos a responder faz com que natildeo seja possiacutevel desenvolver um discernimento
irrefutaacutevel sobre esta mateacuteria
Do ponto de vista dos domiacutenios abrangidos os inqueacuteritos tecircm apresentado algumas questotildees
sobre a participaccedilatildeo e o ambiente e evidenciam algumas limitaccedilotildees na sua amplitude Os
domiacutenios de actividades e participaccedilatildeo geralmente abrangidos tecircm sido operacionalizados de
uma forma geral nas seguintes dimensotildees
Educaccedilatildeo e emprego (formulado como questotildees de performance)
Outros inqueacuteritos incluem aacutereas como relaccedilotildees interpessoais vida familiar tomada de
decisotildees etc
O domiacutenio relativo aos factores ambientais tem incluiacutedo
Utilizaccedilatildeo e acessibilidadedisponibilidade dos produtos de assistecircncia e da tecnologia
Acessibilidade do ambiente
Disponibilidade dos serviccedilos (sauacutede protecccedilatildeo social educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo)
Evidecircncias muito escassas ao niacutevel da poliacutetica atitudes ambiente natural
planeamento e concepccedilatildeo
A questatildeo de investigaccedilatildeo neste contexto centra-se na seguinte formulaccedilatildeo ldquoo que eacute que os
inqueacuteritos medem como incapacidaderdquo
a) Definiccedilatildeo a priori da incapacidade versus sem incapacidade
Alguns inqueacuteritos sobre a incapacidade especialmente os mais antigos utilizam uma definiccedilatildeo
a priori de incapacidade O objectivo deste tipo de inqueacuteritos eacute contar o nuacutemero de pessoas
que se encaixam na definiccedilatildeo no contexto da populaccedilatildeo total Neste sentido os dados satildeo
analisados de acordo com dois grupos de referecircncia ndash com incapacidade e sem incapacidade ndash
em funccedilatildeo de um conjunto de diferentes variaacuteveis Este tipo de questionaacuterios formula questotildees
do tipo ldquoPossui algum tipo de incapacidade auditiva visual ou fiacutesicardquo Muitas questotildees dos
censos tecircm utilizado este formato
b) Definiccedilatildeo a posteriori de incapacidade versus sem incapacidade
Mais recentemente alguns inqueacuteritos desenvolveram-se em direcccedilatildeo a uma definiccedilatildeo a
posteriori de incapacidade Nestes casos eacute medida a capacidade a performance ao longo de
um conjunto vasto de domiacutenios Este segundo tipo de inqueacuteritos tende a ter uma ampla
aceitaccedilatildeo eg HALS (Canada) HID (Franccedila) inqueacuterito sobre incapacidade na Africa do Sul
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 34
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Inqueacuterito Espanhol sobre incapacidade NHIS-D (USA) inqueacuterito Holandecircs entre outros Estes
instrumentos formulam questotildees relativas agraves dificuldades que as pessoas experienciam em
diferentes domiacutenios produzindo um perfil pessoal que possa colocar em evidecircncia os
diferentes graus de capacidade associados A categorizaccedilatildeo de incapacidade sem
incapacidade eacute formulada ao niacutevel do domiacutenio e natildeo como uma categoria geral de atributo
pessoal Esta abordagem permite uma anaacutelise ao niacutevel de funcionamento individual por
domiacutenio por exemplo comparando a experiecircncia de incapacidade no domiacutenio de mobilidade
versus socializaccedilatildeo versus comunicaccedilatildeo entre outros bem como o impacto dos factores
ambientais nestes diferentes domiacutenios O perfil resultante do funcionamento individual ao longo
de muacuteltiplos domiacutenios eacute similar aos estados de sauacutede individuais ao longo das diferentes
dimensotildees
Vantagens de uma abordagem a posteriori
Estaacute em consonacircncia com a abordagem universal proposta pela CIF Todas as
pessoas experienciam deficiecircncia nalgum ponto e esta experiecircncia eacute caracterizada
numa abordagem a posteriori e natildeo a priori
Decisotildees sobre a criaccedilatildeo de categorias sobre quem tem incapacidade e sobre quem
natildeo tem podem ser tomadas atraveacutes de diferentes niacuteveis de anaacutelise por exemplo
atraveacutes da anaacutelise da experiecircncia das pessoas que experienciam incapacidade em 1 2
ou 3 domiacutenios de cruzar o status de emprego de pessoas com incapacidade ao longo
dos diferentes domiacutenios etc
Deixa de ser necessaacuteria uma definiccedilatildeo tipoloacutegica e categoacuterica de pessoas com
incapacidade O que necessita de ser definido neste contexto eacute o que se designa por
limitaccedilatildeo da capacidade ou problemas de performance ao longo dos diferentes
domiacutenios
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 35
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
6 SISTEMATIZACcedilAtildeO DAS DIMENSOtildeES DE ORGANIZACcedilAtildeO E
OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em todos os estudos efectuados neste domiacutenio foi colocada em evidecircncia a actual dificuldade
de comparabilidade estatiacutestica internacional inter ou intra sectorial independentemente do
organismo referenciador ndash OCDE ONU EUROSTAT INE OMS
Neste contexto desenvolver-se-aacute a extracccedilatildeo de conhecimento tendo por base a identificaccedilatildeo
de um conjunto de eixos de anaacutelise que actuem como vectores de estruturaccedilatildeo na
operacionalizaccedilatildeo do conceito A este propoacutesito atente-se no Quadro 2
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Abordagem Focus Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Delimitaccedilatildeo temporal do
conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo
Design das questotildees
CID-10
ICIDH
ICF
SauacutedeDoenccedila
Deficiecircncia
Incapacidade
a) Geral
b) Relativa ao trabalho
c) Limitaccedilotildees nas
actividades de vida
diaacuteria
Funcionalidade ndash
Niacuteveis de execuccedilatildeo
das actividades por
domiacutenio e niacuteveistipos
de ajudas mobilizadas
Intersubjectivo ndash
vg inqueacuteritos
Objectivo ndash vg
fontes administrativas
A priori
A posteriori
Temporaacuterias
permanentes
Progressivas
regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou
contiacutenuas
Tipo 1 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre uma determinada
condiccedilatildeo individual
combinada com itens
referentes a limitaccedilotildees de
actividade e participaccedilatildeo e
factores contextuais
Tipo 2 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre a presenccedila de uma
pessoa com incapacidade
no agregado familiar
seguindo-se uma lista de
deficiecircncias e
incapacidades
Tipo 3 ndash Checklist de
deficiecircncias
Quadro 2 ndash Eixos de operacionalizaccedilatildeo do conceito
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 38
Dezembro2006
7 ESCOLHA DO CENAacuteRIO A IMPLEMENTAR
A anaacutelise do Quadro 2 permite-nos uma definiccedilatildeo modular do cenaacuterio a implementar atraveacutes de
uma configuraccedilatildeo do conceito pelos eixos de anaacutelise propostos Uma das dificuldades
evidentes nesta delimitaccedilatildeo prende-se com o cumprimento dos requisitos de (a)
comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica e legislativa dentro do contexto portuguecircs
e (c) conformidade com os referenciais conceptuais actuais sendo que a coexistecircncia destes
criteacuterios afigura-se em muitos casos incompatiacutevel entre si Para efeitos da estruturaccedilatildeo do
cenaacuterio privilegiar-se-aacute a conformidade com os referenciais conceptuais actuais
71 ABORDAGEM No que concerne agrave abordagem privilegia-se a adopccedilatildeo das mais recentes directrizes propostas
pela OMS adoptando explicitamente a CIF
Fundamentaccedilatildeo
A CIF apresenta a capacidade para descrever o funcionamento humano numa
perspectiva biopsicossocial em detrimento da classificaccedilatildeo anterior (ICIDH) que se
focalizava na dimensatildeo biomeacutedica A CIF foi desenvolvida no plano conceptual para ser aplicaacutevel em diferentes aacutereas e
sectores A CIF eacute aplicaacutevel transversalmente agraves dimensotildees de cultura idade geacutenero sendo um
instrumento sistemaacutetico para descrever e medir a sauacutede e o funcionamento humano
num dado contexto A CIF constitui-se enquanto instrumento potencial para a poliacutetica social design das
intervenccedilotildees nos domiacutenios da sauacutede educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e intervenccedilatildeo social Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
72 FOCUS
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo da centraccedilatildeo da recolha de dados ao niacutevel
da dimensatildeo de funcionalidade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 39
Dezembro2006
Fundamentaccedilatildeo
Consonacircncia com o modelo conceptual proposto pela CIF enfatizando o caraacutecter
dinacircmico e interaccional (pessoa factores contextuais) do funcionamento de cada
pessoa Permite caracterizar as limitaccedilotildees de actividade e restriccedilotildees de participaccedilatildeo dos
cidadatildeos identificando necessidades de intervenccedilotildees especializadas numa loacutegica de
empowerment e participaccedilatildeo social Permite analisar a adequabilidade e ajustamento das actuais medidas poliacuteticas do
ponto de vista dos seus objectivos e os problemas detectados ao niacutevel da participaccedilatildeo
dos cidadatildeos ao longo de um conjunto diversificado de domiacutenios
73 MEacuteTODOS DE MENSURACcedilAtildeO
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo de meacutetodos intersubjectivos nomeadamente
inqueacuteritos
Fundamentaccedilatildeo
Flexibilidade ao niacutevel da abrangecircncia e profundidade das dimensotildees
Maior facilidade na implementaccedilatildeo atendendo agrave disponibilizaccedilatildeo de uma amostra
delimitada
Maior niacutevel de controlo sobre as condiccedilotildees de observaccedilatildeo e da entrevista devido ao
menor nuacutemero de entrevistas a ser implementado
74 DELIMITACcedilAtildeO CONCEPTUAL E TEMPORAL DO CONCEITO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo temporal e apesar de se privilegiar as vantagens anteriormente
explicitadas no desenvolvimento de uma definiccedilatildeo a posteriori assume-se a necessidade
politica de delimitar o campo de intervenccedilatildeo do conjunto de medidas sociais neste domiacutenio
pelo que a delimitaccedilatildeo conceptual poderaacute ser objecto de operacionalizaccedilatildeo atraveacutes dos
seguintes paracircmetros
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 40
Dezembro2006
Poder-se-aacute colocar a questatildeo de saber se a delimitaccedilatildeo do conceito proposta remete
especificamente para ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ou para ldquopessoas com limitaccedilotildees de
participaccedilatildeordquo Atendendo a que a definiccedilatildeo comporta uma abordagem sisteacutemica enfatizando a
interacccedilatildeo entre um conjunto diversificado de componentes que produzem impacto na
funcionalidade da pessoa a resposta natildeo eacute linear dependendo da ecircnfase socio-histoacuterica e da
abordagem sociopoliacutetica que se escolher enfatizar No entanto e do ponto de vista conceptual
privilegia-se a adopccedilatildeo do conceito ldquopessoas com limitaccedilotildees de participaccedilatildeordquo dado que existe
total autonomia operativa entre os diferentes constructos Neste sentido a deficiecircncia natildeo
constitui um factor causal linear das limitaccedilotildees de actividade e das restriccedilotildees ao niacutevel da
participaccedilatildeo mas antes uma das componentes que em interacccedilatildeo com outras podem
provocar impactos ao niacutevel da funcionalidade do indiviacuteduo Por uacuteltimo refira-se que a tipologia
ldquopessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeordquo poderaacute ser alvo de criticas por constituir
uma designaccedilatildeo que apela a duas componentes em simultacircneo (actividades e participaccedilatildeo)
excluindo outras e ser demasiado longa para uma definiccedilatildeo tipoloacutegica A este propoacutesito pode-
se sugerir a delimitaccedilatildeo ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo constituindo esta
expressatildeo uma abordagem holiacutestica ao conjunto de componentes que interferem com o
funcionamento humano Deste modo poderemos ter as seguintes designaccedilotildees
Pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Pessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo
Pessoas com limitaccedilotildees de funcionalidade
Figura 2 ndash Possiacuteveis designaccedilotildees
O Quadro 3 pretende fornecer uma visatildeo sistemaacutetica sobre o processo de decisatildeo da
designaccedilatildeo a adoptar
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
deficiecircncias
Tradiccedilatildeo analiacutetica dentro do
contexto portuguecircs
Em conformidade com o modelo
meacutedico ndash centra-se nas alteraccedilotildees
de estrutura e funccedilatildeo ndash
focalizaccedilatildeo na pessoa
Desarticulado dos pressupostos do
modelo social ndash natildeo remete para a
experiecircncia de incapacidade
enquanto produto da interacccedilatildeo
entre pessoa e ambiente
Mai
or
Abr
angecirc
ncia
Mai
or
Espe
cific
idad
e
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 41
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
incapacidades
Em conformidade com a
delimitaccedilatildeo anglo-saxoacutenica que
utiliza o conceito Disability
Focalizaccedilatildeo no poacutelo negativo do
funcionamento humano ndash
funcionalidadeincapacidade
Ao focalizar-se na experiecircncia de
incapacidade enquanto
interacccedilatildeo pessoa-ambiente
remete indirectamente para a
mobilizaccedilatildeo de apoios e recursos
de forma a ultrapassar eou
eliminar os obstaacuteculos ao
funcionamento em contexto
O potencial efeito estigmatizante
da expressatildeo ldquopessoas com
incapacidadesrdquo
Pessoas com
diversidade
Funcional
Em conformidade com o modelo
social
Focaliza-se na gestatildeo das
diferenccedilas e no seu impacto ao
niacutevel da participaccedilatildeo das pessoas
na sociedade
Elevado niacutevel de abrangecircncia natildeo
permitindo um niacutevel de
diferenciaccedilatildeo relevante na
medida em que todos os cidadatildeos
detecircm entre si diversos e
diferentes padrotildees de
funcionamento humano
Conceito dificilmente
operacionalizaacutevel do ponto de
vista da formulaccedilatildeo das poliacuteticas e
da delimitaccedilatildeo dos puacuteblicos-alvo
Pessoas com
restriccedilotildees ao
niacutevel da
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos Desta forma
todos os obstaacuteculos agrave participaccedilatildeo
relacionados com discriminaccedilatildeo
social preconceitos estereoacutetipos
deficiecircncias doenccedilas croacutenicas
entre outros satildeo incluiacutedos
Natildeo inclui as limitaccedilotildees de
actividade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 42
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
limitaccedilotildees de
actividade e
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida e simultaneamente no
domiacutenio das limitaccedilotildees de
actividade
Ruptura com a tradiccedilatildeo analiacutetica
no sector
Dificuldade de apreensatildeo e
inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Natildeo inclui as alteraccedilotildees da
estrutura e da funccedilatildeo
Pessoas com
limitaccedilotildees de
funcionalidade
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel das
diferentes dimensotildees constituintes
da funcionalidade e do
funcionamento humano
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos
Pessoas com
deficiecircncias e
incapacidades
Natildeo introduz ruptura com a
tradiccedilatildeo analiacutetica no sector
Inclui as alteraccedilotildees de estrutura e
funccedilatildeo bem como as alteraccedilotildees
decorrentes ao niacutevel da
funcionalidade
Diferencia os conceitos de
deficiecircncia e incapacidade
autonomizando-os e fornecendo
uma base compreensiva para o
natildeo estabelecimento de relaccedilotildees
de causa-efeito entre os ambos
Abrange os obstaacuteculos que
emergem na interacccedilatildeo pessoa-
contextos de vida e
simultaneamente no domiacutenio das
limitaccedilotildees de actividade
Poder diferenciador e delimitador
na definiccedilatildeo do puacuteblico-alvo
Em alinhamento estrateacutegico com o
PAIPDI
Designaccedilatildeo de compromisso com
os referenciais teoacutericos do modelo
social e dos princiacutepios da ldquoeacutetica da
diversidaderdquo
Quadro 3 ndash Visatildeo comparativa das hipoacuteteses da designaccedilatildeo a adoptar
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 43
Dezembro2006
75 DELIMITACcedilAtildeO DA DURACcedilAtildeO E CURSO DE EVOLUCcedilAtildeO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo interessa a caracterizaccedilatildeo nas
3 dimensotildees desenvolvidas
Fundamentaccedilatildeo
Afigura-se relevante caracterizar a ocorrecircncia das deficiecircncias quanto aacute sua
consistecircncia no tempo ndash temporaacuterias permanentes ndash analisando os factores
contextuais associados consequecircncias ao niacutevel das actividades e da participaccedilatildeo ao
longo de um conjunto de domiacutenios em ordem agrave extracccedilatildeo de implicaccedilotildees no acircmbito
das poliacuteticas sociais
No acircmbito da adaptabilidade e da adequaccedilatildeo das medidas poliacuteticas agraves necessidades
especiacuteficas dos cidadatildeos torna-se relevante caracterizar a deficiecircncia quanto agrave
natureza do seu curso evolutivo ndash progressivas regressivas estaacuteveis O mesmo
criteacuterio eacute aplicaacutevel quanto aacute dimensatildeo de padratildeo de manifestaccedilatildeo ndash intermitente
contiacutenua
No entanto e apesar da incapacidade se manifestar ao longo do ciclo de vida da pessoa
de forma multimodal para efeitos de delimitaccedilatildeo e de definiccedilatildeo do conceito de pessoas
com deficiecircncias e incapacidades privilegiaremos o caraacutecter permanente Desta forma
excluem-se as manifestaccedilotildees temporaacuterias de incapacidade que enviesariam a anaacutelise e o
desenvolvimento de poliacuteticas neste domiacutenio
76 DESIGN DAS QUESTOtildeES
No que concerne ao design das questotildees privilegia-se a escolha de questotildees tipo 1
Fundamentaccedilatildeo
Em consonacircncia com a CIF
Permite comparabilidade estatiacutestica futura
Permite a caracterizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre os factores de funcionalidade ndash integridade
estrutural e funcional actividades participaccedilatildeo e factores contextuais
Permite o design das poliacuteticas sociais e metodologias de intervenccedilatildeo alicerccediladas nas
necessidades especiacuteficas dos cidadatildeos em torno das dimensotildees de inclusatildeo social
Domiacutenios
Visatildeo
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 44
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Audiccedilatildeo
Comunicaccedilatildeo
Mobilidade
Dor
Aprendizagem e funcionamento psicoloacutegico
Autocuidados e vida domeacutestica
Condiccedilotildees gerais de sauacutede
Mobilizaccedilatildeo de ajudas ou equipamento especializado
Participaccedilatildeo social
Transporte e educaccedilatildeo
77 PROPOSTA DE DELIMITACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em funccedilatildeo das dimensotildees caracterizadas e dos criteacuterios privilegiados desenvolveu-se o
seguinte enquadramento conceptual
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 45
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Figura 2 ndash Enquadramento conceptual da delimitaccedilatildeo do conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso da evoluccedilatildeo
Temporaacuterias permanentes
Progressivas regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou contiacutenuas
Focus
Funcionalidade ndash Niacuteveis de execuccedilatildeo das actividades por domiacutenio e niacuteveistipos de ajudas mobilizadas
Abordagem CIF
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo temporal do conceito
A priori
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Inter-subjectivo
Design das questotildees
Questatildeo geneacuterica sobre uma determinada condiccedilatildeo individual combinada com itens referentes a limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo e factores contextuais
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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8 CRITEacuteRIOS DE ELEGIBILIDADE DO PUacuteBLICO-ALVO E SISTEMAS DE
AVALIACcedilAtildeO
A operacionalizaccedilatildeo do conceito de incapacidade tem sido abordada de forma heterogeacutenea
entre diferentes modalidades de politica e os diferentes contextos socioculturais de cada paiacutes
De uma forma geral encontram-se 2 eixos criacuteticos na sua operacionalizaccedilatildeo
a) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de trabalho (na ocupaccedilatildeo preacutevia ou numa nova
ocupaccedilatildeo ajustada agraves alteraccedilotildees funcionais)
b) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de obter rendimentos provenientes do trabalho
A explicitaccedilatildeo dos criteacuterios de delimitaccedilatildeo do conceito de incapacidade nos diferentes paiacuteses
encontra-se na Quadro 4
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Austraacutelia 2 Criteacuterios possuir uma incapacidade que resulte
num score nunca inferior a 20 nas tabelas de
incapacidades e incapacidade em trabalhar 30
horas ou mais por semana ou em ser
reconvertido para trabalho em contexto regular
nos proacuteximos 2 anos
Nenhum
Aacuteustria 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho (50
de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo para
trabalhadores sem qualificaccedilotildees) papel criacutetico
das decisotildees dos tribunais devido a definiccedilotildees
legais imprecisas
Nenhum mas as
restriccedilotildees de sauacutede
devem ter uma duraccedilatildeo
igual ou superior a 6
meses
Beacutelgica 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na actual ocupaccedilatildeo
1 ano
Canada Incapacidade severa e prolongada que impeccedila de
desenvolver trabalho numa base regular
Nenhum
Dinamarca 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum mas a
reabilitaccedilatildeo precisa de
estar completa
Franccedila 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual mas a
totalidade do subsidio requer igualmente perda de
capacidade de trabalho
Nenhum no caso das
condiccedilotildees estarem
estaacuteveis mas muito
frequentemente apoacutes 3
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 47
Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
anos
Alemanha 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho a
incapacidade parcial eacute calculada em funccedilatildeo do nordm
de horas que a pessoa pode trabalhar
Nenhum mas a
incapacidade deve ter
uma duraccedilatildeo miacutenima
de 26 semanas
Itaacutelia 666reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum
Coreia Criteacuterios meacutedicos (niacuteveis de incapacidade
definidos de forma detalhada)
Periacuteodo de espera de
50 dias (os subsiacutedios
de doenccedila natildeo se
encontram disponiacuteveis)
Meacutexico 50 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo Nenhum
Holanda 15 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
(25 para os trabalhadores por conta proacutepria e
jovens com incapacidade) grau de incapacidade
calculado pela diferenccedila de remuneraccedilatildeo entre o
actual posto de trabalho compatiacutevel com as
limitaccedilotildees funcionais e o anterior
1 ano
Noruega 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho O
grau de subsiacutedio eacute calculado pela capacidade de
remuneraccedilatildeo
Nenhum (apoacutes ter
completado a
reabilitaccedilatildeo vocacional)
Poloacutenia Reduccedilatildeo temporaacuteria ou permanente da
capacidade de trabalho
Nenhum
Portugal 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual
Nenhum mas na
praacutetica ao fim de 3
anos (fim do periacuteodo de
doenccedila de longo termo)
Espanha 33 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho na
ocupaccedilatildeo actual incapacidade para todo e
qualquer trabalho para a totalidade do subsiacutedio
1 ano (embora seja
possiacutevel a candidatura
antes deste prazo em
casos de incapacidade
permanente)
Sueacutecia 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho grau
de incapacidade parcial calculado a partir das
horas que uma pessoa pode trabalhar
Nenhum
Suiccedila 40 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho para
as pessoas inactivas o grau de incapacidade eacute
calculado em relaccedilatildeo aacute actividade actual
1 ano
Turquia 666 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho
com um focus meacutedico bastante significativo
Nenhum
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 48
Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Reino Unido Limitaccedilotildees nas actividades de vida quotidianas
relevantes para o trabalho (avaliaccedilotildees meacutedicas
predominantes) teste ocupacional durante a s
primeiras 28 semanas (subsidio de doenccedila)
28 semanas
Estados
Unidos
Reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
incapacidade em investir numa actividade
profissional com rendimentos ($ US 740 por mecircs)
5 meses (nem sempre
cobertos pelos
subsiacutedios de curto-
termo) e 24 meses
para a cobertura
meacutedica
Quadro 4 ndash Definiccedilotildees de incapacidade e tempos regulamentares
Um dos desafios que se coloca aos actuais sistemas reside na delimitaccedilatildeo da elegibilidade do
puacuteblico-alvo Para cumprir este objectivo satildeo necessaacuterios sistemas de avaliaccedilatildeo holiacutesticos
abrangentes coerentes e que permitam chegar a resultados de forma consistente e com
validade interna No actual contexto a CIF propotildee constituir-se como o instrumento conceptual
abrangente para caracterizar os diferentes domiacutenios e niacuteveis de funcionalidade incapacidade
de forma coerente e integrada Neste sentido uma das vantagens apontadas para a adopccedilatildeo
do modelo desenvolvido pela OMS eacute a possibilidade de uniformizaccedilatildeo de conceitos e portanto
da utilizaccedilatildeo de uma linguagem padratildeo que permita a comunicaccedilatildeo entre investigadores
gestores profissionais de sauacutede organizaccedilotildees da sociedade civil e utilizadores em geral
Um dos campos de estudo mais explorados para a aplicaccedilatildeo da CIF tem sido a aacuterea de
Medicina Fiacutesica e de Reabilitaccedilatildeo no que concerne ao acompanhamento do estado de sauacutede
dos pacientes em tratamento O uso da CIF tem sido considerado tambeacutem na avaliaccedilatildeo apoacutes
transtornos agudos condiccedilotildees traumaacuteticas condiccedilotildees croacutenicas e na geriatria
Alguns autores argumentam que a CIF deve ser explorada como uma base de informaccedilotildees
padronizadas em estudos sobre incapacidade profissional quando haacute necessidade de
relacionar dados de sauacutede ocupacional com os da Seguranccedila Social
Na Sauacutede Puacuteblica tradicionalmente pouca atenccedilatildeo tem sido dada agraves pessoas com
incapacidades No entanto ao lado de recentes investimentos por parte de organizaccedilotildees e de
alguns governos a publicaccedilatildeo do modelo da CIF fornece as bases para as poliacuteticas e
disciplinas da Sauacutede Puacuteblica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo que apresenta deficiecircncias e
incapacidades Assim uma das possibilidades de uso da CIF pode ser a contribuiccedilatildeo para
responder a importantes questotildees de sauacutede puacuteblica tais como qual o estado de sauacutede das
pessoas com deficiecircncias comparadas com as demais que necessidades e que tipos de
intervenccedilotildees satildeo mais adequadas para reduzir condiccedilotildees secundaacuterias e promover a
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na sociedade entre outras
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 49
Dezembro2006
Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 50
Dezembro2006
Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 51
Dezembro2006
Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
Dezembro2006
Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 53
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
4 ANAacuteLISE PRELIMINAR DA EVOLUCcedilAtildeO DA TERMINOLOGIA NO
DOMIacuteNIO 41 ESTADO DA ARTE
A evoluccedilatildeo dos conceitos operativos nos domiacutenios da reabilitaccedilatildeo e da inclusatildeo social tem
sido reflectida nas diversas classificaccedilotildees propostas pela OMS Neste quadro evolutivo a
uacuteltima classificaccedilatildeo proposta ndash CIF ndash constitui-se como um modelo de siacutentese entre a
abordagem meacutedica e a abordagem social no domiacutenio da incapacidade e da sauacutede No sentido
de procedermos agrave anaacutelise dos principiais conceitos e termos focalizar-nos-emos na
reestruturaccedilatildeo conceptual proposta pela Classificaccedilatildeo Internacional de Funcionalidade
Incapacidade e Sauacutede (CIF)
O objectivo geral da CIF eacute proporcionar uma linguagem unificada e padronizada assim como
uma estrutura de trabalho para a descriccedilatildeo da sauacutede e de estados relacionados com a sauacutede
A classificaccedilatildeo define os componentes da sauacutede e alguns componentes do bem-estar
relacionados com a sauacutede (tais como educaccedilatildeo e trabalho) Os domiacutenios contidos na CIF
podem portanto ser considerados como domiacutenios da sauacutede e domiacutenios relacionados com a
sauacutede Estes domiacutenios satildeo descritos com base na perspectiva do corpo do indiviacuteduo e da
sociedade em duas listas baacutesicas (1) Funccedilotildees e Estruturas do Corpo e (2) Actividades e
Participaccedilatildeo Como classificaccedilatildeo a CIF agrupa sistematicamente diferentes domiacutenios de uma
pessoa com uma determinada condiccedilatildeo de sauacutede (eg o que uma pessoa com uma doenccedila
ou perturbaccedilatildeo faz ou pode fazer) A funcionalidade eacute um termo que engloba todas as funccedilotildees
do corpo actividades e participaccedilatildeo de maneira similar a incapacidade eacute um termo que inclui
deficiecircncias limitaccedilatildeo da actividade ou restriccedilatildeo na participaccedilatildeo A CIF tambeacutem relaciona os
factores ambientais que interagem com todos estes constructos Neste sentido a classificaccedilatildeo
permite ao utilizador registar perfis uacuteteis da funcionalidade incapacidade e sauacutede dos
indiviacuteduos em vaacuterios domiacutenios
A CIF pertence agrave ldquofamiacuteliardquo das classificaccedilotildees internacionais desenvolvida pela OMS para
aplicaccedilatildeo em vaacuterios aspectos da sauacutede A famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS
proporciona um sistema para a codificaccedilatildeo de uma ampla gama de informaccedilotildees sobre sauacutede
(eg diagnoacutestico funcionalidade e incapacidade motivos de contacto com os serviccedilos de
sauacutede) e utiliza uma linguagem comum padronizada que permite a comunicaccedilatildeo sobre sauacutede e
cuidados de sauacutede em todo o mundo entre vaacuterias disciplinas e ciecircncias
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 21
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Nas classificaccedilotildees internacionais da OMS os estados de sauacutede (doenccedilas perturbaccedilotildees
lesotildees etc) satildeo classificados principalmente na CID-10 (abreviatura da Classificaccedilatildeo
Internacional de Doenccedilas Deacutecima Revisatildeo) que fornece uma estrutura de base etioloacutegica A
funcionalidade e a incapacidade associadas aos estados de sauacutede satildeo classificadas na CIF
Portanto a CID-10 e a CIF satildeo complementares e os utilizadores satildeo estimulados a usar em
conjunto esses dois membros da famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS A CID-10
proporciona um ldquodiagnoacutesticordquo de doenccedilas perturbaccedilotildees ou outras condiccedilotildees de sauacutede que eacute
complementado pelas informaccedilotildees adicionais fornecidas pela CIF sobre funcionalidade Em
conjunto as informaccedilotildees sobre o diagnoacutestico e sobre a funcionalidade datildeo uma imagem mais
ampla e mais significativa da sauacutede das pessoas ou da populaccedilatildeo que pode ser utilizada em
tomadas de decisatildeo
A famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS constitui uma ferramenta valiosa para a
descriccedilatildeo e a comparaccedilatildeo da sauacutede das populaccedilotildees num contexto internacional As
informaccedilotildees sobre a mortalidade (facultadas pela CID-10) e sobre as consequecircncias na sauacutede
(proporcionadas pela CIF) podem ser combinadas de forma a obter medidas sinteacuteticas da
sauacutede das populaccedilotildees Isto permite seguir a sauacutede das populaccedilotildees e a sua distribuiccedilatildeo bem
como avaliar a parte atribuiacuteda agraves diferentes causas
A CIF transformou-se de uma classificaccedilatildeo de ldquoconsequecircncias da doenccedilardquo (versatildeo de 1980)
numa classificaccedilatildeo de ldquocomponentes da sauacutederdquo Os ldquocomponentes da sauacutederdquo identificam o que
constitui a sauacutede enquanto que as consequecircncias se referem ao impacto das doenccedilas na
condiccedilatildeo de sauacutede da pessoa Deste modo a CIF assume uma posiccedilatildeo neutra em relaccedilatildeo agrave
etiologia de modo que os investigadores podem desenvolver inferecircncias causais utilizando
meacutetodos cientiacuteficos adequados De maneira similar esta abordagem tambeacutem eacute diferente de
uma abordagem do tipo determinantes da sauacutede ou ldquofactores de risco Para facilitar o estudo
dos determinantes ou dos factores de risco a CIF inclui uma lista de factores ambientais que
descrevem o contexto em que o indiviacuteduo vive
A CIF descreve a funcionalidade e a incapacidade relacionadas com as condiccedilotildees de sauacutede
identificando o que uma pessoa ldquopode ou natildeo pode fazer na sua vida diaacuteriardquo tendo em vista as
funccedilotildees dos oacutergatildeos ou sistemas e estruturas do corpo assim como as limitaccedilotildees de
actividades e da participaccedilatildeo social no meio ambiente onde a pessoa vive Segundo a OMS a
CID-10 e a CIF satildeo complementares a informaccedilatildeo sobre o diagnoacutestico acrescido da
funcionalidade fornece um quadro mais amplo sobre a sauacutede do indiviacuteduo ou populaccedilotildees Por
exemplo duas pessoas com a mesma doenccedila podem ter diferentes niacuteveis de funcionalidade e
duas pessoas com o mesmo niacutevel de funcionalidade natildeo tecircm necessariamente a mesma
condiccedilatildeo de sauacutede
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 22
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
O termo do modelo da CIF eacute a funcionalidade que cobre os componentes de funccedilotildees e
estruturas do corpo actividade e participaccedilatildeo social A funcionalidade eacute usada no aspecto
positivo e o aspecto negativo corresponde agrave incapacidade Segundo esse modelo a
incapacidade eacute resultante da interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada pelo indiviacuteduo (seja
orgacircnica e ou da estrutura do corpo) a limitaccedilatildeo de suas actividades e a restriccedilatildeo na
participaccedilatildeo social e os factores ambientais que podem actuar como facilitadores ou barreiras
para o desempenho dessas actividades e da participaccedilatildeo
A CIF eacute baseada portanto numa abordagem biopsicossocial que incorpora os componentes
de sauacutede nos niacuteveis corporais e sociais Assim na avaliaccedilatildeo de uma pessoa com deficiecircncias
e incapacidades esse modelo destaca-se do biomeacutedico baseado no diagnoacutestico etioloacutegico da
disfunccedilatildeo evoluindo para um modelo que incorpora as trecircs dimensotildees a biomeacutedica a
psicoloacutegica (dimensatildeo individual) e a social Nesse modelo cada niacutevel age sobre e sofre a
acccedilatildeo dos demais sendo todos influenciados pelos factores ambientais A OMS pretende
incorporar tambeacutem no futuro os factores pessoais importantes na forma de lidar com as
condiccedilotildees limitantes
O objectivo pragmaacutetico da CIF eacute fornecer uma linguagem padronizada e um modelo para a
descriccedilatildeo da sauacutede e dos estados relacionados com a sauacutede permitindo a comparaccedilatildeo de
dados referentes a essas condiccedilotildees entre paiacuteses serviccedilos sectores relativos agrave sauacutede bem
como o acompanhamento da sua evoluccedilatildeo no tempo
No entanto os conceitos apresentados na classificaccedilatildeo introduzem um novo paradigma para
pensar e trabalhar as deficiecircncias e incapacidades elas natildeo satildeo apenas uma consequecircncia
das condiccedilotildees de sauacutede doenccedila mas satildeo determinadas tambeacutem pelo contexto do meio
ambiente fiacutesico e social pelas diferentes percepccedilotildees culturais e atitudes em relaccedilatildeo agrave
deficiecircncias pela disponibilidade de serviccedilos e de legislaccedilatildeo Dessa forma a classificaccedilatildeo natildeo
constitui apenas um instrumento para medir o estado funcional dos indiviacuteduos Aleacutem disso ela
permite avaliar as condiccedilotildees de vida e fornecer subsiacutedios para poliacuteticas de inclusatildeo social
42 FUNCcedilOtildeES DO CORPO
As Funccedilotildees do corpo satildeo as funccedilotildees fisioloacutegicas dos sistemas orgacircnicos (incluindo as
funccedilotildees psicoloacutegicas)
As funccedilotildees e as estruturas do corpo satildeo classificadas em duas secccedilotildees diferentes Essas duas
classificaccedilotildees estatildeo concebidas de forma a serem utilizadas em paralelo Por exemplo as
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Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
funccedilotildees do corpo incluem sentidos humanos baacutesicos como as funccedilotildees da visatildeo e as
estruturas relacionadas aparecem na forma de ldquoolho e estruturas relacionadasrdquo
43 ESTRUTURAS DO CORPO
As Estruturas do Corpo satildeo as partes anatoacutemicas do corpo tais como oacutergatildeos membros e
seus componentes
ldquoCorpo refere-se ao organismo humano como um todo por isso o ceacuterebro e as suas funccedilotildees
ie a mente estatildeo incluiacutedos As funccedilotildees mentais (ou psicoloacutegicas) satildeo portanto incluiacutedas nas
funccedilotildees do corpo As funccedilotildees e as estruturas do corpo satildeo classificadas de acordo com os
sistemas orgacircnicos por isso as estruturas do corpo natildeo satildeo consideradas como oacutergatildeos no
seu sentido restrito
44 DEFICIEcircNCIA
Deficiecircncias satildeo problemas nas funccedilotildees ou na estrutura do corpo tais como um desvio
importante ou uma perda
As deficiecircncias de estrutura podem consistir numa anormalidade defeito perda ou outro desvio
importante relativamente a um padratildeo das estruturas do corpo As deficiecircncias foram definidas
de acordo com os conhecimentos bioloacutegicos actuais ao niacutevel de tecidos ou das ceacutelulas e ao
niacutevel subcelular ou molecular Por motivos praacuteticos no entanto esses niacuteveis natildeo estatildeo
classificados As bases bioloacutegicas das deficiecircncias orientaram essa classificaccedilatildeo e eacute possiacutevel
expandir a classificaccedilatildeo para incluir os niacuteveis celular ou molecular Do ponto de vista meacutedico
deve-se ter em mente que as deficiecircncias natildeo satildeo equivalentes agraves patologias subjacentes mas
sim a manifestaccedilotildees dessas patologias
As deficiecircncias correspondem a um desvio relativamente ao que eacute geralmente aceite como
estado biomeacutedico normal (padratildeo) do corpo e das suas funccedilotildees A definiccedilatildeo dos seus
componentes eacute feita essencialmente por pessoas com competecircncia para avaliar a
funcionalidade fiacutesica e mental de acordo com esses padrotildees
As deficiecircncias podem ser temporaacuterias ou permanentes progressivas regressivas ou estaacuteveis
intermitentes ou contiacutenuas O desvio em relaccedilatildeo ao modelo baseado na populaccedilatildeo e
geralmente aceite como normal pode ser leve ou grave e pode variar ao longo do tempo Estas
caracteriacutesticas satildeo consideradas posteriormente em descriccedilotildees adicionais principalmente nos
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Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
coacutedigos atraveacutes de um qualificador que se acrescenta ao coacutedigo e do qual fica separado por
um ponto
As deficiecircncias natildeo tecircm uma relaccedilatildeo causal com a etiologia ou com a forma como se
desenvolveram Por exemplo a perda da visatildeo ou de um membro pode resultar de uma
anormalidade geneacutetica ou de uma lesatildeo A presenccedila de uma deficiecircncia implica
necessariamente uma causa No entanto a causa pode natildeo ser suficiente para explicar a
deficiecircncia resultante Da mesma forma quando haacute uma deficiecircncia haacute uma disfunccedilatildeo das
funccedilotildees ou estruturas do corpo mas isto pode estar relacionado com qualquer doenccedila
perturbaccedilatildeo ou estado fisioloacutegico
As deficiecircncias podem ser parte ou uma expressatildeo de uma condiccedilatildeo de sauacutede mas natildeo
indicam necessariamente a presenccedila de uma doenccedila ou que o indiviacuteduo deva ser
considerado doente
As deficiecircncias cobrem um campo mais vasto que as perturbaccedilotildees ou as doenccedilas Por
exemplo a perda de uma perna eacute uma deficiecircncia de uma estrutura do corpo mas natildeo eacute uma
perturbaccedilatildeo ou uma doenccedila
As deficiecircncias podem originar outras deficiecircncias Por exemplo a diminuiccedilatildeo da forccedila
muscular pode prejudicar as funccedilotildees do movimento as funccedilotildees cardiacuteacas podem estar
relacionadas com o deacutefice das funccedilotildees respiratoacuterias e uma percepccedilatildeo prejudicada pode estar
relacionada com as funccedilotildees do pensamento
Actualmente na perspectiva da CIF o conceito de deficiecircncia constitui o poacutelo negativo da
componente ldquoFunccedilotildees e Estrutura do Corpordquo sendo descrito atraveacutes da existecircncia de
alteraccedilotildees significativas das funccedilotildees eou das estruturas do corpo O poacutelo positivo desta
componente refere-se agrave integridade funcional e estrutural Neste contexto um dos desafios
criacuteticos das poliacuteticas sociais consiste na operacionalizaccedilatildeo do conceito de deficiecircncia de forma
a que a elegibilidade dos diferentes puacuteblicos alvo se encontre devidamente delimitada
assegurando a eficaacutecia das medidas subjacentes
No entanto a amplitude e abrangecircncia da definiccedilatildeo do conceito de deficiecircncia proposta pela
OMS atraveacutes da CIF coloca um enorme desafio na medida em que qualquer cidadatildeo desde
que apresente um desvio significativo ao niacutevel da estrutura eou funccedilatildeo passa a ser um
potencial beneficiaacuterio das poliacuteticas neste domiacutenio Neste contexto poder-se-atildeo colocar vaacuterias
questotildees A primeira eacute se interessa agraves diferentes poliacuteticas no sector continuarem a ser
desenvolvidas tendo por focus o conceito de pessoas com deficiecircncias sabendo que a sua
distinccedilatildeo ao longo da populaccedilatildeo apenas poderaacute ser feita atraveacutes do niacutevel e extensatildeo da
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
alteraccedilatildeo da integridade estrutural e funcional de cada individuo A segunda questatildeo prende-se
com as consequecircncias conceptuais decorrentes da integraccedilatildeo do modelo social na formulaccedilatildeo
e operacionalizaccedilatildeo dos conceitos a serem utilizados pelas poliacuteticas no sector na medida em
que o aspecto critico deixa de ser a natureza e severidade da deficiecircncia para passar a centrar-
se no niacutevel e tipo de restriccedilotildees de participaccedilatildeo que cada cidadatildeo experiencia na interacccedilatildeo
com os seus contextos de vida
No que concerne agrave primeira questatildeo e atendendo a que a mais recente definiccedilatildeo do conceito
de deficiecircncia proposto pela OMS apresenta um elevado niacutevel de abrangecircncia e um reduzido
potencial diferenciador poderemos equacionar 2 hipoacuteteses centrais de operacionalizaccedilatildeo
a) A primeira hipoacutetese baseia-se na possibilidade de operacionalizar diferentes definiccedilotildees
de deficiecircncia ao longo das diferentes poliacuteticas sociais no sentido de assegurar que as
diferentes medidas alcanccedilam efectivamente as pessoas para as quais foram
elaboradas Esta perspectiva tem a vantagem de uma maior focalizaccedilatildeo nas
caracteriacutesticas especificas do puacuteblico-alvo mas no entanto apresenta uma grande
desvantagem que consiste na elevada probabilidade das diferentes definiccedilotildees
perderem a coerecircncia entre si fragmentando igualmente o modelo teoacuterico a partir do
qual se deveriam basear
b) A segunda hipoacutetese consiste na articulaccedilatildeo operativa de dois conceitos o de
deficiecircncia e o de restriccedilotildees de participaccedilatildeo Nesta perspectiva a elegibilidade de uma
determinada politica social baseia-se na validaccedilatildeo preacutevia da existecircncia da primeira
condiccedilatildeo do puacuteblico-alvo ndash a existecircncia de uma deficiecircncia ndash determinando logo de
seguida o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo a partir do qual os diferentes cidadatildeos
passam a poder aceder agraves medidas especiacuteficas nela contidas O desafio contido nesta
hipoacutetese consiste na necessidade de desenvolvimento de um sistema de avaliaccedilatildeo que
permita avaliar o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo experimentado pelas pessoas com
deficiecircncias determinando atraveacutes do valor aferido quais seriam as pessoas com
acesso agraves medidas Neste cenaacuterio natildeo bastaria que uma pessoa tivesse uma
deficiecircncia pelo que seria necessaacuterio avaliar os efeitos da deficiecircncia em interacccedilatildeo
com o ambiente social ao niacutevel da participaccedilatildeo no sentido de determinar a
elegibilidade As vantagens desta hipoacutetese relacionam-se com (i) a preservaccedilatildeo do
niacutevel de coerecircncia dos conceitos utilizados ao longo das diferentes poliacuteticas sociais (ii)
a existecircncia de um processo comum de afericcedilatildeo e determinaccedilatildeo da elegibilidade ao
longo dos diferentes sectores de politica (iii) a compatibilidade e adequabilidade dos
princiacutepios teoacutericos do modelo social com a operacionalizaccedilatildeo dos sistemas e medidas
poliacuteticos de apoio agraves pessoas com deficiecircncias e (iv) a existecircncia de mecanismos de
avaliaccedilatildeo de elevada transparecircncia controlabilidade e rigor
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
45 INCAPACIDADE
Do ponto de vista de utilizaccedilatildeo dos conceitos de Deficiecircncia e de Incapacidade em Portugal
tecircm subsistido vaacuterias imprecisotildees terminoloacutegicas Primeiro na generalidade dos documentos
internacionais alude-se ao termo ldquopeople with disabilitiesrdquo sendo que invariavelmente esta
expressatildeo eacute traduzida para Portuguecircs como ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo Tal facto parece criar
condiccedilotildees para uma grande permeabilidade semacircntica dificilmente resoluacutevel do ponto de vista
conceptual Segundo deficiecircncia e incapacidade satildeo claramente dois conceitos distintos
Enquanto a deficiecircncia remete para alteraccedilotildees significativas ao niacutevel das estruturas eou das
funccedilotildees do corpo a incapacidade constitui o poacutelo negativo do funcionamento humano em
situaccedilatildeo potencial ou efectiva de participaccedilatildeo no contexto de vida Este facto pressupotildee que os
conceitos de deficiecircncia e de incapacidade natildeo contecircm nenhuma relaccedilatildeo causal entre si nem
nenhuma relaccedilatildeo linear de frequecircncia na medida em que eacute possiacutevel existir uma deficiecircncia
sem que exista uma incapacidade e eacute possiacutevel emergir uma determinada incapacidade sem
que haja uma qualquer deficiecircncia
Deste modo eacute possiacutevel
a) Ter deficiecircncias sem limitaccedilotildees de capacidade (eg uma desfiguraccedilatildeo resultante da
doenccedila de Hansen pode natildeo ter efeito sobre a capacidade da pessoa
b) Ter problemas de desempenho e limitaccedilotildees de capacidade sem deficiecircncias evidentes
(eg reduccedilatildeo de desempenho nas actividades diaacuterias associada a vaacuterias doenccedilas)
c) Ter problemas de desempenho sem deficiecircncias ou limitaccedilotildees de capacidade (eg um
indiviacuteduo HIV positivo ou um ex-doente curado de doenccedila mental que enfrenta
estigmas ou descriminaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais ou no trabalho)
d) Ter limitaccedilotildees de capacidade se natildeo tiver assistecircncia e nenhum problema de
desempenho no ambiente habitual (eg um indiviacuteduo com limitaccedilotildees de mobilidade
pode beneficiar por parte da sociedade de ajudas tecnoloacutegicas de assistecircncia para se
movimentar
e) Experimentar um grau de influecircncia em sentido contraacuterio (eg a inactividade dos
membros pode levar agrave atrofia muscular a institucionalizaccedilatildeo pode resultar numa perda
da socializaccedilatildeo)
Daqui resulta que ao referirmo-nos agraves pessoas com deficiecircncias enquanto puacuteblico-alvo
privilegiado das medidas de reabilitaccedilatildeo poderemos incorrer num desvio significativo de
alocaccedilatildeo dos recursos agraves reais necessidades das pessoas na medida em que natildeo eacute a
deficiecircncia que gera por si mesma a necessidade de reabilitaccedilatildeo mas sim as limitaccedilotildees de
actividade e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo decorrentes da interacccedilatildeo entre as caracteriacutesticas
biopsicossociais e as caracteriacutesticas dos ambientes em que o individuo se move
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
A persistecircncia em traduzir o termo disability para deficiecircncia e natildeo apenas o seu homoacutelogo
anglo-saxoacutenico ndash impairment ndash poderaacute explicar-se pelas seguintes razotildees
a) O potencial efeito estigmatizante da expressatildeo ldquopessoas com incapacidadesrdquo ser maior
do que aquele contido na expressatildeo ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo
b) O termo incapacidade centrar-se exclusivamente nos aspectos negativos do
funcionamento individual classificando a pessoa agrave partida como sendo destituiacuteda de
competecircncias e condiccedilotildees para atingir os niacuteveis normativos de desempenho e
performance num conjunto de domiacutenios da vida pessoal e social
O paradoxo surge igualmente porque enquanto no modelo meacutedico a incapacidade aparece
em termos causais relacionada com a deficiecircncia numa perspectiva exclusivamente individual
no modelo proposto pela OMS operacionalizado na CIF os dois conceitos gozam de total
independecircncia conceptual e operativa sendo que a deficiecircncia passa a ter uma baixa
relevacircncia diferenciadora do ponto de vista do funcionamento humano Ora se atendermos a
que as medidas de reabilitaccedilatildeo pretendem promover os potenciais do funcionamento humano
numa perspectiva de participaccedilatildeo plena do indiviacuteduo nos mais diferenciados contextos de vida
assegurando o co-desenvolvimento de todos os actores e das estruturas sociais necessaacuterias agrave
cidadania plena entatildeo falar de ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo natildeo soacute natildeo eacute relevante no quadro
da loacutegica de intervenccedilatildeo como poderaacute traduzir dificuldades dos actores em mudar
efectivamente do paradigma meacutedico para o paradigma social
Este fenoacutemeno aliaacutes natildeo acontece apenas em Portugal sendo que recentes estudos de
investigaccedilatildeo vieram sugerir a adopccedilatildeo dos conceitos de ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo e
ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo para ultrapassar a aplicaccedilatildeo indevida dos
conceitos de deficiecircncia e incapacidade A utilizaccedilatildeo destes conceitos parece articular de forma
mais precisa com o novo modelo conceptual proposto pela OMS enfatizando a diversidade de
niacuteveis de funcionamento humano e apelando a uma certa noccedilatildeo de relatividade socialmente
construiacuteda Uma das criticas feita pela comunidade de investigadores ao conceito de ldquopessoas
com diversidade funcionalrdquo reside no facto de que a expressatildeo eacute dotada de um tatildeo elevado
niacutevel de abrangecircncia que natildeo permite um niacutevel de diferenciaccedilatildeo relevante na medida em que
todos os cidadatildeos detecircm entre si diversos e diferentes padrotildees de funcionamento humano
Neste sentido o conceito ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo aplicar-se-ia a todos os
cidadatildeos sem excepccedilatildeo A proliferaccedilatildeo destes termos eacute explicada pela necessidade da
comunidade politica e cientifica de construir constructos que sejam socialmente aceites e o
mais neutros possiacuteveis do ponto de vista dos seus valores impliacutecitos No entanto a
impossibilidade epistemoloacutegica de desenvolver expressotildees e conceitos socio-historicamente
neutros parece levar muitas vezes agrave concepccedilatildeo de definiccedilotildees com reduzida identidade isto eacute
de significado demasiado amplo e abrangente o que na expressatildeo da UPIAS ldquopodem significar
tudo e coisiacutessima nenhumardquo (2005)
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Os conceitos ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo ldquopessoas com limitaccedilotildees de
actividaderdquo e ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo afiguram-se comparativamente ao
anterior como um conceito de maior coerecircncia conceptual com o modelo proposto pela OMS e
deteacutem cumulativamente um maior poder diferenciador A sua desvantagem reside no facto de
constituiacuterem expressotildees com maior dificuldade de apreensatildeo e inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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5 ANAacuteLISE DOS REFERENCIAIS NACIONAIS E INTERNACIONAIS
No sentido de obter um conjunto de vectores de referecircncia na estruturaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo do
conceito de deficiecircncia foram analisadas as abordagens desenvolvidas pelos seguintes
organismos INE Eurostat OCDE American Disabilities Act WHO UN
51 INE
Os dados disponiacuteveis no INE parecem indicar a utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na
ICIDH
Deficiecircncia1 Perda ou alteraccedilatildeo de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou
anatoacutemica Nesta definiccedilatildeo estatildeo incluiacutedas as seguintes tipologias2
Deficiecircncia AUDITIVA
Deficiecircncia MENTAL
Deficiecircncia MOTORA
Deficiecircncia ORGAcircNICO-FUNCIONAL
Deficiecircncia PSIQUIAacuteTRICA
Deficiecircncia VISUAL
Incapacidade3 Ausecircncia ou limitaccedilatildeo da capacidade para funcionar estando comprometida a
realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida
diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e originando uma desvantagem para funcionar em
sociedade face a outros
Pessoa deficiente Aquela que tenha uma ou mais das seguintes deficiecircncias a) deficiecircncia
visual b) deficiecircncia auditiva c) deficiecircncia mental d) deficiecircncia motora
1 Nota Na operaccedilatildeo censitaacuteria de 2001 apenas foi observada a deficiecircncia permanente a deficiecircncia temporaacuteria natildeo foi considerada (por exemplo se um indiviacuteduo se desloca com canadianas ou em cadeira de rodas porque partiu uma perna ou se sofre de descolamento parcial da retina que o obriga a andar com uma venda natildeo foi considerado como tendo uma deficiecircncia) 2 Fonte INE ndash Censos 2001 ndash Recenseamento Geral da Populaccedilatildeo (Antecedentes Metodologia e Conceitos) Antecedentes Metodologia e Conceitos 3 Fonte INS ndash Inqueacuterito Nacional agrave Sauacutede
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Trabalhador deficiente Trabalhador que estaacute incapacitado para assegurar por si mesmo total
ou parcialmente a satisfaccedilatildeo de necessidades de uma vida individual ou social normal devido
a uma deficiecircncia congeacutenita ou adquirida das suas capacidades fiacutesicas sensoriais ou
mentais tendo por isso dificuldade em obter eou manter o desempenho de funccedilotildees de acordo
com as suas habilitaccedilotildees idade e experiecircncia profissional
Cidadatildeo Trabalhador com necessidades especiais Cidadatildeo idoso ou portador de
deficiecircncias sensoriais (visuais e auditivas) fiacutesicas (motoras) e cognitivas
52 EUROSTAT
Os dados disponibilizados pelo Eurostat no seu endereccedilo electroacutenico4 parecem indicar a
utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na ICIDH
Conceito Deficiecircncia5
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de deficiecircncia refere-se a uma perda ou alteraccedilatildeo
de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou anatoacutemica
Conceito Incapacidade6
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de incapacidade refere-se agrave ausecircncia ou limitaccedilatildeo
da capacidade para funcionar estando comprometida a realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas
funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e
originando uma desvantagem para funcionar em sociedade face a outros
Conceito Desvantagem7
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito refere-se agrave desvantagem para um dado individuo
decorrente de uma deficiecircncia ou incapacidade
4 httpforumeuropaeuintircdsiscodedinfodatacodedenTheme3htm 5 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 6 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 7 Fonte Key data on health 2000 Eurostat
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
53 OCDE
Definiccedilotildees gerais de incapacidade
No contexto da OCDE identificam-se 2 abordagens distintas no quadro da definiccedilatildeo de
incapacidade
A incapacidade pode ser definida enquanto um estado decorrente de autoavaliaccedilatildeo ou um
status baseado em fontes administrativas eg beneficiaacuterio dos apoios De forma muito
frequente e talvez de forma imprecisa estas duas definiccedilotildees satildeo explicitadas como
incapacidade ldquosubjectivardquo versus rdquoobjectivardquo
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo e instrumentos
A incapacidade autoavaliada eacute medida atraveacutes de inqueacuteritos feitos directamente aos cidadatildeos
nas suas residecircncias Apesar da avaliaccedilatildeo ser baseada de uma forma geral nas respostas agraves
questotildees relativas a problemas de sauacutede de longo termo que limitam as actividades de vida
diaacuteria o detalhe das questotildees eacute geralmente diferente dificultando a comparabilidade dos
dados Por exemplo ldquolongo termordquo eacute parametrizado em 6 meses na Noruega e em 12 meses
na Suiccedila O status dos beneficiaacuterios pode ser avaliado atraveacutes de registos administrativos ou
atraveacutes de inqueacuteritos Os resultados entre as duas fontes satildeo de uma forma geral bastante
diferentes por duas razotildees nucleares os registos administrativos geralmente contam casos e
natildeo pessoas o que em situaccedilotildees de benefiacutecios muacuteltiplos pode levar a contagens duplas por
outro lado os inqueacuteritos satildeo baseados nas respostas sobre o status do beneficiaacuterio e algumas
pessoas podem desejar natildeo revelar a sua condiccedilatildeo perante os benefiacutecios
Nenhuma destas definiccedilotildees e medidas de mensuraccedilatildeo eacute superior a outras pelo que a sua
utilizaccedilatildeo depende dos objectivos do propoacutesito da investigaccedilatildeo e da disponibilidade da
informaccedilatildeo
Abordagens para medir a incapacidade no quadro da aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos agraves populaccedilotildees
a) Incapacidade geral (natildeo especificada)
Puacuteblico-alvo todos os adultos
b) Incapacidade relativa ao trabalho
Puacuteblico-alvo pessoas em idade activa
c) Limitaccedilotildees nas actividades de vida diaacuteria (AVD)
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Puacuteblico-alvo Populaccedilatildeo idosa
54 AMERICAN DISABILITIES ACT
O American Disabilities Act (ADA) desenvolvido em 1990 fornece um conjunto de guidelines
no sentido de assegurar a disponibilizaccedilatildeo de serviccedilos para as pessoas com deficiecircncias bem
como a protecccedilatildeo dos seus direitos legais
A ADA inclui uma definiccedilatildeo legal de incapacidade consistindo na presenccedila de ldquouma deficiecircncia
fiacutesica ou mental que limita significativamente uma ou mais das principais actividades de vidardquo
Independentemente da definiccedilatildeo proposta pela ADA a existecircncia de muacuteltiplos programas a
favor das pessoas com deficiecircncias e os diferentes focus legais em diferentes puacuteblicos alvo
fazem com que tenham emergido uma multiplicidade de definiccedilotildees de incapacidade ao longo
do tempo no quadro das poliacuteticas sociais americanas
55 OMS ONU Revisatildeo dos actuais inqueacuteritos sobre a incapacidade
Apesar de existir um desenvolvimento consideraacutevel dos inqueacuteritos na aacuterea da incapacidade
poder-se-atildeo explicitar algumas observaccedilotildees relativas agrave sua multiplicidade Numa primeira linha
de anaacutelise os inqueacuteritos tendem a focalizar-se nas limitaccedilotildees de actividade eou na deficiecircncia
No que concerne agrave formulaccedilatildeo escrita tendem a existir diferenccedilas significativas entre
inqueacuteritos facto que inviabiliza natildeo raras vezes a comparabilidade dos dados entre inqueacuteritos
As diferentes formulaccedilotildees das questotildees incluem
Tem dificuldade
Eacute capaz de
Faz
Tem sentido problemas em
com ou sem assistecircncia pessoal eou tecnoloacutegica
A questatildeo que se coloca eacute se estas formulaccedilotildees tecircm o mesmo significado isto eacute se todas elas
pretendem medir a capacidade ou a performance De acordo com a CIF a capacidade
remeteria para o potencial de execuccedilatildeo de um indiviacuteduo enquanto a performance diria respeito
ao niacutevel de desempenho efectivo do indiviacuteduo atraveacutes do seu envolvimento numa situaccedilatildeo de
vida real As lacunas existentes e as poucas referecircncias ao niacutevel da forma como os inquiridos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 33
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
satildeo instruiacutedos a responder faz com que natildeo seja possiacutevel desenvolver um discernimento
irrefutaacutevel sobre esta mateacuteria
Do ponto de vista dos domiacutenios abrangidos os inqueacuteritos tecircm apresentado algumas questotildees
sobre a participaccedilatildeo e o ambiente e evidenciam algumas limitaccedilotildees na sua amplitude Os
domiacutenios de actividades e participaccedilatildeo geralmente abrangidos tecircm sido operacionalizados de
uma forma geral nas seguintes dimensotildees
Educaccedilatildeo e emprego (formulado como questotildees de performance)
Outros inqueacuteritos incluem aacutereas como relaccedilotildees interpessoais vida familiar tomada de
decisotildees etc
O domiacutenio relativo aos factores ambientais tem incluiacutedo
Utilizaccedilatildeo e acessibilidadedisponibilidade dos produtos de assistecircncia e da tecnologia
Acessibilidade do ambiente
Disponibilidade dos serviccedilos (sauacutede protecccedilatildeo social educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo)
Evidecircncias muito escassas ao niacutevel da poliacutetica atitudes ambiente natural
planeamento e concepccedilatildeo
A questatildeo de investigaccedilatildeo neste contexto centra-se na seguinte formulaccedilatildeo ldquoo que eacute que os
inqueacuteritos medem como incapacidaderdquo
a) Definiccedilatildeo a priori da incapacidade versus sem incapacidade
Alguns inqueacuteritos sobre a incapacidade especialmente os mais antigos utilizam uma definiccedilatildeo
a priori de incapacidade O objectivo deste tipo de inqueacuteritos eacute contar o nuacutemero de pessoas
que se encaixam na definiccedilatildeo no contexto da populaccedilatildeo total Neste sentido os dados satildeo
analisados de acordo com dois grupos de referecircncia ndash com incapacidade e sem incapacidade ndash
em funccedilatildeo de um conjunto de diferentes variaacuteveis Este tipo de questionaacuterios formula questotildees
do tipo ldquoPossui algum tipo de incapacidade auditiva visual ou fiacutesicardquo Muitas questotildees dos
censos tecircm utilizado este formato
b) Definiccedilatildeo a posteriori de incapacidade versus sem incapacidade
Mais recentemente alguns inqueacuteritos desenvolveram-se em direcccedilatildeo a uma definiccedilatildeo a
posteriori de incapacidade Nestes casos eacute medida a capacidade a performance ao longo de
um conjunto vasto de domiacutenios Este segundo tipo de inqueacuteritos tende a ter uma ampla
aceitaccedilatildeo eg HALS (Canada) HID (Franccedila) inqueacuterito sobre incapacidade na Africa do Sul
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Inqueacuterito Espanhol sobre incapacidade NHIS-D (USA) inqueacuterito Holandecircs entre outros Estes
instrumentos formulam questotildees relativas agraves dificuldades que as pessoas experienciam em
diferentes domiacutenios produzindo um perfil pessoal que possa colocar em evidecircncia os
diferentes graus de capacidade associados A categorizaccedilatildeo de incapacidade sem
incapacidade eacute formulada ao niacutevel do domiacutenio e natildeo como uma categoria geral de atributo
pessoal Esta abordagem permite uma anaacutelise ao niacutevel de funcionamento individual por
domiacutenio por exemplo comparando a experiecircncia de incapacidade no domiacutenio de mobilidade
versus socializaccedilatildeo versus comunicaccedilatildeo entre outros bem como o impacto dos factores
ambientais nestes diferentes domiacutenios O perfil resultante do funcionamento individual ao longo
de muacuteltiplos domiacutenios eacute similar aos estados de sauacutede individuais ao longo das diferentes
dimensotildees
Vantagens de uma abordagem a posteriori
Estaacute em consonacircncia com a abordagem universal proposta pela CIF Todas as
pessoas experienciam deficiecircncia nalgum ponto e esta experiecircncia eacute caracterizada
numa abordagem a posteriori e natildeo a priori
Decisotildees sobre a criaccedilatildeo de categorias sobre quem tem incapacidade e sobre quem
natildeo tem podem ser tomadas atraveacutes de diferentes niacuteveis de anaacutelise por exemplo
atraveacutes da anaacutelise da experiecircncia das pessoas que experienciam incapacidade em 1 2
ou 3 domiacutenios de cruzar o status de emprego de pessoas com incapacidade ao longo
dos diferentes domiacutenios etc
Deixa de ser necessaacuteria uma definiccedilatildeo tipoloacutegica e categoacuterica de pessoas com
incapacidade O que necessita de ser definido neste contexto eacute o que se designa por
limitaccedilatildeo da capacidade ou problemas de performance ao longo dos diferentes
domiacutenios
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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6 SISTEMATIZACcedilAtildeO DAS DIMENSOtildeES DE ORGANIZACcedilAtildeO E
OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em todos os estudos efectuados neste domiacutenio foi colocada em evidecircncia a actual dificuldade
de comparabilidade estatiacutestica internacional inter ou intra sectorial independentemente do
organismo referenciador ndash OCDE ONU EUROSTAT INE OMS
Neste contexto desenvolver-se-aacute a extracccedilatildeo de conhecimento tendo por base a identificaccedilatildeo
de um conjunto de eixos de anaacutelise que actuem como vectores de estruturaccedilatildeo na
operacionalizaccedilatildeo do conceito A este propoacutesito atente-se no Quadro 2
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Abordagem Focus Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Delimitaccedilatildeo temporal do
conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo
Design das questotildees
CID-10
ICIDH
ICF
SauacutedeDoenccedila
Deficiecircncia
Incapacidade
a) Geral
b) Relativa ao trabalho
c) Limitaccedilotildees nas
actividades de vida
diaacuteria
Funcionalidade ndash
Niacuteveis de execuccedilatildeo
das actividades por
domiacutenio e niacuteveistipos
de ajudas mobilizadas
Intersubjectivo ndash
vg inqueacuteritos
Objectivo ndash vg
fontes administrativas
A priori
A posteriori
Temporaacuterias
permanentes
Progressivas
regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou
contiacutenuas
Tipo 1 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre uma determinada
condiccedilatildeo individual
combinada com itens
referentes a limitaccedilotildees de
actividade e participaccedilatildeo e
factores contextuais
Tipo 2 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre a presenccedila de uma
pessoa com incapacidade
no agregado familiar
seguindo-se uma lista de
deficiecircncias e
incapacidades
Tipo 3 ndash Checklist de
deficiecircncias
Quadro 2 ndash Eixos de operacionalizaccedilatildeo do conceito
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7 ESCOLHA DO CENAacuteRIO A IMPLEMENTAR
A anaacutelise do Quadro 2 permite-nos uma definiccedilatildeo modular do cenaacuterio a implementar atraveacutes de
uma configuraccedilatildeo do conceito pelos eixos de anaacutelise propostos Uma das dificuldades
evidentes nesta delimitaccedilatildeo prende-se com o cumprimento dos requisitos de (a)
comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica e legislativa dentro do contexto portuguecircs
e (c) conformidade com os referenciais conceptuais actuais sendo que a coexistecircncia destes
criteacuterios afigura-se em muitos casos incompatiacutevel entre si Para efeitos da estruturaccedilatildeo do
cenaacuterio privilegiar-se-aacute a conformidade com os referenciais conceptuais actuais
71 ABORDAGEM No que concerne agrave abordagem privilegia-se a adopccedilatildeo das mais recentes directrizes propostas
pela OMS adoptando explicitamente a CIF
Fundamentaccedilatildeo
A CIF apresenta a capacidade para descrever o funcionamento humano numa
perspectiva biopsicossocial em detrimento da classificaccedilatildeo anterior (ICIDH) que se
focalizava na dimensatildeo biomeacutedica A CIF foi desenvolvida no plano conceptual para ser aplicaacutevel em diferentes aacutereas e
sectores A CIF eacute aplicaacutevel transversalmente agraves dimensotildees de cultura idade geacutenero sendo um
instrumento sistemaacutetico para descrever e medir a sauacutede e o funcionamento humano
num dado contexto A CIF constitui-se enquanto instrumento potencial para a poliacutetica social design das
intervenccedilotildees nos domiacutenios da sauacutede educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e intervenccedilatildeo social Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
72 FOCUS
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo da centraccedilatildeo da recolha de dados ao niacutevel
da dimensatildeo de funcionalidade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Fundamentaccedilatildeo
Consonacircncia com o modelo conceptual proposto pela CIF enfatizando o caraacutecter
dinacircmico e interaccional (pessoa factores contextuais) do funcionamento de cada
pessoa Permite caracterizar as limitaccedilotildees de actividade e restriccedilotildees de participaccedilatildeo dos
cidadatildeos identificando necessidades de intervenccedilotildees especializadas numa loacutegica de
empowerment e participaccedilatildeo social Permite analisar a adequabilidade e ajustamento das actuais medidas poliacuteticas do
ponto de vista dos seus objectivos e os problemas detectados ao niacutevel da participaccedilatildeo
dos cidadatildeos ao longo de um conjunto diversificado de domiacutenios
73 MEacuteTODOS DE MENSURACcedilAtildeO
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo de meacutetodos intersubjectivos nomeadamente
inqueacuteritos
Fundamentaccedilatildeo
Flexibilidade ao niacutevel da abrangecircncia e profundidade das dimensotildees
Maior facilidade na implementaccedilatildeo atendendo agrave disponibilizaccedilatildeo de uma amostra
delimitada
Maior niacutevel de controlo sobre as condiccedilotildees de observaccedilatildeo e da entrevista devido ao
menor nuacutemero de entrevistas a ser implementado
74 DELIMITACcedilAtildeO CONCEPTUAL E TEMPORAL DO CONCEITO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo temporal e apesar de se privilegiar as vantagens anteriormente
explicitadas no desenvolvimento de uma definiccedilatildeo a posteriori assume-se a necessidade
politica de delimitar o campo de intervenccedilatildeo do conjunto de medidas sociais neste domiacutenio
pelo que a delimitaccedilatildeo conceptual poderaacute ser objecto de operacionalizaccedilatildeo atraveacutes dos
seguintes paracircmetros
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Poder-se-aacute colocar a questatildeo de saber se a delimitaccedilatildeo do conceito proposta remete
especificamente para ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ou para ldquopessoas com limitaccedilotildees de
participaccedilatildeordquo Atendendo a que a definiccedilatildeo comporta uma abordagem sisteacutemica enfatizando a
interacccedilatildeo entre um conjunto diversificado de componentes que produzem impacto na
funcionalidade da pessoa a resposta natildeo eacute linear dependendo da ecircnfase socio-histoacuterica e da
abordagem sociopoliacutetica que se escolher enfatizar No entanto e do ponto de vista conceptual
privilegia-se a adopccedilatildeo do conceito ldquopessoas com limitaccedilotildees de participaccedilatildeordquo dado que existe
total autonomia operativa entre os diferentes constructos Neste sentido a deficiecircncia natildeo
constitui um factor causal linear das limitaccedilotildees de actividade e das restriccedilotildees ao niacutevel da
participaccedilatildeo mas antes uma das componentes que em interacccedilatildeo com outras podem
provocar impactos ao niacutevel da funcionalidade do indiviacuteduo Por uacuteltimo refira-se que a tipologia
ldquopessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeordquo poderaacute ser alvo de criticas por constituir
uma designaccedilatildeo que apela a duas componentes em simultacircneo (actividades e participaccedilatildeo)
excluindo outras e ser demasiado longa para uma definiccedilatildeo tipoloacutegica A este propoacutesito pode-
se sugerir a delimitaccedilatildeo ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo constituindo esta
expressatildeo uma abordagem holiacutestica ao conjunto de componentes que interferem com o
funcionamento humano Deste modo poderemos ter as seguintes designaccedilotildees
Pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Pessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo
Pessoas com limitaccedilotildees de funcionalidade
Figura 2 ndash Possiacuteveis designaccedilotildees
O Quadro 3 pretende fornecer uma visatildeo sistemaacutetica sobre o processo de decisatildeo da
designaccedilatildeo a adoptar
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
deficiecircncias
Tradiccedilatildeo analiacutetica dentro do
contexto portuguecircs
Em conformidade com o modelo
meacutedico ndash centra-se nas alteraccedilotildees
de estrutura e funccedilatildeo ndash
focalizaccedilatildeo na pessoa
Desarticulado dos pressupostos do
modelo social ndash natildeo remete para a
experiecircncia de incapacidade
enquanto produto da interacccedilatildeo
entre pessoa e ambiente
Mai
or
Abr
angecirc
ncia
Mai
or
Espe
cific
idad
e
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
incapacidades
Em conformidade com a
delimitaccedilatildeo anglo-saxoacutenica que
utiliza o conceito Disability
Focalizaccedilatildeo no poacutelo negativo do
funcionamento humano ndash
funcionalidadeincapacidade
Ao focalizar-se na experiecircncia de
incapacidade enquanto
interacccedilatildeo pessoa-ambiente
remete indirectamente para a
mobilizaccedilatildeo de apoios e recursos
de forma a ultrapassar eou
eliminar os obstaacuteculos ao
funcionamento em contexto
O potencial efeito estigmatizante
da expressatildeo ldquopessoas com
incapacidadesrdquo
Pessoas com
diversidade
Funcional
Em conformidade com o modelo
social
Focaliza-se na gestatildeo das
diferenccedilas e no seu impacto ao
niacutevel da participaccedilatildeo das pessoas
na sociedade
Elevado niacutevel de abrangecircncia natildeo
permitindo um niacutevel de
diferenciaccedilatildeo relevante na
medida em que todos os cidadatildeos
detecircm entre si diversos e
diferentes padrotildees de
funcionamento humano
Conceito dificilmente
operacionalizaacutevel do ponto de
vista da formulaccedilatildeo das poliacuteticas e
da delimitaccedilatildeo dos puacuteblicos-alvo
Pessoas com
restriccedilotildees ao
niacutevel da
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos Desta forma
todos os obstaacuteculos agrave participaccedilatildeo
relacionados com discriminaccedilatildeo
social preconceitos estereoacutetipos
deficiecircncias doenccedilas croacutenicas
entre outros satildeo incluiacutedos
Natildeo inclui as limitaccedilotildees de
actividade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
limitaccedilotildees de
actividade e
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida e simultaneamente no
domiacutenio das limitaccedilotildees de
actividade
Ruptura com a tradiccedilatildeo analiacutetica
no sector
Dificuldade de apreensatildeo e
inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Natildeo inclui as alteraccedilotildees da
estrutura e da funccedilatildeo
Pessoas com
limitaccedilotildees de
funcionalidade
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel das
diferentes dimensotildees constituintes
da funcionalidade e do
funcionamento humano
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos
Pessoas com
deficiecircncias e
incapacidades
Natildeo introduz ruptura com a
tradiccedilatildeo analiacutetica no sector
Inclui as alteraccedilotildees de estrutura e
funccedilatildeo bem como as alteraccedilotildees
decorrentes ao niacutevel da
funcionalidade
Diferencia os conceitos de
deficiecircncia e incapacidade
autonomizando-os e fornecendo
uma base compreensiva para o
natildeo estabelecimento de relaccedilotildees
de causa-efeito entre os ambos
Abrange os obstaacuteculos que
emergem na interacccedilatildeo pessoa-
contextos de vida e
simultaneamente no domiacutenio das
limitaccedilotildees de actividade
Poder diferenciador e delimitador
na definiccedilatildeo do puacuteblico-alvo
Em alinhamento estrateacutegico com o
PAIPDI
Designaccedilatildeo de compromisso com
os referenciais teoacutericos do modelo
social e dos princiacutepios da ldquoeacutetica da
diversidaderdquo
Quadro 3 ndash Visatildeo comparativa das hipoacuteteses da designaccedilatildeo a adoptar
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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75 DELIMITACcedilAtildeO DA DURACcedilAtildeO E CURSO DE EVOLUCcedilAtildeO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo interessa a caracterizaccedilatildeo nas
3 dimensotildees desenvolvidas
Fundamentaccedilatildeo
Afigura-se relevante caracterizar a ocorrecircncia das deficiecircncias quanto aacute sua
consistecircncia no tempo ndash temporaacuterias permanentes ndash analisando os factores
contextuais associados consequecircncias ao niacutevel das actividades e da participaccedilatildeo ao
longo de um conjunto de domiacutenios em ordem agrave extracccedilatildeo de implicaccedilotildees no acircmbito
das poliacuteticas sociais
No acircmbito da adaptabilidade e da adequaccedilatildeo das medidas poliacuteticas agraves necessidades
especiacuteficas dos cidadatildeos torna-se relevante caracterizar a deficiecircncia quanto agrave
natureza do seu curso evolutivo ndash progressivas regressivas estaacuteveis O mesmo
criteacuterio eacute aplicaacutevel quanto aacute dimensatildeo de padratildeo de manifestaccedilatildeo ndash intermitente
contiacutenua
No entanto e apesar da incapacidade se manifestar ao longo do ciclo de vida da pessoa
de forma multimodal para efeitos de delimitaccedilatildeo e de definiccedilatildeo do conceito de pessoas
com deficiecircncias e incapacidades privilegiaremos o caraacutecter permanente Desta forma
excluem-se as manifestaccedilotildees temporaacuterias de incapacidade que enviesariam a anaacutelise e o
desenvolvimento de poliacuteticas neste domiacutenio
76 DESIGN DAS QUESTOtildeES
No que concerne ao design das questotildees privilegia-se a escolha de questotildees tipo 1
Fundamentaccedilatildeo
Em consonacircncia com a CIF
Permite comparabilidade estatiacutestica futura
Permite a caracterizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre os factores de funcionalidade ndash integridade
estrutural e funcional actividades participaccedilatildeo e factores contextuais
Permite o design das poliacuteticas sociais e metodologias de intervenccedilatildeo alicerccediladas nas
necessidades especiacuteficas dos cidadatildeos em torno das dimensotildees de inclusatildeo social
Domiacutenios
Visatildeo
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Audiccedilatildeo
Comunicaccedilatildeo
Mobilidade
Dor
Aprendizagem e funcionamento psicoloacutegico
Autocuidados e vida domeacutestica
Condiccedilotildees gerais de sauacutede
Mobilizaccedilatildeo de ajudas ou equipamento especializado
Participaccedilatildeo social
Transporte e educaccedilatildeo
77 PROPOSTA DE DELIMITACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em funccedilatildeo das dimensotildees caracterizadas e dos criteacuterios privilegiados desenvolveu-se o
seguinte enquadramento conceptual
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Figura 2 ndash Enquadramento conceptual da delimitaccedilatildeo do conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso da evoluccedilatildeo
Temporaacuterias permanentes
Progressivas regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou contiacutenuas
Focus
Funcionalidade ndash Niacuteveis de execuccedilatildeo das actividades por domiacutenio e niacuteveistipos de ajudas mobilizadas
Abordagem CIF
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo temporal do conceito
A priori
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Inter-subjectivo
Design das questotildees
Questatildeo geneacuterica sobre uma determinada condiccedilatildeo individual combinada com itens referentes a limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo e factores contextuais
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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8 CRITEacuteRIOS DE ELEGIBILIDADE DO PUacuteBLICO-ALVO E SISTEMAS DE
AVALIACcedilAtildeO
A operacionalizaccedilatildeo do conceito de incapacidade tem sido abordada de forma heterogeacutenea
entre diferentes modalidades de politica e os diferentes contextos socioculturais de cada paiacutes
De uma forma geral encontram-se 2 eixos criacuteticos na sua operacionalizaccedilatildeo
a) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de trabalho (na ocupaccedilatildeo preacutevia ou numa nova
ocupaccedilatildeo ajustada agraves alteraccedilotildees funcionais)
b) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de obter rendimentos provenientes do trabalho
A explicitaccedilatildeo dos criteacuterios de delimitaccedilatildeo do conceito de incapacidade nos diferentes paiacuteses
encontra-se na Quadro 4
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Austraacutelia 2 Criteacuterios possuir uma incapacidade que resulte
num score nunca inferior a 20 nas tabelas de
incapacidades e incapacidade em trabalhar 30
horas ou mais por semana ou em ser
reconvertido para trabalho em contexto regular
nos proacuteximos 2 anos
Nenhum
Aacuteustria 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho (50
de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo para
trabalhadores sem qualificaccedilotildees) papel criacutetico
das decisotildees dos tribunais devido a definiccedilotildees
legais imprecisas
Nenhum mas as
restriccedilotildees de sauacutede
devem ter uma duraccedilatildeo
igual ou superior a 6
meses
Beacutelgica 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na actual ocupaccedilatildeo
1 ano
Canada Incapacidade severa e prolongada que impeccedila de
desenvolver trabalho numa base regular
Nenhum
Dinamarca 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum mas a
reabilitaccedilatildeo precisa de
estar completa
Franccedila 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual mas a
totalidade do subsidio requer igualmente perda de
capacidade de trabalho
Nenhum no caso das
condiccedilotildees estarem
estaacuteveis mas muito
frequentemente apoacutes 3
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
anos
Alemanha 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho a
incapacidade parcial eacute calculada em funccedilatildeo do nordm
de horas que a pessoa pode trabalhar
Nenhum mas a
incapacidade deve ter
uma duraccedilatildeo miacutenima
de 26 semanas
Itaacutelia 666reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum
Coreia Criteacuterios meacutedicos (niacuteveis de incapacidade
definidos de forma detalhada)
Periacuteodo de espera de
50 dias (os subsiacutedios
de doenccedila natildeo se
encontram disponiacuteveis)
Meacutexico 50 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo Nenhum
Holanda 15 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
(25 para os trabalhadores por conta proacutepria e
jovens com incapacidade) grau de incapacidade
calculado pela diferenccedila de remuneraccedilatildeo entre o
actual posto de trabalho compatiacutevel com as
limitaccedilotildees funcionais e o anterior
1 ano
Noruega 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho O
grau de subsiacutedio eacute calculado pela capacidade de
remuneraccedilatildeo
Nenhum (apoacutes ter
completado a
reabilitaccedilatildeo vocacional)
Poloacutenia Reduccedilatildeo temporaacuteria ou permanente da
capacidade de trabalho
Nenhum
Portugal 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual
Nenhum mas na
praacutetica ao fim de 3
anos (fim do periacuteodo de
doenccedila de longo termo)
Espanha 33 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho na
ocupaccedilatildeo actual incapacidade para todo e
qualquer trabalho para a totalidade do subsiacutedio
1 ano (embora seja
possiacutevel a candidatura
antes deste prazo em
casos de incapacidade
permanente)
Sueacutecia 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho grau
de incapacidade parcial calculado a partir das
horas que uma pessoa pode trabalhar
Nenhum
Suiccedila 40 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho para
as pessoas inactivas o grau de incapacidade eacute
calculado em relaccedilatildeo aacute actividade actual
1 ano
Turquia 666 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho
com um focus meacutedico bastante significativo
Nenhum
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 48
Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Reino Unido Limitaccedilotildees nas actividades de vida quotidianas
relevantes para o trabalho (avaliaccedilotildees meacutedicas
predominantes) teste ocupacional durante a s
primeiras 28 semanas (subsidio de doenccedila)
28 semanas
Estados
Unidos
Reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
incapacidade em investir numa actividade
profissional com rendimentos ($ US 740 por mecircs)
5 meses (nem sempre
cobertos pelos
subsiacutedios de curto-
termo) e 24 meses
para a cobertura
meacutedica
Quadro 4 ndash Definiccedilotildees de incapacidade e tempos regulamentares
Um dos desafios que se coloca aos actuais sistemas reside na delimitaccedilatildeo da elegibilidade do
puacuteblico-alvo Para cumprir este objectivo satildeo necessaacuterios sistemas de avaliaccedilatildeo holiacutesticos
abrangentes coerentes e que permitam chegar a resultados de forma consistente e com
validade interna No actual contexto a CIF propotildee constituir-se como o instrumento conceptual
abrangente para caracterizar os diferentes domiacutenios e niacuteveis de funcionalidade incapacidade
de forma coerente e integrada Neste sentido uma das vantagens apontadas para a adopccedilatildeo
do modelo desenvolvido pela OMS eacute a possibilidade de uniformizaccedilatildeo de conceitos e portanto
da utilizaccedilatildeo de uma linguagem padratildeo que permita a comunicaccedilatildeo entre investigadores
gestores profissionais de sauacutede organizaccedilotildees da sociedade civil e utilizadores em geral
Um dos campos de estudo mais explorados para a aplicaccedilatildeo da CIF tem sido a aacuterea de
Medicina Fiacutesica e de Reabilitaccedilatildeo no que concerne ao acompanhamento do estado de sauacutede
dos pacientes em tratamento O uso da CIF tem sido considerado tambeacutem na avaliaccedilatildeo apoacutes
transtornos agudos condiccedilotildees traumaacuteticas condiccedilotildees croacutenicas e na geriatria
Alguns autores argumentam que a CIF deve ser explorada como uma base de informaccedilotildees
padronizadas em estudos sobre incapacidade profissional quando haacute necessidade de
relacionar dados de sauacutede ocupacional com os da Seguranccedila Social
Na Sauacutede Puacuteblica tradicionalmente pouca atenccedilatildeo tem sido dada agraves pessoas com
incapacidades No entanto ao lado de recentes investimentos por parte de organizaccedilotildees e de
alguns governos a publicaccedilatildeo do modelo da CIF fornece as bases para as poliacuteticas e
disciplinas da Sauacutede Puacuteblica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo que apresenta deficiecircncias e
incapacidades Assim uma das possibilidades de uso da CIF pode ser a contribuiccedilatildeo para
responder a importantes questotildees de sauacutede puacuteblica tais como qual o estado de sauacutede das
pessoas com deficiecircncias comparadas com as demais que necessidades e que tipos de
intervenccedilotildees satildeo mais adequadas para reduzir condiccedilotildees secundaacuterias e promover a
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na sociedade entre outras
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 49
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Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 50
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Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 51
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Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
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Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 53
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Nas classificaccedilotildees internacionais da OMS os estados de sauacutede (doenccedilas perturbaccedilotildees
lesotildees etc) satildeo classificados principalmente na CID-10 (abreviatura da Classificaccedilatildeo
Internacional de Doenccedilas Deacutecima Revisatildeo) que fornece uma estrutura de base etioloacutegica A
funcionalidade e a incapacidade associadas aos estados de sauacutede satildeo classificadas na CIF
Portanto a CID-10 e a CIF satildeo complementares e os utilizadores satildeo estimulados a usar em
conjunto esses dois membros da famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS A CID-10
proporciona um ldquodiagnoacutesticordquo de doenccedilas perturbaccedilotildees ou outras condiccedilotildees de sauacutede que eacute
complementado pelas informaccedilotildees adicionais fornecidas pela CIF sobre funcionalidade Em
conjunto as informaccedilotildees sobre o diagnoacutestico e sobre a funcionalidade datildeo uma imagem mais
ampla e mais significativa da sauacutede das pessoas ou da populaccedilatildeo que pode ser utilizada em
tomadas de decisatildeo
A famiacutelia de classificaccedilotildees internacionais da OMS constitui uma ferramenta valiosa para a
descriccedilatildeo e a comparaccedilatildeo da sauacutede das populaccedilotildees num contexto internacional As
informaccedilotildees sobre a mortalidade (facultadas pela CID-10) e sobre as consequecircncias na sauacutede
(proporcionadas pela CIF) podem ser combinadas de forma a obter medidas sinteacuteticas da
sauacutede das populaccedilotildees Isto permite seguir a sauacutede das populaccedilotildees e a sua distribuiccedilatildeo bem
como avaliar a parte atribuiacuteda agraves diferentes causas
A CIF transformou-se de uma classificaccedilatildeo de ldquoconsequecircncias da doenccedilardquo (versatildeo de 1980)
numa classificaccedilatildeo de ldquocomponentes da sauacutederdquo Os ldquocomponentes da sauacutederdquo identificam o que
constitui a sauacutede enquanto que as consequecircncias se referem ao impacto das doenccedilas na
condiccedilatildeo de sauacutede da pessoa Deste modo a CIF assume uma posiccedilatildeo neutra em relaccedilatildeo agrave
etiologia de modo que os investigadores podem desenvolver inferecircncias causais utilizando
meacutetodos cientiacuteficos adequados De maneira similar esta abordagem tambeacutem eacute diferente de
uma abordagem do tipo determinantes da sauacutede ou ldquofactores de risco Para facilitar o estudo
dos determinantes ou dos factores de risco a CIF inclui uma lista de factores ambientais que
descrevem o contexto em que o indiviacuteduo vive
A CIF descreve a funcionalidade e a incapacidade relacionadas com as condiccedilotildees de sauacutede
identificando o que uma pessoa ldquopode ou natildeo pode fazer na sua vida diaacuteriardquo tendo em vista as
funccedilotildees dos oacutergatildeos ou sistemas e estruturas do corpo assim como as limitaccedilotildees de
actividades e da participaccedilatildeo social no meio ambiente onde a pessoa vive Segundo a OMS a
CID-10 e a CIF satildeo complementares a informaccedilatildeo sobre o diagnoacutestico acrescido da
funcionalidade fornece um quadro mais amplo sobre a sauacutede do indiviacuteduo ou populaccedilotildees Por
exemplo duas pessoas com a mesma doenccedila podem ter diferentes niacuteveis de funcionalidade e
duas pessoas com o mesmo niacutevel de funcionalidade natildeo tecircm necessariamente a mesma
condiccedilatildeo de sauacutede
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 22
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
O termo do modelo da CIF eacute a funcionalidade que cobre os componentes de funccedilotildees e
estruturas do corpo actividade e participaccedilatildeo social A funcionalidade eacute usada no aspecto
positivo e o aspecto negativo corresponde agrave incapacidade Segundo esse modelo a
incapacidade eacute resultante da interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada pelo indiviacuteduo (seja
orgacircnica e ou da estrutura do corpo) a limitaccedilatildeo de suas actividades e a restriccedilatildeo na
participaccedilatildeo social e os factores ambientais que podem actuar como facilitadores ou barreiras
para o desempenho dessas actividades e da participaccedilatildeo
A CIF eacute baseada portanto numa abordagem biopsicossocial que incorpora os componentes
de sauacutede nos niacuteveis corporais e sociais Assim na avaliaccedilatildeo de uma pessoa com deficiecircncias
e incapacidades esse modelo destaca-se do biomeacutedico baseado no diagnoacutestico etioloacutegico da
disfunccedilatildeo evoluindo para um modelo que incorpora as trecircs dimensotildees a biomeacutedica a
psicoloacutegica (dimensatildeo individual) e a social Nesse modelo cada niacutevel age sobre e sofre a
acccedilatildeo dos demais sendo todos influenciados pelos factores ambientais A OMS pretende
incorporar tambeacutem no futuro os factores pessoais importantes na forma de lidar com as
condiccedilotildees limitantes
O objectivo pragmaacutetico da CIF eacute fornecer uma linguagem padronizada e um modelo para a
descriccedilatildeo da sauacutede e dos estados relacionados com a sauacutede permitindo a comparaccedilatildeo de
dados referentes a essas condiccedilotildees entre paiacuteses serviccedilos sectores relativos agrave sauacutede bem
como o acompanhamento da sua evoluccedilatildeo no tempo
No entanto os conceitos apresentados na classificaccedilatildeo introduzem um novo paradigma para
pensar e trabalhar as deficiecircncias e incapacidades elas natildeo satildeo apenas uma consequecircncia
das condiccedilotildees de sauacutede doenccedila mas satildeo determinadas tambeacutem pelo contexto do meio
ambiente fiacutesico e social pelas diferentes percepccedilotildees culturais e atitudes em relaccedilatildeo agrave
deficiecircncias pela disponibilidade de serviccedilos e de legislaccedilatildeo Dessa forma a classificaccedilatildeo natildeo
constitui apenas um instrumento para medir o estado funcional dos indiviacuteduos Aleacutem disso ela
permite avaliar as condiccedilotildees de vida e fornecer subsiacutedios para poliacuteticas de inclusatildeo social
42 FUNCcedilOtildeES DO CORPO
As Funccedilotildees do corpo satildeo as funccedilotildees fisioloacutegicas dos sistemas orgacircnicos (incluindo as
funccedilotildees psicoloacutegicas)
As funccedilotildees e as estruturas do corpo satildeo classificadas em duas secccedilotildees diferentes Essas duas
classificaccedilotildees estatildeo concebidas de forma a serem utilizadas em paralelo Por exemplo as
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 23
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
funccedilotildees do corpo incluem sentidos humanos baacutesicos como as funccedilotildees da visatildeo e as
estruturas relacionadas aparecem na forma de ldquoolho e estruturas relacionadasrdquo
43 ESTRUTURAS DO CORPO
As Estruturas do Corpo satildeo as partes anatoacutemicas do corpo tais como oacutergatildeos membros e
seus componentes
ldquoCorpo refere-se ao organismo humano como um todo por isso o ceacuterebro e as suas funccedilotildees
ie a mente estatildeo incluiacutedos As funccedilotildees mentais (ou psicoloacutegicas) satildeo portanto incluiacutedas nas
funccedilotildees do corpo As funccedilotildees e as estruturas do corpo satildeo classificadas de acordo com os
sistemas orgacircnicos por isso as estruturas do corpo natildeo satildeo consideradas como oacutergatildeos no
seu sentido restrito
44 DEFICIEcircNCIA
Deficiecircncias satildeo problemas nas funccedilotildees ou na estrutura do corpo tais como um desvio
importante ou uma perda
As deficiecircncias de estrutura podem consistir numa anormalidade defeito perda ou outro desvio
importante relativamente a um padratildeo das estruturas do corpo As deficiecircncias foram definidas
de acordo com os conhecimentos bioloacutegicos actuais ao niacutevel de tecidos ou das ceacutelulas e ao
niacutevel subcelular ou molecular Por motivos praacuteticos no entanto esses niacuteveis natildeo estatildeo
classificados As bases bioloacutegicas das deficiecircncias orientaram essa classificaccedilatildeo e eacute possiacutevel
expandir a classificaccedilatildeo para incluir os niacuteveis celular ou molecular Do ponto de vista meacutedico
deve-se ter em mente que as deficiecircncias natildeo satildeo equivalentes agraves patologias subjacentes mas
sim a manifestaccedilotildees dessas patologias
As deficiecircncias correspondem a um desvio relativamente ao que eacute geralmente aceite como
estado biomeacutedico normal (padratildeo) do corpo e das suas funccedilotildees A definiccedilatildeo dos seus
componentes eacute feita essencialmente por pessoas com competecircncia para avaliar a
funcionalidade fiacutesica e mental de acordo com esses padrotildees
As deficiecircncias podem ser temporaacuterias ou permanentes progressivas regressivas ou estaacuteveis
intermitentes ou contiacutenuas O desvio em relaccedilatildeo ao modelo baseado na populaccedilatildeo e
geralmente aceite como normal pode ser leve ou grave e pode variar ao longo do tempo Estas
caracteriacutesticas satildeo consideradas posteriormente em descriccedilotildees adicionais principalmente nos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 24
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
coacutedigos atraveacutes de um qualificador que se acrescenta ao coacutedigo e do qual fica separado por
um ponto
As deficiecircncias natildeo tecircm uma relaccedilatildeo causal com a etiologia ou com a forma como se
desenvolveram Por exemplo a perda da visatildeo ou de um membro pode resultar de uma
anormalidade geneacutetica ou de uma lesatildeo A presenccedila de uma deficiecircncia implica
necessariamente uma causa No entanto a causa pode natildeo ser suficiente para explicar a
deficiecircncia resultante Da mesma forma quando haacute uma deficiecircncia haacute uma disfunccedilatildeo das
funccedilotildees ou estruturas do corpo mas isto pode estar relacionado com qualquer doenccedila
perturbaccedilatildeo ou estado fisioloacutegico
As deficiecircncias podem ser parte ou uma expressatildeo de uma condiccedilatildeo de sauacutede mas natildeo
indicam necessariamente a presenccedila de uma doenccedila ou que o indiviacuteduo deva ser
considerado doente
As deficiecircncias cobrem um campo mais vasto que as perturbaccedilotildees ou as doenccedilas Por
exemplo a perda de uma perna eacute uma deficiecircncia de uma estrutura do corpo mas natildeo eacute uma
perturbaccedilatildeo ou uma doenccedila
As deficiecircncias podem originar outras deficiecircncias Por exemplo a diminuiccedilatildeo da forccedila
muscular pode prejudicar as funccedilotildees do movimento as funccedilotildees cardiacuteacas podem estar
relacionadas com o deacutefice das funccedilotildees respiratoacuterias e uma percepccedilatildeo prejudicada pode estar
relacionada com as funccedilotildees do pensamento
Actualmente na perspectiva da CIF o conceito de deficiecircncia constitui o poacutelo negativo da
componente ldquoFunccedilotildees e Estrutura do Corpordquo sendo descrito atraveacutes da existecircncia de
alteraccedilotildees significativas das funccedilotildees eou das estruturas do corpo O poacutelo positivo desta
componente refere-se agrave integridade funcional e estrutural Neste contexto um dos desafios
criacuteticos das poliacuteticas sociais consiste na operacionalizaccedilatildeo do conceito de deficiecircncia de forma
a que a elegibilidade dos diferentes puacuteblicos alvo se encontre devidamente delimitada
assegurando a eficaacutecia das medidas subjacentes
No entanto a amplitude e abrangecircncia da definiccedilatildeo do conceito de deficiecircncia proposta pela
OMS atraveacutes da CIF coloca um enorme desafio na medida em que qualquer cidadatildeo desde
que apresente um desvio significativo ao niacutevel da estrutura eou funccedilatildeo passa a ser um
potencial beneficiaacuterio das poliacuteticas neste domiacutenio Neste contexto poder-se-atildeo colocar vaacuterias
questotildees A primeira eacute se interessa agraves diferentes poliacuteticas no sector continuarem a ser
desenvolvidas tendo por focus o conceito de pessoas com deficiecircncias sabendo que a sua
distinccedilatildeo ao longo da populaccedilatildeo apenas poderaacute ser feita atraveacutes do niacutevel e extensatildeo da
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 25
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
alteraccedilatildeo da integridade estrutural e funcional de cada individuo A segunda questatildeo prende-se
com as consequecircncias conceptuais decorrentes da integraccedilatildeo do modelo social na formulaccedilatildeo
e operacionalizaccedilatildeo dos conceitos a serem utilizados pelas poliacuteticas no sector na medida em
que o aspecto critico deixa de ser a natureza e severidade da deficiecircncia para passar a centrar-
se no niacutevel e tipo de restriccedilotildees de participaccedilatildeo que cada cidadatildeo experiencia na interacccedilatildeo
com os seus contextos de vida
No que concerne agrave primeira questatildeo e atendendo a que a mais recente definiccedilatildeo do conceito
de deficiecircncia proposto pela OMS apresenta um elevado niacutevel de abrangecircncia e um reduzido
potencial diferenciador poderemos equacionar 2 hipoacuteteses centrais de operacionalizaccedilatildeo
a) A primeira hipoacutetese baseia-se na possibilidade de operacionalizar diferentes definiccedilotildees
de deficiecircncia ao longo das diferentes poliacuteticas sociais no sentido de assegurar que as
diferentes medidas alcanccedilam efectivamente as pessoas para as quais foram
elaboradas Esta perspectiva tem a vantagem de uma maior focalizaccedilatildeo nas
caracteriacutesticas especificas do puacuteblico-alvo mas no entanto apresenta uma grande
desvantagem que consiste na elevada probabilidade das diferentes definiccedilotildees
perderem a coerecircncia entre si fragmentando igualmente o modelo teoacuterico a partir do
qual se deveriam basear
b) A segunda hipoacutetese consiste na articulaccedilatildeo operativa de dois conceitos o de
deficiecircncia e o de restriccedilotildees de participaccedilatildeo Nesta perspectiva a elegibilidade de uma
determinada politica social baseia-se na validaccedilatildeo preacutevia da existecircncia da primeira
condiccedilatildeo do puacuteblico-alvo ndash a existecircncia de uma deficiecircncia ndash determinando logo de
seguida o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo a partir do qual os diferentes cidadatildeos
passam a poder aceder agraves medidas especiacuteficas nela contidas O desafio contido nesta
hipoacutetese consiste na necessidade de desenvolvimento de um sistema de avaliaccedilatildeo que
permita avaliar o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo experimentado pelas pessoas com
deficiecircncias determinando atraveacutes do valor aferido quais seriam as pessoas com
acesso agraves medidas Neste cenaacuterio natildeo bastaria que uma pessoa tivesse uma
deficiecircncia pelo que seria necessaacuterio avaliar os efeitos da deficiecircncia em interacccedilatildeo
com o ambiente social ao niacutevel da participaccedilatildeo no sentido de determinar a
elegibilidade As vantagens desta hipoacutetese relacionam-se com (i) a preservaccedilatildeo do
niacutevel de coerecircncia dos conceitos utilizados ao longo das diferentes poliacuteticas sociais (ii)
a existecircncia de um processo comum de afericcedilatildeo e determinaccedilatildeo da elegibilidade ao
longo dos diferentes sectores de politica (iii) a compatibilidade e adequabilidade dos
princiacutepios teoacutericos do modelo social com a operacionalizaccedilatildeo dos sistemas e medidas
poliacuteticos de apoio agraves pessoas com deficiecircncias e (iv) a existecircncia de mecanismos de
avaliaccedilatildeo de elevada transparecircncia controlabilidade e rigor
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 26
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
45 INCAPACIDADE
Do ponto de vista de utilizaccedilatildeo dos conceitos de Deficiecircncia e de Incapacidade em Portugal
tecircm subsistido vaacuterias imprecisotildees terminoloacutegicas Primeiro na generalidade dos documentos
internacionais alude-se ao termo ldquopeople with disabilitiesrdquo sendo que invariavelmente esta
expressatildeo eacute traduzida para Portuguecircs como ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo Tal facto parece criar
condiccedilotildees para uma grande permeabilidade semacircntica dificilmente resoluacutevel do ponto de vista
conceptual Segundo deficiecircncia e incapacidade satildeo claramente dois conceitos distintos
Enquanto a deficiecircncia remete para alteraccedilotildees significativas ao niacutevel das estruturas eou das
funccedilotildees do corpo a incapacidade constitui o poacutelo negativo do funcionamento humano em
situaccedilatildeo potencial ou efectiva de participaccedilatildeo no contexto de vida Este facto pressupotildee que os
conceitos de deficiecircncia e de incapacidade natildeo contecircm nenhuma relaccedilatildeo causal entre si nem
nenhuma relaccedilatildeo linear de frequecircncia na medida em que eacute possiacutevel existir uma deficiecircncia
sem que exista uma incapacidade e eacute possiacutevel emergir uma determinada incapacidade sem
que haja uma qualquer deficiecircncia
Deste modo eacute possiacutevel
a) Ter deficiecircncias sem limitaccedilotildees de capacidade (eg uma desfiguraccedilatildeo resultante da
doenccedila de Hansen pode natildeo ter efeito sobre a capacidade da pessoa
b) Ter problemas de desempenho e limitaccedilotildees de capacidade sem deficiecircncias evidentes
(eg reduccedilatildeo de desempenho nas actividades diaacuterias associada a vaacuterias doenccedilas)
c) Ter problemas de desempenho sem deficiecircncias ou limitaccedilotildees de capacidade (eg um
indiviacuteduo HIV positivo ou um ex-doente curado de doenccedila mental que enfrenta
estigmas ou descriminaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais ou no trabalho)
d) Ter limitaccedilotildees de capacidade se natildeo tiver assistecircncia e nenhum problema de
desempenho no ambiente habitual (eg um indiviacuteduo com limitaccedilotildees de mobilidade
pode beneficiar por parte da sociedade de ajudas tecnoloacutegicas de assistecircncia para se
movimentar
e) Experimentar um grau de influecircncia em sentido contraacuterio (eg a inactividade dos
membros pode levar agrave atrofia muscular a institucionalizaccedilatildeo pode resultar numa perda
da socializaccedilatildeo)
Daqui resulta que ao referirmo-nos agraves pessoas com deficiecircncias enquanto puacuteblico-alvo
privilegiado das medidas de reabilitaccedilatildeo poderemos incorrer num desvio significativo de
alocaccedilatildeo dos recursos agraves reais necessidades das pessoas na medida em que natildeo eacute a
deficiecircncia que gera por si mesma a necessidade de reabilitaccedilatildeo mas sim as limitaccedilotildees de
actividade e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo decorrentes da interacccedilatildeo entre as caracteriacutesticas
biopsicossociais e as caracteriacutesticas dos ambientes em que o individuo se move
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 27
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
A persistecircncia em traduzir o termo disability para deficiecircncia e natildeo apenas o seu homoacutelogo
anglo-saxoacutenico ndash impairment ndash poderaacute explicar-se pelas seguintes razotildees
a) O potencial efeito estigmatizante da expressatildeo ldquopessoas com incapacidadesrdquo ser maior
do que aquele contido na expressatildeo ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo
b) O termo incapacidade centrar-se exclusivamente nos aspectos negativos do
funcionamento individual classificando a pessoa agrave partida como sendo destituiacuteda de
competecircncias e condiccedilotildees para atingir os niacuteveis normativos de desempenho e
performance num conjunto de domiacutenios da vida pessoal e social
O paradoxo surge igualmente porque enquanto no modelo meacutedico a incapacidade aparece
em termos causais relacionada com a deficiecircncia numa perspectiva exclusivamente individual
no modelo proposto pela OMS operacionalizado na CIF os dois conceitos gozam de total
independecircncia conceptual e operativa sendo que a deficiecircncia passa a ter uma baixa
relevacircncia diferenciadora do ponto de vista do funcionamento humano Ora se atendermos a
que as medidas de reabilitaccedilatildeo pretendem promover os potenciais do funcionamento humano
numa perspectiva de participaccedilatildeo plena do indiviacuteduo nos mais diferenciados contextos de vida
assegurando o co-desenvolvimento de todos os actores e das estruturas sociais necessaacuterias agrave
cidadania plena entatildeo falar de ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo natildeo soacute natildeo eacute relevante no quadro
da loacutegica de intervenccedilatildeo como poderaacute traduzir dificuldades dos actores em mudar
efectivamente do paradigma meacutedico para o paradigma social
Este fenoacutemeno aliaacutes natildeo acontece apenas em Portugal sendo que recentes estudos de
investigaccedilatildeo vieram sugerir a adopccedilatildeo dos conceitos de ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo e
ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo para ultrapassar a aplicaccedilatildeo indevida dos
conceitos de deficiecircncia e incapacidade A utilizaccedilatildeo destes conceitos parece articular de forma
mais precisa com o novo modelo conceptual proposto pela OMS enfatizando a diversidade de
niacuteveis de funcionamento humano e apelando a uma certa noccedilatildeo de relatividade socialmente
construiacuteda Uma das criticas feita pela comunidade de investigadores ao conceito de ldquopessoas
com diversidade funcionalrdquo reside no facto de que a expressatildeo eacute dotada de um tatildeo elevado
niacutevel de abrangecircncia que natildeo permite um niacutevel de diferenciaccedilatildeo relevante na medida em que
todos os cidadatildeos detecircm entre si diversos e diferentes padrotildees de funcionamento humano
Neste sentido o conceito ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo aplicar-se-ia a todos os
cidadatildeos sem excepccedilatildeo A proliferaccedilatildeo destes termos eacute explicada pela necessidade da
comunidade politica e cientifica de construir constructos que sejam socialmente aceites e o
mais neutros possiacuteveis do ponto de vista dos seus valores impliacutecitos No entanto a
impossibilidade epistemoloacutegica de desenvolver expressotildees e conceitos socio-historicamente
neutros parece levar muitas vezes agrave concepccedilatildeo de definiccedilotildees com reduzida identidade isto eacute
de significado demasiado amplo e abrangente o que na expressatildeo da UPIAS ldquopodem significar
tudo e coisiacutessima nenhumardquo (2005)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 28
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Os conceitos ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo ldquopessoas com limitaccedilotildees de
actividaderdquo e ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo afiguram-se comparativamente ao
anterior como um conceito de maior coerecircncia conceptual com o modelo proposto pela OMS e
deteacutem cumulativamente um maior poder diferenciador A sua desvantagem reside no facto de
constituiacuterem expressotildees com maior dificuldade de apreensatildeo e inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 29
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
5 ANAacuteLISE DOS REFERENCIAIS NACIONAIS E INTERNACIONAIS
No sentido de obter um conjunto de vectores de referecircncia na estruturaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo do
conceito de deficiecircncia foram analisadas as abordagens desenvolvidas pelos seguintes
organismos INE Eurostat OCDE American Disabilities Act WHO UN
51 INE
Os dados disponiacuteveis no INE parecem indicar a utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na
ICIDH
Deficiecircncia1 Perda ou alteraccedilatildeo de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou
anatoacutemica Nesta definiccedilatildeo estatildeo incluiacutedas as seguintes tipologias2
Deficiecircncia AUDITIVA
Deficiecircncia MENTAL
Deficiecircncia MOTORA
Deficiecircncia ORGAcircNICO-FUNCIONAL
Deficiecircncia PSIQUIAacuteTRICA
Deficiecircncia VISUAL
Incapacidade3 Ausecircncia ou limitaccedilatildeo da capacidade para funcionar estando comprometida a
realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida
diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e originando uma desvantagem para funcionar em
sociedade face a outros
Pessoa deficiente Aquela que tenha uma ou mais das seguintes deficiecircncias a) deficiecircncia
visual b) deficiecircncia auditiva c) deficiecircncia mental d) deficiecircncia motora
1 Nota Na operaccedilatildeo censitaacuteria de 2001 apenas foi observada a deficiecircncia permanente a deficiecircncia temporaacuteria natildeo foi considerada (por exemplo se um indiviacuteduo se desloca com canadianas ou em cadeira de rodas porque partiu uma perna ou se sofre de descolamento parcial da retina que o obriga a andar com uma venda natildeo foi considerado como tendo uma deficiecircncia) 2 Fonte INE ndash Censos 2001 ndash Recenseamento Geral da Populaccedilatildeo (Antecedentes Metodologia e Conceitos) Antecedentes Metodologia e Conceitos 3 Fonte INS ndash Inqueacuterito Nacional agrave Sauacutede
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
Trabalhador deficiente Trabalhador que estaacute incapacitado para assegurar por si mesmo total
ou parcialmente a satisfaccedilatildeo de necessidades de uma vida individual ou social normal devido
a uma deficiecircncia congeacutenita ou adquirida das suas capacidades fiacutesicas sensoriais ou
mentais tendo por isso dificuldade em obter eou manter o desempenho de funccedilotildees de acordo
com as suas habilitaccedilotildees idade e experiecircncia profissional
Cidadatildeo Trabalhador com necessidades especiais Cidadatildeo idoso ou portador de
deficiecircncias sensoriais (visuais e auditivas) fiacutesicas (motoras) e cognitivas
52 EUROSTAT
Os dados disponibilizados pelo Eurostat no seu endereccedilo electroacutenico4 parecem indicar a
utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na ICIDH
Conceito Deficiecircncia5
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de deficiecircncia refere-se a uma perda ou alteraccedilatildeo
de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou anatoacutemica
Conceito Incapacidade6
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de incapacidade refere-se agrave ausecircncia ou limitaccedilatildeo
da capacidade para funcionar estando comprometida a realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas
funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e
originando uma desvantagem para funcionar em sociedade face a outros
Conceito Desvantagem7
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito refere-se agrave desvantagem para um dado individuo
decorrente de uma deficiecircncia ou incapacidade
4 httpforumeuropaeuintircdsiscodedinfodatacodedenTheme3htm 5 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 6 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 7 Fonte Key data on health 2000 Eurostat
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
53 OCDE
Definiccedilotildees gerais de incapacidade
No contexto da OCDE identificam-se 2 abordagens distintas no quadro da definiccedilatildeo de
incapacidade
A incapacidade pode ser definida enquanto um estado decorrente de autoavaliaccedilatildeo ou um
status baseado em fontes administrativas eg beneficiaacuterio dos apoios De forma muito
frequente e talvez de forma imprecisa estas duas definiccedilotildees satildeo explicitadas como
incapacidade ldquosubjectivardquo versus rdquoobjectivardquo
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo e instrumentos
A incapacidade autoavaliada eacute medida atraveacutes de inqueacuteritos feitos directamente aos cidadatildeos
nas suas residecircncias Apesar da avaliaccedilatildeo ser baseada de uma forma geral nas respostas agraves
questotildees relativas a problemas de sauacutede de longo termo que limitam as actividades de vida
diaacuteria o detalhe das questotildees eacute geralmente diferente dificultando a comparabilidade dos
dados Por exemplo ldquolongo termordquo eacute parametrizado em 6 meses na Noruega e em 12 meses
na Suiccedila O status dos beneficiaacuterios pode ser avaliado atraveacutes de registos administrativos ou
atraveacutes de inqueacuteritos Os resultados entre as duas fontes satildeo de uma forma geral bastante
diferentes por duas razotildees nucleares os registos administrativos geralmente contam casos e
natildeo pessoas o que em situaccedilotildees de benefiacutecios muacuteltiplos pode levar a contagens duplas por
outro lado os inqueacuteritos satildeo baseados nas respostas sobre o status do beneficiaacuterio e algumas
pessoas podem desejar natildeo revelar a sua condiccedilatildeo perante os benefiacutecios
Nenhuma destas definiccedilotildees e medidas de mensuraccedilatildeo eacute superior a outras pelo que a sua
utilizaccedilatildeo depende dos objectivos do propoacutesito da investigaccedilatildeo e da disponibilidade da
informaccedilatildeo
Abordagens para medir a incapacidade no quadro da aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos agraves populaccedilotildees
a) Incapacidade geral (natildeo especificada)
Puacuteblico-alvo todos os adultos
b) Incapacidade relativa ao trabalho
Puacuteblico-alvo pessoas em idade activa
c) Limitaccedilotildees nas actividades de vida diaacuteria (AVD)
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Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Puacuteblico-alvo Populaccedilatildeo idosa
54 AMERICAN DISABILITIES ACT
O American Disabilities Act (ADA) desenvolvido em 1990 fornece um conjunto de guidelines
no sentido de assegurar a disponibilizaccedilatildeo de serviccedilos para as pessoas com deficiecircncias bem
como a protecccedilatildeo dos seus direitos legais
A ADA inclui uma definiccedilatildeo legal de incapacidade consistindo na presenccedila de ldquouma deficiecircncia
fiacutesica ou mental que limita significativamente uma ou mais das principais actividades de vidardquo
Independentemente da definiccedilatildeo proposta pela ADA a existecircncia de muacuteltiplos programas a
favor das pessoas com deficiecircncias e os diferentes focus legais em diferentes puacuteblicos alvo
fazem com que tenham emergido uma multiplicidade de definiccedilotildees de incapacidade ao longo
do tempo no quadro das poliacuteticas sociais americanas
55 OMS ONU Revisatildeo dos actuais inqueacuteritos sobre a incapacidade
Apesar de existir um desenvolvimento consideraacutevel dos inqueacuteritos na aacuterea da incapacidade
poder-se-atildeo explicitar algumas observaccedilotildees relativas agrave sua multiplicidade Numa primeira linha
de anaacutelise os inqueacuteritos tendem a focalizar-se nas limitaccedilotildees de actividade eou na deficiecircncia
No que concerne agrave formulaccedilatildeo escrita tendem a existir diferenccedilas significativas entre
inqueacuteritos facto que inviabiliza natildeo raras vezes a comparabilidade dos dados entre inqueacuteritos
As diferentes formulaccedilotildees das questotildees incluem
Tem dificuldade
Eacute capaz de
Faz
Tem sentido problemas em
com ou sem assistecircncia pessoal eou tecnoloacutegica
A questatildeo que se coloca eacute se estas formulaccedilotildees tecircm o mesmo significado isto eacute se todas elas
pretendem medir a capacidade ou a performance De acordo com a CIF a capacidade
remeteria para o potencial de execuccedilatildeo de um indiviacuteduo enquanto a performance diria respeito
ao niacutevel de desempenho efectivo do indiviacuteduo atraveacutes do seu envolvimento numa situaccedilatildeo de
vida real As lacunas existentes e as poucas referecircncias ao niacutevel da forma como os inquiridos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 33
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
satildeo instruiacutedos a responder faz com que natildeo seja possiacutevel desenvolver um discernimento
irrefutaacutevel sobre esta mateacuteria
Do ponto de vista dos domiacutenios abrangidos os inqueacuteritos tecircm apresentado algumas questotildees
sobre a participaccedilatildeo e o ambiente e evidenciam algumas limitaccedilotildees na sua amplitude Os
domiacutenios de actividades e participaccedilatildeo geralmente abrangidos tecircm sido operacionalizados de
uma forma geral nas seguintes dimensotildees
Educaccedilatildeo e emprego (formulado como questotildees de performance)
Outros inqueacuteritos incluem aacutereas como relaccedilotildees interpessoais vida familiar tomada de
decisotildees etc
O domiacutenio relativo aos factores ambientais tem incluiacutedo
Utilizaccedilatildeo e acessibilidadedisponibilidade dos produtos de assistecircncia e da tecnologia
Acessibilidade do ambiente
Disponibilidade dos serviccedilos (sauacutede protecccedilatildeo social educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo)
Evidecircncias muito escassas ao niacutevel da poliacutetica atitudes ambiente natural
planeamento e concepccedilatildeo
A questatildeo de investigaccedilatildeo neste contexto centra-se na seguinte formulaccedilatildeo ldquoo que eacute que os
inqueacuteritos medem como incapacidaderdquo
a) Definiccedilatildeo a priori da incapacidade versus sem incapacidade
Alguns inqueacuteritos sobre a incapacidade especialmente os mais antigos utilizam uma definiccedilatildeo
a priori de incapacidade O objectivo deste tipo de inqueacuteritos eacute contar o nuacutemero de pessoas
que se encaixam na definiccedilatildeo no contexto da populaccedilatildeo total Neste sentido os dados satildeo
analisados de acordo com dois grupos de referecircncia ndash com incapacidade e sem incapacidade ndash
em funccedilatildeo de um conjunto de diferentes variaacuteveis Este tipo de questionaacuterios formula questotildees
do tipo ldquoPossui algum tipo de incapacidade auditiva visual ou fiacutesicardquo Muitas questotildees dos
censos tecircm utilizado este formato
b) Definiccedilatildeo a posteriori de incapacidade versus sem incapacidade
Mais recentemente alguns inqueacuteritos desenvolveram-se em direcccedilatildeo a uma definiccedilatildeo a
posteriori de incapacidade Nestes casos eacute medida a capacidade a performance ao longo de
um conjunto vasto de domiacutenios Este segundo tipo de inqueacuteritos tende a ter uma ampla
aceitaccedilatildeo eg HALS (Canada) HID (Franccedila) inqueacuterito sobre incapacidade na Africa do Sul
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 34
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Inqueacuterito Espanhol sobre incapacidade NHIS-D (USA) inqueacuterito Holandecircs entre outros Estes
instrumentos formulam questotildees relativas agraves dificuldades que as pessoas experienciam em
diferentes domiacutenios produzindo um perfil pessoal que possa colocar em evidecircncia os
diferentes graus de capacidade associados A categorizaccedilatildeo de incapacidade sem
incapacidade eacute formulada ao niacutevel do domiacutenio e natildeo como uma categoria geral de atributo
pessoal Esta abordagem permite uma anaacutelise ao niacutevel de funcionamento individual por
domiacutenio por exemplo comparando a experiecircncia de incapacidade no domiacutenio de mobilidade
versus socializaccedilatildeo versus comunicaccedilatildeo entre outros bem como o impacto dos factores
ambientais nestes diferentes domiacutenios O perfil resultante do funcionamento individual ao longo
de muacuteltiplos domiacutenios eacute similar aos estados de sauacutede individuais ao longo das diferentes
dimensotildees
Vantagens de uma abordagem a posteriori
Estaacute em consonacircncia com a abordagem universal proposta pela CIF Todas as
pessoas experienciam deficiecircncia nalgum ponto e esta experiecircncia eacute caracterizada
numa abordagem a posteriori e natildeo a priori
Decisotildees sobre a criaccedilatildeo de categorias sobre quem tem incapacidade e sobre quem
natildeo tem podem ser tomadas atraveacutes de diferentes niacuteveis de anaacutelise por exemplo
atraveacutes da anaacutelise da experiecircncia das pessoas que experienciam incapacidade em 1 2
ou 3 domiacutenios de cruzar o status de emprego de pessoas com incapacidade ao longo
dos diferentes domiacutenios etc
Deixa de ser necessaacuteria uma definiccedilatildeo tipoloacutegica e categoacuterica de pessoas com
incapacidade O que necessita de ser definido neste contexto eacute o que se designa por
limitaccedilatildeo da capacidade ou problemas de performance ao longo dos diferentes
domiacutenios
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 35
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 36
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6 SISTEMATIZACcedilAtildeO DAS DIMENSOtildeES DE ORGANIZACcedilAtildeO E
OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em todos os estudos efectuados neste domiacutenio foi colocada em evidecircncia a actual dificuldade
de comparabilidade estatiacutestica internacional inter ou intra sectorial independentemente do
organismo referenciador ndash OCDE ONU EUROSTAT INE OMS
Neste contexto desenvolver-se-aacute a extracccedilatildeo de conhecimento tendo por base a identificaccedilatildeo
de um conjunto de eixos de anaacutelise que actuem como vectores de estruturaccedilatildeo na
operacionalizaccedilatildeo do conceito A este propoacutesito atente-se no Quadro 2
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Abordagem Focus Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Delimitaccedilatildeo temporal do
conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo
Design das questotildees
CID-10
ICIDH
ICF
SauacutedeDoenccedila
Deficiecircncia
Incapacidade
a) Geral
b) Relativa ao trabalho
c) Limitaccedilotildees nas
actividades de vida
diaacuteria
Funcionalidade ndash
Niacuteveis de execuccedilatildeo
das actividades por
domiacutenio e niacuteveistipos
de ajudas mobilizadas
Intersubjectivo ndash
vg inqueacuteritos
Objectivo ndash vg
fontes administrativas
A priori
A posteriori
Temporaacuterias
permanentes
Progressivas
regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou
contiacutenuas
Tipo 1 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre uma determinada
condiccedilatildeo individual
combinada com itens
referentes a limitaccedilotildees de
actividade e participaccedilatildeo e
factores contextuais
Tipo 2 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre a presenccedila de uma
pessoa com incapacidade
no agregado familiar
seguindo-se uma lista de
deficiecircncias e
incapacidades
Tipo 3 ndash Checklist de
deficiecircncias
Quadro 2 ndash Eixos de operacionalizaccedilatildeo do conceito
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 37
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 38
Dezembro2006
7 ESCOLHA DO CENAacuteRIO A IMPLEMENTAR
A anaacutelise do Quadro 2 permite-nos uma definiccedilatildeo modular do cenaacuterio a implementar atraveacutes de
uma configuraccedilatildeo do conceito pelos eixos de anaacutelise propostos Uma das dificuldades
evidentes nesta delimitaccedilatildeo prende-se com o cumprimento dos requisitos de (a)
comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica e legislativa dentro do contexto portuguecircs
e (c) conformidade com os referenciais conceptuais actuais sendo que a coexistecircncia destes
criteacuterios afigura-se em muitos casos incompatiacutevel entre si Para efeitos da estruturaccedilatildeo do
cenaacuterio privilegiar-se-aacute a conformidade com os referenciais conceptuais actuais
71 ABORDAGEM No que concerne agrave abordagem privilegia-se a adopccedilatildeo das mais recentes directrizes propostas
pela OMS adoptando explicitamente a CIF
Fundamentaccedilatildeo
A CIF apresenta a capacidade para descrever o funcionamento humano numa
perspectiva biopsicossocial em detrimento da classificaccedilatildeo anterior (ICIDH) que se
focalizava na dimensatildeo biomeacutedica A CIF foi desenvolvida no plano conceptual para ser aplicaacutevel em diferentes aacutereas e
sectores A CIF eacute aplicaacutevel transversalmente agraves dimensotildees de cultura idade geacutenero sendo um
instrumento sistemaacutetico para descrever e medir a sauacutede e o funcionamento humano
num dado contexto A CIF constitui-se enquanto instrumento potencial para a poliacutetica social design das
intervenccedilotildees nos domiacutenios da sauacutede educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e intervenccedilatildeo social Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
72 FOCUS
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo da centraccedilatildeo da recolha de dados ao niacutevel
da dimensatildeo de funcionalidade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 39
Dezembro2006
Fundamentaccedilatildeo
Consonacircncia com o modelo conceptual proposto pela CIF enfatizando o caraacutecter
dinacircmico e interaccional (pessoa factores contextuais) do funcionamento de cada
pessoa Permite caracterizar as limitaccedilotildees de actividade e restriccedilotildees de participaccedilatildeo dos
cidadatildeos identificando necessidades de intervenccedilotildees especializadas numa loacutegica de
empowerment e participaccedilatildeo social Permite analisar a adequabilidade e ajustamento das actuais medidas poliacuteticas do
ponto de vista dos seus objectivos e os problemas detectados ao niacutevel da participaccedilatildeo
dos cidadatildeos ao longo de um conjunto diversificado de domiacutenios
73 MEacuteTODOS DE MENSURACcedilAtildeO
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo de meacutetodos intersubjectivos nomeadamente
inqueacuteritos
Fundamentaccedilatildeo
Flexibilidade ao niacutevel da abrangecircncia e profundidade das dimensotildees
Maior facilidade na implementaccedilatildeo atendendo agrave disponibilizaccedilatildeo de uma amostra
delimitada
Maior niacutevel de controlo sobre as condiccedilotildees de observaccedilatildeo e da entrevista devido ao
menor nuacutemero de entrevistas a ser implementado
74 DELIMITACcedilAtildeO CONCEPTUAL E TEMPORAL DO CONCEITO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo temporal e apesar de se privilegiar as vantagens anteriormente
explicitadas no desenvolvimento de uma definiccedilatildeo a posteriori assume-se a necessidade
politica de delimitar o campo de intervenccedilatildeo do conjunto de medidas sociais neste domiacutenio
pelo que a delimitaccedilatildeo conceptual poderaacute ser objecto de operacionalizaccedilatildeo atraveacutes dos
seguintes paracircmetros
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
Poder-se-aacute colocar a questatildeo de saber se a delimitaccedilatildeo do conceito proposta remete
especificamente para ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ou para ldquopessoas com limitaccedilotildees de
participaccedilatildeordquo Atendendo a que a definiccedilatildeo comporta uma abordagem sisteacutemica enfatizando a
interacccedilatildeo entre um conjunto diversificado de componentes que produzem impacto na
funcionalidade da pessoa a resposta natildeo eacute linear dependendo da ecircnfase socio-histoacuterica e da
abordagem sociopoliacutetica que se escolher enfatizar No entanto e do ponto de vista conceptual
privilegia-se a adopccedilatildeo do conceito ldquopessoas com limitaccedilotildees de participaccedilatildeordquo dado que existe
total autonomia operativa entre os diferentes constructos Neste sentido a deficiecircncia natildeo
constitui um factor causal linear das limitaccedilotildees de actividade e das restriccedilotildees ao niacutevel da
participaccedilatildeo mas antes uma das componentes que em interacccedilatildeo com outras podem
provocar impactos ao niacutevel da funcionalidade do indiviacuteduo Por uacuteltimo refira-se que a tipologia
ldquopessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeordquo poderaacute ser alvo de criticas por constituir
uma designaccedilatildeo que apela a duas componentes em simultacircneo (actividades e participaccedilatildeo)
excluindo outras e ser demasiado longa para uma definiccedilatildeo tipoloacutegica A este propoacutesito pode-
se sugerir a delimitaccedilatildeo ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo constituindo esta
expressatildeo uma abordagem holiacutestica ao conjunto de componentes que interferem com o
funcionamento humano Deste modo poderemos ter as seguintes designaccedilotildees
Pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Pessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo
Pessoas com limitaccedilotildees de funcionalidade
Figura 2 ndash Possiacuteveis designaccedilotildees
O Quadro 3 pretende fornecer uma visatildeo sistemaacutetica sobre o processo de decisatildeo da
designaccedilatildeo a adoptar
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
deficiecircncias
Tradiccedilatildeo analiacutetica dentro do
contexto portuguecircs
Em conformidade com o modelo
meacutedico ndash centra-se nas alteraccedilotildees
de estrutura e funccedilatildeo ndash
focalizaccedilatildeo na pessoa
Desarticulado dos pressupostos do
modelo social ndash natildeo remete para a
experiecircncia de incapacidade
enquanto produto da interacccedilatildeo
entre pessoa e ambiente
Mai
or
Abr
angecirc
ncia
Mai
or
Espe
cific
idad
e
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 41
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
incapacidades
Em conformidade com a
delimitaccedilatildeo anglo-saxoacutenica que
utiliza o conceito Disability
Focalizaccedilatildeo no poacutelo negativo do
funcionamento humano ndash
funcionalidadeincapacidade
Ao focalizar-se na experiecircncia de
incapacidade enquanto
interacccedilatildeo pessoa-ambiente
remete indirectamente para a
mobilizaccedilatildeo de apoios e recursos
de forma a ultrapassar eou
eliminar os obstaacuteculos ao
funcionamento em contexto
O potencial efeito estigmatizante
da expressatildeo ldquopessoas com
incapacidadesrdquo
Pessoas com
diversidade
Funcional
Em conformidade com o modelo
social
Focaliza-se na gestatildeo das
diferenccedilas e no seu impacto ao
niacutevel da participaccedilatildeo das pessoas
na sociedade
Elevado niacutevel de abrangecircncia natildeo
permitindo um niacutevel de
diferenciaccedilatildeo relevante na
medida em que todos os cidadatildeos
detecircm entre si diversos e
diferentes padrotildees de
funcionamento humano
Conceito dificilmente
operacionalizaacutevel do ponto de
vista da formulaccedilatildeo das poliacuteticas e
da delimitaccedilatildeo dos puacuteblicos-alvo
Pessoas com
restriccedilotildees ao
niacutevel da
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos Desta forma
todos os obstaacuteculos agrave participaccedilatildeo
relacionados com discriminaccedilatildeo
social preconceitos estereoacutetipos
deficiecircncias doenccedilas croacutenicas
entre outros satildeo incluiacutedos
Natildeo inclui as limitaccedilotildees de
actividade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
limitaccedilotildees de
actividade e
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida e simultaneamente no
domiacutenio das limitaccedilotildees de
actividade
Ruptura com a tradiccedilatildeo analiacutetica
no sector
Dificuldade de apreensatildeo e
inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Natildeo inclui as alteraccedilotildees da
estrutura e da funccedilatildeo
Pessoas com
limitaccedilotildees de
funcionalidade
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel das
diferentes dimensotildees constituintes
da funcionalidade e do
funcionamento humano
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos
Pessoas com
deficiecircncias e
incapacidades
Natildeo introduz ruptura com a
tradiccedilatildeo analiacutetica no sector
Inclui as alteraccedilotildees de estrutura e
funccedilatildeo bem como as alteraccedilotildees
decorrentes ao niacutevel da
funcionalidade
Diferencia os conceitos de
deficiecircncia e incapacidade
autonomizando-os e fornecendo
uma base compreensiva para o
natildeo estabelecimento de relaccedilotildees
de causa-efeito entre os ambos
Abrange os obstaacuteculos que
emergem na interacccedilatildeo pessoa-
contextos de vida e
simultaneamente no domiacutenio das
limitaccedilotildees de actividade
Poder diferenciador e delimitador
na definiccedilatildeo do puacuteblico-alvo
Em alinhamento estrateacutegico com o
PAIPDI
Designaccedilatildeo de compromisso com
os referenciais teoacutericos do modelo
social e dos princiacutepios da ldquoeacutetica da
diversidaderdquo
Quadro 3 ndash Visatildeo comparativa das hipoacuteteses da designaccedilatildeo a adoptar
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 43
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75 DELIMITACcedilAtildeO DA DURACcedilAtildeO E CURSO DE EVOLUCcedilAtildeO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo interessa a caracterizaccedilatildeo nas
3 dimensotildees desenvolvidas
Fundamentaccedilatildeo
Afigura-se relevante caracterizar a ocorrecircncia das deficiecircncias quanto aacute sua
consistecircncia no tempo ndash temporaacuterias permanentes ndash analisando os factores
contextuais associados consequecircncias ao niacutevel das actividades e da participaccedilatildeo ao
longo de um conjunto de domiacutenios em ordem agrave extracccedilatildeo de implicaccedilotildees no acircmbito
das poliacuteticas sociais
No acircmbito da adaptabilidade e da adequaccedilatildeo das medidas poliacuteticas agraves necessidades
especiacuteficas dos cidadatildeos torna-se relevante caracterizar a deficiecircncia quanto agrave
natureza do seu curso evolutivo ndash progressivas regressivas estaacuteveis O mesmo
criteacuterio eacute aplicaacutevel quanto aacute dimensatildeo de padratildeo de manifestaccedilatildeo ndash intermitente
contiacutenua
No entanto e apesar da incapacidade se manifestar ao longo do ciclo de vida da pessoa
de forma multimodal para efeitos de delimitaccedilatildeo e de definiccedilatildeo do conceito de pessoas
com deficiecircncias e incapacidades privilegiaremos o caraacutecter permanente Desta forma
excluem-se as manifestaccedilotildees temporaacuterias de incapacidade que enviesariam a anaacutelise e o
desenvolvimento de poliacuteticas neste domiacutenio
76 DESIGN DAS QUESTOtildeES
No que concerne ao design das questotildees privilegia-se a escolha de questotildees tipo 1
Fundamentaccedilatildeo
Em consonacircncia com a CIF
Permite comparabilidade estatiacutestica futura
Permite a caracterizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre os factores de funcionalidade ndash integridade
estrutural e funcional actividades participaccedilatildeo e factores contextuais
Permite o design das poliacuteticas sociais e metodologias de intervenccedilatildeo alicerccediladas nas
necessidades especiacuteficas dos cidadatildeos em torno das dimensotildees de inclusatildeo social
Domiacutenios
Visatildeo
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Audiccedilatildeo
Comunicaccedilatildeo
Mobilidade
Dor
Aprendizagem e funcionamento psicoloacutegico
Autocuidados e vida domeacutestica
Condiccedilotildees gerais de sauacutede
Mobilizaccedilatildeo de ajudas ou equipamento especializado
Participaccedilatildeo social
Transporte e educaccedilatildeo
77 PROPOSTA DE DELIMITACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em funccedilatildeo das dimensotildees caracterizadas e dos criteacuterios privilegiados desenvolveu-se o
seguinte enquadramento conceptual
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Figura 2 ndash Enquadramento conceptual da delimitaccedilatildeo do conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso da evoluccedilatildeo
Temporaacuterias permanentes
Progressivas regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou contiacutenuas
Focus
Funcionalidade ndash Niacuteveis de execuccedilatildeo das actividades por domiacutenio e niacuteveistipos de ajudas mobilizadas
Abordagem CIF
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo temporal do conceito
A priori
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Inter-subjectivo
Design das questotildees
Questatildeo geneacuterica sobre uma determinada condiccedilatildeo individual combinada com itens referentes a limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo e factores contextuais
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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8 CRITEacuteRIOS DE ELEGIBILIDADE DO PUacuteBLICO-ALVO E SISTEMAS DE
AVALIACcedilAtildeO
A operacionalizaccedilatildeo do conceito de incapacidade tem sido abordada de forma heterogeacutenea
entre diferentes modalidades de politica e os diferentes contextos socioculturais de cada paiacutes
De uma forma geral encontram-se 2 eixos criacuteticos na sua operacionalizaccedilatildeo
a) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de trabalho (na ocupaccedilatildeo preacutevia ou numa nova
ocupaccedilatildeo ajustada agraves alteraccedilotildees funcionais)
b) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de obter rendimentos provenientes do trabalho
A explicitaccedilatildeo dos criteacuterios de delimitaccedilatildeo do conceito de incapacidade nos diferentes paiacuteses
encontra-se na Quadro 4
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Austraacutelia 2 Criteacuterios possuir uma incapacidade que resulte
num score nunca inferior a 20 nas tabelas de
incapacidades e incapacidade em trabalhar 30
horas ou mais por semana ou em ser
reconvertido para trabalho em contexto regular
nos proacuteximos 2 anos
Nenhum
Aacuteustria 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho (50
de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo para
trabalhadores sem qualificaccedilotildees) papel criacutetico
das decisotildees dos tribunais devido a definiccedilotildees
legais imprecisas
Nenhum mas as
restriccedilotildees de sauacutede
devem ter uma duraccedilatildeo
igual ou superior a 6
meses
Beacutelgica 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na actual ocupaccedilatildeo
1 ano
Canada Incapacidade severa e prolongada que impeccedila de
desenvolver trabalho numa base regular
Nenhum
Dinamarca 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum mas a
reabilitaccedilatildeo precisa de
estar completa
Franccedila 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual mas a
totalidade do subsidio requer igualmente perda de
capacidade de trabalho
Nenhum no caso das
condiccedilotildees estarem
estaacuteveis mas muito
frequentemente apoacutes 3
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
anos
Alemanha 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho a
incapacidade parcial eacute calculada em funccedilatildeo do nordm
de horas que a pessoa pode trabalhar
Nenhum mas a
incapacidade deve ter
uma duraccedilatildeo miacutenima
de 26 semanas
Itaacutelia 666reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum
Coreia Criteacuterios meacutedicos (niacuteveis de incapacidade
definidos de forma detalhada)
Periacuteodo de espera de
50 dias (os subsiacutedios
de doenccedila natildeo se
encontram disponiacuteveis)
Meacutexico 50 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo Nenhum
Holanda 15 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
(25 para os trabalhadores por conta proacutepria e
jovens com incapacidade) grau de incapacidade
calculado pela diferenccedila de remuneraccedilatildeo entre o
actual posto de trabalho compatiacutevel com as
limitaccedilotildees funcionais e o anterior
1 ano
Noruega 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho O
grau de subsiacutedio eacute calculado pela capacidade de
remuneraccedilatildeo
Nenhum (apoacutes ter
completado a
reabilitaccedilatildeo vocacional)
Poloacutenia Reduccedilatildeo temporaacuteria ou permanente da
capacidade de trabalho
Nenhum
Portugal 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual
Nenhum mas na
praacutetica ao fim de 3
anos (fim do periacuteodo de
doenccedila de longo termo)
Espanha 33 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho na
ocupaccedilatildeo actual incapacidade para todo e
qualquer trabalho para a totalidade do subsiacutedio
1 ano (embora seja
possiacutevel a candidatura
antes deste prazo em
casos de incapacidade
permanente)
Sueacutecia 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho grau
de incapacidade parcial calculado a partir das
horas que uma pessoa pode trabalhar
Nenhum
Suiccedila 40 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho para
as pessoas inactivas o grau de incapacidade eacute
calculado em relaccedilatildeo aacute actividade actual
1 ano
Turquia 666 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho
com um focus meacutedico bastante significativo
Nenhum
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Reino Unido Limitaccedilotildees nas actividades de vida quotidianas
relevantes para o trabalho (avaliaccedilotildees meacutedicas
predominantes) teste ocupacional durante a s
primeiras 28 semanas (subsidio de doenccedila)
28 semanas
Estados
Unidos
Reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
incapacidade em investir numa actividade
profissional com rendimentos ($ US 740 por mecircs)
5 meses (nem sempre
cobertos pelos
subsiacutedios de curto-
termo) e 24 meses
para a cobertura
meacutedica
Quadro 4 ndash Definiccedilotildees de incapacidade e tempos regulamentares
Um dos desafios que se coloca aos actuais sistemas reside na delimitaccedilatildeo da elegibilidade do
puacuteblico-alvo Para cumprir este objectivo satildeo necessaacuterios sistemas de avaliaccedilatildeo holiacutesticos
abrangentes coerentes e que permitam chegar a resultados de forma consistente e com
validade interna No actual contexto a CIF propotildee constituir-se como o instrumento conceptual
abrangente para caracterizar os diferentes domiacutenios e niacuteveis de funcionalidade incapacidade
de forma coerente e integrada Neste sentido uma das vantagens apontadas para a adopccedilatildeo
do modelo desenvolvido pela OMS eacute a possibilidade de uniformizaccedilatildeo de conceitos e portanto
da utilizaccedilatildeo de uma linguagem padratildeo que permita a comunicaccedilatildeo entre investigadores
gestores profissionais de sauacutede organizaccedilotildees da sociedade civil e utilizadores em geral
Um dos campos de estudo mais explorados para a aplicaccedilatildeo da CIF tem sido a aacuterea de
Medicina Fiacutesica e de Reabilitaccedilatildeo no que concerne ao acompanhamento do estado de sauacutede
dos pacientes em tratamento O uso da CIF tem sido considerado tambeacutem na avaliaccedilatildeo apoacutes
transtornos agudos condiccedilotildees traumaacuteticas condiccedilotildees croacutenicas e na geriatria
Alguns autores argumentam que a CIF deve ser explorada como uma base de informaccedilotildees
padronizadas em estudos sobre incapacidade profissional quando haacute necessidade de
relacionar dados de sauacutede ocupacional com os da Seguranccedila Social
Na Sauacutede Puacuteblica tradicionalmente pouca atenccedilatildeo tem sido dada agraves pessoas com
incapacidades No entanto ao lado de recentes investimentos por parte de organizaccedilotildees e de
alguns governos a publicaccedilatildeo do modelo da CIF fornece as bases para as poliacuteticas e
disciplinas da Sauacutede Puacuteblica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo que apresenta deficiecircncias e
incapacidades Assim uma das possibilidades de uso da CIF pode ser a contribuiccedilatildeo para
responder a importantes questotildees de sauacutede puacuteblica tais como qual o estado de sauacutede das
pessoas com deficiecircncias comparadas com as demais que necessidades e que tipos de
intervenccedilotildees satildeo mais adequadas para reduzir condiccedilotildees secundaacuterias e promover a
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na sociedade entre outras
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 51
Dezembro2006
Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
Dezembro2006
Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 53
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
O termo do modelo da CIF eacute a funcionalidade que cobre os componentes de funccedilotildees e
estruturas do corpo actividade e participaccedilatildeo social A funcionalidade eacute usada no aspecto
positivo e o aspecto negativo corresponde agrave incapacidade Segundo esse modelo a
incapacidade eacute resultante da interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada pelo indiviacuteduo (seja
orgacircnica e ou da estrutura do corpo) a limitaccedilatildeo de suas actividades e a restriccedilatildeo na
participaccedilatildeo social e os factores ambientais que podem actuar como facilitadores ou barreiras
para o desempenho dessas actividades e da participaccedilatildeo
A CIF eacute baseada portanto numa abordagem biopsicossocial que incorpora os componentes
de sauacutede nos niacuteveis corporais e sociais Assim na avaliaccedilatildeo de uma pessoa com deficiecircncias
e incapacidades esse modelo destaca-se do biomeacutedico baseado no diagnoacutestico etioloacutegico da
disfunccedilatildeo evoluindo para um modelo que incorpora as trecircs dimensotildees a biomeacutedica a
psicoloacutegica (dimensatildeo individual) e a social Nesse modelo cada niacutevel age sobre e sofre a
acccedilatildeo dos demais sendo todos influenciados pelos factores ambientais A OMS pretende
incorporar tambeacutem no futuro os factores pessoais importantes na forma de lidar com as
condiccedilotildees limitantes
O objectivo pragmaacutetico da CIF eacute fornecer uma linguagem padronizada e um modelo para a
descriccedilatildeo da sauacutede e dos estados relacionados com a sauacutede permitindo a comparaccedilatildeo de
dados referentes a essas condiccedilotildees entre paiacuteses serviccedilos sectores relativos agrave sauacutede bem
como o acompanhamento da sua evoluccedilatildeo no tempo
No entanto os conceitos apresentados na classificaccedilatildeo introduzem um novo paradigma para
pensar e trabalhar as deficiecircncias e incapacidades elas natildeo satildeo apenas uma consequecircncia
das condiccedilotildees de sauacutede doenccedila mas satildeo determinadas tambeacutem pelo contexto do meio
ambiente fiacutesico e social pelas diferentes percepccedilotildees culturais e atitudes em relaccedilatildeo agrave
deficiecircncias pela disponibilidade de serviccedilos e de legislaccedilatildeo Dessa forma a classificaccedilatildeo natildeo
constitui apenas um instrumento para medir o estado funcional dos indiviacuteduos Aleacutem disso ela
permite avaliar as condiccedilotildees de vida e fornecer subsiacutedios para poliacuteticas de inclusatildeo social
42 FUNCcedilOtildeES DO CORPO
As Funccedilotildees do corpo satildeo as funccedilotildees fisioloacutegicas dos sistemas orgacircnicos (incluindo as
funccedilotildees psicoloacutegicas)
As funccedilotildees e as estruturas do corpo satildeo classificadas em duas secccedilotildees diferentes Essas duas
classificaccedilotildees estatildeo concebidas de forma a serem utilizadas em paralelo Por exemplo as
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 23
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
funccedilotildees do corpo incluem sentidos humanos baacutesicos como as funccedilotildees da visatildeo e as
estruturas relacionadas aparecem na forma de ldquoolho e estruturas relacionadasrdquo
43 ESTRUTURAS DO CORPO
As Estruturas do Corpo satildeo as partes anatoacutemicas do corpo tais como oacutergatildeos membros e
seus componentes
ldquoCorpo refere-se ao organismo humano como um todo por isso o ceacuterebro e as suas funccedilotildees
ie a mente estatildeo incluiacutedos As funccedilotildees mentais (ou psicoloacutegicas) satildeo portanto incluiacutedas nas
funccedilotildees do corpo As funccedilotildees e as estruturas do corpo satildeo classificadas de acordo com os
sistemas orgacircnicos por isso as estruturas do corpo natildeo satildeo consideradas como oacutergatildeos no
seu sentido restrito
44 DEFICIEcircNCIA
Deficiecircncias satildeo problemas nas funccedilotildees ou na estrutura do corpo tais como um desvio
importante ou uma perda
As deficiecircncias de estrutura podem consistir numa anormalidade defeito perda ou outro desvio
importante relativamente a um padratildeo das estruturas do corpo As deficiecircncias foram definidas
de acordo com os conhecimentos bioloacutegicos actuais ao niacutevel de tecidos ou das ceacutelulas e ao
niacutevel subcelular ou molecular Por motivos praacuteticos no entanto esses niacuteveis natildeo estatildeo
classificados As bases bioloacutegicas das deficiecircncias orientaram essa classificaccedilatildeo e eacute possiacutevel
expandir a classificaccedilatildeo para incluir os niacuteveis celular ou molecular Do ponto de vista meacutedico
deve-se ter em mente que as deficiecircncias natildeo satildeo equivalentes agraves patologias subjacentes mas
sim a manifestaccedilotildees dessas patologias
As deficiecircncias correspondem a um desvio relativamente ao que eacute geralmente aceite como
estado biomeacutedico normal (padratildeo) do corpo e das suas funccedilotildees A definiccedilatildeo dos seus
componentes eacute feita essencialmente por pessoas com competecircncia para avaliar a
funcionalidade fiacutesica e mental de acordo com esses padrotildees
As deficiecircncias podem ser temporaacuterias ou permanentes progressivas regressivas ou estaacuteveis
intermitentes ou contiacutenuas O desvio em relaccedilatildeo ao modelo baseado na populaccedilatildeo e
geralmente aceite como normal pode ser leve ou grave e pode variar ao longo do tempo Estas
caracteriacutesticas satildeo consideradas posteriormente em descriccedilotildees adicionais principalmente nos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 24
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
coacutedigos atraveacutes de um qualificador que se acrescenta ao coacutedigo e do qual fica separado por
um ponto
As deficiecircncias natildeo tecircm uma relaccedilatildeo causal com a etiologia ou com a forma como se
desenvolveram Por exemplo a perda da visatildeo ou de um membro pode resultar de uma
anormalidade geneacutetica ou de uma lesatildeo A presenccedila de uma deficiecircncia implica
necessariamente uma causa No entanto a causa pode natildeo ser suficiente para explicar a
deficiecircncia resultante Da mesma forma quando haacute uma deficiecircncia haacute uma disfunccedilatildeo das
funccedilotildees ou estruturas do corpo mas isto pode estar relacionado com qualquer doenccedila
perturbaccedilatildeo ou estado fisioloacutegico
As deficiecircncias podem ser parte ou uma expressatildeo de uma condiccedilatildeo de sauacutede mas natildeo
indicam necessariamente a presenccedila de uma doenccedila ou que o indiviacuteduo deva ser
considerado doente
As deficiecircncias cobrem um campo mais vasto que as perturbaccedilotildees ou as doenccedilas Por
exemplo a perda de uma perna eacute uma deficiecircncia de uma estrutura do corpo mas natildeo eacute uma
perturbaccedilatildeo ou uma doenccedila
As deficiecircncias podem originar outras deficiecircncias Por exemplo a diminuiccedilatildeo da forccedila
muscular pode prejudicar as funccedilotildees do movimento as funccedilotildees cardiacuteacas podem estar
relacionadas com o deacutefice das funccedilotildees respiratoacuterias e uma percepccedilatildeo prejudicada pode estar
relacionada com as funccedilotildees do pensamento
Actualmente na perspectiva da CIF o conceito de deficiecircncia constitui o poacutelo negativo da
componente ldquoFunccedilotildees e Estrutura do Corpordquo sendo descrito atraveacutes da existecircncia de
alteraccedilotildees significativas das funccedilotildees eou das estruturas do corpo O poacutelo positivo desta
componente refere-se agrave integridade funcional e estrutural Neste contexto um dos desafios
criacuteticos das poliacuteticas sociais consiste na operacionalizaccedilatildeo do conceito de deficiecircncia de forma
a que a elegibilidade dos diferentes puacuteblicos alvo se encontre devidamente delimitada
assegurando a eficaacutecia das medidas subjacentes
No entanto a amplitude e abrangecircncia da definiccedilatildeo do conceito de deficiecircncia proposta pela
OMS atraveacutes da CIF coloca um enorme desafio na medida em que qualquer cidadatildeo desde
que apresente um desvio significativo ao niacutevel da estrutura eou funccedilatildeo passa a ser um
potencial beneficiaacuterio das poliacuteticas neste domiacutenio Neste contexto poder-se-atildeo colocar vaacuterias
questotildees A primeira eacute se interessa agraves diferentes poliacuteticas no sector continuarem a ser
desenvolvidas tendo por focus o conceito de pessoas com deficiecircncias sabendo que a sua
distinccedilatildeo ao longo da populaccedilatildeo apenas poderaacute ser feita atraveacutes do niacutevel e extensatildeo da
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 25
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
alteraccedilatildeo da integridade estrutural e funcional de cada individuo A segunda questatildeo prende-se
com as consequecircncias conceptuais decorrentes da integraccedilatildeo do modelo social na formulaccedilatildeo
e operacionalizaccedilatildeo dos conceitos a serem utilizados pelas poliacuteticas no sector na medida em
que o aspecto critico deixa de ser a natureza e severidade da deficiecircncia para passar a centrar-
se no niacutevel e tipo de restriccedilotildees de participaccedilatildeo que cada cidadatildeo experiencia na interacccedilatildeo
com os seus contextos de vida
No que concerne agrave primeira questatildeo e atendendo a que a mais recente definiccedilatildeo do conceito
de deficiecircncia proposto pela OMS apresenta um elevado niacutevel de abrangecircncia e um reduzido
potencial diferenciador poderemos equacionar 2 hipoacuteteses centrais de operacionalizaccedilatildeo
a) A primeira hipoacutetese baseia-se na possibilidade de operacionalizar diferentes definiccedilotildees
de deficiecircncia ao longo das diferentes poliacuteticas sociais no sentido de assegurar que as
diferentes medidas alcanccedilam efectivamente as pessoas para as quais foram
elaboradas Esta perspectiva tem a vantagem de uma maior focalizaccedilatildeo nas
caracteriacutesticas especificas do puacuteblico-alvo mas no entanto apresenta uma grande
desvantagem que consiste na elevada probabilidade das diferentes definiccedilotildees
perderem a coerecircncia entre si fragmentando igualmente o modelo teoacuterico a partir do
qual se deveriam basear
b) A segunda hipoacutetese consiste na articulaccedilatildeo operativa de dois conceitos o de
deficiecircncia e o de restriccedilotildees de participaccedilatildeo Nesta perspectiva a elegibilidade de uma
determinada politica social baseia-se na validaccedilatildeo preacutevia da existecircncia da primeira
condiccedilatildeo do puacuteblico-alvo ndash a existecircncia de uma deficiecircncia ndash determinando logo de
seguida o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo a partir do qual os diferentes cidadatildeos
passam a poder aceder agraves medidas especiacuteficas nela contidas O desafio contido nesta
hipoacutetese consiste na necessidade de desenvolvimento de um sistema de avaliaccedilatildeo que
permita avaliar o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo experimentado pelas pessoas com
deficiecircncias determinando atraveacutes do valor aferido quais seriam as pessoas com
acesso agraves medidas Neste cenaacuterio natildeo bastaria que uma pessoa tivesse uma
deficiecircncia pelo que seria necessaacuterio avaliar os efeitos da deficiecircncia em interacccedilatildeo
com o ambiente social ao niacutevel da participaccedilatildeo no sentido de determinar a
elegibilidade As vantagens desta hipoacutetese relacionam-se com (i) a preservaccedilatildeo do
niacutevel de coerecircncia dos conceitos utilizados ao longo das diferentes poliacuteticas sociais (ii)
a existecircncia de um processo comum de afericcedilatildeo e determinaccedilatildeo da elegibilidade ao
longo dos diferentes sectores de politica (iii) a compatibilidade e adequabilidade dos
princiacutepios teoacutericos do modelo social com a operacionalizaccedilatildeo dos sistemas e medidas
poliacuteticos de apoio agraves pessoas com deficiecircncias e (iv) a existecircncia de mecanismos de
avaliaccedilatildeo de elevada transparecircncia controlabilidade e rigor
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 26
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
45 INCAPACIDADE
Do ponto de vista de utilizaccedilatildeo dos conceitos de Deficiecircncia e de Incapacidade em Portugal
tecircm subsistido vaacuterias imprecisotildees terminoloacutegicas Primeiro na generalidade dos documentos
internacionais alude-se ao termo ldquopeople with disabilitiesrdquo sendo que invariavelmente esta
expressatildeo eacute traduzida para Portuguecircs como ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo Tal facto parece criar
condiccedilotildees para uma grande permeabilidade semacircntica dificilmente resoluacutevel do ponto de vista
conceptual Segundo deficiecircncia e incapacidade satildeo claramente dois conceitos distintos
Enquanto a deficiecircncia remete para alteraccedilotildees significativas ao niacutevel das estruturas eou das
funccedilotildees do corpo a incapacidade constitui o poacutelo negativo do funcionamento humano em
situaccedilatildeo potencial ou efectiva de participaccedilatildeo no contexto de vida Este facto pressupotildee que os
conceitos de deficiecircncia e de incapacidade natildeo contecircm nenhuma relaccedilatildeo causal entre si nem
nenhuma relaccedilatildeo linear de frequecircncia na medida em que eacute possiacutevel existir uma deficiecircncia
sem que exista uma incapacidade e eacute possiacutevel emergir uma determinada incapacidade sem
que haja uma qualquer deficiecircncia
Deste modo eacute possiacutevel
a) Ter deficiecircncias sem limitaccedilotildees de capacidade (eg uma desfiguraccedilatildeo resultante da
doenccedila de Hansen pode natildeo ter efeito sobre a capacidade da pessoa
b) Ter problemas de desempenho e limitaccedilotildees de capacidade sem deficiecircncias evidentes
(eg reduccedilatildeo de desempenho nas actividades diaacuterias associada a vaacuterias doenccedilas)
c) Ter problemas de desempenho sem deficiecircncias ou limitaccedilotildees de capacidade (eg um
indiviacuteduo HIV positivo ou um ex-doente curado de doenccedila mental que enfrenta
estigmas ou descriminaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais ou no trabalho)
d) Ter limitaccedilotildees de capacidade se natildeo tiver assistecircncia e nenhum problema de
desempenho no ambiente habitual (eg um indiviacuteduo com limitaccedilotildees de mobilidade
pode beneficiar por parte da sociedade de ajudas tecnoloacutegicas de assistecircncia para se
movimentar
e) Experimentar um grau de influecircncia em sentido contraacuterio (eg a inactividade dos
membros pode levar agrave atrofia muscular a institucionalizaccedilatildeo pode resultar numa perda
da socializaccedilatildeo)
Daqui resulta que ao referirmo-nos agraves pessoas com deficiecircncias enquanto puacuteblico-alvo
privilegiado das medidas de reabilitaccedilatildeo poderemos incorrer num desvio significativo de
alocaccedilatildeo dos recursos agraves reais necessidades das pessoas na medida em que natildeo eacute a
deficiecircncia que gera por si mesma a necessidade de reabilitaccedilatildeo mas sim as limitaccedilotildees de
actividade e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo decorrentes da interacccedilatildeo entre as caracteriacutesticas
biopsicossociais e as caracteriacutesticas dos ambientes em que o individuo se move
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 27
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
A persistecircncia em traduzir o termo disability para deficiecircncia e natildeo apenas o seu homoacutelogo
anglo-saxoacutenico ndash impairment ndash poderaacute explicar-se pelas seguintes razotildees
a) O potencial efeito estigmatizante da expressatildeo ldquopessoas com incapacidadesrdquo ser maior
do que aquele contido na expressatildeo ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo
b) O termo incapacidade centrar-se exclusivamente nos aspectos negativos do
funcionamento individual classificando a pessoa agrave partida como sendo destituiacuteda de
competecircncias e condiccedilotildees para atingir os niacuteveis normativos de desempenho e
performance num conjunto de domiacutenios da vida pessoal e social
O paradoxo surge igualmente porque enquanto no modelo meacutedico a incapacidade aparece
em termos causais relacionada com a deficiecircncia numa perspectiva exclusivamente individual
no modelo proposto pela OMS operacionalizado na CIF os dois conceitos gozam de total
independecircncia conceptual e operativa sendo que a deficiecircncia passa a ter uma baixa
relevacircncia diferenciadora do ponto de vista do funcionamento humano Ora se atendermos a
que as medidas de reabilitaccedilatildeo pretendem promover os potenciais do funcionamento humano
numa perspectiva de participaccedilatildeo plena do indiviacuteduo nos mais diferenciados contextos de vida
assegurando o co-desenvolvimento de todos os actores e das estruturas sociais necessaacuterias agrave
cidadania plena entatildeo falar de ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo natildeo soacute natildeo eacute relevante no quadro
da loacutegica de intervenccedilatildeo como poderaacute traduzir dificuldades dos actores em mudar
efectivamente do paradigma meacutedico para o paradigma social
Este fenoacutemeno aliaacutes natildeo acontece apenas em Portugal sendo que recentes estudos de
investigaccedilatildeo vieram sugerir a adopccedilatildeo dos conceitos de ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo e
ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo para ultrapassar a aplicaccedilatildeo indevida dos
conceitos de deficiecircncia e incapacidade A utilizaccedilatildeo destes conceitos parece articular de forma
mais precisa com o novo modelo conceptual proposto pela OMS enfatizando a diversidade de
niacuteveis de funcionamento humano e apelando a uma certa noccedilatildeo de relatividade socialmente
construiacuteda Uma das criticas feita pela comunidade de investigadores ao conceito de ldquopessoas
com diversidade funcionalrdquo reside no facto de que a expressatildeo eacute dotada de um tatildeo elevado
niacutevel de abrangecircncia que natildeo permite um niacutevel de diferenciaccedilatildeo relevante na medida em que
todos os cidadatildeos detecircm entre si diversos e diferentes padrotildees de funcionamento humano
Neste sentido o conceito ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo aplicar-se-ia a todos os
cidadatildeos sem excepccedilatildeo A proliferaccedilatildeo destes termos eacute explicada pela necessidade da
comunidade politica e cientifica de construir constructos que sejam socialmente aceites e o
mais neutros possiacuteveis do ponto de vista dos seus valores impliacutecitos No entanto a
impossibilidade epistemoloacutegica de desenvolver expressotildees e conceitos socio-historicamente
neutros parece levar muitas vezes agrave concepccedilatildeo de definiccedilotildees com reduzida identidade isto eacute
de significado demasiado amplo e abrangente o que na expressatildeo da UPIAS ldquopodem significar
tudo e coisiacutessima nenhumardquo (2005)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 28
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Os conceitos ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo ldquopessoas com limitaccedilotildees de
actividaderdquo e ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo afiguram-se comparativamente ao
anterior como um conceito de maior coerecircncia conceptual com o modelo proposto pela OMS e
deteacutem cumulativamente um maior poder diferenciador A sua desvantagem reside no facto de
constituiacuterem expressotildees com maior dificuldade de apreensatildeo e inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 29
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 30
Dezembro2006
5 ANAacuteLISE DOS REFERENCIAIS NACIONAIS E INTERNACIONAIS
No sentido de obter um conjunto de vectores de referecircncia na estruturaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo do
conceito de deficiecircncia foram analisadas as abordagens desenvolvidas pelos seguintes
organismos INE Eurostat OCDE American Disabilities Act WHO UN
51 INE
Os dados disponiacuteveis no INE parecem indicar a utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na
ICIDH
Deficiecircncia1 Perda ou alteraccedilatildeo de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou
anatoacutemica Nesta definiccedilatildeo estatildeo incluiacutedas as seguintes tipologias2
Deficiecircncia AUDITIVA
Deficiecircncia MENTAL
Deficiecircncia MOTORA
Deficiecircncia ORGAcircNICO-FUNCIONAL
Deficiecircncia PSIQUIAacuteTRICA
Deficiecircncia VISUAL
Incapacidade3 Ausecircncia ou limitaccedilatildeo da capacidade para funcionar estando comprometida a
realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida
diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e originando uma desvantagem para funcionar em
sociedade face a outros
Pessoa deficiente Aquela que tenha uma ou mais das seguintes deficiecircncias a) deficiecircncia
visual b) deficiecircncia auditiva c) deficiecircncia mental d) deficiecircncia motora
1 Nota Na operaccedilatildeo censitaacuteria de 2001 apenas foi observada a deficiecircncia permanente a deficiecircncia temporaacuteria natildeo foi considerada (por exemplo se um indiviacuteduo se desloca com canadianas ou em cadeira de rodas porque partiu uma perna ou se sofre de descolamento parcial da retina que o obriga a andar com uma venda natildeo foi considerado como tendo uma deficiecircncia) 2 Fonte INE ndash Censos 2001 ndash Recenseamento Geral da Populaccedilatildeo (Antecedentes Metodologia e Conceitos) Antecedentes Metodologia e Conceitos 3 Fonte INS ndash Inqueacuterito Nacional agrave Sauacutede
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 31
Dezembro2006
Trabalhador deficiente Trabalhador que estaacute incapacitado para assegurar por si mesmo total
ou parcialmente a satisfaccedilatildeo de necessidades de uma vida individual ou social normal devido
a uma deficiecircncia congeacutenita ou adquirida das suas capacidades fiacutesicas sensoriais ou
mentais tendo por isso dificuldade em obter eou manter o desempenho de funccedilotildees de acordo
com as suas habilitaccedilotildees idade e experiecircncia profissional
Cidadatildeo Trabalhador com necessidades especiais Cidadatildeo idoso ou portador de
deficiecircncias sensoriais (visuais e auditivas) fiacutesicas (motoras) e cognitivas
52 EUROSTAT
Os dados disponibilizados pelo Eurostat no seu endereccedilo electroacutenico4 parecem indicar a
utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na ICIDH
Conceito Deficiecircncia5
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de deficiecircncia refere-se a uma perda ou alteraccedilatildeo
de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou anatoacutemica
Conceito Incapacidade6
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de incapacidade refere-se agrave ausecircncia ou limitaccedilatildeo
da capacidade para funcionar estando comprometida a realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas
funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e
originando uma desvantagem para funcionar em sociedade face a outros
Conceito Desvantagem7
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito refere-se agrave desvantagem para um dado individuo
decorrente de uma deficiecircncia ou incapacidade
4 httpforumeuropaeuintircdsiscodedinfodatacodedenTheme3htm 5 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 6 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 7 Fonte Key data on health 2000 Eurostat
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
53 OCDE
Definiccedilotildees gerais de incapacidade
No contexto da OCDE identificam-se 2 abordagens distintas no quadro da definiccedilatildeo de
incapacidade
A incapacidade pode ser definida enquanto um estado decorrente de autoavaliaccedilatildeo ou um
status baseado em fontes administrativas eg beneficiaacuterio dos apoios De forma muito
frequente e talvez de forma imprecisa estas duas definiccedilotildees satildeo explicitadas como
incapacidade ldquosubjectivardquo versus rdquoobjectivardquo
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo e instrumentos
A incapacidade autoavaliada eacute medida atraveacutes de inqueacuteritos feitos directamente aos cidadatildeos
nas suas residecircncias Apesar da avaliaccedilatildeo ser baseada de uma forma geral nas respostas agraves
questotildees relativas a problemas de sauacutede de longo termo que limitam as actividades de vida
diaacuteria o detalhe das questotildees eacute geralmente diferente dificultando a comparabilidade dos
dados Por exemplo ldquolongo termordquo eacute parametrizado em 6 meses na Noruega e em 12 meses
na Suiccedila O status dos beneficiaacuterios pode ser avaliado atraveacutes de registos administrativos ou
atraveacutes de inqueacuteritos Os resultados entre as duas fontes satildeo de uma forma geral bastante
diferentes por duas razotildees nucleares os registos administrativos geralmente contam casos e
natildeo pessoas o que em situaccedilotildees de benefiacutecios muacuteltiplos pode levar a contagens duplas por
outro lado os inqueacuteritos satildeo baseados nas respostas sobre o status do beneficiaacuterio e algumas
pessoas podem desejar natildeo revelar a sua condiccedilatildeo perante os benefiacutecios
Nenhuma destas definiccedilotildees e medidas de mensuraccedilatildeo eacute superior a outras pelo que a sua
utilizaccedilatildeo depende dos objectivos do propoacutesito da investigaccedilatildeo e da disponibilidade da
informaccedilatildeo
Abordagens para medir a incapacidade no quadro da aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos agraves populaccedilotildees
a) Incapacidade geral (natildeo especificada)
Puacuteblico-alvo todos os adultos
b) Incapacidade relativa ao trabalho
Puacuteblico-alvo pessoas em idade activa
c) Limitaccedilotildees nas actividades de vida diaacuteria (AVD)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 32
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Puacuteblico-alvo Populaccedilatildeo idosa
54 AMERICAN DISABILITIES ACT
O American Disabilities Act (ADA) desenvolvido em 1990 fornece um conjunto de guidelines
no sentido de assegurar a disponibilizaccedilatildeo de serviccedilos para as pessoas com deficiecircncias bem
como a protecccedilatildeo dos seus direitos legais
A ADA inclui uma definiccedilatildeo legal de incapacidade consistindo na presenccedila de ldquouma deficiecircncia
fiacutesica ou mental que limita significativamente uma ou mais das principais actividades de vidardquo
Independentemente da definiccedilatildeo proposta pela ADA a existecircncia de muacuteltiplos programas a
favor das pessoas com deficiecircncias e os diferentes focus legais em diferentes puacuteblicos alvo
fazem com que tenham emergido uma multiplicidade de definiccedilotildees de incapacidade ao longo
do tempo no quadro das poliacuteticas sociais americanas
55 OMS ONU Revisatildeo dos actuais inqueacuteritos sobre a incapacidade
Apesar de existir um desenvolvimento consideraacutevel dos inqueacuteritos na aacuterea da incapacidade
poder-se-atildeo explicitar algumas observaccedilotildees relativas agrave sua multiplicidade Numa primeira linha
de anaacutelise os inqueacuteritos tendem a focalizar-se nas limitaccedilotildees de actividade eou na deficiecircncia
No que concerne agrave formulaccedilatildeo escrita tendem a existir diferenccedilas significativas entre
inqueacuteritos facto que inviabiliza natildeo raras vezes a comparabilidade dos dados entre inqueacuteritos
As diferentes formulaccedilotildees das questotildees incluem
Tem dificuldade
Eacute capaz de
Faz
Tem sentido problemas em
com ou sem assistecircncia pessoal eou tecnoloacutegica
A questatildeo que se coloca eacute se estas formulaccedilotildees tecircm o mesmo significado isto eacute se todas elas
pretendem medir a capacidade ou a performance De acordo com a CIF a capacidade
remeteria para o potencial de execuccedilatildeo de um indiviacuteduo enquanto a performance diria respeito
ao niacutevel de desempenho efectivo do indiviacuteduo atraveacutes do seu envolvimento numa situaccedilatildeo de
vida real As lacunas existentes e as poucas referecircncias ao niacutevel da forma como os inquiridos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 33
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
satildeo instruiacutedos a responder faz com que natildeo seja possiacutevel desenvolver um discernimento
irrefutaacutevel sobre esta mateacuteria
Do ponto de vista dos domiacutenios abrangidos os inqueacuteritos tecircm apresentado algumas questotildees
sobre a participaccedilatildeo e o ambiente e evidenciam algumas limitaccedilotildees na sua amplitude Os
domiacutenios de actividades e participaccedilatildeo geralmente abrangidos tecircm sido operacionalizados de
uma forma geral nas seguintes dimensotildees
Educaccedilatildeo e emprego (formulado como questotildees de performance)
Outros inqueacuteritos incluem aacutereas como relaccedilotildees interpessoais vida familiar tomada de
decisotildees etc
O domiacutenio relativo aos factores ambientais tem incluiacutedo
Utilizaccedilatildeo e acessibilidadedisponibilidade dos produtos de assistecircncia e da tecnologia
Acessibilidade do ambiente
Disponibilidade dos serviccedilos (sauacutede protecccedilatildeo social educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo)
Evidecircncias muito escassas ao niacutevel da poliacutetica atitudes ambiente natural
planeamento e concepccedilatildeo
A questatildeo de investigaccedilatildeo neste contexto centra-se na seguinte formulaccedilatildeo ldquoo que eacute que os
inqueacuteritos medem como incapacidaderdquo
a) Definiccedilatildeo a priori da incapacidade versus sem incapacidade
Alguns inqueacuteritos sobre a incapacidade especialmente os mais antigos utilizam uma definiccedilatildeo
a priori de incapacidade O objectivo deste tipo de inqueacuteritos eacute contar o nuacutemero de pessoas
que se encaixam na definiccedilatildeo no contexto da populaccedilatildeo total Neste sentido os dados satildeo
analisados de acordo com dois grupos de referecircncia ndash com incapacidade e sem incapacidade ndash
em funccedilatildeo de um conjunto de diferentes variaacuteveis Este tipo de questionaacuterios formula questotildees
do tipo ldquoPossui algum tipo de incapacidade auditiva visual ou fiacutesicardquo Muitas questotildees dos
censos tecircm utilizado este formato
b) Definiccedilatildeo a posteriori de incapacidade versus sem incapacidade
Mais recentemente alguns inqueacuteritos desenvolveram-se em direcccedilatildeo a uma definiccedilatildeo a
posteriori de incapacidade Nestes casos eacute medida a capacidade a performance ao longo de
um conjunto vasto de domiacutenios Este segundo tipo de inqueacuteritos tende a ter uma ampla
aceitaccedilatildeo eg HALS (Canada) HID (Franccedila) inqueacuterito sobre incapacidade na Africa do Sul
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 34
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Inqueacuterito Espanhol sobre incapacidade NHIS-D (USA) inqueacuterito Holandecircs entre outros Estes
instrumentos formulam questotildees relativas agraves dificuldades que as pessoas experienciam em
diferentes domiacutenios produzindo um perfil pessoal que possa colocar em evidecircncia os
diferentes graus de capacidade associados A categorizaccedilatildeo de incapacidade sem
incapacidade eacute formulada ao niacutevel do domiacutenio e natildeo como uma categoria geral de atributo
pessoal Esta abordagem permite uma anaacutelise ao niacutevel de funcionamento individual por
domiacutenio por exemplo comparando a experiecircncia de incapacidade no domiacutenio de mobilidade
versus socializaccedilatildeo versus comunicaccedilatildeo entre outros bem como o impacto dos factores
ambientais nestes diferentes domiacutenios O perfil resultante do funcionamento individual ao longo
de muacuteltiplos domiacutenios eacute similar aos estados de sauacutede individuais ao longo das diferentes
dimensotildees
Vantagens de uma abordagem a posteriori
Estaacute em consonacircncia com a abordagem universal proposta pela CIF Todas as
pessoas experienciam deficiecircncia nalgum ponto e esta experiecircncia eacute caracterizada
numa abordagem a posteriori e natildeo a priori
Decisotildees sobre a criaccedilatildeo de categorias sobre quem tem incapacidade e sobre quem
natildeo tem podem ser tomadas atraveacutes de diferentes niacuteveis de anaacutelise por exemplo
atraveacutes da anaacutelise da experiecircncia das pessoas que experienciam incapacidade em 1 2
ou 3 domiacutenios de cruzar o status de emprego de pessoas com incapacidade ao longo
dos diferentes domiacutenios etc
Deixa de ser necessaacuteria uma definiccedilatildeo tipoloacutegica e categoacuterica de pessoas com
incapacidade O que necessita de ser definido neste contexto eacute o que se designa por
limitaccedilatildeo da capacidade ou problemas de performance ao longo dos diferentes
domiacutenios
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 35
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 36
Dezembro2006
6 SISTEMATIZACcedilAtildeO DAS DIMENSOtildeES DE ORGANIZACcedilAtildeO E
OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em todos os estudos efectuados neste domiacutenio foi colocada em evidecircncia a actual dificuldade
de comparabilidade estatiacutestica internacional inter ou intra sectorial independentemente do
organismo referenciador ndash OCDE ONU EUROSTAT INE OMS
Neste contexto desenvolver-se-aacute a extracccedilatildeo de conhecimento tendo por base a identificaccedilatildeo
de um conjunto de eixos de anaacutelise que actuem como vectores de estruturaccedilatildeo na
operacionalizaccedilatildeo do conceito A este propoacutesito atente-se no Quadro 2
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Abordagem Focus Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Delimitaccedilatildeo temporal do
conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo
Design das questotildees
CID-10
ICIDH
ICF
SauacutedeDoenccedila
Deficiecircncia
Incapacidade
a) Geral
b) Relativa ao trabalho
c) Limitaccedilotildees nas
actividades de vida
diaacuteria
Funcionalidade ndash
Niacuteveis de execuccedilatildeo
das actividades por
domiacutenio e niacuteveistipos
de ajudas mobilizadas
Intersubjectivo ndash
vg inqueacuteritos
Objectivo ndash vg
fontes administrativas
A priori
A posteriori
Temporaacuterias
permanentes
Progressivas
regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou
contiacutenuas
Tipo 1 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre uma determinada
condiccedilatildeo individual
combinada com itens
referentes a limitaccedilotildees de
actividade e participaccedilatildeo e
factores contextuais
Tipo 2 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre a presenccedila de uma
pessoa com incapacidade
no agregado familiar
seguindo-se uma lista de
deficiecircncias e
incapacidades
Tipo 3 ndash Checklist de
deficiecircncias
Quadro 2 ndash Eixos de operacionalizaccedilatildeo do conceito
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 37
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 38
Dezembro2006
7 ESCOLHA DO CENAacuteRIO A IMPLEMENTAR
A anaacutelise do Quadro 2 permite-nos uma definiccedilatildeo modular do cenaacuterio a implementar atraveacutes de
uma configuraccedilatildeo do conceito pelos eixos de anaacutelise propostos Uma das dificuldades
evidentes nesta delimitaccedilatildeo prende-se com o cumprimento dos requisitos de (a)
comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica e legislativa dentro do contexto portuguecircs
e (c) conformidade com os referenciais conceptuais actuais sendo que a coexistecircncia destes
criteacuterios afigura-se em muitos casos incompatiacutevel entre si Para efeitos da estruturaccedilatildeo do
cenaacuterio privilegiar-se-aacute a conformidade com os referenciais conceptuais actuais
71 ABORDAGEM No que concerne agrave abordagem privilegia-se a adopccedilatildeo das mais recentes directrizes propostas
pela OMS adoptando explicitamente a CIF
Fundamentaccedilatildeo
A CIF apresenta a capacidade para descrever o funcionamento humano numa
perspectiva biopsicossocial em detrimento da classificaccedilatildeo anterior (ICIDH) que se
focalizava na dimensatildeo biomeacutedica A CIF foi desenvolvida no plano conceptual para ser aplicaacutevel em diferentes aacutereas e
sectores A CIF eacute aplicaacutevel transversalmente agraves dimensotildees de cultura idade geacutenero sendo um
instrumento sistemaacutetico para descrever e medir a sauacutede e o funcionamento humano
num dado contexto A CIF constitui-se enquanto instrumento potencial para a poliacutetica social design das
intervenccedilotildees nos domiacutenios da sauacutede educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e intervenccedilatildeo social Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
72 FOCUS
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo da centraccedilatildeo da recolha de dados ao niacutevel
da dimensatildeo de funcionalidade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 39
Dezembro2006
Fundamentaccedilatildeo
Consonacircncia com o modelo conceptual proposto pela CIF enfatizando o caraacutecter
dinacircmico e interaccional (pessoa factores contextuais) do funcionamento de cada
pessoa Permite caracterizar as limitaccedilotildees de actividade e restriccedilotildees de participaccedilatildeo dos
cidadatildeos identificando necessidades de intervenccedilotildees especializadas numa loacutegica de
empowerment e participaccedilatildeo social Permite analisar a adequabilidade e ajustamento das actuais medidas poliacuteticas do
ponto de vista dos seus objectivos e os problemas detectados ao niacutevel da participaccedilatildeo
dos cidadatildeos ao longo de um conjunto diversificado de domiacutenios
73 MEacuteTODOS DE MENSURACcedilAtildeO
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo de meacutetodos intersubjectivos nomeadamente
inqueacuteritos
Fundamentaccedilatildeo
Flexibilidade ao niacutevel da abrangecircncia e profundidade das dimensotildees
Maior facilidade na implementaccedilatildeo atendendo agrave disponibilizaccedilatildeo de uma amostra
delimitada
Maior niacutevel de controlo sobre as condiccedilotildees de observaccedilatildeo e da entrevista devido ao
menor nuacutemero de entrevistas a ser implementado
74 DELIMITACcedilAtildeO CONCEPTUAL E TEMPORAL DO CONCEITO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo temporal e apesar de se privilegiar as vantagens anteriormente
explicitadas no desenvolvimento de uma definiccedilatildeo a posteriori assume-se a necessidade
politica de delimitar o campo de intervenccedilatildeo do conjunto de medidas sociais neste domiacutenio
pelo que a delimitaccedilatildeo conceptual poderaacute ser objecto de operacionalizaccedilatildeo atraveacutes dos
seguintes paracircmetros
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 40
Dezembro2006
Poder-se-aacute colocar a questatildeo de saber se a delimitaccedilatildeo do conceito proposta remete
especificamente para ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ou para ldquopessoas com limitaccedilotildees de
participaccedilatildeordquo Atendendo a que a definiccedilatildeo comporta uma abordagem sisteacutemica enfatizando a
interacccedilatildeo entre um conjunto diversificado de componentes que produzem impacto na
funcionalidade da pessoa a resposta natildeo eacute linear dependendo da ecircnfase socio-histoacuterica e da
abordagem sociopoliacutetica que se escolher enfatizar No entanto e do ponto de vista conceptual
privilegia-se a adopccedilatildeo do conceito ldquopessoas com limitaccedilotildees de participaccedilatildeordquo dado que existe
total autonomia operativa entre os diferentes constructos Neste sentido a deficiecircncia natildeo
constitui um factor causal linear das limitaccedilotildees de actividade e das restriccedilotildees ao niacutevel da
participaccedilatildeo mas antes uma das componentes que em interacccedilatildeo com outras podem
provocar impactos ao niacutevel da funcionalidade do indiviacuteduo Por uacuteltimo refira-se que a tipologia
ldquopessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeordquo poderaacute ser alvo de criticas por constituir
uma designaccedilatildeo que apela a duas componentes em simultacircneo (actividades e participaccedilatildeo)
excluindo outras e ser demasiado longa para uma definiccedilatildeo tipoloacutegica A este propoacutesito pode-
se sugerir a delimitaccedilatildeo ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo constituindo esta
expressatildeo uma abordagem holiacutestica ao conjunto de componentes que interferem com o
funcionamento humano Deste modo poderemos ter as seguintes designaccedilotildees
Pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Pessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo
Pessoas com limitaccedilotildees de funcionalidade
Figura 2 ndash Possiacuteveis designaccedilotildees
O Quadro 3 pretende fornecer uma visatildeo sistemaacutetica sobre o processo de decisatildeo da
designaccedilatildeo a adoptar
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
deficiecircncias
Tradiccedilatildeo analiacutetica dentro do
contexto portuguecircs
Em conformidade com o modelo
meacutedico ndash centra-se nas alteraccedilotildees
de estrutura e funccedilatildeo ndash
focalizaccedilatildeo na pessoa
Desarticulado dos pressupostos do
modelo social ndash natildeo remete para a
experiecircncia de incapacidade
enquanto produto da interacccedilatildeo
entre pessoa e ambiente
Mai
or
Abr
angecirc
ncia
Mai
or
Espe
cific
idad
e
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 41
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
incapacidades
Em conformidade com a
delimitaccedilatildeo anglo-saxoacutenica que
utiliza o conceito Disability
Focalizaccedilatildeo no poacutelo negativo do
funcionamento humano ndash
funcionalidadeincapacidade
Ao focalizar-se na experiecircncia de
incapacidade enquanto
interacccedilatildeo pessoa-ambiente
remete indirectamente para a
mobilizaccedilatildeo de apoios e recursos
de forma a ultrapassar eou
eliminar os obstaacuteculos ao
funcionamento em contexto
O potencial efeito estigmatizante
da expressatildeo ldquopessoas com
incapacidadesrdquo
Pessoas com
diversidade
Funcional
Em conformidade com o modelo
social
Focaliza-se na gestatildeo das
diferenccedilas e no seu impacto ao
niacutevel da participaccedilatildeo das pessoas
na sociedade
Elevado niacutevel de abrangecircncia natildeo
permitindo um niacutevel de
diferenciaccedilatildeo relevante na
medida em que todos os cidadatildeos
detecircm entre si diversos e
diferentes padrotildees de
funcionamento humano
Conceito dificilmente
operacionalizaacutevel do ponto de
vista da formulaccedilatildeo das poliacuteticas e
da delimitaccedilatildeo dos puacuteblicos-alvo
Pessoas com
restriccedilotildees ao
niacutevel da
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos Desta forma
todos os obstaacuteculos agrave participaccedilatildeo
relacionados com discriminaccedilatildeo
social preconceitos estereoacutetipos
deficiecircncias doenccedilas croacutenicas
entre outros satildeo incluiacutedos
Natildeo inclui as limitaccedilotildees de
actividade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 42
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
limitaccedilotildees de
actividade e
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida e simultaneamente no
domiacutenio das limitaccedilotildees de
actividade
Ruptura com a tradiccedilatildeo analiacutetica
no sector
Dificuldade de apreensatildeo e
inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Natildeo inclui as alteraccedilotildees da
estrutura e da funccedilatildeo
Pessoas com
limitaccedilotildees de
funcionalidade
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel das
diferentes dimensotildees constituintes
da funcionalidade e do
funcionamento humano
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos
Pessoas com
deficiecircncias e
incapacidades
Natildeo introduz ruptura com a
tradiccedilatildeo analiacutetica no sector
Inclui as alteraccedilotildees de estrutura e
funccedilatildeo bem como as alteraccedilotildees
decorrentes ao niacutevel da
funcionalidade
Diferencia os conceitos de
deficiecircncia e incapacidade
autonomizando-os e fornecendo
uma base compreensiva para o
natildeo estabelecimento de relaccedilotildees
de causa-efeito entre os ambos
Abrange os obstaacuteculos que
emergem na interacccedilatildeo pessoa-
contextos de vida e
simultaneamente no domiacutenio das
limitaccedilotildees de actividade
Poder diferenciador e delimitador
na definiccedilatildeo do puacuteblico-alvo
Em alinhamento estrateacutegico com o
PAIPDI
Designaccedilatildeo de compromisso com
os referenciais teoacutericos do modelo
social e dos princiacutepios da ldquoeacutetica da
diversidaderdquo
Quadro 3 ndash Visatildeo comparativa das hipoacuteteses da designaccedilatildeo a adoptar
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
75 DELIMITACcedilAtildeO DA DURACcedilAtildeO E CURSO DE EVOLUCcedilAtildeO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo interessa a caracterizaccedilatildeo nas
3 dimensotildees desenvolvidas
Fundamentaccedilatildeo
Afigura-se relevante caracterizar a ocorrecircncia das deficiecircncias quanto aacute sua
consistecircncia no tempo ndash temporaacuterias permanentes ndash analisando os factores
contextuais associados consequecircncias ao niacutevel das actividades e da participaccedilatildeo ao
longo de um conjunto de domiacutenios em ordem agrave extracccedilatildeo de implicaccedilotildees no acircmbito
das poliacuteticas sociais
No acircmbito da adaptabilidade e da adequaccedilatildeo das medidas poliacuteticas agraves necessidades
especiacuteficas dos cidadatildeos torna-se relevante caracterizar a deficiecircncia quanto agrave
natureza do seu curso evolutivo ndash progressivas regressivas estaacuteveis O mesmo
criteacuterio eacute aplicaacutevel quanto aacute dimensatildeo de padratildeo de manifestaccedilatildeo ndash intermitente
contiacutenua
No entanto e apesar da incapacidade se manifestar ao longo do ciclo de vida da pessoa
de forma multimodal para efeitos de delimitaccedilatildeo e de definiccedilatildeo do conceito de pessoas
com deficiecircncias e incapacidades privilegiaremos o caraacutecter permanente Desta forma
excluem-se as manifestaccedilotildees temporaacuterias de incapacidade que enviesariam a anaacutelise e o
desenvolvimento de poliacuteticas neste domiacutenio
76 DESIGN DAS QUESTOtildeES
No que concerne ao design das questotildees privilegia-se a escolha de questotildees tipo 1
Fundamentaccedilatildeo
Em consonacircncia com a CIF
Permite comparabilidade estatiacutestica futura
Permite a caracterizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre os factores de funcionalidade ndash integridade
estrutural e funcional actividades participaccedilatildeo e factores contextuais
Permite o design das poliacuteticas sociais e metodologias de intervenccedilatildeo alicerccediladas nas
necessidades especiacuteficas dos cidadatildeos em torno das dimensotildees de inclusatildeo social
Domiacutenios
Visatildeo
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
Audiccedilatildeo
Comunicaccedilatildeo
Mobilidade
Dor
Aprendizagem e funcionamento psicoloacutegico
Autocuidados e vida domeacutestica
Condiccedilotildees gerais de sauacutede
Mobilizaccedilatildeo de ajudas ou equipamento especializado
Participaccedilatildeo social
Transporte e educaccedilatildeo
77 PROPOSTA DE DELIMITACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em funccedilatildeo das dimensotildees caracterizadas e dos criteacuterios privilegiados desenvolveu-se o
seguinte enquadramento conceptual
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
Figura 2 ndash Enquadramento conceptual da delimitaccedilatildeo do conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso da evoluccedilatildeo
Temporaacuterias permanentes
Progressivas regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou contiacutenuas
Focus
Funcionalidade ndash Niacuteveis de execuccedilatildeo das actividades por domiacutenio e niacuteveistipos de ajudas mobilizadas
Abordagem CIF
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo temporal do conceito
A priori
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Inter-subjectivo
Design das questotildees
Questatildeo geneacuterica sobre uma determinada condiccedilatildeo individual combinada com itens referentes a limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo e factores contextuais
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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8 CRITEacuteRIOS DE ELEGIBILIDADE DO PUacuteBLICO-ALVO E SISTEMAS DE
AVALIACcedilAtildeO
A operacionalizaccedilatildeo do conceito de incapacidade tem sido abordada de forma heterogeacutenea
entre diferentes modalidades de politica e os diferentes contextos socioculturais de cada paiacutes
De uma forma geral encontram-se 2 eixos criacuteticos na sua operacionalizaccedilatildeo
a) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de trabalho (na ocupaccedilatildeo preacutevia ou numa nova
ocupaccedilatildeo ajustada agraves alteraccedilotildees funcionais)
b) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de obter rendimentos provenientes do trabalho
A explicitaccedilatildeo dos criteacuterios de delimitaccedilatildeo do conceito de incapacidade nos diferentes paiacuteses
encontra-se na Quadro 4
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Austraacutelia 2 Criteacuterios possuir uma incapacidade que resulte
num score nunca inferior a 20 nas tabelas de
incapacidades e incapacidade em trabalhar 30
horas ou mais por semana ou em ser
reconvertido para trabalho em contexto regular
nos proacuteximos 2 anos
Nenhum
Aacuteustria 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho (50
de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo para
trabalhadores sem qualificaccedilotildees) papel criacutetico
das decisotildees dos tribunais devido a definiccedilotildees
legais imprecisas
Nenhum mas as
restriccedilotildees de sauacutede
devem ter uma duraccedilatildeo
igual ou superior a 6
meses
Beacutelgica 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na actual ocupaccedilatildeo
1 ano
Canada Incapacidade severa e prolongada que impeccedila de
desenvolver trabalho numa base regular
Nenhum
Dinamarca 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum mas a
reabilitaccedilatildeo precisa de
estar completa
Franccedila 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual mas a
totalidade do subsidio requer igualmente perda de
capacidade de trabalho
Nenhum no caso das
condiccedilotildees estarem
estaacuteveis mas muito
frequentemente apoacutes 3
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Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
anos
Alemanha 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho a
incapacidade parcial eacute calculada em funccedilatildeo do nordm
de horas que a pessoa pode trabalhar
Nenhum mas a
incapacidade deve ter
uma duraccedilatildeo miacutenima
de 26 semanas
Itaacutelia 666reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum
Coreia Criteacuterios meacutedicos (niacuteveis de incapacidade
definidos de forma detalhada)
Periacuteodo de espera de
50 dias (os subsiacutedios
de doenccedila natildeo se
encontram disponiacuteveis)
Meacutexico 50 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo Nenhum
Holanda 15 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
(25 para os trabalhadores por conta proacutepria e
jovens com incapacidade) grau de incapacidade
calculado pela diferenccedila de remuneraccedilatildeo entre o
actual posto de trabalho compatiacutevel com as
limitaccedilotildees funcionais e o anterior
1 ano
Noruega 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho O
grau de subsiacutedio eacute calculado pela capacidade de
remuneraccedilatildeo
Nenhum (apoacutes ter
completado a
reabilitaccedilatildeo vocacional)
Poloacutenia Reduccedilatildeo temporaacuteria ou permanente da
capacidade de trabalho
Nenhum
Portugal 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual
Nenhum mas na
praacutetica ao fim de 3
anos (fim do periacuteodo de
doenccedila de longo termo)
Espanha 33 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho na
ocupaccedilatildeo actual incapacidade para todo e
qualquer trabalho para a totalidade do subsiacutedio
1 ano (embora seja
possiacutevel a candidatura
antes deste prazo em
casos de incapacidade
permanente)
Sueacutecia 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho grau
de incapacidade parcial calculado a partir das
horas que uma pessoa pode trabalhar
Nenhum
Suiccedila 40 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho para
as pessoas inactivas o grau de incapacidade eacute
calculado em relaccedilatildeo aacute actividade actual
1 ano
Turquia 666 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho
com um focus meacutedico bastante significativo
Nenhum
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Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Reino Unido Limitaccedilotildees nas actividades de vida quotidianas
relevantes para o trabalho (avaliaccedilotildees meacutedicas
predominantes) teste ocupacional durante a s
primeiras 28 semanas (subsidio de doenccedila)
28 semanas
Estados
Unidos
Reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
incapacidade em investir numa actividade
profissional com rendimentos ($ US 740 por mecircs)
5 meses (nem sempre
cobertos pelos
subsiacutedios de curto-
termo) e 24 meses
para a cobertura
meacutedica
Quadro 4 ndash Definiccedilotildees de incapacidade e tempos regulamentares
Um dos desafios que se coloca aos actuais sistemas reside na delimitaccedilatildeo da elegibilidade do
puacuteblico-alvo Para cumprir este objectivo satildeo necessaacuterios sistemas de avaliaccedilatildeo holiacutesticos
abrangentes coerentes e que permitam chegar a resultados de forma consistente e com
validade interna No actual contexto a CIF propotildee constituir-se como o instrumento conceptual
abrangente para caracterizar os diferentes domiacutenios e niacuteveis de funcionalidade incapacidade
de forma coerente e integrada Neste sentido uma das vantagens apontadas para a adopccedilatildeo
do modelo desenvolvido pela OMS eacute a possibilidade de uniformizaccedilatildeo de conceitos e portanto
da utilizaccedilatildeo de uma linguagem padratildeo que permita a comunicaccedilatildeo entre investigadores
gestores profissionais de sauacutede organizaccedilotildees da sociedade civil e utilizadores em geral
Um dos campos de estudo mais explorados para a aplicaccedilatildeo da CIF tem sido a aacuterea de
Medicina Fiacutesica e de Reabilitaccedilatildeo no que concerne ao acompanhamento do estado de sauacutede
dos pacientes em tratamento O uso da CIF tem sido considerado tambeacutem na avaliaccedilatildeo apoacutes
transtornos agudos condiccedilotildees traumaacuteticas condiccedilotildees croacutenicas e na geriatria
Alguns autores argumentam que a CIF deve ser explorada como uma base de informaccedilotildees
padronizadas em estudos sobre incapacidade profissional quando haacute necessidade de
relacionar dados de sauacutede ocupacional com os da Seguranccedila Social
Na Sauacutede Puacuteblica tradicionalmente pouca atenccedilatildeo tem sido dada agraves pessoas com
incapacidades No entanto ao lado de recentes investimentos por parte de organizaccedilotildees e de
alguns governos a publicaccedilatildeo do modelo da CIF fornece as bases para as poliacuteticas e
disciplinas da Sauacutede Puacuteblica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo que apresenta deficiecircncias e
incapacidades Assim uma das possibilidades de uso da CIF pode ser a contribuiccedilatildeo para
responder a importantes questotildees de sauacutede puacuteblica tais como qual o estado de sauacutede das
pessoas com deficiecircncias comparadas com as demais que necessidades e que tipos de
intervenccedilotildees satildeo mais adequadas para reduzir condiccedilotildees secundaacuterias e promover a
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na sociedade entre outras
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 49
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Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 51
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Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
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Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
funccedilotildees do corpo incluem sentidos humanos baacutesicos como as funccedilotildees da visatildeo e as
estruturas relacionadas aparecem na forma de ldquoolho e estruturas relacionadasrdquo
43 ESTRUTURAS DO CORPO
As Estruturas do Corpo satildeo as partes anatoacutemicas do corpo tais como oacutergatildeos membros e
seus componentes
ldquoCorpo refere-se ao organismo humano como um todo por isso o ceacuterebro e as suas funccedilotildees
ie a mente estatildeo incluiacutedos As funccedilotildees mentais (ou psicoloacutegicas) satildeo portanto incluiacutedas nas
funccedilotildees do corpo As funccedilotildees e as estruturas do corpo satildeo classificadas de acordo com os
sistemas orgacircnicos por isso as estruturas do corpo natildeo satildeo consideradas como oacutergatildeos no
seu sentido restrito
44 DEFICIEcircNCIA
Deficiecircncias satildeo problemas nas funccedilotildees ou na estrutura do corpo tais como um desvio
importante ou uma perda
As deficiecircncias de estrutura podem consistir numa anormalidade defeito perda ou outro desvio
importante relativamente a um padratildeo das estruturas do corpo As deficiecircncias foram definidas
de acordo com os conhecimentos bioloacutegicos actuais ao niacutevel de tecidos ou das ceacutelulas e ao
niacutevel subcelular ou molecular Por motivos praacuteticos no entanto esses niacuteveis natildeo estatildeo
classificados As bases bioloacutegicas das deficiecircncias orientaram essa classificaccedilatildeo e eacute possiacutevel
expandir a classificaccedilatildeo para incluir os niacuteveis celular ou molecular Do ponto de vista meacutedico
deve-se ter em mente que as deficiecircncias natildeo satildeo equivalentes agraves patologias subjacentes mas
sim a manifestaccedilotildees dessas patologias
As deficiecircncias correspondem a um desvio relativamente ao que eacute geralmente aceite como
estado biomeacutedico normal (padratildeo) do corpo e das suas funccedilotildees A definiccedilatildeo dos seus
componentes eacute feita essencialmente por pessoas com competecircncia para avaliar a
funcionalidade fiacutesica e mental de acordo com esses padrotildees
As deficiecircncias podem ser temporaacuterias ou permanentes progressivas regressivas ou estaacuteveis
intermitentes ou contiacutenuas O desvio em relaccedilatildeo ao modelo baseado na populaccedilatildeo e
geralmente aceite como normal pode ser leve ou grave e pode variar ao longo do tempo Estas
caracteriacutesticas satildeo consideradas posteriormente em descriccedilotildees adicionais principalmente nos
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
coacutedigos atraveacutes de um qualificador que se acrescenta ao coacutedigo e do qual fica separado por
um ponto
As deficiecircncias natildeo tecircm uma relaccedilatildeo causal com a etiologia ou com a forma como se
desenvolveram Por exemplo a perda da visatildeo ou de um membro pode resultar de uma
anormalidade geneacutetica ou de uma lesatildeo A presenccedila de uma deficiecircncia implica
necessariamente uma causa No entanto a causa pode natildeo ser suficiente para explicar a
deficiecircncia resultante Da mesma forma quando haacute uma deficiecircncia haacute uma disfunccedilatildeo das
funccedilotildees ou estruturas do corpo mas isto pode estar relacionado com qualquer doenccedila
perturbaccedilatildeo ou estado fisioloacutegico
As deficiecircncias podem ser parte ou uma expressatildeo de uma condiccedilatildeo de sauacutede mas natildeo
indicam necessariamente a presenccedila de uma doenccedila ou que o indiviacuteduo deva ser
considerado doente
As deficiecircncias cobrem um campo mais vasto que as perturbaccedilotildees ou as doenccedilas Por
exemplo a perda de uma perna eacute uma deficiecircncia de uma estrutura do corpo mas natildeo eacute uma
perturbaccedilatildeo ou uma doenccedila
As deficiecircncias podem originar outras deficiecircncias Por exemplo a diminuiccedilatildeo da forccedila
muscular pode prejudicar as funccedilotildees do movimento as funccedilotildees cardiacuteacas podem estar
relacionadas com o deacutefice das funccedilotildees respiratoacuterias e uma percepccedilatildeo prejudicada pode estar
relacionada com as funccedilotildees do pensamento
Actualmente na perspectiva da CIF o conceito de deficiecircncia constitui o poacutelo negativo da
componente ldquoFunccedilotildees e Estrutura do Corpordquo sendo descrito atraveacutes da existecircncia de
alteraccedilotildees significativas das funccedilotildees eou das estruturas do corpo O poacutelo positivo desta
componente refere-se agrave integridade funcional e estrutural Neste contexto um dos desafios
criacuteticos das poliacuteticas sociais consiste na operacionalizaccedilatildeo do conceito de deficiecircncia de forma
a que a elegibilidade dos diferentes puacuteblicos alvo se encontre devidamente delimitada
assegurando a eficaacutecia das medidas subjacentes
No entanto a amplitude e abrangecircncia da definiccedilatildeo do conceito de deficiecircncia proposta pela
OMS atraveacutes da CIF coloca um enorme desafio na medida em que qualquer cidadatildeo desde
que apresente um desvio significativo ao niacutevel da estrutura eou funccedilatildeo passa a ser um
potencial beneficiaacuterio das poliacuteticas neste domiacutenio Neste contexto poder-se-atildeo colocar vaacuterias
questotildees A primeira eacute se interessa agraves diferentes poliacuteticas no sector continuarem a ser
desenvolvidas tendo por focus o conceito de pessoas com deficiecircncias sabendo que a sua
distinccedilatildeo ao longo da populaccedilatildeo apenas poderaacute ser feita atraveacutes do niacutevel e extensatildeo da
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
alteraccedilatildeo da integridade estrutural e funcional de cada individuo A segunda questatildeo prende-se
com as consequecircncias conceptuais decorrentes da integraccedilatildeo do modelo social na formulaccedilatildeo
e operacionalizaccedilatildeo dos conceitos a serem utilizados pelas poliacuteticas no sector na medida em
que o aspecto critico deixa de ser a natureza e severidade da deficiecircncia para passar a centrar-
se no niacutevel e tipo de restriccedilotildees de participaccedilatildeo que cada cidadatildeo experiencia na interacccedilatildeo
com os seus contextos de vida
No que concerne agrave primeira questatildeo e atendendo a que a mais recente definiccedilatildeo do conceito
de deficiecircncia proposto pela OMS apresenta um elevado niacutevel de abrangecircncia e um reduzido
potencial diferenciador poderemos equacionar 2 hipoacuteteses centrais de operacionalizaccedilatildeo
a) A primeira hipoacutetese baseia-se na possibilidade de operacionalizar diferentes definiccedilotildees
de deficiecircncia ao longo das diferentes poliacuteticas sociais no sentido de assegurar que as
diferentes medidas alcanccedilam efectivamente as pessoas para as quais foram
elaboradas Esta perspectiva tem a vantagem de uma maior focalizaccedilatildeo nas
caracteriacutesticas especificas do puacuteblico-alvo mas no entanto apresenta uma grande
desvantagem que consiste na elevada probabilidade das diferentes definiccedilotildees
perderem a coerecircncia entre si fragmentando igualmente o modelo teoacuterico a partir do
qual se deveriam basear
b) A segunda hipoacutetese consiste na articulaccedilatildeo operativa de dois conceitos o de
deficiecircncia e o de restriccedilotildees de participaccedilatildeo Nesta perspectiva a elegibilidade de uma
determinada politica social baseia-se na validaccedilatildeo preacutevia da existecircncia da primeira
condiccedilatildeo do puacuteblico-alvo ndash a existecircncia de uma deficiecircncia ndash determinando logo de
seguida o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo a partir do qual os diferentes cidadatildeos
passam a poder aceder agraves medidas especiacuteficas nela contidas O desafio contido nesta
hipoacutetese consiste na necessidade de desenvolvimento de um sistema de avaliaccedilatildeo que
permita avaliar o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo experimentado pelas pessoas com
deficiecircncias determinando atraveacutes do valor aferido quais seriam as pessoas com
acesso agraves medidas Neste cenaacuterio natildeo bastaria que uma pessoa tivesse uma
deficiecircncia pelo que seria necessaacuterio avaliar os efeitos da deficiecircncia em interacccedilatildeo
com o ambiente social ao niacutevel da participaccedilatildeo no sentido de determinar a
elegibilidade As vantagens desta hipoacutetese relacionam-se com (i) a preservaccedilatildeo do
niacutevel de coerecircncia dos conceitos utilizados ao longo das diferentes poliacuteticas sociais (ii)
a existecircncia de um processo comum de afericcedilatildeo e determinaccedilatildeo da elegibilidade ao
longo dos diferentes sectores de politica (iii) a compatibilidade e adequabilidade dos
princiacutepios teoacutericos do modelo social com a operacionalizaccedilatildeo dos sistemas e medidas
poliacuteticos de apoio agraves pessoas com deficiecircncias e (iv) a existecircncia de mecanismos de
avaliaccedilatildeo de elevada transparecircncia controlabilidade e rigor
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 26
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
45 INCAPACIDADE
Do ponto de vista de utilizaccedilatildeo dos conceitos de Deficiecircncia e de Incapacidade em Portugal
tecircm subsistido vaacuterias imprecisotildees terminoloacutegicas Primeiro na generalidade dos documentos
internacionais alude-se ao termo ldquopeople with disabilitiesrdquo sendo que invariavelmente esta
expressatildeo eacute traduzida para Portuguecircs como ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo Tal facto parece criar
condiccedilotildees para uma grande permeabilidade semacircntica dificilmente resoluacutevel do ponto de vista
conceptual Segundo deficiecircncia e incapacidade satildeo claramente dois conceitos distintos
Enquanto a deficiecircncia remete para alteraccedilotildees significativas ao niacutevel das estruturas eou das
funccedilotildees do corpo a incapacidade constitui o poacutelo negativo do funcionamento humano em
situaccedilatildeo potencial ou efectiva de participaccedilatildeo no contexto de vida Este facto pressupotildee que os
conceitos de deficiecircncia e de incapacidade natildeo contecircm nenhuma relaccedilatildeo causal entre si nem
nenhuma relaccedilatildeo linear de frequecircncia na medida em que eacute possiacutevel existir uma deficiecircncia
sem que exista uma incapacidade e eacute possiacutevel emergir uma determinada incapacidade sem
que haja uma qualquer deficiecircncia
Deste modo eacute possiacutevel
a) Ter deficiecircncias sem limitaccedilotildees de capacidade (eg uma desfiguraccedilatildeo resultante da
doenccedila de Hansen pode natildeo ter efeito sobre a capacidade da pessoa
b) Ter problemas de desempenho e limitaccedilotildees de capacidade sem deficiecircncias evidentes
(eg reduccedilatildeo de desempenho nas actividades diaacuterias associada a vaacuterias doenccedilas)
c) Ter problemas de desempenho sem deficiecircncias ou limitaccedilotildees de capacidade (eg um
indiviacuteduo HIV positivo ou um ex-doente curado de doenccedila mental que enfrenta
estigmas ou descriminaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais ou no trabalho)
d) Ter limitaccedilotildees de capacidade se natildeo tiver assistecircncia e nenhum problema de
desempenho no ambiente habitual (eg um indiviacuteduo com limitaccedilotildees de mobilidade
pode beneficiar por parte da sociedade de ajudas tecnoloacutegicas de assistecircncia para se
movimentar
e) Experimentar um grau de influecircncia em sentido contraacuterio (eg a inactividade dos
membros pode levar agrave atrofia muscular a institucionalizaccedilatildeo pode resultar numa perda
da socializaccedilatildeo)
Daqui resulta que ao referirmo-nos agraves pessoas com deficiecircncias enquanto puacuteblico-alvo
privilegiado das medidas de reabilitaccedilatildeo poderemos incorrer num desvio significativo de
alocaccedilatildeo dos recursos agraves reais necessidades das pessoas na medida em que natildeo eacute a
deficiecircncia que gera por si mesma a necessidade de reabilitaccedilatildeo mas sim as limitaccedilotildees de
actividade e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo decorrentes da interacccedilatildeo entre as caracteriacutesticas
biopsicossociais e as caracteriacutesticas dos ambientes em que o individuo se move
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
A persistecircncia em traduzir o termo disability para deficiecircncia e natildeo apenas o seu homoacutelogo
anglo-saxoacutenico ndash impairment ndash poderaacute explicar-se pelas seguintes razotildees
a) O potencial efeito estigmatizante da expressatildeo ldquopessoas com incapacidadesrdquo ser maior
do que aquele contido na expressatildeo ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo
b) O termo incapacidade centrar-se exclusivamente nos aspectos negativos do
funcionamento individual classificando a pessoa agrave partida como sendo destituiacuteda de
competecircncias e condiccedilotildees para atingir os niacuteveis normativos de desempenho e
performance num conjunto de domiacutenios da vida pessoal e social
O paradoxo surge igualmente porque enquanto no modelo meacutedico a incapacidade aparece
em termos causais relacionada com a deficiecircncia numa perspectiva exclusivamente individual
no modelo proposto pela OMS operacionalizado na CIF os dois conceitos gozam de total
independecircncia conceptual e operativa sendo que a deficiecircncia passa a ter uma baixa
relevacircncia diferenciadora do ponto de vista do funcionamento humano Ora se atendermos a
que as medidas de reabilitaccedilatildeo pretendem promover os potenciais do funcionamento humano
numa perspectiva de participaccedilatildeo plena do indiviacuteduo nos mais diferenciados contextos de vida
assegurando o co-desenvolvimento de todos os actores e das estruturas sociais necessaacuterias agrave
cidadania plena entatildeo falar de ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo natildeo soacute natildeo eacute relevante no quadro
da loacutegica de intervenccedilatildeo como poderaacute traduzir dificuldades dos actores em mudar
efectivamente do paradigma meacutedico para o paradigma social
Este fenoacutemeno aliaacutes natildeo acontece apenas em Portugal sendo que recentes estudos de
investigaccedilatildeo vieram sugerir a adopccedilatildeo dos conceitos de ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo e
ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo para ultrapassar a aplicaccedilatildeo indevida dos
conceitos de deficiecircncia e incapacidade A utilizaccedilatildeo destes conceitos parece articular de forma
mais precisa com o novo modelo conceptual proposto pela OMS enfatizando a diversidade de
niacuteveis de funcionamento humano e apelando a uma certa noccedilatildeo de relatividade socialmente
construiacuteda Uma das criticas feita pela comunidade de investigadores ao conceito de ldquopessoas
com diversidade funcionalrdquo reside no facto de que a expressatildeo eacute dotada de um tatildeo elevado
niacutevel de abrangecircncia que natildeo permite um niacutevel de diferenciaccedilatildeo relevante na medida em que
todos os cidadatildeos detecircm entre si diversos e diferentes padrotildees de funcionamento humano
Neste sentido o conceito ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo aplicar-se-ia a todos os
cidadatildeos sem excepccedilatildeo A proliferaccedilatildeo destes termos eacute explicada pela necessidade da
comunidade politica e cientifica de construir constructos que sejam socialmente aceites e o
mais neutros possiacuteveis do ponto de vista dos seus valores impliacutecitos No entanto a
impossibilidade epistemoloacutegica de desenvolver expressotildees e conceitos socio-historicamente
neutros parece levar muitas vezes agrave concepccedilatildeo de definiccedilotildees com reduzida identidade isto eacute
de significado demasiado amplo e abrangente o que na expressatildeo da UPIAS ldquopodem significar
tudo e coisiacutessima nenhumardquo (2005)
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Os conceitos ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo ldquopessoas com limitaccedilotildees de
actividaderdquo e ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo afiguram-se comparativamente ao
anterior como um conceito de maior coerecircncia conceptual com o modelo proposto pela OMS e
deteacutem cumulativamente um maior poder diferenciador A sua desvantagem reside no facto de
constituiacuterem expressotildees com maior dificuldade de apreensatildeo e inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 29
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 30
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5 ANAacuteLISE DOS REFERENCIAIS NACIONAIS E INTERNACIONAIS
No sentido de obter um conjunto de vectores de referecircncia na estruturaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo do
conceito de deficiecircncia foram analisadas as abordagens desenvolvidas pelos seguintes
organismos INE Eurostat OCDE American Disabilities Act WHO UN
51 INE
Os dados disponiacuteveis no INE parecem indicar a utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na
ICIDH
Deficiecircncia1 Perda ou alteraccedilatildeo de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou
anatoacutemica Nesta definiccedilatildeo estatildeo incluiacutedas as seguintes tipologias2
Deficiecircncia AUDITIVA
Deficiecircncia MENTAL
Deficiecircncia MOTORA
Deficiecircncia ORGAcircNICO-FUNCIONAL
Deficiecircncia PSIQUIAacuteTRICA
Deficiecircncia VISUAL
Incapacidade3 Ausecircncia ou limitaccedilatildeo da capacidade para funcionar estando comprometida a
realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida
diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e originando uma desvantagem para funcionar em
sociedade face a outros
Pessoa deficiente Aquela que tenha uma ou mais das seguintes deficiecircncias a) deficiecircncia
visual b) deficiecircncia auditiva c) deficiecircncia mental d) deficiecircncia motora
1 Nota Na operaccedilatildeo censitaacuteria de 2001 apenas foi observada a deficiecircncia permanente a deficiecircncia temporaacuteria natildeo foi considerada (por exemplo se um indiviacuteduo se desloca com canadianas ou em cadeira de rodas porque partiu uma perna ou se sofre de descolamento parcial da retina que o obriga a andar com uma venda natildeo foi considerado como tendo uma deficiecircncia) 2 Fonte INE ndash Censos 2001 ndash Recenseamento Geral da Populaccedilatildeo (Antecedentes Metodologia e Conceitos) Antecedentes Metodologia e Conceitos 3 Fonte INS ndash Inqueacuterito Nacional agrave Sauacutede
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Trabalhador deficiente Trabalhador que estaacute incapacitado para assegurar por si mesmo total
ou parcialmente a satisfaccedilatildeo de necessidades de uma vida individual ou social normal devido
a uma deficiecircncia congeacutenita ou adquirida das suas capacidades fiacutesicas sensoriais ou
mentais tendo por isso dificuldade em obter eou manter o desempenho de funccedilotildees de acordo
com as suas habilitaccedilotildees idade e experiecircncia profissional
Cidadatildeo Trabalhador com necessidades especiais Cidadatildeo idoso ou portador de
deficiecircncias sensoriais (visuais e auditivas) fiacutesicas (motoras) e cognitivas
52 EUROSTAT
Os dados disponibilizados pelo Eurostat no seu endereccedilo electroacutenico4 parecem indicar a
utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na ICIDH
Conceito Deficiecircncia5
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de deficiecircncia refere-se a uma perda ou alteraccedilatildeo
de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou anatoacutemica
Conceito Incapacidade6
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de incapacidade refere-se agrave ausecircncia ou limitaccedilatildeo
da capacidade para funcionar estando comprometida a realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas
funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e
originando uma desvantagem para funcionar em sociedade face a outros
Conceito Desvantagem7
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito refere-se agrave desvantagem para um dado individuo
decorrente de uma deficiecircncia ou incapacidade
4 httpforumeuropaeuintircdsiscodedinfodatacodedenTheme3htm 5 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 6 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 7 Fonte Key data on health 2000 Eurostat
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
53 OCDE
Definiccedilotildees gerais de incapacidade
No contexto da OCDE identificam-se 2 abordagens distintas no quadro da definiccedilatildeo de
incapacidade
A incapacidade pode ser definida enquanto um estado decorrente de autoavaliaccedilatildeo ou um
status baseado em fontes administrativas eg beneficiaacuterio dos apoios De forma muito
frequente e talvez de forma imprecisa estas duas definiccedilotildees satildeo explicitadas como
incapacidade ldquosubjectivardquo versus rdquoobjectivardquo
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo e instrumentos
A incapacidade autoavaliada eacute medida atraveacutes de inqueacuteritos feitos directamente aos cidadatildeos
nas suas residecircncias Apesar da avaliaccedilatildeo ser baseada de uma forma geral nas respostas agraves
questotildees relativas a problemas de sauacutede de longo termo que limitam as actividades de vida
diaacuteria o detalhe das questotildees eacute geralmente diferente dificultando a comparabilidade dos
dados Por exemplo ldquolongo termordquo eacute parametrizado em 6 meses na Noruega e em 12 meses
na Suiccedila O status dos beneficiaacuterios pode ser avaliado atraveacutes de registos administrativos ou
atraveacutes de inqueacuteritos Os resultados entre as duas fontes satildeo de uma forma geral bastante
diferentes por duas razotildees nucleares os registos administrativos geralmente contam casos e
natildeo pessoas o que em situaccedilotildees de benefiacutecios muacuteltiplos pode levar a contagens duplas por
outro lado os inqueacuteritos satildeo baseados nas respostas sobre o status do beneficiaacuterio e algumas
pessoas podem desejar natildeo revelar a sua condiccedilatildeo perante os benefiacutecios
Nenhuma destas definiccedilotildees e medidas de mensuraccedilatildeo eacute superior a outras pelo que a sua
utilizaccedilatildeo depende dos objectivos do propoacutesito da investigaccedilatildeo e da disponibilidade da
informaccedilatildeo
Abordagens para medir a incapacidade no quadro da aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos agraves populaccedilotildees
a) Incapacidade geral (natildeo especificada)
Puacuteblico-alvo todos os adultos
b) Incapacidade relativa ao trabalho
Puacuteblico-alvo pessoas em idade activa
c) Limitaccedilotildees nas actividades de vida diaacuteria (AVD)
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Puacuteblico-alvo Populaccedilatildeo idosa
54 AMERICAN DISABILITIES ACT
O American Disabilities Act (ADA) desenvolvido em 1990 fornece um conjunto de guidelines
no sentido de assegurar a disponibilizaccedilatildeo de serviccedilos para as pessoas com deficiecircncias bem
como a protecccedilatildeo dos seus direitos legais
A ADA inclui uma definiccedilatildeo legal de incapacidade consistindo na presenccedila de ldquouma deficiecircncia
fiacutesica ou mental que limita significativamente uma ou mais das principais actividades de vidardquo
Independentemente da definiccedilatildeo proposta pela ADA a existecircncia de muacuteltiplos programas a
favor das pessoas com deficiecircncias e os diferentes focus legais em diferentes puacuteblicos alvo
fazem com que tenham emergido uma multiplicidade de definiccedilotildees de incapacidade ao longo
do tempo no quadro das poliacuteticas sociais americanas
55 OMS ONU Revisatildeo dos actuais inqueacuteritos sobre a incapacidade
Apesar de existir um desenvolvimento consideraacutevel dos inqueacuteritos na aacuterea da incapacidade
poder-se-atildeo explicitar algumas observaccedilotildees relativas agrave sua multiplicidade Numa primeira linha
de anaacutelise os inqueacuteritos tendem a focalizar-se nas limitaccedilotildees de actividade eou na deficiecircncia
No que concerne agrave formulaccedilatildeo escrita tendem a existir diferenccedilas significativas entre
inqueacuteritos facto que inviabiliza natildeo raras vezes a comparabilidade dos dados entre inqueacuteritos
As diferentes formulaccedilotildees das questotildees incluem
Tem dificuldade
Eacute capaz de
Faz
Tem sentido problemas em
com ou sem assistecircncia pessoal eou tecnoloacutegica
A questatildeo que se coloca eacute se estas formulaccedilotildees tecircm o mesmo significado isto eacute se todas elas
pretendem medir a capacidade ou a performance De acordo com a CIF a capacidade
remeteria para o potencial de execuccedilatildeo de um indiviacuteduo enquanto a performance diria respeito
ao niacutevel de desempenho efectivo do indiviacuteduo atraveacutes do seu envolvimento numa situaccedilatildeo de
vida real As lacunas existentes e as poucas referecircncias ao niacutevel da forma como os inquiridos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 33
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
satildeo instruiacutedos a responder faz com que natildeo seja possiacutevel desenvolver um discernimento
irrefutaacutevel sobre esta mateacuteria
Do ponto de vista dos domiacutenios abrangidos os inqueacuteritos tecircm apresentado algumas questotildees
sobre a participaccedilatildeo e o ambiente e evidenciam algumas limitaccedilotildees na sua amplitude Os
domiacutenios de actividades e participaccedilatildeo geralmente abrangidos tecircm sido operacionalizados de
uma forma geral nas seguintes dimensotildees
Educaccedilatildeo e emprego (formulado como questotildees de performance)
Outros inqueacuteritos incluem aacutereas como relaccedilotildees interpessoais vida familiar tomada de
decisotildees etc
O domiacutenio relativo aos factores ambientais tem incluiacutedo
Utilizaccedilatildeo e acessibilidadedisponibilidade dos produtos de assistecircncia e da tecnologia
Acessibilidade do ambiente
Disponibilidade dos serviccedilos (sauacutede protecccedilatildeo social educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo)
Evidecircncias muito escassas ao niacutevel da poliacutetica atitudes ambiente natural
planeamento e concepccedilatildeo
A questatildeo de investigaccedilatildeo neste contexto centra-se na seguinte formulaccedilatildeo ldquoo que eacute que os
inqueacuteritos medem como incapacidaderdquo
a) Definiccedilatildeo a priori da incapacidade versus sem incapacidade
Alguns inqueacuteritos sobre a incapacidade especialmente os mais antigos utilizam uma definiccedilatildeo
a priori de incapacidade O objectivo deste tipo de inqueacuteritos eacute contar o nuacutemero de pessoas
que se encaixam na definiccedilatildeo no contexto da populaccedilatildeo total Neste sentido os dados satildeo
analisados de acordo com dois grupos de referecircncia ndash com incapacidade e sem incapacidade ndash
em funccedilatildeo de um conjunto de diferentes variaacuteveis Este tipo de questionaacuterios formula questotildees
do tipo ldquoPossui algum tipo de incapacidade auditiva visual ou fiacutesicardquo Muitas questotildees dos
censos tecircm utilizado este formato
b) Definiccedilatildeo a posteriori de incapacidade versus sem incapacidade
Mais recentemente alguns inqueacuteritos desenvolveram-se em direcccedilatildeo a uma definiccedilatildeo a
posteriori de incapacidade Nestes casos eacute medida a capacidade a performance ao longo de
um conjunto vasto de domiacutenios Este segundo tipo de inqueacuteritos tende a ter uma ampla
aceitaccedilatildeo eg HALS (Canada) HID (Franccedila) inqueacuterito sobre incapacidade na Africa do Sul
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 34
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Inqueacuterito Espanhol sobre incapacidade NHIS-D (USA) inqueacuterito Holandecircs entre outros Estes
instrumentos formulam questotildees relativas agraves dificuldades que as pessoas experienciam em
diferentes domiacutenios produzindo um perfil pessoal que possa colocar em evidecircncia os
diferentes graus de capacidade associados A categorizaccedilatildeo de incapacidade sem
incapacidade eacute formulada ao niacutevel do domiacutenio e natildeo como uma categoria geral de atributo
pessoal Esta abordagem permite uma anaacutelise ao niacutevel de funcionamento individual por
domiacutenio por exemplo comparando a experiecircncia de incapacidade no domiacutenio de mobilidade
versus socializaccedilatildeo versus comunicaccedilatildeo entre outros bem como o impacto dos factores
ambientais nestes diferentes domiacutenios O perfil resultante do funcionamento individual ao longo
de muacuteltiplos domiacutenios eacute similar aos estados de sauacutede individuais ao longo das diferentes
dimensotildees
Vantagens de uma abordagem a posteriori
Estaacute em consonacircncia com a abordagem universal proposta pela CIF Todas as
pessoas experienciam deficiecircncia nalgum ponto e esta experiecircncia eacute caracterizada
numa abordagem a posteriori e natildeo a priori
Decisotildees sobre a criaccedilatildeo de categorias sobre quem tem incapacidade e sobre quem
natildeo tem podem ser tomadas atraveacutes de diferentes niacuteveis de anaacutelise por exemplo
atraveacutes da anaacutelise da experiecircncia das pessoas que experienciam incapacidade em 1 2
ou 3 domiacutenios de cruzar o status de emprego de pessoas com incapacidade ao longo
dos diferentes domiacutenios etc
Deixa de ser necessaacuteria uma definiccedilatildeo tipoloacutegica e categoacuterica de pessoas com
incapacidade O que necessita de ser definido neste contexto eacute o que se designa por
limitaccedilatildeo da capacidade ou problemas de performance ao longo dos diferentes
domiacutenios
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 35
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 36
Dezembro2006
6 SISTEMATIZACcedilAtildeO DAS DIMENSOtildeES DE ORGANIZACcedilAtildeO E
OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em todos os estudos efectuados neste domiacutenio foi colocada em evidecircncia a actual dificuldade
de comparabilidade estatiacutestica internacional inter ou intra sectorial independentemente do
organismo referenciador ndash OCDE ONU EUROSTAT INE OMS
Neste contexto desenvolver-se-aacute a extracccedilatildeo de conhecimento tendo por base a identificaccedilatildeo
de um conjunto de eixos de anaacutelise que actuem como vectores de estruturaccedilatildeo na
operacionalizaccedilatildeo do conceito A este propoacutesito atente-se no Quadro 2
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Abordagem Focus Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Delimitaccedilatildeo temporal do
conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo
Design das questotildees
CID-10
ICIDH
ICF
SauacutedeDoenccedila
Deficiecircncia
Incapacidade
a) Geral
b) Relativa ao trabalho
c) Limitaccedilotildees nas
actividades de vida
diaacuteria
Funcionalidade ndash
Niacuteveis de execuccedilatildeo
das actividades por
domiacutenio e niacuteveistipos
de ajudas mobilizadas
Intersubjectivo ndash
vg inqueacuteritos
Objectivo ndash vg
fontes administrativas
A priori
A posteriori
Temporaacuterias
permanentes
Progressivas
regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou
contiacutenuas
Tipo 1 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre uma determinada
condiccedilatildeo individual
combinada com itens
referentes a limitaccedilotildees de
actividade e participaccedilatildeo e
factores contextuais
Tipo 2 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre a presenccedila de uma
pessoa com incapacidade
no agregado familiar
seguindo-se uma lista de
deficiecircncias e
incapacidades
Tipo 3 ndash Checklist de
deficiecircncias
Quadro 2 ndash Eixos de operacionalizaccedilatildeo do conceito
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 37
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 38
Dezembro2006
7 ESCOLHA DO CENAacuteRIO A IMPLEMENTAR
A anaacutelise do Quadro 2 permite-nos uma definiccedilatildeo modular do cenaacuterio a implementar atraveacutes de
uma configuraccedilatildeo do conceito pelos eixos de anaacutelise propostos Uma das dificuldades
evidentes nesta delimitaccedilatildeo prende-se com o cumprimento dos requisitos de (a)
comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica e legislativa dentro do contexto portuguecircs
e (c) conformidade com os referenciais conceptuais actuais sendo que a coexistecircncia destes
criteacuterios afigura-se em muitos casos incompatiacutevel entre si Para efeitos da estruturaccedilatildeo do
cenaacuterio privilegiar-se-aacute a conformidade com os referenciais conceptuais actuais
71 ABORDAGEM No que concerne agrave abordagem privilegia-se a adopccedilatildeo das mais recentes directrizes propostas
pela OMS adoptando explicitamente a CIF
Fundamentaccedilatildeo
A CIF apresenta a capacidade para descrever o funcionamento humano numa
perspectiva biopsicossocial em detrimento da classificaccedilatildeo anterior (ICIDH) que se
focalizava na dimensatildeo biomeacutedica A CIF foi desenvolvida no plano conceptual para ser aplicaacutevel em diferentes aacutereas e
sectores A CIF eacute aplicaacutevel transversalmente agraves dimensotildees de cultura idade geacutenero sendo um
instrumento sistemaacutetico para descrever e medir a sauacutede e o funcionamento humano
num dado contexto A CIF constitui-se enquanto instrumento potencial para a poliacutetica social design das
intervenccedilotildees nos domiacutenios da sauacutede educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e intervenccedilatildeo social Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
72 FOCUS
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo da centraccedilatildeo da recolha de dados ao niacutevel
da dimensatildeo de funcionalidade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 39
Dezembro2006
Fundamentaccedilatildeo
Consonacircncia com o modelo conceptual proposto pela CIF enfatizando o caraacutecter
dinacircmico e interaccional (pessoa factores contextuais) do funcionamento de cada
pessoa Permite caracterizar as limitaccedilotildees de actividade e restriccedilotildees de participaccedilatildeo dos
cidadatildeos identificando necessidades de intervenccedilotildees especializadas numa loacutegica de
empowerment e participaccedilatildeo social Permite analisar a adequabilidade e ajustamento das actuais medidas poliacuteticas do
ponto de vista dos seus objectivos e os problemas detectados ao niacutevel da participaccedilatildeo
dos cidadatildeos ao longo de um conjunto diversificado de domiacutenios
73 MEacuteTODOS DE MENSURACcedilAtildeO
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo de meacutetodos intersubjectivos nomeadamente
inqueacuteritos
Fundamentaccedilatildeo
Flexibilidade ao niacutevel da abrangecircncia e profundidade das dimensotildees
Maior facilidade na implementaccedilatildeo atendendo agrave disponibilizaccedilatildeo de uma amostra
delimitada
Maior niacutevel de controlo sobre as condiccedilotildees de observaccedilatildeo e da entrevista devido ao
menor nuacutemero de entrevistas a ser implementado
74 DELIMITACcedilAtildeO CONCEPTUAL E TEMPORAL DO CONCEITO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo temporal e apesar de se privilegiar as vantagens anteriormente
explicitadas no desenvolvimento de uma definiccedilatildeo a posteriori assume-se a necessidade
politica de delimitar o campo de intervenccedilatildeo do conjunto de medidas sociais neste domiacutenio
pelo que a delimitaccedilatildeo conceptual poderaacute ser objecto de operacionalizaccedilatildeo atraveacutes dos
seguintes paracircmetros
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 40
Dezembro2006
Poder-se-aacute colocar a questatildeo de saber se a delimitaccedilatildeo do conceito proposta remete
especificamente para ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ou para ldquopessoas com limitaccedilotildees de
participaccedilatildeordquo Atendendo a que a definiccedilatildeo comporta uma abordagem sisteacutemica enfatizando a
interacccedilatildeo entre um conjunto diversificado de componentes que produzem impacto na
funcionalidade da pessoa a resposta natildeo eacute linear dependendo da ecircnfase socio-histoacuterica e da
abordagem sociopoliacutetica que se escolher enfatizar No entanto e do ponto de vista conceptual
privilegia-se a adopccedilatildeo do conceito ldquopessoas com limitaccedilotildees de participaccedilatildeordquo dado que existe
total autonomia operativa entre os diferentes constructos Neste sentido a deficiecircncia natildeo
constitui um factor causal linear das limitaccedilotildees de actividade e das restriccedilotildees ao niacutevel da
participaccedilatildeo mas antes uma das componentes que em interacccedilatildeo com outras podem
provocar impactos ao niacutevel da funcionalidade do indiviacuteduo Por uacuteltimo refira-se que a tipologia
ldquopessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeordquo poderaacute ser alvo de criticas por constituir
uma designaccedilatildeo que apela a duas componentes em simultacircneo (actividades e participaccedilatildeo)
excluindo outras e ser demasiado longa para uma definiccedilatildeo tipoloacutegica A este propoacutesito pode-
se sugerir a delimitaccedilatildeo ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo constituindo esta
expressatildeo uma abordagem holiacutestica ao conjunto de componentes que interferem com o
funcionamento humano Deste modo poderemos ter as seguintes designaccedilotildees
Pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Pessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo
Pessoas com limitaccedilotildees de funcionalidade
Figura 2 ndash Possiacuteveis designaccedilotildees
O Quadro 3 pretende fornecer uma visatildeo sistemaacutetica sobre o processo de decisatildeo da
designaccedilatildeo a adoptar
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
deficiecircncias
Tradiccedilatildeo analiacutetica dentro do
contexto portuguecircs
Em conformidade com o modelo
meacutedico ndash centra-se nas alteraccedilotildees
de estrutura e funccedilatildeo ndash
focalizaccedilatildeo na pessoa
Desarticulado dos pressupostos do
modelo social ndash natildeo remete para a
experiecircncia de incapacidade
enquanto produto da interacccedilatildeo
entre pessoa e ambiente
Mai
or
Abr
angecirc
ncia
Mai
or
Espe
cific
idad
e
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 41
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
incapacidades
Em conformidade com a
delimitaccedilatildeo anglo-saxoacutenica que
utiliza o conceito Disability
Focalizaccedilatildeo no poacutelo negativo do
funcionamento humano ndash
funcionalidadeincapacidade
Ao focalizar-se na experiecircncia de
incapacidade enquanto
interacccedilatildeo pessoa-ambiente
remete indirectamente para a
mobilizaccedilatildeo de apoios e recursos
de forma a ultrapassar eou
eliminar os obstaacuteculos ao
funcionamento em contexto
O potencial efeito estigmatizante
da expressatildeo ldquopessoas com
incapacidadesrdquo
Pessoas com
diversidade
Funcional
Em conformidade com o modelo
social
Focaliza-se na gestatildeo das
diferenccedilas e no seu impacto ao
niacutevel da participaccedilatildeo das pessoas
na sociedade
Elevado niacutevel de abrangecircncia natildeo
permitindo um niacutevel de
diferenciaccedilatildeo relevante na
medida em que todos os cidadatildeos
detecircm entre si diversos e
diferentes padrotildees de
funcionamento humano
Conceito dificilmente
operacionalizaacutevel do ponto de
vista da formulaccedilatildeo das poliacuteticas e
da delimitaccedilatildeo dos puacuteblicos-alvo
Pessoas com
restriccedilotildees ao
niacutevel da
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos Desta forma
todos os obstaacuteculos agrave participaccedilatildeo
relacionados com discriminaccedilatildeo
social preconceitos estereoacutetipos
deficiecircncias doenccedilas croacutenicas
entre outros satildeo incluiacutedos
Natildeo inclui as limitaccedilotildees de
actividade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 42
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
limitaccedilotildees de
actividade e
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida e simultaneamente no
domiacutenio das limitaccedilotildees de
actividade
Ruptura com a tradiccedilatildeo analiacutetica
no sector
Dificuldade de apreensatildeo e
inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Natildeo inclui as alteraccedilotildees da
estrutura e da funccedilatildeo
Pessoas com
limitaccedilotildees de
funcionalidade
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel das
diferentes dimensotildees constituintes
da funcionalidade e do
funcionamento humano
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos
Pessoas com
deficiecircncias e
incapacidades
Natildeo introduz ruptura com a
tradiccedilatildeo analiacutetica no sector
Inclui as alteraccedilotildees de estrutura e
funccedilatildeo bem como as alteraccedilotildees
decorrentes ao niacutevel da
funcionalidade
Diferencia os conceitos de
deficiecircncia e incapacidade
autonomizando-os e fornecendo
uma base compreensiva para o
natildeo estabelecimento de relaccedilotildees
de causa-efeito entre os ambos
Abrange os obstaacuteculos que
emergem na interacccedilatildeo pessoa-
contextos de vida e
simultaneamente no domiacutenio das
limitaccedilotildees de actividade
Poder diferenciador e delimitador
na definiccedilatildeo do puacuteblico-alvo
Em alinhamento estrateacutegico com o
PAIPDI
Designaccedilatildeo de compromisso com
os referenciais teoacutericos do modelo
social e dos princiacutepios da ldquoeacutetica da
diversidaderdquo
Quadro 3 ndash Visatildeo comparativa das hipoacuteteses da designaccedilatildeo a adoptar
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 43
Dezembro2006
75 DELIMITACcedilAtildeO DA DURACcedilAtildeO E CURSO DE EVOLUCcedilAtildeO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo interessa a caracterizaccedilatildeo nas
3 dimensotildees desenvolvidas
Fundamentaccedilatildeo
Afigura-se relevante caracterizar a ocorrecircncia das deficiecircncias quanto aacute sua
consistecircncia no tempo ndash temporaacuterias permanentes ndash analisando os factores
contextuais associados consequecircncias ao niacutevel das actividades e da participaccedilatildeo ao
longo de um conjunto de domiacutenios em ordem agrave extracccedilatildeo de implicaccedilotildees no acircmbito
das poliacuteticas sociais
No acircmbito da adaptabilidade e da adequaccedilatildeo das medidas poliacuteticas agraves necessidades
especiacuteficas dos cidadatildeos torna-se relevante caracterizar a deficiecircncia quanto agrave
natureza do seu curso evolutivo ndash progressivas regressivas estaacuteveis O mesmo
criteacuterio eacute aplicaacutevel quanto aacute dimensatildeo de padratildeo de manifestaccedilatildeo ndash intermitente
contiacutenua
No entanto e apesar da incapacidade se manifestar ao longo do ciclo de vida da pessoa
de forma multimodal para efeitos de delimitaccedilatildeo e de definiccedilatildeo do conceito de pessoas
com deficiecircncias e incapacidades privilegiaremos o caraacutecter permanente Desta forma
excluem-se as manifestaccedilotildees temporaacuterias de incapacidade que enviesariam a anaacutelise e o
desenvolvimento de poliacuteticas neste domiacutenio
76 DESIGN DAS QUESTOtildeES
No que concerne ao design das questotildees privilegia-se a escolha de questotildees tipo 1
Fundamentaccedilatildeo
Em consonacircncia com a CIF
Permite comparabilidade estatiacutestica futura
Permite a caracterizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre os factores de funcionalidade ndash integridade
estrutural e funcional actividades participaccedilatildeo e factores contextuais
Permite o design das poliacuteticas sociais e metodologias de intervenccedilatildeo alicerccediladas nas
necessidades especiacuteficas dos cidadatildeos em torno das dimensotildees de inclusatildeo social
Domiacutenios
Visatildeo
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 44
Dezembro2006
Audiccedilatildeo
Comunicaccedilatildeo
Mobilidade
Dor
Aprendizagem e funcionamento psicoloacutegico
Autocuidados e vida domeacutestica
Condiccedilotildees gerais de sauacutede
Mobilizaccedilatildeo de ajudas ou equipamento especializado
Participaccedilatildeo social
Transporte e educaccedilatildeo
77 PROPOSTA DE DELIMITACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em funccedilatildeo das dimensotildees caracterizadas e dos criteacuterios privilegiados desenvolveu-se o
seguinte enquadramento conceptual
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 45
Dezembro2006
Figura 2 ndash Enquadramento conceptual da delimitaccedilatildeo do conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso da evoluccedilatildeo
Temporaacuterias permanentes
Progressivas regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou contiacutenuas
Focus
Funcionalidade ndash Niacuteveis de execuccedilatildeo das actividades por domiacutenio e niacuteveistipos de ajudas mobilizadas
Abordagem CIF
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo temporal do conceito
A priori
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Inter-subjectivo
Design das questotildees
Questatildeo geneacuterica sobre uma determinada condiccedilatildeo individual combinada com itens referentes a limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo e factores contextuais
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 46
Dezembro2006
8 CRITEacuteRIOS DE ELEGIBILIDADE DO PUacuteBLICO-ALVO E SISTEMAS DE
AVALIACcedilAtildeO
A operacionalizaccedilatildeo do conceito de incapacidade tem sido abordada de forma heterogeacutenea
entre diferentes modalidades de politica e os diferentes contextos socioculturais de cada paiacutes
De uma forma geral encontram-se 2 eixos criacuteticos na sua operacionalizaccedilatildeo
a) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de trabalho (na ocupaccedilatildeo preacutevia ou numa nova
ocupaccedilatildeo ajustada agraves alteraccedilotildees funcionais)
b) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de obter rendimentos provenientes do trabalho
A explicitaccedilatildeo dos criteacuterios de delimitaccedilatildeo do conceito de incapacidade nos diferentes paiacuteses
encontra-se na Quadro 4
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Austraacutelia 2 Criteacuterios possuir uma incapacidade que resulte
num score nunca inferior a 20 nas tabelas de
incapacidades e incapacidade em trabalhar 30
horas ou mais por semana ou em ser
reconvertido para trabalho em contexto regular
nos proacuteximos 2 anos
Nenhum
Aacuteustria 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho (50
de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo para
trabalhadores sem qualificaccedilotildees) papel criacutetico
das decisotildees dos tribunais devido a definiccedilotildees
legais imprecisas
Nenhum mas as
restriccedilotildees de sauacutede
devem ter uma duraccedilatildeo
igual ou superior a 6
meses
Beacutelgica 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na actual ocupaccedilatildeo
1 ano
Canada Incapacidade severa e prolongada que impeccedila de
desenvolver trabalho numa base regular
Nenhum
Dinamarca 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum mas a
reabilitaccedilatildeo precisa de
estar completa
Franccedila 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual mas a
totalidade do subsidio requer igualmente perda de
capacidade de trabalho
Nenhum no caso das
condiccedilotildees estarem
estaacuteveis mas muito
frequentemente apoacutes 3
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 47
Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
anos
Alemanha 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho a
incapacidade parcial eacute calculada em funccedilatildeo do nordm
de horas que a pessoa pode trabalhar
Nenhum mas a
incapacidade deve ter
uma duraccedilatildeo miacutenima
de 26 semanas
Itaacutelia 666reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum
Coreia Criteacuterios meacutedicos (niacuteveis de incapacidade
definidos de forma detalhada)
Periacuteodo de espera de
50 dias (os subsiacutedios
de doenccedila natildeo se
encontram disponiacuteveis)
Meacutexico 50 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo Nenhum
Holanda 15 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
(25 para os trabalhadores por conta proacutepria e
jovens com incapacidade) grau de incapacidade
calculado pela diferenccedila de remuneraccedilatildeo entre o
actual posto de trabalho compatiacutevel com as
limitaccedilotildees funcionais e o anterior
1 ano
Noruega 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho O
grau de subsiacutedio eacute calculado pela capacidade de
remuneraccedilatildeo
Nenhum (apoacutes ter
completado a
reabilitaccedilatildeo vocacional)
Poloacutenia Reduccedilatildeo temporaacuteria ou permanente da
capacidade de trabalho
Nenhum
Portugal 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual
Nenhum mas na
praacutetica ao fim de 3
anos (fim do periacuteodo de
doenccedila de longo termo)
Espanha 33 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho na
ocupaccedilatildeo actual incapacidade para todo e
qualquer trabalho para a totalidade do subsiacutedio
1 ano (embora seja
possiacutevel a candidatura
antes deste prazo em
casos de incapacidade
permanente)
Sueacutecia 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho grau
de incapacidade parcial calculado a partir das
horas que uma pessoa pode trabalhar
Nenhum
Suiccedila 40 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho para
as pessoas inactivas o grau de incapacidade eacute
calculado em relaccedilatildeo aacute actividade actual
1 ano
Turquia 666 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho
com um focus meacutedico bastante significativo
Nenhum
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 48
Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Reino Unido Limitaccedilotildees nas actividades de vida quotidianas
relevantes para o trabalho (avaliaccedilotildees meacutedicas
predominantes) teste ocupacional durante a s
primeiras 28 semanas (subsidio de doenccedila)
28 semanas
Estados
Unidos
Reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
incapacidade em investir numa actividade
profissional com rendimentos ($ US 740 por mecircs)
5 meses (nem sempre
cobertos pelos
subsiacutedios de curto-
termo) e 24 meses
para a cobertura
meacutedica
Quadro 4 ndash Definiccedilotildees de incapacidade e tempos regulamentares
Um dos desafios que se coloca aos actuais sistemas reside na delimitaccedilatildeo da elegibilidade do
puacuteblico-alvo Para cumprir este objectivo satildeo necessaacuterios sistemas de avaliaccedilatildeo holiacutesticos
abrangentes coerentes e que permitam chegar a resultados de forma consistente e com
validade interna No actual contexto a CIF propotildee constituir-se como o instrumento conceptual
abrangente para caracterizar os diferentes domiacutenios e niacuteveis de funcionalidade incapacidade
de forma coerente e integrada Neste sentido uma das vantagens apontadas para a adopccedilatildeo
do modelo desenvolvido pela OMS eacute a possibilidade de uniformizaccedilatildeo de conceitos e portanto
da utilizaccedilatildeo de uma linguagem padratildeo que permita a comunicaccedilatildeo entre investigadores
gestores profissionais de sauacutede organizaccedilotildees da sociedade civil e utilizadores em geral
Um dos campos de estudo mais explorados para a aplicaccedilatildeo da CIF tem sido a aacuterea de
Medicina Fiacutesica e de Reabilitaccedilatildeo no que concerne ao acompanhamento do estado de sauacutede
dos pacientes em tratamento O uso da CIF tem sido considerado tambeacutem na avaliaccedilatildeo apoacutes
transtornos agudos condiccedilotildees traumaacuteticas condiccedilotildees croacutenicas e na geriatria
Alguns autores argumentam que a CIF deve ser explorada como uma base de informaccedilotildees
padronizadas em estudos sobre incapacidade profissional quando haacute necessidade de
relacionar dados de sauacutede ocupacional com os da Seguranccedila Social
Na Sauacutede Puacuteblica tradicionalmente pouca atenccedilatildeo tem sido dada agraves pessoas com
incapacidades No entanto ao lado de recentes investimentos por parte de organizaccedilotildees e de
alguns governos a publicaccedilatildeo do modelo da CIF fornece as bases para as poliacuteticas e
disciplinas da Sauacutede Puacuteblica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo que apresenta deficiecircncias e
incapacidades Assim uma das possibilidades de uso da CIF pode ser a contribuiccedilatildeo para
responder a importantes questotildees de sauacutede puacuteblica tais como qual o estado de sauacutede das
pessoas com deficiecircncias comparadas com as demais que necessidades e que tipos de
intervenccedilotildees satildeo mais adequadas para reduzir condiccedilotildees secundaacuterias e promover a
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na sociedade entre outras
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 49
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Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 50
Dezembro2006
Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 51
Dezembro2006
Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
Dezembro2006
Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 53
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
coacutedigos atraveacutes de um qualificador que se acrescenta ao coacutedigo e do qual fica separado por
um ponto
As deficiecircncias natildeo tecircm uma relaccedilatildeo causal com a etiologia ou com a forma como se
desenvolveram Por exemplo a perda da visatildeo ou de um membro pode resultar de uma
anormalidade geneacutetica ou de uma lesatildeo A presenccedila de uma deficiecircncia implica
necessariamente uma causa No entanto a causa pode natildeo ser suficiente para explicar a
deficiecircncia resultante Da mesma forma quando haacute uma deficiecircncia haacute uma disfunccedilatildeo das
funccedilotildees ou estruturas do corpo mas isto pode estar relacionado com qualquer doenccedila
perturbaccedilatildeo ou estado fisioloacutegico
As deficiecircncias podem ser parte ou uma expressatildeo de uma condiccedilatildeo de sauacutede mas natildeo
indicam necessariamente a presenccedila de uma doenccedila ou que o indiviacuteduo deva ser
considerado doente
As deficiecircncias cobrem um campo mais vasto que as perturbaccedilotildees ou as doenccedilas Por
exemplo a perda de uma perna eacute uma deficiecircncia de uma estrutura do corpo mas natildeo eacute uma
perturbaccedilatildeo ou uma doenccedila
As deficiecircncias podem originar outras deficiecircncias Por exemplo a diminuiccedilatildeo da forccedila
muscular pode prejudicar as funccedilotildees do movimento as funccedilotildees cardiacuteacas podem estar
relacionadas com o deacutefice das funccedilotildees respiratoacuterias e uma percepccedilatildeo prejudicada pode estar
relacionada com as funccedilotildees do pensamento
Actualmente na perspectiva da CIF o conceito de deficiecircncia constitui o poacutelo negativo da
componente ldquoFunccedilotildees e Estrutura do Corpordquo sendo descrito atraveacutes da existecircncia de
alteraccedilotildees significativas das funccedilotildees eou das estruturas do corpo O poacutelo positivo desta
componente refere-se agrave integridade funcional e estrutural Neste contexto um dos desafios
criacuteticos das poliacuteticas sociais consiste na operacionalizaccedilatildeo do conceito de deficiecircncia de forma
a que a elegibilidade dos diferentes puacuteblicos alvo se encontre devidamente delimitada
assegurando a eficaacutecia das medidas subjacentes
No entanto a amplitude e abrangecircncia da definiccedilatildeo do conceito de deficiecircncia proposta pela
OMS atraveacutes da CIF coloca um enorme desafio na medida em que qualquer cidadatildeo desde
que apresente um desvio significativo ao niacutevel da estrutura eou funccedilatildeo passa a ser um
potencial beneficiaacuterio das poliacuteticas neste domiacutenio Neste contexto poder-se-atildeo colocar vaacuterias
questotildees A primeira eacute se interessa agraves diferentes poliacuteticas no sector continuarem a ser
desenvolvidas tendo por focus o conceito de pessoas com deficiecircncias sabendo que a sua
distinccedilatildeo ao longo da populaccedilatildeo apenas poderaacute ser feita atraveacutes do niacutevel e extensatildeo da
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 25
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
alteraccedilatildeo da integridade estrutural e funcional de cada individuo A segunda questatildeo prende-se
com as consequecircncias conceptuais decorrentes da integraccedilatildeo do modelo social na formulaccedilatildeo
e operacionalizaccedilatildeo dos conceitos a serem utilizados pelas poliacuteticas no sector na medida em
que o aspecto critico deixa de ser a natureza e severidade da deficiecircncia para passar a centrar-
se no niacutevel e tipo de restriccedilotildees de participaccedilatildeo que cada cidadatildeo experiencia na interacccedilatildeo
com os seus contextos de vida
No que concerne agrave primeira questatildeo e atendendo a que a mais recente definiccedilatildeo do conceito
de deficiecircncia proposto pela OMS apresenta um elevado niacutevel de abrangecircncia e um reduzido
potencial diferenciador poderemos equacionar 2 hipoacuteteses centrais de operacionalizaccedilatildeo
a) A primeira hipoacutetese baseia-se na possibilidade de operacionalizar diferentes definiccedilotildees
de deficiecircncia ao longo das diferentes poliacuteticas sociais no sentido de assegurar que as
diferentes medidas alcanccedilam efectivamente as pessoas para as quais foram
elaboradas Esta perspectiva tem a vantagem de uma maior focalizaccedilatildeo nas
caracteriacutesticas especificas do puacuteblico-alvo mas no entanto apresenta uma grande
desvantagem que consiste na elevada probabilidade das diferentes definiccedilotildees
perderem a coerecircncia entre si fragmentando igualmente o modelo teoacuterico a partir do
qual se deveriam basear
b) A segunda hipoacutetese consiste na articulaccedilatildeo operativa de dois conceitos o de
deficiecircncia e o de restriccedilotildees de participaccedilatildeo Nesta perspectiva a elegibilidade de uma
determinada politica social baseia-se na validaccedilatildeo preacutevia da existecircncia da primeira
condiccedilatildeo do puacuteblico-alvo ndash a existecircncia de uma deficiecircncia ndash determinando logo de
seguida o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo a partir do qual os diferentes cidadatildeos
passam a poder aceder agraves medidas especiacuteficas nela contidas O desafio contido nesta
hipoacutetese consiste na necessidade de desenvolvimento de um sistema de avaliaccedilatildeo que
permita avaliar o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo experimentado pelas pessoas com
deficiecircncias determinando atraveacutes do valor aferido quais seriam as pessoas com
acesso agraves medidas Neste cenaacuterio natildeo bastaria que uma pessoa tivesse uma
deficiecircncia pelo que seria necessaacuterio avaliar os efeitos da deficiecircncia em interacccedilatildeo
com o ambiente social ao niacutevel da participaccedilatildeo no sentido de determinar a
elegibilidade As vantagens desta hipoacutetese relacionam-se com (i) a preservaccedilatildeo do
niacutevel de coerecircncia dos conceitos utilizados ao longo das diferentes poliacuteticas sociais (ii)
a existecircncia de um processo comum de afericcedilatildeo e determinaccedilatildeo da elegibilidade ao
longo dos diferentes sectores de politica (iii) a compatibilidade e adequabilidade dos
princiacutepios teoacutericos do modelo social com a operacionalizaccedilatildeo dos sistemas e medidas
poliacuteticos de apoio agraves pessoas com deficiecircncias e (iv) a existecircncia de mecanismos de
avaliaccedilatildeo de elevada transparecircncia controlabilidade e rigor
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 26
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
45 INCAPACIDADE
Do ponto de vista de utilizaccedilatildeo dos conceitos de Deficiecircncia e de Incapacidade em Portugal
tecircm subsistido vaacuterias imprecisotildees terminoloacutegicas Primeiro na generalidade dos documentos
internacionais alude-se ao termo ldquopeople with disabilitiesrdquo sendo que invariavelmente esta
expressatildeo eacute traduzida para Portuguecircs como ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo Tal facto parece criar
condiccedilotildees para uma grande permeabilidade semacircntica dificilmente resoluacutevel do ponto de vista
conceptual Segundo deficiecircncia e incapacidade satildeo claramente dois conceitos distintos
Enquanto a deficiecircncia remete para alteraccedilotildees significativas ao niacutevel das estruturas eou das
funccedilotildees do corpo a incapacidade constitui o poacutelo negativo do funcionamento humano em
situaccedilatildeo potencial ou efectiva de participaccedilatildeo no contexto de vida Este facto pressupotildee que os
conceitos de deficiecircncia e de incapacidade natildeo contecircm nenhuma relaccedilatildeo causal entre si nem
nenhuma relaccedilatildeo linear de frequecircncia na medida em que eacute possiacutevel existir uma deficiecircncia
sem que exista uma incapacidade e eacute possiacutevel emergir uma determinada incapacidade sem
que haja uma qualquer deficiecircncia
Deste modo eacute possiacutevel
a) Ter deficiecircncias sem limitaccedilotildees de capacidade (eg uma desfiguraccedilatildeo resultante da
doenccedila de Hansen pode natildeo ter efeito sobre a capacidade da pessoa
b) Ter problemas de desempenho e limitaccedilotildees de capacidade sem deficiecircncias evidentes
(eg reduccedilatildeo de desempenho nas actividades diaacuterias associada a vaacuterias doenccedilas)
c) Ter problemas de desempenho sem deficiecircncias ou limitaccedilotildees de capacidade (eg um
indiviacuteduo HIV positivo ou um ex-doente curado de doenccedila mental que enfrenta
estigmas ou descriminaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais ou no trabalho)
d) Ter limitaccedilotildees de capacidade se natildeo tiver assistecircncia e nenhum problema de
desempenho no ambiente habitual (eg um indiviacuteduo com limitaccedilotildees de mobilidade
pode beneficiar por parte da sociedade de ajudas tecnoloacutegicas de assistecircncia para se
movimentar
e) Experimentar um grau de influecircncia em sentido contraacuterio (eg a inactividade dos
membros pode levar agrave atrofia muscular a institucionalizaccedilatildeo pode resultar numa perda
da socializaccedilatildeo)
Daqui resulta que ao referirmo-nos agraves pessoas com deficiecircncias enquanto puacuteblico-alvo
privilegiado das medidas de reabilitaccedilatildeo poderemos incorrer num desvio significativo de
alocaccedilatildeo dos recursos agraves reais necessidades das pessoas na medida em que natildeo eacute a
deficiecircncia que gera por si mesma a necessidade de reabilitaccedilatildeo mas sim as limitaccedilotildees de
actividade e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo decorrentes da interacccedilatildeo entre as caracteriacutesticas
biopsicossociais e as caracteriacutesticas dos ambientes em que o individuo se move
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 27
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
A persistecircncia em traduzir o termo disability para deficiecircncia e natildeo apenas o seu homoacutelogo
anglo-saxoacutenico ndash impairment ndash poderaacute explicar-se pelas seguintes razotildees
a) O potencial efeito estigmatizante da expressatildeo ldquopessoas com incapacidadesrdquo ser maior
do que aquele contido na expressatildeo ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo
b) O termo incapacidade centrar-se exclusivamente nos aspectos negativos do
funcionamento individual classificando a pessoa agrave partida como sendo destituiacuteda de
competecircncias e condiccedilotildees para atingir os niacuteveis normativos de desempenho e
performance num conjunto de domiacutenios da vida pessoal e social
O paradoxo surge igualmente porque enquanto no modelo meacutedico a incapacidade aparece
em termos causais relacionada com a deficiecircncia numa perspectiva exclusivamente individual
no modelo proposto pela OMS operacionalizado na CIF os dois conceitos gozam de total
independecircncia conceptual e operativa sendo que a deficiecircncia passa a ter uma baixa
relevacircncia diferenciadora do ponto de vista do funcionamento humano Ora se atendermos a
que as medidas de reabilitaccedilatildeo pretendem promover os potenciais do funcionamento humano
numa perspectiva de participaccedilatildeo plena do indiviacuteduo nos mais diferenciados contextos de vida
assegurando o co-desenvolvimento de todos os actores e das estruturas sociais necessaacuterias agrave
cidadania plena entatildeo falar de ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo natildeo soacute natildeo eacute relevante no quadro
da loacutegica de intervenccedilatildeo como poderaacute traduzir dificuldades dos actores em mudar
efectivamente do paradigma meacutedico para o paradigma social
Este fenoacutemeno aliaacutes natildeo acontece apenas em Portugal sendo que recentes estudos de
investigaccedilatildeo vieram sugerir a adopccedilatildeo dos conceitos de ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo e
ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo para ultrapassar a aplicaccedilatildeo indevida dos
conceitos de deficiecircncia e incapacidade A utilizaccedilatildeo destes conceitos parece articular de forma
mais precisa com o novo modelo conceptual proposto pela OMS enfatizando a diversidade de
niacuteveis de funcionamento humano e apelando a uma certa noccedilatildeo de relatividade socialmente
construiacuteda Uma das criticas feita pela comunidade de investigadores ao conceito de ldquopessoas
com diversidade funcionalrdquo reside no facto de que a expressatildeo eacute dotada de um tatildeo elevado
niacutevel de abrangecircncia que natildeo permite um niacutevel de diferenciaccedilatildeo relevante na medida em que
todos os cidadatildeos detecircm entre si diversos e diferentes padrotildees de funcionamento humano
Neste sentido o conceito ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo aplicar-se-ia a todos os
cidadatildeos sem excepccedilatildeo A proliferaccedilatildeo destes termos eacute explicada pela necessidade da
comunidade politica e cientifica de construir constructos que sejam socialmente aceites e o
mais neutros possiacuteveis do ponto de vista dos seus valores impliacutecitos No entanto a
impossibilidade epistemoloacutegica de desenvolver expressotildees e conceitos socio-historicamente
neutros parece levar muitas vezes agrave concepccedilatildeo de definiccedilotildees com reduzida identidade isto eacute
de significado demasiado amplo e abrangente o que na expressatildeo da UPIAS ldquopodem significar
tudo e coisiacutessima nenhumardquo (2005)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 28
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Os conceitos ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo ldquopessoas com limitaccedilotildees de
actividaderdquo e ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo afiguram-se comparativamente ao
anterior como um conceito de maior coerecircncia conceptual com o modelo proposto pela OMS e
deteacutem cumulativamente um maior poder diferenciador A sua desvantagem reside no facto de
constituiacuterem expressotildees com maior dificuldade de apreensatildeo e inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 29
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 30
Dezembro2006
5 ANAacuteLISE DOS REFERENCIAIS NACIONAIS E INTERNACIONAIS
No sentido de obter um conjunto de vectores de referecircncia na estruturaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo do
conceito de deficiecircncia foram analisadas as abordagens desenvolvidas pelos seguintes
organismos INE Eurostat OCDE American Disabilities Act WHO UN
51 INE
Os dados disponiacuteveis no INE parecem indicar a utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na
ICIDH
Deficiecircncia1 Perda ou alteraccedilatildeo de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou
anatoacutemica Nesta definiccedilatildeo estatildeo incluiacutedas as seguintes tipologias2
Deficiecircncia AUDITIVA
Deficiecircncia MENTAL
Deficiecircncia MOTORA
Deficiecircncia ORGAcircNICO-FUNCIONAL
Deficiecircncia PSIQUIAacuteTRICA
Deficiecircncia VISUAL
Incapacidade3 Ausecircncia ou limitaccedilatildeo da capacidade para funcionar estando comprometida a
realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida
diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e originando uma desvantagem para funcionar em
sociedade face a outros
Pessoa deficiente Aquela que tenha uma ou mais das seguintes deficiecircncias a) deficiecircncia
visual b) deficiecircncia auditiva c) deficiecircncia mental d) deficiecircncia motora
1 Nota Na operaccedilatildeo censitaacuteria de 2001 apenas foi observada a deficiecircncia permanente a deficiecircncia temporaacuteria natildeo foi considerada (por exemplo se um indiviacuteduo se desloca com canadianas ou em cadeira de rodas porque partiu uma perna ou se sofre de descolamento parcial da retina que o obriga a andar com uma venda natildeo foi considerado como tendo uma deficiecircncia) 2 Fonte INE ndash Censos 2001 ndash Recenseamento Geral da Populaccedilatildeo (Antecedentes Metodologia e Conceitos) Antecedentes Metodologia e Conceitos 3 Fonte INS ndash Inqueacuterito Nacional agrave Sauacutede
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 31
Dezembro2006
Trabalhador deficiente Trabalhador que estaacute incapacitado para assegurar por si mesmo total
ou parcialmente a satisfaccedilatildeo de necessidades de uma vida individual ou social normal devido
a uma deficiecircncia congeacutenita ou adquirida das suas capacidades fiacutesicas sensoriais ou
mentais tendo por isso dificuldade em obter eou manter o desempenho de funccedilotildees de acordo
com as suas habilitaccedilotildees idade e experiecircncia profissional
Cidadatildeo Trabalhador com necessidades especiais Cidadatildeo idoso ou portador de
deficiecircncias sensoriais (visuais e auditivas) fiacutesicas (motoras) e cognitivas
52 EUROSTAT
Os dados disponibilizados pelo Eurostat no seu endereccedilo electroacutenico4 parecem indicar a
utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na ICIDH
Conceito Deficiecircncia5
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de deficiecircncia refere-se a uma perda ou alteraccedilatildeo
de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou anatoacutemica
Conceito Incapacidade6
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de incapacidade refere-se agrave ausecircncia ou limitaccedilatildeo
da capacidade para funcionar estando comprometida a realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas
funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e
originando uma desvantagem para funcionar em sociedade face a outros
Conceito Desvantagem7
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito refere-se agrave desvantagem para um dado individuo
decorrente de uma deficiecircncia ou incapacidade
4 httpforumeuropaeuintircdsiscodedinfodatacodedenTheme3htm 5 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 6 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 7 Fonte Key data on health 2000 Eurostat
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
53 OCDE
Definiccedilotildees gerais de incapacidade
No contexto da OCDE identificam-se 2 abordagens distintas no quadro da definiccedilatildeo de
incapacidade
A incapacidade pode ser definida enquanto um estado decorrente de autoavaliaccedilatildeo ou um
status baseado em fontes administrativas eg beneficiaacuterio dos apoios De forma muito
frequente e talvez de forma imprecisa estas duas definiccedilotildees satildeo explicitadas como
incapacidade ldquosubjectivardquo versus rdquoobjectivardquo
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo e instrumentos
A incapacidade autoavaliada eacute medida atraveacutes de inqueacuteritos feitos directamente aos cidadatildeos
nas suas residecircncias Apesar da avaliaccedilatildeo ser baseada de uma forma geral nas respostas agraves
questotildees relativas a problemas de sauacutede de longo termo que limitam as actividades de vida
diaacuteria o detalhe das questotildees eacute geralmente diferente dificultando a comparabilidade dos
dados Por exemplo ldquolongo termordquo eacute parametrizado em 6 meses na Noruega e em 12 meses
na Suiccedila O status dos beneficiaacuterios pode ser avaliado atraveacutes de registos administrativos ou
atraveacutes de inqueacuteritos Os resultados entre as duas fontes satildeo de uma forma geral bastante
diferentes por duas razotildees nucleares os registos administrativos geralmente contam casos e
natildeo pessoas o que em situaccedilotildees de benefiacutecios muacuteltiplos pode levar a contagens duplas por
outro lado os inqueacuteritos satildeo baseados nas respostas sobre o status do beneficiaacuterio e algumas
pessoas podem desejar natildeo revelar a sua condiccedilatildeo perante os benefiacutecios
Nenhuma destas definiccedilotildees e medidas de mensuraccedilatildeo eacute superior a outras pelo que a sua
utilizaccedilatildeo depende dos objectivos do propoacutesito da investigaccedilatildeo e da disponibilidade da
informaccedilatildeo
Abordagens para medir a incapacidade no quadro da aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos agraves populaccedilotildees
a) Incapacidade geral (natildeo especificada)
Puacuteblico-alvo todos os adultos
b) Incapacidade relativa ao trabalho
Puacuteblico-alvo pessoas em idade activa
c) Limitaccedilotildees nas actividades de vida diaacuteria (AVD)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 32
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Puacuteblico-alvo Populaccedilatildeo idosa
54 AMERICAN DISABILITIES ACT
O American Disabilities Act (ADA) desenvolvido em 1990 fornece um conjunto de guidelines
no sentido de assegurar a disponibilizaccedilatildeo de serviccedilos para as pessoas com deficiecircncias bem
como a protecccedilatildeo dos seus direitos legais
A ADA inclui uma definiccedilatildeo legal de incapacidade consistindo na presenccedila de ldquouma deficiecircncia
fiacutesica ou mental que limita significativamente uma ou mais das principais actividades de vidardquo
Independentemente da definiccedilatildeo proposta pela ADA a existecircncia de muacuteltiplos programas a
favor das pessoas com deficiecircncias e os diferentes focus legais em diferentes puacuteblicos alvo
fazem com que tenham emergido uma multiplicidade de definiccedilotildees de incapacidade ao longo
do tempo no quadro das poliacuteticas sociais americanas
55 OMS ONU Revisatildeo dos actuais inqueacuteritos sobre a incapacidade
Apesar de existir um desenvolvimento consideraacutevel dos inqueacuteritos na aacuterea da incapacidade
poder-se-atildeo explicitar algumas observaccedilotildees relativas agrave sua multiplicidade Numa primeira linha
de anaacutelise os inqueacuteritos tendem a focalizar-se nas limitaccedilotildees de actividade eou na deficiecircncia
No que concerne agrave formulaccedilatildeo escrita tendem a existir diferenccedilas significativas entre
inqueacuteritos facto que inviabiliza natildeo raras vezes a comparabilidade dos dados entre inqueacuteritos
As diferentes formulaccedilotildees das questotildees incluem
Tem dificuldade
Eacute capaz de
Faz
Tem sentido problemas em
com ou sem assistecircncia pessoal eou tecnoloacutegica
A questatildeo que se coloca eacute se estas formulaccedilotildees tecircm o mesmo significado isto eacute se todas elas
pretendem medir a capacidade ou a performance De acordo com a CIF a capacidade
remeteria para o potencial de execuccedilatildeo de um indiviacuteduo enquanto a performance diria respeito
ao niacutevel de desempenho efectivo do indiviacuteduo atraveacutes do seu envolvimento numa situaccedilatildeo de
vida real As lacunas existentes e as poucas referecircncias ao niacutevel da forma como os inquiridos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 33
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
satildeo instruiacutedos a responder faz com que natildeo seja possiacutevel desenvolver um discernimento
irrefutaacutevel sobre esta mateacuteria
Do ponto de vista dos domiacutenios abrangidos os inqueacuteritos tecircm apresentado algumas questotildees
sobre a participaccedilatildeo e o ambiente e evidenciam algumas limitaccedilotildees na sua amplitude Os
domiacutenios de actividades e participaccedilatildeo geralmente abrangidos tecircm sido operacionalizados de
uma forma geral nas seguintes dimensotildees
Educaccedilatildeo e emprego (formulado como questotildees de performance)
Outros inqueacuteritos incluem aacutereas como relaccedilotildees interpessoais vida familiar tomada de
decisotildees etc
O domiacutenio relativo aos factores ambientais tem incluiacutedo
Utilizaccedilatildeo e acessibilidadedisponibilidade dos produtos de assistecircncia e da tecnologia
Acessibilidade do ambiente
Disponibilidade dos serviccedilos (sauacutede protecccedilatildeo social educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo)
Evidecircncias muito escassas ao niacutevel da poliacutetica atitudes ambiente natural
planeamento e concepccedilatildeo
A questatildeo de investigaccedilatildeo neste contexto centra-se na seguinte formulaccedilatildeo ldquoo que eacute que os
inqueacuteritos medem como incapacidaderdquo
a) Definiccedilatildeo a priori da incapacidade versus sem incapacidade
Alguns inqueacuteritos sobre a incapacidade especialmente os mais antigos utilizam uma definiccedilatildeo
a priori de incapacidade O objectivo deste tipo de inqueacuteritos eacute contar o nuacutemero de pessoas
que se encaixam na definiccedilatildeo no contexto da populaccedilatildeo total Neste sentido os dados satildeo
analisados de acordo com dois grupos de referecircncia ndash com incapacidade e sem incapacidade ndash
em funccedilatildeo de um conjunto de diferentes variaacuteveis Este tipo de questionaacuterios formula questotildees
do tipo ldquoPossui algum tipo de incapacidade auditiva visual ou fiacutesicardquo Muitas questotildees dos
censos tecircm utilizado este formato
b) Definiccedilatildeo a posteriori de incapacidade versus sem incapacidade
Mais recentemente alguns inqueacuteritos desenvolveram-se em direcccedilatildeo a uma definiccedilatildeo a
posteriori de incapacidade Nestes casos eacute medida a capacidade a performance ao longo de
um conjunto vasto de domiacutenios Este segundo tipo de inqueacuteritos tende a ter uma ampla
aceitaccedilatildeo eg HALS (Canada) HID (Franccedila) inqueacuterito sobre incapacidade na Africa do Sul
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 34
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Inqueacuterito Espanhol sobre incapacidade NHIS-D (USA) inqueacuterito Holandecircs entre outros Estes
instrumentos formulam questotildees relativas agraves dificuldades que as pessoas experienciam em
diferentes domiacutenios produzindo um perfil pessoal que possa colocar em evidecircncia os
diferentes graus de capacidade associados A categorizaccedilatildeo de incapacidade sem
incapacidade eacute formulada ao niacutevel do domiacutenio e natildeo como uma categoria geral de atributo
pessoal Esta abordagem permite uma anaacutelise ao niacutevel de funcionamento individual por
domiacutenio por exemplo comparando a experiecircncia de incapacidade no domiacutenio de mobilidade
versus socializaccedilatildeo versus comunicaccedilatildeo entre outros bem como o impacto dos factores
ambientais nestes diferentes domiacutenios O perfil resultante do funcionamento individual ao longo
de muacuteltiplos domiacutenios eacute similar aos estados de sauacutede individuais ao longo das diferentes
dimensotildees
Vantagens de uma abordagem a posteriori
Estaacute em consonacircncia com a abordagem universal proposta pela CIF Todas as
pessoas experienciam deficiecircncia nalgum ponto e esta experiecircncia eacute caracterizada
numa abordagem a posteriori e natildeo a priori
Decisotildees sobre a criaccedilatildeo de categorias sobre quem tem incapacidade e sobre quem
natildeo tem podem ser tomadas atraveacutes de diferentes niacuteveis de anaacutelise por exemplo
atraveacutes da anaacutelise da experiecircncia das pessoas que experienciam incapacidade em 1 2
ou 3 domiacutenios de cruzar o status de emprego de pessoas com incapacidade ao longo
dos diferentes domiacutenios etc
Deixa de ser necessaacuteria uma definiccedilatildeo tipoloacutegica e categoacuterica de pessoas com
incapacidade O que necessita de ser definido neste contexto eacute o que se designa por
limitaccedilatildeo da capacidade ou problemas de performance ao longo dos diferentes
domiacutenios
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 35
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 36
Dezembro2006
6 SISTEMATIZACcedilAtildeO DAS DIMENSOtildeES DE ORGANIZACcedilAtildeO E
OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em todos os estudos efectuados neste domiacutenio foi colocada em evidecircncia a actual dificuldade
de comparabilidade estatiacutestica internacional inter ou intra sectorial independentemente do
organismo referenciador ndash OCDE ONU EUROSTAT INE OMS
Neste contexto desenvolver-se-aacute a extracccedilatildeo de conhecimento tendo por base a identificaccedilatildeo
de um conjunto de eixos de anaacutelise que actuem como vectores de estruturaccedilatildeo na
operacionalizaccedilatildeo do conceito A este propoacutesito atente-se no Quadro 2
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Abordagem Focus Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Delimitaccedilatildeo temporal do
conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo
Design das questotildees
CID-10
ICIDH
ICF
SauacutedeDoenccedila
Deficiecircncia
Incapacidade
a) Geral
b) Relativa ao trabalho
c) Limitaccedilotildees nas
actividades de vida
diaacuteria
Funcionalidade ndash
Niacuteveis de execuccedilatildeo
das actividades por
domiacutenio e niacuteveistipos
de ajudas mobilizadas
Intersubjectivo ndash
vg inqueacuteritos
Objectivo ndash vg
fontes administrativas
A priori
A posteriori
Temporaacuterias
permanentes
Progressivas
regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou
contiacutenuas
Tipo 1 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre uma determinada
condiccedilatildeo individual
combinada com itens
referentes a limitaccedilotildees de
actividade e participaccedilatildeo e
factores contextuais
Tipo 2 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre a presenccedila de uma
pessoa com incapacidade
no agregado familiar
seguindo-se uma lista de
deficiecircncias e
incapacidades
Tipo 3 ndash Checklist de
deficiecircncias
Quadro 2 ndash Eixos de operacionalizaccedilatildeo do conceito
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 37
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 38
Dezembro2006
7 ESCOLHA DO CENAacuteRIO A IMPLEMENTAR
A anaacutelise do Quadro 2 permite-nos uma definiccedilatildeo modular do cenaacuterio a implementar atraveacutes de
uma configuraccedilatildeo do conceito pelos eixos de anaacutelise propostos Uma das dificuldades
evidentes nesta delimitaccedilatildeo prende-se com o cumprimento dos requisitos de (a)
comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica e legislativa dentro do contexto portuguecircs
e (c) conformidade com os referenciais conceptuais actuais sendo que a coexistecircncia destes
criteacuterios afigura-se em muitos casos incompatiacutevel entre si Para efeitos da estruturaccedilatildeo do
cenaacuterio privilegiar-se-aacute a conformidade com os referenciais conceptuais actuais
71 ABORDAGEM No que concerne agrave abordagem privilegia-se a adopccedilatildeo das mais recentes directrizes propostas
pela OMS adoptando explicitamente a CIF
Fundamentaccedilatildeo
A CIF apresenta a capacidade para descrever o funcionamento humano numa
perspectiva biopsicossocial em detrimento da classificaccedilatildeo anterior (ICIDH) que se
focalizava na dimensatildeo biomeacutedica A CIF foi desenvolvida no plano conceptual para ser aplicaacutevel em diferentes aacutereas e
sectores A CIF eacute aplicaacutevel transversalmente agraves dimensotildees de cultura idade geacutenero sendo um
instrumento sistemaacutetico para descrever e medir a sauacutede e o funcionamento humano
num dado contexto A CIF constitui-se enquanto instrumento potencial para a poliacutetica social design das
intervenccedilotildees nos domiacutenios da sauacutede educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e intervenccedilatildeo social Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
72 FOCUS
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo da centraccedilatildeo da recolha de dados ao niacutevel
da dimensatildeo de funcionalidade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 39
Dezembro2006
Fundamentaccedilatildeo
Consonacircncia com o modelo conceptual proposto pela CIF enfatizando o caraacutecter
dinacircmico e interaccional (pessoa factores contextuais) do funcionamento de cada
pessoa Permite caracterizar as limitaccedilotildees de actividade e restriccedilotildees de participaccedilatildeo dos
cidadatildeos identificando necessidades de intervenccedilotildees especializadas numa loacutegica de
empowerment e participaccedilatildeo social Permite analisar a adequabilidade e ajustamento das actuais medidas poliacuteticas do
ponto de vista dos seus objectivos e os problemas detectados ao niacutevel da participaccedilatildeo
dos cidadatildeos ao longo de um conjunto diversificado de domiacutenios
73 MEacuteTODOS DE MENSURACcedilAtildeO
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo de meacutetodos intersubjectivos nomeadamente
inqueacuteritos
Fundamentaccedilatildeo
Flexibilidade ao niacutevel da abrangecircncia e profundidade das dimensotildees
Maior facilidade na implementaccedilatildeo atendendo agrave disponibilizaccedilatildeo de uma amostra
delimitada
Maior niacutevel de controlo sobre as condiccedilotildees de observaccedilatildeo e da entrevista devido ao
menor nuacutemero de entrevistas a ser implementado
74 DELIMITACcedilAtildeO CONCEPTUAL E TEMPORAL DO CONCEITO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo temporal e apesar de se privilegiar as vantagens anteriormente
explicitadas no desenvolvimento de uma definiccedilatildeo a posteriori assume-se a necessidade
politica de delimitar o campo de intervenccedilatildeo do conjunto de medidas sociais neste domiacutenio
pelo que a delimitaccedilatildeo conceptual poderaacute ser objecto de operacionalizaccedilatildeo atraveacutes dos
seguintes paracircmetros
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 40
Dezembro2006
Poder-se-aacute colocar a questatildeo de saber se a delimitaccedilatildeo do conceito proposta remete
especificamente para ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ou para ldquopessoas com limitaccedilotildees de
participaccedilatildeordquo Atendendo a que a definiccedilatildeo comporta uma abordagem sisteacutemica enfatizando a
interacccedilatildeo entre um conjunto diversificado de componentes que produzem impacto na
funcionalidade da pessoa a resposta natildeo eacute linear dependendo da ecircnfase socio-histoacuterica e da
abordagem sociopoliacutetica que se escolher enfatizar No entanto e do ponto de vista conceptual
privilegia-se a adopccedilatildeo do conceito ldquopessoas com limitaccedilotildees de participaccedilatildeordquo dado que existe
total autonomia operativa entre os diferentes constructos Neste sentido a deficiecircncia natildeo
constitui um factor causal linear das limitaccedilotildees de actividade e das restriccedilotildees ao niacutevel da
participaccedilatildeo mas antes uma das componentes que em interacccedilatildeo com outras podem
provocar impactos ao niacutevel da funcionalidade do indiviacuteduo Por uacuteltimo refira-se que a tipologia
ldquopessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeordquo poderaacute ser alvo de criticas por constituir
uma designaccedilatildeo que apela a duas componentes em simultacircneo (actividades e participaccedilatildeo)
excluindo outras e ser demasiado longa para uma definiccedilatildeo tipoloacutegica A este propoacutesito pode-
se sugerir a delimitaccedilatildeo ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo constituindo esta
expressatildeo uma abordagem holiacutestica ao conjunto de componentes que interferem com o
funcionamento humano Deste modo poderemos ter as seguintes designaccedilotildees
Pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Pessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo
Pessoas com limitaccedilotildees de funcionalidade
Figura 2 ndash Possiacuteveis designaccedilotildees
O Quadro 3 pretende fornecer uma visatildeo sistemaacutetica sobre o processo de decisatildeo da
designaccedilatildeo a adoptar
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
deficiecircncias
Tradiccedilatildeo analiacutetica dentro do
contexto portuguecircs
Em conformidade com o modelo
meacutedico ndash centra-se nas alteraccedilotildees
de estrutura e funccedilatildeo ndash
focalizaccedilatildeo na pessoa
Desarticulado dos pressupostos do
modelo social ndash natildeo remete para a
experiecircncia de incapacidade
enquanto produto da interacccedilatildeo
entre pessoa e ambiente
Mai
or
Abr
angecirc
ncia
Mai
or
Espe
cific
idad
e
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 41
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
incapacidades
Em conformidade com a
delimitaccedilatildeo anglo-saxoacutenica que
utiliza o conceito Disability
Focalizaccedilatildeo no poacutelo negativo do
funcionamento humano ndash
funcionalidadeincapacidade
Ao focalizar-se na experiecircncia de
incapacidade enquanto
interacccedilatildeo pessoa-ambiente
remete indirectamente para a
mobilizaccedilatildeo de apoios e recursos
de forma a ultrapassar eou
eliminar os obstaacuteculos ao
funcionamento em contexto
O potencial efeito estigmatizante
da expressatildeo ldquopessoas com
incapacidadesrdquo
Pessoas com
diversidade
Funcional
Em conformidade com o modelo
social
Focaliza-se na gestatildeo das
diferenccedilas e no seu impacto ao
niacutevel da participaccedilatildeo das pessoas
na sociedade
Elevado niacutevel de abrangecircncia natildeo
permitindo um niacutevel de
diferenciaccedilatildeo relevante na
medida em que todos os cidadatildeos
detecircm entre si diversos e
diferentes padrotildees de
funcionamento humano
Conceito dificilmente
operacionalizaacutevel do ponto de
vista da formulaccedilatildeo das poliacuteticas e
da delimitaccedilatildeo dos puacuteblicos-alvo
Pessoas com
restriccedilotildees ao
niacutevel da
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos Desta forma
todos os obstaacuteculos agrave participaccedilatildeo
relacionados com discriminaccedilatildeo
social preconceitos estereoacutetipos
deficiecircncias doenccedilas croacutenicas
entre outros satildeo incluiacutedos
Natildeo inclui as limitaccedilotildees de
actividade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 42
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
limitaccedilotildees de
actividade e
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida e simultaneamente no
domiacutenio das limitaccedilotildees de
actividade
Ruptura com a tradiccedilatildeo analiacutetica
no sector
Dificuldade de apreensatildeo e
inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Natildeo inclui as alteraccedilotildees da
estrutura e da funccedilatildeo
Pessoas com
limitaccedilotildees de
funcionalidade
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel das
diferentes dimensotildees constituintes
da funcionalidade e do
funcionamento humano
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos
Pessoas com
deficiecircncias e
incapacidades
Natildeo introduz ruptura com a
tradiccedilatildeo analiacutetica no sector
Inclui as alteraccedilotildees de estrutura e
funccedilatildeo bem como as alteraccedilotildees
decorrentes ao niacutevel da
funcionalidade
Diferencia os conceitos de
deficiecircncia e incapacidade
autonomizando-os e fornecendo
uma base compreensiva para o
natildeo estabelecimento de relaccedilotildees
de causa-efeito entre os ambos
Abrange os obstaacuteculos que
emergem na interacccedilatildeo pessoa-
contextos de vida e
simultaneamente no domiacutenio das
limitaccedilotildees de actividade
Poder diferenciador e delimitador
na definiccedilatildeo do puacuteblico-alvo
Em alinhamento estrateacutegico com o
PAIPDI
Designaccedilatildeo de compromisso com
os referenciais teoacutericos do modelo
social e dos princiacutepios da ldquoeacutetica da
diversidaderdquo
Quadro 3 ndash Visatildeo comparativa das hipoacuteteses da designaccedilatildeo a adoptar
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 43
Dezembro2006
75 DELIMITACcedilAtildeO DA DURACcedilAtildeO E CURSO DE EVOLUCcedilAtildeO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo interessa a caracterizaccedilatildeo nas
3 dimensotildees desenvolvidas
Fundamentaccedilatildeo
Afigura-se relevante caracterizar a ocorrecircncia das deficiecircncias quanto aacute sua
consistecircncia no tempo ndash temporaacuterias permanentes ndash analisando os factores
contextuais associados consequecircncias ao niacutevel das actividades e da participaccedilatildeo ao
longo de um conjunto de domiacutenios em ordem agrave extracccedilatildeo de implicaccedilotildees no acircmbito
das poliacuteticas sociais
No acircmbito da adaptabilidade e da adequaccedilatildeo das medidas poliacuteticas agraves necessidades
especiacuteficas dos cidadatildeos torna-se relevante caracterizar a deficiecircncia quanto agrave
natureza do seu curso evolutivo ndash progressivas regressivas estaacuteveis O mesmo
criteacuterio eacute aplicaacutevel quanto aacute dimensatildeo de padratildeo de manifestaccedilatildeo ndash intermitente
contiacutenua
No entanto e apesar da incapacidade se manifestar ao longo do ciclo de vida da pessoa
de forma multimodal para efeitos de delimitaccedilatildeo e de definiccedilatildeo do conceito de pessoas
com deficiecircncias e incapacidades privilegiaremos o caraacutecter permanente Desta forma
excluem-se as manifestaccedilotildees temporaacuterias de incapacidade que enviesariam a anaacutelise e o
desenvolvimento de poliacuteticas neste domiacutenio
76 DESIGN DAS QUESTOtildeES
No que concerne ao design das questotildees privilegia-se a escolha de questotildees tipo 1
Fundamentaccedilatildeo
Em consonacircncia com a CIF
Permite comparabilidade estatiacutestica futura
Permite a caracterizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre os factores de funcionalidade ndash integridade
estrutural e funcional actividades participaccedilatildeo e factores contextuais
Permite o design das poliacuteticas sociais e metodologias de intervenccedilatildeo alicerccediladas nas
necessidades especiacuteficas dos cidadatildeos em torno das dimensotildees de inclusatildeo social
Domiacutenios
Visatildeo
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 44
Dezembro2006
Audiccedilatildeo
Comunicaccedilatildeo
Mobilidade
Dor
Aprendizagem e funcionamento psicoloacutegico
Autocuidados e vida domeacutestica
Condiccedilotildees gerais de sauacutede
Mobilizaccedilatildeo de ajudas ou equipamento especializado
Participaccedilatildeo social
Transporte e educaccedilatildeo
77 PROPOSTA DE DELIMITACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em funccedilatildeo das dimensotildees caracterizadas e dos criteacuterios privilegiados desenvolveu-se o
seguinte enquadramento conceptual
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 45
Dezembro2006
Figura 2 ndash Enquadramento conceptual da delimitaccedilatildeo do conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso da evoluccedilatildeo
Temporaacuterias permanentes
Progressivas regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou contiacutenuas
Focus
Funcionalidade ndash Niacuteveis de execuccedilatildeo das actividades por domiacutenio e niacuteveistipos de ajudas mobilizadas
Abordagem CIF
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo temporal do conceito
A priori
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Inter-subjectivo
Design das questotildees
Questatildeo geneacuterica sobre uma determinada condiccedilatildeo individual combinada com itens referentes a limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo e factores contextuais
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 46
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8 CRITEacuteRIOS DE ELEGIBILIDADE DO PUacuteBLICO-ALVO E SISTEMAS DE
AVALIACcedilAtildeO
A operacionalizaccedilatildeo do conceito de incapacidade tem sido abordada de forma heterogeacutenea
entre diferentes modalidades de politica e os diferentes contextos socioculturais de cada paiacutes
De uma forma geral encontram-se 2 eixos criacuteticos na sua operacionalizaccedilatildeo
a) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de trabalho (na ocupaccedilatildeo preacutevia ou numa nova
ocupaccedilatildeo ajustada agraves alteraccedilotildees funcionais)
b) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de obter rendimentos provenientes do trabalho
A explicitaccedilatildeo dos criteacuterios de delimitaccedilatildeo do conceito de incapacidade nos diferentes paiacuteses
encontra-se na Quadro 4
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Austraacutelia 2 Criteacuterios possuir uma incapacidade que resulte
num score nunca inferior a 20 nas tabelas de
incapacidades e incapacidade em trabalhar 30
horas ou mais por semana ou em ser
reconvertido para trabalho em contexto regular
nos proacuteximos 2 anos
Nenhum
Aacuteustria 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho (50
de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo para
trabalhadores sem qualificaccedilotildees) papel criacutetico
das decisotildees dos tribunais devido a definiccedilotildees
legais imprecisas
Nenhum mas as
restriccedilotildees de sauacutede
devem ter uma duraccedilatildeo
igual ou superior a 6
meses
Beacutelgica 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na actual ocupaccedilatildeo
1 ano
Canada Incapacidade severa e prolongada que impeccedila de
desenvolver trabalho numa base regular
Nenhum
Dinamarca 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum mas a
reabilitaccedilatildeo precisa de
estar completa
Franccedila 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual mas a
totalidade do subsidio requer igualmente perda de
capacidade de trabalho
Nenhum no caso das
condiccedilotildees estarem
estaacuteveis mas muito
frequentemente apoacutes 3
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 47
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Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
anos
Alemanha 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho a
incapacidade parcial eacute calculada em funccedilatildeo do nordm
de horas que a pessoa pode trabalhar
Nenhum mas a
incapacidade deve ter
uma duraccedilatildeo miacutenima
de 26 semanas
Itaacutelia 666reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum
Coreia Criteacuterios meacutedicos (niacuteveis de incapacidade
definidos de forma detalhada)
Periacuteodo de espera de
50 dias (os subsiacutedios
de doenccedila natildeo se
encontram disponiacuteveis)
Meacutexico 50 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo Nenhum
Holanda 15 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
(25 para os trabalhadores por conta proacutepria e
jovens com incapacidade) grau de incapacidade
calculado pela diferenccedila de remuneraccedilatildeo entre o
actual posto de trabalho compatiacutevel com as
limitaccedilotildees funcionais e o anterior
1 ano
Noruega 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho O
grau de subsiacutedio eacute calculado pela capacidade de
remuneraccedilatildeo
Nenhum (apoacutes ter
completado a
reabilitaccedilatildeo vocacional)
Poloacutenia Reduccedilatildeo temporaacuteria ou permanente da
capacidade de trabalho
Nenhum
Portugal 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual
Nenhum mas na
praacutetica ao fim de 3
anos (fim do periacuteodo de
doenccedila de longo termo)
Espanha 33 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho na
ocupaccedilatildeo actual incapacidade para todo e
qualquer trabalho para a totalidade do subsiacutedio
1 ano (embora seja
possiacutevel a candidatura
antes deste prazo em
casos de incapacidade
permanente)
Sueacutecia 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho grau
de incapacidade parcial calculado a partir das
horas que uma pessoa pode trabalhar
Nenhum
Suiccedila 40 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho para
as pessoas inactivas o grau de incapacidade eacute
calculado em relaccedilatildeo aacute actividade actual
1 ano
Turquia 666 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho
com um focus meacutedico bastante significativo
Nenhum
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 48
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Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Reino Unido Limitaccedilotildees nas actividades de vida quotidianas
relevantes para o trabalho (avaliaccedilotildees meacutedicas
predominantes) teste ocupacional durante a s
primeiras 28 semanas (subsidio de doenccedila)
28 semanas
Estados
Unidos
Reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
incapacidade em investir numa actividade
profissional com rendimentos ($ US 740 por mecircs)
5 meses (nem sempre
cobertos pelos
subsiacutedios de curto-
termo) e 24 meses
para a cobertura
meacutedica
Quadro 4 ndash Definiccedilotildees de incapacidade e tempos regulamentares
Um dos desafios que se coloca aos actuais sistemas reside na delimitaccedilatildeo da elegibilidade do
puacuteblico-alvo Para cumprir este objectivo satildeo necessaacuterios sistemas de avaliaccedilatildeo holiacutesticos
abrangentes coerentes e que permitam chegar a resultados de forma consistente e com
validade interna No actual contexto a CIF propotildee constituir-se como o instrumento conceptual
abrangente para caracterizar os diferentes domiacutenios e niacuteveis de funcionalidade incapacidade
de forma coerente e integrada Neste sentido uma das vantagens apontadas para a adopccedilatildeo
do modelo desenvolvido pela OMS eacute a possibilidade de uniformizaccedilatildeo de conceitos e portanto
da utilizaccedilatildeo de uma linguagem padratildeo que permita a comunicaccedilatildeo entre investigadores
gestores profissionais de sauacutede organizaccedilotildees da sociedade civil e utilizadores em geral
Um dos campos de estudo mais explorados para a aplicaccedilatildeo da CIF tem sido a aacuterea de
Medicina Fiacutesica e de Reabilitaccedilatildeo no que concerne ao acompanhamento do estado de sauacutede
dos pacientes em tratamento O uso da CIF tem sido considerado tambeacutem na avaliaccedilatildeo apoacutes
transtornos agudos condiccedilotildees traumaacuteticas condiccedilotildees croacutenicas e na geriatria
Alguns autores argumentam que a CIF deve ser explorada como uma base de informaccedilotildees
padronizadas em estudos sobre incapacidade profissional quando haacute necessidade de
relacionar dados de sauacutede ocupacional com os da Seguranccedila Social
Na Sauacutede Puacuteblica tradicionalmente pouca atenccedilatildeo tem sido dada agraves pessoas com
incapacidades No entanto ao lado de recentes investimentos por parte de organizaccedilotildees e de
alguns governos a publicaccedilatildeo do modelo da CIF fornece as bases para as poliacuteticas e
disciplinas da Sauacutede Puacuteblica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo que apresenta deficiecircncias e
incapacidades Assim uma das possibilidades de uso da CIF pode ser a contribuiccedilatildeo para
responder a importantes questotildees de sauacutede puacuteblica tais como qual o estado de sauacutede das
pessoas com deficiecircncias comparadas com as demais que necessidades e que tipos de
intervenccedilotildees satildeo mais adequadas para reduzir condiccedilotildees secundaacuterias e promover a
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na sociedade entre outras
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 49
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Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 50
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Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 51
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Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
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Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 53
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
alteraccedilatildeo da integridade estrutural e funcional de cada individuo A segunda questatildeo prende-se
com as consequecircncias conceptuais decorrentes da integraccedilatildeo do modelo social na formulaccedilatildeo
e operacionalizaccedilatildeo dos conceitos a serem utilizados pelas poliacuteticas no sector na medida em
que o aspecto critico deixa de ser a natureza e severidade da deficiecircncia para passar a centrar-
se no niacutevel e tipo de restriccedilotildees de participaccedilatildeo que cada cidadatildeo experiencia na interacccedilatildeo
com os seus contextos de vida
No que concerne agrave primeira questatildeo e atendendo a que a mais recente definiccedilatildeo do conceito
de deficiecircncia proposto pela OMS apresenta um elevado niacutevel de abrangecircncia e um reduzido
potencial diferenciador poderemos equacionar 2 hipoacuteteses centrais de operacionalizaccedilatildeo
a) A primeira hipoacutetese baseia-se na possibilidade de operacionalizar diferentes definiccedilotildees
de deficiecircncia ao longo das diferentes poliacuteticas sociais no sentido de assegurar que as
diferentes medidas alcanccedilam efectivamente as pessoas para as quais foram
elaboradas Esta perspectiva tem a vantagem de uma maior focalizaccedilatildeo nas
caracteriacutesticas especificas do puacuteblico-alvo mas no entanto apresenta uma grande
desvantagem que consiste na elevada probabilidade das diferentes definiccedilotildees
perderem a coerecircncia entre si fragmentando igualmente o modelo teoacuterico a partir do
qual se deveriam basear
b) A segunda hipoacutetese consiste na articulaccedilatildeo operativa de dois conceitos o de
deficiecircncia e o de restriccedilotildees de participaccedilatildeo Nesta perspectiva a elegibilidade de uma
determinada politica social baseia-se na validaccedilatildeo preacutevia da existecircncia da primeira
condiccedilatildeo do puacuteblico-alvo ndash a existecircncia de uma deficiecircncia ndash determinando logo de
seguida o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo a partir do qual os diferentes cidadatildeos
passam a poder aceder agraves medidas especiacuteficas nela contidas O desafio contido nesta
hipoacutetese consiste na necessidade de desenvolvimento de um sistema de avaliaccedilatildeo que
permita avaliar o niacutevel de restriccedilotildees de participaccedilatildeo experimentado pelas pessoas com
deficiecircncias determinando atraveacutes do valor aferido quais seriam as pessoas com
acesso agraves medidas Neste cenaacuterio natildeo bastaria que uma pessoa tivesse uma
deficiecircncia pelo que seria necessaacuterio avaliar os efeitos da deficiecircncia em interacccedilatildeo
com o ambiente social ao niacutevel da participaccedilatildeo no sentido de determinar a
elegibilidade As vantagens desta hipoacutetese relacionam-se com (i) a preservaccedilatildeo do
niacutevel de coerecircncia dos conceitos utilizados ao longo das diferentes poliacuteticas sociais (ii)
a existecircncia de um processo comum de afericcedilatildeo e determinaccedilatildeo da elegibilidade ao
longo dos diferentes sectores de politica (iii) a compatibilidade e adequabilidade dos
princiacutepios teoacutericos do modelo social com a operacionalizaccedilatildeo dos sistemas e medidas
poliacuteticos de apoio agraves pessoas com deficiecircncias e (iv) a existecircncia de mecanismos de
avaliaccedilatildeo de elevada transparecircncia controlabilidade e rigor
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 26
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
45 INCAPACIDADE
Do ponto de vista de utilizaccedilatildeo dos conceitos de Deficiecircncia e de Incapacidade em Portugal
tecircm subsistido vaacuterias imprecisotildees terminoloacutegicas Primeiro na generalidade dos documentos
internacionais alude-se ao termo ldquopeople with disabilitiesrdquo sendo que invariavelmente esta
expressatildeo eacute traduzida para Portuguecircs como ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo Tal facto parece criar
condiccedilotildees para uma grande permeabilidade semacircntica dificilmente resoluacutevel do ponto de vista
conceptual Segundo deficiecircncia e incapacidade satildeo claramente dois conceitos distintos
Enquanto a deficiecircncia remete para alteraccedilotildees significativas ao niacutevel das estruturas eou das
funccedilotildees do corpo a incapacidade constitui o poacutelo negativo do funcionamento humano em
situaccedilatildeo potencial ou efectiva de participaccedilatildeo no contexto de vida Este facto pressupotildee que os
conceitos de deficiecircncia e de incapacidade natildeo contecircm nenhuma relaccedilatildeo causal entre si nem
nenhuma relaccedilatildeo linear de frequecircncia na medida em que eacute possiacutevel existir uma deficiecircncia
sem que exista uma incapacidade e eacute possiacutevel emergir uma determinada incapacidade sem
que haja uma qualquer deficiecircncia
Deste modo eacute possiacutevel
a) Ter deficiecircncias sem limitaccedilotildees de capacidade (eg uma desfiguraccedilatildeo resultante da
doenccedila de Hansen pode natildeo ter efeito sobre a capacidade da pessoa
b) Ter problemas de desempenho e limitaccedilotildees de capacidade sem deficiecircncias evidentes
(eg reduccedilatildeo de desempenho nas actividades diaacuterias associada a vaacuterias doenccedilas)
c) Ter problemas de desempenho sem deficiecircncias ou limitaccedilotildees de capacidade (eg um
indiviacuteduo HIV positivo ou um ex-doente curado de doenccedila mental que enfrenta
estigmas ou descriminaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais ou no trabalho)
d) Ter limitaccedilotildees de capacidade se natildeo tiver assistecircncia e nenhum problema de
desempenho no ambiente habitual (eg um indiviacuteduo com limitaccedilotildees de mobilidade
pode beneficiar por parte da sociedade de ajudas tecnoloacutegicas de assistecircncia para se
movimentar
e) Experimentar um grau de influecircncia em sentido contraacuterio (eg a inactividade dos
membros pode levar agrave atrofia muscular a institucionalizaccedilatildeo pode resultar numa perda
da socializaccedilatildeo)
Daqui resulta que ao referirmo-nos agraves pessoas com deficiecircncias enquanto puacuteblico-alvo
privilegiado das medidas de reabilitaccedilatildeo poderemos incorrer num desvio significativo de
alocaccedilatildeo dos recursos agraves reais necessidades das pessoas na medida em que natildeo eacute a
deficiecircncia que gera por si mesma a necessidade de reabilitaccedilatildeo mas sim as limitaccedilotildees de
actividade e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo decorrentes da interacccedilatildeo entre as caracteriacutesticas
biopsicossociais e as caracteriacutesticas dos ambientes em que o individuo se move
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 27
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
A persistecircncia em traduzir o termo disability para deficiecircncia e natildeo apenas o seu homoacutelogo
anglo-saxoacutenico ndash impairment ndash poderaacute explicar-se pelas seguintes razotildees
a) O potencial efeito estigmatizante da expressatildeo ldquopessoas com incapacidadesrdquo ser maior
do que aquele contido na expressatildeo ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo
b) O termo incapacidade centrar-se exclusivamente nos aspectos negativos do
funcionamento individual classificando a pessoa agrave partida como sendo destituiacuteda de
competecircncias e condiccedilotildees para atingir os niacuteveis normativos de desempenho e
performance num conjunto de domiacutenios da vida pessoal e social
O paradoxo surge igualmente porque enquanto no modelo meacutedico a incapacidade aparece
em termos causais relacionada com a deficiecircncia numa perspectiva exclusivamente individual
no modelo proposto pela OMS operacionalizado na CIF os dois conceitos gozam de total
independecircncia conceptual e operativa sendo que a deficiecircncia passa a ter uma baixa
relevacircncia diferenciadora do ponto de vista do funcionamento humano Ora se atendermos a
que as medidas de reabilitaccedilatildeo pretendem promover os potenciais do funcionamento humano
numa perspectiva de participaccedilatildeo plena do indiviacuteduo nos mais diferenciados contextos de vida
assegurando o co-desenvolvimento de todos os actores e das estruturas sociais necessaacuterias agrave
cidadania plena entatildeo falar de ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo natildeo soacute natildeo eacute relevante no quadro
da loacutegica de intervenccedilatildeo como poderaacute traduzir dificuldades dos actores em mudar
efectivamente do paradigma meacutedico para o paradigma social
Este fenoacutemeno aliaacutes natildeo acontece apenas em Portugal sendo que recentes estudos de
investigaccedilatildeo vieram sugerir a adopccedilatildeo dos conceitos de ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo e
ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo para ultrapassar a aplicaccedilatildeo indevida dos
conceitos de deficiecircncia e incapacidade A utilizaccedilatildeo destes conceitos parece articular de forma
mais precisa com o novo modelo conceptual proposto pela OMS enfatizando a diversidade de
niacuteveis de funcionamento humano e apelando a uma certa noccedilatildeo de relatividade socialmente
construiacuteda Uma das criticas feita pela comunidade de investigadores ao conceito de ldquopessoas
com diversidade funcionalrdquo reside no facto de que a expressatildeo eacute dotada de um tatildeo elevado
niacutevel de abrangecircncia que natildeo permite um niacutevel de diferenciaccedilatildeo relevante na medida em que
todos os cidadatildeos detecircm entre si diversos e diferentes padrotildees de funcionamento humano
Neste sentido o conceito ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo aplicar-se-ia a todos os
cidadatildeos sem excepccedilatildeo A proliferaccedilatildeo destes termos eacute explicada pela necessidade da
comunidade politica e cientifica de construir constructos que sejam socialmente aceites e o
mais neutros possiacuteveis do ponto de vista dos seus valores impliacutecitos No entanto a
impossibilidade epistemoloacutegica de desenvolver expressotildees e conceitos socio-historicamente
neutros parece levar muitas vezes agrave concepccedilatildeo de definiccedilotildees com reduzida identidade isto eacute
de significado demasiado amplo e abrangente o que na expressatildeo da UPIAS ldquopodem significar
tudo e coisiacutessima nenhumardquo (2005)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 28
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Os conceitos ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo ldquopessoas com limitaccedilotildees de
actividaderdquo e ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo afiguram-se comparativamente ao
anterior como um conceito de maior coerecircncia conceptual com o modelo proposto pela OMS e
deteacutem cumulativamente um maior poder diferenciador A sua desvantagem reside no facto de
constituiacuterem expressotildees com maior dificuldade de apreensatildeo e inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 29
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 30
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5 ANAacuteLISE DOS REFERENCIAIS NACIONAIS E INTERNACIONAIS
No sentido de obter um conjunto de vectores de referecircncia na estruturaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo do
conceito de deficiecircncia foram analisadas as abordagens desenvolvidas pelos seguintes
organismos INE Eurostat OCDE American Disabilities Act WHO UN
51 INE
Os dados disponiacuteveis no INE parecem indicar a utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na
ICIDH
Deficiecircncia1 Perda ou alteraccedilatildeo de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou
anatoacutemica Nesta definiccedilatildeo estatildeo incluiacutedas as seguintes tipologias2
Deficiecircncia AUDITIVA
Deficiecircncia MENTAL
Deficiecircncia MOTORA
Deficiecircncia ORGAcircNICO-FUNCIONAL
Deficiecircncia PSIQUIAacuteTRICA
Deficiecircncia VISUAL
Incapacidade3 Ausecircncia ou limitaccedilatildeo da capacidade para funcionar estando comprometida a
realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida
diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e originando uma desvantagem para funcionar em
sociedade face a outros
Pessoa deficiente Aquela que tenha uma ou mais das seguintes deficiecircncias a) deficiecircncia
visual b) deficiecircncia auditiva c) deficiecircncia mental d) deficiecircncia motora
1 Nota Na operaccedilatildeo censitaacuteria de 2001 apenas foi observada a deficiecircncia permanente a deficiecircncia temporaacuteria natildeo foi considerada (por exemplo se um indiviacuteduo se desloca com canadianas ou em cadeira de rodas porque partiu uma perna ou se sofre de descolamento parcial da retina que o obriga a andar com uma venda natildeo foi considerado como tendo uma deficiecircncia) 2 Fonte INE ndash Censos 2001 ndash Recenseamento Geral da Populaccedilatildeo (Antecedentes Metodologia e Conceitos) Antecedentes Metodologia e Conceitos 3 Fonte INS ndash Inqueacuterito Nacional agrave Sauacutede
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 31
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Trabalhador deficiente Trabalhador que estaacute incapacitado para assegurar por si mesmo total
ou parcialmente a satisfaccedilatildeo de necessidades de uma vida individual ou social normal devido
a uma deficiecircncia congeacutenita ou adquirida das suas capacidades fiacutesicas sensoriais ou
mentais tendo por isso dificuldade em obter eou manter o desempenho de funccedilotildees de acordo
com as suas habilitaccedilotildees idade e experiecircncia profissional
Cidadatildeo Trabalhador com necessidades especiais Cidadatildeo idoso ou portador de
deficiecircncias sensoriais (visuais e auditivas) fiacutesicas (motoras) e cognitivas
52 EUROSTAT
Os dados disponibilizados pelo Eurostat no seu endereccedilo electroacutenico4 parecem indicar a
utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na ICIDH
Conceito Deficiecircncia5
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de deficiecircncia refere-se a uma perda ou alteraccedilatildeo
de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou anatoacutemica
Conceito Incapacidade6
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de incapacidade refere-se agrave ausecircncia ou limitaccedilatildeo
da capacidade para funcionar estando comprometida a realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas
funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e
originando uma desvantagem para funcionar em sociedade face a outros
Conceito Desvantagem7
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito refere-se agrave desvantagem para um dado individuo
decorrente de uma deficiecircncia ou incapacidade
4 httpforumeuropaeuintircdsiscodedinfodatacodedenTheme3htm 5 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 6 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 7 Fonte Key data on health 2000 Eurostat
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
53 OCDE
Definiccedilotildees gerais de incapacidade
No contexto da OCDE identificam-se 2 abordagens distintas no quadro da definiccedilatildeo de
incapacidade
A incapacidade pode ser definida enquanto um estado decorrente de autoavaliaccedilatildeo ou um
status baseado em fontes administrativas eg beneficiaacuterio dos apoios De forma muito
frequente e talvez de forma imprecisa estas duas definiccedilotildees satildeo explicitadas como
incapacidade ldquosubjectivardquo versus rdquoobjectivardquo
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo e instrumentos
A incapacidade autoavaliada eacute medida atraveacutes de inqueacuteritos feitos directamente aos cidadatildeos
nas suas residecircncias Apesar da avaliaccedilatildeo ser baseada de uma forma geral nas respostas agraves
questotildees relativas a problemas de sauacutede de longo termo que limitam as actividades de vida
diaacuteria o detalhe das questotildees eacute geralmente diferente dificultando a comparabilidade dos
dados Por exemplo ldquolongo termordquo eacute parametrizado em 6 meses na Noruega e em 12 meses
na Suiccedila O status dos beneficiaacuterios pode ser avaliado atraveacutes de registos administrativos ou
atraveacutes de inqueacuteritos Os resultados entre as duas fontes satildeo de uma forma geral bastante
diferentes por duas razotildees nucleares os registos administrativos geralmente contam casos e
natildeo pessoas o que em situaccedilotildees de benefiacutecios muacuteltiplos pode levar a contagens duplas por
outro lado os inqueacuteritos satildeo baseados nas respostas sobre o status do beneficiaacuterio e algumas
pessoas podem desejar natildeo revelar a sua condiccedilatildeo perante os benefiacutecios
Nenhuma destas definiccedilotildees e medidas de mensuraccedilatildeo eacute superior a outras pelo que a sua
utilizaccedilatildeo depende dos objectivos do propoacutesito da investigaccedilatildeo e da disponibilidade da
informaccedilatildeo
Abordagens para medir a incapacidade no quadro da aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos agraves populaccedilotildees
a) Incapacidade geral (natildeo especificada)
Puacuteblico-alvo todos os adultos
b) Incapacidade relativa ao trabalho
Puacuteblico-alvo pessoas em idade activa
c) Limitaccedilotildees nas actividades de vida diaacuteria (AVD)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 32
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Puacuteblico-alvo Populaccedilatildeo idosa
54 AMERICAN DISABILITIES ACT
O American Disabilities Act (ADA) desenvolvido em 1990 fornece um conjunto de guidelines
no sentido de assegurar a disponibilizaccedilatildeo de serviccedilos para as pessoas com deficiecircncias bem
como a protecccedilatildeo dos seus direitos legais
A ADA inclui uma definiccedilatildeo legal de incapacidade consistindo na presenccedila de ldquouma deficiecircncia
fiacutesica ou mental que limita significativamente uma ou mais das principais actividades de vidardquo
Independentemente da definiccedilatildeo proposta pela ADA a existecircncia de muacuteltiplos programas a
favor das pessoas com deficiecircncias e os diferentes focus legais em diferentes puacuteblicos alvo
fazem com que tenham emergido uma multiplicidade de definiccedilotildees de incapacidade ao longo
do tempo no quadro das poliacuteticas sociais americanas
55 OMS ONU Revisatildeo dos actuais inqueacuteritos sobre a incapacidade
Apesar de existir um desenvolvimento consideraacutevel dos inqueacuteritos na aacuterea da incapacidade
poder-se-atildeo explicitar algumas observaccedilotildees relativas agrave sua multiplicidade Numa primeira linha
de anaacutelise os inqueacuteritos tendem a focalizar-se nas limitaccedilotildees de actividade eou na deficiecircncia
No que concerne agrave formulaccedilatildeo escrita tendem a existir diferenccedilas significativas entre
inqueacuteritos facto que inviabiliza natildeo raras vezes a comparabilidade dos dados entre inqueacuteritos
As diferentes formulaccedilotildees das questotildees incluem
Tem dificuldade
Eacute capaz de
Faz
Tem sentido problemas em
com ou sem assistecircncia pessoal eou tecnoloacutegica
A questatildeo que se coloca eacute se estas formulaccedilotildees tecircm o mesmo significado isto eacute se todas elas
pretendem medir a capacidade ou a performance De acordo com a CIF a capacidade
remeteria para o potencial de execuccedilatildeo de um indiviacuteduo enquanto a performance diria respeito
ao niacutevel de desempenho efectivo do indiviacuteduo atraveacutes do seu envolvimento numa situaccedilatildeo de
vida real As lacunas existentes e as poucas referecircncias ao niacutevel da forma como os inquiridos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 33
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
satildeo instruiacutedos a responder faz com que natildeo seja possiacutevel desenvolver um discernimento
irrefutaacutevel sobre esta mateacuteria
Do ponto de vista dos domiacutenios abrangidos os inqueacuteritos tecircm apresentado algumas questotildees
sobre a participaccedilatildeo e o ambiente e evidenciam algumas limitaccedilotildees na sua amplitude Os
domiacutenios de actividades e participaccedilatildeo geralmente abrangidos tecircm sido operacionalizados de
uma forma geral nas seguintes dimensotildees
Educaccedilatildeo e emprego (formulado como questotildees de performance)
Outros inqueacuteritos incluem aacutereas como relaccedilotildees interpessoais vida familiar tomada de
decisotildees etc
O domiacutenio relativo aos factores ambientais tem incluiacutedo
Utilizaccedilatildeo e acessibilidadedisponibilidade dos produtos de assistecircncia e da tecnologia
Acessibilidade do ambiente
Disponibilidade dos serviccedilos (sauacutede protecccedilatildeo social educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo)
Evidecircncias muito escassas ao niacutevel da poliacutetica atitudes ambiente natural
planeamento e concepccedilatildeo
A questatildeo de investigaccedilatildeo neste contexto centra-se na seguinte formulaccedilatildeo ldquoo que eacute que os
inqueacuteritos medem como incapacidaderdquo
a) Definiccedilatildeo a priori da incapacidade versus sem incapacidade
Alguns inqueacuteritos sobre a incapacidade especialmente os mais antigos utilizam uma definiccedilatildeo
a priori de incapacidade O objectivo deste tipo de inqueacuteritos eacute contar o nuacutemero de pessoas
que se encaixam na definiccedilatildeo no contexto da populaccedilatildeo total Neste sentido os dados satildeo
analisados de acordo com dois grupos de referecircncia ndash com incapacidade e sem incapacidade ndash
em funccedilatildeo de um conjunto de diferentes variaacuteveis Este tipo de questionaacuterios formula questotildees
do tipo ldquoPossui algum tipo de incapacidade auditiva visual ou fiacutesicardquo Muitas questotildees dos
censos tecircm utilizado este formato
b) Definiccedilatildeo a posteriori de incapacidade versus sem incapacidade
Mais recentemente alguns inqueacuteritos desenvolveram-se em direcccedilatildeo a uma definiccedilatildeo a
posteriori de incapacidade Nestes casos eacute medida a capacidade a performance ao longo de
um conjunto vasto de domiacutenios Este segundo tipo de inqueacuteritos tende a ter uma ampla
aceitaccedilatildeo eg HALS (Canada) HID (Franccedila) inqueacuterito sobre incapacidade na Africa do Sul
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 34
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Inqueacuterito Espanhol sobre incapacidade NHIS-D (USA) inqueacuterito Holandecircs entre outros Estes
instrumentos formulam questotildees relativas agraves dificuldades que as pessoas experienciam em
diferentes domiacutenios produzindo um perfil pessoal que possa colocar em evidecircncia os
diferentes graus de capacidade associados A categorizaccedilatildeo de incapacidade sem
incapacidade eacute formulada ao niacutevel do domiacutenio e natildeo como uma categoria geral de atributo
pessoal Esta abordagem permite uma anaacutelise ao niacutevel de funcionamento individual por
domiacutenio por exemplo comparando a experiecircncia de incapacidade no domiacutenio de mobilidade
versus socializaccedilatildeo versus comunicaccedilatildeo entre outros bem como o impacto dos factores
ambientais nestes diferentes domiacutenios O perfil resultante do funcionamento individual ao longo
de muacuteltiplos domiacutenios eacute similar aos estados de sauacutede individuais ao longo das diferentes
dimensotildees
Vantagens de uma abordagem a posteriori
Estaacute em consonacircncia com a abordagem universal proposta pela CIF Todas as
pessoas experienciam deficiecircncia nalgum ponto e esta experiecircncia eacute caracterizada
numa abordagem a posteriori e natildeo a priori
Decisotildees sobre a criaccedilatildeo de categorias sobre quem tem incapacidade e sobre quem
natildeo tem podem ser tomadas atraveacutes de diferentes niacuteveis de anaacutelise por exemplo
atraveacutes da anaacutelise da experiecircncia das pessoas que experienciam incapacidade em 1 2
ou 3 domiacutenios de cruzar o status de emprego de pessoas com incapacidade ao longo
dos diferentes domiacutenios etc
Deixa de ser necessaacuteria uma definiccedilatildeo tipoloacutegica e categoacuterica de pessoas com
incapacidade O que necessita de ser definido neste contexto eacute o que se designa por
limitaccedilatildeo da capacidade ou problemas de performance ao longo dos diferentes
domiacutenios
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 35
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 36
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6 SISTEMATIZACcedilAtildeO DAS DIMENSOtildeES DE ORGANIZACcedilAtildeO E
OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em todos os estudos efectuados neste domiacutenio foi colocada em evidecircncia a actual dificuldade
de comparabilidade estatiacutestica internacional inter ou intra sectorial independentemente do
organismo referenciador ndash OCDE ONU EUROSTAT INE OMS
Neste contexto desenvolver-se-aacute a extracccedilatildeo de conhecimento tendo por base a identificaccedilatildeo
de um conjunto de eixos de anaacutelise que actuem como vectores de estruturaccedilatildeo na
operacionalizaccedilatildeo do conceito A este propoacutesito atente-se no Quadro 2
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Abordagem Focus Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Delimitaccedilatildeo temporal do
conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo
Design das questotildees
CID-10
ICIDH
ICF
SauacutedeDoenccedila
Deficiecircncia
Incapacidade
a) Geral
b) Relativa ao trabalho
c) Limitaccedilotildees nas
actividades de vida
diaacuteria
Funcionalidade ndash
Niacuteveis de execuccedilatildeo
das actividades por
domiacutenio e niacuteveistipos
de ajudas mobilizadas
Intersubjectivo ndash
vg inqueacuteritos
Objectivo ndash vg
fontes administrativas
A priori
A posteriori
Temporaacuterias
permanentes
Progressivas
regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou
contiacutenuas
Tipo 1 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre uma determinada
condiccedilatildeo individual
combinada com itens
referentes a limitaccedilotildees de
actividade e participaccedilatildeo e
factores contextuais
Tipo 2 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre a presenccedila de uma
pessoa com incapacidade
no agregado familiar
seguindo-se uma lista de
deficiecircncias e
incapacidades
Tipo 3 ndash Checklist de
deficiecircncias
Quadro 2 ndash Eixos de operacionalizaccedilatildeo do conceito
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 37
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 38
Dezembro2006
7 ESCOLHA DO CENAacuteRIO A IMPLEMENTAR
A anaacutelise do Quadro 2 permite-nos uma definiccedilatildeo modular do cenaacuterio a implementar atraveacutes de
uma configuraccedilatildeo do conceito pelos eixos de anaacutelise propostos Uma das dificuldades
evidentes nesta delimitaccedilatildeo prende-se com o cumprimento dos requisitos de (a)
comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica e legislativa dentro do contexto portuguecircs
e (c) conformidade com os referenciais conceptuais actuais sendo que a coexistecircncia destes
criteacuterios afigura-se em muitos casos incompatiacutevel entre si Para efeitos da estruturaccedilatildeo do
cenaacuterio privilegiar-se-aacute a conformidade com os referenciais conceptuais actuais
71 ABORDAGEM No que concerne agrave abordagem privilegia-se a adopccedilatildeo das mais recentes directrizes propostas
pela OMS adoptando explicitamente a CIF
Fundamentaccedilatildeo
A CIF apresenta a capacidade para descrever o funcionamento humano numa
perspectiva biopsicossocial em detrimento da classificaccedilatildeo anterior (ICIDH) que se
focalizava na dimensatildeo biomeacutedica A CIF foi desenvolvida no plano conceptual para ser aplicaacutevel em diferentes aacutereas e
sectores A CIF eacute aplicaacutevel transversalmente agraves dimensotildees de cultura idade geacutenero sendo um
instrumento sistemaacutetico para descrever e medir a sauacutede e o funcionamento humano
num dado contexto A CIF constitui-se enquanto instrumento potencial para a poliacutetica social design das
intervenccedilotildees nos domiacutenios da sauacutede educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e intervenccedilatildeo social Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
72 FOCUS
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo da centraccedilatildeo da recolha de dados ao niacutevel
da dimensatildeo de funcionalidade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 39
Dezembro2006
Fundamentaccedilatildeo
Consonacircncia com o modelo conceptual proposto pela CIF enfatizando o caraacutecter
dinacircmico e interaccional (pessoa factores contextuais) do funcionamento de cada
pessoa Permite caracterizar as limitaccedilotildees de actividade e restriccedilotildees de participaccedilatildeo dos
cidadatildeos identificando necessidades de intervenccedilotildees especializadas numa loacutegica de
empowerment e participaccedilatildeo social Permite analisar a adequabilidade e ajustamento das actuais medidas poliacuteticas do
ponto de vista dos seus objectivos e os problemas detectados ao niacutevel da participaccedilatildeo
dos cidadatildeos ao longo de um conjunto diversificado de domiacutenios
73 MEacuteTODOS DE MENSURACcedilAtildeO
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo de meacutetodos intersubjectivos nomeadamente
inqueacuteritos
Fundamentaccedilatildeo
Flexibilidade ao niacutevel da abrangecircncia e profundidade das dimensotildees
Maior facilidade na implementaccedilatildeo atendendo agrave disponibilizaccedilatildeo de uma amostra
delimitada
Maior niacutevel de controlo sobre as condiccedilotildees de observaccedilatildeo e da entrevista devido ao
menor nuacutemero de entrevistas a ser implementado
74 DELIMITACcedilAtildeO CONCEPTUAL E TEMPORAL DO CONCEITO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo temporal e apesar de se privilegiar as vantagens anteriormente
explicitadas no desenvolvimento de uma definiccedilatildeo a posteriori assume-se a necessidade
politica de delimitar o campo de intervenccedilatildeo do conjunto de medidas sociais neste domiacutenio
pelo que a delimitaccedilatildeo conceptual poderaacute ser objecto de operacionalizaccedilatildeo atraveacutes dos
seguintes paracircmetros
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 40
Dezembro2006
Poder-se-aacute colocar a questatildeo de saber se a delimitaccedilatildeo do conceito proposta remete
especificamente para ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ou para ldquopessoas com limitaccedilotildees de
participaccedilatildeordquo Atendendo a que a definiccedilatildeo comporta uma abordagem sisteacutemica enfatizando a
interacccedilatildeo entre um conjunto diversificado de componentes que produzem impacto na
funcionalidade da pessoa a resposta natildeo eacute linear dependendo da ecircnfase socio-histoacuterica e da
abordagem sociopoliacutetica que se escolher enfatizar No entanto e do ponto de vista conceptual
privilegia-se a adopccedilatildeo do conceito ldquopessoas com limitaccedilotildees de participaccedilatildeordquo dado que existe
total autonomia operativa entre os diferentes constructos Neste sentido a deficiecircncia natildeo
constitui um factor causal linear das limitaccedilotildees de actividade e das restriccedilotildees ao niacutevel da
participaccedilatildeo mas antes uma das componentes que em interacccedilatildeo com outras podem
provocar impactos ao niacutevel da funcionalidade do indiviacuteduo Por uacuteltimo refira-se que a tipologia
ldquopessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeordquo poderaacute ser alvo de criticas por constituir
uma designaccedilatildeo que apela a duas componentes em simultacircneo (actividades e participaccedilatildeo)
excluindo outras e ser demasiado longa para uma definiccedilatildeo tipoloacutegica A este propoacutesito pode-
se sugerir a delimitaccedilatildeo ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo constituindo esta
expressatildeo uma abordagem holiacutestica ao conjunto de componentes que interferem com o
funcionamento humano Deste modo poderemos ter as seguintes designaccedilotildees
Pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Pessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo
Pessoas com limitaccedilotildees de funcionalidade
Figura 2 ndash Possiacuteveis designaccedilotildees
O Quadro 3 pretende fornecer uma visatildeo sistemaacutetica sobre o processo de decisatildeo da
designaccedilatildeo a adoptar
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
deficiecircncias
Tradiccedilatildeo analiacutetica dentro do
contexto portuguecircs
Em conformidade com o modelo
meacutedico ndash centra-se nas alteraccedilotildees
de estrutura e funccedilatildeo ndash
focalizaccedilatildeo na pessoa
Desarticulado dos pressupostos do
modelo social ndash natildeo remete para a
experiecircncia de incapacidade
enquanto produto da interacccedilatildeo
entre pessoa e ambiente
Mai
or
Abr
angecirc
ncia
Mai
or
Espe
cific
idad
e
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 41
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
incapacidades
Em conformidade com a
delimitaccedilatildeo anglo-saxoacutenica que
utiliza o conceito Disability
Focalizaccedilatildeo no poacutelo negativo do
funcionamento humano ndash
funcionalidadeincapacidade
Ao focalizar-se na experiecircncia de
incapacidade enquanto
interacccedilatildeo pessoa-ambiente
remete indirectamente para a
mobilizaccedilatildeo de apoios e recursos
de forma a ultrapassar eou
eliminar os obstaacuteculos ao
funcionamento em contexto
O potencial efeito estigmatizante
da expressatildeo ldquopessoas com
incapacidadesrdquo
Pessoas com
diversidade
Funcional
Em conformidade com o modelo
social
Focaliza-se na gestatildeo das
diferenccedilas e no seu impacto ao
niacutevel da participaccedilatildeo das pessoas
na sociedade
Elevado niacutevel de abrangecircncia natildeo
permitindo um niacutevel de
diferenciaccedilatildeo relevante na
medida em que todos os cidadatildeos
detecircm entre si diversos e
diferentes padrotildees de
funcionamento humano
Conceito dificilmente
operacionalizaacutevel do ponto de
vista da formulaccedilatildeo das poliacuteticas e
da delimitaccedilatildeo dos puacuteblicos-alvo
Pessoas com
restriccedilotildees ao
niacutevel da
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos Desta forma
todos os obstaacuteculos agrave participaccedilatildeo
relacionados com discriminaccedilatildeo
social preconceitos estereoacutetipos
deficiecircncias doenccedilas croacutenicas
entre outros satildeo incluiacutedos
Natildeo inclui as limitaccedilotildees de
actividade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
limitaccedilotildees de
actividade e
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida e simultaneamente no
domiacutenio das limitaccedilotildees de
actividade
Ruptura com a tradiccedilatildeo analiacutetica
no sector
Dificuldade de apreensatildeo e
inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Natildeo inclui as alteraccedilotildees da
estrutura e da funccedilatildeo
Pessoas com
limitaccedilotildees de
funcionalidade
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel das
diferentes dimensotildees constituintes
da funcionalidade e do
funcionamento humano
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos
Pessoas com
deficiecircncias e
incapacidades
Natildeo introduz ruptura com a
tradiccedilatildeo analiacutetica no sector
Inclui as alteraccedilotildees de estrutura e
funccedilatildeo bem como as alteraccedilotildees
decorrentes ao niacutevel da
funcionalidade
Diferencia os conceitos de
deficiecircncia e incapacidade
autonomizando-os e fornecendo
uma base compreensiva para o
natildeo estabelecimento de relaccedilotildees
de causa-efeito entre os ambos
Abrange os obstaacuteculos que
emergem na interacccedilatildeo pessoa-
contextos de vida e
simultaneamente no domiacutenio das
limitaccedilotildees de actividade
Poder diferenciador e delimitador
na definiccedilatildeo do puacuteblico-alvo
Em alinhamento estrateacutegico com o
PAIPDI
Designaccedilatildeo de compromisso com
os referenciais teoacutericos do modelo
social e dos princiacutepios da ldquoeacutetica da
diversidaderdquo
Quadro 3 ndash Visatildeo comparativa das hipoacuteteses da designaccedilatildeo a adoptar
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 43
Dezembro2006
75 DELIMITACcedilAtildeO DA DURACcedilAtildeO E CURSO DE EVOLUCcedilAtildeO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo interessa a caracterizaccedilatildeo nas
3 dimensotildees desenvolvidas
Fundamentaccedilatildeo
Afigura-se relevante caracterizar a ocorrecircncia das deficiecircncias quanto aacute sua
consistecircncia no tempo ndash temporaacuterias permanentes ndash analisando os factores
contextuais associados consequecircncias ao niacutevel das actividades e da participaccedilatildeo ao
longo de um conjunto de domiacutenios em ordem agrave extracccedilatildeo de implicaccedilotildees no acircmbito
das poliacuteticas sociais
No acircmbito da adaptabilidade e da adequaccedilatildeo das medidas poliacuteticas agraves necessidades
especiacuteficas dos cidadatildeos torna-se relevante caracterizar a deficiecircncia quanto agrave
natureza do seu curso evolutivo ndash progressivas regressivas estaacuteveis O mesmo
criteacuterio eacute aplicaacutevel quanto aacute dimensatildeo de padratildeo de manifestaccedilatildeo ndash intermitente
contiacutenua
No entanto e apesar da incapacidade se manifestar ao longo do ciclo de vida da pessoa
de forma multimodal para efeitos de delimitaccedilatildeo e de definiccedilatildeo do conceito de pessoas
com deficiecircncias e incapacidades privilegiaremos o caraacutecter permanente Desta forma
excluem-se as manifestaccedilotildees temporaacuterias de incapacidade que enviesariam a anaacutelise e o
desenvolvimento de poliacuteticas neste domiacutenio
76 DESIGN DAS QUESTOtildeES
No que concerne ao design das questotildees privilegia-se a escolha de questotildees tipo 1
Fundamentaccedilatildeo
Em consonacircncia com a CIF
Permite comparabilidade estatiacutestica futura
Permite a caracterizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre os factores de funcionalidade ndash integridade
estrutural e funcional actividades participaccedilatildeo e factores contextuais
Permite o design das poliacuteticas sociais e metodologias de intervenccedilatildeo alicerccediladas nas
necessidades especiacuteficas dos cidadatildeos em torno das dimensotildees de inclusatildeo social
Domiacutenios
Visatildeo
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 44
Dezembro2006
Audiccedilatildeo
Comunicaccedilatildeo
Mobilidade
Dor
Aprendizagem e funcionamento psicoloacutegico
Autocuidados e vida domeacutestica
Condiccedilotildees gerais de sauacutede
Mobilizaccedilatildeo de ajudas ou equipamento especializado
Participaccedilatildeo social
Transporte e educaccedilatildeo
77 PROPOSTA DE DELIMITACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em funccedilatildeo das dimensotildees caracterizadas e dos criteacuterios privilegiados desenvolveu-se o
seguinte enquadramento conceptual
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
Figura 2 ndash Enquadramento conceptual da delimitaccedilatildeo do conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso da evoluccedilatildeo
Temporaacuterias permanentes
Progressivas regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou contiacutenuas
Focus
Funcionalidade ndash Niacuteveis de execuccedilatildeo das actividades por domiacutenio e niacuteveistipos de ajudas mobilizadas
Abordagem CIF
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo temporal do conceito
A priori
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Inter-subjectivo
Design das questotildees
Questatildeo geneacuterica sobre uma determinada condiccedilatildeo individual combinada com itens referentes a limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo e factores contextuais
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
8 CRITEacuteRIOS DE ELEGIBILIDADE DO PUacuteBLICO-ALVO E SISTEMAS DE
AVALIACcedilAtildeO
A operacionalizaccedilatildeo do conceito de incapacidade tem sido abordada de forma heterogeacutenea
entre diferentes modalidades de politica e os diferentes contextos socioculturais de cada paiacutes
De uma forma geral encontram-se 2 eixos criacuteticos na sua operacionalizaccedilatildeo
a) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de trabalho (na ocupaccedilatildeo preacutevia ou numa nova
ocupaccedilatildeo ajustada agraves alteraccedilotildees funcionais)
b) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de obter rendimentos provenientes do trabalho
A explicitaccedilatildeo dos criteacuterios de delimitaccedilatildeo do conceito de incapacidade nos diferentes paiacuteses
encontra-se na Quadro 4
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Austraacutelia 2 Criteacuterios possuir uma incapacidade que resulte
num score nunca inferior a 20 nas tabelas de
incapacidades e incapacidade em trabalhar 30
horas ou mais por semana ou em ser
reconvertido para trabalho em contexto regular
nos proacuteximos 2 anos
Nenhum
Aacuteustria 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho (50
de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo para
trabalhadores sem qualificaccedilotildees) papel criacutetico
das decisotildees dos tribunais devido a definiccedilotildees
legais imprecisas
Nenhum mas as
restriccedilotildees de sauacutede
devem ter uma duraccedilatildeo
igual ou superior a 6
meses
Beacutelgica 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na actual ocupaccedilatildeo
1 ano
Canada Incapacidade severa e prolongada que impeccedila de
desenvolver trabalho numa base regular
Nenhum
Dinamarca 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum mas a
reabilitaccedilatildeo precisa de
estar completa
Franccedila 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual mas a
totalidade do subsidio requer igualmente perda de
capacidade de trabalho
Nenhum no caso das
condiccedilotildees estarem
estaacuteveis mas muito
frequentemente apoacutes 3
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 47
Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
anos
Alemanha 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho a
incapacidade parcial eacute calculada em funccedilatildeo do nordm
de horas que a pessoa pode trabalhar
Nenhum mas a
incapacidade deve ter
uma duraccedilatildeo miacutenima
de 26 semanas
Itaacutelia 666reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum
Coreia Criteacuterios meacutedicos (niacuteveis de incapacidade
definidos de forma detalhada)
Periacuteodo de espera de
50 dias (os subsiacutedios
de doenccedila natildeo se
encontram disponiacuteveis)
Meacutexico 50 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo Nenhum
Holanda 15 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
(25 para os trabalhadores por conta proacutepria e
jovens com incapacidade) grau de incapacidade
calculado pela diferenccedila de remuneraccedilatildeo entre o
actual posto de trabalho compatiacutevel com as
limitaccedilotildees funcionais e o anterior
1 ano
Noruega 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho O
grau de subsiacutedio eacute calculado pela capacidade de
remuneraccedilatildeo
Nenhum (apoacutes ter
completado a
reabilitaccedilatildeo vocacional)
Poloacutenia Reduccedilatildeo temporaacuteria ou permanente da
capacidade de trabalho
Nenhum
Portugal 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual
Nenhum mas na
praacutetica ao fim de 3
anos (fim do periacuteodo de
doenccedila de longo termo)
Espanha 33 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho na
ocupaccedilatildeo actual incapacidade para todo e
qualquer trabalho para a totalidade do subsiacutedio
1 ano (embora seja
possiacutevel a candidatura
antes deste prazo em
casos de incapacidade
permanente)
Sueacutecia 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho grau
de incapacidade parcial calculado a partir das
horas que uma pessoa pode trabalhar
Nenhum
Suiccedila 40 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho para
as pessoas inactivas o grau de incapacidade eacute
calculado em relaccedilatildeo aacute actividade actual
1 ano
Turquia 666 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho
com um focus meacutedico bastante significativo
Nenhum
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Reino Unido Limitaccedilotildees nas actividades de vida quotidianas
relevantes para o trabalho (avaliaccedilotildees meacutedicas
predominantes) teste ocupacional durante a s
primeiras 28 semanas (subsidio de doenccedila)
28 semanas
Estados
Unidos
Reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
incapacidade em investir numa actividade
profissional com rendimentos ($ US 740 por mecircs)
5 meses (nem sempre
cobertos pelos
subsiacutedios de curto-
termo) e 24 meses
para a cobertura
meacutedica
Quadro 4 ndash Definiccedilotildees de incapacidade e tempos regulamentares
Um dos desafios que se coloca aos actuais sistemas reside na delimitaccedilatildeo da elegibilidade do
puacuteblico-alvo Para cumprir este objectivo satildeo necessaacuterios sistemas de avaliaccedilatildeo holiacutesticos
abrangentes coerentes e que permitam chegar a resultados de forma consistente e com
validade interna No actual contexto a CIF propotildee constituir-se como o instrumento conceptual
abrangente para caracterizar os diferentes domiacutenios e niacuteveis de funcionalidade incapacidade
de forma coerente e integrada Neste sentido uma das vantagens apontadas para a adopccedilatildeo
do modelo desenvolvido pela OMS eacute a possibilidade de uniformizaccedilatildeo de conceitos e portanto
da utilizaccedilatildeo de uma linguagem padratildeo que permita a comunicaccedilatildeo entre investigadores
gestores profissionais de sauacutede organizaccedilotildees da sociedade civil e utilizadores em geral
Um dos campos de estudo mais explorados para a aplicaccedilatildeo da CIF tem sido a aacuterea de
Medicina Fiacutesica e de Reabilitaccedilatildeo no que concerne ao acompanhamento do estado de sauacutede
dos pacientes em tratamento O uso da CIF tem sido considerado tambeacutem na avaliaccedilatildeo apoacutes
transtornos agudos condiccedilotildees traumaacuteticas condiccedilotildees croacutenicas e na geriatria
Alguns autores argumentam que a CIF deve ser explorada como uma base de informaccedilotildees
padronizadas em estudos sobre incapacidade profissional quando haacute necessidade de
relacionar dados de sauacutede ocupacional com os da Seguranccedila Social
Na Sauacutede Puacuteblica tradicionalmente pouca atenccedilatildeo tem sido dada agraves pessoas com
incapacidades No entanto ao lado de recentes investimentos por parte de organizaccedilotildees e de
alguns governos a publicaccedilatildeo do modelo da CIF fornece as bases para as poliacuteticas e
disciplinas da Sauacutede Puacuteblica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo que apresenta deficiecircncias e
incapacidades Assim uma das possibilidades de uso da CIF pode ser a contribuiccedilatildeo para
responder a importantes questotildees de sauacutede puacuteblica tais como qual o estado de sauacutede das
pessoas com deficiecircncias comparadas com as demais que necessidades e que tipos de
intervenccedilotildees satildeo mais adequadas para reduzir condiccedilotildees secundaacuterias e promover a
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na sociedade entre outras
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 51
Dezembro2006
Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
Dezembro2006
Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 53
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
45 INCAPACIDADE
Do ponto de vista de utilizaccedilatildeo dos conceitos de Deficiecircncia e de Incapacidade em Portugal
tecircm subsistido vaacuterias imprecisotildees terminoloacutegicas Primeiro na generalidade dos documentos
internacionais alude-se ao termo ldquopeople with disabilitiesrdquo sendo que invariavelmente esta
expressatildeo eacute traduzida para Portuguecircs como ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo Tal facto parece criar
condiccedilotildees para uma grande permeabilidade semacircntica dificilmente resoluacutevel do ponto de vista
conceptual Segundo deficiecircncia e incapacidade satildeo claramente dois conceitos distintos
Enquanto a deficiecircncia remete para alteraccedilotildees significativas ao niacutevel das estruturas eou das
funccedilotildees do corpo a incapacidade constitui o poacutelo negativo do funcionamento humano em
situaccedilatildeo potencial ou efectiva de participaccedilatildeo no contexto de vida Este facto pressupotildee que os
conceitos de deficiecircncia e de incapacidade natildeo contecircm nenhuma relaccedilatildeo causal entre si nem
nenhuma relaccedilatildeo linear de frequecircncia na medida em que eacute possiacutevel existir uma deficiecircncia
sem que exista uma incapacidade e eacute possiacutevel emergir uma determinada incapacidade sem
que haja uma qualquer deficiecircncia
Deste modo eacute possiacutevel
a) Ter deficiecircncias sem limitaccedilotildees de capacidade (eg uma desfiguraccedilatildeo resultante da
doenccedila de Hansen pode natildeo ter efeito sobre a capacidade da pessoa
b) Ter problemas de desempenho e limitaccedilotildees de capacidade sem deficiecircncias evidentes
(eg reduccedilatildeo de desempenho nas actividades diaacuterias associada a vaacuterias doenccedilas)
c) Ter problemas de desempenho sem deficiecircncias ou limitaccedilotildees de capacidade (eg um
indiviacuteduo HIV positivo ou um ex-doente curado de doenccedila mental que enfrenta
estigmas ou descriminaccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais ou no trabalho)
d) Ter limitaccedilotildees de capacidade se natildeo tiver assistecircncia e nenhum problema de
desempenho no ambiente habitual (eg um indiviacuteduo com limitaccedilotildees de mobilidade
pode beneficiar por parte da sociedade de ajudas tecnoloacutegicas de assistecircncia para se
movimentar
e) Experimentar um grau de influecircncia em sentido contraacuterio (eg a inactividade dos
membros pode levar agrave atrofia muscular a institucionalizaccedilatildeo pode resultar numa perda
da socializaccedilatildeo)
Daqui resulta que ao referirmo-nos agraves pessoas com deficiecircncias enquanto puacuteblico-alvo
privilegiado das medidas de reabilitaccedilatildeo poderemos incorrer num desvio significativo de
alocaccedilatildeo dos recursos agraves reais necessidades das pessoas na medida em que natildeo eacute a
deficiecircncia que gera por si mesma a necessidade de reabilitaccedilatildeo mas sim as limitaccedilotildees de
actividade e as restriccedilotildees de participaccedilatildeo decorrentes da interacccedilatildeo entre as caracteriacutesticas
biopsicossociais e as caracteriacutesticas dos ambientes em que o individuo se move
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 27
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
A persistecircncia em traduzir o termo disability para deficiecircncia e natildeo apenas o seu homoacutelogo
anglo-saxoacutenico ndash impairment ndash poderaacute explicar-se pelas seguintes razotildees
a) O potencial efeito estigmatizante da expressatildeo ldquopessoas com incapacidadesrdquo ser maior
do que aquele contido na expressatildeo ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo
b) O termo incapacidade centrar-se exclusivamente nos aspectos negativos do
funcionamento individual classificando a pessoa agrave partida como sendo destituiacuteda de
competecircncias e condiccedilotildees para atingir os niacuteveis normativos de desempenho e
performance num conjunto de domiacutenios da vida pessoal e social
O paradoxo surge igualmente porque enquanto no modelo meacutedico a incapacidade aparece
em termos causais relacionada com a deficiecircncia numa perspectiva exclusivamente individual
no modelo proposto pela OMS operacionalizado na CIF os dois conceitos gozam de total
independecircncia conceptual e operativa sendo que a deficiecircncia passa a ter uma baixa
relevacircncia diferenciadora do ponto de vista do funcionamento humano Ora se atendermos a
que as medidas de reabilitaccedilatildeo pretendem promover os potenciais do funcionamento humano
numa perspectiva de participaccedilatildeo plena do indiviacuteduo nos mais diferenciados contextos de vida
assegurando o co-desenvolvimento de todos os actores e das estruturas sociais necessaacuterias agrave
cidadania plena entatildeo falar de ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo natildeo soacute natildeo eacute relevante no quadro
da loacutegica de intervenccedilatildeo como poderaacute traduzir dificuldades dos actores em mudar
efectivamente do paradigma meacutedico para o paradigma social
Este fenoacutemeno aliaacutes natildeo acontece apenas em Portugal sendo que recentes estudos de
investigaccedilatildeo vieram sugerir a adopccedilatildeo dos conceitos de ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo e
ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo para ultrapassar a aplicaccedilatildeo indevida dos
conceitos de deficiecircncia e incapacidade A utilizaccedilatildeo destes conceitos parece articular de forma
mais precisa com o novo modelo conceptual proposto pela OMS enfatizando a diversidade de
niacuteveis de funcionamento humano e apelando a uma certa noccedilatildeo de relatividade socialmente
construiacuteda Uma das criticas feita pela comunidade de investigadores ao conceito de ldquopessoas
com diversidade funcionalrdquo reside no facto de que a expressatildeo eacute dotada de um tatildeo elevado
niacutevel de abrangecircncia que natildeo permite um niacutevel de diferenciaccedilatildeo relevante na medida em que
todos os cidadatildeos detecircm entre si diversos e diferentes padrotildees de funcionamento humano
Neste sentido o conceito ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo aplicar-se-ia a todos os
cidadatildeos sem excepccedilatildeo A proliferaccedilatildeo destes termos eacute explicada pela necessidade da
comunidade politica e cientifica de construir constructos que sejam socialmente aceites e o
mais neutros possiacuteveis do ponto de vista dos seus valores impliacutecitos No entanto a
impossibilidade epistemoloacutegica de desenvolver expressotildees e conceitos socio-historicamente
neutros parece levar muitas vezes agrave concepccedilatildeo de definiccedilotildees com reduzida identidade isto eacute
de significado demasiado amplo e abrangente o que na expressatildeo da UPIAS ldquopodem significar
tudo e coisiacutessima nenhumardquo (2005)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 28
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Os conceitos ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo ldquopessoas com limitaccedilotildees de
actividaderdquo e ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo afiguram-se comparativamente ao
anterior como um conceito de maior coerecircncia conceptual com o modelo proposto pela OMS e
deteacutem cumulativamente um maior poder diferenciador A sua desvantagem reside no facto de
constituiacuterem expressotildees com maior dificuldade de apreensatildeo e inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 29
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 30
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5 ANAacuteLISE DOS REFERENCIAIS NACIONAIS E INTERNACIONAIS
No sentido de obter um conjunto de vectores de referecircncia na estruturaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo do
conceito de deficiecircncia foram analisadas as abordagens desenvolvidas pelos seguintes
organismos INE Eurostat OCDE American Disabilities Act WHO UN
51 INE
Os dados disponiacuteveis no INE parecem indicar a utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na
ICIDH
Deficiecircncia1 Perda ou alteraccedilatildeo de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou
anatoacutemica Nesta definiccedilatildeo estatildeo incluiacutedas as seguintes tipologias2
Deficiecircncia AUDITIVA
Deficiecircncia MENTAL
Deficiecircncia MOTORA
Deficiecircncia ORGAcircNICO-FUNCIONAL
Deficiecircncia PSIQUIAacuteTRICA
Deficiecircncia VISUAL
Incapacidade3 Ausecircncia ou limitaccedilatildeo da capacidade para funcionar estando comprometida a
realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida
diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e originando uma desvantagem para funcionar em
sociedade face a outros
Pessoa deficiente Aquela que tenha uma ou mais das seguintes deficiecircncias a) deficiecircncia
visual b) deficiecircncia auditiva c) deficiecircncia mental d) deficiecircncia motora
1 Nota Na operaccedilatildeo censitaacuteria de 2001 apenas foi observada a deficiecircncia permanente a deficiecircncia temporaacuteria natildeo foi considerada (por exemplo se um indiviacuteduo se desloca com canadianas ou em cadeira de rodas porque partiu uma perna ou se sofre de descolamento parcial da retina que o obriga a andar com uma venda natildeo foi considerado como tendo uma deficiecircncia) 2 Fonte INE ndash Censos 2001 ndash Recenseamento Geral da Populaccedilatildeo (Antecedentes Metodologia e Conceitos) Antecedentes Metodologia e Conceitos 3 Fonte INS ndash Inqueacuterito Nacional agrave Sauacutede
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 31
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Trabalhador deficiente Trabalhador que estaacute incapacitado para assegurar por si mesmo total
ou parcialmente a satisfaccedilatildeo de necessidades de uma vida individual ou social normal devido
a uma deficiecircncia congeacutenita ou adquirida das suas capacidades fiacutesicas sensoriais ou
mentais tendo por isso dificuldade em obter eou manter o desempenho de funccedilotildees de acordo
com as suas habilitaccedilotildees idade e experiecircncia profissional
Cidadatildeo Trabalhador com necessidades especiais Cidadatildeo idoso ou portador de
deficiecircncias sensoriais (visuais e auditivas) fiacutesicas (motoras) e cognitivas
52 EUROSTAT
Os dados disponibilizados pelo Eurostat no seu endereccedilo electroacutenico4 parecem indicar a
utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na ICIDH
Conceito Deficiecircncia5
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de deficiecircncia refere-se a uma perda ou alteraccedilatildeo
de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou anatoacutemica
Conceito Incapacidade6
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de incapacidade refere-se agrave ausecircncia ou limitaccedilatildeo
da capacidade para funcionar estando comprometida a realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas
funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e
originando uma desvantagem para funcionar em sociedade face a outros
Conceito Desvantagem7
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito refere-se agrave desvantagem para um dado individuo
decorrente de uma deficiecircncia ou incapacidade
4 httpforumeuropaeuintircdsiscodedinfodatacodedenTheme3htm 5 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 6 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 7 Fonte Key data on health 2000 Eurostat
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
53 OCDE
Definiccedilotildees gerais de incapacidade
No contexto da OCDE identificam-se 2 abordagens distintas no quadro da definiccedilatildeo de
incapacidade
A incapacidade pode ser definida enquanto um estado decorrente de autoavaliaccedilatildeo ou um
status baseado em fontes administrativas eg beneficiaacuterio dos apoios De forma muito
frequente e talvez de forma imprecisa estas duas definiccedilotildees satildeo explicitadas como
incapacidade ldquosubjectivardquo versus rdquoobjectivardquo
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo e instrumentos
A incapacidade autoavaliada eacute medida atraveacutes de inqueacuteritos feitos directamente aos cidadatildeos
nas suas residecircncias Apesar da avaliaccedilatildeo ser baseada de uma forma geral nas respostas agraves
questotildees relativas a problemas de sauacutede de longo termo que limitam as actividades de vida
diaacuteria o detalhe das questotildees eacute geralmente diferente dificultando a comparabilidade dos
dados Por exemplo ldquolongo termordquo eacute parametrizado em 6 meses na Noruega e em 12 meses
na Suiccedila O status dos beneficiaacuterios pode ser avaliado atraveacutes de registos administrativos ou
atraveacutes de inqueacuteritos Os resultados entre as duas fontes satildeo de uma forma geral bastante
diferentes por duas razotildees nucleares os registos administrativos geralmente contam casos e
natildeo pessoas o que em situaccedilotildees de benefiacutecios muacuteltiplos pode levar a contagens duplas por
outro lado os inqueacuteritos satildeo baseados nas respostas sobre o status do beneficiaacuterio e algumas
pessoas podem desejar natildeo revelar a sua condiccedilatildeo perante os benefiacutecios
Nenhuma destas definiccedilotildees e medidas de mensuraccedilatildeo eacute superior a outras pelo que a sua
utilizaccedilatildeo depende dos objectivos do propoacutesito da investigaccedilatildeo e da disponibilidade da
informaccedilatildeo
Abordagens para medir a incapacidade no quadro da aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos agraves populaccedilotildees
a) Incapacidade geral (natildeo especificada)
Puacuteblico-alvo todos os adultos
b) Incapacidade relativa ao trabalho
Puacuteblico-alvo pessoas em idade activa
c) Limitaccedilotildees nas actividades de vida diaacuteria (AVD)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 32
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Puacuteblico-alvo Populaccedilatildeo idosa
54 AMERICAN DISABILITIES ACT
O American Disabilities Act (ADA) desenvolvido em 1990 fornece um conjunto de guidelines
no sentido de assegurar a disponibilizaccedilatildeo de serviccedilos para as pessoas com deficiecircncias bem
como a protecccedilatildeo dos seus direitos legais
A ADA inclui uma definiccedilatildeo legal de incapacidade consistindo na presenccedila de ldquouma deficiecircncia
fiacutesica ou mental que limita significativamente uma ou mais das principais actividades de vidardquo
Independentemente da definiccedilatildeo proposta pela ADA a existecircncia de muacuteltiplos programas a
favor das pessoas com deficiecircncias e os diferentes focus legais em diferentes puacuteblicos alvo
fazem com que tenham emergido uma multiplicidade de definiccedilotildees de incapacidade ao longo
do tempo no quadro das poliacuteticas sociais americanas
55 OMS ONU Revisatildeo dos actuais inqueacuteritos sobre a incapacidade
Apesar de existir um desenvolvimento consideraacutevel dos inqueacuteritos na aacuterea da incapacidade
poder-se-atildeo explicitar algumas observaccedilotildees relativas agrave sua multiplicidade Numa primeira linha
de anaacutelise os inqueacuteritos tendem a focalizar-se nas limitaccedilotildees de actividade eou na deficiecircncia
No que concerne agrave formulaccedilatildeo escrita tendem a existir diferenccedilas significativas entre
inqueacuteritos facto que inviabiliza natildeo raras vezes a comparabilidade dos dados entre inqueacuteritos
As diferentes formulaccedilotildees das questotildees incluem
Tem dificuldade
Eacute capaz de
Faz
Tem sentido problemas em
com ou sem assistecircncia pessoal eou tecnoloacutegica
A questatildeo que se coloca eacute se estas formulaccedilotildees tecircm o mesmo significado isto eacute se todas elas
pretendem medir a capacidade ou a performance De acordo com a CIF a capacidade
remeteria para o potencial de execuccedilatildeo de um indiviacuteduo enquanto a performance diria respeito
ao niacutevel de desempenho efectivo do indiviacuteduo atraveacutes do seu envolvimento numa situaccedilatildeo de
vida real As lacunas existentes e as poucas referecircncias ao niacutevel da forma como os inquiridos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 33
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
satildeo instruiacutedos a responder faz com que natildeo seja possiacutevel desenvolver um discernimento
irrefutaacutevel sobre esta mateacuteria
Do ponto de vista dos domiacutenios abrangidos os inqueacuteritos tecircm apresentado algumas questotildees
sobre a participaccedilatildeo e o ambiente e evidenciam algumas limitaccedilotildees na sua amplitude Os
domiacutenios de actividades e participaccedilatildeo geralmente abrangidos tecircm sido operacionalizados de
uma forma geral nas seguintes dimensotildees
Educaccedilatildeo e emprego (formulado como questotildees de performance)
Outros inqueacuteritos incluem aacutereas como relaccedilotildees interpessoais vida familiar tomada de
decisotildees etc
O domiacutenio relativo aos factores ambientais tem incluiacutedo
Utilizaccedilatildeo e acessibilidadedisponibilidade dos produtos de assistecircncia e da tecnologia
Acessibilidade do ambiente
Disponibilidade dos serviccedilos (sauacutede protecccedilatildeo social educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo)
Evidecircncias muito escassas ao niacutevel da poliacutetica atitudes ambiente natural
planeamento e concepccedilatildeo
A questatildeo de investigaccedilatildeo neste contexto centra-se na seguinte formulaccedilatildeo ldquoo que eacute que os
inqueacuteritos medem como incapacidaderdquo
a) Definiccedilatildeo a priori da incapacidade versus sem incapacidade
Alguns inqueacuteritos sobre a incapacidade especialmente os mais antigos utilizam uma definiccedilatildeo
a priori de incapacidade O objectivo deste tipo de inqueacuteritos eacute contar o nuacutemero de pessoas
que se encaixam na definiccedilatildeo no contexto da populaccedilatildeo total Neste sentido os dados satildeo
analisados de acordo com dois grupos de referecircncia ndash com incapacidade e sem incapacidade ndash
em funccedilatildeo de um conjunto de diferentes variaacuteveis Este tipo de questionaacuterios formula questotildees
do tipo ldquoPossui algum tipo de incapacidade auditiva visual ou fiacutesicardquo Muitas questotildees dos
censos tecircm utilizado este formato
b) Definiccedilatildeo a posteriori de incapacidade versus sem incapacidade
Mais recentemente alguns inqueacuteritos desenvolveram-se em direcccedilatildeo a uma definiccedilatildeo a
posteriori de incapacidade Nestes casos eacute medida a capacidade a performance ao longo de
um conjunto vasto de domiacutenios Este segundo tipo de inqueacuteritos tende a ter uma ampla
aceitaccedilatildeo eg HALS (Canada) HID (Franccedila) inqueacuterito sobre incapacidade na Africa do Sul
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 34
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Inqueacuterito Espanhol sobre incapacidade NHIS-D (USA) inqueacuterito Holandecircs entre outros Estes
instrumentos formulam questotildees relativas agraves dificuldades que as pessoas experienciam em
diferentes domiacutenios produzindo um perfil pessoal que possa colocar em evidecircncia os
diferentes graus de capacidade associados A categorizaccedilatildeo de incapacidade sem
incapacidade eacute formulada ao niacutevel do domiacutenio e natildeo como uma categoria geral de atributo
pessoal Esta abordagem permite uma anaacutelise ao niacutevel de funcionamento individual por
domiacutenio por exemplo comparando a experiecircncia de incapacidade no domiacutenio de mobilidade
versus socializaccedilatildeo versus comunicaccedilatildeo entre outros bem como o impacto dos factores
ambientais nestes diferentes domiacutenios O perfil resultante do funcionamento individual ao longo
de muacuteltiplos domiacutenios eacute similar aos estados de sauacutede individuais ao longo das diferentes
dimensotildees
Vantagens de uma abordagem a posteriori
Estaacute em consonacircncia com a abordagem universal proposta pela CIF Todas as
pessoas experienciam deficiecircncia nalgum ponto e esta experiecircncia eacute caracterizada
numa abordagem a posteriori e natildeo a priori
Decisotildees sobre a criaccedilatildeo de categorias sobre quem tem incapacidade e sobre quem
natildeo tem podem ser tomadas atraveacutes de diferentes niacuteveis de anaacutelise por exemplo
atraveacutes da anaacutelise da experiecircncia das pessoas que experienciam incapacidade em 1 2
ou 3 domiacutenios de cruzar o status de emprego de pessoas com incapacidade ao longo
dos diferentes domiacutenios etc
Deixa de ser necessaacuteria uma definiccedilatildeo tipoloacutegica e categoacuterica de pessoas com
incapacidade O que necessita de ser definido neste contexto eacute o que se designa por
limitaccedilatildeo da capacidade ou problemas de performance ao longo dos diferentes
domiacutenios
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 35
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 36
Dezembro2006
6 SISTEMATIZACcedilAtildeO DAS DIMENSOtildeES DE ORGANIZACcedilAtildeO E
OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em todos os estudos efectuados neste domiacutenio foi colocada em evidecircncia a actual dificuldade
de comparabilidade estatiacutestica internacional inter ou intra sectorial independentemente do
organismo referenciador ndash OCDE ONU EUROSTAT INE OMS
Neste contexto desenvolver-se-aacute a extracccedilatildeo de conhecimento tendo por base a identificaccedilatildeo
de um conjunto de eixos de anaacutelise que actuem como vectores de estruturaccedilatildeo na
operacionalizaccedilatildeo do conceito A este propoacutesito atente-se no Quadro 2
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Abordagem Focus Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Delimitaccedilatildeo temporal do
conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo
Design das questotildees
CID-10
ICIDH
ICF
SauacutedeDoenccedila
Deficiecircncia
Incapacidade
a) Geral
b) Relativa ao trabalho
c) Limitaccedilotildees nas
actividades de vida
diaacuteria
Funcionalidade ndash
Niacuteveis de execuccedilatildeo
das actividades por
domiacutenio e niacuteveistipos
de ajudas mobilizadas
Intersubjectivo ndash
vg inqueacuteritos
Objectivo ndash vg
fontes administrativas
A priori
A posteriori
Temporaacuterias
permanentes
Progressivas
regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou
contiacutenuas
Tipo 1 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre uma determinada
condiccedilatildeo individual
combinada com itens
referentes a limitaccedilotildees de
actividade e participaccedilatildeo e
factores contextuais
Tipo 2 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre a presenccedila de uma
pessoa com incapacidade
no agregado familiar
seguindo-se uma lista de
deficiecircncias e
incapacidades
Tipo 3 ndash Checklist de
deficiecircncias
Quadro 2 ndash Eixos de operacionalizaccedilatildeo do conceito
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 37
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 38
Dezembro2006
7 ESCOLHA DO CENAacuteRIO A IMPLEMENTAR
A anaacutelise do Quadro 2 permite-nos uma definiccedilatildeo modular do cenaacuterio a implementar atraveacutes de
uma configuraccedilatildeo do conceito pelos eixos de anaacutelise propostos Uma das dificuldades
evidentes nesta delimitaccedilatildeo prende-se com o cumprimento dos requisitos de (a)
comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica e legislativa dentro do contexto portuguecircs
e (c) conformidade com os referenciais conceptuais actuais sendo que a coexistecircncia destes
criteacuterios afigura-se em muitos casos incompatiacutevel entre si Para efeitos da estruturaccedilatildeo do
cenaacuterio privilegiar-se-aacute a conformidade com os referenciais conceptuais actuais
71 ABORDAGEM No que concerne agrave abordagem privilegia-se a adopccedilatildeo das mais recentes directrizes propostas
pela OMS adoptando explicitamente a CIF
Fundamentaccedilatildeo
A CIF apresenta a capacidade para descrever o funcionamento humano numa
perspectiva biopsicossocial em detrimento da classificaccedilatildeo anterior (ICIDH) que se
focalizava na dimensatildeo biomeacutedica A CIF foi desenvolvida no plano conceptual para ser aplicaacutevel em diferentes aacutereas e
sectores A CIF eacute aplicaacutevel transversalmente agraves dimensotildees de cultura idade geacutenero sendo um
instrumento sistemaacutetico para descrever e medir a sauacutede e o funcionamento humano
num dado contexto A CIF constitui-se enquanto instrumento potencial para a poliacutetica social design das
intervenccedilotildees nos domiacutenios da sauacutede educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e intervenccedilatildeo social Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
72 FOCUS
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo da centraccedilatildeo da recolha de dados ao niacutevel
da dimensatildeo de funcionalidade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 39
Dezembro2006
Fundamentaccedilatildeo
Consonacircncia com o modelo conceptual proposto pela CIF enfatizando o caraacutecter
dinacircmico e interaccional (pessoa factores contextuais) do funcionamento de cada
pessoa Permite caracterizar as limitaccedilotildees de actividade e restriccedilotildees de participaccedilatildeo dos
cidadatildeos identificando necessidades de intervenccedilotildees especializadas numa loacutegica de
empowerment e participaccedilatildeo social Permite analisar a adequabilidade e ajustamento das actuais medidas poliacuteticas do
ponto de vista dos seus objectivos e os problemas detectados ao niacutevel da participaccedilatildeo
dos cidadatildeos ao longo de um conjunto diversificado de domiacutenios
73 MEacuteTODOS DE MENSURACcedilAtildeO
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo de meacutetodos intersubjectivos nomeadamente
inqueacuteritos
Fundamentaccedilatildeo
Flexibilidade ao niacutevel da abrangecircncia e profundidade das dimensotildees
Maior facilidade na implementaccedilatildeo atendendo agrave disponibilizaccedilatildeo de uma amostra
delimitada
Maior niacutevel de controlo sobre as condiccedilotildees de observaccedilatildeo e da entrevista devido ao
menor nuacutemero de entrevistas a ser implementado
74 DELIMITACcedilAtildeO CONCEPTUAL E TEMPORAL DO CONCEITO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo temporal e apesar de se privilegiar as vantagens anteriormente
explicitadas no desenvolvimento de uma definiccedilatildeo a posteriori assume-se a necessidade
politica de delimitar o campo de intervenccedilatildeo do conjunto de medidas sociais neste domiacutenio
pelo que a delimitaccedilatildeo conceptual poderaacute ser objecto de operacionalizaccedilatildeo atraveacutes dos
seguintes paracircmetros
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 40
Dezembro2006
Poder-se-aacute colocar a questatildeo de saber se a delimitaccedilatildeo do conceito proposta remete
especificamente para ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ou para ldquopessoas com limitaccedilotildees de
participaccedilatildeordquo Atendendo a que a definiccedilatildeo comporta uma abordagem sisteacutemica enfatizando a
interacccedilatildeo entre um conjunto diversificado de componentes que produzem impacto na
funcionalidade da pessoa a resposta natildeo eacute linear dependendo da ecircnfase socio-histoacuterica e da
abordagem sociopoliacutetica que se escolher enfatizar No entanto e do ponto de vista conceptual
privilegia-se a adopccedilatildeo do conceito ldquopessoas com limitaccedilotildees de participaccedilatildeordquo dado que existe
total autonomia operativa entre os diferentes constructos Neste sentido a deficiecircncia natildeo
constitui um factor causal linear das limitaccedilotildees de actividade e das restriccedilotildees ao niacutevel da
participaccedilatildeo mas antes uma das componentes que em interacccedilatildeo com outras podem
provocar impactos ao niacutevel da funcionalidade do indiviacuteduo Por uacuteltimo refira-se que a tipologia
ldquopessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeordquo poderaacute ser alvo de criticas por constituir
uma designaccedilatildeo que apela a duas componentes em simultacircneo (actividades e participaccedilatildeo)
excluindo outras e ser demasiado longa para uma definiccedilatildeo tipoloacutegica A este propoacutesito pode-
se sugerir a delimitaccedilatildeo ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo constituindo esta
expressatildeo uma abordagem holiacutestica ao conjunto de componentes que interferem com o
funcionamento humano Deste modo poderemos ter as seguintes designaccedilotildees
Pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Pessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo
Pessoas com limitaccedilotildees de funcionalidade
Figura 2 ndash Possiacuteveis designaccedilotildees
O Quadro 3 pretende fornecer uma visatildeo sistemaacutetica sobre o processo de decisatildeo da
designaccedilatildeo a adoptar
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
deficiecircncias
Tradiccedilatildeo analiacutetica dentro do
contexto portuguecircs
Em conformidade com o modelo
meacutedico ndash centra-se nas alteraccedilotildees
de estrutura e funccedilatildeo ndash
focalizaccedilatildeo na pessoa
Desarticulado dos pressupostos do
modelo social ndash natildeo remete para a
experiecircncia de incapacidade
enquanto produto da interacccedilatildeo
entre pessoa e ambiente
Mai
or
Abr
angecirc
ncia
Mai
or
Espe
cific
idad
e
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 41
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
incapacidades
Em conformidade com a
delimitaccedilatildeo anglo-saxoacutenica que
utiliza o conceito Disability
Focalizaccedilatildeo no poacutelo negativo do
funcionamento humano ndash
funcionalidadeincapacidade
Ao focalizar-se na experiecircncia de
incapacidade enquanto
interacccedilatildeo pessoa-ambiente
remete indirectamente para a
mobilizaccedilatildeo de apoios e recursos
de forma a ultrapassar eou
eliminar os obstaacuteculos ao
funcionamento em contexto
O potencial efeito estigmatizante
da expressatildeo ldquopessoas com
incapacidadesrdquo
Pessoas com
diversidade
Funcional
Em conformidade com o modelo
social
Focaliza-se na gestatildeo das
diferenccedilas e no seu impacto ao
niacutevel da participaccedilatildeo das pessoas
na sociedade
Elevado niacutevel de abrangecircncia natildeo
permitindo um niacutevel de
diferenciaccedilatildeo relevante na
medida em que todos os cidadatildeos
detecircm entre si diversos e
diferentes padrotildees de
funcionamento humano
Conceito dificilmente
operacionalizaacutevel do ponto de
vista da formulaccedilatildeo das poliacuteticas e
da delimitaccedilatildeo dos puacuteblicos-alvo
Pessoas com
restriccedilotildees ao
niacutevel da
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos Desta forma
todos os obstaacuteculos agrave participaccedilatildeo
relacionados com discriminaccedilatildeo
social preconceitos estereoacutetipos
deficiecircncias doenccedilas croacutenicas
entre outros satildeo incluiacutedos
Natildeo inclui as limitaccedilotildees de
actividade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 42
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
limitaccedilotildees de
actividade e
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida e simultaneamente no
domiacutenio das limitaccedilotildees de
actividade
Ruptura com a tradiccedilatildeo analiacutetica
no sector
Dificuldade de apreensatildeo e
inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Natildeo inclui as alteraccedilotildees da
estrutura e da funccedilatildeo
Pessoas com
limitaccedilotildees de
funcionalidade
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel das
diferentes dimensotildees constituintes
da funcionalidade e do
funcionamento humano
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos
Pessoas com
deficiecircncias e
incapacidades
Natildeo introduz ruptura com a
tradiccedilatildeo analiacutetica no sector
Inclui as alteraccedilotildees de estrutura e
funccedilatildeo bem como as alteraccedilotildees
decorrentes ao niacutevel da
funcionalidade
Diferencia os conceitos de
deficiecircncia e incapacidade
autonomizando-os e fornecendo
uma base compreensiva para o
natildeo estabelecimento de relaccedilotildees
de causa-efeito entre os ambos
Abrange os obstaacuteculos que
emergem na interacccedilatildeo pessoa-
contextos de vida e
simultaneamente no domiacutenio das
limitaccedilotildees de actividade
Poder diferenciador e delimitador
na definiccedilatildeo do puacuteblico-alvo
Em alinhamento estrateacutegico com o
PAIPDI
Designaccedilatildeo de compromisso com
os referenciais teoacutericos do modelo
social e dos princiacutepios da ldquoeacutetica da
diversidaderdquo
Quadro 3 ndash Visatildeo comparativa das hipoacuteteses da designaccedilatildeo a adoptar
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 43
Dezembro2006
75 DELIMITACcedilAtildeO DA DURACcedilAtildeO E CURSO DE EVOLUCcedilAtildeO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo interessa a caracterizaccedilatildeo nas
3 dimensotildees desenvolvidas
Fundamentaccedilatildeo
Afigura-se relevante caracterizar a ocorrecircncia das deficiecircncias quanto aacute sua
consistecircncia no tempo ndash temporaacuterias permanentes ndash analisando os factores
contextuais associados consequecircncias ao niacutevel das actividades e da participaccedilatildeo ao
longo de um conjunto de domiacutenios em ordem agrave extracccedilatildeo de implicaccedilotildees no acircmbito
das poliacuteticas sociais
No acircmbito da adaptabilidade e da adequaccedilatildeo das medidas poliacuteticas agraves necessidades
especiacuteficas dos cidadatildeos torna-se relevante caracterizar a deficiecircncia quanto agrave
natureza do seu curso evolutivo ndash progressivas regressivas estaacuteveis O mesmo
criteacuterio eacute aplicaacutevel quanto aacute dimensatildeo de padratildeo de manifestaccedilatildeo ndash intermitente
contiacutenua
No entanto e apesar da incapacidade se manifestar ao longo do ciclo de vida da pessoa
de forma multimodal para efeitos de delimitaccedilatildeo e de definiccedilatildeo do conceito de pessoas
com deficiecircncias e incapacidades privilegiaremos o caraacutecter permanente Desta forma
excluem-se as manifestaccedilotildees temporaacuterias de incapacidade que enviesariam a anaacutelise e o
desenvolvimento de poliacuteticas neste domiacutenio
76 DESIGN DAS QUESTOtildeES
No que concerne ao design das questotildees privilegia-se a escolha de questotildees tipo 1
Fundamentaccedilatildeo
Em consonacircncia com a CIF
Permite comparabilidade estatiacutestica futura
Permite a caracterizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre os factores de funcionalidade ndash integridade
estrutural e funcional actividades participaccedilatildeo e factores contextuais
Permite o design das poliacuteticas sociais e metodologias de intervenccedilatildeo alicerccediladas nas
necessidades especiacuteficas dos cidadatildeos em torno das dimensotildees de inclusatildeo social
Domiacutenios
Visatildeo
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 44
Dezembro2006
Audiccedilatildeo
Comunicaccedilatildeo
Mobilidade
Dor
Aprendizagem e funcionamento psicoloacutegico
Autocuidados e vida domeacutestica
Condiccedilotildees gerais de sauacutede
Mobilizaccedilatildeo de ajudas ou equipamento especializado
Participaccedilatildeo social
Transporte e educaccedilatildeo
77 PROPOSTA DE DELIMITACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em funccedilatildeo das dimensotildees caracterizadas e dos criteacuterios privilegiados desenvolveu-se o
seguinte enquadramento conceptual
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 45
Dezembro2006
Figura 2 ndash Enquadramento conceptual da delimitaccedilatildeo do conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso da evoluccedilatildeo
Temporaacuterias permanentes
Progressivas regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou contiacutenuas
Focus
Funcionalidade ndash Niacuteveis de execuccedilatildeo das actividades por domiacutenio e niacuteveistipos de ajudas mobilizadas
Abordagem CIF
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo temporal do conceito
A priori
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Inter-subjectivo
Design das questotildees
Questatildeo geneacuterica sobre uma determinada condiccedilatildeo individual combinada com itens referentes a limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo e factores contextuais
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
8 CRITEacuteRIOS DE ELEGIBILIDADE DO PUacuteBLICO-ALVO E SISTEMAS DE
AVALIACcedilAtildeO
A operacionalizaccedilatildeo do conceito de incapacidade tem sido abordada de forma heterogeacutenea
entre diferentes modalidades de politica e os diferentes contextos socioculturais de cada paiacutes
De uma forma geral encontram-se 2 eixos criacuteticos na sua operacionalizaccedilatildeo
a) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de trabalho (na ocupaccedilatildeo preacutevia ou numa nova
ocupaccedilatildeo ajustada agraves alteraccedilotildees funcionais)
b) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de obter rendimentos provenientes do trabalho
A explicitaccedilatildeo dos criteacuterios de delimitaccedilatildeo do conceito de incapacidade nos diferentes paiacuteses
encontra-se na Quadro 4
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Austraacutelia 2 Criteacuterios possuir uma incapacidade que resulte
num score nunca inferior a 20 nas tabelas de
incapacidades e incapacidade em trabalhar 30
horas ou mais por semana ou em ser
reconvertido para trabalho em contexto regular
nos proacuteximos 2 anos
Nenhum
Aacuteustria 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho (50
de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo para
trabalhadores sem qualificaccedilotildees) papel criacutetico
das decisotildees dos tribunais devido a definiccedilotildees
legais imprecisas
Nenhum mas as
restriccedilotildees de sauacutede
devem ter uma duraccedilatildeo
igual ou superior a 6
meses
Beacutelgica 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na actual ocupaccedilatildeo
1 ano
Canada Incapacidade severa e prolongada que impeccedila de
desenvolver trabalho numa base regular
Nenhum
Dinamarca 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum mas a
reabilitaccedilatildeo precisa de
estar completa
Franccedila 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual mas a
totalidade do subsidio requer igualmente perda de
capacidade de trabalho
Nenhum no caso das
condiccedilotildees estarem
estaacuteveis mas muito
frequentemente apoacutes 3
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 47
Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
anos
Alemanha 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho a
incapacidade parcial eacute calculada em funccedilatildeo do nordm
de horas que a pessoa pode trabalhar
Nenhum mas a
incapacidade deve ter
uma duraccedilatildeo miacutenima
de 26 semanas
Itaacutelia 666reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum
Coreia Criteacuterios meacutedicos (niacuteveis de incapacidade
definidos de forma detalhada)
Periacuteodo de espera de
50 dias (os subsiacutedios
de doenccedila natildeo se
encontram disponiacuteveis)
Meacutexico 50 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo Nenhum
Holanda 15 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
(25 para os trabalhadores por conta proacutepria e
jovens com incapacidade) grau de incapacidade
calculado pela diferenccedila de remuneraccedilatildeo entre o
actual posto de trabalho compatiacutevel com as
limitaccedilotildees funcionais e o anterior
1 ano
Noruega 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho O
grau de subsiacutedio eacute calculado pela capacidade de
remuneraccedilatildeo
Nenhum (apoacutes ter
completado a
reabilitaccedilatildeo vocacional)
Poloacutenia Reduccedilatildeo temporaacuteria ou permanente da
capacidade de trabalho
Nenhum
Portugal 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual
Nenhum mas na
praacutetica ao fim de 3
anos (fim do periacuteodo de
doenccedila de longo termo)
Espanha 33 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho na
ocupaccedilatildeo actual incapacidade para todo e
qualquer trabalho para a totalidade do subsiacutedio
1 ano (embora seja
possiacutevel a candidatura
antes deste prazo em
casos de incapacidade
permanente)
Sueacutecia 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho grau
de incapacidade parcial calculado a partir das
horas que uma pessoa pode trabalhar
Nenhum
Suiccedila 40 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho para
as pessoas inactivas o grau de incapacidade eacute
calculado em relaccedilatildeo aacute actividade actual
1 ano
Turquia 666 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho
com um focus meacutedico bastante significativo
Nenhum
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 48
Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Reino Unido Limitaccedilotildees nas actividades de vida quotidianas
relevantes para o trabalho (avaliaccedilotildees meacutedicas
predominantes) teste ocupacional durante a s
primeiras 28 semanas (subsidio de doenccedila)
28 semanas
Estados
Unidos
Reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
incapacidade em investir numa actividade
profissional com rendimentos ($ US 740 por mecircs)
5 meses (nem sempre
cobertos pelos
subsiacutedios de curto-
termo) e 24 meses
para a cobertura
meacutedica
Quadro 4 ndash Definiccedilotildees de incapacidade e tempos regulamentares
Um dos desafios que se coloca aos actuais sistemas reside na delimitaccedilatildeo da elegibilidade do
puacuteblico-alvo Para cumprir este objectivo satildeo necessaacuterios sistemas de avaliaccedilatildeo holiacutesticos
abrangentes coerentes e que permitam chegar a resultados de forma consistente e com
validade interna No actual contexto a CIF propotildee constituir-se como o instrumento conceptual
abrangente para caracterizar os diferentes domiacutenios e niacuteveis de funcionalidade incapacidade
de forma coerente e integrada Neste sentido uma das vantagens apontadas para a adopccedilatildeo
do modelo desenvolvido pela OMS eacute a possibilidade de uniformizaccedilatildeo de conceitos e portanto
da utilizaccedilatildeo de uma linguagem padratildeo que permita a comunicaccedilatildeo entre investigadores
gestores profissionais de sauacutede organizaccedilotildees da sociedade civil e utilizadores em geral
Um dos campos de estudo mais explorados para a aplicaccedilatildeo da CIF tem sido a aacuterea de
Medicina Fiacutesica e de Reabilitaccedilatildeo no que concerne ao acompanhamento do estado de sauacutede
dos pacientes em tratamento O uso da CIF tem sido considerado tambeacutem na avaliaccedilatildeo apoacutes
transtornos agudos condiccedilotildees traumaacuteticas condiccedilotildees croacutenicas e na geriatria
Alguns autores argumentam que a CIF deve ser explorada como uma base de informaccedilotildees
padronizadas em estudos sobre incapacidade profissional quando haacute necessidade de
relacionar dados de sauacutede ocupacional com os da Seguranccedila Social
Na Sauacutede Puacuteblica tradicionalmente pouca atenccedilatildeo tem sido dada agraves pessoas com
incapacidades No entanto ao lado de recentes investimentos por parte de organizaccedilotildees e de
alguns governos a publicaccedilatildeo do modelo da CIF fornece as bases para as poliacuteticas e
disciplinas da Sauacutede Puacuteblica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo que apresenta deficiecircncias e
incapacidades Assim uma das possibilidades de uso da CIF pode ser a contribuiccedilatildeo para
responder a importantes questotildees de sauacutede puacuteblica tais como qual o estado de sauacutede das
pessoas com deficiecircncias comparadas com as demais que necessidades e que tipos de
intervenccedilotildees satildeo mais adequadas para reduzir condiccedilotildees secundaacuterias e promover a
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na sociedade entre outras
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 49
Dezembro2006
Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 50
Dezembro2006
Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 51
Dezembro2006
Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
Dezembro2006
Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 53
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
A persistecircncia em traduzir o termo disability para deficiecircncia e natildeo apenas o seu homoacutelogo
anglo-saxoacutenico ndash impairment ndash poderaacute explicar-se pelas seguintes razotildees
a) O potencial efeito estigmatizante da expressatildeo ldquopessoas com incapacidadesrdquo ser maior
do que aquele contido na expressatildeo ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo
b) O termo incapacidade centrar-se exclusivamente nos aspectos negativos do
funcionamento individual classificando a pessoa agrave partida como sendo destituiacuteda de
competecircncias e condiccedilotildees para atingir os niacuteveis normativos de desempenho e
performance num conjunto de domiacutenios da vida pessoal e social
O paradoxo surge igualmente porque enquanto no modelo meacutedico a incapacidade aparece
em termos causais relacionada com a deficiecircncia numa perspectiva exclusivamente individual
no modelo proposto pela OMS operacionalizado na CIF os dois conceitos gozam de total
independecircncia conceptual e operativa sendo que a deficiecircncia passa a ter uma baixa
relevacircncia diferenciadora do ponto de vista do funcionamento humano Ora se atendermos a
que as medidas de reabilitaccedilatildeo pretendem promover os potenciais do funcionamento humano
numa perspectiva de participaccedilatildeo plena do indiviacuteduo nos mais diferenciados contextos de vida
assegurando o co-desenvolvimento de todos os actores e das estruturas sociais necessaacuterias agrave
cidadania plena entatildeo falar de ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo natildeo soacute natildeo eacute relevante no quadro
da loacutegica de intervenccedilatildeo como poderaacute traduzir dificuldades dos actores em mudar
efectivamente do paradigma meacutedico para o paradigma social
Este fenoacutemeno aliaacutes natildeo acontece apenas em Portugal sendo que recentes estudos de
investigaccedilatildeo vieram sugerir a adopccedilatildeo dos conceitos de ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo e
ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo para ultrapassar a aplicaccedilatildeo indevida dos
conceitos de deficiecircncia e incapacidade A utilizaccedilatildeo destes conceitos parece articular de forma
mais precisa com o novo modelo conceptual proposto pela OMS enfatizando a diversidade de
niacuteveis de funcionamento humano e apelando a uma certa noccedilatildeo de relatividade socialmente
construiacuteda Uma das criticas feita pela comunidade de investigadores ao conceito de ldquopessoas
com diversidade funcionalrdquo reside no facto de que a expressatildeo eacute dotada de um tatildeo elevado
niacutevel de abrangecircncia que natildeo permite um niacutevel de diferenciaccedilatildeo relevante na medida em que
todos os cidadatildeos detecircm entre si diversos e diferentes padrotildees de funcionamento humano
Neste sentido o conceito ldquopessoas com diversidade funcionalrdquo aplicar-se-ia a todos os
cidadatildeos sem excepccedilatildeo A proliferaccedilatildeo destes termos eacute explicada pela necessidade da
comunidade politica e cientifica de construir constructos que sejam socialmente aceites e o
mais neutros possiacuteveis do ponto de vista dos seus valores impliacutecitos No entanto a
impossibilidade epistemoloacutegica de desenvolver expressotildees e conceitos socio-historicamente
neutros parece levar muitas vezes agrave concepccedilatildeo de definiccedilotildees com reduzida identidade isto eacute
de significado demasiado amplo e abrangente o que na expressatildeo da UPIAS ldquopodem significar
tudo e coisiacutessima nenhumardquo (2005)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 28
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Os conceitos ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo ldquopessoas com limitaccedilotildees de
actividaderdquo e ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo afiguram-se comparativamente ao
anterior como um conceito de maior coerecircncia conceptual com o modelo proposto pela OMS e
deteacutem cumulativamente um maior poder diferenciador A sua desvantagem reside no facto de
constituiacuterem expressotildees com maior dificuldade de apreensatildeo e inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 29
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 30
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5 ANAacuteLISE DOS REFERENCIAIS NACIONAIS E INTERNACIONAIS
No sentido de obter um conjunto de vectores de referecircncia na estruturaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo do
conceito de deficiecircncia foram analisadas as abordagens desenvolvidas pelos seguintes
organismos INE Eurostat OCDE American Disabilities Act WHO UN
51 INE
Os dados disponiacuteveis no INE parecem indicar a utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na
ICIDH
Deficiecircncia1 Perda ou alteraccedilatildeo de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou
anatoacutemica Nesta definiccedilatildeo estatildeo incluiacutedas as seguintes tipologias2
Deficiecircncia AUDITIVA
Deficiecircncia MENTAL
Deficiecircncia MOTORA
Deficiecircncia ORGAcircNICO-FUNCIONAL
Deficiecircncia PSIQUIAacuteTRICA
Deficiecircncia VISUAL
Incapacidade3 Ausecircncia ou limitaccedilatildeo da capacidade para funcionar estando comprometida a
realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida
diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e originando uma desvantagem para funcionar em
sociedade face a outros
Pessoa deficiente Aquela que tenha uma ou mais das seguintes deficiecircncias a) deficiecircncia
visual b) deficiecircncia auditiva c) deficiecircncia mental d) deficiecircncia motora
1 Nota Na operaccedilatildeo censitaacuteria de 2001 apenas foi observada a deficiecircncia permanente a deficiecircncia temporaacuteria natildeo foi considerada (por exemplo se um indiviacuteduo se desloca com canadianas ou em cadeira de rodas porque partiu uma perna ou se sofre de descolamento parcial da retina que o obriga a andar com uma venda natildeo foi considerado como tendo uma deficiecircncia) 2 Fonte INE ndash Censos 2001 ndash Recenseamento Geral da Populaccedilatildeo (Antecedentes Metodologia e Conceitos) Antecedentes Metodologia e Conceitos 3 Fonte INS ndash Inqueacuterito Nacional agrave Sauacutede
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 31
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Trabalhador deficiente Trabalhador que estaacute incapacitado para assegurar por si mesmo total
ou parcialmente a satisfaccedilatildeo de necessidades de uma vida individual ou social normal devido
a uma deficiecircncia congeacutenita ou adquirida das suas capacidades fiacutesicas sensoriais ou
mentais tendo por isso dificuldade em obter eou manter o desempenho de funccedilotildees de acordo
com as suas habilitaccedilotildees idade e experiecircncia profissional
Cidadatildeo Trabalhador com necessidades especiais Cidadatildeo idoso ou portador de
deficiecircncias sensoriais (visuais e auditivas) fiacutesicas (motoras) e cognitivas
52 EUROSTAT
Os dados disponibilizados pelo Eurostat no seu endereccedilo electroacutenico4 parecem indicar a
utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na ICIDH
Conceito Deficiecircncia5
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de deficiecircncia refere-se a uma perda ou alteraccedilatildeo
de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou anatoacutemica
Conceito Incapacidade6
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de incapacidade refere-se agrave ausecircncia ou limitaccedilatildeo
da capacidade para funcionar estando comprometida a realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas
funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e
originando uma desvantagem para funcionar em sociedade face a outros
Conceito Desvantagem7
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito refere-se agrave desvantagem para um dado individuo
decorrente de uma deficiecircncia ou incapacidade
4 httpforumeuropaeuintircdsiscodedinfodatacodedenTheme3htm 5 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 6 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 7 Fonte Key data on health 2000 Eurostat
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
53 OCDE
Definiccedilotildees gerais de incapacidade
No contexto da OCDE identificam-se 2 abordagens distintas no quadro da definiccedilatildeo de
incapacidade
A incapacidade pode ser definida enquanto um estado decorrente de autoavaliaccedilatildeo ou um
status baseado em fontes administrativas eg beneficiaacuterio dos apoios De forma muito
frequente e talvez de forma imprecisa estas duas definiccedilotildees satildeo explicitadas como
incapacidade ldquosubjectivardquo versus rdquoobjectivardquo
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo e instrumentos
A incapacidade autoavaliada eacute medida atraveacutes de inqueacuteritos feitos directamente aos cidadatildeos
nas suas residecircncias Apesar da avaliaccedilatildeo ser baseada de uma forma geral nas respostas agraves
questotildees relativas a problemas de sauacutede de longo termo que limitam as actividades de vida
diaacuteria o detalhe das questotildees eacute geralmente diferente dificultando a comparabilidade dos
dados Por exemplo ldquolongo termordquo eacute parametrizado em 6 meses na Noruega e em 12 meses
na Suiccedila O status dos beneficiaacuterios pode ser avaliado atraveacutes de registos administrativos ou
atraveacutes de inqueacuteritos Os resultados entre as duas fontes satildeo de uma forma geral bastante
diferentes por duas razotildees nucleares os registos administrativos geralmente contam casos e
natildeo pessoas o que em situaccedilotildees de benefiacutecios muacuteltiplos pode levar a contagens duplas por
outro lado os inqueacuteritos satildeo baseados nas respostas sobre o status do beneficiaacuterio e algumas
pessoas podem desejar natildeo revelar a sua condiccedilatildeo perante os benefiacutecios
Nenhuma destas definiccedilotildees e medidas de mensuraccedilatildeo eacute superior a outras pelo que a sua
utilizaccedilatildeo depende dos objectivos do propoacutesito da investigaccedilatildeo e da disponibilidade da
informaccedilatildeo
Abordagens para medir a incapacidade no quadro da aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos agraves populaccedilotildees
a) Incapacidade geral (natildeo especificada)
Puacuteblico-alvo todos os adultos
b) Incapacidade relativa ao trabalho
Puacuteblico-alvo pessoas em idade activa
c) Limitaccedilotildees nas actividades de vida diaacuteria (AVD)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 32
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Puacuteblico-alvo Populaccedilatildeo idosa
54 AMERICAN DISABILITIES ACT
O American Disabilities Act (ADA) desenvolvido em 1990 fornece um conjunto de guidelines
no sentido de assegurar a disponibilizaccedilatildeo de serviccedilos para as pessoas com deficiecircncias bem
como a protecccedilatildeo dos seus direitos legais
A ADA inclui uma definiccedilatildeo legal de incapacidade consistindo na presenccedila de ldquouma deficiecircncia
fiacutesica ou mental que limita significativamente uma ou mais das principais actividades de vidardquo
Independentemente da definiccedilatildeo proposta pela ADA a existecircncia de muacuteltiplos programas a
favor das pessoas com deficiecircncias e os diferentes focus legais em diferentes puacuteblicos alvo
fazem com que tenham emergido uma multiplicidade de definiccedilotildees de incapacidade ao longo
do tempo no quadro das poliacuteticas sociais americanas
55 OMS ONU Revisatildeo dos actuais inqueacuteritos sobre a incapacidade
Apesar de existir um desenvolvimento consideraacutevel dos inqueacuteritos na aacuterea da incapacidade
poder-se-atildeo explicitar algumas observaccedilotildees relativas agrave sua multiplicidade Numa primeira linha
de anaacutelise os inqueacuteritos tendem a focalizar-se nas limitaccedilotildees de actividade eou na deficiecircncia
No que concerne agrave formulaccedilatildeo escrita tendem a existir diferenccedilas significativas entre
inqueacuteritos facto que inviabiliza natildeo raras vezes a comparabilidade dos dados entre inqueacuteritos
As diferentes formulaccedilotildees das questotildees incluem
Tem dificuldade
Eacute capaz de
Faz
Tem sentido problemas em
com ou sem assistecircncia pessoal eou tecnoloacutegica
A questatildeo que se coloca eacute se estas formulaccedilotildees tecircm o mesmo significado isto eacute se todas elas
pretendem medir a capacidade ou a performance De acordo com a CIF a capacidade
remeteria para o potencial de execuccedilatildeo de um indiviacuteduo enquanto a performance diria respeito
ao niacutevel de desempenho efectivo do indiviacuteduo atraveacutes do seu envolvimento numa situaccedilatildeo de
vida real As lacunas existentes e as poucas referecircncias ao niacutevel da forma como os inquiridos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 33
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
satildeo instruiacutedos a responder faz com que natildeo seja possiacutevel desenvolver um discernimento
irrefutaacutevel sobre esta mateacuteria
Do ponto de vista dos domiacutenios abrangidos os inqueacuteritos tecircm apresentado algumas questotildees
sobre a participaccedilatildeo e o ambiente e evidenciam algumas limitaccedilotildees na sua amplitude Os
domiacutenios de actividades e participaccedilatildeo geralmente abrangidos tecircm sido operacionalizados de
uma forma geral nas seguintes dimensotildees
Educaccedilatildeo e emprego (formulado como questotildees de performance)
Outros inqueacuteritos incluem aacutereas como relaccedilotildees interpessoais vida familiar tomada de
decisotildees etc
O domiacutenio relativo aos factores ambientais tem incluiacutedo
Utilizaccedilatildeo e acessibilidadedisponibilidade dos produtos de assistecircncia e da tecnologia
Acessibilidade do ambiente
Disponibilidade dos serviccedilos (sauacutede protecccedilatildeo social educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo)
Evidecircncias muito escassas ao niacutevel da poliacutetica atitudes ambiente natural
planeamento e concepccedilatildeo
A questatildeo de investigaccedilatildeo neste contexto centra-se na seguinte formulaccedilatildeo ldquoo que eacute que os
inqueacuteritos medem como incapacidaderdquo
a) Definiccedilatildeo a priori da incapacidade versus sem incapacidade
Alguns inqueacuteritos sobre a incapacidade especialmente os mais antigos utilizam uma definiccedilatildeo
a priori de incapacidade O objectivo deste tipo de inqueacuteritos eacute contar o nuacutemero de pessoas
que se encaixam na definiccedilatildeo no contexto da populaccedilatildeo total Neste sentido os dados satildeo
analisados de acordo com dois grupos de referecircncia ndash com incapacidade e sem incapacidade ndash
em funccedilatildeo de um conjunto de diferentes variaacuteveis Este tipo de questionaacuterios formula questotildees
do tipo ldquoPossui algum tipo de incapacidade auditiva visual ou fiacutesicardquo Muitas questotildees dos
censos tecircm utilizado este formato
b) Definiccedilatildeo a posteriori de incapacidade versus sem incapacidade
Mais recentemente alguns inqueacuteritos desenvolveram-se em direcccedilatildeo a uma definiccedilatildeo a
posteriori de incapacidade Nestes casos eacute medida a capacidade a performance ao longo de
um conjunto vasto de domiacutenios Este segundo tipo de inqueacuteritos tende a ter uma ampla
aceitaccedilatildeo eg HALS (Canada) HID (Franccedila) inqueacuterito sobre incapacidade na Africa do Sul
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 34
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Inqueacuterito Espanhol sobre incapacidade NHIS-D (USA) inqueacuterito Holandecircs entre outros Estes
instrumentos formulam questotildees relativas agraves dificuldades que as pessoas experienciam em
diferentes domiacutenios produzindo um perfil pessoal que possa colocar em evidecircncia os
diferentes graus de capacidade associados A categorizaccedilatildeo de incapacidade sem
incapacidade eacute formulada ao niacutevel do domiacutenio e natildeo como uma categoria geral de atributo
pessoal Esta abordagem permite uma anaacutelise ao niacutevel de funcionamento individual por
domiacutenio por exemplo comparando a experiecircncia de incapacidade no domiacutenio de mobilidade
versus socializaccedilatildeo versus comunicaccedilatildeo entre outros bem como o impacto dos factores
ambientais nestes diferentes domiacutenios O perfil resultante do funcionamento individual ao longo
de muacuteltiplos domiacutenios eacute similar aos estados de sauacutede individuais ao longo das diferentes
dimensotildees
Vantagens de uma abordagem a posteriori
Estaacute em consonacircncia com a abordagem universal proposta pela CIF Todas as
pessoas experienciam deficiecircncia nalgum ponto e esta experiecircncia eacute caracterizada
numa abordagem a posteriori e natildeo a priori
Decisotildees sobre a criaccedilatildeo de categorias sobre quem tem incapacidade e sobre quem
natildeo tem podem ser tomadas atraveacutes de diferentes niacuteveis de anaacutelise por exemplo
atraveacutes da anaacutelise da experiecircncia das pessoas que experienciam incapacidade em 1 2
ou 3 domiacutenios de cruzar o status de emprego de pessoas com incapacidade ao longo
dos diferentes domiacutenios etc
Deixa de ser necessaacuteria uma definiccedilatildeo tipoloacutegica e categoacuterica de pessoas com
incapacidade O que necessita de ser definido neste contexto eacute o que se designa por
limitaccedilatildeo da capacidade ou problemas de performance ao longo dos diferentes
domiacutenios
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 35
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
6 SISTEMATIZACcedilAtildeO DAS DIMENSOtildeES DE ORGANIZACcedilAtildeO E
OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em todos os estudos efectuados neste domiacutenio foi colocada em evidecircncia a actual dificuldade
de comparabilidade estatiacutestica internacional inter ou intra sectorial independentemente do
organismo referenciador ndash OCDE ONU EUROSTAT INE OMS
Neste contexto desenvolver-se-aacute a extracccedilatildeo de conhecimento tendo por base a identificaccedilatildeo
de um conjunto de eixos de anaacutelise que actuem como vectores de estruturaccedilatildeo na
operacionalizaccedilatildeo do conceito A este propoacutesito atente-se no Quadro 2
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Abordagem Focus Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Delimitaccedilatildeo temporal do
conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo
Design das questotildees
CID-10
ICIDH
ICF
SauacutedeDoenccedila
Deficiecircncia
Incapacidade
a) Geral
b) Relativa ao trabalho
c) Limitaccedilotildees nas
actividades de vida
diaacuteria
Funcionalidade ndash
Niacuteveis de execuccedilatildeo
das actividades por
domiacutenio e niacuteveistipos
de ajudas mobilizadas
Intersubjectivo ndash
vg inqueacuteritos
Objectivo ndash vg
fontes administrativas
A priori
A posteriori
Temporaacuterias
permanentes
Progressivas
regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou
contiacutenuas
Tipo 1 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre uma determinada
condiccedilatildeo individual
combinada com itens
referentes a limitaccedilotildees de
actividade e participaccedilatildeo e
factores contextuais
Tipo 2 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre a presenccedila de uma
pessoa com incapacidade
no agregado familiar
seguindo-se uma lista de
deficiecircncias e
incapacidades
Tipo 3 ndash Checklist de
deficiecircncias
Quadro 2 ndash Eixos de operacionalizaccedilatildeo do conceito
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Dezembro2006
7 ESCOLHA DO CENAacuteRIO A IMPLEMENTAR
A anaacutelise do Quadro 2 permite-nos uma definiccedilatildeo modular do cenaacuterio a implementar atraveacutes de
uma configuraccedilatildeo do conceito pelos eixos de anaacutelise propostos Uma das dificuldades
evidentes nesta delimitaccedilatildeo prende-se com o cumprimento dos requisitos de (a)
comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica e legislativa dentro do contexto portuguecircs
e (c) conformidade com os referenciais conceptuais actuais sendo que a coexistecircncia destes
criteacuterios afigura-se em muitos casos incompatiacutevel entre si Para efeitos da estruturaccedilatildeo do
cenaacuterio privilegiar-se-aacute a conformidade com os referenciais conceptuais actuais
71 ABORDAGEM No que concerne agrave abordagem privilegia-se a adopccedilatildeo das mais recentes directrizes propostas
pela OMS adoptando explicitamente a CIF
Fundamentaccedilatildeo
A CIF apresenta a capacidade para descrever o funcionamento humano numa
perspectiva biopsicossocial em detrimento da classificaccedilatildeo anterior (ICIDH) que se
focalizava na dimensatildeo biomeacutedica A CIF foi desenvolvida no plano conceptual para ser aplicaacutevel em diferentes aacutereas e
sectores A CIF eacute aplicaacutevel transversalmente agraves dimensotildees de cultura idade geacutenero sendo um
instrumento sistemaacutetico para descrever e medir a sauacutede e o funcionamento humano
num dado contexto A CIF constitui-se enquanto instrumento potencial para a poliacutetica social design das
intervenccedilotildees nos domiacutenios da sauacutede educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e intervenccedilatildeo social Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
72 FOCUS
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo da centraccedilatildeo da recolha de dados ao niacutevel
da dimensatildeo de funcionalidade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
Fundamentaccedilatildeo
Consonacircncia com o modelo conceptual proposto pela CIF enfatizando o caraacutecter
dinacircmico e interaccional (pessoa factores contextuais) do funcionamento de cada
pessoa Permite caracterizar as limitaccedilotildees de actividade e restriccedilotildees de participaccedilatildeo dos
cidadatildeos identificando necessidades de intervenccedilotildees especializadas numa loacutegica de
empowerment e participaccedilatildeo social Permite analisar a adequabilidade e ajustamento das actuais medidas poliacuteticas do
ponto de vista dos seus objectivos e os problemas detectados ao niacutevel da participaccedilatildeo
dos cidadatildeos ao longo de um conjunto diversificado de domiacutenios
73 MEacuteTODOS DE MENSURACcedilAtildeO
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo de meacutetodos intersubjectivos nomeadamente
inqueacuteritos
Fundamentaccedilatildeo
Flexibilidade ao niacutevel da abrangecircncia e profundidade das dimensotildees
Maior facilidade na implementaccedilatildeo atendendo agrave disponibilizaccedilatildeo de uma amostra
delimitada
Maior niacutevel de controlo sobre as condiccedilotildees de observaccedilatildeo e da entrevista devido ao
menor nuacutemero de entrevistas a ser implementado
74 DELIMITACcedilAtildeO CONCEPTUAL E TEMPORAL DO CONCEITO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo temporal e apesar de se privilegiar as vantagens anteriormente
explicitadas no desenvolvimento de uma definiccedilatildeo a posteriori assume-se a necessidade
politica de delimitar o campo de intervenccedilatildeo do conjunto de medidas sociais neste domiacutenio
pelo que a delimitaccedilatildeo conceptual poderaacute ser objecto de operacionalizaccedilatildeo atraveacutes dos
seguintes paracircmetros
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 40
Dezembro2006
Poder-se-aacute colocar a questatildeo de saber se a delimitaccedilatildeo do conceito proposta remete
especificamente para ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ou para ldquopessoas com limitaccedilotildees de
participaccedilatildeordquo Atendendo a que a definiccedilatildeo comporta uma abordagem sisteacutemica enfatizando a
interacccedilatildeo entre um conjunto diversificado de componentes que produzem impacto na
funcionalidade da pessoa a resposta natildeo eacute linear dependendo da ecircnfase socio-histoacuterica e da
abordagem sociopoliacutetica que se escolher enfatizar No entanto e do ponto de vista conceptual
privilegia-se a adopccedilatildeo do conceito ldquopessoas com limitaccedilotildees de participaccedilatildeordquo dado que existe
total autonomia operativa entre os diferentes constructos Neste sentido a deficiecircncia natildeo
constitui um factor causal linear das limitaccedilotildees de actividade e das restriccedilotildees ao niacutevel da
participaccedilatildeo mas antes uma das componentes que em interacccedilatildeo com outras podem
provocar impactos ao niacutevel da funcionalidade do indiviacuteduo Por uacuteltimo refira-se que a tipologia
ldquopessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeordquo poderaacute ser alvo de criticas por constituir
uma designaccedilatildeo que apela a duas componentes em simultacircneo (actividades e participaccedilatildeo)
excluindo outras e ser demasiado longa para uma definiccedilatildeo tipoloacutegica A este propoacutesito pode-
se sugerir a delimitaccedilatildeo ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo constituindo esta
expressatildeo uma abordagem holiacutestica ao conjunto de componentes que interferem com o
funcionamento humano Deste modo poderemos ter as seguintes designaccedilotildees
Pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Pessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo
Pessoas com limitaccedilotildees de funcionalidade
Figura 2 ndash Possiacuteveis designaccedilotildees
O Quadro 3 pretende fornecer uma visatildeo sistemaacutetica sobre o processo de decisatildeo da
designaccedilatildeo a adoptar
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
deficiecircncias
Tradiccedilatildeo analiacutetica dentro do
contexto portuguecircs
Em conformidade com o modelo
meacutedico ndash centra-se nas alteraccedilotildees
de estrutura e funccedilatildeo ndash
focalizaccedilatildeo na pessoa
Desarticulado dos pressupostos do
modelo social ndash natildeo remete para a
experiecircncia de incapacidade
enquanto produto da interacccedilatildeo
entre pessoa e ambiente
Mai
or
Abr
angecirc
ncia
Mai
or
Espe
cific
idad
e
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 41
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
incapacidades
Em conformidade com a
delimitaccedilatildeo anglo-saxoacutenica que
utiliza o conceito Disability
Focalizaccedilatildeo no poacutelo negativo do
funcionamento humano ndash
funcionalidadeincapacidade
Ao focalizar-se na experiecircncia de
incapacidade enquanto
interacccedilatildeo pessoa-ambiente
remete indirectamente para a
mobilizaccedilatildeo de apoios e recursos
de forma a ultrapassar eou
eliminar os obstaacuteculos ao
funcionamento em contexto
O potencial efeito estigmatizante
da expressatildeo ldquopessoas com
incapacidadesrdquo
Pessoas com
diversidade
Funcional
Em conformidade com o modelo
social
Focaliza-se na gestatildeo das
diferenccedilas e no seu impacto ao
niacutevel da participaccedilatildeo das pessoas
na sociedade
Elevado niacutevel de abrangecircncia natildeo
permitindo um niacutevel de
diferenciaccedilatildeo relevante na
medida em que todos os cidadatildeos
detecircm entre si diversos e
diferentes padrotildees de
funcionamento humano
Conceito dificilmente
operacionalizaacutevel do ponto de
vista da formulaccedilatildeo das poliacuteticas e
da delimitaccedilatildeo dos puacuteblicos-alvo
Pessoas com
restriccedilotildees ao
niacutevel da
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos Desta forma
todos os obstaacuteculos agrave participaccedilatildeo
relacionados com discriminaccedilatildeo
social preconceitos estereoacutetipos
deficiecircncias doenccedilas croacutenicas
entre outros satildeo incluiacutedos
Natildeo inclui as limitaccedilotildees de
actividade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 42
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
limitaccedilotildees de
actividade e
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida e simultaneamente no
domiacutenio das limitaccedilotildees de
actividade
Ruptura com a tradiccedilatildeo analiacutetica
no sector
Dificuldade de apreensatildeo e
inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Natildeo inclui as alteraccedilotildees da
estrutura e da funccedilatildeo
Pessoas com
limitaccedilotildees de
funcionalidade
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel das
diferentes dimensotildees constituintes
da funcionalidade e do
funcionamento humano
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos
Pessoas com
deficiecircncias e
incapacidades
Natildeo introduz ruptura com a
tradiccedilatildeo analiacutetica no sector
Inclui as alteraccedilotildees de estrutura e
funccedilatildeo bem como as alteraccedilotildees
decorrentes ao niacutevel da
funcionalidade
Diferencia os conceitos de
deficiecircncia e incapacidade
autonomizando-os e fornecendo
uma base compreensiva para o
natildeo estabelecimento de relaccedilotildees
de causa-efeito entre os ambos
Abrange os obstaacuteculos que
emergem na interacccedilatildeo pessoa-
contextos de vida e
simultaneamente no domiacutenio das
limitaccedilotildees de actividade
Poder diferenciador e delimitador
na definiccedilatildeo do puacuteblico-alvo
Em alinhamento estrateacutegico com o
PAIPDI
Designaccedilatildeo de compromisso com
os referenciais teoacutericos do modelo
social e dos princiacutepios da ldquoeacutetica da
diversidaderdquo
Quadro 3 ndash Visatildeo comparativa das hipoacuteteses da designaccedilatildeo a adoptar
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 43
Dezembro2006
75 DELIMITACcedilAtildeO DA DURACcedilAtildeO E CURSO DE EVOLUCcedilAtildeO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo interessa a caracterizaccedilatildeo nas
3 dimensotildees desenvolvidas
Fundamentaccedilatildeo
Afigura-se relevante caracterizar a ocorrecircncia das deficiecircncias quanto aacute sua
consistecircncia no tempo ndash temporaacuterias permanentes ndash analisando os factores
contextuais associados consequecircncias ao niacutevel das actividades e da participaccedilatildeo ao
longo de um conjunto de domiacutenios em ordem agrave extracccedilatildeo de implicaccedilotildees no acircmbito
das poliacuteticas sociais
No acircmbito da adaptabilidade e da adequaccedilatildeo das medidas poliacuteticas agraves necessidades
especiacuteficas dos cidadatildeos torna-se relevante caracterizar a deficiecircncia quanto agrave
natureza do seu curso evolutivo ndash progressivas regressivas estaacuteveis O mesmo
criteacuterio eacute aplicaacutevel quanto aacute dimensatildeo de padratildeo de manifestaccedilatildeo ndash intermitente
contiacutenua
No entanto e apesar da incapacidade se manifestar ao longo do ciclo de vida da pessoa
de forma multimodal para efeitos de delimitaccedilatildeo e de definiccedilatildeo do conceito de pessoas
com deficiecircncias e incapacidades privilegiaremos o caraacutecter permanente Desta forma
excluem-se as manifestaccedilotildees temporaacuterias de incapacidade que enviesariam a anaacutelise e o
desenvolvimento de poliacuteticas neste domiacutenio
76 DESIGN DAS QUESTOtildeES
No que concerne ao design das questotildees privilegia-se a escolha de questotildees tipo 1
Fundamentaccedilatildeo
Em consonacircncia com a CIF
Permite comparabilidade estatiacutestica futura
Permite a caracterizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre os factores de funcionalidade ndash integridade
estrutural e funcional actividades participaccedilatildeo e factores contextuais
Permite o design das poliacuteticas sociais e metodologias de intervenccedilatildeo alicerccediladas nas
necessidades especiacuteficas dos cidadatildeos em torno das dimensotildees de inclusatildeo social
Domiacutenios
Visatildeo
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 44
Dezembro2006
Audiccedilatildeo
Comunicaccedilatildeo
Mobilidade
Dor
Aprendizagem e funcionamento psicoloacutegico
Autocuidados e vida domeacutestica
Condiccedilotildees gerais de sauacutede
Mobilizaccedilatildeo de ajudas ou equipamento especializado
Participaccedilatildeo social
Transporte e educaccedilatildeo
77 PROPOSTA DE DELIMITACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em funccedilatildeo das dimensotildees caracterizadas e dos criteacuterios privilegiados desenvolveu-se o
seguinte enquadramento conceptual
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 45
Dezembro2006
Figura 2 ndash Enquadramento conceptual da delimitaccedilatildeo do conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso da evoluccedilatildeo
Temporaacuterias permanentes
Progressivas regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou contiacutenuas
Focus
Funcionalidade ndash Niacuteveis de execuccedilatildeo das actividades por domiacutenio e niacuteveistipos de ajudas mobilizadas
Abordagem CIF
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo temporal do conceito
A priori
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Inter-subjectivo
Design das questotildees
Questatildeo geneacuterica sobre uma determinada condiccedilatildeo individual combinada com itens referentes a limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo e factores contextuais
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 46
Dezembro2006
8 CRITEacuteRIOS DE ELEGIBILIDADE DO PUacuteBLICO-ALVO E SISTEMAS DE
AVALIACcedilAtildeO
A operacionalizaccedilatildeo do conceito de incapacidade tem sido abordada de forma heterogeacutenea
entre diferentes modalidades de politica e os diferentes contextos socioculturais de cada paiacutes
De uma forma geral encontram-se 2 eixos criacuteticos na sua operacionalizaccedilatildeo
a) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de trabalho (na ocupaccedilatildeo preacutevia ou numa nova
ocupaccedilatildeo ajustada agraves alteraccedilotildees funcionais)
b) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de obter rendimentos provenientes do trabalho
A explicitaccedilatildeo dos criteacuterios de delimitaccedilatildeo do conceito de incapacidade nos diferentes paiacuteses
encontra-se na Quadro 4
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Austraacutelia 2 Criteacuterios possuir uma incapacidade que resulte
num score nunca inferior a 20 nas tabelas de
incapacidades e incapacidade em trabalhar 30
horas ou mais por semana ou em ser
reconvertido para trabalho em contexto regular
nos proacuteximos 2 anos
Nenhum
Aacuteustria 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho (50
de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo para
trabalhadores sem qualificaccedilotildees) papel criacutetico
das decisotildees dos tribunais devido a definiccedilotildees
legais imprecisas
Nenhum mas as
restriccedilotildees de sauacutede
devem ter uma duraccedilatildeo
igual ou superior a 6
meses
Beacutelgica 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na actual ocupaccedilatildeo
1 ano
Canada Incapacidade severa e prolongada que impeccedila de
desenvolver trabalho numa base regular
Nenhum
Dinamarca 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum mas a
reabilitaccedilatildeo precisa de
estar completa
Franccedila 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual mas a
totalidade do subsidio requer igualmente perda de
capacidade de trabalho
Nenhum no caso das
condiccedilotildees estarem
estaacuteveis mas muito
frequentemente apoacutes 3
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 47
Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
anos
Alemanha 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho a
incapacidade parcial eacute calculada em funccedilatildeo do nordm
de horas que a pessoa pode trabalhar
Nenhum mas a
incapacidade deve ter
uma duraccedilatildeo miacutenima
de 26 semanas
Itaacutelia 666reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum
Coreia Criteacuterios meacutedicos (niacuteveis de incapacidade
definidos de forma detalhada)
Periacuteodo de espera de
50 dias (os subsiacutedios
de doenccedila natildeo se
encontram disponiacuteveis)
Meacutexico 50 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo Nenhum
Holanda 15 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
(25 para os trabalhadores por conta proacutepria e
jovens com incapacidade) grau de incapacidade
calculado pela diferenccedila de remuneraccedilatildeo entre o
actual posto de trabalho compatiacutevel com as
limitaccedilotildees funcionais e o anterior
1 ano
Noruega 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho O
grau de subsiacutedio eacute calculado pela capacidade de
remuneraccedilatildeo
Nenhum (apoacutes ter
completado a
reabilitaccedilatildeo vocacional)
Poloacutenia Reduccedilatildeo temporaacuteria ou permanente da
capacidade de trabalho
Nenhum
Portugal 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual
Nenhum mas na
praacutetica ao fim de 3
anos (fim do periacuteodo de
doenccedila de longo termo)
Espanha 33 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho na
ocupaccedilatildeo actual incapacidade para todo e
qualquer trabalho para a totalidade do subsiacutedio
1 ano (embora seja
possiacutevel a candidatura
antes deste prazo em
casos de incapacidade
permanente)
Sueacutecia 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho grau
de incapacidade parcial calculado a partir das
horas que uma pessoa pode trabalhar
Nenhum
Suiccedila 40 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho para
as pessoas inactivas o grau de incapacidade eacute
calculado em relaccedilatildeo aacute actividade actual
1 ano
Turquia 666 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho
com um focus meacutedico bastante significativo
Nenhum
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 48
Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Reino Unido Limitaccedilotildees nas actividades de vida quotidianas
relevantes para o trabalho (avaliaccedilotildees meacutedicas
predominantes) teste ocupacional durante a s
primeiras 28 semanas (subsidio de doenccedila)
28 semanas
Estados
Unidos
Reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
incapacidade em investir numa actividade
profissional com rendimentos ($ US 740 por mecircs)
5 meses (nem sempre
cobertos pelos
subsiacutedios de curto-
termo) e 24 meses
para a cobertura
meacutedica
Quadro 4 ndash Definiccedilotildees de incapacidade e tempos regulamentares
Um dos desafios que se coloca aos actuais sistemas reside na delimitaccedilatildeo da elegibilidade do
puacuteblico-alvo Para cumprir este objectivo satildeo necessaacuterios sistemas de avaliaccedilatildeo holiacutesticos
abrangentes coerentes e que permitam chegar a resultados de forma consistente e com
validade interna No actual contexto a CIF propotildee constituir-se como o instrumento conceptual
abrangente para caracterizar os diferentes domiacutenios e niacuteveis de funcionalidade incapacidade
de forma coerente e integrada Neste sentido uma das vantagens apontadas para a adopccedilatildeo
do modelo desenvolvido pela OMS eacute a possibilidade de uniformizaccedilatildeo de conceitos e portanto
da utilizaccedilatildeo de uma linguagem padratildeo que permita a comunicaccedilatildeo entre investigadores
gestores profissionais de sauacutede organizaccedilotildees da sociedade civil e utilizadores em geral
Um dos campos de estudo mais explorados para a aplicaccedilatildeo da CIF tem sido a aacuterea de
Medicina Fiacutesica e de Reabilitaccedilatildeo no que concerne ao acompanhamento do estado de sauacutede
dos pacientes em tratamento O uso da CIF tem sido considerado tambeacutem na avaliaccedilatildeo apoacutes
transtornos agudos condiccedilotildees traumaacuteticas condiccedilotildees croacutenicas e na geriatria
Alguns autores argumentam que a CIF deve ser explorada como uma base de informaccedilotildees
padronizadas em estudos sobre incapacidade profissional quando haacute necessidade de
relacionar dados de sauacutede ocupacional com os da Seguranccedila Social
Na Sauacutede Puacuteblica tradicionalmente pouca atenccedilatildeo tem sido dada agraves pessoas com
incapacidades No entanto ao lado de recentes investimentos por parte de organizaccedilotildees e de
alguns governos a publicaccedilatildeo do modelo da CIF fornece as bases para as poliacuteticas e
disciplinas da Sauacutede Puacuteblica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo que apresenta deficiecircncias e
incapacidades Assim uma das possibilidades de uso da CIF pode ser a contribuiccedilatildeo para
responder a importantes questotildees de sauacutede puacuteblica tais como qual o estado de sauacutede das
pessoas com deficiecircncias comparadas com as demais que necessidades e que tipos de
intervenccedilotildees satildeo mais adequadas para reduzir condiccedilotildees secundaacuterias e promover a
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na sociedade entre outras
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 49
Dezembro2006
Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 50
Dezembro2006
Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 51
Dezembro2006
Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
Dezembro2006
Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 53
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Os conceitos ldquopessoas com restriccedilotildees ao niacutevel da participaccedilatildeordquo ldquopessoas com limitaccedilotildees de
actividaderdquo e ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo afiguram-se comparativamente ao
anterior como um conceito de maior coerecircncia conceptual com o modelo proposto pela OMS e
deteacutem cumulativamente um maior poder diferenciador A sua desvantagem reside no facto de
constituiacuterem expressotildees com maior dificuldade de apreensatildeo e inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 29
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 30
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5 ANAacuteLISE DOS REFERENCIAIS NACIONAIS E INTERNACIONAIS
No sentido de obter um conjunto de vectores de referecircncia na estruturaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo do
conceito de deficiecircncia foram analisadas as abordagens desenvolvidas pelos seguintes
organismos INE Eurostat OCDE American Disabilities Act WHO UN
51 INE
Os dados disponiacuteveis no INE parecem indicar a utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na
ICIDH
Deficiecircncia1 Perda ou alteraccedilatildeo de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou
anatoacutemica Nesta definiccedilatildeo estatildeo incluiacutedas as seguintes tipologias2
Deficiecircncia AUDITIVA
Deficiecircncia MENTAL
Deficiecircncia MOTORA
Deficiecircncia ORGAcircNICO-FUNCIONAL
Deficiecircncia PSIQUIAacuteTRICA
Deficiecircncia VISUAL
Incapacidade3 Ausecircncia ou limitaccedilatildeo da capacidade para funcionar estando comprometida a
realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida
diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e originando uma desvantagem para funcionar em
sociedade face a outros
Pessoa deficiente Aquela que tenha uma ou mais das seguintes deficiecircncias a) deficiecircncia
visual b) deficiecircncia auditiva c) deficiecircncia mental d) deficiecircncia motora
1 Nota Na operaccedilatildeo censitaacuteria de 2001 apenas foi observada a deficiecircncia permanente a deficiecircncia temporaacuteria natildeo foi considerada (por exemplo se um indiviacuteduo se desloca com canadianas ou em cadeira de rodas porque partiu uma perna ou se sofre de descolamento parcial da retina que o obriga a andar com uma venda natildeo foi considerado como tendo uma deficiecircncia) 2 Fonte INE ndash Censos 2001 ndash Recenseamento Geral da Populaccedilatildeo (Antecedentes Metodologia e Conceitos) Antecedentes Metodologia e Conceitos 3 Fonte INS ndash Inqueacuterito Nacional agrave Sauacutede
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 31
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Trabalhador deficiente Trabalhador que estaacute incapacitado para assegurar por si mesmo total
ou parcialmente a satisfaccedilatildeo de necessidades de uma vida individual ou social normal devido
a uma deficiecircncia congeacutenita ou adquirida das suas capacidades fiacutesicas sensoriais ou
mentais tendo por isso dificuldade em obter eou manter o desempenho de funccedilotildees de acordo
com as suas habilitaccedilotildees idade e experiecircncia profissional
Cidadatildeo Trabalhador com necessidades especiais Cidadatildeo idoso ou portador de
deficiecircncias sensoriais (visuais e auditivas) fiacutesicas (motoras) e cognitivas
52 EUROSTAT
Os dados disponibilizados pelo Eurostat no seu endereccedilo electroacutenico4 parecem indicar a
utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na ICIDH
Conceito Deficiecircncia5
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de deficiecircncia refere-se a uma perda ou alteraccedilatildeo
de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou anatoacutemica
Conceito Incapacidade6
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de incapacidade refere-se agrave ausecircncia ou limitaccedilatildeo
da capacidade para funcionar estando comprometida a realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas
funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e
originando uma desvantagem para funcionar em sociedade face a outros
Conceito Desvantagem7
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito refere-se agrave desvantagem para um dado individuo
decorrente de uma deficiecircncia ou incapacidade
4 httpforumeuropaeuintircdsiscodedinfodatacodedenTheme3htm 5 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 6 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 7 Fonte Key data on health 2000 Eurostat
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
53 OCDE
Definiccedilotildees gerais de incapacidade
No contexto da OCDE identificam-se 2 abordagens distintas no quadro da definiccedilatildeo de
incapacidade
A incapacidade pode ser definida enquanto um estado decorrente de autoavaliaccedilatildeo ou um
status baseado em fontes administrativas eg beneficiaacuterio dos apoios De forma muito
frequente e talvez de forma imprecisa estas duas definiccedilotildees satildeo explicitadas como
incapacidade ldquosubjectivardquo versus rdquoobjectivardquo
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo e instrumentos
A incapacidade autoavaliada eacute medida atraveacutes de inqueacuteritos feitos directamente aos cidadatildeos
nas suas residecircncias Apesar da avaliaccedilatildeo ser baseada de uma forma geral nas respostas agraves
questotildees relativas a problemas de sauacutede de longo termo que limitam as actividades de vida
diaacuteria o detalhe das questotildees eacute geralmente diferente dificultando a comparabilidade dos
dados Por exemplo ldquolongo termordquo eacute parametrizado em 6 meses na Noruega e em 12 meses
na Suiccedila O status dos beneficiaacuterios pode ser avaliado atraveacutes de registos administrativos ou
atraveacutes de inqueacuteritos Os resultados entre as duas fontes satildeo de uma forma geral bastante
diferentes por duas razotildees nucleares os registos administrativos geralmente contam casos e
natildeo pessoas o que em situaccedilotildees de benefiacutecios muacuteltiplos pode levar a contagens duplas por
outro lado os inqueacuteritos satildeo baseados nas respostas sobre o status do beneficiaacuterio e algumas
pessoas podem desejar natildeo revelar a sua condiccedilatildeo perante os benefiacutecios
Nenhuma destas definiccedilotildees e medidas de mensuraccedilatildeo eacute superior a outras pelo que a sua
utilizaccedilatildeo depende dos objectivos do propoacutesito da investigaccedilatildeo e da disponibilidade da
informaccedilatildeo
Abordagens para medir a incapacidade no quadro da aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos agraves populaccedilotildees
a) Incapacidade geral (natildeo especificada)
Puacuteblico-alvo todos os adultos
b) Incapacidade relativa ao trabalho
Puacuteblico-alvo pessoas em idade activa
c) Limitaccedilotildees nas actividades de vida diaacuteria (AVD)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 32
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Puacuteblico-alvo Populaccedilatildeo idosa
54 AMERICAN DISABILITIES ACT
O American Disabilities Act (ADA) desenvolvido em 1990 fornece um conjunto de guidelines
no sentido de assegurar a disponibilizaccedilatildeo de serviccedilos para as pessoas com deficiecircncias bem
como a protecccedilatildeo dos seus direitos legais
A ADA inclui uma definiccedilatildeo legal de incapacidade consistindo na presenccedila de ldquouma deficiecircncia
fiacutesica ou mental que limita significativamente uma ou mais das principais actividades de vidardquo
Independentemente da definiccedilatildeo proposta pela ADA a existecircncia de muacuteltiplos programas a
favor das pessoas com deficiecircncias e os diferentes focus legais em diferentes puacuteblicos alvo
fazem com que tenham emergido uma multiplicidade de definiccedilotildees de incapacidade ao longo
do tempo no quadro das poliacuteticas sociais americanas
55 OMS ONU Revisatildeo dos actuais inqueacuteritos sobre a incapacidade
Apesar de existir um desenvolvimento consideraacutevel dos inqueacuteritos na aacuterea da incapacidade
poder-se-atildeo explicitar algumas observaccedilotildees relativas agrave sua multiplicidade Numa primeira linha
de anaacutelise os inqueacuteritos tendem a focalizar-se nas limitaccedilotildees de actividade eou na deficiecircncia
No que concerne agrave formulaccedilatildeo escrita tendem a existir diferenccedilas significativas entre
inqueacuteritos facto que inviabiliza natildeo raras vezes a comparabilidade dos dados entre inqueacuteritos
As diferentes formulaccedilotildees das questotildees incluem
Tem dificuldade
Eacute capaz de
Faz
Tem sentido problemas em
com ou sem assistecircncia pessoal eou tecnoloacutegica
A questatildeo que se coloca eacute se estas formulaccedilotildees tecircm o mesmo significado isto eacute se todas elas
pretendem medir a capacidade ou a performance De acordo com a CIF a capacidade
remeteria para o potencial de execuccedilatildeo de um indiviacuteduo enquanto a performance diria respeito
ao niacutevel de desempenho efectivo do indiviacuteduo atraveacutes do seu envolvimento numa situaccedilatildeo de
vida real As lacunas existentes e as poucas referecircncias ao niacutevel da forma como os inquiridos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 33
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
satildeo instruiacutedos a responder faz com que natildeo seja possiacutevel desenvolver um discernimento
irrefutaacutevel sobre esta mateacuteria
Do ponto de vista dos domiacutenios abrangidos os inqueacuteritos tecircm apresentado algumas questotildees
sobre a participaccedilatildeo e o ambiente e evidenciam algumas limitaccedilotildees na sua amplitude Os
domiacutenios de actividades e participaccedilatildeo geralmente abrangidos tecircm sido operacionalizados de
uma forma geral nas seguintes dimensotildees
Educaccedilatildeo e emprego (formulado como questotildees de performance)
Outros inqueacuteritos incluem aacutereas como relaccedilotildees interpessoais vida familiar tomada de
decisotildees etc
O domiacutenio relativo aos factores ambientais tem incluiacutedo
Utilizaccedilatildeo e acessibilidadedisponibilidade dos produtos de assistecircncia e da tecnologia
Acessibilidade do ambiente
Disponibilidade dos serviccedilos (sauacutede protecccedilatildeo social educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo)
Evidecircncias muito escassas ao niacutevel da poliacutetica atitudes ambiente natural
planeamento e concepccedilatildeo
A questatildeo de investigaccedilatildeo neste contexto centra-se na seguinte formulaccedilatildeo ldquoo que eacute que os
inqueacuteritos medem como incapacidaderdquo
a) Definiccedilatildeo a priori da incapacidade versus sem incapacidade
Alguns inqueacuteritos sobre a incapacidade especialmente os mais antigos utilizam uma definiccedilatildeo
a priori de incapacidade O objectivo deste tipo de inqueacuteritos eacute contar o nuacutemero de pessoas
que se encaixam na definiccedilatildeo no contexto da populaccedilatildeo total Neste sentido os dados satildeo
analisados de acordo com dois grupos de referecircncia ndash com incapacidade e sem incapacidade ndash
em funccedilatildeo de um conjunto de diferentes variaacuteveis Este tipo de questionaacuterios formula questotildees
do tipo ldquoPossui algum tipo de incapacidade auditiva visual ou fiacutesicardquo Muitas questotildees dos
censos tecircm utilizado este formato
b) Definiccedilatildeo a posteriori de incapacidade versus sem incapacidade
Mais recentemente alguns inqueacuteritos desenvolveram-se em direcccedilatildeo a uma definiccedilatildeo a
posteriori de incapacidade Nestes casos eacute medida a capacidade a performance ao longo de
um conjunto vasto de domiacutenios Este segundo tipo de inqueacuteritos tende a ter uma ampla
aceitaccedilatildeo eg HALS (Canada) HID (Franccedila) inqueacuterito sobre incapacidade na Africa do Sul
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Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Inqueacuterito Espanhol sobre incapacidade NHIS-D (USA) inqueacuterito Holandecircs entre outros Estes
instrumentos formulam questotildees relativas agraves dificuldades que as pessoas experienciam em
diferentes domiacutenios produzindo um perfil pessoal que possa colocar em evidecircncia os
diferentes graus de capacidade associados A categorizaccedilatildeo de incapacidade sem
incapacidade eacute formulada ao niacutevel do domiacutenio e natildeo como uma categoria geral de atributo
pessoal Esta abordagem permite uma anaacutelise ao niacutevel de funcionamento individual por
domiacutenio por exemplo comparando a experiecircncia de incapacidade no domiacutenio de mobilidade
versus socializaccedilatildeo versus comunicaccedilatildeo entre outros bem como o impacto dos factores
ambientais nestes diferentes domiacutenios O perfil resultante do funcionamento individual ao longo
de muacuteltiplos domiacutenios eacute similar aos estados de sauacutede individuais ao longo das diferentes
dimensotildees
Vantagens de uma abordagem a posteriori
Estaacute em consonacircncia com a abordagem universal proposta pela CIF Todas as
pessoas experienciam deficiecircncia nalgum ponto e esta experiecircncia eacute caracterizada
numa abordagem a posteriori e natildeo a priori
Decisotildees sobre a criaccedilatildeo de categorias sobre quem tem incapacidade e sobre quem
natildeo tem podem ser tomadas atraveacutes de diferentes niacuteveis de anaacutelise por exemplo
atraveacutes da anaacutelise da experiecircncia das pessoas que experienciam incapacidade em 1 2
ou 3 domiacutenios de cruzar o status de emprego de pessoas com incapacidade ao longo
dos diferentes domiacutenios etc
Deixa de ser necessaacuteria uma definiccedilatildeo tipoloacutegica e categoacuterica de pessoas com
incapacidade O que necessita de ser definido neste contexto eacute o que se designa por
limitaccedilatildeo da capacidade ou problemas de performance ao longo dos diferentes
domiacutenios
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 35
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
6 SISTEMATIZACcedilAtildeO DAS DIMENSOtildeES DE ORGANIZACcedilAtildeO E
OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em todos os estudos efectuados neste domiacutenio foi colocada em evidecircncia a actual dificuldade
de comparabilidade estatiacutestica internacional inter ou intra sectorial independentemente do
organismo referenciador ndash OCDE ONU EUROSTAT INE OMS
Neste contexto desenvolver-se-aacute a extracccedilatildeo de conhecimento tendo por base a identificaccedilatildeo
de um conjunto de eixos de anaacutelise que actuem como vectores de estruturaccedilatildeo na
operacionalizaccedilatildeo do conceito A este propoacutesito atente-se no Quadro 2
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Abordagem Focus Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Delimitaccedilatildeo temporal do
conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo
Design das questotildees
CID-10
ICIDH
ICF
SauacutedeDoenccedila
Deficiecircncia
Incapacidade
a) Geral
b) Relativa ao trabalho
c) Limitaccedilotildees nas
actividades de vida
diaacuteria
Funcionalidade ndash
Niacuteveis de execuccedilatildeo
das actividades por
domiacutenio e niacuteveistipos
de ajudas mobilizadas
Intersubjectivo ndash
vg inqueacuteritos
Objectivo ndash vg
fontes administrativas
A priori
A posteriori
Temporaacuterias
permanentes
Progressivas
regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou
contiacutenuas
Tipo 1 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre uma determinada
condiccedilatildeo individual
combinada com itens
referentes a limitaccedilotildees de
actividade e participaccedilatildeo e
factores contextuais
Tipo 2 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre a presenccedila de uma
pessoa com incapacidade
no agregado familiar
seguindo-se uma lista de
deficiecircncias e
incapacidades
Tipo 3 ndash Checklist de
deficiecircncias
Quadro 2 ndash Eixos de operacionalizaccedilatildeo do conceito
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
7 ESCOLHA DO CENAacuteRIO A IMPLEMENTAR
A anaacutelise do Quadro 2 permite-nos uma definiccedilatildeo modular do cenaacuterio a implementar atraveacutes de
uma configuraccedilatildeo do conceito pelos eixos de anaacutelise propostos Uma das dificuldades
evidentes nesta delimitaccedilatildeo prende-se com o cumprimento dos requisitos de (a)
comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica e legislativa dentro do contexto portuguecircs
e (c) conformidade com os referenciais conceptuais actuais sendo que a coexistecircncia destes
criteacuterios afigura-se em muitos casos incompatiacutevel entre si Para efeitos da estruturaccedilatildeo do
cenaacuterio privilegiar-se-aacute a conformidade com os referenciais conceptuais actuais
71 ABORDAGEM No que concerne agrave abordagem privilegia-se a adopccedilatildeo das mais recentes directrizes propostas
pela OMS adoptando explicitamente a CIF
Fundamentaccedilatildeo
A CIF apresenta a capacidade para descrever o funcionamento humano numa
perspectiva biopsicossocial em detrimento da classificaccedilatildeo anterior (ICIDH) que se
focalizava na dimensatildeo biomeacutedica A CIF foi desenvolvida no plano conceptual para ser aplicaacutevel em diferentes aacutereas e
sectores A CIF eacute aplicaacutevel transversalmente agraves dimensotildees de cultura idade geacutenero sendo um
instrumento sistemaacutetico para descrever e medir a sauacutede e o funcionamento humano
num dado contexto A CIF constitui-se enquanto instrumento potencial para a poliacutetica social design das
intervenccedilotildees nos domiacutenios da sauacutede educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e intervenccedilatildeo social Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
72 FOCUS
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo da centraccedilatildeo da recolha de dados ao niacutevel
da dimensatildeo de funcionalidade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
Fundamentaccedilatildeo
Consonacircncia com o modelo conceptual proposto pela CIF enfatizando o caraacutecter
dinacircmico e interaccional (pessoa factores contextuais) do funcionamento de cada
pessoa Permite caracterizar as limitaccedilotildees de actividade e restriccedilotildees de participaccedilatildeo dos
cidadatildeos identificando necessidades de intervenccedilotildees especializadas numa loacutegica de
empowerment e participaccedilatildeo social Permite analisar a adequabilidade e ajustamento das actuais medidas poliacuteticas do
ponto de vista dos seus objectivos e os problemas detectados ao niacutevel da participaccedilatildeo
dos cidadatildeos ao longo de um conjunto diversificado de domiacutenios
73 MEacuteTODOS DE MENSURACcedilAtildeO
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo de meacutetodos intersubjectivos nomeadamente
inqueacuteritos
Fundamentaccedilatildeo
Flexibilidade ao niacutevel da abrangecircncia e profundidade das dimensotildees
Maior facilidade na implementaccedilatildeo atendendo agrave disponibilizaccedilatildeo de uma amostra
delimitada
Maior niacutevel de controlo sobre as condiccedilotildees de observaccedilatildeo e da entrevista devido ao
menor nuacutemero de entrevistas a ser implementado
74 DELIMITACcedilAtildeO CONCEPTUAL E TEMPORAL DO CONCEITO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo temporal e apesar de se privilegiar as vantagens anteriormente
explicitadas no desenvolvimento de uma definiccedilatildeo a posteriori assume-se a necessidade
politica de delimitar o campo de intervenccedilatildeo do conjunto de medidas sociais neste domiacutenio
pelo que a delimitaccedilatildeo conceptual poderaacute ser objecto de operacionalizaccedilatildeo atraveacutes dos
seguintes paracircmetros
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 40
Dezembro2006
Poder-se-aacute colocar a questatildeo de saber se a delimitaccedilatildeo do conceito proposta remete
especificamente para ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ou para ldquopessoas com limitaccedilotildees de
participaccedilatildeordquo Atendendo a que a definiccedilatildeo comporta uma abordagem sisteacutemica enfatizando a
interacccedilatildeo entre um conjunto diversificado de componentes que produzem impacto na
funcionalidade da pessoa a resposta natildeo eacute linear dependendo da ecircnfase socio-histoacuterica e da
abordagem sociopoliacutetica que se escolher enfatizar No entanto e do ponto de vista conceptual
privilegia-se a adopccedilatildeo do conceito ldquopessoas com limitaccedilotildees de participaccedilatildeordquo dado que existe
total autonomia operativa entre os diferentes constructos Neste sentido a deficiecircncia natildeo
constitui um factor causal linear das limitaccedilotildees de actividade e das restriccedilotildees ao niacutevel da
participaccedilatildeo mas antes uma das componentes que em interacccedilatildeo com outras podem
provocar impactos ao niacutevel da funcionalidade do indiviacuteduo Por uacuteltimo refira-se que a tipologia
ldquopessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeordquo poderaacute ser alvo de criticas por constituir
uma designaccedilatildeo que apela a duas componentes em simultacircneo (actividades e participaccedilatildeo)
excluindo outras e ser demasiado longa para uma definiccedilatildeo tipoloacutegica A este propoacutesito pode-
se sugerir a delimitaccedilatildeo ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo constituindo esta
expressatildeo uma abordagem holiacutestica ao conjunto de componentes que interferem com o
funcionamento humano Deste modo poderemos ter as seguintes designaccedilotildees
Pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Pessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo
Pessoas com limitaccedilotildees de funcionalidade
Figura 2 ndash Possiacuteveis designaccedilotildees
O Quadro 3 pretende fornecer uma visatildeo sistemaacutetica sobre o processo de decisatildeo da
designaccedilatildeo a adoptar
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
deficiecircncias
Tradiccedilatildeo analiacutetica dentro do
contexto portuguecircs
Em conformidade com o modelo
meacutedico ndash centra-se nas alteraccedilotildees
de estrutura e funccedilatildeo ndash
focalizaccedilatildeo na pessoa
Desarticulado dos pressupostos do
modelo social ndash natildeo remete para a
experiecircncia de incapacidade
enquanto produto da interacccedilatildeo
entre pessoa e ambiente
Mai
or
Abr
angecirc
ncia
Mai
or
Espe
cific
idad
e
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 41
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
incapacidades
Em conformidade com a
delimitaccedilatildeo anglo-saxoacutenica que
utiliza o conceito Disability
Focalizaccedilatildeo no poacutelo negativo do
funcionamento humano ndash
funcionalidadeincapacidade
Ao focalizar-se na experiecircncia de
incapacidade enquanto
interacccedilatildeo pessoa-ambiente
remete indirectamente para a
mobilizaccedilatildeo de apoios e recursos
de forma a ultrapassar eou
eliminar os obstaacuteculos ao
funcionamento em contexto
O potencial efeito estigmatizante
da expressatildeo ldquopessoas com
incapacidadesrdquo
Pessoas com
diversidade
Funcional
Em conformidade com o modelo
social
Focaliza-se na gestatildeo das
diferenccedilas e no seu impacto ao
niacutevel da participaccedilatildeo das pessoas
na sociedade
Elevado niacutevel de abrangecircncia natildeo
permitindo um niacutevel de
diferenciaccedilatildeo relevante na
medida em que todos os cidadatildeos
detecircm entre si diversos e
diferentes padrotildees de
funcionamento humano
Conceito dificilmente
operacionalizaacutevel do ponto de
vista da formulaccedilatildeo das poliacuteticas e
da delimitaccedilatildeo dos puacuteblicos-alvo
Pessoas com
restriccedilotildees ao
niacutevel da
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos Desta forma
todos os obstaacuteculos agrave participaccedilatildeo
relacionados com discriminaccedilatildeo
social preconceitos estereoacutetipos
deficiecircncias doenccedilas croacutenicas
entre outros satildeo incluiacutedos
Natildeo inclui as limitaccedilotildees de
actividade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 42
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
limitaccedilotildees de
actividade e
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida e simultaneamente no
domiacutenio das limitaccedilotildees de
actividade
Ruptura com a tradiccedilatildeo analiacutetica
no sector
Dificuldade de apreensatildeo e
inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Natildeo inclui as alteraccedilotildees da
estrutura e da funccedilatildeo
Pessoas com
limitaccedilotildees de
funcionalidade
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel das
diferentes dimensotildees constituintes
da funcionalidade e do
funcionamento humano
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos
Pessoas com
deficiecircncias e
incapacidades
Natildeo introduz ruptura com a
tradiccedilatildeo analiacutetica no sector
Inclui as alteraccedilotildees de estrutura e
funccedilatildeo bem como as alteraccedilotildees
decorrentes ao niacutevel da
funcionalidade
Diferencia os conceitos de
deficiecircncia e incapacidade
autonomizando-os e fornecendo
uma base compreensiva para o
natildeo estabelecimento de relaccedilotildees
de causa-efeito entre os ambos
Abrange os obstaacuteculos que
emergem na interacccedilatildeo pessoa-
contextos de vida e
simultaneamente no domiacutenio das
limitaccedilotildees de actividade
Poder diferenciador e delimitador
na definiccedilatildeo do puacuteblico-alvo
Em alinhamento estrateacutegico com o
PAIPDI
Designaccedilatildeo de compromisso com
os referenciais teoacutericos do modelo
social e dos princiacutepios da ldquoeacutetica da
diversidaderdquo
Quadro 3 ndash Visatildeo comparativa das hipoacuteteses da designaccedilatildeo a adoptar
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 43
Dezembro2006
75 DELIMITACcedilAtildeO DA DURACcedilAtildeO E CURSO DE EVOLUCcedilAtildeO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo interessa a caracterizaccedilatildeo nas
3 dimensotildees desenvolvidas
Fundamentaccedilatildeo
Afigura-se relevante caracterizar a ocorrecircncia das deficiecircncias quanto aacute sua
consistecircncia no tempo ndash temporaacuterias permanentes ndash analisando os factores
contextuais associados consequecircncias ao niacutevel das actividades e da participaccedilatildeo ao
longo de um conjunto de domiacutenios em ordem agrave extracccedilatildeo de implicaccedilotildees no acircmbito
das poliacuteticas sociais
No acircmbito da adaptabilidade e da adequaccedilatildeo das medidas poliacuteticas agraves necessidades
especiacuteficas dos cidadatildeos torna-se relevante caracterizar a deficiecircncia quanto agrave
natureza do seu curso evolutivo ndash progressivas regressivas estaacuteveis O mesmo
criteacuterio eacute aplicaacutevel quanto aacute dimensatildeo de padratildeo de manifestaccedilatildeo ndash intermitente
contiacutenua
No entanto e apesar da incapacidade se manifestar ao longo do ciclo de vida da pessoa
de forma multimodal para efeitos de delimitaccedilatildeo e de definiccedilatildeo do conceito de pessoas
com deficiecircncias e incapacidades privilegiaremos o caraacutecter permanente Desta forma
excluem-se as manifestaccedilotildees temporaacuterias de incapacidade que enviesariam a anaacutelise e o
desenvolvimento de poliacuteticas neste domiacutenio
76 DESIGN DAS QUESTOtildeES
No que concerne ao design das questotildees privilegia-se a escolha de questotildees tipo 1
Fundamentaccedilatildeo
Em consonacircncia com a CIF
Permite comparabilidade estatiacutestica futura
Permite a caracterizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre os factores de funcionalidade ndash integridade
estrutural e funcional actividades participaccedilatildeo e factores contextuais
Permite o design das poliacuteticas sociais e metodologias de intervenccedilatildeo alicerccediladas nas
necessidades especiacuteficas dos cidadatildeos em torno das dimensotildees de inclusatildeo social
Domiacutenios
Visatildeo
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 44
Dezembro2006
Audiccedilatildeo
Comunicaccedilatildeo
Mobilidade
Dor
Aprendizagem e funcionamento psicoloacutegico
Autocuidados e vida domeacutestica
Condiccedilotildees gerais de sauacutede
Mobilizaccedilatildeo de ajudas ou equipamento especializado
Participaccedilatildeo social
Transporte e educaccedilatildeo
77 PROPOSTA DE DELIMITACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em funccedilatildeo das dimensotildees caracterizadas e dos criteacuterios privilegiados desenvolveu-se o
seguinte enquadramento conceptual
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 45
Dezembro2006
Figura 2 ndash Enquadramento conceptual da delimitaccedilatildeo do conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso da evoluccedilatildeo
Temporaacuterias permanentes
Progressivas regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou contiacutenuas
Focus
Funcionalidade ndash Niacuteveis de execuccedilatildeo das actividades por domiacutenio e niacuteveistipos de ajudas mobilizadas
Abordagem CIF
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo temporal do conceito
A priori
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Inter-subjectivo
Design das questotildees
Questatildeo geneacuterica sobre uma determinada condiccedilatildeo individual combinada com itens referentes a limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo e factores contextuais
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 46
Dezembro2006
8 CRITEacuteRIOS DE ELEGIBILIDADE DO PUacuteBLICO-ALVO E SISTEMAS DE
AVALIACcedilAtildeO
A operacionalizaccedilatildeo do conceito de incapacidade tem sido abordada de forma heterogeacutenea
entre diferentes modalidades de politica e os diferentes contextos socioculturais de cada paiacutes
De uma forma geral encontram-se 2 eixos criacuteticos na sua operacionalizaccedilatildeo
a) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de trabalho (na ocupaccedilatildeo preacutevia ou numa nova
ocupaccedilatildeo ajustada agraves alteraccedilotildees funcionais)
b) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de obter rendimentos provenientes do trabalho
A explicitaccedilatildeo dos criteacuterios de delimitaccedilatildeo do conceito de incapacidade nos diferentes paiacuteses
encontra-se na Quadro 4
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Austraacutelia 2 Criteacuterios possuir uma incapacidade que resulte
num score nunca inferior a 20 nas tabelas de
incapacidades e incapacidade em trabalhar 30
horas ou mais por semana ou em ser
reconvertido para trabalho em contexto regular
nos proacuteximos 2 anos
Nenhum
Aacuteustria 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho (50
de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo para
trabalhadores sem qualificaccedilotildees) papel criacutetico
das decisotildees dos tribunais devido a definiccedilotildees
legais imprecisas
Nenhum mas as
restriccedilotildees de sauacutede
devem ter uma duraccedilatildeo
igual ou superior a 6
meses
Beacutelgica 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na actual ocupaccedilatildeo
1 ano
Canada Incapacidade severa e prolongada que impeccedila de
desenvolver trabalho numa base regular
Nenhum
Dinamarca 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum mas a
reabilitaccedilatildeo precisa de
estar completa
Franccedila 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual mas a
totalidade do subsidio requer igualmente perda de
capacidade de trabalho
Nenhum no caso das
condiccedilotildees estarem
estaacuteveis mas muito
frequentemente apoacutes 3
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 47
Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
anos
Alemanha 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho a
incapacidade parcial eacute calculada em funccedilatildeo do nordm
de horas que a pessoa pode trabalhar
Nenhum mas a
incapacidade deve ter
uma duraccedilatildeo miacutenima
de 26 semanas
Itaacutelia 666reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum
Coreia Criteacuterios meacutedicos (niacuteveis de incapacidade
definidos de forma detalhada)
Periacuteodo de espera de
50 dias (os subsiacutedios
de doenccedila natildeo se
encontram disponiacuteveis)
Meacutexico 50 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo Nenhum
Holanda 15 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
(25 para os trabalhadores por conta proacutepria e
jovens com incapacidade) grau de incapacidade
calculado pela diferenccedila de remuneraccedilatildeo entre o
actual posto de trabalho compatiacutevel com as
limitaccedilotildees funcionais e o anterior
1 ano
Noruega 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho O
grau de subsiacutedio eacute calculado pela capacidade de
remuneraccedilatildeo
Nenhum (apoacutes ter
completado a
reabilitaccedilatildeo vocacional)
Poloacutenia Reduccedilatildeo temporaacuteria ou permanente da
capacidade de trabalho
Nenhum
Portugal 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual
Nenhum mas na
praacutetica ao fim de 3
anos (fim do periacuteodo de
doenccedila de longo termo)
Espanha 33 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho na
ocupaccedilatildeo actual incapacidade para todo e
qualquer trabalho para a totalidade do subsiacutedio
1 ano (embora seja
possiacutevel a candidatura
antes deste prazo em
casos de incapacidade
permanente)
Sueacutecia 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho grau
de incapacidade parcial calculado a partir das
horas que uma pessoa pode trabalhar
Nenhum
Suiccedila 40 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho para
as pessoas inactivas o grau de incapacidade eacute
calculado em relaccedilatildeo aacute actividade actual
1 ano
Turquia 666 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho
com um focus meacutedico bastante significativo
Nenhum
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 48
Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Reino Unido Limitaccedilotildees nas actividades de vida quotidianas
relevantes para o trabalho (avaliaccedilotildees meacutedicas
predominantes) teste ocupacional durante a s
primeiras 28 semanas (subsidio de doenccedila)
28 semanas
Estados
Unidos
Reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
incapacidade em investir numa actividade
profissional com rendimentos ($ US 740 por mecircs)
5 meses (nem sempre
cobertos pelos
subsiacutedios de curto-
termo) e 24 meses
para a cobertura
meacutedica
Quadro 4 ndash Definiccedilotildees de incapacidade e tempos regulamentares
Um dos desafios que se coloca aos actuais sistemas reside na delimitaccedilatildeo da elegibilidade do
puacuteblico-alvo Para cumprir este objectivo satildeo necessaacuterios sistemas de avaliaccedilatildeo holiacutesticos
abrangentes coerentes e que permitam chegar a resultados de forma consistente e com
validade interna No actual contexto a CIF propotildee constituir-se como o instrumento conceptual
abrangente para caracterizar os diferentes domiacutenios e niacuteveis de funcionalidade incapacidade
de forma coerente e integrada Neste sentido uma das vantagens apontadas para a adopccedilatildeo
do modelo desenvolvido pela OMS eacute a possibilidade de uniformizaccedilatildeo de conceitos e portanto
da utilizaccedilatildeo de uma linguagem padratildeo que permita a comunicaccedilatildeo entre investigadores
gestores profissionais de sauacutede organizaccedilotildees da sociedade civil e utilizadores em geral
Um dos campos de estudo mais explorados para a aplicaccedilatildeo da CIF tem sido a aacuterea de
Medicina Fiacutesica e de Reabilitaccedilatildeo no que concerne ao acompanhamento do estado de sauacutede
dos pacientes em tratamento O uso da CIF tem sido considerado tambeacutem na avaliaccedilatildeo apoacutes
transtornos agudos condiccedilotildees traumaacuteticas condiccedilotildees croacutenicas e na geriatria
Alguns autores argumentam que a CIF deve ser explorada como uma base de informaccedilotildees
padronizadas em estudos sobre incapacidade profissional quando haacute necessidade de
relacionar dados de sauacutede ocupacional com os da Seguranccedila Social
Na Sauacutede Puacuteblica tradicionalmente pouca atenccedilatildeo tem sido dada agraves pessoas com
incapacidades No entanto ao lado de recentes investimentos por parte de organizaccedilotildees e de
alguns governos a publicaccedilatildeo do modelo da CIF fornece as bases para as poliacuteticas e
disciplinas da Sauacutede Puacuteblica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo que apresenta deficiecircncias e
incapacidades Assim uma das possibilidades de uso da CIF pode ser a contribuiccedilatildeo para
responder a importantes questotildees de sauacutede puacuteblica tais como qual o estado de sauacutede das
pessoas com deficiecircncias comparadas com as demais que necessidades e que tipos de
intervenccedilotildees satildeo mais adequadas para reduzir condiccedilotildees secundaacuterias e promover a
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na sociedade entre outras
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 49
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Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 50
Dezembro2006
Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 51
Dezembro2006
Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
Dezembro2006
Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 53
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5 ANAacuteLISE DOS REFERENCIAIS NACIONAIS E INTERNACIONAIS
No sentido de obter um conjunto de vectores de referecircncia na estruturaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo do
conceito de deficiecircncia foram analisadas as abordagens desenvolvidas pelos seguintes
organismos INE Eurostat OCDE American Disabilities Act WHO UN
51 INE
Os dados disponiacuteveis no INE parecem indicar a utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na
ICIDH
Deficiecircncia1 Perda ou alteraccedilatildeo de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou
anatoacutemica Nesta definiccedilatildeo estatildeo incluiacutedas as seguintes tipologias2
Deficiecircncia AUDITIVA
Deficiecircncia MENTAL
Deficiecircncia MOTORA
Deficiecircncia ORGAcircNICO-FUNCIONAL
Deficiecircncia PSIQUIAacuteTRICA
Deficiecircncia VISUAL
Incapacidade3 Ausecircncia ou limitaccedilatildeo da capacidade para funcionar estando comprometida a
realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida
diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e originando uma desvantagem para funcionar em
sociedade face a outros
Pessoa deficiente Aquela que tenha uma ou mais das seguintes deficiecircncias a) deficiecircncia
visual b) deficiecircncia auditiva c) deficiecircncia mental d) deficiecircncia motora
1 Nota Na operaccedilatildeo censitaacuteria de 2001 apenas foi observada a deficiecircncia permanente a deficiecircncia temporaacuteria natildeo foi considerada (por exemplo se um indiviacuteduo se desloca com canadianas ou em cadeira de rodas porque partiu uma perna ou se sofre de descolamento parcial da retina que o obriga a andar com uma venda natildeo foi considerado como tendo uma deficiecircncia) 2 Fonte INE ndash Censos 2001 ndash Recenseamento Geral da Populaccedilatildeo (Antecedentes Metodologia e Conceitos) Antecedentes Metodologia e Conceitos 3 Fonte INS ndash Inqueacuterito Nacional agrave Sauacutede
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 31
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Trabalhador deficiente Trabalhador que estaacute incapacitado para assegurar por si mesmo total
ou parcialmente a satisfaccedilatildeo de necessidades de uma vida individual ou social normal devido
a uma deficiecircncia congeacutenita ou adquirida das suas capacidades fiacutesicas sensoriais ou
mentais tendo por isso dificuldade em obter eou manter o desempenho de funccedilotildees de acordo
com as suas habilitaccedilotildees idade e experiecircncia profissional
Cidadatildeo Trabalhador com necessidades especiais Cidadatildeo idoso ou portador de
deficiecircncias sensoriais (visuais e auditivas) fiacutesicas (motoras) e cognitivas
52 EUROSTAT
Os dados disponibilizados pelo Eurostat no seu endereccedilo electroacutenico4 parecem indicar a
utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na ICIDH
Conceito Deficiecircncia5
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de deficiecircncia refere-se a uma perda ou alteraccedilatildeo
de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou anatoacutemica
Conceito Incapacidade6
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de incapacidade refere-se agrave ausecircncia ou limitaccedilatildeo
da capacidade para funcionar estando comprometida a realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas
funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e
originando uma desvantagem para funcionar em sociedade face a outros
Conceito Desvantagem7
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito refere-se agrave desvantagem para um dado individuo
decorrente de uma deficiecircncia ou incapacidade
4 httpforumeuropaeuintircdsiscodedinfodatacodedenTheme3htm 5 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 6 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 7 Fonte Key data on health 2000 Eurostat
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
53 OCDE
Definiccedilotildees gerais de incapacidade
No contexto da OCDE identificam-se 2 abordagens distintas no quadro da definiccedilatildeo de
incapacidade
A incapacidade pode ser definida enquanto um estado decorrente de autoavaliaccedilatildeo ou um
status baseado em fontes administrativas eg beneficiaacuterio dos apoios De forma muito
frequente e talvez de forma imprecisa estas duas definiccedilotildees satildeo explicitadas como
incapacidade ldquosubjectivardquo versus rdquoobjectivardquo
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo e instrumentos
A incapacidade autoavaliada eacute medida atraveacutes de inqueacuteritos feitos directamente aos cidadatildeos
nas suas residecircncias Apesar da avaliaccedilatildeo ser baseada de uma forma geral nas respostas agraves
questotildees relativas a problemas de sauacutede de longo termo que limitam as actividades de vida
diaacuteria o detalhe das questotildees eacute geralmente diferente dificultando a comparabilidade dos
dados Por exemplo ldquolongo termordquo eacute parametrizado em 6 meses na Noruega e em 12 meses
na Suiccedila O status dos beneficiaacuterios pode ser avaliado atraveacutes de registos administrativos ou
atraveacutes de inqueacuteritos Os resultados entre as duas fontes satildeo de uma forma geral bastante
diferentes por duas razotildees nucleares os registos administrativos geralmente contam casos e
natildeo pessoas o que em situaccedilotildees de benefiacutecios muacuteltiplos pode levar a contagens duplas por
outro lado os inqueacuteritos satildeo baseados nas respostas sobre o status do beneficiaacuterio e algumas
pessoas podem desejar natildeo revelar a sua condiccedilatildeo perante os benefiacutecios
Nenhuma destas definiccedilotildees e medidas de mensuraccedilatildeo eacute superior a outras pelo que a sua
utilizaccedilatildeo depende dos objectivos do propoacutesito da investigaccedilatildeo e da disponibilidade da
informaccedilatildeo
Abordagens para medir a incapacidade no quadro da aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos agraves populaccedilotildees
a) Incapacidade geral (natildeo especificada)
Puacuteblico-alvo todos os adultos
b) Incapacidade relativa ao trabalho
Puacuteblico-alvo pessoas em idade activa
c) Limitaccedilotildees nas actividades de vida diaacuteria (AVD)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 32
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Puacuteblico-alvo Populaccedilatildeo idosa
54 AMERICAN DISABILITIES ACT
O American Disabilities Act (ADA) desenvolvido em 1990 fornece um conjunto de guidelines
no sentido de assegurar a disponibilizaccedilatildeo de serviccedilos para as pessoas com deficiecircncias bem
como a protecccedilatildeo dos seus direitos legais
A ADA inclui uma definiccedilatildeo legal de incapacidade consistindo na presenccedila de ldquouma deficiecircncia
fiacutesica ou mental que limita significativamente uma ou mais das principais actividades de vidardquo
Independentemente da definiccedilatildeo proposta pela ADA a existecircncia de muacuteltiplos programas a
favor das pessoas com deficiecircncias e os diferentes focus legais em diferentes puacuteblicos alvo
fazem com que tenham emergido uma multiplicidade de definiccedilotildees de incapacidade ao longo
do tempo no quadro das poliacuteticas sociais americanas
55 OMS ONU Revisatildeo dos actuais inqueacuteritos sobre a incapacidade
Apesar de existir um desenvolvimento consideraacutevel dos inqueacuteritos na aacuterea da incapacidade
poder-se-atildeo explicitar algumas observaccedilotildees relativas agrave sua multiplicidade Numa primeira linha
de anaacutelise os inqueacuteritos tendem a focalizar-se nas limitaccedilotildees de actividade eou na deficiecircncia
No que concerne agrave formulaccedilatildeo escrita tendem a existir diferenccedilas significativas entre
inqueacuteritos facto que inviabiliza natildeo raras vezes a comparabilidade dos dados entre inqueacuteritos
As diferentes formulaccedilotildees das questotildees incluem
Tem dificuldade
Eacute capaz de
Faz
Tem sentido problemas em
com ou sem assistecircncia pessoal eou tecnoloacutegica
A questatildeo que se coloca eacute se estas formulaccedilotildees tecircm o mesmo significado isto eacute se todas elas
pretendem medir a capacidade ou a performance De acordo com a CIF a capacidade
remeteria para o potencial de execuccedilatildeo de um indiviacuteduo enquanto a performance diria respeito
ao niacutevel de desempenho efectivo do indiviacuteduo atraveacutes do seu envolvimento numa situaccedilatildeo de
vida real As lacunas existentes e as poucas referecircncias ao niacutevel da forma como os inquiridos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 33
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
satildeo instruiacutedos a responder faz com que natildeo seja possiacutevel desenvolver um discernimento
irrefutaacutevel sobre esta mateacuteria
Do ponto de vista dos domiacutenios abrangidos os inqueacuteritos tecircm apresentado algumas questotildees
sobre a participaccedilatildeo e o ambiente e evidenciam algumas limitaccedilotildees na sua amplitude Os
domiacutenios de actividades e participaccedilatildeo geralmente abrangidos tecircm sido operacionalizados de
uma forma geral nas seguintes dimensotildees
Educaccedilatildeo e emprego (formulado como questotildees de performance)
Outros inqueacuteritos incluem aacutereas como relaccedilotildees interpessoais vida familiar tomada de
decisotildees etc
O domiacutenio relativo aos factores ambientais tem incluiacutedo
Utilizaccedilatildeo e acessibilidadedisponibilidade dos produtos de assistecircncia e da tecnologia
Acessibilidade do ambiente
Disponibilidade dos serviccedilos (sauacutede protecccedilatildeo social educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo)
Evidecircncias muito escassas ao niacutevel da poliacutetica atitudes ambiente natural
planeamento e concepccedilatildeo
A questatildeo de investigaccedilatildeo neste contexto centra-se na seguinte formulaccedilatildeo ldquoo que eacute que os
inqueacuteritos medem como incapacidaderdquo
a) Definiccedilatildeo a priori da incapacidade versus sem incapacidade
Alguns inqueacuteritos sobre a incapacidade especialmente os mais antigos utilizam uma definiccedilatildeo
a priori de incapacidade O objectivo deste tipo de inqueacuteritos eacute contar o nuacutemero de pessoas
que se encaixam na definiccedilatildeo no contexto da populaccedilatildeo total Neste sentido os dados satildeo
analisados de acordo com dois grupos de referecircncia ndash com incapacidade e sem incapacidade ndash
em funccedilatildeo de um conjunto de diferentes variaacuteveis Este tipo de questionaacuterios formula questotildees
do tipo ldquoPossui algum tipo de incapacidade auditiva visual ou fiacutesicardquo Muitas questotildees dos
censos tecircm utilizado este formato
b) Definiccedilatildeo a posteriori de incapacidade versus sem incapacidade
Mais recentemente alguns inqueacuteritos desenvolveram-se em direcccedilatildeo a uma definiccedilatildeo a
posteriori de incapacidade Nestes casos eacute medida a capacidade a performance ao longo de
um conjunto vasto de domiacutenios Este segundo tipo de inqueacuteritos tende a ter uma ampla
aceitaccedilatildeo eg HALS (Canada) HID (Franccedila) inqueacuterito sobre incapacidade na Africa do Sul
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 34
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Inqueacuterito Espanhol sobre incapacidade NHIS-D (USA) inqueacuterito Holandecircs entre outros Estes
instrumentos formulam questotildees relativas agraves dificuldades que as pessoas experienciam em
diferentes domiacutenios produzindo um perfil pessoal que possa colocar em evidecircncia os
diferentes graus de capacidade associados A categorizaccedilatildeo de incapacidade sem
incapacidade eacute formulada ao niacutevel do domiacutenio e natildeo como uma categoria geral de atributo
pessoal Esta abordagem permite uma anaacutelise ao niacutevel de funcionamento individual por
domiacutenio por exemplo comparando a experiecircncia de incapacidade no domiacutenio de mobilidade
versus socializaccedilatildeo versus comunicaccedilatildeo entre outros bem como o impacto dos factores
ambientais nestes diferentes domiacutenios O perfil resultante do funcionamento individual ao longo
de muacuteltiplos domiacutenios eacute similar aos estados de sauacutede individuais ao longo das diferentes
dimensotildees
Vantagens de uma abordagem a posteriori
Estaacute em consonacircncia com a abordagem universal proposta pela CIF Todas as
pessoas experienciam deficiecircncia nalgum ponto e esta experiecircncia eacute caracterizada
numa abordagem a posteriori e natildeo a priori
Decisotildees sobre a criaccedilatildeo de categorias sobre quem tem incapacidade e sobre quem
natildeo tem podem ser tomadas atraveacutes de diferentes niacuteveis de anaacutelise por exemplo
atraveacutes da anaacutelise da experiecircncia das pessoas que experienciam incapacidade em 1 2
ou 3 domiacutenios de cruzar o status de emprego de pessoas com incapacidade ao longo
dos diferentes domiacutenios etc
Deixa de ser necessaacuteria uma definiccedilatildeo tipoloacutegica e categoacuterica de pessoas com
incapacidade O que necessita de ser definido neste contexto eacute o que se designa por
limitaccedilatildeo da capacidade ou problemas de performance ao longo dos diferentes
domiacutenios
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 35
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
6 SISTEMATIZACcedilAtildeO DAS DIMENSOtildeES DE ORGANIZACcedilAtildeO E
OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em todos os estudos efectuados neste domiacutenio foi colocada em evidecircncia a actual dificuldade
de comparabilidade estatiacutestica internacional inter ou intra sectorial independentemente do
organismo referenciador ndash OCDE ONU EUROSTAT INE OMS
Neste contexto desenvolver-se-aacute a extracccedilatildeo de conhecimento tendo por base a identificaccedilatildeo
de um conjunto de eixos de anaacutelise que actuem como vectores de estruturaccedilatildeo na
operacionalizaccedilatildeo do conceito A este propoacutesito atente-se no Quadro 2
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Abordagem Focus Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Delimitaccedilatildeo temporal do
conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo
Design das questotildees
CID-10
ICIDH
ICF
SauacutedeDoenccedila
Deficiecircncia
Incapacidade
a) Geral
b) Relativa ao trabalho
c) Limitaccedilotildees nas
actividades de vida
diaacuteria
Funcionalidade ndash
Niacuteveis de execuccedilatildeo
das actividades por
domiacutenio e niacuteveistipos
de ajudas mobilizadas
Intersubjectivo ndash
vg inqueacuteritos
Objectivo ndash vg
fontes administrativas
A priori
A posteriori
Temporaacuterias
permanentes
Progressivas
regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou
contiacutenuas
Tipo 1 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre uma determinada
condiccedilatildeo individual
combinada com itens
referentes a limitaccedilotildees de
actividade e participaccedilatildeo e
factores contextuais
Tipo 2 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre a presenccedila de uma
pessoa com incapacidade
no agregado familiar
seguindo-se uma lista de
deficiecircncias e
incapacidades
Tipo 3 ndash Checklist de
deficiecircncias
Quadro 2 ndash Eixos de operacionalizaccedilatildeo do conceito
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 37
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 38
Dezembro2006
7 ESCOLHA DO CENAacuteRIO A IMPLEMENTAR
A anaacutelise do Quadro 2 permite-nos uma definiccedilatildeo modular do cenaacuterio a implementar atraveacutes de
uma configuraccedilatildeo do conceito pelos eixos de anaacutelise propostos Uma das dificuldades
evidentes nesta delimitaccedilatildeo prende-se com o cumprimento dos requisitos de (a)
comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica e legislativa dentro do contexto portuguecircs
e (c) conformidade com os referenciais conceptuais actuais sendo que a coexistecircncia destes
criteacuterios afigura-se em muitos casos incompatiacutevel entre si Para efeitos da estruturaccedilatildeo do
cenaacuterio privilegiar-se-aacute a conformidade com os referenciais conceptuais actuais
71 ABORDAGEM No que concerne agrave abordagem privilegia-se a adopccedilatildeo das mais recentes directrizes propostas
pela OMS adoptando explicitamente a CIF
Fundamentaccedilatildeo
A CIF apresenta a capacidade para descrever o funcionamento humano numa
perspectiva biopsicossocial em detrimento da classificaccedilatildeo anterior (ICIDH) que se
focalizava na dimensatildeo biomeacutedica A CIF foi desenvolvida no plano conceptual para ser aplicaacutevel em diferentes aacutereas e
sectores A CIF eacute aplicaacutevel transversalmente agraves dimensotildees de cultura idade geacutenero sendo um
instrumento sistemaacutetico para descrever e medir a sauacutede e o funcionamento humano
num dado contexto A CIF constitui-se enquanto instrumento potencial para a poliacutetica social design das
intervenccedilotildees nos domiacutenios da sauacutede educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e intervenccedilatildeo social Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
72 FOCUS
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo da centraccedilatildeo da recolha de dados ao niacutevel
da dimensatildeo de funcionalidade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
Fundamentaccedilatildeo
Consonacircncia com o modelo conceptual proposto pela CIF enfatizando o caraacutecter
dinacircmico e interaccional (pessoa factores contextuais) do funcionamento de cada
pessoa Permite caracterizar as limitaccedilotildees de actividade e restriccedilotildees de participaccedilatildeo dos
cidadatildeos identificando necessidades de intervenccedilotildees especializadas numa loacutegica de
empowerment e participaccedilatildeo social Permite analisar a adequabilidade e ajustamento das actuais medidas poliacuteticas do
ponto de vista dos seus objectivos e os problemas detectados ao niacutevel da participaccedilatildeo
dos cidadatildeos ao longo de um conjunto diversificado de domiacutenios
73 MEacuteTODOS DE MENSURACcedilAtildeO
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo de meacutetodos intersubjectivos nomeadamente
inqueacuteritos
Fundamentaccedilatildeo
Flexibilidade ao niacutevel da abrangecircncia e profundidade das dimensotildees
Maior facilidade na implementaccedilatildeo atendendo agrave disponibilizaccedilatildeo de uma amostra
delimitada
Maior niacutevel de controlo sobre as condiccedilotildees de observaccedilatildeo e da entrevista devido ao
menor nuacutemero de entrevistas a ser implementado
74 DELIMITACcedilAtildeO CONCEPTUAL E TEMPORAL DO CONCEITO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo temporal e apesar de se privilegiar as vantagens anteriormente
explicitadas no desenvolvimento de uma definiccedilatildeo a posteriori assume-se a necessidade
politica de delimitar o campo de intervenccedilatildeo do conjunto de medidas sociais neste domiacutenio
pelo que a delimitaccedilatildeo conceptual poderaacute ser objecto de operacionalizaccedilatildeo atraveacutes dos
seguintes paracircmetros
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 40
Dezembro2006
Poder-se-aacute colocar a questatildeo de saber se a delimitaccedilatildeo do conceito proposta remete
especificamente para ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ou para ldquopessoas com limitaccedilotildees de
participaccedilatildeordquo Atendendo a que a definiccedilatildeo comporta uma abordagem sisteacutemica enfatizando a
interacccedilatildeo entre um conjunto diversificado de componentes que produzem impacto na
funcionalidade da pessoa a resposta natildeo eacute linear dependendo da ecircnfase socio-histoacuterica e da
abordagem sociopoliacutetica que se escolher enfatizar No entanto e do ponto de vista conceptual
privilegia-se a adopccedilatildeo do conceito ldquopessoas com limitaccedilotildees de participaccedilatildeordquo dado que existe
total autonomia operativa entre os diferentes constructos Neste sentido a deficiecircncia natildeo
constitui um factor causal linear das limitaccedilotildees de actividade e das restriccedilotildees ao niacutevel da
participaccedilatildeo mas antes uma das componentes que em interacccedilatildeo com outras podem
provocar impactos ao niacutevel da funcionalidade do indiviacuteduo Por uacuteltimo refira-se que a tipologia
ldquopessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeordquo poderaacute ser alvo de criticas por constituir
uma designaccedilatildeo que apela a duas componentes em simultacircneo (actividades e participaccedilatildeo)
excluindo outras e ser demasiado longa para uma definiccedilatildeo tipoloacutegica A este propoacutesito pode-
se sugerir a delimitaccedilatildeo ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo constituindo esta
expressatildeo uma abordagem holiacutestica ao conjunto de componentes que interferem com o
funcionamento humano Deste modo poderemos ter as seguintes designaccedilotildees
Pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Pessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo
Pessoas com limitaccedilotildees de funcionalidade
Figura 2 ndash Possiacuteveis designaccedilotildees
O Quadro 3 pretende fornecer uma visatildeo sistemaacutetica sobre o processo de decisatildeo da
designaccedilatildeo a adoptar
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
deficiecircncias
Tradiccedilatildeo analiacutetica dentro do
contexto portuguecircs
Em conformidade com o modelo
meacutedico ndash centra-se nas alteraccedilotildees
de estrutura e funccedilatildeo ndash
focalizaccedilatildeo na pessoa
Desarticulado dos pressupostos do
modelo social ndash natildeo remete para a
experiecircncia de incapacidade
enquanto produto da interacccedilatildeo
entre pessoa e ambiente
Mai
or
Abr
angecirc
ncia
Mai
or
Espe
cific
idad
e
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 41
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
incapacidades
Em conformidade com a
delimitaccedilatildeo anglo-saxoacutenica que
utiliza o conceito Disability
Focalizaccedilatildeo no poacutelo negativo do
funcionamento humano ndash
funcionalidadeincapacidade
Ao focalizar-se na experiecircncia de
incapacidade enquanto
interacccedilatildeo pessoa-ambiente
remete indirectamente para a
mobilizaccedilatildeo de apoios e recursos
de forma a ultrapassar eou
eliminar os obstaacuteculos ao
funcionamento em contexto
O potencial efeito estigmatizante
da expressatildeo ldquopessoas com
incapacidadesrdquo
Pessoas com
diversidade
Funcional
Em conformidade com o modelo
social
Focaliza-se na gestatildeo das
diferenccedilas e no seu impacto ao
niacutevel da participaccedilatildeo das pessoas
na sociedade
Elevado niacutevel de abrangecircncia natildeo
permitindo um niacutevel de
diferenciaccedilatildeo relevante na
medida em que todos os cidadatildeos
detecircm entre si diversos e
diferentes padrotildees de
funcionamento humano
Conceito dificilmente
operacionalizaacutevel do ponto de
vista da formulaccedilatildeo das poliacuteticas e
da delimitaccedilatildeo dos puacuteblicos-alvo
Pessoas com
restriccedilotildees ao
niacutevel da
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos Desta forma
todos os obstaacuteculos agrave participaccedilatildeo
relacionados com discriminaccedilatildeo
social preconceitos estereoacutetipos
deficiecircncias doenccedilas croacutenicas
entre outros satildeo incluiacutedos
Natildeo inclui as limitaccedilotildees de
actividade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 42
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
limitaccedilotildees de
actividade e
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida e simultaneamente no
domiacutenio das limitaccedilotildees de
actividade
Ruptura com a tradiccedilatildeo analiacutetica
no sector
Dificuldade de apreensatildeo e
inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Natildeo inclui as alteraccedilotildees da
estrutura e da funccedilatildeo
Pessoas com
limitaccedilotildees de
funcionalidade
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel das
diferentes dimensotildees constituintes
da funcionalidade e do
funcionamento humano
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos
Pessoas com
deficiecircncias e
incapacidades
Natildeo introduz ruptura com a
tradiccedilatildeo analiacutetica no sector
Inclui as alteraccedilotildees de estrutura e
funccedilatildeo bem como as alteraccedilotildees
decorrentes ao niacutevel da
funcionalidade
Diferencia os conceitos de
deficiecircncia e incapacidade
autonomizando-os e fornecendo
uma base compreensiva para o
natildeo estabelecimento de relaccedilotildees
de causa-efeito entre os ambos
Abrange os obstaacuteculos que
emergem na interacccedilatildeo pessoa-
contextos de vida e
simultaneamente no domiacutenio das
limitaccedilotildees de actividade
Poder diferenciador e delimitador
na definiccedilatildeo do puacuteblico-alvo
Em alinhamento estrateacutegico com o
PAIPDI
Designaccedilatildeo de compromisso com
os referenciais teoacutericos do modelo
social e dos princiacutepios da ldquoeacutetica da
diversidaderdquo
Quadro 3 ndash Visatildeo comparativa das hipoacuteteses da designaccedilatildeo a adoptar
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 43
Dezembro2006
75 DELIMITACcedilAtildeO DA DURACcedilAtildeO E CURSO DE EVOLUCcedilAtildeO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo interessa a caracterizaccedilatildeo nas
3 dimensotildees desenvolvidas
Fundamentaccedilatildeo
Afigura-se relevante caracterizar a ocorrecircncia das deficiecircncias quanto aacute sua
consistecircncia no tempo ndash temporaacuterias permanentes ndash analisando os factores
contextuais associados consequecircncias ao niacutevel das actividades e da participaccedilatildeo ao
longo de um conjunto de domiacutenios em ordem agrave extracccedilatildeo de implicaccedilotildees no acircmbito
das poliacuteticas sociais
No acircmbito da adaptabilidade e da adequaccedilatildeo das medidas poliacuteticas agraves necessidades
especiacuteficas dos cidadatildeos torna-se relevante caracterizar a deficiecircncia quanto agrave
natureza do seu curso evolutivo ndash progressivas regressivas estaacuteveis O mesmo
criteacuterio eacute aplicaacutevel quanto aacute dimensatildeo de padratildeo de manifestaccedilatildeo ndash intermitente
contiacutenua
No entanto e apesar da incapacidade se manifestar ao longo do ciclo de vida da pessoa
de forma multimodal para efeitos de delimitaccedilatildeo e de definiccedilatildeo do conceito de pessoas
com deficiecircncias e incapacidades privilegiaremos o caraacutecter permanente Desta forma
excluem-se as manifestaccedilotildees temporaacuterias de incapacidade que enviesariam a anaacutelise e o
desenvolvimento de poliacuteticas neste domiacutenio
76 DESIGN DAS QUESTOtildeES
No que concerne ao design das questotildees privilegia-se a escolha de questotildees tipo 1
Fundamentaccedilatildeo
Em consonacircncia com a CIF
Permite comparabilidade estatiacutestica futura
Permite a caracterizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre os factores de funcionalidade ndash integridade
estrutural e funcional actividades participaccedilatildeo e factores contextuais
Permite o design das poliacuteticas sociais e metodologias de intervenccedilatildeo alicerccediladas nas
necessidades especiacuteficas dos cidadatildeos em torno das dimensotildees de inclusatildeo social
Domiacutenios
Visatildeo
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 44
Dezembro2006
Audiccedilatildeo
Comunicaccedilatildeo
Mobilidade
Dor
Aprendizagem e funcionamento psicoloacutegico
Autocuidados e vida domeacutestica
Condiccedilotildees gerais de sauacutede
Mobilizaccedilatildeo de ajudas ou equipamento especializado
Participaccedilatildeo social
Transporte e educaccedilatildeo
77 PROPOSTA DE DELIMITACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em funccedilatildeo das dimensotildees caracterizadas e dos criteacuterios privilegiados desenvolveu-se o
seguinte enquadramento conceptual
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 45
Dezembro2006
Figura 2 ndash Enquadramento conceptual da delimitaccedilatildeo do conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso da evoluccedilatildeo
Temporaacuterias permanentes
Progressivas regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou contiacutenuas
Focus
Funcionalidade ndash Niacuteveis de execuccedilatildeo das actividades por domiacutenio e niacuteveistipos de ajudas mobilizadas
Abordagem CIF
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo temporal do conceito
A priori
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Inter-subjectivo
Design das questotildees
Questatildeo geneacuterica sobre uma determinada condiccedilatildeo individual combinada com itens referentes a limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo e factores contextuais
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 46
Dezembro2006
8 CRITEacuteRIOS DE ELEGIBILIDADE DO PUacuteBLICO-ALVO E SISTEMAS DE
AVALIACcedilAtildeO
A operacionalizaccedilatildeo do conceito de incapacidade tem sido abordada de forma heterogeacutenea
entre diferentes modalidades de politica e os diferentes contextos socioculturais de cada paiacutes
De uma forma geral encontram-se 2 eixos criacuteticos na sua operacionalizaccedilatildeo
a) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de trabalho (na ocupaccedilatildeo preacutevia ou numa nova
ocupaccedilatildeo ajustada agraves alteraccedilotildees funcionais)
b) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de obter rendimentos provenientes do trabalho
A explicitaccedilatildeo dos criteacuterios de delimitaccedilatildeo do conceito de incapacidade nos diferentes paiacuteses
encontra-se na Quadro 4
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Austraacutelia 2 Criteacuterios possuir uma incapacidade que resulte
num score nunca inferior a 20 nas tabelas de
incapacidades e incapacidade em trabalhar 30
horas ou mais por semana ou em ser
reconvertido para trabalho em contexto regular
nos proacuteximos 2 anos
Nenhum
Aacuteustria 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho (50
de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo para
trabalhadores sem qualificaccedilotildees) papel criacutetico
das decisotildees dos tribunais devido a definiccedilotildees
legais imprecisas
Nenhum mas as
restriccedilotildees de sauacutede
devem ter uma duraccedilatildeo
igual ou superior a 6
meses
Beacutelgica 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na actual ocupaccedilatildeo
1 ano
Canada Incapacidade severa e prolongada que impeccedila de
desenvolver trabalho numa base regular
Nenhum
Dinamarca 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum mas a
reabilitaccedilatildeo precisa de
estar completa
Franccedila 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual mas a
totalidade do subsidio requer igualmente perda de
capacidade de trabalho
Nenhum no caso das
condiccedilotildees estarem
estaacuteveis mas muito
frequentemente apoacutes 3
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 47
Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
anos
Alemanha 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho a
incapacidade parcial eacute calculada em funccedilatildeo do nordm
de horas que a pessoa pode trabalhar
Nenhum mas a
incapacidade deve ter
uma duraccedilatildeo miacutenima
de 26 semanas
Itaacutelia 666reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum
Coreia Criteacuterios meacutedicos (niacuteveis de incapacidade
definidos de forma detalhada)
Periacuteodo de espera de
50 dias (os subsiacutedios
de doenccedila natildeo se
encontram disponiacuteveis)
Meacutexico 50 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo Nenhum
Holanda 15 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
(25 para os trabalhadores por conta proacutepria e
jovens com incapacidade) grau de incapacidade
calculado pela diferenccedila de remuneraccedilatildeo entre o
actual posto de trabalho compatiacutevel com as
limitaccedilotildees funcionais e o anterior
1 ano
Noruega 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho O
grau de subsiacutedio eacute calculado pela capacidade de
remuneraccedilatildeo
Nenhum (apoacutes ter
completado a
reabilitaccedilatildeo vocacional)
Poloacutenia Reduccedilatildeo temporaacuteria ou permanente da
capacidade de trabalho
Nenhum
Portugal 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual
Nenhum mas na
praacutetica ao fim de 3
anos (fim do periacuteodo de
doenccedila de longo termo)
Espanha 33 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho na
ocupaccedilatildeo actual incapacidade para todo e
qualquer trabalho para a totalidade do subsiacutedio
1 ano (embora seja
possiacutevel a candidatura
antes deste prazo em
casos de incapacidade
permanente)
Sueacutecia 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho grau
de incapacidade parcial calculado a partir das
horas que uma pessoa pode trabalhar
Nenhum
Suiccedila 40 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho para
as pessoas inactivas o grau de incapacidade eacute
calculado em relaccedilatildeo aacute actividade actual
1 ano
Turquia 666 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho
com um focus meacutedico bastante significativo
Nenhum
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 48
Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Reino Unido Limitaccedilotildees nas actividades de vida quotidianas
relevantes para o trabalho (avaliaccedilotildees meacutedicas
predominantes) teste ocupacional durante a s
primeiras 28 semanas (subsidio de doenccedila)
28 semanas
Estados
Unidos
Reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
incapacidade em investir numa actividade
profissional com rendimentos ($ US 740 por mecircs)
5 meses (nem sempre
cobertos pelos
subsiacutedios de curto-
termo) e 24 meses
para a cobertura
meacutedica
Quadro 4 ndash Definiccedilotildees de incapacidade e tempos regulamentares
Um dos desafios que se coloca aos actuais sistemas reside na delimitaccedilatildeo da elegibilidade do
puacuteblico-alvo Para cumprir este objectivo satildeo necessaacuterios sistemas de avaliaccedilatildeo holiacutesticos
abrangentes coerentes e que permitam chegar a resultados de forma consistente e com
validade interna No actual contexto a CIF propotildee constituir-se como o instrumento conceptual
abrangente para caracterizar os diferentes domiacutenios e niacuteveis de funcionalidade incapacidade
de forma coerente e integrada Neste sentido uma das vantagens apontadas para a adopccedilatildeo
do modelo desenvolvido pela OMS eacute a possibilidade de uniformizaccedilatildeo de conceitos e portanto
da utilizaccedilatildeo de uma linguagem padratildeo que permita a comunicaccedilatildeo entre investigadores
gestores profissionais de sauacutede organizaccedilotildees da sociedade civil e utilizadores em geral
Um dos campos de estudo mais explorados para a aplicaccedilatildeo da CIF tem sido a aacuterea de
Medicina Fiacutesica e de Reabilitaccedilatildeo no que concerne ao acompanhamento do estado de sauacutede
dos pacientes em tratamento O uso da CIF tem sido considerado tambeacutem na avaliaccedilatildeo apoacutes
transtornos agudos condiccedilotildees traumaacuteticas condiccedilotildees croacutenicas e na geriatria
Alguns autores argumentam que a CIF deve ser explorada como uma base de informaccedilotildees
padronizadas em estudos sobre incapacidade profissional quando haacute necessidade de
relacionar dados de sauacutede ocupacional com os da Seguranccedila Social
Na Sauacutede Puacuteblica tradicionalmente pouca atenccedilatildeo tem sido dada agraves pessoas com
incapacidades No entanto ao lado de recentes investimentos por parte de organizaccedilotildees e de
alguns governos a publicaccedilatildeo do modelo da CIF fornece as bases para as poliacuteticas e
disciplinas da Sauacutede Puacuteblica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo que apresenta deficiecircncias e
incapacidades Assim uma das possibilidades de uso da CIF pode ser a contribuiccedilatildeo para
responder a importantes questotildees de sauacutede puacuteblica tais como qual o estado de sauacutede das
pessoas com deficiecircncias comparadas com as demais que necessidades e que tipos de
intervenccedilotildees satildeo mais adequadas para reduzir condiccedilotildees secundaacuterias e promover a
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na sociedade entre outras
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 49
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Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 50
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Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 51
Dezembro2006
Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
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Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 53
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Dezembro2006
Trabalhador deficiente Trabalhador que estaacute incapacitado para assegurar por si mesmo total
ou parcialmente a satisfaccedilatildeo de necessidades de uma vida individual ou social normal devido
a uma deficiecircncia congeacutenita ou adquirida das suas capacidades fiacutesicas sensoriais ou
mentais tendo por isso dificuldade em obter eou manter o desempenho de funccedilotildees de acordo
com as suas habilitaccedilotildees idade e experiecircncia profissional
Cidadatildeo Trabalhador com necessidades especiais Cidadatildeo idoso ou portador de
deficiecircncias sensoriais (visuais e auditivas) fiacutesicas (motoras) e cognitivas
52 EUROSTAT
Os dados disponibilizados pelo Eurostat no seu endereccedilo electroacutenico4 parecem indicar a
utilizaccedilatildeo dos seguintes conceitos inscritos na ICIDH
Conceito Deficiecircncia5
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de deficiecircncia refere-se a uma perda ou alteraccedilatildeo
de uma estrutura ou de uma funccedilatildeo psicoloacutegica fisioloacutegica ou anatoacutemica
Conceito Incapacidade6
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito de incapacidade refere-se agrave ausecircncia ou limitaccedilatildeo
da capacidade para funcionar estando comprometida a realizaccedilatildeo sem ajuda de determinadas
funccedilotildees e actividades pessoais relacionadas com a vida diaacuteria afectando a auto-suficiecircncia e
originando uma desvantagem para funcionar em sociedade face a outros
Conceito Desvantagem7
De acordo com a versatildeo ldquoClassificaccedilatildeo internacional de deficiecircncias incapacidades e
desvantagensrdquo (ICIDH) da OMS o conceito refere-se agrave desvantagem para um dado individuo
decorrente de uma deficiecircncia ou incapacidade
4 httpforumeuropaeuintircdsiscodedinfodatacodedenTheme3htm 5 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 6 Fonte Key data on health 2000 Eurostat 7 Fonte Key data on health 2000 Eurostat
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
53 OCDE
Definiccedilotildees gerais de incapacidade
No contexto da OCDE identificam-se 2 abordagens distintas no quadro da definiccedilatildeo de
incapacidade
A incapacidade pode ser definida enquanto um estado decorrente de autoavaliaccedilatildeo ou um
status baseado em fontes administrativas eg beneficiaacuterio dos apoios De forma muito
frequente e talvez de forma imprecisa estas duas definiccedilotildees satildeo explicitadas como
incapacidade ldquosubjectivardquo versus rdquoobjectivardquo
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo e instrumentos
A incapacidade autoavaliada eacute medida atraveacutes de inqueacuteritos feitos directamente aos cidadatildeos
nas suas residecircncias Apesar da avaliaccedilatildeo ser baseada de uma forma geral nas respostas agraves
questotildees relativas a problemas de sauacutede de longo termo que limitam as actividades de vida
diaacuteria o detalhe das questotildees eacute geralmente diferente dificultando a comparabilidade dos
dados Por exemplo ldquolongo termordquo eacute parametrizado em 6 meses na Noruega e em 12 meses
na Suiccedila O status dos beneficiaacuterios pode ser avaliado atraveacutes de registos administrativos ou
atraveacutes de inqueacuteritos Os resultados entre as duas fontes satildeo de uma forma geral bastante
diferentes por duas razotildees nucleares os registos administrativos geralmente contam casos e
natildeo pessoas o que em situaccedilotildees de benefiacutecios muacuteltiplos pode levar a contagens duplas por
outro lado os inqueacuteritos satildeo baseados nas respostas sobre o status do beneficiaacuterio e algumas
pessoas podem desejar natildeo revelar a sua condiccedilatildeo perante os benefiacutecios
Nenhuma destas definiccedilotildees e medidas de mensuraccedilatildeo eacute superior a outras pelo que a sua
utilizaccedilatildeo depende dos objectivos do propoacutesito da investigaccedilatildeo e da disponibilidade da
informaccedilatildeo
Abordagens para medir a incapacidade no quadro da aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos agraves populaccedilotildees
a) Incapacidade geral (natildeo especificada)
Puacuteblico-alvo todos os adultos
b) Incapacidade relativa ao trabalho
Puacuteblico-alvo pessoas em idade activa
c) Limitaccedilotildees nas actividades de vida diaacuteria (AVD)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 32
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Puacuteblico-alvo Populaccedilatildeo idosa
54 AMERICAN DISABILITIES ACT
O American Disabilities Act (ADA) desenvolvido em 1990 fornece um conjunto de guidelines
no sentido de assegurar a disponibilizaccedilatildeo de serviccedilos para as pessoas com deficiecircncias bem
como a protecccedilatildeo dos seus direitos legais
A ADA inclui uma definiccedilatildeo legal de incapacidade consistindo na presenccedila de ldquouma deficiecircncia
fiacutesica ou mental que limita significativamente uma ou mais das principais actividades de vidardquo
Independentemente da definiccedilatildeo proposta pela ADA a existecircncia de muacuteltiplos programas a
favor das pessoas com deficiecircncias e os diferentes focus legais em diferentes puacuteblicos alvo
fazem com que tenham emergido uma multiplicidade de definiccedilotildees de incapacidade ao longo
do tempo no quadro das poliacuteticas sociais americanas
55 OMS ONU Revisatildeo dos actuais inqueacuteritos sobre a incapacidade
Apesar de existir um desenvolvimento consideraacutevel dos inqueacuteritos na aacuterea da incapacidade
poder-se-atildeo explicitar algumas observaccedilotildees relativas agrave sua multiplicidade Numa primeira linha
de anaacutelise os inqueacuteritos tendem a focalizar-se nas limitaccedilotildees de actividade eou na deficiecircncia
No que concerne agrave formulaccedilatildeo escrita tendem a existir diferenccedilas significativas entre
inqueacuteritos facto que inviabiliza natildeo raras vezes a comparabilidade dos dados entre inqueacuteritos
As diferentes formulaccedilotildees das questotildees incluem
Tem dificuldade
Eacute capaz de
Faz
Tem sentido problemas em
com ou sem assistecircncia pessoal eou tecnoloacutegica
A questatildeo que se coloca eacute se estas formulaccedilotildees tecircm o mesmo significado isto eacute se todas elas
pretendem medir a capacidade ou a performance De acordo com a CIF a capacidade
remeteria para o potencial de execuccedilatildeo de um indiviacuteduo enquanto a performance diria respeito
ao niacutevel de desempenho efectivo do indiviacuteduo atraveacutes do seu envolvimento numa situaccedilatildeo de
vida real As lacunas existentes e as poucas referecircncias ao niacutevel da forma como os inquiridos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 33
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
satildeo instruiacutedos a responder faz com que natildeo seja possiacutevel desenvolver um discernimento
irrefutaacutevel sobre esta mateacuteria
Do ponto de vista dos domiacutenios abrangidos os inqueacuteritos tecircm apresentado algumas questotildees
sobre a participaccedilatildeo e o ambiente e evidenciam algumas limitaccedilotildees na sua amplitude Os
domiacutenios de actividades e participaccedilatildeo geralmente abrangidos tecircm sido operacionalizados de
uma forma geral nas seguintes dimensotildees
Educaccedilatildeo e emprego (formulado como questotildees de performance)
Outros inqueacuteritos incluem aacutereas como relaccedilotildees interpessoais vida familiar tomada de
decisotildees etc
O domiacutenio relativo aos factores ambientais tem incluiacutedo
Utilizaccedilatildeo e acessibilidadedisponibilidade dos produtos de assistecircncia e da tecnologia
Acessibilidade do ambiente
Disponibilidade dos serviccedilos (sauacutede protecccedilatildeo social educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo)
Evidecircncias muito escassas ao niacutevel da poliacutetica atitudes ambiente natural
planeamento e concepccedilatildeo
A questatildeo de investigaccedilatildeo neste contexto centra-se na seguinte formulaccedilatildeo ldquoo que eacute que os
inqueacuteritos medem como incapacidaderdquo
a) Definiccedilatildeo a priori da incapacidade versus sem incapacidade
Alguns inqueacuteritos sobre a incapacidade especialmente os mais antigos utilizam uma definiccedilatildeo
a priori de incapacidade O objectivo deste tipo de inqueacuteritos eacute contar o nuacutemero de pessoas
que se encaixam na definiccedilatildeo no contexto da populaccedilatildeo total Neste sentido os dados satildeo
analisados de acordo com dois grupos de referecircncia ndash com incapacidade e sem incapacidade ndash
em funccedilatildeo de um conjunto de diferentes variaacuteveis Este tipo de questionaacuterios formula questotildees
do tipo ldquoPossui algum tipo de incapacidade auditiva visual ou fiacutesicardquo Muitas questotildees dos
censos tecircm utilizado este formato
b) Definiccedilatildeo a posteriori de incapacidade versus sem incapacidade
Mais recentemente alguns inqueacuteritos desenvolveram-se em direcccedilatildeo a uma definiccedilatildeo a
posteriori de incapacidade Nestes casos eacute medida a capacidade a performance ao longo de
um conjunto vasto de domiacutenios Este segundo tipo de inqueacuteritos tende a ter uma ampla
aceitaccedilatildeo eg HALS (Canada) HID (Franccedila) inqueacuterito sobre incapacidade na Africa do Sul
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 34
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Inqueacuterito Espanhol sobre incapacidade NHIS-D (USA) inqueacuterito Holandecircs entre outros Estes
instrumentos formulam questotildees relativas agraves dificuldades que as pessoas experienciam em
diferentes domiacutenios produzindo um perfil pessoal que possa colocar em evidecircncia os
diferentes graus de capacidade associados A categorizaccedilatildeo de incapacidade sem
incapacidade eacute formulada ao niacutevel do domiacutenio e natildeo como uma categoria geral de atributo
pessoal Esta abordagem permite uma anaacutelise ao niacutevel de funcionamento individual por
domiacutenio por exemplo comparando a experiecircncia de incapacidade no domiacutenio de mobilidade
versus socializaccedilatildeo versus comunicaccedilatildeo entre outros bem como o impacto dos factores
ambientais nestes diferentes domiacutenios O perfil resultante do funcionamento individual ao longo
de muacuteltiplos domiacutenios eacute similar aos estados de sauacutede individuais ao longo das diferentes
dimensotildees
Vantagens de uma abordagem a posteriori
Estaacute em consonacircncia com a abordagem universal proposta pela CIF Todas as
pessoas experienciam deficiecircncia nalgum ponto e esta experiecircncia eacute caracterizada
numa abordagem a posteriori e natildeo a priori
Decisotildees sobre a criaccedilatildeo de categorias sobre quem tem incapacidade e sobre quem
natildeo tem podem ser tomadas atraveacutes de diferentes niacuteveis de anaacutelise por exemplo
atraveacutes da anaacutelise da experiecircncia das pessoas que experienciam incapacidade em 1 2
ou 3 domiacutenios de cruzar o status de emprego de pessoas com incapacidade ao longo
dos diferentes domiacutenios etc
Deixa de ser necessaacuteria uma definiccedilatildeo tipoloacutegica e categoacuterica de pessoas com
incapacidade O que necessita de ser definido neste contexto eacute o que se designa por
limitaccedilatildeo da capacidade ou problemas de performance ao longo dos diferentes
domiacutenios
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 35
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
6 SISTEMATIZACcedilAtildeO DAS DIMENSOtildeES DE ORGANIZACcedilAtildeO E
OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em todos os estudos efectuados neste domiacutenio foi colocada em evidecircncia a actual dificuldade
de comparabilidade estatiacutestica internacional inter ou intra sectorial independentemente do
organismo referenciador ndash OCDE ONU EUROSTAT INE OMS
Neste contexto desenvolver-se-aacute a extracccedilatildeo de conhecimento tendo por base a identificaccedilatildeo
de um conjunto de eixos de anaacutelise que actuem como vectores de estruturaccedilatildeo na
operacionalizaccedilatildeo do conceito A este propoacutesito atente-se no Quadro 2
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Abordagem Focus Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Delimitaccedilatildeo temporal do
conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo
Design das questotildees
CID-10
ICIDH
ICF
SauacutedeDoenccedila
Deficiecircncia
Incapacidade
a) Geral
b) Relativa ao trabalho
c) Limitaccedilotildees nas
actividades de vida
diaacuteria
Funcionalidade ndash
Niacuteveis de execuccedilatildeo
das actividades por
domiacutenio e niacuteveistipos
de ajudas mobilizadas
Intersubjectivo ndash
vg inqueacuteritos
Objectivo ndash vg
fontes administrativas
A priori
A posteriori
Temporaacuterias
permanentes
Progressivas
regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou
contiacutenuas
Tipo 1 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre uma determinada
condiccedilatildeo individual
combinada com itens
referentes a limitaccedilotildees de
actividade e participaccedilatildeo e
factores contextuais
Tipo 2 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre a presenccedila de uma
pessoa com incapacidade
no agregado familiar
seguindo-se uma lista de
deficiecircncias e
incapacidades
Tipo 3 ndash Checklist de
deficiecircncias
Quadro 2 ndash Eixos de operacionalizaccedilatildeo do conceito
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 37
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 38
Dezembro2006
7 ESCOLHA DO CENAacuteRIO A IMPLEMENTAR
A anaacutelise do Quadro 2 permite-nos uma definiccedilatildeo modular do cenaacuterio a implementar atraveacutes de
uma configuraccedilatildeo do conceito pelos eixos de anaacutelise propostos Uma das dificuldades
evidentes nesta delimitaccedilatildeo prende-se com o cumprimento dos requisitos de (a)
comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica e legislativa dentro do contexto portuguecircs
e (c) conformidade com os referenciais conceptuais actuais sendo que a coexistecircncia destes
criteacuterios afigura-se em muitos casos incompatiacutevel entre si Para efeitos da estruturaccedilatildeo do
cenaacuterio privilegiar-se-aacute a conformidade com os referenciais conceptuais actuais
71 ABORDAGEM No que concerne agrave abordagem privilegia-se a adopccedilatildeo das mais recentes directrizes propostas
pela OMS adoptando explicitamente a CIF
Fundamentaccedilatildeo
A CIF apresenta a capacidade para descrever o funcionamento humano numa
perspectiva biopsicossocial em detrimento da classificaccedilatildeo anterior (ICIDH) que se
focalizava na dimensatildeo biomeacutedica A CIF foi desenvolvida no plano conceptual para ser aplicaacutevel em diferentes aacutereas e
sectores A CIF eacute aplicaacutevel transversalmente agraves dimensotildees de cultura idade geacutenero sendo um
instrumento sistemaacutetico para descrever e medir a sauacutede e o funcionamento humano
num dado contexto A CIF constitui-se enquanto instrumento potencial para a poliacutetica social design das
intervenccedilotildees nos domiacutenios da sauacutede educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e intervenccedilatildeo social Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
72 FOCUS
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo da centraccedilatildeo da recolha de dados ao niacutevel
da dimensatildeo de funcionalidade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 39
Dezembro2006
Fundamentaccedilatildeo
Consonacircncia com o modelo conceptual proposto pela CIF enfatizando o caraacutecter
dinacircmico e interaccional (pessoa factores contextuais) do funcionamento de cada
pessoa Permite caracterizar as limitaccedilotildees de actividade e restriccedilotildees de participaccedilatildeo dos
cidadatildeos identificando necessidades de intervenccedilotildees especializadas numa loacutegica de
empowerment e participaccedilatildeo social Permite analisar a adequabilidade e ajustamento das actuais medidas poliacuteticas do
ponto de vista dos seus objectivos e os problemas detectados ao niacutevel da participaccedilatildeo
dos cidadatildeos ao longo de um conjunto diversificado de domiacutenios
73 MEacuteTODOS DE MENSURACcedilAtildeO
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo de meacutetodos intersubjectivos nomeadamente
inqueacuteritos
Fundamentaccedilatildeo
Flexibilidade ao niacutevel da abrangecircncia e profundidade das dimensotildees
Maior facilidade na implementaccedilatildeo atendendo agrave disponibilizaccedilatildeo de uma amostra
delimitada
Maior niacutevel de controlo sobre as condiccedilotildees de observaccedilatildeo e da entrevista devido ao
menor nuacutemero de entrevistas a ser implementado
74 DELIMITACcedilAtildeO CONCEPTUAL E TEMPORAL DO CONCEITO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo temporal e apesar de se privilegiar as vantagens anteriormente
explicitadas no desenvolvimento de uma definiccedilatildeo a posteriori assume-se a necessidade
politica de delimitar o campo de intervenccedilatildeo do conjunto de medidas sociais neste domiacutenio
pelo que a delimitaccedilatildeo conceptual poderaacute ser objecto de operacionalizaccedilatildeo atraveacutes dos
seguintes paracircmetros
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 40
Dezembro2006
Poder-se-aacute colocar a questatildeo de saber se a delimitaccedilatildeo do conceito proposta remete
especificamente para ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ou para ldquopessoas com limitaccedilotildees de
participaccedilatildeordquo Atendendo a que a definiccedilatildeo comporta uma abordagem sisteacutemica enfatizando a
interacccedilatildeo entre um conjunto diversificado de componentes que produzem impacto na
funcionalidade da pessoa a resposta natildeo eacute linear dependendo da ecircnfase socio-histoacuterica e da
abordagem sociopoliacutetica que se escolher enfatizar No entanto e do ponto de vista conceptual
privilegia-se a adopccedilatildeo do conceito ldquopessoas com limitaccedilotildees de participaccedilatildeordquo dado que existe
total autonomia operativa entre os diferentes constructos Neste sentido a deficiecircncia natildeo
constitui um factor causal linear das limitaccedilotildees de actividade e das restriccedilotildees ao niacutevel da
participaccedilatildeo mas antes uma das componentes que em interacccedilatildeo com outras podem
provocar impactos ao niacutevel da funcionalidade do indiviacuteduo Por uacuteltimo refira-se que a tipologia
ldquopessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeordquo poderaacute ser alvo de criticas por constituir
uma designaccedilatildeo que apela a duas componentes em simultacircneo (actividades e participaccedilatildeo)
excluindo outras e ser demasiado longa para uma definiccedilatildeo tipoloacutegica A este propoacutesito pode-
se sugerir a delimitaccedilatildeo ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo constituindo esta
expressatildeo uma abordagem holiacutestica ao conjunto de componentes que interferem com o
funcionamento humano Deste modo poderemos ter as seguintes designaccedilotildees
Pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Pessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo
Pessoas com limitaccedilotildees de funcionalidade
Figura 2 ndash Possiacuteveis designaccedilotildees
O Quadro 3 pretende fornecer uma visatildeo sistemaacutetica sobre o processo de decisatildeo da
designaccedilatildeo a adoptar
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
deficiecircncias
Tradiccedilatildeo analiacutetica dentro do
contexto portuguecircs
Em conformidade com o modelo
meacutedico ndash centra-se nas alteraccedilotildees
de estrutura e funccedilatildeo ndash
focalizaccedilatildeo na pessoa
Desarticulado dos pressupostos do
modelo social ndash natildeo remete para a
experiecircncia de incapacidade
enquanto produto da interacccedilatildeo
entre pessoa e ambiente
Mai
or
Abr
angecirc
ncia
Mai
or
Espe
cific
idad
e
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 41
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
incapacidades
Em conformidade com a
delimitaccedilatildeo anglo-saxoacutenica que
utiliza o conceito Disability
Focalizaccedilatildeo no poacutelo negativo do
funcionamento humano ndash
funcionalidadeincapacidade
Ao focalizar-se na experiecircncia de
incapacidade enquanto
interacccedilatildeo pessoa-ambiente
remete indirectamente para a
mobilizaccedilatildeo de apoios e recursos
de forma a ultrapassar eou
eliminar os obstaacuteculos ao
funcionamento em contexto
O potencial efeito estigmatizante
da expressatildeo ldquopessoas com
incapacidadesrdquo
Pessoas com
diversidade
Funcional
Em conformidade com o modelo
social
Focaliza-se na gestatildeo das
diferenccedilas e no seu impacto ao
niacutevel da participaccedilatildeo das pessoas
na sociedade
Elevado niacutevel de abrangecircncia natildeo
permitindo um niacutevel de
diferenciaccedilatildeo relevante na
medida em que todos os cidadatildeos
detecircm entre si diversos e
diferentes padrotildees de
funcionamento humano
Conceito dificilmente
operacionalizaacutevel do ponto de
vista da formulaccedilatildeo das poliacuteticas e
da delimitaccedilatildeo dos puacuteblicos-alvo
Pessoas com
restriccedilotildees ao
niacutevel da
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos Desta forma
todos os obstaacuteculos agrave participaccedilatildeo
relacionados com discriminaccedilatildeo
social preconceitos estereoacutetipos
deficiecircncias doenccedilas croacutenicas
entre outros satildeo incluiacutedos
Natildeo inclui as limitaccedilotildees de
actividade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 42
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
limitaccedilotildees de
actividade e
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida e simultaneamente no
domiacutenio das limitaccedilotildees de
actividade
Ruptura com a tradiccedilatildeo analiacutetica
no sector
Dificuldade de apreensatildeo e
inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Natildeo inclui as alteraccedilotildees da
estrutura e da funccedilatildeo
Pessoas com
limitaccedilotildees de
funcionalidade
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel das
diferentes dimensotildees constituintes
da funcionalidade e do
funcionamento humano
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos
Pessoas com
deficiecircncias e
incapacidades
Natildeo introduz ruptura com a
tradiccedilatildeo analiacutetica no sector
Inclui as alteraccedilotildees de estrutura e
funccedilatildeo bem como as alteraccedilotildees
decorrentes ao niacutevel da
funcionalidade
Diferencia os conceitos de
deficiecircncia e incapacidade
autonomizando-os e fornecendo
uma base compreensiva para o
natildeo estabelecimento de relaccedilotildees
de causa-efeito entre os ambos
Abrange os obstaacuteculos que
emergem na interacccedilatildeo pessoa-
contextos de vida e
simultaneamente no domiacutenio das
limitaccedilotildees de actividade
Poder diferenciador e delimitador
na definiccedilatildeo do puacuteblico-alvo
Em alinhamento estrateacutegico com o
PAIPDI
Designaccedilatildeo de compromisso com
os referenciais teoacutericos do modelo
social e dos princiacutepios da ldquoeacutetica da
diversidaderdquo
Quadro 3 ndash Visatildeo comparativa das hipoacuteteses da designaccedilatildeo a adoptar
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 43
Dezembro2006
75 DELIMITACcedilAtildeO DA DURACcedilAtildeO E CURSO DE EVOLUCcedilAtildeO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo interessa a caracterizaccedilatildeo nas
3 dimensotildees desenvolvidas
Fundamentaccedilatildeo
Afigura-se relevante caracterizar a ocorrecircncia das deficiecircncias quanto aacute sua
consistecircncia no tempo ndash temporaacuterias permanentes ndash analisando os factores
contextuais associados consequecircncias ao niacutevel das actividades e da participaccedilatildeo ao
longo de um conjunto de domiacutenios em ordem agrave extracccedilatildeo de implicaccedilotildees no acircmbito
das poliacuteticas sociais
No acircmbito da adaptabilidade e da adequaccedilatildeo das medidas poliacuteticas agraves necessidades
especiacuteficas dos cidadatildeos torna-se relevante caracterizar a deficiecircncia quanto agrave
natureza do seu curso evolutivo ndash progressivas regressivas estaacuteveis O mesmo
criteacuterio eacute aplicaacutevel quanto aacute dimensatildeo de padratildeo de manifestaccedilatildeo ndash intermitente
contiacutenua
No entanto e apesar da incapacidade se manifestar ao longo do ciclo de vida da pessoa
de forma multimodal para efeitos de delimitaccedilatildeo e de definiccedilatildeo do conceito de pessoas
com deficiecircncias e incapacidades privilegiaremos o caraacutecter permanente Desta forma
excluem-se as manifestaccedilotildees temporaacuterias de incapacidade que enviesariam a anaacutelise e o
desenvolvimento de poliacuteticas neste domiacutenio
76 DESIGN DAS QUESTOtildeES
No que concerne ao design das questotildees privilegia-se a escolha de questotildees tipo 1
Fundamentaccedilatildeo
Em consonacircncia com a CIF
Permite comparabilidade estatiacutestica futura
Permite a caracterizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre os factores de funcionalidade ndash integridade
estrutural e funcional actividades participaccedilatildeo e factores contextuais
Permite o design das poliacuteticas sociais e metodologias de intervenccedilatildeo alicerccediladas nas
necessidades especiacuteficas dos cidadatildeos em torno das dimensotildees de inclusatildeo social
Domiacutenios
Visatildeo
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 44
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Audiccedilatildeo
Comunicaccedilatildeo
Mobilidade
Dor
Aprendizagem e funcionamento psicoloacutegico
Autocuidados e vida domeacutestica
Condiccedilotildees gerais de sauacutede
Mobilizaccedilatildeo de ajudas ou equipamento especializado
Participaccedilatildeo social
Transporte e educaccedilatildeo
77 PROPOSTA DE DELIMITACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em funccedilatildeo das dimensotildees caracterizadas e dos criteacuterios privilegiados desenvolveu-se o
seguinte enquadramento conceptual
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 45
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Figura 2 ndash Enquadramento conceptual da delimitaccedilatildeo do conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso da evoluccedilatildeo
Temporaacuterias permanentes
Progressivas regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou contiacutenuas
Focus
Funcionalidade ndash Niacuteveis de execuccedilatildeo das actividades por domiacutenio e niacuteveistipos de ajudas mobilizadas
Abordagem CIF
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo temporal do conceito
A priori
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Inter-subjectivo
Design das questotildees
Questatildeo geneacuterica sobre uma determinada condiccedilatildeo individual combinada com itens referentes a limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo e factores contextuais
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
8 CRITEacuteRIOS DE ELEGIBILIDADE DO PUacuteBLICO-ALVO E SISTEMAS DE
AVALIACcedilAtildeO
A operacionalizaccedilatildeo do conceito de incapacidade tem sido abordada de forma heterogeacutenea
entre diferentes modalidades de politica e os diferentes contextos socioculturais de cada paiacutes
De uma forma geral encontram-se 2 eixos criacuteticos na sua operacionalizaccedilatildeo
a) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de trabalho (na ocupaccedilatildeo preacutevia ou numa nova
ocupaccedilatildeo ajustada agraves alteraccedilotildees funcionais)
b) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de obter rendimentos provenientes do trabalho
A explicitaccedilatildeo dos criteacuterios de delimitaccedilatildeo do conceito de incapacidade nos diferentes paiacuteses
encontra-se na Quadro 4
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Austraacutelia 2 Criteacuterios possuir uma incapacidade que resulte
num score nunca inferior a 20 nas tabelas de
incapacidades e incapacidade em trabalhar 30
horas ou mais por semana ou em ser
reconvertido para trabalho em contexto regular
nos proacuteximos 2 anos
Nenhum
Aacuteustria 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho (50
de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo para
trabalhadores sem qualificaccedilotildees) papel criacutetico
das decisotildees dos tribunais devido a definiccedilotildees
legais imprecisas
Nenhum mas as
restriccedilotildees de sauacutede
devem ter uma duraccedilatildeo
igual ou superior a 6
meses
Beacutelgica 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na actual ocupaccedilatildeo
1 ano
Canada Incapacidade severa e prolongada que impeccedila de
desenvolver trabalho numa base regular
Nenhum
Dinamarca 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum mas a
reabilitaccedilatildeo precisa de
estar completa
Franccedila 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual mas a
totalidade do subsidio requer igualmente perda de
capacidade de trabalho
Nenhum no caso das
condiccedilotildees estarem
estaacuteveis mas muito
frequentemente apoacutes 3
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 47
Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
anos
Alemanha 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho a
incapacidade parcial eacute calculada em funccedilatildeo do nordm
de horas que a pessoa pode trabalhar
Nenhum mas a
incapacidade deve ter
uma duraccedilatildeo miacutenima
de 26 semanas
Itaacutelia 666reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum
Coreia Criteacuterios meacutedicos (niacuteveis de incapacidade
definidos de forma detalhada)
Periacuteodo de espera de
50 dias (os subsiacutedios
de doenccedila natildeo se
encontram disponiacuteveis)
Meacutexico 50 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo Nenhum
Holanda 15 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
(25 para os trabalhadores por conta proacutepria e
jovens com incapacidade) grau de incapacidade
calculado pela diferenccedila de remuneraccedilatildeo entre o
actual posto de trabalho compatiacutevel com as
limitaccedilotildees funcionais e o anterior
1 ano
Noruega 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho O
grau de subsiacutedio eacute calculado pela capacidade de
remuneraccedilatildeo
Nenhum (apoacutes ter
completado a
reabilitaccedilatildeo vocacional)
Poloacutenia Reduccedilatildeo temporaacuteria ou permanente da
capacidade de trabalho
Nenhum
Portugal 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual
Nenhum mas na
praacutetica ao fim de 3
anos (fim do periacuteodo de
doenccedila de longo termo)
Espanha 33 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho na
ocupaccedilatildeo actual incapacidade para todo e
qualquer trabalho para a totalidade do subsiacutedio
1 ano (embora seja
possiacutevel a candidatura
antes deste prazo em
casos de incapacidade
permanente)
Sueacutecia 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho grau
de incapacidade parcial calculado a partir das
horas que uma pessoa pode trabalhar
Nenhum
Suiccedila 40 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho para
as pessoas inactivas o grau de incapacidade eacute
calculado em relaccedilatildeo aacute actividade actual
1 ano
Turquia 666 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho
com um focus meacutedico bastante significativo
Nenhum
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 48
Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Reino Unido Limitaccedilotildees nas actividades de vida quotidianas
relevantes para o trabalho (avaliaccedilotildees meacutedicas
predominantes) teste ocupacional durante a s
primeiras 28 semanas (subsidio de doenccedila)
28 semanas
Estados
Unidos
Reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
incapacidade em investir numa actividade
profissional com rendimentos ($ US 740 por mecircs)
5 meses (nem sempre
cobertos pelos
subsiacutedios de curto-
termo) e 24 meses
para a cobertura
meacutedica
Quadro 4 ndash Definiccedilotildees de incapacidade e tempos regulamentares
Um dos desafios que se coloca aos actuais sistemas reside na delimitaccedilatildeo da elegibilidade do
puacuteblico-alvo Para cumprir este objectivo satildeo necessaacuterios sistemas de avaliaccedilatildeo holiacutesticos
abrangentes coerentes e que permitam chegar a resultados de forma consistente e com
validade interna No actual contexto a CIF propotildee constituir-se como o instrumento conceptual
abrangente para caracterizar os diferentes domiacutenios e niacuteveis de funcionalidade incapacidade
de forma coerente e integrada Neste sentido uma das vantagens apontadas para a adopccedilatildeo
do modelo desenvolvido pela OMS eacute a possibilidade de uniformizaccedilatildeo de conceitos e portanto
da utilizaccedilatildeo de uma linguagem padratildeo que permita a comunicaccedilatildeo entre investigadores
gestores profissionais de sauacutede organizaccedilotildees da sociedade civil e utilizadores em geral
Um dos campos de estudo mais explorados para a aplicaccedilatildeo da CIF tem sido a aacuterea de
Medicina Fiacutesica e de Reabilitaccedilatildeo no que concerne ao acompanhamento do estado de sauacutede
dos pacientes em tratamento O uso da CIF tem sido considerado tambeacutem na avaliaccedilatildeo apoacutes
transtornos agudos condiccedilotildees traumaacuteticas condiccedilotildees croacutenicas e na geriatria
Alguns autores argumentam que a CIF deve ser explorada como uma base de informaccedilotildees
padronizadas em estudos sobre incapacidade profissional quando haacute necessidade de
relacionar dados de sauacutede ocupacional com os da Seguranccedila Social
Na Sauacutede Puacuteblica tradicionalmente pouca atenccedilatildeo tem sido dada agraves pessoas com
incapacidades No entanto ao lado de recentes investimentos por parte de organizaccedilotildees e de
alguns governos a publicaccedilatildeo do modelo da CIF fornece as bases para as poliacuteticas e
disciplinas da Sauacutede Puacuteblica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo que apresenta deficiecircncias e
incapacidades Assim uma das possibilidades de uso da CIF pode ser a contribuiccedilatildeo para
responder a importantes questotildees de sauacutede puacuteblica tais como qual o estado de sauacutede das
pessoas com deficiecircncias comparadas com as demais que necessidades e que tipos de
intervenccedilotildees satildeo mais adequadas para reduzir condiccedilotildees secundaacuterias e promover a
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na sociedade entre outras
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 49
Dezembro2006
Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 50
Dezembro2006
Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 51
Dezembro2006
Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
Dezembro2006
Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 53
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
53 OCDE
Definiccedilotildees gerais de incapacidade
No contexto da OCDE identificam-se 2 abordagens distintas no quadro da definiccedilatildeo de
incapacidade
A incapacidade pode ser definida enquanto um estado decorrente de autoavaliaccedilatildeo ou um
status baseado em fontes administrativas eg beneficiaacuterio dos apoios De forma muito
frequente e talvez de forma imprecisa estas duas definiccedilotildees satildeo explicitadas como
incapacidade ldquosubjectivardquo versus rdquoobjectivardquo
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo e instrumentos
A incapacidade autoavaliada eacute medida atraveacutes de inqueacuteritos feitos directamente aos cidadatildeos
nas suas residecircncias Apesar da avaliaccedilatildeo ser baseada de uma forma geral nas respostas agraves
questotildees relativas a problemas de sauacutede de longo termo que limitam as actividades de vida
diaacuteria o detalhe das questotildees eacute geralmente diferente dificultando a comparabilidade dos
dados Por exemplo ldquolongo termordquo eacute parametrizado em 6 meses na Noruega e em 12 meses
na Suiccedila O status dos beneficiaacuterios pode ser avaliado atraveacutes de registos administrativos ou
atraveacutes de inqueacuteritos Os resultados entre as duas fontes satildeo de uma forma geral bastante
diferentes por duas razotildees nucleares os registos administrativos geralmente contam casos e
natildeo pessoas o que em situaccedilotildees de benefiacutecios muacuteltiplos pode levar a contagens duplas por
outro lado os inqueacuteritos satildeo baseados nas respostas sobre o status do beneficiaacuterio e algumas
pessoas podem desejar natildeo revelar a sua condiccedilatildeo perante os benefiacutecios
Nenhuma destas definiccedilotildees e medidas de mensuraccedilatildeo eacute superior a outras pelo que a sua
utilizaccedilatildeo depende dos objectivos do propoacutesito da investigaccedilatildeo e da disponibilidade da
informaccedilatildeo
Abordagens para medir a incapacidade no quadro da aplicaccedilatildeo de inqueacuteritos agraves populaccedilotildees
a) Incapacidade geral (natildeo especificada)
Puacuteblico-alvo todos os adultos
b) Incapacidade relativa ao trabalho
Puacuteblico-alvo pessoas em idade activa
c) Limitaccedilotildees nas actividades de vida diaacuteria (AVD)
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 32
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Puacuteblico-alvo Populaccedilatildeo idosa
54 AMERICAN DISABILITIES ACT
O American Disabilities Act (ADA) desenvolvido em 1990 fornece um conjunto de guidelines
no sentido de assegurar a disponibilizaccedilatildeo de serviccedilos para as pessoas com deficiecircncias bem
como a protecccedilatildeo dos seus direitos legais
A ADA inclui uma definiccedilatildeo legal de incapacidade consistindo na presenccedila de ldquouma deficiecircncia
fiacutesica ou mental que limita significativamente uma ou mais das principais actividades de vidardquo
Independentemente da definiccedilatildeo proposta pela ADA a existecircncia de muacuteltiplos programas a
favor das pessoas com deficiecircncias e os diferentes focus legais em diferentes puacuteblicos alvo
fazem com que tenham emergido uma multiplicidade de definiccedilotildees de incapacidade ao longo
do tempo no quadro das poliacuteticas sociais americanas
55 OMS ONU Revisatildeo dos actuais inqueacuteritos sobre a incapacidade
Apesar de existir um desenvolvimento consideraacutevel dos inqueacuteritos na aacuterea da incapacidade
poder-se-atildeo explicitar algumas observaccedilotildees relativas agrave sua multiplicidade Numa primeira linha
de anaacutelise os inqueacuteritos tendem a focalizar-se nas limitaccedilotildees de actividade eou na deficiecircncia
No que concerne agrave formulaccedilatildeo escrita tendem a existir diferenccedilas significativas entre
inqueacuteritos facto que inviabiliza natildeo raras vezes a comparabilidade dos dados entre inqueacuteritos
As diferentes formulaccedilotildees das questotildees incluem
Tem dificuldade
Eacute capaz de
Faz
Tem sentido problemas em
com ou sem assistecircncia pessoal eou tecnoloacutegica
A questatildeo que se coloca eacute se estas formulaccedilotildees tecircm o mesmo significado isto eacute se todas elas
pretendem medir a capacidade ou a performance De acordo com a CIF a capacidade
remeteria para o potencial de execuccedilatildeo de um indiviacuteduo enquanto a performance diria respeito
ao niacutevel de desempenho efectivo do indiviacuteduo atraveacutes do seu envolvimento numa situaccedilatildeo de
vida real As lacunas existentes e as poucas referecircncias ao niacutevel da forma como os inquiridos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 33
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
satildeo instruiacutedos a responder faz com que natildeo seja possiacutevel desenvolver um discernimento
irrefutaacutevel sobre esta mateacuteria
Do ponto de vista dos domiacutenios abrangidos os inqueacuteritos tecircm apresentado algumas questotildees
sobre a participaccedilatildeo e o ambiente e evidenciam algumas limitaccedilotildees na sua amplitude Os
domiacutenios de actividades e participaccedilatildeo geralmente abrangidos tecircm sido operacionalizados de
uma forma geral nas seguintes dimensotildees
Educaccedilatildeo e emprego (formulado como questotildees de performance)
Outros inqueacuteritos incluem aacutereas como relaccedilotildees interpessoais vida familiar tomada de
decisotildees etc
O domiacutenio relativo aos factores ambientais tem incluiacutedo
Utilizaccedilatildeo e acessibilidadedisponibilidade dos produtos de assistecircncia e da tecnologia
Acessibilidade do ambiente
Disponibilidade dos serviccedilos (sauacutede protecccedilatildeo social educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo)
Evidecircncias muito escassas ao niacutevel da poliacutetica atitudes ambiente natural
planeamento e concepccedilatildeo
A questatildeo de investigaccedilatildeo neste contexto centra-se na seguinte formulaccedilatildeo ldquoo que eacute que os
inqueacuteritos medem como incapacidaderdquo
a) Definiccedilatildeo a priori da incapacidade versus sem incapacidade
Alguns inqueacuteritos sobre a incapacidade especialmente os mais antigos utilizam uma definiccedilatildeo
a priori de incapacidade O objectivo deste tipo de inqueacuteritos eacute contar o nuacutemero de pessoas
que se encaixam na definiccedilatildeo no contexto da populaccedilatildeo total Neste sentido os dados satildeo
analisados de acordo com dois grupos de referecircncia ndash com incapacidade e sem incapacidade ndash
em funccedilatildeo de um conjunto de diferentes variaacuteveis Este tipo de questionaacuterios formula questotildees
do tipo ldquoPossui algum tipo de incapacidade auditiva visual ou fiacutesicardquo Muitas questotildees dos
censos tecircm utilizado este formato
b) Definiccedilatildeo a posteriori de incapacidade versus sem incapacidade
Mais recentemente alguns inqueacuteritos desenvolveram-se em direcccedilatildeo a uma definiccedilatildeo a
posteriori de incapacidade Nestes casos eacute medida a capacidade a performance ao longo de
um conjunto vasto de domiacutenios Este segundo tipo de inqueacuteritos tende a ter uma ampla
aceitaccedilatildeo eg HALS (Canada) HID (Franccedila) inqueacuterito sobre incapacidade na Africa do Sul
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 34
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Inqueacuterito Espanhol sobre incapacidade NHIS-D (USA) inqueacuterito Holandecircs entre outros Estes
instrumentos formulam questotildees relativas agraves dificuldades que as pessoas experienciam em
diferentes domiacutenios produzindo um perfil pessoal que possa colocar em evidecircncia os
diferentes graus de capacidade associados A categorizaccedilatildeo de incapacidade sem
incapacidade eacute formulada ao niacutevel do domiacutenio e natildeo como uma categoria geral de atributo
pessoal Esta abordagem permite uma anaacutelise ao niacutevel de funcionamento individual por
domiacutenio por exemplo comparando a experiecircncia de incapacidade no domiacutenio de mobilidade
versus socializaccedilatildeo versus comunicaccedilatildeo entre outros bem como o impacto dos factores
ambientais nestes diferentes domiacutenios O perfil resultante do funcionamento individual ao longo
de muacuteltiplos domiacutenios eacute similar aos estados de sauacutede individuais ao longo das diferentes
dimensotildees
Vantagens de uma abordagem a posteriori
Estaacute em consonacircncia com a abordagem universal proposta pela CIF Todas as
pessoas experienciam deficiecircncia nalgum ponto e esta experiecircncia eacute caracterizada
numa abordagem a posteriori e natildeo a priori
Decisotildees sobre a criaccedilatildeo de categorias sobre quem tem incapacidade e sobre quem
natildeo tem podem ser tomadas atraveacutes de diferentes niacuteveis de anaacutelise por exemplo
atraveacutes da anaacutelise da experiecircncia das pessoas que experienciam incapacidade em 1 2
ou 3 domiacutenios de cruzar o status de emprego de pessoas com incapacidade ao longo
dos diferentes domiacutenios etc
Deixa de ser necessaacuteria uma definiccedilatildeo tipoloacutegica e categoacuterica de pessoas com
incapacidade O que necessita de ser definido neste contexto eacute o que se designa por
limitaccedilatildeo da capacidade ou problemas de performance ao longo dos diferentes
domiacutenios
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 35
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 36
Dezembro2006
6 SISTEMATIZACcedilAtildeO DAS DIMENSOtildeES DE ORGANIZACcedilAtildeO E
OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em todos os estudos efectuados neste domiacutenio foi colocada em evidecircncia a actual dificuldade
de comparabilidade estatiacutestica internacional inter ou intra sectorial independentemente do
organismo referenciador ndash OCDE ONU EUROSTAT INE OMS
Neste contexto desenvolver-se-aacute a extracccedilatildeo de conhecimento tendo por base a identificaccedilatildeo
de um conjunto de eixos de anaacutelise que actuem como vectores de estruturaccedilatildeo na
operacionalizaccedilatildeo do conceito A este propoacutesito atente-se no Quadro 2
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Abordagem Focus Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Delimitaccedilatildeo temporal do
conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo
Design das questotildees
CID-10
ICIDH
ICF
SauacutedeDoenccedila
Deficiecircncia
Incapacidade
a) Geral
b) Relativa ao trabalho
c) Limitaccedilotildees nas
actividades de vida
diaacuteria
Funcionalidade ndash
Niacuteveis de execuccedilatildeo
das actividades por
domiacutenio e niacuteveistipos
de ajudas mobilizadas
Intersubjectivo ndash
vg inqueacuteritos
Objectivo ndash vg
fontes administrativas
A priori
A posteriori
Temporaacuterias
permanentes
Progressivas
regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou
contiacutenuas
Tipo 1 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre uma determinada
condiccedilatildeo individual
combinada com itens
referentes a limitaccedilotildees de
actividade e participaccedilatildeo e
factores contextuais
Tipo 2 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre a presenccedila de uma
pessoa com incapacidade
no agregado familiar
seguindo-se uma lista de
deficiecircncias e
incapacidades
Tipo 3 ndash Checklist de
deficiecircncias
Quadro 2 ndash Eixos de operacionalizaccedilatildeo do conceito
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 37
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 38
Dezembro2006
7 ESCOLHA DO CENAacuteRIO A IMPLEMENTAR
A anaacutelise do Quadro 2 permite-nos uma definiccedilatildeo modular do cenaacuterio a implementar atraveacutes de
uma configuraccedilatildeo do conceito pelos eixos de anaacutelise propostos Uma das dificuldades
evidentes nesta delimitaccedilatildeo prende-se com o cumprimento dos requisitos de (a)
comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica e legislativa dentro do contexto portuguecircs
e (c) conformidade com os referenciais conceptuais actuais sendo que a coexistecircncia destes
criteacuterios afigura-se em muitos casos incompatiacutevel entre si Para efeitos da estruturaccedilatildeo do
cenaacuterio privilegiar-se-aacute a conformidade com os referenciais conceptuais actuais
71 ABORDAGEM No que concerne agrave abordagem privilegia-se a adopccedilatildeo das mais recentes directrizes propostas
pela OMS adoptando explicitamente a CIF
Fundamentaccedilatildeo
A CIF apresenta a capacidade para descrever o funcionamento humano numa
perspectiva biopsicossocial em detrimento da classificaccedilatildeo anterior (ICIDH) que se
focalizava na dimensatildeo biomeacutedica A CIF foi desenvolvida no plano conceptual para ser aplicaacutevel em diferentes aacutereas e
sectores A CIF eacute aplicaacutevel transversalmente agraves dimensotildees de cultura idade geacutenero sendo um
instrumento sistemaacutetico para descrever e medir a sauacutede e o funcionamento humano
num dado contexto A CIF constitui-se enquanto instrumento potencial para a poliacutetica social design das
intervenccedilotildees nos domiacutenios da sauacutede educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e intervenccedilatildeo social Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
72 FOCUS
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo da centraccedilatildeo da recolha de dados ao niacutevel
da dimensatildeo de funcionalidade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 39
Dezembro2006
Fundamentaccedilatildeo
Consonacircncia com o modelo conceptual proposto pela CIF enfatizando o caraacutecter
dinacircmico e interaccional (pessoa factores contextuais) do funcionamento de cada
pessoa Permite caracterizar as limitaccedilotildees de actividade e restriccedilotildees de participaccedilatildeo dos
cidadatildeos identificando necessidades de intervenccedilotildees especializadas numa loacutegica de
empowerment e participaccedilatildeo social Permite analisar a adequabilidade e ajustamento das actuais medidas poliacuteticas do
ponto de vista dos seus objectivos e os problemas detectados ao niacutevel da participaccedilatildeo
dos cidadatildeos ao longo de um conjunto diversificado de domiacutenios
73 MEacuteTODOS DE MENSURACcedilAtildeO
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo de meacutetodos intersubjectivos nomeadamente
inqueacuteritos
Fundamentaccedilatildeo
Flexibilidade ao niacutevel da abrangecircncia e profundidade das dimensotildees
Maior facilidade na implementaccedilatildeo atendendo agrave disponibilizaccedilatildeo de uma amostra
delimitada
Maior niacutevel de controlo sobre as condiccedilotildees de observaccedilatildeo e da entrevista devido ao
menor nuacutemero de entrevistas a ser implementado
74 DELIMITACcedilAtildeO CONCEPTUAL E TEMPORAL DO CONCEITO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo temporal e apesar de se privilegiar as vantagens anteriormente
explicitadas no desenvolvimento de uma definiccedilatildeo a posteriori assume-se a necessidade
politica de delimitar o campo de intervenccedilatildeo do conjunto de medidas sociais neste domiacutenio
pelo que a delimitaccedilatildeo conceptual poderaacute ser objecto de operacionalizaccedilatildeo atraveacutes dos
seguintes paracircmetros
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 40
Dezembro2006
Poder-se-aacute colocar a questatildeo de saber se a delimitaccedilatildeo do conceito proposta remete
especificamente para ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ou para ldquopessoas com limitaccedilotildees de
participaccedilatildeordquo Atendendo a que a definiccedilatildeo comporta uma abordagem sisteacutemica enfatizando a
interacccedilatildeo entre um conjunto diversificado de componentes que produzem impacto na
funcionalidade da pessoa a resposta natildeo eacute linear dependendo da ecircnfase socio-histoacuterica e da
abordagem sociopoliacutetica que se escolher enfatizar No entanto e do ponto de vista conceptual
privilegia-se a adopccedilatildeo do conceito ldquopessoas com limitaccedilotildees de participaccedilatildeordquo dado que existe
total autonomia operativa entre os diferentes constructos Neste sentido a deficiecircncia natildeo
constitui um factor causal linear das limitaccedilotildees de actividade e das restriccedilotildees ao niacutevel da
participaccedilatildeo mas antes uma das componentes que em interacccedilatildeo com outras podem
provocar impactos ao niacutevel da funcionalidade do indiviacuteduo Por uacuteltimo refira-se que a tipologia
ldquopessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeordquo poderaacute ser alvo de criticas por constituir
uma designaccedilatildeo que apela a duas componentes em simultacircneo (actividades e participaccedilatildeo)
excluindo outras e ser demasiado longa para uma definiccedilatildeo tipoloacutegica A este propoacutesito pode-
se sugerir a delimitaccedilatildeo ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo constituindo esta
expressatildeo uma abordagem holiacutestica ao conjunto de componentes que interferem com o
funcionamento humano Deste modo poderemos ter as seguintes designaccedilotildees
Pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Pessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo
Pessoas com limitaccedilotildees de funcionalidade
Figura 2 ndash Possiacuteveis designaccedilotildees
O Quadro 3 pretende fornecer uma visatildeo sistemaacutetica sobre o processo de decisatildeo da
designaccedilatildeo a adoptar
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
deficiecircncias
Tradiccedilatildeo analiacutetica dentro do
contexto portuguecircs
Em conformidade com o modelo
meacutedico ndash centra-se nas alteraccedilotildees
de estrutura e funccedilatildeo ndash
focalizaccedilatildeo na pessoa
Desarticulado dos pressupostos do
modelo social ndash natildeo remete para a
experiecircncia de incapacidade
enquanto produto da interacccedilatildeo
entre pessoa e ambiente
Mai
or
Abr
angecirc
ncia
Mai
or
Espe
cific
idad
e
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 41
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
incapacidades
Em conformidade com a
delimitaccedilatildeo anglo-saxoacutenica que
utiliza o conceito Disability
Focalizaccedilatildeo no poacutelo negativo do
funcionamento humano ndash
funcionalidadeincapacidade
Ao focalizar-se na experiecircncia de
incapacidade enquanto
interacccedilatildeo pessoa-ambiente
remete indirectamente para a
mobilizaccedilatildeo de apoios e recursos
de forma a ultrapassar eou
eliminar os obstaacuteculos ao
funcionamento em contexto
O potencial efeito estigmatizante
da expressatildeo ldquopessoas com
incapacidadesrdquo
Pessoas com
diversidade
Funcional
Em conformidade com o modelo
social
Focaliza-se na gestatildeo das
diferenccedilas e no seu impacto ao
niacutevel da participaccedilatildeo das pessoas
na sociedade
Elevado niacutevel de abrangecircncia natildeo
permitindo um niacutevel de
diferenciaccedilatildeo relevante na
medida em que todos os cidadatildeos
detecircm entre si diversos e
diferentes padrotildees de
funcionamento humano
Conceito dificilmente
operacionalizaacutevel do ponto de
vista da formulaccedilatildeo das poliacuteticas e
da delimitaccedilatildeo dos puacuteblicos-alvo
Pessoas com
restriccedilotildees ao
niacutevel da
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos Desta forma
todos os obstaacuteculos agrave participaccedilatildeo
relacionados com discriminaccedilatildeo
social preconceitos estereoacutetipos
deficiecircncias doenccedilas croacutenicas
entre outros satildeo incluiacutedos
Natildeo inclui as limitaccedilotildees de
actividade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 42
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
limitaccedilotildees de
actividade e
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida e simultaneamente no
domiacutenio das limitaccedilotildees de
actividade
Ruptura com a tradiccedilatildeo analiacutetica
no sector
Dificuldade de apreensatildeo e
inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Natildeo inclui as alteraccedilotildees da
estrutura e da funccedilatildeo
Pessoas com
limitaccedilotildees de
funcionalidade
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel das
diferentes dimensotildees constituintes
da funcionalidade e do
funcionamento humano
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos
Pessoas com
deficiecircncias e
incapacidades
Natildeo introduz ruptura com a
tradiccedilatildeo analiacutetica no sector
Inclui as alteraccedilotildees de estrutura e
funccedilatildeo bem como as alteraccedilotildees
decorrentes ao niacutevel da
funcionalidade
Diferencia os conceitos de
deficiecircncia e incapacidade
autonomizando-os e fornecendo
uma base compreensiva para o
natildeo estabelecimento de relaccedilotildees
de causa-efeito entre os ambos
Abrange os obstaacuteculos que
emergem na interacccedilatildeo pessoa-
contextos de vida e
simultaneamente no domiacutenio das
limitaccedilotildees de actividade
Poder diferenciador e delimitador
na definiccedilatildeo do puacuteblico-alvo
Em alinhamento estrateacutegico com o
PAIPDI
Designaccedilatildeo de compromisso com
os referenciais teoacutericos do modelo
social e dos princiacutepios da ldquoeacutetica da
diversidaderdquo
Quadro 3 ndash Visatildeo comparativa das hipoacuteteses da designaccedilatildeo a adoptar
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 43
Dezembro2006
75 DELIMITACcedilAtildeO DA DURACcedilAtildeO E CURSO DE EVOLUCcedilAtildeO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo interessa a caracterizaccedilatildeo nas
3 dimensotildees desenvolvidas
Fundamentaccedilatildeo
Afigura-se relevante caracterizar a ocorrecircncia das deficiecircncias quanto aacute sua
consistecircncia no tempo ndash temporaacuterias permanentes ndash analisando os factores
contextuais associados consequecircncias ao niacutevel das actividades e da participaccedilatildeo ao
longo de um conjunto de domiacutenios em ordem agrave extracccedilatildeo de implicaccedilotildees no acircmbito
das poliacuteticas sociais
No acircmbito da adaptabilidade e da adequaccedilatildeo das medidas poliacuteticas agraves necessidades
especiacuteficas dos cidadatildeos torna-se relevante caracterizar a deficiecircncia quanto agrave
natureza do seu curso evolutivo ndash progressivas regressivas estaacuteveis O mesmo
criteacuterio eacute aplicaacutevel quanto aacute dimensatildeo de padratildeo de manifestaccedilatildeo ndash intermitente
contiacutenua
No entanto e apesar da incapacidade se manifestar ao longo do ciclo de vida da pessoa
de forma multimodal para efeitos de delimitaccedilatildeo e de definiccedilatildeo do conceito de pessoas
com deficiecircncias e incapacidades privilegiaremos o caraacutecter permanente Desta forma
excluem-se as manifestaccedilotildees temporaacuterias de incapacidade que enviesariam a anaacutelise e o
desenvolvimento de poliacuteticas neste domiacutenio
76 DESIGN DAS QUESTOtildeES
No que concerne ao design das questotildees privilegia-se a escolha de questotildees tipo 1
Fundamentaccedilatildeo
Em consonacircncia com a CIF
Permite comparabilidade estatiacutestica futura
Permite a caracterizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre os factores de funcionalidade ndash integridade
estrutural e funcional actividades participaccedilatildeo e factores contextuais
Permite o design das poliacuteticas sociais e metodologias de intervenccedilatildeo alicerccediladas nas
necessidades especiacuteficas dos cidadatildeos em torno das dimensotildees de inclusatildeo social
Domiacutenios
Visatildeo
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 44
Dezembro2006
Audiccedilatildeo
Comunicaccedilatildeo
Mobilidade
Dor
Aprendizagem e funcionamento psicoloacutegico
Autocuidados e vida domeacutestica
Condiccedilotildees gerais de sauacutede
Mobilizaccedilatildeo de ajudas ou equipamento especializado
Participaccedilatildeo social
Transporte e educaccedilatildeo
77 PROPOSTA DE DELIMITACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em funccedilatildeo das dimensotildees caracterizadas e dos criteacuterios privilegiados desenvolveu-se o
seguinte enquadramento conceptual
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 45
Dezembro2006
Figura 2 ndash Enquadramento conceptual da delimitaccedilatildeo do conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso da evoluccedilatildeo
Temporaacuterias permanentes
Progressivas regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou contiacutenuas
Focus
Funcionalidade ndash Niacuteveis de execuccedilatildeo das actividades por domiacutenio e niacuteveistipos de ajudas mobilizadas
Abordagem CIF
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo temporal do conceito
A priori
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Inter-subjectivo
Design das questotildees
Questatildeo geneacuterica sobre uma determinada condiccedilatildeo individual combinada com itens referentes a limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo e factores contextuais
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
8 CRITEacuteRIOS DE ELEGIBILIDADE DO PUacuteBLICO-ALVO E SISTEMAS DE
AVALIACcedilAtildeO
A operacionalizaccedilatildeo do conceito de incapacidade tem sido abordada de forma heterogeacutenea
entre diferentes modalidades de politica e os diferentes contextos socioculturais de cada paiacutes
De uma forma geral encontram-se 2 eixos criacuteticos na sua operacionalizaccedilatildeo
a) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de trabalho (na ocupaccedilatildeo preacutevia ou numa nova
ocupaccedilatildeo ajustada agraves alteraccedilotildees funcionais)
b) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de obter rendimentos provenientes do trabalho
A explicitaccedilatildeo dos criteacuterios de delimitaccedilatildeo do conceito de incapacidade nos diferentes paiacuteses
encontra-se na Quadro 4
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Austraacutelia 2 Criteacuterios possuir uma incapacidade que resulte
num score nunca inferior a 20 nas tabelas de
incapacidades e incapacidade em trabalhar 30
horas ou mais por semana ou em ser
reconvertido para trabalho em contexto regular
nos proacuteximos 2 anos
Nenhum
Aacuteustria 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho (50
de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo para
trabalhadores sem qualificaccedilotildees) papel criacutetico
das decisotildees dos tribunais devido a definiccedilotildees
legais imprecisas
Nenhum mas as
restriccedilotildees de sauacutede
devem ter uma duraccedilatildeo
igual ou superior a 6
meses
Beacutelgica 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na actual ocupaccedilatildeo
1 ano
Canada Incapacidade severa e prolongada que impeccedila de
desenvolver trabalho numa base regular
Nenhum
Dinamarca 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum mas a
reabilitaccedilatildeo precisa de
estar completa
Franccedila 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual mas a
totalidade do subsidio requer igualmente perda de
capacidade de trabalho
Nenhum no caso das
condiccedilotildees estarem
estaacuteveis mas muito
frequentemente apoacutes 3
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
anos
Alemanha 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho a
incapacidade parcial eacute calculada em funccedilatildeo do nordm
de horas que a pessoa pode trabalhar
Nenhum mas a
incapacidade deve ter
uma duraccedilatildeo miacutenima
de 26 semanas
Itaacutelia 666reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum
Coreia Criteacuterios meacutedicos (niacuteveis de incapacidade
definidos de forma detalhada)
Periacuteodo de espera de
50 dias (os subsiacutedios
de doenccedila natildeo se
encontram disponiacuteveis)
Meacutexico 50 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo Nenhum
Holanda 15 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
(25 para os trabalhadores por conta proacutepria e
jovens com incapacidade) grau de incapacidade
calculado pela diferenccedila de remuneraccedilatildeo entre o
actual posto de trabalho compatiacutevel com as
limitaccedilotildees funcionais e o anterior
1 ano
Noruega 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho O
grau de subsiacutedio eacute calculado pela capacidade de
remuneraccedilatildeo
Nenhum (apoacutes ter
completado a
reabilitaccedilatildeo vocacional)
Poloacutenia Reduccedilatildeo temporaacuteria ou permanente da
capacidade de trabalho
Nenhum
Portugal 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual
Nenhum mas na
praacutetica ao fim de 3
anos (fim do periacuteodo de
doenccedila de longo termo)
Espanha 33 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho na
ocupaccedilatildeo actual incapacidade para todo e
qualquer trabalho para a totalidade do subsiacutedio
1 ano (embora seja
possiacutevel a candidatura
antes deste prazo em
casos de incapacidade
permanente)
Sueacutecia 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho grau
de incapacidade parcial calculado a partir das
horas que uma pessoa pode trabalhar
Nenhum
Suiccedila 40 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho para
as pessoas inactivas o grau de incapacidade eacute
calculado em relaccedilatildeo aacute actividade actual
1 ano
Turquia 666 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho
com um focus meacutedico bastante significativo
Nenhum
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Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Reino Unido Limitaccedilotildees nas actividades de vida quotidianas
relevantes para o trabalho (avaliaccedilotildees meacutedicas
predominantes) teste ocupacional durante a s
primeiras 28 semanas (subsidio de doenccedila)
28 semanas
Estados
Unidos
Reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
incapacidade em investir numa actividade
profissional com rendimentos ($ US 740 por mecircs)
5 meses (nem sempre
cobertos pelos
subsiacutedios de curto-
termo) e 24 meses
para a cobertura
meacutedica
Quadro 4 ndash Definiccedilotildees de incapacidade e tempos regulamentares
Um dos desafios que se coloca aos actuais sistemas reside na delimitaccedilatildeo da elegibilidade do
puacuteblico-alvo Para cumprir este objectivo satildeo necessaacuterios sistemas de avaliaccedilatildeo holiacutesticos
abrangentes coerentes e que permitam chegar a resultados de forma consistente e com
validade interna No actual contexto a CIF propotildee constituir-se como o instrumento conceptual
abrangente para caracterizar os diferentes domiacutenios e niacuteveis de funcionalidade incapacidade
de forma coerente e integrada Neste sentido uma das vantagens apontadas para a adopccedilatildeo
do modelo desenvolvido pela OMS eacute a possibilidade de uniformizaccedilatildeo de conceitos e portanto
da utilizaccedilatildeo de uma linguagem padratildeo que permita a comunicaccedilatildeo entre investigadores
gestores profissionais de sauacutede organizaccedilotildees da sociedade civil e utilizadores em geral
Um dos campos de estudo mais explorados para a aplicaccedilatildeo da CIF tem sido a aacuterea de
Medicina Fiacutesica e de Reabilitaccedilatildeo no que concerne ao acompanhamento do estado de sauacutede
dos pacientes em tratamento O uso da CIF tem sido considerado tambeacutem na avaliaccedilatildeo apoacutes
transtornos agudos condiccedilotildees traumaacuteticas condiccedilotildees croacutenicas e na geriatria
Alguns autores argumentam que a CIF deve ser explorada como uma base de informaccedilotildees
padronizadas em estudos sobre incapacidade profissional quando haacute necessidade de
relacionar dados de sauacutede ocupacional com os da Seguranccedila Social
Na Sauacutede Puacuteblica tradicionalmente pouca atenccedilatildeo tem sido dada agraves pessoas com
incapacidades No entanto ao lado de recentes investimentos por parte de organizaccedilotildees e de
alguns governos a publicaccedilatildeo do modelo da CIF fornece as bases para as poliacuteticas e
disciplinas da Sauacutede Puacuteblica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo que apresenta deficiecircncias e
incapacidades Assim uma das possibilidades de uso da CIF pode ser a contribuiccedilatildeo para
responder a importantes questotildees de sauacutede puacuteblica tais como qual o estado de sauacutede das
pessoas com deficiecircncias comparadas com as demais que necessidades e que tipos de
intervenccedilotildees satildeo mais adequadas para reduzir condiccedilotildees secundaacuterias e promover a
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na sociedade entre outras
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 49
Dezembro2006
Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 50
Dezembro2006
Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 51
Dezembro2006
Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
Dezembro2006
Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 53
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Puacuteblico-alvo Populaccedilatildeo idosa
54 AMERICAN DISABILITIES ACT
O American Disabilities Act (ADA) desenvolvido em 1990 fornece um conjunto de guidelines
no sentido de assegurar a disponibilizaccedilatildeo de serviccedilos para as pessoas com deficiecircncias bem
como a protecccedilatildeo dos seus direitos legais
A ADA inclui uma definiccedilatildeo legal de incapacidade consistindo na presenccedila de ldquouma deficiecircncia
fiacutesica ou mental que limita significativamente uma ou mais das principais actividades de vidardquo
Independentemente da definiccedilatildeo proposta pela ADA a existecircncia de muacuteltiplos programas a
favor das pessoas com deficiecircncias e os diferentes focus legais em diferentes puacuteblicos alvo
fazem com que tenham emergido uma multiplicidade de definiccedilotildees de incapacidade ao longo
do tempo no quadro das poliacuteticas sociais americanas
55 OMS ONU Revisatildeo dos actuais inqueacuteritos sobre a incapacidade
Apesar de existir um desenvolvimento consideraacutevel dos inqueacuteritos na aacuterea da incapacidade
poder-se-atildeo explicitar algumas observaccedilotildees relativas agrave sua multiplicidade Numa primeira linha
de anaacutelise os inqueacuteritos tendem a focalizar-se nas limitaccedilotildees de actividade eou na deficiecircncia
No que concerne agrave formulaccedilatildeo escrita tendem a existir diferenccedilas significativas entre
inqueacuteritos facto que inviabiliza natildeo raras vezes a comparabilidade dos dados entre inqueacuteritos
As diferentes formulaccedilotildees das questotildees incluem
Tem dificuldade
Eacute capaz de
Faz
Tem sentido problemas em
com ou sem assistecircncia pessoal eou tecnoloacutegica
A questatildeo que se coloca eacute se estas formulaccedilotildees tecircm o mesmo significado isto eacute se todas elas
pretendem medir a capacidade ou a performance De acordo com a CIF a capacidade
remeteria para o potencial de execuccedilatildeo de um indiviacuteduo enquanto a performance diria respeito
ao niacutevel de desempenho efectivo do indiviacuteduo atraveacutes do seu envolvimento numa situaccedilatildeo de
vida real As lacunas existentes e as poucas referecircncias ao niacutevel da forma como os inquiridos
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 33
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
satildeo instruiacutedos a responder faz com que natildeo seja possiacutevel desenvolver um discernimento
irrefutaacutevel sobre esta mateacuteria
Do ponto de vista dos domiacutenios abrangidos os inqueacuteritos tecircm apresentado algumas questotildees
sobre a participaccedilatildeo e o ambiente e evidenciam algumas limitaccedilotildees na sua amplitude Os
domiacutenios de actividades e participaccedilatildeo geralmente abrangidos tecircm sido operacionalizados de
uma forma geral nas seguintes dimensotildees
Educaccedilatildeo e emprego (formulado como questotildees de performance)
Outros inqueacuteritos incluem aacutereas como relaccedilotildees interpessoais vida familiar tomada de
decisotildees etc
O domiacutenio relativo aos factores ambientais tem incluiacutedo
Utilizaccedilatildeo e acessibilidadedisponibilidade dos produtos de assistecircncia e da tecnologia
Acessibilidade do ambiente
Disponibilidade dos serviccedilos (sauacutede protecccedilatildeo social educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo)
Evidecircncias muito escassas ao niacutevel da poliacutetica atitudes ambiente natural
planeamento e concepccedilatildeo
A questatildeo de investigaccedilatildeo neste contexto centra-se na seguinte formulaccedilatildeo ldquoo que eacute que os
inqueacuteritos medem como incapacidaderdquo
a) Definiccedilatildeo a priori da incapacidade versus sem incapacidade
Alguns inqueacuteritos sobre a incapacidade especialmente os mais antigos utilizam uma definiccedilatildeo
a priori de incapacidade O objectivo deste tipo de inqueacuteritos eacute contar o nuacutemero de pessoas
que se encaixam na definiccedilatildeo no contexto da populaccedilatildeo total Neste sentido os dados satildeo
analisados de acordo com dois grupos de referecircncia ndash com incapacidade e sem incapacidade ndash
em funccedilatildeo de um conjunto de diferentes variaacuteveis Este tipo de questionaacuterios formula questotildees
do tipo ldquoPossui algum tipo de incapacidade auditiva visual ou fiacutesicardquo Muitas questotildees dos
censos tecircm utilizado este formato
b) Definiccedilatildeo a posteriori de incapacidade versus sem incapacidade
Mais recentemente alguns inqueacuteritos desenvolveram-se em direcccedilatildeo a uma definiccedilatildeo a
posteriori de incapacidade Nestes casos eacute medida a capacidade a performance ao longo de
um conjunto vasto de domiacutenios Este segundo tipo de inqueacuteritos tende a ter uma ampla
aceitaccedilatildeo eg HALS (Canada) HID (Franccedila) inqueacuterito sobre incapacidade na Africa do Sul
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 34
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Inqueacuterito Espanhol sobre incapacidade NHIS-D (USA) inqueacuterito Holandecircs entre outros Estes
instrumentos formulam questotildees relativas agraves dificuldades que as pessoas experienciam em
diferentes domiacutenios produzindo um perfil pessoal que possa colocar em evidecircncia os
diferentes graus de capacidade associados A categorizaccedilatildeo de incapacidade sem
incapacidade eacute formulada ao niacutevel do domiacutenio e natildeo como uma categoria geral de atributo
pessoal Esta abordagem permite uma anaacutelise ao niacutevel de funcionamento individual por
domiacutenio por exemplo comparando a experiecircncia de incapacidade no domiacutenio de mobilidade
versus socializaccedilatildeo versus comunicaccedilatildeo entre outros bem como o impacto dos factores
ambientais nestes diferentes domiacutenios O perfil resultante do funcionamento individual ao longo
de muacuteltiplos domiacutenios eacute similar aos estados de sauacutede individuais ao longo das diferentes
dimensotildees
Vantagens de uma abordagem a posteriori
Estaacute em consonacircncia com a abordagem universal proposta pela CIF Todas as
pessoas experienciam deficiecircncia nalgum ponto e esta experiecircncia eacute caracterizada
numa abordagem a posteriori e natildeo a priori
Decisotildees sobre a criaccedilatildeo de categorias sobre quem tem incapacidade e sobre quem
natildeo tem podem ser tomadas atraveacutes de diferentes niacuteveis de anaacutelise por exemplo
atraveacutes da anaacutelise da experiecircncia das pessoas que experienciam incapacidade em 1 2
ou 3 domiacutenios de cruzar o status de emprego de pessoas com incapacidade ao longo
dos diferentes domiacutenios etc
Deixa de ser necessaacuteria uma definiccedilatildeo tipoloacutegica e categoacuterica de pessoas com
incapacidade O que necessita de ser definido neste contexto eacute o que se designa por
limitaccedilatildeo da capacidade ou problemas de performance ao longo dos diferentes
domiacutenios
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 35
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 36
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6 SISTEMATIZACcedilAtildeO DAS DIMENSOtildeES DE ORGANIZACcedilAtildeO E
OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em todos os estudos efectuados neste domiacutenio foi colocada em evidecircncia a actual dificuldade
de comparabilidade estatiacutestica internacional inter ou intra sectorial independentemente do
organismo referenciador ndash OCDE ONU EUROSTAT INE OMS
Neste contexto desenvolver-se-aacute a extracccedilatildeo de conhecimento tendo por base a identificaccedilatildeo
de um conjunto de eixos de anaacutelise que actuem como vectores de estruturaccedilatildeo na
operacionalizaccedilatildeo do conceito A este propoacutesito atente-se no Quadro 2
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Abordagem Focus Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Delimitaccedilatildeo temporal do
conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo
Design das questotildees
CID-10
ICIDH
ICF
SauacutedeDoenccedila
Deficiecircncia
Incapacidade
a) Geral
b) Relativa ao trabalho
c) Limitaccedilotildees nas
actividades de vida
diaacuteria
Funcionalidade ndash
Niacuteveis de execuccedilatildeo
das actividades por
domiacutenio e niacuteveistipos
de ajudas mobilizadas
Intersubjectivo ndash
vg inqueacuteritos
Objectivo ndash vg
fontes administrativas
A priori
A posteriori
Temporaacuterias
permanentes
Progressivas
regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou
contiacutenuas
Tipo 1 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre uma determinada
condiccedilatildeo individual
combinada com itens
referentes a limitaccedilotildees de
actividade e participaccedilatildeo e
factores contextuais
Tipo 2 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre a presenccedila de uma
pessoa com incapacidade
no agregado familiar
seguindo-se uma lista de
deficiecircncias e
incapacidades
Tipo 3 ndash Checklist de
deficiecircncias
Quadro 2 ndash Eixos de operacionalizaccedilatildeo do conceito
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 37
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 38
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7 ESCOLHA DO CENAacuteRIO A IMPLEMENTAR
A anaacutelise do Quadro 2 permite-nos uma definiccedilatildeo modular do cenaacuterio a implementar atraveacutes de
uma configuraccedilatildeo do conceito pelos eixos de anaacutelise propostos Uma das dificuldades
evidentes nesta delimitaccedilatildeo prende-se com o cumprimento dos requisitos de (a)
comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica e legislativa dentro do contexto portuguecircs
e (c) conformidade com os referenciais conceptuais actuais sendo que a coexistecircncia destes
criteacuterios afigura-se em muitos casos incompatiacutevel entre si Para efeitos da estruturaccedilatildeo do
cenaacuterio privilegiar-se-aacute a conformidade com os referenciais conceptuais actuais
71 ABORDAGEM No que concerne agrave abordagem privilegia-se a adopccedilatildeo das mais recentes directrizes propostas
pela OMS adoptando explicitamente a CIF
Fundamentaccedilatildeo
A CIF apresenta a capacidade para descrever o funcionamento humano numa
perspectiva biopsicossocial em detrimento da classificaccedilatildeo anterior (ICIDH) que se
focalizava na dimensatildeo biomeacutedica A CIF foi desenvolvida no plano conceptual para ser aplicaacutevel em diferentes aacutereas e
sectores A CIF eacute aplicaacutevel transversalmente agraves dimensotildees de cultura idade geacutenero sendo um
instrumento sistemaacutetico para descrever e medir a sauacutede e o funcionamento humano
num dado contexto A CIF constitui-se enquanto instrumento potencial para a poliacutetica social design das
intervenccedilotildees nos domiacutenios da sauacutede educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e intervenccedilatildeo social Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
72 FOCUS
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo da centraccedilatildeo da recolha de dados ao niacutevel
da dimensatildeo de funcionalidade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
Fundamentaccedilatildeo
Consonacircncia com o modelo conceptual proposto pela CIF enfatizando o caraacutecter
dinacircmico e interaccional (pessoa factores contextuais) do funcionamento de cada
pessoa Permite caracterizar as limitaccedilotildees de actividade e restriccedilotildees de participaccedilatildeo dos
cidadatildeos identificando necessidades de intervenccedilotildees especializadas numa loacutegica de
empowerment e participaccedilatildeo social Permite analisar a adequabilidade e ajustamento das actuais medidas poliacuteticas do
ponto de vista dos seus objectivos e os problemas detectados ao niacutevel da participaccedilatildeo
dos cidadatildeos ao longo de um conjunto diversificado de domiacutenios
73 MEacuteTODOS DE MENSURACcedilAtildeO
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo de meacutetodos intersubjectivos nomeadamente
inqueacuteritos
Fundamentaccedilatildeo
Flexibilidade ao niacutevel da abrangecircncia e profundidade das dimensotildees
Maior facilidade na implementaccedilatildeo atendendo agrave disponibilizaccedilatildeo de uma amostra
delimitada
Maior niacutevel de controlo sobre as condiccedilotildees de observaccedilatildeo e da entrevista devido ao
menor nuacutemero de entrevistas a ser implementado
74 DELIMITACcedilAtildeO CONCEPTUAL E TEMPORAL DO CONCEITO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo temporal e apesar de se privilegiar as vantagens anteriormente
explicitadas no desenvolvimento de uma definiccedilatildeo a posteriori assume-se a necessidade
politica de delimitar o campo de intervenccedilatildeo do conjunto de medidas sociais neste domiacutenio
pelo que a delimitaccedilatildeo conceptual poderaacute ser objecto de operacionalizaccedilatildeo atraveacutes dos
seguintes paracircmetros
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
Poder-se-aacute colocar a questatildeo de saber se a delimitaccedilatildeo do conceito proposta remete
especificamente para ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ou para ldquopessoas com limitaccedilotildees de
participaccedilatildeordquo Atendendo a que a definiccedilatildeo comporta uma abordagem sisteacutemica enfatizando a
interacccedilatildeo entre um conjunto diversificado de componentes que produzem impacto na
funcionalidade da pessoa a resposta natildeo eacute linear dependendo da ecircnfase socio-histoacuterica e da
abordagem sociopoliacutetica que se escolher enfatizar No entanto e do ponto de vista conceptual
privilegia-se a adopccedilatildeo do conceito ldquopessoas com limitaccedilotildees de participaccedilatildeordquo dado que existe
total autonomia operativa entre os diferentes constructos Neste sentido a deficiecircncia natildeo
constitui um factor causal linear das limitaccedilotildees de actividade e das restriccedilotildees ao niacutevel da
participaccedilatildeo mas antes uma das componentes que em interacccedilatildeo com outras podem
provocar impactos ao niacutevel da funcionalidade do indiviacuteduo Por uacuteltimo refira-se que a tipologia
ldquopessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeordquo poderaacute ser alvo de criticas por constituir
uma designaccedilatildeo que apela a duas componentes em simultacircneo (actividades e participaccedilatildeo)
excluindo outras e ser demasiado longa para uma definiccedilatildeo tipoloacutegica A este propoacutesito pode-
se sugerir a delimitaccedilatildeo ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo constituindo esta
expressatildeo uma abordagem holiacutestica ao conjunto de componentes que interferem com o
funcionamento humano Deste modo poderemos ter as seguintes designaccedilotildees
Pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Pessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo
Pessoas com limitaccedilotildees de funcionalidade
Figura 2 ndash Possiacuteveis designaccedilotildees
O Quadro 3 pretende fornecer uma visatildeo sistemaacutetica sobre o processo de decisatildeo da
designaccedilatildeo a adoptar
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
deficiecircncias
Tradiccedilatildeo analiacutetica dentro do
contexto portuguecircs
Em conformidade com o modelo
meacutedico ndash centra-se nas alteraccedilotildees
de estrutura e funccedilatildeo ndash
focalizaccedilatildeo na pessoa
Desarticulado dos pressupostos do
modelo social ndash natildeo remete para a
experiecircncia de incapacidade
enquanto produto da interacccedilatildeo
entre pessoa e ambiente
Mai
or
Abr
angecirc
ncia
Mai
or
Espe
cific
idad
e
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
incapacidades
Em conformidade com a
delimitaccedilatildeo anglo-saxoacutenica que
utiliza o conceito Disability
Focalizaccedilatildeo no poacutelo negativo do
funcionamento humano ndash
funcionalidadeincapacidade
Ao focalizar-se na experiecircncia de
incapacidade enquanto
interacccedilatildeo pessoa-ambiente
remete indirectamente para a
mobilizaccedilatildeo de apoios e recursos
de forma a ultrapassar eou
eliminar os obstaacuteculos ao
funcionamento em contexto
O potencial efeito estigmatizante
da expressatildeo ldquopessoas com
incapacidadesrdquo
Pessoas com
diversidade
Funcional
Em conformidade com o modelo
social
Focaliza-se na gestatildeo das
diferenccedilas e no seu impacto ao
niacutevel da participaccedilatildeo das pessoas
na sociedade
Elevado niacutevel de abrangecircncia natildeo
permitindo um niacutevel de
diferenciaccedilatildeo relevante na
medida em que todos os cidadatildeos
detecircm entre si diversos e
diferentes padrotildees de
funcionamento humano
Conceito dificilmente
operacionalizaacutevel do ponto de
vista da formulaccedilatildeo das poliacuteticas e
da delimitaccedilatildeo dos puacuteblicos-alvo
Pessoas com
restriccedilotildees ao
niacutevel da
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos Desta forma
todos os obstaacuteculos agrave participaccedilatildeo
relacionados com discriminaccedilatildeo
social preconceitos estereoacutetipos
deficiecircncias doenccedilas croacutenicas
entre outros satildeo incluiacutedos
Natildeo inclui as limitaccedilotildees de
actividade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
limitaccedilotildees de
actividade e
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida e simultaneamente no
domiacutenio das limitaccedilotildees de
actividade
Ruptura com a tradiccedilatildeo analiacutetica
no sector
Dificuldade de apreensatildeo e
inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Natildeo inclui as alteraccedilotildees da
estrutura e da funccedilatildeo
Pessoas com
limitaccedilotildees de
funcionalidade
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel das
diferentes dimensotildees constituintes
da funcionalidade e do
funcionamento humano
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos
Pessoas com
deficiecircncias e
incapacidades
Natildeo introduz ruptura com a
tradiccedilatildeo analiacutetica no sector
Inclui as alteraccedilotildees de estrutura e
funccedilatildeo bem como as alteraccedilotildees
decorrentes ao niacutevel da
funcionalidade
Diferencia os conceitos de
deficiecircncia e incapacidade
autonomizando-os e fornecendo
uma base compreensiva para o
natildeo estabelecimento de relaccedilotildees
de causa-efeito entre os ambos
Abrange os obstaacuteculos que
emergem na interacccedilatildeo pessoa-
contextos de vida e
simultaneamente no domiacutenio das
limitaccedilotildees de actividade
Poder diferenciador e delimitador
na definiccedilatildeo do puacuteblico-alvo
Em alinhamento estrateacutegico com o
PAIPDI
Designaccedilatildeo de compromisso com
os referenciais teoacutericos do modelo
social e dos princiacutepios da ldquoeacutetica da
diversidaderdquo
Quadro 3 ndash Visatildeo comparativa das hipoacuteteses da designaccedilatildeo a adoptar
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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75 DELIMITACcedilAtildeO DA DURACcedilAtildeO E CURSO DE EVOLUCcedilAtildeO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo interessa a caracterizaccedilatildeo nas
3 dimensotildees desenvolvidas
Fundamentaccedilatildeo
Afigura-se relevante caracterizar a ocorrecircncia das deficiecircncias quanto aacute sua
consistecircncia no tempo ndash temporaacuterias permanentes ndash analisando os factores
contextuais associados consequecircncias ao niacutevel das actividades e da participaccedilatildeo ao
longo de um conjunto de domiacutenios em ordem agrave extracccedilatildeo de implicaccedilotildees no acircmbito
das poliacuteticas sociais
No acircmbito da adaptabilidade e da adequaccedilatildeo das medidas poliacuteticas agraves necessidades
especiacuteficas dos cidadatildeos torna-se relevante caracterizar a deficiecircncia quanto agrave
natureza do seu curso evolutivo ndash progressivas regressivas estaacuteveis O mesmo
criteacuterio eacute aplicaacutevel quanto aacute dimensatildeo de padratildeo de manifestaccedilatildeo ndash intermitente
contiacutenua
No entanto e apesar da incapacidade se manifestar ao longo do ciclo de vida da pessoa
de forma multimodal para efeitos de delimitaccedilatildeo e de definiccedilatildeo do conceito de pessoas
com deficiecircncias e incapacidades privilegiaremos o caraacutecter permanente Desta forma
excluem-se as manifestaccedilotildees temporaacuterias de incapacidade que enviesariam a anaacutelise e o
desenvolvimento de poliacuteticas neste domiacutenio
76 DESIGN DAS QUESTOtildeES
No que concerne ao design das questotildees privilegia-se a escolha de questotildees tipo 1
Fundamentaccedilatildeo
Em consonacircncia com a CIF
Permite comparabilidade estatiacutestica futura
Permite a caracterizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre os factores de funcionalidade ndash integridade
estrutural e funcional actividades participaccedilatildeo e factores contextuais
Permite o design das poliacuteticas sociais e metodologias de intervenccedilatildeo alicerccediladas nas
necessidades especiacuteficas dos cidadatildeos em torno das dimensotildees de inclusatildeo social
Domiacutenios
Visatildeo
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Audiccedilatildeo
Comunicaccedilatildeo
Mobilidade
Dor
Aprendizagem e funcionamento psicoloacutegico
Autocuidados e vida domeacutestica
Condiccedilotildees gerais de sauacutede
Mobilizaccedilatildeo de ajudas ou equipamento especializado
Participaccedilatildeo social
Transporte e educaccedilatildeo
77 PROPOSTA DE DELIMITACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em funccedilatildeo das dimensotildees caracterizadas e dos criteacuterios privilegiados desenvolveu-se o
seguinte enquadramento conceptual
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Figura 2 ndash Enquadramento conceptual da delimitaccedilatildeo do conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso da evoluccedilatildeo
Temporaacuterias permanentes
Progressivas regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou contiacutenuas
Focus
Funcionalidade ndash Niacuteveis de execuccedilatildeo das actividades por domiacutenio e niacuteveistipos de ajudas mobilizadas
Abordagem CIF
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo temporal do conceito
A priori
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Inter-subjectivo
Design das questotildees
Questatildeo geneacuterica sobre uma determinada condiccedilatildeo individual combinada com itens referentes a limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo e factores contextuais
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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8 CRITEacuteRIOS DE ELEGIBILIDADE DO PUacuteBLICO-ALVO E SISTEMAS DE
AVALIACcedilAtildeO
A operacionalizaccedilatildeo do conceito de incapacidade tem sido abordada de forma heterogeacutenea
entre diferentes modalidades de politica e os diferentes contextos socioculturais de cada paiacutes
De uma forma geral encontram-se 2 eixos criacuteticos na sua operacionalizaccedilatildeo
a) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de trabalho (na ocupaccedilatildeo preacutevia ou numa nova
ocupaccedilatildeo ajustada agraves alteraccedilotildees funcionais)
b) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de obter rendimentos provenientes do trabalho
A explicitaccedilatildeo dos criteacuterios de delimitaccedilatildeo do conceito de incapacidade nos diferentes paiacuteses
encontra-se na Quadro 4
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Austraacutelia 2 Criteacuterios possuir uma incapacidade que resulte
num score nunca inferior a 20 nas tabelas de
incapacidades e incapacidade em trabalhar 30
horas ou mais por semana ou em ser
reconvertido para trabalho em contexto regular
nos proacuteximos 2 anos
Nenhum
Aacuteustria 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho (50
de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo para
trabalhadores sem qualificaccedilotildees) papel criacutetico
das decisotildees dos tribunais devido a definiccedilotildees
legais imprecisas
Nenhum mas as
restriccedilotildees de sauacutede
devem ter uma duraccedilatildeo
igual ou superior a 6
meses
Beacutelgica 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na actual ocupaccedilatildeo
1 ano
Canada Incapacidade severa e prolongada que impeccedila de
desenvolver trabalho numa base regular
Nenhum
Dinamarca 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum mas a
reabilitaccedilatildeo precisa de
estar completa
Franccedila 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual mas a
totalidade do subsidio requer igualmente perda de
capacidade de trabalho
Nenhum no caso das
condiccedilotildees estarem
estaacuteveis mas muito
frequentemente apoacutes 3
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
anos
Alemanha 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho a
incapacidade parcial eacute calculada em funccedilatildeo do nordm
de horas que a pessoa pode trabalhar
Nenhum mas a
incapacidade deve ter
uma duraccedilatildeo miacutenima
de 26 semanas
Itaacutelia 666reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum
Coreia Criteacuterios meacutedicos (niacuteveis de incapacidade
definidos de forma detalhada)
Periacuteodo de espera de
50 dias (os subsiacutedios
de doenccedila natildeo se
encontram disponiacuteveis)
Meacutexico 50 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo Nenhum
Holanda 15 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
(25 para os trabalhadores por conta proacutepria e
jovens com incapacidade) grau de incapacidade
calculado pela diferenccedila de remuneraccedilatildeo entre o
actual posto de trabalho compatiacutevel com as
limitaccedilotildees funcionais e o anterior
1 ano
Noruega 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho O
grau de subsiacutedio eacute calculado pela capacidade de
remuneraccedilatildeo
Nenhum (apoacutes ter
completado a
reabilitaccedilatildeo vocacional)
Poloacutenia Reduccedilatildeo temporaacuteria ou permanente da
capacidade de trabalho
Nenhum
Portugal 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual
Nenhum mas na
praacutetica ao fim de 3
anos (fim do periacuteodo de
doenccedila de longo termo)
Espanha 33 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho na
ocupaccedilatildeo actual incapacidade para todo e
qualquer trabalho para a totalidade do subsiacutedio
1 ano (embora seja
possiacutevel a candidatura
antes deste prazo em
casos de incapacidade
permanente)
Sueacutecia 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho grau
de incapacidade parcial calculado a partir das
horas que uma pessoa pode trabalhar
Nenhum
Suiccedila 40 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho para
as pessoas inactivas o grau de incapacidade eacute
calculado em relaccedilatildeo aacute actividade actual
1 ano
Turquia 666 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho
com um focus meacutedico bastante significativo
Nenhum
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Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Reino Unido Limitaccedilotildees nas actividades de vida quotidianas
relevantes para o trabalho (avaliaccedilotildees meacutedicas
predominantes) teste ocupacional durante a s
primeiras 28 semanas (subsidio de doenccedila)
28 semanas
Estados
Unidos
Reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
incapacidade em investir numa actividade
profissional com rendimentos ($ US 740 por mecircs)
5 meses (nem sempre
cobertos pelos
subsiacutedios de curto-
termo) e 24 meses
para a cobertura
meacutedica
Quadro 4 ndash Definiccedilotildees de incapacidade e tempos regulamentares
Um dos desafios que se coloca aos actuais sistemas reside na delimitaccedilatildeo da elegibilidade do
puacuteblico-alvo Para cumprir este objectivo satildeo necessaacuterios sistemas de avaliaccedilatildeo holiacutesticos
abrangentes coerentes e que permitam chegar a resultados de forma consistente e com
validade interna No actual contexto a CIF propotildee constituir-se como o instrumento conceptual
abrangente para caracterizar os diferentes domiacutenios e niacuteveis de funcionalidade incapacidade
de forma coerente e integrada Neste sentido uma das vantagens apontadas para a adopccedilatildeo
do modelo desenvolvido pela OMS eacute a possibilidade de uniformizaccedilatildeo de conceitos e portanto
da utilizaccedilatildeo de uma linguagem padratildeo que permita a comunicaccedilatildeo entre investigadores
gestores profissionais de sauacutede organizaccedilotildees da sociedade civil e utilizadores em geral
Um dos campos de estudo mais explorados para a aplicaccedilatildeo da CIF tem sido a aacuterea de
Medicina Fiacutesica e de Reabilitaccedilatildeo no que concerne ao acompanhamento do estado de sauacutede
dos pacientes em tratamento O uso da CIF tem sido considerado tambeacutem na avaliaccedilatildeo apoacutes
transtornos agudos condiccedilotildees traumaacuteticas condiccedilotildees croacutenicas e na geriatria
Alguns autores argumentam que a CIF deve ser explorada como uma base de informaccedilotildees
padronizadas em estudos sobre incapacidade profissional quando haacute necessidade de
relacionar dados de sauacutede ocupacional com os da Seguranccedila Social
Na Sauacutede Puacuteblica tradicionalmente pouca atenccedilatildeo tem sido dada agraves pessoas com
incapacidades No entanto ao lado de recentes investimentos por parte de organizaccedilotildees e de
alguns governos a publicaccedilatildeo do modelo da CIF fornece as bases para as poliacuteticas e
disciplinas da Sauacutede Puacuteblica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo que apresenta deficiecircncias e
incapacidades Assim uma das possibilidades de uso da CIF pode ser a contribuiccedilatildeo para
responder a importantes questotildees de sauacutede puacuteblica tais como qual o estado de sauacutede das
pessoas com deficiecircncias comparadas com as demais que necessidades e que tipos de
intervenccedilotildees satildeo mais adequadas para reduzir condiccedilotildees secundaacuterias e promover a
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na sociedade entre outras
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
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Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
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Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
Dezembro2006
Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 53
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
satildeo instruiacutedos a responder faz com que natildeo seja possiacutevel desenvolver um discernimento
irrefutaacutevel sobre esta mateacuteria
Do ponto de vista dos domiacutenios abrangidos os inqueacuteritos tecircm apresentado algumas questotildees
sobre a participaccedilatildeo e o ambiente e evidenciam algumas limitaccedilotildees na sua amplitude Os
domiacutenios de actividades e participaccedilatildeo geralmente abrangidos tecircm sido operacionalizados de
uma forma geral nas seguintes dimensotildees
Educaccedilatildeo e emprego (formulado como questotildees de performance)
Outros inqueacuteritos incluem aacutereas como relaccedilotildees interpessoais vida familiar tomada de
decisotildees etc
O domiacutenio relativo aos factores ambientais tem incluiacutedo
Utilizaccedilatildeo e acessibilidadedisponibilidade dos produtos de assistecircncia e da tecnologia
Acessibilidade do ambiente
Disponibilidade dos serviccedilos (sauacutede protecccedilatildeo social educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo)
Evidecircncias muito escassas ao niacutevel da poliacutetica atitudes ambiente natural
planeamento e concepccedilatildeo
A questatildeo de investigaccedilatildeo neste contexto centra-se na seguinte formulaccedilatildeo ldquoo que eacute que os
inqueacuteritos medem como incapacidaderdquo
a) Definiccedilatildeo a priori da incapacidade versus sem incapacidade
Alguns inqueacuteritos sobre a incapacidade especialmente os mais antigos utilizam uma definiccedilatildeo
a priori de incapacidade O objectivo deste tipo de inqueacuteritos eacute contar o nuacutemero de pessoas
que se encaixam na definiccedilatildeo no contexto da populaccedilatildeo total Neste sentido os dados satildeo
analisados de acordo com dois grupos de referecircncia ndash com incapacidade e sem incapacidade ndash
em funccedilatildeo de um conjunto de diferentes variaacuteveis Este tipo de questionaacuterios formula questotildees
do tipo ldquoPossui algum tipo de incapacidade auditiva visual ou fiacutesicardquo Muitas questotildees dos
censos tecircm utilizado este formato
b) Definiccedilatildeo a posteriori de incapacidade versus sem incapacidade
Mais recentemente alguns inqueacuteritos desenvolveram-se em direcccedilatildeo a uma definiccedilatildeo a
posteriori de incapacidade Nestes casos eacute medida a capacidade a performance ao longo de
um conjunto vasto de domiacutenios Este segundo tipo de inqueacuteritos tende a ter uma ampla
aceitaccedilatildeo eg HALS (Canada) HID (Franccedila) inqueacuterito sobre incapacidade na Africa do Sul
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 34
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Inqueacuterito Espanhol sobre incapacidade NHIS-D (USA) inqueacuterito Holandecircs entre outros Estes
instrumentos formulam questotildees relativas agraves dificuldades que as pessoas experienciam em
diferentes domiacutenios produzindo um perfil pessoal que possa colocar em evidecircncia os
diferentes graus de capacidade associados A categorizaccedilatildeo de incapacidade sem
incapacidade eacute formulada ao niacutevel do domiacutenio e natildeo como uma categoria geral de atributo
pessoal Esta abordagem permite uma anaacutelise ao niacutevel de funcionamento individual por
domiacutenio por exemplo comparando a experiecircncia de incapacidade no domiacutenio de mobilidade
versus socializaccedilatildeo versus comunicaccedilatildeo entre outros bem como o impacto dos factores
ambientais nestes diferentes domiacutenios O perfil resultante do funcionamento individual ao longo
de muacuteltiplos domiacutenios eacute similar aos estados de sauacutede individuais ao longo das diferentes
dimensotildees
Vantagens de uma abordagem a posteriori
Estaacute em consonacircncia com a abordagem universal proposta pela CIF Todas as
pessoas experienciam deficiecircncia nalgum ponto e esta experiecircncia eacute caracterizada
numa abordagem a posteriori e natildeo a priori
Decisotildees sobre a criaccedilatildeo de categorias sobre quem tem incapacidade e sobre quem
natildeo tem podem ser tomadas atraveacutes de diferentes niacuteveis de anaacutelise por exemplo
atraveacutes da anaacutelise da experiecircncia das pessoas que experienciam incapacidade em 1 2
ou 3 domiacutenios de cruzar o status de emprego de pessoas com incapacidade ao longo
dos diferentes domiacutenios etc
Deixa de ser necessaacuteria uma definiccedilatildeo tipoloacutegica e categoacuterica de pessoas com
incapacidade O que necessita de ser definido neste contexto eacute o que se designa por
limitaccedilatildeo da capacidade ou problemas de performance ao longo dos diferentes
domiacutenios
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 35
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 36
Dezembro2006
6 SISTEMATIZACcedilAtildeO DAS DIMENSOtildeES DE ORGANIZACcedilAtildeO E
OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em todos os estudos efectuados neste domiacutenio foi colocada em evidecircncia a actual dificuldade
de comparabilidade estatiacutestica internacional inter ou intra sectorial independentemente do
organismo referenciador ndash OCDE ONU EUROSTAT INE OMS
Neste contexto desenvolver-se-aacute a extracccedilatildeo de conhecimento tendo por base a identificaccedilatildeo
de um conjunto de eixos de anaacutelise que actuem como vectores de estruturaccedilatildeo na
operacionalizaccedilatildeo do conceito A este propoacutesito atente-se no Quadro 2
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Abordagem Focus Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Delimitaccedilatildeo temporal do
conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo
Design das questotildees
CID-10
ICIDH
ICF
SauacutedeDoenccedila
Deficiecircncia
Incapacidade
a) Geral
b) Relativa ao trabalho
c) Limitaccedilotildees nas
actividades de vida
diaacuteria
Funcionalidade ndash
Niacuteveis de execuccedilatildeo
das actividades por
domiacutenio e niacuteveistipos
de ajudas mobilizadas
Intersubjectivo ndash
vg inqueacuteritos
Objectivo ndash vg
fontes administrativas
A priori
A posteriori
Temporaacuterias
permanentes
Progressivas
regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou
contiacutenuas
Tipo 1 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre uma determinada
condiccedilatildeo individual
combinada com itens
referentes a limitaccedilotildees de
actividade e participaccedilatildeo e
factores contextuais
Tipo 2 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre a presenccedila de uma
pessoa com incapacidade
no agregado familiar
seguindo-se uma lista de
deficiecircncias e
incapacidades
Tipo 3 ndash Checklist de
deficiecircncias
Quadro 2 ndash Eixos de operacionalizaccedilatildeo do conceito
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 37
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 38
Dezembro2006
7 ESCOLHA DO CENAacuteRIO A IMPLEMENTAR
A anaacutelise do Quadro 2 permite-nos uma definiccedilatildeo modular do cenaacuterio a implementar atraveacutes de
uma configuraccedilatildeo do conceito pelos eixos de anaacutelise propostos Uma das dificuldades
evidentes nesta delimitaccedilatildeo prende-se com o cumprimento dos requisitos de (a)
comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica e legislativa dentro do contexto portuguecircs
e (c) conformidade com os referenciais conceptuais actuais sendo que a coexistecircncia destes
criteacuterios afigura-se em muitos casos incompatiacutevel entre si Para efeitos da estruturaccedilatildeo do
cenaacuterio privilegiar-se-aacute a conformidade com os referenciais conceptuais actuais
71 ABORDAGEM No que concerne agrave abordagem privilegia-se a adopccedilatildeo das mais recentes directrizes propostas
pela OMS adoptando explicitamente a CIF
Fundamentaccedilatildeo
A CIF apresenta a capacidade para descrever o funcionamento humano numa
perspectiva biopsicossocial em detrimento da classificaccedilatildeo anterior (ICIDH) que se
focalizava na dimensatildeo biomeacutedica A CIF foi desenvolvida no plano conceptual para ser aplicaacutevel em diferentes aacutereas e
sectores A CIF eacute aplicaacutevel transversalmente agraves dimensotildees de cultura idade geacutenero sendo um
instrumento sistemaacutetico para descrever e medir a sauacutede e o funcionamento humano
num dado contexto A CIF constitui-se enquanto instrumento potencial para a poliacutetica social design das
intervenccedilotildees nos domiacutenios da sauacutede educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e intervenccedilatildeo social Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
72 FOCUS
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo da centraccedilatildeo da recolha de dados ao niacutevel
da dimensatildeo de funcionalidade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 39
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Fundamentaccedilatildeo
Consonacircncia com o modelo conceptual proposto pela CIF enfatizando o caraacutecter
dinacircmico e interaccional (pessoa factores contextuais) do funcionamento de cada
pessoa Permite caracterizar as limitaccedilotildees de actividade e restriccedilotildees de participaccedilatildeo dos
cidadatildeos identificando necessidades de intervenccedilotildees especializadas numa loacutegica de
empowerment e participaccedilatildeo social Permite analisar a adequabilidade e ajustamento das actuais medidas poliacuteticas do
ponto de vista dos seus objectivos e os problemas detectados ao niacutevel da participaccedilatildeo
dos cidadatildeos ao longo de um conjunto diversificado de domiacutenios
73 MEacuteTODOS DE MENSURACcedilAtildeO
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo de meacutetodos intersubjectivos nomeadamente
inqueacuteritos
Fundamentaccedilatildeo
Flexibilidade ao niacutevel da abrangecircncia e profundidade das dimensotildees
Maior facilidade na implementaccedilatildeo atendendo agrave disponibilizaccedilatildeo de uma amostra
delimitada
Maior niacutevel de controlo sobre as condiccedilotildees de observaccedilatildeo e da entrevista devido ao
menor nuacutemero de entrevistas a ser implementado
74 DELIMITACcedilAtildeO CONCEPTUAL E TEMPORAL DO CONCEITO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo temporal e apesar de se privilegiar as vantagens anteriormente
explicitadas no desenvolvimento de uma definiccedilatildeo a posteriori assume-se a necessidade
politica de delimitar o campo de intervenccedilatildeo do conjunto de medidas sociais neste domiacutenio
pelo que a delimitaccedilatildeo conceptual poderaacute ser objecto de operacionalizaccedilatildeo atraveacutes dos
seguintes paracircmetros
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 40
Dezembro2006
Poder-se-aacute colocar a questatildeo de saber se a delimitaccedilatildeo do conceito proposta remete
especificamente para ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ou para ldquopessoas com limitaccedilotildees de
participaccedilatildeordquo Atendendo a que a definiccedilatildeo comporta uma abordagem sisteacutemica enfatizando a
interacccedilatildeo entre um conjunto diversificado de componentes que produzem impacto na
funcionalidade da pessoa a resposta natildeo eacute linear dependendo da ecircnfase socio-histoacuterica e da
abordagem sociopoliacutetica que se escolher enfatizar No entanto e do ponto de vista conceptual
privilegia-se a adopccedilatildeo do conceito ldquopessoas com limitaccedilotildees de participaccedilatildeordquo dado que existe
total autonomia operativa entre os diferentes constructos Neste sentido a deficiecircncia natildeo
constitui um factor causal linear das limitaccedilotildees de actividade e das restriccedilotildees ao niacutevel da
participaccedilatildeo mas antes uma das componentes que em interacccedilatildeo com outras podem
provocar impactos ao niacutevel da funcionalidade do indiviacuteduo Por uacuteltimo refira-se que a tipologia
ldquopessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeordquo poderaacute ser alvo de criticas por constituir
uma designaccedilatildeo que apela a duas componentes em simultacircneo (actividades e participaccedilatildeo)
excluindo outras e ser demasiado longa para uma definiccedilatildeo tipoloacutegica A este propoacutesito pode-
se sugerir a delimitaccedilatildeo ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo constituindo esta
expressatildeo uma abordagem holiacutestica ao conjunto de componentes que interferem com o
funcionamento humano Deste modo poderemos ter as seguintes designaccedilotildees
Pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Pessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo
Pessoas com limitaccedilotildees de funcionalidade
Figura 2 ndash Possiacuteveis designaccedilotildees
O Quadro 3 pretende fornecer uma visatildeo sistemaacutetica sobre o processo de decisatildeo da
designaccedilatildeo a adoptar
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
deficiecircncias
Tradiccedilatildeo analiacutetica dentro do
contexto portuguecircs
Em conformidade com o modelo
meacutedico ndash centra-se nas alteraccedilotildees
de estrutura e funccedilatildeo ndash
focalizaccedilatildeo na pessoa
Desarticulado dos pressupostos do
modelo social ndash natildeo remete para a
experiecircncia de incapacidade
enquanto produto da interacccedilatildeo
entre pessoa e ambiente
Mai
or
Abr
angecirc
ncia
Mai
or
Espe
cific
idad
e
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 41
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Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
incapacidades
Em conformidade com a
delimitaccedilatildeo anglo-saxoacutenica que
utiliza o conceito Disability
Focalizaccedilatildeo no poacutelo negativo do
funcionamento humano ndash
funcionalidadeincapacidade
Ao focalizar-se na experiecircncia de
incapacidade enquanto
interacccedilatildeo pessoa-ambiente
remete indirectamente para a
mobilizaccedilatildeo de apoios e recursos
de forma a ultrapassar eou
eliminar os obstaacuteculos ao
funcionamento em contexto
O potencial efeito estigmatizante
da expressatildeo ldquopessoas com
incapacidadesrdquo
Pessoas com
diversidade
Funcional
Em conformidade com o modelo
social
Focaliza-se na gestatildeo das
diferenccedilas e no seu impacto ao
niacutevel da participaccedilatildeo das pessoas
na sociedade
Elevado niacutevel de abrangecircncia natildeo
permitindo um niacutevel de
diferenciaccedilatildeo relevante na
medida em que todos os cidadatildeos
detecircm entre si diversos e
diferentes padrotildees de
funcionamento humano
Conceito dificilmente
operacionalizaacutevel do ponto de
vista da formulaccedilatildeo das poliacuteticas e
da delimitaccedilatildeo dos puacuteblicos-alvo
Pessoas com
restriccedilotildees ao
niacutevel da
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos Desta forma
todos os obstaacuteculos agrave participaccedilatildeo
relacionados com discriminaccedilatildeo
social preconceitos estereoacutetipos
deficiecircncias doenccedilas croacutenicas
entre outros satildeo incluiacutedos
Natildeo inclui as limitaccedilotildees de
actividade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 42
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Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
limitaccedilotildees de
actividade e
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida e simultaneamente no
domiacutenio das limitaccedilotildees de
actividade
Ruptura com a tradiccedilatildeo analiacutetica
no sector
Dificuldade de apreensatildeo e
inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Natildeo inclui as alteraccedilotildees da
estrutura e da funccedilatildeo
Pessoas com
limitaccedilotildees de
funcionalidade
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel das
diferentes dimensotildees constituintes
da funcionalidade e do
funcionamento humano
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos
Pessoas com
deficiecircncias e
incapacidades
Natildeo introduz ruptura com a
tradiccedilatildeo analiacutetica no sector
Inclui as alteraccedilotildees de estrutura e
funccedilatildeo bem como as alteraccedilotildees
decorrentes ao niacutevel da
funcionalidade
Diferencia os conceitos de
deficiecircncia e incapacidade
autonomizando-os e fornecendo
uma base compreensiva para o
natildeo estabelecimento de relaccedilotildees
de causa-efeito entre os ambos
Abrange os obstaacuteculos que
emergem na interacccedilatildeo pessoa-
contextos de vida e
simultaneamente no domiacutenio das
limitaccedilotildees de actividade
Poder diferenciador e delimitador
na definiccedilatildeo do puacuteblico-alvo
Em alinhamento estrateacutegico com o
PAIPDI
Designaccedilatildeo de compromisso com
os referenciais teoacutericos do modelo
social e dos princiacutepios da ldquoeacutetica da
diversidaderdquo
Quadro 3 ndash Visatildeo comparativa das hipoacuteteses da designaccedilatildeo a adoptar
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 43
Dezembro2006
75 DELIMITACcedilAtildeO DA DURACcedilAtildeO E CURSO DE EVOLUCcedilAtildeO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo interessa a caracterizaccedilatildeo nas
3 dimensotildees desenvolvidas
Fundamentaccedilatildeo
Afigura-se relevante caracterizar a ocorrecircncia das deficiecircncias quanto aacute sua
consistecircncia no tempo ndash temporaacuterias permanentes ndash analisando os factores
contextuais associados consequecircncias ao niacutevel das actividades e da participaccedilatildeo ao
longo de um conjunto de domiacutenios em ordem agrave extracccedilatildeo de implicaccedilotildees no acircmbito
das poliacuteticas sociais
No acircmbito da adaptabilidade e da adequaccedilatildeo das medidas poliacuteticas agraves necessidades
especiacuteficas dos cidadatildeos torna-se relevante caracterizar a deficiecircncia quanto agrave
natureza do seu curso evolutivo ndash progressivas regressivas estaacuteveis O mesmo
criteacuterio eacute aplicaacutevel quanto aacute dimensatildeo de padratildeo de manifestaccedilatildeo ndash intermitente
contiacutenua
No entanto e apesar da incapacidade se manifestar ao longo do ciclo de vida da pessoa
de forma multimodal para efeitos de delimitaccedilatildeo e de definiccedilatildeo do conceito de pessoas
com deficiecircncias e incapacidades privilegiaremos o caraacutecter permanente Desta forma
excluem-se as manifestaccedilotildees temporaacuterias de incapacidade que enviesariam a anaacutelise e o
desenvolvimento de poliacuteticas neste domiacutenio
76 DESIGN DAS QUESTOtildeES
No que concerne ao design das questotildees privilegia-se a escolha de questotildees tipo 1
Fundamentaccedilatildeo
Em consonacircncia com a CIF
Permite comparabilidade estatiacutestica futura
Permite a caracterizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre os factores de funcionalidade ndash integridade
estrutural e funcional actividades participaccedilatildeo e factores contextuais
Permite o design das poliacuteticas sociais e metodologias de intervenccedilatildeo alicerccediladas nas
necessidades especiacuteficas dos cidadatildeos em torno das dimensotildees de inclusatildeo social
Domiacutenios
Visatildeo
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 44
Dezembro2006
Audiccedilatildeo
Comunicaccedilatildeo
Mobilidade
Dor
Aprendizagem e funcionamento psicoloacutegico
Autocuidados e vida domeacutestica
Condiccedilotildees gerais de sauacutede
Mobilizaccedilatildeo de ajudas ou equipamento especializado
Participaccedilatildeo social
Transporte e educaccedilatildeo
77 PROPOSTA DE DELIMITACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em funccedilatildeo das dimensotildees caracterizadas e dos criteacuterios privilegiados desenvolveu-se o
seguinte enquadramento conceptual
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 45
Dezembro2006
Figura 2 ndash Enquadramento conceptual da delimitaccedilatildeo do conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso da evoluccedilatildeo
Temporaacuterias permanentes
Progressivas regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou contiacutenuas
Focus
Funcionalidade ndash Niacuteveis de execuccedilatildeo das actividades por domiacutenio e niacuteveistipos de ajudas mobilizadas
Abordagem CIF
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo temporal do conceito
A priori
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Inter-subjectivo
Design das questotildees
Questatildeo geneacuterica sobre uma determinada condiccedilatildeo individual combinada com itens referentes a limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo e factores contextuais
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 46
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8 CRITEacuteRIOS DE ELEGIBILIDADE DO PUacuteBLICO-ALVO E SISTEMAS DE
AVALIACcedilAtildeO
A operacionalizaccedilatildeo do conceito de incapacidade tem sido abordada de forma heterogeacutenea
entre diferentes modalidades de politica e os diferentes contextos socioculturais de cada paiacutes
De uma forma geral encontram-se 2 eixos criacuteticos na sua operacionalizaccedilatildeo
a) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de trabalho (na ocupaccedilatildeo preacutevia ou numa nova
ocupaccedilatildeo ajustada agraves alteraccedilotildees funcionais)
b) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de obter rendimentos provenientes do trabalho
A explicitaccedilatildeo dos criteacuterios de delimitaccedilatildeo do conceito de incapacidade nos diferentes paiacuteses
encontra-se na Quadro 4
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Austraacutelia 2 Criteacuterios possuir uma incapacidade que resulte
num score nunca inferior a 20 nas tabelas de
incapacidades e incapacidade em trabalhar 30
horas ou mais por semana ou em ser
reconvertido para trabalho em contexto regular
nos proacuteximos 2 anos
Nenhum
Aacuteustria 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho (50
de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo para
trabalhadores sem qualificaccedilotildees) papel criacutetico
das decisotildees dos tribunais devido a definiccedilotildees
legais imprecisas
Nenhum mas as
restriccedilotildees de sauacutede
devem ter uma duraccedilatildeo
igual ou superior a 6
meses
Beacutelgica 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na actual ocupaccedilatildeo
1 ano
Canada Incapacidade severa e prolongada que impeccedila de
desenvolver trabalho numa base regular
Nenhum
Dinamarca 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum mas a
reabilitaccedilatildeo precisa de
estar completa
Franccedila 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual mas a
totalidade do subsidio requer igualmente perda de
capacidade de trabalho
Nenhum no caso das
condiccedilotildees estarem
estaacuteveis mas muito
frequentemente apoacutes 3
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 47
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Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
anos
Alemanha 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho a
incapacidade parcial eacute calculada em funccedilatildeo do nordm
de horas que a pessoa pode trabalhar
Nenhum mas a
incapacidade deve ter
uma duraccedilatildeo miacutenima
de 26 semanas
Itaacutelia 666reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum
Coreia Criteacuterios meacutedicos (niacuteveis de incapacidade
definidos de forma detalhada)
Periacuteodo de espera de
50 dias (os subsiacutedios
de doenccedila natildeo se
encontram disponiacuteveis)
Meacutexico 50 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo Nenhum
Holanda 15 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
(25 para os trabalhadores por conta proacutepria e
jovens com incapacidade) grau de incapacidade
calculado pela diferenccedila de remuneraccedilatildeo entre o
actual posto de trabalho compatiacutevel com as
limitaccedilotildees funcionais e o anterior
1 ano
Noruega 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho O
grau de subsiacutedio eacute calculado pela capacidade de
remuneraccedilatildeo
Nenhum (apoacutes ter
completado a
reabilitaccedilatildeo vocacional)
Poloacutenia Reduccedilatildeo temporaacuteria ou permanente da
capacidade de trabalho
Nenhum
Portugal 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual
Nenhum mas na
praacutetica ao fim de 3
anos (fim do periacuteodo de
doenccedila de longo termo)
Espanha 33 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho na
ocupaccedilatildeo actual incapacidade para todo e
qualquer trabalho para a totalidade do subsiacutedio
1 ano (embora seja
possiacutevel a candidatura
antes deste prazo em
casos de incapacidade
permanente)
Sueacutecia 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho grau
de incapacidade parcial calculado a partir das
horas que uma pessoa pode trabalhar
Nenhum
Suiccedila 40 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho para
as pessoas inactivas o grau de incapacidade eacute
calculado em relaccedilatildeo aacute actividade actual
1 ano
Turquia 666 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho
com um focus meacutedico bastante significativo
Nenhum
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 48
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Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Reino Unido Limitaccedilotildees nas actividades de vida quotidianas
relevantes para o trabalho (avaliaccedilotildees meacutedicas
predominantes) teste ocupacional durante a s
primeiras 28 semanas (subsidio de doenccedila)
28 semanas
Estados
Unidos
Reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
incapacidade em investir numa actividade
profissional com rendimentos ($ US 740 por mecircs)
5 meses (nem sempre
cobertos pelos
subsiacutedios de curto-
termo) e 24 meses
para a cobertura
meacutedica
Quadro 4 ndash Definiccedilotildees de incapacidade e tempos regulamentares
Um dos desafios que se coloca aos actuais sistemas reside na delimitaccedilatildeo da elegibilidade do
puacuteblico-alvo Para cumprir este objectivo satildeo necessaacuterios sistemas de avaliaccedilatildeo holiacutesticos
abrangentes coerentes e que permitam chegar a resultados de forma consistente e com
validade interna No actual contexto a CIF propotildee constituir-se como o instrumento conceptual
abrangente para caracterizar os diferentes domiacutenios e niacuteveis de funcionalidade incapacidade
de forma coerente e integrada Neste sentido uma das vantagens apontadas para a adopccedilatildeo
do modelo desenvolvido pela OMS eacute a possibilidade de uniformizaccedilatildeo de conceitos e portanto
da utilizaccedilatildeo de uma linguagem padratildeo que permita a comunicaccedilatildeo entre investigadores
gestores profissionais de sauacutede organizaccedilotildees da sociedade civil e utilizadores em geral
Um dos campos de estudo mais explorados para a aplicaccedilatildeo da CIF tem sido a aacuterea de
Medicina Fiacutesica e de Reabilitaccedilatildeo no que concerne ao acompanhamento do estado de sauacutede
dos pacientes em tratamento O uso da CIF tem sido considerado tambeacutem na avaliaccedilatildeo apoacutes
transtornos agudos condiccedilotildees traumaacuteticas condiccedilotildees croacutenicas e na geriatria
Alguns autores argumentam que a CIF deve ser explorada como uma base de informaccedilotildees
padronizadas em estudos sobre incapacidade profissional quando haacute necessidade de
relacionar dados de sauacutede ocupacional com os da Seguranccedila Social
Na Sauacutede Puacuteblica tradicionalmente pouca atenccedilatildeo tem sido dada agraves pessoas com
incapacidades No entanto ao lado de recentes investimentos por parte de organizaccedilotildees e de
alguns governos a publicaccedilatildeo do modelo da CIF fornece as bases para as poliacuteticas e
disciplinas da Sauacutede Puacuteblica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo que apresenta deficiecircncias e
incapacidades Assim uma das possibilidades de uso da CIF pode ser a contribuiccedilatildeo para
responder a importantes questotildees de sauacutede puacuteblica tais como qual o estado de sauacutede das
pessoas com deficiecircncias comparadas com as demais que necessidades e que tipos de
intervenccedilotildees satildeo mais adequadas para reduzir condiccedilotildees secundaacuterias e promover a
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na sociedade entre outras
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 49
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Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 50
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Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 51
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Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
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Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 53
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Inqueacuterito Espanhol sobre incapacidade NHIS-D (USA) inqueacuterito Holandecircs entre outros Estes
instrumentos formulam questotildees relativas agraves dificuldades que as pessoas experienciam em
diferentes domiacutenios produzindo um perfil pessoal que possa colocar em evidecircncia os
diferentes graus de capacidade associados A categorizaccedilatildeo de incapacidade sem
incapacidade eacute formulada ao niacutevel do domiacutenio e natildeo como uma categoria geral de atributo
pessoal Esta abordagem permite uma anaacutelise ao niacutevel de funcionamento individual por
domiacutenio por exemplo comparando a experiecircncia de incapacidade no domiacutenio de mobilidade
versus socializaccedilatildeo versus comunicaccedilatildeo entre outros bem como o impacto dos factores
ambientais nestes diferentes domiacutenios O perfil resultante do funcionamento individual ao longo
de muacuteltiplos domiacutenios eacute similar aos estados de sauacutede individuais ao longo das diferentes
dimensotildees
Vantagens de uma abordagem a posteriori
Estaacute em consonacircncia com a abordagem universal proposta pela CIF Todas as
pessoas experienciam deficiecircncia nalgum ponto e esta experiecircncia eacute caracterizada
numa abordagem a posteriori e natildeo a priori
Decisotildees sobre a criaccedilatildeo de categorias sobre quem tem incapacidade e sobre quem
natildeo tem podem ser tomadas atraveacutes de diferentes niacuteveis de anaacutelise por exemplo
atraveacutes da anaacutelise da experiecircncia das pessoas que experienciam incapacidade em 1 2
ou 3 domiacutenios de cruzar o status de emprego de pessoas com incapacidade ao longo
dos diferentes domiacutenios etc
Deixa de ser necessaacuteria uma definiccedilatildeo tipoloacutegica e categoacuterica de pessoas com
incapacidade O que necessita de ser definido neste contexto eacute o que se designa por
limitaccedilatildeo da capacidade ou problemas de performance ao longo dos diferentes
domiacutenios
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 35
Dezembro2006
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 36
Dezembro2006
6 SISTEMATIZACcedilAtildeO DAS DIMENSOtildeES DE ORGANIZACcedilAtildeO E
OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em todos os estudos efectuados neste domiacutenio foi colocada em evidecircncia a actual dificuldade
de comparabilidade estatiacutestica internacional inter ou intra sectorial independentemente do
organismo referenciador ndash OCDE ONU EUROSTAT INE OMS
Neste contexto desenvolver-se-aacute a extracccedilatildeo de conhecimento tendo por base a identificaccedilatildeo
de um conjunto de eixos de anaacutelise que actuem como vectores de estruturaccedilatildeo na
operacionalizaccedilatildeo do conceito A este propoacutesito atente-se no Quadro 2
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Abordagem Focus Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Delimitaccedilatildeo temporal do
conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo
Design das questotildees
CID-10
ICIDH
ICF
SauacutedeDoenccedila
Deficiecircncia
Incapacidade
a) Geral
b) Relativa ao trabalho
c) Limitaccedilotildees nas
actividades de vida
diaacuteria
Funcionalidade ndash
Niacuteveis de execuccedilatildeo
das actividades por
domiacutenio e niacuteveistipos
de ajudas mobilizadas
Intersubjectivo ndash
vg inqueacuteritos
Objectivo ndash vg
fontes administrativas
A priori
A posteriori
Temporaacuterias
permanentes
Progressivas
regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou
contiacutenuas
Tipo 1 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre uma determinada
condiccedilatildeo individual
combinada com itens
referentes a limitaccedilotildees de
actividade e participaccedilatildeo e
factores contextuais
Tipo 2 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre a presenccedila de uma
pessoa com incapacidade
no agregado familiar
seguindo-se uma lista de
deficiecircncias e
incapacidades
Tipo 3 ndash Checklist de
deficiecircncias
Quadro 2 ndash Eixos de operacionalizaccedilatildeo do conceito
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 37
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 38
Dezembro2006
7 ESCOLHA DO CENAacuteRIO A IMPLEMENTAR
A anaacutelise do Quadro 2 permite-nos uma definiccedilatildeo modular do cenaacuterio a implementar atraveacutes de
uma configuraccedilatildeo do conceito pelos eixos de anaacutelise propostos Uma das dificuldades
evidentes nesta delimitaccedilatildeo prende-se com o cumprimento dos requisitos de (a)
comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica e legislativa dentro do contexto portuguecircs
e (c) conformidade com os referenciais conceptuais actuais sendo que a coexistecircncia destes
criteacuterios afigura-se em muitos casos incompatiacutevel entre si Para efeitos da estruturaccedilatildeo do
cenaacuterio privilegiar-se-aacute a conformidade com os referenciais conceptuais actuais
71 ABORDAGEM No que concerne agrave abordagem privilegia-se a adopccedilatildeo das mais recentes directrizes propostas
pela OMS adoptando explicitamente a CIF
Fundamentaccedilatildeo
A CIF apresenta a capacidade para descrever o funcionamento humano numa
perspectiva biopsicossocial em detrimento da classificaccedilatildeo anterior (ICIDH) que se
focalizava na dimensatildeo biomeacutedica A CIF foi desenvolvida no plano conceptual para ser aplicaacutevel em diferentes aacutereas e
sectores A CIF eacute aplicaacutevel transversalmente agraves dimensotildees de cultura idade geacutenero sendo um
instrumento sistemaacutetico para descrever e medir a sauacutede e o funcionamento humano
num dado contexto A CIF constitui-se enquanto instrumento potencial para a poliacutetica social design das
intervenccedilotildees nos domiacutenios da sauacutede educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e intervenccedilatildeo social Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
72 FOCUS
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo da centraccedilatildeo da recolha de dados ao niacutevel
da dimensatildeo de funcionalidade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 39
Dezembro2006
Fundamentaccedilatildeo
Consonacircncia com o modelo conceptual proposto pela CIF enfatizando o caraacutecter
dinacircmico e interaccional (pessoa factores contextuais) do funcionamento de cada
pessoa Permite caracterizar as limitaccedilotildees de actividade e restriccedilotildees de participaccedilatildeo dos
cidadatildeos identificando necessidades de intervenccedilotildees especializadas numa loacutegica de
empowerment e participaccedilatildeo social Permite analisar a adequabilidade e ajustamento das actuais medidas poliacuteticas do
ponto de vista dos seus objectivos e os problemas detectados ao niacutevel da participaccedilatildeo
dos cidadatildeos ao longo de um conjunto diversificado de domiacutenios
73 MEacuteTODOS DE MENSURACcedilAtildeO
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo de meacutetodos intersubjectivos nomeadamente
inqueacuteritos
Fundamentaccedilatildeo
Flexibilidade ao niacutevel da abrangecircncia e profundidade das dimensotildees
Maior facilidade na implementaccedilatildeo atendendo agrave disponibilizaccedilatildeo de uma amostra
delimitada
Maior niacutevel de controlo sobre as condiccedilotildees de observaccedilatildeo e da entrevista devido ao
menor nuacutemero de entrevistas a ser implementado
74 DELIMITACcedilAtildeO CONCEPTUAL E TEMPORAL DO CONCEITO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo temporal e apesar de se privilegiar as vantagens anteriormente
explicitadas no desenvolvimento de uma definiccedilatildeo a posteriori assume-se a necessidade
politica de delimitar o campo de intervenccedilatildeo do conjunto de medidas sociais neste domiacutenio
pelo que a delimitaccedilatildeo conceptual poderaacute ser objecto de operacionalizaccedilatildeo atraveacutes dos
seguintes paracircmetros
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 40
Dezembro2006
Poder-se-aacute colocar a questatildeo de saber se a delimitaccedilatildeo do conceito proposta remete
especificamente para ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ou para ldquopessoas com limitaccedilotildees de
participaccedilatildeordquo Atendendo a que a definiccedilatildeo comporta uma abordagem sisteacutemica enfatizando a
interacccedilatildeo entre um conjunto diversificado de componentes que produzem impacto na
funcionalidade da pessoa a resposta natildeo eacute linear dependendo da ecircnfase socio-histoacuterica e da
abordagem sociopoliacutetica que se escolher enfatizar No entanto e do ponto de vista conceptual
privilegia-se a adopccedilatildeo do conceito ldquopessoas com limitaccedilotildees de participaccedilatildeordquo dado que existe
total autonomia operativa entre os diferentes constructos Neste sentido a deficiecircncia natildeo
constitui um factor causal linear das limitaccedilotildees de actividade e das restriccedilotildees ao niacutevel da
participaccedilatildeo mas antes uma das componentes que em interacccedilatildeo com outras podem
provocar impactos ao niacutevel da funcionalidade do indiviacuteduo Por uacuteltimo refira-se que a tipologia
ldquopessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeordquo poderaacute ser alvo de criticas por constituir
uma designaccedilatildeo que apela a duas componentes em simultacircneo (actividades e participaccedilatildeo)
excluindo outras e ser demasiado longa para uma definiccedilatildeo tipoloacutegica A este propoacutesito pode-
se sugerir a delimitaccedilatildeo ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo constituindo esta
expressatildeo uma abordagem holiacutestica ao conjunto de componentes que interferem com o
funcionamento humano Deste modo poderemos ter as seguintes designaccedilotildees
Pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Pessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo
Pessoas com limitaccedilotildees de funcionalidade
Figura 2 ndash Possiacuteveis designaccedilotildees
O Quadro 3 pretende fornecer uma visatildeo sistemaacutetica sobre o processo de decisatildeo da
designaccedilatildeo a adoptar
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
deficiecircncias
Tradiccedilatildeo analiacutetica dentro do
contexto portuguecircs
Em conformidade com o modelo
meacutedico ndash centra-se nas alteraccedilotildees
de estrutura e funccedilatildeo ndash
focalizaccedilatildeo na pessoa
Desarticulado dos pressupostos do
modelo social ndash natildeo remete para a
experiecircncia de incapacidade
enquanto produto da interacccedilatildeo
entre pessoa e ambiente
Mai
or
Abr
angecirc
ncia
Mai
or
Espe
cific
idad
e
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 41
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
incapacidades
Em conformidade com a
delimitaccedilatildeo anglo-saxoacutenica que
utiliza o conceito Disability
Focalizaccedilatildeo no poacutelo negativo do
funcionamento humano ndash
funcionalidadeincapacidade
Ao focalizar-se na experiecircncia de
incapacidade enquanto
interacccedilatildeo pessoa-ambiente
remete indirectamente para a
mobilizaccedilatildeo de apoios e recursos
de forma a ultrapassar eou
eliminar os obstaacuteculos ao
funcionamento em contexto
O potencial efeito estigmatizante
da expressatildeo ldquopessoas com
incapacidadesrdquo
Pessoas com
diversidade
Funcional
Em conformidade com o modelo
social
Focaliza-se na gestatildeo das
diferenccedilas e no seu impacto ao
niacutevel da participaccedilatildeo das pessoas
na sociedade
Elevado niacutevel de abrangecircncia natildeo
permitindo um niacutevel de
diferenciaccedilatildeo relevante na
medida em que todos os cidadatildeos
detecircm entre si diversos e
diferentes padrotildees de
funcionamento humano
Conceito dificilmente
operacionalizaacutevel do ponto de
vista da formulaccedilatildeo das poliacuteticas e
da delimitaccedilatildeo dos puacuteblicos-alvo
Pessoas com
restriccedilotildees ao
niacutevel da
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos Desta forma
todos os obstaacuteculos agrave participaccedilatildeo
relacionados com discriminaccedilatildeo
social preconceitos estereoacutetipos
deficiecircncias doenccedilas croacutenicas
entre outros satildeo incluiacutedos
Natildeo inclui as limitaccedilotildees de
actividade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 42
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
limitaccedilotildees de
actividade e
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida e simultaneamente no
domiacutenio das limitaccedilotildees de
actividade
Ruptura com a tradiccedilatildeo analiacutetica
no sector
Dificuldade de apreensatildeo e
inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Natildeo inclui as alteraccedilotildees da
estrutura e da funccedilatildeo
Pessoas com
limitaccedilotildees de
funcionalidade
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel das
diferentes dimensotildees constituintes
da funcionalidade e do
funcionamento humano
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos
Pessoas com
deficiecircncias e
incapacidades
Natildeo introduz ruptura com a
tradiccedilatildeo analiacutetica no sector
Inclui as alteraccedilotildees de estrutura e
funccedilatildeo bem como as alteraccedilotildees
decorrentes ao niacutevel da
funcionalidade
Diferencia os conceitos de
deficiecircncia e incapacidade
autonomizando-os e fornecendo
uma base compreensiva para o
natildeo estabelecimento de relaccedilotildees
de causa-efeito entre os ambos
Abrange os obstaacuteculos que
emergem na interacccedilatildeo pessoa-
contextos de vida e
simultaneamente no domiacutenio das
limitaccedilotildees de actividade
Poder diferenciador e delimitador
na definiccedilatildeo do puacuteblico-alvo
Em alinhamento estrateacutegico com o
PAIPDI
Designaccedilatildeo de compromisso com
os referenciais teoacutericos do modelo
social e dos princiacutepios da ldquoeacutetica da
diversidaderdquo
Quadro 3 ndash Visatildeo comparativa das hipoacuteteses da designaccedilatildeo a adoptar
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 43
Dezembro2006
75 DELIMITACcedilAtildeO DA DURACcedilAtildeO E CURSO DE EVOLUCcedilAtildeO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo interessa a caracterizaccedilatildeo nas
3 dimensotildees desenvolvidas
Fundamentaccedilatildeo
Afigura-se relevante caracterizar a ocorrecircncia das deficiecircncias quanto aacute sua
consistecircncia no tempo ndash temporaacuterias permanentes ndash analisando os factores
contextuais associados consequecircncias ao niacutevel das actividades e da participaccedilatildeo ao
longo de um conjunto de domiacutenios em ordem agrave extracccedilatildeo de implicaccedilotildees no acircmbito
das poliacuteticas sociais
No acircmbito da adaptabilidade e da adequaccedilatildeo das medidas poliacuteticas agraves necessidades
especiacuteficas dos cidadatildeos torna-se relevante caracterizar a deficiecircncia quanto agrave
natureza do seu curso evolutivo ndash progressivas regressivas estaacuteveis O mesmo
criteacuterio eacute aplicaacutevel quanto aacute dimensatildeo de padratildeo de manifestaccedilatildeo ndash intermitente
contiacutenua
No entanto e apesar da incapacidade se manifestar ao longo do ciclo de vida da pessoa
de forma multimodal para efeitos de delimitaccedilatildeo e de definiccedilatildeo do conceito de pessoas
com deficiecircncias e incapacidades privilegiaremos o caraacutecter permanente Desta forma
excluem-se as manifestaccedilotildees temporaacuterias de incapacidade que enviesariam a anaacutelise e o
desenvolvimento de poliacuteticas neste domiacutenio
76 DESIGN DAS QUESTOtildeES
No que concerne ao design das questotildees privilegia-se a escolha de questotildees tipo 1
Fundamentaccedilatildeo
Em consonacircncia com a CIF
Permite comparabilidade estatiacutestica futura
Permite a caracterizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre os factores de funcionalidade ndash integridade
estrutural e funcional actividades participaccedilatildeo e factores contextuais
Permite o design das poliacuteticas sociais e metodologias de intervenccedilatildeo alicerccediladas nas
necessidades especiacuteficas dos cidadatildeos em torno das dimensotildees de inclusatildeo social
Domiacutenios
Visatildeo
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 44
Dezembro2006
Audiccedilatildeo
Comunicaccedilatildeo
Mobilidade
Dor
Aprendizagem e funcionamento psicoloacutegico
Autocuidados e vida domeacutestica
Condiccedilotildees gerais de sauacutede
Mobilizaccedilatildeo de ajudas ou equipamento especializado
Participaccedilatildeo social
Transporte e educaccedilatildeo
77 PROPOSTA DE DELIMITACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em funccedilatildeo das dimensotildees caracterizadas e dos criteacuterios privilegiados desenvolveu-se o
seguinte enquadramento conceptual
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 45
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Figura 2 ndash Enquadramento conceptual da delimitaccedilatildeo do conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso da evoluccedilatildeo
Temporaacuterias permanentes
Progressivas regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou contiacutenuas
Focus
Funcionalidade ndash Niacuteveis de execuccedilatildeo das actividades por domiacutenio e niacuteveistipos de ajudas mobilizadas
Abordagem CIF
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo temporal do conceito
A priori
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Inter-subjectivo
Design das questotildees
Questatildeo geneacuterica sobre uma determinada condiccedilatildeo individual combinada com itens referentes a limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo e factores contextuais
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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8 CRITEacuteRIOS DE ELEGIBILIDADE DO PUacuteBLICO-ALVO E SISTEMAS DE
AVALIACcedilAtildeO
A operacionalizaccedilatildeo do conceito de incapacidade tem sido abordada de forma heterogeacutenea
entre diferentes modalidades de politica e os diferentes contextos socioculturais de cada paiacutes
De uma forma geral encontram-se 2 eixos criacuteticos na sua operacionalizaccedilatildeo
a) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de trabalho (na ocupaccedilatildeo preacutevia ou numa nova
ocupaccedilatildeo ajustada agraves alteraccedilotildees funcionais)
b) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de obter rendimentos provenientes do trabalho
A explicitaccedilatildeo dos criteacuterios de delimitaccedilatildeo do conceito de incapacidade nos diferentes paiacuteses
encontra-se na Quadro 4
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Austraacutelia 2 Criteacuterios possuir uma incapacidade que resulte
num score nunca inferior a 20 nas tabelas de
incapacidades e incapacidade em trabalhar 30
horas ou mais por semana ou em ser
reconvertido para trabalho em contexto regular
nos proacuteximos 2 anos
Nenhum
Aacuteustria 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho (50
de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo para
trabalhadores sem qualificaccedilotildees) papel criacutetico
das decisotildees dos tribunais devido a definiccedilotildees
legais imprecisas
Nenhum mas as
restriccedilotildees de sauacutede
devem ter uma duraccedilatildeo
igual ou superior a 6
meses
Beacutelgica 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na actual ocupaccedilatildeo
1 ano
Canada Incapacidade severa e prolongada que impeccedila de
desenvolver trabalho numa base regular
Nenhum
Dinamarca 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum mas a
reabilitaccedilatildeo precisa de
estar completa
Franccedila 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual mas a
totalidade do subsidio requer igualmente perda de
capacidade de trabalho
Nenhum no caso das
condiccedilotildees estarem
estaacuteveis mas muito
frequentemente apoacutes 3
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 47
Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
anos
Alemanha 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho a
incapacidade parcial eacute calculada em funccedilatildeo do nordm
de horas que a pessoa pode trabalhar
Nenhum mas a
incapacidade deve ter
uma duraccedilatildeo miacutenima
de 26 semanas
Itaacutelia 666reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum
Coreia Criteacuterios meacutedicos (niacuteveis de incapacidade
definidos de forma detalhada)
Periacuteodo de espera de
50 dias (os subsiacutedios
de doenccedila natildeo se
encontram disponiacuteveis)
Meacutexico 50 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo Nenhum
Holanda 15 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
(25 para os trabalhadores por conta proacutepria e
jovens com incapacidade) grau de incapacidade
calculado pela diferenccedila de remuneraccedilatildeo entre o
actual posto de trabalho compatiacutevel com as
limitaccedilotildees funcionais e o anterior
1 ano
Noruega 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho O
grau de subsiacutedio eacute calculado pela capacidade de
remuneraccedilatildeo
Nenhum (apoacutes ter
completado a
reabilitaccedilatildeo vocacional)
Poloacutenia Reduccedilatildeo temporaacuteria ou permanente da
capacidade de trabalho
Nenhum
Portugal 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual
Nenhum mas na
praacutetica ao fim de 3
anos (fim do periacuteodo de
doenccedila de longo termo)
Espanha 33 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho na
ocupaccedilatildeo actual incapacidade para todo e
qualquer trabalho para a totalidade do subsiacutedio
1 ano (embora seja
possiacutevel a candidatura
antes deste prazo em
casos de incapacidade
permanente)
Sueacutecia 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho grau
de incapacidade parcial calculado a partir das
horas que uma pessoa pode trabalhar
Nenhum
Suiccedila 40 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho para
as pessoas inactivas o grau de incapacidade eacute
calculado em relaccedilatildeo aacute actividade actual
1 ano
Turquia 666 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho
com um focus meacutedico bastante significativo
Nenhum
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 48
Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Reino Unido Limitaccedilotildees nas actividades de vida quotidianas
relevantes para o trabalho (avaliaccedilotildees meacutedicas
predominantes) teste ocupacional durante a s
primeiras 28 semanas (subsidio de doenccedila)
28 semanas
Estados
Unidos
Reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
incapacidade em investir numa actividade
profissional com rendimentos ($ US 740 por mecircs)
5 meses (nem sempre
cobertos pelos
subsiacutedios de curto-
termo) e 24 meses
para a cobertura
meacutedica
Quadro 4 ndash Definiccedilotildees de incapacidade e tempos regulamentares
Um dos desafios que se coloca aos actuais sistemas reside na delimitaccedilatildeo da elegibilidade do
puacuteblico-alvo Para cumprir este objectivo satildeo necessaacuterios sistemas de avaliaccedilatildeo holiacutesticos
abrangentes coerentes e que permitam chegar a resultados de forma consistente e com
validade interna No actual contexto a CIF propotildee constituir-se como o instrumento conceptual
abrangente para caracterizar os diferentes domiacutenios e niacuteveis de funcionalidade incapacidade
de forma coerente e integrada Neste sentido uma das vantagens apontadas para a adopccedilatildeo
do modelo desenvolvido pela OMS eacute a possibilidade de uniformizaccedilatildeo de conceitos e portanto
da utilizaccedilatildeo de uma linguagem padratildeo que permita a comunicaccedilatildeo entre investigadores
gestores profissionais de sauacutede organizaccedilotildees da sociedade civil e utilizadores em geral
Um dos campos de estudo mais explorados para a aplicaccedilatildeo da CIF tem sido a aacuterea de
Medicina Fiacutesica e de Reabilitaccedilatildeo no que concerne ao acompanhamento do estado de sauacutede
dos pacientes em tratamento O uso da CIF tem sido considerado tambeacutem na avaliaccedilatildeo apoacutes
transtornos agudos condiccedilotildees traumaacuteticas condiccedilotildees croacutenicas e na geriatria
Alguns autores argumentam que a CIF deve ser explorada como uma base de informaccedilotildees
padronizadas em estudos sobre incapacidade profissional quando haacute necessidade de
relacionar dados de sauacutede ocupacional com os da Seguranccedila Social
Na Sauacutede Puacuteblica tradicionalmente pouca atenccedilatildeo tem sido dada agraves pessoas com
incapacidades No entanto ao lado de recentes investimentos por parte de organizaccedilotildees e de
alguns governos a publicaccedilatildeo do modelo da CIF fornece as bases para as poliacuteticas e
disciplinas da Sauacutede Puacuteblica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo que apresenta deficiecircncias e
incapacidades Assim uma das possibilidades de uso da CIF pode ser a contribuiccedilatildeo para
responder a importantes questotildees de sauacutede puacuteblica tais como qual o estado de sauacutede das
pessoas com deficiecircncias comparadas com as demais que necessidades e que tipos de
intervenccedilotildees satildeo mais adequadas para reduzir condiccedilotildees secundaacuterias e promover a
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na sociedade entre outras
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 49
Dezembro2006
Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 50
Dezembro2006
Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 51
Dezembro2006
Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
Dezembro2006
Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 53
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6 SISTEMATIZACcedilAtildeO DAS DIMENSOtildeES DE ORGANIZACcedilAtildeO E
OPERACIONALIZACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em todos os estudos efectuados neste domiacutenio foi colocada em evidecircncia a actual dificuldade
de comparabilidade estatiacutestica internacional inter ou intra sectorial independentemente do
organismo referenciador ndash OCDE ONU EUROSTAT INE OMS
Neste contexto desenvolver-se-aacute a extracccedilatildeo de conhecimento tendo por base a identificaccedilatildeo
de um conjunto de eixos de anaacutelise que actuem como vectores de estruturaccedilatildeo na
operacionalizaccedilatildeo do conceito A este propoacutesito atente-se no Quadro 2
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Abordagem Focus Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Delimitaccedilatildeo temporal do
conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo
Design das questotildees
CID-10
ICIDH
ICF
SauacutedeDoenccedila
Deficiecircncia
Incapacidade
a) Geral
b) Relativa ao trabalho
c) Limitaccedilotildees nas
actividades de vida
diaacuteria
Funcionalidade ndash
Niacuteveis de execuccedilatildeo
das actividades por
domiacutenio e niacuteveistipos
de ajudas mobilizadas
Intersubjectivo ndash
vg inqueacuteritos
Objectivo ndash vg
fontes administrativas
A priori
A posteriori
Temporaacuterias
permanentes
Progressivas
regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou
contiacutenuas
Tipo 1 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre uma determinada
condiccedilatildeo individual
combinada com itens
referentes a limitaccedilotildees de
actividade e participaccedilatildeo e
factores contextuais
Tipo 2 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre a presenccedila de uma
pessoa com incapacidade
no agregado familiar
seguindo-se uma lista de
deficiecircncias e
incapacidades
Tipo 3 ndash Checklist de
deficiecircncias
Quadro 2 ndash Eixos de operacionalizaccedilatildeo do conceito
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 37
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 38
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7 ESCOLHA DO CENAacuteRIO A IMPLEMENTAR
A anaacutelise do Quadro 2 permite-nos uma definiccedilatildeo modular do cenaacuterio a implementar atraveacutes de
uma configuraccedilatildeo do conceito pelos eixos de anaacutelise propostos Uma das dificuldades
evidentes nesta delimitaccedilatildeo prende-se com o cumprimento dos requisitos de (a)
comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica e legislativa dentro do contexto portuguecircs
e (c) conformidade com os referenciais conceptuais actuais sendo que a coexistecircncia destes
criteacuterios afigura-se em muitos casos incompatiacutevel entre si Para efeitos da estruturaccedilatildeo do
cenaacuterio privilegiar-se-aacute a conformidade com os referenciais conceptuais actuais
71 ABORDAGEM No que concerne agrave abordagem privilegia-se a adopccedilatildeo das mais recentes directrizes propostas
pela OMS adoptando explicitamente a CIF
Fundamentaccedilatildeo
A CIF apresenta a capacidade para descrever o funcionamento humano numa
perspectiva biopsicossocial em detrimento da classificaccedilatildeo anterior (ICIDH) que se
focalizava na dimensatildeo biomeacutedica A CIF foi desenvolvida no plano conceptual para ser aplicaacutevel em diferentes aacutereas e
sectores A CIF eacute aplicaacutevel transversalmente agraves dimensotildees de cultura idade geacutenero sendo um
instrumento sistemaacutetico para descrever e medir a sauacutede e o funcionamento humano
num dado contexto A CIF constitui-se enquanto instrumento potencial para a poliacutetica social design das
intervenccedilotildees nos domiacutenios da sauacutede educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e intervenccedilatildeo social Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
72 FOCUS
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo da centraccedilatildeo da recolha de dados ao niacutevel
da dimensatildeo de funcionalidade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 39
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Fundamentaccedilatildeo
Consonacircncia com o modelo conceptual proposto pela CIF enfatizando o caraacutecter
dinacircmico e interaccional (pessoa factores contextuais) do funcionamento de cada
pessoa Permite caracterizar as limitaccedilotildees de actividade e restriccedilotildees de participaccedilatildeo dos
cidadatildeos identificando necessidades de intervenccedilotildees especializadas numa loacutegica de
empowerment e participaccedilatildeo social Permite analisar a adequabilidade e ajustamento das actuais medidas poliacuteticas do
ponto de vista dos seus objectivos e os problemas detectados ao niacutevel da participaccedilatildeo
dos cidadatildeos ao longo de um conjunto diversificado de domiacutenios
73 MEacuteTODOS DE MENSURACcedilAtildeO
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo de meacutetodos intersubjectivos nomeadamente
inqueacuteritos
Fundamentaccedilatildeo
Flexibilidade ao niacutevel da abrangecircncia e profundidade das dimensotildees
Maior facilidade na implementaccedilatildeo atendendo agrave disponibilizaccedilatildeo de uma amostra
delimitada
Maior niacutevel de controlo sobre as condiccedilotildees de observaccedilatildeo e da entrevista devido ao
menor nuacutemero de entrevistas a ser implementado
74 DELIMITACcedilAtildeO CONCEPTUAL E TEMPORAL DO CONCEITO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo temporal e apesar de se privilegiar as vantagens anteriormente
explicitadas no desenvolvimento de uma definiccedilatildeo a posteriori assume-se a necessidade
politica de delimitar o campo de intervenccedilatildeo do conjunto de medidas sociais neste domiacutenio
pelo que a delimitaccedilatildeo conceptual poderaacute ser objecto de operacionalizaccedilatildeo atraveacutes dos
seguintes paracircmetros
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 40
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Poder-se-aacute colocar a questatildeo de saber se a delimitaccedilatildeo do conceito proposta remete
especificamente para ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ou para ldquopessoas com limitaccedilotildees de
participaccedilatildeordquo Atendendo a que a definiccedilatildeo comporta uma abordagem sisteacutemica enfatizando a
interacccedilatildeo entre um conjunto diversificado de componentes que produzem impacto na
funcionalidade da pessoa a resposta natildeo eacute linear dependendo da ecircnfase socio-histoacuterica e da
abordagem sociopoliacutetica que se escolher enfatizar No entanto e do ponto de vista conceptual
privilegia-se a adopccedilatildeo do conceito ldquopessoas com limitaccedilotildees de participaccedilatildeordquo dado que existe
total autonomia operativa entre os diferentes constructos Neste sentido a deficiecircncia natildeo
constitui um factor causal linear das limitaccedilotildees de actividade e das restriccedilotildees ao niacutevel da
participaccedilatildeo mas antes uma das componentes que em interacccedilatildeo com outras podem
provocar impactos ao niacutevel da funcionalidade do indiviacuteduo Por uacuteltimo refira-se que a tipologia
ldquopessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeordquo poderaacute ser alvo de criticas por constituir
uma designaccedilatildeo que apela a duas componentes em simultacircneo (actividades e participaccedilatildeo)
excluindo outras e ser demasiado longa para uma definiccedilatildeo tipoloacutegica A este propoacutesito pode-
se sugerir a delimitaccedilatildeo ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo constituindo esta
expressatildeo uma abordagem holiacutestica ao conjunto de componentes que interferem com o
funcionamento humano Deste modo poderemos ter as seguintes designaccedilotildees
Pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Pessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo
Pessoas com limitaccedilotildees de funcionalidade
Figura 2 ndash Possiacuteveis designaccedilotildees
O Quadro 3 pretende fornecer uma visatildeo sistemaacutetica sobre o processo de decisatildeo da
designaccedilatildeo a adoptar
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
deficiecircncias
Tradiccedilatildeo analiacutetica dentro do
contexto portuguecircs
Em conformidade com o modelo
meacutedico ndash centra-se nas alteraccedilotildees
de estrutura e funccedilatildeo ndash
focalizaccedilatildeo na pessoa
Desarticulado dos pressupostos do
modelo social ndash natildeo remete para a
experiecircncia de incapacidade
enquanto produto da interacccedilatildeo
entre pessoa e ambiente
Mai
or
Abr
angecirc
ncia
Mai
or
Espe
cific
idad
e
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 41
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
incapacidades
Em conformidade com a
delimitaccedilatildeo anglo-saxoacutenica que
utiliza o conceito Disability
Focalizaccedilatildeo no poacutelo negativo do
funcionamento humano ndash
funcionalidadeincapacidade
Ao focalizar-se na experiecircncia de
incapacidade enquanto
interacccedilatildeo pessoa-ambiente
remete indirectamente para a
mobilizaccedilatildeo de apoios e recursos
de forma a ultrapassar eou
eliminar os obstaacuteculos ao
funcionamento em contexto
O potencial efeito estigmatizante
da expressatildeo ldquopessoas com
incapacidadesrdquo
Pessoas com
diversidade
Funcional
Em conformidade com o modelo
social
Focaliza-se na gestatildeo das
diferenccedilas e no seu impacto ao
niacutevel da participaccedilatildeo das pessoas
na sociedade
Elevado niacutevel de abrangecircncia natildeo
permitindo um niacutevel de
diferenciaccedilatildeo relevante na
medida em que todos os cidadatildeos
detecircm entre si diversos e
diferentes padrotildees de
funcionamento humano
Conceito dificilmente
operacionalizaacutevel do ponto de
vista da formulaccedilatildeo das poliacuteticas e
da delimitaccedilatildeo dos puacuteblicos-alvo
Pessoas com
restriccedilotildees ao
niacutevel da
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos Desta forma
todos os obstaacuteculos agrave participaccedilatildeo
relacionados com discriminaccedilatildeo
social preconceitos estereoacutetipos
deficiecircncias doenccedilas croacutenicas
entre outros satildeo incluiacutedos
Natildeo inclui as limitaccedilotildees de
actividade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 42
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
limitaccedilotildees de
actividade e
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida e simultaneamente no
domiacutenio das limitaccedilotildees de
actividade
Ruptura com a tradiccedilatildeo analiacutetica
no sector
Dificuldade de apreensatildeo e
inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Natildeo inclui as alteraccedilotildees da
estrutura e da funccedilatildeo
Pessoas com
limitaccedilotildees de
funcionalidade
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel das
diferentes dimensotildees constituintes
da funcionalidade e do
funcionamento humano
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos
Pessoas com
deficiecircncias e
incapacidades
Natildeo introduz ruptura com a
tradiccedilatildeo analiacutetica no sector
Inclui as alteraccedilotildees de estrutura e
funccedilatildeo bem como as alteraccedilotildees
decorrentes ao niacutevel da
funcionalidade
Diferencia os conceitos de
deficiecircncia e incapacidade
autonomizando-os e fornecendo
uma base compreensiva para o
natildeo estabelecimento de relaccedilotildees
de causa-efeito entre os ambos
Abrange os obstaacuteculos que
emergem na interacccedilatildeo pessoa-
contextos de vida e
simultaneamente no domiacutenio das
limitaccedilotildees de actividade
Poder diferenciador e delimitador
na definiccedilatildeo do puacuteblico-alvo
Em alinhamento estrateacutegico com o
PAIPDI
Designaccedilatildeo de compromisso com
os referenciais teoacutericos do modelo
social e dos princiacutepios da ldquoeacutetica da
diversidaderdquo
Quadro 3 ndash Visatildeo comparativa das hipoacuteteses da designaccedilatildeo a adoptar
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 43
Dezembro2006
75 DELIMITACcedilAtildeO DA DURACcedilAtildeO E CURSO DE EVOLUCcedilAtildeO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo interessa a caracterizaccedilatildeo nas
3 dimensotildees desenvolvidas
Fundamentaccedilatildeo
Afigura-se relevante caracterizar a ocorrecircncia das deficiecircncias quanto aacute sua
consistecircncia no tempo ndash temporaacuterias permanentes ndash analisando os factores
contextuais associados consequecircncias ao niacutevel das actividades e da participaccedilatildeo ao
longo de um conjunto de domiacutenios em ordem agrave extracccedilatildeo de implicaccedilotildees no acircmbito
das poliacuteticas sociais
No acircmbito da adaptabilidade e da adequaccedilatildeo das medidas poliacuteticas agraves necessidades
especiacuteficas dos cidadatildeos torna-se relevante caracterizar a deficiecircncia quanto agrave
natureza do seu curso evolutivo ndash progressivas regressivas estaacuteveis O mesmo
criteacuterio eacute aplicaacutevel quanto aacute dimensatildeo de padratildeo de manifestaccedilatildeo ndash intermitente
contiacutenua
No entanto e apesar da incapacidade se manifestar ao longo do ciclo de vida da pessoa
de forma multimodal para efeitos de delimitaccedilatildeo e de definiccedilatildeo do conceito de pessoas
com deficiecircncias e incapacidades privilegiaremos o caraacutecter permanente Desta forma
excluem-se as manifestaccedilotildees temporaacuterias de incapacidade que enviesariam a anaacutelise e o
desenvolvimento de poliacuteticas neste domiacutenio
76 DESIGN DAS QUESTOtildeES
No que concerne ao design das questotildees privilegia-se a escolha de questotildees tipo 1
Fundamentaccedilatildeo
Em consonacircncia com a CIF
Permite comparabilidade estatiacutestica futura
Permite a caracterizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre os factores de funcionalidade ndash integridade
estrutural e funcional actividades participaccedilatildeo e factores contextuais
Permite o design das poliacuteticas sociais e metodologias de intervenccedilatildeo alicerccediladas nas
necessidades especiacuteficas dos cidadatildeos em torno das dimensotildees de inclusatildeo social
Domiacutenios
Visatildeo
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Audiccedilatildeo
Comunicaccedilatildeo
Mobilidade
Dor
Aprendizagem e funcionamento psicoloacutegico
Autocuidados e vida domeacutestica
Condiccedilotildees gerais de sauacutede
Mobilizaccedilatildeo de ajudas ou equipamento especializado
Participaccedilatildeo social
Transporte e educaccedilatildeo
77 PROPOSTA DE DELIMITACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em funccedilatildeo das dimensotildees caracterizadas e dos criteacuterios privilegiados desenvolveu-se o
seguinte enquadramento conceptual
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
Figura 2 ndash Enquadramento conceptual da delimitaccedilatildeo do conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso da evoluccedilatildeo
Temporaacuterias permanentes
Progressivas regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou contiacutenuas
Focus
Funcionalidade ndash Niacuteveis de execuccedilatildeo das actividades por domiacutenio e niacuteveistipos de ajudas mobilizadas
Abordagem CIF
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo temporal do conceito
A priori
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Inter-subjectivo
Design das questotildees
Questatildeo geneacuterica sobre uma determinada condiccedilatildeo individual combinada com itens referentes a limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo e factores contextuais
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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8 CRITEacuteRIOS DE ELEGIBILIDADE DO PUacuteBLICO-ALVO E SISTEMAS DE
AVALIACcedilAtildeO
A operacionalizaccedilatildeo do conceito de incapacidade tem sido abordada de forma heterogeacutenea
entre diferentes modalidades de politica e os diferentes contextos socioculturais de cada paiacutes
De uma forma geral encontram-se 2 eixos criacuteticos na sua operacionalizaccedilatildeo
a) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de trabalho (na ocupaccedilatildeo preacutevia ou numa nova
ocupaccedilatildeo ajustada agraves alteraccedilotildees funcionais)
b) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de obter rendimentos provenientes do trabalho
A explicitaccedilatildeo dos criteacuterios de delimitaccedilatildeo do conceito de incapacidade nos diferentes paiacuteses
encontra-se na Quadro 4
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Austraacutelia 2 Criteacuterios possuir uma incapacidade que resulte
num score nunca inferior a 20 nas tabelas de
incapacidades e incapacidade em trabalhar 30
horas ou mais por semana ou em ser
reconvertido para trabalho em contexto regular
nos proacuteximos 2 anos
Nenhum
Aacuteustria 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho (50
de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo para
trabalhadores sem qualificaccedilotildees) papel criacutetico
das decisotildees dos tribunais devido a definiccedilotildees
legais imprecisas
Nenhum mas as
restriccedilotildees de sauacutede
devem ter uma duraccedilatildeo
igual ou superior a 6
meses
Beacutelgica 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na actual ocupaccedilatildeo
1 ano
Canada Incapacidade severa e prolongada que impeccedila de
desenvolver trabalho numa base regular
Nenhum
Dinamarca 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum mas a
reabilitaccedilatildeo precisa de
estar completa
Franccedila 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual mas a
totalidade do subsidio requer igualmente perda de
capacidade de trabalho
Nenhum no caso das
condiccedilotildees estarem
estaacuteveis mas muito
frequentemente apoacutes 3
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
anos
Alemanha 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho a
incapacidade parcial eacute calculada em funccedilatildeo do nordm
de horas que a pessoa pode trabalhar
Nenhum mas a
incapacidade deve ter
uma duraccedilatildeo miacutenima
de 26 semanas
Itaacutelia 666reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum
Coreia Criteacuterios meacutedicos (niacuteveis de incapacidade
definidos de forma detalhada)
Periacuteodo de espera de
50 dias (os subsiacutedios
de doenccedila natildeo se
encontram disponiacuteveis)
Meacutexico 50 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo Nenhum
Holanda 15 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
(25 para os trabalhadores por conta proacutepria e
jovens com incapacidade) grau de incapacidade
calculado pela diferenccedila de remuneraccedilatildeo entre o
actual posto de trabalho compatiacutevel com as
limitaccedilotildees funcionais e o anterior
1 ano
Noruega 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho O
grau de subsiacutedio eacute calculado pela capacidade de
remuneraccedilatildeo
Nenhum (apoacutes ter
completado a
reabilitaccedilatildeo vocacional)
Poloacutenia Reduccedilatildeo temporaacuteria ou permanente da
capacidade de trabalho
Nenhum
Portugal 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual
Nenhum mas na
praacutetica ao fim de 3
anos (fim do periacuteodo de
doenccedila de longo termo)
Espanha 33 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho na
ocupaccedilatildeo actual incapacidade para todo e
qualquer trabalho para a totalidade do subsiacutedio
1 ano (embora seja
possiacutevel a candidatura
antes deste prazo em
casos de incapacidade
permanente)
Sueacutecia 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho grau
de incapacidade parcial calculado a partir das
horas que uma pessoa pode trabalhar
Nenhum
Suiccedila 40 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho para
as pessoas inactivas o grau de incapacidade eacute
calculado em relaccedilatildeo aacute actividade actual
1 ano
Turquia 666 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho
com um focus meacutedico bastante significativo
Nenhum
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Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Reino Unido Limitaccedilotildees nas actividades de vida quotidianas
relevantes para o trabalho (avaliaccedilotildees meacutedicas
predominantes) teste ocupacional durante a s
primeiras 28 semanas (subsidio de doenccedila)
28 semanas
Estados
Unidos
Reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
incapacidade em investir numa actividade
profissional com rendimentos ($ US 740 por mecircs)
5 meses (nem sempre
cobertos pelos
subsiacutedios de curto-
termo) e 24 meses
para a cobertura
meacutedica
Quadro 4 ndash Definiccedilotildees de incapacidade e tempos regulamentares
Um dos desafios que se coloca aos actuais sistemas reside na delimitaccedilatildeo da elegibilidade do
puacuteblico-alvo Para cumprir este objectivo satildeo necessaacuterios sistemas de avaliaccedilatildeo holiacutesticos
abrangentes coerentes e que permitam chegar a resultados de forma consistente e com
validade interna No actual contexto a CIF propotildee constituir-se como o instrumento conceptual
abrangente para caracterizar os diferentes domiacutenios e niacuteveis de funcionalidade incapacidade
de forma coerente e integrada Neste sentido uma das vantagens apontadas para a adopccedilatildeo
do modelo desenvolvido pela OMS eacute a possibilidade de uniformizaccedilatildeo de conceitos e portanto
da utilizaccedilatildeo de uma linguagem padratildeo que permita a comunicaccedilatildeo entre investigadores
gestores profissionais de sauacutede organizaccedilotildees da sociedade civil e utilizadores em geral
Um dos campos de estudo mais explorados para a aplicaccedilatildeo da CIF tem sido a aacuterea de
Medicina Fiacutesica e de Reabilitaccedilatildeo no que concerne ao acompanhamento do estado de sauacutede
dos pacientes em tratamento O uso da CIF tem sido considerado tambeacutem na avaliaccedilatildeo apoacutes
transtornos agudos condiccedilotildees traumaacuteticas condiccedilotildees croacutenicas e na geriatria
Alguns autores argumentam que a CIF deve ser explorada como uma base de informaccedilotildees
padronizadas em estudos sobre incapacidade profissional quando haacute necessidade de
relacionar dados de sauacutede ocupacional com os da Seguranccedila Social
Na Sauacutede Puacuteblica tradicionalmente pouca atenccedilatildeo tem sido dada agraves pessoas com
incapacidades No entanto ao lado de recentes investimentos por parte de organizaccedilotildees e de
alguns governos a publicaccedilatildeo do modelo da CIF fornece as bases para as poliacuteticas e
disciplinas da Sauacutede Puacuteblica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo que apresenta deficiecircncias e
incapacidades Assim uma das possibilidades de uso da CIF pode ser a contribuiccedilatildeo para
responder a importantes questotildees de sauacutede puacuteblica tais como qual o estado de sauacutede das
pessoas com deficiecircncias comparadas com as demais que necessidades e que tipos de
intervenccedilotildees satildeo mais adequadas para reduzir condiccedilotildees secundaacuterias e promover a
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na sociedade entre outras
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Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 49
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Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
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Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
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Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Abordagem Focus Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Delimitaccedilatildeo temporal do
conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo
Design das questotildees
CID-10
ICIDH
ICF
SauacutedeDoenccedila
Deficiecircncia
Incapacidade
a) Geral
b) Relativa ao trabalho
c) Limitaccedilotildees nas
actividades de vida
diaacuteria
Funcionalidade ndash
Niacuteveis de execuccedilatildeo
das actividades por
domiacutenio e niacuteveistipos
de ajudas mobilizadas
Intersubjectivo ndash
vg inqueacuteritos
Objectivo ndash vg
fontes administrativas
A priori
A posteriori
Temporaacuterias
permanentes
Progressivas
regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou
contiacutenuas
Tipo 1 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre uma determinada
condiccedilatildeo individual
combinada com itens
referentes a limitaccedilotildees de
actividade e participaccedilatildeo e
factores contextuais
Tipo 2 ndash Questatildeo geneacuterica
sobre a presenccedila de uma
pessoa com incapacidade
no agregado familiar
seguindo-se uma lista de
deficiecircncias e
incapacidades
Tipo 3 ndash Checklist de
deficiecircncias
Quadro 2 ndash Eixos de operacionalizaccedilatildeo do conceito
Estudo ldquoModelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugalrdquo 37
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Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 38
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7 ESCOLHA DO CENAacuteRIO A IMPLEMENTAR
A anaacutelise do Quadro 2 permite-nos uma definiccedilatildeo modular do cenaacuterio a implementar atraveacutes de
uma configuraccedilatildeo do conceito pelos eixos de anaacutelise propostos Uma das dificuldades
evidentes nesta delimitaccedilatildeo prende-se com o cumprimento dos requisitos de (a)
comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica e legislativa dentro do contexto portuguecircs
e (c) conformidade com os referenciais conceptuais actuais sendo que a coexistecircncia destes
criteacuterios afigura-se em muitos casos incompatiacutevel entre si Para efeitos da estruturaccedilatildeo do
cenaacuterio privilegiar-se-aacute a conformidade com os referenciais conceptuais actuais
71 ABORDAGEM No que concerne agrave abordagem privilegia-se a adopccedilatildeo das mais recentes directrizes propostas
pela OMS adoptando explicitamente a CIF
Fundamentaccedilatildeo
A CIF apresenta a capacidade para descrever o funcionamento humano numa
perspectiva biopsicossocial em detrimento da classificaccedilatildeo anterior (ICIDH) que se
focalizava na dimensatildeo biomeacutedica A CIF foi desenvolvida no plano conceptual para ser aplicaacutevel em diferentes aacutereas e
sectores A CIF eacute aplicaacutevel transversalmente agraves dimensotildees de cultura idade geacutenero sendo um
instrumento sistemaacutetico para descrever e medir a sauacutede e o funcionamento humano
num dado contexto A CIF constitui-se enquanto instrumento potencial para a poliacutetica social design das
intervenccedilotildees nos domiacutenios da sauacutede educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e intervenccedilatildeo social Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
72 FOCUS
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo da centraccedilatildeo da recolha de dados ao niacutevel
da dimensatildeo de funcionalidade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Fundamentaccedilatildeo
Consonacircncia com o modelo conceptual proposto pela CIF enfatizando o caraacutecter
dinacircmico e interaccional (pessoa factores contextuais) do funcionamento de cada
pessoa Permite caracterizar as limitaccedilotildees de actividade e restriccedilotildees de participaccedilatildeo dos
cidadatildeos identificando necessidades de intervenccedilotildees especializadas numa loacutegica de
empowerment e participaccedilatildeo social Permite analisar a adequabilidade e ajustamento das actuais medidas poliacuteticas do
ponto de vista dos seus objectivos e os problemas detectados ao niacutevel da participaccedilatildeo
dos cidadatildeos ao longo de um conjunto diversificado de domiacutenios
73 MEacuteTODOS DE MENSURACcedilAtildeO
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo de meacutetodos intersubjectivos nomeadamente
inqueacuteritos
Fundamentaccedilatildeo
Flexibilidade ao niacutevel da abrangecircncia e profundidade das dimensotildees
Maior facilidade na implementaccedilatildeo atendendo agrave disponibilizaccedilatildeo de uma amostra
delimitada
Maior niacutevel de controlo sobre as condiccedilotildees de observaccedilatildeo e da entrevista devido ao
menor nuacutemero de entrevistas a ser implementado
74 DELIMITACcedilAtildeO CONCEPTUAL E TEMPORAL DO CONCEITO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo temporal e apesar de se privilegiar as vantagens anteriormente
explicitadas no desenvolvimento de uma definiccedilatildeo a posteriori assume-se a necessidade
politica de delimitar o campo de intervenccedilatildeo do conjunto de medidas sociais neste domiacutenio
pelo que a delimitaccedilatildeo conceptual poderaacute ser objecto de operacionalizaccedilatildeo atraveacutes dos
seguintes paracircmetros
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 40
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Poder-se-aacute colocar a questatildeo de saber se a delimitaccedilatildeo do conceito proposta remete
especificamente para ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ou para ldquopessoas com limitaccedilotildees de
participaccedilatildeordquo Atendendo a que a definiccedilatildeo comporta uma abordagem sisteacutemica enfatizando a
interacccedilatildeo entre um conjunto diversificado de componentes que produzem impacto na
funcionalidade da pessoa a resposta natildeo eacute linear dependendo da ecircnfase socio-histoacuterica e da
abordagem sociopoliacutetica que se escolher enfatizar No entanto e do ponto de vista conceptual
privilegia-se a adopccedilatildeo do conceito ldquopessoas com limitaccedilotildees de participaccedilatildeordquo dado que existe
total autonomia operativa entre os diferentes constructos Neste sentido a deficiecircncia natildeo
constitui um factor causal linear das limitaccedilotildees de actividade e das restriccedilotildees ao niacutevel da
participaccedilatildeo mas antes uma das componentes que em interacccedilatildeo com outras podem
provocar impactos ao niacutevel da funcionalidade do indiviacuteduo Por uacuteltimo refira-se que a tipologia
ldquopessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeordquo poderaacute ser alvo de criticas por constituir
uma designaccedilatildeo que apela a duas componentes em simultacircneo (actividades e participaccedilatildeo)
excluindo outras e ser demasiado longa para uma definiccedilatildeo tipoloacutegica A este propoacutesito pode-
se sugerir a delimitaccedilatildeo ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo constituindo esta
expressatildeo uma abordagem holiacutestica ao conjunto de componentes que interferem com o
funcionamento humano Deste modo poderemos ter as seguintes designaccedilotildees
Pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Pessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo
Pessoas com limitaccedilotildees de funcionalidade
Figura 2 ndash Possiacuteveis designaccedilotildees
O Quadro 3 pretende fornecer uma visatildeo sistemaacutetica sobre o processo de decisatildeo da
designaccedilatildeo a adoptar
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
deficiecircncias
Tradiccedilatildeo analiacutetica dentro do
contexto portuguecircs
Em conformidade com o modelo
meacutedico ndash centra-se nas alteraccedilotildees
de estrutura e funccedilatildeo ndash
focalizaccedilatildeo na pessoa
Desarticulado dos pressupostos do
modelo social ndash natildeo remete para a
experiecircncia de incapacidade
enquanto produto da interacccedilatildeo
entre pessoa e ambiente
Mai
or
Abr
angecirc
ncia
Mai
or
Espe
cific
idad
e
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 41
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
incapacidades
Em conformidade com a
delimitaccedilatildeo anglo-saxoacutenica que
utiliza o conceito Disability
Focalizaccedilatildeo no poacutelo negativo do
funcionamento humano ndash
funcionalidadeincapacidade
Ao focalizar-se na experiecircncia de
incapacidade enquanto
interacccedilatildeo pessoa-ambiente
remete indirectamente para a
mobilizaccedilatildeo de apoios e recursos
de forma a ultrapassar eou
eliminar os obstaacuteculos ao
funcionamento em contexto
O potencial efeito estigmatizante
da expressatildeo ldquopessoas com
incapacidadesrdquo
Pessoas com
diversidade
Funcional
Em conformidade com o modelo
social
Focaliza-se na gestatildeo das
diferenccedilas e no seu impacto ao
niacutevel da participaccedilatildeo das pessoas
na sociedade
Elevado niacutevel de abrangecircncia natildeo
permitindo um niacutevel de
diferenciaccedilatildeo relevante na
medida em que todos os cidadatildeos
detecircm entre si diversos e
diferentes padrotildees de
funcionamento humano
Conceito dificilmente
operacionalizaacutevel do ponto de
vista da formulaccedilatildeo das poliacuteticas e
da delimitaccedilatildeo dos puacuteblicos-alvo
Pessoas com
restriccedilotildees ao
niacutevel da
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos Desta forma
todos os obstaacuteculos agrave participaccedilatildeo
relacionados com discriminaccedilatildeo
social preconceitos estereoacutetipos
deficiecircncias doenccedilas croacutenicas
entre outros satildeo incluiacutedos
Natildeo inclui as limitaccedilotildees de
actividade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
limitaccedilotildees de
actividade e
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida e simultaneamente no
domiacutenio das limitaccedilotildees de
actividade
Ruptura com a tradiccedilatildeo analiacutetica
no sector
Dificuldade de apreensatildeo e
inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Natildeo inclui as alteraccedilotildees da
estrutura e da funccedilatildeo
Pessoas com
limitaccedilotildees de
funcionalidade
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel das
diferentes dimensotildees constituintes
da funcionalidade e do
funcionamento humano
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos
Pessoas com
deficiecircncias e
incapacidades
Natildeo introduz ruptura com a
tradiccedilatildeo analiacutetica no sector
Inclui as alteraccedilotildees de estrutura e
funccedilatildeo bem como as alteraccedilotildees
decorrentes ao niacutevel da
funcionalidade
Diferencia os conceitos de
deficiecircncia e incapacidade
autonomizando-os e fornecendo
uma base compreensiva para o
natildeo estabelecimento de relaccedilotildees
de causa-efeito entre os ambos
Abrange os obstaacuteculos que
emergem na interacccedilatildeo pessoa-
contextos de vida e
simultaneamente no domiacutenio das
limitaccedilotildees de actividade
Poder diferenciador e delimitador
na definiccedilatildeo do puacuteblico-alvo
Em alinhamento estrateacutegico com o
PAIPDI
Designaccedilatildeo de compromisso com
os referenciais teoacutericos do modelo
social e dos princiacutepios da ldquoeacutetica da
diversidaderdquo
Quadro 3 ndash Visatildeo comparativa das hipoacuteteses da designaccedilatildeo a adoptar
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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75 DELIMITACcedilAtildeO DA DURACcedilAtildeO E CURSO DE EVOLUCcedilAtildeO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo interessa a caracterizaccedilatildeo nas
3 dimensotildees desenvolvidas
Fundamentaccedilatildeo
Afigura-se relevante caracterizar a ocorrecircncia das deficiecircncias quanto aacute sua
consistecircncia no tempo ndash temporaacuterias permanentes ndash analisando os factores
contextuais associados consequecircncias ao niacutevel das actividades e da participaccedilatildeo ao
longo de um conjunto de domiacutenios em ordem agrave extracccedilatildeo de implicaccedilotildees no acircmbito
das poliacuteticas sociais
No acircmbito da adaptabilidade e da adequaccedilatildeo das medidas poliacuteticas agraves necessidades
especiacuteficas dos cidadatildeos torna-se relevante caracterizar a deficiecircncia quanto agrave
natureza do seu curso evolutivo ndash progressivas regressivas estaacuteveis O mesmo
criteacuterio eacute aplicaacutevel quanto aacute dimensatildeo de padratildeo de manifestaccedilatildeo ndash intermitente
contiacutenua
No entanto e apesar da incapacidade se manifestar ao longo do ciclo de vida da pessoa
de forma multimodal para efeitos de delimitaccedilatildeo e de definiccedilatildeo do conceito de pessoas
com deficiecircncias e incapacidades privilegiaremos o caraacutecter permanente Desta forma
excluem-se as manifestaccedilotildees temporaacuterias de incapacidade que enviesariam a anaacutelise e o
desenvolvimento de poliacuteticas neste domiacutenio
76 DESIGN DAS QUESTOtildeES
No que concerne ao design das questotildees privilegia-se a escolha de questotildees tipo 1
Fundamentaccedilatildeo
Em consonacircncia com a CIF
Permite comparabilidade estatiacutestica futura
Permite a caracterizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre os factores de funcionalidade ndash integridade
estrutural e funcional actividades participaccedilatildeo e factores contextuais
Permite o design das poliacuteticas sociais e metodologias de intervenccedilatildeo alicerccediladas nas
necessidades especiacuteficas dos cidadatildeos em torno das dimensotildees de inclusatildeo social
Domiacutenios
Visatildeo
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 44
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Audiccedilatildeo
Comunicaccedilatildeo
Mobilidade
Dor
Aprendizagem e funcionamento psicoloacutegico
Autocuidados e vida domeacutestica
Condiccedilotildees gerais de sauacutede
Mobilizaccedilatildeo de ajudas ou equipamento especializado
Participaccedilatildeo social
Transporte e educaccedilatildeo
77 PROPOSTA DE DELIMITACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em funccedilatildeo das dimensotildees caracterizadas e dos criteacuterios privilegiados desenvolveu-se o
seguinte enquadramento conceptual
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Figura 2 ndash Enquadramento conceptual da delimitaccedilatildeo do conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso da evoluccedilatildeo
Temporaacuterias permanentes
Progressivas regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou contiacutenuas
Focus
Funcionalidade ndash Niacuteveis de execuccedilatildeo das actividades por domiacutenio e niacuteveistipos de ajudas mobilizadas
Abordagem CIF
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo temporal do conceito
A priori
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Inter-subjectivo
Design das questotildees
Questatildeo geneacuterica sobre uma determinada condiccedilatildeo individual combinada com itens referentes a limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo e factores contextuais
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8 CRITEacuteRIOS DE ELEGIBILIDADE DO PUacuteBLICO-ALVO E SISTEMAS DE
AVALIACcedilAtildeO
A operacionalizaccedilatildeo do conceito de incapacidade tem sido abordada de forma heterogeacutenea
entre diferentes modalidades de politica e os diferentes contextos socioculturais de cada paiacutes
De uma forma geral encontram-se 2 eixos criacuteticos na sua operacionalizaccedilatildeo
a) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de trabalho (na ocupaccedilatildeo preacutevia ou numa nova
ocupaccedilatildeo ajustada agraves alteraccedilotildees funcionais)
b) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de obter rendimentos provenientes do trabalho
A explicitaccedilatildeo dos criteacuterios de delimitaccedilatildeo do conceito de incapacidade nos diferentes paiacuteses
encontra-se na Quadro 4
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Austraacutelia 2 Criteacuterios possuir uma incapacidade que resulte
num score nunca inferior a 20 nas tabelas de
incapacidades e incapacidade em trabalhar 30
horas ou mais por semana ou em ser
reconvertido para trabalho em contexto regular
nos proacuteximos 2 anos
Nenhum
Aacuteustria 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho (50
de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo para
trabalhadores sem qualificaccedilotildees) papel criacutetico
das decisotildees dos tribunais devido a definiccedilotildees
legais imprecisas
Nenhum mas as
restriccedilotildees de sauacutede
devem ter uma duraccedilatildeo
igual ou superior a 6
meses
Beacutelgica 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na actual ocupaccedilatildeo
1 ano
Canada Incapacidade severa e prolongada que impeccedila de
desenvolver trabalho numa base regular
Nenhum
Dinamarca 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum mas a
reabilitaccedilatildeo precisa de
estar completa
Franccedila 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual mas a
totalidade do subsidio requer igualmente perda de
capacidade de trabalho
Nenhum no caso das
condiccedilotildees estarem
estaacuteveis mas muito
frequentemente apoacutes 3
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Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
anos
Alemanha 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho a
incapacidade parcial eacute calculada em funccedilatildeo do nordm
de horas que a pessoa pode trabalhar
Nenhum mas a
incapacidade deve ter
uma duraccedilatildeo miacutenima
de 26 semanas
Itaacutelia 666reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum
Coreia Criteacuterios meacutedicos (niacuteveis de incapacidade
definidos de forma detalhada)
Periacuteodo de espera de
50 dias (os subsiacutedios
de doenccedila natildeo se
encontram disponiacuteveis)
Meacutexico 50 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo Nenhum
Holanda 15 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
(25 para os trabalhadores por conta proacutepria e
jovens com incapacidade) grau de incapacidade
calculado pela diferenccedila de remuneraccedilatildeo entre o
actual posto de trabalho compatiacutevel com as
limitaccedilotildees funcionais e o anterior
1 ano
Noruega 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho O
grau de subsiacutedio eacute calculado pela capacidade de
remuneraccedilatildeo
Nenhum (apoacutes ter
completado a
reabilitaccedilatildeo vocacional)
Poloacutenia Reduccedilatildeo temporaacuteria ou permanente da
capacidade de trabalho
Nenhum
Portugal 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual
Nenhum mas na
praacutetica ao fim de 3
anos (fim do periacuteodo de
doenccedila de longo termo)
Espanha 33 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho na
ocupaccedilatildeo actual incapacidade para todo e
qualquer trabalho para a totalidade do subsiacutedio
1 ano (embora seja
possiacutevel a candidatura
antes deste prazo em
casos de incapacidade
permanente)
Sueacutecia 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho grau
de incapacidade parcial calculado a partir das
horas que uma pessoa pode trabalhar
Nenhum
Suiccedila 40 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho para
as pessoas inactivas o grau de incapacidade eacute
calculado em relaccedilatildeo aacute actividade actual
1 ano
Turquia 666 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho
com um focus meacutedico bastante significativo
Nenhum
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 48
Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Reino Unido Limitaccedilotildees nas actividades de vida quotidianas
relevantes para o trabalho (avaliaccedilotildees meacutedicas
predominantes) teste ocupacional durante a s
primeiras 28 semanas (subsidio de doenccedila)
28 semanas
Estados
Unidos
Reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
incapacidade em investir numa actividade
profissional com rendimentos ($ US 740 por mecircs)
5 meses (nem sempre
cobertos pelos
subsiacutedios de curto-
termo) e 24 meses
para a cobertura
meacutedica
Quadro 4 ndash Definiccedilotildees de incapacidade e tempos regulamentares
Um dos desafios que se coloca aos actuais sistemas reside na delimitaccedilatildeo da elegibilidade do
puacuteblico-alvo Para cumprir este objectivo satildeo necessaacuterios sistemas de avaliaccedilatildeo holiacutesticos
abrangentes coerentes e que permitam chegar a resultados de forma consistente e com
validade interna No actual contexto a CIF propotildee constituir-se como o instrumento conceptual
abrangente para caracterizar os diferentes domiacutenios e niacuteveis de funcionalidade incapacidade
de forma coerente e integrada Neste sentido uma das vantagens apontadas para a adopccedilatildeo
do modelo desenvolvido pela OMS eacute a possibilidade de uniformizaccedilatildeo de conceitos e portanto
da utilizaccedilatildeo de uma linguagem padratildeo que permita a comunicaccedilatildeo entre investigadores
gestores profissionais de sauacutede organizaccedilotildees da sociedade civil e utilizadores em geral
Um dos campos de estudo mais explorados para a aplicaccedilatildeo da CIF tem sido a aacuterea de
Medicina Fiacutesica e de Reabilitaccedilatildeo no que concerne ao acompanhamento do estado de sauacutede
dos pacientes em tratamento O uso da CIF tem sido considerado tambeacutem na avaliaccedilatildeo apoacutes
transtornos agudos condiccedilotildees traumaacuteticas condiccedilotildees croacutenicas e na geriatria
Alguns autores argumentam que a CIF deve ser explorada como uma base de informaccedilotildees
padronizadas em estudos sobre incapacidade profissional quando haacute necessidade de
relacionar dados de sauacutede ocupacional com os da Seguranccedila Social
Na Sauacutede Puacuteblica tradicionalmente pouca atenccedilatildeo tem sido dada agraves pessoas com
incapacidades No entanto ao lado de recentes investimentos por parte de organizaccedilotildees e de
alguns governos a publicaccedilatildeo do modelo da CIF fornece as bases para as poliacuteticas e
disciplinas da Sauacutede Puacuteblica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo que apresenta deficiecircncias e
incapacidades Assim uma das possibilidades de uso da CIF pode ser a contribuiccedilatildeo para
responder a importantes questotildees de sauacutede puacuteblica tais como qual o estado de sauacutede das
pessoas com deficiecircncias comparadas com as demais que necessidades e que tipos de
intervenccedilotildees satildeo mais adequadas para reduzir condiccedilotildees secundaacuterias e promover a
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na sociedade entre outras
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 49
Dezembro2006
Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 50
Dezembro2006
Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 51
Dezembro2006
Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
Dezembro2006
Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 53
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7 ESCOLHA DO CENAacuteRIO A IMPLEMENTAR
A anaacutelise do Quadro 2 permite-nos uma definiccedilatildeo modular do cenaacuterio a implementar atraveacutes de
uma configuraccedilatildeo do conceito pelos eixos de anaacutelise propostos Uma das dificuldades
evidentes nesta delimitaccedilatildeo prende-se com o cumprimento dos requisitos de (a)
comparabilidade internacional (b) tradiccedilatildeo analiacutetica e legislativa dentro do contexto portuguecircs
e (c) conformidade com os referenciais conceptuais actuais sendo que a coexistecircncia destes
criteacuterios afigura-se em muitos casos incompatiacutevel entre si Para efeitos da estruturaccedilatildeo do
cenaacuterio privilegiar-se-aacute a conformidade com os referenciais conceptuais actuais
71 ABORDAGEM No que concerne agrave abordagem privilegia-se a adopccedilatildeo das mais recentes directrizes propostas
pela OMS adoptando explicitamente a CIF
Fundamentaccedilatildeo
A CIF apresenta a capacidade para descrever o funcionamento humano numa
perspectiva biopsicossocial em detrimento da classificaccedilatildeo anterior (ICIDH) que se
focalizava na dimensatildeo biomeacutedica A CIF foi desenvolvida no plano conceptual para ser aplicaacutevel em diferentes aacutereas e
sectores A CIF eacute aplicaacutevel transversalmente agraves dimensotildees de cultura idade geacutenero sendo um
instrumento sistemaacutetico para descrever e medir a sauacutede e o funcionamento humano
num dado contexto A CIF constitui-se enquanto instrumento potencial para a poliacutetica social design das
intervenccedilotildees nos domiacutenios da sauacutede educaccedilatildeo reabilitaccedilatildeo e intervenccedilatildeo social Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
72 FOCUS
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo da centraccedilatildeo da recolha de dados ao niacutevel
da dimensatildeo de funcionalidade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Fundamentaccedilatildeo
Consonacircncia com o modelo conceptual proposto pela CIF enfatizando o caraacutecter
dinacircmico e interaccional (pessoa factores contextuais) do funcionamento de cada
pessoa Permite caracterizar as limitaccedilotildees de actividade e restriccedilotildees de participaccedilatildeo dos
cidadatildeos identificando necessidades de intervenccedilotildees especializadas numa loacutegica de
empowerment e participaccedilatildeo social Permite analisar a adequabilidade e ajustamento das actuais medidas poliacuteticas do
ponto de vista dos seus objectivos e os problemas detectados ao niacutevel da participaccedilatildeo
dos cidadatildeos ao longo de um conjunto diversificado de domiacutenios
73 MEacuteTODOS DE MENSURACcedilAtildeO
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo de meacutetodos intersubjectivos nomeadamente
inqueacuteritos
Fundamentaccedilatildeo
Flexibilidade ao niacutevel da abrangecircncia e profundidade das dimensotildees
Maior facilidade na implementaccedilatildeo atendendo agrave disponibilizaccedilatildeo de uma amostra
delimitada
Maior niacutevel de controlo sobre as condiccedilotildees de observaccedilatildeo e da entrevista devido ao
menor nuacutemero de entrevistas a ser implementado
74 DELIMITACcedilAtildeO CONCEPTUAL E TEMPORAL DO CONCEITO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo temporal e apesar de se privilegiar as vantagens anteriormente
explicitadas no desenvolvimento de uma definiccedilatildeo a posteriori assume-se a necessidade
politica de delimitar o campo de intervenccedilatildeo do conjunto de medidas sociais neste domiacutenio
pelo que a delimitaccedilatildeo conceptual poderaacute ser objecto de operacionalizaccedilatildeo atraveacutes dos
seguintes paracircmetros
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 40
Dezembro2006
Poder-se-aacute colocar a questatildeo de saber se a delimitaccedilatildeo do conceito proposta remete
especificamente para ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ou para ldquopessoas com limitaccedilotildees de
participaccedilatildeordquo Atendendo a que a definiccedilatildeo comporta uma abordagem sisteacutemica enfatizando a
interacccedilatildeo entre um conjunto diversificado de componentes que produzem impacto na
funcionalidade da pessoa a resposta natildeo eacute linear dependendo da ecircnfase socio-histoacuterica e da
abordagem sociopoliacutetica que se escolher enfatizar No entanto e do ponto de vista conceptual
privilegia-se a adopccedilatildeo do conceito ldquopessoas com limitaccedilotildees de participaccedilatildeordquo dado que existe
total autonomia operativa entre os diferentes constructos Neste sentido a deficiecircncia natildeo
constitui um factor causal linear das limitaccedilotildees de actividade e das restriccedilotildees ao niacutevel da
participaccedilatildeo mas antes uma das componentes que em interacccedilatildeo com outras podem
provocar impactos ao niacutevel da funcionalidade do indiviacuteduo Por uacuteltimo refira-se que a tipologia
ldquopessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeordquo poderaacute ser alvo de criticas por constituir
uma designaccedilatildeo que apela a duas componentes em simultacircneo (actividades e participaccedilatildeo)
excluindo outras e ser demasiado longa para uma definiccedilatildeo tipoloacutegica A este propoacutesito pode-
se sugerir a delimitaccedilatildeo ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo constituindo esta
expressatildeo uma abordagem holiacutestica ao conjunto de componentes que interferem com o
funcionamento humano Deste modo poderemos ter as seguintes designaccedilotildees
Pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Pessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo
Pessoas com limitaccedilotildees de funcionalidade
Figura 2 ndash Possiacuteveis designaccedilotildees
O Quadro 3 pretende fornecer uma visatildeo sistemaacutetica sobre o processo de decisatildeo da
designaccedilatildeo a adoptar
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
deficiecircncias
Tradiccedilatildeo analiacutetica dentro do
contexto portuguecircs
Em conformidade com o modelo
meacutedico ndash centra-se nas alteraccedilotildees
de estrutura e funccedilatildeo ndash
focalizaccedilatildeo na pessoa
Desarticulado dos pressupostos do
modelo social ndash natildeo remete para a
experiecircncia de incapacidade
enquanto produto da interacccedilatildeo
entre pessoa e ambiente
Mai
or
Abr
angecirc
ncia
Mai
or
Espe
cific
idad
e
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 41
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Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
incapacidades
Em conformidade com a
delimitaccedilatildeo anglo-saxoacutenica que
utiliza o conceito Disability
Focalizaccedilatildeo no poacutelo negativo do
funcionamento humano ndash
funcionalidadeincapacidade
Ao focalizar-se na experiecircncia de
incapacidade enquanto
interacccedilatildeo pessoa-ambiente
remete indirectamente para a
mobilizaccedilatildeo de apoios e recursos
de forma a ultrapassar eou
eliminar os obstaacuteculos ao
funcionamento em contexto
O potencial efeito estigmatizante
da expressatildeo ldquopessoas com
incapacidadesrdquo
Pessoas com
diversidade
Funcional
Em conformidade com o modelo
social
Focaliza-se na gestatildeo das
diferenccedilas e no seu impacto ao
niacutevel da participaccedilatildeo das pessoas
na sociedade
Elevado niacutevel de abrangecircncia natildeo
permitindo um niacutevel de
diferenciaccedilatildeo relevante na
medida em que todos os cidadatildeos
detecircm entre si diversos e
diferentes padrotildees de
funcionamento humano
Conceito dificilmente
operacionalizaacutevel do ponto de
vista da formulaccedilatildeo das poliacuteticas e
da delimitaccedilatildeo dos puacuteblicos-alvo
Pessoas com
restriccedilotildees ao
niacutevel da
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos Desta forma
todos os obstaacuteculos agrave participaccedilatildeo
relacionados com discriminaccedilatildeo
social preconceitos estereoacutetipos
deficiecircncias doenccedilas croacutenicas
entre outros satildeo incluiacutedos
Natildeo inclui as limitaccedilotildees de
actividade
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 42
Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
limitaccedilotildees de
actividade e
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida e simultaneamente no
domiacutenio das limitaccedilotildees de
actividade
Ruptura com a tradiccedilatildeo analiacutetica
no sector
Dificuldade de apreensatildeo e
inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Natildeo inclui as alteraccedilotildees da
estrutura e da funccedilatildeo
Pessoas com
limitaccedilotildees de
funcionalidade
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel das
diferentes dimensotildees constituintes
da funcionalidade e do
funcionamento humano
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos
Pessoas com
deficiecircncias e
incapacidades
Natildeo introduz ruptura com a
tradiccedilatildeo analiacutetica no sector
Inclui as alteraccedilotildees de estrutura e
funccedilatildeo bem como as alteraccedilotildees
decorrentes ao niacutevel da
funcionalidade
Diferencia os conceitos de
deficiecircncia e incapacidade
autonomizando-os e fornecendo
uma base compreensiva para o
natildeo estabelecimento de relaccedilotildees
de causa-efeito entre os ambos
Abrange os obstaacuteculos que
emergem na interacccedilatildeo pessoa-
contextos de vida e
simultaneamente no domiacutenio das
limitaccedilotildees de actividade
Poder diferenciador e delimitador
na definiccedilatildeo do puacuteblico-alvo
Em alinhamento estrateacutegico com o
PAIPDI
Designaccedilatildeo de compromisso com
os referenciais teoacutericos do modelo
social e dos princiacutepios da ldquoeacutetica da
diversidaderdquo
Quadro 3 ndash Visatildeo comparativa das hipoacuteteses da designaccedilatildeo a adoptar
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 43
Dezembro2006
75 DELIMITACcedilAtildeO DA DURACcedilAtildeO E CURSO DE EVOLUCcedilAtildeO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo interessa a caracterizaccedilatildeo nas
3 dimensotildees desenvolvidas
Fundamentaccedilatildeo
Afigura-se relevante caracterizar a ocorrecircncia das deficiecircncias quanto aacute sua
consistecircncia no tempo ndash temporaacuterias permanentes ndash analisando os factores
contextuais associados consequecircncias ao niacutevel das actividades e da participaccedilatildeo ao
longo de um conjunto de domiacutenios em ordem agrave extracccedilatildeo de implicaccedilotildees no acircmbito
das poliacuteticas sociais
No acircmbito da adaptabilidade e da adequaccedilatildeo das medidas poliacuteticas agraves necessidades
especiacuteficas dos cidadatildeos torna-se relevante caracterizar a deficiecircncia quanto agrave
natureza do seu curso evolutivo ndash progressivas regressivas estaacuteveis O mesmo
criteacuterio eacute aplicaacutevel quanto aacute dimensatildeo de padratildeo de manifestaccedilatildeo ndash intermitente
contiacutenua
No entanto e apesar da incapacidade se manifestar ao longo do ciclo de vida da pessoa
de forma multimodal para efeitos de delimitaccedilatildeo e de definiccedilatildeo do conceito de pessoas
com deficiecircncias e incapacidades privilegiaremos o caraacutecter permanente Desta forma
excluem-se as manifestaccedilotildees temporaacuterias de incapacidade que enviesariam a anaacutelise e o
desenvolvimento de poliacuteticas neste domiacutenio
76 DESIGN DAS QUESTOtildeES
No que concerne ao design das questotildees privilegia-se a escolha de questotildees tipo 1
Fundamentaccedilatildeo
Em consonacircncia com a CIF
Permite comparabilidade estatiacutestica futura
Permite a caracterizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre os factores de funcionalidade ndash integridade
estrutural e funcional actividades participaccedilatildeo e factores contextuais
Permite o design das poliacuteticas sociais e metodologias de intervenccedilatildeo alicerccediladas nas
necessidades especiacuteficas dos cidadatildeos em torno das dimensotildees de inclusatildeo social
Domiacutenios
Visatildeo
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 44
Dezembro2006
Audiccedilatildeo
Comunicaccedilatildeo
Mobilidade
Dor
Aprendizagem e funcionamento psicoloacutegico
Autocuidados e vida domeacutestica
Condiccedilotildees gerais de sauacutede
Mobilizaccedilatildeo de ajudas ou equipamento especializado
Participaccedilatildeo social
Transporte e educaccedilatildeo
77 PROPOSTA DE DELIMITACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em funccedilatildeo das dimensotildees caracterizadas e dos criteacuterios privilegiados desenvolveu-se o
seguinte enquadramento conceptual
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 45
Dezembro2006
Figura 2 ndash Enquadramento conceptual da delimitaccedilatildeo do conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso da evoluccedilatildeo
Temporaacuterias permanentes
Progressivas regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou contiacutenuas
Focus
Funcionalidade ndash Niacuteveis de execuccedilatildeo das actividades por domiacutenio e niacuteveistipos de ajudas mobilizadas
Abordagem CIF
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo temporal do conceito
A priori
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Inter-subjectivo
Design das questotildees
Questatildeo geneacuterica sobre uma determinada condiccedilatildeo individual combinada com itens referentes a limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo e factores contextuais
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 46
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8 CRITEacuteRIOS DE ELEGIBILIDADE DO PUacuteBLICO-ALVO E SISTEMAS DE
AVALIACcedilAtildeO
A operacionalizaccedilatildeo do conceito de incapacidade tem sido abordada de forma heterogeacutenea
entre diferentes modalidades de politica e os diferentes contextos socioculturais de cada paiacutes
De uma forma geral encontram-se 2 eixos criacuteticos na sua operacionalizaccedilatildeo
a) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de trabalho (na ocupaccedilatildeo preacutevia ou numa nova
ocupaccedilatildeo ajustada agraves alteraccedilotildees funcionais)
b) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de obter rendimentos provenientes do trabalho
A explicitaccedilatildeo dos criteacuterios de delimitaccedilatildeo do conceito de incapacidade nos diferentes paiacuteses
encontra-se na Quadro 4
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Austraacutelia 2 Criteacuterios possuir uma incapacidade que resulte
num score nunca inferior a 20 nas tabelas de
incapacidades e incapacidade em trabalhar 30
horas ou mais por semana ou em ser
reconvertido para trabalho em contexto regular
nos proacuteximos 2 anos
Nenhum
Aacuteustria 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho (50
de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo para
trabalhadores sem qualificaccedilotildees) papel criacutetico
das decisotildees dos tribunais devido a definiccedilotildees
legais imprecisas
Nenhum mas as
restriccedilotildees de sauacutede
devem ter uma duraccedilatildeo
igual ou superior a 6
meses
Beacutelgica 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na actual ocupaccedilatildeo
1 ano
Canada Incapacidade severa e prolongada que impeccedila de
desenvolver trabalho numa base regular
Nenhum
Dinamarca 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum mas a
reabilitaccedilatildeo precisa de
estar completa
Franccedila 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual mas a
totalidade do subsidio requer igualmente perda de
capacidade de trabalho
Nenhum no caso das
condiccedilotildees estarem
estaacuteveis mas muito
frequentemente apoacutes 3
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 47
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Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
anos
Alemanha 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho a
incapacidade parcial eacute calculada em funccedilatildeo do nordm
de horas que a pessoa pode trabalhar
Nenhum mas a
incapacidade deve ter
uma duraccedilatildeo miacutenima
de 26 semanas
Itaacutelia 666reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum
Coreia Criteacuterios meacutedicos (niacuteveis de incapacidade
definidos de forma detalhada)
Periacuteodo de espera de
50 dias (os subsiacutedios
de doenccedila natildeo se
encontram disponiacuteveis)
Meacutexico 50 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo Nenhum
Holanda 15 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
(25 para os trabalhadores por conta proacutepria e
jovens com incapacidade) grau de incapacidade
calculado pela diferenccedila de remuneraccedilatildeo entre o
actual posto de trabalho compatiacutevel com as
limitaccedilotildees funcionais e o anterior
1 ano
Noruega 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho O
grau de subsiacutedio eacute calculado pela capacidade de
remuneraccedilatildeo
Nenhum (apoacutes ter
completado a
reabilitaccedilatildeo vocacional)
Poloacutenia Reduccedilatildeo temporaacuteria ou permanente da
capacidade de trabalho
Nenhum
Portugal 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual
Nenhum mas na
praacutetica ao fim de 3
anos (fim do periacuteodo de
doenccedila de longo termo)
Espanha 33 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho na
ocupaccedilatildeo actual incapacidade para todo e
qualquer trabalho para a totalidade do subsiacutedio
1 ano (embora seja
possiacutevel a candidatura
antes deste prazo em
casos de incapacidade
permanente)
Sueacutecia 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho grau
de incapacidade parcial calculado a partir das
horas que uma pessoa pode trabalhar
Nenhum
Suiccedila 40 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho para
as pessoas inactivas o grau de incapacidade eacute
calculado em relaccedilatildeo aacute actividade actual
1 ano
Turquia 666 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho
com um focus meacutedico bastante significativo
Nenhum
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 48
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Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Reino Unido Limitaccedilotildees nas actividades de vida quotidianas
relevantes para o trabalho (avaliaccedilotildees meacutedicas
predominantes) teste ocupacional durante a s
primeiras 28 semanas (subsidio de doenccedila)
28 semanas
Estados
Unidos
Reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
incapacidade em investir numa actividade
profissional com rendimentos ($ US 740 por mecircs)
5 meses (nem sempre
cobertos pelos
subsiacutedios de curto-
termo) e 24 meses
para a cobertura
meacutedica
Quadro 4 ndash Definiccedilotildees de incapacidade e tempos regulamentares
Um dos desafios que se coloca aos actuais sistemas reside na delimitaccedilatildeo da elegibilidade do
puacuteblico-alvo Para cumprir este objectivo satildeo necessaacuterios sistemas de avaliaccedilatildeo holiacutesticos
abrangentes coerentes e que permitam chegar a resultados de forma consistente e com
validade interna No actual contexto a CIF propotildee constituir-se como o instrumento conceptual
abrangente para caracterizar os diferentes domiacutenios e niacuteveis de funcionalidade incapacidade
de forma coerente e integrada Neste sentido uma das vantagens apontadas para a adopccedilatildeo
do modelo desenvolvido pela OMS eacute a possibilidade de uniformizaccedilatildeo de conceitos e portanto
da utilizaccedilatildeo de uma linguagem padratildeo que permita a comunicaccedilatildeo entre investigadores
gestores profissionais de sauacutede organizaccedilotildees da sociedade civil e utilizadores em geral
Um dos campos de estudo mais explorados para a aplicaccedilatildeo da CIF tem sido a aacuterea de
Medicina Fiacutesica e de Reabilitaccedilatildeo no que concerne ao acompanhamento do estado de sauacutede
dos pacientes em tratamento O uso da CIF tem sido considerado tambeacutem na avaliaccedilatildeo apoacutes
transtornos agudos condiccedilotildees traumaacuteticas condiccedilotildees croacutenicas e na geriatria
Alguns autores argumentam que a CIF deve ser explorada como uma base de informaccedilotildees
padronizadas em estudos sobre incapacidade profissional quando haacute necessidade de
relacionar dados de sauacutede ocupacional com os da Seguranccedila Social
Na Sauacutede Puacuteblica tradicionalmente pouca atenccedilatildeo tem sido dada agraves pessoas com
incapacidades No entanto ao lado de recentes investimentos por parte de organizaccedilotildees e de
alguns governos a publicaccedilatildeo do modelo da CIF fornece as bases para as poliacuteticas e
disciplinas da Sauacutede Puacuteblica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo que apresenta deficiecircncias e
incapacidades Assim uma das possibilidades de uso da CIF pode ser a contribuiccedilatildeo para
responder a importantes questotildees de sauacutede puacuteblica tais como qual o estado de sauacutede das
pessoas com deficiecircncias comparadas com as demais que necessidades e que tipos de
intervenccedilotildees satildeo mais adequadas para reduzir condiccedilotildees secundaacuterias e promover a
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na sociedade entre outras
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 49
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Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 50
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Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 51
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Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
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Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 53
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Fundamentaccedilatildeo
Consonacircncia com o modelo conceptual proposto pela CIF enfatizando o caraacutecter
dinacircmico e interaccional (pessoa factores contextuais) do funcionamento de cada
pessoa Permite caracterizar as limitaccedilotildees de actividade e restriccedilotildees de participaccedilatildeo dos
cidadatildeos identificando necessidades de intervenccedilotildees especializadas numa loacutegica de
empowerment e participaccedilatildeo social Permite analisar a adequabilidade e ajustamento das actuais medidas poliacuteticas do
ponto de vista dos seus objectivos e os problemas detectados ao niacutevel da participaccedilatildeo
dos cidadatildeos ao longo de um conjunto diversificado de domiacutenios
73 MEacuteTODOS DE MENSURACcedilAtildeO
No que concerne ao focus privilegia-se a adopccedilatildeo de meacutetodos intersubjectivos nomeadamente
inqueacuteritos
Fundamentaccedilatildeo
Flexibilidade ao niacutevel da abrangecircncia e profundidade das dimensotildees
Maior facilidade na implementaccedilatildeo atendendo agrave disponibilizaccedilatildeo de uma amostra
delimitada
Maior niacutevel de controlo sobre as condiccedilotildees de observaccedilatildeo e da entrevista devido ao
menor nuacutemero de entrevistas a ser implementado
74 DELIMITACcedilAtildeO CONCEPTUAL E TEMPORAL DO CONCEITO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo temporal e apesar de se privilegiar as vantagens anteriormente
explicitadas no desenvolvimento de uma definiccedilatildeo a posteriori assume-se a necessidade
politica de delimitar o campo de intervenccedilatildeo do conjunto de medidas sociais neste domiacutenio
pelo que a delimitaccedilatildeo conceptual poderaacute ser objecto de operacionalizaccedilatildeo atraveacutes dos
seguintes paracircmetros
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
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Poder-se-aacute colocar a questatildeo de saber se a delimitaccedilatildeo do conceito proposta remete
especificamente para ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ou para ldquopessoas com limitaccedilotildees de
participaccedilatildeordquo Atendendo a que a definiccedilatildeo comporta uma abordagem sisteacutemica enfatizando a
interacccedilatildeo entre um conjunto diversificado de componentes que produzem impacto na
funcionalidade da pessoa a resposta natildeo eacute linear dependendo da ecircnfase socio-histoacuterica e da
abordagem sociopoliacutetica que se escolher enfatizar No entanto e do ponto de vista conceptual
privilegia-se a adopccedilatildeo do conceito ldquopessoas com limitaccedilotildees de participaccedilatildeordquo dado que existe
total autonomia operativa entre os diferentes constructos Neste sentido a deficiecircncia natildeo
constitui um factor causal linear das limitaccedilotildees de actividade e das restriccedilotildees ao niacutevel da
participaccedilatildeo mas antes uma das componentes que em interacccedilatildeo com outras podem
provocar impactos ao niacutevel da funcionalidade do indiviacuteduo Por uacuteltimo refira-se que a tipologia
ldquopessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeordquo poderaacute ser alvo de criticas por constituir
uma designaccedilatildeo que apela a duas componentes em simultacircneo (actividades e participaccedilatildeo)
excluindo outras e ser demasiado longa para uma definiccedilatildeo tipoloacutegica A este propoacutesito pode-
se sugerir a delimitaccedilatildeo ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo constituindo esta
expressatildeo uma abordagem holiacutestica ao conjunto de componentes que interferem com o
funcionamento humano Deste modo poderemos ter as seguintes designaccedilotildees
Pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Pessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo
Pessoas com limitaccedilotildees de funcionalidade
Figura 2 ndash Possiacuteveis designaccedilotildees
O Quadro 3 pretende fornecer uma visatildeo sistemaacutetica sobre o processo de decisatildeo da
designaccedilatildeo a adoptar
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
deficiecircncias
Tradiccedilatildeo analiacutetica dentro do
contexto portuguecircs
Em conformidade com o modelo
meacutedico ndash centra-se nas alteraccedilotildees
de estrutura e funccedilatildeo ndash
focalizaccedilatildeo na pessoa
Desarticulado dos pressupostos do
modelo social ndash natildeo remete para a
experiecircncia de incapacidade
enquanto produto da interacccedilatildeo
entre pessoa e ambiente
Mai
or
Abr
angecirc
ncia
Mai
or
Espe
cific
idad
e
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
incapacidades
Em conformidade com a
delimitaccedilatildeo anglo-saxoacutenica que
utiliza o conceito Disability
Focalizaccedilatildeo no poacutelo negativo do
funcionamento humano ndash
funcionalidadeincapacidade
Ao focalizar-se na experiecircncia de
incapacidade enquanto
interacccedilatildeo pessoa-ambiente
remete indirectamente para a
mobilizaccedilatildeo de apoios e recursos
de forma a ultrapassar eou
eliminar os obstaacuteculos ao
funcionamento em contexto
O potencial efeito estigmatizante
da expressatildeo ldquopessoas com
incapacidadesrdquo
Pessoas com
diversidade
Funcional
Em conformidade com o modelo
social
Focaliza-se na gestatildeo das
diferenccedilas e no seu impacto ao
niacutevel da participaccedilatildeo das pessoas
na sociedade
Elevado niacutevel de abrangecircncia natildeo
permitindo um niacutevel de
diferenciaccedilatildeo relevante na
medida em que todos os cidadatildeos
detecircm entre si diversos e
diferentes padrotildees de
funcionamento humano
Conceito dificilmente
operacionalizaacutevel do ponto de
vista da formulaccedilatildeo das poliacuteticas e
da delimitaccedilatildeo dos puacuteblicos-alvo
Pessoas com
restriccedilotildees ao
niacutevel da
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos Desta forma
todos os obstaacuteculos agrave participaccedilatildeo
relacionados com discriminaccedilatildeo
social preconceitos estereoacutetipos
deficiecircncias doenccedilas croacutenicas
entre outros satildeo incluiacutedos
Natildeo inclui as limitaccedilotildees de
actividade
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Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
limitaccedilotildees de
actividade e
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida e simultaneamente no
domiacutenio das limitaccedilotildees de
actividade
Ruptura com a tradiccedilatildeo analiacutetica
no sector
Dificuldade de apreensatildeo e
inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Natildeo inclui as alteraccedilotildees da
estrutura e da funccedilatildeo
Pessoas com
limitaccedilotildees de
funcionalidade
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel das
diferentes dimensotildees constituintes
da funcionalidade e do
funcionamento humano
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos
Pessoas com
deficiecircncias e
incapacidades
Natildeo introduz ruptura com a
tradiccedilatildeo analiacutetica no sector
Inclui as alteraccedilotildees de estrutura e
funccedilatildeo bem como as alteraccedilotildees
decorrentes ao niacutevel da
funcionalidade
Diferencia os conceitos de
deficiecircncia e incapacidade
autonomizando-os e fornecendo
uma base compreensiva para o
natildeo estabelecimento de relaccedilotildees
de causa-efeito entre os ambos
Abrange os obstaacuteculos que
emergem na interacccedilatildeo pessoa-
contextos de vida e
simultaneamente no domiacutenio das
limitaccedilotildees de actividade
Poder diferenciador e delimitador
na definiccedilatildeo do puacuteblico-alvo
Em alinhamento estrateacutegico com o
PAIPDI
Designaccedilatildeo de compromisso com
os referenciais teoacutericos do modelo
social e dos princiacutepios da ldquoeacutetica da
diversidaderdquo
Quadro 3 ndash Visatildeo comparativa das hipoacuteteses da designaccedilatildeo a adoptar
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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75 DELIMITACcedilAtildeO DA DURACcedilAtildeO E CURSO DE EVOLUCcedilAtildeO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo interessa a caracterizaccedilatildeo nas
3 dimensotildees desenvolvidas
Fundamentaccedilatildeo
Afigura-se relevante caracterizar a ocorrecircncia das deficiecircncias quanto aacute sua
consistecircncia no tempo ndash temporaacuterias permanentes ndash analisando os factores
contextuais associados consequecircncias ao niacutevel das actividades e da participaccedilatildeo ao
longo de um conjunto de domiacutenios em ordem agrave extracccedilatildeo de implicaccedilotildees no acircmbito
das poliacuteticas sociais
No acircmbito da adaptabilidade e da adequaccedilatildeo das medidas poliacuteticas agraves necessidades
especiacuteficas dos cidadatildeos torna-se relevante caracterizar a deficiecircncia quanto agrave
natureza do seu curso evolutivo ndash progressivas regressivas estaacuteveis O mesmo
criteacuterio eacute aplicaacutevel quanto aacute dimensatildeo de padratildeo de manifestaccedilatildeo ndash intermitente
contiacutenua
No entanto e apesar da incapacidade se manifestar ao longo do ciclo de vida da pessoa
de forma multimodal para efeitos de delimitaccedilatildeo e de definiccedilatildeo do conceito de pessoas
com deficiecircncias e incapacidades privilegiaremos o caraacutecter permanente Desta forma
excluem-se as manifestaccedilotildees temporaacuterias de incapacidade que enviesariam a anaacutelise e o
desenvolvimento de poliacuteticas neste domiacutenio
76 DESIGN DAS QUESTOtildeES
No que concerne ao design das questotildees privilegia-se a escolha de questotildees tipo 1
Fundamentaccedilatildeo
Em consonacircncia com a CIF
Permite comparabilidade estatiacutestica futura
Permite a caracterizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre os factores de funcionalidade ndash integridade
estrutural e funcional actividades participaccedilatildeo e factores contextuais
Permite o design das poliacuteticas sociais e metodologias de intervenccedilatildeo alicerccediladas nas
necessidades especiacuteficas dos cidadatildeos em torno das dimensotildees de inclusatildeo social
Domiacutenios
Visatildeo
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Audiccedilatildeo
Comunicaccedilatildeo
Mobilidade
Dor
Aprendizagem e funcionamento psicoloacutegico
Autocuidados e vida domeacutestica
Condiccedilotildees gerais de sauacutede
Mobilizaccedilatildeo de ajudas ou equipamento especializado
Participaccedilatildeo social
Transporte e educaccedilatildeo
77 PROPOSTA DE DELIMITACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em funccedilatildeo das dimensotildees caracterizadas e dos criteacuterios privilegiados desenvolveu-se o
seguinte enquadramento conceptual
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Figura 2 ndash Enquadramento conceptual da delimitaccedilatildeo do conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso da evoluccedilatildeo
Temporaacuterias permanentes
Progressivas regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou contiacutenuas
Focus
Funcionalidade ndash Niacuteveis de execuccedilatildeo das actividades por domiacutenio e niacuteveistipos de ajudas mobilizadas
Abordagem CIF
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo temporal do conceito
A priori
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Inter-subjectivo
Design das questotildees
Questatildeo geneacuterica sobre uma determinada condiccedilatildeo individual combinada com itens referentes a limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo e factores contextuais
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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8 CRITEacuteRIOS DE ELEGIBILIDADE DO PUacuteBLICO-ALVO E SISTEMAS DE
AVALIACcedilAtildeO
A operacionalizaccedilatildeo do conceito de incapacidade tem sido abordada de forma heterogeacutenea
entre diferentes modalidades de politica e os diferentes contextos socioculturais de cada paiacutes
De uma forma geral encontram-se 2 eixos criacuteticos na sua operacionalizaccedilatildeo
a) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de trabalho (na ocupaccedilatildeo preacutevia ou numa nova
ocupaccedilatildeo ajustada agraves alteraccedilotildees funcionais)
b) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de obter rendimentos provenientes do trabalho
A explicitaccedilatildeo dos criteacuterios de delimitaccedilatildeo do conceito de incapacidade nos diferentes paiacuteses
encontra-se na Quadro 4
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Austraacutelia 2 Criteacuterios possuir uma incapacidade que resulte
num score nunca inferior a 20 nas tabelas de
incapacidades e incapacidade em trabalhar 30
horas ou mais por semana ou em ser
reconvertido para trabalho em contexto regular
nos proacuteximos 2 anos
Nenhum
Aacuteustria 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho (50
de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo para
trabalhadores sem qualificaccedilotildees) papel criacutetico
das decisotildees dos tribunais devido a definiccedilotildees
legais imprecisas
Nenhum mas as
restriccedilotildees de sauacutede
devem ter uma duraccedilatildeo
igual ou superior a 6
meses
Beacutelgica 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na actual ocupaccedilatildeo
1 ano
Canada Incapacidade severa e prolongada que impeccedila de
desenvolver trabalho numa base regular
Nenhum
Dinamarca 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum mas a
reabilitaccedilatildeo precisa de
estar completa
Franccedila 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual mas a
totalidade do subsidio requer igualmente perda de
capacidade de trabalho
Nenhum no caso das
condiccedilotildees estarem
estaacuteveis mas muito
frequentemente apoacutes 3
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Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
anos
Alemanha 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho a
incapacidade parcial eacute calculada em funccedilatildeo do nordm
de horas que a pessoa pode trabalhar
Nenhum mas a
incapacidade deve ter
uma duraccedilatildeo miacutenima
de 26 semanas
Itaacutelia 666reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum
Coreia Criteacuterios meacutedicos (niacuteveis de incapacidade
definidos de forma detalhada)
Periacuteodo de espera de
50 dias (os subsiacutedios
de doenccedila natildeo se
encontram disponiacuteveis)
Meacutexico 50 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo Nenhum
Holanda 15 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
(25 para os trabalhadores por conta proacutepria e
jovens com incapacidade) grau de incapacidade
calculado pela diferenccedila de remuneraccedilatildeo entre o
actual posto de trabalho compatiacutevel com as
limitaccedilotildees funcionais e o anterior
1 ano
Noruega 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho O
grau de subsiacutedio eacute calculado pela capacidade de
remuneraccedilatildeo
Nenhum (apoacutes ter
completado a
reabilitaccedilatildeo vocacional)
Poloacutenia Reduccedilatildeo temporaacuteria ou permanente da
capacidade de trabalho
Nenhum
Portugal 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual
Nenhum mas na
praacutetica ao fim de 3
anos (fim do periacuteodo de
doenccedila de longo termo)
Espanha 33 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho na
ocupaccedilatildeo actual incapacidade para todo e
qualquer trabalho para a totalidade do subsiacutedio
1 ano (embora seja
possiacutevel a candidatura
antes deste prazo em
casos de incapacidade
permanente)
Sueacutecia 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho grau
de incapacidade parcial calculado a partir das
horas que uma pessoa pode trabalhar
Nenhum
Suiccedila 40 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho para
as pessoas inactivas o grau de incapacidade eacute
calculado em relaccedilatildeo aacute actividade actual
1 ano
Turquia 666 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho
com um focus meacutedico bastante significativo
Nenhum
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Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Reino Unido Limitaccedilotildees nas actividades de vida quotidianas
relevantes para o trabalho (avaliaccedilotildees meacutedicas
predominantes) teste ocupacional durante a s
primeiras 28 semanas (subsidio de doenccedila)
28 semanas
Estados
Unidos
Reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
incapacidade em investir numa actividade
profissional com rendimentos ($ US 740 por mecircs)
5 meses (nem sempre
cobertos pelos
subsiacutedios de curto-
termo) e 24 meses
para a cobertura
meacutedica
Quadro 4 ndash Definiccedilotildees de incapacidade e tempos regulamentares
Um dos desafios que se coloca aos actuais sistemas reside na delimitaccedilatildeo da elegibilidade do
puacuteblico-alvo Para cumprir este objectivo satildeo necessaacuterios sistemas de avaliaccedilatildeo holiacutesticos
abrangentes coerentes e que permitam chegar a resultados de forma consistente e com
validade interna No actual contexto a CIF propotildee constituir-se como o instrumento conceptual
abrangente para caracterizar os diferentes domiacutenios e niacuteveis de funcionalidade incapacidade
de forma coerente e integrada Neste sentido uma das vantagens apontadas para a adopccedilatildeo
do modelo desenvolvido pela OMS eacute a possibilidade de uniformizaccedilatildeo de conceitos e portanto
da utilizaccedilatildeo de uma linguagem padratildeo que permita a comunicaccedilatildeo entre investigadores
gestores profissionais de sauacutede organizaccedilotildees da sociedade civil e utilizadores em geral
Um dos campos de estudo mais explorados para a aplicaccedilatildeo da CIF tem sido a aacuterea de
Medicina Fiacutesica e de Reabilitaccedilatildeo no que concerne ao acompanhamento do estado de sauacutede
dos pacientes em tratamento O uso da CIF tem sido considerado tambeacutem na avaliaccedilatildeo apoacutes
transtornos agudos condiccedilotildees traumaacuteticas condiccedilotildees croacutenicas e na geriatria
Alguns autores argumentam que a CIF deve ser explorada como uma base de informaccedilotildees
padronizadas em estudos sobre incapacidade profissional quando haacute necessidade de
relacionar dados de sauacutede ocupacional com os da Seguranccedila Social
Na Sauacutede Puacuteblica tradicionalmente pouca atenccedilatildeo tem sido dada agraves pessoas com
incapacidades No entanto ao lado de recentes investimentos por parte de organizaccedilotildees e de
alguns governos a publicaccedilatildeo do modelo da CIF fornece as bases para as poliacuteticas e
disciplinas da Sauacutede Puacuteblica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo que apresenta deficiecircncias e
incapacidades Assim uma das possibilidades de uso da CIF pode ser a contribuiccedilatildeo para
responder a importantes questotildees de sauacutede puacuteblica tais como qual o estado de sauacutede das
pessoas com deficiecircncias comparadas com as demais que necessidades e que tipos de
intervenccedilotildees satildeo mais adequadas para reduzir condiccedilotildees secundaacuterias e promover a
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na sociedade entre outras
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 51
Dezembro2006
Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
Dezembro2006
Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 53
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Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 40
Dezembro2006
Poder-se-aacute colocar a questatildeo de saber se a delimitaccedilatildeo do conceito proposta remete
especificamente para ldquopessoas com deficiecircnciasrdquo ou para ldquopessoas com limitaccedilotildees de
participaccedilatildeordquo Atendendo a que a definiccedilatildeo comporta uma abordagem sisteacutemica enfatizando a
interacccedilatildeo entre um conjunto diversificado de componentes que produzem impacto na
funcionalidade da pessoa a resposta natildeo eacute linear dependendo da ecircnfase socio-histoacuterica e da
abordagem sociopoliacutetica que se escolher enfatizar No entanto e do ponto de vista conceptual
privilegia-se a adopccedilatildeo do conceito ldquopessoas com limitaccedilotildees de participaccedilatildeordquo dado que existe
total autonomia operativa entre os diferentes constructos Neste sentido a deficiecircncia natildeo
constitui um factor causal linear das limitaccedilotildees de actividade e das restriccedilotildees ao niacutevel da
participaccedilatildeo mas antes uma das componentes que em interacccedilatildeo com outras podem
provocar impactos ao niacutevel da funcionalidade do indiviacuteduo Por uacuteltimo refira-se que a tipologia
ldquopessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeordquo poderaacute ser alvo de criticas por constituir
uma designaccedilatildeo que apela a duas componentes em simultacircneo (actividades e participaccedilatildeo)
excluindo outras e ser demasiado longa para uma definiccedilatildeo tipoloacutegica A este propoacutesito pode-
se sugerir a delimitaccedilatildeo ldquopessoas com limitaccedilotildees de funcionalidaderdquo constituindo esta
expressatildeo uma abordagem holiacutestica ao conjunto de componentes que interferem com o
funcionamento humano Deste modo poderemos ter as seguintes designaccedilotildees
Pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Pessoas com limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo
Pessoas com limitaccedilotildees de funcionalidade
Figura 2 ndash Possiacuteveis designaccedilotildees
O Quadro 3 pretende fornecer uma visatildeo sistemaacutetica sobre o processo de decisatildeo da
designaccedilatildeo a adoptar
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
deficiecircncias
Tradiccedilatildeo analiacutetica dentro do
contexto portuguecircs
Em conformidade com o modelo
meacutedico ndash centra-se nas alteraccedilotildees
de estrutura e funccedilatildeo ndash
focalizaccedilatildeo na pessoa
Desarticulado dos pressupostos do
modelo social ndash natildeo remete para a
experiecircncia de incapacidade
enquanto produto da interacccedilatildeo
entre pessoa e ambiente
Mai
or
Abr
angecirc
ncia
Mai
or
Espe
cific
idad
e
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 41
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Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
incapacidades
Em conformidade com a
delimitaccedilatildeo anglo-saxoacutenica que
utiliza o conceito Disability
Focalizaccedilatildeo no poacutelo negativo do
funcionamento humano ndash
funcionalidadeincapacidade
Ao focalizar-se na experiecircncia de
incapacidade enquanto
interacccedilatildeo pessoa-ambiente
remete indirectamente para a
mobilizaccedilatildeo de apoios e recursos
de forma a ultrapassar eou
eliminar os obstaacuteculos ao
funcionamento em contexto
O potencial efeito estigmatizante
da expressatildeo ldquopessoas com
incapacidadesrdquo
Pessoas com
diversidade
Funcional
Em conformidade com o modelo
social
Focaliza-se na gestatildeo das
diferenccedilas e no seu impacto ao
niacutevel da participaccedilatildeo das pessoas
na sociedade
Elevado niacutevel de abrangecircncia natildeo
permitindo um niacutevel de
diferenciaccedilatildeo relevante na
medida em que todos os cidadatildeos
detecircm entre si diversos e
diferentes padrotildees de
funcionamento humano
Conceito dificilmente
operacionalizaacutevel do ponto de
vista da formulaccedilatildeo das poliacuteticas e
da delimitaccedilatildeo dos puacuteblicos-alvo
Pessoas com
restriccedilotildees ao
niacutevel da
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos Desta forma
todos os obstaacuteculos agrave participaccedilatildeo
relacionados com discriminaccedilatildeo
social preconceitos estereoacutetipos
deficiecircncias doenccedilas croacutenicas
entre outros satildeo incluiacutedos
Natildeo inclui as limitaccedilotildees de
actividade
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Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
limitaccedilotildees de
actividade e
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida e simultaneamente no
domiacutenio das limitaccedilotildees de
actividade
Ruptura com a tradiccedilatildeo analiacutetica
no sector
Dificuldade de apreensatildeo e
inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Natildeo inclui as alteraccedilotildees da
estrutura e da funccedilatildeo
Pessoas com
limitaccedilotildees de
funcionalidade
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel das
diferentes dimensotildees constituintes
da funcionalidade e do
funcionamento humano
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos
Pessoas com
deficiecircncias e
incapacidades
Natildeo introduz ruptura com a
tradiccedilatildeo analiacutetica no sector
Inclui as alteraccedilotildees de estrutura e
funccedilatildeo bem como as alteraccedilotildees
decorrentes ao niacutevel da
funcionalidade
Diferencia os conceitos de
deficiecircncia e incapacidade
autonomizando-os e fornecendo
uma base compreensiva para o
natildeo estabelecimento de relaccedilotildees
de causa-efeito entre os ambos
Abrange os obstaacuteculos que
emergem na interacccedilatildeo pessoa-
contextos de vida e
simultaneamente no domiacutenio das
limitaccedilotildees de actividade
Poder diferenciador e delimitador
na definiccedilatildeo do puacuteblico-alvo
Em alinhamento estrateacutegico com o
PAIPDI
Designaccedilatildeo de compromisso com
os referenciais teoacutericos do modelo
social e dos princiacutepios da ldquoeacutetica da
diversidaderdquo
Quadro 3 ndash Visatildeo comparativa das hipoacuteteses da designaccedilatildeo a adoptar
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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75 DELIMITACcedilAtildeO DA DURACcedilAtildeO E CURSO DE EVOLUCcedilAtildeO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo interessa a caracterizaccedilatildeo nas
3 dimensotildees desenvolvidas
Fundamentaccedilatildeo
Afigura-se relevante caracterizar a ocorrecircncia das deficiecircncias quanto aacute sua
consistecircncia no tempo ndash temporaacuterias permanentes ndash analisando os factores
contextuais associados consequecircncias ao niacutevel das actividades e da participaccedilatildeo ao
longo de um conjunto de domiacutenios em ordem agrave extracccedilatildeo de implicaccedilotildees no acircmbito
das poliacuteticas sociais
No acircmbito da adaptabilidade e da adequaccedilatildeo das medidas poliacuteticas agraves necessidades
especiacuteficas dos cidadatildeos torna-se relevante caracterizar a deficiecircncia quanto agrave
natureza do seu curso evolutivo ndash progressivas regressivas estaacuteveis O mesmo
criteacuterio eacute aplicaacutevel quanto aacute dimensatildeo de padratildeo de manifestaccedilatildeo ndash intermitente
contiacutenua
No entanto e apesar da incapacidade se manifestar ao longo do ciclo de vida da pessoa
de forma multimodal para efeitos de delimitaccedilatildeo e de definiccedilatildeo do conceito de pessoas
com deficiecircncias e incapacidades privilegiaremos o caraacutecter permanente Desta forma
excluem-se as manifestaccedilotildees temporaacuterias de incapacidade que enviesariam a anaacutelise e o
desenvolvimento de poliacuteticas neste domiacutenio
76 DESIGN DAS QUESTOtildeES
No que concerne ao design das questotildees privilegia-se a escolha de questotildees tipo 1
Fundamentaccedilatildeo
Em consonacircncia com a CIF
Permite comparabilidade estatiacutestica futura
Permite a caracterizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre os factores de funcionalidade ndash integridade
estrutural e funcional actividades participaccedilatildeo e factores contextuais
Permite o design das poliacuteticas sociais e metodologias de intervenccedilatildeo alicerccediladas nas
necessidades especiacuteficas dos cidadatildeos em torno das dimensotildees de inclusatildeo social
Domiacutenios
Visatildeo
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 44
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Audiccedilatildeo
Comunicaccedilatildeo
Mobilidade
Dor
Aprendizagem e funcionamento psicoloacutegico
Autocuidados e vida domeacutestica
Condiccedilotildees gerais de sauacutede
Mobilizaccedilatildeo de ajudas ou equipamento especializado
Participaccedilatildeo social
Transporte e educaccedilatildeo
77 PROPOSTA DE DELIMITACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em funccedilatildeo das dimensotildees caracterizadas e dos criteacuterios privilegiados desenvolveu-se o
seguinte enquadramento conceptual
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Figura 2 ndash Enquadramento conceptual da delimitaccedilatildeo do conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso da evoluccedilatildeo
Temporaacuterias permanentes
Progressivas regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou contiacutenuas
Focus
Funcionalidade ndash Niacuteveis de execuccedilatildeo das actividades por domiacutenio e niacuteveistipos de ajudas mobilizadas
Abordagem CIF
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo temporal do conceito
A priori
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Inter-subjectivo
Design das questotildees
Questatildeo geneacuterica sobre uma determinada condiccedilatildeo individual combinada com itens referentes a limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo e factores contextuais
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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8 CRITEacuteRIOS DE ELEGIBILIDADE DO PUacuteBLICO-ALVO E SISTEMAS DE
AVALIACcedilAtildeO
A operacionalizaccedilatildeo do conceito de incapacidade tem sido abordada de forma heterogeacutenea
entre diferentes modalidades de politica e os diferentes contextos socioculturais de cada paiacutes
De uma forma geral encontram-se 2 eixos criacuteticos na sua operacionalizaccedilatildeo
a) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de trabalho (na ocupaccedilatildeo preacutevia ou numa nova
ocupaccedilatildeo ajustada agraves alteraccedilotildees funcionais)
b) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de obter rendimentos provenientes do trabalho
A explicitaccedilatildeo dos criteacuterios de delimitaccedilatildeo do conceito de incapacidade nos diferentes paiacuteses
encontra-se na Quadro 4
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Austraacutelia 2 Criteacuterios possuir uma incapacidade que resulte
num score nunca inferior a 20 nas tabelas de
incapacidades e incapacidade em trabalhar 30
horas ou mais por semana ou em ser
reconvertido para trabalho em contexto regular
nos proacuteximos 2 anos
Nenhum
Aacuteustria 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho (50
de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo para
trabalhadores sem qualificaccedilotildees) papel criacutetico
das decisotildees dos tribunais devido a definiccedilotildees
legais imprecisas
Nenhum mas as
restriccedilotildees de sauacutede
devem ter uma duraccedilatildeo
igual ou superior a 6
meses
Beacutelgica 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na actual ocupaccedilatildeo
1 ano
Canada Incapacidade severa e prolongada que impeccedila de
desenvolver trabalho numa base regular
Nenhum
Dinamarca 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum mas a
reabilitaccedilatildeo precisa de
estar completa
Franccedila 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual mas a
totalidade do subsidio requer igualmente perda de
capacidade de trabalho
Nenhum no caso das
condiccedilotildees estarem
estaacuteveis mas muito
frequentemente apoacutes 3
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 47
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Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
anos
Alemanha 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho a
incapacidade parcial eacute calculada em funccedilatildeo do nordm
de horas que a pessoa pode trabalhar
Nenhum mas a
incapacidade deve ter
uma duraccedilatildeo miacutenima
de 26 semanas
Itaacutelia 666reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum
Coreia Criteacuterios meacutedicos (niacuteveis de incapacidade
definidos de forma detalhada)
Periacuteodo de espera de
50 dias (os subsiacutedios
de doenccedila natildeo se
encontram disponiacuteveis)
Meacutexico 50 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo Nenhum
Holanda 15 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
(25 para os trabalhadores por conta proacutepria e
jovens com incapacidade) grau de incapacidade
calculado pela diferenccedila de remuneraccedilatildeo entre o
actual posto de trabalho compatiacutevel com as
limitaccedilotildees funcionais e o anterior
1 ano
Noruega 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho O
grau de subsiacutedio eacute calculado pela capacidade de
remuneraccedilatildeo
Nenhum (apoacutes ter
completado a
reabilitaccedilatildeo vocacional)
Poloacutenia Reduccedilatildeo temporaacuteria ou permanente da
capacidade de trabalho
Nenhum
Portugal 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual
Nenhum mas na
praacutetica ao fim de 3
anos (fim do periacuteodo de
doenccedila de longo termo)
Espanha 33 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho na
ocupaccedilatildeo actual incapacidade para todo e
qualquer trabalho para a totalidade do subsiacutedio
1 ano (embora seja
possiacutevel a candidatura
antes deste prazo em
casos de incapacidade
permanente)
Sueacutecia 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho grau
de incapacidade parcial calculado a partir das
horas que uma pessoa pode trabalhar
Nenhum
Suiccedila 40 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho para
as pessoas inactivas o grau de incapacidade eacute
calculado em relaccedilatildeo aacute actividade actual
1 ano
Turquia 666 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho
com um focus meacutedico bastante significativo
Nenhum
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 48
Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Reino Unido Limitaccedilotildees nas actividades de vida quotidianas
relevantes para o trabalho (avaliaccedilotildees meacutedicas
predominantes) teste ocupacional durante a s
primeiras 28 semanas (subsidio de doenccedila)
28 semanas
Estados
Unidos
Reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
incapacidade em investir numa actividade
profissional com rendimentos ($ US 740 por mecircs)
5 meses (nem sempre
cobertos pelos
subsiacutedios de curto-
termo) e 24 meses
para a cobertura
meacutedica
Quadro 4 ndash Definiccedilotildees de incapacidade e tempos regulamentares
Um dos desafios que se coloca aos actuais sistemas reside na delimitaccedilatildeo da elegibilidade do
puacuteblico-alvo Para cumprir este objectivo satildeo necessaacuterios sistemas de avaliaccedilatildeo holiacutesticos
abrangentes coerentes e que permitam chegar a resultados de forma consistente e com
validade interna No actual contexto a CIF propotildee constituir-se como o instrumento conceptual
abrangente para caracterizar os diferentes domiacutenios e niacuteveis de funcionalidade incapacidade
de forma coerente e integrada Neste sentido uma das vantagens apontadas para a adopccedilatildeo
do modelo desenvolvido pela OMS eacute a possibilidade de uniformizaccedilatildeo de conceitos e portanto
da utilizaccedilatildeo de uma linguagem padratildeo que permita a comunicaccedilatildeo entre investigadores
gestores profissionais de sauacutede organizaccedilotildees da sociedade civil e utilizadores em geral
Um dos campos de estudo mais explorados para a aplicaccedilatildeo da CIF tem sido a aacuterea de
Medicina Fiacutesica e de Reabilitaccedilatildeo no que concerne ao acompanhamento do estado de sauacutede
dos pacientes em tratamento O uso da CIF tem sido considerado tambeacutem na avaliaccedilatildeo apoacutes
transtornos agudos condiccedilotildees traumaacuteticas condiccedilotildees croacutenicas e na geriatria
Alguns autores argumentam que a CIF deve ser explorada como uma base de informaccedilotildees
padronizadas em estudos sobre incapacidade profissional quando haacute necessidade de
relacionar dados de sauacutede ocupacional com os da Seguranccedila Social
Na Sauacutede Puacuteblica tradicionalmente pouca atenccedilatildeo tem sido dada agraves pessoas com
incapacidades No entanto ao lado de recentes investimentos por parte de organizaccedilotildees e de
alguns governos a publicaccedilatildeo do modelo da CIF fornece as bases para as poliacuteticas e
disciplinas da Sauacutede Puacuteblica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo que apresenta deficiecircncias e
incapacidades Assim uma das possibilidades de uso da CIF pode ser a contribuiccedilatildeo para
responder a importantes questotildees de sauacutede puacuteblica tais como qual o estado de sauacutede das
pessoas com deficiecircncias comparadas com as demais que necessidades e que tipos de
intervenccedilotildees satildeo mais adequadas para reduzir condiccedilotildees secundaacuterias e promover a
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na sociedade entre outras
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 49
Dezembro2006
Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 50
Dezembro2006
Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 51
Dezembro2006
Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
Dezembro2006
Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 53
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Dezembro2006
Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
incapacidades
Em conformidade com a
delimitaccedilatildeo anglo-saxoacutenica que
utiliza o conceito Disability
Focalizaccedilatildeo no poacutelo negativo do
funcionamento humano ndash
funcionalidadeincapacidade
Ao focalizar-se na experiecircncia de
incapacidade enquanto
interacccedilatildeo pessoa-ambiente
remete indirectamente para a
mobilizaccedilatildeo de apoios e recursos
de forma a ultrapassar eou
eliminar os obstaacuteculos ao
funcionamento em contexto
O potencial efeito estigmatizante
da expressatildeo ldquopessoas com
incapacidadesrdquo
Pessoas com
diversidade
Funcional
Em conformidade com o modelo
social
Focaliza-se na gestatildeo das
diferenccedilas e no seu impacto ao
niacutevel da participaccedilatildeo das pessoas
na sociedade
Elevado niacutevel de abrangecircncia natildeo
permitindo um niacutevel de
diferenciaccedilatildeo relevante na
medida em que todos os cidadatildeos
detecircm entre si diversos e
diferentes padrotildees de
funcionamento humano
Conceito dificilmente
operacionalizaacutevel do ponto de
vista da formulaccedilatildeo das poliacuteticas e
da delimitaccedilatildeo dos puacuteblicos-alvo
Pessoas com
restriccedilotildees ao
niacutevel da
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos Desta forma
todos os obstaacuteculos agrave participaccedilatildeo
relacionados com discriminaccedilatildeo
social preconceitos estereoacutetipos
deficiecircncias doenccedilas croacutenicas
entre outros satildeo incluiacutedos
Natildeo inclui as limitaccedilotildees de
actividade
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Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
limitaccedilotildees de
actividade e
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida e simultaneamente no
domiacutenio das limitaccedilotildees de
actividade
Ruptura com a tradiccedilatildeo analiacutetica
no sector
Dificuldade de apreensatildeo e
inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Natildeo inclui as alteraccedilotildees da
estrutura e da funccedilatildeo
Pessoas com
limitaccedilotildees de
funcionalidade
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel das
diferentes dimensotildees constituintes
da funcionalidade e do
funcionamento humano
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos
Pessoas com
deficiecircncias e
incapacidades
Natildeo introduz ruptura com a
tradiccedilatildeo analiacutetica no sector
Inclui as alteraccedilotildees de estrutura e
funccedilatildeo bem como as alteraccedilotildees
decorrentes ao niacutevel da
funcionalidade
Diferencia os conceitos de
deficiecircncia e incapacidade
autonomizando-os e fornecendo
uma base compreensiva para o
natildeo estabelecimento de relaccedilotildees
de causa-efeito entre os ambos
Abrange os obstaacuteculos que
emergem na interacccedilatildeo pessoa-
contextos de vida e
simultaneamente no domiacutenio das
limitaccedilotildees de actividade
Poder diferenciador e delimitador
na definiccedilatildeo do puacuteblico-alvo
Em alinhamento estrateacutegico com o
PAIPDI
Designaccedilatildeo de compromisso com
os referenciais teoacutericos do modelo
social e dos princiacutepios da ldquoeacutetica da
diversidaderdquo
Quadro 3 ndash Visatildeo comparativa das hipoacuteteses da designaccedilatildeo a adoptar
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 43
Dezembro2006
75 DELIMITACcedilAtildeO DA DURACcedilAtildeO E CURSO DE EVOLUCcedilAtildeO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo interessa a caracterizaccedilatildeo nas
3 dimensotildees desenvolvidas
Fundamentaccedilatildeo
Afigura-se relevante caracterizar a ocorrecircncia das deficiecircncias quanto aacute sua
consistecircncia no tempo ndash temporaacuterias permanentes ndash analisando os factores
contextuais associados consequecircncias ao niacutevel das actividades e da participaccedilatildeo ao
longo de um conjunto de domiacutenios em ordem agrave extracccedilatildeo de implicaccedilotildees no acircmbito
das poliacuteticas sociais
No acircmbito da adaptabilidade e da adequaccedilatildeo das medidas poliacuteticas agraves necessidades
especiacuteficas dos cidadatildeos torna-se relevante caracterizar a deficiecircncia quanto agrave
natureza do seu curso evolutivo ndash progressivas regressivas estaacuteveis O mesmo
criteacuterio eacute aplicaacutevel quanto aacute dimensatildeo de padratildeo de manifestaccedilatildeo ndash intermitente
contiacutenua
No entanto e apesar da incapacidade se manifestar ao longo do ciclo de vida da pessoa
de forma multimodal para efeitos de delimitaccedilatildeo e de definiccedilatildeo do conceito de pessoas
com deficiecircncias e incapacidades privilegiaremos o caraacutecter permanente Desta forma
excluem-se as manifestaccedilotildees temporaacuterias de incapacidade que enviesariam a anaacutelise e o
desenvolvimento de poliacuteticas neste domiacutenio
76 DESIGN DAS QUESTOtildeES
No que concerne ao design das questotildees privilegia-se a escolha de questotildees tipo 1
Fundamentaccedilatildeo
Em consonacircncia com a CIF
Permite comparabilidade estatiacutestica futura
Permite a caracterizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre os factores de funcionalidade ndash integridade
estrutural e funcional actividades participaccedilatildeo e factores contextuais
Permite o design das poliacuteticas sociais e metodologias de intervenccedilatildeo alicerccediladas nas
necessidades especiacuteficas dos cidadatildeos em torno das dimensotildees de inclusatildeo social
Domiacutenios
Visatildeo
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 44
Dezembro2006
Audiccedilatildeo
Comunicaccedilatildeo
Mobilidade
Dor
Aprendizagem e funcionamento psicoloacutegico
Autocuidados e vida domeacutestica
Condiccedilotildees gerais de sauacutede
Mobilizaccedilatildeo de ajudas ou equipamento especializado
Participaccedilatildeo social
Transporte e educaccedilatildeo
77 PROPOSTA DE DELIMITACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em funccedilatildeo das dimensotildees caracterizadas e dos criteacuterios privilegiados desenvolveu-se o
seguinte enquadramento conceptual
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 45
Dezembro2006
Figura 2 ndash Enquadramento conceptual da delimitaccedilatildeo do conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso da evoluccedilatildeo
Temporaacuterias permanentes
Progressivas regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou contiacutenuas
Focus
Funcionalidade ndash Niacuteveis de execuccedilatildeo das actividades por domiacutenio e niacuteveistipos de ajudas mobilizadas
Abordagem CIF
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo temporal do conceito
A priori
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Inter-subjectivo
Design das questotildees
Questatildeo geneacuterica sobre uma determinada condiccedilatildeo individual combinada com itens referentes a limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo e factores contextuais
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 46
Dezembro2006
8 CRITEacuteRIOS DE ELEGIBILIDADE DO PUacuteBLICO-ALVO E SISTEMAS DE
AVALIACcedilAtildeO
A operacionalizaccedilatildeo do conceito de incapacidade tem sido abordada de forma heterogeacutenea
entre diferentes modalidades de politica e os diferentes contextos socioculturais de cada paiacutes
De uma forma geral encontram-se 2 eixos criacuteticos na sua operacionalizaccedilatildeo
a) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de trabalho (na ocupaccedilatildeo preacutevia ou numa nova
ocupaccedilatildeo ajustada agraves alteraccedilotildees funcionais)
b) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de obter rendimentos provenientes do trabalho
A explicitaccedilatildeo dos criteacuterios de delimitaccedilatildeo do conceito de incapacidade nos diferentes paiacuteses
encontra-se na Quadro 4
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Austraacutelia 2 Criteacuterios possuir uma incapacidade que resulte
num score nunca inferior a 20 nas tabelas de
incapacidades e incapacidade em trabalhar 30
horas ou mais por semana ou em ser
reconvertido para trabalho em contexto regular
nos proacuteximos 2 anos
Nenhum
Aacuteustria 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho (50
de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo para
trabalhadores sem qualificaccedilotildees) papel criacutetico
das decisotildees dos tribunais devido a definiccedilotildees
legais imprecisas
Nenhum mas as
restriccedilotildees de sauacutede
devem ter uma duraccedilatildeo
igual ou superior a 6
meses
Beacutelgica 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na actual ocupaccedilatildeo
1 ano
Canada Incapacidade severa e prolongada que impeccedila de
desenvolver trabalho numa base regular
Nenhum
Dinamarca 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum mas a
reabilitaccedilatildeo precisa de
estar completa
Franccedila 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual mas a
totalidade do subsidio requer igualmente perda de
capacidade de trabalho
Nenhum no caso das
condiccedilotildees estarem
estaacuteveis mas muito
frequentemente apoacutes 3
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 47
Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
anos
Alemanha 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho a
incapacidade parcial eacute calculada em funccedilatildeo do nordm
de horas que a pessoa pode trabalhar
Nenhum mas a
incapacidade deve ter
uma duraccedilatildeo miacutenima
de 26 semanas
Itaacutelia 666reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum
Coreia Criteacuterios meacutedicos (niacuteveis de incapacidade
definidos de forma detalhada)
Periacuteodo de espera de
50 dias (os subsiacutedios
de doenccedila natildeo se
encontram disponiacuteveis)
Meacutexico 50 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo Nenhum
Holanda 15 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
(25 para os trabalhadores por conta proacutepria e
jovens com incapacidade) grau de incapacidade
calculado pela diferenccedila de remuneraccedilatildeo entre o
actual posto de trabalho compatiacutevel com as
limitaccedilotildees funcionais e o anterior
1 ano
Noruega 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho O
grau de subsiacutedio eacute calculado pela capacidade de
remuneraccedilatildeo
Nenhum (apoacutes ter
completado a
reabilitaccedilatildeo vocacional)
Poloacutenia Reduccedilatildeo temporaacuteria ou permanente da
capacidade de trabalho
Nenhum
Portugal 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual
Nenhum mas na
praacutetica ao fim de 3
anos (fim do periacuteodo de
doenccedila de longo termo)
Espanha 33 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho na
ocupaccedilatildeo actual incapacidade para todo e
qualquer trabalho para a totalidade do subsiacutedio
1 ano (embora seja
possiacutevel a candidatura
antes deste prazo em
casos de incapacidade
permanente)
Sueacutecia 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho grau
de incapacidade parcial calculado a partir das
horas que uma pessoa pode trabalhar
Nenhum
Suiccedila 40 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho para
as pessoas inactivas o grau de incapacidade eacute
calculado em relaccedilatildeo aacute actividade actual
1 ano
Turquia 666 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho
com um focus meacutedico bastante significativo
Nenhum
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 48
Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Reino Unido Limitaccedilotildees nas actividades de vida quotidianas
relevantes para o trabalho (avaliaccedilotildees meacutedicas
predominantes) teste ocupacional durante a s
primeiras 28 semanas (subsidio de doenccedila)
28 semanas
Estados
Unidos
Reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
incapacidade em investir numa actividade
profissional com rendimentos ($ US 740 por mecircs)
5 meses (nem sempre
cobertos pelos
subsiacutedios de curto-
termo) e 24 meses
para a cobertura
meacutedica
Quadro 4 ndash Definiccedilotildees de incapacidade e tempos regulamentares
Um dos desafios que se coloca aos actuais sistemas reside na delimitaccedilatildeo da elegibilidade do
puacuteblico-alvo Para cumprir este objectivo satildeo necessaacuterios sistemas de avaliaccedilatildeo holiacutesticos
abrangentes coerentes e que permitam chegar a resultados de forma consistente e com
validade interna No actual contexto a CIF propotildee constituir-se como o instrumento conceptual
abrangente para caracterizar os diferentes domiacutenios e niacuteveis de funcionalidade incapacidade
de forma coerente e integrada Neste sentido uma das vantagens apontadas para a adopccedilatildeo
do modelo desenvolvido pela OMS eacute a possibilidade de uniformizaccedilatildeo de conceitos e portanto
da utilizaccedilatildeo de uma linguagem padratildeo que permita a comunicaccedilatildeo entre investigadores
gestores profissionais de sauacutede organizaccedilotildees da sociedade civil e utilizadores em geral
Um dos campos de estudo mais explorados para a aplicaccedilatildeo da CIF tem sido a aacuterea de
Medicina Fiacutesica e de Reabilitaccedilatildeo no que concerne ao acompanhamento do estado de sauacutede
dos pacientes em tratamento O uso da CIF tem sido considerado tambeacutem na avaliaccedilatildeo apoacutes
transtornos agudos condiccedilotildees traumaacuteticas condiccedilotildees croacutenicas e na geriatria
Alguns autores argumentam que a CIF deve ser explorada como uma base de informaccedilotildees
padronizadas em estudos sobre incapacidade profissional quando haacute necessidade de
relacionar dados de sauacutede ocupacional com os da Seguranccedila Social
Na Sauacutede Puacuteblica tradicionalmente pouca atenccedilatildeo tem sido dada agraves pessoas com
incapacidades No entanto ao lado de recentes investimentos por parte de organizaccedilotildees e de
alguns governos a publicaccedilatildeo do modelo da CIF fornece as bases para as poliacuteticas e
disciplinas da Sauacutede Puacuteblica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo que apresenta deficiecircncias e
incapacidades Assim uma das possibilidades de uso da CIF pode ser a contribuiccedilatildeo para
responder a importantes questotildees de sauacutede puacuteblica tais como qual o estado de sauacutede das
pessoas com deficiecircncias comparadas com as demais que necessidades e que tipos de
intervenccedilotildees satildeo mais adequadas para reduzir condiccedilotildees secundaacuterias e promover a
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na sociedade entre outras
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 49
Dezembro2006
Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 50
Dezembro2006
Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 51
Dezembro2006
Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
Dezembro2006
Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 53
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Designaccedilatildeo Vantagens Desvantagens
Pessoas com
limitaccedilotildees de
actividade e
participaccedilatildeo
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel dos
problemas dificuldades e
obstaacuteculos que emergem na
interacccedilatildeo pessoa-contextos de
vida e simultaneamente no
domiacutenio das limitaccedilotildees de
actividade
Ruptura com a tradiccedilatildeo analiacutetica
no sector
Dificuldade de apreensatildeo e
inteligibilidade por parte da
sociedade em geral
Natildeo inclui as alteraccedilotildees da
estrutura e da funccedilatildeo
Pessoas com
limitaccedilotildees de
funcionalidade
Em conformidade com o modelo
social
Em conformidade com a CIF
Coloca a ecircnfase ao niacutevel das
diferentes dimensotildees constituintes
da funcionalidade e do
funcionamento humano
Conceito com um niacutevel de
delimitaccedilatildeo demasiado amplo e
abrangente na medida em que
todos os eventos de restriccedilatildeo agrave
participaccedilatildeo ocorridos ao longo da
vida satildeo incluiacutedos
Pessoas com
deficiecircncias e
incapacidades
Natildeo introduz ruptura com a
tradiccedilatildeo analiacutetica no sector
Inclui as alteraccedilotildees de estrutura e
funccedilatildeo bem como as alteraccedilotildees
decorrentes ao niacutevel da
funcionalidade
Diferencia os conceitos de
deficiecircncia e incapacidade
autonomizando-os e fornecendo
uma base compreensiva para o
natildeo estabelecimento de relaccedilotildees
de causa-efeito entre os ambos
Abrange os obstaacuteculos que
emergem na interacccedilatildeo pessoa-
contextos de vida e
simultaneamente no domiacutenio das
limitaccedilotildees de actividade
Poder diferenciador e delimitador
na definiccedilatildeo do puacuteblico-alvo
Em alinhamento estrateacutegico com o
PAIPDI
Designaccedilatildeo de compromisso com
os referenciais teoacutericos do modelo
social e dos princiacutepios da ldquoeacutetica da
diversidaderdquo
Quadro 3 ndash Visatildeo comparativa das hipoacuteteses da designaccedilatildeo a adoptar
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 43
Dezembro2006
75 DELIMITACcedilAtildeO DA DURACcedilAtildeO E CURSO DE EVOLUCcedilAtildeO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo interessa a caracterizaccedilatildeo nas
3 dimensotildees desenvolvidas
Fundamentaccedilatildeo
Afigura-se relevante caracterizar a ocorrecircncia das deficiecircncias quanto aacute sua
consistecircncia no tempo ndash temporaacuterias permanentes ndash analisando os factores
contextuais associados consequecircncias ao niacutevel das actividades e da participaccedilatildeo ao
longo de um conjunto de domiacutenios em ordem agrave extracccedilatildeo de implicaccedilotildees no acircmbito
das poliacuteticas sociais
No acircmbito da adaptabilidade e da adequaccedilatildeo das medidas poliacuteticas agraves necessidades
especiacuteficas dos cidadatildeos torna-se relevante caracterizar a deficiecircncia quanto agrave
natureza do seu curso evolutivo ndash progressivas regressivas estaacuteveis O mesmo
criteacuterio eacute aplicaacutevel quanto aacute dimensatildeo de padratildeo de manifestaccedilatildeo ndash intermitente
contiacutenua
No entanto e apesar da incapacidade se manifestar ao longo do ciclo de vida da pessoa
de forma multimodal para efeitos de delimitaccedilatildeo e de definiccedilatildeo do conceito de pessoas
com deficiecircncias e incapacidades privilegiaremos o caraacutecter permanente Desta forma
excluem-se as manifestaccedilotildees temporaacuterias de incapacidade que enviesariam a anaacutelise e o
desenvolvimento de poliacuteticas neste domiacutenio
76 DESIGN DAS QUESTOtildeES
No que concerne ao design das questotildees privilegia-se a escolha de questotildees tipo 1
Fundamentaccedilatildeo
Em consonacircncia com a CIF
Permite comparabilidade estatiacutestica futura
Permite a caracterizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre os factores de funcionalidade ndash integridade
estrutural e funcional actividades participaccedilatildeo e factores contextuais
Permite o design das poliacuteticas sociais e metodologias de intervenccedilatildeo alicerccediladas nas
necessidades especiacuteficas dos cidadatildeos em torno das dimensotildees de inclusatildeo social
Domiacutenios
Visatildeo
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 44
Dezembro2006
Audiccedilatildeo
Comunicaccedilatildeo
Mobilidade
Dor
Aprendizagem e funcionamento psicoloacutegico
Autocuidados e vida domeacutestica
Condiccedilotildees gerais de sauacutede
Mobilizaccedilatildeo de ajudas ou equipamento especializado
Participaccedilatildeo social
Transporte e educaccedilatildeo
77 PROPOSTA DE DELIMITACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em funccedilatildeo das dimensotildees caracterizadas e dos criteacuterios privilegiados desenvolveu-se o
seguinte enquadramento conceptual
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 45
Dezembro2006
Figura 2 ndash Enquadramento conceptual da delimitaccedilatildeo do conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso da evoluccedilatildeo
Temporaacuterias permanentes
Progressivas regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou contiacutenuas
Focus
Funcionalidade ndash Niacuteveis de execuccedilatildeo das actividades por domiacutenio e niacuteveistipos de ajudas mobilizadas
Abordagem CIF
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo temporal do conceito
A priori
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Inter-subjectivo
Design das questotildees
Questatildeo geneacuterica sobre uma determinada condiccedilatildeo individual combinada com itens referentes a limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo e factores contextuais
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 46
Dezembro2006
8 CRITEacuteRIOS DE ELEGIBILIDADE DO PUacuteBLICO-ALVO E SISTEMAS DE
AVALIACcedilAtildeO
A operacionalizaccedilatildeo do conceito de incapacidade tem sido abordada de forma heterogeacutenea
entre diferentes modalidades de politica e os diferentes contextos socioculturais de cada paiacutes
De uma forma geral encontram-se 2 eixos criacuteticos na sua operacionalizaccedilatildeo
a) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de trabalho (na ocupaccedilatildeo preacutevia ou numa nova
ocupaccedilatildeo ajustada agraves alteraccedilotildees funcionais)
b) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de obter rendimentos provenientes do trabalho
A explicitaccedilatildeo dos criteacuterios de delimitaccedilatildeo do conceito de incapacidade nos diferentes paiacuteses
encontra-se na Quadro 4
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Austraacutelia 2 Criteacuterios possuir uma incapacidade que resulte
num score nunca inferior a 20 nas tabelas de
incapacidades e incapacidade em trabalhar 30
horas ou mais por semana ou em ser
reconvertido para trabalho em contexto regular
nos proacuteximos 2 anos
Nenhum
Aacuteustria 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho (50
de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo para
trabalhadores sem qualificaccedilotildees) papel criacutetico
das decisotildees dos tribunais devido a definiccedilotildees
legais imprecisas
Nenhum mas as
restriccedilotildees de sauacutede
devem ter uma duraccedilatildeo
igual ou superior a 6
meses
Beacutelgica 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na actual ocupaccedilatildeo
1 ano
Canada Incapacidade severa e prolongada que impeccedila de
desenvolver trabalho numa base regular
Nenhum
Dinamarca 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum mas a
reabilitaccedilatildeo precisa de
estar completa
Franccedila 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual mas a
totalidade do subsidio requer igualmente perda de
capacidade de trabalho
Nenhum no caso das
condiccedilotildees estarem
estaacuteveis mas muito
frequentemente apoacutes 3
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 47
Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
anos
Alemanha 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho a
incapacidade parcial eacute calculada em funccedilatildeo do nordm
de horas que a pessoa pode trabalhar
Nenhum mas a
incapacidade deve ter
uma duraccedilatildeo miacutenima
de 26 semanas
Itaacutelia 666reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum
Coreia Criteacuterios meacutedicos (niacuteveis de incapacidade
definidos de forma detalhada)
Periacuteodo de espera de
50 dias (os subsiacutedios
de doenccedila natildeo se
encontram disponiacuteveis)
Meacutexico 50 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo Nenhum
Holanda 15 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
(25 para os trabalhadores por conta proacutepria e
jovens com incapacidade) grau de incapacidade
calculado pela diferenccedila de remuneraccedilatildeo entre o
actual posto de trabalho compatiacutevel com as
limitaccedilotildees funcionais e o anterior
1 ano
Noruega 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho O
grau de subsiacutedio eacute calculado pela capacidade de
remuneraccedilatildeo
Nenhum (apoacutes ter
completado a
reabilitaccedilatildeo vocacional)
Poloacutenia Reduccedilatildeo temporaacuteria ou permanente da
capacidade de trabalho
Nenhum
Portugal 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual
Nenhum mas na
praacutetica ao fim de 3
anos (fim do periacuteodo de
doenccedila de longo termo)
Espanha 33 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho na
ocupaccedilatildeo actual incapacidade para todo e
qualquer trabalho para a totalidade do subsiacutedio
1 ano (embora seja
possiacutevel a candidatura
antes deste prazo em
casos de incapacidade
permanente)
Sueacutecia 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho grau
de incapacidade parcial calculado a partir das
horas que uma pessoa pode trabalhar
Nenhum
Suiccedila 40 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho para
as pessoas inactivas o grau de incapacidade eacute
calculado em relaccedilatildeo aacute actividade actual
1 ano
Turquia 666 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho
com um focus meacutedico bastante significativo
Nenhum
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 48
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Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Reino Unido Limitaccedilotildees nas actividades de vida quotidianas
relevantes para o trabalho (avaliaccedilotildees meacutedicas
predominantes) teste ocupacional durante a s
primeiras 28 semanas (subsidio de doenccedila)
28 semanas
Estados
Unidos
Reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
incapacidade em investir numa actividade
profissional com rendimentos ($ US 740 por mecircs)
5 meses (nem sempre
cobertos pelos
subsiacutedios de curto-
termo) e 24 meses
para a cobertura
meacutedica
Quadro 4 ndash Definiccedilotildees de incapacidade e tempos regulamentares
Um dos desafios que se coloca aos actuais sistemas reside na delimitaccedilatildeo da elegibilidade do
puacuteblico-alvo Para cumprir este objectivo satildeo necessaacuterios sistemas de avaliaccedilatildeo holiacutesticos
abrangentes coerentes e que permitam chegar a resultados de forma consistente e com
validade interna No actual contexto a CIF propotildee constituir-se como o instrumento conceptual
abrangente para caracterizar os diferentes domiacutenios e niacuteveis de funcionalidade incapacidade
de forma coerente e integrada Neste sentido uma das vantagens apontadas para a adopccedilatildeo
do modelo desenvolvido pela OMS eacute a possibilidade de uniformizaccedilatildeo de conceitos e portanto
da utilizaccedilatildeo de uma linguagem padratildeo que permita a comunicaccedilatildeo entre investigadores
gestores profissionais de sauacutede organizaccedilotildees da sociedade civil e utilizadores em geral
Um dos campos de estudo mais explorados para a aplicaccedilatildeo da CIF tem sido a aacuterea de
Medicina Fiacutesica e de Reabilitaccedilatildeo no que concerne ao acompanhamento do estado de sauacutede
dos pacientes em tratamento O uso da CIF tem sido considerado tambeacutem na avaliaccedilatildeo apoacutes
transtornos agudos condiccedilotildees traumaacuteticas condiccedilotildees croacutenicas e na geriatria
Alguns autores argumentam que a CIF deve ser explorada como uma base de informaccedilotildees
padronizadas em estudos sobre incapacidade profissional quando haacute necessidade de
relacionar dados de sauacutede ocupacional com os da Seguranccedila Social
Na Sauacutede Puacuteblica tradicionalmente pouca atenccedilatildeo tem sido dada agraves pessoas com
incapacidades No entanto ao lado de recentes investimentos por parte de organizaccedilotildees e de
alguns governos a publicaccedilatildeo do modelo da CIF fornece as bases para as poliacuteticas e
disciplinas da Sauacutede Puacuteblica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo que apresenta deficiecircncias e
incapacidades Assim uma das possibilidades de uso da CIF pode ser a contribuiccedilatildeo para
responder a importantes questotildees de sauacutede puacuteblica tais como qual o estado de sauacutede das
pessoas com deficiecircncias comparadas com as demais que necessidades e que tipos de
intervenccedilotildees satildeo mais adequadas para reduzir condiccedilotildees secundaacuterias e promover a
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na sociedade entre outras
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 49
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Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 50
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Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 51
Dezembro2006
Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
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Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
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Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 53
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Dezembro2006
75 DELIMITACcedilAtildeO DA DURACcedilAtildeO E CURSO DE EVOLUCcedilAtildeO
No que concerne agrave delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso de evoluccedilatildeo interessa a caracterizaccedilatildeo nas
3 dimensotildees desenvolvidas
Fundamentaccedilatildeo
Afigura-se relevante caracterizar a ocorrecircncia das deficiecircncias quanto aacute sua
consistecircncia no tempo ndash temporaacuterias permanentes ndash analisando os factores
contextuais associados consequecircncias ao niacutevel das actividades e da participaccedilatildeo ao
longo de um conjunto de domiacutenios em ordem agrave extracccedilatildeo de implicaccedilotildees no acircmbito
das poliacuteticas sociais
No acircmbito da adaptabilidade e da adequaccedilatildeo das medidas poliacuteticas agraves necessidades
especiacuteficas dos cidadatildeos torna-se relevante caracterizar a deficiecircncia quanto agrave
natureza do seu curso evolutivo ndash progressivas regressivas estaacuteveis O mesmo
criteacuterio eacute aplicaacutevel quanto aacute dimensatildeo de padratildeo de manifestaccedilatildeo ndash intermitente
contiacutenua
No entanto e apesar da incapacidade se manifestar ao longo do ciclo de vida da pessoa
de forma multimodal para efeitos de delimitaccedilatildeo e de definiccedilatildeo do conceito de pessoas
com deficiecircncias e incapacidades privilegiaremos o caraacutecter permanente Desta forma
excluem-se as manifestaccedilotildees temporaacuterias de incapacidade que enviesariam a anaacutelise e o
desenvolvimento de poliacuteticas neste domiacutenio
76 DESIGN DAS QUESTOtildeES
No que concerne ao design das questotildees privilegia-se a escolha de questotildees tipo 1
Fundamentaccedilatildeo
Em consonacircncia com a CIF
Permite comparabilidade estatiacutestica futura
Permite a caracterizaccedilatildeo das relaccedilotildees entre os factores de funcionalidade ndash integridade
estrutural e funcional actividades participaccedilatildeo e factores contextuais
Permite o design das poliacuteticas sociais e metodologias de intervenccedilatildeo alicerccediladas nas
necessidades especiacuteficas dos cidadatildeos em torno das dimensotildees de inclusatildeo social
Domiacutenios
Visatildeo
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 44
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Audiccedilatildeo
Comunicaccedilatildeo
Mobilidade
Dor
Aprendizagem e funcionamento psicoloacutegico
Autocuidados e vida domeacutestica
Condiccedilotildees gerais de sauacutede
Mobilizaccedilatildeo de ajudas ou equipamento especializado
Participaccedilatildeo social
Transporte e educaccedilatildeo
77 PROPOSTA DE DELIMITACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em funccedilatildeo das dimensotildees caracterizadas e dos criteacuterios privilegiados desenvolveu-se o
seguinte enquadramento conceptual
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 45
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Figura 2 ndash Enquadramento conceptual da delimitaccedilatildeo do conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso da evoluccedilatildeo
Temporaacuterias permanentes
Progressivas regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou contiacutenuas
Focus
Funcionalidade ndash Niacuteveis de execuccedilatildeo das actividades por domiacutenio e niacuteveistipos de ajudas mobilizadas
Abordagem CIF
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo temporal do conceito
A priori
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Inter-subjectivo
Design das questotildees
Questatildeo geneacuterica sobre uma determinada condiccedilatildeo individual combinada com itens referentes a limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo e factores contextuais
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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8 CRITEacuteRIOS DE ELEGIBILIDADE DO PUacuteBLICO-ALVO E SISTEMAS DE
AVALIACcedilAtildeO
A operacionalizaccedilatildeo do conceito de incapacidade tem sido abordada de forma heterogeacutenea
entre diferentes modalidades de politica e os diferentes contextos socioculturais de cada paiacutes
De uma forma geral encontram-se 2 eixos criacuteticos na sua operacionalizaccedilatildeo
a) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de trabalho (na ocupaccedilatildeo preacutevia ou numa nova
ocupaccedilatildeo ajustada agraves alteraccedilotildees funcionais)
b) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de obter rendimentos provenientes do trabalho
A explicitaccedilatildeo dos criteacuterios de delimitaccedilatildeo do conceito de incapacidade nos diferentes paiacuteses
encontra-se na Quadro 4
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Austraacutelia 2 Criteacuterios possuir uma incapacidade que resulte
num score nunca inferior a 20 nas tabelas de
incapacidades e incapacidade em trabalhar 30
horas ou mais por semana ou em ser
reconvertido para trabalho em contexto regular
nos proacuteximos 2 anos
Nenhum
Aacuteustria 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho (50
de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo para
trabalhadores sem qualificaccedilotildees) papel criacutetico
das decisotildees dos tribunais devido a definiccedilotildees
legais imprecisas
Nenhum mas as
restriccedilotildees de sauacutede
devem ter uma duraccedilatildeo
igual ou superior a 6
meses
Beacutelgica 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na actual ocupaccedilatildeo
1 ano
Canada Incapacidade severa e prolongada que impeccedila de
desenvolver trabalho numa base regular
Nenhum
Dinamarca 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum mas a
reabilitaccedilatildeo precisa de
estar completa
Franccedila 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual mas a
totalidade do subsidio requer igualmente perda de
capacidade de trabalho
Nenhum no caso das
condiccedilotildees estarem
estaacuteveis mas muito
frequentemente apoacutes 3
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Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
anos
Alemanha 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho a
incapacidade parcial eacute calculada em funccedilatildeo do nordm
de horas que a pessoa pode trabalhar
Nenhum mas a
incapacidade deve ter
uma duraccedilatildeo miacutenima
de 26 semanas
Itaacutelia 666reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum
Coreia Criteacuterios meacutedicos (niacuteveis de incapacidade
definidos de forma detalhada)
Periacuteodo de espera de
50 dias (os subsiacutedios
de doenccedila natildeo se
encontram disponiacuteveis)
Meacutexico 50 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo Nenhum
Holanda 15 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
(25 para os trabalhadores por conta proacutepria e
jovens com incapacidade) grau de incapacidade
calculado pela diferenccedila de remuneraccedilatildeo entre o
actual posto de trabalho compatiacutevel com as
limitaccedilotildees funcionais e o anterior
1 ano
Noruega 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho O
grau de subsiacutedio eacute calculado pela capacidade de
remuneraccedilatildeo
Nenhum (apoacutes ter
completado a
reabilitaccedilatildeo vocacional)
Poloacutenia Reduccedilatildeo temporaacuteria ou permanente da
capacidade de trabalho
Nenhum
Portugal 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual
Nenhum mas na
praacutetica ao fim de 3
anos (fim do periacuteodo de
doenccedila de longo termo)
Espanha 33 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho na
ocupaccedilatildeo actual incapacidade para todo e
qualquer trabalho para a totalidade do subsiacutedio
1 ano (embora seja
possiacutevel a candidatura
antes deste prazo em
casos de incapacidade
permanente)
Sueacutecia 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho grau
de incapacidade parcial calculado a partir das
horas que uma pessoa pode trabalhar
Nenhum
Suiccedila 40 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho para
as pessoas inactivas o grau de incapacidade eacute
calculado em relaccedilatildeo aacute actividade actual
1 ano
Turquia 666 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho
com um focus meacutedico bastante significativo
Nenhum
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Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Reino Unido Limitaccedilotildees nas actividades de vida quotidianas
relevantes para o trabalho (avaliaccedilotildees meacutedicas
predominantes) teste ocupacional durante a s
primeiras 28 semanas (subsidio de doenccedila)
28 semanas
Estados
Unidos
Reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
incapacidade em investir numa actividade
profissional com rendimentos ($ US 740 por mecircs)
5 meses (nem sempre
cobertos pelos
subsiacutedios de curto-
termo) e 24 meses
para a cobertura
meacutedica
Quadro 4 ndash Definiccedilotildees de incapacidade e tempos regulamentares
Um dos desafios que se coloca aos actuais sistemas reside na delimitaccedilatildeo da elegibilidade do
puacuteblico-alvo Para cumprir este objectivo satildeo necessaacuterios sistemas de avaliaccedilatildeo holiacutesticos
abrangentes coerentes e que permitam chegar a resultados de forma consistente e com
validade interna No actual contexto a CIF propotildee constituir-se como o instrumento conceptual
abrangente para caracterizar os diferentes domiacutenios e niacuteveis de funcionalidade incapacidade
de forma coerente e integrada Neste sentido uma das vantagens apontadas para a adopccedilatildeo
do modelo desenvolvido pela OMS eacute a possibilidade de uniformizaccedilatildeo de conceitos e portanto
da utilizaccedilatildeo de uma linguagem padratildeo que permita a comunicaccedilatildeo entre investigadores
gestores profissionais de sauacutede organizaccedilotildees da sociedade civil e utilizadores em geral
Um dos campos de estudo mais explorados para a aplicaccedilatildeo da CIF tem sido a aacuterea de
Medicina Fiacutesica e de Reabilitaccedilatildeo no que concerne ao acompanhamento do estado de sauacutede
dos pacientes em tratamento O uso da CIF tem sido considerado tambeacutem na avaliaccedilatildeo apoacutes
transtornos agudos condiccedilotildees traumaacuteticas condiccedilotildees croacutenicas e na geriatria
Alguns autores argumentam que a CIF deve ser explorada como uma base de informaccedilotildees
padronizadas em estudos sobre incapacidade profissional quando haacute necessidade de
relacionar dados de sauacutede ocupacional com os da Seguranccedila Social
Na Sauacutede Puacuteblica tradicionalmente pouca atenccedilatildeo tem sido dada agraves pessoas com
incapacidades No entanto ao lado de recentes investimentos por parte de organizaccedilotildees e de
alguns governos a publicaccedilatildeo do modelo da CIF fornece as bases para as poliacuteticas e
disciplinas da Sauacutede Puacuteblica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo que apresenta deficiecircncias e
incapacidades Assim uma das possibilidades de uso da CIF pode ser a contribuiccedilatildeo para
responder a importantes questotildees de sauacutede puacuteblica tais como qual o estado de sauacutede das
pessoas com deficiecircncias comparadas com as demais que necessidades e que tipos de
intervenccedilotildees satildeo mais adequadas para reduzir condiccedilotildees secundaacuterias e promover a
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na sociedade entre outras
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Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 49
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Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
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Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
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Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
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Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
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Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
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Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 44
Dezembro2006
Audiccedilatildeo
Comunicaccedilatildeo
Mobilidade
Dor
Aprendizagem e funcionamento psicoloacutegico
Autocuidados e vida domeacutestica
Condiccedilotildees gerais de sauacutede
Mobilizaccedilatildeo de ajudas ou equipamento especializado
Participaccedilatildeo social
Transporte e educaccedilatildeo
77 PROPOSTA DE DELIMITACcedilAtildeO DO CONCEITO
Em funccedilatildeo das dimensotildees caracterizadas e dos criteacuterios privilegiados desenvolveu-se o
seguinte enquadramento conceptual
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 45
Dezembro2006
Figura 2 ndash Enquadramento conceptual da delimitaccedilatildeo do conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso da evoluccedilatildeo
Temporaacuterias permanentes
Progressivas regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou contiacutenuas
Focus
Funcionalidade ndash Niacuteveis de execuccedilatildeo das actividades por domiacutenio e niacuteveistipos de ajudas mobilizadas
Abordagem CIF
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo temporal do conceito
A priori
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Inter-subjectivo
Design das questotildees
Questatildeo geneacuterica sobre uma determinada condiccedilatildeo individual combinada com itens referentes a limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo e factores contextuais
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 46
Dezembro2006
8 CRITEacuteRIOS DE ELEGIBILIDADE DO PUacuteBLICO-ALVO E SISTEMAS DE
AVALIACcedilAtildeO
A operacionalizaccedilatildeo do conceito de incapacidade tem sido abordada de forma heterogeacutenea
entre diferentes modalidades de politica e os diferentes contextos socioculturais de cada paiacutes
De uma forma geral encontram-se 2 eixos criacuteticos na sua operacionalizaccedilatildeo
a) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de trabalho (na ocupaccedilatildeo preacutevia ou numa nova
ocupaccedilatildeo ajustada agraves alteraccedilotildees funcionais)
b) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de obter rendimentos provenientes do trabalho
A explicitaccedilatildeo dos criteacuterios de delimitaccedilatildeo do conceito de incapacidade nos diferentes paiacuteses
encontra-se na Quadro 4
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Austraacutelia 2 Criteacuterios possuir uma incapacidade que resulte
num score nunca inferior a 20 nas tabelas de
incapacidades e incapacidade em trabalhar 30
horas ou mais por semana ou em ser
reconvertido para trabalho em contexto regular
nos proacuteximos 2 anos
Nenhum
Aacuteustria 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho (50
de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo para
trabalhadores sem qualificaccedilotildees) papel criacutetico
das decisotildees dos tribunais devido a definiccedilotildees
legais imprecisas
Nenhum mas as
restriccedilotildees de sauacutede
devem ter uma duraccedilatildeo
igual ou superior a 6
meses
Beacutelgica 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na actual ocupaccedilatildeo
1 ano
Canada Incapacidade severa e prolongada que impeccedila de
desenvolver trabalho numa base regular
Nenhum
Dinamarca 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum mas a
reabilitaccedilatildeo precisa de
estar completa
Franccedila 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual mas a
totalidade do subsidio requer igualmente perda de
capacidade de trabalho
Nenhum no caso das
condiccedilotildees estarem
estaacuteveis mas muito
frequentemente apoacutes 3
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
anos
Alemanha 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho a
incapacidade parcial eacute calculada em funccedilatildeo do nordm
de horas que a pessoa pode trabalhar
Nenhum mas a
incapacidade deve ter
uma duraccedilatildeo miacutenima
de 26 semanas
Itaacutelia 666reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum
Coreia Criteacuterios meacutedicos (niacuteveis de incapacidade
definidos de forma detalhada)
Periacuteodo de espera de
50 dias (os subsiacutedios
de doenccedila natildeo se
encontram disponiacuteveis)
Meacutexico 50 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo Nenhum
Holanda 15 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
(25 para os trabalhadores por conta proacutepria e
jovens com incapacidade) grau de incapacidade
calculado pela diferenccedila de remuneraccedilatildeo entre o
actual posto de trabalho compatiacutevel com as
limitaccedilotildees funcionais e o anterior
1 ano
Noruega 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho O
grau de subsiacutedio eacute calculado pela capacidade de
remuneraccedilatildeo
Nenhum (apoacutes ter
completado a
reabilitaccedilatildeo vocacional)
Poloacutenia Reduccedilatildeo temporaacuteria ou permanente da
capacidade de trabalho
Nenhum
Portugal 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual
Nenhum mas na
praacutetica ao fim de 3
anos (fim do periacuteodo de
doenccedila de longo termo)
Espanha 33 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho na
ocupaccedilatildeo actual incapacidade para todo e
qualquer trabalho para a totalidade do subsiacutedio
1 ano (embora seja
possiacutevel a candidatura
antes deste prazo em
casos de incapacidade
permanente)
Sueacutecia 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho grau
de incapacidade parcial calculado a partir das
horas que uma pessoa pode trabalhar
Nenhum
Suiccedila 40 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho para
as pessoas inactivas o grau de incapacidade eacute
calculado em relaccedilatildeo aacute actividade actual
1 ano
Turquia 666 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho
com um focus meacutedico bastante significativo
Nenhum
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Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 48
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Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Reino Unido Limitaccedilotildees nas actividades de vida quotidianas
relevantes para o trabalho (avaliaccedilotildees meacutedicas
predominantes) teste ocupacional durante a s
primeiras 28 semanas (subsidio de doenccedila)
28 semanas
Estados
Unidos
Reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
incapacidade em investir numa actividade
profissional com rendimentos ($ US 740 por mecircs)
5 meses (nem sempre
cobertos pelos
subsiacutedios de curto-
termo) e 24 meses
para a cobertura
meacutedica
Quadro 4 ndash Definiccedilotildees de incapacidade e tempos regulamentares
Um dos desafios que se coloca aos actuais sistemas reside na delimitaccedilatildeo da elegibilidade do
puacuteblico-alvo Para cumprir este objectivo satildeo necessaacuterios sistemas de avaliaccedilatildeo holiacutesticos
abrangentes coerentes e que permitam chegar a resultados de forma consistente e com
validade interna No actual contexto a CIF propotildee constituir-se como o instrumento conceptual
abrangente para caracterizar os diferentes domiacutenios e niacuteveis de funcionalidade incapacidade
de forma coerente e integrada Neste sentido uma das vantagens apontadas para a adopccedilatildeo
do modelo desenvolvido pela OMS eacute a possibilidade de uniformizaccedilatildeo de conceitos e portanto
da utilizaccedilatildeo de uma linguagem padratildeo que permita a comunicaccedilatildeo entre investigadores
gestores profissionais de sauacutede organizaccedilotildees da sociedade civil e utilizadores em geral
Um dos campos de estudo mais explorados para a aplicaccedilatildeo da CIF tem sido a aacuterea de
Medicina Fiacutesica e de Reabilitaccedilatildeo no que concerne ao acompanhamento do estado de sauacutede
dos pacientes em tratamento O uso da CIF tem sido considerado tambeacutem na avaliaccedilatildeo apoacutes
transtornos agudos condiccedilotildees traumaacuteticas condiccedilotildees croacutenicas e na geriatria
Alguns autores argumentam que a CIF deve ser explorada como uma base de informaccedilotildees
padronizadas em estudos sobre incapacidade profissional quando haacute necessidade de
relacionar dados de sauacutede ocupacional com os da Seguranccedila Social
Na Sauacutede Puacuteblica tradicionalmente pouca atenccedilatildeo tem sido dada agraves pessoas com
incapacidades No entanto ao lado de recentes investimentos por parte de organizaccedilotildees e de
alguns governos a publicaccedilatildeo do modelo da CIF fornece as bases para as poliacuteticas e
disciplinas da Sauacutede Puacuteblica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo que apresenta deficiecircncias e
incapacidades Assim uma das possibilidades de uso da CIF pode ser a contribuiccedilatildeo para
responder a importantes questotildees de sauacutede puacuteblica tais como qual o estado de sauacutede das
pessoas com deficiecircncias comparadas com as demais que necessidades e que tipos de
intervenccedilotildees satildeo mais adequadas para reduzir condiccedilotildees secundaacuterias e promover a
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na sociedade entre outras
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 49
Dezembro2006
Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
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Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 50
Dezembro2006
Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
Dezembro2006
Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 53
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 45
Dezembro2006
Figura 2 ndash Enquadramento conceptual da delimitaccedilatildeo do conceito
Delimitaccedilatildeo da duraccedilatildeo e curso da evoluccedilatildeo
Temporaacuterias permanentes
Progressivas regressivas ou estaacuteveis
Intermitentes ou contiacutenuas
Focus
Funcionalidade ndash Niacuteveis de execuccedilatildeo das actividades por domiacutenio e niacuteveistipos de ajudas mobilizadas
Abordagem CIF
Pessoa com limitaccedilotildees significativas ao niacutevel da actividade e da participaccedilatildeo num ou vaacuterios domiacutenios de vida decorrentes da interacccedilatildeo entre as alteraccedilotildees funcionais e estruturais de caraacutecter permanente e os contextos envolventes resultando em dificuldades continuadas ao niacutevel da comunicaccedilatildeo aprendizagem mobilidade autonomia relacionamento interpessoal e participaccedilatildeo social dando lugar agrave mobilizaccedilatildeo de serviccedilos e recursos para promover o potencial de funcionamento biopsicossocial
Delimitaccedilatildeo temporal do conceito
A priori
Meacutetodos de mensuraccedilatildeo
Inter-subjectivo
Design das questotildees
Questatildeo geneacuterica sobre uma determinada condiccedilatildeo individual combinada com itens referentes a limitaccedilotildees de actividade e participaccedilatildeo e factores contextuais
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 46
Dezembro2006
8 CRITEacuteRIOS DE ELEGIBILIDADE DO PUacuteBLICO-ALVO E SISTEMAS DE
AVALIACcedilAtildeO
A operacionalizaccedilatildeo do conceito de incapacidade tem sido abordada de forma heterogeacutenea
entre diferentes modalidades de politica e os diferentes contextos socioculturais de cada paiacutes
De uma forma geral encontram-se 2 eixos criacuteticos na sua operacionalizaccedilatildeo
a) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de trabalho (na ocupaccedilatildeo preacutevia ou numa nova
ocupaccedilatildeo ajustada agraves alteraccedilotildees funcionais)
b) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de obter rendimentos provenientes do trabalho
A explicitaccedilatildeo dos criteacuterios de delimitaccedilatildeo do conceito de incapacidade nos diferentes paiacuteses
encontra-se na Quadro 4
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Austraacutelia 2 Criteacuterios possuir uma incapacidade que resulte
num score nunca inferior a 20 nas tabelas de
incapacidades e incapacidade em trabalhar 30
horas ou mais por semana ou em ser
reconvertido para trabalho em contexto regular
nos proacuteximos 2 anos
Nenhum
Aacuteustria 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho (50
de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo para
trabalhadores sem qualificaccedilotildees) papel criacutetico
das decisotildees dos tribunais devido a definiccedilotildees
legais imprecisas
Nenhum mas as
restriccedilotildees de sauacutede
devem ter uma duraccedilatildeo
igual ou superior a 6
meses
Beacutelgica 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na actual ocupaccedilatildeo
1 ano
Canada Incapacidade severa e prolongada que impeccedila de
desenvolver trabalho numa base regular
Nenhum
Dinamarca 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum mas a
reabilitaccedilatildeo precisa de
estar completa
Franccedila 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual mas a
totalidade do subsidio requer igualmente perda de
capacidade de trabalho
Nenhum no caso das
condiccedilotildees estarem
estaacuteveis mas muito
frequentemente apoacutes 3
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 47
Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
anos
Alemanha 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho a
incapacidade parcial eacute calculada em funccedilatildeo do nordm
de horas que a pessoa pode trabalhar
Nenhum mas a
incapacidade deve ter
uma duraccedilatildeo miacutenima
de 26 semanas
Itaacutelia 666reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum
Coreia Criteacuterios meacutedicos (niacuteveis de incapacidade
definidos de forma detalhada)
Periacuteodo de espera de
50 dias (os subsiacutedios
de doenccedila natildeo se
encontram disponiacuteveis)
Meacutexico 50 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo Nenhum
Holanda 15 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
(25 para os trabalhadores por conta proacutepria e
jovens com incapacidade) grau de incapacidade
calculado pela diferenccedila de remuneraccedilatildeo entre o
actual posto de trabalho compatiacutevel com as
limitaccedilotildees funcionais e o anterior
1 ano
Noruega 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho O
grau de subsiacutedio eacute calculado pela capacidade de
remuneraccedilatildeo
Nenhum (apoacutes ter
completado a
reabilitaccedilatildeo vocacional)
Poloacutenia Reduccedilatildeo temporaacuteria ou permanente da
capacidade de trabalho
Nenhum
Portugal 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual
Nenhum mas na
praacutetica ao fim de 3
anos (fim do periacuteodo de
doenccedila de longo termo)
Espanha 33 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho na
ocupaccedilatildeo actual incapacidade para todo e
qualquer trabalho para a totalidade do subsiacutedio
1 ano (embora seja
possiacutevel a candidatura
antes deste prazo em
casos de incapacidade
permanente)
Sueacutecia 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho grau
de incapacidade parcial calculado a partir das
horas que uma pessoa pode trabalhar
Nenhum
Suiccedila 40 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho para
as pessoas inactivas o grau de incapacidade eacute
calculado em relaccedilatildeo aacute actividade actual
1 ano
Turquia 666 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho
com um focus meacutedico bastante significativo
Nenhum
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 48
Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Reino Unido Limitaccedilotildees nas actividades de vida quotidianas
relevantes para o trabalho (avaliaccedilotildees meacutedicas
predominantes) teste ocupacional durante a s
primeiras 28 semanas (subsidio de doenccedila)
28 semanas
Estados
Unidos
Reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
incapacidade em investir numa actividade
profissional com rendimentos ($ US 740 por mecircs)
5 meses (nem sempre
cobertos pelos
subsiacutedios de curto-
termo) e 24 meses
para a cobertura
meacutedica
Quadro 4 ndash Definiccedilotildees de incapacidade e tempos regulamentares
Um dos desafios que se coloca aos actuais sistemas reside na delimitaccedilatildeo da elegibilidade do
puacuteblico-alvo Para cumprir este objectivo satildeo necessaacuterios sistemas de avaliaccedilatildeo holiacutesticos
abrangentes coerentes e que permitam chegar a resultados de forma consistente e com
validade interna No actual contexto a CIF propotildee constituir-se como o instrumento conceptual
abrangente para caracterizar os diferentes domiacutenios e niacuteveis de funcionalidade incapacidade
de forma coerente e integrada Neste sentido uma das vantagens apontadas para a adopccedilatildeo
do modelo desenvolvido pela OMS eacute a possibilidade de uniformizaccedilatildeo de conceitos e portanto
da utilizaccedilatildeo de uma linguagem padratildeo que permita a comunicaccedilatildeo entre investigadores
gestores profissionais de sauacutede organizaccedilotildees da sociedade civil e utilizadores em geral
Um dos campos de estudo mais explorados para a aplicaccedilatildeo da CIF tem sido a aacuterea de
Medicina Fiacutesica e de Reabilitaccedilatildeo no que concerne ao acompanhamento do estado de sauacutede
dos pacientes em tratamento O uso da CIF tem sido considerado tambeacutem na avaliaccedilatildeo apoacutes
transtornos agudos condiccedilotildees traumaacuteticas condiccedilotildees croacutenicas e na geriatria
Alguns autores argumentam que a CIF deve ser explorada como uma base de informaccedilotildees
padronizadas em estudos sobre incapacidade profissional quando haacute necessidade de
relacionar dados de sauacutede ocupacional com os da Seguranccedila Social
Na Sauacutede Puacuteblica tradicionalmente pouca atenccedilatildeo tem sido dada agraves pessoas com
incapacidades No entanto ao lado de recentes investimentos por parte de organizaccedilotildees e de
alguns governos a publicaccedilatildeo do modelo da CIF fornece as bases para as poliacuteticas e
disciplinas da Sauacutede Puacuteblica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo que apresenta deficiecircncias e
incapacidades Assim uma das possibilidades de uso da CIF pode ser a contribuiccedilatildeo para
responder a importantes questotildees de sauacutede puacuteblica tais como qual o estado de sauacutede das
pessoas com deficiecircncias comparadas com as demais que necessidades e que tipos de
intervenccedilotildees satildeo mais adequadas para reduzir condiccedilotildees secundaacuterias e promover a
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na sociedade entre outras
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 49
Dezembro2006
Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 50
Dezembro2006
Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
Dezembro2006
Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 53
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a) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de trabalho (na ocupaccedilatildeo preacutevia ou numa nova
ocupaccedilatildeo ajustada agraves alteraccedilotildees funcionais)
b) Reduccedilatildeo significativa da capacidade de obter rendimentos provenientes do trabalho
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encontra-se na Quadro 4
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Austraacutelia 2 Criteacuterios possuir uma incapacidade que resulte
num score nunca inferior a 20 nas tabelas de
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horas ou mais por semana ou em ser
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Aacuteustria 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho (50
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Nenhum mas as
restriccedilotildees de sauacutede
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reabilitaccedilatildeo precisa de
estar completa
Franccedila 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual mas a
totalidade do subsidio requer igualmente perda de
capacidade de trabalho
Nenhum no caso das
condiccedilotildees estarem
estaacuteveis mas muito
frequentemente apoacutes 3
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 47
Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
anos
Alemanha 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho a
incapacidade parcial eacute calculada em funccedilatildeo do nordm
de horas que a pessoa pode trabalhar
Nenhum mas a
incapacidade deve ter
uma duraccedilatildeo miacutenima
de 26 semanas
Itaacutelia 666reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum
Coreia Criteacuterios meacutedicos (niacuteveis de incapacidade
definidos de forma detalhada)
Periacuteodo de espera de
50 dias (os subsiacutedios
de doenccedila natildeo se
encontram disponiacuteveis)
Meacutexico 50 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo Nenhum
Holanda 15 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
(25 para os trabalhadores por conta proacutepria e
jovens com incapacidade) grau de incapacidade
calculado pela diferenccedila de remuneraccedilatildeo entre o
actual posto de trabalho compatiacutevel com as
limitaccedilotildees funcionais e o anterior
1 ano
Noruega 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho O
grau de subsiacutedio eacute calculado pela capacidade de
remuneraccedilatildeo
Nenhum (apoacutes ter
completado a
reabilitaccedilatildeo vocacional)
Poloacutenia Reduccedilatildeo temporaacuteria ou permanente da
capacidade de trabalho
Nenhum
Portugal 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual
Nenhum mas na
praacutetica ao fim de 3
anos (fim do periacuteodo de
doenccedila de longo termo)
Espanha 33 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho na
ocupaccedilatildeo actual incapacidade para todo e
qualquer trabalho para a totalidade do subsiacutedio
1 ano (embora seja
possiacutevel a candidatura
antes deste prazo em
casos de incapacidade
permanente)
Sueacutecia 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho grau
de incapacidade parcial calculado a partir das
horas que uma pessoa pode trabalhar
Nenhum
Suiccedila 40 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho para
as pessoas inactivas o grau de incapacidade eacute
calculado em relaccedilatildeo aacute actividade actual
1 ano
Turquia 666 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho
com um focus meacutedico bastante significativo
Nenhum
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 48
Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Reino Unido Limitaccedilotildees nas actividades de vida quotidianas
relevantes para o trabalho (avaliaccedilotildees meacutedicas
predominantes) teste ocupacional durante a s
primeiras 28 semanas (subsidio de doenccedila)
28 semanas
Estados
Unidos
Reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
incapacidade em investir numa actividade
profissional com rendimentos ($ US 740 por mecircs)
5 meses (nem sempre
cobertos pelos
subsiacutedios de curto-
termo) e 24 meses
para a cobertura
meacutedica
Quadro 4 ndash Definiccedilotildees de incapacidade e tempos regulamentares
Um dos desafios que se coloca aos actuais sistemas reside na delimitaccedilatildeo da elegibilidade do
puacuteblico-alvo Para cumprir este objectivo satildeo necessaacuterios sistemas de avaliaccedilatildeo holiacutesticos
abrangentes coerentes e que permitam chegar a resultados de forma consistente e com
validade interna No actual contexto a CIF propotildee constituir-se como o instrumento conceptual
abrangente para caracterizar os diferentes domiacutenios e niacuteveis de funcionalidade incapacidade
de forma coerente e integrada Neste sentido uma das vantagens apontadas para a adopccedilatildeo
do modelo desenvolvido pela OMS eacute a possibilidade de uniformizaccedilatildeo de conceitos e portanto
da utilizaccedilatildeo de uma linguagem padratildeo que permita a comunicaccedilatildeo entre investigadores
gestores profissionais de sauacutede organizaccedilotildees da sociedade civil e utilizadores em geral
Um dos campos de estudo mais explorados para a aplicaccedilatildeo da CIF tem sido a aacuterea de
Medicina Fiacutesica e de Reabilitaccedilatildeo no que concerne ao acompanhamento do estado de sauacutede
dos pacientes em tratamento O uso da CIF tem sido considerado tambeacutem na avaliaccedilatildeo apoacutes
transtornos agudos condiccedilotildees traumaacuteticas condiccedilotildees croacutenicas e na geriatria
Alguns autores argumentam que a CIF deve ser explorada como uma base de informaccedilotildees
padronizadas em estudos sobre incapacidade profissional quando haacute necessidade de
relacionar dados de sauacutede ocupacional com os da Seguranccedila Social
Na Sauacutede Puacuteblica tradicionalmente pouca atenccedilatildeo tem sido dada agraves pessoas com
incapacidades No entanto ao lado de recentes investimentos por parte de organizaccedilotildees e de
alguns governos a publicaccedilatildeo do modelo da CIF fornece as bases para as poliacuteticas e
disciplinas da Sauacutede Puacuteblica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo que apresenta deficiecircncias e
incapacidades Assim uma das possibilidades de uso da CIF pode ser a contribuiccedilatildeo para
responder a importantes questotildees de sauacutede puacuteblica tais como qual o estado de sauacutede das
pessoas com deficiecircncias comparadas com as demais que necessidades e que tipos de
intervenccedilotildees satildeo mais adequadas para reduzir condiccedilotildees secundaacuterias e promover a
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na sociedade entre outras
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 49
Dezembro2006
Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 50
Dezembro2006
Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 51
Dezembro2006
Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
Dezembro2006
Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 53
Dezembro2006
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Alemanha 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho a
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de horas que a pessoa pode trabalhar
Nenhum mas a
incapacidade deve ter
uma duraccedilatildeo miacutenima
de 26 semanas
Itaacutelia 666reduccedilatildeo da capacidade de trabalho Nenhum
Coreia Criteacuterios meacutedicos (niacuteveis de incapacidade
definidos de forma detalhada)
Periacuteodo de espera de
50 dias (os subsiacutedios
de doenccedila natildeo se
encontram disponiacuteveis)
Meacutexico 50 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo Nenhum
Holanda 15 de reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
(25 para os trabalhadores por conta proacutepria e
jovens com incapacidade) grau de incapacidade
calculado pela diferenccedila de remuneraccedilatildeo entre o
actual posto de trabalho compatiacutevel com as
limitaccedilotildees funcionais e o anterior
1 ano
Noruega 50 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho O
grau de subsiacutedio eacute calculado pela capacidade de
remuneraccedilatildeo
Nenhum (apoacutes ter
completado a
reabilitaccedilatildeo vocacional)
Poloacutenia Reduccedilatildeo temporaacuteria ou permanente da
capacidade de trabalho
Nenhum
Portugal 666 de reduccedilatildeo da capacidade de
remuneraccedilatildeo na ocupaccedilatildeo actual
Nenhum mas na
praacutetica ao fim de 3
anos (fim do periacuteodo de
doenccedila de longo termo)
Espanha 33 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho na
ocupaccedilatildeo actual incapacidade para todo e
qualquer trabalho para a totalidade do subsiacutedio
1 ano (embora seja
possiacutevel a candidatura
antes deste prazo em
casos de incapacidade
permanente)
Sueacutecia 25 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho grau
de incapacidade parcial calculado a partir das
horas que uma pessoa pode trabalhar
Nenhum
Suiccedila 40 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho para
as pessoas inactivas o grau de incapacidade eacute
calculado em relaccedilatildeo aacute actividade actual
1 ano
Turquia 666 de reduccedilatildeo da capacidade de trabalho
com um focus meacutedico bastante significativo
Nenhum
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 48
Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Reino Unido Limitaccedilotildees nas actividades de vida quotidianas
relevantes para o trabalho (avaliaccedilotildees meacutedicas
predominantes) teste ocupacional durante a s
primeiras 28 semanas (subsidio de doenccedila)
28 semanas
Estados
Unidos
Reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
incapacidade em investir numa actividade
profissional com rendimentos ($ US 740 por mecircs)
5 meses (nem sempre
cobertos pelos
subsiacutedios de curto-
termo) e 24 meses
para a cobertura
meacutedica
Quadro 4 ndash Definiccedilotildees de incapacidade e tempos regulamentares
Um dos desafios que se coloca aos actuais sistemas reside na delimitaccedilatildeo da elegibilidade do
puacuteblico-alvo Para cumprir este objectivo satildeo necessaacuterios sistemas de avaliaccedilatildeo holiacutesticos
abrangentes coerentes e que permitam chegar a resultados de forma consistente e com
validade interna No actual contexto a CIF propotildee constituir-se como o instrumento conceptual
abrangente para caracterizar os diferentes domiacutenios e niacuteveis de funcionalidade incapacidade
de forma coerente e integrada Neste sentido uma das vantagens apontadas para a adopccedilatildeo
do modelo desenvolvido pela OMS eacute a possibilidade de uniformizaccedilatildeo de conceitos e portanto
da utilizaccedilatildeo de uma linguagem padratildeo que permita a comunicaccedilatildeo entre investigadores
gestores profissionais de sauacutede organizaccedilotildees da sociedade civil e utilizadores em geral
Um dos campos de estudo mais explorados para a aplicaccedilatildeo da CIF tem sido a aacuterea de
Medicina Fiacutesica e de Reabilitaccedilatildeo no que concerne ao acompanhamento do estado de sauacutede
dos pacientes em tratamento O uso da CIF tem sido considerado tambeacutem na avaliaccedilatildeo apoacutes
transtornos agudos condiccedilotildees traumaacuteticas condiccedilotildees croacutenicas e na geriatria
Alguns autores argumentam que a CIF deve ser explorada como uma base de informaccedilotildees
padronizadas em estudos sobre incapacidade profissional quando haacute necessidade de
relacionar dados de sauacutede ocupacional com os da Seguranccedila Social
Na Sauacutede Puacuteblica tradicionalmente pouca atenccedilatildeo tem sido dada agraves pessoas com
incapacidades No entanto ao lado de recentes investimentos por parte de organizaccedilotildees e de
alguns governos a publicaccedilatildeo do modelo da CIF fornece as bases para as poliacuteticas e
disciplinas da Sauacutede Puacuteblica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo que apresenta deficiecircncias e
incapacidades Assim uma das possibilidades de uso da CIF pode ser a contribuiccedilatildeo para
responder a importantes questotildees de sauacutede puacuteblica tais como qual o estado de sauacutede das
pessoas com deficiecircncias comparadas com as demais que necessidades e que tipos de
intervenccedilotildees satildeo mais adequadas para reduzir condiccedilotildees secundaacuterias e promover a
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na sociedade entre outras
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 49
Dezembro2006
Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 50
Dezembro2006
Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 51
Dezembro2006
Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
Dezembro2006
Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 53
Dezembro2006
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Dezembro2006
Paiacutes Definiccedilatildeo de Incapacidade Tempo Regulamentar
Reino Unido Limitaccedilotildees nas actividades de vida quotidianas
relevantes para o trabalho (avaliaccedilotildees meacutedicas
predominantes) teste ocupacional durante a s
primeiras 28 semanas (subsidio de doenccedila)
28 semanas
Estados
Unidos
Reduccedilatildeo da capacidade de remuneraccedilatildeo
incapacidade em investir numa actividade
profissional com rendimentos ($ US 740 por mecircs)
5 meses (nem sempre
cobertos pelos
subsiacutedios de curto-
termo) e 24 meses
para a cobertura
meacutedica
Quadro 4 ndash Definiccedilotildees de incapacidade e tempos regulamentares
Um dos desafios que se coloca aos actuais sistemas reside na delimitaccedilatildeo da elegibilidade do
puacuteblico-alvo Para cumprir este objectivo satildeo necessaacuterios sistemas de avaliaccedilatildeo holiacutesticos
abrangentes coerentes e que permitam chegar a resultados de forma consistente e com
validade interna No actual contexto a CIF propotildee constituir-se como o instrumento conceptual
abrangente para caracterizar os diferentes domiacutenios e niacuteveis de funcionalidade incapacidade
de forma coerente e integrada Neste sentido uma das vantagens apontadas para a adopccedilatildeo
do modelo desenvolvido pela OMS eacute a possibilidade de uniformizaccedilatildeo de conceitos e portanto
da utilizaccedilatildeo de uma linguagem padratildeo que permita a comunicaccedilatildeo entre investigadores
gestores profissionais de sauacutede organizaccedilotildees da sociedade civil e utilizadores em geral
Um dos campos de estudo mais explorados para a aplicaccedilatildeo da CIF tem sido a aacuterea de
Medicina Fiacutesica e de Reabilitaccedilatildeo no que concerne ao acompanhamento do estado de sauacutede
dos pacientes em tratamento O uso da CIF tem sido considerado tambeacutem na avaliaccedilatildeo apoacutes
transtornos agudos condiccedilotildees traumaacuteticas condiccedilotildees croacutenicas e na geriatria
Alguns autores argumentam que a CIF deve ser explorada como uma base de informaccedilotildees
padronizadas em estudos sobre incapacidade profissional quando haacute necessidade de
relacionar dados de sauacutede ocupacional com os da Seguranccedila Social
Na Sauacutede Puacuteblica tradicionalmente pouca atenccedilatildeo tem sido dada agraves pessoas com
incapacidades No entanto ao lado de recentes investimentos por parte de organizaccedilotildees e de
alguns governos a publicaccedilatildeo do modelo da CIF fornece as bases para as poliacuteticas e
disciplinas da Sauacutede Puacuteblica em relaccedilatildeo agrave populaccedilatildeo que apresenta deficiecircncias e
incapacidades Assim uma das possibilidades de uso da CIF pode ser a contribuiccedilatildeo para
responder a importantes questotildees de sauacutede puacuteblica tais como qual o estado de sauacutede das
pessoas com deficiecircncias comparadas com as demais que necessidades e que tipos de
intervenccedilotildees satildeo mais adequadas para reduzir condiccedilotildees secundaacuterias e promover a
participaccedilatildeo das pessoas com deficiecircncias e incapacidades na sociedade entre outras
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 49
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Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 50
Dezembro2006
Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 51
Dezembro2006
Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
Dezembro2006
Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
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Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 55
Dezembro2006
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Dezembro2006
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Dezembro2006
Obstaacuteculos agrave implementaccedilatildeo da CIF
No momento actual e apesar do interesse pela adopccedilatildeo do modelo da CIF existem poucos
estudos em curso sobre a avaliaccedilatildeo do seu impacto na sauacutede e reabilitaccedilatildeo Tal facto decorre
de ser uma classificaccedilatildeo recente complexa e que apresenta certo grau de dificuldade na
operatividade e aplicabilidade Do ponto de vista praacutetico a aplicaccedilatildeo da CIF requer um tempo
muitas vezes maior do que a proacutepria consulta aleacutem dos aspectos inerentes agraves mudanccedilas de
conduta por parte dos profissionais
Mesmo contribuindo para o processo de integraccedilatildeo entre diversos sectores da Sauacutede do
Social e da Pedagogia a sua compreensatildeo teoacuterica incorporaccedilatildeo e aplicabilidade praacutetica tecircm
reflectido essas dificuldades Um dos dilemas apresentados segundo IMRIE (2004) diz
respeito ao esclarecimento do seu papel biopsicossocial e do significado e implicaccedilotildees da
universalizaccedilatildeo como um princiacutepio para orientar o desenvolvimento de poliacuteticas em relaccedilatildeo agraves
pessoas com deficiecircncias e incapacidades
Outra questatildeo apontada concerne agrave classificaccedilatildeo de actividades e participaccedilatildeo Se diferentes
estrateacutegias de coacutedigos satildeo utilizadas uma vez que existe uma variabilidade de apreciaccedilatildeo
dependente do contexto sociocultural isso coloca dificuldades para a comparaccedilatildeo de dados
entre os paiacuteses assim alguns paiacuteses tecircm desenvolvido distinccedilotildees proacuteprias de actividade e de
participaccedilatildeo
O reconhecimento do papel central do meio ambiente no estado funcional dos indiviacuteduos
agindo como barreira ou facilitador no desempenho das suas actividades e na participaccedilatildeo
social mudou o foco do problema da natureza bioloacutegica individual da reduccedilatildeo ou perda de uma
funccedilatildeo e ou estrutura do corpo para a interacccedilatildeo entre a disfunccedilatildeo apresentada e o contexto
ambiental onde as pessoas estatildeo inseridas
A incorporaccedilatildeo do uso da CIF nas praacuteticas deve ser ainda amplamente explorada em relaccedilatildeo agrave
sua aceitabilidade e validade nas diferentes aacutereas Outro campo diz respeito agraves legislaccedilotildees
pertinentes e agrave implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas para as pessoas com deficiecircncias
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 50
Dezembro2006
Pontos Fortes
Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
num quadro universal coerente e inteligiacutevel
Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
um guia para a sua aplicaccedilatildeo estandardizada
Natildeo obstante a existecircncia do guia seraacute necessaacuterio um enorme investimento na
sensibilizaccedilatildeo e no desenvolvimento das competecircncias dos profissionais em ordem a
que a CIF seja implementada com sucesso
A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
social e a existecircncia de medidas de apoio (formaccedilatildeo de profissionais
desenvolvimento de instrumentos de avaliaccedilatildeo e respectiva estandardizaccedilatildeo
estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
comunicaccedilatildeo interdisciplinar)
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 51
Dezembro2006
Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
Dezembro2006
Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 53
Dezembro2006
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Permite uma descriccedilatildeo do funcionamento humano em diferentes domiacutenios de
intervenccedilatildeo bem como nos ambientes de participaccedilatildeo social dos individuos
Permite colocar em evidecircncia o funcionamento ldquopotencialrdquo e ldquoactualrdquo
Permite aos diferentes teacutecnicos integrar os resultados das avaliaccedilotildees especializadas
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Apoia o julgamento cliacutenico relacionado coma avaliaccedilatildeo de um determinado cliente
num determinado contexto
Orienta o planeamento das intervenccedilotildees
Ameaccedilas
Reduzido niacutevel de consciecircncia e conhecimento entre os diferentes profissionais nos
muacuteltiplos sectores
Coabitaccedilatildeo de perspectivas conflituantes entre ICIDH e a CIF
Existecircncia de uma diversidade de sistemas para avaliar a incapacidade e
funcionalidade sem relaccedilatildeo articulaccedilatildeo integraccedilatildeo com a CIF
Natildeo existecircncia de interfaces entre estes sistemas e a CIF
Consenso sobre a improbabilidade de a classificaccedilatildeo da funcionalidade ser
incorporada num futuro proacuteximo nos mecanismos de reembolso
Implicaccedilotildees
Afigura-se improvaacutevel que a CIF seja generalizadamente utilizada em Portugal sem
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A formalizaccedilatildeo politica da utilizaccedilatildeo da CIF nos diferentes sistemas de intervenccedilatildeo
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estabilizaccedilatildeo de procedimentos para a comparabilidade estatiacutestica dos dados e
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 51
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Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
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da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
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Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
Dezembro2006
Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 53
Dezembro2006
9 BIBLIOGRAFIA
Abberley P (1987) The Concept of Oppression and the Development of a Social Theory of
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 54
Dezembro2006
Charlton J I (1998) Nothing About Us Without Us Disability Oppression and Empowerment Berkeley University of California Press
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245-255
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Gleeson B (1999) Geographies of Disability London Routledge
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 55
Dezembro2006
Gordon B O amp Rosenblum K E (2001) Bringing Disability into the Sociological Frame In
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 56
Dezembro2006
Oliver M (1990) The Politics of Disablement Basingstoke Macmillan
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Geneva World Health Organization
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Rogers L (1999) lsquoDisabled children will be a ldquosinrdquo says scientistrsquo Sunday Times July 4th 28
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Definition Journal of Social Issues 44 (1) 159-72
Shakespeare T (1994) Cultural representation of disabled people dustbins for disavowal
Disability and Society 9 (3) 283-99
Shakespeare T amp Watson N (2002) The Social Model for Disability an Outdated Ideology In
Research in Social Science and Disability 2 9-28
Stiker H-J (1999) A History of Disability trans WSayers Ann Arbor University of Michigan
Press
Stone D (1985) The Disabled State Basingstoke Macmillan
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 57
Dezembro2006
Stone E (1999) Disability and development in the majority world In E Stone (ed) Disability and Development Leeds The Disability Press 1-18
Sutherland A T (1981) Disabled We Stand London Souvenir Press
Thomas C (1999) Female Forms Experiencing and Understanding Disability Milton
Keynes Open University Press
Thornton P Sainsbury R amp Barnes H (1997) Helping Disabled People in Work a cross national study of social security and employment provision London The Stationary
Office
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UPIAS (1976) Fundamental Principles of Disability London Union of the Physically
Impaired Against Segregation
Ustun T B et al (2001) Disability and Culture Universalism and Diversity Seattle World
Health Organisation in association with Hogrefe and Huber Publishers
Zola I K (1982) Missing Pieces A Chronicle of Living with a Disability Philadelphia
Temple University Press
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 51
Dezembro2006
Acccedilotildees a empreender no quadro da implementaccedilatildeo da CIF
Eixo Tecnoloacutegico 1 Inventariar os muacuteltiplos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes identificando
(a) a coerecircncia com os princiacutepios
conceptuais da CIF (b) a
adequabilidade agrave sua estrutura de
classificaccedilatildeo (c) niacuteveis de
adaptabilidade e (d) relaccedilatildeo custo-
benefiacutecio no desenvolvimento de
novos sistemas metodologias e
instrumentos ajustados agrave dinacircmica
da CIF
Eixo Processual 1 Assegurar o interesse poliacutetico e a
tomada de consciecircncia sobre os
impactos da adopccedilatildeo da CIF nos
diferentes sectores de politica e
intervenccedilatildeo social
Assegurar a tomada de decisatildeo
politica sobre a relevacircncia de
implementaccedilatildeo da CIF
Identificar e proceder agrave anaacutelise dos
diferentes sistemas de avaliaccedilatildeo dos
niacuteveis de sauacutede e incapacidade nos
diferentes sectores sociais
Eixo Tecnoloacutegico 2 Apoacutes diagnoacutestico dos sistemas de
avaliaccedilatildeo existentes no terreno
proceder agrave elaboraccedilatildeo de plano de
trabalho em estreita articulaccedilatildeo com
as orientaccedilotildees poliacuteticas no sector
identificando
a) Sistemasdimensotildees dos
sistemas que datildeo resposta agrave
CIF
b) Prioridades de desenvolvimento
(adaptaccedilatildeo) de novas
metodologias e instrumentos
peritos a envolver actores
criacuteticos para a fase de validaccedilatildeo
e disseminaccedilatildeo
c) Interoperabilidade com os
sistemas formais vigentes
Eixo Processual 2 Definiccedilatildeo de objectivos estrateacutegicos
Elaboraccedilatildeo de plano de trabalho
nacional identificando os sectores
potenciais de implementaccedilatildeo
procedendo agrave anaacutelise SWOT aos
sistemas existentes e respectiva
interoperabilidade com a CIF
priorizando acccedilotildees a implementar e
definindo os recursos e estrateacutegias
necessaacuterios de apoio agrave sua
exequibilidade
Execuccedilatildeo do plano de trabalho atraveacutes
de grupo interdisciplinar de peritos
representantes de cada sector de
forma a assegurarem as dinacircmicas
especificas de cada aacuterea
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
Dezembro2006
Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
dos princiacutepios conceptuais do
modelo social
b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
procedimentos e dos
instrumentos de trabalho
c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
exigecircncias para a aplicaccedilatildeo da
CIF pelos profissionais
Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
de implementaccedilatildeo da CIF
Analisar a coerecircncia dos
procedimentos e criteacuterios de
implementaccedilatildeo entre os diferentes
sectores
Analisar o impacto nas seguintes
dimensotildees
a) Design das Poliacuteticas sociais
b) Gestatildeo dos programas de
intervenccedilatildeo
c) Elegibilidade e definiccedilatildeo dos
puacuteblicos alvo
d) Sistematizaccedilatildeo e
comparabilidade de dados
estatiacutesticos
e) Comunicaccedilatildeo interdisciplinar
Analisar o valor introduzido pela
implementaccedilatildeo da CIF
Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 53
Dezembro2006
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Dezembro2006
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 56
Dezembro2006
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Dezembro2006
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
Estudo Modelizaccedilatildeo das Poliacuteticas e das Praacuteticas de Inclusatildeo Social das Pessoas com deficiecircncias em Portugal 52
Dezembro2006
Eixo Tecnoloacutegico 3 Monitorizaccedilatildeo interna da
implementaccedilatildeo da CIF
a) Anaacutelise da coerecircncia dos
resultados atingidos em funccedilatildeo
dos objectivos estabelecidos e
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b) Anaacutelise da adequabilidade
eficaacutecia e eficiecircncia dos
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c) Anaacutelise do perfil de requisitos e
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Eixo Processual 3 Monitorizaccedilatildeo intersectorial do plano
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Analisar a coerecircncia dos
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Analisar o impacto nas seguintes
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Delimitaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do conceito de Deficiecircncia
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Dezembro2006
9 BIBLIOGRAFIA
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Dezembro2006
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Finkelstein V (1991) Disability An Administrative Challenge (the Health and Welfare
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Finkelstein V (1998) The Biodynamics of Disablement Paper presented at the Disability
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