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Jack Cottrell SER BOM O BASTANTE não é bom o bastante A maravilhosa graça de Deus Traduzido por Wellington Mariano Itapira, 2014

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Jack Cottrell

SER BOM O BASTANTEnão é bom o bastante

A maravilhosa graça de Deus

Traduzido por Wellington Mariano

Itapira, 2014

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© UPBOOKS, 2014Todos os direitos reservados.

Ser bom o bastante não é bom o bastante: a maravilhosa graça de DeusCopyright © 1976 by Jack CottrellThe STANDARD PUBLISHING, Co. a division of Standex International Corp.

Itapira, 2014140 páginas

Todos os textos bíblicos, a menos que indicado, foram extraídos da Bíblia Almeida Corrigida e Revisada Fiel

Título original:Being good enough is not good enough: God’s wonderful grace

Coordenação editorial Eneas Francisco e Wellington MarianoTradução Wellington MarianoRevisão Marlon Silva Marques Preparação e diagramação BFKCapa AGÊNCIA IDDEIA SIMPLES - Charles dos Santos

2014Todos os direitos reservados àCasa Publicadora BereanaRua Luis Otaviano Queluz, 103 - 13976-000 - Itapira, SP Tel (19) 3843-6389www.upbooks.net.br

1ª Edição: 2014

ISBN: 978-85-66941-08-1

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Sumário

Prefácio ...................................................................................5

Introdução ..............................................................................7

Capítulo 1 - Cem por Cento Inocente ................................9

Capítulo 2 - Graça: Mais do que justo ................................19

Capítulo 3 - O Direito à Liberdade .....................................29

Capítulo 4 - Marca Registrada da Liberdade .....................39

Capítulo 5 - Problema Duplo...............................................47

Capítulo 6 - Não há solução fácil ........................................57

Capítulo 7 - Cura Dupla .......................................................67

Capítulo 8 - Apenas o Início ................................................77

Capítulo 9 - Como Posso Ter Certeza? ...............................87

Capítulo 10 - Deus Tem Favoritos? .....................................99

Capítulo 11 - Misericórdia: Graça em Ação ......................109

Capítulo 12 - Não Jogue Pedras ...........................................119

Capítulo 13 - Declaração de Dívida ....................................129

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PrefácioÉ com um sentimento de gratidão e felicidade que apresen-

to ao público brasileiro a primeira obra em português de Jack Warren Cottrell. Cottrell é um teólogo e filósofo cristão que possui mais de 40 anos como professor universitário. Está as-sociado às Igrejas Cristãs – Igrejas de Cristo e ao movimento restauracionista, movimento este que tinha como objetivo o retorno às práticas cristãs primitivas, e como tal, não queria criar novas denominações e nem fazer uso de rótulos denom-inacionais e que busca reformar a igreja a partir de dentro dela. Também é profícuo autor, tendo escrito, ao longo de sua carreira, mais de vinte obras, isso sem mencionar seus in-úmeros artigos.

Cottrell é um daqueles raros casos de cristão que consegue mesclar profundidade e conhecimento bíblico com simplici-dade e serviço cristão, atuando tanto no cenário acadêmico quanto na igreja local. Suas obras são conhecidas e reconhe-cidas pelos leitores de língua inglesa e agora o Brasil também começa a se beneficiar de suas contribuições literárias.

Deleite-se com a leitura desta obra que lida com os princi-pais assuntos bíblicos e teológicos apresentados pelo apóstolo Paulo em suas cartas aos Gálatas e aos Romanos, afinal, ser bom o bastante não é o bom o bastante.

A Deus seja a glória!

Wellington MarianoCoeditor

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Introdução

AS DOUTRINAS DA SALVAÇÃO

Os capítulos deste livro baseiam-se em passagens bíblicas selecionadas dos livros de Gálatas e Romanos. Tais passagens lidam com grandes temas tais como justificação pela fé, lei e graça, liberdade cristã, reconciliação, novo nascimento e segurança da salvação. Não há nas Escrituras temas mais empolgantes do que estes!

Algumas pessoas ficam amedrontadas quando termos como justificação, propiciação e regeneração são utilizados. Isto é lamentável e desnecessário. É desnecessário porque tais termos podem ser entendidos, embora isto exija certo esforço na área do estudo. É lamentável porque os que se esquivam de tais “temas da Escritura”, conforme certa pessoa disse, estão se privando de grande prazer e benefício.

Devemos aprender a ser mais específicos na área de doutrina bíblica. Pode ser suficiente, no início, entender simplesmente que somos pecadores, que Cristo morreu por nossos pecados e que agora somos salvos. Mas se isto for tudo o que Deus quer que saibamos, algumas poucas páginas de revelação seriam o bastante.

Temos muito, mas muito mais do que isso. Os poços

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são mais profundos; as minas são mais ricas. Não devemos mergulhar em tais temas? Não devemos aprender a diferença entre lei e graça? Entre a culpa do pecado e a corrupção do pecado? Entre propiciação, redenção e reconciliação? Entre justificação e regeneração?

Minha convicção pessoal é que uma das maiores necessidades de nossas igrejas hoje é aprender a diferença entre lei e graça. Por conseguinte, o livro, do início ao fim, tenta tratar do tema da graça. Uma vez que os temas de estudo já foram predeterminados, todavia, esta tentativa não é sequer bem-sucedida. Mas minha esperança é que as pessoas e grupo de estudo serão levados a uma apreciação mais profunda da maravilhosa graça de Deus e que sejam motivados a prosseguir com o estudo dos temas tratados no livro.

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CAPÍTULO 1

CEM POR CENTO INOCENTE

“Acerte-se com Deus!”Esta admoestação, escrita em outdoors, às vezes nos confronta

enquanto dirigimos pelas estradas. E realmente não é um mau conselho. Na verdade, é um conselho muito bom. O que pode ser mais importante do que acertar-se com Deus?

O evangelho de Jesus Cristo nos evidência isso. O evangelho – as boas novas – é que podemos nos acertar com Deus através da fé em Jesus. Gálatas 2.16 diz que: “o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo”.

Neste capítulo nosso objetivo é entender o que significa ser justificado pela fé.

1. O QUE É FÉ?Muitas pessoas têm dificuldade em aceitar o fato de que somos

justificados pela fé, pois elas entendem erroneamente a natureza da fé. Portanto, nossa primeira tarefa é definir fé.

A. FÉ É UM ASSENTIMENTOA fé que justifica contém dois elementos essenciais. O primeiro

é comumente chamado de assentimento. Assentimento é um

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julgamento intelectual, uma crença de que algo seja verdadeiro. É um julgamento da mente em relação à verdade de uma afirmação.

Todos nós somos frequentemente chamados a exercitar a fé nesse sentido. “Eu acredito que George Washington realmente tenha atravessado o Rio Delaware”, diz o aluno. “Acredito que a substância que você está inserindo no tanque de combustível de meu carro realmente seja gasolina”, dizemos ao frentista. “Acreditamos que você seja uma pessoa honesta e seu histórico de crédito é bom”, diz a caixa de uma loja de departamentos que emite cartões de crédito.

O que leva uma pessoa a consentir com tal proposição? Em termos simples, somos compelidos pela suficiência da evidência. Acreditamos que algo seja verdadeiro se a evidência for suficiente. Registros históricos, incluindo a declaração de testemunhas oculares, são suficientes para nos convencer de que George Washington realmente atravessou o Rio Delaware. Acreditamos que o fluído claro seja gasolina, pois ele se parece com gasolina, tem cheiro de gasolina e porque, até onde se sabe, nada além de gasolina saiu daquela bomba. As lojas de departamento, no geral, só emitem um cartão de crédito quando já receberam evidências de nossa credibilidade como bons pagadores.

A fé cristã, fé justificadora, inclui tal assentimento. “Ora, sem fé é impossível agradar-lhe; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam” (Hebreus 11.6). Marta, de Betânia, resume nossa fé em Cristo desta maneira: “Sim, Senhor, creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo” (João 11.27).

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Ser bom o bastante não é bom o bastante

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O apóstolo Paulo acrescenta: “Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (Romanos 10.9).

Essas são algumas das afirmações que acreditamos que sejam verdadeiras. Por que acreditamos nelas? O que nos compele a assentir? Nada menos do que a evidência. O próprio Jesus nos deu evidência básica nos milagres que realizou. (Vide Marcos 2.1-2; João 2.11). Sua própria ressurreição foi a evidência climática (Romanos 1.4). Testemunhas oculares nos deram testemunhos confiáveis destes sinais miraculosos: “Jesus, pois, operou também em presença de Seus discípulos muitos outros sinais, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (João 20.30-31).

Desta forma, fé é a primeira de todas as crenças de que essas grandes reivindicações são verdadeiras: que Deus nos ama, que Ele deu Seu Filho Unigênito por nós, que Jesus morreu por nossos pecados, que Ele ressuscitou dos mortos, que Ele nos redimirá de nossos pecados e o dom do Espírito Santo no batismo cristão, dentre outras coisas mais.

Mas basta apenas acreditar que essas coisas são verdadeiras? Uma pessoa será justificada simplesmente por aceitar a verdade destas afirmações? A resposta é não. Mesmo os demônios creem nisso, entretanto, estão perdidos (Tiago 2.19, Marcos 1.24). A fé justificadora é mais do que uma mera aceitação do testemunho como verdadeiro.

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B. FÉ É CONFIANÇAIsso nos leva ao segundo elemento da fé, a saber, confiança.

A confiança é mais do que julgamento intelectual. Ela envolve um compromisso de todo o ser. É uma decisão da vontade em relação à submissão a uma pessoa. É a entrega do ser (ou de algo em seu poder) ao controle de outrem. É, portanto, uma atitude de confiança em outra pessoa.

Um exemplo corriqueiro de confiança é a contratação de uma babá para cuidar de nossos filhos. Ao contratar uma babá você está, talvez, entregando seus pertences mais preciosos nas mãos de outra pessoa. Logo, você quer alguém em quem possa confiar, uma pessoa em quem você tenha confiança. Outro exemplo é ir ao médico. Uma vez que você está submetendo sua vida e saúde aos cuidados dele, você quer um médico de sua confiança, alguém em quem possa confiar.

Esta é a diferença entre assentimento e confiança. Assentimento é acreditar que certas declarações são verdadeiras; confiança é acreditar em uma pessoa. Fé justificadora certamente inclui confiança, uma vez que ela é acreditar em Jesus como Salvador. (Vide João 3.16; Atos 16.31). É uma decisão de confiar toda sua vida a Jesus e a Seu caminho (2 Timóteo 1.12).

Uma ilustração que expressa muito bem a distinção entre assentimento e confiança é a história de um artista francês que andava sobre corda bamba há algumas décadas. Um dia, diz-se, ele estava fazendo uma exibição nas Cataratas do Niágara. Ele andou sobre uma corda esticada sobre o desfiladeiro, fazendo todos os tipos de acrobacias incomuns e de tirar o fôlego.

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Ser bom o bastante não é bom o bastante

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Por fim, ele empurrou um carrinho de mão sobre a corda. Ao voltar para a terra firme, ele foi até um menino que estava assistindo, fascinado. O acrobata era, obviamente, um herói para o menino, então o artista perguntou ao menino: “Jovem, você acha que sou bom de andar sobre a corda, não acha?”.

- Sim, senhor!- Você provavelmente acredita que eu posso fazer praticamente

tudo sobre a corda, não é?- Sim, senhor! Acredito que o senhor realmente pode.- Acredita que eu possa até mesmo levar uma pessoa dentro

deste carrinho de mão e conduzi-lo de um lado do desfiladeiro ao outro?

- Sim, eu acredito!- Muito bem. Entre no carrinho de mão! Mas o menino que havia expressado assentimento com

tamanha convicção, não conseguia reunir a confiança pessoal exigida para aquele passo. Ele se recusou a se entregar nas mãos do acrobata.

A fé que nos justifica diante de Deus inclui tanto o assentimento quanto a confiança. Acreditamos que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus e que ele morreu por nossos pecados e que ressuscitou. Acreditamos em Sua promessa de perdoar nossos pecados e de nos dar o dom do Espírito Santo no batismo (Atos 2.38). Portanto, depositamos nossa confiança nele, entregando nossa vida a Ele como Senhor. Essa fé e entrega contínua é que nos justifica.

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2. O QUE É JUSTIFICAÇÃO?O evangelho é que somos justificados pela fé. O que isso

significa? O que significa ser justificado?Para entender e apreciar a justificação, devemos entender nossa

situação problemática como pecadores. Pecado é simplesmente uma transgressão da lei de Deus (1 João 3.4). Quando pecamos, entramos em um relacionamento errado e desastroso com Deus e Sua lei. Tornamos-nos culpados perante a lei e debaixo de Sua penalidade e condenação. Trocamos seu favor por sua ira. Se continuarmos nesse relacionamento de culpa, seremos condenados ao inferno eterno.

Sabemos que pecamos (Romanos 3.23) e, portanto, que somos culpados e estamos debaixo de condenação. Mas há esperança? Existe alguma forma de endireitar o relacionamento com Deus e sua lei? Podemos realmente “nos acertar com Deus”?

A. PRONUNCIAMENTO LEGALA resposta é sim! Podemos ser justificados. Esse é um termo

legal (jurídico) e se refere ao veredito pronunciado por um juiz em uma corte. Ser justificado significa ser pronunciado “não culpado”. Significa que Deus olha para nós, tão culpados e tão pecadores quanto somos, e nos declara não culpados. Ele nos perdoa. Ele perdoa nossa culpa. Ele coloca de lado nossa penalidade, a condenação exigida pela lei. Ele nos trata como justos, como se jamais tivéssemos pecado. Aleluia!

Como Deus pode fazer isso? Ele sabe que somos pecadores, mas promete não colocar nossos pecados contra nós. O que O

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capacita a suprimir Sua ira e a suspender a maldição da lei de nós? Apenas uma coisa: Jesus Cristo já sofreu plenamente a penalidade da lei por nós, em nosso lugar. “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós...” (Gálatas 3.13). Quando Ele morreu na cruz, Ele estava sofrendo em Seu corpo e espírito a punição eterna em razão de todo e cada pecador.

B. DADA ATRAVÉS DO BATISMOO que, então, nos livra da punição? Nossa fé em Cristo. Nós

somos verdadeiramente “justificados por Seu sangue” (Romanos 5.9), mas apenas quando colocamos nossa “fé em Seu sangue” (Romanos 3.25). É assim que somos justificados pela fé. Não é uma fé geral ou vaga no amor e bondade de Deus. É fé em Jesus Cristo, fé de que Ele realmente “pagou tudo” através de Seu sofrimento e morte.

Um ponto importante não deve ser negligenciado. Ainda que sejamos justificados pela fé, não somos justificados tão logo que temos fé. Tal visão, embora defendida por muitos, é um erro muito sério [1]. Ela confunde meio com acontecimento. A fé é o meio de justificação, mas de acordo com a Bíblia, o batismo é a ocasião durante a qual a justificação é dada. Jesus prometeu nos encontrar no batismo cristão e, no momento do batismo, aplicar seu sangue sobre nós para remissão de pecados (Atos 2.38; Romanos 6.4-6; Colossenses 2.12; Gálatas 3.27). Se acreditarmos nessa promessa, então O encontraremos e seremos justificados.

[1] Esta visão é defendida pelo autor Jack Cottrell e não, como ele mesmo apon-ta em seu texto, a visão de muitos outros cristãos evangélicos.

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C. CEM POR CENTO INOCENTESer justificado é algo que nos acontece de maneira imediata

e completa. Não é algo que acontece gradualmente, pois não nos é dado em níveis. Quando Deus te declara “não culpado” à Sua vista, Ele quer dizer que a partir daquele momento você é considerado cem por cento inocente.

Devemos lembrar que é isso o que acontece com o crente agora, nesta vida, começando com o batismo. Não temos de esperar até o dia do julgamento para sermos justificados. Somos justificados agora; vivemos agora como pessoas justificadas, pessoas perdoadas. Continuamos nesse estado de perdão enquanto mantivermos nossa fé justificadora em Cristo.

Ser justificado não significa que não temos pecado. Antes, significa que não temos condenação. “Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Romanos 8.1). Confiamos no sangue de Cristo; confiamos que ele cobre nossos pecados e absorve suas punições. Portanto, vivemos sem medo do inferno; temos “certeza abençoada”.

Uma ilustração da justificação pode ser feita dessa forma. Primeiro, em um papel branco trace um esboço de um corpo humano com caneta de tinta azul ou preta. Depois, desfigure o desenho ao escrever os nomes de vários pecados com caneta de tinta vermelha. (Essa é a nossa condição atual). Por fim, coloque um pedaço de plástico ou celofane vermelho sobre todo o desenho. O que acontece? Os pecados são “apagados” e tudo o que permanece visível a nossos olhos é a figura original.

Isso é o que acontece quando somos justificados. Estamos

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carregados de pecados; mas fomos colocados debaixo do sangue de Cristo que, na figura, esconde nossos pecados dos olhos de Deus. Desta forma ele pode nos declarar retos (justos). Através da fé no sangue de Cristo nos acertamos com Deus.

Não é de se surpreender que a “justificação pela fé” seja boas novas, o cerne do evangelho. Quanto mais soubermos sobre a justificação, mais nos maravilharemos com a sabedoria de Deus; quanto mais O amarmos por Seu amor, mais descansaremos na confiança pacífica sobre a obra de Cristo.

Os capítulos seguintes tentarão trazer mais entendimento sobre esse grande tema.

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CAPÍTULO 2

GRAÇA: MAIS DO QUE JUSTO

Justificado pela fé! Por que isso é boa nova? O que tem de tão maravilhoso nisso? Podemos responder essa questão de maneira plena apenas quando a comparamos com a alternativa.

A alternativa à justificação pela fé é justificação pelas obras. O evangelho não é simplesmente que podemos ser salvos em vez de perdidos. A boa nova é que podemos ser salvos pela fé em vez de pelas obras da lei. (Vide Gálatas 2.16; Romanos 3.28; Efésios 2.8-10).

Por exemplo, quando Paulo discute o evangelho no livro de Romanos (vide 1.16-17), sua principal preocupação não é a diferença entre pecado e salvação. Seu propósito principal é contrastar as duas maneiras possíveis de salvação: pela graça através da fé ou pela lei por meio de obras. Assim sendo, em teoria, há dois caminhos para a salvação.

O que Paulo quer dizer, entretanto, é que um desses caminhos (obras da lei) foi completa e permanentemente obstruído por nosso pecado. Podemos tentar o quanto quisermos, mas jamais podemos nos acertar com Deus através de nossa retidão pessoal ou de nossa fidelidade

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à lei. Mas Deus não nos deixou para que pereçamos. Ele graciosamente proporcionou uma rota alternativa: fé. Essa é a única estrada genuína que nos leva a Deus e a única forma de salvação para pecadores.

Neste capítulo queremos entender o que significa ser “herdeiros da graça de Deus”. Isso exige que, antes de tudo, entendamos a diferença entre estas duas formas possíveis de salvação, que podemos chamar de lei e graça.

1. O CAMINHO DA LEIA Bíblia coloca os dois sistemas, lei e graça, em incisivo

contraste. João, acerca de nosso Senhor, diz: “E todos nós recebemos também da sua plenitude, e graça por graça. Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo” (João 1.16-17). Paulo adverte: “Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes caído” (Gálatas 5.4). Paulo, acerca dos cristãos, diz: “Porque o pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça” (Romanos 6.14).

“Debaixo da lei” é uma expressão que descreve o estado de toda e cada pessoa no início de sua vida. Deus é um Ser de “lei e ordem”. Ele criou o universo para funcionar de acordo com a lei natural, e as pessoas para viverem de acordo com a lei moral. Quando uma pessoa nasce, ela já está inserida nesta estrutura de lei. Quando sua consciência moral se desenvolve, a pessoa é confrontada com a lei de Deus, quer seja pela revelação natural (natureza, Romanos 1.18-32; 2.14-15) ou por revelação especial (a Bíblia).

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Se uma pessoa permanece dentro do sistema ou estrutura da lei, então, no dia do julgamento ela será julgada de acordo com as regras ou termos da lei. (As leis particulares, sob as quais as pessoas vivem, podem, de alguma forma, variar, mas o sistema de lei com suas regras comuns e basilares para ser salvo é o mesmo para todos). Essas regras podem ser afirmadas de maneira simples e sucinta:

“Obedeça a lei; fuja da punição. Infrinja a lei; sofra a punição”.

Este é o funcionamento da lei. Enquanto estivermos debaixo da lei, devemos perceber que essas são as regras que se aplicam a nós.

Isso não é tão ruim, você pode dizer. Afinal de contas, é possível ser salvo fazendo uso desse sistema. Se guardarmos as leis de Deus, escaparemos da punição do inferno. Se nós, de fato, não somos culpados, então Deus certamente nos justificará (nos declarará “não culpado”). Consequentemente, podemos ser justificados por nossas obras, por nossa obediência aos mandamentos de Deus.

Sim, é possível ser justificado pelas obras da lei, caso obedeçamos perfeitamente todos os mandamentos de Deus. O problema é que apenas um único pecado nos transforma em transgressores da lei e, desta forma, sujeitos à punição. Como Tiago diz: “Porque qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos” (Tiago 2.10; vide Gálatas 3.10). Portanto, para que a pessoa seja salva debaixo da lei (que é onde todos nós começamos),

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ela precisa viver uma vida sem cometer um único pecado sequer.

Agora, a notícia assustadora é que “não há um justo, nem um sequer” (Romanos 3.10), “pois todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Romanos 3.23). O significado disso é que enquanto estivermos debaixo da lei, estamos fadados à perdição. Nenhuma quantidade de bondade subsequente pode alterar o fato de que pecamos e que devemos sofrer a penalidade.

2. O CAMINHO DA GRAÇAÉ precisamente neste ponto que o evangelho é proclamado:

Deus forneceu uma alternativa à lei outra forma de ser salvo. É o caminho da graça. É um sistema totalmente diferente e ele funciona de acordo com um conjunto totalmente diferente de regras. Debaixo da graça uma pessoa se aproxima de Deus para a salvação nestes termos simples:

“Guarde a lei, mas sofra a punição. Quebre a lei, mas escape da punição”.

Aleluia! Debaixo da graça, um infrator da lei (pecador) pode escapar da penalidade do inferno eterno.

“Espere um pouco”, você diz. “Não tem algo de errado com essas regras? Por que alguém que obedece a lei sofre a punição e a pessoa que infringe a lei se vê livre da penalidade? Isso não parece ser justo!”

A afirmação está absolutamente correta. Não é justo. Não devia ser assim. Se fosse justo, não seria graça! A lei é justa. A graça é mais do que justa.

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“Certo”, você diz, “mas espere um pouco. Eu posso aceitar a segunda parte do sistema, a saber, ‘Infrinja a lei, todavia, escape da punição’. Isso é ótimo, pois essa é nossa única esperança. Mas e a primeira regra: ‘Guarde a lei, todavia, padeça a penalidade? Quem concordaria com isso?”

Na verdade, tal afirmação parece ser muito estranha e até mesmo inadmissível. Mas se lembre, a graça é diferente de nossa forma comum de pensar. Ela não se encaixa na estrutura de lei, justiça e imparcialidade. E isso é particularmente verdade em se tratando da afirmação: “Guarde a lei, todavia, sofra a penalidade”.

Mas este é o elemento preciso da graça que a torna graça! Sem esta provisão a outra parte seria impossível. Afinal de contas, a quem se aplica esta provisão? Quem, enfim, guardou a lei? Apenas uma pessoa: o imaculado Cristo. Embora ele tenha obedecido à lei, ele sofreu sua penalidade. Por quê? Pela graça! Pela graça! Somente as exigências da graça poderiam pregar na cruz o impoluto Jesus. Pois em sua morte imaculada, Ele padeceu toda a penalidade da lei em nosso lugar, e, desta maneira, possibilitou a nós, verdadeiros pecadores, que escapássemos da punição.

O sistema da graça é resumido perfeitamente por 2 Coríntios 5.21: “Deus tornou pecado por nós aquele que não tinha pecado”. Cristo pegou nossos pecados e nós recebemos Sua retidão. Deus tratou a Cristo como um pecador para que possamos ser tratados como Ele.

Aqui, então, está a escolha com a qual somos confrontados.

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Podemos permanecer debaixo da lei, para nossa certa condenação; ou podemos aceitar a livre oferta de graça e nos tornarmos: “herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo” (Romanos 8.17). Louvado seja Deus por esta abençoada alternativa!

3. HERDEIROS DA GRAÇAUma coisa deve ficar clara. Ao fazer distinção entre lei e

graça, não estamos falando sobre a diferença entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento. O que aqui foi dito acerca da lei se aplica a toda forma de lei divina em qualquer era ou época. A lei de Moisés é um exemplo básico: ninguém jamais foi salvo por guardá-la. Mas o mesmo também é válido para os mandamentos neotestamentários. Ninguém é salvo por guardar a lei na era do Novo Testamento, mesmo os mandamentos registrados nos livros do Novo Testamento. Uma vez que a pessoa pecou, a lei é, de qualquer forma, inútil para salvá-la.

Qual, então, era o propósito da lei veterotestamentária? Paulo diz que ela foi dada “por causa das transgressões” até que Cristo viesse (Gálatas 3.19). Isso quer dizer que ela foi dada para ajudar a controlar as tendências pecaminosas do homem e também para deixar claro que todos são pecadores e, desta maneira, não podem ser salvos através da obediência à lei. Consequentemente, a própria lei jamais teve a intenção de ser um meio de salvação (Gálatas 3.21).

Isso significa que os santos do Antigo Testamento foram

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Ser bom o bastante não é bom o bastante

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salvos pela graça exatamente da mesma forma que nós somos salvos. Abraão é o exemplo favorito do Novo Testamento desta verdade. Paulo faz uso de Abraão para provar seu argumento principal: “o homem é justificado pela fé sem as obras da lei” (Romanos 3.28).

A plenitude das bênçãos e da vida eterna foi oferecida a Abraão e a sua família, e através dele para todos os povos da terra (Gênesis 12.3; Gálatas 3.8). Como Abraão recebeu esta gloriosa herança? Como alguém a recebe na época do Novo Testamento? Paulo diz que a herança não depende da lei, mas da promessa de Deus: “Deus pela promessa a deu gratuitamente a Abraão” (Gálatas 3.18). Abraão, desta forma, recebeu a promessa através da fé nas promessas de Deus (vide Romanos 4.13). “Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça” (Gênesis 15.6; conforme citado em Romanos 4.3 e Gálatas 3.6).

Paulo então deixa claro que essa herança da graça é compartilhada por todos na família de Abraão. Quem pertence à família de Abraão? Aqueles que, como Abraão, creem nas promessas de Deus! Ele é o “pai de todos os que creem” (Romanos 4.11).

“Porque todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus. Porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo. Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gálatas 3.26-28).

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4. VIVENDO DEBAIXO DA GRAÇAEis nossa escolha: podemos permanecer debaixo da

lei onde nossa destruição é certa ou podemos nos tornar herdeiros da graça de Deus pela fé. A decisão não deveria ser difícil. Se um homem naufraga cerca de 2 km da terra seca e um hidroavião pousa ao seu lado, ele tem duas opções. Ele pode tentar nadar até à margem ou pode tentar entrar no avião. Será que ele hesitaria por um instante antes de entrar no avião?

Como cristãos nós decidimos viver debaixo da graça. Esta é uma escolha sensata e doadora de vida. Uma indagação importante, entretanto, é esta: estamos verdadeiramente vivendo em plena confiança e convicção, aceitando a palavra de Deus? Estamos depositando nossa esperança de vida eterna sobre a obra consumada de Cristo, confiando em Seu sangue como constante cobertura para nossos pecados? Ou ainda estamos vivendo como se dependêssemos da lei? Estamos vivendo como se nossa salvação realmente depende de nossa obediência cotidiana à lei? Estamos, na verdade, confiando em nossa própria bondade e obras de obediência?

É muito triste ver cristãos que ainda pensam como o fariseu na parábola de Jesus (Lucas 18.9-14). No dia do julgamento, quando Deus perguntar: “Por que deveria te deixar entrar no céu?”, o fariseu responderá: “Porque obedeci a seus mandamentos”. Examine a si mesmo. É assim que você age? Então você está pensando em termos de lei e não pode gozar de todas as bênçãos da graça de Deus.

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Ser bom o bastante não é bom o bastante

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O cristão que entendeu o verdadeiro significado da graça é como o publicano da mesma parábola. Quando Deus perguntar: “Por que deveria te deixar entrar no céu?”, ele dirá: “Porque confio em sua misericórdia para perdoar meus pecados”. Afinal de contas, esta é a promessa, não é?

Que percebamos que nossa salvação não depende de nossa fraqueza, mas da força de Deus. Ela não depende de nossa habilidade em guardar a lei, mas a habilidade de Deus em manter suas promessas. Quando enxergarmos isso, então poderemos verdadeiramente começar a viver debaixo da graça.