24
Mensal |Janeiro 2013 Preço: 1 euro | 2.ª Série | N.º 165 Director Padre Lino Maia Director-Adjunto Eleutério Alves Autorizado pelos CTT a circular em invólucro fechado de plástico. Autorização DEO/415/204004/DCN Mensário da CNIS - Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade DIA DA CNIS Encontro de IPSS, em Fátima, para celebrar os 32 anos da CNIS Quem somos Quantos somos Quanto valemos MANUEL DE LEMOS, PRESIDENTE DA UNIÃO DAS MISERICÓRDIAS PORTUGUESAS Dar um corpo à alma das Misericórdias A entrada do ano de 2013 corresponde ao início do terceiro mandato de Manuel de Lemos à frente da União das Misericórdias Portuguesas. A equipa liderada por ele foi reeleita para estar à frente da UMP durante o triénio 2013-2015, tendo sido a eleição mais participada de sempre, com 238 Misericórdias a votar: 226 votos a favor e 12 em branco. E sem qualquer oposição. Manuel de Lemos sente que a participação recorde é o reconhecimen- to pelo trabalho feito. Os anteriores presidentes encontraram a alma da União. Manuel de Lemos limitou-se a construir-lhe um corpo. É assim que define o êxito do trabalho que tem desempenhado, quando, segundo diz, se prepara para a retirada. Ler nas centrais a Grande Entrevista com o presidente da UMP. ALZHEIMER PORTUGAL É necessário um Plano Nacional para as Demências PROSALIS Fazem falta políticas para a família COOPERATIVA DO POVO PORTUENSE Nova Direcção aposta em história secular RESULTADOS PRELIMINARES DA CONTA SATÉLITE DA ECONOMIA SOCIAL

Jornal Solidariedade - Janeiro 2013

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Jornal mensário com notícias e reportagens sobre o mundo social solidário em Portugal

Citation preview

Page 1: Jornal Solidariedade - Janeiro 2013

Mensal |Janeiro 2013Preço: 1 euro | 2.ª Série | N.º 165

Director Padre Lino Maia Director-Adjunto Eleutério Alves

Autorizado pelos CTT a circular em invólucro fechado de plástico.Autorização DEO/415/204004/DCN

Mensário da CNIS - Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade

DIA DA CNIS

Encontro de IPSS, em Fátima, para celebrar os 32 anos da CNIS

Quem somos Quantos somos Quanto valemos

MANUEL DE LEMOS, PRESIDENTE DA UNIÃO DAS MISERICÓRDIAS PORTUGUESAS

Dar um corpo à alma das MisericórdiasA entrada do ano de 2013 corresponde ao início do terceiro mandato de Manuel de Lemos à frente da União das Misericórdias Portuguesas. A equipa liderada por ele foi reeleita para estar à frente da UMP durante o triénio 2013-2015, tendo sido a eleição mais participada de sempre, com 238 Misericórdias a votar: 226 votos a favor e 12 em branco. E sem qualquer oposição. Manuel de Lemos sente que a participação recorde é o reconhecimen-to pelo trabalho feito. Os anteriores presidentes encontraram a alma da União. Manuel de Lemos limitou-se a construir-lhe um corpo. É assim que define o êxito do trabalho que tem desempenhado, quando, segundo diz, se prepara para a retirada. Ler nas centrais a Grande Entrevista com o presidente da UMP.

ALZHEIMER PORTUGAL

É necessário um Plano Nacional para as Demências

PROSALIS

Fazem falta políticas para a família

COOPERATIVA DO POVO PORTUENSE

Nova Direcção aposta em história secular

RESULTADOS PRELIMINARES DA CONTA SATÉLITE DA ECONOMIA SOCIAL

Page 2: Jornal Solidariedade - Janeiro 2013

2Notícias da CNIS

Relatório de actividades de DezembroNo dia 1 de Dezembro, no Auditório

do Centro de Apoio a Deficientes João Paulo II, em Fátima, com a presença do Ministro e Secretário de Estado da Segurança Social e o representante do Ministro da Saúde, realizou-se a eleição seguida do acto de posse dos Órgãos Sociais da União das Misericórdias Portuguesas. A equipa liderada por Manuel de Lemos foi reeleita para estar à frente da UMP durante o triénio 2013-2015, tendo sido a eleição mais partici-pada de sempre, com 238 Misericórdias a votar: 226 votos a favor e 12 em bran-co. A CNIS esteve representada por Eduardo Mourinha.

No dia 3 de Dezembro, no segui-mento das Comemorações do seu 50º Aniversário, a APPACDM de Lisboa pro-cedeu à inauguração do Lar Residencial e CAO “Casas de Alpraia” para 12 adul-tos, elevando assim a capacidade ins-titucional para 91 camas. O represen-tante da CNIS (José Casaleiro) esteve presente.

No dia 4 de Dezembro, no número 234, Série II, do Diário da República foi publicada a Resolução n.º 47/2012, da Presidência do Conselho de Ministros - Conselho de Ministros que nomeia o pre-sidente da Comissão de Normalização Contabilística.

No dia 4 de Dezembro, no número 234, Série II, do Diário da República foi publicado o Despacho n.º 15432/2012 do Ministério da Solidariedade e da Segurança Social - Gabinete do Secretário de Estado da Solidariedade e da Segurança Social, sobre a criação da Comissão ENDEF II com o objectivo de propor uma Estratégia Nacional para a Deficiência 2014-2020 (ENDEF II)

No dia 5 de Dezembro, na sede da Cruz Vermelha Portuguesa, com a presença da CNIS representada por João Dias, realizou-se a Assembleia-Geral da Confederação Portuguesa do Voluntariado, a que se seguiu pelo seu 4º ano consecutivo, a entrega do Troféu Português do Voluntariado, este ano à Fundação PT, que é gestora de projec-tos, na área da Educação e Saúde.

No dia 7 de Dezembro, no número 237, Série I, do Diário da República foi publicada a Resolução do Conselho de Ministros n.º 103/2012 da Presidência do Conselho de Ministros, que revê a com-posição e o funcionamento do Conselho Nacional para a Economia Social, al-terando a Resolução do Conselho de Ministros n.º 55/2010, de 4 de Agosto.

No dia 7 de Dezembro, no Auditório

Portugal Maior, na FIL e com a presen-ça da CNIS (representada por José Casaleiro), a Cáritas Portuguesa em parceria com o Encontro Internacional Portugal Maior – AIP, levou a efeito o Encontro “Envelhecimento Activo e Diálogo Inter-geracional em Contexto Prisional”.

No dia 9 de Dezembro, o Centro Social e Paroquial de Santa Eulália de Crespos, inaugurou as suas novas insta-lações. As cerimónias foram presididas pelo Senhor Arcebispo Primaz de Braga D. Jorge Ortiga. Estiveram presentes representantes da Câmara Municipal, Centro Distrital da Segurança Social, Autarcas, pessoas ligadas ao Projecto e a Comunidade de Crespos. A CNIS fez-se representar por Joaquim Vale. As novas instalações do Centro Social e Paroquial de Santa Eulália contemplam uma creche para 36 utentes, um cen-tro de dia para 20 utentes e o serviço de apoio domiciliário, também para 20 utentes.

No dia 10 de Dezembro, no Salão Nobre da Assembleia da República, a Cáritas Portuguesa recebeu o Prémio Direitos Humanos 2012, por decisão da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias da Assembleia da República.

No dia 11 de Dezembro, em Lisboa, decorreu mais uma reunião entre os representantes da Comissão Paritária da CNIS - João Dias, José Casaleiro e Henrique Rodrigues – e a FEPCES.

No dia 14 de Dezembro, em Lisboa, decorreu uma reunião nas instalações da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), entre esta entidade e os representantes da CNIS, Joaquim Vale e Filomena Bordalo. Os assuntos versados na reunião prenderam-se com a articulação entre as IPSS e o Sistema Nacional de Saúde. Futuramente, irão ser definidos e posteriormente divulga-dos os procedimentos resultantes da ar-ticulação entre estas duas instituições.

No dia 14 de Dezembro, no núme-ro 242, Série I, do Diário da República foi publicada a Portaria n.º 411/2012, do Ministério da Solidariedade e da Segurança Social, que procede à pri-meira alteração à Portaria n.º 262/2011, de 31 de Agosto que estabelece as nor-mas reguladoras das condições de ins-talação e funcionamento das creches.

No dia 15 de Dezembro, no Centro Social e Cultural da Portela em Lisboa, com a presença da CNIS (represen-tada por José Casaleiro), decorreu a

cerimónia da tomada de posse dos no-vos órgão sociais da UDIPSS-Lisboa.

No dia 16 de Dezembro, no Palácio da Bolsa, no Porto, a Fundação Manuel António da Mota em parceria com a TSF atribuiu o Prémio Manuel António da Mota à Associação Alzheimer, com o projecto “Envelhecimento Activo nas Demências”. Esta instituição tem como objectivo apoiar o desenvolvimento de formas de apoio às pessoas com doen-ça de Alzheimer, ou outra forma de de-mência, e aos seus cuidadores, bem como o estudo e investigação das suas causas, efeitos e tratamento. A 3ª edição deste prémio, entre muitos convidados, contou com a presença do Ministro da Solidariedade e da Segurança Social, o chairman da Mota-Engil, António Mota e do presidente da CNIS.

No dia 19 de Dezembro, em Baião, num ambiente animado e festivo, decor-reu o almoço de Natal que congregou toda a Direcção da CNIS, assessores, colaboradores e funcionários.

No dia 19 de Dezembro, no núme-ro 245, Série I, do Diário da República foi publicada a Portaria nº 417/2012, dos Ministérios das Finanças e da Solidariedade e da Segurança Social que aprova os estatutos do Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social, I.P.

No dia 19 de Dezembro, no núme-ro 245, Série I, do Diário da República foi publicada a Portaria nº 418/2012, do Ministério da Solidariedade e da Segurança Social que fixa as normas regulamentares necessárias à reparti-ção das verbas dos jogos sociais afec-tas ao Ministério da Solidariedade e da Segurança Social.

No dia 20 de Dezembro, no número 246, Série I, do Diário da República foi publicada a Declaração de Rectificação n.º 77/2012, da Presidência do Conselho de Ministros - Secretaria-Geral, que rectifica a Resolução do Conselho de Ministros n.º 103/2012, de 7 de Dezembro, que revê a composição e o funcionamento do Conselho Nacional para a Economia Social, alterando a Resolução do Conselho de Ministros n.º 55/2010, de 4 de Agosto, publicada a 7 de Dezembro no Diário da República n.º 237, I Série, de 7 de Dezembro de 2012.

No dia 21 de Dezembro, no núme-ro 247, Série I, do Diário da República foi publicada a Portaria n.º 421/2012 do Ministério das Finanças, que aprova os novos modelos de impressos a que se refere o n.º 1 do artigo 57.º do Código

do IRS. No dia 21 de Dezembro, no número

247, Série I, do Diário da República foi publicado o Decreto Legislativo Regional n.º 39/2012/M da Região Autónoma da Madeira - Assembleia Legislativa, que adapta à Região Autónoma da Madeira as alterações ao actual Código do Trabalho.

No dia 21 de Dezembro, no número 247, Série I, do Diário da República foi publicado o Despacho n.º 16313/2012 do Ministério da Solidariedade e da Segurança Social - Instituto Nacional para a Reabilitação, I. P., com a lista de produtos de apoio.

No dia 27 de Dezembro, no número 250, Série II, do Diário da República foi publicada a Deliberação n.º 2116/2012 do Ministério da Economia e do Emprego - Instituto da Mobilidade e dos Transportes Terrestres, I. P., que procede à alteração do despacho n.º 10011/2007, de 28 de Março de 2007, que estabelece as condições e proce-dimentos de reconhecimento das en-tidades formadoras e dos cursos de formação de motoristas de transporte colectivo de crianças.

No dia 31 de Dezembro, no núme-ro 252, Série I, do Diário da República foi publicada a Portaria n.º 428/2012 dos Ministérios das Finanças e da Solidariedade e da Segurança Social, que aprova o Regulamento do Fundo de Socorro Social e o modelo de requeri-mento para formalização do pedido de apoio ao FSS.

No dia 31 de Dezembro, no núme-ro 252, Série I, do Diário da República foi publicada a Portaria n.º 432/2012 do Ministério da Economia e do Emprego, que cria a medida de Apoio à Contratação de Trabalhadores por Empresas Startups. (Artigo 3.ºRequisi-tos do empregador 1 — Pode candida-tar -se à Medida a pessoa singular ou colectiva de natureza jurídica privada, com ou sem fins lucrativos, que reúna os seguintes requisitos...).

No dia 31 de Dezembro, no núme-ro 252, Suplemento, Série I, do Diário da República foi publicada a Lei n.º 66-A/2012 da Assembleia da República, que aprova as Grandes Opções do Plano para 2013.

No dia 31 de Dezembro, no núme-ro 252, Suplemento, Série I, do Diário da República foi publicada a Lei n.º 66-B/2012 da Assembleia da República, que aprova o Orçamento do Estado para 2013.

Page 3: Jornal Solidariedade - Janeiro 2013

Janeiro 2013

3Editorial

Padre Lino MaiaPresidente da [email protected] Social

1. É consensual: o Estado Social é um muito bom modelo europeu. Começou a ganhar conteúdo e consistência quando a Europa se refazia da segunda guerra mun-dial. Quase toda ela estava voltada para a reconstrução, para os direitos humanos e para a prosperidade. Metodicamente, eram reconhecidos direitos sociais e ia sendo assegurado um conjunto de serviços co-lectivos relacionados com educação, cul-tura, recreio, habitação, protecção social e saúde. Adoptando um determinado ideal de homem e com o objectivo de respeitar todos os homens. Corrigiam-se as assime-trias enquanto a igualdade e a dignidade eram associadas entre si. Em tempos de crescimento económico, o financiamento dos direitos sociais parecia indefinidamen-te assegurado, pelo que a universalidade de direitos ia sendo conjugada, tendencial-mente, com a gratuidade.

Hoje, há significativas mudanças. Com o abrandamento da prosperidade, cuja agulha parece estar a mudar de sen-tido arrastando consigo bons quadros, e com uma progressiva “des-sintonia” entre população activa, que progressivamente baixa (há uma preocupante diminuição de natalidade), e população passiva que, comparativamente, cresce (felizmente, a esperança de vida é cada vez maior), a Europa confronta-se com outros ventos e com dúvidas crescentes sobre a viabilida-de de financiamento do Estado Social.

Estará o Estado Social a correr perigo? É uma questão recente, mas ga-

nha acuidade. Também, e sobretudo em Portugal que acostou ao modelo social europeu quando já na Europa começa-vam a pairar algumas sombras. No nosso caso, tratou-se mais de um envolvimento comunitário do que de um exacto desper-tar do Estado para todas as suas funções sociais. Paralelamente, começa a ser evi-dente que sobre o povo português já pesa uma carga fiscal excessivamente onero-sa, pelo que adensam-se ameaças so-bre o próximo financiamento dos direitos sociais. E sem financiamento, os direitos correm perigos.

O Estado Social parece ameaçado.

2. Ao Estado compete assegurar os direitos sociais e a existência de serviços que os ministrem, conhecendo, reconhe-cendo e apoiando quem os promove e

quem os serve, coordenando os seus pro-motores, regulando, estabelecendo metas a atingir e suprindo quando necessário. Se o Estado não servir para promover uma melhor justiça social e um futuro me-lhor e mais harmonioso para todos, não serve para nada.

É preciso salvar o Estado Social. E as vias de salvação do Estado Social - e de um Estado Social mais justo - passam necessariamente pelo criativo testemu-nho de como o global não pode diluir o particular nem o particular pode diluir o colectivo. Também passam por uma filo-sofia perfilhada em que solidariedade e subsidiariedade, cruzando-se ambas com sobriedade, mutuamente se requeiram.

3. Há direitos sociais estruturantes e direitos sociais coadjuvantes e assis-tenciais. Enquanto direitos, todos eles são universais: de todos e para todos os humanos. A alguns direitos todos e to-das recorrerão para que o seu ser cresça

harmónico numa sociedade mais justa, enquanto o acesso a outros direitos, não podendo ser vedado a ninguém, cada um e cada uma recorrerá conforme o seu ser e a dissemelhança das circunstâncias em que vive. Uns (os estruturantes) serão gratuitos e outros (coadjuvantes ou assis-tenciais) poderão ser comparticipados.

Serão direitos estruturantes quan-tos na área da promoção da cidadania se situam. A educação é um deles. Para um crescimento harmónico e integral de todos. Educação para todos e educação gratuita é um objectivo inalienável de um Estado Social. Indissociável, provavel-mente, da cultura. Física e mental. Para assegurar uma “mente sã em corpo sa-dio”. Também para garantir igualdade de oportunidades e promover a coesão social.

Os direitos sociais relacionados com a saúde poderão ser estruturantes quando a previnem e, aí, universalidade conjuga-se com gratuidade. Noutros casos poderão

ser direitos coadjuvantes ou assistenciais, como no que se relaciona com habitação, protecção social e crescimento, da e na comunidade local. Cada um e todos os cidadãos devem poder ascender à sua fruição e ao seu exercício. Provavelmente com o seu contributo. Moderado e ade-quado às suas circunstâncias, às suas ca-pacidades e àquilo que têm, sem que nin-guém dos mesmos direitos fique arredado ou para trás. Aí, universalidade de direitos não será necessariamente sinónima de gratuidade universal. Talvez a universali-dade de direitos se conforme melhor com comparticipação moderada e adequada.

Em sintonia com a comunidade, o Estado define uma Carta de Direitos Sociais, afecta recursos disponíveis, as-segura uma justiça redistributiva – en-quanto a comunidade, moderada e ade-quadamente, se envolve.

E o Estado Social funciona com uma sociedade solidária. Sustentável e progressivo.

Page 4: Jornal Solidariedade - Janeiro 2013

4Notícias da CNIS

WWW.SOLIDARIEDADE.PT

Site do jornal teve 800 mil acessos em 2012

COMISSÃO EUROPEIA

2013 Ano Europeu dos Cidadãos

ALMOÇO DE NATAL 2012

CNIS foi a Baião celebrar o Natal Para celebrar o Natal, a CNIS juntou os dirigentes, os funcionários, os assesso-

res, colaboradores e o presidente da União Distrital do Porto, padre José Baptista, num almoço de confraternização realizado em Santa Cruz do Douro, Baião, no dia 19 de Dezembro. A Casa do Lavrador, um projecto de turismo rural e social, dinamizado por Artur Borges, ex- presidente da UDIPSS-Porto acolheu o grupo de quase três dezenas de pessoas, num repasto agradável onde os sabores se misturaram com as memórias, numa evocação da ruralidade de há 50 anos atrás.

RESPONSABILIDADE SOCIAL

GALP ENERGIA quer apoiar Instituições Sociais

O site do jornal Solidariedade, www.solidariedade.pt, registou durante o ano de 2012 um total de cerca de 800 mil acessos. Inaugurado em 2004, depois de relançado o mensário, o site tem conseguido cumprir a função de complementaridade relativa-mente ao suporte em papel. Por mês há uma média de visitas de cerca de 65 mil utilizadores, por dia são à volta de 2 mil.

Para além de replicar as maté-rias publicadas mensalmente no jornal

Solidariedade, republicando as reporta-gens às IPSS, as entrevistas aos protago-nistas, a opinião dos cronistas convidados, o site acompanha diariamente a realidade da solidariedade em Portugal, dando es-pecial enfoque às notícias e aos eventos sobre o Terceiro Sector que dizem direc-tamente respeito à actividade da CNIS, Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade, proprietária do órgão de co-municação social.

Nas estatísticas do site merece especial referência o número daqueles que se inscre-vem para acederem à newsletter que tem uma periodicidade, pelo menos, semanal. Ao longo do ano de 2012 mais 500 utilizadores registaram-se no site. Ao todo há cerca de 7 mil membros que recebem de forma regular as notícias da Solidariedade.

No site é possível consultar, ler e fazer cópia da edição impressa, uma funciona-lidade disponível em http://issuu.com/

solidariedade/docs, desde o início deste ano, e aceder a todas as primeiras pági-nas do jornal desde 2004. É possível fa-zer a consulta ao notícias à sexta e aceder aos principais documentos da Economia Social.

O www.solidariedade.pt constitui tam-bém uma memória de uma década com relatos de factos, registos de personalida-des, reportagens de muitas instituições e situações, fotos, filmes, documentos.

A Comissão Europeia propõe que 2013 seja designado o “Ano Europeu dos Cidadãos”, 20 anos após a introdução da cidadania da União Europeia (UE) pelo Tratado de Maastricht, a 1 de Novembro de 1993.

O objectivo prioritário do Ano Europeu dos Cidadãos é facilitar aos cidadãos da União o exercício do seu direito de circular e residir livremente no território da UE, as-segurando um fácil acesso às informações sobre os seus direitos.

São os seguintes os objectivos

específicos do Ano Europeu:- Aumentar a sensibilização dos cida-

dãos para o seu direito de residir livremen-te na União Europeia;

- Aumentar a sensibilização para a for-ma como os cidadãos podem beneficiar dos direitos e políticas da UE e estimular a sua participação activa no processo de elaboração das políticas da União;

- Estimular o debate sobre o impacto e o potencial do direito de livre circulação, em especial em termos de reforço da coe-são e de compreensão mútua.

A CNIS, conjuntamente com a União das Misericórdias e a União das Mutualidades, e com a participa-ção activa do Secretário de Estado da Solidariedade e Segurança Social, Marco António Costa, reuniu com a Administração da GALP.

Na reunião, o presidente da GALP manifestou total disponibilidade para colaborar com as Instituições da Área Social.

Para aprofundar modalidades de eventuais apoios, as Instituições

interessadas deverão preparar e remeter para o correio electrónico da CNIS ([email protected]) até 19 de Janeiro de 2013 os seguintes elementos:

- Número de veículos, por tipo e combustível, para se saber o número de cartões de desconto a atribuir pela Galp Energia.

- Eventual interesse no apoio da Galp Energia em matéria de eficiên-cia energética e, bem assim, da Galp Voluntária, nomeadamente no apoio à formação do seu pessoal.

Page 5: Jornal Solidariedade - Janeiro 2013

Janeiro 2013

5

Notícias da CNISDIA DA CNIS

Encontro de IPSS, em Fátima, para celebrar os 32 anos da CNIS

No dia 15 de janeiro de 2013 a CNIS, Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade, faz 32 anos. Num tempo em que a crise se entranha em todas as áreas da sociedade portuguesa, é um momento importante para a Confederação que con-grega a maioria das IPSS portuguesas, res-ponsáveis por minimizarem os efeitos devas-tadores das políticas de austeridade.

O padre Lino Maia, presidente da CNIS, aproveita esta data para relembrar o “papel primordial das instituições no trabalho per-manente da solidariedade”. Lino Maia re-fere que “não há razões para festejos, nem motivos de festa porque os tempos são de muitas dificuldades a todos os níveis, mas temos que enaltecer a função social solidária de todas as IPSS, de todo o país. São um exemplo da esperança e perseverança que não se vê noutros sectores da vida pública portuguesa. As IPSS, os dirigentes, os traba-lhadores, os colaboradores, os voluntários, são gente do melhor que a sociedade tem. A CNIS, que abraça no seu seio perto de três mil dessas instituições, orgulha-se do seu passado e acredita no futuro.”

Não há comemorações do 32º aniver-sário, mas para assinalar a data, a CNIS organiza no próximo dia 19 de Janeiro, no auditório do Centro Pastoral Paulo VI, em Fátima, um importante encontro de IPSS. Com a participação do Secretário de Estado da Solidariedade e da Segurança Social, em parceria com o Instituto da Segurança Social e dos Serviços de Fiscalização, será feita a apresentação do Protocolo de Cooperação de 2013-2014 e também uma reflexão sobre acompanhamento e fiscalização das IPSS. O padre Lino Maia sublinha que “é importan-te a presença dos dirigentes das IPSS, que poderão fazer-se acompanhar por técnicos.” Na tarde daquele mesmo dia 19 de Janeiro, o Secretário de Estado reúne com todos os dirigentes da CNIS, das Uniões distritais ou regionais, federações e delegações da CNIS.

Cnis nasCeu em 1981No dia 15 de Janeiro de 1981, meio ano

depois do Congresso, compareceram, na rua Costa Cabral, no Porto, 41 representantes de IPSS para rubricarem o documento funda-dor do que é hoje a Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade. No ponto um das finalidades e atribuições, da então nomeada União das Instituições Privadas de Solidariedade Social, ficou plasmada a

matriz da acção a desenvolver: “Assumir a representação e defesa dos interesses comuns das Instituições Unidas perante o Estado, os Tribunais, as Autarquias e quais-quer outras entidades públicas ou privadas”. 30 anos depois, a Direcção da CNIS, lide-rada pelo padre Lino Maia, decidiu escolher esse dia para festejar o nascimento da or-ganização social. “É importante que haja um dia especial que seja oportunidade para reconhecer a importância da CNIS, a sua dimensão e a sua força. O facto da escritu-ra da constituição da UIPSS ter sido no dia 15 de Janeiro de 1981 dá-nos um pretexto histórico muito forte. Podíamos ter optado pela data da realização do II Congresso, mas considerámos que a deliberação aí to-mada pelas instituições foi o primeiro passo que teve o seu epílogo no dia 15 de Janeiro de 1981 com a formalização da escritura. É aí, de facto, o princípio da actual CNIS.” “No dia quinze de Janeiro de mil novecentos e oitenta e um, na cidade do Porto e na Rua de Costa Cabral, número cento e vinte e oito, perante mim, José Cabral de Matos, Notário no Terceiro Cartório Notarial do Porto, compareceram como outorgantes: (…)” Assim começa o documento histórico da constituição formal da União das Instituições Privadas de Solidariedade Social. Foram 43 os outorgantes que representavam 45 instituições, todas do Norte e, em grande maioria, do Porto. Duas acabaram por fal-tar à escritura. O documento notarial, com

30 páginas, define o quadro legal em que se inscreve a União, as finalidades e atribui-ções, as obrigações dos órgãos directivos, o regime financeiro e obrigava à criação ime-diata de uma comissão administrativa com o prazo de um ano para convocar eleições.

O padre Marinho Cia, falecido em Agosto de 2007, Director-Fundador do Centro de Caridade Nossa Senhora do Perpétuo Socorro Caridade foi um dos grandes im-pulsionadores do II Congresso, momento fundador da actual CNIS: A escolha do lo-cal respeitou a origem do movimento. O I Congresso tinha sido realizado no Porto em 1903. “O Porto foi sempre rico alfobre de obras de assistência privada e de caridade”, justificava o padre Marinho Cia, na carta de

apresentação do Congresso de 1980. O sí-tio seleccionado foi o Cinema Estúdio, do Centro de, nos dias 14 e 15 de Junho. Para o Congresso inscreveram-se, ao todo, 298 Instituições de Solidariedade Social.

Eleito em 1981, em Assembleia Geral, o Cónego Orlando Mota e Costa foi o primeiro presidente da UIPSS, tendo sido substituído em 1984 por Ernesto Campo. Em 1988 o pa-dre José Maia assumiu a presidência, tendo cumprido 14 anos de uma liderança carismá-tica. A transição da UIPSS para a CNIS foi gerida pelo Cónego Francisco Crespo, du-rante três anos. Em Janeiro de 2006 o padre Lino Maia assumiu o comando dos desígnios da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade.

Page 6: Jornal Solidariedade - Janeiro 2013

6Actualidade

RESULTADOS PRELIMINARES DA CONTA SATÉLITE DA ECONOMIA SOCIAL

O indesmentível peso do Terceiro SectorAgora já se sabe do que se está a falar

quando se usam as designações Economia Social ou Terceiro Sector. Fala-se de mais de 55 mil organizações, espalhadas por mais de uma dezena de actividades económicas. Fala-se de 2,8% de Valor Acrescentado Bruto, mais do que a Electricidade, Agricultura, Agro-indústria, Telecomunicações ou Indústria Têxtil. Fala-se de 5,5% de peso no empre-go remunerado na Economia Nacional, 226 mil pessoas, mais do que a Saúde, Indústria Têxtil, Transportes e Actividades Financeiras e Seguros, entre muitas outras.

O retrato foi tirado pela Conta Satélite da Economia Social, do INE, em parceria com a Cooperativa António Sérgio para a Economia Social. É um retrato preliminar, referente a 2010, mas onde se pode ver, pela primeira vez, o peso que o Terceiro Sector tem na eco-nomia portuguesa.

Em relação ao emprego mais de um terço concentra-se nos serviços de acção social e so-lidariedade. Os salários médios mais elevados são pagos pelas mutualidades, sendo as mise-ricórdias as que pior pagam. De uma maneira geral, os trabalhadores da Economia Social são pior remunerados do que a média nacional. Em 2010 o valor médio representava 83,4%.

Por estranho que pareça, estes resulta-dos preliminares não referem as IPSS. “Como não são uma personalidade jurídica, é um es-tatuto que é transversal a todas as famílias. Há cooperativas, mutualidades, misericórdias que são IPSS. Ora, fizemos um trabalho por famílias, mas este destaque das IPSS ainda falta fazer e vai aparecer na publicação final.” A explicação é de Lurdes Barata, chefe de equipa dos programas de apoio à Economia Social, da CASES. Para já percebem-se os

contornos da dimensão económica e das principais características da Economia Social em Portugal, fixando conceitos e princípios que permitem não só comparar com outros sectores de actividade nacionais, mas tam-bém cotejar com outros países.

O presidente da CNIS destaca a impor-tância deste estudo, mas aguarda pelos re-sultados finais esperançado que revelem a importância das IPSS, aspecto que nos resul-tados preliminares não foi tido em conta. Lino Maia refere ainda que os protagonistas do Sector Solidário, como gosta de lhe chamar, já intuíam esta realidade e tentavam, muitas vezes sem sucesso, explicá-la aos decisores políticos.”A grande vantagem deste trabalho é que agora temos provas concretas do que já sabíamos.” Em relação ao facto destes dados serem relativos a 2010, Lino Maia está con-vencido que a crise não fez diminuir nem o número de organizações nem o de trabalha-dores remunerados.

Opinião semelhante tem o secretário de Estado da Solidariedade e Segurança Social. Marco António Costa afirma ao JN que estes indicadores “têm a importância de deixarmos

de trabalhar com base em palpites e passar-mos a trabalhar com estatísticas certificadas pelo INE. Provavelmente é a única conta satélite da economia social a nível mundial que congrega as actividades mercantis e não mercantis [sector cooperativo, mutualidades, misericórdias, IPSS, fundações, associações de cultura, recreio e lazer] que promovem o

bem-estar e a acção social e participam ac-tivamente no desenvolvimento económico e no emprego do país.”

Os resultados finais da Conta Satélite da Economia Social, que incluirão a classificação das IPSS e tratarão o trabalho voluntário, vão ser apresentados no final do primeiro trimes-tre deste ano.

Page 7: Jornal Solidariedade - Janeiro 2013

Janeiro 2013

7Actualidade

LURDES BARATA, CHEFE DE EQUIPA DOS PROGRAMAS DE APOIO À ECONOMIA SOCIAL

Agora sabemos quanto valemosO que é a Conta Satélite da Economia

Social?É um projecto, que nasceu em simul-

tâneo com a cooperativa António Sérgio, em 2009. Tínhamos um conhecimento bastante alargado relativamente às coope-rativas, mas não tínhamos em relação às outras áreas da Economia Social. A par-tir do momento em que a intervenção da Cooperativa se alargou, trabalhando com todas as famílias, pensamos avançar com um projecto que desse a real dimensão da Economia Social. Nas pesquisas que se faziam percebia-se que a informação estava dispersa. À presi-dência do Conselho de Ministros ia-se buscar a infor-mação relativa às Fundações, à Segurança Social sobre as IPSS, en-fim, andáva-mos a juntar as peças.

Havia mesmo uma dificuldade em nomear esse sector…

Nunca se sabia de que se falava quando se falava de Economia Social ou Terceiro Sector. De acordo com a metodo-logia e os conceitos definidos agora sabe-mos. É muito significativo o trabalho desen-volvido por uma parcela muito grande das organizações que compõem a Economia Social, sobretudo em épocas em que é ne-cessário haver uma solidariedade maior. Neste tempo de crise o protagonismo des-sas organizações é maior mas, na prática, passa sempre despercebido a nível global porque quem as sente são as pessoas

tocadas localmente. O projecto nasceu dessa necessidade de

se perceber o que significava esse protagonismo a nível

local, mas também a ní-vel nacional.

Ficou surpreendida com os resul-tados preliminares?

Não fiquei surpreendida. É certo que acompanhámos o projecto desde o início, definindo o âmbito e a concep-tualização da própria Economia Social. Como tínhamos valores de contas saté-lites feitas noutros países, na área das cooperativas e mutualidades, havia uma perspectiva. O INE publicou em Junho de 2011 a conta satélite das instituições sem finalidade lucrativa e tínhamos um ponto de partida. Expurgámos a parte da administração pública e juntámos as cooperativas e as mutualidades que são o segmento de mercado da própria Economia Social. Com este projecto em mente tivemos que ir interlocutar com o INE que é quem tem capacidade para constituir contas nacionais.

Qual foi a principal dificuldade?O mais difícil foi a perimetrização,

definir o perímetro da Economia Social.

E a definição do conceito?Não é um conceito fechado. Em ter-

mos estatísticos nós tínhamos que o en-cerrar de qualquer forma. Fizemos uma pesquisa, relativamente à conceptua-lização do Terceiro Sector e Economia Social e apoiámo-nos muito no manual das contas satélite das cooperativas e mutualidades. O nosso objectivo era não só promover a dimensão da Economia Social em Portugal, mas também po-der compará-la a nível internacional. Pensámos que os conceitos devessem ser semelhantes aos que os outros paí-ses, que estão a construir contas sa-télite, têm. Para podermos comparar temos que ter os mesmos parâmetros de avaliação. Utilizamos o conceito que está no manual “The Social Economy in the European Union” para a Comissão Europeia que, de forma resumida, define a Economia Social, como um conjunto

de organizações, umas que actuam na área mercantil e outras na

área não mercantil, de apoio às famílias, sem finalidade lucrativa, que têm uma ges-tão democrática. O con-ceito baseou-se também

na Carta de Princípios da Economia Social, trabalhada e produzida pela Plataforma

Conferência Europeia das Fundações, Asso-cia ções, Coopera tivas

e Mutualidades que fizeram um conjunto de princípios que nos permitem delimi-tar até que ponto é que as organizações poderão estar abrangidas. É um concei-to que continua a em aberto e ninguém terá a coragem de o fechar porque há sempre realidades novas a aparecer que precisam de ser sistematicamente avaliadas.

O que destacaria destes resultados preliminares?

Convém dizer que são mesmo muito preliminares, a conta não está encerrada. É uma espécie de aperitivo que nos permite ter uma ideia do Valor Acrescentado Bruto que representa cerca de 55 mil organiza-ções que estão envolvidas na Economia Social. Relativamente ao emprego, tínha-mos algumas previsões do sector coopera-tivo, que rondavam os 1,6%, 1,7%. Ir para 5,5% no total da Economia Social repre-senta quatro vezes mais do que o sector que conhecíamos. É um valor significativo porque estas organizações têm uma tipo-logia de funcionamento muito à base da-quilo que é a prestação personalizada aos seus utentes, sobretudo as que trabalham na acção social. É muito representativo e se compararmos com outros sectores im-portantes da economia portuguesa veri-ficamos que se encontra bem acima. Ter um Valor Acrescentado Bruto Nacional de 2,8% deve ser enfatizado. Representar como entidade empregadora global 5,5% penso que é meritório, é de relevar e dizer que estamos cá, que estamos presentes num sector que vale a pena trabalhar junto porque separadamente cada um vale mui-to menos.

Esse é o grande valor desta conta satélite da Economia Social...

Aquilo de que não se fala não existe. Ninguém sabe. É necessário ter bases objectivas. Temos isto para oferecer, mas queremos contrapartidas para o trabalho que fazemos e para aquilo que represen-tamos. Isso fará com que não se deixem cair organizações que merecem continuar de pé, por questões de tesouraria ou di-ficuldades conjunturais, quando repre-sentam por vezes, em termos locais as únicas entidades empregadoras. E neste momento são imprescindíveis para man-ter a rede capilar que vai aguentando a parte da coesão social na crise em que nós estamos.

V.m. Pinto (textos e fotos)

Page 8: Jornal Solidariedade - Janeiro 2013

8IPSS em notícia

COOPERATIVA DO POVO PORTUENSE

Futuro passa por retomar princípios do passadoComo Cooperativa de Solidariedade

Social do Povo Portuense já entrou no 113.º ano de vida, mas a sua génese é anterior e radica no Instituto Antero de Quental, funda-do em 1893.

“A Cooperativa com esta designação social nasceu em 1900, pelo que temos 112 anos, mas se falarmos em termos do que é a raiz da Cooperativa, ou seja, o Instituto Antero de Quental, este ano de 2013 vamos celebrar 120 anos de existência”, explica Paulo Jorge Teixeira, novel presidente da instituição, eleito no final do ano passado e empossado no dia 2 de Janeiro. O novo líder da Cooperativa pretende impulsionar a ac-ção da cooperativa através de uma espécie de regresso às origens.

“A Cooperativa nasce fruto de uma von-tade sentida sobretudo por operários em po-der responder a algumas carências sociais, mas também pelas necessidades sentidas por esses jovens em incrementar a alfabeti-zação, em ter novas visões e em formar pes-soas”, recorda o presidente.

“A questão da mutualidade, que ainda hoje existe, como é o caso do nosso subsí-dio de funeral, algo que no final do século XIX preocupava bastante as pessoas” é um dos serviços que atravessa toda a história da instituição.

Porém, a vida da Cooperativa do Povo Portuense, como é mais conheci-da, nem sempre seguiu aqueles princípios fundadores.

“Esse caminho, pelo menos, nos últimos anos não tem sido muito seguido, mas é o caminho que fez nascer a Cooperativa. Era essa ambivalência de uma intervenção so-cial e de uma intervenção pessoal, no sen-tido de melhorar a qualidade de vida dos associados, como dizem os estatutos”, sus-tenta, acrescentando: “A cooperativa durante o século XX teve uns períodos melhores e outros piores, também fruto do País e da si-tuação do cooperativismo”.

Recorde-se que por altura do 25 de Abril de 1974, a Cooperativa tinha entre outros negócios, uma funerária, uma gráfica e lo-jas de vestuário, que nos anos quentes do pós-Revolução foram tomados pelos traba-lhadores, acabando a maior parte por falir e fechar pouco anos depois ou por ser com-prada por valores irrisórios.

Estes reflexos dos tempos conturba-dos que se viveram acabaram por determi-nar muito do que foi, entretanto, a vida da Cooperativa.

“Nos últimos anos, mercê do que tem sido a nossa sociedade, sentimos que tem havido alguma dissociação com a ci-dade e até entre alguns sócios e a própria

cooperativa”, afirma Paulo Jorge Teixeira, que, nos próximos quatro anos, pretende al-terar este estado de coisas.

“Por isso respondi ao desafio de liderar uma equipa directiva bastante renovada... Vamos tentar buscar algumas raízes da Cooperativa, como a intervenção cívica, a velhinha cooperação e a intervenção que queremos junto dos nossos associados para melhorar a nossa comunicação com eles, para que a cooperativa não se esgote naqui-lo que hoje lhes dá, que é um subsídio de funeral e consultas médicas a preços muito mais baratos… A essência da cooperativa não se esgota aqui. Queremos e teremos objectivamente que fazer mais”, assevera.

Actualmente, a acção da Cooperativa do Povo Portuense resume-se a assegurar um subsídio de funeral e facultar consultas nas suas quatro clínicas médicas a preços mais baratos do que a actual Taxa Moderadora do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

“Não podemos ser um mero prestador de serviços, porque aí vamos estar a competir com outras áreas e serviços que estão mui-to melhor organizados, como seja o SNS, outras Mutualidades ou as companhias de seguros, mas gostamos e queremos inter-vir com mais coisas”, defende, explicando: “Queremos retomar coisas que foram perdi-das… A intervenção social das pessoas nas instituições de que fazem parte é importante e a cooperativa demitiu-se disso nos últimos 20, 30, 40 anos. Tal como dizem os estatu-tos, temos que melhorar as condições de vida dos nossos associados e isso não pas-sa só pelas questões materiais”.

CooPerantes enVelheCidosActualmente a Cooperativa tem cerca

de 18.000 associados e a primeira acção da nova Direcção é a angariação de novos sócios.

“Um dos problemas que hoje enfrenta-mos é uma média de idades muito elevada dos associados e que ronda os 60 anos. Por isso, vamos lançar uma campanha já em Janeiro que se chama «4 Meses, 400 Sócios», com a qual pretendemos nestes quatro anos de mandato conseguir mil só-cios por ano, tentando ainda que eles sejam mais novos”, revela o presidente, acrescen-tando: “Queremos que os nossos sócios se sintam motivados a trazer de novo as famí-lias, porque essa visão familiar da cooperati-va perdeu-se um bocado”.

O clima de crise que hoje se vive, mais do que potenciador da angariação de asso-ciados, é visto por Paulo Jorge Teixeira como “potenciador de novas formas de relaciona-mento social entre as pessoas”.

E quanto ao aumento do número de só-cios, o novo presidente é muito pragmático: “Novos sócios só virão se a Cooperativa fi-zer coisas e lhes for útil. Hoje tem-se uma visão muito utilitarista e as pessoas que fun-daram esta casa viviam em tempos em que a cooperação entre as pessoas e o sentido de comunidade eram muito grandes e sen-tido por todos os estratos sociais, algo que nada tem que ver com o que se vive hoje, em que as pessoas não se identificam, nem têm vectores comuns. E a Cooperativa tem que ser um vector comum que lhes diga algo na sua vida”.

Centro de dia em dois anosSem deixar de referir que “esta é prova-

velmente a única instituição da cidade que nunca foi apoiada em 112 anos de história”, Paulo Jorge Teixeira deixa ainda alguns dos projectos que a Cooperativa do Povo Portuense pretende implementar.

“Também fruto da média etária, vamos pensar em diferentes serviços e cuidados a prestar aos nossos associados”, susten-ta, referindo que parte dessa acção deverá passar pela interacção com outras organi-zações, como o “plano pensado com uma associação de jovens no sentido de criar uma linha de solidão”. Outros projectos li-gados à Terceira Idade e à Infância estão também em mente, porque “o Estado não pode e não deve fazer tudo e não irá, de certeza, fazer tudo, pelo que temos projec-tos, como o de um Centro de Dia dentro de dois anos”.

Outro aspecto importante é a formação das pessoas mais velhas, para que “possam aprender novas valências, conhecer a sua cidade, etc…”.

Sita no cruzamento entre as ruas de Camões e do Paraíso, a sede é um edifício emblemático, que há muitos anos alberga a companhia de teatro Seiva Trupe, à qual está ainda arrendado a pequena sala de espectáculos, que hoje não é utilizada. Mas muitas outras entidades por ali estão ou pas-saram, constituindo-se a sede, ao longo de décadas, como casa comum de muitas as-sociações e colectividades.

Pedro VasCo oliVeira (texto e fotos)

Page 9: Jornal Solidariedade - Janeiro 2013

Janeiro 2013

9

IPSS em notícia

A Fundação “O Século» serve mais de 450 refeições diárias a pessoas ca-renciadas no concelho de Cascais, mais uma centena por dia que no ano pas-sado, revelou hoje o presidente da en-tidade, Emanuel Martins. O responsável indicou que em dezembro a Fundação “O Século” assinou um protocolo com a Segurança Social para fornecer mais 80 refeições diárias a pessoas carencia-das. “Devido à crise a carência aumen-tou, há mais pessoas desempregadas e sem possibilidade de pagar alimentos. Este protocolo dá hipótese às pessoas desfavorecidas de levarem as refeições para casa ou de as comerem no nosso refeitório”, indicou Emanuel Martins.

A Fundação “O Século”, com estatuto de Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS), foi instituída em 1998 para prosseguir a obra social do jornal “O

Século”, iniciada em 1927, com a criação de uma Colónia Balnear Infantil.

As colónias de férias para crianças carenciadas continuam a funcionar, mas de acordo com o presidente, a Fundação tem várias valências de apoio

social a carenciados. O fornecimento de refeições é feito a idosos, a crianças, e a pessoas desfavorecidas que façam prova da sua situação aos serviços da entidade.

Emanuel Martins indicou que em

2011 foram distribuídas 33.206 refei-ções só a idosos: “Há muitos que se não lhes for levada a refeição não têm nada para comer”, apontou. As 80 refeições fornecidas na cantina da sede, em São Pedro do Estoril, resultam de um proto-colo assinado com a Segurança Social, ao abrigo do Programa de Emergência Alimentar (cantinas sociais). “Se for ne-cessário ainda é possível alargar esse fornecimento de refeições na nossa can-tina. Neste momento há uma situação de carência muito grande em Portugal”, alertou o presidente da entidade.

A Fundação “O Século” possui pro-tocolos semelhantes com outras entida-des, entre elas a Câmara Municipal de Cascais e a Misericórdia de Cascais, no âmbito dos quais fornece ainda 120 refeições diárias ao domicílio de idosos em situação de carência.

FUNDAÇÃO “O SÉCULO”

Mais de 450 refeições diárias a pessoas carenciadas

Page 10: Jornal Solidariedade - Janeiro 2013

10Actualidade

PRÉMIO DIREITOS HUMANOS 2012

Cáritas quer juntar “exércitos” para combater pobrezaA Cáritas Portuguesa recebeu, no dia 10

de Dezembro, o Prémio Direitos Humanos 2012, por decisão da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias da Assembleia da República. No seu discurso, o presidente da Cáritas disse aceitar o prémio em nome do grande “exér-cito” que todos os dias trabalham localmen-te nos muitos grupos de acção social, tendo deixado um apelo para a congregação de esforços por parte de todos os que estão en-volvidos no combate à pobreza. Eugénio Fonseca, destacou a necessidade de defender e promover a justiça social no país. “A Cáritas acolhe este prémio como sinal de reconhecimento pelo tra-balho de animação de diversos organis-mos eclesiais presentes na operativi-dade dos Direitos Humanos, sobretudo na salvaguarda concreta de direitos so-ciais”, disse Eugénio Fonseca, no discur-so que proferiu após aceitar o galardão.

O presidente da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, que promoveu a cerimónia, apresentou a organização católica de so-lidariedade como uma “instituição com

inquebrantável e reconhecida activida-de na defesa da dignidade do ser huma-no”. Fernando Negrão elogiou o papel de “denúncia audível da pobreza e exclusão social e de combate feroz ao estigma da emergente pobreza envergonhada e invisí-vel” da Cáritas, “colocando as pessoas no núcleo de todas as suas acções” e não “bus-cando o reconhecimento fácil, imediato ou mediático”.

Eugénio Fonseca apelou à superação da dicotomia entre “caridade e justiça, as-sistência e direitos, acção pontual e desen-volvimento económico-social”. Segundo o líder da Cáritas Portuguesa, estas oposi-ções “muito difundidas” têm tido como efei-to “prejudicar a acção social integral”. Este responsável alertou para os “crescentes focos de instabilidade” em todo o mundo e a “insegurança geral sobre o futuro”, sem deixar uma mensagem de esperança para “alimentar o sonho de felicidade que existe em cada português”.

Eugénio Fonseca concluiu a sua inter-venção com um “compromisso e um apelo”, para que as entidades envolvidas no com-bate à pobreza, “violentamente agravada

na hora que passa”, congreguem os seus esforços. “Mediante esta cooperação, te-remos sempre presentes as situações de pobreza e exclusão, transmitidas direc-tamente por quem as vive no dia a dia”, precisou, antes de pedir aos membros do Parlamento a criação de leis que “superem as escandalosas desigualdades existentes e combatam outras injustiças sociais”.

O Prémio Direitos Humanos 2012 foi atribuído à Cáritas Portuguesa pela sua in-tervenção de “resposta sempre presente

aos pedidos de assistência dos cidadãos que não têm possibilidades de garantir as suas necessidades básicas”, em especial na presente situação de “emergência social”.

Antes da Cáritas, em 2011, foi a CNIS – Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade – que foi distinguida com o Prémio Direitos Humanos, atribuído pela sua intervenção no apoio, defesa, congre-gação e representação das Instituições Particulares de Solidariedade Social em Portugal.

Page 11: Jornal Solidariedade - Janeiro 2013

Janeiro 2013

11Actualidade

2013

Um ano para fazer muito mais com muito menos O ano 2013 será de grandes desafios

para o sector social, com os seus represen-tantes a temerem que continue a onda de austeridade, se agravem as condições de pobreza e a capacidade de resposta das ins-tituições fique ameaçada.

O presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade, assume que as perspectivas “não são nada animado-ras”. O padre Lino Maia considera que o povo chegou ao limite da capacidade de aguentar mais austeridade e anseia que 2013 traga sinais de esperança, de que todos os sacrifí-cios já feitos hão-de valer a pena. A pobreza e a exclusão são alguns dos efeitos destas “políticas de máquina de calcular, preocupa-dos com números em vez de pessoas”. O presidente da CNIS afirma que “são precisos sinais de esperança que impeçam os cida-dãos de concluírem que já nada interessa, que já nada têm a perder, que já não vale a pena.” O líder da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade dá algumas su-gestões: “Espero que haja um estancar do aumento da pobreza e, para isso, devia in-vestir-se mais na economia e na criação de postos de trabalho, com serviços

de proximidade, particularmente nas zo-nas mais deprimidas no interior”. Lino Maia refere ainda que deviam ser aproveitados equipamentos que estão devolutos nestas zonas para instalar serviços de proximidade, o que geraria mais emprego e “uma maior es-perança para as populações”.

Lino Maia está também preocupado com as IPSS que nos tempos de crise sentem que a sua natureza e existência ficam mais evidentes e justificadas, com um exponen-cial aumento das solicitações de respostas sociais, mas que, por outro lado estão mais frágeis e também elas feridas gravemente na sua capacidade de cuidar dos mais frágeis. “São tempos estranhos, estes, em que as ins-tituições sentem o reconhecimento pelo seu trabalho, mas têm que fazer muito mais com muito menos. Este é o mote para 2013. E va-mos conseguir.”

Em editorial publicado nesta edição, o pre-sidente da CNIS aborda o Estado Social, um dos temas de fundo que vai atravessar todo o ano de 2013. “Ao Estado compete assegurar os direitos sociais e a existência de serviços que os ministrem, conhecendo, reconhecen-do e apoiando quem os promove e quem os serve, coordenando os seus promotores, regulando, estabelecendo metas a atingir e suprindo quando necessário. Se o Estado não servir para promover uma melhor justiça social e um futuro melhor e mais harmonioso para todos, não serve para nada”. Lino Maia conclui que é preciso salvar o Estado Social.

o ano da solidariedadeApós um ano marcado pelo “aumento

crescente das situações de carência” e pela “falta de esperança em melhores dias”, o pre-sidente da Cáritas receia que 2013 “confirme as agruras sentidas em 2012, mas ainda pior”. Eugénio Fonseca considera “preocupante” o desânimo dos portugueses: “se estivessem a fazer os sacrifícios tendo uma meta como limite, mas a questão é que ninguém sabe quando vão terminar, porque cada vez estão a ser pedidos mais e novos sacrifícios”. “O que eu temo para 2013 é que não pare esta onda de austeridade e tudo indica [segundo o Orçamento do Estado] que tal aconteça”.

Eugénio Fonseca alerta para o facto de muitas organizações de solidariedade já não terem capacidade para responder aos “inú-meros pedidos”, uma situação que poderá agravar-se com as medidas orçamentais: “Há bens de consumo que vão aumentar, há re-flexos nos salários dos colaboradores, o que vai incidir na vida das instituições”. Lembrou ainda que há instituições que vivem exclu-sivamente da solidariedade das pessoas, que receia que venha a enfraquecer devido às dificuldades que todos os portugueses atravessam.

Para a pre-sidente da Fede ração Portuguesa de Bancos Alimentares contra a Fome, Isabel Jonet, 2013 será “um grande desafio para as ins-t i tu ições” , que terão de ser “ a i n d a mais efi-cazes , porque vão ter m e n o s r e c u r -sos e m a i s p e d i -dos”, re-sultantes do aumento do desemprego e do endivi-da-

mento das famílias. “As instituições vão ter que continuar a acolher as crianças nas cre-ches, mesmo que as famílias não tenham

capacidade de pagar as mensalidades”, disse Isabel Jonet. Apesar de considerar que será “um ano especialmente difí-cil”, está convicta de que “as instituições estarão

à medida de correspon-der àquilo que é necessá-

rio”. “Serão a maior almofada de segurança para atender às

situações de maior carência”, sustenta, acrescentan-

do: “Além de uma

ajuda real, levam uma componente afectiva e de esperança, que é fundamental neste momento”.

Já o presidente da União das Misericórdias Portuguesas afirma que “o que

está em cima da mesa para 2013 é o agudizar da situa-ção” da pobreza. “Vamos assistir a um aumento gene-ralizado da pobreza”, refere Manuel Lemos, desejando

que não haja convulsões so-ciais, já que “não é bom para

ninguém”. Na área do desen-volvimento económico,

espera que o Governo seja capaz de “inverter

a tendência depressi-va” em que Portugal vai de “passo em passo”. “Parece que não há vida para além do défice, mas há”, sublinha Manuel Lemos, receando que a capacidade de res-

posta das instituições fique ameaçada se a si-

tuação se agudizar: “Somos capazes de responder, mas

ficamos completamente esticados”.

Page 12: Jornal Solidariedade - Janeiro 2013

12Grande Entrevista

MANUEL DE LEMOS, PRESIDENTE DA UNIÃO DAS MISERICÓRDIAS PORTUGUESAS

Misericórdias revêem-se na UMP para cumprirem a sua missão

Manuel Augusto Lopes de Lemos tem 63 anos, é natural do Porto e é licenciado em direito. Foi Deputado, Presidente da Administração Regional de Saúde do Porto, chefe de gabinete da Ministra da Saúde, Leonor Beleza, Comissário Regional do Norte da Luta Contra a Pobreza, Vice-Presidente do Comité “Poverty Alleviation” das Nações Unidas, representante de Portugal no Comité Para os Assuntos Sociais da União Europeia. Desempenhou muitas funções em Instituições do Sector Social, como, por exemplo, Vice-Provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto, Presidente da Comissão de Saúde da União das Misericórdias Portuguesas e Presidente do Grupo Misericórdias Saúde, entre muitas outras.

Manuel de Lemos foi eleito pela primeira vez presidente da União das Misericórdias Portuguesas em Novembro de 2006, suce-dendo ao padre Vítor Melícias, que cumpriu 15 anos à frente da Instituição. Manuel de Lemos é o terceiro presidente. Garante, nesta grande entrevista ao Solidariedade, que é o último mandato na UMP.

SOLIDARIEDADE – Foi eleito para o terceiro mandato à frente da União das Misericórdias com a maior votação de sempre, apesar de não ter oposição eleitoral. É um reconhecimento do seu trabalho?

MANUEL DE LEMOS – Eu leio isso de duas formas. Uma, de facto, como o reco-nhecimento do meu trabalho, da minha dedicação a esta causa, mas também a consciência de que o sector social tem, e as Misericórdias em particular, de que este é um momento de união e, juntos, conse-guiremos fazer muita coisa pelos portugue-ses, cumprindo a nossa missão. A União é, neste momento, um instrumento em que as Misericórdias se revêem para cumprir a sua missão.

Escolhia esse como o principal ob-jectivo cumprido no conjunto dos seus mandatos?

A União tem perto de 40 anos e teve três presidentes, dois que fizeram dois ciclos de trinta anos e eu vou para o terceiro manda-to, fazendo nove anos de liderança. O pri-meiro foi um mandato de sobrevivência. No pós-25 de Abril, como muitas vezes já tinha acontecido na história, criou-se a ideia de

que as Misericórdias tinham cumprido a sua missão e eram para arrumar no baú e fe-char. A equipa que fundou a União, e agre-gou as Misericórdias à sua volta, sobrevi-veu, cumpriu o seu objectivo. Seguiram-se os quinze anos do padre Vítor Melícias, em que foi feita a afirmação das Misericórdias, dando-lhes uma identidade e uma natureza. Isto é, uma alma. Se o trabalho do padre Vítor Melícias foi arranjar uma alma, o meu foi dar-lhe um corpo onde pudesse viver. Era mais prosaico, mas necessário. É isso que eu tenho feito.

Um corpo que tem recuperado algum do fulgor perdido…

Verifiquei que as Misericórdias tinham crescido muito. Fenómenos vários que têm que ver com o acesso das pessoas à Educação, à Saúde, à Segurança Social, às políticas sociais do Estado, a circunstância do Estado ter optado, na área da coopera-ção, pela fórmula do menos Estado, melhor Estado, recorrendo progressivamente ao sector social, fez as Misericórdias cresce-rem muito. A tradição da dedicação, boa-vontade, ternura, caridade, era importan-te preservar, mas já não chegava. O lado profissional da gestão, da sustentabilidade, quando as Misericórdias passaram também a ser agentes de desenvolvimento local, sendo nos concelhos médios e pequenos o primeiro, segundo ou terceiro maior em-pregador, criou outras responsabilidades que vão para além da missão tradicional. Paralelamente, o Estado fez um movimento contrário, de centralização. O que era sus-ceptível de se resolver no distrito, com o governador civil, com o deputado, com o di-rector da segurança social, o presidente da ARS, deixou de acontecer. A centralização do Estado afastou os provedores dos cen-tros de poder, que se transferiu para Lisboa. O aumento de questões à volta da União, nestes últimos seis anos tornou-se muito maior porque passaram a ser resolvidas nos gabinetes da capital e não nos locais.

Foi por isso que veio para Lisboa?Eu não vim para Lisboa por causa da

União das Misericórdias, mas por causa da minha vida pessoal e profissional. Quando passei a ser presidente achei que dava jeito viver em Lisboa. Temos que estar o centro do furacão. Com a estrutura que nós demos à União das Misericórdias não é possível

vir aqui como quem vai à pesca. É preciso estar aqui.

Quanto do seu tempo dedica à União das Misericórdias?

Todo, e claramente não chega. A figu-ra do presidente dissolveu-se na União. Nestes últimos seis anos deixou de ser uma figura carismática e emblemática como nor-malmente era. A minha ideia foi empurrar as Misericórdias como um todo e a União como a face desse todo. Não interessa o Manuel de Lemos o que importa são as Misericórdias de Portugal. E depois de mim

é importante que esse movimento continue. O nosso rigor, a nossa gestão, a nossa competência a nossa presença constante nas coisas tem levado o Estado a acreditar no que nós fazemos e como nós fazemos, o que nos transforma num interlocutor cada vez mais claro no desenvolvimento das po-líticas sociais.

Este é último mandato?Sim, garanto-lhe que sim. Quando che-

guei à liderança da União propus-me fazer dois mandatos e eventualmente um tercei-ro. Num momento muito grave do nosso

Page 13: Jornal Solidariedade - Janeiro 2013

Janeiro 2013

13

Grande Entrevistapaís, com a minha experiência e conheci-mento, e o apelo de muitíssimos provedo-res, eu traía-me a mim mesmo se me tives-se ido agora embora. Mas a renovação é positiva e, por isso, quero preparar a minha saída. Este é o último mandato.

Há pouco dizia que a sua função é dar corpo à alma das Misericórdias… Os projectos ligados à área da Saúde são o esqueleto, a parte mais importante?

Não. É o conjunto. Nós organizámos a União. Criámos serviços jurídicos, serviços de documentação, serviços de imagem, de comunicação, criámos um departamen-to de acção social, construímos o grupo Misericórdias Saúde e, ao mesmo tempo, a presença e a competência das nossas intervenções, na recuperação do patrimó-nio, na rede dos museus, na formação onde fizemos milhões de horas, na certi-ficação de lares, de creches, de hospitais, de unidades de cuidados continuados. Fizemos qualidade, formação na área da gestão, criámos até um departamento de lazer, entendendo que os novos tempos podiam deixar mais tempo livre às pes-soas… Tudo isto fizemos para dar corpo às Misericórdias, evitando erros do passa-do, que levaram a fazer, por exemplo, cre-ches em terras onde não havia crianças…Tentámos criar parcerias. A União é como um cimento que liga tudo isto. O Estado entretanto começou a entregar-nos coisas. Fala-se muito na devolução dos hospitais. Porquê? O Estado pensa: aquele parceiro serve-me. Tem uma natureza para-públi-ca, é privado mas não lucrativo, integra o sector social, com uma natureza diferente. As comunidades gostam de nós. A nossa presença é muito forte.

Parece-me que consigo na presidên-cia da UMP há um reforço da presença das Misericórdias na área da Saúde…

Já há bastante tempo que se sabia que com o aumento da esperança de vida, com as taxas de envelhecimento era asneira se-parar o que é Segurança Social e Saúde. Costumo dizer que nada adianta ter razão antes do tempo. Estamos a chegar ao mo-mento em que se está a perceber isso. Em 2030 Portugal vai ter 32 por cento de pes-soas com mais de 65 anos. Vai aumentar muito o número de pessoas com mais de 75 e 80 anos e, sobretudo, o número de pes-soas dependentes. Quando trabalhei com a ministra Leonor Beleza, cerca de 15 por cento dos gastos do ministério eram com os idosos crónicos. Hoje esse número deve andar nos 70 por cento, a passar. Ora, to-mando nós, Misericórdias, conta dos mais velhos era inevitável que fôssemos parar à Saúde. Ainda estamos a dar os primeiros passos. Veja por exemplo as demências. O país continua de costas voltadas para esse problema quando temos cerca de 150 mil

pessoas com Alzheimer. Ainda temos isso debaixo do tapete. O fenómeno do envelhe-cimento ainda não foi encarado devidamen-te. Como estive em tempos ligado à Saúde, para mim foi uma vantagem. Sempre aca-rinhei a necessidade das Misericórdias es-tarem ligadas à Saúde. Estivemos desde a origem na criação da Rede de Cuidados Continuados, acarinho muito os hospitais de proximidade, porque sei que as novas tecnologias recomendam a centralização, mas também permitem numa série de cirur-gias e serviços clínicos, a localização e a proximidade. Quando eu advogo a devolu-ção dos hospitais não é para fazer coisas complexas é para coisas simples.

Que objectivos tem para este mandato?

Continuar a ajudar as Misericórdias a aguentarem-se, a servir o país e os por-tugueses. A palavra de ordem em 2013 vai ser aguentar. Pode ser que 2014 seja um pouco melhor e depois em 2015 vere-mos… Nós vivemos uma situação social muito complexa, temos uma taxa de de-semprego altíssima que poderá agravar-se; nós trabalhamos em contraciclo, abrin-do as cantinas para dar de comer ainda a mais gente, temos muitas pessoas em dificuldades e temos que as atender bem, os idosos, as crianças, os deficientes. Na maneira como foi concebida a cooperação, tendo em conta um financiamento triparti-do (Estado, utentes, Instituições) e um mo-delo de desenvolvimento razoável, muitas instituições estão em dificuldades porque as famílias estão exauridas, estão no osso. Vamos ter que repensar a nossa função.

De acordo com as políticas actuais de cooperação, afirmou recentemente que enquanto houver Misericórdias não

haverá fome em Portugal…Digo isso como um todo. Enquanto

houver Misericórdias e IPSS não haverá fome em Portugal. Haverá sempre famí-lias que passam fome ou situações mais dramáticas. Neste momento digo que há gente que não come porque está fora do sistema. Já estava antes. O que eu disse ao governo é que não era preciso construir mais nenhum equipamento. Temos muitas cantinas a funcionar, que podem fazer ci-clos, temos os lares, centros de dia, onde se cozinha, que podem ser reforçados. O Estado arranjou uma verba para isso e ainda há cantinas sociais que estão abaixo da capacidade. Isso é cooperação. Falar de fome é um exagero. Falar de casos de fome é outra coisa. São pessoas que estão fora do sistema.

Os tempos que correm justificam a refundação do Estado Social?

Claro que sim. Os idosos são cada vez mais, com períodos de reforma quase tão grandes como os períodos contributivos. Os nascimentos são cada vez menos. Não há substituição de gerações. Os que po-diam contribuir estão a ser convidados a emigrar, vão-se embora. Não temos quem pague e temos cada vez mais quem rece-ba e durante mais tempo. É insustentável. Temos que encontrar solução e refundar o Estado Social.

Mas a refundação só se justifica pela questão financeira?

O Estado é empurrado para isso por causa da situação financeira, não é uma opção ideológica. Qualquer que fosse o governo teria que pensar na reformula-ção das funções do Estado. Há grupos e partidos que têm um pressuposto ideoló-gico inultrapassável, defendendo a Saúde

e a Educação públicas a todo o custo. O sector social tem um potencial brutal e o futuro é de cooperação. Estou a falar das Misericórdias, mas também das coopera-tivas, das IPSS, das ONG’s, etc. Como se justifica que o Estado continue a fazer funções, nas políticas sociais, que o sec-tor social consegue fazer melhor e mais barato?

Tem havido uma grande sintonia en-tre a UMP e a CNIS…

A visibilidade do sector social foi um trabalho que eu e o padre Lino Maia, presi-dente da CNIS, fizemos ao longo destes úl-timos anos. Fomos eleitos para as nossas organizações na mesma altura e temos uma grande estima recíproca. Sentimos muito a necessidade de trabalharmos em conjunto e de nos afirmarmos junto dos diferentes governos. Essa aproximação entre a CNIS e a União das Misericórdias era defendida por ambos. Hoje somos ver-dadeiros parceiros e não existe nenhuma acrimónia entre as duas organizações, bem como, o clima entre as Misericórdias e as IPSS é cada vez mais de colaboração. E esse é o futuro. Vamos ter que trabalhar em conjunto, dar as mãos. Não somos al-ternativa somos complementares.

Há mesmo quem diga, criticando, que vocês influenciam grande parte da política da área social…

Não. Quem define as políticas são os políticos. Agora, eles perceberam que era importante ouvirem-nos. Já com o anterior governo estava a ser assim. Estamos num processo de viragem, as coisas estão mais maduras. O governo tem um problema entre mãos e tem que o resolver. Os políticos per-ceberam que têm na área social parceiros que são sérios, competentes e cooperantes. Só dignifica quem procede dessa forma.

Desse ponto de vista, os dois úl-timos Protocolos de Cooperação são bons exemplos dessa relação?

São a imagem possível. Todas as ins-tituições sociais estão com dificuldades, mas não foi possível ir mais além, como gostaríamos. O que se fez, por exemplo, por sugestão da CNIS, que nós agarrámos, porque também temos esse problema, com a questão das crianças em risco é um bom exemplo. Aumentou-se consideravel-mente a comparticipação. E, no próximo, temos que aumentar ainda mais do que o acordo global e fazer o mesmo em relação aos deficientes profundos, cuja comparti-cipação estatal está muito aquém dos va-lores reais. Tudo isso é a consciência de uma realidade. A União das Misericórdias, e julgo que também a CNIS, revê-se nes-tes acordos possíveis.

V. m. Pinto (texto e fotos)

Page 14: Jornal Solidariedade - Janeiro 2013

14Opinião

António José da Silva

A estratégia do orgulho patriótico

Padre José [email protected]

Da ganância à partilha: um desafio à EuropaA Coreia do Norte acaba de lançar, desta vez com êxito, o seu tão ambicionado satélite,

conseguindo esse objectivo com um foguetão de longo alcance, que parece ter funcionado na perfeição. Muitos países, nomeadamente a Coreia do Sul, o Japão e os Estados Unidos,

regiram mal a esta notícia, convencidos de que este êxito científico e militar constitui um passo importante para a afirmação e consolidação do regime estalinista que controla o

país desde a chegada ao poder da dinastia dos Kim: Kim Il Sung, Kim Jung Il e Kim Jung Un. Mais ainda, temem que este êxito funcione como etapa decisiva no caminho do seu

projecto nuclear.A gigantesca praça de Pyongyang, a capital norte-coreana, encheu-se de uma multidão tão

entusiasmada como disciplinada, para louvar os seus líderes por mais esta conquista. À frente desta imensa multidão lá estavam os militares, pilares do regime, garbosos e absolu-tamente irrepreensíveis, numa espécie de liturgia inúmeras vezes repetida, e cuja grandio-

sidade pretende demonstrar a felicidade do povo e garantir a sua fidelidade.Apesar da conquista militar e científica que representa o lançamento de um satélite

transportado por um foguetão próprio, a Coreia do Norte continua a ter um nível de vida extremamente baixo. É verdade que o período mais duro da fome que atingiu a sua popu-

lação há alguns anos atrás, já foi ultrapassado, mercê das ajudas que chegaram de muitos países, entre os quais os Estados Unidos, mas a situação alimentar continua problemática.

Seja como for, a História ensina que, na maior parte dos casos, é possível controlar as reacções negativas de um povo, através da manipulação do seu espírito patriótico. O orgu-

lho pelas “conquistas” de um país, sejam elas de que tipo forem, faz esquecer os proble-mas e as dificuldades por que passam os seus cidadãos, sobretudo quando estes vivem

fechados ao mundo exterior, como é o caso da Coreia do Norte.O facto é que o povo deste país continua a participar, aparentemente com grande entusias-

mo, nas grandes manifestações de louvor aos seus líderes. Foi assim no tempo de Kim Il Sung e foi assim no tempo do seu filho Kim Jong Il, e o mesmo se passa com o neto, Kim Jong Un. Os três são heróis de uma dinastia que promete resistir à passagem dos anos,

agora com a ajuda de um foguetão e de um satélite…

Muita gente se interrogou

sobre o “porquê” da atribui-ção do “nobel da paz” à União

Europeia no ano que agora findou. Num tempo em que a linguagem atrevida e provocadora de alguns políticos da nossa praça nos quer habituar a valorizar mais

a nossa condição de contribuintes fiscais do que a identidade de cidadãos com direitos e deveres, é tempo de dizer: NÃO!

A quem nos vier apelar para nos “oferecermos” como cidadãos mansos e bons soldados disponíveis para nos deixarmos mobilizar para conter a rebelião de

dezenas de milhões de europeus que, graças a uma globalização da riqueza que se foi acumulando nos cofres de alguns, se estão a ver atirados para o desempre-

go e uma imensa pobreza e desamparo social, diante da completa e vergonhosa INDIFERENÇA de países que nos admitiram no clube da União Europeia en-

quanto lhes fomos úteis para alargar os seus mercados de venda…respondamos: NÃO!

Neste contexto, faz sentido interpretar a atribuição do “nobel da paz” à União Europeia como uma “interpelação ao sentido humanista e social” dos líderes euro-peus a quem cabe a responsabilidade de prevenir, enquanto é tempo, uma desu-nião de países e povos que se estão a ver defraudados com o projecto europeu!Os insaciáveis mercados financeiros, ao serviço das bolsas da especulação que

lavam dinheiro de quem trabalha e produz para o “sujar” e desviar para contas bancárias de “paraísos fiscais”, não podem continuar a matar empregos de quem quer trabalhar e não consegue e a roubar reformas de milhões de cidadãos que, após uma vida inteira de descontos, se estão a ver espoliados dos seus direitos

para pagarem despesas de Estados comandados por gananciosos interesses económicos, em nome de um interesse que se afirma como desígnio nacional, a

saber: o “equilíbrio das contas públicas”!Que o “nobel da paz”, concedido à União Europeia, ajude os líderes europeus a

saber ouvir e temer o “grito de revolta social” que pode comprometer um projecto que se anunciou como um “projecto de paz e solidariedade entre povos”, mas se

está a revelar cada vez mais como um “projecto gerador de desigualdades sociais e de empobrecimento de pessoas e empresas”!

Page 15: Jornal Solidariedade - Janeiro 2013

Janeiro 2013

15Opinião

Henrique RodriguesPresidente

do Centro Social de Ermesinde

Les Bons Esprits1 - Tenho com a Constituição da República

uma forte ligação afectiva.Respeito-a e procuro cumpri-la, natural-

mente, como qualquer cidadão – mas é mais do que isso: trata-se mesmo de uma relação sentimental.

Tive o privilégio de assistir a várias ses-sões da Assembleia Constituinte e aos deba-tes parlamentares sobre a nossa Constituição no seu conturbado processo de nascimento – in loco.

O meu sogro foi deputado à Assembleia Constituinte, pelo círculo do Porto, e levou-me várias vezes a Lisboa, nesses tempos de bra-sa, a assistir às sessões.

(Só havia auto-estrada do Porto aos Carvalhos e de Lisboa a Vila Franca de Xira, a viagem até à capital demorava 6 horas …)

A evolução dos trabalhos da Assembleia e os episódios relativos ao lento e sempre ameaçado processo de elaboração da Lei fundadora do Regime constituía também o tema central da conversa do almoço familiar, aos domingos.

Acompanhei, deste modo, de uma forma tão próxima quanto as circunstâncias o permi-tiam, o processo de construção dos alicerces constitucionais da nossa democracia.

Eu tinha 23 anos; e a esperança – aos 23 anos têm-se todas as esperanças – de que a alegria desses tempos inaugurais do regime democrático iria marcar o futuro para sempre.

Não foi assim que sucedeu … Mas tam-bém não há que estranhar, já que só muito ra-ramente a realidade se acomoda aos nossos projectos e sonhos.

No entanto, a Constituição, embora su-jeita a várias alterações que, ao longo dos últimos 35 anos, foram modificando profunda-mente o seu texto e os seus valores, manteve sempre os traços essenciais que definem, por um lado, uma democracia liberal de modelo ocidental; e que, por outro lado, a enriquecem com uma fortíssima preocupação social.

Ainda hoje ela regula, como pode, segun-do os princípios democráticos, a nossa vida colectiva.

“A Constituição não está suspensa”, como referiu, com imprevista assertividade, o Presidente da República, numa entrevista ao “Expresso” do último fim-de-semana, a propó-sito do envio da Lei do Orçamento de Estado para o Tribunal Constitucional.

(Não era assim na ditadura de Salazar e Caetano, em que o artº 8º da Constituição de 1933 garantia aos portugueses liberdade de expressão, fazendo de conta de que se tra-tava de uma democracia; direito que, todavia, leis especiais desde sempre suspendiam.

Então, os direitos constitucionais esta-vam, na verdade, suspensos, e estiveram-no durante 40 anos.

Mas era uma ditadura!) Cavaco Silva, que é meticuloso, sabia

para quem falava, quando assegurou que a Constituição se não encontra suspensa.

Há, na verdade, muito quem por aí de-fenda que existe um direito de crise – e que estamos sob o seu império, como se o Memorando de Entendimento, a troyka e o regime de protectorado internacional em que nos encontramos pudessem pôr como que entre parêntesis a Constituição, comprimindo os direitos e as liberdades.

2 – A afirmação presidencial da plena vi-gência da Constituição nos dias de hoje veio a propósito do processo de fiscalização da con-formidade à Lei Fundamental do Orçamento de Estado para 2013, operação a cargo do Tribunal Constitucional, a pedido do mesmo Presidente da República.

O exercício dessa competência foi mal recebido pela maioria que suporta o Governo.

Mas sem razão.Os Estados democráticos caracterizam-

se, entre outros aspectos, pelo princípio da separação dos poderes, o que significa que cada poder do Estado – o poder legislativo, o poder executivo, o poder judicial e o poder

moderador, quando o haja – dispõe de com-petências distintas e limitadas, cabendo aos vários poderes entre si controlarem o exercí-cio das competências dos outros.

Trata-se de um sistema de pesos e contra-pesos, de freios e de balanceamentos, que nasce desta ideia simples, mas verdadeira: quem exerce poderes de autoridade tem a natural tendência para exorbitar dos poderes que lhe estão atribuídos, para ignorar os seus próprios limites – e tal representa uma amea-ça efectiva para a liberdade e os direitos dos cidadãos.

As sociedades políticas deverão, portanto, organizar-se de forma a limitar os poderes de quem manda – e, em primeiro lugar, de quem governa, pois é no exercício do poder execu-tivo que a tendência para o excesso e para o arbítrio historicamente mais se manifesta.

O Tribunal Constitucional tem também esta importante função: a de impedir a vigên-cia das leis – quer decretos-lei do Governo, quer leis da Assembleia da República – que violem os princípios constitucionais ou os di-reitos, liberdades e garantias dos cidadãos, assim limitando e travando as pulsões mais fundamentalistas do poder executivo.

Se for esse o caso do Orçamento de Estado para 2013, e o Tribunal entender que ofende a Constituição, devolve-o à procedência.

Não há outro caminho.

3 – Não se trata de uma idiossincrasia da nossa Constituição, a previsão da existência de uma instância judicial de julgamento da constitucionalidade dos diplomas e, nessa

medida, de controlo da legalidade da acção governativa.

Todos estarão lembrados que, há cerca de dois meses, as instâncias da União Europeia se encontravam aflitas, à espera do veredicto do Tribunal Constitucional da Alemanha, que iria ou não autorizar o Governo de Ângela Merkl a entrar no fundo de auxílio à Grécia.

A própria definição do montante financeiro da ajuda à Grécia constituía competência do Tribunal Constitucional.

(Se até a chanceler alemã se curva, com modéstia e respeito, perante as decisões do seu próprio Tribunal Constitucional, a que propósito os discípulos lusos do novo Sol na Terra se abespinham com a mera hipótese de o nosso idêntico Tribunal lhes cortar as voltas?)

No mesmo sentido, na semana passa-da, a Comissão Constitucional francesa, que tem uma natureza idêntica a um Tribunal Constitucional, impediu François Hollande de manter o seu projecto de tributação em 75% das grandes fortunas – no que constituía uma das medidas mais emblemáticas do progra-ma de ajustamento francês.

Ninguém se lembrou, na Alemanha ou na França – como cá logo pretenderam alguns – de rever as Constituições, para remover essa maçada de haver quem possa impor limites a quem governa.

Para remover as forças de bloqueio, para recordar uma curiosa expressão de há 20 anos.

4 – Dentre as várias mensagens de Ano Novo que, nos últimos dias, nos entraram em casa, ainda prefiro a do Papa.

Alemão, conservador, não esteve com rodeios na análise das origens da crise que vivemos, que atribuiu ao nefasto papel do capitalismo financeiro internacional e à impie-dade das políticas económicas ultraliberais, lembrando a essencialidade da dignidade humana, o papel central do trabalho e do em-prego, a estabilidade da família e os direitos do homem como os principais valores a que apelar para a organização do mundo em que nos coube viver.

São mesmo estas, e assim indignadas e justas, as palavras do Papa.

Creio que o Congresso das Alternativas não se supunha em tão boa companhia.

Page 16: Jornal Solidariedade - Janeiro 2013

16IPSS em notícia

PROSALIS – PROJECTO DE SAÚDE EM LISBOA

Do combate à toxicodependência a uma vasta acção socialA PROSALIS é uma IPSS promotora

de saúde, no sentido de dar continuidade a todo o trabalho que tem vindo a desenvol-ver na área da inserção sócio-profissional de toxicodependentes, reclusos e popula-ções desfavorecidas, inicialmente apenas em Lisboa, mas que rapidamente se esten-deu ao País inteiro, especialmente no que toca a levar a sua acção aos diversos es-tabelecimentos prisionais espalhados pelo território nacional.

“A PROSALIS nasceu para ajudar no combate à toxicodependência, numa al-tura em que havia pouca resposta nessa área. Nasceu na Clínica Universitária do Hospital de Santa Maria e pretendia dar resposta ao tratamento. Nesse caso eram consultas para toxicodependentes”, come-ça por recordar Maria Helena Paes, funda-dora e presidente desde há 23 anos, tem-po de vida que a instituição conta.

Como, entretanto, o problema da to-xicodependência ganhou as próprias va-lências promovidas pelo Estado, como os CAT – Centros de Atendimento a Toxicodependentes, “a PROSALIS vi-rou-se mais para a parte da reinserção social”.

“Foi nessa altura que se tornou enti-dade formadora e começou a ministrar formação certificada, tendo concorrido a projectos transnacionais. Tivemos alguns parceiros que trabalhavam em contexto prisional. Pedimos à Direcção Nacional dos Serviços Prisionais uma parceria que nos foi concedida, num primeiro momento num trabalho fora das prisões e depois, noutro momento, demos formação em contexto prisional. Neste contexto introduzimos toda uma componente comportamental, que na altura não se usava, dinâmicas de grupo, dinâmica de partilha, desenvolvimento pessoal, etc.”, explica a presidente, acres-centando: “Começámos a trabalhar a nível nacional, com intervenção em 29 estabele-cimentos prisionais, sempre com parcerias com outras prisões de diversos pontos de Espanha, Bélgica e outros países, e ainda a desenvolver um trabalho com mães com filhos em contexto prisional”.

Para Maria Helena Paes, o propósito da instituição sempre esteve focado na prevenção, pelo que, entretanto, se consti-tuiu como associação de família.

“Preocupámo-nos sempre muito com o público com que trabalhamos, seja em contexto prisional, seja a população toxi-codependente… A nossa ideia foi sempre prevenir, cada vez mais cedo e em famí-lia, e foi nesse sentido que nos tornámos associação de família e organizámos o

primeiro congresso sobre o que falta em políticas de família”, explica.

Essa preocupação com a prevenção em contexto familiar, levou a instituição a criar um ATL, uma creche e um jardim-de-infância, a efectuar distribuição alimentar, a ministrar muita formação fora do contex-to prisional e ainda realizar diversos pro-jectos no âmbito da inclusão.

“Hoje, a PROSALIS é secretária do Comité para a Família das ONG da Organização das Nações Unidas e passou a ter sempre uma intervenção com uma visão mais global”, sustenta a presidente, adiantando: “Por outro lado, foram-nos surgindo situações e pedidos de ajuda de pessoas com alguma idade e aí surge a PROSALIS, que numa primeira fase não estava vocacionada para essa área, a in-tervir na área dos idosos. Com a diminui-ção da taxa de natalidade e o aumento da esperança de vida, passou também a ser uma das nossas preocupações e sentimos que também era nossa obrigação colabo-rarmos a esse nível. Começámos, então, a ministrar formação aos cuidadores formais e informais, que tinham uma necessidade de formação muito grande”.

formar CuidadoresÉ neste âmbito que surge a candidatu-

ra ao Prémio Manuel António da Mota, que foi escolhido para os 10 finalistas, tendo

recebido uma Menção Honrosa e os res-pectivos cinco mil euros de prémio.

“O que fizemos foi desenvolver conteú-dos programáticos específicos de forma-ção aos cuidadores formais e informais”, explica a presidente, que remete para Dora Pinto, responsável pela área de Formação da PROSALIS, uma explicação mais deta-lhada do projecto candidato: “Tem por base os cuidadores, as pessoas que estão a cui-dar de idosos, sejam cuidadores formais ou informais. A nossa experiência diz-nos que cuidar de idosos traz uma carga de stress e grande esforço físico e emocional pelo que é preciso cuidar de quem cuida. Esta formação tem uma componente para os cuidadores formais, portanto pessoas li-gadas ao contexto institucional, e que aca-ba por ser uma formação mais técnica… Estas pessoas já têm alguma formação, mas há sempre conhecimentos novos, ac-tualizações e novas doenças, pelo que é preciso investir na reciclagem. Por outro lado, também apostamos na formação dos cuidadores informais, pessoas que estão no mesmo contexto familiar do idoso e que precisam de uma rectaguarda e de alguns conhecimentos técnicos para que possam ajudar melhor o seu idoso”.

O projecto pretendia abarcar a forma-ção três centenas de cuidadores, mas a não vitória vai obrigar a redimensionar a sua aplicação prática.

“Inicialmente, o projecto pretendia abranger 300 cuidadores, mas agora terão que ser forçosamente menos”, argumenta Dora Pinto, ao que a presidente da institui-ção acrescenta: “Isto não invalida que se surgir algum projecto de financiamento não possamos concorrer, seja no Fundo Social Europeu, ou outro”.

PolítiCas Para a famíliaNuma primeira fase, a PROSALIS de-

dicava-se só à problemática da toxicode-pendência, ou seja à área da saúde, mas depois abriu-se à acção social e tornou-se associação de família.

“A PROSALIS está inserida na comu-nidade e sente os seus problemas… A pri-meira acção que fizemos foi o nosso pri-meiro congresso internacional subordinado ao tema estilos de vida e comportamentos aditivos, uma acção que mantemos até hoje, tendo realizado o último congresso no Parlamento, dedicado à questão da Emigração. Estando no terreno sentimos os problemas e como entidade formadora temos facilidade em debatê-los”, sustenta Maria Helena Paes, que sublinha: “Não queremos mudar o Mundo, mas quere-mos melhorá-lo, se possível… Queremos dar algum contributo para que as coisas evoluam de um modo positivo, tanto a ní-vel dos idosos, que estão inseridos numa família, que hoje estão confrontadas com

Page 17: Jornal Solidariedade - Janeiro 2013

Janeiro 2013

17IPSS em notícia

PRÉMIO

O reconhecimento aumenta a auto-estima

SOLIDARIEDADE - Para além do valor monetário, a menção honrosa DO Prémio Manuel António da Mota em que é que fortalece a PROSALIS?

Maria Helena Paes (MHP) – O nosso trabalho, no dia-a-dia, é muito árduo e a nossa auto-estima, por ve-zes, parece que anda pelas ruas da amargura, diria mes-mo que parece que estamos deitados… Só problemas

e problemas e, de repente, sermos nomeados para os 10 finalistas, o estarmos num lugar em que de algum modo somos reconhecidos, fez aumentar um pouco a nossa auto-estima. Não é que andemos aqui a lutar pelo reconhecimento, porque não é verdade, mas para uma instituição que atravessa dificuldades foi muito bom ser-mos distinguidos e dá-nos força para lutar mais e para continuar. Depois, criou-nos um pouco a esperança de que é possível, mesmo estando o País numa situação difícil. Ficámos extremamente agradecidos à Fundação Manuel António da Mota, não só pelo apoio financeiro, que para nós também é importante, mas, sobretudo, por terem organizado a cerimónia e fazerem este reconhe-cimento público das instituições que estão no terreno.

E é importante para a divulgação do trabalho que as instituições desenvolvem?

MHP – Sem dúvida, pois nós fazemos muito traba-lho que não é divulgado. Não vamos falar do que faze-mos ao nível dos idosos, porque normalmente fazemo-lo

por uma questão humanitária. E isso fica entre nós… E vir alguém de fora que reconhece isso é muito bom. Infelizmente, quando a PROSALIS nasceu fui a Bruxelas e lá disseram-me que a instituição nascera para a área da toxicodependência devia ficar sempre por essa área… Mas a vida dá muitas voltas e as necessidades estão em constante mutação. Nós procuramos estar onde fa-zemos falta. Habituámo-nos como entidade formadora a dar respostas e como temos tido muitos projectos trans-nacionais e vamos falando com colegas de toda a parte do Mundo e sentindo as dificuldades de outros países, sentimo-nos aptos a intervir. Recordo o que me disseram uma vez que para uma pessoa crescer internamente tem que crescer externamente também e é isso que temos procurado fazer. Ou seja, externamente, temos cultivado as boas relações com outros países. E como estamos integrados na União Europeia temos, forçosamente, que ter uma visão mais global das coisas. Por vezes, essa visão talvez nos dificulte o trabalho do dia-a-dia, porque vemos as coisas de outra perspectiva…

muitos problemas”.As questões da família são estruturan-

tes para os responsáveis da PROSALIS, de tal maneira que após dois congressos internacionais dedicados ao que falta em políticas de família, este ano de 2013 terá o terceiro capítulo.

Maria Helena Paes é mesmo bastante crítica perante a ausência de políticas para a família, destacando, por exemplo, a falta de políticas de natalidade em Portugal.

“Quando nos tornámos associação de família realizámos o nosso primeiro con-gresso para debater o que faltava em polí-ticas de família… Pelos papéis que desem-penhamos também a nível internacional, temos obrigação de seguir algumas direc-trizes da ONU… No nosso modesto enten-der, como as famílias estão a passar uma crise muito grande e por muitas dificulda-des, achamos que era o momento ideal para voltarmos a pegar nas Políticas para a Família e chamar a atenção para elas… Sabemos que é algo difícil, mas já temos diversas pessoas que querem colaborar, lutar por e dar voz às famílias e, neste mo-mento, isso é uma preocupação enorme”, explica a presidente da PROSALIS, acu-sando: “Há muitas situações menos justas que afectam as famílias, como o desem-prego, a baixa natalidade, a habitação e até o aumento das taxas moderadoras… E temos também que chamar a atenção para as questões da natalidade, o que é que está a ser feito em prol da natalida-de? Neste momento, tudo é feito contra o aumento da natalidade… Não se faz nada, pelo menos, que eu tenha conhecimento. Há países que têm o Ministério da Família,

desconheço que ele exista em Portugal”.Para a responsável da PROSALIS,

“neste momento, com a Troika e as preo-cupações de financiamento, as famílias estão a ser esquecidas e são elas que se-guram o País economicamente”, mas isso não pode fazer com que se deixe de olhar e de investir nas famílias, pelo que reforça: “Não queremos mudar o Mundo, mas que-remos chamar a atenção para as coisas que poderiam ser melhoradas e é nesse sentido que voltamos a pegar no tema das políticas de família”.

Quanto ao futuro, Maria Helena Paes não espera facilidades, mas também asse-gura quer a instituição não vai virar a cara às dificuldades: “Vem aí uma luta grande e a luta é para continuar em muitas fren-tes… Não se avizinham tempos fáceis e sentimos isso na pele com todos os cortes que as instituições sofrem… Por isso, te-mos que ver um dia de cada vez, porque se queremos pensar a longo prazo o futuro assusta-nos”.

A PROSALIS, associada da CNIS, integra alguns fóruns internacionais tais como: Comité para a Família das ONG na ONU (secretária); Membro do ICAA – International Council on Alcohol and Addictions (Conselho Internacional para o Álcool e Adicções); FPAT –Federação Portuguesa das Instituições Sociais Afectas à Prevenção da Toxicodependência (pre-sidência); Rede Europeia Anti-Pobreza; e EOEF – European Offenders Employment Forum (Fórum Europeu do Emprego Delinquentes).

Pedro VasCo oliVeira (texto e fotos)

Page 18: Jornal Solidariedade - Janeiro 2013

18Publicidade

Qualidade em Multiserviços e Soluções Individualizadas

TRIVALOR SGPS, S.A. - Av. Infante Santo, 21-A, 1350-177 Lisboa

Telef.: 21 042 00 55 / 21 042 08 08 - Fax: 21 418 82 70 / 21 042 94 88

www.trivalor.pt - email: [email protected]

RESTAURAÇÃO COLECTIVA • TICKETS DE SERVIÇOS • REPRESENTAÇÕES E LOGÍSTICA • RESTAURAÇÃO PÚBLICA E CATERING DE EVENTOS

LIMPEZA • SEGURANÇA HUMANA E ELECTRÓNICA • GESTÃO DOCUMENTAL

Page 19: Jornal Solidariedade - Janeiro 2013

Janeiro 2013

19

IPSS em NotíciaPRÉMIO MANUEL ANTÓNIO DA MOTA

Terceira edição premiou trabalho nas demênciasA Alzheimer Portugal venceu a tercei-

ra edição do Prémio Manuel António da Mota, tendo o júri escolhido esta asso-ciação “pelos projectos que desenvolve no âmbito da promoção do envelheci-mento activo e da solidariedade entre gerações”.

A cerimónia de entrega do Prémio decorreu no Palácio da Bolsa, no Porto, e contou com a presença do ministro da Solidariedade e da Segurança Social, Pedro Mota Soares, do chairman da Mota-Engil, António Mota, e do presiden-te da CNIS, padre Lino Maia, entre mui-tos convidados.

A entrega do prémio à Alzheimer Portugal, no valor de 50 mil euros, foi de-cidida de forma unânime pelo júri devido aos projectos que a associação “desen-volve no âmbito da promoção do enve-lhecimento activo e da solidariedade en-tre gerações”.

A presidente da Alzheimer Portugal, Maria Rosário dos Reis, afirmou, ao rece-ber a distinção, que era “um orgulho imen-so” ver o trabalho da instituição reconhe-cido, acrescentando que aquilo que havia pretendido com a candidatura era que os ajudassem “a fazer mais e melhor”.

O ministro Mota Soares, que anunciou o vencedor, enalteceu a associação pre-miada e a responsabilidade social das em-presas, TSF e Mota-Engil, que promovem o prémio como “extraordinário exemplo de ajuda a quem ajuda os outros” e citou os Beatles para falar de envelhecimento activo. Recordando os versos que Paul McCartney escreveu em 1966 para «When I’m 64» – «Will you still feed me/Will you still need me/When I’m 64” [Ainda me ali-mentarás/Ainda precisarás de mim/quando eu tiver 64], o ministro aproveitou para falar de envelhecimento ativo e a solidariedade entre gerações, que durante 2012 teve o seu Ano Europeu e serviu de mote à edi-ção deste ano do Prémio Manuel António da Mota.

“Em Portugal, nos anos 1960, a espe-rança de vida situava-se nos 63 anos o que, de alguma forma, dá sentido à letra do Paul McCartney”, sustentou o minis-tro, contrapondo que actualmente “esse número está nos 79 anos de idade”.

Hoje, com 71 anos, Paul McCartney, lembrou o ministro, “como tantas pessoas pelo Mundo, como em Portugal hoje, está activo” e uma “grande maioria das preo-cupações que inscreveu na sua música está hoje alcançada, e a Humanidade, nesse sentido, tem feito uma evolução

que é magnífica”. Por seu turno, o presidente da Mota-

Engil, que começou por enumerar algu-mas das obras sociais que a empresa desenvolve em outros países onde tem actividade, sublinhou a qualidade das 10 instituições finalistas, anunciando o au-mento o valor pecuniário a entregar às menções honrosas de 1.000 para 5.000

euros, o que deixou os contemplados bastante surpreendidos e… satisfeitos.

A associação premiada tem-se desta-cado, nos últimos anos, “ao nível da divul-gação de conhecimentos sobre a doença de Alzheimer, a promoção do seu estudo e investigação das suas causas, efeitos e tratamento, bem como no desenvolvimento de formas de apoio às pessoas com doença

de Alzheimer, ou outra forma de demência, e aos seus cuidadores”, podia ler-se no co-municado do júri.

A Fundação Manuel António da Mota instituiu, em 2010, o Prémio Manuel António da Mota com o objectivo de reco-nhecer anualmente organizações e per-sonalidades que se destaquem no âmbi-to da acção social.

FINALISTASVencedorALZHEIMER PORTUGAL

Menções honrosasACASO – Associação Cultural e de Apoio Social de OlhãoAssociação Teatro Construção (Joane)Câmara Municipal de ÉvoraCentro Social de Valado de Frades (Nazaré)Fundação de Serralves (Porto)GNR – Guarda Nacional RepublicanaPROSALIS – Projecto de Saúde em LisboaSanta Casa da Misericórdia de BragançaUNIFAI - Unidade de Investigação e Formação sobre Adultos e Idosos (Universidade do Porto)

Page 20: Jornal Solidariedade - Janeiro 2013

20IPSS em notícia

ALZHEIMER PORTUGAL

Prémio de 50 mil euros potencia acção da associação«Envelhecimento Activo nas

Demências», da associação Alzheimer Portugal, foi o projecto vencedor da ter-ceira edição do Prémio Manuel António da Mota e visa, de uma forma generalizada, a promoção do envelhecimento activo das pessoas com demência, a formação e a in-formação dos cuidadores e da sociedade em geral.

No fundo, o projecto não é mais do que a actividade quotidiana da associação, que há 24 anos cuida e forma cuidadores de pessoas com a doença de Alzheimer e ou-tras formas de demência.

“A aposta é sempre nas pessoas, a ocupação e o envolvimento social e a for-mação dos cuidadores”, começa por referir Maria do Rosário dos Reis, presidente da Alzheimer Portugal, acerca do projecto ga-nhador, acrescentando: “É imprescindível para tudo o resto, pois para termos cuida-dos de qualidade temos que ter formação. Depois, é a aposta na estimulação cog-nitiva, nos nossos diversos centros, e as actividades de envolvimento social, como as visitas aos museus, passeios pela zona histórica da cidade, ou seja, a promoção de actividades lúdicas estimulantes”.

Quanto ao triunfo e ao prémio de 50 mil euros, a líder em fim de mandato, no pas-sado dia 6 de Janeiro cedeu o cargo ao re-cém-eleito presidente Carneiro da Silva, a reacção é naturalmente positiva: “Ficámos muito contentes porque o que colocámos na nossa candidatura é aquilo que faze-mos diariamente. Claro que queremos ir um pouco mais longe, renovar o site, apos-tar nos vídeos pedagógicos, porque é mais fácil aprender com a imagem e é algo que queremos apostar num futuro próximo. Queremos apostar nas novas tecnologias para transmitir conhecimento às pessoas”.

formação é fundamentalPara além de cuidar de alguns doen-

tes nos diversos Centros espalhados pelo País, a Alzheimer Portugal tem uma acção estruturante no que à doença diz respeito e que passa pela formação dos cuidadores, pois, como defende Maria do Rosário dos Reis, só assim se pode cuidar melhor dos doentes: “Entendemos a formação como uma forma muito eficaz de disseminar boas práticas. Para nós a formação é, es-sencialmente, prática, ou seja, como lidar, como tornear situações que, por vezes, se levantam, no fundo, são práticas muito úteis para as pessoas. Já somos entidade formadora certificada há alguns anos e for-mamos, mais ou menos, três mil pessoas

por ano, o que já é qualquer coisa… Nascemos, mas não existimos apenas em Lisboa, pois temos uma delegação no Norte, em Matosinhos, e outra em Pombal, Região Centro, e ainda outra no Funchal (Madeira). E temos ainda um núcleo no Ribatejo… Em todos esses sítios temos técnicos que prestam apoio aos familiares e às pessoas com demência e que estão também habilitados a dar formação”.

E se a formação é muito importante, prioritária mesmo na acção da associação, outras áreas não são descuradas, como as questões jurídicas, “porque é muito impor-tante falar dos direitos que estas pessoas têm, dos processos de interdição, etc.”, refere a presidente cessante, sublinhando ainda outra área fundamental que é a da prestação de serviços.

“Os cuidados têm que ser prestados por pessoas que estejam especialmen-te formadas para o efeito e, por essa ra-zão, para além deste Centro de Dia aqui em Lisboa, já temos outro a funcionar em Matosinhos e estamos prestes a inaugurar um outro em Pombal. E no dia 6 de Janeiro inaugurámos a nossa primeira unidade re-sidencial em Cascais, que vai ser Centro de Dia e Serviço de Apoio Domiciliário”, revela, ressalvando: “Não temos a pre-tensão de criar todo o conjunto de servi-ços necessários, porque é impensável…

Economicamente, para prestarmos ser-viços de qualidade a preços acessíveis a quem deles precisa é muito complicado, porque não é um negócio rentável. É algo que fazemos porque achamos que vale a pena e faz a diferença. O que queremos é que a comunidade em geral e os deciso-res políticos percebam que estas unidades são precisas e que tenham qualidade, prin-cipalmente a nível dos recursos humanos. E estes pólos que criámos têm como mis-são funcionar como exemplo e escola para serem replicados por outros”.

longo Caminho Maria do Rosário dos Reis olha o futu-

ro com apreensão, apesar dos progressos que têm sido feitos, especialmente na per-cepção que a sociedade tem da doença e dos doentes…

“Ainda há um longo caminho a percor-rer e esta é uma questão necessariamente morosa, porque demora até as pessoas perceberem e interiorizarem, mas acho que já se deu um salto qualitativo bastante grande nos últimos 10 anos. As pessoas estão mais sensibilizadas… Pelo aumento dos casos, mas também já há mais infor-mação. O drama das pessoas é não en-contrarem locais adequados e de haver alguma dificuldade em os doentes perma-necerem no seu domicílio e aí receberem

cuidados adequados. Penso que uma das grandes apostas a nível de decisão política devia ser a aposta forte no domicílio, por-que este é onde a pessoa se sente bem, e estas pessoas são muito sensíveis a isso. Sempre que possível a pessoa deve per-manecer na sua própria casa e os cuida-dos é que devem ir até lá”, defende.

Considerando que em Portugal se está “um bocadinho abaixo da média” do que se faz lá fora, “há países como nós, mas há outros que estão muito mais à frente”, a di-rigente deixa um alerta: “Os próximos tem-pos vão ser muito difíceis, pois dificilmente vamos conseguir aquilo pelo que estamos a batalhar há muito tempo e que é que as demências se tornem uma prioridade reco-nhecida de saúde pública. Consideramos que devia haver um Plano Nacional para as Demências, com políticas integradas nas várias áreas importantes, os direitos, os cuidados, a formação… Esta tem sido a tendência europeia e a que defendemos há muito”.

A falta de atenção dos decisores polí-ticos cria outros problemas e obstáculos. O número 90.000 foi bastante veiculado na Comunicação Social como o número de diagnósticos de Alzheimer em Portugal. Maria do Rosário dos Reis é peremptória: “Não sabemos quantas pessoas estão diagnosticadas, podemos estimar, mas

Page 21: Jornal Solidariedade - Janeiro 2013

Janeiro 2013

21

IPSS em notícia

HISTÓRIA

Fundada por acção do neurologista Carlos Garcia

A Alzheimer Portugal nasceu por iniciativa do neurologista Carlos Garcia, no ano de 1988, médico que se interessou muito pela área das demências e que trabalhou alguns anos nos Estados Unidos.

“O Professor Carlos Garcia ficou especialmente sensibilizado com o pro-blema dos cuidadores e o que estes passam ao acompanhar o seu familiar doente”, conta Maria do Rosário dos Reis, recordando: “Ele também ficou sen-sibilizado ao verificar que nos Estados Unidos, há 20 e muitos anos, já havia pessoas com demência que, pelo seu próprio pé, iam frequentar Centros de Dia. Uma realidade completamente desconhecida para nós e isto acontecia há cerca de 25 anos”.

Para dar conta da situação que se vivia em Portugal há cerca de duas décadas, a presidente da associação dá mesmo o seu exemplo pessoal: “Tive a minha mãe mais de 20 anos com a doença e ela nunca conheceu o diag-nóstico e nem nós sabíamos o que ela tinha, porque o desconhecimento era enorme. Nem sequer sabíamos da existência da associação, que era um pe-queno grupo que girava em torno do Professor Carlos Garcia e com meia dúzia de voluntários que iam organizando reuniões de cuidadores, que inicialmente aconteciam no Hospital de Santa Maria”.

Com o decorrer do tempo e o aumento de casos diagnosticados, a asso-ciação arranjou uma pequena sede junto à Alameda D. Afonso Henriques, em Lisboa. Já no ano 2000, coincidindo com a primeira eleição para a presidência de Maria do Rosário dos Reis, a Câmara Municipal de Lisboa cedeu um es-paço na Avenida de Ceuta, onde ainda hoje funciona a sede da associação e onde foi criado, dois anos mais tarde, o primeiro Centro de Dia para os doentes com Alzheimer.

“Esta era uma luta antiga dos meus antecessores, para a qual não contri-bui, pois entrei para a presidência e a Câmara cedeu o espaço, sem que eu tivesse que fazer algo”, lembra a presidente que esteve 12 anos à frente da associação.

“A abertura do Centro de Dia fez toda a diferença… Foi o primeiro cen-tro criado especificamente para pessoas com a doença de Alzheimer e com outra forma de demência. Não havia mais nada… No dia 6 de Janeiro fez 10 anos que inaugurámos o Centro de Apoio Diurno, a que demos o nome de Professor Doutor Carlos Garcia, e a partir daí a associação conseguiu au-mentar a sua projecção, passando a ser mais conhecida”, explica, acrescen-tando: “Passámos a prestar cuidados específicos às pessoas e já não nos limitávamos apenas às vertentes, também muito importantes, de informação, sensibilização e formação, especialmente a cuidadores, tanto familiares, como técnicos e auxiliares”.

Posteriormente, a associação abriu delegações no Norte (Matosinhos), no Centro (Pombal), na Madeira (Funchal) e ainda um núcleo no Ribatejo.

Já no arranque deste ano de 2013, a Alzheimer Portugal inaugurou a pri-meira unidade residencial, em Cascais, que integra ainda um Centro de Dia e acolherá um Serviço de Apoio Domiciliário.

P.V.o.

dizer que há 90.000 diagnosticadas tenho as minhas dúvidas… Em Portugal nunca foi feito um estudo epidemiológico a nível nacional, pelo que ao certo não sabemos quantas pessoas existem em Portugal com a doença de Alzheimer ou outra forma de demência. Há três, quatro anos havia seis milhões de pessoas com demência na Europa, hoje já se ultrapassaram os oito milhões e todas as previsões apontam para a duplicação do número até 2040”.

um dia-a-dia melhorPara um doente de Alzheimer os cuida-

dos com a alimentação e a higiene são im-portantes, mas a ocupação é fundamental. Cuidar bem de uma pessoa com demência implica combater o isolamento…

“Tive a oportunidade de há pouco tempo ouvir os testemunhos de algumas pessoas estrangeiras com demência e o que mais falta lhes faz é o envolvimento

social, o sentirem que ainda fazem parte da sociedade e de estarem ocupadas, ir ao cinema, andar nos transportes públicos, ir a um museu, ir tomar um café”, conta a di-rigente, que ao mesmo tempo reconhece: “Apesar de não ser algo difícil de lhes per-mitir, um cuidador familiar, já está exausto com o seu próprio trabalho, não tem dis-tanciamento suficiente para poder propor-cionar essas coisas”.

E é por aqui passam muitas das acti-vidades levadas a efeito nos centros da associação, com passeios históricos pelas cidades, algo muito incrementado e apre-ciado. Tentar proporcionar aos doentes com Alzheimer um dia-a-dia o mais normal e integrado possível é o grande desafio, de uma doença que é bastante castradora, não apenas para os doentes, mas igual-mente para os seus familiares.

Pedro VasCo oliVeira (texto e fotos)

Page 22: Jornal Solidariedade - Janeiro 2013

22

Fotolegenda

Bom ano de 2013. Havemos de sobreviver...

ViCt

or

m. P

into

Ficha TécnicaPropriedade: CNIS (Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade) - Rua Júlio Dinis, 931-3.º Esquerdo - 4050-327 Porto - NIF: 501 146 253 - Telefone: 22 606 59 32 Fax: 22 600 17 74 - e-mail: [email protected] Director: Padre Lino MaiaEditor: V.M. Pinto Redacção: Milene Câmara, Pedro Vasco Oliveira, Rodrigo Ferreira - Colaboradores: Fernando Martins, Henrique Rodrigues, José Silva e Padre José MaiaPaginação: Lídia Cavadas - Impressão: Unipress - R. Anselmo Braancamp, 220 - Granja 4410-359 Arcozelo - GaiaTiragem: 5.000 exemplares Depósito Legal n.º 11753/86, ICS-111333

Page 23: Jornal Solidariedade - Janeiro 2013

Janeiro 2013

23Publicidade

Page 24: Jornal Solidariedade - Janeiro 2013

24A fechar

SUBSÍDIO DE DESEMPREGO

Aprovado regime jurídico para pequenos empresários e trabalhadores independentes

O Governo aprovou em Conselho de Ministros, em Dezembro, o regime jurídico da protecção social de desemprego para os trabalhadores independentes e empre-sários em nome individual. “Esta protecção é especialmente importante numa altura em que o nosso tecido económico se en-contra com grandes dificuldades”, afirmou o ministro da Solidariedade e da Segurança Social, Pedro Mota Soares. Antes da sua aprovação, o Governo enviou aos parcei-ros sociais uma proposta de decreto-lei que vai permitir a atribuição de subsídio de desemprego aos trabalhadores indepen-dentes com actividade empresarial e aos sócios gerentes de empresas.

De acordo com a proposta, para que

os empresários possam usufruir des-ta protecção social, “é considerado de-semprego toda a situação de perda de rendimentos decorrentes de encerra-mento de empresa ou cessação de ativi-dade profissional de forma involuntária”. Vão ser abrangidos pela nova lei os só-cios gerentes de empresas, os empresá-rios em nome individual com rendimentos de actividade comercial ou industrial, os titulares de estabelecimentos individuais de responsabilidade limitada e os cônju-ges dos trabalhadores independentes que com eles exerçam atividade profissional regular. Não serão abrangidos os produ-tores agrícolas porque estão enquadra-dos num regime próprio. A proposta de

decreto-lei prevê a atribuição de subsídio de desemprego aos empresários que ces-sem actividade de forma involuntária, que tenham cumprido o prazo de garantia, que tenham a situação contributiva regulari-zada com a segurança social e que es-tejam inscritos nos centros de emprego. O prazo de garantia exigido é de 720 dias, ou seja, o candidato ao subsídio tem de ter cerca de dois anos de descontos para ace-der à prestação social, que será correspon-dente a 65% da remuneração de referência. O decreto-lei entra em vigor este ano, no entanto, a atribuição do subsídio de desemprego só será efetuada em 2015 porque a lei exige um período de garan-tia de dois anos. De acordo com o que

está previsto no Orçamento do Estado para 2013, “a medida deve entrar em vi-gor em Janeiro de 2013, tendo de existir 24 meses de descontos para que es-tes trabalhadores possam usufruir da medida, à semelhança do que foi feito para os trabalhadores independentes”. Relativamente aos descontos que cada trabalhador terá de efectuar, ao passo que até aqui a taxa contributiva era escalonada de acordo com os rendimentos, a partir de 2013 esta será uniformizada para 34,75%. O universo de empresários em nome indi-vidual, comerciantes e pequenos empre-sários que irão beneficiar desta prestação social é de 257.158, de acordo com os nú-meros facultados pelo governo.