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Resumo/ abstract Histórias entrelaçadas: redes intertextuais em narrativas afro-brasileiras Este artigo tem por objetivo a investigação dos pro- cessos de construção da identidade afro-brasileira no romance Becos da memória (2006), de Conceição Eva- risto. Realiza-se, ao longo do trabalho, a investigação dos possíveis diálogos intertextuais de Conceição Eva- risto com outras obras de escritoras afro-brasileiras, tais como Maria Firmina dos Reis (Úrsula, 1859) e Carolina Maria de Jesus (Quarto de despejo: diário de uma fave- lada, 1960). Palavras-chave: literatura afro-brasileira; autoria femi- nina; Conceição Evaristo; Maria Firmina dos Reis; Ca- rolina Maria de Jesus. Enlaced stories: intertextual nets in Afro-Brazilian narratives is paper aims to investigate the constructive pro- cesses of Afro-Brazilian identity in the novel Becos da memória (2006), written by Conceição Evaristo. It is also made in this study the investigation of possible in- tertextual dialogues of Conceição Evaristo with other Afro-Brazilian writers, such as Maria Firmina dos Reis (Úrsula, 1859) and Carolina Maria de Jesus (Quarto de despejo: diário de uma favelada, 1960). Keywords: Afro-Brazilian literature; woman’s author- ship; Conceição Evaristo; Maria Firmina dos Reis; Ca- rolina Maria de Jesus. cerrados31 artefinal.indd 107 7/29/11 3:55 PM

literatura brasileira conceição evaristo becos da memória quarto de despejo afrobrasileira negra.pdf

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  • Resumo/ abstract

    Histrias entrelaadas: redes intertextuais em narrativas afro-brasileirasEste artigo tem por objetivo a investigao dos pro-cessos de construo da identidade afro-brasileira no romance Becos da memria (2006), de Conceio Eva-risto. Realiza-se, ao longo do trabalho, a investigao dos possveis dilogos intertextuais de Conceio Eva-risto com outras obras de escritoras afro-brasileiras, tais como Maria Firmina dos Reis (rsula, 1859) e Carolina Maria de Jesus (Quarto de despejo: dirio de uma fave-lada, 1960).Palavras-chave: literatura afro-brasileira; autoria femi-nina; Conceio Evaristo; Maria Firmina dos Reis; Ca-rolina Maria de Jesus.

    Enlaced stories: intertextual nets in Afro-Brazilian narrativesThis paper aims to investigate the constructive pro-cesses of Afro-Brazilian identity in the novel Becos da memria (2006), written by Conceio Evaristo. It is also made in this study the investigation of possible in-tertextual dialogues of Conceio Evaristo with other Afro-Brazilian writers, such as Maria Firmina dos Reis (rsula, 1859) and Carolina Maria de Jesus (Quarto de despejo: dirio de uma favelada, 1960).Keywords: Afro-Brazilian literature; womans author-ship; Conceio Evaristo; Maria Firmina dos Reis; Ca-rolina Maria de Jesus.

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  • Histrias entrelaadas: redes intertextuais em narrativas afro-brasileiras

    Anselmo Peres AlsDoutor em Literatura Comparada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professor-Leitor (Programa de Leitorados no Exterior - CAPES/MRE do Brasil) no Instituto Superior de Cincias e Tecnologia de Moambique (ISCTEM), em Maputo. Professor-Colaborador Convidado, no Instituto Superior de Comunicao e Imagem de Moambique (ISCIM)[email protected].

    Maria-Nova olhou novamente a professora e a turma. Era uma histria muito grande! Uma histria viva que nascia das pessoas, do hoje, do agora. Era diferente de ler aquele texto. Assentou-se e, pela primeira vez, veio-lhe um pensamento: quem sabe escreveria esta histria um dia? Quem sabe passaria para o papel o que estava escrito, cravado e gravado no seu corpo, na sua alma, na sua mente

    (EVARISTO, 2006b, p. 138).

    Nascida em Belo Horizonte (capital de Minas Gerais) em 1946, e residente no Rio de Janeiro desde 1973, Conceio Evaristo uma personalidade singular no campo da cultura afro-brasileira contem-pornea. Evaristo tem participado de vrios projetos culturais e de pesquisa em torno de temticas negras, como colaboradora do Criola (organizao de Mulheres Negras do Rio de Janeiro), e do grupo literrio Quilombhoje, responsvel pela publicao dos Cadernos negros, revista de divulgao literria com mais de trinta anos de circulao, e especializada na publicao de textos literrios de autores

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    afro-brasileiros. Embora tenha iniciado suas experincias literrias no incio da dcada de 1980, apenas em 1990 que publica seus primeiros poemas, no nmero 13 dos Cadernos negros. Evaristo vem marcando sua produo acadmica e literria com um posicionamento que busca privilegiar a sua vivncia de mulher negra na sociedade brasileira. Em sua dissertao de mestrado, cujo ttulo Literatura negra: uma potica da nossa afro-brasilidade (1996), ela faz um levantamento da produo literria afro-brasileira, tentando suprir as lacunas sobre o tema na historiografia literria cannica. Somente aps os anos 2000, marcados pelo impacto da internet, pelo fantasma do bug do milnio e pelo advento da globalizao, que a escritora publica seu primeiro romance, Ponci Vicncio (2003). Trs anos depois, Conceio Evaristo publica Becos da memria (2006), obra que, segundo a prpria autora, j encontrava finalizada desde 1988, momento em que inclusive foi cogitada a sua publicao pela Fundao Palmares, mas que teve de esperar quase vinte anos para encontrar seus leitores:

    Em 1988, Becos da memria seria publicado pela Fundao Palmares/MinC, como parte das comemoraes do Centenrio da Abolio, projeto que no foi levado adiante, creio que por motivo de verbas. Desde ento Becos da memria ficou esquecido na gaveta. Preciso ressaltar, entretanto, que em um dado momento, bem mais tarde, em uma outra gesto, a Fundao Palmares colocou-se disposio para publicar o romance, mas o livro j havia se acostumado ao abandono. E s agora, quase 20 anos depois de escrito, acontece sua publicao (EVARISTO, 2006a, p. 9).

    O bug do milnio no aconteceu, a internet entrou no cotidiano de grande parte dos brasileiros e a globalizao, ainda que no agrade a muitos, vem se tornando a nova ordem mundial. Os romances de Conceio Evaristo, entretanto, circulam na contracorrente do fluxo de informaes e da lgica do capital simblico do novo milnio. A voz narrativa construda pela autora no se pergunta sobre o futuro, ao menos no to insistentemente quanto se pergunta sobre o passado e seus efeitos, seus reflexos e suas refraes no presente. No af de trazer superfcie aspectos da histria brasileira que foram rasurados por trs sculos de patriarcalismo escravocrata, as narrativas de Conceio Evaristo buscam, atravs das histrias orais de suas ancestrais, novos recursos estticos e expressivos que deem conta da textualizao das experincias e das memrias do povo afro-brasileiro.

    Em sua busca pelo resgate da identidade de sujeitos sociais que foram relegados a uma condio de cidadania de segunda categoria, e que ainda hoje tm de lidar com a expropriao de suas prprias heranas afetivas, Evaristo no ignora a importncia de suas antecessoras nas letras afro-brasileiras. Seu conhecimento das estticas literrias desenvolvidas por outras escritoras brasileiras, em especial Maria Firmina dos Reis e Carolina Maria de Jesus, permite que ela incorpore um dilogo com estas

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    vozes na constituio de sua prpria voz autoral. Contra trs sculos de escravido, trs sculos de resistncia das mulheres negras materializam-se no projeto esttico da prosa de Conceio Evaristo.

    O trabalho com a linguagem realizado pela autora traz para o discurso literrio determinadas questes sociais, nomeadamente os ecos de uma tradio patriarcal e escravocrata, tradio esta responsvel pelos processos de pauperizao, estigmatizao e subalternizao social das comunidades afro-brasileiras. No entanto, a autora esgueira-se de maneira a evitar as solues fceis reiteradamente utilizadas pelo mercado cultural contemporneo, que faz do morro um espao simblico de glamour, que investe na narrao da violncia de forma brutal, reduzindo seu impacto transformando-a em simples objeto de escambo em uma sociedade de consumo.

    Ao discutir e problematizar a pertinncia dos lugares de memria para a constituio do discurso histrico, Pierre Nora faz uma reflexo produtiva sobre a cristalizao da memria e suas relaes com o passado e com a tradio:

    A memria cristaliza-se e refugia-se onde a conscincia da ruptura com o passado confunde-se com o senti-mento de uma memria esfacelada, mas onde o esfacelamento desperta ainda memria suficiente para que se possa colocar o problema de sua encarnao. O sentimento de continuidade torna-se residual aos locais (NORA, 1993, p. 7).

    Pode-se pensar na favela narrada por Evaristo em Becos da memria como um desses lugares que tornam possvel o refgio da memria. Entretanto, emerge um problema quando se constata que esta favela, tomada como um lugar de memria, no nada mais do que uma memria, desprendida de qualquer resduo de realidade referencial, pois, como afirma a escritora j nas primeiras pginas de seu livro, em uma Conversa com o leitor que apresentada guisa de advertncia: em Becos da memria aparece a ambincia de uma favela que no existe mais. A favela descrita em Becos da me-mria acabou e acabou. Hoje as favelas produzem outras memrias, provocam outros testemunhos e inspiram outras fices (EVARISTO, 2006, p. 9).

    Impossvel evitar a associao da favela construda pelas memrias de Conceio Evaristo com outras favelas j textualizadas na literatura brasileira. Esta favela traz reminiscncias da favela do Canind, na qual ambientada a narrativa de Quarto de despejo: dirio de uma favelada, de Carolina Maria de Jesus, ou ainda da Vila Ilhota, espao das memrias de outra mulher favelada, Zeni de Oliveira Barbosa, que a reconstitui em seu Ilhota: testemunho de uma vida1 (1993). Estas

    1 Zeli de Oliveira Barbosa a segunda das vozes que desponta da favela da Ilhota, em Porto Alegre, e conquista espao no

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    so favelas marcadas pela misria absoluta, por uma luta pela sobrevivncia, e em uma populao majoritariamente composta por afro-descendentes que abandonaram as zonas rurais buscando nas cidades oportunidades de trabalho, ou simplesmente fugindo da fome. A repetio performativa do verbo acabar no pretrito perfeito do indicativo no se d de maneira inocente: esta favela que povoa as reminiscncias da narradora de Becos da memria nada tem em comum com outras favelas, as contemporneas, que provocam outros testemunhos e inspiram outras fices, dominadas pelo crime organizado, pela violncia banalizada e institucionalizada e pelo poder perverso do narcotrfico. Para continuar com um terminus comparationis do campo ficcional, a favela das reminiscncias de Conceio Evaristo est muito distante das favelas dos morros cariocas, como a Cidade de Deus do romance homnimo de Paulo Lins, publicado em 1997. A favela narrada em Becos da memria subsiste apenas nas memrias de seus antigos moradores. Entre eles, a autora e as personagens retratados no romance.

    Antes de iniciar sua narrao propriamente dita, Evaristo escreve uma longa dedicatria V Rita, uma das personagens dessas memrias, mas tambm personagem moradora da favela real, na qual a prpria Conceio Evaristo passou parte de sua infncia. Evaristo confessa a dor pungente que sente ao se lembrar dos tempos em que vivia naquela favela: hoje, a recordao daquele mundo me traz lgrimas aos olhos. Como ramos pobres! Miserveis talvez! Como a vida aconteceu simples, e como tudo era e complicado! (EVARISTO, 2006b, p. 20). Este enunciado aparentemente inocente revela um complexo gesto de fabulao inscrito no processo de criao dessa narrativa. Tal como j observou Luiz Henrique Silva de Oliveira, violncia e intimismo, realismo e ternura, alm de impactarem o leitor, revelam o compromisso e a identificao da intelectualidade afrodescendente com aqueles colo-cados margem do que o discurso neoliberal chama de progresso (OLIVEIRA, 2009, p. 261).

    O recurso ao discurso memorialista no apenas uma estratgia narrativa no sentido de conceber a reviso de um passado relativamente recente: muitas coincidncias apontam para uma forte vin-culao autobiogrfica da escritora com a personagem Maria-Nova. Autora e personagem comparti-lham o mesmo prenome (o nome completo da escritora Maria da Conceio Evaristo Brito), assim como a me da personagem e a me da escritora (ambas chamam-se Joana); Maria-Velha, persona-gem de Becos da memria e tia de Maria-Nova, possui uma correspondente na rvore genealgica de Evaristo: a tia Maria Filomena da Silva, j falecida. Finalmente, o gosto pelas histrias contadas pelos

    cenrio cultural urbano. A primeira delas, nascida em 1914, foi a do cantor e compositor Lupicnio Rodrigues, que se con-sagrou cantando a boemia e as dores-de-cotovelo. Com um estilo coloquial, fragmentado e entrecortado, Zeli de Oliveira Barbosa aborda em Ilhota: testemunho de uma vida a tica das relaes sociais da favela e as dificuldades por ela sofridas na luta para propiciar alimento e educao para os filhos.

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    mais velhos e a deciso de escrever a histria no contada do povo afro-brasileiro so caractersticas fortes, marcantes, e mesmo determinantes, tanto da personagem Maria-Nova quanto da sua criadora, Conceio Evaristo. A escritora, instantes antes de iniciar a narrativa de suas memrias, afirma: ho-mens, mulheres, crianas que se amontoaram dentro de mim, como amontoados eram os barracos de minha favela (EVARISTO, 2006b, p. 21).

    Alis, no gosto por ouvir as histrias dos mais velhos que se revela o desejo quase desesperado pela manuteno da memria afro-brasileira, desejo comum autora e personagem Maria-Nova. nesse gesto de recolhimento das histrias de vida de seu povo, as quais circulam apenas atravs da tradio oral, que Conceio Evaristo (e tambm Maria-Nova), politizam o ato da escritura das me-mrias. Tal como j afirmou Michael Pollak,

    o longo silncio sobre o passado, longe de conduzir ao esquecimento, a resistncia que uma sociedade civil impotente ope ao excesso de discursos oficiais. Ao mesmo tempo, ela transmite cuidadosamente as lembranas dissidentes nas redes familiares e de amizades, esperando a hora da verdade e da redistribuio das cartas polticas e ideolgicas (POLLAK, 1989, p. 5).

    As autobiografias e os dirios, bem como as memrias e outras modalidades de discurso literrio marcadamente confessional, mantm uma estreita relao com tentativas individuais de instaurar performativamente, atravs da escrita de si mesmo, novas possibilidades de autoconhecimento que muitas vezes rasuram e subvertem os regimes epistemolgicos hegemnicos. Silviano Santiago, por exemplo, lembra que o intelectual que se dedica escrita memorialista, ou mesmo escrita autobio-grfica, depois de saber o que sabe, deve saber o que o seu saber recalca. A escrita muitas vezes a ocasio para se articular uma lacuna no saber com o prprio saber, a ateno dada palavra do outro (SANTIAGO, 1984, p. 53). Tanto a autobiografia quanto a narrativa confessional (em sentido amplo) vm sendo tomadas muitas vezes como subgneros literrios. Contudo, torna-se tarefa com-plicada definir limites entre os dois termos, tendo-se em vista uma problemtica tipologia textual que envolve uma mirada diacrnica. Se, tal como postulado pela moderna teoria dos gneros literrios, eles so constructos localizados no tempo e sujeitos a mudanas de ordem estrutural, caberia per-guntar, por exemplo, se o objeto literrio que responde pela alcunha autobiografia (por exemplo, no sculo XV) teria mais semelhanas ou mais diferenas com o gnero discursivo que, na contempora-neidade, reconhecido como a definio da categoria. Os estudos contemporneos de narratologia reconhecem, na narrativa autobiogrfica e memorialstica, no apenas um gnero literrio, mas uma forma particular de procedimento epistemolgico. A narrao estrutura uma maneira particular de se

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    produzir conhecimento sobre o mundo e sobre a cincia. de se perguntar, entre outras questes, se h alguma possibilidade de produo de conhecimento fora de uma estrutura narrativa. Ao enunciar sequncias de acontecimentos, o sujeito da enunciao organiza retroativamente suas experincias, instaurando e produzindo sentido a partir da colocao em discurso de elementos de um passado que no acessvel seno pelo acionamento da memria:

    Uma reconstruo a posteriori por definio, a histria de vida ordena acontecimentos que balizaram uma existncia. Alm disso, ao contarmos nossa vida, em geral tentamos estabelecer certa coerncia por meio de laos lgicos entre acontecimentos-chave [...] e de uma continuidade, resultante da ordenao cronolgica. Atravs desse trabalho de reconstruo de si mesmo, o indivduo tende a definir seu lugar social e suas rela-es com os outros (POLLAK, 1989, p. 13).

    Ainda que a voz narrativa de Becos da memria possa ser caracterizada como discurso indireto livre, com a predominncia de um narrador herodiegtico onisciente, facilmente rastrevel o fato de que a focalizao da voz narrativa encontra-se colada, na maior parte do romance, percepo de mundo de Maria-Nova, que pode ser considerada como o ncleo organizador das reminiscncias re-latadas em Becos da memria. De acordo com Georges May (1979), a narrativa memorialista carac-terizada no pela tnica sobre o discurso de um eu individualista, monoltico e pleno, mas sim pelo destaque que dado ao elemento histrico e social, os quais so filtrados pela memria e pela subjeti-vidade de um eu social. Este o projeto de vida que Maria-Nova elege para si mesma, no no intuito de escrever a histria individualista que privilegia exclusivamente sua prpria subjetividade, mas sim para registrar atravs da palavra impressa as histrias do seu povo: um dia, ela haveria de narrar, de fazer soar, de soltar as vozes, os murmrios, os silncios, o grito abafado que existia, que era de cada um e de todos. Maria-Nova, um dia, escreveria a fala de seu povo (EVARISTO, 2006b, p. 161).

    Cabe abrir espao para discutir, brevemente, um importante elemento paratextual que refora o carter poltico subscrito na afirmativa de se estar a escrever a fala de seu prprio povo. Ao se obser-var a primeira e quarta capa do livro, pode-se observar uma srie de fotos da infncia de Conceio Evaristo. difcil resistir tentao de perguntar quantos dos personagens narrados em Becos da memria estariam representados nos parentes e amigos prximos da escritora que figuram nas fotos dispostas nas capas. Tais fotos, na medida em que fomentam o desejo do leitor de relacionar a nar-rativa realidade passada da escritora, contribuem para a instaurao do pacto autobiogrfico antes mesmo de se iniciar a leitura dessas memrias, como se pode vislumbrar na Figura 1.

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    Figura 1: reproduo da capa de Becos da Memria.

    Para Phillipe Lejeune (1980), o pacto autobiogrfico estabelecido entre autor e leitor, criando a condio de possibilidade para que a narrativa autobiogrfica seja lida como tal. Logo, ainda que a voz narrativa seja conduzida impessoalmente, os paratextos (tanto as fotos das capas do livro quanto as palavras iniciais da autora em Da construo de Becos) e as coincidncias entre a trajetria de Ma-ria-Nova e a prpria trajetria de Conceio Evaristo nos levam a ler, na personagem, uma espcie de desdobramento da autora. Neste sentido, a construo de Becos da memria parece ter sido realizada levando-se em conta uma das questes tericas mais contundentes nos estudos sobre a autobiografia

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    encarada como gnero literrio: o fato de que o eu/sujeito a enunciar suas prprias memrias nunca o mesmo eu/sujeito que vivenciou estes fatos, simplesmente porque o afastamento temporal entre o vivido e o narrado subsume uma transformao na perspectiva interpretativa do sujeito enunciador, no presente. De acordo com Mieke Bal,

    when we try to reflect someone elses point of view, we can only do so in so far as we know and understand that point of view. That is why there is no difference in focalization between a so-called first-person narra-tive and a third-person narrative. In a so-called first-person narrative too an external focalizor, usually the I grown older, gives its vision of a fabula in which it participated earlier as an actor (BAL, 1997, p. 158).

    Ao lanar mo da categoria focalizao (termo que Bal utiliza para diferenciar a voz narrativa da perspectiva atravs da qual so contados os fatos), pode-se perceber que, ao afiliar-se perspectiva de Maria-Nova, o narrador, ainda que heterodiegtico, assume os valores atravs dos quais a personagem focaliza e interpreta a sua prpria histria, reforando, por sua vez, o tom autobiogrfico da narrativa. O texto autobiogrfico atravessado por uma premissa referencial que o submete prova da verifica-o, posto que o autor-narrador o sujeito emprico das memrias que mobiliza em seu discurso. O paradoxo da autobiografia literria, seu essencial jogo duplo, o de pretender ser, ao mesmo tempo, um discurso verdico e uma obra de arte, um sistema de tenso entre a transparncia referencial e a pesquisa esttica. Este paradoxo constitutivo da prpria possibilidade de enunciao de um livro como Becos da memria, e talvez nele residam alguns dos percalos enfrentados pela autora, que en-frentou uma espera de quase vinte anos para ver seu original publicado.

    De acordo com Tio Tato, um dos personagens que colabora para enriquecer as memrias de Maria-Nova com as histrias de seu povo, as pessoas no morrem simplesmente. Aps a morte, con-tinuam a viver, atravs de seus descendentes, de seus amigos e familiares, daqueles que mantm viva a lembrana do falecido em suas memrias. Cabe aqui destacar que esta cosmoviso de uma vida alm da vida que se concretiza nas recordaes dos descendentes no apenas um ornamento potico, mas um princpio filosfico fundamental que organiza as mitologias autctones de inmeras etnias bantu da frica Austral, tais como os zulu, os changana e os ronga, grupos tnicos que se distribuem em um territrio artificialmente dividido em naes que o Ocidente identifica com as designaes de frica do Sul, Suazilndia e Moambique. Nesta crena, alinha-se uma vontade poltica da narradora: a de fazer valer os sofrimentos e martrios pelos quais os antepassados passaram ao longo de suas lutas por melhores condies para os afro-brasileiros:

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    Menina, o mundo, a vida, tudo est a! Nossa gente no tem conseguido quase nada. Todos aqueles que morreram sem se realizar, todos os negros escravizados de ontem, os supostamente livres de hoje, libertam--se na vida de cada um de ns que consegue viver, que consegue se realizar. A sua vida, menina, no pode ser s sua. Muitos vo se libertar, vo se realizar por meio de voc. Os gemidos so sempre presentes. preciso ter ouvidos, os olhos e o corao sempre abertos (EVARISTO, 2006b, p. 103).

    Fazer da escrita literria uma possibilidade de dar voz para os antepassados uma estratgia dis-cursiva que aparece em outros escritos de autoras afro-brasileiras. No romance rsula (1859), da maranhense Maria Firmina dos Reis2, a primeira narrativa abolicionista de que se tem notcia na histria literria brasileira, a narradora abre espao para que uma personagem secundria (ainda que fundamental para o desenrolar do enredo) assuma a focalizao, retratando a questo da escravido sob o ponto de vista dos prprios escravos. Susana, a preta velha, relata sua vida na frica, terra onde gozava de liberdade e vivia com seu esposo e sua filha, traando atravs da voz e da memria o mesmo caminho que os negros escravizados trilharam at chegar ao Brasil. Esta narrao feita a Tlio, escravo recm-alforriado, e com ela, Susana sublinha ao seu interlocutor a impossibilidade de ser completamente livre, mesmo que alforriado, em uma terra escravocrata. O nico espao no qual o signo liberdade faz algum sentido , para Susana, as terras africanas de onde foi arrancada. Par-ticularmente pungente o trecho no qual Susana narra o episdio em que, enquanto colhia milho, aprisionada e trazida ao Brasil como escrava:

    Dois homens apareceram, e amarraram-me com cordas. Era prisioneira era uma escrava! Foi embalde que supliquei, em nome de minha filha, que me restitussem a liberdade: os brbaros sorriam-se das minhas lgrimas, e olhavam-me sem compaixo. [...] Quando me arrancaram daqueles lugares, onde tudo me ficava ptria, esposo, me e filha e liberdade!Meteram-me a mim e a mais trezentos companheiros de infortnio e de cativeiro no estreito e infecto poro de um navio. Trinta dias de cruis tormentos, e de falta absoluta de tudo quanto mais necessrio vida passamos nessa sepultura, at que abordamos s praias brasileiras. Para caber a mercadoria humana no po-ro fomos amarrados em p e para que no houvesse receio de revolta, acorrentados como animais ferozes das nossas matas, que se levam para recreio dos potentados da Europa. Davam-nos a gua imunda, podre e dada com mesquinhez, a comida m e ainda mais porca; vimos morrer ao nosso lado muitos companheiros falta de ar, de alimento e de gua (REIS, 2004, p. 116-7).

    2 Todas as citaes do romance rsula feitas neste trabalho so relativas quarta edio do romance, publicada em 2004.

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    Os horrores dos pores dos navios negreiros tambm surgem, com riqueza de detalhes, nos quais Susana expe os martrios pelos quais teve de passar at chegar a terras brasileiras. A dureza do relato feito a Tlio denuncia, ainda no contexto escravocrata de um Brasil oitocentista, a violncia imposta aos afro-brasileiros em funo do regime escravocrata. A voz de Susana, em rsula, ressoa no epis-dio da fuga de Tot, em Becos da memria. Ao fugir com a esposa e a filha das condies semiescravo-cratas de trabalho s quais se encontrava submetido, Tot perde sua famlia, na tentativa de atravessar as guas de um rio bravio. A dor das perdas passadas entrecorta tanto a narrativa de Maria Firmina dos reis quanto a de Conceio Evaristo:

    Tot chegou so, salvo e sozinho na outra banda do rio. Chegou nu das pessoas e das poucas coisas que havia adquirido. Onde estavam Miquilina e Catita? No! No podia ser... Ser que elas... No! Ser que o rio havia bebido as duas?O rio estava bebendo tudo que encontrava pelo caminho. Pedras, paus, barracos, casas, bichos, gente e gente e gente... (EVARISTO, 2006b, p. 31).

    As ressonncias intertextuais de Becos da memria tambm remontam a Quarto de despejo: dirio de uma favelada, de Carolina Maria de Jesus. Importa destacar, particularmente, os conflitos de classe e de raa enfrentados pelas mulheres negras. Quando fala da violncia domstica sofrida pelas outras mulheres da Canind, a narradora de Quarto de despejo apresenta um ponto de vista crtico que ava-lia, entre outros elementos, o quanto tais mulheres poderiam mudar a situao de vtimas da violncia e no o fazem. As mulheres submetidas aos arroubos de violncia por parte dos maridos alcolatras nem por isso deixam de se portarem como agressoras, descontando sobre a narradora e os seus filhos a violncia da qual so destinatrias:

    As mulheres sairam, deixou-me por hoje. Elas j deram o espetculo. A minha porta atualmente theatro. Todas crianas jogam pedras, mas os meus filhos so os bodes expiatrios. Elas aludem que eu no sou casa-da. Mas eu sou mais feliz do que elas. Elas tem marido. Mas, so obrigadas a pedir esmolas. So sustentadas por associaes de caridade.Os meus filhos no so sustentados com po de igreja. Eu enfrento qualquer trabalho para mant-los. E elas, tem que mendigar e ainda apanhar. Parece tambor. A noite enquanto elas pede socorro eu tranquilamente no meu barraco ouo valsas vienenses. Enquanto os esposos quebra as tabuas do barraco eu e meus filhos dormimos socegados. No invejo as mulheres casadas da favela que levam vida de escravas indianas (JESUS, 2001, p. 14).

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    Se as outras mulheres so vtimas da opresso de gnero, por parte das agresses de seus maridos, so elas tambm agressoras, no que diz respeito opresso racial. Aspectos como estes permitem que o leitor atento acompanhe, nas entrelinhas do testemunho supostamente naf da narradora, uma profunda reflexo sobre a complexidade das relaes humanas e os diferentes nveis de capilarizao do poder no espao social da favela. O que impede a narradora de Quarto de despejo de se apiedar da situao de opresso das outras mulheres da favela no uma insensibilidade ao feminismo ou s po-lticas de gnero. Pelo contrrio, o individualismo e a indiferena da narradora so proporcionais ao quanto estas mulheres a oprimem, em funo de ser negra, em funo de no ter um marido. A recusa desta narradora em se mostrar solidria com estas mulheres deve ser lida, no nvel da organizao discursiva, como um profundo posicionamento poltico, uma vez que ela manifesta simultaneamente conscincia de que a opresso que sofre dupla, pois est vitimada pelos imperativos patriarcais tanto quanto pelos pressupostos da opresso racial. Se lcito afirmar que Carolina supostamente peca pelo descumprimento das regras de ortografia e de arranjo sinttico em seus escritos, como o querem alguns crticos mais puristas, tambm o atribuir a esta narradora uma postura de suspeita avant la lettre no que diz respeito s possibilidades de solidariedade e coalizo com outras mulheres, brancas, em funo da situao de opresso que vivenciam diariamente (ALS, 2009, p. 156-7).

    O conflito entre mulheres de diferentes estratos sociais, em Becos da memria, singularmente mostrado por ocasio da histria de Ditinha, moradora da favela que trabalha como domstica na casa de uma famlia de classe mdia. Ditinha, outra entre tantas mulheres negras que viveram na fa-vela e ocupam as memrias de infncia de Conceio Evaristo, morava em um barraco com a irm, os trs filhos e o pai paraltico. Trabalhava como empregada domstica, mas, ao mesmo tempo em que valorizava o emprego que lhe permitia alimentar a famlia, mantinha uma relao ambivalente com a sua patroa, D. Laura:

    Ditinha olhava as jias da patroa e seus olhos reluziam mais do que as pedras preciosas.Continuava a arrumao do quarto, varria debaixo da cama, olhava o teto procura de teias de aranha. [...] Foi gaveta, buscou o cobre-leito amarelo-ouro e acabou de arrumar a cama. Pensou nas jias. Ser que eu gostaria de ter algumas jias dessas? Tambm, se tivesse, no teria vestidos e sapatos que combinassem (EVARISTO, 2006b, p. 92-3).

    A relao de ambivalncia gerada na medida em que, ao admirar a beleza da patroa, Ditinha sente-se feia e inferiorizada; ao constatar a beleza das joias da patroa; Ditinha apercebe-se que sequer tem porte, roupas ou um corte de cabelo que assente com o refinamento daquelas peas:

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    Ditinha olhou para a patroa e sentiu o ar de aprovao no rosto dela [de D. Laura]. Como D. Laura era bo-nita! Muito alta, loira, com os olhos da cor daquela pedra das jias. Ditinha gostava muito de D. Laura, e D. Laura gostava muito do trabalho de Ditinha. Olhando e admirando a beleza de D. Laura, Ditinha se sentiu mais feia ainda. Baixou os olhos envergonhada de si mesma (EVARISTO, 2006b, p. 94 destaque meu).

    fundamental, para que se compreenda o trgico desfecho do destino de Ditinha, sublinhar a associao que esta realiza entre o verde dos olhos de sua patroa e o verde da pedra incrustada na joia que, aos olhos da humilde empregada, era uma pedra verde to bonita, to suave, que at parecia macia (EVARISTO, 2006b, p. 93). Como tentativa de se apropriar da beleza e do refinamento que atribua D. Laura, no dia seguinte, enquanto realizava a faxina, Ditinha colocou o broche, s que do lado de dentro do peito, junto dos seios, sob o suti encardido (EVARISTO, 2006b, p. 95). Ditinha ento se apercebe de que, ao contrrio do que imaginava, a pedra no era to macia assim, estava machucando-lhe o peito (EVARISTO, 2006b, p. 96). Ao chegar ao seu barraco, d-se conta da gravi-dade do furto que cometera e, em um surto de desespero, lana a joia fossa localizada no fundo do quintal. Poucos dias depois, chega ao seu barraco a polcia. Impossibilitada de reencontrar a joia para devolver patroa, Ditinha levada para a priso.

    Na construo de suas memrias de infncia atravs da narrativa, Conceio Evaristo restaura a palavra viva, marcada pela oralidade, registrando-a em discurso literrio. Ao reconstruir com palavras a favela da sua infncia, sua narrativa traz a lume memrias subterrneas de cidados subalternizados. Tais memrias recuperam no apenas o pathos das antigas favelas, em um tempo anterior institucionalizao do crime organizado pelo narcotrfico, mas tambm de um lirismo meio torto que habitava as favelas, tributrio de um um certo gosto pela prpria marginalidade, trao de um certo modus vivendi do intelectual brasileiro, tal como apontado, em certa ocasio, por Paulo Pontes e Chico Buarque (BUARQUE e PONTES, 1976, p. XI-XX). Este trao, entretanto, no uma marca exclusiva da fico de Conceio Evaristo e, como visto, percorre obras dos sculos XIX e XX, como o romance de Maria Firmina dos Reis e os dirios de Carolina Maria de Jesus, no que se poderia chamar de uma das constantes de uma potica da narrativa afro-brasileira. Se ver-dade que tais narrativas portam uma viso em certo sentido sentimentalista, viso esta recorrente na maior parte dos textos que reelaboram vivncias experienciadas no passado do autor, tambm verdade que elas elaboram um discurso de denncia e resistncia, na contracorrente das tradies cannicas da literatura brasileira. Resgatar os cacos de uma memria violentada pelo discurso da histria oficial revela-se, assim, como estratgia poltica para a reconstruo coletiva de um passado comum de lutas contra o racismo, o sexismo e a escravido. Tal como nas palavras que

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    o personagem Tato dirige Maria-Nova, futura escritora e guardi das histrias de sofrimento e lirismo de seu povo:

    Todos aqueles que morreram sem se realizar, todos os negros escravizados de ontem, os supostamente livres de hoje, libertaram-se na vida de cada um de ns, que consegue se realizar. A sua vida, menina, no pode ser s sua. Muitos vo se libertar, vo se realizar por meio de voc. Os gemidos esto sempre presentes. preciso ter os ouvidos, os olhos e os coraes abertos (EVARISTO, 2006b, p. 103).

    Referncias bibliogrficasALS, Anselmo Peres. Literatura e interveno poltica na Amrica Latina: relendo Rigoberta Men-ch e Carolina Maria de Jesus. Cadernos de Letras da UFF. Niteri, n 38, 2009, p. 139-62.

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    Recebido em 16 de fevereiro de 2011Aprovado em 24 de abril de 2011

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