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ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA DO ESTADO DO CEARÁ HOSPITAL GERAL DE FORTALEZA RESIDÊNCIA MÉDICA EM NEUROLOGIA MATHEUS FALCÃO BARROS PERFIL DOS PACIENTES COM MIOPATIAS ACOMPANHADOS NO AMBULATÓRIO DE DOENÇAS NEUROMUSCULARES DO HOSPITAL GERAL DE FORTALEZA, COM ÊNFASE EM DOENÇA DE POMPE Fortaleza-CE 2016

MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

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Page 1: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA DO ESTADO DO CEARÁ

HOSPITAL GERAL DE FORTALEZA

RESIDÊNCIA MÉDICA EM NEUROLOGIA

MATHEUS FALCÃO BARROS

PERFIL DOS PACIENTES COM MIOPATIAS ACOMPANHADOS NO

AMBULATÓRIO DE DOENÇAS NEUROMUSCULARES DO

HOSPITAL GERAL DE FORTALEZA, COM ÊNFASE EM DOENÇA

DE POMPE

Fortaleza-CE

2016

Page 2: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

2

MATHEUS FALCÃO BARROS

PERFIL DOS PACIENTES COM MIOPATIAS ACOMPANHADOS

NO AMBULATÓRIO DE DOENÇAS NEUROMUSCULARES DO

HOSPITAL GERAL DE FORTALEZA, COM ÊNFASE EM

DOENÇA DE POMPE

Monografia apresentada ao Serviço de Neurologia

do Hospital Geral de Fortaleza e submetida à

Escola De Saúde Pública do Ceará como parte dos requisitos

para conclusão da Residência Médica em Neurologia.

Orientador: Prof. Dr. Cleonísio Leite Rodrigues

Fortaleza-CE

2016

Page 3: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

3

MATHEUS FALCÃO BARROS

PERFIL DOS PACIENTES COM MIOPATIAS ACOMPANHADOS

NO AMBULATÓRIO DE DOENÇAS NEUROMUSCULARES DO

HOSPITAL GERAL DE FORTALEZA, COM ÊNFASE EM

DOENÇA DE POMPE

Monografia apresentada ao Serviço de Neurologia

do Hospital Geral de Fortaleza e submetida à

Escola De Saúde Pública do Ceará como parte dos requisitos

para conclusão da Residência Médica em Neurologia.

Aprovada em 22 / 02 /2016

BANCA EXAMINADORA

Dr. Paulo Ribeiro Nóbrega

Dr. Pedro Braga Neto

Dr. Cleonísio Leite Rodrigues

Page 4: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

4

Dedico este trabalho primeiramente à Deus;

dedico também à minha amada Lorena Chérida,

pelo apoio incondicional, compreensão e carinho

durante todo o tempo da minha residência médica.

Page 5: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

5

AGRADECIMENTOS

À minha família, por estarem sempre ao meu lado, nos momentos felizes e

também nos mais difíceis. Por serem meu alicerce e meu orgulho.

Aos amigos da residência médica, pelos momentos de companheirismo e ajuda

durante estes três anos de trabalho árduo.

Aos neurologistas do Serviço de Neurologia do Hospital Geral de Fortaleza,

obrigado pelos ensinamentos diários.

Ao Prof. Dr. Cleonísio Leite Rodrigues, que nos anos de convivência, muito me

ensinou, contribuindo para meu crescimento científico e intelectual, além da

atenção e apoio durante o processo de orientação.

Ao Prof. Dr. Pedro Braga Neto, pelo apoio fundamental ao trabalho, através da

coleta de exames, em parceria com a Rede Neurogenética da UFRGS.

Page 6: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

6

RESUMO

Introdução: As miopatias são doenças que afetam a estrutura, metabolismo ou canais

dos músculos estriados esqueléticos. A avaliação inicial de pacientes suspeitos de tais

patologias se baseia na história clínica, antecedentes familiares e exame físico, porém

exames complementares são necessários para concluir o diagnóstico. Objetivos: Avaliar

o perfil clínico e epidemiológico dos pacientes portadores de miopatias acompanhados

no Ambulatório de Doenças Neuromusculares do Hospital Geral de Fortaleza (HGF),

com ênfase no rastreio dos pacientes com Doença de Pompe. Metodologia: Estudo

transversal e descritivo, realizado em pacientes acompanhados no Ambulatório de

Doenças Neuromusculares do Hospital Geral de Fortaleza, um dos centros de referências

no tratamento de pacientes com miopatias no estado do Ceará, Brasil. Para análise

estatística foi utilizado o programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS)

versão 20.0. Resultados: Foram selecionados 52 pacientes, dos quais 26 (50%) eram do

sexo masculino e 26 (50%) do sexo feminino, com média de idade de 41,1 ± 13,48 anos.

A idade de início dos sintomas foi 26,0 ± 14,33 anos, o tempo médio de doença de 15,2

+ 11,60 anos e o tempo médio de início dos sintomas até o diagnóstico de miopatia foi de

10,53 anos. Em relação à distribuição quanto às formas de herança genética a proporção

foi de: autossômica dominate (57,69%), esporádica (25%), autossômica recessiva

(11,53%) e herança indefinida (5,76%). Tendo por base as características clinicas e

laboratoriais, os 52 pacientes apresentaram os seguintes diagnósticos prováveis: distrofia

miotônica 51,9% (N=27); distrofias musculares de cinturas 23,1% (N=12); distrofia

facioescapuloumeral 7,7% (N=4); miopatias metabólicas 5,8% (N=3); miopatias

inflamatórias 3,8% (N=2); miopatias associadas a doenças sistêmicas 3,8% (N=2) e

miopatia com predomínio de ptose, oftalmoparesia e acometimento de orofaringe 3,8%

(N=2). Apenas 8 pacientes (15,38%) tiveram o diagnóstico definitivo concluído, com

base em testes moleculares, genéticos ou de biópsia muscular. Destes, 2 pacientes tiveram

diagnóstico de doença de POMPE por testes de dosagem enzimática e genético (um deles

também fez biópsia muscular), 1 teve parente de primeiro grau com teste genético

conclusivo para distrofia facioescapuloumeral e fenótipo semelhante, 4 tiveram distrofia

miotônica de Steinert (tipo 1) e 1 paciente teve uma distrofia de cinturas do tipo 2F

Page 7: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

7

(alteração no éxon 8 da delta-sarcoglicana). Conclusão: Dados clínicos e o exame de

eletroneuromiografia, são de fundamental importância para a suspeição diagnóstica,

classificação fenotípica e direcionamento propedêutico destes pacientes, embora sejam

insuficientes para elucidação dos subtipos destas patologias, sendo exames de biópsia

muscular, testes de rastreio molecular e genéticos necessários.

Palavras-chaves: Miopatias; Ambulatório de Doenças Neuromusculares; Doença de

Pompe; Eletroneuromiografia; Testes Genéticos; Biópsia Muscular.

Page 8: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

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Abstract

Introduction: The myopathies are diseases that affect the structure, metabolism or

channels of skeletal striated muscles. The initial evaluation of patients suspected of such

diseases is based on clinical and family histories and physical examination, but additional

tests are needed to complete the diagnosis. Objectives: To evaluate the clinical and

epidemiological profile of patients with myopathies accompanied in Neuromuscular

Diseases Clinic of the General Hospital of Fortaleza (HGF), with emphasis on the

screening of patients with Pompe disease. Methodology: cross-sectional descriptive study

conducted in patients followed in Neuromuscular Diseases Clinic of the General Hospital

of Fortaleza, one of the centers of reference in the treatment of patients with myopathy in

the state of Ceará, Brazil. Statistical analysis was performed using the Statistical Package

for Social Sciences (SPSS) version 20.0. Results: We selected 52 patients, of whom 26

(50%) were male and 26 patients (50%) were female, with a mean age of 41.1 ± 13.48

years. The age of onset of symptoms was 26.0 ± 14.33 years, the average time of disease

15.2 + 11.60 years and the mean time to onset of symptoms to diagnosis of myopathy was

10.53 years. Regarding the distribution on ways of inheritance the proportion was:

autosomal dominant (57.69%), sporadic (25%), autosomal recessive (11.53%) and

indefinite inheritance (5.76%). Based on clinical and laboratory features, 52 patients

presented the following possible diagnoses: myotonic dystrophy 51.9% (N = 27); girdle

muscular dystrophies 23.1% (N = 12); facioscapulohumeral dystrophy 7.7% (N = 4);

metabolic myopathies 5.8% (n = 3); inflammatory myopathies 3.8% (N = 2); myopathies

associated with systemic diseases 3.8% (N = 2) and myopathy with predominance of

ptosis, ophthalmoparesis and oropharyngeal involvement 3.8% (N = 2). Only 8 patients

(15.38%) had a definitive diagnosis completed on the basis of molecular tests, genetic or

muscle biopsy. Of these, 2 patients were diagnosed with Pompe disease by enzyme and

genetic dosage tests (one also has muscle biopsy), 1 had a first degree relative with

conclusive genetic test for facioscapulohumeral dystrophy and similar phenotype, 4 had

myotonic dystrophy Steinert ( type 1) and 1 patient had a girdle dystrophy type 2F (change

in exon 8 of the delta-sarcoglycan). Conclusion: Clinical data and examination of

electromyography, are of fundamental importance for the presumptive diagnosis,

Page 9: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

9

phenotypic classification and introductory orientation of these patients, although they fail

to elucidate the subtypes of these diseases, and tests of muscle biopsy, molecular

screening tests and genetic needed.

Keywords: Myopathies; Outpatient Neuromuscular Diseases; Pompe disease;

electromyography; Genetic testing; Muscle biopsy

Page 10: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

10

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

HGF – Hospital Geral de Fortaleza

UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul

HUWC – Hospital Universitário Walter Cantídio

ASO – Antisense Oligonucleotide Therapy

PABN1 – Proteína Nuclear Ligante poli-A

DNA – Ácido desoxirribonucleico

NADH – Nicotinamida Dinucleotídeo Desidrogenase

COX – Citocromo-C Oxidase

GAA – Alfa-glicosidase ácida

PAS – Ácido periódico de Schiff

FDA – Food and Drug Administration

SPSS – Statistical Package for Social Science

H0 – Hipótese Nula

CPK – Creatinofosfoquinase

TGO / AST – Transaminase Glutâmico Oxaloacética/Aspartato aminotransferase

TGP / ALT – Transaminase Glutâmico Pirúvica/Alanina aminotransferase

LDL – Low Density Lipoproteins

TG – Triglicerídeos

TSH – Hormônio Estimulante da Tireóide

T4L – Tiroxina livre

B12 – Vitamina B12 (cianocobalamina)

Glic jejum – Glicemia de jejum

Hb glic – Hemoglobina glicada

Col total – Colesterol total

HAS – Hipertensão Arterial Sistêmica

DM – Diabetes Mellitus

DLP – Dislipidemia

ICC – Insuficiência Cardíaca Congestiva

Page 11: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

11

IC- Intervalo de confiança

D Pulmonar – Doença Pulmonar

D Reumatológica – Doença Reumatológica

AVC – Acidente Vascular Cerebral

ENMG – Eletroneuromiografia

ECG – Eletrocardiograma

ECO TT – Ecocardiograma Transtorácico

RM – Ressonância Magnética

TC – Tomografia Computadorizada

MMSS – Membros Superiores

MMII – Membros Inferiores

VEF1- volume expiratório forçado no primeiro Segundo

CVF- capacidade vital forçada

FEF- fluxo expiratório forçado

VEF1/CVF- índice de Tiffeneau

Page 12: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

12

SUMÁRIO

1. Introdução _________________________________________________ 13

2. Revisão da Literatura _________________________________________14

3. Justificativa ________________________________________________ 25

4. Objetivos __________________________________________________ 26

A. Objetivo Geral _________________________________________26

B. Objetivos Específicos ___________________________________ 26

5. Materiais e Métodos _________________________________________ 27

A. Delineamento do estudo _________________________________ 27

B. Local do estudo ________________________________________ 27

C. Período do estudo ______________________________________ 27

D. Amostra ______________________________________________27

E. Coleta de dados ________________________________________ 27

F. Critérios de exclusão ____________________________________ 28

G. Critérios de inclusão ____________________________________ 28

H. Variáveis analisadas ____________________________________ 29

6. Análise Estatística ___________________________________________ 32

7. Aspectos Éticos _____________________________________________ 33

8. Resultados _________________________________________________ 34

9. Discussão __________________________________________________ 46

10. Conclusão __________________________________________________51

11. Referências Bibliográficas _____________________________________ 52

12. Anexos ____________________________________________________ 58

12.1. Questionário ________________________________________ 58

12.2. Termo de Consentimento ______________________________ 62

12.3. Termo de Fiel Depositário ______________________________64

12.4. Autorização do Chefe do Serviço ________________________ 65

12.5. Parecer Consubstanciado do Comitê de Ética em Pesquisa ____ 66

12.6. Protocolo para testes de rastreio molecular de doenças

neurogenéticas ___________________________________________ 69

Page 13: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

13

1. INTRODUÇÃO

As miopatias são doenças que afetam a estrutura, metabolismo ou canais dos

músculos estriados esqueléticos. A avaliação inicial de pacientes suspeitos de tais

patologias se baseia na história clínica, antecedentes familiares e exame físico, porém

exames complementares são necessários para concluir o diagnóstico (BAROHN, 2014).

Em casos com manifestação na infância, de forma precoce ou história familiar positiva,

pode-se proceder diretamente testes genéticos direcionados ou biópsia muscular.

O uso da eletroneuromiografia (ENMG) apresenta papel importante na exclusão

de diagnósticos diferencias (como doenças do neurônio motor, patologias da junção

neuromuscular ou neuropatias motoras), na confirmação eletrofisiológica do

acometimento muscular, na caracterização das miopatias (localização, presença ou não

de sinais de atividade espontânea e severidade) e na identificação dos músculos com

maior atividade da doença e, portanto, mais indicados para biópsia. Apesar de sua

importância, este exame não é essencial ao diagnóstico de todos os casos de miopatias e

pode ser normal em algumas situações. (PAGANONI & AMATO, 2013).

Os sinais e sintomas associados às miopatias podem ser divididos como negativos

(fraqueza, fadiga, intolerância a exercícios, atrofia muscular) ou positivos (câimbras,

contraturas, hipertrofia muscular, mialgias, rigidez e mioglobinúria). Diversas formas de

classificação das miopatias são usadas na prática clínica. Quanto às causas podem ser

divididas em hereditárias (canalopatias, miopatias congênitas, metabólicas, distrofias

musculares e miotônicas) e adquiridas (miopatias inflamatórias/imunes, induzidas por

drogas, tóxicas, associadas a doenças sistêmicas, associadas a doenças endocrinológicas).

Em relação à idade de início podem ser presentes já ao nascimento ou manifestar-se na

infância, adolescência e na idade adulta. (BAROHN, 2014).

Quanto à distribuição da fraqueza, podem apresentar diversos padrões de

acometimento muscular: proximal de cinturas escapular e pélvica; distal;

escapuloperoneal; com ptose, oftalmoparesia e acometimento de orofaringe; bulbar; com

predomínio de fraqueza muscular extensora; com dor, fraqueza e mioglobinúria

episódicas; paralisias periódicas; miotonias e paramiotonias. A classificação nestes

padrões facilita o diagnóstico mais preciso das miopatias, o que é fundamental para seu

planejamento terapêutico, aconselhamento genético e prognóstico. (BAROHN, 2014).

Page 14: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

14

Apesar dos avanços já alcançados, a maior parte das miopatias ainda não têm tratamentos

específicos modificadores da história natural das doenças.

2. REVISÃO DA LITERATURA

Estudo feito neste mesmo ambulatório de Doenças neuromusculares do Hospital

Geral de Fortaleza, com pacientes atendidos no período de fevereiro a dezembro de 2011,

mostrou um total de 174 pacientes, que tiveram os respectivos diagnósticos: 26%

polineuropatias adquiridas; 20% miopatias; 9,4% doenças da junção neuromuscular

(miastenia); 8,9% mononeuropatias; 7,8% esclerose lateral amiotrófica; 7,8% outras

doenças neurológicas (como síndromes medulares, síndromes atáxicas, múltiplos AVC´s,

síndrome de pernas inquietas, distonia secundária a medicações e doença

meningorradicular em investigação); 7,2% radiculopatias; 3,3% polineuropatias

hereditárias;2,85 outros diagnósticos não neurológicos 2,2% plexopatia; 2,2% atrofia

muscular espinhal, 1,7% mononeurite múltipla; 0,6% paralisia facial periférica. Dos 36

pacientes com miopatias desta amostra, 28 tinham perfil fenotípico de distofia miotônica,

1 de distrofia facioescapuloumeral, 1 de miopatia metabólica, 1 com distrofia muscular

de cinturas e 5 ainda sem perfil definido. Nenhum destes pacientes com miopatias teve

confirmação do diagnóstico especifico por métodos como testes moleculares, genéticos

ou histopatológicos. (PINHEIRO, 2012)

A distrofia miotônica tipo 1, ou distrofia miotônica de Steinert, é a causa mais

comum de distrofia muscular em adultos. Sua prevalência é de entre 3-15 casos por

100.000 pessoas, porém pode chegar até 1:500 em algumas regiões, como o Quebec no

Canadá. É uma patologia autossômica dominante, causada pela expansão de uma

repetição de sequências de trinucleotídeos instáveis do gene da proteína quinase da

distrofia miotônica, sendo este localizado em sua porção 3’ e localizada no cromossomo

19q13.3. Fraqueza muscular de evolução lentamente progressiva, fenômeno miotônico,

déficit de relaxamento da musculatura (principalmente das mãos e pálpebras) após sua

contração vigorosa, são característicos da doença. Além disso, alterações cardíacas,

respiratórias, endocrinológicas, calvície e um quadro demencial podem fazer parte da

doença. Sua sobrevida média, nas formas com início no adulto, é de 54 anos, sendo a

Page 15: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

15

principal causa de morte as complicações cardiorrespiratórias. A mortalidade chega a

25% na forma com início na infância. Até o momento terapias especificas não estão

disponíveis para a esta doença (TURNER & HILTON-JONES, 2014).

A distrofia miotônica tipo 2 divide várias manifestações clinicas com a distrofia

miotônica tipo 1. Seu início ocorre tipicamente na terceira década de vida, mas frequente

também em idades mais avançadas. Os pacientes têm tipicamente mais sintomas como

dores musculares rigidez e fadiga, em relação aos portadores do tipo 1, enquanto

manifestações cognitivas são mais brandas. A fraqueza tipicamente afeta mais a

musculatura proximal e é leve. Defeitos de condução cardíaca, catarata e resistência

insulínica são comuns. Por precaução, são adotados os mesmos protocolos de rastreio da

distrofia miotônica do tipo 1, sendo esta doença também de herança autossômica

dominante. Fenômeno de antecipação acontece de forma mais branda e não há casos

relatados de casos congênitos (DAY JW, 2003). Não existe terapia curativa até o

momento para ambas as formas de distrofias miotônicas, embora estudos experimentais

com terapias moleculares direcionadas como a Antisense Oligonucleotide Therapy (ASO)

estão sendo estudados para uso no futuro (TURNER & HILTON-JONES, 2014).

A distrofia facioescapuloumeral tem uma incidência de 4 por milhão e uma

prevalência de 50 por milhão de pessoas (TAWIL, 2006). O início dos sintomas é

geralmente entre a segunda e terceira décadas de vida e a sua herança é autossômisa

dominante, com penetrância variável entre pessoas da mesma família. Até 30% dos

familiares afetados podem não se dar conta dos seus próprios déficits. Não existem

marcadores bioquímicos ou histológicos capazes de confirmar independentemente esta

patologia e o defeito genético não reside em nenhum gene codificante de proteínas. Ao

invés disso, a doença tem sido geneticamente ligada à redução do número de repetições

do tandem D4Z4 localizadas no cromossomo 4q35 (SCIOTI & GREGO, 2012).

A distrofia facioescapuloumeral é caracterizada clinicamente por fraqueza de

musculatura facial (particularmente no músculo orbicular dos olhos e da boca e do

músculo zigomático), podendo esta ser assimétrica e simular uma Paralisia de Bell. A

musculatura da mastigação e ocular extrínseca são tipicamente preservadas. A

musculatura estabilizadora das escápulas (músculo serrátil anterior, romboide, trapézio e

em algum grau o latíssimo do dorso) também são acometidos por fraqueza precoce,

levando à uma elevação e rotação lateral das escápulas com aparência de “corcovas”.

Page 16: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

16

Também ocorre significante atrofia dos músculos bíceps braquial e tríceps, com relativa

preservação da musculatura dos antebraços, produzindo os chamados “braços de

Popeye”. Alguns pacientes manifestam somente escápulas aladas ou uma distrofia com

padrão de cinturas escapular e pélvica. Os músculos tibiais anteriores são os primeiros

envolvidos nos membros inferiores e podem levar à apresentação de “pés caídos”. A

fraqueza muscular geralmente progride para musculatura pélvica, produzindo uma

postura hiperlordótica e uma marcha “bamboleante” (AMATO & RUSSELL, 2008).

A distrofia muscular de Duchene, o protótipo das distrofinopatias, é uma

desordem de herança recessiva ligada ao X, tendo uma incidência de 1:3.500 homens

nascidos e uma prevalência que pode chegar a 1:18.000 homens. A maioria das crianças

acometidas nascem aparentemente normais e têm marcos do desenvolvimento como

sentar e ficar em pé com pouco atraso, embora possa haver casos já com sintomas de

hipotonia ao nascimento. Por volta dos 2-6 anos de idade é notada uma alteração na

marcha, com tendência a andar na ponta dos pés, podendo ocorrer também hipertrofia de

panturrilhas. Entre os 6-12 anos de idade a fraqueza progride para a musculatura do dorso

e de membros superiores, levando à cifoescoliose e contraturas musculares importantes.

A musculatura cardíaca também é envolvida e podem ocorrer arritmias e insuficiência

cardíaca congestiva, além de declínio gradual da força respiratória, causando a morte dos

pacientes por volta dos 20 anos de vida por falência cardiorrespiratória. (STREHLE,

2015).

A distrofia muscular de Becker representa uma forma mais leve de

distrofinopatias, distinguindo-se clinicamente da forma Duchene pela progressão mais

lenta e geneticamente pela análise da distrofina. A incidência é de aproximadamente

5:100.00 e cerca de 10% dos casos são resultado de novas mutações espontâneas. Um

grande espectro de fenótipos clínicos pode ser visto até mesmo dentro da mesma família,

sendo um padrão de fraqueza muscular de cinturas o mais comum. A maioria dos

indivíduos tem dificuldade em caminhar, mas conseguem deambular após os 15 anos de

idade. Alguns pacientes manifestam apenas mialgias, mioglobinúria, cardiomiopatias ou

elevações assintomáticas da CPK (AMATO & RUSSELL, 2008).

As distrofias musculares de cinturas são um grupo heterogêneo de desordens que

clinicamente lembram as distrofinopatias, porém têm ocorrência igual em homens e

mulheres por serem autossômicas. A prevalência destas doenças é entre 8-70:1.000.000

Page 17: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

17

e são divididas em autossômicas dominantes (tipo 1) e recessivas (tipo 2). Uma

subclassificação alfabética é aplicada à estas desordens de acordo com as mutações

específicas descritas, envolvendo as proteínas do complexo distrofina-glicoproteína,

sarcoméricas, nucleares e enzimas presentes em fibras musculares. Geralmente,

manifestam-se por fraqueza da musculatura proximal de membros inferiores e superiores,

principalmente, das cinturas escapular e pélvica (AMATO & RUSSELL, 2008).

As distrofias musculares congênitas são um grupo diverso de patologias, com

início dos sintomas geralmente ao nascimento ou na infância, cuja herança é na maioria

das vezes autossômica recessiva e que apresentam um heterogeneidade genética e clínica.

O quadro clínico pode se manifestar com hipotonia muscular, atraso do desenvolvimento

motor, fraqueza muscular de início precoce com padrão distrófico á biópsia muscular,

podendo ocorrer também anormalidades oculares e do sistema nervoso central. Estudos

populacionais mostraram que a deficiência de merosina, distrofia muscular congênita tipo

1A seria a forma mais comum na Europa, com 30 a 40% dos casos de distrofias

congênitas, e no Brasil (FERREIRA, 2005) e a distrofia tipo Ullrich, doença relacionada

a alteração no colágeno tipo IV, seria a segunda mais frequente na Europa, Japão e

Austrália (REED, 2009).

A distrofia oculofaríngea é uma desordem autossômica dominante causada por

expansões de uma repetição curta CGC dentro do gene da proteína nuclear ligante poli-

A (PABN1), no cromossomo 14q11.1. Geralmente se manifesta por volta da quarta ou

quinta décadas de vida, expressando-se clinicamente com uma ptose progressiva. Pode

ocorrer alteração na motricidade ocular extrínseca em aproximadamente 50% dos casos,

porém diplopia é incomum. Cerca de um quarto dos pacientes manifestam-se inicialmente

com disfagia que progride progressivamente, com alteração dos reflexos nauseosos,

levando a perda de peso e aspiração. Pode ocorrer envolvimento também da laringe,

gerando disfonia além de leve fraqueza da musculatura cervical e proximal de membros.

Pode ser distinguida de várias formas de miopatias mitocondriais, que também causam

ptose e oftalmoparesia, através da ausência de “fibras vermelhas rajadas” na biópsia

muscular (HILL, 2001).

As miopatias mitocondrais são um grupo heterogêneo de patologias causadas por

defeitos genéticos que predominam nos músculos esqueléticos e comprometem a síntese,

montagem ou manutenção de componentes da cadeia respiratória. Podem ser gerados por

Page 18: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

18

mutações primárias envolvendo o DNA mitocondrial, mutações nucleares levando a

deleções no DNA mitocondrial e mutações de genes nucleares que impedem a produção

de proteínas mitocondriais (SHARP & HALLER, 2014). Estudo realizado no Norte da

Inglaterra identificou que 6,57 em cada 100.000 adultos possuíam alguma doença

mitocondrial (CHINNERY, 2000).

Existe uma grande heterogeneidade para formas de herança genética na miopatias

mitocondriais (herança materna, autossômica recessiva ou dominante, esporádica) e

várias formas de apresentação das doenças, desde quadros envolvendo múltiplos sintomas

sistêmicos (crises epilépticas generalizadas, mioclonias, ataxias, perda auditiva sensorial,

atrofia óptica, cardiomiopatias) até formas com ptose e oftalmoparesia isoladas. As

alterações histológicas características, dessas patologias são a presença de “fibras

vermelhas rajadas” através do corante tricrômicro modificado de Gomori, presença de

“fibras azuis rajadas” através do uso de corantes para nicotinamida dinucleotídeo

desidrogenase (NADH) e citocromo-C oxidase (COX), apesar de não estarem presentes

em todos os casos. (AMATO & RUSSELL, 2008).

Várias medicações comumente prescritas na prática clínica podem produzir

efeitos tóxicos nos músculos. Os mecanismos fisiopatológicos pelos quais estas drogas

podem lesar as fibras musculares são diversos e gerando as miopatias necrotizantes

(estatinas e outros agentes hipolipemiantes, labetalol, propofol), miopatias lisossomais

autofágicas (cloroquina e amiodarona), miopatias por drogas antimicrotubulares

(colchicina e vincristina), miopatias mitocondriais induzidas por drogas (zidovudina),

miopatias inflamatórias induzidas por drogas (D-penicilamina, cimetidina, fenitoína,

lamotrigina, entre outros) e miopatias por comprometimento da síntese de proteínas e

aumento do catabolismo (corticosteroides, finasterida). Drogas de abuso, com álcool,

cocaína, heroína, anfetaminas) também são relacionados às miopatias tóxicas.

(PASNOOR, 2014).

Miopatias podem complicar doenças sistêmicas diversas, notadamente as

endocrinológicas associadas a tireóide, paratireoides, adrenais, hipófise e pâncreas. Em

relação aos distúrbios da tireóide, podem ocorrer tanto com hipertireoidismo quanto com

hipotireoidismo. Cerca de 61- 82% dos pacientes com tireotoxicose apresentam algum

grau de fraqueza muscular que geralmente se manifesta na musculatura proximal e pode

ter atrofia dos músculos dos ombros e até escápulas aladas. Pode ocorrer também fraqueza

Page 19: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

19

distal em até 20% dos casos, bem como envolvimento das musculaturas bulbar, faríngea,

esofageana e dos músculos respiratórios. Quanto ao hipotireoidismo, cerca de um terço

dos pacientes manifestam fraqueza proximal e em pernas, com mialgias, câimbras e

fadiga.

Fraqueza muscular ocorre também em 2-10% dos pacientes com

hiperparatireoidismo, chegando a 72% nos casos com osteomalácea associada, e

manifesta-se na forma de uma miopatia proximal com atrofia de predomínio em membros

inferiores. Envolvimento da musculatura flexora cervical pode levar a uma “síndrome de

cabeça caída” (“drop head syndrome”).

Cerca de 50-80% dos pacientes com Doença de Cushing manifestam fraqueza

muscular proximal antes do tratamento, geralmente preservando a musculatura distal,

ocular, facial e bulbar. Sintomas semelhantes podem ocorrer nos casos de

hipercortisolismo iatrogênico. Em relação à hipófise, tanto os casos e de acromegalia,

quanto os casos de pan-hipopituitarismo podem gerar fraqueza muscular de padrão

proximal. O diabetes mellitus pode gerar uma entidade chamada infarto muscular, que

geralmente afeta o quadríceps femoral de forma unilateral e cursa com dor muscular e é

associada a níveis descontrolados de glicemias (AMATO & RUSSELL, 2008).

As canalopatias musculares são um raro grupo de doenças neuromusculares

causadas por mutações envolvendo canais iônicos de sódio, potássio, cloreto presentes no

sarcolema das fibras musculares. São classicamente divididas em miotonias não-

distróficas (miotonia congênita, paramiotonia congênita) e paralisias periódicas

(paralisias hipocalêmica e hipercalêmica periódicas, paralisia ligada à tireotoxicose,

síndrome de Andersen-Tawil, miopatia central-core). A maioria destas doenças são

esporádicas ou têm uma herança autossômica dominante, e tendem a ter uma alta

penetrância, mas podem mostrar uma grande variabilidade entres famílias e até mesmo

dentro da mesma família. Manifestam-se geralmente nas duas primeiras décadas de vida

e não afetam a mortalidade, porém aumentam morbidade através de sintomas como

rigidez, dor e fraqueza musculares. A história clínica e achados de eletroneuromiografia,

como a presença de miotonias elétricas, na miotonias não-distróficas, são fundamentais

para o diagnóstico destas patologias (STATLAND & BAROHN, 2013).

Page 20: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

20

As miopatias metabólicas são um grupo de desordens inatas do metabolismo que

podem ocorrer em várias etapas bioquímicas do metabolismo dos carboidratos, lipídeos

e adenina nucleotídeos. Em relação às desordens do metabolismo dos lipídeos, a patologia

mais comum é a deficiência do transportador da carnitina, doença que pode se manifestar

de várias formas clínicas. Geralmente as crianças têm um quadro precoce de vômitos,

hipoglicemia, alterações do estado mental e hepatomegalia. Evoluem geralmente com

cardiomiopatia, fraqueza muscular proximal progressiva, atrofia, rabdomiólise e fraqueza

da musculatura respiratória. Bons resultados em pacientes com cardiomiopatia grave

foram relatados em pacientes com o uso L-carnitina oral (AMATO & RUSSELL, 2008).

Existem pelo menos 14 doenças relacionadas a desordens no metabolismo do

glicogênio, também chamadas glicogenoses, podendo estas afetarem os músculos, fígado

ou uma combinação de ambos. Testes classicamente descritos podem ajudar na

diferenciação das glicogenoses, como o teste de exercício do antebraço, com mediações

dos níveis de lactato e amônia imediatamente após o exercício, e após 1, 2, 4 e 10 minutos.

Aumento isolado em lactato é diagnóstico para deficiência de mioadenilato deaminase,

enquanto aumentos isolados de amônia podem ocorrer nas deficiências de miofosforilase,

fosfoglicerato quinase, fosforilase-quinase B, entre outras (AMATO & RUSSELL,

2008).

A glicogenose tipo V, ou Doença de McArlle, é a desordem do metabolismo dos

carboidratos mais comum. Apresenta herança autossômica recessiva e apresenta-se

usualmente com intolerância ao exercício em crianças e adultos jovens. Pacientes

queixam-se se de dores musculares e câimbras, principalmente com esforços intensos e

de curta duração. É comum ocorrência de mioglobinúria relacionadas a atividade física

exacerbada, podendo gerar insuficiência renal como complicação. A maiorias destes

pacientes apresenta exame do aparelho motor normal entre os ataques de rabdomiólise,

porém pode haver uma fraqueza muscular proximal fixa em até um terço dos casos. Níveis

de CPK são invariavelmente altos nesta patologia (AMATO & RUSSELL, 2008).

A Doença de Pompe, ou Doença de Depósito Lisossomal tipo II, é uma desordem

autossômica recessiva causada pela deficiência da enzima lisossomal alfa-glicosidase

ácida (GAA), levando ao acúmulo generalizado de glicogênio lisossomal, especialmente

nos músculos cardíaco, estriados esqueléticos e lisos, além de sistema nervoso central

(DASOUKI et al, 2014). Foi inicialmente descrita em 1932, em uma menina de 7 meses

Page 21: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

21

de idade com fraqueza muscular importante, além de cardiomiopatia hipertrófica e

acúmulo de glicogênio generalizado em várias partes do corpo (POMPE JC, 1932),

recebendo posteriormente este epônimo em homenagem ao cientista que primeiro a

descreveu.

A GAA é sintetizada pelo RNA-m e armazenada inicialmente em sua forma

imatura no retículo endoplasmático rugoso das células musculares, sendo transferida ao

complexo de Golgi, onde sofre alterações em suas cadeias glicídicas (adição de manose-

fosfato) e são transportadas até os lisossomos, onde é armazenada. Sua função é catalisar

a hidrólise das ligações alfa 1-4 e 1-6 da molécula de glicogênio em pH ácido, com a

formação de glicose. O grau de redução da atividade enzimática geralmente se

correlaciona com a severidade da miopatia, sendo as formas infantis, associadas à sua

deficiência grave, e as formas do adulto, podendo ter atividade residual de até 30% nos

músculos (VAN DER PLOEG, 2008).

A Doença de Pompe é classificada baseada em sua idade de acometimento, sendo

a forma infantil quando se apresenta até um ano de idade e a forma tardia após esta idade,

podendo esta última ter seus sintomas iniciais ainda na infância (>1 ano), adolescência

ou idade adulta (DASOUKI et al, 2014). A forma infantil pode ser classificada em

clássica, quando há acometimento da musculatura cardíaca, e não clássica, quando não o

há (CASE LE et al, 2012).

Os casos clássicos da forma infantil se manifestam durante as primeiras semanas

de vida com hipotonia, fraqueza progressiva, macroglossia, hepatomegalia e

cardiomiopatia hipertrófica. Na história natural da doença, a maioria das crianças morre

próximo a um ano de idade. (VAN DEN HOUT et al, 2003). Por outro lado, o diagnóstico

da Doença de Pompe em crianças mais velhas, adolescentes e adultos pode ser mais

desafiador, já que estes pacientes geralmente se apresentam com um quadro de fraqueza

de cinturas progressiva e insuficiência respiratória, sem cardiomiopatia significativa

(PREISLER, 2013).

A forma juvenil geralmente se manifesta na primeira década de vida, podendo

ocorrer atrasos nos marcos do desenvolvimento motor, fraqueza muscular com

predomínio proximal, pseudohipertrofia de panturrilhas, distúrbios da marcha e manobra

Page 22: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

22

de Gowers (levantar miopático), não sendo incomum serem diagnosticadas erroneamente

como Doença de Duchene ou outras distrofias musculares de cinturas (ENGEL et al,

1994). Uma “Síndrome de Espinha Rígida”, com progressiva limitação cervical e do

tronco, escoliose importante e baixo peso, também foi reportada em pacientes com

acometimento na adolescência (SCHULLER 2012). Os pacientes geralmente morrem por

volta da segunda ou terceira décadas de vida, por falência da musculatura respiratória.

A forma adulta geralmente se manifesta entre a terceira e quarta décadas de vida,

com quadro de fraqueza muscular de predomínio proximal, que lembra uma polimiosite,

ou como uma distrofia de cinturas (WOKKE, 1995). A fraqueza é ocasionalmente

assimétrica e pode acometer face e língua. Cerca de metade dos pacientes queixam-se de

dores musculares, particularmente nas coxas. Sintomas relacionados à insuficiência

ventilatória (dispneia, despertares noturnos frequentes, cefaleia matinal, sonolência

diurna excessiva) podem ocorrer em 16-33% dos casos. As manifestações cardíacas nos

casos tardios podem se manifestar como uma síndrome de Wolf-Parkinson-White,

hipertrofia ventricular esquerda e dilatação da aorta ascendente (FELICE, 1995).

O diagnóstico da Doença de Pompe pode ser suspeitado pelo quadro clínico e

confirmado com exames complementares. A biópsia muscular pode mostrar vacúolos que

reagem fortemente com o ácido periódico de Schiff (PAS), são sensíveis à diástase e

coram fortemente com fosfatase-ácida, confirmando que tais vacúolos são lisossomos

secundários preenchidos por glicogênio. Porém estes achados são mais vistos nas formas

precoces, aparecendo em 25-75% das fibras de músculos afetados em casos tardios

(ENGEL et al, 1994). Microscopia eletrônica também pode ser usada, com visualização

de glicogênio de forma livre no citoplasma.

Os testes que usam a medida da atividade da alfa-glicosidase ácida (GAA) através

de amostras de sangue seco em papéis de fita (dried blood spots), tem se tornado mais

acessíveis e são meios de triagem válidos antes de testes mais invasivos, como a biópsia

muscular. Uma vez que este teste de rastreio seja positivo, deve ser confirmado por um

segundo, seja ela a dosagem enzimática em outros tecidos (músculos, linfócitos ou

fibroblastos) ou sequenciamento do gene da GAA (PREISLER, 2013).

Page 23: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

23

Existe uma variedade de alelos normais para o gene da GAA (localizado no

cromossomo 17), responsáveis pela formação de 3 aloenzimas (GAA1, GAA2 e GAA4)

e mais de 450 mutações neste gene já foram descritas em indivíduos com Doença de

Pompe (DASOUKI et al, 2014).

Ensaios de dosagem enzimática para rastreio neonatal da Doença de Pompe,

baseados na dosagem da GAA por espectrofotometria de massa por tandem em amostras

de sangue seco estão disponíveis (SCOTT et al, 2013), porém o benefício do diagnóstico

precoce de casos assintomáticos, que se manifestariam apenas tardiamente, traz

implicações éticas importantes (ROSS, 2012).

A doença de Pompe ainda é considerada uma patologia rara, com frequência

estimada em 1:40.000 afro-americanos, 1:50.000 chineses, 1:40.000 alemães e 1:146.000

australianos, porém tais resultados podem estar subestimados (MEIKLE, 1999).

O interesse na doença tem crescido de forma significativa nos últimos anos, desde

a aprovação pelo Food and Drug Administration (FDA) nos EUA de uma terapia

específica de reposição enzimática com alfa-glicosidade ácida humana recombinante em

2006. Os primeiros estudos sobre a terapia de reposição enzimática mostraram bons

resultados, principalmente na função da musculatura cardíaca, e foram feitos em

pacientes com início dos sintomas de forma congênita ou na infância (KISHNANI, 2007),

com aumentos em tempo de sobrevida, aquisição de marcos do desenvolvimento motor e

no tempo livre de suporte ventilatório. Estudos randomizados com casos de doença de

Pompe tardia também mostraram benefícios, como melhora na marcha e na função

respiratória, mas com risco de complicações graves, como reações anafiláticas (VAN

DER PLOEG, 2010). A terapia de reposição enzimática de forma precoce tem mostrado

menores níveis séricos de CK, LDH e transaminases, indicando menor dano muscular

persistente, além de melhores resultados em testes cognitivos e de função motora (YANG,

2016).

Uma autofagia anormal na Doença de Pompe resultaria em menor reciclagem dos

receptores de manose-6-fosfato cátion-independentes, o que poderia explicar esta menor

resposta nos músculos esqueléticos à reposição enzimática (PLATT et al. 2012). Além

disso, existem relatos bem documentados na literatura de pacientes que desenvolveram

Page 24: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

24

níveis elevados de imunoglobulina G direcionados contra a enzima GAA recombinante,

apresentado estes piores resultados à reposição enzimática (KINASHI, 2010).

Além da terapia de reposição enzimática, medidas de suporte como fisioterapia,

suporte respiratório, terapia ocupacional, fonoterapia, avaliação de disfagia, suporte

nutricional e órteses, fazem parte do tratamento (CUPLER et al, 2012).

Page 25: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

25

3. JUSTIFICATIVA

As miopatias, apesar de pouco prevalentes, representam importante causa de

morbimortalidade na população geral. Seu diagnóstico definitivo requer, além de

anamnese, exame físico e eletroneuromiografia, exames complementares de altos custo e

complexidade, como testes moleculares e genéticos e biópsia muscular. Além da

necessidade de tais exames complementares, outros fatores podem contribuir para o

subdiagnóstico e/ou demora no diagnóstico destas patologias como: 1) dificuldade de

acesso da população a Serviços de Saúde especializados; 2) desconhecimento de muitos

profissionais de saúde da atenção básica (até mesmo médicos) dos sinais e sintomas

sugestivos de doenças musculares; 3) presença de quadros insidiosos e/ou

oligossintomáticos.

Existem poucos estudos na literatura sobre o perfil clinico de pacientes com

miopatias que sejam acompanhados em ambulatório voltado ao atendimento de uma

população predominantemente adulta. Tendo em vista o fato de as miopatias congênitas

ou com início dos sintomas na infância serem geralmente patologias mais graves, com

mortalidade precoce e associadas a doenças sistêmicas, estudos com a subpopulação de

pacientes de pacientes com início dos sintomas mais tardio podem trazer informações

importantes sobre perfil epidemiológico e de morbidade na idade adulta.

Com o diagnóstico adequado da etiologia da miopatia, medidas adequadas a fim

de prever a história natural da doença e controlar a sua evolução podem ser utilizadas. A

terapêutica, na maioria das vezes através de medidas de suporte, pode aumentar tempo de

sobrevida e a qualidade de vida dos portadores de tais patologias A identificação de

pacientes com miopatias tratáveis, como a doença de Pompe, também pode dar ao

paciente a oportunidade de obter uma estabilização da sua doença e melhora funcional

relevantes.

Page 26: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

26

4. OBJETIVOS

A. GERAL

Avaliar o perfil clínico e epidemiológico dos pacientes portadores de

miopatias acompanhados no Ambulatório de Doenças Neuromusculares do

Hospital Geral de Fortaleza (HGF), com ênfase nos pacientes com Doença de

Pompe.

B. ESPECÍFICOS

Estratificar critérios utilizados para diagnóstico das miopatias (clínico /exame

físico, exames laboratoriais / testes genéticos, achados na

eletroneuromiografia, biópsia muscular).

Classificar os pacientes selecionados em categorias como: fatores causais

(primárias ou secundárias), início dos sintomas (congênita, infância,

adolescência ou idade adulta), fenótipo (distrofia de cinturas, segmentar,

proximal/distal, entre outros), nosológicos (genético, inflamatório/auto-

imune, tóxico, metabólico) e forma de herança genética (autossômica

dominante e recessiva, ligada ao X, mitocondrial).

Estratificar quais os perfis fenotípicos dos pacientes que coletaram teste

molecular e/ou genético para Doença de Pompe

Page 27: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

27

5. MATERIAIS E MÉTODOS

A. DELINEAMENTO DO ESTUDO

Estudo transversal e descritivo.

B. LOCAL DE ESTUDO

O presente projeto foi realizado no Ambulatório de Doenças Neuromusculares

do Serviço de Neurologia do Hospital Geral de Fortaleza.

C. PERÍODO DE ESTUDO

Realizado de Abril de 2015 a Janeiro de 2016.

D. AMOSTRA

Constituída de pacientes acompanhados no ambulatório de Doenças

Neuromusculares do HGF cujas consultas são realizadas nas segundas-feiras pela

manhã. Foram selecionados todos os pacientes atendidos no período de Abril de

2015 a Janeiro de 2016, com diagnóstico clinico e/ou eletrofisiológico de

miopatia.

E. COLETA DE DADOS

O pesquisador entrevistou todos os pacientes que portadores de miopatias que

aceitaram participar do estudo, através da aplicação de um questionário (ver

anexo), após consulta realizada no Ambulatório de Doenças Neuromusculares do

Page 28: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

28

HGF. Foi feita também pesquisa dos dados dos pacientes nos seus respectivos

prontuários.

F. CRITÉRIOS DE INCLUSÃO

Pacientes entre 10 e 90 anos de idade.

Paciente alfabetizado ou presença de acompanhante alfabetizado, capaz de

assinar termo de consentimento livre e esclarecido (no caso de paciente menor de

idade, não alfabetizado ou incapaz de responder pelos seus atos, como em casos

de retardo mental moderado a grave).

Diagnóstico de miopatia comprovado por exame clínico e/ou exame

complementar (ex: eletroneuromiografia).

G. CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO

Pacientes cujo quadro clínico seja primariamente atribuído a doenças que

também acometam a função motora, mas cuja topografia não seja o músculo

(como encéfalo, medula, raiz, plexos, nervos periféricos ou junção

neuromuscular). Portanto, foram excluídos os pacientes cuja história clínica e

achados do exame físico e dos exames complementares fossem atribuídos,

exclusivamente, a doenças como: polineuropatias (adquiridas ou hereditárias),

radiculopatias, plexopatias, mononeuropatias múltiplas, miastenia gravis,

atrofias musculares espinhais, esclerose lateral amiotrófica, entre outras

patologias atendidas no ambulatório de Doenças Neuromusculares do Hospital

Geral de Fortaleza.

Page 29: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

29

H. VARIÁVEIS ANALISADAS

Dados demográficos:

Sexo

Idade

Escolaridade

Profissão e situação de emprego

Dados clínicos:

Presença de complicações motoras e não motoras como: fraqueza e atrofia

musculares, quedas, dores musculares, câimbras, disfagia, disfonia, entre

outras.

Acesso às terapias de reabilitação (fisioterapia, fonoterapia).

Necessidade de terapias de suporte ventilatório (ex: ventilação não-

invasiva) ou de aparelhos cardíacos (marcapasso, cardiodesfibrilador

implantável).

Comorbidades (hipertensão arterial sistêmica, diabetes melitus,

dislipidemias, insuficiência cardíaca, doenças pulmonares primárias;

doenças reumatológicas, dermatológicas, endocrinológicas, ortopédicas ,

neoplásicas, oftalmológicas e psiquiátricas, cefaleias primária, passado de

acidente vascular cerebral e epilepsia)

Medicações em uso.

Presença de casos semelhantes na mesma família e, nestes casos, tipo de

herança genética mais provável pela história clínica.

Exames complementares e laboratoriais utilizados para o diagnóstico:

Eletroneuromiografia (ENMG)

Exames laboratoriais, com valores de referência adotados no laboratório

do HGF:

Page 30: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

30

Vitamina B12 (193- 982 mg/dl)

Aldolase (até 7,6)

Creatinofosfoquinase ou CPK (24- 195)

TGO ou AST (0-38)

TGP ou ALT (0-41)

Glicemia de jejum (70-100)

Hemoglobina glicada (até 6,5%)

Colesterol total (até 239), Colesterol LDL (até 159) e triglicerídeos

(até 199)

TSH (0,4- 4,0) e T4 livre (0,8-1,76).

Biópsia muscular realizada no Hospital Geral de Fortaleza

Ressonância magnética

Tomografia computadorizada

Eletrocardiograma e ecocardiograma

Espirometria

Distúrbios restritivos: redução da capacidade vital (forçada ou não),

redução do volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1) e

índice de Tiffeneau normal (VEF1/CVF)

Distúrbios obstrutivos: VEF1/CVF e VEF1 reduzidos;

ou Redução da razão VEF1/CVF pacientes com sintomas respiratórios,

mesmo com VEF1 normal; ou se a razão VEF1/CVF% é limítrofe em

pacientes com sintomas respiratórios, uma redução do fluxo

expiratório forçado (FEF) de 25-75% do valor predito.

Quanto à gravidade dos distúrbios obstrutivos e restritivos, foram

classificados de acordo com os seguintes valores espirométricos:

VEF1(% do

previsto)

CVF(% do

previsto)

VEF1/CVF(% do

previsto)

Leve 60- limítrofe 60- limítrofe 60- limítrofe

Moderado 41-59 51-59 41-59

Grave <40 <50 <40

Page 31: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

31

Outros exames complementares:

Testes molecular para distrofia miotônica tipo 1 (realizados em parceria

como a Rede Neurogenética do Serviço de Genética Médica do Hospital

das Clínicas de Porto Alegre (UFRGS), conforme protocolo já aprovado

em outro projeto de pesquisa em 2013 (vide anexo), nos pacientes com

perfil fenotípico de distrofia miotônica (sinais e sintomas como ptose,

fraqueza facial, disfonia, disfagia, atrofia muscular predominantemente

distal em membros superiores, fenômeno miotônico, história familiar de

doença autossômica dominante, entre outros).

Testes molecular e genético para Doença de Pompe, nos pacientes

portadores de miopatias com diversos fenótipos (miopatia metabólica,

distrofias musculares de cinturas e facioescapuloumeral, miopatias

inflamatórias e miopatias associadas a doenças sistêmicas), com

diagnóstico definitivo ainda não estabelecido. Não foram considerados

candidatos à coleta do exame paciente com perfis fenotípicos de distrofia

miotônica, além daqueles com quadro no qual há predomínio de ptose,

oftalmoparesia e fraqueza da musculatura orofaríngea, já que não há

relatos na literatura de doença de Pompe com tais fenótipos.

Testes moleculares e genéticos, além de biópsias musculares, realizadas

na Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação, para alguns pacientes dos

quais não conseguimos diagnóstico definitivo com os recursos disponíveis

no Hospital Geral de Fortaleza.

Page 32: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

32

6. ANÁLISE ESTATÍSTICA

Os dados qualitativos e quantitativos foram provenientes do questionário, sendo

compilados e analisados pelo software Statistical Package for Social Science (SPSS),

versão 20.0. As variáveis contínuas foram expressas com médias e desvio padrão e as

variáveis categóricas foram representadas através de frequências e percentuais.

O estudo das variáveis comorbidades, sintomas, exame físico e exames

complementares, foram provenientes de uma análise bivariada, utilizando o Teste

Exato de Fischer do Qui-Quadrado, para verificar se a associação entre as variáveis é

significante ou não.

O nível de significância utilizado foi de 5% (valor do p<0,05). Como critério de

exclusão ou não da hipótese nula (H0) comparou-se o valor do p do teste como o nível

de significância, no qual se o p-valor do teste for menor do que 5%, rejeitamos a

hipótese nula, ou seja, haverá associação entre as variáveis, caso contrário, aceitamos

a hipótese nula, ou seja, não há associação entre as variáveis.

Page 33: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

33

7. ASPECTOS ÉTICOS

Todos os participantes do estudo, ou seus familiares acompanhantes, assinaram

um termo de consentimento livre e esclarecido (em anexo), feito de acordo com as

normas da resolução n. 466/12 do Conselho Nacional de Saúde. Os pacientes não

foram identificados e poderiam deixar de participar do estudo se assim o desejar. O

projeto foi avaliado e aprovado pelo Comitê de ética em Pesquisa, conforme Parecer

Consubstanciado (em anexo). Não houve nenhum ganho por parte do pesquisador ou

dos pacientes em termos financeiros e o pesquisador não tem nenhum vínculo com

indústrias farmacêuticas ou laboratórios.

Page 34: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

34

8. RESULTADOS

Foram realizadas no ambulatório de Doenças neuromusculares do HGF,

durante o período do estudo, 473 consultas médicas, com uma média de 47,3

atendimentos por mês e 11,8 por dia. O total de pacientes atendidos foi de 204,

sendo selecionadas 52 pacientes para entrevista e excluídos 152 pacientes,

aplicando-se os critérios de inclusão e exclusão. Dos 52 pacientes selecionados

26 (50%) eram do sexo masculino e os outros 26 (50%) do sexo feminino.

A média de idade dos pacientes foi de 41,1 ± 13,48 anos. A idade de início

dos sintomas foi 26,0 ± 14,33 anos e o tempo médio de doença de 15,2 + 11,60

anos. Houve apenas um caso de miopatia cujos sintomas iniciaram-se desde o

nascimento. O tempo médio de início dos sintomas até o diagnóstico de miopatia

foi de 10,53 anos, quando considerado o total de pacientes. As Tabelas 1 e 2

descrevem as características demográficas e epidemiológicas da população

estudada.

Tabela 1 – Características demográficas dos pacientes portadores de

miopatias, acompanhados no ambulatório de Doenças Neuromusculares do

HGF, de Abril de 2015 a Janeiro de 2016.

Variáveis n %

Sexo

Feminino 26 50,0

Masculino 26 50,0

Total 52 100,0

Escolaridade

Analfabeto funcional (0 a 4 anos)

14 26,9

Fundamental 2 (5 a 8 anos) 15 28,8

Ensino Médio 17 32,7

Ensino Superior 4 7,7

Sem Informação 2 3,8

Total 52 100,0

Profissão Desempregado 9 17,3

Trabalha (empregado ou informal)

10 19,2

Recebe Benefício (temporário) 21 40,4

Aposentado 8 15,4

Estudante 2 3,8

Sem Informação 2 3,8

Total 52 100,0

Page 35: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

35

Tabela 2 – Características clínicas e epidemiológicas dos pacientes

portadores de miopatias, acompanhados no ambulatório de Doenças

Neuromusculares do HGF, de Abril de 2015 a Janeiro de 2016.

Do grupo de pacientes estudados, 37 (71,2%) tinham história familiar de doenças

semelhantes e 15 (28,8%) possuíam história familiar negativa. Quanto à presença de

pais consanguíneos, definidos como parentes de até terceiro grau entre si, houve um

total de apenas 5 (9,61%) casos.

Gráfico 1 – Distribuição dos pacientes portadores de miopatias pelas formas

de herança genética, acompanhados no ambulatório de Doenças Neuromusculares

do HGF, de Abril de 2015 a Janeiro de 2016.

57,69%

25,00%

11,53%

5,76%

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

Autossômicodominante

Esporádico Autossômicorecessivo

Indefinida

Page 36: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

36

Em relação à distribuição dos casos quanto às formas de herança genética, com

bases na história familiar e heredograma, os pacientes foram divididos nos seguintes

grupos: esporádicos (sem história familiar), autossômicos dominantes e recessivos,

ligado ao X, herança materna (como em alguns casos de miopatias mitocindriais) e

herança indefinida (com história familiar de patologia semelhante, mas sem

possibilidade de definir padrão de herança pelas informações coletadas), conforme

mostrado no Gráfico 1. Não foram encontrados casos cuja história familiar fosse

compatível com herança ligada ao X ou com herança materna.

Gráfico 2 – Diagnósticos fenotípicos dos pacientes portadores de miopatias,

acompanhados no ambulatório de Doenças Neuromusculares do HGF, de Abril

de 2015 a Janeiro de 2016.

51,90%

23,10%

7,70%5,80% 3,80% 3,80% 3,80%

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

Page 37: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

37

Tendo por base as características clinicas e laboratoriais, os 52 pacientes

apresentaram os seguintes diagnósticos prováveis: distrofia miotônica 51,9% (N=27);

distrofias musculares de cinturas 23,1% (N=12); distrofia facioescapuloumeral 7,7%

(N=4); miopatias metabólicas 5,8% (N=3); miopatias inflamatórias 3,8% (N=2);

miopatias associadas a doenças sistêmicas 3,8% (N=2) e miopatia com predomínio de

ptose, oftalmoparesia e acometimento de orofaringe 3,8% (N=2) (Gráfico 2).

Do total de 52 pacientes, 34,6% apresentavam dislipidemia como comorbidade,

25% doenças oftalmológicas, 23% doenças psiquiátricas, 21,1% diabetes mellitus, 17,3%

hipertensão arterial sistêmica, 7,6% insuficiência cardíaca congestiva, 5,7% doenças

dermatológicas, 3,8% doenças pulmonares primárias, 3,8% doenças reumatológicas,

3,8% neoplasias, e 3,8% doenças ortopédicas. Entretanto, quando comparados cada

comorbidade individualizada com as diferentes categorias de diagnósticos prováveis, não

foi observado valor estatisticamente significativo para a maioria das variáveis, segundo

demonstrado com os valores de p-score na Tabela 3.

Tabela 3 – Perfil de comorbidades dos pacientes portadores de miopatias

acompanhados no ambulatório de Doenças Neuromusculares do HGF, em Abril

de 2015 a Janeiro de 2016, dividido por diagnósticos prováveis. Análise do qui-

quadrado através do teste exato de Fischer.

Page 38: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

38

Analisando-se separadamente o grupo de pacientes com distrofia miotônica

(N=27), foi verificada uma correlação estatisticamente significativa com presença de

doenças oftalmológicas, principalmente pela alta frequência de catarata nestes pacientes

(37%). Não houve correlação com significância estatística entre a presença de distrofia

miotônica e as demais comorbidades analisadas (Tabela 4).

Tabela 4 – Perfil de comorbidades dos pacientes portadores de distrofia

miotônica, acompanhados no ambulatório de Doenças Neuromusculares do

HGF, de Abril de 2015 a Janeiro de 2016.

Quanto aos sintomas referidos pelos pacientes, verificou-se um percentual de

96,1% com fraqueza de membros, 76,9% de alteração em marcha, 50% com quedas, 48%

com disfagia, 46,1% com fenômenos miotônicos, 26,9% com distúrbios do sono, 9,6%

com palpitações, 9,6% com queixas gastrointestinais, 7,6% com queixas urinárias e 5,7%

com câimbras. Houve um discreto predomínio de fraqueza proximal em membros

inferiores (55,7%) e não houve diferença no percentual de pacientes com fraqueza

Comorbidades Distrofia

Miotônica (p-valor)

HAS 0,710 DM 0,317 DLP 0,152 ICC 1,000

Doenças Pulmonar 1,000 Dermatológica 1,000

Ortopédica 1,000 Psiquiátrica 0,302

Endocrinológica 0,828 Oftalmológica 0,001

Cefaleia 0,094 AVC 0,481

Epilepsia 0,226

Page 39: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

39

proximal e distal em membros superiores. Também foram relatadas queixas de dores

musculares em repouso em 21,1% dos casos e 15,3% com esforço físico.

Das alterações encontradas no exame físico as mais frequentes foram fraqueza e

atrofia musculares, fraqueza facial, ptose, alterações em motricidade ocular extrínseca,

disfonia, escápulas aladas, hipertrofia de panturrilhas e alterações sensitivas. Com relação

à presença de atrofia em membros superiores, foi achada a seguinte distribuição:

musculatura proximal (28,8%), distal (36,5%) e ambas (13,4%). Já em membros

inferiores os achados de atrofia foram: musculatura proximal (30,7%), distal (13,4%) e

ambas (5,7%). Gráfico 3.

Gráfico 3 –Alterações em exame físico dos pacientes com miopatias

acompanhados no Ambulatório de Doenças Neuromusculares do HGF, de Abril de

2015 a Janeiro de 2016.

65,30%

50,00%

52,00%

19,20%

17,30%

11,50%

15,30%

28,80%

30,70%

36,50%

13,40%

13,40%

5,70%

0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00% 70,00%

Fraqueza facial

Ptose

Disfonia

Escápulas aladas

Hipertrofia de panturrilhas

Alterações em motricidade

ocular

Alterações sensitivas

Atrofia de membros superiores

Atrofia de membros inferiores

Proximal edistal

Distal

Proximal

Page 40: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

40

Na análise dos dados do total de pacientes (N=52) foram encontrados: 44,2% de

pacientes com CPK elevado; 38% com níveis de transaminases elevadas (TGO e TGP);

30,7% com glicemia de jejum aumentada; 15,3% com hemoglobina glicada aumentada;

13,5% com aumento do colesterol total; 26,9% com hipertrigliceridemia; 11,53% com

níveis aumentados ou diminuídos de TSH, 9,6% com aumento da aldolase, e 9,6% com

aumento do T4 livre e 3,84% com deficiência de vitamina B12. Pelo teste exato de

Fischer, verificou-se ausência de correlação estatisticamente significativa para todas as

categorias de exames avaliados. Estudando-se separadamente os pacientes com distrofia

miotônica, devido à grande proporção de tais pacientes no estudo, chegou-se a uma

relação estatisticamente significativa para aumento dos níveis séricos de aldolase

(p=0,020) e colesterol total (p=0,034). (Tabela 6).

Tabela 5 – Exames laboratoriais dos pacientes acompanhados por Miopatias

no Ambulatório de Neuromuscular do HGF, de Abril de 2015 a Janeiro de 2016.

Exames Laboratoriais

Distrofia Miotônica (p-valor)

Outras Miopatias (p-

valor) B12 0,557 0,828

Aldolase 0,020 0,438 CKtotal 0,131 0,250

TGO 0,731 0,498 TGP 1,000 0,590

Glicemia de Jejum 0,092 0,639 Hemoglobina Glicada 0,600 0,208

Colesterol total 0,034 0,514 Colesterol LDL 0,088 0,712 Triglicerídeos 0,141 0,369

TSH 0,266 0,214 T4 Livre 0,372 0,102

Nos pacientes com miopatias de etiologia ainda a ser esclarecida, foram analisados

aqueles que coletaram amostras de sangue para dosagem da atividade enzimática de alfa-

glicosidase ácida em dried blood spots, exame diagnóstico inicial para a Doença de

Page 41: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

41

0,00% 5,00% 10,00% 15,00% 20,00% 25,00%

Distrofia muscular de cinturas

Distrofia facioescapuloumeral

Miopatias inflamatórias

Miopatias metabólicas

Miopatias associadas a doenças sistêmicas

21,15%

3,84%

1,92%

3,84%

1,92%

1,92%

1,92%

3,84% 1,92%

Resultado negativo Não coletou Resultado positivo Aguarda resultado

Pompe. Foi coletado tal exame em um total de 16 dos nossos pacientes, com resultado

negativo em 13, positivo em 2 e ainda sem resultado em 1 deles. Sendo assim, dos 20

pacientes que deveriam ter coletado o exame 80,0 % (N=16) o fizeram. O Gráfico 3

demonstra o percentual de coleta do teste molecular da doença de POMPE, para cada

perfil fenotípico.

Gráfico 3 – Percentual dos pacientes portadores de Miopatias que coletaram

teste enzimático de rastreio para Doença de POMPE, em relação ao total de

pacientes acompanhados no Ambulatório de Neuromuscular do HGF, de Abril de

2015 a Janeiro de 2016.

Em relação aos exames complementares para pesquisa de comorbidades

cardiovasculares e pulmonares, foram analisados os resultados de eletrocardiograma

(ECG), ecocardiograma transtorácico (ECO TT), Holter cardíaco de 24 horas e

espirometria. Do total de pacientes, 14 tiveram alterações em ECG (26,9%), 12 tiveram

alterações em Holter, 6 em ECO TT (11,5%) e 9 em espirometria (17,3%). Quando

Page 42: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

42

correlacionados, nenhum destes exames mostrou valor estatisticamente significativo para

os pacientes da amostra, conforme Tabela 7.

Tabela 6 – Exames complementares cardíacos e pulmonares dos pacientes

portadores de Miopatias, acompanhados no Ambulatório de Neuromuscular do

HGF, de Abril de 2015 a Janeiro de 2016.

Dos 52 pacientes analisados, 34 (65,4%) fizeram ECG e apenas 18 (34,6%)

fizeram Holter. Pelos exames de eletrofisiologia cardíaca (ECG e Holter), as alterações

mais frequentemente encontradas foram: bloqueio de ramo direito ou esquerdo (11,5%),

atividades ectópicas supraventriculares e ventriculares (9,6% dos pacientes), bloqueio

atrio-ventricular de primeiro grau (5,7%), fibrilação atrial (1,9%), flutter atrial (1,9%).

Apenas 10 (19,2%) dos pacientes da nossa amostra fizeram espirometria. Das

patologias detectadas por espirometria, verificou-se que três pacientes tinham um

distúrbio obstrutivo leve e 1 paciente tinha distúrbio obstrutivo moderado, sem resposta

ao broncodilatador, sendo este um dos pacientes com doença de POMPE confirmada.

Quanto a distúrbios restritivos 3 tinham em grau moderado e 2 de forma grave. Todos os

pacientes que tiveram distúrbios restritivos da nossa amostra tinham fenótipo de distrofia

miotônica.

No exame de ecocardiografia, as alterações encontradas foram hipertrofia

ventricular esquerda concêntrica (7,7% dos pacientes), alterações valvares compatíveis

com febre reumática prévia, como estenoses mitral e aórtica (1,9%) e hipocinesia

segmentar de ventrículo esquerdo (1,9%).

Page 43: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

43

Quanto a exames de eletroneuromiografia (ENMG), verificou-se que 84,6%

(N=44) dos pacientes fizeram o exame. Destes, 59,6% tinham sinais de instabilidade de

membrana no exame (aumento da atividade de inserção, fibrilações, ondas agudas

positivas ou descargas repetitivas complexas) e 45,4% tinham descargas miotônicas.

Todos os exames de pacientes com distrofia miotônica apresentaram descargas

miotônicas ao exame, tendo pelo menos um representante de cada família com tal

fenótipo realizado este exame.

Também apresentaram descargas miotônicas 2 pacientes diagnosticados com

doença de Pompe, sendo nestes localizadas principalmente em musculatura paravertebral.

Apenas um paciente apresentou polineuropatia sensitiva axonal em membros inferiores

ao exame, sendo a mesma portadora de hipotireoidismo. Não houve casos com

polineuropatia desmielinizante na amostra estudada.

Apenas 8 pacientes (15,38%) tiveram o diagnóstico definitivo concluído, com

base em testes moleculares, genéticos ou de biópsia muscular. Destes, 2 pacientes tiveram

diagnóstico de doença de POMPE por testes de dosagem enzimática e genético (um deles

também fez biópsia muscular), 1 teve parente de primeiro grau com teste genético

conclusivo para distrofia facioescapuloumeral e fenótipo semelhante, 4 tiveram distrofia

miotônica de Steinert (tipo 1) e 1 paciente teve uma distrofia de cinturas do tipo 2F

(alteração no exon 8 da delta-sarcoglicana).

Uma paciente de 40 anos com suspeita de distrofia de cinturas com padrão de

herança autossômica recessiva fez testes genéticos para distrofias dos tipos 2A, 2C, 2D,

2E, 2F E 2I, além de Becker e Duchene, cujos resultados foram negativos.

Um paciente de 29 anos fez exame biópsia muscular, realizada através da Rede

SARAH, cujos testes de imuno-histoquímica mostraram uma redução da expressão

sarcolemal da alfa-distriglicana, sendo sugerida pesquisa de distroglicanopatias e de

distrofias de cinturas dos tipos 2I, 2K, 2M, 2N, 2O, 2P (porém a coleta de tais exames

não estava disponível). Este mesmo pacientes fez testes para distrofias tipos 2C, 2D, 2E,

e 2F que foram negativos, além de possuir uma mutação em heterozigoze para o gene

c.706 G>A p. (Ala236Thr) da distrofia de cinturas tipo 2A, tornando pouco provável a

patologia por ser recessiva, mas não a excluindo por completo.

Page 44: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

44

Outro paciente de 52 anos com fenótipo de distrofia de cinturas, e sem história

familiar da doença, fez testes moleculares para as distrofias de cinturas dos tipos 2C, 2D,

2E, 2F e 2I, que foram negativas e apresentou uma única mutação patogênica c.479C>g,p.

(Ala160Gly) em heterozigose no éxon 3 do gene da calpaína, que é marcadora da distrofia

de cinturas do tipo 2A. Tal achado não confirmou esta patologia (por ser recessiva),

porém há relatos de casos com manifestação da doença por ausência da expressão do alelo

normal.

Cinco pacientes realizaram biópsia muscular com resultado inconclusivo, por

terem sido feitas em condições técnicas insatisfatórias, com fixação das amostras

teciduais em formalina, incluídas em parafina e coradas com hematoxilina-eosina, sem

realização de exames bioquímicos, histoquímica e de imuno-histoqímica.

Quanto aos exames de imagem do sistema nervosos central, 4 pacientes possuíam

tomografia computadorizada e 7 realizaram exame de ressonância magnética. Um dos

pacientes com suspeita de distrofia miotônica tinha manifestação dos sintomas dimidiada,

com dilatação do canal medular de C2 a T1 pela RM de colunas cervical e torácica e

história de cirurgia para malformação de Chiari. Para este paciente foi questionado se seu

quadro clínico seria secundário à siringomielia, muito embora o mesmo tenha história

familiar compatível com distrofia miotônica em parentes de primeiro grau. Uma paciente

portadora de distrofia miotônica teve alterações compatíveis com insulto isquêmico

crônico em região occiptal direita pela tomografia computadorizada de crânio. Os demais

exames de imagem não tiveram alterações significativas.

Em relação à terapêutica de suporte com medidas de reabilitação, viu-se que

apenas 19,2% dos pacientes realizavam sessões regulares (pelo menos 1 vez por semana)

de fisioterapia, 17,3% faziam atividades físicas regularmente e 7,7% faziam fonoterapia.

Apenas um paciente necessitou de marcapasso (portadora de distrofia miotônica e

bloqueio atrioventricular) e um paciente necessitava de oxigenoterapia domiciliar por

cateter nasal no período noturno, por apresentar distúrbio ventilatório restritivo grave.

Nenhum dos pacientes utilizavam medidas de ventilação mecânica não-invasiva.

Dois pacientes tiveram diagnóstico de Doença de POMPE confirmado. Os

mesmos eram irmãos e apresentaram fenótipo de distrofia de cinturas, com história

Page 45: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

45

familiar compatível com doença autossômica recessiva. A possibilidade da doença por

deficiência da alfa-glicosidade foi fortalecida após a realização de um exame de

eletroneuromiografia de uma paciente do sexo feminino de 27 anos, que mostrou achados

compatíveis com uma miopatia crônica acometendo a musculatura proximal, sinais de

instabilidade de membrana e miotonias elétricas. Foi então submetida a exame de biópsia

muscular através da rede SARAH, que mostrou uma miopatia vacuolar, com deficiência

de maltase ácida no estudo bioquímico. Teste enzimático em amostra de sangue

confirmou deficiência enzimática e o teste genético realizado mostrou uma mutação em

heterozigose, com uma deleção em éxon 18 e mutação do gene c.-32-13T>G no íntron 1.

Após o diagnóstico desta paciente foi feita investigação clínica e laboratorial dos

seus 5 irmãos, sendo confirmada deficiência enzimática e presença das ambas as

mutações em apenas um destes, um paciente de 21 anos do sexo masculino. Duas irmãs

apresentaram apenas um destes alelos de forma isolada, mas sem alterações em dosagem

enzimática e sem outros achados clínico-laboratoriais compatíveis com a doença, não

sendo, pois, incluídas neste estudo.

Tais pacientes começaram a fazer tratamento com reposição da alfaglicosidase, na

forma de aplicações de doses quinzenais, com melhoras objetivas na força muscular desde

início da medicação. Também participaram de programas de reabilitação motora e

cardiorrespiratória através doas equipes de pneumologia e fisioterapia do Hospital

Universitário Walter Cantídio (HUWC) da Universidade Federal do Ceará.

Page 46: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

46

9. DISCUSSÃO

Em nossa casuística houve uma predominância dos casos com fenótipo de

distrofia miotônica (51,9%) entre os casos de miopatias, o que está de acordo com os

achados de estudos epidemiológicos disponíveis, que mostram que esta é a distrofia

muscular mais prevalente no adulto (TURNER & HILTON-JONES, 2014). A incidência

estimada de distrofia miotônica de Sterneinrt (tipo 1) é de 13,5 para cada 100.000

nascidos vivos e a prevalência é de 3 a 5 por 100.000 pessoas (MACHUCA-TZILI et al,

2005).

Estudo de prevalência das doenças musculares de causas genéticas confirmadas,

realizado no Norte da Inglaterra com 836 pacientes, mostrou que a prevalência combinada

destas patologias foi de 37/100.000 da população total. As patologias mais identificadas

no estudo foram: distrofia miotônica tipo 1 (28,1%), distrofia facioecapuloumeral

(10,7%), distrofias musculares de Becker e Duchene (10%), atrofia muscular espinhal

(5,1%) e distrofias musculares de cinturas (6,15%), desordens do colágeno (2,08%),

miopatias congênitas (1,09%) e distrofias musculares congênitas (2,08%). Das distrofias

musculares de cinturas a mais comum foi a do tipo 2A (calpainopatia) sendo 26,5% dos

pacientes deste subgrupo (NORWOOD et al, 2009).

Em uma revisão sistemática e meta-análise sobre a epidemiologia das distrofias

musculares (MAH et al, 2016), através de buscas feitas usando as bases de dados Medline

e EMBASE, com artigos publicados de 1985 a 2011, encontrou-se uma prevalência para

distrofias musculares de forma combinada de 16,14: 100:000 (IC:11,21-23,23). Em

relação aos subtipos mais encontrados de distrofias musculares, encontraram-se

prevalências estimadas para cada 100.000 pessoas de 8,26 (IC:4,99-13,68) para distrofia

miotônica; 3,95 (IC: 2,89-5,40) para distrofia facioescapuloumeral; 1,63 (IC:0,94-2,81);

para distrofias musculares de cinturas; 0,99 (0,62-1,57) para distrofia musculares

congênitas.

Na nossa amostra de pacientes ocorreu uma pequena quantidade de casos de

miopatias congênitas, com apenas um caso suspeito de distrofia miotônica com

apresentação congênita. Além disso, distrofias musculares relativamente comuns, como

Page 47: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

47

a distrofinopatia de Duchene, cujo início dos sintomas pode ser congênito ou na primeira

infância, não apresentaram representantes em nossa casuística . Importante frisar que

nossa amostra era, em sua quase totalidade, composta por adultos, com apenas dois

pacientes com menos de 18 anos de idade. Casos de distrofias musculares de Becker

podem estar presentes na nossa amostra, apresentando fenótipo de distrofia musculares

de cinturas, o que também poderia contribuir para a grande prevalência de casos de

distrofias de cinturas no presente estudo, gerando um viés na interpretação dos dados.

Apesar da falta de história para herança ligada ao X em nossos pacientes, a

distrofia muscular de Becker pode se manifestar a partir de novas mutações espontâneas

em até 10% dos casos. (AMATO & RUSSELL, 2008). Testes genéticos e moleculares,

na sua maioria indisponíveis em nosso serviço, além de biópsia muscular com análise

bioquímica, histoquímica e imuno-histoquímica, seriam de fundamental importância para

elucidação dos diagnósticos definitivos nestes casos, e sua melhor condução clínica.

Nossos pacientes com distrofia miotônica provável eram distribuídos em 11

famílias. Destas, 10 famílias coletaram amostra sanguínea para teste molecular de

distrofia miotônica através da Rede Neurogenética do Serviço de Genética Médica do

Hospital das Clínicas de Porto Alegre (UFRGS). Destes tivemos a confirmação

diagnóstica de apenas 3 famílias, com os resultados das demais 7 famílias, que também

coletaram o teste, ainda pendentes. A única família com perfil de distrofia miotônica que

não coletou o exame era composta de apenas um representante.

Com a confirmação do resultado de distrofia miotônica do tipo 1 destas 7

famílias, teremos o diagnóstico definitivo de 30 dos 52 pacientes da nossa amostra,

equivalendo a 57,69% do total.

Nossos pacientes com distrofia miotônica tiveram início dos sintomas que

variaram desde o nascimento até os 58 anos. Os portadores de distrofia miotônica tipo 1

podem ter início dos sintomas em qualquer idade, podendo inclusive se manifestar já ao

nascimento, na sua forma congênita. A idade de início dos sintomas geralmente se

correlaciona com a quantidade de repetições da sequência de trinucleotídes instáveis CTG

localizados no gene 19q13.3. Indivíduos normais têm entre 5 e 37 repetições, enquanto

indivíduos com 38 a 49 repetições são geralmente assintomáticos, mas têm risco

Page 48: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

48

aumentado de terem filhos com a doença, pelo fenômeno de antecipação de gerações.

Enquanto isso, entre 50-200 repetições se relacionam com início mais tardio, > 800 com

início na infância e > 1000 repetições está geralmente associado com início em sua forma

congênita (TURNER & HILTON-JONES, 2014).

Analisando-se as alterações detectadas em exames complementares da nossa

avaliação cardiológica, 11 (78,5%) dos 14 exames de ECG alterados foram de pacientes

com distrofia miotônica provável, assim como 9 (75%) dos 12 Holters alterados e 3 (50%)

dos ecocardiogramas alterados.

Pacientes com distrofia miotônica tipo 1 têm uma série de comorbidades

sistêmicas associadas, segundo relatos de literatura, destacando-se alterações cardíacas

(até 90% dos casos têm algum defeito de condução cardíaca), inclusive com mortes

súbitas por causas cardíacas bem documentadas na literatura. Além disto, a severidade da

cardiomiopatia não necessariamente se correlaciona com a gravidade da fraqueza da

musculatura estriada esquelética (TURNER C, 2010).

Pacientes com distrofia miotônica também estão mais propensos a outras

patologias como distúrbios endocrinológicos (diabetes mellitus, intolerência à glicose,

doenças em tireóide e paratireoides, infertilidade, hipogonadismo), respiratórias

(sonolência diurna, falência respiratória, pneumonias aspirativas, apneia do sono),

distúrbios da esfera neuro-psiquiátrica (déficits cognitivos e intelectuais, depressão,

alterações em personalidade), gastrointestinais (disfagia, vômitos, diarreia crônica,

incontinência anal), urinárias (urge-incontinência) e oftalmológicas (catarata). (UDD B

et al, 2012). O fato de termos achado uma correlação estatisticamente significativa apenas

para doenças oftalmológicas, pode ter relação com o número relativamente pequeno de

pacientes da nossa amostra.

As frequências destes achados podem estar subestimadas em nossos pacientes

com distrofia miotônica, tendo em vista o fato que nem todos os indivíduos realizaram

exames complementares para investigação de comorbidades cardiopulmonares. Além

disso, nenhum destes pacientes fez exame de polissonografia, devido à indisponibilidade

deste exame na nossa rede de referência pelo SUS.

Page 49: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

49

A grande quantidade de pacientes com distrofia miotônica em nossa amostra pode

ter enviesado a análise de dados como sinais e sintomas mais frequentes e alterações no

exame físico (como fraqueza facial, ptose, disfagia, disfonia e atrofia predominantemente

distal em membros superiores, todas características comuns nesta patologia).

Houve presença de apenas dois pacientes com suspeita de miopatias inflamatórias

em nossa amostra (3,8%), sendo uma delas paciente portadora de neoplasia de mama

operada em Novembro de 2015 e com provável polimiosite, e a outra paciente com

suspeita de dermatomiosite.

As miopatias inflamatórias são patologias raras, com incidência média estimada

em 7,98 casos por milhão de pessoas/ano, segundo meta-análise realizada com estudos

publicados entre 1951 e 2010, envolvendo pacientes dos cinco continentes. Trata-se um

grupo heterogêneo que engloba pacientes com polimiosite, dermatomiosite, miosite

juvenil, miopatias necrotizantes imuno-mediadas, miosites relacionadas a cânceres e

miosites por corpúsculos de inclusão esporádica (MEYER A et al, 2010).

A pequena quantidade de pacientes com miopatias inflamatórias em nossa amostra

também pode ser em parte atribuída ao fato de estes pacientes serem, na sua maioria,

acompanhados nos ambulatórios da Reumatologia e não da Neurologia do Hospital Geral

de Fortaleza, o que pode ter gerado um viés de seleção.

A taxa de analfabetismo funcional para pessoas com mais de 15 anos de idade na

região Nordeste foi de 17,4:100.000 habitantes, no ano de 2012, através de dados Portal

Determinantes Sociais da Saúde do Observatório sobre Iniquidades em Saúde, não se

levado em consideração a renda familiar destas pessoas. A grande quantidade de

analfabetos em nossa amostra (26,9%) pode também pode dever-se à presença de

pacientes com algum retardo mental como complicação da doença de base, o que não foi

analisado objetivamente no nosso estudo.

Como limitações do nosso estudo, além dos pontos já mencionados, temos o fato

de ser um estudo realizado em apenas um centro, com um público alvo composto

essencialmente por adultos. Além disso, não foram realizados de testes de avaliação

cognitiva dos nossos pacientes, assim como testes padronizados de avaliação funcional e

de qualidade de vida. O estudo de tais variáveis pode ser objetivo de trabalhos posteriores,

Page 50: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

50

inclusive de análises prospectivas, com intuito de avaliar evolução das doenças e resposta

às terapêuticas instituídas.

Apesar de o diagnóstico precoce da doença de Pompe ser importante, tendo em

vista a disponibilidade de terapêutica específica com comprovada eficácia, até o momento

não há recomendação de realização de testes de rastreio desta patologia em pessoas

assintomáticas ou de forma rotineira em neonatos, segundo os guidelines de manejo da

doença disponíveis (LHERENA JUNIOR, 2015). Em casos com fenótipos possíveis para

a doença, como já citados, tanto nas formas infantis quanto no adulto, devem ser

realizados testes moleculares como primeira etapa para o diagnóstico da deficiência da

alfa-glicosidase ácida.

Page 51: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

51

10. CONCLUSÃO

As miopatias são um grupo heterogêneo de doenças, em sua maioria de causas

geneticamente determinadas. Anamnese, história familiar, exame físico e exames

complementares, como a eletroneuromiografia, são de fundamental importância para

a suspeição diagnóstica, classificação fenotípica e direcionamento propedêutico

destes pacientes. Apesar disso, tais exames não são, na maioria das vezes, suficientes

para elucidação dos subtipos destas patologias.

Por isso, exames mais sofisticados, como biópsia muscular com estudos

bioquímico, histoquímico e imuno-histoquímico, além de testes moleculares e

genéticos são, cada vez mais, necessários para chegarmos ao diagnóstico definitivo

das miopatias. Apenas 15,38% dos pacientes com miopatias acompanhados no HGF

tiveram diagnóstico conclusivo, baseados em tais exames.

A presença de grande número de pacientes com distrofia miotônica, 51,9% da

nossa amostra, e a grande quantidade de comorbidades que estes normalmente

apresentam, sobretudo em relação problemas cardiopulmonares, torna o

acompanhamento multidisciplinar e terapias de suporte e reabilitação, mandatórias

para estes pacientes.

Testes moleculares para Doença de Pompe devem ser usados nos pacientes com

fenótipos variados de miopatias, apesar de ser uma doença relativamente rara, devido

à heterogeneidade de manifestações clínicas desta patologia. A importância do seu

diagnóstico de forma precoce é grande, tendo em vista ser uma das poucas formas de

miopatias genéticas com tratamento específico disponível.

Terapias de reabilitação, como fisioterapia, fonoterapia e atividade física regular

são de grande importância no tratamento dos pacientes com miopatias. Apesar disto,

cerca de 80,8% dos pacientes acompanhados no Serviço de Doenças

Neuromusculares do HGF não têm acesso a qualquer forma de reabilitação pelo

Serviço único de Saúde (SUS) o pode comprometer a sua terapêutica.

Page 52: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

52

11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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174-180

Page 58: MATHEUS FALCÃO BARROS - HGF

58

12. ANEXOS

12.1 QUESTIONÁRIO

Data da Consulta:

Identificação: ________________________________ Sexo: _____

Data de nascimento: __/___/____ Idade: _____

Naturalidade: _________________ Procedência: ______________

Escolaridade: __________________ Profissão: ________________

História de casos semelhantes na família: ____

Consanguinidade: _______

Heredrograma:

Tempo de Doença: _______ Idade de início: _________

Comorbidades: __________________________________________

Medicações em uso:______________________________________

SINAIS E SINTOMAS ASSOCIADOS, PELA ORDEM DE

ACONTECIMENTO:

( ) Alteração da marcha

( ) Fraqueza em MMSS (proximal ou distal?) ____________

( ) Fraqueza em MMII (proximal ou distal?) ___________

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59

( ) Quedas

( ) Queixas respiratórias (se presente especificar – ex: dispneia aos esforços)

_________________

( ) Queixas cardiovasculares (se presente especificar – ex: síncopes,

taquicardia) _______________

( ) Alteração cognitiva

( ) Disfagia

( ) Fenômeno miotônico

( ) Alterações em hábito intestinal (constipação/diarreia) ____________

( ) Outros sintomas (neurológicos ou não neurológicos) _____________

EXAME FÍSICO

GERAL: _______________________________________________

EXAME CARDIOVASCULAR:_____________________________

EXAME APARELHO RESPIRATÓRIO:______________________

EXAME NEUROLÓGICO:

Funções mentais superiores: ________________________________

Nervos cranianos: ________________________________________

Motor:

Trofia:___________________________

Força :___________________________

Tônus:____________________________

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60

Sensibilidade:____________________________________________

Coordenação: ____________________________________________

Reflexos: _______________________________________________

Equilibrio e marcha: ______________________________________

EXAMES COMPLEMENTARES/DATA:

Exames laboratoriais: (hemograma, CPK, TGO, TGP, aldolase, eletrólitos, função renal,

perfil glicêmico e lipídico)

Exames: Data: Resultado:

ENMG:

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

EXAMES DE IMAGEM (RM , TC):

TESTE GENÉTICO:

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61

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

DIAGNÓSTICO PROVÁVEL: ___________________________________

CONDUTA: __________________________________________________

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62

12.2 TERMO DE CONSENTIMENTO

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

O (a) senhor (a) está sendo convidado (a) a participar da pesquisa intitulada PERFIL

DOS PACIENTES COM MIOPATIAS ACOMPANHADOS NO AMBULATÓRIO

DE DOENÇAS NEUROMUSCULARES DO HOSPITAL GERAL DE

FORTALEZA, COM ÊNFASE EM DOENÇA DE POMPE.

Suas respostas serão tratadas de forma anônima e confidencial, isto é, em nenhum

momento será divulgado o seu nome em qualquer fase do estudo. Os dados coletados

serão utilizados apenas nesta pesquisa e os resultados divulgados em eventos e/ou

pesquisas científicas.

Você foi selecionado para uma coleta de dados do seu prontuário no Hospital

Geral de Fortaleza, além de uma entrevista para maiores informações sobre a sua doença.

Está pesquisa poderá trazer riscos mínimos (constrangimento no momento da coleta dos

dados com pesquisador), e tem por objetivo estudar o perfil clínico e epidemiológico de

pacientes com doenças musculares acompanhado em nosso ambulatório. A sua

participação não é obrigatória, e sim de caráter voluntário, isto é, a qualquer momento

o Sr. (a) pode recusar-se a responder qualquer pergunta ou desistir de participar e retirar

seu consentimento, entrando em contato com o pesquisador pelos telefones: (85) 9615-

3137. Sua recusa não trará nenhum prejuízo em sua relação com o pesquisador ou com

a instituição. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido é feito em duas vias, da

qual o senhor terá uma cópia. O Sr. (a) não terá nenhum custo ou compensações

financeiras.

Prof. Orientador: Dr. Cleonísio Leite Rodrigues

Instituição: Hospital Geral de Fortaleza

Endereço: Rua Ávila Goulart, 900, Papicu, Fortaleza-CE

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63

Telefone para contato: (85) 3101-3360

Fortaleza, ______ de _____________________ de _________

Participante da pesquisa (assinatura ou impressão digital):

Pesquisador:

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12.3 TERMO DE FIEL DEPOSITÁRIO

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65

12.4 AUTORIZAÇÃO DO CHEFE DO SERVIÇO

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12.5 PARECER CONSUBSTANCIADO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

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12.6 PROTOCOLO PARA TESTES DE RASTREIO MOLECULAR DE

DOENÇAS NEUROGENÉTICAS