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Revista Eletrônica da Faculdade Metodista Granbery http://re.granbery.edu.br - ISSN 1981 0377 Curso de Educação Física - N. 9, JUL/DEZ 2010 MÉTODO PILATES: BENEFÍCIOS E POSSIBILIDADE DE INSERÇÃO NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR – RELATO DE EXPERIÊNCIA Leonardo de Souza Oliveira 1 Eliete do Carmo Garcia Verbena e Faria 2 Claudia Xavier Correa 3 RESUMO O método Pilates tem se expandido como forma de preparação de atletas e dançarinos, e mais recentemente no âmbito do condicionamento físico, da correção e orientação postural e na reabilitação. É rico em formas diferentes de movimento, objeto principal de estudo da Educação Física, seja qual for a sua área de atuação. O presente trabalho tem como objetivo analisar e refletir sobre a utilização e benefícios do Método Pilates nas aulas de Educação Física Escolar; discutir o Método Pilates como possibilidade de ampliação da cultura corporal de movimento na escola; e relatar experiência de aplicação do Método Pilates na escola, nas aulas de Educação Física. A metodologia utilizada contemplou estudo bibliográfico sobre o Método Pilates e Educação Física Escolar, além de trabalho de campo no qual o referido método foi foco de aplicação em uma escola pública municipal, envolvendo alunos do sétimo ano. Do trabalho realizado, pode-se concluir que o Método Pilates pode ser aplicado na escola, resguardando as especificidades, e encontra respaldo na abordagem da Saúde Renovada. Além do conhecimento, pode proporcionar benefícios no sentido de estimular os alunos a um estilo de vida ativo. PALAVRAS-CHAVE: Método Pilates. Educação Física Escolar. Relato de Experiência. ABSTRACT 1 Acadêmico do Curso de Educação Física / FMG. 2 Prof.a Educação Física Colégio de Aplicação João XXIII. 3 Prof.a dos Cursos de Educação Física / FMG.

MÉTODO PILATES: BENEFÍCIOS E POSSIBILIDADE DE …re.granbery.edu.br/artigos/NDA3.pdf · 3 Dados esses aspectos, questiona-se sobre a possibilidade de aplicação do Método Pilates

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Revista Eletrônica da Faculdade Metodista Granbery

http://re.granbery.edu.br - ISSN 1981 0377

Curso de Educação Física - N. 9, JUL/DEZ 2010

MÉTODO PILATES: BENEFÍCIOS E POSSIBILIDADE DE INSERÇÃO NA

EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR – RELATO DE EXPERIÊNCIA

Leonardo de Souza Oliveira1

Eliete do Carmo Garcia Verbena e Faria2

Claudia Xavier Correa3

RESUMO O método Pilates tem se expandido como forma de preparação de atletas e

dançarinos, e mais recentemente no âmbito do condicionamento físico, da correção

e orientação postural e na reabilitação. É rico em formas diferentes de movimento,

objeto principal de estudo da Educação Física, seja qual for a sua área de atuação.

O presente trabalho tem como objetivo analisar e refletir sobre a utilização e

benefícios do Método Pilates nas aulas de Educação Física Escolar; discutir o

Método Pilates como possibilidade de ampliação da cultura corporal de movimento

na escola; e relatar experiência de aplicação do Método Pilates na escola, nas aulas

de Educação Física. A metodologia utilizada contemplou estudo bibliográfico sobre o

Método Pilates e Educação Física Escolar, além de trabalho de campo no qual o

referido método foi foco de aplicação em uma escola pública municipal, envolvendo

alunos do sétimo ano. Do trabalho realizado, pode-se concluir que o Método Pilates

pode ser aplicado na escola, resguardando as especificidades, e encontra respaldo

na abordagem da Saúde Renovada. Além do conhecimento, pode proporcionar

benefícios no sentido de estimular os alunos a um estilo de vida ativo.

PALAVRAS-CHAVE: Método Pilates. Educação Física Escolar. Relato de

Experiência.

ABSTRACT

1 Acadêmico do Curso de Educação Física / FMG. 2 Prof.a Educação Física Colégio de Aplicação João XXIII. 3 Prof.a dos Cursos de Educação Física / FMG.

2

The Pilates method has been increased as a way to prepare athletes and dancers,

and recently in physical conditioning area, in postural correction and orientation and in

rehabilitation. It is rich in different ways of movement, main object of study of Physical

Education, wherever its action area. The present study aims to analyze and think over about

the use and benefits of Pilates method in Physical Education classes; to discuss about Pilates

Methods as possibility of increase of corporal culture of movement in school; and to report

experience of application of Pilates Method in school, in Physical Education classes. The

methodology used contemplate a bibliographic study about Pilates Method and School

Physical Education, besides camp work where the method was the focus of application in a

municipal public school involving students of seventh year. From the work that was done, it

can be concluded that Pilates Method can be applied in school, protecting the specificities,

and finds support in Renovation Health. Besides knowledge, it can give benefits with the

purpose to stimulate the students to an active life style.

KEY-WORDS: Pilates Method. Physical School Education. Experience Report.

INTRODUÇÃO

O Método Pilates contempla exercícios físicos com objetivo de melhoria da

saúde. De acordo com Camarão (2004, p. 5 e 6), o método tem como princípios o

relaxamento, a concentração, o alinhamento músculo-esquelético, a respiração, a

coordenação e a resistência, no sentido de proporcionar benefícios como o aumento

da flexibilidade, do equilíbrio, do alongamento, da coordenação motora, do

fortalecimento e definição muscular. Esses aspectos podem justificar o crescimento

da prática do Método Pilates, que, além de benéficos físicos, pode contribuir para o

alívio de stress, aumento da autoestima, a prevenção de lesões, a correção postural

e a consciência corporal.

Atualmente, percebe-se na escola um ambiente acelerado e competitivo,

tendo como resultados o stress, a falta de concentração e a má postura. A prática de

carregar mochilas pesadas, a postura relaxada em frente à TV ou ao computador e

mesmo a quantidade excessiva de atividades são fatores que contribuem para que

as crianças adquiram maus hábitos, implicando em má postura e,

consequentemente, em aspectos negativos à saúde.

3

Dados esses aspectos, questiona-se sobre a possibilidade de aplicação

do Método Pilates na escola e suas possíveis contribuições para mudanças no

quadro explicitado. Será que há aceitação por parte dos alunos?

A partir desse contexto, esse estudo tem como objetivo refletir sobre a

utilização do Método Pilates nas aulas de Educação Física Escolar, atentando para

a identificação dos benefícios do Método Pilates nas aulas de Educação Física

Escolar; discussão do Método Pilates como possibilidade de ampliação da cultura

corporal de movimento na escola; e relatar experiência de aplicação do Método

Pilates na escola, nas aulas de Educação Física.

Para tanto, a metodologia contempla pesquisa bibliográfica referente à

temática do Método Pilates e Educação Física na escola, e trabalho de campo no

qual o referido método foi foco de aplicação em uma escola pública municipal,

envolvendo alunos do sétimo ano.

Tal monografia foi organizada considerando, inicialmente, uma abordagem

sobre o Método Pilates, sua história, crescimento no Brasil e principais

características. Em outro momento, foi feita uma discussão sobre a Educação Física

na escola, com enfoque na abordagem da Saúde Renovada. Por fim, o relato da

experiência desenvolvida com alunos do sétimo ano de uma escola pública

municipal da cidade de Juiz de Fora.

CONHECENDO O MÉTODO PILATES

Nesse capítulo será feita uma breve apresentação do Método Pilates,

considerando aspectos históricos gerais e no Brasil, além dos fundamentos básicos

do referido Método. Essa compreensão é necessária para que possamos pensar sua

aplicação no contexto escolar.

Sobre o surgimento do Método Pilates

Joseph Hubertus Pilates (1880-1967) nasceu nos arredores de Dusseldorf,

Alemanha. Sua infância foi marcada pela fragilidade de seu estado de saúde,

4

quando apresentou asma, raquitismo e febre reumática. Para superar a debilidade

de seu estado de saúde, Pilates resolveu dedicar-se a esportes como ginástica,

esqui, mergulho, boxe e luta romana, como forma de obter saúde e força física.

Ainda jovem decidiu se especializar em anatomia, fisiologia e também em cultura

física (CAMARÃO, 2004). Estudou diversas formas de se exercitar, tanto ocidentais

quanto orientais, e buscou, inclusive, inspiração na calistenia da Grécia antiga.

Segundo Rodriguez (2006, p. 6), “foi tanta a sua determinação que conseguiu

transformar o próprio corpo, tornando-o musculoso de tal forma que, aos 14 anos,

posava como modelo anatômico”.

Em 1912, aos 32 anos, J.H. Pilates se mudou para a Inglaterra, onde

trabalhou como lutador de boxe, artista de circo (CAMARÃO, 2004) e instrutor de

autodefesa de detetives ingleses da Scotland Yard (RODRIGUEZ, 2006). Com a I

Guerra Mundial, J.H. Pilates foi mandado juntamente com outros alemães para um

campo de batalha em Lancaster. Nesse período, ele refinou suas ideias sobre saúde

e condicionamento físico. Desenvolveu seu próprio método de exercícios, que eram

realizados no solo (mais tarde nomeado de Pilates Mat) e, encorajando seus colegas

a participarem de seu programa, conseguiu manter sua saúde e a dos mesmos. O

reconhecimento de sua técnica se deu quando Pilates atribuiu ao seu método a

sobrevivência de prisioneiros à epidemia de gripe em 1918 (entre outras doenças), à

qual se atribui a morte de milhares de ingleses.

No final da I Guerra, J.H. Pilates foi transferido para a Ilha de Man, onde

aplicou seus conhecimentos para ajudar na reabilitação de pessoas feridas em

combate. Pilates, então, começou a experimentar seu método de exercícios

adaptando as camas e outros artefatos e, utilizando-se das molas contidas nas

próprias camas, descobriu que estas poderiam servir para condicionar os pacientes

debilitados, que permaneciam por muito tempo deitados, sem se movimentarem.

Dessa forma, os pacientes conseguiam recuperar a força, a flexibilidade e a

resistência, além de restabelecer o tônus muscular mais rapidamente. Surgiam

assim, os primeiros protótipos dos aparelhos que se conhecem para aplicação desse

método (Cadillac, Barrel, Reformer, Combo Chair, Wunda Chair e Wall Unit),

(RODRIGUEZ, 2006).

Joseph Pilates voltou à Alemanha, onde iniciou o refinamento de seu

método, nomeado por ele próprio de arte da “Contrologia”, técnica que consiste no

controle da totalidade do corpo, unindo mente e respiração ao exercício, realizado

5

com concentração e precisão exaustivas, que exigem equilíbrio e estabilidade,

utilizando o centro de força corporal (Power House). Seu método chamou a atenção

de membros do mundo da dança como Rudolf Von Laban, Martha Graham e George

Balanchine, que, por causa das lesões derivadas do treinamento exaustivo,

obrigavam-se a passar por longos períodos de recuperação e inatividade

(RODRIGUEZ, 2006). Uma curiosidade, segundo o mesmo autor, é que o grande

Balanchine chegou a incorporar o quadro de exercícios de solo do método Pilates

em uma das suas peças de dança mais populares, “Os sete pecados capitais” (p. 7).

Pilates conduziu-se, também, à criação de equipamentos de mecanoterapia

específicos do método Pilates, como o Cadilac e o Universal Reformer, entre outros,

baseando-se nos protótipos criados por ele na Ilha de Man. Foi chamado para

treinar a polícia da Alemanha, recusou-se e resolveu se mudar para Nova York. No

navio, a caminho dos Estados Unidos, Pilates conheceu a enfermeira Clara, com

quem se casou. Clara o ajudou nas sistematizações do próprio método e juntos

instalaram um estúdio - The Pilates Studio - no prédio do New York City Ballet, onde

Pilates abriu, também, uma oficina para seus aparelhos, localizada abaixo do seu

estúdio (CAMARÃO, 2004; RODRIGUEZ, 2006).

Na América, o método Pilates continuou atraindo dançarinos por

complementar o treinamento da dança, e pouco se conhecia sobre tal método, que

permaneceu durante muito tempo associado ao mundo da dança. Mas logo caiu no

gosto de atores, atrizes, atletas e pessoas que queriam manter um bom

condicionamento sem a “hipertrofia muscular”, sendo um lema do próprio Pilates:

“Nem muito pouco, nem em excesso”.

Foi em Nova York que Joseph Pilates desenvolveu o amplo repertório de

movimentos de seu método. A teoria e a prática deste método, o próprio Joseph

Pilates explicou em seus livros: Your Health: A Correct System of Exercising That

Revolutionizes the Entire Field of Physical Education, em 1934 e Returne to Life

Through Contrology, em 1945 (RODRIGUEZ, 2006). Pilates faz uma abordagem

holística, definindo sua técnica como uma “completa integração entre corpo, mente e

espírito”, e ainda, “Estes exercícios são o que as pessoas vão querer e precisar no

novo milênio” (J. H. Pilates, apud, CAMARÃO, 2004, p. 3). Complementa, afirmando

que “A mente, quando contida em um corpo saudável, possui um sentido glorioso da

energia.” (J. H. Pilates, apud RODRIGUEZ, 2006, p. 9).

6

Romana Kryzanowska, bailarina e antiga aluna de Pilates dos anos 40,

conheceu o método Pilates por intermédio de Balanchine, pois sofria com uma lesão

no tornozelo que a impedia de dançar. Conseguiu com a prática do método Pilates,

não só a melhora de seu tornozelo, como também em seu equilíbrio e sua força na

dança e, desde então, tal foi a sua dedicação ao método, que Romana foi eleita por

Joseph Pilates para seguir com o seu trabalho. Joseph Hubertus Pilates morreu no

ano de 1967, aos 87 anos, sem deixar herdeiros. Clara Pilates, sua esposa, assumiu

então a direção do estúdio, dando continuidade ao trabalho do marido. Por volta de

1970, ela passou o cargo à eleita de Joseph. Romana Kryzanowska formou uma

infinidade de instrutores, conservando íntegro o método original, que além do

sistema do solo (ou colchonete), chamado de “Pilates Mat”, e do método com uso

dos aparelhos, hoje conta também com uma gama de mais de 500 exercícios, além

do uso de elementos, tais como bolas, elásticos, tensores e até mesmo pesos

(RODRIGUEZ, 2006).

Outro grande responsável pela difusão do método Pilates foi Ron Fletcher,

dançarino de Martha Graham, Devido a uma lesão no joelho, consultou-se e iniciou

seus estudos com Pilates em 1940. Em 1970, ele abriu seu estúdio em Los Angeles

e atraiu muitas estrelas de Hollywood.

Muitos dos alunos de Joseph abriram seus próprios estúdios e difundiram

sua técnica, fazendo também importantes contribuições para o desenvolvimento e

aprimoramento do método Pilates que, segundo Rodriguez (2006, p. 11), em todos

esses anos, passou por diversas modificações, conforme o enfoque ou o estilo

pedagógico adotado pelo instrutor, a maneira como cada um se expressa ou se

comunica com seus alunos, mas as bases do método permanecem as mesmas.

No dia 20 de Novembro do ano 2000, a Corte Federal de Nova York,

através da juíza Dra. Miriam Goldman Cedarbaum, tornou nulas as marcas

registradas pelo The Pilates Studio, tornando de uso público o nome Pilates, por se

tratar da denominação de um método de trabalho (CAMARÃO, 2004, p. 3).

O método Pilates no Brasil

7

A relação do Método Pilates com a saúde seguiu seu curso no Brasil por

meio de Alice Becker Denovaro4, a primeira brasileira a se certificar para instrução

da Técnica de Pilates. Graduada em Dança pela Universidade Federal da Bahia e

mestre em Coreografia pelo Califórnia Institute of The Arts, Los Angeles.

Tornou-se professora de Pilates do Balé Teatro Castro Alves, adquirindo

papel fundamental na preparação dos profissionais dessa companhia. Além disso,

Alice introduziu o Pilates na área clínica, em Salvador, através do Ambulatório de

Dor do Hospital das Clínicas - HUPES - UFBA. Hoje, Salvador conta com mais de

vinte estúdios em plena atividade, com mais de dois mil praticantes do método. Por

meio da Physio Pilates, Alice Becker é hoje licenciada da Polestar Education para a

América do Sul. Dessa forma, já realizou diversos cursos de formação no Brasil,

Venezuela, Uruguai, Argentina, Chile e Equador.

A partir do trabalho de Alice Becker, surgiram novos estúdios. A dançarina

Ruth Rachou, tendo desenvolvido uma estreita relação com a Escola de Dança de

Martha Graham, em Nova York, passou a frequentar o Estúdio de Robert Fitzgerald,

onde os dançarinos da companhia de Martha faziam as suas aulas de Pilates.

Sendo assim, decidiu, em 1993, trazer a técnica para o "Espaço de Dança Ruth

Rachou", em São Paulo. (Phisio Pilates, 2008).

Em agosto de 1994, Maria Cristina Rossi Abrami, graduada em Educação

Física, após ser certificada no método Pilates pelo Physical Mind Institute, no Novo

México, iniciou as suas atividades com Pilates em São Paulo, no CGPA - Centro de

Ginástica Postural Angélica.

Em 1996, Inélia Garcia, após ter feito a sua certificação com Romana

Kryzanowska, iniciou também em São Paulo os trabalhos com o método Pilates.

Licenciada pelo "The Pilates Studio", Inélia vem também promovendo cursos de

formação no Brasil. Também em 1996, Elaine de Markondes, após um congresso

sobre técnicas corporais em Buenos Aires, iniciou suas pesquisas sobre o Método

Pilates. Tendo participado de diversos cursos e workshops, começou em 1997 os

trabalhos com Pilates, em Curitiba. Hoje, Elaine é licenciada pelo Physical Mind

Institute, ministrando cursos de formação em Pilates.

Em 1999, finalmente, para alívio de toda a Comunidade Pilates no Brasil,

surgiu oficialmente o primeiro fabricante brasileiro de equipamentos de Pilates, a

Physio Pilates, com sede em Salvador/BA, trabalhando sob licença exclusiva de

4 www.phisiopilates.com

8

Balanced Body® para toda a América do Sul. Atualmente, a Physio Pilates tem

clientes em diversos países da América do Sul, como Venezuela, Chile, Argentina,

Uruguai e Equador. Em 1999, o trabalho chega ao Rio, por intermédio da Physio

Pilates. Em Goiás, o trabalho começou em 1999, sendo Adriano Bittar o primeiro

fisioterapeuta no Brasil a ser certificado pela Polestar Education, na Técnica de

Pilates-Evolved para reabilitação. Em 2004, a Physio Pilates inaugura seus Studios

Master em Salvador e em Porto Alegre. Hoje, mais de dois mil centros de Pilates na

América do Sul (entre Estúdios independentes e Academias) que oferecem o

método no Brasil, Uruguai, Chile, Argentina, Colômbia e Venezuela, tiveram origem

a partir da formação de profissionais.

Os Princípios básicos do método Pilates

Como é percebido, o grande objetivo a ser alcançado por meio do método

Pilates é a saúde numa perspectiva ampla, e não necessariamente relacionada à

doença e à reabilitação.

Segundo Camarão (2004) e Rodrigues (2006), o método Pilates baseia-se

em princípios da cultura oriental, sobretudo relacionados às noções de

concentração, equilíbrio, percepção, controle corporal e flexibilidade, e da cultura

ocidental, destacando a ênfase relativa à força e ao tônus muscular, envolvendo

Pilates envolve, conscientemente, todos os músculos corporais durante a

realização dos movimentos. A isto se convencionou chamar de "contrologia".

Assim, o método Pilates se baseia em fundamentos anatômicos,

fisiológicos e cinesiológicos, sendo necessária a consciência corporal para efetiva

vivência do referido método. É compreendido em seis princípios, segundo Camarão

(2004, p. 7 e 8), que serão estudados a seguir.

Concentração

Durante todo o exercício, a atenção é voltada para cada parte do corpo,

para que o movimento seja desenvolvido com maior eficiência possível. A atenção

dispensada na realização do exercício é destacada ao aprendizado motor, que é o

grande objetivo da técnica.

9

Controle ou relaxamento

A coordenação é a integração da atividade motora de todo o corpo,

visando um padrão suave e harmônico de movimento. É importante a preocupação

com o controle de todos os movimentos a fim de aprimorar a coordenação motora,

evitando contrações musculares inadequadas ou indesejáveis.

Precisão ou alinhamento

De fundamental importância na qualidade do movimento, sobretudo, ao

realinhamento postural do corpo. Consiste no refinamento do controle e equilíbrio

dos diferentes músculos envolvidos em um movimento.

Centramento

A este princípio, Pilates chamou de Powerhouse, ou centro de força

(constitui-se pelas quatro camadas abdominais: o reto do abdome, oblíquo interno,

obliquo externo e transverso do abdome; eretores profundos da espinha, extensores,

flexores do quadril juntamente com os músculos que compõem o períneo), o ponto

central para o controle corporal.

Este centro de força forma uma estrutura de suporte responsável pela

sustentação da coluna e órgãos internos. O fortalecimento desta musculatura

proporciona a estabilização do tronco e um alinhamento biomecânico com menor

gasto energético aos movimentos.

Respiração

Para que o corpo receba a quantidade de oxigênio necessária para um

bom desempenho nos exercícios, deve-se respirar de forma eficaz. Segundo Craig

(2003), Joseph Pilates afirmava que frequentemente respiramos de forma errada e

usando apenas uma fração da capacidade do pulmão. Por isto, Pilates, em seu

trabalho, enfatizava a respiração como o fator primordial no início do movimento,

favorecendo a organização do tronco pelo recrutamento dos músculos

10

estabilizadores profundos da coluna na sustentação pélvica, bem como o

relaxamento dos músculos inspiratórios e cervicais.

Coordenação

Refere-se ao movimento, que deve ser de forma controlada e contínua,

deve exibir qualidades de fluidez e leveza que absorvam os impactos do corpo com

o solo, contribuindo para a manutenção da saúde do corpo. Ao contrário dos

movimentos truncados, pesados, que criam choques no solo, levam ao desperdício

de energia, além de tornar os tecidos propensos ao desgaste prematuro.

A partir das características apresentadas, percebe-se que o método

Pilates surge com o objetivo de promover e manter a saúde através do movimento.

E não é esse um dos objetivos da Educação Física, inclusive no âmbito escolar?

Analisando a história do método Pilates e toda a sua importância, esbarramos em

outros objetivos da Educação Física, a cultura corporal de movimento, o estudo e

relato das práticas corporais, a expressão do ser através do movimento, desde os

seus primórdios até os dias atuais. A utilização do movimento como forma de

garantir a sobrevivência, a perpetuação da espécie e, até mesmo, como forma de

lazer.

A EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA

Os movimentos são de grande importância biológica, psicológica, social,

cultural e evolutiva, uma vez que é através de movimentos que o ser humano

interage com o meio ambiente para alcançar objetivos desejados ou satisfazer suas

necessidades (GO TANI et al., 2001). São também de grande importância biológica

para o organismo, “no sentido de que constituem os atos que solucionam problemas

motores”, como afirma Connolly (apud GO TANI, 2001, p.11). Importante destacar

que os movimentos não se restringem apenas ao aspecto biológico, pois a

capacidade do ser humano de se mover é mais do que uma simples conveniência

que lhe possibilite andar, jogar e manipular objetos segundo influência de aspectos

culturais e sociais. Portanto, ele é o ponto central do nosso desenvolvimento

evolucionário, tanto físico-motor como sócio-cultural. É através dele que tomamos

conhecimento e nos apropriamos do mundo.

11

O centro das preocupações e interesses da Educação Física está no

movimento humano e, para entendermos melhor, é preciso que voltemos um pouco

no tempo, pois, “[...] ao resgatarmos uma visão antropológica do movimento

humano, passamos a percebê-lo em sua totalidade como resultante da interação de

seus componentes biofisiológicos e socioculturais” (CASTELLANI, apud.

GONÇALVES et al., 1996, p. 16). Assim, a relação da Educação Física com o

movimento, em especial com a ginástica sistematizada, será retratada a seguir.

A importância das Escolas Ginásticas para a Educação Física

Segundo Soares (2001), a partir do ano de 1800, vão surgindo na Europa,

em diferentes regiões, formas distintas de “encarar os exercícios físicos”. Essas

“formas” receberam o nome de “métodos ginásticos” (ou escolas ginásticas) e fazem

menção aos quatro países que deram origem às primeiras sistematizações sobre a

ginástica nas sociedades burguesas: Alemanha, Suécia, França e Inglaterra, tendo,

esse último, desenvolvido o esporte de forma mais acentuada.

Mais tarde, essas sistematizações seriam transplantadas para outros

países fora do continente europeu. Bregolato (2002) afirma a formulação de tais

métodos em princípios da cultura da Grécia antiga, que enaltecia a saúde, a força e

a beleza, e que teve todas as atividades da Educação Física denominadas de

GINÁSTICA (Gymnus: nu - tratando-se da prática de atividades com o corpo

desnudo) por filósofos e estudiosos gregos.

De acordo com Soares, ao apresentar algumas particularidades dos

Países de origem, essas escolas, de um modo geral, possuem finalidades

semelhantes: regenerar a raça (não esquecendo o grande número de mortes e

doenças na época); promover a saúde; desenvolver a vontade, a coragem, a força, a

energia de viver (para servir a pátria nas guerras e na indústria); e, finalmente,

desenvolver a moral (que nada mais é do que uma intervenção nas tradições e nos

costumes dos povos). A autora afirma, ainda, que a ginástica desempenhou

importantes funções na sociedade, nessa época, apresentando-se capaz de corrigir

vícios posturais oriundos das atitudes adotadas no trabalho, demonstrando, assim,

as suas vinculações com a Medicina e, desse modo, conquistando grande status

perante a sociedade.

12

A Escola Alemã (ou Método Alemão) surge para atingir as finalidades

apontadas anteriormente, particularmente a da defesa da pátria,

[...] uma vez que este país, no início do século XIX, não havia ainda realizado a sua unidade territorial. Era preciso, portanto, criar um forte espírito nacionalista para atingir a unidade, a qual seria conseguida com homens e mulheres fortes, robustos e saudáveis (SOARES, 2001, p. 53).

Segundo a autora (p. 53), para Guts Muths, um dos fundadores da

ginástica na Alemanha (outros dois fundadores foram: Friederich Ludwig Jahn e

Adolph Spiess), esta deveria ser organizada pelo Estado e ministrada todos os dias

para homens, mulheres e crianças, sendo um meio educativo fundamental para a

nação, disseminando cuidados higiênicos com o corpo e com o espaço onde se vive.

Em momento algum a saúde física deixou de pontuar aquelas propostas, e o corpo

anatomofisiológico sempre foi seu objetivo de atenção. Segundo Soares, o viés

médico-higiênico emprestava o caráter científico que, juntamente com a moral

burguesa, completava o caráter ideológico. De um modo geral, o movimento de

ginástica na Alemanha caracterizou-se por um forte espírito nacionalista, sob quatro

orientações: nacionalista, socialista, ultranacionalista e racista. Sua implantação no

Brasil acontece na primeira metade do século XX e deve-se ao grande número de

imigrantes alemães que aqui se instalaram e que tinham, naquela ginástica, um

hábito de vida. Sua implantação também pode ser atribuída aos soldados da Guarda

Imperial, que eram de origem prussiana e que, ao deixarem o serviço militar, não

mais regressavam ao país de origem, preferindo permanecer no Brasil. Assim, esse

contingente populacional de origem alemã cria inúmeras sociedades de ginástica

com as características básicas traçadas por seus fundadores, Jahn, Guts Muths e

Spiess.

O método Alemão permaneceu oficial na Escola Militar até o ano de 1912,

quando então é substituído pelo método Francês que, para seu fundador, o

espanhol D. Francisco de Amoros y Ondeaño, integrava a ideia de uma educação

voltada não somente para militares, mas também para toda a população, para o

desenvolvimento social, colocando-se como uma prática capaz de contribuir para a

formação do homem “completo, universal”.

13

O método ginástico Francês, além das preocupações básicas com o corpo

anatomofisiológico, possuía, também, um forte traço moral e patriótico, dos quais se

imbuía Amoros, que criou um método ginástico semelhante ao método Sueco. Uma

ginástica que poderia ser: civil e industrial, militar, médica e cênica ou funambulesca

(extravagante). A ginástica civil foi a que mais despertou o interesse entre os

brasileiros e, por isso, foi a mais disseminada, sendo oficialmente implantada no

Brasil em 12 de Abril de 1921, através do Decreto nº. 14.784. Sua chegada, porém,

deu-se no ano de 1907, através da Missão Militar Francesa, que veio ao país com a

finalidade de ministrar instrução militar à Força Pública do Estado de São Paulo,

onde fundou uma “Sala de Armas” que deu origem, mais tarde, à Escola de

Educação Física do Estado de São Paulo.

Quanto às Escolas Primárias, o método Sueco foi adotado pelos

brasileiros como o mais adequado, sendo extremamente defendido por Rui Barbosa,

num primeiro momento, e por Fernando de Azevedo, décadas mais tarde, por

possuir um caráter essencialmente pedagógico.

Idealizado por Pehr Henrick Ling, poeta e escritor que acreditava que uma

Educação Física que harmonizasse as faculdades dinâmicas do corpo com as forças

espirituais tinha que fazer parte da educação da população. Ling dividiu em quatro o

seu método ginástico: Ginástica Pedagógica ou Educativa, visando desenvolver o

indivíduo de forma saudável e harmoniosa, evitando a instalação de vícios, defeitos

posturais e enfermidades, independente de sexo e idade; Ginástica Militar, devendo

incluir a ginástica pedagógica, acrescida de exercícios propriamente militares, cujo

objetivo era preparar o guerreiro que colocaria fora de combate o adversário;

Ginástica Médica e Ortopédica, que também deveria estar baseada na ginástica

pedagógica, visando eliminar vícios ou defeitos posturais e curar certas

enfermidades através de movimentos especiais para cada caso encontrado; e, por

último, mas não menos importante, a Ginástica Estética, que, assim como as

demais, estaria baseada na ginástica pedagógica, e, para além dela, procuraria o

desenvolvimento harmonioso do organismo e seria complementada pela dança e

certos movimentos suaves que proporcionam beleza e graça ao corpo. Com isto,

lentamente, os demais métodos ginásticos foram se restringindo aos

estabelecimentos militares e a ginástica sueca foi se tornando a mais adequada para

a Educação Física civil, fosse no âmbito escolar, fosse fora dele (SOARES, 2001, p.

58).

14

Educação Física Escolar: influência da ginástica e novas abordagens

Segundo Moreira (2002 et al., p. 214), estudos desenvolvidos por Bracht

(1989) afirmam que o conteúdo de que trata a Educação Física escolar tem sido

determinado, ainda, por diferentes instituições que não a escola, tais como a

instituição médica, a militar e a desportiva. Isso mostra a influência dos métodos

ginásticos na Educação Física escolar.

Oliveira (1983, p. 52) acredita que o efetivo início da Educação Física no

processo educacional ocorreu por volta do ano de 1824, com tentativas de

organização do caos em que se encontrava o sistema educacional no Brasil

imperial, e que, apesar dos esforços, os significativos estímulos pedagógicos não

foram proporcionados, cabendo à “Educação Física” a influência médica e higienista.

Para Guiraldelli Jr. (1988, p. 23), é importante enfatizar a influência de Rui

Barbosa, advogado baiano que acreditava na Educação Física como a chave para

as mazelas sociais, que defendia a tese de que a “higiene do corpo e a higiene da

alma são inseparáveis” e encontrava na Educação Física a disciplina escolar capaz

de satisfazer o apetite infantil pelo movimento. Sobre essa concepção, a perspectiva

da Educação Física vislumbra a possibilidade e a necessidade de resolver o

problema da saúde pública através da educação.

Em 1921, através de decreto, impôs-se ao país, como método de

Educação Física oficial, o conhecido “Método do Exército Francês”, sendo estendido

à rede escolar com o início da vigência de legislação que colocou a Educação Física

como disciplina obrigatória nos cursos secundários, coordenando o pensamento

sobre a Educação Física durante as duas décadas seguintes (GUIRALDELLI Jr.,

1988). Entrava em cena a Educação Física militarista, também preocupada com a

saúde pública, mas voltada ao “processo de seleção natural” (Idem, p. 25), excluindo

os fracos e premiando os fortes. Seu objetivo fundamental era a obtenção de uma

juventude capaz de suportar o combate, a luta, a guerra. Era a formação do

“cidadão-soldado” (Ibidem), exemplo para todo o restante da juventude pela sua

bravura e coragem.

No período pós-guerra (1945 – 1964), segundo Guiraldelli Jr. (1988, p.

28), aumentaram os estudos sobre Educação Física Comparada.

15

As revistas brasileiras dedicadas à Educação Física não cansam de publicar artigos mostrando a organização dos Desportos e da Educação Física nos Países desenvolvidos. O modelo americano era o mais cativante no meio da intelectualidade universitária ligada às Escolas de Educação Física. [...]

Com isso, abriu-se espaço a uma nova concepção de Educação Física, a

Pedagogicista. Essa concepção que foi reclamar da sociedade a necessidade de

encarar a Educação Física não somente como uma prática eminentemente

educativa. Foi ela que colaborou decisivamente para que a juventude viesse a

“melhorar sua saúde, adquirir hábitos fundamentais, preparo vocacional e

racionalização do uso das horas de lazer” (GUIRALDELLI Jr., 1988, p. 19).

A Educação Física Pedagogicista preocupa-se com a juventude que

frequenta as escolas. A ginástica, a dança, o desporto etc., são meios de educação

do alunado. São instrumentos capazes de levar a juventude a aceitar as regras de

convívio democrático e de preparar as novas gerações para o altruísmo, o culto a

riquezas nacionais etc. Uma concepção que encara a Educação Física como algo

“útil e bom socialmente”, e que deve ser respeitada acima das lutas políticas, dos

interesses diversos de grupos ou de classes. (GUIRALDELLI, op. Cit, p. 29).

Segundo o autor, a partir dos anos 1920 e 1930, progressivamente, o

“desporto de alto nível” ganhou espaço no interior da sociedade e,

consequentemente, da Educação Física. Já nos anos 1960 – 1970, a ideia liberal

presente na Educação Física Pedagogicista, que encara a Educação, e por

extensão, a Educação Física, como algo neutro, necessariamente acima dos

conflitos sociais, cresce e ganha corpo na Educação Física Competitivista. O

“desporto de alto nível subjuga a Educação Física, tentando colocá-la como mero

apêndice de um projeto que privilegia o Treinamento Desportivo”.

Como a Educação Física Militarista, a Educação Física Competitivista

também está a serviço de uma hierarquização e etilização social. Seu objetivo

fundamental é a caracterização da competição e da superação individual como

valores fundamentais e desejados em uma sociedade moderna e, como na

Educação Física Pedagogicista, também advoga uma neutralidade em relação aos

conflitos político-sociais.

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Aqui, a Educação Física Fica reduzida ao “desporto de alto nível”. A prática desportiva deve ser “massificada”, para daí poder brotar os expoentes capazes de brindar o País com medalhas olímpicas. [...] Desenvolve-se assim o Treinamento Desportivo baseado nos avançados estudos da Fisiologia do Esforço e da Biomecânica, capazes de melhorar a técnica desportiva. (GUIRALDELLI, 1988, p. 20).

Com o Movimento Operário e Popular iniciado praticamente com a

república, segundo o autor, outra concepção de Educação Física ganhou espaço,

sendo forjada no interior desse e de outros movimentos operários: a Educação

Física Popular, privilegiando a ludicidade, a solidariedade e a organização e

mobilização dos trabalhadores na tarefa de construção de uma sociedade

efetivamente democrática. Ao contrário das concepções anteriormente citadas, a

Educação Física Popular, segundo Guiraldelli, não revelaria uma produção teórica

(livros, periódicos, teses etc.) abundante e de fácil acesso. Todavia, do pouco

material existente (jornais, revistas etc.), que sobreviveram aos “olhos e garras

incineradoras” das classes dominantes, é possível resgatar uma concepção de

Educação Física que, “paralela e subterraneamente”, veio historicamente se

desenvolvendo com e contra as concepções ligadas à ideologia dominante.

Segundo o autor, “ela é, antes de tudo, ludicidade e cooperação, e aí o desporto, a

dança, a ginástica, etc., assumem um papel de promotores da organização e

mobilização dos trabalhadores” (p. 21). Essa concepção de Educação Física

entende que a educação dos trabalhadores está intimamente ligada ao movimento

de organização das classes populares para o embate da prática social, ou seja, para

o confronto cotidiano imposto pelas lutas de classes.

Segundo Tani (2001, p. 13), é preciso que a Educação Física “modifique a

compreensão restrita de outrora”, passando a analisar o significado do movimento,

principal objetivo de ação e estudo da mesma, na relação dinâmica entre o ser

humano e o meio ambiente, investigando os princípios básicos de organização do

movimento em diferentes níveis de análise, desde o bioquímico, neurofisiológico e

comportamental, até o social, para se ter a compreensão mais adequada possível do

movimento humano.

O autor enfatiza, ainda, a necessidade da Educação Física estudar o real

significado do movimento dentro do ciclo de vida do ser humano, considerando-o

17

como um fator que contribui para uma crescente ordem no sistema e na sua

interação com o meio ambiente.

Nesse sentido, novas abordagens de ensino surgiram como oposição

àquelas estabelecidas até então, num movimento denominado como “Renovador”.

Dentre elas, têm-se: Construtivista-Interacionalista, Crítico Superadora, Sistêmica,

Saúde Renovada entre outras (DARIDO, 2003).

Como o foco desse estudo refere-se ao Método Pilates e sua possibilidade

de utilização na Educação Física escolar e, considerando a relação do Pilates com a

saúde, será discutida a abordagem da Saúde Renovada, tratada pelos autores

Nahas (1997, apud DARIDO, 2003), Guedes e Guedes (1996, apud DARIDO, 2003),

que defendem uma Educação Física escolar dentro de uma matriz biológica, embora

não se afastando das temáticas da saúde e da qualidade de vida. Segundo Darido

(2001, p. 11),

[...] é importante ressaltar que ao longo do século XX, foram muitos os autores que defenderam a Educação Física numa perspectiva biológica. No entanto, entendo que as considerações destes autores representem uma nova proposta, sobretudo a partir de meados da década de 90, pois propõem novas formas de compreensão destas relações, com novos argumentos.

Segundo Darido (Op Cit), os autores Guedes e Guedes ressaltam que

uma das principais preocupações da comunidade científica nas áreas da Educação

Física e da saúde pública é levantar alternativas que possam auxiliar na tentativa de

reverter a elevada incidência de distúrbios orgânicos associados à falta de atividade

física. Segundo ela, os autores se baseiam em diferentes trabalhos americanos, e

entendem que as práticas de atividade física vivenciadas na infância e adolescência

se caracterizam como importantes atributos no desenvolvimento de atitudes,

habilidades e hábitos que podem auxiliar na adoção de um estilo de vida fisicamente

ativo na idade adulta. E como proposta, sugere a redefinição do papel dos

programas de Educação Física na escola, agora como meio de promoção da saúde,

ou a indicação para um estilo de vida ativa, proposta por também por Nahas.

Denomino esta proposta de biológica renovada porque ela incorpora princípios e cuidados já consagrados em outras

18

abordagens com enfoque mais sócio cultural. NAHAS (1997), por exemplo, sugere que o objetivo da Educação Física na escola de ensino médio é ensinar os conceitos básicos da relação entre atividade física, aptidão física e saúde. O autor observa que esta perspectiva procura atender a todos os alunos, principalmente os que mais necessitam: sedentários, baixa aptidão física, obesos e portadores de deficiências. (NAHAS, 1997; apud DARIDO, 2001, p. 12; e DARIDO, 2003, P. 18 e 19).

Além disso, segundo Darido, os autores Guedes e Guedes criticam os

professores que trabalham na escola apenas as modalidades esportivas tradicionais:

voleibol, basquetebol, handebol e futebol, "impedindo, desse modo, que os

escolares tivessem acesso às atividades esportivas alternativas que eventualmente

possam apresentar uma maior aderência a sua prática fora do ambiente escolar",

(GUEDES & GUEDES, 1996, apud DARIDO, 2001, p. 12). Os autores consideram

que as atividades esportivas são menos interessantes para a promoção da saúde

devido à dificuldade no alcance das adaptações fisiológicas e, também, porque não

predizem sua prática ao longo de toda a vida (DARIDO, 2001 e DARIDO, 2003).

Segundo a referida autora, Guedes e Guedes, assim como Nahas, “ressaltam a

importância das informações e conceitos relacionados à aptidão física e saúde” (p.

12). A adoção destas estratégias de ensino, conforme Darido (2003), contempla não

apenas os aspectos práticos, mas também a abordagem de conceitos e princípios

teóricos que proporcionem subsídios aos alunos, no sentido de tomarem decisões

quanto à adoção de hábitos saudáveis de atividade física ao longo de toda vida.

Considerando os princípios básicos do Método Pilates, e sua aproximação

com a abordagem pedagógica da Saúde Renovada, deve-se pensar na contribuição

que o mesmo pode trazer para a saúde de crianças e adolescentes, em especial, no

que diz respeito aos problemas e vícios posturais, bem como à compreensão e

consciência acerca desse conteúdo na Educação Física escolar. Esta pode

contribuir por meio da vivência motora e, até mesmo, de orientações no sentido de

minimizar “maus hábitos” posturais causados pela mochila pesada, postura relaxada

em frente à TV, ou ao computador, e até mesmo na cadeira da escola etc. Exercícios de fortalecimento, alongamento e conscientização postural,

podem proporcionar resultados rápidos e duradouros, o que pode ser útil na vida

cotidiana dos alunos. Além desses benefícios, o Método Pilates pode ser uma

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divertida e importante fonte de aquisição motora e cognitiva, equilibrando corpo e

mente em cada ação, melhorando, até mesmo, problemas como a hiperatividade,

muito frequente em crianças e adolescentes, que acaba, de certa forma,

atrapalhando em atividades escolares.

O MÉTODO PILATES NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: RELATO DE EXPERIÊNCIA

A experiência relatada nesse estudo aconteceu em uma escola pública do

município de Juiz de Fora. Inicialmente foram feitos contatos com a Professora de

Educação Física da referida escola, que tomou conhecimento do estudo e aceitou

participar do mesmo, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Foram concedidas duas aulas de uma turma de 7º ano do Ensino

Fundamental, contendo 34 alunos, com idades compreendidas entre 12 e 15 anos,

para que o Método Pilates (Pilates Mat) fosse apresentado, por meio do

conhecimento e da vivência, pela turma. Tais intervenções aconteceram no mês de

setembro de 2009.

Aula 1: Intervenção: O primeiro contato

A primeira aula aconteceu na quadra esportiva da escola, no dia 21 de

Setembro, com 25 alunos participantes, inclusive um aluno com deficiência visual.

“Gostei muito!” Disse ele ao final da aula.

Inicialmente, houve um bate-papo que pôde mostrar que a maioria dos

alunos não conhecia o método Pilates, mas alguns disseram ter tido contato com

alguns materiais utilizados em diferentes modalidades do método. É curioso e válido

lembrar que apenas um aluno conhecia o método, por intermédio da avó, praticante

de Pilates por indicação médica, devido ao acometimento de osteoporose. Após o

diálogo e uma breve apresentação do método Pilates e seu histórico, os alunos, que

se mostravam muito curiosos, foram convidados a participar da vivência. Foram

distribuídas toalhas para proteger o corpo do contato direto com o solo. As toalhas

tinham uma espessura não muito distante da espessura dos colchonetes reais,

utilizados na prática do método.

20

O espaço foi organizado, as devidas orientações sobre postura e

respiração foram feitas e, iniciados os exercícios, a cada momento um aluno era

utilizado como “modelo”, ou melhor, como referência para explicações, correção de

postura etc.

Foram realizados exercícios de postura e respiração, exercícios de

flexibilidade, bem como de rolamentos com a utilização de toda a extensão da

coluna. Grande parte dos exercícios utilizados nas práticas consistia em

mobilizações da coluna de forma geral e de forma específica, com o objetivo de

soltura e fortalecimento da musculatura que envolve a mesma, como por exemplo,

exercícios nas posições de pé, em que o aluno realizava movimentos de flexão

(frontal ou lateral) da coluna em direção ao solo, a partir das vértebras cervicais, sem

que esse movimento fosse forçado; também, exercícios de resistência muscular

como, por exemplo, nos exercícios que partem da posição deitada, com joelhos

flexionados e apoio dos pés no solo, realizando a contração abdominal e flexão da

coluna a partir das vértebras cervicais até uma posição final, em que o aluno

realizava o realinhamento das mesmas; ou ainda, exercícios em posição de “quatro

apoios”, em que o aluno se postava de joelhos, com as mãos apoiadas no solo, e

realizava ao mesmo tempo, a extensão do quadril e a flexão do ombro, com apoios

“transversais” (tirando do solo, ao mesmo tempo perna direita e braço esquerdo, e

vice-versa). De uma forma geral, os exercícios aplicados visavam o fortalecimento,

alongamento e conscientização postural, bem como a conscientização com relação

à respiração durante a realização dos movimentos.

Durante a execução dos exercícios, no desenvolvimento da aula, alguns

alunos diziam: “É difícil, mas gostoso!”, “Achei muito legal!”, “Nossa, como eu tô

dura!”, “Ai, eu senti a minha coluna!”.

Ao final da aula foi feita uma avaliação com os alunos. Nesse momento,

os alunos eram questionados sobre o que sentiam durante a realização de cada

exercício, do que mais gostaram, dificuldades e facilidades etc. Esse encontro foi

finalizado dando projeções referentes ao segundo momento, que aconteceria

naquela mesma semana.

Aula 2: intervenção: A vivência do Pilates na escola

21

A segunda aula aconteceu no dia 24 de Setembro, e, conforme um

combinado entre os professores de Educação Física da escola, outra turma utilizaria

o espaço da quadra poli esportiva, enquanto a turma que estava participando do

estudo sobre Pilates na escola utilizaria um espaço aberto. Como estava chovendo

neste dia, foi utilizada a sala de aula para a vivência do referido método.

A sala era bem menor, em comparação à quadra, mas nos serviu muito

bem. As carteiras foram agrupadas nas paredes, sendo liberado um espaço no

centro da mesma. Importante destacar que a redução do espaço físico não foi o

bastante para reduzir a curiosidade dos alunos quanto aos novos exercícios que,

além de postura, respiração e flexibilidade, desta vez abrangiam, também, a

resistência, o equilíbrio, concentração e coordenação.

No início da aula foi feita uma ligação com a aula anterior e apresentado

os objetivos da mesma. Infelizmente houve um número reduzido de participantes, se

comparado à aula anterior, mas os que não fizeram a parte prática estavam atentos

ao desenvolvimento da aula. Os alunos mostraram ter adorado os exercícios de

resistência, inclusive os de abdominais, por desafiarem a gravidade e o equilíbrio: “a

gente treme muito!”, dizia uma aluna. Igualmente com os exercícios de mudança de

postura (sentado e ajoelhado) através de rolamentos sobre os membros inferiores,

sem ter de sair do chão. “É legal, é gostoso!”, disse outra aluna. Sem esquecer dos

rolamentos (balanceios) que alongam e relaxam regiões específicas da coluna

vertebral. Como disse um dos alunos: “o corpo fica leve!”. Esse é um dos grandes

objetivos do método Pilates: a consciência corporal.

Ao final dessa aula foi feita uma avaliação da mesma, bem como uma

avaliação geral, considerando o primeiro e o segundo encontros. Nesses momentos

os alunos foram questionados sobre o que sentiam com cada exercício, de qual

exercício mais gostaram etc.

Foi perguntado sobre a facilidade e dificuldade de realização dos

exercícios propostos, e todos os alunos demonstraram grande facilidade de

compreensão e execução dos exercícios. Isso foi confirmado pela fala deles. Ao

serem questionados sobre a utilização do Método Pilates nas aulas de Educação

Física, as respostas divergiram bastante: “Eu acho que devia ser só Pilates!“ disse

uma aluna; outro aluno falou: ”Já não temos muito Futebol, aí é que não vamos ter

mesmo!”; “Acho interessante o Pilates antes das atividades de Educação Física, ou

depois!”, disse uma aluna. Isso foi justificado pela característica de consciência

22

corporal, alongamento e força, trabalhados lentamente. Essa mesma característica

trouxe outro posicionamento: “O Pilates é devagar, tem muito alongamento, acho

que a Educação Física precisa de mais movimento!”; “Eu gostei muito, acho que

devia ter, sim!”. Depois foi a vez dos alunos questionarem: “Porque o corpo treme?”,

“O Pilates emagrece?”, e um novo e proveitoso bate-papo se iniciou para finalizar as

intervenções.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sabe-se que os conteúdos trabalhados na Educação Física Escolar estão

fortemente marcados pelo esporte. Torna-se, pois, importante uma ampliação dos

mesmos no sentido de diversificar a experiência da cultura corporal de movimentos.

A concentração, a respiração, o controle, o alinhamento, a precisão, a

fluência, o ritmo, o centramento e o compromisso com o corpo são a base de todos

os exercícios de Pilates e são elementos fundamentais para o desenvolvimento de

crianças e adolescentes.

O Pilates pode contribuir para a saúde de crianças e adolescentes, em

especial, no que diz respeito aos problemas posturais através de seus princípios e

aplicação na Educação Física escolar. Alguns vícios posturais comuns, sejam eles

causados pela mochila pesada, postura relaxada em frente à TV ou ao computado,r

e até mesmo na cadeira da escola, podem ser trabalhados com o método Pilates.

Nesse caso, a consciência corporal desenvolvida por meio da compreensão e

vivência de exercícios de fortalecimento, alongamento e conscientização postural

proporciona benefícios diversos aos alunos. Destaca-se que, além desses

benefícios, o Método Pilates pode ser uma divertida e importante fonte de aquisição

motora e cognitiva, desde que seja respeitada a individualidade de cada um. Pode

auxiliar, também, no controle da hiperatividade, muito frequente em crianças e

adolescentes, que, de certa forma, atrapalha as atividades escolares.

O Método Pilates pode proporcionar ao aluno, por meio dos seus

princípios e exercícios, a percepção do próprio corpo e do espaço que ele ocupa,

além da consequente percepção do espaço que o outro ocupa. Com isso, os alunos

ganham consciência ampla e aprendem a respeitar as possibilidades e os limites

próprios e dos outros.

23

Sua aplicação na escola pode ser respaldada pela perspectiva da

abordagem da Saúde Renovada, que atenta para a importância do conhecimento

acerca da prática de atividades físicas, principalmente na infância e na adolescência,

como importantes atributos no desenvolvimento de atitudes, habilidades e hábitos

que previnam e corrijam maus hábitos comportamentais, físicos e posturais, e que

podem auxiliar na adoção de um estilo de vida fisicamente ativo ao longo da vida.

Da experiência desenvolvida em uma escola, pode-se concluir que a

Educação Física ainda carrega o preconceito de que tem que estar relacionada com

o esporte ou preparar o indivíduo para o mesmo. Torna-se necessária uma reflexão

acerca de como “tratamos” a Educação Física dentro das escolas, em sala de aula e

fora dela. Devemos atentar para que nosso trabalho dentro das instituições de

ensino não seja apenas o de “professores de Esportes”, e sim de profissionais da

área da saúde, do bem-estar e da educação, seja ela esportiva, corporal,

comportamental etc., para que nossos alunos tenham uma concepção diferente do

que é a Educação Física.

Este estudo não pretende esgotar o assunto, e espera-se que, a partir

dele, novas inquietações surjam no meio acadêmico e que novos estudos sejam

desenvolvidos.

REFERÊNCIAS

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