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MiniContosPerversos

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MiniContos Perversos & Outras Licenciosidades

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G u s t a v o M a r t i n s

MiniContosPerversos

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são paulo - 2009

G u s t a v o M a r t i n s

MiniContosPerversos

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Catalogação na Fonte. SNEL – Sindicato Nacional dos Editores de Livros.Rio de Janeiro, RJ

Ao adquirir um livro você está remunerando o trabalho de escritores, diagra-madores, ilustradores, revisores, livreiros e mais uma série de profissionais responsáveis por transformar boas idéias em realidade e trazê-las até você.

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro poderá ser copiada ou reproduzida por qualquer meio impresso, eletrônico ou que venha a ser criado, sem o prévio e expresso consentimento dos editores.

Impresso no Brasil. Printed in Brazil.

Esta obra é uma publicação da

Editora Livronovo Ltda.CNPJ 10.519.646/0001-33www.livronovo.com.br© 2009. São Paulo, SP

Projeto gráficoFabio Aguiar

DiagramaçãoEquipe Editora Livronovo

Capa e ilustraçõesLuiz Calmon

RevisãoMiriam Rachel

Editores-responsáveisFabio AguiarZeca Martins

M341m Martins, Gustavo Minicontos & outras licenciosidades / Gustavo Martins. - São Paulo :

Livronovo, 2009. 120p. : il. ISBN 978-85-62426-12-4 1. Conto brasileiro. 2. Crônica brasileira. I. Título.

09-2835. CDD: 869.93 CDU: 821.134.3(81)-3

15.06.09 17.06.09 013202

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Dedico aos amigos que sacrificaram os fígados nas mesas de boteco, onde, juntos, lembramos, concebemos e vivemos muitas das histórias a seguir contadas

Dedicatória

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Apresentação

Zé, Alaor e mais personagens (im)prováveis

Grande parte dos amigos ao ler o “(im)prováveis” aí do título iam lascar na lata que isso é coisa de viado. Do mesmo jeito que fazer aspas com os dedos quando se quer simbolizar cinismo no que se fala. Pode imagi-nar a dificuldade de compartilhar com esses gozadores as aventuras e realizações nas festas, farras e no dia-a-dia? Então tem que ter jeito.

Quem senta no boteco (ou numa roda qualquer de ami-gos) sabe que jogar conversa fora é o que há de melhor. Aliás, apreciar uma mulher bonita passando ganha, mas... é de onde brotam as histórias — ou elas acontecem no en-torno desses ambientes. Cada uma delas, ou várias mistura-das numa só, resultam num MiniConto Perverso (MCP).

Para não colocar ninguém — nem o próprio autor — em situação delicada surgiu o Zé. É bem provável você goste de conhecê-lo. Mais do que um cara bacana com quem todo mundo se identifica, ele é uma entidade que revive histórias de conquistas, festas, porres e tropeços com entorpecentes experimentadas por nossos amigos,

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por conhecidos deles e pelo próprio autor. O Zé é o espelho de uma geração de hedonistas insensíveis e românticos ao mesmo tempo.

No decorrer do livro você vai perceber os nomes de alguns dos amigos que contaram histórias que foram reescritas a ponto de se transformarem em MCP. Não dá pra deixar de mencionar que algumas delas nasce-ram de longas conversas com uma amiga misteriosa, de quem não foi possível mencionar o nome pois ia com-plicar a vida que ela leva hoje, rodeada de conforto, segurança e uma boa dose de rebeldia contida.

Um MCP não tem tamanho exato, mas a idéia é que seja perfeito para ler no computador, no meio de todas as informações que recebemos a cada minuto, entre um e-mail e outro. Ou seja, tem que ter o tamanho de uma tela de micro ou um pouco mais. Era assim que eles existiam antes dos blogs virarem moda.

Diferentemente do que parece, quanto menor o conto mais difícil para o leitor, porque todo o conteúdo das entrelinhas tem que ser deduzido. Para quem quer um referencial de tamanho de fora do mundo cibernético, o MCP é perfeito para ler no “trono”. (precisa desenhar?)

Demorou para cair a ficha de que eles estavam prontos para serem exibidos num blog. Foi do fim de uma FOSSA DAQUELAS (amorosa, claro) que brotou a ideia de lançar o blog (procura no google que você acha). E da deliciosa inte-ração com as leitoras e leitores me motivei a lançar o livro.

Entre os amigos de boteco estão os dois que me aju-daram na concretização da obra no sentido prático: Luiz

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“Macaco” Calmon, cartunista e redator talentoso, fez as ilustrações e Zeca Martins, escritor e professor de propa-ganda e de vida, cumpriu o brilhante papel de editor.

Pra terminar, não podemos esquecer do Alaor, o anãozinho perverso da capa. Ele ganhou o nome em-prestado de um outro Alaor, cuja explicação, do Luiz Calmon, por si só já dá um MCP:

O Alaor é uma entidade que surgiu no início da adolescência. Quando eu chegava no prédio em que minhas avós moravam, tocava o interfone e minha bisavó, mesmo sabendo que era eu, invaria-velmente perguntava: “Quem é?” E eu respondia, com voz soturna: “É o Alaooooor!” Com o passar do tempo virou uma espécie de pau pra toda obra. Quando acontecia alguma coisa, sempre o Alaor era o responsável. Hoje ele pode ser encontrado no orkut, casado, com filhos, residente em Londrina.

Espero sinceramente que você tenha pulado esta parte e partido direto para os contos, que é o que in-teressa nesta obra. Caso tenha tido a paciência de ler isto antes (CDF!) ou voltado para ler depois, fique com uma frase do grande ídolo Charles Bukowski, que se es-tivesse vivo não prefaciaria isto aqui nem a pau: “These words I write keep me from total madness”.

Luiz Gustavo Martins, Curitiba, 2009

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Sumário

Desejo da vaidosa • 15Mutante • 17Rendição • 19Ócio bom, pensamento ruim • 21Moidinho no suco • 23Escrava • 25Alma depilada • 2730 anos • 2930 dias • 31Santinho do bolo • 33Astrônoma amadora • 35Sem itinerário • 37Cartão postal • 39Pequeno-burguesa • 41Fantasia ou não, ele merecia • 43 Malacabada • 45Clítoris decepado • 47Liberdade • 49Peluda • 51 Noivado • 53Fábula sem moral • 55 O entregador de pizza • 57Vício e dívida • 61Tântrica • 63

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Na cama da minha mãe não pode • 65Moças da rodoviária • 67Ela tocou o puteiro • 69Organizadinho • 71A moça que chupou linguiça

na festinha de formatura • 73O maior de todos • 75Mortal • 77Leitoa fujona • 79Sabonetinho • 81Éramos grandes cabaços • 83Estratégia de fim de festa • 85Acidente de percurso • 87Fantasma fedorento • 89Meu primeiro surto patriótico • 93Aprendizado de química

e empreendedorismo pelo método empírico • 95 Cigana mendiga • 97A mulher que comia pasta de dente • 99Faça o que eu digo, não faça o que eu faço • 101Se desse para comprar razão,

eu pagaria para se livrarem da minha • 103Nem tão doce • 105Redenção • 107A casa dos desesperados • 109Sinopse da paixão violenta • 111Périplo e probabilidade numa noite curitibana • 113Eu amo Garen Muttin • 115Maldição de uma linhagem • 117

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MiniContos para mulheres inteligentes

Ei, rapaz! Se quiser se aventurar

por este mundo, seja bem-vindo!

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Ela sabia se vestir e tinha um conjunto físico que chamava a atenção. Convivia pacificamente com uma compulsão por ter sua beleza admirada que pesava na soma da sua personalidade. Com todo respeito, adorava um olhar ou comentário. Principalmente os olhares. Por onde passava os atraía. E tinha um desejo secreto, desses de não contar no confessionário, nem comentar em voz baixa quando sozinha no banheiro.

Passava horas no espelho, mesmo antes do compromisso mais casual. Naquele dia iria um pouco mais tarde para o trabalho, o que garantia uma carona bastante conveniente do marido. Não que ela fosse usar esse tempo para descansar ou resolver algum problema em casa. Era mais tempo para se arrumar. E o resultado agradou, muito.

Centro da cidade, tinha que descer do carro parado na faixa esquerda de uma avenida. E que momento

Desejoda vaidosa

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pra ela! Saia na metade da coxa, meias finas e a plena noção do poder dessa cena no imaginário de qualquer observador. Beijinho casual no marido, porta entreaberta, uma perna para fora, um olhar de relance, uma motocicleta passando, perna passando do carro para a rua, um sorriso, abriu a porta e desceu. Mas a moto não passou. Moto e motociclista se esborracharam na traseira de um carro parado pouco à frente no sinaleiro. Ela fechou a porta e se afastou, sorriso quase imperceptível. Desejo realizado.

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Vestido longo de cetim, comprimento exato, justo, um grande dragão vermelho tatuado nas costas. Entre o decote e os cabelos longos, entrevê-se a cabeça, olhos demoníacos, e parte do pescoço da besta. Um

observador cuidadoso veria o vestido como uniforme.

A noite começou com angústia.

Antes de sair, mãos acariciando com água morna, no banho

tentava fazer o corpo exalar desejo,

Mutante

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desenhando um homem com pedaços de suas memórias deitadas. Pensou na boca mais perfeita que beijou, esqueceu do bordado das costas.

No bar, quase chora ao lembrar do Sr. “boca perfeita”, perdido do outro lado do mundo. Ela busca alegria cristalizada momentânea, se abaixa sobre o espelho mágico das almas perdidas, pó de cristal, longos suspiros de banheiro. Ao levantar, vê no espelho da parede o reflexo da sua dor. Aos poucos veste a máscara da mulher fatal e volta para o bar.

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Ela resistiu como devia, quanto pôde. Com todas as fibras dos músculos, da alma. Resistiu mordendo os lábios, sufocando o grito, suspendendo o ato tantas vezes iniciado. Agora, na penumbra, vejo as costas suadas, a respiração ofegante, o corpo imóvel aguardando a consumação. Abro caminho na carne trêmula. A lâmina cintila diante da luz tênue enquanto traço um arabesco singelo. Ela suspira profundamente, talvez cansada de resistir, purificada pela entrega. Exausta, me observa pelo espelho enquanto lambo uma gota de sangue na lâmina.

Historinha contada por Cibelle Lopes

Rendição

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Hoje passei o dia peladinha na cama, esfregando o pé no lençol, sentindo a textura. Com aquela preguiça de vadiagem e vontade de ficar ali enrolando, e rolando de um lado para o outro. Imaginei você, meio vago em minha mente, já que faz muito tempo que a gente não se vê. Fechava os olhos e sentia o volume dos músculos em meu rosto, seus pelos roçando minhas coxas. E se vou transar com o namorado, fico te imaginando. Depois que gozo me sinto horrível, pois usei justamente quem cuida de mim. Ele meio que percebe, tanto que andou me recusando.

Ócio bom,pensamento ruim

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