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Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-Terapia de Goiânia ITGT Curso de Pós-Graduação Latu Sensu com vistas à Especialização na Abordagem Gestáltica Chancela da Pontifícia Universidade Católica de Goiás PUC-GO O USO DO CICLO DO CONTATO COMO INSTRUMENTO PARA A COMPREENSÃO DE UM MODO DE SER Maevy Rocha Nascimento Denise Borella Sousa Costa Goiânia GO Maio/2018

O USO DO CICLO DO CONTATO COMO INSTRUMENTO PARA …

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Page 1: O USO DO CICLO DO CONTATO COMO INSTRUMENTO PARA …

Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-Terapia de Goiânia – ITGT

Curso de Pós-Graduação Latu Sensu com vistas à Especialização na Abordagem

Gestáltica

Chancela da Pontifícia Universidade Católica de Goiás – PUC-GO

O USO DO CICLO DO CONTATO COMO INSTRUMENTO PARA

A COMPREENSÃO DE UM MODO DE SER

Maevy Rocha Nascimento

Denise Borella Sousa Costa

Goiânia – GO

Maio/2018

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Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-Terapia de Goiânia – ITGT

Curso de Pós-Graduação Latu Sensu com vistas à Especialização na Abordagem

Gestáltica

Chancela da Pontifícia Universidade Católica de Goiás – PUC-GO

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Título: O uso do ciclo do contato como instrumento para a compreensão de um modo

de ser.

Autor (a): Maevy Rocha Nascimento

Data da banca: 11/05/2018

Denise Borella Sousa Costa, Esp. _________

Presidente da Banca: Professora-Orientadora Nota

Celana Cardoso Andrade, Dra. _________

Professora Convidada Nota

Sandra Albernaz Saddi, Ms. _________

Professora Convidada Nota

Nota Final: ___________

Goiânia – GO

Maio/2018

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Agradecimentos

A Deus, pelo milagre da vida. A Ele, toda honra e toda glória.

Aos meus pais, pela escolha em me conceberem a vida. Tudo o que julgo original em

mim tem em vocês o seu princípio. Em especial, agradeço à minha mãe, por ser meu colo

acolhedor de cuidado e amor infinitos. Eu a amo, mãezinha.

À minha avó, Maria Francisca, meu eterno grande amor.

Às mulheres da minha vida: Tânia, Sandra e Ângela, meus exemplos de fé, amor, força,

perseverança e ternura. Eu amo vocês.

Ao meu namorado, Paulo José, com quem tenho a honra de construir uma história de

amor.

Às minhas amigas Caroline Chaveiro e Rafaela Teixeira, por todos os instantes que

vivemos juntas!

À minha amiga, Juliana Teixeira, o maior presente que eu levo do ITGT. Obrigada por

estar comigo.

Ao ITGT, com seu corpo de professores e funcionários, por me proporcionar uma

formação pautada na ética e na dignidade humana.

À Denise Borella Sousa Costa pelo cuidado e respeito na orientação deste trabalho.

À Celana Cardoso Andrade pelo despertar da gestalt-terapeuta que em mim habitava.

À Sandra Albernaz Saddi pelos ensinamentos que estão para além das fronteiras do

contato.

À Lara Danyla Freitas Garcia Santos, por amorosamente ser minha supervisora clínica e

acolher-me em minhas angústias de gestalt-terapeuta iniciante.

À Thais Ribari Fujioka pelo cuidado incondicional a mim dedicado.

Aos meus clientes, por me honrarem com a permissão de conhecê-los em profundidade.

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O USO DO CICLO DO CONTATO COMO INSTRUMENTO PARA A

COMPREENSÃO DE UM MODO DE SER1

The use of the contact cycle as an instrument for understanding a way of being

Maevy Rocha Nascimento2

Denise Borella Sousa Costa3

Resumo

O presente artigo tem como objetivo principal demonstrar o uso do ciclo do contato como instrumento clínico no

manejo do processo psicoterapêutico na abordagem gestáltica. Para tanto, foi realizado um estudo de caso, no qual

as intervenções estavam ancoradas no modelo proposto por Ribeiro (2007). O instrumento demonstra ser útil para

diagnóstico e intervenção, permitindo que o gestalt-terapeuta faça uma leitura da forma como cliente estabelece

contato na busca pela satisfação de suas necessidades e como esse processo pode ser interrompido ou

descontinuado. Conclui-se que o instrumento é uma importante ferramenta de trabalho na elaboração de um

raciocínio clínico favorecedor do restabelecimento do desenvolvimento e do crescimento do indivíduo.

Palavras-chave: Diagnóstico Processual; Ciclo do contato; Gestalt-terapia

Abstract

This article has as main objective demonstrate the use of the contact cycle as a clinical tool in the management of

the psychotherapeutic process in the Gestalt-therapy. For this, a case study was carried out, in which the

interventions were anchored in the model proposed by Ribeiro (2007). The instrument demonstrates that it is useful

for diagnosis and intervention, allowing the gestalt-therapist to make a reading of how the client establishes contact

in the search for the satisfaction of his needs and how this process can be interrupted or discontinued. It is

concluded that the instrument is an important tool of work in the elaboration of a clinical reasoning conducive to

the reestablishment of the development and growth of the individual.

Keywords: Diagnosis; Contact Cycle; Gestalt-therapy

Resumen

El presente artículo tiene como objetivo principal demostrar el uso del ciclo del contacto como instrumento clínico

en el manejo del proceso psicoterapéutico en el abordaje gestáltico. Para ello, se realizó un estudio de caso, en el

cual las intervenciones estaban ancladas en el modelo propuesto por Ribeiro (2007). El instrumento demuestra ser

útil para diagnóstico e intervención, permitiendo que el gestalt-terapeuta haga una lectura de la forma como cliente

establece contacto en la búsqueda por la satisfacción de sus necesidades y cómo ese proceso puede ser interrumpido

o discontinuado. Se concluye que el instrumento es una importante herramienta de trabajo en la elaboración de un

raciocinio clínico favorecedor del restablecimiento del desarrollo y del crecimiento del individuo.

Palabras clave: Diagnóstico; Ciclo del contacto; Gestalt-terapia

1 Trabalho apresentado como requisito parcial para a obtenção do grau de especialista em Gestalt-terapia, do Curso de Pós-graduação Latu-sensu do Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-Terapia de Goiânia (ITGT). 2 Psicóloga graduada pela Universidade Federal de Goiás (UFG), pós-graduanda em Gestalt-terapia pelo ITGT. E-mail: [email protected]. 3 Psicóloga especialista em Gestalt-terapia pelo ITGT, professora-supervisora do ITGT. E-mail: [email protected].

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1. Introdução

A utilização do diagnóstico era um tema controverso na Gestalt-terapia. Os gestaltistas

da primeira geração – década de 1960 – optaram pelo desuso por considerá-lo incoerente com

a abordagem que estava sendo proposta. Eles concebiam os modelos até então vigentes –

pautados na perspectiva nosológica – como despersonalizantes e rotuladores, sendo pouco úteis

à prática clínica e incongruentes com o relacionamento fenomenológico-existencial adotado.

(Frazão, 1995; Yontef, 1998; Ancona-Lopez, 2003).

O movimento anti-diagnóstico perde força a partir da década de 1980, momento em que

passam a ser estabelecidas discussões orientadas à elaboração de um modo de diagnosticar

diferente, que fizesse sentido dentro da abordagem gestáltica e contemplasse seus pressupostos

básicos. Salientava-se a necessidade de teorizações que propusessem ferramentas que

permitissem não somente a identificação dos bloqueios e interrupções do cliente, mas também

das suas possibilidades de mudança e crescimento (Frazão, 1995; Yontef, 1998; Ancona-Lopez,

2003; Pinto, 2015).

Em consonância com o que estava sendo discutido, foi proposto o modelo de

pensamento diagnóstico processual. Essa perspectiva tem como premissa a apreensão dos

sentidos e significados entre aquilo que é apresentado pelo cliente como sintoma e a totalidade

na qual está inserido, em estabelecer a relação entre a figura emergente e o fundo que a subsidia,

entre a gestalt atual e as gestalten inacabadas. O diagnóstico processual permite que o gestalt-

terapeuta reveja suas hipóteses iniciais, componha e recomponha as suas considerações e

reformule seu raciocínio à medida que a psicoterapia avança, que o cliente cresce e se

desenvolve (Frazão, 1995).

Com esse novo modelo, o diagnóstico passa a ser definido como um olhar atento e

respeitoso do psicoterapeuta àquele que se apresenta, em que são observados seus modos de

ser, suas caraterísticas singulares e genéricas. As experiências descritas permitem a elucidação

de padrões gerais de comportamento, a identificação de aspectos saudáveis e adoecidos, a forma

como a realidade é apreendida e os conflitos são resolvidos. Em consequência dessa observação

cuidadosa é criada a possibilidade de uma intervenção precisa e articulada que, por um lado

considera a individualidade do cliente e, por outro, o que já foi desenvolvido pela ciência

(Yontef, 1998; Frazão, 1995; Pinto, 2015).

Transpostas para a prática, as compreensões aqui citadas podem ser vivenciadas com

certa dificuldade, especialmente pelos gestalt-terapeutas iniciantes que, não raro, encontram

impasses no manejo da psicoterapia, não conseguindo apreender o que a pessoa precisa e deseja.

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Ao estudar as raízes filosóficas – Humanismo e Existencialismo –, teóricas – Teoria de Campo,

Teoria Organísmica e Psicologia da Gestalt – e metodológicas – Fenomenologia – que

fundamentam a abordagem, podem não conseguir elaborar um raciocínio que seja coerente com

as mesmas e que favoreça o trabalho psicoterapêutico, carecendo de parâmetros que o ampare

(Tavares & Andrade, 2011).

Daí a importância de se estudar um instrumento que auxilie o psicoterapeuta e seja

referência no curso da psicoterapia. Diante dessa necessidade, o Ciclo Integrado dos Sistemas,

Níveis e Funções do Contato é apresentado como uma alternativa à compreensão diagnóstica e

prognóstica e ao manejo clínico. Ao possibilitar a descrição fenomenológica do modo como a

pessoa experiencia a realidade e suas relações é permitido que o gestalt-terapeuta realize uma

leitura não somente de como o contato acontece, mas também como pode ele deixar de

acontecer, sendo bloqueado ou descontinuado pelo cliente (Ribeiro, 2007; Pinto, 2015).

Riberio (2007) formula o ciclo do contato a partir das suas reflexões, experiências e

pesquisas clínicas, integradas às formulações propostas por Perls, Zinker, pelo casal Polster,

por Crocker e Clarkson – estudiosos consagrados na literatura gestáltica. No referido

instrumento estão sistematizados nove fatores de bloqueio de contato apresentandos com seus

respectivos pares polares, os “fatores de cura”: fluidez/fixação, sensação/dessensibilização,

consciência/deflexão, mobilização/introjeção, ação/projeção, interação/proflexão, contato

final/retroflexão, satisfação/egotismo e retirada/confluência.

No presente artigo, o objetivo principal é demonstrar a utilização do ciclo do contato

como instrumento clínico no manejo do processo psicoterapêutico dentro da abordagem

gestáltica. Para tanto, a escrita está organizada em dois eixos: o primeiro refere-se à

apresentação do ciclo do contato proposto por Ribeiro (2007). O segundo, à descrição do

processo psicoterapêutico protagonizado por Bia (nome fictício), uma jovem adolescente que

tem seu caso estudado a partir do instrumento aqui referido e da contribuição de autores que

referenciam as teorizações acerca das interrupções de contato.

Almeja-se assim, contribuir com o tema abordado, endossando a produção científica e

compondo um material de estudo útil aos gestalt-terapeutas iniciantes e aos mais experientes.

Considera-se que os primeiros possam ser beneficiados por tal esboço ao utilizá-lo como

suporte para as compreensões iniciais de alguns conceitos da abordagem gestáltica e da

articulação dos mesmos com a prática clínica. Os demais podem, ao se apropriarem de um

conhecimento atualizado, revisitar conceitos e fazeres que, vez ou outra, correm o risco de

serem automatizados pelo hábito.

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2. Fundamentação Teórica

A psicoterapia é um processo que almeja favorecer o autoconhecimento, a

autossustentação e satisfação do indivíduo. Para tanto, é necessário que o profissional facilite

ao cliente a identificação das suas necessidades abrangendo a consciência do que as sustenta –

a awareness. Esse conceito pode ser definido como o contato integrado das funções sensoriais,

emocionais, cognitivas e motoras com aquilo que emerge de mais importante na interação

self/meio, sendo o objetivo das intervenções na abordagem gestáltica (Perls, 1981; Pinto, 2015;

Frazão, 1995; Perls, Hefferline & Goodman, 1951).

Cliente e psicoterapeuta precisam estar atentos à forma como o primeiro faz contato, ou

seja, como organismo e meio se interagem mutuamente, em um movimento de aproximação e

afastamento, para a satisfação das necessidades. Por meio da manipulação de si e do ambiente,

o indivíduo se autorregula, se autoatualiza. O processo contato/retração possibilita o retorno ao

estado de equilíbrio até que um novo desequilíbrio seja instaurado (Ribeiro 2007; Perls, 1981;

Polster & Polster, 2001; Perls, Hefferline & Goodman, 1951).

O indivíduo que atua de modo desatualizado e cristalizado em formas de interação

obsoletas é descrito como neurótico. Ele não tem a awareness do campo total, fazendo contato

apenas com partes da realidade. Não consegue perceber claramente suas necessidades, pois

perdeu a capacidade de discriminar os estados de equilíbrio e desequilíbrio. Assim, não

apreende claramente as gestalten e, portanto, não se concentra naquilo que o levaria a fechá-

las, sendo povoado por situações inacabadas e pela constante sensação de falta de inteireza

(Lima, 2013; Ribeiro, 2007; Polster & Polster, 2001; Perls, 1981).

Dependendo da necessidade emergente, a interação self/meio pode assumir as mais

variadas formas. O ciclo do contato está estruturado considerando os três subsistemas que

compõem o organismo humano – sensorial, cognitivo e motor – que precisam estar integrados

para que o contato pleno aconteça. Os fatores que favorecem o contato saudável são

apresentados em pares com seus opostos, os mecanismos de bloqueio ou interrupção, que se

interagem de modo complementar e interdependente (Ribeiro, 2007).

No subsistema sensorial são apresentadas as polaridades fluidez/fixação e

sensação/dessensibilização. Na fluidez, há a abertura para o novo, para a criação, recriação e

renovação, sendo esse um momento marcado pela maleabilidade e pela espontaneidade que se

contrapõem à rigidez, ao medo da mudança e ao apego excessivo às experiências passadas,

características da fixação. Na sensação, o corpo apresenta-se vívido e estimulado, respondendo

calorosamente aos estímulos sensoriais e emocionais de si, dos outros e do meio, o que é

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descontinuado na dessensibilização. Nessa há uma diminuição da percepção sensorial, sendo

experimentada a frieza e a atonia, o que dificulta a discriminação das experiências internas com

as externas (Ribeiro, 2007; Pinto, 2015).

Na fronteira entre os subsistemas sensorial e motor existe, operacionalmente, a

polaridade consciência/deflexão. O indivíduo que toma consciência está atento às necessidades

impostas, dando conta de si e dos outros de maneira clara e reflexiva, em uma relação de

reciprocidade. O mesmo não acontece na deflexão, em que se experiencia uma evitação e/ou

impedimento do contato, desviando a energia do objeto primitivo, que pode ser compreendido

como muito frustrante ou perigoso. O confronto é evitado por meio de um contato vago, indireto

e superficial (Ribeiro, 2007; Ginger & Ginger, 1995; Pinto, 2015).

Consciente da figura – límpida e clara – o indivíduo pode atuar, característica do

subsistema motor. É capaz de reconhecer suas necessidades, diferenciá-la das alheias e tomar

posse da diferença de sua existência. Reivindica aquilo que lhe é próprio e imprime o seu anseio

no mundo, por meio da mobilização. Na contramão da excitação do seu desejo, encontra-se a

introjeção, modalidade de contato que imobiliza o organismo pela aceitação da imposição de

conteúdos que não são seus. O introjetor não faz a devida assimilação daquilo que lhe foi

imposto pelo meio, “engolindo”, passivamente, sem a devida “digestão”. Assim, o neurótico

incorpora, na forma de um “corpo estranho”, atitudes e valores que não lhe são próprios e lhes

obedece com ansiedade (Ribeiro, 2007; Pinto, 2015; Robine 2006; Perls, Hefferline &

Goodman 1951).

Reconhecida e aceita a excitação do desejo, o organismo confronta o meio para obtenção

de satisfação – ação. Tal processo é descrito como privilegiado de emoção, uma vez que há o

encontro da necessidade com aquilo de que se necessita. O indivíduo assume o que precisa e

age em causa própria, sem o medo da ansiedade, tomando para si a responsabilidade. Se a

emoção é sentida, mas não encontra um objeto específico, flutuará livremente e será vivenciada

como originária do meio pela projeção. O neurótico projetor não se responsabiliza pelos

próprios conteúdos, atua com melindre e desconfiança, atribuindo aos outros aquilo que é seu

(Perls, 1981; Perls, Hefferline & Goodman 1951; Robine 2006; Ribeiro, 2007).

A experiência do contato é continuada pela interação, momento marcado pela vivência

de relações com trocas genuínas, de igual para igual, sem esperar o apreço e a retribuição do

outro. O oposto complementar é a proflexão, mecanismo de defesa através do qual a pessoa

espera receber dos outros tudo aquilo que fez por eles. Por trás de suas ações existe o anseio de

que o outro seja como ela deseja ou como ela é. Estabelece uma manipulação com o objetivo

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de ser nutrida e ter suas necessidades satisfeitas pela relação com os demais, pois não se percebe

capaz de ser sua própria fonte de nutrição (Ribeiro, 2007; Pinto, 2015).

Tal característica não é observada quando a gestalt se fecha sem interrupções e o

indivíduo experimenta o contato final – subsistema cognitivo. Aqui o organismo é objeto da

própria satisfação, o que favorece um relacionamento claro e direto com o meio. Esse momento

é marcado pelo retorno da energia nas relações, sem medo da própria agressividade, de ferir ou

ser ferido. O oposto complementar é a retroflexão, movimento em que a energia é retornada à

personalidade ou ao próprio corpo, únicos objetos compreendidos como seguros. O retrofletor

rumina experiências passadas, as quais julga como inadequadas. Imagina como poderia ter feito

para agir conforme os outros desejavam ou conforme os outros são, direcionando para dentro

de si a energia que poderia ser utilizada na relação (Perls, Hefferline & Goodman 1951; Robine

2006; Ribeiro, 2007; Pinto, 2015).

Após o contato ser finalizado, é experimentada a satisfação. Essa requer da

espontaneidade, do relaxamento, da abdicação do controle, da abertura para o meio e para os

outros. Satisfeito, o indivíduo percebe o quanto o prazer e a vida podem ser compartilhados,

estando aberto às novas possibilidades, propiciadoras de crescimento. O egotismo é descrito

como oposto a esse processo, sendo marcado pelo controle excessivo de todas as possibilidades,

com o objetivo de afastar o perigo e a ameaça advindos do desconhecido. O egotista isola-se,

coloca-se como centro e exerce a manipulação de forma rígida. Tem muita dificuldade em dar

e receber, em vivenciar situações novas, em crescer e mudar, com isso acaba experimentando

uma existência solitária e, não raro, tediosa (Perls, Hefferline & Goodman 1951; Robine 2006;

Ribeiro, 2007).

Então satisfeita, a pessoa se retira da situação para que uma nova excitação emerja –

retirada. As fronteiras do organismo estão bem delineadas, propiciando o reconhecimento do

eu e do outro, bem como das diferenças entre eles. O mesmo não acontece na confluência, em

que há uma ansiedade relacionada à diferenciação e à individuação. A excitação é interrompida,

impedindo que uma nova figura emerja. O confluente está agarrando a figuras emergidas no

passado, compreendidas por ele como seguras, pois já são conhecidas. Se não há figura, não há

contato, consciência e/ou awareness. Não existe o “eu” e sim o “nós”, o esforço vem do outro

que, primitivamente, satisfez e trouxe segurança (Perls, Hefferline & Goodman 1951; Robine

2006; Ribeiro, 2007).

Os processos aqui destacados configuram uma visão didática acerca do funcionamento

humano face às necessidades emergentes. É evidente que nem todas as experiências são

completadas, nem todas as gestalten são fechadas. Ao longo da vida, o indivíduo interrompe

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sua energia em determinadas fases. O estudo de caso apresentado a seguir tem como objetivo a

elucidação de como as interrupções podem acontecer. O ciclo do contato é utilizado como

instrumento para a compreensão das descontinuidades da cliente, almejando o favorecimento

do resgate do crescimento e do desenvolvimento, com criatividade e espontaneidade (Ribeiro,

2007; Pinto, 2015).

3. Metodologia

A cliente escolhida como participante é uma adolescente de 17 anos, estudante do

sétimo ano do ensino fundamental. Filha única do relacionamento de seus pais, que

posteriormente constituíram família com outros companheiros. Sua mãe engravida de um

menino e o pai tem outros filhos, mas não há informação de quantos. Reside em um município

da Região Metropolitana de Goiânia/Goiás com a mãe, o padrasto, os avós maternos e o irmão,

de 7 anos.

Foi encaminhada ao Serviço de Psicologia da Secretaria Municipal de Saúde, após

apresentar comportamentos de automutilação ou autolesão não suicida. A partir de então, foram

realizadas trinta sessões psicoterapêuticas semanais, no período compreendido entre novembro

de 2016 a fevereiro de 2018. Os atendimentos foram evoluídos em prontuário e descritos em

registro documental, conforme preconiza o Conselho Federal de Psicologia através das

Resoluções n° 001/2009 e n° 005/2010.

Em conjunto com a mãe, a adolescente assinou o Termo de Consentimento Livre

Esclarecido (TCLE) – anexo 1 – em que autoriza a utilização dos materiais decorrentes do

processo psicoterapêutico. As sessões passaram a ser gravadas em áudio, transcritas e

armazenadas em um arquivo com senha, sendo analisadas como objeto do estudo de caso

descrito no presente trabalho.

4. Estudo de Caso4

Os comportamentos de automutilação ou autolesão não suicida são descritos como

aqueles em que a pessoa inflige ao próprio corpo ferimentos superficiais e dolorosos, utilizando

objetos afiados e cortantes – facas, lâminas, agulhas, dentre outros – sem a intenção de provocar

a morte. Estão frequentemente relacionados ao aumento de tensão, ocasionada por emoções

negativas como a ansiedade, a raiva, a depressão, a angústia e ainda por dificuldades no

4 Todos os participantes serão identificados com nomes fictícios.

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relacionamento interpessoal. Os indivíduos têm a expectativa de que, ao provocarem as lesões,

sejam instaurados o conforto e a resolução dos conflitos. São comuns os relatos de alívio

durante e após os episódios (APA, 2015).

As sensações de aumento e diminuição de tensão, descritas na literatura como

precedentes e consequentes dos comportamentos autolesivos, são descritas por Bia na sessão

inicial. A jovem, que entra sozinha no consultório, acredita estar em psicoterapia por

usualmente se cortar, o que lhe proporciona um alívio momentâneo. Contudo, sua mãe, Cléo, a

impede de se ferir e reage agressivamente, instaurando-se um conflito familiar envolvendo os

membros mais próximos: a avó, o avô, a madrinha, o padrasto e o irmão caçula. O relato é

acompanhado de choro, sobretudo quando a genitora é convidada a entrar no consultório.

Diante da mãe, Bia evidencia a emoção e expõe a falta que a demonstração de afeto no

seio familiar lhe faz. Diz que gostaria de ouvir “eu te amo” e ser abraçada não somente em datas

comemorativas. A psicoterapeuta intervém propondo que ela experimente dizer o que precisa:

“Bia, você consegue falar, agora, para a sua mãe que você gostaria de ouvir ‘eu te amo’ e ser

abraçada por ela?”. Ela diz e parece encontrar ressonância em Cléo, que responde: “eu também

tenho vontade, mas ela nunca fala nada, eu não sei a hora que eu posso abraçar, ela fica pra um

lado, eu fico pro outro, é a primeira vez que ela me fala isso” (sic).

É possível perceber que, através da intervenção, ambas experimentam a possibilidade

de, conscientemente, deliberarem sobre falar ou não do que sentem e ainda, de vivenciarem o

afeto entre si. Assim, observa-se o setting como um ambiente facilitador de contato e awareness

em que são mostrados os outros lados, ou as outras partes da totalidade. A pessoa é convidada

a atuar através da escolha consciente ao invés do hábito, neuroticamente estabelecido. Mãe e

filha, ao optarem por dizer dos seus sentimentos, notam que é possível estabelecer uma

comunicação direta, ainda que isto seja difícil no cotidiano (Robine, 2006; Yontef, 1998).

O lar em que estão inseridas parece ser marcado por certo isolamento e distanciamento

entre os pares, com diálogos escassos e restritos a momentos específicos, nos quais se

experimentam aumento de tensão – como nas situações em que a adolescente se cortou.

Passados os conflitos, as conversas são cessadas e cada um retorna a si, interagindo pouco com

os demais, como é descrito a seguir5:

T: Bia, de onde vem isso de guardar as coisas só para você?

C: ah lá em casa é assim, as pessoas não conversam, não falam nada...

5 Será adotada a seguinte abreviação: T para terapeuta e C para cliente.

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T: como é na sua casa?

C: cada um para um canto... meu padrasto sai cedo, de madrugada, para trabalhar e só

volta a noite, minha mãe fica o dia inteiro costurando, meu irmão no quarto, eu na sala deitada

no sofá vendo TV ou no quarto vendo vídeos no celular. As pessoas às vezes chegam lá em

casa e até falam: “nossa, parece que não tem ninguém em casa, parece que não mora ninguém

aqui”.

T: como é para você viver em uma casa assim?

C: é um pouco ruim, né..., mas eu já acostumei.

O curso do processo psicoterapêutico não permite revelar se essa família se constitui

por meio de um padrão retrofletor, no qual a energia permanece contida em cada pessoa e não

é investida em uma causa comum a todos. Contudo, através de diferentes relatos, é evidenciado

o quanto as expressões de frustração, de agressividade e afeto são pouco valorizadas. Soma-se

a isso a presença de comportamentos autodestrutivos, como os apresentados pela adolescente,

o que remete a características comuns aos lares marcados por esse bloqueio ou interrupção de

contato (Zinker, 2001).

A despeito da dinâmica psicológica da família, a retroflexão de Bia é manifestada logo

na queixa inicial e foi descrita por ela em diferentes momentos da psicoterapia, como o que se

segue:

C: [...] é parecido com o que acontecia antes... eu não podia descontar na outra pessoa,

mas eu descontava em mim, que era me cortando. Aquilo para mim era a melhor coisa [...], eu

ia para o colégio, as meninas ficavam me provocando, ai eu pegava aqueles negócios de estilete

de apontador, eu tirava, ia no banheiro, lavava, secava... e ficava no lá até a segunda aula.

T: se cortando?

C: me cortando... e aquele sangue escorrendo e eu: “ai que delícia...”

T: então, quando você fala isso, você está exatamente falando que esse era um jeito de

guardar, de não descontar no outro...

P: isso, de não descontar nas pessoas... ai eu me cortava.

T: pra que?

P: pra eu me sentir aliviada e não descontar nas outras pessoas.

Tal como se percebe no fragmento acima, de modo característico, o retrorefletor, face

aos conflitos que têm como consequência direta um conteúdo agressivo, tem como reação

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imediata dirigir contra si mesmo aquilo que deveria ser orientado ao outro. Isso acontece por se

supor que a agressão não será suportada pelo meio – que projeta um conteúdo genérico

relacionado à proibição da expressão do desejo – e precisa retornar ao corpo, único objeto

entendido como seguro. Porém, ainda que não se atinja o destinatário da agressividade de modo

direto, indiretamente ele pode ser alcançado (Polster & Polster, 2001; Perls, Hefferline &

Goodman, 1951; Robine, 2006).

Bia parece represar os sentimentos, as palavras e as ações em nome do respeito à família,

como ela mesma diz em outras ocasiões, remontando a um movimento de introjeção de padrões.

Segundo Ribeiro (2007), quando um desejo fica interrompido em uma etapa do ciclo do contato

sua energia se encontrará com outra de natureza diferente e, em dado momento, poderá ser

liberada de forma indesejada pela pessoa, tendo como alvo um objeto distinto daquele do qual

se originou. O autor salienta para a importância de o psicoterapeuta estar atento à necessidade

de se manejar os bloqueios e fatores de cura que são anteriores ao que o cliente habitualmente

se encontra para, então, avançar.

Assim, psicoterapeuta e cliente seguem em busca da compreensão do que poderia

subsidiar a retroflexão de Bia. Pouco a pouco, passam a ser evidenciados os processos de

introjeção de conteúdos agressivos e a proibição da projeção dos mesmos. Ao longo do

processo, o sentimento de raiva é recorrentemente ressaltado, até que em um dado momento da

investigação, a adolescente diz senti-lo pelo pai, Tom. O genitor, de acordo com o que lhe

disseram, desamparara a mãe grávida quando descobriu que seria uma menina e não um

menino.

No atendimento, os sentimentos de “raiva, ódio e mágoa” (sic) são acompanhados com

intenso choro. Bia evidencia a necessidade de compreender a sua própria história, que parece

apresentar lacunas deixadas pela ausência paterna. Segundo ela, essas foram sendo preenchidas

pelos comentários familiares, que inclusive colaboram para que ela sinta a gama de sentimentos

relatados à psicoterapeuta: “tudo o que eu sei do meu pai foi alguém que me falou, ou minha

mãe, ou minha vó” (sic).

O processo de introjeção é marcado pela tomada para si de aspectos que são oriundos

dos outros, é nessa etapa que se constroem os “deveria/não deveria” – os introjetos – que virão

a ser os conteúdos remoídos nas retroflexões. Os sentidos para as manifestações da realidade

não são arquitetados a partir da própria experiência, mas sim daquela oferecida pelos pares em

outrora. Os afetos, antes de serem assimilados ou vivenciados, são invertidos, com o introjetor

adotando aqueles em que se acredita serem os mais apropriados para a ocasião (Robine, 2006).

Page 14: O USO DO CICLO DO CONTATO COMO INSTRUMENTO PARA …

11

Em busca da compreensão do processo de introjeção da cliente, foram trabalhadas as

relações parentais por meio de um desenho – exposto abaixo. Inicialmente, a psicoterapeuta

esboça Bia, a mãe e o pai em determinadas posições, de acordo com a percepção que tem a

partir dos atendimentos realizados. Contudo, a cliente pede para corrigir a distância em que o

pai é colocado, continuando ela própria a ilustração. Tom é desenhado do lado oposto da folha,

pequeno em relação a ela e a mãe, que estão próximas uma da outra. A psicoterapeuta intervém

dizendo que observa um caminho longo entre ela e o pai, o que não acontece em relação à Cléo.

Bia concorda e ressalta a sua dificuldade em estabelecer contato com o genitor, o que é

representado pela cor preta, escolhida para preencher a ligação entre os dois.

PAI

BIA

PAI

Page 15: O USO DO CICLO DO CONTATO COMO INSTRUMENTO PARA …

12

A partir do desenho, é investigado o que Bia pensa, sente e faz em relação ao pai. Ela

relata que nos seus pensamentos se indaga: “será que um dia eu vou conseguir perdoar ele?”

(sic). Tristeza, mágoa e raiva são descritas como os sentimentos que emergem em virtude do

que pensa. Questionada sobre suas atitudes diante disso, ela diz que chora, guarda o que sente

e tenta pensar em outras coisas, querendo esquecê-lo e conclui: “eu só sinto coisas ruins pelo

meu pai, eu sinto raiva, ódio e tristeza” (sic).

Observando a ilustração, a psicoterapeuta descreve o triangulo mãe-filha-pai e investiga:

“Bia, eu percebo que os sentimentos que você mostra em relação ao seu pai são muito parecidos

com os que você diz que a sua mãe sentiu ao ser abandonada grávida...”. Com isso, a cliente

apreende que “tristeza, a mágoa e o sofrimento” (sic), podem ter sido apropriados de Cléo,

sendo oriundos da experiência dela e não da sua própria.

Salienta-se que cada etapa do ciclo do contato contém as demais e vivenciá-las

profundamente é certamente curativo. Uma vez que o processo de introjeção está sendo

trabalhado, de modo complementar a mobilização também estará, pois são interdependentes.

Da mesma forma, para que a energia interrompida na retroflexão possa ser utilizada no contato

com o outro e com o ambiente, faz-se necessário o retorno aos introjetos que podem estar

relacionados à inibição da expressão dos sentimentos e desejos (Ribeiro, 2007; Robine, 2006).

Ao longo do acompanhamento psicoterapêutico, outras introjeções também emergiram

e foram trabalhadas, como pode ser observado no fragmento a seguir, em que Bia relata sua

insegurança a respeito de conseguir realizar algo que para ela era importante naquele momento:

P: Eu acho que elas [mãe e avó] não acreditam que eu vou conseguir, por isso que elas

ficam falando isso. Até eu, eu não acredito na minha capacidade.

T: pra você, elas não acreditam na sua capacidade?

C: é... que eu não vou conseguir [...], elas dizem que essa é a verdade.

T: a verdade é: você não vai conseguir?

C: é, essa é a verdade.

T: e ai você pega a verdade e fala assim: essa é a verdade! E agarra, carrega... é assim?

P: é...

T: e essa verdade é sua?

C: Não. É delas!

T: e o que que você faz com ela?

C: eu pego! E guardo! E aceito.

T: igual um presentinho?

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C: é [risos], bem desse jeito [silêncio].

T: como que você vive com essa verdade, que é delas?

C: ela está aqui guardadinha.

T: o que ela está fazendo com você?

C: está me deixando louca. Eu só fico matutando. Eu só fico pensando. Rezo toda hora

para eu conseguir, peço pra Deus me ajudar...

T: Bia, vê se faz sentido para você carregar essa verdade neste momento da sua vida...

C: acho que não.

Tal como propõe Ribeiro (2007), o oposto complementar à introjeção é a mobilização,

processo em que são feitas as distinções entre aquilo que é do eu e o que é do outro, permitindo

a apropriação de conteúdos que fazem sentido dentro da própria experiência. Seguindo essa

perspectiva, ao longo dos atendimentos, são manejadas algumas distinções entre os conteúdos

psicológicos provenientes das experiências da adolescente e as dos demais, como no fragmento

acima. Ao adotar esse percurso, a psicoterapeuta observa a cliente mais segura para falar dos

sentimentos e vivências experimentados por ela, incluindo aqueles relacionados ao seu pai.

Bia ressalta que precisa perdoar Tom, mas não acredita ser capaz. Sente-se magoada e

entende que isso pode impedi-la de acreditar no que ele diga, caso um dia venham a estabelecer

um diálogo. Pode-se apreender que ainda há pouca abertura para o novo, para o estabelecimento

da novidade, advinda da própria experiência. Com a introjeção, o desejo em se relacionar

diretamente parece ser sentido como imaturo, preferindo-se nutrir o que já é conhecido,

interrompendo-se a excitação para a mobilização em direção aquilo é almejado (Ribeiro, 2007;

Perls, Hefferline & Goodman, 1951).

Ao longo dos atendimentos, a jovem passa a eleger o pai como figura no início das

sessões e não ao final, como fazia anteriormente. Aos poucos, diz da falta que Tom fez e faz na

sua vida e da importância de vivenciar presença dele e reforça: “eu sinto falta do meu pai, é o

pai que eu tenho” (sic). É o início do processo de mobilização, em que aquilo que lhe é próprio

passa a ser reivindicado, sendo aberta a possibilidade de construção de uma nova relação com

o outro – no caso, o genitor (Ribeiro, 2007).

Por volta do quinto mês de atendimento, Bia anuncia, logo no início da sessão: “o Tom,

meu pai, me ligou!” (sic). Diz se sentir surpresa e confusa, sendo uma situação inesperada. Ao

longo do atendimento, Bia percebe que o seu desconforto está relacionado à falta de

convivência entre os dois, o que instaura um vazio. Esse é preenchido por suas teorias a respeito

dele, o que parece ser necessário devido a ausência imposta. Tom é semelhante a um

Page 17: O USO DO CICLO DO CONTATO COMO INSTRUMENTO PARA …

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desconhecido para ela e o seu conhecimento a respeito do mesmo advém dos comentários da

mãe, da avó, da madrinha e, mais recentemente, de uma tia paterna, que salienta a importância

da aproximação entre pai e filha.

É interessante notar o quanto Bia se apoia em intermediários para significar a

reaproximação de Tom, o que é característico do movimento de introjeção. O desfazer desse

processo pode ser penoso uma vez que exige, em algum nível, uma ruptura com o meio à medida

que começa a existir a identificação e escolha por desejos que não são oriundos dele. Para além

disso, ainda é necessário resistir às pressões externas, sem aceitar passivamente aquilo que é

imposto como verdade (Polster & Polster, 2001).

Retornando à sessão, a psicoterapeuta intervém: “Bia, eu gostaria de saber qual a sua

disponibilidade para conhecer verdadeiramente o seu pai...”. Como resposta, a adolescente diz:

“80%, que quer dizer que eu estou disponível” (sic). Assim, é iniciada a possibilidade de

realização de escolhas a partir do que está dado na realidade, o que permite a expansão do poder

de diferenciação entre o que é proveniente da experiência do “eu” e da que é do “outro” –

mobilização (Polster & Polster, 2001; Ribeiro, 2007).

Em outra sessão, Bia consegue dizer sobre o que espera que aconteça. Percebe que existe

o desejo de que ele ligue, venha visitá-la, diga que está com saudade e finalmente, que ela possa

chamá-lo, carinhosamente, de “papai” (sic). Em alguns momentos, diz acreditar nas

demonstrações de Tom, que requer sua atenção, inclusive solicitando-lhe um encontro, o que é

cogitado por ela. Sobre os seus sentimentos em relação ao pai naquele momento, afirma: “eu

gosto dele por um lado e por outro eu tenho raiva” (sic) e ressalta: “antes de começar o

tratamento eu odiava o meu pai, agora eu aceito, o meu pai é importante” (sic). Emocionada,

fala dos momentos com o genitor, que sempre duram poucos instantes e do seu medo de que

desta vez, como nas outras, ele desapareça rapidamente.

Testemunha-se então o despertar de um desejo que é próprio, que emerge nitidamente

como figura. A excitação é marcante e a energia proveniente dessa etapa é propulsora para o

estabelecimento de um contato direto, sem a interferência familiar. Aviva-se aquilo que se

almeja e age-se em virtude disso, sem o temor da diferença, do julgamento e da reprovação.

Aos poucos, é experimentado o reivindicar daquilo que é preciso para a integração da própria

história (Robine, 2006; Perls, Hefferline & Goodman, 1951; Ribeiro, 2006).

Bia questiona o pai sobre os motivos que o fizeram ir pela primeira vez, deixando a mãe

grávida, pergunta feita tantas vezes a si mesma. Como resposta, Tom escreve: “eu não sei, eu

não sei explicar. É melhor a gente se afastar” (sic). Posteriormente, ele a bloqueia no aplicativo

de mensagens, impedindo o único contato que estavam estabelecendo até então. Ao dizer isso,

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15

Bia chora durante todo o atendimento e na maior parte do tempo instaura-se o silêncio. Na

investigação, fica evidente que a resposta dada pelo pai não foi a que ela gostaria de ouvir; no

entanto, é a resposta dele, dada a partir da experiência e do contato, ainda que breve,

estabelecido entre os dois, sem intermédio dos demais.

Do ponto de vista teórico, Bia mobiliza-se, age e interage com o Tom, sendo estes –

mobilização, ação e interação – os fatores de cura dos mecanismos anteriores à etapa de

retroflexão. Tecnicamente, o ciclo do contato pode ser utilizado ora avançando ora recuando, a

depender da maior ou menor fluidez do cliente, respectivamente. Caso a psicoterapeuta

percebesse aspectos de maior flexibilidade e disponibilidade para o novo, poderia ter manejado

intervenções que possibilitassem o contato final, a satisfação e a retirada. Todavia, no desdobrar

dos atendimentos, a adolescente parecia remontar às sensações, sentimentos, pensamentos e

comportamentos antigos, fixados e enrijecidos, que careciam de ser revisitados, para então

seguir em frente (Ribeiro, 2007).

Posteriormente ao relato do afastamento, a cliente não comparece e às sessões

subsequentes elege como figura conteúdos diversos, pelos quais se problematizam a relação

com a mãe e com o padrasto, sua autoestima, autoimagem e seus relacionamentos interpessoais.

Em determinado momento, é feito um apanhado do processo psicoterapêutico até então

realizado. A jovem traz como ganho o fato de conseguir se expressar melhor: “minha mãe até

fala: ‘Bia, o que está acontecendo com você?’. ‘Está diferente, mais calma’”. Pouco a pouco,

vai se ausentando, o que fica mais comum após as férias, em julho de 2017.

Durante um mês consecutivo não comparece aos atendimentos e ao retornar inicia a

sessão dizendo: “estou grávida, casada e não aguento mais a vida de dona de casa” (sic).

Surpresa, a psicoterapeuta investiga. Bia relacionava-se com Téo, seu vizinho – um jovem de

dezoito anos, trabalhador autônomo – há dois meses, quando descobriu a gravidez. Essa não

foi inicialmente bem-vinda por todos os membros da família: “minha avó falou, você vai tirar,

minha mãe concordou” (sic). Em meio ao conflito instaurado, Bia decide ir morar com o rapaz

e ressalta o medo de que a sua história seja repetida, salientando: “eu não quero que o meu filho

tenha pais separados” (sic). A partir de então, nota-se um retorno às vivências antigas, que serão

utilizadas para a interpretação da nova realidade, em um processo de ruminação das introjeções

(Polster & Polster, 2001).

Em poucas semanas, a cliente retorna à casa da mãe e logo se finda o relacionamento

com Téo. Ele, de início, é descrito como um possível “bom pai” (sic), por aparentar maturidade

e firmeza, o que passa a ser contestado posteriormente. Segundo ela, após a notícia de que a

criança esperada é do sexo feminino, o rapaz a abandona, não atendendo às ligações, não

Page 19: O USO DO CICLO DO CONTATO COMO INSTRUMENTO PARA …

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respondendo as mensagens dela de celular, cessando, então, o contato entre eles. Esta sessão é

marcada pelo choro intenso de Bia e não são realizadas intervenções – além do suporte

emocional – pela psicoterapeuta.

É interessante notar que a cliente atribui ao abandono atual a mesma causa do vivenciado

em outrora: o fato de se conceber/ter sido concebida uma menina. Parece existir uma repetição

do conteúdo introjetado, que mesmo atualizado em outra relação, ainda é utilizado como se

fosse a única alternativa para a compreensão da dinâmica de afastamento, antes de seu pai,

agora do pai de sua filha. Tal movimento é característico da introjeção, em que a pessoa gasta

sua própria energia para manter os padrões introjetados, abdicando de escolhas livres e de novas

identificações (Polster & Polster, 2001).

Em uma sessão recente, Bia descreve sucessivas aproximações e distanciamentos de

Téo, sendo então indagada: “isso se parece com algo que você já viveu?”. Positivamente, a

jovem reconhece a semelhança com a sua história em relação ao pai. Novamente, traz à tona a

questão do gênero, sendo possível intervir. A psicoterapeuta propõe que a adolescente averigue,

com base naquilo que ela pode observar, outras situações que levariam esses dois homens a

optarem pelo distanciamento. Bia percebe que, ambos, poderiam simplesmente escolher por

estabelecer outras relações e/ou não serem capazes de assumir o papel imposto pela paternidade,

ainda que esses não sejam compreendidos como motivos justificáveis para o desamparo.

Ao se propor que a cliente experimente olhar para as características da sua realidade

atual, a psicoterapeuta favorece a discriminação daquilo que está posto com aquilo que em

outros momentos lhe fora dado. A novidade pode ser assimilada, com a possibilidade de

rompimento da dinâmica de retroalimentação de estereótipos, adquiridos ao longo da vida. É o

início do desfazer de um movimento automatizado de compreensão das experiências sem que

haja um suficiente investimento de energia para atualizá-las, o que leva a pessoa a recorrer aos

padrões já estabelecidos para a interpretação (Polster & Polster, 2001).

Bia retorna à dor do abandono de Tom, único fato ao qual ela verdadeiramente tem

acesso. Acredita que fez tudo o que estava ao seu alcance para ser percebida pelo pai, exaurindo-

se:

C: uma vez o meu pai disse para alguém que se eu engravidasse ele faria eu perder o

bebê igual ele fez com a minha irmã.

T: você engravidou!

C: pois é, eu desafiei ele!

T: o que você esperava, Bia?

Page 20: O USO DO CICLO DO CONTATO COMO INSTRUMENTO PARA …

17

C: eu acho que foi para ver se ele me via, não sei, para chamar a atenção mesmo... Mas

agora chega, acabou, eu cheguei no meu limite, eu não vou fazer mais nada, eu não vou me

cortar, eu não vou engravidar... É como se eu tivesse tirado um peso! Eu não sinto mais raiva,

eu não sinto mágoa, mas já chega, agora eu vou cuidar do meu bebê.

Observa-se que mesmo com a intenção de alcançar o pai, Bia retorna a energia para ela

mesma, interrompendo o contato. Tal movimento é pontuado pela psicoterapeuta e a cliente

pode ampliar a consciência de como, habitualmente, resolve seus conflitos: “eu fico remoendo

as coisas”, “volto tudo pra dentro” (sic), “engulo” (sic). Essas são características marcantes da

retroflexão e, com Bia aware do seu processo de interrupção, a psicoterapeuta pode intervir,

propondo uma abertura para o contato direto com o outro:

T: como seria um jeito de descobrir se elas [mãe e avós] estão preocupadas e com medo

de você não conseguir ganhar a sua filha de parto normal?

C: perguntar?

T: é?

C: acho que é.

T: que pergunta você poderia, eu não estou dizendo que você vai fazer, mas que você

poderia fazer para saber?

C: perguntar porque elas estão dizendo que eu não vou conseguir ganhar a nenê de parto

normal, [...] mas ai eu também fico com um pouquinho de medo de saber a resposta... ai eu...

eu não sei se eu faço ou não faço.

T: nesse não sei se eu faço ou não faço, o que que acaba acontecendo?

C: não acontece nada, fica tudo parado.

T: igual aquele poste que você disse se sentir, no começo da sessão?

C: é.

T: engole?

C: é... guardo aqui [aponta para o coração] ...

T: e se você começasse a experimentar... perguntar... assim, como quem não quer nada...

C: talvez ia fazer bem [...], mas eu tenho medo vai que minha vó responde... igual

quando eu falei que estava grávida.

T: o que?

C: tira!

T: agora o que seria equivalente a isso?

Page 21: O USO DO CICLO DO CONTATO COMO INSTRUMENTO PARA …

18

C: ah, “não tenho medo não” [...] algo assim... ou sei lá, “tomara que você morra!”.

T: você imagina o que levou a sua avó a te dar aquela resposta? Você chegou a conversar

com ela?

C: não [choro intenso]. Eu fiquei muito magoada com ela, então eu não quis conversar.

E essa mágoa ainda está aqui, não sei se vai passar...

T: [...] eu não consigo imaginar o que pode ter levado a sua avó ter falado isso [...] e ai

mais uma vez, não é falado, não é conversado... você pega mais uma coisa...

C: sem sentido...

T: mas que te machuca...

C: demais. Isso para mim foi pior que um tapa.

T: foi muito marcante...

C: Foi.

É evidente a necessidade de que primeiro se abra o espaço para que a luta interna

aconteça, o que é almejado em psicoterapia, para então possibilitar a recuperação do contato

final, com aquilo que é externo. Observa-se que a cliente se volta para suas introjeções, podendo

aceitar a si mesma e com isso se prepara para fazer o mesmo no mundo. Assim, desfeita a

imobilização e a rigidez, a pessoa se energiza e pode – conscientemente – retornar sua energia

para o objeto da ação necessária, encontrando o caminho e a direção na busca daquilo que lhe

é apropriado. São etapas que foram desenvolvidas com a adolescente, processualmente (Polster

& Polster, 2001; Ribeiro, 2007).

Estando aware da forma como mais caracteristicamente se interrompe, é aberta a

possibilidade de, se necessário, interromper o contato conscientemente e/ou observar quando o

está impedindo de modo anacrônico, em um movimento de retroflexão (Ribeiro, 2006; Pinto,

2015). Com isso, Bia alcança a compreensão de que reter os conteúdos para si ou retorná-los

ao ambiente é algo passível do seu controle e, desse modo, ela é responsável pelo que diz ou

não e pelo que guarda ou devolve, tal como pode ser observado no fragmento seguinte.

T: Bia, parece que tem coisas que você guarda demais... e tem coisas que você fala

demais...

C: isso.

T: você consegue fazer a diferença desses dois tipos de coisa?

C: consigo.

T: qual que é?

Page 22: O USO DO CICLO DO CONTATO COMO INSTRUMENTO PARA …

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C: tem umas coisas que tipo, me magoam, me machucam e ai eu guardo... mas outras

não, as que não fazem diferença eu falo.

T: tipo?

C: quando eu estou muita com raiva da pessoa, eu falo: “olha, não me enche não porque

se não eu vou te xingar”. Ai a pessoa entende, tudo bem... mas falam: “nossa, você está muito

diferente, Bia”. Ai eu estou percebendo que as pessoas estão se afastando...

T: o que faz essas pessoas se afastarem?

C: acho que é por causa do choque, porque hoje eu já dou umas más respostas...

T: como que seria o ideal? Para você...

C: não sei...

T: qual que seria assim, a medida perfeita para a Bia? Porque o falar nada não é né...

C: não.

T: o falar demais, não é né...

C: também não.

T: o guardar demais coisas tão pesadas...

C: não! [...] eu não sei... É uma balança assim, de um lado as vezes pesa demais, as

vezes do outro pesa demais... e eu não sei.

T: Bia, mas parece que você está procurando a sua medida...

C: é. Estou tentando.

T: o que você já percebeu?

C: que guardar não faz bem. Algumas coisas você tem que guardar, você não fala

assim... outras coisas não, outras coisas você pode falar.

T: então, a gente vai trocar esse “você” por “eu”... repete a frase agora.

C: algumas coisas eu tenho que guardar e outras coisas não.

T: e você pode escolher o que você quer guardar e o que você não quer.

C: é. [espanto].

T: parece que é meio novo isso...

C: é, para mim é.

T: parece que você está ouvindo pela primeira vez: “eu posso escolher o que eu vou

guardar e o que eu não vou guardar”. Ai sua carinha foi tipo assim: “ué, eu posso?”

C: é... [risos]. Eu posso? Eu posso guardar e eu posso falar?

T: sim, você pode!

Page 23: O USO DO CICLO DO CONTATO COMO INSTRUMENTO PARA …

20

Tal como demonstrado, a cliente experimenta o abdicar de uma repetição compulsória

e estéril, podendo abrir espaço à novidade e ao crescimento. O que é desfeito não é o modo de

ser da pessoa, mas sim a sua cristalização, fruto de gestalten inacabadas, que geram o

adoecimento. Ao manejar o enrijecimento, abrange-se a flexibilidade, o que proporciona o fluir

da energia no processo de formação e transformação de figuras. Em psicoterapia, o ciclo do

contato pode ser percorrido em uma sessão, em alguns meses ou anos, sendo que o fundamental

é a vivência profunda de cada etapa, como descrito neste esboço, que se restringiu às

interrupções mais características de Bia: a introjeção e a retroflexão (Pinto, 2015; Ribeiro,

2006).

5. Conclusão

O diagnóstico e a relação terapêutica configuram-se como elementos indissociáveis à

prática clínica, sendo difícil conceber uma atuação em que um desses dois aspectos esteja

alienado. Ambos, em conjunto, podem ser considerados como percussores e preditores das

intervenções realizadas pelo psicoterapeuta que, diante do seu cliente, faz uma observação

respeitosa e cuidadosa do seu modo de ser.

Dentro da perspectiva da abordagem gestáltica, o diagnóstico é realizado de forma

processual, acompanhando o curso psicoterapia. Do mesmo modo que o cliente desenvolve

aspectos de si ao longo dos atendimentos, o psicoterapeuta faz isso em relação às suas hipóteses

iniciais, à maneira como conduz as sessões, à abordagem adotada e tudo mais que for necessário

ao desvelamento dos sentidos e significados do sofrimento vivenciado por aquele que procura

por ajuda.

O ponto de partida é a experiência imediata descrita pelo cliente, que possibilita ao

psicoterapeuta a investigação, realizada a partir do conhecimento adquirido por meio da relação

estabelecida no setting e daquele proporcionado pelo saber científico. Sendo assim, é

importante que o gestalt-terapeuta se aproprie de instrumentos que o amparem no trabalho

clínico e componham uma referência útil ao diagnóstico e à intervenção.

Os entendimentos aqui expostos são resultantes do que foi desenvolvido no presente

artigo. O objetivo principal foi demonstrar a utilização do ciclo do contato – proposto por

Ribeiro (2007) – como instrumento clínico no manejo do processo psicoterapêutico na Gestalt-

terapia. Por meio de um estudo de caso, foram evidenciadas algumas possibilidades de

intervenção, que estão ancoradas no modelo de diagnóstico processual descrito.

O ciclo do contato permite que o gestalt-terapeuta realize uma leitura da forma como o

processo de aproximação/afastamento acontece na interação self/meio. Tal modelo proporciona

Page 24: O USO DO CICLO DO CONTATO COMO INSTRUMENTO PARA …

21

a apreensão do modo como o cliente reconhece seus estados equilíbrio/desequilíbrio e como o

mesmo manipula o ambiente para satisfação de suas necessidades. Apresenta grande utilidade

enquanto instrumento clínico por apontar critérios diagnósticos e possibilidades de intervenção,

sendo um norteador para o psicoterapeuta.

Para além do favorecimento da identificação das interrupções de contato, o modelo

elaborado por Ribeiro (2007) aponta para os fatores que propiciam o resgate dos processos

saudáveis. Almeja-se não um enquadramento em critérios enrijecidos, mas sim a apreensão dos

modos de ser do cliente, que apresenta facetas curadas e feridas. O objetivo é a caminhada no

sentido de restabelecer o desenvolvimento e o crescimento do cliente, o que permite concluir o

quão importante é o ciclo do contato à abordagem gestáltica.

6. Referências

Ancona-Lopez, M. (2003). Prefácio. In: Pimental, A. Psicodiagnóstico em Gestalt-terapia.

São Paulo: Summus.

Associação Psiquiátrica Americana APA. (2015). DSMV: manual diagnóstica e estatístico de

transtornos mentais. 5. ed. Porto Alegre: Artmed.

Cardoso, C. L (2013). A face existencial da Gestalt-terapia. In: Frazão, L. M. & Fukumitsu,

K. O. (Orgs.), Gestalt-terapia: Fundamentos epistemológicos e influências filosóficas

(pp. 59-75). São Paulo: Summus.

Conselho Federal de Psicologia (2009). Resolução CFP 001/2009. Brasília: CFP.

Conselho Federal de Psicologia (2010). Resolução CFP 005/2009. Brasília: CFP.

Frazão, L. M. (1995). Revendo a questão do diagnóstico em Gestalt-terapia: entendidos e mal

entendidos. Revista do I Encontro da Abordagem Gestáltica, 80-86.

Ginger, S. & Ginger, A. (1995). Gestalt: uma terapia do contato. São Paulo: Summus.

Lima, P. V. A. (2013). A Gestalt-terapia holística, organísmica e ecológica. In: Frazão, L. M.

& Fukumitsu, K. O. (Orgs.), Gestalt-terapia: Fundamentos epistemológicos e influências

filosóficas (pp. 145-156). São Paulo: Summus.

Perls, F (1981). Abordagem Gestáltica e Testemunha Ocular da Terapia. Rio de Janeiro:

Zahar Editores.

Perls, F. S., Hefferline R., & Goodman, P. (1951). (F. R. Ribeiro trad.). São Paulo: Summus.

Pinto, E. B. (2015). Elementos para uma compreensão diagnóstica em psicoterapia: o ciclo

do contato e os modos de ser. São Paulo: Summus.

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Polster, E., & Polster, M. (2001). Gestalt Terapia Integrada. (S. Augusto trad.). São Paulo:

Summus.

Ribeiro, J. P. (2007). O ciclo do contato: temas básicos na abordagem gestáltica. São Paulo:

Summus.

Robine, J (2006). O self desdobrado: perspectiva de campo em Gestalt-terapia. São

Paulo:Summus.

Tavares, J.; Andrade, C. C (2011). Diagnóstico Processual na Abordagem Gestáltica: o

terapeuta como organizador do discurso. Trabalho de conclusão de curso. Instituto de

Treinamento e Pesquisa em Gestalt-Terapia de Goiânia. Goiânia.

Yontef, G. M. (1998). Processo, diálogo e awareness: ensaios em gestalt-terapia. São Paulo:

Summus.

Zinker, J. C. (2001). A busca da elegância em psicoterapia: uma abordagem gestáltica com

casais, famílias e sistemas íntimos. 4. ed. São Paulo: Summus.

Page 26: O USO DO CICLO DO CONTATO COMO INSTRUMENTO PARA …

23

Anexo 1 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Você está sendo convidado (a) a participar, como voluntário (a), de um estudo de caso

clínico, que é uma das formas de se fazer pesquisa em Psicologia. Meu nome é Maevy Rocha

Nascimento, sou psicóloga e pós-graduanda em Gestalt-Terapia pelo Instituto de Treinamento

e Pesquisa em Gestalt-Terapia de Goiânia (ITGT). Após receber os esclarecimentos e as

informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do estudo, este documento deverá ser

assinado em duas vias e em todas as páginas, sendo a primeira via de guarda e confidencialidade

da psicóloga e pós-graduanda responsável pelo estudo de caso e a segunda via ficará sob sua

responsabilidade para quaisquer fins.

Em caso de recusa, você não será penalizado (a) de forma alguma. Em caso de dúvida

sobre a pesquisa, você poderá entrar em contato com a responsável pela pesquisa no telefone

(62) 98469-7106 ou no e-mail [email protected] ou com a orientadora da pesquisa,

Professora Esp. Denise Borella, no telefone (62) 99153-6118, ou através do e-mail

[email protected].

Em caso de dúvida sobre a ética aplicada a pesquisa, você poderá entrar em contato

com o Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Pontifícia Universidade Católica de Goiás,

localizado na Avenida Universitária, N° 1069, Setor Universitário, Goiânia – Goiás, telefone:

(62) 3946-1512, funcionamento: 8h as 12h e 13h as 17h de segunda a sexta-feira. O Comitê de

Ética em Pesquisa é uma instância vinculada à Comissão Nacional de Ética em Pesquisa

(CONEP) que por sua vez é subordinado ao Ministério da Saúde (MS). O CEP é responsável

por realizar a análise ética de projetos de pesquisa, sendo aprovado aquele que segue os

princípios estabelecidos pelas resoluções, normativas e complementares.

O estudo de caso é um modelo de pesquisa que tem como objetivo descrever o

atendimento clínico realizado e analisá-lo a partir dos princípios teóricos e metodológicos que

fundamentam a prática do profissional psicólogo, colaborando com o desenvolvimento da

Ciência Psicológica e com a atuação de psicólogos de diferentes áreas.

O estudo de caso desta pesquisa refere-se ao seu atendimento psicológico, realizado no

Centro de Especialidades Médicas do Município de Senador Canedo (CEM), iniciado em

novembro de 2016 e estendendo-se até o presente momento. O atendimento tem sido realizado

pela profissional psicóloga Maevy Rocha Nascimento (CRP 09/9091), que está integralizando

o curso de pós-graduação em Gestalt-Terapia no ITGT. A partir dos atendimentos realizados, a

pesquisadora confeccionará o estudo de caso que será utilizado como Trabalho de Conclusão

de Curso (TCC) e, posteriormente, pode vir a ser publicado em forma de artigo científico em

periódico específico de Psicologia.

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Todo o material decorrente dos atendimentos (gravações em áudio, esquemas, desenhos,

transcrições e descrições de sessão) é de guarda e responsabilidade da profissional, que os

manterá seguros pelo período de cinco anos, conforme preconiza o Conselho Federal de

Psicologia (CFP). Tais materiais poderão ser acessados somente pela própria psicóloga ou pelo

Conselho Regional de Psicologia de Goiás (CRP 09), para orientação e fiscalização.

O estudo de caso é um relato dos atendimentos realizados, não oferecendo, a princípio,

qualquer dano à participante, uma vez que os atendimentos já foram realizados. Contudo, ao

final da confecção do trabalho, a participante poderá ter acesso ao mesmo, o que pode vir a

mobilizar conteúdos emocionais. Caso aconteça, a psicóloga responsável oferecerá o suporte

emocional adequado, conforme prevê o Código de Ética do Profissional Psicólogo.

É assegurado o sigilo e a confidencialidade de todos os seus dados, sendo resguardada

a sua identidade na elaboração do estudo de caso, modificando-se os seus dados para que não

seja possível a sua identificação. Os desenhos poderão ser anexados no estudo de caso, mas de

modo que não sejam identificáveis. Seu consentimento pode ser retirado a qualquer momento

e a sua participação interrompida, sem incorrer em prejuízos. Caso isso aconteça, seu

atendimento continuará sendo realizado pela profissional na unidade de saúde, sem quaisquer

prejuízos.

É assegurada a garantia de assistência integral e gratuita por danos diretos ou indiretos,

imediatos ou tardios, conforme a Resolução CNS 510/16, bem como indenização perante os

eventuais danos decorrentes da elaboração do estudo de caso nos termos da Lei e o

ressarcimento das despesas diretas decorrentes dos possíveis danos.

A pesquisadora responsável por este estudo e sua equipe de pesquisa declaram: que

cumprirão com todas as informações acima; que você terá acesso, se necessário, a assistência

integral e gratuita por danos diretos e indiretos oriundos, imediatos ou tardios devido a sua

participação neste estudo; que toda informação será absolutamente confidencial e sigilosa; que

sua desistência em participar deste estudo não lhe trará quaisquer penalizações; que será

devidamente ressarcido em caso de custos para participar desta pesquisa; e que acatarão

decisões judiciais que possam suceder.

Eu ____________________________________, abaixo assinado, discuti com a

Psicóloga Maevy Rocha Nascimento (CRP 09/9091) sobre a minha decisão em participar desse

estudo de caso. Ficaram claros para mim quais são os propósitos do estudo, os procedimentos

a serem realizados, seus desconfortos e riscos, as garantias de confidencialidade e de

esclarecimentos permanentes. Ficou claro também que minha participação é isenta de despesas

e que tenho garantia de assistência integral e gratuita por danos diretos e indiretos, imediatos

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ou tardios quando necessário. Concordo voluntariamente em participar deste estudo e poderei

retirar o meu consentimento a qualquer momento, antes ou durante o mesmo, sem penalidades

ou prejuízo ou perda de qualquer benefício que eu possa ter adquirido, ou no meu atendimento

neste serviço.

Senador Canedo, ___, de _____________, de 201_.

___________________________ ___/ ___/_____

Assinatura do participante Data

___________________________ ___/ ___/_____

Assinatura do responsável pelo participante Data

___________________________ ___/ ___/_____

Assinatura do pesquisador