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OAC – Objeto de Aprendizagem ColaborativaAutor: Eliana Gurski da Silva, professora PDE, turma 2008Escola: CEEBJA “Paulo Leminski”Ensino: MédioDisciplina: HistóriaConteúdo Estruturante: Relações Culturais.Conteúdo Específico: Cultura afro-brasileira e africanaPalavras-chave: cultura, afrobrasileira, africana, EJA, História
1 RECURSO DE EXPRESSÃO
1.1 PROBLEMATIZAÇÃO DO CONTEÚDO
Reescrevendo a História Africana
Como a História pode explicar o alto índice de afrodescendentes no
Brasil e esclarecer a luta por igualdade e valorização de sua cultura?
A formação do povo brasileiro está diretamente relacionada a política
colonialista dos países europeus do século XVI e às grandes navegações. Foi neste
contexto de disputa pela posse de terras no “Novo Mundo” que Portugal estabeleceu
feitorias, colonizou nosso território e explorou nossas riquezas. Para isso utilizou-se
de mão-de-obra escravizada: primeiramente o nativo e depois o africano.
Embora a escravidão seja uma atividade que remonta a Antiguidade, o tráfico
de africanos escravizados tornou-se uma atividade altamente rentável para os
traficantes europeus e americanos bem como para os chefes de comunidades
africanas dentro da política colonialista do século XVI que abastecia a América
espanhola e portuguesa.
No Brasil essa atividade durou até o final do século XIX e foi altamente
utilizada na mineração, nos engenhos de açúcar e nas plantações de café. Com
número bastante significativo de pessoas de diferentes grupos (iorubás, daomeanos,
congos, jingas, bantos, entre muitos outros) eram vistos apenas como mercadoria,
mas nunca se tornaram mercadoria. Eram “e sempre seriam pessoas, seres
humanos, com sua força vital – seu axé1” detentores de conhecimentos aprimorados
que superavam o conhecimento europeu em muitas atividades e também capazes
de resistir e de forjar outro destino.
1 LIMA.Mônica (Apud Saberes e Fazeres A Cor da Cultura)
1
Todo o conhecimento trazido por estes grupos que se viram longe de suas
famílias e de sua terra “permearam a sociedade brasileira, transformaram-se e a
transformaram. Por isso, hoje somos todos herdeiros dessas culturas.”2
Tendo ciência da importante contribuição dos povos africanos em nossa
cultura, economia, religiosidade, entre outros há que se reescrever essa história e
para isto várias medidas vêm sendo tomadas pelo governo federal e estadual dentre
elas a criação de leis como a de nº 10.639/03.
Em resposta à Lei 10.639/03 que tornou obrigatório o ensino da temática
“História e Cultura Afro-Brasileira” na Educação Básica, nos estabelecimentos da
rede pública e privada, o Conselho Nacional de Educação aprovou o Parecer
003/2004, que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das
Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e
Africana, com vistas a subsidiar as ações pedagógicas nas escolas e indicar ações a
serem tomadas pelo poder público para a implementação da Lei.
Segundo Rocha3 (apud COSTA e SILVA) os defensores da nova legislação
entendem que a escola é um espaço privilegiado de intervenção e o Parecer
003/2004 reconhece a escola como um espaço privilegiado para a superação do
racismo, alertando que a luta pela superação deste deve envolver todos os
educadores. Portanto, o tema “cultura afro-brasileira e africana” não deve ser tratado
de maneira folclorizada e idealizada, evitando repetir modelos ou reforçar
estereótipos. Fazer abordagens equivocadas poderá ser desastroso.
O resgate da memória coletiva e da história da comunidade negra não interessa apenas aos alunos de ascendência negra. (...) Além disso, essa memória não pertence somente aos negros. Ela pertence a todos, tendo em vista que a cultura da qual nos alimentamos cotidianamente é fruto de todos os segmentos étnicos que, apesar das condições desiguais nas quais se desenvolvem, contribuíram cada um de seu modo na formação da riqueza econômica e social e da identidade nacional. (MUNANGA, 2004, p.18)
É necessário ter clareza de que a reivindicação do movimento social negro4
pela inclusão da História da África e da Cultura Afrobrasileira no currículo das
escolas, data da década de 1980, porém sem muito sucesso.
2 LIMA.Mônica (Apud Saberes e Fazeres A Cor da Cultura)3 ROCHA, (apud COSTA e SILVA) 4 As reivindicações do Movimento Negro, ao longo do século XX, apontavam para a necessidade de Diretrizes que contemplassem a valorização da História e cultura afrobrasileira e dos africanos, bem como de uma educação comprometida com as Relações Étnico-Raciais positivas.
2
Em 1996, a nova LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional)
consolidou diretrizes e bases pluriétnicas para a educação brasileira, dando especial
atenção aos grupos indígenas, africanos e europeus. Porém a proposta do
movimento negro somente foi atendida em 09 de janeiro de 2003, com a assinatura
da Lei 10.639.
Nas sociedades contemporâneas, a educação se impõe como uma chave
para o exercício da cidadania. No chamado “século do conhecimento”, a barreira
posta pela falta de alcance à leitura e à escrita prejudica a qualidade de vida de
jovens e adultos, no momento em que o acesso ou não ao saber e aos meios de
obtê-lo representam uma divisão cada vez mais significativa entre as pessoas.
A EJA (categoria organizacional constante da estrutura da educação nacional
com finalidades e funções específicas), em sua função reparadora e equalizadora
busca proporcionar não só a entrada do jovem e adulto no circuito dos direitos civis
pela restauração de um direito negado, mas no acesso a uma escola de qualidade,
assim como o reconhecimento da igualdade de todo e qualquer ser humano.
Na perspectiva de considerar essa modalidade de ensino para sujeitos de
direito e não de favores, sua atuação não pode desconsiderar a questão étnico-
racial. Ou seja, diante dessa heterogeneidade, todo o conjunto de ações que têm
como objetivo corrigir desigualdades sociais e étnico-raciais, necessita ser abarcada
pela EJA devido ao seu caráter de transformação da sociedade e de garantia de
igualdade de oportunidade para todos.
O afrodescendente, duplamente discriminado pela cor e condição social,
busca neste espaço tão diverso as condições para o resgate de sua auto-estima e
valorização de sua identidade cultural.
Portanto, como trabalhar na disciplina de História o tema História da África e
dos africanos no Brasil?
O primeiro passo é informar-se e atualizar-se nos temas. Para isto torna-se
necessário sair do comodismo e estudar, procurar leituras específicas, cursos de
capacitação, participar de grupos de estudos específicos, pois “estamos falando da
reescrita de uma História que nos foi negada, estamos lidando com a base de uma
identidade que está para ser reconstruída.” (LIMA.p.47). Neste sentido torna-se
necessário construir um novo olhar sobre a história nacional, regional e local
ressaltando a contribuição dos povos africanos e afrodescendentes na construção
3
da nação brasileira. Portanto a temática não deverá ser abordada de forma isolada,
mas buscando estabelecer relações com as diversas disciplinas, bem como não
deverá restringir-se apenas a momentos específicos como o 13 de maio e o 20 de
novembro. Ao contrário, deverá estar presente nas diversas discussões acerca da
realidade brasileira no campo social, político, econômico e cultural.
Essa reescrita da história deverá estar pautada em aspectos valorativos,
fazendo referência à contribuição do negro no processo de construção da nação,
dando a esses e a seus ascendentes o devido reconhecimento e valorização de sua
identidade. No item Reconstruindo a história africana e afrobrasileira (2.2) há
indicações de como esta reescrita poderá ser feita.
Referências.
BRASIL. Lei N.º 10.639, de 9 de janeiro de 2003. In: Brasil. Ministério da Educação. Diretrizes curriculares nacionais para a educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana. Brasília: MEC/ Secretaria Especial de Promoção de Igualdade Racial/ Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. 2004
COSTA, H. : SILVA, P. V. B. da. Notas de História e cultura afro-brasileiras. Ponta Grossa: Editora UEPG/UFPR, 2007
GOMES, N., MUNANGA, K. Para entender o negro no Brasil de hoje. São Paulo: Global Editora, 2004.
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação. Departamento de Ensino Fundamental. Cadernos Temáticos: História e cultura afro-brasileira e africana: educando para as relações étnico-raciais. Curitiba. SEED, 2006
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação Diretrizes Curriculares da Educação de Jovens e Adultos no Estado do Paraná. Curitiba. SEED, 2005
LDB http://www.cefetce.br/Ensino/Cursos/Medio/Lei.htm Acesso em 08 maio 2008
2 RECURSOS DE INVESTIGAÇÃO
2.1 INVESTIGAÇÃO DISCIPLINAR
Valorização da cultura afrobrasileira e africana na EJA.
A presença dos africanos em nosso país remonta o século XVI, quando
Portugal enquanto nação consolidada e pioneira na exploração da costa africana,
montou um sistema de produção do açúcar baseado no trabalho escravo que se
estendeu por toda a América. Dentro da política colonialista do século XVI o
4
escravo, paralelamente ao ouro, se tornou a mercadoria mais valiosa para os países
europeus. Segundo Souza “a escravidão existiu em muitas sociedades africanas
bem antes de os europeus começarem a traficar escravos pelo oceano Atlântico”5 e
“os portugueses foram os primeiros parceiros do comércio atlântico de povos da
região da Senegâmbia, da Guiné, do golfo de Benin, da foz do rio Congo, da baía da
ilha de Luanda e em Benguela.”6
As regiões africanas que mais forneceram escravos para o Brasil foram as
chamadas costa da Mina e costa de Angola, sendo que uma das regiões da costa da
Mina ficou conhecida como costa dos Escravos devido ao intenso comércio que se
realizava entre as embocaduras dos rios Volta e Níger. Esse local abrigava uma
cadeia de lagos e canais que se estendia em enorme delta proporcionando
navegação mais tranqüila que a feita no mar.
O tráfico era uma atividade comercial altamente rentável tanto para os
traficantes europeus e americanos que tinham mercado consumidor garantido nas
Américas devido a economia colonial, quanto para os chefes africanos que
promoviam guerras e ataques às aldeias na conquista de mais escravizados,
ditavam as regras do comércio, cobravam taxas e pedágios pelo trânsito em suas
terras.
O tráfico de escravos africanos para o Brasil se estendeu até o século XIX,
quando uma série de leis que tinham por objetivo a extinção dessa atividade
comercial foi sendo promulgada pela Inglaterra e posteriormente pelo Brasil. A
Inglaterra tinha interesse puramente econômico na finalização da escravidão devido
à industrialização enquanto que o Brasil só o fez porque se viu pressionado pelos
acordos comerciais que havia estabelecido com este país.
Dentre desse quadro de imigração, forçada a que inúmeros povos africanos
foram submetidos, cada qual com costumes, conhecimentos técnicos, saberes e
sabores únicos, é que se formou o povo e a cultura brasileira, ou melhor, a cultura
afrobrasileira. Portanto, torna-se imprescindível compreender a luta dessa parcela
da população (quase 50%) por políticas afirmativas de reconhecimento e de
valorização da sua cultura. Dentre essas políticas afirmativas merece destaque a Lei
5 SOUZA, Marina de Mello e. p. 47, 20086 SOUZA, Marina de Mello e. p 56, 2008
5
nº. 10.639/03, criada com o objetivo de rever e repensar a história africana e
afrobrasileira valorativamente.
A Lei n.º 10.639/03, que torna obrigatório o ensino da história e cultura
afrobrasileira e africana nos estabelecimentos da rede pública e privada na
Educação Básica, vem ao encontro da demanda da comunidade afrobrasileira por
políticas afirmativas de reconhecimento e valorização de um povo e de sua cultura
que, igualmente ao indígena e ao europeu formaram a sociedade brasileira.
Entretanto, isto se torna um grande desafio devido ao despreparo dos
profissionais da educação, por haver poucas disciplinas específicas sobre a África
nos currículos dos cursos de História das universidades brasileiras e o imaginário
nacional ser carregado de estereótipos racistas.
Diante desse fato, como tratar e desenvolver, principalmente na disciplina de
História, o reconhecimento e a valorização da história e da cultura afrobrasileira e
africana?
O professor, ao abordar a História da África e da cultura afrobrasileira, pode
fazê-lo de maneira valorativa e não apenas relacionando-a com a escravidão, como
é muito comum, embora este fato seja inegável. A presença da história africana nos
currículos escolares não se faz necessária apenas pela lei que instituiu sua
obrigatoriedade, mas por ser impensada a história do Brasil desvinculada das
histórias dos atores africanos, indígenas e europeus. Outro aspecto importante é ter
consciência de que aprender história é um exercício extremamente exigente, no qual
o real e o imaginário contracenam concomitantemente.
Segundo Cunha “o principal problema encontrado no processo de ensino e
aprendizagem da História Africana não é relativo à história e sua complexidade, mas
é com relação aos preconceitos adquiridos num processo de informação
desinformada sobre a África.”7 Visões distorcidas acerca da História africana são
comuns. Ora a África é apresentada como lugar atrasado, inculto, selvagem, ora
como vítima do tráfico, do capitalismo, do neocolonialismo.
A desconstrução desse estereótipo se faz urgente e a sala de aula é o espaço
para isso. Os povos africanos eram portadores de história, de conhecimentos e de
tecnologias avançadas para a época. Como exemplo disso pode ser citada a
7 CUNHA, Jr, Henrique. O Ensino da História Africana. http://www.casadeculturadamulhernegra.org.br/quem somos frameset.htm
6
civilização egípcia (Núbios) que governou o Egito por aproximadamente um século,
trazendo prosperidade à civilização através de construções de diques e resistência
aos invasores. Mesmo com o fim da dinastia núbia (Piye foi o primeiro faraó negro
do Egito), a cultura egípcia ainda preservou características provenientes do contato
com esse reino africano. A discussão de uma África formada por reinos, que até
então pertenciam apenas ao imaginário europeu, implica uma organização social,
um território, uma nação, portanto descaracteriza o estereótipo da África Selvagem.
A idéia de continente isolado da economia mundial deve ser desconstruída
por meio da abordagem das rotas comerciais, das caravanas que cruzavam todo o
continente e se estendiam pela Europa e Ásia chegando a Índia e China, bem como
das exportações de tecidos africanos para a Europa.
As imagens de santos negros nas igrejas católicas européias medievais
comprovam o contato entre africanos e europeus no século 13 perpassando a idéia
de isolamento social e comercial. As tecnologias utilizadas nos ciclos econômicos
brasileiros, dentre eles a mineração, são de origem africana. Muitas dessas
tecnologias ainda hoje são utilizadas no Brasil, no cultivo da cana-de-açúcar e na
mineração. A bateia pode ser considerada um exemplo dessa tecnologia.
Outro aspecto importante a ser revisto e reconstruído é quanto à passividade
na escravidão. Torna-se imprescindível demonstrar as inúmeras formas de
resistência que começavam nos navios negreiros, nos suicídios ou abortos
voluntários, nos assassinatos e nas fugas individuais e coletivas para os quilombos.
A própria organização política dos quilombos deve ser vista como produto das
formas organizacionais africanas adaptadas à realidade brasileira. Personagens
como João Cândido, o Almirante Negro, que defendeu a abolição dos castigos
corporais na Marinha (Revolta da Chibata-1910), da qual foi líder, merece ser
reconhecido como um herói que lutou pela dignidade e respeito de uma classe.
Entretanto, foi banido da Marinha e viveu de maneira precária até a sua morte, aos
89 anos de idade.
Os africanos foram responsáveis por muitos dos hábitos e conhecimentos
técnicos que contribuíram para a sobrevivência e para o crescimento da nação
brasileira. Entretanto, a historiografia brasileira ocultou e ignora essa contribuição na
sua formação social. Isso se deve ao preconceito desenvolvido para com a vida
7
social e a história dos grupos africanos, bem como pela necessidade de domínio
sobre eles.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2000), os
negros – pretos e pardos representam 45% da população brasileira o que torna o
Brasil o país com maior contingente populacional de afrodescendentes do mundo. A
exclusão social destes fica evidente através de dados contidos no Atlas Racial
Brasileiro, que coloca os negros como maioria dentro da população pobre: 64% na
faixa da pobreza e 69% na indigência.
Segundo Henriques (apud ROCHA, 2007) “as desigualdades também se
apresentam na área da educação. É o que pode ser visto, por exemplo, nos dados
referentes ao analfabetismo funcional (menos de 3 anos de estudo). O percentual de
analfabetos funcionais entre os brancos é de 40%, enquanto entre os negros esse
percentual é de 55%. A desigualdade pode ser observada também na relação entre
anos de estudos: 19% da população branca têm mais de 11 anos de estudos contra
7,5% dos negros. Quanto ao nível de escolaridade, o número de brancos com nível
superior completo é 5 vezes maior que o número de negros”.
Dentro da esfera social e econômica mundial, assim como na brasileira, os
africanos e afrodescendentes constituem uma especificidade histórica que, senão
ignorada, recebeu tratamento insuficiente na educação brasileira. Os movimentos
negros tiveram como bandeira de luta por mais de um século a inclusão das
histórias e das culturas de africanos e afrodescendentes ao ensino da História da
humanidade e a do Brasil. Segundo Gomes (2003), “essas organizações negras,
além de denunciar o racismo, construíram estratégias com o objetivo de preencher
as lacunas deixadas pelo Estado brasileiro em relação aos processos educativos
escolares voltados para o segmento negro da população.”
A Constituição de 1988 representou alguns avanços no campo
educacional. A década de 1990 foi marcada com a implantação da nova Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9394/96) a qual consolidou
diretrizes e bases pluriétnicas para a educação brasileira. O seu artigo 26, $4º
regulamenta que o ensino de História do Brasil contemple as contribuições das
diferentes culturas e etnias na formação do povo brasileiro, com especial atenção
aos grupos indígenas, africanos e europeus.
8
Segundo Cunha, (apud Cadernos Temáticos, SEED-PR, 2006, p.87)
“como consequência da Conferência Mundial de Durban, em 2002, e das
negociações políticas nacionais, eis que em 2003 é decretada a lei de inclusão da
História e da Cultura de Africanos e Afro-descendentes na educação nacional.” Em
09 de janeiro de 2003 é assinada a Lei 10.639 que torna obrigatório o ensino de
História e Cultura Afrobrasileira nos estabelecimentos de ensino fundamental e
médio, bem como a inclusão no calendário escolar, do dia 20 de novembro como o
Dia Nacional da Consciência Negra.
Este documento reforça a necessidade de que os conteúdos referentes ao
tema acima sejam ministrados “no âmbito de todo o currículo escolar, em especial
nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras”. (Lei
10639/03). Ainda segundo Cunha “essa lei de 2003 é uma conquista importante dos
movimentos sociais negros.” (idem p.85)
A identidade de um povo é construída por meio de sua memória. Resgatar
valorativamente a História da África e “africanizar a História do Brasil”8 é o caminho
para a valorização da identidade negra e de sua cultura. Portanto, o que se faz
urgente é uma educação antirracista pautada na perspectiva de reconhecimento das
diferenças, em que o respeito e valorização dos vários sujeitos históricos que
constituem a sociedade brasileira sejam efetivados.
Nesse momento em que se discutem políticas afirmativas para com a
população afrodescendente, a Educação de Jovens e Adultos também passa a ser
ponto de discussão quanto ao seu caráter reparador, possibilitando que os
historicamente excluídos estejam presentes neste espaço-tempo de educação a que
têm direito. Assim, a EJA não pode desconsiderar a questão étnico-racial dado o
perfil do público a que atende ser majoritariamente afrodescendente. Ou seja, diante
da heterogeneidade de sua clientela, todo o conjunto de ações políticas, públicas e
privadas que tem como objetivo corrigir desigualdades sociais e étnico-raciais,
necessita ser abarcada pela EJA devido ao seu caráter de transformação da
sociedade e de garantia de igualdade de oportunidade para todos.
Referências.
8 Expressão utilizada por Mônica Lima no texto: Como os tantãs na floresta. Reflexões sobre o ensino de História da África e dos africanos no Brasil Apud: Saberes e Fazeres v.1.Rio de Janeiro. Fundação Roberto Marinho, 2006. 116.:il color (A Cor da Cultura)
9
BRASIL. Lei N.º 10.639, de 9 de janeiro de 2003. In: Brasil. Ministério da Educação. Diretrizes curriculares nacionais para a educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana. Brasília: MEC/ Secretaria Especial de Promoção de Igualdade Racial/ Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. 2004
COSTA, H. : SILVA, P. V. B. da. Notas de História e cultura afro-brasileiras. Ponta Grossa: Editora UEPG/UFPR, 2007
CUNHA, Jr, H. O Ensino da História Africana. Artigo disponível em http://www.casadeculturadamulhernegra.org.br/quem_somos_frameset.htm . Acesso em 30 set.2008.
FAGE. J. D. História da África. Tradução de Ainda Freudenthal.Lisboa: Edições 70. (capítulos 11 e 12)
FLORES, E. C. Etnicidade e ensino de História: a matriz cultural africana. (Artigo disponível no Portal Dia-a-Dia Educação - Portal Educacional do Estado do Paraná): www.diaadiaeducacao.pr.gov.br Acesso em 08 maio 2008.
GOMES, N., MUNANGA, K. Para entender o negro no Brasil de hoje. São Paulo: Global Editora, 2004.
LIMA. M. Como os tantãs na floresta. Reflexões sobre o ensino de História da África e dos africanos no Brasil Apud: Saberes e Fazeres v.1.Rio de Janeiro. Fundação Roberto Marinho, 2006. 116.:il color (A Cor da Cultura)http://www.acordacultura.org.br
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação. Departamento de Ensino Fundamental. Cadernos Temáticos: História e cultura afro-brasileira e africana: educando para as relações étnico-raciais. Curitiba. SEED, 2006
http://www.historiadomundo.com.br/egipcia/faraos-negros/ Acesso em 23 out. 2008
ROCHA, M. C. Imagens e palavras: suas correspondências na arte africana. (Dissertação disponível no Portal Dia-a-Dia Educação - Portal Educacional do Estado do Paraná): www.diaadiaeducacao.pr.gov.br Acesso em 08 maio 2008.LDB http://www.cefetce.br/Ensino/Cursos/Medio/Lei.htm
SOUZA, M. M. África e Brasil africano. São Paulo: Ática, 2008
2.2 PERSPECTIVA INTERDISCIPLINAR
Reconstruindo a história africana e afrobrasileira
10
As práticas interdisciplinares tendem a buscar um conhecimento unitário, no
qual a integração das disciplinas e a relação delas com a realidade do aluno tornam
o conhecimento dinâmico sob o ponto de vista da aprendizagem.
A interdisciplinaridade vem, em meados da década de 1960, vislumbrar novos
territórios de integração entre os saberes, buscando um conhecimento universal que
se contrapusesse à repartição epistemológica do saber.
No Brasil, a interdisciplinaridade, apesar de ser debatida desde o final da
década de 1960, se intensifica com a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) Lei Nº.9394/96
e com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). Ganha força nas escolas e nos
discursos e práticas de professores de diversas áreas do conhecimento.
Segundo as Diretrizes Curriculares da Educação Básica, (2009) “as
disciplinas escolares, são entendidas como campos do conhecimento e se
identificam pelos respectivos conteúdos estruturantes e por seus quadros teóricos
conceituais. Considerando esse constructo teórico, as disciplinas são o pressuposto
para a interdisciplinaridade. A partir das disciplinas, as relações interdisciplinares se
estabelecem quando:
• conceitos, teorias ou práticas de uma disciplina são chamados à discussão e
auxiliam a compreensão de um recorte de conteúdo qualquer de outra disciplina;
• ao tratar do objeto de estudo de uma disciplina, buscam-se nos quadros
conceituais de outras disciplinas referenciais teóricos que possibilitem uma
abordagem mais abrangente desse objeto”.
A interdisciplinaridade quebra a hierarquia entre as disciplinas e faz com que
haja cooperação e diálogo entre as várias áreas do conhecimento. Elas articulam-se
entre si e completam-se contribuindo para a construção de um conhecimento mais
abrangente, completo e complexo acerca de um saber que teve sua discussão
iniciada sob o olhar de uma disciplina.
As Diretrizes Curriculares da Educação Básica (2009) propõem que os temas
“sejam abordados pelas disciplinas que lhes são afins, de forma contextualizada,
articulados com os respectivos objetos de estudo dessas disciplinas e sob o rigor de
seus referenciais teórico-conceituais.”
Assim, a temática Cultura afrobrasileira e africana que tem seu ponto de
partida na História, pode ser abarcada por várias áreas do conhecimento. Embora a
Lei 10.639/03 ressalte as disciplinas de História, Arte e Língua Portuguesa como
11
norteadoras do trabalho, é plenamente possível a interação de diferentes áreas do
conhecimento no processo de resgate da identidade negra e de valorização da sua
cultura.
Em História, conforme citado anteriormente, torna-se necessário desmitificar
visões equivocadas acerca do negro somente como escravo, da África como um
continente primitivo, da passividade quanto à escravidão e da democracia racial.
Deverão ser estudados os grandes reinos africanos (Mali, Congo, Zimbabwe,
Egito, entre outros) e suas organizações culturais, políticas e sociais; os povos
escravizados trazidos para o Brasil e as consequências da Diáspora Africana; a
resistência por meio da Revolta dos Malês, Canudos, Revolta da Chibata, dos
quilombos; dos remanescentes de quilombos; do Movimento Negro e do 20 de
novembro.9
Segundo as Diretrizes Curriculares Estaduais o ensino de Geografia deve
subsidiar os alunos a pensar a realidade geograficamente e despertar a consciência
espacial. Para isto deverá ser empreendida uma educação que contemple a
heterogeneidade, a diversidade, a desigualdade e a complexidade do mundo atual.
Tendo esta disciplina como conteúdos estruturantes a dimensão econômica da
produção no/do espaço; geopolítica, dimensão socioambiental e a dinâmica cultural
e demográfica poderá, em consonância com a Lei nº 10.639/03, focar o processo de
miscigenação de povos; a distribuição espacial da população afrodescendente no
Brasil e suas contribuições na construção da nação; a diáspora africana;
composição da população brasileira pela cor, segundo o último censo, abrangendo
as diferenças de renda e escolaridade; discussões sobre práticas de segregação
racial, sobre o mito da democracia racial no Brasil; fazer um levantamento das
comunidades quilombolas locais, entre tantas outras.
A Educação Física, tendo como conteúdos estruturantes: esporte; jogos e
brincadeiras; dança; ginástica e lutas, poderá explorar as práticas corporais nas
danças como o batuque, frevo, jongo, samba, lundu, maracatu, congada e a
capoeira (única luta que é praticada ao som de instrumentos e cantos), buscando 9 BRASIL. Lei N.º 10.639, de 9 de janeiro de 2003. In: Brasil. Ministério da Educação. Diretrizes curriculares nacionais para a educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana. Brasília: MEC/ Secretaria Especial de Promoção de Igualdade Racial/ Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. 2004
12
seu significado no contexto histórico-social; brinquedos e brincadeiras da cultura
africana. As DCE (p.89) trazem a capoeira como conteúdo básico por meio de uma
abordagem teórico-metodológica que procure “estudar o histórico da capoeira, a
diferença de classificação e estilos da capoeira, enquanto jogo/luta/dança,
musicalização e ritmo, ginga, confecção de instrumentos, movimentação, roda, etc”.
Um grupo de capoeira da comunidade poderia ser convidado a fazer uma
apresentação para toda a escola ao término do estudo.
De acordo com a Lei nº 11.769/08 que estabelece a obrigatoriedade do
ensino da música na educação básica, na disciplina de Arte, norteada pelos
conteúdos estruturantes “movimentos e períodos”, há possibilidades de se trabalhar
a música africana e a música popular brasileira, a contribuição da cultura africana na
formação da Música Popular Brasileira por meio da origem do batuque, do lundu e
do samba até chegar ao Movimento Hip-Hop ( Movimento norte-americano
constituído por três vertentes: o RAP – música; o Break – dança e o grafite – artes
plásticas). Esse movimento chegou ao Brasil em 1980 e sofreu a influência da
cultura local onde o RAP ganhou influência do samba e o break tem um paralelo
com a capoeira. No gênero da “Dança”, poderá ser dado ênfase à capoeira.
Em “Artes Visuais” poderão ser feitas máscaras, esculturas, ornamentos,
pintura corporal e penteados característicos da cultura africana explorando a
estrutura de Fractais (Física e Matemática). Segundo as Diretrizes Curriculares
Estaduais desta disciplina, “significa uma possibilidade de romper com uma
hegemonia da cultura européia, ainda presente em muitas escolas”
À Língua Portuguesa e Literatura caberá uma pesquisa de países que falam a
língua portuguesa e as razões históricas para isto (processo de colonização);
palavras africanas presentes no vocabulário brasileiro atual; destacar a contribuição
do povo negro na cultura nacional através do estudo de obras literárias de escritores
negros como Lima Barreto, Machado de Assis, entre outros, bem como de
compositores e cantores como Gilberto Gil, Milton Nascimento, Jorge Aragão;
interpretar as pinturas de Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral, Cândido Portinari que
incluem a figura do negro em suas obras; interpretar músicas relacionadas à
questão racial e fazer paródias de valorização do povo e da cultura africana; coletar
e analisar o enfoque das revistas produzidas para a comunidade negra; debates,
confecção de mural com produtos de beleza específicos para a pele e o cabelo
13
negro, produções textuais sobre os vários assuntos trabalhados em sala. Tendo
como conteúdo estruturante o “discurso como prática social” a escola poderá adotar
os gêneros discursivos conforme suas esferas sociais de circulação. São elas:
cotidiana; literária/artística; escolar; imprensa; publicitária; política; jurídica; produção
e consumo; e midiática. (DCE. P. 100)
Em Biologia a discussão deverá estar voltada para a desmitificação das
teorias racistas através do estudo das características biológicas dos diversos povos;
pesquisa e análise das condições de vida e de saúde das populações africanas e
afrodescendentes relacionando-as com os aspectos políticos, econômicos, sociais e
culturais das respectivas comunidades. O Projeto Quesito Cor, do Ministério da
Saúde poderá ser pesquisado para complementar os estudos anteriores.
Dando continuidade ao trabalho, a disciplina de Matemática poderá ocupar-se
da problematização dos resultados colhidos através das diversas pesquisas e dos
dados levantados pelas outras disciplinas, ficando responsável pela elaboração de
gráficos que contemplem a composição da população brasileira por cor, renda e
escolaridade, mercado de trabalho, entre outros aspectos.
A Sociologia, cujo papel histórico está além da leitura e de explicações
teóricas para a sociedade tem como tarefa primordial explicitar e explicar
problemáticas sociais concretas e contextualizadas, desconstruindo pré-noções e
pré-conceitos que quase sempre dificultam o desenvolvimento da autonomia
intelectual e de ações políticas direcionadas à transformação social. Enquanto
disciplina, fundamentada em conteúdos estruturantes como: “O processo de
socialização e as instituições sociais”, “A cultura e a indústria cultural”, “Trabalho,
produção e movimentos sociais”, “Poder, política e ideologia”, “Cidadania e
movimentos sociais” e tendo como tarefa inadiável a formação de novos valores, de
nova ética e de novas práticas sociais que apontem para a possibilidade de
construção de novas relações sociais, poderá se incumbir de pesquisar a luta do
afrodescendente pelo direito de igualdade através do Movimento Negro, da Lei nº
10.639/03, das cotas raciais para o ingresso nas universidades. Também poderá
abordar o aspecto religioso através da desmitificação da umbanda e do candomblé
(sincretismo religioso). Repensar a história africana com vistas à sua valorização e
perceber que não existe cultura superior ou inferior, mas conhecer e respeitar as
diferenças é o que busca a Lei 10.639/03.
14
O trabalho desenvolvido nas áreas citadas poderá ser registrado por meio de
fotografias e filmagens as quais contribuirão para a confecção de um grande mural e
para apresentação a toda a escola. O ideal seria que este trabalho culminasse no
dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, com os alunos afrodescendentes
participando de um desfile na escola.
Para a organização desse desfile buscar-se-ia parceria junto à comunidade
(cabeleireiros) para pentear e maquiar os alunos, valorizando o cabelo e a estética
negra (penteados africanos como o rastafari e fractais). Esses alunos poderiam
estar vestidos com roupas cotidianas ou com a indumentária característica da
sociedade africana em que a presença de cores fortes e elementos geométricos se
fazem presentes, no uso de turbantes e de acessórios coloridos. O desfile ocorreria
em meio às músicas africanas e afrobrasileiras.
ReferênciasARRUDA, J. B. de. Livro Temático 1. Africanidades e brasilidades. Aplicando a Lei 10.639/03. 1ª edição. João Pessoa-PB:Editora Dinâmica, 2007.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Brasília: Ministério da Educação, 2002a.
MATTOS, R. A. de. História e cultura afro-brasileira. São Paulo: Contexto, 2007.
SILVA, L. H. O.; FERNANDES, F. A. G. (orgs). Cultura Afro-brasileira, expressões e questões escolares. Londrina: Universidade Estadual de Londrina, 2006. (Caderno Uniafro; v.1)http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142004000100011&script=sci_arttext Quesito cor no sistema de informação em saúde Acesso em 27 de out. 2008
http://www.unb.br/ppgec/dissertacoes/proposicoes/proposicao_jairocarlos.pdf Jairo Gonçalves Carlos Interdisciplinaridade no Ensino Médio: desafios e potencialidades. Acesso em 12 nov 2008.
http://www.ichs.ufop.br/memorial/trab/e3_3.doc Interdisciplinaridade: por uma pedagogia não fragmentada. Everton Moreira Magalhães. Acesso em 12 nov 2008.
http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/diaadia/diadia/arquivos/File/diretrizes_2009/2_edicao/arte.pdf Diretrizes Curriculares da Educação Básica - Arte. Acesso em 02 maio 2009.
15
http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/diaadia/diadia/arquivos/File/diretrizes_2009/2_edicao/biologia.pdf Diretrizes Curriculares da Educação Básica - Biologia. Acesso em 02 maio 2009.
http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/diaadia/diadia/arquivos/File/diretrizes_2009/2_edicao/edfisica.pdf Diretrizes Curriculares da Educação Básica - Educação Física. Acesso em 02 maio 2009.
http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/diaadia/diadia/arquivos/File/diretrizes_2009/2_edicao/geografia.pdf Diretrizes Curriculares da Educação Básica – Geografia. Acesso em 02 maio 2009.
http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/diaadia/diadia/arquivos/File/diretrizes_2009/2_edicao/historia.pdf Diretrizes Curriculares da Educação Básica – História. Acesso em 02 maio 2009.
http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/diaadia/diadia/arquivos/File/diretrizes_2009/2_edicao/matematica.pdf Diretrizes Curriculares da Educação Básica – Matemática. Acesso em 02 maio 2009.
http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/diaadia/diadia/arquivos/File/diretrizes_2009/2_edicao/portugues.pdf Diretrizes Curriculares da Educação Básica – Língua Portuguesa. Acesso em 02 maio 2009.
http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/diaadia/diadia/arquivos/File/diretrizes_2009/2_edicao/sociologia.pdf Diretrizes Curriculares da Educação Básica – Sociologia. Acesso em 02 maio 2009.
2.3 CONTEXTUALIZAÇÃO
Identidade Negra
Conforme mencionado anteriormente, o Brasil é o país com o maior número
de população negra fora da África. Os dados do IBGE mostram que a população
brasileira é composta majoritariamente por negros e pardos. Entretanto, a principal
referência que se faz a eles na nossa História é no período da escravidão.
A marginalização ainda é uma realidade para com estes, os dados
estatísticos demonstram que a maioria (69%) é pobre e que a expectativa de vida da
população negra em relação à branca também é inferior, chegando a ficar entre seis
e oito anos. Infelizmente, ainda no século XXI, a convivência cotidiana com as
“diferenças/diversidades” tem sido tensa e carregada de estereótipos racistas.
O país possui uma legislação (Constituição de 1988) que defende a igualdade
de todos e considera, no seu Artigo 5º, crime inafiançável e imprescritível os atos de
16
preconceito e de discriminação, sejam de origem, de raça, sexo, cor, idade. Também
vem desenvolvendo políticas de ação afirmativa “com vistas à promoção de
populações historicamente discriminadas e ao combate à discriminação”. Essas
políticas “buscam corrigir distorções para, a partir daí, promover a igualdade”.
O Estatuto da Igualdade Racial é uma das tentativas de acabar com séculos
de discriminação e falta de acesso e oportunidade aos negros. O sistema de cotas
para afrodescendentes é uma forma de ação afirmativa, assim como a Lei 10.639/03
que torna obrigatório o ensino da História da África e da Cultura Afrobrasileira nos
níveis fundamental e médio.
Le Goff, (2003) historiador francês, ressalta que “devemos trabalhar de forma
que a memória coletiva sirva para a libertação e não para a servidão dos homens”.
Portanto torna-se necessário que a escola resgate a identidade dos afrobrasileiros
de maneira “a proporcionar aos alunos uma educação compatível com uma
sociedade democrática, multicultural e pluriétnica.” As Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais contempla o aprendizado
do patrimônio cultural afrobrasileiro como uma das medidas de combate a
discriminação, bem como de valorização e preservação da memória e da cultura
desse povo.
O racismo é uma construção social, baseada em estereótipos e preconceitos
que facilitam a dominação de um grupo social sobre outro. Criar novos referenciais
acerca do povo africano e afrodescendente contribuirá para a construção de novas
representações, as quais levarão à geração de novas concepções, dentre elas a
valorização da cultura e do povo em si. Dessa forma, novos referenciais acerca
desse grupo social serão gerados, o que contribuirá de forma significativa para a
concretização de atitudes de respeito à diversidade.
ReferênciasARRUDA, J. B. de. Livro Temático 1. Africanidades e brasilidades. Aplicando a Lei 10.639/03. 1ª edição. João Pessoa-PB:Editora Dinâmica, 2007.
BRASIL. Ministério da Educação.SECAD. Orientações e ações para a educação das relações étnico-raciais. Brasília: SECAD, 2006.
BRASIL. Ministério da Saúde. Programa Estratégico de Ações Afirmativas: População Negra e AIDS. Brasília
17
Le Goff, Jacques. História e memória. 5 ed. Campinas: Editora da UNICAMP, 2003
http://www.cedine.rj.gov.br/legisla/federais/Estatuto_da_Igualdade_Racial_Novo.pdf Estatuto da Igualdade Racial. Acesso em 05 nov.2008.
http://www.direitos.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=499&Itemid=2 Fórum de Entidades Nacionais de Direitos Humanos. Acesso em 05 nov. 2008
3 RECURSOS DIDÁTICOS
3.1 PROPOSTAS DE ATIVIDADES
- Fazer um levantamento, junto à comunidade escolar, dos alunos que se assumem
afrodescendentes e, por meio deles, obter relatos de histórias de família.
- Pesquisar a existência ou não de comunidades quilombolas na sua região. Em
caso positivo, buscar informações a respeito do número de pessoas, hábitos
culturais preservados, forma de subsistência, reivindicações do grupo.
- Pesquisar a contribuição do povo africano e afrobrasileiro nos aspectos histórico,
cultural, econômico e religioso na sua cidade ou estado.
- Expor, através de painéis com imagens, textos e gráficos, os resultados colhidos
nas pesquisas.
-Promover um concurso de penteados afro para os alunos e, se possível, com a
presença de fractais.
- Confeccionar um mural com fotografias dos alunos afrodescendentes.
- Convidar um grupo de capoeira para fazer apresentação na escola.
- Promover um desfile com alunos afrodescendentes.
3.2 SÍTIOS
http://www.acordacultura.org.br
Este endereço traz lendas africanas sobre a origem da humanidade e
possibilita o acesso a vídeos ilustrativos das mesmas no link Mojubá. Em Cadernos
do Professor têm-se acesso a livros como: Modos de Ver, Modos de Sentir e
Modos de Interagir que são excelentes recursos ao professor.
http://www.casadeculturadamulhernegra.org.br
18
O endereço refere-se a uma Organização Governamental criada oficialmente
em 30 de junho de 1990, em Santos-SP, embora as atividades tenham-se iniciado
em 21 de março de 1985, com a organização de vários seminários sobre a questão
da mulher negra em nível regional e nacional. Neste endereço tem-se acesso a
notícias, imagens e textos sobre mulher negra, população negra, gênero, ações
afirmativas, discriminação racial, história da África, educação antirracista, cultura
negra e religiões de matriz africana.
http://www.portalafro.com.br
O endereço eletrônico acima é composto por vários links, nos quais se têm
acesso a informações da cultura afrobrasileira referentes a artes, culinária, religiões,
história, entidades, entrevistas, quilombos.
Dentre as entrevistas dá-se destaque à de Abdias do Nascimento, um dos
fundadores da Frente Negra Brasileira, criador e defensor de políticas afirmativas
para com a população negra. Outra entrevista interessante é a do Padre Toninho,
idealizador das missas afros, onde os rituais católicos misturam-se às tradições
afrobrasileiras.
http://www.palmares.gov.br
A Fundação Cultural Palmares é uma entidade pública vinculada ao Ministério
da Cultura e que tem por finalidade “promover a preservação dos valores culturais,
sociais e econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade
brasileira”.
Neste endereço é possível adquirir informações riquíssimas sobre a cultura
afrobrasileira através de poemas, contos, artigos, expressões afrobrasileiras,
políticas afirmativas, dentre outros.
4 RECURSOS DE INFORMAÇÃO
4.1 DESTAQUE
O texto abaixo, retirado da obra de Jorge Arruda, Educando pela
diversidade afrobrasileira e africana vem de encontro ao objetivo proposto por
este OAC, ou seja, trazer uma nova visão sobre a população negra e sua
contribuição na nossa história.
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ZUMBI: FANTASMA HISTÓRICO OU ANCESTRALIDADE VIVA.
Doutor Ronaldo Sales JÚNIOR (Membro do Observatório Negro; Doutor
em Sociologia pela UFPE e Militante do Movimento Negro)
“As narrativas históricas oficiais cristalizaram da população negra como apática, infantilizada, desmobilizada e excluída dos processos de participação política. Ao contrário, organizações e intelectuais negros atuaram, buscando transformações sociais através não apenas da revolta, mas, também, através de formas de organização de suas próprias vidas (quilombos, irmandades, associações...), ações judiciais, políticas públicas e reformas legais, dialogando com setores da elite e com visões de cidadania próprias de cada período histórico.
Graças à luta dos movimentos sociais negros, Zumbi faz, hoje, parte do panteão dos heróis nacionais, e o dia de sua morte simboliza o luto e a luta do povo negro (com seus heróis e heroínas anônimos que vertem suor, sangue e leite, para a construção de um Brasil menos pálido), tornando-se o Dia Nacional da Consciência Negra. A experiência política e social de Palmares e a figura heróica de Zumbi são exemplos maiores daquela ancestralidade na luta pela liberdade e pela construção de uma sociedade justa. A ancestralidade é uma fonte inesgotável de pulsão, energia, movimento, criatividade e exemplo a ser seguido pelos herdeiros da tradição. A ancestralidade está no ritmo dos tambores e dos corações, na rebeldia dos cabelos e das idéias, no movimento das danças e das marchas, na substância dos lábios e das palavras, na cor do corpo e da alma, corada no sangue e na pele, na largueza do horizonte onde aponta seu nariz, no suor, sangue e leite derramados, enfim, no Axé assentado.
Porém, para além do símbolo, há a história que precisa ser conhecida por todos, pois é a história de nosso país, da diáspora negra no Brasil e nas Américas.
Datam do início do século XVII, as primeiras referências, em documentos, a uma comunidade formada por escravos fugidos, por volta de 1605, a cerca de 60 quilômetros da costa do que hoje é o Estado de Alagoas. Já em 1612, Palmares adquire grande fama, e os colonizadores portugueses enviam uma expedição punitiva, sem sucesso. A comunidade de Palmares viria a crescer continuamente. A entrada dos holandeses, em 1630, favoreceria, em certo sentido, a comunidade de refugiados, pois os colonizadores portugueses e os invasores holandeses estariam ocupados uns com os outros. Mesmo assim, em 1640, os holandeses viam os quilombos dos Palmares como “um sério perigo” mandando Bartolomeu Lintz para conseguir informações. Ele descreveu o quilombo como composto de dois grandes assentamentos: uma aldeia grande na Serra da Barriga e um menor à margem esquerda do Rio Gurumgumba. Em 1644, Rodolfo Baro liderou forças holandesas no ataque à comunidade, tendo sido mortas cem e capturadas trinta e uma, dentre as quais sete indígenas e crianças mulatas. Em 1645, Jurgens Reimbach atacava Palmares, composta já por nove aldeias.
Com a expulsão dos holandeses, em 1645, os portugueses retomaram os ataques ao quilombo, subestimando Palmares, em expedições modestas e infrutíferas. Doze anos depois da expulsão dos holandeses, os quilombos começaram a atacar fazendas para conseguir armas, libertar escravos e vingar-se de senhores e feitores. Em 1670, o governador de Pernambuco denunciou os colonos que contrabandeavam armas de fogo para os rebeldes. Os ataques a Palmares prosseguiram e, em 1675, na campanha de Manoel Lopes, Zumbi se
20
destacava por seu tio Ganga-Zumba. Em 1677, Palmares compreenderia mais de 60 léguas (360.000 m) e dez aldeias. Em 1678, Fernão Carrilho capturou os dois filhos de Ganga-Zumba. Em Recife, embaixadores do quilombo e as autoridades estaduais firmaram um tratado de paz. Isso demonstra o alto nível de organização política dos quilombos de Palmares. Zumbi, contudo, não confiava nas autoridades. Revoltando-se contra o tratado, matou seu tio e proclamou-se rei de Palmares. Os ataques portugueses intensificaram-se nos anos seguintes, sem sucesso, até que o paulista Domingos Jorge Velho ofereceu-se, em 1685, para conquistar os índios de Pernambuco, o que levaria, também, ao combate escravos fugidos e quilombolas de Palmares. Os colonos ainda insistiram em contar com as forças locais, sem êxito, e começaram a perseguir mais intensamente aqueles que colaborassem com os fugitivos. Dois anos depois, Jorge Velho e o governador de São Pernambuco chegaram a um acordo para a destruição de Palmares. Em 1691, o Conselho Ultramarino ordena a destruição de Palmares. Em fevereiro de 1694, cerca de cem anos após sua criação, Palmares foi destruído, após um cerco de mais de quatro anos, por Jorge Velho à frente de sua tropa de índios e mamelucos com mais de nove mil soldados. Em 1695, Zumbi foi encontrado morto e exposto em praça pública.
Palmares deixava de existir, mas sua imagem não seria mais esquecida, apesar de todos os esforços para calar ou diminuir ente grandioso empreendimento histórico, político, cultural, econômico e social, que foi Palmares apesar de toda sua extensão geográfica (influenciando além de suas fronteiras físicas e, mesmo, da nação brasileira de então) e temporal (por exemplo, durou mais tempo que a experiência da URSS no século XX), Palmares continua sendo tratado como um simples acidente histórico, menos importante, por exemplo, do que a Inconfidência Mineira ou a Confederação do Equador. Acrescente-se que Palmares foi uma experiência política e social que se deu no período em que a Europa (ainda e sempre nossa referência de história “universal”!) vivia suas primeiras revoluções liberais (a Revolução Inglesa de 1640, e a Revolução Gloriosa de 1688) – a experiência da República na Inglaterra durou pouco mais de 10 anos.
Portanto, tanto como história como ancestralidade, rememoração ou comemoração, Palmares precisa ser evocado para atualizar nossa luta por justiça.”
Referência
ARRUDA, J. Educando pela diversidade afrobrasileira e africana: “As ações afirmativas – Ressignificando os temas transversais Lei 10.639/2003 – Comentada”. João Pessoa, PB: Dinâmica, 2006
4.2 SUGESTÕES DE LEITURAS
Livro: História e cultura afrobrasileira, de Regiane Augusto de Mattos.
O livro oferece um panorama de algumas das principais sociedades da África
Subsaariana, com destaque para as regiões que mais tarde, estabeleceram relações
comerciais com os europeus e tornaram-se fornecedoras de escravos para o Brasil.
São abordadas estruturas políticas, econômicas e culturais, dentre elas a
religiosidade, assim como o comércio europeu de escravos africanos e as diversas
21
formas de resistência escrava. A obra também faz referência ao período pós-
abolição da escravidão e a luta do povo africano e seus descendentes pela
integração no mercado de trabalho livre e pelo combate à exclusão social. Aborda a
criação de organizações políticas e culturais negras, associações e jornais
alternativos como forma de preservação da identidade negra, bem como também
procura demonstrar a união dos negros contra a discriminação e a segregação
racial, ao mesmo tempo em que procuravam manter vivas as suas manifestações
culturais, que hoje chamamos de cultura afrobrasileira. Leitura que se faz necessária
pois está relacionada ao conteúdo deste OAC, principalmente por proporcionar um
novo olhar sobre a sociedade africana e os afrodescendentes.
Referência
MATTOS, R. A. de. História e cultura afro-brasileira. São Paulo: Contexto, 2007.
Livro: Livro Temático 1: Africanidades e brasilidades. Aplicando a Lei
10.639/03, de Jorge Bezerra de Arruda.
O autor propõe um olhar interdisciplinar e pluricurricular sobre o tema. Oferece uma
série de indicações que servem de subsídios aos professores no que diz respeito ao
desenvolvimento de ações afirmativas com uma perspectiva de fomentar mudanças
no ambiente escolar. Muitas das sugestões de atividades presentes neste OAC
encontram-se referendadas nesta obra.
Referência
ARRUDA, J. B. de. Livro Temático 1. Africanidades e brasilidades. Aplicando a Lei 10.639/03. 1ª edição. João Pessoa-PB:Editora Dinâmica, 2007
Livro: Cultura afrobrasileira, expressões religiosas e questões escolares, de
Lúcia Helena Oliveira Silva e Frederico Augusto Garcia Fernandes.
O livro composto por textos selecionados em oficinas ministradas durante o evento
Ensino de História e Cultura Afrobrasileira e Africana pela Universidade Estadual
de Londrina aborda temas como: “as origens, a tradição e difusão das religiões
afrobrasileiras”; “a mitologia e simbolismo dos orixás”; “história afrobrasileira e
africana nas escolas”; “hip-hop e escola”; “espaços do fazer e do ler” e “o negro
como objeto e sujeito de uma escritura”.
22
ReferênciaSILVA, L. H. O.; FERNANDES, F. A. G. (orgs). Cultura Afro-brasileira, expressões e questões escolares. Londrina: Universidade Estadual de Londrina, 2006. (Caderno Uniafro; v.1)
Livro: Rompendo silêncios: história da África nos currículos da educação básica, de Selma Pantoja e Maria José Rocha.A coletânea reúne o pensamento de especialistas, parlamentares, gestores públicos
e militantes do movimento social, acerca da necessidade do ensino de História da
África para o fortalecimento da identidade afrobrasileira.
Referência
PANTOJA, S.: ROCHA, M.J. (org.) Rompendo silêncios: história da África nos currículos da educação básica. Brasília: DP Comunicações Ltda, 2004
5 RECURSOS DIDÁTICOS
5.1 SONS E VÍDEOS
Música: Mestre Sala dos Mares Executor/Intérprete: João BoscoTítulo do CD: Maxximum: João BoscoNúmero da Faixa: 2Nome da Gravadora: Sony&BMGAno: 2005Disponível em: http://vagalume.uol.com.br/joao-bosco/o-mestre-sala-dos-mares.html Há muito tempo nas águas da GuanabaraO dragão do mar reapareceuNa figura de um bravo feiticeiroA quem a história não esqueceuConhecido como navegante negroTinha dignidade de um mestre salaE ao acenar pelo mar na alegria das regatasFoi saudado no porto, pelas mocinhas francesasJovens polacas e por batalhões de mulatasRubras cascatas jorravam das costasDos santos entre cantos e chibatasInundando o coração do pessoal do porão...
A música “Mestre Sala dos Mares” de João Bosco e Aldir Blanci, composta nos anos
70, imortalizou João Cândido, o “Almirante Negro” e a Revolta da Chibata. Sua
mensagem é de coragem e liberdade. A versão original foi censurada durante a
23
ditadura militar (1964-1985) e a letra sofreu algumas alterações. Recomenda-se ter
conhecimento das duas versões.
Filme: Quilombos da Bahia
Diretor: Antonio Olavo
Produção Executiva: Ricardo Gaspar e Selma Santos
Duração: 96 minutos
Local da Publicação: Brasil
Ano: 2001
O filme documentário é resultado de um trabalho de pesquisa de 4 anos em que,
num período de 90 dias e numa extensão de 12 mil Km, foram visitadas 69
comunidades negras do estado da Bahia. Neste documentário encontram-se
registradas as comunidades remanescentes de quilombos, suas histórias, o
cotidiano, a cultura e as estratégias de sobrevivência dos grupos.
Filme: Kiriku e a feiticeira.
Diretor: Michel Ocelot
Produtora: CYMAX Group
Duração: 71min.
Local da Publicação: França, Bélgica
Ano: 1998
Kiriku é um garoto pequeno, mas muito inteligente e com dons especiais, que
nasceu com a missão de salvar sua aldeia. A cruel feiticeira Karaba secou a fonte do
lugar onde Kiriku mora com amigos e parentes e, possivelmente, comeu o pai e os
tios do menino. Encontrando amigos e seres fantásticos pelo caminho, Kiriku vai
resolver a situação.
História baseada em uma lenda da África Ocidental.
Filme: “Kundun; Escravos da Liberdade”
Roteiro e Direção: Élson Faxina.
Produção: TV Educativa - Edição: Rogério Saiz
Duração: 82 minutos
Local de Publicação: Brasil
24
Ano: 2008
Documentário produzido pela TV Paraná Educativa que conta a história dos
descendentes de onze escravos que, em 1866, receberam como herança uma
grande fazenda na região de Guarapuava, no Paraná.
O documentário é composto por duas histórias intercaladas e concluídas numa só.
Uma história é da luta pela terra e a outra é a do grupo de música e dança com os
jovens do quilombo Paiol de Telha, em Guarapuava, que descendem dos onze
escravos.
O documentário conta com 18 depoimentos de pessoas envolvidas na luta pela
terra.
5.2 IMAGEM
Comentários e outras sugestões de imagens:
As imagens aqui utilizadas, embora não denotem muito significado à questão
cultural enfocada no material didático, ilustram algumas conquistas dos negros na
sociedade brasileira.
Referência.www.diaadiaeducacao.pr.gov.br Acesso em 12 nov. 2008
6 RECURSOS DE INFORMAÇÃO
6.1 PARANÁ
A Cor da Cultura
O Canal Futura, a Petrobrás, o Cidan – Centro de Informação e Documentação do
Artista Negro, a TV Globo e a Seppir – Secretaria especial de políticas de promoção
da igualdade racial estão, em parceria, desenvolvendo um projeto educativo de
valorização da cultura afrobrasileira. Neste site pode-se encontrar um jogo que
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apresenta vários instrumentos de origem africana com a possibilidade de ouvi-los e
tocá-los junto com a banda.
http://www.acordacultura.org.br
http://www.educarede.org.br/educa/index.cfm?pg=educalinks.links&id_educalink=15
Projeto Ka-naombo.
O projeto é mantido por uma ONG que atua em Curitiba - Ação Cultural de Negritude
e Ação Popular (Acnap). Nele, por meio de aulas e palestras, crianças, adolescentes
e adultos têm a oportunidade de conhecer melhor a cultura africana e de participar
de concurso de beleza como uma maneira de melhorar a autoestima deles. Um
outro projeto mantido pelo Instituto de Pesquisas de Afrodescendência (Ipad),
denominado Adebori, vem financiando bolsas de estudo para alunos do ensino
superior do estado, além de tentar garantir empregos para os afrodescendentes.
O Instituto Cultural Ilu Avê Odara está lançando a revista Africaxé onde traz notícias
e discussões sobre a situação do negro no país.
Fonte: Gazeta do Povo Onlinehttp://www.universia.com.br/html/noticia/noticia_clipping_bcjeh.html
“Na Lapa vivem 150 famílias descendentes de escravos africanos.
Na comunidade do Feixo, na Lapa, vivem cerca de 150 famílias descendentes de escravos africanos. Com o tempo, a tradição e a história foram se perdendo. No entanto, a religiosidade ainda é um fator marcante entre os moradores. Há casas onde existem mais de 50 quadros, folhetos e imagens de santos e religiosos. Dos povos africanos, restou ainda o gosto pela música e alegria de viver.
Um dos moradores mais antigos, Lauro Santana de Oliveira, 74 anos, diz que não sabe ao certo quando os primeiros moradores chegaram e nem quantas famílias viviam ali. Sabe apenas que seus avós já cultivavam aquela terra e na época o número de casas era bem pequeno. Diz que todos eram descendentes de escravos e ganharam pequenos lotes para cultivar. No entanto, até hoje a comunidade não tem a titulação da área.
Ele também não sabe explicar a origem do nome. Acredita que se deve ao fato de os moradores partirem as árvores em toras, que entrelaçadas serviam para cercar, ou seja, fechar o terreno.
Antônio Pedroso, 76 anos, também sabe contar pouca coisa sobre seus antepassados. Ele explica que antigamente, os adultos não conversavam com as crianças e, quando chegava alguma visita, eles tinham que ir para fora brincar. “Não é como hoje que as crianças conversam de igual para igual com a gente”. No
26
entanto, ele lembra de algumas tradições que seus pais e avós seguiam quando ele era criança. A religiosidade sempre foi muito forte.
Diz que costumavam sair nas noites de quarta e sexta-feira durante a quaresma para fazer a recomendação das almas. Eles iam de casa em casa rezando. Em cada lugar que paravam, uma cruz de galhos ou gravetos era feita, de modo improvisado, e deixada ali para marcar a passagem. “Eles chegavam sempre quando a gente já estava quase dormindo. Podiam visitar três, seis, nove ou doze casas. Esses números nunca mudavam”, lembra.
A música sempre foi marcante para essa comunidade. Em várias casas é possível encontrar um instrumento musical. Seu Antônio, com bom humor, diz que não toca violão muito bem. “O problema são as cordas que atrapalham”, explica. Quando era jovem costumava sair com amigos e ir cantar pelas estradas, parando em frente à casa de vizinhos. Hoje, ele e o neto animam as missas da comunidade. Antônio aparenta um bom estado de saúde e muita lucidez. Ele tem apenas um pouco de dificuldade para caminhar. “Sofri um acidente. Fui tentar desmontar um carro”, conta, se valendo mais um pouco da capacidade de se alegrar diante das dificuldades da vida, como seus ancestrais.
Silvia Ferreira, 73 anos, mostra o quanto a religião é importante para as famílias que moram no lugar. Ela tem em casa mais de 50 imagens, folhetos e quadros de santos e pessoas religiosas. Todas as noites, quando vai dormir, costuma rezar e beijar todas as suas imagens. Ela aproveita para agradecer pelo dia que passou e pedir forças para enfrentar o próximo. Quando amanhece, o ritual se repete.
Juvenal Pedroso, 82 anos, é marido de dona Silvia e conta que hoje as coisas estão mais fáceis, apesar de o trabalho na roça ainda ser pesado.”
O Observatório Quilombola publica todas as informações que recebe, sem descartar
ou privilegiar nenhuma fonte, e as reproduz na íntegra, não se responsabilizando
pelo seu conteúdo.
Fonte: Paraná online em 04/05/2008
http://www.koinonia.org.br/OQ/noticias_detalhes.asp?cod_noticia=4346&tit=Not
%C3%ADcias
Acesso em 20 nov 2008
Congada.
A Congada, espetáculo único no Paraná, especificamente da cultura afrobrasileira é
uma manifestação folclórica que se mantém viva na histórica cidade da Lapa-PR. A
dança mostra a guerra entre dois reinos africanos: o Reinado do Congo e da
Embaixada da Rainha Ginga, de Angola. É formada por 44 integrantes,
descendentes de escravos divididos entre os dois reinos.
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A notícia extraída da Gazeta do Povo é um exemplo de atitude a ser tomada por todos os afrobrasileiros, ou seja, assumir sua identidade racial.
“O orgulho da raça negra começa a aparecer nas estatísticas.Gazeta do Povo
A atriz Zezé Motta passou a infância lavando o rosto com água usada para cozinhar o arroz. Imitava sua mãe, para quem a técnica ajudava a clarear a pele e torná-la mais fina. Aos 12 anos, usava uma peruca chanel para esconder os cabelos crespos. Foi num palco no Harlem, em Nova York, durante uma turnê do Teatro de Arena, que a futura estrela de “Xica da Silva” assumiria sua identidade racial. Era 1969, auge do movimento Black Power, quando Zezé foi hostilizada por usar a tal peruca em cena, numa peça que contava a vida do herói negro Zumbi. Naquele dia, ela abandonou o acessório que jamais voltaria a usar.
- O dia que tirei aquela peruca foi como um batismo simbólico. Foi um alívio ter me assumido. Uma mudança tão forte que mudou não só a minha cara, mas a minha postura. Percebi que era o orgulho da raça que fazia os negros americanos bonitos – diz Zezé.
Não seria exagero afirmar que a experiência de Zezé era exceção à regra na década de 70. Mas o orgulho da raça negra começa a surgir nas estatísticas. Dados do Censo mostram que a população que diz se considerar negra cresceu de 5% para 6,2% em dez anos. Para os técnicos do IBGE, os números indicariam menos o crescimento demográfico dos negros do que a mudança de comportamento. No mesmo período, a quantidade de pardos caiu no país: de 42,6% em 1999 para 39,1% em 2000. Muitos que se enquadravam nessa categoria há dez anos teriam se assumido como negros. A maioria da população se considera branca: 53,7%. Os amarelos são 0,5% e os indígenas 0,4%.
Foi na Bahia que a população negra mais cresceu, ou mais se assumiu: aumentou 30% em uma década (de 1,2 milhão em 1991, que representava 10% da população baiana, para 1,7 milhão em 2000, ou 13% do total). É lá onde está o maior número de pessoas que se declaram negras ou pardas: 75,7% somadas. No outro extremo, está Santa Catarina, onde os brancos são 90,6%.”ReferênciaGazeta do Povo. Retratos do Brasil: Raça. 30 maio 2002. p.10
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