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1 O LIVRO DOS MÉDIUNS ALLAN KARDEC Tradução de J. HERCULANO PIRES

OLivrodosMediunsJHP

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  • 1O LIVRO DOS MDIUNSALLAN KARDEC

    Traduo de J. HERCULANO PIRES

  • 2(ESPIRITISMO EXPERIMENTAL)

    O LIVRO DOS MDIUNS(Guia dos Mdiuns e dos Doutrinadores)

    ALLAN KARDEC

    Contm o ensino especial dos Espritos sobre a teoria de todos os gneros demanifestaes, os meios de comunicao com o Mundo Invisvel, o desenvolvimento da

    mediunidade, as dificuldades e os escolhos que se podem encontrar na prtica doEspiritismo.

    Continuao de O LIVRO DOS ESPRITOS

    (Revista e corrigida com a ajuda dos Espritos, e acrescida de numerosas instruesnovas, dadas na poca a Allan Kardec)

    Contm 274 notas de rodap feitas pelo tradutor

    Traduo da segunda edio Francesa deDIDIER ET CIE. LIBRAIRES-DITEURS

    Paris, 1862

    porJ. HERCULANO PIRES

    LAKE - Livraria Allan Kardec Editora (Instituio Filantrpica)Rua Assuno, 45 - Brs - CEP 03005-020

    Tel.: (011) 3229-1227 3229-0526 3227-1396 3229-0937 3229-4592 e 3229-0514

    Fax: (011) 3229-0935 3227-5714So Paulo - Brasil

  • 323. Edio - Do 282 ao 301 milheirosOutubro - 2004Nota: A LAKE uma entidade sem fins lucrativos, cuja diretoria no possui remunerao.Capa: Christof GunkelFoto: RobTtulo do original em francs: L Livre ds Mdiums (Paris, 1861) Registro: N" 20.297 da Seco de DireitosAutorais da Biblioteca Nacional, do M.E.C.ISBN: 85-7360-041-1

    LAKE - Livraria Allan Kardec Editora(Instituio Filantrpica)Rua Assuno, 45 - Brs - CEP 03005-020Tel.: (011)3229-1227 3229-0526 3227-1396 3229-0937 3229-4592 e 3229-0514Fax: (011) 3229-0935 3227-5714E-mail: [email protected] http://www.lake.com.brSo Paulo - BrasilFundada em 30/10/1936CNPJ n 00.351.779/0001-90 e l.E. n 114.216.289.118

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) (Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Kardec, Allan (1804-1869)O Livro dos Mdiuns e dos Doutrinadores/Allan Kardec: traduo da 2. edio francesapor J. Herculano Pires. So Paulo - LAKE, 2004."Contm o ensino especial dos Espritos sobre a teoria de todos os gneros de manifestao, os meios decomunicao com o mundo invisvel, o desenvolvimento da mediunidade, as dificuldades e os escolhos que sepodem encontrar na prtica do Espiritismo."I. Espiritismo 2. Mdiuns - l. Pires, J. Herculano, 1914-1979II. Ttulo: Espiritismo Experimental82.0874 C D D133.91

    ndices para Catlogo Sistemtico:1. Comunicao Medinica: Espiritismo 133.912. Espiritismo 133.93. Mediunidade: Espiritismo 133.91

  • 4NDICE

    ExplicaoIntroduo

    Primeira Parte - NOES PRELIMINARES

    Captulo l: Existem Espritos?Captulo II: O Maravilhoso e o SobrenaturalCaptulo III: MtodoCaptulo IV: Sistemas

    Segunda Parte - DAS MANIFESTAES ESPRITAS

    Captulo l: Ao dos Espritos sobre a Matria

    Captulo II: Manifestaes Fsicas e Mesas Girantes

    Captulo III: Manifestaes Inteligentes

    Captulo IV: Teoria da Manifestaes Fsicas

    Captulo V: Manifestaes Fsicas EspontneasO Fenmeno de Transporte

    Captulo VI: Manifestaes VisuaisEnsaio Terico Sobre as ApariesTeoria da Alucinao

    Captulo VIl: Bicorporeidade e Transfigurao

    Captulo VIII: Laboratrio do Mundo Invisvel

    Captulo IX: Locais Assombrados

    Captulo X: Natureza das Comunicaes

    Captulo XI: Sematologia e Tiptologia

    Captulo XII: Pneumatografia ou Escrita Direta-PneumatofoniaEscrita DiretaPneumatofonia

    Captulo XIII: Psicografia

    Capitulo XIV: Os MdiunsMdiuns de Efeitos FsicosMdiuns Sensitivos ou ImpressionveisMdiuns AudientesMdiuns FalantesMdiuns VidentesMdiuns SonmbulosMdiuns CuradoresMdiuns Pneumatgrafos

  • 5Captulo XV: Mdiuns Escreventes ou PsicgrafosMdiuns MecnicosMdiuns IntuitivosMdiuns SemimecnicosMdiuns InspiradosMdiuns de Pressentimentos

    Captulo XVI: Mdiuns EspeciaisAptides especiais dos mdiunsQuadro sinpticoVariedades de Mdiuns Escreventes

    Captulo XVII: Formao dos MdiunsDesenvolvimento da MediunidadeMudana de CaligrafiaPerda e Suspenso da Mediunidade

    Captulo XVIII: Inconvenientes e Perigos da Mediunidade

    Captulo XIX: Papel do Mdium nas Comunicaes

    Captulo XX: Influncia Moral do Mdium

    Captulo XXI: Influncia do Meio

    Captulo XXII: Da Mediunidade nos Animais

    Captulo XXIII: Da Obsesso

    Captulo XXIV: Identidade dos EspritosAs Provas Possveis de IdentidadeComo Distinguir os Espritos Bons e Maus

    Captulo XXV: Das EvocaesConsideraes GeraisEspritos que Podem ser EvocadosLinguagem a Usar com os EspritosUtilidade das Evocaes Vulgares

    Captulo XXVI: Perguntas que se podem fazerObservaes Preliminares

    Captulo XXVII: Contradies e MistificaesDas ContradiesDas Mistificaes

    Captulo XXVIII: Charlatanismo e PrestidigitaoMdiuns InteresseirosAs Fraudes Espritas

    Captulo XXIX: Reunies e SociedadesReunies em GeralSociedades Propriamente DitasAssuntos de EstudosRivalidades Entre as Sociedades

  • 6Captulo XXX: RegulamentoFins e Constituio da SociedadeDa AdministraoDas SessesDisposies Diversas

    Captulo XXXI: Dissertaes EspritasSobre o EspiritismoSobre os MdiunsSobre as Sociedades EspritasComunicaes Apcrifas

    Captulo XXXII: Vocabulrio Esprita

  • 7EXPLICAOEste o segundo volume da Codificao do Espiritismo. Logo aps a publicao de O Livrodos Espritos, obra bsica da doutrina, em 1857, Kardec lanou, em 58, um livrinho intituladoInstrues Prticas Sobre as Manifestaes Espritas. Era um ensaio para elaborao de OLivro dos Mdiuns, que s pde aparecer em 1861. Publicado este, Kardec suprimiu aquele.Apesar disso, 62 anos mais tarde, em 1923, Jean Meyer, ento diretor da Casa dos Espritas,resolveu reeditar o Instrues, para circular juntamente com este livro, por considerar aquelelivrinho til iniciao nas questes medinicas. No Brasil, Cairbar Schutel, em sua grfica deMato, lanou tambm o Instrues em nossa lngua.

    A finalidade deste livro desenvolver a parte prtica da doutrina, em seqncia exposioterica do livro bsico. Por isso Kardec o considerou "continuao de O Livro dos Espritos",como se v no frontispcio. Mesmo porque, segundo declara na Introduo, este livro tambmpertence aos Espritos. Foram eles que o orientaram na sua elaborao, eles que o reviram emodificaram inteiramente para a segunda edio de 1862, que ficou sendo a definitiva e queserviu para esta traduo.

    Apesar de escrito h cento e tantos anos, O Livro dos Mdiuns atualssimo. Nenhuma outraobra, esprita ou no, sobre a fenomenologia medinica, conseguiu super-lo. um tratadoque tem por fundamento a pesquisa cientfica e a experincia, alm da contribuio terica dosEspritos na explicao de vrios problemas ainda inacessveis pesquisa cientfica. Essasexplicaes s eram aceitas por Kardec na medida da sua racionalidade, de acordo com omtodo de controle rigoroso que estabeleceu para o seu trabalho. Esse mtodo explicadoneste livro e pode ser examinado em mincias nos relatrios e registros de sesses publicadasna Revista Esprita.

    As teorias explicativas dos fenmenos, formuladas por Kardec com os dados de suainvestigao e a contribuio dos Espritos, permanecem ainda como as mais viveis. Bastaum confronto entre essas teorias e as formuladas pelos parapsiclogos atuais para se verificara solidez das primeiras, at hoje nunca desmentidas, e a fragilidade das segundas. Umexemplo tpico a teoria das aparies, que na atual Parapsicologia constitui um emaranhadode suposies curiosas e nada mais, enquanto neste livro se apresenta fundada em pesquisas,observaes, dedues rigorosas e explicaes dadas por numerosas entidades espirituais emocasies diversas, por meios diversos e com todas as provas de seriedade e coernciaexigidas pelo mtodo kardeciano.

    Kardec e os Espritos insistem numa posio ainda pouco compreendida pelos prpriosespritas: a Cincia Esprita teve como vestbulo as manifestaes fsicas, mas sua finalidade moral e suas pesquisas devem desenvolver-se nesse sentido. Provada a sobrevivnciaespiritual e a comunicabilidade, o Espiritismo deve aprofundar-se na investigao dosprocessos de comunicao, da situao dos Espritos aps a morte, das leis que regulam asrelaes permanentes entre os Espritos e os homens e suas conseqncias nesta vida, eassim por diante.

    O leitor deve encarar este livro, portanto, como um tratado superior de fenomenologia para-normal, em que a fase metapsquica e parapsicolgica de pesquisa material esto superadas.O Livro dos Mdiuns apresenta a soluo dos problemas em que ainda se enredam aspesquisas atuais e convida os estudiosos a avanarem alm. Mas tudo isso com critrio emtodos cientficos, segundo o prprio Richet o reconheceu ao se referir a Kardec no Tratadode Metapsquica.

  • 8O problema est assim colocado: as pesquisas espritas no se prendem aos fenmenos emsi, ao mundo fenomnico ou material, e por isso mesmo exigem mtodos diferentes dosutilizados nas cincias fsicas. Kardec compreendeu isso em pleno sculo XIX e elaborou omtodo especial que lhe permitiu avanar sobre seu tempo. A prova disso que toda apesquisa metapsquica e parapsicolgica nada mais conseguiu, at agora, no tocante aosresultados positivos, do que referendar as teorias deste livro. Para ajudar o leitor e o estudantea verificarem isso, o presente volume apresenta grande quantidade de notas de p de pginacom indicaes bibliogrficas.

    J. Herculano Pires

  • 9INTRODUODiariamente a experincia confirma a nossa opinio de que as dificuldades e desilusesencontradas na prtica esprita decorrem da ignorncia dos princpios doutrinrios. Sentimo-nos felizes ao verificar que foi eficiente o nosso trabalho para prevenir os adeptos para osperigos do aprendizado, e que muitos puderam evit-los, com a leitura atenta desta obra.

    Muito natural o desejo dos que se dedicam ao Espiritismo, de entrarem pessoalmente emcomunicao com os Espritos. Esta obra destina-se lhes facilitar isso, permitindo-lhesaproveitar os frutos de nossos longos e laboriosos estudos. Pois bem errado andaria quemjulgasse que, para tornar-se perito no assunto, bastaria aprendera pr os dedos numa mesapara faz-la girar ou pegar um lpis para escrever.

    Igualmente se enganaria quem pensasse encontrar nesta obra uma receita universal infalvelpara fazer mdiuns. Embora cada qual j traga em si mesmo os germes das qualidadesnecessrias, essas qualidades se apresentam em graus diversos, e o seu desenvolvimentodepende de causas estranhas vontade humana. No fazemos poetas, nem pintores oumsicos com as regras dessas artes, que servem apenas para orientar os dons de quempossui os respectivos talentos. Sua finalidade indicar os meios de desenvolvimento damediunidade em quem a possui, segundo as possibilidades de cada um, e, sobretudo orientaro seu emprego de maneira proveitosa. Mas no esse o nosso nico objetivo.

    Aumenta todos os dias, ao lado dos mdiuns, o nmero de pessoas que se dedica amanifestaes espritas. Orient-las nas suas observaes, apontar-lhes as dificuldades quecertamente encontraro, ensinar-lhes a maneira de se comunicarem com os Espritos, obtendoboas comunicaes, o que tambm devemos fazer para completar o nosso trabalho.Ningum estranhe, pois, se encontrar ensinamentos que podero parecer descabidos. Aexperincia mostrar que so teis. O estudo atencioso deste livro facilitar a compreensodos fatos a observar. A linguagem de certos Espritos parecer menos estranha. Comoinstruo prtica ele no se dirige exclusivamente aos mdiuns, mas a todos que queremobservar os fenmenos espritas.

    Desejariam alguns que publicssemos um manual prtico mais sucinto, indicando em poucaspalavras como entrar em comunicao com os Espritos. Entendem que um livrinho assim,mais barato, podendo ser difundido com mais profuso, seria poderoso meio de propaganda,multiplicando o nmero de mdiuns. Pensamos que isso seria mais nocivo que til, pelo menosno momento. A prtica esprita difcil, apresentando escolhos que somente um estudo srio ecompleto pode prevenir. Uma exposio sucinta poderia facilitar experincias levianas, quelevariam a decepes. So coisas com as quais no se deve brincar, e acreditamos que seriainconveniente p-las ao alcance de qualquer estouvado que inventasse conversar com osmortos. Dirigimo-nos aos que vem no Espiritismo um objetivo srio, compreendendo toda asua gravidade, e no pretendem brincar com as comunicaes do outro mundo.

    Chegamos a publicar uma Instruo Prtica para os mdiuns, que se encontra esgotada.Fizemo-la com objetivo srio e grave, mas apesar disso no a reimprimiramos, pois j nocorresponde necessidade de esclarecimento completo das dificuldades que podem serencontradas. Preferimos substitu-la por esta, em que reunimos todos os dados de uma longaexperincia e de um estudo consciencioso. Ela contribuir, esperamos, para mostrar cartersrio do Espiritismo, que a essncia, e para afastar a idia e frivolidade e divertimento.

    Acrescentaremos uma importante considerao: a de que as experincias feitas comleviandade, sem conhecimento de causa, provocam pssimas impresses nos principiantes ou

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    pessoas mal preparadas, tendo o inconveniente de dar uma idia bastante falsa do mundo dosEspritos, favorecendo a zombaria e dando motivos a crticas quase sempre bem fundadas. por isso que os incrdulos saem dessas reunies raramente convencidos e pouco dispostos areconhecerem o aspecto srio do Espiritismo. A ignorncia e a leviandade de certos mdiunstm causado maiores prejuzos do que se pensa na opinio de muita gente.

    Vem progredindo bastante o Espiritismo, desde alguns anos, mas o seu maior progresso severifica depois que entrou no rumo filosfico, porque despertou a ateno de pessoasesclarecidas. Hoje no mais uma diverso, mas uma doutrina de que no riem os quezombavam das mesas-girantes. Esforando-nos por sustent-lo nesse terreno, estamos certosde conquistar adeptos mais teis do que atravs de manifestaes levianas. Temos a provadisso todos os dias, pelo nmero de adeptos resultante da simples leitura de O LIVRO DOSESPRITOS.

    Depois da exposio do aspecto filosfico da cincia esprita em O LIVRO DOS ESPRITOS,damos nesta obra a sua parte prtica, para aqueles que desejarem ocupar-se dasmanifestaes, seja pessoalmente, seja pela observao de experincias alheias. Vero aquios escolhos que podero encontrar e estaro em condies de evit-los. Essas duas obras,embora se completem, so at certo ponto independentes uma da outra. Mas a quem quisertratar seriamente do assunto, recomendamos primeiramente a leitura de O LIVRO DOSESPRITOS, porque contm os princpios fundamentais, sem os quais talvez seja difcil acompreenso de algumas partes desta obra.

    Esta segunda edio foi bem melhorada, apresentando-se mais completa do que a primeira.Foi corrigida com especial cuidado pelos Espritos, que lhe acrescentaram grande nmero deobservaes e instrues do mais alto interesse. Como eles reviram tudo, aprovando oumodificando vontade, podemos dizer que ela , em grande parte, obra deles. Mesmo porqueno se limitaram a intervir em algumas comunicaes assinadas. S indicamos os nomes,quando isso nos pareceu necessrio para caracterizar algumas exposies mais extensas,como feitas textualmente por eles. De outra maneira, teramos de mencion-los quase em cadapgina, particularmente nas respostas dadas as nossas perguntas, o que nos pareceu intil. Osnomes pouco importam, como se sabe, neste assunto. O essencial que o trabalhocorresponda, no seu conjunto, aos objetivos propostos. Esperamos assim que esta edio,mais perfeita que a primeira, seja to bem recebida como aquela.

    Como acrescentamos muitas coisas, e muitos captulos inteiros, assim tambm suprimimosalguns trechos repetidos, como o da ESCALA ESPRITA, que j se encontra em O LIVRO DOSESPRITOS. Suprimimos ainda do vocabulrio o que no se refere propriamente a esta obra,substituindo-o por coisas mais teis. Esse vocabulrio, alis, no est completo, epretendemos public-lo mais tarde, em separado, na forma de um pequeno dicionrio dafilosofia esprita. Conservamos nesta obra, to somente, as palavras novas ou especficas,relativas ao assunto de que nos ocupamos. (1)

    (1) A segunda edio, que serviu para esta traduo, constitui o texto definitivo do livro. As caractersticas que se notam entreeste final do prefcio e o das nossas de mais tradues de O Livro dos Mdiuns decorrem de modificaes nas ediesfrancesas posteriores morte de Kardec. de particular interesse doutrinrio a referncia do Codificador ao seu desejo depublicar um Pequeno Dicionrio da Filosofia Esprita, obra que continua a fazer falta na bibliografia doutrinria. (N. do T.)

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    PRIMEIRA PARTE

    Noes PreliminaresCAPTULO l

    EXISTEM ESPRITOS?1. A causa principal da dvida sobre a existncia dos Espritos a ignorncia da suaverdadeira natureza. Imaginam-se os Espritos como seres parte na Criao, sem nenhumaprova da sua necessidade. Muitas pessoas s conhecem os Espritos atravs das estriasfantasiosas que ouviram em crianas, mais ou menos como as que conhecem Histria pelosromances. No procuram saber se essas estrias, desprovidas do pitoresco, podem revelar umfundo verdadeiro, ao lado do absurdo que as choca. No se do ao trabalho de quebrar acasca da noz para descobrir a amndoa. Assim, rejeitam toda a estria, como fazem osreligiosos que, chocados por alguns abusos, afastam-se da religio.

    Seja qual for a idia que se faa dos Espritos, a crena na sua existncia decorrenecessariamente do fato de haver um princpio inteligente no Universo, alm da matria. Essacrena incompatvel com a negao absoluta do referido princpio. Partimos, pois, daaceitao da existncia, sobrevivncia e individualidade da alma, de que o Espiritualismo emgeral nos oferece a demonstrao terica dogmtica, e o Espiritismo a demonstraoexperimental. Mas faamos, por um instante, abstrao das manifestaes propriamente dita, eraciocinemos por induo. Vejamos a que consequncias chegaremos.

    2. Admitindo a existncia da alma e da sua individualidade aps a morte, necessrio admitirtambm: 1.) Que a sua natureza diferente da corprea, pois ao separar-se do corpo ela noconserva as propriedades materiais; 2) Que ela possui conscincia prpria, pois lhe atribumosa capacidade de ser feliz ou sofredora, e que tem de ser assim, pois do contrrio ela seria umser inerte e de nada nos valeria a sua existncia. Admitindo isso, claro que a alma ter de irpara algum lugar. Mas para onde vai, e que feito dela? Segundo a crena comum, ela vaipara o Cu ou para o Inferno. Mas onde esto o Cu e o Inferno? Dizia-se antigamente que oCu estava no alto e o Inferno embaixo. Mas que o alto e o baixo no Universo, desde quesabemos que a Terra redonda; que os astros giram, de maneira que o alto e o baixo serevezam cada doze horas para ns; e conhecemos o infinito do espao, no qual podemosmergulhar a distncias incomensurveis?

    verdade que podemos entender por lugares baixos as profundezas da Terra. Mas que sohoje essas profundezas, depois das escavaes geolgicas? Que so, tambm, essas esferasconcntricas chamadas cu de fogo, cu de estrelas, depois que aprendemos no ser o nossoplaneta o centro do Universo, e que o nosso prprio Sol nada mais do que um entre milhesde sis que brilham no infinito, sendo cada qual o centro de um turbilho planetrio? Que foifeito da antiga importncia da Terra, agora perdida nessa imensidade? E por que estranhomotivo este imperceptvel gro-de-areia, que no se distingue pelo seu tamanho, nem pela suaposio, nem por qualquer papel particular no cosmo, seria o nico povoado de seresracionais? A razo se recusa a admitir essa inutilidade do Infinito, e tudo nos diz que essesmundos tambm so habitados. E se assim eles tambm fornecem, os seus contingentespara o mundo das almas. Ento, voltamos pergunta: em que se tomam as almas, depois damorte do corpo, e para onde vo? A Astronomia e a Geologia destruram as suas antigasmoradas, e a teoria racional da pluralidade dos mundos habitados multiplicou-as ao infinito.No havendo concordncia entre a doutrina da localizao das almas e os dados das cincias,

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    temos de aceitar uma doutrina mais lgica, que no lhes marca este ou aquele lugarcircunscrito, mas d-lhes o espao infinito: todo um mundo invisvel que nos envolve e nomeio do qual vivemos, rodeados por elas.

    H nisso alguma impossibilidade, qualquer coisa que repugne razo? Nada, absolutamente.Tudo nos diz, pelo contrrio, que no pode ser de outra maneira. Mas em que se transformamas penas e recompensas futuras, se as almas no vo para determinado lugar? V-se que aidia dessas penas e recompensas absurda, e que d motivo incredulidade. Masentendemos que as almas, em vez de penarem ou gozarem em determinado lugar, carregamem seu ntimo, a felicidade ou a desgraa, pois a sorte de cada uma depende de sua condiomoral, e que a reunio das almas boas e afins um motivo de felicidade, e tudo se tornarmais claro. Compreendamos que, segundo o seu grau de pureza, elas percebem e tm visesinacessveis, s mais grosseiras; que somente pelos esforos que fazem para se melhorarem,e depois das provas necessrias, podem atingir os graus mais elevados; que os anjos so asalmas humanas que chegaram ao grau supremo e que todos podem chegar at l, atravs daboa vontade; que os anjos so os mensageiros de Deus, incumbidos de zelar pela execuode seus desgnios em todo o Universo, sendo felizes com essa misso gloriosa; e a felicidadede aps morte ser uma condio til e aceitvel, mais atraente que a inutilidade perptua dacontemplao eterna. E os demnios? Compreendamos que so almas das criaturas ms,ainda no depuradas, mas que podem chegar, como as outras, ao estado de pureza, e ajustia e a bondade de Deus se tornaro racionais, ao contrrio do que nos apresenta adoutrina dos seres criados para o mal de maneira irrevogvel. Eis, afinal, o que a mais exigenterazo, a lgica mais rigorosa, o bom senso, numa palavra, podem admitir.

    Como vemos, as almas que povoam o espao so precisamente o que chamamos deEspritos. Assim, os Espritos so apenas as almas humanas, despojadas do seu invlucrocorporal. Se os Espritos fossem seres parte na Criao, sua existncia seria mais hipottica.Admitindo a existncia das almas, temos de admitir a dos Espritos, que nada mais so do queas almas. E se admitimos que as almas esto por toda parte, necessrio admitir que osEspritos tambm esto. No se pode, pois, negar a existncia dos Espritos sem negar a dasalmas.

    3. Tudo isto no passa de uma teoria mais racional do que a outra. Mas j no bastante seruma teoria que a razo e a cincia no contradizem? Alm disso, ela corroborada pelos fatose tem a sano da lgica e da experincia. Encontramos os fatos nos fenmenos demanifestaes espritas, que nos do a prova positiva da existncia e da sobrevivncia daalma. H muita gente, porm, que nega a possibilidade dessas comunicaes com osEspritos. So pessoas que acreditam na existncia da alma, e conseqentemente na dosEspritos, mas sustentam a teoria de que os seres imateriais no podem agir sobre a matria.Trata-se de uma dvida originada pela ignorncia da verdadeira natureza dos Espritos, da qualgeralmente se faz uma idia falsa, considerando-os seres abstratos, vagos e indefinidos, queno verdade.

    Consideremos o Esprito, antes de tudo, na sua unio com o corpo. O Esprito o elementoprincipal dessa unio, pois o ser pensante e que sobrevive morte. O corpo no maisque um acessrio do Esprito, um invlucro, uma roupagem que ele abandona depois de usar.Alm desse envoltrio material o Esprito possui outro, semi-material, que o liga ao primeiro. Namorte, o Esprito abandona o corpo, mas no o segundo envoltrio, a que chamamos deperisprito. Este envoltrio semi-material que tem a mesma forma humana do corpo, umaespcie de corpo fludico, vaporoso, invisvel para ns no seu estado normal, mas possuindoainda algumas propriedades da matria. (1)

    No podemos, pois, considerar o Esprito como uma simples abstrao, mas como um ser

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    limitado e circunscrito, a que s falta ser visvel e palpvel para assemelhar-se s criaturashumanas. Por que no poderia ele agir sobre a matria? Pelo fato de ser fludico o seu corpo?Mas no entre os fluidos mais rarefeitos, como a eletricidade, por exemplo, e os que seconsideram mais imponderveis, que encontramos as mais poderosas foras motoras? A luzimpondervel no exerce ao qumica sobre a matria pondervel? No conhecemos ainda anatureza ntima do perisprito, mas podemos supor o constitudo de substncia eltrica, ou deoutra espcie de matria to sutil como essa. Por que, separado, no poderia agir da mesmamaneira, dirigido pela vontade? (2)

    4. A existncia de Deus e da alma, conseqncia uma da outra, constitui a base de todo oedifcio do Espiritismo. Antes de aceitarmos qualquer discusso esprita, temos de assegurar-nos se o interlocutor admite essa base. Se ele responder negativamente s perguntas: "Crem Deus? Cr na existncia da alma? Cr na sobrevivncia da alma aps a morte?" ouse responder simplesmente: "No sei; desejava que fosse assim, mas no estou certo" quegeralmente equivale a uma negao delicada, disfarada para no chocar bruscamente o queele considera preconceitos respeitveis, seria intil prosseguir. Seria como quererdemonstrar as propriedades da luz a um cego que no admitisse a existncia da luz. Asmanifestaes espritas so os efeitos das propriedades da alma. Assim, com semelhanteinterlocutor, se no quisermos perder tempo, s nos resta seguir outra ordem de idias.Admitidos os princpios bsicos, no apenas como probabilidade, mas como coisaaveriguada, incontestvel, a existncia dos Espritos ser uma decorrncia natural.

    5. Resta saber se o Esprito pode comunicar-se com o homem, permutar pensamentos com osencarnados. Mas por que no? Que o homem, seno um Esprito revestido de corpomaterial? Qual o motivo por que um Esprito livre no poderia comunicar-se com um Espritocativo, como o homem livre se comunica com o prisioneiro? Admitida a sobrevivncia da alma,seria racional negar-se a sobrevivncia das suas afeies? Desde que as almas esto por todaparte, no natural pensar que a de algum que nos amou durante a vida venha procurar-nosdesejando comunicar-se conosco, e se utilize dos meios que esto ao seu dispor? Quando vivana Terra, no agia ela sobre a matria do seu corpo? No era ela, a alma, que dirigia osmovimentos corporais? Por que, pois, no poderia ela, aps a morte, servir-se de outro corpo,de acordo com o Esprito nele encarnado, para manifestar o seu pensamento, como um mudose serve de uma pessoa que fala, para fazer-se compreender?

    6. Afastemos por um instante os fatos que consideramos incontestveis. Admitamos acomunicao como simples hiptese. Solicitamos aos incrdulos que nos provem, atravs derazes decisivas, que ela impossvel. No basta a simples negao, pois seu arbtrio pessoalno lei. Colocamo-nos no seu prprio terreno, aceitando a apreciao dos fatos espritasatravs das leis materiais. Que eles assim possam tirar, do seu arsenal cientfico, alguma provamatemtica, fsica, qumica, mecnica,fisiolgica, demonstrando por a mais b, sempre a partirdo princpio da existncia e da sobrevivncia da alma, que:

    1.) Ser pensante durante a vida terrena no deve mais pensar depois da morte;2.) Se ele pensa, no deve mais pensar nos que amou;3.) Se pensa nos que amou, no deve querer comunicar-se com eles;4.) Se pode estar em toda parte, no pode estar ao nosso lado;5.) Se est ao nosso lado, no pode comunicar-se conosco;6.) Por meio do seu corpo fludico, no pode agir sobre a matria inerte;7.) Se pode agir sobre a matria inerte, no pode agir sobre um ser vivo;8.) Se pode agir sobre um ser vivo, no pode dirigir-lhe a mo para faz-lo escrever;9.) Podendo faz-lo escrever, no pode responder-lhe s perguntas nem lhetransmitir pensamento.

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    Quando os adversrios do Espiritismo nos demonstrarem que isso tudo no possvel, atravsde razes to evidentes como as de Galileu para provar que o Sol no girava em torno daTerra, ento poderemos dizer que as suas dvidas so fundadas. Mas at hoje,infelizmente, toda a sua argumentao se resume nestas palavras: No creio nisso, porque impossvel. Eles retrucaro, sem dvida, que cabe a ns provara realidade das manifestaes.J lhes demos as provas, pelos fatos e pelo raciocnio; se recusam umas e outras, e se negamat mesmo o que vem, cabe a eles provar que os fatos so impossveis e que o nossoraciocnio falso.

    (1) O apstolo Paulo, como podemos ver na l Epstola aos Corintios, chama o perisprito de corpo espiritual, que o corpo daressurreio. As investigaes cientficas da Metapsquica e da Parapsicologia tiveram tambm de enfrentar, malgrado omaterialismo dos pesquisadores, a existncia desse corpo semi-material. (N. do T.)

    (2) Alm das aes qumico-fsicas dos elementos imponderveis, a Parapsicologia moderna provou, em experincias delaboratrio, a ao da mente sobre a matria. O prof. Joseph Banks Rhine, da Duke University, Estados Unidos, chegou concluso de que a mente no fsica, mas age por via-exfrafsica, sobre o mundo material. Os parapsiclogos soviticos,materialistas, comprovaram a ao mental sobre a matria, afirmando que o crtex cerebral deve possuir uma energia materialainda no conhecida pelas cincias. (N. do T.)

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    CAPTULO II

    O MARAVILHOSO E O SOBRENATURAL7. Se a crena nos Espritos e nas suas manifestaes fosse uma concepo isolada, oproduto de um sistema, poderia com certa razo ser suspeita de ilusria. Mas quem nos diriaento porque ela se encontra to viva entre todos os povos antigos e modernos, nos livrossantos de todas as religies conhecidas? Isso, dizem alguns crticos, porque o homem, emtodos os tempos, teve amor ao maravilhoso.

    - Mas que o maravilhoso, segundo vs? - Aquilo que sobrenatural. - E que entendeis porsobrenatural? - O que contrrio s leis da Natureza. - Ento conheceis to bem essas leisque podeis marcar limites ao poder de Deus? Muito bem! Provai ento que a existncia dosEspritos e suas manifestaes so contrrias s leis da Natureza; que elas no so e nopodem ser uma dessas leis. Observai a Doutrina Esprita e vereis se no seu encadeamentoelas no apresentam todas as caractersticas de uma lei admirvel, que resolve tudo o que osprincpios filosficos at agora no puderam resolver.

    O pensamento um atributo do Esprito. A possibilidade de agir sobre a matria, deimpressionar os nossos sentidos e, portanto de transmitir-nos o seu pensamento, umaconseqncia, podemos dizer, da sua prpria constituio fisiolgica. No h, pois, nesse fato,nada de sobrenatural, nada de maravilhoso. (1) Mas que um homem morto e bem morto possaressuscitar corporalmente, que os seus membros dispersos se renam para restabelecer-lhe ocorpo, eis o que maravilhoso, sobrenatural, fantstico. Isso, sim, seria uma verdadeiraderrogao, que Deus s poderia fazer atravs de um milagre. Mas no h nada desemelhante na Doutrina Esprita.

    8. No obstante, diro, admitis que um Esprito possa elevar uma mesa e sustent-la noespao sem um ponto de apoio. Isso no uma derrogao da lei da gravidade? - Sim, da leiconhecida; mas a Natureza j vos disse a ltima palavra? Antes das experincias com a foraascensional de certos gases quem diria que uma pesada mquina, carregando muitos homens,poderia vencer a fora de atrao? Aos olhos do vulgo, isso no deveria parecer maravilhoso,diablico? Aquele que se propusesse a transmitir, h um sculo, uma mensagem a quinhentaslguas de distncia e obter a resposta em alguns minutos passaria por louco. Se o fizesse,acreditariam que tinha o Diabo s suas ordens, pois ento s o Diabo era capaz de andar toligeiro. Por que, pois, um fluido desconhecido no poderia, em dadas circunstncias,contrabalanarem o efeito da gravidade, como o hidrognio contrabalana o peso do balo?Isto note de passagem, apenas uma comparao, feita unicamente para mostrar, poranalogia, que o fato no fisicamente impossvel. No se trata de identificar uma coisa outra.Ora, foi precisamente quando os sbios, ao observarem estas espcies de fenmenos,quiseram proceder por identificao, que acabaram se enganando a respeito. De resto, o fatoexiste e todas as negaes no poderiam destru-lo, porque negar no provar. Para ns, noh nada de sobrenatural e tudo quanto podemos dizer por agora.

    9. Se o fato est provado, diro, ns o aceitamos. E aceitamos at mesmo a causa que lheatribuis, ou seja, a de um fluido desconhecido. Mas quem prova a interveno dos Espritos? nisso que est o maravilhoso, o sobrenatural.

    Seria necessrio, neste caso, toda uma demonstrao que no seria cabvel e constituiria,alis, uma redundncia, porque ela ressalta de todo o ensino. Entretanto, para resumi-la emduas palavras, diremos que teoricamente ela se funda neste princpio: todo efeito inteligentedeve ter uma causa inteligente. Praticamente: sobre a observao de que os fenmenos ditos

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    espritas, tendo dado provas de inteligncia, no podem ter sua causa na matria; que essainteligncia, no sendo a dos assistentes, - o que resultou das experincias - devia serindependente deles; e desde que no se via o ser que os produzia, devia tratar-se de um serinvisvel, ao qual se deu o nome de Esprito, no mais do que a alma dos que viveramcorporalmente e aos quais a morte despojou de seu grosseiro envoltrio visvel, deixando-lhesapenas um envoltrio etreo, invisvel no seu estado normal. Eis, pois, o maravilhoso e osobrenatural reduzidos mais simples expresso. Constatada a existncia dos seres invisveis,sua ao sobre a matria resulta da natureza do seu envoltrio fludico. Esta ao inteligente,porque, ao morrer, eles perderam apenas o corpo, conservando a inteligncia que constitui asua existncia. Esta a chave de todos esses fenmenos considerados erroneamentesobrenaturais. A existncia dos Espritos no decorre, pois, de um sistema preconcebido, deuma hiptese imaginada para explicar os fatos, mas o resultado de observaes e aconseqncia natural da existncia da alma. Negar essa causa negar a alma e os seusatributos. (2) Os que pensarem que podem encontrar para esses efeitos inteligentes umasoluo mais racional, podendo, sobretudo explicar a razo de todos os fatos, queiram faz-lo,e ento poder-se- discutir o mrito de ambas. (3)

    10. Aos olhos daqueles que vem na matria a nica potncia da Natureza, tudo o que nopode ser explicado pelas leis materiais maravilhoso ou sobrenatural e, para eles,maravilhoso sinnimo de superstio. Dessa maneira a religio, que se funda na existnciade um princpio imaterial, um tecido de supersties. Eles no ousam diz-lo em voz alta,mas o dizem baixinho. E pensam salvar as aparncias ao conceber que necessria umareligio para o povo e para tornar as crianas acomodadas. Ora, de duas, uma: ou o princpioreligioso verdadeiro ou falso. Se for verdadeiro, o para todos; se falso no melhorpara os ignorantes do que para os esclarecidos.

    11. Os que atacam o Espiritismo em nome do maravilhoso se apiam, portanto, em geral, noprincpio materialista, desde que negando todo efeito de origem extramaterial, negamconseqentemente a existncia da alma. Sondai o futuro de seu pensamento, perscrutai osentido de suas palavras e encontrareis quase sempre esse princpio que, se no se mostracategoricamente formulado, transparece sob a capa de uma pretensa filosofia moral com queeles se disfaram. Rejeitando como maravilhoso tudo quanto decorre da existncia da alma,eles so, portanto, conseqentes consigo mesmos. No admitindo a causa, no podem admitiro efeito. Da o preconceito que os impede de julgar com iseno o Espiritismo, pois partem danegao de tudo o que no seja material. Quanto a ns, pelo fato de admitirmos os efeitosdecorrentes da existncia da alma, teramos de aceitar todos os fatos qualificados demaravilhosos, teramos de ser os campees dos visionrios, os adeptos de todas as utopias,de todos os sistemas excntricos? Seria necessrio conhecer bem pouco do Espiritismo paraassim pensar. Mas os nossos adversrios no se importam com isso; a necessidade deconhecer aquilo de que falam o que menos lhes interessa.

    Segundo eles, o maravilhoso absurdo; ora, o Espiritismo se apia em fatos maravilhosos;logo, o Espiritismo absurdo: isto para eles um julgamento inapelvel. Crem apresentar umargumento sem resposta quando, aps eruditas pesquisas sobre os convulsionrios de Saint-Mdard, os camisards das Cvennes ou as religiosas de Loudun, chegam descoberta deevidentes trapaas que ningum contesta. Mas essas histrias so, por acaso, o evangelho doEspiritismo? Seus partidrios teriam negado que o charlatanismo explorou alguns fatos emproveito prprio? Que a imaginao os tenha engendrado? Que o fanatismo tenha exagerado amuitos deles? O Espiritismo no mais responsvel pelas extravagncias que se possamcometer em seu nome, do que a verdadeira Cincia pelos abusos da ignorncia ou averdadeira Religio pelos excessos do fanatismo. Muitos crticos s julgam o Espiritismo peloscontos de fadas e pelas lendas populares que so apenas as formas da sua fico. O mesmoseria julgar a Histria pelos romances histricos ou pelas tragdias.

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    12. Na lgica mais elementar, para discutir uma coisa necessrio conhec-la porque aopinio de um crtico s tem valor quando ele fala com conhecimento de causa. Somenteassim, a sua opinio, embora errnea, pode ser levada em considerao. Mas que peso elapode ter, quando emitida sobre matria que ele desconhece? A verdadeira crtica deve darprovas, no somente de erudio, mas de conhecimento profundo do objeto tratado, deiseno no julgamento e de absoluta imparcialidade. A no ser assim, qualquer violeiro poderiase arrogar o direito de julgar Rossini e qualquer pintor de paredes de censurar Rafael.

    13. O Espiritismo no aceita todos os fatos considerados maravilhosos. Longe disso,demonstra a impossibilidade de muitos deles e o ridculo de algumas crenas que constituem,propriamente falando, a superstio. verdade que entre os fatos por ele admitidos h coisasque, para os incrdulos, so inegavelmente do maravilhoso, o que vale dizer da superstio.Que seja. Mas, pelo menos, que limitem a eles a discusso, pois em relao aos outros nadatm que dizer e pregaro no deserto. Criticando o que o prprio Espiritismo refuta, demonstramignorar o assunto e argumentam em vo. Mas at onde vai a crena do Espiritismo,perguntaro. Lede e observai, que o sabereis. A aquisio de qualquer cincia exige tempo eestudo. Ora, o Espiritismo, que toca nas mais graves questes da Filosofia, em todos ossetores da ordem social, que abrange ao mesmo tempo o homem fsico e o homem moral, em si mesmo toda uma Cincia, toda uma Filosofia, que no podem ser adquiridas em apenasalgumas horas. H tanta puerilidade em ver todo o Espiritismo numa mesa girante, como emver toda a Fsica em algumas experincias infantis. Para quem no quiser ficar na superfcie,no so horas, mas meses e anos que ter de gastar para sondar todos os seus arcanos. Quese julgue, diante disso, o grau de conhecimento e o valor da opinio dos que se arrogam odireito de julgar porque viram uma ou duas experincias, quase sempre realizadas comodistrao ou passa-tempo. Eles diro, sem dvida que no dispem do tempo necessrio paraesse estudo. Que seja, mas nada os obriga a isso. E quando no se tem tempo para aprenderuma coisa, no se pode falar dela, e menos ainda julg-Ia, se no se quiser ser acusado deleviandade. Ora, quanto mais elevada a posio que se ocupe na Cincia, menosdesculpvel ser tratar-se levianamente um assunto que no se conhece.

    14. Resumimos nossa opinio nas proposies seguintes:

    1.) Todos os fenmenos espritas tm como princpio a existncia da alma, suasobrevivncia morte do corpo e suas manifestaes;

    2.) Decorrendo de uma lei da Natureza, esses fenmenos nada tm de maravilhoso nemde sobrenatural, no sentido vulgar dessas palavras;

    3.) Muitos fatos so considerados sobrenaturais porque a sua causa no conhecida; aodeterminar-lhes a causa, o Espiritismo os devolve ao domnio dos fenmenos naturais;

    4.) Entre os fatos qualificados de sobrenaturais, o Espiritismo demonstra aimpossibilidade de muitos e os coloca entre as crenas supersticiosas;

    5.) Embora o Espiritismo reconhea um fundo de verdade em muitas crenas populares,ele no aceita absolutamente que todas as estrias fantsticas criadas pela imaginaosejam da mesma natureza;

    6.) Julgar o Espiritismo pelos fatos que ele no admite dar prova de ignorncia edesvalorizar por completo a prpria opinio;

    7.) A explicao dos fatos admitidos pelo Espiritismo, de suas causas e suas

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    conseqncias morais, constituem toda uma Cincia e toda uma Filosofia que exigemestudo srio, perseverante e aprofundado;

    8.) O Espiritismo s pode considerar como crtico srio aquele que tudo viu e estudou,em tudo se aprofundando com pacincia e a perseverana de um observadorconsciencioso; que tenha tanto conhecimento do assunto como adepto mais esclarecido;que no haja, portanto, adquirido seus conhecimentos nas fices literrias da cincia; aoqual no se possa opor nenhum fato por ele desconhecido, nenhum argumento que eleno tenha meditado e que no tenha refutado apenas por meio da negao, mas poroutros argumentos mais decisivos; aquele enfim, que pudesse apontar uma causa maislgica para os fatos averiguados. Esse crtico ainda est para aparecer. (4)

    15. Referimo-nos h pouco palavra milagre; uma breve observao sobre o assunto noestar deslocada num Captulo sobre o maravilhoso.

    Na sua acepo primitiva e por sua etimologia a palavra milagre significa coisa extraordinria,coisa admirvel de ver. Mas essa palavra, como tantas outras, desviou-se do sentido original ehoje se diz (segundo a Academia): de um ato da potncia divina contrrio s leis comuns daNatureza. Essa , com efeito, a sua acepo usual, e s por comparao ou metfora se aplicas coisas vulgares que nos surpreendem e cuja causa desconhecemos. No temosabsolutamente a inteno de examinar se Deus poderia julgar til, em certas circunstncias,derrogar as leis por ele mesmo estabelecidas. Nosso objetivo somente o de demonstrar queos fenmenos espritas, por mais extraordinrios que sejam, no derrogam de maneira algumaessas leis e no tm nenhum carter miraculoso, tanto mais que no so maravilhosos ousobrenaturais. O milagre no tem explicao; os fenmenos espritas, pelo contrrio, soexplicados da maneira mais racional. No so, portanto, milagres, mas, simples efeitos quetm sua razo de ser nas leis gerais. O milagre tem ainda outro carter: o de ser inslito eisolado. Ora, desde que um fato se reproduz, por assim dizer, vontade, e por meio depessoas diversas, no pode ser um milagre.

    A Cincia faz milagres todos os dias aos olhos dos ignorantes: eis porque antigamente os quesabiam mais do que o vulgo passavam por feiticeiros, e como se acreditava que toda cinciasobre-humana era diablica, eles eram queimados. Hoje, que estamos muito mais civilizados,basta envi-los para os hospcios.

    Que um homem realmente morto, como dissemos no incio, seja ressuscitado por umainterveno divina e teremos um verdadeiro milagre, porque isso contrrio s leis daNatureza. Mas se esse homem tem apenas a aparncia da morte, conservando ainda um restode vitalidade latente, e a Cincia ou uma ao magntica consegue reanim-lo, para aspessoas esclarecidas isso um fenmeno natural. Entretanto, aos olhos do vulgo ignorante ofato passar por milagroso e o seu autor ser rechaado a pedradas ou ser venerado,segundo o carter dos circunstantes. Que um fsico solte um papagaio eltrico num meio rural,fazendo cair um raio sobre uma rvore, e esse novo Prometeu ser certamente encarado comodetentor de um poder diablico. Alis, diga-se de passagem, Prometeu nos parece sobretudoum antecessor de Franklin; mas Josu, fazendo parar o Sol, ou antes a Terra, nos daria overdadeiro milagre, pois no conhecemos nenhum magnetizador dotado de tanto poderpara operar esse prodgio.

    De todos os fenmenos espritas, um dos mais extraordinrios indiscutivelmente o da escritadireta, um dos que demonstram da maneira mais evidente a ao das inteligncias ocultas.Mas por ser produzido pelos seres ocultos, esse fenmeno no mais miraculoso do quetodos os demais, tambm devidos a agentes invisveis. Porque esses seres invisveis, quepovoam os espaos, so uma das potncias da Natureza, potncia que age incessantemente

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    sobre o mundo material, to bem como sobre o mundo moral.

    O Espiritismo, esclarecendo-nos a respeito dessa potncia, d-nos a chave de uma infinidadede coisas inexplicadas e inexplicveis por qualquer outro meio, e que em tempos distantespuderam passar como prodgios. Ele revela, como aconteceu com o magnetismo, uma leidesconhecida ou pelo menos mal compreendida; ou, dizendo melhor, uma lei cujos efeitoseram conhecidos, porque produzidos em todos os tempos, mas ela mesma sendo ignorada,isso deu origem superstio. Conhecida essa lei, o maravilhoso desaparece e os fenmenosse reintegram na ordem das coisas naturais. Eis porque os espritas, fazendo mover uma mesaou com que os mortos escrevam, no fazem mais milagres do que o mdico ao reviver ummoribundo ou o fsico ao provocar um raio. Aquele que pretendesse, com a ajuda destaCincia, fazer milagres, seria um ignorante da doutrina ou um trapaceiro.

    16. Os fenmenos espritas, como os fenmenos magnticos, passaram por prodgios antes delhes conhecerem a causa. Ora, os cticos, os espritos fortes, que tm o privilgio exclusivo darazo e do bom senso, no crem naquilo que no podem compreender. Eis porque todos osfatos considerados prodigiosos so objeto de suas zombarias. Como a Religio est cheia defatos desse gnero, eles no crem na Religio, e disso incredulidade absoluta vai apenasum passo. O Espiritismo, explicando a maioria desses fatos, justifica a sua existncia. Vem,portanto, em auxlio da Religio, ao demonstrar a possibilidade de alguns fatos que, por noserem milagrosos, no so menos extraordinrios. E Deus no maior nem menos poderosopor no haver derrogado as suas leis.

    De quantos gracejos no foram objeto as levitaes de So Cupertino! Entretanto, a suspensoetrea dos corpos graves um fato explicado pela lei esprita. Fomos testemunha ocular dessefato, e o sr. Home, alm de outras pessoas nossas conhecidas, repetiram muitas vezes ofenmeno produzido por So Cupertino. Esse fenmeno, portanto, enquadra-se na ordem dascoisas naturais.

    17. No nmero dos fenmenos desse gnero temos de colocar em primeira linha as aparies,que so os mais freqentes. A da Salette, que dividiu o prprio clero, no tem para ns nadade inslito. No podemos afirmar com segurana a realidade do fato, porque no temosnenhuma prova material, mas o consideramos possvel, em vista dos milhares de fatossemelhantes e recentes que conhecemos. Acreditamos neles, no somente porque verificamosa sua realidade, mas, sobretudo porque sabemos perfeitamente como se produzem. Queiramreportar-se teoria das aparies, que damos mais adiante, e vero que esse fenmeno setorna to simples e plausvel como uma infinidade de fenmenos fsicos que s parecemprodigiosos quando no temos a chave de sua explicao.

    Quanto personagem que se apresentou na Salette, outra questo. Sua identidade no nosfoi absolutamente demonstrada. Aceitamos apenas que uma apario possa ter ocorrido; oresto no de nossa competncia. Cada qual pode guardar, a esse respeito, as suasconvices. O Espiritismo no tem de se ocupar com isso. Dizemos apenas que os fatosproduzidos pelo Espiritismo revelam novas leis e nos do a chave de uma infinidade de coisasque pareciam sobrenaturais. Se alguns desses fatos considerados miraculosos encontramassim uma explicao lgica, isso motivo para que no se apressem a negar o que nocompreendem.

    Os fenmenos espritas so contestados por algumas pessoas precisamente porque parecemescapar s leis comuns e no podem ser explicados. Dai-lhes uma base racional e a dvidacessa. A explicao, neste sculo em que ningum se satisfaz com palavras, portanto, umpoderoso motivo de convico. Assim vemos, todos os dias, pessoas que no presenciaramnenhum fato, no viram uma mesa mover-se nem um mdium escrever, e que se tornaram to

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    convictas como ns unicamente porque leram e compreenderam. Se s devssemos crer noque vemos com os nossos prprios olhos, nossas convices seriam reduzidas a bem poucacoisa.

    (1) A Parapsicologia confirma hoje, cientificamente, atravs de pesquisas de laboratrio, a naturalidade desses fenmenos. (N.do T.)

    (2) Hoje, os parapsiclogos chegam a essa mesma concluso: o prof. Rhine afirma que o pensamento extra-fsico e agesobre a matria; os profs. Carington, Soai, Price e outros admitem a ao de mentes desencarnadas na produo dosfenmenos psikapa (efeitos fsicos). (N. do T.)

    (3) O prof. Ernesto Bozzano chama a isto "convergncia das provas", mostrando a necessidade cientifica de uma hipteseexplicar todos os fenmenos da mesma natureza e no apenas alguns deles. (N. do T.)

    (4) Realmente, esse crtico, ainda em nossos dias, est por aparecer. Basta uma rpida leitura dos livros e artigos publicadoshoje contra o Espiritismo, para nos mostrar que a situao no mudou. Cientistas, filsofos, telogos, sacerdotes, pastores eintelectuais, inclusive adeptos de instituies espiritualistas procedentes do antigo Ocultismo, continuam a criticar levianamenteo Espiritismo, sem se darem ao trabalho preliminar de estud-lo, a no ser ligeiramente e com segundas intenes. (N. do T.)

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    Captulo III

    MTODO18. O desejo muito natural e louvvel dos adeptos, que no se precisaria se estimular mais, ode fazer proslitos. Para facilitar-lhes a tarefa que nos propomos a examinar aqui o meiomais seguro, segundo pensamos, de atingir esse objetivo poupando esforos inteis.

    Dissemos que o Espiritismo toda uma Cincia, toda uma Filosofia. Quem desejar conhec-loseriamente deve, pois, como primeira condio, submeter-se a um estudo srio e persuadir-sede que, mais do que qualquer outra cincia, no se pode aprend-lo brincando. O Espiritismo,j o dissemos, se relaciona com todos os problemas da Humanidade. Seu campo imenso edevemos encar-lo sobretudo quanto s suas conseqncias. A crena nos Espritos constituisem dvida a sua base, mas no basta para fazer um esprita esclarecido, como a crena emDeus no basta para fazer um telogo. Vejamos, pois, de que maneira convm proceder noseu ensino, para levar-se com mais segurana convico.

    Que os adeptos no se assustem com a palavra ensino. No se ensina apenas do alto dactedra ou da tribuna, mas tambm na simples conversao. Toda pessoa que procurapersuadir outra por meio de explicaes ou de experincias, ensina. O que desejamos queesse esforo d resultados. Por isso julgamos nosso dever dar alguns conselhos, que poderoser aproveitados pelos que desejam instruir-se a si mesmos e que tero aqui o meio e chegarmais segura e prontamente ao alvo.

    19. Acredita-se geralmente que para convencer suficiente apresentar os fatos. Esse parecerealmente o procedimento mais lgico, e no entanto a experincia mostra que nem sempre omelhor, pois frequentemente encontramos pessoas que os fatos mais evidentes noconvencem de maneira alguma. A que se deve isso? o que tentaremos demonstrar.

    No Espiritismo, a questo dos Espritos est em segundo lugar, no constituindo o seu pontode partida. E esse, precisamente, o erro em que se cai e que acarreta o fracasso com certaspessoas. Sendo os Espritos simplesmente as almas dos homens, o verdadeiro ponto departida ento a existncia da alma. Como pode o materialista admitir a existncia de seresque vivem fora do mundo material, quando ele mesmo se considera apenas material? Comopode crer na existncia de Espritos ao seu redor, se no admite seu prprio Esprito? Em vose amontoaro aos seus olhos as provas mais palpveis. Ele contestar a todas elas, porqueno admite o princpio.

    Todo ensino metdico deve participar do conhecido para o desconhecido. Para o materialista, oconhecido a matria. Parti, pois, da matria e tratai de lhe demonstrar, antes de tudo, que hnele prprio alguma coisa que escapa s leis materiais. Numa palavra: antes de torn-loesprita procurai faz-lo ESPIRITUALISTA. Mas, para isso, necessria outra ordem defatos e se deve proceder, por outros meios, a uma forma especial de ensino. Falar-lhe deEspritos antes que ele esteja convencido de ter uma alma comear pelo fim, pois ele nopode admitir a concluso se no aceita as premissas.

    Antes, pois, de tentar convencer um incrdulo, mesmo por meio dos fatos, convm assegurar-se de sua opinio sobre a alma, ou seja, se ele cr na sua existncia, na sua sobrevivncia aocorpo, na sua individualidade aps a morte. Se a resposta for negativa, ser tempo perdidofalar-lhe dos Espritos. Eis a regra. No dizemos que no haja exceo. Mas nesse caso deveexistir outra razo que o torne menos refratrio.

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    20. Devemos distinguir duas classes principais de materialistas: na primeira esto os que o sopor sistema. Para eles no h dvida, mas a negao absoluta, segundo a sua maneira deraciocinar. Aos seus olhos o homem no passa de uma mquina enquanto vivo, mas que sedesarranja e depois da morte s deixa o esqueleto. Seu nmero felizmente bastante restrito eem parte alguma representa uma escola abertamente declarada. No precisamos acentuar osdeplorveis efeitos que resultariam para a ordem social da vulgarizao de semelhantedoutrina. Estendemo-nos suficientemente a respeito em O Livro dos Espritos (n. 147 epargrafo III da Concluso).

    Quando dissemos que a dvida dos incrdulos cessa diante de uma explicao racional, necessrio excetuar os materialistas radicais, que negam toda potncia e qualquer princpiointeligente fora da matria. A maioria se obstina nessa opinio por orgulho e acha que devemant-la por amor-prprio. Persistem nela apesar de todas as provas contrrias porque noquerem ficar por baixo. Nada se tem a fazer com eles. Nem se deve acreditar na falsaexpresso de sinceridade dos que dizem: fazei-me ver e acreditarei. H os que so maisfrancos e logo dizem: mesmo se eu visse no acreditaria.

    21. A segunda classe de materialistas, muito mais numerosa, compreende os que o so porindiferena, e, podemos dizer, por falta de coisa melhor, j que o materialismo real umsentimento antinatural. No o so deliberadamente e o que mais desejam crer, pois aincerteza os atormenta. Sentem uma vaga aspirao do futuro, mas esse futuro foi-lhesapresentado de maneira que sua razo no pode aceitar, nascendo da a dvida, e comoconseqncia da dvida, a incredulidade. Para eles, pois, a incredulidade no se apia numsistema. To logo lhes apresenteis alguma coisa de racional, eles a aceitaro com ardor. Essespodem nos compreender, porque esto mais prximos de ns do que poderiam supor.

    Com os primeiros, no faleis de revelao, nem de anjos ou do Paraso, pois, nocompreenderiam. Mas colocai-vos no seu prprio terreno e provai-lhes, primeiro, que as leis daFilosofia no podem explicar tudo: o resto vir depois. A situao outra quando no se tratade incredulidade preconcebida, pois nesse caso a crena no foi totalmente anulada epermanece como germe latente, asfixiado pelas ervas daninhas, que uma centelha podereanimar. o cego a que se restitui a vista e que se alegra de rever a luz, o nufrago a quese atira uma tbua de salvao.

    22. Ao lado dos materialistas propriamente ditos h uma terceira classe de incrdulos que,embora espiritualistas, pelo menos no nome, no so menos refratrios ao Espiritismo: so osincrdulos de m vontade. Esses no querem crer, porque isso lhes perturbaria o gozo dosprazeres materiais. Temem encontrar a condenao de sua ambio, do seu egosmo e dasvaidades humanas com que se deliciam. Fecham os olhos para no ver e tapam os ouvidospara no ouvir. S podemos lament-los.

    23. Somente para lembr-la, falaremos de uma quarta categoria a que chamaremos deincrdulos interesseiros ou de m f. Estes sabem muito bem o que h de certo noEspiritismo, mas o condenam ostensivamente por motivos de interesse pessoal. Nada temos adizer deles nem a fazer com eles. Se o materialista radical se engana, tem ao menos adesculpa da boa f; podemos corrigi-lo, provando-lhe o erro. Neste ltimo, h umadeterminao contra a qual se esboroam todos os argumentos. O tempo se encarregar de lheabrir os olhos e lhe mostrar, talvez sua prpria custa, onde estavam os seus verdadeirosinteresses. Porque, no podendo impedir a expanso da verdade, eles sero arrastados pelacorrenteza, juntamente com os interesses que pensavam salvaguardar.

    24. Alm dessas categorias de opositores h uma infinidade de variaes, entre as quais sepodem contar os incrdulos por covardia, que tero coragem quando verificarem que os

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    outros no foram prejudicados; os incrdulos por escrpulo religioso, que um ensinoesclarecido far ver que o Espiritismo se apia nos prprios fundamentos da Religio erespeita todas as crenas, tendo como um de seus efeitos despertar os sentimentosreligiosos nos descrentes, fortalecendo-os nos vacilantes; os incrdulos por orgulho, poresprito de contradio, por negligncia, por leviandade, etc. etc.

    25. No podemos esquecer uma categoria que chamaremos de incrdulos por decepo.Abrange os que passaram de uma confiana exagerada incredulidade, por terem sofridodesiluses. Assim, desencorajados, abandonaram tudo e tudo rejeitaram. So como aqueleque negasse a boa f por ter sido enganado. So ainda a conseqncia de um estudoincompleto do Espiritismo e da falta de experincia. Aquele que mistificado por Espritos,geralmente porque lhes fez perguntas indevidas ou que eles no podiam responder, ouporque no estavam bastante esclarecidos para distinguir a verdade da impostura. Muitos,alis, s vem o Espiritismo como uma nova forma de adivinhao e pensam que os Espritosexistem para ler a buena-dicha. Ora, os Espritos levianos e brincalhes no perdem aoportunidade de se divertirem sua custa: assim que anunciaro casamentos para asmoas; honrarias, heranas e tesouros ocultos para os ambiciosos, e assim por diante. Dissoresultam, frequentemente, desagradveis decepes, de que o homem srio e prudente sabesempre se preservar.

    26. Uma classe muito numerosa, a mais numerosa de todas, mas que no poderia figurar entreos opositores, a dos vacilantes. So geralmente espiritualistas por princpio. Na sua maioriatm uma vaga intuio das idias espritas e desejam alguma coisa que no podem definir.Falta-lhes apenas coordenar e formular os seus pensamentos. O Espiritismo aparece-lhescomo um raio de luz: a claridade que afugenta as nvoas. Por isso o acolhem comsofreguido, pois ele os liberta das angstias da incerteza.

    27. Se lanarmos agora um olhar sobre as diversas categorias de crentes, encontraremosprimeiro os espritas sem o saber. So uma variedade ou uma subdiviso da classe dosvacilantes. Sem jamais terem ouvido falar da Doutrina Esprita, tm o sentimento inato dosseus grandes princpios e esse sentimento se reflete em algumas passagens de seus escritosou de seus discursos, de tal maneira que, ouvindo-os, acredita-se que sejam verdadeirosiniciados. Encontram-se numerosos desses exemplos entre os escritores sacros e profanos,entre os poetas, os oradores, os moralistas, os filsofos antigos e modernos.

    28. Entre os que se convenceram estudando diretamente o assunto podemos distinguir:

    1.) Os que acreditam pura e simplesmente nas manifestaes. Consideram o Espiritismocomo uma simples cincia de observao, apresentando uma srie de fatos mais oumenos curiosos. Chamamo-los: espritas experimentadores.

    2.) Os que no se interessam apenas pelos fatos e compreendem o aspecto filosfico doEspiritismo, admitindo a moral que dele decorre, mas sem a praticarem. A influncia daDoutrina sobre o seu carter insignificante ou nula. No modificam em nada os seushbitos e no se privariam de nenhum de seus prazeres. O avarento continua insensvel,o orgulhoso cheio de amor-prprio, o invejoso e o ciumento sempre agressivos. Para eles,a caridade crist no passa de uma bela mxima. So os espritas imperfeitos.

    3.) Os que no se contentam em admirar apenas a moral esprita, mas a praticam eaceitam todas as suas conseqncias. Convictos de que a existncia terrena uma provapassageira, tratam de aproveitar os seus breves instantes para avanar na senda doprogresso, nica que pode elev-los de posio no Mundo dos Espritos, esforando-separa fazer o bem e reprimir as suas ms tendncias. Sua amizade sempre segura,

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    porque a sua firmeza de convico os afasta de todo mau pensamento. A caridade sempre a sua regra de conduta. So esses os verdadeiros espritas, ou melhor osespritas cristos. (1)

    4.) H, por fim, os espritas exaltados. A espcie humana seria perfeita, se preferissesempre o lado bom das coisas. O exagero prejudicial em tudo. No Espiritismo eleproduz uma confiana cega e frequentemente pueril nas manifestaes do mundoinvisvel, fazendo aceitar muito facilmente e sem controle aquilo que a reflexo e o examedemonstrariam ser absurdo ou impossvel, pois o entusiasmo no esclarece, ofusca. Estaespcie de adeptos mais nociva do que til causa do Espiritismo. So os menoscapazes de convencer, porque se desconfia com razo do seu julgamento. Soenganados facilmente por Espritos mistificadores ou por pessoas que procuram explorara sua credulidade. Se apenas eles tivessem de sofrer as conseqncias o mal seriamenor, mas o pior que oferecem, embora sem querer, motivos aos incrdulos que maisprocuram zombar do que se convencer e no deixam de imputar a todos o ridculo dealguns. Isso no justo nem racional, sem dvida, mas os adversrios do Espiritismo,como se sabe, s reconhecem como boa a sua razo e pouco se importam de conhecer afundo aquilo de que falam.

    29. Os meios de convico variam extremamente, segundo os indivduos. O que persuade auns no impressiona a outros. Se um se convence por meio de certas manifestaes materiais,outro por comunicaes inteligentes, a maioria pelo raciocnio. Podemos mesmo dizer que,para a maior parte dos que no esto em condies de apreci-los pelo raciocnio, osfenmenos materiais so de pouca significao. Quanto mais extraordinrios so essesfenmenos, afastando-se bastante das leis conhecidas maior oposio encontram. E isso porum motivo muito simples: que somos naturalmente levados a duvidar daquilo que no temuma sano racional. Cada qual o encara a seu modo e d sua explicao particular: omaterialista descobre uma causa fsica ou uma trapaa; o ignorante e o supersticioso, umacausa diablica ou sobrenatural. Entretanto, uma explicao antecipada tem o efeito de destruiras idias preconcebidas e mostrar, se no a realidade, pelo menos a possibilidade do fato.Compreende-se antes de ver, pois desde que aceitamos a possibilidade, trs quartos daconvico foram realizados.

    30. Ser til procurar convencer um incrdulo obstinado? J dissemos que isso depende dascausas e da natureza da sua incredulidade. Muitas vezes, nossa insistncia em persuadi-lo oleva a crer na sua importncia pessoal, que uma razo para mais se obstinar. Aquele queno se convence pelo raciocnio nem pelos fatos, deve ainda sofrer a prova da incredulidade.Devemos deixar Providncia o cuidado de encaminh-lo a circunstncias mais favorveis.H muita gente que s deseja receber a luz, para estarmos perdendo tempo com os que arepelem. Dirigi-vos, pois, aos homens de boa vontade, cujo nmero maior do que se pensa, eo exemplo destes, multiplicando-se, vencer mais facilmente as resistncias do que aspalavras. Ao verdadeiro esprita nunca faltar oportunidade de fazer o bem. H coraes aflitosa aliviar, consolaes a dispensar, desesperos a acalmar, reformas morais a operar. Essa asua misso e nela encontrar a verdadeira satisfao. O Espiritismo impregna a atmosfera:expande-se pela prpria fora das circunstncias e porque torna felizes aqueles que oprofessam. Quando os seus adversrios sistemticos o ouvirem ressoando ao seu redor, entreos seus prprios amigos, compreendero o isolamento em que se encontram e sero foradosa calar ou a se renderem.

    31. Para se proceder, no ensino do Espiritismo, como se faz nas cincias ordinrias, serianecessrio passar em revista toda a srie de fenmenos que podem produzir-se, a comeardos mais simples at chegar, sucessivamente, aos mais complicados. Ora, isso impossvel,porque no se pode fazer um curso de Espiritismo experimental como se faz um curso de

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    Fsica ou de Qumica. Nas Cincias Naturais opera-se sobre a matria bruta, que se manipula vontade e quase sempre se consegue determinar os efeitos. No Espiritismo, tem-se de lidarcom inteligncias dotadas de liberdade e que provam, a cada instante, no estarem sujeitasaos nossos caprichos. necessrio, pois, observar, esperar os resultados e colh-los naocorrncia.

    Por isso declaramos energicamente que: todo aquele que se vangloriar de obt-los vontade no passa de ignorante ou impostor. Eis porque o verdadeiro Espiritismo jamaisservir para exibies nem subir jamais aos palcos. mesmo ilgico supor que os Espritosse entreguem a exibies e se submetam pesquisa como objetos de curiosidade. Osfenmenos, por isso mesmo, podem no ocorrer quando mais os desejamos ou apresentar-sede maneira muito diversa da que pretendamos. Acrescentemos ainda que, para obt-los,necessitamos de pessoas dotadas de faculdades especiais, que variam ao infinito, segundo aaptido de cada indivduo. Ora, sendo extremamente raro que uma mesma pessoa tenha todasas aptides, a dificuldade aumenta, pois, seria necessrio dispormos sempre de umaverdadeira coleo de mdiuns, o que no possvel.

    muito simples o meio de evitar estes inconvenientes. Basta comear pela teoria. Nela, todosos fenmenos so passados em revista, so explicados e se pode conhec-los e compreendera sua possibilidade, as condies em que podem ser produzidos e os obstculos que podemencontrar. Dessa maneira, qualquer que seja a ordem em que as circunstncias nos fizeremv-los, nada tero que possa surpreender-nos. E h ainda outra vantagem: a de evitar muitasdecepes ao experimentador. Prevenido quanto s dificuldades, pode manter-se vigilante epoupar-se das experincias prpria custa.

    Desde que nos ocupamos de Espiritismo foram tantas as pessoas que nos acompanharam,que seria difcil presenciar o seu nmero. Entre elas, quantas permaneceram indiferentes ouincrdulas diante dos fatos mais evidentes, s se convencendo mais tarde atravs de umaexplicao racional. Quantas outras foram predispostas a aceitar por meio do raciocnio; equantas, afinal, acreditaram sem nada terem visto, levadas unicamente pela compreenso.Falamos, portanto, por experincia, e por isso afirmamos que o melhor mtodo de ensinoesprita o que se dirige razo e no aos olhos. o que seguimos em nossas lies, do ques temos que nos felicitar. (2)

    32. O estudo prvio da teoria tem ainda a vantagem de mostrar imediatamente a grandeza doobjetivo e o alcance desta Cincia. Aquele que se inicia vendo uma mesa girar ou bater podeinclinar-se zombaria, porque dificilmente imaginaria que de uma mesa possa sair umadoutrina regeneradora da Humanidade. Acentuamos sempre que os que crem sem ter visto,porque leram e compreenderam, ao invs de superficiais so os mais ponderados. Ligando-semais ao fundo que forma, o aspecto filosfico para eles o principal, e os fenmenospropriamente ditos so apenas o acessrio. Chegam mesmo a dizer que se os fenmenos noexistissem, nem por isso esta filosofia deixaria de ser a nica que resolve tantos problemas athoje insolveis; a nica que oferece ao passado e ao futuro humano a teoria mais racional.Preferem, assim, uma doutrina que realmente explica, quelas que nada explicam ou queexplicam mal.

    Quem refletir a respeito compreender claramente que se pode fazer abstrao dasmanifestaes, sem que a doutrina tenha por isso de desaparecer. As manifestaescorroboram, a confirmam, mas no constituem um fundamento essencial. O observador sriono as repele, mas espera as circunstncias favorveis para observ-las. A prova disso queantes de ouvirem falar das manifestaes muitas pessoas tiveram a intuio dessa doutrina,que veio apenas corporificar num conjunto as suas idias.

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    33. Alis, no seria certo dizer que, aos que comeam pela teoria, faltem as observaesprticas. Eles as possuem, pelo contrrio, e certamente mais valiosas aos seus olhos que asproduzidas nas experincias: so os fatos numerosos de manifestaes espontneas, de quetrataremos nos Captulos seguintes. So poucas as pessoas que no as conhecem, ao menospor ouvir dizer, e muitas as que as obtiveram, sem prestar-lhes a devida ateno. A teoria vemlhes dar explicao, e consideramos esses fatos de grande importncia, quando se apiam emtestemunhos irrecusveis, porque no se pode atribuir-lhes qualquer preparao ou conivncia.Se os fenmenos provocados no existissem, nem por isso os espontneos deixariam deexistir, e se o Espiritismo s servisse para dar-lhes uma explicao racional, isto j seriabastante. Assim, a maioria dos que lem previamente referem os princpios a esses fatos, queso para eles uma confirmao da teoria.

    34. Seria absurdo supor que aconselhamos a negligenciar os fatos, pois foi pelos fatos quechegamos teoria. verdade que isso nos custou um trabalho assduo de muitos anos emilhares de observaes. Mas desde que os fatos nos serviram e servem diariamente,seramos incoerentes se lhes contestssemos a importncia, sobretudo agora que fazemos umlivro para ensinar como conhec-los. Sustentamos apenas que, sem o raciocnio, eles nobastam para levar convico. Que uma explicao prvia, afastando as prevenes emostrando que eles no so absurdos, predispe a aceit-los.

    Isso to certo que, de dez pessoas estranhas ao assunto, que assistam a uma sesso deexperimentao, das mais satisfatrias para os adeptos, nove sairo sem convencer-se, ealgumas delas ainda mais incrdulas do que antes, porque as experincias nocorresponderam ao que esperavam. Acontecer o contrrio com as que puderam informar-sedos fatos por um conhecimento terico antecipado. Para estas, esse conhecimento servir decontrole e nada as surpreender, nem mesmo o insucesso, pois sabero em que condies osfatos se produzem e que no se lhes deve pedir o que eles no podem dar. A compreensoprvia dos fatos torna-as capazes de perceber todas as dificuldades, mas tambm de captaruma infinidade de pormenores, de nuanas quase sempre muito sutis, que sero para elaselementos de convico que escapam ao observador ignorante. So esses os motivos que noslevam a s admitir em nossas sesses experimentais pessoas suficientemente preparadaspara compreender o que se passa, pois sabemos que as outras perderiam o seu tempo ou nosfariam perder o nosso.

    35. Para aqueles que desejarem adquirir esses conhecimentos preliminares atravs dasnossas obras, aconselhamos a seguinte ordem:

    1.) O QUE O ESPIRITISMO: esta brochura, de apenas uma centena de pginas,apresenta uma exposio sumria dos princpios da Doutrina Esprita, uma visogeral que permite abranger o conjunto num quadro restrito. Em poucas palavras sepercebe o seu objetivo e se pode julgar o seu alcance. Alm disso, apresenta asprincipais perguntas ou objees que as pessoas novatas costumam fazer. Essa primeiraleitura, que exige pouco tempo, uma introduo que facilita o estudo mais profundo. (3)

    2.) O LIVRO DOS ESPRITOS: contm a doutrina completa ditada pelos Espritos, comtoda a sua Filosofia e todas as suas conseqncias morais. o destino do homemdesvelado, a iniciao ao conhecimento da natureza dos Espritos e os mistrios da vidade alm-tmulo. Lendo-o, compreende-se que o Espiritismo tem um objetivo srio e no um passatempo frvolo.

    3.) O LIVRO DOS MDIUNS: destinado a orientar na prtica das manifestaes,proporcionando o conhecimento dos meios mais apropriados de nos comunicarmos comos Espritos. um guia para os mdiuns e para os evocadores e o complemento de OLivro dos Espritos.

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    4.) A REVISTA ESPRITA: uma variada coletnea de fatos, de explicaes tericas e detrechos destacados que completam a exposio das duas obras precedentes, e querepresenta de alguma maneira a sua aplicao. Sua leitura pode ser feita ao mesmotempo que a daquelas obras, mas ser mais proveitosa e mais compreensvel sobretudoaps a de O Livro dos Espritos.

    Isso no que nos concerne. Mas os que desejam conhecer completamente uma cincia devemler necessariamente tudo o que foi escrito a respeito, ou pelo menos o principal, no selimitando a um nico autor. Devem mesmo ler os prs e os centras, as crticas e as apologias,iniciar-se nos diferentes sistemas a fim de poder julgar pela comparao. Neste particular, noindicamos nem criticamos nenhuma obra, pois no queremos influir em nada na opinio que sepossa formar. Levando nossa pedra ao edifcio, tomamos apenas o nosso lugar. No nos cabeser ao mesmo tempo juiz e parte e no temos a pretenso ridcula de ser o nico a dispensar aluz. Cabe ao leitor separar o bom do mau, o verdadeiro do falso. (4)

    (1) Sendo o Espiritismo uma doutrina eminentemente crist, essa designao de esprita cristo pode parecer redundante. Poroutro lado, poderia sugerir a existncia de uma forma de Espiritismo no-cristo, que na verdade no existe. Kardec aemprega, porm, como designao do verdadeiro esprita, para distinguir estes daqueles que no seguem, como se v acima,os princpios do Espiritismo. (N. do T.)

    (2) Ao p da pgina, Kardec acrescentou esta nota: "Nosso ensino terico e prtico sempre gratuito". Com isso, evitavainterpretaes maldosas e dava o exemplo que foi sempre seguido pelos espritas responsveis em todo o mundo. Overdadeiro ensino esprita sempre gratuito. (N. do T.)

    (3) Apesar de j estarmos h mais de cem anos do lanamento desse pequeno livro, ele se conserva oportuno e at mesmo deleitura obrigatria para principiantes. E podemos acrescentar que mesmo os adeptos mais experimentados deviam rel-lo devez em quando. (N. do T.)

    (4) A conhecida modstia de Kardec, bem demonstrada nestas palavras, leva algumas pessoas a no reconhecerem o valorfundamental da sua obra, que alis no apenas dele, mas principalmente dos Espritos Superiores. Essa atitude,entretanto, refora ainda mais a sua posio de Codificador, pois os verdadeiros missionrios no se arrogam superioridade eos verdadeiros mestres querem, antes de mais nada, o desenvolvimento da compreenso prpria e da capacidade dediscernimento dos discpulos. (N. do T.)

    Cabe aqui acrescentar os demais livros da codificao, ou seja, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Cu e o Inferno (oua Justia Divina Segundo o Espiritismo), A Gnese (Os Milagres e as Predies Segundo o Espiritismo) e Obras Pstumas.(N. da E.)

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    CAPTULO IV

    SISTEMAS36. Quando os estranhos fenmenos do Espiritismo comearam a se produzir, ou melhor,quando se renovaram nestes ltimos tempos, suscitaram antes de mais nada a dvida sobre asua realidade e mais ainda sobre a sua causa. (1) Quando foram averiguados por testemunhosirrecusveis e atravs de experincias que todos puderam fazer, aconteceu que cada qual osinterpretou a seu modo, de acordo com suas idias pessoais, suas crenas e seuspreconceitos. Da o aparecimento dos numerosos sistemas que uma observao mais atentadeveria reduzir ao seu justo valor.

    Os adversrios do Espiritismo logo viram, nessas divergncias de opinio, um argumentocontrrio, dizendo que os prprios espritas no concordavam entre si. Era uma razo bemprecria, pois os primeiros passos de todas as cincias em desenvolvimento sonecessariamente incertos, at que o tempo permita a reunio e coordenao dos fatos quepossam fixar-lhes a orientao. medida que os fatos se completam e so melhor observados,as idias prematuras se desfazem e a unidade de opinio se estabelece, quando no sobre osdetalhes, pelo menos sobre os pontos fundamentais. Foi o que aconteceu com o Espiritismo,que no podia escapar a essa lei comum, e que devia mesmo, por sua natureza, prestar-seainda mais diversidade de opinies. Podemos dizer, alis, que nesse sentido o seu avanofoi mais rpido que o de cincias mais antigas, como a Medicina, por exemplo, que aindacontinua a dividir os maiores sbios.

    37. Para seguir a ordem progressiva das idias, de maneira metdica, convm colocar emprimeiro lugar os chamados sistemas negativos dos adversrios do Espiritismo. Refutamosessas objees na introduo e na concluso de O Livro dos Espritos, bem como napequena obra intitulada O Que o Espiritismo. Seria intil voltar ao assunto e nos limitaremosa lembrar, em duas palavras, os motivos em que eles se apiam.

    Os fenmenos espritas so de duas espcies: os de efeitos fsicos e os de efeitos inteligentes.No admitindo a existncia dos Espritos, por no admitirem nada alm da matria,compreende-se que eles neguem os efeitos inteligentes. Quanto aos efeitos fsicos, eles oscomentam sua maneira e seus argumentos podem ser resumidos nos quatro sistemasseguintes.

    38. SISTEMA DO CHARLATANISMO: muitos dos antagonistas atribuem esses efeitos esperteza, pela razo de alguns terem sido imitados. Essa suposio transformaria todos osespritas em mistificados e todos os mdiuns em mistificadores, sem considerao pelaposio, ou carter, o saber e a honorabilidade das pessoas. Se ela merecesse resposta,diramos que alguns fenmenos da Fsica so tambm imitados pelos prestidigitadores, o quenada prova contra a verdadeira cincia. H pessoas, alis, cujo carter afasta toda suspeita defraude, e seria preciso no se ter educao nem urbanidade para atrever-se a dizer-lhes queso cmplices de charlatanice. Num salo bastante respeitvel, um senhor que se dizia muitoeducado permitiu-se fazer uma observao dessa e a dona da casa lhe disse: "Senhor, desdeque no est satisfeito, o dinheiro lhe ser devolvido na porta", e com um gesto lhe indicou omelhor que tinha a fazer.

    Devemos concluir disso que nunca houve abusos? Seria necessrio admitir que os homensso perfeitos. Abusa-se de tudo, mesmo das coisas mais santas. Por que no se abusaria doEspiritismo? Mas o mau emprego que se pode fazer de uma coisa no deve levar-nos aprejulg-la. Podemos considerar a boa f dos outros pelos motivos de suas aes. Onde no

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    h especulao no h razo para o charlatanismo.

    39. SISTEMA DA LOUCURA: alguns, por condescendncia, querem afastar a suspeita defraude e pretendem que os que no enganam so enganados por si mesmos, o que equivale acham-los de imbecis. Quando os incrdulos so menos maneirosos, dizem simplesmente quese trata de loucura, atribuindo-se sem cerimnias o privilgio do bom senso. esse o grandeargumento dos que no tm melhores razes a apresentar. Alis, essa forma de crtica setornou ridcula pela prpria leviandade e no merece que se perca tempo em refut-la. Porsinal que os espritas pouco se importam com ela. Seguem corajosamente o seu caminho,consolando-se ao pensar que tm por companheiros de infortnio muita gente de mritoincontestvel. necessrio convir, com efeito, que essa loucura, se se trata de loucura, revelauma estranha caracterstica: a de atingir de preferncia a classe mais esclarecida, na qual oEspiritismo conta at o momento com a maioria absoluta de adeptos. Se nesse nmero seencontram alguns excntricos, eles no depem mais contra a Doutrina do que os fanticoscontra a Religio; do que os melomanacos contra a Msica; ou do que os manacoscalculadores contra a Matemtica. Todas as idias tm os seus fanticos e seria necessrioser-se muito obtuso para confundir o exagero de uma idia com a prpria idia. Para maisamplas explicaes a respeito, enviamos o leitor nossa brochura: O Que o Espiritismo oua O Livro dos Espritos, pargrafo XV da Introduo.

    40. SISTEMA DA ALUCINAO: outra opinio, menos ofensiva porque tem um leve disfarcecientfico, consiste em atribuir os fenmenos a uma iluso dos sentidos. Assim, o observadorseria de muito boa f, mas creria ver o que no v. Quando v uma mesa levantar-se epermanecer no ar sem qualquer apoio, a mesa nem se moveu. Ele a v no espao por umailuso ou por um efeito de refrao, como o que nos faz ver um astro ou um objeto na gua,deslocado de sua verdadeira posio. A rigor, isso seria possvel, mas os que testemunharamesse fenmeno constataram a suspenso passando por baixo da mesa, que seria difcil se elano houvesse sido elevada. Alm disso, ela elevada tantas vezes que acaba por quebrar-seao cair. Seria isso tambm uma iluso de tica?

    Uma causa fisiolgica bem conhecida pode fazer, sem dvida, que se veja rodar uma coisaque nem se mexeu, ou que nos sintamos rodar quando estamos imveis. Mas quando vriaspessoas que esto ao redor de uma mesa so arrastadas por um movimento to rpido que difcil segui-la, e algumas so at mesmo derrubadas, teriam acaso sofrido vertigens, como obrio que v a casa passar-lhe pela frente? (2)

    41. SISTEMA DO MSCULO ESTALANTE: se assim fosse no que toca viso, no seriadiferente para o ouvido. Mas quando os golpes so ouvidos por toda uma assemblia, no sepode razoavelmente atribu-los iluso. Afastamos, bem entendido, qualquer idia de fraude,considerando uma observao atenta em que se tenha constatado que no havia nenhumacausa fortuita ou material.

    verdade que um sbio mdico deu ao caso uma explicao decisiva, segundo pensava: "Acausa, disse ele, est nas contraes voluntrias ou involuntrias do tendo muscular dopequeno pernio". (3) E entra nas mais completas mincias anatmicas para demonstrar omecanismo dessa produo de estalos, que pode imitar o tambor e mesmo executar riasritmadas. Chega assim concluso de que os que ouvem os golpes numa mesa so vtimasde uma mistificao ou de uma iluso. O fato nada apresenta de novo. Infelizmente para oautor dessa pretensa descoberta, sua teoria no pode explicar todos os casos. Digamosprimeiramente que os dotados da estranha faculdade de fazer estalar vontade o msculo dopequeno pernio, ou outro qualquer, e tocar rias musicais por esse meio, so criaturasexcepcionais, enquanto a de fazer estalar as mesas muito comum, e os que a possuem smuito raramente podem possuir aquela. Em segundo lugar, o sbio doutor esqueceu-se de

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    explicar como podem esses estalos musculares de uma pessoa imvel e distanciada da mesaproduzir nesta vibraes sensveis ao tato; como esses estalos podem repercutir, vontadedos assistentes, em lugares diversos da mesa, em outros mveis, nas paredes, no forro, etc., ecomo, enfim, a ao desse msculo pode estender-se a uma mesa que no se toca e faz-lamover-se sozinha. Esta explicao, alis, se realmente explicasse alguma coisa, s poderiainfirmar o fenmeno dos golpes, no podendo referir-se aos demais modos de comunicao.Conclumos, pois, que o seu autor julgou sem ter visto, ou sem ter visto tudo de maneirasuficiente. sempre lamentvel que os homens de cincia se apressem a dar, sobre o que noconhecem, explicaes que os fatos podem desmentir. O seu prprio saber deveria torn-lostanto mais ponderados em seus julgamentos, quanto mais esse saber lhes amplia os limites dodesconhecido.

    42. SISTEMA DAS CAUSAS FSICAS: samos aqui dos sistemas de negao absoluta.Averiguada a realidade dos fenmenos, o primeiro pensamento que naturalmente ocorreu aoesprito dos que o viram foi o de atribuir os movimentos ao magnetismo, eletricidade ou ao de um fluido qualquer, em uma palavra, a uma causa exclusivamente fsica, material.Essa opinio nada tinha de irracional e prevaleceria se o fenmeno se limitasse aos efeitospuramente mecnicos. Uma circunstncia parecia mesmo corrobor-la: era, em alguns casos,o aumento da potncia na razo do nmero de pessoas presentes, pois cada uma delas podiaser considerada como elemento de uma pilha eltrica humana. O que caracteriza uma teoriaverdadeira, j o dissemos, a possibilidade de explicar todos os fatos. Se um nico fato acontraditar, porque ela falsa, incompleta ou demasiado arbitrria. Foi o que no tardou aacontecer no caso. Os movimentos e os golpes revelaram inteligncia, pois obedeciam a umavontade e respondiam ao pensamento. Deviam, pois, ter uma causa inteligente. E desde que oefeito cessava de ser apenas fsico, a causa, por isso mesmo, devia ser outra. Assim osistema de ao exclusiva de um agente material foi abandonado e s se renova entre os quejulgam a priori, sem nada terem visto. O ponto capital, portanto, a constatao da aointeligente, e por ele que se pode convencer quem quiser se dar ao trabalho da observao.

    43. SISTEMA DO REFLEXO: reconhecida a ao inteligente, restava saber qual seria a fontedessa inteligncia. Pensou-se que poderia ser a do mdium ou dos assistentes, que serefletiria como a luz ou as ondas sonoras. Isso era possvel e somente a experincia poderiadar a ltima palavra a respeito. Mas notemos, desde logo, que esse sistema se afastacompletamente das idias puramente materialistas: para a inteligncia dos assistentes poderreproduzir-se de maneira indireta, seria necessrio admitir a existncia no homem de umprincpio independente do organismo. (4)

    Se o pensamento manifestado fosse sempre o dos assistentes, a teoria da reflexo estariaconfirmada. Mas o fenmeno, mesmo assim reduzido, no seria do mais alto interesse? Opensamento a repercutir num corpo inerte e a se traduzir por movimento e rudo no seriaadmirvel? No haveria nisso o que excitar a curiosidade dos sbios? Porque, pois, elesdesprezaram esse fato, eles que se esgotam na procura de uma fibra nervosa?

    Somente a experincia, dissemos, poderia dar a ltima palavra sobre essa teoria, e aexperincia a deu condenando-a, porque ela demonstra a cada instante, e pelos fatos maispositivos, que o pensamento manifestado pode ser, no s estranho aos assistentes, masquase sempre inteiramente contrrio ao deles; que contradiz todas as idias preconcebidas edesfaz todas as previses. De fato, quando eu penso branco e me respondem preto, no possoacreditar que a resposta seja minha. Alguns se apiam em casos de identidade entre opensamento manifestado e o dos assistentes, mas que que isso prova, seno que osassistentes podem pensar como a inteligncia comunicante? No se pode exigir que estejamsempre em oposio. Quando, numa conversao, o interlocutor emite um pensamentosemelhante ao vosso, direis por isso que ele o tirou de vs? Bastam alguns exemplos

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    contrrios e bem constatados para provar que essa teoria no pode ser decisiva.

    Como, alis, explicar pelo reflexo do pensamento a escrita feita por pessoas que no sabemescrever? As respostas do mais elevado alcance filosfico obtidas atravs de pessoasiletradas. E aquelas dadas a perguntas mentais ou formuladas numa lngua desconhecida domdium? E mil outros fatos que no podem deixar dvida quanto independncia dainteligncia manifestante? A opinio contrria s pode resultar de uma deficincia deobservao. Se a presena de uma inteligncia estranha moralmente provada pela naturezadas respostas, materialmente o pelo fenmeno da escrita direta, ou seja, da escrita feitaespontaneamente, sem caneta nem lpis, sem contato e apesar de todas as precauestomadas para evitar qualquer ardil. O carter inteligente do fenmeno no poderia ser posto emdvida; logo, h mais do que uma simples ao fludica. Alm disso, a espontaneidade dopensamento manifestado independente de toda expectativa e de qualquer questo formulada,no permite que se possa torn-lo como um reflexo do que pensam os assistentes.

    O sistema do reflexo muito desagradvel em certos casos. Quando, por exemplo, numareunio de pessoas srias ocorre uma comunicao de revoltante grosseria, atribu-la a um dosassistentes seria cometer uma grave indelicadeza, e provvel que todos se apressassem emrepudi-la. (Ver O Livro dos Espritos, pargrafo XVI da Introduo.)

    44. SISTEMA DA ALMA COLETIVA: uma variante do precedente. Segundo este sistema,somente a alma do mdium se manifesta, mas identificando-se com a de muitas outraspessoas presentes ou ausentes, para formar um todo coletivo que reuniria as aptides, ainteligncia e os conhecimentos de cada uma delas. Embora a brochura que expe essa teoriase intitule A Luz (5) pareceu-nos de um estilo bastante obscuro. Confessamos havercompreendido pouco do que vimos e s a citamos para registr-la. Trata-se, alis, de umaopinio individual como tantas outras e que fez poucos adeptos. mah Tirps o nome usadopelo autor para designar o ser coletivo que representa. Ele toma por epgrafe: No h nadaoculto que no venha a ser revelado. Essa proposio evidentemente falsa, pois h umainfinidade de coisas que o homem no pode e no deve saber. Bem presunoso seria o quepretendesse penetrar todos os segredos de Deus.

    45. SISTEMA SONAMBLICO: este sistema teve mais partidrios, mas ainda agora contacom alguns. Como precedente, admite que todas as comunicaes inteligentes procedem daalma ou Esprito do mdium. Mas, para explicar como o mdium pode tratar de assuntos queesto fora do seu conhecimento, em vez de consider-lo dotado de uma alma coletiva, atribuiessa aptido a uma super-excitao momentnea de suas faculdades mentais, a uma espciede estado sonamblico ou exttico, que exalta e desenvolve a sua inteligncia. No se podenegar, em certos casos, a influncia dessa causa, mas suficiente haver presenciado comoopera a maioria dos mdiuns para compreender que ela no pode resolver todos os casos,constituindo pois a exceo e no a regra. Poderia ser assim, se o mdium tivesse sempre o arde inspirado ou exttico, aparncia que ele poderia, alis, simular perfeitamente, se quisesserepresentar uma comdia. Mas como crer na inspirao, quando o mdium escreve como umamquina, sem a menor conscincia do que obtm, sem a menor emoo, sem se preocuparcom o que faz, inteiramente distrado, rindo e tratando de assuntos diversos?

    Concebe-se a excitao das idias, mas no se compreende que ela faa escrever aquele queno sabe escrever, e ainda menos quando as comunicaes so transmitidas por pancadas oucom a ajuda de uma prancheta ou de uma cesta. Veremos, no curso desta obra, o que se deveatribuir influncia das idias do mdium. Mas os casos em que a inteligncia estranha serevela por sinais incontestveis so to numerosos e evidentes, que no podem deixar dvidasa respeito. O erro da maior parte dos sistemas surgidos na origem do Espiritismo tirarconcluses gerais de alguns fatos isolados. (6)

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    46. SISTEMA PESSIMISTA, DIABLICO OU DEMONACO: entramos aqui em outra ordemde idias. Constatada a interveno de uma inteligncia estranha, tratava-se de saber de