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Paradigma Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. Paradigma (do latim tardio paradigma, dogrego παράδειγμα, derivado de παραδείκνυμι «mostrar, apresentar, confrontare») é um conceito das ciências e da epistemologia (a teoria do conhecimento) que define um exemplo típico ou modelo de algo. É a representação de um padrão a ser seguido. É um pressuposto filosófico, matriz, ou seja, umateoria , um conhecimento que origina o estudo de um campo científico; uma realização científica com métodos e valoresque são concebidos como modelo; uma referência inicial como base de modelo para estudos e pesquisas. O conceito originalmente era específico dagramática, em 1900 o MerriamWebsterdefinia o seu uso apenas nesse contexto, ou da retórica para se referir a uma parábola ou uma fábula. Em lingüística,Ferdinand de Saussure (1857 1913), utiliza o termo paradigma para se referir a um tipo específicio de relação estrutural entre elementos da linguagem. Thomas Kuhn (19221996) , físico célebre por suas contribuições à história e filosofia da ciência em especial do processo que leva à evolução do desenvolvimento científico, designou como paradigmáticas as realizações científicas que geram modelos que, por períodos mais ou menos longos e de modo mais ou menos explícito, orientam o desenvolvimento posterior das pesquisas exclusivamente na busca da solução para os problemas por elas suscitados. Em seu livro a Estrutura das Revoluções Científicas apresenta a concepção de que "um paradigma, é aquilo que os membros de uma comunidade partilham e, inversamente, uma comunidade científica consiste em pessoas que partilham um paradigma",e define "o estudo dos paradigmas como o que prepara basicamente o estudante para ser membro da comunidade científica na qual atuará mais tarde". Hoisel, 1998, autor de um ensaio ficcional, que aborda como a ciência de haveria de se encontrar em 2008, chama atenção para o aspecto relativo da definição de paradigma, observando que enquanto uma constelação de pressupostos e crenças, escalas de valores, técnicas e conceitos compartilhados pelos membros de uma determinada comunidade científica num determinado momento histórico, é simultaneamente um conjunto dos procedimentos consagrados, capazes de condenar e excluir indivíduos de suas comunidades de pares. Nos mostra como este pode ser compreendido como um conjunto de "vícios" de pensamento e bloqueios lógicometafísicos que obrigam os cientistas de uma determinada época a permanecer confinados ao âmbito do que definiram como seu universo de estudo e seu respectivo espectro de conclusões ardentemente admitidas como plausíveis. Em seu livro Anais de um simpósio imaginário, Hoisel destaca ainda que uma outra conseqüência da adoção irrestrita de um paradigma é o estabelecimento de formas específicas de questionar a natureza, limitando e condicionando previamente as respostas que esta nos fornecerá, um alerta que já nos foi dado pelo físico Heisenberg quando mostrou que, nos experimentos científicos o que vemos não é a natureza em si, mas a natureza submetida ao nosso modo peculiar de interrogála. O ajuste ou limitação da visão do objeto a um método de pesquisa, pré estabelecido através tradições universitárias, arquitetura de texto, adequação bibliográfica, etc., é o que está em questão. Tanto Foucaultquanto Kuhn assinalam a presença de padrões de continuidades e descontinuidades na produção de conhecimento de uma área do saber: as revoluções e rupturas epistemológicas. 1 2 34

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ParadigmaOrigem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Paradigma (do latim tardio paradigma, dogrego παράδειγμα, derivado de παραδείκνυμι «mostrar,apresentar, confrontare») é um conceito das ciências e da epistemologia (a teoria do conhecimento)que define um exemplo típico ou modelo de algo. É a representação de um padrão a ser seguido. Éum pressuposto filosófico, matriz, ou seja, umateoria, um conhecimento que origina o estudo deum campo científico; uma realização científica com métodos e valoresque são concebidoscomo modelo; uma referência inicial como base de modelo para estudos e pesquisas.

O conceito originalmente era específico dagramática, em 1900 o Merriam­Websterdefinia o seu usoapenas nesse contexto, ou da retórica para se referir a uma parábola ou uma fábula.Em lingüística,Ferdinand de Saussure (1857 ­ 1913), utiliza o termo paradigma para se referir a umtipo específicio de relação estrutural entre elementos da linguagem.

Thomas Kuhn (1922­1996) , físico célebre por suas contribuições à história e filosofia da ciência emespecial do processo que leva à evolução do desenvolvimento científico, designou comoparadigmáticas as realizações científicas que geram modelos que, por períodos mais ou menos longose de modo mais ou menos explícito, orientam o desenvolvimento posterior das pesquisasexclusivamente na busca da solução para os problemas por elas suscitados.

Em seu livro a Estrutura das Revoluções Científicas apresenta a concepção de que "um paradigma, éaquilo que os membros de uma comunidade partilham e, inversamente, uma comunidade científicaconsiste em pessoas que partilham um paradigma",e define "o estudo dos paradigmas como o queprepara basicamente o estudante para ser membro da comunidade científica na qual atuará maistarde".

Hoisel, 1998, autor de um ensaio ficcional, que aborda como a ciência de haveria de se encontrar em2008, chama atenção para o aspecto relativo da definição de paradigma, observando que enquantouma constelação de pressupostos e crenças, escalas de valores, técnicas e conceitos compartilhadospelos membros de uma determinada comunidade científica num determinado momento histórico, ésimultaneamente um conjunto dos procedimentos consagrados, capazes de condenar e excluirindivíduos de suas comunidades de pares. Nos mostra como este pode ser compreendido como umconjunto de "vícios" de pensamento e bloqueios lógico­metafísicos que obrigam os cientistas de umadeterminada época a permanecer confinados ao âmbito do que definiram como seu universo deestudo e seu respectivo espectro de conclusões ardentemente admitidas como plausíveis.

Em seu livro Anais de um simpósio imaginário, Hoisel destaca ainda que uma outra conseqüência daadoção irrestrita de um paradigma é o estabelecimento de formas específicas de questionar anatureza, limitando e condicionando previamente as respostas que esta nos fornecerá, um alerta quejá nos foi dado pelo físico Heisenberg quando mostrou que, nos experimentos científicos o que vemosnão é a natureza em si, mas a natureza submetida ao nosso modo peculiar de interrogá­la.

O ajuste ou limitação da visão do objeto a um método de pesquisa, pré estabelecido através tradiçõesuniversitárias, arquitetura de texto, adequação bibliográfica, etc., é o que está em questão.Tanto Foucaultquanto Kuhn assinalam a presença de padrões de continuidades e descontinuidades naprodução de conhecimento de uma área do saber: as revoluções e rupturas epistemológicas.

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Giordano Bruno (1548 — 1600)condenado à morte na fogueirapelaInquisição romana por heresia.

Índice [esconder]

1 A comunidade científica2 Ciências Humanas3 Filosofia4 Linguística5 Referências6 Ver também

A comunidade científica [ editar | editar código­fonte ]

Segundo Kuhn (1978, p. 60), uma comunidade científicaconsiste em homens que partilham um paradigma e esta "[...]ao adquirir um paradigma, adquire igualmente um critério paraa escolha de problemas que, enquanto o paradigma for aceito,poderemos considerar como dotados de uma solução possível".

Uma investigação atinente à comunidade científica "de umadeterminada especialidade, num determinado momento, revelaum conjunto de ilustrações recorrentes e quase padronizadas de diferentes teorias nas suasaplicações conceituais, instrumentais e na observação". Tais ilustrações são "os paradigmas dacomunidade, revelados nos seus manuais, conferências e exercícios de laboratórios".

Ao longo da história pesquisas e observações são realizadas e muitas vezes como se observa, não seadequam,produzem contradições, ao paradigma vigente e dão origem a um novo. O novo paradigmase forma quando a comunidade científica renuncia simultaneamente à maioria dos livros e artigos quecorporificam o antigo, deixando de considerá­los como objeto adequado ao escrutínio científico.

Denomina­se interacionismo simbólico a metodologia com que se estuda as distintas comunidadescientíficas e suas relações sociais ou sócio­históricas. Autores comoThomas Szasz e ErvingGoffman por exemplo pesquisaram como o saber psiquiátrico constituiu­se como as relaçõesinterpessoais vivenciadas em instituições . A materialidade e o capital investido nas hierarquias dasinstituições científicas possuem um poder não menos superior à lógica que orienta as pesquisascientíficas e referendam os aspectos ideológicos referidos por Karl Marx nas relações desta(a superestrutura) com a infraestruturaeconômica que organiza as sociedades .

Essa metodologia das ciências sociais instalou um modo de ser quase paranóico em relação àscomunidades de políticos e intelectuais mas não se pode ignorar a fogueira que queimou GiordanoBruno nem os milhões de dólares que se pode adquirir através dos poderosos meios decomunicaçãode massa difusores das fantasias, feitas pelo comércio epropaganda, que orientam o consumo de bensindustriais envolvendo desde o consumo de supérfluos até os produtos e serviços médicos. Constantesdenúncias tem sido feitas quanto a manifestações de interesse do capital distorcendo a lógica daprodução de medicamentos e oferta de serviços de saúde.

A pergunta que se faz em nossos dias, especialmente no campo da saúde coletivaonde não se lidaapenas com a concepção biológica da saúde é, se é possível romper como positivismo, reducionismomecanicismo que formaram a medicina cosmopolita sem limitar­se àcrençascientificistas e abrir mão das conquistas tecnológicas dessa ciência ?

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Ciências Humanas [ editar | editar código­fonte ]

Nas Ciências Humanas, para considerar as formulações propostas por Kuhn em torno do conceito deParadigma, tal como este autor as desenvolveu em seus trabalhos sobre A Estrutura das RevoluçõesCientíficas, é preciso adaptar estas propostas a campos de conhecimento que, em geral, sãomultiparadigmáticos. Em campos de saber como a História, dificilmente se pode falar em paradigmasdominantes que se sucedem e que substituem o anterior através de uma ruptura, pois o que ocorre é aconvivência de vários paradigmas igualmente legítimos ao mesmo tempo. Podemos dar o exemplo, naHistória, dos paradigmas Positivista,Historicista e Materialista Histórico, entre outros (BARROS, 2010.p.426­444 ). Autores como o historiador Jörn Rüsen, neste sentido, tem utilizado o conceito deparadigma também para os estudos dehistoriografia, mas cuidando de observar as devidasadaptações, já que, em geral, a maior parte dos historiadores reconhece aHistória como um campo desaber multiparadigmático.

Filosofia [ editar | editar código­fonte ]

Na Filosofia grega, paradigma era considerado a fluência (fluxo) de umpensamento, pois através devários pensamentos do mesmo assunto é que se concluía a ideia, seja ela intelectual ou material. Apósa realização dessa ideia surgiam outras ideias, até que se chegasse a uma conclusão final ou o seucaminho desde a intuição, à representação sensível até a representação intelectual. Pensar que a ideiainicial, é tanto intelectual como factual, pois não conta com a inspiração e os diversos fluxos depensamento.

O pensamento por sua vez é um componente da alma. Para Aristóteles as faculdades da alma são: afaculdade nutritiva, a faculdade sensitiva e a faculdade intelectiva.

Alma intelectiva (intelecto). Dessa faculdade intelectiva, somente o homem é dotado, pois somente eletem a capacidade de conhecer. Aristóteles, quanto a isso, escreve na sua obra Metafísica: "Todos oshomens, por natureza, desejam conhecer". Para Aristóteles "há na sensação algo de conhecimento detal modo que se pode dizer que a apreensão sensível tem algo de intelectual".

Na tradição aristotélico­tomista, distingue­se o "Intelecto ativo" a faculdade cognitiva pela qual asimpressões recebidas pelos sentidos se tornam inteligíveis, capazes de ser apropriadas ao intelectopassivo do "intelecto passivo" onde são plenamente conhecidas. Resumindo, paradigma sãoreferências a serem seguidas, em Platão, é clara a ideia de modelo.

Linguística [ editar | editar código­fonte ]

Ver artigo principal: Dicotomias saussureanas

Em Linguística, como visto, Ferdinand de Saussure define como paradigma (associaçõesparadigmáticas) o conjunto de elementos similares que se associam na memória e que assim formamconjuntos relacionados ao significado (semântico). Distinguindo­se do encadeamento sintagmático deelementos, ou seja, relacionados sintagma enquanto rede de significantes (sintático).

Exemplificando, Müller coloca que a dicotomia que levou o nome de Sintagma [versus] Paradigma éfacilmente entendida com exemplos, Segundo ela, toda frase, palavras e até signos extralingüísticos ­,possuem dois eixos: um de seleção e outro de combinação. Na frase "Eu comprei um carro novo", hápossibilidades combinatórias claras, tais como "Um carro novo eu comprei" (mudança de ordem das

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Galileu Galilei (1564 —1642) diante

palavras) ou outras, como ao acrescentarmos novos termos à oração. Também há quase inumeráveispossibilidades seletivas, tais como: "eu / ele / tu / João / Dina ­ comprou / vendeu / roubou / explodiu ­um / dois / três / muitos ­ carros / foguetes / caminhões ­ novos / velhos / antigos / raros". O eixo deseleção proposto pela relação paradigmática, corresponde às palavras que podem ocupardeterminado ponto em uma sentença.

Referências1. ↑ Kuhn, Thomas. Estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 1978. ­ Google Books Aug.

2011

2. ↑ Hoisel B. Anais de um Simpósio Imaginário SP, Editora Palas Athena, 1998 ISBN 85­7242­022­3 ­ Livro emHTML Ag. 2011

3. ↑ Alvarenga, Lídia. Bibliometria e arqueologia do saber de Michel Foucault – traços de identidade teórico­metodológica. Ciência da Informação, V. 27, n. 3 (1998)PDF Ag. 2011

4. ↑ Foucault, M. Arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997.e­Book 5. ↑ Malufe, José Roberto. A retórica da ciência, uma leitura de Goffman. São Paulo: Educ, 1992.6. ↑ Latour, Bruno; Woolgar, Steve. A vida de laboratório, a produção dos fatos científicos. Rio de Janeiro:

Relume­Dumará, 1997.7. ↑ Goffman, Erving. Prisões manicômios e conventos. São Paulo: Perspectiva, 1999.8. ↑ Szaz, Thomas S. A Fabricação da Loucura: um estudo Comparativo entre a Inquisição e o Movimento de

Saúde Mental. Rio de Janeiro: Zahar, 1976.9. ↑ Marx, Karl; Engels, Friedrich. A ideologia alemã. e­Book Acesso em: 10 dez. 2009.10. ↑ Angell, Márcia. A verdade sobre os laboratórios farmacêuticos ­ como somos enganados e o que podemos

fazer a respeito. São Paulo: Record, 2007.Google Books Aug. 201111. ↑ Petersen, Melody. Our Daily Meds: How the Pharmaceutical Companies Transformed Themselves Into

Slick Marketing Machines and Hooked the Nation on Prescription Drugs. New York : Picador USA, 2009,©2008.Resenha Jornal da Associação Médica Ag/Set. 2008 Google Livros (71 Resenhas) Ag. 2011

12. ↑ Landmann, Jayme. A ética médica sem mascara. Rio de Janeiro: Guanabara Dois, 1985.13. ↑ Sayd, Jane Dutra. Novos paradigmas e saúde, Notas de leitura. Physis vol.9 no.1 Rio de Janeiro Jan./June

1999 PDF Ag. 201114. ↑ SANTOS, Jair Lício Ferreira and WESTPHAL, Marcia Faria. Práticas emergentes de um novo paradigma

de saúde: o papel da universidade. Estud. av. [online]. 1999, vol.13, n.35, pp. 71­88.PDF Ag. 201115. ↑ Martins, André. Novos paradigmas e saúde. Physis vol.9 no.1 Rio de Janeiro Jan./June 1999 PDF Ag.

201116. ↑ Barros, José D'Assunção. Sobre a noção de Paradigma e seu uso nas Ciências Humanas. Cadernos de

Pesquisa Interdisciplinar em Ciências Humanas. vol.11, n°98, UFSC, 2010. 426­444. Periódicos UFSC17. ↑ Müller, Josiane. Paradigma e Sintagma.Brasil Escola. Ag. 2011

Ver também [ editar | editar código­fonte ]

CiênciaMétodo científicoParadoxoRevolução científicaHistória da ciênciaHistória da lógicaFilosofia greco­romanaRenascimentoColonização

Ag. 2011

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das autoridades do Santo Ofício.CivilizaçãoEtnocentrismoEvolucionismo socialLudwik FleckBruno Latour