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Paródia e estilização no filme Lisbela e o prisioneiro, de Guel Arraes¹

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Paródia e estilização no filme Lisbela e o prisioneiro, de Guel Arraes¹

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95 Traduo & Comunicao Revista Brasileira de Tradutores N. 24, Ano 2012 Jssica Pacharoni Argentim Universidade do Sagrado Corao - USC [email protected] Marileide Dias Esqueda Universidade Federal de Uberlndia - UFU [email protected] A TRADUO PARA O INGLS DAS VARIANTES DIALETAIS EM LISBELA E O PRISIONEIRO The English translation of dialect variants in Lisbela RESUMO Oensino,aprendizagemepesquisanareadetraduonauniversidadeeram raros h 40 anos. Atualmente, configura-se em realidade inquestionvel (DAZ CINTAS;ORERO,2003).Osestudosdatraduotmavanadograndemente, noseconcentrandoapenasemteoriaseprticasdatraduoliterriaou tcnica,iniciadascomascontribuiesdePauloRnai,noBrasil,em1956. (ESQUEDA,2005)Hoje,encontramoscampofrtildeprticaepesquisanas reas de traduo jornalstica, cientfica, jurdico-comercial, de letras de msica, detraduoeinterpretaodeconferncias,detraduodepeasteatrais,de sitesdaredemundialdecomputadoresoudetraduesespecializadasem localizaoe,maisrecentemente,paralegendagemedublagemdemateriais audiovisuais(WYLER,2003).Noentanto,noBrasil,amaioriadaspesquisas realizadasnocampodetraduoaudiovisualpartedefilmesestrangeiros traduzidosparaalnguaportuguesa,notando-se,assim,carnciadepesquisas comanlisesdefilmesbrasileirostraduzidosparaalnguainglesaououtras lnguas, bem como a falta de elementos norteadores para sua realizao. Neste trabalho,apresentamosumapesquisacomparativistaedeanlisetextual,a partirdaqualforamselecionadaseexaminadasasvariantesdialetaisnofilme brasileiro Lisbela e o Prisioneiro, lanado em 2003, em sua verso oficial para o DVD, e suas respectivas tradues nas legendas em ingls, com o objetivo de verificarquaisestratgiastradutriassemostrammaisrecorrentes.A classificaodasestratgiastradutriasbaseia-seemGottlieb(1992).Os resultadosmostraramqueaestratgiapredominantedetraduoade transferncia. Palavras-Chave: Lisbela e o Prisioneiro; traduo audiovisual; variantes dialetais. ABSTRACT The teaching, learning and research in translation at the university were rare 40 years ago. Now, it is an unquestionable reality (DAZ CINTAS; ORERO, 2003). Translationstudieshaveadvancedgreatly,notonlyfocusingontheoriesand practicesofliteraryortechnicaltranslations,beginningwiththecontributions ofPauloRnai,inBrazil,in1956.(ESQUEDA,2005)Todaywefoundafertile fieldofpracticeandresearchinjournalistic,scientific,legal,commercialand literarytranslation,conferenceinterpreting,translationforthetheater,website translationsortranslationforlocalization,and,morerecently,subtitlingand dubbingforaudiovisualmaterials(WYLER,2003).However,inBrazil,most researchesinthefieldofaudiovisualtranslationarecarriedoutinvolving foreignfilmstranslatedintoPortuguese.Therefore,thereisalackofresearch containinganalyzesofBrazilianfilmstranslatedintoEnglishorother languages,aswellthelackofguidingelementsforitsmethodological procedures.Inthissense,thisisacomparativeandtextualanalysisresearch, fromwhichwereselectedandexamineddialectvarietyelementscontainedin the Brazilian film "Lisbela" launched in 2003 in its official version on DVD, and theirtranslationsinthesubtitlesinEnglish,inordertodeterminewhich translation strategies are the most recurrent. The classification of the translation strategiesisbasedonGottlieb(1992).Theresultshaveshownthatthemost prominent translation strategy was the transfer type. Keywords: Lisbela; audiovisual translation; dialect variety. Anhanguera Educacional Ltda. Correspondncia/Contato Alameda Maria Tereza, 4266 Valinhos, So Paulo CEP 13.278-181 [email protected] Coordenao Instituto de Pesquisas Aplicadas eDesenvolvimento Educacional - IPADE Artigo Original Recebido em: 13/08/2012 Avaliado em: 02/09/2012 Publicao: 30 de setembro de 2012 96A traduo para o ingls das variantes dialetais em Lisbela e o PrisioneiroTraduo & Comunicao: Revista Brasileira de TradutoresN. 24, Ano 2012p. 95-110 1.INTRODUO Atualmente,estamoscercadosportodosostiposdetelas,sejamasdecomputadores, televises,celularesoupainis.Essastelasso,segundoGambier(2003),fundamentais emnossosintercmbioscotidianosenossasconstantescompanheiras:emcasa,no trabalho,notransporteounocinema.Deacordocomoautor,asnovastecnologias oferecem produtos e servios on e off-line, contribuindo tambm para o crescimento de um tipo de traduo voltada para as mdias: a traduo audiovisual. Atraduoaudiovisualpassouaserconhecidasomentecomocentenriodo cinema,em1995,epoucoseouviafalarsobreessamodalidadetradutria.Essegnero, desdeento,vemconquistandoseuespaoeemergindoaolongodasdcadas,dando mostra de expanso, j que o cenrio audiovisual influenciado pela internacionalizao, tecnologia,globalizaoepelasmudanasnasrelaesdeofertaeprocura.Segundo Gambier(op.cit.),existemmaisde14tiposdetraduoaudiovisual,emboraasmais conhecidas sejam legendagem, dublagem, voice-over e closed caption. Aquela a ser estudada eanalisadanodecorrerdestapesquisaumadasmodalidadesdetraduoaudiovisual mais praticada no mundo: a legendagem. Emlinhasgerais,aslegendassoversestextuaisdedilogospresentesem filmeseprogramasdeteleviso,edesafiamotradutor-legendadorautilizarhabilidades como resumir, sintetizar, omitir, dentre outras peculiares a esse tipo de traduo. Alfaro (2005) argumenta que, de forma quase unnime, empregam-se no mximo duas linhas de legendas (o nmero mximo de caracteres por linha varia segundo o meio) e estabelece-se uma razo entre o tempo de durao de cada legenda e o nmero mximo de caracteres que ela deve comportar para que o espectador adulto mdio tenha tempo de l-la integralmente. Arazotempo-caracteresbaseadaemdiversosestudos.Ospadresmais comumenteencontradosnaliteraturasobrelegendagemsobaseadosnonmerode palavraslidasemumminuto,estipuladoentre150a180palavras(KARAMITROGLOU, 1998),enachamadaregradosseissegundos,queestabelecequeoespectadormdio demoreseissegundosparalerduaslinhasdelegendascheias,com35caracterescada (DAZCINTAS,2003).Masonmeroexatodecaracteresporsegundo,determinadoem cada situao, varia em funo do meio empregado, do pblico-alvo e de preferncias dos clientes.Essasduasnormasfazempartedostrsconjuntosmodalidade,meioe clientes. Jssica Pacharoni Argentim, Marileide Dias Esqueda97 Traduo & Comunicao: Revista Brasileira de TradutoresN. 24, Ano 2012p. 95-110 Verumfilmelegendadoumaatividadequedemandaesforoeumaateno redobrada.Emoutraspalavras,necessrioleralegendaaomesmotempoemquese acompanhaaimagemeosom.Oespectadornolemsequncia:soidasevindas permanentesentreimagem,somelegenda.Estevaievemsolicitaatividades simultneas,nasquaisdiferentessentidossocolocadosemumainteraoinusitada. Contudo,oespectadorregularconquistoupaulatinamenteohbitodeleitura cinematogrfica, exercitando um leque de atividades mentais na repetio da experincia e integrando-as ao conjunto de suas habilidades. Assim,segundoGorovitz(2006),atraduodefilmeslevantaquestes especficas que a diferenciam, de certa forma, de outros tipos de traduo, tratando-se da transformao de um texto falado em um texto escrito, e em que as peculiaridades de cada meiodevemserlevadasemconsiderao.Surge,assim,oproblemaesttico.Ofilme nuncaproduzidoemfunodeumalegenda,portanto,oespaoquelheatribudo pertenceimagem.Cria-seumainterfernciavisualeplsticaquemodificaapercepo naqualalegenda,porvezes,chegaasobrepor-seaoselementosvisuaisdeprimeiro plano. DeacordocomLindeeKay(1999,p.3)1hnatraduoaudiovisual componentesvisuaisesonorosadicionais,incluindoumatrilhasonora;huma mudanadalinguagemoralparaaescritae,finalmente,homissesobrigatriasdo dilogooriginal.2Otradutordestetipodematerial,portanto,levaemconsideraoo pblico alvo, sincroniza a legenda (ou dublagem) com a imagem e a trilha sonora, facilita a atividade do espectador, varia o tamanho da mensagem e, de acordo com Luyken et. al. (1991),necessitaestaratentoparadiscernirquetipodeinformaoadicionalo telespectador precisa ou no para apreciar e entender o filme. Otradutordelegendasoutradutor-legendador,termousadoporArajo(2001), necessita retratar o contedo da fala do filme, atendendo, ainda, imagem e ao som. Mas ouvirafaladospersonagensumprocedimentomaisrpidodoqueodaleituradas legendase,poressarazo,otradutorobrigado,especialmentenalegendagem,a sintetizar,abreviar,ou,atmesmo,omitirousubstituirtudooquepossadificultara compreensodopblicoalvo,bemcomoapercepodasimagens.Mascomosintetizar elementoslingusticosquesocaractersticosdospersonagensdeumfilmeoudeuma

1 As citaes dos autores estrangeiros foram traduzidas pelas autoras deste trabalho, e os textos originais encontram-se em nota de rodap. 2 [] there are additional visual and audio components including a residual oral soundtrack; there is a switch from oral to written language and, finally, there are obligatory omissions in the source dialogue. 98A traduo para o ingls das variantes dialetais em Lisbela e o PrisioneiroTraduo & Comunicao: Revista Brasileira de TradutoresN. 24, Ano 2012p. 95-110 srie?Comolidarcomodesafiodetraduzirasvariantesdialetais,osfalarestpicoscom sotaques, os regionalismos, o linguajar grio e humorstico tpicos de alguns personagens? Daz Cintas (2003, p. 227) expe que as caractersticas prprias das personagens e de seus contextos so elementos desafiadores para a traduo: Asvariantesdialetaiseosdefeitosdafaladealgumdospersonagenssograndes quebra-cabeasdotradutordelegendas.Nadublagempossveloptar,aindaqueseja discutvel,pelatrocadecertossotaques,masnalegendaumaestratgiapraticamente impossvel.Oitlicoeasaspaspodem,comtodassuaslimitaes,tentartransferiras peculiaridadescontidasemcertodiscursooral.Quandosequerindicarqueo personagemquenooriginalfalaingls,ouqualqueroutroidioma,nofalantenativo domesmo,existemoutraspossibilidadesmaisarriscadas,eporestarazomenos frequentes, como a substituio do r pelo l para indicar o sotaque de um falante de chins ou do r pelo g para denotar um falante francs ou emprego de verbos no infinitivo para parecer um indgena da Amrica do Norte. 3 Variantesdialetais,regionalismosegriasdehumornofaltamnofilme brasileiro Lisbela e o Prisioneiro. O filme, lanado no Brasil em 2003 e distribudo pela Fox FilmesdoBrasil,baseadonapeadeteatrohomnima,escritaem1964peloautor pernambucanoOsmandaCostaLins,etrazemseucontedovocbuloseexpresses comocaoleta(min.39);danao(min.20);nhnha(min.36);arriado(min.43);cabra corno (min. 54); arretado (min. 01h40); diacho (min. 01h19); ... alimentar pinto com po del(min.01h21);...escapamaisquesabordebarba(min.01h21);cangalha(min. 01h40), dentre outras. Sepraticamenteimpossveltraduzirosfalarestpicosdepersonagens(DAZ CINTAS, 2003), se o princpio da economia lingustica tpico da traduo para produo delegendas(GAMBIER,2003),indaga-se:comoforamtraduzidasparaalnguainglesa algumasdasvariantesdialetaiscontidasnofilmebrasileiroLisbelaeoPrisioneiroequais estratgias de traduo foram utilizadas pelo tradutor? 2.DESCRIO DO MATERIAL E DA METODOLOGIA O filme conta a histria de Lisbela (interpretada por Dbora Falabella), que est noiva e de casamento marcado quando Lelu (interpretado por Selton Mello) chega cidade. O casal seapaixonaepassaaviverumahistriacheiadepersonagenstiradosdocenrio nordestino: Inaura (interpretada por Virginia Cavendish), uma mulher casada e sedutora que tenta atrair o heri; um marido valento e "matador", Frederico Evandro (interpretado

3Lasvariantesdialectalesylosdefectosdehabladealgunodelospersonajessonotrosdelosgrandesquebraderosde cabezadelsubtitulador.Endoblaje,sepuedeoptar,aunqueseadiscutible,porlapermutadeciertosacentos,peroen subtitulacinesunaestrategiaprcticamenteimposibledeactivar.Lacursivaylascomillaspueden,contodassus limitaciones, intentar transferir las peculiaridades encerradas en un cierto discurso oral. Se lo que se quiere es indicar que el personajequeenoriginalhablaingls,ocualquierotralengua,noeshablantenativodelamisma,existenotras posibilidades ms arriesgadas, y por esta razn menos frecuentes, como la sustitucin de la r por la l para indicar el Jssica Pacharoni Argentim, Marileide Dias Esqueda99 Traduo & Comunicao: Revista Brasileira de TradutoresN. 24, Ano 2012p. 95-110 porMarcoNanini);umpaiseveroechefedepolcia,TenenteGuedes(interpretadopor Andr Mattos); um pernambucano com sotaque carioca, Douglas (interpretado por Bruno Garcia),vistosoboprismadohumorregional;eum"cabodedestacamento",Cabo Citonho(interpretadoporTadeuMello),quesuficientementeastutoemseulinguajar regional e em suas aes, alm de outros personagens secundrios. Figura 1. Capa e contracapa da verso em DVD do Filme Lisbela e o Prisioneiro (2003). O filme do gnero comdia romntica, dirigido por Guel Arraes, produzido por PaulaLavigne,NatashaFilmes,FoxFilmdoBrasil,GloboFilmeseEstdiosMega.Tem duraode110minutos,comudioemDolby5.0Digital,elegendaseminglse espanhol. O ttulo do filme em ingls permaneceu Lisbela e no h indicaes do nome dotradutoroudaempresaresponsvelpelaslegendas,oqueimpossibilitapesquisasdo tipoexplicativas,cominserodequestionriosabertosoufechadosdestinadosa averiguar detalhes da traduo junto ao tradutor e ao estdio de legendagem. A escolha desse filme deve-se recorrncia das variantes dialticas nele contidas, que podem tornar problemtica, de acordo com Daz Cintas (2003), sua verso para outras lnguas,nestecaso,oingls.Nestesentido,oobjetivogeraldestetrabalhofoianalisaras legendaseminglsdofilmebrasileiroLisbelaeoPrisioneiro,umavezqueaocorrncia constantedevariantesdialetaisdeseuspersonagenspodemseapresentarcomogrande desafioedificuldadeparaotradutor-legendador,quenecessitaexercer,nessetipode traduo, o princpio da economia lingustica.

acento de un hablante de lengua china, o de la r por la g para denotar a un hablante francs o el empleo de verbos en infinitivo para dar cuento de los asertos de un indgena de Norteamrica.100A traduo para o ingls das variantes dialetais em Lisbela e o PrisioneiroTraduo & Comunicao: Revista Brasileira de TradutoresN. 24, Ano 2012p. 95-110 Pretendeu-se, assim, alcanar os seguintes objetivos especficos: 1)SelecionarasvariantesdialetaismaisrecorrentesnofilmeLisbelaeo Prisioneiro; 2)Enumerarecompararasvariantescomsuasrespectivastraduesparao ingls que constam no DVD oficial do filme; 3)Examinareclassificarasestratgiasdetraduoutilizadas,combaseem Gottlieb (1992). Trata-se,portanto,deumapesquisacomparativistaedeanlisetextual,apartir daqualforamselecionadaseexaminadasasvariantesdialetaisnofilmebrasileiro,com suasrespectivastraduesparaaslegendasemingls,buscandoverificarquais estratgias tradutrias se mostram mais recorrentes. Emsetratandodomeioaudiovisual,Gottlieb(op.cit.)explicaquealgumas estratgias tm sido comumente adotadas: Para avaliar a qualidade de uma legenda especfica, a verso de cada segmento verbal de filme deve ser analisada com referncia ao seu valor estilstico e semntico. Baseado em minhaexperinciacomolegendadorparaateleviso,acreditoqueasdezseguintes estratgiasrenemasdiferentestcnicasutilizadasnaprofisso:expanso;parfrase; transferncia;imitao;transcrio;deslocamento;condensao;decimao;omisso; resignao. (p. 166) 4 Quadro 1. Quadro de estratgias de traduo e suas caractersticas segundo Gottlieb (1992). Tipo de estratgiaCaractersticas da Traduo 1) Expanso Expresso expandida, verso adequada (referncias culturais-especficas)2) Parfrase Expresso alterada, verso adequada (fenmeno lingustico especfico no-visualizado) 3) Transferncia Expresso inteira, verso adequada (discurso neutro) 4) Imitao Expresso idntica, verso equivalente (nomes prprios, saudaes internacionais) 5) Transcrio Expresso anmala, verso adequada (discurso no-padronizado) 6) Deslocamento Expresso diferente, contedo ajustado (fenmeno lingustico especfico: visual ou musical) 7) Condensao Expresso condensada, verso concisa (discurso normal) 8) Decimao Expresso abreviada, contedo reduzido (discurso de alguma importncia) 9) Omisso Expresso omitida, sem contedo verbal (discurso de menor importncia) 10) Resignao Expresso diferente, contedo distorcido (elementos intraduzveis)

4Toassessthequalityofaspecificsubtitling,therenderingofeachverbalfilmsegmentmustbeanalyzedwithregardto stylistic and semantic value. Based on my experience as a television subtitler, I believe the following ten strategies embody thedifferenttechniquesusedintheprofession:expansion;paraphrase;transfer;imitation;transcription;dislocation; condensation; decimation; deletion; resignation. Jssica Pacharoni Argentim, Marileide Dias Esqueda101 Traduo & Comunicao: Revista Brasileira de TradutoresN. 24, Ano 2012p. 95-110 OQuadro1foiconstrudocombasenosdadosapresentadosediscutidospor Gottlieb(1992)sobreostiposdeestratgiasdetraduoadotadasnomeioaudiovisuale suas respectivas caractersticas. Detodasessasestratgias,asde1a7,segundooautor,fornecemtradues correspondentesaoscontextosenvolvidos.Aestratgia7geralmentevistacomoum prottipodelegenda,emuitoscrticosconfundemreduoquantitativa(denmerode palavras)comreduosemntica.Porm,emumacondensao,aocontrrioda decimao, a legenda deve comunicar o contedo e retratar o mximo possvel da forma do original. ParaGottlieb(op.cit.),anicaperdaimplicadaemumacondensaoaquela relacionadascaractersticasdalinguagemoralredundante,especialmentequandose tratadeumdiscursoespontneo.Mesmoemrelaoaodiscursoplanejado (dramatizaes, comentrios de notcias de jornal etc.), o autor argumenta que muitas das reduesexigidaspelaprpriacaractersticalimitadoradalegendagemsocriadas automaticamente, em virtude da natureza diagonal desse tipo de traduo. As estratgias 8 e 9, observa o autor, revelam perdas semntica e estilstica. Tais estratgias representam cortesdrsticosnooriginal,quesosupridospelatrilhasonoraepelasimagens. Diferentemente das estratgias 5 a 9, que so supostamente mais comuns na legendagem queemtraduesimpressas,aresignao(estratgia10)ocorreemtodosostiposde transmisses verbais. O autor explica que, na legendagem, esta estratgia abortiva ocorre geralmente em situaes nas quais aparecem as grias, os provrbios, ou outros elementos lingustico-culturais de difcil traduo. 3.JUSTIFICATIVAS Como j mencionado, as variantes dialetais como falares tpicos, regionalismos, linguajar grio,linguajarhumorstico,dentreoutros,desafiamotradutorecontrapem-seao princpio da economia lingustica, tpico da traduo para produo de legendas. Anlises desses elementos e das estratgias5 utilizadas para sua traduo podem, portanto, trazer

5NointeriordasdiscussesimplementadasnosEstudosdaTraduo,vriosestudiososutilizamasdenominaes procedimentostcnicosdatraduo(VINAY;DARBELNET(1958);Catford(1965);Rosenthal(1976);Queirs(1978); Fregonezi (1984); Barbosa (1990)); modalidades de traduo (AUBERT, 1998); estratgias de traduo (CHESTERMAN, 1997);tcnicasdetraduo(HURTADOALBIR;MOLINA,2002).DeacordocomHurtadoAlbir&Molina(2002),que fazemumarevisohistricasobreadivergnciaentretaisdenominaes,osprocedimentostcnicos,ousimplesmenteas tcnicas,estariamrelacionadosaoprodutoeasestratgiasaoprocesso.Collet(2012)tambmofereceumpanoramaa respeito do assunto. Porm, parece no haver um consenso com relao ao termo mais adequado a ser utilizado em anlises de traduo. Como no propsito deste trabalho discutir a polmica em torno das denominaes e escolas que envolvem o temaprocedimentostcnicos,utiliza-se,nestapesquisa,aclassificaopropostaporGottlieb(1992),queadotaotermo estratgiasdetraduoespecficasparaomeioaudiovisual,queimplicaconduzirapesquisademodoagerardados quantificveis e estatsticos, cuja utilidade, segundo o autor, tanto se d em nvel didtico quanto metodolgico. 102A traduo para o ingls das variantes dialetais em Lisbela e o PrisioneiroTraduo & Comunicao: Revista Brasileira de TradutoresN. 24, Ano 2012p. 95-110 comunidadeacadmico-cientficadetraduo,bemcomodeoutrasreascorrelatas, aspectos metodolgicos norteadores desse tipo de traduo e desse tipo de pesquisa. Dopontodevistasocial,essetrabalhoencontrajustificativanofatodequeo cinemabrasileirotemsedestacado,nosltimoscincoanos,nomercadoestrangeiro, principalmente por meio de suas tradues no eixo portugus-ingls, da a pertinncia de discutirosnorteadoresdeumatraduosatisfatriaaomesmotempoparaopblico receptor e para divulgao das marcas culturais, dialetais e sociais brasileiras. Estetrabalhotambmsejustificapelofatodepropiciarumareflexonoque concerneaotrabalhodotradutordemateriaisaudiovisuaisquenoutilizaapenasseus conhecimentoslingustico-culturais,mastambmsuacompetnciaestratgico-instrumental(ALVES;MAGALHES;PAGANO,2000;2005)paratraduzirosvrios falarestpicosdasproduesflmicasbrasileiras,sendotalreflexooperacionalizada, neste estudo, por meio da anlise da verso em ingls do filme Lisbela e o Prisioneiro. 4.RESULTADOS E DISCUSSO Conforme indicado no subitem 2., o objetivo deste trabalho analisar as tradues para a lngua inglesa de variantes dialetais no filme Lisbela e o Prisioneiro. Apesardereceberoutrasdesignaescomodialeto(BORBA,1998), variedadeslingusticas(PRETI,2003),portugusbrasileiro(BAGNO,2002)ou marcas de brasilidade (ALENCAR, 2010), opta-se, aqui, por utilizar o termo variantes dialetais,propostoporDazCintas(2003),quesemostraapropriadoparaesteestudo sobretraduoaudiovisual,porabrangernosomentecaractersticasintrnsecasdo discursooralouvarianteslingusticascomsotaquespeculiares,comotambm regionalismos, grias ou interjeies tpicas. Foram coletadas, ao longo de todo o filme, 317 ocorrncias de variantes dialetais. Na Tabela 1 encontram-se as estratgias de traduo identificadas. esquerda, encontra-se a estratgia de traduo de acordo com a classificao de Gottlieb (1992) e no centro e direita,respectivamente,onmerodevezeseopercentualemquefoiadotada.No foram encontradas estratgias de parfrase, deslocamento, decimao e resignao. Jssica Pacharoni Argentim, Marileide Dias Esqueda103 Traduo & Comunicao: Revista Brasileira de TradutoresN. 24, Ano 2012p. 95-110 Tabela 1. As estratgias de traduo identificadas em Lisbela e o Prisioneiro:nmero de ocorrncia e percentual. Estratgias tradutrias Nmero de ocorrncias em todo o filme Frequncia transferncia25480,518% transcrio4313,631% imitao123,804% omisso072,219% expanso010,317% 317100% Aestratgiadetransfernciacorrespondeamudanasderegistrodoregional, popularefalartpicoparaumregistromaisneutroecoloquialemlnguainglesa,tendo sido computada em 80% dos casos de variantes dialticas encontradas no filme, tanto em nvel lexical como frasal. Computada em 13% dos casos analisados, a estratgia de transcrio corresponde aadequaese/outransformaesdasvarianteslingusticas,regionalismosegrias tpicasdaregiodonordestebrasileiroemexpressesinterjetivascomunsougrias presentes na cultura de lngua inglesa atual. Ressalta-se,naperspectivadeGottlieb(1992),queassoluestradutriasem LisbelaeoPrisioneirotendemhomogeneizaododiscursolegendado,pormeiode reformulaeslingusticasditasneutras,umavezqueasvariantesdialticasrevelam traos muito especficos da realidade nordestina e carioca, fato esse que pode ter levado o tradutor a adotar poucas vezes a estratgia de imitao, que foi computada em apenas 3% dos casos. Comrelaoestratgiadeomisso,cujopercentualde2%,pode-seafirmar que o tradutor buscou eliminar variantes dialetais repetitivas e redundantes presentes no filme, que puderam ser compensadas pelo volume de voz, entonao, feies dos atores e informao semitica. Em sua maioria, as variantes dialetais omitidas foram ixe, xe, oxente, vixe Maria, ave Maria e a interjeio a, esta ltima sempre pronunciada pelopersonagemDouglas(interpretadoporBrunoGarcia),encerrando,atravsdeseu sotaque carioca, um sentido malicioso. Das317variantesdialetaispresentesnofilme,foramselecionadasas13mais recorrentes,sendotrsvarianteslingusticas(li(lhe);mul(mulher);brabo(bravo));trs regionalismos(cabra;corno;macho);cincointerjeiestpicasfaladasnonordeste brasileiro(xe;oxente;diabo;vixeMaria;danou-se);umainterjeiotpicadofalante carioca (a); e uma gria tambm tipicamente carioca (broto). 104A traduo para o ingls das variantes dialetais em Lisbela e o PrisioneiroTraduo & Comunicao: Revista Brasileira de TradutoresN. 24, Ano 2012p. 95-110 NaTabela2encontram-se,nacolunaesquerda,asvariantesdialetaismais recorrentes no filme e, na coluna direita, o nmero de ocorrncias. Tabela 2. As marcas dialetais e suas ocorrncias. Variantes dialetais mais recorrentesNmero de ocorrncias li (lhe)28 cabra22 corno11 mul (mulher)10 xe9 a9 oxente6 brabo (bravo)5 macho4 broto4 danou-se3 diabo2 vixe Maria 2 Porquestesdeespao,seroapresentadostrscasosdevariantesdialetais contidos na Tabela 2, e a contextualizao da cena em que ocorrem antecede cada anlise.Paraasanlisesdasvariantesdialetaisemportuguseinglsforamutilizados, respectivamente, o Dicionrio Houaiss da Lngua Portuguesa (2001) (doravante DHLP) e o Dictionary of English Language and Culture (1998) (doravante DELC), com o intuito de severificaroutrospossveissignificadosououtraspossveisexplicaesarespeitodas variantes dialetais. 5.AS ANLISES AFigura2ilustraachegadadovendedorLelu(interpretadoporSeltonMello)aum vilarejodePernambuco,vendendosubstnciamilagrosaparapotencializaras atividades sexuais dos homens da cidade. Prazeres (interpretada por Helosa Periss) vem asuabarracaecompraasubstncia,masquandoseumaridoautiliza,verificaqueno funciona.Elavoltabarracaereclamadoocorrido.Ovendedordiz:Coloqueiguana sua poo apenas para li ver de novo. Relata-seaquiousodaestratgiadetransfernciaquandolitraduzidopor you.Assim,atraduopermaneceIwateredyoursdownsoIdhavethepleasureof seeing you again. Jssica Pacharoni Argentim, Marileide Dias Esqueda105 Traduo & Comunicao: Revista Brasileira de TradutoresN. 24, Ano 2012p. 95-110 Figura 2. Imagem da cena 00:07: 54; Fonte: Lisbela e o Prisioneiro (2003). SegundooDHLP(2001,p.1751),liumavariantelingusticadopronome pessoal da 3 pessoa do singular lhe. Historicamente, no Brasil, o pronome j teve suas formasalteradas,emgrandeparteporinflunciadalnguaespanhola.Hoje,essaforma continua ocorrendo no norte do Brasil, evidenciando o fenmeno da variante dialetal. Na cena00:07:54,Leluusaopronomeli,comosotaqueeaentonaonordestinos, revelando malcia e atrevimento. A opo you neutraliza a variante dialetal, tornando a legenda semanticamente equivalente, porm, imprimindo a ela um carter neutro. Nessacenaeemoutrasemqueavariantelingusticaliaparece,otradutor optoupelaestratgiadetransferncia,buscandoaneutralizaodavariante.Os elementoslxicostpicosdeumadeterminadaregioapresentammuitasdificuldadesao tradutor, que se encontra na corda bamba (RIDD, 1996) entre o oral e o escrito, isto , entre formalizareestilizarodiscursoouderefletirsuacaractersticaautnticaerealista,neste caso, da fala de Lelu. Registra-se, ainda, que das 28 ocorrncias da variante li, 26 foram traduzidasporyoueduasocorrnciasforamomitidasemvirtudedareconstruodo sentido na legenda. SegundoDazCintas(2003),diantedoreceiodecausarestranhamentoao espectador,asmarcasdialetaispresentesnosfilmesinduzemotradutor-legendador uniformidadedodiscursolegendado,cujoregistrodevegozardeumaltograude legibilidade. Igualmente, na cena a seguir, um casal de amantes (personagens Francisquinha e CaboCitonho,respectivamenteinterpretadosporLviaFalcoeTadeuMello)chega delegaciaparareclamarqueomaridoenganadonoquerdevolverasroupasdesua 106A traduo para o ingls das variantes dialetais em Lisbela e o PrisioneiroTraduo & Comunicao: Revista Brasileira de TradutoresN. 24, Ano 2012p. 95-110 mulher.Odelegado(interpretadoporAndrMattos),porsuavez,diz:Ento,voc enfeita o cabra corno manso... e ainda reclama. Natraduoparaoinglscabracornomansofoitraduzidoporguy, revelando, mais uma vez, a neutralizao, nesse caso, de um regionalismo. Cabra,nofilme,comotambmnamaneirarealeautnticaempregadapelos falantesdonordestebrasileiro(DHLP,2001,p.840),temosentidodehomemforte, valente,petulante,brigo,aquelequesecolocaaserviodealgumemtrocade pagamento. As acepes cabra da molstia e cabra-macho relacionam-se ao indivduo mau, temido e respeitado por sua valentia, frieza, crueldade. Cabra corno manso, ainda, com suas 11 recorrncias no filme, utilizado com o sentido de marido enganado que tem cincia da situao mas no reage contra ela. Figura 3. Imagem da cena 00:33: 33; Fonte: Lisbela e o Prisioneiro (2003). Paraatraduodecabramachooucabracornomanso,percebe-sea utilizao de duas estratgias tradutrias predominantes em todo o filme, a transferncia eaomisso.Aoseadotarousodaestratgiadetransferncianatraduodecabra macho para os itens lexicais em ingls man ou guy, altera-se o registro, isto , passa-sedoregistroregional,dofalarrestritodeumaregio,nocasoodonordestebrasileiro, paraumregistroformalcomousodemaneparaumregistroinformaloucoloquial comousodeguy.Nenhumadasacepes,manouguy,segundooDELC(1998), so consideradas regionalismos na lngua inglesa. Nessesentido,Nir(1984apudDAZCINTAS,2003)explicaqueumdiscurso coloquialmimtico,ouquerefleteaformaautnticaerealdefalardedeterminados Jssica Pacharoni Argentim, Marileide Dias Esqueda107 Traduo & Comunicao: Revista Brasileira de TradutoresN. 24, Ano 2012p. 95-110 gruposdepessoas,porseraltamentecontextualizado,geralmentemaisdifcildese traduzirqueumestiloformal,como,porexemplo,odiscursopresentenasobrasde Shakespeareadaptadasparaocinemaouteleviso.Emsuas22ocorrncias,o regionalismocabrafoitraduzido,aolongodetodoofilme,porguy,you,man, realmanehe.Ressalta-sequeoregionalismofoiomitidoumavezemvirtudeda reconstruo do sentido na legenda. Nacenaaseguir,opersonagemDouglas(interpretadoporBrunoGarcia)est entrando na igreja quando os guardas do exrcito local anunciam com tiros seu casamento com Lisbela (interpretada por Dbora Falabella). Aexpressodanou-sefazrefernciaaosinaldadoaFredericoEvandro (interpretadoporMarcoNanini)dequeacadeiaestlivreesemosguardas,paraque assimelepossamatarLelu(interpretadoporSeltonMello),queestpreso.Paraa traduodedanou-se,foiutilizadaaestratgiatradutriadatranscrio.Pelo dicionrioDHLP(2001,p.907),danou-seumaexpressointerjetivautilizadano nordeste do Brasil para indicar que alguma coisa est perdida; que no tem mais soluo ou cujos resultados so inevitveis. O tradutor, ao usar a estratgia da transcrio, traduz danou-seporholycrap!,alterandoentoaexpressointerjetivatipicamente nordestinaparaumagriatabupresentenasculturasdelnguainglesa.(DELC,1998, p.301) Figura 4. Imagem da cena 01:17: 37; Fonte: Lisbela e o Prisioneiro (2003). Nessacena,lanandomodaestratgiadetranscrio,que,segundoGottlieb (1992), corresponde ao uso de uma expresso anmala, mas que, no entanto, se adqua ao sentidodotexto,pode-seafirmar que houve, novamente, uma tendncia uniformidade pelousodaexpressointerjetivacomumemlnguainglesaholycrap,presenteem 108A traduo para o ingls das variantes dialetais em Lisbela e o PrisioneiroTraduo & Comunicao: Revista Brasileira de TradutoresN. 24, Ano 2012p. 95-110 msicas,filmeseseriadosatuais,equepossuiumacargainformativasemelhantede danou-se, embora no seja considerada uma expresso interjetiva tpica ou regional de algum pas de fala inglesa. Aexpressodanou-sefoitraduzidatambm,aolongodetodoofilme,por gosh e golly, sendo esta ltima uma interjeio antiga e que j no se utiliza mais em pasesdefalainglesa,segundooDELC(1998,p.566),oqueindicaumatentativado tradutordebuscarcumpriramesmafunodaexpressodanou-senalegenda. Registra-se o uso da estratgia de transcrio para os trs casos. Afirma-se, portanto, que a traduodofilmeLisbelaeoPrisioneiroparaoingls,consistiu,naspalavras de Bamba (1997), em um trabalho duplo de adaptao e interao estilstica. Segundo Bamba (1997): Atravsdainterao,otextodelegendastomacorpo.Acoexistnciainterativadooral comoescritopermiteasseguraraverossimilhanaeanaturalidadedialgica.Esta interaodooralcomoescritofazdotextodelegendasumsistemasemiticoque participa, embora perifericamente, da esttica do filme. Ao levar em conta esta tentativa dereproduodoespritodofilmeedeoutrasvirtudesdiscursivasdodilogo, podemosverqueatraduodefilmesemlegendassedesdobranumcasodetraduo interlingualenumcasodetraduointralingual.Nocasodatraduo intralingual,elaseconstituinumtrabalhodeintegraoentreosfenmenosde oralidade com o escrito. (p.144-145; grifos do autor) AtraduointerlingualqualserefereBamba(op.cit.)seviucompletadapor umaformadetraduo(intralingual)quediscursiva.Natraduoparaoinglsde LisbelaeoPrisioneiro,houveumaprocurapeladosagementreasvariantesdialticasda lngua falada e as de lngua escrita. Em outras palavras, ao traduzir as marcas dialetais, o tradutorpreocupou-seemreproduzirourecriaraespontaneidadedaoralidadequeso to inerentes s falas das personagens do referido filme. 6.CONCLUSO Nesteestudo,buscou-seanalisaraslegendaseminglsdofilmebrasileiroLisbelaeo Prisioneiro, uma vez que a ocorrncia constante de variantes dialetais de seus personagens podemseapresentarcomograndedesafioedificuldadeaotradutor-legendadorque exerce,nessetipodetraduo,oprincpiodaeconomialingustica.Nofoipropsito destetrabalhocriticarassoluestradutriasdadassvariantesdialetaisemLisbelaeo Prisioneiro ou tampouco apresentar outras solues. Pretendeu-seselecionarasvariantesdialetaismaisrecorrentesqueconstamno filme, enumer-las e compar-las com suas respectivas tradues para o ingls e, por fim, classificar as estratgias de traduo utilizadas, com base em Gottlieb (1992). Jssica Pacharoni Argentim, Marileide Dias Esqueda109 Traduo & Comunicao: Revista Brasileira de TradutoresN. 24, Ano 2012p. 95-110 possvel concluir que a estratgia de traduo de transferncia foi utilizada em 80%doscasos,estratgiaestaqueseestimaserutilizadanamaioriadosmateriais audiovisuais traduzidos (GOTTLIEB, 1992; GAMBIER, 2003; DAZ CINTAS, 2003).Aslegendasemingls,noDVDdofilme,estocompostasporunidades lingusticas mais relacionadas ao contexto discursivo que s variantes dialetais isoladas, e colocamemoperaoumatransformaodaprpriamatriadeexpressoque simultaneamenteoraleescrita,principalmenteporque,convmlembrar,aoralidade cinematogrficanopuramenteimprovisada,tendosidoescritacomantecedncia, conformemencionaMayoralAssensio(1990),emseutextointituladoComentarioala traduccin de algunas variedades de lengua. AcomplexidadediscursivadotextodofilmeLisbela e o Prisioneiro, seu alto grau devariantesdialticas,falarestpicoscomsotaques,expressesinterjetivas,griasde humortipicamentenordestinasecariocas,clichseassociaeslingusticas,podeter determinadoapreocupaodotradutoremutilizarrearranjosestilsticosnalnguaeno texto de chegada. O sentido no pertence ao texto, mas ao processo no qual as estruturas textuais e a idealizao do espectador interagem. Durante esse processo, o espectador estrangeiro de LisbelaeoPrisioneiro(residentedentroouforadopas)constriumanoogeralsobreo filme e discerne elementos de significado que nascem dessa construo. Espera-sequeoutrasanlisesdefilmesbrasileirospossam,emfuturoprximo, beneficiar esta discusso, principalmente no que tange esttica de recepo e ao cinema brasileiro como arte. REFERNCIAS ALENCAR, M.S.M. Panormica dos Estudos Dialetais e Geolingusticos no Brasil. Cear: Revista de Letras da Universidade Federal do Cear, v.30, jan. 2010. ALFARO, C. 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