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Quantificação e caracterização genotípica de Cryptosporidium spp. isolados de água bruta superficial e esgoto bruto para a monitorização em mananciais de abastecimento público na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) Ronalda Silva de Araújo Tese apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Saúde Pública da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Ciências. Área de concentração: Serviços de Saúde Pública. Orientação: Profª. Associada Maria Helena Matté. São Paulo 2015

Quantificação e caracterização genotípica de Cryptosporidium spp

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Text of Quantificação e caracterização genotípica de Cryptosporidium spp

  • Quantificao e caracterizao genotpica de Cryptosporidium

    spp. isolados de gua bruta superficial e esgoto bruto para a

    monitorizao em mananciais de abastecimento pblico na

    Regio Metropolitana de So Paulo (RMSP)

    Ronalda Silva de Arajo

    Tese apresentada ao Programa de Ps-

    Graduao em Sade Pblica da

    Faculdade de Sade Pblica da

    Universidade de So Paulo para

    obteno do ttulo de Doutor em

    Cincias.

    rea de concentrao: Servios de

    Sade Pblica.

    Orientao: Prof. Associada Maria

    Helena Matt.

    So Paulo

    2015

  • expressamente proibida a comercializao deste documento tanto na sua forma impressa

    como eletrnica. Sua reproduo total ou parcial permitida exclusivamente para fins

    acadmicos e cientficos, desde que na reproduo figure a identificao do autor, ttulo,

    instituio e ano da tese.

  • DEDICATRIA

    minha pequena e dedicada famlia Ronaldo,

    Victor Hugo, Cleo, Sushi, Raika, Pity e Dudu pela

    minha ausncia durante a realizao deste

    trabalho.

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo a Deus por me dar fora, sade e esperana em todos os momentos da

    minha vida;

    minha orientadora, Dra Maria Helena Matt, que me deu a oportunidade de

    realizar esse trabalho, me acolheu novamente no laboratrio de Prtica de Sade

    Pblica da USP e que, alm disso, sempre esteve disposio para o que fosse

    preciso;

    Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES), pela

    concesso da bolsa de estudo que permitiu minha participao neste projeto;

    Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo (FAPESP) que junto

    com a Companhia de Saneamento Bsico do Estado de So Paulo (SABESP) por

    meio do edital PITE-FAPESP n 2010/50797-4, proporcionou o suporte financeiro

    desta pesquisa;

    Companhia Ambiental do Estado de So Paulo (CETESB), pelo apoio e

    colaborao no controle, coleta e distribuio das amostras de gua e de esgoto e

    pela parceria de anos nos incentivando no desenvolvimento cientfico e acadmico;

    Life Technologies, em especial Cinthia e Tomoko, pelo conhecimento e suporte

    tcnico que foram fundamentais na execuo deste projeto;

    Ao Laboratrio de Protozoologia do Departamento de Biologia Animal do Instituto

    de Biologia da UNICAMP e Professora Dra. Regina Maura Bueno Franco e

    Nilson Branco, que gentilmente forneceram os oocistos de Toxoplama gondii e

    ovos de Ascaris suum para a validao da PCR em tempo real;

    Professora Dra. Regina Maura Bueno Franco do Laboratrio de Protozoologia da

    UNICAMP pela ateno e por aceitar integrar a banca de avaliao deste trabalho;

    Ao Professor Dr. Rodrigo Martins Soares do Laboratrio do Departamento de

    Medicina Veterinria Preventiva e Sade Animal da Faculdade de Medicina

    Veterinria e Zootecnia da USP pelas orientaes e por aceitar o convite para

    integrar a banca de avaliao deste estudo;

  • Professora Dra. Maria Ins Zanoli Sato por ser to solcita e aceitar o convite

    para participar da banca de avaliao deste estudo;

    Professora Maria Tereza Pepe Razzolini do Laboratrio de Biologia Ambiental

    da USP pelo processamento das amostras pelo Mtodo1623.1, ensinamentos sobre

    o tema da pesquisa e por aceitar participar da banca de avaliao deste estudo;

    Professora Maria Anete Lallo pela amizade, por ter me motivado na rea da

    pesquisa durante a minha graduao e por ser solcita mediante o convite para

    integrar a banca de avaliao deste estudo;

    Ao meu marido Ronaldo, pela cumplicidade e dedicao a mim e ao nosso filho

    Victor Hugo durante os quatro anos desta trajetria e por cuidar da nossa famlia

    com carinho;

    Ao meu amigo Adriano Pereira pelos 15 anos de amizade, que mesmo distncia

    torce por mim e pela minha carreira em todos os momentos;

    minha amiga Milena (marida), pelo carinho, apoio intelectual e pessoal, alegrias

    e tristezas durante toda minha jornada na Faculdade de Sade Pblica/USP.

    s minhas amigas Livia Carminato Balsalobre Zillo e Martha Rojas, pois h 10

    anos formamos o quarteto que mais deu certo nesta vida porque fomos escolhidas

    para trilhar este caminho juntas;

    s minhas amigas e companheiras de laboratrio Bruna Aguiar (Bru) e Mariana

    Charleaux (Mari), pela amizade e por serem meus braos (direito e esquerdo) na

    execuo deste trabalho;

    Ao meu amigo Lincohn Zappelini da Silva pela nova amizade e por conceder as

    fotos dos pontos de coleta utilizadas neste trabalho;

    Ao meu pai, uma pessoa simples e sbia que me ensinou que a humildade a

    melhor virtude do ser humano;

    famlia Nogueira especialmente minhas cunhadas Rosngela e Elisngela pela

    amizade, apoio e carinho;

    Por fim... A todos os meus amigos, prximos ou distantes, pela amizade, afinidades

    e sorrisos, pois os amigos so uma famlia que podemos escolher.

  • EPGRAFE

    O acesso gua potvel uma necessidade humana e, portanto, base do direito humano.

    A gua contaminada compromete tanto a sade fsica como social de todas as pessoas.

    uma afronta dignidade humana.

    Kofi Annan

    Ex-Secretrio das Naes Unidas

  • RESUMO

    Arajo RS. Quantificao e caracterizao molecular de Cryptosporidium spp. isolados em

    gua bruta superficial e esgoto bruto para a monitorizao em mananciais de abastecimento

    pblico na regio Metropolitana de So Paulo (RMSP) [Tese de Doutorado]. So Paulo:

    Faculdade de Sade Pblica da USP; 2015.

    As doenas de veiculao hdrica, sobretudo aquelas causadas por protozorios

    intestinais, emergiram como um dos principais problemas de sade pblica. Diferentes

    aspectos so abordados sobre a biologia e a epidemiologia dos principais protozorios

    parasitas de transmisso hdrica. Cryptosporidium est descrito como um importante

    parasita associado a casos de surtos de veiculao hdrica e alimentos no mundo. A

    epidemiologia complexa desse protozario e o fato de que a maioria das espcies e

    gentipos no pode ser diferenciada morfologicamente, aumentam o interesse por

    metodologias sensveis e rpidas na deteco de espcies responsveis pela infeco em

    humanos. Neste estudo foram avaliadas 50 amostras de gua bruta superficial, coletadas no

    Rio So Loureno da Serra (P1A) e Represa de Guarapiranga (P2A) e 50 de esgoto bruto

    coletadas em So Loureno da Serra (P1E) e no poo vertical de Taboo da Serra (P2E)

    entre os meses de janeiro e dezembro de 2013. O isolamento dos oocistos na gua foi

    realizado pelo Mtodo 1623.1 e as amostras de esgoto bruto por centrifugao, separao

    imunomagntica (IMS). A caracterizao genotpica ocorreu por meio da nested PCR,

    clonagem e sequenciamento com base no gene 18S rRNA comum a todas as espcies de

    Cryptosporidium. O ensaio de PCR em tempo real (qPCR) foi avaliado simultaneamente

    para deteco e quantificao de oocistos nas amostras. De acordo com os resultados

    obtidos pela nested PCR, Cryptosporidium foi detectado na gua bruta superficial em 12%

    (3/25) no manancial P1A e 16% (4/25) no P2A. No esgoto bruto o parasito foi detectado

    em 20% (5/25) das amostras no ponto P1E e 24% (6/25) no poo vertical P2E. A qPCR

    detectou 52% (0,79 a 1,85 oocistos/L) de amostras positivas no manancial P1A e o parasito

    foi detectado em 64% (0,72 a 1,4 oocistos/L) no manancial P2A. No esgoto bruto 72% das

    amostras foram positivas tanto no ponto P1E (7 a 655 oocistos/L) como no P2E (5 a 519

    oocistos/L). A caracterizao molecular permitiu a identificao de C. parvum e C.

    hominis na gua bruta superficial, e C. hominis, C. parvum, e C. muris no esgoto bruto. As

    espcies do gnero Cryptosporidium identificadas neste estudo apresentam expressiva

    relevncia para o desenvolvimento da doena humana. Neste sentido, as metodologias de

    concentrao e caracterizao empregadas nas anlises demonstraram no geral, o potencial

    para aplicao em estudos de vigilncia ambiental e foram teis na diferenciao de

    espcies patognicas. A presena de C. muris associada s espcies antroponticas

    identificadas auxiliou na investigao de provveis fontes de contaminao no ambiente

    confirmando a necessidade da expanso de medidas efetivas para proteo destes

    mananciais.

    Descritores: Sade Pblica; Cryptosporidium; Genotipagem; gua Bruta Superficial;

    Esgoto Bruto; PCR quantitativo.

  • ABSTRACT

    Arajo RS. Quantification and molecular characterization of Cryptosporidium spp. from raw

    surface water and raw sewage for the monitoring of public water supply sources in the

    metropolitan region of So Paulo [Thesis]. So Paulo (BR): Faculdade de Sade Pblica da

    USP; 2015.

    Waterborne diseases, especially those caused by intestinal protozoa, have emerged

    as a major public health problem. Different aspects are addressed on the biology and

    epidemiology of most waterborne protozoan parasites. Cryptosporidium is described as an

    important parasite associated with cases of waterborne and food outbreaks in the world.

    The complex epidemiology of this protozoan, as well as the fact that most species and

    genotypes cannot be differentiated morphologically, increase the interest for sensitive and

    rapid methods for the detection of species responsible for infection in humans. In this

    study, 50 samples of raw surface water were collected from So Loureno River (P1A) and

    Guarapiranga Dam (P2A), and 50 samples of raw sewage were collected from So

    Loureno da Serra (P1E) and from Taboo da Serras vertical well (P2E), between January

    and December of 2013. The isolation of oocysts in water was carried out by the USEPA

    Method 1623.1 and raw sewage samples were processed by centrifugation,

    immunomagnetic separation (IMS). Genotypic characterization occurred by nested PCR,

    cloning and sequencing based on 18S rRNA gene, which is common to all Cryptosporidium

    species. Real time PCR assays (qPCR) were carried out both for detection and

    quantification of oocysts simultaneously in the samples. According to the results obtained

    by nested PCR, Cryptosporidium was detected in raw surface water in 12% (3/25) of

    samples at P1A and in 16% (4/25) at P2A. In raw sewage the parasite was detected in 20%

    (5/25) of samples at P1E and 24% (6/25) in P2E vertical well. qPCR detected 52% (0.79 to

    1.85 oocysts/L) of positive samples at P1A, while the parasite was detected in 64% (0.72 to

    1.4 oocysts/L) of samples at P2A water supply. Regarding raw sewage, 72% of samples

    were positive both at P1E (7 to 655 oocysts/L) and P2E (5 to 519 oocysts/L Molecular

    characterization allowed the identification of C. parvum and C. hominis in raw surface

    water, and C. hominis, C. parvum and C. muris in raw sewage. Cryptosporidium species

    identified herein belong to a group of organisms of significant relevance in waterborne

    diseases. Therefore, concentration and characterization methodologies applied in our

    analyses showed to be useful for environmental surveillance studies, as well as they were

    useful in the differentiation of human pathogens. The presence of C. muris associated to

    anthroponotic species helped in the investigation of likely contamination sources in the

    environment, confirming the need of expansion in effective measures to protect these water

    supplies.

    Descriptors: Public Health; Cryptosporidium; Genotyping; Raw surface water; Raw sewage;

    quantitative PCR.

  • NDICE

    1. INTRODUO................................................................................................. 20

    1.1 Consideraes gerais................................................................................... 20

    1.2 Aspectos relevantes no setor de saneamento no Brasil............................... 28

    1.2.1 Plano de Segurana da gua.............................................................. 32

    1.3 O gnero Cryptosporidium e sua ocorrncia no meio ambiente................. 34

    1.4 Mtodos de identificao de Cryptosporidium........................................... 42

    2. OBJETIVOS...................................................................................................... 48

    2.1 Objetivo geral............................................................................................... 48

    2.2 Objetivos especficos.................................................................................... 48

    3. MATERIAL E MTODOS.............................................................................. 49

    3.1 rea do estudo e periodicidade das coletas................................................... 49

    3.2 Procedimento para concentrao das amostras............................................. 52

    3.2.1 gua bruta superficial.......................................................................... 52

    3.2.2 Esgoto bruto......................................................................................... 54

    3.3 Caracterizao genotpica de Cryptosporidium............................................ 54

    3.3.1 Extrao de DNA total......................................................................... 54

    3.3.2 Controles internos para confirmao das espcies isoladas................. 55

    3.3.3 Clonagem............................................................................................. 55

    3.3.4 Reao em cadeia pela polimerase dupla (nested PCR)....................... 56

    3.3.5 Bioinformtica...................................................................................... 58

    3.4 Anlise quantitativa (qPCR)......................................................................... 59

    3.4.1 Iniciadores e sonda TaqMan (Applied Biosystems)......................... 59

    3.4.2.Curva Padro........................................................................................ 60

  • 3.4.3 Condies de amplificao da qPCR.................................................. 61

    3.4.4 Anlises estatsticas.............................................................................. 64

    4. RESULTADOS.................................................................................................. 65

    4.1 Deteco de Cryptosporidium nas amostras de gua bruta pela nested

    PCR......................................................................................................................... 65

    4.2 Deteco de Cryptosporidium nas amostras de esgoto bruto pela nested

    PCR......................................................................................................................... 67

    4.3 Ensaio de validao da qPCR........................................................................ 75

    4.3.1 Anlise de sensibilidade dos iniciadores e sonda.................................... 75

    4.3.2 Anlise de especificidade dos iniciadores e sonda.................................. 77

    4.3.3 Avaliao da reprodutibilidade da curva-padro para quantificao...... 80

    4.4. Resultados de deteco e quantificao de C. hominis/C. parvum nas

    amostras ambientais amplificadas pela qPCR........................................................ 83

    5. DISCUSSO...................................................................................................... 89

    5.1 Consideraes finais..................................................................................... 105

    6. CONCLUSO................................................................................................... 108

    7. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS............................................................ 110

    8. ANEXOS............................................................................................................ 124

    Deteco de cistos de Giardia spp. e Cryptosporidium spp. pela tcnica

    filtrao/IMS/FA (Mtodo 1623.1/EPA 2012), utilizando sistema Filta-Max

    ..... A1

    Deteco de cistos de Giardia spp. e Cryptosporidium spp. por meio da tcnica

    Concentrao/IMS/FA (McCuin & Clancy, 2005) para Esgoto bruto (efluente

    primrio).................................................................................................................. A2

    Apresentao da capa do curculo Lattes................................................................ A3

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1. Aspectos histricos relevantes no setor de saneamento no

    Brasil.................................................................................................................. 30

    Quadro 2. Etapas para o desenvolvimento de um Plano de Segurana da

    gua.................................................................................................................... 34

    Quadro 3. Caractersticas e localizao dos pontos de coleta utilizados no

    estudo.................................................................................................................. 50

    Quadro 4. Iniciadores e sonda do gene 18S rRNA desenvolvidos neste

    estudo.................................................................................................................. 59

    Quadro 5. Condies de amplificao do DNA de Cryptosporidium pela

    qPCR.................................................................................................................. 62

    Quadro 6. Resultados da amplificao e caracterizao genotpica pela

    nested PCR e sequenciamento das amostras de gua bruta superficial e esgoto

    bruto.................................................................................................................... 74

    Quadro 7. Valores com as mdias de Cts por nmero de cpias obtidas pela

    qPCR no ensaio de validao.............................................................................. 75

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1. Avaliao da reprodutibilidade da curva padro utilizada nas

    amostras de gua bruta para deteco de Cryptosporidium pela qPCR,

    apresentando os valores de Mdia, Desvio Padro e Coeficiente de

    Variao.............................................................................................................. 80

    Tabela 2. Avaliao da reprodutibilidade da curva padro utilizadas nas

    amostras de esgoto bruto para deteco de Cryptosporidium pela qPCR,

    apresentando os valores de Mdia, Desvio Padro e Coeficiente de

    Variao.............................................................................................................. 81

    Tabela 3. Resultados de deteco e quantificao pela qPCR e o nmero de

    ciclos necessrios para atingir o threshold durante a amplificao nas

    amostras de gua bruta superficial...................................................................... 84

    Tabela 4. Resultados de deteco e quantificao pela qPCR e o nmero de

    ciclos necessrios para atingir o threshold durante a amplificao nas

    amostras de esgoto bruto.................................................................................... 85

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1. Rio So Loureno da Serra (P1A)(A); Ponto de captao do esgoto

    bruto (P1E) gerado na cidade de So Loureno da Serra (B). Fonte:

    Laboratrio de Anlises Biolgicas do Departamento de Sade

    Ambiental/USP................................................................................................... 51

    Figura 2. Reservatrio do Guarapiranga (P2A) prximo ao ponto de captao

    (A); Poo vertical utilizado na coleta do esgoto bruto (P2E) de Taboo da

    Serra (B). Fonte: Laboratrio de Anlises Biolgicas do Departamento de

    Sade Ambiental/USP.........................................................................................

    51

    Figura 3. Fluxograma do processamento das amostras de gua bruta

    superficial e esgoto bruto para obteno dos sedimentos utilizados na

    extrao do DNA e amplificao das amostras por nested PCR e qPCR...........

    53

    Figura 4. Total de amostras (n=50) com percentual positivo para cada ponto

    de coleta obtidos pela nested PCR do gene 18S rRNA do parasito

    Cryptosporidium na gua bruta superficial......................................................... 65

    Figura 5. . Eletroforese em gel de agarose 1,2% dos produtos amplificados

    nas reaes de nested PCR para o fragmento de 826pb. M (marcador de peso

    molecular 100bp), Ca (controle positivo amostra ambiental); As amostras 2 a

    11 esto dispostas em ordem nas diluies: 1:10, 1:100 e 1:1000; nC+

    (controle positivo da nested); dC+ (controle positivo direto da segunda

    amplificao); C- (controle negativo); Br (branco)............................................

    66

    Figura 6. Total de amostras (n=50) com percentual positivo em cada ponto

    de coleta obtidos pela nested PCR do gene 18S rRNA do parasito

    Cryptosporidium no esgoto bruto.......................................................................

    67

    Figura 7. Alinhamento entre as sequncias obtidas a partir dos fragmentos

    amplificados de 826pb do gene 18S rRNA pela nested PCR de amostras

    ambientais e as sequncias representantes das diferentes espcies e gentipos

    de Cryptosporidium disponveis no banco de dados GenBank...........................

    69

    Figura 8. Relaes evolutivas dos txons baseadas no mtodo de Neighbor-

    Joining utilizando sequncias do gene 18S rRNA de diferentes espcies de

    Cryptosporidium disponveis no banco de dados GenBank e os valores de

    bootstrap aps 2000 rplicas. As demais amostras representadas pelas letras A

    e E so amostras positivas de gua e esgoto oriundas deste estudo. As

    Amostras 15E (A) e 15E (B) referem-se a sequncias clonadas de espcies

    mistas...................................................................................................................

    73

    Figura 9. Representao grfica linear utilizada nas anlises de sensibilidade

    da qPCR. O eixo X est representado pela quantidade de ciclos na reao e o

    eixo Y os valores da magnitude do sinal gerado (Rn) nas condies da

    qPCR.................................................................................................................. 76

  • Figura 10. Eletroforese em gel de agarose a 3% mostrando bandas

    especficas de 150pb da curva padro e controle positivo utilizado na qPCR.... 76

    Figura 11. Grfico da curva padro representando a curva de regresso linear

    utilizada na qPCR. No eixo X so apresentados os valores de quantificao e

    no eixo Y os valores de CTs. Na legenda a cor vermelha representa as

    amostras positivas da curva, a cor azul o controle positivo clnico e a cor

    verde DNA extrado de amostra de gua bruta...................................................

    77

    Figura 12. Representao da curva padro e amplificao positiva para C.

    hominis. de acordo com a legenda as amostras referentes s linhas A e B esto

    relacionadas com a curva-padro e a linha F com o controle positivo clnico,

    as demais linhas representam os resultados de amplificao negativos

    referentes aos outros patgenos.......................................................................... 78

    Figura 13. Representao das curvas de amplificao positiva no qPCR para

    C. parvum e C. hominis. O rudo abaixo do limiar (Threshold) representa

    amostras negativas de outras espcies que no resultaram em amplificao. O

    eixo X est representado pela quantidade de ciclos na reao e o eixo Y os

    valores da magnitude do sinal gerado (Rn) nas condies da qPCR................ 79

    Figura 14. Grfico multicomponente representando o ensaio qPCR com a

    curva padro e amplificao positiva para C. hominis e negativa para C.

    muris. O eixo X apresenta o nmero de ciclos da reao e o eixo Y os valores

    atribudos a intensidade do sinal fluorescente. Na legenda em azul

    representando as amostras amplificadas com a sonda ligada ao corante

    reporter FAM e vermelho para o ROX.............................................................. 79

    Figura 15. Representao grfica do ensaio qPCR com amplificao positiva

    do IPC (internal positive control). As demais linhas representam os rudos da

    reao de amplificao........................................................................................ 82

    Figura 16. Resultados obtidos para amostras de gua bruta (P1A e P2A) e

    esgoto bruto (P1E e P2E), positivos e negativos para a presena de

    Cryptosporidium quando avaliadas por meio da reao de qPCR...................... 86

    Figura 17. Nmero de oocistos/L de acordo com os meses de coleta

    detectados na qPCR a partir do DNA de Cryptosporidium extrado

    diretamente nas amostras de gua bruta superficial no ponto P1A..................... 87

    Figura 18. Nmero de oocistos/L de acordo com os meses de coleta

    detectados na qPCR a partir do DNA de Cryptosporidium extrado

    diretamente nas amostras de gua bruta superficial no ponto P2A..................... 87

    Figura 19. Nmero de cpias/L do fragmento 18S rRNA a partir do DNA de

    Cryptosporidium extrado diretamente das amostras de esgoto bruto no ponto

    P1E...................................................................................................................... 88

    Figura 20. Nmero de cpias/L do fragmento 18S rRNA a partir do DNA de

    Cryptosporidium extrado diretamente das amostras de esgoto bruto no ponto

    P2E...................................................................................................................... 88

  • Introduo 20

    1. INTRODUO

    1.1. Consideraes gerais

    Embora a gua seja o componente mais abundante na natureza, ocupando da

    superfcie da terra, a questo da disponibilidade e da qualidade da gua utilizada para

    consumo tornou-se um assunto relevante para as autoridades sanitrias e comunidade

    cientfica. O interesse pela temtica justifica-se pelo fato de que todos os seres vivos so

    dependentes deste recurso para sobreviver (SOUZA et al., 2010).

    Todavia, a utilizao de gua potvel no desenvolvimento das atividades humanas

    aumentou ao longo dos anos e, em contrapartida, a quantidade de gua disponvel para

    consumo que possa satisfazer tais finalidades no acompanhou esse crescimento. A

    crescente demanda de recursos hdricos somada falta de planejamento nos centros

    urbanos, uso inadequado da gua e lanamento de esgoto domstico e industrial em rios,

    riachos ou lagos, contriburam significativamente com o panorama de degradao dos

    mananciais (SOUZA et al., 2010; LEONETI et al., 2011).

    Os sistemas hdricos contaminados tm o potencial de causar doena e atingir um

    grande nmero de pessoas provocando surtos. No Brasil, aes conjuntas de rgos

    pblicos e privados por meio de polticas de saneamento ambiental, diretrizes e metas para

    universalizao dos servios de saneamento tm estimulado o aprimoramento no setor de

    abastecimento e tratamento de gua (ANA, 2010; LEONETI et al., 2011).

    A importncia da gua como meio de veiculao de doenas entricas

    reconhecida mundialmente. Nesse sentido, a necessidade de investimentos e planejamento

    de aes de saneamento e esgotamento sanitrio tornou-se indispensvel considerando que

  • Introduo 21

    o efluente tratado tem por finalidade reduzir os impactos ambientais e promover a sade da

    populao, interrompendo o ciclo de transmisso de doenas (OMS, 2003; GOMES et al.,

    2011).

    Os microrganismos patognicos quando presentes na gua destinada para o

    consumo humano indicam a inexistncia ou inadequao do tratamento de dejetos e da

    proteo aos mananciais utilizados para abastecimento pblico. O problema central reside

    no fato de que esses eventos apresentam consequncias econmicas e sociais relacionadas

    aos custos com o tratamento adequado da gua, aes coletivas de sade e tratamento dos

    indivduos afetados, podendo at mesmo gerar falta de confiana na qualidade da gua

    potvel utilizada pela populao (KARANIS et al., 2007).

    A gastroenterite infecciosa uma sndrome aguda geralmente identificada nas

    doenas relacionadas ao saneamento. A infeco provoca distrbios no sistema

    gastrointestinal gerando quadros de diarreia, clicas intestinais, vmitos e complicaes

    relacionadas desidratao severa, o que torna a doena extremamente relevante para a

    Sade Pblica. Estima-se que a incidncia anual de casos de diarreia aguda no mundo seja

    de 4,6 bilhes de episdios gerando 2,2 milhes de mortes a cada ano (OMS, 2010).

    De acordo com o Fundo das Naes Unidas para a Infncia (UNICEF), os dados

    sobre mortalidade infantil em menores de cinco anos de idade so preocupantes, com duas

    mil mortes dirias causadas por doenas diarreicas das quais 90% so relacionadas gua

    contaminada, falta de saneamento e prticas inadequadas de higiene. Para a UNICEF os

    nmeros so alarmantes uma vez que aproximadamente 800 milhes de pessoas em todo

    mundo no tem acesso gua potvel e os ndices de saneamento bsico so igualmente

    preocupantes, de tal modo que a melhoria na qualidade da gua poderia reduzir de maneira

    significativa mortalidade infantil em todo o mundo (UNICEF, 2013).

  • Introduo 22

    Diretrizes para proteo da sade humana com base na qualidade da gua potvel

    tm sido publicadas regularmente pela Organizao Mundial da Sade (OMS). O Guia

    para Qualidade da gua de Consumo (Guidelines for Drinking-water Quality) fornece

    subsdios para avaliao da qualidade da gua e reduo de risco sade recomendando os

    valores guia dos parmetros fsicos, qumicos e microbiolgicos, com a finalidade de que o

    produto consumido pela populao seja de qualidade para proteo e promoo da sude

    humana (OMS, 2011).

    Os mananciais utilizados para captao de gua para o consumo humano podem

    conter substncias em suspenso muito variadas, apresentando caractersticas fsicas e

    qumicas prprias e quantidades adicionais de compostos orgnicos e inorgnicos

    provenientes de despejos domsticos e industriais, podendo alterar ainda mais o perfil do

    manancial influenciando inclusive a microbiota aqutica. Portanto, preciso ampliar as

    medidas de proteo e fazer a readequao dos processos de tratamento de gua para cada

    ponto de captao em cada regio (ANA, 2010).

    A Organizao Mundial da Sade recomenda o uso do Plano de Segurana da gua

    (PSA) pelos rgos de gesto de gua. O PSA fornece instrumentos para diretrizes

    operacionais como, por exemplo, o mapeamento do sistema de abastecimento, a

    identificao e avaliao dos riscos ao consumidor desde a captao da gua at o produto

    final a ser distribudo. Refere-se ainda monitorizao e adequao das medidas de

    controle preventivas visando melhora efetiva na qualidade da gua utilizada para

    abastecimento (OMS, 2005).

    Para adquir a caracterstica de potabilidade a gua deve ser submetida ao

    tratamento convencional que segue parmetros fsicos, qumicos e microbiolgicos pr-

    determinados. No Brasil, a Portaria n 2914, publicada pelo Ministrio da Sade em

    dezembro de 2011 e que estabelece os padres de qualidade da gua para o consumo

  • Introduo 23

    humano, ressalta a importncia das boas prticas no abastecimento de gua sob a

    perspectiva do risco sade humana, reconhecendo assim no seu inciso VI do artigo 13, a

    importncia do PSA recomendado pela OMS (BRASIL 2011b).

    O controle laboratorial de contaminao da gua por microrganismos patognicos

    possvel mediante a anlise da presena ou ausncia de indicadores bacteriolgicos. Os

    coliformes totais incluindo os principais gneros: Escherichia, Citrobacter, Klebsiella e

    Enterobacter e os coliformes termotolerantes (que tem como principal representante a

    bactria Escherichia coli) so utilizados no processo de avaliao da gua por

    contaminao de origem fecal. Porm, diferentes processos analticos so necessrios para

    determinao destes indicadores e a ausncia de um microrganismo no elimina a presena

    de outros tornando a anlise insuficiente na proteo da sade humana (BRASIL, 2004;

    BETTEGA et al., 2006).

    Os protozorios entricos pertencem a um grupo de organismos de expressiva

    relevncia nas doenas de veiculao hdrica e representam um desafio para as autoridades

    de sade e indstrias produtoras de gua. Em geral, esses agentes exibem em sua

    constituio biolgica caractersticas particulares como a eliminao de grande nmero de

    formas infecciosas no ambiente e a resistncia aos processos convencionais de tratamento

    de gua, eficientes na remoo de bactrias e vrus patognicos, porm insuficientes na

    inativao e eliminao de cistos e oocistos na gua (ROSEN, 2000; RYU &

    ABBASZADEGAN, 2008).

    Os gneros Cryptosporidium e Giardia esto entre os principais protozorios

    intestinais estudados no mundo, podendo ser transmitidos ao homem por meio da gua e

    alimentos contaminados com oocistos e cistos infecciosos. Nos Estados Unidos os dois

    parasitos esto associados a mais de 50% dos surtos de gua de consumo humano captadas

    de fontes superficiais registrados no perodo 1986 a 2000, e em segundo lugar est a

  • Introduo 24

    enterobactria Escherichia coli O157:H7 (ARNONE e WALLING, 2007; BALDURSSON

    E KARANIS, 2011).

    A maior parte dos casos contaminao de gua associados a surtos de

    criptosporidiose e giardose ocorreu na Amrica do Norte e no Reino Unido. A deficincia

    nos processos de tratamento e ps-tratamento em conjunto com o aumento do nmero de

    casos da doena no homem, so as razes principais para propagao dos surtos citados

    (KARANIS et al., 2007; CHALMERS et al., 2010 ).

    No Brasil, a norma de potabilidade da gua vigente, est atenta importncia do

    monitoramento dos protozorios na gua de abastecimento e tornou obrigatria, conforme

    os princpios do PSA, a pesquisa de Cryptosporidium e Giardia quando for identificada

    mdia geomtrica anual maior ou igual a 1.000 Escherichia coli/100mL de forma a

    garantir qualidade da gua potvel e proteger a sade da populao (BRASIL, 2011b).

    Nesse ponto, considerando a gua como um importante veculo de transmisso dos

    patgenos causadores da criptosporidiose e da giardose em humanos e animais, diferentes

    ferramentas metodolgicas que objetivam a identificao de seus oocistos e cistos em

    fontes de gua e esgoto sanitrio foram avaliadas e tornaram-se disponveis na comunidade

    cientfica (CAREY, 2004).

    Alm disso, possvel avaliar o significado para a sade humana da presena

    desses patgenos na gua, mediante a determinao da probabilidade de infeco no

    hospedeiro humano. A Avaliao Quantitativa de Risco Microbiolgico (AQRM) uma

    ferramenta utilizada para o estabelecimento de critrios e padres microbiolgicos e

    amplamente recomendada pela Organizao Mundial da Sade (OMS) e pela Agncia de

    Proteo Ambiental Americana (United States Environmental Protection Agency -

    USEPA) para instrumentalizar polticas de proteo de mananciais e de controle de

    qualidade de guas de consumo humano (USEPA, 2005; IGNOTO, 2010).

  • Introduo 25

    AQRM fornece dados sobre o risco de infeco por Cryptosporidium e Giardia

    estimando a probabilidade de infeco devido ingesto de gua contaminada, com base

    nas concentraes dos protozorios detectados na gua. Entretanto, fatores limitantes como

    a recuperao do mtodo utilizado na pesquisa do parasito, falta de dados sobre a

    viabilidade, infectividade e imunidade podem influenciar de forma negativa na avaliao

    de risco, superestimando os dados (SATO et al., 2013).

    Estudos epidemiolgicos em nosso pas ainda esto em andamento. Embora tenha

    sido institudo desde a dcada passada o Programa de Monitorizao das Doenas

    Diarreicas Agudas (MDDA) ainda no est estruturado de forma adequada em todo pas.

    Entretanto, o programa tem permitido elucidar alguns surtos de veiculao hdrica

    associados a protozorios e vrus, como o ocorrido em General Salgado no ano 2000, que

    teve como agente etiolgico Cyclospora cayetanensis e o surto de norovrus ocorrido tanto

    na Baixada Santista como no interior do Estado (CVE, 2008; CVE, 2010).

    Frente ausncia de metodologias padronizadas para deteco e monitoramento de

    Giardia spp. e Cryptosporidium spp. em amostras de gua, a United States Environmental

    Protection Agency (USEPA) props o Mtodo 1623 para identificao simultnea desses

    protozorios, o qual foi recm-revisado. O processo envolve etapas de filtrao,

    concentrao, purificao por separao imunomagntica (IMS), anlise e confirmao dos

    gneros por imunofluorescncia (IF) e contraste interferencial diferencial (DIC) (USEPA,

    2012).

    Deve-se observar, no entanto, que a IMS apresenta comportamento varivel em

    amostras de gua com alta turbidez. Outras limitaes do Mtodo 1623 esto relacionadas

    com a incapacidade de distinguir as espcies ou gentipos que afetam o homem e a

    infectividade dos oocistos, uma vez que somente microrganismos viveis fornecem riscos

    sade humana (DiGIORGIO et al., 2002; BAQUE et al., 2011).

  • Introduo 26

    Uma variedade de tcnicas de concentrao foi sugerida e utilizada para a pesquisa

    e o isolamento dos oocistos de Cryptosporidium e cistos de Giardia em amostras de gua

    (FRANCO e CANTUSIO, 2002; HIGGINS et al. 2003; HACHICH et al., 2004; JIANG et

    al., 2005; McCUIN e CLANCY, 2005; RAZZOLINI et al., 2010; ARAUJO et al., 2011).

    Em geral, as tcnicas descritas apresentam limitaes, como por exemplo, a demora

    nos procedimentos, baixa reprodutibilidade e custo elevado. Contudo, importante

    ressaltar que no h restrio quanto aplicao de tais metodologias desde que estes

    mtodos sejam validados e se ateste a equivalncia ao Mtodo 1623 (PEREIRA et al.,

    2009).

    Um estudo interlaboratorial realizado nos Estado de So Paulo e Minas Gerais, com

    gua bruta superficial, teve como objetivo avaliar o desempenho das principais

    metodologias de concentrao propostas, de acordo com as caractersticas dos mananciais

    nacionais. Os pesquisadores concluram que, embora o mtodo de filtrao em membranas

    apresentasse bons resultados na recuperao, o sistema Filta-Max apresentou melhor

    desempenho e atendeu a todos os critrios para anlise de Cryptosporidium e Giardia

    (FRANCO et al., 2012).

    As tcnicas de maior sensibilidade, especificidade e rapidez como amplificaes de

    cidos nuclicos atravs da PCR (reao em cadeia pela polimerase) despertaram o

    interesse dos pesquisadores por superar algumas limitaes dos mtodos convencionais na

    deteco e caracterizao de organismos patognicos principalmente em amostras

    ambientais (XIAO et al., 2004).

    Logo, as tcnicas genotpicas tornaram-se necessrias no apoio s investigaes

    epidemiolgicas, sendo particularmente importantes durante a averiguao de fontes

    suspeitas podendo discriminar entre os gneros e as espcies de protozorios detectados e

  • Introduo 27

    auxiliar em casos de surtos da doena ou casos espordicos (XIAO et al., 2004; RYAN et

    al., 2005; PLUTZER e TOMOR, 2009; ROBERTSON et al., 2010).

    A tcnica de reao de amplificao em tempo real (qPCR) considerada uma

    tcnica promissora para deteco e quantificao de diferentes organismos em diversos

    tipos de amostras. A qPCR um sistema adaptado para deteco de sequncias alvo que

    permite a determinao da variabilidade gentica entre os isolados e medir a quantidade

    relativa de DNA acumulada ao final dos ciclos da reao (GUY et al., 2003; STOUP et al.,

    2006; ALONSO et al., 2011; RYU et al., 2010; STAGGS et al., 2013).

    As vantagens em relao ao PCR convencional esto na reduo do tempo do

    ensaio, reduo de riscos de contaminao e aumento da sensibilidade. O procedimento

    segue o princpio geral da reao em cadeia pela polimerase, e sua caracterstica

    fundamental que o DNA amplificado detectado por uma sonda especfica fluorescente

    ou um corante de ligao ao DNA que emite um sinal aps a hibridizao com o DNA alvo

    complementar dupla-fita, assim a reao progride e pode ser acompanhada em tempo real

    (ALONSO et al., 2011).

    Na literatura avaliada, diferentes problemas relacionados ao PCR em tempo real

    so citados, desde a sensibilidade das sondas para limites de deteco mais sensveis como

    componentes inibitrios frequentemente encontrados em amostras ambientais resultando

    em reduo significativa da sensibilidade e cintica da tcnica. No entanto, estudos

    adicionais so necessrios para avaliao mais precisa da aplicabilidade dessa metodologia

    e ainda, para compreender qual o significado para a sade pblica da deteco e

    identificao de espcies de Cryptosporidium no meio ambiente (STROUP et al., 2006;

    ALONSO et al., 2011; STAGGS et al., 2013).

  • Introduo 28

    1.2. Aspectos relevantes no setor de saneamento no Brasil

    O planejamento dos sistemas de saneamento em centros urbanos fundamental

    para promover a sade humana e gerar impactos positivos sobre o meio ambiente

    (SOARES et. al., 2002). De acordo com HELLER (1998), a consolidao do enfoque

    sade, saneamento e meio ambiente foi crucial para sensibilizar e orientar organizaes

    governamentais, tcnicos da rea e a populao sobre os efeitos dos agentes poluidores no

    ambiente como um fator determinante de agravos sade humana.

    O objetivo do saneamento do meio est relacionado a um conjunto de medidas que

    visam garantir melhores condies de sade populao e evitar a contaminao e

    proliferao de doenas. Desta forma, o saneamento compreende o sistema de

    abastecimento de gua e esgoto, sistema de coleta e disposio de resduos slidos,

    drenagem urbana, e o controle de vetores, e constitui componentes importantes a serem

    enfatizados nas polticas pblicas em sade e para preveno da morbi-mortalidade

    (GOMES et al., 2011).

    Muito embora os investimentos na rea de saneamento no Brasil tenham ocorrido

    em alguns perodos especficos entre 1970 e 1980, atualmente o setor tem recebido maior

    ateno governamental e uma significativa quantia de recursos a serem investidos. A partir

    dessas consideraes, entende-se que as aplicaes dos recursos devem viabilizar os rgos

    gestores no cumprimento dos aspectos legais, atender aos padres mnimos de qualidade a

    fim de melhorar os ndices de sade, e finalmente garantir a sustentabilidade dos mesmos

    (SOARES et al., 2002; LEONETI et al., 2011).

    A partir de 1960, os servios pblicos de abastecimento de gua e coleta de esgotos

    eram realizados por servios municipalizados com o apoio tcnico da atual Fundao

    Nacional de Sade FUNASA do Ministrio da Sade. A partir da consolidao do Plano

  • Introduo 29

    Nacional de Saneamento - PLANASA na dcada de 70, foram constitudas as empresas

    estaduais de saneamento encarregadas da prestao de servios pblicos urbanos de gua e

    esgotos, entre elas a SABESP em So Paulo, a COPASA em Minas Gerais e a CEDAE no

    Rio de Janeiro (PEREIRA JUNIOR, 2008). O Quadro 1 apresenta a evoluo histrica no

    setor de saneamento no Brasil desde o sculo XX at o incio do sculo XXI.

    Diretrizes nacionais para o saneamento bsico e para a poltica federal de

    saneamento bsico voltado para melhoria da oferta da quantidade e qualidade da gua

    esto representadas pela Lei 9.433/1997 que se refere ao Plano Nacional de Recursos

    Hdricos (PNRH) e pela Lei 11.445/2007 que instituiu o Sistema Nacional de Informaes

    em Saneamento Bsico que, entre outras providncias, motivaram a cooperao entre os

    municpios, estados e o Distrito Federal na ampliao do acesso a servios de saneamento

    bsico de qualidade, com nfase na reduo das desigualdades regionais e melhoria da

    qualidade de vida da populao brasileira (PEREIRA JUNIOR, 2008; ANA, 2010).

    No entanto, as aes relacionadas ao meio ambiente e controle da poluio que

    complementam as leis vigentes so elaboradas pelas agncias regulamentadoras como, por

    exemplo, a resoluo do CONAMA N 430 de 13 de Maio de 2011, que complementa e

    altera a Resoluo n 357/2005 sobre a classificao e diretrizes ambientais para a proteo

    dos corpos de gua superficiais, bem como estabelece as condies e padres de

    lanamento de efluentes (MMA, 2011).

  • Introduo 30

    Quadro 1. Aspectos histricos relevantes no setor de saneamento no Brasil

    Perodo Caractersticas da evoluo

    Dcadas de

    30 e 40

    Apresentao do primeiro instrumento de controle de uso dos recursos

    hdricos no Brasil: Cdigo das guas (1934).

    Dcadas de

    50 e 60

    Primeiras iniciativas para estabelecer parmetros fsicos, qumicos e

    microbiolgicos definidores da qualidade das guas por meio de Legislaes

    estaduais e no mbito federal.

    Dcada de 70

    Consolidao do PLANASA Plano Nacional de Saneamento, com nfase

    no ndice de atendimento por sistemas de abastecimento de gua; criao da

    Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA) com base nos conceitos de

    ecologia e meio ambiente.

    Dcada de 80

    Surgimento de instrumentos legais definidores de polticas e aes do

    governo brasileiro com a Poltica Nacional do Meio Ambiente; Reviso de

    normas e instrumentos tcnicos dos padres de qualidade das guas

    (resoluo 20/86 do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA).

    Dcada de 90

    Planejamento e aes de saneamento com base no conceito de

    desenvolvimento sustentvel; Portaria MS n 36/90 que estabelece normas e

    padres para qualidade da gua de consumo; Instituio da Poltica e do

    Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hdricos (Lei 9.433/97).

    Sculo XXI

    Portaria MS 1.469/2000 reviso dos padres de potabilidade e vigilncia

    da qualidade da gua para o consumo humano e os padres de potabilidade,

    substituda pela Portaria MS n 518/2004;

    Resoluo do CONAMA 274/2000, define os critrios de balneabilidade nas

    guas brasileiras. Considerando ser a classificao das guas doces, salobras

    e salinas essencial defesa dos nveis de qualidade, avaliadas por parmetros

    e indicadores especficos, de modo a assegurar as condies de

    balneabilidade.

    Resoluo do CONAMA 357/2005, classifica os corpos dgua e dispe

    sobre diretrizes ambientais, e estabelece padres e condies de lanamentos

    de efluentes de qualquer fonte poluidora;

    Lei 11.445/2007 estabelece diretrizes nacionais para o saneamento bsico;

    Resoluo CONAMA 396/2008, classifica as guas subterrneas e define

    procedimentos para anlise e controle de qualidade para o monitoramento

    das guas subterrneas;

    Resoluo CONAMA 430/2011, altera a resoluo 357/2005 e estabelece

    que qualquer fonte poluidora s poder ser lanada nos corpos de gua aps

    o devido tratamento obedecendo aos padres orgnicos e inorgnicos

    determinando o automonitoramento pelos responsveis pela fonte poluidora;

    Portaria n 2.914/2011 revoga e substitui a portaria 518/2004 e dispe sobre os procedimentos de controle e de vigilncia da qualidade da gua para

    consumo humano e seu padro de potabilidade.

    Adaptado de SOARES et al., 2002; ANA 2010; BRASIL 2011b.

  • Introduo 31

    Com o desenvolvimento na rea de saneamento e seguindo a tendncia mundial,

    houve a necessidade da implantao de normas e revises tcnicas voltadas para melhoria

    da qualidade da gua e esses padres so obtidos segundo orientaes da Portaria MS

    2914/2011 recentemente revisada (BRASIL, 2011b).

    De acordo com LEONETI et al. (2011), o saneamento no Brasil ainda est

    marcado por grande desigualdade e deficincia de acesso, principalmente nas regies Norte

    e o Nordeste, em face diversidade socioeconmica da populao. Ainda de acordo com

    os autores, os ndices mais crticos esto relacionados coleta e tratamento de esgoto, visto

    que a maior parte dos servios prestados est relacionada ao abastecimento de gua.

    Dados do Sistema Nacional de Informaes sobre Saneamento Bsico (SNIS), em

    2012, demonstram que o atendimento de abastecimento de gua da populao brasileira

    total apresentou ndice mdio nacional nas reas urbanas de 93,2% e para a rede coletora

    de esgotos 56,1%, destacando as regies Sul e Sudeste. J a mdia do pas para o

    tratamento do esgoto gerado de 38,7% e coletados 69,4%, com destaque para a regio

    Centro-Oeste, com 44,2% tratados e 90% coletados (SNIS, 2014).

    O acesso gua tratada por meio de rede de abastecimento um dos servios

    urbanos mais disponibilizados nos municpios brasileiros, sendo somente superado pela

    energia eltrica. No Estado de So Paulo, o principal centro econmico do pas, o ndice de

    atendimento de gua na rea urbana de 99,3%, valor considerado praticamente universal

    e para esgoto coletado 95,5% com 74,9% tratado. De acordo com a Fundao Sistema

    Estadual de Anlise de Dados - SEADE, apesar dos valores expressivos apresentados pelo

    estado, ainda alarmante o percentual de carga poluidora remanescente de tratamento de

    esgoto que retorna para os recursos hdricos, 59,4% (FUNDAO SEADE, 2012).

    Os estados que mais investiram nos ltimos trs anos em servios de gua e esgotos

    no Brasil foram: So Paulo, liderando os investimentos realizados, Minas Gerais, Bahia,

  • Introduo 32

    Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, com 64,2% do total investido. Por outro lado, os cinco

    estados que menos investiram foram Amazonas, Acre, Maranho, Amap e Alagoas, que

    juntos tm participao de apenas 1,2% do total (SNIS, 2014).

    Dessa forma, com objetivo de promover a melhoria no setor e reduzir as

    deficincias, outras providncias so adotadas como: O programa de incentivo ao

    tratamento de esgoto PRODES, gerenciado pela Agencia Nacional de guas, o Programa

    Nacional de Vigilncia em Sade Ambiental - VIGIGUA e projetos de desenvolvimento

    tecnolgico e inovao associados a institutos de pesquisa e parcerias pblico-privadas,

    contribuindo na estratgia de universalizao dos servios e no crescimento econmico do

    pas. O PNSB (Plano Nacional de Saneamento Bsico) previsto na Lei n 11.445/2007 que

    teve sua verso final aprovada pelo Decreto presidencial N 8.141 de 20 de Novembro de

    2013, norteia o planejamento dos programas governamentais e os procedimentos para

    avaliao e monitoramento do saneamento bsico no Brasil com viso estratgica de futuro

    (LEONETI et al., 2011; TRATA BRASIL, 2014).

    1.2.1. Plano de Segurana da gua (PSA)

    A baixa qualidade da gua pe em risco no s a sade humana como dos

    ecossistemas naturais j ameaados por mudanas climticas extremas (ANA, 2010).

    Devido ao crescimento populacional, mudanas demogrficas e a quantidade de detritos

    despejados no ambiente aqutico superando sua capacidade de decomposio natural,

    tornam-se necessrias medidas preventivas de aes conjuntas pelas autoridades de sade

    pblica e novos planejamentos pelos servios de gua e saneamento para garantir a

    segurana da gua consumida pela populao (OMS, 2012).

  • Introduo 33

    A reduo dos contaminantes na fonte e o monitoramento sistemtico so ainda a

    forma mais efetiva e barata de proteger a qualidade da gua. Alm dos microrganismos

    introduzidos nos sistemas aquticos pela contaminao fecal humana e animal, as

    atividades agrcolas e poluentes industriais, entre eles os contaminantes emergentes como

    disruptores endcrinos e produtos farmacuticos, contribuem para a alterao qumica,

    fsica e biolgica da gua (ANA, 2010).

    O PSA tem sua metodologia baseada na gesto de riscos para sade pblica

    auxiliando na garantia da qualidade da gua para o consumo humano. Como o plano

    apresenta abordagem preventiva, ele norteia os governantes e as empresas produtoras de

    gua, no s na tomada de decises e estratgias para melhoria da qualidade, como na

    definio das responsabilidades quando os padres pr-determinados no so atendidos

    (OMS, 2011).

    No Brasil os estudos e as ferramentas necessrias para instalao do PSA em

    sistemas de abastecimento esto sendo alcanados atravs de iniciativas de gesto coletiva

    entre o Ministrio da Sade, Secretarias de Vigilncia em Sade, empresas produtoras de

    gua potvel e rgos fiscalizadores (BRASIL, 2012).

    Entretanto, o gerenciamento deve ter uma abordagem preventiva em relao

    origem e s fontes de captao de gua, e como alguns aspectos relacionados com a gesto

    da qualidade da gua no competem somente aos responsveis pelo sistema de

    abastecimento de gua o desenvolvimento do PSA deve ser acompanhado pelos comits de

    Bacias Hidrogrficas da regio e representantes do setor de sade (OMS, 2011). No

    Quadro 2, est descrita a abordagem geral da constituio do Plano de Segurana da gua,

    com as normas estabelecidas pela Organizao Mundial da Sade (BRASIL, 2012).

  • Introduo 34

    Quadro 2. Etapas para o desenvolvimento de um Plano de Segurana da gua.

    Etapas

    preliminares

    Planejamento das atividades, levantamento das informaes,

    constituio da equipe tcnica multidisciplinar e implantao do PSA.

    Avaliao do

    sistema

    Descrio do sistema de abastecimento de gua e validao do diagrama

    de fluxo, identificao e anlise de perigos e caracterizao de riscos e

    estabelecimento de medidas de controle dos pontos crticos.

    Monitoramento

    operacional

    Controlar os riscos e garantir que as metas de sade sejam atendidas por

    meio da seleo dos parmetros de monitoramento e estabelecimento de

    limites crticos e de aes corretivas.

    Planos de

    gesto

    Verificao constante do PSA, estabelecimento de aes em situaes

    de rotina e emergenciais, organizao da documentao da avaliao do

    sistema, estabelecimento de comunicao de risco, e validao e

    verificao peridica do PSA.

    Reviso do

    PSA

    Considerar: Os dados coletados no monitoramento, as alteraes dos

    mananciais e das bacias hidrogrficas, as alteraes no tratamento e na

    distribuio, a implementao de programas de melhoria e atualizao,

    os perigos e riscos emergentes. O PSA deve ser revisado aps desastres

    e emergncias para garantir que estes no se repitam.

    Validao e

    verificao do

    PSA

    Avaliar o funcionamento do PSA e saber se as metas de sade esto

    sendo alcanadas.

    Adaptado de BRASIL, 2012.

    Um conjunto de aes e no somente o controle laboratorial, est estabelecido na

    legislao nacional vigente como, por exemplo, boas prticas em abastecimento de gua e

    a abordagem de mltiplas barreiras baseada nos princpios da anlise de risco onde se

    estabelecem os procedimentos para prevenir, reduzir, eliminar ou minimizar a

    contaminao (BRASIL, 2011b).

    1.3 O gnero Cryptosporidium e sua ocorrncia no meio ambiente

    O Cryptosporidium um coccdia pertencente ao filo Apicomplexa, que habita

    preferencialmente as clulas da mucosa do trato gastrointestinal de diferentes hospedeiros,

  • Introduo 35

    incluindo o homem. O protozorio tornou-se importante na rea mdica por causar diarreia

    transitria em indivduos imunocompetentes e diarreia crnica de difcil tratamento em

    pacientes com imunodeficincias, podendo lev-los ao bito (FAYER et al., 2000;

    FAYER, 2010; CHALMERS & DAVIES, 2010).

    A criptosporidiose ainda endmica na maioria das regies tropicais. A infeco se

    d pela rota fecal-oral. O parasito apresenta baixa dose infectante em indivduos saudveis

    ( 10 oocistos) que podem continuar eliminando oocistos infecciosos at 60 dias aps o

    desaparecimento dos sintomas gastrointestinais (CDC, 2012).

    As principais vias de transmisso so o contato entre o homem e os animais,

    pessoa-pessoa ou atravs da ingesto de oocistos infectantes presentes na gua e alimentos

    contaminados. Portanto, a prevalncia em locais onde a moradia e o saneamento so

    precrios aumenta o risco de contgio e consequentemente de surtos da doena (WHO,

    2006; FRANCO 2007).

    Em pases em desenvolvimento, as crianas menores de 5 anos de idade so

    constantemente acometidas e a infeco crnica provoca distrbios cognitivos e

    nutricionais alterando o metabolismo corporal. Considerando esses fatores,

    Cryptosporidium descrito como um patgeno emergente e a criptosporidiose est inserida

    na lista das doenas negligenciadas da Organizao Mundial de Sade desde 2004

    (HUNTER et al., 2005; SAVOLI et al., 2006; CHALMERS & KATZER, 2013).

    Devido importncia dos animais como reservatrio e sua capacidade de

    disseminar oocistos infectantes no meio ambiente, o potencial zoontico do parasito

    avaliado em diferentes estudos taxonmicos (XIAO, 2004; FAYER, 2010; RYAN &

    POWER, 2012). A epidemiologia complexa e o fato de que a maioria das espcies e

    gentipos no pode ser distinguida morfologicamente fazem aumentar significativamente o

    interesse por mtodos mais sensveis e especficos indispensveis na deteco e

  • Introduo 36

    diferenciao de espcies responsveis pela infeco no homem (RYAN et al., 2005;

    HUMBER et al., 2007; ANTUNES et al., 2008; FERES et al., 2009; SAMRA et al., 2011;

    RYAN et al., 2014 ).

    A caracterizao genotpica favoreceu o conhecimento e a compreenso sobre a

    diversidade gnetica entre os organismos deste gnero. Naturalmente, aps a re-descrio

    taxonmica feita por UPTON & CURRENT em 1985, a espcie C. parvum passou a ser

    utilizada amplamente para descrever o parasito no homem, bezerros e gados e outros

    mamferos, alm de ser utilizado em ratos como modelo experimental. De fato, C. parvum

    considerado um complexo de mltiplas espcies e muitos gentipos de Cryptosporidium

    foram descritos como C. parvum antes de serem caracterizados como espcies novas

    (XIAO et al., 2004; FAYER, 2010; REN et al., 2011).

    A taxonomia atual descreve 26 espcies e mais de 40 gentipos para o gnero

    Cryptosporidium, e algumas destas espcies so reconhecidas, por diversos pesquisadores,

    como possveis agentes de doena no homem, entre elas o C. parvum (gentipo bovino ou

    tipo II), C. hominis (C. parvum, gentipo humano ou tipo I), C. felis, C. meleagridis, C.

    canis e C. cuniculus que so constantemente relatados em pacientes imunocompetentes e

    C. parvum, C.hominis, C.muris, C.baileyi, C. felis, C. meleagridis, C.canis e C.suis, os

    quais esto relacionados com criptosporidiose em pacientes imunocomprometidos (XIAO

    et al., 2004; CACCI et al., 2005; SMITH et al., 2006; SUNNOTEL et al., 2006a;

    FAYER, 2010; ELWIN et al., 2012; RYAN et al., 2014).

    No entanto, as espcies mais frequentemente identificadas em estudos

    epidemiolgicos so C. hominis e C. parvum e a prevalncia de ambas as espcies em

    diferentes partes do mundo varivel. C. hominis descrito com maior frequncia na

    Amrica do Norte, Amrica do Sul, Austrlia e na frica e C. parvum no continente

    europeu (SAVOLI et al., 2006; XIAO, 2010; REN et al., 2012).

  • Introduo 37

    O aumento no nmero de casos de criptosporidiose em diferentes reas geogrficas

    destaca a importncia dos programas de vigilncia e monitoramento por mtodos capazes

    de identificar o patgeno e consequentemente a origem da contaminao. Infeces

    simultneas por C. parvum e C. hominis foram detectadas em 2012, na Holanda,

    Alemanha, partes do Reino Unido e nos Pases Baixos. O parasito foi detectado mediante

    anlises das fezes de pacientes com queixas gastrointestinais e todos os casos foram

    notificados aos servios pblicos de sade regionais (FOURNET et al., 2013).

    Do ponto de vista da sade pblica a diferenciao entre as espcies de

    Cryptosporidium importante por tornar possvel a avaliao do ciclo de transmisso da

    doena. No caso da espcie C. parvum, alm de patgeno humano, tambm considerada

    zoontica, enquanto que em relao a espcie C. hominis, a contaminao deve ocorrer

    somente atravs de dejetos humanos. Entretanto, um estudo conduzido por SMITH et al.

    (2005) avaliou o ciclo natural de C. hominis e revelou que a quantidade de hospedeiros

    para esta espcie pode estar subestimada, devido identificao de C. hominis em gado de

    criao. Esta informao tem um significado importante para sade pblica caso outros

    hospedeiros estejam implicados na disseminao desta espcie no ambiente.

    Cryptosporidium est descrito entre os protozorios mais frequentemente

    diagnosticados em casos de surtos associados gua no mundo. Tais ocorrncias vm

    sendo atribudas a fatores biolgicos e caractersticas prprias do parasito Cryptosporidium

    como, por exemplo, baixa dose infectante necessria para multiplicao no hospedeiro,

    habilidade em permanecer no ambiente por longos perodos e resistncia elevada aos

    processos convencionais de tratamento de gua (XIAO, 2004; RYU &

    ABBASZADEGAN, 2008).

    Desde a maior epidemia de criptosporidiose em Milwaukee (EUA), as agncias

    reguladoras avaliam o risco da contaminao por oocistos presentes em gua potvel. A

  • Introduo 38

    meta de risco tolervel adotada atualmente pela USEPA de 1 caso de infeco em 10.000

    pessoas por ano nos Estados Unidos. Entretanto, estudos recentes revelam que o nmero

    anual de infeco por Cryptosporidium est alm do esperado: 52 casos em 10.000

    indivduos (JOHNSON et al., 2012).

    Deste modo, a gua utilizada para consumo contaminada com oocistos infectantes

    um fator preditivo para o desenvolvimento da doena em humanos (FERGUSON et al.,

    2006). Nos Estados Unidos, surtos frequentes de veiculao hdrica fizeram a Agncia de

    Proteo Ambiental Americana incluir o gnero Cryptosporidium e Giardia entre os

    organismos a serem monitorados em mananciais de abastecimento (USEPA, 2005).

    Os oocistos ocorrem em baixas densidades no ambiente, e os mtodos de

    concentrao e de identificao so importantes para detectar a presena do protozorio na

    gua. O mtodo padro internacional para anlise simultnea de Cryptosporidium e

    Giardia na gua o mtodo 1623, recentemente atualizado. No entanto, a diferenciao

    entre as espcies e seus respectivos gentipos s possvel por meio de tcnicas

    moleculares (JOHNSON et al., 2012; USEPA, 2012).

    As deficincias no processo de remoo de oocistos durante o tratamento da gua e

    do esgoto e a facilidade de disseminao no ambiente de espcies que afetam o homem

    demonstraram a necessidade da adoo de um programa de vigilncia ativo e bem

    executado, principalmente em regies onde a concentrao do parasito fosse elevada

    (OMS, 2003).

    A deteco e identificao de diferentes espcies de Cryptosporidium em amostras

    ambientais confirmam a importncia de medidas de intervenes para proteo das bacias

    hidrogrficas devido possibilidade de contaminao dos mananciais por despejo de

    esgoto tratado e no tratado, resduos agrcolas e urbanos e dejetos de animais domsticos

  • Introduo 39

    silvestres (XIAO et al., 2001; SMITH et al., 2006; RYU et al., 2008; RAZZOLINI et al.,

    2010; BRANCO et al., 2011; JOHNSON et al., 2012).

    Considerando o potencial de veiculao hdrica na transmisso da criptosporidiose

    e giardose, em Portugal foi realizado um estudo de investigao molecular associado ao

    mtodo USEPA 1623 para avaliar 175 amostras de gua de diverentes fontes, entre estas,

    gua bruta superficial e gua tratada. A presena do parasito Cryptosporidium foi detectada

    em 46,3% (81/175) das amostras analisadas e as espcies mais prevalentes nesta regio

    foram C. parvum seguido de C. hominis, C. andersoni, C. muris e Giardia duodenalis foi

    detectada em 38,3% (67/175) (LOBO et al., 2008).

    No sudoeste da Tailndia, SRISUPHANUNT et al. (2010), investigaram a presena

    de Cryptosporidium e Giardia em amostras de gua de diferentes origens em reas

    afetadas por Tsunamis entre os anos de 2005 e 2008. No primeiro perodo da investigao,

    12,7% (15/118) das amostras foram positivas para Cryptosporidium spp e 7,6% (9/118)

    foram positivas para Giardia spp., e no segundo perodo o percentual de amostras positivas

    foi de 11,9% (5/42) para Cryptosporidum spp. e para Giardia spp., 7,1% (3/42). Apesar da

    deteco de ambos os parasitos ter diminudo no segundo perodo ps-Tsunamis, este

    estudo sugere a necessidade de medidas de controle na qualidade da gua de abastecimento

    como forma de proteo e promoo da sade pblica nas provncias afetadas.

    GALLAS-LINDEMANN et al. (2013), pesquisaram Cryptosporidium e Giardia

    em 206 amostras de gua residual e 190 amostras de gua de rios incluindo uma rea

    recreacional em Lower Rhine na Alemanha entre os anos de 2009 a 2011. Neste estudo a

    presena de cistos de Giardia foi confirmada em 65% (134/206) e 31,1% (64/2060)

    respectivamente nas amostras de gua residual, enquanto nas amostras de gua superficial

    4,2% (8/190) foram positivas para Giardia e 9,5% (18/190) para Cryptosporidium spp.

  • Introduo 40

    identificados pela tcnica de imunofluorescncia e microscopia de contraste interferencial

    diferencial (DIC).

    No Brasil, os estudos relacionados ao Cryptosporidium iniciaram em 1980, devido

    s altas taxas de prevalncia de criptosporidiose em pacientes HIV positivos e pacientes

    transplantados. Porm a pesquisa de Cryptosporidium no faz parte da rotina da maioria

    dos laboratrios clnicos de anlises a menos que haja suspeita clnica. Estudos objetivando

    a pesquisa de Cryptosporidium vm sendo realizados por diferentes grupos de pesquisa,

    tanto na rea ambiental quanto em amostras clnicas, mas somente a partir do ano 2000 os

    estudos empregando a deteco dos oocistos atravs de mtodos moleculares e a

    genotipagem foram introduzidos no pas. (CARVALHO-ALMEIDA, 2005).

    A presena de Cryptosporidium em amostras clnicas foi avaliada em hospitais e

    universidades (CIMERMAN et al., 2002; GATEI et al., 2003 CARVALHO-ALMEIDA et

    al., 2006; OLIVEIRA-SILVA et al., 2007; ARAUJO et al., 2008; GONALVES et al.,

    2008; LUCCA et al., 2009; ASSIS et al., 2013), e a caracterizao gentica em isolados de

    fezes de animais silvestres e domsticos evidenciam a ampla distribuio de espcies

    zoonticas em diversos estudos no Brasil (MEIRELES et al., 2007; ANTUNES et al.,

    2008; LALLO et al., 2009; PAZ e SILVA et al., 2013; PAZ e SILVA et al., 2014).

    Em amostras ambientais grande parte das pesquisas de deteco de

    Cryptosporidium desenvolvida em centros de pesquisas (FRANCO et al., 2001;

    SANTOS et al., 2004; HACHICH et al., 2004; MACHADO et al., 2009; RAZZOLINI et

    al., 2010; ARAUJO et al., 2011; HACHICH et al., 2013; BONATI & FRANCO, 2014).

    CANTUSIO NETO et al. (2010) observaram em seus estudos a eficincia de

    recuperao de oocistos de Cryptosporidium e cistos de Giardia em amostras de gua do

    Rio Atibaia entre os anos de 2005 e 2006. A presena de Giardia spp. foi detectada em

    87,5% das amostras analisadas com densidades de 2,5 a 120 cistos/L e Cryptosporidium

  • Introduo 41

    spp em 62,5% com concentraes de 15 a 60 oocistos/L. A contaminao foi associada

    descarga de esgoto no tratado no rio Atibaia.

    BRANCO et al. (2012), investigaram a ocorrncia de oocistos de Cryptosporidium

    e cistos de Giardia em manancial de uma cidade turstica no Estado de So Paulo. A

    presena de ambos protozorios foi detectada nas amostras analisadas no estudo, com

    concentraes mdias de 0,2 a 0,3 oocistos/L de Cryptosporidium sp e 0,07-0,1 cistos/L de

    Giardia sp. O exame coproparasitolgico realizado em moradores de duas comunidades

    rurais na mesma regio revelou que 49,2% (91/185) dos residentes apresentaram resultados

    positivos para a presena de parasitas intestinais e entre os protozorios, o

    Cryptosporidium foi o mais prevalente com 8,1% dos infectados.

    Estudos moleculares que possibilitam avaliar a presena de espcies circulantes em

    amostras ambientais e seu significado para sade pblica ainda so escassos no Brasil.

    ARAUJO et al. (2011) avaliaram a ocorrncia de Cryptosporidium em amostras ambientais

    no estado de So Paulo. A caracterizao molecular revelou a presena de C. hominis e C.

    meleagridis em amostras de guas recreacionais e superficiais destacando a importncia da

    continuidade dos estudos epidemiolgicos moleculares neste campo.

    Na regio metropolitana de Curitiba, OSAKI et al. (2013) avaliaram por mtodos

    moleculares a gua bruta superficial no ponto de captao de quatro estaes de tratamento

    de gua (ETA) entre os anos de 2008 e 2009. Os autores utilizaram a tcnica de nested

    PCR associada quantificao de oocistos por contagem em lmina e microscopia tica

    que foi padronizada no estudo. Entretanto, a deteco de Cryptosporidium sp foi possvel

    em apenas um dos pontos de captao sendo que a concentrao estimada de oocistos

    detectados foi igual ou superior a 100 oocistos/L.

    A identificao de espcies, sobretudo no ambiente, tem auxiliado o melhor

    entendimento da dinmica de transmisso da criptosporidiose em diferentes surtos no

  • Introduo 42

    mundo. Desde o reconhecimento do Cryptosporidium pela OMS como um importante

    patgeno oportunista que deve ser monitorado na gua de abastecimento, diferentes

    metodologias - capazes ou no de detectar variaes genticas - so utilizadas no controle e

    vigilncia da criptosporidiose (CHALMERS & DAVIES, 2010).

    Entretanto, a deteco de Cryptosporidium em amostras de guas continua sendo

    um desafio, sobretudo no Brasil, devido inexistncia de dados epidemiolgicos de surtos

    de criptosporidiose, e dificuldade de implementao e otimizao de mtodos de

    deteco e quantificao acessveis, em termos de custos, e reprodutveis quando aplicados

    nas guas dos manaciais do nosso pas (ARAUJO et al., 2011).

    1.4 Mtodos de identificao de Cryptosporidium

    O diagnstico de Crytosporidium em achados clnicos rotineiramente realizado

    em amostras de fezes, atravs da microscopia tica. Contudo, nos ltimos anos cresceu o

    interesse por mtodos de diagnsticos que fossem mais sensveis e especficos com

    objetivo de facilitar a diferenciao das espcies detectadas e assim melhor compreender a

    patogenicidade dos isolados clnicos e ambientais (SAVIOLI et al., 2006; GONALVES

    et al., 2008).

    Testes rpidos de Imunoensaios como ImmunoCard STAT, MERIFLUOR

    Cryptosporidium/Giardia DFA test e ProSpecT Giardia and Cryptosporidium EZ

    microplate assay (EIA) so utilizados para deteco de antgenos dos parasitas nas fezes e

    concentrados ambientais. Ainda que o alto custo seja considerado o fator limitante na

    utilizao, os testes imunolgicos quando empregados precisam ser interpretados com

    cuidado devido baixa prevalncia dos parasitos na populao (JOHNSTON et al., 2003).

  • Introduo 43

    No ambiente, a compactao de algumas partculas fluorescentes ao redor dos

    oocistos e cistos presentes na gua bruta e/ou no esgoto bruto podem gerar resultados

    falsos positivos ou mesmo falsos negativos durante a deteco por testes imunolgicos

    (LeCHEVALLIER et al., 1995;OMS, 2006)

    A identificao molecular de espcies e de gentipos de Cryptosporidium

    possvel inicialmente por meio da PCR. A PCR a tcnica mais comum utilizada nos

    laboratrios de pesquisa e investigao mdica. A tcnica baseia-se no processo natural de

    replicao de DNA produzindo cpias do DNA de interesse in vitro sem a necessidade de

    um organismo vivo. Entretanto, sua principal aplicao em amostras que tenham a

    quantidade de DNA reduzida, aumentando esse nmero de forma exponencial (KARP,

    2005).

    De forma geral, os estudos utilizam diferentes fragmentos amplificados para

    posterior genotipagem empregando tcnicas de digesto com enzimas de restrio (RFLP)

    ou sequenciamento do fragmento para estudo de posicionamento taxonmico dos

    organismos a fim de melhorar a efetividade na investigao e aperfeioar o processo,

    tornando-o mais rpido (HIGGINS et al., 2003; ZHOU et al., 2003; XIAO et al., 2004;

    RYAN et al., 2005; ARAUJO, 2008; PLUTZER e TOMOR, 2009).

    A nested PCR uma tcnica de amplificao dupla e tem como finalidade

    aumentar a sensibilidade de deteco em amostras com baixa concentrao de DNA,

    principalmente em amostras ambientais. Apesar de aumentar a sensibilidade de deteco, a

    probabilidade de contaminao da reao favorecida neste ensaio devido ao excesso de

    manipulao do produto amplificado (COUPE et al., 2005).

    De acordo com JIANG et al. (2005a) o maior problema a ser superado na aplicao

    dos mtodos de amplificao por PCR a presena de inibidores tanto em amostras

    clnicas como em amostras ambientais. Para que o sucesso da reao ocorra trs etapas

  • Introduo 44

    bsicas devem ser consideradas: 1) a concentrao e purificao da amostra antes da

    extrao do DNA; 2) a remoo dos inibidores durante a extrao do DNA e 3) a

    padronizao da reao de amplificao.

    Para o isolamento de (oo)cistos de Cryptosporidium e Giardia na gua a

    metodologia 1623.1 (USEPA, 2012) o mtodo de referncia a ser utilizado. O

    procedimento envolve etapas de filtrao, separao imunomagntica e identificao por

    microscopia de imunofluorescncia. A falta de dados sobre a ocorrncia de

    Cryptosporidium nos mananciais nacionais, fatores financeiros e o treinamento de tcnicos

    para realizao do mtodo so considerados ainda fatores limitantes para a execuo do

    procedimento em ampla escala (FRANCO, 2007).

    Entretanto, esta metodologia recomendada pela USEPA associada s tcnicas de

    amplificao de genes e regies no codificadoras do genoma do Cryptosporidium: 18S

    rRNA, hsp70 (heat shock protein) e cowp (Cryptosporidium oocyst wall protein), so

    amplamente indicadas para estudos taxonmicos (XIAO et al., 2004; CAREY et al., 2004;

    CHALMERS et al., 2005; RYAN et al., 2005; COUPE et al., 2005; FERGUNSON et al.,

    2006).

    De maneira geral o locus 18S rRNA amplamente utilizado em estudos de

    organismos estreitamente relacionados e utilizado em diversas aplicaes como anlise

    filogentica e estudos de biodiversidade. O DNA codificador do RNA ribossomal consiste

    em mltiplas cpias de um conjunto de segmentos de genes que so transcritos para

    originar as molculas estruturais do ribossomo denominadas 5.8S, 18S, e 28S que so

    intercalados por dois segmentos espaadores, ITS1 e ITS2 (MEYER et al., 2010).

    As espcies C. hominis e C. parvum apresentam caractersticas fenotpicas e

    genotpicas muito semelhantes em sua constituio e apenas diferenas sutis so notadas

    por meio do mapeamento gentico nas duas espcies (XU et al., 2004).

  • Introduo 45

    As anlises do genoma por sequenciamento completo revelam que o

    Cryptosporidium apresenta oito cromossomos com extenso de aproximadamente 9.2

    milhes de pares de bases e o DNA ribossomal amplificado por meio do gene 18S rRNA

    apresenta cinco cpias por genoma haploide (esporozoto) consistindo em 20 cpias por

    oocisto, favorecendo a sua deteco por este gene (Le BLANCQ et al 1997; BANKIER et

    al., 2003; XU et al., 2004).

    Sequncias homlogas do gene 18S rRNA relacionadas ao gnero Cryptosporidium

    esto amplamente disponveis no banco de dados. Estas sequncias so caracterizadas por

    regies conservadas intercaladas com regies polimrficas de aproximadamente 1700

    pares de base e que apresentam trs domnios reconhecidos onde as diferenas entre as

    espcies estreitamente relacionadas so encontradas em estudos de genotipagem (SILVA et

    al., 2013).

    Diagnsticos moleculares mais sensveis como reao de amplificao em tempo

    real (qPCR) empregam um sistema de deteco e quantificao de sequncia alvo, com

    sondas fluorescentes especficas para o produto de PCR amplificado. Alguns trabalhos

    utilizam a qPCR com objetivo de demonstrar a sensibilidade e especificidade do mtodo na

    identificao de Cryptosporidium presentes em amostras clnicas ou ambientais.

    Entretanto, diferentes estudos confirmam a necessidade de pesquisas adicionais de

    padronizao de sondas especficas que apresentem melhores resultados de deteco

    principalmente quando aplicados em amostras ambientais (GUY et al., 2003; ALONSO et

    al., 2010).

    O sistema de PCR quantitativo sensvel e pode detectar at uma cpia de uma

    sequncia especfica na fase exponencial da amplificao. A qPCR converte o sinal

    fluorescente em um valor numrico a cada reao e o resultado obtido a relao

  • Introduo 46

    quantitativa entre o valor inicial do alvo e a quantidade de produto amplificado acumulado

    a cada ciclo referido pelo sistema como Ct (threshold cycle) (DORAK, 2006).

    Na qPCR os valores de CTs so logartmicos e podem ser utilizados diretamente

    pelo mtodo comparativo atravs de curvas de quantificao relativa ou indiretamente por

    interpolao de curvas-padro criando valores lineares para as anlises quantitativas

    conhecidas como ensaios de quantificao absoluta (APPLIED BIOSYSTEMS, 2014).

    De acordo com RYAN et al. (2005), os mtodos de deteco e quantificao

    associados especificidade dos ensaios de genotipagem so ferramentas extremamente

    eficientes que podem ser utilizadas nos sistemas de gesto operacional das empresas

    especializadas nos servios de tratamento da gua, auxiliando no monitoramento de

    provveis fontes de contaminao em bacias hidrogrficas e para avaliao dos riscos

    sade humana.

    Nos Estados Unidos a aplicabilidade da qPCR foi testada em estudos de avaliao

    de remoo de patgenos nos processos de tratamento de gua. Alm de rpido e

    especfico, os ensaios de qPCR podem ser utilizados para quantificao simultnea de

    diferentes organismos como vrus, bactrias, fungos e protozorios em diferentes matrizes

    (RYU et al., 2010).

    STAGGS et al. (2013), avaliaram o sistema TaqMan com base na deteco e

    quantificao de oocistos de Cryptosporidium. Entretanto, os autores concluram que no

    foi possvel medir com preciso os baixos nveis de oocistos que so normalmente

    encontrados em fontes de gua potvel, sugerindo que avaliaes e estudos adicionais por

    este sistema fossem realizados.

    A determinao da viabilidade dos oocistos de Cryptosporidium e seus respectivos

    gentipos, presentes em amostras de gua, tem grande significado para a avaliao mais

    precisa da qualidade da gua, considerando que apenas oocistos viveis podem ser

  • Introduo 47

    infecciosos para o homem. Entretanto, o mtodo usual para o teste de viabilidade

    realizado por mtodos in vivo com ensaios de infectividade em modelos animais (BAQUE

    et al., 2011).

    Desta forma, as tcnicas de reao de amplificao e quantificao de genes

    comuns s espcies de Cryptosporidium, presentes tanto em amostras clnicas como em

    amostras ambientais, so consideradas promissoras proporcionando informaes precisas

    de interesse para sade pblica j que podem ser aplicadas tanto em estudos de avaliao

    de surtos como investigao de casos isolados (VERWEIJ et al., 2003; PLUTZER et al.,

    2008; YU et al., 2008; RYU et al., 2010; BAQUE et al., 2011; SOUZA et al., 2012).

  • Objetivos 48

    2. OBJETIVOS

    2.1 Objetivo geral

    Quantificar e caracterizar oocistos de Cryptosporidium spp. por mtodos

    moleculares associados tcnica de concentrao por filtrao/IMS/IFA (Mtodo 1623.1

    USEPA, 2012) recuperados de amostras de gua bruta superficial e esgoto bruto.

    2.2 Objetivos especficos

    1. Detectar o protozorio Cryptosporidium spp. nas amostras de gua bruta superficial

    e esgoto bruto pela reao em cadeia da polimerase dupla (nested PCR);

    2. Validar e aplicar a tcnica de real time PCR (qPCR) com base no gene 18S rRNA

    para identificar e quantificar Cryptosporidium hominis e/ou Cryptospordium

    parvum nas amostras de gua bruta superficial e esgoto bruto;

    3. Sequenciar os fragmentos amplificados para confirmao das espcies encontradas

    no estudo;

    4. Fornecer informao quanto aos gentipos identificados para serem utilizados na

    ferramenta de Avaliao Quantitativa de Risco Microbiolgico (AQRM), utilizada

    pelos sistemas produtores de gua em seus Planos de Segurana da gua (PSA);

  • Material e Mtodos 49

    3. MATERIAL E MTODOS

    3.1. rea do estudo e periodicidade das coletas

    O presente estudo foi desenvolvido como parte do Projeto de Pesquisa intitulado

    Modelo de Estudo para Avaliar o Impacto de Patgenos Entricos em Mananciais de

    Abastecimento Pblico que pertence ao Programa de Apoio Pesquisa em Parceria para

    Inovao Tecnolgica 1 (PITE - FAPESP 2010/50797-4).

    As amostras utilizadas para este estudo foram obtidas em colaborao com a

    Companhia Ambiental do Estado de So Paulo (CETESB) e Compania de Saneamento

    Bsico do Estado de So Paulo (SABESP). As coletas foram realizadas em dois

    mananciais localizados nos municpios de So Loureno da Serra e Taboo da Serra no

    estado de So Paulo, ambos pertencentes Regio Metropolitana de So Paulo (RMSP) e

    Microrregio de Itapecerica da Serra. De acordo com objetivo do Projeto PITE-FAPESP,

    os pontos de amostragem foram definidos levando-se em conta a captao de gua do

    manancial pelo sistema de abastecimento pblico, rede de tratamento de esgoto e os

    municpios eleitos precisariam estar inseridos no programa de Monitoramento de Doenas

    Diarricas Agudas (MDDA), coordenado pelo Centro de Vigilncia Epidemiolgica

    (CVE) do Estado de So Paulo.

    O municpio de So Loureno est localizado a 56 km da capital de So Paulo e

    abastecido pelo rio So Loureno que faz parte de uma rede hdrica pertencente bacia do

    Ribeira de Iguape (UGHRI-11) com atendimento urbano de gua de 41% dos domiclios e

    a coleta de esgotos abrangendo 24% dos domiclios, segundo o relatrio do Plano

    Municipal de Saneamento Bsico de So Loureno de novembro de 2010.

    O municpio de Taboo da Serra utiliza como fonte de abastecimento o sistema

    produtor integrado, constitudo pela represa Billings e Guarapiranga (UGRHI-06). O

  • Material e Mtodos 50

    municpio possui o percentual de 100% no nvel de abastecimento de gua e 87% do

    esgoto coletado, sendo 34% tratado na ETE Barueri segundo dados do Relatrio de

    Qualidade das guas Superficiais do Estado de So Paulo (CETESB, 2013). As descries

    e a localizao dos pontos de coleta podem ser visualizadas no Quadro 3. Foram realizadas

    25 coletas, quinzenalmente, em cada ponto, totalizando 50 amostras de gua bruta

    superficial e 50 amostras de esgoto bruto de Janeiro a Dezembro de 2013.

    Quadro 3. Caractersticas e localizao dos pontos de coleta utilizados no estudo.

    Municpio Tipo de amostra Descrio Localizao

    geo-referenciada

    So

    Loure

    no

    da

    Ser

    ra

    gua bruta

    superficial

    P1A-Rio So Loureno da

    Serra

    23517.82S

    465638.97O

    Esgoto bruto

    P1E- Esgoto bruto gerado na

    cidade de So Loureno da

    Serra

    235123.78S

    465717.13O

    Tab

    oo

    da

    Ser

    ra gua bruta

    superficial

    P2A-Reservatrio do

    Guarapiranga, prximo da

    barragem junto da captao

    234017.60

    464337.54O

    Esgoto bruto

    P2E-PV situado na Rua

    Oshiaru Ogawa, esquina

    com a Avenida Armando de

    Andrade Centro

    233624.93S

    46464.27O

    Fonte: Google Earth, https://earth.google.com

    As coletas foram realizadas pela Diviso de Amostragem da CETESB, seguindo os

    procedimentos do Guia Nacional de Coleta e Preservao de Amostras (CETESB, 2011),

    as amostras foram transportadas sob refrigerao e processadas dentro do perodo de 24

    horas. Os pontos de amostragem esto representados nas Figuras 1 e 2.

    https://earth.google.com/

  • Material e Mtodos 51

    Figura 1. Rio So Loureno da Serra (P1A)(A); Ponto de captao do esgoto bruto (P1E)

    gerado na cidade de So Loureno da Serra (B). Fonte: Laboratrio de Biologia Ambiental

    do Departamento de Sade Ambiental/USP.

    Figura 2. Reservatrio do Guarapiranga (P2A) prximo ao ponto de captao (A); Poo

    vertical utilizado na coleta do esgoto bruto (P2E) de Taboo da Serra (B). Fonte:

    Laboratrio de Biologia Ambiental do Departamento de Sade Ambiental/USP.

    A concentrao foi realizada em colaborao com o Laboratrio de Anlises

    Biolgicas do Departamento de Sade Ambiental da Faculdade de Sade Pblica da

    Universidade de So Paulo, e imediatamente encaminhada ao Laboratrio de Sade

    Pblica da Faculdade de Sade Pblica da USP, para anlise molecular.

    A B

    B A

  • Material e Mtodos 52

    3.2. Procedimento para concentrao das amostras

    3.2.1 gua bruta superficial

    Em cada ponto de captao foram coletados 20L de gua bruta superficial. No total,

    50 amostras foram concentradas para as anlises, sendo: 25 amostras pertencentes ao ponto

    P1A e 25 amostras ao P2A. As amostras foram processadas pelo Mtodo 1623.1 (Anexo 1)

    conforme preconizado pela Agncia Ambiental Americana (USEPA, 2012). Os oocistos

    foram concentrados atravs do sistema Filta-Max e purificados por separao

    imunomagnt