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36º Encontro Anual da Anpocs GT03 - Conflitos ambientais, terra e território: estratégias de resistência e construção de direitos Estratégias de resistências: o caso da marisqueiras da comunidade quilombola Luziense Alessandra Santos da Graça

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  • 36 Encontro Anual da Anpocs

    GT03 - Conflitos ambientais, terra e territrio:

    estratgias de resistncia e construo de direitos

    Estratgias de resistncias: o caso da

    marisqueiras da comunidade quilombola

    Luziense

    Alessandra Santos da Graa

  • ESTRATGIAS DE RESISTENCIAS: O CASO DAS MARISQUEIRAS DA

    COMUNIDADE QUILOMBOLA LUZIENSE

    Alessandra Santos da Graa ( Mestranda do NPPA-UFS)

    [email protected]

    Resumo:

    O trabalho visa analisar o efeito da aplicao de projetos e politicas pblicas

    para comunidades tradicionais que no consideram as peculiaridades e transformaes

    vivenciadas por esses grupos. Pretendo voltar-me para as marisqueiras da Comunidade

    Quilombola Luziense a fim de identificar de que forma esse grupo societrio tem se

    relacionado com as politicas publicas territoriais propostas pelo estado e grupos

    polticos dessa regio.

    Introduo:

    O trabalho que segue parte da pesquisa que realizo na comunidade quilombola

    Luziense. Esta comunidade est situada no municpio de Santa Luzia do Itanhy, na

    regio litoral sul-sudeste do estado de Sergipe, distante 86 km de Aracaju. formada

    por sete povoados, a saber: Bode, Pedra Dgua, Taboa, Cajazeira, Rua da Palha, Pedra

    Furada e Castro, todos margeiam o esturio dos rios Indiaroba, Piau e Pirassununga e

    as mars de suas proximidades.

    Muitas das comunidades que se formaram s margens de rios e mangues do

    Brasil e na atualidade possuem a pesca como principal meio de sobrevivncia, tem uma

    ligao histrica com o perodo escravocrata, tal qual a Comunidade Quilombola

    Luziense localizada na regio litoral sul-sudeste do estado de Sergipe. provvel que o

    grupo de marisqueiras dessa comunidade guardem consigo saberes e estrias que

    auxiliam na preservao do ambiente natural local, como tambm esses saberes podem

    ser responsveis pelas sociabilidades existentes entre o grupo de pescadores e at

    mesmo entre a comunidade que rodeada de rios. No entanto, projetos e polticas

    pblicas que no consideram suas peculiaridades e nem as transformaes vivenciadas

  • por essas comunidades interferem de maneira abrupta no meio ambiente e no cotidiano

    da comunidade em questo. Este trabalho tem a pretenso de voltar-se para as

    marisqueiras quilombolas da comunidade Luziense, a fim de identificar de que forma

    esse grupo societrio tem se relacionado com as politicas pblicas territoriais propostas

    pelo estado e pelos grupos polticos dessa regio.

    Apesar de estar na fase inicial da pesquisa, pretendo aqui demonstrar as minhas

    impresses referente ao problema de pesquisa baseada nas teorias sobre a temtica, no

    material coletado sobre a comunidade e nas conversas informais que obtive com

    marisqueiras e pescadores quiolombolas em visita comunidade.

    MODELO DE QUILOMBO SERIPANO

    No estado de Sergipe, a maioria das comunidades quilombolas teve como

    principal fator para o auto reconhecimento, as condies socioeconmicas vivenciadas

    por elas. Verificaram a possibilidade de melhorarem suas condies de vida e a partir

    da comearam a utilizar a identidade quilombola como ferramenta para a concretizao

    de direitos. Essa questo no anula a legitimidade dessas aes, j que sabido que a

    maior parte das comunidades carentes do Brasil foram formadas por ex escravos que

    no viam possibilidades de sobrevivncia junto a sociedade dominante

    economicamente.

    Com isso, inmeras formas de resistncias foram sendo delineadas por esses

    grupos. Em Sergipe tambm no foi diferente, mesmo as comunidades que h o

    esquecimento desse passado, se pesquisado notar-se- esse fato. verificado assim que

    fatores econmico influenciaram a auto atribuio desses grupos. Entendendo assim

    que no s simbologias culturais, tnicas e religiosas contribuem para essa

    situao, e sim uma relao entre ambos os fatores, contribuindo para a moldagem dessa

    identidade. necessrio um dialogo entre esses diversos fatores para que haja a

    compreenso da identidade quilombola e tambm no haja uma restrio a fatores

    simblicos, a fatores econmicos ou at a fatores geogrficos.

    Quando se fala em comunidades quilombolas, no possvel partir de um

    modelo fixo, essas comunidades passaram por transformaes e ainda passam tal qual a

  • sociedade em geral, alm do que h todo o processo de excluso e rejeio que elas

    foram e ainda so vtimas.

    ARRUTI(2006) para construir o laudo antropolgico da comunidade Mocambo,

    no estado de Sergipe, percebeu essa dificuldade ao tentar visualizar um modelo pr

    estabelecido de quilombo neste estado, partindo duma noo histrica. Utilizando os

    trabalhos de Luis Mott e Clovis Moura, afim de subsidiar sua pesquisa, construiu dois

    modelos de revolta dos negros aqui no estado de Sergipe. O primeiro alertaria para

    uma enorme proporo de homens de cor no estado somada a um pequeno nmero de

    escravo. Os homens de cor livres teriam condies precrias de trabalho tanto quanto

    o escravo, apesar de sua liberdade institucional. As revoltas neste perodo seriam mais

    em relao a opresso desses que ao prprio regime escravocrata em si. J Clovis

    Moura demonstra que em Sergipe houve inmeras revoltas de escravos, no entanto eles

    no se estabeleciam em lugares fixos e ainda possuam uma ttica prxima a de

    guerrilha, oscilavam entre o recuo e o avano trazendo as tropas para o interior da mata.

    Eles ainda responderiam as suas necessidades bsicas visitando os engenhos, saqueando

    algumas lojas. Naquela poca, no se fixavam em um lugar, construam pequenas

    moradias que possibilitassem a retirada mais rpida possvel. Os registros desses

    grupos estava estritamente vinculado ao perigo que eles representariam a classe

    proprietria e no ao simples fato de existirem.(ARRUTI, 2006, p.170)

    Partindo da perspectiva construda por Arruti, a partir de dados histricos, dados

    dos conflitos entre negros no estado e ainda dos relatos do movimento negro relaciono

    abaixo as comunidades quilombolas do estado de Sergipe.

    ORDEM COMUNIDADE MUNICPIO

    01 Mocambo Porto da Folha

    02 Negro Gararu

    03 Mocambo Aquidab

    04 Bongu Ilha das Flores

    05 Cambaz Pacatuba

    06 Matamba Japoat

    07 Cabea de Negro Pacatuba

    08 Cafumb Capela

    09 Capunga e Quilombolas N. Sr. da Dores

  • 10 Maria Preta e Mocambo Frei Paulo

    11 Zangue Itabaiana

    12 Quibomga So Cristvo;

    13 Criolas e Poo da Mulata Itaporanga dAjuda

    14 Matemb, Campo do Crioulo e Quilombo Lagarto

    15 Quilombo Simo Dias

    16 Zumbi Poo Verde

    17 Congungi Tobias Barreto

    18 Forras Riacho do Dantas

    19 Cachimbo Boquim

    20 Cassungu Estncia

    21 Mutumbo Pedrinhas

    22 Curuza Arau

    23 Dos Pretos Tomar do Geru

    24 Mussuca, Quintal e Sendengev Laranjeiras

    25 Massombo Barra dos Coqueiros

    .

    Essa relao supera a quantidade de comunidades certificadas pela Fundao

    Palmares, que se utiliza da noo de auto identificao, noo proposta pelo mbito

    cientifico como demonstrado a seguir:

    SERGIPE / SE ORDE

    M

    COMUNIDADE MUNICPIO PUBLICAO

    NO DIARIO

    OFICIAL DA

    UNIO

    01 Lagoa dos Campinhos Amparo do So Francisco 04/06/2004

    02 Mocambo Porto da Folha 04/06/2004

    03 Carabas Canhoba 12/09/2005

    04 Desterro Indiaroba 19/08/2005

  • 05 Luziense Santa Luzia do Itanhy 19/08/2005

    06 Povoado Forte Cumbe 20/01/2006

    07 Serra da Guia Poo Redondo 19/08/2005

    08

    Brejo dos Negros Brejo Grande 28/07/2006

    09

    Catuabo Frei Paulo 07/06/2006

    10

    Ladeiras Japoat 12/05/2006

    11

    Maloca Aracaju 07/02/2007

    12

    Mussuca Laranjeiras 20/01/2006

    13

    Patioba Japaratuba 12/05/2006

    14

    Pirangi Capela 13/12/2006

    15

    Pontal da Barra Barra dos Coqueiros 12/05/2006

    Podemos assim estabelecer recorrncias das duas perspectivas, principalmente se

    considerarmos os fatores que demonstram a excluso delas, como fatores econmicos,

    fatores de esquecimento de sua historia. Pode-se perceber que na maior parte das

    comunidades a visibilidade poltica foi adquirida a partir do processo de

    reconhecimento quilombola, as que ainda no tiveram esse reconhecimento continuam

    esquecidas pelo estado, apesar de essa visibilidade to aclamada ainda no proporcionar

    aes concretas, somente em algumas e mesmo assim so aes pouco significativas se

    considerar o tamanho de suas necessidades.

  • No entanto percebemos tambm a impossibilidade e estabelecer modelos fixos

    de comunidades quilombolas. O caso de Sergipe demonstra essa condio, como

    tambm a dificuldade de ARRUTI(2006) em estabelecer um tipo de comunidade

    quilombola sergipana.

    A COMUNIDADE QUILOMBOLA LUZIENSE

    A comunidade Quilombola Luziense est localizada no Municpio de Santa

    Luzia do Itanhy. A povoao do municpio a mais antiga de Sergipe, como nos

    informa o relatrio antropolgico:

    Sobre a histria do municpio, a sede de Santa Luzia do Itanhy a povoao mais antiga de Sergipe, por ter sido o primeiro territrio sergipano

    visitado pelos portugueses, ao tempo em que o rio Real era praticamente

    dominado pelos franceses em aliana com os ndios, explorando o pau brasil

    existente em abundancia na regio. Sua conquista, bem como sua ocupao,

    est diretamente ligada necessidade de expanso das fazendas canavieiras

    de Pernambuco e Bahia. Mas se deve destacar a tentativa de crescimento das

    zonas de criao de gado. Essa atividade trouxe para a regio em meados do

    sculo XVI, Garcia d vila, rico senhor de terras, o qual recebe do ento governador Luiz Brito, a incumbncia de explorar a regio.(Relatrio Antropolgico do Territrio da Comunidade Quilombola Luziense-SE/2009)

    Como acima relatado, Santa Luzia do Itanhy teve como principal estimulo para

    sua povoao o cultivo da cana e por sua vez a produo de acar. Esse municpio j

    abrigou vrios engenhos de acar e usinas tanto na poca da escravido assim como

    posteriormente no sculo XX.

    Importante perceber que a relao amena entre escravos e fazendeiros proferida

    em alguns estudos histricos sobre Sergipe no revelam uma reao passiva dos negros

    e sim tticas de resistncias diferenciadas. A permanncia da comunidade quilombola

    prxima a antiga fazenda e engenho onde eram explorados traz indcios de que ali a

    resistncia no se manifestou necessariamente por meio de confronto aberto com a

    ordem instituda, mas justamente na simples insistncia em reproduzir a campesinidade

    como ordem moral.( WOORTMAN 1988 apud RUBERT, SILVA 2009) Considero

  • que a persistncia dessa comunidade foi advinda de um contexto escravista sobre a tica

    da resistncia.

    Como revelado, os negros e ndios da comunidade Luziense no aceitaram de

    maneira pacifica a escravido. Muitos morreram resistindo com lutas e fugas, e mesmo

    os que no conseguiam fugir conviviam com os que escravizavam utilizando de tticas

    para permanecerem vivos. No municpio onde localizada a comunidade, Santa Luzia

    do Itanhi, no sculo XIX, chegou a ter mais de 60 engenhos funcionando com mo de

    obra escrava. J sculo XX esses engenhos se transformaram em usinas, mas com a

    crise aucareira que houve em todo nordeste nesse perodo, foram fechados sendo

    economicamente substitudos pela criao de gado, alm da agricultura e pesca

    tradicional. Os povoados que formam a comunidade Luziense ficam prxima a esse

    antigos engenhos a exemplo de So Felix, Priapu, So Jose, Saguim, Cedro , Palha ente

    outros.

    A historia, bem como depoimentos dos habitantes da comunidade, demonstra

    tambm vinham muitos migrantes para a comunidade trabalhar nos engenhos. Esses, tal

    qual os ex escravos, firmaram sua permanncia neste local afim de angariarem sua

    sobrevivncia. Ou seja,

    Plantar uma roa e estabelecer benfeitorias sobre uma rea no corresponderiam, portanto, s a uma atividade produtiva, mas, sobretudo, a

    um gesto simblico que transformava determinado espao em territrio de

    resistncia a ser legado para as geraes futuras. Refugio no qual a vida

    poderia ser reinventada sob outros parmetros, seja no perodo escravocrata,

    seja na atualidade.(RUBERT, SILVA 2009. p. 265)

    Ao fixar sua morada, ao traar estratgias em busca de sua sobrevivencia, ao

    reproduzir sua cultura, os quilombolas tambm estavam delineando formas, maneiras de

    resistir ao sistema em que estavam inseridos naquele momento. Mesmo estando ao lado

    dos engenhos, prximos dos que antes os escravizavam, reinventavam seu cotidiano

    afim de sobrevivem, portanto transformando espao em territrio.

    A regio dessa comunidade caracterizada geograficamente por ser rodeada de

    rios e mangues, que representa o principal meio de sobrevivncia de todos os sete

    povoados.

  • ....cabe salientar que ele est localizado no bioma Mata Atlntica. Uma das caractersticas principais de sua extenso geogrfica a bacia de rios

    localizada a leste do municpio, com extensas reas de mangue, passando por

    um relevo acidentado em direo oeste, onde o terreno fica gradativamente

    mais seco. .(Relatrio Antropolgico do Territrio da Comunidade Quilombola Luziense-SE/2009)

    Dentre as atividades econmicas realizadas nesses povoados podemos citar a

    produo de farinha de mandioca, a produo de cana de acar e at a criao de gado,

    mas a pesca a atividade utilizada pela maioria dos moradores dessa regio. Ainda

    atualmente encontram-se casas de farinha e plantaes de mandioca nos povoados,

    alm, obviamente, do uso da pesca como principal meio de sobrevivncia. A interao

    coletiva entre o grupo notada se observarmos a forma como lidam com esses meios de

    sobrevivncia, alem do que influenciam fortemente outros aspectos. A simbologia do

    local tem influencia direta do tipo de meio geogrfico onde a rea est localizada: os

    mitos, as festas, as atividades ldicas.

    Apesar da grande extenso de terras e do nmero de povoados que formam essa

    comunidade( so 8 povoados), pode se afirmar que dentre eles h a recorrncia de

    aspectos simblicos como tambm de aspectos estruturais, alm, obviamente, da ligao

    fsica entre esses povoados.

    Alm da historia do municpio de Santa Luzia de Itanhy denunciar a presena

    intensa de trabalho escravo naquela regio, o modo de vida desses povoados chamaram

    a ateno para a certificao da comunidade como remanescente de quilombo. Como j

    mencionado a maior parte de seus habitantes sobrevivem da pesca. Esse modo de vida

    junto com a historia local, chamou a ateno do poder publico diante de toda a

    movimentao frente aos a aprovao da legislao tnica.

    O TERMO QUILOMBO: COMO CONCEBIDO?

    Torna-se imprescindvel fazer uma reflexo de como concebido o termo

    quilombo na atualidade para as comunidades quilombolas e para o estado, assim

    como a maneira que se deu o processo de resistncia dos grupos que assim se auto

    identificam. Utilizo a noo de identidade concebida por BARTH(1998), para que

  • possamos compreender como essas comunidades deram significado a identidade

    quilombola de forma a utiliz-la em suas lutas e reivindicaes.

    Nos tempos da escravido, o termo quilombo remetia a idia de escravos que

    fugiam do sistema escravocrata e que para se defenderem, se organizavam em formas de

    grupos resistentes ao sistema vigente nesse perodo. Essa percepo determinava um

    contexto temporal e situacional para os quilombos (LEITE,2000).

    Mas a maneira de conceber o termo no vislumbraria as transformaes

    ocorridas na sociedade aps a escravido. Obviamente o termo quilombo no se

    desvinculou totalmente da idia antes concebida. No entanto a noo de resistncia um

    sistema escravocrata, de fuga, so noes de um passado que gerou conseqncias

    determinantes para as condies simblicas e estruturais dos quilombos

    atuais(LEITE,2000).

    Mesmo aps a abolio da escravatura, houve uma persistncia no preconceito e

    na excluso com o elemento negro na sociedade brasileira. Inmeros grupos de negros

    se formaram em situaes diversas e adversas, fruto da noo persistente de

    inferioridade do negro que assolava a mente da sociedade dominante. Alguns grupos

    assentaram-se nas periferias de centros urbanos, outros nas periferias das terras onde

    eram escravizados. Esses ltimos, algumas vezes, obtinham meios para sobrevivncia a

    partir de acordos com seu antigo dono executando tarefas em troca de alimentao ou

    outros produtos. Ou seja, a abolio da escravatura no foi garantia de insero do

    negro na sociedade e nem garantia de mudana da lgica entre as relaes anteriores.

    Enquanto para os ndios a soluo contra o extermnio foi o aldeamento e a tutela estatal, para os negros restou a longa etapa de

    marginalizao social e poltica da qual decorreu uma lgica de

    segregao sutil, disfarada pela ideologia da mestiagem. Essa lgica

    introduziu um modelo de relaes intertnicas que se adaptou

    ideologia racial em vigor.(LEITE,p. 966, 2008)

    A marginalizao social sofrida pelo negro, verificada at os dias atuais.

    Aqueles grupos de negros que resistiram at a atualidade, fazem parte da parcela mais

    carente da populao brasileira. Na maior parte das comunidades quilombolas no

    existem as condies bsicas garantidas pela constituio como educao, sade,

    alimentao. Eles sobrevivem geralmente dos recursos naturais e de programas de

    combate a fome do governo.

  • Alem de toda essa situao, os quilombolas s permaneceram todo esse tempo

    nas terras reivindicadas porque de alguma forma eram explorados pelos donos legais,

    isso quando no eram expulsos dos lugares onde fincaram sua existncia.

    Ao longo dos anos, essas comunidades foram se transformando, tal qual toda a

    sociedade brasileira. Apesar de excludas pelo estado, elas no permaneceram

    desvinculadas da sociedade e nem inertes. Hoje os grupos negros no possuem as

    mesmas caractersticas de antes, mas conservaram muito de sua cultura e de seu modo

    de vida. A noo de quilombo foi esquecida pela maioria das comunidades quilombolas,

    possivelmente por essa idia remeter lembrana do passado de escravido. Hoje a

    partir do decreto 4887/2003, este termo adquiriu novos significados, fazendo com que

    os quilombolas visualizassem novas perspectivas e pudessem angariar direitos. Falar

    dos quilombos e dos quilombolas no cenrio poltico atual , portanto, falar de uma luta

    poltica e conseqentemente, uma reflexo poltica em construo (LEITE, p.333,

    2000).

    Compreender essas organizaes tambm entender a flexibilidade de suas

    relaes. A afirmao de comunidades como quilombola fora construda a partir da

    possibilidade encontrada por alguns agentes estarem angariando direitos e recursos ao

    grupo. Neste caso, falo de uma identidade dinmica, onde o contexto poltico e social

    so fatores primordiais no processo de reconhecimento. (BARTH,1998)

    Portanto o grupo tnico confia sua identidade a partir da crena de suas origens,

    de um pertencimento a partir do passado e no a partir das caractersticas objetivas. Ou

    seja, as comunidades quilombolas, quando se auto identificam, no se referem as

    caractersticas atuais somente. Elas podem no possuir religies de origem africanas

    dentre suas caractersticas, podem no ter noo do que se refere o termo quilombo,

    mas tem noo de um passado, de suas origens que so percebidos a partir do discurso,

    das falas, dos contos, dos mitos, da simbologia.

    As comunidades quilombolas esto interagindo a todo o momento com outras

    comunidades, as dinmicas que permitem a transformaes da sociedade s afetam

    diretamente, alm do que elas fazem parte desta teia social. Apesar dessa interseco

    com outros grupos elas foram separadas por barreiras invisveis e impedidas de

    interferirem diretamente na administrao poltica do local em que o grupo se

    apresentava. Entende-se ento a identidade quilombola com a concepo dinmica de

    identidade tnica visualizada por Barth.

  • Ele entendeu essa identidade como qualquer outra coletiva( e assim tambm a identidade de cada um). construda e transformada na interao

    de grupos sociais atravs de processos de excluso e incluso que

    estabelecem limites entre tais grupos definindo os que integram ou

    no.(BARTH,1998, p.11)

    A auto atribuio define o grupo como comunidade quilombola, mas existem

    certos fatores que so anteriores ao uso atual do termo quilombo que fazem com eles

    reivindiquem esse direito. So fatores sociais, econmicos, culturais que apesar da

    interao existente entre o geral e o especifico societrio, no foi possvel igualar essa

    situao, demonstrando assim que as comunidades negras no se formaram por acaso,

    elas estavam ali e as barreiras simblicas tambm.

    Para Barth: na medida em que os autores usam identidades tnicas para

    categorizar a si mesmo e os outros, com objetivo de interao, eles formam grupos

    tnicos neste sentido organizacional. (BARTH,1998, P.194) Quando reivindicado esse

    direito(de comunidade quilombola) elas procuram organizar-se para interferirem na

    sociedade como tal, como por exemplo comunidades quilombolas que no possuam a

    capoeira como referencia cultural e passam pratic-la , alm de outras aes afim de

    busca por uma visibilidade.

    A antropologia teve uma papel importantssimo nesta discusso, atravs da

    ABA(Associao Brasileira de Antropologia) que utilizou trabalhos e pesquisas tnicas

    para se posicionar frente a noo de quilombo utilizada pela constituio.

    Os antroplogos por meio da ABA fundada em 1955, tiveram um papel

    decisivo nos questionamentos de noes baseadas em julgamentos

    arbitrrios, como a de remanescente de quilombo, a indicar a necessidade de

    os fatos serem percebidos a partir de uma outra dimenso que venha a

    incorporar o ponto de vista dos grupos sociais que pretendem, em suas

    aes, a vigncia do direito atribuda pela Constituio

    Federal.(ODWER,2005)

    H, exteriormente a essas comunidades, idias equivocadas sobre elas, como a

    forma que se organizam e suas diversas relaes. Acreditam que todas elas possuam

    dinmicas prprias e prticas cotidianas que descendem de seus ancestrais. Mas

    necessrio refletir que as comunidades quilombolas no ficaram paradas numa poca,

    alem do que elas j sofrem consequncias na atualidade por conta da revelia do estado e

  • por conta da excluso sofrida por elas ao logo dos anos. Na atualidade o estado exige

    dessas comunidades que tenham guardado consigo as caractersticas de seus ancestrais.

    Mas sabido que esses grupos seriam tachados e vitimados se assim fizesse pois

    durante toda a historia, mesmo aps a abolio da escravatura essa situao era

    recorrente. A inteno no afirmar que essas comunidades no possuam dentro de suas

    dinmicas afro descendentes que comprovem sua ancestralidade negra, o que se

    problematiza a forma que a legislao quilombola exige isso sem considerar as

    transformaes que ocorreram nessas comunidades, transformaes essas que foram

    tecidas num sistema exclua tudo que se referisse ao negro.

    Algumas dessas comunidades foram formadas a partir de uma falta de

    alternativa dos grupos negros que obtiveram sua liberdade de forma arbitraria, sendo

    que muitas das vezes sem alternativa se refugiavam nas periferias dos antigos locais

    onde eram escravizados ou ento em comunidades longe das cidades, tal qual os que

    antes da abolio tambm fugiam da escravido. O conceito de quilombo no se

    restringe grupos de escravos fugidos, se refere tambm grupos que sem alternativas

    para sobreviver numa sociedade que exclui quem negro, se aglutinavam e viviam em

    comunidades. Mas isto no significa que esses grupos no estavam em contato com

    outros grupos. As relaes com outras comunidades eram comuns como tambm as

    influencias decorridas das transformaes da sociedade brasileira.

    Para Ilka Boaventura,

    a territorialidade negra pode ser referida no a uma realidade equvoca e distante, mas se reportando a uma dimenso simblica da identidade na qual

    os negros se organizaram como coletividade nacional, articulaes de grande

    complexidade e que aconteceram desde um processo relacional,

    multicentrado e altamente dinmico.(LEITE, p.967, 2008)

    Ou seja, no possvel conceber os quilombolas como um grupo distante das

    caractersticas da sociedade brasileira e nem que eles possuam uma identidade

    homognea que os definam com o conjunto de todas as comunidades. Se pensar assim,

    o Estado est desconsiderando as peculiaridades do tempo em que essas polticas esto

    sendo aplicadas, desconsiderando a voz do agente que usufruir dessas polticas. O que

    poderia ser recorrente (as diferenas entre as comunidades) se transforma num desafio

    para os cientistas que pretendem realizar pesquisa nas referidas comunidades pois

  • parece que h uma exigncia do senso comum de que essas comunidades sejam

    encaixadas num modelo nico de estrutura social e caracterstica histrica.

    O reconhecimento como quilombola representa um instrumento para esses

    agentes terem seus direitos territoriais garantidos, direito esse negado por muito tempo

    pela sociedade e pelo estado. A identidade quilombola no algo fixo que se possa

    resgatar de forma mecnica como se depreende da legislao. Mas tambm no

    significa que esses agentes sociais no tenham uma identidade. A identidade, ou as

    caractersticas dos processos de identificao coletiva nestas comunidades foram sendo

    constitudos a partir das transformaes que ocorriam dentro e fora das comunidades.

    Ou seja, as caractersticas dessas comunidades foram tecidas perante um sistema que

    tambm se sustenta nas desigualdades sociais, caractersticas do Brasil, que por sua vez

    so fortalecidas pelos preconceitos de toda espcie.

    O MANGUEZAL E A PRESENA DA MULHER NO MBITO PESQUEIRO

    Sabe-se que o mangue continua sendo o principal meio de sobrevivncia para as

    populaes que vivem prximas a eles. Essas pessoas retiram do manguezal, seus

    alimentos, madeira para construo de suas casas entre outros meios para sobrevivncia.

    No entanto, como salienta Antonio Carlos Diegues (2001), o uso em algumas

    localidades realizado de maneira desordenada, por interesses, muitas vezes, externos

    ao grupo, prejudicando o ciclo natural do manguezal. Isto ocorre mesmo que exista um

    entendimento referente inviabilizao de outras atividades, como acontece com o corte

    indiscriminado de rvores.

    Quando os manguezais so utilizados somente por comunidades ribeirinhas para

    sua sobrevivncia, essa degradao amenizada naturalmente, j que h uma

    reconstituio do que retirado da natureza. Como constatou Antonio Carlos Diegues

    (2001), a utilizao desmedida da rea fsica do manguezal, alm de representar o

    desaparecimento de varias espcies naturais deste habitat, representa tambm o

    enfraquecimento do patrimnio cultural prprio desses grupos. Com a sada das

    comunidades ribeirinhas para outras reas, elas perdem sua identidade cultural

    abandonando prticas simblicas essenciais sobrevivncia. Ou seja, a reproduo

    social e simblica desses grupos depende tambm do ambiente natural que vivem. Suas

  • prticas, seus conhecimentos, sua memria, esto interligados ao territrio, esses

    saberes tambm representam um patrimnio cultural. No entanto, importante

    considerar a dinamicidade do grupo e da cultura local. Deve-se considerar o modo de

    vida das comunidades ribeirinhas, seu cotidiano, e no considerar suas caractersticas

    como sendo imutveis, rgidas.

    Comunidades quilombolas e pesqueiras consideram o meio ambiente

    imprescindvel para a reproduo econmica como tambm para sociabilidades em

    geral. Alm do que este habitat guarda historias que retratam o passado e o cotidiano

    dos povos que ali vivem. Mas tambm guardam estrias relacionadas preconceitos e

    discriminao contra a mulher. Se de um modo geral, os negros foram marginalizados

    pelo estado e pela historiografia, as mulheres negras sofrem uma trplice discriminao:

    por serem mulheres, por serem negras e por serem pobres. (CRUZ, 2010,p.914)

    Possivelmente, essa situao reproduzida no caso das marisqueiras da

    comunidade Luziense, que alm de sofrerem essa tripla discriminao, ainda executa

    uma atividade que altamente desvalorizada no mbito pesqueiro.

    provvel que as marisqueiras da comunidade quilombola Luziense guardem

    consigo saberes e estrias que auxiliam na preservao do ambiente natural local, como

    tambm esses saberes podem ser responsveis pelas sociabilidades existentes entre o

    grupo de pescadores e at mesmo entre a comunidade que rodeada de rios. Pretende-se,

    na pesquisa que realizo, analisar o efeito da aplicao de projetos e politicas pblicas

    para comunidades tradicionais que no consideram as peculiaridades e transformaes

    vivenciadas por esses grupos. Pretendo voltar-me para as marisqueiras a fim de

    identificar de que forma esse grupo societrio tem se relacionado com as politicas

    publicas territoriais propostas pelo estado e grupos polticos dessa regio.

    Os povoados que forma a comunidade quilombola Luziense esto localizados

    prximos aos esturios do Rio Piaui. Observando a comunidade percebemos o quanto a

    pesca importante para sua organizao social, j que ela delineia em alguma medida as

    esferas sociais e institucionais da comunidade. A famlia, a religio, a politica, como

    tambm os mitos, o folclore e as atividades ldicas, tem relao com a prtica da pesca,

    que tambm a principal atividade econmica, propiciando a sobrevivncia fsica e

    cultural dos habitantes desta comunidade.

    Na maior parte das comunidades pesqueiras, a pesca no a atividade fim,

    sempre h outras atividades complementadoras, como por exemplo, a prtica da

  • agricultura, a construo de instrumentos necessrios para realizao do trabalho

    pesqueiro e a pesca de crustceos. Essas atividades vistas como complementadoras

    so realizadas predominantemente por mulheres.

    Pesca e agricultura, homem e mulher, podem ser pensados como

    complementares, mas numa relao de complementaridade desigual em face

    de um todo. As respectivas atividades ocupam posies no apenas distintas

    mas hierrquicas, se vistas na relao com esse todo. Neste sentido, pode-se

    dizer que a atividade do pescador, isto , do homem, completa e guarda

    uma analogia com a posio do brmane na hierarquia dos "varna". No se

    trata, de nenhuma maneira, de estabelecer uma equivalncia entre relaes

    de "varna" na India e relaes de gnero nas comunidades aqui estudadas,

    pois h evidentes diferenas lgicas, ideolgicas e sociolgicas entre os dois

    modelos. Contudo, a hierarquia dos "varna" "boa para pensar" a relao de

    gnero.(WOORTMANN,1991,p.31)

    Na comunidade Luziense so as mulheres que se encarregam da limpeza e do

    trato com o pescado, para sua venda ou consumo, mas so os homens os responsveis

    pela pesca. Ou seja, a atividade da pesca realizada por homens e mulheres, com suas

    funes definidas e delimitada. possvel que alm do trabalho realizado no mbito da

    pesca, a mulher interfira e exera primordial influencia em outros campos societrios

    como a religio, a organizao familiar e a transmisso de saberes e mitos.

    perceptvel uma solidariedade nas funes praticadas, no entanto as atividades

    ditas domsticas e familiares (como tratar o peixe) realizada por mulheres so menos

    valorizadas e por sua vez invisibilizadas por conta do desprestgio que acarreta esse tipo

    de atividade. As relaes de gnero na comunidade reflete a totalidade societria em que

    esto includas.

    As comunidades pesqueiras so formadas por diversas teias interagindo entre si

    e entre outros grupos. So relaes complexas tal qual as relaes de outros grupos

    sociais. Alm de relaes sociais, as marisqueiras podem articular tambm relaes

    espaciais. Para WOORTMAN(1991), a historia das mulheres de comunidades

    pesqueiras em boa parte a desarticulao desses espaos sociais. Isso se d pelo fato

    da modernizao das localidades pesqueiras que muitas vezes no trazem consigo a

    emancipao da mulher. Segundo a autora, essa situao acentuou a dependncia delas e

    a desvalorizao das atividades atribuda ao sexo feminino. Sendo assim,

  • . [...]ao longo desse processo, as relaes entre homens e mulheres se alteraram, como foi visto. De uma relao de complementariedade passou-se

    a uma relao de dependncia das mulheres para com os homens. Se

    antigamente as mulheres eram corresponsveis pela fartura, hoje elas

    comem da mo do marido [...] (WOORTMAN, 1991, p.29)

    Ou seja, o trabalho realizado pela mulher mesmo j sendo desvalorizado e

    invisibilizado, com a modernizao essa situao acentuada. Nas comunidades

    pesqueiras estudadas por Woortman, precarizou-se mais ainda, pois a mulher foi

    perdendo os espaos antes ocupados por elas.

    Na comunidade Luziense alm do trato com o peixe a mulher que realiza a

    atividade de mariscagem. Elas catam aratu, siri, caranguejo, guaiamun e ostras. Esta

    uma atividade predominantemente feminina, e apesar de ocupar um lugar de destaque

    na comunidade, uma atividade extremamente desvalorizada.

    [...] em meio a essa situao de pouca visibilidade dos caboclos h, ainda, a

    desconsiderao do trabalho feminino em reas de manguezais. Nessas reas

    as mulheres coletam moluscos e crustceos, mas esse trabalho pouco

    valorizado entre os prprios pescadores porque no est ligado diretamente a

    captura do peixe em alto-mar. (MACHADO,2007, p.487)

    As funes menos valorizadas na pesca so atribudas ao sexo feminino, como

    o caso das atividades realizadas pelas catadoras de mariscos, apesar da importncia

    social e econmica dessas funes para a regio. Isto , alguns preconceitos so

    reproduzidos no mbito da pesca tal qual so reproduzidos em outras esferas da

    sociedade. A medida que responder os questionamento em torno importncia da pesca

    para a organizao social da comunidade pretendo considerar a voz das mulheres afim

    de dar visibilidade a essa agente social que apesar da importncia em todo o processo

    histrico e social das comunidades pesqueiras e quilombolas sempre estiveram as

    margens desses estudos.

    Diante das observaes realizadas podemos afirmar que a atividade da pesca

    de extema importncia para a comunidade. Percebemos que as diversas representaes

    simblicas esto relacionadas com essa atividade. Podemos citar as festividades

    religiosas e ldicas , os mitos e ritos entre outros. No entanto qual ser a participao da

  • mulher mariqueira e quilombola nesses mbitos e na reproduo desses saberes?

    Todos os anos no ultimo final de semana de setembro, pescadores e famlias de

    vrios povoados da comunidade se renem no povoado Crastro para a festa do pescador.

    A comunidade formada por povoados que tem a pesca como elo entre eles. Nesta

    festa todos se encontram trocam experincia e h sociabilidades. Os pescadores dos

    povoados e municpios diferentes enfeitam e identificam seus barcos que saem em

    disputa dos premio oferecido pela comunidade. Esta festa uma oportunidade para os

    diversos encontros como tambm os diversos conflitos. Principalmente em poca de

    eleio h alguns grupos que fazem de tudo para chamar mais ateno do que os outros

    gerando algumas tenses. No entanto a comunidade no permite a participao e

    financiamento da festa por politico, s da prefeitura , mais mesmo assim muito pouco,

    como relata um pescador da regio.

    Alem dessa festa, h tambm em Cajazeiras a festa do Senhor do Bomfim, e

    ainda as comemoraes de So Joo nas diversas comunidades. Nas festas as famlias

    se encontram, reforam seus laos societrios e transmitem experincias. O

    envolvimento da mulher nesses espaos mostra como ela imprescindvel para a

    organizao social da comunidade.

    INCOERENCIA E INAPLICABILIDADE DE PROJETOS E AES PUBLICAS

    PARA A COMUNIDADE

    O que se tem notado na politica quilombola que os projetos polticos

    destinados a esse grupo social muitas das vezes no contempla a realidade dessas

    comunidades, como tambm so viabilizados atores sociais e instituies sem o preparo

    devido para mediarem essas politicas.

    No entanto, uma questo relevante que entre os quilombolas h um alto grau

    de desinformao tanto sobre seus direitos quanto sobre os debates sobre o que ser

    quilombola. Mesmo que a historia e a reproduo cultural de um grupo demonstre sua

    ancestralidade afro-brasileira, mesmo que alguns representantes da comunidade

    requisitem o reconhecimento do grupo como comunidade quilombola, a maioria dos

    seus indivduos no sabem ao certo do que se trata. Como a legislao quilombola exige

  • a auto identificao para que o territrio seja reconhecido, essas comunidades se auto

    definiam como quilombolas, mesmo que muitos dos seus integrantes soubessem das

    implicaes e da definio histrica ou presente do termo.

    A auto identificao de uma comunidade como quilombola d a permisso da

    mesma reivindicar polticas pblicas perante o estado. Polticas essas que o estado

    brasileiro proporciona a fim de reparar os muitos anos de excluso, esquecimento que

    essas comunidades foram vtimas. No entanto esse estado no consegue interpretar as

    apreenses dessas comunidade de maneira totalmente eficaz. Geralmente no

    compreende suas reivindicaes e pecam querendo responde-las sem considerar a forma

    peculiar desses grupos de conceber o territrio, alm do que estabelecem pr modelos

    que mais dificulta do que auxilia a concretizao dos direitos. Por sua vez, as

    reivindicaes demonstram a possibilidade dessas comunidades terem uma vida digna,

    com acesso e uso livre do territrio onde sobrevivem a sculos. O uso se refere tanto ao

    uso econmico quanto ao uso simblico, geralmente no concebido pela lgica

    econmica.

    As comunidades quilombolas, precisam realizar alguns procedimentos,

    referentes a tramites burocrticos para ter a oportunidade de verem seus direitos

    concretizados. Alm do certificado, precisam possuir o titulo do territrio, que seria o

    documento que legalizaria o uso do territrio pela comunidade. Mas para isso algumas

    etapas precisam ser vencidas. No decorrer dessas etapas, instituies e organizaes se

    envolvem no processo, com o intuito primeiro de agilizar os procedimentos e auxiliar as

    comunidades na concretizao de seus direitos. Com isso se forma uma teia de

    mediadores com intuito de serem as vozes das comunidades na reivindicao de seus

    direitos.

    Aps a aprovao do decreto, surgem algumas instrues normativas

    regulamentando os procedimentos que concretizaro a poltica das comunidades

    quilombolas. Dentre elas a que determina que o INCRA ser responsvel por mediar os

    procedimentos referente a titulao do territrio. O RTID (Relatrio Tcnico de

    Identificao e Delimitao) ser construdo por profissionais do INCRA(Instituto

    Nacional de Colonizao e Reforma Agrria) para que seja emitido por esse rgo o

    titulo que dar livre acesso dos quilombolas seus territrios. Quanto a isso

    importante ressaltar que este rgo possui experincia em processos rurais, no entanto, a

    construo do RTID um procedimento novo. Alm do que, neste momento, em todo o

    Brasil o INCRA no possua pessoal qualificado para essa empreitada. Dentre outras,

  • essas so algumas das razes da demora dos processos responsveis pela efetivao dos

    direitos das comunidades negras. Com essa situao em algumas sedes do INCRA no

    pas, realizado convnios com universidades a fim de agilizar a realizao do RTID e

    responder a demanda de comunidades quilombolas certificadas pela Palmares, j que

    aps o decreto esse numero aumentou consideravelmente.

    No percurso desse processo, existem outros rgos e organizaes que assumem

    o papel de mediadores para a concretizao dos diretos quilombolas alm das

    associaes formadas internamente.

    Se antes esses grupos reivindicavam por uma visibilidade, na atualidade so

    inmeros os mbitos sociais que tem como foco as comunidades quilombolas. So

    diversos sujeitos envolvidos no processo de reconhecimento, no entanto a falta de

    informao tambm grande, tanto por parte dos que reivindicam quanto dos que so

    responsveis por responder essas reivindicaes. Lidar com uma reivindicao que

    explora tanto a questo identitria um desafio para esses mediadores.

    As organizaes que reivindicam o direto de comunidades quilombolas so

    representaes que se diferenciam das clssicas, sendo que elas esto mais baseadas em

    uma identidade coletiva, em prol de uma reivindicao coletiva do que num patamar de

    representativas. Elas esto mais para responder uma exigncia legal do estado do que

    um anseio interno comunidade, apesar que isso de interesse da comunidade.

    O envolvimento dos mediadores inicia-se, com a formao da associao e

    reivindicao do certificado da Palmares, e prossegue at mesmo aps a conquista do

    titulo concedido pelo INCRA. perceptvel diversas peculiaridades nessas relaes,

    entre esses mediadores com essas comunidades possivelmente resultado da forma como

    os processos foram ou esto sendo conduzidos.

    A urgncia dessas comunidades em vislumbrarem a concretizao dos seus

    direitos como tambm a urgncia atual do estado em promover estas polticas ocasiona

    o atropelamento de certas etapas, principalmente no que refere a busca de informaes

    sobre esses direitos quanto tambm a formao da associao que representar essas

    comunidades. Essa situao reflete nas relaes que so construdas nesse processo.

    Tanto entre quem a associao e a comunidade, quanto entre as entidades e instituies

    e a comunidade. So relaes que se diferenciam das esperadas relaes impessoais e

    burocrticas nesse mbito. Esse um campo bastante interessante para ser analisado,

    mas neste trabalho ser restrito a apresentao desses mediadores e sua atuao para

    compreender como ocorreu o processo de ressignificao da identidade quilombola.

  • Em Sergipe a maior parte das associaes que representam as comunidades

    quilombolas foi criada j com o intuito de buscar a titulao do territrio quilombola e

    aps a regulamentao do decreto que infere associao esta obrigao.

    Foi verificado, nas participaes de reunies com o INCRA e representantes,

    que apesar da maioria dessas comunidades terem certa dificuldade de lidar com os

    trmites burocrticos, elas j possuem experincia no que diz respeito s formas de

    organizao associativa: mesmo antes de terem acesso informao sobre a questo

    quilombola, j se organizavam com associaes de outros interesses como associao

    comunitria, pesqueira e de mulheres. No entanto para formarem a associao com o

    interesse direcionado aos direitos de comunidades quilombolas, essas comunidades

    tiveram interferncia de diversos agentes da sociedade, tanto de agentes internos quanto

    de agentes externos elas, com a justificativa de auxiliar e mediar essa situao.

    Reconhecer o direito dessas comunidades significa reconhecer a divida com

    essas comunidades, por parte do estado, por parte da sociedade. Divida impagvel, mas

    o reconhecimento e a garantia de aplicao desses direito poder de certa forma

    reinscrever uma nova estria para essas populaes.

    OS DIVERSOS INTERESSES ENVOLVIDOS NO PROCESSO DE

    RECONHECIMENTO

    A formao da associao que atualmente representa a comunidade quilombola

    Luziense, surgiu com o intuito de representar essa comunidade no que tange aos direitos

    garantidos pela legislao quilombola. Segundo depoimentos, a formao dessa

    associao no partiu da mobilizao da comunidade. Em quase todos as entrevistas,

    relatado que essa iniciativa partiu do poder publico municipal.

    A- Quem formou a associao? E- Foi as pessoas chegada ao grupo do prefeito, essa menina, munh do

    capuia, ai ela pegou os nomes e formou a associao. Ns temos esse

    interesse e queremos lutar por nosso direito. Eu em si j fui envolvido,

    j comecei a trabalhar com reunies n, e participar e buscar nossos

  • direitos que no ta sendo legalizado pela Associao Quilombola. (Depoimento do pescador E.)

    Percebe-se no depoimento acima que o envolvimento de agentes polticos da

    regio intimida a participao de moradores que gostariam de estar prximo na luta

    pelos direitos da comunidade.

    Apesar disso, o processo que levou a comunidade a reivindicarem o titulo de

    comunidade quilombola, como o processo que leva as pessoas individualmente a se

    identificarem como quilombola, no se deu de forma solitria, e sim com diversos

    mbitos e sujeitos que dialogavam com essa politica naquele momento.

    Fomos ainda informados que no inicio do processo de formao da associao,

    houve visitas na comunidade de polticos, que conversaram com a comunidade a fim de

    instigar o interesse para a questo quilombola. Para isso conversarem com uma das

    associaes da localidade.

    A- Eu quero que voc me diga a partir de qual momento vocs comearam a dar importncia a questo quilombola?.....

    E- Foi a partir da vinda desse rapaz, Pedro Neto, que chegou explicando

    a informao do que era quilombola, at antes da vinda deles, ns j

    tnhamos a que existia quilombola, que ns tnhamos esse direito, por

    ns v essa questo de terra ns sabia que nosso antepassados, que

    dizia, olhe aqui foi terra de negro, de ndio, ai com a vinda do pessoal

    de Pedro Neto, o pessoal que comeou a fazer reunio aqui na

    associao, ele falou de nossos direitos ai despertou o interesse ,

    ficamos animados novamente .(depoimento E.)

    So diversas as associaes nos povoados, com interesses mltiplos, mas

    somente uma poderia representar juridicamente os interesses identificados como

    interesses de remanescentes quilombolas. Para alcanar esse objetivo organizaram uma

    diretoria afim de formar essa associao. Contudo quem indicou inicialmente o

    certificado da Fundao Cultural Palmares foi a denominada Associao dos

    Agricultores, Pescadores e Marisqueiros do Crasto e Adjacncias. De acordo com os

    depoimentos coletado, observou-se que o impulso inicial de todo o processo surgiu a

    partir da interferncia do poder publico municipal que percebendo a possibilidade dos

    povoados buscarem a certificao deu todo apoio poltico e estrutural para isso.

  • A razo de tanta dedicao, segundo os relatos obtidos, foram os benefcios que

    a comunidade poderia conquistar com a certificao j que as comunidade quilombolas

    e indgenas possuem preferncia na aplicao de polticas publicas e por sua vez no

    financiamento de projetos. Segundo relatos o poder poltico municipal buscou algumas

    lideranas nos povoados para que pudessem representar a comunidade atravs da

    associao.

    A pescadora R. nos informou que no ano de 2005, houve o I Encontro Estadual

    de Comunidades Negras Rurais de Santa Luzia do Itanhy SE, onde discutiu a falta de

    representatividade por parte dessa associao e foi encaminhado ao INCRA um

    requerimento assinado pela Coordenao Quilombola Territrio Luzienses,

    solicitando reconhecimento(regularizao)do Territrio.

    Apesar do grande nmero de associaes existentes, elas no possuam um

    entendimento mais aprofundado sobre a questo quilombola. A Prefeitura Municipal de

    Santa Luzia do Itanhy criou a Associao da Comunidade Remanescente de Quilombos

    do Territrio Luziense ACREQTLU1. A associao composta por coordenadorias e

    por um presidente. A diretoria foi formada majoritariamente por pessoas com vinculo

    empregatcio e poltico prefeitura.

    Mesmo com a criao de uma associao que representasse a comunidade

    quilombola, a falta de entendimento sobre a questo era muita. Na maior parte das

    reunies em que estive presente, pude notar que os questionamentos sempre se repetiam

    e que as lideranas no estavam a par do assunto. A comunidade comeou a refletir

    sobre o processo quilombola aps a emisso do certificado pela Palmares, j que essa

    certificao foi feita de maneira precria e problemtica. Deu-se a partir das reunies

    que esclareceram a poltica do governo e os direitos que a comunidade quilombola

    possua. Mas apesar da comunidade no ter conhecimento sobre o processo de

    certificao e seus direitos territoriais, e de no ter muita intimidade com a questo

    quilombola, percebe-se atravs das narrativas coletadas as nuances que demonstram um

    passado de invisibilidade perante o estado e ainda referencias ao perodo escravocrata.

    bem verdade que em poucos depoimentos e sempre remontando a um passado. Na

    atualidade so poucas pessoas que reconhecem o passado ligado ao perodo

    escravocrata, com exceo dos que j entendem que esse discurso possibilitar a

    conquista de polticas publicas. Isso demonstra a opresso histrica vivida pela

    1 A partir desta parte do trabalho, se utilizar a sigla ACREQTLU para referir-se a Associao da

    Comunidade Remanescente de Quilombos do Territrio Luziense

  • comunidade que durante muito tempo negou sua origem, seu passado. Essa

    conscientizao foi sendo conquistada a partir das visitas de antroplogos,

    pesquisadores, tcnicos do INCRA e polticos da Prefeitura. necessrio salientar que

    essa situao foi fruto de uma interao entre os agentes de fora e os de dentro da

    comunidade.

    A partir dessas reunies onde foram bastante abordados sobre a noo de

    quilombo e a estria dos negros na regio, alguns desses individuos passaram a se

    afirmar como quilombola, atrinuido-se como tal e por sua vez se diferenciando do outro.

    Atravs desse artificio as comunidades buscam visibilidade, a partir do contraste com o

    resto da sociedade que no se define como quilombola.

    Desde sua criao a ACREQTLU passou e passa por inmeros problemas. Alm

    da dificuldade de reunir os associados, por conta dos inmeros povoados que formam

    esse territrio, percebe-se uma falta de iniciativa poltica por parte do presidente e da

    diretoria, alm da dependncia dessa diretoria com a prefeitura. Durante todo o processo

    de realizao do relatrio antropolgico houve vrias reunies para tirar dvidas da

    comunidade quanto a questo quilombola e quanto a delimitao do territrio. A partir

    da participao em diversas dessas reunies, observou-se que os maiores

    questionamentos dos quilombolas eram sobre o uso coletivo do territrio. Havia

    tambm reclamaes quanto s aes da associao, alis, quanto falta de ao. As

    contradies eram muitas. Apesar de a associao denominar-se como uma associao

    quilombola, a maior parte dos associados tinha dvidas sobre o processo, e inclusive

    sobre o significado do termo quilombola. Na reunio ocorrida no dia 23/09/2009 o

    prprio presidente da associao demonstrou falta de informao sobre o processo de

    reconhecimento, perguntando como ficaria a diviso do territrio e a indenizao dos

    pequenos proprietrios. Essa situao, possivelmente, consequncia da maneira como

    a associao nessa comunidade foi criada: instigada pela prefeitura que possivelmente

    tinha interesses nos benefcios que essa situao traria para o municpio.

    Atualmente, percebe-se que a inteno do poder poltico local mudou ( baseado

    nas ultimas aes da prefeitura). O perodo para realizar eleies para uma nova

    diretoria para a associao j expirou algum tempo. Hoje, existe um grupo querendo

    tomar a frente da associao apoiada por alguns da antiga diretoria. Esses foram

    recentemente exonerados da prefeitura por no comungarem da opinio do prefeito de

  • formar uma chapa nica..2 O caso foi levado ao Ministrio Publico que acompanhar a

    eleio da associao.

    De acordo com o relato de S., o interesse inicial do prefeito pela certificao da

    comunidade se deu por desentendimento sobre a questo. O mesmo foi surpreendido

    quando soube que suas terras fariam parte do territrio.

    S- A ata de posse da associao foi feita dentro do prdio da prefeitura, na sala de reunio da prefeitura. Como que voc faz uma reunio pra

    eleger o presidente e faz dentro da sala do prefeito?

    A- Ento quer dizer que a prefeitura foi quem estimulou a criao da

    associao?

    S- Isso, depois que ele comeou a dar pra trs porque quando fizeram

    o levantamento do territrio as terras do prefeito ficou dentro, ai quando

    ele viu comeou a dar pra trs. Ai nisso ns comeamos a fazer reunio

    l no povoado, ai vamos fazer reunio nas comunidades, pra ver o que

    que o povo quer, pra definir os territrios porque ls tinham prazo pra

    encerrar os trabalhos.(depoimento de S)

    Hoje h pessoas interessadas em liderar a comunidade e fazer parte da

    associao. Mas esse interesse acompanhado de grande desestmulo por conta da

    situao atual da comunidade e da associao. A associao apesar de no funcionar,

    no realizar reunies, ela continua sendo usada para angariar projetos para o municpio

    de acordo com os relatos dos moradores. No entanto sabido que esses projetos, apesar

    de trazerem recursos para comunidade, no acata toda a necessidade. Com isso somente

    alguns so beneficiados.

    Muitas das vezes as comunidades e seus representantes no possuem

    entendimento da legislao vigente e dos tramites burocrticos relacionados a elas. Por

    esses e outros motivos esses grupos no conseguem ter acesso as politicas publicas. Isso

    se deve a todo processo de excluso e invisibilidade que essas comunidades so vitimas.

    2 Relato de um dos quilombolas exonerados.

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