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Revista Ponto de Escambo #4 1 REVIS- TA PON- TO DE ES- CAMBO

Revista Ponto de Escambo #4

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Edição Março/Abril 2016

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REVIS-TA PON-TO DE ES-CAMBO

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2Editor ChefeMarcos Poubel

Edição e DesignRafael de FrançaPaloma Dantas

ComunicaçãoIsadora Ribeiro

JornalistaCarolina Souza

Assist. de ProduçãoTharcilla Seidel

Equipe

Uma Realização

[email protected]

acompanhe a versão online no link:

issuu.com/escambocultural

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Em um processo de autoafi rmação e de insti-tucionalização como projeto em si, a Revista Ponto de Escambo começa 2016 trazendo à

tona discussões e atividades que tratam do pro-cesso de (re)territorialização por meio da cultura e de movimentos sociais. Para isso, agentes culturais desempenham papel fundamental no processo de construção de identi-dades, tanto comunitárias quanto própria dos indi-víduos, reorganizando as formas de percepção da sociedade. Começando na esfera micro, reorde-nam as relações entre grupos sociais distintos e a ocupação do espaço físico ao seu redor.

São, assim, vozes críticas e ativas refutando um an-tigo estereótipo de periferia “aculturada” submersa na impressão de ambientes inóspitos, cabendo ao Estado e à sociedade o papel de resgatá-la des-sa estrutura.

Mesmo estigmatizada pelos conceitos de pobreza e de violência, é inegável o reconhecimento da favela como berço de expressões artísticas e de afi rmação quanto à pluralidade cultural. O que trazemos nessa edição são exemplos dessa recons-trução das chamadas “funções sociais”, em que a periferia se impõe com marcas próprias, delimitan-do, claramente, sua posição quando se trata da necessidade de respeitar a vocação cultural de um lugar.

Isadora Ribeiro

Editorial

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4CULTURA E REPRESENTATIVIDADEMarcos Poubel

DA CAIXOLA PARA O PAPEL

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DO MUNDO DAS ANEDOTASFelipe Boaventura

ANTES DAS GRANDES SALAS,

AS PRAÇASCarolina Souza

A BASE DA PAIXÃO FEBRIL

Carolina Souza

TERRITÓRIOS CULTURAIS EM UM SÓ LUGAR

Carolina Souza

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“WALKING DEAD” DA CULTURACarolina Souza

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CULTURA E REPRESENTATIVIDADE

por Marcos Poubel

Estamos em uma época de elei-ções de representantes para as diversas áreas artísticas. No fi nal do ano passado tivemos as elei-ções para o conselho Nacional de Política Cultural (CNPC) para o período de 2015 a 2017 que aconteceram pela internet e também eleições presenciais para o Conselho Estadual de Política Cultural (CEPC), repre-sentantes da sociedade civil fl uminense, para o período de 2016 a 2018.

A Secretaria Municipal de Cul-tura por sua vez, neste ano, re-alizou processo eleitoral para o próximo mandato do Conselho Municipal de Cultura, instância criada em 2009, que estimula a participação dos diferentes se-tores culturais e sociais na po-lítica cultural da Cidade. Pela primeira vez, pessoas físicas pu-deram se inscrever como eleito-res e se candidatar à vaga de conselheiro, no processo mais democrático desde sua criação.

O Conselho Municipal de Cultu-ra conta com representantes de doze linguagens artísticas, que vão compartilhar seis vagas, sen-

do uma para Conselheiro titular e uma para Conselheiro suplente. As vagas serão compartilhadas entre linguagens artísticas afi ns: cultura popular e artesanato; artes visuais e audiovisual; patri-mônio cultural e literatura; teatro e música; dança e circo; design e cultura urbana. A eleição para conselheiros da Sociedade Civil foi realizada em 3 de março de 2016, serão nomeados para um mandato de dois anos.

Atualmente está em curso as eleições online dos membros dos segmentos culturais para o Con-selho Estadual de Política Cultu-ral. O presente processo eleitoral elegerá 06 (seis) membros titula-res e 06 (seis) membros suplentes para o Conselho Estadual de Políticas Culturais, representando os segmentos culturais que foram defi nidos no Decreto 45.419 de 19/10/2015 (artes cênicas; artes visuais; audiovisual; música; das áreas de literatura; cultura po-pular) também para o período de 2016 a 2018. As votações ocorrem até o dia 31 de março.

Em tempos de crise política, a área da cultura que recentemen-

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6 te quase perdeu seu ministério, (o ministério da cultura este um passo de ser extinto no plano de ajuste fi scal da atual presiden-ta Dilma Rousseff ) se movimenta para escolher seus representan-tes. Entretanto, considerando o número de artistas existentes no Brasil e o número de pesso-as que efetivamente participam, se candidatando ou votando como eleitores nesses processos, percebemos que a participação dos mesmos nessas escolhas de representação são muito aquém do ser real potencial.

A nível nacional, a maioria dos representantes eleitos tiveram uma votação inferior a 50, a nível estadual (presencial) tam-bém. Em se tratando da instân-cia municipal o candidato mais votado no geral foi ISABEL GO-MIDE do teatro com 32 votos.

Esta baixa participação deve ser questionada. Os artistas, em sua maioria, não se articulam politicamente ou os órgãos pú-blicos estão falhando na divul-gação dos processos eleitorais? Há um esforço para conscienti-zação sobre a importância da participação dos artistas em suas diferentes linguagens?

Conheça nossas mídias:www.fb.com/escambo

www.youtube.come/c/escambocutluralmidia

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Ilustração

Nina HCfacebook.com/submarinahc

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Planejamento e Gestão foi o tema da primeira Maratona Rio Criativo de 2016. Promovida mensalmente pela Incubadora Rio Criativo, ela reuniu – de 26 a 28 de janeiro – empreendedores e agentes culturais para participar gratuitamente de ofi cinas e de consultorias, visando à troca de experiências e ao aprendizado.

Na ofi cina “Planejamento de Projetos”, ministrada por Fernanda Oliva, por exemplo, os participantes tiveram uma apresentação sobre pontos aos quais devem fi car atentos na elaboração de uma proposta, como checklist, pesquisa e defi nição de objetivos gerais e específi cos. Além de tirar dúvidas sobre seus próprios empreendimentos, os integrantes puderam agregar conhecimento às iniciativas dos colegas.

Segundo a consultora, a maior difi culdade enfrentada pelos empreendedores é transpor as ideias para o papel, o que pode

acarretar, entre outros problemas, recusas de avaliadores ou de investidores por falta de entendimento a respeito do projeto.

Uma das participantes do workshop era a estudante Raphaella Haleck, de 26 anos.

DACAIXOLA PARA O PAPEL por Carolina Souza

““O trabalho de hoje foi direcionado, principalmente, a pensar no lugar a que o empreendedor quer chegar e em quais são as etapas que ele precisa estabelecer, de forma bem específi ca, e a dimensionar isso em relação a metas e custos.

explica Oliva.

Maratona Rio Criativo realizou, em janeiro, encontro para empreendedores aprenderem e compartilharem conhecimento

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““Junto da mãe, Andrea Haleck – também presente -, ela tem uma empresa de doces, a Palha da Rapha. A receita da guloseima está na família há 40 anos e, hoje, representa sua principal fonte de renda. Mesmo sendo sua primeira vez no evento da incubadora, a jovem o recomenda para outras pessoas.

É sempre válida a troca de experiências, de conhecimento, né? Eu espalho para algumas pessoas que conheço, que estão mais ou menos nesse meio também. Eu, com certeza, recomendaria.

comenta a microempreendedora.

A RioCriativo está localizada dentro do prédio do Liceu de Artes e Ofícios e realiza mensalmente maratonas para ajudar os novos empreendedores a desenvolver seu negocio. Mais informações no tel 21 2507-9742

Maratona Rio Criativo realizou, em janeiro, encontro para empreendedores aprenderem e compartilharem conhecimento

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Diz-se que dois amigos tomavam chope em um bar numa esquina qualquer da Lapa quandoo primeiro deles disse:- No Brasil nada é maior que o ódio. Não tem samba, praia, Amazônia nenhuma que seja maior do que o ódio que temos uns contra os outros.- Que isso! Você está falando bobagem. O Brasil é único lugar do mundo onde índios, pretos ebrancos se dão bem...O primeiro homem encara o ami-go e então se vira para um ho-mem negro que passava naquelemomento do lado de fora do bar e grita:- Ei seu preto fi lho da puta de merda! Vai se foder!O bar para. O homem negro olha para seu agressor, depois olha ao redor e xingando baixo,continua seu caminho.- Você viu? Disse o primeiro ho-mem.O segundo esbraveja:- Tá maluco?! Que me matar de susto?!- Você viu?- Vi que você ofendeu um homem e ele saiu para evitar problemas com um maluco!- Não estou falando dele. Estou falando dos outros. Alguém se in-comoda por eu ter ofendido ohomem sem motivo algum? Olhe

ao redor. Não! Pelo contrário, no máximo reclamam do incômodoque gerei, mas ninguém ques-tiona minha atitude, nem mesmo você que apenas fi cou comvergonha pelo susto. E sabe por-quê é assim? Porque aqui no Bra-sil, ninguém se ofende pelodesrespeito ao direito do outro, só pelo seu mesmo. Nós nos odia-mos de verdade.

EVENTOS• Lançamento do livro “Rio 2065”. Livro organizado pelos amigos Ecio Sales e Julio Ludemircom Fausto Fawcett, Martinho da Vila, Ramon Melo entre outros e também novos autores do ce-nário periférico da cidade es-crevem sobre o Rio de Janeiro em seu aniversário de 500 anos. Como será a Cidade Maravilho-sa? Leia e descubra! Dia 2 de Março de 2016 às 18h30min na Biblioteca Parque Estadual ao lado do Campo de Santana.

• O FEMINICIDADE discute a vio-lência contra a mulher através de ações na Cidade. Os even-tos principais acontecerão na semana do Dia Internacional da mulher. Mais informações em www.feminicidade.com.br

Do mundo das anedotas

por Felipe Boaventura

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O escurinho, a plateia, a pipoca e o refrigerante ajudavam a for-mar o clima de sessão de cinema, mas aquela não era uma ocasião comum. Na plateia, estavam ato-res, diretores e simpatizantes. Na tela, improvisada em uma parede branca, eram exibidos curtas-me-tragens que, sem os orçamentos robustos das grandes produções, ajudam a sustentar o cenário cul-tural autônomo.

Ao contrário do que o nome pode sugerir, na Mostra Curto Rio Ci-

nema Independente, realizada no dia 9 de janeiro, em Sulacap, não houve premiação ou catego-rias de destaque. Promovida pela Rosário Studio e pelo Cinevuna Urbano, com apoio do Escam-bo Cultural, onde foi realizada, e do #FalaPraGente, ela tem como objetivo divulgar o trabalho dos diversos produtores e trocar expe-riências, sem preterir ninguém.

- Essa é uma mostra para incenti-var o cinema independente, por-

Antes das grandes salas, as praçasMOSTRA DE CINEMA PROMOVE TRABALHOS INDEPENDENTES

E PRETENDE CHEGAR A ESPAÇOS PÚBLICOS

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que a gente divulga nosso traba-lho através de internet ou festival de cinema. No Youtube, as pesso-as acessam mais canais megaco-nhecidos, e, se não for muito famo-so, não se chega até elas. Essa é a forma de fazermos a distribuição gratuita – defende Fabrício Rosá-rio, idealizador do evento.

Segundo ele, tudo – desde a en-trada até comidas e bebidas - foi gratuito como forma de agrade-cer às pessoas pela presença.

- A gente não está cobrando nem para assistir, nem para alimentar, nem para nada. Tudo é grátis, porque é uma forma de agrade-cer ao público por ter vindo aqui prestigiar a gente – disse ele.

No repertório cinematográfi co, es-tava prevista a apresentação de, aproximadamente, 25 curtas, mas, devido a atrasos e problemas téc-nicos, o número foi reduzido a 15. Entre eles, estava um episódio da 2ª temporada da websérie “Amor Por Toda Vida”, parceria entre Escambo Cultural, Portus Cia. De Dança e o Rosário Studio, além de “UTI – Erro Médico”, do grupo de cinema Cine Oportunidade – cria-do por Rosário e dirigido por ele e por Yon Dourado – e que fi cou em 3º lugar, no Los Angeles CineFest, no fi nal de 2015.

#FalaPraGente

A cobertura da mostra fi cou por conta do #FalaPraGente, progra-ma de entrevistas e de bastidores do cenário cultural voltado para iniciantes e para profi ssionais do

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meio artístico. Para Isabela Lino, repórter do canal e também atriz, o evento é importante por revelar não apenas obras de novos cine-astas, mas também as difi culdades do ramo.

—Cinema independente não tem um patrocínio, e, às vezes, as pes-soas têm o desejo, mas não têm a formação para poder atuar. Tudo é muito difícil. Então, uma mostra como essa abre portas tanto para as pessoas conhecerem o traba-lho de outros artistas quanto para os próprios artistas estarem vendo o seu trabalho e o dos seus co-legas sendo expostos e reconhe-cidos pelo público. – defende a apresentadora, que participou de um dos curtas exibidos.

Modelo tipo “exportação”Apesar de essa ter sido apenas a primeira edição, uma espécie de

teste, o objetivo de Rosário é dar continuidade à exibição e – quiçá – exportá-la para praças públicas.

— Dando certo, a gente pretende botar em praça aberta, para o pessoal ver, não somente em local fechado – diz o ator, que preten-de levar o evento também a ou-tros bairros, cidades e estados.

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Além da troca que os projetos têm aqui, vai alguma coisa para a sociedade civil, de forma geral?

Não é obrigatório, mas todos esses projetos, praticamente, têm alguma proposta de realização, que não é só para os próprios pro-jetos. Isso vai para sociedade como um todo. Enquanto Secretaria, eu acho que é o momento de não achar que é só fomentar, só dar o dinheiro do edital, mas de ter um acompanhamento, dar orientação. Até mesmo em um momento de crise de recursos, a gente está bus-cando muitas parcerias, inclusive com a iniciativa privada, para que esses recursos viabilizem ações que vão impactar a transformação desses territórios e, cada vez mais, discutir a questão da sustentabi-lidade, como eu sempre gosto de frisar. Não pensada só do ponto de vista ambiental, não só pensada do ponto de vista do negócio, mas sustentabilidade é também você desenvolver sua linguagem ar-tística, ter contato com outros trabalhos.

“O QUE MANTÉM A CULTURA ROLANDO SÃO OS FAZEDORES DE CULTURA”

Entrevista com Alexandre Pimentel, Superintendente de Cultura e Território na Secretaria de Estado de Cultura (SEC).

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O senhor acha que essas parcerias vão ajudar, de certa forma, a manter a cultura rolando, apesar de uma possível falta de verba decorrente da crise econômica?

O que mantém a cultura rolando são os fazedores de cultura, que não são o Estado. Então, em um momento de falta de verba, de uma crise que também atinge a gente (no estado), prejudica muito, mas é nessa hora que você tem que saber se articular para não deixar a peteca cair. A gente tem um contato com o governo federal, que também tem seus problemas fi nanceiros, mas tem programas de fi nan-ciamento. A gente tem tido uma receptividade muito boa quando conversa também com empresas privadas que, hoje, investem aqui no Rio. Acho que essa é, com certeza, uma das possibilidades que não devem ser abandonadas nunca, mas que fortalecem em um momento em que o próprio Estado está com difi culdade fi nanceira.

O senhor poderia falar um pouco mais da perspectiva da ad-ministração estadual em relação à ideia de levar cultura até os lugares e à de empoderar a periferia para que ela produza sua própria cultura?

Acho que houve uma mudança de paradigma no país em relação a isso, de reconhecer que as pessoas já fazem cultura. Você não tem que fi car numa proposta que, de um lado, lembra um pouco o iluminismo; de outro lado, lembra um pouco o papel meio jesuítico de achar que tem que catequizar, porque parte do principio de que as pessoas não têm cultura. Não cabe ao Estado, moralmente, dizer o que é melhor ou pior e dizer que você tem que superar essa etapa para chegar a outra fase de desenvolvimento cultural, que tem que ser só orquestra sinfônica, balé, etc. Isso não quer dizer que a gente não estimule exatamente a diversidade. A gente não vai só apoiar funk, mas outras manifestações de periferia também, porque acho que é um conjunto. Uma Secretaria de Cultura tem que trabalhar com o estado como um todo.

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Até que ponto a Economia Criativa vai ser incorporada à eco-nomia do Rio de Janeiro?

Eu acho que essa questão da Economia Criativa é um tema muito polêmico, não é minha área de atuação principal. Acho que a gente tem que entender que existe um modelo de desenvolvimento em crise, que é o modelo muito articulado a essa ideia inicialmente de uma cidade industrial. Acho que faço parte de um grupo maior de pesso-as que acredita que esse novo modelo de desenvolvimento deveria ter na cultura um vetor fundamental. Então, a cultura passa a ter um papel estratégico no novo modelo de desenvolvimento, que não é só o econômico, é o humano, o de qualidade de vida, o da questão ambiental, o da questão cultural, o dos direitos. O desafi o é pensar como a gente pode estimular as pessoas a fazer o que elas já fazem, mas com um pouco mais de estrutura, um pouco mais de qualidade, como o Estado pode agir com políticas voltadas para isso.

E nos casos em que as manifestações culturais não se traduzem em produtos?

Nem toda atividade cultural tem que ter necessariamente um foco em desenvolvimento de produto que possa ser comercializado. En-tão, não sei, por exemplo, se você fomentar uma Folia de Reis, a gente pode pensar em algum tipo de conceito de Economia Criativa que viabilize isso, porque essa é uma manifestação cultural religiosa. Acho que não cabe para tudo, mas acho que é, sim, um caminho possível também para diversifi car as opções de desenvolvimento, desde que você tenha um conceito de desenvolvimento que seja mais amplo do que o que a gente vive hoje.

Vocês querem manter esse tipo de encontro todo ano ou a cada dois anos?

Eu acho que sim. Não sei exatamente como vai ser o cronograma disso, mas esse momento de encontro a gente quer, sim, fazer todo ano, que é exatamente para fazer um acompanhamento dos proje-tos e do desenvolvimento deles. É exatamente esse o momento de troca e, aí, a ideia de fortalecimento de uma rede de fato.

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Os desafi os e as possibilidades do programa de fomento à cul-tura da Prefeitura do Rio foram assuntos de destaque do “Semi-nário Fomento Presente”. Realiza-do nos dias 15 e 16 de fevereiro, no auditório do Museu do Ama-nhã, o encontro reuniu produto-res culturais, artistas e membros da sociedade civil.

De acordo com o Secretário Mu-nicipal de Cultura, Marcelo Ca-lero, “mais do que um evento da Secretaria, o objetivo é que ele seja um evento para a Secreta-ria”. O seminário abordou discus-sões relacionadas ao funciona-mento e à sustentabilidade do programa de fomento, que tem,

Seminário joga luz sobre “Walking Dead” da CulturaENCONTRO PROMOVEU DISCUSSÕES SOBRE MODELO DE FOMENTO À CULTURA E SUSTENTABILIDADE

entre seus motivos de relevância, “abrangência em termos de lin-guagens, territórios e diversida-de de projetos contemplados”, segundo o órgão municipal. “O que difere uma ação de polí-tica pública de um edital de pa-trocínio privado?” foi o tema da primeira mesa de debates. Com mediação de Calero, a discus-são contou com a presença de Tatiana Richards (SEC-RJ), Eliane Costa (FGV - Rio), Veríssimo Júnior (Teatro da Laje) e Carlos Trevi (Santander Cultural). Os parti-cipantes abordaram questões como a função de cada esfera de poder na gestão cultural, a necessidade de se desfazer o

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18 paradigma periferia-centro e a tese de que instituições privadas visam somente ao retorno midiá-tico quando apoiam projetos.

Durante palestra, Eliane Costa, coordenadora do MBA de Ges-tão Cultural da FGV, falou a res-peito da estrutura orçamentária destinada à cultura no Rio de

Janeiro, exaltando a peculiari-dade atual do setor, que, mesmo em época de crise, não teve sua verba reduzida. Veríssimo, por sua vez, destacou a necessida-de da redistribuição territorial

desses recursos, mencionando outras atividades como exem-plos a serem seguidos:

- É preciso pensar a territoriali-zação do orçamento da cultu-ra, como já existe com o Ações Locais e o Territórios de Cultura. São essas visões estratégicas que o poder público e a inicia-

tiva privada devem ter - defen-deu o educador.

Vale lembrar que o programa de fomento à cultura da Prefeitura do Rio se tornou um dos mais

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importantes do país e que mo-vimentou, somente no último ano, quase R$ 90 milhões em recursos nele investidos, segundo dados ofi ciais.

As últimas mesas do evento, sob os temas “O que é um bom pro-jeto?” e “Sustentabilidade das iniciativas culturais”, levantaram discussões que permearam a es-trutura do modelo de fomento e dos editais em si, como defeitos, restrições, benefícios e principais quesitos avaliados para a con-templação de um projeto.

Da segunda rodada do debate participaram Adriana Schneider (Reage Artista), Eduardo Barata (APTR), Luciane Gorgulho (BNDES) e Alena Aló (BR Distribuidora).

- Um bom projeto é aquele que consegue atingir o objetivo que foi proposto. Ele tem que estar muito claro, ser comunicado da forma mais efi caz e, se possível, traduzido com a maior perfeição possível em indicadores para que, posteriormente, seja possível aferir resultados - pontuou Lu-ciana Gorgulho.

Fechando as atividades, a ter-ceira e última mesa foi composta pelos palestrantes Eveli Ficher (FGV-Rio), Anderson Quack (Fun-dação Palmares), Luis Marce-lo Mendes e Adailton Medeiros

(Ponto Cine Guadalupe), que levantaram questões sobre o planejamento a longo prazo dos projetos, permitindo sua susten-tabilidade, e os formatos de de-senvolvimento.

- O atual modelo é insustentá-vel, porque não aponta para inovação, nem para criação de marcas culturais fortes que se banquem sem apoio do governo - criticou Luis Marcelo.

Para ele, que é consultor em co-municação, branding e cultura, o setor vive um “Walking Dead”:

- A gente vive um ambiente re-pleto de produtores, de insti-tuições zumbis que passam seu tempo todo atrás de dinheiro, e esse é outro exemplo da insus-tentabilidade da coisa – ele cri-ticou.

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Quem está acostumado às tradicionais narrati-vas com início, meio e fi m

poderia estranhar a performance inaugural da Escola do Teatro da Laje. Composta por vários es-quetes, ela retratava inúmeras si-tuações desconexas do cotidiano. Mesmo assim, qualquer um haveria de concordar que, ali, havia uma manifestação de arte.

Não acho que teatro tem que ter necessariamente uma historinha com começo, meio e fi m. A vida não é assim. Ela é simultânea, como isso que a gente viu aqui, várias coisas acontecendo ao mesmo tempo” – defendeu Veríssimo Júnior, idealizador do Grupo Teatro da Laje da Vila Cruzeiro, que, a par-tir de 19 de dezembro de 2015, deu início à sua própria escola de formação.

A irreverência começou horas mais cedo, quando a trupe fez um cor-tejo pelas ruas da Vila Cruzeiro até a Arena Carioca Dicró, base que utiliza para ensaiar 1h30 por semana. Sob a trilha sonora do grupo de percussão Fanfarrada, que tocava desde marchinhas tra-dicionais até hits atuais, os jovens interagiam com moradores e tran-

seuntes, que, mesmo sem entender ao certo o que estava ocorrendo, entraram na brincadeira.

Para Laís Emídio, de 17 anos, uma das atrizes do grupo – agora, alu-na da escola -, no entanto, o ob-jetivo da apresentação foi além do entretenimento.

A gente vai se divertir, vai apre-sentar coisas diferentes, mas a gente quer uma escola para po-der aprender a fazer isso e mos-trar para o publico – defende a estudante, para quem o impacto do grupo na comunidade foi pal-pável. – Eu acho que ele agregou valores que a gente talvez até ti-vesse, só não sabia.

Cultura e territórioA estreia contou com a partici-pação do diretor de articulação

À BASE DA PAIXÃO FEBRILpor Carolina Souza

MESMO SEM RECURSOS, ESCOLA DO TEATRO DA LAJE NASCE COM IRREVERÊNCIA E METODOLOGIA PRÓPRIAS

fotógrafo Allan Reis

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2222 da secretaria municipal de Cultu-ra, Renato Rangel, e do próprio secretário, Marcelo Calero, para quem a arte já começa a ser en-tendida como um elemento estru-turador do território.

Antigamente, ser secretário mu-nicipal de Cultura do Rio era levar cultura para o subúrbio, e isso é totalmente o oposto da realidade, porque é ele que produz cultura nessa cidade – disse ele, afi rman-do, em seguida, ter se comprome-tido com Veríssimo a expandir o modelo criado na Vila Cruzeiro.

Na plateia, também estavam en-tusiastas do cenário cultural da cidade, pais e amigos dos atores.

Eu cresci vendo pessoas usan-do drogas e armamento. Algu-mas pessoas que estão aqui eu vi crescer também, mas estão no teatro. E, se depender de mim, vou estar aqui, fi lmando, fotografando e compartilhando na rede social – disse a designer Ana Moura, de 25 anos, nascida e criada na co-munidade.

O grupo Teatro da Lajeapesar de o coletivo existir há 13 anos, a ideia nasceu 4 anos antes, quando Veríssimo, professor de Ar-tes Cênicas da Escola Municipal Leonor Coelho Pereira, no intuito de compreender os alunos, deci-

diu “fazer das aulas um grande processo de escuta”. A iniciativa deu tão certo que os muros da escola acabaram se tornando um elemento inibidor. Foi assim que, em 2003, surgiu o Grupo Teatro da

Laje, com uma metodologia cola-borativa.

Quanto mais a gente puder se valer das energias próprias da comunidade, quanto menos preci-sar importar soluções, melhor. Então, a gente aposta que os jovens que

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já são do grupo sejam os profes-sores - explica o educador, que diz ser contra um discurso ressen-tido, do gueto, ou mesmo coloni-zador e arrogante - A gente pre-tende trabalhar com pessoas de

Mais informações:

fb.com/escolateatrodalaje

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fora também, desde que cheguem compreendendo qual é a meto-dologia própria da escola.

Mais do que usar o palco como uma plataforma de desenvolvi-mento social para os jovens da Vila Cruzeiro, a escola pretende

mostrar o que eles podem fazer pelo teatro.

A gente costuma ouvir muito as pessoas dizerem para os jovens de favela: ‘menino, estude para ser alguém na vida’. No Grupo Teatro da Laje, a gente fala: ‘moleque, você já é alguém. Estude para entender isso’ – defendeu Veríssimo em discurso, após a apresentação.

Amor febrilA decisão de inauguração da Escola Teatro da Laje foi mais um ato simbólico do que prático. Sem verba, o grupo se encontra e en-saia dentro de suas possibilidades. O importante, segundo o professor, é que a escola exista.

Esse negócio de lutar por uma escola não faz sentido. A gente tem que criá-la. Depois, vai agre-gando parcerias. É assim que po-bre faz as coisas – brincou ele, que contou com colaborações para montar a estreia - Não gastamos um mísero tostão aqui. Foi tudo na base do amor febril. O nosso combustível, o nosso entusiasmo é a paixão.

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Cerca de 102 iniciativas de nove regiões do estado do Rio de Ja-neiro se reuniram, de 21 a 23 de janeiro, para participar do encon-tro Territórios Culturais em Rede, no Rio Criativo. Manifestações cultu-rais relacionadas a áreas como música, mídia comunitária, literatu-ra, audiovisual e gestão cultural, entre outras, tiveram a oportuni-dade de se articular umas com as outras, ajudando a construir, assim, uma grande rede.

Realizado pela Secretaria de Es-tado de Cultura, por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Rio de Janeiro, em parceria com poder público, incluindo o Ministério da Cultura, e com o pri-vado, o evento faz parte do pro-grama Territórios Culturais RJ, uma expansão do prospecto original, Favela Criativa.

Segundo o superintendente de Cultura e Território da Secretaria de Estado de Cultura, Alexandre

TERRITÓRIOS CULTURAIS EM UM SÓ LUGARTERRITÓRIOS CULTURAIS EM UM SÓ LUGAREncontro promoveu articulação e troca de experiências entre expressões culturais de todo o estado do Rio de Janeiro

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Pimentel, a ideia do projeto é “abrir horizontes e as referências para esses projetos”, em um contexto de compartilhamento.

— Enquanto secretaria, eu acho que o momento é de atenção, de não achar que o momento é só de fomentar, só dar o dinheiro do edi-tal, mas ter um acompanhamento, dar orientação – afi rmou Pimentel, que ressaltou a vontade de que o encontro seja anual.

Para ele, novas articulações em rede e parcerias – com empresas públicas e privadas - podem de-sempenhar um papel signifi cativo em um momento de crise, como o atual.

— A gente está querendo que os projetos se conheçam para poder desenvolver cada vez mais articu-lações, para que eles possam se retroalimentar – defendeu o diri-gente - Estar articulado em rede é, por exemplo, promover economias locais onde você conhece outro projeto próximo, na nua região, que desenvolve algum serviço que você não pode desenvolver. Então, tudo isso tem uma capaci-dade muito grande de transformar realidades locais e regionais.

Dessa forma, ao longo de três dias, agentes culturais e empreendedo-res puderam participar de painéis e de reuniões focados em suas

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esferas de atuação, ofi cinas e pa-lestras, bem como ter orientações de instituições, como a Agência de Fomento do Estado (AgeRio), a Secretaria de Estado de Trabalho e Renda (SETRAB) e o Sebrae. Essa entidade, por exemplo, foi respon-sável pela ofi cina “Internet como ferramenta para pequenas empre-sas”, que expôs os principais con-ceitos de Marketing Digital e como eles poderiam auxiliar os realiza-dores a alavancar seus negócios.

Uma das muitas pessoas que cir-cularam pelas salas do Rio Criati-vo foi a produtora cultural Janine

Nascimento, de 34 anos. Apesar de estar participando de seu primeiro edital de coworking da incubado-ra, ela é frequentadora assídua dos eventos que lá ocorrem Para ela, o encontro promovido pela secretaria se relaciona claramente com sua proposta de trabalho.

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— O tema central da minha ativi-dade é a diversidade cultural, e um evento como o Territórios tem tudo a ver com diversidade cul-tural, e é uma iniciativa muito im-portante, porque descentraliza – defende Janine, que tem foco em literatura infantil - Eu acho que o grande benefício de uma iniciati-va como essa é alcançar territó-rios que não eram alcançados.

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