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SINDICAL COMISSÃOSINDICAL URUGUAI DO ALTO

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Page 1: SINDICAL COMISSÃOSINDICAL URUGUAI DO ALTO

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INFORMATIVO

SINDICAL COMISSÃO SINDICAL DO ALTO URUGUAI

Page 2: SINDICAL COMISSÃOSINDICAL URUGUAI DO ALTO

EDITORIAL Nada de novo na Nova República

Nadir Savoldí Diretor do STR de Rodeio Bonito

Ê festa. Os militares deixaram o governo. Assume a Nova República e tudo vai melhorar. Isto é o que a maioria do povobrasileiropensava em março de 1985. Passados cinco ou seis meses, nem todos, mas alguns diziam: "Faz pouco tempo. NSo podemos ser precipitados e querer arrumar em um mês o que estragaram em 20 anos'. Quase um ano e meio depois o quadro político e econômico no Brasil continua o mesmo e em alguns casos pior. O grave problema da perda da mâo de obra na agricultura, a Juventude é obrigada a deixar a roça e trabalhar na cidade se marginalizando, na maioria das vezes. Isso mudou? Nâo. Mas os jovens sabem o que fazer, e estão fazendo. Reforma Agrária: Que decepção da sociedade brasileira. A situação dos Sem Terra piorou, e ê tratado com desprezo pelo governo. A violência é Insuportável. Neste ano a cada dia ê assassinado um trabalhador rural (ver pg 4). Sabemos que a Nova República nâo vai fazer nada, se depender dela. Por isso temos que fortalecer nossa organização nos movimentos populares, principalmente dando todo o apoio ao Movimento dos Sem Terra, que está dando exemplo de garra e maturidade, nesta Caminhada que apesar de terem chegado a Porto Alegre, nâo terminou aí. Falar de problemas cansa, mas é nossa obrigação. Nâo podemos deixar de falar de problemas como o da Política Agrícola: Veio o pacote que caiu do Planalto e ninguém discutiu. Quando ele foi baixado lembrava a Nova República quando "se levou" ao governo. Todo mundo com esperanças. Quando alguns criticavam, logo vinha a resposta: "Ê cedo, o plano recém foi lançado". Agora, passados alguns meses (nem precisou ano e meio) os trabalhadores entenderam que, novamente, foram enrolados. É pensar na política de preços mínimos, como por exemplo a suinocultura que está totalmente desestlmulada e neste ritmo vai a falência, como também a atividade leiteira que sofre altos prejuízos. Tudo por falta de uma política agrícola planejada e de acordo com os custos de produção. O Brasil mudou? Não. O quadro político e econômico continua o mesmo. Em alguns casos até pior. Mas uma coisa mudou a consciência do trabalhador sobre a Nova República e sobre como se muda, de verdade. Este é o primeiro passo para um dia dizermos com força: È festa! Os trabalhadores estão no poder.

EXPEDIENTE O INFORMATIVO SINDICAL pretende ser uma voz representa-

tiva dos Trabalhadores Rurais do RS. As noticias aqui veiculadas são escoJhidas pelos próprios trabalhadores. Quem tiver alguma sugestão é só escrever para o nosso endereço. Publicação da CO- MISSÃO SINDICAL DO ALTO URUGUAI (COSAU). Editor: Kari- ne Emerich (RP 5943) Planejamento Gráfico e Ilustração: Celso Schoder (RP 5207) Fotografia: Karine Emerich e Protásio Nenê Revisão Vilson Dallallagnol Distribuição: Décio Favaretto Composição e Impressão: Zero Hora Editora Jornalística Redação: Rua São Manuel, 35, Bairro Rio Branco, Fone: (0512) 326583 (Correspondência: Cx. Postal 872 — CEP 90000 Porto Ale- gre/ RS Tiragem desta edição: 8 mil exemplares Produção Gráfica: Centro de Assessoria Multiprofissional (CAMP) Direção: Rogério Sotilli Colaboraram nesta edição: César Góes, Denise Neu- mann, Roseli Caldart e Elair Carmen Kist.

^ItótíO^

Somente multidões conseguirão vitórias

Dois acontecimentos marca- ram as manchetes diárias dos jornais, os noticiários de rádio e televisão e andaram na boca do povo nestes últimos dias: a caminhada de quase 500 quilô- metros que os colonos da Fa- zenda Anonnl fizeram até Por- to Aletre e a Copa do Mundo no México.

Mas uma coisa tem a ver com a outra?

A luta pela terra tem dado lu- gar a muitos conflitos nos últi- mos tempos: alto índice de vio- lência, conflito entre Igreja e governo, luta dos trabalhado- res rurais contra os latifundiá- rios, ocupações, etc.

A caminhada dos colonos uma grande e expressiva ma- nifestação na luta pela con- quista da terra, conseguiu reu- nir milhares de pessoas nos lu- gares onde passou e mais de 30 mil nas ruas de Porto Alegre.

Os operários e agricultores sabem que precisam se organi- zar, um ajudar o outro e que são necessárias grandes mobi- lizações de massa para ter for- ça e condições de conquistar o que se pretende. Nâo é sufi- ciente fazer ações isoladas, juntar pequenos grupos, etc. Somente multidões tem força.

pressionam o governo e levam a vitórias significativas.

Enquanto isso, o Brasil intei- ro voltava-se para a Copa. O ti- me, no início, estava mal e não agradava a torcida, melhorou nas últimas partidas e o cora- ção do brasileiro se contentava com o que via. Mas, por trás da cortina, a mordomia andava solta. Cada jogador iria rece- ber 50 mil dólares (em torno de um milhão de cruzados) se o Brasil fosse campeão, sem fa- lar no que foi gasto em hotéis e viagens durante a fase prepa- ratória, nos salários e nas des- pesas para manter a equipe no México. Além disso, Sócrates foi censurado por falar em política o que nos faz lembrar de épocas... bom, deixa prá lá.

Futebol faz parte da vida dos brasileiros e é bom, mas é pre- ciso pensar um pouco: a mes- ma Nova República que libera milhões de cruzados para o fu- tebol diz que não tem dinheiro para a Reforma Agrária, faz vista grossa para os assassina- tos no campo e nâo atende os acampados da Fazenda Anon- nl.

Estes dois acontecimentos, que vivemos ao mesmo tempo, nos fazem pensar que seria muito bom termos sido cam-

peões no México, mas precisa- mos de terra e nâo de euforia e vitórias do futebol. E triste concluir que com a derrota do Brasil voltamos a realidade. Acordamos e notamos: os pro- blemas continuam! E preciso acabar com as mordomias e não se deixar iludir pelos ídolos do México. Quem sabe nossos ídolos sejam outros. Talvez os valentes e corajosos colonos capazes de caminhar mais de 450 quilômetros por um pedaço de terra, nâo apenas para si, mas para todos qjje nela que- rem trabalhar.

A Copa que os colonos jogam e cujo título —-a terra — que- rem conquistar é fundamental para melhorar as condições de vida, de saúde, de alimentação dos trabalhadores brasileiros. Este título pode demorar mas eles não vão perder. Esta luta é um preparo para outras. Iguais ou maiores que atada vão vir: a Constituinte, a mudança do go- verno, a nova sociedade...

Uma coisa temos certeza: a copa de verdade está sendo jo- gada aqui. nos pés dos traba- lhadores cheios de ferida, dolo- ridos, pisando no chão duro e no asfalto. E a copa da liberda- de, da justiça, da vida e esta nós vamos ganhar!

INFORMATIVO StNDICAt,

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CUT cresce no Estado Forte presença dos rurais

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REFORMA AGRÁRIA GARANTIA NO EMPREGO NÃO PAGAMENTO DA DIVIDA EXTERNA CONSTITUINTE UVRE E SOBERANA REDUÇÃO OA JORNADA DE TRABAtHO CONTRA O ARROCHO SALARIAL

O crescimento da Central Ünica dos Trabalhadores no Rio Grande do Sul é inegável e o terceiro Congresso Estadual realizado nos dias 21 e 22 de junho, em Porto Alegre, confirmou is- so. Estiveram presentes 914 delegados representando 133 entidades de classe com 880.500 trabalhadores na base.

A CUT/RS tomou-se em pouco tempo (ela foi fundada em outubro de 1984) uma verdadeira direção para as lutas dos trabalhadores. A organização da CUT no Estado pode ser comprovada através da fundação das sete regionais em congressos expressivos que tive- ram sérias discussões políticas: Gran- de Porto Alegre, Vale dos Sinos, Pla- nalto, Alto Uruguai, Sul, Missões e San- ta Maria.

O Plano de lutas, que será encami- nhado pela CUT no próximo ano, foi discutido e diversas propostas foram aprovadas para serem conquistadas pelos trabalhadores. Estas propostas sào ruptura com o FMI através do nâo pagamento da dívida externa; reforma agrária radical sob o controle dos tra- balhadores; redução da jornada de tra- balho para 40 horas semanais sem re- dução salarial, direito irrestrito de gre- ve, entre muitas outras.

O terceiro congresso também esco- lheu a nova direção da CUT no estado.

CUT NO MEIO RURAL Os trabalhadores rurais marcaram

uma grande presença neste Congresso com a participação de 256 delegados re- presentando 41 sindicatos de Trabalha- dores Rurais. Foi, justamente, a im- plantação da Central Única dos Traba- lhadores no campo o ponto de pauta mais polêmico das discussões realiza- das.

A CUT/Regional Missões apresentou uma proposta de tese aos congressistas onde avaliou o trabalho da Secretaria Rural na última gestão. Nesta tese fo- ram criticadas, principalmente, as po- sições que a direção rural da CUT to- mou com relação ás eleições da FE- TAG e da CONTAG e ao Movimento das Mulheres Trabalhadoras Rurais.

Mas nem todos concordaram com a avaliação de que a CUT no movimento sindical rural não soube crescer en- quanto direção. Por isso, os compa- nheiros das CUTs Regionais Planalto e Alto Uruguai, juntamente com o secre- tário rural da CUT/Santa Maria, Val- domiro Trindade e com Darci Gehn, membro da executiva do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra e Análla de Ponte, do movimento das mulheres agricultoras lançaram um documento completando as informações que fo- ram apresentadas de forma parcial, is- to é, mostrando apenas um lado da si- tuação.

Neste documento foram levantadas as prioridades traçadas no segundo Congresso da GUT/RS e na reunião dos trabalhadore&rurais. Estas priorida- des foram: oposições sindicais, luta pe- la terra e relação com demais movi- mentos.

A Direção Executiva da CUT esta- dual é a seguinte: Presidente — Jurandir Leite - Sintel/ Porto Alegre. Vice-presidente — Roque Barbleri - STR/ Farroupilha. Secretárlo-Geral — Slderlei Oliveira - Federação e Sindicato da Alimentação. Primeiro Tesoureiro — Antônio Sanzi - Slnd. Bancários/ Porto Alegre. Segundo Tesoureiro — João Freitas de Lima - Slnd. Metalúrgicos/ Canoas. Secretaria Rural — Elvino Bon Gaz - STR/ Santo Cristo. Secretaria da Formação — Miguel Rosseto - Base do Slndipolo/ Montene- gro. Secretaria de Imprensa — Juarez Tozzi — Sind. dos Jornalistas. Secretaria de Organização e Política Sindical — Enid Backer - Assoc. dos So- ciólogos.

Crescimento da CUT foi comprovado no Congresso

O trabalho desenvolvido pela direção executiva rural da CUT, nas pessoas de Paulo Farina, que era vice-presidente e Nadir Savoldl que era secretário ru- ral foi baseado, principalmente, nestas prioridades. Os companheiros se enga- jaram na luta pela terra conseguindo uma ligação efetiva e concreta em to- dos os momentos importantes; desde a ocupação da Anonnl até a organização da caminhada de Sarandi a Porto Ale- gre, o que tomou a CUT uma realidade no Movimento Sem Terra.

Esta direção rural acompanhou, nos últimos meses, 14 oposições sindicais por que entende que o mais importante para a implantação da CUT é a con- quista de novos sindicatos e não a par- ticipação, junto com outros grupos náo combativos, nas eleições da Fetag.

Foi com multo trabalho que a direção rural da CUT conseguiu em apenas oito meses, de mandato apesar de todas as dificuldades, implantar e consolidar a CUT no meio rural tomando ela refe- rência para os setores combativos.

A tese da CUT/Missões foi aprovada apesar de conter algumas informações distorcidas e outras sem fluidamente. Os companheiros Nadir Savoldl, que concorria a secretário rural e Ivar Pa- van, que concorria a vicepresidente re- tiraram seus nomes por entenderem que os critérios para a escolha dos no- mes para comporem a diretoria da CUT nâo foram discutidos. Mas para eles, e para todos os trabalhadores ru- rais do Alto Uruguai, os problemas existentes na implantação da CUT de- verão ser superados no dla-a-dia das lu- tas. E uma coisa é certa, como afirmou NacUrjSavoldi: "estaremos todos jun- tos, construindo a Central Única dos Trabalhadores".

CONGRESSO NACIONAL Os trabalhadroes rurais querem ver

o compahnelro Paulo Farina, que é presidente do STR de Erexim e que foi vice-presidente da CUT/RS na direção anterior, fazendo parte da nova direção da CUT Nacional. O nome de Paulo Fa- rina, além de já ter sido apresentado em várias reuniões realizadas no inte- rior do estado, foi referendado pelo ter- ceiro congresso estadual da CUT.

Farina é hoje referência no sindica-

Plenárias aprovaram as bandeiras de Luta

lismo rural combativo. Como direção do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Erexim ele sempre defendeu os inte- resses dos trabalhadores construindo na luta a CUT pela base. Paulo Farina acompanha o Movimento dos atingidos pelas barragens do Rio Uruguai, o Mo- vimento dos Sem Terra e das mulheres Agricultoras e sempre esteve à frente, na direção dos movimentos reivindica-

tórios dos pequenos produtores rurais. O segundo Congresso Nacional da

Central Única dos Trabalhadores será realizado no Rio de Janeiro nos dias 31 de julho, 1,2 e 3 de agosto. Em todos os estados, assim como no Rio Grande do Sul, estão sendo realizados congressos preparatórios.

A pauta do segundo congresso da CUT foi aprovada pela Executiva Na- cional e está dividida em quatro pontos principais, que são: conjuntura política e econômica do País, balanço e organi- zativo da CUT, questão sindical (nova

estrutura sindical) e alteração nos es- tatutos da CUT.

Os rurais querem Farina na Direção da CUT Nacional

INFORMATIVO SINDICAL PArtinal

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A cada dia um trabalhador é assassinar1' • •

Âté quando? Informativo Sindical: Por que o Padre ^ Joslmo foi assassinado? t Padre Ricardo Rezende: O Padre Josi- ^ mo foi assassinado em função da gran- s de tensão que existe no Bico do Papa- « gaio e da posição dele, na defesa in- S transigente dos direitos dos trabalha- o dores rurais, de se organizarem, de rei- 5 vlndicarem a terra e de participarem = de um processo de Reforma Agrária. ^ PJ osimo mexeu muito com os interes- ses do latifúndio, na medida que se co- locou do lado dos trabalhadores.

A morte dele foi uma morte anuncia- da, ele sofreu um atentado em 15 de abril, tentaram matá-lo com 5 tiros que, felizmente, nâo conseguiram atra- vessar o toiota que ele dirigia; foi feita denúncia, ele fez um relatório impres- sionante do fato e, no final do relatório, ele disse uma coisa muito interessante para nós, que somos cristãos, que con- tinuaria "na mesma luta tentando unir a necessidade de paz à missão cristã de se criar um mundo fraterno e justo a partir dos oprimidos e empobrecidos", e concluiu ele: "que a minha fé se deixe penetrar pela lucidez política ao mes- mo tempo que se impregne da bravura das testemunhas da ressureiçâo de Je- sus de Nazaré". IS: Este relatório, escrito pelo P. Josl- mo após o atentado, foi entregue ao Presidente José Samey? P. Ricardo: Sim, no dia 30 de abril, em audiência, de 45 minutos com o Presi- dente Sarney, onde estavam presentes cinco bispos. Eu representava o Bispo da Diocese da Conceiçáo do Araguaia. Nesta audiência apresentamos o qua- dro de desrespeito às leis, de grandes perdas e abuso de poder que existe por todo o norte de Goiás e sul do Pará. Além de apresentar esta situação de violência e morte da regiáo, falamos com o presidente sobre asameajas e tentativas de homicídio que havia sofri- do o P. Joslmo Tavares. IS:: Qual foi a posição que o Presidente Samey tomou?

"Nâo podemos ser indiferentes a grande tragédia nacional que é o genocídio no campo".

Dez de maio de 1986, em Imperatriz, estado do Maranhão, duas balas atingem pelas costas o padre Joslmo Moraes Tavares, quando subia a escada que o levaria à secretaria da Comissão Pastoral da Terra. Baleado, Joslmo ainda subiu a escada e pediu socorro: "me ajudem, eu quero viver". O mesmo grito que ele sempre escutava dos lavradores do Bico do Papagaio, ao lado de quem estava na luta pela terra. Este assassinato tomou-se manchete de todos os jornais e veículos de comunicação e trouxe a público o problema da violência no campo, onde, de um lado, estão os que defendem o direito à terra para quem nela trabalha e, de outro, os latifundiários e suas milícias de pistoleiros e jagunços que contam com o respaldo de expressivas figuras do governo. O assassinato de Joslmo foi anunciado. As autoridades, inclusive o presidente e latifundiário José Samey, foram informadas de que ele havia sofrido um atentado no mês de abril e que estava ameaçado, mas nada foi feito. Para falar um pouco sobre o Padre Joslmo e sobre a violência no campo, o Informativo Sindical entrevistou o Padre Ricardo Rezende, coordenador da Comissão Pastoral da Terra de Araguaia/ Tocantins, que inclui 6 dioceses: a de Sâo Félix no Mato Grosso, Conceição do Araguaia, no Pará e 4 dioceses do norte goiano, região de maior violência dos últimos anos. Padre Ricardo trabalhava com o P. Joslmo e eram amigos há 8 anos.

pessoa é assassinada? P. Ricardo: De forma alguma, a morte ou o assassinato é o aspecto mais visível de violência. A questão da dis- tribuição de terra, a concentração de terra no Brasil é uma grande violência, a violência da fome, além dessas, nós tivemos só na região onde Joslmo foi assassinado, no ano passado: 1.050 famílias ameaçadas de despejo, 200 famílias despejadas, 37 casas queima- das. 2 lavradores presos, 2 torturados, 20 ameaçados de morte. A morte, o as- sassinato é o momento mais agudo da violência, mas a violência anterior é aquela onde o trabalhador nâo tem se- quer o direito à cidadania, a população rural brasileira está lutando, ainda pe- lo direito à vida São 10 milhóes de bra- sileiros sem direito ao trabalho e sem direito à terra e essa, eu acho, que é a grande violência.

Padre Ricardo Rezende e Padre Josimo trabalhavam juntos

P. Ricardo: O presidente foi firme, dis- se que iria falar com o general a respei- to do problema e que tentaria resolvê- lo. Mas, na verdade o problema nâo é uma questão policial. Antes de ser uma questão policial é uma questão política, que é a questão da Reforma Agrária e, entáo, cobramos do presidente a solu- ção, que é a solução fundiária. D. To- más Balduíno, bispo de Goiás, que esta- va presente, perguntou ao presidente de que lado ele se colocava, por que sa- bia que ele recebia pressões do latifún- dio e da UDR (União Democrática Ru- ralista organização armada dos latifundiários) especialmente e que o presidente devia se definir entre o lati- fúndio ou os trabalhadores. O presiden- te disse que nâo estava recebendo pres- sões, nem aceitaria receber pressões, mas, reconhecia que era muito difícil fazer Reforma Agrária, que a Unláo, o Poder Público estavadesaparelhado,ti- nha falta de pessoal mesmo para de- marcar áreas. Esta colocação do presi- dente nos preocupou bastante pois con- firmava que esse governo nâo tinha e nâo tem Interesse real em aplicar um plano sério de Reforma Agrária. IS: A promessa de Reforma Agrária feita pelo governo da Nova República agravou o problema da violência no campo?

, P. Ricardo: Sim, por que em 84 em ca- da três dias se matou um trabalhador

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rural do Brasil, em 85 a cada dois dias um era assassinado e, este ano em ca- da dia, praticamente foi assassinado um trabalhador rural.

"Que a minha fé se deixe penetrar pela lucidez política ao mesmo tempo que se impregne da bravu- ra..."

IS: Estes assassinatos são feitos de for- ma programada? P. Ricardo: Com estes dados, a gente pode afirmar com toda a segurança que o crime no Brasil contra o traba- lhador rural é um crime organizad' n mflicias que envolvem muitas arn e com entidades de apoio real mesmo, como é o caso da União Democrática Ruralista, ou como alguns Bispos estão chamando União Diabólica Ruralista. Além de ser um crime organizado a gente percebe que ele é também seleti- vo (se matou, no ano passado: 4 advo- gados, 2 Irmãs, 1 padre, além de 14 diri- gentes sindicais) e acontece em quase todos os estados da Federação. Há um outro lado da violência que também se agravou: é o caráter ostensivo, se mata hoje em rodoviárias,; feiras, ruas cen- trais, não se niata mais escondido nas matas, se mata dentro; das áreas urba- nas. IS: Só ocorre violência quando uma

"A mortefi assassinato é o momen- to mais agudo da violência, mas a violência anterior é aquela onde o trabalhador nâo tem se quer o di- reito a cidadania".

IS: Considerando esta trágica situação de violência, o que o Movimento Sem Terra, sindicalistas e a Igreja devem fazer? P. Ricardo: Me parece que o Estado Brasileiro, enquanto poder público, es- tá desmascarado, há uma desmlstif Ica- çào dos Interesses da famosa Nova Re- pública, em função disso ficou mais visível ainda a necessidade do MST, do sindicalismo combativo se organiza- rem mais, pois sem uma organização de base, sem aumentar o nível de cons- ciência do trabalhador nâo ocorrerão mudanças substanciais e as mudanças se darão no nível daBi organização po- pular da capacidade dos trabalhadores pressionarem o estado. A Igreja cabe ser solidária na luta dos trabalhadores, cabe a ela apoiar as reivindicações sem tomar a direção, por que a direção cabe aos trabalhadores. O papel do Evangelho é ser fermento, ser apoio e se a gente quer seguir o Evangelho nâo podemos ser Indiferentes à grande tra- gédia nacional que é o genocídio no campo.

■ Pégiha 4 INFORMATIV.Q SfNDlCAL

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Pequenos produtores não têm lucro Trabalhador vive de seu trabalho e nunca comprará novas terras

Quem não se lembra que, com multa propaganda feita pelos artistas da Glo- bo, a Nova República anunciou que Iria distribuir dez milhões de litros de leite para as crianças e gestantes brasilei- ras? Depois foi diminuindo: primeiro para sete milhões, depois para quatro milhões e agora está faltando leite mesmo para quem quiser pagar.

A exemplo do leite, em multas outras coisas a Nova República vem descum- prindo as promessas feitas durante as maiores concentrações populares da história brasileira. Nem precisa falar da Reforma Agrária, basta a gente ver as últimas medidas relativas à política agrícola.

CRÉDITO RURAL A primeira modificação no crédito

rural se refere à taxa de juros. Antes era de 3% mais a correção monetária correspondente à inflação do período do empréstimo e os preços mínimos também eram corrigidos de acordo com a inflação. Agora, a taxa de juros é fixada de acordo com a taxa de juros do mercado, ou seja conforme os juros que os bancos pagarem para vender CDBs (Certificados de Depósitos Ban- cários) e não hã mais correção dos pre- ços mínimos.

Ao vincular o juro do crédito rural ao juro do mercado, o Governo deixa a pe- quena produção rural com as mesmas condições existentes para toda a econo- mia. Assim o Brasil passa a ter mais um titulo no campeonato mundial: além da pior distribuição de renda e dos salários mais baixos do mundo, os trabalhadores rurais brasileiros são os menos assistidos em relação aos traba-

lhadores rurais de outros países. Além disso, a taxa de juros no Brasil é uma das mais altas do mundo, isto obrigou o governo a dar um subsidio de 10% ao arr para o juro agrícola

CUSTEIO A taxa de juros para o custeio da sa-

fra agrícola ficou em 10% ao ano para o agricultor, porque a taxa que os bancos estão pagando pelos CDBs anda por volta de 20% ao ano. Como o governo ti- ra 10% do seu bolso como subsídio so- bram outros 10% para o produtor.

INVESTIMENTOS A grande e má novidade no crédito de

investimento é que as taxas são flu- tuantes, ou seja, vão variar de seis em seis meses. Ningém vai saber antes quanto vai pagar em qualquer crédito de investimento.

Quem tomar empréstimo hoje para investimento vai pagar 10% até feve-

reiro de 1987 , ou seja até o fim do con- gelamento de preços. Quando chegar fevereiro, a taxa de 10% poderá ser mo- dificada, na dependência de como va- riar a taxa de juros dos CDBs.

Esta atitude do governo pode ser analizada sobre dois aspectos: o políti- co e o econômico.

Em termos econômicos, mantendo os 10% de subsídios fixos, se a inflação co- brir a diferença, ou seja, os gastos com subsídios ficarão menores em termos relativos; se a inflação baixar, esses gastos com subsídios serão menores em termos absolutos.

Em termos políticos, a elevação dos juros agrícolas e a possibilidade de que sejam alterados conforme as taxas de juros do mercado, representa aquilo que era a peça fundamental dopacotão de fevereiro e que só agora as pessoas para que o grande capital (latifundiá- rios, industriais) pudesse se recuperar

da maior crise econômica da história brasileira. E bom lembrar que para os grandes produtores na verdade o que interessa mesmo é que haja crédito su- ficiente, não importando qual a taxa e juros que vão pagar.

CONCLUSÃO Os pequenos proprietários pensando

que juro de 10% ao ano era muito bara- to se Lançaram em grandes Investi- mentos. Vale a pena lembrar que uma inflação de 2 a 3% ao mês, sem corre- ção monetária eqivale a uma inflação de 6 a 8% ao mês com correção monetá- ria.

No que se refere ao crédito a inflação agora não é mais aliada dos trabalha- dores. Antes, todo mundo se lembra, muita gente terminou de pagar um tra- tor em 1983 que comprara em 197 8 com a venda de um porco, agora Isto não acontece mais, pois a taxa de investi- mentos passou dos atuais 20%, o gover- no continuará pagando os mesmo:. 10 de subsídio e quem pagará o aumento 'serão agricultor.

O ideal seria que os trabalhadores ti- rassem da cabeça que eles têm lucro. Quem tem lucro é o grande. O trabalha- dor vive de seu trabalho e permanece sempre trabalhador sem nunca poder comprar novas terras. Sua capacidade de investir é multo menor e tem que ser multo bem pensada. O Investimento em conjunto com os outros trabalhado- res é sua melhor opção.

Se os juros aumentarem de seis em seis meses e os preços dos produtos não acompanharem, somente grandes mo- bilizações poderão vir a solucionar os problemas dos pequenos produtores.

Constituinte

Organização do povo é necessária Direitos dos trabalhadores deverão ser assegurados na nova lei

Os brasileiros estão com a bola em campo para uma gran- de decisão, que não é como a queaconteceu noMéxlco. Este ano deverão ser escolhidos de- putados federais e senadores, que, em nome do povo farão as novas leis do País. Neste jogo algumas regras já foram esta- belecidas que servem apenas para o time da burguesia, dos grandes proprietários e empre- sários.

A Constituinte será atrelada ao Congresso, ela não terá o ob- jetivo único de redigir a nova Constituição, pois os consti- tuintes eleitos continuarão co- mo deputados ou senadores. Os movimentos populares ou as categorias de trabalhadores não poderão eleger seus repre- sentantes sem que estes este- jam ligados a partidos políti- cos.

Apesar disso, o time dos tra- balhadores deve: discutir é

apresentar propostas para a Constituição; votar somente em candidatos comprometidos concretamente com as lutas da classe e se manter organizado para, em 1987, pressionar o Congresso Constituinte a apro- var leis que atendam os inte- resses das camadas populares.

CONGRESSO DOS JOVENS A Pastoral da Juventude da

Diocese de Frederico Westpha- len, entendendo a importância da discussão e da organização dos movimentos sociais para que consigam participar do processo constituinte, realizou, nos dias 31 de maio e primeiro de Junho, um Congresso Dioce- sano sobre Constituinte.

Estiveram presentes 360 jo- vens representando 34 paró- quias da Diocese. Eles discuti- ram e aprovaram um manifes- to que contém propostas que deverão ser defendidas e asse- guradas na nova lei. Entre es-

Gongressoda Pastoral da Juventude apresenta propostas para a Constituição

tas propostas estão: a garantia da posse da terra para quem nela trabalha, o direito de gre- ve, ensino público gratuito pa- ra todos em todos os níveis e jornada de trabalho de 40 horas semanais.

Um dos objetivos do Con- gresso era possibilitar aos jo- vens conhecer as diferentes propostas dos partidos políti- cos, para isso foram convida- dos os candidatos à Constituin- te da região. Durante a presen- ça dos candidatos estava proi- bido, pelo regimento interno, manifestações da plenária co- mo: palmas, vaias, etc. Foram vários os momentos em que os participantes tiveram que se controlar. Muitas palmas fo- ram contidas após os pronun- ciamentos do candidato Antô- nio Marangon, que foi coorde- nador da Pastoral da Juventu- de por muitos anos.

INFORMATIVO SINDICAL Página 5

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REFORMA AGRARIA COMEÇA NA MARRA

Após 27 dias de caminhada, os 250 colonos representando as 1.500 famílias acampadas na Fazenda Anonni chegaram a Porto Alegre. Junto com eles 30 mil pessoas exigiam: "Reforma Agrária Já".

Os trabalhadores caminham para exigir Reforma Agraria

Colonos cansaram de promessas A caminhada dos Trabalhadores Ru-

rais Sem Terra do Rio Grande do Sul é longa. Em julho do ano passado, numa concentração em Palmeira das Mis- sões, que reuniu mais de 12 mil famílias de Sem Terra, o Governo Fe- deral prometeu que iniciaria a Refor- ma Agrária no estado em menos de 30 dias. O tempo passou e a promessa não foi cumprida, então, no dia 29 de outu- bro de 1985, 1.500 famílias de trabalha- dores Sem Terra ocuparam a Fazenda Annonl, um latifúndio improdutivo em Sarandi.

Um mês depois da ocupação, os acampados realizaram uma manifes- tação em Porto Alegre e deram prazo até 15 de dezembro para que fossem iniciadas as desapropriações. O prazo venceu e, no dia 15, os colonos lavra- ram as terras da Fazenda em sinal de protesto e deram um novo prazo para o governo: 28 de fevereiro de 1986.

O governo não iniciou a Reforma Agrária e no dia 28 de fevereiro, uma comissão de 160 agricultores, represen- tando as 1.500 famílias acampadas, ocupou a sede do Incra Regional em

Porto Alegre e só saiu, apôs dois dias de intensa negociação, com o acordo assinado pelo Ministério da Reforma Agrária e pelo INCRA. Este acordo ga- rantia a desapropriação de 32 mil hec- tares de terra, necessários para o as- sentamento das famílias acampadas, em 60 dias.

Chegou o dia 30 de abril, data previs- ta no acordo, e nenhum hectare foi do. No dia 1? de maio, quinhentas famílias de Sem Terra do estado, mais 50

Chegou o dia 30 de abril, data previs- ta no acordo, e nenhum hectare foi de- sapropriado. No dia 1? de maio. qui- nhentas famílias de Sem Terra do esta- do, mais 50 famílias representando as acampadas na Fazenda Anonni, acam- param em frente a sede do Incra, para pressionar o governo a cumprir o acor- do. Os Sem Terra decidiram que as 50 famílias acampadas da Fazenda Anon- ni permanecerão em Porto Alegre até que seja encontrada uma solução.

Além disso, deéldlram que uma co- missão deSeni Terra iria a Brasília ne- gociar com o governo. Uma comitiva de 37 colonos foi até Brasília mas não

foi recebida pelo presidente, nem pelo Ministro do Gabinete Civil, Marco Ma- ciel. O Ministro da Justiça, Paulo Bros- sard recebeu os Sem Terra após duas horas do horário combinado e de forma grosseira, não permitindo que os colo- nos falassem.

Os Sem Terra voltaram de Brasília sem nenhuma solução, então, decidi- ram realizar a caminhada da Fazenda Anonni até Porto Alegre com o propósi- to de não voltar sem a terra conquista- da. Enquanto os colonos caminhavam o ministro da Reforma Agrária foi troca- do e no dia da chegada em Porto Alegre o governo anunciou que o problema da Fazenda Anonni, que estava "enrola- da" desde 1972 estava resolvido e que mais dois latifúndios haviam sido desa- propriados.

A caminhada deu algum resultado, mas as terras desapropriadas não che- gam a metade dos 32 mil hectares ne- cessários, por isso os 250 caminhantes permanecerão acampados na Assem- bléia Legislativa até que seja consegui- da terra para todas as 1.500 famílias, que já estão cansadas de tantas pro- messas.

"Um, dois, três, quatro, cinco, mil Reforma Agrária Já ou paramos o Bra- sil". Com força, com fé, chegamos a Porto Alegre a pé".

Estes eram os gritos que, os quase dois milhões de habitantes da capital ouviram no dia 23 de julho quando os 250 acampados da Fazenda Annonl en- traram na cidade. Mas os Sem Terra não chegaram sozinhos. Uma multidão de, aproximadamente 30 mil pessoas "invadiu" Porto Alegre para exigir do Governo a imediata implantação dos planos de Reforma Agrária.

A Romaria Conquistadora da Terra Prometida iniciou no dia 27 de maio, quando 250 colonos representando as 1.500 famílias acampadas na Fazenda Annoni saíram para percorrer mais de 450 quilômetros que sabem ò que que- rem: a terra para trabalhar.

A saída do acampamento estava marcada para as 14 horas, mas desde cedo a viagem estava sendo prepara- da: as taquaras foram cortadas para armar os barracos na estrada, o cami- nhão foi carregado de roupas e col- chões e, ao meio-dia, de cada barraco veio um pouco de comida e todos almo- çaram juntos.

Após a celebração religiosa, coorde- nada pelo Padre Arnildo, de Ronda Al- ta, e as despedidas, os que ficaram for- maram duas alas para que no meio passassem os caminhantes com a cruz que acompanha os Sem Terra desde o primeiro acampamento depois de 1964 em Encruzilhada Natalino. Aos poucos os Integrantes da caminhada foram se distanciando, mas uma certeza deixa- ram para os que ficaram: "estamos saindo em busca o que significa que va- mos voltar sem".

APOIO E SOLIDARIEDADE "Esses ai são nossa gente e estão

passando frio. O governo tem que resol- ver uma coisa prá esta gente. Terra o Brasil tem muita aí parada e tem que dar para esses homens trabalharem. Agora a mulher me disse que deu no ra- dio que esses que tem grandes fazendas não querem a ReformaAgráriaque vão se defender a bala. Isso não tá direito.

Este depoimento de um pequeno agricultor de Bento Gonçalves dito em meio a lágrimas e aos gritos de "vão em frente", "é isso aí, a luta de vocês tá direita", "nós estamos com vocês", mostra todo o apoio que os trabalhado- res Sem Terra receberam por onde passaram.

Assim como em Bento Gonçalves, nas outras cidades o apoio foi forte e cheio de emoção. Sempre na beira da estrada, grupos de dez, vinte, cinqüen- ta ou mais pessoas esperavam a cami- nhada para prestar sua solidariedade. Muitos destes eram pequenos proprie- tários que deixavam sua roça e vinham abraçar e conversar com os Sem Ter- ra, reforçando a luta pela conquista da Reforma Agrária no Brasil.

Nas cidades, atos públicos foram or- ganizados pelas entidades locais que apoiam a luta pela terra para quem ne- la vive e trabalha. Na estrada, em to- dos os locais — pedras, árvores, pontes — frases pintadas recepcionavam a passagem dos caminhantes: "Terra para os colonos", "Justiça no Campo", "Reforma Agrária", "Já", "Apoiamos a luta pela terra".

A caminhada foi tranqüila. Todos os 250 Sem Terra que saíram da Annoni, seguiram firmes na estrada e chega - rama Porto Alegre.

* CHEGADA O último dia da caminhada começou

as 9 hbras na Vila Mathias Velho em Canoas já com a presença de quase cin-

Os caminhantes decididos a ficarem deitados co mil pessoas, entre operários, repre- sentantes de cidades do interior, sindi- calistas, escolares, religiosos, etc.

Os 250 colonos, que estavam usando chapéu de palha com uma faixa verde para se diferenciarem dos grupos de apoio, aos poucos foram vendo a Roma- ria ser "engrossada" e na chegada em Porto Alegre, já se somavam mais de 30 mil pessoas.

As 11 horas e 30 minutos a multidão parou próximo a estátua do Laçador onde foi realizado um ato público. O prefeito de Porto Alegre, Alceu Colla- res íPDT), que havia prometido estar esperando os colonos para entregar a chave da cidade se atrasou deixando o povo a espera por mais de uma hora.

Após a cerimônia de entrega da cha- ve, a multidão seguiu pela Avenida Farrapos até o centro mudando toda a rotina de uma segunda-feira atarde na cidade.

Celebração Ecumênica. Os caminhantes chegaram na Praça

da Matriz e os badales do sino, carrega- do durante toda a caminhada para cha- mar o povo, se perderam no som dos carrilhões da catedral. A cruz, símbolo da vida sobre a morte, foi colocada na praça.

Durante a celebração ecumênica, que foi realizada logo após a chegada, as 30 mil pessoas, a convite do Padre Arnildo que acompanhou os caminhei- ros durante os 27 dias, ajoelharam to- cando a terra e por um minuto perma- neceram em silêncio protestando conta a morosidade do governo para solucio- nar os problemas agrários.

Ato público A música "Fibra de Colono", Inter-

pretada por Antônio Marangon iniciou a parte política da manifestação. De- pois, Marli Castro, líder dos acampa - dos relembrou os momentos vividos pe- los trabalhadores na luta pela conquis- ta da terra e as tantas promessas dq go- verno. : s i i

O Comitê Gaúcho de Apoio à Refor- ma Agrária, representado pelo Doutor

Celso Gaiger, e outras entidades que apoiam os trabalhadores Sem Terra se manifestaram reafirmando o compro- misso com a luta pela Reforma Agrá- ria. Em seguida, a música "João Sem Terra", cantada pelos colonos pedia: "Faz hino de guerra, de pão e esperan- ça... que mude esta história antiga..."

E foi para mudar a história que os trabalhadores Sem Terra que cami- nharam quase 500 quilômetros decidi- ram deitar na praça da Matriz e ali permanecer até que a terra fosse de- volvida para quem nela quer traba- lhar.

A proposta apresentada pelo compa- nheiro Egon Schoab, líder dos acampa- dos surpreendeu a todos e com muita emoção, com lágrimas nos olhos as pessoas viram os 250 caminheiros deitarem-se no chão. Darci Gehn, re- presentante do MST/RS falou em se- guida expressando o que todos os mani- festantes estavam pensando: "que o governo não duvide da força e da cora- gem deste povo".

Os representantes dos partidos políti- cos foram convidados a se manifestar para colocar a posição dos partidos frente a decisão dos acampados. Mas como o povo está cansado de ouvir "conversa mole" e promessas que nun- ca serão cumpridas vaiaram todos os políticos, com exceção de Clóvis llgen- fritz, representante do Partido dos Tra- balhadores.

OCUPAÇÃO DA ASSEMBLÉIA "Se a Assembléia é a casa do povo é

lá que os acampados da Fazenda Anno- ni deverão ficar". Com estas palavras o advogado Jacques Alfonsín, repre- sentando o Comitê de Apoio a Reforma Agrária propôs que os caminhantes fossem alojados na Assembléia Legis- lativa.

Os Sem Terra aceitaram a proposta e juntos com a multidão que se encontra- va na praça "ocuparam" a Assembléia Legislativa do Estado, Os caminhantes decidiram permanecer em Porto Ale- gre até que b govfef no desaproprie os 32 mil hectares.

Sem Terra organizado pressiona o governo

O resultado da caminhada de 27 dias dos 250 acampados da Fazenda Annonl e a mobilização popular que ela gerou nas diversas comunidades por onde passou trouxeram resulta- dos a nível de Brasil para o processo da Reforma Agrária.

Não pode ter sido coincidência: no mesmo dia da chegada a Porto Ale- gre, 23 de junho, quando 310 mil pes- soas caminhavam exigindo Reforma Agrária o governo assina a desapro- priação de 270 mil hectares, atingindo 37 áreas nos seguintes estados: Pará, Maranhão, Ceará, Paraíba, Sergipe, Bahia, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

será retirado podendo em Sí âJida ini. claros assentamentos.

O acordo firmado encerra um pro- blema que vinha se arrastando há 14 anos. A Fazenda Annoni foi desapro- priada em 1972 para assentar 300 famílias desalojadas por causa da construção da Barragem de Passo Real mas os assentamentos nunca fo- ram realizados e o caso esquecido. Com isto a Imensa área de terras de 8.500 hectares permaneceu improdu- tiva e o problema só voltou a ser dicu- tido após a ocupação pelas 1.500 famílias de trabalhadores Sem Terra em outubro do ano passado.

Somando as duas áreas desapro-

Na saída do acampamento: a despedida No Rio Grande do Sul foram duas

áreas: a Granja Selval ou Divisa, em Cruz Alta, com 1.283 hectares que po- derá receber 60 famílias e a Fazenda da Ramada em Júlio de Castilhos que com 2.313 hectares tem projeto de as- sentamento para 70 f amüias.

Além destas desapropriações o Mi- nistro Dante de Oliveira, da Reforma e Desenvolvimento Agrário, anun- ciou, também no mesmo dia, que o acordo com os proprietários, da Fa- zenda Annoni estava firmado e que em 30 dias o gado, principal entrava para a efetivação da posse pelo Incra,

dos que ficaram priadas (3.500 heotares) e a Fazenda Annoni (8.500 hectares) o go-

verno conseguiu 12 mil hectares para efetivar a Reforma Agrária no Rio Grande do Sul. Mas só para assentar as famílias que estão na Annoni são necessários 32 mil hectares,

O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra comprovou que só com mobilização de massa os agricultores

, conseguirão teifí^ PÔr isso continua- rá organizado pressionando d governo a tirar do papel e dos discursos e Re- forma Agrária.

Page 7: SINDICAL COMISSÃOSINDICAL URUGUAI DO ALTO

^p

Venâncio Aires Casca Nõo-Me-Toque

Olhar um mapa também pode nos dar alegria. Peguem o mapa do Rio Grande do Sul e façam um sinal nos municípios em que os sindicatos pelegos caíram, apesar de todas as tentativas para que isto não aconteça. Casca, Venâncio Aires e Não-me-Toque nos dão a alegria de continuar pintando o mapa de um sindicalismo de verdade. E junto com eles, a COSAU quer ver o problema de Jacutinga, resolvido na lei ou na marra, e os agricultores de Barão do Cotegipe com um sindicato dos trabalhadores autêntico. As experiências, como de Três Passos nos fazem crescer e acreditar que vamos vencer.

Jacutinga

Eleição necessitará de terceiro turno

Após diversas tentativas de garantir a permanência dos pelegos na direção do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Jacutinga, as eleições foram marca- das para o dia 10 de julho, em terceiro turno.

No primeiro turno, que aconteceu no dia 13 de abril, a chapa l de situação consegiu uma pequena diferença de vo- tos. O segundo turno foi realizado no dia 27 de abril e as duas chapas empa- taram com 602 votos cada.

Os integrantes da chapa 1 (situação) não se conformaram com o resultado e entraram com um protesto na Delega- cia Regional do Trabalho pedindo a consideração de um voto anulado pela mesa apuradora. O Delegado Regional do Trabalho, Dr. Vinícus Pitágoras, de- pois de muitas pressões, inclusive de senadores, conforme ele mesmo colo- cou para o candidato Dervile Betiato, da chapa Renovação, decidiu pela vitó- ria da chapa 1 (situação) considerando o voto, que estava marcado no meio, como válido

Frente a esta atitude a Chapa 2 en- trou com um mandado de segurança contra a decisão do delegado regional

do trabalho. O juiz da 4í Vara da Justi- ça Federal concedeu a liminar orde- nando a DRT a marcar a data para a realização das eleições em terceiro tur- no.

O Delegado Regional do Trabalho prorrogou o mandato da atual diretoria por 90 dias, até agosto, apesar dos pro- testos dos componentes da chapa 2 e dos trabalhadores rurais do município e atrasou, o máximo possível, a marca- ção da data das eleições em terceiro turno, com isto conseguiu adiar a esco- lha da nova direção e manter a atual que é pelega.

Este delegado demonstrou que esta comprometido com outros interesses que não são os interesses dos trabalha- dores. Além destas atitudes tomou de- cisões que não eram da sua competên- cia, como no caso do voto que tomou válido para a chapa de situação, ape- sar de ele estar marcado no melo.

Os companheiros da Renovação Sin- dical continuam realizando reuniões nas comunidades para discutir os pro- blemas dos agricultores e acreditavam que. no dia 10 de julho, a vitória dos tra- balhadores será garantia.

Barão do Cotegipe

Agricultores formam chapa de oposição

Os agricultores de Barão do Cotegi- pe, assim como os de Casca, Venâncio Aires e Nâo-me-Toque que conquista- ram o sindicato para os trabalhadores, também querem que o STR seja uma ferramenta de luta, por Isso organiza- ram chapas de oposição para concorre- rem às eleições do sindicato.

0 lançamento da Chapa 2 — Oposi- ção, foi realizado no dia 14 de junho à tarde com mais de 300 agricultores. Es- tiveram presentes: Ivar Pavan, presi- dente do STR de Aratiba, Dervile Ber-

Sindicatos Renovados A Renovação de um sindicato é obre

dos trabalhadores que a partir de dis- cussões com os companheiros vão des- cobrindo a importância e a necessidade da organização para lutarem por seus direitos. Com isto vão descobrindo, também que a diretoria do sindicato não está preocupada com os interesses dos trabalhadores e que é preciso mu- dar e, então, chapas de oposição são formadas.

Foi isto que aconteceu nos mu- nicípios de Casca, Não-Me-Toque e Ve- nâncio Aires: os agricultores organiza- dos conquistaram os Sindicatos de Tra- balhadores Rurais e a partir de agora irão lutar pelos seus direitos.

A vitória da Chapa 2 — Renovação em Não-me-Toque foi arrasadora. As eleições aconteceram no dia 17 de maio e a chapa de oposição venceu em todas as localidades do município conseguin- do o seguinte resultado: chapa 1 — 200 votos, chapa 2 — 450 votos. A posse da nova diretoria aconteceu no dia 6 de ju- nho.

Em Casca a vitória da chapa de opo- sição foi garantida no primeiro turno, que aconteceu no dia 29 de maio. A apu- ração dos votos terminou depois das 6 horas da madrugada ficando a diferen- ça para a chapa Renovação de 243 vo- tos de um total de 1.806 votantes.

A chapa Renovação tem os compa- nheiros Anésio Foscheira, Rosa Treis e Euclides Piovezan como membros da diretoria e a posse deverá acontecer no dia 29 de junho.

As eleições dos STR de Venâncio Aires foi muito disputada, muitas acu- sações foram feitas aos candidatos da chapa 2, porém os associados, na sua maioria não deram ouvidos aos pelegos e sua promessas. No dia 4 de maio, quando foi realizado o primeiro turno a chapa 2 chegou na frente. No segundo turno, no dia 18 de maio, a vitória da oposição foi confirmada com o seguinte resultados: Chapa 2 — 1.770, chapa 1 — 1.299 e Chapa 3—24 votos. A posse foi realizada no dia 3 de junho.

Três Passos

Aposentados garantem vitória da situação

Aposentados deram vitória para a chapa de situação

tiatto, oposição sindical de Jacutinga e Paulo Farina, presidente do STR de Erexlm e vice-presidente da CUT/ RS.

As eleições aconterâo no dia 10 de ju- lho e OS companheiros que integram a chapa de Renovação Sindical: Geraldo Caldart, presidente. Vasco Hoszcza- luck, tesoureiro e Raimundo Drexler, secretário, esperam que todos os agri- cultores participem discutindo as pro- postas e apresentando sugestões para tomar o sindicato autêntico.

0 município de Três Passos viveu, no último dia 15 de maio, um dia de muita movimentação. Era o dia das eleições no Sindicato dos Trabalhadores Ru- rais. Com 7 urnas no interior e uma na sede, votaram mais de 2 mil agriculto- res. Às 3.30 horas da madrugada do dia seguinte, já era conhecido o resultado: 909 votos para a chapa 2 — Renovação e 1.097 votos para a chapa 1, da situa- ção. A diferença ficou em 188 votos.

APOSENTADOS 0 STR de Três Passos é considerado

um dos maiores do estado, porém, não se sabe ao certo o número de associa- dos pois a diretoria não tem dados atualizados. Estima-se haja umas 8 mil famílias de agricultores e que cerca de 5 mil sejam sócias dcsihdlcato, mas so- mente 2.060 tiveram condições de votar

"pela lista", fornecida pelo sindicato dois dias antes das eleições. Nesta lista apareceram várias pessoas já faleci- das íum mesário se espantou com o no- me de sua finada sogra na lista de vo- tantes). Além disso, havia, aproxima- damente, 850 sócios em condições de votar, mas que estavam fora da lista e por isso votaram em separado.

Na "lista", apresentada pela direto- ria do Sindicato e principalmente na nominata fora da lista a maioria dos associados em condições de votar era aposentados fdos 850 fora da lista, 625 votaram na chapa 1, o que determinou a vitória da situação). O STR de Três Passos ficou caracterizado como de aposentados e pelegos, pois as lideran- ças mais combativas e esclarecidas apoiaram a chapa 2.

Página 8 INFORMATIVO SINDICAL

Page 8: SINDICAL COMISSÃOSINDICAL URUGUAI DO ALTO

Pavan é presidente da No dia do Agricultor, CUT do Alto Uruguai ninguém irá na roça

Congresso escolhe Pavan para presidente

Os trabalhadores urbanos e rurais do Alto Uruguai, no Rio Grande do Sul, têm agora uma central sindical que unifica e dirige as lutas da região. A fundação desta regional da Central Ünica dos Trabalhadores, que rompe com a estrutura sindical imposta pelo governo, é a conseqüência de anos de organização e de participação da clas- se trabalhadora em movimentos que lutam por uma vida melhor.

A CUT/ Alto Uruguai " f>mdada num congresso que aconteceu u^ '^ 5 e 6 de abril em Erexim. Participaram 150 delegados, representando 18 entida- des sindicais, sendo que 11 eram de tra- balhadores rurais.

As bandeiras de luta, que deverão ser

encaminhadas pela CUT, foram defini- das em cima de discussões sérias e ba- seadas na realidade que vive a Região. Os trabalhadores do Alto Uruguai pre- tendem, através de sua organização, conseguir: redução da jornada de tra- balho para 40 horas semanais. Refor- ma Agrária, estabilidade e garantia no emprego, seguro agrícola e preços jus- tos, reconhecimento da mulher como trabalhadora rural, entre outras.

A primeira diretoria foi eleita no fi- nal do congresso e foi escolhido como residente o companheiro Ivar Pavan quv ' presidente do STR de Aratiba. Esta é a primeira CUT regional no es- tado que possui um trabalhador rural como presidente.

Legislação Sindical A legislação sindical sofreu uma sé-

rie de modificações nos últimos tem- pos. Foram inúmeras as Portarias ex- pedidas pelo Ministro do Trabalho re- gulamentando a vida sindical.

O movimento sindical ficou confuso com tantas mudanças e ainda não con- seguiu assimilar a nova legislação. As principais mudanças estão relaciona- das com dois pontos: estatutos e elei- ções sindicais.

ESTATUTOS SINDICAIS Todos os sindicatos possuíam uma

mesma forma de estatuto, que havia si- do introduzida em 1958 por uma Porta- ria do Ministério do Trabalho que criou um Estatuto Padrão para as entidades sindicais. Mas antes de deixar o gover- no, o ex-ministro do Trabalho, Murilo Macedo expediu uma Portaria revo- gando o Estatuto Padrão e devolvendo aos sindicatos a autonomia para elabo- rarem o seu estatutos.

Assim, qualquer sindicato que quiser mudar seu estatuto deverá proceder da seguinte maneira: redigir o novo esta- tuto e aprová-lo em assembléia geral. Para ter validade ele deverá ser homo- logado pela DRT í Delegacia Regjonal. do Trabalho) e respeitar a legislação vigente. i i ,

ELEIÇÕES SINDICAIS

A portaria que regia as eleições sin- dicais para todos os sindicatos foi revo- gada em março de 1985 pela Portaria 3117, que estendeu a vigência da porta- ria anterior até primeiro de março de 1986 a fim de que os sindicatos pudes- sem elaborar, durante este período o seu próprio regimento eleitoral. Em fe- vereiro de 1986 quando estava vencen- do o prazo, o Ministro do Trabalho es- tendeu a validade da portaria anterior, em caráter definitivo até 30 de maio.

Antes desta data porém, novamente o Ministro do Trabalho expede outra

- portaria, em 30 de abril de 1986, de nú- mero 3150. Com esta Portaria, que acreditamos que veio para ficar, a si- tuação das eleições sindicais se resol- veu.

Essa Portaria tem validade desde o dia 2 de maio deste ano e regulará os processos eleitorais daqui por diante, mas na medida em que os sindicatos constituírem os seus próprios regimen- tos eleitorais, os introduzirem nos esta- tutos e levarem para a homologação na DRT valerá este regimento e não mais a Portaria. Nenhum sindicato é obriga- do a fazer este regimento e, neste caso será regido pela Portaria 3150, que é a reguladora do processo eleitoral desde 2 de maio de 1986. i :

Um trabalhador rural é assassinado a cada dia. Os trabalhadores rurais Sem Terra somam 16 milhões no Bra- sil. Apenas 5% da população possui 70% da renda nacional. E por ai vai.

A situação do trabalhador brasileiro é terrível, ele recebe um dos mais bai- xos salários do mundo e tem uma das maiores jornadas de trabalho. Os agri- cultores são expulsos do campo e, na ci- dade vivem desempregados em situa- ção de miséria.

Os trabalhadores estão cansados des- ta vida, por isso estão se organizando para denunciar estas Injustiças e para conquistar os direitos. Dia 25 de julho, dia do Trabalhador Rural, assim como foi no 1? de maio, será uma boa oportu-

nidade para demonstrar a força da classe trabalhadora.

Vamos parar o Brasil neste dia. Ne- nhum trabalhador na roça. Vamos par- ticipar das concentrações, celebrações e passeatas.

E hora de mostrar ao governo que quem produz na agricultura são os pe- quenos proprietários, meeiros e arren- datários. Ou alguém já viu algum lati- fundiário pegar na enxada? Será que o "produtor rural" Paulo Brossard tem calo nas mãos?.

E hora de exigir uma política agríco- la que atenda aos interesses dos peque- nos produtores, uma aposentadoria digna, o reconhecimento da profissão de trabalhador rural e muito mais.

DA ROQS

Mudando o sindicato

Jovens de Aratiba querem a sindicalização

No Rio Grande do Sul o sindicalismo tem pouca participação do jovem, mas ele não pode mais continuar sem a sua presença. Os jovens da roça, através de discussões e estudos, constataram que é no Sindicato dos Trabalhadores Rurais que poderão participar das lu- tas para que todos os agricultores te- nham terra, saúde, casa, comida, lazer.

Os 45 mil jovens de todo o Estado, reunidos no primeiro Encontro Esta- dual de Jovens da Roça, que aconteceu em setembro do ano passado em Passo Fundo, organizado pela Pastoral da Ju- ventude, se comprometeram a lutar por um sindicalismo autêntico desatre- lado do Estado e que assuma a Central Única dos Trabalhadores.

Para mudar o sindicalismo os jovens estão agindo assim: primeiro se filiam ao STR, depois participam das eleições sindicais se envolvendo na campanha pró-renovação e, em alguns municí- pios, participam na formação da nova diretoria. Os jovens querem um sindi^ \ cato que defenda ps interesses e direi- tos dos trabalhadores, organize os tra- balhadores fazendo com que percebam

a força da classe e que seja democráti- co, passando o poder de decisão aos só- cios nas assembléias.

ASSEMBLÉIA EM ARATIBA Como nos demais municípios a ju-

ventude de Aratiba descobriu que "jo- vem da roça também tem valor" e pa- ra conseguir o direito de sindicalização organizou a primeira Assembléia de Jovens da Roça de Aratiba, no dia 25 de março, que mobilizou 300 jovens de to- das as comunidades.

Os jovens aprovaram, por unanimi- dade, a proposta de sindicalização, a partir dos 15 anos com pagamento de 50% da taxa de contribuição para o sin- dicato. Além disso, decidiram que na próxima diretoria deverão participar dois jovens.

O presidente do STR, Ivar Pavan, quando falou aos jovens, salientou a importância da participação de todos os trabalhadores, sejam eles homens, mulheres ou jovens, para a construção do novo sindicalismo. Ivar afirmou que " somente assim conseguiremos cons- truir um sindicalismo que defenda os interesses da classe trabalhadora".

INFORMATIVO SiNPieAt: Página 9,

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PONTO DE VISTA

Governo não quer \ § Reforma Agrária

João Pedro Stédile Economista e Assessor CPT Nacional

A Reforma Agrária do Governo virou novela. Todos os dias tem um capítulo diferente. Sai ministro, entra ministro. Assina plano. Não assina desapropriação. Mas só acontece nos jornais... na televisão, na vida real dos sem terra continua tudo igual.

O movimento dos trabalhadores rurais Sem Terra está convencido, o Governo não quer Reforma Agrária. E está usando de várias artimanhas, hoje publica uma coisa, amanhã assina outra, apenas para ganhar tempo. A partir de 15 de agosto vem o período eleitoral, aí ninguém mais fala de outra coisa. Depois em 1987 se reúne a Constituinte e teremos que esperar as novas leis. Depois, as novas leis entram em vigor em 1988, mas aí já começa a campanha para as eleições presidenciais. E a Reforma Agrária vai continuar ficando para o próximo governo. Lembrando aquela piada do fiado só amanhã.

A entrada do novo ministro, Dante de Oliveira, faz parte desta tática. Pegar alguém considerado do PMDB progressista, mas que estava super desgastado na Prefeitura de Cuiabá. Na prática ele não terá poder nenhum, não consegue nem nomear o presidente do INCRA e nem dinheiro pro orçamento do Ministério, que é um negócio aprovado pelo Congresso Nacional.

Por outro lado, ou por debaixo da mesa, o Governo vai dando espaço e estimulando que os latifundiários mais reacionários e fascistas se organizem para impedir qualquer mudançazinha no campo, na "demoníada UDR" como a chamou o Cardeal D. Aloisio Lorscheiter. Todo mundo sabe que a UDR já recolheu 100 milhões de cruzados e quer recolher 10 bilhões de cruzados até as eleições. Para quê? Para armar fazendeiros, fazer pressão sobre o governo, para eleger 40 deputados federais e para combater a ação da igreja no campo. Todo mundo sabe que eles têm livre acesso ao Governo "através dos companheiros Marco Maciel íPFL- PE), ministro da Casa Civil, do ministro Paulo Brossard fPMDB-RS) e do ministro Abreu Sodré (PDS-SP)" como declarou na imprensa o presidente da UDR, Ronaldo Caiado.

Apesar de tudo isso, o ministro Paulo Brossard preparou um projeto de lei, o chamado pacote antiviolência, que punirá quem estimular ou participar de ocupações de terra. Como se isso resolvesse os problemas das injustiças no campo. Por que ele não se preocupa em punir quem descumpre o Estatuto da Terra há 22 anos? Que diz que se deve desapropriar os latifúndios, que diz que todo o pequeno agricultor deve ter uma rentabilidade de 30% na sua produção.

Porque ele não é rigoroso com os assassinos e mandantes dos 1.123 lavradores e dirigentes sindicais que foram assassinados nos últimos anos? E que até hoje nenhum foi punido?

Essa é a situação do lado do Governo.

Para os trabalhadores rurais só resta aumentar a organização, aumentar a mobilização para denunciar essas barbaridades e para conquistar os direitos.

Página'10

Um Primeiro de Maio prâ ninguém botar defeito

Trabalhadores urbanos e rurais Foi neste primeiro de maio

que aconteceu, se não pela pri- meira vez, a mais expressiva manifestação de trabalhadores urbanos e rurais no estado. Du- rante todo o dia, mais de qua- tro mil trabalhadores lutaram por melhores condições de vi- da, demonstraram solidarieda- de de classe e lembraram o centenário do Dia do Trabalha- dor.

Era madrugada quando 2.500 trabalhadores rurais Sem Ter- ra chegaram em Porto Alegre para acampar em frente à sede do INCRA regional. Eles esta- vam sendo esperados por tra- balhadores urbanos e em pou- co tempo os terrenos em frente ao Incra estavam tomados de barracos de lona.

Os colonos vieram exigir do governo a concretização da Re- forma Agrária com o cumpri- mento das metas do Plano Re- gional de Reforma Agrária. O plano prevê o assentamento de 3.800 famílias ainda este ano, e a desapropriação imediata dos 32 mil hectares de terra neces- sários para assentar 1.500

exigem melhores condições de famílias acampadas na Fazen- da Anonni.

ATO-SHQW O Ato-Show realizado no Par-

que da Redenção iniciou pela manhã. Os trabalhadores che- garam carregando faixas que pediam: "Reforma Agrária Já", "Redução da Jornada de Trabalho", "Constituinte Li- vre, Democrática e Popular". No palco, improvisado em ci- ma de um caminhão, foram re- vezados discursos e apresenta- ções artísticas.

No início da tarde os agricul- tores que estavam acampados em frente ao Incra vieram em passeata para se juntar aos trabalhadores urbanos. Marli Castro, representante dos acampados, salientou a impor- tância da união dos trabalha- dores para conseguirem seus direitos quando fez o seu dis- curso.

PASSEATA Quando o sol começava a se

pôr, os participantes do Ato- Show caminharam até o prédio do Incra para se solidarizarem com os colonos sem terra acampados. Na chegada o hino

vida agrário brasileiro: "A Classe Roceira" foi cantando por to- dos operários e agricultores. Depois, representantes de di- versas categorias e entidades se pronunciaram exigindo Re- forma Agrária e apoiando a lu- ta dos Sem Terra.

Nesta grande manifestação, que terminou somente depois das 20 horas, aconteceu duran- te todo o dia l? de maio: ocupa- ção, acampamento, ato públi- co, passeata, emoção e garra na luta.

CENTENÁRIO Primeiro de maio é um dia

de luta. Esta data foi escolhida como o dia do trabalhador por- que em 1886, em Chicago, Esta- dos Unidos, uma Greve Geral foi realizada por um milhão de trabalhadores descontentes com as suas condições de tra- balho. Eles trabalhavam 16 ho- ras por dia e reivindicavam 8 horas diárias. A polícia repri- miu violentamente esta greve, prendeu 8 líderes sindicais, en- forcando 5. Mas os trabalhado- res foram vitoriosos, consegui- ram a redução da jornada de trabalho.

EXTERNi i trabahadores

Saber é

Poder

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CUÓÚRÃPO^

Trabalhadores exigem acesso a terra da arte Já se tem falado bastante

sobre a forte presença da poesia e da música nas lu- tas dos agricultores. São ar- tistas se revelando e muitos fatos dessas lutas sendo di- vulgados através da criati- vidade de melodias e versos rimados. Os encontros e reuniões de organização do Movimento são os espaços principais de manifestação e mesmo de produção des- tes trabalhos artísticos, porque existem os chama- dos momentos de "anima- ção", ou seja, momentos de cantar, declamar e contar estórias.

Talvez seja o caso, então, de pensar um pouco mais profundamente sobre o sig- nificado destes momentos de lazer artístico. Não esta- riam eles politicamente vin- culados ao próprio encami- nhamento das lutas? Será

que quando os trabalhado- res cantam ou fazem suas poesias estão fugindo de seus problemas, se divertin- do e esquecendo da luta? Afinal de contas, por que cantam?

Sílvio, liderança do movi- mento sem terra da Fazen- da Anonni no Paraná, disse certa vez que cantar ajuda a pôr alegria na luta. "Que a gente tá na luta, más toda luta que a gente tem (...) tem que tá lutando com gos- to, com alegria. Até de vi- ver a gente tem que ter gos- to, tem que ter prazer de vi- ver. A hora que a gente achar que não pode mais vi- ver, então aí nós (...) vamos se desorganizar completamente".

A busca dessa alegria que dá força para continuar lu- tando será então "perda de tempo"? Se a gente pensar

SÊ^^^Ê

Agnor Bicalho, o "Parafuso" é um dos poetas nascido nas lutas

que a participação madura rop processo", decisórios de ação política não se dá sem uma consciência crítica de- senvolvida, e que esta cons- ciência não se desenvolve sem a participação da di- mensão emocional de cada indivíduo, talvez possa con- cluir que a energia prove- niente do canto e da poesia dos agricultores seja politi- camente tão necessária

Suanto qualquer estratégia e organização. É o caso de refletir sobre

o que disse, já há bastante terr- to, Bertold Brecht, um >ensador alemão que se )reocupava muito com a re- ação da arte com política. )isse ele que "diversão e

conscientização não têm ra- zão para se oporem", a cul- tura e a participação políti- ca podem ser vividas jun-

tas. Os agricultores concor- dam com ele e, cada vez ^ mais, exigem acesso a esta terra: a terra da arte e da poesia. Não fazem isto para fugir do seu compromisso político mas, sim, usam a arte como instrumento para cumprir este compromisso. Prova disso são os conteú- dos de seus poemas e can- ções. Vale como ilustração, aqui, um poema chamado v

"Ocupação", feito pelo agricultor Agnor Bicalho Vieira, o "Parafuso", da Coordenação Nacional do Movimento Sem Terra. Ele trabalha, atualmente, em Joinville, SC

Companheiros vamos juntos

Nesta nova caminhada Conquistar a nossa terra E fazer Reforma Agrária Combater o latifúndio Que faz a cerca de bala Esta é a realidade Que neste Brasil se fala

(...)

Esta é a pura verdade Que não dá pra esperar Este plano de Governo Que só quer nos enganar As áreas prioritárias Ele não quer mostrar Por isso a nossa saída É as terras ocupar

Mordomias da Nova República

Governador de Brasília gasta 85 mil cruzados por mês em alimentos; filha do Presidente Sarney é nomeada sem concurso para funcionária do Senado Federal ganhando vinte e cinco mil cruzados por mês; na viagem do Pre- sidente Sarney para Portugal, o avião teve que fazer a viagem dobrada para carregar as compras de vinho e baca- lhau de comitiva.

Contínuísmo na Fetag

Dia 26 de maio ficou confirmada a continuidade na FETAG. Plínio Hentz, que era secretário geral assu- me a presidência e Ezidio Pinheiro fi- ca como primeiro tesoureiro. Cresce o descontentamento em relação á Fe- tag e a forma de eleição da direção. Um forte grupo começa a articular um movimento reivindicando eleições diretas.

Governo divulga lista de preços

Até que enfim o governo divulgou a lista dos insumos agropecuários que foram tabelados. Com muitos preços acima do que eram em fevereiro e sem constar os agrotóxicos, mostran- çio mais uma vez a força das multina- cionais.

RESUMO

((SatfF DO ücVèfMo

1 ^ MAÍ5

. V^ ̂

Rápidas

1) De agora em diante, o governo não vai mais dar dinheiro para o Banco do Brasil fazer empréstimos para o cré- dito rural. O Banco vai ter que conse- guir os recursos vendendo títulos.

2) O governo vai gastar só de iuros23Ó bilhões de cruzados em 1986.

3) Bancários de São Paulo vão colocar cartazes nas ruas: "setenta mil ban- cários demitidos: obrigado presiden- te Sarney."

4) Os bancos estão cobrando 80 cruza; dos para fazer a f ichia de cadastro pro trabalhador rural. A/jais outro roubo.

Manobras para conter a inflação

O governo vem fazendo tudo para se- gurar a inflação, pois qualquer meio por cento é uma grande perda. No caso das bebidas com whiskl e rum, para não aumentar o preço o governo deu isenção de impostos, o que representou uma perda de arrecadação de 180 mi- lhões de cruzados.

Além disso, muitas manobras são fei- tas pelos empresários que não rever- tem no índice de inflação medido pelo governo, por exemplo: lançamentos de novos produtos onde a única novidade é o preço.

Centralsul pode ser liquidada

O BNCC (Banco Nacional de Crédi- to Cooperativo) quer que o governo fe- deral assuma a divida de 128 bilhões de cruzados junto a bancos japoneses. O presidente do BNCC disse, confor- me o jornal Gazeta Mercantil de 4 de junho, que era favorável à liquidação dos bens da Centralsul, afirmando que as cooperativas devem 3 bilhões ao BNCC e nem metade disso deve ser recuperado. Sò com a Centralsul, dis- se ele, são 200 milhões de dólares e

•ífue "tjão prqio^e possamos reaver 15% desse total". Nome dó presiden- te: Dejanir Delpasquale.

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TRABALHADORAS RURAIS

Nicaraguenses visitaram o Brasil Duas trabalhadoras rurais. Glória

Salazar e Olga Maria Espinoza, repre- sentantes da ATC (Associação dos Tra- balhadores no Campo) da Nicarágua estiveram visitando o Brasil no mês de março.

Os objetivos desta viagem, segundo Olga, foram: "Conhecer mais a fundo a experiência de luta dos trabalhadores do Brasil, principalmente a luta dos trabalhadores rurais, aprender sobre estas lutas e, ao mesmo tempo, trans- mitir de alguma maneira a nossa expe- riência".

Elas estiveram visitando o acampa- mento dos Sem Terra na Fazenda Anon- ni e ficaram Impressionadas "com o espirito de luta dos companheiros, ape- sar das difíceis condições". Glória afir- mou que "na Nicarágua, durante a di- tadura de Somoza, muitos trabalhado- res também viveram nestas condições para conquistar a terra, que para nós, trabalhadores rurais, é vida".

REFORMA AGRARIA

As companheiras nicaraguenses con- taram para os acampados que "a Re- forma Agrária na Nicarágua não é mais um sonho". Elas explicaram que "a Reforma Agrária devolveu as ter- ras para os trabalhadores rurais, mas não consistiu somente em devolver a terra, mas, sim, envolveu todos os ele- mentos necessários que devem acom- panhar um verdadeiro processo de Re- forma Agrária, como por exemplo: o crédito, maquinarias, assistência téc- nica e serviços elementares como saú- de e educação".

A participação dos trabalhadores no governo da Nicarágua foi um dos as- suntos que despertou bastante interes- se nos trabalhadores brasileiros. Olga explicou que os trabalhadores partici- pam de todas as decisões políticas: "Nós discutimos os preços, a comercia- lização e definimos a política para o se- tor agrícola, além de discutirmos os problemas da educação, saúde e cultu- ra do pais".

Glória e Olga visitaram em Aratiba a região atingida pelas Barragens

A Nicarágua é um pequeno país da América Central que conseguiu através da organização de seu povo libertar-se do imperialismo norte-americano. Os trabalhadores fizeram uma revolução popular e estão criando uma nova Nicarágua sem opressão e sem exploração, apesar das dificuldades geradas pelo governo dos Estados Unidos que deseja destruir esta experiência de liberdade. E as mulheres trabalhadoras tiveram e têm um papel fundamental neste governo popular.

PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES Em Aratiba, as nicaraguenses se

reuniram com as trabalhadoras rurais do município e conversaram durante uma tarde toda sobre os problemas das mulheres trabalhadoras e sobre a par- ticipação da mulher na sociedade.

"Na Nicarágua, nós mulheres temos participado historicamente. A produ- ção agrícola por exemplo tem melhora- do por causa da participação da mu- lher. Em todas as lutas contra a ditadu- ra somozista também participamos de maneira ativa, realizando todas as ta- refas que os homens faziam", contou Glória.

As mulheres conversaram sobre os preconceitos enfrentados na sociedade e constataram que o problema do ma- chismo é um mal em toda a América Latina. A companheira Olga disse que acredita ser ele "produto da herança do sistema capitalista", mas afirmou: "Temos que combatê-lo Juntamente com os homens".

SOLIDARIEDADE

No final do encontro, Olga disse para as trabalhadoras de Aratiba que "não vejo diferença na disposição de luta das trabalhadoras nicaraguenses e dos trabalhadores brasileiros. Estou im- pressionada com o nível de organiza- ção que vi e creio estar sendo iniciado um grande processo de lutas".

A mensagem deixada pelas compa- nheiras nicaraguenses foi a seguinte: "Nós queremos dizer aos trabalhado- res brasileiros, e sobretudo aos rurais, que nosso compromisso, nossa solida- riedade será concretizada na defesa da revolução sandinista. Com toda a nossa força vamos defender o nosso território de norte a sul e de leste a oeste. Nós acreditamos que desta forma estamos sendo solidários com todo o povo da América Latina, porque provamos que podemos ser livres".

'•/J'! ,

Cetap buscará formas de produção O primeiro Encontro Esta-

dual de Agricultura Alternati- va, realizado em Passo Fundo, nos dias 23, 24 e 25 de Janeiro do corrente ano, aprovou a cria- ção do Centro de Tecnologias Alternativas no Estado. De lá para cá, a principal tarefa pa- ra implantá-lo tem sido a de definir a área física onde fica- rá situado.

A primeira tentativa seria a compra de uma área, porém, esta proposta tomou-se inviá- vel por causa do alto preço das terras. A segunda é conseguir a liberação de uma área públi- ca. Para isto foi feito um levan- tamento das existentes no Es- tado e se encontrou no mu- nicípio de Sarandi uma área do Ministério da Agricultura. Es- ta área está situada no Alto-

Urugual e possui infra- estrutura básica, pois Já foi um centro de treinamento agríco- la. Por isso, é ideal para a im- plantação do CETAP — Centro de Tecnologias Alternativas e Populares.

Foi encaminhado para o Mi- nistério da Agricultura o pedi- do de liberação desta área. Pa- ra atender as exigências buro- cráticas, foi criada uma enti- dade Jurídica, sem fins lucrati- vos, com objetivos específicos, o que dá respaldo legal ao pro- cesso. Atualmente, está se es- perando a resposta do Ministro sobre a liberação ou não da área.

A criação e implantação des- te centro é importante para os trabalhadores pois possibilita- rá, a partir das experiências

populares concretas, desenvol- ver e conquistar um novo mo- delo econômico, social e agrícola que sirva aos interes- ses dos agricultores. Já que es- te, adotado pelo governo, é im- posto pelas multinacionais e substitui a produção familiar de subsistência por uma agri- cultura de mercado.

Este modelo tomou depen- dente e subordinou os interes- ses dos produtores e trabalha- dores rurais aos lucros das em- presas produtoras de insumos agrícolas, agrotóxicos e má- quinas e das empresas de ex- portação de produtos agrícolas e principalmente aos Bancos. Como^ este modelo não serve aos pequenos agricultores o movimento popular no campo está se fortalecendo, a partir

de suas organizações de base, e poderá romper com esta estru- tura através do desenvolvi- mento de técnicas alternati- vas.

Se o primeiro passo da Re- forma Agrária é a conquista de um pedaço de terra, o segundo é a luta de milhares de produ- tores rurais para permanece- rem na terra. Para isso, tam- bém é fundamental a interven- ção do movimento popular no processo produtivo. O CETAP pretende buscar formas de produção que possibilitem so- cial, política e economicamen- te a vida dos trabalhadores ru- rais.

LinodeDavid Engennelro Agrônomo, coor-

denador do Projeto de Tecnolo- gias Alternativas.