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FACULDADE EVANGÉLICA MACKENZIE DO PARANÁ ELOISE HAYDEÊ FERREIRA DA COSTA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO SONO EM PACIENTES MENOPAUSADAS COM FIBROMIALGIA CURITIBA – PR 2020

TCC ELOISE HAYDEÊ

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Page 1: TCC ELOISE HAYDEÊ

FACULDADE EVANGÉLICA MACKENZIE DO PARANÁ

ELOISE HAYDEÊ FERREIRA DA COSTA

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO SONO EM PACIENTES MENOPAUSADAS COM FIBROMIALGIA

CURITIBA – PR

2020

Page 2: TCC ELOISE HAYDEÊ

FACULDADE EVANGÉLICA MACKENZIE DO PARANÁ

ELOISE HAYDEÊ FERREIRA DA COSTA

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO SONO EM PACIENTES MENOPAUSADAS COM FIBROMIALGIA

Trabalho de conclusão do Curso de Medicina,

Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná.

Orientador: Prof. Dr. Renato Mitsunori Nisihara.

CURITIBA - PR

2020

Page 3: TCC ELOISE HAYDEÊ

Dados Internacionais de Catalogação na Publicaçâo (CIP) (Biblioteca da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná) C837 Costa, Eloise Haideê Ferreira da..

Avaliação da qualidade do sono em pacientes menopausadas com fibromialgia / Eloise Haideê Ferreira da Costa. — Curitiba, 2020.

Orientador : Prof. Dr. Renato Mitsunori Nisihara. Trabalho de Conclusão de Curso – Instituto Presbiteriano Mackenzie,

Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná, Curso de Medicina, 2020.

1. Fibromialgia. 2. Menopausa. 3. Distúrbios do início e da manutenção do sono. I. Título.

CDD 616.8498

Page 4: TCC ELOISE HAYDEÊ

Dedico esse trabalho a Deus, a Virgem Maria, a São Miguel Arcanjo, ao meu Anjo

da Guarda, ao Santo Padre Pio, a São Josemaria Escrivá, a Santa Teresa D’Ávila e a Santa

Teresinha do Menino Jesus, ao primeiro pela minha vida, bondade e amor; a minha Mãe

pela interseção e auxilio em todos os momentos; aos Anjos e Santos pelo auxílio e

interseção.

Page 5: TCC ELOISE HAYDEÊ

AGRADECIMENTOS

Ao bom Deus pelo dom da vida, por ter me proporcionado chegar até aqui, por ter

me dado um sentido de vida, por ter me doado o Ser e por me amar tanto. Tudo por Ele e

para Ele.

À Virgem Maria pela intercessão junto a Cristo para que este trabalho atingisse seu

fim, para que fosse possível o meu estudo nessa instituição, por todo amor e sustentação.

Ao meu querido Anjo da Guarda que muitas vezes me auxiliou no trabalho e trouxe-

me paz, sabendo eu que sem a graça proveniente da parte de Deus nada posso fazer.

À Instituição por conceder-me a oportunidade e todas as ferramentas para que hoje

encerrasse este ciclo.

Aos professores pelo empenho, confiança e contribuição para um melhor

aprendizado, além da generosidade de muitos que compartilharam suas histórias de vida

com essa jovem que sempre buscou conhecer e aprender com aqueles que compartilhou

momentos da vida, em especial os professores: José Maria Lopez Garcia, Sidon Mendes

Oliveira, Nelson Mesquita Júnior, Valdecir Volpato Carneiro, Luiz Fernando Kubrusly,

Eduardo Simm, Fernando Tabushi, Ana Cristina Sobral, Luiz Martins Collaço, Cezar

Augusto Soares Leinig, Gleyne Lopes, Ivo Ronchi Junior, Alexandre Karam, Osvaldo

Malafaia, Thelma Larocca Skare, ao meu querido orientador por todo apoio, paciência,

auxílio e, principalmente, por dar a oportunidade de aprender a realizar um trabalho - a

alguém que não sabia fazer nada - , Renato Nisihara e a minha co-orientadora Rejane

Alvarenga Dias que além de acompanhar-me na coleta de dados, deu-me suporte, foi

extremamente paciente e gentil comigo, e acabou por tornar-se uma grande amiga.

A todos os funcionários da Faculdade e Hospital Evangélico Mackenzie que ao longo

desses anos, tornaram-se também amigos, dentre eles: Adriana, Aracy, Cibele, Clarice,

Denise, Eduardo, Gilson, Joadir, Juliana, Lilo, Nelson, Niélcia, Nilson, Ofélia, Oziel, Sandro,

Shirley, Ubiratã, Vera, Waldiclei e tantos outros que me acompanharam nessa jornada.

Aos meus pais, Eloir Aparecido Ferreira da Costa e Marlene do Carmo Ferreira da

Costa por toda a dedicação, amor, paciência e generosidade contribuindo diretamente para

que eu pudesse ter um caminho mais fácil e alegre durante esses anos.

Ao meu irmão, Guilherme Henrique Ferreira da Costa que gentilmente ajudou-me de

tantas formas durante a faculdade.

Page 6: TCC ELOISE HAYDEÊ

Ao Luís Henrique Osaku, meu namorado, pela companhia, apoio, incentivo, amor e

por dividir comigo o desejo de eternidade.

Aos meus familiares: Benedita Aidê M. Costa, Luiz do Carmo, Iara do Carmo, Sueli

de Fátima Pereira da Luz, Marlene Dankoski, Solange Santiago.

Aos meus mestres de filosofia e psicologia, que me ensinaram a fazer todas coisas

com o coração na mão, a ter esperança na vida até que a última luz se apague.

Aos amigos: Bruna Schaskos, Denise Drechsel, Elora Sampaio, Fernanda

Mainardes, Gabriel Paiva, Gabriel Soares, Gladiston Pimenta, Heloísa Porath, Jamile

Ramme, Laura Langer, Lucas Prim, Luciano Heil, Issamy Ono, agradeço por toda amizade,

companheirismo e incentivo ao longo dessa caminhada.

Especialmente ao Eduardo Caron, Gabriel Kondlatsch, Giuliano Dourado, Isabela

Trento e Victoria Mendes por dividirem boa parte de seu tempo comigo e por me ensinarem

tanto.

À todas as pessoas que de alguma forma fizeram parte da minha trajetória agradeço

de coração, com todo meu amor, desejo a vocês o céu.

Page 7: TCC ELOISE HAYDEÊ

“Al andar se hace el camino,

y al volver la vista atrás

se ve la senda que nunca

se ha de volver a pisar. “

Antonio Machado

Page 8: TCC ELOISE HAYDEÊ
Page 9: TCC ELOISE HAYDEÊ

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RESUMO

A Fibromialgia (FM), é uma doença reumática caracterizada por dor crônica generalizada,

fadiga, problemas cognitivos e distúrbios do sono, sendo que esse último acomete mais de

90% dos pacientes. Segundo estudos, a baixa qualidade de sono pode agravar os sintomas

da FM e alguns autores sugerem que a FM seria responsável por uma piora na qualidade

de sono das pacientes e a menopausa levaria a um agravamento dos sintomas da FM,

estabelecendo um ciclo vicioso de dor, disfunção de sono e alteração de humor. O presente

estudo teve como objetivo geral avaliar a qualidade de sono das pacientes com FM

menopausadas atendidas no ambulatório do Hospital Evangélico Mackenzie de Curitiba

(HUEM) e correlacionar com a atividade da FM. Adicionalmente avaliar se o IMC e os

demais dados clínicos e sócio demográficos interferem na qualidade do sono. Este estudo

transversal analítico avaliou 60 pacientes, sendo 30 pacientes com FM e 30 controles

saudáveis, todas menopausadas. As pacientes responderam aos questionários para avaliar

a qualidade de sono (PSQI), impacto da FM (FIQ) e o de agravamento dos sintomas (EGF).

Foram coletados dados sobre uso de medicamentos, IMC entre outros dados clinico-

demográficos. Os dados obtidos indicaram que as pacientes com FM possuem uma pior

qualidade de sono quando comparadas às pacientes do grupo controle (p=0,042). O IMC

não interferiu de forma significativa na qualidade de sono de ambos os grupos de pacientes

(p=0,92); também não interfere na gravidade da FM (p=0,72). Variáveis: escolaridade (p=

0,35), renda (p=0,42), atividade física (p=0,60), uso de tabaco (p=0,82) e álcool (p=0,72)

não influenciaram significativamente a qualidade de sono. Observou-se correlação

significativa entre a qualidade de sono (PSQI) e a atividade da FM, quando avaliados pelo

FIQ (p=0,0009; r=0,57) e pelos escores do EGF (p=0,0002; r=0,63), indicando que quando

qualidade de sono melhora, a atividade da doença diminui. Conclui-se que as pacientes

com FM menopausadas possuem uma pior qualidade de sono. Há uma correlação

inversamente proporcional significativa entre o sono e a atividade da FM. IMC,

escolaridade, renda, atividade física, uso de tabaco e álcool não influenciaram a qualidade

de sono ou na gravidade da FM.

Palavras chave: Fibromialgia, menopausa, distúrbios do sono

Page 10: TCC ELOISE HAYDEÊ

10

ABSTRACT

Fibromyalgia (FM) is a rheumatic disease characterized by generalized chronic pain, fatigue,

cognitive problems and sleep disorders, the latter affecting more than 90% of patients.

According to studies, poor sleep quality can aggravate FM symptoms and some authors

suggest that FM would be responsible for a worsening of patients' sleep quality and

menopause would worsen FM symptoms, establishing a vicious cycle of pain, sleep

dysfunction and mood swings. The present study aimed to assess the sleep quality of

menopausal FM patients seen at the outpatient clinic of Hospital Evangélico Mackenzie in

Curitiba (HUEM) and to correlate with FM activity. Additionally, assess whether BMI and

other clinical and socio-demographic data interfere with sleep quality. This cross-sectional

analytical study evaluated 60 patients, 30 patients with FM and 30 healthy controls, all

menopausal. Patients answered questionnaires to assess sleep quality (PSQI), impact of

FM (FIQ) and worsening of symptoms (EGF). Data on medication use, BMI and other clinical

and demographic data were collected. The data obtained indicated that patients with FM

have a worse quality of sleep when compared to patients in the control group (p = 0.042).

BMI did not significantly affect the quality of sleep of both groups of patients (p = 0.92); it

also does not interfere with FM severity (p = 0.72). Variables: education (p = 0.35), income

(p = 0.42), physical activity (p = 0.60), tobacco use (p = 0.82) and alcohol (p = 0.72) no

significantly influenced sleep quality. There was a significant correlation between sleep

quality (PSQI) and FM activity, when assessed by FIQ (p = 0.0009; r = 0.57) and by EGF

scores (p = 0.0002; r = 0.63), indicating that when sleep quality improves, disease activity

decreases. It is concluded that patients with menopausal FM have a worse quality of sleep.

There is a significant inversely proportional correlation between sleep and FM activity. BMI,

education, income, physical activity, tobacco and alcohol use did not influence sleep quality

or FM severity.

Key words: Fibromyalgia, menopause, sleep disorders.

Page 11: TCC ELOISE HAYDEÊ

11

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Dados demográficos e clínicos

Page 12: TCC ELOISE HAYDEÊ

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Gráfico de distribuição de valores da atividade da FM.

Gráfico 2 – Gráfico de comparação entre o Índice de Massa Corpórea das pacientes.

Gráfico 3 – Gráfico de comparação da qualidade do sono (PSQI).

Page 13: TCC ELOISE HAYDEÊ

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LISTA DE SIGLAS

ACR – American College of Rheumatology

EEG – Eletroencefalograma

EGF – Escala de Gravidade da Fibromialgia

EMG – Eletromiograma

FM – Fibromialgia

FIQ – Questionário do Impacto da Fibromialgia

FSH – Hormônio folículo estimulante

HUEM – Hospital Universitário Evangélico Mackenzie de Curitiba

IMC – Índice de Massa Corpórea

NREM – Sono não-REM

PSG – Polissonografia

PSQI – Índice de Qualidade de Sono de Pittsburgh

REM – Sono com movimento rápido dos olhos

Page 14: TCC ELOISE HAYDEÊ

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 14 2 OBJETIVO ................................................................................................. 16 2.1 OBJETIVO GERAL ................................................................................. 16

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ................................................................... 16

3 REVISÃO DE LITERATURA ..................................................................... 17 3.1 FIBROMIALGIA ....................................................................................... 17

3.2 DISTÚRBIOS DO SONO ........................................................................ 18

3.3 MENOPAUSA ......................................................................................... 19

4 MATERIAIS E MÉTODOS ......................................................................... 21 4.1 PACIENTES COM FIBROMIALGIA ........................................................ 21

4.2 CONTROLES .......................................................................................... 21

4.3 QUESTIONÁRIOS .................................................................................. 22

4.4 QUESTIONÁRIOS RELACIONADOS A FM ........................................... 22

4.5 QUESTIONÁRIOS RELACIONADOS A QUALIDADE DO SONO ......... 23

4.6 QUESTIONÁRIO DE DADOS CLÍNICOS E DEMOGRÁFICOS ............. 23

4.7 ANÁLISE ESTATÍSTICA ......................................................................... 23

5 RESULTADOS .......................................................................................... 24 5.1 DESCRIÇÃO DA AMOSTRA ESTUDADA ............................................. 24

5.2 ASSOCIAÇÃO ENTRE QUALIDADE DE SONO, TEMPO DE FM E

MENOPAUSA ............................................................................................... 25

5.3 ANÁLISE DA QUALIDADE DO SONO ................................................... 25

5.4 CORRELAÇÃO ENTRE QUALIDADE DO SONO E ATIVIDADE DA FM 28

6 DISCUSSÃO .............................................................................................. 29 7 CONCLUSÃO ............................................................................................ 31 8 REFERÊNCIAS ......................................................................................... 32 9 ANEXO A - PARECER CONSUBSTANCIADO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA .................................................................................................... 35 10 ANEXO B - DECLARAÇÃO DO ORIENTADOR .................................... 39 11 ANEXO C – QUESTIONÁRIOS ............................................................... 40

Page 15: TCC ELOISE HAYDEÊ

15

INTRODUÇÃO

A fibromialgia (FM), é uma doença reumática caracterizada por dor crônica

generalizada, fadiga, problemas cognitivos e distúrbios do sono. Ainda hoje, a etiologia da

FM é desconhecida, entretanto sabe-se que há o envolvimento de distúrbios

neurofisiológicos relacionados a percepção da dor, modulação do humor, sono e cognição.

A dor generalizada possui uma relação com humor depressivo, má qualidade de vida e má

qualidade de sono, sendo que esse último é presente em quase 80% das mulheres com

FM. Estudos demonstraram que a baixa qualidade de sono pode agravar os sintomas da

FM, assim como o uso de terapias que atuam no sono são responsáveis por uma redução

na dor generalizada.

Um dos critérios diagnósticos da FM, segundo o American College of Rheumatology

(ACR) 2016 critérios diagnósticos da FM, é a presença de sono não reparador, que é um

parâmetro subjetivo, mas que abrange a agitação noturna, sono leve e baixa qualidade do

sono. De acordo com o instituto de medicina de pesquisa e sono dos Estados Unidos, o

sono é importante para a qualidade de vida e vários outros processos cognitivos; sendo

que sua privação, possui consequências a curto e longo prazo, como fadiga, alteração na

memória, doenças cardiovasculares e diabetes.

A menopausa é decorrente da falência total ovariana, resultando em uma redução

extrema no nível sérico do estrogênio e um aumento expressivo do hormônio folículo

estimulante (FSH). A média de idade da menopausa é 47 anos. No relatório do painel da

Conferência do Estado da Ciência dos Institutos Nacionais de Saúde de 2005 sobre

sintomas relacionados à menopausa, os distúrbios do sono foram identificados como um

sintoma chave na transição da menopausa. Esse período é associado a flutuação dos

níveis hormonais responsável pelo aparecimento de sintomas, como ondas de calor,

distúrbios do sono, alterações no humor e ressecamento vaginal, sendo os distúrbios do

sono justificados pelos fogachos noturnos.

O distúrbio do sono é um sintoma importante da FM assim como na menopausa;

quando as duas condições estão associadas nós podemos ter uma paciente com uma

péssima qualidade de sono. São escassos estudos na população brasileira de mulheres

Page 16: TCC ELOISE HAYDEÊ

16

com FM avaliando a qualidade do sono em amostra de mulheres exclusivamente após a

menopausa, portanto esse estudo é importante para detectar as particularidades da relação

entre as duas condições, visto que alguns estudos sugerem que o encurtamento da

exposição ao estrogênio pode, além de influenciar a hipersensibilidade à dor, levar a um

agravamento dos sintomas da fibromialgia como, por exemplo, depressão, dor generalizada

e distúrbios do sono. Outros estudos relatam que há um efeito cumulativo, desencadeado

pela baixa qualidade de sono, em doenças como depressão, dor e na própria disfunção do

sono; o que torna emergencial a intervenção na qualidade de sono da paciente, visto que

são escassos os estudos nacionais e internacionais sobre o tema.

Posto isso, o presente estudo tem por objetivo avaliar a qualidade do sono das

pacientes com fibromialgia em período pós menopausa e a influência da qualidade do sono

na a atividade da FM.

Page 17: TCC ELOISE HAYDEÊ

17

2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

O estudo teve como objetivo geral avaliar a qualidade de sono das pacientes com

FM no período pós menopausa atendidas no ambulatório do Hospital Evangélico Mackenzie

de Curitiba (HUEM) e correlacionar com a atividade da FM.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Nossos objetivos específicos são:

- Avaliar se o Índice de Massa Corpórea interfere na qualidade do sono

- Avaliar os dados clínicos e sócio demográficos da paciente com FM interferem na qualidade do sono

Page 18: TCC ELOISE HAYDEÊ

18

3 REVISÃO DE LITERATURA

3.1 FIBROMIALGIA

A FM é uma síndrome clínica caracterizada por dor espalhada em vários pontos

dolorosos, rigidez articular e sintomas sistêmicos, por exemplo, transtornos de humor,

fadiga, alterações e disfunções cognitivas e insônia; a localização varia de dia para dia; dor

após o toque é uma das principais características, o que define um quadro de alodínea, dor

desencadeada por estimulo normalmente inócuo, associado ao processamento anormal da

dor e à sensibilização. (BELLATO et al., 2012; CHOY, 2015)

A síndrome do intestino irritável, síndrome da bexiga irritável e desordem

temporomandibular são distúrbios que podem estar associados a FM. Cerca de 90% dos

indivíduos acometidos pela doença pertence ao sexo feminino; o diagnóstico da FM é

realizado pela escala de gravidade da FM, um questionário do American College of

Reumatology (ACR), que avalia dor por pelo menos 3 meses, queixas relacionadas com a

qualidade de sono, fadiga, depressão, estresse e ansiedade. (CLAUW, 2009; KESKINDAG;

KARAAZIZ, 2017)

O processamento anormal da dor foi confirmado objetivamente por neuroimagem

com ressonância magnética funcional, a qual observa-se ativação cerebral idêntica em

pacientes com FM e indivíduos saudáveis, mas pacientes com FM obtiveram mais ativação

neural (incluindo o córtex somatossensorial) do que indivíduos saudáveis para qualquer

estímulo de pressão. Essas anormalidades foram atribuídas à sensibilização central,

definida como uma resposta aumentada a estimulação mediada pela amplificação da

sinalização no sistema nervoso central. A sensibilização central é responsável por promover

comportamentos que protegem e imobilizam os tecidos lesados, contudo a sensibilização

central anormal pode causar dor crônica não adaptativa, responsável por gerar uma dor

desproporcional e causar um dano real ao tecido. (CHOY, 2015)

Não há um biomarcador ou teste laboratorial para o diagnóstico, avaliação da

gravidade e medição da resposta ao tratamento. Atualmente a única anormalidade

laboratorial da FM é encontrada através da polissonografia (PSG), que em 1975 foi

reconhecida a associação entre FM e a atividade do movimento ocular não rápido de ondas

lentas em eletroencefalograma de frequência alfa no inicio do sono REM. Posteriormente,

Page 19: TCC ELOISE HAYDEÊ

19

reconheceu-se que os sintomas da FM, incluindo dor musculoesquelética difusa e

fadigabilidade, ocorrem quando voluntários saudáveis são privados de sono de ondas

lentas. A relação entre FM e sono de ondas lentas disfuncional foi apoiada pela observação

de aumento significativo do sono de ondas lentas com oxibato de sódio, um novo

neuropeptídeo endógeno e potente agonista de GABA-B, reduziu a dor e a fadiga durante

o dia e melhorou as medidas de qualidade de vida em paciente com FM. (ROSENFELD;

RUTLEDGE; STERN, 2015)

Mais de 90% dos pacientes relatam distúrbios do sono, prejudicando a qualidade de

vida. Há evidência observacional que a dor de pacientes com FM está diretamente

relacionada com a má qualidade de sono. Geralmente essas pacientes, mesmo aquelas

que não possuem insônia, relatam cansaço pela manhã e sensação de sono não

revigorante. (CHOY, 2015; KESKINDAG; KARAAZIZ, 2017)

3.2 DISTÚRBIOS DO SONO O sono é um estado fisiológico caracterizado pela falta de resposta a estímulos

ambientais. Nos vertebrados, o sono é definido como um padrão específico de atividade

elétrica sincronizada da área cortical do cérebro. É normalmente avaliado por

polissonografia (PSG), que envolve o registro simultâneo da atividade cortical do cérebro

usando o eletroencefalograma (EEG), movimento ocular usando eletromiograma (EMG).

Em humanos, o sono consiste em duas fases principais: sono com movimento rápido dos

olhos (REM) e sono não-REM (NREM). O sono NREM é caracterizado por ondas EEG de

alta amplitude e baixa frequência, conhecidas como sono por ondas lentas, com diminuição

do tônus muscular e movimento lento dos olhos. Enquanto o sono REM é caracterizado por

ondas de alta frequência e baixa amplitude, conhecidas como sono ativo, com atonia

muscular e movimento rápido dos olhos. (ATROOZ; SALIM, 2020)

Vários aspectos do sono, incluindo duração, distúrbio e eficiência, podem estar

relacionados à dor. Foi demonstrado que o sono ruim pode diminuir os limiares de dor e

habilidades cognitivas, vários estudos prospectivos encontraram correlações entre a má

qualidade do sono e a piora dos sintomas da FM. Além disso, uma análise longitudinal

mostrou que a interatividade entre dor e distúrbios do sono estava associada à depressão

Page 20: TCC ELOISE HAYDEÊ

20

em pacientes com artrite reumatoide e em pacientes com FM foi encontrado comorbidades

como depressão, ansiedade e estresse. (CHOY, 2015; KESKINDAG; KARAAZIZ, 2017)

Estudos populacionais apontam a má qualidade de sono como fator de risco para o

desenvolvimento de dor generalizada sendo que distúrbios do sono podem causar

depressão. Um histórico de depressão em mulheres com FM possui prevalência de 62-

86%, enquanto a presença concomitante do transtorno é de 29-70%. O estudo relata a

presença de um efeito cumulativo na depressão, desencadeado pela baixa qualidade de

sono, o que torna clara a necessidade de identificação precoce de disfunção do sono,

visando impedir o estabelecimento de um ciclo vicioso de depressão, dor e disfunção do

sono. (CHOY, 2015)

A avaliação subjetiva da qualidade do sono pode ser realizada através de um

questionário padronizado denominado, Índice de Qualidade de Sono de Pittsburgh (PSQI),

desenvolvido pela Buysse. O PSQI, avalia a qualidade de sono do paciente no ultimo mês,

combinando questões de ordem qualitativas e quantitativas. (BERTOLAZI et al., 2011)

Para a avaliação geral da qualidade de vida em pacientes com FM, pode-se utilizar

o questionário de Impacto da FM (FIQ), que envolve questões relacionadas à capacidade

funcional, situação profissional, distúrbios psicológicos e sintomas físicos. (MARQUES;

SANTOS; ASSUMPÇÃO, 2006)

3.3 MENOPAUSA A menopausa ocorre quando os ovários tem completa exaustão folicular, o que

desencadeia uma diminuição acentuada de estradiol e um aumento acentuado de hormônio

folículo estimulante (FSH). Neste período surgem sintomas decorrentes da queda

hormonal, o mais bem descrito é o sintoma vasomotor, responsável pelos suores e calores

noturnos, às vezes seguidos de calafrios e tremores, a presença de palpitações também é

relatada. Esses sintomas são responsáveis pela interrupção do sono, produzindo insônia

crônica, o que diminui relativamente a qualidade de vida dessas pacientes.

Há maior prevalência de FM em mulheres de meia-idade, sugerindo um possível

papel da diminuição de níveis hormonais na piora ou no desenvolvimento dos sintomas da

FM. Estudos demonstram que a privação de alguns estágios do NREM pode levar a

sintomas osteomusculares dolorosos e sensibilidade muscular intensa. As mulheres estão

Page 21: TCC ELOISE HAYDEÊ

21

mais suscetíveis a distúrbios do sono do que os homens e esse distúrbio se intensifica após

os 40 anos, no entanto a literatura não esclarece se essas alterações estão relacionadas a

alterações hormonais, idade, estressores psicossociais ou sintomas da menopausa, como

os fogachos. Esses sintomas podem iniciar, promover ou piorar os distúrbios do sono nesta

fase da vida. Certos medicamentos usados para a menopausa podem ser uma opção para

o tratamento dos distúrbios do sono. (BACON, 2017; DIAS et al., 2019)

Page 22: TCC ELOISE HAYDEÊ

22

4 MATERIAIS E MÉTODOS

O estudo foi aprovado pelo comitê de ética e pesquisa da Faculdade Evangélica

Mackenzie Paraná/PR sob o parecer de número 2.834.387. (ANEXO 1)

O delineamento do estudo é transversal analítico, com amostragem de conveniência.

Os dados foram coletados entre julho e dezembro de 2019.

As pacientes com FM foram abordadas pelo pesquisador no ambulatório de

reumatologia e do Hospital Evangélico Mackenzie Curitiba, enquanto as do grupo controle

foram recrutadas em consultório médico particular, ambos os grupos foram orientados

quanto à pesquisa e ao concordar com a participação, após a leitura e assinatura do termo

de consentimento livre e esclarecido, receberam os questionários relacionados para

preenchimento.

4.1 Pacientes com fibromialgia

Foram incluídas mulheres que cumpriam os seguintes critérios:

• mais de um ano sem menstruar ou com presença de sintomas climatéricos,

• idade entre 30 a 60 anos saudáveis,

• diagnóstico de FM, estabelecido pelos critérios do Colégio Americano de

Reumatologia de 2016 (ACR-2016).

• Que não estivessem em uso de terapia de reposição hormonal

Foram excluídas pacientes com limitações cognitivas, com disfunção

hematológica e renal.

4.2 Controles

Foram incluídas no estudo as pacientes que se enquadravam nas seguintes

condições:

• mais de um ano sem menstruar ou com presença de sintomas climatéricos,

Page 23: TCC ELOISE HAYDEÊ

23

• idade entre 30 a 60 anos saudáveis,

• Que não estivessem em uso de terapia de reposição hormonal

4.3 Questionários

O instrumento utilizado na coleta de dados foi uma ficha de identificação contendo

os dados pessoais, seguida de critérios diagnósticos da FM e informações para a coleta da

avaliação da qualidade de sono e qualidade de vida na FM. Para assegurar a presença da

FM e reafirmar a presença de distúrbios do sono, utilizamos a escala de gravidade da FM

(EGF) dos Critérios do Colégio Americano de Reumatologia (ACR-2016) ; para a avaliação

da qualidade de sono, utilizamos o Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh (PSQI-BR)

e para avaliar a qualidade de vida, fez-se uso do questionário do Impacto da FM (FIQ).

4.4 Questionários relacionados a FM

O questionário EGF, é formatado para garantir que o paciente possua FM sem a

necessidade de exames diagnósticos complexos. O questionário EGF avalia a magnitude

e a gravidade dos sintomas, a primeira por meio da divisão corpórea em 5 grandes regiões:

superior esquerda, superior direita, inferior esquerda, inferior direita e região axial; o que

inclui todas as porções do corpo. A paciente seleciona os locais onde sente dor,

posteriormente, a gravidade dos sintomas é avaliada por meio de graduação em uma

escala de 0 a 3 e 0 a 1 sendo 0 a inexistência do sintoma, 3 a maior severidade e 1 a

presença do sintoma. Os sintomas avaliados são: fadiga, sono não reparador, sintomas

cognitivos, cefaleia, dor ou cólica em abdome inferior e depressão. O valor igual ou maior

que 12 assegura a presença de FM. O uso desse questionário pretende firmar o diagnóstico

da doença. (WOLFE et al., 2016)

O FIQ, avalia a qualidade de vida do paciente com FM com questões relacionadas a

capacidade funcional, situação profissional, distúrbios psicológicos e sintomas físicos. É

composto por 19 questões, organizadas em 10 itens, quanto maior o escore, maior é o

impacto da FM na qualidade de vida. (MARQUES; SANTOS; ASSUMPÇÃO, 2006)

Page 24: TCC ELOISE HAYDEÊ

24

4.5 Questionários relacionados a Qualidade do Sono

O PSQI, avalia a qualidade de sono do paciente no ultimo mês combinando questões

de ordem qualitativas e quantitativas. É formado por 19 questões categorizados em 7

componentes, classificados em pontuação que varia de 0 a 3. Os componentes são:

qualidade de sono subjetivo, latência do sono, duração do sono, sono habitual, distúrbios

do sono, uso de medicamentos para dormir e disfunção diurna. A soma das pontuações

para estes 7 componentes produz pontuação global, que varia de 0 a 21, onde a pontuação

mais alta indica pior qualidade de sono. (BERTOLAZI et al., 2011)

4.6 Questionário de Dados Clínicos e Demográficos

Formado por perguntas socioeconômicas, como por exemplo: nome, idade,

endereço, telefone, estado civil, escolaridade, renda mensal familiar, tempo de menopausa

em anos, tempo de FM em anos, prática e frequência de atividade física, tabagismo,

consumo de cafeína, consumo de álcool, presença de distúrbios do sono, presença de

doença psiquiátrica ou neurológica, problemas cardíacos significativos, problemas renais,

disfunção hepática, diabetes, outras doenças reumáticas, asma, câncer, trombose aguda

ou prévia, presença de sangramento vaginal anormal, uso de medicamentos, estatura, peso

e valor de pressão arterial.

4.7 Análise estatística

As informações obtidas foram transcritas e tabuladas separadamente por meio do

programa Windows Excel. A planilha foi transferida para o programa Graph Pad Prism 5.0,

onde foi realizada a análise estatística. Foram calculados os valores de médias, medianas

e desvio padrão para as variáveis numéricas. Para verificar a existência de diferenças

significativas entre os grupos estudados em relação às variáveis contínuas aplicou-se o

teste U de Mann-Whitney, enquanto para avaliar os dados dicotômicos utilizou-se o teste

Qui-Quadrado ou teste de Fisher conforme adequado, para avaliar a correlação sono e

atividade da doença, utilizou-se a correlação de Spearman. O nível de significância

estatística foi estabelecido para valores de p < 0,05.

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25

5 RESULTADOS 5.1 Descrição da amostra estudada:

Foram incluídas no estudo 30 pacientes com fibromialgia e menopausadas (grupo 1)

e 30 mulheres do grupo controle (grupo 2); a média de idade das pacientes do grupo 1 foi

de 54 anos, enquanto a do grupo 2 foi de 50 anos. As mulheres com FM, possuíam o

diagnóstico de fibromialgia em média há 11 anos e a média de tempo de menopausa foi de

5 anos, enquanto as pacientes menopausadas possuíam uma média de tempo de doença

de 3 anos. Os dados clínicos e demográficos das pacientes estão na tabela 1.

TABELA 1 – DADOS DEMOGRÁFICOS E CLÍNICOS

Dados Pacientes com FM Grupo Controle

P valor n (%) n (%)

Distúrbios do Sono

0,085 Possui 1 (3,3) 5 (17,0) Não Possui 29 (96,7) 25 (83,0)

Medicamentos com interferência no sono

<0,0001

Sim 30 (100) 6 (21,0) Não 0 24 (79,0)

Transtornos psiquiátricos 0,44 Possui 5 (17,0) 3 (10,0) Não Possui 25 (83,0) 27 (90,0)

Atividade física 0,55 Realiza 17 (56,0) 14 (48,0) Não Realiza 13 (44,0) 16 (52,0) IMC 0,08 Abaixo 0 1 (3,3) Normal 13 (44,0) 12 (40,0) Sobrepeso 4 (13,3) 12 (40,0) Obesidade grau I 8 (29,4) 4 (13,3) Obesidade grau II 4 (13,3) 1 (3,3)

Frequência de Atividade Física 0,93 1 a 2x 10 (33,0) 10 (33,0)

Page 26: TCC ELOISE HAYDEÊ

26

3 a 4x 16 (53,7) 15 (50,0) 5 ou mais 4 (13,3) 5 (17,0) Consumo de Cafeína 1 Consome 28 (93,0) 28 (93,0) Não Consome 2 (7,0) 2 (7,0) Consumo de Álcool 0,78 Consome 10 (33,0) 11 (37,0) Não Consome 20 (67,0) 19 (63,0) Tabagismo 0,03 Fuma 4 (13,0) 0 Não Fuma 26 (87,0) 30 (100)

5.2 Associação entre qualidade de sono, tempo de FM e menopausa

A análise estatística do questionário de qualidade de sono de Pittsburgh (PSQI)

evidenciou que não houve associação entre o tempo de doença reumática e a qualidade

de sono do paciente (p = 0,43), assim como não houve associação entre o tempo de

menopausa e a qualidade do sono (p = 0,16).

5.3 Análise da Qualidade do Sono

Não houve associação entre o Índice de Massa Corpórea (IMC) e a qualidade do

sono avaliada por meio do PSQI (p = 0,92), tampouco entre o questionário que avalia a

magnitude e gravidade da FM (ACR) (p = 0,72). (Gráfico 1)

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Gráfico 1: Gráfico de distribuição de valores da atividade da FM.

Fonte: os autores

FBM = Fibromialgia

As relações entre IMC e qualidade de sono dos dois grupos de pacientes estão

apresentadas no gráfico a seguir. (Gráfico 2)

Gráfico 2: Gráfico de comparação entre o Índice de Massa Corpórea das pacientes.

Fonte: os autores

FBM = Fibromialgia

AC R F IQ0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

pontos

FBM Controles0

10

20

30

40

50

g/cm2

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28

Em relação aos dados clínicos gerais, como atividade física, escolaridade, renda,

uso de álcool e tabaco, não foi encontrado associação entre PSQI e atividade física (p =

0,60), a escolaridade e a renda também não influenciaram na qualidade de sono (p= 0,35)

(p = 0,42), o uso de álcool e tabaco também não influenciaram (p = 0,72) (p = 0,82).

A análise da comparação da qualidade de sono do grupo de pacientes com FM

(grupo1) e menopausa com o grupo controle (grupo 2), formado apenas por pacientes

menopausadas, evidenciou uma diferença significativa entre a qualidade de sono do grupo

1 em relação ao grupo 2, onde o grupo com FM possui uma pior qualidade do sono. (p =

0,042).

As relações entre a qualidade de sono dos dois grupos de pacientes estão

apresentadas no gráfico a seguir. (Gráfico 3)

Gráfico 3: Gráfico de comparação da qualidade do sono (PSQI).

Fonte: os autores

FBM = Fibromialgia

5.4 Correlação entre Qualidade do Sono e Atividade da FM Os estudos de correlação, utilizando-se os testes de Spearman, mostraram que

houve correlação significativa entre o questionário que avalia a qualidade de sono (PSQI)

e os questionários que avaliam a atividade da FM. O FIQ, que avalia o impacto da

FBM CONTROLES02468101214161820

P=0,042

pontos

Page 29: TCC ELOISE HAYDEÊ

29

fibromialgia obteve um valor de p= 0,0009 e um valor de r= 0,57, enquanto que o EGF –

que avalia a magnitude e gravidade dos sintomas – um valor de p= 0,0002 e valor de r=

0,63, portanto há uma correlação inversamente proporcional, ou seja, quando a variável

qualidade de sono melhora, a atividade da doença diminui.

Page 30: TCC ELOISE HAYDEÊ

30

6 DISCUSSÃO

Nosso estudo apontou que mulheres com fibromialgia tem distúrbio de sono, assim

como mulheres na menopausa; a associação das duas condições pode levar a maior

atividade da fibromialgia, portanto a correção do distúrbio do sono é imprescindível para

interromper o estabelecimento do ciclo vicioso: má qualidade de sono, agravamento dos

sintomas da fibromialgia e depressão, chamando a atenção para a necessidade da melhora

da qualidade de sono dessas pacientes.

No presente estudo não se observou associação entre o tempo de FM e qualidade

de sono, semelhante ao descrito na meta análise de WU et al., 2017, na qual não se obteve

associação significativa entre o tempo de doença e qualidade do primeiro estágio do sono,

demonstrando que a doença não faz efeito de ordem cumulativa no sono. Tampouco, entre

tempo de menopausa e qualidade de sono, o que corrobora com o resultado de FRANGE

et al., 2017, que não encontrou relação entre a insônia, um dos sintomas relacionados ao

sono, e o precoce e tardio de menopausa.

A qualidade de sono não foi influenciada pelo valor do IMC em nenhum dos grupos,

diferente do resultado descrito por DE ARAÚJO et al., 2015, que encontrou um maior nível

de sonolência em mulheres obesas com FM (p=0,004). No entanto, não estavam sendo

estudadas mulheres menopausadas. Em relação ao grupo menopausado, nosso resultado

corroborou com o encontrado por FRANGE et al., 2017, no qual o IMC não teve uma

influência significativa na qualidade do sono do paciente, avaliado, inclusive, por método

objetivo.

Nosso estudo não encontrou uma associação entre o impacto da FM e o IMC,

contradizendo os resultados encontrados por RODRÍGUEZ et al., 2019 e KIM et al., 2012,

nos quais grupos com maior IMC possuem uma apresentação mais grave da doença.

Em relação a dados de ordem socioeconômica, não foi encontrada correlação entre

qualidade de sono e as variáveis: atividade física, escolaridade, renda, uso de tabaco e de

álcool. Não encontramos relação entre atividade física e a qualidade do sono em ambos os

grupos contrariando o encontrado por XU et al.,2014, em sua meta-análise, na qual as

variáveis influenciaram positivamente na qualidade de sono em pacientes menopausadas.

Em relação a FM, nosso estudo corrobora com o estudo de YUNUS et al., 2002 em relação

aos achados relacionados ao álcool, tabaco, porém destoa do estudo de BUSCH et al.,

2011, no âmbito atividade física.

Page 31: TCC ELOISE HAYDEÊ

31

Quanto a relação qualidade de sono e escolaridade, nosso trabalho distingue do

artigo de RAKOVSKI et al., 2012. Acreditamos que a diferença nos achados também é

uma limitação do tamanho da amostra e de sua homogeneidade.

Obtivemos um resultado significativo ao comparar a qualidade de sono das pacientes

com FM climatéricas com o grupo controle, sendo a qualidade de sono nas pacientes com

doença reumática pior, corroborando com WILBUR et al., 2006, que em amostra com 216

pacientes, subdividas em controles e pacientes com FM em período climatérico, relatou

uma maior gravidade nos sintomas apresentados pelas pacientes com FM. Segundo

WAXMANN et al., 1986, a menopausa é um fator central de estímulo ao distúrbio do sono,

depressão e a própria FM. Sugerindo a menopausa como possível etiologia da FM,

semelhante ao descrito por PAMUK et al., 2005 e MARTINEZ et al., 2013, sugere que o

declínio ou o encurtamento a exposição aos hormônios ovarianos poderia contribuir para o

aumento da hipersensibilidade a dor em pacientes com FM. Tal constatação conduz à

indagação se a terapia de reposição hormonal melhoraria os sintomas de sono e dor em

mulheres com fibromialgia e menopausadas. A literatura ainda é controversa nesse sentido

e mais estudos são necessários.

Em nosso estudo foi encontrada uma correlação significativa entre a qualidade do

sono e a atividade da FM, dado interessante que corrobora com o achado no estudo

de CLIMENT-SANZ et al., 2020, onde expõe que uma péssima qualidade de sono está

diretamente relacionada com o aumento da intensidade da dor.

Nosso estudo possui algumas limitações inerentes ao desenho transversal. O

tamanho amostral é pequeno devido aos critérios de inclusão. Outro aspecto é que a

amostra reflete as mulheres com FM menopausadas que são encaminhadas para centro

de atenção terciária, ou seja, provavelmente aquelas com FM mais grave, dado que aquelas

com sintomas brandos são atendidas em Unidade Básica de Saúde.

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7 CONCLUSÃO

As pacientes com FM que estão em período pós menopausa, possuem uma péssima

qualidade de sono, apesar de utilizarem alguns medicamentos que são potenciais indutores

de sono. Adicionalmente, as pacientes com FM possuem pior qualidade de sono quando

comparadas as pacientes que apenas estão na menopausa.

Observou-se uma correlação significativa entre a qualidade de sono (PSQI) e os

questionários que avaliam a atividade e impacto da FM, ou seja, quando a qualidade de

sono melhora, a atividade da FM diminui.

O IMC não interferiu de forma significativa na qualidade de sono de ambos os grupos

de pacientes, dado avaliado pelo questionário PSQI; também não houve correlação entre

o IMC e a gravidade da FM, avaliada pelo EGF.

As variáveis escolaridade, renda, atividade física, uso de tabaco e uso de álcool não

influenciaram significativamente a qualidade de sono ou a atividade da FM.

Page 33: TCC ELOISE HAYDEÊ

33

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9 ANEXO A - PARECER CONSUBSTANCIADO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA.

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10 ANEXO B - DECLARAÇÃO DO ORIENTADOR

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11 ANEXO C - QUESTIONÁRIOS

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