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Trabalho de investigação sobre GPL
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Gravidas, lactantes e puérperas na pratica da MTC
Introdução
A MTC utiliza a Acupunctura como tratamento mas também técnicas de massagem como o Tui Na e o
Shiatsu. Estas práticas milenares utilizam instrumentos que incluem agulhas filiformes, sólidas sem
orifício de metais como ouro, prata, platina e aço inox (as mais usadas), calor, magnetos, sementes,
pressão negativa (ventosas), e estímulos manuais/massagens com a finalidade de restaurar, promover e
equilibrar as funções energéticas e metabólicas dos sistemas e órgãos do ser vivo. Ao fazer uso destes
instrumentos, o acupunctor tem que ter uma noção muito nítida do risco que corre ao manusear agulhas.
Este artigo tem como objectivo expor as situações de risco de infecção por meio biológico e físico, na
prática de acupunctura pelas acupunctoras grávidas, puérperas e lactantes, normalmente designadas por
grupo GPL. Para além da sua própria protecção, este grupo tem uma responsabilidade dupla, pois acresce
o risco não só para a mãe mas também para o novo ser. Há grandes preocupações a ter com a saúde da
mulher enquanto grávida e lactante. A gravidez pode afectar a capacidade da terapeuta para executar o
trabalho normal, nomeadamente na realização de tratamentos que envolvam massagens vigorosas, como
o Tui Na ou massagens no chão, no caso de Shiatsu. Pelo que a situação laboral deve ser adaptada para
servir as novas circunstâncias, sempre que for possível.
Legislação
O Decreto-Lei n.º 441/91, de 14 de Novembro, sobre os princípios gerais da promoção da segurança,
higiene e saúde no trabalho, determina que os empregadores devem avaliar os riscos para a segurança e
saúde dos trabalhadores, nomeadamente para protecção das mulheres grávidas em relação a certos
riscos a que são especialmente sensíveis. A Lei n.º 4/84, de 5 de Abril, na redacção dada pela Lei n.º
17/95, de 9 de Junho, adopta um conjunto de regras para protecção das trabalhadoras grávidas,
puérperas e lactantes.
O empregador deve avaliar a natureza, o grau e a duração da exposição das trabalhadoras grávidas,
puérperas e lactantes, determinar qualquer risco para a sua segurança e saúde, bem como as
repercussões sobre a gravidez ou a amamentação. Após avaliação dos riscos, ligados aos agentes,
processos ou condições de trabalho, e no condicionamento ou proibição do exercício de certas
actividades, consoante a natureza e o grau dos riscos existentes., o empregador deve tomar as medidas
adequadas e previstas na lei.
É um facto que este grupo está protegido em caso de serem trabalhadores por conta de outrem. O planeamento
efectivo por parte da acupunctora e da entidade empregadora, deve assegurar que os riscos são
antecipados e efectivamente controlados. O processo de decisão pode ser esquematizado em 3 passos:
considerar se a avaliação dos riscos indica que as medidas de controlo aplicadas aos funcionários são
suficientes para as grávidas; se as medidas normais são insuficientes, especificar quais as medidas de
controlo que devem ser aplicadas; se o controlo continuar a ser insuficiente então recorrer a: transferência
para uma tarefa ou trabalho mais seguros; licença de maternidade; baixa médica.
No caso do exercício da função por conta própria, o risco deve ser de consideração e responsabilidade própria, não
sendo de descurar uma especial atenção para o limite do exercício tendo em conta as suas limitações físicas, no
caso de grávidas (porque, por exemplo, com o aumento da barriga, torna-se muito desconfortável fazer tratamentos
de Tui Na e Shiatsu, pelas posições que se adoptam e pelo vigor que tem que se exercer).
Perigos biológicos
Os perigos biológicos na gravidez aparecem sob a forma de agentes infecciosos capazes de causar:
lesões no desenvolvimento do feto, nados-mortos, elevado risco de aborto espontâneo ou mortalidade
infantil. Pelos motivos apresentados, é muito importante o controlo da exposição das acupunctoras
grávidas. A maioria das infecções não apresenta, durante a gravidez, qualquer efeito no feto. No entanto,
o feto pode ser afectado por algumas viroses, como a rubéola, por algumas bactérias, como a listeria, e
por alguns parasitas, como o toxoplasma.
A moxabustão trata e previne doenças através da aplicação de calor em pontos e/ou certos regiões do
corpo humano. Usa-se a combustão da Artemísia nos pontos ou meridianos de acupuntura para remover
bloqueios de energia que obstruem o seu fluxo pelos meridianos, eliminando a humidade e o frio que
promovem disfunções no organismo. Relativamente ao uso e manuseamento da moxabustão por parte das
acupunctoras GPL, é necessário que ao praticar esta técnica, seja realizada em espaço amplo e bem arejado. No
entanto, com os normais sintomas de enjoo durante o inicio da gravidez, as acupunctoras grávidas devem evitar de
todo o uso de moxabustão tradicional com Artemísia pelo forte cheiro que liberta e pelo facto de aspirarem o fumo e
ser prejudicial para o feto. Em substituição dos bastões de Artemísia devem usar o carvão sem fumo e sem cheiro.
Instrumentos passíveis de causar infecção
É notório o perigo iminente das contaminações por vírus e bactérias pois são um dos maiores medos na prática
de acupunctura hoje em dia e é um risco para o terapeuta e para o paciente. A contaminação pode ocorrer
devido à falha nos processos de higienização e assepsia do ambiente, das agulhas e dos materiais utilizados no
paciente, bem como do contacto com sangue, que tanto o paciente quanto o terapeuta possam ter. As agulhas
descartáveis resolveram grande parte deste problema, pois são extremamente baratas e fáceis de obter.
Não só as agulhas representam perigo de contaminação, mas também tesouras, pinças metálicas, qualquer
material que possa estar em contacto com o sangue, e que seja usado em vários pacientes, apresenta este risco
potencial de contaminação. Deve-se adoptar protocolos para: material descartável (agulhas e seringas; material de
uso hospital como algodão, esparadrapo, etc); lixo comum; higiene do consultório: chão, paredes, roupas de cama;
higienização do paciente e do acupunctor (lavagem das mãos, avental, uso de forro nas camas, higienização da
pele do paciente); esterilização de material reutilizável (pinças, tesouras, bandejas, copos de ventosas, etc).
Aplicando estes protocolos ainda devemos ter alguns cuidados adicionais: usar uma agulha de cada vez evita o
esquecimento da agulha no paciente (agulhas com embalagens individuais): poucas agulhas são usadas por
períodos curtos de tempo; controlo do número de agulhas no corpo do paciente pelo número de embalagens
vazias; verificação visual e manual no final da aplicação.
Agentes biológicos de contaminação
Dois agentes de contaminação são: o vírus do HIV e os patógenos para hepatite B (HBV) e hepatite C
(HCV). Mesmo sabendo das dificuldades de transmissão destes vírus pelo ar, ainda assim deve-se seguir
todos os protocolos de biossegurança existentes. As agulhas descartáveis tornam as transmissões de
doenças por bactérias muito difícil de ocorrer, contanto que a pele do paciente tenha tido uma assepsia
prévia. A hepatite B é a principal infecção viral que pode preocupar as acupunctoras. Na China há
inúmeros casos desta doença, que pode inclusive ser atribuída ao uso da acupunctura (Campbel,2001).
Acupunctoras devem estar vacinadas contra a hepatite B. Uma situação que se deve ter em consideração
para a saúde do paciente é a reutilização da agulha: por simples dedução devemos considerar que não existe
perigo para o paciente quando as agulhas são reutilizadas, na mesma sessão, nele próprio; o problema aqui é a
contaminação da acupunctora, se o paciente estiver contaminado e houver contacto com seu sangue e fluidos
corporais.
Deve-se ter precaução com gotículas de suor e perdigotos para evitar a transmissão de patologias transmitidas
por macropartículas (partículas > 5µm), que ficam em suspensão no ar e percorrem curtas distâncias (até
1m). As patologias que necessitam destas medidas de precaução são: meningite, difteria, streptococcus,
coqueluche, varicela, rubéola, adenovírus, parvovírus B19, influenzae etc.
Se o feto for infectado no útero, isto pode levar a: não manifestação de sinais ou sintomas da doença;
parto prematuro; infecção aguda ou morte antes do nascimento; malformações, como danos no sistema
nervoso e problemas no desenvolvimento; infecção persistente e aborto espontâneo. Os bebés podem
ser infectados quando no útero da mãe (através da placenta), durante ou após o parto, através do
aleitamento ou por contacto pessoal muito próximo entre a mãe e o filho.
Antes do início da gravidez, é do interesse das terapeutas terem a certeza de que as vacinas estão
válidas e que vão proteger contra quaisquer infecções. Quem está a planear engravidar deve falar com o
médico de família sobre o tipo de trabalho que faz e sobre o seu estado de imunidade. Em situação ideal,
devem ter-se todas as vacinas necessárias ao ambiente de trabalho antes de engravidar. A maioria das
vacinas não devem ser administradas durante a gravidez sendo, no entanto, consideradas seguras para
as lactantes. Qualquer dúvida em relação a este assunto deve ser esclarecida com o médico de medicina
do trabalho ou com o médico de família. No entanto, a vacinação e o aleitamento não são incompatíveis,
uma vez que não existem evidências de riscos para o bebé amamentado quando a mãe foi vacinada com
vacinas activas ou inactivas. A amamentação não tem efeitos adversos na imunidade e não é uma contra-
indicação para a administração de qualquer vacina ao bebé.
Protocolos de higiene
Se a acupunctora fizer uma anamnese adequada, se o paciente relatar correctamente sua real condição,
se o ambiente para tratamento for o mais asséptico possível, então só é necessário aplicar todos os cuidados de
prevenção de contaminação. Os procedimentos adoptados pela acupunctora devem ser o estritamente
recomendado pelos livros/texto ou pelas práticas comprovadas da experiência pessoal da acupunctora na escolha
dos pontos de acupunctura, baseados numa correcta interpretação da anatomia e teoria da escolha de
pontos, pois agora temos também o risco de causar alguma lesão no paciente devido à inserção da agulha em
local anatómico incorrecto, ou ainda causar algum efeito indesejado devido à escolha errada dos pontos.
Os protocolos de higiene e assepsia assumem, sem sombra de dúvida, cada vez mais um papel importante nos
dias actuais, pois estabelecem regras claras e confiáveis de procedimentos de biossegurança que se deve
ter em atendimento domiciliar, em hospitais ou na clínica, quanto ao paciente, ao material, à sala ou ao próprio
profissional, a fim de que se possa sempre seguir uma rotina segura de atendimento ao paciente.
Outros tratamentos e práticas da MTC
Além da acupunctura, a MTC faz uso de outras técnicas de tratamento, nomeadamente massagem Tui Na,
Shiatsu, de relaxamento, drenagem manual linfática. Dentro do grupo GPL, o elemento que vai estar mais cedo,
incapacitado de aplicar técnicas de massagem será a grávida.
Com o aparecimento e desenvolvimento da barriga, a grávida vai tendo dificuldade em aplicar estes tipos de
massagem. Trabalhar regularmente em pé pode causar pés doridos, pernas inchadas, varizes, fadiga
muscular geral, dores na parte inferior das costas, rigidez do pescoço e ombros bem como outros
problemas de saúde. Durante a gravidez, o volume total de sangue de uma mulher pode aumentar 30-
40% e a actividade do coração aumenta também. O sangue tem tendência para se concentrar nas veias
mais profundas das pernas, o que pode trazer um risco de tromboses e varizes bem como desmaios (se a
acupunctora passar longos períodos em pé, especialmente num ambiente quente). O risco de dar à luz
uma criança pequena (peso natal 10 vezes inferior ao percentil para a idade e peso gestacionais) é maior
entre as mulheres que trabalham pelo menos 6 horas por dia em pé. Durante a gravidez existe um
aumento de peso, juntamente com mudanças de distribuição desse mesmo peso e entre o corpo e
espaço ocupado no local de trabalho e a forma de o corpo se relacionar com esse mesmo espaço. Estas
mudanças podem provocar alterações nas posturas de trabalho que, por sua vez, têm consequências
adversas para a carga biomecânica e para o sistema músculo-esquelético, aumentando o risco de
desordens músculo-esqueléticas.
As grávidas ficam mais afastadas das marquesas, as ancas ficam posicionadas mais para trás, de modo
a realizar as suas tarefas, aumentam a flexão do tronco, aumentam a anti-inflexão dos antebraços e
estendem mais os braços. Sempre que for possível, a altura das superfícies de trabalho deverá ser
ajustada.
Estar em pé ou sentado por mais de 2 horas seguidas pode acarretar problemas para as grávidas, devido
a causarem dores e desconforto. Devem fazer intervalos regulares em que se possam sentar para
descansar o corpo e reduzir o stress físico.
A massagem Shiatsu, é uma técnica de pressão com os dedos em pontos de acupunctura, aplicada,
normalmente, com o paciente no chão e a terapeuta de joelhos a seu lado. Devido à posição adoptada, a
grávida quando começa a ter sintomas normais do seu estado, tonturas, tensão baixa, dores lombares,
dificuldade em colocar-se na posição de massagem, etc., deve deixar de aplicar esta técnica aos seus
pacientes.
Em relação a estas massagens supra mencionadas, torna-se difícil dizer o momento certo para a grávida
deixar de praticar. O abandono destas práticas deve ser tomado de forma bem consciente dos perigos
que acarretam para a saúde da grávida.