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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Escola de Comunicações e Artes Departamento de Biblioteconomia e Documentação ANA LUISA DUBRA LESSA Organização da informação: estudo do catálogo eletrônico do Arquivo Mário de Andrade do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB-USP) São Paulo 2013

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Escola de Comunicações e Artes ... · Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo Dados fornecidos pelo(a) autor(a) Lessa, Ana Luisa

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Escola de Comunicações e Artes

Departamento de Biblioteconomia e Documentação

ANA LUISA DUBRA LESSA

Organização da informação: estudo do catálogo eletrônico do Arquivo

Mário de Andrade do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB-USP)

São Paulo

2013

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Escola de Comunicações e Artes

Departamento de Biblioteconomia e Documentação

ANA LUISA DUBRA LESSA

Organização da informação: estudo do catálogo eletrônico do Arquivo

Mário de Andrade do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB-USP)

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado para o Departamento de

Biblioteconomia e Documentação da

Escola de Comunicações e Artes da

Universidade de São Paulo, como

requisito para obtenção do título de

Bacharel em Biblioteconomia.

Orientadora: Profª Drª. Nair Yumiko

Kobashi

São Paulo

2013

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Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

Catalogação na Publicação

Serviço de Biblioteca e Documentação

Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo Dados fornecidos pelo(a) autor(a)

Lessa, Ana Luisa Dubra

Organização da informação: estudo do catálogo eletrônico do

Arquivo Mário de Andrade do Instituto de Estudos

Brasileiros (IEB-USP) / Ana Luisa Dubra Lessa. -- São

Paulo: A. Lessa, 2013.

75 p.: il.

Trabalho de Conclusão de Curso - Departamento de

Biblioteconomia e Documentação/Escola de Comunicações e Artes

/ Universidade de São Paulo.

Orientadora: Nair Yumiko Kobashi

Bibliografia

1. Mário de Andrade 2. Arquivística 3. Arquivos Pessoais

4. Análise Documentária 5. Instrumentos de Pesquisa I.

Kobashi, Nair Yumiko II. Título.

CDD 21.ed. - 020

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Ao meu amor Rodolfo, por mais uma

jornada cumprida.

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AGRADECIMENTOS

Ao CBD/ECA/USP por proporcionar a realização da graduação em

Biblioteconomia.

Aos colegas que conheci no curso e que pude descobrir e compartilhar o mundo

da Biblioteconomia. Espero encontrá-los ao longo da trajetória profissional.

À minha orientadora Profa. Dra. Nair Yumiko Kobashi, pelo incentivo e

orientação nos momentos de incerteza e hesitação.

Ao Prof. Dr. Marivalde Moacir Francelin, pelo desafio de aperfeiçoar o trabalho

quando este ainda estava em fase embrionária.

À Profa. Dra. Vânia Mara Alves Lima, por sempre ajudar e estimular a conhecer

mais a fundo os estudos biblioteconômicos.

À Profa. Dra. Cibele Araujo Camargo Marques dos Santos, pelas palavras

esclarecedoras a respeito do trabalho.

À Supervisora Técnica de Serviço do Arquivo do IEB, Elisabete Marin Ribas,

pelo auxílio e presteza em elucidar as dúvidas que foram surgindo ao longo da pesquisa.

À equipe do Instituto Cervantes e do SciELO (Scientific Electronic Library

Online), pela realização dos meus estágios e pelo alargamento do conhecimento.

À Lígia Procópio Souto Dubra e Pedro Ivo Dubra, pelo apoio em continuar os

estudos.

Aos meus queridos avós Lourdes e Adhemar, pelo afeto de sempre.

À Dona Rosana, Seu Antonio, Eduardo e Victor, família que conquistei e sempre

está ao meu lado.

Ao Rodolfo querido, companheiro de graduação e de vida. Agradeço por

completarmos juntos mais uma etapa de nossas trajetórias acadêmicas, pois teria sido

mais árdua a caminhada sem o seu auxílio.

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RESUMO

Estudo da organização informacional do Arquivo Mário de Andrade do Instituto de

Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB-USP). Com base nos estudos da

Arquivística e da Análise Documentária, foi feita a análise do catálogo eletrônico a fim

de verificar a qualidade da recuperação dos documentos. A partir dos resultados obtidos,

são apontadas as qualidades do catálogo, assim como sugestões para aprimorar as

funções de recuperação informação do referido instrumento de pesquisa.

Palavras-chave: Mário de Andrade; Arquivística, Arquivos Pessoais; Análise

Documentária; Instrumentos de Pesquisa.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...................................................................................................07

2. ARQUIVÍSTICA E ARQUIVOS: OBJETO E CONCEITUAÇÃO...................11

2.1. Breve histórico sobre a arquivística no Brasil..............................................18

2.2. Arquivos: públicos e privados......................................................................20

3. ARQUIVOS PESSOAIS.....................................................................................23

3.1. Memória e História em arquivos pessoais....................................................27

3.2. Arquivos pessoais em universidades brasileiras...........................................29

4. ANÁLISE DOCUMENTÁRIA E O PROCESSO DE RECUPERAÇÃO DA

INFORMAÇÃO..................................................................................................32

4.1. O que são instrumentos de pesquisa em arquivos........................................38

4.2. Análise documentária, construção de instrumentos de pesquisa e

recuperação informacional da arquivística....................................................43

5. ARQUIVO MÁRIO DE ANDRADE: UM ESTUDO DE CASO......................46

5.1. Instituto de Estudos Brasileiros: responsável pela guarda do Arquivo Mário

de Andrade.....................................................................................................47

5.2. Arquivo Mário de Andrade: fonte para pesquisas acadêmicas.....................52

5.3. Análise dos instrumentos de pesquisa: catálogo eletrônico do Arquivo

Mário de Andrade..........................................................................................56

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................69

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................71

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1. INTRODUÇÃO

O presente estudo teve como finalidade analisar a organização informacional do

Arquivo Mário de Andrade do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São

Paulo (IEB-USP). Com base na Arquivística e na Análise Documentária, o trabalho

examinou, de forma específica, o catálogo eletrônico do referido arquivo, que se

configura como um instrumento de pesquisa, desenvolvido pelo IEB e disponível no

endereço http://www.ieb.usp.br/catalogo_eletronico/.

O intuito desta análise foi verificar se esse instrumento de pesquisa (o catálogo)

possibilita a recuperação eficaz do conteúdo dos documentos. O catálogo eletrônico é o

primeiro contato do usuário com a documentação em um arquivo, já que o acesso ao

acervo não é livre como em bibliotecas. Por essa razão, torna-se essencial que o

catálogo receba um tratamento documental adequado que elimine a dispersão e a

ambiguidade informacional. Pretendeu-se, neste estudo, apontar as qualidades e/ou

insuficiências desse instrumento para propor formas de aprimorá-lo.

Adquirida pela USP em 1967 e doada ao IEB em 1968, a documentação

marioandradiana, constituída de manuscritos, cartas, artigos de periódicos, fotografias,

possibilita compreender os processos de criação do escritor Mário de Andrade e as redes

de sociabilidade durante o modernismo. Os documentos conservados pelo escritor de

Macunaíma são de suma importância para o meio acadêmico pois permitem que os

estudiosos conheçam as anotações e os manuscritos que deram suporte ao

desenvolvimento das pesquisas e obras do autor paulista.

Bellotto (1991, p. 179) expõe a relevância dos arquivos pessoais de políticos,

escritores, cientistas, artistas,

[...] pessoas cuja maneira de pensar, agir, atuar e viver possa ter algum

interesse para as pesquisas nas respectivas áreas onde desenvolveram

suas atividades; ou ainda, que as informações inéditas contidas nos

seus documentos, se divulgadas na comunidade científica e na

sociedade civil, tragam fatos novos às ciências, à arte e à sociedade.

O estudo de documentos de arquivos pessoais tem se desenvolvido no Brasil,

pois refletem uma época, mostram os hábitos e os costumes de um pesquisador, trazem

elementos testemunhais de um determinado período histórico. De fato, através dos

papéis acumulados é possível perceber como Mário de Andrade desenvolvia suas

pesquisas nas áreas da literatura, das artes, da música e do folclore.

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Seus documentos dão, portanto, base para entender o processo de pesquisa e

construção de suas obras. Constantemente, Mário de Andrade retomava seus

manuscritos para escrever ou reescrever um determinado trabalho. Em suas cartas,

discorria sobre as etapas da criação artística, justificava escolhas ou recusas na

elaboração de uma obra.

No caso do presente trabalho, pretendeu-se analisar o catálogo eletrônico para

verificar sua potencialidade para atender às demandas informacionais dos usuários do

Arquivo Mário de Andrade do IEB-USP.

Algumas questões norteiam esta análise, pois permitem refletir como os

pressupostos teóricos e metodológicos da Análise Documentária podem ser aplicados na

Arquivística:

O catálogo eletrônico atual como instrumento de pesquisa é suficiente

para representar o conteúdo dos documentos que descreve?

Como é estruturado esse instrumento de pesquisa?

O arquivo tem algum controle de vocabulário?

A recuperação da informação sofre de ambiguidade e dispersão?

Pretendeu-se, portanto, entender como a Análise Documentária pode contribuir

para que o catálogo eletrônico do Arquivo Mário de Andrade possa ser melhorado, para

que haja recuperação do conteúdo informacional da documentação de maneira plena e

satisfatória.

O processo de Análise Documentária decorre da leitura e seleção de termos que

possam representar o conteúdo informacional dos documentos tratados. Portanto, a

Arquivística tem se apropriado de alguns pressupostos metodológicos e teóricos da

Análise Documentária para aprimorar as formas de localizar, recuperar e disseminar a

informação presente nos arquivos.

A delimitação do tema de pesquisa e o levantamento bibliográfico sobre

Arquivística, Análise Documentária, Arquivos pessoais, Memória e Instrumentos de

pesquisa foram os primeiros passos seguidos neste trabalho. Para estabelecer os

princípios teóricos de cada área foram consultados livros, dissertações e teses nas bases

de dados das Bibliotecas da Universidade de São Paulo e da Universidade Estadual

Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Os artigos eletrônicos foram selecionados a partir da

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Base de Dados Referenciais de Artigos de Periódicos em Ciência da Informação

(Brapci), da Biblioteca eletrônica Scientific Electronic Library Online (SciELO) e do

Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT). Essa bibliografia

possibilitou dar sustentação teórica e metodológica à análise do catálogo eletrônico do

Arquivo Mário de Andrade.

Para dar conta do processo de pesquisa e exposição dos resultados, este trabalho

está organizado como segue:

O capítulo 1 – Introdução, expõe os objetivos da pesquisa, as justificativas e as

fontes bibliográficas para o estabelecimento dos princípios teóricos utilizados no

presente estudo.

No capítulo 2 – Arquivística e arquivos: objeto e conceituação, aborda-se o

objeto da Arquivística e seus principais conceitos, em especial da proveniência. O

capítulo também trata das semelhanças e diferenças entre bibliotecas e arquivos no que

se refere ao tratamento documental; traça um breve histórico sobre o estabelecimento da

Arquivística no Brasil, algumas leis relevantes e a criação de cursos de graduação e pós-

graduação; e por fim, expõe as definições de arquivo público e de arquivo privado.

O capítulo 3 – Arquivos pessoais, conceitua o que é um arquivo pessoal e mostra

sua importância para a pesquisa histórica a partir de década de 1970; há também, a

questão da construção e da preservação da memória coletiva em arquivos pessoais; em

outro item, aborda-se o acolhimento dos arquivos pessoais de personalidades das mais

diversas áreas do conhecimento nas principais universidades brasileiras.

O capítulo 4 – Análise documentária e o processo de recuperação, caracteriza o

que é o campo da Análise Documentária e seus métodos; conceitua os instrumentos de

pesquisa em arquivos; também expõe que os procedimentos teóricos e metodológicos da

Análise Documentária podem ser aplicados no contexto arquivístico.

No capítulo 5 – Arquivo Mário de Andrade: um estudo de caso, é dedicado aos

procedimentos de recuperação informacional aplicados ao Arquivo Mário de Andrade.

São expostas inicialmente informações sobre a instituição mantenedora do acervo

pessoal do escritor paulista, o Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São

Paulo; discorre-se, em seguida, sobre a importância da documentação pessoal de Mário

de Andrade como fonte para pesquisas acadêmicas; por fim, são apresentadas as

análises do catálogo eletrônico, observando-se suas qualidades e/ou insuficiências na

recuperação de informação e as indicações de melhorias do instrumento de pesquisa em

questão.

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Nas considerações finais são discutidos os resultados obtidos ao longo do

trabalho e a ideia de que a Análise Documentária pode contribuir para o processo de

recuperação informacional em ambientes arquivísticos.

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2. ARQUIVÍSTICA E ARQUIVOS: OBJETO E CONCEITUAÇÃO

Instituições como arquivos, bibliotecas e museus têm como objetivo a

conservação, a preservação e a divulgação do conteúdo dos materiais sob sua

responsabilidade. Durante esse percurso, cada instituição alcança seus objetivos de

maneiras diversas e por meio de procedimentos distintos.

Em Arquivística: teoria e prática de uma ciência da informação, Silva (2002, p.

28) expõe que a Biblioteconomia e a Arquivística são “duas áreas de estudo e de

trabalho complementares, com objetos específicos” e que até o século XIX houve a

preocupação tanto com as questões referentes à bibliografia e às bibliotecas quanto com

o patrimônio dos arquivos e sua organização.

Paes (2004, p. 16), na obra Arquivo: teoria e prática, discorre sobre a

proximidade entre bibliotecas, arquivos e museus:

Durante muito tempo as noções de arquivo, biblioteca e museu se

confundiram, não só pela finalidade e forma física dos documentos,

mas também porque estas instituições tinham o mesmo objetivo. Na

verdade, elas funcionavam como grandes depósitos de documentos, de

qualquer espécie, produzidos pelo homem. Entretanto, a evolução

histórica da humanidade, aliada a fatores culturais e tecnológicos

como, por exemplo, o advento da imprensa, pouco a pouco forçou a

delimitação dos campos de atuação de cada uma delas. Muito embora

as três tenham a função de guardar, seus objetivos são diferentes.

Bibliotecas e arquivos são instituições com preocupações em comum como a

preservação da memória, a conservação dos acervos, o acesso e a recuperação da

informação. Entretanto, há uma diferença primordial entre a Biblioteconomia e a

Arquivística no que se refere aos objetos tratados por cada área. Enquanto, a primeira

lida com objetos informacionais tratados como unidades colecionadas segundo critérios

de utilidade para os usuários do sistema de informação, a segunda tem como princípio

básico o conceito da proveniência ou respect des fonds, questão que será detalhada mais

à frente.

Em relação ao tratamento da informação, o arquivo avalia o conjunto

documental “para preservação no agregado de peças, não como peça única, e seleciona-

os mais em relação à função e à organização do que ao assunto” (SCHELLENBERG,

2002, p. 48). Geralmente, seus documentos são produzidos e/ou recebidos pela própria

instituição sendo conservados com objetivos funcionais. Já na biblioteca, os

documentos são adquiridos por compra ou doação, formam normalmente coleções

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temáticas e são tratados isoladamente e não em conjunto. Outra distinção se refere à

questão da unicidade, pois enquanto um documento de biblioteca pode ser encontrado

em outras bibliotecas, exceto obras raras, o documento de arquivo geralmente é único

ou produzido em número limitado de cópias.

Sobre a organização do acervo, o arquivo se vale do conceito de proveniência

para o arranjo ou a classificação, evitando dessa forma a separação entre os

documentos. Isto é, a organização exige relação entre as unidades e os conjuntos

documentais. Na biblioteca, porém, a organização por assunto se adéqua a cada item do

acervo.

No que se refere à descrição, nos arquivos é empreendida sobre o conjunto,

descrevendo o fundo, a série e o dossiê. Nas bibliotecas, o tratamento incide sobre as

unidades, isto é, cada item é catalogado isoladamente.

Sobre o arranjo e a descrição, Bellotto (1991, p. 1) exemplifica como a

Arquivística trata essas questões:

A arquivística, no âmbito dos arquivos permanentes, não dispõe – e

nem pretende dispor – de códigos e tabelas universais preestabelecidas

de arranjo e descrição. Isto porque, ao contrário da biblioteconomia,

ela não trabalha com documentos múltiplos e nem com tipologias

uniformes, passíveis de se submeterem a uma normalização de

processamentos técnicos. No entanto, não se pode dizer que a

arquivística não tenha doutrina e metodologias próprias; muito menos

se pode taxá-la de isenta de princípios gerais que possibilitem o

entendimento entre seus profissionais e entre estes e os usuários dos

acervos a recolher, arranjar, descrever e divulgar.

O objeto da Arquivística é possibilitar acesso aos documentos e à informação, o

que muito aproxima essa disciplina da Biblioteconomia. O processo informacional

arquivístico passa pelo entendimento do contexto social e da atividade humana. Silva

(2002, p. 211) caracteriza, a Arquivística como

uma ciência da informação social que estuda o arquivo enquanto

sistema (semi-)fechado, não através de um dispositivo metodológico

fragmentário virado só para a componente funcional/serviço, isto é,

transferência e recuperação da informação, mas através de um

dispositivo coeso, retrospectivo e prospectivo, capaz de problematizar

em torno de leis formais ou princípios gerais, a atividade humana e

social implicada no processo informacional arquivístico.

Os conjuntos documentais e sua informação são objetos de estudo da

Arquivística e passa “por um processo de comunicação, até chegar ao receptor que toma

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conhecimento dela, a usa e a consome. A informação registrada constitui-se em

documento” (BELLOTTO, 2002, p. 22). Isto é, a Arquivística analisa “mais

precisamente, os dados que possibilitam a informação” (BELLOTTO, 2002, p. 5). Para

a autora, esses dados podem ser caracterizados da seguinte forma: arquivo como

conjuntos documentais produzidos e/ou acumulados na esfera pública ou privada ao

longo de suas funções; o documento em si, isto é, cada documento deve ser

compreendido em sua individualidade para que possa integrar um conjunto orgânico;

arquivo como entidade já que a Arquivística se detém na instituição e sua administração

própria.

O principal objetivo da Arquivística é disponibilizar o acesso à informação

jurídica e/ou administrativa a quem interessar, independente se o solicitante é uma

instituição pública, uma empresa privada, um cidadão comum ou um historiador.

Para que a informação arquivística chegue aos usuários é preciso que haja um

processo de geração do registro documental. Segundo Duranti (1994, p. 51), o

arquivista responsável pela guarda dos registros documentais deve ter em mente dois

princípios essenciais para o tratamento da informação: “1) que os registros documentais

atestam ações e transações e, 2) que sua veracidade depende das circunstâncias de sua

criação e preservação”. Isto significa que os registros documentais são o resultado das

atividades de instituições públicas ou privadas ou de pessoas e objetivam provar algum

acontecimento. O documento em si traz informações administrativas, jurídicas ou

pessoais e deve ser relacionado com os registros de assuntos afins.

O fundamental no tratamento documental na Arquivística é que nenhum

documento pode ser tratado isoladamente; sempre deve haver uma análise

informacional dos demais registros documentais gerados, acumulados e guardados por

uma entidade ou pessoa física. Por essa razão, é necessário que a documentação seja

compreendida no seu contexto de produção, para que o trabalho de organização ocorra

de forma plena.

Cada arquivo no momento de tratamento documental segue seus próprios

princípios para organizar e classificar a produção gerada, acumulada e guardada sob sua

responsabilidade. Essa situação reflete a própria instituição, as funções desempenhadas

e os usuários atendidos, assegurando dessa forma a significação da documentação

dentro do contexto da entidade.

Pela Lei nº 8.159, de 8 de janeiro de 1991, assinada pelo então Presidente

Fernando Collor de Mello, consideram-se arquivos como

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os conjuntos de documentos produzidos e recebidos por órgãos

públicos, instituições de caráter público e entidades privadas, em

decorrência do exercício de atividades específicas, bem como por

pessoa física, qualquer que seja o suporte da informação ou a natureza

dos documentos. (BRASIL, 1991).

A lei citada também reconhece que é dever do Poder Público “a gestão

documental e a de proteção especial a documentos de arquivos, como instrumento de

apoio à administração, à cultura, ao desenvolvimento científico e como elementos de

prova e informação” (BRASIL, 1991). Isto é, há o entendimento de que os arquivos são

conjuntos de documentos que devem ser protegidos pelo Estado para que possam ser

utilizados no momento de confirmação de um ato ou de uso de uma informação nas

mais diversas áreas. Os registros documentais servem aos órgãos administrativos tanto

do poder público quanto da iniciativa privada, entretanto, no decorrer do tempo se

configuram como fontes para os estudos historiográficos.

O Dicionário brasileiro de terminologia arquivística, organizado pelo Arquivo

Nacional (2005, p. 27), define arquivo de quatro formas diferentes:

1 Conjunto de documentos produzidos e acumulados por uma

entidade coletiva, pública ou privada, pessoa ou família, no

desempenho de suas atividades, independentemente da natureza

do suporte.

2 Instituição ou serviço que tem por finalidade a custódia, o

processamento técnico, a conservação e o acesso a documentos.

3 Instalações onde funcionam arquivos.

4 Móvel destinado à guarda de documentos.

As definições de arquivo tanto da lei federal quanto do Arquivo Nacional

determinam que os arquivos se configuram como a reunião de documentos produzidos e

recebidos por instituições de caráter público ou privado ou pessoa física e que devem

ser preservados e conservados para uso nas esferas administrativa, jurídica, cultural e

científica. Juntamente a essas descrições, o Arquivo Nacional expõe que arquivo é a

instituição responsável por guardar, tratar, conservar e disponibilizar os registros

documentais.

Os arquivos podem desempenhar diversas funções nos âmbitos administrativo,

jurídico, histórico e de conservação de memória tanto de instituições quanto de pessoas

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ou famílias. E para isso, os documentos seguem um ciclo vital que compreende três

idades distintas. A primeira idade se caracteriza como arquivo corrente, pois são

aqueles documentos que desempenham as funções para as quais foram desenvolvidos e

estão em uso no dia a dia da organização.

A segunda idade é a do arquivo intermediário com documentos que já

cumpriram sua função primária. Podem ainda ser utilizados, mas com menor frequência

do que os documentos da primeira idade.

Nas duas primeiras idades, os documentos são consultados pelo titular ou

recebem autorização de uso aos interessados.

Na terceira idade, a do arquivo permanente, os documentos são considerados

históricos, informativos e probatórios e devem ser recolhidos para preservação

definitiva. Esses documentos perderam seu valor administrativo ou jurídico e passaram

a ter um caráter sociocultural e científico. Bellotto (1991, p. 6) enfatiza a importância

desses registros informacionais: “os arquivos permanentes que são a matéria-prima da

história. Ali estão documentados direitos e deveres do Estado para com o cidadão e do

cidadão para com o Estado: provas e testemunhos que ficarão armazenados”.

Para que cada documento possa passar pelo ciclo vital das três idades, o

arquivista deve estar atento e ciente da importância de seu trabalho de classificação, de

análise documentária e de elaboração de resumos e índices para gerar instrumentos de

pesquisa. O profissional da informação arquivística deve ter cuidado e consciência de

que deve saber gerir adequadamente o fluxo documental da instituição. Para evitar a

perda de dados, os instrumentos de pesquisa devem ser elaborados de forma a auxiliar a

descrição dos fundos de um arquivo.

O tratamento arquivístico de arquivos permanentes se torna mais adequado

quando se organizam os documentos de uma determinada instituição ou pessoa em

fundos. Bellotto (1991, p. 79) descreve a necessidade de se preservar os documentos

afins em um fundo:

Admite-se como fundo o conjunto de documentos produzidos e/ou

acumulados por determinada entidade pública ou privada, pessoa ou

família no exercício de suas funções e atividades, guardando entre si

relações orgânicas e que são preservados como prova ou testemunho

legal e/ou cultural, não devendo ser mesclados a documentos de outro

conjunto gerado por outra instituição, mesmo que este, por quaisquer

razões, lhe seja afim.

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O princípio de proveniência ou respect des fonds é um conceito fundamental da

Arquivística quando o assunto é o tratamento de arquivos permanentes. De acordo com

o Dicionário de Terminologia Arquivística (1996, p. 61), da Associação dos Arquivistas

Brasileiros, o princípio de proveniência é caracterizado como “Princípio segundo o qual

os arquivos originários de uma instituição ou de uma pessoa devem manter sua

individualidade, não sendo misturados aos de origem diversa”. Ou seja, o conjunto de

documentos de uma instituição pública ou privada ou de uma pessoa deve ser

preservado integralmente, sem que haja agrupamento com outros fundos.

Os documentos criados devido às funções administrativas de uma entidade ou de

um indivíduo devem permanecer como conjunto, pois desagregados não conseguem

alcançar significação no arquivo. Os fundos de um arquivo podem ser subdivididos em

séries e subséries, estas também devem obedecer à mesma orientação para determinação

dos fundos. O tratamento técnico dos documentos de um arquivo é feito de acordo com

as séries, sendo portanto analisados em seu conjunto, formando séries documentais

dentro de cada fundo.

A determinação de cada fundo é uma tarefa árdua e de grande complexidade

pois depende de avaliação criteriosa e de conhecimento minucioso sobre o arquivo

acumulado por instituição ou indíviduo. Deve-se estabelecer a origem de cada

documento, a finalidade e a função de sua criação e a entidade criadora. Todo

tratamento arquivístico de descrição, de classificação, de análise e de elaboração de

instrumentos de pesquisa requer dos arquivistas cuidado e atenção para promover a

preservação e a divulgação da documentação. Bellotto (1991, p. 1) descreve um fundo

de arquivo da seguinte maneira:

[...] é um universo arqueológico a identificar, balizar, ordenar,

descrever e analisar de modo a possibilitar a preservação de sua

organicidade, de sua integridade física e a disseminação de

informações extraídas de seus elementos, colocando-as em condições

de apreensão e uso plenos.

A teoria de fundos teve início na França a partir dos desdobramentos da

Revolução Francesa, ocorrida em 1789. Com a queda do Antigo Regime, os líderes do

novo governo se voltaram para a organização arquivística e questionaram o destino da

documentação acumulada antes e depois do movimento revolucionário. Então, a

Assembleia Nacional fundou um arquivo em que deveriam ser preservados os

documentos do novo regime. No ano seguinte, esse arquivo passou a se chamar

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Archives Nationales de Paris. Em 1794, foi criado a Administração Nacional dos

Arquivos Públicos em todo o território francês cujo objetivo era a preservação dos

registros documentais anteriores à Revolução e os do novo Estado instituído.

Em 24 de abril de 1841, o conde Duchatel, Ministro do Interior da França,

publicou a circular Instructions pour la mise em ordre et le classement des archives

départamentales et communales que determinava que os documentos acumulados por

organizações ou pessoas e famílias deveriam ser arranjados por fundos.

Schellenberg (2002, p. 39-40), um dos mais importantes estudiosos da

Arquivística norte-americana, discorre na obra Arquivos modernos sobre a preservação

dos documentos em sua totalidade:

O arquivista moderno, é lógico, interessa-se pela qualidade dos

documentos que recebe de um órgão do governo. Aspira a ter a

“integridade dos documentos” preservados. Por isso, entende-se que

os documentos de um determinado órgão: a) devem ser conservados

num todo como documentos desse órgão; b) devem ser guardados,

tanto quanto possível, sob o arranjo que lhes foi dado pelo órgão no

curso de suas atividades oficiais; e c) devem ser guardados na sua

totalidade, sem mutilação, modificação ou destruição não autorizada

de uma parte deles. O valor de prova do material do arquivo para o

arquivista moderno baseia-se na maneira pela qual foram os

documentos mantidos na repartição do governo, de como passaram à

custódia do arquivo e não no sistema pelo qual eram controlados, de

per si, na repartição.

O tratamento de conjuntos documentais de arquivos permanentes, que detêm

itens importantes para a pesquisa e os estudos das mais diversas áreas do conhecimento,

deve promover o acesso da informação por parte dos usuários interessados. A descrição

deve focalizar a entidade que produziu os documentos em relação à sua origem e

funções, estrutura, classes de gênero, tipos documentais, formas de arquivamento,

formato e quantidade. Também deve voltar suas atividades para o público já que precisa

disponibilizar o maior número de elementos informativos de cada conjunto documental,

evitando dessa forma a dispersão de dados e a ambiguidade no momento da busca

empreendida por um usuário.

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2.1. Breve histórico sobre a Arquivística no Brasil1

A história da Arquivística e dos arquivos no Brasil desenvolveu-se com o

estabelecimento de vínculos com a produção europeia e norte-americana. Os estudiosos

da área buscaram, entre os anos de 1950 e 1970, as ideias vindas principalmente da

tradição francesa e norte-americana. Nas décadas seguintes, a Arquivística brasileira se

voltou também para os estudos de outros países como o Canadá e a Espanha.

A criação do Sistema de Arquivos da Fundação Getúlio Vargas (FGV), na

década de 1950, marca o pioneirismo na implantação de estudos na área arquivística no

Brasil. Com o apoio da UNESCO, a Fundação Getúlio Vargas desenvolveu um

programa nacional de bibliografia e juntamente com o Conselho Nacional de Pesquisas

(CNPq) criou o Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação (IBBD). No mesmo

período, a FGV começou a organizar projetos de organização de seu arquivo. Nesse

momento ainda não havia estudos sobre a classificação dos documentos, sendo os

métodos alfabético e geográfico os mais utilizados. Em 1961, a FGV finalmente

implantou o Sistema de Arquivos e se tornou referência para outras instituições tanto de

caráter público quanto privado.

No final dos anos 1950 e meados dos 1960, o Arquivo Nacional, sob a direção

do historiador José Honório Rodrigues, trouxe ao Brasil alguns especialistas

estrangeiros na área arquivística a fim de auxiliar na formação de profissionais. Em

1960, o vice-diretor do Arquivo Nacional dos Estados Unidos, Theodore Schellenberg

veio ao Brasil realizar algumas conferências e analisar a situação da Arquivística no

país. Algumas de suas obras ainda hoje dão respaldo aos estudos arquivísticos: Manual

de arquivos, Documentos públicos e privados: arranjo e descrição e Arquivos modernos:

princípios e técnicas.

Em 1971, houve a criação da Associação dos Arquivistas Brasileiros (AAB),

responsável por auxiliar na institucionalização da arquivística no país e na formação de

profissionais. No ano seguinte, seus membros iniciaram a organização do 1° Congresso

Brasileiro de Arquivologia, a regulamentação da profissão, a implantação de cursos de

nível superior e a criação do periódico Arquivo & Administração, cuja publicação foi

regular até 1986, sendo seu último número editado em 1999.

1 Esta parte do trabalho se baseou na obra de FONSECA, M.O.K. Arquivologia e ciência da

informação. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2005 e no site do Conselho Nacional de Arquivos (Conarq):

www.conarq.arquivonacional.gov.br.

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O Conselho Federal de Educação, em 1972, aprovou a criação de cursos de nível

superior na área de arquivística. Esse fato desencadeou debates entre os membros da

Associação dos Arquivistas Brasileiros para determinar o currículo mínimo dos cursos.

Em 1974, o curso passou a ser ministrado no Arquivo Nacional com o suporte da

Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com currículo mínimo determinado.

Na década de 1970, houve a criação de uma série de cursos de Arquivologia pelo

país como na Universidade Federal de Santa Maria (1977) e na Universidade Federal

Fluminense (1978). Em 1977, o curso do Arquivo Nacional foi absorvido pela

Federação das Escolas Isoladas do Rio de Janeiro, atual Universidade Federal do Rio de

Janeiro (UFRJ).

Em 1978, houve a promulgação da Lei n° 6.546 de 4 de julho de 1978 que

regulamentou as profissões de arquivista e de técnico de arquivo. Infelizmente, esta

última nunca foi implementada pela ausência de cursos profissionalizantes.

Após o reconhecimento como profissão com formação própria, o Conselho

Nacional de Desenvolvimento Tecnológico e Científico (CNPq), incluiu, em 1981, a

arquivologia como subárea da Ciência da Informação, o que demonstra seu

reconhecimento como área do conhecimento constituída como disciplina.

Outro destaque da área arquivística foi a criação e divulgação, a partir de 1986,

da revista Acervo, periódico institucional do Arquivo Nacional. Com publicação

semestral, a revista objetiva promover a pesquisa e a produção científica nas áreas de

ciências humanas e sociais pelo viés arquivístico.

Por iniciativa do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo

(IEB-USP) foi criado, em 1987, o Curso de Especialização em Organização de

Arquivos em nível de pós-graduação.

Na década de 1980, no contexto da redemocratização do país, houve algumas

discussões acerca de um projeto de lei para os arquivos brasileiros. Em 8 de janeiro de

1991, finalmente, a Lei n° 8.159 foi promulgada pelo Presidente da República Fernando

Collor de Mello. A Lei de Arquivos estabelecia uma política nacional de arquivos

públicos e privados. No art. 26 da lei, fixou-se a criação do Conselho Nacional de

Arquivos (CONARQ), ligado ao Arquivo Nacional, e responsável por definir as

políticas nacionais de arquivos, como órgão central de um Sistema Nacional de

Arquivos (SINAR).

Nos anos de 1990, os estudos arquivísticos se consolidam com a criação de

cursos nas universidades do país: Universidade de Brasília (1990), Universidade

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Estadual de Londrina (1997), Universidade Federal da Bahia (1997), Universidade

Federal do Espírito Santo (1998) e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1999).

Na década seguinte, outros cursos foram criados: Universidade Estadual de São

Paulo/Marília, (2002), Universidade Estadual da Paraíba (2006), Universidade Federal

da Paraíba (2007), Universidade Federal do Amazonas (2008), Universidade Federal do

Rio Grande (2008), Universidade Federal de Minas Gerais (2008) e Universidade

Federal de Santa Catarina (2009).

Algumas instituições também oferecem cursos de pós-graduação tanto nos níveis

lato sensu (especializações) e stricto sensu (mestrados e doutorados) como nos

Programas de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade de Brasília, da

Universidade Federal de Minas Gerais, na Universidade Federal Fluminense e no

Instituto Brasileiro de Ciência e Tecnologia (IBICT).

2.2. Arquivos: públicos e privados

Arquivos públicos e privados são organizações que guardam os registros

derivados da atividade de uma instituição, de uma família ou de um indivíduo ao longo

de um período determinado.

No texto “Arquivos Pessoais e Arquivos Institucionais: para um Entendimento

Arquivístico Comum da Formação da Memória em um Mundo Pós-Moderno”, o

historiador e arquivista Terry Cook discorre que há duas similaridades entre o arquivo

público e privado. Em primeiro lugar, derivam de registros de uma atividade seja ela

organizacional ou individual. Reconhece que diferentemente de livros ou obras de arte,

os documentos tanto institucionais quanto pessoais surgem “dentro de um contexto,

como parte de alguma outra atividade ou necessidade, seja pessoal, seja institucional”

(COOK, 1998, p. 131).

A outra questão levantada pelo pesquisador é que os arquivistas se valem dos

mesmos procedimentos técnicos e metodológicos para tratar, descrever, armazenar,

conservar e disponibilizar a informação com fins de pesquisa. Entretanto, expõe que em

alguns países, como os Estados Unidos, há uma distinção incômoda entre os

profissionais que tratam os manuscritos históricos e os que tratam os documentos

públicos. Os arquivistas que manuseiam documentos pessoais se aproximariam mais

dos bibliotecários, documentalistas e historiadores. E os que lidam com os documentos

públicos seriam os profissionais encarregados do serviço público. Cook (1998, p. 132)

acredita que tais afirmações são falsas:

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Essa disparidade de perspectivas, verdadeira ou não, é largamente

assumida como verdadeira pelos arquivistas do mundo inteiro, o que é

um problema, pois essas diferenças percebidas levaram, na melhor das

hipóteses, a uma divisão passiva e, na pior, a um acirrado debate entre

arquivistas das duas tradições.

Os arquivos públicos ou estatais são os responsáveis pela conservação e

tratamento de documentos gerados e acumulados nas esferas do executivo, legislativo e

judiciário em âmbito municipal, estadual e federal. Os arquivos públicos são de uso

comum, diferentemente do privado, com possibilidade de acesso e com caráter de

evidência e comprovação dos fatos. Portanto, cumprem a função de darem subsídios

administrativo, jurídico e cultural às esferas públicas dos governos municipais,

estaduais e federais e às pesquisas acadêmicas e científicas.

Os autores Marinho Júnior e Silva (1998, p. 23) apontam que um arquivo

público tem uma função social a ser cumprida e que para isso há três direções:

a) garantir o pleno acesso aos documentos e, por extensão, às

informações neles contidas, seja para fins de pesquisa acadêmica,

seja para fins de comprovação de direitos;

b) exercer, em nome da comunidade e da administração, a guarda e

respectiva proteção da memória coletiva daquela população; e

c) elaborar tantos instrumentos de pesquisa quantos forem

necessários para, por um lado, garantir uma maior vida útil dos

documentos (através da redução do contato com os mesmos) e,

por outro lado, facilitar a pesquisa por parte dos usuários criando,

sempre que possível, um vocabulário que atenda às

especificidades destes clientes.

A disponibilização de acesso às informações contidas nos documentos sob a

guarda dos arquivos públicos é essencial para que os registros possam servir de meios

de comprovação de fatos e fontes para as pesquisas acadêmicas e científicas. Marinho

Júnior e Silva também levantam a questão de que cabe aos arquivos públicos zelar pela

guarda e pela proteção da memória coletiva ali depositada. Por essa razão, é necessário

que os instrumentos de pesquisa sejam elaborados com vistas à recuperação da

informação solicitada pelo usuário de forma clara e objetiva. Dessa forma, evita-se o

manuseio, muitas vezes, desnecessário da documentação, garantindo a conservação dos

materiais e a continuidade de sua vida útil.2

Os arquivos privados correspondem à acumulação de documentos de instituições

das mais diferentes áreas ou de famílias ou indivíduos. Entidades coletivas como

2 A questão da memória coletiva e dos instrumentos de pesquisa será tratada mais a frente.

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religiosas, sociais, econômicas, políticas geram registros ao longo de seu funcionamento

e quando encerram as atividades podem disponibilizar seus arquivos para os arquivos

públicos. Quando isso ocorre, o arquivo continua com seu caráter privado, entretanto,

sob a custódia de um arquivo público.

O Art. 12 da Lei nº 8.159, de 8 de janeiro de 1991, define que “Os arquivos

privados podem ser identificados pelo Poder Público como de interesse público e social,

desde que sejam considerados como conjuntos de fontes relevantes para a história e

desenvolvimento científico nacional” (BRASIL, 1991). Mais à frente, o Art. 15

determina que “Os arquivos privados identificados como de interesse público e social

poderão ser depositados a título revogável, ou doados a instituições arquivísticas

públicas” (BRASIL, 1991).

Essa situação ocorre com o Arquivo Mário de Andrade, resultado da acumulação

de registros documentais de um escritor, em âmbito privado. Esses documentos foram

disponibilizados para pesquisa, pela família de Mário de Andrade, em 1967 a uma

instituição pública. No caso, o Arquivo do Instituto de Estudos Brasileiros, como

instituição pública subordinada à Universidade de São Paulo, é a responsável por

guardar, tratar e possibilitar o acesso do conteúdo informacional da documentação

marioandradiana.

Bellotto na obra Arquivos permanentes separa os arquivos privados de acordo

com a função de seu produtor e a finalidade para qual foi produzido e não simplesmente

com a nomenclatura de quem o produziu. Assim, há os “arquivos econômicos”, ligados

às instituições com fins lucrativos como bancos, indústrias, comércio, empresas; os

“arquivos sociais” são aqueles produzidos por organizações sem fins lucrativos como

ONGs, igrejas, sindicatos e instituições com fins lucrativos voltados para as atividades

sociais como escolas, entidades esportivas e culturais; os “arquivos pessoais”3 são

aqueles ligados à vida de uma família ou pessoa em âmbito civil e/ou profissional.

3 A pesquisa tratará mais a fundo sobre este assunto ao longo do próximo capítulo.

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3. ARQUIVOS PESSOAIS

Segundo o Art. 11 da Lei n° 8.159, consideram-se “arquivos privados os

conjuntos de documentos produzidos ou recebidos por pessoas físicas ou jurídicas, em

decorrência de suas atividades” (BRASIL, 1991). É possível perceber que a ideia de

arquivo pessoal está inserida na própria definição do que é considerado arquivo privado.

Bellotto (1991, p. 171) expõe que essa conceituação ocorre quando se trata de papéis

produzidos/recebidos pelas entidades e pelos indivíduos:

O que se pode aqui especificar é que, sendo papéis ligados à vida, à

obra e às atividades de uma pessoa, não são documentos funcionais e

administrativos no sentido que possuem os de gestão de uma casa

comercial ou de um sindicato laboral. São papéis ligados à vida

familiar, civil, profissional e à produção política e/ou intelectual,

científica, artística de estadistas, políticos, artistas, literatos, cientistas

etc. Enfim, os papéis de qualquer cidadão que apresente interesse para

a pesquisa histórica, trazendo dados sobre a vida cotidiana, social,

religiosa, econômica, cultural do tempo em que viveu ou sobre sua

própria personalidade e comportamento.

Os arquivos pessoais, após o falecimento do titular, podem ser destinados a uma

instituição pública ou privada ou permanecerem no âmbito familiar com a devida

autorização para consulta do material. Por falta de condições de manter, de conservar e

de tratar a documentação acumulada ao longo da vida profissional e pessoal de seus

entes queridos, muitas famílias preferem negociar a venda ou a doação do arquivo para

que uma entidade possa disponibilizá-lo para a pesquisa. De qualquer forma, questões

sobre direito de reprodução e publicação deste tipo de material devem ser negociadas

com os herdeiros dos titulares dos arquivos pessoais.

Os registros íntimos acumulados por um indivíduo ao longo de sua vida resultam

do seu cotidiano e das atividades desenvolvidas profissionalmente. Documentos de

identidade, certidões de nascimento ou casamento, recibos, manuscritos, fotografias,

discos, todos esses materiais se configuram como um arquivo pessoal de um político, de

um escritor, de um artista, entre outros.

Para Bellotto, o uso do arquivo pessoal acontece em dois momentos. O uso

primário corresponde à fase de acumulação e utilização em vida da documentação por

parte do titular. Seria o uso dos registros íntimos nas atividades profissionais, no âmbito

de comprovação civil e no relacionamento com outros indivíduos e instituições.

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Na fase da preservação, o arquivo pessoal passa pelo uso secundário, cujo

propósito é a utilização da documentação nas pesquisas científicas por terceiros e não

mais pelo titular. É nessa fase que

[...] a potencialidade informacional daqueles documentos transfigura-

se e multiplica-se. Poderá alcançar um campo infinitamente mais

vasto que a vida e a obra do produtor/detentor dos papéis.

Evidentemente, é nesta segunda idade, correspondente à terceira dos

papéis públicos, que este arquivo passa a interessar ao pesquisador.

(BELLOTTO, 1991, p. 180).

O interesse pelos arquivos privados ganhou vulto nas últimas décadas,

especificamente os arquivos pessoais. Pesquisas acadêmicas nas mais diversas áreas do

conhecimento se voltaram para o estudo dos manuscritos, das obras e dos registros

deixados por artistas, pintores, políticos, escritores.

No começo dos anos de 1970, foram criadas instituições responsáveis pela

guarda e preservação de arquivos pessoais como o Centro de Pesquisa e Documentação

de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) da Fundação Getúlio Vargas em 1973 e

o Arquivo Edgard Leuenroth da Universidade Estadual de Campinas em 1974. O

CPDOC da Fundação Getúlio Vargas é considerado um dos pioneiros no Brasil no

tratamento da documentação de arquivos pessoais e progressivamente vem

disponibilizando os documentos de seu acervo na Internet. Em 1998, lançou um

fascículo inteiramente dedicado à temática dos arquivos pessoais no periódico Estudos

Históricos.

Os arquivos pessoais sempre causaram fascínio e despertaram curiosidade entre

o público em geral, mas principalmente, entre os pesquisadores das mais diversas áreas

do conhecimento. Historiadores, sociólogos, antropólogos, literatos, pesquisadores da

crítica genética, jornalistas, arquivistas, entre outros, querem adentrar na intimidade de

um escritor, de um político, de um pintor. O processo de feitura de uma obra, as

matrizes de um determinado escrito, as justificativas de escolhas ou de recusas, as

versões abandonadas, as cartas trocadas com vários missivistas sobre os mais diversos

assuntos suscitam a noção de que é possível conhecer um pouco mais a vida pessoal e

profissional dos indivíduos. Os documentos pessoais, portanto, tornaram-se fontes

relevantes para as pesquisas acadêmicas.

Nas últimas décadas do século XX, a historiografia começou a se interessar

pelos arquivos privados, em especial pelos arquivos pessoais. A historiadora Ângela

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Castro Gomes em seu artigo “Nas malhas do feitiço: o historiador e os encantos dos

arquivos privados”, publicado em 1998, em Estudos Históricos, periódico da Fundação

Getúlio Vargas, discorre sobre como os arquivos pessoais seduzem e enfeitiçam os

historiadores e como é preciso ser cauteloso na análise e interpretação dos documentos

de tais arquivos.

Os registros íntimos guardados em um arquivo privado, em geral, têm por

característica a não vinculação pública. No entanto, trazem a noção de que estariam

imbuídos de um caráter de espontaneidade e de verdade. Isto é, por meio de seus

documentos, o produtor se mostraria por inteiro, sem fingimento. Sobre a ideia de

verdade que os documentos particulares despertam, Gomes (1998, p. 125) explica que

A documentação dos arquivos privados permitiria, finalmente e de

forma muito particular, dar vida à história, enchendo-a de homens e

não de nomes, como numa histoire événementielle. Homens que têm a

sua história de vida, as suas virtudes e defeitos e que os revelam

exatamente nesse tipo de material.

A autora explica, ainda, que os documentos pessoais têm sua especificidade e

que esta poderia ser chamada de “ilusão da verdade”. Esta ideia se refere à noção de que

[...] os documentos pessoais permitem uma espécie de contato muito

próximo com os sujeitos da história que pesquisamos. Neles “nossos”

atores aparecem de forma fantasticamente “real” e “sem disfarces”.

Nós, historiadores, podemos passar a conhecê-los na “intimidade” de

seus sentimentos e nos surpreendemos a dialogar com eles e até a

imaginar pensamentos. (GOMES, 1998, p. 126).

O historiador deve estar atento em relação à suposta verdade dos documentos,

pois nem sempre um fato foi tratado da forma como realmente aconteceu. Os indivíduos

estudados podem se mostrar de maneiras diversas no processo de construção de sua

imagem para a posterioridade. Portanto, não só o historiador, mas qualquer sujeito no

momento de tratar os documentos pessoais deve ter em mente a ideia de “ilusão da

verdade”. Gomes (1998, p. 126) chama a atenção para esse ponto e coloca que um

documento pessoal deve ser analisado da mesma forma como qualquer outro

documento:

É sob essa ótica que a “espontaneidade”, a “autenticidade” e a

“verdade” dos documentos pessoais precisam ser trabalhadas. De

forma alguma para ser desconsiderada, mas exatamente para ser

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refletida e problematizada, sendo associada a outros tipos de

documentação e sofrendo o crivo de um rigoroso tratamento teórico-

metodológico. Nisso os documentos pessoais em nada diferem de

todos os demais documentos históricos. Dito de outra forma, o feitiço

pode estar em toda parte, havendo apenas alguns lugares mais

perigosos que outros.

Sobre o valor probatório dos documentos pessoais, a historiadora Ana Maria de

Almeida Camargo expõe que alguns profissionais da área arquivística não conseguem

valorizar devidamente os documentos pessoais e têm dificuldades:

em realizar uma abordagem contextual dos arquivos pessoais. É como

se não houvesse sustentação teórica para afirmar o valor probatório de

certos documentos que escapam à condição de veículos ou produtos

de transações, no sentido que os arquivistas de língua inglesa

emprestam ao termo, ou seja, ações comunicadas entre duas ou mais

pessoas, ou também entre uma pessoa e um conjunto de informações

armazenadas e disponíveis a outras pessoas. Nos arquivos pessoais

haveria sempre uma zona de penumbra, marcada pela presença de

documentos que, a exemplo dos diários íntimos, não teriam força

probatória dos que decorrem de transações, e nessa medida ficariam

excluídos da área de competência dos arquivistas. (CAMARGO,

2007, p. 40).

A autora ainda coloca que mesmo não havendo uma nomeação de tais

documentos em manuais e não sendo um consenso na prática descritiva, os registros

pessoais devem passar pela aplicação do tratamento arquivístico. Entretanto, muitas

instituições acabam por direcionar a documentação para outros locais como bibliotecas

e museus ou promovem o descarte da mesma. Tais situações ocorrem pelo fato de a

documentação pessoal ser caracterizada pela profusão de suportes, ausência de

identificações e desvinculação de documentos que juntos ganhariam sentido.

Outra questão importante a respeito dos arquivos pessoais é sobre o acesso aos

documentos e a privacidade dos titulares e envolvidos. Por retratarem a intimidade dos

indivíduos, o conflito entre público versus privado ocorre. De um lado está o direito ao

acesso dos documentos para aprofundamento de pesquisas acadêmicas e científicas e

para o interesse público e de outro, a preservação da vida privada das pessoas

envolvidas.

A importância dos documentos pessoais vem crescendo com a adoção de cartas,

diários, anotações, manuscritos como fontes primárias, capazes de elucidar fatos,

retratarem uma época e detalhar as relações íntimas entre os indivíduos.

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Tendo em vista a procura pelos pesquisadores de tal documentação, o

profissional da informação arquivística deve ter em mente as questões apresentadas

acima para que possa da melhor maneira possível promover a guarda, a conservação e o

acesso dos documentos ao público interessado.

3.1. Memória e História em arquivos pessoais

Os arquivos são instituições detentoras da memória de indivíduos considerados

importantes pela história. Isto é, os rejeitados pela memória coletiva são relegados ao

esquecimento pelos grupos dominantes. Portanto, a memória coletiva esbarra na questão

do controle do Estado sobre o que deve ser preservado. Os arquivos se mostram como

locais propícios em que o controle e a preservação do passado se efetivam.

A organização de arquivos públicos e privados tem forte relação com a

preservação da memória coletiva. Os registros deixados tanto no âmbito público quanto

privado possibilitam aos historiadores e aos pesquisadores a construção do

conhecimento histórico e da memória. O historiador Ulpiano T. Bezerra de Meneses

explica como um material se torna um documento carregado de significado:

O que faz de um objeto documento não é, pois, uma carga latente,

definida, de informação que ele encerre, pronta para ser extraída,

como o sumo de um limão. O documento não tem em si sua própria

identidade, provisoriamente indisponível, até que o ósculo

metodológico do historiador resgate a Bela Adormecida de seu sono

programático. E, pois, a questão do conhecimento que cria o sistema

documental. O historiador não faz o documento falar: é o historiador

quem fala e a explicitação de seus critérios e procedimentos é

fundamental para definir o alcance de sua fala. Toda operação com

documentos, portanto, é de natureza retórica. Não há por que o

documento material deva escapar destas trilhas, que caracterizam

qualquer pesquisa histórica. (MENESES, 1998, p. 95).

A transformação de um objeto em documento é o resultado de processos de

escolha que dependem do contexto social e político de cada época. Portanto, a

construção da memória coletiva se configura de acordo com o presente com vistas às

solicitações do tempo presente. Segundo Meneses (1992, p. 22), a memória:

Não se confunde com a História, que é forma intelectual de

conhecimento, operação cognitiva. A memória, ao invés, é operação

ideológica, processo psíquico-social de representação de si próprio,

que reorganiza simbolicamente o universo das pessoas, das coisas,

imagens e relações, pelas legitimações que produz. A memória

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fornece quadros de orientação, de assimilação do novo, códigos para

classificação e para intercâmbio social.

A memória é uma construção social e um elemento essencial para reforçar a

identidade individual e coletiva. Entretanto, a memória coletiva é “não somente uma

conquista, é também um instrumento e um objeto de poder” (LE GOFF, 2003, p. 470) .

Os arquivos públicos sofrem a vigilância dos governantes que defendem os interesses

de uma memória coletiva instituída por grupos dominantes. Isto é, a memória das

minorias é esquecida e relegada a segundo plano. Le Goff (2003, p. 471) defende que

“devemos trabalhar de forma que a memória coletiva sirva para a libertação e não para a

servidão dos homens” e clama aos “profissionais científicos da memória, antropólogos,

historiadores, jornalistas, sociólogos, fazer da luta pela democratização da memória

social um dos imperativos prioritários da sua objetividade científica”.

A memória individual para se tornar coletiva precisa ser compartilhada e trazer

consigo um caráter de algo comum, introjetada no imaginário coletivo de um mesmo

grupo. A reconstrução e o reconhecimento de uma lembrança devem fazer parte da

sociedade e que haja elementos de convergência. O sociólogo Maurice Halbwachs,

criador do termo memória coletiva, expõe que uma memória individual se torna real a

partir do outro:

Não basta reconstruir pedaço a pedaço a imagem de um

acontecimento passado para obter uma lembrança. É preciso que esta

reconstrução funcione a partir de dados ou de noções comuns que

estejam em nosso espírito e também no dos outros, porque elas estão

sempre passando destes para aquele e vice-versa, o que será possível

somente se tiverem feito parte e continuarem fazendo parte de uma

mesma sociedade, de um mesmo grupo. Somente assim podemos

compreender que uma lembrança seja ao mesmo tempo reconhecida e

reconstruída. (HALBWACHS, 2006, p. 39).

O ato de lembrar é individual e só se torna real e concreto a partir do momento

em que a lembrança é compartilhada com o grupo social. Os arquivos pessoais se

tornam formas de seleção da memória já que o indivíduo ao longo de sua vida

empreendeu escolhas entre conservar ou descartar os registros pessoais e profissionais.

Mário de Andrade selecionava o que deveria ser preservado e, usualmente, destruía os

manuscritos das obras que publicava; alterações posteriores à publicação eram

realizadas nos “exemplares de trabalho”, ou seja, em um dos exemplares do livro,

separado especialmente para conter anotações do autor, tendo em vista a reedição.

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Outro meio de troca de memórias entre os indivíduos é a correspondência, pois

constitui uma forma de escrita de si e do passado. Pelas cartas, o remetente se mostra de

forma verdadeira ou com reservas, forja acontecimentos, destaca determinados assuntos,

esconde outros ou não dá a devida intensidade de emoção ao que narra.

A correspondência suscita, portanto, não só o conhecimento de quem foi o seu

remetente, mas também as redes de sociabilidade e de amizade adquiridas e

aprofundadas ao longo de sua trajetória pessoal e profissional. As cartas se destacam

nos arquivos pessoais por permitirem que a memória e as relações interpessoais sejam

colocadas em evidência, trazendo elementos para que se conheça um determinado

período histórico tanto no âmbito sociocultural quanto político. A análise, a

interpretação e o tratamento desses documentos merecem um olhar atento para que não

se caia nas “malhas do feitiço” dos arquivos pessoais, ideia tão bem desenvolvida pela

historiadora Ângela Castro Gomes.

A acumulação de documentos pessoais permite ao pesquisador conhecer mais

detidamente como a sociedade se estruturava em determinado período e como cada

sujeito construía sua imagem enquanto indivíduo social. Para o arquivista, as cartas e os

diários, enquanto documentos da “escrita de si”, possibilitam que determinados

registros possam ser contextualizados e realocados no acervo.

Os arquivos pessoais podem ser caracterizados como arquivos de memória.

Nesse sentido, o arquivista deve se voltar para as questões de recuperação da

informação vinculadas a outras temáticas como a História e a memória. Isto é, o

profissional responsável pelo tratamento de documentos arquivísticos precisa se

comprometer a proporcionar condições de acesso aos registros e preservar a memória

decorrente desse tipo de arquivo.

3.2. Arquivos pessoais em universidades brasileiras

Os arquivos, como unidades institucionais que mantêm, preservam e disseminam

informação, estão presentes nas instituições públicas, em especial nas universidades

brasileiras. Criados com intuito de dar suporte às pesquisas acadêmicas, os arquivos

fornecem fontes primárias aos historiadores, aos pesquisadores, aos estudantes e aos

interessados em geral.

No Brasil, ainda há dificuldades de acesso às fontes documentais originais,

questão que vem sendo solucionada pelos arquivos em universidades por meio da

reprodução dos documentos e disponibilização em meios digitais.

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Os arquivos em universidades se destacam por cumprir o papel de organização

das fontes primárias, de preservação da memória local e nacional e de aproximação da

informação dos pesquisadores. Isto é, permitem o cumprimento do processo de pesquisa

e de produção acadêmica.

A presença de arquivos pode ser constatada nas universidades federais de Minas

Gerais, Pernambuco, Bahia, Paraíba, Rio de Janeiro, entre outras, nas universidades

paulistas como USP, UNICAMP e UNESP. Os centros de documentação também estão

presentes na Fundação Getúlio Vargas, na Fundação Casa de Osvaldo Cruz, Fundação

Casa de Rui Barbosa, Fundação Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais etc.4 Esses

órgãos desempenham a função de promover o acesso informacional aos seus usuários

tanto do ambiente acadêmico (docentes, alunos, pesquisadores) quanto dos interessados

em geral. Também organizam e mantêm os acervos pessoais de artistas, escritores,

poetas, entre outros, já que muitas vezes os familiares dos titulares não têm condições

financeiras e conhecimento para gerir tal documentação.

Como já exposto neste trabalho, a Lei nº 8.159, de 8 de janeiro de 1991, prevê

que os arquivos privados quando identificados como de interesse público e social

poderão ser depositados ou doados a instituições arquivísticas públicas. A mesma lei, no

Art. 13, define que os arquivos privados “não poderão ser alienados com dispersão ou

perda da unidade documental, nem transferidos para o exterior” (BRASIL, 1991). O

Art. 14 trata do acesso aos documentos que “poderá ser franqueado mediante

autorização de seu proprietário ou possuidor” (BRASIL, 1991).

A lei de arquivos, portanto, define as questões relativas ao destino dos

documentos de arquivos privados e a importância que suscitam para o interesse público

e social já que carregam elementos essenciais para o conhecimento cultural da

sociedade, resultando em inúmeras pesquisas acadêmicas. Dessa forma, os arquivos

pessoais, não só no Brasil, mas também no exterior, são depositados, muitas vezes, em

universidades públicas, pois se destinam a estudos mais aprofundados nas respectivas

áreas nas quais os titulares desenvolveram suas atividades e funções. Célia Reis

Camargo explica o porquê de as universidades constituírem locais de organização e

guarda de conteúdos informacionais com vistas às pesquisas e preservação da memória:

4 Cf. CAMARGO, C.R. Os Centros de Documentação das universidades: tendências e perspectivas. In:

SILVA, Z.L. (Org.). Arquivos, patrimônio e memória: trajetórias e perspectivas. São Paulo:

UNESP/FAPESP, 1999. p. 49-63.

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Os centros universitários surgem, exatamente, com a finalidade de dar

ênfase à memória regional. A precariedade e inexistência de arquivos

públicos, sobretudo nos municípios, acarretavam perdas escandalosas

de fontes de pesquisa. A universidade, então, começa a bancar essa

tarefa, incorporando-a as suas atividades-fim. (CAMARGO, 1999, P.

59).

Para que não haja perda de fontes primárias de cunho pessoal, destinadas às

pesquisas nas mais diversas áreas do conhecimento, torna-se necessário que os centros

de documentação e os arquivos tanto públicos quanto privados se empenhem em

adquirir, seja por compra ou doação junto aos familiares dos titulares, o acervo de

escritores, de poetas, de historiadores, de políticos, etc. Belloto (1991, p. 179) reforça

que essas instituições devem mostrar “as possibilidades de sigilo e de alienação de

certos papéis pela própria família, para que a privacidade seja respeitada”.

Exemplo de respeito à privacidade ocorreu em 1997 quando a família de Mário

de Andrade solicitou à Fundação Casa de Rui Barbosa pela continuidade do lacre em

uma carta do escritor dirigida ao poeta Manuel Bandeira, pois veio à tona pelos meios

midiáticos que o documento pessoal conteria a confirmação da homossexualidade do

autor de Macunaíma. Essa carta foi a única a continuar lacrada mesmo após o prazo de

cinquenta anos da morte de Mário de Andrade, falecido em 1945.

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4. ANÁLISE DOCUMENTÁRIA E O PROCESSO DE RECUPERAÇÃO DA

INFORMAÇÃO

A Análise Documentária é uma disciplina teórica e prática ligada à Ciência da

Informação que estuda os modos de representação do conteúdo informacional no

processo de tratamento documental. Para tratar e disseminar a informação presente nos

documentos, a Análise Documentária se vale também do repertório conceitual de outras

áreas do conhecimento como a Terminologia, a Lógica e a Linguística.

A identificação das ideias mais relevantes de um texto auxilia o processo de

recuperação da informação por parte do usuário no momento em que suas necessidades

informacionais se materializam em estratégias de busca em Sistemas de Informação.

O arqueólogo francês Jean-Claude Gardin foi pioneiro em definir formalmente o

que entendia ser o campo da Análise Documentária como: “um conjunto de

procedimentos efetuados com a finalidade de expressar o conteúdo de documentos

científicos, sob formas destinadas a facilitar a recuperação da informação” (GARDIN,

1981 apud FUJITA; NARDI; SANTOS, 1998, p. 21).

Os procedimentos da Análise Documentária envolvem a análise do texto a fim

de identificar as informações mais pertinentes e a representação destas em formato

sintético e homogêneo. Durante o processo de transformação dos documentos, dois

tipos de representação são elaborados: os resumos e os índices. Kobashi (2008, p. 49)

explica que do ponto de vista metodológico, a Análise Documentária:

define-se como uma operação com textos. Primeiramente, eles são

desestruturados, isto é, analisados e sintetizados, operação fundada na

distinção entre informação essencial e acessória. A seleção é uma

tarefa complexa, na medida em que implica atribuir valor às

informações do texto. Em seguida, as informações selecionadas são

estruturadas, isto é, submetidas a processos de combinação, de modo a

convertê-los em novos textos, ditos resumos, ou em símbolos de uma

linguagem específica, dita linguagem documentária. Em ambos os

casos, os produtos são obtidos por meio de operações sucessivas de

análise e síntese, devendo os produtos resultantes manter,

necessariamente, relações de semelhança e contiguidade com o objeto

submetido à análise.

O profissional da informação, portanto, sintetiza por meio da análise o texto

original em um produto documentário. Ou seja, os procedimentos de análise e síntese

transformam o documento em outro objeto. O resumo é o resultado da fragmentação da

obra-base em um novo texto, buscando sempre preservar as ideias do original. Portanto,

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deve-se manter a maior similaridade com o texto original, não cabendo ao profissional

da informação acrescentar ao resumo ideias que o autor da obra não tenha formulado. A

relação que impera é a de busca de fidelidade ao conteúdo do documento que está sendo

analisado e sintetizado.

O propósito do resumo é dar subsídios informacionais para que o leitor tome a

decisão de consultar o documento ou não, na sua totalidade. Quanto mais elementos

forem fornecidos ao usuário, maiores condições este terá para avaliar as informações

recuperadas pelo sistema e determinar se é de interesse ao atendimento de suas

demandas.

Segundo a norma NBR 6028: 2003 da Associação Brasileira de Normas

Técnicas, o resumo deve conter uma “Apresentação concisa dos pontos relevantes de

um documento” e “ressaltar o objetivo, o método, os resultados e as conclusões do

documento. A ordem e a extensão destes itens dependem do tipo de resumo

(informativo ou indicativo) e do tratamento que cada item recebe no documento

original” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2003).

A mesma norma define três tipos de resumos:

resumo crítico: Resumo redigido por especialistas com análise crítica

de um documento. Também chamado de resenha. Quando analisa

apenas uma determinada edição entre várias, denomina-se recensão.

resumo indicativo: Indica apenas os pontos principais do documento,

não apresentando dados qualitativos, quantitativos etc. De modo geral,

não dispensa a consulta ao original.

resumo informativo: Informa ao leitor finalidades, metodologia,

resultados e conclusões do documento, de tal forma que este possa,

inclusive, dispensar a consulta ao original. (ASSOCIAÇÃO

BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2003).

A outra forma de representação da informação é feita por meio de índices. O

procedimento usado para isso é a indexação, processo que condensa ainda mais um

texto original através de palavras ou descritores. Ou seja, a indexação pressupõe a

análise do texto e sua fragmentação em um enunciado mais compacto para em seguida

ser traduzido numa representação dos assuntos principais. Entretanto, essa última

operação envolve uma linguagem diversa da usada pelo autor do conteúdo do

documento, pois segue o vocabulário controlado estabelecido pela política do Sistema

de Informação.

Na literatura sobre indexação há três correntes teórico-metodológicas: “a

catalogação de assunto (subject cataloguing) de matriz norte-americana, a indexação

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(indexing) de matriz inglesa e a análise documental (analyse documentaire), de matriz

francesa” (GUIMARÃES, 2009, p. 106).

Em A prática de indexação: análise da evolução de tendências teóricas e

metodológicas, Silva e Fujita discorrem sobre as duas principais abordagens da

indexação: a francesa e a inglesa.

A linha francesa se vale da expressão “Análise Documentária” e segue as teorias

de Gardin. Para os estudiosos dessa corrente, a indexação está inserida na Análise

Documentária já que é o resultado da fase de representação. Isto é, a indexação

representa a fase final da análise de um documento com a utilização das linguagens

documentárias em produtos documentários.

A abordagem francesa de indexação é seguida por docentes/pesquisadores do

Departamento de Biblioteconomia e Documentação da Escola de Comunicações da

Universidade de São Paulo (CBD/ECA/USP) como Smit, Kobashi, Tálamo, Lara,

Cintra. Outros pesquisadores que adotam a abordagem acima são Chaumier, Guimarães,

Cunha, Fujita, Gil Leiva, Ruiz Perez Pinto Molina.

A linha teórica inglesa se vale da expressão indexação como um processo já que

“a análise documentária e a indexação compreendem processos idênticos, incluindo-se a

análise de assuntos como etapa inicial da indexação” (SILVA; FUJITA, 2004, p. 137).

Estudiosos como Foskett, Lancaster, Campos, Van Slype, Farrow, entre outros,

representam a corrente inglesa sobre o tema.

Após mencionar as duas principais correntes teórico-metodológicas da

indexação, cabe aqui reforçar a ideia de que os produtos documentários precisam primar

pela precisão, objetividade e concisão. Outra questão a destacar é que o resumo é um

texto mais completo e detalhado do que o índice, pois mantêm pontos em comum com o

documento base. Já o índice, por sua natureza maior de condensação, usa o léxico do

vocabulário controlado e do tesauro, determinado pela instituição onde estão as obras

analisadas e sintetizadas. Dessa forma, a linguagem é muitas vezes diversa da utilizada

pelo autor do documento em questão.

Entretanto, apesar das diferenças, deve-se ter em mente que o resumo e o ato de

indexação são etapas que se completam. Quando uma busca empreendida com os

termos de uma linguagem documentária recupera um volume de informação

considerável, o usuário pode recorrer aos resumos para determinar o valor de cada

documento e tomar a decisão ou não de examinar o seu conteúdo original.

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A Análise Documentária, portanto, por meio de seus métodos e procedimentos

apresenta os procedimentos de descrição dos conteúdos informacionais dos documentos

para que possam ser localizados, disseminados e recuperados pelo usuário de um

Sistema de Informação.

Com a finalidade de desenvolver maneiras de representação do conteúdo dos

documentos, o processo de Análise Documentária ocorre por meio de três etapas: “a) ler

um texto; b) selecionar dele o conteúdo informacional considerado pertinente para usos

determinados; e, finalmente, c) representá-lo, ou seja, dar forma documentária às

informações selecionadas” (KOBASHI, 2008, p. 49).

Os três passos mencionados acima devem levar em consideração como a

informação será disseminada, como chegará ao usuário e quais os propósitos da

instituição. Ou seja, no momento de definição de como uma informação será utilizada, o

Sistema de Informação deverá seguir os objetivos previstos em sua política

institucional. Outra questão essencial é conhecer os tipos de usuários atendidos pelo

Serviço de Informação e as suas demandas informacionais. Dessa forma, o tratamento

documentário é uma atividade que requer imparcialidade já que deve levar em conta a

finalidade de produção de um texto e a qual usuário é destinado o seu conteúdo

informacional.

A finalidade de uso da informação determinará como a representação de seu

conteúdo deverá ser feita. Para isso, o profissional da informação deve estar preparado

para seguir as etapas do processo documentário.

A leitura documentária, como uma etapa importante da Análise Documentária,

deve ser realizada segundo procedimentos objetivados. Durante o processo de

tratamento do documento, o profissional da informação efetua uma leitura rápida e

dinâmica. Não é possível que a obra seja analisada no todo, “recortes” são feitos. É

preciso selecionar o conteúdo informacional mais importantes e significativas do texto

e, dessa forma, condensar as informações em produtos documentários, sempre com

vistas às demandas institucionais e dos usuários.

Isto é, como o volume de produção informacional é imenso, o leitor

documentalista precisa compreender a estrutura do texto, sem a necessidade de lê-lo

integralmente. Cintra (1987, p. 30) expõe o que entende por leitura documentária:

No trabalho de leitura, entendemos ser indispensável considerar como

entidades linguísticas estocadas, não apenas o nível da palavra, de

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blocos significativos e de frases, como também de "esquemas"

formais de organização textual. Sabemos que também na leitura para

fins documentários, o leitor não lê letra por letra, palavra por palavra e

ate mesmo não lê, frequentemente, todas as palavras do texto, quando

as sequencias são previsíveis. Sobrepondo ao texto conhecimentos

prévios de vários níveis, o leitor avança na compreensão e imprime

maior velocidade a leitura.

Portanto, a leitura documentária deve ser empreendida com a intenção de

desenvolver produtos de recuperação da informação em que o profissional hierarquiza

as informações mais relevantes do texto. Dessa forma, ao usuário é fornecida base

documentária para que possa tomar a decisão de consultar ou não o documento original

ou mesmo nem lê-lo na íntegra.

Por não ser especialista de um domínio, o leitor documentalista deve utilizar

métodos para identificar os assuntos relevantes de um texto, não importando a área de

conhecimento tratada.

O conteúdo de um documento pode ser representado por termos de uma

Linguagem Documentária. Essas linguagens podem ser classificadas em tipos, sendo as

mais conhecidas os Sistemas de Classificação, as Listas de Cabeçalho de Assuntos e os

tesauros, taxonomias e ontologias. São consideradas um meio de intermediação entre o

sistema e o usuário. Essas linguagens são utilizadas tanto na entrada do sistema de

informação, durante a indexação, quanto na saída do sistema, momento em que o

usuário consulta o sistema em busca de informação.

Por meio das Linguagens Documentárias, é possível transformar a linguagem

usada pelo autor de uma obra em uma linguagem capaz de ser aceita pelo sistema e

posteriormente, recuperada pelo usuário. Segundo Cintra et al. (2002, p. 34-35),

Linguagens Documentárias são:

instrumentos intermediários, ou instrumentos de comutação, através

dos quais se realiza a “tradução” da síntese dos textos e das perguntas

dos usuários. Está “tradução” é feita em unidades informacionais ou

conjunto de unidades aptas a integrar sistemas documentários. A

formalização das perguntas dos usuários é feita na linguagem do

próprio sistema. É por esta razão que as LDs podem ser concebidas

como instrumentos de comutação documentária.

Deve-se ressaltar que o índice, a fim de sintetizar e representar um documento,

deve ser elaborado a partir de uma Linguagem Documentária. Ou seja, transforma-se a

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Linguagem Natural do texto em uma Linguagem Documentária, reconhecida pelo

Sistema de Informação.

As Linguagens Documentárias, portanto, permitem a recuperação da informação

já que são construídas para representar o conteúdo dos documentos. Lancaster (1993, p.

13) definiu tradução como: “a conversão da análise conceitual de um documento num

determinado conjunto de termos de indexação”.

As Linguagens Documentárias são vocabulários controlados que evitam a

dispersão e a ambiguidade conceitual encontradas na Linguagem Natural. As

Linguagens Documentárias estão estruturadas e normalizadas por meio de definições

relações de sinonímia, relações lógicas e relações associativas.

O vocabulário utilizado para construção das Linguagens Documentárias deve

considerar o usuário atendido pelo sistema de informação e as suas necessidades

informacionais. Dessa maneira, o profissional da informação deverá estar apto para

realizar a conversão do léxico do produtor do conhecimento para a linguagem adotada

no sistema de informação. Segundo Novellino (1996, p. 38), a atribuição de conceitos

ao documento analisado pressupõe:

uma linguagem documentária, instrumento de padronização da

indexação, a qual visa garantir que indexadores de um mesmo sistema

ou sistemas afins usem os mesmos conceitos para representar

documentos semelhantes. Ela também é um instrumento de

comunicação ao permitir que indexadores e usuários partilhem um

mesmo vocabulário.

O tesauro como uma Linguagem Documentária é um instrumento em que há o

controle terminológico nos processos de representação e recuperação da informação.

Tálamo, Lara e Kobashi (1992, p. 198) definem o tesauro como:

um objeto cultural que registra e representa o conhecimento segundo

parâmetros estáveis e previamente determinados. Tais parâmetros, que

se materializam sob a forma de redes de relações entre descritores,

determinam não só o modo de organização e disseminação da

informação, mas também a análise dos textos. Neste último caso, dado

o volume de informação a ser indexado, tradicionalmente se utiliza o

tesauro como grade interpretativa dos textos. Descritores únicos

passam, então, a representar informações de natureza diferente. Como

resultado, cada descritor acaba por recobrir o espectro bastante amplo

de significados, no qual cabem informações contraditórias e

contrárias.

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Para a construção das Linguagens Documentárias há simultaneamente a junção

da Linguagem Natural, da Linguagem de Especialidade e da Terminologia da área em

questão. Essas linguagens se complementam já que a Linguagem Natural tem como

característica a plurissignificação dos termos, enquanto que a Linguagem de

Especialidade e a Terminologia comportam sentidos homogêneos no significado de seus

conceitos. Durante a elaboração de uma Linguagem Documentária é preciso garantir

que a polissemia, a ambiguidade e a redundância sejam eliminadas e que prevaleça um

único significado para cada termo/descritor.

As Linguagens Documentárias não têm o intuito de substituir as linguagens

mencionadas acima, mas se mostram mais apropriadas para representar o conteúdo

informacional de um texto e, dessa forma, possibilitar que o processo de recuperação e

de busca ocorra satisfatoriamente em face da produção documental crescente. Também,

não pretendem substituir os textos analisados, pois são representações de seus

conteúdos, não os documentos em si. As Linguagens Documentárias são, portanto,

índices que representam os assuntos tratados pelos autores na forma de descritores e

palavras-chaves.

Com as ideias expostas acima é possível caracterizar que os objetivos da Análise

Documentária são: identificação dos elementos relevantes de um texto, tradução dos

mesmos em produtos informacionais (resumos e índices) e oferecimento de subsídios

para que o usuário consiga recuperar informações pertinentes durante o processo de

busca.

A Análise Documentária, na indexação, pretende estabelecer palavras-chaves e

conceitos que possam traduzir o que um autor formulou por meio da Linguagem Natural

e da Linguagem de Especialidade de sua área do conhecimento para uma Linguagem

Documentária, reconhecida pelo Sistema de Informação. Para isso, o analista

documental precisa ler o texto, segmentá-lo e selecionar os termos que mais condizem

com a política institucional do Sistema de Informação e com as demandas

informacionais do público atendido.

4.1. O que são instrumentos de pesquisa em arquivos

A organização da informação visa dar acesso aos documentos e cabe ao

profissional do arquivo fornecer subsídios e apoio às pesquisas e às demandas dos

usuários. Para tal, instrumentos de pesquisa devem ser criados e aprimorados para que a

recuperação da informação ocorra de forma rápida e objetiva, seja em ambientes

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informatizados ou não. O mais importante é que o arquivista, responsável por

disponibilizar a informação, consiga auxiliar o usuário no momento em que uma

necessidade informacional demande estratégias de busca.

A fim de facilitar a busca por uma informação, os arquivos devem oferecer ao

usuário elementos capazes de facilitar a pesquisa. Sabe-se que essa situação nem sempre

ocorreu no Brasil. Em 1973, a Associação dos Arquivistas Brasileiros (AAB) criou um

grupo para discutir e definir os instrumentos de pesquisa essenciais em um arquivo.

Quatro tipos foram selecionados: guia, catálogo, inventário e repertório.

Instrumentos de pesquisa são elaborados com o fim de identificar, localizar

dados e dar suporte aos estudos dos pesquisadores. Bellotto (1991, p. 108) assim define

os instrumentos de pesquisa: “são essencialmente obras de referência que identificam,

resumem e localizam em diferentes graus e amplitudes os fundos, as séries documentais

e/ou unidades documentais existentes em um arquivo permanente”.

Como o acervo de um arquivo, diferentemente de uma biblioteca, não é de livre

acesso ao público, torna-se essencial a criação e aprimoramento dos instrumentos de

pesquisa. Isto é, um estudante ou um pesquisador necessitam da documentação ao seu

alcance. Bellotto (1991, p. 106) explica as consequências de uma boa ou má qualidade

na elaboração de um instrumento de pesquisa:

A qualidade de um arquivista transparece na precisão dos

instrumentos de pesquisa que ele elabora e na medida em que seu

trabalho satisfaz ao pesquisador. Ao tornar claro e profícuo o encontro

entre documento e historiador, ele está cumprindo a missão que lhe foi

destinada. Um instrumento de pesquisa incompleto pode esterilizar

uma pesquisa, uma vez que o acervo não é de acesso do consulente e

nem um meio de busca será refeito, dada a vastidão de documentação

a ser descrita.

O arquivista elabora procedimentos capazes de identificar e selecionar elementos

na documentação e fará a tradução dos mesmos em produtos documentários (resumos e

índices) para atender não só às necessidades informacionais do historiador, mas de

qualquer tipo de usuário atendido pelo arquivo.

A análise e a síntese do conteúdo informacional a ser recuperado pelos

instrumentos de pesquisa devem ser empreendidas de maneira a eliminar ambiguidades,

distorções e perda informacional. Processos de Análise Documentária realizados sem

rigor podem levar à não recuperação de documentos pertinentes aos usuários do Sistema

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de Informação. Por isso, há a necessidade de que a equipe de arquivistas tenha

conhecimento do público atendido e seus anseios diante da documentação preservada.

Além de se atentar para o usuário que realiza pesquisas no arquivo, é preciso ter

em mente que os instrumentos de pesquisa, como representações dos documentos,

devem ser elaborados e estruturados visando respeitar a estrutura e o tipo de instituição

produtora do acervo. Isto é, o princípio da proveniência também precisa ser seguido no

momento de estabelecimento dos instrumentos de pesquisa com o intuito de que as

informações organizadas em fundos não se percam.

Os instrumentos de pesquisa têm por objetivo, através de processos descritivos,

promover a circulação do conteúdo informacional de documentos isolados ou em

conjunto para que ocorra a recuperação da informação. A seguir, faz-se a apresentação

sucinta dos principais instrumentos de pesquisa5:

Guia: deve conter informações genéricas sobre a estrutura e a utilização

do arquivo. Bem como traçar um histórico, a origem, a quantidade de

documentos, a estrutura, a demarcação de tempo da documentação de

cada fundo. É um instrumento de pesquisa descritivo, objetivo e prático.

Caracteriza-se por ser um instrumento abrangente que tem por finalidade

atingir o grande público e por essa razão, deve trazer as seguintes

informações:

Nome do arquivo;

Endereço e telefone;

Horário de funcionamento e período de consulta do acervo;

Regulamento da sala de consulta, gratuidade ou não da consulta

e suas restrições;

Exigências para se tornar um consulente;

Recursos oferecidos (Xerox, microfilmagem, digitalização);

Nome do diretor e dos principais colaboradores do arquivo;

Estrutura da organização interna da instituição;

5 Para caracterizar os principais instrumentos de pesquisa foram utilizadas as seguintes obras: PAES,

M.L. Arquivo: teoria e prática. 3. ed. rev. ampl. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004 e BELLOTTO, H.L.

Arquivos permanentes: tratamento documental. São Paulo: T. A. Queiroz, 1991.

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Descrição de cada fundo: histórico; origem; quantidade de

documentos; período abrangido pela documentação; síntese das

séries;

Informações sobre os documentos mais antigos do arquivo;

Indicação de outros instrumentos de pesquisa.

Inventário: deve trazer informações sobre a origem do fundo

inventariado e como este foi incorporado ao acervo. É um instrumento

parcial já que descreve partes do acervo como os conjuntos e unidades

documentais. A sequência dos verbetes deve seguir a mesma ordem do

arranjo. O inventário pode descrever um fundo por completo, uma série

ou até mesmo uma unidade de arquivamento. Há dois tipos de

inventário:

Inventário sumário: as unidades de arquivamento e suas divisões

são descritas de forma sucinta, devendo seguir o arranjo

adotado. É um instrumento preliminar de descrição de uma série

ou subsérie de um fundo.

Inventário analítico: as unidades de arquivamento de um fundo

são descritas em detalhes. Este instrumento de pesquisa

proporciona um conhecimento descritivo minucioso de cada

unidade.

Catálogo: segue um critério temático, cronológico, onomástico ou

geográfico de todos os documentos de um ou mais fundos. Descreve de

forma sucinta ou detalhada os documentos sem se deter na ordem do

arranjo. Dois tipos de catálogo podem ser elaborados:

Catálogo sumário: se volta para a identificação das séries,

seus temas e conteúdos sucintamente. O arquivista deverá

escolher como será montagem do catálogo: onomástica,

geográfica ou temática. Ao usuário será fornecido apenas que

determinado assunto se encontra na série ou no fundo, mas

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precisará se valer da consulta para saber como se veicula nos

documentos.

Catálogo analítico: a descrição é feita sob cada documento ou

em pequenos agrupamentos. O fator que norteia a

organização do catálogo analítico é a descrição dos verbetes

em torno de um assunto e o não seguimento da ordem de

guarda das unidades de arquivamento no acervo.

Repertório: descreve detalhadamente documentos previamente

selecionados de um ou mais fundos de acordo com critérios que podem

ser cronológico, onomástico, temático ou geográfico. Não é um

instrumento de pesquisa obrigatório em um arquivo, geralmente são

elaborados para eventos ou catálogos de exposições, pois de detém num

assunto específico. É a seleção de documentos de uma determinada

temática presentes em um ou mais fundos do acervo.

Índices: são listas sistemáticas que apontam nomes, lugares ou assuntos

em ordem alfabética presentes nos documentos. Remete o leitor à

localização de determinados termos indexados nos textos. Podem ser

elaborados como obras independentes ou como parte complementar dos

documentos indexados.

Após esta breve exposição, é preciso enfatizar que os instrumentos de pesquisa

devem ser constantemente atualizados no intuito de manter a qualidade, a precisão e a

consistência dos conteúdos extraídos e assim proporcionar um serviço eficiente de

recuperação de informação.

Pretendeu-se neste item, mostrar que os instrumentos de pesquisa desempenham

papel fundamental em ambientes arquivísticos, pois diferentemente de uma biblioteca

de acesso aberto, o usuário não pode percorrer o acervo e manusear as suas obras. No

arquivo, portanto, os instrumentos de pesquisa se configuram como a primeira interface

de contato do pesquisador com a documentação guardada e preservada por uma

determinada instituição. Torna-se essencial que os arquivistas tenham consciência da

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importância de seu trabalho em selecionar e traduzir elementos informacionais para

posterior recuperação de documentos através dos instrumentos de pesquisa.

4.2. Análise documentária, construção de instrumentos de pesquisa e recuperação

informacional na arquivística

A Análise Documentária é um processo que pressupõe a leitura de um texto, a

seleção de elementos informacionais e a tradução destes em uma linguagem capaz de

ser reconhecida pelo sistema informacional. Em sua essência, a Análise Documentária

busca por meio da representação de conteúdos informacionais de documentos,

empreender a recuperação e a disseminação da informação.

Os procedimentos teóricos e metodológicos utilizados pela Análise

Documentária podem ser aplicados no ambiente arquivístico no processo de elaboração

de instrumentos de pesquisa com vistas à recuperação da informação. Isto é, a Análise

Documentária contribui para que uma informação arquivística seja recuperada de forma

rápida e objetiva.

Os instrumentos de pesquisa, portanto, podem ser construídos com base nos

pressupostos da Análise Documentária já que pretendem efetuar o controle de

vocabulário e, assim, solucionar as questões da recuperação da informação arquivística,

do acesso à documentação e da disseminação do conteúdo informacional aos usuários

dos arquivos.

A elaboração de instrumentos de pesquisa em arquivos, com o suporte da

Análise Documentária, também pode ser feita no momento de descrição das séries que

integram um fundo, no processo de composição de resumos para os documentos ou para

as séries e na construção de índices de assuntos de uma série ou um fundo.

A Análise Documentária, portanto, pode ser aplicada no ambiente arquivístico

em várias etapas, como no momento em que um documento é analisado e sintetizado e

o seu conteúdo informacional é traduzido para produtos documentários como resumos e

índices.

A análise de um documento arquivístico pressupõe o levantamento de algumas

informações como espécie documental, autoria, órgão produtor, finalidade do conteúdo

e data para que o usuário possa compreender a razão de produção de um determinado

documento e como este está integrado a um fundo. Segundo a ISAD(G), norma geral

internacional de descrição arquivística, há cinco elementos essenciais que devem ser

identificados em um documento ou conjunto documental com vistas a um intercâmbio

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mundial de descrição informacional, são eles: código de referência, título, datas de

produção dos documentos, nível de descrição e dimensão da unidade de descrição

(CONSELHO INTERNACIONAL DE ARQUIVOS, 2000).

O pesquisador André Porto Ancona Lopez na obra Como descrever documentos

de arquivo: elaboração de instrumentos de pesquisa coloca que a descrição arquivística

deve ocorrer durante o processo de classificação. Caso isso não aconteça, o trabalho

descritivo é prejudicado por falta de informações preliminares oriundas do processo de

classificação, tornando mais moroso o tratamento documental. O autor expõe seu ponto

de vista em relação à importância que deve ser dada à descrição dos documentos

arquivísticos:

A organização arquivística de qualquer acervo pressupõe não apenas

as atividades de classificação, mas também as de descrição. Somente a

descrição arquivística garante a compreensão ampla do conteúdo de

um acervo, possibilitando tanto o conhecimento como a localização

dos documentos que o integram. Nesse sentido, podemos afirmar que

as atividades de classificação só conseguem ter seus objetivos

plenamente atingidos mediante a descrição documental. Sem a

descrição, corre-se o risco de criar uma situação análoga à do

analfabeto diante de um livro, que ele pode pegar e folhear, mas ao

qual não pode ter acesso completo por não possuir meios que lhe

permitam compreender a informação. A classificação arquivística,

desprovida das atividades de descrição, somente é inteligível para as

pessoas que organizaram o acervo. (LOPEZ, 2002, p. 12).

Outra questão, a respeito da Análise Documentária em arquivos, trata da

linguagem usada nos textos examinados pelo documentalista e sua transformação por

meio de termos definidos em uma linguagem documentária. Ou seja, é necessária a

construção de um vocabulário para determinar quais os termos capazes de representar os

assuntos tratados nos documentos e nas séries documentais.

O uso de um vocabulário controlado se mostra de suma importância em um

sistema informacional em que há grande quantidade de documentação, como o arquivo,

pois sua utilização auxilia na solução de questões como perda e dispersão informacional

e ambiguidade conceitual.

A construção de um vocabulário controlado, segundo Smit e Kobashi (2003, p.

20-21), parte dos seguintes pressupostos:

- Tamanho do arquivo e projeção de crescimento, no que diz respeito

à variedade de tipos documentais presentes no mesmo;

- Área de atuação da instituição;

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- Objetivos da instituição e determinação de prioridades no

atendimento por parte do arquivo.

As autoras demonstram claramente que cada instituição deve construir o seu

próprio vocabulário, pois esse processo depende de fatores como o tipo de arquivo e seu

tamanho, a quantidade e a variedade da documentação, a área de atuação da instituição

mantenedora do arquivo e o usuário que acessa a informação arquivística.

O controle de vocabulário é uma forma de organização e recuperação da

informação e “um meio para produzir confiança no sistema de organização e busca de

informações arquivísticas” (SMIT; KOBASHI, 2003, p. 15).

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5. ARQUIVO MÁRIO DE ANDRADE: UM ESTUDO DE CASO

O intuito de analisar a recuperação do conteúdo informacional do Arquivo Mário

de Andrade surgiu durante as minhas idas ao Instituto de Estudos Brasileiros a fim de

buscar documentos pertinentes à elaboração da minha dissertação de mestrado Edição

da Correspondência Mário de Andrade & Ascenso Ferreira e Stella Gris Ferreira –

1926-1944, orientada pelo Prof. Dr. Marcos Antonio de Moraes, no Programa de Pós-

Graduação Culturas e identidades brasileiras do Instituto de Estudos Brasileiros da

Universidade de São Paulo, entre 2009 e 2012.

Durante o processo de pesquisa, não só me interessaram as 138 cartas enviadas

pelo casal Ferreira ao poeta Mário de Andrade, mas também os documentos e os

manuscritos mencionados pelos missivistas ao longo da correspondência que durou

quase duas décadas. A fim de entender o diálogo epistolar travado entre as três

personalidades, foi preciso consultar e analisar algumas das fontes primárias do acervo

como recortes de jornais, manuscritos, receitas culinárias, programas de música e de

teatro, correspondência de terceiros.

Antes de consultar os documentos, houve a necessidade de empreender buscas

pelos instrumentos de pesquisa oferecidos pelo arquivo. Para cada tipo de documento,

havia um catálogo impresso diferente, o que demandava tempo e esforço para encontrar

informação pertinente. Por exemplo, para localizar uma fotografia do poeta

pernambucano Ascenso Ferreira, era preciso consultar quatro volumes do catálogo de

fotografias do acervo de Mário de Andrade, organizado em ordem alfabética.

As dificuldades descritas acima foram sentidas durante a minha pesquisa de

mestrado e é muito satisfatório saber que um catálogo eletrônico foi elaborado a fim de

sanar os obstáculos encontrados pelos consulentes. Ainda é possível empreender busca

informacional pelos catálogos impressos, disponíveis no arquivo. Entretanto, o catálogo

eletrônico é uma ferramenta mais prática e fácil de ser usada.

Portanto, este trabalho pretende analisar se o catálogo eletrônico está

recuperando de fato o conteúdo informacional dos documentos do escritor paulista e

dessa forma, poupar tempo e esforço do usuário. Antes de analisar o catálogo eletrônico,

apresentamos, a seguir, breves informações sobre o Instituto de Estudos Brasileiros.

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5.1. Instituto de Estudos Brasileiros: responsável pela guarda do Arquivo Mário de

Andrade

O Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB-USP) foi

fundado em 1962, época de modernização do país, por Sérgio Buarque de Holanda

(1902-1982). A fundação do instituto ocorreu no governo de Carlos Alberto Alves de

Carvalho Pinto (1959-1962) e durante o reitorado do Prof. Dr. Antonio Barros de Ulhôa

Cintra (1960-1963).

O historiador, jornalista, crítico literário e professor, autor de obras como Raízes

do Brasil (1936) e Visão do Paraíso (1959), traçou para o IEB uma missão que visava à

reflexão crítica sobre a sociedade brasileira articulando as áreas de ciências humanas.

Em junho de 1962, Sérgio Buarque dirigiu ao diretor da Faculdade de Filosofia,

Ciências e Letras (FFCL) da USP, atual Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências

Humanas (FFLCH), Prof. Dr. Candido Lima da Silva Dias, a proposta de criação do

IEB. Segue um trecho da carta:

Presentemente o estudante que conclui o seu curso de História do

Brasil, mormente quando não deseje devotar-se unicamente ao

exercício de magistério secundário, tende a ignorar ou a desaprender,

mais cedo ou mais tarde, a utilização das fontes, a localização do

documentário conservado em arquivos de São Paulo. [...] É inútil

esperar que os cursos regulares ou mesmo os de especialização que

possa ministrar a cadeira de História da Civilização Brasileira se

achem ou possam achar-se com o tempo em condições de preencher

todas essas lacunas. Ou ainda que os estudantes, uma vez terminado o

curso, estejam sempre em condições de guiar-se por si sós entre o

emaranhado das questões que envolveria uma investigação histórica

acurada.6

Para Sérgio Buarque, os cursos da FFCL eram voltados para a formação de

professores de educação secundária e a isso deveria ser acrescentada a preparação dos

alunos para a pesquisa histórica. O historiador propôs, então, ao diretor da FFCL que o

Instituto de Estudos Brasileiros fosse criado para efetuar o papel de formador de

pesquisadores em temas brasileiros. Caldeira (2002, p. 54), na obra IEB: origem e

significados, analisa a criação do Instituto e os propósitos de Sérgio Buarque de

Holanda:

6 Carta de Sérgio Buarque de Holanda dirigida ao Diretor da FFCL da USP, propondo a criação do IEB.

Original integrante do Processo RUSP 15537/62. Arquivo do IEB. A reprodução do original consta no

livro de CALDEIRA, J.R.C. IEB: origem e significados (Uma análise do Instituto de Estudos Brasileiros

da Universidade de São Paulo). Prefácio de Antonio Candido. São Paulo: Oficina do Livro Rubens Borba

de Moraes, 2002. p. 191-192.

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Ao propor a criação do IEB, ele [Sérgio] pretendia aproximar os

pesquisadores universitários dos documentos, sobretudo os mais raros

e inéditos. Na sua visão, somente a pesquisa multidisciplinar baseada

na análise de fontes primárias poderia possibilitar o entendimento da

civilização brasileira, cuja compreensão estava a requerer esforço

contínuo e coletivo de seus analistas.

Desde sua criação, portanto, o IEB se mostra como um importante lugar onde

pesquisadores conseguem realizar suas pesquisas acadêmicas sobre o Brasil. Seu

reconhecimento se efetiva por meio de trabalhos desenvolvidos pelo seu corpo docente

e técnico, de outros professores da USP e de outras instituições e centros nacionais e

internacionais. O IEB com sua proposta inovadora congrega pesquisas nas mais

diversas áreas das humanidades referentes aos estudos brasileiros.

O IEB reafirma o seu aspecto multidisciplinar de ensino, pesquisa e extensão por

meio de seu regimento, instituído pela Resolução nº 5831, de 12 de abril de 2010. O

Artigo 2º determina as finalidades da instituição:

I - desenvolver métodos e técnicas de investigação em Ciências

Humanas, Letras e Artes, assim como realizar, em caráter permanente,

pesquisas relacionadas com os estudos brasileiros;

II - divulgar os resultados obtidos mediante projetos, palestras, cursos,

seminários, intercâmbios, estágios, exposições e publicações;

III - promover cursos de Pós-Graduação nos níveis de Mestrado e

Doutorado, disciplinas de Graduação, bem como cursos e atividades

de Cultura e Extensão Universitária;

IV - preservar, organizar e divulgar seu acervo, colocando-o a serviço

da atividade de pesquisa e da coletividade. (UNIVERSIDADE DE

SÃO PAULO, 2010).

Ao longo de sua trajetória, o IEB conseguiu organizar uma variedade de acervos

das mais diversas áreas do conhecimento que pertenceram a historiadores, geógrafos,

músicos, artistas plásticos, poetas, teatrólogos, entre outros, como: Mário de Andrade

(compra em 1968), Guimarães Rosa (compra em 1973), Graciliano Ramos (doação em

1980 e 1984), Anita Malfatti (doação em 1989), Camargo Guarnieri (doação em 2000),

Caio Prado Jr. (compra em 2001), Lélia Abramo (doação em 2003), Milton Santos

(doação em 2009).

O IEB, dessa forma, é uma das mais importantes Brasilianas ao abrigar acervos

complexos voltados aos estudos de temas brasileiros. As primeiras Brasilianas

adquiridas pelo IEB foram os acervos do escritor e colecionador Yan de Almeida Prado,

comprado em 1962, com mais de 10 mil volumes de títulos originais do período

colonial e Brasil independente, principalmente obras de viajantes dos séculos XVI ao

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XX e do advogado e também colecionador Alberto Lamego, adquirido em 1968, com

obras raras como documentos relativos à Companhia de Jesus e disputa entre Espanha e

Portugal sobre a Bacia do Prata. A coleção de Alberto Lamego abriga a obra Crônica de

Nuremberg (1493) de Hartmann Schedel, a mais antiga do IEB.

A guarda de arquivos pessoais de artistas, literatos, acadêmicos, entre outros,

coloca o IEB como uma instituição capaz de acolher e dar sustentação para que os

pesquisadores nacionais e internacionais possam desenvolver seus estudos sobre a

realidade brasileira por meio das coleções de obras raras, documentos pessoais, livros,

manuscritos, fotografias.

Com a aquisição de diversos arquivos pessoais ao longo de sua trajetória, houve

a necessidade de aprofundamento nas formas de tratar, organizar e pesquisar os

documentos. Em 1987, o IEB organizou o Curso de Especialização em Organização de

Arquivos sob a coordenação das professoras Heloísa Liberalli Bellotto e Yêdda Dias

Lima, do IEB, e Johanna Wilhelmina Smit, da ECA. O curso foi ministrado anualmente

até 2009 e seu principal objetivo foi explicitado em nota sobre a terceira edição do

curso: “proporcionar conhecimento de caráter teórico e prático na área de Arquivologia

e capacitar pessoal de nível superior para atuar na administração de arquivos e

organização de documentos” (ORGANIZAÇÃO, 1988, p. 186).

O IEB, portanto, trouxe uma importante contribuição para os campos da

Biblioteconomia e da Arquivologia ao desenvolver atividades de pesquisa, tornando-se

pioneiro em São Paulo. Mesmo não tendo uma área específica de Biblioteconomia e

Documentação, manteve por mais de duas décadas o Curso de Especialização em

Organização de Arquivos.

Os diversos conjuntos documentais pertencentes ao IEB são tratados e

armazenados nos seguintes setores: Arquivo, Biblioteca e Coleção de Artes Visuais. De

acordo com o suporte e tipo documental, cada item é destinado a um setor com o intuito

de preservação, conservação e disponibilização de acesso a pesquisadores e interessados

em temas relacionados à realidade brasileira.

Cada setor da instituição recebe os itens de acordo com a especificidade dos

mesmos a fim de tratá-los e preservá-los. As obras publicadas (livros, periódicos) são

destinadas à Biblioteca, os documentos textuais (manuscritos, fotografias, cartas) e

audiovisuais ao Arquivo e as obras de arte e objetos tridimensionais à Coleção de Artes

Visuais.

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A Biblioteca, originada da Brasiliana do colecionador Yan de Almeida Prado,

comprada em 1962, conta atualmente com aproximadamente 180 mil volumes entre

livros, dissertações de mestrado, periódicos, partituras. O acervo é composto pelas

coleções de indivíduos como Mário de Andrade, Guimarães Rosa, Graciliano Ramos,

Caio Prado Jr., Camargo Guarnieri, Ernani Silva Bruno, José Aderaldo Castello, José

Honório Rodrigues, Marta Rossetti Batista, Milton Santos, Pierre Monbeig, entre

outros. Além de manter cada coleção em sua unidade e com o nome de seu proprietário,

o Instituto possui uma Coleção Geral que vem crescendo constantemente por meio de

compra, permuta e doação.

O Arquivo é composto por aproximadamente 450 mil documentos distribuídos

entre 91 fundos e coleções, documentação resultante de pesquisa e documentação avulsa

e geral. O Arquivo começou em 1968 junto à Biblioteca do IEB, mas houve um

crescimento considerável com a incorporação de arquivos pessoais. Em 1974, portanto,

o Arquivo se tornou um setor independente dentro da instituição.

A Coleção de Artes Visuais surgiu, em 1968, com a compra da coleção de Mário

de Andrade, composta por itens relacionados à religião e magia, artes plásticas e

Revolução de 1932. Até 1981, a Coleção contava apenas com o acervo marioandradiano

e, a partir de então passou a receber novas aquisições. Atualmente, reúne oito mil peças

entre pinturas, gravuras, esculturas e se configura como um dos mais importantes

acervos de obras sobre o modernismo brasileiro. Esse setor é responsável por organizar

exposições decorrentes de pesquisa no acervo documental do IEB. Isto é, as mostras

realizadas na sala Marta Rossetti Batista congregam estudos empreendidos na

Biblioteca, no Arquivo e na Coleção de Artes Visuais.

Em 1970, o IEB realizou sua primeira exposição, Recôncavo Baiano, em que

foram exibidas fotografias de igrejas, engenhos, imagens sacras, de indivíduos da

região. No ano de 1972, em comemoração aos 50 anos da Semana de Arte Moderna, a

exposição Brasil: 1º Tempo Modernista (1917/29), considerada a mais importante sobre

o modernismo brasileiro, foi idealizada pelas pesquisadoras Marta Rossetti Batista, Telê

Porto Ancona Lopez e Yone Soares de Lima. No mesmo ano, a exposição deu origem

ao um livro, publicado pelo IEB. As exposições, dessa forma, trazem o acervo para

perto do público e se mostram como um meio de unir as fontes documentais do acervo e

as pesquisas dos estudiosos.

Nos primeiros anos de fundação do instituto, criou-se, em 1965, no Setor

Cultural do IEB, o Departamento de Produção de Filmes Documentários cujo objetivo

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era produzir documentários sobre o Brasil. Entre 1966 e 1968, alguns filmes de curta

duração com predominância da temática voltada para o meio rural foram realizados:

“Auto de Vitória” (1966), direção de Geraldo Sarno; “Antologia do Cangaço” (1966),

de Francisco Ramalho Jr.; “Casa de Mário de Andrade” (1968), direção de Sérgio

Muniz e Thomas Farkas. A partir de 1970, não há informações sobre outros filmes

produzidos pelo instituto.

O IEB também conta com um Laboratório de Conservação e Restauro, criado

em 2003, especializado em papel, suporte mais presente no acervo. O Setor de

digitalização contribui desde 2004 para a disponibilização da documentação. Em média

produz 100 mil imagens digitais/ano e assim, atende não só os projetos e a equipe

técnica e de docentes do próprio instituto como também os pesquisadores das demais

unidades da USP e de instituições nacionais e estrangeiras.

Em relação aos cursos, o instituto não mantém curso de habilitação específica de

graduação, mas o grupo de docentes ministra disciplinas optativas nas áreas de História,

História Econômica, Literatura, Música, Geografia, Antropologia, Sociologia e Artes

com o intuito de disseminar as pesquisas desenvolvidas na instituição referentes aos

estudos de temas brasileiros.

Em abril de 2008, foi criado o programa multidisciplinar de Pós-Graduação em

“Culturas e Identidades Brasileiras”, com área de concentração em “Estudos

Brasileiros” e composto de duas linhas de pesquisa: “Brasil: a Realidade da Criação, a

Criação da Realidade” e “Sociedade e Cultura na América Portuguesa e no Brasil”.

Implantado em 2009, o programa tem como objetivo o desenvolvimento de pesquisas e

reflexões sobre a realidade brasileira com viés multidisciplinar.

Desde 1966, o IEB publica a Revista do Instituto de Estudos Brasileiros de

caráter interdisciplinar. Com o intuito de divulgar ensaios e pesquisas sobre o Brasil, o

periódico edita semestralmente ensaios, artigos originais e inéditos e resenhas

relacionados aos estudos brasileiros.

O IEB se mostra como um importante centro de pesquisas para a comunidade

acadêmica e para os estudos brasileiros. A guarda e a conservação de arquivos pessoais

se torna essencial no cenário acadêmico e científico ao suscitar mestrados, doutorados e

pós-doutorados a partir das fontes primárias. Sua rica documentação sobre a realidade

brasileira coloca o IEB como um dos mais relevantes organismos universitários sobre o

tema.

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5.2. Arquivo Mário de Andrade: fonte para pesquisas acadêmicas

O Arquivo Mário de Andrade foi adquirido pela Universidade de São Paulo em

1967 e doado ao Instituto de Estudos Brasileiros no ano seguinte. O professor Antonio

Candido, casado com a prima de Mário de Andrade, Gilda de Mello e Souza, sugeriu ao

então diretor do IEB, José Aderaldo Castello a compra do arquivo do escritor paulista.

Antonio Candido expôs em carta como o acervo era “constituído em vida por Mário de

Andrade, composto de biblioteca, com cerca de 15 ou 16 mil volumes, arquivo e

fichários, preciosas coleções de desenhos, gravuras, imagens, ‘ex-votos’, quadros e

esculturas” (CANDIDO apud CALDEIRA, 2002, p. 73). A recomendação foi acatada

pelos conselheiros do IEB em reunião de quatro de novembro de 1966.

Após a aquisição do acervo do intelectual Mário de Andrade, Antonio Candido

contou com o auxílio de três estagiárias para colocar em execução o processo de análise

do material: Telê Ancona Lopez, Maria Helena Grembecki e Nites Feres. As três

estudantes citadas se tornaram, posteriormente, importantes pesquisadoras da obra de

Mário de Andrade, com destaque para Telê Ancona Lopez que se tornou professora

livre-docente em Literatura Brasileira na FFLCH/USP e professora titular no IEB/USP.

Até o ano de 2008, foi curadora do Arquivo Mário de Andrade.

Alocada na residência do escritor na rua Lopes Chaves, nº 546 no bairro da

Barra Funda, o acervo foi cuidado pelo então amigo José Bento Faria Ferraz.

Convidado, em 1936, para ser secretário particular e uma espécie de bibliotecário, Zé

Bento, como era conhecido, esteve à frente da organização do material até a morte de

Mário, em 1945.

A documentação marioandradiana estava ordenada em envelopes e pastas de

cartolina, sem a utilização de caixas. As cartas estavam dentro de pastas lacradas, a

organização inicial foi registrada, porém não mantida. Em entrevista Telê Ancona

Lopez explicou a disposição original do arquivo estudado em questão:

Esse registro nos auxiliou, pois, no caso de carta sem data, contígua a

outra, datada, podia-se inferir o ano, o mês etc. Outros conjuntos ou

séries do arquivo estavam fisicamente separados, mas não havia um

inventário, uma listagem, uma organização precisa. (LOPEZ, 2013).

Com cerca de 30.000 documentos, o acervo de Mário de Andrade se mostra

como uma fonte essencial para o estudo sobre o modernismo brasileiro. A

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documentação pertencente ao escritor paulista é indispensável para quem pretende

aprofundar os estudos sobre a primeira metade do século XX no Brasil.

O conjunto de recortes de jornais, cartas, folhetos de cordel, discos, partituras,

manuscritos, programas musicais e de teatro, fotografias foram reconhecidos pelo seu

valor histórico e cultural ao ser tombado, em 1995, pelo Instituto do Patrimônio

Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

Por meio dos arquivos pessoais podemos delinear a biografia de um artista e o

processo de criação de suas obras desde uma primeira ideia presente em cartas e

manuscritos, uma intenção de pesquisa até um pedido de crítica e de recepção a fim de

reformular uma obra. No caso de Mário de Andrade podemos acrescentar a isso o seu

esforço em propagar o ideário modernista e o seu projeto de brasilidade por meio de

suas cartas, destinadas a diversos correspondentes.

Os manuscritos, os recortes de periódicos, as fotografias e a correspondência de

Mário de Andrade estão sob a responsabilidade do IEB junto com sua biblioteca e

coleção de obras de arte. Por meio desse instituto é possível percorrer a trajetória

intelectual de um incansável pesquisador em busca de detalhes minuciosos das

manifestações populares espalhadas pelo Brasil. Este material é de suma importância

para que sejam entendidas mais detalhadamente a cultura e a literatura produzidas entre

as décadas de 1920 e 1940.

Através da documentação de Mário de Andrade é possível perceber como a

temática do nacionalismo e do sentir-se brasileiro se desdobra. Esse vasto conjunto de

documentos, livros, periódicos, obras de arte e objetos de folclore reflete a trajetória

intelectual do escritor modernista, marcada, em grande parte, pelo interesse em

compreender, criticamente, as diversas manifestações artísticas de diferentes regiões

brasileiras. A dimensão nacionalista crítica está presente nos estudos, na produção

literária e na correspondência endereçada a intelectuais, artistas e personalidades do

Brasil e do exterior.

Para Mário de Andrade, o contato e a amizade de pessoas das mais diferentes

localidades do país lhe valeram elementos substanciais para o aprofundamento de seus

estudos ligados à cultura popular e ao folclore. As cartas trocadas com diversos

indivíduos trazem informações referentes à música, a danças, a expressões religiosas,

aos valores tradicionais, as manifestações culturais e populares como o Carnaval, entre

outros assuntos.

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Mário de Andrade não foi apenas o autor de Macunaíma, o herói sem nenhum

caráter, publicado em 1928, mas também intelectual, escritor, poeta, professor de

música e pesquisador sobre a cultura brasileira e suas manifestações nos âmbitos da

música, da poesia, da dança, da língua, da religião, entre outros aspectos.

Sua documentação aponta para um rico manancial de exploração no campo dos

estudos interdisciplinares, mobilizando questões literárias, históricas, do memorialismo,

da sociologia da cultura, da música, da crítica genética.

Por meio dos documentos marioandradianos, em especial na correspondência, é

possível compreender melhor como se efetuavam as redes de sociabilidade no

modernismo e os elementos testemunhais para o estudo da obra dos interlocutores e os

seus processos de criação. O material documentário acumulado permite o

aprofundamento na compreensão dos aspectos do projeto de Mário de Andrade de

construção de uma cultura brasileira. O exame da documentação marioandradiana ajuda

a identificar os ideais do autor em relação à poética, à música e à língua que deveriam

ser feitas no Brasil, não só por ele mas também pelos outros intelectuais.

O arquivo de Mário de Andrade conta com numerosa correspondência passiva,

ativa e de terceiros na Série Correspondência (em torno de oito mil cartas, cartões-

postais, telegramas, bilhetes).

O acervo acumulado ao longo de sua trajetória intelectual promove a

preservação dos processos criativos deixados em rascunhos e cartas. Relatos entre

missivistas sobre leituras de livros e jornais demonstram que Mário de Andrade se

preocupava com o seu entorno e procurava fontes para auxiliá-lo na feitura de suas

obras. As cartas, portanto, fornecem subsídios para que os pesquisadores possam

compreender as escolhas e as preferências estéticas dos intelectuais analisados.

As cartas são fontes importantes para as pesquisas acadêmicas e Mário de

Andrade tinha consciência disso já que debatia e orientava o estilo literário dos amigos.

Alterações e sugestões eram apontadas antes mesmo de uma obra vir a lume.7

Entretanto, Mário tinha receio de que suas cartas viessem a público, como constatado

em trecho destinado ao amigo Murilo Miranda, em 19 de agosto de 1943:

[...] devia ser proibido a mostra pública de cartas particulares, por lei

governamental, [...] declaro solenemente, em estado de razão perfeita,

que quem algum dia publicar as cartas que possuo ou cartas escritas

7 Cf. MORAES, Marcos Antonio de. Orgulho de jamais aconselhar: a epistolografia de Mário de

Andrade. São Paulo: Edusp; Fapesp, 2007.

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por mim, seja em que intenção for, é filho da puta, infame, canalha e

covarde. Não tem noção da própria e alheia dignidade. (ANDRADE,

1981, p. 157-158).

As palavras em tom agressivo eram uma resposta à intenção do jornalista Murilo

Miranda em divulgar as cartas que recebera de Mário na Revista Acadêmica, em

homenagem aos cinquenta anos do amigo.

A preocupação de Mário em preservar a sua intimidade e a de seus destinatários

fica evidente na carta-testamento, de 22 de março de 1944, dirigida ao irmão Carlos.

Temendo que pudesse não sobreviver a uma cirurgia, o escritor declarou que sua

correspondência deveria ser lacrada e só aberta após cinquenta anos de sua morte. A

partir de 1995, o IEB poderia disponibilizar a correspondência passiva do poeta,

entretanto, uma comissão, responsável pela documentação e formada pelo crítico

literário Antonio Candido e o sobrinho de Mário, Carlos Augusto de Andrade, decidiu

divulgar as cartas após o tratamento técnico das mesmas, o que veio acontecer em 1997.

Os pesquisadores, até então, só tinham acesso às cartas escritas e endereçadas por Mário

aos seus destinatários quando estes se dispuseram a publicá-las, como fez o poeta

Manuel Bandeira, em 1958, no livro Cartas de Mário de Andrade a Manuel Bandeira.

As cartas trocadas entre a inteligência brasileira mostram ser importantes

documentos para a compreensão da história cultural e artística durante as primeiras

décadas do século XX no Brasil.

Além da correspondência volumosa, o arquivo de Mário também conta com 123

manuscritos na Série Manuscritos Mário de Andrade (dossiês de documentos diversos

do qual está referenciado apenas o título sob o qual foi agrupado); recortes de periódicos

sobre suas obras bem como de outros artistas na Série Matéria Extraída de

Periódicos. Os recortes de jornais e revistas são fontes para entender o que ocorria no

meio artístico e intelectual bem como a recepção positiva e negativa das obras da época.

No arquivo, estão preservadas as anotações das viagens ao Norte, em 1927, e ao

Nordeste em 1927 e 1928/9 que mostram como a ida a esses espaços e o conhecimento

da cultura local e dos indivíduos auxiliaram o escritor em suas reflexões sobre a

identidade nacional. Os relatos anotados por Mário de Andrade deram origem ao livro O

Turista Aprendiz, organizado pela Profa. Dra. Telê Ancona Lopez, em 1976.

Também constam no arquivo em torno de 2500 fotografias na Série Fotografia;

188 itens na Série Documentação Pessoal (cédula de identidade, recibos, diplomas,

cartão de sócio, discurso, cadernos de estudo, boletim escolar, entre outros); 121

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56

documentos na Série Documentação Profissional (sobre o período em que Mário de

Andrade trabalhou como Assistente Técnico da 6ª Região Administrativa do Serviço do

Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – SPHAN, entre 1937 e 1938); 1640 discos

na Série Discos com música erudita, popular e folclórica nacional e internacional.

O Arquivo Mário de Andrade ao longo de sua existência já suscitou e ainda

suscita diversos artigos, livros, dissertações, teses, pesquisas de pós-doutorado nas mais

diversas áreas do conhecimento. Pesquisadores, estudiosos e interessados em geral se

beneficiam da disponibilidade dos documentos pessoais de um importante intelectual do

cenário artístico e cultural da primeira metade do século XX.

O reconhecimento histórico, literário e artístico do arquivo pessoal de Mário

permitiu que sua memória fosse preservada na medida em que uma instituição pública

como a Universidade de São Paulo empreendeu esforços para conservar, guardar e dar

acesso a tão valiosa documentação.

5.3. Análise dos instrumentos de pesquisa: catálogo eletrônico do Arquivo Mário

de Andrade

O Arquivo do Instituto de Estudos Brasileiros da USP vem seguindo a tendência

de modernização dos seus instrumentos de pesquisa. Durante muito tempo, a pesquisa

dos documentos era feita por meio de catálogos e listas impressas para cada tipo de

fundo. Isto é, para cada série de um fundo era necessário consultar um determinado

instrumento de pesquisa.

Tal situação demandava tempo e esforço dos pesquisadores, o que tornava o

desenvolvimento dos estudos moroso e, em alguns casos, lacunar devido à não

localização precisa das fontes primárias. Um documento pode representar a mudança

radical do curso de uma pesquisa. Portanto, ao pesquisador devem ser fornecidas todas

as maneiras possíveis de chegar às informações necessárias ao seu intento.

O catálogo se mostra, então, como um meio de identificação de documentos

arquivísticos, permitindo ao usuário localizar e selecionar o que é mais pertinente para

suas necessidades informacionais. A qualidade de um catálogo eletrônico promove

recuperação informacional eficaz, poupa o tempo do consulente e evita o manuseio de

fontes não relevantes a uma pesquisa.

O Arquivo do IEB se valeu, até início de 2009, de poucos instrumentos de

pesquisa informatizados elaborados para alguns de seus fundos. Havia até então, apenas

os catálogos da correspondência de Mário de Andrade e de Aracy de Carvalho

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Guimarães Rosa, esposa de Guimarães Rosa e os catálogos do Fundo Pierre Monbeig,

apenas para consulta interna, e da pintora Anita Malfatti. Para as demais séries e fundos

era necessário consultar os catálogos impressos desenvolvidos pelo Arquivo ao longo de

sua existência.

Com o intuito de se adequar às tendências tecnológicas vigentes e permitir o

acesso de seus acervos, o IEB colocou em funcionamento um catálogo eletrônico

institucional que abarca os setores do Arquivo e da Coleção de Artes Visuais. A

Biblioteca faz parte do Sistema Integrado de Bibliotecas da USP (SIBi/USP) e segue,

portanto, o seu Vocabulário Controlado para indexação no Dedalus, Banco de Dados

Bibliográficos da USP.

Os objetivos do catálogo eletrônico do IEB são armazenar as informações

descritivas das unidades de cada acervo; disponibilizar uma ferramenta informatizada de

busca para que o usuário possa localizar os documentos; apresentar quando possível a

reprodução de imagens dos documentos, questão que esbarra na lei dos Direitos

Autorais.

Para a construção do catálogo eletrônico foi necessário a implantação de um

banco de dados para armazenamento de informações dos acervos do instituto e seus

desdobramentos, séries e subséries. Dessa forma, o banco de dados foi dividido em dois

módulos, um para uso interno referente ao gerenciamento e o outro para ser acessado

pelos usuários.

A elaboração do catálogo proporcionou um padrão no processo de descrição dos

documentos e das séries já que, anteriormente, cada fundo tinha sua maneira própria de

lidar com os itens arquivísticos e elaborar os instrumentos de pesquisa. Atualmente, os

curadores e seus colaboradores podem inserir e atualizar os dados dos fundos no próprio

banco de dados. A descrição de um documento é feita como segue:

• Código de referência;

• Unidade de armazenamento;

• Espécie documental;

• Título (quando explícito);

• Suporte;

• Descrição;

• Local de produção;

• Data de produção;

• Autoria;

• Estado de conservação;

• Observações. (LANNA, 2010, p. 49).

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58

A equipe do IEB ainda está desenvolvendo o vocabulário controlado do Arquivo

e não segue o vocabulário elaborado pelo SIBi/USP. Como está em construção, ao

consulente não é disponibilizada a explicação das listas do vocabulário.

Outra questão importante é ter em mente quais os principais pontos de acesso em

um arquivo. Smit e Kobashi (2003, p. 12) os definem como:

Eis a função dos “pontos de acesso”, que nada mais são do que as

portas nos muros medievais ou as pontes que permitem ultrapassar o

fosso. Os pontos de acesso permitem, como a expressão indica, o

acesso aos documentos a partir da alguns pontos preestabelecidos,

nomeando critérios utilizados para agrupar documentos. Dito em

outros termos, os pontos de acesso permitem detectar, no todo da

massa documental, documentos correspondentes a determinados

agrupamentos.

Os pontos de acesso são, portanto, as “pontes” ou as “portas” que permitem que

um documento seja localizado. Estes podem se referir ao tipo documental, ao nome de

uma pessoa ou de uma instituição, à data, ao local, aos assuntos dos itens descritos. Para

que possam ser localizados, os conjuntos documentais e os documentos devem ser

tratados de forma a identificar características e categorias informacionais de modo que

no momento da busca sejam recuperados.

Há duas normas que permitem a descrição dos conjuntos documentais: ISAD

(G), Norma geral internacional de descrição e ISAAR (CPF), Norma Internacional de

Registro de Autoridade Arquivística para Entidades Coletivas, Pessoas e Famílias.

A norma ISAD (G) foi elaborada para padronizar a elaboração de instrumentos

de pesquisa e permite que a descrição seja feita do geral para o particular. Isto é, pode-

se caracterizar desde um fundo até um documento. A norma apresenta sete áreas de

informação descritiva:

1. Área de identificação (destinada à informação essencial para

identificar a unidade de descrição);

2. Área de contextualização (destinada à informação sobre a origem e

custódia da unidade de descrição);

3. Área de conteúdo e estrutura (destinada à informação sobre o

assunto e organização da unidade de descrição);

4. Área de condições de acesso e de uso (destinada à informação sobre

a acessibilidade da unidade de descrição);

5. Área de fontes relacionadas (destinada à informação sobre fontes

com uma relação importante com a unidade de descrição);

6. Área de notas (destinada à informação especializada ou a qualquer

outra informação que não possa ser incluída em nenhuma das outras

áreas);

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59

7. Área de controle da descrição (destinada à informação sobre como,

quando e por quem a descrição arquivística foi elaborada).

(CONSELHO INTERNACIONAL DE ARQUIVOS, 2000, p. 12-13).

A norma ISAAR (CPF) regulamenta as regras gerais de como fazer o registro de

nome de pessoas, famílias e entidades. Esta norma determina, portanto, como fazer a

entrada do órgão produtor/gerador do documento, importante ponto de acesso em um

arquivo.

Para que a busca a um órgão produtor/gerador de documentação possa ser feita

de forma eficaz e consistente, é necessário que o mesmo tenha sido registrado de forma

uniforme. Como ponto de acesso essencial em um ambiente arquivístico, o registro de

autoridades arquivísticas deve ser feito sempre da mesma maneira, por extenso,

abreviado ou por sigla. O produtor de um documento não pode ser identificado de várias

maneiras, pois tal situação acarreta perda e recuperação incompleta da informação.

Os elementos de descrição da norma ISAAR (CPF) para um registro de

autoridade arquivística são divididos em quatro áreas:

1 Área de Identificação (onde a informação visa identificar

especificamente a entidade que está sendo descrita e são definidos

pontos de acesso normalizados para o registro);

2 Área de Descrição (onde se registra informação pertinente sobre a

natureza, contexto e atividades da entidade que está sendo descrita);

3 Área de Relacionamentos (onde relações com outras entidades

coletivas, pessoas e/ou famílias são registradas e descritas);

4 Área de Controle (onde o registro de autoridade é especificamente

identificado e é registrada a informação sobre como, quando e por

qual instituição foi criado e mantido). (CONSELHO

INTERNACIONAL DE ARQUIVOS, 2004, p. 15).

Em 2006, o Conselho Nacional de Arquivos (CONARQ) adaptou as normas

ISAD (G) e ISAAR (CPF) ao elaborar a Norma Brasileira de Descrição Arquivística

(NOBRADE), assim tornando-as mais adequadas à realidade brasileira. A NOBRADE

traz ainda um diferencial em relação à ISAD (G) ao incluir uma oitava área descritiva,

Área de pontos de acesso e indexação de assuntos.

O catálogo eletrônico do IEB é analítico, pois a descrição é feita sob cada

documento ou conjunto documental. Em relação à recuperação da informação no

Arquivo, esta pode ser feita no geral ou por fundo e coleção. Dentro de cada fundo ou

coleção, estão as séries e as subséries. A Figura 1 mostra a visão panorâmica do

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conteúdo do catálogo eletrônico do IEB/USP, uma das áreas em que o consulente pode

empreender busca é o Arquivo.

Figura 1 - Visão panorâmica do conteúdo do catálogo eletrônico do IEB/USP

Fonte: Catálogo eletrônico do IEB8

Após clicar na opção “Arquivo”, os fundos e coleções são listados. O Fundo

Mário de Andrade está na quarta página, como demonstrado na Figura 2.

8 Disponível em: <http://143.107.31.50/catalogo_eletronico/>. Acesso em: 19 out. 2013.

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Figura 2 – Lista de alguns dos fundos e coleções do Arquivo IEB/USP.

Fonte: Catálogo eletrônico do IEB9

O Fundo Mário de Andrade apresenta, como exposto na Figura 3, nove séries e o

número correspondente de documentos: Correspondência (7719 documentos); Discos

(1640 documentos); Documentação Pessoal (188 documentos); Documentação

Profissional (121 documentos); Dossiê: 50 anos de Mário de Andrade (16 documentos);

Fotografias (2493 documentos); Literatura Popular – Cordel (87 documentos);

Manuscritos (123 documentos); Santinhos (18 documentos). Há ainda a opção “Outros

documentos (4 documentos) que se referem a quatro fotografias da primeira viagem de

Mário de Andrade ao norte do país em 1927.

9 Disponível em: <http://143.107.31.50/catalogo_eletronico/consultaAcervosArquivo.asp>. Acesso em:

19 out. 2013.

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62

Figura 3 – Lista das séries que compõem o Fundo Mário de Andrade

Fonte: Catálogo eletrônico do IEB10

A Série Correspondência é a mais detalhada do Fundo Mário de Andrade, pois

entre 1989 e 2003, a Profa. Dra. Telê Porto Ancona Lopez comandou a organização, a

classificação e a descrição do material em diversos projetos com o apoio financeiro da

FAPESP, da VITAE e do próprio IEB. Em 2003, tal esforço resultou em um CD-ROM,

incorporado ao site do IEB. A Série Correspondência se desdobra em três subséries:

Correspondência Ativa (588 itens); Correspondência de Terceiros (139) e

Correspondência Passiva (139 itens). E cada uma delas se divide em novos

agrupamentos. Por exemplo, dentro da subsérie Correspondência Passiva há a Passiva

Lacrada (5693 itens) e Passiva Lacrada recebida por intermédio do secretário de MA

(13 itens).

A Série Discos traz documentos de acetato, alguns possuindo capas originais e

com anotações de Mário de Andrade. A série se desdobra nas seguintes subséries:

Música Brasileira Erudita (50 itens); Música Brasileira Folclórica (108 itens); Música

Brasileira Popular (481 itens); Música Estrangeira Erudita (366 itens); Música

Estrangeira Folclórica (123 itens); Música Estrangeira Popular (475 itens); Textos

Brasileiros (12 itens); Textos Estrangeiros (9 itens); Zoofonia (16 itens).

10

Disponível em:

<http://200.144.255.59/catalogo_eletronico/consultaUnidadesLogicas.asp?Tipo_Unidade_Logica_Codigo

=17&Setor_Codigo=1&Acervo_Codigo=10&Numero_Documentos=>. Acesso em: 19 out. 2013.

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Na Série Documentação Pessoal há duas subséries: Documentação Familiar (15

itens) e Outros (173 itens).

A Série Documentação Profissional está dividida em três subséries: Discursos

de Alunos (1 item); SPHAN (119 itens); Outros (1 item).

A Série Dossiê: 50 anos de Mário de Andrade não possui subséries, pois conta

com apenas 16 itens. Esse conjunto documental se refere a material sobre uma

homenagem ao cinquentenário de Mário de Andrade em 1943.

As Séries Fotografias, Literatura Popular – Cordel e Santinhos não possuem

subséries.

A Série Manuscritos se desdobra em 123 manuscritos, isto é, dossiês com

materiais heterogêneos. Por exemplo, o manuscrito intitulado Macunaíma traz o

material acumulado por Mário de Andrade para feitura da obra. O catálogo eletrônico

não fornece informações de cada item dos manuscritos, a descrição é feita apenas sobre

o dossiê no geral. Segue a Figura 4 que demonstra tal situação:

Figura 4 – Registro do Manuscrito “Macunaíma”

Fonte: Catálogo eletrônico do IEB11

O usuário tem as seguintes opções de campos para buscar e recuperar os

conjuntos documentais no Arquivo do IEB, como pode ser visto na Figura 3: “Palavra-

11

Disponível em:

<http://143.107.31.50/catalogo_eletronico/fichaDocumento.asp?Documento_Codigo=144537>. Acesso

em: 19 out. 2013.

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chave”; “Tipo de material”; “Suporte”; “Nome de pessoa ou instituição”; “Data” (dia,

mês e ano); “Periódico”; “Número de Tombo/Cód. de Referência”. A recuperação deve

ser feita mediante escrita exata dos termos.

Nos campos “Tipo de material”; “Suporte” e “Periódico” há um controle de

termos por meio de uma lista. Há 57 “Tipos de materiais” que se referem aos

documentos do Arquivo, como por exemplo: Cédula de dinheiro; Convite; Diploma;

Entrevista; Flor; Nota de despesa. Em relação ao “Suporte”, existem 66 tipos, entre eles:

Disco de metal; Disco goma laca – 06’- 76 rpm; Filme película; Negativo; Papel de

seda. No campo “Periódico”, é possível encontrar exemplares de diversos lugares do

Brasil e do mundo nas línguas inglesa, francesa, espanhola, alemã, italiana. Entre os

mais de mil periódicos estão alguns dos mais importantes veículos de comunicação da

época de Mário de Andrade: A Manhã; A Noite; Cataguazes; Diário de S. Paulo;

Revista de Antropofagia.

Portanto, o usuário que buscar uma informação referente a um “Tipo de

material”, “Suporte” e/ou “Periódico” específicos deverá escolher os termos

relacionados pelo Arquivo do IEB.

O campo “Nome de pessoa ou instituição” também é composto por uma lista. O

usuário deve digitar o nome desejado e selecionar a opção se esta aparecer. Caso isso

não aconteça, o sistema não aceita um nome que não exista na lista e mostra a seguinte

mensagem: “Escolha um ou mais critérios de busca”.

Se o usuário, por exemplo, quiser buscar dentro do Fundo Mário de Andrade

documentos relacionados ao poeta pernambucano Ascenso Ferreira, o catálogo

possibilitará recuperar a informação de três formas: “Ascenso Ferreira” (206 itens),

“Ascenço Ferreira” (nenhum item encontrado) e “A. Ferreira” (nenhum item

encontrado). Entretanto, se a busca for feita em todo o Arquivo, o resultado muda:

“Ascenso Ferreira” (216 itens), “Ascenço Ferreira” (6 itens) e “A. Ferreira” (3 itens).

Por se tratar de um ponto de acesso essencial para recuperação da informação, o

registro de um nome de pessoa ou instituição deveria ser feito de forma uniforme. A

recuperação de documentos relacionados a uma determinada autoridade torna-se falha e

inconsistente se a cada momento o registro é feito de uma forma, por vezes por extenso,

abreviado ou com grafia diversa.

Em relação à recuperação, o sistema também é pouco consistente. Por exemplo,

o termo “Santinho” no campo “Palavra-chave”, recupera apenas duas cartas. Já o termo

“Santinhos”, traz uma imagem iconográfica. Entretanto, há uma série intitulada

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“Santinhos” que contém 18 itens. O usuário só consegue acessar os documentos, caso

escolha a opção “Santinho” no campo “Tipo de material” ou selecione diretamente a

Série Santinhos. Mas, para isso, o consulente precisa saber previamente da existência da

série para ter acesso aos 18 itens do acervo. Não recuperará o conjunto se apenas utilizar

o campo “Palavra-chave”.

Se tentar empreender uma busca booleana usando “Santinhos” no campo

“Palavra-chave” e “Santinho” no “Tipo de material”, o sistema recupera apenas um

documento. Se usar “Santinho” nos dois campos, nenhum item é encontrado.

Ao catálogo também falta um controle de vocabulário no que tange à questão de

sinonímia, pois se o termo “Pássaro” for usado no campo “Palavra-chave”, o usuário só

terá acesso a dois documentos: um cartão-postal e uma música. Caso empregue

“Pássaros”, nenhum item é encontrado. Se o termo escolhido for a forma diminutiva

“Passarinho”, dois documentos são recuperados: um álbum musical e um folheto de

cordel. Por fim, com “Passarinhos” a recuperação é uma carta. Os resultados das buscas

demonstram que o usuário precisará se valer de quatro termos correlatos para selecionar

os documentos que melhor atendam suas necessidades informacionais. Entretanto, se o

usuário empregar apenas um dos termos, alguns documentos que poderiam ser

pertinentes não serão recuperados.

A questão do singular e plural também não está bem definida: quando no campo

“Palavra-chave”, o termo “Carta” é utilizado, são recuperados 5958 documentos,

enquanto “Cartas” recupera 177 itens. Os resultados são bem diversos e acarretam os

mesmos problemas do exemplo “Pássaro/Pássaros” e “Passarinho/Passarinhos”, pois a

maioria dos documentos não é recuperada caso o usuário use o termo “Cartas”. Quando

no campo “Tipo de material”, a opção “Carta” é selecionada, 5795 itens são mostrados.

A combinação nos campos “Tipo de material” e “Palavra-chave” com o termo “Carta”

recupera 5767 itens. “Cartas” em “Palavra-chave” e “Carta” em “Tipo de material” traz

155 itens. Ou seja, mais uma vez, a recuperação é inconsistente. Deve-se lembrar que a

normalização gramatical para elaboração de vocabulário controlado propõe que os

termos devam ser registrados no singular. Há exceções quando o termo representar um

conceito diferente ou uma forma já consagrada no plural, mas aqui não é o caso.

Um problema foi encontrado no catálogo eletrônico no que se refere à

recuperação de fotografias. A combinação “Fotografia” no campo “Tipo de material” e

“Ascenso Ferreira” em “Nome de pessoas ou instituição” recuperou 15 documentos.

Entretanto, o sistema não mostrou que há mais uma fotografia. Quando substituímos,

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“Stella Gris Ferreira” em “Nome de pessoas ou instituição”, aparece o registro da

fotografia cujo Número de Tombo / Cód. de Referência é MA-F-1282. Segue o registro

da fotografia, representada na Figura 5:

Figura 5 – Registro da Fotografia MA-F-1282

Fonte: Catálogo eletrônico do IEB12

Na foto, Ascenso Ferreira está ao lado de sua esposa Stella Griz Ferreira (este

fato é de conhecimento desta pesquisadora, que estudou a correspondência do casal

trocada com Mário de Andrade). Infelizmente, o usuário não encontrará a foto MA-F-

1282 sem tais subsídios. O sistema não recuperou a foto em um primeiro momento, pois

Ascenso Ferreira está identificado por AF tanto na descrição do item quanto nas

referências onomásticas. O registro de forma abreviada do nome do poeta acarreta uma

recuperação inconsistente, tornando lacunar a pesquisa dos usuários atendidos.

Foi efetuada uma busca no campo “Data” e para isso foram determinadas uma

data inicial e uma final: 18/10/1930 e 20/10/1930. Foram recuperados 174 itens,

entretanto, alguns não condizem com o período escolhido. Apenas 102 são do ano de

1930, porém, nenhum dos documentos tem a data entre 18/10/1930 e 20/10/1930. O

catálogo recuperou itens desde 1919 até 1944. Ou seja, o recurso de delimitar um

12

Disponível em:

<http://143.107.31.50/catalogo_eletronico/fichaDocumento.asp?Documento_Codigo=146309>. Acesso

em: 25 out. 2013.

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67

período de tempo, embora conste na interface de busca do catálogo, não produz

resultados consistentes. O melhor seria que houvesse uma mensagem de que nenhum

item foi encontrado. Torna-se um problema para o usuário quando o resultado da busca

não condiz com o intervalo de tempo pretendido. Depois de conferir a listagem dos 174

documentos mostrados, o pesquisador/consulente percebe que não há nenhum item de

acordo com a busca elaborada.

O campo “Número de Tombo / Cód. de Referência” não se mostra muito eficaz

para realização de busca, pois o usuário precisa saber previamente o número de registro

do documento.

Quando o sistema recupera os documentos ou um conjunto documental, é

possível clicar no link “Ver mais detalhes”. Nessa opção, há a descrição de algumas

categorias como: Acervo; Código de Ref.; Posição no Quadro de Arranjo; Gênero

Documental; Espécie/Tipo/Formato; Título; Descrição; Suporte; Localidade; Data;

Cromia; Altura; Largura; Observações; Referências Onomásticas; Status. Segue a

Figura 6 a fim de exemplificar a descrição informacional de uma fotografia:

Figura 6 – Registro da Fotografia MA-F-0098

Fonte: Catálogo eletrônico do IEB13

13

Disponível em:

<http://143.107.31.50/catalogo_eletronico/fichaDocumento.asp?Documento_Codigo=145125>. Acesso

em 25 out. 2013.

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68

Para documentos textuais, algumas categorias se mantêm e outras são alteradas:

Acervo; Código de Ref.; Unidade de Armazenamento; Posição no Quadro de Arranjo;

Gênero Documental; Espécie/Tipo/Formato; Descrição; Localidade; Data; Núm. de

Folhas; Remetente; Destinatário; Referências Onomásticas; Status. A Figura 7 mostra o

registro documental:

Figura 7 – Registro da Fotografia MA-C-CPL-1059

Fonte: Catálogo eletrônico do IEB14

Além de tornar mais consistente o controle do vocabulário, o estudo também

sugere que alguns documentos sejam digitalizados. A disponibilização de imagens

facilitaria o trabalho de muitos pesquisadores, pois, dessa forma, o acesso ao conteúdo

informacional dos documentos poderia ser feito de qualquer lugar, de modo remoto.

Outra vantagem é a preservação dos materiais ao se evitar seu manuseio. Entretanto,

sabe-se que para isso há as questões da segurança das informações e dos direitos

autorais. Em princípio, o IEB disponibiliza em seu site as fotografias do Fundo Mário

de Andrade, porém, apenas para consulta no próprio instituto. O usuário não tem o

mesmo acesso em outro local.

14

Disponível em:

<http://143.107.31.50/catalogo_eletronico/fichaDocumento.asp?Documento_Codigo=29538>. Acesso em

27 out. 2013.

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Arquivo do IEB vem procurando se adaptar às mudanças tecnológicas ao

elaborar instrumentos de pesquisa em formato online. Isso é um ponto positivo, pois

mostra que há preocupação com o pesquisador/consulente e com a recuperação da

informação.

Os instrumentos de pesquisas permitem ter acesso à representação do conteúdo

informacional de um documento ou conjunto documental no ambiente arquivístico.

Portanto, os instrumentos de pesquisa devem fornecer informações relevantes e

suficientes para que o pesquisador possa ter uma visão geral das origens e do contexto

de produção dos documentos.

Devido ao valor histórico e literário, muitos estudiosos e pesquisadores se detêm

na documentação marioandradiana a fim de desenvolver seus trabalhos acadêmicos.

Portanto, é de suma importância que os instrumentos de pesquisa sejam eficientes para

que não haja perda informacional durante o processo de busca dos documentos

arquivados.

Quando a equipe do Arquivo empreende uma descrição bem elaborada, o

usuário obtém elementos para decidir se determinado documento é de seu interesse ou

não e se deve dedicar seu tempo em consultá-lo.

Na pesquisa realizada no catálogo eletrônico do Fundo Mário de Andrade do

IEB, foram detectados problemas de descrição e representação da informação que

acarretam falhas e inconsistências de recuperação da informação como: falta de

normalização dos registros de nome de pessoas ou instituições; ausência de controle de

vocabulário em relação à sinonímia; indefinição em relação ao singular e ao plural dos

termos; inoperância do campo “Data”; ineficácia do campo “Número de Tombo / Cód.

de Referência”.

Para que a recuperação da informação aconteça de forma plena é necessário que

os princípios e pressupostos da Análise Documentária sejam colocados em prática com

a adoção de dois tipos de produtos documentários: o resumo e o índice. Isto é, o

profissional da informação analisa o texto ou o conjunto documental e os transforma em

representações sintéticas e homogêneas. A adoção de mecanismos de controle de

vocabulário são igualmente importantes para garantir recuperação consistentes de

informação dos Fundos do Arquivo do IEB.

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Parece ser imprescindível que ajustes sejam feitos para melhor atender aos

usuários que buscam informação no rico acervo do IEB. As pesquisas acadêmicas sobre

as questões brasileiras serão beneficiadas com a adoção de políticas de indexação

explícitas e de vocabulário controlado construído segundo o que propõe a Análise

Documentária.

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71

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ARQUIVO NACIONAL (Brasil). Dicionário brasileiro de terminologia arquivística.

Rio de Janeiro: O Arquivo, 2005.

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BELLOTTO, H.L. Arquivística: objetos, princípios e rumos. São Paulo: Associação de

Arquivistas de São Paulo, 2002.

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1991.

______. Organização de arquivos: introdução à arquivologia. São Paulo: USP, 1999.

v. 1.

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