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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE DO PARANÁ CAMPUS DE CORNÉLIO PROCÓPIO DEISE DOS ANJOS ASSIS CADERNO DE APOIO PEDAGÓGICO CORNÉLIO PROCÓPIO-PR 2009

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE DO PARANÁ … · Um sorriso negro, um abraço negro Traz....felicidade Negro sem emprego, fica sem sossego Negro é a raiz da liberdade (2x) ..Negro

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE DO PARANÁ

CAMPUS DE CORNÉLIO PROCÓPIO

DEISE DOS ANJOS ASSIS

CADERNO DE APOIO PEDAGÓGICO

CORNÉLIO PROCÓPIO-PR

2009

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GOVERNO DO PARANÁ

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

COORDENAÇÃO DO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO

EDUCACIONAL – PDE

DEISE DOS ANJOS ASSIS

CADERNO DE APOIO PEDAGÓGICO

Proposta de Ação na escola de lotação em forma de

Caderno de Apoio Pedagógico apresentado à

Coordenação Estadual do Programa de

Desenvolvimento Educacional da Secretaria do

Estado de Educação do Paraná, como requisito

parcial à obtenção de título de professor/PDE. Este

trabalho foi orientado pela professora Ms. Silvana

Rodrigues Quintilhano Ferreira.

CORNÉLIO PROCÓPIO – PR 2009

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CADERNO DE APOIO PEDAGÓGICO 1-IDENTIFICAÇÃO 1.1.PROFESSORA PDE: Deise dos Anjos Assis 1.2.ÁREA: PDE: Língua Portuguesa 1.3.NRE: Ibaiti 1.4.PROFESSORA ORIENTADORA: Silvana Rodrigues Quintilhano Ferreira 1.5.IES: UENP 2.TEMA DE ESTUDO Formação do Leitor Crítico 3.TÍTULO A FORMAÇÃO DO LEITOR COMO PROCESSO DE ENRIQUECIMENTO

CULTURAL E SOCIAL

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................5 UNIDADE I ..................................................................................................................8 DETERMINAÇÃO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVAS..........................................8 UNIDADE II ...............................................................................................................13 ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVAS.................................................13 UNIDADE III ..............................................................................................................27 RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVAS....................................................27 UNIDADE IV..............................................................................................................29 QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVAS...................................29 UNIDADE V...............................................................................................................30 AMPLIAÇÃO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVAS................................................30 AVALIAÇÃO ..............................................................................................................31 REFERÊNCIAS.........................................................................................................32 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................34

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INTRODUÇÃO

O presente Caderno Pedagógico aqui proposto como Produção Didática

Pedagógica tem como finalidade auxiliar e dar suporte ao professor PDE na

implementação do seu projeto em sala de aula no terceiro período do Programa de

Desenvolvimento da Educação.

Hoje, a grande preocupação da escola é com a leitura em todos os sentidos:

cultural, social, humano, etc. Por isso ela vem buscando meios para fazer com que

os educandos procurem ler mais e de maneira eficaz e que ela vá além da própria

expectativa deles. E através dela ele sempre se deparará com a diversidade de

gêneros textuais por meio de vários temas que fazem parte ou não da sua realidade.

Assim devemos proporcionar a eles uma visão de mundo diferenciada através de

obras literária, na qual ele poderá dialogar de forma que o passado e o presente se

encontrem em sintonia de forma sincrônica ou anacrônica.

Para formação de leitores críticos, optamos como proposta o Método

Recepcional, Bordini & Aguiar (1988) na formação de leitores críticos, o qual se faz

necessário numa sociedade tão complexa e muitas vezes desumana, onde a leitura

ocupa um lugar imprescindível em todas as ciências num mundo globalizado e

rodeado de diversas ferramentas instrumentalizadas diante do progresso tecnológico

das mais simples as mais sofisticadas necessidades humanas.

Este método visa à recepção de leituras ampliando o horizonte do leitor em

fase de desenvolvimento em que ler, compreender, interpretar e inferir nos textos os

quais o levará a descobrir como a leitura pode transformar e transportá-lo para um

mundo real e imaginário, que a entrar nele sua percepção de mundo será aguçado

através de textos mais simples e de acordo com o seu gosto até a complexidade

deles, que lhe provocará uma ruptura de seus horizontes, tornando um leitor mais

consciente e maduro em busca se leituras que desenvolva o seu intelecto em fase

do encontro e desencontro das leituras das épocas mais remotas a atual.

O Método recepcional que foi organizado por Bordini & Aguiar, atende as

perspectivas das Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa e Literatura. Esse

método contempla cinco etapas:

- Determinação do horizonte de expectativas;

- Atendimento do horizonte de expectativas;

- Ruptura do horizonte de expectativas;

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- Questionamento do horizonte de expectativas;

- Ampliação do horizonte de expectativas.

Essa proposta de trabalho tem como ponto de partida a interação do leitor

com o autor e a sua criação nos diversos gêneros, apresentando a ele episódios

semelhantes aos que acontecem na sua existência diária. E que assim ele possa

reinterpretar a obra e colocar-se de maneira a ser co-autor da mesma. Acredita –se

que poderá tornar a leitura prazerosa para ele, onde ele terá mais conhecimento

para se posicionar em sua criticidade.

Este projeto será desenvolvido na 8ª série do Ensino Fundamental II, matutino,

no terceiro período do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), quando

do retorno das aulas.

O Caderno Pedagógico terá cinco unidades de acordo com as etapas do método

Recepcional, com abordagem centrada em um tema específico. Ele constituirá de

textos de fundamentação com as devidas sugestões de atividades a serem

trabalhadas com os educandos.

Neste caderno constarão ao longo do processo dele todos os

encaminhamentos, passo a passo, do trabalho a ser realizado e viabilizado a partir

do Método Recepcional, Bordini & Aguiar (1988).

O objetivo é desenvolver em nosso educando uma visão crítica das diversas

leituras, principalmente as de obras literárias levando-o uma reflexão e análise dos

acontecimentos e vivência no mundo, alcançando assim um patamar onde ele possa

sentir-se seguro e capaz de transformar a si próprio e o outro através da aquisição

de um conhecimento científico e intelectual.

O tema escolhido para a realização desse trabalho é: “A Valorização do

Negro na Sociedade”, pois com esse assunto pretende-se proporcionar aos

educandos o reconhecimento do negro na condição de cidadão digno de seus

direitos humanos e igualitários, promovendo a sua valorização através do

conhecimento histórico, sócio, econômico e cultural, que ele traz consigo pela forma

que sua contribuição trouxe com seu trabalho para os paises colonizadores;

desmistificando assim a visão estereotipada que a sociedade tem do negro. Mostrar

a forma desumana que o negro foi retirado do continente africano e como ele

trabalhou 300 anos para a construção desta nação, mesmo sendo desvalorizado.E

que heróis , começando por zumbi, que lutou no passado em prol da liberdade dos

escravos ,e de outros militantes negros que vieram depois dele e continuam até hoje

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lutando e conquistado pouco a pouco o espaço do negro na sociedade em busca de

igualdade étnico/racial. E que nossos educandos sejam capazes de forma critica

através das diversas leituras de mundo proporcionadas neste material didático

pedagógico, germine dele uma semente lançada para que participem na construção

de uma sociedade mais justa, onde as diferenças possam ser respeitadas e garantir

os direitos e a capacidade de estabelecer igualdades em educação, gênero e etnia

para todos.

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UNIDADE I

DETERMINAÇÃO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVAS

Nesta unidade, conforme o método recepcional de Bordini & Aguiar (1988)

será feita uma investigação junto aos alunos com algumas atividades dialogadas

dadas em sala de aula onde poderemos detectar os horizontes de expectativas que

eles trazem e que estes estarão de acordo com suas crenças, valores, vivências

pessoais sociais, históricas, culturais e econômicas, as quais possam demonstrar o

grau de interesse pela literatura. Então serão convidados a apreciar aquilo que é de

seu convívio, baseando-se que tudo que sabem e acreditam que não irá abalar o

mundo deles onde estão seguro daquilo que têm conhecimento, abordados através

das músicas em ritmo de pagode “Sorriso negro”, da compositora Dona Ivone Lara,

e cantada pelo grupo Fundo de Quintal; Hino Nacional da África e o filme” O Poder

de um Jovem “. A partir das músicas e do filme os alunos irão analisar, refletir o

papel do negro na sociedade africana e brasileira.

A música é uma excelente ferramenta de apoio ao trabalho didático em sala

de aula. Ela estimula a criatividade enquanto descontrai o ambiente.

Sorriso Negro

Estilo: Pagode

Composição: Dona Ivone Lara

Grupo Fundo de Quintal

Negro é a raiz da liberdade... (2x)

Um sorriso negro, um abraço negro

Traz....felicidade

Negro sem emprego, fica sem sossego

Negro é a raiz da liberdade (2x)

..Negro é uma cor de respeito

Negro é inspiração

Negro é silêncio, é luto

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negro é...a solidão

Negro que já foi escravo

Negro é a voz da verdade

Negro é destino é amor

Negro também é saudade.. (um sorriso negro...)

Desde 1997 que o hino nacional da África do Sul é uma canção híbrida,

combinando versos do hino nacional do governo do apartheid, "Die Stem van Suid-

Afrika" e o hino popular do Congresso Nacional Africano e outras organizações

negras: o "Nkosi Sikelel' iAfrika". Isto torna, talvez, o hino nacional sul-africano o

único hino nacional com duas partes cantadas em tons diferentes. A sua letra inclui

quatro das onze línguas oficiais da África do Sul.

Hino Nacional da África do Sul

Letra oficial

Autor Não Disponível

Nkosi sikelel' iAfrika

Maluphakanyisw' uphondo lwayo,

AYizwa imithandazo yethu,

Nkosi sikelela, thina lusapho lwayo. (xhosa)

Morena boloka setjhaba sa heso,

O fedise dintwa le matshwenyeho,

O se boloke, O se boloke setjhaba sa heso,

Setjhaba sa South Afrika - South Afrika. (sesotho)

Uit die blou van onse hemel,

Uit die diepte van ons see,

Oor ons ewige gebergtes,

Waar die kranse antwoord gee, (africânder)

Sounds the call to come together,

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And united we shall stand,

Let us live and strive for freedom,

In South Africa our land. (inglês)

Letra oficial (em português)

Deus abençoe a África

Que suas glórias sejam exaltadas

Ouça nossas preces

Deus nos abençoe, porque somos seus filhos

Deus, cuide de nossa nação

Acabe com nossos conflitos

Nos proteja, e proteja nossa nação

À África do Sul, nação África do Sul

Dos nossos céus azuis

Das profundezas dos nossos mares

Sobre as grandes montanhas

Onde os sons se ecoem

Soa o chamado para nos unirmos

e juntos nos fortalecermos

Vamos viver e lutar por liberdade

Na África da Sul a nossa terra.

Sinopse do filme O Poder de um Jovem

Direção: John G. Avildsen

Um garoto branco sul-africano de origem inglesa, que sofre o ódio dos

brancos Afrikaners (descendentes locais de holandeses, franceses e alemães),

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torna-se campeão de boxe e defensor dos negros contra o sistema de segregação

racial (o Apartheid). Filmada em deslumbrantes cenários em Bostswana, esta

história mostra ainda todo o vigor primitivo da bela música africana, com o magnífico

coral Masibemuye Bulawayo, da África do Sul. Uma lição de vida e coragem, com

um elenco de alta classe: Armin Mueller-Stahl (de Trauma), Sir John Gielgud (de

Gandhi) e Morgan Freeman (de Robin Hood e Conduzindo Miss Daisy). Direção do

consagrado John G. Avildsen (Oscar de melhor diretor por Rocky, um lutador).

No primeiro momento assistirão o DVD “Samba de Todos os tempos”,

Grupo Fundo de Quintal com a música “Sorriso Negro”, cantaremos e dançaremos

juntos de forma bem descontraída e prazerosa.

Passado o momento de descontração, eles analisarão a letra da música

onde poderão perceber de maneira bastante interessante o nível de conhecimento

das questões relacionadas à raça negra. Nesta análise surgirão elementos como: os

preconceitos, o trabalho negro no passado e no presente, as desigualdades sociais,

descriminação racial, a escravidão no Brasil, etc.

Depois passaremos a um trabalho de grupos para que os alunos possam

colocar suas certezas e dúvidas em relação ao negro no que diz respeito ao

Continente Africano e o Brasil. Concluído os trabalhos dos grupos, passamos à

construção de um painel coletivo com as certezas e dúvidas de toda a turma. Será

um momento excepcional onde cada um colocar-se-á diante da classe, expondo

suas certezas, suas dúvidas e podendo compará-las com as dos colegas. Logo após

esta atividade eles serão separados em trios e realizarão uma pesquisa sobre a

África; O berço da Humanidade deste a pré-história até a atualidade, perpassando

pelos conflitos do Apartheid. Bem como a influência deste continente e sua

diversidade cultural que enriqueceram o nosso país.

Esta pesquisa poderá ser auxiliada junto à professora de história da classe

para um trabalho mais riquíssimo onde promoveremos um seminário para uma

discussão mais profunda.

Ao assistirmos o filme “O poder de um jovem”, estaremos entrando em

contato com a visualização de um Continente com seus conflitos com o colonizador,

etnias, sua cultura e a valorização de seu povo.

Faremos um momento onde analisaremos o filme sobre seus aspectos

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sociais, econômicos e os valores que já trazemos conosco e que pode estar sendo

representado no filme, bem como a luta pela liberdade de ser e sentir humano num

mundo cheio de coisas belas, mais também injusto.

E para sentir a África como parte de nós brasileiros cantaremos o Hino da

África do Sul, terminando esta unidade.

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UNIDADE II

ATENDIMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVAS

Depois de ser trabalhados o tema do negro com relação à África e o Brasil

numa perspectiva de discussão, trabalhos apresentados em grupos, de forma

dinâmica, criativa, alegre, reflexiva e pelo bom desempenho dos alunos, passaremos

para a próxima etapa do método com textos diferentes. Segundo Bordini & Aguiar

(1988), é nesta etapa do método recepcional que são detectadas as aspirações,

valores e familiaridades dos alunos com respeito a literatura, e feita a sondagem,

que consistirá no atendimento do horizonte de expectativas em que serão

trabalhadas na forma que eles conheçam e não tenham dificuldades.

Os textos selecionados relatarão a trajetória do negro no esporte, que é um

assunto que desperta o interesse deles e que serão trabalhados através de: Uma

poesia de cordel “ Bimba espalhou a capoeira nas praças do mundo inteiro”, uma

entrevista com Pelé “ É bom ser exemplo” e um trecho de uma reportagem com a

ginasta Daiane dos Santos “ brasileirinha que voa”.

Bimba espalhou capoeira

nas praças do mundo inteiro

Manoel dos Reis machado

É nossa árvore do bem

Nosso grande mestre Bimba

Nome que até hoje vem

Famoso na capoeira

Por não perder pra ninguém.

Engenho Velho de Brotas

Local do seu nascimento

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Salvador sua cidade

Onde alegria e tormento

Lhe deram vivacidade

Força, coragem e talentos.

[...]

Nasceu com ele esse nome

Bimba nasceu pra vencer

Cresceu lutou ganhou fama

Os pais gostaram de ver

O futuro batuqueiro

Lá na rede a se mexer.

[...]

Bimba tinha o tipo físico

De uma rocha escarpada

Muito alto, andar dançante

Seguro em cada passada

Olhos grandes, ombros largos

E sempre dando risada.

Apertava sempre os olhos

Estudando o inimigo

Gostou muito de charuto

Se zangasse era um perigo

Ninguém levava a melhor

Desafiando consigo.

[...]

Nunca levou desaforo

Mas era camaradeiro

Preservador de amizade

Desconfiado e ligeiro

Não dobrava em uma esquina

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Nem para ganhar dinheiro

[...]

Ganhou ávida, com tudo

Fez carvão. Cortou madeira

Foi trapicheiro e carpina

Estivador de primeira

Mas o que fez com mais classe

Só foi jogar capoeira

[...]

Bimba enfrentou com seus golpes

Duas guerras mundiais

Restos de escravidão

Repressões policiais

Mas botou a capoeira

Nos mais altos pedestais.

Praticou bem a angola

Aprendeu com quem sabia

Depois criou outra luta

Com mais garra e valentia

Pôs o nome regional

Representando a Bahia.

[...]

Se qualquer país do mundo

For um dia publicar

Os gênios da capoeira

Quem vier catalogar

No Brasil encontra Bimba

Sempre em primeiro lugar.

[...]

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No auge da luta livre

Bimba em São Paulo chegou

Enfrentou com seus alunos

Quem a luta se arriscou

Perdeu somente uma luta

As outras ele ganhou

[...]

Hoje o mundo reconhece

Todos os seus ensinamentos

Através dos novos mestres

Com amplos conhecimentos

Marcando uma nova época

Revestidos de talentos.

[...]

Gênio quando vem ao mundo

Chega com a mão vazia

Traz o peito cheio de sonho

Seja na música ou na poesia

Política, arte ou esporte

Prosa ou filosofia

No ano de 74

A 5 de fevereiro

Bimba fechou seu arquivo

Deu adeus ao mundo inteiro

Entrou de férias na terra

Foi ver Deus, Pai verdadeiro.

Os berimbaus soluçavam

Alunos botaram luto

O dia relembrado

Como uma data de culto

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Hoje os livros e filmes

Representam o seu produto

[...]

Luiz Gonzaga foi rei

Cantando mulher rendeira

Pelé foi o rei da bola

Com meião e com chuteira

E mestre Bimba sem dúvida

Foi o rei da capoeira

Sábado, Fevereiro 28, 2009

VEJA : Entrevista: Pelé

"É bom ser exemplo"

O rei do futebol conta que se aposentou pelo INSS, fala de seu papel para

o país, defende o técnico Dunga e diz que faltam base familiar e estrutura emocional

aos novos ídolos do esporte.

Sandra Brasil

Pelé pendurou as chuteiras em 1977. Em outubro do ano passado, foi a vez

de Edson Arantes do Nascimento, que passou a receber cerca de 3 000 reais por

mês do INSS. Mas os dois – o jogador e o homem – só sairão de campo depois da

Copa de 2014. Até lá, Pelé continuará faturando com publicidade e palestras e

promoverá o torneio no Brasil. Nesta entrevista, o eterno rei do futebol defende o

desempenho de Dunga como técnico da seleção, fala sobre o (mau) comportamento

dos novos jogadores e se estende sobre a importância do seu legado para o Brasil.

Aos 68 anos, com seis filhos e oito netos, ele mantém o mesmo peso que tinha

quando parou de jogar. Separado pela segunda vez, Pelé afirma que desacelerou

seu ritmo para ter mais tempo livre com os filhos – e, fica subentendido, com o

"monte de amigas" que conquistou mundo afora.

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O senhor está rico? Posso dizer que, se souberem administrar o

patrimônio que acumulei meus netinhos não precisarão trabalhar. Mas não fiquei rico

com o futebol como os jogadores de hoje. Ganhei dinheiro com palestras e

publicidade depois que parei de jogar. Fiz muitos comerciais, mas nunca de bebida

alcoólica, política, religião ou tabaco. Na Copa dos Estados Unidos (1994), a

empresa (Diageo) do (uísque Johnnie Walker) Black Label estava disposta a pagar o

que fosse para colocar o rosto do Pelé no rótulo. Não aceitei. Desde o ano passado,

estou reduzindo a minha agenda de trabalho. Antes, eu só ficava dois meses por

ano no Brasil. Quero inverter isso, para me dedicar aos meus filhos, ao meu sítio e

ao Litoral, meu time de garotos lá de Santos. Depois da Copa de 2014, vou me

tornar um aposentado de fato, porque de direito eu já sou.

Como assim? Eu me aposentei como atleta profissional no ano passado.

Desde outubro, recebo quase 3 000 reais do INSS. Já pago meia-entrada no cinema

e posso até pegar ônibus de graça.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso cobra 50 000 dólares por

palestra. Quanto custa uma sua? Depende. Algumas eu faço até de graça. Mas o

Fernando Henrique diz que cobra isso? Tenho minhas dúvidas... Tomara que cobre

mesmo. O presidente Fernando Henrique me deu oportunidade de ser ministro e fez

um dos maiores elogios que recebi na vida: disse que o Pelé é o Brasil que deu

certo.

Foi bom ser ministro? Por causa dessa experiência, nunca mais quero ter

cargo público. Faltam verbas e a política impede a gente de fazer as coisas. Nas

reuniões ministeriais, eu pedia a palavra para reclamar que só (o ex-ministro da

Saúde) Adib Jatene arrumava dinheiro. Dizia: "Ele pega dinheiro para doença. O

esporte, que é preventivo, não recebe nada". Todo mundo acha que o Pelé poderia

ser um grande presidente, mas essa possibilidade está descartada.

O senhor ainda recebe propostas de partidos políticos? Quase todo

mês, recebo um convite ou para entrar na política ou para ser técnico de futebol.

Vem proposta da Arábia, dos Estados Unidos, da Europa, da África... Mas, assim

como não quero ser político, nunca quis treinar jogadores profissionais, que têm

defeitos difíceis de tirar. E, depois de ter alcançado o que alcancei como atleta, a

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posição de técnico me deixaria vulnerável. O jogador perde o pênalti e o técnico é o

responsabilizado e desrespeitado. O time não rende e quem paga é o técnico. Veja

o que aconteceu com o Felipão (Luiz Felipe Scolari) no (clube inglês) Chelsea.

Agora mesmo, o presidente do Santos, Marcelo Teixeira, me ofereceu 1 milhão de

reais por mês para eu organizar o time. Disse a ele que a minha reputação e a

minha tranquilidade valem mais que isso: não têm preço. O Edson não faria isso

com o Pelé. Além disso, nem sempre o grande jogador é bom técnico.

Isso vale para o Dunga, que deixou de ser jogador para ser técnico do

Brasil? Não, o Dunga não está pecando em nada. É honesto e tem personalidade.

Muita gente o critica dizendo que ele não poderia ser técnico da seleção porque não

tem experiência como treinador. Se o Vanderlei Luxemburgo e o Falcão foram para

a seleção e não ganharam nada, por que o Dunga já teria de chegar lá ganhando

tudo?

Sua decisão de não fazer publicidade de bebida já foi interpretada

como hipocrisia da sua parte? Não vou dizer que nunca me diverti com bebida,

mas sempre fui moderado. Só ia a festas nas férias e comecei a beber uísque

quando parei de jogar. Esporte e farra não se misturam. O atleta tem de se cuidar

para render em campo. No meu tempo, quando os jogadores eram menos farristas,

a carreira dos ídolos durava quinze anos. Muitas estrelas de hoje duram um, dois

anos e somem. As novas gerações são prejudicadas pelas baladas, pelas drogas e

pelo álcool.

O que o senhor diria a ídolos como Robinho, que fazem farras e se

envolvem em escândalos? Daria a ele o conselho que ouvia do meu pai: "Deus te

deu o talento de graça. Cuide dele". O que fez diferença no meu caso foi à educação

e a base familiar. Por isso, o Pelé nunca esteve envolvido em escândalos. Os

garotos das novas gerações não contam com estrutura emocional e já começam a

jogar ganhando muito dinheiro. O modelo tem de ser o do atleta equilibrado, que tem

responsabilidade e se preocupa com sua carreira. O Kaká deveria ser um modelo

para eles.

Os salários dos jogadores de futebol são altos demais? Eles ganharam

essa dimensão por causa das empresas interessadas em fazer publicidade. O

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Santos pagava o meu salário com a bilheteria dos jogos. Fui para o Cosmos (time de

Nova York) em 1975 por sete milhões de dólares, naquele período uma soma

gigantesca para quem trabalharia por um ano e meio. Agora, há jogadores que

ganham isso em menos de um mês. Em compensação, no meu tempo, havia amor à

camisa. Hoje, não há ídolos jogando no Brasil. O torcedor nem tem tempo de

decorar a escalação do seu time.

O Romário diz ter feito 1 000 gols, um dos seus grandes feitos no

futebol. É bom ser exemplo para a realização de coisas boas. Pena que o Baixinho

não tenha conseguido chegar aos meus 1 283 gols em campeonatos oficiais. Nos 1

000 do Romário, foram incluídos gols de quando ele era juvenil e até infantil... O que

interessa, porém, é o que o futebol e o Pelé trouxeram de importante para o mundo.

Qual foi essa contribuição? Quando tinha 17 anos e estava na Copa da

Suécia, eu estranhava o fato de só ter jogador negro na Seleção Brasileira. Só

depois que o Brasil foi campeão com o Pelé as outras seleções passaram a escalar

negros. Os jovens têm de saber o valor que o Brasil tem e que o Pelé tem. Nós,

brasileiros, por educação ou cultura, não damos valor ao que é nosso. O argentino é

completamente diferente. Tem orgulho de tudo o que é seu. Todo mundo sabe que o

Pelé foi melhor que Maradona: cabeceava melhor, chutava com as duas pernas...

Maradona só chutava com a esquerda. Foi um grande jogador que, infelizmente, se

envolveu com drogas. Mesmo assim, os argentinos ainda falam que ele foi o melhor.

O senhor acha que os brasileiros não lhe dão o devido valor? O

brasileiro me ama, me adora. Agora, culturalmente, tem cisma com quem faz

sucesso. De vez em quando, tem algum jornalista que inventa algo contra o Pelé.

Como sou o Edson, amigo do Pelé desde criança, não ligo. É importante lembrar

que o único know-how que o Brasil vendeu para os Estados Unidos foi o futebol – e

isso ocorreu com a ida do Pelé para o Cosmos. Depois disso, o futebol se tornou o

esporte mais praticado pelos americanos com menos de 20 anos.

O senhor se sente querido nos Estados Unidos? Sim, tanto que a

Embaixada dos Estados Unidos fez uma consulta para saber se eu poderia ir à

posse do Obama. A vitória dele me deu uma grande alegria, mas não deu para ir.

Tinha de gravar um comercial e sabia que ia ter gente demais lá. Mandei uma

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mensagem de parabéns. Até já recebi um e-mail dele dizendo que precisa do Brasil

e que deseja trabalhar junto com a gente. Quando o Obama estiver mais calmo, sem

essa pressão de bolsa, passo lá para tomar um café, como fiz com o Kennedy, com

o Nixon e com o Clinton. Agora, outro dia me disseram que o Obama ficou mais

conhecido que o Pelé. Aí, brinquei: "Por enquanto. Em quatro anos, ele pode até

ficar mais famoso, mas eu continuarei a ser rei". Já ouvi até que o Pelé é mais

famoso que Jesus Cristo.

De quem? De um jornalista japonês, durante uma entrevista coletiva.

Como católico, reagi, mas ele se explicou. Disse que parte da população do mundo

é católica, parte é muçulmana, mas a metade que fica na China, no Japão é budista.

Nessa parte do mundo, segundo ele, o Pelé é mais conhecido que Cristo. Por essa

divisão, ele tem razão. Mas não sou eu que digo isso, viu? Depois que os Beatles

disseram que eram mais famosos que Cristo, começou a desgraça e o grupo

acabou. Aliás, se os Beatles são sirs, eu sou Cavaleiro do Império Britânico, título

que ganhei da rainha da Inglaterra. Na cerimônia, os copeiros e garçons do Palácio

de Buckingham quebraram o protocolo para fazer fotos com o Pelé, que nunca

prejudicou a imagem do Brasil e de sua família.

Mas o senhor se disse um pai ausente quando o seu filho Edinho foi

preso por ligação com o narcotráfico. Fui ausente por causa do trabalho e resolvi

falar porque havia muita injustiça com o Edinho pelo fato de ele ser filho do Pelé. O

outro episódio negativo que envolveu o nome do Pelé foi o da filha que o Edson teve

e nem ficou sabendo direito que tinha: a ex-vereadora de Santos Sandra

Nascimento, que morreu de câncer em 2008. Muita gente falou mal do Pelé, acusou-

o de abandonar a filha...

Ela precisou lutar na Justiça para ser reconhecida. Tanto Sandra como

a fisioterapeuta Flávia Kurtz, que também é minha filha, já apareceram adultas. Elas

não eram filhas de namoradas minhas. Nos dois casos, foi uma aventura, e as mães

nunca me procuraram. Nunca tive intimidade com Sandra, mas senti pela sua morte

por ter sido como foi, por ela ter parado de tomar remédios por motivos religiosos.

O Pelé já foi um fardo para o Edson? É difícil carregar a fama do Pelé. É

um desafio minuto a minuto, porque as tentações são muitas. O Edson é humano e

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adoraria levar uma vida mais divertida, mas sabe que é o equilíbrio e a base do

Pelé. Os dois sabem quanto é importante não decepcionar o povo brasileiro.

O senhor continua solteiro? Sim, e não estou procurando namorada. Vai

aparecer naturalmente e todo mundo vai saber, como soube quando comecei a

namorar a Xuxa. Todo mundo soube quando me casei e quando decidi me separar

da Assíria, que é um pouco radical com a religião evangélica. Ela levava os pastores

para casa, mas eu não podia levar os meus amigos católicos. Em catorze anos de

casamento, só pude receber os meus amigos em casa duas vezes.

Mas o senhor tem saído com algumas mulheres? São amigas. Graças a

Deus, sempre tive um monte delas no Brasil, em Nova York... A maioria gravou

comerciais comigo. Depois que gravei com a atriz Isis Valverde, queriam saber se

ela era minha namorada. É só amiga.

O senhor está com 68 anos. Sente o peso da idade? O Pelé é imortal. O

Edson não tem medo de envelhecer, nem de morrer. Agora, eu me preocupo com a

minha saúde. Faço exercícios e fecho a boca para manter o peso: 78 quilos, o

mesmo que eu tinha quando parei de jogar. É bom para a minha altura, 1,72 metros.

Com o topete, ganho mais 1 centímetro. Tenho pouco cabelo branco. Não pinto o

cabelo, só uso um xampu que equilibra a cor. A minha vaidade é andar bem vestido.

Todo mundo pensa que eu compro roupa na Itália ou na França. Na verdade, trago

os modelos.

07/04/04

Daiane dos Santos brilha num

esporte que exige coragem e

sacrifícios de seus campeões

João Gabriel de Lima

Daiane dos Santos decola de costas. Já no ar, gira o corpo de modo a ficar

de frente para sua trajetória de vôo. Continua subindo. Perto de atingir o ponto mais

alto, quando sua cabeça chega a 2,80 metros do solo – quase a altura de uma cesta

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de basquete –, ela rodopia num salto-mortal com o corpo reto, como se fosse uma

hélice cujo eixo passasse pelo abdômen. Já está na descendente quando repete o

giro. O efeito lembra o filme Matrix, com os truques virtuais se materializando no

mundo real. Daiane aterrissa de pé, com os braços abertos para aumentar o

equilíbrio, gesto elegantemente disfarçado em saudação à platéia. O movimento

aqui descrito em câmera lenta dura menos de um segundo. Enquanto você lia as

linhas acima, Daiane poderia teoricamente ter realizado quinze dessas dificílimas

acrobacias. Em 76 anos de competições – a ginástica feminina faz parte dos Jogos

Olímpicos desde 1928 –, ninguém nunca arriscou algo parecido. [...]

Daiane dos Santos é a única ginasta do mundo capaz de realizar esse salto

cujo nome técnico é "duplo twist estendido". Twist porque ela salta de costas e faz

um giro de 180 graus no ar. Duplo porque por duas vezes a atleta dá voltas no ar

sem colocar pés ou mãos no chão, o que configura o salto-mortal. Estendido porque

o corpo fica reto – e é exatamente aí que reside a maior dificuldade. No Mundial de

2003, nos Estados Unidos, Daiane já se firmara como um fenômeno único no mundo

da ginástica ao executar uma manobra altamente difícil, porém mais simples. Foi o

duplo twist carpado. Em vez de ficar reto, o corpo se dobra durante o duplo mortal,

com o tórax num ângulo de 45 graus em relação às pernas, o que facilita o giro. O

movimento recebeu o nome de "Dos Santos", em homenagem a ela. O salto

estendido que Daiane prepara para Atenas é ainda mais complicado. "A chance de

Daiane conseguir uma medalha olímpica inédita para o Brasil é considerável", avalia

o ucraniano Oleg Ostapenko, técnico da Seleção Brasileira de Ginástica Olímpica

Feminina.

Com seu salto, Daiane instaurou um novo Everest na ginástica olímpica.

Daqui por diante, todas as atletas da modalidade vão querer atingir esse topo. Isso a

coloca num grupo seletíssimo – o das ginastas que criaram novos parâmetros no

esporte. A esse time pertencem mitos como a romena Nadia Comaneci e as

soviéticas Olga Korbut e Natalia Yurchenko. É uma proeza e tanto quando se

considera que a brasileira não teve as mesmas condições dessas ginastas. Ela

nasceu numa família de poucos recursos de Porto Alegre, que não podia

proporcionar-lhe treinamento desde os 6 anos de idade, como é recomendado nesse

esporte. Por isso, Daiane só pôde iniciar-se na modalidade aos 12 anos, quando a

maior parte das ginastas já disputa competições internacionais. No começo de sua

carreira, muitos técnicos duvidavam da possibilidade de aquela menina negra de

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descomunal força nas pernas conseguir triunfar em um esporte dominado pelas

potências olímpicas européias. Sugeriam, movidos também pelo preconceito, que

ela largasse tudo e tentasse o atletismo. Daiane, felizmente, não os ouviu. O que

torna seu triunfo ainda mais impressionante é a natureza da modalidade que

abraçou. Uma ginasta é alguém que abdica da infância e da adolescência para ficar

treinando num ginásio. Que se submete a uma dieta alimentar de campo de

concentração para manter a forma. Que literalmente arrisca o pescoço e a vida

todos os dias numa infinidade de saltos que, não por acaso, são chamados de

mortais. Que atrasa voluntariamente o desenvolvimento do próprio corpo para seguir

competindo. E que se acostuma a conviver com a dor, já que as contusões são o

pão de cada dia desse esporte de altíssimo impacto e risco. Está longe de ser uma

coincidência, portanto, que a ginástica olímpica, desde que entrou em sua fase

acrobática, em meados dos anos 70, tenha sido uma especialidade durante tanto

tempo apenas de países que viviam sob ditaduras, como a ex-União Soviética e as

nações que orbitavam em torno dela. Só nesses países era possível ao Estado

arrancar as crianças da família para submetê-las a uma rotina tão desumana. Com

sua difusão no Ocidente, a prática do esporte ficou um pouco menos espartana. Mas

ainda demanda sacrifícios desmesurados, especialmente quando se lembra que

suas praticantes mal saíram da infância. [...]

Ostapenko, o técnico da seleção, é conhecido como o homem que ensinou

Daiane a voar. Mais correto, no entanto, seria dizer que ele ensinou a ginasta a

aterrissar. Daiane sempre teve uma notável força nas pernas – ela é capaz de saltar

a uma distância de 2,40 metros sem tomar impulso, quando uma ginasta média

chega a 2 e um ser humano sedentário mal passa de 1. No salto-mortal, ela se eleva

a 2,80 metros do solo, contra 2 de uma ginasta média. Seu problema, no entanto,

sempre foi a descida. "Ela colocava tanta força no movimento que, na hora de

aterrissar, acabava saindo do tablado uns dois ou três passos, prejudicando sua

nota", conta Adriana Alves, técnica que trabalha com Daiane desde o início da

carreira. Foi por isso que a atleta não conseguiu se classificar para as Olimpíadas de

2000. Viajou para Sydney como segunda reserva. Nas mãos de Ostapenko, a

gaúcha aprendeu a controlar sua força e a cair de pé. "Ela melhorou bastante, mas

até hoje tem muitos problemas técnicos, provavelmente por ter começado tarde", diz

o ucraniano. Segundo ele, Daiane só tem condições de brilhar no solo e se sair

razoavelmente bem no cavalo, onde o uso da força é fundamental. Na trave e nas

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barras assimétricas, seu desempenho é apenas mediano, a anos-luz do de Daniele

Hypólito e de Camila Comin. Boas em todos os aparelhos, as duas são as mais

completas ginastas brasileiras. [...]

Filha de uma família de classe média baixa em Porto Alegre – seu pai é

funcionário da Febem gaúcha –, Daiane dos Santos ganha hoje em torno de 20.000

reais por mês, entre patrocínios e ajuda de custo. Começa a ser um rosto procurado

pela publicidade – na semana em que se preparava para a Copa do Mundo do Rio

de Janeiro, obteve dispensa mais cedo num treinamento para fazer fotos para uma

campanha de uma marca de refrigerantes. Com o dinheiro ganho até hoje, adquiriu

uma casa num bairro de classe média de Porto Alegre. Ainda não pôde, no entanto,

usufruir o imóvel, pois há dois anos está morando em Curitiba. No quarto que ocupa

na casa onde se concentram as ginastas, as paredes são cobertas de fotos. Vê-se

Daiane na Muralha da China, na Acrópole de Atenas, em frente à ponte de Sydney.

Ela adora fotografar – pensa inclusive em seguir a carreira quando largar a ginástica.

Ao contrário da maior parte de suas colegas de seleção, Daiane tem um namorado.

Ela conhece o estudante de educação física Ramón Martins da Silva desde a

infância, em Porto Alegre. Ele luta jiu-jítsu e há duas semanas passou um dia com a

namorada em Curitiba quando foi disputar uma competição na cidade. "Foi a única

vez em que nos vimos nos últimos três meses", suspira ela. Daiane é vaidosa. Gasta

boa parte do que ganha em roupas e bijuterias. Tem um carro pequeno, e sonha

juntar dinheiro para comprar um maior. Adora dirigir. "Este é o meu momento, e eu

tenho de aproveitar", diz. Aos 21 anos, Daiane está em seu auge. Nessa profissão

em que a consagração pode vir em um segundo, o auge também passa num

instante. Daiane aproveita ao máximo seu momento – sabe que hoje, no mundo,

ninguém é capaz de voar como ela.

Após a leitura compartilhada de cada um dos textos, observaremos e

dialogaremos aonde encontramos esses tipos de textos e quais as diferenças entre

eles ao relatarem sobre a vida dos esportistas com “Pelé (Edson Arantes do

Nascimento), Bimba (Manoel dos Reis Machado) e Daiane dos Santos (Daiane

Garcia dos Santos)” e como eles conseguiram chegar ao sucesso. Poderemos

destacar aqui o esportista em si como uma pessoa que representa uma determinada

comunidade e a sua vida particular como cidadão do mundo.

Faremos um paralelo entre a três modalidades de esportes, em quais o

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negro se destaca com maior notabilidade e quais deles se identificam mais com a

nossa cultura brasileira.

Será solicitada aos alunos, a seguir uma pesquisa histórica sobre a

capoeira, destacando sua importância no passado para os negros até a atualidade.

Eles convidarão através da escola, por meio de um ofício, um professor de

capoeira para ser entrevistado e pedirão para que o mesmo faça uma apresentação

de roda de capoeira, ao qual poderá ser também apresentada para toda a

comunidade escolar presente.

Terminadas essas atividades passaremos a um debate, na qual eles poderão

estar se confrontando com idéias favoráveis ou desfavoráveis a respeito dos

assuntos já tratados. Proporcionado a eles até mudar sua própria visão a respeito de

seus preconceitos e conceitos sendo transformados em conhecimento.

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UNIDADE III

RUPTURA DO HORIZONTE DE EXPECTATIVAS

Conforme Bordini & Aguiar (1988) apresentaremos neste capítulo textos a

serem trabalhados, e também atividades propostas que deverão abalar as certezas

dos alunos, apresentando um grau maior de exigência, porem não fugindo da

temática até agora trabalhada, bem como tratamento, estrutura ou linguagem. Os

alunos deverão perceber que está adentrando em um campo desconhecido por ele,

pois o mesmo tema será abordado de maneira mais complexa.

Nesta etapa estaremos desenvolvendo um trabalho com cinco livros:

Menina Bonita do laço de fia (Ana Maria Machado), O cabelo de Lelê (Valéria

Belém), Agbalá um lugar-continente ( Marilda Castanha) e Jogo Duro era uma vez

uma história de negros que passou em branco ( Lia Zatz) e A cabana do Pai Tomás

(Harriet B.Stowe).

A sala será dividida em 5 grupos aos quais cada grupo escolherá uma obra

para ler. .Os grupos que escolherem A menina bonita do laço de fita (Ana Maria

Machado) e O cabelo de Lelê (Valéria Belém) farão a apresentação do livro em

forma de contação de história para sala. A sala discutirá e perceberá a beleza das

obras que retratam a diversidade étnico-racial de forma em que a criança, o

adolescente se encanta e assim percebe que ser negro ou negra é bonito e bom,

levando a pessoa a ter um auto estima elevada. Depois de ser apresentada pela

turma de forma caracterizada e com os elementos da narrativa este grupo irá

apresentar para as crianças da Escola Municipal João Severino Sales – Ensino de

Fundamental a qual nossa escola é agregada, pois ainda não temos prédio próprio.

O grupo da obra Agbalá um lugar-continente (Marilda Castanha)

apresentará a obra focalizando as tradições africanas, seu habitat, sua historias

através da oralidade, seu culto a ancestralidade, o sagrado e a identidade de seu

povo, desmistificando muitos conhecimentos passados de maneira errônea para

nós. A autora Marilda Castanha apresenta aspectos da história e da cultura de

comunidades étnicas bastante diversa, com os seus modos se semear, colher,

preparar alimentos, dormir, nascer, morrer, viver, mas também de rezar, reverenciar

os antepassados e registrar tudo, não raro, pela escrita e, sobretudo, pela

oralidade[...] e também o papel da escravagismo para a formação e

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desenvolvimento da nação brasileira, a influencia cultural, as lutas dos afro-

descendentes para uma sociedade igualitária. Depois da apresentação esse grupo

fará um painel ilustrado sobre a história de livro que será afixado no pátio da escola.

O grupo da obra Jogo Duro era uma vez uma história de negros que

passou em branco (Lia Zatz). Após ler a obra e refletir juntamente com o seu grupo

irão apresentar essa obra em forma de teatro onde a obra aborda o racismo vivido

por alguns adolescentes que buscam resposta para a forma como foi a escravidão

propriamente dita, pois na escola João instiga a professora que não acha resposta e

nem tempo para verificara verdade sobre ela, então sugere que eles trabalhem em

grupos e que João e o grupo dele pesquisem através da história oral de seu bisavô e

depois o grupo se apresentem, pois a obra traz fatos muito interessantes sobre o

papel do negro na sociedade antes, durante e até os dias atuais .E que a luta é

ainda grande.

O grupo da obra A cabana do Pai Tomás (Harriet B.Stowe). Deverão

apresentar a obra no seu contexto social e cultural, pois é uma obra de literatura

estrangeira, mas o enfoque é o mesmo. Focalizar na personagem do Pai Tomás que

é a figura central do romance. É uma história emocionante, pois conta também dos

acontecimentos cruéis com seus companheiros de infortúnio que comoveu o povo

norte americano, criando um clima de revolta contra a escravidão.Levou o Estados

Unidos “a sangrenta Guerra Civil que culminou com a reunificação do país e permitiu

a libertação dos escravos.Os alunos podem explorar dentro de uma perspectiva

social e econômica fazer um paralelo entre a abolição da escravatura entre o nosso

país e os Estados Unidos mostrando o que realmente estes paises a tomar esta

atitude. E como ficaram a situação dos negros em cada um deles após a abolição.

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UNIDADE IV

QUESTIONAMENTO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVAS

Nesta quarta etapa Bordini & Aguiar (1988) a classe exercerá uma análise

crítica, verificando e decidindo quais textos, através dos seus temas e construção

exigiram um nível mais alto de reflexão e, diante da descoberta de seus sentidos

possíveis, trouxeram um grau maior de satisfação. Tornando-os mais seguros dentro

da capacidade de poder provocá-los num momento estão sendo colocados diante

destas leituras diferenciadas. A classe debaterá sobre seu próprio comportamento

em relação aos textos lidos após a análise executada por eles, farão um auto-exame

do progresso que fizeram ao pesquisarem e tomarem atitudes inesperadas por eles.

O passo seguinte será fazer uma pesquisa de campo, através de entrevista

no bairro para detectar as diferentes posições que as pessoas têm diante do

racismo.

Em seguida, convidarão um representante negro militante da sociedade

ibaitiense para uma palestra-entrevista, onde este terá a oportunidade de relatar

sobre sua vida social, econômica e cultural em relação a ser um indivíduo que ocupa

um lugar de destaque na sociedade e como ele enfrentou a discriminação racial em

sua vida e o que o ajudou nisto.

Contaremos também com o nosso convidado de honra presidente da ONG

Afro-globo Cultura Afro-brasileira e Africana, Daniel Abidemi Adebayo Majaro, nativo

africano, da Nigéria, residente na cidade de Curitiba, Paraná. Ele falará da África de

modo diferente mostrando o lado bom que nós não conhecemos. E acreditamos que

será bastante interessante.

Ao final, os alunos farão uma apresentação musical, do Hino da África do

Sul e We are the world (Michael Jackson ) para a comunidade escolar.

Será construído um blog com o título África e Brasil onde os alunos

poderão postar suas opiniões, idéias, comentários, sugestões, curiosidades, etc.,

relacionados aos trabalhos e atividades que estarão sendo realizadas sobre o tema

do negro na sociedade.

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UNIDADE V

AMPLIAÇÃO DO HORIZONTE DE EXPECTATIVAS

Nesta última etapa, conforme afirmam Bordini & Aguiar (1988), ela é

resultante entre a leitura e a vida. Eles perceberão que as leituras feitas não dizem

só a respeito das tarefas escolares, mas ao modo como vêem seu mundo. Os

alunos nesta fase tomaram consciência das alterações e aquisições, obtidas através

da experiência com a literatura.

Essa tomada de consciência é uma atitude individual e grupal dos próprios

alunos. O papel do professor neste momento será provocar os alunos e criar

condições para que eles avaliem o que foi alcançado e o que resta fazer. Desta

etapa em diante os alunos reiniciarão um novo processo de aplicação do método

desenvolvendo sua capacidade de vivenciar e ver com outros olhos a literatura até

agora apreendida passando do senso comum para um senso critico, buscando uma

continuidade do processo em constante enriquecimento cultural e social. Algumas

sugestões de leituras:

1- ASSIS, Machado: Memórias póstumas de Brás Cubas

2- CRUZ, Nelson: Chica e João

3- GRINBERG, Keila: Para conhecer Chica da Silva

4 -GRINBERG, Keila: Para conhecer Machado de Assis

5- LOBATO, Monteiro: Negrinha

6- SAVARY, Flávia. Anabela procura e acha mais do que procura

7- ZIRALDO: O menino marrom

.

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AVALIAÇÃO

A avaliação terá êxito na aplicação desse método recepcional a partir do

momento que os alunos demonstrarem motivação e entusiasmo e tiverem aptos

para ultrapassarem o seu horizonte de expectativas no interesse por novas leituras,

que além de lhe proporcionarem prazer possam contribuir para uma visão de mundo

mais ampla. E também prontos e capazes de analisar textos literários lendo nas

entrelinhas, sempre buscando o foco principal da obra dentro de seu contexto

socioeconômico, histórico e cultural que venham provocar-lhes situações de

questionamentos de seu próprio horizonte cultural.

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REFERÊNCIAS

AGUIAR, V.T. de; BORDINI. M. G. Literatura: a formação do leitor: alternativas metodológicas. 2.ed. Porto Alegre: Ed. Mercado Aberto,1988. Série: Novas perspectivas; 27. BELÈM, Valéria. O cabelo de Lelê. São Paulo: Ed. Companhia Nacional, 2007. CASTANHA, Marilda. Agbalá, um lugar-continente,.2 ed., São Paulo: Ed. Cosac Naify, 2008. CONCEIÇÂO, Antonio Ribeiro do bule. Bule. .Umburama, BA. Coleção Cordel é coisa da gente,

LAJOLO, M. Do mundo da leitura a leitura do mundo. 6.ed. Ed. Ática, São Paulo,2002. Série: Educação em ação. LIMA, João Gabriel de. Revista Veja. São Paulo, 7 de abril de 2004. MACHADO, Ana Maria. Menina bonita do laço de fita. 7 ed. São Paulo: Ed. Ática, 2005. MAGNANI, Maria do Rosário Mortatti. Leitura, Literatura e Escola. Ed. Martins Fonte. São Paulo, 1989. Coleção Texto e Linguagem. MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. 19ª ed. Ed. Brasiliense. São Paulo, 2006. Coleção: Primeiros passos; 74. PARANÁ/SEED. Diretrizes Curriculares Estaduais de Língua Portuguesa. SEED: Curitiba, 2008

STOWE B. Harriet. A cabana do Pai Tomás. 26 ed., Rio de Janeiro: Ed. Ediouro, 1969. ZAPPONE, Mirian Hisae Yaegashi. Estética da Recepção. In BONNICI, Thomas;ZOLIN, Lúcia Osana (org). Teoria Literária: Abordagens históricas e tendências contemporâneas. Maringá: UEM, 2004. ZATZ, Lia. Jogo duro: era uma vez uma história de negros que passou em branco, Belo Horizonte: Ed. Dimensão, 2008. ZIMBERMAN, Regina. Estética da Recepção e História da Literatura. Ed. Ática,São Paulo, 1989. Série Fundamentos 41.

http://vagalume.uol.com.ar/fundo-de-quintal/sorriso-negro.html acesso em 20/12/08

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http://ultradownloads.com.br/download/Hino-Nacional-da-Africa-do-Sul-MP3/acesso

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http://www.letrasdefilmes.com.br/filme/o-poder-de-um-jovem acesso em 15/02/09

http://www.cineinsite.com.br/filme. phpid_filme=1552 acesso em 15/02/09

http://arquivoetc.blogspot.com/2009/02/veja-entrevista-pele.html acesso em 20/03/09

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CRUZ, Nelson: Chica e João. 2 ed., São Paulo: Ed. Cosac Naify , 2008.

GRINBERG, Keila; GRINBERG, Lúcia; ALMEIDA, Anita Correia Lima de. Para conhecer Chica da Silva, Rio de Janeiro: Ed Jorge Zahar, 2007.

GRINBERG, Keila,GRINBERG, Lúcia e ALMEIDA, Anita Correia Lima de. Para conhecer Machado de Assis, Rio de Janeiro: Ed Jorge Zahar, 2007.

LOBATO, Monteiro, Negrinha.10 ed., São Paulo: Ed. Brasiliense, 1961.

MACHADO DE ASSIS, Memórias Postumas de Brás Cubas. 8 ed., São Paulo: Ed. Ática, 1981.

SAVARY, Flávia. Anabela procura e acha mais do que procura, Belo Horizonte:Ed.

Dimensão, 2007.

ZIRALDO. O menino marrom. 8 ed., São Paulo:Ed. Melhoramentos, 1990.