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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE BIOCIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SISTEMÁTICA E EVOLUÇÃO TAXONOMIA E BIOGEOGRAFIA DA ESPÉCIE POLITÍPICA Herpsilochmus rufimarginatus (TEMMINCK, 1822) (AVES: THAMNOPHILIDAE) ________________________________________________ Dissertação de Mestrado Natal/RN, junho de 2013 MARCELO DA SILVA

Universidade Federal do Rio Grande do Norte...Grande do Norte como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Sistemática e Evolução. Orientador: Prof. Dr. Mauro

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE BIOCIÊNCIAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SISTEMÁTICA E EVOLUÇÃO

TAXONOMIA E BIOGEOGRAFIA DA ESPÉCIE POLITÍPICA

Herpsilochmus rufimarginatus (TEMMINCK, 1822)

(AVES: THAMNOPHILIDAE)

________________________________________________

Dissertação de Mestrado

Natal/RN, junho de 2013

MARCELO DA SILVA

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MARCELO DA SILVA

TAXONOMIA E BIOGEOGRAFIA DA ESPÉCIE POLITÍPICA Herpsilochmus

rufimarginatus (Temminck, 1822) (AVES: THAMNOPHILIDAE)

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em Sistemática

e Evolução da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte como requisito parcial para

obtenção do título de Mestre em Sistemática

e Evolução.

Orientador: Prof. Dr. Mauro Pichorim

Coorientador: Prof. Dr. Gabriel Corrêa Costa

Natal/RN, junho de 2013

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Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial do Centro

de Biociências

Silva, Marcelo da.

Taxonomia e biogeografia da espécie politípica Herpsilochmus

rufimarginatus (Temminck, 1822) (Aves: Thamnophilidae). / Marcelo da

Silva. – Natal, RN, 2013.

95 f.: il.

Orientador: Prof. Dr. Mauro Pichorim.

Coorientador: Prof. Dr. Gabriel Corrêa Costa.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Centro de Biociências. Programa de Pós-Graduação em Sistemática e

Evolução.

1. Biogeografia – Dissertação. 2. Taxonomia – Dissertação. 3.

Distribuição potencial – Dissertação. I. Pichorim, Mauro. II. Costa, Gabriel

Corrêa. III. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. IV. Título.

RN/UF/BSE-CB CDU 574.9

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DEDICATÓRIA

Dedico esta dissertação a Maria José Coelho Leal (in memoriam) e Clodoaldo Coelho

Leal (in memoriam), pessoas essas muito especiais na minha vida, lembro-me das nossas

conversas, dessas tirei ensinamentos que me acompanharão por toda minha vida. Essas

pessoas me acolheram em sua casa desde cedo, onde um dos sonhos do Senhor Clodoaldo

Leal era que me formasse, infelizmente não foi possível, pois o mesmo faleceu antes que

começasse a faculdade. Mas a sua esposa me acolheu com muito carinho em sua casa durante

a minha graduação, assim como dos os membros da família Leal. Também não poderia

esquecer a minha tia (Maria dos Milagres Felix) e minha mãe (Maria de Lourdes da Silva)

pelos esforços imensuráveis que fizeram para me educar. A vocês os meus sinceros

agradecimentos, muito obrigado.

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AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador, Prof. Mauro Pichorim pelas horas de conversas, sugestões e

críticas construtivas. Além da sua paciência e capacidade de instigar seus orientandos na

realização dos seus trabalhos. Sua ajuda na coleta e preparação do material. O meu muito

obrigado.

Ao Prof. Gabriel Correa Costa (coorientador) pelas sugestões e conversas que

contribuíram para realização desse tipo de análise nesse trabalho. A Bruno Freire Dantas de

Oliveira, que foi imprescindível para o capítulo de modelagem, pois com a ajuda do mesmo

na construção dos modelos no ARCGIS e análises dos dados foram fundamentais para o

desenrolar de parte dessa dissertação.

Aos curadores Alexandre Luis Padovan Aleixo (MPEG), Luís Fabio Silveira

(MUZUSP) e Marcos André Raposo Ferreira (MNRJ) que além de permitir consultar os

espécimes deram uma atenção especial durante minhas visitas a essas coleções de aves e

disponibilizaram material que auxiliou na produção desse trabalho. Em especial ao Prof.

Marcos André Raposo Ferreira por ter cedido às fotos dos tipos depositados em Museus no

exterior, material esse que comporá uma importante obra que permitirá posteriores estudos de

taxonomia na região Neotropical, especialmente, no Brasil. Através de seu projeto de

Repatriação das Aves Brasileiras. Além das conversas que me esclareceram muitas dúvidas

com relação à taxonomia desse grupo de aves.

Aos pesquisadores Dr. Alexandre Luis Padovan Aleixo (MPEG), Dr. Luís Fabio

Silveira (MUZUSP) e Dr. Vitor de Queiroz Piacentini que auxiliaram na consulta ao material

bibliográfico. Principalmente a Vitor de Queiroz Piacentini pelo envio de material e sugestões

na busca de bibliografias.

Aos colegas biólogos que me auxiliaram nos trabalhos de campo: Tonny de Oliveira

Marques, Lahert William Lobo de Araújo e Guilherme Santos Toledo de Lima. Em especial

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ao amigo Tonny de Oliveira Marques pela companhia de campo e trocas de ideias e sua ajuda

na construção dos espectrogramas. Também meu agradecimento muito especial a Guilherme

Santos Toledo de Lima e sua família pela sua calorosa acolhida durante a minha estadia em

Maceió, Alagoas. Ao Dr. Jorge B. Irusta e a M. Sc. Marcelo Câmara Rodrigues pelas nossas

conversas e discussões sobre o assunto referente a esse grupo.

As minhas amigas, alunas e futuras biólogas: Alanna Cristina de Moura Bezerra

(quando retornar de sua missão de vida), Fernanda Teixeira Sodré, Jéssica Miranda, Jéssica

Molla e Lídia Beatriz pelas ajudas nos trabalhos de campo e que tornaram os campos

divertidos. Assim como sua energia positiva durante momentos em que estava desanimado.

A Honara Morgana da Silva, Thanyria Pollyneide França Câmara, Marcelo Câmara

Rodrigues, Ismael F. Queiroz, José Custodio da Silva e Anara Y. M. Soares pela sua

dedicação e qualidade de preparação dos espécimes. Principalmente nos casos em que os

espécimes estavam bem prejudicados devido ao tiro.

Aos Profs. Sergio Maia Queiroz Lima e Adrian Antonio Garda pelas críticas e

sugestões durante a minha qualificação que contribuíram para a melhoria desse estudo. Assim

como os professores Dra. Gislene Ganade e Dr. Fulvio Aurelio de Morais Freire nas sugestões

de análises dos dados. Meus agradecimentos ao Prof. Dr. Bruno Cavalcante Bellini

(Disciplina de Seminários I e II) pela sua grande capacidade de fazer críticas construtivas com

a sua simplicidade.

Por último agradeço a minha família que compreendeu a minha ausência durante a

condução dos trabalhos de campo e demais atividades, principalmente a minha esposa, Ivânia

de Freitas Campos e minha filha. Essa última me deu força para a realização dessa nova

empreitada, principalmente, nos momentos mais delicados, onde tirei forças para continuar

nessa caminhada. Força essa que vem sem dúvida da minha inspiração de vida, a minha filha,

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Ilana Campos da Silva. Que me dá forças e me inspira na superação das dificuldades

propostas pela vida.

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RESUMO

O gênero Herpsilochmus é composto principalmente por espécies crípticas, entre elas está

Herpsilochmus rufimarginatus, que atualmente é representado por quatro subespécies: H. r.

rufimarginatus, H. r. frater, H. r. scapularis e H. r. exiguus. Diferenças na plumagem e

vocalização sugerem que existam mais de uma espécie envolvida nesse complexo. Sendo

assim esse e outros táxons subespecíficos precisa de revisão urgente, a distribuição disjunta

dessa espécie também possibilita inferir a relação entre essas aves que ocorrem em biomas

e/ou centros de endemismos diferentes. Esse estudo tem como objetivo fazer a revisão

taxonômica dos táxons hora incluídos no complexo Herpsilochmus rufimarginatus com base

em caracteres morfológicos, morfométricos, vocais e distribuição geográfica dessa ave. Além

criar modelos de distribuição potencial atual e fazer a reconstrução da distribuição pretérita

usando modelagem de nicho ecológico, e testar o conservadorismo e divergência de nicho

entre as diferentes subespécies. Foram realizadas consultas para exame das peles dos

espécimes presentes nos museus: Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo

(MZUSP), Museu Nacional (MN) e Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG), e as peles

depositadas na Coleção de Ornitológica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

(COUFRN). Foram verificadas as seguintes medidas de comprimento dos espécimes: culmen

exposto, culmen total e culmen narina, tarso, asa achatada e cauda. A análise vocal foi

realizada com vocalizações de bancos digitais e/ou de bancos pessoas, onde foram

mensurados 17 parâmetros vocais. Essas informações e mais as disponíveis em literatura

serviram para montar um bando de dados sob o limite de distribuição dos táxons e gerar os

modelos de nicho ecológico. As análises realizadas no programa Maxent, tendo como critério

de seleção de modelo os valores de AUC, sendo os modelos que tiveram valores maiores que

0,80 são considerados bons modelos. Os dados ambientais para realização da modelagem

foram baixados no site do WorldClim. As informações morfométricas, vocais e distribuição

geográfica apontam para a para a separação desses táxons seja levando em consideração

análises multivariadas e uni variadas. Os modelos de distribuição potencial tiveram bom

desempenho (AUC > 0,80), sendo a sua distribuição associada a características ambientais da

floresta Amazônica e Mata Atlântica (florestas do sul e sudeste, e floresta do nordeste). A

reconstrução da distribuição aponta um possível contato entre a parte sul da Mata Atlântica

com a parte norte da Amazônica. A análise de sobreposição de nicho apontou uma baixa

sobreposição entre os táxons e as comparações entre modelo nulo e os gerados de

sobreposição apontam provavelmente que ocorre conservadorismo de nicho. As informações

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sugerem que os táxons que ocorrem na Amazônia e Mata Atlântica representam três espécies

distintas, sendo uma delas uma espécie não descrita.

Palavras Chave: diversificação, especiação, modelagem de nicho ecológico, conservadorismo

de nicho, reconstrução da distribuição

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ABSTRACT

The genus Herpsilochmus is composed mainly of cryptic species, among them is

Herpsilochmus rufimarginatus, which is currently represented by four subspecies: H. r.

rufimarginatus, H. r. frater, H. r. scapularis and H. r. exiguus. Differences in plumage and

vocalization suggest that there are more than one species involved in this complex. Thus this

and other subspecific taxa need urgent revision, the disjunct distribution of this species also

allows us to infer the relationship between birds that occur in this biome and / or different

centers of endemism. This study aims to make a taxonomic revision of the taxa included in

the complex time Herpsilochmus rufimarginatus based on morphological, morphometric,

vocals and geographical distribution of this bird. Besides creating distribution models current

potential and make the reconstruction of the distribution bygone using ecological niche

modeling, and testing the niche conservatism and divergence between different subspecies.

Consultations for examination of the skins of specimens of the museums: Museum of

Zoology, University of São Paulo (MZUSP), National Museum of Rio de Janeiro (MN) and

Emilio Goeldi Museum of Pará (MPEG), and the skins deposited at the collection of

Ornithological Federal University of Rio Grande do Norte (COUFRN). We studied the

following measures length of specimens: exposed culmen, culmen and total culmen nostril,

tarsus, wing and tail flattened. The voice analysis was performed with vocalizations banks

and / or digital banks people where 17 voice parameters were measured. This information and

more available in the literature were used to assemble a bunch of data under the limit

distribution of taxa and generate ecological niche models. This analyzes carried out in the

program Maxent, having as model selection criterion the AUC, and the models were greater

than 0.80 are considered good models. Environmental data for the realization of the modeling

were downloaded on the website of Worldclim. The morphometric information, vocals and

geographic distribution point for the separation of these taxa to be considering various uni and

multivariate analyzes. The potential distribution models performed well (AUC> 0.80), and its

distribution associated with environmental characteristics of the Amazon forest and Atlantic

forest (forests of south and southeast, northeast and forest). The reconstruction of the

distribution indicates a possible contact between the southern part of the Atlantic forest in the

northern part of the Amazon. The analysis of niche overlap showed a low overlap between

taxa and comparisons between the null model and the generated overlay link probably

occurring niche conservatism. The data suggest that the taxa that occur in the Amazon and

Atlantic forest represent three distinct species.

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Keywords: diversification, speciation, ecological niche modeling, niche conservatism,

reconstruction of the distribution

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SUMÁRIO

Introdução Geral......................................................................................................

Objetivos..................................................................................................................

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Síntese dos Capítulos...............................................................................................

Referências...............................................................................................................

19

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Capítulo 1 - Biogeografia de Herpsilochmus rufimarginatus (Thamnophilidae):

usando modelagem de nicho ecológico para inferir a distribuição potencial,

conservadorismo de nicho e diversificação..............................................................

Resumo.....................................................................................................................

Abstract....................................................................................................................

Introdução................................................................................................................

Material e Métodos..................................................................................................

Resultados................................................................................................................

Discussão.................................................................................................................

Conclusão.................................................................................................................

Referências...............................................................................................................

25

25

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27

30

34

42

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Capítulo 2 - Revisão taxonômica da espécie politípica Herpsilochmus

rufimarginatus (Temminck, 1822) (Aves: Thamnophilidae), com descrição de

uma nova espécie críptica no Centro Pernambuco de Endemismo..........................

Resumo.....................................................................................................................

Abstract....................................................................................................................

Introdução................................................................................................................

Material e Métodos..................................................................................................

Resultados................................................................................................................

Discussão.................................................................................................................

Referências...............................................................................................................

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Introdução Geral

A compreensão dos processos que promovem a especiação é o tema central da biologia

evolutiva (COYNE E ORR 2004, FUTUYMA 2005), principalmente quando estamos

estudando a região Neotropical que apresenta elevada diversidade de espécies (sensu MYERS

et al. 2000). Segundo Pascual et al. (1996) a diversificação da biota da América do Sul é um

resultado de extenso e dinâmico processo histórico, que foi marcado por mudanças

importantes nas condições climáticas e ambientais, longos períodos de isolamento geográfico,

quebra desse isolamento e amplas flutuações no nível do mar, que isolaram parte da massa

continental. A conjunção dessas mudanças tectônicas e do nível do mar dirigiu a evolução

climática e das paisagens, que resultaram em mudanças na composição da biota, que refletem

nas condições biogeográficas atuais (PASCUAL et al. 1996). Porém ainda existe muito

questionamento de como processos ecológicos, geológicos e climáticos atuaram para dar

origem às espécies dessa região (MALDONADO-COELHO et al. 2013).

Quando falamos de processo de especiação e riqueza de espécies merecem destaque as

florestas tropicais, com destaque para Floresta Amazônica e Atlântica, que tem elevada

diversidade biológica, sendo a primeira a que apresenta a maior biodiversidade do planeta

(MYERS et al. 2000, MITTERMEIER et al. 2002). Os processos que geraram essa

diversidade ainda hoje são muito discutidos e é tema central de pesquisas (BATALHA

FILHO et al. 2013a,b, RIBAS et al. 2012, MALDONADO-COELHO et al. 2013). As

hipóteses propostas para explicar essa riqueza foram: teoria dos refúgios (SIMPSON e

HAFFER 1978, HAFFER 1992, HAFFER e PRANCE 2002), rios como barreiras (HAFFER

2008), hipótese dos museus (FJELDSA et al. 1997, FJELDSA e LOVETT 1997), teoria

geotectônica (PETRI e FULFARO 1983, RICCOMINI et al. 1989) e hipótese dos gradientes

de habitat ou de diversificação parapátrica (MORITZ et al. 2000, SMITH et al. 1997). Poucas

dessas propostas foram testadas como afirma RIBAS et al. (2012), com a teoria dos refúgios

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florestais e os rios como uma importante barreira geográfica que influenciou na formação da

biota das florestas tropicais (CARNAVAL e MORITZ 2008, RIBAS et al. 2012,

MALDONADO-COELHO et al. 2013). A riqueza e complexidade da Floresta Amazônica e

Atlântica são evidenciadas pela presença de centros de endemismos no qual temos plantas,

vertebrados e invertebrados exclusivos (PRANCE 1973, CRACRAFT 1985, HALL e

HARVEY 2002, SILVA et al. 2004, SILVA et al. 2005). Na Amazônia temos oito centros de

endemismo para vertebrados (Belém, Xingu, Tapajós, Rondônia, Inambari, Napo, Imeri e

Guiana) (sensu SILVA et al. 2005, SILVA e GARDA 2011, RIBAS et al. 2012) e na Mata

Atlântica são quatro (Pernambuco, Costa da Bahia e Interior da Bahia e Serra do Mar)

(SILVA et al. 2004).

As biotas dessas duas florestas estavam conectadas, isso é inferido pela presença de

espécies irmãs com distribuição disjunta (COSTA 2003, BATALHA FILHO et al. 2013b).

Informações recentes de estudos filogenéticos, filogeográficos e biogeográficos de aves e

mamíferos apontam essa relação entre essas biotas (HAFFER 1969, 2008, COSTA 2003,

BATALHA FILHO et al. 2013b). Estudos anteriores apontam que a possível ligação entre

esses dois blocos de florestas ocorreu nas épocas mais úmidas como no Mioceno Médio (16

maa), mesmo com a posterior separação, provavelmente ocorrida a partir do Plioceno (~5

maa), onde houve o esfriamento e ressecamento global e os ciclos glaciais e interglaciais que

permanecem até hoje, favoreceram a expansão de áreas abertas savânicas (DASILVA e

PINTO-DA-ROCHA 2011). Essas formaram a diagonal de formações abertas que é composta

pelos biomas da Caatinga, Cerrado e Chaco que isolaram essas florestas (SILVA e BATES

2002). Dados recentes de Batalha Filho et al. (2013b) apontam inclusive dois momentos no

tempo onde existia conexão entre essas biotas, um mais antigo (~25 maa) e outro mais recente

(4,8 maa). Hoje são reconhecidos três locais onde existiam contatos entre essas florestas, o

primeiro entre o sudeste da Amazônia com o sul da Mata Atlântica, sendo essa uma área de

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conexão importante, e outras duas áreas no nordeste do Brasil, uma costeira conectando o Rio

Grande do Norte, Ceará, Piauí e Maranhão, e outra conectando Bahia a Tocantins (COSTA

2003, BATALHA FILHO et al. 2013b).

A família Thamnophilidae é monofilética e rica (BRUMFIELD et al. 2007, IRESTEDT

et al. 2004), compreendendo atualmente 219 espécies (REMSEN-JUNIOR et al. 2011), das

quais 174 são registradas no Brasil (CBRO 2011). A distribuição geográfica se estende desde

o México até o norte da Argentina (restritos à região Neotropical), sendo mais diversificados

nas regiões quentes como na floresta Amazônica, e habitando preferencialmente ambientes

florestais e/ou formações arbustivas (SICK 1997; ZIMMER E ISLER 2003). Essas aves

exibem considerável variação de tamanho, forma e cor da plumagem (IRESTEDT et al.

2004). Dados recentes baseados em informações de vocalizações estão mostrando que a

riqueza desse grupo é ainda maior (WHITNEY et al. 2000, ISLER et al. 2001, ISLER et al.

2007, CHAVES et al. 2010, ISLER e WHITNEY 2011). Um fator que fortalece a utilização

da vocalização para fins taxonômicos neste grupo é que essas aves são suboscines,

apresentando caracteres vocais herdados, diferentemente dos oscines (SICK 1997, ISLER et

al. 1998).

O gênero Herpsilochmus é composto por espécies crípticas que tem revelado várias

descrições nos últimos anos, principalmente devido ao desenvolvimento da bioacústica e do

aumento de estudos mais cuidadosos, ou seja, onde houve amostragem mais representativa foi

possível descrever espécies (WHITNEY e PACHECO 2000, ZIMMEr e ISLER 2003).

Atualmente são reconhecidas 15 espécies (ZIMMER e ISLER 2003), sendo que dez ocorrem

no Brasil (CBRO 2011) e três são endêmicas: Herpsilochmus pectoralis Sclater, 1857, H.

sellowi Whitney e Pacheco, 2000 e H. pileatus (Lichtenstein, 1823) (WHITNEY et al. 2000;

ZIMMER e ISLER 2003). Esse gênero ocorre na América Central e do Sul, sendo mais

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diversificado na região Amazônica. Os representantes de Herpsilochmus ocorrem na floresta

Amazônica, Mata Atlântica, Caatinga e Cerrado (SICK 1997, WHITNEY et al. 2000).

O gênero Herpsilochmus foi descrito por Cabanis em 1847, tendo como espécie tipo

Myiothera pileata conforme a designação de Gray (1855). A espécie Herpsilochmus

rufimarginatus foi descrita por Temminck em 1822 sob o nome de Myiothera rufimarginatus

(Figura 1a, 2), sendo a localidade tipo o Rio de Janeiro, Brasil. A espécie Herpsilochmus

rufimarginatus é tratada como politípica, sendo reconhecidas quatro subespécies (ZIMMER e

ISLER 2003): Herpsilochmus rufimarginatus rufimarginatus (Temminck, 1822),

Herpsilochmus rufimarginatus frater P. L. Sclater e Salvin, 1880, Herpsilochmus

rufimarginatus scapularis (Wied, 1831) e Herpsilochmus rufimarginatus exiguus Nelson,

1912. Diferenças morfológicas e vocais sugerem que existam mais de uma espécie

compreendida nesse complexo, sendo assim é necessária à revisão dessa espécie politípica

(PINTO 1978, ZIMMER e ISLER 2003), além do arranjo taxonômico ser antigo e de novos

dados apontam para a presença de mais de uma espécie.

Herpsilochmus r. rufimarginatus (Figura 1b) distribui-se da Bahia ao sul do Brasil (Rio

de Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina), no leste do Paraguai e extremo nordeste da

Argentina (Misiones) (CORY e HELLMAYR 1924, PINTO 1978, ZIMMER e ISLER 2003).

O macho tem píleo preto, e uma faixa creme se estende do ângulo do olho ao occipital

posterior. Os loros, sobrancelhas, bochechas e garganta são branco-acinzentados. Volta

escapular de cor cinza-esverdeada, todas as partes inferiores tem tom de cinza amarelo,

bordas das penas secundárias são esbranquiçadas e algumas penas são vermelhas brilhantes

no seu exterior. A cauda é longa e escalonada, as duas penas médias inteiramente cinza,

outras pretas com pontas brancas, branco que é mais extenso sobre as laterais do que nas

penas ao centro das retrizes. A fêmea tem tons menos puros, a parte superior da cabeça e da

banda por trás dos olhos é avermelhada, e a parte traseira é amarelada e partes inferiores têm

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lados com um cinza mais sutil, as penas de vôo são vermelhas e menos brilhantes que nos

macho.

Herpsilochmus r. frater (Figura 1c) tem como localidade tipo Sarayacu no Equador, e o

holótipo depositado no British Museum. Ocorre da Colômbia ao norte do Peru e da Bolívia,

Venezuela e Brasil setentrional, da margem direita do baixo Amazonas e para o sul até o norte

de Mato Grosso e para leste, até a região de Belém e no norte do Maranhão. Diagnose:

intimamente relacionada com o táxon nominal, mas difere dessa por não apresentar preto e

interscapular saturada de cor castanha muito diferente.

Herpsilochmus r. scapularis (Figura 1d) tem com localidade tipo a Bahia, o tipo está

depositado no American Museum of Natural History. Esse táxon era sinônimo de H. r.

rufimarginatus, esse nome passou a ser utilizado novamente por Naumburg para as aves do

nordeste do Brasil (do sul do Rio Grande do Norte a Alagoas), Bahia, Espírito Santo e Minas

Gerais (PINTO e CAMARGO 1961, ZIMMER e ISLER 2003), que tem uma tonalidade

“mais acinzentada (menos olivácea) do dorso dos machos, garganta de um branco mais puro e

partes inferiores de um amarelo mais pálido” quando comparadas com o táxon do Brasil

meridional (PINTO e CAMARGO 1961). Esses autores tem dúvida quanto à utilização do

nome de Wied para os exemplares mencionados. Diagnose: colorido dos machos, todas as

cores pálidas, com crista marrom-avermelhada na fêmea e no macho, negra, e apresenta

ventre amarelado pálido.

Herpsilochmus r. exiguus tem como localidade tipo o Panamá, e o holótipo está

depositado no Smithsonian Miscellaneous Collections. Ocorre no leste do Panamá, noroeste

da Colômbia e oeste do Equador. É menor que H. r. rufimarginatus, o macho difere por ter

uma banda larga preta que se estende em continuação a coroa preta, da nuca para baixo até o

meio das costas e nádegas, este preto em volta é variado com uma mistura leve de cinza; as

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bochechas, queixo e garganta é branca sem traços amarelos; fêmea é castanha por cima e o

ventre amarelo intenso.

Figura 1 - Prancha dos tipos de Herpsilochmus rufimarginatus (direita macho e esquerda

fêmea - a) e fotos dos sintipos de três subespécies desse complexo específico: H. r.

rufimarginatus (b), H. r. frater (c) e H. r. scapularis (d).

Fotos: Marcos André Raposo Ferreira.

a b

d c

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Figura 2. Distribuição geográfica da espécie politípica Herpsilochmus rufimarginatus.

Fonte: NatureServe (2007).

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Objetivos

Revisar a taxonomia e estudar a biogeografia de complexo específico Herpsilochmus

rufimarginatus, testando a validade, diagnostibilidade e distribuição dos táxons

subespecíficos que estão agrupados nesse táxon.

Os objetivos específicos foram:

Modelar a distribuição atual e pretérita de cada táxon de Herpsilochmus

rufimarginatus;

Testar o conservadorismo de nicho ou divergência entre as populações que habitam

áreas geográficas diferentes;

Calcular a sobreposição de nicho entre as populações

Realizar análise morfológica e vocal para testar a validade dos táxons subespecíficos.

Síntese dos Capítulos

A seguinte dissertação está estruturada em dois capítulos. No primeiro capítulo usamos

informações dos pontos de ocorrência e variáveis ambientais, para modelar o nicho ecológico

e predizer a distribuição potencial, a sobreposição de nicho, e reconstruir a distribuição

geográfica pretérita e testar o conservadorismo ou divergência de nicho entre os táxons. Neste

capítulo testamos como esses fatores contribuíram para a diversificação do grupo nas florestas

tropicais e também como a modelagem de nicho auxilia na compreensão da diversificação nos

trópicos. Principalmente qual seria o papel do conservadorismo e/ou divergência de nicho na

especiação da biota Amazônica e da Mata Atlântica usando esse complexo específico como

modelo.

No segundo capítulo é feita uma revisão taxonômica das subespécies hoje pertencentes

ao complexo Herpsilochmus rufimarginatus. Por meio de informações morfológicas e

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morfométricas, vocalização e de distribuição geográfica fizemos essa revisão para testar a

validade dos táxons. Nesse capítulo testamos se essas variáveis diagnosticam os táxons e

estabelecem os seus limites de distribuição. Os estudos de revisão taxonômica são

importantes para revelar a real riqueza de espécies que ocorrem nas florestas tropicais como

floresta Amazônica e Atlântica.

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CAPÍTULO 1 - Biogeografia de Herpsilochmus rufimarginatus (Thamnophilidae) usando

modelagem de nicho ecológico para inferir a distribuição potencial, conservadorismo de nicho

e diversificação

Marcelo da Silva¹, Gabriel Correa Costa², Mauro Pichorim³

¹ Programa de Pós-Graduação em Sistemática e Evolução da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte. Autor para Correspondência: E-mail: [email protected]

²,³ Departamento de Botânica, Zoologia e Ecologia da Universidade Federal do Rio Grande do

Norte

RESUMO. O gênero Herpsilochmus é composto principalmente por espécies crípticas, entre

elas está Herpsilochmus rufimarginatus, que atualmente é representado por quatro

subespécies: H. r. rufimarginatus, H. r. frater, H. r. scapularis e H. r. exiguus. Diferenças na

plumagem e vocalização sugerem que existam mais de uma espécie envolvida nesse

complexo. Esse estudo tem como objetivo realizar a predição da distribuição atual e pretérita,

sobreposição de nicho, conservadorismo ou divergência de nicho dos táxons inseridos no

complexo específico Herpsilochmus rufimarginatus. Para a construção do banco de dados

realizamos consulta a coleção de peles em museus (MZUSP, MN e MPEG), bancos de áudio

digitais, bibliografia especializada e dados coletados pelos autores. As análises realizadas no

programa Maxent, tendo como critério de seleção de modelo os valores de AUC, sendo os

modelos que tiveram valores maiores que 0,80 foram considerados bons modelos. Os dados

ambientais para realização da modelagem foram obtidos no site do WorldClim. Os modelos

de distribuição potencial tiveram bom desempenho (AUC > 0,80), sendo a sua distribuição

associada a características ambientais da floresta Amazônica e Mata Atlântica (florestas do

norte e floresta do sul, tendo como referencia o rio São Francisco). A reconstrução da

distribuição aponta um possível contato entre a parte sul da Mata Atlântica com a parte

sudoeste da Amazônica. A análise de sobreposição de nicho apontou baixa sobreposição entre

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os táxons e as comparações entre modelo nulo e os gerados de sobreposição apontam

provavelmente que ocorre conservadorismo de nicho. As informações sugerem que os táxons

hoje inseridos no complexo específico Herpsilochmus rufimarginatus são três espécies

distintas.

Palavras Chave: Herpsilochmus rufimarginatus, distribuição potencial, reconstrução da

distribuição, conservadorismo de nicho, especiação

ABSTRACT. The genus Herpsilochmus is composed mainly of cryptic species, among them

is Herpsilochmus rufimarginatus, which is currently represented by four subspecies: H. r.

rufimarginatus, H. r. frater, H. r. scapularis and H. r. exiguus. Differences in plumage and

vocalization suggest that there are more than one species involved in this complex. This study

aims to perform the prediction of present and former distribution, niche overlap, niche

conservatism or divergence of the taxa included in the specific complex Herpsilochmus

rufimarginatus. To construct the database query to perform collection of skins in museums

(MZUSP, MN and MPEG), audio digital banks, specialized bibliography and data collected

by the authors. This analyzes carried out in the program Maxent, having as model selection

criterion the AUC, and the models were greater than 0.80 were considered good models.

Environmental data for the realization of the modeling were obtained from the website of the

Worldclim. The potential distribution models performed well (AUC> 0.80), and its

distribution associated with environmental characteristics of the Amazon forest and Atlantic

forest (northern forests and forest of the south, taking as reference the river São Francisco).

The reconstruction of the distribution indicates a possible contact between the southern part of

the Atlantic Forest in the southwestern part of the Amazon. The analysis of niche overlap

showed low overlap between taxa and comparisons between the null model and the generated

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overlay link probably occurring niche conservatism. The data suggest that the taxa now

placed in specific complex Herpsilochmus rufimarginatus are three distinct species.

Keywords: Herpsilochmus rufimarginatus, potential distribution, reconstruction of the

distribution, niche conservatism, speciation

Introdução

A compreensão dos processos que promovem a especiação é o tema central da biologia

evolutiva (COYNE e ORR 2004, FUTUYMA 2005). Na região Neotropical ainda existe

muito questionamento de como processos ecológicos, geológicos e climáticos atuaram para

dar origem a grande diversidade da região (MYERS et al. 2000, MALDONADO-COELHO et

al. 2013). Dados moleculares e/ou modelagem de nicho ecológico tem sido usados para

estudar especiação (KOZAK e WIENS 2006, PYRON e BURBRINK 2009, WOOTEN e

GIBBS 2012), delimitação de espécies (RAXWORTHY et al. 2007), reconstrução da

distribuição (PETERSON et al. 2004, BONACCORSO et al. 2006, WALTARI et al. 2007,

NOGUÉS-BRAVO 2009, KUEMMERLE et al. 2012), estudos biogeográficos (BRITO et al.

2009, COSTA e SCHLUPP 2010) e divergência e conservadorismo de nicho (KOZAK e

WIENS 2006, WARREN et al. 2008, MCCORMACK et al. 2010, NAKAZATO et al. 2010,

CICERO e KOO 2012, WOOTEN e GIBBS 2012). O uso da modelagem de nicho ecológico

tem aumentado muito nos últimos anos, servindo para responder questões importantes na área

da biologia evolutiva (KOZAK et al. 2008).

Quando falamos de processo de especiação e riqueza de espécies merecem destaque as

florestas tropicais, com destaque para Amazônia e Mata Atlântica, que tem elevada

diversidade biológica, sendo a primeira a que apresenta a maior biodiversidade do planeta

(MYERS et al. 2000, MITTERMEIER et al. 2002). Os processos que geraram essa

diversidade ainda são muito discutidos e tema central de pesquisas (BATALHA FILHO et al.

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2012, RIBAS et al. 2012, MALDONADO-COELHO et al. 2013). Algumas hipóteses foram

propostas para explicar essa riqueza, como: a teoria dos refúgios (SIMPSON e HAFFER

1978, HAFFER e PRANCE 2002), a hipótese dos rios (HAFFER 2008), a hipótese dos

museus (FJELDSA et al. 1997, FJELDSA e LOVETT 1997), a teoria geotectônica (PETRI e

FULFARO 1983, RICCOMINI et al. 1989) e a hipótese dos gradientes de habitat ou de

diversificação parapátrica (MORITZ et al. 2000, SMITH et al. 1997). Os poucos modelos

testados foram à teoria dos refúgios florestais e os rios como barreiras geográficas

influenciando na formação da biota das florestas tropicais (CARNAVAL e MORITZ 2008,

TOMÉ et al. 2010, RIBAS et al. 2012, MALDONADO-COELHO et al. 2013).

Na Amazônia e Mata Atlântica existem centros de endemismos para plantas,

vertebrados e invertebrados (PRANCE 1973, CRACRAFT 1985, HALL e HARVEY 2002,

SILVA et al. 2004, SILVA et al. 2005). Para vertebrados existem oito centros de endemismo

na Amazônia (Belém, Xingu, Tapajós, Rondônia, Inambari, Napo, Imeri e Guiana) (sensu

SILVA et al. 2005, SILVA e GARDA 2011, RIBAS et al. 2012) e na quatro na Mata

Atlântica (Pernambuco, Costa da Bahia e Interior da Bahia e Serra do Mar) (SILVA et al.

2004).

As biotas dessas duas florestas estavam conectadas devido a presença de espécies irmãs

com distribuição disjunta (COSTA 2003, BATALHA FILHO et al. 2013). Informações

recentes de estudos filogenéticos, filogeográficos e biogeográficos de aves e mamíferos

confirmam essa relação (HAFFER 1969, 2008, COSTA 2003, BATALHA FILHO et al.

2012). Estudos anteriores apontam que a possível ligação entre esses dois blocos de florestas

ocorreu em épocas úmidas do Mioceno Médio (16maa) (DASILVA e PINTO-DA-ROCHA

2011). A separação, provavelmente ocorreu no Plioceno (~5maa), onde houve o esfriamento

e ressecamento global e os ciclos glaciais e interglaciais que permanecem até hoje,

favoreceram a expansão de áreas abertas savânicas (DASILVA e PINTO-DA-ROCHA 2011).

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Essas formaram a diagonal de formações compostas pelos biomas Caatinga, Cerrado e Chaco

e foram responsáveis pelo isolamento das florestas (SILVA e BATES 2002). Dados recentes

de Batalha Filho et al. (2012) apontam conexão entre Amazônia e Mata Atlântica em dois

momentos (~25 milhões de ano e ~ 4,8 milhões de anos). Hoje são propostas três áreas onde

existia contato entre essas florestas, sudoeste da Amazônia com o sul da Mata Atlântica,

sendo essa a mais importante, e outras duas no nordeste do Brasil, uma costeira entre Rio

Grande do Norte, Ceará, Piauí e Maranhão, e outra conectando Bahia a Tocantins (COSTA

2003, BATALHA FILHO et al. 2012).

Entre os táxons que tem distribuição disjunta entre Amazônia e Mata Atlântica temos o

complexo de espécie Herpsilochmus rufimarginatus, onde são reconhecidas quatro

subespécies (ZIMMER e ISLER 2003): Herpsilochmus rufimarginatus rufimarginatus

(Temminck, 1822), Herpsilochmus rufimarginatus frater Sclater e Salvin, 1880,

Herpsilochmus rufimarginatus scapularis (Wied, 1831) e Herpsilochmus rufimarginatus

exiguus Nelson, 1912. Diferenças morfológicas e vocais nas populações sugerem que existam

mais de uma espécie diagnosticável (PINTO 1978, ZIMMER e ISLER 2003). Pinto (1978)

ainda destaque que as populações da Amazônia e Mata Atlântica (Centro de Endemismo

Pernambuco) são semelhantes em plumagem em relação ao táxon nominal. Os táxons

subespecificos tem a seguinte distribuição, Herpsilochmus rufimarginatus rufimarginatus

ocorre da Bahia ao sudeste brasileiro (São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina), no

leste do Paraguai e extremo nordeste da Argentina (Misiones) (CORY e HELLMAYR 1924,

PINTO 1978, ZIMMER e ISLER 2003). Herpsilochmus r. frater ocorre da Colômbia ao norte

do Peru e da Bolívia, Venezuela e Brasil setentrional, da margem direita do baixo Amazonas

e para o sul até o norte de Mato Grosso e para leste, até a região de Belém e no norte do

Maranhão. Herpsilochmus r. scapularis se distribui no nordeste do Brasil (do sul do Rio

Grande do Norte a Alagoas), Bahia, Espírito Santo e Minas Gerais (PINTO e CAMARGO

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1961, ZIMMER e ISLER 2003), e Herpsilochmus r. exiguus ocorre no leste do Panamá,

noroeste da Colômbia e oeste do Equador (ZIMMER e ISLER 2003).

Devido à distribuição disjunta de Herpsilochmus rufimarginatus entre esses biomas e as

diferentes populações reconhecidas essa espécie é um importante modelo para o estudo das

relações entre essas duas floretas e se houve diversificação politípica. Portanto, propomos a

delimitação da distribuição potencial dos táxons de Herpsilochmus rufimarginatus para o

presente e o passado (Pleistoceno) para reconstruirmos o processo de diversificação dessa

espécie. Então, objetivamos testar se a modelagem de nicho é capaz de delimitar a

distribuição potencial atual das subespécies, reconstruir a distribuição dos táxons durante o

Pleistoceno, e verificar a divergência e/ou conservadorismo de nicho entre as diferentes

populações e inferir como a modelagem de nicho pode explicar o processo de diversificação

nessas florestas.

Material e Métodos

Pontos de Ocorrência de Herpsilochmus

Os pontos usados na construção dos modelos de nicho ecológico foram obtidos por

meio de informações de peles e coleções de tecido disponíveis em museus (Museu da

Universidade de São Paulo, Museu Nacional e Museu Paraense Emilio Goeldi), arquivos

sonoros digitais (Xeno-canto América e na Macaulay Library of Natural Sounds of the

Cornell University), levantamentos bibliográficos em revistas especializadas e informações de

campo coletadas pelo autor e colaboradores. Só utilizamos pontos para modelagem de nicho

ecológico que foram possíveis de chegar à coordenada geográfica precisa dos registros. Esse

problema é enfrentado principalmente com registros antigos (museus e até com registros

sonoros). Os pontos usados para realizar modelagem foram inseridos em mapas no ArcGis 9.3

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para verificar se condiziam com a distribuição dos táxons, posteriormente foram convertidos

para o formato de leitura do programa Maxent 3.3.3.

Construção dos Modelos de Nicho Ecológico e suas projeções

Dados de ocorrência e variáveis ambientais foram usados para gerar Modelos de Nicho

Ecológico (ENM) utilizando a versão do programa Maxent 3.3.3 (PHILLIPS et al. 2006).

Este programa utiliza a distribuição de probabilidade de entropia máxima para predizer a

ocorrência aproximada do táxon a partir de dados de presença. Este método tem apresentado

elevado desempenho quando comparado com outros métodos utilizados na modelgem de

nicho (ELITH et al. 2006) e inclusive tem bom desempenho quando a amostra de pontos é

pequena (PEARSON et al. 2007). Embora outros métodos conhecidos podem gerar previsões

diferentes (THUILLER 2003, PEARSON et al. 2006). O desempenho dos modelos foi

baseado nos valores do AUC, esse valor permite uma interpretação dos resultados, quanto

maior o valor do AUC melhor a eficência do modelo (LOBO et al. 2008, PETERSON et al.

2008), valores maiores que 0,80 são considerador com bom desempenho.

Utilizamos as variáveis climáticas disponíveis no site do WorldClim

(http://www.worldclim.org, HIJMANS et al. 2005). Usamos 19 variáveis ambientais para

realizar a modelagem, sendo que dez dessas apresentaram altos valores de correlação (r ≥

0,95), as quais foram excluidas na hora de construir os modelos. As nove variáveis ambientais

utilizadas para gerar os modelos foram: temperatura sazonal, isotermalidade, temperatura

média no trimestre mais frio, temperatura média no trimestre mais quente, precipitação do

trimestre mais úmido, variação de precipitação, variação de temperatura anual, precipitação

do mês mais seco e precipitação do trimestre mais seco.

Além de gerar modelos de distribuição para o presente com as variáveis mencionadas,

realizou-se a projeção da distribuição para o passado. Usamos o mesmo grupo de variáveis

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para essas projeções para o Pleistoceno (21 mil anos no último glacial maxímo e a 130-140

mil anos, último período interglacial). Essas projeções mais antigas foram usadas para

predizer possíveis áreas de conecção entre a Amazônia e Mata Atlântica.

Teste de Sobreposição de Nicho e Divergência Ambiental

Para testar a sobreposição de nicho entre os três táxons subespecíficos de

Herpsilochmus rufimarginatus comparamos os valores de sobreposição par a par, para esse

cálculo usamos a distribuição potencial gerada para cada táxon. Esse teste foi realizado com o

ENMTools (WARREN et al. 2008) para calcular a estatística D (SCHOENER’S 1968) e a I

(WARREN et al. 2008). Esses valores variam de zero (não tem sobreposição de nicho) a um

(nichos idênticos), as informações geradas servem para comparar os nichos entre pares de

táxons. Comparamos os valores de sobreposição de nicho gerados no ENMTools (WARREN

et al. 2010) para esses dois índices com os valores randomizados do modelo nulo conforme

proposto por WARREN et al. (2008).

Conduzimos também uma segunda análise para testar a diferença de nicho entre as

diferentes subespécies. Para isso os valores das variáveis ambientais usadas na construção dos

modelos de nicho ecológico foram extraídos de cada ponto referente a cada táxon. Os valores

das variáveis de cada ponto foram extraídos usando o ArcGIS 9.3. Antes de conduzir as

análises realizamos a padronização dos dados para cada grupo de variáveis (Fórmula = valor

da variável – media da variável/ desvio padrão da variável) e posteriormente conduzimos o

teste de homocedasticidade das variâncias usando o teste de Levene’s no JMP 10 e teste

normalidade no PAST 1.0. O teste da existência de diferenças no espaço climático entre as

subespécies foi realizado usando análise multivariada de variância (MANOVA) no PAST,

assim como a comparação par a par. Posteriormente comparamos os nichos climáticos entre

as subespécies usando análise discriminante. Para a definição dos grupos nos baseamos na

vocalização, distribuição geográfica e fazendo uma análise dos táxons subespecíficos

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descritos. Os escores canônicos para análise discriminante foram determinados no JMP 10.

Calculamos a diferença dos escores canônicos entre os táxons, estimamos o centroide e o

intervalo de confiança de 95% para cada táxon. As análises aqui apresentadas seguiram parte

da proposta de KALKVIK et al. (2012) para comparação entre os nicho ecológico baseado

nos pontos conhecidos.

Teste de Divergência e Conservadorismo de Nicho

Usamos a metodologia proposta por MCCORMACK et al. (2010) para verificar a

existência de conservadorismo ou divergência de nicho entre as subespécies. Para tal, usamos

o valor da sobreposição de nicho calculado pela estatística D (SCHOENER’S 1968) e I

(WARREN et al. 2008) gerada no ENMtools que foram comparadas com o modelo nulo

tambem gerado no mesmo programa.

Para a construção do “background” de cada táxon usamos os pontos de ocorrência dos

referidos táxons e a partir desses pontos estabelecemos diferentes “buffers”. Para a construção

do “background” foram utilizados os pontos de ocorrência das subespécies, em cada um

desses pontos foram estabelecidos “buffers” de 50, 200 e 300 km. Esses “buffers” serviram

para gerar o “background” para posterior geração do modelo nulo para cada um dos diferentes

tamanhos. Esses “buffers” foram transformados em um formato legível no ENMtools, os

procedimentos mencionados se realizaram no programa ArcMap 9.3. Com relação à

construção do “background” é necessário que cada táxon seja delimitado por uma área que

inclua na análise as regiões que são mais ou menos semelhante à do nicho da espécie

(WARREN et al. 2008). Sendo assim, o background deve incluir habitats acessíveis e,

portanto, deve refletir informações sobre capacidade de dispersão (SOBERON e PETERSON

2005). Para outras espécies com capacidades diferentes de dispersão, a abordagem de

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identificar área no “background” onde teria de ser ajustada para acomodar os detalhes

específicos da espécie (WARREN et al. 2008).

Para testar a hipótese nula de que nichos foram divergentes ou conservados em

comparação com “background” ambiental, utilizamos o procedimento de randomização do

background no ENMtools, que compara os valores observados na sobreposição de nicho a

uma distribuição nula de 100 valores de sobreposição gerados através da comparação da

ENM de um taxon para um ENM criado a partir de pontos aleatórios extraídos da distribuição

geográfica do outro táxon (WARREN et al. 2008). Esse processo é então repetido para ambos

os táxons na comparação, duas distribuições nulas são geradas para análise. O número de

pontos aleatórios extraídos do “background” é equivalente ao tamanho da amostra do táxon

de cujo alcance os pontos aleatórios foram retirados. O conservadorismo de nicho ou

divergência foram comparandos aos valores de sobreposição de nicho observados (D

observado) com os valores de sobreposição gerados no modelo nulo (D nulo). A divegência

(D) ocorre quando D observado > D nulo, conservadorismo (C) quando D observado < D nulo

ou não tem divergência ou conservadorismo (N) quando D observado = D nulo.

Resultados

Modelagem de Nicho Ecológico e Projeções Atuais e Pretéritas

Obtivemos 232 pontos de ocorrência para o complexo Herpsilochmus rufimarginarus

(108 para H. r. rufimarginatus, 76 para H. r. frater e 48 para H. r. scapularis (Figura 1). Os

modelos gerados tiveram o melhor desempenho que o modelo aleatório (AUC = 0,50). Os

maiores valores de AUC foram encontrados para H. r. scapularis (AUC = 0,998 ± 0,0005), H.

r. rufimarginatus (AUC = 0,975 ± 0,008) e H. r. frater (AUC = 0,855 ± 0,036).

A contribuição das variáveis e o tipo de variável diferem entre as subespécies. Para H. r.

rufimarginatus a temperatura sazonal (25,8%) e precipitação do mês mais seco (25,2%) e

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isotermalidade (15,8%) foram as variáveis que mais contribuíram (Tabela 1). Para H. r.

scapularis as variáveis que mais contribuíram foram a variação de temperatura anual (42,3%)

e temperatura sazonal (27,2%). Para H. r. frater as variáveis que mais contribuíram para o

modelo foram a isotermalidade (36,8%), temperatura sazonal (33,7%) e precipitação do

trimestre mais seco (15,9%) (Tabela 1). Os modelos de distribuição potencial mostram as área

que tem as condições ambientais para esses táxons H. r. frater, H. r. rufimarginatus e H. r.

scapularis estão associadas a floresta Amazônica, Mata Atlântica do Sul e Sudeste e tendo

como limite norte a Mata Atlântica da Bahia, e as florestas ao norte do rio São Francisco

(Centro de Endemismo Pernambuco), respectivamente.

Figura 1. Localidades utilizada para a construção do Modelo de Nicho Ecológico do

complexo H. rufimarginatus. Os círculos azuis, vermelhos e amarelos representam: H. r.

frater, H. r. rufimarginatus e H. r. scapularis, respectivamente.

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As projeções indicam que para o último glacial máximo (21 mil anos) e último período

interglacial (130 mil anos) houve mudanças consideráveis nas condições ambientais para

esses táxons (Figura 2A-I). Para H. r. rufimarginatus no último glacial máximo houve a

retração das condições ambientais propícias para sua ocorrência. Essa área se distribui do Rio

de Janeiro a Pernambuco, sendo que embora estados como Alagoas e Pernambuco tivessem

condições propícias, mas existe uma barreira geográfica entre esses dois estados, o rio São

Francisco. Com relação ao período último interglacial ocorreu expansão das condições

ambientais em direção ao sul, essas mudanças sugerem separação das condições ambientais

nessa subespécie e novamente mostra as florestas ao norte do rio São Francisco como

propícias para sua ocorrência, mas esse atua como barreira e esse táxon é provavelmente era

substituído por H. r. scapularis. Essa última teve sua área de distribuição potencial expandida

durante o último máximo glacial, com condições propícias do estado do Rio Grande do Norte

a Sergipe, sendo que entre Alagoas e Sergipe aparece a barreira mencionada anteriormente.

Os dados de modelagem de nicho apontam que no último período interglacial as condições

nessa área eram pouco propícias; e H. r. frater no último glacial máximo houve uma expansão

nas condições ambientais na Amazônia e no último período interglacial houve retração das

condições. Nesse inclusive é mostrada a presença de condições ambientais entre Amazônia e

Mata Atlântica, indicando assim uma possível área de conexão entre essas duas florestas

(Figura 2F).

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Tabela 1. Variáveis ambientais e sua contribuição para a geração dos Modelos de Nicho

Ecológico das subespécies de Herpsilochmus rufimarginatus.

Variável

Táxons

H. r. rufimarginatus H. r. frater H. r. scapularis

Isotermalidade (Bio 3) 15,8 36,8 1,0

Temperatura sazonal (Bio

4) 25,8 33,7 27,2

Variação de temperatura

anual (Bio 7) 10,3 3,9 42,3

Temperatura média no

trimestre mais quente

(Bio 10)

5,5 0,0 0,2

Temperatura média no

trimestre mais frio (Bio

11)

14,9 2,8 2,5

Precipitação do mês mais

seco (Bio 14) 25,2 4,4 10,9

Variação de precipitação

(Bio 15)

0,5 0,0 10,5

Precipitação do trimestre

mais úmido (Bio 16)

1,7 2,6 4,1

Precipitação do trimestre

mais seco (Bio 17)

0,3 15,9 1,2

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Figura 2. Distribuição potencial das subespécies de Herpsilochmus rufimarginatus e

projeções para o Pleistoceno (21 e 130 mil anos, respectivamente): A. H. r. rufimarginatus

(A-C), B. H. r. frater (D-F), C. H. r. scapularis (G-I).

H

A

I G

F E D

B C

Presente

Presente

21 mil

21 mil

21 mil 130 mil

130 mil

130 mil Presente

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Sobreposição de Nicho e divergência ambiental dos pontos de ocorrência

Os valores D e I de sobreposição de nicho que foram gerados a partir da modelagem de

nicho são significativamente diferentes do modelo nulo, indicando assim a existência de

nichos diferentes entre essas subespécies. A sobreposição entre H. r. rufimarginatus e H. r.

frater (D = 0,176; I = 0,417), H. r. rufimarginatus e H. r. scapularis (D = 0,184; I = 0,397) e

H. r. frater e H. r. scapularis (D = 0,195; I = 0,417) (Tabela 2).

Com base nos pontos de ocorrência de cada táxon existe diferença significada entre o

espaço climático ocupado pelas diferentes subespécies (MANOVA, Wilks’lambda = 0,067, F

18, 432 = 68,69 , p < 0,001). A comparação pareada entre os táxons mostrou que existe

diferença no nicho espacial entre cada um dos táxons (p < 0,001). A matriz de confusão

usando o método do Jackknifed classificou corretamente os táxons com valores variando entre

93-100% das vezes. A análise discriminante indicou 93,4% da variação dos dados ambientais

entre as subespécies são explicados pelos dois primeiros eixos canônicos. O primeiro eixo

canônico separa H. r. scapularis e o no segundo eixo temos H. r. rufimarginatus e H. r. frater

(Figura 3). Os dados da analise discriminante dão suporte aos gerados pela MANOVA que

separaram as subespécies no espaço ambiental (Figura 3).

Tabela 2. Sobreposição de nicho calculados no ENMtools utilizando a estatística D (cinza

escuro) e I (cinza claro).

Schoener's D e Warren I

Táxons H. r. rufimarginatus H. r. scapularis H. r. frater

H. r. rufimarginatus 1,000 0,185 0,177

H. r. scapularis 0,397 1,000 0,195

H. r. frater 0,417 0,417 1,000

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Figura 3. Escores canônicos mostrando a separação das condições ambientais no complexo

específico Herpsilochmus rufimarginatus. O “x” representa H. r. rufimarginatus, círculo H. r.

scapularis e estrela H. r. frater.

-4.8 -3.2 -1.6 1.6 3.2 4.8 6.4

Canonical 1

-5

-4

-3

-2

-1

1

2

3

4

Cano

nic

al 2

Conservadorismo de Nicho entre os táxons de Herpsilochmus rufimarginatus

O teste do “background” randomizado usando o ENMTools sugere que ocorre

conservadorismo de nicho entre as subespécies de Herpsilochmus rufimarginatus (Figura 4).

A análise realizada com “background” diferentes tamanhos de “buffers” revelam resultados

semelhantes com relação ao conservadorismo de nicho. Entretanto “buffers” de 300 km

aparentemente mostram desempenho inferior aos de 50 e 200 km (Figura 4), esses são áreas

mais próximas ao ponto de ocorrência da espécie. Assim como houve pouca diferença entre

os resultados gerados pela estatística D e I. Nas análises houve projeção dos pontos de

ocorrência de H. r. frater no background H. r. rufimarginatus (Figura 4A-B), assim como a

projeção em ambos os lados para H. r. frater x H. r. scapularis (Figura 4D-E) e H. r.

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scapularis x H. r. frater (Figura 4D-E), e H. r. scapularis no background de H. r.

rufimarginatus (Figura 4G-I).

Figura 4. Polígono de frequência para teste de conservadorismo e divergência entre valor

observado e do modelo nulo de sobreposição de nicho gerados no ENMTools para o

complexo H. rufimarginatus. Modelos gerados com diferentes tamanhos de buffers (50, 200 e

300 km). Seta representa o valor de sobreposição de nicho ecológico e C representa

conservadorismo de nicho. HR = H. r. rufimarginatus, HF = H. r. frater e HF = H. r.

scapularis.

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Discussão

Acurácia da Modelagem de Nicho Ecológico e Distribuição Potencial

A modelagem de nicho ecológico gerou modelos com ótimo desempenho, baseando-se

nos valores do AUC. Tanto para os táxons com distribuição mais ampla como H. r.

rufimarginatus e H. r. frater como para o distribuição restrita, H. r. scapularis. O desempenho

dos modelos está relacionado à distribuição dos pontos de ocorrência da espécie e a

quantidade de registros disponíveis, pois modelos que tem muitos pontos de ocorrência e

representam a variedade de ambientes que a espécie está presente geram modelos que se

aproximam mais da área de distribuição dos táxons. A modelagem de nicho ecológico é uma

ferramenta importante para estudos evolutivos (KOZAK et al. 2008), servindo inclusive para

delimitação de espécies (RAXWORTHY et al. 2007, RISSLER e APODACA 2007), além de

projetarem novas áreas com condições ambientais separadas da distribuição atual do táxon,

que quando foi estudada mostrou a presença de espécie não descritas de lagartos do gênero

Phelsuma (RAXWORTHY et al. 2007).

A distribuição potencial predita pelos modelos está de acordo com a distribuição atual

dos táxons. Sendo as áreas que apresentaram as condições ambientais para H. r. frater é

região periférica da Amazônia, H. r. rufimarginatus da Mata Atlântica do Paraguai e

Argentina, e do estado de Santa Catarina a norte da Bahia, e H. r. scapularis na faixa de mata

Atlântica ao norte do Rio São Francisco (de Alagoas ao Rio Grande do Norte). Pinto (1978) e

Zimmer e Isler (2003) mencionam também a presença desse táxon na Bahia, Minas Gerais e

Espírito Santo, provavelmente esse atribuição era dada devido a localidade tipo de H. r.

scapularis ser na Bahia, mas nesse estudo (Capítulo 2), mostra-se que o indivíduo usado para

nomear o referido táxon é sinônimo de H. r. rufimarginatus. Inclusive a forma que ocorre ao

norte do rio São Francisco é uma espécie nova (Capítulo 2) que tem os remanescentes

florestais ao sul de Alagoas como limite de distribuição. O rio São Francisco é uma barreira

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geográfica para aves como mencionada em vários estudos (SIEDCHLAG et al. 2010,

DANTAS et al. 2011). Que inclusive é uma das áreas de grande importância biológica pela

presença de muitos táxons endêmicos e/ou ameaçados de extinção (SILVA et al. 2002,

SILVEIRA et al. 2003, OLIVEIRA e LANGGUTH 2006). Pois esse é um dos trechos de

florestas mais destruídos e fragmentados da Mata Atlântica (CONSERVATION

INTERNATIONAL et al. 1994, COIMBRA-FILHO e CÂMARA 1996, RANTA et al. 1998,

SILVA e CASTELETI 2003). Sendo assim esse é mais um táxon exclusivo desse centro de

endemismo.

Reconstrução da Distribuição e Sobreposição de Nicho

A reconstrução da distribuição da espécie politípica Herpsilochmus rufimarginatus

revelou semelhança com outros modelos propostos (BONACCORSO et al. 2006)

principalmente para H. r. rufimarginatus, porem apresentou particularidades. De maneira

geral houve retração e expansão das condições ambientais durante o último glacial máximo e

período interglacial, respectivamente. Para a subespécie amazônica durante o último glacial

máximo as condições ambientais atingiam uma área mais ampla e no período interglacial as

condições ambientais eram mais restritivas, pois diminui significativamente as condições

propícias para esse táxon na Amazônia, mas um fato interessante é que nesse período são

apontadas condições ambientais que ainda mostram vestígios de contato entre essas duas

florestas. Principalmente, na área apontada como a mais importante conexão entre essas duas

florestas (COSTA 2003, BATALHA FILHO et al. 2012). Baseando-se na riqueza das

espécies do gênero Herpsilochmus na Amazônia (ISLER e ZIMMER 2003), acredita-se que

esse tenha sido o centro de origem do mesmo como posterior dispersão para outros biomas,

como inclusive a Mata Atlântica. Para H. r. scapularis esses dois períodos refletiram da

seguinte forma, expansão nas condições e mudanças nas condições ótimas de ocorrência,

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respectivamente. Essas mudanças nas condições ambientais são contraditórias se pensarmos

que nesse mesmo período as projeções mostram a área com condições para ocorrência do

táxon nominal. Esses dados também não apontam uma possível conexão entre Amazônia e

Mata Atlântica. Talvez os dados disponíveis para fazer essas projeções não sejam ideais para

demonstrar eventos mais antigos. Pois os dados ambientais mais antigos são de cerca de 130-

140 mil anos, enquanto os eventos em que essas florestas estavam conectadas têm mais de

dois milhões de anos (BATALHA FILHO et al. 2013), embora existam estudos geológicos

que mostram que essa conexão não é tão antiga, pois surgimento da caatinga nesse estudo é

datado em 210 mil anos (WANG et al. 2004). As projeções realizadas nesse estudo apontam

que os eventos de conexão entre os dos biomas devem ser mais antigos, explicando assim a

ineficiência das projeções, embora o modelo tenha conseguido projetar áreas propícias de

conexão entre o sudeste da Amazônia e sul da Mata Atlântica. Sendo assim, é necessária a

realização de estudos moleculares para datar o tempo de divergência entre essas diferentes

linhagens e podermos inferir assim a relação entre esse bioma como apontado em outros

estudos (COSTA 2003, RIBAS e MIYAKI 2004, BATALHA-FILHO et al. 2012,

BATALHA-FILHO et al. 2013). Assim como os locais onde existia contato entre essas

biotas, pois compilações atuais sugerem quatro locais de contato entre esses dois biomas

(sensu COSTA 2003, BATALHA-FILHO et al. 2012, BATALHA-FILHO et al. 2013).

Os valores de sobreposição de nicho apontam diferenças entre as populações de

Herpsilochmus. Essa situação é esperada se levarmos em consideração que ocorrem em áreas

geográficas distintas e ao longo de sua distribuição existe diferenças nas condições

ambientais, principalmente, na Mata Atlântica (GUSMÃO e CÂMARA 2003). No estudo foi

demonstrado que os táxons pertencentes a esse complexo específico ocupam nicho

diferenciado. Wiens e Graham (2005) propõem que espécies irmãs com distribuição disjunta e

ocupando envelopes climáticos diferenciados não teriam fluxo gênico, poderiam assim

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representar espécies distintas. Essas diferenças podem refletir inclusive em mudanças

fenotípicas nessas populações, que inclusive são observadas nos espécimes estudados. Essas

informações corroboram para o reconhecimento desses táxons como espécies.

Conservadorismo de Nicho e Especiação

Os resultados apontam que existe conservadorismo de nicho entre as subespécies,

mesmo utilizando “background” com “buffers” diferentes. Esses dados sugerem que o

conservadorismo de nicho pode ter influenciado no processo de especiação desses táxons com

distribuição alopátrica entre Floresta Amazônica e Atlântica, e entre Mata Atlântica ao norte

do rio São Francisco e os demais trechos de florestas que se estendem da Bahia ao

Paraná/Santa Catarina no Brasil, Paraguai e Argentina. Estudos recentes comparando os

dados de sobreposição de nicho com a distribuição do modelo nulo de “background” de

espécie com distribuição alopátrica têm apontado que o conservadorismo em vez da

divergência de nicho comum entre espécies irmãs (WARREN et al. 2008, KOZAK e WIENS

2010, MCCORMACK et al. 2010, PETERSON 2011). O conservadorismo de nicho é comum

entre espécies irmãs com distribuição alopátrica de salamandras (Plethodon ssp.) (KOZAK e

WIENS 2006, 2010) e de aves (Aphelocoma ssp.) (MCCORMACK et al. 2010), também é

apontado como influenciado no processo de especiação dessas espécies. Porem, estudos

recentes também mostram a importância da divergência de nicho (NAKAZATO et al. 2010,

SÁNCHEZ-FERNÁNDEZ et al. 2011, WOOTEN e GIBBS 2012), e inclusive da divergência

e conservadorismo de nicho em diferentes linhagens (PYRON e BURBRINK 2009,

KALKVIK et al. 2012). A especiação muitas vezes está associada à divergência (COYNE e

ORR 2004, FUTUYMA 2005), inclusive nas condições ecológicas. Entretanto,

conservadorismo de nicho propõe que as espécies ou clados mantém seu nicho ecológico

durante em escalas longas de tempo (HARVEY e PAGEL 1991). O seu papel na especiação

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alopátrica é tema de discussão recente (WIENS e GRAHAM 2005, PEARMAN et al. 2007,

WIENS et al. 2010, PETERSON 2011). Então, quando as populações apresentarem

distribuição disjuntas, separadas por barreira geográfica, essa teria condições sub ótimas as

quais a espécie não conseguiria tolerar (WIENS e GRAHAM 2005), dessa forma as

populações estariam isoladas e não haveria fluxo gênico. As populações representadas nesse

estudo estão isoladas, o contato mais recente entre as populações amazônicas e atlânticas é

estimada entre 2,2-4,8 milhões de anos (COSTA 2003, RIBAS e MIYAKI 2004, BATALHA-

FILHO et al. 2012, BATALHA-FILHO et al. 2013) e entre a mata Atlântica ao Norte e ao Sul

do rio São Francisco é 0,47-0,54 (CABANNE et al. 2008, D’HORTA et al. 2011).

O evento vicariante que isolou essas populações da Floresta Amazônia da Mata

Atlântica foi o surgimento, com as mudanças climáticas, da diagonal seca que formou uma

vegetação do tipo savânica, que é representada pela caatinga, cerrado e chaco (SILVA E

BATES 2002). Outro evento vicariante ocorreu dentro da Mata Atlântica que isolou as

populações atlânticas de H. r. scapularis e H. r. rufimarginatus. Evento esse que pode ter sido

influenciado pela expansão e retração da vegetação florestal como proposto pela teoria dos

refúgios (HAFFER e PRANCE 2002) e/ou devido ao surgimento de uma barreira geográfica,

rio São Francisco, que provavelmente limitou a dispersão de táxons (SIEDCHLAG et al.

2010, DANTAS et al. 2011). Pois os dados de projeção do modelo nulo apontam condições

ambientais para a ocorrência de H. r. frater no “background” de H. r. rufimarginatus, de H. r.

scapularis no “background” de H. r. rufimarginatus, e da projeção em ambos os lados do

“background” de H. r. scapularis x H. r. frater. Sendo hoje a única barreira para essa

dispersão entre as populações amazônicas e atlânticas a diagonal forma por vegetação

savânica, e dentro da Mata Atlântica temos o rio São Francisco.

As análises de distribuição potencial atual e pretérita, sobreposição e conservadorismo

de nicho. Assim como dados de vocalização, morfometria e plumagem (Capítulo 2), apontam

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pelas diferenças que a população H. r. rufimarginatus está isolada a mais tempo de H. r.

frater e H. r. scapularis, sendo que esses últimos são mais similares nos caracteres

mencionados anteriormente, embora tenham características vocais significativamente

diferentes. Embora essas aves tenham seus nichos conservados, mas mostram várias

diferenças fenotípicas que inclusive pode lhes conferir o status de espécies plenas.

Conclusão

As análises de distribuição potencial, sobreposição de nicho e conservadorismo de nicho

sugerem que os táxons hoje tratados como subespécies merecem a denominação de espécie.

Pois possuem distribuição potencial bem delimitada atualmente sem áreas de contato

conhecidas, baixa sobreposição de nicho e apresentam o seu nicho conservado embora tenha

distribuição disjunta. Inclusive estudos relatam diferenças fenotípicas entre os referidos

táxons. As projeções pretéritas apresentaram resultados que se contradizem com alguns

estudos anteriores, provavelmente isso reflete a não existência de dados ambientais

disponíveis para realizar predições para períodos de tempos inferiores a 130-140 mil anos

atrás. Sendo assim estudos adicionais são necessários para realizar inferências sobre o tempo

de divergência entre os táxons e inferir sobre relações entre as biotas dessas duas florestas

tropicais.

Referências

BATALHA-FILHO, H.; IRESTEDT, M.; FJELDSA, J.; ERICSON, P. G. P.; SILVEIRA, L.

F. 2013. Molecular systematics and evolution of the Synallaxis ruficapilla complex (Aves:

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CAPÍTULO 2 - Revisão taxonômica da espécie politípica Herpsilochmus rufimarginatus

(Temminck, 1822) (Aves: Thamnophilidae), com descrição de uma nova espécie críptica no

Centro Pernambuco de Endemismo

Marcelo da Silva¹, Mauro Pichorim²

¹ Programa de Pós-Graduação em Sistemática e Evolução da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte

² Departamento de Botânica, Zoologia e Ecologia da Universidade Federal do Rio Grande do

Norte

Autor para Correspondência: E-mail: [email protected]

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RESUMO

O gênero Herpsilochmus é composto principalmente por espécies crípticas, entre elas está

Herpsilochmus rufimarginatus, que atualmente é representado por quatro subespécies: H. r.

rufimarginatus, H. r. frater, H. r. scapularis e H. r. exiguus. Diferenças na plumagem e

vocalização sugerem que existam mais de uma espécie envolvida nesse complexo. Sendo

assim esse e outros táxons subespecíficos precisa de revisão urgente, a distribuição disjunta

dessa espécie também possibilita inferir a relação entre essas aves que ocorrem em biomas

e/ou centros de endemismos diferentes. Esse estudo tem como objetivo fazer a revisão

taxonômica dos táxons hora incluídos no complexo Herpsilochmus rufimarginatus com base

em caracteres morfológicos, morfométricos, vocais e distribuição geográfica. Foram

realizadas consultas para exame das peles dos espécimes presentes nos museus: Museu de

Zoologia da Universidade de São Paulo (MZUSP), Museu Nacional do Rio de Janeiro

(MNRJ) e Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG), e as peles depositadas na Coleção de

Ornitológica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (COUFRN). Foram verificadas

as seguintes medidas de comprimento dos espécimes: culmen exposto, culmen total e culmen

narina, tarso, asa achatada e cauda. A análise vocal foi realizada com vocalizações de bancos

digitais e/ou de bancos pessoas, onde foram mensurados 17 parâmetros vocais As

informações sugerem que os táxons que ocorrem na Amazônia e floresta Atlântica

representam três espécies distintas. Foram realizadas análise univariadas e multivariadas.

Foram encontradas diferenças morfológicas, morfométricas, vocais e de plumagem entre os

táxons. Que justificam serem tratadas como espécies plenas. Um dos táxons não existe nome

disponível, sendo necessário descrever uma nova espécie. Que é endêmica do centro de

endemismo Pernambuco. Os dados mostram a necessidade de se aumentar os estudos na

região Neotropical, em especial nas florestas tropicais no Brasil, que hoje enfrentam muitas

ameaças.

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Palavras chave: Herpsilochmus rufimarginatus, taxonomia, espécies, diversificação

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ABSTRACT

The genus Herpsilochmus is composed mainly of cryptic species, among them is

Herpsilochmus rufimarginatus, which is currently represented by four subspecies: H. r.

rufimarginatus, H. r. frater, H. r. scapularis and H. r. exiguus. Differences in plumage and

vocalization suggest that there are more than one species involved in this complex. Thus this

and other subspecific taxa need urgent revision, the disjunct distribution of this species also

allows us to infer the relationship between birds that occur in this biome and / or different

centers of endemism. This study aims to make a taxonomic revision of the taxa included in

the complex time Herpsilochmus rufimarginatus based on morphological, morphometric,

vocals and geographical distribution. Consultations for examination of the skins of specimens

of the Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZUSP), Museu Nacional do Rio

de Janeiro (MN) and Museu Paraense Emilio (MPEG), and the skins deposited at the Coleção

Ornitológica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (COUFRN). We studied the

following measures length of specimens: exposed culmen, culmen and total culmen nostril,

tarsus, wing and tail flattened. The voice analysis was performed with digital vocalizations

banks and / or bank people where 17 parameters were measured vocals information suggest

that the taxa that occur in the Amazon and Atlantic forest represent three distinct species.

Were performed univariate and multivariate analysis. Differences were found morphological,

morphometric, vocal and plumage among taxa. That justify being treated as full species. One

of taxa no name is available, it is necessary to describe a new species. Which is endemic to

the center of endemism Pernambuco. The data show the need to increase research in the

Neotropics, especially in tropical forests in Brazil, which today face many threats.

Keywords: Herpsilochmus rufimarginatus, taxonomy, species, diversification

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Introdução

O gênero Herpsilochmus é composto por táxons crípticos que tem revelado espécies

novas a partir dos anos oitenta (DAVIS e O’NEILL 1986, WHITNEY e ALONSO 1998,

WHITNEY et al. 2000), principalmente devido ao desenvolvimento da bioacústica e do

aumento de estudos com amostragens mais representativas de indivíduos (WHITNEY et al.

2000, ZIMMER e ISLER 2003). Atualmente são reconhecidas 15 espécies (ZIMMER e

ISLER 2003), das quais dez ocorrem no Brasil (CBRO 2011), sendo três endêmicas:

Herpsilochmus pectoralis Sclater, 1857, H. sellowi Whitney e Pacheco, 2000 e H. pileatus

(Lichtenstein, 1823) (WHITNEY et al. 2000, ZIMMER e ISLER 2003). Os representantes de

Herpsilochmus ocorrem na floresta Amazônica, Mata Atlântica, Caatinga e Cerrado (SICK

1997, WHITNEY et al. 2000, ZIMMER e ISLER 2003), desde a América Central a do Sul,

sendo mais diversificado na região Amazônica.

O gênero Herpsilochmus foi descrito por Cabanis em 1847, tendo como espécie tipo

Myiothera pileata conforme a designação de Gray (1855). A espécie Herpsilochmus

rufimarginatus foi descrita por Temminck em 1822 sob o nome de Myothera rufimarginata,

sendo a localidade tipo o Rio de Janeiro. Posteriormente, foi descrita Myiothera scapularis

por Wied em 1831, que tem como localidade tipo a Bahia, em 1880 Sclater e Salvin

descreveram Herpsilochmus frater com o tipo sendo de Sarayacu no Equador e mais

recentemente, Nelson em 1912 descreveu uma subespécie nomeada de Herpsilochmus

rufimarginatus exiguus cujo tipo é de Cana no Panamá. Cory e Hellmayr (1924) fizeram uma

revisão do complexo, concluindo que as espécies descritas se tratavam de subespécies de

Herpsilochmus rufimarginatus, sendo que só considerou como subespécies H. r.

rufimarginatus, H. r. frater e H. r. exiguus. Sendo Myiothera scapularis considerada como

sinônimo do táxon nominal. Entretanto, Peters (1951) reconheceu Herpsilochmus scapularis

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como subespécie válida e Zimmer e Isler (2003) consideram que esses quatro táxons são

válidos.

Sendo assim, Herpsilochmus rufimarginatus é uma espécie politípica, onde são

reconhecidas atualmente quatro subespécies (ZIMMER e ISLER 2003): Herpsilochmus

rufimarginatus rufimarginatus (Temminck, 1822), Herpsilochmus rufimarginatus frater

Sclater e Salvin, 1880, Herpsilochmus rufimarginatus scapularis (Wied, 1831) e

Herpsilochmus rufimarginatus exiguus Nelson, 1912. Herpsilochmus r. rufimarginatus tem

como localidade tipo o Rio de Janeiro conforme a designação de Hellmayr (1924). Distribui-

se do estado da Bahia ao sudeste brasileiro (São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Santa

Catarina), no leste do Paraguai e extremo nordeste da Argentina (Missiones) (CORY e

HELLMAYR 1924, PINTO 1978, ZIMMER e ISLER 2003). Herpsilochmus r. frater tem

como localidade tipo Sarayacu no Equador ocorrendo da Colômbia ao norte do Peru e da

Bolívia, Venezuela e Brasil setentrional, da margem direita do baixo Amazonas e para o sul

até o norte de Mato Grosso e para leste, até a região de Belém e no norte do Maranhão

(CORY e HELLMAYR 1924, ZIMMER e ISLER 2003). Herpsilochmus r. scapularis tem

como localidade tipo a Bahia, sendo que o tipo está depositado no “American Museum of

Natural History”. Esse táxon era sinônimo de H. r. rufimarginatus, e esse nome passou a ser

utilizado novamente por Naumburg para as aves do nordeste do Brasil (do sul do Rio Grande

do Norte a Alagoas), Bahia, Espírito Santo e Minas Gerais (PINTO e CAMARGO 1961,

LECROY e SLOSS 2000, ZIMMER e ISLER 2003, OLMOS 2003). Herpsilochmus r.

exiguus tem como localidade tipo Cana no Panamá, e está depositado no “Smithsonian

Miscellaneous Collections” e ocorrem no leste do Panamá, noroeste da Colômbia e oeste do

Equador (NELSON 1912, ZIMMER e ISLER 2003). Diferenças morfológicas e vocais

sugerem que existam mais de uma espécie compreendida nesse complexo, sendo assim é

necessária à revisão taxonômica do grupo (PINTO 1978, ZIMMER e ISLER 2003). Esse

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estudo tem como objetivo fazer a revisão taxonômica da espécie politípica Herpsilochmus

rufimarginatus com base em caracteres morfológicos, morfométricos, vocais e de distribuição

geográfica desse passeriforme. As análises desses caracteres, das descrições dos táxons e de

fotos dos tipos mostraram populações com distribuição geográficas disjuntas diagnosticáveis.

Material e Métodos

Análise Morfológica e Morfométrica

Foram examinados 151 espécimes de H. rufimarginatus que estão depositados nas

principais coleções ornitológicas brasileiras: Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) em

Belém, Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZUSP) e Museu Nacional, no

Rio de Janeiro, assim como as peles disponíveis na Coleção Ornitológica da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte (COUFRN). O material examinado inclui os espécimes

pertencentes às subespécies H. r. rufimarginatus (n=81), H. r. scapularis (n=33) e H. r. frater

(n=37). Foram analisadas também fotos digitais de alta resolução dos tipos dos três táxons (H.

r. rufimarginatus, H. r. frater e H. r. scapularis) depositados nos museus: American Museum

of Natural History, British Museum e National Museum of Natural History Naturalis, Leiden.

Analisamos as descrições de todos os táxons subespecíficos conhecidos de Herpsilochmus

rufimarginatus, inclusive Myiothera variegata (Lichtenstein ms.) Wied, 1831.

Para comparação entre as subespécies medimos: comprimento total da asa (flat),

comprimento total da cauda (do ponto de inserção das retrizes até a ponta da retriz mais

longa), comprimento do tarso direito, culmen total (base do bico até ponta), culmen exposto

(parte exposta até a ponta do bico) e ponta do bico narina (da parte posterior da narina até a

ponta do bico). As medidas foram realizadas com paquímetro com a precisão de 0,01 mm.

Para classificar as diferentes colorações da plumagem, tarso e bico dos espécimes utilizamos

o guia de cores de Smithe (1975).

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Análise Vocal

Analisamos 56 registros de cantos que representam a distribuição dos táxons conhecidos

de H. rufimarginatus (26 cantos de H. r. rufimarginatus, 15 de H. r. frater e 15 de H. r.

scapularis). Fizemos também análises qualitativas de outras manifestações sonoras dos

táxons, como chamadas. As vocalizações foram adquiridas de bancos de dados digitais: Xeno-

canto América (http://www.xeno-canto.org/) e vocalizações cedidas por pesquisadores e do

arquivo pessoal do autor. As informações baixadas do Xeno-canto foram convertidas do

formato MP3 para Wave. As análises das vocalizações e os sonogramas foram realizados no

programa Raven 1.4.

Os parâmetros acústicos analisados foram duração do canto, número de notas e

frequência de máxima potência, duração e frequência de máxima potência da primeira,

segunda, oitava e última nota, intervalo entre penúltima e última nota, e número de sílabas da

última nota, número de notas e frequência de máxima potência da primeira e segunda parte do

canto.

Os limites de Distribuição

Os limites interespecíficos entre os táxons foram obtidos através das informações

morfológicas e vocais oriundos de peles analisadas em museus, pesquisa bibliográfica e dados

de campo. Esses dados serviram para construir o mapa de distribuição de cada táxon. Para

informações antigas que não permitiam uma localização exata das coordenadas geográficas,

utilizou-se a sede do município de localização do registro.

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Análise Estatística

Os dados descritivos foram representados através da média e erro padrão. Realizamos

inicialmente uma análise univariada (Análise de Variância, ANOVA) para comparar se existe

diferença morfométrica entre os parâmetros analisados entre machos e fêmeas, e comparar as

vocalizações das diferentes subespécies, aqui, nós não diferenciamos cantos de machos e de

fêmeas, pois não foi possível diferenciar os sexos em campo. Usamos teste t de Student para

comparar parâmetros vocais exclusivos de apenas duas populações, por exemplo, parâmetros

encontrados na segunda parte do canto de H. r. frater e H. r. scapularis.

Antes de conduzirmos as análises inferenciais multivariadas para dados vocais e

morfométricas, padronizamos os dados para cada grupo de variáveis (Fórmula = valor da

variável – média da variável/ desvio padrão da variável) e posteriormente conduzimos o teste

de homocedasticidade das variâncias usando o teste de Levene’s e teste normalidade. Para

análise multivariada utilizamos só os dados morfométricos dos machos.

Usamos a Análise de Componentes Principais (PCA) para explorar a base de dados

acústicos e morfométricos, pois a PCA reduz o número de variáveis a número menor e que

não estão correlacionadas. Como os grupos não são definidos de forma prévia é possível ver

através das interpretações a quais grupo de indivíduos está mais relacionado, se formam

agrupamentos e se separam no espaço multidimensional. Assim como servem para explicar

quanto da variação dos dados é explicado pelo conjunto de variáveis.

Para testar a existência diferença de vocalização e morfometria no espaço multivariado

entre as diferentes subespécies foi realizado usando análise multivariada de variância

(MANOVA), assim como a comparação par a par foi realizada usando o teste corrigido de

Bonferroni. Posteriormente comparamos a morfometria e vocalização entre as subespécies

usando Análise de Função Discriminante. Para a definição dos grupos que representam as

diferentes subespécies nos baseamos na vocalização, morfologia, distribuição geográfica e na

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descrição dos táxons subespecíficos e nas análises realizadas na PCA. Calculamos a diferença

dos escores canônicos entre os táxons e o intervalo de confiança de 95% para cada táxon. As

análises estatísticas foram realizadas nos programas PAST 1.0. Consideramos significância de

0,05 em todas as análises.

Resultados

Caracteres Morfológicos

A análise morfométrica univariada dos machos mostrou que existe diferença

significativa entre as medidas de culmen total, culmen exposto, culmen narina e cauda entre

H. r. rufimarginatus e H. r. frater/H. r. scapularis, e a única diferença entre H. r. scapularis e

H. r. frater foi encontrada no comprimento da asa (Tabelas 1 e 2). A PCA explica 88,1% da

variação dos dados. O PC 1 foi responsável por 73,5% da variação, sendo a cauda a principal

variável, e o PC2 teve variação de 14,6%, a principal variável é asa flat. As análises mostram

que as medidas morfométricas de indivíduos da Bahia não diferem das do táxon nominal

(Figura 1). A plumagem também não mostra diferença no dorso entre esses indivíduos

conforme observado inclusive nos tipos. A análise também mostra que os táxons da Mata

Atlântica ao norte do rio São Francisco e da Amazônia são mais semelhantes

morfologicamente em relação ao táxon da Mata Atlântica ao sul do rio São Francisco.

As seis variáveis morfométricas analisadas para as três subespécies mostraram que

existe diferenças significativas entre a morfometria dos diferentes táxons (MANOVA, Willk’s

lambda = 0,152, F 12, 138 = 17,9, P < 0,0001). As comparações indicam que existem diferenças

no espaço multidimensional entre H. r. rufimarginatus e H. r. frater (P < 0,0001) e H. r.

rufimarginatus e H. r. scapularis (P < 0,0001), porém as diferenças entre H. r. frater e H. r.

scapularis não foram significativas (P = 0,17). A DFA usando essas mesmas variáveis

mostraram que H. r. rufimarginatus está separado no espaço multidimensional, enquanto

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ocorre grande sobreposição dos caracteres entre H. r. frater e H. r. scapularis (Figura 2). A

população de Herpsilochmus r. rufimarginatus foi classificada corretamente (100%/97%) das

vezes que foi amostrada (Tabela 3), esses dados apoiam a existência de diferenças para

Herpsilochmus r. rufimarginatus, enquanto para aos demais táxons os valores da matriz de

classificação tiveram menor desempenho. A ANOVA, PCA, MANOVA e DFA mostraram

resultados semelhantes que apontam a separação de H. r. rufimarginatus dos demais táxons

estudados, e não apontam separação entre H. r. frater e H. r. scapularis.

A plumagem das subespécies de H. rufimarginatus é similar, mas com algumas

diferenças marcantes e outras menos evidentes. Os machos de H. r. rufimarginatus

apresentam o dorso cinza oliváceo (Color 52 “Oliver-Yellow”) e ausência de manchas pretas,

essas últimas estão presentes tanto em H. r. frater como em H. r. scapularis (Figura 3).

Embora exista muita variação na cor do ventre, o táxon nominal apresenta amarelo mais

intenso (Color 157 “Sulfur Yellow”) que nas outras duas subespécies mencionadas, essas tem

a garganta recoberta por penas de um branco puro (Figura 3). As fêmeas mostraram três

padrões de cores referentes a cada população. As de H. r. rufimarginatus apresentam amarelo

mais intenso (Color 157 “Sulfur Yellow”) no ventre como também observado nos machos e o

dorso é verde oliváceo (Color 50 “Yellowish Olive-Green”) (Figura 4). Fêmeas de H. r.

scapularis tem ventre amarelo telha (Color 24 “Buff”) e no dorso essa cor fica mais intensa

(Figura 4). O ventre de H. r. frater é amarelo camurça (Color 123C “Yellow Ocher”) e o

dorso lembra muito o de H. r. scapularis. A cor do dorso de fêmeas de H. r. rufimarginatus

parecem muito com as de H. r. scapularis.

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Figura 1. Análise de Componente Principal das variáveis morfométricas das populações do

complexo H. rufimarginatus. O “x” representa H. r. rufimarginatus, estrela H. r. scapularis, o

círculo H. r. frater e o quadrado as populações da Bahia.

Figura 2. Representação dos dois primeiros eixos da análise de função discriminante

realizadas com caracteres morfológicos de espécimes de Herpsilochmus rufimarginatus. O

“x” representa H. r. rufimarginatus, estrela H. r. scapularis e o círculo H. r. frater.

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Figura 3. Vista dorsal, ventral e lateral de machos de Herpsilochmus rufimarginatus: a. H. r.

frater (abaixo da faixa verde), b. H. r. scapularis (abaixo da faixa vermelha) e c. H. r.

rufimarginatus (abaixo da faixa amarela).

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Figura 4. Vista dorsal, ventral e lateral de fêmeas de Herpsilochmus rufimarginatus: a. H. r.

frater (abaixo da faixa verde), b. H. r. scapularis (abaixo da faixa vermelha) e c. H. r.

rufimarginatus (abaixo da faixa amarela).

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Tabela 1. Dados morfométricos descritivos de três subespécies que ocorrem no Brasil do complexo Herpsilochmus rufimarginatus.

Subespécie Culmen Total Culmen Exposto Culmen Narina Asa Flat Tarso Cauda

H. r. rufimarginatus

Machos 15,78±0,11(52) 12,63±0,11(51) 8,90±0,09(49) 50,45±0,19(48) 18,25±0,11(41) 48,81±0,30(38)

Fêmeas 15,84±0,43(14) 12,47±0,18(13) 8,78±0,08(27) 50,00±0,24(27) 18,34±0,16(23) 48,79±0,35(24)

H. r. frater

Machos 16,85±0,14(20) 14,03±0,15(20) 9,37±0,08(22) 51,16±0,27(20) 18,10±0,13(22) 43,04±0,47(15)

Fêmeas 16,55±0,22(7) 13,87±0,25(6) 9,22±0,11(7) 50,57±0,20(7) 17,56±0,22(6) 42,65±0,47(5)

H. r. scapularis

Machos 16,69±0,15(26) 14,21±0,19(26) 9,45±0,07(26) 52,65±0,28(26) 18,33±0,11(27) 43,61±0.23(24)

Fêmeas 16,53±0,14(7) 13,87±0,25(7) 9,12±0,11(7) 52,50±0,50(5) 18,67±0,21(7) 44,04±0,63(7)

Tabela 2. Análise de Variância (ANOVA) dos dados morfométricos de três subespécies que ocorrem no Brasil do complexo Herpsilochmus

rufimarginatus. S = Diferença significativa e NS = Não significativo

Variável

Morfométrica Teste

Comparação par a par

rufimarginatus x frater rufimarginatus x scapularis frater x scapularis

Culmen Total F = 16,26; P < 0,0001 S S NS

Culmen Exposto F = 46,06; P < 0,0001 S S NS

Culmen Narina F = 12,64; P < 0,0001 S S NS

Asa Flat F = 22,39; P < 0,0001 NS S S

Tarso F = 1,37; P = 0,25 NS NS NS

Cauda F = 108,96; P < 0,0001 S S NS

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Tabela 3. Acurácia da classificação (%) dos caracteres morfológicos de três subespécies que

ocorrem no Brasil do complexo Herpsilochmus rufimarginatus usando análise da função

discriminante.

Táxon H. r. frater H. r. rufimarginatus H. r. scapularis Correta

H. r. frater (n=15) 12/8 0/0 3/7 80/53

H. r. rufimarginatus (n=38) 0/1 38/37 0/0 100/97

H. r. scapularis (n=24) 6/6 0/ 0 18/18 75/75

Total (n=77) 18/15 38/ 37 21/ 25 88/82

Caracteres Vocais

A análise vocal uni variada mostrou que existe diferença significativa entre quinze

variáveis acústicas de H. r. rufimarginatus em comparação com H. r. frater/ H. r. scapularis,

e doze diferença nos parâmetros acústicos entre H. r. scapularis e H. r. frater (Tabela 4).

A PCA explica 86,6% da variação dos dados. O PC 1 foi responsável por 67,8% da

variação e o PC2 teve variação de 18,8%. As análises mostram que os dados vocais dos

indivíduos da Bahia não diferem das do táxon nominal (Figura 5) e diferem de forma gritante

das populações que ocorrem ao norte do rio São Francisco, na Amazônia e no Panamá. Os

dados vocais mostram três populações diagnosticáveis (Figura 5).

As onze variáveis vocais analisadas para os três subespécies mostram que existem

diferenças significativas entre as variáveis vocais entre as subespécies (MANOVA, Willk’s

lambda = 0,020, F 22, 86 = 23,4, P < 0,0001). As comparações mostraram que existem

diferenças significativas no espaço multidimensional entre H. r. rufimarginatus e H. r. frater

(P < 0,0001), H. r. rufimarginatus e H. r. scapularis (P < 0,0001) e entre H. r. frater e H. r.

scapularis (P = 0,007).

A DFA usando essas mesmas variáveis mostraram que H. r. rufimarginatus está

separado no espaço multidimensional, enquanto ocorre pequena sobreposição das variáveis

vocais entre H. r. frater e H. r. scapularis (Figura 6). A população de Herpsilochmus r.

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rufimarginatus foi classificada corretamente (100%/100%) das vezes que foi amostrada, H. r.

scapularis (93%/93%) e H. r. frater (87%/80%) (Tabela 5). Esses dados apóiam as diferenças

encontradas para H. r. rufimarginatus, H. r. scapularis e H. r. frater, inclusive com altos

valores na matriz de classificação. A ANOVA, PCA, MANOVA e DFA mostraram resultados

semelhantes que apontam a separação de H. r. rufimarginatus, H. r. scapularis e H. r. frater.

Figura 5. Análise de Componente Principal das variáveis vocais das populações do complexo

H. rufimarginatus. O “x” representa H. r. rufimarginatus, estrela H. r. scapularis e o círculo

H. r. frater e o quadrado as populações da Bahia.

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Figura 6. Representação dos dois primeiros eixos da análise de função discriminante

realizadas com caracteres vocais de espécimes de três subespécies que ocorrem no Brasil do

complexo Herpsilochmus rufimarginatus. O “x” representa H. r. rufimarginatus, estrela H. r.

scapularis e o círculo H. r. frater.

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Tabela 4. Parâmetros bioacústicos de três populações do complexo Herpsilochmus rufimarginatus. S = Diferença significativa e NS = Não

significativo.

Parâmetros

Média e Erro Padrão

Teste

Comparação par a par

H. r.

rufimarginatus H. r. frater H. r. scapularis

rufimarginatus

x frater

rufimarginatus

x scapularis

frater x

scapularis

Número de Notas 17,57 ± 0,46 24,26 ± 0,92 27,66 ± 1,11 F = 48,70; P < 0,0001 S S S

Duração do Canto (s) 1,68 ± 0,04 1,41 ± 0,03 1,56 ± 0,04 F = 9,13; P = 0,0006 S NS NS

Frequência de Máxima Potência do

canto (Hz) 2359 ± 32 2489 ± 127 1899 ± 56 F = 17,06; P < 0,0001 NS S S

Número de Notas 1ª parte do canto 17,57 ± 0,46 11,60 ± 0,55 11,93 ± 0,43 F = 52,11; P < 0,0001 S S NS

Frequência de Máxima Potência 1ª

parte do canto (Hz) 2359 ± 32 2089 ± 50 1837 ± 36 F = 47,82; P < 0,0001 S S S

Duração 1ª Nota (s) 0,11 ± 0,004 0,05 ± 0,002 0,05 ± 0,002 F = 82,97; P < 0,0001 S S NS

Frequência de Máxima Potência 1ª

Nota (Hz) 2326 ± 39 2066 ± 41 1814 ± 28 F = 43,39; P < 0,0001 S S S

Duração 2ª Nota (s) 0,11 ± 0,003 0,05 ± 0,001 0,04 ± 0,002 F = 169,77; P < 0,0001 S S NS

Frequência de Máxima Potência 2ª

Nota (Hz) 2377 ± 037 2072 ± 45 1894 ± 37 F = 53,75; P < 0,0001 S S S

Duração 8ª Nota (s) 0,03 ± 0,001 0,02 ± 0,0008 0,02 ± 0,0009 F = 34,52; P < 0,0001 S S NS

Frequência de Máxima Potência 8ª

Nota (Hz) 2322 ± 27 2018 ± 72 1757 ± 30 F = 48,40; P < 0,0001 S S S

Número de Notas 2ª parte do canto - 12,66 ± 0,87 15,63 ± 1,02 t = 2,27; P = 0,03 - - S

Frequência de Máxima Potência 2ª

parte do canto (Hz) - 2873 ± 79 2549 ± 94 t = 2,62; P = 0,01 - - S

Número de sílabas da última nota - 4,21 ± 0,33 6,20 ± 0,43 t = 3,56; P = 0,001 - - S

Duração da última nota (s) 0,08 ± 0,006 0,11 ± 0,01 t = 2,39; P = 0,02 S

Frequência de Máxima Potência da

última nota (Hz) - 2356 ± 80 1941 ± 52 t = 4,35; P = 0,0002 - - S

Intervalo entre a penúltima e última

nota (s) - 0,05 ± 0,004 0,07 ± 0,004 t = 2,47; P < 0,01 - - S

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Tabela 5. Acurácia da classificação (%) dos caracteres vocais de três subespécies que

ocorrem no Brasil do complexo Herpsilochmus rufimarginatus usando análise da função

discriminante.

Táxon H. r. frater H. r. rufimarginatus H. r. scapularis Correta

H. r. frater (n=15) 13/12 0/0 2/3 87/80

H. r. rufimarginatus (n=26) 0/0 26/26 0/0 100/100

H. r. scapularis (n=15) 1/1 0/0 14/14 93/93

Total (n=56) 14/13 26/26 16/17 95/93

Uma análise qualitativa permite observar que existem diferenças marcantes entre os

cantos das subespécies (Figura 7). O canto de H. r. rufimarginatus o que mais se diferencia

dos demais táxons. As três primeiras notas apresentam duração e intervalo maiores as três

últimas notas diferem em formato e duração as frequências de maiores potências das notas do

canto não ultrapassam os 3 kHz e o número de notas é menor (17,57 ± 0,46) (Figura 7 e

Tabela 4). A chamada varia de duas a quatro notas no formato de um “U” invertido, mas duas

notas são mais frequentes e as duas duram aproximadamente 0,28 s.

H. r. scapularis, tem o canto com maior número de notas (27,66 ± 1,11) começa com

mais energia no fundamental nas primeiras notas, posteriormente as notas vão descendendo e

os harmônicos ficam com mais energia. As três últimas notas são moduladas assim como em

H. r. frater e H. r. exiguus, mas H. r. scapularis difere dos anteriores por apresentar o

número de sílabas e a duração da última nota, e o intervalo entre a penúltima e última nota

maiores. A chamada não é modulada com duração e frequência no fundamental de

aproximadamente 0,19 a 0,22 s e 1454 kHz, respectivamente (Figura 8). Outra vocalização é

um chocalhado com até sete notas, com duração de 0,36 s e frequência máxima no

fundamental de 2296 kHz (Figura 8).

H. r. frater, possui canto com menor número de notas (24,26 ± 0,92) que H. r.

scapularis, maior número de notas na parte do canto onde o segundo harmônico tem mais

energia que o fundamental, a última nota modulada começa com sílabas ascendentes que

depois descendem. A chamada também é modulada com duração de 0,13 s e frequência no

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fundamental de 1523 kHz (Figura 8). Também apresenta um chocalhado que varia de quatro

a seis notas que dura 0,32 s e frequência do fundamental de 2356 kHz. O chocalhado difere

do táxon anterior pelo formato das notas (Figura 8).

Apesar desse trabalho não ter analisado quantitativamente os cantos de H. r. exiguus,

devido amostra ser pequena, o canto desta subespécie difere das demais, sendo mais próximo

aos cantos de H. r. frater e H. r. scapularis, diferindo pelo formato das notas inicias e final.

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Figura 7. Espectrogramas do canto dos representantes do complexo Herpsilochmus

rufimarginatus. A. H. r. rufimarginatus (Boa Nova, Bahia, Brasil*), B. H. r. scapularis

(Estação Ecológica de Murici, Alagoas, Brasil, xeno-canto 80216), C. H. r. frater (Upata,

Bolívar, Venezuela*), e D. H. r. exiguus (Cana, Darien, Panama*). *Isler e Whitney 2002.

Tempo (s)

0,5 1,0 1,5

0,5 1,0 1,5

0,5 1,0 1,5

0,5 1,0 1,5

1

2

3

4

5

1

2

3

4

5

0

0

0

0

1

2

3

4

5

1

2

3

4

5

Fre

quênc

ia (kH

z)A

B

C

D

78

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Figura 8. Chamadas e Chocalhar “rattle” de H. r. frater (A. Chamada, C. Chocalhado) e H. r.

scapularis (B. Chamada, D. Chocalhado).

Limites da distribuição dos táxons

A análise morfológica e vocal revelou que as subespécies reconhecidas que ocorrem no

território brasileiro e países vizinhos tem distribuição disjunta. As subespécies estão assim

distribuídas: H. r. rufimarginatus se distribui na floresta Atlântica da Bahia a Santa Catarina,

e parte do Paraguai, Argentina; H. r. scapularis ocorre na floresta ao Norte do Rio São

Francisco (Alagoas ao Rio Grande do Norte); e H. r. frater ocorre nos estados do norte na

Amazônia brasileira e países vizinhos (Figura 9).

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Figura 9. Limites de distribuição do complexo H. rufimarginatus. Os círculos azuis, vermelhos e

amarelos representam: H. r. frater, H. r. scapularis e H. r. rufimarginatus respectivamente.

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Discussão

Os táxons analisados mostram diferenças suficientes para serem tratados como espécies

plenas. As populações do centro e sul da Mata Atlântica (da Bahia em direção ao sul) e da

Amazônia tem nomes disponíveis que são H. rufimarginatus e H. frater, respectivamente. O

táxon do norte da Mata Atlântica não tem, embora tenha sido reconhecido como

Herpsilochmus rufimarginatus scapularis e com ocorrência até a Bahia, Espírito Santo e

Minas Gerais (PINTO e CAMARGO 1961, PINTO 1978, ZIMMER e ISLER 2003). No

entanto, verificamos que o holótipo de Herpsilochmus rufimarginatus scapularis (AMNH

5380) não tem local exato de coleta e que o padrão de plumagem corresponde ao do táxon

nominal (RMNH 88800 e RMNH 90672), sem as manchas pretas no dorso do macho

encontradas nos espécimes ao norte do rio São Francisco, portanto não se diferencia de H. r.

rufimarginatus. Mesmo na descrição de H. r. scapularis (Myiothera scapularis) feita por

Wied em 1831 não encontramos as características presentes nos espécimes do Centro de

Endemismo Pernambuco, estando mais de acordo com H. r. rufimarginatus. Cory e Hellmayr

(1924) não reconheceram esta subespécie e consideraram Herpsilochmus r. scapularis

(Myiothera scapularis) como sinônimo do táxon nominal, provavelmente porque

consultaram o tipo e não viram diferenças suficientes para a manutenção do táxon. No

entanto, Peters (1951) reconheceu Herpsilochmus r. scapularis como subespécie válida e

Zimmer e Isler (2003) seguiram esta proposição, embora não apresentem motivos claros para

esta posição. Ao que tudo indica, alguns autores passaram a usar o nome Herpsilochmus r.

scapularis para a forma existente ao norte do rio São Francisco, que é diferente da do sul,

embora este nome tenha sido proposto para espécime coletado na Bahia e que não se

distingue da forma nominal, sendo seu sinônimo. Um possível nome para este táxon seria

Myiothera variegata (Wied 1831), que hoje seria Herpsilochmus variegata, mas existem

muitas incertezas com relação a esta designação, pois não existe localidade tipo reconhecida

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para esse táxon, houve erro nas etiquetas de identificação e o suposto tipo de M. variegata

(AMNH 5379) está em péssimo estado de conservação não sendo possível observar os

caracteres diagnósticos (ALLEN 1889, LECROY e SLOSS 2000). Analisamos esse material

é o caráter diagnóstico descrito na publicação original (Wied 1831) está presente,

discordando assim das observações de Allen (1889). Mas essa suposta característica

diagnóstica não está presente apenas em M. variegata, pois está presente nas populações: ao

norte do rio São Francisco, nas populações da Amazônia e do Panamá, onde temos

subespécies em cada uma das áreas. O próprio itinerário de Wied inclui apenas áreas onde o

táxon nominal está presente (VANZOLINI 1996, COSTA 2008). Outra situação é que Wied

não designou material para ser o tipo M. variegata, designação essa proposta por Allen

(1889) com base em material depositado no AMNH.

Sendo assim, devido às incertezas que cercam esse nome não é possível utilizá-lo e o

táxon ao norte do rio São Francisco precisa ser nomeado. Por fim, cabe destacar que nenhum

espécime e ou canto de localidades abaixo do rio São Francisco que examinamos apresentou

plumagem e ou caracteres vocais parecidos com os encontrados ao norte. Portanto, a forma

existente entre Alagoas e Rio Grande do Norte não tem nome disponível e é plenamente

diagnosticável dos demais táxons e deve ser considerada uma espécie a parte.

Os dados de morfologia, morfometria e vocalização apontam que as populações do

complexo H. rufimarginatus do centro-sul da Mata Atlântica (H .r. rufimarginatus), do norte

da Mata Atlântica (sp. nov.) e da Amazônia (H. r. frater) são na verdade espécies

diagnosticáveis. Tivemos também forte apoio estatístico das variáveis vocais e

morfométricas. As diferenças observadas na plumagem e vocalização entre as populações são

suficientes para defini-las como espécies separadas pelo conceito filogenético de espécie

(CFE) (CRACRAFT 1983, MCKITRICK e ZINCK 1988) e conceito filético geral de espécie

(CFGE) (DE QUEIROZ 1998). Considerando o conceito biológico de espécie (CBE)

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(MAYR 1942), separamos apenas a população do centro-sul da Mata Atlântica, pois as

diferenças vocais são tantas que as populações não se reconhecem, implicando

provavelmente em isolamento reprodutivo.

Estas populações apresentam distribuições disjuntas separadas por barreiras geográficas

que provavelmente impedem contato. O táxon Amazônico está isolado dos Atlânticos pelo

corredor seco formado pela Caatinga, Cerrado e Chaco (COSTA 2003, BATALHA-FILHO

et al. 2012). Na Mata Atlântica o limite de distribuição é a região que engloba o rio São

Francisco e formações do entorno (DANTAS et al. 2011). O tempo que a população

Amazônica e Atlântica está isolada se levarmos em consideração espécies florestais que tem

distribuição semelhante é de três milhões de anos (CABANNE et al. 2008). Entre as

populações da Mata Atlântica do Norte (Centro Pernambuco) e Sul (da Bahia em direção ao

sul da Mata Atlântica) é de ~0,47 milhões de anos (CABANNE et al. 2008, CABANNE

2009, D’HORTA et al. 2011). Esse tempo foi suficiente para que ocorresse especiação entre

essas duas áreas na Mata Atlântica como evidenciado por outros táxons (CABANNE et al.

2008, CABANNE 2009).

As diferenças marcantes nas vocalizações indicam que essas populações estão isoladas

a tempo considerável. Realizamos testes de “playback” da vocalização de espécimes do sul

da Mata Atlântica com a do norte e não tivemos nenhuma reação de resposta. O canto e o

chamado da população do sul da Mata Atlântica são muito diferentes em estrutura das outras

populações. A população do Norte da Mata Atlântica tem seu canto compartilhando mais

semelhanças com a da Amazônia. Sugerindo assim algum contato mais recente entre essas

populações, como ocorreu entre táxons que tem distribuição disjunta entre esses dois biomas

(COSTA 2003, PAVAN 2011, BATALHA-FILHO et al. 2013a, BATALHA-FILHO et al.

2013b, MALDONADO-COELHO 2013). Mas mesmo assim apresentam diferenças no canto

e inclusive no chamado, embora respondam a “playback” cruzado. Provavelmente por serem

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mais próximas filogeneticamente ainda possuem semelhanças que permitem que se

reconheçam.

Recomendações Taxonômicas

Com base nas informações de plumagem, morfometria, vocalização e distribuição dos

espécimes examinados recomendamos que sejam reconhecidas três espécies. Com relação à

Herpsilochmus rufimarginatus exiguus Nelson 1912, devido aos poucos dados disponíveis

para análise, recomendamos considerá-la ainda como subespécie da forma amazônica até que

novos estudos sejam realizados. Dessa forma, as espécies deste complexo são:

Herpsilochmus rufimarginatus (Temminck, 1822) (chorozinho-de-asa-vermelha) com

distribuição da Bahia à Santa Catarina.

Herpsilochmus frater Sclater e Salvin 1880 (nome popular: chorozinho-da-Amazônia)

com distribuição amazônica.

Herpsilochmus sp. nov. com distribuição entre Alagoas e Rio Grande do Norte.

Herpsilochmus sp. nov.

Holótipo. COUFRN 770. Pele, macho adulto, crânio 100% ossificado, testículos 3x2 mm,

coletado no dossel da floresta estacional semidecídua em 2 de novembro de 2012 por M.

Silva em Baía Formosa, Reserva Particular do Patrimônio Natural Mata Estrela, Rio Grande

do Norte, Brasil (6º23’54’’S; 35º01’00’’W). Tecido depositado na Coleção Ornitológica da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Campus Natal.

Parátipos. COUFRN100: Pele, macho adulto, crânio 100% ossificado, testículos menor que

1 mm, coletado na copa da floresta estacional semidecídua em 08 de novembro de 2009 por

M. Pichorim, M. Silva e J. B. Irustra em Baía Formosa, Mata do Pau-Brasil, Rio Grande do

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Norte, Brasil (6º27’07’’S; 35º03’02’’W). COUFRN730: Pele, macho adulto, crânio 100%

ossificado, testículos 1x1 mm, coletado em 02 de novembro de 2012 por M. Silva em Baia

Formosa, RPPN Mata Estrela, Rio Grande do Norte. COUFRN738: Pele, macho adulto,

crânio 100% ossificado, testículos 3x2 mm, coletado em 02 de novembro de 2012 por M.

Silva em Baia Formosa, RPPN Mata Estrela, Rio Grande do Norte. COUFRN755: Pele,

macho adulto, crânio 100% ossificado, testículos 3,5x1,5 mm, coletado em 02 de setembro

de 2012 por M. Silva em Baia Formosa, RPPN Mata Estrela, Rio Grande do Norte.

COUFRN761: Pele, fêmea adulta, crânio 75% ossificado, gônada 4,0x3,0 mm, coletado em

02 de setembro de 2012 por M. Silva em Baia Formosa, RPPN Mata Estrela, Rio Grande do

Norte. COUFRN768: Pele, macho adulto, crânio 85% ossificado, testículos 4,0x2,0 mm,

coletado em 02 de setembro de 2012 por M. Silva em Baia Formosa, RPPN Mata Estrela, Rio

Grande do Norte. COUFRN796: Pele, macho adulto, crânio 75% ossificado, testículos 2x2

mm, coletado na floresta estacional semidecídua em 21 de novembro de 2012 por M. Silva,

L. Beatriz, F. Sodré e J. Molla em Maceió, fragmento florestal próximo a BR 101, Alagoas

(9º33’16’’S; 35º47’57’’W). COUFRN807: Pele, macho adulto, crânio danificado pela coleta,

testículos 4x2,5 mm, coletado em 12 de dezembro de 2012 por M. Silva em Baia Formosa,

RPPN Mata Estrela, Rio Grande do Norte.

Diagnose. Fenotipicamente o novo táxon pode ser atribuído ao Gênero Hespsilochmus

(Thamnophilidae) com base em suas medidas morfométricas, os machos tem testa preta

semi-brilhante e coroa rodeada por contrates superciliar pálido e uma linha preta através ou

posterior ao olho. Existe a presença de penas com detalhes brancos na cauda, penas pálidas

na ponta das coberteiras das asas, borda branca nas margens distais das penas escapulares e

mancha interescapular branca e semioculta (WHITNEY e ALONSO 1998). Hespsilochmus

sp. nov. se diferencia dos demais Herpsilochmus, exceto de H. rufimarginatus e H. frater,

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por apresentar rêmiges primárias e secundárias com extensa porção castanha no vexilo

externo. Diferencia-se de H. rufimarginatus pela forma e extensão das manchas brancas na

cauda, pela presença de manchas pretas nas penas do dorso, comprimento da asa e

vocalização (Tabela 2, Figura 5, 6) e em plumagem é muito parecida com H. frater, mas sua

bochecha e garganta são esbranquiçadas sem presença de tons amarelados e comprimento da

asa flat (Tabela 2). No entanto, a diferença marcante é encontrada na vocalização (Tabela 4,

Figura 5, 6). Vocalmente o novo táxon difere de H. rufimarginatus de maneira evidente no

canto, chamadas (Tabela 4, Figura 7, 8) e de H. frater além das variáveis mencionadas temos

os chocalhados (Tabela 4, Figura 7, 8).

Descrição do holótipo. Apresenta uma faixa preta na cabeça que se estende da fronte a nuca,

linha supraciliar branca que começa na base do bico até a nuca, linha pós-ocular preta até

próximo à nuca, bochecha e garganta de um branco mais intenso com ausência de amarelo,

maxila preta e mandíbula cinza-esbranquiçada. Amarelo-camurça se estende do final da

garganta até as coberteiras inferiores da cauda, flancos e bermuda. Do pescoço a coberteiras

superiores da cauda é cinza com manchas pretas espalhadas pelo dorso. Coberteiras

superiores são pretas com branco na parte distal das penas e formam duas faixas brancas nas

coberteiras e as coberteiras inferiores são amarelo-creme. As primárias são pretas com a

borda exterior cor de telha e na parte distal da pena tem uma fina faixa amarelo-creme. As

retrizes escalonadas são pretas e com detalhes brancos que aumentam em área no sentido da

primeira a sexta retriz, sendo a quinta e a sexta que tem mais branco. O primeiro par de

retrizes é cinza com a ponta preta e uma borda branca na parte distal. O comprimento mínimo

da parte branca pura nas penas da cauda é o seguinte: na terceira retriz (vexilo externo = 4,5

mm e vexilo interno = 3 mm), quarta retriz (vexilo externo = 7 mm e vexilo interno = 7 mm),

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quinta retriz (vexilo externo = 22 mm e vexilo interno = 9 mm) e sexta (vexilo externo = 23

mm e vexilo interno = 13 mm).

Medidas do holótipo. Culmen total da base do crânio a sua ponta do bico 17,7 mm, culmen

exposto parte visível da parte próxima à base até a ponta 13,4 mm, culmen narina da parte

posterior da narina até a ponta 9,3 mm, asa flat 53 mm, tarso 18,9 mm, cauda 45,1 mm,

massa corporal 10 g.

Variação da serie tipo. A série tipo inclui nove espécimes, sendo oito machos e uma fêmea.

Os espécimes mostraram dimorfismo apenas de plumagem, são todos indivíduos adultos. A

parte ventral é semelhante nos machos da série tipo. O ventre também exceto pela variação

da distribuição e quantidade das manchas pretas nessa região. Sendo essas pouco evidentes

nos espécimes COUFRN796 e COUFRN738, que estão muito desgastados devido à coleta e

preparação. O preto do píleo parece às vezes de estender até o pescoço (COUFRN 796). O

padrão de distribuição e comprimento da cauda da fêmea lembra a do macho (holótipo). Essa

difere do macho pela laranja intenso no píleo, parte ventral amarelo-alaranjado menos intenso

e dorsal amarelo-alaranjado mais intenso.

Distribuição. Herpsilochmus sp. nov. ocorre nos estados do Rio Grande do Norte, Paraíba,

Pernambuco e Alagoas. Tem como limite sul as florestas semidecidua e ombrófilas no estado

de Alagoas e ao norte a floresta semidecidua sobre dunas no estado do Rio Grande do Norte,

no município de Baía Formosa. O limite norte da distribuição é a Reserva Particular do

Patrimônio Natural Senador Antônio Farias “Mata Estrela”.

Habitat. Ocorre em formações vegetais florestais: restinga arbórea, floresta semidecidua e

floresta ombrófila. Onde vive no dossel do componente arbóreo, nas florestas de menor porte

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e menos densas como na floresta de restinga e florestas semidecíduas são visualizados com

maior facilidade, mas permanecem na copa das árvores. Está presente tanto no interior como

na borda da floresta.

Os estudos de revisões taxonômicas são cada vez mais importantes na região

Neotropical e vão ser capazes de revelar a diversidade que está presente nessa região tão rica.

A situação do Brasil é privilegia e possivelmente sejamos o país com maior riqueza de aves

no planeta. Mas esses estudos são urgentes, pois com o grau de destruição e fragmentação de

habitat que enfrentamos hoje muitas espécies estão correndo perigo de serem extintas. Nesse

estudo propusemos a descrição de um táxon não nominado que é endêmico do Centro

Pernambuco uma das regiões mais ameaçadas do planeta Terra. Apesar dessa ave não está

ameaçada de extinção, mas a sua descoberta revela mais uma novidade ornitológica para essa

região. No entanto muitos táxons subespecíficos estão ameaçados de extinção e precisam ser

revisados urgentemente. Nos últimos anos essa região biogeográfica tem revelados vários

endemismos que muitas vezes estão à beira da extinção. Essas descobertas revelam sua

diversidade e a necessidade de acelerar os estudos nessa região tão ameaçada pela ação

humana.

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APENDICE 1. Lista de espécimes analisados durante o estudo. Os espécimes analisados estão

identificados por táxon, país e localidade. Os acrônimos para os espécimes depositados em coleções

ornitológicas: MPEG = Museu Paraense Emílio Goeldi; MZUSP = Museu de Zoologia da

Universidade de São Paulo; MN = Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro; RMNH

= Nationaal Natuurhistorisch Museum Naturalis, Leiden; AMNH = American Museum of Natural

History; NHM = British Museum of Natural History; COUFRN = Coleção Ornitológica da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Herpsilochmus rufimarginatus rufimarginatus: 81 espécimes. BRASIL (RMNH 88800♂, RMNH

888010♀, RMNH 90672♂, RMNH 90673♀, Sintipos, examinados por fotografia digital). Bahia:

Camamú, Fazenda Três Pancadas, MN38273♂; Andaraí, Fazenda Mocambo, MPEG47260♂;

Lenções, MN39034♂; Bonito, Morro do Chapeu, MN43059♂, MN43060♂; Porto Seguro, Estação

Vera Cruz, MZUSP76222♂. Minas Gerais: Alto do Rio Doce, MZUSP25645♂; Rio Doce, baixo

Piracicaba, MZUSP25646♂, MZUSP25648♂, MZUSP25649♂, MZUSP25650♀, MZUSP25651♀,

MZUSP25652♀. Espírito Santo: Linhares, MN27274♂; Santa Leopoldina, Chaves,

MZUSP29004♂. Rio de Janeiro: Santa Tereza, Rua Almirante Alexandrino, MN43374♂;

Guapamirim, Salvaterra, MN44247♂. São Paulo: Iguape, rio Krone, MZUSP2819♂; Ubatuba,

MZUSP5587♂, MZUSP5488♂; Rio Feio, MZUSP5822♂; MZUSP8250♀; Rincão, MZUSP1822♂;

Valparaíso, MZUSP12530♂; Lins, MZUSP26665♂, MZUSP26666♀; C. Flores, Rio Paranapanema,

MZUSP29383♂, MZUSP29384♂, MZUSP29385♀, MZUSP31904♂; MZUSP31297♂; Fazenda

Santa Isabel, MZUSP31298♂; Rio Ipiranga, Porto Estrada, MZUSP47933; Primeiro Morro,

MZUSP49887♀, MZUSP49888♂; Rocha, MZUSP49890♂, MZUSP49891♂, MZUSP49892♀,

MZUSP49889♂; Barro Branco, Barra do rio Guarou, MZUSP51407♀, MZUSP51436♀; Interlagos,

MZUSP53432♂, MZUSP53433♂, MZUSP53435♀, MZUSP53436♀; Anhembi, Barreiro Rico,

MZUSP54539♂, MZUSP54540♀; Costão dos Engenhos, MZUSP55049♀, MZUSP55050♀; Terra

Preta, MZUSP60797♂; Serra da Cantareira, MZUSP60798♂; São Sebastião, Praia de Boraceia,

MZUSP61413♂, MZUSP61414♀, MZUSP61612♂, MZUSP61613♂, MZUSP61614♂,

MZUSP61615♂; Guarujá, MZUSP61616♀; Icapara da Serra, MZUSP66197♂, MZUSP67346♀;

Icapara, MZUSP66736♂, MZUSP66737♀, MZUSP66738♂, MZUSP66739♂, MZUSP66740♂;

Barra do Icapara, MZUSP66954♀, MZUSP66955♀, MZUSP66956♂, MZUSP66957♂,

MZUSP66958♀, MZUSP68344♀; Iguape, MZUSP66198♀, MZUSP67347♂; MZUSP66199♂;

Embu, R. Ribeira, MZUSP66959♀, MZUSP66960♂; Itatiba, MZUSP884♀. Paraná: Cerro Azul, Rio

Ponta Grossa, MN38747♂; Cerro Azul, Rio Ponta Grossa, MN38747♂. P. Camargo, rio Paraná,

MZUSP36929♂. PARAGUAI. Puerto Bertoni, MZUSP4750♂.

Herpsilochmus rufimarginatus frater: 37 espécimes. BRASIL (NHM 89.9.20.336♂, Sintipo,

examinado por fotografia digital). Acre: Assis (78 km), Estação Ecológica do Rio Acre,

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MPEG59861♂, MPEG59862♂. Roraima: Ilha de Maracá, MPEG39142♂, MPEG39143♀,

MPEG39144♂; Mucasaí, Colônia do Apiaú, MPEG45934♀, MPEG45935♀; Rio Quitanaú, 10 km ao

sul da Serra Grande, MZUSP73351♂. Pará: Jacareacanga, Flona Crepori, MPEG65700♂; Altamira,

Castelo dos Sonhos, MPEG59182♂; Reserva Indígena Kayapó, Aldeia Aukre, MPEG52313♂,

MPEG52314♂; Conceição do Araguaia, Fazenda Chacara Betel, MPEG55930♀, MPEG55931♂;

Serra do Cachimbo, Base da Aeronáutica, MPEG57346♂; Chaves, Ilha de Marajó, MPEG58083?;

Novo Progresso (a 20 km), MPEG59183; Rio Tapajós, MZUSP40699♂; Capim, Estrada de Belém-

Brasília, MZUSP45018♂, MZUSP45019♂, MZUSP45020♂. Maranhão: Alto da Alegria, Turi-

Assu, MN17412♂, MN17413♂, MN17415♀. Rio Iriri, Santa Julia, MPEG10772♂. Alto do Xingu,

MN718♂, MN732♂, MN943♂; Vitoria, Rio Xingu, MN17416♂, MN17417♂; Rio Curuá,

MN17636♂; Flor do Prado, MN17637♂, MPEG12732♂. Mato Grosso: Alto do Rio Xingu, Ponto

Jacaré, MPEG15167♀; Nova Mutum, Fazenda Matrinchã, MZUSP81232♀, MZUSP81233♂,

MZUSP81234♂.

Taxon novum: 33 espécimes. BRASIL. Rio Grande do Norte: Baía Formosa, Mata do Pau-Brasil,

COUFRN97♂, COUFRN98♂, COUFRN99♂, COUFRN100♂; Baía Formosa, RPPN Mata Estrela,

COUFRN754♂, COUFRN755♂, COUFRN761♀, COUFRN762♀, COUFRN763♂, COUFRN765♂,

COUFRN768♂, COUFRN769♂, COUFRN770♂, COUFRN772♂, COUFRN773♂, COUFRN801♂,

COUFRN805♂, COUFRN807♂, COUFRN808♂, COUFRN809♀, COUFRN810♂, COUFRN811♀.

Paraíba: Uruba, Rio Tinto, MZUSP39889♀; Uruba, Rio Tinto, MZUSP39891♀; Mamanguape,

Uruba, MZUSP39890♂. Pernambuco: Recife, Parque Ecológico Dois Irmãos, MN24775♂;

Vicência, Água Azul, MZUSP63588♀. Alagoas: Maceió, COUFRN789♂, COUFRN790♂,

COUFRN792♀, COUFRN793♂, COUFRN796♂; Usina Sinimbu, MZUSP39059 ♂.

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APENDICE 2. Lista de vocalizações analisadas durante o estudo. Os espécimes analisados estão

identificados por táxon, estado, município, localidade, autor, coleção e número. Os acrônimos: XC =

Xeno-canto América web site (http://www.xeno-canto.org/); MS = coleção privada de Marcelo da

Silva.

Herpsilochmus rufimarginatus rufimarginatus: 26 vocalizações. BRASIL. Bahia: Cardeal da Silva,

Sidnei S. dos Santos, XC82519; Porto Seguro, Reserva Particular do Patrimônio Natural Estação

Veracel, Jeremy Minns, XC80214; Boa Nova, Jeremy Minns, XC80220. Espirito Santo: Linhares,

Reserva Natural da Vale, Jeremy Minns, XC80200. São Paulo: Estação Biológica Boraceia, Don

Jones, XC1349; Juquitiba, Sitio Veravinha, Marcos Melo, XC33324; Ubatuba, Fazenda Angelim,

John Woude, XC493; Praia Vermelha do Sul, Jeremy Minns, XC80212; Itanhaem, Chacaras

Bopiranga, Jeremy Minns, XC80213. Rio de Janeiro: Parque Nacional da Tijuca, Ricardo Gagliardi,

XC11759, XC33639; Reserva Ecológica de Guapiaçu, Leonardo Pimentel, XC13032; Reserva

Ecológica de Guapiaçu, Nich Athanas, XC34547. Paraná: Iguaçu, Parque Nacional do Iguaçu, João

Menezes, XC22522; Londrina, Parque Estadual Mata dos Godoy, Renan Campos de Oliveira,

XC59551. Santa Catarina: Vidal Ramos, Rio dos Bugres, Douglas Meyer, XC99687; Blumenau,

Morro do Cachorro, XC28424; Brusque, Glauco Kohler, XC47251; Itapoá, Reserva Volta Velha,

Jeremy Minns, XC80218. PARAGUAI: San Rafael, Parque Nacional de San Rafael, Paul Smith,

XC13576. ARGENTINA. Misione: Bernabe Lopez-Lanus, XC50045, XC50524, XC50525; Parque

Uruguai, Gustavo C. Cabanne, XC8181.

Herpsilochmus rufimarginatus frater: 15 vocalizações. EQUADOR. Napo, Tayler Brooks, XC

98115; Sucumbios, Mirador de Lumbaqui, Andrew Spencer, XC84238; Shaime Zamora – Chinchip,

Nick Athanas, XC6578. SURINAME. Tafelberg, Otte Ottema, XC6105. VENEZUELA. Ocumare

Area, David Geale, XC22981; Aragua, Cerro La Cumbre - Turiamo, Chris Parrish, XC11340. PERU.

San Matin, Andrew Spencer, XC47837; Cord. Vaquero, Todd Mark, XC7087; Quebrada Upaquihnua,

Frank Lambert, XC38973; Puno, David Geale, XC82791. BRASIL. Pará: Pousada Rio Azul,

Bradley Davis, XC14776. Mato Grosso: Cristalino, Andrew Spencer, XC47951, XC47952;

Cristalino, Frank Lambert, XC68474.

Taxon novum: 15 vocalizações. BRASIL. Rio Grande do Norte: Baia Formosa, Reserva Particular

do Patrimônio Natural Senador Antônio Farias “Mata Estrela”, MS201, MS202, MS203, MS204,

MS205, MS206, MS207, MS209, MS210, MS211; Baia Formosa, Mata do Pau Brasil, MS212;

Alagoas: Murici, Estação Ecológica de Murici, MS208, MS217; Estação Ecológica de Murici,

Jeremy Minns, XC80216.

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