Upload
others
View
0
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
1
Formalismo Lagrangiano
Sistema de N partículas descritas pelos seus respectivos vetores posição ri , i=1 ,…, N (3N graus de liberdade)
Caso o sistema tenha p vínculos, então teremos n=(3N−p )graus de liberdade
Para cada grau de liberdade introduzimos uma coordenada generalizada qk , k=1 ,…,n
Um vínculo é descrito por uma equação. O vínculo é chamado de holônomo se depende somente de r i e, eventualmente, de t
f j ( r1 ,r 2,…, rN ,t )=0 , j=1,2 ,… p
2
Exemplo 1: Pêndulo Duplo
o Há 2 vínculos:
f 1=x12+ y1
2−l12=0 e f 2=(x2−x1 )2+ ( y2− y1 )2−l2
2=0 o Definindo as coordenadas generalizadas: q1=θ1 e q2=θ2 tal que
x1=l1 senθ1 ; y1=l1cosθ1; x2=l1 senθ1+l2 senθ2 ; y2=l1 cosθ1+l2cosθ2, os vínculos f 1 e f 2 se transformam em meras identidades.
Exemplo 2: Partícula presa a uma esfera de raio R que se move com velocidade constante v=(vx , v y , vz )
o Equação de vínculo f=(x−vx t )2+( y−v y t )2+( z−vz t )
2−R2=0
o Definindo as coordenadas generalizadas: q1=θ e q2=φ tal que x−vx t=R senθcosφ; y−v y t=Rsenθ senφ; z−vz t=Rcosθ, o vínculo é uma identidade------------------------------------------------------------------------------------------
Vínculos aparentemente não holônomos, isto é, que dependem da velocidade f ( r , ˙r , t )=0 podem, às vezes, serem integráveis se transformando em holônomo. Um exemplo clássico é o de um cilindro de raio R que rola sem deslizar ao longo de uma linha reta x. Neste caso, o vínculo é
x=RφQue integrando nos fornece a equação de vínculo holônomo
f=x−Rφ=0Como exemplo de vínculo não holônomo temos o de um disco vertical de raio R que rola sem deslizar num plano horizontal. Seja θ
3
o ângulo do plano do disco com o eixo x. Seja v o módulo da velocidade do centro de massa. A condição de rolar sem deslizar se expressa v=R φ. Por outro lado, o vetor velocidade do c.m. será
v=( x , y )= (v cosθ , v senθ )= (R φcosθ , R φ senθ )As equações de vínculos, são, portanto
f 1= x−R φ cosθ=0 e f 2= y−R φ senθ=0
Vamos procurar um fator integrante h1(x , y , θ ,φ , t) que resolva o vínculo f 1. Suponhamos que exista uma função integrável G1(x , y , θ ,φ , t) tal que
h1 f 1=h1 x−h1R φ cosθ=d G1
dt=∂G1
∂ xx+
∂G1
∂ yy+
∂G1
∂θθ+
∂G1
∂φφ+
∂G1
∂ t=0
dG1
dt=0→G1=C=constante
Donde: ∂G1
∂ y=∂G1
∂θ=∂G1
∂ t=0→G1=G1 ( x , φ )
∂G1
∂ x=h1→
∂2G1
∂θ∂ x=∂h1∂θ
=0 (h1nãodependede θ)
e ∂G 1
∂φ=−h1Rcosθ→
∂2G1
∂θ∂φ=+h1Rsenθ=
∂2G1
∂φ∂θ=0→h1≡0
O vínculo f 1 não é integrável! não existe fator integrante h1.O mesmo argumento pode ser utilizado para f 2
Se aplicarmos no exemplo anterior (unidimensional e holônomo) teremos
f 0= x−R φ=0
Então procuramos um fator integrante h0=h0(x ,φ , t) e G0(x ,φ ,t ) tal que
4
h0 f 0=dG 0
dt=∂G0
∂ xx+
∂G0
∂φφ+
∂G0
∂t=h0 x−h0 R φ
Ou seja, ∂G 0
∂t=0
∂G0
∂ x=h0 e
∂G0
∂φ=−h0R
Cuja solução é
h0=C0=constante≠0
E
G0=C0 ( x−Rφ )
Deslocamento Virtual
Vamos supor vínculos holônomos. Para uma partícula um deslocamento virtual δ r tem as seguintes características:
É infinitesimal Ocorre num tempo t fixo Não viola os vínculos
Num deslocamento real d r o tempo não é fixo. Em geral, os deslocamentos virtuais e reais não coincidem.
Seja o vínculo holônomo f ( r , t )=0. Num deslocamento virtual δ r o tempo é constante e satisfaz o vínculo, logo
f ( r+δ r , t )=f ( r , t )+∇ f ∙ δ r+ ∂ f∂ t
dt=0
5
Como, no deslocamento virtual os vínculos têm que se obedecidos, temos f ( r+δ r , t )=f ( r , t )=0.
Além disso, no deslocamento virtual o tempo é fixo, logo ∂ f∂ t =0
Ou seja,∇ f ∙ δ r=0 (cuidado com vínculos não holônomos!)
Logo o gradiente de f , isto é, ∇ f , é perpendicular ao deslocamento virtual. Como ele também é perpendicular à superfície de vínculo, o deslocamento virtual é tangente à superfície do vínculo. A diferença entre deslocamentos real e virtual está ilustrada na figura.
Princípio dos Trabalhos Virtuais
Num sistema de N partículas, a força resultante sobre a i-ésima partícula é a soma vetorial da força aplicada (externa + soma das internas de todas as outras partículas sobre i) e a força de vínculo
F i=Fia+ f i ,i=1, .. ,N
Para um sistema em equilíbrio, F i=0. Como, para a maior os vínculos interessantes, a força de vinculo é perpendicular1 ao deslocamento virtual teremos que o trabalho total realizado pelas
forças de vínculo é zero ∑if i ∙δ ri=0. Logo, no equilíbrio, temos o
Princípio dos Trabalhos VirtuaisδW=∑
iF i
a ∙ δ ri=0
1Mesmo no caso de um corpo que rola sem deslizar, o trabalho realizado é nulo pois o ponto de contato está em repouso e não há deslocamento.
Princípio de D´Alembert Fora do equilíbrio temos a 2ª. Lei de Newton
F i= ˙pi ,com pi=mi˙r i
Então,
δW=∑i
( Fi− ˙p i ) ∙ δ r i=0
Como as forças de vínculo não realizam trabalho virtual, teremos o Princípio de D´Alembert
δW=∑i
( F ia− ˙pi ) ∙ δ ri=0
6
Coordenadas Generalizadas
r i= r i (q1 ,…,qn ,t ) , i=1 ,…N
Como num deslocamento virtual o tempo é fixo, teremos
δ r i=∑k=1
n ∂r i
∂qkδ qk (1)
Para o deslocamento real, teremos
d ri=∑k=1
n ∂ ri∂qk
d qk+∂ ri∂ t
dt
E o vetor velocidade
vi=d ridt
=∑k=1
n ∂ ri∂qk
qk+¿∂ ri∂ t
(2)¿
Então o trabalho virtual total das forças aplicadas que nós abreviaremos para F i
a≡F i
∑i=1
N
F i ∙ δ r i=∑k=1
n
∑i=1
N
F i ∙∂ r i∂qk
δ qk=∑k=1
n
Qk δ qk (3)
Onde definimos a k-ésima componente da força generalizada Qk
Qk=∑i=1
N
F i ∙∂ r i∂qk
(4)
O segundo termo no princípio de D´Alembert é
∑i=1
N˙pi ∙ δ ri=∑
i=1
N
mi˙vi ∙ δ ri=∑
k=1
n
∑i=1
N
mi˙vi ∙
∂ r i∂qk
δ qk (5)
De (2)
∂ v i∂ qk
=∂ r i∂qk
(6)
Usando a identidade
∑i=1
N
mi˙v i ∙
∂ r i∂qk
=∑i=1
N { ddt (mi v i ∙∂ ri∂qk )−mi v i ∙
ddt ( ∂ r i∂qk )}(7)
7
O último termo de (7) pode ser escrito (usando (2))
ddt ( ∂ r i∂qk
)=∑s=1
n ∂∂qs
( ∂ r i∂qk) qs+
∂∂ t ( ∂ ri∂qk
)= ∂∂qk
(∑s=1n ∂ r i
∂qsqs+
∂ r i∂ t )= ∂ vi
∂qk(8)
Então (7) pode ser reescrita (usando (6) e (8))
∑i=1
N
mi˙v i ∙
∂ ri∂qk
=∑i=1
N { ddt (mi v i ∙∂ v i∂ qk )−mi v i ∙
∂ v i
∂qk }=∑i=1
N { ddt [ ∂∂qk
(12 mi vi2)]− ∂
∂qk( 12 mi v i
2)}= ddt ( ∂T∂ qk )− ∂T
∂qk(9)
Onde T=12∑i=1
N
mi v i2 é a energia cinética do sistema.
Finalmente, de (3), (5) e (9), temos
ddt ( ∂T∂ qk )− ∂T
∂qk=Q k , k=1 ,…,n(10)
Exemplo: uma partícula, de massa m, se movendo, sem atrito, num plano horizontal sob a ação de forças e descrita por coordenadas polares
A transformação de coordenadas cartesianas ( x , y ) para polares (r , θ )
x=r cosθ e y=rsenθ
Os versores polares em função dos versores cartesianos x e y são
8
er=cosθ x+senθ y
θ→θ+ π2
eθ=−senθ x+cosθ y
Uma força qualquer pode ser escrita
F=F r er+Fθ eθ
O vetor posição r
r=r er
E o vetor velocidade
v=d rdx
= r er+r ˙er=r er+r θ eθ
Energia cinética será
T=m2
( r2+r2 θ2 )
Definindo as coordenadas generalizadas
q1=r
q2=θ
Teremos as forças generalizadas (usando (4))
Q1=F ∙ ∂ r∂q1
=F ∙ ∂r∂r
=F ∙er=Fr (componente radial daForça)
Q2=F ∙ ∂ r∂ q2
=F ∙ ∂ r∂θ
=r F ∙∂ er
∂θ=r F ∙ eθ=r Fθ(torque)
Por outro lado, de (10)
ddt ( ∂T∂ q1 )− ∂T
∂q1=
ddt ( ∂T∂r )− ∂T
∂r =m r−mr θ2=F r
ddt ( ∂T∂ q2 )− ∂T
∂q2= ddt ( ∂T∂ θ )− ∂T
∂θ=mr2θ+2mr r θ= d (mr2 θ )
dt=rFθ
Se a força é radial, Fθ=0 e há Conservação de Momento Angular
L=mr2 θ
9
Equações de Lagrange
Se as forças são conservativas elas podem ser obtidas de um potencial escalar
V=V ( r 1 , r2 ,…,rN , t )→V (q1 ,…qn , t )→∂V∂qk
=0 , k=1, ..n
e
F i=−∇ iV
Então
Qk=∑i=1
N
F i ∙∂ ri∂qk
=−∑i=1
N
( ∂V∂ xi∂ xi∂qk
+ ∂V∂ yi
∂ yi∂qk
+ ∂V∂zi
∂ zi∂qk )=−∂V
∂qk(11)
Note que
∂V∂ qk
=0 (12)
Definindo a Lagrangiana
L (q1 ,…qn , q1 ,…qn , t )=T−V (13)
Utilizando (10), (11), (12) e (13) teremos
ddt ( ∂ L∂ qk )− ∂L
∂qk=0 , k=1 ,…,n(14)
Essas n equações são chamadas de Equações de Lagrange
Observação 1 – No Formalismo Lagrangiano a 2ª. Lei de Newton, que tem natureza vetorial, passa a ser descrita por grandezas escalares T eV .
Observação 2 – A energia cinética T e a energia potencial V devem ambas ser expressas num mesmo referencial inercial, já que a 2ª. Lei de Newton só vale em referenciais inerciais.
10
Observação 3 – Sempre podemos escolher um outro conjunto de coordenadas generalizadas {Q1 ,Q 2 ,…,Qn } desde que o mapeamento seja bijetor, e as funções direta e inversa sejam diferenciáveis (em linguagem matemática – um difeomorfismo). Dizemos que as equações de Lagrange são invariantes por essa transformação de coordenadas
Qk=Gk (q1 ,…qn ,t ) , k=1,…,n
qk=gk (Q1 ,…Qn , t ) , k=1 ,…,n
g=G−1
Ou seja, valem as equações
ddt ( ∂L
∂Qk)− ∂ L
∂Qk=0 , k=1 ,…,n
Observação 4 – A equação de Lagrange (14) pode também ser reescrita para vínculos não holônomos com a introdução dos multiplicadores de Lagrange
Exemplo: Pêndulo duplo
11
O tratamento dado acima vale para energias potenciais que dependem tão somente das coordenadas generalizadas. Para incluirmos o eletromagnetismo no formalismo Lagrangiano, vamos supor que exista uma energia potencial generalizada, isto é, que dependa também das velocidades generalizadas, U (q1 ,…,qn , q1 ,…,qn , , t) tal que a força generalizada Qk seja
Qk=ddt ( ∂U∂ qk )−∂U
∂qk
Então de (10), teremos
12
ddt ( ∂ L∂ qk )− ∂L
∂qk=0 , k=1 ,…,n
Com L=T−U
Para 1 partícula de carga e e velocidade v temos a força de Lorentz
F=e ( E+ 1cv× B)
Reescrevendo em termos do potencial escalar φ (x , y , z , t) e do
potencial vetor A(x , y , z ,t ) com E=−∇ φ−1c∂ A∂ t
e B=∇× A temos
F=e (−∇φ−1c∂ A∂t
+1cv × ( ∇× A ))
Por outro lado
d Adt
=∂ A∂ x
x+ ∂ A∂ y
y+ ∂ A∂ z
z+ ∂ A∂ t
=(v ∙ ∇) A+ ∂ A∂t
e
v× ( ∇× A )=∇ ( v ∙ A )−( v ∙ ∇) A
Que substituindo na força de Lorentz fica
F=e {−∇φ−1cd Adt
+ 1c∇ ( v ∙ A )}=e {−∇(φ−1c v ∙ A)−1c d A
dt }
Definindo ∇v=i ∂∂ x
+ j ∂∂ y
+ k ∂∂ z e lembrando que os campos φ e A não
dependem da velocidade
ddt [∇v (φ− 1
cv ∙ A)]=−1
cd Adt
Logo
F=−∇ (eφ− ecv ∙ A )+ d
dt [∇v(eφ− ecv ∙ A)]
Donde obtemos a energia potencial generalizada
U=eφ− ecv ∙ A
E a Lagrangiana
13
L=mv 2
2−eφ+ e
cv ∙ A (15)