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On-line http://revista.univar.edu.br Interdisciplinar: Revista Eletrnica da Univar (2012) n.8 Vol 1 p. 47 -50 ISSN 1984-431X
1. INTRODUO
O termo latenciao de frmacos para o
processo de obteno de pr-frmacos foi proposto por
Haper em 1959. Latenciao a transformao do
frmaco em forma de transporte inativo que, in vivo,
mediante reao qumica ou enzimtica, libera a poro
ativa no local de ao ou prximo dele. Uma das
formas latentes obtidas mediante este processo
denomina-se pr-frmaco. (CHUNG e FERREIRA,
1997).
O planejamento de pr-frmacos de grande
importncia para a superao de problemas de ordens
farmacutica e farmacocintica relacionados ao
frmaco que, de outra forma, poderiam limitar sua
utilidade clnica. Os principais objetivos do
planejamento de pr-frmacos so: melhorar a
formulao (p. ex., aumentar a hidrossolubilidade);
melhorar a estabilidade qumica; melhorar a aceitao e
adeso do paciente; melhorar a biodisponibilidade;
prolongar a durao de ao; melhorar a seletividade e,
reduzir os efeitos colaterais (PEREIRA, 2007).
A vantagem do desenvolvimento de pr-
frmacos a facilidade de obteno de novos
compostos, no considerados me to e, portanto,
passvel de patentes (SILVA, 2008). A liberao
seletiva de frmacos no local de ao via pr-frmacos
tem gerado interesse considervel para aumentar a
potncia e diminuir os efeitos adversos dos prottipos
dos quais derivam (CASTRO et al., 2004).
Recentemente, com o avano das tcnicas de
clonagem e de expresso controlada de genes em
clulas de mamferos, verificou-se a elucidao da
natureza molecular de enzimas e transportadores de
membrana, tornando possvel um planejamento
racional de pr-frmacos dirigidos, que consiste de
frmacos latentes acoplados a um transportador
especfico para dados receptores ou enzimas existentes
no stio de ao especfico do frmaco, reduzindo sua
ao inespecfica sobre outros rgos e/ou tecidos.
(SILVA apud HAN & AMIDON, 2000).
Dentro desta perspectiva, o objetivo deste
trabalho fazer um estudo bibliogrfico relatando os
principais tipos de pr-frmacos dirigidos, no intuito de
ressaltar suas vantagens e mecanismos.
2. MATERIAL E MTODO
Trata-se de um estudo de reviso
bibliogrfica, baseado em artigos publicados nas
principais revistas eletrnicas de fcil acesso. Foram
pesquisados 25 artigos e utilizados 15 no contedo do
artigo. Foram utilizadas as seguintes palavras chaves
nas buscas pelos artigos pesquisados: latenciao, pr-
frmacos dirigidos; ODDS; GDEPT; ADEPT; CSDDS;
Bisfosfonato; colites e tratamento do cncer.
LATENCIAO COMO TCNICA DE DIRECIONAMENTO DE FRMACOS
Jaqueline Patricia de Lima
Juliana Mesquita Freire
Kamilla Kassen Zebian
Pablo Henrique Delmondes
RESUMO
Latenciao um mtodo de desenvolvimento molecular por meio de pr-frmacos, com propsito de direcionar e
liberar a poro ativa da molcula no local de ao, desviando-o frmaco de barreiras que possa alterar seu efeito e
diminuindo seus eventos adversos. Este artigo de reviso bibliogrfica teve o objetivo de abordar os principais tipos
de pr-frmacos dirigidos, mostrando suas caractersticas, mecanismos e locais pra qual so destinados. Apesar de
recente, a utilizao de transportes especficos em forma de pr-frmacos pode gerar grande revoluo no mbito
farmacutico e medicinal por aumentar a especificidade dos frmacos, diminuindo seu efeito txico.
Palavras-chave: Latenciao, Pr-frmacos dirigidos, Transporte de frmacos.
ABSTRACT
Latentiation is a molecular development method through prodrugs, with purpose to target and release the active
portion of the molecule at the site of action, bypassing the drug barriers that can change effect and reducing its
adverse events. This literature review aims to address the main types of targeted prodrugs, showing their
characteristics, mechanisms and sites for which they are intended. Despite recent, the utilization of specific transport
shaped prodrugs can generate large revolution in the pharmaceutical and medicinal for increasing the specificity of
drugs by reducing their toxic effect.
Key-words: Latentiation, Prodrugs directed, Transport of drugs.
Acadmicos do quarto ano de Farmcia, das Faculdades Unidas do Vale do Araguaia, de Barra do Garas-MT.
Contato: [email protected].
Professora das Faculdades Unidas do Vale do Araguaia
mailto:[email protected]
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3. PRINCIPAIS TCNICAS DE PR-
FRMACOS DIRIGIDOS
A liberao de frmacos stios especfica via
pr-frmacos, tem gerado interesse considervel para
aumentar a potncia e diminuir os efeitos colaterais de
um frmaco (SILVA, 2008, apud, HAN e AMIDON,
2000; HIRABAYASHI, 2001).
3.1 ADEPT Terapia dirigida por anticorpo-
enzima-pr-frmaco
O cncer uma doena relativamente comum
no mundo. Nos pases desenvolvidos, atualmente e em
mdia, cerca de uma pessoa em cinco morre de cncer.
Esta proporo nos pases em desenvolvimento de
uma morte para cada 15 indivduos, porm deve-se
considerar a estrutura etria mais jovem das populaes
destes pases (FILHO e MONCAU, 2002).
Vrias so as modalidades de tratamento e,
dentre elas, a quimioterapia a mais frequente
(COSTA e LIMA, 2002). Quimioterapia definida
como o emprego de substncias qumicas, isoladas ou
combinadas, com o objetivo de tratar as neoplasias
malignas, as quais atuam em nvel celular, interferindo
no seu processo de crescimento e diviso e, por no
possurem especificidade, destrem indistintamente
clulas neoplsicas e normais (LEMOS et al. 2204).
O uso de pr-farmacos na quimioterapia do
cncer como meio de direcionar frmacos
relativamente txicos para reas especficas do
organismo tem sido extremamente estudados. Uma das
tecnologias bastante estudadas consiste basicamente na
administrao intravenosa de um anticorpo-enzima
conjugados localizado no tecido tumoral e
subseqentemente ativar um pr-frmaco administrado
predominantemente dentro do tumor (FORMARIZ; et.
al. apud BAGSHAWE ET AL., 1991).
O sistema ADEPT utiliza enzima no
existente no organismo, acoplada a um anticorpo
monoclonal, aumentando, significativamente, a
seletividade dos agentes anticancergenos (SILVA,
2008, apud, Ettmayer et al., 2004).
Administra-se o conjugado anticorpo
monoclonal + enzima, em seguida o anticorpo
reconhece a superfcie de um determinado agente
patognico, administra-se ento o pr-frmaco, que
quando se aproxima do complexo monoclonal +
enzima + agente patognico, clivado liberando o
frmaco ativo, o qual promover ao contra o agente
patognico (CHUNG et al. 2005), como mostra a
Figura 1.
Figura 1. Ilustrao do mecanismo ADEPT.
3.2 GDEPT/VDEPT Terapia dirigida por
gene/vrus-enzima-pr-frmaco
Este processo utiliza genes que codificam
enzimas ativadoras de pr-frmacos, os quais podem
ser transportados por lipossomas, lipdios catinicos ou
vrus (retrovrus ou adenovrus), atingindo clulas
neoplsicas e normais. A expresso de tais genes pode
ser feita ligando-se os mesmos nas unidades de
transcrio especficas do tumor. Esta abordagem tem
mostrado resultados promissores in vitro e tambm em
pacientes (CHUNG; et. al., 2005, apud, Grove et al.,
1999; Han, Amidon, 2000; Hull, Chester, 2002; Palmer
et al., 2004).
GPAT uma variao do GDEPT, que utiliza
diferenas conhecidas entre clulas normais e tumorais
para aumentar a seletividade. Esta tcnica envolve a
criao de um gene artificial composto de uma
sequencia regulatria transcricional tecido-especfica
(TRS), anexada a uma sequencia do gene da enzima
que promove a ativao do pr-frmaco. O TRS
consiste em um simples promotor, o qual pode ser
ativado em tecidos especficos e, ainda, pode aumentar
a taxa de expresso do gene desta enzima (BLAU et al.
2006).
3.3 ODDS Sistema de liberao osteotrpica de
frmacos
Um novo e promissor sistema de liberao de
frmacos para atingir o tecido sseo via pr-frmacos
foi proposto, o qual utiliza os bifosfonatos como
transportadores (CHUNG; et. al., 2005, apud, Fujisaki
et al., 1995; Hirabayashi et al., 2001; Castro et al.,
2004).
Bifosfonatos so anlogos sintticos de
pirofosfato caracterizados por ligaes de P-C-P e so
mais resistentes hidrlise qumica e enzimtica. Esses
compostos exercem efeitos de inibio da reabsoro
osteoclstica e inibio da mineralizao ssea
(PENNA e NICOLI; 2001, apud, Fleich et al., 1970;
Meyer, Nancollas, 1973).
Uma classe teraputica j testada por esse
sistema foi a dos antiinflamatrios no-esterides
(AINEs) contra artrite induzida em ratos. Constatou-se
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a alta potncia, baixa toxicidade e necessidade de um
menor nmero de administrao do pr-frmaco em
relao ao frmaco matriz (diclofenaco), concluindo-se
que o sistema ODDS do diclofenaco promissor
(CHUNG; et. al., 2005, apud, Hirabayashi et al., 2001).
Figura 2. Ilustrao do diclofenaco conjugado ao
bifosfonato, formando o pr-frmaco (CASTRO et al.
2004).
A artrite reumatide uma doena auto-imune
de etiologia desconhecida, caracterizada por poliartrite
perifrica, simtrica, que leva deformidade e
destruio das articulaes por eroso do osso e
cartilagem. Em geral acomete grandes e pequenas
articulaes em associao com manifestaes
sistmicas (LAURINDO et al., 2004).
Devido a circulao ssea e das cartilagens
serem pouco eficientes, os anti-inflamatrios no
conseguem chegar no local de ao de forma integral, o
que exige doses maiores e vrias vezes ao dia. um
fator que aumenta o interesse pela latenciao do
diclofenaco, unindo-o ao bifosfonato.
3.4 CSDDS Sistema de transporte de drogas
especficas para o clon
A microbiota normal associada ao trato
digestivo humano constituda por um nmero
considervel de microorganismos pertencentes a
aproximadamente 300 a 400 espcies microbianas
diferentes que desenvolvem funes importantes no
local que colonizam (Penna e Nicoli, 2001). Uma das
principais enzimas codificadas por essa microbiota
intestinal a azo-redutase.
Segundo SILVA, 2008, desde que se conheceu
a microbiota normal do trato gastrointestinal, e a
existncia das azo-redutases, o uso pr-frmacos com
ligaes azo tornou-se uma forma de direcionamento
intestinal atrativa. Um bom exemplo o da olsalazina,
a qual consiste em duas molculas de 5-ASA (cido 5-
aminosaliclico).
O ASA (cido 5-aminosalicilico)
direcionado ao clon com propsito de tratamento da
colite. Colite termo utilizado para designar processos
inflamatrios, de diferentes etiologias, que envolvem o
intestino grosso, na presena de leses microscpicas
caractersticas, no necessariamente associados a
alteraes macroscpicas (DIAZ et al., 2002).
A olsalazina, por liberar duas pores ativas
no local de ao, tambm classificada como pr-
frmaco recproco. Segundo Chung, 2005, os pr-
frmacos recprocos caracterizam-se por seu
transportador, diferentemente dos pr-frmacos
clssicos, tambm possuir atividade teraputica,
obtendo assim um pr-frmaco com ao sinrgica.
Figura 3. Ilustrao da reao enzimtica de azo
reduo sofrida pela olsalazina (inativa), liberando
duas molculas ativas de 5-ASA.
4. CONSIDERAES FINAIS
Apesar de recente, a utilizao de transportes
especficos em forma de pr-frmacos pode gerar
grande revoluo no mbito farmacutico e medicinal
por aumentar a especificidade dos frmacos,
diminuindo sua toxicidade e contribuindo para que o
frmaco chegue ntegro ao seu local de ao. No
tratamento do cncer, por exemplo, possvel que o
frmaco seja liberado diretamente na clula
cancergena, poupando clulas sadias dos efeitos
qumicos do tratamento. Outra importncia o
transporte dos frmacos at locais de difcil acesso,
como articulaes e ossos, melhorando a eficcia nos
tratamentos de artrite reumatoide, osteoporose e outros.
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