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1 DISTINÇÃO, ANGÚSTIA, HIEROFANIZAÇÃO E AFETIVIDADE: FATORES INFLUENCIADORES DO CONSUMO NO FUTEBOL 1 Luciano Honorato Leão 2 Marcelo Augusto Figueiredo de Almeida 3 Resumo O presente artigo tem o objetivo de apresentar quatro hipóteses que levam os torcedores- fanáticos por futebol a consumirem produtos e serviços de seus times, além de dedicarem boa parte do seu dia aos clubes do coração. Entrevistas com alguns torcedores-fanáticos do Vale do Aço revelaram que um time de futebol não se circunscreve meramente a um simples clube desportivo, visto que abrange aspectos atinentes à afetividade, crença/religião, angústia/paixão e distinção. Logo, o trabalho em tela se propõe a traçar um sucinto diagnóstico de como os profissionais de marketing têm se apropriado das dimensões diversas havidas na relação torcedor-time, a fim de potencializar o consumismo movido pelo fanatismo. Palavras-chave: Torcedor de futebol. Fanatismo. Consumismo. 1. INTRODUÇÃO A temática do fanatismo atrelado ao consumismo no mundo do futebol já foi tratada em diversos estudos acadêmicos no que, em suma, se observa uma abordagem unilateral. O presente trabalho, por sua vez, partiu da problemática em se definir quais são os fatores determinantes a tornarem torcedores fanáticos por futebol em consumidores fiéis de produtos e serviços de seus times. Para responder a essa pergunta constatou-se não apenas uma, mas um conjunto de hipóteses que se propuseram a responder como ocorrem tais engrenagens de consumo e fidelidade aos times. Além de reunir algumas dessas hipóteses de consumo por torcedores fanáticos, testaram-se os conceitos por meio de referenciais teóricos, através de entrevistas realizadas com torcedores fanáticos do Vale do Aço. 1 Trabalho de conclusão de curso orientado pelo professor LACERDA, Renato e submetido à banca examinadora composta pelos professores ALVES, Rodrigo e ANTÔNIO, Luiz ao curso de Comunicação Social como requisito parcial para a obtenção do grau de bacharel em Jornalismo e Publicidade e Propaganda. 2 Graduando em Comunicação Social Publicidade e Propaganda 3 Graduando em Comunicação Social Jornalismo

Fatores influenciadores do consumo no futebol

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O presente artigo tem o objetivo de apresentar quatro hipóteses que levam os torcedores-fanáticos por futebol a consumirem produtos e serviços de seus times, além de dedicarem boa parte do seu dia aos clubes do coração. Autores: Luciano Leão e Marcelo Augusto Professor Orientador: Renato Lacerda Área: Antropologia do Consumo

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DISTINÇÃO, ANGÚSTIA, HIEROFANIZAÇÃO E AFETIVIDADE: FATORES

INFLUENCIADORES DO CONSUMO NO FUTEBOL1

Luciano Honorato Leão2

Marcelo Augusto Figueiredo de Almeida3

Resumo

O presente artigo tem o objetivo de apresentar quatro hipóteses que levam os torcedores-

fanáticos por futebol a consumirem produtos e serviços de seus times, além de dedicarem boa

parte do seu dia aos clubes do coração. Entrevistas com alguns torcedores-fanáticos do Vale

do Aço revelaram que um time de futebol não se circunscreve meramente a um simples clube

desportivo, visto que abrange aspectos atinentes à afetividade, crença/religião,

angústia/paixão e distinção. Logo, o trabalho em tela se propõe a traçar um sucinto

diagnóstico de como os profissionais de marketing têm se apropriado das dimensões diversas

havidas na relação torcedor-time, a fim de potencializar o consumismo movido pelo

fanatismo.

Palavras-chave: Torcedor de futebol. Fanatismo. Consumismo.

1. INTRODUÇÃO

A temática do fanatismo atrelado ao consumismo no mundo do futebol já foi tratada em

diversos estudos acadêmicos no que, em suma, se observa uma abordagem unilateral. O

presente trabalho, por sua vez, partiu da problemática em se definir quais são os fatores

determinantes a tornarem torcedores fanáticos por futebol em consumidores fiéis de produtos

e serviços de seus times.

Para responder a essa pergunta constatou-se não apenas uma, mas um conjunto de

hipóteses que se propuseram a responder como ocorrem tais engrenagens de consumo e

fidelidade aos times. Além de reunir algumas dessas hipóteses de consumo por torcedores

fanáticos, testaram-se os conceitos por meio de referenciais teóricos, através de entrevistas

realizadas com torcedores fanáticos do Vale do Aço.

1 Trabalho de conclusão de curso orientado pelo professor LACERDA, Renato e submetido à banca examinadora

composta pelos professores ALVES, Rodrigo e ANTÔNIO, Luiz ao curso de Comunicação Social como

requisito parcial para a obtenção do grau de bacharel em Jornalismo e Publicidade e Propaganda. 2 Graduando em Comunicação Social Publicidade e Propaganda 3 Graduando em Comunicação Social Jornalismo

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De acordo com o colhido dos entrevistados, constatou-se que, de um modo geral, todos

tratam o seu time como único e especial e incluem em seus depoimentos que só quem faz

parte daquela determinada torcida é capaz de entender tamanha paixão.

Pelo time e para o time tudo é válido, e, em se tratando de consumo algo muito maior se

faz presente. É que consumir diante das hipóteses observadas neste trabalho de pesquisa de

campo, é como se diferenciar e manter uma identidade-pertencimento dentro de determinado

grupo (distinção) – de acordo com Ferraz (2011), ou se satisfazer (afetividade) e achar

felicidade diante de uma dificuldade (angústia causada pela paixão) – na perspectiva de Reale

(2011) e, com isso, se findar no mundo (hierofanização) – conforme Eliade.

Enfim, observa-se que toda essa relação havida entre clube-torcedor é explorada pelos

produtores de marketing e evidenciada nas campanhas lançadas com frequência pelos clubes,

a fim de se obter vultoso retorno financeiro.

2. O CONSUMO PELA DISTINÇÃO

Já dizia o memorável professor Pietrocolla (1986): “O consumo é a expressão

materializada, portanto, perceptível da diferença”. Partindo dessa premissa, o primeiro fator

observado, ou, a primeira hipótese apresentada em relação ao consumo, especificamente, por

produtos e serviços relacionados ao futebol, diz respeito à distinção.

Refere-se à distinção no sentido de identidade-pertencimento, conceito utilizado por

Ferraz (2011) para especificar o torcedor como sendo alguém que procura se diferenciar e

pertencer a um determinado grupo (no caso, a torcida), criando uma relação de família com os

agentes deste, o que, consequentemente, acarreta uma negação aos outros (ou seja, às demais

torcidas), já que a escolha, neste caso, implica numa ruptura.

Uma das justificativas de Bourdieu (2011) sobre essa negação traduz-se na teoria do

gosto, onde gostar ou preferir algo (time de futebol) em detrimento dos demais não se

configura um componente acessório e auxiliar da disposição estética ou do prazer em si

mesmo. Como toda a espécie de gosto, explica o autor, une todos aqueles que são produtos de

condições semelhantes e ao mesmo tempo separa daqueles que não estão inseridos nessas

mesmas condições. Portanto, as preferências manifestadas são as afirmações práticas de uma

diferença inevitável e por isso o horror e a intolerância diante das escolhas do outro. O que os

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torcedores consomem e o modo como consomem são, de fato, a exteriorização dessa distinção

(BOURDIEU, 2011).

Em uma entrevista realizada com Rafael Aguiar, torcedor fanático pelo Corinthians,

pode-se perceber e confirmar esse postulado teórico de Bourdieu. Rafael deixa bem claro que

a torcida do Corinthians não é uma torcida comum, não é como as outras. “Só quem nasce

corinthiano sabe como grande é isso para gente” (Informação verbal)4. Nota-se que o

entrevistado demonstra muita intimidade com o clube e confirma em seu depoimento uma

nítida divisória social e comportamento de distinção: “eu faço parte da maior torcida

organizada da América Latina, não é pouca coisa não, os Gaviões da Fiel” (Informação

verbal)5 . Percebe-se que o gosto não é natural; ele é, de fato, naturalizado e serve como um

meio de distinção de uma classe em relação à outra, ou seja, se torna um símbolo de poder e

de identificação com os semelhantes e exclusão dos que não partilham dos mesmos gostos

(SIQUEIRA, 2010).

A escolha de Rafael Aguiar sobre por qual time torcer rompe com o conceito de herança

paternal do capital cultural6 – costumes e preferências adquiridos inicialmente no seio da

família de forma inconsciente. No seu caso em particular, sendo mineiro e filho de um pai

cruzeirense, houve uma nova aquisição de capital, já em sua maturidade, recebidos em sua

trajetória de vida com condições diferentes da sua trajetória iniciada em sua família, o que

resultou na escolha de torcer por um time de outro Estado. Ele deixa bem claro que é um

consumidor em potencial ao dizer “uma parte do meu guarda-roupa é totalmente destinada a

produtos oficiais do Corinthians” (Informação verbal)7. Além dos muitos produtos já

adquiridos, Rafael carrega no seu corpo várias tatuagens do “timão”, o que é entendido como

uma forma de se identificar no seu grupo e se distanciar dos demais (BOURDIEU, 2011).

3. O CONSUMO PELA ANGÚSTIA CAUSADA PELA PAIXÃO

Outra Hipótese que também leva os fanáticos a consumirem fielmente, diz respeito ao

sentimento de angústia causado pela paixão.

4 AGUIAR, Rafael. 2013. Entrevista cedida a Luciano Honorato Leão. Ipatinga, jan.2013. 5 AGUIAR, Rafael. 2013. Entrevista cedida a Luciano Honorato Leão. Ipatinga, jan.2013. 6Conjunto de valores, herdados desde a infância por meio da família até a maturidade no convívio com o outro. 7 AGUIAR, Rafael. 2013. Entrevista cedida a Luciano Honorato Leão. Ipatinga, jan.2013.

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A análise sobre a “paixão” apresentada por Comte-Sponville, revela que o amor é visto

como o maior e mais elevado sentimento, e pode ser conceituado por três diferentes formas,

sendo “Eros, Philia e Ágape. Eros seria o amor correspondente à paixão, Philia seria o amor

correspondente à amizade, e Ágape, à caridade” (COMTE-SPONVILLE apud REALE, 2011,

p.107). O presente artigo se aterá apenas ao entendimento do amor Eros; que, apesar de não se

separar dos demais, diz respeito à Paixão. O amor Eros é uma paixão com grande apelo

emocional por detrás do sentimento. É um amor que nasce pela falta, pela angústia e

insatisfação (COMTE-SPONVILLE, 1995).

“Corinthians não é só um clube, Corinthians é como se fosse meu refúgio pelos

problemas” (Informação verbal)8 . Por meio dessa fala, Rafael identifica o seu time como algo

“maior” do que de fato parece ser (grande apelo emocional) e, ao mesmo tempo, coloca este

“maior” como sendo a solução para suas dificuldades (angústia), como se essa paixão gerasse

forças para enfrentar todos os seus problemas.

Partindo desta perspectiva, vê-se que o vazio e a angústia vivenciados pelo agente

(torcedor) fazem com que o consumo por produtos, serviços e dedicação ao time seja

incentivado, proporcionando "uma satisfação temporária para o vácuo causado pela

insatisfação e frustração própria da paixão, do querer e não possuir" (REALE, 2011).

Foi identificado em outra entrevista, realizada com Samuel Alves, torcedor fanático

pelo antigo Ipatinga FC, que o sentimento de angústia pode durar por muito tempo. Em seu

caso, Samuel sofreu a perda do seu time e a compara, até hoje, com a perda de uma namorada:

“eu sofri mais quando o Ipatinga acabou do que com algumas ex-namoradas, para ser sincero”

(Informação verbal)9 . Samuel ainda completa dizendo que em uma das fases da sua vida,

tudo que ele tinha era o Ipatinga: “teve uma fase na minha vida que tudo que eu tinha era o

Ipatinga, e quando acabou foi uma dor inexplicável” (Informação verbal)10 .

Nesse caso, ao que parece, Samuel sempre levará um sentimento de angústia consigo,

pois, o consumo de forma fiel e o seu acompanhamento aos jogos já não será mais possível; já

que o Ipatinga FC acabou. Ele declara que foi fiel comprando todo o tipo de material

licenciado: “camiseta, chinelo, caneca, tapete e tudo o que eles lançavam” (Informação

8 AGUIAR, Rafael. 2013. Entrevista cedida a Luciano Honorato Leão. Ipatinga, jan.2013. 9 ALVES, Samuel. 2013. Entrevista cedida a Marcelo Augusto. Ipatinga, abr.2013. 10 ALVES, Samuel. 2013. Entrevista cedida a Marcelo Augusto. Ipatinga, abr.2013.

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verbal)11 e acredita que por um bom tempo será ipatinguense12. Samuel carrega consigo uma

tatuagem de um tigre, mascote do clube, e a considera como sendo uma das maiores loucuras

já feitas pelo Ipatinga, sem mencionar as diversas viagens feitas pelo Brasil apenas para ir ver

o time jogar e, ao fim do jogo, voltar para casa.

Em outra entrevista, Ben Hur Coimbra, torcedor do Cruzeiro, diz que seu time é “uma

válvula de escape que a gente tem no dia-a-dia em relação a qualquer tipo de problema que a

gente tiver, independentemente da fase, independentemente da condição” (Informação

verbal)13 . Percebe-se o quanto essa paixão gerada pelo “torcer” ajuda os torcedores a

encontrarem seu ponto fixo. O time não é visto como apenas um clube, mas como algo muito

maior que se imagina ser, o que se aproxima das experiências religiosas e emocionais,

distanciando muitas vezes da razão.

4. O CONSUMO PELA HIEROFANIZAÇÃO

Abrindo a discussão sobre o sagrado e o profano no campo futebolístico, insta

esclarecer que não se objetiva discutir ideias de Deus e de religião, mas sim analisar as

experiências religiosas no âmbito da hierofania como terceira hipótese para o consumo no

futebol.

Hierofania acontece quando algo de sagrado é vislumbrado através de manifestações em

quaisquer objetos, seja numa pedra, em uma árvore ou em um time de futebol (ELIADE,

1992).

Um time de futebol sacralizado pelo torcedor, não por isso é menos um time. Para

Rafael Aguiar, “Corinthians é religião, Corinthians é um estado de espírito” (Informação

verbal)14 . Rafael vê o seu time como algo sagrado e distante do profano (tudo o que esta fora,

do espaço Corinthians). Para aqueles que sacralizam, enxergarão sempre, em todos os jogos e

materiais relacionados ao time, algo sobrenatural e não um simples jogo ou um simples

objeto. A hierofania se manifesta nos jogadores, no espaço onde é vistos os jogos, nos

produtos licenciados, enfim, em tudo que leva a marca do clube.

Para um homem religioso (torcedor fanático), existem os espaços sagrados – único real

e com grande valor significativo, e não sagrados – sem estrutura e sem valor, e, para viver

11 ALVES, Samuel. 2013. Entrevista cedida a Marcelo Augusto. Ipatinga, abr.2013. 12Como é chamado quem torce, para o Ipatinga Futebol Clube. 13 COIMBRA, Bem Hur. 2013. Entrevista cedida a Marcelo Augusto. Ipatinga, abr.2013. 14 AGUIAR, Rafael. 2013. Entrevista cedida a Luciano Honorato Leão. Ipatinga, jan.2013.

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nesses espaços é preciso primeiramente ter uma experiência religiosa primária, que precede

uma reflexão sobre o mundo que o cerca, no caso deste trabalho, os demais times. E é dessa

reflexão que é descoberto o “ponto fixo”, o eixo central de toda a orientação futura e que

possibilita ao homem, viver realmente no mundo. É a partir daí que as hierofanias se revelam,

anulando sua homogeneidade nos diferentes espaços e coisas. Portanto, o time se configura

sagrado (ELIADE, 1992).

“Corinthians do meu coração, tu és religião de janeiro a janeiro. Ser corinthiano é ir

além de ser ou não ser o primeiro”. Este é o trecho da música, Corinthians do meu Coração,

de Toquinho15, e segundo Milton Neves16 (2012) confirma o quanto o torcedor, neste caso,

corinthiano, utiliza de vários ritos para simbolizar sua “devoção” ao time. Em um estádio, por

exemplo, acontecem verdadeiros “rituais de adoração” e se manifestam como grandes

demonstrações de fé. Todos sabem de cor as músicas entoadas nas arquibancadas como se

fossem hinos de devoção e naturalmente esses torcedores fanáticos não permitem que seus

filhos sigam outras religiões (times), já que a sua é a verdadeira, o ponto fixo.

5. O CONSUMO PELA AFETIVIDADE

Emoção, sentimento e paixão... Segundo Henri Wallon (2008)17 a afetividade é expressa

por meio dessas três manifestações, que surgem durante toda a vida do agente, mas, assim

como o pensamento infantil, apresentam uma evolução, que caminha do sincrético (difusa,

sem distinção das relações que as unem) para o diferencial.

As relações geram medo, alegria, raiva, posteriormente ciúmes, tristeza, dentre outros

(SALLA, 2012). Nessa hipótese, é apresentada a afetividade do torcedor em relação ao seu

clube, como, por exemplo, o que os torcedores fariam para ver o seu time jogar. Ser afetado,

aqui, é reagir com atividades internas/externas diante de determinadas situações vivenciadas

pelo mundo por meio de diversas sensações, agradáveis ou desagradáveis e manifestadas por

meio da emoção, sentimento e paixão (MAHONEY ABIGAIL; ALMEIDA LAURINDA,

2005).

O torcedor, ao acompanhar e consumir algo de seu time, pode expressar alguma emoção

diante da situação encontrada. Portanto: medo, alegria, raiva, ciúme e tristeza são, de fato,

15Corinthiano, violonista e compositor de MPB de São Paulo. 16Jornalista profissional diplomado, publicitário, empresário e apresentador esportivo de rádio e TV. 17(1879,1962) Filósofo, médico, psicólogo e político francês. Tornou-se bem conhecido por seu trabalho

científico sobre Psicologia do Desenvolvimento.

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uma das exteriorizações da afetividade. Essas emoções são geradas por meio de sistemas de

atitudes relacionadas a uma ou mais situações e dão rapidez às respostas, como por exemplo,

gritar quando seu time faz um gol ou chorar ao perder um jogo. Tais manifestações no

campo18 do futebol, na maioria das vezes, são expressas de forma coletiva.

Se emoção é a exteriorização da afetividade, o sentimento é a sua expressão

representacional e amadurecida, pois, se torna algo racional. Logo, o pensar completa o sentir,

e, por isso, o adulto tem maiores recursos de expressão representacional (observa e reflete

antes de agir).

O sentimento não implica reações instantâneas e diretas como na emoção. Por último, e

conforme já citado, a paixão se une ao sentimento e à emoção, é um amor que nasce pela falta

(COMTE-SPONVILLE apud REALE, 2011) e revela certo autocontrole para dominar alguma

situação: tenta para isso silenciar a emoção e caracteriza-se por ciúmes, exigências e

exclusividade (MAHONEY, Abigail; ALMEIDA, Laurinda, 2012).

Negar uma afetividade aqui é assumir outra, como acontece no caso de Rafael Aguiar

ao dizer “minha filha esta para nascer, a previsão é semana que vem, e justo semana que vem

eu tenho uma viagem marcada para Colômbia, mano, e essa viagem não vai ter jeito de ser

desfeita” (Informação verbal)19 . Em ambos os casos, o evento não se repete: não aconteceria

o mesmo jogo na Colômbia outra vez, e do mesmo jeito ele não teria a chance de ver sua

mesma filha nascer de novo. Portanto, eis uma questão de escolha.

Em outra situação semelhante, no depoimento de Ben Hur, torcedor cruzeirense,

também se percebe uma relação de troca de afetividade. Repare-se: “final de semana, por

exemplo, eu passo mais tempo conversando com os cruzeirenses da minha família Cruzeiro

do que com a minha família mesmo de verdade” (Informação verbal)20 .

6. O MARKETING E CONSUMO

18Campo aqui é no sentido de sistema de diferenças, de distâncias diferenciais, podendo ser entendido, também

como ambiente do futebol. 19 AGUIAR, Rafael. 2013. Entrevista cedida a Luciano Honorato Leão. Ipatinga, jan.2013. 20 COIMBRA, Bem Hur. 2013. Entrevista cedida a Marcelo Augusto. Ipatinga, abr.2013.

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A tradução da palavra marketing para o português é mercadologia. A tarefa do

marketing, segundo Kotler (2000, p.28), “é encontrar meios de ligar os benefícios do produto

às necessidades e aos interesses naturais das pessoas”.

Bem utilizado, nota-se que o marketing se torna uma importante ferramenta capaz de

convencer as pessoas a consumirem os produtos expostos pela campanha. Além do mais,

possibilita vultoso crescimento, enriquecimento e visibilidade da marca representada. Sob

essa perspectiva, conclui-se o marketing como sendo

um processo social e gerencial por meio do qual pessoas e grupos de pessoas obtêm

aquilo de que necessitam e o que desejam através da criação, oferta e livre

negociação de produtos e serviços de valor com outros (KOTLER, 2000, p. 30).

A influência do marketing no consumo é observada também no campo esportivo. Tanto

na criação, no planejamento e no desenvolvimento das campanhas de marketing esportivo, os

profissionais enxergam os torcedores como verdadeiros clientes com grande potencial de

compra.

O Marketing esportivo lida com impulsos emocionais e a produção das campanhas

significam mais do que vender, elas têm em seu envolvimento um conjunto de atividades, que

tornam os clientes fiéis e verdadeiros defensores da marca.

Tais atividades podem ser exploradas por meio de uma infinidade de fatores, no que se

propôs a presente pesquisa a analisar apenas quatro destes, sendo, distinção, afetividade,

angústia causada pela paixão e hierofanização, pelo motivo de terem sido as mais

evidenciadas nas entrevistas realizadas com os torcedores fanáticos pelo Cruzeiro, Corinthians

e o antigo Ipatinga Futebol Clube da cidade de Ipatinga.

No marketing esportivo o objetivo é agir como uma ferramenta estratégica e inteligente

para gestão, divulgação e fortalecimento de marcas através das plataformas esportivas.

Segundo Robert Mills21 (2007), em entrevista dada ao site Brasil Profissões, o principal

motivo do crescimento do marketing esportivo é o profissionalismo dos esportes, no caso o

futebol. Mills (2007) afirma que “as pessoas percebem que a emoção tem que estar de lado do

espectador, do praticante, mas que o profissionalismo da gestão é vital para o sucesso de

qualquer empreitada”.

21 Profissional de comunicação há 10 anos. Na área esportiva, começou participando de eventos como Fórmula 1

e Copa do Mundo. Hoje atua no marketing esportivo.

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Na visão de Francisco Paulo de Melo Neto22, para os clubes o marketing esportivo é

como uma válvula de escape para quitar despesas. No futuro sobreviverão apenas os clubes

que praticarem o seu marketing de forma eficaz e que, analisando da visão do clube, o

marketing só terá sucesso com o profissionalismo da gestão (NETO, 1998, p.89).

6.1 Futebol Empresa

Atualmente um torcedor é considerado um cliente com grande potencial de compra e o

futebol é visto como uma fonte geradora de recursos financeiros deixando o jogo que ocorre

no campo, em posição secundária. Dentro de um clube existe toda uma estrutura conforme os

modelos empresariais, como setor de marketing, planejamento, gestão de recursos e etc.

(SILVA, 2007).

Uma das formas que a empresa (futebol) utiliza para conquistar e fidelizar seus clientes

(torcedor) é por meio dos programas de Sócio Torcedor, onde é criado um relacionamento

entre clube e seus torcedores cadastrados. O torcedor paga uma quantia mensalmente para o

clube e recebe uma série de benefícios e vantagens como desconto em produtos, serviços e

ingressos. Uma série de campanhas ao longo do ano é criada para alimentar este

relacionamento e manter o torcedor sempre engajado com as ações do clube.

6.2 Exemplos de campanhas aplicando as hipóteses

Percebe-se que as campanhas dos times de futebol exploram as hipóteses aqui tratadas,

sendo que se utilizam do sentimento de paixão do torcedor pelo clube, da troca de uma

afetividade pela outra, da forma que cada torcedor se coloca como distinto do time do outro e

de como ele sacraliza tudo isso, olhando seu time como uma verdadeira religião.

6.2.1 Distinção

O clube Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense em uma de suas campanhas, traduz com

excelência a presença predominante do fator influenciador distinção.

Repare-se o texto da peça publicitária abaixo: “nosso time tem uma força que nenhum

outro tem: você”.

Figura 1 – Campanha Grêmio

22 Professor universitário de administração e marketing esportivo.

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Fonte: <http://gremioblogs.blogspot.com.br/2011/01/gremio-lanca-campanha-socio-torcedor.html>

Diante de tais dizeres, nota-se em quão distinto patamar é colocado o torcedor tricolor.

A mensagem que fica é que os demais times não possuem a força do Grêmio, já que, a fonte

distinta de força vem do gremista.

6.2.2 Afetividade

Dizer que a vida de um torcedor de futebol é um time, é abandonar sua origem, trocar

uma afetividade pela outra, o que de fato, foi abordado no papel de parede. A ilustração com a

frase “O Palmeiras vai jogar eu vou!” mostra bem o que queremos passar.

Figura 2 – Campanha Palmeiras

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Fonte:<http://br.esporteinterativo.yahoo.com/blogs/tv-esporte/rebaixamento-palmeiras-pode-ser-bom-

neg%C3%B3cio-para-globo-154809443.html>

O fato de o torcedor dizer que se haverá jogo do seu time ele irá, refere-se à paixão que

ele sente pelo time de futebol, e o mesmo preferindo trocar qualquer outro momento de sua

vida para acompanhar seu time do coração.

6.2.3 Angústia causada pela paixão

Independentemente se ganha ou se perde, se é na alegria ou na tristeza, o torcedor

fanático sempre carregará seu time em seu coração. Note o impacto que causa a frase da

imagem a seguir: “Lutaremos até o fim”, veiculada em uma campanha do Santa Cruz – PE,

que reflete o sentimento de angústia causada pela paixão.

Figura 3 – Campanha Santa Cruz

Fonte: <http://i3.ytimg.com/vi/npP3czODwOc/mqdefault.jpg>

Nunca desistir é um tipo de slogan que praticamente todos os torcedores do Brasil e do

mundo adotam nos momentos difíceis. O que mostra que pelo sentimento da paixão, mesmo

nos momentos mais difíceis sempre estão a favor de seus times.

6.2.4 Hierofanização

O time já não é visto como apenas um clube de futebol, mas sim como uma religião. Na

imagem da campanha acima, foi feito uma alusão ao Cristianismo, tratando o Corinthians

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como “Corinthianismo” acompanhado do slogan, “agora todos saberão de sua fé” e dos “mais

de 30 milhões de fiéis”.

Figura 3 – Campanha Fiel Torcedor

Fonte: < http://globoesporte.globo.com/futebol/times/corinthians/noticia/2013/06/livro-mostra-

paixao-de-torcedores-famosos-e-anonimos-pelo-corinthians.html>

A torcida do Corinthians é taxada há vários anos como “A Fiel”, por estar com o time

em todos os momentos. A assiduidade demonstrada pelos corinthianos nos jogos do “timão”,

os ritos e momentos de devoção que se acontece no campo de futebol é o que faz essa alusão à

religião apresentada na imagem.

6.3 Pesquisa de campo

Segundo Brunoro (1997, p. 30) 23 “um clube grande representa uma forte marca, no

sentido comercial, devido ao lastro de uma retaguarda de fiéis torcedores (consumidores)”, do

que se pode concluir que as campanhas produzidas pelo time sempre terão boa aceitação com

o público alvo.

Em entrevista, Ben Hur – torcedor cruzeirense – relata a importância do marketing e do

apelo à paixão do torcedor. “Quando bem traçada ela vem ao encontro dos anseios e

possibilidades do torcedor, motivando-o a realizar, apoiar e comprar algo relacionado à

23 Um dos mais bem sucedidos profissionais de marketing esportivo do país. Atualmente dirigente do Palmeiras

e consultor em estratégias de marketing e negócios no meio esportivo.

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campanha” (Informação verbal)24 . Ainda segundo Ben Hur, o programa de sócio-torcedor,

aproxima mais a instituição/empresa (clube de futebol) do seu cliente/torcedor. “Campanhas

como sócio-torcedor, onde você vê resultados em contrapartida dos investimentos, benefícios

e descontos fidelizam e fazem o torcedor se sentir cada vez mais como parte integrante e

importante ao clube” (Informação verbal) 25, completou.

Portanto, aliando a teoria relacionada com as entrevistas, percebemos que, paixão e

afetividade andam juntas. O amor Eros, que corresponde à paixão segundo REALE (2011),

nesse caso, está presente principalmente em campanhas e nas respostas de Rafael26, Ben Hur27

e Samuel28, demonstrando que boas estratégias de marketing fazem que o

torcedor/consumidor se sinta comovido, e certamente impulsionado ao consumo.

7. CONCLUSÃO

Diante das hipóteses apresentadas, percebe-se que o torcedor é fortemente influenciado

por diversos fatores que o levam a abrir mão de seu tempo para acompanhar seu time onde

quer que seja.

Consumir fielmente algum produto ou serviço oferecido pelo clube é uma forma que o

torcedor vê para exteriorizar todo o seu sentimento e satisfazer-se, mas, não apenas a si

mesmo, e sim visando a ser aceito dentro de determinados grupos que partilham dos mesmos

gostos e costumes.

O time é visto como uma verdadeira válvula de escape, ou seja, como refúgio diante de

todos os problemas, se algo lhe falta é no consumo dedicado ao clube que se encontrará. O

time, portanto já não é um simples conjunto de jogadores praticando um esporte, ele se torna

para o fanático “consumidor” em algo sagrado, que, assim como nas religiões, partilha-se de

vários ritos.

Vale ressaltar que em se tratando do time do coração não existe ecumenismo, não se

aceita atos profanos nas relações, por exemplo, se um pai corinthiano vai ter um filho, ele já é

24 COIMBRA, Bem Hur. 2013. Entrevista cedida a Marcelo Augusto. Ipatinga, abr.2013. 25 COIMBRA, Bem Hur. 2013. Entrevista cedida a Marcelo Augusto. Ipatinga, abr.2013. 26 Torcedor fanático pelo Corinthians. 27 Torcedor fanático pelo Cruzeiro. 28 Torcedor fanático pelo ex-Ipatinga FC.

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consagrado como corinthiano, dentro do ventre de sua mãe. Isso não o impede de seguir o seu

próprio caminho, no decorrer de sua vida, diante das aquisições de capital cultural.

Ademais, a afetividade mostra-se tamanha que o torcedor acaba criando uma relação de

fidelidade com o clube de modo que todos os seus compromissos são marcados conforme a

tabela de jogos de seu time. Namorar, passear, ou até mesmo assistir ao parto da própria filha

pode ser colocado em segundo plano, pois, negar uma afetividade aqui é naturalmente aceito,

pois o time também faz parte da sua vida.

Enfim, diante de todas essas realidades acerca do consumo no futebol, os produtores de

marketing estão sempre atentos, não no que os consumidores consomem, mas no modo como

consomem.

Nota-se facilmente, diante das imagens e entrevistas aqui apresentadas, a incidência de

cada fator dentro das campanhas de futebol, haja vista o modo como são utilizadas com o

objetivo de aumentar o desejo de consumir e fazer com que o torcedor participe mais e mais

da verdadeira família que o clube representa.

É importante ressaltar que as hipóteses acerca desse tema não se esgotam e que foram

citadas aqui aquelas que mais se evidenciaram nos meios de pesquisa utilizados.

Abstract

This article aims to present four hypotheses that lead fans-football fanatics to consume

products and services of their teams, addition to devote much of your day to clubs Heart.

Interviews with some fans, fanatics Vale do Aço revealed that a football team is not limited

merely to a mere sports club, since it covers aspects relating to affectivity, belief / religion,

angst / passion and distinction. Soon the screen work aims to draw a succinct diagnosis of

how marketers have appropriated the various dimensions that occurred in relation to end-time

supporter of strengthening consumerism driven by fanaticism.

Keywords: Football fan. Fanaticism. Consumerism.

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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9. ANEXOS: ENTREVISTAS

ENTREVISTA Rafael Aguiar – Torcedor fanático do Corinthians.

1- O que é Corinthians para você?

Bom, falar sobre o que o Corinthians significa para mim é complicado, são tantas coisas que

seja a ser complicado. O Corinthians não é só um clube, o Corinthians é como se fosse o meu

refugio dos problemas, sabe quando você está passando aquele “perrengue” na família e com

um simples jogo do Corinthians, uma vitória já me renova, já fico bem com tudo. O

Corinthians é religião, o Corinthians é um estado de espírito. Simplesmente o fato de ver o

Corinthians em campo perdendo ou ganhando aquilo já renova meu dia, renova minhas forças

e renova aquele amor que quando eu acho que não tem mais jeito de superar ele não tem

limite, vai cada vez ais engrandecendo e eu agradeço a Deus por poder fazer parte dessa

família dos Gaviões, do Corinthians. Só que é para entender, que, não é não adianta ficar

falando aqui que não vai conseguir entender nunca. Só quem nasce Corinthiano sabe o quanto

é grande isso para a gente.

2- Fale um pouco sobre seu fanatismo e suas experiências de consumo.

Bom, falar sobre fanatismo é “embaçado”, todo Corinthiano tem o fanatismo já no DNA já é

de nascença somos intitulados fiéis não é atoa. Onde o Corinthians joga, seja no Brasil, ou

seja lá fora a galera sempre chega junto para empurrar durante os noventa minutos. E eu como

um bom Corinthiano sempre dou o meu jeitinho, todo ano eu viajo milhares de quilômetros

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para estar perto do Corinthians e isso é muito prazeroso. Eu me considero também um grande

consumidor de produtos oficiais do clube, é um jeito que eu acho justo de estar ajudando o

clube de uma forma direta, uma parte do meu guarda-roupa é totalmente destinada a produtos

oficiais do Corinthians que eu tenho ao longo desses anos. Eu também faço parte da maior

torcida organizada da América Latina, não é pouca coisa não! Os Gaviões da Fiel. Isso para

mim é muito válido por morar muito longe eu sempre mantenho contato com os irmão lá de

São Paulo para conseguir um ingresso mais fácil para mim, não preciso pegar fila nem nada,

sempre chego lá e já está tudo esquematizado; e é assim que a família se fortalece. Sobre

fanatismo, um ato que está para acontecer ainda, minha filha está para nascer e a previsão é

para semana que vem e justo na semana que em eu tenho uma viagem marcada para a

Colômbia, e essa viagem não vai ter jeito de ser desfeita e como eu brinco com a “Nega” lá

ne, ela vai estar aqui gritando na hora do parto e eu lá gritando vai Corinthians. Mas isso ela

entende e eu vou ter a vida toda para estar do lado da minha filha e essa vai ser outra guerreira

que vai me acompanhar nos estádios aí, mais uma para o bando de loucos aí e é isso aí, isso é

o Corinthians.

ENTREVISTA SAMUEL ALVES – Torcedor fanático do antigo Ipatinga futebol Clube.

1- Com o Ipatinga extinto o que ele significa ou significou para você?

O Ipatinga para mim quando acabou, eu posso te falar que a dor foi maior que um término de

namoro. Eu acho que eu sofri mais quando o Ipatinga acabou do que com algumas ex-

namoradas para ser sincero. Então o Ipatinga foi para mim um relacionamento onde eu

aprendi muito, é aquela relação que você tem com a pessoa que mesmo que acabe você vai

levar para o resto da sua vida, porque foi ali que eu aprendi a correr atrás do que eu queria

porque quando eu não trabalhava eu tinha que me virar para conseguir ir nos jogos do

Ipatinga, então foi uma coisa que significou muito na minha vida.

2- Então você se considera fanático pelo Ipatinga Futebol Clube?

Eu fui fanático ao ponto de tatuar um tigre no meu braço, um tigre que eu fui muito

questionado antes de fazer, depois que eu fiz, por que eu fiz? E acho que eu posso falar a vida

inteira que quem não é não vai entender. Só quem acompanha o clube de futebol, só quem

Page 18: Fatores influenciadores do consumo no futebol

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tem um time do coração mesmo, sabe o que é você ter na pele estampado o mascote do seu

time.

3- Você se considera um consumidor fiel de produtos oficiais do Ipatinga?

Eu fui fiel, o Ipatinga quando estava na sua boa fase criou o sócio-torcedor do Ipatinga e ele

chegou a ter mais de 4 mil inscritos nesse programa e eu fui o vigésimo sétimo, eu tenho a

carteirinha, Além de comprar os materiais licenciados do Ipatinga, camiseta, chinelo, caneca,

tapete, tudo o que eles lançavam pela equipe de marketing do Ipatinga eu adquiria porque eu

sabia que estava ajudando o clube. Então que queria estar mais próximo do clube e a forma de

eu poder ajudar era adquirindo os produtos oficiais.

4- Qual o momento da historia do Ipatinga que te provocou uma certa angústia?

Eu só tive duas dores na minha vida que foi quando o meu pai faleceu em 2005 e quando o

Ipatinga acabou em 2012. – Você pode comparar as duas com o mesmo valor? - Não tanto

porque o pai é pai, mas eu falo com você que foi bem próximo a dor que eu senti, porque é

como se você tivesse arrancado um pedaço de mim e levado para Betim. O Ipatinga fez parte

de uma boa fase da minha vida onde a minha família foi viver na Europa e eu fiquei morando

sozinho por um tempo e tudo o que eu tinha era o Ipatinga, eu “tava” desempregado, o que eu

tinha aqui em Ipatinga era o dinheiro que minha mãe conseguia mandar para mim, é o que

fazia com que eu não me preocupasse eram os jogos do Ipatinga, então era saber que no

sábado tinha jogo e saber que no domingo eu poderia estar viajando para outra cidade para

acompanhar o time. E teve uma fase da minha vida que tudo o que eu tinha era o Ipatinga e

quando acabou foi uma dor inexplicável.

ENTREVISTA BEN HUR COIMBRA – Torcedor fanático do Cruzeiro.

1-O que significa ser Cruzeirense para você?

Ser cruzeirense é mais que torcer por um time de futebol, é mais que vestir uma camisa, é

mais que torcer por futebol ou qualquer outro tipo de esporte. É um estilo de vida, é um jeito

de ser, é uma coisa que influencia basicamente em tudo. O cruzeirense é um cara exigente, um

cara chato, e ele é acima de tudo realista com as coisas. Ele cobra quando tem que ser

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cobrado, não se ilude muito fácil, é um tipo de torcedor que ele faz o time dele crescer. O

Cruzeiro é o que ele é hoje porque o seu torcedor é muito exigente.

2-Você se considera um torcedor fanático pelo Cruzeiro?

Olha, já fui mais. Eu já fui aquele cara que quando o Cruzeiro perdia eu não dormia direito a

noite, não me alimentava direito durante o dia, a zuação era grande na escola e a gente

passava a semana inteira de cabeça quente, mas hoje eu aprendi a separar essas coisas, até

mesmo da namorada eu abria mão para assistir os jogos, mas de preferência eu prefiro

arrumar uma namorada cruzeirense.

3-Quando o time perde um campeonato importante ou perde vários jogos em sequência a sua

relação com o consumo de produtos oficiais diminui?

Com certeza, eu falo que nos últimos anos por exemplo, eu te falo que comprei a camisa de

2007 e voltei a comprar camisa em 2009. Em 2010 e nem 2011 eu não, e em 2012 voltei a

comprar. A relação com o patrocinador ela interfere, a torcida do Cruzeiro não gosta do

patrocinador Máster da camisa, isso faz com que até a venda de camisa ela não seja tão

grande quanto poderia ser se fosse um patrocinador que tivesse uma identificação com a

torcida, como não é o caso.

4-Você se considera parte da família cruzeirense?

Com certeza. No meu dia-a-dia basicamente eu chego a passar mais tempo falando sobre o

Cruzeiro, comentando sobre o Cruzeiro... Final de semana, por exemplo, eu passo mais tempo

conversando com os cruzeirenses da minha família Cruzeiro, do que com a minha família

mesmo de verdade. É uma coisa que chega a ser inevitável, mas é real.