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Participação das empresas de Telecomunicações e OTT na economia digital
João Gonçalo Silva Palhinha Rodrigo Andres Cuesta Hernandez
Artigo Científico
FGV – FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS MBA em GESTÃO Estratégica e Econômica de Negócios
T4 GEEN
Outubro/2016
Professor João Ferreira da Luz
Participação das empresas de telecomunicações e OTT na economia digital João Palhinha, Rodrigo Andres Cuesta Hernandez. Resumo Este trabalho aborda a interação econômica atual que existe entre as Empresas de Telecomunicações TELCO e as Empresas de serviços baseadas na internet denominadas OTT por suas siglas em inglês Over The Top, as quais aproveitam a infraestrutura das empresas de telecomunicações para proporcionar serviços sendo percebidas pelos usuários como empresas inovadoras, deixando fora da percepção dos clientes o investimento e trabalho feito pelas empresas de telecomunicações no mundo digital. Palavras-chave: OTT, TELCO, Telecomunicações, Mundo Digital. Extracto En el presente trabajo se desarrollara la interacción de las empresas de telecomunicaciones y las empresas OTT por sus siglas en inglés Over The Top, las cuales aprovechan la infraestructura de comunicaciones para proporcionar servicios, siendo hoy vista en los mercados como empresas de alto carácter de innovación, dejando a un lado el alto trabajo realizado por las empresas de telecomunicaciones y su contribución en el mundo digital. Palabras Clave: OTT, Telecomunicaciones, mundo digital
1. Introdução A economia digital é a definição que o mercado dá para as empresas que trabalham com a interconexão das pessoas e organizações, as redes de comunicação, a informação em tempo real e a colaboração mundial. A economia digital gira em torno das comunicações e da internet. Todos os players da economia estão hoje sendo revolucionados pela internet e pela mudança na forma como nos comunicamos. O foco deste artigo é aprofundar o tema das empresas de serviços OTT que têm os seus negócios 100 % baseadas na internet e as empresas de telecomunicações TELCO que têm a sua infraestrutura sendo usada por essas empresas. Com as empresas hoje em dia muito focadas em crescimento via internet, são muitas e novas as oportunidades que se apresentam para o mercado. A chamada “revolução digital” representa a esperança para os novos desafios que têm a economia mundial, com novos negócios e novas oportunidades. Cerca de 8% do PIB das maiores economias do mundo representadas pelo G – 20, são de negócios na economia digital, e os analistas esperam que esse percentual continue a crescer. Um fator importante para o crescimento da economia digital vem sendo os Smartphones que representam um novo canal de venda para as empresas e uma plataforma poderosa para desenvolvimento de novos negócios e novas oportunidades. Espera-se que em 2017, cerca de 200.000 milhões de aplicativos (apps) sejam baixados nas principais plataformas, o que representa um universo de oportunidades para profissionais atuais e empreendedores. Mas não só as empresas que desenvolvem serviços pela internet são as protagonistas. Toda a indústria digital gira em torno da conectividade e das rápidas redes desenvolvidas, tanto móveis como fixas. São necessários altos investimentos no setor das telecomunicações e infraestrutura, para fazer face à demanda cada vez maior de acessibilidade, velocidade e segurança. Isto faz com que a economia digital exista, mas parece muitas vezes que os clientes e consumidores não sabem o que está por detrás de tudo o que lhes surge na frente do computador ou na tela do celular. Cada dia os consumidores esperam um serviço de internet melhor e mais rápido, para fazer face à suas necessidades cada vez maiores, e se possível pagando menos. Empresas como o Facebook por exemplo, defendem que o acesso à internet tem que ser de graça. Mas como se pode esperar que o mercado venha melhorando a qualidade dos seus serviços, sem investimentos em infraestrutura por parte das empresas de telecomunicações? No Brasil o uso de aparelhos móveis já ultrapassou os 100 % (existem mais aparelhos de celular do que habitantes), e mesmo assim o acesso à internet não passa dos 60% da população. Ou seja, o mercado tem muito para crescer em termos de conectividade. Apesar das TELCO já terem vários anos trabalhando em gerar serviços diferenciados para os clientes com a participação em indústrias digitais, não têm ainda comparação com as grandes empresas como o Facebook ou Google. As empresas de telecomunicações não foram suficientemente rápidas no passado,
mesmo que ainda hoje sejam as melhores preparadas para prestar este tipo de serviço, e no mercado não são percebidas desta forma. Porém, a disputa pela economia digital esta só ainda no começo e tudo pode mudar rapidamente. 2. Principais empresas Over The Top, OTT. As empresas Over The Top, são as empresas que prestam serviços 100 % digitais, a maioria delas começam como startups e depois transformam-se em enormes organizações com milhões de dólares de faturamento, altos níveis de capitalização e de rendimentos. Mas quem são os principais? Dependendo do serviço, o mercado já identificou os maiores players (ver Gráfico 1).
Gráfico 1 – Principais empresas OTT (ottsource.com/ott-blog)
100% das empresas do Gráfico 1, funcionam sobre a plataforma de redes existentes, e são empresas que detectaram rapidamente o potencial e executaram as suas estratégias para serem os melhores e os primeiros nos mercados em que atuam. Um caso destacado e de grande sucesso é a Amazon, que começou como um negócio de venda de livros online e hoje é uma das maiores empresas fornecedoras de serviços na nuvem e de marketplace. É bom destacar que a maioria destas empresas são americanas, pelo que o
mercado americano vem sendo a referência para muitas outras economias digitais
no mundo.
Mas nem tudo é perfeito para estas empresas. Atualmente, e dependendo do sector
em que atuam, têm importantes desafios como a segurança e a preservação dos
dados dos seus consumidores. Isso atinge transversalmente todos eles, pois os
riscos de perder ou errar informações vem sendo muito grande. Todas as semanas
chegam noticias dos riscos que correm os usuários em ter todas as suas
informações na internet. Mesmo sendo uma tendência irreversível, as OTT têm que
garantir a segurança de todos seus usuários, e os investimentos para garantir isso
são muito altos.
Em paralelo, o mercado muda muito rápido, e empresas como o Twitter por exemplo
já vem sendo afetada por outras redes sociais que em pouco tempo atingiram a
mesma quantidade de usuários e geram maiores expectativas nos mercados. Isso
limita as opções das OTT em investir nestas áreas prioritárias e pode muito
rapidamente tornar essa empresa ultrapassada.
3. Principais empresas de telecomunicações, TELCO
Num mercado de telecomunicações participam todas as empresas que se dedicam a
fornecer serviços de comunicação, principalmente voz, vídeo e dados. Existem
também empresas que desenvolvem tecnologia, hardware, bases de dados e
aparelhos de comunicação. Neste artigo, iremos apenas entrar no tema dos
fornecedores de serviços
As empresas de telecomunicações, TELCO desenvolveram-se num mercado
oligopolista, ou seja, existem em cada país no máximo quatro empresas
fornecedoras e geralmente existem duas empresas lideres e uma terceira e quarta
com uma porcentagem de mercado muito menor. Este fenómeno tem uma
explicação muito simples, já que a barreira de entrada é muito alta e o investimento
também, e geralmente envolve licenças emitidas pelos governos. Mas é claro que o
prémio por estar neste setor é muito grande, já que as empresas de
telecomunicações estão sempre no top das empresas de um país, e representam
bilhões de dólares de faturamento anual.
Gráfico 2 – Faturamento das 10 principais empresas de Telecomunicações Mundiais (Infonetics research)
Atualmente as TELCO encontram-se numa fase de transformação e apostando no mundo digital. Apesar da reação tarde, estão sendo dados passos em todas as empresas fornecedoras de telecomunicações no mundo inteiro, oferecendo serviços novos e concorrentes das atuais OTT e ao mesmo tempo estruturando-se para conseguir maior velocidade e prestação de novos serviços. Espera-se que o faturamento em serviços tradicionais como Voz e SMS baixem entre 20% e 30% nos próximos anos até desaparecerem. Surgirão novos serviços baseados em dados, pelo que toda a plataforma das empresas tem focado neste ponto. 4. Comparação entre empresas de telecomunicações, TELCO e OTT.
São muitas as ligações entre as empresas de telecomunicações e as OTT, particularmente, e as mais importantes é que ambas têm os mesmos interesses em relação à captação de novos clientes e mercados. Quando comparamos alguns indicadores elementares são curiosas algumas diferenças enormes que existem, por exemplo, em relação ao número de empregados e valor na bolsa.
O Google por exemplo praticamente duplica o valor de bolsa da AT&T, só com 10% dos empregados. No caso de Telefonica Vs Facebook, o Facebook conta com praticamente 5 vezes o valor na bola e só 10% dos empregados. Isto são valores curiosos em relação ao beneficio e aos investimentos de cada uma das empresas.
Empregados Receita Valor do Mercado
281.000
146.886
241.281
26.316
74.500
481.000
120.497
47.219 54.000
12.691 17.933
238.000
150.618
59.300 37.950
97.000 107.000
280.170
AT&T Google Telefonica Facebook Amercia Movil Amazom
O importante ao fazer esta comparação é entender que o sector das telecomunicações é um sector muito importante nas economias em termos de investimento, pagamento de impostos e empregabilidade. Apesar das empresas OTT também terem a sua parte, a comparação entre eles e todas as altas responsabilidades que têm as empresas de telecomunicações, é preocupante. Atualmente há empresas como a Netflix que proporcionam serviços de vídeo na internet sem nenhum tipo de regulação, sendo um concorrente das empresas de telecomunicações com serviços de assinatura. O caso do Whatsapp por exemplo, que funciona como plataforma de voz sem ter que pagar pelo espectro ou cumprir com as regulações, acabando com os ganhos destas plataformas.
A Google esta hoje atuando no mercado B2B com soluções empresariais na nuvem e que estão a mudar os modelos de negócios em todas as empresas, já que estas não precisam mais de investir em hardware e segurança de dados, por exemplo. Isto é uma tendência que vem sendo adotada pelo mercado e que caberia perfeitamente às TELCO criar e oferecer este tipo de soluções aos seus clientes. Muitas vezes as TELCO já têm esses serviços, mas o consumidor ou não sabe, ou não percepciona como de qualidade.
5. Futuro da interação na Economia digital TELCO & OTT
Os pontos importantes a ter em conta para o futuro sobre este tema serão:
Os governos e qual a regulamentação que vão impor.
A compra ou fusão de empresas (TELCO e OTT) que tenham a dinâmica
atual do mercado.
Atualmente a maioria dos líderes dos mercados de telecomunicações encontram-se
adquirindo empresas para o desenvolvimento de novas funcionalidades para
passarem a ser elas a ser as protagonistas da evolução dos serviços na internet.
Podem também comprar ou fundir-se com empresas concorrentes para expandir o
seu domínio como TELCO. Exemplo é a AT&T ter comprado a DIRECTV, uma das
maiores empresas de TV por assinatura do mundo e dona da SKY.
Curioso que este tipo de movimentos é bem menos mediático do que compras
dentro do universo OTT, como por exemplo o mediatismo que teve a compra do
Whatsapp pelo Facebook.
As OTT continuarão seu crescimento, mas têm que definir uma estratégia em
relação à segurança e marcos regulatórios da internet. A sua presença em setores
B2B definirá a dinâmica do mercado nos próximos anos. Empresas que
tradicionalmente têm os seus maiores gastos de telecomunicações em TELCOS
tradicionais, estão trocando seus fornecedores para empresas como o Google para
gestão de correios eletrônicos, por exemplo. Um ponto importante é o preço e a
redução de custos, mas também são importantes a fiabilidade, segurança e
acessibilidade que a funcionalidade versus o valor que este tipo de empresas
oferecem.
6. Conclusão As empresas de telecomunicações, TELCO, têm que acelerar a sua transformação
digital e aproveitar ainda mais sua infraestrutura e o tipo de serviços. O valor gerado
sobre as redes tem que vir das TELCOS, mais que de qualquer outro setor, mas a
visão tradicional do desenvolvimento dos serviços e infraestrutura e a baixa
inovação são barreiras que tem que ser superadas.
As OTT devem ter maior regulamentação em relação ao pagamento de impostos e
politicas de controle, para que a concorrência seja saudável para o mercado. Este
tipo de ações já está sendo executada na Europa por exemplo, obrigando as
empresas a pagar os impostos correspondentes dos serviços proporcionados.
As parcerias no mundo digital devem ser mais agressivas e não basta comprar um
potencial concorrente das atuais OTT pelas TELCOS. As empresas de
telecomunicações devem ser mais agressivas e adquirir empresas que sejam
referência nos mercados em que trabalham. Um caso interessante é o caso da
Microsoft com a compra de Linkedin para aumentar sua participação no mercado
das redes sociais.