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A Farsa do Voto O obj etivo deste texto é discutir a relaç ão ent re a democracia repr esentativa burguesa, voto nulo e transformação social. Primeiramente discutiremos a uestão do voto ! j" ue este é, na sua expressão jur#dica, o elemento central da democracia burguesa ! e a possibilidade deste ser um meio de proporcionar mudanças na sociedade$ analisaremos ue mudanças são estas ue podem ser provocadas através do voto$ posteriormente expressa remos o ue entendemos por transformação social, e %nali&aremos com a an"lise da relação entre democracia representativa burguesa, voto nulo e transformação social. O voto como meio de expressão da democracia burguesa surge com a emerg'ncia do capitalismo enuanto modo de produção dominante. A necessidade do capitalismo em criar mecanismos par a amortecer as lut as de classes entre bur guesia e proletariado leva a burguesia a buscar no estado o auxílio para esta tarefa . O estado no cap italismo, por sua ve& , assume um car "ter burgu's, cap italista, sendo compreendido aui como (uma relação de dominação de classe )no ual a burguesia domina as demais classes sociais* mediada pela burocracia para manter e reprodu&ir as relaç+es de produção capitalistas . Aqueles indi duos que integra m o estado capitalista formam uma classe, a burocracia estatal , cujo objetivo principal é auxiliar a burguesia no amortecimento das lutas de classes$ criar as condiç+es para a reprodução ampliada do capital e impedir ue a luta entre classes exploradas e burguesia se torne uma luta aberta e direta. O controle e o dirigismo tornam-se a sua ação fundamental. m troca os capitalistas cedem parte de seus lucros para a burocracia estatal em for ma de impostos. /esse sen tido, os rendimentos da ueles ue est ão no poder do estado, advém da exploração ue o capitalista exer ce sobre os trabal0adores. A relação de exploração existente no modo de produção capitalista provoca o descontentamento do proletariado, classe explorada pela burguesia. sse descontentamento extrapola o c0ão das f"bricas e passa a ser expresso em todas as partes da sociedade, associando-se ao descontentamento de outras classes exploradas, ocorrendo assim, uma generali&ação do descontentamento social. 1iante desta situação de descon tentamento, as classes ex plo radas iniciam o processo de auto-organi&ação, é uando criam organi&aç+es ue expressam seus pr2prios interesses. Ao surgirem, essas organi&aç+es se deparam com as instituiç+es burguesas e assim, passam a estabelecer novas lutas.

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A Farsa do Voto

O objetivo deste texto é discutir a relação entre a democracia representativaburguesa, voto nulo e transformação social. Primeiramente discutiremos a uestão do voto! j" ue este é, na sua expressão jur#dica, o elemento central da democracia burguesa ! ea possibilidade deste ser um meio de proporcionar mudanças na sociedade$ analisaremosue mudanças são estas ue podem ser provocadas através do voto$ posteriormenteexpressaremos o ue entendemos por transformação social, e %nali&aremos com a an"liseda relação entre democracia representativa burguesa, voto nulo e transformação social.

O voto como meio de expressão da democracia burguesa surge com a emerg'nciado capitalismo enuanto modo de produção dominante. A necessidade do capitalismoem criar mecanismos para amortecer as lutas de classes entre burguesia eproletariado leva a burguesia a buscar no estado o auxílio para esta tarefa . Oestado no capitalismo, por sua ve&, assume um car"ter burgu's, capitalista, sendocompreendido aui como (uma relação de dominação de classe )no ual a burguesiadomina as demais classes sociais* mediada pela burocracia para manter e reprodu&ir asrelaç+es de produção capitalistas. Aqueles indivíduos que integram o estadocapitalista formam uma classe, a burocracia estatal, cujo objetivo principal é auxiliara burguesia no amortecimento das lutas de classes$ criar as condiç+es para a reproduçãoampliada do capital e impedir ue a luta entre classes exploradas e burguesia se torneuma luta aberta e direta. O controle e o dirigismo tornam-se a sua ação fundamental.

m troca os capitalistas cedem parte de seus lucros para a burocracia estatal emforma de impostos. /esse sentido, os rendimentos daueles ue estão no poder doestado, advém da exploração ue o capitalista exerce sobre os trabal0adores. A relação deexploração existente no modo de produção capitalista provoca o descontentamento doproletariado, classe explorada pela burguesia. sse descontentamento extrapola o c0ãodas f"bricas e passa a ser expresso em todas as partes da sociedade, associando-se aodescontentamento de outras classes exploradas, ocorrendo assim, uma generali&ação dodescontentamento social.

1iante desta situação de descontentamento, as classes exploradas iniciam oprocesso de auto-organi&ação, é uando criam organi&aç+es ue expressam seus pr2priosinteresses. Ao surgirem, essas organi&aç+es se deparam com as instituiç+es burguesas eassim, passam a estabelecer novas lutas.

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O estado se impõe diante destas organizações e cria a ideia de

representação política, a qual só poderá ocorrer atravs do próprio estado! 3mconjunto de leis é criado para controlar estas organi&aç+es e legitimar a ação estatal e apartir da# qualquer organização que pretenda uma participação nas decisõessociais devem se submeter "s leis do #stado. 4urgem os partidos políticos. stes,por sua ve&, (são organi&aç+es burocr"ticas ue visam 5 conuista do stado e buscamlegitimar esta luta pelo poder através da ideologia da representação e expressaminteresses de uma ou outra classe ou fração de classe existente. 6nicia-se assim oprocesso de divulgação ampliada da ideia da representação pol#tica. 7om isso, o estadoimp+e suas leis e a partir da# a participação popular é resumida 5 escol0a deste oudauele representante ue integrado a um partido pol#tico o representar" nas decis+essociais.

Os partidos políticos são autorizados pelo estado para dirigir a sociedadee representar os seus interesses. O estado, portanto, controla as organi&aç+es criadaspelas classes exploradas e cria suas pr2prias organi&aç+es impondo-as 5 toda a sociedadecomo sendo as organi&aç+es ue expressam o interesse de todos. Os interesses estataispassam a prevalecer e logo a ideia de representação pol#tica pelo partido se tornadominante. O estado, por sua vez, para ocultar o caráter estatal dos partidospolíticos permite a participação popular na escol$a dos representantes e o fazatravs do sufrágio universal!

Através do voto, a burocracia estatal legitima a ideia de ue as contradiç+esinerentes 5 sociedade devem ser resolvidas por uem l0e integra e não por outrasorgani&aç+es ue não sejam auelas autori&adas pelo estado. Os partidos pol#ticos se

tornam os respons"veis principais pela manutenção da ordem e o fa& criando novasinstituiç+es. 7om isso, grandes organi&aç+es partid"rias vão se formando e se tornandocada ve& mais distantes dos interesses das classes exploradas.

Os integrantes de partidos se tornam poderosos uando assumem o poder e vão sedistanciando cada ve& mais do povo. 1urante uma determinada eleição, fa&em o discursoue vão representar os interesses de todos, mas uando assumem o poder, tudo o uedisseram é deixado de lado, e passam a representar a si mesmos, aos seus interesses eaos interesses da classe dominante. O mesmo discurso volta a aparecer nas eleiç+esseguintes j" ue depender" da vit2ria para continuar desfrutando dos privilégios ue opoder l0e proporciona. Assim, os representantes de partidos pol#ticos tornam-seaut2nomos em relação 5s classes exploradas e ao invés de ser o seu representante,

passam a ser o seu dominante, controlando-as e decidindo a partir de suas pr2priasconcepç+es sobre a vida de todos. 7omo coloca 8ragtenberg: na prática, o líder partidárioordena e responde aos interesses do grupo dirigente minoritário e não aos da base. Como profssional do partido o líder preocupa-se mais com seu trabalho do que com suas

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 promessas. O ato de ser dirigente leva-o a aastar-se da vida quotidiana da maioria das pessoas, o que o torna dierente!. "orna-se geralmente conservador, levando uma vida privada e envolvendo interesses da minoria dirigente. #sses líderes partidários, isoladosnos escrit$rios, são acilmente corruptíveis pelos interesses das classes dominantes)8ragtenberg, 9:;<, p. =>*.

O voto representa a c0ave para abrir a porta do estado e o meio para um partido setornar o seu leg#timo dirigente. O objetivo principal dos integrantes de partidos passa

então a ser alcançar o poder do estado e isso se torna poss#vel através das eleiç+es. Porisso o voto passa a ser desejado por aueles ue integram partidos pol#ticos. stesestabelecem uma luta uotidiana entre si e criam estratégias para conseguir o maiorn?mero de votos poss#vel, cuja maioria dos votos l0e garante a ascensão ao poder doestado. A corrida dos representantes de partidos para conseguir voto se d" de v"riasformas )compra de votos, ameaças a eleitores etc.* mas a principal é através depropagandas pol#ticas ue são em sua maioria %nanciadas e autori&adas pelo estado, oual busca criar meios de tornar a sua divulgação ampliada. Para isso criou leis paracontrolar e possibilitar o uso dos meios de comunicação para a propaganda pol#tica.Ocorre ue alguns partidos ue disputam uma determinada eleição são %nanceiramentemais poderosos do ue outros, o ue l0e d" a c0ance de vencer a eleição j" ueconseguir" ampliar sua divulgação, além da possibilidade da compra de votos, uestão

comum ue perpassa a corrupção partid"ria em per#odos eleitorais. Os partidos, compoder %nanceiro menor, criam conc0avos com capitalistas ue %nanciam suas eleiç+es.Alguns conseguem ser eleitos e acabam %cando presos aos seus %nanciadores, os uaispassam a interferir, de forma indireta, através do partido eleito, nas decis+es do estado.

Os partidos ue são derrotados numa eleição, como forma de participar do poderestatal, acabam fa&endo concess+es e se aliando aos partidos eleitos. Fora dos per#odoseleitorais as disputas partid"rias se restringem em sua maior parte aos bastidores dasrin0as de partidos pol#ticos )nas diversas express+es do parlamento*. 4ituação ue sealtera uando um ou outro integrante de partido é atacado por advers"rios tornandop?blico o seu envolvimento com a corrupção partid"ria. m per#odos eleitorais as trocasde ofensas se tornam p?blicas e constantes. Alguns partidos c0egam a publicar uest+es

pessoais de integrantes de partidos advers"rios em relação a envolvimento a corrupç+esetc., um meio de desuali%car o advers"rio, e atrair os seus eleitores.

O voto , portanto, a expressão da democracia representativa burguesa eo meio atravs do qual ocorre a reprodução%legitimação do estado e de suasinstituições. A participação popular na democracia representativa burguesa se limita 5ação dos eleitores nas seç+es de votação, e apenas nos per#odos eleitorais.

Ao votar em um determinado partido o eleitor transfere para este o poder dedecisãonas uest+es referentes 5 sociedade. @uer ueira, uer não, o voto acaba sendo umaforma de legitimação do poder do estado, logo, dos interesses da burguesia pela

manutenção e reprodução do capitalismo.

m relação 5s mudanças ue podem ocorrer através do voto, na democraciarepresentativa burguesa, resumem-se a mudanças no interior do pr2prio capitalismo.7omo colocamos anteriormente, a ra&ão de ser dos partidos é o estado, e no capitalismo,o estado est" de mãos dadas com a burguesia. Portanto, se alguma mudança ocorreratravés da ação de algum partido, estas mudanças são na verdade adeuaç+es oureorgani&ação da sociedade de forma ue atenda aos interesses do capital, logo, uereprodu&a os interesses da burguesia. Ou seja, são reformas ue não alteram a ess'nciada relação de produção capitalista.

7ontudo, algumas mudanças no modo de vida das classes dominadas podem ser

percebidas, como por exemplo, uma aparente mel0ora em suas condiç+es de vida, comomel0orias no saneamento b"sico de alguns bairros de periferia etc. O estado prop+e aindaaç+es para atender 5s necessidades imediatas da população empobrecida, como doaç+esde agasal0os, alimentos, casas$ construção e reformas em escolas, 0ospitais$ abrigos para

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dependentes u#micos$ programas para a população campesina entre outras. n%m, v"riasaç+es são reali&adas em direção 5s classes exploradas, porém, trata-se de aç+es cujointeresse real é garantir votos para as eleiç+es futuras, o ue conui com a manutençãodo estado, logo, da reprodução das relaç+es de exploração capitalistas.

1iante destas uest+es, é ue surge a ilusão de ue algum partido ou o pr2prio estadoalgum dia irão fa&er alguma coisa para resolver os problemas ue aigem a vida daspessoas ue integram as classes exploradas. A ideia de ue algum dia aparecer" um

salvador ue ir" resolver os problemas sociais )pobre&a, fome, viol'ncia etc.* se torna omotor ue leva as pessoas 5s urnas depositar o voto num determinado candidato e 5crença na democracia burguesa. 7ontudo, essa ilusão acaba se desfa&endo com o tempo.Buitas pessoas ue acompan0am a 0ist2ria dos partidos pol#ticos vão percebendo ue emtoda a sua 0ist2ria nen0um partido atendeu de fato aos interesses das classes exploradas. isso ocorre porue os seus interesses divergem dos interesses das classes exploradas.4egundo Proud0onC

A burocracia pretende governar em nome das massas trabal0adoras e fa& grandesesforços para criar tal ilusão$ di& ter %ns ue correspondem 5s exig'ncias e necessidadesdas massas, mas, de outra parte, é leg#timo falar de burocracia uando o grupo degovernantes em uestão tem, também, os seus pr2prios interesses particulares, ue s2

podem ser assegurados se, na pr"tica, ele se desvia, constantemente, dos princ#pios e dosprogramas publicamente enunciados )Proud0on Apud Botta, 9:;9, p. DE*.

Portanto, o voto dirigido a algum partido pol#tico não provoca nen0uma mudançafundamental nas relaç+es de produção capitalista. A sociedade fundada na relação deexploração continua existindo e o resultado de uma eleição apenas altera o partido ue ir"dirigir o estado. /a democracia representativa burguesa, as classes exploradas nãoparticipam das decis+es sociais j" ue isso passa a ser tarefa do partido. 7ontudo, aideologia da representação oculta a expressão real dos partidos, cuja tarefa é encontrar osmeios para representar da mel0or maneira poss#vel os interesses do estado, logo, daburguesia.

Percebemos, portanto, ue a ideia divulgada pelo estado de ue representa os interessesde (toda a sociedade é falsa. /a realidade, além de representar os interesses daburguesia, cria interesses pr2prios ue no %nal concorda com a ess'ncia da sociedadeburguesa, ou seja, com a luta de classes ue se fundamenta numa relação de exploraçãoe isso se d" porue seus rendimentos prov'm da exploração ue a burguesia exerce sobreos trabal0adores ue l0es são repassados através de impostos.

7onclu#mos esta primeira parte colocando ue a ideia da democracia representativaburguesa é uma ideologia ue oculta o seu lado burgu's e através da ideia darepresentação pol#tica mantém as classes dominadas com mãos e pés atados, di%cultandoe colocando empecil0os para ue estes possam criar suas pr2prias organi&aç+es

O exemplo cl"ssico da oposição entre o interesse do estado e os interesses das classesexploradas é a 7omuna de Paris de 9;=9. /auela experi'ncia, a classe trabal0adoraconseguiu avançar sobre o capital e mostraram na pr"tica a forma de organi&ação uerepresenta realmente os seus pr2prios interesses, ue se deu através das comunas. Bas oestado logo se ergueu em sua frente, e ps %m 5s organi&aç+es dos trabal0adores,integrando-os novamente 5s relaç+es de produção capitalista. G" a ligação 0ist2rica e clarado partido com os interesses do estado pode ser observada de forma clara desde aHevolução Hussa de 9:9=. 1urante o processo de radicali&ação das lutas oper"rias naH?ssia, o partido bolc0eviue assume o poder dando um golpe de estado em outubro de9:9=, alegando representar os interesses dos trabal0adores e a%rmava ter instalado (aditadura do proletariado. Ocorre ue ao contr"rio do ue expressavam, 0aviam instaladoa ditadura do pr2prio partido, por meio do estado, sobre a classe trabal0adora. Os meios

de produção passam a ser propriedade do estado e toda organi&ação social, distribuiçãoda produção a ser controlada por seus dirigentes, por isso, ser denominado de capitalismode estado )BaI0aisIi 9:;9$ Viana J>>;$ PanneIoeI J>>=, 8ragtenberg 9:;;*. 7omo

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colocara 8ragtemberg a respeito da relação do partido bolc0evista com as classesexploradas na H?ssiaC

/o real, o proletariado russo perdera o controle das f"bricas, dirigidas por delegados doestado, a insurreição camponesa autogestion"ria da 3crKnia, ue derrotara os generais1eniIin e Lrangel, foi contida pelo xército Vermel0o, e a insurreição de Mronstadt, uede%nia um programa de objetivos socialistas e libert"rios, foi selvagemente reprimida pelobolc0evismo )8ragtemberg, 9:;;, p. :J*.

Os 7onsel0os de Oper"rios ! organi&aç+es criadas pelos pr2prios trabal0adores pararepresentarem a simesmos ! ue se formaram na H?ssia, foram desmantelados pelo estado o ual conseguiuinstituir novamente a pa& para o capitalismo, uando os trabal0adores são, 5 base daditadura do partido bolc0eviue, integrados novamente 5 l2gica capitalista. A partir da# aideologia da representação burguesa se abala. Bovimentos oper"rios ue tomavam aexperi'ncia dos 7onsel0os Oper"rios como refer'ncia para se auto organi&arem, foramaparecendo em v"rios pa#ses. A m"scara do estado e dos partidos pol#ticos sãoarrancadas, e passam a ser vistos como inimigos da classe trabal0adora e não mais comoaueles ue representam os seus interesses.

1iante desta situação é ue inicia-se a pol#tica do voto nulo. Organi&aç+es pol#ticas uebuscam romper com a ordem estabelecida pelo capitalismo criam esta forma demanifestação como meio de protestar contra a democracia representativa burguesa. ssaé uma forma de expressão pol#tica encontrada pelas classes exploradas ue perpassa peloprocesso da democracia burguesa, pelo processo eleitoral, porém busca neste processo adeslegitimação do poder do estado. Assim, como uma forma de garantir a expressãodentro da l2gica do estado capitalista, o voto nulo possibilita 5ueles cujos interesses sãocontr"rios aos interesses de integrantes de partidos pol#ticos, do estado e do capitalismo,de expressarem o seu descontentamento com a sociedade atual.

Por outro lado, o voto nulo pode ser também uma expressão do descontentamento pessoalou de determinado grupo, ou ainda expressão de pessoas ue com o tempo superaram a

ilusão nos partidos e votam nulo por não ver outra opção, outro partido ue possa con%ar.Agora, numa perspectiva pol#tica desejada pelas classes exploradas, o voto nulo vai alémda concordKncia com as determinaç+es legais impostas pelo estado. /ão se trata decancelar uma eleição ou de substituir os representantes ue concorrem entre si por outros.6ndependentemente de sua proced'ncia, se é de direita, de esuerda ou de centro, todosos partidos, enuanto organi&aç+es burocr"ticas, estão integrados 5 l2gica do estado./este caso, trata-se de denunciar e tornar expl#cito o descontentamento 0ist2rico contra aexploração existente na sociedade capitalista assim como da ligação do estado e departidos com esta exploração. Para aprofundar um pouco mais neste assunto, discutiremosbrevemente a uestão da transformação social.

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A transformação social tornou-se o principal objetivo das classes exploradas. 3mamudança radical da sociedade torna poss#vel a instituição de uma organi&ação social uerepresente de fato os seus interesses.

/ão é ualuer tipo de organi&ação ue serve ao proletariado. Os partidos e sindicatos sãoa prova disto. 4empre ue os trabal0adores manifestam ualuer forma de organi&açãoue saia do estrito controle destas instituiç+es, elas fa&em todo o poss#vel para voltar 5normalidade e continuar sendo dirigente dos trabal0adores )Baia, J>9>, p. 9>J-9>D*.

Portanto, uando se fala em mudança radical, isso uer di&er ue deve-se cortar o malpela rai&. /esse sentido, a transformação social almejada pela classe oper"ria est"relacionada com o modo de se produ&ir no capitalismo. 7olocamos no in#cio do texto ue omodo de produção capitalista é uma relação de exploração. A exploração ocorre uandode um lado o proletariado produ& mais-valor e de outro a burguesia se apropria destemais-valor, de parte do trabal0o reali&ado pela classe trabal0adora. O mais-valor torna-seassim o coração, o sangue e as pernas ue sustentam o capitalismo. @uando a produçãode mais-valor é interrompida ou abalada o capitalismo é colocado em xeue e suas forçascomeçam a ruir, entrando em crise.

A interrupção da produção de mais-valor se d" a partir do momento ue os

produtores se apropriarem dos meios de produção e passam a utili&"-los para o bem detoda a sociedade, ou seja, produ&indo e se apropriando da produção e reali&ando a suadistribuição.N uando percebem a força ue possuem diante do capital. @uando issoocorreu em experi'ncias passadas de sua luta, criaram organi&aç+es ue possibilitaram adistribuição da produção para toda a sociedade, iniciando assim o processo de luta contratodas as formas capitalistas de organi&ação )propriedade privada dos meios de produção,mercado, estado etc.*. ste processo colocou em xeue o pr2prio modo de produçãocapitalista, conseuentemente, o estado, os partidos pol#ticos, en%m, a sociedadecapitalista. foi o ue proporcionou 5s classes exploradas enxergarem a possibilidade desua libertação e de toda 0umanidade, tornando em seu principal objetivo na luta contra ocapital, a instituição da autogestão social.

3ma transformação social, portanto, como expressão dos interesses das classesexploradas, perpassa pelo modo de produção capitalista. 8rata-se do %m do modo deprodução capitalista e a instituição de um modo de produção não capitalista, um modo deprodução gerido pelos pr2prios produtores. ssa transformação social ser" obra dospr2prios trabal0adores, e não é tarefa de partido nem do estado. 7om o %m do capitalismoe instituição da sociedade gerida pelos trabal0adores, todas as instituiç+es criadas pelocapitalismo tenderão a desaparecer.

/ão é poss#vel prever as uest+es espec#%cas provenientes da transformação social,mas, no essencial, é poss#vel visuali&ar algumas formas ue assumir" a nova sociedade.3ma ve& ue a sociedade na sua totalidade esteja nas mãos da classe trabal0adora, ademocracia representativa burguesa ser" substitu#da pela autogestão social, e ao invés da

representação pol#tica acontecer pelos partidos pol#ticos, estes serão substitu#dos pelosconsel$os de trabal$adores. O per#odo eleitoral em ue todos param para votar, dar"lugar 5s reuni+es uotidianas, nos locais de trabal0o, de moradia, diversão etc., onde os(delegados, os pr2prios trabal0adores, serão escol0idos diretamente, e aos invés depermanecerem na situação de representante por longos per#odos, como ocorre nademocracia burguesa com os partidos no poder do estado, estes poderão ser substitu#dosa ualuer momento. sta decisão caber" aos trabal0adores nas assembleias. O estadocomo manutenção da sociedade de classes, dar" lugar aos consel0os de oper"rios,expressão de uma sociedade sem classes. Os 7onsel0os Oper"rios constituirão, assim, na(forma de autogoverno ue substituir", no futuro, as formas de governo do vel0o mundo.

A partir das uest+es colocadas até então, podemos %nali&ar essa discussão relacionando

democracia representativa burguesa, voto nulo e transformação social. 7omo colocamosanteriormente, a democracia representativa burguesa surge com a burguesia, logo, éexpressão dos interesses da pr2pria burguesia. O voto nulo é uma alternativa criada pelasclasses exploradas para deslegitimar o poder estatal, sendo por um lado uma forma de

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manutenção e ao mesmo tempo de sua negação. A manutenção ocorre uando aueleue foi votar errou no momento de votar, neste caso o voto é anulado, ou ue votou nuloapenas por ter problemas pessoais com determinado candidato ou partido pol#tico. /estescasos, o eleitor não almeja conscientemente uma transformação social no sentido decolocar %m 5 democracia burguesa, nem mesmo almeja o %m do estado e dos partidospol#ticos. 8anto é ue alguns votam nulo em uma eleição e votam em determinado partidoem outra.

O voto nulo passa a ser uma negação da democracia burguesa uando este é relacionadoa uma proposta pol#tica de negação da pr2pria democracia burguesa. /este caso, oindiv#duo utili&a os meios estabelecidos de participação na sociedade, o processo eleitoral,para demonstrar o seu descontentamento com este processo. 7om isso acabaconstrangendo determinadas pessoas a con0ecerem o projeto pol#tico de transformaçãosocial das classes exploradas, e assim, abrindo a possibilidade de engrossar as %leiras depessoas descontentes ue conscientemente buscam por uma nova sociedade,fortalecendo, desta forma, a luta por uma mudança radical na sociedade junto 5 classeoper"ria.

n%m, democracia representativa burguesa e transformação social se locali&am emsentidos opostos. A democracia representativa burguesa representa um instrumento do

estado para a manutenção na sociedade capitalista, dos interesses burgueses, enuanto atransformação social almejada pela classe trabal0adora representa o %m do capitalismo eo in#cio de uma nova sociedade, a sociedade autogerida, pautada pela autogestão social.@uando se vota em algum partido pol#tico reali&a-se a concordKncia com a manutenção daluta de classes, da exploração ue a burguesia exerce sobre a classe trabal0adora e detodo descontentamento proveniente da#. G" o voto nulo vai em direção oposta, objetivandoa transformação social, o %m da luta de classes, a libertação 0umana de todos os seusgril0+es, o %m da democracia burguesa representativa.

Hevista nfrentamento ! no >;, Gan.Gul. J>9>

Voto Obrigat2rio e a 1itadura da Baioria

et?lio Vargas Q o déspota ue se disse pai dos pobres, se transvestiu de democrata e sematou pretendendo ser 0er2i Q, permanece o principal fantasma a 0abitar a pol#ticabrasileira. Bas com o %m da ditadura militar ele gan0ou uma nova compan0ia, a do votoobrigat2rio.1e disfarce 5 tirania o voto obrigat2rio passou a ser sinnimo de garantias democr"ticas epor isso defendido pela maioria dos parlamentares. &as o voto obrigatório mais doque parte do 'ufrágio universal. le é uma forma de aprisionar a liberdade do sujeitodirigido cada ve& mais pelo espet"culo medi"tico ue a televisão proporciona diariamente

em nossas casas através de uma lei ue obriga a transmissão de programas eleitorais. Noutra medida obrigat2ria do nosso regime democr"tico em nome da educação pol#tica masue funciona apenas para as 8Vs abertas poupando os assinantes de 8V a cabo. la édestinada ao cidadão mediano, com escassos recursos materiais e prisioneiro preferencialdas tele realidades criadas diariamente para entret'-lo.

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A democracia, não s2 no Rrasil, transformou-se em ritual eleitoral eletrnico ue funcionaassociando educação pol#tica a eleição. @uando muito instrui as pessoas a formaremgrupos ue aceitem a participação dentro do esuema das reivindicaç+es seletivasorgani&adas pelos governos.

Soje em dia elas são orientadas pelo princ#pio das sondagens eletrnicas ue pretendemgarantir a continuidade dos partidos ou das alianças pol#ticas. As pessoas permanecemeducadas para acreditar nos governos e a democracia se transformou num regimemidi"tico, de respostas imediatas, ue priori&a as press+es ue possam ser transformadasem apoio pol#tico.7om a mediati&ação da pol#tica, daui para frente, seja com a continuidade do votoobrigat2rio ou com o regresso do voto facultativo, os governantes esperam irris2riasalteraç+es signi%cativas, mantendo sua e%ciente educação ue faz (ovens e adultoscreditarem que votam livremente, mesmo quando coagidos.

Soje em dia não se admite a sublevação contra a opinião p?blica. 6sto seria consideradoum crimeT stamos no tempo da ditadura da opinião p?blica organi&ada pelas m#dias. 3m

tempo em ue os tiranos se apresentam como democratas juramentados como sempreem nome do povo, dos miser"veis, dos pobres, dos carentes, oprimidos ou exclu#dos. /ão0" mais o perigo da ditadura da opinião p?blica, da ditadura da maioria$ 0oje ela égoverno. voc', por ue vai votarU