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 Rev Neurocienc 201 3;21(1):126-135      r      e      v        i      s        ã      o 12 6 RESUMO  A ataxia espinocerebelar (AEC) é uma patologia caracterizada pelo cit na execução de movimentos coordenados com progressiva os- cilação postural associada à diculdade de manutenção do equilíbrio e diversas outras alterações motoras. A marcha pode car atáxica, com ampliação da base de sustentação, instabilidade, passos irregulares e mais lentos, lateropulsão e tremor na amplitude de movimento, sen- do o tratamento sioterapêutico uma importante alternativa para a melhora das disfunções decorrentes desta patologia. Objetivo.  Reali- zar, com base na literatura cientíca, uma revisão sobre as estratégias sioterapêuticas no tratamento da ataxia espinocerebelar. Método.  Pesquisaram-se as bases de dados Medline e SciELO de 2001 a 2011, considerando os unitermos: ataxia espinocerebelar, Fisioterapia, tra- tamento, reabilitação e seus correlatos em inglês. Resultados.  Foram encontrados 33 estudos que tivessem como tema principal a ataxia, sendo excluídos 20 artigos, pois estes não relatavam a abordagem - sioterapêutica para este tipo de patologia. Após análise, 13 referências foram utilizadas. Conclusões.  Após a realização deste estudo, destaca- -se a importância da Fisioterapia no tratamento dos portadores de  AEC, em função dos benefícios promovidos, visto que nos estudos encontrados os indivíduos apresentaram melhora dos sintomas decor- rentes desta patologia. Limitações metodológicas observadas sugerem a necessidade de maior rigor em futuras pesquisas. Unitermos.  Ataxia, Fisioterapia, Reabilitação, Exercício. Citação.  Artigas NR, Ayres JS, Noll J, Peralles SRN, Borges MK, Brito CIB. Atendimento Fisioterapêutico para Indivíduos com Ataxia Espinocerebelar: Uma Revisão da Literatura.  ABSTRACT Te spinocerebellar ataxia (SCA) is a disorder characterized by decits in the execution of coordinated movements with progressive postural sway associated with diculty in maintaining balance and various other motor disorders. Te gait may be ataxic, with broadening the base of support, instability, irregular steps and slow, lateropulsion and trembling in range of motion, so that physical therapy is an important alternative for the improvement of the disorders of this pathology. Objective.  Make, based on scientic literature, a review of physical therapy strategies in the treatment of spinocerebellar ataxia. Method.  Te study researches the databases Medline and SciELO from 2001 to 2011, considering the following keywords: ataxia espinocerebelar, Fisioterapia, tratamento, reabilitação and its correlates in English. Results.  We found 33 studies that had as its main theme ataxia, 20 articles were excluded because they did not report the physical therapy approach for this type of pathology. After review, 13 references were used. Conclusions.  After this study, the importance of physical ther- apy in the treatment of patients with SCA becomes obvious, accord- ing to the benets promoted, as all studies found an improvement of symptoms of this pathology. Methodological limitations observed suggest the need for greater rigor in future research. Keywords.  Ataxia, Physical Terapy, Rehabilitation, Exercise. Citation.  Artigas NR, Ayres JS, Noll J, Peralles SRN, Borges MK, Brito CIB. Physical Terapy reatment For People With Spinocer- ebellar Ataxia: A Literature Review.  Atendimento Fisioterapêutico para  Indivíduos com Ataxia Espinocerebelar: Uma Revisão da Literatura Physical Terapy reatment For People With Spinocerebellar Ataxia: A Literature Review Nathalie Ribeiro Artigas  1 , Juliana Silveira Ayres 1 , Jonata Noll   2 , Simone Rizzo Nique Peralles   3 , Marcelo Krás Borges  4 , Carla Itatiana Bastos de Brito 5 Endereço para correspondência: Carla Itatiana Bastos de Brito  Av. Diário de Notícias, 16 25/1103, Bairro Cristal CEP 90810-080, Porto Alegre-RS, Brasil. E-mail: carla.brito@metodis tadosul.edu.br Revisão Recebido em: 09/03/12  Aceito em: 12/11/12 Conito de interesses: não Estudo realizado no Centro Universitário Metodista, do IPA, Porto Alegre- -RS, Brasil. 1.Fisioterapeuta, Graduada em Fisioterapia pelo Centro Universitário Meto- dista, do IPA, Porto Alegre-RS, Brasil. 2.Fisioterapeuta, Graduado em Fisioterapia pelo Centro Universitário Meto- dista, do IPA, Porto Alegre-RS, Brasil. 3.Fisioterapeuta, Mestre em Ciências Médicas: Pediatria (UFRGS), Docente do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Metodista, do IPA, Porto  Alegre-RS, Brasil. 4.Fisioterap euta, Mestre em Ciências do Movimento Humano (UFRGS), Do- cente do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Metodista, do IPA, Porto Alegre-RS, Brasil. 5.Fisioterap euta, Mestre em Educação (PUCRS), Docente do Curso de Fisio- terapia do Centro Universitário Metodista, do IPA, Porto Alegre-RS, Brasil. doi: 10.4181/RNC.2013.21.777.10p

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  • Rev Neurocienc 2013;21(1):126-135

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    RESUMO

    A ataxia espinocerebelar (AEC) uma patologia caracterizada pelo dficit na execuo de movimentos coordenados com progressiva os-cilao postural associada dificuldade de manuteno do equilbrio e diversas outras alteraes motoras. A marcha pode ficar atxica, com ampliao da base de sustentao, instabilidade, passos irregulares e mais lentos, lateropulso e tremor na amplitude de movimento, sen-do o tratamento fisioteraputico uma importante alternativa para a melhora das disfunes decorrentes desta patologia. Objetivo. Reali-zar, com base na literatura cientfica, uma reviso sobre as estratgias fisioteraputicas no tratamento da ataxia espinocerebelar. Mtodo. Pesquisaram-se as bases de dados Medline e SciELO de 2001 a 2011, considerando os unitermos: ataxia espinocerebelar, Fisioterapia, tra-tamento, reabilitao e seus correlatos em ingls. Resultados. Foram encontrados 33 estudos que tivessem como tema principal a ataxia, sendo excludos 20 artigos, pois estes no relatavam a abordagem fi-sioteraputica para este tipo de patologia. Aps anlise, 13 referncias foram utilizadas. Concluses. Aps a realizao deste estudo, destaca--se a importncia da Fisioterapia no tratamento dos portadores de AEC, em funo dos benefcios promovidos, visto que nos estudos encontrados os indivduos apresentaram melhora dos sintomas decor-rentes desta patologia. Limitaes metodolgicas observadas sugerem a necessidade de maior rigor em futuras pesquisas.

    Unitermos. Ataxia, Fisioterapia, Reabilitao, Exerccio.

    Citao. Artigas NR, Ayres JS, Noll J, Peralles SRN, Borges MK, Brito CIB. Atendimento Fisioteraputico para Indivduos com Ataxia Espinocerebelar: Uma Reviso da Literatura.

    ABSTRACT

    The spinocerebellar ataxia (SCA) is a disorder characterized by deficits in the execution of coordinated movements with progressive postural sway associated with difficulty in maintaining balance and various other motor disorders. The gait may be ataxic, with broadening the base of support, instability, irregular steps and slow, lateropulsion and trembling in range of motion, so that physical therapy is an important alternative for the improvement of the disorders of this pathology. Objective. Make, based on scientific literature, a review of physical therapy strategies in the treatment of spinocerebellar ataxia. Method. The study researches the databases Medline and SciELO from 2001 to 2011, considering the following keywords: ataxia espinocerebelar, Fisioterapia, tratamento, reabilitao and its correlates in English. Results. We found 33 studies that had as its main theme ataxia, 20 articles were excluded because they did not report the physical therapy approach for this type of pathology. After review, 13 references were used. Conclusions. After this study, the importance of physical ther-apy in the treatment of patients with SCA becomes obvious, accord-ing to the benefits promoted, as all studies found an improvement of symptoms of this pathology. Methodological limitations observed suggest the need for greater rigor in future research.

    Keywords. Ataxia, Physical Therapy, Rehabilitation, Exercise.

    Citation. Artigas NR, Ayres JS, Noll J, Peralles SRN, Borges MK, Brito CIB. Physical Therapy Treatment For People With Spinocer-ebellar Ataxia: A Literature Review.

    Atendimento Fisioteraputico para Indivduos com Ataxia Espinocerebelar:

    Uma Reviso da LiteraturaPhysical Therapy Treatment For People With Spinocerebellar Ataxia: A Literature Review

    Nathalie Ribeiro Artigas1, Juliana Silveira Ayres1, Jonata Noll2, Simone Rizzo Nique Peralles3, Marcelo Krs Borges4, Carla Itatiana Bastos de Brito5

    Endereo para correspondncia:Carla Itatiana Bastos de Brito

    Av. Dirio de Notcias, 1625/1103, Bairro CristalCEP 90810-080, Porto Alegre-RS, Brasil.

    E-mail: [email protected]

    RevisoRecebido em: 09/03/12

    Aceito em: 12/11/12Conflito de interesses: no

    Estudo realizado no Centro Universitrio Metodista, do IPA, Porto Alegre--RS, Brasil.1.Fisioterapeuta, Graduada em Fisioterapia pelo Centro Universitrio Meto-dista, do IPA, Porto Alegre-RS, Brasil. 2.Fisioterapeuta, Graduado em Fisioterapia pelo Centro Universitrio Meto-dista, do IPA, Porto Alegre-RS, Brasil.3.Fisioterapeuta, Mestre em Cincias Mdicas: Pediatria (UFRGS), Docente do Curso de Fisioterapia do Centro Universitrio Metodista, do IPA, Porto Alegre-RS, Brasil.4.Fisioterapeuta, Mestre em Cincias do Movimento Humano (UFRGS), Do-cente do Curso de Fisioterapia do Centro Universitrio Metodista, do IPA, Porto Alegre-RS, Brasil.5.Fisioterapeuta, Mestre em Educao (PUCRS), Docente do Curso de Fisio-terapia do Centro Universitrio Metodista, do IPA, Porto Alegre-RS, Brasil.

    doi: 10.4181/RNC.2013.21.777.10p

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    INTRODUOO cerebelo uma estrutura do SNC localizada no

    encfalo e apresenta grande importncia, pois recebe in-formaes da medula espinhal, que lhe fornece feedback sobre os movimentos e, do crtex cerebral, que informa sobre o planejamento dos movimentos, alm de transferir os resultados para o tronco cerebral1,2.

    As principais funes do cerebelo envolvem coor-denao da atividade motora, equilbrio e tnus muscu-lar, sendo responsvel por ajustar as respostas motoras por meio de uma comparao do resultado pretendido com os sinais sensoriais; outra funo atualizar os coman-dos de movimentos, caso desviem do trajeto pretendido. Alm disso, modula a fora e a amplitude dos movimen-tos e est envolvido na aprendizagem motora3. Doenas e distrbios cerebelares produzem deficincias na veloci-dade, amplitude e fora do movimento. Dessa forma, a disfuno dessa estrutura do encfalo pode resultar em falta de coordenao das atividades motoras4,5.

    As ataxias espinocerebelares (AEC) so ataxias he-reditrias autossmicas dominantes, que constituem um grupo heterogneo que tipicamente possuem incio tar-dio, carter progressivo e muitas vezes fatal6,7. Global-mente, as AEC so consideradas doenas raras com esti-mativas de prevalncia variando de 0,3 a 2,0 por 100.000 habitantes8.

    As AEC so patologias caracterizadas pelo dficit na execuo de movimentos coordenados com progressiva oscilao postural associada oftalmoplegia, disartria, dis-fagia, sinais piramidais e extrapiramidais e, mais eviden-temente, alteraes na velocidade, amplitude e fora dos movimentos, dismetria, disdiadococinesia, dissinergia, tremor de ao, alteraes no tnus muscular, hiperrefle-xia ou arreflexia e dificuldade de manter o equilbrio9,10. A marcha pode ficar atxica, com ampliao da base de sustentao, instabilidade, passos irregulares e mais len-tos, lateropulso e tremor na amplitude de movimento11.

    A marcha cerebelar tem sido descrita como mar-cha do brio porque os indivduos com este transtor-no tendem a tropear semelhantes a uma pessoa que est intoxicada. Comumente a perna do lado mais afetado elevada excessivamente durante a fase de balano por fle-xo excessiva do quadril e joelho, e depois desce abrup-tamente e com fora incontrolvel. A trajetria de andar,

    muitas vezes, se desvia de forma irregular e pacientes tm dificuldade em parar, especialmente se for realizada rapi-damente12.

    Geneticamente, as AEC podem ser divididas em autossmica recessiva, dominante e casos isolados. Com os avanos recentes na rea, pode-se utilizar uma subclas-sificao em trs grupos distintos, baseados no principal mecanismo patognico. O primeiro grupo de doenas da poliglutamina (como as AEC tipos 1, 2, 3, 7, 17), que resultam da ao de protenas (ataxinas) com tratos txicos de poliglutamina. O segundo grupo repre-sentado pelas canalopatias (incluindo as AEC tipos 6 e episdicas tipo 1 e 2, por exemplo), que resultam da dis-funo de canais de potssio e clcio. O ltimo grupo representado pelos transtornos de expresso de genes (AEC tipos 8, 10 e 12), que resultam de expanses repe-tidas localizadas fora das regies de codificao, mas que podem alterar a expresso gnica. As AEC tipos 4, 5, 9, 11, 13-16, 18,19, 21, 23, 24 e 25 so ainda consideradas de etiologia idioptica9,13.

    As ataxias degenerativas levam instabilidade e desequilbrio progressivo na marcha, com elevado ris-co de quedas e implicaes nas atividades de vida diria (AVDs) dos portadores9.

    Devido escassez de tratamentos farmacolgicos disponveis para estes comprometimentos motores, o tra-tamento fisioteraputico tem se mostrado uma alternati-va importante para a melhora das disfunes atxicas14. Autores demonstram que atravs de uma abordagem da fisioterapia neurofuncional, na qual se pode realizar exer-ccios de reforo muscular, equilbrio, coordenao e trei-no de marcha, possvel oferecer uma maior independn-cia aos indivduos com AEC, mantendo ou melhorando sua capacidade de realizar as AVDs, a marcha, o equil-brio e a fora muscular; fatores que consequentemente auxiliam em uma melhora da qualidade de vida destes indivduos15,16.

    Estudos de interveno atravs de reabilitao dos indivduos com ataxia so de difcil realizao, pois a me-lhora funcional que poder ser causada pelo tratamento fisioteraputico pode ser mascarada pelo declnio natural associado progresso da doena, fato que torna escasso o nmero de relatos na literatura da eficcia deste tipo de tratamento para esta populao especificamente17.

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    Portanto, este estudo tem como objetivo realizar, com base na literatura cientfica, uma reviso sobre as estratgias fisioteraputicas utilizadas no tratamento da ataxia espinocerebelar.

    MTODOA busca por estudos ocorreu entre os meses de no-

    vembro e dezembro de 2011, sendo realizada por dois pesquisadores independentes, atravs de pesquisa nas ba-ses eletrnicas Medline e SciELO. Foram inclusos estu-dos publicados no perodo de 2001 a 2011, sem restrio de idioma, identificados atravs das palavras-chave: ataxia espinocerebelar, fisioterapia, tratamento, reabilitao e seus correlatos em ingls.

    Os artigos foram selecionados a partir da leitura do abstract, sendo excludos aqueles que no consideraram em sua metodologia algum tipo de proposta de atendi-mento fisioteraputico para indivduos com ataxia espi-nocerebelar, no sendo critrio de incluso a qualidade metodolgica dos estudos encontrados.

    RESULTADOSForam identificados 33 estudos que tivessem como

    tema principal a ataxia, sendo excludos 20 artigos, pois estes no relatavam a abordagem fisioteraputica para este tipo de patologia. Resultaram um total de 13 arti-gos, sendo 4 revises da literatura13,18,19,20, 5 estudos de caso9,15,21,22,23 e 4 ensaios clnicos11,14,24,25. Os tipos de es-tudo, procedimentos realizados e principais resultados apresentados naqueles que envolviam mtodos de aten-dimento fisioteraputico esto apresentados na Tabela 1.

    Nesta reviso no se utilizou escala especfica para avaliao da qualidade metodolgica dos estudos en-contrados, porm dos 13 estudos revisados, a maioria apresentou boa qualidade metodolgica, utilizando ins-trumentos de avaliao reconhecidos e validados inter-nacionalmente, alm de incluir informaes detalhadas a respeito do tipo de interveno realizada. No entanto, o nmero de indivduos com ataxia cerebelar participantes dos ensaios clnicos e relatos de caso pequeno, tornando os resultados dados de pouca confiabilidade.

    DISCUSSOO conhecimento da fisiopatologia das ataxias es-

    pinocerebelares e sua repercusso no controle motor so essenciais para que se torne possvel avaliar e tratar esses pacientes. Este conhecimento permite que o fisioterapeu-ta elabore um diagnstico inicial com relao aos dficits funcionais e comprometimentos subjacentes que, fre-quentemente, so apresentados pelos portadores de ataxia espinocerebelar26.

    Tendo em vista os avanos cientficos na rea da sade, o desenvolvimento de pesquisas na Fisioterapia e aplicao na prtica profissional dos resultados encon-trados na literatura fundamental para permitir a cons-truo de novos conhecimentos. A reviso da literatura propicia a melhoria da assistncia prestada ao paciente, pois atravs do embasamento em conhecimento e com-provao cientfica, torna-se possvel a busca de solues para os problemas vivenciados no cotidiano dos pacien-tes27. A prtica fisioteraputica baseada em evidncias est ganhando cada vez mais adeptos, tornando-se rotina do fisioterapeuta fundamentar suas intervenes em pesqui-sas anteriores ou artigos de reviso28.

    Devido aos principais sintomas motores apresenta-dos pela ataxia espinocerebelar, tais como marcha atxica, dficit de equilbrio, dismetria, reflexos osteotendinosos diminudos ou abolidos e movimentos lentos, torna-se importante o papel da Fisioterapia na adoo de progra-mas de reabilitao baseados em exerccios fsicos que contribuam para retardar a perda das funes do paciente atravs da melhora do equilbrio, da coordenao, entre outras16.

    A maioria dos estudos localizados por meio desta pesquisa so estudos de caso9,15,21,22,23, sendo que nestes esto descritas as evolues de pacientes aps tratamen-to fisioteraputico. Todos estes estudos possuam como foco principal a melhora do equilbrio e da marcha dos pacientes estudados, sendo estes objetivos atingidos com sucesso. Porm, estes estudos no possuem evidncia sig-nificativa pelo fato de ser analisada a evoluo de apenas um indivduo, e no de um grupo de indivduos com a mesma patologia.

    A durao das sesses nos estudos encontrados va-riou de 30 a 60 minutos. O estudo que apresentou maior tempo de durao das sesses24 realizou uma hora de Fisioterapia com os pacientes do grupo de interveno. Alm disso, este estudo mostra uma abordagem multi-

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    soTabela 1

    Descrio dos estudos encontrados, delineamento do estudo e nmero de participantes, procedimentos realizados, durao, frequncia e principais resul-tados de cada estudo

    Autor / Ano

    Tipo deestudo (n)

    Procedimentos Durao (semanas/meses/sesses)

    Frequncia (vezes por semana)

    PrincipaisResultados

    Avaliao Treinamento

    Ilg et al., 200911

    Ensaioclnico (n = 16)

    Quatro avaliaes foram realiza-das: oito semanas antes, imedia-tamente antes, imediatamente aps, e oito semanas aps o trei-namento fisioteraputico.Utilizaram na avaliao clnica: Scale for the Assessment and Ra-ting of Ataxia (SARA), Interna-tional Cooperative Ataxia Rating Scale (ICARS), Berg Balance Score (BBS) e Goal Attainment Score (GAS). O desempenho motor foi avaliado por uma an-lise quantitativa utilizando um sistema de captura de movimen-to VICON 612 com 8 cmeras. Avaliaram a marcha (velocidade, comprimento do passo, largura do passo e as oscilaes laterais do corpo), o equilbrio esttico (atravs da medio do movi-mento do centro de gravidade, permanecendo em ortostase du-rante 30 segundos com os olhos abertos, ps juntos e os braos na frente do corpo) e o dinmi-co (permanecendo em posio vertical com os dois membros inferiores em uma esteira)durante as tarefas.

    Fisioterapia focada no contro-le do equilbrio e coordenao motora.A interveno tambm trei-nou a capacidade dos pacien-tes para selecionar e utilizar de informaes visuais, so-matossensoriais e vestibulares para reagir a situaes impre-vistas e para evitar quedas. Os exerccios incluram as seguintes categorias: 1) equi-lbrio esttico, por exemplo, apoio unipodal; 2) equilbrio dinmico, por exemplo, su-bir escadas; 3) movimentos do corpo inteiro para treinar a coordenao tronco-mem-bro; 4) passos para prevenir quedas e estratgias de queda; 5) movimentos para tratar ou prevenir contratura.

    Quatro semanas.Aps o perodo de interveno de qua-tro semanas, todos os pacientes recebe-ram uma programa-o de treinamento individual por es-crito. Eles foram solicitados a realizar os exerccios por si s em casa durante uma hora por dia.

    Trs sesses de uma hora por se-mana.

    Melhoras significati-vas no desempenho motor e reduo dos sintomas foram ob-servadas nos escores clnicos depois do treino e se manti-veram na avaliao ps oito semanas de tratamento.O estudo fornece evidncia classe III de que o treinamen-to de coordenao motora melhora o desempenho e reduz sintomas de ataxia em pacientes com ataxia cerebelar pro-gressiva.

    Cernak et al., 200721

    Relatode caso(n = 1)

    Avaliaram a mobilidade atra-vs de duas medidas: Pediatric Functional Independence Mea-sure (WeeFIM), especificamente as sub-escalas de transferncias e de locomoo; e Gillette Func-tional Walking Scale.

    Treino de marcha utilizando sustentao do peso corporal em esteira (BWST) em um sistema LiteGait (modelo LGI 500) e treino de marcha em ambiente externo. Apresenta um apndice com o programa de exerccios domiciliares rea-lizados para equilbrio, mobi-lidade e fora muscular.

    Quatro semanas na clnica e foi mantido por mais cinco dias por semana duran-te quatro meses em casa.

    Cinco sesses de uma hora por se-mana.

    O treinamento lo-comotor utilizando BWST uma inter-veno promissora para melhorar a marcha em pacientes com ataxia cerebelar grave.

    Arajo et al., 201015

    Relato de caso (n = 1)

    Foi realizada avaliao neuro-funcional e aplicao do ndice de Barthel (mede o grau de as-sistncia exigido ao indivduo em dez itens sobre mobilidade e cuidados pessoais) e das escalas de Tinetti (duas escalas, sendo que a primeira possui nove itens que avaliam o equilbrio e a se-gunda possui sete que avaliam a marcha), por meio de uma entrevista e da experimentao das mesmas. A cada oito atendi-mentos, foram aplicadas as esca-las, com a finalidade de avaliar a progresso do tratamento.

    Foram realizados alongamen-tos estticos para todas as cadeias musculares anterior e posterior dos MMSS, MMII e tronco; reforo muscular dos MMSS, MMII, abdomi-nais, paravertebrais e glteos; dissociao de cinturas; FNP; propriocepo; treino de equilbrio, das reaes de en-direitamento e das transfern-cias facilitados pelo mtodo Bobath e treino de marcha. Utilizaram: bolas suas, the-rabands, bastes, caneleiras de 1, 2 e 3kg, cones, cama elstica, rampa e escada.

    Seis meses. Trs vezes por se-mana com dura-o de uma hora.

    Houve melhora na independncia fun-cional, na marcha e no equilbrio, redu-zindo a frequncia de quedas e melho-rando a qualidade de vida do portador de ataxia.

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    Autor / Ano

    Tipo deestudo (n)

    Procedimentos Durao (semanas/meses/sesses)

    Frequncia (vezes por semana)

    PrincipaisResultados

    Avaliao Treinamento

    Galvo et al., 201022

    Relato de caso (n = 1)

    Foram utilizados: Escala de Equilbrio de Berg; avaliao de coordenao motora atravs dos testes de index-index, ndex--nariz, teste do copo dgua, diadococinesia e calcanhar-joe-lho avaliando de forma qualita-tiva considerando velocidade, segurana e harmonia; registro postural por recurso fotogrfico com mquina digital e avaliao baro-podomtrica para mensu-rao do equilbrio esttico foi realizado com aparelho de baro-podometria e um computador por profissional especializado.

    Foi realizada equoterapia ao ar livre, com o cavalo andan-do a passo, em solo de areia. O cavalo era guiado em sua trajetria pela fisioterapeuta (especialista em equoterapia) e por mais duas pessoas como guias laterais. No tratamento foram focados exerccios de rotao do tronco com o pa-ciente tocando a anca do ca-valo, intercalando os MMSS; exerccios com o paciente equilibrando-se com uma das mos sob o cavalo e com a ou-tra segurando na sela; progre-dindo a atividade sem auxlio das mos. Foram realizados tambm atividades como a escovao e alimentao para a melhora da coordenao motora.

    Tratamento com equoterapia realizado em cinco semanas.

    Duas vezes por semana, totali-zando dez sesses com durao de trinta minutos cada.

    Verificou-se me-lhora no equilbrio confirmado atravs dos resultados ob-tidos na Escala de Equilbrio de Berg, melhora nos resulta-dos dos testes de co-ordenao motora, um melhor alinha-mento postural, leve mudana no centro de gravidade do pa-ciente, o que pode indicar a melhora do equilbrio esttico.Alm disso, a pr-tica da equoterapia atua tanto na mente como no corpo do praticante, levando--o a uma conscien-tizao corporal, aperfeioamento da coordenao moto-ra, da ateno, da autoconfiana e au-toestima.

    Oliveira et al., 201123

    Relato de caso(n = 1)

    Inicialmente e ao trmino do es-tudo houve uma avaliao cega, atravs da Escala de Equilbrio Funcional de Berg e a Medida de Independncia Funcional (MIF). Os instrumentos utiliza-dos foram: fita mtrica, cron-metro, banco medindo 52 cm de altura e 62 cm de compri-mento e uma cadeira sem apoio de braos.A aferio da presso arterial era realizada antes e aps as sesses.

    O protocolo proposto foi um treino de marcha realizado atravs de duas pistas pro-prioceptivas com e sem barra, com diferentes tipos de pisos e obstculos. O paciente foi orientado atravs de coman-dos verbais e visuais com a utilizao de bola colorida e a voz da fisioterapeuta ao olhar para frente, para trs, ora para direita, ora para es-querda e ponto fixo. Houve adaptao nas pistas, correo da marcha e uso de circuito.

    Seis semanas. Duas vezes por semana, com du-rao de 30 mi-nutos por sesso.

    Ao trmino do tra-tamento, obteve-se melhora do equil-brio, da atividade de vida diria e corre-o da marcha.

    Dias et al., 200925

    Ensaio clnicorandomizado (n = 21)

    Foram avaliados antes (primei-ra avaliao), depois do trata-mento (segunda) e aps 30 dias (terceira), atravs das escalas de Equilbrio de Berg, Dynamic Gait Index, Equiscale, Interna-tional Cooperative Ataxia Rating Scale e Medida de Independn-cia Funcional.

    Os pacientes foram divididos em dois grupos, sendo que no grupo tratamento receberam atendimento fisioteraputico protocolado com adio de uma caneleira de 0,5kg em cada membro inferior e no grupo controle foi realizado tratamento fisioteraputico convencional sem peso.

    Vinte sesses de Fi-sioterapia de trinta minutos cada foram realizadas e os pa-cientes foram reava-liados aps 30 dias.

    Informao no encontrada no artigo.

    A adio de peso na regio distal dos membros inferiores melhorou o equil-brio esttico, ante-cipatrio e reativo, a coordenao da marcha nos porta-dores de ataxia ao longo do tempo, as-sim como o tremor e a independncia funcional.

    Tabela 1(Continuao)

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    Autor / Ano

    Tipo deestudo (n)

    Procedimentos Durao (semanas/meses/sesses)

    Frequncia (vezes por semana)

    PrincipaisResultados

    Avaliao Treinamento

    Oliveira e Freitas, 20069

    Relato de caso(n = 1)

    Foi aplicada a escala de avaliao funcional e ndice de Barthel (IB), a fim de obter dados refe-rentes realizao das atividades de vida diria e a escala de equi-lbrio de Berg, no qual se ava-liam 14 tarefas. As escalas foram utilizadas antes do treinamento e aps 48 sesses.

    Treino funcional direcionado tarefa, recorrendo a simula-es das atividades realizadas no dia-a-dia, treino de equi-lbrio esttico e dinmico, treinamento de transferncia de posies, treino de mar-cha em diversos ambientes (utilizando pisos regulares, irregulares, rampas, escadas, obstculos, zig-zag, circuitos), treinamento do alcance e mo-vimentos finos.

    48 sesses. Trs vezes por semana, com durao de 50 minutos cada.

    Houve aprendizado motor para as ati-vidades treinadas, melhorando a inde-pendncia funcional do indivduo, re-sultando em maior equilbrio para rea-lizar as atividades de vida diria.

    DAbreu et al., 201018

    Reviso da literatura

    O estudo realizou uma reviso sobre a doena, manifestaes clnicas e abordagens teraputi-cas para indivduos com ataxia de Machado-Joseph.

    No se aplica ao tipo de estudo.

    No se aplica ao tipo de estudo.

    No se aplica ao tipo de estudo.

    Os autores con-cluem que todos pacientes devem participar de um programa de exerc-cios para melhora da funo, qualidade de vida, fora muscular, equilbrio e marcha.

    Miyai et al., 201124

    Ensaio clnicorandomizado (n = 42)

    Utilizaram: Scale for the As-sessment and Rating of Ataxia (SARA), Functional Independen-ce Measure (FIM), velocidade da marcha, cadncia, Functional Ambulation Category (FAC) e nmero de quedas.

    Reabilitao intensiva nos sintomas da ataxia, na marcha e nas atividades de vida diria de pacientes com doena cere-belar degenerativa, divididos em grupo controle e grupo interveno, sendo realizado um programa de reabilitao. O tratamento enfatizou a melhora da postura, do equi-lbrio e da marcha. O progra-ma incluiu condicionamento geral; exerccio de amplitude de movimento para o tronco e membros; fortalecimento muscular; exerccio para equi-lbrio esttico e dinmico em ortostase, ajoelhado, sentado e em quatro apoios; mobi-lizao da coluna vertebral, em prono e supino; andar em ambientes internos e externos e subir e descer escadas.

    Quatro semanas. Uma hora de Fi-sioterapia e uma hora de Terapia Ocupacional dia-riamente (7 vezes por semana).

    O tratamento apre-sentou benefcios tanto a curto quanto em longo prazo para a maioria dos pa-cientes com doena cerebelar degenera-tiva.

    Rb et al., 200713

    Reviso da literatura

    Realizou-se uma reviso da literatura sobre a influncia do sistema somatosensorial central na ataxia espinocerebelar tipo 2 e 3 e sua repercusso nos sinto-mas clnicos e reabilitao.

    No se aplica ao tipo de estudo.

    No se aplica ao tipo de estudo.

    No se aplica ao tipo de estudo.

    A realizao de um tratamento fisioteraputico com nfase nas aferncias somatosensoriais recomendado em pacientes com ataxia espinocerebelar tipo 2 e 3.

    Tabela 1(Continuao)

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    Autor / Ano

    Tipo deestudo (n)

    Procedimentos Durao (semanas/meses/sesses)

    Frequncia (vezes por semana)

    PrincipaisResultados

    Avaliao Treinamento

    Ilg et al., 201014

    Ensaio clnico(n = 14)

    Utilizaram: Scale for the As-sessment and Rating of Ataxia (SARA), Berg Balance Score e Goal Attainment Score (GAS).

    Tratamento intensivo de co-ordenao, para verificar se os pacientes deram continui-dade aos exerccios em casa aps um ano. Os exerccios trabalhavam o equilbrio es-ttico e dinmico, movimen-tos coordenados do tronco e membros, treino de escada e movimentos para prevenir e/ou tratar contraturas.

    Quatro semanas, com um ano de seguimento.

    Trs sesses de uma hora por semana.

    Embora haja uma progresso da doen-a durante o perodo de um ano, a me-lhora na capacidade motora e nas ativida-des dirias persistiu. Portanto, em pa-cientes com doena cerebelar degenerati-va, um treino cont-nuo de coordenao leva a uma melhora longo prazo que pode ser transferida para a melhora da funcionalidade.

    Trujillo--martn et al., 200919

    Reviso sistemtica

    A reviso teve como objetivo determinar a efetividade e se-gurana das alternativas de tra-tamento disponveis para ataxias degenerativas. Na pesquisa, os termos ataxia cerebelar e de-generaes espinocerebelares foram combinados com pala-vras-chave para a reabilitao, psicoterapia e uma gama de fr-macos especficos.

    No se aplica ao tipo de estudo.

    No se aplica ao tipo de estudo.

    No se aplica ao tipo de estudo.

    Encontrou-se ape-nas um estudo refe-rente ao tratamento fisioteraputico para ataxia, sendo este artigo com baixa re-levncia clnica.

    Revueltae Wilmot, 201020

    Reviso da literatura

    O artigo realiza uma reviso sobre os melhores tratamentos para cada um dos principais sin-tomas da ataxia.

    No se aplica ao tipo de estudo.

    No se aplica ao tipo de estudo.

    No se aplica ao tipo de estudo.

    Com relao ao tratamento fisiote-raputico os autores relatam que os pro-fissionais esto aptos para indicar os me-lhores dispositivos de auxlio da mar-cha. Foi encontrado tambm um estudo que foi capaz de de-monstrar a melhora no desempenho mo-tor e na reduo dos sintomas de ataxia, principalmente em pacientes cujas vias aferentes no foram afetadas.

    Tabela 1(Continuao)

    disciplinar, pois tambm realizaram uma hora de trata-mento com Terapia ocupacional diariamente. O acom-panhamento multidisciplinar com Fisioterapia, Terapia ocupacional, Fonoaudiologia, Medicina e Psicologia importante para o portador de ataxia espinocerebelar, tendo em vista que esta uma patologia que acomete di-versas funes29.

    O nmero de intervenes e tempo de acompa-nhamento ps-interveno variou bastante entre os es-tudos encontrados. O estudo que possuiu maior tempo de interveno15 foi realizado com um paciente do sexo masculino, de 27 anos, portador da AEC tipo III (Do-ena de Machado-Joseph). Neste estudo o tratamento fisioteraputico foi realizado durante um perodo de seis

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    meses, sendo o paciente atendido trs vezes por semana, em sesses com durao de uma hora, totalizando 72 atendimentos.

    Com relao ao tempo de acompanhamento ps--interveno, o estudo que possuiu um maior tempo de controle dos pacientes atendidos14 avaliou os efeitos em longo prazo de um tratamento com enfoque na coorde-nao de pacientes com AEC. Este autor acompanhou os pacientes por at um ano ps-tratamento fisioteraputico e constatou que, apesar de haver uma progresso da doen-a durante o perodo de um ano, a melhora da capacidade motora persistiu, o que favoreceu uma melhor funciona-lidade dos pacientes estudados.

    Em relao aos tipos de interveno e exerccios que foram mais utilizados nos artigos revisados, podemos destacar o equilbrio (7 estudos9,11,14,15,21,22,24), o treino de marcha (6 estudos9,15,21,23,24,25), a coordenao motora (3 estudos11,14,22), alongamentos e fortalecimentos muscu-lares (2 estudos15,21) e controle das contraturas muscu-lares (2 estudos11,14). As demais intervenes tais como postura24, transferncias de posies15, FNP (facilitao neuromuscular proprioceptiva15), rotaes de tronco22, dissociao de cinturas15 e treino proprioceptivo15, foram realizadas em apenas um estudo dentre os revisados.

    Como se pode notar existem muitas tcnicas pos-sveis de serem utilizadas para o tratamento fisioterapu-tico destes indivduos, sempre sendo necessrio levar em considerao o estgio da doena e as principais queixas do paciente. Sabe-se que a alterao do equilbrio uma das principais caractersticas da AEC, fato que corrobo-ra com a grande utilizao de atividades para treino de equilbrio nos estudos revisados, sendo que atravs destas atividades possvel a melhora da funcionalidade destes9. Levando em considerao as demais alteraes funcionais decorrentes da AEC os outros tratamentos utilizados nos estudos inclusos nesta reviso, como os exerccios de for-talecimento muscular, coordenao motora e treino de marcha, apresentam uma melhora significativa na funcio-nalidade dos indivduos com AEC16, sendo bem indicada as suas utilizaes nos tratamentos fisioteraputicos destes pacientes9.

    Os estudos encontrados nesta reviso citam que a dificuldade de estudar e desenvolver tratamentos relacio-nados ataxia pode ser devido a fatores como a incidncia

    baixa e a alta variabilidade fenotpica, mesmo dentro de um subtipo de ataxia especfico. Alm disso, a progresso de alguns subtipos de ataxia pode ser bastante lenta, tor-nando a deteco dos efeitos do tratamento difcil20. O conhecimento detalhado da histria natural desses distr-bios, que essencial para o planejamento bem concebido de ensaios clnicos, dependente de escalas bem variadas para medir a progresso clnica da ataxia, que s foram desenvolvidas recentemente. Devido a essas limitaes, a maioria dos estudos que utilizaram ferramentas validadas obteve resultados no reprodutveis20.

    Entre os instrumentos de avaliao utilizados nos estudos revisados, podemos citar a SARA (Escala para Avaliao e Graduao da Ataxia), validada para uma verso brasileira30. Esta escala possui oito itens que for-mam um escore total de 0 (sem ataxia) a 40 (ataxia mais severa). A SARA uma ferramenta til na avaliao da marcha, postura, sentar, distrbios da fala, movimentos alternados, entre outros31. Alm disso, alguns estudos utilizaram a MIF (Medida de Independncia Funcional), que tambm possui uma verso brasileira, buscando veri-ficar o desempenho do indivduo para a realizao de um conjunto de 18 tarefas, referentes s subescalas de auto-cuidados, controle esfincteriano, transferncias, locomo-o, comunicao e cognio social32,33.

    O plano de tratamento fisioteraputico para o por-tador de ataxia espinocerebelar visando o controle motor varia de acordo com o conjunto de comprometimentos apresentados e o grau em que o paciente desenvolveu estratgias compensatrias9. Os objetivos de uma abor-dagem orientada ao treinamento do controle postural e mobilidade devem incluir a preveno de comprometi-mentos, desenvolvendo e adotando estratgias eficazes e especficas tarefa do indivduo, de forma que as ativida-des funcionais possam ser executadas da melhor maneira possvel9. Portanto, importante que o fisioterapeuta ava-lie detalhadamente o paciente, levando em considerao o tipo de ataxia que apresenta e sua funcionalidade, para que ento possa elaborar um atendimento que atenda s particularidades de cada sujeito.

    CONCLUSOAps a realizao desta reviso da literatura, torna-

    -se evidente destacar a importncia da Fisioterapia no

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    tratamento dos portadores de AEC, em funo dos be-nefcios promovidos, visto que em todos os estudos en-contrados houve melhora dos sintomas decorrentes desta patologia, principalmente na independncia funcional, na marcha e no equilbrio dos indivduos participantes, reduzindo a frequncia de quedas e melhorando a quali-dade de vida dos portadores da doena, alm de retardar os danos por ela provocados. Porm, em grande parte dos trabalhos, no h uma descrio detalhada dos exerccios utilizados nas intervenes fisioteraputicas, limitando e dificultando a comparao entre os diferentes estudos.

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