BATISMO LIVRO (1) (1)

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    MÁRCIO AUGUSTO CÉSAR PEREIRA

    O BATISMO INFANTIL: SIGNIFICADO, ORIGEM,PROPÓSITOS e IMPLICAÇÕES

    São Paulo, Abril de 2003.

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    ÍNDICE

    INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 3 

    CONSIDERAÇÕES INICIAIS:.................................................................... 6O que é Batismo? .................. ..................... ...................... ..................... ..................... . 6 

    BATISMO e as CONFISSÕES E CATECISMOS ....................................... .................... 12 

    A FORMA DE BATISMO ........................................................................ 16 Análise de Textos ...................... ..................... ..................... ...................... ......... 22 

    BATISMO INFANTIL e CIRCUNCISÃO ............................ ...................... ..................... .. 26 

    O Ataque Dispensacionalista: .......................................................................... 37 

    BATISMO INFANTIL e a FÉ ..................... ...................... ..................... ..................... ...... 47 

    BATISMO INFANTIL E A RESPONSABILIDADE DOS PAIS ......... ...................... ......... 55 

    BATISMO INFANTIL e SUA EFICÁCIA ...................... ..................... ...................... ......... 74 

    BATISMO INFANTIL E SANTA CEIA ..................... ...................... ..................... ............. 81 

    O BATISMO NA HISTÓRIA ................... ..................... ..................... ...................... ......... 84 

    O BATISMO E A IGREJA PRESBITERIANA .................... ...................... ..................... .. 94 

    CONCLUSÃO ............................................................................................................... 100 

    BIBLIOGRAFIA .................... ..................... ...................... ..................... ..................... .... 102

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    INTRODUÇÃO

    Quando falamos em batismo infantil nos deparamos

    diante de muitas polêmicas e dúvidas. Alguns, como os presbiterianos,defendem o batismo infantil. Outros, como os batistas e pentecostais,

    seguem uma linha diferente, entendendo que uma criança não pode, de

    forma alguma, ser batizada.

    Atualmente há um sério problema nas igrejas, de forma geral. Éque grande número dos defensores do batismo infantil, assim como os

    contrários, não entendem bem o que as Escrituras ensinam sobre o

    assunto. Muitos até batizam seus filhos simplesmente pelo fato desse

    batismo ser uma tradição da Igreja na qual se congrega. Outros também

    são guiados a batizar seus filhos, ou não, devido à pressão de pastorese líderes religiosos. Na verdade, precisamos conhecer o real significado

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    do batismo infantil, meditando sobre suas implicações, e firmando-se

    sobre as Sagradas Escrituras.

    A questão é tão importante que, se o batismo infantil é defendido

    pela Bíblia, os que não batizam seus filhos estão perdendo as bênçãos

    de Deus, afinal estão desobedecendo-o. Assim também se a Bíblia não

    apóia o batismo infantil, os que o praticam também estão em

    desobediência para com a Palavra de Deus.

    É certo que muitos crentes possuem dúvidas com relação ao

    tema em estudo. Dúvidas como: O batismo salva? Qual o significado e

    relevância do batismo infantil? Como uma criança pode crer para ser

    batizada? Qual a relação entre batismo e circuncisão? Porque não há naBíblia uma ordem expressa para o batismo infantil? E etc.

    Essas e outras questões são relevantes e precisamos buscar,

    assim como os crentes de Beréia (At 17.11), a resposta bíblica para

    cada uma delas.

    Com esse estudo não pretendemos lançar críticas aos nossos

    irmãos batistas e de outras denominações. Antes o nosso desejo é o de

    anunciar todo o desígnio de Deus, revelado nas Escrituras. A Bíblia é a

    nossa única regra de fé e de prática, totalmente inspirada por Deus einerrante. Por isso, pedimos ao Espírito Santo, o autor da Bíblia, que nos

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    ilumine a entendermos quais são os deveres e tesouros revelados na

    Palavra de Deus. Por fim, com a iluminação do Espírito Santo,

    estaremos prontos para colocarmos em prática tudo o que é do agradodo nosso Deus, para Sua Honra e Glória (I Co 10.31).

    “Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e

    aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus com

    salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão em vosso coração.

    E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome

    de Jesus, dando por ele graças a Deus Pai”.

    Colossences 3.16-17

    [PRP1] Comentário: I Co 10.31 .

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    CONSIDERAÇÕES INICIAIS:

    O que é Batismo?

    Antes de falarmos sobre batismo infantil, é preciso entender o

    que é o batismo. A palavra batismo provém do grego baptw   cujo

    significado é mergulhar, submergir, imergir, batizar e lavar, segundo as

    suas diversas declinações1. Além disso, a palavra também era usada

    para indicar o ato de fazer perecer com afogamento2 . Na Vulgata (LXX)

    1 COENEN, Lothar & BROWN, Colin, DICIONÁRIO INTERNACIONAL DE TEOLOGIA

    DO NOVO TESTAMENTO, 2ª Ed., São Paulo, Vida Nova, 2000, p.180.2 COENEN, Lothar & BROWN, Colin, DICIONÁRIO INTERNACIONAL DE TEOLOGIA

    DO NOVO TESTAMENTO, p. 180.

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    a palavra traduz o hebraico mergulhar (exemplo de Naamã, II Rs 5.14).

    Berkhof diz que “... é mais que evidente que ambas as palavras,  bapto  e 

     baptizo  

    , tinham outros sentidos, como os de ‘lavar’, ‘banhar-se’ e‘purificar mediante lavamento. A idéia de lavamento ou purificação aos

    poucos se tornou a idéia proeminente...”3.

    Na literatura secular a palavra batismo estava ligada

    a um banho ritual. Outras religiões possuíam seus rituais debanho. Berkhof diz que “o batismo não era uma coisa

    inteiramente nova nos dias de Jesus. Os egípcios, os

    persas e os hindus tinham todas as suas purificações

    religiosas. Estas eram mais proeminentes ainda nas

    religiões gregas e romanas” 4. Apesar de haver essesrituais de purificações praticados pelos gentios, eles não

    possuem muita relação com o batismo cristão.

    A palavra  baptw  aparece quatro vezes no Novo Testamento (Jo

    13.26; Lc 16.24; Ap 19.13), significando mergulhar 5, e muitas vezesaparece no Novo Testamento as suas declinações.

    3 BERKHOF, Louis, TEOLOGIA SITEMÁTICA, Campinas, LPC, 1998, p. 635.

    4

     BERKHOF, Louis, TEOLOGIA SITEMÁTICA, p.627.5 COENEN, Lothar & BROWN, Colin, DICIONÁRIO INTERNACIONAL DE TEOLOGIA

    DO NOVO TESTAMENTO, p.181.

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    O Batismo é um dos sacramentos ordenados por Cristo. A

    Teologia Reformada vê o batismo na idéia de purificação espiritual. “O

    batismo era o mais importante entre os sacramentos, porque era o ritode iniciação à Igreja” 6. Os reformados “... procediam baseados na

    suposição de que o batismo foi instituído para os que crêem, e que não

    gera fé, porém a fortalece”7. Para Calvino, “O batismo representa em

    particular duas coisas: a purificação que obtemos pelo sangue de Cristo,

    e a mortificação de nossa carne que temos obtido por sua morte”8. Alémdisso, Calvino entendia que:

    O batismo serve também à nossa confissão diante dos homens,

    pois é um sinal pelo qual, publicamente, fazemos profissão de

    nosso desejo de formar parte do povo de Deus, para servir e honrar

    a Deus em uma mesma religião com todos os fiéis9.

    Na verdade, o significado do Batismo é Cristocêntrico, pois

    Cristo, fazendo-se homem, tornou possível a participação da

    comunidade dos eleitos em seu corpo. Daí tiramos o significado de que o

    Batismo é símbolo da união com Cristo. Aliás, esta é a definição de

    6 BERKHOF , Louis, SUMARIO DE DOCTRINA CRISTIANA, 2ª Ed., Grand Rapids,

    Michigan, T.E.L.L, 1966,p.222.

    7

     BERKHOF , Louis, SUMARIO DE DOCTRINA CRISTIANA, p.224.8 CALVINO, Juan, BREVE INSTRUCCION CRISTIANA, 4ª Ed., Barcelona, Felire,1996, p.72.9 CALVINO, Juan, BREVE INSTRUCCION CRISTIANA, p.72-73.

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    batismo dada pelo grande Reformador Calvino, nas Institutas. Escreve

    Calvino:

    O Batismo é uma marca de nosso cristianismo e o símbolo pelo qual

    somos recebidos na sociedade da Igreja, para que injetados em

    Cristo, sejamos contados entre os filhos de Deus. Nos tem sido

    dado por Deus, em primeiro lugar, para servir à nossa fé Nele; e em

    segundo lugar, para confissão diante dos homens10. 

    Júlio Andrade, tomando lições da Igreja Escocesa, chama-nos a

    atenção para o importante fato da relação entre Batismo e Encarnação

    de Jesus. Diz ele:

    Cristo tomando sobre si nossa humanidade, tornou possível nossa

    participação em sua humanidade e nossa encorporação em seu

    corpo. Cristo tornando-se homem criou a possibilidade de nos

    tornarmos seus membros. A incorporação na humanidade e na

    encarnação é base de nossa incorporação em seu corpo no

    Batismo11.

    10  CALVINO, Juan, INSTITUICIÓN DE LA RELIGIÓN CRISTIANA, 3ª ed.,  PaísesBajos, FELIRE, 1967, Vol. II, Libro IV, 15, 1, tradução minha.11 FERREIRA, Júlio Andrade, ANTOLOGIA TEOLÓGICA – Apostila II, Campinas,1980, p.362.

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    Concluímos que o batismo é um dos sacramentos, juntamente

    com a Ceia do Senhor. O batismo é um sinal. A pessoa que é batizada

    recebe um símbolo de que pertence ao povo de Deus, o povo do Pacto.Este símbolo implica na manifestação da graça de Deus, e ao mesmo

    tempo implica na responsabilidade do batizado, como bem expressou

    Berkhof:

    O sacramento do batismo fortalece a fé (...) representaprimordialmente um ato da graça de Deus, mas, visto que o cristão

    professante deve submeter-se voluntariamente a ele, este também

    pode ser considerado do lado do homem (...) o batismo significa

    também que o homem aceita a aliança e assume as obrigações

    próprias dela. É um selo, não meramente de uma aliança oferecida,

    mas de uma aliança oferecida e aceita, isto é, decidida12

    .

    Na verdade, o Batismo é um sinal, e como diz Kuiper, “Os

    sacramentos são meios de graça através dos quais Deus o Espírito

    Santo costuma compartir sua graça aos crentes...”13. A tarefa da Igreja é

    conservar a santidade dos sacramentos. “A Igreja que descuida de talresponsabilidade e despreza tal privilégio não poderá continuar sendo

    santa. Pisoteia sua própria glória” 14.

    12 BERKHOF, Louis, TEOLOGIA SITEMÁTICA, p.638.13

      R.B.KUIPER, EL CUERPO GLORIOSO DE CRISTO, Grand Rapids, Michigan,T.E.L.L., 1966, p.190.

    14 R.B.KUIPER, EL CUERPO GLORIOSO DE CRISTO, p.193. 

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    Sendo assim, estamos diante de um assunto muito importante.

    Se a principal função da Igreja é a pregação da Palavra e aadministração dos sacramentos, não podemos negligenciar o que as

    Escrituras nos ensinam sobre Batismo infantil.

    Para estudarmos qualquer doutrina bíblica, não podemos achar

    que há divergências entre o Velho e o Novo Testamento. Ambos formamo todo da Palavra de Deus. Da mesma forma, a Igreja, do Novo

    Testamento, não é a substituta do Israel Vetero-testamentário. Pelo

    contrário, a Igreja é o próprio Israel de Deus. Entretanto, é preciso

    entender que algumas coisas na Igreja são diferentes de Israel, pois em

    Cristo o que era sombra tornou-se luz (Hb 10.1). Por isso, fazemos umcontracanto com o Dr. Augustus Nicodemus:

    Estou persuadido de que a Igreja cristã é a continuação da Igreja do

    Antigo Testamento. Símbolos e rituais mudaram, mas é a mesma

    Igreja, o mesmo povo. O Sábado tornou-se em Domingo, a Páscoa,

    em Ceia, e a circuncisão, em batismo. Os crentes são chamados de

    “filhos de Abraão” (Gl 3.7,29) e a Igreja de “o Israel de Deus” (Gl

    6.16. Não é de se admirar que Paulo chame o batismo de “a

    circuncisão de Cristo)” (Cl 2.11-12)15. 

    15 LOPES, Augustus Nicodemus, BATISMO DE CRIANÇAS: ALGUMASCONSIDERAÇÕES, (EXTRAÍDO DA INTERNET).

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    BATISMO e as CONFISSÕES E CATECISMOS

    O Catecismo de Heidelberg, em resposta à pergunta

    66, declara que os sacramentos são:

    São sinais e selos visíveis e santos. Deus os instituiu para nos fazer

    compreender melhor e para garantir a promessa do evangelho pelo

    uso deles. Essa promessa é que Deus nos dá de graça o perdão

    dos pecados e a vida eterna, por causa do único sacrifício de Cristo

    na cruz16.

    16 CONFISSÃO DE FÉ E CATECISMO DE HEIDELBERG, São Paulo, CEP, 1999, p.

    57-58.

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    A Confissão dos Países Baixos rege que: “Os sacramentos são

    sinais e selos visíveis de coisa interna e invisível, por meio dos quais

    Deus age em nós pela virtude do Espírito Santo”17.

    A Confissão de Fé de Heidelberg declara que o batismo é a

    substituição da circuncisão:

    Cremos e confessamos que Jesus Cristo, o qual é “ofim da lei” (Rm 10.4), derramando seu sangue, acabou

    com qualquer outro derramamento de sangue que se

    possa ou queira realizar para propiciação e satisfação

    dos pecados. Tendo abolido a circuncisão, que se

    praticava com sangue, ele instituiu em lugar dela o

    sacramento do batismo

    18

    .

    A Confissão de Westminster trata a respeito do Batismo

    declarando:

    O batismo é um sacramento do Novo Testamento, instituído por

    Jesus Cristo, não só para solenemente admitir na Igreja visível a

    pessoa batizada, mas também para servir-lhe de sinal e selo do

    pacto da graça, de sua união com Cristo, da regeneração, da

    remissão dos pecados e também da sua consagração a Deus, por

    meio de Jesus Cristo, a fim de andar em novidade de vida. Este

    17 FERREIRA, Júlio Andrade, ANTOLOGIA TEOLÓGICA, p.349.18 CONFISSÃO DE FÉ E CATECISMO DE HEIDELBERG, p.31.

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    sacramento, segundo a ordenação do próprio Cristo, há de

    continuar em sua Igreja até ao final do mundo19 .

    As Confissões e Catecismos são unânimes quanto à importância

    do batismo infantil. A Confissão de Westminster, por exemplo, entende

    que:

    ... seja grande pecado menosprezar ou negligenciar esta

    ordenança, contudo, a graça e a salvação não se acham tão

    inseparavelmente ligadas a ela, que sem ela uma pessoa não possa

    ser regenerada e salva, ou que todos que são batizados sejam

    indubitavelmente regenerados20.

    Daí a importância do batismo para a vida do crente, nãoexercendo salvação, mas sendo um selo da união com Deus.

    O Catecismo de Heidelberg, em resposta à pergunta 74, diz que

    as crianças devem ser batizadas:

    ... porque tanto as crianças como os adultos pertencem à aliança de

    Deus e à sua Igreja (...) Por isso as crianças, pelo batismo como

    sinal da aliança, devem ser incorporadas à igreja cristã e

    distinguidas dos filhos dos incrédulos. Na época do antigo

    19 A CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER, XXVIII,I., 4ª Ed., São Paulo, CEP, 1999,

    p.141.

    20 A CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER, XXVIII,V, p.144.

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    Testamento, se fazia isso pela circuncisão. No Novo Testamento foi

    instituído o batismo no lugar da circuncisão 21.

    O Catecismo Maior entende que “... as crianças, cujos pais, ou

    um só deles, professarem a fé em Cristo e obediência a ele, estão,

    quanto a isso, dentro do pacto e devem ser batizadas” 22. De modo

    semelhante, o Breve Catecismo, em resposta à pergunta 95, declara que

    o batismo deve ser administrado aos “filhos daqueles que são membros

    da Igreja visível...” 23.

    É importante ressaltarmos aqui, que não se deve batizar a

    qualquer criança, mas aos filhos daqueles que pertencem ao Pacto,

    afinal, são filhos da promessa (At 2.39).

    21

     CONFISSÃO DE FÉ E CATECISMO DE HEIDELBERG, p.60.22 O CATECISMO MAIOR, 2ª Ed., São Paulo, CEP, 1999, pergunta 166, p.186.

    23 O BREVE CATECISMO, São Paulo, CEP, 1995, p.48.

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    A FORMA DE BATISMO

    Há alguns cristãos que são defensores do modo de Batismo por

    imersão, outros por aspersão, e ainda outros por efusão. O primeiro

    entende que a pessoa, para ser batizada, precisa ficar submergida naágua. O segundo modo espalha gotas de água sobre a cabeça do

    batizando. O terceiro modo joga uma grande quantidade de água (balde)

    sobre a cabeça do batizando.

    Na verdade, a Bíblia não estabelece qual o modo correto debatizar. A Bíblia fala que deve ser com água, em nome do Pai, do Filho e

    do Espírito Santo.

    Se alguém diz que a Bíblia ordena o batismo por imersão, deve

    também mostrar onde está tal ordenança. Na verdade, os que defendemo batismo por imersão não se fundamentam na Exegese Bíblica. O verbo

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    “batizar” na Bíblia, como já foi visto, tem várias nuanças, podendo

    significar: derramar, limpar, lavar, etc. É no grego secular que o verbo

    “batizar” indica imersão. Por isso, os que dizem que a Bíblia ordena obatismo por imersão só podem fundamentar-se na literatura secular.

    Os Reformados entendem que o nosso fundamento deve ser

    sempre a Palavra de Deus. A Bíblia é a nossa única regra de fé e de

    prática e ela mesma é o seu melhor interprete. Sendo assim, nãodevemos dar muita atenção ao que a literatura secular diz a respeito da

    palavra “batismo”. Se olharmos para o emprego que a literatura secular

    faz da palavra “Ceia”, veremos que é totalmente diferente do conceito

    bíblico. Quem nos chama a atenção para este fato é o grande teólogo

    Charles Hodge, da cadeira de Teologia Sistemática do Seminário dePrinceton, e professor do nosso querido Rev. Ashbell G. Simonton.

    Hodge diz:

    A palavra que designa o outro sacramento (a Ceia), não é utilizada

    no sentido fixo e uniforme que recebe entre os escritores profanos.

    Para eles, denota uma refeição completa, a principal do dia. Nunca

    significa tomar um pedacinho de pão e um gole de vinho...24.

    24 HODGE, Charles, O BATISMO CRISTÃO, São Paulo, CEP, 1988, p.9.

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    Não que devamos desprezar a literatura secular. Às vezes ela

    pode ser útil para dar confirmações. Entretanto, a nossa hermenêutica

    não pode dar mais valor ao grego clássico do que ao grego “koine”25. 

    Um outro erro cometido pelos nossos irmãos defensores do

    batismo por imersão é que eles acham que o batismo foi criado por João

    Batista. Para começar, o batismo de João não era o mesmo que o

    batismo cristão (At 19.1-6). Ele preparava o caminho para Jesus, o qualdaria um outro batismo26. A cerimônia de batismo já era conhecida dos

     judeus. É verdade que o que os judeus conheciam não era o batismo

    para arrependimento, como ministrava João Batista. Entretanto, o

    batismo já existia como cerimônia religiosa (cf. Mc 7.4; Lc 11.38;

    Eclesiástico 34.25)27

    .

    25 No período de Cristo a língua mais importante era o grego. Quase todos falavam eentendiam a língua grega. Este é um dos motivos pelo qual os apóstolos escreveram oNovo Testamento em grego. O que é preciso dizer é que a língua grega utilizada paraescrever o Novo Testamento (grego koinê, ou grego comum), não é a mesma que ogrego secular e atual.

    26 Alguns podem até pensar que o fato de Jesus ter sido batizado com 30

    anos de idade, reforça a tese de que as crianças não devem ser batizadas. Entretanto,quando Jesus completou 30 anos e foi batizado por João, Ele não recebeu o mesmo

    batismo cristão. Antes, este era um batismo de preparação para o ministério do

    Messias. É preciso lembrar que o batismo de João Batista era para preparar o caminho

    do Senhor. Além disso, a questão mais importante é que Jesus foi circuncidado

    enquanto pequeno. Aí está a força do batismo infantil. O Batismo Cristão seria

    instituído pelo próprio Cristo, e depois adotado pelos apóstolos como substituto dacircuncisão.

    27 Eclesiástico é um livro apócrifo escrito por volta do ano 150 a.C.

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    Hodge argumenta sabiamente, demonstrando que o batismo era

    uma cerimônia comum nos tempos de Cristo. Diz ele:

    Que os judeus se batizavam e batizavam (outras coisas), é um fato

    tão claro, como fizeram João ou qualquer apóstolo, segundo vemos

    expressa e repetidamente assinalado. E, por outro lado, um dos

    motivos de queixa contra o salvador foi que ele desprezava ou

    omitia este costume em algumas ocasiões; queixa muito estranha,

    por certo, se não houvesse existido tão generalizada cerimônia28.

    Quando lemos a carta aos Hebreus descobrimos que as

    cerimônias de batismos eram muito antigas (Hb 9.9). A Lei de Moisés

    prescrevia vários tipos de batismo. Dai entendemos que, quando João

    apareceu batizando, ninguém ficou surpreso. Vejam o que diz Hodge a

    esse respeito:

    João apareceu batizando no deserto, porém não houve mostras de

    surpresas ou ignorância: não se dão explicações (...) havia outros

    (batismos) tais como o de copo, de camas e de pessoas que vinham

    da praça, etc.; porém, o de João era de arrependimento. O que era

    novo, era a doutrina que pregava, não a cerimônia que praticava.

    Esta prática todos conheciam desde há muito tempo. Era algo que

    esperavam ver o Messias fazer, bem como todo profeta verdadeiro.

    Por isso, quando João lhes disse que ele não era o Cristo, nem

    Elias, nem o profeta, a pergunta imediata que lhe fizeram, foi: “Por

    28 HODGE, Charles, O BATISMO CRISTÃO, p.12.

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    que, pois, batizas?” (Jo 1.19-25), dando a entender, claramente,

    duas coisas: a) Que os profetas tinham o costume de batizar, e b)

    Que esperavam que o Messias, quando viesse, faria o mesmo29.

    Dissemos que o batismo desde a época de Moisés já era uma

    prática conhecida do povo. Agora, faz-se necessário uma outra

    observação. Os vários tipos de batismos ou purificações, realizados

    pelos judeus, não eram por imersão (cf. Nm 8.7; 19.18-19). Na verdade,

    os batismos eram feitos por aspersão.

    É significante comparar Nm 19.13 com Eclesiástico 34.25. Este

    último foi escrito por volta de 150 anos antes da vinda de Cristo. Isto

    quer dizer que, já naquele período, os rituais de purificação eram feitos

    por aspersão, e eram chamados de batismos. Até mesmo Josefo, umhistoriador do primeiro século da era cristã descreve o batismo como

    sendo o ritual da aspersão.

    As palavras, batizar e lavar são usadas, na Bíblia, com o mesmo

    sentido (cf. Mc 7.3-4; Mt 15.2; Lc 11.38). O ritual de lavagem era feitotodos os dias e constantemente pelos judeus. Portanto, se o batismo

    fosse feito por imersão, como defende os batistas, os judeus precisariam

    ter um enorme batistério em casa. É preciso lembrar que os judeus

    batizavam mesas e outros objetos do lar.

    29 Ibidem, p.13.

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    Estamos certos de que o batismo de João Batista não era,

    necessariamente por imersão. Além do que já dissemos, João não teria

    tempo nem forças para batizar a todos quantos ele batizou se todosfossem batizados por imersão.

    Antes de passarmos para a análise de alguns textos bíblicos

    sobre batismo, gostaríamos de citar novamente o Dr. Charles Hodge,

    elogiando-o pelo seu bom trabalho e entendimento do assunto. Elemostra algumas evidências de que o batismo mais usado na Bíblia, sem

    dúvida não era o de imersão. Escreve Hodge:

    Afirmamos que os judeus, nos seus freqüentes batismos, não

    submergiam a pessoa ou o objeto, mas que aspergiam ou

    derramavam o elemento sobre eles. A evidência é: 1. Não obstante

    haver sido estes batismos  impostos pela Lei de Moisés, em lugar

    algum da Lei se ordena a imersão. 2. A imersão não se prescreve

    nem se insinua, porém se ordena claramente outro modo. 3. O

    modo ordenado, a aspersão, pelo menos dois séculos antes da Era

    Cristã, recebe o nome de batismo. 4. Lavar e batizar são palavras

    intercambiáveis. Nem para uma coisa, nem para outra se praticava

    a imersão. 5. Nas casas nada havia para praticar a imersão, ao

    passo que para a aspersão ou efusão havia. 6. Entre as coisas que

    eram batizadas, havia algumas que não podiam ser submersas

    devidamente, mas que, ao contrário, podiam ser facilitamente

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    aspergidas. 7. Ao mencionar-se a aspersão, com relação àqueles

    diversos batismos, fica claro que esta era a prática adotada30.

     Análise de Textos

    -  At 2.41: O texto diz que quase três mil pessoas foram batizadas

    em Jerusalém, num mesmo dia. O que é digno de nota é que

    Jerusalém não possui nenhum rio, o que dificulta a idéia de que

    os quase três mil foram batizados por imersão. A prova de que

    não há rio em Jerusalém encontra-se em I Rs 20.20. Esteversículo diz que foi o Rei Ezequias quem trouxe água para

    dentro da cidade de Jerusalém. Ezequias construiu o chamado

    tanque de Siloé (Jo 9.7), a fim de abastecer a cidade com água

    caso a cidade fosse cercada por inimigos. Então, a cidade foi

    cercada pelo rei Senaqueribe, mas não houve falta de água,pois Ezequias trouxe água para dentro da cidade. Como diz o

    Salmo escrito no período de Ezequias: “Há um rio cujas

    correntes alegram a cidade de Deus...” (Sl 46.4). Provavelmente

    este rio faça uma alusão ao aqueduto construído por Ezequias.

    Adão Carlos Nascimento faz uma pergunta importante: “Onde,

    30 Ibidem, p.23.

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    em Jerusalém, os apóstolos conseguiriam água para imergir três

    mil pessoas, no dia de Pentecostes?...”31.

    -  At 9.1-19: O texto fala do batismo de Paulo. Ananias vai até

    Paulo, o cura e imediatamente Paulo se levanta e é batizado.

    Landes diz que:

    ... Paulo levantou-se para ser batizado e foi batizado em pé, comosão batizados os aspersionistas (...) O particípio levantando-se não

    dá lugar a um ato intermediário entre o levantar-se e o batizar-se,

    pelo qual Paulo pudesse ter saído para procurar um tanque ou um

    rio para se mergulhar 32. 

    -  At 10.44-48: Pedro foi enviado a Cesaréia, a fim de pregar oEvangelho na casa de Cornélio. Depois de pregar, Cornélio e os

    de sua casa foram batizados. É muito provável que este batismo

    não foi por imersão, pois o texto dá a entender que eles foram

    batizados em casa.

    -  At 16.27-34: O batismo do carcereiro de Filipos parece ter sido

    ou no cárcere ou em sua própria casa, o que dificulta a idéia de

    imersão. Além disso, é provável que crianças tenham sido

    31 NASCIMENTO, Adão Carlos, A RAZÃO DA NOSSA FÉ, 8ª Ed., São Paulo, CulturaCristã, 2000, p.41.32 LANDES, Philippe, O BATISMO CRISTÃO, 2ª Ed., São Paulo, CEP, 1986, p.6.

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    batizadas, pois toda a família do carcereiro, bem como de Lídia

    (At 16.15) fora batizada.

    -  Rm 6.4: Este texto está falando do batismo como união com

    Cristo, e não de batismo por imersão. A ênfase de Paulo aqui é

    de que, uma vez unidos a Cristo pela fé, estamos mortos para o

    pecado e vivos para Deus (Rm 6. 13-14). Isto quer dizer que o

    texto está tratando de santificação. Calvino expõe muito bem oque falamos quando escreveu:

    ... o que devemos reter deste tema é que somos batizados para

    mortificação de nossa carne; mortificação que começa em nós

    desde o batismo e que temos de prosseguir a cada dia, e que será

    perfeito, quando passarmos desta vida para o Senhor 33. 

    Além disso, não podemos comparar o sepultamento de Cristo

    com o batismo por imersão. Jesus não foi imergido numa terra, pois

    o seu túmulo era uma espécie de caverna. Concordamos com oRev. Landes o qual escreve:

    ... o batismo imersionista não é semelhante ao sepultamento de

    Jesus. O seu corpo não foi colocado debaixo da terra, mas em

    túmulo aberto em uma rocha (Mt 27.60). A entrada do túmulo foi

    33CALVINO, Juan, INSTITUTAS, IV, 15,11, tradução minha.

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    tapada com uma pedra, sem que o corpo de Jesus fosse coberto de

    terra. Jesus não foi enterrado à semelhança de uma imersão em

    água34. 

    34 LANDES, Philippe, O BATISMO CRISTÃO, p.10.

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    BATISMO INFANTIL e CIRCUNCISÃO

    Gênesis 17 traz o texto onde Deus se apresenta a Abraão e faz,

    com ele, um Pacto. Este pacto deveria ser marcado com um símbolo,

    atestando a relação entre Abraão e seus descendentes, com o SenhorYawéh. Cremos que Gn 17 é muito importante para a compreensão do

    nosso trabalho. Assim, iremos estudá-lo de forma mais acurada.

    Exegese de Gn 17.1-14:

    Aos 99 anos o Senhor aparece a Abraão e faz com ele um

    Pacto, ou Aliança. O Pacto da graça já existia desde que Adão e Eva

    pecaram. Entretanto, com Abraão, Deus formalizou o Pacto. Na verdade,

    o Pacto feito com Abraão não foi diferente do qual foi feito com Noé.

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    A expressão usada no verso 2, “farei uma aliança”,é muito

    significativa. O verbo fazer aqui, é “natan”  no hebraico. A sua tradução é

    dar, e assim poderia ser traduzido: “Dou uma Aliança”. Há, aqui, umaimplicação direta sobre a graça de Deus. Deus é o Soberano no Pacto,

    pois foi Ele quem “deu” o Pacto a Abraão. Isto significa graça de Deus.

    Entretanto, a graça de Deus não excluía a responsabilidade de Abraão

    em cumprir as normas estabelecidas no Pacto. Um exemplo de que as

    normas teriam de ser cumpridas, encontra-se no verso 14, o qual diz queaquele que não fosse circuncidado deveria ser excluído do povo de Deus

    (Gn 17.14).

    É certo de que Deus é quem se mostra fiel no estabelecimento

    do Pacto, mas o povo deveria ser obediente às normas do Pacto sobpena de maldição. John Murray, escrevendo sobre o Pacto da Graça fala

    que, no Pacto há também condições a serem observadas. Diz Murray:

    Sem duvida alguma, as bênçãos do Pacto e a relação que o mesmo

    tem, não podem ser gozadas ou mantidas pelos beneficiários, a

    menos que estes cumpram certas condições (...) que se resumem

    em obedecer a voz do Senhor e em guardar o Pacto35.

    Se olharmos o contexto, veremos que Abraão havia

    desobedecido a Yahwéh. Robertson acredita que “É, possivelmente, por

    35 MURRAY, John, EL PACTO DE GRACIA, 3ª Ed., Barcelona, Felire, 1996, p.26(tradução minha).

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    causa desta falha por parte do patriarca que se instituiu uma lembrança

    mais permanente do relacionamento de Deus com ele”36. No capítulo 12,

    Deus tinha feito promessas a Abraão. Dentre as promessas, o Senhordisse que ele se tornaria uma grande nação (Gn 12.1-3). Depois, no

    capítulo 15, o Senhor volta a falar com Abraão, prometendo-lhe um filho.

    Apesar das promessas de Deus, no capítulo 16 notamos a

    impaciência de Abraão e sua esposa. Eles não esperaram o filho dapromessa, e procuraram agir por si mesmos. Já havia passado 11 anos

    desde que Deus lhe prometera um herdeiro. Então, Abraão foi ter um

    filho com a escrava de sua esposa.

    A desobediência de Abraão trouxe grandes problemas para ele e

    sua família. Quando iniciamos o capítulo 17 o Senhor dá, graciosamente,

    a Aliança com Abraão. Quem nos chama atenção para o detalhe já

    observado é o Dr. Van Groningen, um dos maiores eruditos do Velho

    Testamento na atualidade. Ele escreve:

    Deus Yahwéh continuou seu pacto com Abraão a despeito da

    tentativa de Abraão de realizar a promessa pactual da semente

    através da serva Hagar. Abrão não exibiu confiança; nem foi

    obediente em submissão a Yahwéh, esperando no seu Senhor para

    o cumprimento da promessa. A graça de Yahwéh foi, desse modo,

    revelada na confirmação do seu pacto com Abraão. Portanto, é

    36 ROBERTSON, O. Palmer, CRISTO DOS PACTOS, Campinas, LPC, 1997, p.133.

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    totalmente apropriado referir-se à continuação do pacto de Yahwéh

    com Abraão como um pacto da graça37.

    Um outro fator importante a ser observado em Gênesis 17 é que

    o verso 2 faz um paralelo com o verso 7. Enquanto o versículo 2 diz

    “Farei uma Aliança”, o versículo 7 diz “Estabelecerei a minha Aliança”. O

    interessante é que o verbo “estabelecer” encontra-se no hifhil. Por isso,

    ele tem um sentido de continuidade, renovação ou confirmação. Daí o

    motivo de defendermos que Deus só fez uma Aliança com o seu povo e

    que a mesma Aliança feita com Abraão, nos é confirmada pela pessoa

    de Jesus Cristo.

    Os versos 2 e 6 trazem a mensagem de que Deus multiplicaria a

    semente de Abraão de forma extraordinária. Fazendo um paralelo com o

    Novo Testamento, essa numerosa nação incluiria também os gentios.

    Paulo escreveu: “... se sois de Cristo, também sois descendentes de

    Abraão e herdeiros segundo a promessa” Gl 3.29. O apóstolo fala da

    mesma promessa e do mesmo Pacto, e não de um Pacto diferente. É

    significativo o verso 27 de Gálatas 3, que diz: “porque todos quantos

    fostes batizados em Cristo de Cristo vos revestistes”.

    A palavra “Aliança” (berit ) seria um pacto eterno ou perpétuo

    (ôlam). Deus jamais falharia apesar de Abraão (II Tm 2.13). Nesta

    Aliança, Deus não fez pedidos a Abraão. Antes, o Senhor deu-lhe ordens

    37 GRONINGEN, Gerhard Van, DA CRIAÇÃO À CONSUMAÇÃO, (obra não publicada).

    30

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    a serem cumpridas com diligência. Dentre as ordens dadas por Deus

    estava a circuncisão, relatada em Gn 17.9-16.

    Deus continua a falar com Abraão, mas requerendo atenção

    especial. Abraão deveria manter o pacto feito com ele e sua semente. O

    Senhor, agora mais diretamente, passa a mostrar-lhe o que ele deveria

    fazer, não para ser considerado merecedor, mas sim para obedecer a

    Deus.

    A circuncisão deveria representar para Abraão e seus

    descendentes, um símbolo de justificação, regeneração e santificação.

    Não é preciso lembrar que Abraão já dava indícios de ser justificado

    (15.6). Assim, Abraão já se relacionava com Deus, o que implica em

    regeneração. Além disso, o próprio ato da circuncisão visava à higiene

    do órgão masculino. Isto representa a santificação. Na verdade, desde

    cedo (8 dias de vida), os meninos deveriam receber a circuncisão como

    uma demonstração de que a sua natureza era pecaminosa,

    necessitando de santificação38.

    Nada melhor do que um judeu para falar sobre o significado da

    circuncisão. Por isso, citamos o pensamento do judeu Kolatch:

    38 Ibidem.

      31

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    A palavra hebraica para circuncisão é berit , que significa “aliança”.

    Isto se refere à garantia dada por Deus a Abraão (Gênesis 17:2), na

    qual Ele prometeu abençoar e faze-lo prosperar se, em troca,

    Abraão fosse leal a Deus (“Anda diante de Mim e sê perfeito”). Esta

    garantia foi introduzida e selada pelo ato da circuncisão,

    denominada em hebraico de ot berit , “assinatura da aliança”.

    Gênesis 17.11 registra o acordo nestes termos: “E circundareis a

    carne de vosso prepúcio, e será por sinal de aliança entre Mim e

    vós39.

    Para os judeus a circuncisão era mais importante do que

    qualquer coisa. O judeu Alfred J. Kolatch diz que “A circuncisão é

    considerada mais importante do que qualquer outro mandamento. Os

    rabinos declaram no Talmud que a circuncisão supera todos os outrosmandamentos da Tora”40. O judeu também entende que o propósito da

    circuncisão era mostrar que o circuncidado fazia parte do povo de Deus.

    O judeu e historiador Borger, em seu livro ”Uma História do Povo Judeu”,

    explica o Pacto de Deus com Abraão da seguinte forma:

    O Deus de Abraão celebra uma Aliança com seu eleito, o pacto de

    um relacionamento especial cujo símbolo é o ritual da circuncisão.

    Praticada de longa data entre muitos povos da Antiguidade (...) A

    partir de Abraão ela se torna a identificação tribal e a condição de

    39 KOLATCH, Alfred J., O LIVRO JUDAICO DOS PORQUÊS, 3ª Ed., São Paulo, Sêfer,2001, p. 17.40 Ibidem, p.19.

      32

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    admissão  à aliança da qual faz parte a promessa de que “à tua

    semente darei esta terra para possessão perpétua”. (Gn. 17:8)41.

    Bem expressou Motyer sobre a circuncisão dizendo que ela é

    “... o sinal daquela obra da graça mediante a qual Deus seleciona e

    marca os homens para serem Seus. O pacto da circuncisão sobre o

    princípio fundamental da união espiritual da família em torno de sua

    cabeça” 42. Esta compreensão de Motyer, da circuncisão representar aunião espiritual, está totalmente ligada à idéia do batismo, a união com

    Cristo. Paulo, escrevendo aos Romanos, nos capítulos de 9 a 11 de sua

    carta, mostra que os gentios foram unidos a Deus em Cristo, assim

    como uma oliveira enxertada num ramo (Rm 11-17-19). Sendo assim,

    achamos muito importante a afirmação feita pelo Rev. Adão Carlos doNascimento, sobre a ligação que há entre a Igreja e a dispensação

     judaica, e a união com Cristo:

    Assim como as crianças faziam parte da Igreja, na dispensação

     judaica, devem elas fazer parte da Igreja na dispensação cristã. No

    Antigo Testamento, as crianças eram recebidas na Igreja pelo rito

    da circuncisão (Gn 17.9-14, 23, 27; Lv 12.3). No Novo Testamento,

    são recebidas na Igreja pelo batismo, que substituiu a circuncisão

    (Gl 2.11,12). Na dispensação da Lei, a criança que não fosse

    circuncidada, era eliminada do povo de Deus (Gn 17.14). O crente,

    41 BORGER, Hans, UMA HISTÓRIA DO POVO JUDEU, 2ª Ed., São Paulo, Sêfer,2001, p.23.42 J. A. MOTYER, O NOVO DICIONÁRIO DA BÍBLIA, p.295. 

      33

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    na dispensação do Novo Testamento, que não apresenta seus

    filhos para o batismo, está quebrando a aliança com Deus e

    cometendo grande pecado43.

    Sartelle chama-nos a atenção para o fato de que “... as palavras

    incircunciso e imundo são sinônimos. Portanto, podemos dizer ... que

    Deus utilizou um símbolo externo de limpeza espiritual interior (Dt

    30.6)”44. Este símbolo de salvação deveria ser aplicado a todo menino

    nascido na casa de Abraão (Gn 17.12). Entretanto, precisamos deixarbem claro que, quando Cristo foi circuncidado, não o foi porque estava

    impuro. Assim também, quando Cristo foi batizado por João Batista, não

    o foi porque precisava de arrependimento. Robertson demonstra o

    motivo pelo qual Jesus precisava ser circuncidado:

    O fato de que Jesus formalmente recebeu seu nome em conjunção

    com o rito da circuncisão ajuda a iluminar o significado do ato para

    Cristo. Seu nome é “Jesus”, “Jeová Salva” (Lc 2.21). Sua

    purificação não é por sua própria causa, mas por causa do povo

    pecador que Ele salva45.

    Os meninos deveriam ser circuncidados ao oitavo dia de vida.

    Talvez alguém possa perguntar o motivo pelo qual Deus estipulou que o

    43 NASCIMENTO, Adão Carlos, A RAZÃO DA NOSSA FÉ, p. 44-45.44

      SARTELLE, John, & EVANS, John, & ANGLADA, Paulo, & PIPA, Joseph, OBATISMO INFANTIL, p.10.

    45 ROBERTSON, O. Palmer, CRISTO DOS PACTOS, p.142.

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    Os estrangeiros que quisessem fazer parte do povo de Israel

    deveriam ser circuncidados (Êx 12.48). Deus, para falar do seu povo e

    dos que não são Dele, utilizou-se das palavras circunciso e incircunciso,respectivamente (Is 52.1; Ez 44.9; I Sm 4.6). Assim escreve o judeu

    Kolatch:

    Os judeus não circuncidados quando crianças, são obrigados a sê-

    lo em data posterior, se eles quiserem ser considerados parte da

    comunhão judaica em todos os sentidos da palavra. Os homens quedesejam se converter ao Judaísmo também precisam se

    circuncidar 48. 

    A circuncisão não salva. Romanos 4 diz que Abraão foi salvo

    pela fé e não pela circuncisão, ou pelas obras. Entretanto, a prescrição

    de Deus era a circuncisão como símbolo da salvação ao povo da

    aliança. Assim, a circuncisão deveria ser aplicada a todo menino nascido

    na casa de Abraão (Gn 17.12). Abraão foi obediente a Deus e aplicou a

    circuncisão em todos os machos de sua casa. Ele entendia que a

    circuncisão era o sinal e selo do Pacto com o Senhor. Van Groningem

    expressa bem este fato ao dizer:

    “... quando o Senhor persistiu em sua determinação de manter um

    pacto com Abraão e com sua semente, estabelecendo o rito da

    circuncisão como sinal e selo desse pacto, Abraão realizou o rito em

    si mesmo e em todos os machos de sua casa (Gn 17.23). Assim,

    48 KOLATCH, Alfred J., O LIVRO JUDAICO DOS PORQUÊS, p. 20.

      36

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    Abraão indicou a plena aceitação do plano e dos propósitos de

    Deus em relação a sua semente, sua terra e ao papel que sua

    semente havia de desempenhar nas eras vindouras”49 .

    Sartelle faz uma observação importante quando diz que “se nós

    tivéssemos vivido na época do Antigo Testamento, como pais crentes,

    nós  teríamos circuncidado  nossos filhos. Logo teríamos aplicado em

    nossas crianças o símbolo da salvação...”50.

    Calvino disse, muito bem, que “... o Senhor instituiu a

    circuncisão naquele tempo, para confirmar seu pacto, e que ao ser

    abolida a circuncisão, permanece sempre em pé a razão de confirmar o

    pacto; pois convém tanto a nós como aos judeus”51. Dessa forma,

    Calvino fez um belo resumo sobre a relação entre a circuncisão e obatismo:

    Concluímos, pois, nisto, que os pais tiveram na circuncisão a

    mesma promessa espiritual que nós possuímos agora no Batismo; e

    que significava a remissão dos pecados, e a mortificação da carne

    para viver em justiça (...) Podemos, pois, concluir que tudo quanto

    49  GRONINGEN, Gerard Van, REVELAÇÃO MESSIÂNICA NO VELHO

    TESTAMENTO, p.130.

    50

      SARTELLE, John, & EVANS, John, & ANGLADA, Paulo, & PIPA, Joseph, OBATISMO INFANTIL, p.11-12.

    51CALVINO, Juan, INSTITUTAS IV, 16, 6, tradução minha. 

      37

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    pertence à circuncisão, pertence também ao batismo, exceto a

    cerimônia externa e visível52.

    O Ataque Dispensacionalista:

    Há, na atualidade, uma linha teológica que tem contrariado ahermenêutica e a teologia Reformada. Estamos nos referindo ao

    dispensacionalismo, tão amado dos nossos irmãos batistas e de várias

    denominações.

    O dispensacionalismo tem como defensor um homem chamadoScofield. Este homem ficou famoso pela Bíblia comentada que publicou,

    a chamada Bíblia de Scofield. Além dessa Bíblia, a Imprensa Batista

    publicou uma “Súmula de dez das mais importantes doutrinas da Bíblia”,

    segundo Scofield. A obra a que nos referimos tem como título

    “Manejando Bem a Palavra da Verdade”. Desta obra tiraremos algumas

    idéias, a fim de prová-las, na Palavra, se possuem alguma veracidade.

    Scofield entendia que há um abismo muito grande entre Israel e

    Igreja. Para ele, a Igreja é um corpo distinto, cuja única semelhança com

    Israel é que, a Igreja também se relaciona com Deus e tem promessas

    52 CALVINO, Juan, INSTITUTAS IV,16, 3 e 4, tradução minha.

      38

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    de Deus. Entretanto, segundo a teoria de Scofield, Adão e os Patriarcas

    não pertencem à Igreja. Para ele, há um grande contraste entre Israel e

    Igreja. Vejamos o que estamos descrevendo, usando as próprias

    palavras de Scofield:

    ... o estudante descobre muitas menções da existência de um outro

    corpo distinto, que é chamado a Igreja. Este corpo também mantém

    uma relação peculiar com Deus e, como Israel, tem dEle recebido

    promessas especiais. Mas a semelhança aí termina, iniciando-se aíum contraste dos mais dignos de nota (...) As escrituras ainda

    revelam que nem sempre existiu quer Israel e quer a Igreja. Cada

    qual teve um princípio – Israel com a chamada de Abraão, e a

    Igreja, no Pentecoste (contrário, talvez, as suas expectativas, pois

    tem sido provavelmente ensinado que Adão e os Patriarcas estão

    na Igreja)...53.

    O termo “dispensacionalistas” refere-se a aqueles que são

    seguidores das doutrinas de Scofield. Este divide o tempo, desde a

    criação de Adão até a volta de Cristo, em sete períodos totalmente

    distintos.

    1º Dispensação da Inocência: é o momento do homem antes da

    queda.

    53 SCOFIELD, C. I., MANEJANDO BEM A PALAVRA DA VERDADE, São Paulo,Imprensa Batista Regular, sem data, p. 8.

      39

     

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    2º Dispensação da Consciência: após a Queda (conhecimento do

    bem e do mal).

    3º Dispensação do Governo Humano: tempo de Noé, sendo que ele

    deveria governar a terra.

    4º Dispensação da Promessa: tempo de Abraão.

    5º Dispensação da Lei: de Moisés à Cristo.

    6º Dispensação da Pura Graça: Tempo de Cristo (estamos vivendo

    nela).

    7º Dispensação do Reinado Pessoal de Cristo: volta de Cristo (ainda

    não vivemos nela).

    A implicação do ensino de Scofield traz resultados desastrosos.

    Jamais a Teologia Bíblica traça os diferentes períodos de tempo como

    faz Scofield. Na verdade, aqui está a centralidade do motivo pelo qual os

    batistas não batizam crianças: eles não crêem que fazermos parte do

    mesmo Pacto de Deus com Abraão.

    É claro que a teoria dispensacionalista não possuí fundamentos

    bíblicos. Os textos que Scofield cita, faz sem exegese e fora do contexto.

    Já vimos, pelo texto de Gênesis 17, que Deus não fez outra Aliança com

    Abraão. Antes, Deus renovou a Aliança já feita com os servos do

    passado, por exemplo, Noé. Foi assim também com Davi, Salomão e

    Cristo. Este é o ensino bíblico. A excelência do ensino bíblico é que a

      40

     

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    Igreja não é diferente do Israel do Velho Testamento. A Igreja também

    não é um substituto de Israel. Antes, a Igreja é o próprio Israel de Deus.

    A Aliança feita com Israel é a mesma feita com a Igreja. É claro

    que algumas coisas mudaram, pois em Cristo temos liberdade dos vários

    ritos judaicos. Paulo, escrevendo aos Gálatas, disse: “Para a liberdade

    foi que Cristo nos libertou. Permaneceis, pois, firmes e não vos

    submetais, de novo, a jugo de escravidão” Gl 5.1.

    Paulo Anglada nos dá uma tremenda contribuição quando nos

    lembra que:

    ... é preciso compreender que o Antigo e o Novo Testamento não

    ensinam duas religiões diferentes. A Igreja cristã não é uma outra

    Igreja. O Apóstolo Paulo revela claramente que a Igreja cristã não é

    uma nova árvore, mas apenas um galho enxertado na mesma

    árvore cuja raiz é Abraão (Rm 11.13-24)... 54.

    Philippe Landes defende, de forma sábia, que a Igreja é o

    mesmo povo que o Israel de Deus. Diz ele:

    Que a Igreja já existia na Velha Dispensação, prova-se pela

    declaração de Estevão, o primeiro mártir cristão, no seu último

    54  SARTELLE, John, & EVANS, John, & ANGLADA, Paulo, & PIPA, Joseph, O

    BATISMO INFANTIL, p.38. 

      41

     

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    discurso, em que faz referência à presença de Jesus com o povo de

    Israel no deserto: “Esse é o que esteve na Igreja no deserto com o

    anjo que lhe falava no Monte Sinai; o qual recebeu oráculos de vida

    para vo-los dar (At 7.38)55. 

    Além disso, os dois sacramentos do Antigo Testamento (Páscoa

    e Circuncisão) não foram abolidos, mas substituídos pela Ceia e

    Batismo, respectivamente. Concordamos com Sartelle, o qual escreve:

    A páscoa (o sacramento da igreja visível) transformou-se na ceia,

    quando Jesus dela participou pela última vez (...) a circuncisão

    (sacramento de admissão na igreja visível) transformou-se no

    batismo cristão, visto que não mais havia necessidade de

    derramamento de sangue, pois o Cordeiro Pascal estava preste aser imolado. Em Colossences 2:11-12, o batismo cristão é chamado

    explicitamente de “circuncisão de Cristo” (o mesmo que circuncisão

    cristã)56.

    Peter Bloomfield também chama-nos a atenção para o fato de

    que, tanto o Novo quanto o Velho Testamento estão em harmonia:

    55 LANDES, Philippe, ESTUDOS BÍBLICOS SOBRE O BATISMO DE CRIANÇAS, 2ªEd., São Paulo, CEP, 1952, p. 23.56  SARTELLE, John, & EVANS, John, & ANGLADA, Paulo, & PIPA, Joseph, O

    BATISMO INFANTIL, p.40. 

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    E t d t ó t h id ú i Ali l d

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    Em todos os tempos só tem havido uma única Aliança salvadora

    entre Deus e os pecadores. É chamada Aliança da Graça (ou Pacto

    da Graça), ou, Aliança Abraâmica (ou Pacto Abraâmico). Nós lemos

    sobre sua origem em Gen. 17.Há uma continuidade da Aliança desde Abraão até agora.

    Não há tal coisa como uma Aliança da Graça do Velho Testamento

    e uma Aliança da Graça do Novo Testamento. Não há distinção

    entre a Aliança Abraâmica e a Aliança Cristã. Elas são uma e a

    mesma coisa. Isto não é posto em nenhuma parte mais claramente

    do que em Gal. 3: 16: “Ora, as promessas foram feitas a Abraão eao seu descendente. Não diz: E AOS DESCENDENTES, como se

    falando de muitos, porém como de um só: E AO TEU

    DESCENDENTE, que é Cristo”. Assim a Aliança Abraâmica incluía

    CRISTO (...) de fato significava preeminentemente Cristo. Ele é a

    semente de Abraão - Ele é o único que fielmente guardou a

    Aliança.57 

    Alguns, para combater a idéia de que o batismo infantil é a

    continuação da circuncisão, dizem que isso não pode ser assim, pois as

    mulheres são batizadas, enquanto que antes, elas não eram

    circuncidadas. Entretanto, é preciso entender o motivo pelo qual as

    mulheres não eram circuncidadas. O Rev. Ludgero Braga nos dá uma

    resposta a esta questão:

    57 Peter Bloomfield, ARTIGO EXTRAÍDO DA INTERNET.

      43

     

    A não aplicação da circuncisão às mulheres era devida à

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    A não aplicação da circuncisão às mulheres era devida à

    imperfeição do rito. O judaísmo era sombra do Cristianismo, e,

    portanto, imperfeito (...) Sem dúvida, a mulher, no judaísmo, tinha

    uma posição inferior à do homem, mesmo na religião. E ainda quepela imperfeição do rito, não pudesse ela recebê-lo, não  deixava,

    contudo de participar de seus privilégios, pois, segundo a lei, ela só

    devia casar-se com um circuncidado 58.

    Na verdade, em nenhum lugar da Bíblia encontramos a mulher

    exercendo cargos de liderança espiritual. É preciso lembrar que a

    circuncisão era um ato totalmente religioso. Assim, as mulheres sempre

    estavam representadas pelos homens. O Rev. Boanerges Ribeiro segue

    a mesma linha do Rev. Ludgero, registrando em seu livro, “Aliança da

    Graça”, a seguinte afirmação:

    ...O Senhor pôs em Abraão e em todos os homens de sua casa

    (nos quais estavam então representada as mulheres) um sinal de

    aliado; depois disso Abraão e sua semente, desde o 8º dia do

    nascimento, trazem no corpo a marca da Aliança, marcada pelo

    Senhor da Aliança (Gênesis 17: 26-27; 21:4; Lucas 2:21). Essa

    marca é garantia que Deus dá da justiça da fé (Romanos 4:11).

    Na Nova Aliança o batismo é a marca. Mas na Nova

    Aliança não a recebem apenas os homens da família, mas todos

    58  BRAGA, Ludgero, MANUAL DOS CATECÚMENOS, Esboço de Teologia Cristã,

    p.146.

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    Paulo magnífica o batismo tanto que por meio de clara

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    ... Paulo magnífica o batismo tanto que, por meio de clara

    implicação, desaprova a continuidade do rito da circuncisão se

    considerado como tendo algo a ver com a salvação. Portanto, a

    clara implicação é que o batismo tomou o lugar da circuncisão.Assim, o que é dito em referência à circuncisão em Rm 4.11 como

    sendo um sinal e selo, é válido também para o batismo. No contexto

    colossense, o batismo é especificamente um sinal e selo de se ter

    sido sepultado e ressuscitado com Cristo62.

    Robertson entende que há uma união entre a circuncisão e o

    batismo. O seu argumento baseia-se também no texto de Colossences

    2.11-12. Diz Robertson:

    O resultado líquido da declaração de Paulo é unir, da maneira mais

    firme, os dois ritos da circuncisão e do batismo (...) No maiscompleto sentido possível, o batismo sobre a nova aliança cumpre

    tudo o que era representado na circuncisão sob a velha. Sendo

    batizado, o crente cristão experimentou o equivalente do rito de

    purificação da circuncisão63.

    Um grande divisor de águas para a Igreja Primitiva foi o Concíliode Jerusalém. Este, o primeiro Concílio da Igreja, foi uma reunião em

    que os líderes da Igreja se reuniram com o fim de resolver um problema:

    alguns fariseus, convertidos ao cristianismo, diziam que não bastava crer

    62 HENDRIKSEN, Willian, COMENTÁRIO DO NOVO TESTAMENTO – Colossences eFilemon, São Paulo, CEP, 1993, p.147-148.63 ROBERTSON, O. Palmer, CRISTO DOS PACTOS, p.152.

      46

     

    e batizar os gentios Para eles era necessário circuncidar os gentios

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    e batizar os gentios. Para eles, era necessário circuncidar os gentios

    crentes em Jesus (At 15.1,5).

    As palavras de Pedro no Concílio de Jerusalém são muito

    significantes. Ele disse, em outras palavras, que nem o batismo e nem a

    circuncisão salvam: “... cremos que fomos salvos pela graça do Senhor

    Jesus, como também aqueles o foram” (At 15.11).

    A decisão do Concílio mostra-nos que a circuncisão foi

    substituída pelo batismo. Os gentios não precisavam mais ser

    circuncidados para pertencerem ao povo de Deus. Entretanto, judeus e

    gentios eram sempre batizados, seguindo a ordem deixada por Jesus

    (Mc 16.15-16).

    Por fim, queremos dizer que, não crer na continuidade do Pacto

    implica em não ter consciência da obra evangelizadora da Igreja. Deus

    incluiu no seu Pacto, não só os que têm sangue de Judeu. Os que são

    descendentes de Abraão e pertencentes ao Pacto, são os que possuem

    fé. Van Deursen diz que “... o desconhecimento e o desprezo do Pacto

    de Deus é tão fatal também para a nossa visão da situação do mundo”64.

    O Pacto de Deus com Abraão é também chamado de Pacto da Graça,

    mostrando a graça de Deus se revelando ao homem e dando-lhe a

    oportunidade de um relacionamento.

    64 DEURSEN, Frans Van, EL PACTO DE DIOS, Su Excelencia y SuDesconocimento, Barcelona, Felire, 1994, p. 10 (tradução minha).

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    ... notemos que o assunto do versículo é a salvação e não o

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    batismo. Portanto, se esse versículo exclui os infantes do privilégio

    de serem batizados, por serem incapazes de fé pessoal, então

    também os exclui da salvação, visto que o restante do versículoprossegue dizendo que, “quem porém, não crer, será condenado65.

    Se quisermos aplicar Marcos 16.16 às crianças, devemos

    aplicar, também, II Ts 3.10, onde se lê: “... se alguém não quer trabalhar,

    também não coma”. É claro que ambos os textos não foram dirigidos às

    crianças e, portanto, Marcos 16.16 não pode ser argumento contra o

    batismo infantil.

    Em Romanos 4.11, por exemplo, “... Paulo diz especialmente

    que a circuncisão é um sinal e um selo da justificação pela fé” 66.

    Quando Deus fez a promessa a Abraão em Gn 17, Sartele observa que

    os filhos de Abraão “... não tinham nascido, nem tinham confessado sua

    fé; ainda assim, Deus estava prometendo que os trataria de uma

    maneira especial” 67. Deus não estava dando profecias, mas sim um

    Pacto com Abraão e seus descendentes.

    65 DIEFFENBACHER, Arthur, BATISMO INFANTIL, Que Dizem as Escrituras, SãoPaulo, Missão Bíblica Presbiteriana no Brasil, sem data, p. 11.66  SARTELLE, John, & EVANS, John, & ANGLADA, Paulo, & PIPA, Joseph, O

    BATISMO INFANTIL, p.60.

    67  SARTELLE, John, & EVANS, John, & ANGLADA, Paulo, & PIPA, Joseph, O

    BATISMO INFANTIL, p.20.

      49

     

    Paulo, escrevendo aos coríntios, demonstrou que os filhos de

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    q

    crentes são diferentes dos incrédulos (I Co 7.14). Os filhos dos crentes

    são santos, ou seja, são separados do mundo para a comunhão com

    Deus. O Rev. Augustus Nicodemus, doutor na área de exegese do Novo

    Testamento, explica qual o sentido do termo “santo” usado por Paulo

    para se referir aos filhos de crentes:

    Se considerarmos que Paulo está usando o termo “santificar” no seu

    sentido judaico, amplo – ou seja, de algo separado – e se tomarmos

    como referêncial a Igreja como comunidade dos santos, dos que

    professam a fé em Jesus Cristo, os filhos do casal são santos no

    sentido de que nascem dentro desta comunidade, debaixo da

    aliança de Deus com seu povo, e estão portanto separados dos

    pagãos e incrédulos. Isto não significa que estão automaticamente

    salvos e regenerados, mas que nascem dentro da aliança,

    pertencem à comunidade do povo de Deus. Eles mesmos terão de

    exercer fé pessoal em Jesus Cristo para que possam ser salvos68. 

    Além disso, se não podemos ter membros menores na Igreja,

    pois os menores não podem dar certeza de sua fé, também não

    podemos ter membros maiores (adultos). Isto se prova pelo fato de que

    ninguém pode garantir que o adulto realmente tem uma fé verdadeira e

    68 LOPES, Augustus Nicodemus & LOPES Minka S., A BÍBLIA E A SUA FAMÍLIA, SãoPaulo, Cultura Cristã, 2001, p.180.

      50

     

    pertence à Igreja invisível. Arthur J. Dieffenbacher está correto ao

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    afirmar:

    Ora, não cremos que qualquer pessoa capaz de exercer fé pessoal

    seja capaz de ser salvo sem ela, mas que a fé é operada no

    coração pelo Santo Espírito de Deus, e que Deus pode levar os

    infantes a uma fé salvadora, pessoal, quando se tornam capazes

    disso, tal como faz com os adultos, disso não duvidamos. Se não

    podemos esperar que Deus opere nos corações alheios, levando-os

    à fé pessoal em Cristo, então não há base para a fé na oração que

    pede salvação dos outros69.

    Seguindo este mesmo raciocínio, afirmamos que, ao mesmo

    tempo em que uma criança batizada pode, quando crescer, não viver

    conforme a Palavra, assim também pode acontecer com um adulto. Emnossas Igrejas vemos que vários adultos se desviam e passam a andar

    longe dos caminhos do Senhor. Neste sentido, concordamos com as

    palavras do nosso querido irmão, Rev. Boanerges Ribeiro:

    É também possível que a criança batizada venha tambémapostatar-se de Cristo na idade adulta; possibilidade que se estende

    ao adulto que se batiza e pode posteriormente vir a apostatar da fé.

    No caso do adulto, batizamo-lo aceitando sua profissão de fé no

    Senhor Jesus, nos termos da Aliança da Graça; no caso da criança,

    batizamo-la aceitando os termos da Aliança da Graça, onde a

    69 DIEFFENBACHER, Arthur, BATISMO INFANTIL, Que Dizem as Escrituras, p.8.

      51

     

    promessa do Santo Espírito é para os que crêem e para os seus

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    filhos...70.

    Não podemos defender que o batismo só pode ser aplicado a

    adultos, pois eles são racionalmente responsáveis. Isto implicaria que a

    salvação não seria pela fé, mas pela razão. A fé é dom de Deus, e Deus

    dá fé, pela graça, aos seus eleitos, transformando a razão do seu povo.

    O Rev. Onezio Figueiredo, preocupado com o pensamento “gnose”, o

    qual pensa poder penetrar os segredos da divindade através da razão,escreveu:

    Ao sustentarem que o batismo só pode ser ministrado aos

    racionalmente responsáveis, objetivamente fazem a redenção

    depender da razão e estabelecem a premissa de que a fé surge

    com a maturidade psico-racional, sendo, neste caso, uma aquisição

    humana, não um dom de Deus, um carisma da graça71.

    Alguns alegam que a criança não pode ser batizada, pois o

    batismo tem a ver com o arrependimento do batizado. Entretanto, seolharmos à circuncisão, dada no Antigo Testamento, veremos que ela

    sempre teve uma conotação de arrependimento. Mesmo assim, a

    circuncisão era aplicada nas crianças. Se alguém tem algo contra este

    ensino, que pergunte para Deus, como diz Calvino:

    70 RIBEIRO, Boanerges, TERRA DA PROMESSA, São Paulo, Semeador, 1988. p.70.71 FIGUEIREDO, Onezio, BATISMO SINAL DO PACTO, São Paulo, IPB – Secretariade Imprensa e Literatura, 1993, p.12.

      52

     

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    Porque a circuncisão foi símbolo de arrependimento, se vê

    claramente em muitos lugares da Escritura, principalmente no

    capítulo quarto de Jeremias. E São Paulo a chama de selo da justiça da fé (Rm 4.11). Que perguntem, pois, a Deus, o porque se

    fazia aplicar nos filhos...72. 

    Em várias passagens das Escrituras há a questão de que a

    criança recebe as bênçãos decorridas do Batismo através da fé de seus

    pais (Mt 9.18-19; 23-26;17.14-18; Lc 7.11-17; Jo 4.46-54; etc.). Nestes e

    em outros casos, Jesus curou não por haver fé nos enfermos ou no

    morto. Antes, Jesus curou devido à fé dos pais. Talvez alguém possa

    dizer que não podemos batizar crianças, pois João Batista não batizava.

    Entretanto, a grande questão é que o batismo de João não era o mesmo

    batismo instituído por Cristo. O batismo de João visava o

    arrependimento, algo que uma criança não pode fazer. O Rev. Manoel B.

    de Sousa, em seu livro “Porque Somos Presbiterianos”, afirma que “... as

    crianças não eram apresentadas como candidatas a este tipo de

    batismo, pois não têm, dada a sua inocência, de que se

    arrependerem”73.

    Kuiper disse que “... os filhos dos crentes são membros da santa

    igreja universal. Todos eles são membros da Igreja visível. Muitos deles

    72 CALVINO, Juan, INSTITUICIÓN DE LA RELIGIÓN CRISTIANA, IV, 16, 20. 73 SOUZA, Manoel B., PORQUE SOMOS PRESBITERIANOS, 2ª Ed., Rio de Janeiro,Princeps, 1963, p.175.

      53

     

    são inclusive membros da Igreja invisível...” 74. Na verdade, os filhos dos

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    crentes não são batizados para que se tornem filhos de Deus. Eles já

    pertencem a Deus, como bem expressou Calvino:

    ... os filhos dos fiéis não são batizados para que comecem, então, a

    ser filhos de Deus, como se antes fossem estranhos à Igreja; e sim

    para que por este solene sinal são recebidos nela como membros

    que já eram da mesma. Porque quando o batismo não se omite nem

    por desprezo, nem por negligência, não há motivo algum de temor 75. 

    É interessante que quando uma criança, filho de algum crente

    que não defende o batismo infantil vem a falecer, no seu momento de

    dor os pais afirmam que seu filho está salvo. Assim, defendem que seu

    filho já fazia parte do povo de Deus. Se os pais, nesse momento difícil

    declaram que seus filhos faziam parte do Pacto, então eles deveriam

    receber o sinal do Pacto.

    Depois de tudo o que já dissemos, alguns podem dizer que não

    existe texto algum do Novo Testamento em que encontramos os

    apóstolos batizando crianças. Pois bem, não existe, também, nenhum

    texto que não permita o batismo infantil. Além disso, Calvino fez uma

    excelente observação:

    74  R.B.KUIPER, EL CUERPO GLORIOSO DE CRISTO, Grand Rapids, Michigan,

    T.E.L.L., 1966, p.194, Tradução Minha.

    75 CALVINO, Juan, INSTITUICIÓN DE LA RELIGIÓN CRISTIANA, IV, 15, 22. 

      54

     

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    ... se esta razão fosse válida, poderíamos concluir também dela,

    que as mulheres também não devem ser admitidas à Ceia do

    Senhor, posto que não há um texto na Escritura que diga que elascomungaram no tempo dos Apóstolos76.

    76 Ibidem, IV,16, 8. 

      55

     

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    BATISMO INFANTIL E A RESPONSABILIDADE

    DOS PAIS

    Batizar o filho enquanto criança implica em assumir o papel de

    pais que amam a Deus e a seus filhos. Quando olhamos para as

    Escrituras Sagradas, encontramos, pelo menos, três ordens de Deus aoshomens. Estas ordens resumem todas as nossas funções nesta vida. É

    o que chamamos de mandados; espiritual, social e cultural.

    Deus criou o homem para se relacionar com Ele e com Sua

    criação, a fim de glorificá-lo. Assim, o mandado espiritual diz respeito ao

    relacionamento do homem com Deus (Gn 1.26-27; 2.1-3; 2.16-17). Já o

    mandado social refere-se ao relacionamento do homem com as

    pessoas, especialmente com a família (Gn 1.27-28; 2.4-25). O mandado

    cultural, por sua vez, fala do relacionamento que o homem deve ter com

    as coisas que Deus criou. O homem deve cuidar e desenvolver a criação

    de Deus, pois sobre ele está imposta a responsabilidade de ser vice-

      56

     

    gerente da terra (Gn 1.26, 28-30; 2.15). O Dr. Mauro Meister está correto

    d fi l d t f d d h i t

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    quando afirma algumas das tarefas dadas ao homem como vice-gerente:

    Ele deveria tomar tempo para cultivar o solo, exercer o domínio e

    conseqüentemente, gozar e desfrutar do trabalho de suas mãos,

    tudo isso em um ambiente de plena harmonia. Fazendo assim,

    também estaria obedecendo ao Criador que o havia criado e

    equipado para tais coisas. Portanto, o mandado cultural envolve as

    áreas do trabalho, política, ensino, tecnologia, lazer, etc. O ser

    humano criado a imagem e semelhança de Deus deveria, em um

    certo sentido, desenvolver a criação perfeita, representar o criador e

    fazer cumprir a sua soberana vontade. Assim, o seu papel de vice-

    gerência seria cumprido sob as estipulações de vida e amor do

    pacto da criação”77. 

    O Batismo Infantil tem implicações diretas na esfera dos três

    mandados. Todo relacionamento de aliança envolve compromissos de

    ambas as partes. Quando Deus fez aliança com Abraão, o Senhor

    assumiu o compromisso de abençoar, não só a Abraão, mas também a

    sua semente (Gn 17). Entretanto, este pacto pressupõe que não há

    igualdade de Deus com o homem, pois o Senhor foi quem fez, ou deu opacto a Abraão (Gn 17.2). Meister explica corretamente esta verdade:

    Este tipo de pacto pressupõe a figura de uma parte “soberana”. Um

    dos lados tem a vantagem do domínio e se propõe a cumprir um

    determinado papel; o outro, tendo também um papel a cumprir, se

    77 Meister, Mauro Fernando, UMA BREVE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO PACTO II,IN: FIDES REFORMATA, São Paulo, Seminário JMC, 1999, Vol. IV, nº 1, p.97.

      57

     

    submete às exigências pactuais. No pacto divino-humano

    encontramos a relação criador-criatura rei soberano-servo78

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    encontramos a relação criador criatura, rei soberano servo . 

    Um dos compromissos que cabia a Abraão era circuncidar o seufilho. Esta circuncisão seria o símbolo de que a sua semente fazia parte

    do povo de Deus, e, conseqüentemente, pertencia ao Senhor. Além

    disso, o ato da circuncisão não bastava. Outra grande responsabilidade

    de Abraão era educar os seus filhos no caminho do Senhor. Quando

    Deus revelou a Abraão que iria destruir Sodoma e Gomorra, dissetambém que escolheu Abraão para que ensinasse seus filhos e sua casa

    a guardar os caminhos do Senhor: “Porque eu o escolhi para que ordene

    a seus filhos e a sua casa depois dele, a fim de que guardem o caminho

    do Senhor e pratiquem a justiça e o juízo; para que o Senhor faça vir

    sobre Abraão o que tem falado a seu respeito” (Gn 18.19).

    No período bíblico os pais tinham por obrigação instruir os seus

    filhos no temor de Deus. Em Deuteronômio 4, Moisés exorta o povo a

    que obedeça o Senhor. No versículo 9 do mesmo texto temos que, uma

    das provas de obediência seria fazer os filhos saber dos feitos de Deus.

    Diz o texto: “Tão somente guarda a ti mesmo e guarda bem a tua alma

    que te não esqueças daquelas coisas que os teus olhos têm visto, e se

    não apartem do teu coração todos os dias da tua vida, e as farás saber a

    teus filhos, e aos filhos de teus filhos”. É bom lembrar que na sociedade

    78 MEISTER, Mauro Fernando, UMA BREVE INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO PACTO,IN: FIDES REFORMATA, São Paulo, Seminário JMC, 1998, Vol. III, nº1, p.118. 

      58

     

    de Israel, muitas crianças moravam juntamente com seus avós. Dessa

    forma a figura do avô era importante para a educação de seus netos

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    forma, a figura do avô era importante para a educação de seus netos.

    Algumas características da responsabilidade dos pais crentes noperíodo bíblico, no que se refere à educação, foram bem observadas no

    livro “Vida Cotidiana nos Tempos Bíblicos”. Segue abaixo um resumo

    das atitudes dos pais na tarefa de educar os seus filhos, relatados pelo

    livro citado acima79:

    79 Merril C. Tenney & J. I. Packer & William White Jr., VIDA COTIDIANA NOS TEMPOSBÍBLICOS, adaptado.

    RESPONSABILIDADE DO PAI

    -  Instrução religiosa e de trabalho(lembrar que era um povo agrícola,por isso, nem todos sabiam ler ouescrever).

    -  Educação dos netos.

    -  A maior preocupação dos pais judeusera que seus filhos conhecessem oDeus vivo (lembrar que conhecer emhebraico significa ter umrelacionamento de comunhão comalguém, intimidade).

    -  Na primeira fase da infância, os pais judeus faziam seus filhos memorizar

    vários versículos do VelhoTestamento, em forma de credo (Ex:Dt 26.5-10). A intenção era ensinar ofilho de que Deus havia feito umaaliança com eles.

    -  O pai deveria dedicar tempo para aeducação de seus filhos.

    RESPONSABILIDADE DA MÃE

    -  Especialmente até aoscinco anos de idade, amãe tinha um papeldecisivo na educaçãodos seus filhos. Istoporque, ao completarcinco anos de idade, os

    meninos iam trabalharcom os pais, a fim deaprenderem algumaprofissão. As meninasaprendiam as tarefas damãe, a fim de setornarem auxiliadoras dofuturo marido.

    -  A mãe ensinava suasfilhas a fazer pão, fiar etecer, etc.

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    Alguns textos bíblicos são importantes como prescrições de

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    Alguns textos bíblicos são importantes como prescrições de

    Deus para a tarefa de educar filhos. São eles:

    -  “Ponde, pois, estas minhas palavras no vosso coração e na

    vossa alma; atai-as por sinal na vossa mão, para que

    estejam por frontal entre os olhos. Ensinai-as a vossos filhos

    falando delas em vossa casa, e andando pelo caminho, e

    deitando-vos, e levantando-vos” (Dt 11.18-19).

    -  “Disse-lhes: Aplicai o coração a todas as palavras que, hoje,

    testifico entre vós, para que ordeneis a vossos filhos que

    cuidem de cumprir todas as palavras desta lei” (Dt 32.46).

    Outros textos importantes poderiam ser citados, como é o caso

    de Dt 6.6-7: ”Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração;

    tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e

    andando pelo caminho, e ao deitar-te e ao levantar-te”. Destes

    versículos temos que uma criança é como uma faca com um corte cego,

    cuja lâmina precisa ser amolada. O livro “Vida Cotidiana nos Tempos

    Bíblicos” faz uma importante observação:

    A frase “tu as inculcarás” vem de uma palavra que geralmente se

    referia a afiar uma ferramenta ou amolar uma faca. O que a pedrade amolar é para a lâmina da faca, assim o é o treinamento para a

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    criança. A educação prepara os filhos para tornar-se membros úteis

    e produtivos da sociedade80.

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    Na sociedade de Israel, nos tempos de Jesus, havia classes nas

    sinagogas destinadas à educação dos meninos. Lá eles aprendiam a

    Lei, como é o caso de Paulo que foi educado aos pés de Gamaliel, um

    doutor da Lei muito respeitado (At 5.34; 22.3). Essas classes educativas

    funcionavam durante a semana, mas os pais entendiam que a educaçãorecebida em casa era muito mais importante. “Durante a semana, os

    meninos iam a essas classes para estudar as Escrituras com os

    professores qualificados. Estas classes suplementavam a educação

    religiosa que os meninos recebiam dos pais”81. 

    Atualmente o pensamento de muitos pais está mudado. Alguns

    acreditam que não são mais responsáveis pela educação de seus filhos.

    Para eles, os professores de seus filhos é que devem educar. Assim, a

    escola tem sido vista, não como um complemento à educação do lar,

    mas como a única ou a mais importante na educação.

    Recentemente, numa escola do Estado de São Paulo, cujo

    nome prefiro não revelar, ocorreu um fato que ilustra o que estamos

    80 Merril C. Tenney & J. I. Packer & William White Jr., VIDA COTIDIANA NOS TEMPOS

    BÍBLICOS, p. 70.81 Ibidem, p.82.

      61

     

    dizendo. Um garoto, cursando o primário, deu um soco no vidro da porta

    de uma das salas de aula. O problema é que o vidro quebrou e, um

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    de uma das salas de aula. O problema é que o vidro quebrou e, um

    estilhaço atingiu o rosto de um estudante. A diretora, preocupada com o

    futuro dos seus alunos, ligou para o pai do menino que quebrou o vidro,

    a fim de que seu pai tomasse providencias na educação do filho.

    Entretanto, o pai do garoto disse à diretora: “Olha aqui, diretora. Quando

    o meu filho faz alguma bagunça em casa, eu não ligo para a senhora

    avisando. Portanto, se ele fez alguma bagunça na sua escola, o

    problema é seu!”.

    Outros casos poderiam ser citados, mas gostaria de expor só

    mais um. Numa outra escola, que trabalha com crianças de até 6 anos

    de idade, um menino com 2 anos pediu uma banana para a professora.

    Ela atendeu o pedido do menino, mas ficou triste com a atitude dele.

    Aquela criança pegou a banana e jogou no chão com ar de satisfação e

    felicidade. Então, a professora foi conversar com a avó do menino com o

    intuito de avisá-la da atitude de seu neto. A avó, porém, disse com ar de

    contentamento: “Ah! Lá em casa a fruteira fica num lugar baixo e meu

    neto pega duas bananas, descasca, joga no chão e pisa em cima”.

    O que causa mais tristeza é que este tipo de educação,

    exemplificada acima, é, também, utilizado na educação de muitos filhos

    de crentes. Eu creio que este é um grande motivo pelo qual a população

    está perdendo o conceito de respeito às autoridades. Muitos não

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    respeitam mais a palavra dos pais, nem dos mais velhos, nem dos

    professores. Isto implica que, quando estiverem na adolescência,

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    p p q , q ,

    provavelmente não respeitarão nem às autoridades civis e muitos menos

    terão respeito para com Deus. Talvez a causa disso seja algumas linhas

    de psicólogos e pedagogos que orientam os pais em desacordo com a

    Palavra de Deus.

    A verdade é que estamos vivendo uma crise no sistema

    educacional. Francisco Solano Portela comenta o assunto da seguinte

    forma:

    ... a realidade é que vivemos uma crise em nossas escolas. A crise

    não é gerada somente pela falta de investimentos no setor ou pela

    deficiência acadêmica das escolas públicas. Ela estáprofundamente enraizada na filosofia de educação recebida desde a

    tenra infância. Ela se reflete concretamente no nosso lar, na

    formação dos nossos filhos, no conhecimento que recebem ou que

    deixam de receber, na visão de vida que tendem a resolver, nos

    padrões de aferição que constroem para sua existência, na suposta

    “apreciação da vida com responsabilidade” que leva jovens a viverirresponsavelmente82. 

    82  PORTELA, Francisco Solano, O QUE ESTÃO ENSINANDO AOS NOSSOS

    FILHOS? UMA AVALIAÇÃO TEOLÓGICA PRELIMINAR DE JEAN PIAGET E DOCONSTRURIVISMO, IN FIDES REFORMATA, São Paulo, CPPAJ, 2000, Vol. V, nº 1,p. 71.

      63

     

    A educação recebida nas escolas deve ser algo de muita

    preocupação para os pais cristãos. Estes têm, por obrigação,

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    acompanhar os estudos de seus filhos e orientá-los a reter o que é bom,

    o que não contraria a Palavra de Deus.

    Um dos métodos mais utilizados no atual sistema educacional é

    chamado de construtivismo. Este tem a sua base inicial na filosofia e

    experiências feitas por Jean Piaget. Apesar disso, não foi Jean Piaget o

    fundador do construtivismo. Ele apenas lançou as bases do mesmo83. 

    Portela dá uma boa explicação do pensamento dessa teoria

    construtivista:

    ... considera o conhecimento como sendo o resultado das

    inteirações da pessoa com a ambiente onde vive. Nesse conceito,

    todo conhecimento é uma construção que vai sendo gradativamente

    formada desde a infância, nos relacionamentos com os objetos

    físicos ou culturais com os quais as crianças travam contato84. 

    Talvez você me pergunte: O que há de mal no Construtivismo?

    Não parece ser uma boa filosofia de Ensino? Em resposta dizemos que

    essa teoria tem coisas boas, mas também possui muitas coisas ruins.

    Dentre as boas, destacamos alguns bons resultados obtidos pela teoria:

    83 Ibidem, p.73.84 Ibidem, p. 72.

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    -  O aluno tem mais interesse pelo ensino, pois é mais

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    interativo.

    -  Os pais são considerados muito importantes no processo de

    educação.

    -  A produção de material didático, em geral, tornou-se mais

    atrativo aos alunos, etc.

    Entretanto, algumas coisas não são boas nesse processo

    defendido pelo construtivismo. Vejamos:

    -  Ele atinge tanto a esfera do conhecimento como o campo da

    moral dos alunos. As crianças devem criar os seus próprios

    sistemas de valores. Por isso, não podem existir padrões

    morais a serem seguidos. O problema é que a Bíblia

    estabelece padrões absolutos a serem seguidos. Não

    podemos aceitar que o bem não seja formulado por Deus,

    mas, pela nossa sociedade85.

    -  Para o construtivismo, o conhecimento é um reflexo

    subjetivo, gerado na mente de quem aprende. Sendo assim,

    estão ensinando para os nossos filhos que não existe

    verdade objetiva e é impossível conhecer a realidade. Pois

    85 Ibidem, p.76.

      65

     

    bem, sabemos que a verdade é uma realidade objetiva, e

    que Deus é a verdade e a Sua Palavra também (Jo 17.17).

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    Este tipo de ensino monta na mente da criança barreiras

    para um dia ela acreditar que Jesus ressuscitou, por

    exemplo86.

    -  O construtivismo entende que o que interessa não são as

    respostas às perguntas feitas por uma criança. O que

    interessa são as perguntas. Isto causa um tipo de educação

    sem direcionamento. Entretanto, ao olharmos para a Palavra

    de Deus, vamos encontrar que devemos educar as crianças

    nos caminhos (direcionamentos) da Palavra87.  “Eu sei, ó

    Senhor, que não cabe ao homem determinar o seu caminho,

    nem ao que caminha o dirigir os seus passos” (Jr 10.23).

    O construtivismo trouxe grandes influências à formação de

    outras escolas de ensino. Uma delas foi a influencia aplicada à escola de

    Summmerhill, fundada em 1921. Para essa escola, a rejeição a

    qualquer tipo de autoridade traz grandes benefícios. O importante é obem estar emocional da criança. Portela, citando um autor construtivista

    demonstra que há um grande perigo nesta filosofia da educação. Se a

    criança “... puder crescer em plena liberdade, sem uma direção

    autoritária, sem influência moral e religiosa, sem ameaças e sem

    86 Ibidem, p.77-78.87 Ibidem, p.78-80.

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    coação... aí a criança se transformará em um homem feliz e,

    conseqüentemente, bom”88.

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    Este tipo de pensamento é totalmente contrario ao ensino da

    Palavra de Deus. Os pais precisam aprender a falar “não” para os seus

    filhos e, às vezes, será preciso discipliná-los. Vejamos o que diz o sábio

    inspirado por Deus: “O que retém a vara aborrece o filho, mas o que o

    ama, cedo o disciplina” Pv 13.24. Em outro lugar a Palavra de Deus diz:

    “Corrige o teu filho e te dará descanso, dará delícias à tua alma” Pv

    29.1789.

    O Rev. Philippe Landes, em seu trabalho sobre batismo infantil,

    declara-se preocupado com a educação dos filhos de crentes. Diz

    Landes:

    Um dos fenômenos tristes na vida da Igreja, resultante do descuido

    dos pais na educação dos filhos, é o fato de que um grande número

    deles se afasta da Igreja para o mundo na segunda e terceira

    geração. Para impedir esse desvio prejudicial da nossa mocidade

    88 Ibidem, p.81.89 Provérbios 3.12 diz: “Porque o Senhor repreende a quem ama, assim como o pai, aofilho a quem quer bem”. A importância da disciplina pode ser vista em outros lugares da

    Escritura. O interessante é que Deus convoca os pais a seguirem o seu exemplo.Assim como o Senhor disciplina os seus filhos, também os pais, devem disciplinar seusfilhos (Hb 12.5-13). Qual o pai que daria uma faca para o seu filho pequeno brincar?

      67

     

    evangélica, é indispensável que demo