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DESAFIOS ATUAIS PARA CONSOLIDAÇÃO DO ENSINO E
APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: ANÁLISES
SOBRE A DISCIPLINA DE SOCIOLOGIA NO PROCESSO DE ENSINO
E APRENDIZAGEM DA UAB/UTFPR MEDIANEIRA
Claudimara Cassoli Bortoloto1
Ivone Teresinha Carletto Lima2
André Sandmann3
RESUMO: O presente artigo visa desenvolver uma análise sobre a interação e participação de alunos da
Educação a Distância do Curso de Especialização em Educação: Métodos e Técnicas de Ensino ofertado
pela Universidade Aberta do Brasil – UAB, em parceria com a Universidade Tecnológica Federal do
Paraná, Campus de Medianeira. A análise considerou apenas a disciplina Sociologia no Processo Ensino-
Aprendizagem estruturada a partir da pedagogia histórico crítica. Utilizou-se pesquisa exploratória cujos
dados foram selecionados tendo em vista a participação dos alunos, a interação entre eles e o professor em
diferentes avaliações, e constatou-se os seguintes dados: no que se refere ao diálogo entre professor e aluno,
houve pouca interação entre ambos para questionamentos e dúvidas sobre o conteúdo. A pesquisa revelou
também que os fóruns de discussões coletivas foram os espaços com maior interação entre os alunos e
professores, pois lá desenvolveram conceitos científicos, ideias e construíram coletivamente o
conhecimento. Análises sobre interação entre professor e aluno na modalidade EaD poderão revelar
obstáculos que impedem a consolidação do processo de ensino e aprendizagem, para simultaneamente
criar condições que melhor permitam efetivá-los.
PALAVRAS-CHAVE: Educação a Distância, interação, ensino, aprendizagem.
INTRODUÇÃO
O presente artigo buscou desenvolver uma análise exploratória da estrutura preparada
para o desenvolvimento da disciplina de sociologia no processo de Ensino e Aprendizagem,
através da utilização da plataforma moodle.
A disciplina em evidência faz parte do conjunto das disciplinas que compõem a
Especialização em Educação: Métodos e Técnicas de Ensino – 2013. A escolha do período
1 Mestre em Educação pela UNIOESTE, graduada em Ciências Sociais – UNIOESTE, professora do
magistério superior da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR, Campus de Medianeira.
Membro do Grupo de Pesquisa em Políticas Sociais – GPPS, UNIOESTE. Membro do Grupo de Pesquisa
Ensino, Aprendizagem e Políticas Educacionais – ENAP, UTFPR/Campus de Medianeira. 2 Doutora em História pela Universidade Federal Fluminense. Professora do Magistério Superior da
Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR, Coordenadora da Especialização em Educação:
Métodos e Técnicas de Ensino – UAB/ UTFPR - Campus de medianeira. Membro do Grupo de Pesquisa
Ensino, Aprendizagem e Políticas Educacionais – ENAP, UTFPR/Campus de Medianeira. 3 Doutor em Matemática pela UFCG, Professor do Magistério superior da Universidade Tecnológica Federal
do Paraná- UTFPR. Membro do Grupo de Pesquisa Ensino, Aprendizagem e Políticas Educacionais –
ENAP, UTFPR/Campus de Medianeira.
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decorre da mudança de professor, da reestruturação da disciplina a partir dessa data, e da
avaliação da mesma, tendo como princípio a necessidade de desenvolvimento e análises do
processo de ensino e aprendizagem, especificamente na modalidade Educação a Distância – EaD.
Para essa análise, é importante considerar que a disciplina possui uma carga horária de
36 horas, e tem a seguinte ementa:
A sociologia na formação dos professores; O ensino da Sociologia: propostas, alternativas e
desafios; Reflexões acerca do sentido da Sociologia; Visão da evolução da sociologia no
processo ensino aprendizagem; Estratégias para o ensino de cultura e grupos sociais.
(UAB/UTFPR, 2014, p. 1)
A EaD, não se exclui de tendências e práticas pedagógicas que estão presentes no
ensino tradicional presencial, nesse sentido, a disciplina de Sociologia no Processo de Ensino
e Aprendizagem foi estruturada dentro do Ambiente Virtual de Aprendizagem – AVA, de
forma a ter como orientação a pedagogia histórico crítica.
Partimos dos pressupostos de Libâneo (1986) que a prática docente tem através de si
condicionantes sociopolíticos que propiciam diferentes concepções de homem e de sociedade,
e consequentemente diferentes pressupostos sobre o papel da escola, aprendizagem, relação
professor aluno, técnicas pedagógicas. Nesse sentido, os pressupostos teóricos metodológicos
orientam a ação dos professores, seu trabalho a forma de como selecionam e organizam o
conteúdo das matérias ou escolhem técnicas de ensino. Isso significa dizer que o trabalho do
professor sofre influência das diversas matizes teóricas, ao mesmo tempo em que nos coloca
enquanto docentes de cursos de formação de professores a necessidade e a responsabilidade
com uma formação de qualidade, mas principalmente que leve o nosso aluno e atual professor
a perceber a escola como espaço de contradição, de disputas de diferentes interesses, para
fazer dela um ambiente voltado as demandas da classe trabalhadora.
A pedagogia histórico crítica cumpre esse papel de uma formação que tenha como
propósito a assimilação dos conteúdos, o professor se mantém como o mediador do
conhecimento, mas acentua-se também a participação do aluno no processo.
Por isso, o professor não deve se restringir a conhecer as necessidades e carências dos
alunos, mas deve despertar outras necessidades, acelerar e disciplinar os métodos de estudo,
exigir o esforço do aluno, propor conteúdos e modelos compatíveis com as suas experiências
de vida, e mobilizar o aluno para uma participação ativa. A instrumentalização é então a
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forma de como o professor mobiliza o aluno para o conhecimento, despertando o interesse
pelo conteúdo, e isso também se faz presente na EaD de forma mais contundente, já que nessa
modalidade de ensino, o professor não está presente virtualmente. Mobilizar requer do
professor uma dinamização e um compromisso com o conteúdo, de forma a estruturá-lo e
contemplar todos os aspectos exigidos pela pedagogia histórico critica, que conforme
Gasparim (2003) vai da síncrese, síntese, catarse.
De acordo com esse autor, a síncrese é o conhecimento inicial do aluno sobre a realidade
social do conteúdo, para isso, o professor ao estruturar a disciplina deve partir desse conhecimento,
isso pode estar presente na EaD no material de apoio, quando instiga o aluno com questões
pertinentes ao conteúdo, bem como nos fóruns semanais que abordam conteúdos diferentes.
Já a síntese que é a estruturação do conhecimento intermediada pelo professor, está
presente principalmente nas condições em que esse processo pode ocorrer diretamente. Ou
seja, nos fóruns coletivos, nas vídeo aulas, nas devolutivas de avaliações individuais, o
professor intermedia, de forma a expor ou conceitos, ou explicações sobre o que faltou para o
aluno assimilar o conhecimento. Esse é um momento que incorpora os conhecimentos
iniciais do aluno e a problematização a partir do conteúdo científico apresentado pelo
professor que estabelece relação com o conhecimento inicial.
A catarse é a expressão elaborada da nova forma de entendimento da prática social a
que se ascendeu, que se efetiva entre o que o aluno possuia de conhecimento e da intervenção
do professor. É a apropriação do conhecimento científico pelo aluno.
No entanto, essa pedagogia necessita antes de tudo que o professor tenha uma boa
formação e que principalmente domine o conhecimento científico expresso no domínio do
conteúdo a ser ensinado, para que ele possa elaborar uma disciplina que contemple a ementa,
e esteja disponível para o aluno de forma a incorporar todos esses elementos.
Foi com esse propósito que a disciplina de Sociologia no Processo de Ensino e
Aprendizagem foi estruturada. Considerou-se a disponibilidade do material de apoio,
acompanhado de vídeos aulas semanais sobre os conteúdos, a interação entre professor e
aluno, evidenciada a partir de fóruns de diálogo entre professor e aluno, aberto durante toda a
oferta da disciplina. Além desse fórum dialogando com a professora, semanalmente os alunos
tiveram a disponibilidade fóruns coletivos semanais, onde cada semana abordou-se conteúdos
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diferentes, mas que contemplavam a ementa da disciplina, a ênfase dessa pesquisa recai na
análise dos fóruns, pois considera-se esses espaços privilegiados para a interação entre
professor e alunos.
Além dos fóruns, outras atividades avaliativas foram propostas, como os
questionários com perguntas objetivas, que semanalmente deveriam ser respondidos
individualmente pelos alunos, a fim de estabelecer maior relação entre o conteúdo e o material
de apoio. Para finalizar, foram propostas duas tarefas realizadas em semanas diferentes, e
desenvolvidas individualmente por cada aluno, além disso, realizou-se a uma vídeo
conferência anteriormente a prova avaliativa, a fim de diagnosticar na interação direta entre
alunos de todos os polos, as dificuldades, para posterior aplicação da prova avaliativa
realizada sem consulta e individualmente.
A questão dos métodos se subordina à dos conteúdos: se o objetivo é privilegiar a aquisição
do saber, e de um saber vinculado as realidades sociais, é preciso que os métodos
favoreçam a correspondência dos conteúdos com os interesses dos alunos, e que estes
possam reconhecer nos conteúdos o auxílio ao seu esforço de compreensão da realidade
(prática social). (LIBÂNEO, 1984, p. 40)
A partir das diferentes formas de avaliação e participação, podemos dialogar com
Lukesi (2014), que faz referência à importância da avaliação como diagnóstica, não limitada a
apenas um instrumento avaliativo, mas constitui-se como uma etapa do processo de ensino e
aprendizagem, uma vez que está articulada ao planejamento de ensino, aos conteúdos
propostos, de forma a evidenciar a relação entre prática e teoria.
Conforme Luckesi, 2014, p.80:
Para que a avaliação se tome um instrumento subsidiário significativo da prática educativa,
é importante que tanto a prática educativa como a avaliação sejam conduzidas com um
determinado rigor científico e técnico. A ciência pedagógica, hoje, está suficientemente
amadurecida para oferecer subsídios à condução de uma prática educativa capaz de levar a
construção de resultados significativos da aprendizagem, que se manifestem em prol do
desenvolvimento do educando.
A análise do quadro de avaliações propostos na disciplina revela a sua diversidade, o
que está totalmente atrelado com a pedagogia histórico crítica, que articula o conhecimento
que parte da realidade do aluno, mas o supera, a questão dos métodos se subordina a dos
conteúdos, e permitem aos alunos estabelecer relações entre o conteúdo e sua prática social.
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O método de uma pedagogia crítico social dos conteúdos não partem então de um
saber artificial, depositando a partir de fora, nem do saber espontâneo, mas de uma relação
direta da experiência do aluno, confrontando com o saber trazido de fora.
Mas como enfrentar esse desafio na EaD, se a disciplina é montada anteriormente a
presença dos alunos? Essa é uma boa questão a se refletir, o professor já elabora
anteriormente a disciplina, e é nesse momento de elaboração, que deve estar presentes as
formas de interação que vão ocorrer durante o processo em que o aluno cursa a disciplina.
O professor deve se atentar para que nas possiblidades de intervenção, de introdução
aos conteúdos, ela possa ocorrer. Deve assim, desenvolver problematizações, que podem
ocorrer ao longo da disciplina, para posteriormente ir junto com os alunos desenvolvendo as
mesmas de forma a construir o conhecimento científico.
Em relação a essa disciplina, isso esteve muito presente no material de apoio, que fora
elaborado pelo professor, bem como nos fóruns coletivos.
O professor é o mediador do conhecimento, o seu papel como condutor do
conhecimento é insubstituível, mas acentua-se também a participação do aluno no processo,
principalmente na EaD, quando essa relação deve ser estimulada, já que ela se difere da
educação presencial.
O professor não deve se limitar a conhecer as necessidades e carências dos alunos,
mas buscará despertar outras necessidades, acelerar e disciplinar os métodos de estudo, exigir
o esforço do aluno, propor conteúdos e modelos compatíveis com as suas experiências de
vida, e mobilizar o aluno para uma participação ativa.
Com esse propósito, iniciaremos a avaliação da participação dos alunos nas diferentes
avaliações da disciplina Sociologia no Processo de Ensino e aprendizagem. É necessário
ressaltar que essa disciplina faz parte do conjunto das disciplinas denominadas de módulos
especiais, esses módulos são subdivisões entre as áreas do conhecimento, sendo essas:
metodologia de ensino de comunicação e artes, metodologia de ensino de ciências sociais,
metodologia de ensino de ciências exatas e biológicas.
O aluno, após cursar disciplinas obrigatórias, é direcionado para cursar o
conjunto de disciplinas dentro de cada módulo especial a partir da sua área de formação
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ou trabalho. A sociologia no processo de ensino e aprendizagem faz parte da segunda
área que é constituída por mais três disciplinas além dela.
Os alunos são provenientes de várias regiões do Paraná, geralmente moram nas
cidades-polo do EaD, da UTFPR Medianeira, ou na região de abrangência. Há cinco polos
vinculados, sendo eles: Foz do Iguaçu, Paranavaí, Nova Londrina, Umuarama e Ibaiti.
Para cada polo existe uma quantidade de alunos, que conforme relatado anteriormente
se define pela área de formação, conforme indica a tabela a seguir.
Tabela 1- Alunos do curso de Especialização em Educação:
Métodos e Técnicas de Ensino – 2013, distribuído por polos:
Polos Alunos
Foz do Iguaçu 09
Ibaiti 13
Nova Londrina 13
Paranavaí 16
Umuarama 13 Fonte:http://ead.utfpr.edu.br/moodle/user/index.php?contextid=53395&roleid=0&id=351&perpage=20&accesssi
nce=0&search=&group=2850
A quantidade de alunos matriculados nessa disciplina nos diferentes polos varia entre
09 e 16. Essa variação se dá por diversos fatores, sobretudo a área de atuação desses
professores, já que muitos possuem outra formação ou licenciatura e lecionam sociologia, ou
mesmo pelas Universidades e cursos de Ensino Superior disponíveis em cada região. É
necessário ressaltar que a Especialização é oferecida gratuitamente pelo MEC, através da
parceria entre a Universidade Aberta do Brasil e A UTFPR Campus de Medianeira.
No início de cada ano, abre-se edital de seleção, e os alunos se inscrevem e enviam
documentação para seleção de vagas, que serão inseridos ou não de acordo com a
classificação conforme os critérios exigidos pelo edital.
O objetivo dessa especialização conforme a UAB, é capacitar profissionais da área de
educação, de forma a proporcionar qualificação na perspectiva de ensino e aprendizagem.
(UAB/UTFPR, 2014)
A descrição da especialização, bem como quantidade de alunos se faz importante para
contextualizar a realidade e o objeto de estudo, para então desenvolvermos as análises
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quantitativas e qualitativas sobre a participação e interação entre alunos e professor na
referida disciplina.
Iniciaremos a discussão sobre o fórum dialogando com a professora, já que esse fórum
fica aberto durante todo o período de oferta da disciplina e o aluno pode utilizá-lo a qualquer
momento, para fazer questionamentos sobre conteúdos, dúvidas, avaliações, ou qualquer
forma de participação que queira fazer.
A tabela a seguir indica alguns dados em relação à participação e interação dos
mesmos no fórum, é necessário mencionar que esse fórum não é avaliativo, porém é um dos
principais instrumentos de contato direto entre alunos e professores.
Tabela 2 – Relação de alunos por polo e participação no fórum dialogando com a professora
Polos Pós Graduandos Frequência nos
fóruns por polo
Participação por
polo (%)
Foz do Iguaçu 09 05 56
Ibaiti 13 07 54
Nova Londrina 13 01 8
Paranavaí 16 4 25
Umuarama 13 13 100
Fonte: http://ead.utfpr.edu.br/moodle/mod/forum/discuss.php?d=17366
Conforme Valente (2010) um dos grandes desafios do EaD é a interação entre
professor e aluno, embora o desenvolvimento da tecnologia da informação tenha contribuído
para criar novos espaços de interação, como a internet, ainda é muito restrita essa
participação. Isso fica evidente nos dados da tabela 2, em que o fórum dialogando com a
professora em apenas um polo foi acessado por 100% dos alunos. Há uma necessidade de
aprofundar essa participação, pois esse é um dos espaços que o aluno tem a sua disposição a
presença do professor no espaço virtual.
Nesse sentido, Valente (2010) reafirma o encurtamento das distâncias entre
professores e alunos através da TIC, pois ela proporciona a alta interação, e faz originar o que
o autor denomina de estar junto virtual. Há a substituição do espaço físico pelo espaço virtual,
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compartilhado pelo acesso de ambos a essa tecnologia, que simultaneamente origina novos
espaços de interação e comunicação.
Corroborando com Valente (2010) Tori (2001), também dá ênfase a esses novos
espaços de interação e a sua importância para a EaD, pois segundo ele:
O aluno interagindo online com o professor remoto pode se sentir mais próximo de seu
mestre do que se estivesse assistindo uma aula local expositiva, junto com uma centena de
outros colegas, todos impossibilitados de interagir adequadamente com o professor ou
entre si. ( TORI, 2001, p. 01).
Para tanto, as pedagogias a serem utilizadas no EaD, são definidas conforme essa
interação, um exemplo é o estar junto virtual que é resultado do desenvolvimento tecnológico
TIC, ela permite ao professor interagir com o aluno, de forma a sanar suas dúvidas e
dificuldades, essa abordagem foi alcunhada por Harasim et al.( 1995) de Learning network.
O diálogo com as referências bem como as análises da participação dos alunos no
fórum dialogando com a professora, nos dão algumas bases para a compreensão sobre o
processo ensino e aprendizagem no espaço virtual, que dependerá sobretudo dessa interação,
conforme nos expõem Valente, 2010, p. 32.
Essas interações permitem o acompanhamento e o assessoramento constante do aprendiz no
sentido de atender o seu interesse e o nível de conhecimento sobre determinado assunto e, a
partir disso, ser capaz de propor desafios e auxiliá-lo a atribuir significado ao que está
realizando.
Frente a esses dados, algumas questões vem a tona: como explicar uma baixa
participação dos alunos no fórum dialogando com a professora, se há por parte dela a
consciência da necessidade de estimular essa participação e se a disciplina foi elaborada a
partir da pedagogia histórico crítica?
Essas questões colocam um amplo conjunto de fenômenos que poderiam explicã-las.
Kenski (2010) em seus estudos comparativos entre a educação presencial e EaD, ressalta a
necessidade e vivência de uma nova cultura, são novas relações entre os envolvidos no
processo, com novos conteúdos, tecnologias, comportamentos e de avaliação.
Essa nova vivência carece de uma preparação dos alunos para experimentarem novas
experiências, os mesmos devem ser adaptados e capacitados para a utilização do ambiente virtual.
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A cultura da escola tradicional, que dissemina no aluno o medo de perguntar, de
explanar suas dúvidas, de realizar trocas pedagógicas ainda é muito evidente, e trás reflexos
para o EaD, por isso, um dos grandes desafios é certamente a instalação de um clima de
confiança entre professores, tutores e alunos, através da dinamização de um processo de troca,
onde o aluno apresente suas dificuldades desvinculadas do medo, para que sintam-se a
vontade sem restrições ao fazer isso, conforme argumenta a autora:
O acompanhamento no processo de aprendizagem não pode ignorar esse momento de
introdução dos participantes em uma nova cultura, a virtual. O desenvolvimento de
atividades que possam acolher esses novos participantes tem de ser o primeiro momento
educacional de qualquer curso. É preciso apresenta-los às especificidades da cultura escolar
virtual e lhes oferecer oportunidades de vivenciar os principais códigos, regras, valores, do
novo ambiente em que irão viver, conviver e aprender. (KENSKI, 2010, p. 64).
A pouca utilização do fórum dialogando com a professora, pode ser explicada, por
essa cultura do medo disseminado na escola tradicional presencial, ou mesmo na incipiente
preparação dos alunos para utilizar o ambiente virtual.
Ao se comparar a participação no fórum dialogando com a professora e no fórum
coletivo, onde todos os alunos participam, há uma elevada participação dos alunos nos
mesmos, sendo que nesses a participação dos alunos atingem 99% , e na maioria deles, um ou
outro aluno não participam por problemas de acesso, prazos, e fechamento da plataforma
conforme a programação.
Isso fica evidente no relato de uma aluna que perdeu o prazo de acesso, e postou no
fórum dialogando com a professora, sendo que esse fica aberto e pode ser acessado a qualquer
momento.
Ola professora obrigada pela atenção porém fui postar minha última mensagem no fórum
não prestei atenção no horário no entanto não foi possível concluir sobre os vídeos, mais
deixo aqui o que queria relatar. Milton revela que há uma forte crítica, pois a pobreza é
tratada com naturalidade, percebe-se então que o mundo é dividido em dois grupos “os que
não comem e os que não dormem com medo das revoltas dos que não comem”. Diante
disso percebe-se que a globalização garante os interesses da minoria, sem se importar com a
maioria, pois o dinheiro acabou se tornando o centro do mundo por causa da geopolítica.
Otávio Ianni que nos diz que. “que as economias do mundo enfatizam as transnacionais que
ultrapassam as fronteiras geográficas e políticas”. Pode-se entender que o baixo valor da
mão de obra que enriquece cada vez mais a alta sociedade vem dessas fronteiras políticas
onde as multinacionais e transnacionais buscam nos países mais pobres a exploração da
mão de obra barata, visando os lucros excessivos e aumentando assim o poder do
capitalismo nesse mundo globalizado.” (UAB/UTFPR, Aluna Ead polo de Umuarama,
postado em 04 de Maio de 2014)
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Os fóruns coletivos e semanais, tocam na discussão de conceitos científicos estudados
na semana, e requer a compreensão dos alunos e a exposição dos conceitos debatidos no
fórum.
Valente (2010) acentua a existência desses espaços coletivos de discussões, e ressalta
a importância da Tecnologia da Informação na sua implementação. Para o autor, Além da
interação entre professor e aluno, a TIC possibilita a interação entre os alunos, onde um
auxilia o outro, e constroem coletivamente o conhecimento. Essa interação permite, sobretudo
a participação do professor no processo, bem como dos tutores a distância, a internet garante
novas formas de interação e novos espaços de produção do conhecimento.
No outro extremo do espectro com relação ao grau de interação entre professor e
aprendizes, e entre aprendizes, se encontra a abordagem do estar estar junto virtual. O
advento da internet cria condições para que essas interações sejam intensas,
permitindo o acompanhamento do aluno e a criação de condições para o professor,
“estar junto”, ao lado do aluno, vivenciando e auxiliando-o a resolver seus problemas,
porém virtualmente. ( VALENTE, 2010, p. 32)
Há que se considerar que nos fóruns coletivos são atribuídas notas de participação, e
isso estimula o acesso do aluno, bem como a cautela e o cuidado de superação do senso
comum e rigor científico.
Quando isso não ocorre, o professor intervém de forma a chamar atenção para a
construção dos conceitos amparados em pressupostos teóricos e científicos.
Essa realidade, coloca o professor como protagonista do processo de ensino e
aprendizagem na EaD, embora hajam críticas da ausência do professor nessa modalidade de
ensino, já que não há a educação presencial, e quando ela ocorre se dá de forma
semipresencial, como videoconferência por exemplo, o professor torna-se fundamental para
mediar o processo de ensino e aprendizagem.
Essa mediação reforça um dos elementos centrais e estruturantes dessa disciplina, que
norteada pela pedagogia histórico crítica, coloca o professor a responsabildiade pela condução
do conhecimento, de forma a mediar o processo de ensino e aprendizagem.
Valente (2010) tem como foque central a discussão do papel da interação entre
professor e aluno na modalidade EaD, pois a interação é nessa modalidade de ensino a
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mediação, é através dela que o professor intervêm, de forma a consolidar os três processos
presentes na pedagogia histórico crítica consubstanciados na Síncrese, síntese, catarse.
A maneira e como se estabelece essa interação define as diferentes abordagens
pedagógicas utilizadas em EaD.
A memorização da informação e a construção do conhecimento constituem parte do
processo de aprender. Mas a formação restrita a memorização já não dá conta de preparar
pessoas para sobreviverem na sociedade do conhecimento. O grande desafio da educação hoje
e em especial a EaD, é criar condições para que além da transmissão da informação,
simultaneamente ocorra o processo de construção do conhecimento. VALENTE (2010).
Isso implica no desenvolvimento de diferentes abordagens pedagógicas de EaD que
contemplem concomitantemente a transmissão da informação e a construção do
conhecimento. Para Valente (2010), a maioria dos cursos em EaD tem privilegiado a
transmissão da informação, e ações que criem condições para a construção do conhecimento
são praticamente inexistentes.
O debate com pensadores sociointeracionistas como Vigotsky, Piaget e Papert, conduz
Valente a reforçar a ideia da importância do auxílio de pessoas para a formação de conceitos
dos que encontram-se no processo de ensino e aprendizagem.
De Piaget a Vigotsky está explicito não só a teoria sociointeracionista, mas o destaque
dado ao professor como condutor do conhecimento.
Nesse sentido, a ideia da construção de conhecimento pode ser aprimorada se
tivermos professores preparados para ajudar os alunos (PIAGET, 1998) ou como
propõem Vygotsky (1986), por intermédio de pessoas com mais experiência que
podem auxiliar na formalização de conceitos que são convencionados historicamente.
Sem a presença de um educador, seria Necessário que o aprendiz recriasse essas
convenções. ( VALENTE, 2010, p. 28)
Valente trás uma série de autores que discutiram a interação entre professor e aluno na
EaD, Moore (1993) vai destacar a autonomia do aluno que deve ser resultado da própria
separação presencial entre ambos. A responsabilidade é algo presente na condução de suas
atividades.
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Esses alunos para o autor, conseguem desenvolver suas atividades com mínima
orientação. Esse autor definiu a teoria da distância transacional, que se dá fundamentada num
conjunto articulado de três elementos:
[...] uma relação entre a estrutura dos programas educacionais, a interação entre alunos
e professores, e a natureza e o grau de autonomia do alunos. Segundo essa teoria,
quanto maior o diálogo, quanto mais flexível for a estrutura de um curso e quanto
mais autonomia tiver o alunos, menor a distância transacional. ( VALENTE, 2010, p.
28)
O autor destaca que Holmberg ( 1995) já fez referência a afetividade do ensino e sua
relação com alguns aspectos presentes no EaD como, os sentimentos de cooperação,
pertencimento, a troca real de dúvidas, respostas argumentação, através da comunicação
mediada.
Tal, mediação pode ser relacionada por exemplo, nas intervenções dos professores nos
fóruns coletivos, onde todos os alunos participam, de forma a discutir cientificamente
conceitos, e descontruir o senso comum.
Sobre esse aspecto Valente 2010, p. 29 destaca que: “ Nesse sentido, a EaD é vista
como uma conversação didática guiada que objetiva a aprendizagem, e que a presença de
traços típicos de uma conversação bem-sucedida deverá facilitar a aprendizagem”.
As análises sobre as formas de participação dos alunos as interações ao longo da oferta
da disciplina, permitiram uma reflexão sobre a prática pedagógica, que nos coloca maiores
responsabilidades na modalidade EaD.
Ao mesmo tempo, analisamos e percebemos as lacunas ou obstáculos para a
participação e a consolidação do processo de ensino e aprendizagem. É salutar ressaltar, que
estudos dessa envergadura contribuem também para ampliar o conjunto de estudos e
pesquisas que tomam a EaD como objeto de estudo, a fim de tecer considerações e novas
abordagens teóricas e metodológicas, consideradas ainda restritas no meio acadêmico.
A luz das considerações finais, essa pesquisa evidenciou a limitada participação dos
alunos em espaços de interlocução direta com o professor, algumas explicações, conforme já
delineado, podem fazer parte da cultura do medo disseminada na escola tradicional e com
reflexos na EaD, ou mesmo a limitada preparação dos alunos para a utilização do ambiente
virtual, e a criação de uma nova cultura de ensino e aprendizagem definida a distância.
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Os espaços de produção coletiva, como os fóruns semanais, permitem a interação
direta e a construção coletiva do conhecimento científico, esse espaço tornou-se assim como
as devolutivas do professor frente às avaliações individuais, momentos que revelam o
protagonismo do professor como intermediador do conhecimento científico.
As tecnologias da Informação, engendraram a criação de novos espaços pedagógicos,
como o denominado estar junto virtual, viabilizado através da internet. Além da interação
entre professor e aluno, a TIC possibilita a interação entre os alunos, onde um auxilia o outro,
e constroem coletivamente o conhecimento. Essa interação permite, sobretudo a participação
do professor no processo, bem como dos tutores a distância, a internet garante novas formas
de interação com outros espaços de produção do conhecimento.
Embora a disciplina apresente limites no que tange a maior participação dos alunos, é
necessário afirmar que as avaliações que foram atribuídas notas, tiveram praticamente 99% de
participação. E quando não participavam, eram imediatamente justificadas pelos alunos.
A pesquisa nos permitiu uma reflexão sobre as práticas pedagógicas, sobretudo na
modalidade EaD, de forma a buscarmos junto aos obstáculos diagnosticados, melhores
condições, metodologias e técnicas para efetivar o processo de ensino e aprendizagem,
tomando a interação entre professor e aluno como central nesse processo.
Fica evidente, que a interação ainda é um desafio para a EaD, bem como deve haver
uma intensa preparação dos alunos para melhor explorar esse espaço, e a presença do
professor no ambiente virtual, já que as Tecnologias da Informação permitem essa
possibilidade.
REFERÊNCIAS
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Autores Associados, 2003.
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