GRAMATICA PORTUGUESA JOÃO RIBEIRO 1889

Embed Size (px)

Citation preview

EXAME DE PORTUGUEZ GRAMMATI CA PORTUGUEZA (3ANNO) POR AUTOR DO DICCIONARIO GRAMMATICAL TERCEI RA EDI O RIO DE JANEIRO Livraria Classica de ALVES & C. 48 Rua Gonalves Dias 48 1889 ADVERTENCI A Aindanohdousannosqueappareceuluzpublica(em setembrode1887)aGrammaticaPortuguezaejimprimimos hoje a terceira edio. Nesta,poucasalteraesfizemos;supprimiu-seoappendice em cujo lugar se reeditou o prefacio da edio anterior. Noslugaresemqueestelivroformenosabundanteem informaes,aconselhamosaoleitoraconsultadoDiccionario Grammatical do mesmo auto. Junho, 1889. OS EDITORES. OBRAS DO MESMO AUTOR ESTUDOS philologicos. Rio typ. da Gazeta de Noticias 1884 in-8 (esgotado). MORPHOLOGIAecollocaodospronomes.DissertaoIbi. typ. Hildebrandt 1885 (esgotado). GRAMMATICAportuguezaelementar.Cursomedio.(2anno), 2$000. Rio, Alves y Comp., editores, 1888. GRAMMATICAportuguezadaInfanciaCursoprimario.(1anno) 1$000. Rio, Alves y Comp., editores, 1888. DICCIONARIOGRAMMATICA,contendoemresumoasmateriasque sereferemaoestudohistorico-comparativodalinguaportu-gueza. Rio Alves y Comp., 1889 .............................4$000 Em elaborao ESTUDOS e notas philologicas. CHESTOMATHIA Historica da lingua portugueza. LIO I SUMMARIO. 1. Observaes geraes sobre o que se entende por grammaticageral,grammaticahistoricaoucomparativae porgrammaticadescriptivaouexpositiva.2.Objectoda grammaticaportuguezaedivisodoseuestudo.3. Phonologia :ossons e as letras ;classificao dossons edas letras.Vogaes;gruposvocalicos.Consoantes;grupos consonantaes.Syllabas;grupossyllabicos.Vocabulo. Notaes lexicas. 1.Gr ammat i caacoordenaodasfrmulas, leisouregras,segundoasquaesumalinguafalada ou escripta. Estadefiniodeduzidadaobservaodosfactosda linguagem. Aanalyse revelaque toda a lingua temgrammatica, porqueosvocabulosqueservemparaaexpressodasidas, affectamvariaesdefrma,decollocaoedesentido susceptiveis de serem generalizadas, isto , de serem construidas sob o typodeleis ou regras. Osystema geral e abstracto destas leis constitue a grammatica. A grammatica divide-se em geral e particular. Gr ammat i cager al aqueexpeosprincipios logicos communs a todas as linguas. Gr ammat i capar t i cul ar aqueexpeos principios e as particularidades especiaes de um idioma. Actualmenteoprogressodaphilologiaproscreveuasciencia da grammatica geral. No ha grammatica geral seno parauma classe, familia ou grupo de linguas da mesma filiao. Gr ammat i ca hi st or i ca a queestudaos factos deumalingua,emseusdiversosperiodos,desdea origem e formao at a poca presente. 2 Gr ammat i cacompar at i vaaqueestudaos factos communs ou diferentes, em um grupo de linguas, que tm a mesma origem. Emgeral,tantooestudohistoricocomoocomparativo,so inseparaveiseconstituemomethodohistorico-comparativo, essencialscienciadaslinguas.Nocasodalinguaportugueza, oselementoshistoricossofornecidospelolatim,pelo portuguezantigoepelasinfluenciasdaslinguasextranhas,em diversaspocas;oselementoscomparativosacham-sena analyse das linguas romanas, o italiano, o francez e o hespanhol, que todas se originam do latim barbaro da edade-mdia. Gr ammat i cadescr i pt i vaouexpositiva,ou pratica,aartequeensinaafalareaescrever correctamente uma lingua. Agrammaticapratica,comoarteque,contmpreceitos frequentementeanti-scientificos,por issoqueas suasvantagens consistememprocurarmeiosmecanicosemnemonicosque facilitemoestudo.Assim,agrammaticapraticadenomina irregularesosverbosque,scientificamente,nosentidoda filiao historica, conservam a regularidade primitiva. 2.Agrammaticaportuguezadivide-seemquatro partesprincipaes:Phonologia,Morphologia, ClassificaoouTaxinomiaeSyntaxe.Astres primeiras referem-se ao estudo do vocabulo; a ultima ao da phrase ou proposio. Aspartesquesereferemaoestudodovocabulotmno conjuncto a denominao de Lexilogia. O estudo do sentido do vocabulo chama-se Semantica, e o da origemefrmasprimitivas,etymologiacomquantomuito dependentes da grammatica, della no fazem commumente parte aEtymologia,nemaSemantica,eantesrepresentamdivises: da philologia geral. Phonol ogi a o estudo do vocabulo, considerado como um composto de sons. O estudo dos sons acarreta o estudo das letras e symbolos que osrepresentam.D'ahi,osdouscomplementosdaphonologia:a Orthographia,queensinaarepresentargraphicamenteo vocabulos; a Orthoepia ou Prosodia, que ensina a pronuncial-os segundo o bom uso. 3 Mor phol ogi aoestudodovocabulo consideradocomoumcompostodeelementos significantes ou orgos. Amorphologiacorrespondeaoquenasscienciasbiologicas temsidovariasvezesdenominadoOrganographia.Os elementosmorphicosnososimpleslettrasousyllabas,so partesdovocabuloquerepresentamumaidaprincipalou accessoria : amar-ei con-de-scend-ente bon-d-oso livro-s pro-vid-enc-iar Cadaumdesteselementosemseparadotemumsentidoe todosconcorremparadeterminarasignificaopuradovoca-bulo, determinando-lhe ao mesmo tempo a historia. Em algumas grammaticas o estudo das flexes ou desinencias apropriadasa certasfunces, comoaexpresso dogenero,nu-mero, etc., recebe a denominao de kampenomia. T axi nomi aoucl assi fi caoadistribuio dosvocabulosporfamiliaseespecies,segundoo sentido. (1) Aclassificaotomaporbaseaida,porserestaoattributo maisnotaveldovocabulo.Segundoestesystema,aspalavras so classificadasemfamilias, que tmasdenominaesde sub-stantivos, verbos, etc. Ataxinomiatambemserefereclassificaodasphrasese dasproposies,segundoafuncoquerepresentamnodis-curso. Syntaxe o estudo dos vocabulos em coordenao, isto , cosiderados na phrase. Os vocabulos considerados uns com os outros, na proposico, mantm entresi tresespecies de relaes:adeordem ou collo-cao; a de subordinao ou dependencia e a de concordancia. Ficainlcuidonasyntaxeoestudodaclassificaodasphrases ou analyse logica. (1)Afrmataxinomiapreferivelataxomiaoutaxeonomia; e lexilogia a lexeologia e lexiologia. 4 Phonol ogi a 3.Phonol ogi aouphonet i ca,oestudoda palavra considerada como um composto de sons. Os sons so representados por letras e symbolos, ex. : a,i,,.Oconjunctodasletrastemonomede alphabeto. Oalphabetomodernosummamentedefeituoso.Faltam-lhe symbolosespeciaesparacertossons,como,,,queso suppridosporaccentos;aomesmotempo,possuecaracteres superabundantes como , s, c, k, q, etc. As letras dividem-se em vogaes e consoantes. Chamam-se vogaes os differentes timbres da voz (1). A vogal um som laryageo, puro e inarticulado : a, , o, etc. Chamam-se consoantes ossons articulados que s se produzem com o concurso das vogaes : b (b+) c, d... o que se conclue dos radicaes do vocabulo : cum sonare soar juntamente. Asconsoantes produzem-se no pharynge, no tubo vocal, e em sua produco recebem a influencia e o concurso dos orgos queconstituemaquelletubo:osdentes,ovodopaladar,os labios, etc. Physiologicamente, as consoantes dividem-se em dous grandes grupos : explosivas e continuas. As consoantes que se produzem apenas por uma contraco ou estreitamento do tubo vocal, chamam-se continuas e tm esta denominaoporquesefazemouvirsemanecessidadedeuma vogal : taes so, s, f, v, x. Asconsoantesexplosivasoumomentaneas,nopodemser articuladasdenenhummodo,semvogal.Produzem-se,nopor estreitamento, mas por contacto de duas partes do tubo vocal : t, d,b.m.Asconsoantescontinuastambemsodenominadas fricativas. (1) Max Muller. 5 Classificam-seasconsoantesemlabiaes,dentaes, linguaes, palataes, gutturaes, conforme a influencia que os labios, os dentes, etc., exercem em sua produco. So labiaes : b, p, m, f, v. Dentaes : t, d, s, n. Palataes : j, g (g). Linguaes : 1, r (brando). Gutturaes : c e g (fortes) k, q, n. O som nasal pde ser guttural (n) ou labial (m). Gr upovocal i coareuniodeduasoutres vogaes : au, eia. O grupo de duas vogaes chama-se diphthongo. Quandoemumgrupovocalicoasvogaesqueocompem pronunciam-seseparadamente,haoquesechamahiato,Ex.: planicie, lua, tio, etc. Gr upo consanant al areuniodeduasoutres consoantes : bl, chr, etc. Syl l aba uma letraougrupodeletras, que podem ser enunciadas por uma unica emisso de voz : cra, ble, a, bran. Quandosearticulaumasyllaba,vindooardopulmo, inevitavelaproducodeumsomlaryngeo;porissotodaa syllaba tem uma vogal. Gr uposyl l abi coareuniodeduasoumais syllabas.Osvocabulosquespossuemumasyllaba chamam-semonosyllabos,osquepossuemduas, dissyllabos e tres, trissyllabos ; em geral, os que possuem mais de duas syllabas, denominam-se polysyllabos. Vocabul ooupal avr aarepresentaodaida por meio de sons. As idas podem ser representadas por letras ou por symbolos : Deus, casa, 85, etc. 6 NOTAESLEXICASsoossignaesqueindicam os diversos valores phoneticos de uma letra. As mais importantes so ; O t i l(~) que indica o som nasal : irm, corao etc. O til pde ser substituido pelo m ou n, em alguns casos : irman.Emportuguez,otilsseempregaparaindicar a nasalidade das letras a, o e nas abreviaturas. O accent o agudo()serveparaindicarossons intensos : rap, m. O accento agudo muitas vezes serve para distinguir categorias grammaticaes de vocabulos : bota (subst.) e bta (verbo). O accent oci r cumfl exo(^)serveparaindicar os sons graves : dr, merc. A cedi l ha(,)serveparaindicarosombrandodo c, antes de a, o, u : caa, poo, aude. Acedilha (zediglia),cornoo nome indica, era umpequeno z que no italiano e francez antigo exercia funco identica : faczon, leczon faon, leon. 7 PH ONOL OGI A H I STORI CA (THEORIA GERAL) Constitueaphonologiahistoricaoestudodaevoluodos sonsvocabularesdesdeapocalatinaatadaconstituiodo romanceedamesmalinguaactual.Atapocadoromance (lingua antiga) que so pde fixar entre os seculos XII e XIII para o portuguez,aevoluofoiorganica,isto,operou-sesobo regimen das causas naturaes e inconscientes da degenerao das linguas. Dahi em diante, porm, a cultura litteraria, a disciplina grammatical e o cuidado pelos estudos philologicos tornaram-se agentesartificiaesoraemreacooraemconcurrenciacomo movimentoorganicoprimitivo,quefoievaeperdendocada vezmaisaintensidadepropria,semcomtudoannullar-se totalmente. As foras que lentamente minavam e produziam a dissoluo dosphonemaslatinos,affectavammodalidadesespeciaesque variavamsegundooslugareseostempos.Todavia,as transformaes,queoidiomasoffria,deixavamclaramente observaveisduastendenciasgeraes,quecaracterisaramo conjuncto dos resultados : a decomposio e a reconstruco. Umavezinstituidasestascorrentescontrarias,tornou-se possivel o equilibrio. A medida que, pela decomposio, se davam o enfraquecimento e a perda consecutiva dos valores phoneticos, novasforassurgiamque,alliadasaotrabalhomentale obvolvidasumassobreoutras,seiamoppondodevastaoda lingua. Assim pois, a phonologia comprehende o estudo das duas foras geraes permanentes, quemantm a lingua em equilibrio embora instavel : a decomposio e a reconstruco. IA DECOMPOSIO Os phenomenos de decomposio, cujo maximo resultado foi differenciaredarindividualidadeoriginalslinguasmodernas, acham explicao em muitas e mui variadas causas. Entre estes factores so de notar as raas e linguas primitivas ouposteriores,quepelainvaso,sesuperpuzeramaodominio latino na peninsula. Taes foram o celtico, o gothico, e o arabe. Bem se v que semelhante factor offerece srias difficuldades deanalyse,masalgunsfactoshaqueresistemaqualquer controversia. sabido que alguns sonsgutturaes e aspirados so devidos influenciaarabe.Outrosphenomenosphoneticosderivamda 8 mesmaorigem,taescomoasprotheses,outrorainnumeraveis, daletraanossubstantivosportuguezes:alagoa,alicornio, alampada, aluguer, alanterna. Aindamais.Ninguemcontestaaprocedenciagothicadas transformaes gu, gh dos sons m, v. Exemplos: gastarvastare gomitarvomitare sargentoservientem guai!v! DestaclasseparticipamostermosGuadalquivir,Guadiana, Guimares, guiza, (ant.) etc., etc. Alm das raase linguasconvm noesquecer um factorde importancia limitada, designado sob o nome de meio ou condies mesologicas, entreasquaesaprincipal, incontestavelmente, o clima. Amesologiaabrangeoestudodoclima,dosaccidentese contornos do slo e das aguas, da alimentao, do modus vivendi materialdoshomens.Entreestascondiesavultaoclima,por seracausamaisgeralequepdeexplicaraexistenciadas restantes.Algunsobservadores,comoponderaHardy,tm procurado definir a influencia mesologica ou climaterica, induzindo dos factos a verdade que os sons tornam-se mais agudos medida que cresce a latitude ou baixa a temperatura. Assim os phonemas latinos, italianos e peninsulares em A, tornam-se mais agudos na zonamdia,naFrana,eattingemamaximaacuidadenazona septentrionalemaisfria.Aprogressopdesernotadanos exemplos seguintes : A (sulE (francez)I (inglez) Cabo Capo ChefChief (txif) Caput Labio Labbro LvreLip Labrum Aquila Aguia aigleeagle (igl) Estes exemplos, que nos aponta Hardy, justificam a progresso agudaoudiminuiosonoradosvaloresphoneticos,produzida pela aco do clima. 9 Osfactosmesologicossoosquenotificamavariedade physiognomicadaslinguas,equeaumasdopreferenciapor certossonsqueemoutrasescasseiam.Osomchiantedo seos diphthongos em o caracterisamoportuguez ; os sons gutturaes dochdoespecialpareceraoallemo,comoosibilo-dentalao inglez,anasalidadeaofrancezeoexcessivovocalismoao italiano.Assim,cadalinguatemsuaorganisaoouindole phoneticadetalarteordenada,quesepde,aoouvir confusamenteumtrechodeclamado,dizeremquelinguaest composto, ainda quando se no percebe uma s palavra ou phrase. Aacomesologica,sobretudo,profundanodominio biologico.Nosedevedarexaggeradopesoinfluenciado climasobreotrabalhomental;masclaroqueaactividade cerebraleasfuncesdoapparelhovocaldependem immediatamentedoestadophysiologicodosorgosquevivem sob a continuada aco do meio. Todososfactoresquecontribuemparaadifferenciaoda linguaemqualquerdireco,querimpulsores,querobsidentes, refluemevoteraoprincipiogeraldeeconomiaphysiologica, conhecido pelo appellido de lei do menor esforo. Esta lei de caractergeneralissimopde emverdade conter os phenomenosno s de decomposio, masosdereconstruco phonica ; ellatodaviaapplicadamais restrictamente sriede transformaes que se distinguem por decrescentes reduces do valor phonetico. De sorte queoprincipio pde serformulado, em phonologia, de seguinte modo : Na decomposio da lingua, todo o som tende a diminuir de fora ou a abrandar at o extremo limite : a desappario ou queda. Dahievidentementeseinferequeossonscomportamduas especies determinadas de reduco : 1. O abrandamento.2. A queda. Estasduasordensdefactosassignalamosdousmodos essenciaesdadecomposio.Semqueseexeram discripcionariamente,licitolembrarqueoabrandamentoea perdaacontecemsobaoccurrenciadeoutrascausase circumstancias de que mais tarde faremos a analyse. II.RECONSTRUCO E manifesto que chegariamos ruina do idioma, dado que fosse exclusivaaacodasleisdegeneradoras.Semsahirdomesmo dominiounicodaphonetica,osestragosproduzidospela 10 decomposioseriamexcessivos;ossonsforteseintensos enfraqueceriame os sonsfracosebrandosficariam de continuo sujeitos a perdas inevitaveis. Mas,aindaahi,verificou-seoprincipioqueotransformismo biologicodenominou:aluctapelaexistencia.Oconflicto produziu-seentreasforasquearrastavamadegeneraodos vocabuloseasforasqueseoppunhamaestadegenerao, provenientesasultimasempartedoselementosderesistencia propria dos sonseem parte da intervenodo espirito humano, que naturalmente procurava manter a integridade da lingua. Defeito,osvocabuloscontmemsipropriosbasesestaveis deresistenciaedereaco:aeuphonia,otamanho,aslettras iniciaes e especialmente o accento tonico foram elementos que os deixaramemperfeitaseguridadecontraaondainvasorada decomposiophonetica.Poroutraparte,oespiritodohomem interessadonamanutenoindeclinaveldalingua,exerciaa integraodosvocabulospelaemphase,reforando-ose ampliando-os, conforme impunha a necessidade. V-se do que fica acima declarado que a reconstruco da lingua seeffectuoupormeiodeprocessosbilateraes:deumlado,a reaconegativaexpressapelaresistenciadecomposio, resistenciaconstituidapeloaccento,pelagrandesa(emgeral pela pequenez do vocabulo), pelas letras iniciaes, pela euphonia e facilidade prosdica : de outro lado, nota-se a reaco positiva, caracterisadapelanovidadedosexpedientes,peloreforamento epelacreaoconscientedesonsnovos,queampliavamos vocabulos e facilitavam a pronuncia, tornando-os mais euphonicos. Em summa, coexistiram no conflicto um momento physiologico eoutropsychologico,ambosreactoresesuficientesparaa elaborao do equilibrio e da restaurao da lingua. Amaissuperficialanalysepealimpoimmediatamenteas direcessystematicas,queareacoconstructoraaffectava. Aos dous principies da decomposio, o abrandamento e a queda, oppunham-serespectivamenteosprincipiesantogonicoso reforoeoneophonemaouaintroducodenovoselementos phoneticos(1),letrasadventicias,interpolaes.suffixaese elementos addicionaes. Como j fizemos sentir opportunamente, na propria aco dos elementosreconstructores,aquieacol,apartealgumas intermittencias, observa-se o principio do menor esforo, mas do menor esforo espiritual ou psychologico. A deformao, o destroo das frmas materiaes e dos symbolos deflexoaugmentaria,decerto,asellipses,osesforosda percepo,emfimaenergiamental,cujotrabalhoficou (1) E conveniente a adopo do neologismo neophonema. 11 diminuidopelareconstruco,epelaconsequenteclarezae abundancia das frmas. Ordenandosummariamenteosfactosessenciaesda reconstruco phonetica, temos: I. O accento tonico persiste ou escapa decomposio. II. A letra inicial persiste. III. Os vocabulos de pequena grandeza persistem. Alm desses principios de resistencia negativa a que se podem aggregarodaeuphoniaeoutrosmenosimportantes,notam-se os dous modos culminantes da emphase : IV1) O reforamento de sons. V2) Os neophonemas ou sons addicionaes. Destesprincipiosfaremosmaistardeminuciosaanalyse. Convm,entretanto,desdejesclarecerqueosphenomenosde perdaeconservaoorareferem-seaossons,efazempartedo estudo queesboamos,ora referem-seaosvocabulosin totum e constituemoestudolexilogicodosarchaismoseneologismos, objectoextranhophonologia,emboracomestamantenha alguns pontos de contacto. IIIINTERFERENCIAS Emprofundodesacertocairiaaquellequetentasseexplicar todasasmodalidadesphoneticas,pelosimplesrecursoda decomposioedareconstruco.Osdoisgrandesfactoresso victimasdeperturbaes,decasosespeciaesqueinterceptam, modificam e por vezes lhes annullam toda a actividade. No raro seobservaqueperdadeumelementosuccedeoreforamento compensativo de outro. No latim, para exemplo, a queda do d em dvis,dvellum,foicompensadapeloreforamentodov,embis, bellum. Assim, existem factores secundarios de grande e extensissima funco,communstantocorrentedegeneradoracomo reconstructiva.Soos factores interferentes, cuja aco embora limitada, nem por isso deixa de ser importante. Emprimeirolugardeve-senomearoprincipiodeAnalogia, que opera pouco a pouco a uniformidade e perfeio pratica das linguas.EintuitivoquesendoaAnalogiaatendenciapara uniformar e methodisar no dominio das frmas, da morphologia, que se manifesta com a maior intensidade. Outros principios ainda intercorrem e complicam a evoluo phonetica: taes so os phenomenos de attraco ou sympathia, 12 conhecidospelotermodeassimilaoeosseusoppostosde dissimilaao e transposio ou metathese. 1.) A analogia funcciona como forca de systematisao, e por issoreduzaomininumpossivelavariabilidadedefrmasede expoentesmorphicos.Almdafunconegativadereduco, operacomoforacreadorainventando,sobreosmoldesmais communs, os typos que anecessidade eo progressodas linguas reclamam. Noportuguez, aanalogia dosinfinitosem areem ir, tornou oxytonos todos os infinitivos em er (dere e de re); reduziu as flexesverbaesesubstituiu-asportemposcompostos,no futuro, no condicional, e nas vozes passivas. Desenvolvidaaphraseanalytica daslinguasromanas, deu s frmasnominaes,umunicocaso,cujotypoetymologicoo accusativo latino. Naformaodogenerofezpreponderarcomoexpoentesdo masculinoedofemino,aslettrasoea.Dahiaderivao, apparentementeanormal,dosneutroslatinos,cujogenerose perdera, do plural em a : folia de folium, etc. Aflexoemo,tornando-seotypogeraldosmasculinose correspondendo segunda declinao latina, tornou masculinos anologicamenteosfemininosdasegundadeclinao:lourode laurum;choupodepopolum,etc.Foiaindaaanalogiaque procuroudeterminarogenerosmentepelaflexo,creandoos femininosfreira,patroa,apezardesexistiremosmasculinos frater,patronus.Aanalogiacreouflexesfemininasparaos nomescommuns,dizendo:princesa,parenta,infantade princps, parens, infans, communs aos dous sexos. E o que mais curioso,muitasvezesomasculinooriginou-sedeumtypo feminino, como frango de franga ; mono de mona (ital.), pombo de pomba. Note-se, que por naturezapropria, a funco da analogia no comear,mascontinuarefazerprogredirumatendenciaj existente.Sendode gestaopopulareinconsciente,aanalogia muitasvezesgrosseiraefalsa,submettendouniformidade alguns factos de origem e indole diversa ; como por ex.: dando a pedir e impedir a mesma flexo peo e impeo ; formando nomes como Tiago em vez de Iago (SantIago), etc., etc. 2.)Outraforainterferenteexistequeconstantementereflue contraascorrentesnormaesdaevoluodaslinguas,eaque denominamos a influencia erudita. Ainfluenciaeruditaprocurouapproximaralinguadafonte latinaecomestecriteriodestruiomuitasindeciseseschismas que necessitavam de fixao e de disciplina. Seaanalogiaporumaparteaprincipiogeneralisouaregra dos femininos em a, tornando taes os nomes cometa, planeta, etc., adisciplinaeruditadoseculoXVIemdianterestituioogenero masculino quelles vocabulos. 13 Perdidaafrmadossuperlativospropriosemissimo,a influencia erudita revocou-os do latim, desde o seculo XV. (1) Aselaboraesphoneticaspurasforamcontrapostosos neologismoslitterarios,creandofrmasdivergentes:maculae magoa;primeiroeprimario.Muitasvezessuccedeuqueafrma, eruditasupplantouotypopopular,comosevemseculosobre segre;plantarsobrepeantarechantar,etc.Outrasvezes,a frmapopularssedenunciaemalgumvestgio:assim adjectivopreiodivergentecompleno,ficouimmobilisadona expresso : preia-mar. A palavra mar era feminina outrora, como ainda o hoje no francez e na mencionada locuo portugueza. Foiaindaa influenciaerudita quemodificouapronuncia do x de ch chiante para ks ; identica transformao prosodica operou nogrupoququenosprimeirostempossoavacomocduroou k,peloqueattestamasfrmasantiquadas:casi(quasi)contia (quantia) cresma(quaresma, quadragesima)calidade(qualidade) car (de quare). Ainfluenciaeruditarestabeleceuassuffixaesem arioque pormetathesesehaviamquedadoemairo:rosario,primario, de rosairo e primairo. Mas,nemsempre,ofactordadisciplinaerudita,conseguia destruiras frmas usuaes: se oantigoadjectivo bo, ba, pde ser latinisado na frma, bom ; todavia com a primeira pessoa do presentedoverboser,detyposindecisossomesounoseculo XVeXVI,apezardaautoridadedeJoodeBarros,deu-sea victoria da ultima frrna mais affastada do exemplar latino, sum. 3)Nonosdevemosesquecer,afinal,dasleisphoneticas, communsatodaaespeciedeidiomas,econhecidasporleisde assimilao e dissimilao. Antesdaassimilaodossonsnotadafrancamentedesdeo latim,comosevem attender (attendere de ad-tendere)pelo menostheoricalnenteadmissivelurnaphasepreliminarede transio.Defacto,oaccommodamentoumesbooda assimilao,equemuitocommumnacoalescenciadasvogaes duplas antigas (m=maa, ler=leer), mais claramente se mostra entre asconsoantesegruposrespectivos,que,semseassimilar tomamfrmasmaiseuphonicaseadaptaveisslettras precedentes: tal a nasal de enxame, ensaio (examen, exagium) e dos proprioselementosnolatinosenchorar(doingleza-shore). Afrmafactum produzio fato(pop.) e feitoe s artificialmente o especimen erudito facto. Aassimilaoperfeita,isto,aqueproduziuasubstituioda letraassimiladaporoutraigualprecessoraeassimilante, (1)Antesdisso,sorarosossuperlativosemissimo.Cita-sepor exemplo Santissimo. 14 exemplifica-seabundantementenosvocabulosdeprefixaode ab, ad, in, etc.: atender, assistir, applicar, illegivel, etc. No se deve esquecer,porm, quanto aoelementoarabico,o factocuriosodequeaassimilaosseproduznajuncodas letras chamadas lunares : r, s, z, . Taes so as assimilaes do artigo al. As-sucar Az-zeite Ar-rabil A-ude (as-sude) Eclaroqueosphenomenosdeassimilaoousympathia phonetica,interferemfrequentementedentrodaorbitadasleis geraes da phonologia, creando excepes e casos especialissimos inexplicaveis muitas vezes pela simples filiao historica. LIO II Da accent uao e da quant i dade Nadegeneraodolatimfoi-sepoucoapouco obliterandoanoodequantidade,emproveitodo accento,quesetornou,comodizFredericoDiez,o centro de gravidade da palavra. O som tem durao e tem intensidade. Naduraobaseia-seoconceitodequantidade;e neste caso, os sons podem ser longos ou breves, podem ser pronunciados em maior ou em menor espao de tempo. Esobreaintensidadeouacuidadedossons,quese baseiaoconceitodeaccento.Avogal,eporextensoa syllaba mais intensa, diz-se tonica, accentuada ou syllaba predominante.Asvogaesesyllabasmenosintensasou graves dizem-se atonas. Usualmenteapalavraaccentodesignaoaccento agudo, relativo syllaba predominante. Osvocabulosquetmoaccentonaultimasyllaba dizem-se oxytonos : caf, immortal. Os que tm o accento napenultimasoparoxytonoscasa,verdade.Osque tmoaccentonaantepenultimasoproparoxytonos: celebre, philosopho. Os paroxytonos e proparoxytonos tm a denominao commum de barytonos. Em relao s expresses antigas, proparoxytono equivaleao exdruxulooudactylo;oparoxytonoaograve;eooxytonoao agudo. O acent o. Oaccento latinofoi,emregrageral, conservadonaslnguasromanas,conseguintementena 16 linguaportugueza.Estaleiamaisimportanteegeral daphonologianovo-latina.Exemplosdalingua portugueza. Cerebro cerebrum. Praa plateam. Lebre lpore. Janeiro januarium. Piedade pietatem. Jolho genuculum, ant. gelho. Cabido capitulum. Convm observar que os vocabulos oxytonos, que no existiamnolatim,tambemconservamaaccentuao primitiva : Amor amrem. Jazer jacre. Razo rationem. Oradr oratorem. Fiel fidelem. Aindaoscompostosconservamfrequentementeo accento dos seus radicaes, resultando dahi muitas vezes a accentuao dupla : recproca + mnte; trpega + mnte; physico-chimica, etc. Existetambemoaccentopropriodaphraseemprosaouem verso, o accento oracional, muito sensivel na conversao ou na declamao. As excepes da lei de persistencia do accento tonico soassznumerosas,emborarepresentemumpequeno minimum ao lado de todo ovocabulario da lingua. Aqui mostraremososcasosmaisgeraesdadeslocaodo accento nas palavras portuguezas : 1.)Aanalogiadeslocouoaccentoemgrandenumerode frmas verbaes. 17 Comodasquatroconjugaeslatinas,trespossuiam os infinitivos paroxytonos, em are, re, ire, a ultima em rebrevefoiimpellidaparaocasomaisgeral.Assim, explicam-se as deslocaes do accento em : caber cpere (capre) dizer dicere (dicre) fazer fcere, (facre) etc. Dapersistenciadoaccento,porm,restamvestigios nasfrmasdofuturodealgunsverbos:far-ei;dir-ei, etc., em que os themas far, dir, apresentam a accentuao de fcere, dcere. Porseuturno,osinfinitivosumavezdegenerados constituiram-sethemasfixosdasconjugaes,com prejuizo do accento latino : Considerar(considerare)Considro(considero)ant. considro. Imaginar (imaginare) Imagno (Imgino) Imagnas. Estefactopdeserinterpretadosegundooprincipio:as frmas de flexes conservam a accentuaao do thema respectivo. Por exemplo, o accento de amva persiste nas variaes amvamos (amabmus) amveis, etc. 2.)Atendenciaparaevitarohiatoeoexdruxulo, sempredeprosodiadifficil,operouadeslocaodo accento. Exemplos: Lenol lintolum Feijo fasolum Humilde humilem 3.a) tendencia para evitar o maior esforo de articulao umadascausasmaisnotaveisdadeslocaodo accento. Deste modo, nota-se a influencia regressiva dosRIBEIRO : LIES DE GRAM.2 18 gruposbr,tr,cr,dr,depronunciadifficileque frequentemente attrahem o accento : alvedro arbitrium pentro penetro inteiro integrum alegre lacrem trevas tnebras 4.)Quandooccorriamfrmasgregaselatinas,em geral, houve obediencia accentuao latina. Em alguns casos, porm, a accentuao grega tornou-se predominante, como se v dos seguintes exemplos : Acnito acontum Idolo idlum Tisna ptsana Elogo elgium Aobedienciaaoaccentogregofoisobretudonotavel nas frmas eruditas, que contm o suffixo ia : agrypna, geometria, philosophia, geographia, etc. (1) 5.) Do elemento germanico so pouco importantes os casosdedeslocaodoaccento.Citam-searnquede hrinc,eosdousnomesAmricoCoprnicoem contraposio com Alarico, Eurico, Rodrigo (Roderico), etc. 6.) Do elemento arabe existem casos notificados pelas frmas divergentes, como : alcool e alcofr (kafr) Taes so os factos de maior importancia relativamente s leis do accento tonico. (1) As palavras gregas so : acniton oxovi:ov, eidolon, cioov, ptisan, :ioovg,elogion coyiov. 19 Porinfluenciadaprosodiafrancezatemsidoadoptadaa pronuncia erronea de alguns vocbulos : resed, Alegra, cosmetco, gense, aerostta, etc. OsindiosnoBrazil,emconformidadecomalinguatupi, tornavamoxytonososvocabulosportuguezes:cabar(cabra) cabar (cavallo) curus (cruz) etc. Aprosodia,dosnomespropriosdeorigemgregaehebraica, etc.,nuncafoidefinida.Dahiavariedadedeaccentuaes: Drio (CamesIII, 41; X,21)Cleoptra(III, 141)Heliogablo (III, 92) Annibl (X, 153), etc. (1) Ha casos de deslocao de accento difficilmente explicveis : ddiva de dativa ; bah de bjulus ; figado de fictum. Quant i dade.Comodissemosemprincipio,a noodequantidadetoclaraeinnegavelentreos romanos,ficouobliteradapelapredominanciaquasi exclusiva do accento. Naslinguasromanas,emrigrnohadistinco absolutaentreassyllabaslongaseasbreves;masna prosodiaportuguezaeuropa,notam-seclaramenteos valores breves : querer (crer), peloto (pluto), etc. Do mesmo modo, entre os brazileiros, notam-se com maior nitidez os valores longos : plto, querr, esprana. Emrigr,naspalavrasderelao,nasenclisese proclises que a quantidade mais se revla amplamente : para pra de dia ddia me diz mdiz Aquantidadelatinafoisempredesrespeitada,por issoquenaslinguasromamasavogalatonasempre breve : infinitonfntus hmenshomins maravilha mrbilia (1) Reinhardstttner Gramm. 20 Foidetalordemasupremaciadoaccento,que,em regra, a quantidade sno foiviolada quando coincidiu com a accentuao em uma mesma syllaba. (1) (1)Umfactoquebempoderiarepresentaranoode quantidade na lingua o rythmo prosodico das syllabas, resultante e dependente do accento, em qualquer vocabulo. Napronunciadeumapalavranotam-sealternadamenteuma syllaba forte e logo outra fraca em toda a extenso do vocbulo : Ci v li sa co Re gu la ri da de, etc. Aobservaomostraqueestesvocabulossopronunciados como o seriam as phrases imaginaveis seguintes : Cive lisa so ; rgolaredade.Istoprovaqueexisteumrythmoquenopde serdestruidonemtopoucosertransformadoemoutrov.g.: civ lis co ; reg lari dde, etc. Eclaraaexistenciadorythmo,eascesurasouaccentos secundariossodispostosalternadamente,conformeoaccento principal. Se este cahe sobre a syllaba, impar, as cesuras tambem recahem sobre syllabas impares : 123456 Ca-pilla-riDA-de (Cpe, lare,dade) Quandooaccentoprincipalcaesobresyllabapar,ascesuras so tambem pares : 12345 Ca val ga du ra Aexcepesnotam-se,apenasnaspalavrascompostascujos elementos j tem os seus accentos determinados. Por isso no se dir contradizer, e sim, contradizer. LIO III SUMMARIO. Origem das letras portuguezas. Leis que presidem permutadasletrasportuguezas.Importanciadestas transformaes phonicas no processo de derivao das palavras. Or i gemdasl et r as.Oalphabetodalingua portuguezaomesmodolatim.Aorthographiados sons gregos foi-nos legada pelos escriptores romanos. Taes so os caracteres compostos : ch, ph equivalentes a c e p, aspirados, como se v nos vocbulos : monarcha. Phebo, etc. Oscaracteresjevforamcreadosnostempos modernos para designarem os sons consonantaes do i e do u. Owdeorigemgothicasappareceemvocabulos estranhos lingua. Nos vocabulos allemes tem o som de v : wagon, walsa ; nos vocabulos inglezes tem o valor de u : tram-way, water-closet, whist. O h serviu desde o latim para exprimir o espirito rude (notaoprosodica)dostermosgregos:rhetorica, rheumatismo. Noportuguezantigoenomesmoperiodoclassico,o hum symbolo deaspirao devogalouhiato : tvoha, meheu, taboa, meu. Os valores c e gdo latim antigo abrandaram antes de eeinolatimbarbaroeemtodasaslinguasromanas. Destarte, antes de e e i o c = s, e o g = j. Ossonsgutturaesdosarabesperduramnalingua castelhana, mas desappareceram no portuguez. 22 Os sons molhados lh e nh formaram-se no dominio das linguasromanasenohacertezadequefossem desconhecidos no latim. Per mut as e t r ansfor maes.A transformao phoneticaquesoffreramasfrmaslatinaspara chegaremaoestadoactual,realisou-se,emgeral,entre asletrashomorganicas,isto,entreaquellasqueso produzidasporummesmoorgo.Assim,frequentea permutaentre as dentaes : t, d; entre as gutturaes : ce g, etc. Asleismaisnotaveisdastransformaessoas seguintes : 1.O abr andament o.Asconsoantesfortesou surdas abrandaram-se em outras homorganicas sonoras. Exemplos: dentaest = dvitam vida latus lado gutturaesc = glacunam lagoa periculum perigo labiaesp = boperam obra capre caber dent. sibil.s = zmensam meza pensum pezo 2.Or efor o.Eophenomenocontrarioao abrandamento;raronaevoluodequalquerlinguae deve ser considerado como uma anomalia : leixar, deixar laxare nembrar, lembrar memorari Nestaclasseentramcertosviciosprosodicose provincialismos,comoaconfusotumultuariadobev em:boda,voda,bespa,vespa,cobarde,covarde, taberna, taverna, etc. 23 Os casos mais notaveis do reforo so : a) A substituio do l por r nos grupos consonantaes : Cravo clavum Empregar implicare Prazer placere frco floccum grude gluten. Era mais commum na lingua antiga, fror (flor) grria (gloria), etc. b) O reforo das continuas, xss : Paixo Passionem Bexiga Vesicam cf. Ximenes e Simes. 3. Assi mi l ao.Consiste na attrao que um som exerce sobre outro, dando-lhe o proprio valor phonetico. A assimilao na maioria dos casos veio do latim, onde frequentissima. Exemplosdeassimilaoencontram-sequando occorrem os prefixos ob, ad, in, per, sub, cum : obommittir por ob-mittir. occasio adattender acceitar inillegal immortal irradiar subsopapo (sob + papo) cumcommisso collateral 24 Muitas vezes, a assimilao incompleta quando no seproduzaattracodesonsidenticos,masdeoutros differentes.Exemplo:almoo(ad+morsum),caixa, capsam, bautisar, de baptisare, etc. A assimilao progressiva ou regressiva. E progressiva, quandoa attraco,entreduas letras, seexercedaprecedenteparaaqueselhesegue.Ex.: dozentos (dois-centos) trezentos (tres-centos.) E regressiva no caso contrario, isto , quando a letra quesetransformavememprimeirolugar.Ex.:em ommittir,foiaattracodomdasegundasyllabaque transformou o prefixo ob em om. Salsicha, transforma-se em salchicha. A influencia regressiva nota-se ainda nas derivaes chuchar ( * suchar, de suctiare), chcho (scho de suctus), isso (de ipsum), gesso (de gypsum.) O artigo arabe al tem varios exemplos de assimilao:as-sucar ar-roba az-zeite (azeite) E um phenomeno geral para todas as linguas. 4.Per das.Aqudadossonsumphenomeno frequente e manifesta-se segundo as duas leis principaes que vamos enunciar : a)Qudadavogalbreve.Notem-seosseguintes exemplos : Del-i-catum delgado. Ver-i-tatem verdade. Dec-i-mum dismo. Op-e-rare obrar. Ap-e-rire abrir. 25 b) Quda da consoante mdia entre vogaes: ler (leer) le-g-ere ver(veer) vi-d-ere mo (maao) ma-l-um ero hre-d-em amais (amades) ama-t-is Quasi sempreexistemas frmasdo portuguez antigo leer, veer, que attestam a evoluo da lei. (1) 5.Conser vao.Hasonsquepersisteme resistem s transformaes phoneticas : so as consoantes iniciaes. a) A consoante inicial persiste quasi sempre, raras vezes transforma-seequasinuncadesapparece:fresta, fenestram, quente, calentem, etc. Asvezesnotam-setransformaeshomorganicasv.g.entre asgutturaes:gato,cattum.Aqudadaconsoanteinicialto rara,quesseeffectuaemcasosdeterminadosque examinaremos quando se tratar da apherese (metaplasmas). Doqueficaexposto,facilconcluiraimportancia que decorre das leis phoneticas. Semestas leis, induzidasda analysedos factos, seria impossivelconstituirascienciadaetymologia,outrora toentreguearbitrariedadedosdoutosedos ignorantes. Quantoaoprocessodederivao,notemosqueestas leis smente se exerceram na evoluo propria da lingua (1) As metaplasmas constituem um capitulo especial. 26 popular.Osneologismoseasfrmasdederivao eruditanosesubmetteramacodasleise,antes, apresentamintactoocaracterdasfrmasoriginarias latinas.Assim,naderivaopopularosuffixoaticus apresenta as frmas agem e age : selvagem, viagem (de silvaticus,viaticus);mas,omesmosuffixonosoffre alterao nos vocabulos de origem erudita oulitteraria ; taes so os exemplos : viatico, silvatico, etc. LIO III (APPENDI CE) Quadr o abr evi ado das pr i nci paes t r ansfor maes dasl et r aspr i mi t i vasl at i nas,r eal i sadasna const i t ui o do por t uguez. CONSOANTES B origina-se deBboi, bovem. Fabrego, africum. Pcabido, capitulum. Vsebo, sevum. C origina-se deCco, clum. Qununca, nunquam. D origina-se deDDeus, Deus. Torador, oratrem. Ldeixar, laxare. (1) F origina-se deFfazer, facere. Phfaiso, phasianum. G origina-se deGgosto, gustum. Tcselvagem, silvalcum Ccbaga, baccam. Cgato, catum. Vgastar, vastare. (2) H origina-se deHhaver, habere. Fhediondo, ftibundum (3) (1) Esta permuta rarssima ; um reforo. (2) Esta permuta representa a prosodia gothica do g aspero. (3) Esta permuta da prosodia castelhana ; o exemplo talvez unico em nossa lingua. 28 J origina-se deJ jazer, jacre. S cereja, cerasum. Hi Jeronymo, Hieronymus. K origina-se doK Kaleidoscopo (grego). Ch kilometro. (1) L origina-se deL logo, loco. N alma, animam. Mlembrar, memorari. (2) D julgar, judicare. M origina-se deMmal, malum. D palafrem, paraveredum. (3) N origina-se deN noite, noctem. L nivel, libellam. Mnespera, mespillum. P origina-se deP pouco, paucum. R origina-se deR rei, regem. N timbre, tympanum. (4) sarar, sanare L rouxinol, lusciniolam D cigarra, cicadlam S origina-se deS seis, sex. Ti razo, rationem. X ensaio, exagium. T origina-se deT todo, totum. V origina-se deV vomitar, vomitare. F ourives, aurificem. B arvore, arborem. P povo, populum. Z origina-se deZ zytho, zythum. C dez, decem. X pez, pix. (1)Eaunicatranscripoerradadochgregoemnossalingua. Veio do francez. (2) Rarissimo. (3) Influencia franceza. (4)Palavrafranceza,timbre.Ajuntamosoexemplovernaculosarar derivado de sanare. 29 X origina-se deS enxofre, sulphur. Ss paixo, passionem. VOCALISMO A origina-se deA arvore, arborem. E lagarta, lacertam. Y calandra, cylindrum. (1) (atono) I covado, cubitum.. O lagosta, locustam. E origina-se deE rei, regem. A alegria, alacritiam. I trevo, trifolium. I origina-se deI riso, risum. E comigo, cum-mecum. O origina-se deO povo, populum. U noz, nucem. E por, per infl. pro, A fome, fames. U origina-seU um, unum. O custar, constare. GRUPOS MAIS NOTAVEIS PLTransformou-seemch:planum,cho.Plorare, chorar.Nalinguaantigaeraassazcommuma transformaoempr:emprirdeimplere,encher. Cumprir de cumplere. Ct, ptTransformaram-seordinariamenteemitouut: actum,auto;lectum,leito;directum,direito. Algumasvezeshouveassimilao;septem,sette ou sete. Ct, e tlTransformaram-seemlh.Exemplos:artelhode articlum : (articulum) ; velho, de vetlum ; olho de oclum (1)Exemplounico.Asfrmasintermediariasnuncaforo encontradas, o que, no caso, difficulta a affirmao. 30 TcTransformou-seemj.Exemplos:viagemde viatcum ; selvagem de silvatcum. GnTransformou-se em nh : lenho de lignum. Os outros no offerecem por agora particularidades de analyse. Este schema representa resumidamente as origens das letrasportuguezas,comrelaoaoelementolatino. No julgamosessencial oestudodas transformaes de outroselementos,comooarabeeogothico,por apresensentaremcomplicaes,queaindahojeno esto devidamente esclarecidas. (1) (1) R. V. L. e J. R. Noes de Orthographia (indito). 31 ANAL YSE PH ONETI CA A O a tonico ou accentuado, seja breve ou longo, conserva-se no portuguez : facilfcilis famafma O a breve, embora tonico, algumas vezes apparece com a frma o ou e : TejoTgus Fome fmes Frequentes vezes o A apparece com a frma diphthongada ei : dinheirodenarius primeiroprimarius beijobasium Estescasosexplicam-sepelasmetathesesintermediarias primairo, vigairo, etc., abundantes na lingua antiga. Outroexemplodadiphthongaoopera-senoabrandamento da dupla x, como se v em: seixosaxum feixefascis eixoaxis Dasfrmasdemetathesepelodiphtongoaihamuitos vestigiosemvigr,taessoraiva(rabies)aplainar(deplanus) esfaimado (de fames). O A atonico experimenta varias transformaes em e e o. Esmeraldasmaragdus Bogalho* bacalium. E O e accentuado e longo, de ordinario, persiste : remormus deverdebre mezmnsis 32 Aindapersiste,diphtongando-secomi,quandoseoperaa queda da consoante n : alheioalienus freiofrenum cheioplenus Oeaccentuadoapparececomafrmadoinoscasos pronominaes comigo (mcum) comtigo (tcum) comsigo (scum). Na antiga linguaconhecem-se frmas puras, taes come comego. O e tonico ainda se transforma em i e o nos dous casos : sisosensus, hesp. seso soro serum O e tonico, quando breve, conserva-se : bembne pepdem temtnet meumus egoaqua A diphthongao ei nota-se em : queimar (crmare) ideia (ida). A permuta em i observa-se em : dizima (dcima). Nos casos de posio, persiste : cem (cntum) cervo (crvus). Exceptua-se, em isca (sca) e nas terminaes sonoras : liolectionem confisso, procisso, descripo, etc. Ha casos de interferencia, produzidos por sympathia ou alliterao vocal : escrever, receber (scribere, recipere) por escriver, etc. OEatonicotambempersiste:dezembro,melhor,senhor (dcember, mliorem, sriorem). Transforma-se em a nas palavras: ebanobnum sargentoservi entem marchantemercant em A sduasulti masf rmassoevident ement ef rancezas;e ref er em-se a sergent e marchand. 33 IO i tonico e longo conserva-se na maioria dos casos : liriollium libralbra digodco Osverbosquetrazemoedafrmainfinitivaabsoluta, conservam-o : escrevo, recebo : scribo, recipio. A permuta em e, tem, alis, alguns exemplos : crenacarna quelhacancula pegapca Oitonico,quandobreve,sendoprecedidodeconsoante isolada transforma-se em e: nevenvem vezvcem pezpcem dedodgitus cedoctus menosmnus Esta permuta frequente ainda nos casos de posio do i : crespocri spus seccosi ccus let r a l i tt er a selvasi l va vergavi r ga O i atonico, antes da syllaba tonica muda-se em a, no poucas vezes : maravilhamirabilia balanabilanx A estas corruptelas deve-se ajuntar os plebeismos : salvagem, calandra, etc. 3 34 O O o tonico ou accentuado, em regra geral, persiste. Quer seja longo : coroacorna pessoapersna esposospnsus comoqumodo vozvcem Quer seja breve: bom (bo)bnus sogro scerum escolaschla soloslum podeptest Oolongo,algumasvezestransforma-seemu:outubro (octber)almunha,ant.almoynha,(alimnia),testemunho,ant. testimonio.Apermutaemerara,ecita-se:reborarde reborare.Porallitteraod-seapermutaemanapalavra estmago(stomachus)empregada por Cames.Note-se: lagosta de locusta. Por effeito provavel da flexo interna dos verbos e dos neutros, haosespecimens:tudo(totum),cumpro(compleo),durmo (dormio). Apermutaemedefrenteporfrontepdeserattribuida influenciadovocabulocastelhanofruente,ouaalgumdesvio dialectal. O o atonico apparece transformado em a :manilhamonilia Outras vezes, raras, em i : atimoatomus U O u tonico latino persiste : lua, lalna puroprus 35 Transforma-se em o : copacupa odre ter (uterus) Sendo breve, persiste igualmente: cruz crcem chuva plvia gula gla Permuta-seemo,nomeadamentequandohaqudadevogal ou grupo: hombro hmerus cobre cprum lobo lpus noz ncem cogombro ccmispoo pteus Em casos de posio, ora persiste, o que mais geral, rustico rusticus fructo fructus chumbo plumbum Ora, transforma-se em o : vergonha verecundia lombo lumbus gotagutta onda unda doce dulcis tronco truncus torpe turpis O u atonico, antes da syllaba tonica, torna-se em e e o: embigo umbelicus genebra juniperus tambem ortiga urtica governar gubernare Asfrmassuvellaefivellasdolat.fibulaachamumtermo comparativo no especimen catalo sivella. 36 Y Oyapenasumavarianteorthographicadoi,conservada pela etymologia e pela tradio historica. Na antiga orthographia sempre occorre nas terminaes diphthongadas ei : rey, ley etc. Hojeoyrepresentaogrego.Oprogressodaorthographia phonetica tem-no excluido de muitos vocabulos : abismoabysmo lagrima lagryma inverno hynverno giro gyro Jacinto Jacynto O y originario transformou-se em a nas palavras: sanfona symphonia taleiga :uoxo Transformou-se em e nos seguintes casos: Besante Byzantium ginete ou geneteyuvg:ggesso yqo trepano :ovov mecha o Transformou-se em o nos vocabulos: bolsa pupoo cotonia xu\cvov codeo x:ioo serpol serpyllum Atransformaodeyemu,aliazamaisnormal,tem exemplos em : gruta xpu:g murta up:o tufo :uqcv 37 DIPHTHONGOS Propriamente, os diphthongos em portuguez, so os sons vocaes produzidossimultaneamenteporumaunicaemissodevoz inarticulada. Por isso deveriam ser denominados, monophthongos. Estesdipthongoslatinossosemprerepresentadospeloe simples no portuguez : femea fmna cego ccus edificar dificare ledo ltus era ra A frma grega ai de ordinario representa-se por e : dieta ioi:o demo oicv Oespecimen pagem(oiiov)deprovenienciaitalianaou qui, franceza. AU Afrmaaupermaneceuemmuitosvocabulosvernaculos, sobretudo nos que soffreram a influencia ou correco erudita : applausoapplausus claustro claustrum cauda cauda Parece, porm,que oprocessopopular era adegenerao em ou,senofoiesteosomgenuinododiphthongolatino.Esta transformaocreoufrmasduplas,dasquaesamaisproxima do latim incontestavelmente a mais recente : Pausar pousar pausare Causa cousa causa Tauro touro taurus Lauro louro laurus Mauro mouro mauros 38 A frma ou muitas vezes se torna fluctuante, apparecendo com a diphthongao oi quer derivado de au quer de oc : ouro e oiroaurum tesouro e tesoirothesaurus oitubro e outubrooctober Comquantoindecisoemvarioscasosousofixoualgumas frmas,taescomo:oito,pouco,etc.,quejamaisseempregam comasvariantesoutooupoico.Muitaspalavras,noemtanto, conservam as variabilidades de diphthongao. Ex : Outubrooitubro Ourooiro biscoutobiscoito noutenoite etc. O diphthongo latino au ainda apparece transformado em o em alguns termos de grande antiguidade na lingua : gozogaudium pobrepauper fozfaucem orelaaureola A frma a, em que se opera a perda do diphthongo ou a quda da vogal connexa, mais rara : AgostoAugustus agouroaugurium Atuno (ant.) autumnus O segundoexemplo umcaso de metathese, e o terceiro j archaico. EU, UIOs diphthongos eu e ui persistem: Heu!heu ! Europa Europa Fuifui Astransformacesparaosoaccidentaes,comosevda varianteflexionalfoi(fuit)edoplebeismoOropa,por allitterao, de Europa. 39 HIATO DE VOGAES OHIATOouasuccessodevogaesdevocalisaono simultaneaconstitueumadasmaiores dificuldadesprosodicase porissonaslinguasderivadassusceptiveldediversas degeneraes. Ha casos em que o hiato persiste : dia de dies. Ha casos em que o hiato resolvido pela eliso de uma letra : lenol de linteolus. Hacasosainda em que o hiato seresolvepor intercalaode um som novo, de grupos como lh, nh : filho de filius. Ha casos, finalmente, em que a dificuldade prosodica do hiato seacharesolvidapelametatheseoutransposiodeletras: primeiro de primarius. So,portanto,quatroassoluesqueaphonologiahistorica registranapassagemdolatimparaaslinguasromanas,ede cada uma dessas solues faremos uma analyse parte. PERSISTENCIA Apersistenciadohiatorepresentaasoluoeruditae litteraria,cujatendenciadisciplinadoraapproximaralingua vulgar do factor latino primitivo. Assimaosespecimensantigosvigairo,familha,adjudoiro, substituiuasfrmaspuraseclassicas:vigario,familia, adjutorio. Fra destas circumstancias, o hiato persistiu nos monosyllabos e em alguns dissyllabos, por efeito da accentuao : grua ou grou gruem dia dies meu meus Deus Deus ro reus seu suus (1) Exceptuados os dous primeiros exemplos, pde-se dizer que a persistencia se resolveu por um monophthongo. ELISO Aresoluodohiatopelaperdadeumadasvogaesqueo constituem,quasisempresuccedenomeiodovocabulo,oque approxima o phenomeno da metaplasma denominada syncope. (1)Asfrmasseu,teu,soumresultadoanalogicodemeu.Em todo o caso permaneceu o hiato. 40 Exemplos : abeto abietem parede parietem Em regra pouco exceptuada opera-se a eliso nos suffixos itia, entia, itionem : itia mollitiamolleza duritiadureza entia praesentiapresena differentiadifferena tionemrationemrazo titionemtio Nocaso destes suffixos, s ha excepes, para o segundo em entia : ausencia de absentia. Ha diferentes casos do hiato resolvido pela eliso. Dispensam commentarios os exemplos seguintes : vindimavindemia artemijaartemisia cervejacervisia igrejaecclesia Nestesexemplos,v-sequearesoluodohiatoseformou pela transposio (vigairo vigario), que neste caso se obliterou porseraletratransportadaanalogaaj.Osespecimens intermediarios deveriam ser: cerveija, igreija, videima, artemeija. O abrandamento do t nos hiatos de suffixo, deu lugar eliso: avestruz avis struthio maro martius praa platea poo puteus pao, paao palatium preo pretium No suffixo analogo cius: juizojudicium feitiofacticius mestiomixticius vindioventicius No systema verbal, em cujas flexes mais do que em qualquer 41 categoria grammatical, se nota a influencia da analogia, a eliso da vogal do hiato communissima : faofacio cozoconsuo batobatuo cuspoconspuo morro, mouromorior Nosverbos compostos porprefixao, o hiato permanece nas creaes ou frmas eruditas : reorganisar, co-operar, co-evo, co-etaneo. Mas, o processo popular o da eliso do hiato : redrar (ant.)re-iterare cobrarco-operare cobrirco-aperire dourarde-aurare Todos estes vocabulos datam dos primeiros tempos da lingua. INTERCALAO Asegundasoluodohiatoproduz-sepelaintercalaode umaletra,quedestrueoesforodeduasemissesinarticuladas (vocaes) successivas. Oscaracteresdesteprocessotmduasdirecesanalogas, pois substitue o hiato por dous grupos nh e 1h. Estesdousgrupossomodernosenosesabeaocertose existiamnolatimpuro.Apparecemnocastelhanosobas frmasell;enofrancezsobasfrmasgnellemalguns casos, quando precedido este ultimo (ll) dos diphthongos ai e ei. Grupolh.Eestaaresoluocommumdoshiatosque occorrem precedidos de l no latim : alhoallium conselhoconsilium filhofilius folhafolia mulhermulierem palhapalea melhormeliorem evangelhoevangelium alheioalienus milhamillia 42 O mesmo succede nas flexes verbaes : valho, valha, de valeo, valeat. Haalgumaspalavrasqueescaparamintercalacoe conservamohiatoprimitivo:solio(solium)familia(famlia) oleo (oleum) espolio (spolium). O grupo nh fr. gn, cast . E a soluo commum dos hiatos precedidos de n : cegonhaciconia. sonhosomnium. banhobalneum. campanhacampania. engenhoingenium. extranhoextraneus. linhalinea. HespanhaHispania. vinhavinea. aranhaaranea vergonhaverecunia (verecundia) cominhoscumineus Nota-se ainda no systema verbal, nas flexes : venho, tenho de venio,teneo.Asfrmaseruditasevitaramasoluogeral: taes soeneodeneus;calumnia,noant.portuguezcalonha,de calumnia ; venia ; craneo ; nsania (ant. sanha) ; Eugenio ; genio (engenho) ; insomnia ; etc. Emovocabulopeonhahouveintercalao,masafrma primitiva do suffixo tionem potionem. (1) Oprocessodeintercalaodoherausadolargamentena antigaorthographia,aindamesmoquandonocorrespondiaa nenhum som. Como simples symbolo graphico, notamos o h na graphia dos hiatos : mehormelhor. mahommo. vehuva viuva meheu meu tavoha taboa sehu seu vehia via pessoha pessoa Estas palavras se encontram no Elucidario de Viterbo. (1) Segundo a etymologia de C. Michalis. 43 Cumpre-me notar, emconcluso,que muitasvezesaletra de intercalaco s se encontra no thema ou radical do vocabulo. Assimemchoverenoant.trage(traz)ovnopoderiaprovir dasetymologiaspluere,trahit,nasdosthemaschuv,pluv,trag j existentes no lexico : trager, chuva. TRANSPOSIO Atransposiodeletrasoumetathesefoiumadassolues maisfrequentesemaisnaturaes.Deu-senomeadamentenos suffixos ario, erio, orio, urio. Fica claramente excluido o suffixo irio, vistoquea transposio impossibilitada ficou porcausada concurrenciainevitaveldedousii.Semprequetalphenomeno foi possivel, o hiato resolveu-se por outro modo, como j vimos no exemplo artemija de artemisia. Na antiga lingua as frmas de transposio so frequentissimas: vigairo,contrairo,trintairo,notairo,adversairo,vestiairo, breviairo,igrejairoevejam-seasfrmasinfinitivascasadoiro, conseguidoiro,aduboiro,estabelecedoiro,pousadouro, dormydoiro , que todas constam do Viterbo. Actualmente,porm,ainfluenciaeruditatempreponderado conservandoohiato:contrario,vigario,vestuario,adversario, breviario, etc. Noobstante,existemhojevariosespecimensderesoluo completa:dinheiro denarius cavalheirocaballarius primeiro primarius janeiro januarius morteiro mortarium feira feria madeira materia (materies) cativeiro captiverium viveiro vivarium ligeiro leviarius Da terminao orio : coiro crium Douro Durius Agouro augurium. 44 Dosuffixoairnenhumespecimenescapouaoarchaismo,a no ser a palavra donaire (donarium) provavelmente conservada por influencia barbara. Umfacto queno estperfeitamente averiguado odo hiato precedido dev, resolvidopeloj oug,brando. Estaletraprovir davogalidohiatoqueseconsonantisou,ouantesmostrar queovprimitivosevocalisouemuedesappareceudiantedas duas vogaes seguintes? Os exemplos no so raros : fojo (fovea) sargento (servientem) ligeiro (leviarius), j citados. Opinopelaconsonantisaodavogal,emvistadeoutros especimens irrecusaveis, como : hoje-oie, oy ho (d) ie Orge (ant) hor (d) eum Parece,pois,quepelaqudadovtivemososespecimens li-ieiro,foi-o,eliminados,comoregra,naescaladaevoluo phonetica. HIATOS MODERNOS (formados na lingua) Quandopelaqudadaconsoantemdiaformou-senalingua antigaohiatoemquealetraufoioprimeiroelemento,deu-se frequentementearesoluomaisnotaveldoshiatos:avogalu consonantisa-se em v e frma nova syllaba : cau-l- isc-e (coue)couve co-ardusc-ardocovarde clau-d-erech-irchouvir au-d-ire-ir (ouir)ouvir lan-d-arel-arlouvar Representamospeloaccentoosomou,emqueou evidente. O mesmo facto d a explicao dos preteritos ;tanui-teue-teve, etc. 45 CONSOANTES LETRAS LATINAS LETRAS PORTUGUEZAS EXEMPLIFICAES Bb bullabolha. v herba, herva. Debere, dever. 1. A permuta do b emv faz-se regularmente nas terminaces avel, ivel,uvel: amavel de amabilis; horrivel de horribilis, voluveldevolubilis;ha,porm,algumas excepesemquesenotamsemprefrmas eruditas:ignobil,flebil,debil,habil,terribil;aindanestessuffixosnosedeupermuta quandoolreforou-seemr:nobredenobilis. 2.Apermutafoiregularnasflexesverbaes: amava, amabat. m Cannabis,canhamo.Estaleiumresultadoda alliteracoeuphonicaproduzidaprogressivaou regressivamentepelapresenadanasal: trementinadetherebentina;vagamundode vagabundo.Tantoobcomoomporserem labiaes so homorganicas. Jcome de Jacobus. Cc Cujus, cujo. Valor forte = k. g caveola,gaiola;camella,gamella.Estapermuta, frequentenaspalavrasantigas,noseobserva nos neologismos eruditos : foco e fogo de focos ;canonico e conego de canonicus ; oraculo e oragode oraculum ; lacuna e lagoa de lacuna. ch murcidus,murcho.Pichedepite,pz.Esta permutaassignalaumabrandamentomuito commumnaspalavrasdeorigemfrancezaque desdeoprimeiroperiodoentraramnalingua: chantredecantor;chapodecapellum;chefe decaput;chambredecamara;pranchade planca;charruadecarruca;marchantede mercantem. 46 LETRAS LATINAS LETRAS PORTUGUEZAS EXEMPLIFICAES c (s)cedereceder. Valor brando = s ou ss. z iacere,jazer.Osombrandodoc,jnotadono latimdadecadencia,affectaafrmasouz, especialmente nas terminaes e suffixos : cruz decrucem, dez de decem, feliz de felicem, voraz devoracem.Asfrmaseruditasatroce,fugace, pertinaceforamlargamenteusadasnoseculo XVI ; della existe o vestigio precoce em vez de precoz, prcocem. Vocal.O vocalismo da consoante c observa-se nos grupos cl,cc:eisdeecce;eleitodeelectus;feitode factus;oitodeocto.Comafrmau:autode actus ; douto de doctus ; doutor de doctorem. Nasal.Anasalidadeumfactonosmonosyllabossim (sic)nem(nec)eemoutrosvocabulospente (pecten) lontra (luctra). Dd Prdiumpredio ; dolentem, doente. l Estapermutarara.Gildegidius;madrile madrilense(deMadrid)adejar(derivadode ala)enosgrupos,malga,nalga(nadegade natica), julgar de judicare. E commum, quanto sorigensgregas,jassimtransformadasno latim:lagrimadekUlyssesde O. r Permuta nica : cigarra de cicadla, explicavel pela frma intermedia cicala. Ff Focus, fogo. Finis, fim. v Trifolium, trevo (cf. gallego trbol). Christovo de Christophorus ; ourives de aurificem. h Esta permuta representa a aspirao castelhana de alguns vocabulos introduzidos na lingua. Taes 47 LETRAS LATINAS LETRAS PORTUGUEZAS EXEMPLIFICAES so:hediondodeftibunduseosarchaismos Edipucha!(filius...)frequenteemGilVicente eahincoporafinco,notadonoElucidariode Viterbo.Aaspiraopdesernotadanas interjectivas : hi ! hiu ! no fr. fi ! b Permutararaeantiga.Acebodeaquifolium; abantesma de phantasma : abrego de africus. A permutarealisou-seentreletrashomorganicas admittindonmestadointermedio,emque apparea a dental v. De sorte que o f permutou-seem v e depois o v em b. Gg Vigorem, vigr. Legalem, legal. j Naspalavrasantigas,nomeadamenteondese notou a influencia franceza : jalde de galbinus :jouverdegaudere;joyadegaudium.cf.joie, jouir, jaune. z Viciocommumentreosplebeismos,marzepor margem. Ha um exemplo litterario em : esparzir de spargere. c Reforopoucocommumesexistenteem renovaes eruditas : Cadix por Gades ; tecla de tegula. Voc.Ovocalismodagutturalobserva-secomavogal tambem guttural e aguda i : cheirar de flagrare ; inteiro de integrum. HhHora, hora. E quasi sempre um symbolo graphico conservadopelatradiohistorica,tendoraras vezes valor phonetico. J j Julius, julho. i Quetinhaidenticovalor,casualmente,nolatim. 48 LETRAS LATINAS LETRAS PORTUGUEZAS EXEMPLIFICAES Meirinho de majorinus. Yago,T-iago, de Jacobus. Maio de majus. g Tem o mesmo valor de j, antes de e, i, e apresenta apenasumavarianteorthographica.Magestade majestatem;geitodejactus;Genebrade juniperus. z Corruptela jassignalada proposito do g. Ha um exemploadmittido litteralmente : zimbrofrma divergentedegenebra,juniperus.Emgenebra houve evidentemente influencia franceza. Kk Vide C Ll Luna, la, lua. Loc, logo. r Lilium,lirio;alimariadeanimalia;pucarode poculum;marmelodemelimelum;cumprirde cumplere;pra(mar)deplena;pardodepallidus.Amesmatransformaonota-seno contingente de termos francezes : colonel. d Reforo notavel e raro. Escada de scala ; deixar de leixar, laxare. E, todavia, frequente na formaodegruposconsonantaes:rebelde,derebellis;humilde de humilis. Cf. o archaico egualdar de egualar ; medrar de meliorare (?) Nas.Anasalidaderealisou-seemalgunscasoscomo niveldelibella,nofr.niveau.Emmortandade de mortalitatem no improvavel a influencia deprolao da vogal inicial. Voc.Ovocalismo do l realisou-seno diphihongo surdo ou:dcededulcis;feijodefeijou=feijol= faseolus; ensosso de insulsus; toupeira de talparia;coucedecalcem,bbodebalbus;foucede falcem. A vogal i notada em piano = planes; pro- 49 LETRAS LATINAS LETRAS PORTUGUEZAS EXEMPLIFICAES vmdeumaleiphonicaexclusivadoitaliano, pl = pi. Mm Mare mar ; millia, milha. n Confusodenasaes,rara.Mespilum,nespera;eo archaismo nembrar de memorari. l Permutaunicaprovavelmente,lembrarde memorariatravezdafrmaintermediaria archaica nembrar. p Esta permuta s se observa nos archaismos quando occorreogrupomn.Calupniaporcalumnia; condapnamento por condemnamento. (Viterbo.) Nn Nata (res), nada ; noctem, noite. mConfusodenasaes.VideM.Mastruode nasturtium.Propriamente,porcausada orthographia, occorre no fim de varios vocabulos:florim, fim de finis, imagem de imaginem, etc. l anima, alma ; alimaria de animalia. r coffinus, cofre. Sanare, sarar. Pp Pedem, p ; paucum, pouco. b Permutadelabiaes.Bostelladepustula;cabidodecapitulum;ceboladecepula;belliscarpor pelliscar. Botica de apotheca. f Permutausualdosvocabulosfrancezes:chefe, chef,decaput.Nota-setambememalguns vocabulosgregosselhesnofoiestranhaa influenciafranceza:golfode xtrofo de o. Voc.A vocalisao do p, em regra, effectuou-se da labial RIBEIRO : LIES DE GRAM.4 50 LETRAS LATINAS LETRAS PORTUGUEZAS EXEMPLIFICAES para a consoante labial ; bautisar de baptisare ; rausoderaptus.Houveposteriormente confuso com o i. Qq Quasi, quasi. Vide C. c Variantegraphica.Car(ant.)dequare;comode quomodo ; cinco de quinque ; torcer de torquere. g Conseguir de consequi (consequire). Agoa de aqua.(Cf. legua de leuca). Aguia de aquila ; egoa de equa;algodealiquis.Entregutturaes,=c=k = g. Rr Regulare, regrar l Permutadehomorganicaslinguaes.Vergelde viridarium;papeldepapyrus;raloemvezde raro. Amesmapermutanota-senoelementogrego: bolsa de . Ss Solus, s ; causa, cousa. x paixodepassionem;baixodebassus;graxodegrassus.Astransformaesdessecaracterso, quasi todas, frmasportuguezasseptentrionaes, achegadasaogallego.Noport.meridionala transcripo pura : posso de possum, grosso degrossus : Esta nota no tem applicao quando setrata do s simples : bexiga (vesica), e nos gruposde syllaba inicial ex : enxugar ex-sucare). Tt totus, todo ; pectus, peito. d Permuta de homorganicas dentaes : dedo de digitusladodelatus;edadedetatem;ladainhade litania ; seda de seta ; madeira de materia. 51 LETRAS LATINAS LETRAS PORTUGUEZAS EXEMPLIFICAES s, Abrandamentojexistentenolatim,nosgrupos finaes, tia, tiam, ties etc , ausencia de absentia ; graa de gratia ; differena de differentia ; orao de orationem. O grupo tia tomou tambem a frma eza:avarezadeavaritiaoupersistiuquando precedido de s : molestia, modestia. z Abrandamentoanalogoaoprecedente:madureza, maturitia (maturitatem), dureza, duritia, firmezafirmitia por firmitatem. Vv Vita, vida ; pluvia, chuva. b Permutavulgar.Abutrede vultur;bodadevota;bainha de vagina. E um provincialismo commumentre os portuguezes, dando origem a confuses prosodicas j mencionadas: covarde e cobarde ;vascolejar e bascolejar ; avestruz e abestruz, etc. f Permutahomorganicaentredentaes.Palafremde paraveredus;trefego;transvegar,transvicar, trasfegar (Diez) g nfluenciagermanica,notadaemalgunsvooabulos latinos:gomitarporvomitar, vomitare;gastar de vastare.Guerra ( erra,germ.) treguas, (tr agerm.)Zz Caracter mais commum ao portuguez que ao latim. Representaordinariamenteumvocabulogrego, quando vem directamente do latim : zelo g Por attraco: gengibre de zingiber. LIO IV Das met apl asmas Chamam-se metaplasmas as differentes alteraes que soffremosvocabulosporaddio,subtracoou transposio de seus elementos phonicos. As metaplasmas tm o nome de figuras. ADDIO As figuras de addio so as seguintes : 1. Pr ot hese. E a addio de elementos phonicos noprincipiodovocabulo.Ex.:alevantar,alaga,por levantar, laga. Muitosvocabuloslatinosreceberamaprotheseno portuguez : speciem especie spasmum espasmo scribere escrever. Analysando os casos em que se effectuou a prothese, v-se que constituem duas classes numerosas : 1. Os nomes que comeo por l e que receberam o augmento deuma.Emuitoprovavelqueaanalogiaeareminiscencia daspalavrasarabes,prefixadasdeal,contribuissemparaas formaes como alanterna, alagoa, etc. de origem latina. 2. Recebem vogal os nomes que comeam por s impuro, isto ,seguidodeconsoante.Estefactoexplica-sepelanatural difficuldade que ha na pronuncia daquelle s : espasmo, especie. De serte que ou o saugmenta-se de umavogal espasmo ou perde aconsoantepasmo,sciencia(queselsiencia).Porissoque houveprothesedee,vogalsurda,emesphera(spheram) esperana (sperantiam) espada (spatha), estar (stare) etc. 53 2. E pent hese. E a addio de sons no meio do vocabulo. Ex. : Mavorte de Marte ; caravelha em vez de cravelha. Nota-se a epenthese na etymologia de varias palavras : nlaternam lanterna maculam mancha meam minha Pretendem muitos explicar a presena epenthetica do n, como sendo a transposio da flexo m, nasal, do accusativo : maculam mancula mancha. Emtaescasos,parecemaisrazoaveladmittiraprolongao de nazalidade do m inicial : ma = m. Cf. muito. 3. E pi t hese ou paragoge. E a addio de sons no fimdovocabulo.Eraranalinguaescripta;porm, frequentemente observada nos provincialismos e entre os vicios prosodicos : fazre, por fazer ; martyre por martyr. A epithese, mais largamente interpretada, tem exemplos nas derivaes modernas por intermedio de suffixos: cajueirodecaj laranjeira laranja cajuada caj bonitinhobonito homenzarrohomem, etc. Entreasfigurasdeaddiodevemserincluidosos dous casos especiaes, conhecidos sob os nomes de tmese e dierese. Atmeseemportuguez,consistenaintercalaodos pronomesencliticosnasfrmasdofuturoedo condicional : far-te-ia ; amar-te-ei. 54 Adierese,noconsisteemaddiodeelementos phonicos,masnaaspiraodavogal,paraevitarum diphthongo. Ex. : caia oucahia saramsahiram Haumprocessopopular,denominadopelosantigos grammaticos parectase, que consiste na adjunco de elementos phonicosintermedios,pornecessidadedeeuphonia.Jnotada no latim : drachume gr. drachm, estatendenciaampliou-senadecadenciadalinguaenos romancesquederamorigemslinguasnovo-latinas.Foipela parectase que se dissolveram muitos grupos consonontaes : Caravana karwan (arabe.) A aco erudita tem concertado os destroos desta tendencia, mas arbitrariamente o povo diz : kelemente, kilaro, baravo e bravo, periquito e prequito, tatara-av e tetra-av, caravelha e cravelha, bra e bora, cra e cora, taramela e tramela, gloto e goloto. SUBTRACO As figuras de subtraco so as seguintes : 1. A apher ese. A apherese consiste na subtraco desonsiniciaesdovocabulo.Ex,:postemapor aposthema ; letria por aletria. Nota-se a apherese na degenerao de varios vocabulos latinos : Pasmo despasmum. Tisana ptisanam. Botica apothecam. Gume acumem. 55 Umfactodignodenotaaapheresedoselementoso,ael. Estasletras,comosesabe,representamoartigovernaculo: o,aeafrmaarchaicalo.Dahi,osresultadosbodegapor abodega,bispoporobispo(comonocastelhano),onapor lona (no lat. lyncem) azul por lazur (pers. lazuerd), etc. Esta conjectura no destituida de fundamento, pois deve-se teremcontaqueolaunicaconsoantequesoffreapheresee porqueaunica?Asoutrassexperimentamapheresenos raros casos em que no se ligam vogal econstituem um grupo barbaro, quase impronunciavel, v. gr.: pt, em ptisana. (1) 2. Syncope. E a subtraco de sons no meio do vocabulo. Ex. : mor em vez de maior. Asyncopeumdosphenomenosmaiscommunsda phonologia historica. Exemplos: vr videre leal legalem real regalem mealha metaliam vo velum Sempreexistem na lingua antigaos exemplos queattestama transio dessa lei : veer, depois vr ; mao, depois mo, etc. 3.Apocope.Consistenasubtracodesonsno fim do vocabulo. Ex.: crcer, marmor em vez de carcere, marmore. Aapocopeouqudadesonsfinaesumdos phenomenoscaracteristicosdaformaodetodasas linguas romanas : amaamat amam amant nunca nunquam cousa causam. (1)Ol,dissemos,aunicaconsoantequesoffreaapherese.Em germanus(irmo)nohouveapheresedeg;apalavrairmoou ermo provavelmente a frma castelhana hermano. 56 Entreoscasosdesubtracodevemosconsideraras seguintes figuras : Synalepha.Eumcasoespecialdaapocope,e consistenasubtracodavogalfinaldeumvocabulo quando se lhe segue outra palavra que comea por vogal. Exemplos : minhalma minha alma dAlmeida de Almeida. Ohabitodasynalephanapronunciafaziacomqueos classicosescrevessem:dalmeida,dalvarez,etc.Aindahojese escrevem Dantas (dAntas), Dornellas (dOrnellas) e o cognome Italiano Doria (dOria). Ecthlipse. E a propria synalepha, e d-se quando a vogal que termina o vocabulo nasal : coas moscom as mos. TRANSPOSIO Os phenomenos de transposio foram muito frequentes nosantigostemposdalingua,esoconhecidossobo nome de Met at hese. Consiste na transposio dos sons de umvocabulo.Exemplos:rosairoemvezderosario; esteiro em vez de estuario. Eis alguns exemplos historicos : primeiro primarium choupo poplum (pl=ch) trevas tenebras copo poculum LIO V Dos syst emasde or t hogr aphi a e causasde sua i r r egul ar i dade Or t hogr aphi a a parte da grammatica expositiva queensinaaescreveraspalavraseasphrases correctamente. Aescripturacompe-sedeletrasesymbolos.Os elementos orthographicos das palavras so as letras e os accentos. Oselementosorthographicosdaphraseconstamdos signaesdapontuao,taescomoavirgula,osdous pontos, etc. (1) Nalinguaescriptausa-sehabitualmentedesymbolose abbreviaturas, dos quaes no nosoccuparemos agora. Em geral, os symbolos so usados paraexprimirem relaes numericas, ou abbreviaturasscientificas.Taessoossymbolos;1,2,0,4. VI,X,M,D+,X=etc.Ossymbolospodemserletras,mas representam palavras. Os signaes e accentos agudo, circumflexo, servem para supprir a deficiencia dos caracteres alphabeticos. (2) A arte de escrever ou representar as palavras por meio de caracteres litteraes no tem preceitos totalmente fixos einvariaveis.Estamesmavariabilidadetemdado origem adiversos systemas deorthographia, sem queo triumphodequalquerdellesestejacompletamente,no todo, consagrado. (1)Dapontuao(notaessyntacticas)trataremosnolugar competente. (2) Vide notaes lexicas. Lio I. 58 Ostresprincipaessystemasorthographicosso:o phonetico, o etymologico e o mixto. Aor t hogr aphi aphonet i caconsistena representao dos vocabulos, conforme a pronuncia. Osystemaphoneticoexclueatradiohistoricae etymologica,esattendeexclusivamenteprosodia. Segundoestesystema,acadasomcorrespondeum unico symbolo litteral. Baseia-senarefrmadosvaloresalphabeticos.Cada symbolotemumvalorinvariavel.Destaarte,na orthographia, phonetica, as letras cequivalea k, c frte, ch f a f, ph, s a c brando, s, ss, x g a g frte j a j, g brando x a x, ch Aor t hogr aphi aphonet i canoaceitavel porquenotembasessolidas.Temsidopropostapara evitar as inconveniencias davariabilidadedos systemas orthographicos e para facilitar aos ignorantes a correco de seus manuscriptos. Queellanoconsegueaunidade,clarodevr-se, porque os proprios phonetistas no esto de acrdo quanto extensodarefrmaenohadoussystemasde orthographiaphoneticaqueestabeleamasmesmas regras.Emsegundolugar,aunidadeorthographica, neste caso, s seria alcanada se existisse uma prosodia fixa, o que uma utopia. Sendo a pronuncia extremamente variavel, o systema phonetico tornar-se-ia anarchico em todos os dominios geographicos de uma lingua. 59 No muito pouco aceitavel a razo de que o systema phoneticosejaaproveitavelaosignorantes.Jamaisa orthographiaetymologicafoiumobiceparaaleiturae para a acquisio de conhecimentos. Emnenhumadaslinguascultasfoiadmittidaa orthographiaphonetica,bemquenotenhamfaltado neographos e reformadores. Em algumas, porm, e com certoslimitesmuitorestrictoscomoseobservano castelhanoenoitaliano,osystemaphoneticotem conseguidoalgunsresultadosespecialmentenoque respeitatranscripodaspalavrasgregas,dos neologismos scientificos. Aor t hogr aphi aet ymol ogi caouhistorica consisteemrepresentarosvocabulosnamaiorpureza possivel de suas origens. Estesystemaounicocapazde,namaior approximaoimagivavel,offerecer aunidadegraphica aosdocumentosescriptosdeumalingua.Eestaasua vantagem capital. A esta vantagem contrapem-se algumas difficuldades elacunasinevitaveisdosystema.Nemtodasas etymologiassoconhecidas,emuitas,emgrande numero,soduvidosasoucontestaveis.Almdisto,a evoluo phonetica destruio ou estragou os vocabulos, de tal sorte que no podem razoavelmente ser orthographados pelafrmaoriginaria.Eoquesuccedeaumnumero crescidodetermosarabes,germanicoseatlatinos. Foiatendenciaparaconservarafiliaohistorica,que fezadoptarosgruposlitteraesch,ph,rhcomqueos romanostranscreverodiversoscaractereseaccentos gregos.Oexaggerodosystemaetymologicotem produzido transcripes pouco aceitaveis como : pinclar, charidade, charla, etc. Em alguns vocabulos, sem razo palpavel, conservam o ch ainda quando no existe o som 60 fortequeaquellegruporepresenta;ex.:schisma, catechismo scisma, catecismo. (1) Assim,ascausasdairregularidadedaorthographia subsistemnadifficuldadededeterminarasverdadeiras origensenaimpossibilidadederepresentarossons actuaespelossonsantigos,semattenderevoluoa que estes ultimos obedeceram no curso do tempo. Estasdifficuldadesdeambosossystemasoriginaram umprocessomixto,participandodaetymologiaeda prosodia,destinadoacorrigirosdefeitosdeumpelas vantagens de outro. A or t hogr aphi a usualou systema mixto consiste emrepresentarosvocabulospelaetymologiaepela prosodia conjunctamente. A base deste systema que o seguido geralmente a etymologia.Nota-se,porm,quequandoexisteinteira discordanciaentreaetymologiaeaprosodia,estaa que predomina. Nosultimostempos,ophanatismonaorthographiatem grangeadofervorososeextremosadeptos,naAllemanha,na InglaterraenaFrana.Arefrmaseriaincomparavelmente maisfacilondealiazmenosnecessarianoitaliano,no castelhano e no portuguez. Doquevaemencionadoanteriormente,v-secoma maiorevidenciaquenenhumdossystemas orthographicospdeobteraunidadegraphicada escripta.Asincertezasdaprosodiaeasdiferenasque apresentamasfrmasetymologicaspurasoppem-se quelle resultado. Osystemamixtonopossuebasesdeterminadase exactas;epdeserexaggerado,orapelaparteda etymologia, ora pela parte da prosodia. (1) E o que aliaz se observa em arcebispo, cirurgio, pois ninguem escreve archebispo, chirurgio. 61 Nosmonumentosetextosescriptosdalingua portuguezanotasequeaevoluohistoricaseoperou do phonetismo para o etymologismo. Aorthographia do portuguez antigo puramente phonetica ; do seculo XV emdiantecomeaaorthograpbiaetymologicapor influenciadadisciplinalitterariaeclassica.Noseculo actual XIX, a tendencia para a transcripo etymologica, detograndeintensidadequeatosneologismosde linguasextranhasconservamapurezaorthographica originaria : bouquet, wagon, cavaignac, etc. 62 Observaes relativas orthographia e prosodia ISi gnaes var i avei s Algumasletrasapresentam,conformeoempregoouuso, certa variabilidade de sons, que convm registrar. OCtemtresvaloresprincipaes:odek,desedexquando compostonogrupoch.Ovalordeknota-sesemprequeoc precede a, o ou u. Ex.: cara, covado, curiosidade. Ovalordesexistesemprequeprecedeasvogaese,iouy. Ex.: cera, principio, Muricy. Quando ha necessidade de exprimir o valor s por c, antes das vogaes, a, o, u, pe-se abaixo do c uma pequenavirgulaquetemporfuncoabrandarovalorlitterale chama-se cedilha : caa, poo, reumar. Ovalordex,comodissemos,sseobservanogrupoch: cho,mecha,etc.Naspalavrasdeorigemgrega,porm,och tem o valor exacto de k. Ex.: monarchia archanjo, etc. Oabrandamentodecumfactomoderno,poisnolatim classico sempre representava o valor de k : cna, Cicero liam-se kena, kikero. O som forte, modernamente foi conservado quando aletraprecedea,o,u;nestescasos,osombrandonotifica-se pelacedilha.Nosdocumentosantigosanterioresaousodoc cedilhadoapparecemasfrmascocobrar,currador,sossobrar, surrador, como attesta Viterbo. Oz,nomeiodaspalavras,substituiafrequentementeno latim barbaro o som de c brando : jazentia, inzendium, etc. O X tem os valores seguintes: Valor de ks. Nota-se este valor nos vocabulos de formao litterariaouscientifica,quandooxoccupaumaposiomdia na palavra : fixo, nexo, influxo. O valor chiante x, ch, observa-se nos vocabulos populares : xarque, roxo, etc . Ovalorsouznota-senosvocabulosqueprincipiamporex. Ex.: exilio, exemplo, exacto, extraordinario, exterior, etc. Ox letra dupla enestesentidooseuvalornormaldeve ser ks;masnaevoluophoneticaperdeuaduplicidadedevalor, adquirindoosomchiantedech.Assim,veremosquequanto mais se vulgarizam as palavras eruditas que contm o x duplo-ks, maior tendencia nellas se nota para a prosodia do x simples. E o quevaesuccedendoaosvocabulosdefluxo,luxuria,fluxo, luxuoso,eaosvocabulosprefixadosaccidentalmentedeex latino : ex-presidente, ex-secretario, ex-chefe. 63 O S tem o valor de z quando situado entre vogaes, v. g.: casa, mesa. Quando esta situao um accidente resultante da junco deumprefixo,osconservaovalornormaldo:presentir, resentir, proseguir. Quandoentrevogaeshanecessidadedaprosodias,aletra vai dobrada, ss : nosso, passo, gesso. Sobreaprosodiadoshaumaanomaliacuriosa,napalavra obsequio,ondeexcepcionalmentetemovalordez.Talvezseja explicavel to estranho uso, pela existencia do vocabulo exequias, que tem a mesma etymologia (obsequium, obsequia). Outra razo que no deixa de ter fundamento que a articulao difficillima bstransformouovocabuloalludidoemobisequio,produzindo aquelle resultado, cf. ausente de absentem. O grupo Qu, ora temovalor de simples letra e egual a k ; ora fazsoarouseguinte.Oprimeirocasoobserva-senaspalavras maispopulareseantigasdalingua: querer,que,maquia,bem-quisto, eainda nas derivadasdepalavras que seescrevemcom c : sequioso de secco ; pequei de peccar. Aspalavrasdogrupochdelinguasestranhas,quando graphadas com o qu, conservam a prosodia primitiva: Melquisedec= Melchisedec ; Joaquim = Joachim ; maquina = machina etc. O segundo caso, isto, aquelle em que se verificaa prosodia do u, succedegeralmente nas palavras litterarias e eruditas e em poucas outras : consequencia, quantia, questionar, quanto, quasi, qual, (ant. casi, contia, etc.) Oabrandamentodochgregoespecialmenteseencontranos velhosvocabulos:arcipreste,arcediago,arcebispo,cirurgia, cirurgio,etc.queexistemaoladodearchetypo,architeto, ckiromancia, chiropteros etc. Quanto ao grupo qu, note-se que a tendencia popular e antiga dar-lhe o valor simples de k : o que se v em calidade, cumanho, car, archaicos. OGtemovalorforte,igualagh,antesdasvogaesa,o,u: gato, gozo, gula. Quandoprecede e, i, ou y,tem ovalor deje diz-sebrando: gerao, ginete, gymnastica. O grupo gu tem o valor forte de g nas palavras mais antigas e populares,maxime,quandoprecedei:guiar,enguia,guerra, seguir e nas que derivam de g frte : peguei de pegar etc. Nota-se a prosodia do u especialmente nas syllabas gua, gue : guela, guapo. O R entre vogaes tem o valor brando e trillado : cara, veridico etc. Nessa emergencia, a graphia do r frte faz-se por duplicao : carro, serra, murro. 64 Ovalorfrtenota-senosdemaiscasoseaindaquandoentre vogaes, uma destas pertencendo a prefixo : proromper, prorogar, prerogativa. As demais consoantes tm valores pouco variaveis. Porultimo,convmnotarqueexistemsonsqueseno representamnosvocabulos,esoprolaesresultantesorada progresso, ora da regresso de um elemento nasal. Nas palavras plano,threnosentimosqueasprimeirassyllabassopl,tr, ao menos, prosodicamente. E pois, um exemplo da regresso do som nasal. O exemplo caracteristico do phenomeno da progresso nota-se em : muito, tantas vezes citado. I IAbbr evi at ur as Asabbreviaturasdoportuguezantigo,consignadasnos diplomas,chartasemsscriptos,sonumerosissimaseillogicas pela feio extravagante que apresentam. A maneira de escreverem ostabelliesporsiglasenotas(deondeotermonotario) engendrou certos usos que, muitas vezes, em vez de abbreviarem tornavam mais proluxa a escriptura. Representavam os escrives asvogaesA, E,I, O, U,porequivalentes numericos 10, 20, 30, 40, 50, em algarismos romanos, do modo que exemplificamos : RXMXXXRXL Ramiro PRXXSBXXXTXXR presbiter etc. Nos documentos forenses ainda existem algumas siglas como N.L.nonliquet.Cconcontra.Paraindicaro digestoescreve-se a siglaFF difficil de interpretaoprimeira vista. A mencionada colleco de leis era denominada Pandectas pelosgregoseasiglarespectivaeramdoispis,quemais tarde se deformaram em FF. NaslinguasromanasaindaseusaasiglaN.paraindicarum fulanooupessoadesconhecida.Asuaorigemattribuidacom razooccurrenciadonomeficticio,(usadocomegualfim) Nestigancius, que nos depara a Lei Salica, tit. 53 (Viterbo). Algumasabbreviaturasporletrasgregaspersistiramna lingua, taes como 1 H S jes. Jesus. X P T O chrto Christo.Ousodestaultimafoiextensissimoevem-senos documentosantigosasgraphias:Xptovam,Xptina Christovam, Christina. 65 Entrens,aduplicaodeiniciaes,orarepresentaa pluralidade : AA auctores ; ora representa o gro summo : S. S. santissimo.Entreosromanosatriplicaoindicavaonumero tres : Csss. Aaa Csari augusti tres Umaobservao depequenamonta, mas que no deixaremos deadduzir,queossystemasdeabbreviaovariamnas diversaslinguas.Osinglezesconservamquasisempreasletras iniciaes,aocontrariodosromanicos,quetornamclaraasletras terminativas. Exemplifiquemos com a abbreviatura ingleza Co. company, e comparemol-a com o systema romanico C ou Cia ou Cie. A analyse destas frmas sem duvida uma bagatella. Apezar distonotemosqueaabbreviatura8vo paraindicaroformato in 8, um gallicismo orthographico. No francez ha necessidade deindicarasyllabafinaldeoctavo,poisqueexistefrma huitime para os outros casos : 8ieme, e 8vo Emportuguezaconsignaodasyllabafinaltotalmente excusadaeresultaprovavelmentedoconhecimentodaformula franceza. I I IVogaes e consoant es O accento circumflexo no applicavel s letras I e U. Avogalietambemavogalunopossuemostonsgraves, ordinariamente indicados pelo accento circumflexo. A produco physiologicadestessonsd-lhespoucavariabilidade;eas mesmasdistincesdosomagudoebrevesoahipouco apreciaveis e, em parte, devidas durao, quantidade. O som nasal, que physiologicamente devido a um desvio de partedoarexpirado,convmatodosostimbreseemalgumas linguasapresenadellenota-seatnasconsoantes, precedendo-as, nas syllabas iniciaes : mba, ngat, etc. Osneo-grammaticos,nomeadamenteOsthoff,aceitama formula de contraco proethnica, segundo a denominaoque deram, a + o = . Estesomoriginario,quasiproximoaodouinglezdebut, assemelha-se ao do a grave do portuguez. Otilantesumsignaldeabbreviaturadoqueaccento.Nos antigosdocumentosotilsubstituialetrasesyllabasinteiras: mi = misericordia. Ainda hoje na escriptura conservam-se as RIBEIRO : LIES DE GRAM.5 66 abbreviaturas: Snr; Mqr = senhor, Monsenhor. Nos nomespro-prios vemos conservada a orthographia. Frz, Roiz Fernandes, Rodrigues, etc. O officio principal do til era a substituio do m ou n, especialmente da primeira lettra: ha, la. Note-se quanto s nasaes que o caracter de nasalidade decorre davogal.Onasalrepresenta-seporumtilouporumn.Ses existisseorecursodotil,provavelquetivessemosmaisos diphithongos: e empenhe, prenhe. e definhe, alinhe. e estremunhe, etc. Estemodoorthographiconodeixadeterexemplosnos documentos antigos. A emoo, o estado d'alma modifica muitas vezes os valores prosodicos das vogaes. Escapa a qualquer classificao positiva o factor psychico da emoo.Oestadoemocionaldenuncia-sepelotimbremusical queexistenalinguagemvivaefaladaeestetimbretanto maisclaroerythmicoquandomaisintensafraemoo.A articulao, como ruido, explica-se pela irregularidade de vibraes geradoras;masoproprioruido,sabido,compe-sedeuma reunio de elementos symmetricos e musicaes, descompassados. Dok,ech,deorigemgrega,conviriadarumatranscripo uniforme, pois a actual confunde frequentemente os dous valores phoneticos.Emgeraloch.temnoportuguezafrmaidentica ch,masviciosamenteseachatranscriptaporkem:kilometro, kilogramma.Inversamente,ovalorkseacha transcriptopor c e k com louvavel exactido, se apenasexceptuarmos umvoca-bulo, em que appareceo ch: chicorea (kichorion), que de certo no veio directamente do grego. Em alguns vocabulos o uso do th descabido e erroneo, tal a graphia systhema, que no composto de thema (tithmi) mas de istmi e sun. E tambem cathegoria em vez de categoria. O rh grego s vezes toma a frma de r sem aspirao como se v em: rachitismo, que seria melhor graphar rhachitismo. Emrelaoaoph,seriaconvenienteusarestesymbolono termo fleugma e ainda em fanal que possue o mesmo radical de 67 diaphano,phenomeno,etc.,sebemquepareapertencerao contingenteitaliano,cujaorthographiamaisphoneticadoque etymologica: Atrancripodoyvariaparausobainfluencialatina: porphiroepurpura;cryptaegruta.Note-seoneologismo udometro ao lado de hydrometro. ____ O H como symbolo sensivel de aspirao apenas apparece nas interjeices:ah!oh!Nosgruposth,ch,rhdeproveniencia grega,noproduzaspiraoerestacomoumsimplessignal etymologico Ohtambempermanecenosvocabuloshebraicosqueforam hellenisadospelatraducogregadabiblia:Ezechias,Melchi-sedech, Sarah. Oabusodohdeuorigemacertoserros,queficaramperpe-tuados,v.g.Theresa,emvezTeresa,frmacorrecta, theorem vez de teor. I V L et r as dobr adas E'provavel que fossem bastante perceptiveis em suasorigens os valores das letras em geminao. Ousodasletrasdobradasd-sefrequentementefrado dominiodaalitterao;smenteaorthographiaphonetica poderiaproscrevel-o.NoseculoXVIoscultoresdocastelhano aconselhavamaremissodasletrasdobradas,contraaqualse insurgiaDuarteN.deLio,dizendoqueemboraaletra reduplicadanosenapronuncia,hatodaviaumamusica delicadaquesenodeixasentirdetodos.Comeffeito,a reformapropostanaquelletempoeradedifficilexequibilidade, vistoousogeraldesubstituirasvogaeslongasporcontraco comasvogaesduplicadas,comoemma,paadar,fee,geeral, veedes, soo avoo, cruu por m, paladar, f, geral, vedes, s, av, cr. Alm destephenomeno devido syncope,haviaospluraes doinasal,porduplicao:beleguiis,marfiis,etc.Eraportanto umareformaaindaprecoceparaosprimeirostemposda disciplina grammatical. Note-se que antes do periodo classico o ll dobrado era o grupo consonantaladoptadoassiduamenteemequivalenciado lh,que fraconstruidoporimitaodogruponhexistentedesdeos primeiros periodos da lingua. DuarteNunesdeLionasuaOrthographiainsistesobreouso dosdiminutivosdeinfluenciaitalianacomotdaterminao 68 duplicado: verdette, camarotte, piparotte, etc. E os quinhentistas quemais cooperarampara a cultura litteraria, seguiram identica orthographia. ____ Antesdadisciplinaorthographicadalingua,osdocumentos abundam na duplicao do rr, e ss inicial,sempreforte: rrazon, rrua, rroupa, sseu. Em portuguez o rhotacismo tendencia mais sympathica que o lambdacismo. Assim as frmascraro, groria, simpresa, deram lugar a claro, gloria, etc., por serem estas etymologicas. Fra disto, a articulaco rsemprepreferida:pranto,brando,prazer,nocastelhano blando,placer(D. N. de Lio). Os dous ll equivaliam ao 1hdo periodoculto,aollcastelhano.Etalvez,nestarazo,emque sefundaaanomaliadasduasfrmas:cavalleiro,ecavalheiro, damesmaetymologia.Sainfluenciaphonicadoantigogrupo ll = lh, pde sufficientemente explanar a difficuldade. ____ Ozdamesmaespeciequeox,comoletrasduplicesno podemsoffrerduplicao.ComoobservaLio,nolatimosom de z era proximo ao de st ou sd. S deste modo comprehendem-se as duas graphias: Ezras e Esdras, de um nome bblico. Ozfoisobretudousadonaterminaodospatronymicos. Alvarez,Tellez,Lopez,Yanez(deJoane)etc.,queseescrevem hoje com o s final. O z caracteristico permaneceu apenas nas abbreviaturas Rois, Frz,eemrarosappellidosqueficaramoxytonos:Garcezde Garcia; Vaz. VI Morphologia: estructura da palavra: Raiz; thema; terminao; affixos.Dosentidodaspalavrasdeduzidodosele-mentos morphicosqueasconstituem:desenvolvimentodesentidos novos. Mor phol ogi aapartedagrammaticaemquese estudaovocabuloconsideradocomoumcompostode orgos. Orgodeumvocabuloqualquerpartedelleque exerceumafuncooutemumsentido.Assimna palavra semi-deuses, a analyse descobre tres orgos: semi-deus-es O primeiro, semi, indica a metade ou meio. O segundo Deus, exprime a pessoa suprema; a ida principal (raiz). O terceiro, es, exprime a pluralidade do ser. Areuniodestaspartesconstitueoquesechamaa estructura do vocabulo. Os elementos rnorphologicos ou orgosso,pois,muitodiferentesdoselementos phoneticos, sons, letras ou syllabas. T hema e ter mi nao. Chama-sethemaotododeumvocabulo,exceptoa terminao ou desinencia: cant ar cant avam Deuses prever contradizer propor 70 As partes cantprevpropcontradiz so themas ou frmas que, em geral, no soffrem a flexo. Desi nenci a,apartevariaveldovocabuloepor conseguinteaquellaqueexprimeosaccidentesdafle-xo. Cant ar Cant avam Deus es Prev er Contradiz iam Prop or Aspartesar,avam,es,er,or,soasdesinenciasou terminaesdosvocabuloseexprimemoraaflexode tempo, ora de numero, de genero, etc. Synonymia.Terminaoqualquerporofinaldovocabulo, umtermogeral.Suffixoespecialmenteaterminaodos derivados:pedr-eira,form-oso, etc. Desinenciaou flexo o suffixovariavelnosnomeseverbos:pomb-o,pomb-a; am-ei, am-avam. Rai z e affi xos. Affixos so elementos morphologicos ou orgos que se appoem aumvocabulomodificando-lhe a significao. Os affixos dividem-se em prefixos e suffixos. Soprefixososelementosqueantecedempalavra principal.Taesso:anti,per,ob,pre,sub,etc.,na composio dos vocabulos. Ex. per furar anti Christo ob turao pre juizo. sub metter, etc. 71 Suffi xossooselementosqueprolongame completamapalavraprincipal.Taesso,entreoutros: eiro, oso, ade, ino, ico, etc. Exemplos: pinh eiro form oso felic idade analyt ico, etc. Convmobservarqueoprefixotemumanoo definida,emaispositivadoqueosuffixo.Assimos prefixos pre, sub denotam sempre a antecipao, o lugar inferior,etc.Ossuffixos,porm,tmumafunco menosdefinidae affectamvariasaccepes,conformeo usotemestabelecido.Osuffixo-eirotemdiversos significados, como se v dos exemplos seguintes : Exprimindo o continente: tinteiro tinta Exprimindo o factor: sapateiro sapato caldeireiro caldeira Exprimindo o agente da aco: caminheiro caminho cavalleiro cavallo Exprimindo a arvore em relao ao fructo: pinheiro tomateiro mamoeiro etc., etc. Astresultimasaccepesindicamsempreaactivi-dade ou os agentes da produco. 72 Note-se,almdisto,queemalgunsbrazileirismoso suffixoeiraourarepresentaovocabulotupi-guarani cur, cura, gu, e denota o tempo passado. Taes so os dous exemplos: Tap-ra (aldeia, taba, que existiu). Capo-eira (matto, ca, que existiu). Entre os affixos podem-se considerar as letras e frmas infixas, emboraesporadicas,como as que senotamnos futuros: far-vos-ei dir-te-ei Nestesespecimens,ospronomesvos,te,soverda-deiros infixos. (1) Convmobservarqueotermoprefixoestespecialmente comsagradoaoselementosprepositivos,comexclusodos demaiselementoscompositivosdovocabulo.Assimembeija-flr,bem-te-vi,ostermosbeijaebemnosoconsiderados prefixos e sim simplespalavras elementares. O prefixopde ser qualquervocabulo,comtantoquesejafrequentementeutilisado como elemento de composio e no possua isoladamente, seno raras vezes, o valor de palavra. Rai z.Raizonucleodapalavra,despojadade seus affixos. Em lingua portugueza, so raizes as seguintes frmas: diz em contra-DIZ-er. pre- DIZ -er. sta circum-STA-ncia. pre- STA -nte. etc . (1) Trataremos com mais desenvolvimento dos prefixos e suffixos no lugar competente. 73 Destaarte,araizrepresentaovocabulopuro,sem asmodificaesaccidentaesquelhedoosprefixos, suffixos ou flexes. Dentrodo dominio de uma lingua esteo unico criterio que pde servir de base ao conceito de raiz. E claro, porm, que em um sentido mais lato e com referencia, no a uma lingua, mas totalidadedaslinguasqueconstituemumafamilia,apalavra raizindicaafrmahypotheticadeondedecorreuumasriede vocabulos que tm entre si affinidade material e de sentido, mais ou menos definida e explicita. As raizes. neste caso, representam o resultado de induces theoricas, apoiado na analyse comparativa dosidiomas.AraizAS,quesignificavaprimitivamente respirar,viver,explicaejustificaasmodalidadesdoverboser nas diversas linguas aryanas ou indo-europas. Nosentid