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INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS LITERÁRIOS NAS PROVAS DE LÍNGUA PORTUGUESA (ENEM E VESTIBULARES) (LITERATURA – 2ª SÉRIE E.M.) PROFESSORA ANA PAULA BACELAR

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INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS LITERÁRIOS NAS PROVAS DE

LÍNGUA PORTUGUESA (ENEM E VESTIBULARES)

(LITERATURA – 2ª SÉRIE E.M.)

PROFESSORA ANA PAULA BACELAR

O exame de Linguagem, códigos e suas

tecnologias tem quatro provas objetivas,

cada uma com 45 questões de múltipla

escolha e uma redação. As provas vão

tratar de quatro áreas de conhecimento do

ensino médio.

Linguagens no Enem

A prova de linguagens é dividida em competências e habilidades. Entre elas, a prova exige a habilidade do candidato de diferenciar os vários tipos de linguagens e saber relacioná-las. A língua se trata não apenas de um texto escrito, mas de outras formas como, bula, poema, TV, jornais, sinais e desenhos.

Organização do texto

O texto é uma das competências mais

importantes cobradas pelo exame. O

Enem compreende texto como

organização e tem estrutura que pode ser

dividida em dois aspectos: micro

(estrutura) e macro (contexto).

Funções da linguagem

As funções da linguagem costumam ser

abordadas na prova do Enem. Estude

mais sobre os elementos da comunicação

como emissor, receptor, mensagem,

código, canal e contexto.

ASSUNTOS MAIS COBRADOS

Metáforas Metáfora é uma palavra ou expressão que

pode ter mais de um sentido. O denotativo,

aquele que está no dicionário, e o

conotativo, um sentido figurado.

Tempos verbais

O uso dos tempos verbais, que podem ter um efeito literal ou não literal, é um tópico gramatical muito cobrado nos vestibulares porque envolve o valor semântico de um instrumento gramatical. Predominam questões de

interpretação e análise de textos, quadrinhos, charges e imagens em geral. Muita atenção aos poemas metalinguísticos, que discutem a própria forma de fazer poesia. Nisso a briga dos parnasianos com os românticos e dos modernos com os dois anteriores é muito importante. As poesias ou as prosas engajadas socialmente.

Nos três últimos anos, apareceram: 43 questões de interpretação de textos (com temas de atualidade, medicina, tecnologia, ciências e arte). 13 perguntas sobre análise de poemas. 9 questões de interpretação de charges e tirinhas (Laerte, Caco Xavier, Laerte, Hagar e Ivan Cabral). 5 questões de figuras de linguagem. 3 perguntas sobre estratégias argumentativas.

1. Cada novo texto é, também, um novo universo. Para apreender o que o autor pretende transmitir, devemos estar abertos ao novo. Então, antes de iniciar a leitura, procure esquecer o que lhe disseram sobre o autor - as críticas e os elogios -, e aproxime-se do texto sem preconceitos.

Regras gerais de leitura:

2. Se for um texto curto - artigo, notícia, crônica, conto, etc. -, leia-o integralmente, procurando captar o seu sentido geral, e só depois, reiniciando a leitura, proceda assim:

a) procure, no dicionário, cada uma das palavras desconhecidas ou cujo sentido lhe pareça estranho, duvidoso.

b) sublinhe ou circule, em cada parágrafo, a frase que expressa a ideia central daquele trecho.

c) faça anotações nas margens do texto, mas de maneira que elas expressem o seu pensamento, as suas interrogações, as suas concordâncias ou discordâncias, relacionando o texto às suas vivências pessoais e a outras leituras que você, porventura, tenha feito.

3. Se o texto for longo - romance, ensaio, tese, peça de teatro etc. - siga os passos acima, mas desde o primeiro momento da leitura.

4. Não tenha preguiça. A leitura exige, muitas vezes, que voltemos ao início do texto ou do capítulo, que retrocedamos alguns parágrafos, a fim de retomar certa ideia ou rever o comportamento, a fala de uma personagem. 5. À medida que você decodifica as palavras, procure relacioná-las com o todo. Ou seja, compreenda as palavras dentro do contexto (o conjunto de frases, o encadeamento do discurso).

6. Enquanto lê, estabeleça um duplo diálogo: com o autor e com você mesmo.

7. Quando o texto usar a linguagem conceitual, não faça uma leitura tímida: imagine-se concordando e, também, discordando das ideias expostas. Coloque-se no papel de defensor e de opositor. Depois, forme seu próprio julgamento.

8. Quando o texto utilizar a linguagem poética, imagine a cena, coloque-se no lugar das personagens. Muitas vezes, poemas e textos de ficção tratam de realidades completamente diferentes da nossa, o que exige uma leitura sem preconceitos. Não tenha receio: entre os gregos, transforme-se em grego.

9. Não seja um leitor crédulo, não acredite com facilidade em tudo que lê. Num texto conceitual, seja implacável com a argumentação do autor: ele realmente convenceu você? Quais as partes frágeis do texto? Quais as qualidades? Aja da mesma forma em relação ao texto poético: o enredo convenceu você? A história é verossímil (transmite a impressão de verdade) ou imperfeita, defeituosa? O bom leitor nunca é ingênuo.

10. Numa prova, não se esqueça:

a) leia o texto com calma, duas ou três vezes; b) a cada questão, retorne ao texto e esclareça suas dúvidas; c) esteja atento ao enunciado da questão, pois, muitas vezes, ele exigirá que você leia não só o trecho citado, mas um ou mais parágrafos. d) muitas vezes, a resposta correta não corresponde exatamente ao que está no texto, mas apenas se aproxima do sentido geral.

INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS (ENEM)

Em “O Auto da Compadecida”, Manuel é o Cristo negro que julga os vícios

humanos como a venda de favores divinos, a preguiça, a arrogância e o

preconceito. A Compadecida é aquela que dá a João Grilo uma segunda

oportunidade de vida. É a mediadora misericordiosa.

Ao atribuir a condição humana a personagens como Manuel e a Compadecida,

Ariano Suassuna pretende:

a) Denunciar o lado negativo do clero pertencente à igreja católica.

b) Destacar o sentimento de justiça divina ao demonstrar benevolência aos bons

de coração.

c) Retratar o sentimento religioso do povo nordestino.

d) Mostrar um sentimento religioso simples e humanizado, mais próximo do

povo.

e) Fazer caricatura com as figuras de Cristo e de Nossa Senhora.

[...] Espero que todos os presentes aproveitem os ensinamentos desta peça e reformem suas vidas, se bem que eu tenho certeza de que todos os que estão aqui são uns verdadeiros santos, praticantes da virtude, do amor a Deus e ao próximo, sem maldade, sem mesquinhez, incapazes de julgar e de falar mal dos outros, generosos, sem avareza, ótimos patrões, excelentes empregados, sóbrios, castos e pacientes. O trecho acima, extraído da obra O auto da Compadecida, por meio da ironia, evidencia

a) o teor moralizante da obra.

b) a intenção disciplinadora do autor.

c) a vinculação de Ariano com o catolicismo.

d) a recusa de Suassuna de discutir questões religiosas.

e) a preocupação em exaltar as qualidades humanas.

Soneto de Fidelidade Vinicius de Moraes De tudo ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento. Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure. Vinicius de Moraes, "Antologia Poética", Editora do Autor, Rio de Janeiro, 1960, pág. 96

Considerando-se o tom declamatório, o poema SONETO DE FIDELIDADE, de Vinicius de Moraes, pode ser considerado um texto (A) narrativo. (B) argumentativo. (C) confessional. (D) teatral. (E) descritivo.

"É triste que um meio de comunicação, pesquisa, lazer e descobertas como a internet seja usado tantas vezes para fins tão negativos"

(Lya Luft) Com suas maravilhas e armadilhas, a internet faz parte de meu cotidiano há muitos anos: fui dos primeiros escritores brasileiros a usar computador. Com ele, a cada manhã começa meu dia de trabalho, buscas e descobertas, pesquisa e comunicação. A internet, que isola os misantropos avessos aos afetos, une os que gostariam de estar juntos ou partilham as mesmas ideias, mas também serve para toda sorte de fins destrutivos, que vão da calúnia política à vingança pessoal.

http://veja.abril.com.br/220409/p_026.shtml (acessado em: 31/3/2014). O texto coloca em evidência um questionamento da articulista Lya Luft no que concerne aos impactos das novas Tecnologias da Informação e Comunicação na sociedade moderna, ao fazer referência (A) à falta de legitimidade das informações políticas veiculadas. (B) aos motivos múltiplos, nem sempre positivos, pelos quais se faz uso da internet. (C) aos escritores que cada vez mais divulgam suas obras na mídia. (D) ao crescente isolamento dos misantropos avessos aos afetos. (E) a toda sorte de fim destrutivo que ganha força nas redes sociais

A VOLTA DA ASA BRANCA (Luiz Gonzaga) Já faz três noites

Que pro norte relampeia A asa branca

Ouvindo o ronco do trovão Já bateu asas

E voltou pro meu sertão Ai, ai eu vou me embora Vou cuidar da prantação

A seca fez eu desertar da minha terra Mas felizmente Deus agora se alembrou

De mandar chuva Pr'esse sertão sofredor Sertão das muié séria Dos homes trabaiador

Rios correndo As cachoeira tão zoando

Terra moiada Mato verde, que riqueza

E a asa branca Tarde canta, que beleza

(...)

As canções de Luiz Gonzaga são importantes e integram o patrimônio cultural do Brasil porque, dentre outros motivos, (A) mostram a importância do domínio da norma culta, uma vez que a linguagem sertaneja é imprópria para o uso cotidiano. (B) relativizam a necessidade do domínio da norma culta, pois são exemplos de como a norma culta é desnecessária em determinadas regiões do país. (C) chamam a atenção para o problema do analfabetismo no país, ao mesmo tempo em que cantam o apego à terra por parte do nordestino. (D) mostram que determinados registros linguísticos, marcados pela oralidade, são mais adequados ao gênero canção que o registro culto. (E) valorizam a fala popular brasileira como patrimônio linguístico e forma legítima de identidade nacional.

AULA DE PORTUGUÊS A linguagem

na ponta da língua tão fácil de falar

e de entender. A linguagem

na superfície estrelada de letras, sabe lá o que quer dizer?

Professor Carlos Góis, ele é quem sabe, e vai desmatando

o amazonas de minha ignorância. Figuras de gramática, esquipáticas,

atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me. Já esqueci a língua em que comia,

em que pedia para ir lá fora, em que levava e dava pontapé,

a língua, breve língua entrecortada do namoro com a priminha.

O português são dois; o outro, mistério. Carlos Drummond de Andrade. Esquecer para lembrar. Rio de

Janeiro: José Olympio, 1979.

O poema de Drummond apresenta uma posição crítica aos usos sociais que são feitos das linguagens por (A) condenar o uso da linguagem informal em situações cotidianas. (B) destacar a importância do aprendizado da gramática para o dia a dia. (C) revelar o deslumbramento com o aprendizado da gramática. (D) contrapor o registro formal da linguagem ao registro informal. (E) enfatizar o apreço pelo registro informal, apesar de destacar sua inferioridade.

INTERPRETAÇÃO DE TEXTO (VESTIBULARES)

1. (FUVEST) Procura da Poesia Não faças versos sobre acontecimentos. Não há criação nem morte perante a poesia. Diante dela, a vida é um sol estático, não aquece nem ilumina. (...) Penetra surdamente no reino das palavras. Lá estão os poemas que esperam ser escritos. Estão paralisados, mas não há desespero, há calma e frescura na superfície intata. Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário. (...) Carlos Drummond de Andrade, A rosa do povo.

No contexto do livro, a afirmação do caráter verbal da poesia e a incitação a que se penetre “no reino das palavras”, presentes no excerto, indicam que, para o poeta de A rosa do povo, a) praticar a arte pela arte é a maneira mais eficaz de se opor ao mundo capitalista. b) a procura da boa poesia começa pela estrita observância da variedade padrão da linguagem. c) fazer poesia é produzir enigmas verbais que não podem nem devem ser interpretados. d) as intenções sociais da poesia não a dispensam de ter em conta o que é próprio da linguagem. e) os poemas metalinguísticos, nos quais a poesia fala apenas de si mesma, são superiores aos poemas que falam também de outros assuntos.

2. (UNICAMP) O poema abaixo pertence ao livro A rosa do povo (1945):

Cidade prevista

Irmãos, cantai esse mundo que não verei, mas virá um dia, dentro em mil anos, talvez mais... não tenho pressa. Um mundo enfim ordenado, uma pátria sem fronteiras, sem leis e regulamentos, uma terra sem bandeiras, sem igrejas nem quartéis, sem dor, sem febre, sem ouro, um jeito só de viver, mas nesse jeito a variedade, a multiplicidade toda que há dentro de cada um. Uma cidade sem portas, de casas sem armadilha, um país de riso e glória como nunca houve nenhum. Este país não é meu nem vosso ainda, poetas. Mas ele será um dia o país de todo homem.

(Carlos Drummond de Andrade, A rosa do povo, em Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992, p.158-159.)

A) A quem se dirige o eu lírico e com que finalidade? B) A que “cidade” se refere o título do poema e como ela é representada? C) Que características centrais de A Rosa do Povo se encontram nesse poema?

3. (UNICAMP) O excerto abaixo foi extraído do poema Ode no Cinquentenário do Poeta Brasileiro, de Carlos Drummond de Andrade, que homenageia o também poeta Manuel Bandeira.

Por isso sofremos: pela mensagem que nos confias entre ônibus, abafada pelo pregão dos jornais e mil queixas operárias; essa insistente mas discreta mensagem que, aos cinquenta anos, poeta, nos trazes; e essa fidelidade a ti mesmo com que nos apareces sem uma queixa, no rosto entretanto experiente, mão firme estendida para o aperto fraterno - o poeta acima da guerra e do ódio entre os homens -, o poeta ainda capaz de amar Esmeraldas embora a alma anoiteça, o poeta melhor que nós todos, o poeta mais forte - mas haverá lugar para a poesia?

Efetivamente o poeta Rimbaud fartou-se de escrever, o poeta Maiakovski suicidou-se, o poeta Schmidt abastece de água o Distrito Federal… Em meio a palavras melancólicas, ouve-se o surdo rumor de combates longínquos (cada vez mais perto, mais, daqui a pouco dentro de nós). E enquanto homens suspiram, combatem ou simplesmente ganham dinheiro, ninguém percebe que o poeta faz cinquenta anos, que o poeta permanece o mesmo, embora alguma coisa de extraordinário se houvesse passado, alguma coisa encoberta de nós, que nem os olhos traíram nem as mãos apalparam, susto, emoção, enternecimento, desejo de dizer: Emanuel, disfarçado na meiguice elástica dos abraços, e uma confiança maior no poeta e um pedido lancinante para que não nos deixe sozinhos nesta cidade em que nos sentimos pequenos à espera dos maiores acontecimentos. (Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 49.)

a) O que, no poema, leva o eu lírico a perguntar: “mas haverá lugar para a poesia?”

b) É possível afirmar que a figura de Manuel Bandeira, evocada pelo poeta, se contrapõe ao sentimento de pessimismo expresso no poema e no livro Sentimento do mundo. Explique por quê.

4. (UNICAMP) Ocupavam-se em descobrir uma enorme quantidade de objetos. Comunicaram baixinho

um ao outro as surpresas que os enchiam. Impossível imaginar tantas maravilhas juntas. O menino mais novo teve uma dúvida e apresentou-a timidamente ao irmão. Seria que aquilo tinha sido feito por gente? O menino mais velho hesitou, espiou as lojas, as toldas iluminadas, as moças bem-vestidas. Encolheu os ombros. Talvez aquilo tivesse sido feito por gente. Nova dificuldade chegou-lhe ao espírito, soprou-a no ouvido do irmão. Provavelmente aquelas coisas tinham nomes. O menino mais novo interrogou-o com os olhos. Sim, com certeza as preciosidades que se exibiam nos altares da igreja e nas prateleiras das lojas tinham nomes. Puseram-se a discutir a questão intricada. Como podiam os homens guardar tantas palavras? Era impossível, ninguém conservaria tão grande soma de conhecimentos. Livres dos nomes, as coisas ficavam distantes, misteriosas. Não tinham sido feitas por gente. E os indivíduos que mexiam nelas cometiam imprudência. Vistas de longe, eram bonitas. Admirados e medrosos, falavam baixo para não desencadear as forças estranhas que elas porventura encerrassem. (Graciliano Ramos, Vidas secas. Rio de Janeiro: Record, 2012, p.82.) Sinha Vitória precisava falar. Se ficasse calada, seria como um pé de mandacaru, secando, morrendo. Queria enganar-se, gritar, dizer que era forte, e a quentura medonha, as árvores transformadas em garranchos, a imobilidade e o silêncio não valiam nada. Chegou-se a Fabiano, amparou-o e amparou-se, esqueceu os objetos próximos, os espinhos, as arribações, os urubus que farejavam carniça. Falou no passado, confundiu-se com o futuro. Não poderiam voltar a ser o que já tinham sido? (Idem, p.120.)

a) O contraste entre as preciosidades dos altares da igreja e das prateleiras das lojas, no primeiro excerto, e as árvores transformadas em garranchos, no segundo, caracteriza o conflito que perpassa toda a narrativa de Vidas secas. Em que consiste este conflito?

b) No primeiro excerto, encontra-se posta uma questão recorrente em Vidas secas: a relação entre linguagem e mundo. Explique em que consiste esta relação na passagem acima.