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1 Trabalho de Conclusão de Curso LETRAMENTO E POBREZA: DESAFIOS DA ETAPA DA ALFABETIZAÇÃO Ana Paula Pedrozo Ojeda Resumo: O presente trabalho tem como objetivo pesquisar, analisar e mostrar os dados onde mostram a presente desigualdade e o desafio de alfabetizar crianças que se encontram na extrema pobreza, sendo que a maioria dos estudantes da Escola Municipal Manoel Martins são consideradas da classe média, serão analisados especificamente os alunos do 3º ano do ensino fundamental I. Na instituição de ensino, o professor deve esclarecer as dificuldades de aprendizagem, que não se originam apenas pelas defasagens, mas que podem também se originar de problemas familiares, a pobreza principalmente. E o seu dever é analisar fatores que prejudicam a boa aprendizagem, visando evitar esses processos que constroem as dificuldades do conhecimento, no entanto alguns deveres são difíceis de solucionar, pois foge da capacidade de resolução do educador. A pobreza é um fator bastante relevante e deve-se levar em consideração principalmente nas etapas escolares, principalmente no período da alfabetização, por isso será feita pesquisa na escola onde atuo. Buscaremos respostas de como é trabalhado e enfrentado essa situação de vulnerabilidade dos alunos desenvolvem e como são tratados pelos professores, será analisado o componente curricular como um reprodutor da desigualdade. Para tanto, a pesquisa será realizada na escola por meio de entrevista aos alunos e professores, onde espera-se um resultado já esperado. Também haverá pesquisas bibliográficas procurando o respaldo teórico na Linguística com os autores Picolli, Russo e Libaneo. Palavras-chave: Pobreza. Dificuldade de aprendizagem. Currículo. Desigualdade. 1 INTRODUÇÃO Sabemos que cada criança é um ser único, cada um tem seu próprio jeito de pensar, aprender e compreender tudo o que está em sua volta. E que em tempos atuais as escolas têm suas atenções voltadas para as dificuldades de aprendizagem que são demonstradas por seus estudantes, sabe-se que eles apresentam estas dificuldades através de suas atitudes em sala de aula. Muitas destas tornam-se uma

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1 Trabalho de Conclusão de Curso

LETRAMENTO E POBREZA: DESAFIOS DA ETAPA DA

ALFABETIZAÇÃO

Ana Paula Pedrozo Ojeda

Resumo:

O presente trabalho tem como objetivo pesquisar, analisar e mostrar os dados onde mostram

a presente desigualdade e o desafio de alfabetizar crianças que se encontram na extrema

pobreza, sendo que a maioria dos estudantes da Escola Municipal Manoel Martins são

consideradas da classe média, serão analisados especificamente os alunos do 3º ano do

ensino fundamental I. Na instituição de ensino, o professor deve esclarecer as dificuldades

de aprendizagem, que não se originam apenas pelas defasagens, mas que podem também se

originar de problemas familiares, a pobreza principalmente. E o seu dever é analisar fatores

que prejudicam a boa aprendizagem, visando evitar esses processos que constroem as

dificuldades do conhecimento, no entanto alguns deveres são difíceis de solucionar, pois

foge da capacidade de resolução do educador. A pobreza é um fator bastante relevante e

deve-se levar em consideração principalmente nas etapas escolares, principalmente no

período da alfabetização, por isso será feita pesquisa na escola onde atuo. Buscaremos

respostas de como é trabalhado e enfrentado essa situação de vulnerabilidade dos alunos

desenvolvem e como são tratados pelos professores, será analisado o componente curricular

como um reprodutor da desigualdade. Para tanto, a pesquisa será realizada na escola por

meio de entrevista aos alunos e professores, onde espera-se um resultado já esperado.

Também haverá pesquisas bibliográficas procurando o respaldo teórico na Linguística com

os autores Picolli, Russo e Libaneo.

Palavras-chave: Pobreza. Dificuldade de aprendizagem. Currículo. Desigualdade.

1 INTRODUÇÃO

Sabemos que cada criança é um ser único, cada um tem seu próprio jeito de pensar,

aprender e compreender tudo o que está em sua volta.

E que em tempos atuais as escolas têm suas atenções voltadas para as dificuldades

de aprendizagem que são demonstradas por seus estudantes, sabe-se que eles apresentam

estas dificuldades através de suas atitudes em sala de aula. Muitas destas tornam-se uma

2 Trabalho de Conclusão de Curso

incógnita para nós professores, pois sabemos que cada estudante possui sua personalidade

própria. Isso é reconhecido através de seus atos.

É essencial lembrar que muitos educadores hoje buscam compreender a realidade

de cada um dos seus educandos, mas muitas vezes não conseguem o resultado esperado.

A pobreza é um fator negativo na vida das pessoas, principalmente para as crianças

em etapa de alfabetização, pois nesta fase precisa-se de uma atenção maior e rendimento

satisfatório para que assim possam desenvolver a leitura e escrita da forma esperada, mas

como concentrar-se somente na alfabetização quando se possue milhares de outros

problemas que nessa idade não deveria ser motivo de preocupação. Mas infelizmente isso

acontece, alunos de 8 anos, na escola que atuo mostram nitidamente que passam

necessidades, notamos isso na vestimenta, no apetite desenfreado, na falta de materiais

escolares, até mesmo os que consideramos básicos e tudo isso faz com que não tenham

interesse nas aulas e na aprendizagem, levando isso em consideração a etapa de alfabetização

mudou, pois por conta disso nos deparavamos com muita reprovação e se antes todos os

estudantes deveriam ser alfabetizados no 1º Ano do Ensino Fundamental I, agora podem ser

alfabetizados do 1º ao 3º ano do EF I, essa decisão foi tomada justamente pela defasagens

apresentadas nesta etapa, vemos isso no próprio PCN.

O pressuposto básico que norteia as novas concepções de alfabetização é

o de que as crianças de classes populares são provenientes de lares onde

não se fazem usos da leitura e da escrita. Como conseqüência dessa

ausência de interações com situações de leitura e escrita, essas crianças não

teriam atingido os níveis de conceitualização necessários à construção da

escrita na escola e não compartilham das mesmas competências

linguísticas das crianças de classe média e pressupostas pela escola. Essas

teses têm servido como algumas das principais justificativas para as

políticas educacionais de extinção da reprovação no ensino fundamental,

através da implantação da progressão continuada das crianças pelos 8 anos

de escolarização, permitindo mais tempo para os alunos dominarem as

habilidades da leitura e da escrita e seus usos sociais (PCN, 1997; Davis e

Silva, 1993; SEE, 1997; 2000).

No entanto ainda assim estudantes de 3º ano, alunos meus mostram que ainda não

estão totalmente alfabetizados, pois já vieram do 1º ano defasados, e nota-se que justamente

são esses alunos que sabemos que passam dificuldades em casa, ou seja, são extremamente

pobres, sabemos também através da entrevista que tem o auxílio do PBF, mas que não é

3 Trabalho de Conclusão de Curso

suficiente, pois o mesmo tem mais 4, 5 ou 6 irmãos que também dependem desse dinheiro,

mãe que não consegue trabalhar, pois tem criança de colo que não pode deixar, dependendo

assim de ajuda de pessoas caridosas que nem sempre aparecem, já que estamos enfrentando

também uma crise e querendo ou não afeta a todos.

O próprio componente curricular Municipal de Ponta Porã, 2014, reconhece que a

educação é passível de mudanças, e que sem querer reproduzimos a desigualdade e que deve-

se buscar novas formas de ensinar, considerando as diversidades apresentadas de cada

comunidade.

No momento que estamos divulgando esse material a nossa rede está promovendo

a avaliação diagnóstica de todos os alunos. Os resultados obtidos nesse processo

irão repercutir na compreensão do trabalho até aqui realizado e com certeza

provocará alterações nas abordagens que até o momento utilizamos.

Essa dimensão da interação com a realidade sempre em transformação exige de

nós permanentemente estudo, reflexão e transformação.

A entrevista foi feita ao (G, 8 anos), estudante do 3º ano, (J, 12 anos), irmã do

entrevistado, e a professora ( A, 23 anos).

Percebeu-se através da entrevista que o aluno, (G, 8 anos), apresenta grande

defasagem, não está totalmente alfabetizado, constata-se que tem muita dificuldade e como

professora do mesmo, posso afirmar que a falta de interesse do mesmo durante as aulas

também é um fator negativo, além das necessidades básicas, ou seja, a falta de interesse do

estudante é devido à pobreza vivida por ele, e a busca constante de chamar a atenção dos

professores e colegas através da violência e a não participação nas atividades propostas.

E como educadora do estudante (G, 8 anos), admito a dificuldade de alfabetiza-lo,

pois o mesmo não interessa-se nem pelas atividades mais diferenciadas possíveis, foi

trabalhado diferenciado desde o início do ano com esta turma com 35 alunos, e trabalhar o

lúdico levando em consideração a diversidade de cada um não é uma tarefa fácil, pois o

tempo é curto, pouco material e o mais importante, os estudantes não tem consciência da

importância do estudo, não sabem para que serve, em casa não são instruídos pelos pais.

Então com o convívio com estudantes que se encontram na pobreza, constata-se que

a pobreza realmente é um fator negativo, pois faz com que o rendimento caia durante as

aulas, pois muitos vão à escola com fome e desamparados e não conseguem pensar em outra

4 Trabalho de Conclusão de Curso

coisa a não ser no lanche oferecido na escola que é reduzido e muitas vezes não é suficiente

e não garante que fiquem satisfeitos.

A falta de material também outro fator que atrapalha a aprendizagem, pois como

conseguir copiar sem lápis, como pintar um desenho sem lápis de cor, quando acaba a folha

de caderno, a escola deve providenciar, pois por conta da grana curta da família não

conseguem comprar e assim ficam desmotivados quando observam que outros coleguinhas

que tem uma condição melhor pode ter uma roupa melhor, um sapato melhor, um material

melhor e são estes fatores que fazem com que estes se sintam desmotivados e

desencorajados; infelizmente isso reflete na sala de aula na aprendizagem destes alunos que

se encontram na extrema pobreza.

2 JUSTIFICATIVA TEÓRICA

O presente estudo encontra seu motivo no aprofundamento crítico e social,

mostrando a ligação entre a pobreza e a alfabetização presentes no meio social da Escola

Municipal Manoel Martins, utilizando a linguística e a pesquisa de campo como meio de

explicação para esse fator. Fazendo assim uma profunda revisão literária sobre o tema

abordado, pois existem poucas pesquisas sobre esta temática.

Mostrar que dentro da escola existem alunos que apresentam muitas dificuldades na

etapa de alfabetização por conta da extrema pobreza e os desafios dos professores ao

alfabetizar os mesmos. Este é um problema que acarreta outros problemas como a defasagem

de conhecimentos.

Com este trabalho pretende-se mostrar a semelhança entre o que os alunos passam

no dia-a-dia e a vivida pela executora deste projeto quando era aluna do ensino fundamental.

Fernando Taralho diz que a experiência pessoal é a melhor prova de uma pesquisa, ou seja,

uma “mina de ouro.

A narrativa de experiência pessoal é a mina de ouro que o pesquisador-

sociolinguista procura. Ao narrar suas experiências pessoais mais

envolventes, ao coloca- las no gênero narrativo, o informante desvencilha-

se praticamente de qualquer preocupação com a forma. (Taralho, 2001, p.

23)

5 Trabalho de Conclusão de Curso

No entanto, demonstrar esse fato para as pessoas que participam da pesquisa, fará

com que elas tenham outra visão a respeito da pobreza e principalmente da reprodução da

desigualdade implícita causada pelo próprio currículo e o sistema educacional, até mesmo

para a própria executora da pesquisa, pois a mesma, como já citado atua como professora na

mesma escola e na mesma turma a ser analisada.

Como pode-se observar além de todos os fatores que reproduzem a desigualdade a

mídia também demonstra o preconceito desde muito tempo, além também de vir do berço.

Este trabalho irá mostrar o problema e a realidade destes alunos que passam despercebidas

pelos demais. Sabe-se que parte destes alunos se encontram na extrema pobreza.

3 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO

A Alfabetização é um processo em construção, ou seja, o educando estará passando

por estágios pelo qual os conhecimentos, habilidades são adquiridos ou modificados.

A aprendizagem acontece quando o individuo adquire informação. Esse processo

acontece desde o dia que nascemos até a vida adulta, pois sempre estamos em busca de

conhecimento e em constantes mudanças onde o querer aprender do sujeito acontece

espontaneamente. No mundo que vivemos as pessoas simplesmente apreendem observando

as outras e quando nascemos não sabemos de quase nada, mas com o decorrer do tempo a

sociedade nos molda.

O processo de aprendizagem é muito importante, pois assim podemos estudar o

comportamento humano. Sabe-se que aprendemos de forma instantânea quando se tem

interesse pelo assunto que é estudando naquele momento, mas para que isso aconteça o

individuo precisa estar motivado a ponto de empenhar-se a aprender e ter sucesso na

aprendizagem. A bagagem de conhecimento de cada um já é a ponte necessária para que se

possa saber mais. O professor também precisa estar motivado e saber o que a sua turma já

sabe para poder preparar atividades que os deixem intrigados e desafiados a apreender.

Sabe-se que nenhum ser humano é igual e isso também conta na aprendizagem, cada

ser aprende de uma forma diferente, certos aprendem apenas observando, outros necessitam

da fala, e outros precisam da escrita e do manual. Por tanto a importância do professor em

se esforçar e repetir o conteúdo de formas diferentes é essencial. Geralmente associamos o

6 Trabalho de Conclusão de Curso

apreendido com os acontecimentos do nosso dia-a-dia, assim isto também se torna mais uma

etapa de aprendizagem, isto é se apreendemos a todo tempo, as dificuldades também

acontecem a todo instante.

Então é neste momento que acontece o letramento, pois a criança aprende com mais

facilidade aquilo que lhe é concreto, pois o abstrato não lhe chama muita atenção, e na fase

da alfabetização a emoção pelo conhecimento novo consegue transmitir-lhes novas

habilidades.

Para Soares (1999:3) letramento é:

Estado ou condição de quem não só sabe ler e escrever, mas exerce as

praticas sócias de leitura e de escrita que circulam na sociedade em que

vive, conjugando-as com as práticas sociais de interação oral.

A forma mais eficiente então é alfabetizar letrando, Soares já dizia:

[...] alfabetização e letramento – são, no estado atual do conhecimento

sobre a aprendizagem inicial da língua escrita, indissociáveis, simultâneos

e interdependentes: a criança alfabetiza-se, constrói seu conhecimento do

sistema alfabético e ortográfico da língua escrita, em situações de

letramento, isto é, no contexto de e por meio de interação com material

escrito real, e não artificialmente construído, e de sua participação em

práticas sociais de leitura e de escrita. (Soares, 2004)

O educador é considerado a figura mais importante para que as mudanças escolares

ocorram e que os problemas educacionais consigam ser superados. No entanto, não pertence

ao professor a exclusiva responsabilidade pela falta do aprender dos seus alunos, pois é dever

do aprendiz descobrir e transformar o conhecimento em aprendizagem. Assim o papel

fundamental do educador é avaliar seus alunos individualmente. Quando faz-se uso de

métodos variados o processo cognitivo é eficaz, pois a junção do aprendiz e do professor

então transforma-se em aprendizagem.

Mas como fazer tudo isso acontecer quando se tem várias turmas com mais ou menos

35 alunos em cada uma delas, com pais ausentes no ambiente escolar, com pouco material,

pouco interesse dos educandos por vários motivos, seja ela a fome, a necessidade, a

violência, o desinteresse, problemas familiares entre outros. Parece difícil e é, extremamente

complicado, pois várias vezes foge do educando a solução para certos problemas que

querendo ou não reflete na aprendizagem do aluno. A solução que os educandos encontram

geralmente é ignorar, pois é o jeito mais fácil de lidar com determinados tipos de problemas

que os educandos trazem de casa.

7 Trabalho de Conclusão de Curso

Com isso os profissionais da educação, não devem apenas estar focados na realização

de ações de intervenção, mas também na elaboração de propostas que tenham como objetivo

prevenir os problemas que possam vir a acontecer no âmbito escolar.

O papel do professor, hoje em dia, vai muito além de passar conteúdos da grade

curricular, já que esta trabalha na intenção de preparar os alunos para a vida em sociedade.

Essa parte é o que torna a atuação do professor mais complexa, pois além de ajudar a

alfabetizar e formar bons cidadãos, o professor lida também direta e indiretamente com

problemas sociais que os alunos trazem de fora da escola para dentro das salas de aula,

principalmente problemas referentes ao âmbito familiar.

Para os professores manterem uma boa relação com os alunos este precisa conhecer

seus alunos e a realidade em que estão inseridos, analisar quais atividades lhe despertam

interesse e planejar suas ações em concordância com as habilidades e capacidades que

identifica neles, isto requer dos professores atenção e paciência para falas, angústias,

sentimentos, denúncias, que muitas vezes aparecem durante as aulas ao ouvi-los, deve

procurar reorganizar a relação professor/aluno.

Além disso, têm-se ainda as dificuldades de aprendizagem. As dificuldades de

aprendizagem consistem basicamente de aspectos secundários, que são alterações

estruturais, mentais, emocionais ou neurológicas, que interferem na construção e

desenvolvimento das funções cognitivas. As mais conhecidas dificuldades de aprendizagem

são: dislexia, disortografia e discalculia.

No entanto o educador não consegue dar conta das inúmeras funções, além de algumas

que fogem do alcance do mesmo, ou seja, não se pode ajudar o educando desta forma

prejudicando gravemente na alfabetização do educando.

Sabe-se com isso que a educação precisa de uma reforma em relação as funções do

educador, contratar pessoas especializadas, como psicólogos, assistentes sócias, e ainda

capacitar os professores poderia ser um trabalho em equipe com grande valia e resultado

significativo.

8 Trabalho de Conclusão de Curso

4 POBREZA, APRENDIZADO E O CÍRCULO VICIOSO

Educadores que se encontram ativamente na educação sabem muito bem como a

pobreza atrapalha o aprendizado, o quanto é difícil de lidar com casos assim, tanto é que

cientistas ainda tentam explicar como isso ocorre.

Grande parte dos educadores constata que crianças em condições de pobreza têm

mais dificuldade para aprender, não somente por questões socioeconômicas, mas também

biológicas. E pesquisas feitas nos últimos anos comprovam que a pobreza tem o efeito direto

no desenvolvimento do cérebro, principalmente no período mais importante, a infância,

deixando sequelas neurológicas que consequentemente atrapalha na capacidade de

aprendizado e que podem se expandir para a vida toda.

No Brasil onde há muita pobreza foram feitas pesquisas que mostram que há

implicações importantes para na avaliação no quesito escolar e nas políticas de inclusão

voltadas para alunos de baixa renda, como o sistema de cotas e o Programa Universidade

para Todos (ProUni). Pelos resultados obtidos os neurobiólogos, descobriram que o baixo

desempenho dos alunos da rede pública tem raízes que vão muito além do que se pode

imaginar que acontece em sala de aula, ou seja, o que se passa em casa e reflete no

aprendizado em sala de aula.

Esses resultados, já citados acima, dessa relação entre pobreza e aprendizado, nós

educadores conhecemos muito bem, pois é a realidade vivida por quem leciona em escola

pública, mas os cientistas ainda estão longe de explicar como isso ocorre biologicamente.

Ou, nas palavras do pesquisador Jack Shonkoff, da Universidade Harvard, “como é que a

pobreza consegue atravessar a pele e chegar ao cérebro”.

Uma das explicações poderia ser que crianças pobres frequentam escolas onde a

quantidade de alunos por turma é exagerada para uma sala que suporta menos do que atende

na verdade, possuem menos acesso a informação e a cultura, no entanto é natural que

aprendam menos do que as outras, que possuem uma condição melhor.

E nesse caso, quem não faz parte da área educacional facilmente joga a culpa nos

professores ou na falta de dedicação dos próprios alunos. Mas, segundo os cientistas, é

9 Trabalho de Conclusão de Curso

preciso considerar também que esses alunos estão em desvantagem em relação aos que

possuem condições melhores do que a deles, por mais dedicados que sejam, no entanto ser

pobre se torna ruim para o cérebro da criança e o efeito são significativamente negativa.

Numa pesquisa feita pelo jornal Folha de São Paulo em 2008 diz o seguinte:

A capacidade do ser humano de memorizar, lembrar e aprender novas

informações depende de uma constante reconfiguração de sinapses - as

ligações entre um neurônio e outro, através das quais são transmitidas e

armazenadas as informações no cérebro. A maior parte dos neurônios são

formados "in utero", durante o desenvolvimento embrionário e fetal, mas

a planta básica de conectividade dessas células só é estabelecida nos

primeiros anos de vida, à medida que a criança aprende a falar e raciocinar.

Ou seja, se uma criança está exposta numa situação de pobreza, onde há menos

estímulos, condições precárias na saúde, má nutrição, risco maior à exposição de substâncias

tóxicas, vários tipos de abusos entre outras explorações domésticas, a parte do

desenvolvimento essencial do cérebro pode ser muito prejudicado. “Uma vez que esses

circuitos são fechados, não dá para voltar atrás e reconfigurar o sistema. A criança vai viver

com os circuitos defeituosos para sempre”, afirma Shonkoff, diretor-fundador do Centro

sobre Desenvolvimento Infantil de Harvard.

Ainda na pesquisa feita pelo jornal Folha de São Paulo diz que:

Estudos mostram, por exemplo, que crianças de três anos de idade cujos

pais possuem diploma universitário têm um vocabulário três vezes maior

do que crianças cujos pais não completaram o ensino básico. “Com dois

anos você já pode notar a diferença”, disse Shonkoff. Mesmo entre ratos

de laboratório, filhotes que recebem menos lambidas e carícias de suas

mães após situações de estresse saem-se pior em testes de memória e

aprendizado.

Com isso cria-se um círculo vicioso onde crianças pobres, sem instrução por conta

da necessidade da cultura e informação, não se dão bem na escola, e com isso não conseguem

um emprego bom que possam melhorar a vida e com isso acabam tendo filhos que logo irão

crescer com a mesma desvantagem e assim por diante, afetando até na vida adulta passando

de geração em geração.

10 Trabalho de Conclusão de Curso

Então por esse e outros motivos é que a educação se encontra abalada, pois é a

educação que constrói a capacidade intelectual de um país, que basicamente é a base para o

desenvolvimento, e tende a piorar se organizações públicas continuarem a ignorar pessoas

que realmente necessitam de ajuda.

5 CURRÍCULO E PROBREZA

Fala-se tanto sobre as diversidades, mas quando temos que lidar com isso, percebe-

se o quanto é difícil. Ser educador é muito desafiador, ainda mais hoje em dia, pois a cada

dia que passa lidamos com pessoas e personalidades novas. Mas quando se trata de pobreza

apenas ignora-se, diz-se que é pobre por que quer, por que não trabalha por que não quer,

por que é vagabundo, por que é preguiçoso.

E a sociedade e o Estado acabaram deixando responsabilidades aos educadores de

“darem um jeito” em tudo que condiz aos estudantes, quando um aluno que se encontra na

situação de extrema pobreza, o que iria ajuda-lo é alimento, roupa, materiais didáticos entre

outros, e sabe-se que quem deveria garantir todas essa necessidades é o próprio Estado, pois

cabe a ele proporcionar as necessidades básicas ao cidadão. Com isso nota-se que até mesmo

o currículo educacional deixa a desejar à respeito das crianças e adolescentes que se

encontram na extrema pobreza.

O currículo é a organização do conhecimento escolar e essa organização do currículo

fez-se necessária, pois com o surgimento da escolarização em massa, necessitou-se de um

padrão de conhecimento a ser ensinado, ou seja, que as cobranças do conteúdo fossem as

mesmas.

Mas sabe-se que o currículo não diz respeito somente a uma relação de conteúdos,

mas envolve também vários outros quesitos na área educacional:

questões de poder, tanto nas relações professor/aluno e

administrador/professor, quanto em todas as relações que permeiam o

cotidiano da escola e fora dela, ou seja, envolve relações de classes sociais

(classe dominante/classe dominada) e questões raciais, étnicas e de gênero,

não se restringindo a uma questão de conteúdos”. (HORNBURG e SILVA,

2007, p.1)

11 Trabalho de Conclusão de Curso

Para isso faz-se uma necessidade a analise do contexto educacional curricular, pois é

preciso ser compreendido a evolução do pensamento pedagógico e também da influência na

ação docente. O currículo é um dos locais privilegiados onde se entrelaçam o saber e poder,

representação e domínio, discurso e regulação. É também no currículo que se condensam

relações de poder que são importantes para o processo de formação de uma sociedade. Com

isso, currículo, poder e identidades sociais estão entrelaçadas umas às outras. O currículo

toma forma nas relações sociais, é um campo permeado de ideologia, cultura e relações de

poder e é inseparável da cultura.

Tanto a teoria educacional tradicional quanto a teoria crítica mostra no currículo uma

forma institucionalizada de transmitir a cultura de uma sociedade. Sem esquecer que, neste

caso, há um envolvimento político, pois o currículo, como a educação, está ligado à política

cultural, e quanto menos cultura política, menos conhecimento critico, por isso é que os

conteúdos são padronizados entre o que se pode saber e o que não se pode saber, pois o

currículo escolar tem influência na formação e desenvolvimento do aluno. Dessa forma, é

fácil perceber que a ideologia, cultura e poder nele configurados são determinantes no

resultado educacional que se produzirá.

Quem se encontra ativamente na área educacional sabe que o Currículo Real é o

currículo que acontece dentro da sala de aula com professores e alunos a cada dia em

decorrência de um projeto pedagógico e dos planos de ensino. Mas existe um Currículo

Oculto que é o termo usado para denominar as influências que afetam a aprendizagem dos

alunos e o trabalho dos professores. O currículo oculto representa tudo o que os alunos

aprendem diariamente em meio às várias práticas, atitudes, comportamentos, gestos,

percepções, que vigoram no meio social e escolar. É considerado oculto, pois o educador

representa vários papéis que a sociedade insiste em empregar aos mesmos, ele então:

conversa sobre os problemas sociais, familiares, comportamental, educacional e isso faz com

que passe um conteúdo totalmente fora do que o currículo contém e também não aparece no

planejamento.

[...] o currículo não é um elemento neutro de transmissão do conhecimento

social. Ele está imbricado em relações de poder e é expressão do equilíbrio

de interesses e forças que atuam no sistema educativo em um dado

momento, tendo em seu conteúdo e formas, a opção historicamente

12 Trabalho de Conclusão de Curso

configurada de um determinado meio cultural, social, político e

econômico. Para compreendermos melhor o currículo no processo

educacional, faz-se necessário contextualizá-lo, tendo como parâmetro o

pensamento pedagógico brasileiro. (JESUS, Adriana Regina de – UEL –

PUC São Paulo-2008)

Com isso nota-se que o currículo apenas aborda os conteúdos a serem passados de

forma generalizada, não considera as diferenças enfrentadas em sala de aula, principalmente

as pessoas que se encontram na extrema pobreza, pois há muita diferença entre crianças que

tem possibilidades de uma vida melhor, um dos exemplos que mais afetam a aprendizagem

do aluno é o alimento, principalmente daqueles que estudam de manhã, aluno (G, 8) provem

de família extremamente pobre, muitos irmãos, pais sem trabalho fixo e sem uma cultura

escolar, durante a aula não consegue se concentrar nas atividades, pois a fome afeta, pergunta

que horas será servido o lanche e só rende se o educador leva algum alimento e faz a troca

da realização da atividade pelo alimento. Já o aluna (M, 8) tem uma família com condições

melhores, onde não passa dificuldades e assim obviamente concentra-se nas atividades sem

precisar se distrair com as necessidades de casa, por isso quem sabe o que se passa em sala

de aula é somente e apenas o educador.

5 RESULTADOS ESPERADOS

Sabe-se que as escolas públicas passam sempre por dificuldades em manter a gestão

escolar, por esse motivo é que se solicita incansavelmente por mais verbas e mais acesso

tanto no nível federal quanto nos estados e municípios. A razão é simples é necessária, pois

a educação brasileira precisa de uma atenção financeira melhor, para assim os estudantes

que provem de uma família menos prestigiada terem mais oportunidades e acesso e consiga

se beneficiar dela. Mas acabam adiando essa necessidade com a desculpa de que se deve

usar melhor os recursos existentes, a verba não é suficiente para manter uma escola em si e

fica claro, seguindo esta tendência, que o país, e seus habitantes, não terão a educação de

que precisam para melhorar de vida e quebrar o circulo vicioso da pobreza.

Com isso os educadores sentem-se de mãos atadas, pois sentem a vontade de ajudar

o estudante que passa por necessidades, mas tudo mostra e leva à parte financeira, o professor

tem um salário baixo e não consegue tirar do bolso para poder ajudar o seu aluno, quando

tenta ajudar e com o pouco que consegue. O estrago que acontece na vida dos estudantes que

13 Trabalho de Conclusão de Curso

se encontram na extrema pobreza é irreparável principalmente na etapa de alfabetização,

pois essa parte é o alicerce necessário para poder avançar, mas passando por tanta dificuldade

torna-se um problema que consequentemente acarreta outros problemas como: desinteresse

pelas aulas, indisciplina nas aulas e a consequência obviamente a defasagem de

conhecimentos.

Assim os professores passam pelo desafio de alfabetizar, essa etapa é considerada a

mais importante e a mais difícil, então se procura formas de tratamento com o educando que

passa por necessidades podendo trata-lo diferenciadamente, mas sem exclui-lo do restante

do grupo. Certamente não é uma tarefa fácil, pois muitos resistem ao receber ensinamento,

pois os mesmos não estão acostumados a valorizar a cultura e a educação, pois os pais não

lhes passam essa informação crucial, pois também não receberam de sua família .

Com esta pesquisa tornou-se real poder ver outros ângulos da pobreza na família dos

educandos, foi possível ver além do que a aparência, os educadores sentiram-se mais

sensíveis e perceptíveis aos sentimentos do aluno, foram quebrados vários preconceitos em

relação à pobreza e o resultado foi o esperado, mais dedicação e menos julgamento a respeito

destes estudantes.

6 REFERÊNCIAS

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HORNBURG, Nice. SILVA, Rubia da. Teorias sobre currículo: uma análise para

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http://pt.scribd.com/doc/520266/Teorias sobre o currículo- Acesso em: 29/11/2016

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14 Trabalho de Conclusão de Curso

http://educador.brasilescola.uol.com.br/orientacao-escolar/curriculo-no-contexto-

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Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo

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SILVA, Tomaz Tadeu da. Identidades terminais: as transformações na política da pedagogia

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SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte, Autêntica,

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TARALLO, Fernando de. A pesquisa sociolinguística. São Paulo; Perspectiva, 2001.