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antoniopeneda
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O Morto Incompleto (I)
A réstia de luz tremeluziu, suplicante, depois desfaleceu.
Sob um lençol imperturbável do negrume das nuvens,
Os dedos molhados do céu tamborilavam na janela.
Os móveis da sala dormiam em escura sonolência,
O caixão, ao centro, ali estava, enterrado!
O defunto, soergueu-se do leito tumular,
Do seu rosto desliza lágrima de grossa tristeza,
Da sua alma despreguiçada em gélida sepultura,
Vieram-lhe as culpas da vida ainda não vivida…
O defunto levantou-se do avesso leito,
De olhos abertos, acalentado em sincero sonho,
Soltou uma risada que sacudiu a ludibriada morte;
O efetivo vivente recusava-se a sair deste mundo.
Não deixava de acreditar, até hoje, ainda estou vivo:
a vida é um sonho, um delírio, mas sempre encarcerado.