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Propriedade: Escola Secundária Martins Sarmento Alameda Prof. Abel Salazar - 4810-247 Guimarães Tel.: 253 513 240 | Fax: 253 511 163 Código da Escola: 402187 Diretor: José Manuel Teixeira Coordenação Geral: Rosa Manuela Machado Grafismo e paginação: José Faria Email: [email protected] nº 13 Caros leitores, Mais um ano letivo no fim e, nesse final, o ine- vitável balanço e retrospetivo olhar. Passou veloz e muito se passou. A Escola sente que cumpriu mais um desígnio, ao levar mais um grupo significativo ao ensino superior. E sen- te-se orgulhosa de os ter acompanhado, feito aprender, criar, crescer. Foi, naturalmente, para esses alunos, uma caminhada de traba- lho, de esforço, de luta, mas foi certamente, também, de busca, de procura e de sonho. E é aqui que o trabalho e a felicidade se tocam, neste querer sempre mais, nesta procura, neste quase tocar de completude. E, neste olhar, vemos que também outros passaram por nós, como o poeta Herberto. E também ele ficará connosco e nos lembrará que está vivo, pois a arte é eterna, como dis- se Fernando Pessoa “Só a arte é útil. Crença, exércitos, impérios, atitudes – tudo isso pas- sa. Só a arte fica. Por isso, só a arte se vê.” Também Herberto Helder nos mostra que, ainda que passemos como o vento ou como o rio, podemos sempre ficar e ficar visíveis. Mesmo que, como o poeta, não gostemos de entrevistas ou notoriedade. De uma singela forma, Herberto mostra-nos como as coisas mais belas e mais importantes que se apren- dem na vida, aprendem-se mesmo sem um mestre a ensiná-las. É simplesmente vivendo- -as, experienciando-as, convivendo com elas que as aprendemos. Assim, será importante que os nossos alunos, de quem começamos por falar no início deste texto, levem consigo a lição do nosso poeta, o seu exemplo de tra- balho árduo e discreto, que deu origem a uma obra vasta e tão rica, pela profundidade refle- xiva que revela e pela diversidade de leituras a pensadores que reflete. E a vida humana é essencialmente isto; é a completude que ga- nhamos com os outros, com o conhecimento enriquecido pela partilha. Desse conhecimen- to nasceu um legado para a humanidade: a poesia, e com ela a lição da paixão. Disse Her- berto Helder, em Servidões: li algures que os gregos antigos não escreviam necrológios, quando alguém morria perguntavam apenas: tinha paixão? Editorial Jornal da Escola Secundária Martins Sarmento, Guimarães Junho 2015 21 Rep. Fotográfica: Martins Sarmento abre portas à comunidade 20 Poesia: Homenagem a Herberto Helder 02 Entrevista: Professor João Miguel Ferreira 06 Reflexão: Encarceramento como Punição Criminal Equidade e Inclusão em reflexão na esms Sessão de esclarecimento com o Professor David Rodrigues Foto: Jorge Faria p. 10 (continua na última página)

O Pregão 13

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Jornal da Escola Secundária Martins Sarmento, Guimarães. Edição 13

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Page 1: O Pregão 13

Propriedade: Escola Secundária Martins Sarmento

Alameda Prof. Abel Salazar - 4810-247 Guimarães

Tel.: 253 513 240 | Fax: 253 511 163

Código da Escola: 402187

Diretor: José Manuel Teixeira

Coordenação Geral: Rosa Manuela Machado

Grafismo e paginação: José Faria

Email: [email protected]

nº 13

Caros leitores,Mais um ano letivo no fim e, nesse final, o ine-vitável balanço e retrospetivo olhar. Passou veloz e muito se passou. A Escola sente que cumpriu mais um desígnio, ao levar mais um grupo significativo ao ensino superior. E sen-te-se orgulhosa de os ter acompanhado, feito aprender, criar, crescer. Foi, naturalmente, para esses alunos, uma caminhada de traba-lho, de esforço, de luta, mas foi certamente, também, de busca, de procura e de sonho. E é aqui que o trabalho e a felicidade se tocam, neste querer sempre mais, nesta procura, neste quase tocar de completude. E, neste olhar, vemos que também outros passaram por nós, como o poeta Herberto. E também ele ficará connosco e nos lembrará que está vivo, pois a arte é eterna, como dis-se Fernando Pessoa “Só a arte é útil. Crença, exércitos, impérios, atitudes – tudo isso pas-sa. Só a arte fica. Por isso, só a arte se vê.” Também Herberto Helder nos mostra que, ainda que passemos como o vento ou como o rio, podemos sempre ficar e ficar visíveis. Mesmo que, como o poeta, não gostemos de entrevistas ou notoriedade. De uma singela forma, Herberto mostra-nos como as coisas mais belas e mais importantes que se apren-dem na vida, aprendem-se mesmo sem um mestre a ensiná-las. É simplesmente vivendo--as, experienciando-as, convivendo com elas que as aprendemos. Assim, será importante que os nossos alunos, de quem começamos por falar no início deste texto, levem consigo a lição do nosso poeta, o seu exemplo de tra-balho árduo e discreto, que deu origem a uma obra vasta e tão rica, pela profundidade refle-xiva que revela e pela diversidade de leituras a pensadores que reflete. E a vida humana é essencialmente isto; é a completude que ga-nhamos com os outros, com o conhecimento enriquecido pela partilha. Desse conhecimen-to nasceu um legado para a humanidade: a poesia, e com ela a lição da paixão. Disse Her-berto Helder, em Servidões: li algures que os gregos antigos não escreviam necrológios,quando alguém morria perguntavam apenas:tinha paixão?

Editorial

Jornal da Escola Secundária Martins Sarmento, Guimarães Junho 2015

21Rep. Fotográfica: Martins Sarmento abre portas à comunidade

20Poesia: Homenagem a Herberto Helder

02

Entrevista: Professor João Miguel Ferreira

06

Reflexão: Encarceramento como Punição Criminal

Equidade e Inclusão

em reflexãona esms

Sessão de esclarecimento com o Professor David Rodrigues

Foto

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Entrevista

O Sarau da Martins Sarmento, pelas palavras

do seu organizadorPROFESSOR JOÃO MIGUEL FERREIRA, MESTRE EM LITERATURA PORTUGUESA

– ESPECIALIDADE ÉPOCA CONTEMPORÂNEA, AUTOR DE UMA DISSERTAÇÃO

SOBRE A OBRA “ORÍON”, DE MÁRIO CLÁUDIO, COM UMA ESPECIALIZAÇÃO

EM EDUCAÇÃO ESPECIAL E PROFESSOR DO GRUPO DE PORTUGUÊS E LATIM

NA ESCOLA SECUNDÁRIA MARTINS SARMENTO. NOS SEUS POUCOS TEMPOS

LIVRES, TEM A MÚSICA COMO HOBBIE E PAIXÃO.

Professor João Miguel, na qua-lidade de organizador do Sarau Cultural da Escola Secundária Martins Sarmento, que balan-ço faz da realização do evento?É sempre difícil falar de uma ativi-dade em que estamos envolvidos... Falta-nos o necessário distancia-mento para a avaliar com rigor e, tanto quanto possível, com isen-ção. Apesar disso, o balanço que faço é bastante positivo. É fantásti-co poder trabalhar com alunos tão talentosos, seja na área do canto, da música, da dança, do desporto, da poesia, da representação... A Mar-tins Sarmento tem, efetivamente,

muito talento, como sugere o con-curso “Liceu’sGotTalent”... Por outro lado, tenho de lembrar também um dos pontos altos da noite: a coreo-grafia das assistentes operacionais! Foram espetaculares, bem dis-postas e cheias de energia...! Este ano conseguimos ainda ter uma participação muito especial dos pro-fessores no Sarau. A rábula “Turma Mais” foi engraçadíssima, e julgo que todos ficaram com vontade de ver mais. Em relação à apresenta-ção do Sarau, ela ficou muito bem entregue às alunas Joana Santos e Francisca Martinho e ao Profes-sor Renato Silva. Comportaram-se

como verdadeiros profissionais e deram voz aos textos engraçadíssi-mos do Dr. Paulo César Gonçalves (ex-aluno da escola), como espera-do. Tenho de confessar que, quando a Direção da Escola me incumbiu da missão de organizar o Sarau deste ano, a primeira pessoa na qual pen-sei foi o Professor Renato. Tinha a certeza de que era a pessoa indi-cada para apresentador do Sarau. Finalmente, não posso deixar de elogiar o trabalho excelente da equi-pa de Multimédia da Escola, a um nível muito difícil de superar! É res-ponsável pelo design gráfico, pela realização e edição de vídeos... E o

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Entrevista

sketch com apanhados da Liceu TV foi hilariante! Ah, claro, também não posso esquecer o trabalho fabuloso da equipa dos bastidores e dos téc-nicos de som e luz, sem os quais não conseguíamos ter um Sarau para todas as estrelas brilharem...

Qual a importância da organi-zação deste tipo de eventos, para a Escola no seu todo, quer como comunidade inseri-da num contexto urbano, quer ainda em relação ao pessoal docente e, obviamente, aos estudantes?Entendo que é essencial haver em todas as escolas, pelo menos uma vez por ano, um evento como o Sarau. É uma forma de reunir a comunidade escolar numa noite divertidíssima e em que se conhe-cem facetas que, no dia a dia, nem sempre os outros nos revelam. O nosso Sarau, em particular, mos-tra também como a nossa escola é dinâmica e procura desenvolver as diferentes competências dos seus membros, indo além dos conteúdos das disciplinas. A Martins Sarmen-to interessa-se, de facto, pelos seus alunos, e isso é patente no modo como o Sarau é construído. Ain-da que nem tudo seja feito apenas por eles, tudo é feito para eles. Acho que a nossa Escola demonstra, as-sim, preparar bem os alunos para o sucesso escolar, mas também para a sua inclusão no meio envolvente e para uma vida com sucesso.

Quais foram as suas maiores preocupações e prioridades, aquando da preparação que levou a cabo, para a programa-ção do evento? É um problema decidir quem pode ou não participar num evento que não pode durar toda a noite... Tenho consciência de que este ano o Sarau foi mais longo que o ano anterior, porque muitos quiseram partici-par, mas também tivemos de dizer

a alguns alunos que a sua partici-pação teria de ser curta, de modo a que todos pudessem participar, sem alongar o evento. Para além disso, a maior preocupação de todas é or-ganizar a estrutura do espetáculo, de modo a manter o nível de aten-ção e interesse do público ao longo do evento. É preciso alternar o gé-nero de demonstrações em palco (ora canto, ora representação, ora desporto, ora música), variar o esti-lo musical apresentado, pensar nos instrumentos que vão ser necessá-rios em palco, saber que adereços vão ser necessários, evitar ao míni-mo a variação de cabos e objetos...

Sendo docente de Português, teve preocupações mais es-pecíficas relativamente à sua área de docência, designada-mente na apresentação para o Sarau, de temáticas relaciona-das com literatura?No que respeita à disciplina de por-tuguês, durante uma aula com a turma 10.º CT6 dedicada ao estudo do conteúdo “Declaração”, surgiu a ideia de se fazer uma reflexão so-bre a não aplicação dos Direitos Humanos durante o Sarau Cultu-ral. Os alunos de educação especial aderiram de forma entusiasta, e esse foi um dos momentos ines-quecíveis da noite! Claro que, como professor de português, pensei em momentos de declamação de poe-sia, mas seria uma outra atuação que, inevitavelmente, provocaria um prolongamento do espetáculo... Tivemos de fazer opções – doloro-sas, acrescentaria...

O que o motivou a empenhar-se afincadamente na realização do Sarau Cultural?Como disse, o convite surgiu da parte da Direção, uma vez que a professora responsável pela edição do ano anterior, a Professora Ale-xandra Andrade, infelizmente, este ano não ficou colocada na Escola.

Nesse sentido, como eu tinha pre-parado, artística e vocalmente, os alunos do “Liceu’sGotTalent” no ano anterior, acabei por ser “convocado” para esta missão (risos)...! Quanto ao que me motivou a empenhar--me na realização do Sarau Cultural, bem, sei lá... Em primeiro lugar, gos-to de me entregar a 100%a tudo em que me envolvo. Não sei (nem gos-to de) estar parado... Depois adoro trabalhar com alunos entusiastas e vê-los voar! Finalmente, tenho uma enorme paixão pela música e pelo espetáculo. No fundo, o Sarau permite-me aliar as minhas duas paixões: a educação e as artes do espetáculo, nomeadamente a mú-sica. E diz o povo e muito bem que “quem corre por gosto não cansa”... Eu corri por gosto, e o cansaço que senti foi compensador.

Parece-lhe que este tipo de iniciativas promove uma maior proximidade e envolvimen-to entre a Escola, enquanto entidade educativa, e a sua po-pulação estudantil?Sem dúvida! O Sarau da Martins Sarmento já ocupa um lugar de re-levo na comunidade escolar (e não só) de Guimarães. Tenho a certe-za que todos (alunos, professores, assistentes operacionais, pais e en-carregados de educação) estão à espera, durante todo o ano, por aquela noite: ou para atuarem ou para verem os outros a brilhar!Quais os benefícios para a di-namização e divulgação da Escola, com a organização de eventos como este?A Martins Sarmento mostra que é uma Escola em movimento, dinâ-mica! Acredito que muitos alunos procuram a nossa Escola não só pela qualidade do ensino que ela lhes oferece, como também pelas tradições a ela associadas... E as Jornadas Culturais, em particular, o Sarau Cultural são já uma tradição...Muito obrigada.

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Entrevista

Why did you chose to come to Portugal… to Vitória de Guimarães?Well, because Hungarian football isn t that good… unlike Portuguese football which is very good. And Vitó-ria offered me a contract.

Oh a contract? That s very in-teresting. How exactly does the contract work? Did they see you playing and thought you were good enough or…

Yes, last year I was playing in a Fren-ch tournament when a scout, who works for Vitória, saw me and, later on, approached me and asked me if I would like to come to Portugal and play for Vitória de Guimarães.

So, how has it been adapting to the city?The city? It’s really nice. I love it and the weather is also very good… in Hungary it is really cold. And the peo-ple here are very nice, too.

Did you feel a shock of cultu-res when you came here? I´m assuming that the Portugue-se culture is different from the Hungarian, am I right? And also the school methods are proba-bly different.Yes, they are different, and they’re harder…. My school in Hungary had an old structure, this school is more modern.Is it hard to combine school with the trainings?

Bíró Bence

We interviewed a foreign student, from Hungary, who is

studying at our school this year. He is one of the new players

of Vitória de Guimarães.

And we were curious about a few things….

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Entrevista

Yes, it’s hard. I finish my classes at 16:05h and then I have training and after that I have to go to the gym, so it’s been a little bit hard.

Have you ever participated in international championships?Yes, for Hungary.

Oh that s really good. When was the first time that you played for the Hungarian national team?It was three years ago.

On which position do you play?I m a striker.

Who is your favourite player?Cristiano Ronaldo.

Do you feel that the lifesty-le you’ve chosen takes away a little bit of your teenage expe-riences? Like going out at night? Hanging out with your friends? During the football season I can t do those things, but in summer there is no problem.

You are investing so much in football. Is that what you really want for your future? Yes, it is.

Don t you have a plan B?No, I’m going to become a professio-nal football player.

But what if you can t? Are you going back to Hungary…?NNo, I will keep trying. I won t give up.

That s very brave! Most peo-ple would probably give up and try something else and would always have a plan B. Anyway, let’s imagine for a second that you suffer a really bad injury and you can t play anymore. What would you do then?II haven t thought about that. I don’t know. My only goal is to become a professional football player.

Football is truly your passion. How old were you when you started playing in a team?I was five.

Five? Wow. Do you live alone here?No, I live in the club s dormitory with other players.

Are you the only foreign player living there?No, there is also an African American player there.

How is it like to live in a house with other boys your age? Do you have your own room or do you share it with someone else?No, I have my own room, but there are some who share.

Is it hard to keep in touch with your parents and friends?No, I talk with my parents every day through social networks and someti-mes with my friends, too.

What do your parents think about you coming to Portugal? Do they support your choice?Yes they support me very much.

Was it hard to make friends here?Yes, a little, since I don’t know the lan-guage very well.

I see. Do you have classes to learn the Portuguese language?Yes, I have a teacher that teaches me the language at the end of the day.

One last question: what club would you like to play for in the future?Maybe Barcelona, Chelsea or Bo-russia Dortmund. It depends on the league I ll be playing for, but Barce-lona is the one I would really like to play for.

All great teams. Thank you so

much for giving us a little bit of your very short free time. And we hope everything goes well with your career and that you do accomplish your goal of be-coming a professional.Thank you.

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Opinião

Criminalidade em Portugal

Encarceramento como Punição

Criminal Maria Inês Martins, 11º CT4

Todas as pessoas têm memó-ria de certos castigos que sofreram por parte dos pais ou qualquer ou-tro educador, durante a sua infân-cia. Medo era aquilo que sentíamos de cada vez que éramos reprimidos por fazermos algo errado, mas so-mente porque sabíamos que daí ad-vinham os tais castigos. O que nós não sabíamos era que os pais tam-bém tinham as suas punições… A única diferença é que eles não de-viam nem devem evitá-las por te-rem medo das mesmas, mas sim porque a sua consciência é civili-zada e responsável, caso contrá-rio não poderiam ser considerados adultos no verdadeiro sentido da palavra.

A necessidade de punição já existe desde os mais primordiais seres humanos. No entanto, o “hu-manismo penitenciário”, que desen-volveu o sistema penal português e que, atualmente, ainda permane-ce presente, apenas surgiu no sécu-lo XVII. Até então, a pena de mor-te, o desmembramento, a tortura e qualquer outro meio de punição que, no presente, muitos conside-ram inconcebíveis (mas que ainda servem para a aplicação de “justi-ça” em vários países), eram vistos unicamente como castigos. Fyodor Dostoyevsky (1821-1881) foi um dos

impulsionadores da “humanização” das penas, questionando aquilo que na época muitos, como ele, temiam e com o que não concordavam, mas não tinham o poder ou coragem para o fazer - “Não será preferível corrigir, recuperar e educar um ser humano do que cortar-lhe a cabe-ça?”. Foram então criadas regras e vários projetos que deixaram trans-parecer a evolução da justiça na-quelas sociedades, como o “Panop-ticon”, um estabelecimento prisio-nal desenhado pelo filósofo Jeremy Bentham. De facto, até àquele tem-po, era um dos métodos eticamen-te mais bem aceites. Mas será que estes progressos eram suficientes?

A visão do sistema prisional, no presente século, quanto ao objetivo das multas e penas de prisão, não é diferente da do século XVII, porque a reintegração social do indivíduo continua a ser aquilo que se preten-de atingir. As condições dos estabe-lecimentos prisionais melhoraram sem sombra de dúvida – condições de higiene, saúde, alimentação, etc. Não obstante, os problemas em aceitar este modo de punição cri-minal, como veremos mais à frente, não são poucos.

São vários os crimes que impli-cam as penas de que tenho vindo a falar, mas são poucas as razões

para cometer essas infrações; ou porque o indivíduo tem dificulda-des económicas ou porque não exis-te qualquer tipo de moderação nos seus pensamentos e atos. Como para todos os atos há sempre deter-minadas consequências, mais tarde ou mais cedo um criminoso terá de cumprir a sua pena de prisão ou pa-gar uma multa, sempre com o obje-tivo imparcial de ultrapassar as di-ficuldades que o fizeram cometer o crime, tendo em vista a reintegra-ção na sociedade. E é aqui que resi-de o problema e o propósito desta reflexão crítica. A maioria daqueles

A visão do sistema prisional, no presente século, quanto ao objetivo das multas e penas de prisão, não é diferente da do século XVII, porque a reintegração social do indivíduo continua a ser aquilo que se pretende atingir.

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Opinião

que cumprem penas por crimes co-metidos têm na sua memória recor-dações que não pretendem que se tornem outra vez realidade e, tal-vez por isso, pensem melhor antes de cometerem qualquer tipo de de-lito novamente. Mas porque é que, em muitos casos, não se verifica a reintegração social do ex-recluso? Não era esse o único objetivo da “justiça”?

Embora a evolução dos estabe-lecimentos prisionais esteja bem vi-sível, ela não chegou para a concre-tização da ideia original de Fyodor Dostoyevsky. Tal insucesso deve-se à sobrelotação das prisões, à fací-lima obtenção de droga nas mes-mas, à falta de atendimento médico, mesmo sendo as prisões um grande foco infecioso, aos conflitos e mor-tes que ocorrem, ao pouco contac-to com a família e amigos, à falta de atividades que ocupem o tempo dos prisioneiros de uma forma benéfica para os mesmos e a outros fatores não muito difíceis de imaginar. Per-gunto como é que alguém que não é visto como um cidadão exemplar se pode tornar um cidadão exemplar, se convive durante meses ou anos quase exclusivamente apenas com pessoas pouco civilizadas… A obten-ção de sanidade cívica e individual não é, portanto, possível através

destes meios e, por isso, encaro as penas de prisão como simples cas-tigos, ao meu olhar, uma forma não inteligente de tornar a sociedade melhor. Isto para não falar das pe-nas de multa, que são pagas princi-palmente por indivíduos com boas condições económicas, o que me permite concluir que o impacto psi-cológico causado nessas pessoas é praticamente nulo. Portanto, quem beneficia com tudo isto irá ser ex-clusivamente o Estado.

O sistema prisional necessita de óbvios progressos. Para não perma-necer apenas na crítica e, claro, não olvidando a insignificância (por par-te das entidades responsáveis pela justiça portuguesa) de uma possível solução que irei expor, na minha opi-nião, o tratamento dos reclusos, por parte de polícias unicamente impar-ciais (que não são muito fáceis de encontrar) deveria ser diferencial, isto é, conforme as atitudes diárias dos indivíduos no estabelecimen-to prisional, estes seriam compen-sados ou não. Para além disso, eles deveriam ser seguidos por pessoas com alto poder persuasivo e que uti-lizassem técnicas demonstradoras do quão benéfico seria para eles se praticassem o bem para com a so-ciedade conjunta. Acrescento ainda que a pena de multa apenas deveria

poder ser aplicada se a pena de pri-são correspondente a esse crime fosse inferior ou igual a dois meses.

David Hume teve também um impacto bastante importante sob esta questão. A frase “Todo o Ho-mem tem consciência da necessida-de da justiça para conservar a paz e a ordem, assim como todo o Ho-mem tem consciência da necessida-de da paz e da ordem para a conser-vação da sociedade” – foi o que este empirista defendeu e o que eu acho que deveria ser dado a refletir aos prisioneiros, uma vez que eles estão na prisão unicamente por causa dos seus próprios atos.

Concluindo, a recorrência aos estabelecimentos prisionais como punição criminal pode ser admiti-da como praticamente inevitável e, precisamente por esse motivo, de-vem ser feitos novos avanços com o intuito de manter a veracidade dos objetivos da justiça. Contudo, não posso omitir o facto de que todos os reclusos e ex-reclusos foram os únicos indivíduos responsáveis pelo seu encarceramento e, se não fos-sem eles, este complexo tema so-bre a justiça nas punições criminais não existiria. Afinal de contas, a jus-tiça apenas é um tema atual na me-dida em que a fragilidade humana é incurável.

Uma primeira formulação da ideia de “Big Brother” do livro ORWELL, George – 1984, que tem especial cuidado com a utilidade arquitetónica na construção de prisões – o “panopticon” era constituído por uma torre central que permitia vigiar todos os reclusos que se encontravam em carceres dispostos à volta dessa torre

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Notícias

• No passado dia 29 de abril, a tur-ma 11º CT1 realizou uma visita de estudo à Casa de Tormes, situada em Baião.

A viagem decorreu num ambiente de alegria e boa disposição. Chegados ao destino, todos ficaram maravilha-dos com a beleza da serra.

A visita orientada teve início com a apresentação de um documentário sobre a vida e obra de Eça de Quei-rós, que foi bastante esclarecedor sobre uns dos maiores escritores do séc. XIX.

De seguida, os visitantes usufruí-ram de uma visita guiada ao espólio do Museu da Casa de Tormes. Este espaço, para além de constituir um cenário real e ficcional de “A Cida-de e as Serras“, possui peças de mo-biliário e objetos pessoais que per-tenceram ao escritor e que estão as-sociados a múltiplos aspetos da sua vida e obra. Na hora do almoço, os alunos e professores desfrutaram dos belos jardins da Casa de Tormes, onde partilharam momentos de um salutar convívio.

Por último, a turma iniciou uma caminhada com o objetivo de efe-tuar o percurso pedestre da perso-nagem Jacinto, de acordo com o re-lato do romance “A Cidade e as Ser-ras“. Este trilho revelou-se cheio de aventuras e belas paisagens. Che-gados à Estação de Arêgos, regres-saram rumo a Guimarães, trazendo

boas memórias de uma experiên-cia que se revelou enriquecedora e gratificante.

A turma considera esta estratégia pedagógica muito pertinente, name-dida em que promoveu o interesse literário e cultural dos alunos pela vastíssima obra do grande escritor português Eça de Queirós. • 11º CT1

• Em março, a turma 11º LH2 vistou Berlim, no âmbi-to da disciplina de Alemão, com a professora Lurdes Araújo. Nesta viagem ti-vemos a oportunidade de interagir com a língua e cultura alemãs, de modo a aperfeiçoar os nossos co-nhecimentos e a estimular ainda mais a nossa curio-sidade face a este país. Apesar de curta, a viagem permitiu-nos conhecer as principais atrações da ci-dade. No primeiro dia, chegámos já de noite, mas ainda pudemos conhecer uma importante praça de Berlim, Potsdamer Platz.

No dia seguinte, visitámos o Memorial do Holocausto, as Portas de Brandenburgo, o Parlamento, Tiergarten, Checkpoint Charlie, entre outros pontos. O terceiro dia ficou reservado para conhecermos o Museu de História Alemã, a Ilha dos Museus e a Alexanderplatz, onde alguns alunos subi-ram à Torre da Televisão.

No último dia visitámos East Side Gallery, uma par-te bastante grande do Muro de Berlim. Ao ter-nos le-vado a conhecer a capital alemã, a nossa professora concedeu-nos a oportuni-dade de nos embrenharmos

num país que, apesar de es-tar relativamente perto do nosso, possui tradições e um modo de vida di-ferentes daqueles a que estamos habituados. Foi,

sem dúvida alguma, uma experiência a recordar e, se possível, a repetir. •

11º LH2

• Visita de estudo

"A Cidade e as Serras" em Tornes

• Disciplina de Alemão

Martins Sarmento de visita a Berlim

A turma do 11º CT1 no Museu da Casa de Tormes, um cenário real e ficcional de “A Cidade e as Serras“ de Eça de Queirós

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Notícias

• A Escola Secundária Martins Sarmento (ESMS) participou, no dia 18 de abril, na Fase Regional das Olimpíadas da Física. Os alunos Ana Carolina, Tiago Peixoto (11ºCT1) e Rodrigo Alves (11ºCT2), acompa-nhados pelo professor Manuel Pinto, tiveram a oportunidade de repre-sentar a escola na edição de 2015 das olimpíadas, organizadas pela Sociedade Portuguesa de Física.

Durante um dia, no Departamento de Física e Astronomia da Faculdade de Ciências da Universidade do Por-to, os alunos testaram e aplicaram os conhecimentos adquiridos nas aulas de Física e Química. De manhã foram realizadas duas provas. Na prova teórica foram testados conhe-cimentos relativos a Física Quântica e a Mecânica Clássica, enquanto que na prova experimental foi dada aos alunos a oportunidade de construir um circuito eléctrico para LED’s, e através da difração, calcular o com-primento de onda da luz emitida pelos mesmos.

Após a hora de almoço, que pro-porcionou um excelente ambiente de convívio entre alunos e professores de diferentes escolas, a FCUP prepa-rou algumas palestras sobre assuntos relacionados com Física Teórica.

Na divulgação de resultados, a ESMS, com muito orgulho, viu o seu

aluno Rodrigo Alves ser premiado com a medalha de prata, apurando--se assim para a Fase Nacional das Olimpíadas da Física.

Estes eventos são importantes, pois permitem aplicar conhecimen-tos aprendidos em contexto de sala

de aula, contatar com a universida-de e alargar horizontes. •

Prof. Manuel Pinto

• Visita de estudo

"A Cidade e as Serras" em Tornes• Olimpíadas da Física 2015

Rodrigo Alves vence medalha de prata

VÍDEOS E REPORTAGENS DA TUA ESCOLA NA:

WWW.ESMSARMENTO.PT

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Notícias

j A cidade de Guimarães debru-çou-se, no passado dia 6 de junho, sobre o tema "Promover a Equida-de e a Inclusão na Escola de Hoje”. A sessão de reflexão, promovida pelo grupo de Educação Especial da Es-cola Secundária Martins Sarmento, decorreu no Auditório da Universi-dade do Minho, campus de Azurém, e foi orientada pelo Professor Dou-tor David Rodrigues, Membro do Conselho Nacional de Educação (CNE), Presidente da ANDEE-Pró Inclusão (Associação Nacional Do-centes de Educação Especial) e docente da UTL – Faculdade de Mo-tricidade Humana (FMH) de Lisboa. Aberta à comunidade local, contou com a presença de docentes, pais, técnicos e especialistas da Educação Especial, simples curiosos e com a representação da Câmara Municipal de Guimarães, pelaSenhora Verea-dora Dra. Paula Cristina Oliveira.

Foi, assim, numa bela, histórica e vanguardista cidade de Guimarães que decorreu o evento, local em que, curiosamente, o Professor Padre Pe-dro de Aguillar criou, em 1970, um dos primeiros institutos para o ensi-no de surdos em Portugal, gratuito, adotando pela primeira vez o método gestual, hoje precursor da corrente progressista do bilinguismo.

É importante que práticas de edu-cação inclusiva aconteçam todos os dias. Mais vale – disse o Professor David Rodrigues –um Diretor sensi-bilizado, mesmo que muitas vezes incompreendido, do que centenas de leis e convenções bem intencionadas

que mais não fazem que abraçar o mundo com as pernas. A Escola e o Diretor sabem que a Escola soli-tariamente não conseguirá de todo mudar a realidade. Contudo, vive a sua utopia, tal como muitos dos que ali estiveram–de tornar a sua Esco-la mais pública, no sentido coletivo, mais lealmente de todos, uma Es-cola solidária e tolerante. Cremos que essa utopia é o sustento da sua Escola e é necessária, para sair do ciclo perigoso e arriscado que atra-vessa a resignação. As utopias são

reais, ensina-nos o Professor David.O tema que o Professor trouxe ao

grupo de pessoas “que se movem” é uma preocupação diária e perma-nente de quem quer fazer bem e o melhor.

Com certeza, nunca tivemos uma sociedade com alunos com tão boas condições de trabalho; somos mais escolarizados; contudo, não mais instruídos.

Decerto nunca tivemos escolas de tão boa qualidade para responder à diversidade e à(s) diferenças(s), mas

• Sessão de reflexão

Promover a Equidade e a Inclusão na Escola de Hoje

A sessão de reflexão, promovida pelo grupo de Educação Especial da Escola Secundária Martins Sarmento, foi orientada pelo Professor Doutor David Rodrigues, Membro do Conselho Nacional de Educação (CNE)

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Notícias

que na sua singularidade e nas suas relações sociais e culturais não se conseguem sobrepor, muitas ve-zes, à conceção monolítica do aluno e do currículo, evidenciando a sua crise de identidade; decerto nunca tivemos professores tão qualifica-dos, e, no entanto, continua a fazer parte do nosso repertório a neces-sidade de falar de oportunidades iguais, de desigualdades, igualdades e diferenças.

Faça-se luz nas nossas cons-ciências, nos nossos imaginários e representações colectivos!

O Professor David Rodrigues ajudou-nos a problematizar, a rein-ventarmo-nos, ensinou-nos a utopia e que, essencialmente, a Escola não pode regredir em relação às questões da inclusão. Ajudou-nos a desmistificar e a desconstruir a equidade na sua identificação com o “especial”.

Na verdade, a igualdade tei-ma em estar só na embalagem. A igualdade e a diferença surgem--nos muitas vezes interligadas, mas talvez constituam a expres-são de valores contraditórios. Se a igualdade implica o reconhecimen-to de iguais poderes e direitos, a diferença reporta-se indubitavel-mente à irredutibilidade do sujeito. Se a igualdade é abstrata e formal, a diferença é substancial, qualifica o “eu” e os muitos “eus” que frequen-tam as nossas Escolas.

Discutir hoje a educação dos nossos alunos implica resgatar o sentido da Escola numa perspe-tiva inclusiva, enquadrando esta num entendimento mais vasto de Escola, de currículo e de cultura. A Escola não é inclusiva só porque a anunciamos como tal, nem a educa-ção é um processo que se restringe a sujeitos incluídos e excluídos. A Escola inclusiva não deve ser per-cebida apenas como sinónimo de Escola regular ou o resultado da Escola que se tem. Uma Escola in-clusivaserá uma escola resiliente e

desenvolverá experiências como desafios e não como ameaças, construirá interações de quali-dade com estabilidade e coesão, organizando uma rede de apoio segura e confiável para todos.

Refletia Bertold Brecht sobre a natureza da educação, quando uma menina perguntou: ”Se os tubarões fossem homens, seriam eles amá-veis para com os peixinhos?“

Brecht respondeu: “Se os tuba-rões fossem homens, haveria no mar grandes gaiolas para proteger os peixinhos, acabaria a igualdade que hoje existe entre eles; alguns obteriam cargos e seriam postos acima dos seus pares, pensando que eram também tubarões; se os tubarões fossem homens, ha-veria naturalmente uma arte – os dentes dos tubarões seriam pinta-dos com vistosas cores cintilantes e as suas goelas representadas como inocentes parques de diver-são e recreio nos quais se poderia brincar magnificamente; se os tu-barões fossem homens, nos dias de maré baixa fariam grandiosas fes-tas aquáticas, para que os peixinhos não se sentissem melancólicos, pois peixes alegres têm sempre um gos-tinho melhor que os tristonhos; se os tubarões fossem homens, se-ria prioritária educação e formação moral dos peixinhos – seriam ensi-nados de que o ato mais grandioso e mais belo é o sacrifício alegre de um peixinho na goela do tubarão, pois estes têm a missão espinhosa de velar pelo futuro de todos os pei-xinhos, como velaram com dedicado desvelo pelo futuro dos finados pai-zinhos e avós dos peixinhos”.

Obrigada pela mensagem, Profes-sor David Rodrigues, muito, muito obrigada!

“Para plantar, há sempre esco-lhas; para colher, apenas o que cultivamos." ✖ Maria de Belém Cunha, Coordenadora da Educação Especial da ESMS

Para plantar, há sempre

escolhas; para colher,

apenas o que cultivamos.

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• Curso Profissional de Técnico de Restauração (Cozinha-Pastelaria)

"Hmmm... C'est Prêt"• Tal como em Fran-

ça se festeja La Chande-leur (a festa dos crepes) no mês de fevereiro, tam-bém, no passado dia treze de março, a turma do 2º PR da nossa escola desen-volveu uma mostra e pro-va gastronómica de cre-pes, através da articulação curricular teórico-prática das disciplinas de Francês e Serviço de Cozinha.

Esta atividade, que inte-grou o Plano Anual de Ati-vidades, foi bem sucedida, na medida em que os alu-nos envolvidos confeciona-ram crepes espontânea e entusiasticamente para a comunidade educativa, ve-rificando-se por parte des-ta grande adesão.

Para além de ter pro-movido o gosto e entusias-mo pela interculturalida-de, de servir de momento de avaliação de aprendiza-gens, contribuiu, de igual modo, para o fomento de atitudes e valores, nomea-damente o respeito pelo outro, o espírito de coope-ração e entreajuda. Tam-bém alicerçou a aprendi-zagem de competências para o exercício de uma profissão, especificamen-te o Profissional de Res-tauração. ✖ Formadora Mª Isabel Fernandes e Chefe Armando Silva

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Uma manhã, em tons de cinza carre-gada de gotículas de água, trazendo-me frescura… Com a frescura, vem o vento que canta para mim e me mantém viva ao cortar-me a pele de tão gélido que é. Uma estreita estrada de pedra que se estende em frente dos meus olhos é acompanha-da por árvores despidas que dançam ao som da voz do vento. Cada árvore parece contar uma história, um segredo e pede--me para ouvir e não para falar.

Os meus olhos seguem para uma pon-te que existe entre as árvores de um dos lados da estrada, uma ponte de pe-dra antiga. Ela parece perdida no meio das árvores e nela está um corvo pousa-do, olhando fixamente para mim com os olhos a arderem. Ele também quer que o ouça e não que fale com ele. Transporto--me até ele e assim me debruço sobre a ponte de pedra até ver a água distorcer o meu rosto. Ela parece correr muito rapi-damente, os meus olhos não conseguem acompanhar, então paro e, fixada no meu reflexo, ouço-a.

O corvo pousa no meu ombro e conta--me um segredo. Olho para os pés, estão cobertos por folhas, folhas secas, e o som dos meus pés ao calcá-las acompanha a música que o vento canta para mim – é uma música violenta mas que me acalma. Então, decido sentar-me sobre elas.

Há alguma coisa a marcar o ritmo da música. É uma lata, uma lata velha e amassada. O ritmo é marcado quando go-tas caem consecutivamente sobre ela. O corvo ainda está no meu ombro imóvel.

Tudo tem vida ali, até a velha lata amas-sada, e a música… a música que é tocada para mim…

Mas tudo para no melhor momento, quando um raio de sol rasga a nuvem. Assim, as árvores já não têm mais gotas para caírem sobre a velha lata amassa-da. O vento quase já não se ouve e já não rasga a minha pele. Já não me mantém viva. A frescura desapareceu e a sereni-dade também.

Agora sou só eu e o corvo. ✖Raquel Macedo, 10º AV2

• Integrado no programa das Jornadas Culturais 2015, a Professora Madalena Pinheiro agraciou-nos amavelmente com mais um conjunto das suas cria-ções pictóricas.

Um conjunto admirável de telas pintadas a óleo de varia-díssimas dimensões ocuparam as paredes do auditório da nossa escola. A exposição or-ganizou-se segundo um critério estético, onde a harmonia cro-mática se articulava, criando planos atmosféricos.

A Professora/Pintora, já com um longo período de dedicação à prática pictórica, apoiada na formação de cursos e frequência de ateliers artísticos, promoveu uma apetência para a valoriza-ção da cor por influências de estudos de movimentos da mo-dernidade, tendo como evidente as influências das várias esco-las que integram o movimento

expressionista, versando-se mais para a pintura kandinskyana e do movimento Der Blaue Reiter (Ca-valeiro Azul).

Assim, a perceção da cor e a sua fruição é intensionalmen-te assediada ao observador, por uma cor límpida e pura que provoca momentos de ale-gria, êxtase e paixão que nos transporta para um território metafísico de infinita liberdade.

Obrigado, Madalena Pinhei-ro, pelo carinho e generosidade com que se preocupa em parti-lhar connosco um pouco desta sua riqueza (a sua Arte). E que a luz com que nos confortou se estenda num manto de criações partilhadas. •

Prof. Vasco Bastos

• Exposição de Artes Visuais

A cor chegou e invadiu a nossa escola

• Criação Literária

Só o corvo e eu

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Escolhemos não sofrer,Que não haja pedras no caminho ou corações partidos,Escolhemos o vazio neste infinito nada,E mesmo assim, achamos ter escolhaComo se tal direito existisse...

Somos almas e corpos feridos sem opção,E andamos perdidos num labirinto ilusório,Vitimizando-nos à frente do portalPara o mundo dos danadosComo se merecêssemos um perdãoDisfarçado de navioPara a dimensão dos anjos.

Oh vida! Não nasceste misericordiosa.Afinal ninguém tem nada do que quer,Somente o que merece.E até mesmo isso, de quando em quando falha,Porque o tempo de entregaDos seus frutos,Por vezes chega a ser de mais.

Não tenhas piedade,Dás a dor,Dás o fogo,Mas ninguém o apagaNinguém sabe como o fazer,Por isso dás lume ardente uma vida inteira,Para que seres mimados aprendam,Para que seres perdidos tenham um propósito,Para que seres inseguros tenham uma motivação.

Bom, bom, bom, bom...Dita tantas vezes, a palavra perde o sentido.É até cómico pedir tudo de bomQuando depois não há significado.

Pedir tolerânciaQuando depois não há esforço.Um disfarce de papel!

Por vezes,Escrevem-se poemas,Sobre poetasO ser que tudo escreveE nunca fala.

Não existem sentimentos exprimidosFora do papelEstá tudo no resguardoDo manto negro e sérioComo encaramos a nossa vida aos olhos da gente.

Somos jornalistasQuase anónimos,Somos a televisão a coresQue dá a preto e branco,Somos cronistas líricos,Somos pensadores discretosQue admiram o mundo num banco de jardim.

Amor, ódio, esperança, inveja....Tudo está guardadoNo escuro da nossa face quase apática.Mas deixamos transparecer tudoRevelamos tudo a algo mais que um amigo e que um inimigoSim! Aquele papel branquinhoQue vamos preenchendo com o carvão condensadoDo nosso lápis tão usado pelo pensamento.

Ana Catarina Moura, 10º CT5

• Poesia

Que jornada demorada é esta vida...

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j Quando eu era apenas um ca-chorro, entretinha-te com as minhas brincadeiras e fazia-te rir. Chama-vas-me “meu filho” e, apesar de uns sapatos roídos e algumas almofadas assassinadas, tornei-me no teu me-lhor amigo! Sempre que eu me sen-tia “mal” e destruía papéis e mobília, abanavas-me o dedo e dizias “ Como pudeste?” – mas depois eu rebolava e tu não resistias a fazer-me cócegas na barriga. O meu “treino de casa” demorou um bocado mais do que es-tavas à espera, porque estavas sem-pre terrivelmente ocupado, mas tra-balhamos nisso juntos. Lembro-me das noites aconchegado contigo na tua cama, ouvindo as tuas confidên-cias e sonhos, e eu acreditava que a vida não podia ser mais perfeita. Fa-zíamos longas caminhadas e corri-das no parque, passeios de carro e paragens para gelado (eu só comia o cone, porque “gelado faz mal aos cães”, dizias tu), e adormecia ao sol à espera da tua chegada ao fim do dia.

Mas o tempo foi passando e co-meçaste a passar mais tempo no teu trabalho, na construção da tua carreira, e mais tempo à procura de uma companheira humana. Es-perei sempre por ti pacientemente, reconfortei-te o coração despeda-çado e as desilusões, e continuei a olhar com alegria as tuas chegadas a casa, nunca critiquei as tuas deci-sões, nem mesmo quando te apaixo-naste. Ela, agora tua mulher, não é uma “pessoa de cães”, mas mesmo assim dei-lhe as boas-vindas à nos-sa casa, tentei mostrar-lhe afeto e obedeci-lhe. Estava feliz porque tu estavas feliz. Depois vieram os be-bés e partilhei o teu entusiasmo. Es-tava fascinado com a cor rosada da sua pele, com o seu cheiro e queria tomar conta deles também. Mas tu

e ela temeram que eu os magoasse e fui a maior parte do tempo bani-do para o outro quarto ou para a ca-sota. Oh, como eu queria amá-los! Felizmente, quando cresceram, tor-nei-me amigo deles e brincávamos juntos! Prendiam-se ao meu pelo, agarravam as minhas pernas, pica-vam-me os olhos com os dedos, in-vestigavam as minhas orelhas e da-vam-me beijos no nariz. Adorava tudo neles, mas sobretudo do seu toque - porque o teu, esse era agora muito raro - e eu defendê-los-ia com a própria vida, se fosse preciso!

Adorava ir para a cama deles sor-rateiramente e ouvir as suas preo-cupações e sonhos e, com eles, es-perar o som do motor do teu carro a aproximar-se. Havia um tempo que, quando os outros perguntavam se ti-nhas um cão, tu mostrava-lhes uma fotografia nossa e contavas as nos-sas histórias. Nos últimos anos, já só respondes “sim” e mudas de as-sunto. Passei de ser o “teu cão” para “apenas um cão” e sentias um qual-quer desgosto no meu nome. Agora tens uma nova oportunidade de car-reira, noutra cidade, e vocês vão-se mudar para um apartamento que não permite animais. Tomaste a de-cisão certa para o bem da tua famí-lia, mas não te esqueças que houve uma altura em que eu era a tua úni-ca família!

Estava excitado pelo passeio de carro, até chegarmos ao canil. Chei-rava a cães e a gatos, a medo, a fal-ta de esperança. Preencheste a do-cumentação e disseste ”Eu sei que lhe vão arranjar uma boa casa”. Eles abanaram a cabeça, dirigindo-te um olhar doloroso. Sabiam do real des-tino para um cão ou gato de meia--idade, mesmo que tivesse “papéis”. Tiveste de arrancar os dedos do teu

filho agarrados à minha trela en-quanto gritava “Não, papá! Por favor não os deixes levar o meu cão!” E eu preocupava-me com eles e lembrei--me das lições que lhe tinhas dado sobre amizade e lealdade, sobre amor e responsabilidade, sobre res-peito, sobre a vida. Deste-me uma palmadinha de adeus na cabeça, evi-taste olhar-me nos olhos e, educa-damente, recusaste levar a minha trela e coleira. Tinhas um prazo a cumprir e, agora, eu também.

Depois de saíres, as duas senho-ras simpáticas comentaram que sa-bias da mudança há vários meses e que, mesmo assim, não tentaste ar-ranjar-me um novo lar. Abanaram a cabeça em sinal de desaprovação e disseram “Como pudeste?”. Elas são tão atenciosas quanto o horário de-las permite. Alimentam-nos, obvia-mente, mas eu perdi o meu apetite há alguns dias. De início, sempre que alguém passava à frente da minha jaula, chegava-me às grades a pen-sar que eras tu, na esperança que fosses tu, que talvez tivesses muda-do de ideias, que tudo isto não pas-sava de um pesadelo. Ou, pelo me-nos, pensava que era alguém que se importasse, alguém que me salvas-se. Quando me apercebi que não po-dia competir com os cachorros feli-zes, alheios ao seu destino, recolhi--me a um canto e esperei. Ouvi os seus passos, quando ela me veio buscar ao fim do dia, e me levou para uma sala isolada, uma sala muito si-lenciosa. Colocou-me na mesa, es-fregou-me as orelhas e disse-me para não me preocupar. O meu cora-ção palpitava de antecipação sobre o que estava para vir, mas também tinha uma sensação de alívio.

O fiel amigo acabou de ficar sem dias. Como é da minha natureza,

• Missiva de igualdade

Carta do cão que abandonaste!

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estava mais preocupado com ela. O fardo que ela carrega, pesa-lhe tan-to e eu sabia disso, da mesma ma-neira que sabia o teu humor. Colo-cou, gentilmente, o torniquete na minha perna traseira enquanto uma lágrima lhe escorria pela cara. Lam-bi-lhe a mão da mesma maneira que costumava reconfortar-te há mui-tos anos atrás. Experientemente co-locou a agulha na minha veia. Senti a picada e o líquido frio a correr-me pelo corpo e deitei-me com sono. Olhei-a nos olhos e pensei “ Como pudeste?”. Ela entendeu o meu olhar triste e disse “ Eu sinto muito”. Abra-çou-me e explicou que era o traba-lho dela levar-me para um sítio me-lhor, onde não seria ignorado, abu-sado ou abandonado, onde ninguém seria obrigado a cuidar de mim, um sítio de amor e luz tão diferente des-te mundo. Com o meu último boca-do de energia, tentei transmitir-lhe com um sacudir da cauda que o meu “Como pudeste?” não era para ela. Era para ti, meu querido mestre, es-tava a pensar em ti. Pensarei e es-perarei por ti para sempre!

Que toda a gente na tua vida te-mostre a minha lealdade! ✖

Diogo Pereira, 11º LH2

SOLUÇÕES DAS PALAVRAS CRUZADAS N.º 13SAL; AD; A; BOM; UM; PRE; OMS; SA; M; COAM; NUAS; C; AVARIO; CARUMA; RITO; NOE; ATAR; IDA; AS; IM; ATE; OA; BIT; TAU; EN; S; ARAR; URNA; O; OPALA; ARIMO; ACUSAR; LACAVA; MARISA; IRARAS; ORAL; MAZ; SARI; RIR; PO; AI; RIL; AN; CASARAS; OA; LAVAR; MESSI.

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Good afternoon, Ladies and Gen-tlemen. I’m here to let you know what came to my mind when I thought about this theme “To be ignorant of the past is to re-main a child”, not to tell you what you should or should not do, or to change radically the way you think about things. Yet, I’m surely hoping that it will matter to you, that it will remind you of who you once were, what you are now.

“To be ignorant of the past is to remain a child”. Indeed, we can never let our past go; we can ne-ver forget what we did in the past (no, not even that embarrassing thing that happened to you on the 7th grade, like that time when I fell down the stairs and people re-corded and spread the video all around the school; oh God!) Truly, the past makes our future, makes us who we are today; it makes you think the way you think is right. You see, I’ve been bullied several times at school. I’ve already lost count of how many names I’ve been called; it was very rough on me… those years... I really didn’t know what to do, I didn’t have friends. I didn’t want to go to school, but what I want to say is: just because some people did this to me, I’m not going

to do the same to anyone else; this is past and done. I’ve already been there. I’m not going to go back; that isn’t where we should go; let’s just move forward.

The boundaries we know we have today, our parents had too, and so did their parents; the way our pa-rents brought us up is the way they thought was better and the know-ledge came from their parents too. You see, this is a continuous circle; everyone helps everyone else their own way and that has to do with the way we think, what we believe to be right and wrong, who we think we should help and who we acknowled-ge needs help. That is why I believe our past is very important to all of us. What if you, each one of you sit-ting in this room forgot about all the things, all your experiences, all your happiness, all your memories, the fact that, for instance, a big monster supposedly exists in a lake called Ness, or that one time when English men dressed themselves as women to mislead the Germans and make them believe they were harmless… How would it be? It su-rely would be difficult to imagine it.

Sometimes I laugh so hard, but so hard I just can’t bear it; like when I remember that time when I thought I was Hannah Montana and sang in front of everyone at school; really sad at the time, but now? It kind of makes me laugh. Some thin-gs that in the past made me cry, today make me smile and that’s what we should keep in mind, and how we should take life, reviewing our past as an opportunity to learn, to think about our actions, what we did, good and bad; doing this can truly make us better human beings.

I said that the past is important to our future. We should truly avoid

making the same mistake again. You see, not long ago a lot of peo-ple died in France; things that have been stolen from an art museum are being destroyed, all because of the past. What can we do? We can’t change the way people think as much as we would like to. Like I said, our parents raised us based on what they experienced, on what they did too; their education and the way they think is a lot different than mine, and I bet other teena-gers in this room think the same way as I do. Killing people, stealing things are mistakes that shouldn’t happen again; that is not how thin-gs should work. We must solve our problems talking to each other, dis-cussing our views of the world and coming to an agreement.

Thank you so much for your time.✖ Bárbara Teixeira, 10º AV2

• Reflexão

“My child is always inside me"

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Ladies and gentlemen, that is the question addressed in my speech.

When we think about children, most imagine tiny human bein-gs with little knowledge and, above everything else, naive. Naive? Unex-perienced? Obviously, they are just beginning their journey in life. Howe-ver, as the years go by and we find ourselves as grown-ups, we wonder… Have we truly stopped being children?

A way of discontinuing the eternal state of childhood is to learn from our mistakes and from the past, but have we truly done that? Let s take our ancestors, for example; they used to practice human sacrifices. Today we believe that to be absurd. Kill our own in order to get a better plantation? Safety? It’s as Oscar Wil-de once said "A thing is not necessa-rily true, because a man dies for it." They sacrificed themselves thinking of it as an honor because it was what they believed would happen: their lands would prosper and their fami-ly would be safe. Or worse, recalling the Emperors’ servants, being buried alive alongside their masters just so they would have an entourage in the underworld. How absurd does that sound to you? However, if we dig a lit-tle deeper into their actions, we find a childlike mind. They believed that if

they had a proper behaviour, that if they made sacrifices, they would be rewarded for it. And even in the Em-perors’ case, we can verify this as well; they didn’t want to be left alo-ne, not even in death. But who does? Another great example of fear of lo-neliness is the "Sati" ritual in British India. The widow was burned, alive, alongside her deceased husband, just so she wouldn’t marry anyone else, just like a child who doesn’t want to share her mother.

This all happened thousands of years ago; we were supposed to have learnt something from it, maybe that we shouldn’t treat life as insignificant, but the hard truth is that in many ways we haven’t learnt anything. Take the Holocaust, for example. About 70 years ago, the German na-tion, led by Hitler, killed and tortu-red everyone that went against their principles all that for one goal: to make the Arian race the most power-ful in the world, so as we can see not even the knowledge of the past pre-vented us from acting like a child, as if we were the centre of the world. Just like Rick Riordan wrote in one of his books “It's funny how humans can wrap their mind around things and fit them into their version of reality.” We bend everything till it runs in our fa-vour. Wouldn t you agree?

How about all this pursuit of know-ledge; isn’t that a tiny bit childlike as well? I mean, everyone, at some point in their lives, feels the urge for know-ledge; it is engraved in our brains, and with that comes the pleasure of knowing. You know why? Because knowledge gives us power; it helps us understand everything that surroun-ds us. All the whys, the hows... Deco-ding them makes us feel safe. Just like a child, we are always hungry for more. I believe we will never, ever, reach a point where we think we pos-sess enough knowledge. Then how

come that with all the wisdom we ac-quired by learning about the past, we keep making the same mistakes? The only explanation I can come up with is that we simply don’t care about what the others have done. We are a stubborn species; for example, if so-meone told me I couldn’t jump off a plane, I would do it anyway just to prove them wrong. We believe that just because it happened to others, it doesn’t mean there will be conse-quences for us. You might be wonde-ring "we don t care?" My reasoning led me to come to this conclusion because a common thought nowa-days is "if it doesn’t affect me, then it doesn’t matter”. And then some mi-ght say "but there are so many cha-rities out there, caring." I think that is not really caring; most of the ti-mes it’s just that they feel guilty so they do what they do out of guilt, to atone for their faults, or just to feel better about themselves, or even to feel that they matter. I fully agree with Tolstoy when he said: “Everyone thinks of changing the world, but no one thinks of changing himself.”

And sometimes adults are even worse than children, because when they reach a certain stage in life they stop caring about anyone else but themselves. So if we, human beings, truly want to learn from our past, and truly grow up, we should stop making excuses for ourselves and start seeing the world as it is, not with our self-centered glasses. So until then, I believe we will forever be like a child.

Thank you so much for your atten-tion! ✖

Ana Margarida Pacheco, 11º CT4

• Crescer ou não crescer

"Will we ever stop being children?"

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Herberto Helder Luís Bernardes de Oliveira nasceu a 23 de novem-bro de 1930 no Funchal, mas desde há muito residia em Cascais. Es-tudou na Faculdade de Letras de Lisboa, trabalhando depois como bibliotecário, jornalista e autor de programas radiofónicos. Colabo-rou em diversas revistas (Graal, Cadernos de Poesia, Búzio, Poesia Experimental 1 e 2, entre outras). Ligado ao movimento da poesia concretista (ou experimental), é co-nhecida a sua aversão a aparições públicas ou manifestações de reco-nhecimento da sua notoriedade.

Recusou, em 1994, o Prémio Pes-soa, rejeitando quase sempre o mediatismo literário. Considerado um dos grandes escritores por-tugueses contemporâneos, a sua poesia tem uma densa imagética, frequentemente associada a temas ligados ao questionamento do eu, à presença de medos, ao conheci-mento do humano, temas ligados por vezes a um certo misticismo, servidos por uma linguagem origi-nal e de grande riqueza metafórica.

Estreou-se com O Amor em Vi-sita (1958), publicando, em 1963, um dos seus livros mais célebres, Os Passos em Volta (contos). A sua obra poética inclui ainda A Colher na Boca (1961), Poemacto (1961), Retrato em Movimento (1967), Ofí-cio Cantante (1967), O Bebedor Nocturno (1968), Vocação Animal (1971), Poesia Toda (1973 reedita-do em 1981 e 1991), Cobra (1977), O Corpo, o Luxo, a Obra (1978), ou o Poema Contínuo (2001), entre outras.

A 'Morte sem Mestre' foi o último livro publicado em vida do poeta, em junho de 2014.

Poemas canhotos é o derradei-ro livro de originais de Herberto Helder, que a sua editora afirma ter sido terminado “pouco antes” da morte do poeta, ocorrida no passado dia 23 de março, quando contava 84 anos.

O olhar é um pensamentoTudo assalta tudo, e eu sou a imagem de tudo.O dia roda o dorso e mostra as queimaduras,a luz cambaleia,a beleza é ameaçadora-não posso escrever mais altotransmitem-se,interiores,as formas.

Aos amigosAmo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de cada lado.Os amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando os olhos,com os livros atrás a arder para toda a eternidade.Não os chamo, e eles voltam-se profundamentedentro do fogo.-Temos um talento doloroso e obscuro.construímos um lugar de silêncio.De paixão.

Sobre o PoemaUm poema cresce inseguramente na confusão da carne, sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto, talvez como sangueou sombra de sangue pelos canais do ser.

Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência ou os bagos de uva de onde nascem as raízes minúsculas do sol.Fora, os corpos genuínos e inalteráveis do nosso amor,os rios, a grande paz exterior das coisas, as folhas dormindo o silêncio, as sementes à beira do vento, — a hora teatral da posse.E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.

E já nenhum poder destrói o poema.Insustentável, único,invade as órbitas, a face amorfa das paredes, a miséria dos minutos,a força sustida das coisas,a redonda e livre harmonia do mundo.

— Embaixo o instrumento perplexo ignoraa espinha do mistério.

— E o poema faz-se contra o tempo e a carne.

• IN MEMORIAM

Herberto HelderHerberto Helder (1930-23 de março de 2015), considerado o maior poeta português da

segunda metade do século XX.

A equipa d' "O Pregão"

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• Reportagem fotográfica

Escola de portas abertasAna Margarida, Bruna Lemos, Sara Leite, Andreia Pinheiro (1º PTM)

Em 16 de Maio, o corpo docente, assistentes e alunos dos cursos científico--humanísticos e profissionais, abriram, com a participação da Associação de Pais, as portas à comunidade. A iniciativa, que se tem vindo a repetir há alguns anos, visa dar a conhecer as ofertas formativas, os recursos físicos e humanos da escola, bem como esclarecer os alunos e pais que preten-dam conhecer aquele que é já, ou poderá vir a ser a escola futura dos seus educandos.

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H 1 Designação comum do cloreto de sódio, usado no tempero e na conservação dos alimentos; antiga coligação política; cálcio (s.q.); antónimo de mau.

2 O primeiro dos números naturais; salário de um soldado; “Organização Mundial de Saúde”; apelido.

3 Filtram; despidas.

4 Danifico; nome coletivo com que se des-ignam as folhas (agulhas) dos pinheiros, depois de secas e caídas no solo.

5 Quaisquer cerimónias; nome masculino as-sociado a uma arca famosa; embaraçar.

6 Jornada; aquelas; “Instituto de Meteorolo-gia”; limite.

7 “Ordem dos Arquitetos”; menor unidade de informação processada por um computador e que pode apenas representar um de dois valores binários: 0 ou 1 (informática); letra grega; “Estrada Nacional”.

8 Lavrar; caixa onde se recolhem os votos de um escrutínio ou os números de uma rifa.

9 Mineraloide que se usa em joalharia; pro-priedade agrícola (Angola).

10 Incriminar; pulverizava com laca.

11 Nome feminino; enfurecias.

12 Exame realizado com base em perguntas e respostas de viva voz e, portanto, sem ser por escrito; antiga unidade de peso de Malaca, na Malásia; traje típico das mul-heres indianas, constituído por uma peça de tecido comprida que é enrolada à volta do corpo, formando uma das pontas a saia e a outra atravessando o tronco e pendendo sobre o ombro ou a cabeça.

13 Ridicularizar; poeira; instante; rim.

14 Prefixo que exprime a ideia de privação ou de separação; contraíras matrimónio; “Ordem dos Advogados”.

15 Purificar; nome de um dos melhores joga-dores de futebol de sempre.

V 1 Resumo de uma aula (pl);que supõe a aus-ência de toda a obrigação moral.

2 Amerício (s.q.); biografia de uma pessoa; instrumento musical, de sopro, de forma ovoide e timbre semelhante ao da flauta.

3 Busca; indagar.

4 Qualquer pequeno orifício, especialmente na madeira; nome de um país considerado irmão de Portugal; aqui.

5 Lavrai; barcos de pesca usados em Setúbal; casal.

6 Explicáramos pormenorizadamente e exem-plificáramos o funcionamento de algo.

8 Formular conceito ou ideia (sobre algo).

9 Fica aborrecido; insistir; passeavam.

10 Recobra a saúde; exclusivas; catedral.

11 Instrumento que serve para marcar ângu-los no terreno; pousar no mar o hidroavião.

12 Aqueles; lance final; órgão genital feminino dos animais ovíparos, onde se originam os óvulos (pl.).

13 Ordinário; albergai.

13www.esmsarmento.pt

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Palavras Cruzadas 13

Editorial (continuação)1

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quando alguém morre tam-bém eu quero saber da qua-lidade da sua paixão:se tinha paixão pelas coisas gerais,água,música,pelo talento de algumas pa-lavras para se moverem no caos,pelo corpo salvo dos seus precipícios com destino à glória,paixão pela paixão,tinha?e então indago de mim se eu próprio tenho paixão,se posso morrer gregamente,(…)

O autor de “A morte sem mestre” morreu “grega-mente”. E, aos nossos alu-nos, desejamos que com aquele e todos os que pas-sam pela sua vida consigam aprender que o mais impor-tante da vida é, sem dúvida, a paixão: pela música, pelo conhecimento, pelo despor-to, pela amizade, mas que seja paixão. ✖ Glória Machado