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Edição 001
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ÍND
ICE
62 34
99
114
6790
118
IT
LIFESTYLE
DOSSIÊ
ESPECIAL
EVENTO
BUCKET LIST
BOM APETITE!
5
16
44
106 RELAX
CENÁRIO
CRIATIVIDADE VERDE
8 - WARM UP
11 - GARIMPO
14 - MAIL
23 - COMPROMISSODesenvolvimento paradoxal O casamento entre o autodidatismo e a criatividade no ecodesign Atemporalmente sustentável O já usado não é sinônimo de inutilizável Conscientização Criativa Dois projetos entram na mesma barca para colorir a vida de crianças carentes
30 - GADGET 84 - GALERIA A Balzaquiana poética A 30a Bienal mostra o que o latino-americano tem Descarte artístico Thaís Pontes faz um bem danado à arte e à natureza
86 - ESPELHO“Um outro samba” Camilla D’Anunziatta coloca em xeque as mostras de design
88 - FASHION IN HOMEPara as doceirasCores adocicadas invadiram a moda e a decoração!
96 - ESTANTE
99 - ESPECIAL Oscar NiemeyerSingela homenagem da Revista ConstruARCH
104 - NOVOS EMPREENDIMENTOS
124 - SKETCH MAP Destinos top in Brazil, por Janaína Calaça
126 - COLABORADORES
128 - ONDE ENCONTRAR
130 - BATE-PAPO Olhar canônico x olhar contemporâneo Fábio GaleazVzo e os novos paradigmas. Eles existem?
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Diretor Administrativo: Douglas PopengaDiretor Executivo: Felipe Pedroso
Diretor de Arte: André RibeiroDiretora de serviços editoriais: Julie Fank
Diretor Administrativo: Douglas PopengaDiretor Executivo: Felipe Pedroso
Diretora de Redação: Julie FankJornalista Responsável: Giovana Danquieli
Diretor de Arte: André RibeiroExecutivos de Negócios: André Luiz B. Fernandes e Daniel Eduardo Gehm
Assessora Executiva: Karina GuedesEditora de Fotografia: Isadora Carneiro
Fotógrafos: Alex Sanderson, Calan Sanderson, Isadora Carneiro e Rodrigo VieiraJornalistas: Giovana Danquieli, Marcele Antonio e Tátila Pereira
Pesquisa e produção de conteúdo para web: Anna HilbertEstagiária de Publicidade e Propaganda: Carolina Maffei Mincarone
Estagiário de Jornalismo: Ricardo Pohl
Marketing e Comunicação: Agência Roda Gigante Central de atendimento: (45) 3306 6336 - 3306 3663
Redação: [email protected]ão: Gráfica Positiva
Arquitetos consultores: Aurora Popenga CREA-PR 89.348/D (Arquiteta, Urbanista ePaisagista); Caio Smoralek Dias CAU 98421-3 Celso Fernando Contin Pedroso CAU 39.199-9;
Liana Maria Mayer Bertolucci CAU 98.425-3 (Especialista em Obras Públicas); Luiza Scapinello Broch CAU 119042-3; Sciliane S. Sauberlich CAU PR 111615-0 (Pós-graduada em Arquitetura
Paisagística, cursando Pós-graduação em Design de Interiores).
Engenheiros consultores: Diego Manfé CREA-PR 94.814-D; Fabiano Vasques CREA-PR 98.180/D (Especialista em Estruturas Metálicas); Leandro Bloot CREA-PR 90.480-D
(Pós-graduado em Estruturas); Leomar Pereira de Menezes CREA-PR 28.692/D (Especialista em Laudos e Perícias Judiciais e em Engenharia de Segurança do Trabalho); Mauricio Popenga
CREA-PR 12.20120/D; Ricardo Lora CREA-PR 100.707/D (MBA em Gestão Empresarial eMBA em Gestão de Obras e Edificações); Vinicius Hotz CREA/PR 11.5861/D.
EXP
EDIE
NTE
8 revistaconstruarch.com.br
WA
RM
-UP
Diretora de Redaçã[email protected]
Mário Quintana disse que uma linha reta é uma linha sem imaginação. Bem que poderia ter sido Oscar Niemeyer a proferir a frase. Arquitetos e engenheiros, na contracorrente do poeta gaúcho, conferem uma boa dose de ideias refletidas na simples retidão de, não uma, mas várias linhas – e assim fazem sua poesia – uma poesia da linha reta. Um certo engenheiro, por sua vez, inventou o brinquedo que, desde 1893, encanta crianças parques de diversões afora – George Washington Gales Ferris, que, antes de se aventurar pelo mundo dos brinquedos, era um construtor de pontes nos Estados Unidos, inventou a Roda Gigante. O intuito era rivalizar com o frisson causado pela construção projetada por um outro notável construtor de pontes, Gustave Eiffel, quatro anos antes, em Paris: a torre treliça mais visitada do mundo. Duas construções com linhas retas na medida certa. Assim são também as construções do poeta da curva, Oscar Niemeyer, que nos deixou no mês de dezembro e ao qual a Revista ConstruARCH presta uma singela homenagem.A originalidade e o êxito dos dois inventos, somados a toda a obra de Niemeyer, correspon-dem ao que se esperava para as duas construções de Paris e de Chicago: “algo original, úni-co e ousado”. A palavrinha mágica “ousadia” certamente foi o quesito de desempate entre tantos outros bons projetos que apareceram na redação esta edição e foi o tempero eleito para a nossa edição inaugural, endossado pela fala do arquiteto Guto Requena, durante o De-sign Weekend!, à ConstruARCH: “Uma boa revista tem que ser ousada!”. Na mesma linha, ancoramos nossas ideias: um bom projeto tem que ser ousado. Ousado na medida de pintar um piano de azul, plantar uma casa no meio do mato ou adesivar a janela dos fundos imitando uma árvore só por saudosismo. Ousadia também presente na medida dos 111 artistas convidados pela 30a Edição da Bienal de São Paulo, audácia na medida de se propor um capacete invisível – só para os ciclistas não carregarem mais aquela parafernália toda em cada passeio. Arrojo presente em cada uma das editorias, com um plus pra lá de ou-sado da seção especial. Foi a ousadia o tempero e o ingrediente principal – ao mesmo tempo – da edição, porque uma boa revista tem que ser ousada, audaciosa, arrojada e irreverente. E por aqui, em homenagem ao poeta da curva, a gente acredita que, sem a pitada certa de ousadia, somos todos linhas retas.
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Centopeia elegante
Da Coleção Canaviais, do designer Roque Frizzo,
surge quase que caminhando, a mesa-conceito
com tampo laminado
natural de Imbuia, com
detalhe em marchetaria
em lâmina de Muiracatiara.
Ângulos agudos, retos e preci-
sos, como o corte da cana, trazem
a exclusividade do móvel. Tudo bem
que a mesa não tem exatamente 100 pernas: são
64. Mas valeu pelo efeito estético interessante que
gerou esse amontoado de perninhas. Preço sob
consulta. www.saccaro.com.br
Simetria, pra que te quero?
Branco, laranja, amarelo, verme-
lho, preto, quadrado, retângulo,
curva: coube tudo nesta peça da
Paschoal Bianco! E, como aquilo
que é muito igual enjoa, do início
até a metade, o buffet é um e, a
partir daí, ele se transforma em
outro, sem perder os traços anos
50. A bossa ficou reservada para
os sinuosos pezinhos de cedro.
Espaço de sobra por R$ 7.800, no
www.desmobilia.com.br
Abençoado descanso
Basta olhar a Poltrona Bonfim e já dá vontade de sair
dançando. Inspirada no Maracatu, a poltrona é com-
posta pela estrutura de madeira torneada artesanal-
mente e assento todo transpassado por centenas
de fitas do Nosso Senhor do Bonfim. Quem a vê pela
primeira vez pode colocar em cheque o seu conforto,
mas quando se pensa na simplicidade estrutural em
madeira e na originalidade, a peça vira obra de arte.
Alfio Lisi foi o responsável pela grande ideia. Na Dpot,
preço sob consulta (11) 3082-9513
12
Jogo de palitos
Solução para manter
o local organizado, sem
perder em estilo, o cabi-
deiro “obelisco” da Oppa
Design, é bem contempo-
râneo. Coloque na sala e
deixe o ambiente descon-
traído e ainda tenha onde
pendurar os casados
dos convidados. Colo-
que no quarto e man-
tenha bolsas e aces-
sórios sempre à mão!
Uma gracinha que nos
faz lembrar dos tradi-
cionais joguinhos de
palito, né? R$ 129 no
www.oppa.com.br.
Tripé estiloso
Inspirada na “cadeira girafa”, projetada em 1987, por Lina Bo Bardi, a cadei-
ra Bandeira, criada por Rodrigo Silveira, incrementa a primeira com um toque
extra (se assim era possível) de simplicidade. Enquanto a perna responsável
por sustentar o encosto lembra um mastro, as duas pernas dianteiras pare-
cem pernas de pau de malabaristas circenses, com a diferença confortável:
você não precisa dar uma de equilibrista. Fácil de montar, ela é feita de Tauarí e
mede 70x52x35 cm. U$ 500. www.orodrigoquefez.com.br
GA
RIM
PO
Cadeira Girafa Cadeira Bandeira
Mais transparência
Desenvolvida pelo estúdio Nada
se leva, a peça Glass é súper cria-
tiva! Aliás, quando o assunto é ou-
sadia, nas formas e materiais, esse
estúdio bate recorde! Este estilo de
poltrona, a Bergère, data de 1720.
O design do mobiliário foi resgata-
do pelo estúdio e repaginado com
a utilização de vidro. Linhas orgâ-
nicas e atuais fazem parte da peça
que, apesar de transparente, vai
chamar muita atenção em qual-
quer ambiente! Preço sob consulta
www.nadaseleva.com.br.
14
MA
IL O hoje pede ambientes pequenos, criativos e únicos. E a decoração, por mais minimalista que seja, faz a diferença! Quanto menor o espaço, maior parece ser o quebra-cabeça na hora das escolhas. Brincar com o lugar e desconstruir algumas regras pode contar pontos favoráveis nessa caça em busca das melhores opções para tornar qualquer espaço aconchegante e prático. Quando o assunto é es-cada dentro de casa, a elegância pede passagem. Equilíbrio é a peça chave. Até para depois não faltarem ideias de como ocupar o espa-ço vazio embaixo dela. A Revista ConstruARCH convidou a arquiteta Gracieli Pozzer para propor soluções práticas às duvidas dos leitores que deixaram perguntas no mural da fanpage da revista no Facebook.
arquiteta, urbanista e especializada em design de mobiliário
Gracieli Pozzer
Decorar um espaço pequeno da casa não parece tarefa
simples. Esses lugares apertados, tanto podem fazer a
diferença, quanto tornarem-se cantos indesejados – por
falta de saber o que fazer com eles. Como solucionar esse
dilema?
Pequenos espaços clamam por criatividade e planejamen-
to. Não dá para manter os dois recursos separados quando
se cogita criar um ambiente aconchegante e prático. O ideal
é ter cuidado na hora de decorar esses espaços, no entan-
to, nada é tão complexo quanto parece! Objetos e móveis
devem ser proporcionais ao tamanho do ambiente. Ter mo-
bílias retas e retráteis, fáceis de encaixar e trocar de lugar
– um dia na cozinha, outro na sala, conforme a ocasião, é
uma dica simples, mas que pode fazer a diferença na hora
de criar o ambiente. Espelhos também podem ser ótimos
aliados na hora de decorar. Com eles é possível conferir a
sensação de amplitude a qualquer espaço. O jogo de cores
também pode tornar essa sensação ainda mais nítida. Co-
res são essenciais, nada de escuridão!
Materiais diferentes também são formas de inovar. Não é
porque o ambiente é pequeno ou estreito que está fada-
do a perder a graça. Tecido, tinta, papel de parede, quadros:
tudo vale para incrementar as paredes. Outra opção é inte-
grar! Nesse quesito, a criatividade vai ajudar muito.
Boa iluminação, papel de parede e quadros se combinam
para ampliar, mesmo que apenas na ilusão, o ambiente
apertado. Ao fundo, a criatividade está na estante, deco-
rada com lembranças de família. Um cantinho amistoso!
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Escadarias em ambientes internos podem servir também
para valorizar o espaço? Como harmonizar uma escada
estilosa com o restante da casa ou escritório?
Muitas vezes a escada é o ponto principal de uma casa -
deixando de ser uma simples circulação vertical para uma
bela obra de arte. Existem diversos modelos de escadas:
retas em “U” ou “L”, circulares, caracol, Santos Dumont, em
balanço e espinha de peixe. Mesmo com tantas opções, o
que manda ainda é o material usado, que a deixa discreta
ou exuberante. A dica para valorizar o ambiente é apostar
em escadas mais abertas e construídas com material que
as deixem com visual leve. A plissada fica linda em qual-
quer proposta, pois a própria forma a deixa esbelta. Pode
ser construída a partir do concreto, madeira e até mesmo
vidro.
Antes de tudo é preciso se lembrar da segurança e aliá-
la à estética. Existem no mercado diversos modelos de
guarda-corpo: alumínio e vidro estão em alta! O primeiro
remete à durabilidade e resistência. Já o segundo material
causa efeito visual diferenciado. Unindo-se ao restante da
decoração é possível criar ambiente moderno e clean.
Depois de definir qual modelo de escada a construir, vem
outra dúvida: como aproveitar esse espaço embaixo dela,
sem poluir visualmente todo o restante do ambiente? Um
lavabo continua como opção?
O lavabo da escada não é mais o queridinho do pedaço –
exceto em casos em que é necessário reduzir a metragem
da obra. Hoje, esse cantinho tem outras funções: acomodar
uma estante, uma pequena biblioteca, se tornar um sim-
ples espaço para leitura, escritório, adega ou até mesmo
um barzinho. São várias opções, tudo vai depender do gos-
to do proprietário. Outra dica é montar nesse espaço livre
um jardim de inverno. A proposta precisa apenas de cuida-
do com a iluminação natural. Já em casos de escadas muito
arrojadas, o ideal é manter o espaço sob ela sem nada, para
não causar conflito no visual do ambiente.
Moderna, robusta e ilusionista. A escada plissada causa efeitos visuais distorcidos
que engrandecem ainda mais o modelo, que pede uma decoração à altura. Na foto,
decoração e móveis escolhidos tornam o ambiente sóbrio, mas nem por isso menos
aconchegante e moderno.
Como não querer um jardim de inverno dentro de casa e tornar o espaço agradável aos
olhos? Plantas causam um efeito instantâneo de tranquilidade. O cantinho pode se
tornar aconchegante e belo, num lugar da casa que já chama atenção.
SUB
IND
O P
ELA
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RED
ES
CRIA
TIV
IDA
DE
VER
DE
Por Marcele Antonio - Fotos: Divulgação
É o verde querendo se infiltrar em todos os cantos da casa - todos os cantos da casa - mesmo que os espaços sejam p e q u i e n i n i n h o s . aperto e complexi-dade na manuten-ção não são des-culpas: tem jardim vertical para todo tamanho e jeito imagináveis!
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Aquela velha história: a grama do vizinho sempre parece
mais verde. Mas já passou o tempo de invejar o gramado
convencional, as plantas tradicionais e o jeito padronizado
de se fazer jardinagem. O paisagismo está invadindo espa-
ços que antes não eram imaginados, o verde deseja estar
em tantos cantos da casa, quanto o concreto. E aí o que
deve ser invejável não é só o viço da grama alheia, mas a
criatividade em conseguir incluir o verde nos locais mais
inusitados.
Já pensou, por exemplo, em ter uma parede viva na sua co-
zinha? Inviável? Não se a gente deixar de pensar horizon-
talmente. É, esqueça o chão! Pense nas paredes! É nelas
que a tendência em paisagismo se instala. Pensando em
aproveitar espaços para proporcionar que as plantas rou-
bem a cena até nos lugarezinhos menores é que estão aí
– fazendo o maior sucesso – os jardins verticais. Existem
opções para área interna e externa com toda a modernida-
de que a sua imaginação puder alcançar.
CRIA
TIV
IDA
DE
VER
DE
19
A onda verde que sobe pelas paredes é uma tentativa de
integrar mais o homem à natureza, em um contexto em
que os espaços estão reduzidos. Colocando em prática
esses conceitos, a artista plástica e paisagista Gica Me-
siara foi pioneira: é ela a responsável por introduzir a ideia
de “arte viva” e é dela a criação dos sistemas de “Quadro
Vivo” e “Painel Vivo”.
Com tamanhos e formatos pré-determinados, os Quadros
Vivos são sempre emoldurados. Os Painéis Vivos podem
ser adquiridos no tamanho que for desejado e permitem a
instalação em áreas internas e externas, cobertas ou não.
Qualquer um dos dois modelos pode ser desinstalado e
reinstalado em outro local, e as espécies de plantas usadas
dependem do clima da região.
E cá entre nós, que ambiente não fica mais amigável com
um pouquinho de verde o rodeando? A respiração fica até
mais aliviada! Ah! E aquela demora toda que era necessária
para um jardim ficar efetivamente pronto? Com os quadros
Gica Mesiara trabalhou por 11 anos como executiva no mercado financei-
ro, até descobrir sua missão de vida: reconectar o homem à natureza por
meio do verde, desenvolvendo os quadros e painéis vivos. Por conta do seu
trabalho com jardins verticais, já recebeu prêmio de Mulher Empreendedo-
ra, pelo Sebrae. A paisagista trabalha com projetos exclusivos e especiais:
assina apenas três por ano!
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CRIA
TIV
IDA
DE
VER
DE
Quadros Vivos humanizam o ambiente: um
pedacinho de verde emoldurado no lugar das
tradicionais telas... Impressiona na decoração e
te deixa mais pertinho de um pedaço de natu-
reza! Há opções nos formatos 1m x 1m; 1,40m x
90 cm; 1,40m x 60cm e 1m x 60cm, na vertical
ou horizontal.
e painéis vivos, o resultado já é imediato: não é preciso es-
perar a planta ficar adulta. A manutenção de algo assim po-
deria até ser um empecilho, se a tecnologia não estivesse
aí, tão a favor da vida mais prática. Para manter as plantas
sempre bem irrigadas, basta programar um microcompu-
tador de acordo com a espécie, o clima e a estação do ano.
Mamão com açúcar, né?
E falando em fruta e condimentos... o conceito vertical tam-
bém se aplica a hortas! Verduras fresquinhas e como parte
da decoração da cozinha! Na Esalflores, garden center curi-
tibano, o paisagista Marcelo Muller desenvolve o trabalho
de implantação tanto de jardins quanto de hortas verticais.
“Podemos montar um jardim vertical com quase todo tipo
de planta. Desde flores até leguminosas. As variedades são
infinitas. Vai depender apenas da incidência do sol, do lo-
cal em que o cliente deseja o jardim vertical e do objetivo
do mesmo”, explica Marcelo. No caso das hortas verticais,
a tendência é maior principalmente entre quem mora em
apartamentos e não dispõe de muito espaço para cultivo,
mas preza por temperos frescos e hortaliças sem agrotó-
xicos. “É possível trabalhar uma horta vertical em vasos de
cerâmica, jardineiras e fibras de coco. Nesse ponto, o cliente
pode abusar da criatividade, pois os temperos e as hortali-
ças podem ser plantados em diversos tipos de recipientes.
Mas é importante respeitar a questão da incidência de sol e
irrigação adequados”, aconselha.
A Esalflores utiliza nos jardins verticais os módulos cerâ-
micos da GreenWall Ceramic. “A vantagem é que o produto
pode ser utilizado como vedação térmica e sonora e pos-
sui uma tecnologia de irrigação automática. O cliente não
precisa se preocupar em molhar as plantas”, detalha Mar-
celo, acrescentando que além de bastante funcional, a Gre-
enWall apresenta um resultado estético muito bonito para
os pontos comerciais e residenciais.
São tantas vantagens que o ditado popular soa até falta de
criatividade... Deixe a grama do vizinho para lá, tem opção
bem mais imponente ocupando as paredes!
Painéis Vivos não impõem limites: você escolhe
qual o tamanho da área verde que deseja... Cabe
muito bem para áreas externas, como esta da foto.
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CONSCIENTIZAÇÃO CRIATIVAUma ação comunitária uniu dois projetos e fez o design aparecer em locais não tão divul-gados de São Paulo. Casulo e Arte em pneus juntaram esforços para oferecer serviços à população, ao mesmo tempo em que mostraram o quanto é possível reutilizar para viver melhor!
Por Marcele Antonio - Fotos: Isadora Carneiro
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É desses projetos que você se pergunta por que é que não
existe no mundo todo. O nome já é bastante sugestivo:
Casulo. Dentro dele, assim como no processo de formação
da borboleta, ocorre uma metamorfose. E das grandes! No
projeto, crianças e jovens das comunidades Real Parque
e Jardim Panorama, localizadas na zona sudoeste de São
Paulo, têm muito mais acesso à cultura, arte e educação,
e a população como um todo, fica beneficiada através das
ações comunitárias promovidas pelo grupo social. “Nós
atendemos entre 500 e 800 crianças e famílias, distribuin-
do lanche, prestando serviços, exames de saúde, uma sé-
rie de coisas”, detalha Murilo Casagrande, um dos diretores
do projeto Casulo.
Foi esse o projeto responsável por desenvolver, paralela-
mente ao Design Weekend, uma ação criativa e solidária
ao mesmo tempo. Através dessa ação, o design deixou de
ocupar galerias famosas e ganhou espaço em pontos mais
escondidos da cidade de São Paulo. Entre voluntários e
próprios funcionários do projeto, a ação envolveu mais de
200 pessoas. A proposta? Oferecer cidadania! O trabalho
envolveu a equipe de designers da “Arte em pneus” e teve
o olhar voltado para a sustentabilidade. Casulo e Arte em
Pneus se tornaram a partir dessa ação, dois projetos que
se encaixaram como se fossem um só: o Casulo abriu as
portas para receber a arte feita com pneus, e a ideia é só
ampliar as parcerias. “Nós estávamos procurando muito
alguém para nos ajudar na revitalização da nossa área. E aí,
fazendo algumas buscas, descobrimos o trabalho do Daniel
Beato com a equipe da Arte em Pneus. Achamos interes-
sante principalmente porque a arte deles se encaixa muito
com o “Metamorfose”, que é o programa que a gente tem
para crianças de 10 a 14 anos. A questão da sustentabilida-
de, reutilização, reuso... tudo isso é abordado. Então o pneu
para gente foi um achado”, relata Murilo, acrescentando
que o pneu se transformou não só numa solução estética
para o lugar, mas uma maneira criativa de conscientizar as
crianças do projeto.
Peças todas elaboradas em material emborrachado reu-
tilizado foram feitas pelos próprios voluntários e crianças
e, mais tarde, expostas. O benefício delas foi além da parte
física. “O custo talvez tenha sido mais alto um pouquinho
do que se eu comprasse um monte de vasinhos de plástico.
Agora, a surpresa dos voluntários e das crianças falando:
‘olha, pneu dá para reaproveitar!’ faz toda a diferença! Mes-
mo se for um pouco mais caro, vale a pena investir”, vibra
Murilo.
24
COM
PR
OM
ISSO
revistaconstruarch.com.br
26
Assim como os computadores, notebooks, tablets, aplica-
tivos... a consciência ecológica já está, teoricamente, nas-
cendo com as novas gerações. Da mesma forma que uma
criança cresce rodeada por aparatos tecnológicos, também
já cresce convivendo com este paradoxo de desenvolvi-
mento versus meio ambiente. Em casa, faz tudo eletroni-
camente, na escola usa o celular para pesquisar... Mas, na
aula de ciências, escuta que os avanços tecnológicos de-
senfreados desencadeiam prejuízos ambientais. E aí, como
lidar? Como conviver com a tecnologia, com o desenvol-
vimento, com o crescimento econômico, com o conforto,
sem alterar o meio em que se vive?
As soluções dia após dia são mais discutidas, mais diver-
sificadas e aplicadas. A reciclagem, o reaproveitamento de
materiais, a destinação correta de resíduos já deixaram
de ser apenas assunto da aula ecologicamente correta da
escola e passaram a ser obrigatoriedade: das empresas,
dos cidadãos, de qualquer um que deseja qualidade de vida
para agora e para depois. O setor de construção vive, nes-
se sentido, um de seus maiores dilemas: levantar, sejam
grandes ou pequenas edificações, gerando sempre o me-
nor impacto ambiental possível.
Aí, voltamos para as salas de aula, agora universitárias.
Com essas preocupações em mente, os profissionais da
área – engenheiros, arquitetos, designers – têm o desafio
diário de acrescentar o “ecodesign” à formação. E a tarefa
não é fácil, não! Muita gente tem que agir como autodidata,
descobrir os caminhos do trabalho sustentável na prática e
por si só... As universidades, que deveriam ser norteadoras,
balizadoras e as principais incentivadoras do “fazer ecoló-
gico”, ainda pecam em subestimar as disciplinas envolvi-
das com sustentabilidade nas grades curriculares.
Universidades brasileiras renomadas ainda não dão o de-
vido crédito ao ensino de atividades sustentáveis no tra-
balho de engenheiros, arquitetos e designers. No Paraná,
os cursos de Arquitetura da Universidade Estadual de Ma-
ringá (UEM) e da Universidade de Londrina (UEL), além do
curso de Engenharia Civil da Unioeste, possuem poucas
disciplinas voltadas ao meio ambiente e à conservação do
mesmo. É na Universidade Federal do Paraná (UFPR), que
as disciplinas ligadas à sustentabilidade ganham mais des-
taque: a federal apresenta no curso de engenharia as disci-
plinas de Ciências do meio ambiente, Geotecnia Ambiental,
Qualidade e conservação ambiental e Hidráulica ambien-
tal; em arquitetura, a disciplina voltada ao tema é Conforto
ambiental. Para quem já ocupou as cadeiras universitárias,
aprender e exercer as práticas sustentáveis não é uma
tarefa que se possa executar com facilidade. Para o estu-
dante do último ano de Engenharia Civil da Unioeste, Olavo
Fank, é tão importante a universidade ofertar disciplinas
relacionadas ao meio ambiente, quanto é essencial o pró-
prio profissional se atualizar em relação a isso. “Eu sempre
me preocupei com essas questões e acho que devem ser
praticadas, porém, acho complicado aplicar esses conheci-
mentos, por causa de questões financeiras principalmente.
Apesar disso, acredito que não sejam muitos profissionais
que entrem no mercado de trabalho com essa mentalida-
de, portanto dificulta um pouco”, repara Olavo.
Outros estados saem na frente do Paraná quando o quesito
é preocupação acadêmica com o meio ambiente: Universi-
dade de São Paulo (USP) e Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ), por exemplo, incluem bem mais disciplinas
relacionadas ao assunto nas grades curriculares dos cur-
sos de Arquitetura e Engenharia.
COM
PR
OM
ISSO DESENVOLVIMENTO
PARADOXAL Evolução tecnológica, crescimento urbano e desenvolvimento econômico lutam diaria-mente para encontrar equilíbrio com o meio ambiente. As soluções podem estar nas mãos dos profissionais engenheiros, arquitetos, designers, que muitas vezes encontram o cami-nho das pesdras sozinhos!
Por Marcele Antonio
28
COM
PR
OM
ISSO ATEMPORALMENTE
SUSTENTÁVELO pneu, matéria prima predileta do designer Daniel Beato, vence qual-quer disputa no quesito “sou ecológico”
Por Marcele Antonio - Fotos: Divulgação
Os produtos dele e da equipe “Arte em pneus” carregam
três selos: o de utilização de materiais de reuso, o de menor
energia no processo produtivo e o de redução de emissão
de CO2 na produção. Os selos, não são meros “troféus sus-
tentáveis”, e sim, reconhecimento pelas soluções práticas
criadas pelo grupo. Com o aproveitamento de pneus e ma-
teriais emborrachados, Daniel Beato e a equipe transfor-
mam o que seria descartado em poltronas, bancos, mesas
e outros mobiliários e objetos que a imaginação permitir.
Beato estava na faculdade de desenho industrial Belas Ar-
tes, quando despertou o interesse pela arte de reaproveitar
materiais. “Na garagem de casa, comecei a transformar os
pneus e sucatas automotivas em utilitários como cadei-
ras, bancos, mesas, mancebos e lixeiras. Em 2004, percebi
a importância em trabalhar com resíduos pós-consumo e
pré-consumo”, conta o designer. Sem muito ou quase ne-
nhum incentivo da faculdade, Beato precisou entender de
ecodesign sozinho. “Fui saber que o reaproveitamento de
materiais era reconhecido e valorizado com uma entrevis-
ta que fiz com o Humberto Campana. A partir daí, fui ob-
servando qual material poderia encontrar com facilidade
em qualquer lugar do planeta. Sem pensar muito, descobri
que era o pneu”, relata ele, detalhando que juntava mate-
riais usados da família para estruturar os resíduos sólidos
e encontrar maneiras simples de aumentar a vida útil dos
materiais.
Esse foi o “start” para toda uma carreira que viria a ser vol-
tada para o reaproveitamento. O pneu foi o primeiro de uma
série de materiais que se transformariam em matéria pri-
ma para móveis, além de instrumentos de consciência am-
biental. “O pneu foi o que despertou. Hoje, a especialidade é
também com correias de borrachas, mangueiras, madeiras,
sucatas automotivas, serralheria, e recentemente insta-
lações de brinquedos em praças públicas e particulares”,
descreve.
E a ideia é ainda mais consciente, original e pertinente. Os
mobiliários da “Arte em Pneus”, na maioria das vezes, são
29
feitos de materiais encontrados em locais bem próximos à
oficina do designer, evitando gasto com transporte. Beato
só utiliza o que verdadeiramente precisa: “Percebo que é a
maneira mais inteligente de aproveitar o material ao máxi-
mo, substituindo a extração de outros da natureza. Econo-
mia em todos os sentidos”.
Apesar de autêntica, a proposta não foi guardada apenas
para o grupo restrito de profissionais. “Arte em Pneus” re-
plica o conhecimento e reverbera a consciência ambiental,
oferecendo consultorias de ecodesign, oficinas de arte,
palestras, além das revitalizações de espaços. “Em nossas
oficinas, já facilitamos o conceito de ‘Tecnologia Artesanal
Arte em Pneus’ para 590 aprendizes, formados como Ar-
tesãos da Borracha, e milhares de pessoas em palestras,
eventos e mídias espontâneas”, orgulha-se Beato.
Nem todo profissional da área desperta o mesmo interes-
se pela produção ecologicamente correta, até mesmo, pela
falta de introdução a esse mundo, que os centros acadê-
micos pouco têm oferecido. Para Beato, a falta de incentivo
não está só na academia, mas em todo o processo educa-
cional. “Desde a escola primária, deveríamos praticar mais
arte, com estímulos à cultura e acesso a oficinas equipadas
com técnicos e muitos materiais. Ferramentas adequadas
e boa informação tecnológica são essenciais para desper-
tar a criatividade”, aconselha o designer.
30
GA
DG
ET
Viagem segura!
Ainda na linha de robôs inteligentes que podem cuidar da casa durante via-
gens, existe o Rovio, que é equipado com câmeras que permitem que
sua casa seja vigiada enquanto você estiver fora. O equipamento tem
rodinhas e possui várias webcams, microfone e LED para ver no
escuro, além de GPS que permite que você defina rotas por onde
o robô deve passar. Não importa se você está há uma quadra de
distância ou em outro canto do país: de qualquer lugar, o Rovio faz
com que você possa fingir que está em casa vendo, ouvindo e fa-
lando com quem estiver por lá. Mesmo não podendo escalar pare-
des, o robô “segurança” ainda tem uma câmera conectada a um braço
móvel que pode fazer movimentos para cima e para baixo e de lado, para
proporcionar visões diferentes. Você pode controlar o Rovio pela internet através de PC,
MAC, iPhone, Celular Android, PS3, Nintendo Wii e Xbox. Preço sob consulta.
Carregado all the time!
Este aparelho é ótimo para quem vai viajar, e não quer perder nem a comunicação, nem
nenhum clique. Com o conversor de energia veicular APV11US, da Targus, é possível man-
ter câmeras fotográficas ou filmadoras, celulares, players ou notebooks carregados através
do acendedor de cigarros do carro. O formato o torna ainda mais prático: com apenas 680
gramas, o equipamento conversor cabe dentro do porta-copos do carro e tem capacidade
para carregar até três aparelhos ao mesmo tempo! Preço sob consulta.
Diarista robótica!
Já pensou que delícia viajar sabendo que ao voltar, a casa
pode estar livre de sujeira? E mais: sem a necessidade de
contratar um funcionário para isso! O robô doméstico
Roomba, da iRobot, resolve a questão sozinho! Ele aspi-
ra pó, suga sujeira e acaba com o lamaçal. Para colocá-lo
em prática, é só posicioná-lo no centro da sala e ativar: ele
aspira o caminho de parede a parede, limpando até debaixo
dos móveis! Preço sob consulta.
31
Joia tecnológica
O cotidiano na cozinha vai ganhar um charme a mais. A coifa, que antes
era um item que incomodava pelo tamanho e forma sempre na mesmi-
ce, agora, começa a ganhar outra cara. Um exemplo é a Victoria. Feita de
vidro italiano e aço inox polido, ela é que vai ditar a decoração da cozinha.
É silenciosa e não precisa de tubos de exaustão, por conta dos filtros de
carvão que retiram os odores do ar. R$ 10.890
www.lofra.com.br
Fininho
Novembro é o mês da chegada de mais um “brinquedinho”
para os xonados por tecnologia. É o novo tablet com an-
droid da Samsung, com tela de – apenas – 10 polegadas.
Ele foi batizado de Nexus 10 e é equipado com processador de dois núcleos de 1.7GHz, com 2 GB de memória RAM. O peso é
míni – 603 gramas – e a resolução é súper - 2560×1600 pixels. O tablet roda ainda o sistema operacional Android 4.2, ape-
lidado de “Jelly Bean”, e conta com câmeras frontal de 1,9 megapixels e traseira de 5 megapixels. Os preços variam: o de 16
GB custa US$ 400, e o de 32 GB, US$ 500.
Quer café?
Aquele cafezinho gostoso, quem é que não gosta? Se tiver uma ajudi-
nha tecnológica a seu favor, então, melhor ainda! Com o estilo trans-
former e até com nome de robô – Ecam 232.10.SR –, esta cafeteira vai
te deixar até mal acostumado. Um toquezinho no botão e, vapt-vupt, o
café estará pronto. Para dar um upgrade no dia, um capuccino também
é uma boa pedida, e um acessório da máquina com nome bem sugesti-
vo – capuccinador – trata de cuidar desse trabalho. R$ 3.087
www.delonghi.com
DO
SSIÊ
A convivência da contemporânea residência chilena e três históricas e frondosas árvores
CONCRETOAlém do
Por Tátila Pereira – Fotos: Divulgação
36
Foi-se o tempo em que a natureza precisava se retirar para
que o cimento tomasse conta dos espaços. Muito pelo
contrário: ela é bem-vinda e, nesta residência, tornou-se
protagonista. Aquele sonho de criança de ter uma casa na
árvore pode ser substituído pela realidade de uma árvore,
ou melhor, três árvores em casa. O sentimento pode não
ser o mesmo, mas os adultos agradecem.
O 57 Studio pensou em tudo: construiu a casa em um anti-
go e elegante bairro da capital chilena, Santiago, com espa-
ços interiores projetados em torno da árvore nativa Cryp-
tocaria Alba, popularmente conhecida como Peumo do
Chile. No norte, encontra-se um enorme abacateiro. Ainda
há um velho macro carpa cipreste e algumas murtas crepe
que determinam o limite para uma ala privada para o leste
da residência. Sobre a asa central, há um segundo nível pri-
vado, e, na ala oeste, dois espaços públicos abertos para o
jardim do norte.
Há espaço, muito espaço, o qual é utilizado de forma bem
prática e dinâmica pelos arquitetos responsáveis Maurizio
Angelini Amadori e Benjamín Oportot Frigerio. Como, nes-
te caso, o paisagismo veio antes da construção, a planta
da casa se adaptou à natureza ao redor. O formato da Fray
León House é em “H”, o que possibilitou que as árvores
não fossem tocadas, além da criação de pátios diferentes
para aproveitar a presença das imponentes companheiras
a partir do interior da casa. Sobre a ala central, um segundo
nível particular estende-se em todo o seu cumprimento,
deixando uma extremidade de um terraço, no auge da co-
roa da árvore.
DO
SSIÊ
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A piscina está localizada em direção ao
oeste da casa, em um ponto mais baixo
do local. A posição ajuda a conformar
uma das suas fronteiras, articulan-
do a sua presença com o resto do
jardim.
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DO
SSIÊ
O amplo terreno antes abrigava um edifício antigo. A família
já morava há 30 anos naquele bairro e queria morada nova,
mas na mesma localidade. Tradicionalmente, as casas na-
quela área são enormes e têm relação limitada com a rua.
Ponto a mais para os arquitetos que conseguiram dar aos
moradores a visão incrível do verde através dos vidros pela
casa sem deixar os habitantes perderem a privacidade;
pena dos vizinhos, que não podem ver por inteiro este ma-
ravilhoso presente da arquitetura.
A residência contemporânea é projetada em linhas retas, o
que proporciona uma continuidade visual. Para compensar
a ousadia das formas, os arquitetos preferiram deixar que
as cores clássicas, como o branco e o marrom, fossem as
vedetes do projeto, sem prejuízos ao conjunto da obra.
Entre os detalhes quase imperceptíveis e a protuberância
de alguns pontos, a residência chilena deixa no ar aquela
sensação de equilíbrio do simples e do extravagante. A in-
tegração natureza-arquitetura evidencia que não é preciso
que nada saia do seu lugar para que belezas arquitetônicas
surjam. Pelo contrário, tem espaço pra todo mundo.
O verde do lado de fora ganha, inclusive, uma moldura de madeira: as vigas passam por cima do espaço. E a
abertura ao Éden particular da casa vem por todos os lados. Amplas portas e janelas dão a impressão que não
há limites entre o interno e externo.
A sala clean mistura ob-
jetos modernos como a
poltrona Swan de Arne-
Jacobsen: contempo-
râneos como o sofá de
linhas retas e clássicos
como o quadro, de mol-
dura rebuscada e pintu-
ra bucólica. Além disso,
o busto sob o aparador
confere elegância ao
cômodo.
Diversos tipos de mármore enobrecem a casa por dentro e por fora. Em evidência está o Travertino, tipo
de mármore antigo que não saiu de moda. Tradicionalmente empregado nas construções romanas, em
pleno século 21, ele está aí, firme e forte, dando o toque final na Fray Léon House.
CEN
ÁR
IO
Silhuetapretensiosa
Estreito e estiloso terraço na Austrália deixa as obviedades de lado e impressio-na por, criativamente, incluir no topo de uma árvore em forma de gravura: uma si-lhueta que garante charme e privacidade
Por Marcele Antonio - Fotos: Divulgação
O mais impressionante e chamativo canto da casa, tanto interna quanto
externamente, é a figura da árvore no topo do sobrado. Ela é uma forma
nostálgica e artística de lembrar a árvore que existia nos fundos do terreno
anteriormente. Por fora, a árvore é feita com lâmina de aço, e por dentro, de
adesivo. O efeito é super bacana tanto durante o dia, quanto
durante a noite. Com a iluminação artificial, a
arte fica impecável!
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CEN
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IO
É a política do “mais é me-
nos” concretinha. Esse ter-
raço australiano, projetado
pelo estúdio Matt Gibson a +
d, com arquiteto de mesmo
nome, é a prova de que pe-
quenos espaços podem ser
charmosérrimos! Estreito,
mas estiloso. Apertadi-
nho, mas moderníssimo.
A construção impressio-
na justamente por não ser
óbvia: pontos estratégicos
abertos para aproveitar a
iluminação natural, linhas
retas e corredores longos.
Nada de mobiliário carrega-
do, o que dá uma sensação
ilusória de espaço.
O sobrado é resultado de uma reconstrução: a parte de
cima foi levantada aproveitando uma estrutura base e o
muro já existentes. A ideia do projeto foi dar continuidade
ao material, à forma e ao muro.
No primeiro piso, foram mantidos os cômodos: quartos das
crianças e banheiros. Do outro lado da escada, a casa co-
meça a se abrir em uma cozinha que se integra a uma sala.
Na parte de cima, concentram-se o quarto dos adultos e
um espaço de estudos. Apesar de pequenininho, o piso su-
perior ainda recebe um pequeno quarto para os bebês que
a família possui atualmente. O legal é que depois do cresci-
mento das crianças, o quartinho pode se transformar em
um depósito.
Apesar de moderno, o orçamento para o projeto foi bastan-
te limitado. Foi preciso esperteza para conseguir achar so-
luções para a construção: a intenção foi sempre aproveitar
ao máximo a estrutura já existente, respeitando a comple-
xidade do projeto.
Por fora aço, por dentro adesivo. O decalque acrescenta capricho ao ambiente. A árvore-gravura ainda exerce uma outra função: garantir privacidade tampando a visão da vizinhança.
Por dentro, a urbanidade toma conta: o mobili-
ário moderno e minimalista proporciona
conforto sem apertar muito os
cômodos!
CEN
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MesclaoutgoingUM POUT-POURRI DE COR E SENTI-MENTO INVADIU AS IDEIAS DE UMA CA-LIFORNIANA DA GEMA. DEPOIS QUE MA-NHATTAN VIROU SUA NOVA MORADA, ELA QUIS RECRIAR PONTOS DA INFÂNCIA E DAR AOS FILHOS UM MUNDO MAIS ALEGRE E COLORIDO
PorTátila Pereira - Fotos: Annie Schlechter
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CEN
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Califórnia tem fama de ser terra rica, muito povoada e colo-
rida. Kelly nasceu por lá - para ser mais exata, na cidade de
Santa Cruz, no subúrbio. A infância dela foi marcada pelos
passeios à orla, com a brisa do mar ditando o ritmo. Hoje,
crescidinha, Kelly queria que os cinco filhos pudessem, de-
alguma forma, ter essas sensações. Assim, acompanha-
da do verde luminoso e do azul celeste – aliados a outras
tonalidades – ela quis reproduzir a terra natal, porém, com
todos os estímulos externos dentro de casa.
Com essa ideia na cabeça, tintas, marretas e picaretas nas
mãos, o escritório Incorporated Architecture& Design ini-
ciou a mudança. A inspiração pedia muito espaço e, por isso,
um só apartamentonão foi o bastante. Foram incorporados
outros dois apartamentos do mesmo andar, localizado no
Battery Park, em Manhattan. 10 meses de reforma e “Voi-
là”: o BohemianApartament, prontinho.
A mistura de materiais, cores e sensações propiciadas pelo
imóvel tem nome: é o estilo boêmio – que denomina a mo-
rada da família norte-americana. Essa é uma palavra que
vem de longe, e era o termo aplicado aos viajantes ou refu-
giados da Europa Central. Eram aqueles que pertenciam ao
lugar em que estavam. No século 21, o estilo ganhou nova
roupagem e as modernosas chamam de bohochic. O nome
mudou, mas o sentido é praticamente o mesmo, acrescido
de um significado que faz toda a diferença quando se olha
para cada cantinho do Bohemian: a ordem é não dar a mí-
nima para a moda. A atemporalidade é a pegada do projeto.
Isto não quer dizer que o apartamento seja démodé, mas
sim, que o décor se atém somente àquilo que faz bem aos
moradores.
m algumas paredes, a escolha não foi colorir com tinta, mas com papel de
parede. Mesmo assim, a ideia de contravenção não foi deixada de lado. Os
papéis de parede da designer britânica Orla Kelly – cheios de tons que po-
deriam divergir, mas que se completam – deixam até a sala de estudos
com cara de transgressão.
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49
Quem, em sã consciência, pintaria um piano de azul? A ousadia é a prima-irmã da genialidade. Pois é. Está ali, o digníssimo, com direito aos passarinhos amarelos
em cima dele, para fazer uma graça. Nessa atmosfera em que as crianças foram privilegiadas, a decoração não poderia ter artistas melhores: os quadrinhos re-
presentam as fantasias e o que vem na imaginação dos pequenos. No apartamento, inspiração não falta.
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CEN
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revistaconstruarch.com.br
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O símbolo da sabedoria ganhou nova utilidade e cor em um dos quartos. A
árvore ficou azul, assim como o teto e as paredes. O divertido ta-
pete no chão complementa a atmosfera lúdica. As
palavras de ordem aqui são so-
nho e vivacidade.
revistaconstruarch.com.br
A amplidão do apartamento con-
trasta com o pequenino escritório.
Ali, em um cantinho estratégico a
sensação é de sobriedade. Salvo
os detalhes nas cadeiras e
alguns objetos decorati-
vos, a neutralidade
predomina.
CEN
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Uma profusão de cores deixa em estado de graça o apê –
se é que se pode abreviar um lugar que tem 4.200 m²! O
elo criado entre a infância de Kelly e a casa atual evocou
um design visual que liga o interior ao exterior. As possi-
bilidades decorativas são sem fim. Tem áreas para brincar,
escalar, ler, dormir, comer, estudar, desenvolver projetos
artísticos, tocar piano, brincar de boneca e mais o que a
imaginação mandar, e, em cada um desses espaços, o pop
e o geométrico se expandem, sem regras.“Eu adoro ver
minhas crianças crescerem aqui. Nós percebemos que é
diferente de onde nós crescemos, mas quem sabe melhor”,
exalta Kelly.
A casa-sonho-de-toda-criança tem arte “na veia” e, antes
de ser um projeto arquitetônico, é um projeto artístico. O
tudo-fora-do-convencional garantiu que o lar tivesse cara
de felicidade, transformando o eco do passado evocado
por Kelly em uma adorável forma de viver o hoje.
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No quarto dos meninos, uma casinha dá aconchego aos pequenos. A iluminação confere ao quarto um quê de conto de fadas. O lugar não é procurado apenas na
hora de dormir, mas também na hora da brincadeira – o cenário abriga uma espécie de túnel e ainda um paredão para escaladas!
CEN
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Está permitido se apaixonar por este quarto. Pode se
libertar das amarras, daquele medo de misturar as co-
res. Olha aí, não ficou cuti-cuti? E o exagero em forma de
borboleta se coloca sobre o bercinho do bebê. Exagero
no bom sentido da palavra, já que nada ali sobrou.
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DUASUMAem
Quem vê a fachada vitoriana nem imagina que, lá atrás, há “outra” casa. O visitante é surpreendido pela alternância de concei-tos, na capital da Austrália.
Por Tátila Pereira – Fotos: Divulgação
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O destino já estava praticamente traçado pelos proprietá-
rios: ela seria demolida, sem dó, para dar lugar a algo total-
mente novo. Eis que, em uma só observação, os arquitetos
contratados perceberam a “injustiça” que estava sendo
feita. Depois de compreender as possibilidades de habita-
ção do cliente, o arquiteto convenceu os moradores a man-
ter e restaurar a fachada da casa, mas também deixar um
novo estilo surgir. Assim, nasceu a Casa Kooyong, com-
posta por dois lugares tentando contar a mesma história.
Os donos da casa tinham o desejo de ter um espaço ao
ar livre, com direito a plantinhas e tudo. Para possibilitar
o encaixe perfeito entre o sonho e aquilo que poderia ser
feito, os arquitetos do escritório Matt Gibson Architecture
fizeram um quintal, usado como ponte metafórica entre o
velho e o novo na residência. A estratégia da construção
não foi, em momento algum, tornar a casa um local homo-
gêneo. Todas as diferenças foram utilizadas como combus-
tível para uma criação inusitada.
A piscina ganha uma bonita companheira sobre ela. A
madeira que circunda a nova parte da casa deixou que
a modernidade também pudesse ter vez no projeto.
CEN
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A miscelânea de materiais poderia causar estranheza e
não ser bem aceita entre os mais tradicionais. No entan-
to, a proposta da casa era servir como túnel do tempo para
quem passasse por ali, e esses materiais puderam desem-
penhar com maestria essa função. O prédio da frente foi
restaurado mantendo o detalhamento tipicamente vito-
riano com uma iluminação de topo introduzida para, além
de iluminar, também acentuar a escala dos espaços. Os
demais acabamentos são marcados pelo tom escuro do
carvalho, o mármore branco e o piso ocre.
Na nova ala da casa, o crème de la crème ficou por conta
da sinuosidade da madeira que protege – e embeleza – a
construção. As placas de madeira, intercaladas lado a lado,
ainda deixaram um espaçozinho para que os vidros tam-
bém pudessem dar o ar da graça, mas bem naquele estilo
engana-mamãe: quer mostrar, ao mesmo tempo em que
tenta esconder.
As portas contam história: passar por elas, nessa
casa, é quase um rito de passagem, composto por
uma viagem no tempo.
Por dentro, a visão para as madeiras ao redor da casa também é chamativa.
Mas, neste cômodo, a protagonista é outra. A cadeira é um convite ao des-
canso e também a uma exclamação: quero-a para mim! O cabide, apesar de
ter uma cor não tão marcante, também tem seu charme. A porta pivotante,
figurinha carimbada em cenários mais recentes de novelas e seriados, tam-
bém foi uma das escolhas dos arquitetos.
60
O cenário, com proposta quase teatral, ainda propõe que as
soleiras de porta dispostas pela casa se tornem flashes de
uma cena, como se fossem marcando a viagem pela casa
– e pelo tempo. O quê majestoso, introduzido pelo estilo
vitoriano, congrega, com as altas elevações, as formas e os
suntuosos chandeliers escolhidos a dedo para fazer parte
do décor.
Ao contrário de outras habitações, em Melbourne, que ti-
veram a herança apagada para que estilos mais moderni-
nhos predominassem, este projeto utiliza e explora a jus-
taposição de aumentar e se deliciar com a diferença, ao
mesmo tempo em que segue métodos sustentáveis que
incentivam a conservação, ao invés de demolir e derrubar
toda a história que já existiu. É o retrato de um oásis urbano.
CEN
ÁR
IO
A área de descanso tem variedade de
opções. Se a vontade é apenas ter uma
brisa como companheira, fique sentado
à mesa clara. Se o solzinho for bem-vin-
do, escolha a mesa de fora. Para compor
o ambiente, os pendentes industriais
fazem contraste com o mármore
branco, encontrado logo abaixo.
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“Nada de brincar na hora das refeições, menina!”, já dizia a
minha mãe. Sem muita graça ali na mesa, era até fácil obe-
decer a ordem. Só que ninguém ainda tinha inventado uma
mesa que balança. O nome não deixa dúvida – Mesa de
Balanço – e tem uma louvável pretensão:
colocar um pouco de diversão na hora do
jantar ou até mesmo ser uma local de reuni-
ões para tirar um pouco da rigidez dos assun-
tos. E a mesa não é apenas mesa. Ela é mesa,
oito cadeiras penduradas e uma luminária. Os
assentos flutuam, gerando até uma brisa, de-
pendendo do movimento. A matéria-prima é
madeira de reflorestamento e aço, que ganhou
uma repaginada, com a cor branca. A ideia en-
genhosa foi do Design Stúdio Duffy London.
Eles aceitam encomenda e a peça pode ser pe-
dida em diferentes tamanhos e materiais.
£$ 6,895
IT
TEM COMIDA,DIVERSÃO,TEM ARTEDeixe de lado algunsbons modos à mesa e divirta-se
“Nós não paramos de brincar porque ficamos velhos,
nós nos tornamos velhos porque paramos de brincar.”
George Bernard Shaw
PorTátila Pereira - Fotos: Divulgação
O design é bem simples e mi-
nimalista. O foco está mesmo
é na brincadeira proporcionada
pelo balanço. Opção criativa para
tornar uma sala de reunião mais
simpática, né?!
Existem opções em outras cores, só que o preço, de qualquer forma, continua salgadinho:
5 mil libras. Mas vale a pena para ter em casa ou no escritório a possibilidade de experi-
mentar essa sensação de flutuar ao redor da mesa!
TRENDSUSTENTÁVEL
TRENDSUSTENTÁVEL
Na Casa Toledo 2012, a palavrinha mágica da atualidade é quem dita a tendência. Ser sustentável por aqui é uma ordem, cum-prida com muita engenhosidade
Por Giovana Danquieli e Tátila Pereira – Fotos: Alex Sanderson e Rodrigo Vieira (R. Vieira)
Na garagem destinada às motos, há uma parede pintada com terra, quase como brincadeira de criança. Água, cola escolar e terra compõem a tinta ecológica.
O detalhe fica por conta do tom, que pode variar de acordo com o gosto de quem vai aplicar a técnica.
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Ter uma casa sustentável não é mais um sonho difícil de
realizar. Com boas ideias e profissionais antenados às ten-
dências, é possível criar um ambiente moderno e único.
Porém, o que há para se fazer de novo quando o assunto é
ser ecologicamente correto? Como trabalhar um tema tão
(de)batido? Parece que tudo já está aí, pronto e à mostra
nas revistas ou na arquitetura das casas de todos os bair-
ros da cidade! Talvez, um importante divisor de águas pre-
cise ser levado em conta: a criatividade! Com ela, inovar é
sempre tarefa simples!
O desafio foi lançado a 18 escritórios de arquitetura: com o
tema sustentabilidade, eles se uniram para montar a Casa
Toledo e a inventividade os seguiu por todos os cômodos
da residência. A ConstruArch fez uma visitinha por lá e ga-
rimpou as boas ideias propostas.
Era uma casa moderninha...
Mas era brutalista demais! Construída na década de 1960, a casa
escolhida pela organização do evento tem traços característicos
de um movimento vanguardista que marcou época e ainda hoje
influencia a arquitetura nacional. Foram mantidas paredes, cal-
çadas, escadas e detalhes que se encaixaram na repaginação
sugerida. Tudo poderia ser contraste negativo, mas tornou-se
harmonioso e bonito aos olhos.
Na cozinha gourmet, a horta ao lado da pia deixa tudo descon-
traído e com cara de saudável! Uma forma de aliar praticidade,
sustentabilidade e paisagismo. Para quem gosta de cozinhar, a proposta deixa os temperos à mão, fresquinhos para incrementar receitas!
Samambaias pra todo lado
O verde das plantas enaltece vários espaços
e estabelece uma ligação com o meio ambiente de
forma delicada. O Spa do Casal - o novo hit para moradias de casais mo-
derninhos - tem inúmeros vasos de hera, formando um jardim suspenso. O
contato com a natureza fica por conta das pedras usadas no lugar do piso
na área da banheira.
As samambaias, tão na moda nas décadas de 80 e 90, voltam à cena e vêm
para ficar! Bem cara de casa da vovó, elas decoram espaços externos e ain-
da dão todo charme, como na instalação– dentro de uma gaiola!
EVEN
TO -
CA
SA T
OLE
DO
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Inovar, reciclar, reutilizar...
O terraço decorado com artesanato indígena possui um lado ecológico: a lareira é abastecida com gravetos retirados do próprio jardim. A ideia de utilizar materiais
antes dispensáveis é o ponto alto do projeto. A mistura entre artesanato, luminárias e mobiliário moderno deixa o espaço democrático!
No lounge, peças (DIY) do it yourself. A simplicidade do espaço está nas lu-
minárias feitas com garrafas de vinho, nos carretéis que se transformaram
em mesas, nas cadeiras montadas com madeira de casas antigas e nos fu-
tons de tecidos de catálogos de piscina. Ideias para reutilizar e deixar o es-
paço aconchegante.
A aplicação da parede dos banheiros públicos segue a tendência
de disponibilizar tecnologia a serviço do sustentável. O microci-
mento – material cimentício cinco vezes mais fino que cimento
comum – foi aplicado nas paredes e cubas, deixando o espaço
com ar inovador.
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Já a área destinada às bicicletas mais parece a oficina do Professor Pardal.
Palets de madeira se tornaram base para sofá e estante. Canos de PVC
galvanizados e aro de bicicleta são as matérias-primas da mesa que carac-
teriza o ambiente voltado aos amantes do ciclismo. Na parede, atrás da TV,
tijolos feitos com barro e água e apenas encaixados. E nada mais gracioso
que a mesa de caixinha de fósforo! Uma cópia fiel do objeto, aumentada no
tamanho ideal para se tornar uma peça-desejo dos descolados. Mesmo não
sendo uma ideia inédita, o móvel ganhou notoriedade por ser réplica de um
produto regional.
Os palets estão presentes também no cercado ao redor do café, propor-
cionando rusticidade ao receptivo lugar. O destaque da parte externa da
casa fica por conta dos móveis feitos com madeira de demolição, repletos
de marcas de tinta, ou perfurações de prego - marcas de suas “vidas pas-
sadas”. Olhando para baixo, o piso é drenante, o que impossibilita o acúmulo
de água na superfície, garantindo o escoamento e retorno ao lençol freático.
Repaginada artística
Na porta da casa, em luminárias, na parede da cozinha, em prateleiras. Algo
em comum uniu essas partes da casa. Elas foram feitas por uma artista
plástica de Toledo: Thaís Pontes. Ela faz a fusão de sobras de vidro e faz vá-
rios tipos de utensílios. E o melhor: não há nenhuma peça igual a outra, já que
a cada trabalho, o vidro se comporta de uma forma!
Apesar de o tema da Casa Toledo – sustentabilidade – ser
um lugar-comum, os arquitetos responsáveis pelo projeto
não se acomodaram. Junto ao tripé sustentável (natureza,
economia e sociedade), também se integraram à mos-
tra ousadia e disposição para que, nas cidades do
interior ou nas capitais, o morar bem de bem com
o restante do mundo possa ser possível.
EVEN
TO -
CA
SA T
OLE
DO
72
N a
m e s m a
linha dos grandes
festivais urbanos de design que
já são roteiro em capitais europeias, como
o Fuorisalone Milan Design Week, em Milão, e o London
Design Festival, em Londres, São Paulo se transformou no
éden designístico durante o último fim de semana de agos-
to de 2012. O Design Weekend apareceu para preencher o
anseio de um público carente de novidades caseiras. Nos
moldes de um festival urbano de design, foi realizado em
diversos formatos e composto de dezenas de eventos in-
dependentes – tudo para promover as conexões entre o
design, a arte, o urbanismo, o décor, a arquitetura, a tecno-
logia e, claro, os negócios do segmento.
Apelidado de DW!, o evento ainda é uma miragem no con-
texto conservador dos eventos de arquitetura e design da
América Latina, mas a iniciativa da Revista Casa Cláudia
vale palmas: é o start de uma nova era – chega de impor-
tar, agora o negócio é mostrar o que o design brasileiro
tem. A equipe da Revista ConstruARCH garimpou o que de
mais relevante aconteceu por lá!
Paralelamente ao Design Weekend acontecia, também em
São Paulo, o BoomSPDesign – evento mais maduro, que
estava na sua 5a edição já. Com o intuito de promover uma
reflexão sobre a produção criativa atual, ele se transfor-
mou num fórum de arquitetura, design e arte que pregou
sua marca no calendário internacional. Duas das exposi-
ções sobre as quais falamos foram organizadas são vincu-
ladas ao BoomSP.
DESIGNWEEKEND
EVEN
TO -
DW
!
Em pontos estratégicos da capital paulista, o primeiro
evento nacional destinado ao design aparece como uma peneira
interessante do que existe no mer-cado brasileiro do segmento
Por Julie Fank e Giovana Danquieli - Fotos Isadora Carneiro
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Chamar a arte do designer londrino Tom Price de ousada é
pouco. Ela merece mais adjetivos! Talvez, inovadora e aves-
sa ao lugar-comum. Inusitada e moderna. Ele esteve no
Brasil em agosto para participar do BoomSPDesign, evento
paralelo ao Design Weekend, no qual foi homenageado com
o título de designer do ano. Aí você pergunta: o que tem
na obra de Price que chama tanta atenção? Bom, imagine
que um amontoado de canos de PVC possa se tornar uma
floresta; ou ainda, uma cadeira cheia de conceito e estilo;
melhor: uma luminária com formas geométricas criadas ao
bel prazer do calor das chamas que aquecem o plástico. As
peças desenvolvidas por Tom flutuam na tênue linha que
separa design e arte – e encantam.
A série Meltdown tem tudo a ver com o nome: a fusão en-
tre materiais resulta em peças únicas que aliam design e
conforto. O artista mescla inventividade e artesanato para
criar: o resultado – nesse caso – é uma poltrona funcio-
nal que se assemelha a uma escultura! A base usada é um
antigo assento que sobre uma bola de cordas é moldado
conforme aquecido. O diferencial é poder unir vários des-
ses assentos e criar um móvel entrelaçado.
Mobílias, instalações e esculturas são criadas com simples
matérias-primas: cordas de náilon, placas de polipropile-
no, tubos de PVC e roupas descartadas. Com esse aparato
nada usual, Price dá vida a mesas, cadeiras, luminárias e um
sem número de esculturas e instalações exuberantes que
já levaram o nome do artista a importantes museus de arte
contemporânea como o San Francisco Museum of Modern
Art e Denver Museum of Art, ambos nos Estados Unidos, e
também na Alemanha, no Museum für Kunst und Gewerbe.
Roupas e placas de polipropileno se tornam cadeira-design
para amantes da arte não apontarem defeitos. Na verdade,
a obra provoca e pede uma observação minuciosa dos de-
talhes. Para conseguir esses curiosos resultados, Tom se
utiliza de inúmeras técnicas de aquecimento dos materiais
plásticos e assim, cria formas antes inimagináveis. Coisa de
artista criativo que aparece no rol dos jovens descolados
do cenário contemporâneo de design.
Instalações, mobílias e esculturas fazem parte do acervo de obras do artista contemporâneo que faz sucesso também no Brasil
Por Giovana Danquieli - Fotos Divulgação
PLÁSTICO-ARTE:POLIPROPILENO É A MATÉRIA-PRIMA DE DESIGNER LONDRINO
74
DESIGN FUNCIONAL: SIMPLICIDADEMARCA NOVA LINHA DE MÓVEIS DA OVO
Objetividade, linhas retas e usabilidade. A simpli-
cidade pede passagem nesse par de móveis que
formam a linha Clara da ,Ovo. O design criado por
Luciana Martins e Gerson Oliveira é esquemático
e com desenho simples. Escrivaninha e estante
ganharam vida a partir de riscos bem elabora-
dos e sem adornos que poderiam desvirtuar
a ideia principal do projeto. A combinação de
madeira leve com cores primárias – com a
predominância do branco - aliados ao mini-
malismo do conceito empregado possibilita
um encaixe perfeito em qualquer ambiente. Na escri-
vaninha, uma gaveta amarela chama atenção. Ao mesmo
tempo em que parece deslocada, ela faz todo o sentido.
Quase um post it. A fina espessura do tampo permite um
grande vão livre, o qual proporciona charme à peça. Já a es-
tante, tem a sustentação em quatro pés com ângulo dis-
tinto par a par. A posição influencia no visual, na disposição
das divisórias, e no ar de eu-não-ocupo-muito-espaço
que o móvel passa. O vermelho dá o tom de humor à peça.
Escrivaninha e estante parecem frágeis à primeira vista,
mas basta analisar os detalhes que se percebe a intenção
dos autores: leveza! A autenticidade dos móveis também é
ponto positivo.
As peças fazem parte do último lançamento da nova
coleção da ,Ovo. São cinco novas linhas: Pedras, Fita,
Clara, Tiras e Bloco. Os designers brincam com as
possibilidades e traçam móveis com ares clean e
simplistas. Reconhecidos e premiados, o casal
lançou no evento um livro que conta a trajetória
de 21 anos de trabalho de criação e desenvol-
vimento de mesas, cadeiras, estantes e lumi-
nárias. Usabilidade e uma dose de humor – é
com esses ingredientes que eles adoçam os projetos.
Madeira, cores primárias e criatividade dão vida a escrivaninha e estante dos renomados de-signers Luciana Martins e Gerson Oliveira – as peças foram conferidas em exposição durante o evento DW!
O premiado designer trouxe ao Museu da Casa Brasileira a mostra A essência das coisas, uma amostra do seu processo criativo
Por Giovana Danquieli - Fotos Divulgação
Por Giovana Danquieli
TODD BRACHER EM EXPOSIÇÃO NO BRASILEV
ENTO
- D
W!
Com a curadoria do alemão Albrecht Bangert, conhecido
internacionalmente pelas exposições de design, a mostra
era a representação de uma interface virtual, mas também
a reprodução do ambiente de criação do designer. O cená-
rio, responsável por trazer a atmosfera do estúdio nova-
-iorquino sediado no Brooklin, aliado a vídeos do designer
sobre o processo criativo, deram a cara de Nova York para o
Museu da Casa Brasileira durante o fim de semana do DW!
A exposição continuou ainda até o mês de outubro.
O norte-americano que foi designer do ano em 2008 e
2009 e expôs pela primeira vez no Brasil, tem uma pega-
da industrial e transcreveu, em cada peça, um pedaço dos
lugares que viveu. De tanta mistura – ele já morou em Lon-
dres, Paris, Milão, Copenhague e Nova York –, fica difícil re-
conhecer qual dos lugares exerceu maior influência sobre
sua arte. Inevitavelmente, a Escandinávia se faz presente
num intercâmbio bem interessante – ele imprimiu o jeito
de ser nova-iorquino com uma pitada de experiência eu-
ropeia à frente da direção de criação da marca escandinava
de luxo Georg Jensen – a experiência ainda enche de ares
escandinavos o que ele tem produzido por aí.
Na exposição, tudo, além de funcional, respirava uma abor-
dagem contemporânea e leve – daquelas de deixar a gente
horas admirando e procurando entender o processo cria-
tivo. É bem verdade que o aparato técnico da exposição
auxiliava nessa busca pelas referências: para cada peça,
uma vídeo-entrevista ilustrava o caminho de criação, para
cada conjunto, um papel de parede que reproduzia a vista
de seu estúdio no Brooklin, para cada espaço da sala de
exposição, uma interface diferente, uma nova página
do site Todd Bracher – pistas que ajudavam
a entender e aplaudir um dos desig-
ners mais jovens do cenário
internacional contemporâneo.
Marcelo Rosenbaum dispensa apresentação. Ele é o desig-
ner badalado de rosto conhecido da TV que propõe ideias
de decoração daquelas que pegamos dicas aqui e ali e apli-
camos sem pestanejar! Por ser um nome bastante difun-
dido, Rosenbaum não fica de fora de eventos voltados ao
designer e arquitetura sustentável. Nessas andanças pelo
Brasil afora, o Design Weekend fez parte do roteiro des-
te ano. Em duas oportunidades, ele pode mostrar ideias
aplicadas por meio do projeto A Gente Transforma. As dis-
cussões acerca do tema “Um urbanismo para a felicidade”,
teve como destaque o afastamento das pessoas, que a
cada dia se fecham mais dentro de condomínios fechados e
se divertem em shoppings centers. Uma condição impos-
ta pela insegurança e que é avalizada de certa forma pela
arquitetura. Já o projeto A Gente Transforma pode mostrar
os resultados de mudanças simples como aplicação de
cores em casas e praças da região do Capão Redondo em
São Paulo, no bairro Santo Antonio, onde jovens que an-
tes eram envolvidos com o tráfico de drogas, resolveram
mudar de vida e participar da empreita, mudando a própria
vida. O projeto não tem apenas o objetivo de mudar a cor
das casas: ele leva vivacidade e brasilidade ao espaço, con-
ferindo a identidade de cada povo e retomando as raízes
esquecidas no decorrer dos anos. Um dos principais braços
do projeto é a abertura para o mundo do artesanato. Tra-
balho simples, que exige dedicação, mas que proporciona
retorno financeiro para mudar de vida, ou iniciar uma trans-
formação. A Gente Transforma também foi desenvolvido
em Várzea Queimada, município de Jaicós, Piauí. No sertão
piauiense, a cultura local foi retomada e o artesanato re-
nasceu. Nem a terra árida, nem o chão que não recebe uma
gota de água durante meses a fio, resistiram a vontade de
mudar os paradigmas.
Quem passava pela Oscar Freire, 1996, na altura dos jar-
dins, no dia 24 de agosto, avistava uma projeção na parede
e um burburinho no terraço – além de uma vitrine seleta
que contava um pouco da história das criações conjuntas
e individuais dos dois artistas. Pra participar do bate-papo,
bastava ligar e se inscrever. As cadeiras estavam todas
ocupadas, mas ainda tinha um espacinho no chão, ao lado
do mascote do estúdio. Aliás, trazer os amigos caninos e vir
a pé ou de bicicleta, além da boa convivência com o verde,
são algumas das atitudes ecofriendly levantadas pelo três
estúdios que hoje ocupam o casarão antigo da Oscar Freire.
A “palestra“ na laje aconteceu no intuito de mostrar e reto-
mar a caminhada criativa dos dois designers desde mos-
tras efêmeras a projetos e produtos. A conversa reuniu
interessados em saber mais sobre o processo criativo dos
dois designers e ainda rendeu uma visita guiada pelo espa-
ço que conta com uma mesa de base de cartas, uma “ideia
óbvia”, segundo eles, até estruturas aparentes. Tudo com
uma bossa muito jovem – a cara de Guto e Maurício. A pala-
vra que se via, ainda da rua, quando a nossa equipe chegou,
era SUSTENTABILIDADE – escrita em caixa alta, no topo de
um slide. Parece ter sido essa a pegada que transformou
em design acessível o trabalho dos dois, que já gerou muito
burburinho fora daquele terraço nos jardins.
Projetos e criações do designer em destaque no Design Weekend
Guto Requena e Maurício Arruda abriram o es-critório, mostraram suas criações e contaram um pouquinho sobre o seu processo criativo
Por Giovana Danquieli
Por Julie Fank
MARCELO ROSENBAUM
ESCRITÓRIO POP E DE BEM COM O VERDE
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76
HUGO FRANÇA
Designer divide os dias entre São Paulo e Tran-coso, uma forma de manter o acesso à cultura e ao ar puro. Em entrevista à ConstruArch, Fran-ça conta o que pensa sobre a responsabilidade sustentável dos brasileiros e faz um paralelo com os europeus. É preciso avançar!
Ele transforma madeira em peças exclusivas, desejadas e
sustentáveis. Uma segunda chance aos materiais que se-
riam levados ao lixo. Um desperdício, não fosse o talento do
designer Hugo França, que se preocupa com a sustentabi-
lidade e o futuro. Por isso, ele aproveita árvores urbanas já
sem vida, cria peças e as devolve para a cidade em forma
de mobiliário público. Exemplos são vários. Em São Paulo,
por exemplo, no parque Burle Marx há um banco feito a
partir de uma árvore que caiu em decorrência das chuvas.
Inicialmente, Hugo abriu o atelier em Trancoso, na Bahia,
onde morou por uma década. Lá, em meio à cultura da ma-
deira, o designer se sentiu à vontade para desenvolver a
arte do reaproveitamento.
Em uma época de pessoas pensando cada vez mais de
forma sustentável, as peças de França satisfazem o dese-
jo de se inserir na onda de responsabilidade com o mundo.
A concepção dos brasileiros no quesito reciclar e reapro-
veitar, na opinião dele, tem evoluído ano após ano e isso
vem ao encontro das necessidades do momento atual: é
preciso reverter o processo predatório do planeta! E essa
missão está nas mãos dos jovens. Mas isso não é para da-
qui dez anos, é para agora! “Eu acho que a gente precisa
começar imediatamente a mudar nossos valores, nossos
conceitos em relação ao consumo e principalmente a pre-
servação dos recursos naturais. Porque o Brasil é um dos
países que tem o maior potencial de recursos naturais, mas
a gente parece que ainda não está bastante atento.”, expõe
o designer. Por outro lado, Hugo França critica a falta de po-
líticas públicas que incentivem a preservação e o cuidado
com o meio ambiente.
Em um ranking imaginário, Hugo França coloca o brasileiro
em desvantagem com relação aos métodos adotados pe-
los europeus. “Eles são os mais conscientes do planeta em
relação a problemas de sustentabilidade.”. Caso sirva de
consolo, na avaliação de Hugo, estamos bem à frente dos
norte americanos, os quais depredam e têm menos cons-
ciência e vontade de se envolver em projetos sustentáveis.
A dica do designer aos jovens brasileiros é para se afasta-
rem do “modelo ridículo americano”, já que em terras bra-
sileiras se tem um pouco mais de consciência a respeito da
preservação dos recursos naturais. Conceitos e a conduta
dos europeus deveriam ser seguidos pelos jovens brasilei-
ros, assinala o artista.
O trabalho de Hugo França alia preocupação com o meio
ambiente e sensibilidade artística. Com intuito de inter-
pretar a natureza e as formas que ela apresenta, o desig-
ner consegue intervir de forma artesanal. O resultado são
peças únicas e que refletem a visão sustentável do autor.
Com conhecimento de causa, Hugo ressalta que morar
bem pede ar puro e acesso à cultura. Para quem morou por
muito tempo em Trancoso e hoje vive mais em São Paulo,
a diferença é gigantesca. “Hoje eu tenho privilégio de des-
frutar metade do tempo em um lugar bacana, junto à na-
tureza, fazendo um trabalho que eu gosto e outra metade
do tempo em uma cidade cosmopolita, de várias culturas,
e acesso a toda produção cultural contemporânea. Mas
sempre há alguns efeitos colaterais, não é? Então, às ve-
zes, morar numa cidade como São Paulo, não se tem qua-
lidade de vida, mas acesso às coisas bacanas”, completa.
Para ilustrar essa discussão, ele não poderia fugir do tra-
balho: a marca de Hugo França – mais uma vez – está ex-
posta no parque do Ibirapuera. Durante o evento DW, ele e
toda equipe transformaram o que era pra ser só mais uma
árvore condenada. Algumas horas de trabalho e boa dose
de talento foram responsáveis por outro banco que embe-
leza o parque e endossa o papel de artista preocupado com
a sustentabilidade.
Por Giovana Danquieli - Foto: Isadora Carneiro
EVEN
TO -
DW
!
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CADEIRAS À MODA DA CASA
Rodrigo Almeida, designer paulistano, passa por um momento de transformação: sai de uma fase manual para uma etapa mais industrial. As últimas cadeiras criadas por ele são o maior exemplo das experimentações ousadas que o designer pretende.
A fase é de experimentações: Rodrigo Almeida quer mexer
com a percepção misturando densidades, como por exem-
plo, vidro, aço e tecido. “Cada material tem uma energia e
nos passa uma sensação diferente, por isso acho interes-
sante fazer esses cruzamentos”, detalha. A última de suas
mixagens de materiais foi a exposição “Morfológicos”. Nela,
nove cadeiras demonstravam o desenvolvimento indus-
trial com materiais que iam desde o couro até o inox. São
peças que, pela primeira vez na carreira de Rodrigo, foram
feitas de forma industrial. Nesta fase do designer, o modo
artesanal, apesar de adorado, dá lugar a um novo trabalho.
“Comecei com uma produção completamente artesanal,
aí passei por um pré-industrial, que é a marcenaria, tape-
çaria e agora cheguei na produção industrial. Acredito que
todo designer deveria passar por esse processo. É como
um resgate histórico para entender como meu estilo pes-
soal se encaixa neste sistema”, relata Rodrigo, declarando
que só se interessa de fato pela industrialização quando ela
existe para democratizar e tornar o design mais acessível.
Das suas criações mais recentes, Rodrigo já desperta o
afeto especialmente por duas: a cadeira “Tangente” e o
banco “Motor”, que têm um destaque para o designer. “Os
projetos em que várias camadas de informações são per-
ceptíveis costumam me cativar mais”, justifica.
Rodrigo, que desde criança foi ligado ao desenho, acredita
que realização é fazer aquilo que se gosta. E neste quesi-
to, o designer está completo. O período é de transforma-
ções tanto para ele, quanto para todo o contexto do design
brasileiro, o que impulsiona novos trabalhos. “O despontar
de brasileiros no mercado internacional não é um esfor-
ço brasileiro. São ações corajosas e individuais feitas por
pessoas apaixonadas pelo que fazem sem nenhum apoio
governamental ou da indústria nacional. Mas as coisas pa-
recem estar mudando. Na minha exposição ‘Morfológicos’,
por exemplo, desenvolvo tudo para uma nova marca de de-
sign brasileiro chamada Mejiee a exposição foi patrocinada
pela Electrolux. Fiquei muito feliz por essa oportunidade de
mostrar um trabalho bem feito e bem acabado para o públi-
co brasileiro”, comenta.
Para ele, apesar de o modo de vida no Brasil ser uma inspi-
ração clara, ainda é preciso aprimorar o jeito como se en-
xerga o design no país. “Me inspiro em nossa cultura, não
só no aspecto material, mas no jeito do brasileiro de se re-
lacionar com o corpo, objetos e fantasias. Só consigo es-
tabelecer um diálogo se falo do que sei de fato. Não posso
pretender criar um diálogo europeu se não domino todos
os aspectos dessa cultura. Isso parece óbvio, mas ainda
precisamos insistir sobre isso no Brasil”.
Por Marcele Antonio - Fotos Isadora Carneiro
Rodrigo Almeida é natural de Sorocaba, mas é bastante
viajante: morou cinco anos fora do Brasil, em Seatle e
Nova York. O traballho do designer é pautado em muitas
referências, inclusive no aprendizado adquirido em cur-
so com os Irmãos Campana, além de muitos artesãos.
Rodrigo, apesar de inaugurar uma fase industrial, é ado-
rador confesso da arte manual.
Poltrona toda em aço inox
com estofamento em feltro
de lã de carneiro.
Balzaquiana poética
Em sua 30ª edição, a Bienal de São Paulo tenta evidenciar o que há de especial na arte latino-americana, além de desvendar as verdades menos absolutas
Por Tátila Pereira – Foto: Fundação Bienal / Leo Eloy
80
EVEN
TO -
BIE
NA
L A Bienal de Artes de São Paulo chega a mais um número re-
dondo, cheia de boas intenções. A principal delas é desatar
as amarras de uma mostra temática, e torná-la um espaço
sincronizado com o passado, o presente e o que mais há de
bom para vir por aí. Predispondo a coexistência entre os
diferentes, sem esquecer seus pontos de conexão, a Imi-
nência das Poéticas quer espelhar a verdade, mas não uma
única verdade: a verdade de cada um, a opinião.
Como uma boa balzaquiana, a Bienal tem também crise
com sua idade, porém, no bom sentido do termo: a crise se
instala não como um problema, mas como resposta para
as muitas perguntas da inconstância do mundo atual. O
evento conta com mais de 3 mil obras, criadas por 111 ar-
tistas. Os trabalhos são apresentados em forma de “cons-
telações”, mostrando artistas como estrelas e indicando
as proximidades entre eles. Explica-se: as obras não pro-
duzem sentido sozinhas, mas em relação com o mundo e
outras obras.
Pela primeira vez, a Bienal de São Paulo tem um curador de
fora do espectro das artes brasileiras, o venezuelano Luis
Péres-Orama. Com ele, veio a experiência de demonstrar
o que é que o latino-americano tem! Por
séculos, essa parte do mundo ficou res-
trita a ser um copião daquilo que
se produzia lá fora, sem dar rele-
vo aos frutos dos que nasceram
aqui. Péres quis deixar de lado os
resquícios da colonização e inserir
a arte da América Latina em um novo
contexto: ”Essa Bienal também mostra
que a América Latina não é mais uma ilha.
Temos obrigação de reconhecer os artistas
latinos como artistas internacionais”, argu-
menta.
A boa nova da 30ª Bienal é que arte transcendeu
os limites do prédio criado por Oscar Niemeyer. Ou-
tros museus da cidade também estão exibindo obras
e eventos ligados à mostra. Entre esses espaços estão o
MASP, o Museu de Arte Brasileira da Faap e o Instituto To-
mie Ohtake, além de pontos turísticos de São Paulo, como
a Avenida Paulista e a Estação da Luz.
81
Arthur Bispo do Rosário
O diagnóstico era de esquizofrênico-paranoico. A desco-
berta veio após algumas crises, que culminaram em inter-
nações em hospícios. “Preso” nas correntes da demência,
a sua liberdade era criar. E criou, mesmo no manicômio,
mais de mil peças. Objetos e bordados que, naquele tempo
– entre as décadas de 30 e 70 –, não faziam sentido algum
para os críticos de arte.
Pouco antes de morrer, Bispo do Rosário - sergipano de
nascença, mas carioca enraizado – começou a ter as obras
compreendidas, estudadas e encaixadas como arte con-
temporânea. Para ele, de nada adiantou, já que permane-
ceu internado até sua morte, em 1989.
Homenagens póstumas são fartas, e a Bienal de São Paulo
também se rendeu às peças de Bispo. Numa área de di-
mensões mais generosas que a maioria das salas exposi-
tivas dos outros 110 artistas da mostra, Bispo do Rosário é
foco de um tributo forte dentro do conjunto da Bienal e que
chama a atenção pela obsessão com a qual o artista reali-
zava suas centenas de peças. O público terá acesso à varia-
da produção do artista, podendo ver de pertinho a cama de
Romeu e Julieta ou o Manto de Apresentação, que ele afir-
mava ser uma peça para ser vestida no dia do Juízo Final.
Sheila Hicks
A norte-americana Sheila Hicks adquiriu a sua arte em
suas andanças pela América do Sul e Central. Dotada de
um certo espírito riponga, ela se vale das técnicas de tece-
lagem – tradicionais ou não - nas quais usa o fio para jogar
com formas, divisões, assimetria e cor. A arte dela faz parte
do tempero da Bienal 2012.
82
EVEN
TO -
BIE
NA
L
Odires Mlászho
Na miscelânea de 111 artistas, um único representante do sangue paranaense deu as caras. Mlászho é um modificador de
respeito e faz algo que é só dele: apropria-se de imagens esquecidas de livros e as reconstrói. Cola, rasga, desgasta, corta e
aí fotografa tudinho. O livro, assim, deixa de ser mera fonte de conhecimento para carregar em si a carga de um homem, que
espalha suas emoções, memória e vida em recortes cirúrgicos.
83
Tributo Arquitetônico
Refletir sobre a arquitetura e a vida humana é o mote dita-
do pela Corporación de Servicios Profesionales Amereida,
que se constituiu como Ciudad Abierta na comuna de Rito-
que, Valparaíso, em 1970. A formação do grupo, no entanto,
vem de longe, lá de 1952. Um grupo de intelectuais e ar-
quitetos fundou o Instituto de Arquitetura da Universidad
Católica de Valparaíso, que propunha uma atitude diferen-
te diante do ofício e da vida e questionava a prática con-
vencional da disciplina arquitetônica. A ideia é esquecer as
noções de propriedade ou de liderança. O bom mesmo é a
contemplação, a hospitalidade, o ofício e a vida em comuni-
dade. Essa elucubração latente não teve medo de aparecer
na Bienal. 340 estudantes de arquitetura e design gráfico e
cerca de 20 professores desses cursos fizeram interven-
ções em Heliópolis e no Jardim Pantanal.
84
Descarte artísticoA arte detalhista de Thaís Pontes usa a transparência do vidro e a delicadeza do mosaico para compor peças que nunca se repetem. Sobra material na construção e resta criativida-de no atelier!
Por Marcele Antonio – fotos: Arquivo pessoal
Ela é bióloga formada, mas não se enxergava como pro-
fessora. Thaís Pontes queria algo em que pudesse traba-
lhar em casa e descobriu a arte manual como uma parceira
de vida. Mas das ciências biológicas não se deixou libertar,
virou artista e com um bônus: tem a consciência ambien-
tal explícita. “Como bióloga, sempre me preocupo com a
quantidade de restos que sobram das construções e tam-
bém com o tanto de materiais que descartamos e que po-
deriam ser reaproveitados de outra forma”.
Dos restos de construções, a artista retira tudo o que pre-
cisa. Se você enxerga um azulejo como algo meramente
indicado para revestir um piso ou uma parede, ela conse-
gue te provar o inverso: nas mãos de Thaís, um descarte de
construção pode ser um material com potencial suficiente
para decorar um ambiente com muita pompa. “A maioria
dos meus trabalhos é feita com restos de materiais: vidros,
cerâmicas, pedras, rolhas, garrafas, espelhos, madeira, fer-
ro... É claro que às vezes preciso de algum material que não
tenho disponível e então preciso comprá-lo, mas mesmo
assim tento fazer o melhor aproveitamento possível para
que o descarte seja o mínimo necessário”, conta.
Unem-se materiais inusitados, criatividade à beça e um
punhado de trabalho árduo e não se poderia obter outro
resultado: peças únicas, planejadas e executadas cantinho
por cantinho. Serviço minucioso, que exige a dedicação de
Thaís pelo menos dez horas por dia. “Tenho um atelier em
casa e trabalho inclusive domingos e feriados: não se faz
esse tipo de trabalho sem paciência e dedicação”. De fato, é
preciso um estoque reforçado de calma para não deixar os
cortezinhos daqui e dali – normais para quem está o tem-
po todo mexendo com material cortante – prejudicarem o
trabalho. “Os cortes fazem parte do meu cotidiano, assim
como os calos, bolhas... Mas tudo compensa quando vejo
um bom trabalho concluído”.
Vamos lá, então, explicar esses procedimentos dolorosos e
apaixonantes! Thaís usa várias técnicas: mosaico em cerâ-
mica, vidro ou mosaico misto; decoupagé com mosaico ou
madeira e o “Fusing”, processo de fusão de vidro. “O fusing
é uma técnica onde se aplica corante em um vidro comum
Thais ao lado de uma de suas produções na mostra “Casa Toledo”. Neste
caso, a técnica de fusão de vidro foi utilizada para decorar uma parcela da
cozinha, mas no evento, ela também produziu peças para outros tipos de
ambientes como adega e varanda.
GA
LER
IA
85
de janela e o leva ao forno de alta temperatura. Dependen-
do do vidro, a temperatura pode variar de 760 a 900 graus.
A peça fica pronta 24 horas depois e é possível fazê-la em
150 cores diferentes!”, detalha Thaís.
Toda a delicadeza e autenticidade das peças que a artista
faz estão sempre em exposição. Na edição de 2012 da
Casa Toledo, a arte em cacos marcou o trabalho de nove ar-
quitetos: na mostra, a artista fez parcerias e desenvolveu
obras para compor sete ambientes, como adega, varanda,
cozinha, recepção, oficina e hall. “Isso mostra como o tra-
balho pode ser diversificado, quando é possível se fazer
desde um painel até uma luminária ou porta”.
Entre os vasos, painéis e todos os tipos de peças deco-
rativas, Thaís não consegue dar grau de importância ou
afeto. Cada peça é uma raridade, um “filho” para a artista,
que se especializa sempre através de cursos, mas também
aprende com o cotidiano. “Aprendo muito com o erro. Às
vezes uma peça que dá errado te mostra mil possibilidades.
Criatividade a gente exercita”.
Fusão de vidro, mosaico de azule-
jos, espelhos: o que era descarte vira
peças de decoração, exclusivas, por
sinal, já que nenhum trabalho como
este sai igual a outro.
8686
ESP
ELH
O
Camilla D’Anuziatta, designer, estilista e proprietária da Agên-cia de Branding paulistana Alexandria, conversa com a Revista ConstruARCH acerca de novas propostas, novos formatos e no-vas perspectivas para as mostras de design
Por Julie Fank - Fotos: Isadora Carneiro
“UM OUTRO SAMBA”:A FRONTEIRA ENTRE O CONCEITO E A VENDA
O espaço era convidativo. Um casarão nos Jardins assina-
do por Maurício Kogan. Chegávamos para saber um pouco
mais sobre o evento que rolaria ali à noite – uma reunião de
quem há de mais descolado na cidade num ambiente tão
despojado quanto. Quase meio-dia do primeiro dia de “ex-
posição” e muita coisa pra arrumar. Bicicletas desmonta-
das. Fio pra cá, fio pra lá. Difícil entender qual era a proposta
ali. O visitante desavisado não entende onde está. O que é
aqui? Uma agência de branding, descobrimos. A pista aju-
dava, mas não desvendava o mistério da quantidade de pe-
ças de design espalhadas. Pra quem não está acostumado,
descobrir um novo formato é uma tarefa quase persecu-
tória – quem é o responsável pela organização do evento?
“Você pode falar com a Camilla.”, avisa um designer que
montava algumas peças da exposição. Exposição? A pro-
posta é quase essa. Uma design house ou a Design House
surgiu no intuito de desconstruir formatos, numa espécie
de plataforma conceitual. Mas a ideia não é nova em São
Paulo, não. Com um jeitinho carioca de pensar na vida e nas
coisas, a estilista que passou 15 anos envolvida no mer-
cado de moda e hoje é proprietária de uma agência súper
cool, encontrou na arte e no design uma forma de expres-
são menos comercial que a moda e, junto com seu sócio
Ricardo Gaioso, criou o projeto Rabbit, uma exposição off-
-gallery, no fim de 2011: “O projeto não foi exclusivamente
tirar a arte das galerias, mas tem muita gente que não entra
em galeria de arte com medo, porque fica intimidado, não
pode comprar, acha que arte é inacessível. Então, a gente
quis levar novos artistas, e até artistas que não querem es-
tar em galerias, para um espaço que fosse mais tranquilo
de entrar, onde ninguém ficasse tão intimidado, com a pro-
posta de você ter uma casa com obras de arte de 600 reais
a 16 mil reais. E de uma maneira mais despojada, dizendo
assim: ‘O mesmo valor que você tem para comprar uma
calça jeans, você compra um quadro, uma obra de arte... E a
calça jeans às vezes você usa duas vezes e não quer usar
mais. O quadro vai estar sempre lá’...”.
A casa-mostra deu tão certo que, desta vez a proposta foi
unir design e arquitetura, no intuito de endossar a discus-
são sobre a acessibilidade ao design encabeçada pelos or-
ganizadores do Design Weekend!. Montada especialmente
para o evento, a empreitada designística seguiu a mesma
linha do projeto anterior: “Pensei: por que não fazer algo
parecido, mas diferente, sabe? Mais parecido com isso de
ser mais acessível, de não elitizar tanto. Você pode fazer
uma coisa bacana, agradável e comunicar de um jeito di-
ferente. Porque tudo é comunicação: por exemplo, por que
você precisa de mais uma cadeira na sua casa? Você não
precisa de muita coisa, se for parar para pensar. Mas pre-
cisa ter coisas que são diferentes, que são emocionais, que
trazem alguma memória, que têm alguma razão. Nem que
seja pelo fato de ser funcional. E de uma maneira assim: sa-
ber porque aquilo esta ali, e usar isso para que você não te-
nha um entulho em casa, para que você tenha coisas boas
e interessantes.”
“Eu acredito em pequenos formatos e novas propostas, hoje é aqui e amanhã pode ser numa casa com piscina, com teto retrátil. Eu não gos-to de espaços corporativos, que não têm alma e que já trazem uma carga de informação de ou-tras coisas. [...] E quanto tem um espaço novo, cada espaço vai ser uma experiência, porque cada um vai ter uma composição. Às vezes tem objetos que funcionam aqui e em outros espa-ços não... Tem ambientes que o objeto não fun-ciona, você muda de lugar e, nossa, ganha uma vida!”
8787
que precisa disso, e quer pronto. Mas a proposta aqui não
é essa: na verdade aqui eu estou te abrindo um leque, sabe,
de várias cores. Pega a cor que você quiser, pega o formato
que você quiser.”, reflete a estilista, que vê na casa um san-
tuário, uma igreja, e tentou trazer a casa de verdade para o
mundo das mostras.
Saímos de uma conversa deliciosa um pouquinho mais
familiarizadas com o formato que não deixa de funcionar
como um questionamento sobre o que se vende e uma
resposta ao novo jeito de morar – porque para as mentes
inquietas de hoje, pouco importa o que tem dentro da casa,
o que importa é a rotatividade visual: “Eu gosto de fazer
uma mudança constante”, completa Camilla. A sensação
-de-tinta-fresca-nas-paredes (quem sabe desnecessá-
rias das mostras de design) bem que poderia contaminar
as mostras de arquitetura, de construção, de arte, de cine-
ma. A Design House configura-se como um convite e uma
reflexão: uma nova paleta de cores que abre novas combi-
nações para todo tipo de mostra. Uma cor de casa, uma cor
de novidade – das boas.
O escopo de uma mostra de arte anterior (que levou os
expositores até a Hong Kong) mais a combinação cinema-
-comida-leitura-arte foi o suficiente para garantir o suces-
so da Design House. A proposta é, assim como o Projeto
Rabbit, transformar o evento numa casa itinerante: “Hoje
ela está aqui na Alexandria, que é uma agência de bran-
ding, que tem esse viés de incentivar a arte e o design. Mas
amanhã pode estar em outros lugares.” O diálogo lúdico
com as outras áreas e um processo cuidadoso de cura-
doria foram fatores decisivos na concretização do projeto:
“Eu peguei o lado da moda que era totalmente conceitual
então, quer dizer, toda parte comercial que eu era zero, não
funcionava: eu ficava deprimida pensando ‘Ai, tenho que
fazer algo que vende’. Sabe quando você quer vender, mas
não quer? Você precisa vender. Porque, no início, o start de
qualquer processo de criação, é assim: é lindo e é diferente,
mas depois aquele que é lindo e diferente precisa ser ven-
dável, né?” E essa coisa toda de venda, design e Brasil tem
ainda um fator complicador, afirma a organizadora: “Por-
que quando a gente fala em mercado nacional, as pessoas
ficam com nariz torto e acham: ah, não, vai ser artesanato,
sabe? As pessoas têm um pouco de preconceito e querem
tudo gringo. Mas você que estimular, tem que dizer que
tem espaço no mercado nacional.” Para confirmar o ar-
gumento de Camilla e dar vida ao casarão escolhido para
abrigar a mostra, um time de pompa assinava as peças que
preenchiam a casa, Guto Requena, Rodrigo Almeida, Wag-
ner Archela e Rodrigo Reis são alguns dos nomes que figu-
raram na curadoria da estilista. A casa ainda contava com
uma criativa instalação da DMY Berlin, a semana de design
da capital alemã.
A multiplicidade de olhares dos exposito-
res compôs o suporte para um formato
mais vivo sem a pretensão de ter espa-
ços divididos: “Ter o quarto da criança, o
quarto do bebê, que eu acho que não é
a proposta. E eu não gosto desse tipo
de formato porque você engessa quem
compra e fala: “Ah, você tem que com-
prar isso!”. É o que eu acho que funciona
para multimercados, porque tem gente
A Design House se
propôs como uma experi-
ência de design. Tudo na tentativa de
trazer um ambiente mais próximo, não tão
frio quanto uma feira, não tão corporativo quanto
um estande. Tão aconchegante que pode ser chamado
de home em vez de house. A estilista-curadora brincou
com a funcionalidade das coisas: muito mais que vender, a
ideia era mostrar, expor, discutir e experienciar o design – que
veio acompanhado pra festa. Arte, gastronomia e cinema acom-
panhavam o combo de quem topava a experiência, que aconteceu
ao mesmo tempo que o Design Weekend!, numa casa anos 50, no
Jardins, em Sampa. A Terra da Garoa, cosmopolita na essência, não
poderia deixar de ser o abrigo primeiro de um evento de natureza ques-
tionadora, mas sem a chatice do âmbito acadêmico ou o merchandising
de um evento comercial. Utopia?! Quem sabe! Para um público seleto, no
entanto, a ideia é, nas palavras de Camilla, “uma nova saída de consumo,
uma nova saída de entendimento, uma nova saída de comunicação”. Nada
mais justo para um novo formato.
“Eu não vou dizer que design é tudo, mas é a grande maioria. O design é desenho, o design está em metrô, está nas ruas – com as devidas proporções, claro, não estou aqui generali-zando. Ele serve para deixar o mundo mais belo e mais prático.”
“Eu acho que o bom design é isso mesmo: uma peça atemporal. É igual com moda: aquela peça que você não sabe identificar se é anos 60, 50. Ela até causa uma certa estranheza, você não sabe se é bonito ou se é feio, mas ela serve para qualquer ambiente, ela é atemporal. Então a perfeição do desenho de design, de moda, de arte, é isso: não ser data-do, furar o tempo.”
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FASH
ION
IN H
OM
E
É para adocicar a moda, que estão aí, súper em alta, as Candy Colors, essas cores fofas
inspiradas em guloseimas. Elas tiram um pouco da “vivacidade” das cores mais fortes
e ditam um estilo romântico. E se estão nas passarelas e nas ruas, também viram ten-
dência para a decoração: as cores doces tomam conta dos móveis, fazendo qualquer
ambiente parecer mais “embonecado”.
Para as doceiras!
Garrafa Turiassu AmarelaOppa Designwww.oppa.com.brR$ 69
Cadeiras LaqueadasEstúdio Glóriawww.estudiogloria.com.brPreço sob consulta
Sunbeam Pattie Cupcake Makerwww.bettaelectrical.co.nzAproximadamente R$ 200
ColourPorcelainAritaJapanwww.1616arita.jpPreço sob consulta
Frigobar NGV 10 ColoridosWestwingwww.westwing.com.brR$ 799
89
Cadeira AntonietaDesmobíliawww.desmobilia.com.brR$ 480,00
Abajur Soul SeventyLemodistewww.lemodiste.com.brR$320
Pedestal Bom Bom RosaWestwingwww.westwing.com.brR$ 170
Almofada Birdswww.lemodiste.com.brR$180
90
Come back, magrela!
LIFE
STY
LE
Ela é tendência: de locomoção, de moda, de estilo de vida. A bi-cicleta está conquistando as ruas como um símbolo de meio de transporte responsável, viável e até moderno. Duas rodas que estão ditando um novo jeito de se locomover e aproveitar as cidades!
Por Marcele Antonio – Foto: Divulgação
91
Todo mundo já levantou as mãos para o alto e se rendeu aos encantos da bi-
cicleta. A marca Dolce & Gabbana até lançou uma maneira mais elegante de
andar pela cidade: uma bike toda estampada de oncinha! Entrando na onda
do cycle chic, agora dá para pedalar cheia de estilo!
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LIFE
STY
LE
Um dos meios de transporte mais simples e, ao mesmo
tempo, uma das invenções mais geniais da humanidade.
A bicicleta surgiu de uma forma e ressurge de outra. Foi
discriminada por muito tempo, depois que toda a tecno-
logia permitiu que os veículos motorizados invadissem as
ruas. Mas agora retorna de um jeito bem peculiar: como um
acessório símbolo de responsabilidade e estilo.
Andar de bicicleta é chique, gente! E por muitos motivos:
pedalar, em primeiro lugar, diminui a emissão de gases po-
luentes e ameniza o problema de trânsito saturado de ve-
ículos. Depois, é claro que trocar a ida ao trabalho de carro,
por uma locomoção by bicycle, significa mais atividade fí-
sica. Se essas vantagens não bastassem, agora, bicicleta
também é moda! Repare que ela começa a voltar para as
ruas e não só entre quem não tem carro e definitivamente
só tem a bicicleta como opção. O interessante da história é
que a magrelinha está conseguindo convencer muita gente
já viciada na locomoção motorizada a largar o carro na ga-
ragem e seguir rumo pedalando.
Foi assim com o projetista e vendedor Edward Richards,
que incluiu a bike na rotina há três anos. Morador da cidade
de Foz do Iguaçu, Edward sentiu necessidade de mudar o
meio de transporte, para conseguir mudar de vida: queria
dormir e trabalhar melhor, mas o sedentarismo não dei-
xava. As pedaladas foram a solução e começaram por in-
centivo de colegas. “Como algumas pessoas do trabalho
utilizavam a bicicleta, eu me empolguei e tomei a mesma
iniciativa”, conta.
Começou de levinho, mas se engajou na causa “bicicleta-
riana”: Edward é o membro fundador da ACCI (Associação
Ciclística Cataratas do Iguaçu) e hoje usa a bike para ir a
todo canto. “Utilizo a bicicleta para visitar clientes, vou para
o mercado, para o shopping, na casa de amigos e até mes-
mo buscar meu filho no colégio”, detalha, revelando que o
percurso diário chega a 20 quilômetros.
93
Claramente, a estrutura da cidade é que incentiva ou desa-
nima a prática do ciclismo. Nesse sentido, Foz do Iguaçu é
só elogios. “Foz é uma cidade com muito espaço nas vias,
parece que não, mas se formos comparar com cidades da
Holanda, Itália, Suécia e França que tem um número gi-
gantesco de ciclistas, nossas vias são de dar inveja, o que
falta é planejamento e vontade”, repara Edward. Para ele,
o maior empecilho ainda está no motorista, que se chega
a enxergar o ciclista, não o respeita. “O motorista vê o ci-
clista como uma barreira impedindo o carro de correr livre-
mente. Outro fator é a forma como os condutores de auto-
móveis tratam os ciclistas: com desprezo e ignorância, as
vias estão sujas e esburacadas e há um grande número de
ciclistas que não sabem a forma correta de pedalar, o que
prejudica muito”, descreve.
So vintage!
Estava ela lá, encostada na garagem, enferrujando e ocu-
pando espaço. Largada às traças a coitadinha da bicicleta.
Até que o estilo vintage, todo moderno por ser antiguinho,
roubou a bike enferrujada e a transformou em um objeto
da moda. É quase um grito da magrela, dizendo: “Ei, posso
ser muito estilosa!”. “A bicicleta é charmosa, são linhas tão
perfeitas, e as pessoas estão aprendendo a enxergá-los”,
comenta Edward.
A bike à moda antiga aparece em propagandas e entre fa-
mosos: a cantora Taylor Swift usou uma bike súperestilosa
em um de seus clipes, e o apresentador Luciano Huck é um
disseminador da filosofia das bikes: deixa estampado na
camiseta que bicicleta é o novo carro.
Na moda, a ordem é usar a bicicleta como um complemen-
to do look e mostrar que não é necessário sair de legging e
tênis para conseguir pedalar por aí.
94
LIFE
STY
LE Mochila sinalizadora
Outro equipamento facilitador da vida do ciclista é uma
mochila que garante muito mais segurança para quem
anda de bicicleta. Já pensou em conseguir usar sinalização
na bike, assim como nos carros e motos? Com uma mochila
sinalizadora, chamada Seil Bag, criada pelo designer core-
ano Lee Myung Su, é possível deixar as intenções de ma-
nobras do ciclista bem claras! De que forma? Com um con-
trole sem fio, que pode ser posicionado no guidão, o ciclista
consegue com apenas um toque indicar qual movimento
vai executar: o sinal é apresentado nas luzes de LED fixa-
das na mochila. Solução bastante viável para quem sentia
insegurança nas ruas, mesmos usando roupas chamativas
e sinalizando com as mãos. A mochila sinalizadora não está
disponível para a venda, mas bem que poderia estar logo,
logo ocupando todas as vias por aí, não é mesmo, ciclistas?
95
Capacete invisível
Quem olha pode até pensar que o ciclista está desprotegido. Mas tem muita proteção por aqui, a diferença é que ela está bem
escondidinha. Nada de capacetes grandes e desconfortáveis. A ordem da vez para os ciclistas modernos é andar livre de pa-
rafernálias na cabeça, mas ao mesmo tempo, mais protegido do que se estivesse com armadura. Como assim? As designers
suecas Anna Haupt e Terese Alstin criaram um capacete invisível, que só aparece quando é necessário. Funciona da seguinte
maneira: um colar de neoprene bem discreto é posicionado ao redor do pescoço. Nele, está embutido um airbag, que no caso
de acidentes infla, forma um capacete, recobrindo e protegendo a cabeça do ciclista. O mecanismo de ativação é controlado
por sensores que registram os movimentos anormais do ciclista em um acidente. Bacana, né? A ideia, que resolve o problema
de quem quer andar de bike sem perder estilo, era para ser só mais uma tese na universidade das designers, mas virou um
equipamento registrado, super útil e tecnológico.
Baby bicycle
Você quer largar o vício do carro, mas tem criança e não sabe como se locomover com
ela sem o veículo motorizado. No problems! Pelo menos em países à frente do Brasil, no
quesito mobilidade urbana, o transporte de bebês em bicicleta já não é mais transtorno.
As velhas cadeirinhas acopladas à bike agora dão lugar a um jeito bem mais seguro de
transportar as crianças em bicicletas. As tradicionais bicicletas de carga holandesas de-
ram origem a uma versão mais moderna, que tem um grande compartimento na frente,
uma espécie de berço, onde o bebê pode ser carregado tranquilamente!
96
ESTA
NTE
Metáfora arquitetônica
Tempo de Recomeçar conta a história dramática de um arquiteto
divorciado que descobre que vai morrer de câncer. As dificuldades
o levam a abandonar o emprego e destruir todas as maquetes que
fez, preservando apenas uma. O protagonista tenta, nesse tempo,
se reaproximar do filho adolescente e rebelde e, com ele, começa a
construir a casa de seus sonhos, para deixá-la de herança. História
emocionante de reconstrução de uma vida, contada por meio da
metáfora da construção de uma casa.
Opção para ler e decorar!
A Westing lançou edições diferenciadas de livros, que, nas
capas, possuem imagens clássicas! O conteúdo das obras
passeia pelo universo de artistas consagrados pela histó-
ria como Van Gogh, Goya e Da Vinci. Temas como padrões,
arquitetura e artes gráficas são abordados. Os livros estão
disponíveis em alemão, espanhol, francês e inglês.
Design e mobília na Alemanha
Mais do que nunca, Colônia será o ponto de encontro cen-
tral do mercado de móveis e design. Imm Cologne, evento
alemão, apresenta uma visão geral do mercado: são ex-
postos desde salas de estar e móveis de dormitório até
moveis de cozinha, desde a seção de preços baixos até os
melhores designs internacionais. Serão sete dias – de 14 a
20 de janeiro – de muitas novidades.
97
Hitler sob um novo foco
O ideal nazista retratado sob a ótica da cultura, da arte, arquitetura
e dos projetos urbanísticos. Arquitetura da destruição é um docu-
mentário produzido e dirigido pelo cineasta sueco Peter Cohen,
que descreve Hitler como um líder, mas a partir de um olhar dife-
rente: o de que o ditador era também um conhecedor da pintura,
chegando até a ser autor de algumas obras. Longa obrigatório para
quem deseja conhecer melhor a arquitetura alemã e todo o con-
texto histórico que a envolve.
Punta artística
As principais galerias de arte e artistas plásticos da Amé-
rica Latina e de outros países do mundo estão represen-
tados em Arte Punta, em Punta Del Leste. É um evento
multidisciplinar que tem como objetivo fomentar a arte
emergente. Pintura, escultura, fotografia, videoarte ou ins-
talações artísticas são expostas em um salão que possibi-
lita as relações comerciais entre os criadores e os museus,
instituições culturais e colecionadores. O evento acontece
entre os dias 10 e 14 de janeiro.
Decoração, mon amour
O ano já começa badalado quando o assunto é evento de
arquitetura e decoração. A cidade luz recebe em janeiro
mais uma vez a Maison & Objet. Essa é uma das principais
mostras de decoração da Europa. Exclusiva para o público
profissional, acontece em Paris duas vezes por ano, nas
dependências do Paris Nord Villepinte, centro de exposi-
ções da capital francesa. Entre os dias 18 e 22 de janeiro as
melhores novidades europeias vão ter vez. Mais informa-
ções pelo site http://www.maison-objet-projets.com/
100
ESP
ECIA
L
As raízes são alemãs, árabes e portuguesas, no entanto,
a motivação para o reconhecimento e fama tem a brasi-
lidade na veia. As curvas, seja da paisagem ou da mulher
brasileira, foram os insights para que uma nova arquitetu-
ra, inventiva e descompromissada, surgisse. Oscar Ribeiro
de Almeida de Niemeyer Soares não se importava com a
aprovação de seus projetos, mas sim, com o ineditismo de
cada obra. Em sua mente, o concreto armado foi explorado
com novas possibilidades, a partir do traço curvilíneo.
As curvas da bola também o encantaram. Ele morava no
bairro das Laranjeiras e, lá pelo ano de 1918, deixou as ruas
íngremes da zona sul carioca e foi parar nos campos do
Fluminense. Era atacante, mas emprestou seu gingado por
apenas três partidas na equipe infantil do clube. Por pouco
não foi parar na equipe rival, Flamengo. Para o bem de to-
dos e felicidade geral da nação – e do mundo -, Niemeyer
trocou a bola pela prancheta.
Formado engenheiro-arquiteto na escola de Belas Ar-
Diferente do que ele se autointitulava, Nie-meyer não foi alguém insignificante. Ele rompeu com a monotonia reta na carreira e na vida
Por Tátila Pereira – Ilustração: Tays Villaca
CAMINHOSINUOSO
101105revistaconstruarch.com.br
tes do Rio em 1934, sempre procurou o contraponto para
uma arquitetura que considerava comercial. A chance dada
para o ingresso na carreira veio de maneira despreten-
siosa: Niemeyer teve a oportunidade de fazer um estágio
não remunerado no escritório dos arquitetos Lúcio Costa
e Carlos Leão. A falta de pagamento no início foi bonifica-
da – e como! - quando o mesmo escritório proporcionou
a Niemeyer poder trabalhar ao lado de um dos maiores ar-
quitetos do mundo, o franco-suíço Le Corbusier, que veio
ao Rio de Janeiro, em 1936, para ajudar na construção do
Ministério da Educação. O discípulo, novo na profissão, mas
já com talento e inventividade à flor da pele, fez da oca-
sião uma escola, sendo aluno e professor. Influenciador e
influenciado, Niemeyer, anos depois, viria alcançar o seu
mestre, alçando-se também como uma das referências na
área.
Juscelino Kubitschek de Oliveira, ainda prefeito de Belo Ho-
rizonte, quis atrelar o seu ímpeto visionário ao de Niemeyer
e o convidou a projetar o Complexo da Pampulha, com um
cassino, a Casa do Baile, o clube, a igreja de São Francisco
de Assis e a sinuosidade inspirada nas montanhas minei-
ras. Mais tarde, JK, já Presidente do Brasil, pediu a ajuda do
arquiteto para colocar em prática seu plano de fazer o país
caminhar “50 anos em 5”. Assim, nascia a Capital Federal,
Brasília, com grande parte de seus prédios idealizados por
Niemeyer, com o Plano Piloto elaborado por Lúcio Costa.
O Comunismo foi o escudo encontrado por Niemeyer
para lutar contra as desigualdades do mundo e por sem-
pre destacar a efemeridade da vida. Levava a ideologia de
ESP
ECIA
L
tes do Rio em 1934, sempre procurou o contraponto para
uma arquitetura que considerava comercial. A chance dada
para o ingresso na carreira veio de maneira despreten-
siosa: Niemeyer teve a oportunidade de fazer um estágio
não remunerado no escritório dos arquitetos Lúcio Costa
e Carlos Leão. A falta de pagamento no início foi bonifica-
da – e como! - quando o mesmo escritório proporcionou
a Niemeyer poder trabalhar ao lado de um dos maiores ar-
quitetos do mundo, o franco-suíço Le Corbusier, que veio
ao Rio de Janeiro, em 1936, para ajudar na construção do
Ministério da Educação. O discípulo, novo na profissão, mas
já com talento e inventividade à flor da pele, fez da oca-
sião uma escola, sendo aluno e professor. Influenciador e
influenciado, Niemeyer, anos depois, viria alcançar o seu
mestre, alçando-se também como uma das referências na
área.
Juscelino Kubitschek de Oliveira, ainda prefeito de Belo Ho-
rizonte, quis atrelar o seu ímpeto visionário ao de Niemeyer
e o convidou a projetar o Complexo da Pampulha, com um
cassino, a Casa do Baile, o clube, a igreja de São Francisco
de Assis e a sinuosidade inspirada nas montanhas minei-
ras. Mais tarde, JK, já Presidente do Brasil, pediu a ajuda do
arquiteto para colocar em prática seu plano de fazer o país
caminhar “50 anos em 5”. Assim, nascia a Capital Federal,
Brasília, com grande parte de seus prédios idealizados por
Niemeyer, com o Plano Piloto elaborado por
O Comunismo foi o escudo encontrado por Niemeyer
para lutar contra as desigualdades do mundo e por sem-
pre destacar a efemeridade da vida. Levava a ideologia de
maneira ferrenha, tendo, inclusive, relação próxima com um
dos principais representantes comunistas ainda vivo, Fidel
Castro. Em 1964, Niemeyer foi surpreendido com o golpe
militar no Brasil durante viagem a Israel. Ao voltar ao país,
102
Ao falar da infância, Niemeyer recorria com frequência à própria imagem, quase 100 anos atrás, desenhando com o dedo – no ar. Como matéria-prima, a imaginação. Dizia que poderia idealizar um projeto inteiro na própria cabeça – sem lápis ou papel. A vivacidade dos traços e a inventividade nata foram notadas de longe por Le Corbusier: “Ele tem as montanhas do Rio dentro dos olhos.” Dos olhos e da alma – devoto das curvas e da forma livre, poetizou o modernismo e, de filho, leitor e espectador da corrente que mais uma vez vinha da Europa, inverteu a ordem canônica das coisas – passou ele mesmo a ser pai e expoente do movimento no Brasil e no mundo. De discípulo do arquiteto francês, compartilhou o altar e dividiu as honras com quem havia lhe ensinado. Mudou o curso das coisas – numa curva favorável ao Brasil e numa nova gramática das formas. “Eu diria que sou um ser humano como outro qualquer, que vim. Deixo a minha pequena história que vai desaparecer como todas as outras.”, dizia. Errou, cumprindo a sina de ser humano, e virou o século. Diria também que a intelectualidade é uma grande besteira. Era avesso à genialidade – mas era o adjetivo que recebia como eco de sua produção. Virou personagem no palco da arquitetura. Viveu um quinto da história do Brasil, tendo convivido de perto com os dirigentes e dirigidos dessa história – declarando-se abertamente a favor do segundo grupo – o coletivo, sempre, estava arrebatadamente estampado nas suas obras. Deixou seu nome cravado e desenhado no centro geográfico do Brasil – hu-mildemente e monumentalmente – sem ser um paradoxo. Paradoxos são conflituosos, Niemeyer não era. Seu traço era uma ruptura silenciosa com as formas tradicionais. Flutuou no século XX com a força imaginativa de uma criança. Afora venerações, recebeu críticas. A qualquer devaneio sobre seu esgotamento criativo, teria respondido – quem sabe – com um desenho. “Um homem comum que passou a vida debruçado na prancheta”, gostaria que dissesse um verbete de uma enciclopédia – e viu a extinção da enciclopédia física. Qualquer livro que quisesse ler, lá ia ele para um gravador – ouvia os livros. E muitos o ouviram. Muitos o leram – sem nem saber ler. Niemeyer não deixou de ser criança. Quando o mestre desenhava no ar, estava, na verdade, esculpindo o espaço. Agora, deu as mãos para o tempo. É muita audácia!
Por Julie Fank
Homenagem ao mestre Descrição de um homem
UNIQUE OFFICEN
OV
OS
EMP
REE
ND
IMEN
TOS
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Vista privilegiada com ar cosmopolita. Edifício Unique Office, um novo centro de atividades médicas e prestadores de serviço tem na sua localização um de seus diferenciais. As ações sustentáveis e a criteriosa seleção de materiais se aliam a um acabamento de alto padrão e tec-nologia de ponta. Um novo conceito em compo-sição de ambientes confere uma atmosfera de exclusividade e unicidade ao mundo corporati-vo. Para um público seleto, um empreendimento único.
Diferenciais:Possibilidade de pisos elevados;4 elevadores, sendo um privativo para proprie-tários;3 pavimentos de garagem;Infraestrutura para ar-condicionado split;Térreo decorado com lojas de serviço e pé direito duplo;Flexibilidade na montagem de layouts;Fachada com vidro refletivo.
Endereço: Rua Minas Gerais, ao lado do Hospital de Olhos. Cascavel, PR. Vendas: NBC ArquiteturaProjeto de Arquitetura: NBC ArquiteturaProjeto de Decoração: LTM Arquitetura e InterioresConstrução: Nastás Engenharia e Construções
www.nbcarquitetura.com.br(45) 3035 1139, (45) 9940-9995Rua Minas Gerais, 2062 - Ed. Day SaúdeCascavel, PR.
UNIQUE OFFICE
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PARA DESBRAVAR
LISBOAEM
SEISPISOS
É um hotel, mas também é quase um museu ou uma galeria. Por dentro dele, lisboa se conta atra-vés dos móveis, fotogra-fias e todos os elementos decorativos. Conheça o LX BOUTIQUE HOTEL, que coloca toda a com-plexidade da capital por-tuguesa dentro de um prédio e permite aos vi-sitantes uma viagem de-liciosa, antes mesmo de tirar os pés da cama
Por Marcele Antonio - Fotos Divulgação
REL
AX
108
Um hotel que prova que não é preciso sair do local de pou-
so, para começar efetivamente a conhecer a cidade. O Lx
Boutique Hotel faz a essência de Lisboa caber dentro de
um prédio e transforma a ideia de hospedagem: ficar nesse
lugar por uns dias, é adquirir um pouquinho mais de conhe-
cimento, é vivenciar mais a cultura e o modo de vida por-
tuguês. No hotel, cada cantinho conta um pouquinho mais
da história da capital portuguesa e leva o hóspede a via-
jar, mesmo que deitado na cama. É quase impossível não
se inspirar ao ler as frases soltas pelas paredes, ao ver as
fotografias bem pensadas e explorar a decoração criativa
e estratégica.
Para proporcionar o passeio pelo jeitinho português de vi-
ver, o hotel já começa pela fachada: nascido da restauração
das ruínas de um antigo edifício, o Lx Boutique preserva
as características seculares do prédio. A viagem continua
quando se chega à recepção: o décor com móveis clássi-
cos, além de quadros e tapetes, remete à antiguidade. Mas
nada supera a beleza inspiradora dos quartos. Neles, o des-
canso pode ir além: deitar em uma cama espaçosa, toda
contornada por objetos criativos dá gosto! Gosto de estar,
de dormir, de passar um tempo só relaxando.
São os aposentos cheios de personalidade, e toda a rique-
za histórica que compõe os ambientes que tornam o hotel
um alvo fácil dos casais, mas também de famílias inteiras
ou até mesmo de quem precisa trabalhar. Das sacadas, é
possível avistar toda a imponência de Lisboa... A experiên-
cia é o hóspede quem dita como vai ser: uma viagem pela
história da maior zona comercial de Lisboa ou talvez algo
mais sensorial através de um passeio ditado pelo tradicio-
nal ritmo musical português? Quem se hospeda por aqui
experimenta uma deliciosa passagem por seis pontos in-
teressantes da cidade: basta escolher em qual piso deseja
se instalar e dar o play para a viagem começar.
No primeiro dos seis pisos, chamado “Piso Baixa”, a ins-
piração vem do coração da capital portuguesa: a Baixa
Pombalina, a maior zona comercial de Lisboa, símbolo de
reconstrução da cidade que foi destruída por um terremo-
to em 1755. O nome se deve a quem decidiu pela sua cons-
trução: Marquês de Pombal. A Baixa é composta por ruas
perpendiculares que obedecem a um rigoroso plano urba-
nístico e possuem edifícios com arquitetura semelhante.
Já o andar “Tejo” é todo destinado a invocar o grande rio
que nasce na Espanha e banha Lisboa. Todos os quartos
REL
AX
Localizado na rua do Alecrim, em Lisboa, o
LX Boutique Hotel é resultado de uma refor-
mulação de um antigo prédio. Modernidade e
conforto foram acrescentados sem deixar lado
todo o aspecto histórico contido na edificação.
109
e corredores deste piso são compostos por elementos
decorativos que fazem alusão a essas águas que são tão
nostálgicas: quem olha para o Tejo hoje, relembra o quanto
ele foi movimentado na época áurea da expansão maríti-
ma.
E é claro: o hotel não poderia deixar de prestar homenagem
a Fernando Pessoa. Até mesmo porque, o genioso poeta
português perambulou pela rua do Alecrim, onde fica o LX
Boutique. Pelos aposentos desse andar, o hóspede pode
conhecer a interpretação única que Pessoa soube fazer da
cidade de Lisboa. E que tal tudo isso ao som de um som tí-
pico português? O “Fado Floor” é um andar todo inspirado
na música portuguesa e reúne toda a complexidade rítmica
e riqueza desse estilo musical.
As sete colinas que, segundo a lenda, rodearam Lisboa na
sua formação também servem de referência para um dos
pisos do LX Boutique, assim como o Bairro Alto, com suas
ruas estreitas e empedradas, que fica logo ali: bem pertinho
do hotel.
Decoração aliada com música só pode dar boa
coisa, né? Elegância, conforto e todo charme
de um quarto inspirado no ritmo musical por-
tuguês, o Fado!
Delicadeza presente neste quarto, que tem nada mais, nada
menos do que parte do rio Tejo como vista da varanda.
A maior suíte do LX
Boutique Hotel tem 35
metros quadrados e
uma visão deslumbrante
do rio Tejo. Qualquer es-
tadia fica melhor assim!
REL
AX
Quem escolhe os quartos de-
nominados “Citylights” apro-
veita uma estadia repleta de luz!
Pela varanda, o hóspede tem
ao alcance dos olhos toda a im-
ponência da noite em Lisboa: o
charme da luminosidade desta
cidade romântica!
114
BO
M A
PET
ITE!
O melhorterraço de ParisO pós-moderno restaurante Georges de-lineia um novo modo de pensar, ver e de-gustar a gastronomia
Por Tátila Pereira - Fotos Divulgação
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A ideia de unir arte com comida é saborosa por natureza.
A norma serve para quase todos os grandes museus do
mundo: finalizada a maratona cultural,vá ao encontro das
delícias gastronômicas que também merecem ser apre-
ciadas. Ou inverta a ordem, você é quem decide. Os res-
taurantes dos museus costumam ser uma atração à par-
te e, para não destoar da beleza das obras-de-arte, nas
cozinhas também são confeccionadas iguarias dignas de
serem contempladas. Assim como outras localidades, o
Restaurante Georges, na Cidade de Paris, também acopla
cultura e gastronomia, uma ótima oportunidade para con-
jugar diferentes sensações. Por falar em sensações, vamos
incitar o sentido da visão. Primeiro pela chegada ao nosso
point gastronômico desta edição. O Georges fica no quinto
andar do Centro Georges Pompidou. Ao ser observada de
longe, a estrutura metálica causa estranheza. O que seria
aquilo? Um compilado de andaimes? Faz parte do concei-
to buscado pelos arquitetos Renzo Piano e Richard Rogers,
que, depois de terem vencido um concurso público, patro-
cinado pelo Estado francês, em 1971, deixaram os parisien-
ses boquiabertos com a proposta da construção.
O conceito do edifício estava em expor por completo a sua
infraestrutura. O esqueleto encobre toda a construção em
seu exterior, mostrando todos os diferentes sistemas por
meio de um código cromático. Um viajante antenado logo
identifica o que seria próximo do desenho de uma malha de
metrô. Os componentes de ventilação maior foram pinta-
dos de branco, as estruturas da escada e do elevador são
cinza prata, a ventilação menor foi pintada de azul, os tubos
do encanamento e do controle de incêndio foram pintados
de verde, os elementos elétricos são amarelos e laranja, as
salas de máquinas do elevador e os eixos que dão movi-
mento ao edifício foram pintados de vermelho. Também
vermelha, a escada é um tubo que serpenteia até o topo
do edifício.
O Restaurante Georges foi projetado pelos arquitetos Do-
minique Jakob e Brendan MacFarlane e segue a mesma
linha do restante do complexo cultural. O auge do lugar
fica por conta não da culinária, mas pela vista do terraço:
o símbolo da cidade-luz, a Torre Eiffel, pode ser admirada
sem esforço de uma varanda. Em contraste, dentro do res-
taurante, as conchas de aço fornecem recantos mais pri-
vativos para os clientes, com iluminação intimista. A obra
pós-moderna se ampara na desconstrução de padrões
para se fixar como uma visão em meio à exuberante Paris.
Amplo, minimalista e até um pouco lunático... Na cidade em
que mais há o que se ver e se fazer, a competição é difícil,
mas, sem dúvida, Le Georges deve estar na bucketlist dos
viajantes amantes de arquitetura que deem uma passadi-
nha na capital francesa.
BO
M A
PET
ITE!
Mesmo com a modernida-
de das escolhas, o aspecto
romanesco de Paris não foi
abandonado. No entanto, até
mesmo a rosa ganhou novo
“ninho” no Georges, e tubos de
ensaio abrigam as flores sobre cada
mesa. Assim como as conchas, ou-
tros objetos ganham forma a partir do
aço, protagonista do décor. As mesas
também são feitas do material.
O aço está em primeiro plano na decoração. Trata-se de
um material que, quando escovado, absorve e reflete a
luz, reforçando a noção de fundo e amplitude.
BUCK
ET L
IST
Viajar no tempo ainda não é possível. Ou, quem sabe, seja: o Mu-
seu Ballenberg, localizado nos alpes suíços, reconstruiu 100 casas
antigas para contar, na prática, como era a vida em cada época
Por Clarissa Donda – Fotos: Divulgação
AULADE HISTÓRIANA SUÍÇA:UM MUSEU DEEXPERIÊNCIAS
120
BUCK
ET L
IST
Esse é o caso de Ballenberg: um museu localizado em
Brienz, bela região da Suíça próxima aos Alpes. São 100 ca-
sas antigas, dos séculos XVI a XIX, espalhadas por 600m2,
cada uma de uma região da Suíça, com suas peculiaridades
e tradições. E, como uma boa história contada, vai conquis-
tando e envolvendo aos poucos. Mas como essas casas
foram parar lá? Todas são originais, e uma vez descobertas
são oferecidas ao museu, que manda uma equipe de enge-
nheiros e historiadores avaliarem tanto o grau de conser-
vação da casa quanto os aspectos históricos da mesma e
das famílias que ali viviam. Após esse estudo, a casa é des-
montada e reconstruída, pedra por pedra, na área de Bal-
lenberg, e exposta à visitação. Reconstruídas fielmente, as
A famosa máxima que diz que “o lar é o reflexo dos donos” já não é de hoje. Afinal, é nos cantos escondidos das paredes,
móveis, arquitetura e decoração que está assinado, discreta ou exageradamente, o cotidiano mais íntimo de uma família, uma
sociedade, um povo. E que, tempos depois, são verdadeiras testemunhas vivas dos costumes, temores, hábitos e estilo de
vida de pessoas que há muito se foram. É bem verdade que, com uma descrição assim, uma visita a casas antigas não parece
muito apetecedor para um programa de férias. Mas como nem toda casa é só a fachada, um passeio desses, quando se dá uma
chance, pode ser surpreendente. E muito.
casas falam muito dos costumes da época – em especial,
do status social dos seus moradores – através de curiosi-
dades. As casas de famílias abastadas, por exemplo, reve-
lam algumas peculiaridades. Era no campo que ficavam as
famílias ricas – e se tem uma coisa que não muda nem com
o tempo, nem com o lugar, é a necessidade de ostentação
de riqueza e poder. E que, na Suíça dos anos 1600, era “es-
cancarada” na hora de construir as casas – em especial, as
paredes, com uma espessura que variava de 30 a 50 cm.
Isolamento térmico? Também, mas exibir uma parede de
50 cm de espessura é declarar, silenciosamente, que a fa-
mília é abastada o suficiente para “esbanjar” material de
construção, artigo caro para a época.
121
Esta casa, provavelmente pertencente a um militar,
exibe uma “varanda de fachada”, pintada sobre a parte
superior da casa – de longe, uma falsa demonstração de
status financeiro para os vizinhos.
Outra indicação de status eram os fornos à lenha (quan-
to mais nobre, maior e mais decorado), bem como o lugar
onde ficavam: luxo era ter mais de um forno, em especial na
cozinha, na sala de estar e no quarto. É frequente, nas ca-
sas de campo, a presença de um sótão enorme para arma-
zenamento de comida (indispensável para a sobrevivência
da família, especialmente para o inverno). Tamanho ali não
é documento: apesar de grandes por fora, poucas casas
tinham um segundo andar habitável, sendo sempre desti-
nado à comida. E como um segundo andar na casa para uso
como residência era artigo de luxo, não raro as famílias que
não podiam arcar com uma varanda e um segundo andar
originais, mas ainda assim, eram dotadas de algum sta-
tus, “fingiam” que tinham, pintando portais de varanda na
fachada superior da casa. Assim, ao ser avistada ao longe,
os proprietários poderiam ostentar para os outros vizinhos
a residência cara que tinham – até que um olho mais clínico
confirmasse de perto que a riqueza era, literalmente, só de
fachada.
122
Quase todas as casas suíças tinham um jardim – mas só as ricas podiam
dar-se ao luxo de plantar flores (as famílias humildes não tinham como
“desperdiçar” o espaço que tinham para plantar algo que não pudesse
servir de comida). Então, se a grama do vizinho fosse mais verde – e florida
– já era uma dica de que ele estava bem de vida.
A diferença entre as classes sociais e os hábitos de época
também se refletem no interior das casas. Pintar as pare-
des do interior das casas era sinal de boa saúde financei-
ra (afinal, podiam gastar com decoração e tinham mão de
obra para fazer o serviço). O teto também era um indica-
dor: o pé-direito era baixo o suficiente para não dispersar
o calor, mas alto o suficiente para permitir que as pesso-
as pudessem ficar totalmente de pé em todos os cômo-
dos das casas. Já nas casas humildes, não raro, o pé direito
dos cômodos era baixo, o que fazia com que um suíço um
BUCK
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IST
123
pouco mais alto tivesse que andar curvado em sua própria
casa. Era uma maneira de não gastar muito material de
construção e manter a casa ainda mais aquecida, já que a
espessura das paredes muitas vezes não dava conta so-
zinha. Banheiro? Ficava na casinha do lado de fora ou, para
economizar, no estábulo, junto com os animais. Para jun-
tar todo o cheiro ruim num lugar só. Os fornos para aque-
cimento existiam, mas nem sempre eram mais de um ou
davam conta de toda a casa. Quando isso acontecia, eles
ficavam na cozinha ou, ainda, dentro dos quartos. Os mo-
radores dormiam mais aquecidos – mas com a fuligem. Um
traço relativamente comum nas casas humildes é que mui-
tas não tinham chaminé, privilégio dos ricos. Considerando
que, no inverno, as janelas não eram abertas devido ao frio,
a fumaça e a fuligem da lareira ficava circulando dentro de
casa, junto com os moradores, que pelo frio ficavam reclu-
sos na maior parte do tempo. Deduz-se, então, a razão da
saúde precária de muitos e a alta incidência de problemas
respiratórios entre os pequenos agricultores suíços do
século XVII. Mas, já que não havia chaminé, a sotlução era
aproveitar a fumaça que ficava presa nos tetos das casas
e ali, pendurar linguiças para serem defumadas. E depois,
armazená-las para o inverno ou vender.
Ainda sobre a ausência de chaminés: como, nesses casos,
a tendência da fumaça era (e ainda é) subir para o teto, as
camas das famílias humildes ficavam quase no chão, onde
o cheiro da fumaça era (pouco) menos forte – e, de quebra,
economizava-se madeira. Outra coisa: como era comum
que pessoas morressem de problemas respiratórios den-
tro de casa (e a posição de um morto é, invariavelmente,
deitada), havia uma crença popular de que se alguém dei-
tasse ao dormir poderia não acordar mais. Então, era hábi-
to das famílias humildes dormirem mais ou menos “senta-
das”, ou encostadas, de modo que o corpo nunca ficasse
totalmente na horizontal. As camas, logo, eram mais “cur-
tas”, exatamente para não permitir que alguém dormisse
totalmente deitado sobre elas. E, com isso, mais economia
de madeira.
A equipe de Ballenberg procura “recriar” algumas condi-
ções de vida dos antigos suíços destes séculos, de modo
que o visitante possa vivenciar algumas experiências de
forma mais “sensorial”. É assim com os estábulos (cheios
de animais e, portanto, com seu cheiro característico), nas
selarias e, lógico, nas casas. Então, uma das casas ditas
“humildes” é fechada e com o forno aceso, de modo que os
visitantes são convidados a ficar alguns minutos ali dentro.
Não precisa muito para a garganta secar, os olhos arderem
e o pulmão pedir para sair. O alívio de sair dessa sensação
de sufocamento é enorme – mas duas bufadas no ar puro
fazem a gente pensar (agora, com uma solidariedade de
quem sentiu na pele) como era difícil a vida de quem mora-
va ali há 300 anos atrás. E isso não se aprende em nenhum
livro de História.
Tanto a linguiça defumada como os pães, queijos e cho-
colates produzidos em Ballenberg – todos, seguindo fiel-
mente as mesmas técnicas e ferramentas usadas séculos
atrás -, podem ser comprados na lojinha do museu. Cada
item, ali, transcende a mera questão de ser um souvenir de
viagem: é a chance de experimentar, literalmente, os au-
tênticos produtos de fazenda suíços, mas de uma fazenda
de 1650!
O resumo da ópera? Ballenberg surpreende. É um progra-
ma para quem gosta de história, e prova de que casas an-
tigas e suas histórias falam mais da história de um país do
que muito guia de viagem. É, ao mesmo tempo, uma imer-
são e experiência. E o resto é ir lá para ver, pessoalmente.
E, de preferência, com guia, porque o melhor de mergulhar
na História é ouvi-la sendo contada, sempre.
Jardins floridos eram sinônimo de status,
contraste com as simples plantações de
legumes das famílias mais humildes
124
SKET
CH M
AP Janaína
Calaça é escritora e blogueira do Jeguiando, blog no qual ela conta as andanças dela, do marido e do jegue de estimação. Para ela, ousa-dia é ter coragem de ex-perimentar e reinventar--se, principalmente quando se trata de viagem!
Curitiba, ParanáApesar de Curitiba não se ver como um forte destino tu-
rístico, a cidade reúne vários parques e é atraente princi-
palmente pelos seus conjuntos e monumentos arquitetô-
nicos, como a Ópera de Arame, o Museu Oscar Niemeyer
e o Jardim Botânico. Sua ousadia está em mesclar, o tra-
dicional, com o moderno e a busca pela manutenção de
suas áreas verdes, além de ser a primeira capital
brasileira a implantar um sistema inovador para
conhecer a cidade sem prender o turista a
grupos: a jardineira, que circula por uma
linha especial e passa de meia em meia
hora nos pontos, ou seja, o viajante esco-
lhe o que quer ver, de forma livre, em seu
tempo e em seu ritmo.
Península do Maraú, BahiaPróxima ao badaladíssi-
mo destino turístico de
Itacaré, a Península do
Maraú, localizada na
Baía de Camamu, vive
principalmente do turismo
e da renda que este gera,
mas resiste à massificação
assim como Bonito. De ruas de terra,
pontuadas de casinhas dos locais, de restau-
rantes tocados em sua maioria por habitantes e
pousadinhas familiares, são poucos os grandes
empreendimentos. O destino reúne lindas praias,
é próximo de ilhas paradisíacas e, além de tudo,
ainda está resguardado do turbilhão descon-
trolado de turistas.
São Luiz do Paraitinga, São Paulo
Pontuada por casas de es-
tilo colonial, muitas delas
erigidas entre os sécu-
los XVIII e XIX, São Luiz
do Paraitinga conserva
a memória da época das
bandeiras em suas ruas e o
ritmo pacato e desacelerado
das cidadezinhas. Apesar de sofrer
constantemente com enchentes, devido à sua
localização às margens do Rio Paraitinga, quem vive lá não
abandona a cidade de jeito algum, apesar de vê-la, diver-
sas vezes debaixo d´água.
Bonito, Mato Grosso do SulApesar das inúmeras tentativas ex-
ternas de fazer a cidade crescer e
de receber mais turistas, a popu-
lação de Bonito continua firme
em manter um crescimento lento
e controlado, para que as futuras
gerações possam ter acesso às
belezas naturais do lugar. A cidade é refe-
rência em turismo no Brasil, pelo seu sistema in-
tegrado de voucher – serviço pioneiro no país.
BichinhoLocalizado a pou-
co mais de 4 km de
Tiradentes, Bichinho é
um pequeno vilarejo mi-
neiro, cuja ousadia encontra-
-se associada à sua capacidade de se
reinventar. De povoado pobre à referência
em arte, artesanato e móveis, Bichinho
é ousado por buscar no talento de seus
habitantes, grandes artistas e artesãos,
uma forma especial de subsistência. Suas
peças são vendidas por todo o Brasil.
Por: Janaína Calaça - Fotos: Acervo pessoal
126
Fábio Galeazzo tinha vontade de desvendar o oceano quando era criança. Mesmo sem ter realizado esse
sonho, conseguiu ter uma profissão que também tem a descoberta como atrativo. O arquiteto que deu
seus pitacos na seção Bate-Papo, acha que morar é ter um lugar para silenciar a mente, alimentar a alma e
guardar suas memórias.
Janaína Calaça é blogueira de viagem do Jeguiando.com em tempo integral e já que não pode viver em cada
lugar do mundo, traz o mundo para dentro de casa. Sua morada é pontuada de lembranças que traz de suas
viagens, assim como livros e filmes que a reportem para outros lugares. Para ela, morar é ocupar um espaço
com um pouco de si mesmo, é trazer para o lugar que te cerca uma extensão sua. Morar é ampliar-se.
Marcele se aventurava a fazer desenhos quando criança, mas o gosto pela escrita falou mais alto. Decidiu
que ia ser jornalista para escrever sobre novas histórias. Na revista, descobriu que poderia unir o hobby do
desenho com a paixão pelas palavras. Se pudesse, desenharia a casa em que deseja viver, já que para ela,
morar é traduzir a personalidade em espaços.
Gracieli é arquiteta e urbanista e, como especialista na área, ela define morar como um conjunto de fatores:
o importante é estar bem, ter conforto, paz, harmonia, segurança, sentir-se acolhida belo próprio ambiente,
ter aquela sensação gostosa que só a casa da gente tem! Morar bem é estar feliz, simples assim!
Ele é o responsável por toda diagramação da revista. A inspiração para deixar tudo visualmente impecável
é sempre facilitada pelo ambiente onde se está criando. Por isso, na agência comandada por este diretor
de arte, a decoração incita a criatividade. Já em casa, André é espaçoso: gosta de ter um amplo lugar para
receber amigos.
Clarissa é viajante profissional. Difícil essa vida, né?! E como uma boa cidadã do mundo, ela acha que morar
é encontrar aquele lugar que você olha e diz: “putz, esse é o meu lugar e é aqui que eu quero ficar...” - e isso
não precisa ser, necessariamente, a sua casa.
Julie é quem segura as pontas, como nossa Diretora de Redação, e dá o direcionamento para todo esse
time. Para ela, morar é construir, pregar, guardar, expor uma coleção de referências às quais a gente recorre
quando está em dúvida sobre quem a gente é.
Isadora Carneiro é quem dá movimento à Revista. Essa filmaker tem um olhar apurado. Filma aqui, edita ali
e os personagens ganham destaque não só em nossas páginas, como também pela internet afora. A casa
dela deve ser um lugar bastante autêntico e confortável: para ela morar é saber utilizar o espaço para seu
próprio benefício.
Café, livros e um lugar aconchegante são os itens de sobrevivência na vida desta jornalista. É esse conforto
e esse sossego, que Giovana espera de um bom lugar para se morar, para que haja um equilíbrio com a agi-
tada vida profissional: ela é da TV, do rádio, já foi da internet e, agora, também é da revista.
Tátila acha incrível o que os arquitetos fazem. Considera lindo poder fazer com que as linhas de um esboço
se transformem em um lugar para viver, trabalhar, visitar ou apenas apreciar. Já que ela não foi agraciada
com esse dom, melhor focar na escrita mesmo – já que é para ser jornalista que ela está estudando.
COLA
BO
RA
DO
RES
O jeito extrovertido de Carol faz toda diferença nas páginas da ConstruArch. Como estagiária em publici-
dade, Carol dá cor e vida a muitas reportagens e anúncios da revista. Só pelo jeito dela, já fica fácil perceber
que para ela, uma boa moradia pede uma decoração estilosa. Ah, com um toque todo japonês se possível!”
Ela é tão artista que até compõe, desenha e canta. No meio de tudo isso, ela é designer. Pra ela, morar é
como plantar. Criar raízes, cultivar histórias, nascer frutos e desenvolver a vida. O Lar é base. É o porto para
quando precisamos descansar. Foi a Tays Villaca quem topou o desafio de ilustrar nossa homenagem a Os-
car Niemeyer - que também entendia muito bem de desenho.
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ON
DE
ENCO
NTR
AR
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Centro Georges Pompidou19 Rue Beaubourg 75004 Paris, França+ 33 (0)1 44 78 14 63www.centrepompidou.fr
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BAT
E-PA
PO
Fabio Galeazzo é proprietário e diretor criativo da Galeazzo Design e consultor em design estratégico para empresas do segmento de design e decoração
OLHAR CANÔNICO OLHAR CONTEMPORÂNEOx
O mundo passa por um período de grandes mudanças eco-
nômicas e socio comportamentais Com a customização
da tecnologia,entramos na era do “Renascimento Digital”,
rompendo com os paradigmas conhecidos e dominados
pelo homem. A comunicação, antes disseminada de forma
linear, passou a ser randômica, pipocando rapidamente por
todo mundo. Na arquitetura, percebemos um grande salto,
o comportamento do homem e seus significados passa-
ram a ser a matéria-prima para novos conceitos do morar
e assim deixamos de ser regidos somente por questões
funcionais e estéticas. A casa vem se tornando um gran-
de laboratório na busca por um espaço seguro para se
viver e conviver. A sustentabilidade, o retorno às origens,
o pertencimento, o edulcoramento e a busca pelo prazer
são alguns dos comportamentos que têm gerado inspi-
rações. O resgate dos materiais naturais, como a pedra, a
madeira, o bambu, é outra forma de conectar o homem à
sua essência original, assim como a tecnologia abriu ca-
minhos para o desenvolvimento de materiais de última
geração que evoluem e impulsionam a forma do morar,
anunciando um futuro sem volta. O período é de experi-
mentos. Reflete-se na liberdade de expressão das formas
que transitam das linhas retas herdadas do modernismo a
novas propostas como construções que lembram ninhos,
cabanas, caixas, ocas, etc., providas de conforto e conecta-
das ao mundo digital. O homem contemporâneo ficou mais
informado e exigente, o que está refletido na busca de um
espaço único e com personalidade. Esse processo tem ge-
rado um dos momentos mais criativos no setor, nunca se
presenciou tantas construções diferenciadas, verdadeiras
obras-primas. O ar de estranhamento é inevitável: “É lindo,
mas…”. Esse estranhamento é previsível e o crescimento
de propostas diferenciadas demonstra o início da ruptu-
ra com padrões tradicionalistas, indicando que estamos
em direção a um novo momento do desenvolvimento, no
qual o homem finalmente guinda a casa ao status de tem-
plo como uma projeção de si mesmo. Afinal, se o corpo é a
morada da alma, nada mais óbvio do que a casa ser morada
desse corpo e, portanto, a casa ser a projeção da alma e se
manifestar de forma individualizada, diferenciada, contem-
porânea.