Até então...
A TCC apresenta um modelo conceitual simples para o fenômeno de formação
de compostos de coordenação que pode ser empregada ainda para interpretar
propriedades magnéticas, espectroscópicas e termoquímicas através dos
valores encontrados para ΔO.
Problemas e Limitações:
• Trata os ligantes como pontos de carga ou dipolos, não levando em
consideração o enlace de seus orbitais com os do centro metálico.
• Não fornece uma explicação sobre qual a razão da ordem em que os
ligantes estão dispostos na série espectroquímica.
2
Teoria do Campo Ligante - TCL
A TCL consiste então na aplicação da teoria dos orbitais moleculares (já comum
para moléculas mais simples e não metálicas como o O2, por exemplo) à
compostos de coordenação.
Foi proposta por J. S. Griffith e L. E. Orgel em 1957 pela combinação das ideias
da Teoria do Campo Cristalino e da Teoria dos Orbitais Moleculares aplicados
em complexos.
Principal evidência: O Efeito Nefelauxético
Indica, indiretamente, que existem elétrons sendo compartilhados entre os orbitais
metálicos e dos ligantes, pois experimentalmente verifica-se que a repulsão elétron-
elétron em um complexo é menor quando comparada ao respectivo íon livre.
3
Explicação: As repulsões elétron-elétron caem devido a expansão da nuvem
eletrônica, pois orbitais atômicos (menores) dão lugar a formação de orbitais
moleculares (maiores).
Efeito Nefelauxético = Expansão da Nuvem Eletrônica
Evidência experimental: O espectro de RPE do complexo K2[IrCl6]
O desdobramento hiperfino observado no espectro ao lado
resulta do acoplamento dos momentos magnéticos de spin
dos ligantes com os momentos magnéticos dos spins
eletrônicos do metal.
Para que tal acoplamento ocorra, o espaço ocupado por estes elétrons deve ser
comum tanto para o ligante quanto para o complexo, por isso um orbital molecular. 4
Revisão: Orbitais moleculares
Para a formação de uma molécula diatômica simples (H2, por exemplo) a
combinação linear de funções de onda Ψ± = χA ± χB fornece duas soluções
possíveis:
Ψ+ = χA + χ B
Ψ- = χA - χ B
- interferência construtiva dos orbitais
- interferência destrutiva dos orbitais
Ψ+ = χA + χ B
Ψ- = χA - χ B
χA χ B
5
Probabilidade: Orbitais moleculares do H2
YA YB
YA + YB
|YA + YB|2
OM ligantes
YA YB
YA - YB
|YA - YB|2
OM anti-ligantes
6
O diagrama de orbitais moleculares
E
energia
χ B χA
Ψ+
Ψ-
Onde χA e χB são os orbitais atômicos e Ψ+ e Ψ-
são os orbitais ligante e antiligante,
respectivamente.
O diagrama de orbital molecular do H2
E
energia
Ha Hb
Obs.: Em alguns casos é possível a
geração de orbitais moleculares com
a mesma energia de um orbital
atômico. Este orbital é dito não-
ligante.
7
Diagrama de OM da molécula de flúor (F2).
E
energia
2σu*
1σg
9F: 1s2 2s2 2p5
2πg*
1πu
4σu*
3σg
2s
2p
2s
2p
1σg
2σu
3σg
1πu
2πg
4σu
8
Um modelo simples (TLV): A formação do BeH2
4Be2+ - 1s2
1H1- - 1s2
1s2 2p0
Estado fundamental
2s0
orbitais híbridos do tipo sp
Em termos de orbitais moleculares temos:
σ
σ* E
sp
2p
Be2+ H-
σ
σ*
não ligante
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Orbitais Moleculares de Compostos Octaédricos
Para aplicarmos a TOM em complexos podemos utilizar o método das
combinações lineares de simetria adaptada (em inglês SALCs).
Parte I – Interação Metal-Ligante do tipo σ (sigma)
Considere a formação de um complexo octaédrico nos quais cada ligante (L)
possui uma ligação simples com o centro metálico em questão. Neste caso os
orbitais do átomo central se dividem em 04 (quatro) grupos distintos:
10
Com a formação de um complexo, 06 (seis) combinações lineares de simetria
adaptada compatíveis (mesma paridade) são detectadas:
a1g: σx + σ-x + σy + σ-y + σz + σ-z
s
t1u: σx - σ-x
px
t1u: σy - σ-y
py
t1u: σz - σ-z
pz
11
eg: σx + σ-x - σy - σ-y
dx2-y2
Note que os orbitais triplamente
degenerados t2g do centro metálico (dxy, dxz,
dyz) estão entre os eixos cartesianos e, por
isso, não interagem construtivamente para a
formação de combinações lineares.
eg: 2σz + 2σ-z - σx - σ-x - σy - σ-y
dz2
12
A Construção do Diagrama de Orbitais Moleculares – Complexos Oh
En
erg
ia
a1g
a1g*
4s (a1g)
4p (t1u)
3d (eg + t2g) Orbitais dos
ligantes
(a1g + t1u + eg)
t2g
t1u
t1u*
eg
eg*
Δo
t2g
eg* O mesmo da
TCC!!!
13
Exemplo 1: O complexo [Co(NH3)6]3+
En
erg
ia
t1u
a1g
t1u*
t2g
a1g*
eg
4s (a1g)
4p (t1u)
3d (eg + t2g) Orbitais dos
ligantes
(a1g + t1u + eg)
eg*
t2g
eg*
Δo
Co3+
(d6)
14
Exemplo 2: O complexo [CoF6]3-
En
erg
ia
t1u
a1g
t1u*
t2g
a1g*
eg
4s (a1g)
4p (t1u)
3d (eg + t2g) Orbitais dos
ligantes
(a1g + t1u + eg)
eg*
t2g
eg*
Δo
Co3+
(d6)
15
Parte II – Interação Metal-Ligante do tipo π (pi)
Três tipos de orbitais presentes em ligantes são aptos (simetria e energias
compatíveis) para efetuarem ligações π com os orbitais d do centro metálico:
Como a ligação π ocorre entre eixos cartesianos, neste caso os orbitais metálicos
t2g (dxy, dxz, dyz) terão condições de interagir com orbitais de simetria adequada
presentes nos ligantes.
16
São aqueles que possuem orbitais de simetria π entorno do eixo de ligação M–L já
preenchidos por elétrons. Os íons Cl-, Br-, OH-, O2- e H2O são exemplos típicos.
Ligantes do tipo π-doadores (ou π-básicos)
Δo
eg*
t2g
t2g*
Os elétrons π dos ligantes são depositados
nos OM t2g ligantes, enquanto os elétrons d
do centro metálico irão ocupar o nível
energético dos OM t2g antiligantes, fazendo
com que o valor de ΔO seja reduzido.
π
En
erg
ia
Δo
t2g
eg*
t2g
Metal Ligante
17
São aqueles que possuem orbitais de simetria π entorno do eixo de ligação M–L
vazios e, desta forma, podem receber elétrons provenientes do metal. Compostos
tais como CO, CN-, N2, R2S e PR3 são exemplos típicos destes ligantes.
Ligantes do tipo π-aceptores (ou π-ácidos)
Δo
eg*
t2g
t2g*
Como o OMs t2g* possui energia elevada
(maior caráter de ligante) são os OMs t2g
que irão acomodar os elétrons oriundos
do metal (maior caráter metálico). Neste
caso o valor de ΔO será então acrescido.
π
En
erg
ia
eg*
Δo
t2g
t2g
Metal Ligante 19
A Série Espectroquímica e a Teoria do Campo Ligante
I- < Br- < S2- < SCN- < Cl- < NO3- , F- < HO- <
ox2- < OH2 < NCS- < CH3CN < NH3 < en <
bpy < phen < NO2- < PR3 < CN- < CO
Ligantes de
“campo fraco”
Ligantes de
“campo forte”
Agora é possível notar que ligantes π-básicos são tipicamente fracos, pois
reduzem a magnitude de ΔO, enquanto ligantes π-ácidos são tipicamente de campo
forte, pois o valor de ΔO é acrescido após o enlace entre os orbitais metálicos e os
orbitais do ligante.
Aumento do ΔO
π-básicos < π-básicos fracos < σ típicos < π-ácidos
I-, Cl-, Br-, F- OH2 NH3 PR3, CO
21
Evidências Experimentais da ligação π em complexos
Uma técnica analítica bastante útil para detectarmos a presença de ligações π em
complexos é a espectroscopia na região do infravermelho (IV).
23
A absorção de radiação infravermelha pela tripla ligação do ligante CO isolado é
em 2143 cm-1, entretanto é detectado significativas variações deste valor em
diferentes carbonil-complexos.
Ligações π em carbonil-complexos
Composto Frequência (cm-1)
[Mn(CO)6]+ 2090
[Cr(CO)6] 2000
[V(CO)6]- 1860
[Ni(CO)4] 2060
[Co(CO)4]- 1860
[Fe(CO)4]2- 1790
Considere as duas séries de compostos isoeletrônicos descritos abaixo:
Nox do metal Elétrons d
26
π
Os resultados indicam que quanto mais elevado o nox do metal (maior deficiência
eletrônica) menor é sua capacidade de efetuar a chamada retrodoação
eletrônica. A situação inversa também é observada.
Desta forma é possível, através da
técnica de IV, inferir sobre a ordem
de ligação do sistema M–C–O de
maneira indireta.
Sem retrodoação; CO com maior caráter de tripla;
> νC-O no IV
Com retrodoação CO com maior caráter de dupla
< νC-O no IV
27
Competição de ligantes por elétrons π
Considere dois complexos octaédricos com o seguinte arranjo espacial de ligantes:
No caso (a) a retrodoação irá ocorrer em ambos os sentidos ao longo de um eixo
OC–M–CO, pois temos o mesmo ligante com mesmas características π-aceptoras.
π π 28
No caso (b) a retrodoação irá ocorrer de maneira desigual ao longo de um eixo
OC–M–L se o ligante L não for um forte π-aceptor.
π π
O processo todo pode ser explicado pela análise das seguintes formas canônicas:
Se o ligante L for CO, ambas as formas canônicas (a) e (b) irão contribuir
para o híbrido de ressonância (50% de retrodoação para cada ligante). Caso
L não seja um forte pi-aceptor, a forma canônica (b) será a preponderante.
29
Exemplo 1: Análise de uma série de compostos de carbonil-molibdênio no IV.
Composto Frequência (cm-1)
ν1 C–O ν2 C–O Diferença
[Mo(PCl3)3(CO)3] 1989 2041 52
[Mo(PϕCl2)3(CO)3] 1943 2016 73
[Mo(Pϕ2Cl)3(CO)3] 1885 1977 92
[Mo(Pϕ3)3(CO)3] 1835 1949 114
[Mo(py)3(CO)3] 1746 1888 142
[Mo(dien)(CO)3] 1723 1883 160
Através destes números, é possível verificar o grande poder π-aceptor das fosfinas,
pois estas competem fortemente pelos elétrons π do metal, logo a ordem de ligação
CO não é demasiadamente reduzida.
Como o ligante dien (típico σ-doador) não compete pelos elétrons π do metal, a
ordem de ligação CO é significativamente reduzida via retrodoação.
30
Juntamente com outros exemplos, foi possível montar uma série de ligantes de
acordo suas capacidades π-aceptoras:
NO > CO ≈ RNC ≈ PCl3 > PCl2OR > PCl2R
> PBr2R > PCl(OR)2 > PClR2 > P(OR)3 >
PR3 ≈ SR2 > RCN > o-phen > alquil-aminas,
éteres, álcoois
Fortes
π-aceptores
Fracos
π-aceptores
Nota-se claramente o efeito de vários fatores na composição da lista acima, dentre
estes, a eletronegatividade se destaca, juntamente com o efeitos eletrônicos
doadores e retiradores.
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Exemplo 2: Análise estrutural de uma série de compostos de carbonil-cromo.
Ligação (pm) [Cr(Pϕ3)(CO)5] [Cr(POϕ3)(CO)5] trans-[Cr(POϕ3)2(CO)4]
Cr–P 242,2 230,9 225,2
Cr–C (trans ao P) 184,4 186,1 -
Cr–C (trans ao CO) 188,0 189,6 187,8
C–O (trans ao P) 115,4 113,6 -
C–O (trans ao CO) 114,7 113,1 114,0
A ligação Cr–P é menor para o complexo
fosfito indicando maior retrodoação para
o cromo, uma vez que o ligante fosfito é
possui um maior poder π-aceptor que os
ligantes fosfino.
32
Orbitais Moleculares de Compostos Tetraédricos
A TOM também pode ser aplicada em complexos tetraédricos via método das
combinações lineares de simetria adaptada (em inglês SALCs).
Considere a formação de um complexo tetraédrico nos quais cada ligante (L)
possui uma ligação simples com o centro metálico em questão. Neste caso os
orbitais do átomo central se dividem em 04 (quatro) grupos distintos:
Parte I – Interação Metal-Ligante do tipo σ (sigma)
Orbitais metálicos Simetria Degenerescência
s a1 1
dx2-y2, dz2 e 2
dxy, dxz, dyz t2 3
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Com a formação de um complexo, 04 (quatro) combinações lineares de simetria
adaptada compatíveis (mesma paridade) são detectadas:
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A Construção do Diagrama de Orbitais Moleculares – Complexos Td
En
erg
ia
a1
a1*
4s (a1)
4p (t2)
3d (e + t2)
Orbitais dos
ligantes
(a1 + t2)
e
t2
t2*
t2*
e
O mesmo da
TCC!!!
t2*
36
En
erg
ia
t2
a1
t2*
t2*
a1*
4s (a1)
4p (t2)
3d (e + t2)
Orbitais dos
ligantes
(a1 + t2)
e
t2*
e
O mesmo da
TCC!!!
Exemplo 1: O complexo [Cu(NH3)4]2+ - (apenas ligações σ)
Δo
Cu2+
(d9)
37
Exemplo 1: O complexo K2[PdCl4] - (apenas ligações σ) E
nerg
ia
1b1g
1a1g
1eu
s (a1g)
px, py
Orbitais dos
ligantes
(a1g + eu + b1g)
Δ
dz2
(a1g)
dx2-y2
(b1g) (b2g) (eg)
dxy dxz, dyz
b2g eg
2a1g
1b1g
a2u eu
pz
a2u
3a1g
1eu
b2g eg
2a1g
1b1g
Pd2+
(d8)
40