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7 1. INTRODUÇÃO No Sítio do Pica pau Amarelo encontramos coisas surpreendentes que desafiam a compreensão daquele leitor que analisar a obra desprevenido, ou com expectativas de encontrar apenas um sítio, como outro qualquer. De fato esse sítio não é qualquer sítio. O que o leitor encontra no Sítio do Pica-Pau Amarelo é um espaço de reflexão, onde Monteiro Lobato retrata diversas questões pertinentes a época, além alguns aspectos de sua própria vida e personalidade. Este trabalho possui o intuito de analisar a obra, destacando um tema específico, no caso, o capítulo “A Gramática da Emília”, levantando assim questões sobre os personagens, e principalmente sobre a personagem Emília. A escolha deste capítulo se deu devido à didática presente no mesmo, fato que podemos observar não só neste capítulo como também em todos os outros da série. Em paralelo com o tema do trabalho há a pesquisa de campo, onde foram elaboradas questões para serem levadas às ruas da cidade de São Paulo. A pesquisa possui o intuito de analisar os níveis de fala da população, analisando pessoas das classes A, B, C, D e E. O tema desta foi elaborado a partir do tema deste trabalho, onde pudemos perceber a preocupação de Monteiro Lobato com a questão da educação, e portanto esse foi o tema que utilizamos para realizar as 50 entrevistas necessárias, das quais destacamos 10 para análise.

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Monografia sobre o Sítio do Picapau Amarelo e análise da fala dos entrevistados - Profª Drª Roseli Figaro - Língua Portuguesa, Redação e Expressão Oral 1

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1. INTRODUÇÃO

No Sítio do Pica pau Amarelo encontramos coisas surpreendentes que desafiam a

compreensão daquele leitor que analisar a obra desprevenido, ou com expectativas de

encontrar apenas um sítio, como outro qualquer. De fato esse sítio não é qualquer sítio. O que

o leitor encontra no Sítio do Pica-Pau Amarelo é um espaço de reflexão, onde Monteiro

Lobato retrata diversas questões pertinentes a época, além alguns aspectos de sua própria vida

e personalidade.

Este trabalho possui o intuito de analisar a obra, destacando um tema específico, no

caso, o capítulo “A Gramática da Emília”, levantando assim questões sobre os personagens, e

principalmente sobre a personagem Emília. A escolha deste capítulo se deu devido à didática

presente no mesmo, fato que podemos observar não só neste capítulo como também em todos

os outros da série.

Em paralelo com o tema do trabalho há a pesquisa de campo, onde foram elaboradas

questões para serem levadas às ruas da cidade de São Paulo. A pesquisa possui o intuito de

analisar os níveis de fala da população, analisando pessoas das classes A, B, C, D e E. O tema

desta foi elaborado a partir do tema deste trabalho, onde pudemos perceber a preocupação de

Monteiro Lobato com a questão da educação, e portanto esse foi o tema que utilizamos para

realizar as 50 entrevistas necessárias, das quais destacamos 10 para análise.

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2. CONTEXTO NACIONAL

Em 1920 ainda estava em vigência a política do café-com-leite, onde os Partidos

Republicanos Paulista e Mineiro se alternavam no poder do país, defendendo os interesses

oligárquicos da elite dessas regiões; porém, em 1922, surgiu uma reação republicana, na qual

se uniram Rio Grande do Sul, Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro, para apresentarem um

candidato, Nilo Peçanha, contra o de Minas e São Paulo, Artur Bernardes.

Desaparecidos do cenário político desde 1910, os militares se inclinaram contra a

oligarquia presente.

A disputa foi acirrada, todavia vencida por Artur Bernardes, o que fez eclodir uma

reação há muito tempo contida: dia 5 de julho de 1922, jovens oficiais do forte de Copacabana

se rebelaram com o intuito de impedir a posse de Artur Bernardes. A ação fora malograda,

porém os jovens decidiram marchar nas praias de Copacabana, numa atitude suicida, contra as

tropas legalistas. O episódio é conhecido como 18 do Forte, e iniciou um época com muitas

rebeliões, conhecida como Tenentismo.

Desde o inicio o governo de Artur Bernardes foi instável politicamente. No Rio

Grande do Sul estourou uma guerra civil em 1923 e em São Paulo uma rebelião chefiada por

Isidoro Dias Lopes, em 1924, que mais tarde se uniu aos sulistas e a Coluna Prestes, em 1925.

Já com um cenário urbano no eixo Rio-São Paulo, foi inevitável a aparição do

movimento operário, trazido junto aos imigrantes italianos, o que gerou o Partido Anarquista.

Os anarquistas lutavam a favor do operário, por mais controle de duas funções para

eles próprios, além de serem totalmente contra o Estado.

Uma série de movimentos espalhados pelo mundo pressionavam o Brasil a melhores

definições quanto a essa nova classe, e os anarquistas ficaram sem saber o que fazer, uma vez

que as leis iriam favorece-los, mas seria feita pelo Estado que queriam extinguir.

Se os anarquistas se sentiram perdidos, os comunistas sabiam exatamente o que

queriam, e fundado em 1922 devido a onda que a Revolução Russa criou, o Partido

Comunista Brasileiro era a favor de medidas governamentais e ainda a centralização do poder

no estado, porém a divergência de interesses com os anarquistas fragmentou a classe operária,

o que a enfraqueceu, porém criou a base do controle estatal do governo Vargas.

Ao final do mandato de Washington Luís, sucessor de Artur Bernardes, esperava-se

sua nomeação de um candidato mineiro para a próxima eleição, porém indicou um paulista, o

que gerou a cisão das oligarquias, o que fez o PRM juntar ao Rio Grande do Sul na

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candidatura de Getúlio Vargas. Porém Júlio Prestes, candidato paulista, ganhou as eleições de

30.

Apesar de tudo, antes de Prestes tomar poder, Washington Luís foi deposto pelos

generais gaúchos e o Partido Democrático, assumindo então Getúlio Vargas, no conhecido

Golpe de 30. Instituiu-se, então, o governo provisório, e Vargas tinha que se equilibrar entre

as pressões das outras peças políticas do país: de um lado a oligarquia, que já não fazia mais

parte do poder, de outro os tenentes, influenciados pelo fascismo, queriam o poder

centralizado, e de um terceiro lado os militares legalistas, apenas tentando estabelecer a

ordem. Fez concessões as partes, mas não resolveu os problemas delas, então os segundos se

organizavam em clubes políticos, a favor da ditadura, e os primeiros arranjavam um jeito de

acabarem com aquilo para voltarem ao poder. Então forças políticas paulistas se juntaram para

exigir uma reconstitucionalização do país, nomeando um interventor para o governo.

Apesar da pressão tenentista, Getúlio publicou um novo código eleitoral e um

anteprojeto para a nova constituição. No novo código eleitoral foi estabelecido o voto secreto,

o voto feminino, além da representação classicista, ou seja, patrões e empregados poderiam

votar por seus representantes. Mesmo com as reformas eclodiu em São Paulo a Revolução

Constitucionalista, que durou três meses, feitas por militares de São Paulo com pequenos

reforços de Mato Grosso. Como muitos generais legalistas se recusavam dar apoio a Vargas

para reprimir a revolução, este rompeu com os tenentistas e conseguiu o apoio dos exército

central e deu fim a revolta em São Paulo, em 1932.

Em 3 de maio de 1933, de acordo com o novo Código Eleitoral, foram feitas as

eleições para a Assembléia Constituinte, instituída no mesmo ano, com representantes da

antiga oligarquia e das classes trabalhistas dos sindicatos. No ano seguinte a terceira

Constituição do Brasil foi promulgada. A nova Constituição preservava o federalismo, o

presidencialismo e a independência dos três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário.

Estatização e nacionalização foram sempre presentes no governo provisório, afetando

a política de imigração, de empresas estrangeiras, extração de recursos naturais e imprensa.

A novidade da nova constituição é referente as leis trabalhistas, o que no governo

anterior era tratado como caso de polícia, agora era de política. Proibições de diferenças

salariais com base em sexo, idade ou estado civil, 8 horas diárias de carga-horária, descanso

semanal, e várias outros direitos cedidos ao trabalhador. Muitos diziam que era uma manobra

populista para controlar os sindicatos e as greves. Também foi criado o Ministério da

Educação e Saúde, primeira demonstração de importância com o setor da educação, sendo

obrigatório o ensino primário.

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Entre 1932 e 35, quando começou-se a sentir a crise de 1929, intensificaram os

movimentos esquerdistas e, assim, também movimentos integralistas paramilitares que

reprimiam com violência os primeiros. Os esquerdistas chamaram atenção também do

governo, e Vargas mandou fechar as sedes da ANL, acabando com sua funcionalidade legal. E

mais uma vez os comunistas se rebelaram em várias partes do Brasil.

Então Getúlio declarou estado de sítio no país, com pretexto de combater a ameaça

comunista, e teve tempo de planejar seu próximo passo referente as eleições que estavam por

vir.

Congressistas impediram Vargas de renovar seu pedido de sítio, mas, com origem

duvidosa, foi apresentado o “Plano Cohen”, que, supostamente, seria um plano comunista de

assassinar personalidades importante. Então o Congresso declarou estado de guerra, cenário

perfeito para o golpe de Vargas, que com o apoio de vários governadores e das forças

armadas, no dia 10 de novembro de1937 apresentou a nova constituição e fechou o

Congresso. No dia 2 de dezembro do mesmo ano os partidos foram dissolvidos. Era o início

do Estado Novo.

Dois ano depois começa a Segunda Guerra Mundial, e o Brasil se mantém neutro, ou

melhor, indeciso, com identificações aos governos do Eixo e pressão por parte do Estados

Unidos. Mas, em 1941, o Brasil rompe com o Eixo e no ano seguinte formaliza o apoio aos

Aliados.

Depois de alguns navios brasileiros serem afundados por embarcações alemãs, o Brasil

é pressionado a declarar guerra a Alemanha e a Itália. No inicio de sua participação ele

contribuía com matérias-primas estratégicas, mas em 1944 enviou a Força Expedicionária

Brasileira para lutar na Itália.

A vitória das forças democráticas, em 1945, na guerra pôs o governo ditatorial de

Vargas em situação desconfortável, chamando atenção para as manifestações

redemocratizadoras que aconteciam desde a aliança brasileira com os Aliados, e em 1946,

depois da tentativa de mais uma manobra para permanecer no governo, Getúlio foi obrigado a

abandonar o poder. Era o fim do Estado Novo.

Com as manifestações de 1943 até o fim dos trabalhos da Constituinte, em 1946, se

encerra com êxito o processo de redemocratização no Brasil.

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2.1 ECONOMIA

Pouco antes de 1920, o Brasil passava por um processo de adaptação na sua economia,

era necessário uma nova medida de valorização do café, principal produto de exportação do

país na época, depois da Primeira Guerra Mundial. Porém, após os conflitos, o cenário

econômico mundial se caracterizou por grandes empresas controlando suas respectivas áreas

de atuação, o que levou ao governo do Brasil a criar o Instituto do Café, em São Paulo, a fim

de controlar os índices de oferta e demanda do produto no mercado internacional. Como o

Brasil mantinha 60% da produção de café mundial, o novo instituto tinha em mãos o controle

dos preços, mesmo que artificialmente, e para isso começou a estocar cada vez mais café.

Porém, em 1924, constatou-se uma contradição nesse controle de mercado, o novo

projeto, por manter os preços do produto, incentivou novos produtores, o que aumentou ainda

mais o estoque do mesmo.

Outra coisa que mudou na economia brasileira após a Primeira Guerra Mundial foi o

incentivo a industrialização no país. Uma vez que seus principais parceiros econômicos

estavam envolvidos diretamente com a Guerra, o Brasil adotou uma substituição de

importação e medidas de proteção alfandegária aos novos parceiros, o que gerou uma certa

proteção as indústrias nacionais. Antes, o desinteresse do governo quanto a industrialização

era explicado pelo modelo agro-exportador herdado da colônia, e o café sustentava isso, onde

o Brasil exportava produtos tropicais e em troca importava produtos manufaturados, mas com

a dificuldade de importação na época de guerra, o governo tomou medidas de incetivo a

industrialização durante toda a década de 1920.

Durante a década de 20 o Brasil segue claramente um modelo mercadante capitalista,

tanto no setor agropecuário quanto no industrial, mas o que se ve no mundo é um declínio do

modelo capitalista liberal que se seguia desde a Segunda Revolução Industrial, onde o

governo não intervia nas relações econômicas, na crença da auto-regulamentação pelo próprio

mercado. Esse período acaba com a Crise de 29.

Uma depressão profunda para o mundo capitalista, a Crise de 29, eclodiu nos Estados

Unidos, e repercutiu internacionalmente, inclusive no Brasil, onde abalou toda a economia

cafeeira, o que incentivou ainda mais a política industrial.

Na década de 30, já no governo Vargas, o governo estipula medidas protecionistas, que

estimulam ainda mais a industrialização no país, revalorizam o café com a queima do estoque,

o que gera ainda mais renda para a industrialização. Fortalecimento do mercado interno com

alta intervenção do governo na economia.

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Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial o desenvolvimento industrial se

beneficiou, tendo o mercado interno a sua disposição e buracos a serem preenchidos deixados

por empresas internacionais. O Estado se encarregou da infra-estrutura e ainda criou a

Petrobrás. A economia, apesar das conturbações políticas, se manteve característica até a saida

de Vargas e o processo de redemocratização, em 1946.

2.2 A SOCIEDADE REAGE AO MUNDO

Uma proposta ainda duvidosa, que resolveria os problemas ou apenas os maximizaria,

ecoava nos pensamentos das pessoas pelo mundo todo.

Em plenos destroços deixados pela recém-encerrada Primeira Guerra Mundial, que

eram não apenas estruturais e econômicos, mas também psicológicos; com a inauguração de

um novo sistema, que dizia se constituir de uma total reforma nos âmbitos todos – fossem eles

político, econômico ou social – em prol de uma sociedade mais igualitária; fez-se pairar sobre

as pessoas de todos os países o socialismo, disseminado através das ideias que embasavam a

Revolução Russa (1917), descritas em um Manifesto Comunista, publicado anos antes, por

Karl Marx, filósofo alemão.

No Brasil, disseminavam-se essas ideologias por todo o país, e estas mesmas

embasariam mais tarde diversos movimentos como a famosa Coluna Prestes, que andou mais

de 26 km Brasil a dentro espalhando seus conceitos comunistas para depois exilar-se fora do

país.

Foi por essa época também que foram criados alguns direitos favorecendo os

trabalhadores, que revoltaram-se por suas situações precárias de moradia, aviltamento de

salários, falta de segurança; e, após diversas manifestações, criaram sindicatos para

reivindicarem o que lhes deveria ser oferecido em troca de seu trabalho, força que movia o

mundo segundo Marx.

Vivia-se um período de ditadura com Getúlio Vargas, o que tornava o povo subjugado

e limitava-lhes as idéias; ainda mais tendo-se que a simpatia do líder tornava muitas de suas

atitudes autoritárias irrelevantes perante os olhos cegos de seus fies admiradores.

E, com tantas mudanças repentinas; tensões provocadas por uma guerra que tinha ido,

mas logo se manifestaria em uma nova e mais intensa; novos estilos de arte propostos em

âmbito nacional; as pessoas se mostravam estáticas, paradas no tempo, vulneráveis a qualquer

idéia que lhes pudesse reavivar a esperança. Uma sociedade ainda confusa, que mais tarde

despontaria rumo ao desenvolvimento e globalização que se vive atualmente.

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2.3 A LITERATURA DE CARA NOVA

Em 1922, artistas de várias patentes reuniram-se e consagraram uma nova arte, a qual

diziam ter agora uma face pouco mais nacional, que era representada pela recusa em render-se

novamente – depois de séculos que já o era feito – à qualquer influência europeia.

Assim, deu-se na literatura uma recusa das idealizações românticas, da musicalidade e

frivolidade simbolista, do perfeccionismo exacerbado parnasiano, da formalidade realista:

criou-se uma arte pura brasileira, levada pela criatividade sem métricas e regras, livre de

rimas, que trazia críticas e cenas cotidianas, que expressava a partir de então a liberdade do

escritor brasileiro em relação ao mundo.

Nesse período destacaram-se Monteiro Lobato, acompanhado por Euclides da Cunha,

os poetas Oswald e Mário de Andrade, entre outros.

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3. MONTEIRO LOBATO: VIDA E OBRA

José Bento Renato Monteiro Lobato, nascido em dia 18 de Abril de 1882 em Taubaté,

faleceu na mesma cidade em que seus ossos estão hoje sepultados, no cemitério da

Consolação, ou seja, São Paulo, no dia 4 de Julho de 1948, de um derrame cerebral. Passou a

sua infância em um sítio e aos sete anos entrou em um colégio, e foi nesta idade começou a

ter interesse pelos livros e particularmente pela biblioteca de seu avô o Visconde de

Tremembé. Monteiro Lobato Sempre mostrou talento para escrever, sempre escreveu textos

para os jornais das escolas que freqüentou.

Aos 16 anos perdeu seu pai, José Bento Marcondes Lobato e a sua mãe faleceu um

ano depois. Como tinha um grande talento para o desenho, tornou-se desenhista e caricaturista

e começou a utilizar o dom como fonte de renda. Com a intenção de encontrar melhores

condições de vida, Lobato aos 17 anos muda-se para São Paulo, onde seu maior sonho era

freqüentar a Faculdade de Belas-Artes, mas por pressão do avô ingressou na Faculdade de

Direito do Largo São Francisco. Ele continuou escrevendo para jornais e tendo como

característica seu censo de humor sutil e fino. Era direto e sem rodeios, fazia críticas sem

saber se agradaria ou não. Defendia sua verdade com unhas e dentes, contra tudo e todos.

Em 1904, formou-se e voltou para Taubaté para assumir o cargo de promotor e nesse

tempo casou-se com Maria Pureza da Natividade. Mudou-se para Areias e assumiu o cargo de

promotor público, mas na essa a vida que ele queria, paralelamente ele continuava escrevendo

artigos para jornais do interior e passou a fazer traduções de revistas americanas para o jornal

O Estado de São Paulo e também traduziu obras da literatura internacional.

Com o falecimento de seu avô, Lobato tornou-se herdeiro da fazendo Buquira e

mudou-se com toda a família para a casa da fazenda. Largou a promotoria e virou fazendeiro,

dedicou-se à modernização da lavoura e à criação de animais. Lobato não gostava da vida na

fazenda e tinha planos para se mudar para São Paulo, abrir negócios e continuar escrevendo.

Em 1914, Lobato indignado com as freqüentes queimadas que os caboclos praticavam

na fazenda, ele escreveu para o Jornal O Estado de São Paulo uma indignação intitulada

“Velha Praga”, que caiu no gosto jornal e foi publicado no editorial. O artigo criou polêmica e

fez com que ele escrevesse outros artigos, como por exemplo, “Urupês”, que mais tarde virou

seu primeiro livro, criando um personagem marcante em seus textos o Jeca Tatu.

Nesse tempo a Fazenda de Buquira enfrentou dificuldades com geadas e falta de

recursos o que o forçou a vendê-la em 1916 e mudar-se para São Paulo. Foi na fazenda que

Lobato encontrou inspiração para a criação da maioria de seus personagens. Lobato tornou-se

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um importante colaborador do jornal O Estado de São Paulo e escrevia muito sobre questões

agrícolas e sobre folclore brasileiro. Em 20 de Dezembro de 1916, Lobato publicou o artigo

“Paranóia ou Mistificação”, a famosa crítica à exposição de Anita Malfatti.

Monteiro Lobato era a favor da arte criada aqui no país e não cópias nem reinvenções

de tendências européias. Isso criou certa indisposição com os modernistas que o intitularam

de reacionário. Lobato tinha por característica ser um nacionalista, e defender muito a pátria.

Em 1918, comprou a Revista do Brasil e começou a dar espaço para novos talentos, a revista

prosperou e ele pode montar uma empresa editorial. Sempre dando espaço aos bons artistas.

Monteiro inseriu no Brasil a idéia do livro-consumo, com capas atraentes ao olhar e feitas

com o esmero necessário para atrair o público. Criou novas políticas de distribuição e uma

gráfica impecável. Logo fundou a Companhia Editorial Nacional.

A menina do Narizinho Arrebitado foi a sua primeira obra infantil e foi de um enorme

sucesso, dando suporte para novas criações, inclusive a coletânea Sítio do Pica - Pau Amarelo.

E como um bom nacionalista seus livros infantis eram recheados de personagens do folclore

brasileiro além dos assuntos didáticos que muito acrescentavam na educação das crianças.

O sucesso foi tão alto que demandou investimentos, mas por ocasião de uma grave

seca o fornecimento de energia elétrica foi cortado e a gráfica só podia funcionar dois dias da

semana e com a desvalorização da moeda Lobato afundou em dívidas e a companhia foi à

falência. Logo depois abriu outra editora e desta vez variou as publicações, incluindo obras

internacionais, foi um enorme sucesso de público.

Pelo presidente Washington Luis foi nomeado adido comercial nos Estados Unidos,

mudou-se para Nova York com a família e seus quatro filhos. Aproveitou esse tempo para

acompanhar os avanços tecnológicos americanos e fez de tudo para trazer essas inovações

para o Brasil. Interessou-se por questões ligadas ao petróleo e tinha a convicção de que o

Brasil tinha grandes reservas da matéria-prima tão requisitada por todos.

Lobato fundou várias empresas para perfurações petrolíferas mas encontrou barreiras e

proibições com o governo de Getúlio Vargas. Foi convidado para entrar na Academia Paulista

de Letras , criou a União Jornalística Brasileira , foi preso por ter criticado o Governo e

passou a denunciar torturas e maus tratos na prisão.

A editora brasiliense comprou os direitos dos livros de Lobato e publicou suas obras

completas em 1943. Lobato Recusou a indicação a Academia de Letras Brasileira e acabou se

aproximando do partido Comunista mas negou-se a entrar na vida pública.

Seu último livro intitulado Zé Brasil, critica duramente o Governo do General Eurico

Gaspar Dutra. Sua obra é composta por 30 volumes.

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4. O SÍTIO DO PICA-PAU AMARELO

Obra exímia de Monteiro Lobato, com volumes publicados ao longo de mais de vinte

anos, o Sítio do Pica-Pau Amarelo é permeado de coisas surpreendentes, que desafiam a

compreensão daquele leitor que analisar a obra desprevenido ou com expectativas de

encontrar apenas um sítio, como outro qualquer. De fato esse sítio não é qualquer sítio. O que

o leitor encontra nessa obra é um espaço de reflexão, onde Monteiro Lobato retrata diversas

questões pertinentes a época, e alguns aspectos de sua própria vida e personalidade, através do

personagem que muitos estudiosos acreditam tratar-se do alter-ego do autor, a Emília.

Antes de Lobato não havia nem mesmo literatura específica para crianças e jovens. O

Sítio do Pica Pau Amarelo, apesar de tratar-se de histórias para crianças reflete uma

preocupação do autor com a questão da educação, além de algumas outras preocupações

pertinentes a época.

A produção da literatura infantil se inicia em 1920 com a publicação, por Monteiro

Lobato, do livro “A Menina do Narizinho Arrebitado”. No ano seguinte, esse livro, com a

tiragem de 50 mil exemplares é adotado pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo

como o segundo livro de leitura para o uso em escolas primárias. Com esse livro, Lobato

inicia a sua produção de histórias infantis, voltadas à informação e também a formação da

juventude brasileira. Como inovação para a época, nas obras de Monteiro Lobato são

introduzidas ilustrações de desenhos vistosos, dando assim um ar colorido e gracioso aos

livros.

Monteiro Lobato antes mesmo da publicação de suas obras infantis, dedicava-se a

crítica de arte, e possuía idéias avançadas para a época, entanto Monteiro Lobato acaba

ficando de fora do movimento que eclodia na época, o modernismo. Monteiro Lobato com

sua crônica “Paranóia ou Mistificação”, critica obras de Anita Malfati, pintora que expôs seus

quadros em um vernissage em 1917, e desse modo acaba sendo banido como participante do

movimento cultural mais importante da época, A Semana de Arte Moderna de 1922.

Entretanto a genialidade de Monteiro Lobato não deixa de ser reconhecida, pois um

dos principais mentores daquele movimento, Oswald de Andrade lhe envia em 1943 uma

carta cumprimentando-o pelos vinte e cinco anos do lançamento de sua obra “O

Urupês”(1918) e chamando-o de “o Gandhi” do modernismo.

O objetivo do autor, ao desenvolver a obra “Sítio do Pica Pau Amarelo” estava

baseado na máxima de que é necessário saber para crescer, não apenas de modo biológico,

mas também de modo cultural, pois só é pode considerar-se culturalmente livre quem possui o

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conhecimento. Podemos observar que nas obras infanto-juvenis de Monteiro Lobato, não

existe a figura do vilão nem a figura do herói, como acontece em outras obras infantis. O

vilão, ou vilã, nas histórias de Lobato, é a ignorância, e isso pode ser claramente visualizado

em seus livros, através dos seus personagens, pois sempre existe a busca do conhecimento,

herói que sempre derrota a ignorância.

Outro ponto que ressalta diferença nos livros de Monteiro Lobato é aquela íntima

união que o autor faz entre o real e o imaginário, e o autor faz isso de uma maneira onde o

leitor acaba achando perfeitamente aceitável a existência de um boneco feito de sabugo de

milho, que é um sábio pesquisador da ciência, e de uma boneca de pano, a Emília, que fala e é

muito esperta e que como acreditam muitos estudiosos, é o próprio pensamento e

procedimento – alter ego – de Monteiro Lobato. Há ainda o Burro Falante, um personagem

com pensamentos de filósofo, há o Quindim, um rinoceronte que foge de um circo e se acaba

abrigando-se no Sítio do Pica pau Amarelo, e é adotado pelos seus habitantes. Quindim é um

rinoceronte que fala e conhece a gramática, sendo uma espécie de guia dessa matéria quando

a turma do sítio busca esse tipo de conhecimento, mais especificamente no livro Emília no

País da Gramática.

Ainda levando em conta a questão da fantasia, existe o Faz-de-conta da Emília, que o

usa quando algo de extravagante precisa ser feito, e o pó de pir-lim-pim-pim, advento do

Visconde, baseado em seus conhecimentos sobre química. Esse pó mágico permite que os

personagens do Sítio viagem à Grécia e a Ilha de Creta, nos livros “O Minotauro” e “Os Doze

Trabalhos de Hércules”, respectivamente. Ainda com esse pó mágico, os personagens viajam

à Lua, a Marte e à Saturno no livro “A viagem ao céu”.

Na obra, além da representação das crianças e suas fantasias, existem os adultos,

representados por Dona Benta e Tia Nastácia. Dona Benta é a caricatura perfeita daquele

adulto culto, a avó conselheira, que transmite conhecimentos, mas também aceita as

atividades dos netos, já a Tia Nastácia representa aquele adulto popular, cheio de crendices.

Pedrinho e Narizinho representam as crianças na faixa etária entre 9 – 10 anos. Existe ainda o

marquês de Rabicó, um leitão que vive no sítio.

Um personagem que possui um papel muito importante em alguns livros da série é o

Visconde de Sabugosa, no livro “A Reforma da Natureza”, Emília resolve mudar algumas

coisas, como por exemplo, implantar torneiras nos úberes das vacas, e fazer com que as

borboletas voem mais lentamente, nesse mesmo livro o Visconde altera o tamanho de alguns

animais, causando problemas no sítio, e desse modo é evidenciada a questão da natureza, que

não deve ser modificada. No livro “O Poço do Visconde”, o personagem fala sobre geologia,

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ensinando sobre petróleo, fato que reflete um pouco da vida do autor, já que Monteiro Lobato

possuía certa paixão pelo assunto.

Em outros livros da série Monteiro Lobato retrata outras questões relevantes, no livro

“História do Mundo para as Crianças” é contada a história da espécie humana, no livro “A

Chave do Tamanho”, Emília vai para o País das Chaves, e ao tentar desligar a chave da

guerra, a boneca acaba desligando a chave do tamanho, reduzindo assim todos os seres

humanos a três centímetros. No livro “A História das Invenções”, Dona Benta explica a

existência do vidro, do telégrafo, da lâmpada, do telescópio, entre outros instrumentos. A

“Aritmética da Emília” e “Geografia de Dona Benta”, também são livros muito didáticos, o

tipo de literatura a qual todas as crianças deveriam ter contato.

A literatura infantil de Monteiro Lobato, apesar de possuir este título é destinada

também a adultos, para que estes revejam conceitos que talvez tenham esquecido. Para

Monteiro Lobato, “Um país se faz com homens e livros”, e para isso escreveu em seus 66

anos de vida 19 livros para adultos e 23 livros para a literatura infanto-juvenil. Contudo,

mesmo com obras geniais publicadas, Monteiro Lobato não faz parte da Academia Brasileira

de Letras.

4.1 A LITERATURA INFANTIL

Antes de se pensar em literatura para crianças, os textos passados para os pequenos

eram os mesmos escritos para os adultos. Ainda que existissem contos, lendas contadas para

Europa um movimento de autores que faziam livros voltados diretamente para o público

infantil. Entre os principais autores dessa época incluem-se Perrault (Chapeuzinho Vermelho,

O Gato de Botas, A Bela Adormecida, etc.), os irmãos Grimm (João e Maria, Branca de Neve,

A Gata Borralheira, etc.), La Fontaine (O Lobo e o Cordeiro), Andersen (O Patinho Feio),

Esopo (A lebre e a tartaruga, O lobo e a cegonha, etc.). crianças, não havia a preocupação de

se registrar tais histórias. Por essa razão, as poucas crianças alfabetizadas liam os mesmos

textos que eram lidos por seus pais, ou tutores, sem distinção de idade. Dessa forma, pode-se

perceber como os mais novos eram vistos como pequenos adultos, e não como crianças. Essa

situação só começou a mudar depois de muito tempo.

Todas as histórias citadas no parágrafo anterior possuem algum tipo de moral que

deveria ser passada aos pequenos leitores. Juntando esse objetivo ao contexto social e

econômico da época, criam-se semelhanças entre ambos. Por isso, alguns estudiosos

questionam a literatura infantil, como se esta fosse apenas um processo pedagógico-

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comercial, e não uma obra artística, literária. Desse modo, a literatura infantil até então servia

como reforço para a nova doutrina capitalista que se desenvolvia na Europa, começando

desde os pequenos leitores, fazendo esse modelo social impor-se juntamente com o trabalho

da escola, transformando a sociedade em uma forma mais urbanizada. Porém, esta monografia

não tem como objetivo, e nem pretende discutir o mérito da questão, e tais histórias serão

consideradas como literatura.

Como fortes características desse tipo de história estavam incluídas narrativas com

muitas aventuras, cenas e criaturas fantásticas, situações pertencentes ao cotidiano infantil,

uso de diálogos em forma de discurso direto, comumente finais felizes e, juntamente com o

texto, apareciam ilustrações para alimentar a fantasia da história. Todas essas características

foram aparecendo aos poucos, na medida em que se descobria as melhores formas de abordar

temas que estimulassem o interesse das crianças na leitura. Em diversas histórias, a moral

também se fazia presente, como já discutido anteriormente.

A literatura infantil brasileira escrita não tem mais do que dois séculos de vida.

Surgida no século XIX, com influência do estilo europeu de fazer histórias para criança,

chegou por aqui com décadas de atraso. Porém não se pode pensar que não existiam histórias

infantis no Brasil. Elas já existiam, mas eram apenas circuladas pela forma oral.

Partindo do pressuposto que as obras voltadas às crianças tinham um objetivo

pedagógico-comercial, pode-se perceber que a essas obras começaram a aparecer no Brasil a

partir do momento em que o país entra em um processo de modernização, e introdução de

modelos econômicos apoiados no capitalismo. Assim, os livros infantis estariam ligados ao

mesmo processo de educação que trará uma mudança no sistema econômico e de organização

da sociedade.

Primeiramente, Alberto Figueiredo Pimentel e Carlos Jansen traduziram histórias

infantis europeias para o português, e assim começaram a aparecer os livros voltados para as

crianças brasileiras. Ainda que um grande passo, os livros infantis ainda continham apenas

histórias de outras culturas que eram diferentes das tradições brasileiras. Além disso, o

analfabetismo tinha um índice ainda muito elevado, e com isso a literatura escrita começou

mais voltada aos que podiam ler (pertencentes de famílias ricas). Foi a partir desses métodos

de escrita, elaborados pelos europeus, que alguns escritores brasileiros se arriscaram a

começar um trabalho de escrever histórias originais para crianças. Este começo ainda foi

tímido e teve seu maior reconhecimento justamente com Monteiro Lobato, apenas anos mais

tarde.

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20

No primeiro momento, a imprensa do Brasil ainda era muito atrasada, e a pouca

tradução dos livros europeus, e posteriormente a pouca elaboração dessas obras nacionais,

fizeram com que esse gênero obtivesse pouca divulgação nacional, tendo edições escassas e

mal distribuídas pelo território.

Até aqui, pode-se resumir a literatura infantil brasileira como: surgimento baseado em

traduções; adaptações de histórias européias para o Brasil; e início da produção genuinamente

brasileira.

Depois de estabelecido o gênero no Brasil, houve mudanças na produção das obras de

acordo com os movimentos literários vividos. No início do século XX, Monteiro Lobato criou

seu famoso “Sítio do Pica Pau Amarelo”, obra considerada de maior importância no gênero

infantil nacional.

A partir dessa época, intensificou-se a produção da literatura para crianças, com novos

valores, como o nacionalismo, e novos autores como Ziraldo e Ana Maria Machado, fazendo

desse cenário uma constante na produção literária brasileira, obtendo apoio comercial das

editoras na segunda metade do século XX.

4.2 AS PERSONAGENS

O universo social criado por Monteiro Lobato na obra “O Sítio do Pica Pau Amarelo”

é bastante caricato e, por isso, de certa forma, didático. A maioria dos personagens representa

estereótipos encontrados na sociedade brasileira, sendo, portanto, facilmente identificados

pelas crianças, que começam a desenvolver o seu próprio imaginário cultural em um processo

de aprendizado por assimilação. Também por isso, os livros da obra são marcados por

elementos e seres fantásticos, como viagens a lugares imaginários e criaturas do folclore

brasileiro, o que, além de marcar para sempre a literatura infantil, fortaleceu a cultura nacional

como importante patrimônio.

Pode-se dividir os personagens do “Sítio” entre os tipos sociais e os seres fantásticos.

Os tipos sociais são as pessoas que possuem um comportamento típico, estereotipado. Dona

Benta, por exemplo, possui as características que representam o papel de avó: tem cabelos

brancos, sabe contar histórias muito bem e é, de certa forma, assexuada, já que a imagem da

avó, para as crianças, não envolve relacionamentos amorosos, mas, sim, um caráter familiar, a

senhora que vive em função dos seus parentes. Sendo assim, ela é a figura materna da obra,

vista aqui como a responsável pela criação e educação das crianças. Tia Nastácia e Tio

Barnabé, por sua vez, representam o papel do negro na sociedade da época, já que ambos

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21

confirmam a ideologia escravista que ainda existia, a qual associava o negro ao trabalho

braçal e ao esforço físico. Tia Nastácia, como a cozinheira, e Tio Barnabé, como o trabalhador

da roça que conta as histórias do folclore, são figuras que representam, ainda hoje, as classes

sociais mais baixas, as quais ficam encarregadas dos trabalhos menos remunerados. Já

Narizinho e Pedrinho são as crianças da obra que, justamente por isso, protagonizam as

aventuras. Uma vez que os livros eram destinados ao público infanto-juvenil, o fato de se

utilizar protagonistas nessa faixa de idade promove uma maior identificação do leitor com a

obra. As crianças, por não terem tanta experiência e conhecimento de mundo, não discernem

muito bem o real do imaginário, permitindo-se acreditar em inúmeras fantasias, como as que

compõem as histórias do “Sítio”. Isso inclui não só as aventuras surreais, como um passeio no

“mundo da gramática”, como a presença dos seres fantásticos, presentes em toda a obra.

Os seres fantásticos, diferentemente dos tipos sociais, representam características dos

seres humanos de uma forma mais metafórica, de modo que não são encontrados na sociedade

por serem imaginários, mas sugerem comportamentos observados nas pessoas. O Visconde de

Sabugosa, um sabugo de milho com personalidade humana, por ter um vasto conhecimento

adquirido nos livros da biblioteca do sítio, enaltece a razão científica, numa corrente de

pensamento que pode ser associada ao positivismo. Assim, ele classifica as crenças das

pessoas mais velhas do sítio como crendices e superstições, tirando a credibilidade das

mesmas, comportando-se como um positivista. Já os personagens Cuca e Saci Pererê foram

trazidos do folclore brasileiro e, por isso, materializam as histórias que compõem o mesmo.

Eles simbolizam as crenças que surgem, principalmente, nas regiões rurais do país e que, para

os habitantes dessas áreas, têm mais valor que o conhecimento científico. Como o ambiente

principal da obra é um sítio, é natural que o folclore apareça personificado e materializado, já

que essas histórias têm grande importância no cotidiano, inclusive, para explicar os

fenômenos da natureza, uma vez que a ciência não tem tanta propagação nas regiões menos

urbanas. Por fim, a personagem Emília, uma boneca que fala, possui um comportamento

bastante irreverente, sendo a criação mais lembrada de Monteiro Lobato, dentro da obra do

“Sítio”. Ela é uma metáfora tanto da curiosidade das crianças quanto de um comportamento

mais revolucionário que pode estar presente na sociedade. Através das “asneirinhas” que ela

fala, desconsideradas pela maioria dos outros personagens, há sempre uma opinião forte que

contesta os valores da sociedade. Por não ser gente, pode-se dizer que ela tem mais liberdade

de reclamar dos modos de pensar das pessoas, e, através das falas dela nos livros, Monteiro

Lobato expunha modos diferentes de pensar que iam contra as ideias da época. Esse

comportamento contestador, apesar de condizer com os pensamentos de alguém que estudou

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muito, como o autor, que possuía reflexões acerca dos mais variados assuntos, pode ser

associado também com os pensamentos de uma criança, que não está tão presa a modelos

comportamentais de uma sociedade e tem dúvidas quanto aos estilos de vida nela adotados.

4.3 O SÍTIO NA TV

A série de TV “Sítio do Pica-Pau Amarelo”, baseada nos livros de Monteiro Lobato

que compõem a obra de mesmo nome, começou no fim da década de 50, sendo transmitida

pela TV Tupi e foi uma importante forma de propagação do universo cultural apresentado

pelo autor, que perdurou durante muitos anos na televisão aberta. Este foi considerado o

primeiro seriado brasileiro e, não por acaso, se tornou líder de audiência no canal. Sendo um

projeto que buscou fidelidade tanto à imagem dos personagens como aos detalhes da obra, no

que diz respeito às ideias que Monteiro transmitia nas histórias, a série agradava adultos e

crianças, colocando os temas mais diversos de uma forma interessante e educativa. Assim,

durante as décadas posteriores, várias outras adaptações do “Sítio” foram feitas por variadas

emissoras, que, geralmente, faziam bastante sucesso com a transmissão das séries.

Um importante contraponto a se fazer, no entanto, é a capacidade de aprendizado do

público infantil através da televisão. Isso porque, sendo um meio de comunicação

essencialmente baseado em imagens e sons, não há tanta retenção das informações por parte

do espectador, uma vez que há distração e eventuais interferências exteriores durante a

exibição programa que dificultam a absorção do conhecimento transmitido. Tais interrupções

na comunicação fazem com que os programas tendam a repetir mais vezes as ideias e explicá-

las de uma forma mais simples, menos detalhada: fácil de entender, mas sem todo o conteúdo

que o autor desejava passar. É interessante que leitura, um hábito culturalmente riquíssimo

para a criança e mais eficiente que a televisão na questão do aprendizado, não seja trocada

pelo uso da televisão, já que a obra original proporciona uma experiência mais produtiva, uma

vez que estimula a criança a criar as próprias imagens dos personagens, as respectivas vozes e

ela tem a liberdade de imaginar o universo de Monteiro Lobato da maneira dela, um enorme

incentivo à criatividade. Esse é o risco, portanto, de se adaptar os livros do “Sítio” a perda de

parte do seu valor cultural. Veicular a série de TV, ainda, numa emissora que não tem caráter

educativo, como a Globo, o que ocorreu em 2001, por exemplo, é um perigo semelhante, já

que há um foco grande na comercialização de brinquedos, revistas e jogos para crianças e

nem sempre se mantém as histórias com a mesma conotação das originais.

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23

5. LOBATO NO PAÍS DA GRAMÁTICA

Volume pertencente ao grande leque de ramificações da obra de Lobato, o livro Emília

no País da Gramática conta a estória de como foi a visita de Narizinho, Emília, Pedrinho,

Visconde de Sabugosa e Quindim ao País da Gramática, onde residem todas as palavras e

expressões das línguas, focando-se em Portugália, cidade em que vivem as palavras do idioma

português.

Para muitos estudiosos a obra foi feita por Lobato por um espécie de “vingança” ao

fato de ter sido reprovado aos quatorze anos de idade na prova de língua portuguesa, o que se

pode tirar de uma de suas frases, dezenove anos depois:

“Da gramática guardo a memória dos maus meses que em menino passei decorando,

sem nada entender, os esoterismos do Augusto Freire da Silva. Ficou-me da ‘bomba’

que levei, e da papagueação, uma revolta surda contra a gramática e gramáticos, e

uma certeza: a gramática fará letrados, não faz escritores.” (LOBATO, )

Através do livro, percebe-se que o autor, por meio da fantasia, nos mostra uma nova

maneira de ver a gramática e o seu ensino, bem diferente da forma maçante que era utilizada

em seu tempo, e, pode-se dizer que é até hoje. No livro, através da fala de Quindim, o

rinoceronte gramático, o autor expressa sua opinião sobre a forma da gramática: “[...] Mas os

senhores gramáticos são uns sujeitos amigos de nomenclaturas rebarbativas, dessas que

deixam as crianças velhas antes do tempo.” (LOBATO, 1972, p. 296). Neste período, passa-se

a idéia de que as regras utilizadas pelos gramáticos tornam as crianças “velhas antes do

tempo”, ou seja, por terem que decorar tudo, acabam perdendo sua enorme capacidade

imaginativa e retardando seu desenvolvimento intelectual, já que não aprendem a fazer

relações e a memorizar tais regras, se tornam, de certa forma, adultas. Além disso, o termo

“(os gramáticos) são uns sujeitos (grifo nosso)” nos remete a idéia de que Monteiro Lobato os

via como pessoas que não mereciam tanto respeito quanto lhe davam. Sentimos, ao ler isto,

certo sentimento de repulsa e desrespeito por parte do autor quanto aos estudiosos da língua,

que, pela opinião de Monteiro, acabavam tornando-a mais complicada, por causa de suas

regras.

Lobato segue em sua obra a gramática normativa, e utiliza-se do livro Gramática

Histórica de Eduardo Carlos Pereira (editada pelo próprio Lobato, na Companhia Gráfico-

Editora Monteiro Lobato, nos anos 20) para a construção de “Emília no País da Gramática”,

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24

que cita em certo momento a obra de Eduardo vista como a causa do grande conhecimento de

Quindim em gramática. O rinoceronte, aliás, acaba se tornando na história o educador e guia

da turma do sítio na nova aventura, permitindo que as próprias crianças escolham o que

desejam conhecer no novo mundo que lhes é apresentado, e, tornando o ensino mais divertido

e leve.

O autor, de certa forma, pretendia criar um livro paradidático, e não apenas uma

ficção. Através da personificação das palavras e da criação de um país da língua portuguesa,

ele disfarça as regras, concretizando-as por meio da formação de imagens, e ensina a

gramática de um modo leve e divertido, sempre trabalhando com a imaginação pueril.

5.1 O LIVRO

O volume foi escolhido para ser analisado, pois seu tema principal é a língua em si,

tendo uma relação direta com a nossa disciplina, Língua Portuguesa e Expressão Oral. Assim,

os temas abordados durante a leitura são todos voltados para as regras e forma da língua

portuguesa. O livro começa com Pedrinho dizendo que gramática é uma “caceteação”,

mostrando que a forma de ensino utilizada na época, baseada em regras decoradas, fazia com

que a criança não gostasse da matéria. Após algumas lições com Dona Benta, Emília tem a

idéia de ir ao país de Portugália, para que eles vivessem a gramática. É neste país que a turma

participa de muitas aventuras e aprende gramática brincando. Durante a leitura, observamos

temas relacionados ao português que são discutidos e ensinados, como a existência e

características das classes gramaticais (substantivos, adjetivos, pronomes, artigos e numerais,

verbos, advérbios, preposições, conjunções e interjeições). Após esse estudo, Lobato foca o

livro para a parte da Etimologia, a origem das palavras. A partir disso, a turma descobre como

formar palavras, aprendendo sobre a raiz, sufixos e prefixos. Descobrem também a existência

de palavras estrangeiras e as formas de pontuação, além da ortografia. As crianças vão, com

Quindim, nos “domínios da sintaxe”, além da morfologia, entra em discussão no livro a

sintaxe. Assim, aprendem sobre as figuras de sintaxe (ou sintáticas) e as orações e períodos da

língua. Também conhecem os vícios de linguagem, capítulo que analisaremos com maior

atenção mais para frente.

Também observamos que, conforme lemos o livro, analisamos diversas falas das

personagens que acabam mostrando a visão de Monteiro e da sociedade sobre muitos

assuntos. Destaca-se nesse ponto a personagem Emília, que inclusive aparece no título. Por

ser uma boneca “atrevida”, que muitas vezes “abre” sua “torneirinha de asneiras”, falando

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25

tudo o que pensa, a personagem mostra a nova visão que se tinha da língua, e demonstra, em

diversos períodos, que a lógica pueril teria mais sentido para formá-la do que a lógica dos

“grilos” (policiais) do Português, os gramáticos.

Assim, além de estudarmos a língua portuguesa, sua estrutura e forma; podemos

também analisar as idéias passadas pelas personagens, através de suas falas e temas abordados

ao longo dos capítulos. Nossa análise em relação à língua tem, portanto, um fundo social e

histórico, além do técnico.

5.1.1 Análise do volume

O livro não é escrito de uma forma pueril, já que são utilizados períodos mais

desenvolvidos, por exemplo. Podemos observar essa característica com o trecho: “Os meninos

entraram por um desses bairros pobres, chamado o bairro do Refugo, e viram um grande

número de palavras muito velhas, bem corocas, que ficavam tomando sol à porta de seus

casebres.” (LOBATO, 1972, p.p.296-297). Apesar de o período em questão ser formado por

palavras que podem ser consideradas simples, ou então que são mais condizentes ao

vocabulário infantil, ao mesmo tempo é comprido e formado por diferentes orações

(coordenadas, como “e viram um grande (...)” e subordinadas, como “que ficavam (...)”) e

conjunções (e, que), demonstrando um maior cuidado e desenvolvimento da escrita.

Apesar de ser escrito de uma maneira complexa, de certa forma, ”Emília no País da

Gramática” é voltado para crianças. Assim, utilizaram-se palavras que eram comuns ao

universo delas, como podemos observar na primeira fala de Pedrinho: “Maçada, vovó. Basta

que eu tenha de lidar com essa caceteação (grifos nossos) lá na escola. As férias que venho

passar aqui são só pra brinquedo.” (LOBATO, 1972, p. 293). Nesta fala, o neto reclama, pois

a avó quer lhe ensinar gramática. Assim, mostrando que achava a matéria “tediosa” e

sacrificante, Pedrinho utiliza o termo “maçada”, comum às crianças da época em que o livro

foi escrito. Temos também a palavra “caceteação”, que demonstra o incômodo que a

gramática traz às crianças, por ter muitas regras. Mais uma vez, em alguma parte do texto, o

autor expressa sua opinião sobre o ensino da gramática. Algumas expressões também são

utilizadas, como: “pozinho levado da breca”, dizendo que o “pozinho” (de pirlimpimpim) é

“sapeca”, fazem coisas absurdas acontecer. Expressão utilizada pelas crianças da época, e,

portanto, pelos adultos de hoje. Lobato utiliza também muitos diminutivos. Palavras como

“letreirinho”, “cordinhas”, “baitaquinhas”, “silabazinha” tornam a leitura mais leve, e fazem

com que a criança se identifique com a forma de falar das personagens.

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Seguindo essa idéia em relação ao ensino, o autor faz com que o livro seja mais leve

ao ensinar gramática, através da criação de um país (Portugália) e da personificação das

palavras. Assim, quando a turma resolve conversar com uma palavra (que, na história, é uma

pessoa de fato), acaba aprendendo tudo sobre sua classe e significado. As palavras em

Portugália vivem em bairros, moram em casas, têm famílias como seres humanos, se tornam,

portanto, seres vivos, que é a idéia que Lobato (1972, p. 297) passa: “(...) Porque as palavras

também nascem, crescem e morrem, como tudo mais.”, ou seja, a língua é viva! Há a idéia

também de que, a partir da criação de Portugália e da personificação das palavras, o autor nos

mostra a importância e as particularidades que a língua possui, como se, de fato, fosse um país

a parte, com suas próprias leis e habitantes.

No livro, as diversas classes de palavras moram em diferentes lugares ou bairros,

assim: “A gente importante morava no centro e a gente de baixa condição, ou decrépita,

morava nos subúrbios.” (LOBATO, 1972, p. 296). Fazendo um paralelo com as cidades do

mundo real, e, ao mesmo tempo, uma crítica à essa realidade, Monteiro Lobato mostra que as

palavras mais utilizadas, ou seja, que prestam mais serviços aos homens, e que são

oficializadas pelos gramáticos; moravam no centro da cidade de Portugália, enquanto as

outras (arcaísmos, neologismos, gírias), que ou não eram oficiais na língua ou já não lhe

serviam mais, moravam nos subúrbios. Visto isso, os arcaísmos eram idosos que moravam em

um desses bairros mais pobres, os neologismos eram jovens, e as gírias são nomeadas de

“molecada”, já que são dinâmicas e mudam rapidamente, são como crianças brincando,

sempre em movimento.

No texto, observamos que as palavras, como todas as pessoas, são nomeadas conforme

um nome próprio, que no caso, na verdade, é a própria palavra, só que escrita com letra

maiúscula e em itálico, para facilitar o entendimento da criança e ao mesmo tempo continuar

dentro da gramática normativa. Assim temos tal frase como exemplo: “Veio abrir o Pronome

Eu.” (LOBATO, 1972, p. 307).

Podemos observar também algumas mudanças na língua, desde que ela foi escrita por

Monteiro. Algumas palavras que eram consideradas neologismos em sua época tornaram-se

muito usadas por nós, como Chutar ou Encrenca; alguns ditados e termos acabaram caindo no

desuso, como na fala de Narizinho (LOBATO, 1972, p. 300): “Falai no mau, aprontai o pau”,

“(...) suando em bicas”, “(...) só dando com um gato morto em cima”; além das mudanças

recentes na gramática, como o desaparecimento do hífen e dos acentos de algumas palavras.

Um aspecto muito interessante dessa obra de Lobato é o fato de conseguirmos

perceber, com sua leitura, algumas idéias que existiam na época ou que o autor defendia. Ele

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demonstra em várias passagens seu pensamento em relação à língua e seus detalhes, através

das personagens.

Assim, em uma parte do livro, quando a turma descobre os Barbarismos, palavras

estrangeiras, Quindim explica que estas só podem andar por Portugália se estiverem

acompanhadas por aspas ou grifos, regra utilizada até hoje. Lobato, então, expressa, por meio

de Narizinho, sua opinião de que tais palavras não deveriam ser tratadas diferentemente das

pertencentes à Língua Portuguesa. Para ele, tal regra não deveria existir, como ocorre com o

Inglês, defendendo essa idéia a menina fala: “Eu, se fosse ditadora, abria as portas da nossa

língua a todas as palavras que quisessem entrar – e não exigiria que as coitadinhas de fora

andassem marcadas com os tais grifos e tais aspas.” (LOBATO, 1972, p. 299).

Lobato também nos remete à teorias de reconhecidos autores, como Saussure e

Vigotsky. Em relação ao primeiro estudioso, se analisarmos a fala da personagem Emília

(LOBATO, 1972): “(...) Nome é nome; não precisa ter relação com o “nomado”.” podemos

identificar a alusão à teoria da arbitrariedade do signo. Saussure (apud BLIKSTEIN, 1990)

defende a idéia de que a relação entre o signo e o significado que ele representa não é natural,

é estabelecido por um consenso social, e, então, um não possui relação direta com o outro,

como defende a boneca. Quanto à Vigotsky (2005), lembremos que o autor defendia que o

pensamento e a linguagem, a partir de certo momento da vida da criança, tornavam-se

inseparáveis, ou seja, o pensamento só poderia ser formulado e desenvolvido através da

linguagem. Visto isso, no livro “Emília no País da Gramática” temos o seguinte trecho: “(...)

Todas (palavras) somos por igual importantes, porque somos por igual indispensáveis à

expressão do pensamento dos homens.”, analisando tal afirmação do pronome Eu, podemos

entender que Lobato compartilhava da mesma opinião de Vigotsky, já que deixa claro que o

pensamento dos homens só pode ser expresso por meio da língua, e portanto, também é

formado por meio dessa relação de dependência (pensamento x linguagem).

Lobato (1972) faz diversas relações entre Portugália e o mundo real. Assim, em um

desses trechos, ele lembra que os Nomes Próprios consideram-se muito importantes por

nomear pessoas, e possuem diversos nomes comuns a seu serviço. Segundo ele: “(...) Os

Nomes Comuns formam a plebe, o povo, o operariado, e têm a obrigação de designar cada

coisa que existe (...)” (LOBATO, 1972, p. 301). Se analisarmos esta frase do autor,

percebemos certo desdém em relação ao povo e aos nomes comuns, porém, se pensarmos

realmente, lembramos que os nomes comuns, por mais insignificantes que sejam, são

substantivos, e então: “(...) indicam a substância de tudo.” (LOBATO, 1972, p. 300). Monteiro

então estaria nos passando que a plebe, o povo, o operariado também são a substância da

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sociedade, são eles que a formam de fato, assim como os nomes comuns formam a língua.

Ainda em relação aos substantivos, aos nomes próprios mais especificamente, temos

um trecho: “(...) O nome Europa era o mais empavesado de todos; louro, e dum orgulho

infinito. Passou rente ao nome América e torceu o nariz.” (LOBATO, 1972, p. 301).

Percebemos que o autor caracteriza as palavras conforme as pessoas que elas representam, no

caso, pessoas que moram no lugar que elas representam. Por isso, entendemos que a Europa,

assim como os europeus, é mais “empavesada” e se considera, de certa forma, mais

importante que continentes com uma história diferente, como a América, que foi colônia de

países europeus. Foi pela história de colonização também que a palavra Europa “torceu o

nariz” para a palavra América, pois, lá no fundo, sente como se essa ainda fosse um local de

domínio (que não merece o devido respeito dado à ela), porém que está se desenvolvendo,

fato impróprio para uma “colônia”.

O autor, para explicar a origem do bairro da Brasiliana, que fica dentro de Portugália,

faz um paralelo com o descobrimento e formação do Brasil, assim: “(...) Com o andar do

tempo essas palavras (portuguesas) foram atravessando o mar e deram origem ao bairro de cá,

onde se misturaram com as palavras indígenas locais.” (LOBATO, 1972, p. 300). Entende-se,

portanto, que o bairro de Brasiliana, são as palavras utilizadas no Brasil, que foram para este

bairro depois que saíram do Bairro Antigo (das palavras portuguesas), atravessando o mar e

encontrando uma terra onde já haviam línguas indígenas.

Voltando para um lado mais social do livro, percebemos que o termo “negra”,

referindo-se a Tia Nastácia, aparece diversas vezes nele, em alguns trechos como: “(...)

Danada para tudo, aquela negra...” (LOBATO, 1972, p. 317). Além de tal denominação

utilizada, aparece no livro também: “(...) Tomara que seja uma negrinha preta que nem

carvão...” (LOBATO, 1972, p. 301). Em uma primeira análise, não há como pensar que

Monteiro Lobato não era racista. Porém, devemos recordar que, atualmente, o assunto acerca

do racismo é muito mais presente e combatido em nossa sociedade do que era na época do

autor. Apesar de o racismo e os direitos dos negros serem discutidos, com mais força, no

Brasil desde o final da segunda guerra mundial, de fato, tal problema é realmente posto em

pauta a partir da década de 60, nos Estados Unidos da América, onde, em meio ao movimento

hippie e à guerra fria, os negros, através dos Panteras Negras e personalidades como Martin

Luther King, mostraram-se presentes na sociedade e exigiram seus direitos. Visto isso,

podemos afirmar que Monteiro Lobato realmente utilizava termos que hoje são considerados

pejorativos e racistas, e que até nos remetiam à idéia de escravidão (lembrando que Tia

Nastácia era quem trabalhava no sítio), porém, esses termos que em sua época eram comuns,

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e não tinham tamanha repercussão. É interessante observarmos como a nossa percepção da

realidade muda com o andar da história. A forma como Lobato descreve Tia Nastácia ou se

refere à população negra, hoje, seria considerado racismo, e o autor sofreria graves

repreensões por utilizá-los em um livro, principalmente um infantil, já que, para ele, a

educação das crianças é muito sensível, qualquer pensamento que seja passado pode marcá-

las, para o bem ou para o mal inclusive. Por outro lado, em sua época, esse modo de

tratamento em relação aos negros era considerado normal, portanto, Lobato apenas

demonstra, com isso, fazer parte de um certo período da sociedade brasileira.

Um último assunto apresentado no livro é a ideia de Lobato (1972) de que, na verdade,

quem faz a língua é o povo, incluindo pessoas incultas, e não os gramáticos. Assim, o autor

mostra que, de certa forma, não concordava com o estruturalismo de Saussure, mas sim que

está em uma maior sintonia com a linguística moderna, comentada por Petter (2007), que

defende a ideia de que a língua também se modifica através da fala, e, por isso, ela também

deve ser estudada. Lobato, portanto, lembra que a língua se modifica, pois é viva. E essas

modificações, por sua vez, ocorrem por causa da utilização que o povo faz dela, assim, os

erros cometidos e repetidos também transformam a língua. Dona Etimologia, personagem de

Lobato, comenta:

(...) As pessoas cultas aprendem com professores, e, como aprendem, repetem certo

as palavras. Mas os incultos aprendem o pouco que sabem com outros incultos, e só

aprendem mais ou menos, de modo que não só repetem os erros aprendidos como

perpetram erros novos, que por sua vez passam a ser repetidos adiante. Por fim há

tanta gente a cometer o mesmo erro que o erro vira Uso e, portanto, deixa de ser

erro. (LOBATO, 1972, p. 321)

A partir desse trecho, fica claro a importância social que o erro de português possui. O

povo, perpetuando o erro, acaba fixando-o na língua, e, por ser utilizado deixa de ser erro.

Dona Etimologia (LOBATO, 1972) ainda dá o exemplo da palavra espelho. No Latim era

Speculum, ao chegar em Portugal, através dos soldados romanos, foi sendo gradativamente

“errada” e tornou-se Espelho, e continua mudando, Narizinho lembra que as pessoas do

campo dizem “Espeio”. Assim, com um exemplo prático, Lobato mostra um lado social muito

forte, passando para as crianças que as pessoas ignorantes, ou seja, que não sabem utilizar

direito a língua, devem ser bem vistas também e não repreendidas, já que: “(...) O que nós

hoje chamamos de certo, já foi erro em outros tempos.” (LOBATO, 1972, p. 321).

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6. EMÍLIA: A DONA TORNEIRINHA DE ASNEIRAS

A Emília foi escolhida para ser analisada por se tratar de uma das personagens mais

intrigantes e apaixonantes da coleção de histórias do Sítio do Pica Pau Amarelo. A boneca

(...) foi feita por tia Nastácia, com olhos de retrós preto e sobrancelhas tão lá em

cima que é ver uma bruxa. Apesar disso Narizinho gosta muito dela; não almoça

nem janta sem a ter ao lado, nem se deita sem primeiro acomodá-la numa redinha

entre dois pés de cadeira. (LOBATO, 1972, p. 11)

Emília era feita de pano, e, como todas as bonecas, muda. Porém, em “Reinações de

Narizinho”, após engolir uma pílula falante do Doutor Caramujo, passou a falar muito e ter

opinião sobre tudo, apesar de, podendo considerá-la uma criança, saber pouco de fato:

Emília engoliu a pílula, muito bem engolida, e começou a falar no mesmo instante.

A primeira coisa que disse foi: ‘Estou com um horrível gosto de sapo na boca!’ E

falou, falou, falou mais de uma hora sem parar. (LOBATO, )

Narizinho, desesperada por Emília falar tanto, em tão pouco tempo, pede ao Doutor

para que ele faça-a vomitar a tal pílula falante e engolir uma mais fraca, o médico responde,

porém, que aquilo era fala acumulada, e que a boneca voltaria ao normal. Emília, por sua vez,

sempre falou muito e sem pensar. Quando abria sua “torneirinha de asneiras” não tinha quem

a agüentasse.

Dentro do “universo lobatiano”, Emília é a única personagem que muda, que evolui,

conforme as histórias. A personagem mostra-se dominadora e egocêntrica, se preocupa

principalmente com suas idéias e umbiguinho. É obstinada em conseguir as coisas e muito

teimosa, sempre mantendo sua opinião intacta, independente de tudo. Como uma criança, a

boneca possui uma curiosidade imensa e segue sempre uma lógica pueril em relação às coisas.

Demonstrando simplicidade de pensamento, muitas vezes nos surpreende com suas idéias

diferentes e visão filosófica, como sua teoria sobre a vida:

(...) A vida, Senhor Visconde, é um pisca-pisca. A gente nasce, isto é, começa a

piscar. Quem  para de piscar, chegou ao fim, morreu. Piscar é abrir e fechar os olhos

– viver é isso. É um dorme e acorda, até que dorme e não acorda mais. (...)A vida

das gentes neste mundo, senhor sabugo, é isso. Um rosário de piscadas. Cada pisco é

um dia. Pisca e mama; pisca e anda; pisca e brinca; pisca e estuda; pisca e ama;

Page 25: Monografia LP1

31

pisca e cria filhos; pisca e geme os reumatismos; por fim pisca pela última vez e

morre.

- E depois que morre? – perguntou o Visconde.

- Depois que morre vira hipótese. É ou não é? (LOBATO, 1972, p. 243)

A boneca mostra, portanto, um lado irreverente. Sempre demonstrando ser uma

“sabichona”. A exemplo de seu criador, Emília é inconformada e sempre faz muitas perguntas

para as pessoas, absorvendo todas as informações e criando novas teorias e significações a

partir delas. É também por meio de suas tiradas que vamos nos apropriando das idéias de

Lobato. O autor desenvolveu a personagem de tal maneira que, em uma carta endereçada a

Godofredo Rangel, declarou:

Emília começou uma feia boneca de pano, dessas que nas quitandas do interior

custavam 200 réis. Mas rapidamente evoluiu, e evoluiu cabritamente - cabritinho

novo - aos pinotes. E foi adquirindo tanta independência que, não sei em que livro,

quando lhe perguntam: 'Mas que você é, afinal de contas, Emília:' ela respondeu de

queixinho empinado: 'Sou a Independência ou Morte.' E é. Tão independente que

nem eu, seu pai, consigo dominá-la. (Monteiro Lobato, in: Barca de Gleyre, 14ª ed,

Brasiliense, S.Paulo, 1972)

Um lado interessante da personagem é o fato de ser uma boneca, apesar de se

considerar gente: “(...) eu também sou gente e nada me modifica. Só Tia Nastácia às vezes...”

(LOBATO, 1972, p. 314). Essa simples característica acaba permitindo ações por parte de

Emília que não seriam bem vistas se fossem feitas por uma pessoa. Ela pode, assim, ser

malcriada e demonstrar certo egoísmo infantil, muito comum nas crianças. Também é rebelde,

possui muito interesse pelas coisas, tornando-se até inconveniente muitas vezes; e certa

maldade ingênua. Características que acabam indo de encontro ao público infantil, que, de

certa forma, se identifica com a boneca. Para Lobato era interessante uma personagem

irreverente e rebelde como ela para expressar suas verdadeiras opiniões acerca de

determinados assuntos. A idéia de que “Emília é só uma boneca, ela não sabe o que diz” tira o

foco do autor, que, teoricamente, está escrevendo apenas uma ficção, sem fundo crítico em

relação à língua (no caso de “Emília no País da Gramática”) ou à sociedade.

Por tais motivos, Emília tornou-se uma personagem de personalidade forte e esperteza

perspicaz. Chamando a atenção de todos os leitores: crianças, que se identificam com a

personagem, por causa de suas dúvidas e erros; e também adultos, que acabam rindo de sua

espontaneidade e idéias.

6.1 EMÍLIA NO PAÍS DA GRAMÁTICA

Page 26: Monografia LP1

32

Desde o começo do livro, Emília se mostra esperta e determinada, convidando

Pedrinho para ir ao país da gramática com o rinoceronte (que mais pra frente será nomeado de

Quindim). Como já dito anteriormente, o volume é escrito de maneira bem formulada e

desenvolvida, apesar de ser para crianças. Seguindo isto, podemos observar nesse convite que

a boneca faz ao menino essa forma trabalhada de se utilizar as palavras: “(...) por que em vez

de estarmos aqui a ouvir falar de gramática, não havemos de ir passear no país da

Gramática?” (LOBATO, 1972, p. 293). Analisando essa fala da Emília, observamos que a

boneca utiliza expressões como “estarmos aqui a ouvir” ou “havermos de ir passear” e

períodos compostos, indicando um maior desenvolvimento em sua fala do que a de uma

criança. Por outro lado, através de outros trechos, a personagem nos mostra um jeito simples

de se ver as coisas, seguindo uma lógica pueril e relacionando o que aprende com o seu

mundo, como uma criança faria ao ler esse livro.

Emília, com sua torneirinha de asneiras, sempre expressa essa sua simples forma de

pensar e enxergar as coisas. No segundo capítulo do livro, quando a turma conhece os

arcaísmos, e Quindim explica o significado de uma coisa arcaica (velha), a boneca relaciona o

que está aprendendo no país da gramática com o mundo em que vive, assim: “Então, Dona

Benta e Tia Nastácia são arcaísmos!” (LOBATO, 1972, p. 297). Sem papas na língua, aprende

associando as coisas. Em outro trecho, a boneca demonstra novamente essa forma de

aprendizado relacionando os advérbios com a Tia Anastácia. Quando lhe perguntam quem é

essa senhora, Emília diz: “Uma advérbia preta como carvão, que mora lá no sítio de Dona

Benta. Isto é, Advérbia só para mim, porque só a mim é que ela modifica. Para os outros é

uma substantiva que faz bolinhos muito gostosos.” (LOBATO, 1972, p. 314). Um dos

melhores exemplos para mostrar essa capacidade de associação da boneca é quando as

crianças estão aprendendo sobre o grau das palavras (aumentativo, diminutivo):

Sei disso – declarou Emília – As palavras quando querem significar uma coisa

grande, latem; e quando querem significar uma coisa pequena, choramingam. (...)

Botar um Ão no fim duma palavra é latir, porque latido de cachorro é assim – ão, ão,

ão! E botar um Inho, ou um Zinho no fim das palavras é choramingar como criança

nova. Panela, por exemplo; se late vira Panelão e se choraminga vira Panelinha.

(LOBATO, 1972, p. 304)

Com essa fala de Emília, o público infantil entenderia perfeitamente a lógica que ela

Page 27: Monografia LP1

33

usa. Já que se utiliza de figuras conhecidas no universo infantil para explicar uma gramática,

as crianças se identificariam.

Seguindo essa sua lógica pueril, Emília faz alguns comentários que seriam dignos de

uma criança que está descobrindo as coisas. Quando a turma está aprendendo sobre

substantivos próprios e a freqüência com que são chamados para batizar as pessoas, a boneca,

sabendo que o nome José era muito comum, e que, portanto, deveria “correr” muito em

Portugália, pensa: “Nesse caso o nome José deve ser fininho como um palito.” (LOBATO,

1972, p. 300).

Podemos chegar à conclusão, portanto, de que tal forma de aprendizado de Emília, por

associação, é importante ser mostrada no livro. As crianças que o lêem também estão em uma

fase de aprendizado, além de entenderem a gramática com a história, absorvem as coisas de

forma associativa, como a Emília. Levando, assim, essa forma de aprender para a vida, e se

desenvolvendo.

Ainda em relação à sua lógica de criança, a boneca cria neologismos ao longo do livro,

e age como se eles de fato existissem. É o exemplo de “botadeira”. Ela utiliza a palavra para

dizer que é ela quem coloca os nomes no Sítio do Picapau Amarelo. Assim, utiliza o verbo

“botar” com o sufixo “eira”, formando uma palavra através de uma derivação sufixal, como

aprenderia em outro capítulo. Erro que é muito comum no vocabulário de crianças, pois

seguem a mesma lógica que Emília. Há também neologismos que ela inventa

conscientemente, a palavra cavalência é um exemplo. Quando Dona Etimologia comenta que

não conhece essa expressão, Emília empolgada diz: “É minha! Foi inventada por mim com a

invençãozinha que Deus me deus. Faz parte dos meus “neologismos”.” (LOBATO, 1972, p.

322)

No capítulo em que “Emília forma palavras”, já mencionado no parágrafo anterior, há

uma passagem que caracteriza muito bem o sentimento da boneca em relação à sua sabedoria.

Emília é uma “sabichona” e sempre teima com quem tenta corrigi-la. Dona Etimologia,

explicava que as palavras adquiriam novos significados com os sufixos e deu como exemplo

“cavalaria”. Emília, então, é obrigada a argumentar com a senhora, mostrando toda sua

sabedoria e teimosia: “Não, senhora – protestou Emília – Cavalo com Aria atrás vira

cavaloaria e não Cavalaria.” (LOBATO, 1972, p. 322)

A personagem, por não ter papas na língua, acaba tecendo alguns comentários

desconcertantes e muitas perguntas, que demonstram seu jeito atrevido de ser. Como exemplo,

podemos citar a passagem em que a boneca abre sua “torneirinha de asneiras” conversando

com Vossa Serência (verbo ser):

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34

Por que Vossa Serência não aparece por lá, um dia, para uma visita a Dona Benta?

Por ser muito velho? Ora, deixe-se disso!...Estamos lá acostumados com a velhice.

Dona Benta é velha e Tia Nastácia também. (...) Dona Benta é viúva. Vá, que até

pode sair casamento... (LOBATO, 1972, p. 317)

Percebemos com este trecho que a boneca, ao falar com o verbo ser, forma frases mais

bem elaboradas, provavelmente por pensar que está falando com alguém muito importante. O

atrevimento de Emília fica claro, tentando arranjar até um noivo para Dona Benta e chamando

o verbo ser de velho.

A boneca também se expressa de modo imperativo com as pessoas. É um “espirro de

gente” que exige que todos a ouçam e se sente no direito de mandar nas pessoas. É a

Marquesa de Rabicó, uma boneca de classe, que merece respeito e muita atenção. Em várias

passagens do livro percebemos essa característica de Emília: “Chega de Advérbios! – berrou

(grifo nosso) Emília.” (LOBATO, 1972, p. 315). Em contrapartida, também observamos no

livro que em alguns momentos a boneca demonstra ainda obedecer à sua dona, Narizinho:

- Agora, não, Emília. Depois. Depois visitaremos Dona Prosódia. Neste momento eu

resolvo que se visite a etimologia. Você não manda.

E como o caso fosse assim despoticamente resolvido, dirigiram-se todos para a

residência da Senhora Etimologia. (LOBATO, 1972, p. 320)

Emília também faz uso de superlativos para se expressar, sempre dando ênfase às suas

histórias e tornando-as mais grandiosas. Também acaba aumentando a intensidade de sua

frase para puxar a atenção do “ouvinte”: “(...) Para Tia Nastácia ser magro é defeito

gravíssimo (grifo nosso).” (LOBATO, 1972, p. 305). A bonequinha demonstra, assim, ser

exagerada, sempre em busca de atenção, como uma criança de fato.

Mexendo com a imaginação e poder de criação das crianças, Lobato faz com que a

boneca tenha suas aventuras e seus “planos infalíveis”. Nesse volume, há dois principais

planos: o de entrar na casa do verbo ser, que era super “disputado’, no qual a bonequinha

fingiu-se de jornalista; e o de expulsar os gramáticos da casa de Dona Etimologia, para que

ela conseguisse dar-lhes atenção. Ambos planos acabam nos mostrando que Emília faz de

tudo para conseguir o que quer, e ela sempre sabe o que quer! Se pensarmos um pouco mais

além percebemos que essa característica da bonequinha se liga ao fato de ela ser um pouco

egocêntrica. A frase pertencente ao plano de expulsar os gramáticos da casa de Dona

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35

Etimologia (LOBATO, 1972, p. 230): “O melhor é espantarmos esses gramáticos e tomarmos

conta da velha só para nós!” mostra de forma clara o sentimento de egocentrismo bastante

presente também nas crianças, no início de suas vidas.

No capítulo voltado para as preposições, podemos analisar um comentário de Emília,

que nos indica a forma como ela faz uso da gramática. Através dessa fala, percebemos que ela

utiliza muitas preposições, e portanto, usa construções bem desenvolvidas, períodos

compostos. Entendendo que as preposições são as “cordinhas” de nossa língua, Emília se

empolga e diz: “Bravo! São umas cordinhas preciosas estas. A gente não pode dizer nada sem

usá-las, sobretudo as menorzinhas, como A, Até, Com, De, Sem, Por...” (LOBATO, 1972, p.

315). Apesar disso, as preposições em questão também são das mais simples, indicando ainda

que apesar de falar de forma mais complexa, a personagem ainda se adapta a um universo

mais simples, mais próximo do infantil.

Outro aspecto interessante da fala da Emília é o uso de diminutivos. Como dissemos

anteriormente, a personagem se utiliza de superlativos para dar mais emoção e exagero às

suas falas, chamando, assim, mais atenção, atenção essa que crianças necessitam que lhes

dêem. Por outro lado, se utiliza também de diminutivos, indicando que está mais próxima ao

universo infantil e que fala como uma menina. Podemos utilizar a palavra “cordinhas”,

apresentada na fala de Emília do parágrafo anterior, para ilustrar essa observação.

Observamos também em meio a leitura que a personagem erra muitas vezes as

palavras e seu modo de pronunciá-las. Chegando até a dizer que queria conhecer a Dona

Prosódia em vez da Dona Etimologia (origem e história das palavras), para descobrir como se

pronuncia certas palavras, segundo a bonequinha, ela é “prática”.

Um episódio também interessante é no desfile do verbo Ter. Emília acha a marcha do

verbo ter no presente maravilhosa, porque, segundo ela: “(...) Pelo jeito de marchar a gente vê

que eles têm mesmo...” (LOBATO, 1972, p. 310). Essa expressão que eles “têm” mesmo

deixa subentendido que esses verbos têm uma grande importância, por serem usados no

presente, ou seja, as pessoas estão utilizando-os. A boneca não gosta do jeito triste de marchar

do verbo tem no pretérito, já que eles não “têm mais nada”. Porém, a marcha que mais

empolgou a turma foi a do verbo ter no futuro. O verbo passa esperança de um futuro que

“tem” muitas coisas, felicidades e desenvolvimento para o país, idéia de Monteiro que pode

ser retirada da seguinte frase de Pedrinho: “Viva o futuro!” (LOBATO, 1972, p. 311).

Emília também nos dá material para sua análise quando vai conhecer os pronomes.

Quando ela vê os pronomes possessivos não se cabe de tanta felicidade: “Emília que achava

as palavras Meu e Minha as mais gostosas de quantas existem, agarrou o casalzinho e deu um

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36

beijo no nariz de cada uma (...)” (LOBATO, 1972, p. 308). Entendemos, a partir desta cena,

que a boneca é possessiva, e adora que as coisas sejam dela, como, novamente, a maioria das

crianças é. Além dos pronomes possessivos, Emília se encontra com os pronomes

interrogativos, outros muito utilizados pela bonequinha. E fica feliz em conhecê-los. Com sua

curiosidade infinita, a personagem era a boneca que mais dava trabalho a eles.

Após essa análise da Emília, percebemos que a boneca cometia muitos erros, e ao

mesmo tempo mostrava uma lógica simples em relação às coisas e regras. Monteiro Lobato

mostra, através da personagem que a língua portuguesa não precisa ser tão complexa para as

crianças, e que, mesmo o jeito delas de enxergá-la faz algum sentido. O público infantil se

identifica muito com a Emília, com suas dúvidas e comentários desconcertantes. A

personagem acaba se tornando a mais completa: se mostra entendida do assunto algumas

vezes e outras comete erros comuns às crianças, é espevitada, sem papas na língua, fala tudo o

que pensa, tem uma capacidade de associação imensa e, por fim, é uma boneca que parece

gente.

6.2 ANÁLISE DO DISCURSO DE EMÍLIA: VÍCIOS DE LINGUAGEM

O capítulo de título “Os vícios de linguagem”, como o nome diz, tem como principal

assunto os vícios de linguagem que ocorrem na língua portuguesa. Antes de tudo, lembremos

que os fenômenos que dão nome ao capítulo são alterações defeituosas da norma que ocorrem

na língua, são mal vistos aos olhos dos gramáticos, portanto.

Visto isso, já começaremos a analisar a linguagem desta parte do livro a partir do

primeiro diálogo. Quem está apresentando os vícios de linguagem à turma é a Dona Sintaxe,

quem organiza as palavras e orações. Observamos o receio que a senhora possui em relação

aos “monstrinhos”: “(...) Os vícios, eu os conservo em jaulas, como feras perigosas (grifo

nosso).” (LOBATO, 1972, p. 334). A partir dessa fala de Dona Sintaxe, podemos observar que

ela representa a visão dos gramáticos em relação à língua e aos vícios. É, então, amante das

regras e da ordem dentro do português.

Há então a apresentação de cada vício de linguagem. Todos eles são personificados em

pessoas sujas e mal encaradas, exceto dois: o Neologismo, muito bem arrumado e novo; e o

Provincianismo, que era considerado um “Jeca”, ingênuo e simples. Há 12 jaulas no local,

cada um para um vício de linguagem, são eles: o Barbarismo, o Solecismo, a Anfibologia

(mais conhecida como ambigüidade hoje), a Obscuridade, o Cacófato, o Eco, o Hiato, a

Colisão, o Arcaísmo, o Neologismo e o Provincianismo. Porém, uma das jaulas está fazia.

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37

Dona Sintaxe então explica que tal vício se reabilitou, era o Brasileirismo, que, com o

desenvolvimento da língua portuguesa no Brasil, deixou de ser um vício, porém só pode andar

pela cidade nova, ou seja, Brasiliana.

A visita começa: Emília, como é a mais curiosa, é quem vai a frente do grupo,

conversando com Dona Sintaxe. A boneca chega na primeira jaula e pergunta: “Que mal faz o

mundo esse “cara-de-coruja”?” (LOBATO, 1972, p. 334). Aparece nessa fala da personagem

o termo “cara de coruja” que vai se mostrar presente no vocabulário da bonequinha desde a

primeira vez em que ela fala, ainda no livro As reinações de Narizinho. Quando Emília não

sabe o nome de uma pessoa, e também não está interessada em saber, pois sua vontade é mais

importante, utiliza essa nomeação, simplesmente para ter um termo diferenciado de se chamar

alguém.

Dona Sintaxe explica à boneca pelo o que cada vício é responsável, sempre

demonstrando uma hostilidade e grosseria em relação a eles. Muitas vezes em que ela fala

sobre algum deles utiliza termos como: “idiota”, “cretino” ou “imbecil”. Palavras que são

consideradas impróprias para serem adicionadas ao vocabulário de uma criança. Assim,

passam pelo Barbarismo, que faz com que as pessoas errem as palavras, seja a pronuncia ou a

escrita; pelo Solecismo, que causa erros de concordância; a Anfibologia, que deixa as frases

ambíguas; a Obscuridade, que faz com que as frases não sejam claras, objetivas; o Cacófato,

gera sons desagradáveis nas frases, fazendo com que estas tenham um sentido “feio”; o Eco,

faz com que haja repetição desagradável de terminações iguais; o Hiato, gera som

desagradável pela aproximação de vogais idênticas na frase; a Colisão, gera frases com

consonâncias desagradáveis; o Arcaísmo, palavras antigas em frases modernas que dificultam

o entendimento; o Neologismo, palavras recém-formadas, que, pela visão de Dona Sintaxe,

dificulta também o entendimento; e, por último, o Provincianismo, que faz as pessoas

utilizarem termos conhecidos em alguns locais somente, são os regionalismos.

Emília, enquanto conhecia os vícios, dava apelidos para cada um deles, era “bicarada”

para a ambigüidade, pois ela tinha duas caras, ou seja, dois sentidos. A Obscuridade era

“pretuda”, obviamente por causa de sua cor. Chamava os outros de “cara de cachorro” e

“pandorga”, além de “Matusalém” para o Arcaísmo. A boneca mostra, mais uma vez, seu jeito

atrevido de ser.

As partes do capítulo que merecem uma maior atenção, porém, são as que Emília

liberta dois dos vícios de linguagem, para o espanto de Dona Sintaxe, que, todavia, fica

imóvel, não toma nenhuma ação.

O primeiro que Emília solta é o Neologismo:

Page 32: Monografia LP1

38

Emília, que era grande amiga de neologismos, protestou.

- Está aí uma coisa com a qual eu não concordo. Se numa língua não houver

neologismos, essa língua não aumenta. Assim como há sempre crianças novas no

mundo, para que a humanidade não se acabe, também é preciso que haja na língua

uma contínua entrada de Neologismos. Se as palavras envelhecem e morrem, como

já vimos, e se a senhora impede a entrada de palavras novas, a língua acaba

acabando! Não! Isto não está direito e vou soltar esse elegantíssimo vicio, já e já...

(LOBATO, 1972, p. 335)

Nesta fala da boneca, podemos analisar diversos temas. Primeiramente, observamos

que Emília, seguindo sua característica de associar o que aprende com seu mundo, faz um

paralelo entre a manutenção da população, nascimento de novas crianças, e a manutenção da

língua, criação de neologismos. De fato, a lógica da bonequinha tem fundamento. Como ela

aprendera no início da história, as palavras nascem, crescem e morrem, como pessoas.

Portanto, se não há a introdução de neologismos, a língua estaria acabada um dia.

Percebemos também neste trecho a presença do superlativo sintético, utilizado pela

bonequinha, que sempre exagera e dá ênfase ao que fala. Ao dizer “Elegantíssimo vício”, a

personagem já está mostrando ser contra a idéia da Dona Sintaxe, e tenta irritá-la, mudando

sua organização da língua. Esse plano continua quando a boneca diz: “(...) Temos de continuar

na “campeação” dele (do Visconde) – disse Emília, mordendo o lábio e olhando firme para a

Sintaxe (...)” (LOBATO, 1972, p. 335). Torna-se claro nesta passagem o desejo da

personagem em irritar a Dona Sintaxe utilizando um de seus neologismos.

Além desses aspectos, é através de Emília que Lobato nos passa a idéia de que os

neologismos são bons para a língua. Novamente indo contra os gramáticos, já que o autor

discorda com os estudiosos em relação à forma de ensino da gramática, Monteiro faz com que

a boneca liberte esse vício de linguagem, mostrando uma nova visão da gramática, a de que as

palavras novas são muito importantes para a manutenção da língua.

O segundo Vício de Linguagem solto foi o Provincianismo, Emília: “(...) não achou

que fosse o caso de conservar na cadeia o pobre matuto. Alegou que ele também estava

trabalhando na evolução da língua e soltou-o.” (LOBATO, 1972, p. 335).

A boneca novamente trabalha com lições aprendidas ao longo do livro. Quando ela

alega que o Provincianismo também estava trabalhando na evolução da língua, relembra do

que aprendeu com Dona Etimologia, que o inculto é quem faz a língua. O vício no caso não

era inculto propriamente, mas reproduzia as palavras de modo diferente do que devia, graças

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ao local em que morava e aprendera a falar. Mais uma vez, o autor utiliza Emília como sua

porta-voz. Acreditando que o povo que faz a língua, Monteiro faz com que a boneca defenda

o matuto do Provincianismo, mostrando, assim, a visão de uma nova geração em relação à

gramática.

Lobato mostra também uma visão um pouco arcaica ou preconceituosa em relação ao

caipira. A partir do modo que ele é descrito (LOBATO, 1972, p. 335): “Tão bobo, o coitado,

que nem teve a idéia de agradecer à sua libertadora.”, percebe-se que o autor quis nos passar a

falta de atitude e a ingenuidade das pessoas que vivem no campo. Idéia que encontramos em

sua outra obra “Urupês” (1918), em que a personagem Jeca Tatu se faz presente.

Atualmente o provincianismo não é considerado um vício de linguagem propriamente

dito. Na verdade nos remetemos a ele ao falarmos de variações lingüísticas dentro de um país,

ou seja, de regionalismos. Característica muito presente em nosso país, e que, hoje, é aceita e

respeitada.

Por último, observamos que o fato de Dona Sintaxe não ter feito nada para impedir

que Emília soltasse os Vícios, provavelmente indicaria como os gramáticos se sentiam ao ver

essa nova geração da gramática chegando, com as idéias que Monteiro Lobato nos passa.

7. PESQUISA DE CAMPO

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40

Através de entrevistas, questionamentos sobre aspectos subjetivos, como opiniões ou

recordações passadas, conseguimos que as pessoas se expressem de forma a não darem

atenção ao modo como articulam a fala. Por esse motivo, uma pesquisa de campo que possua

o intuito de captar os níveis de fala de determinado grupo de pessoas precisa conter certo

aspecto informal. Conforme o tema deste trabalho, desenvolvemos questionamentos e os

levamos as ruas da cidade de São Paulo. Monteiro Lobato preocupava-se muito com a questão

da educação, principalmente quando o assunto eram crianças, desse modo, o tema escolhido

para a pesquisa foi exatamente este, a educação. De 50 entrevistas feitas, destacamos 10 para

análise, sendo estas variadas, duas de cada classe social (determinada por meio de um

questionário sócio econômico).

7.1 ENTREVISTAS

Classe A

Nome: Rosana

Idade: 41 anos

Local da entrevista: Estação Armênia.

*segue em anexos o questionário sócio econômico.

1- Conte para a gente algo que você aprendeu quando criança e que se

lembra até hoje. Por que você se lembra/ Por que te marcou?

“O que eu aprendi quando criança? Faz tempo, é por isso... Ah, o que eu aprendi na minha

família é... eram católicos, então era muito rígido, assim... com horário, que até hoje, marcou

um horário, é naquele horário que eu tenho que chegar, eu num admito nem chegar um minuto

depois nem um antes. Por que eu num gosto de esperar ninguém, quando eu marco alguma

coisa que demore eu me lembro disso e num deixo ninguém me esperando, foi uma coisa que

me marcou.”

2- Para você, como é mais fácil/ qual a melhor maneira de se aprender?

Page 35: Monografia LP1

41

“A melhor maneira de aprender? Eu acho que é se conversando, a gente explicando, aquilo,

num é? Eu tenho os filhos, é o que eu passo pros meus filhos, né? Né..o certo da coisa...

explicar o por que é que tem que fazer o certo. Conversar, né? Desta forma.”

3- Você já ensinou alguma coisa para alguém? O que? Como foi?

“Já, né! Com quatro filhos, já ensinei um monte! Ah, ensinar o... o caminho certo das

coisas...e fazer a coisa correta...Em tudo...A vida no geral.”

4- O que você gostaria de ter aprendido (melhor) na escola? Por quê?

“Na escola? Acho que mais a parte de cidadania...é, que na minha época num tinha

muito...né? Muito esse lado de ética, cidadania, eu queria ter aprendido mais”

5- O que você acha que as pessoas, principalmente as crianças, aprendem

com os meios de comunicação?

“Tudo. De certo e de errado, aprende tudo. Tudo. Não,todo lado! Toda coisa tem o lado bom e

lado o ruim né...isso que eu te falo, aprende tudo. Então, desenvolvimento é muito mais

rápido, o desenvolvimento de raciocínio de tudo, graças computadores e tudo mais, mas tem o

lado ruim também da história né? Num é só o lado bom, não. Que também é bem rápido o

lado ruim, né? O lado ruim, né?”

Nome: Marina

Idade: 44 anos

Local da entrevista: Avenida Paulista

1- Conte para a gente algo que você aprendeu quando criança e que se

lembra até hoje. Por que você se lembra/ Por que te marcou?

“Bom, estou com um pouco de pressa, algo que eu me lembro muito bem de ter aprendido,

que foi difícil e marcante, foi andar de bicicleta. Aprendi com meu pai, hoje falecido. Estou

dando esse exemplo porque acho que isso é uma coisa que uma vez aprendida não se esquece

mais, não se desaprende sabe.”

2- Para você, como é mais fácil/ qual a melhor maneira de se aprender?

Page 36: Monografia LP1

42

“Acho que você realmente aprende alguma coisa quando tira da teoria e coloca na prática, ai

você realmente nunca mais esquece.”

3- Você já ensinou alguma coisa para alguém? O que? Como foi?

“Bom ensinei varias coisas aos meus filhos, como por exemplo, o hábito da leitura.”

4- O que você gostaria de ter aprendido (melhor) na escola? Por que?

“Na escola eu não me lembro, mas na faculdade eu acho que poderia ter tido professores

melhores, que incentivassem mais o aluno, porque faculdade é aquela coisa né... o aluno é só

um número.”

5- O que você acha que as pessoas, principalmente as crianças, aprendem

com os meios de comunicação?

“Acho que dependendo do que assistem, podem tirar boas coisas dos meios de comunicação,

os programas da TV Cultura são uma boa.”

Classe B

Nome: Maria.

Idade: 57 anos.

Local da entrevista: Parque da Luz.

*segue em anexos o questionário sócio econômico.

1- Conte para a gente algo que você aprendeu quando criança e que se

lembra até hoje. Por que você se lembra/ Por que te marcou?

“Tem muitas coisas que marcam a vida da gente... não uma só são várias... o dia que meu

primeiro cachorrinho que eu tive morreu, minha gatinha quando foi atropelada, quando nós

recebemos a visita de uns americanos...nossa...eu tinha 5 anos de idade e lembro até hoje...a

primeira vez que eu fui em um parque de diversão...ah foi muita coisas...”

2- Para você, como é mais fácil/ qual a melhor maneira de se aprender?

“Tudo que você tiver que aprender a melhor coisa q você faz é gravar num gravador e depois

você mesma escuta o que você ta falando... as coisas de escola, um lembrete, algumas coisas

que você quer escrever... você mesma dita pro gravador e depois vai escutando e consegue

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43

gravar com mais facilidade...”

3- Você já ensinou alguma coisa para alguém? O que? Como foi?

“Sim... já dei aula de artesanato...”

4- O que você gostaria de ter aprendido (melhor) na escola? Por quê?

“Geografia... eu odeio geografia... queria aprender, mas não consigo guardar...”

5- O que você acha que as pessoas, principalmente as crianças, aprendem

com os meios de comunicação?

“Ah com certeza ficou mais fácil hoje né... antes a única forma de aprender era a escola...o

campo de ensino hoje é muito mais amplo em vista do que era na minha época...hoje em dia

tem a televisão, o celular...muitas formas da criança se comunicar...”

Nome: Geralda

Idade: 52 anos

Local da entrevista: Pinacoteca do Estado

*segue em anexos o questionário sócio econômico

1- Conte para a gente algo que você aprendeu quando criança e que se

lembra até hoje. Por que você se lembra/ Por que te marcou?

“Não... não lembro não...”

2- Para você, como é mais fácil/ qual a melhor maneira de se aprender?

“Eu acho que na prática né...”

3- Você já ensinou alguma coisa para alguém? O que? Como foi?

“Já ensinei a fazer comida pra empregada...”

4- O que você gostaria de ter aprendido (melhor) na escola? Por quê?

“Ah,,,Tudo o que eu aprendi na escola eu sei até hoje...”

5- O que você acha que as pessoas, principalmente as crianças, aprendem

Page 38: Monografia LP1

44

com os meios de comunicação?

“Acho que hoje ta tudo mais fácil, exatamente por causa disso... Antigamente tinha que

prestar mais atenção.”

Classe C

Nome: Melissa

Idade: 31 anos

Local: Estação da Luz

*segue em anexos o questionário sócio econômico

1- Conte para a gente algo que você aprendeu quando criança e que se

lembra até hoje. Por que você se lembra/ Por que te marcou?

“Melissa meu nome... eu acho que foi o catecismo... porque quando eu era jovem... eu entrei

no catecismo... eu me tornei até coroinha da igreja e tudo... isso quando eu era homem... mas

acho que foi por isso... somente por isso que eu me lembro... e pelas minhas orações

também... somente por isso...

2- Para você, como é mais fácil/ qual a melhor maneira de se aprender?

“Eu acho que as pessoas se aprendem é somente na prática... porque muitas coisas que a

escola ensina fica só na teoria querida... e se não for pra pratica você não progride...isso é o

que eu acho...uma opinião minha...”

3- Você já ensinou alguma coisa para alguém? O que? Como foi? Por quê?

“Eu já ensinei coisas no Ceará pros meus primos e sobrinhos... algumas coisas... do dever de

casa eu ensinava....”

4- O que você gostaria de ter aprendido (melhor) na escola? Por quê?

“Eu acho que eu podia ter aprendido melhor é a matemática... e algumas professoras não

sabem ensinar bem... explicam de um jeito, mas o aluno vê de outro...”

5- O que você acha que as pessoas, principalmente as crianças, aprendem

com os meios de comunicação?

“Não... eu acho que não... porque hoje 90% das coisas que passam na TV é porcaria... essas

Page 39: Monografia LP1

45

coisas de arma, roubo...estimula as crianças...acho que os pais não deviam deixar as crianças

assistir não...”

Nome: Maria

Local da entrevista: Viaduto do Chá

*segue em anexos o questionário sócio econômico

1- Conte para a gente algo que você aprendeu quando criança e que se

lembra até hoje. Por que você se lembra/ Por que te marcou?

“Que eu aprendi quando era criança?... A única coisa é que eu não aprendi nada quando era

criança purquê eu sempri trabalhei. Eu cumecei a trabalhar dos nove anos, até hoje continuo

trabalhando... Num aprendi muita coisa de criança não.”

Alguém te ensinou alguma coisa no trabalho que você se lembre até hoje, que você ache

importante?

“Não, purquê quando eu... eu comecei a trabalhar em casa de família, quando era criança, né?

Eu que eu aprendi lá... até hoje eu sei também, né? Tudu u que eu aprendi foi limpa a casa,

essas coisa. Cozinhá, qu’eu sô cuzinheira. Foi isso memu.”

Por que você se lembra do que aprendeu? Porque te marcou?

“Cozinhá? Porque eu gostu muito di cuzinhá, ora. Pense no meu tamanho, né? (risos) É

purque eu adoro minhas comida, né? Aí eu cozinho e como muito também.”

2- Para você, como é mais fácil/ qual a melhor maneira de se aprender?

“A melhó... a melhó manera de aprendê é... istudando, né? Tem qui istudá bastante.”

3- Você já ensinou alguma coisa para alguém? O que? Como foi?

“Na minha ária di culinária eu já ensinei a cuzinhá, algumas amiga... Tô ensinando agora

minha filha.”

A senhora deu aula de culinária?

Page 40: Monografia LP1

46

“É, eu já. Dei aula di culinária pras minhas amigas, e hoje, agora to ensinando a ela a aprendê

a lê purque a professora num ensina nada. E... a cuzinhá também, né? Purque ela também

adora cuzinhá ”

4- O que você gostaria de ter aprendido (melhor) na escola? Por quê?

“Eu gostaria de tê aprendido achu que era a escrever melhó... eu num aprendi a iscrevê.

Deisqui eu aprendi a istudá, eu tinha 19 anus i... com’é que chama? Istudandu, assim, à noite a

gente aprende muito pouco, né? Aí eu saí da iscola i eu sei alguma coisa mas num é u tantu

qui eu gostaria, né?”

5- O que você acha que as pessoas, principalmente as crianças, aprendem

com os meios de comunicação?

“Achu qui não aprende nada. Ela só fica ali na frente da televisão... quando aprende é só umas

músicas besta. (risos) As minhas filha só aprende aquelas música besta. As outra coisa não

aprende nada, nada, nada. Comu se... ela não tivesse nem iscutando.”

Classe D

Nome: Ana.

Idade: 50 anos.

Local da entrevista: Jardim Bonfiglioli.

*segue em anexos o questionário sócio econômico

1- Conte para a gente algo que você aprendeu quando criança e que se

lembra até hoje. Por que você se lembra/ Por que te marcou?

“O que que eu aprendi?... Cada pergunta, fecha isso ai primeiro, deixa eu fazer uma

retrospectiva da minha infância... (silêncio) Respeitar os mais velhos. Porque eu acho que é

primordial, faz parte da educação. A gente leva pro resto da vida.”

2- Para você, como é mais fácil/ qual a melhor maneira de se aprender?

“Danu exemplo”

3- Você já ensinou alguma coisa para alguém? O que? Como foi?

Page 41: Monografia LP1

47

“Nossa! Pros meus filhos... Aprendi e ensinei. Respeitar os outros... Como? Dando exemplo,

que tem que ser respeitado, pra quando eu era muito pequena, que eu “tava”, sempre falo isso,

falei “pros” meus filhos, ”tava” duas pessoas conversando eu jamais interpelava, pedia

licença, porque se não eu era castigada depois.”

4- O que você gostaria de ter aprendido (melhor) na escola? Por quê?

“Na escola... na escola... o que eu gostaria, eu acho que, tem uma matéria, que eu acho que eu

deveria se ensinada melhor até hoje: português, por que não ensinam direito.”

5- O que você acha que as pessoas, principalmente as crianças, aprendem

com os meios de comunicação?

“Bastante coisa, muito, aprende e desaprende também, porque é mal-usado como meio de

comunicação, mas é um bom veiculo pra aprender, desde que seja bem direcionado, é bom, é

válido, tenho nada contra meios de comunicação.”

Nome: Rosalina.

Idade: 67 anos.

Local da entrevista: Jardim Bonfiglioli.

1- Conte para a gente algo que você aprendeu quando criança e que se

lembra até hoje. Por que você se lembra/ Por que te marcou?

“Ih... e agora... (risada) tá longe, de que que você fala? Ai, não sei se to lembrada.”

2- Para você, como é mais fácil/ qual a melhor maneira de se aprender?

“Ah, eu acho que... é... eu acho que melhor é... a melhor maneira é você le muito, leitura traz

muitas... muita experiência, né... e acho que é mais fácil ler mesmo para aprender, e sei lá.”

3- Você já ensinou alguma coisa para alguém? O que? Como foi?

“Ah, só assim, parte de coisas manuais... assim já... é artesanato, fazer caixa, também, crochê,

tricô essas coisas, só manuais.”

4- O que você gostaria de ter aprendido (melhor) na escola? Por quê?

“Na escola? Aahh... acho que eu gostaria mais de aprender mais matemática mesmo, mais

difícil pra mim, e teria que te mais.”

Page 42: Monografia LP1

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5- O que você acha que as pessoas, principalmente as crianças, aprendem

com os meios de comunicação?

“Hoje em dia você tem tudo, né, “pra” aprender de tudo, variado, né, porque você tem

internet, você tem... que te traz tudo ali, né, então eu acho que todas as áreas eles aprendem

muito.”

Classe E

Nome: Rúbens

Idade: 36 anos

Local da entrevista: Parque da Luz

* Segue em anexos o questionário sócio econômico.

1- Conte para a gente algo que você aprendeu quando criança e que se

lembra até hoje. Por que você se lembra/ Por que te marcou?

“Aprendi a ser trabalhador...trabalho até hoje graças a Deus...”

Então o senhor aprendeu a trabalhar é isso? O senhor trabalhava com o que?

“Trabalhava na roça e hoje sou segurança auxiliar de serviços gerais...no momento to

desempregado e sem casa...”

2- Para você, como é mais fácil/ qual a melhor maneira de se aprender?

“Mais fácil de aprender... trabalhando... trabalhando é que se aprende.”

3- Você já ensinou alguma coisa para alguém? O que? Como foi?

“O que eu tive que ensinar foi pros meus filhos que hoje eles tão na faculdade...tem 21 anos

hoje eles tão fazendo faculdade.”

O senhor freqüentou a escola?

“Até a oitava”

4 - O que você gostaria de ter aprendido (melhor) na escola? Por quê?

“Gostaria de aprender mais ler e escrever melhor... Eu num sei escrever muito bem... a ler eu

Page 43: Monografia LP1

49

sei graças a Deus”

5- O que você acha que as pessoas, principalmente as crianças, aprendem

com os meios de comunicação?

“Eu acho que se tive uma pessoa pra ensina elas prende muito mais rápido do que fica nessa

vida na rua no crime... porque se tivesse pais adequados não teria tanta criança na rua...”

Nome: Manuel

Idade: 70 anos

Local da entrevista: Parque da Luz

*segue em anexos o questionário sócio econômico

1- Conte para a gente algo que você aprendeu quando criança e que se

lembra até hoje. Por que você se lembra/ Por que te marcou?

“Ah... vai ser difícil de alembrar... porque várias coisas aconteceu comigo quando a gente era

criança.... desastre, briga... tudo isso aconteceu...onde eu nasci me criei...tudo isso

aconteceu...dá o que? 48 horas de viagem...vários causos aconteceu...”

2- Para você, como é mais fácil/ qual a melhor maneira de se aprender?

“Aprende na delicadeza uns ao outo... e respeita uns aos outo... que tem uns que quer ser

melhor que os outo... um que é preto, outo que é branco... a gente é tudo igual... tem que ser

bem educado...”

3- Você já ensinou alguma coisa para alguém? O que? Como foi? Por quê?

“Já ensinei vários... pros filhos ensinei muita coisa... hoje quem ensina é eu... que a mãe deles

já é falecida... eu que ensina tudo... tem dois casado e um solteiro... quem tem que ensina é

eu... (hoje o senhor Manuel não vive com os filhos, vive de favor na casa de parentes, porém

sem residência fixa, chega até a morar na rua.)”

O senhor freqüentou a escola?

“Não... eu sei lê mais ou menos mais eu nunca fui de escola... eu nunca fui de escola...”

4- O que você gostaria de ter aprendido (melhor) na escola? Por quê?

Page 44: Monografia LP1

50

O senhor Manuel nunca freqüentou a escola.

5- O que você acha que as pessoas, principalmente as crianças, aprendem

com os meios de comunicação?

“É mais fácil... porque antigamente era muito mais difícil as coisa... donde eu era quando era

menino era muito mais difícil...”

7.2 ENTREVISTAS ANALISADAS

Quando saímos às ruas com a pretensão de realizar uma pesquisa que tenha o intuito

de analisar os níveis de fala das pessoas, acabamos estabelecendo mentalmente alguns

estereótipos. Uma pessoa de classe A, por exemplo, deveria possui tal estereótipo, como por

exemplo, estar bem vestida, falar corretamente, possuir um amplo vocabulário, e assim por

diante. Já uma pessoa de classe C ou D possuiria vestimentas mais simples e um vocabulário

mais limitado, enquanto uma pessoa de classe E teria certa dificuldade para se comunicar.

Contudo, como a maioria dos estereótipos impostos, apenas uma parcela do que

encontramos na realidade os seguem já outras fogem a esse padrão idealizado. Ao realizarmos

as entrevistas em diversas localidades da cidade de São Paulo, pudemos perceber que algumas

pessoas se expressavam melhor do que outras, e essa pessoa que se expressava melhor não se

encontrava necessariamente em uma classe econômica superior.

Desse modo, pudemos perceber que a aplicação de um questionário sócio econômico

serve única e exclusivamente para determinar posses materiais, e a língua falada consiste em

um bem imaterial, portanto intangível, e assim seria impossível a existência de um padrão do

tipo, classe tal é de um jeito, classe tal é de outro. Das 50 entrevistas realizadas destacamos

10, e dessas 10 entrevistas pudemos avaliar os níveis de fala de cada pessoa entrevistada.

Começando pelas pessoas classificadas como classe A, as entrevistas destacadas foram

feitas com duas pessoas do sexo feminino, uma de nome Rosana, e outra de nome Mariana,

ambas com ensino superior completo. Rosana foi abordada na Estação Armênia do Metrô, e

esta respondeu as questões de um modo informal, com freqüente utilização de vícios de

linguagem, como por exemplo, a palavra “né” e a palavra “num” no lugar da palavra “não”.

Rosana demonstrou entendimento sobre as questões perguntadas, entretanto possui algumas

dificuldades na maneira de se expressar, como o que ocorre no trecho: “... eram católicos,

então era muito rígidos”, onde Rosana reproduz um erro de concordância verbal. Levando em

conta que Rosana possui nível superior completo, o modo com que se expressa foge ao padrão

Page 45: Monografia LP1

51

idealizado sobre esta parcela da população.

A outra entrevista realizada com uma pessoa de classe A, se deu na Avenida Paulista,

Mariana, a mulher entrevistada apresentou um bom entendimento quanto às questões

levantadas, e as respondeu de uma forma mais formal, “Acho que você realmente aprende

alguma coisa quando tira da teoria e coloca na prática, ai você realmente nunca mais

esquece.”. Mariana, portanto apresenta um domínio maior da língua em relação à Rosana,

apesar de ambas estarem na mesma classe socioeconômica.

Em relação às entrevistas de classe B, essas também foram feitas com duas pessoas do

sexo feminino, Maria e Geralda, abordadas no Parque da Luz e Pinacoteca do Estado,

respectivamente. Maria demonstrou certa dificuldade no entendimento da primeira questão,

mas apesar disso acabou deixando em sua resposta, mesmo de modo subjetivo, o que lhe

perguntamos. Maria não nos disse exatamente algo que aprendeu quando e criança, e sim

começou a nos contar memórias marcantes de sua vida, “Tem muitas coisas que marcam a

vida da gente... não uma só, são várias... o dia que meu primeiro cachorrinho que eu tive

morreu, minha gatinha quando foi atropelada, quando nós recebemos a visita de uns

americanos...nossa...eu tinha 5 anos de idade e lembro até hoje...a primeira vez que eu fui em

um parque de diversão...ah foi muita coisas...”. Deste trecho podemos entender que Maria

teve de aprender a lidar com perdas, ou seja, a mesma acabou respondendo a pergunta que lhe

fizemos, mesmo que de forma inconsciente.

Maria não possui ensino superior, entretanto se expressa de um modo semelhante e até

mais desenvolto em alguns aspectos do que a entrevistada Rosana, da classe A. Algo que

também notamos na fala de Maria, foi o erro de concordância, em “...ah foi muita coisas...”.

Maria também demonstra uma dificuldade de entendimento na última questão, onde esta

apenas cita que hoje o aprendizado se tornou mais fácil, e não expressa sua opinião sobre a

questão dos meios de comunicação intervindo na aprendizagem, principalmente na das

crianças.

Geralda, a outra mulher entrevistada, demonstrou pouca articulação da fala na

entrevista, respondendo com frases curtas e objetivas o que lhe perguntamos, demonstrou má

vontade com a entrevista ainda que a tenha concedido. Na última questão, Geralda

demonstrou não ter compreendido o propósito da questão respondendo simplesmente que:

“Acho que hoje ta tudo mais fácil, exatamente por causa disso... Antigamente tinha que

prestar mais atenção.”

Para a classe C, destacamos duas entrevistas onde as entrevistadas mostraram-se

desinibidas e com disposição para conversar. As entrevistadas são Melissa, um travesti que

Page 46: Monografia LP1

52

estava a trabalho no Parque da Luz, e Maria, que adora cozinhar, e foi entrevistada no Viaduto

do Chá. Melissa apresenta em seu diálogo expressões bem características, como, “querida”, e

apresenta uma opinião negativa em relação aos meios a intervenção dos meios de

comunicação no aprendizado. Melissa chegou a completar o ensino médio, em sua terra natal,

o Ceará, e depois veio para São Paulo. Melissa, apesar de pertencer à classe C possui um bom

nível de fala, e outra coisa que talvez passe despercebido na entrevista transcrita seja a

presença de certo sotaque.

A entrevista seguinte, com Maria, que não freqüentou a escola, apresenta algumas

variações, típicas de um dialeto mais popular, como por exemplo, as palavras porque, sempre,

comecei, tudo, cozinhar, cozinheira, mesmo, gosto, melhor e estudando, pronunciadas do

seguinte modo por Maria: “purquê”, “sempri”, “cumecei”, “tudu”, “cozinhá”, “cuzinheira”,

“memu”, “gostu”, “melhó”, “istudando”, além da freqüente repetição da palavra “né” ao final

de suas frases.

Com as entrevistas de classe C, pudemos observar que os níveis de fala, o modo de

pronúncia e articulação de expressões se caracteriza como dialeto popular, embora tenhamos

encontrado pessoas de classe C que não dialogavam dessa forma. Reforçando assim aquela

idéia de que não existe um padrão único de fala para cada nível socioeconômico, e que esta

varia sim, mas não conforme a classe social, e sim conforme as experiências de vida,

conforme a escolaridade (de certa forma), entre outros fatores.

Na classe D, destacamos as entrevistas feitas com Ana e Rosalina, ambas entrevistadas

no bairro Jardim Bonfiglioli. Ana concluiu o ensino fundamental, e assim como Maria (Classe

C), apresenta indícios de um dialeto mais popular, “Danu exemplo”, além de algumas

dificuldades quanto à concordância do que dizia. Ana acredita que poderia ter aprendido

melhor o português em seu tempo de colégio, pois acredita que a professora que lhe deu a

disciplina não ensinava direito. Ana acredita que se os meios de comunicação forem usados de

forma direcionada, estes ajudam no processo de aprendizagem.

Rosalina é uma senhora já de idade e possui apenas o primário completo, porém se

expressa de forma semelhante à Ana que possui mais estudo, Rosalina apresenta algumas

dificuldades quanto à concordância de suas frases, e parece possuir uma dificuldade para se

expressar, esta acredita que “hoje em dia você tem tudo, né, pra aprender de tudo” quando se

refere aos meios de comunicação.

As pessoas pertencentes aos níveis econômicos mais baixos apresentam certa

dificuldade ao responder a última questão, acreditamos que seja uma questão um pouco

complexa, sobre a qual muitas pessoas nunca pararam para refletir, ou nunca foram

Page 47: Monografia LP1

53

questionadas sobre.

As entrevistas selecionadas para a classe E, foram feitas com duas pessoas do sexo

masculino, Rúbens e Manuel, no Parque da Luz. Rúbens cursou o ensino fundamental e hoje

se encontra desempregado, porém, já trabalhou antes, e acredita que este seja o maior

aprendizado de sua vida, o trabalho. Rúbens possui um nível de fala diferente daquele padrão

que nos vem à mente quando pensamos em classe E, pois imaginamos alguém com um

vocabulário bem popular, enquanto Rúbens apresenta um nível de fala semelhante a pessoas

de classe C e ate mesmo algumas entrevistas gravadas com pessoas de classe B. Rúbens

também encontra dificuldade no entendimento da última questão e acaba não respondendo o

que lhe é perguntado, sua resposta é sobre a questão dos pais, ou seja, do orientador, que é

uma figura muito importante quando pensamos no aprendizado.

Manuel apresenta dificuldade no entendimento das questões, este já é um senhor de

idade, que vive de favores, e mora com parentes, ou ate mesmo nas ruas. Este não freqüentou

a escola e apresenta dificuldades com a concordância em suas falas, além da presença de

sotaque e um modo diferente de pronúncia de algumas palavras, como por exemplo, a palavra

lembrar, pronunciada “alembrar” por Manuel.

Conforme as entrevistas analisadas pudemos perceber que a grande maioria das

pessoas entrevistadas é a favor dos meios de comunicação, e acreditam que estes ajudam no

aprendizado. Pudemos reparar também em algumas dificuldades quanto a concordância das

frases, porém, isso não atrapalha a comunicação, pois todas as entrevistas que fizemos são

passíveis de entendimento, e cada pessoa possui o seu jeito de falar, seu vocabulário, seu

modo de expressão, seu tom de voz, condizentes com suas experiências vividas.

8. CONCLUSÃO

Page 48: Monografia LP1

54

O objetivo desta monografia era a análise de discurso dos livros da coleção do Sítio do

Pica-Pau Amarelo, nos focando, obviamente, em um dos volumes. Achamos que seria

importante, porém, introduzir o trabalho com uma pesquisa sobre o autor, sua época e sua

obra.

Monteiro Lobato nasceu em Taubaté, interior de São Paulo. Cresceu em uma fazenda e

formou-se em Direito. Porém, não achava que essa seria sua carreira. Com o passar dos anos

fez traduções e escreveu crônicas, assim surgiu o famoso Jeca Tatu. Em 1920, lança “A

Menina do Nariz Arrebitado”, livro que, mais pra frente, gerou a coleção do Sítio do Pica Pau

Amarelo. O autor viveu a explosão do modernismo no Brasil, porém era contra ao

movimento. Chegando até a isolar-se no Guarujá na semana de 1922, da Arte Moderna.

Lobato escreveu livros para adultos e crianças, porém ficou reconhecido pelas obras

direcionadas ao público infantil. As histórias que aconteciam no sítio de Dona Benta

chamavam a atenção de todas as crianças, que, através da fantasia, sentiam-se parte integrante

do livro e suas aventuras. Assim, a coleção tornou-se a mais importante obra na literatura

infantil brasileira. Sempre realizando uma metalinguagem com outras obras conhecidas, o

autor faz com que a turma do sítio conheça Hércules, Peter Pan e Dona Carochinha. Dando

um ar didático para seus livros, Lobato também faz com que as crianças aprendam por meio

da fantasia.

No volume “Emília no País da Gramática”, as crianças do sítio aprendem a gramática

e suas normas através de uma viagem à Portugália (o país da língua portuguesa). Lobato, que

não concordava com a forma de ensino que era utilizada em sua época, mostra que é possível

aprender por meio da associação de idéias, relacionando a fantasia com o mundo real, e por

meio da imaginação, já que as crianças “viajavam” ao País da Gramática, ao ler o livro.

Portugália era formada por palavras que sofreram personificação, transformando-se em

pessoas, portanto. Como seres vivos, as palavras vivem, moram, mudam e morrem. Através

da leitura do livro, observamos também como o autor passa suas idéias e opiniões através de

seus personagens. Percebemos, então, influência de reconhecidos estudiosos como Saussure e

Vigotski, de idéias consideradas atualmente racistas, e, claro, de seu desagrado em relação às

regras da gramática. O livro deixa de ter um fundo fantasioso e de ficção, para, em sua

análise, ter também fundo social e histórico.

A personagem escolhida para a análise foi a Emília, que como sempre muito curiosa,

pode ser considerada a principal deste livro. A boneca faz muitas perguntas e sempre relaciona

o que aprendeu com seu mundo, gerando frases atrevidas, de uma lógica pueril. Ela também

Page 49: Monografia LP1

55

comete muitos erros de português e é grande amiga de neologismos, por isso seria interessante

analisar sua linguagem.

Percebemos que Emília se mostra sempre atrevida e sem papas na língua, e, apesar de

poder ser considerada uma criança, fala através de frases bem desenvolvidas, utilizando-se de

períodos compostos, como o resto das personagens.

Percebemos que, por meio dela, Lobato nos passa algumas idéias que defendia. Como

ocorre no capítulo analisado, em que a boneca, discordando de Dona Sintaxe, solta os vícios

de linguagem: Neologismo e Provincianismo. Passa, com isso, a mensagem do autor, que não

considerava tais vícios negativos para a língua, apenas a modificavam, já que eram utilizados

pelo povo (o verdadeiro construtor da língua).

Considerando-se uma “sabichona”, a boneca demonstra sua teimosia discutindo com

as outras personagens. Se alguém tenta corrigi-la, a personagem é obrigada a argumentar e

mostrar que seu lado está certo, apesar de muitas vezes não estar. Como uma criança mimada,

Emília age de modo imperativo com as pessoas, tanto que Narizinho chega até a comentar em

certa parte do livro que um dia a boneca virará uma “ditadora”.

Através dessa personalidade forte e seu jeitinho atrevido, Emília conquista

admiradores desde que a coleção foi lançada. Uma boneca falante, sem papas na língua,

egocêntrica e exagerada, como a maioria das crianças é no começo de suas vidas. Sempre

chamando atenção e tirando risadas do público que se satisfazem como atrevimento daquele

“espirro de gente”.

Através da análise da personagem, observamos que, apesar de ela não falar como

criança em muitas passagens do livro, têm ações que a caracterizam como uma. Emília, assim,

faz com que o público infantil se identifique com ela e suas relações. A boneca fez e faz parte,

portanto, da formação e aprendizado de crianças.

Ainda sobre o assunto aprendizado e educação, tema bastante abordado na obra de

Monteiro, realizamos entrevistas na cidade de São Paulo, com perguntas que seguiam tal

assunto, a fim de analisarmos a fala da população. Inconscientemente, ao sairmos para fazer

tais entrevistas, tínhamos um estereótipo formado em nossa cabeça. Assim, uma pessoa de

classe mais baixa falaria de modo menos claro e com mais erros de português. Porém, tal

estereótipo, como a maioria, não foi comprovado. Em relação aos meios de comunicação,

pudemos ver que a maioria das pessoas são favoráveis a eles, acham que de fato podem ajudar

na educação. Através da análise das entrevistas, observamos que a grande maioria dos

entrevistados se expressava de maneira informal. Cometendo, assim, pequenos erros de

concordância, ao longo de sua fala. O modo de se expressar, vocabulário, tom de voz e idéias;

Page 50: Monografia LP1

56

condiz com suas experiências vividas, que acabaram sendo-nos passadas pelas entrevistas.

REFERÊNCIAS

Page 51: Monografia LP1

57

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1990. p. 11-64.>

<LOBATO, Monteiro in: Barca de Gleyre, 14ª ed, Brasiliense, S.Paulo, 1972.>

<LOBATO, Monteiro. Sítio do Pica Pau Amarelo: A Reforma da Natureza. São Paulo:

Brasiliense, 1972. >

<LOBATO, Monteiro. Sítio do Pica Pau Amarelo: Emília no País da Gramática. São

Paulo: Brasiliense, 1972.>

<LOBATO, Monteiro. Sítio do Pica Pau Amarelo: Memórias de Emília. São Paulo:

Brasiliense, 1972. p. 239 a 243.>

<LOBATO, Monteiro. Sítio do Pica Pau Amarelo: Os Doze Trabalhos de Hércules. São

Paulo: Brasiliense, 1972. >

<LOBATO, Monteiro. Sítio do Pica Pau Amarelo: Reinações de Narizinho. São Paulo:

Brasiliense, 1972.>

<LOBATO, Monteiro. Sítio do Pica Pau Amarelo: Viagem ao céu. São Paulo: Brasiliense,

1972. >

<PRETI, Dino. Sociolinguística: os níveis de fala (um estudo sociolingüístico do diálogo

na Literatura Brasileira). 8ª Ed. São Paulo: Edusp, 1997. p. 11 a 40.>

<VIGOTSKY, Lev S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2005. p. 01 a

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< KOSHIBA, Luiz. História do Brasil – Editora Atual, 1996>

<FAUSTO, Boris. História do Brasil – Edusp, 1995>

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<http://www.sampaonline.com.br/colunas/elmo/coluna2001out12.htm> Acessado em

23/05/10

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ANEXOS

Page 53: Monografia LP1

59

QUESTIONÁRIOS (SÓCIO ECONÔMICO)

Classe A:

Rosana, 41 anos. Estação Armênia.

Analfabeto / Primário Incompleto Analfabeto / Até 3ª série Fundamental

0

Primário Completo / Ginasial Incompleto

Até 4ª série Fundamental 1

Ginasial Completo / Colegial Incompleto

Fundamental Completo 2

Colegial Completo / Superior Incompleto

Médio Completo 4

Superior Completo Superior Completo 8 x

Classificação por Classes:

A1> 42 – 46 pontos. A2 > 35 – 41 pontos.

B1> 29 – 34 pontos. B2> 23 – 28 pontos.

C1> 19 – 22 pontos. C2> 14 – 17 pontos.

D> 8 – 13 pontos.

E> 0 – 7 pontos.

Classificação de Rosana: 41 pontos. Classe A1.

Marina, 44 anos. Avenida Paulista.

Quantidade de itens

0 1 2 3 4 ou +

Televisão em cores 0 1 2 3 x 4 Rádio 0 1 2 3 4 x

Banheiro 0 4 5 6 x 7Automóvel 0 4 7 x 9 9

Empregada mensalista 0 3 x 4 4 4Máquina de lavar 0 2 2 x 2 2

Vídeo cassete/ou DVD 0 2 2 2 x 2Geladeira 0 4 x 4 4 4

Freezer (aparelho independente ou parte da geladeira duplex)

0 2x 2 2 2

Page 54: Monografia LP1

60

Analfabeto / Primário Incompleto Analfabeto / Até 3ª série Fundamental

0

Primário Completo / Ginasial Incompleto

Até 4ª série Fundamental 1

Ginasial Completo / Colegial Incompleto

Fundamental Completo 2

Colegial Completo / Superior Incompleto

Médio Completo 4

Superior Completo Superior Completo 8 x

Classificação por Classes:

A1> 42 – 46 pontos. A2 > 35 – 41 pontos.

B1> 29 – 34 pontos. B2> 23 – 28 pontos.

C1> 19 – 22 pontos. C2> 14 – 17 pontos.

D> 8 – 13 pontos.

E> 0 – 7 pontos.

Classificação de Marina: 37 pontos. Classe A2.

Classe B:

Maria, 57 anos. Parque da Luz.

Analfabeto / Primário Incompleto Analfabeto / Até 3ª série Fundamental

0

Quantidade de itens

0 1 2 3 4 ou +

Televisão em cores 0 1 2 3 4 xRádio 0 1 2 3 4 x

Banheiro 0 4 5 6 x 7Automóvel 0 4x 7 9 9

Empregada mensalista 0 3 x 4 4 4Máquina de lavar 0 2 x 2 2 2

Vídeo cassete/ou DVD 0 2 2 2 x 2Geladeira 0 4 4 x 4 4

Freezer (aparelho independente ou parte da geladeira duplex)

0x 2 2 2 2

0 1 2 3 4 ou +

Televisão em cores 0 1 2x 3 4 Rádio 0 1 2x 3 4

Banheiro 0 4 5x 6 7Automóvel 0 4x 7 9 9

Empregada mensalista 0x 3 4 4 4Máquina de lavar 0 2 x 2 2 2

Vídeo cassete/ou DVD 0 2 x 2 2 2Geladeira 0 4 x 4 4 4

Freezer (aparelho independente ou parte da geladeira duplex)

0x 2 2 2 2

Page 55: Monografia LP1

61

Primário Completo / Ginasial Incompleto

Até 4ª série Fundamental 1

Ginasial Completo / Colegial Incompleto

Fundamental Completo 2

Colegial Completo / Superior Incompleto

Médio Completo 4x

Superior Completo Superior Completo 8

Classificação por Classes:

A1> 42 – 46 pontos. A2 > 35 – 41 pontos.

B1> 29 – 34 pontos. B2> 23 – 28 pontos.

C1> 19 – 22 pontos. C2> 14 – 17 pontos.

D> 8 – 13 pontos.

E> 0 – 7 pontos.

Classificação de Maria: 25 pontos. Classe B2.

Geralda, 52 anos. Pinacoteca do Estado.

Analfabeto / Primário Incompleto Analfabeto / Até 3ª série Fundamental

0

Primário Completo / Ginasial Incompleto

Até 4ª série Fundamental 1

Ginasial Completo / Colegial Incompleto

Fundamental Completo 2

Colegial Completo / Superior Incompleto

Médio Completo 4

Superior Completo Superior Completo 8x

0 1 2 3 4 ou +

Televisão em cores 0 1 2 3x 4 Rádio 0 1 2x 3 4

Banheiro 0 4 5x 6 7Automóvel 0 4x 7 9 9

Empregada mensalista 0 3x 4 4 4Máquina de lavar 0 2 x 2 2 2

Vídeo cassete/ou DVD 0 2 2x 2 2Geladeira 0 4 x 4 4 4

Freezer (aparelho independente ou parte da geladeira duplex)

0x 2 2 2 2

Page 56: Monografia LP1

62

Classificação por Classes:

A1> 42 – 46 pontos. A2 > 35 – 41 pontos.

B1> 29 – 34 pontos. B2> 23 – 28 pontos.

C1> 19 – 22 pontos. C2> 14 – 17 pontos.

D> 8 – 13 pontos.

E> 0 – 7 pontos.

Classificação de Geralda: 32 pontos. Classe B1.

Classe C:

Melissa, 31 anos. Estação da Luz.

Analfabeto / Primário Incompleto Analfabeto / Até 3ª série Fundamental

0

Primário Completo / Ginasial Incompleto

Até 4ª série Fundamental 1

Ginasial Completo / Colegial Incompleto

Fundamental Completo 2

Colegial Completo / Superior Incompleto

Médio Completo 4x

Superior Completo Superior Completo 8

0 1 2 3 4 ou +

Televisão em cores 0 1x 2 3 4 Rádio 0 1x 2 3 4

Banheiro 0 4x 5 6 7Automóvel 0x 4 7 9 9

Empregada mensalista 0x 3 4 4 4Máquina de lavar 0x 2 2 2 2

Vídeo cassete/ou DVD 0 2 x 2 2 2Geladeira 0 4 x 4 4 4

Freezer (aparelho independente ou parte da geladeira duplex)

0x 2 2 2 2

Page 57: Monografia LP1

63

Classificação por Classes:

A1> 42 – 46 pontos. A2 > 35 – 41 pontos.

B1> 29 – 34 pontos. B2> 23 – 28 pontos.

C1> 19 – 22 pontos. C2> 14 – 17 pontos.

D> 8 – 13 pontos.

E> 0 – 7 pontos.

Classificação de Melissa: 16 pontos. Classe C2.

Maria, Viaduto do Chá

Analfabeto / Primário Incompleto Analfabeto / Até 3ª série Fundamental

0

Primário Completo / Ginasial Incompleto

Até 4ª série Fundamental 1x

Ginasial Completo / Colegial Incompleto

Fundamental Completo 2

Colegial Completo / Superior Incompleto

Médio Completo 4

Superior Completo Superior Completo 8

Classificação por Classes:

A1> 42 – 46 pontos. A2 > 35 – 41 pontos.

B1> 29 – 34 pontos. B2> 23 – 28 pontos.

C1> 19 – 22 pontos. C2> 14 – 17 pontos.

0 1 2 3 4 ou +

Televisão em cores 0 1 2x 3 4 Rádio 0 1 2 3 x 4

Banheiro 0 4 5x 6 7Automóvel 0x 4 7 9 9

Empregada mensalista 0x 3 4 4 4Máquina de lavar 0 2 x 2 2 2

Vídeo cassete/ou DVD 0 2 2 x 2 2Geladeira 0 4 x 4 4 4

Freezer (aparelho independente ou parte da geladeira duplex)

0x 2 2 2 2

Page 58: Monografia LP1

64

D> 8 – 13 pontos.

E> 0 – 7 pontos.

Classificação de Maria: 19 pontos. Classe C1.

Classe D:

Ana, 50 anos. Jardim Bonfiglioli.

Analfabeto / Primário Incompleto Analfabeto / Até 3ª série Fundamental

0

Primário Completo / Ginasial Incompleto

Até 4ª série Fundamental 1

Ginasial Completo / Colegial Incompleto

Fundamental Completo 2x

Colegial Completo / Superior Incompleto

Médio Completo 4

Superior Completo Superior Completo 8

Classificação por Classes:

A1> 42 – 46 pontos. A2 > 35 – 41 pontos.

B1> 29 – 34 pontos. B2> 23 – 28 pontos.

C1> 19 – 22 pontos. C2> 14 – 17 pontos.

D> 8 – 13 pontos.

0 1 2 3 4 ou +

Televisão em cores 0 1x 2 3 4 Rádio 0 1x 2 3 4

Banheiro 0 4x 5 6 7Automóvel 0x 4 7 9 9

Empregada mensalista 0x 3 4 4 4Máquina de lavar 0x 2 2 2 2

Vídeo cassete/ou DVD 0x 2 2 2 2Geladeira 0 4 x 4 4 4

Freezer (aparelho independente ou parte da geladeira duplex)

0x 2 2 2 2

Page 59: Monografia LP1

65

E> 0 – 7 pontos.

Classificação de Ana: 12 pontos. Classe D.

Rosalina, 67 anos. Jardim Bonfiglioli.

Analfabeto / Primário Incompleto Analfabeto / Até 3ª série Fundamental

0

Primário Completo / Ginasial Incompleto

Até 4ª série Fundamental 1 x

Ginasial Completo / Colegial Incompleto

Fundamental Completo 2

Colegial Completo / Superior Incompleto

Médio Completo 4

Superior Completo Superior Completo 8

Classificação por Classes:

A1> 42 – 46 pontos. A2 > 35 – 41 pontos.

B1> 29 – 34 pontos. B2> 23 – 28 pontos.

C1> 19 – 22 pontos. C2> 14 – 17 pontos.

D> 8 – 13 pontos.

E> 0 – 7 pontos.

Classificação de Rosalina: 13 pontos. Classe D

0 1 2 3 4 ou +

Televisão em cores 0 1x 2 3 4 Rádio 0 1x 2 3 4

Banheiro 0 4x 5 6 7Automóvel 0x 4 7 9 9

Empregada mensalista 0x 3 4 4 4Máquina de lavar 0 2x 2 2 2

Vídeo cassete/ou DVD 0x 2 2 2 2Geladeira 0 4 x 4 4 4

Freezer (aparelho independente ou parte da geladeira duplex)

0x 2 2 2 2

Page 60: Monografia LP1

66

Classe E:

Rúbens, 36 anos. Parque da Luz.

Analfabeto / Primário Incompleto Analfabeto / Até 3ª série Fundamental

0

Primário Completo / Ginasial Incompleto

Até 4ª série Fundamental 1

Ginasial Completo / Colegial Incompleto

Fundamental Completo 2x

Colegial Completo / Superior Incompleto

Médio Completo 4

Superior Completo Superior Completo 8

Classificação por Classes:

A1> 42 – 46 pontos. A2 > 35 – 41 pontos.

B1> 29 – 34 pontos. B2> 23 – 28 pontos.

C1> 19 – 22 pontos. C2> 14 – 17 pontos.

D> 8 – 13 pontos.

E> 0 – 7 pontos.

Classificação de Rúbens: 2 pontos. Classe E.

0 1 2 3 4 ou +

Televisão em cores 0 x 1 2 3 4 Rádio 0 x 1 2 3 4

Banheiro 0 x 4 5 6 7Automóvel 0 x 4 7 9 9

Empregada mensalista 0 x 3 4 4 4Máquina de lavar 0 x 2 2 2 2

Vídeo cassete/ou DVD 0 x 2 2 2 2Geladeira 0 x 4 4 4 4

Freezer (aparelho independente ou parte da geladeira duplex)

0 x 2 2 2 2

Page 61: Monografia LP1

67

Manuel, 70 anos. Parque da Luz.

Analfabeto / Primário Incompleto Analfabeto / Até 3ª série Fundamental

0x

Primário Completo / Ginasial Incompleto

Até 4ª série Fundamental 1

Ginasial Completo / Colegial Incompleto

Fundamental Completo 2

Colegial Completo / Superior Incompleto

Médio Completo 4

Superior Completo Superior Completo 8

Classificação por Classes:

A1> 42 – 46 pontos. A2 > 35 – 41 pontos.

B1> 29 – 34 pontos. B2> 23 – 28 pontos.

C1> 19 – 22 pontos. C2> 14 – 17 pontos.

D> 8 – 13 pontos.

E> 0 – 7 pontos.

Classificação de Manuel: 0 pontos. Classe E.

0 1 2 3 4 ou +

Televisão em cores 0x 1 2 3 4Rádio 0x 1 2 3 4

Banheiro 0x 4 5 6 7Automóvel 0x 4 7 9 9

Empregada mensalista 0x 3 4 4 4Máquina de lavar 0x 2 2 2 2

Vídeo cassete/ou DVD 0x 2 2 2 2Geladeira 0x 4 4 4 4

Freezer (aparelho independente ou parte da geladeira duplex)

0x 2 2 2 2